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Fevereiro Edição nº01 Distribuição gratuita com o Jornal Público. Encarte da responsabilidade de Página Exclusiva, Lda. Não pode ser vendido separadamente.
Grupo Ribadouro
2 Perspetivas Fevereiro 2016
Editorial
Portugal e o mundo sob perspetiva
É precisamente fazendo jus à ideia de que uma mesma realidade pode ser capaz de suscitar visões únicas em intervenientes diversos que o “Perspetivas” se apresenta co-mo uma nova plataforma de comu-nicação que não subestima o poten-cial nem a riqueza que o debate jor-nalístico sobre variadas temáticas de interesse público pode vir a tra-zer, quer para o caro leitor em parti-cular, quer para uma comunidade de cidadãos informados em geral.
Propondo-se à missão de comuni-car e divulgar a história, os projetos e a visão de profissionais e instituições de grande sucesso num variado leque de áreas – que vai do Direito à Econo-mia, sem esquecer o Ensino e Forma-ção ou a Saúde –, o “Perspetivas” apre-senta-se como uma publicação rele-vante para todo o país, prometendo – num regime mensal – apresentar o olhar atento, informado e crítico de uma série de intervenientes com uma
palavra a dizer sobre a área onde se tornaram uma referência em Portu-gal e, não raras vezes, também além--fronteiras.
Mais, no entanto, do que dar ape-nas a conhecer os grandes protago-nistas da inovação, do empreende-dorismo ou da investigação, é mis-são do “Perspetivas” servir como ca-talisador para o esclarecimento, a reflexão e o confronto de opiniões nas supracitadas áreas. É, deste mo-do, expectável que mediante a leitu-ra deste suplemento o leitor se veja munido de novos elementos, respos-tas e – porque não? – perguntas so-bre questões tão relevantes e sensí-veis como as alterações legislativas que se verificam na área da Saúde, os novos avanços e implicações da investigação científica, os condicio-nalismos que um clima de instabili-dade fiscal e legislativa acarretam, os desafios profissionais que o mun-do globalizado de hoje proporciona
Diz-nos o Dicionário da Língua Portuguesa que uma definição possível para a palavra “Perspetiva” é o aspeto que um ou mais objetos possuem, em função do lugar através do qual são observados. Uma outra designação, embora já em sentido figurado, remete-nos, entretanto, para o sinónimo “ponto de vista”. Embora diferentes a seu modo, ambas as definições da palavra deixam-nos com a ideia de que subjacente ao aspeto de um determinado elemento estará sempre o ângulo a partir do qual este é observado, podendo ele variar consoante a pessoa que o olha (e mediante o posicionamento com que o faz).
Sede: Rua Augusto Lessa, nº 251 esc. 13 – 4200-100 Porto • Telefones: 22 502 39 07 / 22 502 39 09 • Fax: 22 502 39 08 • Site: www.perspetivas.pt • Email: [email protected] • Gestores de Processos Jornalísticos: José Ferreira e Nuno Sintrão • Periodicidade: Mensal • Distribuição: Gratuita com o Jornal “Público” • Preço Unitário: 4€ / Assinatura Anual: 44€ (11 números)
Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins sem autorização do editor.A paginação é efetuada de acordo com os interesses editoriais e técnicos da Revista e o editor não se responsabiliza pelas inserções com erros ou omissões que sejam imputáveis aos anunciantes.
ou os aspetos mais importantes a ter em conta numa área tão impor-tante para os nossos jovens como o Ensino e a Formação.
Uma vez feita a apresentação des-te novo projeto de comunicação, é altura de agradecer a todos os inter-venientes que nos ofereceram inte-ressantes perspetivas sobre maté-rias de inegável interesse atual, bem como a todos os leitores que, na nossa companhia, aceitarem o con-vite de conhecer, pensar e colocar sob perspetiva Portugal e a socieda-de global com que hoje, quotidiana-mente, lidamos. O sucesso, a inova-ção, o empreendedorismo, o conhe-cimento e a adaptação a novos con-textos de que nestas páginas se fala tiveram, na sua génese, uma singu-lar capacidade de visão. Resta-nos, posto isto, uma última questão: que novas, arrojadas e singulares pers-petivas merecerão os próximos tempos?
Fevereiro 2016 Perspetivas 3
Externato RibadouroEnsino
Ensino de excelência, centrado no Aluno
No intuito de aumentar as suas ins-
talações, ao criar um novo pólo, na
Rua Bonjardim, contribuiu para uma
nova dinâmica desta zona da cidade
Invicta.
A sua realidade educativa é heteró-
genea. É um estabelecimento de ensi-
no que recebe alunos oriundos das
mais diversas regiões do país, promo-
vendo uma diversidade cultural deve-
ras enriquecedora ao nível da forma-
ção das suas crianças e jovens. A prá-
tica, a competência e a experiência pe-
dagógica da equipa de professores que
constitui o corpo docente do Externa-
to Ribadouro, são um dos pilares des-
ta praxis educativa que promove os
afetos e as competências cognitivas.
A escola promove o trabalho de
equipa, caracterizando-se pelos seus
projetos inovadores e pelos constan-
tes desafios que coloca a si própria.
Trabalha de uma forma clara e
transparente, informando os Encarre-
gados de Educação sobre as suas prá-
ticas e sobre o percurso individual dos
seus educandos, através de contactos
pessoais e de reuniões de pais regula-
res.
O projeto educativo Ribadouro as-
senta em critérios de eficácia, rigor e
excelência, respeitando as Metas de
Aprendizagem definidas pelo Minis-
tério de Educação e, simultaneamente,
a individualidade de cada Aluno.
O Externato Ribadouro pauta-se
por um Plano Anual de Atividades di-
versificado que procura contribuir pa-
ra uma formação deveras enriquece-
dora dos seus Alunos, pelo que tem
procurado dinamizar atividades cultu-
rais, desportivas, lúdicas e solidárias
que façam sentido no percurso indivi-
dual dos Alunos. Assim, as portas da
sala de aula abrem-se para formar ci-
dadãos do Mundo, que conhecem o
seu país, mas também outras regiões
do globo, numa dinâmica de aprender
a aprender.
É neste contexto que surgem tam-
bém parcerias que procuram valorizar
o conceito de autoavaliação, fomen-
tando a inovação e uma melhoria con-
certada. A Universidade Católica tem
desenvolvido com o Ribadouro um
Plano de Melhoria que visa o aperfei-
çoamento da ação educativa em todas
as suas dimensões pedagógicas.
O Externato Ribadouro assume-se
como um espaço de promoção do ser
humano que tem como nobre desafio
fazer da escola um lugar de Aprendi-
zagem e de Vida.
O Externato Ribadouro é uma escola com um projeto global que vai desde a pré-escolar ao 12º ano. Encontra-se sediado na Rua de Santa Catarina, bem no coração da cidade, no centro histórico do Porto.
4 Perspetivas Fevereiro 2016
EnsinoExternato Camões
Quando o futuro é importante!
A integração no Grupo Ribadou-
ro trouxe ao Externato Camões uma
nova forma de estar no Ensino, na
Educação e na preparação de crian-
ças e jovens, através de um Projeto
Educativo com identidade, valores e
princípios próprios. Proporcionar
aos seus alunos as melhores condi-
ções de aprendizagem para uma for-
mação global e um crescimento har-
monioso, numa escola essencialmen-
te direcionada para o prosseguimen-
to de estudos, é o objetivo primordial
do Externato Camões.
O Projeto Educativo do Externa-
to Camões assenta na sua história
mas aposta no futuro, perspetivando
a melhoria do serviço público que
pretende prestar à comunidade edu-
cativa. A criação de um berçário é
exemplo disso e outros projetos vi-
rão, pensando sempre, e em primeiro
lugar, no bem-estar dos seus alunos,
na procura incessante da inovação
em pedagogia, aceitando e propondo
novos desafios junto da comunidade
escolar.
Criamos condições para que os
seus alunos aprendam num ambien-
te acolhedor, seguro e familiar, esti-
mulante em termos de aprendiza-
gens e desenvolvimento, realizando
todo o percurso de escolaridade
obrigatória com a certeza de que, in-
dependentemente do grau de ensino
que frequentam, estão na companhia
de professores e técnicos dedicados,
competentes e capazes de potenciar
em cada aluno as suas capacidades
intelectuais e humanas.
Em termos físicos, o Externato Ca-
mões sofreu também uma grande re-
modelação, criando novos espaços,
modernos, pensando no conforto e
bem-estar dos alunos, de acordo com
as suas necessidades e de acordo com
cada nível de ensino. A remodelação
do externato é, aliás, um projeto que
ainda não está concluído, esperando-
-se novos projetos e desenvolvimentos
num futuro próximo. Um dos objeti-
vos para os próximos anos é dotar o
colégio de infraestruturas que permi-
tam oferecer aos alunos as melhores
condições para o seu desenvolvimento
integral e global.
Futuro Académico de Sucesso
O prosseguimento de estudos pa-
ra o ensino superior é o objetivo
mais comum aos pais que investem
na educação dos filhos. Mas o cami-
nho tem de ser feito de forma sus-
tentada, consolidada, sem esquecer
as necessidades e características
próprias de cada aluno nas diferen-
tes fases do seu crescimento. Ensi-
nar é uma missão, um trabalho ár-
duo, por vezes, mas aprender tam-
bém é uma tarefa exigente, por isso
o Externato Camões implementa e
aplica um conjunto de estratégias
que vão desde o reforço da carga le-
tiva nas áreas estruturantes, para to-
dos os anos de escolaridade, aulas
em desdobramento para algumas
disciplinas, aulas de apoio e reforço
de competências para alunos com
ritmos diferenciados de trabalho ou
aprendizagem e ainda aulas de pre-
paração para exames. Trabalhar a
autoestima e potenciar as capacida-
des dos alunos é a base do trabalho
dos professores desta instituição,
que constituem uma equipa caracte-
rizada pela estabilidade e dedicação.
Um projeto dinâmicoO colégio desenvolveu parcerias
com instituições de reconhecida
qualidade em áreas que funcionam
extracurricularmente, tais como o
Xadrez, o Ballet, Cursos de Inglês e
Guitarra Clássica. Os planos curri-
culares dos alunos do pré-escolar e
do 1º ciclo, para além do Inglês, inte-
gram atividades como a Expressão
Musical, Oficina d’Artes, TIC, Ex-
pressão Corporal e Expressão Físi-
co-motora. Estas atividades, leciona-
das por professores destas áreas es-
pecíficas, pertencentes ao corpo do-
cente do colégio, têm como objetivo
principal complementar o quadro de
vivências e aprendizagens enrique-
cedoras e determinantes para desen-
volvimento global dos alunos. Todas
estas áreas dão um contributo vital
para a formação da personalidade da
criança, promovendo o autoconheci-
mento, despertando a sua sensibili-
dade e educando para o exercício da
cidadania plena.
Autoavaliação e Certificação de Qualidade
A melhoria das práticas pedagógi-
cas, a certificação da qualidade do
serviço que presta à comunidade
educativa são as constantes preocu-
pações das escolas do Grupo Riba-
douro. Nesse sentido, desde setem-
bro de 2014 que o Externato Ca-
mões participa num projeto de in-
vestigação, em parceria com a
Universidade Católica, no âmbito da
autoavaliação da prática pedagógica
existente, criando instrumentos de
análise e reflexão sobre a mesma, vi-
sando aproximar cada vez mais os
ideais traçados no seu Projeto Edu-
cativo da sua operacionalização.
O futuro dos filhos é o grande projeto
dos pais. O futuro de um país está nas
gerações mais novas.
A prioridade do Externato Camões é dar
importância ao futuro e continuar a me-
recer a confiança da sua comunidade
educativa.
O Externato Camões, situado em Rio Tinto, é cada vez mais uma referência no ensino privado da zona Norte do país.
Fevereiro 2016 Perspetivas 5
Ensino Colégio da Trofa
Ensino privado que tem na sua matriz a busca da excelência
Neste estabelecimento de ensino os
alunos têm acesso a um conjunto di-
versificado de atividades visando enri-
quecer a sua formação integral e har-
moniosa. O xadrez, o mandarim, a
dança, a atividade musical e desporti-
va e as visitas de carácter lúdico-edu-
cativo no país e no estrangeiro são al-
gumas das áreas de enriquecimento
promovidas para além do currículo
normal. Neste quadro, a ênfase dado
ao ensino da língua inglesa desde a
educação infantil é, também, uma es-
tratégia de grande alcance formativo
para os alunos.
Tal como está consagrado no seu
Projeto Educativo, no Colégio da
Trofa promove-se uma ligação muito
estreita com encarregados de educa-
ção, seja por contacto pessoal ou atra-
vés de reuniões, por forma a definir-se
o percurso individual que melhor se
adeque a cada Aluno. Aqui são, tam-
bém, muito estimuladas e valorizadas
as competências adquiridas pelos Alu-
nos decorrentes do seu trabalho diá-
rio, sem deixar de ter em conta a im-
portância dos resultados escolares,
nomeadamente os certificados pelos
exames nacionais e o significado que
representam para a entrada no Ensino
Superior. Deste empenho resulta que
o Colégio da Trofa fique, sistematica-
mente, colocado nos primeiros luga-
res dos Rankings Escolares Nacionais
e seja, por norma e em todos os níveis
de ensino, a primeira escola do conce-
lho da Trofa e dos demais concelhos
vizinhos. Pelo especial significado que
representa, recordamos que o Minis-
tério da Educação, através do Portal
INFOESCOLAS, destacou, no final
do ano letivo de 2014/2015 e no uni-
verso das mais de 600 escolas a nível
nacional, o Colégio da Trofa como a
quarta melhor escola portuguesa do
Ensino Secundário que mais conse-
guiu melhorar os resultados dos alu-
nos entre os exames de Português e
Matemática realizados no 9º ano e os
que realizaram os mesmos alunos no
12º ano!
Mas, enquanto estabelecimento de
ensino privado que tem na sua matriz
a busca da excelência, a responsabili-
dade do Colégio da Trofa torna-se
ainda maior, pelo que para responder
a tais exigências, estabeleceu-se um
contrato de colaboração com a Uni-
versidade Católica, visando aplicar
um processo de avaliação externa so-
bre as práticas e procedimentos ado-
tados, tendo em vista corrigir e me-
lhorar a sua ação educativa e, deste
modo, dar expressão prática aos obje-
tivos e ideais plasmados no respetivo
Projeto Educativo.
Por tudo isto se perceberá por que
no Colégio da Trofa os alunos são jo-
vens responsáveis, motivados e felizes,
justificando-se, uma vez mais, as ele-
vadas expetativas com que se aguar-
dam os resultados escolares do cor-
rente ano letivo.
O Colégio da Trofa disponibiliza uma oferta educativa global desde a educação infantil ao 12º ano de escolaridade, abrangendo toda a formação dos jovens desde o berço até à entrada no Ensino Superior.
6 Perspetivas Fevereiro 2016
Ensino Oporto British School
122 anos a lutar pelo sucesso e a servir
Situada desde 1894 na Foz do Dou-
ro, a Oporto British School é uma das
mais antigas instituições de ensino in-
ternacional e, possivelmente, a escola
britânica há mais tempo em funções
na Europa Continental. Concebida es-
pecificamente, no final do século XIX,
como um espaço de educação e apren-
dizagem para as crianças da comuni-
dade britânica que viviam na cidade
do Porto, o primeiro ano letivo fez-se
com onze alunos, todos do sexo mas-
culino.
Embora no ano de 1914 as portas
da Oporto British School se tivessem
aberto também às raparigas oriundas
de famílias inglesas, o número de
crianças só atingiu uma centena de-
pois da Segunda Guerra Mundial, nu-
ma altura em que o volume de alunos
de nacionalidade portuguesa era já
considerável. O atual número de edu-
candos (cerca de 400), por outro lado,
corresponde a um fenómeno verifica-
do apenas em anos mais recentes, após
o desenrolar de vários acontecimen-
tos internacionais como a adesão de
Portugal à União Europeia.
Paralelamente ao número de estu-
dantes, também a oferta curricular da
Oporto British School foi evoluindo
com o avançar dos anos. Não consti-
tuirá, assim, surpresa que uma esco-
la concebida originalmente para o
ensino primário tenha vindo a ex-
pandir-se, proporcionando atual-
mente uma oferta educativa que per-
mite acompanhar o desenvolvimen-
to de cada criança desde os três anos
de idade até à conclusão do ensino se-
cundário. Outro aspeto que também
evoluiu foi o âmbito dos alunos inte-
grados, sendo agora a grande fatia
destes de nacionalidade portuguesa,
havendo, no entanto, estudantes de di-
versas expressões nacionais na consti-
tuição de um ambiente que se preten-
de multicultural e adaptado à realida-
de presente.
Garantido a qualquer estudante
matriculado nesta instituição está o
acesso a um ensino de primeiríssima
qualidade em língua inglesa – minis-
trado por um corpo docente quase to-
do ele oriundo de países de expressão
anglo-saxónica – bem como a garan-
tia de integração numa turma de pe-
quena dimensão, potenciando-se deste
modo o ambiente mais favorável pos-
sível à aprendizagem e ao desenvolvi-
mento pessoal. A estes elementos
acrescente-se, por outro lado, o am-
biente acolhedor e familiar com que
todo e qualquer aluno é recebido,
aquando da sua entrada e estadia nu-
ma escola exemplar, focada não ape-
nas no bem-estar, como também no
sucesso de todos quanto dela esco-
lhem fazer parte.
A excelência como valor-chave
Fazendo jus à filosofia de excelên-
cia e rigor que sempre a definiu, a
Oporto British School aposta num en-
sino diferenciado e de referência em
Portugal que, em consonância com os
conteúdos programáticos de cada ano
de escolaridade, transmite toda uma
série de valores essenciais à formação
não apenas de meros alunos mas, aci-
ma de tudo, de futuros seres humanos
completos e preparados para os gran-
des desafios do mundo real.
“É muito importante para nós que o
conhecimento seja encarado não como
uma coisa fechada, mas sim como algo
sempre em desenvolvimento”, intro-
duz o diretor da instituição, Tom Mc-
Grath. Concomitantemente, para a
Oporto British School “é também fun-
damental que os alunos compreendam
e reflitam sobre as suas origens e as
dos outros, respeitando e celebrando
as diferenças” existentes entre as pes-
soas, explica o responsável.
Igualmente essencial para formação
de cada aluno é que a sua aprendizagem
seja consumada não de um modo indivi-
dualizado, mas sim “enquanto membro
de uma equipa, de um grupo e de uma
comunidade”, sendo adágio desta escola
que “o que se faz em conjunto é sempre
melhor do que aquilo que fazemos isola-
dos”, defende Tom McGrath. É precisa-
mente como resposta a esta necessidade
especial de interação social e de trabalho
em equipa que muitas das atividades ex-
tracurriculares têm vindo a ser concebi-
das e desempenhadas na Oporto British
School.
Mas num projeto educativo em que
questões como a preocupação social, a
solidariedade, o respeito pelos direitos
humanos, a consciência ecológica ou o
espírito crítico se assumem como fato-
res essenciais, destaca-se também ou-
tro elemento basilar na tipologia de
ensino aqui ministrada. “Queremos
que os nossos alunos sejam bilingues,
ou seja, completamente fluentes em
Português e Inglês”, considera o dire-
tor, antes de salientar que a importân-
cia por detrás do domínio de outros
idiomas está “no gosto profundo que
se desenvolve pelas outras culturas”.
Internacional Baccalaureate: um currículo diferenciador
Outro aspeto que faz da Oporto
British School uma escola de incon-
tornável referência está no facto de o
programa curricular dos alunos que
frequentam o 11º e 12º anos de escola-
ridade ser desenrolado no âmbito do
International Baccalaureate Diploma
Programme (IBDP). Este correspon-
de a um currículo de enorme reconhe-
cimento internacional adotado pelas
escolas mais prestigiadas em todo o
mundo, que se traduz num ensino de
especial rigor e excelência, capaz de
garantir o acesso, por parte de qual-
quer aluno, às mais reputadas univer-
sidades no estrangeiro.
Escusado será dizer, posto isto, que
à frequência de um currículo IB cor-
responde uma série de mais-valias ca-
pazes de fazer dos educandos de hoje
cidadãos de referência para um futuro
mundo em constante evolução. “Uma
das vantagens do programa IB está
no facto de dar aos nossos alunos uma
perspetiva internacional da realida-
de”, argumenta Tom McGrath, porta-
-voz da única escola na região norte
de Portugal dotada deste programa
especial.
Começou como uma escola para crianças inglesas mas, com o passar do tempo, a Oporto British School alargou o seu âmbito a jovens de todas as nacionalidades, oferecendo um ensino diferenciador, assente na elevada qualidade, num ambiente familiar e numa abordagem educativa centrada no desenvolvimento individual e social de cada aluno.
Fevereiro 2016 Perspetivas 7
Oporto British School
O currículo IB afirma-se, acima de
tudo, como um programa capaz de alar-
gar horizontes, na medida em que “obri-
ga a que os alunos aprendam pelo me-
nos duas línguas, para além de ter uma
variedade de disciplinas, onde se in-
cluem a Matemática, as Ciências, as Hu-
manidades e também a possibilidade de
seguir outras ligadas à Arte e à Música”,
prossegue o diretor. A estes elementos
acrescentam-se, por seu turno, aulas
que versam sobre as Teorias do Conhe-
cimento – capazes de colocar o educan-
do a refletir e a desenvolver o seu espíri-
to crítico perante a realidade que o en-
volve – e iniciativas que convidam cada
aluno a desenvolver ações de serviço à
sua comunidade.
“Através deste sistema, os estudantes
ficam muito mais preparados para o ní-
vel de exigência das universidades,
aprendem de uma forma mais indepen-
dente e estão preparados para refletir e
questionar o conhecimento, o que se
traduz num melhor desempenho com-
parado com o dos seus colegas”, garante
Tom McGrath. São motivos como este
que fazem dos alunos formados no cur-
rículo IB os preferidos de várias insti-
tuições de ensino superior não apenas
em Portugal, como também no Reino
Unido e nos Estados Unidos da Améri-
ca. Este é, em suma, um programa que
“vai muito bem de encontro à filosofia e
aos valores” que orientam a Oporto Bri-
tish School.
Para além do estudoTão essencial para definir a exce-
lência de uma escola como o seu
projeto educativo é o leque de ativi-
dades extracurriculares que ela pro-
põe aos educandos, possibilitando o
seu desenvolvimento pessoal no
maior leque possível de áreas. Tam-
bém neste âmbito a Oporto British
School passa com distinção, na me-
dida em que proporciona uma série
variada de atividades para as diver-
sas idades.
Em grande destaque está a preocu-
pação desta instituição de ensino com
a expressão musical dos seus educan-
dos. Neste âmbito, e em parceria com
a Escolas das Artes, a Oporto British
School oferece lições de instrumentos
tão variados como o violino, o piano, o
contrabaixo ou a bateria, entre outros,
numa iniciativa que envolve já mais de
“uma centena” de alunos. A acompa-
nhar a sua aprendizagem musical
existem sempre outros desafios, como
as performances ao vivo que se desen-
rolam ao longo do ano letivo.
Como não poderia deixar de ser, e
em paralelo com as atividades desen-
volvidas no âmbito da Educação Físi-
ca, existe uma série de modalidades
desportivas à mercê de cada criança
ou jovem desde, por exemplo, o crí-
quete ao futebol e ao basquetebol. Ga-
rantida a cada ano está a participação
desta instituição em torneios interes-
colares, potenciando-se desta forma a
importância de valores como o “espí-
rito de equipa” e a “entreajuda”.
Mas de entre as atividades extra-
curriculares mais importantes que a
escola proporciona, Tom McGrath
evoca a iniciativa em que os estudan-
tes são convidados a simular uma As-
sembleia das Nações Unidas “deba-
tendo, com grande qualidade e pro-
fundidade, mecanismos de solução pa-
ra os principais problemas mundiais
da atualidade”, refere o nosso interlo-
cutor, como “a fome no mundo, a
questão da Síria, ou os principais pro-
blemas internacionais ligados à saúde
e à higiene”.
Iniciativas deste tipo afiguram-se
de uma importância extrema, na
medida em que, para além de possi-
bilitarem aos educandos o contacto
com jovens de outros países em ci-
meiras escolares, “permitem apren-
der imenso não apenas sobre estas
grandes questões mundiais, mas
também acerca do posicionamento
que os diversos países têm sobre
elas”, traduzindo-se numa possibili-
dade de crescimento e maturidade
concomitantes à filosofia que orien-
ta a Oporto British School.
Uma escola adaptada ao futuro
Com uma longevidade que se esten-
de já da marca dos 120 anos, a Oporto
British School acompanhou, ao longo
da sua existência, uma incontável sé-
rie de evoluções, não apenas no que às
políticas e estratégias de ensino diz
respeito, como também no que aos
acontecimentos culturais e sociais
concerne. Significa tal que esta foi
uma escola sempre capaz de se adap-
tar às novas conjunturas sem nunca
descurar a missão ou os valores que
lhe serviram de base.
Relativamente ao futuro, Tom Mc-
Grath mostra-se, por isso, “otimista e
expectante”. “Em primeiro lugar, gos-
taria de dizer que vislumbro o nosso
futuro aqui, no mesmo local em que
estamos instalados, pois temos uma li-
gação muito emocional para com ele”,
refere o nosso interlocutor, destacan-
do a forma como muitos dos pais que
hoje visitam a escola são, também eles,
ex-alunos da Oporto British School,
portadores de lembranças únicas des-
te mesmo lugar, tão icónico como o
ADN da própria instituição.
Uma das expectativas para os pró-
ximos anos é “ver esta escola a cres-
cer”, possivelmente até à marca dos
500 alunos. O facto de esta ser a única
instituição de ensino dotada com o
currículo IB no Porto e distritos cir-
cundantes leva o diretor a crer que a
procura por este programa de exce-
lência se refletirá num aumento de
inscrições na escola, principalmente
pelas perspetivas de êxito internacio-
nal que este sistema oferece.
Já relativamente ao ensino em ge-
ral, Tom McGrath antecipa “a grande
ênfase da tecnologia na aprendiza-
gem”. “Prevejo que a dimensão de ser-
vir, as perspetivas intencionais e a au-
tonomia dos alunos ganharão uma ên-
fase ainda maior no ensino”, salienta o
porta-voz. Significa tal que “os edu-
candos terão um controlo muito
maior sobre a sua aprendizagem e so-
bre a tecnologia”, antes de assegurar
que as atuais instalações da Oporto
British School estão efetivamente do-
tadas para esta adaptação.
Caso para dizer-se, por isso mesmo,
que “os valores da escola se manterão
os mesmos, embora ela tenha que mu-
dar com o tempo, naquilo que é a nos-
sa marca: a nossa estabilidade, a nossa
tradição e a nossa capacidade para
evoluir”, finaliza o diretor.
8 Perspetivas Fevereiro 2016
Ensino St. Peter’s School
Ensino internacional com rigor e excelência
Logo na altura do seu início, o colégio
arrancou com um currículo bilingue,
com o ensino do Inglês, em regime diá-
rio, a partir dos três anos de idade. Isa-
bel Simão, responsável, conta-nos que,
“com o tempo, este currículo foi-se
adensando, nomeadamente nas línguas
estrangeiras, com a introdução do Espa-
nhol e do Alemão como línguas curricu-
lares”.
Continuando esta evolução da oferta,
o St. Peter’s School veio a conquistar,
mais recentemente, outro grande fator
diferenciador, com a inclusão do Latim.
É também uma língua curricular, que
começou por ser lecionada no 2º ciclo e
anos subsequentes mas que, no ano pas-
sado, foi alargada ao 1º ciclo, iniciando a
partir do 3º ano. Nas palavras de Isabel
Simão, “o projeto do Latim está a ser
muito interessante”. Acrescentando, ex-
plicita que “é um projeto da Universida-
de de Cambridge, que foi procurado por
algumas das melhores universidades
portuguesas mas que, curiosamente, a
Universidade de Cambridge decidiu en-
tregar ao St. Peter’s School. Isto porque,
segundo Cambridge, somos a escola
portuguesa que tem mais alunos a
aprender Latim, com uma população de
mais de 400”.
Esclarecendo-nos também acerca
desta opção, diz-nos que “há um grande
leque de línguas neste colégio mas que,
fundamentalmente, há que apostar na
nossa. É preciso fazer com que estes jo-
vens conheçam a etimologia da língua
portuguesa, numa altura em que estão
criadas todas as condições para que a
língua portuguesa seja completamente
assassinada. Veja-se nas redes sociais ou
na linguagem das SMS’s, em que esta-
mos perante um verdadeiro novo códi-
go linguístico que deita por terra a nos-
sa língua. Se não fizermos qualquer coi-
sa que contrarie este aspeto do mundo
em que eles vivem, eles vão ser uns ile-
trados”.
Daí surge a aposta no Latim, que é
“uma ferramenta de grande utilidade
para um bom domínio do Português e
que, infelizmente, foi totalmente afasta-
da das escolas. Eu, por exemplo, só co-
mecei a perceber a gramática portugue-
sa quando comecei a estudar Latim. Até
aí, eu apenas decorava gramática e só a
partir daí é que comecei a saber inter-
pretar a gramática. É, portanto, um au-
xílio para que se ultrapasse esta barrei-
ra que agora existe, em que as pessoas
estão a falar e a escrever mal, com erros
muito graves, que refletem uma escola-
ridade mal feita. Durante muitos anos,
os alunos eram todos nivelados por bai-
xo e iam todos passando coletivamente
e estas coisas acabam por se pagar. Pe-
rante tudo isto, é um papel fundamental
da escola fazer o possível para que os
alunos tenham um correto domínio da
língua”.
Voltando ao desempenho do colégio
nesta matéria, diz-nos que “o St. Peter’s
está muito envolvido no Latim e é já re-
presentante a nível nacional. Se uma es-
cola situada, por exemplo, no Porto,
quiser introduzir o programa de Latim
da Universidade de Cambridge, somos
nós que somos contactados e que temos
o papel de fornecer os respetivos ele-
mentos. No fundo, funcionamos como
uma delegação nacional de Cambridge
para o Latim e tem havido muita procu-
ra por parte de outras escolas. Contudo,
há que ir com muita calma e com muito
critério”.
IB ProgrammeA introdução do International Bacca-
laureate Programme nesta escola era
uma ambição antiga de Isabel Simão.
Durante estes anos em que pretendeu
aderir ao IB, sentia, contudo, que “na co-
munidade não se sabia o que era o IB e,
por isso, foi preciso fazer um trabalho de
divulgação relativamente ao que era e
sobre quais seriam as suas vantagens”.
A abertura do IB veio no ano letivo
de 2014/2015 e, neste momento, há
duas turmas nesta escola, às quais se irá
juntar uma terceira no próximo. “É mui-
to bom e gratificante para o colégio ver
que a mensagem passou e que os pais
entenderam as vantagens de terem os
filhos a frequentar o IB. O projeto em si
é um projeto que motiva imenso os alu-
nos, que lhes proporciona muito traba-
lho mas também muita autonomia e
muita responsabilidade. Eles gostam de
sentir que lhes é conferida essa respon-
sabilidade e os programas, de facto, são
muito exigentes. Muito mais exigentes
do que os do currículo nacional, inclusi-
ve, significando para eles um trabalho
que é muito denso mas que, por outro
lado, é também muito motivador. Eles
consciencializam-se de que estão na
posse de uma situação fantástica, que
lhes abre portas para que possam estu-
dar em Singapura, em Nova Iorque ou
noutro sítio qualquer pelo facto de te-
rem este diploma”, explica.
Continuando, fala-nos de vantagens
que se verificam também para os que
quiserem prosseguir estudos em Portu-
gal: “Por serem mais exigentes, os pro-
gramas dão-lhes uma bagagem que, em
determinadas disciplinas, é suficiente
para que se sintam à vontade com os
conteúdos do primeiro ano da licencia-
tura. Ao mesmo tempo, há também uma
tendência para que algumas universida-
des comecem a oferecer cursos leciona-
dos em Inglês, estando alguns deles
muito bem cotados a nível internacio-
nal. Um aluno saído do IB está à vonta-
O St. Peter’s School, em Palmela, foi fundado em 1993, preconizando um projeto educativo inovador, que aposta numa formação global e integrada e que resultou, neste último ano letivo, na quinta posição no ranking nacional do Ensino Secundário.
Fevereiro 2016 Perspetivas 9
St. Peter’s School
de num curso desses, que, posterior-
mente, dá-lhe grandes vantagens em
termos de empregabilidade. Eles vão
tendo noção disso e, portanto, estamos a
ter uma adesão muito positiva, com pais
que já estão a acautelar a inscrição dos
filhos para o ano letivo seguinte”.
Uma escola humanistaParalelamente ao esforço que é diri-
gido ao aproveitamento escolar, o St.
Peter’s School é, segundo a diretora,
“uma escola que tem uma missão emi-
nentemente humanista”. Isabel Simão
sublinha que essa é, de facto, “a pedra la-
pidar da escola e que essa é uma mensa-
gem que se procura transmitir aos alu-
nos. Aqui, cada aluno tem um percetor
ou, no caso do IB, um tutor, existindo
uma aproximação muito grande que vai
no sentido de lhes prestar apoio, con-
fiança mas ao mesmo tempo valores
morais. Para além disso, também reali-
zamos assembleias com regularidade e
esses são grandes momentos em que
podemos passar a nossa cultura huma-
nista para a comunidade”.
O humanismo, aliás, está patente na
própria conduta desta direção, que
tem como tarefa o equilíbrio entre a
dimensão do colégio e a familiaridade
que procura manter com a comunida-
de letiva. Isabel Simão diz-nos que
“gosta de receber os pais e de conhe-
cer os alunos” e assume que é uma di-
retora que vê “as grelhas de testes de
todos eles, mesmo apesar de serem
mais de mil”. Declara que é um traba-
lho “muito exaustivo” mas que ela
própria precisa de “ter este nível de
contacto com a realidade”.
Obedecendo ao propósito de oferecer
uma formação verdadeiramente global,
as atividades extracurriculares também
merecem uma grande relevância, com a
disponibilização de um conjunto que ul-
trapassa as 30. Dentro da prática des-
portiva, estão incluídas modalidades co-
mo o rugby, o ténis, o futebol, o cricket,
equitação, esgrima, natação, basquete-
bol, voleibol, judo e karaté. Já a expres-
são artística também está contemplada
de uma forma abrangente, com aulas de
piano, viola, guitarra clássica, coro, can-
to individual ou teatro.
Evidentemente, isto é exigente quan-
to às condições que o colégio tem de
apresentar, podendo dizer-se que há
aqui uma verdadeira “segunda escola a
funcionar em paralelo”. A estrutura en-
volve “meios, espaços e recursos huma-
nos avantajados, pois só assim é possível
harmonizar milhares de participações
semanais. Todas estas atividades con-
tam com imensos alunos e há muitos
que podem estar inscritos, por exemplo,
no piano, no futebol e no judo em simul-
tâneo”.
Uma comunidade diversaPartilhando connosco a caracteriza-
ção que pode ser feita destes alunos, um
aspeto que ressalva é a grande quanti-
dade de discentes estrangeiros. “Para
além dos ingleses ou franceses, também
começa a haver comunidades de russos,
romenos e, sobretudo, chineses, que já
são mais de uma centena, ou seja, cerca
de uma décima parte do nosso total de
estudantes”, indica.
A área geográfica da qual vêm as
crianças e jovens que, diariamente, che-
gam ao St. Peter’s School também é de
uma abrangência assinalável, com mui-
tos que se deslocam de Lisboa, do Riba-
tejo (Samora Correia, Benavente, Coru-
che) e de diferentes zonas da Península
de Setúbal (destaque para a Costa da
Caparica ou para Sesimbra).
Por último, é quando nos fala do des-
tino que estes alunos costumam ter que
Isabel Simão se mostra especialmente
satisfeita: “São muitos os que prosse-
guem estudos no estrangeiro. A maioria
destes casos encontra-se em Inglaterra
mas temos também exemplos de alunos
em Xangai ou nos Estados Unidos, em
pontos como Nova Iorque ou Miami.
O nosso sistema de aconselhamento, em
que seguimos o modelo inglês e faze-
mos um trabalho muito exaustivo de
conversas individualizadas com cada
aluno, ajuda a que consigamos orientar
os jovens para as melhores universida-
des. Isso também se deve, claro está, ao
facto de serem alunos que normalmente
são fortes e, portanto, quando saem da-
qui acabam por ir para bons cursos, em
boas faculdades e conseguem níveis de
empregabilidade muito interessantes”,
conclui
10 Perspetivas Fevereiro 2016
EnsinoDepartamento de Economia, Gestão, Engenharia Industrial e Turismo da Universidade de Aveiro
Ensino vocacionado para as exigências do novo mundo
Em diálogo com Carlos Costa, dire-
tor do DEGEIT, aprofundámos o nosso
conhecimento sobre a atual realidade
deste que é “o maior departamento da
Universidade de Aveiro em número de
alunos – 1500 diretos, aos quais se jun-
tam, em determinadas cadeiras, cente-
nas de discentes vindos de outros de-
partamentos”.
Atento à nova realidade do ensino,
cada vez mais global e focada na verten-
te prática, o Departamento tem sido al-
vo de uma “procura muito elevada”, sen-
do que em 2014 foram preenchidas as
185 vagas existentes para um total de
1555 candidatos. Neste panorama, se os
cursos do 1º e 2º Ciclos estão totalmen-
te preenchidos, no que concerne ao 3º
Ciclo, “apesar deste ser um dos mais re-
centes departamentos no universo da
UA”, já se encontra “em terceiro lugar
no ranking da instituição em número de
alunos”.
No total, o Departamento apresenta à
sociedade quatro cursos de 1º Ciclo –
Economia; Engenharia e Gestão Indus-
trial; Gestão; e Turismo –, cinco cursos
de 2º Ciclo – Economia; Engenharia e
Gestão Industrial; Gestão; e Sistemas
Energéticos Sustentáveis (este último
fruto da cooperação tripartida entre o
Departamento de Ambiente e Ordena-
mento, o Departamento de Economia,
Gestão, Engenharia Industrial e Turis-
mo e o Departamento de Engenharia
Mecânica) e cinco cursos de 3º Ciclo –
Contabilidade; Engenharia e Gestão In-
dustrial; Marketing e Estratégia; Turis-
mo; e Sistemas Energéticos e Alterações
Climáticas Sustentáveis (este último fru-
to da cooperação entre o Departamento
de Ambiente e Ordenamento, o Depar-
tamento de Economia, Gestão, Enge-
nharia Industrial e Turismo, o Departa-
mento de Engenharia de Materiais e Ce-
râmica, o Departamento de Engenharia
Civil, e o Departamento de Engenharia
Mecânica).
InternacionalizaçãoCarlos Costa, diretor do DEGEIT
desde 2014, é perentório ao assumir que
este espaço vive dias de grande dinâmi-
ca. Um dos seus pontos fortes é a agre-
gação das áreas de Engenharia e Ciên-
cias Sociais: “Neste ‘novo mundo’ a di-
mensão da Engenharia relaciona-se po-
sitivamente com as Ciências Sociais,
nomeadamente na área das operações
para o Turismo e Saúde, por exemplo.
Existem engenheiros que trabalham no
setor da energia, área fundamental nas
questões da Economia do Ambiente,
Gestão e Turismo. Assim sendo, neste
momento, temos uma combinação de
cursos e de investigação que, já sendo
forte, se perspetiva ir cada vez mais lon-
ge”, assevera.
E ir mais longe passa por apostar for-
temente na internacionalização. Nesta
senda, o Departamento empenha-se em
organizar ou marcar presença em even-
tos de dimensão global: “A título de
exemplo, em 2017 vamos organizar, na
área do Turismo, a INVTUR que mobi-
liza cerca de 700 participantes e mais de
30 países”, revela-nos. Esta dinâmica de
internacionalização consubstancia-se no
número crescente de alunos estrangei-
ros que escolhem o DEGEIT para estu-
dar. Se no cômputo geral 10% dos estu-
dantes da Universidade de Aveiro são de
origem estrangeira, aqui o número as-
cende aos 20%. “Nós estamos fortemen-
te internacionalizados!”, vinca o nosso
interlocutor, dando o exemplo de uma
turma de alunos chineses que está inte-
grada na dinâmica do Departamento, ou
de cinco Bolsas CAPES – bolsas de estu-
do atribuídas a estudantes brasileiros,
equivalentes às da Fundação para a
Ciência e Tecnologia, em Portugal –,
que foram concedidas a alunos neste De-
partamento. “Este é o reconhecimento
internacional do nosso prestígio en-
quanto entidade de ensino com qualida-
de internacional”.
Segundo o diretor, a Universidade,
no seu sentido lato, tem que ir ao encon-
tro de novos alunos, novas ligações e
parcerias com centros de conhecimen-
tos internacionais que permitam o in-
tercâmbio de pessoas, experiências, co-
nhecimentos e culturas. “A nossa plata-
forma não é apenas a da UA, é nacional
e internacional. E o que não faltam são
oportunidades!”, garante Carlos Costa
que não perde a oportunidade para emi-
tir a sua opinião sobre a classe política
portuguesa: “Há um discurso pessimis-
ta, fala-se de crise, desemprego, os polí-
ticos esmifram-nos, mas a verdade é que
o mundo está cheio de oportunidades.
A classe política portuguesa viaja pouco
e tem pouca noção da realidade a uma
escala global. Precisamos de políticos
que comecem a emergir da sociedade,
não apenas das fileiras dos partidos.
Precisamos que os políticos vejam e sin-
tam o ‘novo mundo’”.
Reestruturação e novas apostas
Quando assumiu a direção do DE-
GEIT, Carlos Costa procurou “consoli-
dar o Departamento, torná-lo mais efi-
ciente, eficaz e subir no patamar da qua-
lidade”. Três dos pilares fundamentais
que serviram de base à proliferação des-
tes propósitos foram a reorganização in-
terna em termos funcionais; a criação de
novas áreas de trabalho centrais; e a
aposta em duas pedras basilares para o
crescimento da instituição. A primeira: a
investigação, através da reestruturação
do Centro de Investigação, “que já estan-
do avaliado pela Fundação para a Ciên-
cia e Tecnologia como Muito Bom pas-
sou à classificação de Excelente”. As-
sim, contra a corrente, o DEGEIT
criou “uma unidade de investigação
fortíssima”, nas palavras de Carlos
Costa, que engloba o Departamento
de Economia, Gestão, Engenharia In-
dustrial e Turismo (DEGEIT), o De-
partamento de Ciências Sociais, Políti-
cas e do Território (DCSPT) e o Insti-
tuto Superior de Contabilidade e Ad-
ministração de Aveiro (ISCA). Estas
quatro escolas de Gestão funcionam co-
mo “uma grande escola de Economia e
Gestão centrada em novos temas da
Economia”, revela-nos o diretor. A se–
gunda pedra basilar de todo este proces-
so, e que permitiu ao DEGEIT assumir-
-se como um player respeitado e com a
qualidade essencial em matéria de inves-
tigação e inovação, foi a nova relação
com as empresas, introduzindo pontos
de rotura nas linhas diretivas que vi-
nham sendo assumidas: “Por exemplo,
foram substituídos os trabalhos de dis-
sertação teórica por estágios e projetos
em empresas; com base no esforço do
Departamento, conseguimos montar
uma sala onde decorrem fortes ações de
empreendedorismo num projeto desig-
nado de Learning to Be (aprender para
ser)”. Nesse espaço, ao nível das discipli-
nas do empreendedorismo, em detri-
mento do ensino teórico foram convida-
das empresas a apresentarem casos con-
O Departamento de Economia, Gestão, Engenharia Industrial e Turismo (DEGEIT) da Universidade de Aveiro (UA) revela-se um pólo de ensino dinâmico e virado para o exterior. As sinergias criadas com outros centros de conhecimento (nacionais e internacionais) e com o mundo empresarial têm permitido a abertura de novas portas de saber e a rentabilização de esforços, beneficiando assim todos os intervenientes.
Fevereiro 2016 Perspetivas 11
Departamento de Economia, Gestão, Engenharia Industrial e Turismo da Universidade de Aveiro
cretos e em torno de mesas de trabalho
“alunos, vindos de diferentes áreas de sa-
ber, aprendem a trabalhar em equipa e a
resolver problemas”. Esse grande desa-
fio presente no Departamento tem o ob-
jetivo claro de melhorar os níveis de em-
pregabilidade, tornar o ensino eficaz e
útil para as empresas e para as organiza-
ções.
As medidas acima mencionadas pro-
moveram uma mudança no modus ope-
randi do DEGEIT. Carlos Costa eviden-
cia ainda a abertura, nos últimos dois
anos, de quatro concursos ao cargo de
professor catedrático, quatro concursos
ao cargo de professor associado e oito
concursos ao cargo de professor auxi-
liar: “Renovámos profundamente os
nossos quadros e contra a corrente dos
últimos anos, contratámos mais gente,
libertando outros profissionais que não
se enquadravam com esta nova fase de
trabalhos”.
Investigação e Desenvolvimento
A UA é reconhecida pelas suas congé-
neres e pelo tecido empresarial como
uma instituição “com um sentido de
orientação prático, detentora de unida-
des de investigação de ponta” que permi-
tem uma relação profícua com as empre-
sas. Para além disso, o DEGEIT, na fi-
gura de Carlos Costa, tem “a real noção
de que a fatia orçamental que é disponi-
bilizada às instituições de ensino supe-
rior é insuficiente para se impulsionar
com qualidade os centros de Investiga-
ção e Desenvolvimento (I&D)”. Segun-
do nos diz “não conseguiremos ir longe,
nem cientificamente, nem amealhar os
rendimentos necessários para frequen-
tar conferências, se não produzirmos re-
ceitas próprias”. Neste sentido, outro
dos módulos introduzidos no Departa-
mento prende-se com a melhoria do vo-
lume das receitas próprias, sendo sugeri-
do a todos os docentes que angariem
projetos para serem desenvolvidos no
seio da instituição – “angariando proje-
tos, os intervenientes ligam-se às empre-
sas, são melhorados os índices de empre-
gabilidade e, através dos fundos gerados
pelo Departamento, são autossuficientes
para adquirirem todos os meios necessá-
rios para o desenvolvimento das suas
ações”.
Esta ligação com as empresas inicia-
-se desde o 1º Ciclo, o projeto Learning
to Be é um exemplo disso, estando a de-
correr ações de reestruturação nos cur-
sos, através da inclusão de programas
de estágio que é objetivo da direção “se-
jam progressivamente incluídos em to-
dos os anos de ensino”. “Os alunos são
incentivados a colocarem em prática os
seus conhecimentos logo no primeiro
ano, dada a necessidade de adquirem
competências profissionais que só o
mercado de trabalho lhes consegue for-
necer, assim como currículo, que se faz
dentro da academia e na relação desta
com as empresas”, refere o diretor que
nos confronta com uma realidade que
ainda persiste em Portugal: o complexo
de trabalhar e estudar em simultâneo.
Porém, “esta realidade tende, lentamen-
te, a mudar dado que os discentes já per-
ceberam que o mero curso superior não
é um passaporte para o mercado de tra-
balho”.
Neste momento, o grande desafio do
Departamento passa por cativar as em-
presas, encontrar soluções para os seus
problemas, através da ação eficiente dos
alunos. “Sendo que as empresas não des-
pendem de fundos, os empresários ao
verificarem que têm no Campus recur-
sos humanos com capacidade para cap-
tar lucros, apostam na contratação des-
ses alunos. Nos últimos dois anos, os ní-
veis de empregabilidade estão a aumen-
tar drasticamente, porque os alunos vão
para os estágios, são acompanhados e
acabam por lá ficar. Estamos assim a in-
verter um ciclo de desemprego que tem
sido dramático na sociedade portugue-
sa”, refere com orgulho o nosso entre-
vistado.
Estudo: Papel das mulheres na sociedade
O ‘novo mundo’, segundo palavras de
Carlos Costa, é um mundo onde as uni-
versidades não conseguem sobreviver
sem as empresas, mas também estas não
conseguem levar os seus propósitos
avante sem os centros de conhecimento.
O sucesso empresarial depende de qua-
dros que consigam ter formação e sensi-
bilidade para responder a problemas vá-
rios, numa cadeia horizontal. Nesse sen-
tido, “as empresas sabem que vêm cá à
procura de novos produtos que as dife-
renciem e lhes permitam dar resposta às
necessidades do consumidor, caso con-
trário não evoluem e caem num ciclo ne-
gativo. É por isso que estamos a avançar
nessas áreas e noutras que social e eco-
nomicamente são centrais, como por
exemplo, o papel das mulheres na eco-
nomia”.
O diretor fala-nos de um projeto que
decorreu nos últimos cinco anos, sendo
a investigação, publicada a nível mun-
dial, já uma referência: “Vai ser lançado
um número especial na nossa revista de
Turismo e Desenvolvimento que abor-
da a posição das mulheres na nova eco-
nomia. Não se trata apenas da questão
democrática da posição das mulheres na
sociedade, mas sim do modo como uma
sociedade como a nossa, que necessita
de crescer, tem que incorporar recursos
humanos que são centrais na economia.
Verificámos que as mulheres ganham
mais bolsas de ensino, tiram melhores
médias, trabalham mais horas, estão
mais disponíveis e têm uma vontade de
trabalhar e de progredir na carreira, di-
ferente dos homens. Com este estudo,
demonstrámos que existem espaços, em
novas economias que estão a surgir, on-
de as mulheres, sem qualquer tipo de es-
tereótipo, têm um bom perfil para pro-
gredirem profissionalmente. Por exem-
plo, quando temos um tecido económico
onde predominam as PME’s, essa ges-
tão exige qualidades como a polivalên-
cia e a visão lateral que as mulheres de-
têm, em detrimento de outras caracte-
rísticas mais masculinas como o ritmo, a
determinação e a visão”. Isto significa,
fundamentalmente, que os dois géneros
se complementam, porém o DEGEIT, à
semelhança da maioria das instituições
de ensino, tendo um número mais eleva-
do de discentes do sexo feminino e sen-
do que as taxas de desemprego conti-
nuam a ser superiores neste género, es-
tá perante uma realidade que natural-
mente preocupa a organização.
Ainda segundo este estudo, as mulhe-
res predominam na gestão das organi-
zações, mas não chegam aos cargos de
topo, por exemplo, por questões ligadas
à maternidade; outra das razões prende-
-se com o facto de a própria sociedade
sempre se ter pautado por comporta-
mentos de visão e gestão a médio/longo
prazo (“e os homens têm características
que lhes permitem posicionar-se muito
bem nessa vertente”); “não podemos
também esquecer que a sociedade é de-
signada machista, mas durante décadas
a educação dos filhos esteve a cargo
principalmente da mulher, logo estas
também têm alguma responsabilidade
na sociedade que criámos”, aponta Car-
los Costa com base no estudo efetuado.
“Estas dimensões culturais de um mo-
mento para o outro podem ser altera-
das, não nos podemos esquecer que nas
últimas eleições presidenciais entre no-
ve candidatos, duas eram mulheres.
E na liderança dos partidos políticos es-
sa realidade também já se verifica. Por
seu turno, os projetos de investimento
da União Europeia apontam para a im-
portância da posição das mulheres. Lo-
go, esta é uma sociedade mais democrá-
tica! É num mundo de diversidade de
culturas, de pensamentos, de credos, que
floresce o progresso. O mesmo se pode
aplicar aos “estrangeiros” expressão
que quase perde o seu sentido numa Eu-
ropa de portas abertas”, reforça.
Novas competências para empresários
Em jeito de conclusão, Carlos Costa
levanta o véu sobre as novidades que
vão ocorrer no Departamento já no
próximo ano letivo, 2016/2017. Em se-
tembro próximo, o DEGEIT vai apre-
sentar à população interessada dois cur-
sos para responder às novas necessida-
des de formação das empresas e das or-
ganizações. Os cursos de Gestão de
PME’s e Gestão da Restauração são
abertos – com duração de um ano, a de-
correr aos fins de semana – e estão dire-
cionados para ativos destas áreas que,
com ou sem qualificação superior, po-
dem adquirir competências que serão
desde logo aplicadas no quotidiano das
suas empresas.
Segundo Carlos Costa, “os restauran-
tes têm que se tornar unidades econó-
micas fortes”. Os cursos vincadamente
práticos visam colocar em prática os co-
nhecimentos adquiridos, nas empresas
dos discentes, “aprofundando novos ca-
minhos, produtos e formas de gestão”.
O objetivo passa por “promover a me-
lhor gestão das organizações, através de
formação teórica e prática aplicada à
realidade das empresas em causa”, con-
clui.
12 Perspetivas Fevereiro 2016
EconomiaOrdem dos Revisores Oficiais de Contas
Presente e futuro dos Revisores Oficiais de Contas
Que retrato faz relativamente ao
atual estado da classe e que tipo de
avaliação merece, a seu ver, o novo
Estatuto da OROC?
O ambiente económico não é o
mais apropriado para a estabilidade
do exercício profissional dos reviso-
res. A crise económica que teima em
perdurar tem impactos no mercado
de auditoria, provocando problemas
de sustentabilidade sobretudo nas
pequenas sociedades e nos revisores
individuais. Também a crise finan-
ceira, com frequentes notícias pouco
abonatórias da forma como algumas
entidades financeiras geriram os
seus negócios, afeta a imagem de to-
dos os agentes envolvidos, incluindo
os auditores, independentemente do
seu nível de responsabilidade nos
atos praticados. O novo estatuto da
Ordem foi, como em todas as Or-
dens, numa primeira fase adaptado
às novas exigências de regulamenta-
ção das Associações Públicas Profis-
sionais, com grande empenho da Or-
dem e com significativa colaboração
com as Entidades Públicas, designa-
damente, Ministério das Finanças,
donde resultou uma versão que se
afigurava muito equilibrada, mas
que foi completamente adulterada
por ajustamentos de última hora, in-
troduzidos por dois grupos parla-
mentares nos quais a Ordem não se
revê, que contestou, mas em vão. Por
esse motivo e porque entendemos
que foram introduzidas normas que
atentam contra os princípios vigen-
tes na Constituição da República
Portuguesa, foi solicitada assessoria
jurídica para se requerer pedido de
inconstitucionalidade de algumas
normas, o que foi concretizado em
30 de dezembro passado, pelo pedi-
do apresentado ao Senhor Provedor
de Justiça, pela sociedade de advoga-
dos Rogério Alves & Associados.
Quais constituem, no seu entender,
as principais implicações que esta
alteração proporciona aos profissio-
nais do setor em geral e às peque-
nas sociedades de Revisores Ofi-
ciais de Contas em particular?
Somos apologistas e a Ordem
sempre defendeu elevados padrões
de qualidade nos trabalhos de audi-
toria realizados pelos seus membros.
Para além dos beneficiários dos ser-
viços dos revisores oficiais das con-
tas, a Ordem é, seguramente e por
defesa de uma profissão, a principal
interessada na excelência na inter-
venção dos revisores e desde muito
cedo implementou mecanismos de
controlo de qualidade antes de os
mesmos serem exigidos por qual-
quer normativo nacional ou comuni-
tário. Ora, o que não se pode confun-
dir é qualidade dos serviços presta-
dos com mecanismos de controlo
que privilegiam excessos de buro-
cracia e exigências para pequenas
sociedades de auditoria que colo-
quem em causa a sua sobrevivência e
que poderão ser desproporcionadas
face à natureza, dimensão e impacto
na sociedade dos trabalhos realiza-
dos. Neste sentido, as grandes impli-
cações irão resultar num processo de
ainda maior concentração e de afas-
tamento dos jovens que pretendam
aceder ao exercício profissional,
pois, pelo escrutínio a que vão estar
sujeitos, poderão não vislumbrar
muitos fatores de interesse para a
sua dedicação a uma causa que nos
parece cada vez mais necessária no
mundo em que vivemos, que é o ri-
gor e a transparência das contas
apresentadas pelas entidades, quer
públicas, quer privadas.
Como encara o papel previsto para a
CMVM, em particular, no novo esta-
tuto da OROC?
Encaro o papel da CMVM com to-
tal normalidade, ou seja, com rigor,
equilíbrio e justeza na sua atuação. O
nosso desacordo de base, quanto ao
modelo de supervisão definido para
Portugal, nada tem a ver com o facto
de ser a CMVM a autoridade de su-
pervisão da auditoria, mas sim pela
simples razão de que essa autoridade
não deveria ser integrada em qualquer
das entidades de supervisão existen-
tes, mas antes ser definida de forma in-
dependente como aconteceu, por
exemplo, com a Alemanha, Espanha e
a generalidade dos Estados Membros,
modelo que, em nosso entender, refor-
ça a eficácia e a independência de ou-
tros processos de supervisão. Desta
forma, é o princípio de base de que
sempre discordámos e não o facto de
ser a CMVM a autoridade de supervi-
são, com a qual existem relações de
boa colaboração mútua e que se têm
efetivamente demonstrado e revelado
nesta fase inicial, que é sempre algo
turbulenta, de adaptação a esta nova
fase organizativa da auditoria e respe-
tiva supervisão.
Que vantagens e condicionalismos acar-
retam, em particular, aspetos como as
novas normas alusivas à rotação obriga-
tória de auditores ou as novas implica-
ções relacionadas com o controlo de
qualidade e as exigências relativamente
a penalidades e sanções?
A Ordem, desde a fase de discussão
do projeto europeu de diretiva e regu-
lamento de auditoria, sempre manifes-
tou o seu pessimismo quanto aos efei-
tos positivos da rotação na qualidade
José Azevedo Rodrigues, Bastonário da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas (OROC), conversou connosco sobre os temas mais prementes da atualidade da Ordem, abordando também aqueles que considera serem os grandes fatores que estão a condicionar o exercício e a atratividade da profissão.
Fevereiro 2016 Perspetivas 13
Ordem dos Revisores Oficiais de Contas
da auditoria, inclusivamente da inde-
pendência do auditor no momento da
emissão da sua opinião, mas nunca de-
monstrou qualquer oposição a que a
mesma fosse adotada. O tempo irá ser-
vir de prova a esta nossa posição e, não
pretendendo ser futurista, penso que
iremos concluir o que outros países
mais evoluídos nesta área também
concluíram, designadamente os Esta-
dos Unidos. Ora aceite que seja a rota-
ção dos auditores, já é menos tolerável
que as regras nacionais violem as nor-
mas comunitárias que são de aplicação
transversal a todos os Estados Mem-
bros, com claras perdas para as empre-
sas e para os auditores nacionais. Por
se tratar de uma matéria que transcen-
de a jurisdição nacional e, atentas to-
das as sugestões, recomendações e in-
sistências feitas pela Ordem que não
tiveram qualquer acolhimento inter-
no, não nos resta outra alternativa se-
não recorrer à Comissão Europeia, de-
nunciando a distorcida aplicação do
regulamento europeu de auditoria
nesta e noutras áreas, assunto que está
a ser também apreciado por consulto-
res jurídicos.
Que iniciativas e posicionamentos po-
dem os profissionais vir a esperar da
OROC num futuro próximo?
A Ordem pauta a sua atuação pela
defesa da qualidade da auditoria e do
incremento da ação dos seus membros
na sociedade através da intervenção
nas áreas de interesse público relacio-
nadas com a divulgação das contas das
entidades públicas e privadas. Neste
sentido, é simultaneamente exigente
com os seus membros no que concer-
ne aos aspetos relacionados com a sua
ética, profissionalismo e deontologia e
intransigente na defesa da dignidade
dos seus membros quando a mesma
possa estar em risco. É neste equilí-
brio, sem corporativismos e sem libe-
ralismos excessivos que a Ordem tem
procurado atuar e estou convicto de
que assim o continuará a fazer, pois
consideramos que todas as profissões
devem valorizar, incentivar e incre-
mentar as boas práticas e denunciar
iniciativas cujo alcance muitas vezes
não se percebe, que procurem criar
ruídos ou focos de interesse que em
nada contribuem para a melhoria das
condições económicas e sociais.
A formação à distância afigurou-se uma
inicativa/projeto recente digna de desta-
que para os profissionais do setor. Que
balanço podemos fazer relativamente ao
impacto e às vantagens desta medida e
que dados nos pode facultar relativa-
mente à quantidade de profissionais
abrangidos pela iniciativa?
Sim, na realidade foi um projeto
muito acarinhado pela Ordem, face às
vantagens que este tipo de formação
apresenta quando comparada com a
tradicional formação em sala, particu-
larmente para os colegas que se en-
contrem mais afastados dos locais on-
de a mesma é ministrada, normalmen-
te Porto e Lisboa. Contudo, e embora
ainda estejamos em fase inicial, a ade-
são está aquém das nossas expetativas,
talvez porque os revisores oficiais de
contas também encaram a formação
como uma oportunidade de debate de
ideias e opiniões, facto que fica prejudi-
cado neste tipo de formação por ser
bastante mais “solitária”. Até ao mo-
mento, ocorreram cerca de 360 inscri-
ções nos cursos desenvolvidos, o que é
manifestamente insuficiente.
Que perspetivas reserva para o futuro da
profissão?
A Ordem considera que existe uma
desproporção entre o regime de su-
pervisão e sancionatório dos revisores
e as suas responsabilidades como
membros dos órgãos sociais das enti-
dades, o que pode criar entraves à atra-
tividade profissionais para os jovens li-
cenciados. Confunde-se muita vez o
auditor com o decisor, sendo que não
compete ao auditor tomar as boas ou
más decisões de gestão, mas sim asse-
gurar que a informação divulgada pe-
las entidades é verdadeira e apropria-
da, face ao normativo subjacente à sua
preparação. Neste sentido, embora o
revisor se deva pronunciar sobre o
princípio da continuidade, nunca po-
derá assegurar a viabilidade futura
das entidades, sendo, por vezes,
preocupante o nível de responsabili-
dade que se lhe pretende atribuir
neste domínio. O nosso cenário le-
gislativo não é muito consistente
quando se definem as atribuições dos
revisores oficiais de contas, pelo que
seria de lançar mão a um projeto de
harmonização e clarificação, sob pena
de os mais jovens encontrarem vários
pontos de falta de interesse em abraça-
rem uma motivadora carreira profis-
sional. A este facto, acrescem as pers-
petivas pouco otimistas do crescimen-
to económico mundial, com os países
emergentes a mergulharem em crise e
nalguns casos em recessão, condicio-
nando o investimento, a criação de em-
prego e, por conseguinte, a atividade
económica como fator de desenvolvi-
mento interno e externo. São sobre-
tudo estes dois grandes fatores que
afetam o futuro da profissão (1) o cres-
cimento do número e dimensão das
empresas, que em muito depende do
crescimento económico, e (2) o am-
biente legislativo em torno da profis-
são, constituindo um elemento de
atratividade ou de retração do interes-
se dos atuais e futuros profissionais.
Vão os revisores ser chamados a cus-
tear os encargos adicionais que venham
a ser gerados por este novo modelo de
supervisão da auditoria?
Fomos confrontados com um pro-
jeto de Portaria sobre taxas de su-
pervisão de auditoria, a serem co-
bradas diretamente aos revisores e
sociedades de revisores. Trata-se de
mais um encargo de contexto que
poderá afetar a sustentabilidade so-
bretudo de revisores individuais e
pequenas sociedades de revisores e
que são desmesurados em muitas
circunstâncias quando comparados
com outros países, em particular a
vizinha Espanha. Aliás, países há em
que essa taxa não é suportada pelos
revisores, como é o caso da Alema-
nha, pois estes países entenderam,
efetivamente, que não são os profis-
sionais os beneficiários diretos do
serviço, constituindo, assim, mais
um imposto e menos uma taxa. Cla-
ro que a Ordem apresentou a sua
contestação ao projeto, quer pela
perspetiva de incidência dos seus
membros, quer pela sua dimensão,
proporcionando receitas manifesta-
mente excessivas face à experiência
e aos gastos envolvidos na supervi-
são dos auditores que já era executa-
da pelo CNSA e pela Ordem. Não
colocamos em causa a legitimidade
do financiamento da supervisão, mas
sim as quantias envolvidas e os alvos
de pagamento. A Ordem, como enti-
dade que beneficia, em prol da credi-
bilidade da profissão, de um bom
modelo de supervisão e por isso o
tem melhorado continuamente, está
disponível para contribuir para a co-
bertura desses gastos, mas também
entende que outras entidades benefi-
ciárias de uma melhor auditora de-
veriam ser contribuidoras para o sis-
tema.
Rua do Salitre, 51/53 • 1250-198 Lisboa PORTUGALTel.: +351 21 353 61 58 • Fax: +351 21 353 61 49
www.oroc.pt
14 Perspetivas Fevereiro 2016
EconomiaJoão Cipriano & Associados
Implicações do novo Estatuto da OROC
Começamos com um dos aspetos
que mais polémica têm suscitado, que
é o papel previsto para a CMVM não
só no novo Estatuto “mas também e
sobretudo no novo Regime Jurídico da
Supervisão da Auditoria”. João
Cipriano considera que, “com o novo
enquadramento legal, agravaram-se
as características de um modelo de
supervisão que, através do extinto
Conselho Nacional de Supervisão de
Auditoria, já vinha colocando em
causa o conceito de autoregulação ine-
rente a uma ordem profissional, numa
profissão de interesse público”. A res-
peito disto, chama a atenção para o
facto de que “os ROC são os únicos
profissionais liberais em Portugal que
estão sujeitos a uma dupla jurisdição:
da sua Ordem e, desde o início deste
ano, da CMVM”.
Detalhando aquilo que identifica
como mais problemático, acrescenta
o seguinte: “Embora o alargamento
de competências da CMVM tivesse,
aparentemente, que ver com o tema
do controlo de qualidade dos ROC
nas entidades de interesse público,
observa-se que os poderes conferi-
dos a essa entidade ultrapassam essa
dimensão e sobrepõem-se aos da
OROC em matérias que natural-
mente, seriam apenas atribuições
desta. O papel que legalmente cabe
à CMVM prende-se com a supervi-
são das exigências legais, técnicas e
de qualidade, do exercício de todas
as funções de interesse público, por
todos os ROC, para quaisquer enti-
dades, e não somente para as de inte-
resse público ou grandes emitentes
de valores mobiliários. A nova legis-
lação, que não foi bem acolhida no
seio da profissão, dá amplos poderes
à CMVM e consagra um regime
sancionatório muito duro para todos
os profissionais”. Face a este cenário,
lança o apelo: “Não faz parte do
código genético dos ROC a fuga às
responsabilidades, ou o virar a cara
às exigências, mas espera-se que, da
parte dos responsáveis e agentes da
CMVM, exista ponderação na apli-
cação duma lei manifestamente
excessiva para a realidade, quer dos
escritórios nacionais de auditores,
quer da esmagadora maioria das
próprias empresas clientes, as quais
têm muitas limitações para respon-
der adequadamente aos padrões de
uma full scope audit ao abrigo das
normas internacionais da IFAC”.
Rotação obrigatória e restrição de serviços
Questionado acerca da rotação
obrigatória de auditores, já se mos-
tra mais favorável, embora com
reservas face à sua aplicabilidade no
contexto nacional. Diz-nos que
“o princípio da rotação é, por defini-
ção, um bom princípio, para mais
quando estamos em presença do
exercício de funções com preocupa-
ções de independência, qualidade e
transparência”. Contudo, ressalva
que, “enquanto a estrutura da oferta
de serviços a entidades de interesse
público apresentar altos níveis de
concentração em poucos escritórios,
especialmente de empresas interna-
cionais, os efeitos práticos desses
bons princípios ficam muito aquém
de se verificar”. Existe, assim, “um
importante caminho a percorrer,
também da parte dos escritórios de
menor dimensão, num sentido de
assegurar um número suficiente de
empresas nacionais de auditoria com
massa crítica a operar no mercado,
de molde a efetivar os efeitos benéfi-
cos que a rotação prosseguirá”.
Bom princípio parece-lhe ser tam-
bém o da restrição de serviços com-
plementares: “Independentemente
da opinião que se tenha sobre as res-
trições em causa, parece-me, como
ROC e auditor, absolutamente essen-
cial combater a autorevisão ou a mis-
tura de serviços em condições que,
também, distorcem e desequilibram
o mercado em desfavor de quem está
com elevada seriedade na auditoria e
se recusa a fazer mix enviesados de
honorários junto de um mesmo
cliente. Bem sabemos como, no mer-
cado, existem entidades que, ora
aparecem com o rótulo de auditor,
ora assumem o papel de consultor”.
Para essas situações, o nosso interlo-
cutor “reclama uma maior transpa-
rência e monitorização efetiva em
eventuais situações de mistura inde-
vida dessas atividades”.
Por fim, uma outra característica do
novo estatuto que sublinha, enquanto
exemplo positivo, consiste “no facto de
se ter consagrado a possibilidade de
aceitar em Portugal o registo e o exer-
cício da atividade por parte de colegas
de países terceiros”. Entende que
“mais do que uma porta de entrada de
outros profissionais no nosso espaço,
numa concorrência que é sempre sau-
dável, devemos encarar este facto
como um fator de incremento das
oportunidades de internacionalização
da profissão, o que é favorável, como
sinal de alargamento a outros merca-
dos, e como fonte de enriquecimento
técnico e profissional, num mundo em
que os riscos de auditoria junto dos
nossos clientes estão para além das
nossas fronteiras habituais. Mas, tam-
bém aqui, tudo irá depender do modo
como as regras se vierem a aplicar na
prática, nomeadamente, quanto à efe-
tivação da reciprocidade”.
Mercado da auditoriaReferindo-se também à atualidade
do mercado da auditoria e as suas
expetativas para a sua evolução, João
Cipriano diz-nos que “não são, infeliz-
mente, muito otimistas, pelo menos a
curto prazo”. A panorâmica que nos
oferece aponta para “uma exigui-
dade do mercado interno e uma pre-
valência da prática de honorários
baixos, incompatível com as exigên-
cias da profissão”. Conclui, assim,
que “os riscos crescentes, as penali-
zações que a nova legislação drastica-
mente acentua e a necessidade de ele-
var os padrões de atuação dos profis-
sionais, são tudo fatores que, para se
poder compatibilizar preços com eficiên-
cia e eficácia, conduzirão inevitavel-
mente a movimentos de fusão/agrega-
ção de estruturas profissionais. Fazer
preços baixos, exercer a profissão de
forma individual ou sem os meios ade-
quados, ou uma pretensão de manter
uma atividade numa lógica de part-
-time, são formas de estar que, a meu
ver, têm pouco futuro. A profissão de
ROC só se continuará a afirmar e a
crescer, se investir em maiores níveis
de qualificação, numa maior profissio-
nalização dos serviços prestados e
numa aposta na qualidade global, o
que, por sua vez, impõe e supõe hono-
rários compatíveis”.
João Cipriano, da João Cipriano & Associados, partilha connosco a leitura que faz das novas normas que, desde o início do ano, enquadram o exercício da profissão.
João Cipriano & Associados, SROC, LdaInscrita na OROC sob o nº119
Praça de Alvalade nº6 – 3ºDto • 1600-036 Lisboa • Tel.: 218 166 180 • Fax: 218 166 183E-mail: [email protected] • www.acauditores.pt
Fevereiro 2016 Perspetivas 15
Baker Tilly PortugalEconomia
Resolver o problema da ineficiência
Para o nosso interlocutor, ainda
que cada setor tenha a sua tipologia
de problemas, alguns são transver-
sais, destacando a ineficiência. Em
alguns setores, nomeadamente no
Estado, haverá margem para gran-
des melhorias: “Damos pouca aten-
ção aos processos e à forma como
nos organizamos. O estado, por en-
volver, por norma, grandes organi-
zações, é muitas vezes afetado por
ineficiências organizativas e opera-
cionais. Por definição, uma organiza-
ção tende para a desorganização.
A solução para a eficiência está nos
processos: desenho, implementação,
avaliação e responsabilização. Tra-
balhar por processos permite identi-
ficar atividades duplicadas, formas
alternativas de fazer mais e melhor
com os mesmos recursos. Permite
identificar falhas e perceber as suas
causas e responsáveis. Permite
identificar os colaboradores que
mais contribuem para o seu suces-
so, premiando-os. Maximiza out-
puts, otimizando os recursos. Está
associado ao conceito de que os re-
cursos são escassos e de que há
sempre um custo de oportunidade.
Não convive bem com situações de
défices permanentes. Em áreas co-
mo a saúde e a educação, que en-
volvem grandes estruturas, a bu-
rocracia sobrepõe-se à racionalida-
de que os processos aportam. De-
partamentos sem cultura de
processo estão menos preparados
para negociar bem com terceiros
(privados), muito pressionados na
sua tesouraria e consequentemente,
profissionalizados nos seus proces-
sos de venda”. Acrescentando, diz-
-nos que “o estado sempre teve pes-
soas profissionais, competentes e ho-
nestas, mas que o mundo atual não
se compadece com processos inope-
rativos que não promovam uma per-
manente avaliação dos resultados e
uma cultura de melhoria contínua”.
Dentro do seu entendimento da-
quilo que seria uma oportunidade a
explorar de forma estratégica,
Paulo André aponta como prioritá-
ria a exportação destes serviços
(saúde e educação): “A evolução do
mundo, nomeadamente das indús-
trias de transporte aéreo, lazer e
turismo, fez com que serviços não-
-transacionáveis passassem a sê-lo.
Está na hora de promover a venda
da saúde e do ensino lá fora. O
mercado externo já tem sido iden-
tificado e explorado, concretamen-
te, no caso das universidades. Por
exemplo, as melhores escolas por-
tuguesas de gestão têm aumentado
a percentagem de alunos estran-
geiros. Na saúde, também há proje-
tos em que isso está a ser feito,
aproveitando características que
fazem com que, cada vez mais, os
países do norte procurem Portu-
gal. Temos já centros de excelên-
cia na área da medicina. Há que
melhorar os processos de presta-
ção de serviços, rentabilização de
recursos e sua promoção no exte-
rior”. Em suma, “estas duas áreas
têm que ter este foco na receita e
não só no custo, sem prejuízo da
sua função social, a qual não tem
que ser incompatível com uma ges-
tão ainda mais eficiente de recur-
sos e com a implementação gene-
ralizada de processos de revenue
assurance”.
Clarificando aquilo de que fala
quando faz referência a uma gestão
eficiente dos custos, Paulo André
diz-nos que uma área de prioridade
são os “processos de encomendas/
compras, gestão de inventários e
logística”. Continuando, “a maior
eficiência tem que vir de uma me-
lhor gestão de processos e não de
despedimentos ou de balizar pre-
ços por baixo”. A mensagem aqui
subjacente “não é, de todo, cortar
quantidades mas sim fazer mais
com o mesmo e talvez cortar em
determinados serviços não otimi-
zados para investir mais noutras
áreas”. Dando um exemplo de co-
mo os cortes feitos de forma cega
podem ter efeitos contraproducen-
tes no controlo da despesa, alerta
para o facto de começarmos a ter
equipas menos qualificadas no es-
tado: “Os cortes do estado levaram
a uma drenagem significativa de
profissionais qualificados para o
setor privado e, talvez, hoje esteja-
mos menos bem preparados no es-
tado para gerir bem os recursos.
Há que assegurar níveis de quali-
dade de recursos elevados no esta-
do, sem os quais não será possível
aumentar os seus níveis de gestão”.
Para que se comece, efetivamente,
a responder a este desafio das inefi-
ciências dentro de modelos mais
adequados, a palavra que Paulo An-
dré faz questão de sublinhar é a pala-
vra “processo”. Explicando: “O pro-
cesso é uma ferramenta que devia
ser mais utilizada. Há processos pa-
ra tudo e um processo é, essencial-
mente, um código de como se deve
desenvolver uma atividade. É uma
sequência lógica, ordenada e eficien-
te de executar tarefas, monitorizá-
-las e melhorá-las. Permite recolher
indicadores de gestão, financeiros e
operacionais. Porque está subdividi-
do em sub-processos, permite iden-
tificar onde ocorrem falhas, onde fal-
tam recursos, onde existem duplica-
ções de tarefas. Permite identificar
problemas e responsabilizar. Infeliz-
mente, muitas vezes executamos ta-
refas informalmente e sem processos
sistematizados. Esta postura dificul-
ta a introdução de melhorias”.
Claro está que também reconhe-
ce ser “muito mais fácil falar disto
teoricamente do que aplicar na
prática a departamentos/entida-
des/organizações que por norma
envolvem muitas pessoas”. Acerca
disto, a questão da escala é funda-
mental: “Se a pequena dimensão
representa uma falta de capacidade
para que se façam certas coisas, a
grande dimensão também tem o
problema de conduzir a ineficiên-
cias, pois é menos flexível e mais
lenta em processos de mudança. O
caminho, então, no caso do estado
terá que passar pela criação de vá-
rias novas unidades de gestão, que,
por serem identificáveis, se tornem
mais fáceis de gerir”.
Ao mesmo tempo, ainda que sem
se manifestar interessado em fazer
juízos de valor, Paulo André consi-
dera que “a falta de compromisso da
sociedade política e civil na imple-
mentação de estratégias macroeco-
nómicas sustentáveis e coerentes é
outro fator que não ajuda a eliminar
ineficiências. Esta falta de entendi-
mento promove ziguezagues no ca-
minho a percorrer, desperdiçando
tempo, recursos e esforços. Ou seja,
o estado poucas vezes concretiza
movimentos de melhoria contínua
consistentes, situação que é muito
mais frequente ocorrer nas organi-
zações privadas”, conclui.
Paulo André, managing partner, e Tiago Almeida Veloso, tax partner da Baker Tilly Portugal (auditora e consultora), conversaram connosco a respeito desta matéria, descrevendo-nos as diferentes dimensões do problema e esboçando eventuais caminhos.
Paulo André (Managing Partner) e Tiago Veloso (Tax Partner)
16 Perspetivas Fevereiro 2016
EconomiaIsabel Paiva, Miguel Galvão & Associados – Sociedade de Revisores Oficiais de Contas, Lda
Novos desafios no mercado dos ROC’s
A IPMG existe desde 1989, na al-
tura com a denominação de Luís Ro-
sa & Isabel Paiva, SROC. Manteve-
-se o nome até 7 de dezembro de
2001, quando passa a adotar Isabel
Paiva, Miguel Galvão & Associa-
dos – Sociedade de Revisores Ofi-
ciais de Contas, Lda. Atualmente,
integra seis sócios, sendo cinco de-
les Revisores Oficiais de Contas.
Um dos nossos dois interlocutores
nesta conversa, José Luís Nunes,
diz-nos que “a IPMG tem tido um
comportamento positivo nos últi-
mos anos, durante os quais conse-
guiu crescer, embora não pelos fa-
tores normais de mercado”. A con-
tribuir para este crescimento do seu
volume de negócios esteve “a dinami-
zação do escritório entretanto aberto
em Portalegre, que fez a sociedade
ganhar serviços numa área geográfi-
ca onde não os tinha”.
Conforme nos disse, a evolução po-
sitiva que a IPMG registou não se de-
veu às condições do mercado. Bem pe-
lo contrário já que, como é sabido, “es-
te tem diminuído, sobretudo muito
por via da crise económica e das insol-
vências a que deu origem”. Essa é uma
das condicionantes com as quais estes
profissionais se deparam, a que acres-
cem as exigências do novo Regime Ju-
rídico de Supervisão de Auditoria,
através do qual irão entrar em vigor as
novas normas internacionais: “Julgo
que, através de formações com o pes-
soal e de mais algumas mudanças que
fizemos, estamos preparados para esse
desafio. De qualquer das maneiras, é
um desafio que acarreta mais exigên-
cias, maior ritmo de trabalho e mais
custos, estando prevista uma nova ta-
xa de supervisão que vai trazer uma
nova despesa. No fundo, existe uma
exigência cada vez maior devido a al-
gumas coisas que se fizeram sentir,
nomeadamente no setor bancário, que
vieram aumentar as responsabilidades
de todos os intervenientes, entre os
quais estão os auditores. Tudo isso po-
de estar relacionado com a entrada em
vigor de algumas normas, que lançam
estes novos desafios”. A “grande preo-
cupação”, ainda assim, continua a ser
“o definhamento do mercado”, marca-
do por uma “diminuição do universo
de empresas clientes e uma grande
pressão sobre preços que, por vezes,
não é compatível com a qualidade do
trabalho. Não é fácil diminuir custos e
garantir a qualidade”, alerta.
Esclarecendo-nos acerca do posi-
cionamento que a IPMG ocupa den-
tro deste mercado, Nuno Tavares
diz-nos que a sociedade contacta
com “um leque vasto de setores de
atividade”. A este respeito, enumera
“a banca, o setor público (com Muni-
cípios, Hospitais e algumas empre-
sas públicas) e pequenas e médias
empresas ligadas à indústria, ao se-
tor automóvel, à construção, à agri-
cultura e, com grande peso dentro
deste conjunto, o comércio e servi-
ços em geral”.
Na relação com todos estes par-
ceiros, a conduta desta sociedade
passa por “acrescentar valor à em-
presa em questão com o nosso traba-
lho, fazendo-o, obviamente, sem pôr
em causa as nossas obrigações e as
normas que temos que seguir”. Aqui,
uma vantagem que nos é indicada
por Nuno Tavares tem que ver com
“uma abrangência muito ampla
quanto às realidades que o Revisor
Oficial de Contas conhece, abran-
gência essa que normalmente não
está dentro do acesso do empresário
e, muitas vezes, do próprio Contabi-
lista Certificado. Através desse co-
nhecimento, fruto das muitas reali-
dades com que nos confrontamos to-
dos os dias, conseguimos trazer va-
lor acrescentado ao nosso trabalho e
eu creio que os empresários come-
çam a perceber essa situação”. Já Jo-
sé Luís Nunes acrescenta que, na
IPMG, “o objetivo é fazer as coisas
com qualidade e que essa imagem
que é transmitida dá confiança aos
empresários”. Dentro do referido
trabalho, a maior importância re-
cai, naturalmente, sobre a “base da
sua existência” que é a credibiliza-
ção da informação fornecida: “Ob-
viamente, isso é o mais importante
e cada vez é mais sentido. Nós te-
mos que credibilizar aquela infor-
mação que está lá e eles têm que
perceber que este é um processo que
tem de existir”. Para além disso,
existe “o próprio aconselhamento
que fazemos, o qual permite incor-
porar perspetivas diferentes nas de-
cisões que os empresários tomam to-
dos os dias, que melhoram, em nosso
entender, o planeamento futuro e
procuram salvaguardar riscos de ne-
gócio”. Concluindo: “Temos que ser
vistos como parceiros sempre. So-
bretudo pela maneira como tenta-
mos contribuir para melhorar a ima-
gem deles e o seu futuro”.
José Luís Nunes e Nuno Tavares são dois dos sócios da IPMG (Isabel Paiva, Miguel Galvão & Associados – Sociedade de Revisores Oficiais de Contas, Lda.). Os dois conversaram connosco acerca da atividade da sociedade, abordando igualmente a realidade em que a classe está inserida.
Isabel Paiva, Miguel Galvão & AssociadosSociedade de Revisores O� ciais Contas
LISBOA | ALGARVE | PORTALEGRE | FAIAL (Açores)
www.ipsroc.pt
18 Perspetivas Fevereiro 2016
JustiçaAAMM – Abecasis, Azoia, Moura Marques & Associados – Sociedade de Advogados, RL
Novo paradigma na saúde
A sociedade foi fundada a 1 de outu-
bro de 2012 pelo nosso interlocutor,
por José Filipe Abecasis e por Paulo de
Moura Marques, três advogados reco-
nhecidos. O seu desenvolvimento teve
por base o que os seus fundadores
acreditam ser a chave essencial para
um escritório de advocacia de sucesso:
“foco, serviços jurídicos de excelência
impulsionados pela experiência adqui-
rida através da especialização, proxi-
midade e relacionamento forte com
clientes e um profundo conhecimento
dos mercados de atuação dos clientes”.
As principais áreas de atuação passam
pelo Direito da Saúde, Direito do Tra-
balho, Direito Público e Direito Fiscal.
Acerca do que distingue a AAMM,
a sua equipa fala-nos de diferentes
dimensões, como a “abordagem real,
sistemática e prática ao negócio do
cliente, em que atua como parceiro; o
conhecimento dos mercados onde os
clientes operam, do seu negócio e
dos seus objetivos; a apresentação de
soluções adaptadas e eficientes e a
excelência nos serviços jurídicos
através da especialização e da expe-
riência de vários anos de envolvi-
mento em casos complexos”. A
AAMM tem vindo a merecer reco-
nhecimento externo (Chambers and
Partners, The Legal 500, Who’s
Who Legal, Euromoney, Legal Me-
dia Group - Women in Business Law
Awards Winner 2015, Client Choice
2016 – International Winner e Ibe-
rian Lawyer).
Convidado a falar acerca das recen-
tes alterações na legislação que enqua-
dra o setor da saúde, Filipe Azoia co-
meça por nos dizer o seguinte: “Em
nossa opinião, as recentes alterações
que mais impacto e implicações têm
acarretado para os profissionais e
agentes do setor da saúde, bem como
para a população em geral, são o De-
creto-Lei n.º 97/2015, de 1 de junho,
que criou o Sistema Nacional de Ava-
liação de Tecnologias de Saúde (Si-
NATS), a Portaria nº 224/2015, de 27
de julho, que estabeleceu o regime ju-
rídico a que obedecem as regras de
prescrição e dispensa de medicamen-
tos, e o Decreto-Lei n.º 238/2015, de
14 de Outubro, que estabeleceu o regi-
me jurídico das práticas de publicidade
no setor da saúde”.
Acerca do SiNATS, explica-nos
que este “marca, tal como se refere
no preâmbulo do Decreto-Lei n.º
97/2015, de 1 de junho, uma mudan-
ça de paradigma no modo de utiliza-
ção e aquisição das tecnologias de
saúde, nomeadamente medicamen-
tos e dispositivos médicos, com o ob-
jetivo de obter ganhos em saúde”.
Continuando, indica que, “através do
SiNATS, procede-se à avaliação téc-
nica, terapêutica e económica das
tecnologias de saúde, suportada
num sistema de informação que re-
colhe e disponibiliza informação pa-
ra todas as entidades que pretendam
decidir da qualidade, economia, efi-
cácia, eficiência e efetividade da utili-
zação de medicamentos e dispositi-
vos médicos ou outras tecnologias
de saúde. A decisão de permitir a sua
utilização no SNS deve depender
não só dos controlos de qualidade,
segurança e eficácia que presidem à
decisão de introdução no mercado,
mas também de um controlo da efi-
ciência e efetividade que permita de-
monstrar que os recursos públicos
destinados à prestação de cuidados
de saúde são utilizados em tecnolo-
gias de saúde que oferecem mais-va-
lias relevantes”.
Já no que diz respeito à Portaria
nº 224/2015, de 27 de julho, refere
que “vem regulamentar a implemen-
tação de todo o circuito da desmate-
rialização da receita médica, vulgar-
mente designada como «Receita sem
Papel», nomeadamente a prescrição,
dispensa e faturação, adicionando,
assim, transparência à prescrição e
dispensa de medicamentos”. Escla-
recendo-nos acerca das suas vanta-
gens, “a desmaterialização da receita
representa diversas vantagens para
o sistema de saúde, como maior co-
modidade para o utente e menor ris-
co de fraude”.
A dispensa eletrónica permite que
“as farmácias passem a ter maior con-
trolo sobre a validade das receitas e
que, através do sistema central, verifi-
quem, em tempo real, possíveis impre-
cisões da receita”. Para além disso, “o
sistema assegura todo o registo de
prescrição e dispensa, bem como in-
formações sobre a venda de medica-
mentos, que ajuda a caracterizar quer
as necessidades e custos associados ao
acesso ao medicamento, de uma forma
em geral, quer aos benefícios inerentes
ao planeamento e gestão dessas mes-
mas necessidades e custos”.
Os benefícios estendem-se igual-
mente aos utentes, havendo “um acrés-
cimo de mobilidade no acesso à tera-
pêutica, uma vez que, com este novo
sistema, o utente poderá agora com-
prar um de vários medicamentos que
lhe foram prescritos numa mesma re-
ceita médica, levantando posterior-
mente outro ou outros, e podendo fa-
zê-lo em diferentes farmácias, ao con-
trário do que acontecia até agora”.
Finalmente, o Decreto-Lei n.º 238/2015,
de 14 de Outubro, “vem concretizar,
no setor da saúde, alguns princípios e
normas já resultantes do Código da
Publicidade e do Regime Jurídico das
Práticas Comerciais Desleais (que
agora se passam a aplicar subsidiaria-
mente), visando, designadamente,
melhorar a informação e o conheci-
mento do sistema de saúde e a trans-
parência da informação em saúde”.
Com efeito, o referido diploma
“estabelece o regime jurídico aplicá-
vel às práticas de publicidade em
saúde desenvolvidas por quaisquer
intervenientes de natureza pública
ou privada, sobre as intervenções
dirigidas à proteção ou manutenção
da saúde ou à prevenção e tratamen-
to de doenças, incluindo oferta de
diagnósticos e quaisquer tratamen-
tos ou terapias, independentemente
da forma ou meios que se propo-
nham utilizar, aplicando-se, ainda,
às práticas de publicidade relativas
a atividade de aplicação de terapêu-
ticas não convencionais. Assim, ape-
nas está excluído do seu âmbito de
aplicação a publicidade a medica-
mentos e dispositivos médicos, a
qual se encontra sujeita a regulação
específica do INFARMED e a publi-
cidade institucional do Estado”.
Filipe Azoia, sócio-fundador da AAMM – Abecasis, Azoia, Moura Marques & Associados – Sociedade de Advogados, RL e também coordenador da área do Direito da Saúde, apresentou-nos as mudanças na legislação com maior impacto nesta área.
Praça Duque de Saldanha, 1Edifício Atrium Saldanha, 8.º E1050-094 Lisboa • PortugalTel.: (+351) 211 940 538Fax: (+351) 211 940 539E-mail: [email protected]
Fevereiro 2016 Perspetivas 19
Santos Pereira & Associados – Sociedade de Advogados, RLJustiça
Liberdade, Independência e Amizade no Direito Processual Penal
Existe um caminho que já vem sen-
do apontado por alguns autores e que,
pese embora não seja uma grande ino-
vação, sobretudo por já existir noutros
Países, seria, em nossa opinião, um
grande passo para a credibilização e
transparência de um sistema proces-
sual penal que se vê, por vezes, mergu-
lhado numa obscuridade latente, que
nos é trazida pelos casos mais mediáti-
cos. Este caminho é a “saída” do Mi-
nistério Público dos Tribunais, dei-
xando de ser uma magistratura, desde
logo por se adequar bem melhor ao
facto de ser uma estrutura hierarqui-
zada e a sua consagração definitiva co-
mo “acusação pública” /Procuradores
Públicos (e não Magistrados).
Esta saída física dos Tribunais tra-
ria uma grande alteração de mentali-
dades e separação, cada vez mais ne-
cessária, do que é o trabalho da Magis-
tratura Judicial, e em concreto dos Juí-
zes, e quais são os objetivos e funções
que na prática o Ministério Público,
através dos seus Procuradores, vem
desenvolvendo nos Tribunais Portu-
gueses. Desde logo, o facto de uns e
outros entrarem e saírem pela mesma
porta na sala de audiências e se senta-
rem lado a lado, contribui para gerar
confusão na cabeça das pessoas. Não é
caso único, que em plena audiência, de-
terminadas testemunhas pensarem
que o Procurador é o Juiz.
Sejamos claros: o facto dos Juízes
e Procuradores terem gabinetes pa-
redes meias uns com os outros, não
abona para a boa realização da Justi-
ça. Se o Juiz julga e decide, o Procu-
rador promove e sustenta a acusa-
ção/pronúncia até final do Julga-
mento, culminando com um pedido
de condenação ou absolvição confor-
me a sua convicção face à prova pro-
duzida.
Alguém que tem um convívio pessoal
diário próximo, que eventualmente al-
moça junto, que partilha ideias do foro
pessoal ou profissional (dos processos
que possuem comummente ou de ou-
tros), é humanamente provável que ga-
nhem uma harmonia tal, que tendam pa-
ra um pensamento único, que será a to-
dos os títulos a evitar. Não será por aca-
so que vemos em alguns processos des-
pachos judiciais que são quase copy/pas-
te das promoções efetuadas pelo Minis-
tério Público.
Hoje em dia, ninguém exige uma vin-
culação do Ministério Público ao princí-
pio da legalidade na vertente da objetivi-
dade. Exige-se, sim, uma vinculação ao
princípio da legalidade, ainda que numa
perspetiva subjetiva da acusação. As
mentalidades já estão preparadas para
vermos o Ministério Público do lado da
acusação tout cour e os Advogados (dos
arguidos) do lado da defesa. Ora, a possi-
bilidade da existência de um caminho de
“pensamento único” partilhado poderá
fazer, no processo penal, com que desa-
pareça o Juiz das liberdades, o juiz im-
parcial, porque poderá já estar “alinha-
do” em termos de convicção, o que tolda-
rá necessariamente a sua imparcialidade,
ainda que de tal não se aperceba.
Estas questões tenderão a ter maior
impacto na primeira instância onde a
experiência é menor e o convívio é
maior, devido a uma prática de maior
trabalho em gabinete do que nos Tri-
bunais Superiores. Poderão surgir difi-
culdades por parte do Juiz em não de-
ferir uma medida de coação promovida
pelo Ministério Público. Veja-se o caso
da prisão preventiva, que é uma medi-
da de última ratio, e que só deverá ser
aplicada quando outras não servirem
os interesses do processo que, quando
promovida pelo Ministério Público,
dificilmente não será decidida favora-
velmente pelo Juiz de primeira instân-
cia, cabendo posteriormente às Rela-
ções (em regra) a sua revogação.
A verdade é que Juiz e Procurador
que tenham muitos casos em conjunto,
devido a fazê-lo nas condições de even-
tual convivência acima descritas, pode-
rão tender a fazer “equipa”, com o risco
de poder faltar a independência e a
transparência, que se pretendem de um
Magistrado Judicial.
Reforce-se a independência e auto-
nomia do Ministério Público, deem-
-se-lhes mais meios, mas retirem-nos
dos Tribunais e que seja alterada a de-
signação de Magistratura. Em simul-
tâneo poderá fazer sentido, em sede de
processo penal, uma maior aproxima-
ção aos Órgãos de Polícia Criminal,
uma maior direção das diligências de
investigação e trabalho de campo.
Obviamente, as alterações que perfi-
lhamos não são pacíficas, aqui D´El Rei,
seria uma tentativa do poder político
cercear o poder judicial através do afas-
tamento do Ministério Público dos Tri-
bunais. Nada disso, antes pelo contrário,
seria um claro reforço de autonomia e
independência relativamente ao poder
Político, eventualmente acompanhado
com uma alteração da escolha da figura
do Procurador-Geral da República, mais
distanciada do poder político e dos seus
órgãos. Quem sabe até por escrutínio
Popular, ou outra forma de eleição e/ou
nomeação. Mas acima de tudo é preciso
colocar este tema na agenda.
O momento que vivemos atualmente,
pelas razões supra-aduzidas, reúne uma
condição fundamental necessária para
esta reforma: a independência da iniciati-
va, pelo facto da Ministra da Justiça ser
oriunda do Ministério Público e, como
tal, insuspeita de levar a cabo uma refor-
ma que propositadamente prejudicasse o
Ministério Público.
Paralelamente a esta reforma, acre-
ditamos que tarda uma alteração na
forma como se ingressa e progride na
Magistratura Judicial. Diziam os anti-
gos: Deus nos livre de paredes velhas e
Juízes novos! Efetivamente, para jul-
gar um pedaço de vida das pessoas não
bastam livros e muita técnica. É preci-
so vida e essa só se adquire vivendo,
não existe outra forma. Não temos na-
da contra aqueles que, saídos dos ban-
cos da escola, prosseguem pelos ban-
cos do Centro de Estudos Judiciários,
vulgo Escola dos Juízes, vão estagiar
um ano, ou pouco mais, para os bancos
dos Tribunais e começam a julgar. Po-
dem ser os melhores técnicos mas fal-
ta-lhes a vida vivida e sentida para
compreender muito daquilo que lhes
passa pela frente e sobre o qual vão ter
que proferir uma decisão.
Seja por eleição (sobretudo para os
Tribunais Superiores), por nomeação,
por convite, ou outra forma que garanta
a mundividência do candidato a Juiz, co-
meça a chegar a altura de criar um novo
modo, ou mais que um, de acesso e pro-
gressão na carreira de Magistrado Judi-
cial. Existem vários modelos diferentes
em diversos Países. Teremos que esco-
lher qual o sistema que melhor servirá
Portugal, e implementá-lo.
Estas duas mudanças de paradigma
urgem e contribuirão para uma pacifica-
ção entre o povo e o Estado e para a rea-
lização de uma melhor Justiça: por um
lado a saída do Ministério Público do
Tribunais e a consequente clarificação
entre entidade acusadora e órgão deci-
sor; por outro através de maior aceitação
das decisões judiciais proferidas por Tri-
bunais compostos por Juízes com mais
“Mundo”!
Miguel dos Santos Pereira
Advogado
O processo penal constitui a parte do Direito que lida com um dos principais direitos fundamentais: a liberdade. Também por isso é que no processo penal se vislumbram algumas das maiores tensões entre o indivíduo e o Estado.
Santos Pereira & Associados – Sociedade de Advogados, RLRua Cova da Moura, nº 2, 2º Direito – Edifício Premium
Infante Santo – 1350-117 Lisboa – PortugalTel.: +351 211 313 450 – Fax: +351 211 313 459
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20 Perspetivas Fevereiro 2016
SaúdeFederação de Osteopatas de Portugal
Regulamentação das Terapêuticas Não Convencionais: Licenciaturas nesta área, como é possível?
A problemática põe-se muito mais se-
riamente quando a Lei nº. 71/2013, de 2
de setembro, consagrou um regime
transitório destinado a salvaguardar a
situação existente, quer no que respeita
aos profissionais das Terapêuticas Não
Convencionais que já exerçam a ativida-
de, quer no que tange com as institui-
ções que prestam formação nesta área,
onde a Osteopatia está incluída.
No artigo 19.º, nº6, expressa o se-
guinte: “ (…) Para efeitos do disposto no
n.º 1 do artigo 5.º, as instituições de for-
mação/ensino não superior que, à data
da entrada em vigor da presente lei, se
encontrem legalmente constituídas e a
promover formação/ensino na área das
terapêuticas não convencionais legal-
mente reconhecidas, dispõem de um pe-
ríodo não superior a cinco anos para
efeitos de adaptação ao regime jurídico
das instituições de ensino superior, nos
termos a regulamentar pelo Governo
em legislação especial. (…) ”.
Ora, esta remissão dinâmica implica
(no sentido de que não só confirma, mas
também acresce) a necessidade de que a
matéria em causa seja regulada por lei, a
qual não existe. Isto é, não respeita o re-
gime do artigo 19º, nomeadamente, a
proteção às instituições em funciona-
mento que são as escolas que há longos
anos têm vindo a formar estes profissio-
nais das Terapêuticas Não Convencio-
nais. A situação é agravada pela omissão
da legislação de transição que é devida
nos termos do artigo 19º, nº.6.
Nesta temática, há a salientar as exi-
gências normais para os corpos docen-
tes dos respetivos Politécnicos para o
ensino destas Terapêuticas Não Con-
vencionais.
É o próprio Presidente da A3ES -
Agência de Avaliação e Acreditação do
Ensino Superior, Prof. Alberto Amaral,
na sua entrevista ao jornal Expresso de
28/11/2015, que afirma “que não há
corpo docente para arrancar já com os
cursos” e explica qual é o principal obs-
táculo: “a maior dificuldade da acredita-
ção será a existência de um corpo do-
cente devidamente qualificado e espe-
cializado nas áreas em causa”
Isto quer dizer que ainda não há con-
dições para futuras licenciaturas em Os-
teopatia, uma vez que não existe, em
Portugal, corpo docente devidamente
qualificado e especializado em Osteopa-
tia. E nem poderia haver, por duas ra-
zões: primeiro, porque não existia, nem
existe, curso superior oficial de Osteo-
patia em Portugal; segundo, porque
para o pedido de licenciatura ter consis-
tência teria de haver Osteopatas legal-
mente reconhecidos em Portugal, não
só para o corpo docente como também
especialistas para supervisão dos está-
gios.
Não é fácil haver Doutorados em Os-
teopatia em Portugal e mesmo no es-
trangeiro, o que dificulta a formação de
corpos docentes, conforme é regra para
as outras áreas académicas.
Ora, as Terapêuticas Não Convencio-
nais, onde a Osteopatia está incluída, só
tiveram reconhecimento legal a partir
de 4 de Outubro de 2015, data em que
foram distribuídas as primeiras Cédulas
profissionais pela ACSS - Administra-
ção Central do Sistema de Saúde.
Só a partir desta data é que existem
em Portugal profissionais, oficialmente
reconhecidos, destas terapêuticas.
Neste contexto, só a partir de 4 de
Outubro de 2015 é que existem Os-
teopatas legalmente reconhecidos, o
que nos leva a pôr em causa não só
Osteopatas para validarem os Está-
gios exigidos pela A3ES na aprovação
das Licenciaturas, neste caso da Os-
teopatia, como a formação de especia-
listas para a formação de Docentes
exigidos.
A Lei prevê que, para ser especialista,
terá de possuir um curriculum adequa-
do, ter 10 anos de profissão e realizar
exames públicos, o que é impossível pe-
los factos mencionados.
Reforça a nossa posição sobre o pe-
ríodo de transição que as escolas supe-
riores, ao afirmarem ter especialistas
nos quadros docentes, estão a cometer
ilegalidades, pois até à data, pelo que se
sabe, ainda não foram realizados exa-
mes públicos para especialistas, que de-
verão ter regras semelhantes às regras
dos Doutoramentos...
Não pretendemos dizer que estas
Terapêuticas, onde a Osteopatia está
incluída, não tenham de ter base aca-
démica de grau de Licenciatura. Pelo
contrário, como em outros países, os
cursos da Terapêuticas Não Conven-
cionais deverão ser Licenciaturas, que
comprovam a sua vertente académico-
-profissional, que é de interesse geral
para o engrandecimento da saúde em
Portugal.
Só que, pelo que temos vindo a obser-
var nesta regulamentação, vista à luz
dos incontornáveis ditames, o Estado
não segue as regras legais da regula-
mentação.
Importa concluir que a regulamenta-
ção destas Terapêuticas, incluindo a Os-
teopatia, está em causa não só pelo ex-
posto, como também pela restrição de
Direitos, Liberdades e Garantias, ence-
tada em deslegalização violadora do
princípio da inconstitucionalidade,
acrescida ainda de desconformidades ju-
rídicas relacionadas com o não cumpri-
mento de outros limites às restrições,
nomeadamente, por serem, em concre-
to, violadoras da proteção da confiança
devida.
A situação presente justifica a nossa
intervenção em defesa dos presentes e
futuros profissionais de Osteopatia, de
modo a não haver regresso a ilegalida-
des, como tem havido num passado re-
cente, para que os profissionais osteopa-
tas presentes e futuros possam ter uma
profissão legítima, com dignidade e res-
peitada.
A regulamentação, que todos desejamos mas que tem vindo a ser instável na sua essência, está a decorrer de uma forma que merece os nossos comentários.
w w w . o s t e o p a t i a e m p o r t u g a l . c o m . p t
Fevereiro 2016 Perspetivas 21
Saúde ART E APTMN
Associações Profissionais alertam para riscos graves nos cuidados de saúde
Anabela Duarte, presidente da Asso-
ciação dos Técnicos de Radioterapia
(ART) e Luís F. Metello, presidente da
Associação Portuguesa de Técnicos de
Medicina Nuclear (APTMN) alertam
para uma realidade que, se não for modi-
ficada, pode afetar significativamente o
diagnóstico e o tratamento dos doentes
com patologias ao nível cardíaco, neuro-
lógico e oncológico, para citar apenas al-
gumas das mais relevantes.
Sem uma Ordem que represente os in-
teresses de toda a classe, é na qualidade
de presidentes das respetivas Associa-
ções que os nossos interlocutores vêm
uma vez mais a público defender a con-
tinuidade de profissões complexas,
com implicações diretas nas vidas dos
cidadãos que delas necessitem e às
quais, até agora, corresponderam per-
cursos académicos comprovados e re-
conhecidos, assentes em qualidade, rigor
e competência.
Contextualizando, em fevereiro de
2014 “veio a público um relatório desen-
volvido, secreta e misteriosamente, à re-
velia e sem envolvimento das Associa-
ções Profissionais ou sequer peritos nal-
gumas destas áreas, mas que foi legiti-
mado pela Agência de Avaliação e
Acreditação do Ensino Superior
(A3ES)”, que sugeria a necessidade de
adaptação dos planos de estudos de al-
guns cursos de licenciatura que davam
origem a Técnicos de Diagnóstico e Te-
rapêutica para um plano único, de natu-
reza mista.
No caso das presentes Associações, o
recente curso, sob a designação de “Ima-
gem Médica e Radioterapia”, agregaria
as licenciaturas autónomas, de Radiolo-
gia, Medicina Nuclear e Radioterapia, al-
go que ambos consideram “incompreen-
sível”, dado que “com a formação que
era ministrada (quatro anos dedicados,
sendo o último de estágio prático), se
garantia um desempenho mínimo ao
nível do recomendado pelas Sociedades
Europeias e Agência Internacional de
Energia Atómica. Neste momento, estão
a tentar convencer-nos de que é possível
fazer, no mesmo espaço de tempo, uma
formação que habilitaria à ação em três
áreas completamente distintas, manten-
do-se o mesmo nível de desempenho, de
qualidade e de segurança”. Recorde-se
que se o quarto ano era totalmente dedi-
cado ao estágio em contexto real de tra-
balho por imperativo legal, para garantir
a qualidade e a segurança na prática
exercida após o final do curso, nesta no-
va formação tal torna-se impossível, da-
do que em apenas dois semestres terá
que ser realizado um estágio em três
áreas.
Quando os mais recentes comunica-
dos e tendências internacionais “apelam
à especialização”, a ideia de cursos “ban-
da larga” na saúde, de uma forma geral,
“e, particularmente, nestas Tecnologias
de Diagnóstico e Terapêutica é perigo-
síssima”, vinca Luís F. Metello. “Os pro-
fissionais no terreno reconhecem, con-
sensualmente, que pensar que este perfil
de formação está adequado à realidade da
prática clínica é de extrema irresponsa-
bilidade e máxima periculosidade”, reite-
ra Anabela Duarte.
De referir ainda por Anabela Duarte
“que no caso da Radioterapia, os profis-
sionais, estando integrados numa equi-
pa multidisciplinar, seguem diretivas
internacionais que não foram de todo
consideradas nesta alteração. Ou há
uma sensibilização adequada e uma
ação urgente e este ciclo é bloqueado,
ou existe um perigo imenso, porque um
posicionamento errado, um planeamento
errado, um tratamento errado, coloca-
-nos perante um doente oncológico que
corre risco de vida”.
Luís F. Metello acrescenta que na sua
especialidade, “os técnicos de Medicina
Nuclear trabalham com produtos radioa-
tivos e têm que gerir, quotidianamente,
questões ambientais e de radioproteção a
todos os níveis. Para se tratar esta ques-
tão – absoluta e obviamente fundamental
– é necessária formação adequada, o que
não é de todo compatível com o que exis-
te neste novo curso, nem pode ser, por-
que não há tempo suficiente alocado,
nem sequer para os temas e assuntos di-
retamente relacionados com os doentes,
o que fará com os restantes aspetos”.
Se a tendência dos diversos países tem
sido a da especialização “e nós estamos a
receber regularmente missões – vindas
de países como a Bélgica, Irlanda, Dina-
marca, etc. – que vêm em busca do co-
nhecimento do método como se forma e
treina em Portugal”, “aqui, esta realidade
vai regredir cerca de 30 anos”. Interna-
cionalmente, “passámos de modelos a se-
guir, para nem sequer sermos reconheci-
dos pelas referências máximas interna-
cionais nas áreas de Radioterapia e de
Medicina Nuclear”. Anabela Duarte
alerta que a ESTRO (European Society
for Radiotherapy & Oncology) deixou de
considerar equivalentes estes novos li-
cenciados, declarando formalmente não
lhes reconhecer o direito ao exercício
profissional ao nível internacional.
De forma perentória afirmou-se que
“os cerca de 1000 alunos envolvidos na
nova formação e as respetivas famílias
estão a ser enganados, pois são induzidos
em erro ao pensarem que vão ter acesso
a três profissões quando, por mera apli-
cação do contexto legal vigente, não de-
verão ter acesso a nenhuma”.
Recorrendo ao publicado em Diário
da República, Luís F. Metello mostra-se
indignado com o facto de “instituições
idóneas, foram enganadas, e agora enga-
nam, publicitando estes cursos como ga-
rantia de acesso a três profissões distin-
tas, o que não é nem pode ser verdade,
pois que se tratam de profissões certifica-
das e protegidas, que exigem a obtenção
prévia de formação, treino e diplomas es-
pecíficos aqui não garantidos”.
Sem especialização e sem cédula pro-
fissional, estes alunos estarão destinados
ao desemprego, sem perspetivas de futu-
ro e sem especialização ou acreditação
suficiente para serem reconhecidos como
uma mais-valia para qualquer sistema de
saúde, público ou privado, seja em Portu-
gal, seja no exterior.
As Associações em causa interpuse-
ram uma providência cautelar, “que não
foi aceite, por o juiz considerar não exis-
tirem critérios de urgência”. Decorre por
isso uma ação em tribunal que, “perante
a realidade factual do nosso país, pode
gerar consequências gravíssimas, dados
os prazos – habitualmente longos – ex-
pectáveis para a resolução”.
Considerando “obrigatório reverter
esta situação com um máximo de urgên-
cia, as Associações prometem não baixar
os braços e consideram que se deve apro-
veitar o esforço de agregação para aque-
les conteúdos básicos transversais às
três profissões. É de extrema importân-
cia, e de acordo com as referências inter-
nacionais já mencionadas, que pelo me-
nos cinco semestres de formação e treino
sejam dedicados a cada especialidade, só
assim se garantindo o cumprimento dos
requisitos de competência, qualidade e
segurança no desempenho profissional.”
Afirmaram que, assim, todas as três as-
sociações envolvidas e os sindicatos rele-
vantes estarão de acordo em que seja
concedida a respetiva cédula profissio-
nal, findando as respetivas declarações.
Fruto do trabalho e do estudo dos seus profissionais, Portugal é hoje reconhecido como uma referência internacional na formação, investigação e desempenho na área das Tecnologias de Diagnóstico e Terapêutica. Porém, nalgumas áreas específicas, tudo corre o risco de vir a ser alterado se o apelo das Associações e dos Sindicatos do setor não for posto, urgentemente, em prática.
22 Perspetivas Fevereiro 2016
SaúdeServiço de Angiologia e Cirurgia Vascular do Hospital de Santa Marta
Um serviço pioneiro que se mantém na vanguarda
Começando por nos dar uma breve
definição daquele que é o seu trabalho
de uma vida, diz-nos que a Angiologia
e Cirurgia Vascular “é uma especiali-
dade médico-cirúrgica, que estuda os
vasos sanguíneos e linfáticos, fazendo
o diagnóstico das doenças que lhes di-
zem respeito e tratando-as, procuran-
do a recuperação dos doentes com pa-
tologias da circulação arterial, venosa
e linfática”.
Em 18 de junho de 1973, esta es-
pecialidade autonomizou-se da Ci-
rurgia Geral, nascendo neste serviço
onde o nosso entrevistado nos rece-
beu. Como refere, “foi este o primei-
ro serviço em Portugal com instala-
ções próprias e quadro próprio, quer
médico quer de enfermagem. O seu
primeiro diretor foi o Dr. Mendes
Fagundes, que foi o grande impul-
sionador do serviço, ao qual se se-
guiu o Dr. Armando Farrajota e,
mais tarde, o Dr. Santos Carvalho,
sendo eu o quarto diretor da sua his-
tória”.
Luís Mota Capitão ingressou
aqui, no internato de Angiologia,
corria o ano de 1978. Foi o quinto
interno da especialidade a aparecer e
orgulha-se de o ter feito num servi-
ço “com um enorme peso histórico”,
com “grande tradição no tratamento
destas doenças e também na forma-
ção de profissionais quer na área mé-
dica quer na área da enfermagem”.
Acerca desse peso histórico, convém
lembrar que, nas décadas que se se-
guiram, o serviço do Hospital de
Santa Marta manteve a responsabi-
lidade de ser um dos muito poucos
existentes no país. “Só nos últimos
dez anos é que esta especialidade,
que é altamente diferenciada, deixou
de ser praticada apenas em Lisboa,
Porto e Coimbra, tendo começado a
haver uma abertura para unidades
mais pequenas ”, indica.
A perceção que pôde ter ao longo
deste tempo resulta num testemunho
de inegável importância quanto à evo-
lução da prática da Cirurgia Vascular:
“Está muito distante da que existia na
altura. Está menos agressiva, mais ex-
pandida e a qualidade é muito diferen-
te mas temos que nos colocar no papel
dos pioneiros, aos quais devemos
imenso. Penso que deve ter sido muito
difícil, para quatro jovens médicos, ini-
ciarem uma especialidade oficial, so-
bretudo tratando-se de uma especiali-
dade de enorme complexidade, com
cirurgias muito difíceis, em que os re-
sultados por vezes não eram os espe-
rados. Se nos colocarmos no papel de-
les, percebemos que foram uns gran-
des heróis, muito corajosos e arroja-
dos, tal como foram também os
pioneiros no Porto e em Coimbra”.
Continuando, conta que, “ao assistir a
toda a evolução da Cirurgia Vascular”,
assistiu também “a cirurgias cada vez
mais arrojadas, feitas de uma maneira
menos agressiva”. De tal forma que,
“hoje, num serviço moderno como es-
te, 60% das cirurgias é por via endo-
vascular”.
Contudo, e relembrando que se tra-
ta de “uma especialidade médico-ci-
rúrgica”, afirma que o objetivo é “tra-
tar os doentes de maneira a não ter-
mos de os operar”. Para esse fim, “a te-
rapêutica médica das doenças
vasculares, nomeadamente arteriais,
também não tem nada a ver com o que
era, muito por via de um enorme de-
senvolvimento do ponto de vista da
indústria farmacêutica”. Outro fator
que concorre para tal tem sido “a pre-
venção dos fatores de risco (como o ta-
baco, a hipertensão e o consumo do
sal, a diabetes, a obesidade ou o seden-
tarismo) que, ao fim de 20 ou 30 anos,
modificou o panorama das doenças,
nomeadamente na arterioesclerose, e,
portanto, as lesões que hoje são trata-
das não são as mesmas da altura”.
“Nós sabemos fazer tudo”Como se conclui do que já nos foi di-
to, “hoje existe, de facto, uma compo-
nente endovascular da capacidade téc-
nica dos cirurgiões que não havia há
30 anos e que lhes permite resolver os
problemas de uma maneira menos in-
vasiva”. Respondendo adequadamente
à prática atual desta cirurgia, o serviço
do Hospital de Santa Marta mantém-
-se versátil: “Há serviços que não têm
a parte endovascular e há outros que
não têm a parte clássica. Nós aqui sa-
bemos oferecer tudo; se é para fazer
por via convencional, por via endovas-
cular ou por via híbrida, nós sabemos
como fazer e, portanto, oferecemos ao
doente aquilo que é o melhor para o
seu caso”.
Também na atividade de diagnósti-
co o serviço foi pioneiro, fazendo-o,
atualmente, tanto por meios não inva-
sivos (ecodoppler) como invasivos (ca-
teterismo). “Não perdemos controlo
dos diagnósticos das doenças vascula-
res quer arteriais, venosas ou linfáti-
cas”, diz, reforçando novamente que,
sendo uma especialidade medico-ci-
rúrgica, implica um acompanhamento
do doente em que “somos nós que o te-
mos na consulta, que fazemos o diag-
nóstico não-invasivo ou invasivo, que
operamos ou não e somos nós que fica-
mos com ele para o resto da vida”.
Quanto à estrutura que este traba-
lho pressupõe, o diretor faz-nos a se-
guinte descrição: “Em termos de capa-
cidade instalada, este é o maior serviço
da especialidade a nível nacional, sen-
do que, em recursos humanos, é equi-
valente aos do Santa Maria, do São
João e do Santo António. Temos uma
enfermaria de 34 camas, uma unidade
de cuidados intermédios vasculares
com quatro camas (para doentes com
uma necessidade de monitorização
quer operatória quer pós-operatória
mais vigilante) e uma unidade de dor
vascular também com quatro camas.
Temos também um bloco operatório
específico para a Cirurgia Vascular
(1500 a 2000 cirurgias por ano), com
duas salas que funcionam das 8 da ma-
nhã às 8 da noite, sendo que uma delas
recebe doentes urgentes sempre que
for necessário. A nossa urgência é re-
ferenciada, a única do país, e tenho
aqui dois médicos em permanência fí-
sica, 24 horas por dia, para a urgência
vascular. Para além disso, temos uma
consulta diária, que todos os nossos
O Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular do Hospital de Santa Marta foi o berço desta especialidade na medicina nacional. O diretor, Luís Mota Capitão, tem acompanhado a sua evolução desde há quase 40 anos e apresentou-nos o seu balanço.
Fevereiro 2016 Perspetivas 23
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular do Hospital de Santa Marta
médicos fazem, a começar no diretor e
a acabar no interno do 4º ano. Faze-
mos cerca de 14 mil consultas por ano,
distribuídas por consultas de Cirurgia
Vascular Geral, consulta protocolada
de Úlcera Venosa da Perna, de follow-
-up de endopróteses, de tratamento de
aneurismas da aorta TEVAR/EVAR,
de acessos vasculares para hemodiáli-
se e também para malformações vas-
culares. Depois, dispomos também de
um Laboratório de ecodoppler, em que
realizamos cerca de 6500 exames por
ano, e, dois dias por semana (quarta e
sexta), temos uma sala de Hemodinâ-
mica partilhada em que fazemos cate-
terismos (350 por ano)”.
Todo este trabalho passa por Luís
Mota Capitão e pelos dois chefes de
serviço, João Albuquerque e Castro e
Maria Emília Ferreira, estando o ser-
viço dividido em duas equipas. Ao to-
do, o pessoal médico é composto por
19 profissionais, em que, para além
dos três já mencionados, contam-se
cinco assistentes hospitalares gradua-
dos, cinco assistentes hospitalares e
seis internos. Há ainda dois técnicos
de Cardiopneumologia e o quadro de
enfermagem, chefiado, na parte do in-
ternamento e consulta, por Paula Pi-
nheiro e, no bloco operatório, por Ana-
bela Madaleno. “Temos um corpo de
enfermagem que trabalha connosco
há bastante tempo e que é, de facto,
uma equipa impecável”, sublinha.
Papel formativoAcerca da atividade formativa que
aqui é desenvolvida, divide-se em pré-
-graduada e pós-graduada. Na última,
o serviço acolhe um interno por ano,
merecendo este elemento uma espe-
cial atenção: “Queremos que saiam da-
qui com uma capacidade de interven-
ção profissional muito alta e, de facto,
quando saem daqui, ficam sempre em
primeiro ou segundo lugar dos con-
cursos nacionais da especialidade. São
muito bem formados e é ponto de hon-
ra desta casa que toda a gente tenha
esse cuidado com eles”. Continuando a
esclarecer-nos acerca do trabalho que
é feito com os internos, explica que
“rodam entre as duas equipas que
compõem o serviço, ficando na equipa
em que está o respetivo tutor no últi-
mo ano. Todos os anos, os internos fa-
zem um exame que é semelhante ao de
um concurso de saída”.
A atividade pré-graduada passa pe-
las “aulas práticas e teóricas aos alu-
nos do 2º e 4º ano do Mestrado Inte-
grado em Medicina (cadeiras de In-
trodução à Prática Clínica e de Espe-
cialidades Cirúrgicas, respetivamente)
da Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Nova de Lisboa, que
passam aqui uma semana”. Esta parte
é “coordenada por mim, pelo Profes-
sor Frederico Gonçalves, que é o nos-
so primeiro doutorado, pelo Dr. Gon-
çalo Alves e pela Dra. Rita Ferreira”.
Quanto à investigação, é um serviço
que “tem uma tradição de fazer inves-
tigação já de longa data, ainda que nos
últimos anos esse trabalho tenha sido,
de facto, intenso, quer na investigação
clínica quer para programas de douto-
ramento”. É uma parte “muito acari-
nhada” junto deste grupo, estando fo-
cado em conseguir fazer parte de gru-
pos de investigação internacionais e a
contribuir com guidelines e ensaios
clínicos.
Constante atualizaçãoRetomando a ênfase já colocada na
importância deste serviço, Luís Mota
Capitão vinca que “só há um serviço
de Angiologia e Cirurgia Vascular no
Centro Hospitalar de Lisboa Central,
que é este. Há, portanto, uma enorme
responsabilidade porque este é um dos
grandes centros hospitalares do país e
porque temos que responder não só ao
Hospital de Santa Marta, como tam-
bém a São José, D. Estefânia, Capu-
chos e Curry Cabral”.
Atendendo a isso, aqui faz-se “tudo
quanto é do campo da Angiologia e
Cirurgia Vascular que se pratica na
Europa e no Mundo, porque houve
sempre a capacidade de estarmos na
crista da onda do que se faz a nível in-
ternacional”. Algo que já é genético
neste serviço é o facto de todos os in-
ternos, no fim do internato, irem para
o estrangeiro (o nosso interlocutor,
por exemplo, esteve em Londres). “No
4º ou 5º ano, vamos para centros que
evidenciem uma excelência prática em
determinadas áreas que nós queremos
trazer para Portugal. Todos nós te-
mos essa preocupação e é isto que to-
dos os internos fazem, durante alguns
meses. Acaba por ser algo que nos per-
mite não só ter uma visão aberta da es-
pecialidade, sobre como está a correr
no mundo, como também nos permite
ter laços de amizade com outros cirur-
giões estrangeiros, o que é importan-
te. Com isso, ganhamos conexões,
oportunidades para trabalho de inves-
tigação em grupo, parcerias, trocas de
impressões quanto a casos mais com-
plexos e temos pareceres de líderes de
opinião mundiais com muita facilida-
de”, elucida.
Panorama atualPartilhando connosco a maneira co-
mo observa a realidade da Angiologia
e Cirurgia Vascular, diz-nos que “a es-
pecialidade já não está naquela muta-
ção em que se encontrava há sete ou
oito anos, dado que a parte endovascu-
lar já está muito afirmada. Não há, de
facto, nenhum sítio da árvore circula-
tória onde não se consiga ir por via en-
dovascular”.
O que teme é, precisamente, que se
perca qualidade na abordagem con-
vencional, deixando o alerta: “As gera-
ções que vêm a seguir à minha não po-
dem perder a parte da cirurgia pesada
e clássica, porque continua a aplicar-
-se. Os riscos que há nesta especialida-
de é que as gerações futuras só façam
cirurgia endovascular. Depois, quando
é preciso usar uma técnica clássica têm
mais dificuldade, o que é o contrário
do que acontecia há 15 ou 20 anos. Lá
fora, há serviços que só fazem uma
coisa ou outra e o que é difícil é conse-
guir manter o equilíbrio nestes servi-
ços formadores. É daqui que saem es-
pecialistas para todo o lado, assim co-
mo acontece no Santa Maria, em
Coimbra, no São João ou no Santo An-
tónio, e, portanto, eles têm que sair da-
qui a saber atender de todas as manei-
ras. No nosso serviço, temos a particu-
laridade de dar capacidade formativa
em cirurgia clássica e em endovascu-
lar, assim como também na híbrida.”
Quanto à parte médica, está “con-
victo de que vai continuar a progre-
dir, por via da capacidade da indús-
tria farmacêutica para desenvolver
novas moléculas para o tratamento
de doenças como a arterioescleróti-
ca”. Também na componente pre-
ventiva, nota que, hoje, “toda a gen-
te percebe que os fatores de risco
cardiovasculares são verdadeiros.
Percebe que o tabaco é gravíssimo
não só a nível oncológico como tam-
bém cardiovascular; que a hiperten-
são destrói vários órgãos e que é
uma condicionante da circulação que
tem que ser controlada, daí que a
restrição de sal seja muito importan-
te; que a diabetes é uma pandemia e
que o seu controlo é vital para a so-
brevivência da humanidade”.
Continuando, vinca que, “felizmen-
te, os cirurgiões vasculares, apesar de
serem cirurgiões, perceberam muito
cedo que a doença vascular tinha uma
componente médica que era funda-
mental e nunca abriram mão disso”.
Encontrando, no seu serviço, um
exemplo de como isso se traduziu
num êxito, conclui a nossa entrevista
com os seguintes resultados: “Temos
14 mil doentes para consulta e só ope-
ramos dois mil, ou seja, não são mais
de 13% os doentes que nos chegam às
mãos para cirurgia”.
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vasculardo Hospital Santa Marta do Centro Hospitalar Lisboa Central
Rua de Santa Marta, 50 • 1169-124 Lisboa • Tel. 213 594 000
Saúde
24 Perspetivas Fevereiro 2016
Clínica de Doentes Pulmonares
Maior atenção às doenças respiratórias
O conjunto das doenças respirató-
rias inclui várias diferentes patolo-
gias mas, atualmente, a grande pre-
valência é representada pela Doença
Pulmonar Obstrutiva Crónica
(DPOC). Esta define-se como uma
doença que provoca o estreitamento
das vias aéreas respiratórias, pouco
reversível, e uma destruição do teci-
do pulmonar. Os sintomas mais fre-
quentes são a tosse, expetoração e
dificuldade na respiração, tendo esta
doença origem em fatores como a
poluição e o fumo do tabaco.
De acordo com os dados de que dis-
pomos, a Doença Pulmonar Obstruti-
va Crónica (DPOC) atinge no nosso
país cerca de 14% das pessoas com
mais de 40 anos de idade, sendo que
esta percentagem aumenta à medida
que a idade vai progredindo. Dentro
destes 14%, José Reis Ferreira estima
que mais de metade esteja situada no
nível 1 de gravidade, estando o restan-
te deste universo distribuído por
graus de maior expressão da doença.
Segundo nos diz, “é importante en-
contrarmos os doentes ainda nas pri-
meiras duas fases, uma vez que, se
conseguirmos fazer com que fujam do
tabaco e do sedentarismo, já se evita
que haja uma progressão para as ou-
tras duas etapas”.
Os problemas respiratórios têm,
efetivamente, “um grande impacto na
sociedade”, perspetivando-se, segundo
a Organização Mundial de Saúde, que
a DPOC venha a ser a terceira maior
causa de mortalidade em 2030. Contu-
do, ainda não existe um grau de cons-
ciencialização que corresponda à gra-
vidade do problema. “As pessoas não
têm a consciência de que têm pulmão
até que ele começa a falir. A falta de
consciência é maior do que em relação
a outros órgãos como o coração, o es-
tômago ou o rim. Estamos a falar de
um órgão com grande reserva, que
pode já estar muito afetado sem que a
pessoa note nada. O resultado é que só
quando, entretanto, já se estragou
grande parte do pulmão é que o doen-
te vem ter connosco”, explica. Acres-
centando, alerta também que “esta é
uma doença de declínio, em que quan-
do se perde uma parte da funcionalida-
de esta já não se recupera facilmente”.
Resulta daí que seja especialmente
importante que seja detetada preco-
cemente. Para que tal aconteça, José
Reis Ferreira defende que “o ideal
era que houvesse uma ligação ade-
quada entre nós, que fazemos os
exames, e o médico de Medicina Ge-
ral e Familiar, que é quem está na li-
nha da frente, é quem está junto das
famílias e é quem pode até saber, se-
cundariamente, que o filho ou o ma-
rido de uma paciente sua é fumador
e que pode já ter sido algumas vezes
afetado por demoradas constipações.
Uma situação destas é um exemplo
de possível DPOC e, como tal, um
fator para que uma pessoa venha fa-
zer um exame”. Continuando, lem-
bra que, a nível da clínica geral, “já
se conseguiram resultados muito
bons para a diabetes, para a hiper-
tensão ou para a doença reumatis-
mal, mas que, infelizmente, a parte
respiratória fica ainda um pouco es-
quecida”.
Sublinhando que “é uma afeção invi-
sível até ao momento em que os teci-
dos se encontram já destruídos”, José
Reis Ferreira reforça que há que divul-
gar perante o público o quanto esta é
“uma questão importante”. À seme-
lhança do que acontece com outras pa-
tologias, seria então necessário “ter
gente do desporto, das artes ou da mo-
da a falar junto da sociedade sobre os
problemas respiratórios”. Ao mesmo
tempo, ainda há um caminho a percor-
rer nas medidas de saúde pública diri-
gidas ao problema do tabagismo,
apontado como causa de 85% dos ca-
sos de DPOC: “Já devíamos estar mais
avançados nesse aspeto. Se fizermos
bem as contas, este tipo de prevenção é
uma solução muito mais abrangente
nos seus efeitos e também muito mais
económica.”
Referência na áreaO nosso interlocutor nesta conver-
sa desempenha, como já foi referido, o
papel de diretor-clínico da Clínica de
Doentes Pulmonares, em Lisboa.
Contextualizando-nos acerca deste
espaço, fala-nos de “uma história que
surge em 1984, com a iniciativa do
Professor Doutor António Couto, que
entendeu que faltava uma instituição
privada que trabalhasse com exames
acessíveis a quem cá viesse ou fosse re-
ferenciado (para isso estabelecemos
um acordo com a ARS) e que traba-
lhasse também de uma forma comple-
ta, já que ele desconfiava muito dos
exames elementares, que nem sempre
exploram as possibilidades completas
desta tecnologia”.
José Reis Ferreira associou-se a
esta equipa logo nos seus primór-
José Reis Ferreira, médico pneumologista e diretor-clínico da Clínica de Doentes Pulmonares, defende que ainda há muito por fazer para que o público esteja devidamente consciencializado acerca deste problema.
Fevereiro 2016 Perspetivas 25
Clínica de Doentes Pulmonares
dios, em 1985, e lidera, atualmente,
uma estrutura completamente em-
penhada na promoção da saúde res-
piratória, cujo trabalho é uma refe-
rência nacional para os estudiosos
da matéria. Uma evidente caracte-
rística diferenciadora é a especializa-
ção nesta área da saúde, ainda que
com uma abordagem interdiscipli-
nar e complementar. Para além do
diretor-clínico, a equipa que preen-
che este conjunto de atividades é
composta por outros três médicos
especialistas de Pneumologia, uma
especialista em Imunoalergologia e
técnicos de função respiratória.
A atividade de diagnóstico e pre-
venção que é aqui realizada centra-se
no estudo funcional respiratório, com
um leque de exames cuja base é a espi-
rometria, podendo incluir também a
oscilometria de impulso, testes de
broncodilatação e de provocação brôn-
quica, difusão alveolocapilar, mecânica
ventilatória, compliance pulmonar, ga-
sometria arterial, pressões máximas e
oxiergometria. Todo este conjunto de
provas tem por objetivo avaliar a res-
piração em comparação com os valo-
res tidos como os normais, ou de refe-
rência. A informação resultante destas
provas permite perceber como está o
indivíduo quanto à obstrução das vias
aéreas, se o pulmão dispõe de capaci-
dade adequada ou ainda se o oxigénio
está a ser devidamente captado para o
sangue. O médico garante que estes
testes são simples e que não provocam
incómodo nem desconforto para o pa-
ciente, exigindo apenas que sejam se-
guidas as indicações do examinador
quanto às manobras de respiração, ne-
cessárias a cada procedimento.
Além da avaliação da função res-
piratória, estão disponíveis tam-
bém os exames de alergia, em que
é avaliada a resposta do utente a
vários produtos inaláveis ou de
origem alimentar; outro serviço
importante aqui desempenhado
prende-se com o apoio à cessação
tabágica. Conforme nos explica Jo-
sé Reis Ferreira, é um trabalho que
funciona com base “no diálogo e na
avaliação da pessoa e da dependên-
cia. O importante, nas consultas de
tabagismo, é mesmo esse diálogo e
o estabelecimento de uma relação
de confiança. Não é uma consulta
complexa mas é sempre para in-
centivo da motivação e exige, por
isso, uma excelente relação entre
nós e o utente. Aquilo que faz com
que o possamos ajudar é o facto de
colecionarmos uma série de expe-
riências anteriores, que nos permi-
tem perceber como é que havemos
de responder aos problemas con-
cretos daquela pessoa”.
Falar de confiança na relação com
o utente e de individualização na
abordagem ao seu caso pressupõe
um ambiente de confiança e empatia,
sendo que essa é, de facto, uma ca-
racterística que a Clínica dos Doen-
tes Pulmonares sempre promoveu.
Em simultâneo, a própria pneumolo-
gia é uma área em permanente evo-
lução, que também exige, da parte
dos seus profissionais, uma contínua
adaptação dos seus meios e procedi-
mentos. É, precisamente, olhando
para esse desafio que José Reis Fer-
reira conclui a nossa entrevista, dei-
xando a garantia de que, interna-
mente, “vai haver sempre um esforço
por nos atualizarmos, sempre com as
condições técnicas que melhor res-
pondam ao que se faça atualmente”.
Clínica de Doentes PulmonaresProvas de Função Respiratória
Pneumologia AlergologiaCampo Grande 4, 4º • 1700-092 LISBOA • Tel. 217 996 480 • Fax 217 996 489
email: [email protected] • www.clinicapulmonar.pt
26 Perspetivas Fevereiro 2016
SaúdeInstituto Português de Oncologia do Porto
Acompanhamento multidisciplinar caracteriza a ação do IPO-Porto
O IPO-Porto tem por base o tra-
tamento centrado no doente, nesse
sentido o ambulatório está organi-
zado por clínicas de diferentes pa-
tologias, de modo a que todas as es-
pecialidades que abordam as distin-
tas vertentes do diagnóstico e tra-
tamento do doente oncológico
estejam centradas num único local.
Esta organização proporciona
maior conforto ao utente, respei-
tando o seu espaço e permitindo
que este encare e assimile a vivên-
cia com os cuidados de saúde de
“forma menos agressiva”, permi-
tindo que se gere um ambiente, on-
de os profissionais e os doentes
convivam numa esfera mais reser-
vada, facultando uma relação de
maior proximidade.
Em Portugal são detetados 4 mil no-
vos casos de cancro do pulmão por ano,
sendo que à Clínica do Pulmão, no
IPO-Porto, são referenciados aproxi-
madamente 400. Para dar resposta a
todos os casos, nos seus diversos está-
dios, a Clínica do Pulmão faz uma
abordagem multidisciplinar.
Nesse sentido, todo o corpo clínico
está estruturado de modo a proporcio-
nar o melhor acompanhamento em to-
das as fases do processo de diagnóstico
e tratamento.
Dentro da ação da Clínica do Pul-
mão está integrada a Cirurgia Toráci-
ca; a Pneumologia, a Oncologia Médi-
ca, responsável pelo tratamento médi-
co; e a Radio Oncologia que abordam o
tratamento do doente em Consulta de
Grupo Multidisciplinar. Tem também
assistentes sociais, psicólogos, psiquia-
tras que prestam todo o apoio necessá-
rio para que o doente conviva da me-
lhor forma com a sua situação. A equi-
pa é igualmente composta por profis-
sionais de enfermagem que operam
tanto na componente das técnicas, co-
mo nas consultas médicas e medidas
auxiliares, servindo de apoio à equipa
médica.
O Serviço de Radioterapia do IPO-
-Porto está dotado dos melhores equi-
pamentos e proporciona aos doentes as
técnicas de tratamento mais adequadas
e inovadoras nesta área.
No decurso da sua apresentação,
Marta Soares salienta igualmente a
importância da consulta de cessação
tabágica: “A todos os doentes fumado-
res, numa primeira consulta, é-lhes
proposto a presença em consultas de
apoio que os auxiliem na tentativa de
deixar de fumar”, refere a especialista.
Cancro do PulmãoHabitualmente associa-se a neo-
plasia do aparelho respiratório, mais
comummente designado por cancro
do pulmão, à população fumadora,
mas segundo a coordenadora, Marta
Soares, “neste momento, verifica-se
uma percentagem relativamente ele-
vada de doentes não fumadores”.
Embora o consumo de tabaco não te-
nha diminuído tanto quanto seria de-
sejável, existe uma percentagem
(sensivelmente 30% de doentes) que
nunca fumaram, mas são vítimas do
tumor no pulmão, “alvo de questões
ambientais, nomeadamente a exposi-
ção a poluentes que contribuem para
o surgimento destes tumores”. No
que concerne ao número de fumado-
res por género, se nos homens se ve-
rifica um decréscimo, já no sexo fe-
minino a tendência tem sido de cres-
cimento.
Ao contrário do que se possa pen-
sar, a médica especialista desmonta a
ideia estereotipada de que este can-
cro surge numa faixa etária superior:
“Não é necessariamente assim, espe-
cialmente os não fumadores são
doentes mais jovens, numa faixa etá-
ria entre os 40 a 50 anos”. Nestes ca-
sos a questão genética está compro-
vada, não no sentido em que a doen-
ça é hereditária, “mas sabemos que
nos tumores que surgem em não fu-
madores, as células tumorais têm
(num número relevante dos casos)
uma alteração genética própria, a
mutação de um gene, e naturalmente
exigem uma terapêutica dirigida a
esta alteração”. Para estas alterações
surgiram novos fármacos “falamos
de terapêuticas orais, com uma taxa
de resposta superior, dado que os
avanços científicos nesta área permi-
tiram a conceção de fármacos que es-
tão dirigidos a essa alteração mole-
cular”.
Ao contrário da Quimioterapia que
destrói não só as células tumorais, co-
mo tudo o que as envolve, neste tipo de
“terapêutica alvo”, assim designada, o
tratamento é direcionado para um alvo
molecular que está alterado e por isso
os efeitos colaterais são menores, face
aos verificados nos tratamentos com
base na Quimioterapia convencional.
EstádioAtualmente, ainda não existe um
rastreio de cancro do pulmão que se te-
nha mostrado minimamente eficaz e
que se possa aplicar numa base popula-
cional, no entanto há algumas reco-
mendações para que o designado
‘grande fumador’ – pessoa que fuma
mais que um maço de cigarros por dia,
há mais de 10 anos – faça um Raio X do
tórax ou uma TAC (Tomografia Axial
Computorizada) de modo a verificar se
existe alguma lesão.
Todas as doenças do foro oncológi-
co são estratificadas por estádios que
no cancro do pulmão que se inicia na
doença localizada (Estádio I, Estádio
II), passando pela doença localmente
avançada (Estádio III), até à doença
metastizada (Estádio IV).
A doença localizada é, habitualmen-
te, tratada com cirurgia que pode, ou
não, ser complementada com Quimio-
terapia ou Radioterapia. A doença lo-
calmente avançada é tratada com Qui-
mioterapia e Radioterapia. Por fim, a
doença metastizada é alvo da ação de
tratamentos de Quimioterapia ou no-
vas terapêuticas, nomeadamente, as já
referidas “terapêuticas alvo” e, mais re-
centemente, a Imunoterapia.
O prolongamento da vida do doente,
com qualidade, depende muito das ca-
racterísticas do tumor e do seu estádio
de desenvolvimento ao diagnóstico.
No caso das terapêuticas mais dirigi-
das, a taxa de sucesso aumentou para
sobrevivências médias de cerca de 16 a
18 meses, “quando há uns anos se fixa-
vam sobrevivências que rondavam se-
manas, chegando aos seis meses com a
Quimioterapia”.
Mais recentemente, com a introdu-
ção da Imunoterapia verifica-se o de-
O Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO-Porto) tem desenvolvido um trabalho reconhecido pelos seus pares e pelos milhares de utentes que recorrem aos serviços desta Instituição, inserida no Sistema Nacional de Saúde. Nesta edição do Perspetivas, estivemos à conversa com a médica oncologista e coordenadora da Clínica do Pulmão do IPO-Porto, Marta Soares.
Fevereiro 2016 Perspetivas 27
Instituto Português de Oncologia do Porto
senvolvimento de uma outra situação:
“Numa percentagem de cerca de 20%
dos doentes, conseguimos que a res-
posta obtida com a terapêutica seja
mais sustentada no tempo, ou seja, os
doentes que respondem positivamente
sobrevivem ao fim de três a quatro
anos”, revela a médica oncologista.
Diagnóstico e SintomasO único tratamento curativo no can-
cro pulmão é o tratamento cirúrgico,
mas para isso a doença tem que estar
confinada ao pulmão. “Se for possível
detetar a doença nessa fase, o impacto
na sobrevivência do doente será efeti-
vamente superior” (Estádio I, Estádio
II), denota Marta Soares.
Porém, a maioria dos casos que sur-
gem na Clínica do Pulmão do IPO do
Porto – um centro de referência regio-
nal, sem urgência aberta ao exterior –
surgem já num estado muito avançado
e em fase de metastização, sendo nor-
malmente referenciados pelos médicos
de família ou outros hospitais.
A que se deve esta noção tardia da
convivência com a doença? Questioná-
mos. Marta Soares aponta os sintomas
tardios e “camuflados” como a principal
causa: “Os sinais e sintomas do cancro
do pulmão são pouco específicos e no
doente fumador, a tosse, a expetoração,
já são habituais, não sendo por isso va-
lorizadas as pequenas alterações que
vão surgindo (tosse mais frequente, ex-
petoração com sangue, por exemplo).
Nesse sentido, quando os doentes re-
correm ao médico é porque surgiu algo
de alarmante como a dor ao nível ósseo,
o sangue na expetoração, até mesmo al-
terações neurológicas e nesses casos,
habitualmente o tumor já não está no
pulmão, está metastizado no osso ou no
cérebro, por exemplo, por isso o sinal
que leva a ida ao médico é já um sinal de
uma metastização (Estádio IV).
Para prevenir este estado o acompa-
nhamento do médico de Medicina Ge-
ral e Familiar é fundamental, dado que
é ele quem acompanha o histórico do
utente em grande parte da sua vida.
Atualmente, já existem Centros de
Saúde com sessões de cessação tabági-
ca, para as quais o médico pode direcio-
nar os seus utentes, a par da pedagogia
dada nas consultas regulares e na valo-
rização dos sintomas do doente.
A Clínica do Pulmão não descarta
a sua importância formativa promo-
vendo ações de sensibilização juntos
dos Centros de Saúde: “O diagnóstico
precoce é fundamental e é a única si-
tuação que pode ajudar os médicos,
muito mais que a terapêutica, a dete-
tar as situações numa fase que possa
ser potencialmente curável”, alerta a
nossa interlocutora.
PrevençãoMarta Soares considera que as cam-
panhas antitabágicas têm surgido com
regularidade e que “toda a população
sabe que fumar tem implicações graves
para a saúde”. Porém não se assumem
hábitos de vida saudáveis, as pessoas
“recusam-se a pensar nas consequên-
cias e, socialmente, continua a ser acei-
tável que se fume; as normas legislati-
vas aprovadas e que, terminantemente
proíbem fumar em espaços fechados
que não cumpram certos requisitos,
não estão a ser efetivamente aplicadas
em todos os locais, nomeadamente em
espaços frequentados por faixas etárias
mais jovens”.
Apesar desta realidade, a profissio-
nal considera positiva a ação de certas
associações, “nomeadamente a Liga
Portuguesa contra o Cancro e a Pul-
monale, que têm feito excelentes cam-
panhas de sensibilização anuais que es-
tão a chegar ao público alvo. Mas é ne-
cessário que da parte do cidadão haja a
consciência de que de facto não deve
começar a fumar e que este hábito não
potencia somente o surgimento do
cancro do pulmão, como também ou-
tras patologias, dado que estes doentes
têm doença pulmonar obstrutiva cró-
nica (DPOC) que lhes vai provocar
muitos mais sintomas, degradando a
sua qualidade de vida”.
Investigação e Desenvolvimento
A investigação básica e clínica é um
dos pilares importantes do IPO-Porto.
O Centro de Investigação do IPO-Por-
to é uma unidade de investigação reco-
nhecida pela Fundação para a Ciência e
a Tecnologia, desde 2004, que tem co-
mo objetivo principal a compreensão
dos mecanismos patobiológicos do
cancro que possibilitem a prevenção, o
diagnóstico precoce, a correta avalia-
ção do prognóstico e o desenvolvimen-
to de terapias mais eficazes. É compos-
ta por diversos grupos: Grupo de On-
cogenética, Epigenética, Oncologia
Molecular e Patologia Viral, Patologia
e Terapêutica Experimental, Física
Médica, Radiobiologia e Proteção Ra-
diológica e Unidade de Investigação
Clínica.
Na Unidade de Investigação Clínica
são incluídos doentes e diferentes em
diversos protocolos de investigação em
distintas fases da doença, que facilitam
o acesso a novas drogas numa fase
mais precoce do seu desenvolvimento.
“Essa é no fundo a investigação clínica
mais avançada”.
A Unidade de Investigação Clínica,
criada no início de 2006, tem desenvol-
vido um trabalho excecional, suporta-
do por uma equipa profissionalizada,
registando um crescimento progressi-
vo e sustentado do número de Ensaios
Clínicos e de doentes recrutados, redu-
zindo-se o respetivo tempo de imple-
mentação, com o consequente ganho
em competitividade. Por estas razões, o
IPO-Porto é atualmente um centro de
referência para os Ensaios Clínicos
realizados em Portugal na esmagadora
maioria das patologias tratadas na ins-
tituição, nomeadamente na área do
Pulmão. A Unidade de Investigação
Clínica espera manter nos próximos
anos o crescimento sustentado do de-
sempenho e fomentar a participação
em Ensaios Clínicos de fases ainda
mais precoces (Fase I e II). Existe a
possibilidade de referenciação de doen-
tes para ensaios clínicos específicos.
Avanços na investigaçãoOs avanços da investigação sobre o
cancro do pulmão têm sido notáveis na
última década, “neste momento, exis-
tem inúmeras moléculas em estudo, no
âmbito da Imunoterapia, da Angiogé-
nese e das Terapêuticas alvo, que se
perspetiva apresentem bons resultados
e que tentem, dentro do possível, tor-
nar esta uma doença crónica, em que
não quando não se perspetiva a cura, se
possa prolongar a vida do doente com
qualidade”, termina Marta Soares.
Rua Dr. António Bernardino de Almeida, 4200-072 Porto • Telefone: +351 225 084 000 • Fax: +351 225 084 001
28 Perspetivas Fevereiro 2016
SaúdeAssociação Enfermagem Oncológica Portuguesa
AEOP: 9 anos de atividade científica ao serviço da enfermagem oncológica
Em conversa com o Perspetivas, Elisa-
bete Valério começa por apresentar o pla-
no estratégico para os próximos dois
anos, definido “tendo em conta a relação
da AEOP com os stakeholders, através
do bom relacionamento institucional com
os nossos parceiros internacionais de en-
fermagem oncológica (especificamente a
Sociedade Europeia e a Sociedade Inter-
nacional - ISNCC), com grupos de doen-
tes e familiares e com todas as outras or-
ganizações com atividade em oncologia,
assim como organizações nacionais de re-
levo científico em Oncologia.”.
Em destaque neste plano estratégico
está a intenção de “desenvolver os conhe-
cimentos em oncologia” e “determinar as
necessidades educacionais” dos membros
da associação. Uma vez feito esse levanta-
mento, a AEOP propõe-se promover “os
recursos e acessos a programas educacio-
nais, avaliando o seu impacto”, explica a
nossa interlocutora.
Importa referir, neste âmbito, o papel
que a associação tem vindo a desempe-
nhar através de plataformas como a sua
página web ou a revista científica Onco.
News, as quais se assumem como “um
meio de divulgação de trabalhos científi-
cos” que tem vindo a melhorar “o conhe-
cimento e a capacidade crítica dos pares,
sempre com o objetivo comum da melho-
ria de cuidados de Enfermagem ao doen-
te Oncológico”, argumenta Elisabete Va-
lério.
Também assumida para os próximos
anos está a proposta de permitir que os
enfermeiros em oncologia assumam a
gestão terapêutica dos seus pacientes, au-
mentando “a capacidade de intervenção
na gestão terapêutica do doente, incluin-
do o representante de cuidados”. Significa
isto que é intenção da AEOP “desenvol-
ver a capacidade de intervenção da enfer-
magem oncológica nos contextos das
práticas, assegurando simultaneamente a
sustentabilidade da organização da
AEOP através de um plano de sucessão
adequado”, explica a presidente.
Bolsas AEOP 2016Entre as novidades que a associação
proporciona este ano inclui-se o apoio fi-
nanceiro à participação dos seus mem-
bros em eventos de enfermagem oncoló-
gica. Foram criadas, neste âmbito, duas
bolsas para reuniões internacionais com
programa de Enfermagem e quatro para
reuniões científicas nacionais. “Pensamos
assim dinamizar a possibilidade de parti-
cipação e intervenção dos enfermeiros
oncologistas portugueses em programas
de enfermagem fora do âmbito nacional,
aumentando a partilha de conhecimentos
e a sua capacidade crítica, perante novas
realidades estruturais e culturais”, expli-
ca a porta-voz. Já disponibilizado na pági-
na da AEOP para acesso dos seus mem-
bros está o regulamento de candidaturas.
Grupos de trabalho para formar
Inerentes à filosofia da AEOP são os
grupos de trabalho das práticas clínicas.
Estes são “constituídos por membros da
associação que, de forma voluntariosa, se
inscrevem, sendo promotores e mentores
de discussão nacional de boas práticas en-
tendidas na Enfermagem oncológica e
publicadas como Linhas de Consenso na-
cionais”, explica Elisabete Valério, antes
de acrescentar que “são também o supor-
te para as várias reuniões científicas em
que participamos, fazendo parte dos pro-
gramas”. Na base destes grupos está “a
vontade de atingir um objetivo comum,
na criação de algo novo ou na melhoria de
um procedimento, discutido por enfer-
meiros que trabalham em várias institui-
ções com doentes oncológicos”.
Uma Reunião para todo o setor
Anualmente, a AEOP organiza uma
Reunião Nacional, convidando mem-
bros e colegas na procura de “um pro-
grama científico inovador, com uma vi-
são de futuro para a Enfermagem On-
cológica”. Tendo como epicentro os
dias 27 e 28 de maio, a nona edição do
evento terá lugar no Hotel dos Templá-
rios, em Tomar, esperando-se uma
“partilha de saberes e experiências” ca-
paz de agregar cerca de 300 profissio-
nais do setor. Uma novidade é a digita-
lização da Reunião Nacional, que possi-
bilitará, “através de uma plataforma in-
terativa”, uma “maior proximidade com
os presentes e os membros da AEOP”.
Confirmada no programa científico do
evento está a promoção de dois cursos
pré-congresso, intitulados “Como escre-
ver um artigo científico” e “Estratégias de
liderança na gestão da terapêutica imu-
nológica”. Já no que às sessões temáticas
concerne, o destaque será para as patolo-
gias do cancro do pulmão, cancro da ma-
ma, melanomas, linfomas e cancro diges-
tivo. Paralelemente à realização de “vá-
rios simpósios”, destaque para a presença
de Lena Sharp, do Institute Karolinska de
Estocolmo, numa conferência internacio-
nal sobre segurança do doente.
Acima de tudo, é desejo da AEOP
que “os enfermeiros adiram ainda em
maior número à nossa reunião”, enfati-
zando a importância “da proximidade
que este momento permite”, agregando
profissionais “que trabalham em dife-
rentes hospitais, em contextos práticos
diferentes mas com os mesmos objeti-
vos que a AEOP tem proporcionado”.
Paralelamente, existe uma última am-
bição: “que a nossa atividade vá de en-
contro às necessidades dos nossos
doentes, das suas famílias e comunidade
científica”.
A Associação Enfermagem Oncológica Portuguesa (AEOP) está no seu 9º ano de atividade com a sua terceira Presidente para o novo mandato. Falámos com ela sobre as propostas e projetos desta organização que representa mais de 600 enfermeiros oncologistas em Portugal.
Fevereiro 2016 Perspetivas 29
Neurobios – Instituto de NeurociênciasSaúde
As Neurociências ao serviço da clínica
O Neurobios – Instituto de Neuro-
ciências presta serviços em diversas
áreas ligadas às Neurociências. Sendo
uma referência nesta temática do co-
nhecimento científico, o instituto está
organizado em três grandes setores: a
formação, a investigação e a clínica.
Sempre atento ao desenvolvimento
das áreas abordadas, no Neurobios a
formação estende-se pelos campos clí-
nico e das organizações. Por outro lado,
a investigação desenvolvida no seio da
instituição centra-se nos domínios da
Eletrofisiologia Cerebral e da Cognição
Fundamental aplicada quer à clínica,
quer ao mundo empresarial.
No espaço da Clínica são abordadas
todas as áreas ligadas à Neuropsiquia-
tria, à Neuroterapia, à Neuropsicotera-
pia e à Neurocognição quer na vertente
normal, quer na vertente patológica.
Desta forma, o Neurobios distingue-
-se por oferecer um plano integrado de
avaliação e de tratamento para os diver-
sos problemas do comportamento, nor-
mal ou patológico. Graças a esse plano
é possível atender de maneira integral,
coordenada, continuada e personaliza-
da os grandes desafios que podem re-
querer estas pessoas e as suas famílias.
Ao longo destes oito anos de reco-
nhecido trabalho, o crescimento do
Neurobios deveu-se quer à investigação
aplicada, quer à experiência clínica dos
seus técnicos, “e foi o reconhecimento
das necessidades assistenciais dos doen-
tes que nos levou a gerar novos proje-
tos. Desde as avaliações personalizadas
da cognição em geral e da memória em
particular (Clínica da Memória), até aos
programas de Neurofeedback e de rein-
tegração social, o Neurobios oferece um
conjunto integrado de tratamentos”.
No plano da investigação este Insti-
tuto de Neurociências tem desenvolvido
protocolos com instituições universitá-
rias e centros de conhecimento, nomea-
damente com o Laboratório de Neurop-
sicofisiologia da Universidade do Porto.
Desta colaboração nasceram vários pro-
jetos de investigação que sustentam os
programas aplicados à Clínica.
Serviço de diagnósticoO Neurobios aplica um modelo de
avaliação assente em dois grandes veto-
res, a saber: a Avaliação Clínica e a Ava-
liação Instrumental.
A Avaliação Clínica centra-se na
Avaliação Neuropsiquiátrica que visa
determinar as condicionantes neuroló-
gicas e psíquicas das alterações do com-
portamento. A Avaliação Instrumental
divide-se em dois grandes domínios: a
Avaliação Neuropsicológica e a Avalia-
ção Eletrofisiológica.
Esta primeira (Avaliação Neuropsi-
cológica) assenta no seguinte racional:
aplicação de uma bateria compreensiva
de testes neuropsicológicos, adaptada
aos dados clínicos individuais, com vis-
ta a definir o perfil do desempenho cog-
nitivo dos examinados. A segunda
(Avaliação Eletrofisiológica) é um com-
plemento das restantes avaliações, con-
sistindo na avaliação por eletroencefa-
lografia quantitativa (qEEG) como ele-
mento-chave para a orientação das in-
tervenções por Neurofeedback.
O relatório final está organizado de
modo a emitir um parecer com uma des-
crição clínico-compreensiva das bases
Neuropsiquiátricas, Neuropsicológicas,
Psicossimbólicas e Psicossociais que
ajudam a compreender as alterações do
comportamento e a definir um plano de
intervenção centrado naquele racional.
Serviço de reabilitaçãoO Neurobios tem em curso progra-
mas de reabilitação dos problemas do
comportamento em geral, dos défices
cognitivos e da cognição social, bem co-
mo dos défices de aprendizagem. Esses
programas têm o formato individual e
de grupo, conforme indicação clínica e
estão integrados em três laboratórios.
No Laboratório da Cognição preten-
de-se promover a remediação cognitiva
para doentes com neuropatologia e/ou
défices cognitivos graves; a estimulação
cognitiva para doentes com défices cog-
nitivos minor; a estimulação cognitiva
para doentes com défices cognitivos fo-
cais; e a estimulação cognitiva para pes-
soas com défices de aprendizagem.
O Laboratório da Cognição Social vi-
sa a estimulação laboratorial da cogni-
ção social; a estimulação da cognição
social em pequenos grupos; e a reabili-
tação psicossocial.
Por último, o Laboratório de Neuro-
feedback permite o treino de Neurofeed-
back para problemas do comportamento
e/ou para otimização do desempenho.
Centro referenciado no âmbito das Neurociências, o Neurobios – Instituto de Neurociências, criado em 2008, desenvolve uma ação fulcral na investigação e tratamento das doenças ligadas ao foro psiquiátrico. João Marques Teixeira, diretor clínico da instituição, psiquiatra e docente da Universidade do Porto, faz-se acompanhar por uma equipa multidisciplinar de profissionais altamente credenciados, que têm desenvolvido um trabalho meritório neste campo.
EqUIPa TEraPêUTICaPSIqUIaTraS
J. Marques-Teixeira
Luisa Ramos
Rosa Gonçalves
Miguel Martins
NEUrOPSICÓLOGOS
Hugo Sousa
PSICÓLOGOS DE JOVENS
E aDULTOS
Sara Costa
Joana Costa
Catarina Ribeiro
PSICÓLOGOS DE CrIaNÇaS
Sandra Teixeira
PSICÓLOGOS FOrENSES
Sónia Martins
PSICOTEraPEUTaS
José Miguez
Piedade Vieitas
Joana Soares
Teresa Espassandim
Catarina Mota
Sónia Meire
Manuel Machado
Sara Marinheiro
NEUrOTEraPEUTaS
POr NEUrOFEEDBaCK
Francisco Marques Teixeira
Joana Melo e Castro
Ana Aguiar Monteiro
EqUIPa aDMINISTraTIVaSECrETarIaDO Da GESTÃO
Paula Montenegro
rECECIONISTaS
Ana Barbosa
Vânia Faria
RUA AGOSTINHO DE CAMPOS, 1734200-017 PORTO – TEL. 225101874
Neurobios – iNstituto de NeurociêNcias, diagNóstico e reabilitação iNtegrada, lda
30 Perspetivas Fevereiro 2016
Prof. Dr. Borges de Sousa – Osteopata Saúde
O impacto da Osteopatia na crise Portuguesa, no contexto socioeconómico da saúde para um Envelhecimento Saudável.
Um dos grandes êxitos do século XX
foi o aumento da longevidade, devido
aos benefícios médico-sociais, económi-
cos, políticos e culturais que favorece-
ram o bem-estar social e a qualidade de
vida das populações. Uma longevidade
que, no século presente, chega a uma es-
perança de vida em média de 70 a 80
anos, contribuindo também para uma
mudança demográfica.
Ao analisar-se a evolução da população
idosa em Portugal nos próximos 34 anos e
o seu impacto na sociedade portuguesa,
segundo os dados do INE, em 2013, a po-
pulação portuguesa em geral era de
10.640855 habitantes. Segundo os dados
do Eurostat, Portugal será um dos países
da União Europeia com maior percenta-
gem de idosos e menor percentagem de
população ativa em 2050.
Isto demonstra o aumento dos idosos
na população portuguesa, o que se tra-
duz num maior número de problemas
de longa duração e com frequentes dis-
pêndios económicos de intervenção, en-
volvendo tecnologia complexa para um
cuidado adequado. Segundo estudos efe-
tuados, a Osteoartrose afeta três mi-
lhões de portugueses, ou seja, um terço
da população portuguesa.
Esta é uma preocupação do Estado,
como também dos responsáveis da saúde,
investigadores e profissionais e basta sa-
ber as conclusões do relatório “O estado
da reumatologia em Portugal”, que afirma
que as doenças reumáticas são o principal
motivo de dor e incapacidade, são as que
originam o maior número de consultas
médicas e as que representam o mais avul-
tado dispêndio terapêutico, são as que lide-
ram as causas de ausência esporádica ou
definitiva do trabalho e que importa aler-
tar a sociedade acerca desta situação, de
modo a que os doentes vejam as suas
doenças melhor diagnosticadas e tratadas.
O Estudo Epidemiológico das Doen-
ças Reumáticas em Portugal (EpiReu-
maPT), de 22 de setembro de 2014, con-
clui que as Lombalgias, Artroses e a pa-
tologia Periarticular fazem parte das
principais queixas dos doentes, repre-
sentando 70% das queixas que levam os
utentes ao médico de família. Segundo o
estudo de Raquel Lucas, juntamente
com Maria Teresa Monjardino, “O Es-
tado da Reumatologia em Portugal”, ve-
rificam-se as seguintes percentagens:
Artrite Reumatóide com 3%, Espondili-
te Anquilosante com 3%, Fibrmialgia
com 2%, Osteoartrose do joelho com
3,8%, Osteoartrose da anca com 1,3%,
Cervicalgias e lombalgias com 10% e
Raquialgias com 8%.
O Prof. Paul Emery, Presidente da
Liga Europeia contra o Reumatismo -
EULAR, afirmou que as doenças reu-
máticas e músculo-esqueléticas deve-
riam ser reconhecidas como um dos
mais importantes desafios de saúde pú-
blica, devido à enorme sobrecarga que
estas doenças acarretam para a vida das
pessoas, para os sistemas sociais e de saú-
de e, consequentemente, para toda a eco-
nomia, uma vez que provocam um encar-
go económico superior a 240 biliões de eu-
ros por ano aos orçamentos dos Estados
Membros da U.E. Isto demonstra bem
que as doenças osteomusculares são as
patologias crónicas que, além de terem
um maior impacto negativo na qualida-
de de vida do indivíduo, são a primeira
causa de consumo de cuidados de saúde
e de incapacidade nos indivíduos com
maior longevidade. Elas afetam o dia-a-
-dia em cerca de 80% dos doentes que
vão à consulta externa.
Estes números são inegáveis e os ido-
sos são potenciais consumidores de gas-
tos de saúde. Assim, Portugal terá de
procurar outras formas de tratamento
eficaz para estas patologias, como afir-
ma o Prof. Doutor José António Pereira
da Silva, Chefe dos Serviços de Reuma-
tologia dos Hospitais da Universidade
de Coimbra: “Uma vez que o envelheci-
mento da população contribui para o de-
senvolvimento de mais doenças cróni-
cas, são necessários tratamentos mais
eficazes”, o que quer dizer que há que
oferecer aos idosos a possibilidade de re-
correrem a outros tratamentos, de
modo a proporcionar o melhor bem-es-
tar. Ou seja, terapias que atuem no me-
canismo osteomuscular degenerado e
que sejam menos agressivas e mais efi-
cazes do que os tratamentos convencio-
nais.
Importa não confundir envelheci-
mento com doenças que podem ocorrer
na velhice, conforme salienta o Prof.
Doutor L.R. Stigler Marczyk: “A distin-
ção é extremamente importante para
não cometermos o erro de atribuir ao
envelhecimento todo o tipo de alteração
encontrada do idoso, impedindo o diag-
nóstico de patologias passíveis de cura e,
ao outro extremo, confundirmos altera-
ções normais do desenvolvimento como
patologias, levando a exames e trata-
mentos desnecessários.”
Neste Contexto, a Osteopatia ofere-
ce uma mais-valia, na medida em que
o seu objetivo no ser humano é imple-
mentar a prevenção e o retardamento
das degenerações osteomusculares de
origem mecânica. O tratamento Os-
teopático, diferente de qualquer outra
terapia, sendo menos agressivo e me-
lhor tolerado, visa melhorar a quali-
dade de vida das pessoas com os se-
guintes benefícios: aplicação em qual-
quer idade, melhoria da postura, re-
tardamento dos sistemas de desgaste
articular, eliminação da dor nos pro-
blemas osteomusculares de origem
mecânica, melhoria da mobilidade ar-
ticular e estímulo à força e à flexibili-
dade.
As técnicas Osteopáticas não têm
efeitos secundários, são bastantes efi-
cazes, conforme tem vindo a ser de-
monstrado por estudos, e são muito
mais económicas porque não usam
consumíveis. Num estudo efectuado
por Stanno, citado por A.R.White e
colaboradores, foram analisados os re-
gistos computadorizados de paga-
mentos feitos por Companhias Segu-
radoras a médicos dos Estados Uni-
dos, para o tratamento de dores lom-
bares durante um período de 1 ano
(cerca de 400 mil casos). Verificou-se
que os doentes com dores lombares
tratados pelos meios convencionais
custaram em média mais mil dólares
por cada doente do que os tratados
por manipulações. O estudo de Mea-
dle e colegas revelou uma poupança
de 8 milhões de Libras esterlinas ao
Serviço Nacional de Saúde Britânico,
na utilização das manipulações osteo-
páticas e dieta alimentar, aos doentes
com dores lombares. Outros estudos
efetuados por entidades oficiais de
países da União Europeia e dos Esta-
dos Unidos têm demonstrado não só
os resultados positivos em relação ao
tratamento osteopático, como uma re-
dução de custos na utilização desta te-
rapêutica para determinadas patolo-
gias osteomusculares, patologias
identificadas em 80% dos idosos em
Portugal.
A Ordem dos Médicos de Portugal,
na sua revista editada: out/nov/dezem-
bro de 2002 de 22 de agosto, num arti-
go sobre “Projetos de Diplomas Regu-
ladores do Exercício de “Medicinas Não
Convencionais”, afirma: “A ciência médi-
ca aceita como boas algumas terapêuti-
cas que são praticadas por não médicos,
como é o caso da… ou de técnicas de
manipulação que os osteopatas execu-
tam.” Desde 1996 que também a própria
Organização Mundial de Saúde (OMS)
tem vindo a apelar ao uso de terapias
não convencionais por serem eficazes,
mais económicas e menos agressivas,
conforme diretiva. (WHOM, Março/
Abril de 1996).
Esta temática torna-se mais comple-
xa se pensarmos nos componentes que
constituem os cuidados de saúde – Pre-
ço e Qualidade –, além de que a Osteo-
patia é um método terapêutico bastante
económico. Por recorrer a testes osteo-
páticos simples como meio de diagnósti-
co, não utiliza consumíveis (medicamen-
tos, injetáveis, vacinas etc.) e usa como
tratamento as mãos como instrumento
de trabalho.
Ao considerarmos que a saúde, em ter-
mos absolutos, está ligada a dois grandes
pilares fundamentais – a economia e o se-
tor sócio-educacional -, consideramos
também que qualquer projeto de futuro
deve ter em conta a evolução dos factores
que nos conduzem a uma necessidade do
enquadramento da Osteopatia, isenta de
IVA como os outros profissionais de saúde
em Portugal, para se tornar num modelo
de cuidados de saúde que ofereça mais
bem-estar em beneficio da saúde pública,
melhorando assim a equidade desse pri-
mordial princípio que é a saúde para todos
os portugueses.
Prof. Dr. Borges de Sousa
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