grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários

20
191 Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 191-210, 2007. Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários humanos: contribuição ao estudo do modo de vida e subsistência de grupos sambaquianos do litoral sul do Brasil Verônica Wesolowski* Sheila MariaFerraz Mendonça de Souza* Karl Reinhard** Gregório Ceccantini*** WESOLOWSKI, V.; MENDONÇA DE SOUZA, S.M.F.; KARL REINHARD, K.; CECCANTINI, G. Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários humanos: contribuição ao estudo do modo de vida e subsistência de grupos sambaquianos do litoral sul do Brasil. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 191-210, 2007. Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar os resultados da recuperação e análise de micro-vestígios vegetais retidos em cálculos dentários de grupos de pescadores-coletores do litoral sul do Brasil. Apresenta também os resultados das relações mantidas entre grânulos de amido e cárie, e entre fitólitos e desgaste dentário. Através da dissolução química de cálculos dentários foram recuperados micro- vestígios vegetais em todos os indivíduos estudados. Foi evidenciado o consumo de alimentos amiláceos em todas as séries esqueléticas estudadas, demonstrando independência entre dieta com aporte de produtos vegetais e utilização de cerâmica. Foram encontrados resultados sugestivos de padrões de escolha de alimentos diferenciados entre os grupos e evidências de contato entre litoral e planalto. Palavras-chave: Sambaquis – Pescadores-coletores – Amidos – Fitólitos – Cáries – Desgaste. Introdução ambaquis estão entre os sítios arqueológicos mais estudados no Brasil. Gaspar (1998, 2000) refere a presença de 958 desses sítios espalhados pela faixa costeira brasileira entre o sul da Bahia e o norte do Rio Grande do Sul. Os sambaquis mais antigos conhecidos datam de seis milênios antes do presente e já são registros materiais de grupos (*) Departamento de Endemias Samuel Peixoto/Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca/Fiocruz. V.W. [email protected] ; S.F.M.S. [email protected] (**) School of Natural Resources/University of Nebraska. [email protected] (***) Laboratório de Anatomia Vegetal/Instituto de Biociências/Universidade de São Paulo. [email protected] S

Upload: others

Post on 14-Apr-2022

4 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários

191

Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 191-210, 2007.

Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários humanos:contribuição ao estudo do modo de vida e subsistência de grupos

sambaquianos do litoral sul do Brasil

Verônica Wesolowski*Sheila MariaFerraz Mendonça de Souza*

Karl Reinhard**Gregório Ceccantini***

WESOLOWSKI, V.; MENDONÇA DE SOUZA, S.M.F.; KARL REINHARD, K.;CECCANTINI, G. Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentárioshumanos: contribuição ao estudo do modo de vida e subsistência de grupossambaquianos do litoral sul do Brasil. Revista do Museu de Arqueologia eEtnologia, São Paulo, 17: 191-210, 2007.

Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar os resultados da recuperação eanálise de micro-vestígios vegetais retidos em cálculos dentários de grupos depescadores-coletores do litoral sul do Brasil. Apresenta também os resultadosdas relações mantidas entre grânulos de amido e cárie, e entre fitólitos edesgaste dentário.

Através da dissolução química de cálculos dentários foram recuperados micro-vestígios vegetais em todos os indivíduos estudados. Foi evidenciado o consumo dealimentos amiláceos em todas as séries esqueléticas estudadas, demonstrandoindependência entre dieta com aporte de produtos vegetais e utilização de cerâmica.Foram encontrados resultados sugestivos de padrões de escolha de alimentosdiferenciados entre os grupos e evidências de contato entre litoral e planalto.

Palavras-chave: Sambaquis – Pescadores-coletores – Amidos – Fitólitos –Cáries – Desgaste.

Introdução

ambaquis estão entre os sítiosarqueológicos mais estudados no Brasil.

Gaspar (1998, 2000) refere a presença de 958

desses sítios espalhados pela faixa costeirabrasileira entre o sul da Bahia e o norte do RioGrande do Sul. Os sambaquis mais antigosconhecidos datam de seis milênios antes dopresente e já são registros materiais de grupos

(*) Departamento de Endemias Samuel Peixoto/EscolaNacional de Saúde Pública Sérgio Arouca/Fiocruz. [email protected] ; S.F.M.S. [email protected](**) School of Natural Resources/University of

Nebraska. [email protected](***) Laboratório de Anatomia Vegetal/Instituto deBiociências/Universidade de São Paulo. [email protected]

S

Veronica Sheila Karl Gregorio.pmd 24/02/2008, 14:55191

Page 2: Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários

192

Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários humanos: contribuição ao estudo do modo de vida e subsistênciade grupos sambaquianos do litoral sul do Brasil. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 191-210, 2007.

humanos bem adaptados ao ambiente costeiro,o que sugere experiência e permanênciaanteriores em ambiente litorâneo (Gaspar,1998, 2000).

Os sambaquis já foram considerados oresultado meramente fortuito do acúmulo derestos alimentares (Wierner 1876) ou oresultado intencional do descarte cumulativode restos alimentares efetuado por motivospráticos como elevar nível do terreno habitado(Prous 1991). Atualmente são entendidoscomo construções feitas com intencionalidadee propósito ao longo de muitas gerações(Gaspar 1998; Afonso 1999; Fish et al 2000).

A porção protéica de sua dieta baseou-seem peixes e moluscos, além de crustáceos e emmenor quantidade de mamíferos, havendovariações regionais e temporais quanto àsespécies consumidas (Garcia 1972; Lima 1991;Figuti 1992, 1993; Bandeira 1992). Devido àscondições de preservação pouco favoráveis e aabordagens de pesquisa inadequadas, oconhecimento atual sobre o uso e consumo devegetais por sambaquianos é ainda preliminar.

O relato da preservação pontual de artefatosfeitos de madeira e fibras em alguns sítios comoCubatão I (Petrykowski 2006) e Espinheiros II(Afonso e De Blasis 1994), os trabalhos deantracologia (Scheel-Ybert 2001, 2002a, 2002b),as observações casuais sobre ocorrência desementes queimadas (Garcia 1972; Goulart 1980;Bryan 1993; Bandeira 2004) sugerem que vegetaiseram bem conhecidos e usados por estes grupos.Quanto às plantas comestíveis, a literatura refereapenas Dioscorea sp (carás) e sementes deArecaceae (palmeiras), de Myrtaceae (araçás) e deAnnonaceae (pinha, ata) (Tiburtius, Bigarella eBigarella 1951; Garcia 1972; Bryan 1993; Scheel-Ybert 2001, 2002a, 2002b).

Há cerca de dois milênios vários sítios depescadores-coletores, menos imponentes ecom menor impacto na paisagem começaram asurgir (Prous 1991, 2006). São sítios maisrasos, com sedimento mais arenoso, sem ocaracterístico acúmulo de conchas, mas comacúmulo de ossos de peixe, e muitas vezes sesobrepuseram a sambaquis típicos constituin-do sua camada ocupacional mais recente.Freqüentemente estes sítios são identificados

na literatura como os vestígios ocupacionais degrupos diferentes daqueles que construíram ossambaquis (Rohr 1961; Prous 1991, 2006).

A área de ocorrência desse tipo de sítio ésobreposta à dos sambaquis e a evidênciaarqueológica aponta para grupos igualmentebem adaptados à vida em ambiente litorâneo,tanto do ponto de vista da subsistência comoda cultura material, a qual pouco diferedaquela encontrada nos sambaquis. A maiordiferença encontra-se na ocorrência de anzóisem determinadas regiões e na presença decerâmica identificada com a tradição Itararé emalguns sítios (Tiburtius, Bigarella e Bigarella1951; Beck, Araújo e Duarte 1970; Beck 1972;Bandeira 2004). A base protéica da dietacontinuou sendo o peixe, embora com menorparticipação dos moluscos (Bandeira 1992,2004). A presença de cerâmica levou algunspesquisadores a considerarem que, pelo menosnestes casos, os grupos já possuiriam algum tipode horticultura, em oposição aos sambaquianosque seriam apenas pescadores-coletores (Beck1972, 1974; Chymz 1976; Schmitz 1988). Noentanto, o traço mais freqüentemente citadocomo elemento diferenciador entre estes sítiose os sambaquis, é a falta da elevação e dodestaque na paisagem típicos dos sambaquis(Prous 1991, 2006).

Em um modelo inclusivo foi proposto porGaspar (1998, 2000), a construção de umespaço diferenciado que marca a paisagem, eseu uso concomitante como moradia, cemité-rio e lugar de acúmulo de restos de faunarepresentariam um marco de identidade para acultura sambaquiana, para além das variaçõesregionais. Por este modelo pelo menos algunsdos sítios mais rasos (“acampamentos litorâne-os”, Prous 1991) do litoral sul seriam variaçõeslocais do sistema sambaquiano. Mesmodiferenciando os “sambaquis strictu senso” dos“acampamentos litorâneos”, Prous (1991)claramente os considerou relacionados, aomenos em determinadas regiões da costa, comono litoral sul. A escolha mais recente da expres-são “sítios de pesca e coleta não construídos”utilizada pelo autor (Prous 2006) retira a idéiade pouca permanência envolvida na expressão“acampamentos” anteriormente utilizada.

Veronica Sheila Karl Gregorio.pmd 24/02/2008, 14:55192

Page 3: Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários

193

Verônica WesolowskiSheila Maria Ferraz Mendonça de Souza

Karl ReinhardGregório Ceccantini

Esse modelo de intensiva ocupação dolitoral por pescadores-coletores-caçadores quedepois teriam sido substituídos por gruposque incluíram a horticultura em suas estratégi-as de subsistência e estilos de vida levanta ahipótese da ocorrência de uma transição nasaúde. Essa transição significaria provavelmen-te mudança na patocenose (Mendonça deSouza 1999) com possível aumento dasprevalências de indicadores inespecíficos deestresse e determinadas patologias tais comocáries e infecções, tal como proposto emCohen e Armelagos (1984), Goodman et al.(1984a, 1984b), Larsen (1981, 1984), e outros(Rose et al. 1984, Larsen et al. 1990).

Partindo deste cenário, algumas pesquisasanalisaram uma série de alterações fisiopatológicasgeralmente associadas com o padrão desubsistência, esperando encontrar, grosso modoos marcadores de saúde e, por conseguinte, apatocenose expressando-se diferentemente emgrupos sem cerâmica e grupos com cerâmica(Wesolowski 2000; Neves e Wesolowski2002). Os resultados encontrados, no entanto,não mostraram diferenças claras entre as sériesesqueléticas oriundas de sítios com cerâmica eaquelas provenientes de sítios sem cerâmica.Em contrapartida, três séries sem cerâmicamostraram freqüências e prevalências de cáriessignificativamente mais altas que as esperadaspara grupos não horticultores (Wesolowski2000; 2007).

Dado que a literatura mostra alta correla-ção entre lesões cariosas e consumo aumenta-do de alimentos ricos em carboidratos (TurnerII 1979, Cohen e Armelagos 1984), foiproposto como hipótese explicativa o aumentodo consumo de vegetais por parte dos trêsgrupos em questão, através de horticulturaincipiente ou manejo vegetal intensivo. Essahipótese também apontaria para uma estratégiade subsistência mais complexa do que a habitual-mente postulada para os grupos sambaquianosda região. Ao mesmo tempo, a validade dainterpretação da presença de cerâmica comoindicador de horticultura na região foi questio-nada (Wesolowski 2000).

No quadro dos conhecimentos atuaissobre os grupos de pescadores-coletores do

litoral centro-sul do Brasil é evidente a quanti-dade limitada de informações disponíveissobre o uso de vegetais. Por outro lado, ainferência de estratégias de subsistência feitasapenas através da presença ou ausência detraços de cultura material (como a cerâmica),ou do padrão de manifestação de processosfisiopatológicos, não tem sido suficiente parauma aproximação mais exata do que seria omodo de vida desses grupos. A avaliação diretade vestígios vegetais antigos com potencialdietético é fundamental para a compreensãodas estratégias de subsistência destes grupos.Considerando-se a escassez de macro-restosvegetais, os micro-resíduos vegetais preservadosconfiguram uma possibilidade de grandepotencial informativo.

Desde 1990 as pesquisas que objetivaminvestigar o espectro vegetal utilizado porgrupos humanos pretéritos através da recupe-ração, da identificação e da análise de micro-resíduos vêm se tornando mais freqüentes(Piperno 1985; Fox e Pérez-Pérez 1994;Torrence e Barton 2006). Ao longo das duasúltimas décadas se multiplicaram os trabalhossobre fitólitos presentes em amostras de solo,de coprólitos e de artefatos (Loy Spriggs eWickler 1992; Fox, Juan e Albert 1996;Danielson e Reinhard 1998; Piperno e Holst1998; Piperno et al. 2000). Grânulos de amidoantigos foram igualmente recuperados em umagrande variedade de ambientes e substratos(Reinhard et al. 2001, Barton e Matthews2006), estando presentes em materiais arqueo-lógicos variados, incluindo alimentos preserva-dos por dessecação e carbonização, artefatos,cálculos dentários e coprólitos, além deamostras de solo (Ugent, Pozorsky e Pozorsky1986; Loy 1994; Piperno e Holst 1998;Piperno et al. 2000; Van Peer et al. 2003).

Nessa linha, os autores deram início aoestudo de materiais esqueléticos provenientesde sítios do tipo sambaquis com o objetivo derecuperar e analisar micro-resíduos vegetaisretidos em cálculos dentários, considerando apossibilidade de identificar amidos e outrosindicadores da dieta e de comparar suasocorrências em sítios com diferentes prevalênciasde cáries. Foram utilizadas as séries esqueléticas

Veronica Sheila Karl Gregorio.pmd 24/02/2008, 14:55193

Page 4: Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários

194

Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários humanos: contribuição ao estudo do modo de vida e subsistênciade grupos sambaquianos do litoral sul do Brasil. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 191-210, 2007.

anteriormente estudadas quanto à patologiadentária pela primeira autora (Wesolowski2000, 2007). A partir da recuperação dessesmicro-vestígios, procurou-se estabelecer arecorrência de uso e a variabilidade de vegetaisamiláceos empregados na alimentação, bemcomo a relação entre quantidade de grânulosde amido presentes nos cálculos dentários eprevalências/freqüências de cáries nas séries,assim como a relação entre a quantidade defitólitos e as características dos desgastesdentários observados.

Material

O litoral norte de Santa Catarina concen-tra um grande número de sítios de pescadores-coletores (Bandeira 2004; Oliveira 2000),numa área que é um mosaico geomorfológicoe de vegetações, formando um rico ecótonelitorâneo com ambientes lacustres, estuarinos,pequenas lagoas e baías de fundo lodoso earenoso, praias de mar aberto, costões,mangue, mata de restinga e mata Atlântica(Oliveira 2000).

As datações mais antigas para a ocupaçãolocal por grupos sambaquianos típicos estãoem torno de 4800 anos BP para o Rio Com-prido (Prous 1977). Este período correspondea um momento em que o mangue, maisrarefeito, iniciava sua expansão acompanhandoa regressão marinha, desse modo, apenas ossítios mais recentes são contemporâneos deamplas áreas de manguezais plenamentedesenvolvidos (Oliveira 2000). Da mesmamaneira, o início da expansão da floresta dearaucária ao longo dos vales dos rios a partirde 3000 anos BP e sua plena expansão naregião serrana do norte de Santa Catarina há1000 anos BP (Behling 1998, 2001), tornoudisponível para exploração no período maisrecente de ocupação da área um novo ecossistemalocalizado a poucos quilômetros de distânciada região.

O registro arqueológico da região forneceindícios de continuidade para característicasbiológicas, econômicas, funerárias e de culturamaterial por quase cinco milênios até a chega-

da dos europeus. Apesar disto, está claro quepor volta de 1000 anos BP houve a introduçãode cerâmica e de um contingente populacionalbiologicamente distinto (Mello Alvim 1978;Neves 1988; Neves e Blum 1998; Bandeira2004; Hübbe 2005). O processo pelo qual taismudanças ocorreram ainda não foi satisfatoria-mente compreendido, mas aspectos da geogra-fia e paleogeografia locais sugerem que a regiãoapresentaria características facilitadoras para ocontato com o interior e com a região da Baíade Paranaguá (Oliveira 2000).

Considerando este cenário, alguns sítiosarqueológicos já escavados para esta regiãoapresentam coleções numericamente expressi-vas, que foram escolhidas para o presentetrabalho, correspondendo aos sambaquisMorro do Ouro, Enseada, Forte Marechal Luze Itacoara, todos localizados na região da Baíada Babitonga, Santa Catarina. Estes sítios jáhaviam sido estudados anteriormente para cáriee outros indicadores de saúde (Wesolowski2000; Neves e Wesolowski 2002), tendo sidoagora revisados para indicadores dentários eanalisados para o conteúdo dos micro-resíduosem cálculos dentários (Wesolowski 2007).

Os esqueletos compõem cinco sériesesqueléticas diferentes, três não associadas comcerâmica e duas associadas a sítios ou camadasarqueológicas com cerâmica (Tabela 1). Omaterial encontra-se sob guarda do MuseuArqueológico de Sambaqui de Joinville –MASJ (Morro do Ouro, Enseada 1 e Itacoara)e do Museu Nacional/Universidade Federaldo Rio de Janeiro – MN-UFRJ (Forte Mare-chal Luz).

As séries para estudo foram constituídaspor todos os indivíduos que cumpriram osseguintes critérios de inclusão: a existência deprocedência estratigráfica segura e a presençade dentes confiavelmente assignados aoindivíduo. Embora como regra apenas umcálculo de cada indivíduo tenha sido utilizadopara a recuperação de micro-resíduos, noscasos em que foi constatada a presença dedesgaste para-mastigatório foram coletados eanalisados mais de um cálculo. Os totais deindivíduos e cálculos utilizados para a recupe-ração de micro-resíduos em cada série são:

Veronica Sheila Karl Gregorio.pmd 24/02/2008, 14:55194

Page 5: Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários

195

Verônica WesolowskiSheila Maria Ferraz Mendonça de Souza

Karl ReinhardGregório Ceccantini

MO-REC, 6 indivíduos e 6 cálculos, MO-ANT,8 indivíduos e 8 cálculos; Enseada 1, 17indivíduos e 21 cálculos; FML-SCR, 4 indiví-duos e 7 cálculos; Itacoara, 11 indivíduos e 11cálculos.

Características dos sítios e séries esqueléticasanalisadas são apresentadas a seguir de maneirasintética tendo em vista os objetivos desteestudo.

O Sambaqui Morro do Ouro é localizadoao fundo da Baía da Babitonga, município deJoinville, à margem do Rio Cachoeira (Oliveira2000), e está entre os sítios de grandes dimen-sões da área e pode ser considerado umrepresentante típico da ocupação sambaquianada região. Os diversos trabalhos publicadosdescrevem a presença de muitas camadaslenticulares de carvão, sementes queimadas deSyagrus romanzoffiana (jerivá) e fogueiras (Beck,Duarte e Reis 1969; Beck 1972; Prous 1977;Goulart 1980; Tiburtius 1996).

O número total de esqueletos exumadosno sítio é de, pelo menos, 116 indivíduos,sendo 15 indivíduos oriundos da escavação de

Guilherme Tiburtius (1996), 12 da escavação deAnamaria Beck (Beck, Duarte e Reis 1969; Beck1972) e 89 da escavação de Marilandi Goulart(1980). Embora a relação estratigráfica seguraentre as diversas séries esqueléticas escavadas nosítio não seja possível, as descrições disponíveispara as diversas escavações indicam a existênciade pelo menos dois cemitérios temporalmentedistintos (Wesolowski 2002; 2007).

Apenas parte dos sepultamentos escava-dos por Marilandi Goulart pôde ser estudada.Os indivíduos foram separados em duas sériesesqueléticas distintas segundo a posiçãoestratigráfica das sepulturas (Wesolowski 2000;2007): Morro do Ouro recente (MO-REC) eMorro do Ouro antiga (MO-ANT), analisadasindependentemente. As séries esqueléticas MO-REC e MO-ANT formam um conjunto homogê-neo e são caracterizadas por freqüências dedentes afetados por cáries altas, respectivamente8,85 % e 8,24 %, e prevalências também altas,com expressão positiva da doença em metadedos indivíduos das séries, sendo alguns maisgravemente afetados. Ocorrem cáries de raiz e de

Tabela 1Séries utilizadas na pesquisa e respectivas datações

Identificação daamostra datada

Em processo de dataçãono momento

4030 ± 40 anos BP(Wesolowski 2000)

1110 ± 100 anos BP e850 ± 100 anos BP(Bryan 1993)

*************

C14, colágeno, sepultamento 28.Beta analytics Inc, Beta – 93152

C 14. Respectivamentesementes carbonizadas ecarvão, em ambos os casosassociados a sepultamentos.

Sem cerâmica

Série

MO-REC

MO-ANT

FML-SCR*

Com cerâmica

Enseada 1

Itacoara

Sítios

Morro do Ouro

Morro do Ouro

Forte Marechal Luz

Enseada 1

Itacoara

Datação

1390 ± 40 anos BP(De Mais 2001)

550 ± 55 anos BP (?)(Bandeira 2004)**

C14, colágeno, esqueletohumano.

Termoluminescência, cerâmica.

*Forte Marechal Luz-Sem CeRâmica. ** Datação dada pela autora como duvidosa.

Veronica Sheila Karl Gregorio.pmd 24/02/2008, 14:55195

Page 6: Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários

196

Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários humanos: contribuição ao estudo do modo de vida e subsistênciade grupos sambaquianos do litoral sul do Brasil. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 191-210, 2007.

colo, além das oclusais, e também exposiçãode câmara pulpar por processo carioso. Oscálculos dentários são pequenos, em gerallimitados ao contorno gengival, poucodensos, freqüentemente friáveis e frouxamen-te aderidos aos dentes. A coloração é amare-lada clara e ocorreu pouco ou nenhumsedimento macroscópico aderido. As freqüên-cias de dentes afetados por cálculo sãomoderadas, respectivamente 51,15% e65,88%. Ambas as séries apresentam mulhe-res ligeiramente mais afetadas por cáries ehomens ligeiramente mais afetados porcálculos dentários e com tendência a apresen-tarem depósitos um pouco maiores. Odesgaste é moderado em ambas as séries. Afração feminina da série MO-REC apresentadesgaste ligeiramente mais leve que os homens,enquanto que as mulheres da série MO-ANTapresentam desgastes mais intensos que oshomens (Wesolowski 2007).

O Sambaqui Enseada 1 está localizadono noroeste da Ilha de São Francisco doSul, sobre um af loramento rochoso voltadodiretamente para mar aberto ao leste. Ostrabalhos publicados descrevem a existênciade duas camadas ocupacionais distintas,com presença de fogueiras e lentes de semen-tes queimadas de Syagrus romanzoffiana,algumas das quais com até 0,50m de espessu-ra (Beck 1972, 1974; Prous 1977; Tiburtius1996). Apesar de a ocupação sazonal deinverno ter sido sugerida para ambas ascamadas (Beck 1972, 1974), ocorremevidências claras de ocupação de ano todo(Bandeira1992; Prous 1977). Por outrolado, a camada mais recente apresentapreponderância de recursos de verão,sugerindo a possibilidade de armazenamentode alimentos ou de deslocamento parcial dapopulação durante o inverno (Bandeira 1992).

A maior diferença no conjunto artefactualdas duas camadas é a cerâmica Itararé, presenteapenas na camada superior e semelhanteàquela encontrada em Forte Marechal Luz(Beck 1972, 1974). Resíduos de lipídioextraídos de fragmentos de cerâmica e analisa-dos por cromatografia gasosa e cromatografiagasosa-espectrometria de massa foram identificados

como gordura animal degradada, freqüentementede origem marinha, e compostos lipídicosvegetais (ceras epicutilares e a resinas) (Hansel eSchmitz 2006).

Foram escavados no sítio pelo menos 66esqueletos. Destes, 46 são oriundos daescavação de Tiburtius (1996) e foram todosrecuperados da camada cerâmica. Outros 22foram escavados por Beck (1972, 1974), sendodez na camada inferior e dez na camadasuperior.

Foram estudados apenas os indivíduosexumados por Guilherme Tiburtius, coleçãoescolhida devido ao maior número de indivídu-os. A série Enseada 1 apresenta prevalência efreqüência de dentes afetados por cárie baixas,respectivamente 10% e 1,64%, com ocorrênciaapenas de lesões oclusais. Somente os indivídu-os masculinos apresentaram cáries. Os cálculossão de tamanho mediano a pequeno, limitadosàs superfícies lingual e bucal, e não recobremcompletamente a coroa. Por vezes estendem-separa superfícies radiculares quando estas seencontravam expostas ao ambiente bucal.Estão bem aderidos aos dentes, mas soltam-sefacilmente quando submetidos à pressão. Acoloração é acastanhada clara, são densos,pouco friáveis e apresentaram pouco sedimen-to macroscópico aderido. A freqüência decálculo dentário é elevada com 79,69% dosdentes afetados, sendo os dentes da fraçãomasculina mais afetados por cálculos emrelação àqueles da fração feminina. O tamanhodos depósitos também tende a ser maior entreos homens. O desgaste dentário é predominan-temente severo com ocorrência de desgastepara-mastigatório de plano helicoidal nosdentes posteriores em alguns indivíduos. Afração masculina é ligeiramente mais afetadapor desgaste severo que a fração feminina(Wesolowski 2007).

O Sambaqui do Forte Marechal Luz estálocalizado no norte da Ilha de São Franciscodo Sul, na entrada da Baía da Babitonga, ameia encosta do Morro São João, e teria sidocontinuamente ocupado por um mesmo grupo.Restos vegetais estiveram presentes em todas ascamadas, principalmente sementes e cascas defrutos de Arecaceae (palmeiras), de Sapotaceae,

Veronica Sheila Karl Gregorio.pmd 24/02/2008, 14:55196

Page 7: Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários

197

Verônica WesolowskiSheila Maria Ferraz Mendonça de Souza

Karl ReinhardGregório Ceccantini

de Myrtaceae e de Myristicaceae (Bryan 1993).A continuidade da maioria dos aspectos dacultura material, da economia e do ritualfunerário e a falta de indícios estratigráficos dequebra no contínuo deposicional sugerem queForte Marechal Luz seja o resultado da ocupa-ção de um mesmo e único grupo, o qual teriaampliado seu repertório artefactual e incorpo-rado novas técnicas no período mais recente deocupação do sítio. O aparecimento da cerâmicaem quantidade elevada nas camadas maisrecentes e o pleno domínio da técnica oleira,aliados à permanência de traços culturais que jáestavam presentes, seriam igualmente argumen-tos favoráveis à continuidade de ocupação(Bryan 1993).

Foram evidenciados 65 sepultamentos,sendo 42 localizados em estratos sem cerâmicae 23 em estratos com cerâmica, porém, nemtodas as sepulturas registradas tiveram os ossosrecolhidos. Entre os esqueletos recuperadosforam identificados 79 indivíduos, a maioriaem mau estado de preservação, sendo 26crianças com menos que 5 anos (Mello e Alvime Mello Filho 1967-68; Bryan 1993).

Apenas os indivíduos exumados nascamadas sem cerâmica puderam ser estuda-dos, os quais formaram a série FML-SCR. Asérie FML-SCR apresenta prevalência efreqüência de dentes afetados por cáriebaixas, respectivamente 22,22% e 1,85%,com ocorrência exclusiva de lesões oclusais eapenas homens afetados. Os cálculos sãopredominantemente moderados mas tenden-do a grandes, em alguns casos recobremtodo o dente, incluindo superfícies oclusais eradiculares. Apresentam-se muito densos,muito duros e fortemente aderidos ao dente,sendo a coloração mais freqüente o acasta-nhado escuro. Ocorre sedimento macroscópicoaderido em quantidade maior que nas demaisséries. A freqüência de cálculo dentário éelevada, com 73,58% dos dentes afetados, ehomens mais acometidos que mulheres. Otamanho dos depósitos de cálculo é semelhan-te em ambos os sexos. O desgaste dentário épredominantemente severo com os homensmais afetados por desgastes desta intensidadeque as mulheres (Wesolowski 2007).

O sítio Itacoara, com cerâmica Itararé, estálocalizado na meia-encosta de uma elevaçãocristalina isolada em meio à planície sedimentarperiodicamente inundada e dista 30 km da linhade costa (Tiburtius, Bigarella e Bigarella 1951;Bandeira 2004). Pouco elevado em relação aoterreno adjacente e sem os aspectos de visibilida-de e destaque na paisagem típicos dos sambaquis,apresenta duas camadas ocupacionais, a superi-or, mais terrosa, semelhante aos acampamentoslitorâneos, e a inferior semelhante a umsambaqui fluvial (Tiburtius, Bigarella e Bigarella1951; Bandeira 2004). Apesar da ocorrência degrande quantidade de restos vegetais em ambasas camadas, estes são mais freqüentes na camadasuperior. São comuns as sementes carbonizadasde Arecaceae, principalmente de Butia sp (butiá)e Syagrus romanzoffiana, (Tiburtius, Bigarella eBigarella 1951; Bandeira 2004).

O repertório artefactual é semelhante emambas as camadas, no entanto apenas a camadasuperior apresentou cerâmica, identificadacomo Itararé. Também apenas na camadasuperior foram recuperados artefatos confecci-onados em matérias-primas originárias doplanalto (Tiburtius, Bigarella e Bigarella 1951;Beck 1971; Piazza 1974; Bandeira 2004).

No total foram evidenciadas 57 sepulturasno sítio, porém apenas 32 esqueletos foramrecuperados, sendo 28 oriundos da escavaçãode Guilherme Tiburtius e 4 da escavação deDione Bandeira (Tiburtius, Bigarella e Bigarella,1951; Bandeira, 2004).

Foram estudados apenas os indivíduosexumados por Guilherme Tiburtius, coleçãoescolhida devido ao maior número de indivídu-os. A série Itacoara apresenta prevalência efreqüência de dentes afetados por cárie baixas,respectivamente 11,54 e 1,27%. Ocorremapenas lesões oclusais, estando a cárie restrita àfração feminina. Os cálculos possuem tamanhoem geral pequeno mas tendendo a moderados,limitados às superfícies lingual e bucal, e nãorecobrem a coroa embora por vezes estendam-se para superfícies radiculares. Estão bemaderidos aos dentes, mas soltam-se facilmentequando submetidos à pressão. A coloração éacastanhada clara, são densos, pouco friáveis eapresentam pouco sedimento macroscópico

Veronica Sheila Karl Gregorio.pmd 24/02/2008, 14:55197

Page 8: Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários

198

Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários humanos: contribuição ao estudo do modo de vida e subsistênciade grupos sambaquianos do litoral sul do Brasil. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 191-210, 2007.

aderido. A freqüência de cálculo dentário ébaixa com apenas 47,97% dos dentes afetados.As mulheres são ligeiramente mais afetadas queos homens e os depósitos de cálculo têmtamanho semelhante em ambos os sexos. Odesgaste dentário é predominantemente levecom ocorrência de desgaste para-mastigatóriode plano helicoidal nos dentes posteriores emalguns indivíduos. A fração feminina da sérietende a ter desgaste ligeiramente mais leve quea fração masculina (Wesolowski 2007).

Maiores detalhes da arqueologia dos sítiose características da fisiopatologia dentáriapodem ser encontradas na literatura específicae em Wesolowski (2007).

Métodos

Os procedimentos técnicos da pesquisaforam adaptados a partir de protocolos paraextração e análise de resíduos em cálculosdentários humanos (Fox, Juan, Albert 1996;Walshaw 1999; Reinhard et al. 2001) baseadasno protocolo de Middleton (1990) pararecuperação de micro-resíduos em cálculos deherbívoros, o qual por sua vez é uma adapta-ção de protocolo publicado por Armitage(1975), igualmente para herbívoros.

A coleta dos cálculos foi feita, após aanálise de patologias dentárias (Wesolowski2007), nas instituições de origem dos acervos,MN-UFRJ e MASJ, evitando-se o deslocamen-to dos materiais arqueológicos. Para diminuiro risco de contaminação por micro-resíduosmodernos presentes no ambiente, em ambosos laboratórios foi isolada uma bancada parao trabalho. Essa área de trabalho foi limpadiariamente com hipoclorito de sódio e água,aplicados e removidos com esponja de espumasintética, evitando-se o uso de papel e tecidopor serem materiais ricos em fibras. Sempreque houve um intervalo entre coletas, oprocedimento de limpeza foi repetido. Asportas dos laboratórios foram mantidasfechadas e as janelas, no caso do laboratóriodo MASJ, fechadas e lacradas com fita adesiva.Foram utilizadas luvas descartáveis de látexsem pó durante a extração.

Após a limpeza do dente e do cálculo comescova interdental macia descartável, hipocloritode sódio e água destilada, cada cálculo foidestacado do dente e armazenado individual-mente em um micro-tubo de centrífuga estérilcom capacidade para 1,5ml .

Cada cálculo coletado recebeu um núme-ro de amostra seqüencial registrado em umcaderno de controle de amostras. Cerca de 1/3 de cada cálculo foi separado e reservado paracontrole ou análises futuras. Os 2/3 destina-dos à dissolução química foram pesados embalança com precisão de três casas decimais.Nos casos em que os cálculos eram levesdemais para esta precisão, o peso foi registradopor aproximação como 0,0009.

A extração dos micro-resíduos foi feita nolaboratório de palinologia e paleoparasitologiada School of Natural Resources, Universityof Nebraska at Lincoln (SNR-UNL) eseguiu o protocolo desenvolvido para essefim. Nenhum outro material foi manipula-do no laboratório concomitantemente aoscálculos. Uma bancada do laboratório foiisolada para o trabalho com os cálculos etanto a bancada como a capela utilizadasforam limpas com hipoclorito de sódiodiariamente. Toda a vidraria utilizada foipreviamente esterilizada por imersão emperóxido de hidrogênio 50% durante trêshoras. A lavagem pós-imersão foi feita comágua destilada.

Cálculos coletados de duas sériesesqueléticas diferentes não foram processadosconcomitantemente. Para evidenciar uma possívelcontaminação durante o processo de extraçãoforam constituídas e processadas amostrascontrole compostas exclusivamente por umtablete de esporos de Lycopodium.1 Estes controlesforam processados em tubos de centrífuga de12ml, de vidro, fechados com parafilme. Onúmero de controles variou entre um e três porsérie, no total de 14 amostras controles.

O processamento dos cálculos foi feitoem micro-tubos devido ao tamanho reduzido

(1) Batch n°212761, aproximadamente 12489 esporospor tablete.

Veronica Sheila Karl Gregorio.pmd 24/02/2008, 14:55198

Page 9: Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários

199

Verônica WesolowskiSheila Maria Ferraz Mendonça de Souza

Karl ReinhardGregório Ceccantini

das amostras. Os micro-tubos foram manti-dos abertos apenas pelo tempo necessáriopara o acréscimo ou descarte das substânciasquímicas utilizadas no processamento. Parapossibilitar o cálculo da concentração demicro-resíduos por grama de cálculo dentário(Warnock e Reinhard 1992; Reinhard et al.2001) um tablete de esporos de Lycopodiumfoi adicionado a cada micro-tubo contendouma amostra de cálculo dentário.

Os cálculos foram dissolvidos por imersãoem ácido clorídrico 10% (HCL 10%) pelotempo necessário a sua completa dissolução,centrifugados para descarte do ácido, lavadoscom água destilada, centrifugados para descar-te da água e desidratados com etanol 100 PA(ETOH 100 PA).

Para controlar a possibilidade de descarteparcial das amostras junto com o sobrenadante,todo o HCL e a água destilada descartados decada conjunto de amostras em processamentoforam recolhidos em um tubo de vidro comfundo cônico e 12ml de volume e centrifugados.O conteúdo do tubo foi inspecionado apenasvisualmente procurando-se por resíduosdepositados no fundo. O sobrenadantedescartado de ETOH 100PA foi tratado damesma forma, exceto por ter sido inspeciona-do ao microscópio de luz como meio deverificar se houve perda de material dasamostras durante o descarte.

Todas as amostras de cálculo e de controletiveram o volume de ETOH 100PA reduzidopara 0,5ml. Foi montada uma lâmina para cadaamostra de cálculo e a totalidade dos 0,5ml delíquido de cada amostra controle de Lycopodium.Foi utilizado glicerol puro como meio demontagem para preservar a mobilidade e resinatermo-ativada Meltmount 1,539 (Cargille)como selador da montagem. Foram usadaslâminas e lamínulas (24 x 32) pré-limpas eestéreis da marca comercial Gold Seal eponteiras para pipetador automático combaixa retenção, estéreis e descartáveis (umapara cada montagem de lâmina).

A observação das lâminas foi feita nolaboratório de Anatomia Vegetal do Institutode Biociências, da Universidade de São Paulo(IB-USP). Todas as lâminas foram observadas

ao microscópio de luz transmitida com uso deluz polarizada e filtro de interferência lambdaquando necessário à observação de grânulosde amidos. As lâminas foram varridas emaumento de 400 vezes (objetiva 40x e ocular10x). Foi aplicada, com o auxílio de umestilete, leve pressão sobre a lamínula paraprovocar a movimentação do micro-resíduo,sempre que necessária a observação deformas tridimensionais (amidos e fitólitos).

Além dos amidos e fitólitos, foramtambém contados e fotografados areia,fragmentos escuros (FGE) (possivelmentecarvão) e esporos de Lycopodium. A identifica-ção destes micro-resíduos foi feita apenasatravés de aspectos morfológicos e óticos, semutilização de coloração.

A concentração individual por grama decálculo, de cada um dos quatro tipos demicro-resíduo, foi calculada segundo aseguinte formula (Pearsall 2000; Warnock eReinhard 1992):

concentração = (TmC / TLC)TLAd

peso do calculo

Onde:

. TmC = Total de ocorrências contadasde um determinado micro-resíduo(p.ex. amido);

. TLC = Total de esporos de Lycopodiumcontados;

. TLAd = Total de esporos de Lycopodiumadicionados;

. Peso do cálculo = Peso em gramas docálculo.

As concentrações médias de grânulos deamido e de fitólitos foram comparadas entreas séries. Foram testadas as correlaçõesmantidas entre concentração de grânulos deamido e número de lesões cariosas, bem comoconcentração de fitólitos e intensidade dodesgaste dentário.

A descrição detalhada de todos os procedi-mentos metodológicos aplicados e a discussãoda sua eficácia podem ser encontradas emWesolowski (2007).

Veronica Sheila Karl Gregorio.pmd 24/02/2008, 14:55199

Page 10: Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários

200

Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários humanos: contribuição ao estudo do modo de vida e subsistênciade grupos sambaquianos do litoral sul do Brasil. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 191-210, 2007.

Resultados

Não houve qualquer perda amostraldurante os descartes. Nenhum dos 14 contro-les de Lycopodium apresentou amidos, fitólitos,areia ou FGE, tendo sido encontrados além deesporos de Lycopodium apenas fibras dediversos tipos em ocorrência eventual.

Foram encontrados grânulos de amidos,fitólitos, areia e FGE em todos os cálculosanalisados. Os valores das contagens absolu-tas e das concentrações de cada micro-resíduovariaram internamente em todas as séries(Tabela 2).

Além de amidos, fitólitos, areia e FGE,foram freqüentemente encontrados naslâminas possíveis cristais de cálcio e estrutu-ras sugestivas de epiderme vegetal, além defibras de vários tipos em ocorrência eventu-al e fragmentos de matriz do cálculo. Asséries MO-REC e MO-ANT apresentarammenor diversidade de formas de grânulosde amidos e de fitólitos, enquanto asdemais séries apresentaram maior variabili-dade de formas tanto de grânulos de amidocomo de fitólitos. Exemplos dos micro-resíduos encontrados em cada série estãonas Figuras 1 e 2.

Tabela 2Caracterização dos indivíduos e amostras de cálculos analisados e

concentrações de micro-resíduos calculadas

Concentrações por grama de cálculo

MO-RECMO-RECMO-RECMO-RECMO-RECMO-RECMO-ANTMO-ANTMO-ANTMO-ANTMO-ANTMO-ANTMO-ANTMO-ANTEnseada 1Enseada 1Enseada 1Enseada 1Enseada 1Enseada 1Enseada 1Enseada 1Enseada 1Enseada 1Enseada 1Enseada 1

SérieNúmero doIndivíduo

82

8060ª60B10

44B29505123282522

852985308532863686938693870387048533853486238634

Peso do cálculoem gramas

0,00090,0100,00090,00090,0010,0700,0080,0090,0280,0130,0020,0010,00090,0090,0220,0140,0100,0070,0030,0030,0150,0050,0070,0520,0140,012

58.8718.39081.38864.99624.250

4019.912

11.65532.4999.136

76.285211.402210.892

9.8822.1103.431

10.3528.15613.21626.3154.66428.20125.0582.4158.876698

08.39027.12910.833

0802

000

210810.898

010.545

05.2761.7165.176

02.64360.5242.3324.0297.517

02.2195.580

16.82031.163

284.85800

40100

7680

10.89897.570

05.647

12.6620

15.52800

47.3679.3294.029

000

2.790

8.41022.77367.83410.83324.250

4014.956

01.2806.32510.898

146.35542.17811.293

00

90.950000000000

Amido Fitólito Areia FGE

Veronica Sheila Karl Gregorio.pmd 24/02/2008, 14:55200

Page 11: Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários

201

Verônica WesolowskiSheila Maria Ferraz Mendonça de Souza

Karl ReinhardGregório Ceccantini

Tabela 2 (cont.)Caracterização dos indivíduos e amostras de cálculos analisados e

concentrações de micro-resíduos calculadas

Concentrações por grama de cálculo

Enseada 1Enseada 1Enseada 1Enseada 1Enseada 1Enseada 1Enseada 1Enseada 1Enseada 1FML-SCRFML-SCRFML-SCRFML-SCRFML-SCRFML-SCRFML-SCRItacoaraItacoaraItacoaraItacoaraItacoaraItacoaraItacoaraItacoaraItacoaraItacoaraItacoara

SérieNúmero doIndivíduo

86348647864786818681

8638 JVSn2

86808638 AD

61010222323231121271334

25A122926

25B31

Peso do cálculoem gramas

0,0200,0040,0170,0100,0200,0070,00090,0010,0050,0040,0290,0750,0090,0140,0040,0120,00090,0030,0100,0050,0100,0240,0040,0100,00090,0030,028

4.21911.5331.4539.6003.171

16.157118.68961.37127.9409.3764.763827

10.1944.43311.9633.691

116.96814.3889.22019.5144.5093.082

25.0332.38662.01965.6332.625

016.4767.2671.745317

2.30839.56330.6868382

12.5022.3822.4815.097

00

2.46010.633

0838

29.27110.5206.678

0795

62.0193.125875

00

1.4530

6340

29.67210.229

012.5022.3822.4815.097

00

2.46010.633

0838

29.27110.5206.678

0795

62.0193.125875

000000000

75.0099.129

34.60012.74330.47440.67318.453

106.3359.59229.33714.6366.0124.1106.827

0155.04731.25411.669

Amido Fitólito Areia FGE

Considerando a variação morfológica dosamidos recuperados pode-se sugerir a presençade grânulos do tipo milho, grânulos do tipobatata doce/Araceae e grânulos de Dioscorea sp,além da presença de grânulos que não se encai-xam nessas categorias ou estão muito alteradospara que possam ser identificados.

Quanto aos fitólitos, embora a maioriaseja de Poaceae, ocorreram formas sugestivasde Arecaceae e uma forma esférica de superfí-cie rugosa que observações iniciais sugeremque possa estar relacionada a sementes deAraucaria angustifolia (pinhão).

A distribuição tanto das formas de amidocomo de fitólito não foi idêntica em todas asséries. Enseada 1 e Itacoara apresentaramamidos do tipo milho mais freqüentemente,enquanto que grânulos de amido de Dioscoreasp estiveram presentes apenas em MO-REC eMO-ANT. Fitólitos de Poaceae foram encontra-dos em todas as séries, mas o tipo possivelmen-te relacionado a pinhão ocorreu apenas emItacoara e Enseada 1. Grânulos de amidosugestivos de pinhão foram encontrados nasséries FML-SCR; Enseada 1 e Itacoara, masnão em MO-REC e MO-ANT.

Veronica Sheila Karl Gregorio.pmd 24/02/2008, 14:55201

Page 12: Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários

202

Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários humanos: contribuição ao estudo do modo de vida e subsistênciade grupos sambaquianos do litoral sul do Brasil. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 191-210, 2007.

Fig. 1. Exemplos de grânulos de amido encontrados nos cálculos. Todas as barras de escala possuem 20 µm,exceto em Enseada 1(30 µm). MO-REC: A. Possivelmente batata doce, modificados; B. Araceae; C. Dioscoreasp, sob luz normal e polarizada. MO-ANT: D. Aglomerados de amido modificado, não identificados; E.Possivelmente batata doce; F. Dioscorea sp sob luz normal e polarizada; G. Amido não identificado; H.Fragmento de epiderme vegetal com amidos sugestivos de batata doce. Enseada 1: I. Possivelmente pinhão;J. Amido sugestivo de milho, alterado; K. Possivelmente Araceae, alterados; L. Possivelmente batata doce,modificado; M. Não identificados, modificados. FML-SCR: N. Possivelmente Araceae; O. Possivelmentebatata doce; P. Não identificado; Q. Não identificados, modificados; R. Sugestivos de pinhão. Itacoara: S.Não identificado; T. Araceae; U. Possivelmente batata doce; V. Não identificado; X. Sugestivo de milho; Z.Possivelmente pinhão.

As comparações das concentraçõesmédias de amido e de fitólitos nas sériesatravés de ANOVA e teste de Wilcoxon nãoencontraram diferenças estatísticas significativaspara α 0,05, sugerindo que as variaçõesverificadas entre as séries para as concentra-ções médias destes micro-resíduos podemestar ocorrendo ao acaso.

Um padrão de relação não linear entre asconcentrações de micro-resíduos e o peso emgramas dos cálculos ocorreu em todas as séries.Em todos os casos foi verificada uma relaçãoinversa na qual quanto mais leve o cálculo,maior seu conteúdo de micro-resíduos. Análisesde Correlação de Pearson e de Spearman, feitassobre o total dos cálculos analisados demons-traram a existência de correlações negativassignificativas tanto para o par concentração deamido-peso g (R2 0,483316 p<0,0001; R

S–0,8161

p <0,0001), como para o par concentração

de fitólitos-peso g (R2 0,19712 p <0,0001;R

S–0,3123 p 0,0228).

As possíveis associações entre as concen-trações de amidos e fitólitos e a ocorrência decáries e desgaste foram testadas por análise decorrelação. Quando considerados na análisede correlação apenas os valores de contagemde lesões cariosas e de concentração deamidos dos indivíduos positivos para cárie,ocorre correlação positiva e significativa entremaior número de lesões cariosas e maiorconcentração de grânulos de amido, indican-do que os indivíduos com maior número delesões são os mesmos que tendem a termaiores concentrações de amido (R2 0,835882p <0,0001; R

S 0,8476 p 0,0010). Análise de

correlação semelhante feita entre maioresconcentrações de fitólito e ocorrência dedesgaste dentário severo não demonstroucorrelação significativa.

Veronica Sheila Karl Gregorio.pmd 24/02/2008, 14:55202

Page 13: Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários

203

Verônica WesolowskiSheila Maria Ferraz Mendonça de Souza

Karl ReinhardGregório Ceccantini

Discussão

A presença de grânulos de amido e suasconcentrações médias semelhantes em todas asséries esqueléticas, independentemente dapresença de cerâmica nos sítios, indica quevegetais ricos em carboidratos faziam parte dadieta dos grupos de construtores dos sambaquisestudados. Os resultados também indicam queo consumo desse tipo de alimento não serelacionava com a disponibilidade de artefatoscerâmicos, sendo regular nestes gruposconsiderados pescadores-coletores. Por outrolado, nem a presença ubíqua nem as concentra-ções encontradas permitem estimar a quantidadede alimento amiláceo efetivamente consumida, jáque não há parâmetros estabelecidos para ataxa de preservação de grânulos, nem para arelação entre quantidade consumida e quantida-de retida nos cálculos.

A variação dos conjuntos de formas deamido e fitólitos nas diferentes séries pareceindicar a seleção diferenciada dos vegetaisutilizados, a partir do espectro disponível,segundo padrões de escolha que possivelmentevariaram local, temporal e sazonalmente.

O uso de milho (Zea mays), batata-doce(Ipomoea batatas), carás (Dioscorea spp), taioba(Xanthosoma sp) e várias palmeiras (frutos,palmito e amido do tronco) estão documenta-dos na literatura etnográfica brasileira (Galvão1979; Levi-Strauss 1987; Sauer 1987), assimcomo a ocorrência de tubérculos, incluindoDioscorea sp, em sítios de pescadores-coletoresem outras áreas do litoral brasileiro (Scheel-Ybert 2001, 2002). Além disso, restos de frutosde palmeiras estão presentes nos sítios de onde asséries estudadas foram escavadas e incluem jerivá(Syagrus romanzoffiana), descrita na literaturaetnográfica como uma das espécies utilizada para

Fig. 2. Exemplos de fitólitos encontrados nos cálculos. Todas as barras de escala possuem 20 µm, exceto emEnseada 1(30 µm). MO-ANT: A. Fitólitos alongados de seção cilíndrica, não identidicados; B. PossivelmenteEuphorbiaceae; C. Fitólito esférico de superfície irregular, não identificado. Enseada 1: D. Bilobato comum nassub-famílias Panicoideae e Bambusoideae; E. Forma comum em Poaceae; F. Possivelmente Araucaria angustifolia(pinhão); G. Forma compatível com Marantaceae; H. Fitólito semelhante aos encontrados em Bromeliaceae.FML-SCR: I. Forma cruciforme freqüente em Panicoidae; J. Fitólitos não identificados. Itacoara: K. Fitólitocompatível com Arecaceae; L. Possivelmente Araucaria angustifolia (pinhão); M. Célula longa silicificada, possivel-mente Poaceae; N. Não identificado.

Veronica Sheila Karl Gregorio.pmd 24/02/2008, 14:55203

Page 14: Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários

204

Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários humanos: contribuição ao estudo do modo de vida e subsistênciade grupos sambaquianos do litoral sul do Brasil. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 191-210, 2007.

a obtenção de farinha gomosa a partir doprocessamento do tronco (Levi-Strauss 1987).

Com base no conhecimento etnográfico, ouso de vegetais pelos grupos estudados já seriaesperado. O estado incipiente do conhecimen-to atual sobre a apropriação e uso de recursosvegetais por parte de grupos sambaquianosdeve-se diretamente às condições precárias depreservação de restos macroscópicos e aopequeno investimento em estudos de micro-resíduos nestes sítios. Como decorrência dosachados desta pesquisa passa a ser clara anecessidade imediata do desenvolvimento demodelos de economia e dieta para gruposconstrutores de sambaquis que sejam menosfortemente apoiados em pesca e coleta defontes protéicas.

A ocorrência de grânulos de Dioscorea spexclusivamente nas séries MO-REC e MOANT, exatamente as que possuem freqüênciase prevalências mais elevadas de cárie, sugeremque o aumento de consumo deste tipo detubérculo seja um dos fatores envolvidos namanifestação da cárie no grupo. Por outrolado, a coincidência de maiores prevalências efreqüências de cáries e de menor variabilidadede formas de grânulos de amido e de fitólitossugerem um consumo mais intensivo e concen-trado em poucas espécies vegetais, o quecostuma ser um comportamento indicativo deprática de horticultura, ainda que incipiente.Ao mesmo tempo, a maior variabilidade deformas de grânulos de amido e fitólitos aliada afreqüências e prevalências baixas de cáries nasséries FML-SCR, Enseada I e Itacoara parecemsugerir um quadro com maior ênfase emvegetais coletados e não em vegetais cultivados.

Este consumo diferenciado nas séries MO-REC e MO-ANT sugere que uma mudançaeconômica refletiu-se sobre a dieta, não apenaspela escolha e intensivo consumo de umalimento de origem vegetal específico, mastambém pela menor diversidade de fontes decarboidrato incorporadas à dieta.

A presença de areia e de FGE em todasas séries pode estar relacionada aos processosempregados no preparo do alimento, tal comojá se assumia a priori com base nos modelosetnográficos e na falta de cerâmica. Os achados

dos micro-resíduos de areia e carvão nopresente estudo permitem sugerir que formasde preparação que implicassem em assar oalimento em contato com carvão e com o solo(como o uso de fornos escavados) poderiamresponder pela presença destes micro-resíduosnos cálculos. Técnicas de cozimento de milho etubérculos em fornos escavados são referidasrepetidamente na etnografia brasileira (Flowers1983; Galvão 1979).

Areia e cinzas foram freqüentementeidentificadas como possíveis agentes causado-res dos desgastes dentários severos entre osgrupos de pescadores-coletores litorâneos(Mendonça de Souza 1995; Salles-Cunha1963). Caso a severidade dos desgastesdentários observados nas séries estudadasestivesse diretamente relacionada à ingestão deareia e de fitólitos, uma correlação positivaentre maiores concentrações de areia e defitólitos e maior freqüência de desgaste severoseria esperada, o que não ocorreu. A análisedireta dos dados tampouco sugeriu que estacorrelação pudesse estar presente. Por outrolado, a presença destes micro-resíduos noscálculos indica que eles efetivamente interagiramcom as superfícies dentárias e devem tercontribuído para o processo de desgastedentário destes grupos, provavelmente emconjunto com a ingestão de ossos de peixes ede cinzas como sugerido por Mendonça deSouza (1995).

A relação inversa entre o peso dos cálculose as concentrações de micro-resíduos observa-da no presente estudo exige uma explicação,sendo de certa forma inicialmente inesperada.Este resultado pode estar relacionado comvariações na velocidade de mineralização daplaca, a qual por sua vez é influenciada pelaquantidade de proteína que estava sendoingerida por época da formação de um cálculoespecífico (Epstein, Mandel e Scopp 1980;Kleinberg et al. 1981; Shasha et al. 1983;Eigner, Jastak, e Bennett 1986; Jin e Yip 2002).Considerando o aumento da precipitação decálcio em presença de pH salivar alcalino e arelação proteína/uréia/alcalinidade, é plausívelsupor que em períodos de maior ingestão deproteína animal a placa fosse mais rapidamente

Veronica Sheila Karl Gregorio.pmd 24/02/2008, 14:55204

Page 15: Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários

205

Verônica WesolowskiSheila Maria Ferraz Mendonça de Souza

Karl ReinhardGregório Ceccantini

mineralizada formando cálculos mais pesadosmas menos densos em termos de micro-resíduosretidos em seu interior.

A correlação inversa entre o peso docálculo e a concentração de micro-resíduos sereproduziu em todas as séries esqueléticas,independentemente das diferenças de tama-nho encontradas (Wesolowski 2007), indi-cando a existência de um processo comum.Uma possibilidade explicativa é a f lutuaçãosazonal na quantidade de proteína consumidapelos grupos, o que seria coerente com osciclos anuais de maior oferta de pesca obser-vados na região, por exemplo. Este resultadoaponta para uma hipótese que deve ser maisbem testada pela arqueologia a partir dosresíduos faunísticos associados a diferentesmomentos de construção, ou áreas construídasdos sítios.

Para as séries estudadas, dados relativos àvariação sazonal de recursos faunísticos estãodisponíveis apenas para o sítio Enseada 1.Bandeira (1992) referiu para esse sítio prepon-derância do uso de recursos de verão naocupação mais recente, exatamente aquela àqual a série esquelética analisada está relaciona-da, e sugeriu abandono parcial do sítio duranteos meses de inverno ou o consumo invernal dealimentos armazenados durante o verão.Hipoteticamente, a diminuição de restosfaunísticos de espécies típicas de invernopoderia sinalizar uma situação de diminuiçãode consumo de proteína, mesmo consideran-do-se estoques de verão, o que poderia influirno processo de formação dos cálculos e nainclusão diferencial de micro-resíduos.

Embora sem condições de comprovaçãoatravés dos dados até agora disponíveis, élícito propor, como hipótese, que essesmomentos de diminuição de consumo deproteína poderiam ser acompanhados peloaumento do consumo de vegetais, sobretudotubérculos, raízes tuberosas e rizomas de váriostipos, além de amidos de goma de tronco depalmeira, recursos que se mantêm disponíveisdurante todo o ano. Um quadro de diminui-ção da ingestão de proteína e aumento daingestão de alimentos amiláceos teoricamentelevaria à mineralização mais lenta de cálculos,

que tenderiam a ser mais leves e proporcional-mente mais densos de micro-resíduos.

A presença de fitólitos e grânulos de amidorelacionados à sementes de Araucaria angustifolia(pinhão) apenas nos sítios de Forte Marechal Luz,Enseada 1 e Itacoara sugere que os grupos quehabitaram estes sítios mantiveram contato com oplanalto, reforçando um modelo arqueológicovigente (Chmyz 1976; Schmitz 1988; Schmitz et al.1993) No caso de Itacoara, a localização maisinterior e a ocorrência de artefatos confeccionadosem matérias-primas originárias da área do planaltoreforçam a existência dessa ligação. No caso deEnseada 1, a possibilidade de abandono parcial dosítio no inverno, indicada pelos dados dazooarqueologia, condiz com o momento dedisponibilidade de pinhões, sugerindo que partedo grupo poderia incursionar ao planalto a fim decoletar esse recurso. Quanto ao Forte MarechalLuz características de morfologia craniana distintajá sugeriam a possibilidade de contatos com outrasregiões. A distância entre sítios de Forte MarechalLuz e Enseada 1 e a vertente da serra pode sertransposta, por exemplo, pela calha do RioCubatão, um canal natural através do qual oacesso à serra situa-se a menos de 20 km dedistância. No caso dos três sítios a presença decerâmica Itararé também aponta para contatoscom o planalto.

Ambas as séries, Itacoara e Enseada 1,apresentam datações sobrepostas ao momentode maior expansão da Mata de Pinhais, a qualse expandiu pela encosta da serra e pelas calhasdos rios ao redor de 1000 anos BP (Behling1998, 2001). Analisando conjuntamente ascoincidências de datações, a presença degrânulos de amido e fitólitos de pinhãoexclusivamente nestas séries e os dados arqueo-lógicos indicativos do contato com o planalto,é possível sugerir que ambos os gruposaproveitaram-se de um recurso dietéticofortemente previsível (pois que sempre disponí-vel no inverno) e abundante, que se tornaradisponível naquele momento temporal.

A recuperação e análise dos micro-vestígiosvegetais retidos nos cálculos dentários dos gruposestudados possibilitou a produção de novosdados sobre sua subsistência, ampliando oconhecimento sobre o espectro vegetal por eles

Veronica Sheila Karl Gregorio.pmd 24/02/2008, 14:55205

Page 16: Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários

206

Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários humanos: contribuição ao estudo do modo de vida e subsistênciade grupos sambaquianos do litoral sul do Brasil. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 191-210, 2007.

WESOLOWSKI, V.; MENDONÇA DE SOUZA, S.M.F.; KARL REINHARD, K.;CECCANTINI, G. Starch grains and Phytoliths in human dental calculus:contribution to the study of life style and subsistence at Sambaqui groups inBrazilian southern coast. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo,17: 191-210, 2007.

Abstract: The aim of this paper is to present the analysis of micro-residuesrecovered from fishers-gatherers dental calculus. All analyzed groups are fromsouthern Brazilian shell-mounds. The relationships found between micro-residues and dental physiopathology is presented too.

The dietary consumption of starchy vegetables was evidenced in all studiedgroups, independently of the presence of ceramic in the sites. The resultspoint to different choice patterns concerning edible vegetables. The contactbetween seashore and inland are evidenced too.

Keywords: Shell-mounds – Fisher-gatherers – Starch – Phytoliths – Caries– Tooth wear.

utilizado. Tornou possível também a produção deum conjunto independente de evidências, o qualreforça a hipótese arqueológica do contato entregrupos litorâneos e o planalto no período maisrecente de ocupação do litoral norte de SantaCatarina. A expansão do mesmo tipo de aborda-gem investigativa para outras séries esqueléticas depescadores-coletores tem potencial para produziruma massa de dados inteiramente novos, os quaispodem contribuir consistentemente para melhorara compreensão da subsistência e do modo de vidadestes grupos.

Agradecimentos

À CAPES pelo apoio financeiro. Aos labora-tórios de Anatomia Vegetal e Fisiologia Vegetal doDepartamento de Botânica, Instituto deBiociências, Universidade de São Paulo, porautorizarem o uso de espaços e equipamentos. AoSetor de Antropologia Biológica, Departamentode Antropologia do Museu Nacional, UFRJ e aoMuseu Arqueológico de Sambaqui de Joinville porautorizarem o acesso aos acervos e aos laboratóri-os. A Giuliano Locosselli pela análise estatística.

AFONSO, M.C.1999 O sambaqui Espinheiros II: uma

contribuição à arqueologia do litoralnorte de Santa Catarina. Revista doCEPA, 23: 119-123.

AFONSO, M.C.; DE BLASIS, P.1994 Aspectos da formação de um grande

sambaqui: alguns indicadores emEspinheiros II, Joinville. Revista do Museude Arqueologia e Etnologia, 4: 21-30.

ARMITAGE, P.L.1975 The extraction and identification of opal

phytoliths from the teeth of ungulates.Journal of Archaeological Science, 2: 187-197.

BANDEIRA, D.R.1992 Mudança na estratégia de subsistência do

sítio arqueológico Enseada I - Umestudo de caso. Dissertação de Mestrado.Universidade Federal de Santa Catarina,Florianópolis.

Referências bibliográficas

Veronica Sheila Karl Gregorio.pmd 24/02/2008, 14:55206

Page 17: Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários

207

Verônica WesolowskiSheila Maria Ferraz Mendonça de Souza

Karl ReinhardGregório Ceccantini

2004 Ceramistas pré-coloniais da baía daBabitonga, SC : Arqueologia e etnicidade.Tese de doutorado. UniversidadeEstadual de Campinas, Campinas.

BARTON, H.; MATTHEWS, P.J.2006 Taphonomy. R. Torrence; H. Barton

(Orgs.) Ancient starch research. WalnutCreek, Left Coast press: 75-94.

BECK, A.1974 O Sambaqui de Enseada I - SC LN 71 -

um estudo sobre tecnologia pré-histórica.Tese de Livre Docência. UniversidadeFederal de Santa Catarina, Florianópolis.

1972 A variação do conteúdo cultural dossambaquis do Litoral de Santa Catarina.Tese de Doutorado. FFLCH, Universida-de de São Paulo, São Paulo.

1971 Grupos cerâmicos do litoral de SantaCatarina – Fase Rio Lessa e FaseEnseada. Anais do Museu de Antropologiada UFSC, 4: 25-9.

BECK, A.; DUARTE, G.M.; REIS, M.J.1969 Sambaqui do Morro do Ouro. Nota

prévia. Pesquisas, 20: 31-40.BECK, A.; ARAÚJO, E.M; DUARTE, G.M.

1970 Síntese da arqueologia do litoral nortede Santa Catarina. Anais do Museu deAntropologia da UFSC, 3: 23-48.

BEHLING, H.1998 Late quaternary vegetational and climatic

changes in Brazil. Reviews of Palaeobotanyand Palynology, 99: 143-156.

2001 Tropical rain Forest and climate dynamicsof the Atlantic lowland southern Brazil,during the late quaternary. QuarternaryResearch, 56: 383-89.

BRYAN, A.L.1993 The Sambaqui at Forte Marechal Luz, State of

Santa Catarina, Brazil. Corvallis: Centerfor the Study of the First Americans/Oregon State University.

CHMYZ, I. 1976 A ocupação do litoral dos estados do

Paraná e Santa Catarina por povosceramistas. Estudos Brasileiros, 1: 7-43.

COHEN, M.N.; ARMELAGOS, G,J.1984 Paleopathology at the origins of agriculture.

Nova York: Academic Press.DANIELSON, D.R.; REINHARD, K.J.

1998 Human dental microwear caused bycalcium oxalate phytoliths in prehistoricdiet of Lower Pecos Region, Texas.American Journal of Physical Anthropoloy,107: 297-304.

EIGNER, T.L.; JASTAK, J.T.; BENETT, W.M. 1986 Achieving oral health in patients with renal

failure and renal transplants. Journal ofAmerican Dentistry Association, 113: 612-16.

EPSTEIN, S.R.; MANDEL, I.D.; SCOPP, I.W. 1980 Salivary composition and calculus

formation in patients undergoinghemodialysis. Journal of Periodontoloy,51: 336-8.

FIGUTI, L. 1993 O homem pré-histórico, o molusco e o

sambaqui: considerações sobre asubsistência dos povos sambaquieiros.Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia,3: 67-80.

1992 Les sambaquis COSIPA (4200 à 1200ans BP): étude de la subsistance chez lespeuples préhistoriques de pêcheurs-ramasseurs de bivalves de la côte centralede l’etat de São Paulo, Brésil. Tese dedoutorado. Museum National d’HistoireNaturelle, Paris.

FLOWERS, N.M. 1983 Seasonal factors in subsistence, nutrition

and child growth in a central BrazilianIndian community. In: Hames, R.B.;Vickers, W.T. (Eds.) Adaptive responses ofnative Amazonians. Nova York: AcademicPress.

FOX, C.L.; JUAN, J.; ALBERT, R.M.1996 Phytoliths analysis on dental calculus,

enamel surface, and burial soil: Informationabout diet and paleoenvironment.American Journal of Physical Anthropology,101: 101-113.

FOX, C.L.; PÉREZ-PÉREZ, A.1994 Dietary information through the

examination of plant phytoliths on theenamel surface of human dentition.Journal of Archaeological Science, 21: 29-34.

GALVÃO, E. 1979 Encontro de sociedades: Índios e Brancos no

Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra.GARCIA, C.R.

1972 Estudo comparativo das fontes dealimentação de duas populações pré-históricas do litoral paulista. Tese deDoutorado. Instituto de Biociências,Universidade de São Paulo, São Paulo.

GASPAR, M.D.1998 Considerations of the sambaquis of the

Brazilian coast. Antiquity, 72: 592-615.2000 Sambaqui: Arqueologia do litoral brasileiro.

Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

Veronica Sheila Karl Gregorio.pmd 24/02/2008, 14:55207

Page 18: Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários

208

Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários humanos: contribuição ao estudo do modo de vida e subsistênciade grupos sambaquianos do litoral sul do Brasil. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 191-210, 2007.

GOODMAN, A.H.; LALLO, J.; ARMELAGOS, G.J;ROSE, J.C.

1984a Health changes at Dickinson Mounds,Illinois (AD 950-1300). In: Cohen, M.N.;Armelagos, G.J. (Eds.) Paleopathology at theorigins of agriculture. Nova York, AcademicPress: 271-306.

GOODMAN, A.H.; MARTIN, D.L.; ARMELAGOS,G.J.; CLARK, G.

1984b Indications of stress from bone andteeth. In: Cohen, M.N.; Armelagos, G.J.(Eds.) Paleopathology at the origins of agriculture.Nova York, Academic Press: 13-49.

GOULART, M.1980 Tecnologia e padrões de subsistência

de grupos pescadores-coletores pré-históricos, habitantes do sambaqui doMorro do Ouro - Joinville, SantaCatarina. Relatório de pesquisa.Museu Arqueológico de Sambaqui deJoinville, Joinville.

HANSEL, F.A.; SCHMITZ, P.I. 2006 Classificação e interpretação dos resíduos

orgânicos preservados em fragmentos decerâmica arqueológica por cromatografiagasosa e cromatografia gasosa-espectrometriade massas. Pesquisas, 63: 81-112.

HÜBBE, M.O.R.2005 Análise Biocultural dos remanescentes

ósseos humanos do sambaqui porto doRio Vermelho 02 (SC-PRV-02). Tese dedoutorado. Instituto de Biociências,Universidade de São Paulo, São Paulo.

JIN, Y.; YIP, H.K.2002 Supragengival calculus: Formation and

control. Critical Review of Oral Biology andMedicine, 13: 426-441.

KLEINBERG, I.; JENKIS, G.N.; DENEPITIYA, L.;CJATTERJEE, R.

1981 Diet and dental plaque. In: Fergunson,D.B. (Ed.) The environment of the teeth.Nova York, Kargel: 88-107.

LARSEN, C.S.1981 Skeletal and dental adaptations to the

shift to agriculture on the Georgia Coast.Current Anthropology, 22: 422-23.

1984 Health and disease in prehistoricGeorgia: the transition to agriculture. In:Cohen, M.N.; Armelagos, G.J. (Eds.)Paleopathology at the origins of agriculture.Nova York, Academic Press: 367-92.

LARSEN, C.S.; SCHOENINGER, M.J.; SHAVIT,R.; RUSSELL, K.F.

1990 Dietary Transition on the Southeastern

U.S. Atlantic coast. International Journalof Anthropology, 5: 333-46.

LEVI-STRAUSS, C.1987 O uso das plantas silvestres da América do

Sul tropical. Ribeiro, B.G. (Coord.) . SumaEtnológica Brasileira, vol 1, Etnobiologia.Petrópolis, Editora Vozes: 29-46.

LIMA, T.A.1991 Dos mariscos aos peixes: um estudo

zooarqueológico de mudança desubsistência na pré-história do Rio deJaneiro. Tese de Doutoramento. FFLCH,Universidade de São Paulo, São Paulo.

LOY, T.H.1994 Methods in the analysis of starch

residues on prehistoric stone tools. In:Hather, J.G. (Ed.) Tropical archaeobotany:Applications and new developments.Londres, Routledge: 86-114.

LOY, T.H.; SPRIGGS, M; WICKLER, S.1992 Direct evidence for human use of plants

28,000 years ago: starch residues onstone artifacts from the northernSolomon Islands. Antiquity, 66: 898-912.

MELLO E ALVIM, M.C.1978 Caracterização da morfologia craniana

das populações pré-históricas do litoralmeridional brasileiro (PR e SC). Arquivosde Anatomia e Tecnologia, 3: 292-318.

MELLO E ALVIM, M.C.; MELLO FILHO, D.P.1967/68 Morfologia da população do Sambaqui

do Forte Marechal Luz (Santa Catarina).Revista de Antropologia, 15/16: 5-14.

MENDONÇA DE SOUZA, S.M.F.1995 Estresse, doença e adaptabilidade:

Estudo comparativo de dois grupos pré-históricos em perspectiva biocultural.Tese de Doutorado. Escola Nacional deSaúde Pública, Fiocruz, Rio de Janeiro.

1999 Osteologia humana, paleopatologia einferência arqueológica: Uma reflexãosobre o valor dos dados. In: Mazz, J.M.L.;Sans, M. (Eds.) Arqueologia y Bioantropologiade las tierras bajas. Montevideo, Faculdad dehumanidades y ciencias de la education/Universidad de la República: 189-203.

MIDDLETON, W.1990 An improved method for extraction of

opal phytolith from cervid dental tartar.The Phytolitarien Newsletter, 6: 2-5.

NEVES, W.A.1988 Paleogenética dos grupos pré-históricos

do litoral sul do Brasil (Paraná e SantaCatarina). Pesquisas, 43.

Veronica Sheila Karl Gregorio.pmd 24/02/2008, 14:55208

Page 19: Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários

209

Verônica WesolowskiSheila Maria Ferraz Mendonça de Souza

Karl ReinhardGregório Ceccantini

NEVES, W.A; BLUM, M. 1998 Afinidades Biológicas entre populações

pré-históricas do centro-sul brasileiro:uma análise multivariada. Fronteiras -Revista de História da UFMS, 2: 143-69.

NEVES, W.A.; WESOLOWSKI, V.2002 Economy, nutrition and disease in

prehistoric coastal Brazil: A case studyfrom the state of Santa Catarina. In:Steckel, R.H.; Rose, J.C. (Eds.) Thebackbone of History: Health and nutrition inthe western hemisphere. Cambridge,Cambridge University Press: 376-405.

OLIVEIRA, M.S.C. 2000 Os sambaquis da planície costeira de

Joinville, litoral norte de Santa Catarina:Geologia, paleogeografia e conservação insitu. Dissertação de mestrado. Centro deFilosofia e Ciências Humanas, UniversidadeFederal de Santa Catarina, Florianópolis.

PEARSALL, D.M. 2000 Paleoethnobotany: A handbook of procedures.

Nova York: Academic Press.PETRYKOWSKI, S.P.

2006 Estudo da anatomia vegetal e paleobotânicados trançados de fibras vegetais encontra-dos no sambaqui Cubatão I, Joinville,SC. Monografia de conclusão de gradua-ção. Universidade da Região de Joinville,São Francisco do Sul.

PIAZZA, W.1974 Dados à arqueologia do litoral norte e

do planalto de Canoinhas. PRONAPA,Resultados do 5ºano, 1969-1970.Publicações Avulsas do Museu ParaenseEmílio Goeldi, 26: 53-66.

PIPERNO, D.R.1985 Phytholith taphonomy and distribution

in archaeological sediments fromPanamá. Journal of Archaeological Science,12: 247-269.

PIPERNO, D.R.; HOLST, I. 1998 The presence of starch grains on prehistoric

stone tools from the humid neotropics:indications of early tuber use andagriculture in Panama. Journal ofArchaeological Science, 25: 765-776.

PIPERNO, D.R.; RANERE, A.J.; HOLST, I.;HANSELL, P.

2000 Starch grains reveal early root crophorticulture in the Panamanian tropicalforest. Nature, 407: 894-7.

PROUS, A.1977 Principaux sites prehistoriques de l’etat

de Santa Catarina. In : Prous, A.; Piazza,W.F. (Eds.) Documents pour la Préhistoiredu Brésil Méridional 2. L’état de SantaCatarina. Cahier d’archéologie d’Amériquedu Sud, 5: 65-114.

1991 Arqueologia Brasileira. Brasília: EditoraUniversidade de Brasília.

2006 O Brasil antes dos brasileiros: A pré-históriado nosso país. Rio de Janeiro: Jorge ZaharEditor.

REINHARD, K.J.; MENDONÇA DE SOUZA, S.F.;RODRIGUES, C.; KIMERLE, E.; DORSEY-VINTON, S.

2001 Microfossils in dental calculus: A newperspective on diet and dental disease.In: Williams, E. (Ed.) Human remain:Conservation, retrieval and analysis.Proceedings of a conference held inWillianburg, VA, nov 1999. BARInternational Series 934: 113-118.

ROHR, J.A.1961 Pesquisas paleo-etnográficas na Ilha de

Santa Catarina e notícias prévias sobresambaquis da Ilha de São Francisco doSul III. Pesquisas, 12.

ROSE, J.C.; BURNETT, B.A.; NASSANEY, M.S.;BLAEUER, N.W.

1984 Paleopathology and the origins of maizeagriculture in Lower Mississippi Valleyand Caddoan culture areas. In: Cohen,M.N.; Armelagos, G.J. (Eds.) Paleopathologyat the origins of agriculture. Nova York,Academic Press: 393-424.

SALLES-CUNHA, E. 1963 Sambaquis e outras jazidas arqueológicas:

paleopatologia dentária e outros assuntos. Riode Janeiro: Editora Científica.

SAUER, C.O.1987 As plantas cultivadas na América do Sul

tropical. Ribeiro, B.G. (Coord.) SumaEtnológica Brasileira, vol 1, Etnobiologia.Petrópolis, Editora Vozes: 59-90.

SCHEEL-YBERT, R. 2001 Man and vegetation in southeastern

Brazil during the late holocene. Journal ofArchaeological Science, 28: 471-80.

2002a Late Holocene south-eastern Brazilianfisher-gather-hunter: environment, woodexploitation and diet. In: Thiébault, S.(Ed.) Charcoal analysis: Methodologicalapproaches, palaeoecological results andwood uses. Proceedings of the secondeinternational meeting of anthracology. Paris,Archaeopress: 159-168.

Veronica Sheila Karl Gregorio.pmd 24/02/2008, 14:55209

Page 20: Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários

210

Grânulos de amido e fitólitos em cálculos dentários humanos: contribuição ao estudo do modo de vida e subsistênciade grupos sambaquianos do litoral sul do Brasil. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 191-210, 2007.

2002b Mise en évidence par l’analyseanthracologique de la stabilité de lavégétation sur le litoral brésilienpendant l’holocène supérieur. Quaternaire,13: 247-256.

SCHMITZ, P.I.1988 As tradições ceramistas do planalto sul-

brasileiro. Documentos, 2: 75-130.SCHMITZ, P.I.; VERARDI, I.; DE MASI, M.N.;ROGGE, J.H.; JACOBUS, A.L.

1993 Escavações arqueológicas do Pe. JoãoAlfredo Rohhr, S.J. O sítio da praia dasLaranjeiras II: uma aldeia da tradiçãoceramista Itararé. Pesquisas, 49.

SHASHA, S.M.; BEN ARYEH, H.; ANGEL, A.;GUTMAN, D.

1983 Salivary content in hemodialysed patients.Journal of Oral Medicine, 38: 67-70.

TIBURTIUS, G.1996 Arquivos de Guilherme Tiburtius I. Joinville,

Museu Arqueológico de Sambaqui deJoinville/ Fundação Cultural de Joinville.

TIBURTIUS, G.; BIGARELLA, J.J.; BIGARELLA, I.K.1951 Nota prévia sobre a jazida paleoetnográfica

de Itacoara, Joinville, Santa Catarina.Ciência e Cultura, 3: 267-8.

TORRENCE, R.; BARTON, H.2006 Ancient starch research. Walnut Creek: Left

Coast press.TURNER II, C.G.

1979 Dental anthropological indications ofagriculture among the Jomon people ofcentral Japan. American Journal of PhysicalAnthropology, 51: 619-36.

UGENT, D.; POZORSKY, S.; POZORSKY, T.1986 Archaeological manioc (Manioh) from

costal Peru. Economic Botany, 40: 78-102.

VAN PEER, P.; FULLAGAR, R.; STOKES, S.; BAILEY,R.M.; MOEYERSONS, J.; STEENHOUND, F.

2003 The Early to Middle Stone Age transitionand the emergence of modern humanbehavior at site 8 – B – 11, Sai island,Sudan. Journal of Human Evolution, 45:187-93.

WALSHAW, S.C.1999 Reconstruction of environment in early

Bronze Age Syria through phytolithanalysis from dental calculus. Dissertaçãode Mestrado. Departamento de Antro-pologia, Universidade de Alberta,Alberta.

WARNOCK, P.; REINHARD, K.J.1992 Methods of extracting pollen and

parasites egges from latrine soils. Journalof Archaeological Science, 19: 261-64.

WESOLOWSKI, V.2000 A prática da horticultura entre os

construtores de sambaquis e acampamen-tos litorâneos da região da Baía de SãoFrancisco, Santa Catarina: Uma aborda-gem bio-antropológica. Dissertação demestrado. FFLCH, Universidade de SãoPaulo, São Paulo.

2007 Cáries, desgaste, cálculos dentários emicro-resíduos da dieta entre grupospré-históricos do litoral norte deSanta Catarina: É possível comeramido e não ter cárie? Tese de douto-rado. Escola Nacional de SaúdePública Sérgio Arouca, Fiocruz, Riode Janeiro.

WIERNER, C. 1876 Estudos sobre os sambaquis do sul do

Brazil. Boletim do Museu Nacional, 1: 1-20.

Recebido para publicação em 4 de dezembro de 2007.

Veronica Sheila Karl Gregorio.pmd 24/02/2008, 14:55210