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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1528 Junho/2014 Mossoró - RN Grupo de Mulheres cisterneiras do semiárido potiguar: a história de Ismênia e o cultivo da esperança Rosa, Ceiça, Ana e Ismênia fazem parte do grupo de camponesas cisterneiras do Rio Grande do Norte. Além de botar a mão na terra para plantar, hoje, elas colocam também a mão na massa na construção de cisternas do Programa Uma Terra Duas Águas, P1+2, da Articulação do Semiárido (ASA). O grupo de mulheres camponesas cisterneiras potiguar mostra a força da mulher do semiárido na transformação de suas realidades e, consequentemente dos lugares onde vivem. Ismênia Marília da Silva, de 29 anos, mora no Assentamento Maurício de Oliveira (Assu/RN) desde 2009. Separada do pai de sua filha, a pequena Vitória, de 8 anos, Ismênia se dividia entre os trabalhos do campo, de onde tira, até hoje, a base de sua alimentação e o trabalho de doméstica em casas de famílias a fim de garantir o sustento dela e de sua menina, tarefa muito difícil que nem sempre foi possível dividir com sua mãe Marilene. casas dos patrões, Ismênia se encontrava em busca de outro trabalho para desenvolver sua renda quando soube da capacitação para cisterneira ofertada pelo Centro Feminista 8 de Março, CF8, em parceria com a ASA. Com um novo ofício, ela tem alimentado a esperança de viver melhor. Durante o curso de capacitação e depois, nas construções das cisternas, Ismênia e as outras cisterneiras enfrentaram como um dos obstáculos o machismo, a descrença de que não seriam capazes de fazer o trabalho dito de homem: “eles achavam que a gente não dava conta, mas nós mostramos na prática que somos tão capazes quanto eles”. Devido à falta de recursos, às dificuldades com a agricultura e às humilhações sofridas nas s i u I m ê r na M a l ia n os fa la e m se u q i nt a l

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O grupo de mulheres camponesas cisterneiras potiguar mostra a força da mulher do semiárido na transformação de suas realidades e, consequentemente dos lugares onde vivem. Através da experiência de cisterneira, da união entre as companheiras de trabalho, Ismênia se sente capaz e animada para aumentar sua produção e tocar a sua vida.

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Page 1: Grupo de Mulheres cisterneiras do semiárido potiguar: a história de Ismênia e o cultivo da esperança

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1528

Junho/2014

Mossoró - RN

Grupo de Mulheres cisterneiras do semiárido potiguar: a história de Ismênia e o cultivo da esperança

Rosa, Ceiça, Ana e Ismênia fazem parte do grupo de camponesas cisterneiras do Rio Grande

do Norte. Além de botar a mão na terra para plantar, hoje, elas colocam também a mão na massa na

construção de cisternas do Programa Uma Terra Duas Águas, P1+2, da Articulação do Semiárido (ASA).

O grupo de mulheres camponesas cisterneiras potiguar mostra a força da mulher do semiárido na

transformação de suas realidades e, consequentemente dos lugares onde vivem.

Ismênia Marília da Silva, de 29 anos, mora no Assentamento

Maurício de Oliveira (Assu/RN) desde 2009.

Separada do pai de sua filha, a pequena

Vitória, de 8 anos, Ismênia se dividia entre os

trabalhos do campo, de onde tira, até hoje, a

base de sua alimentação e o trabalho de

doméstica em casas de famílias a fim de

garantir o sustento dela e de sua menina,

tarefa muito difícil que nem sempre foi possível

dividir com sua mãe Marilene.

casas dos patrões, Ismênia se encontrava em busca de outro trabalho para desenvolver sua renda

quando soube da capacitação para cisterneira ofertada pelo Centro Feminista 8 de Março, CF8, em

parceria com a ASA. Com um novo ofício, ela tem alimentado a esperança de viver melhor.

Durante o curso de capacitação e depois, nas construções das cisternas, Ismênia e as outras

cisterneiras enfrentaram como um dos obstáculos o machismo, a descrença de que não seriam capazes

de fazer o trabalho dito de homem: “eles achavam que a gente não dava conta, mas nós mostramos na

prática que somos tão capazes quanto eles”.

Devido à falta de recursos, às dificuldades com a agricultura e às humilhações sofridas nas

si

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Page 2: Grupo de Mulheres cisterneiras do semiárido potiguar: a história de Ismênia e o cultivo da esperança

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Rio Grande do Norte

Realização ApoioRealização Apoio

E mesmo a divisão sexual do

trabalho sendo muito injusta na nossa

sociedade por não considerar as tarefas

domésticas que as mulheres executam

como trabalho e por dividir os afazeres em

'trabalho de homem' e 'trabalho de mulher,

Ismênia gostou e se identificou muito com

o serviço que lhe garante renda e

autonomia de trabalho e arremata:

“não existe trabalho de homem ou

trabalho de mulher. Existe trabalho pra ser

feito”.

Através da experiência de cisterneira, da união entre as companheiras de trabalho, Ismênia se

sente capaz e animada para tocar a sua vida. E ao construir a sua cisterna em seu próprio quintal com a

parceria de Rosa, Ismênia consegue olhar para o seu quintal e fazer planos de aumentar a produção para

que possa ficar mais no campo, na sua casa, com sua filha.

Hoje, no quintal, Ismênia cultiva feijão, macaxeira, acerola, goiaba, manga, banana, seriguela,

laranja, côco e hortaliças, tudo sem veneno. Explica que a terra é seca e que a falta de água quando não é

inverno (tempo de chuva), impede o cultivo de outras culturas como o arroz que tanto gostaria de plantar,

mas com a cisterna do P1+2 e o aprendizado com o grupo de mulheres, além de cenoura, batata, beterraba,

dentre outras coisas que ainda não cultiva em seu quintal e que vai deixá-lo colorido, as experiências

coletivas e as oportunidades para melhor convivência com o semiárido, fazem com que mulheres e homens

cultivem mais do que plantas, a esperança de dias melhores.

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Ismê

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N qu nt vi a: t a ho e ut om a, a cores ro i al e na d r bal a on i s da espe ança