grisalhas: um estudo sobre cabelo, … o avanço de ações que os contrariam são constantes na...

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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X GRISALHAS: UM ESTUDO SOBRE CABELO, LIBERDADE FEMININA E “POLÍTICA-VIDA” Tatiana Miranda1 Carlos Eduardo Fialho2 Resumo: Esse estudo tem como objetivo analisar as motivações de mulheres que assumem os cabelos grisalhos. Nas dezenas de entrevistas que realizamos, com mulheres dos 20 aos 80 anos, percebemos que existe uma forte atitude política ao deixar de pintar o fios brancos. Entretanto, é uma política que se aproxima da ideia de “política- vida”, (Guiddens; 2002): “a política-vida refere- se a questões políticas que fluem a partir dos processos de auto-realização em contextos pós- tradicionais, onde influências globalizantes penetram no projeto reflexivo do eu e virse-versa”. Percebemos que assumir os cabelos brancos é, para muitas mulheres, tanto uma forma de liberdade quanto de reivindicação do direito das mulheres sobre sua aparência física e sobre as formas de lidar com seu envelhecimento. Palavras-chave: mulheres grisalhas, envelhecimento feminino, política-vida. Introdução A aceitação do embranquecimento dos cabelos, fator natural no processo do envelhecimento do ser humano, sempre foi uma prática quase que exclusivamente masculina. Especialmente na meia idade, época em que o processo de embranquecimento dos fios se intensifica. Para as mulheres, principalmente aquelas que ainda não chegaram à terceira idade, o uso dos cabelos naturalmente grisalhos ainda é um tabu. Visto como sinal de desleixo e fator de “denuncia” o envelhecimento (fator que, ainda hoje é como um crime para as mulheres, que devem manter uma aparência eternamente jovem), os cabelos grisalhos não são bem-aceitos entre as mulheres. Nos homens, ao contrário, o cabelo grisalho evoca um tipo de charme ligado à maturidade e experiência. Entretanto, na esteira dos discursos contemporâneos que questionam o padrão de beleza no qual só cabem mulheres altas, magras (ou com músculos perfeitamente torneados), brancas, com cabelos lisos, com corpos desprovidos de “imperfeições” tipicamente femininas (celulites, estrias, cicatrizes de cesariana) e, logicamente, com aparência jovial, observamos um aumento de mulheres que assumem os cabelos grisalhos. Entre as mulheres públicas, que se tornam modelos de inspiração para as mulheres (WOLF, 1992) podemos citar algumas que usam seus cabelos naturalmente grisalhos e brancos: Sarah Harris 1 Doutora em Ciências Sociais. Analista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- Rio de Janeiro- Brasil. 2 Doutor em Comunicação Social. Professor Associado do Departamento de Sociologia da Universidade Federal Fluminense- Niterói- Brasil.

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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

GRISALHAS: UM ESTUDO SOBRE CABELO, LIBERDADE FEMININA E

“POLÍTICA-VIDA”

Tatiana Miranda1

Carlos Eduardo Fialho2

Resumo: Esse estudo tem como objetivo analisar as motivações de mulheres que assumem os

cabelos grisalhos. Nas dezenas de entrevistas que realizamos, com mulheres dos 20 aos 80 anos,

percebemos que existe uma forte atitude política ao deixar de pintar o fios brancos. Entretanto, é

uma política que se aproxima da ideia de “política- vida”, (Guiddens; 2002): “a política-vida refere-

se a questões políticas que fluem a partir dos processos de auto-realização em contextos pós-

tradicionais, onde influências globalizantes penetram no projeto reflexivo do eu e virse-versa”.

Percebemos que assumir os cabelos brancos é, para muitas mulheres, tanto uma forma de liberdade

quanto de reivindicação do direito das mulheres sobre sua aparência física e sobre as formas de lidar

com seu envelhecimento.

Palavras-chave: mulheres grisalhas, envelhecimento feminino, política-vida.

Introdução

A aceitação do embranquecimento dos cabelos, fator natural no processo do envelhecimento

do ser humano, sempre foi uma prática quase que exclusivamente masculina. Especialmente na

meia idade, época em que o processo de embranquecimento dos fios se intensifica. Para as mulheres,

principalmente aquelas que ainda não chegaram à terceira idade, o uso dos cabelos naturalmente

grisalhos ainda é um tabu.

Visto como sinal de desleixo e fator de “denuncia” o envelhecimento (fator que, ainda hoje é

como um crime para as mulheres, que devem manter uma aparência eternamente jovem), os cabelos

grisalhos não são bem-aceitos entre as mulheres. Nos homens, ao contrário, o cabelo grisalho evoca

um tipo de charme ligado à maturidade e experiência.

Entretanto, na esteira dos discursos contemporâneos que questionam o padrão de beleza no

qual só cabem mulheres altas, magras (ou com músculos perfeitamente torneados), brancas, com

cabelos lisos, com corpos desprovidos de “imperfeições” tipicamente femininas (celulites, estrias,

cicatrizes de cesariana) e, logicamente, com aparência jovial, observamos um aumento de mulheres

que assumem os cabelos grisalhos.

Entre as mulheres públicas, que se tornam modelos de inspiração para as mulheres (WOLF,

1992) podemos citar algumas que usam seus cabelos naturalmente grisalhos e brancos: Sarah Harris

1 Doutora em Ciências Sociais. Analista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- Rio de Janeiro- Brasil. 2 Doutor em Comunicação Social. Professor Associado do Departamento de Sociologia da Universidade Federal

Fluminense- Niterói- Brasil.

2 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

(editora de moda da Vogue inglesa), Christine Lagarde (diretora do FMI), e, no Brasil, as atrizes

Cássia Kiss e Vera Holtz são outros exemplos.

Para nós, pesquisadores, o tema do cabelo grisalho nas mulheres nos interessou pois o

vemos como uma transgressão e um enfrentamento aos modelos de ideal físico que são esperados

com relação ao corpo das mulheres. Em uma primeira observação, uma mulher que se recusa a

tingir seus cabelos brancos, nos fala de diversos conteúdos: aceitação do envelhecimento,

questionamento de padrões engessados de beleza (e da própria beleza como atributo obrigatório em

uma mulher), poder feminino de decisão sobre seu próprio corpo e diversos outros. Com isso

elaboramos uma pesquisa de campo para investigar as motivações para assumir os cabelos grisalhos

e as consequências do ato no cotidiano das mulheres entrevistadas.

Realizamos 55 entrevistas abertas com mulheres, de idades entre 20 e 80 anos, que possuem

cabelos naturalmente brancos ou grisalhos e que não utilizam, atualmente, tinturas para escondê-los.

As perguntas abordaram os seguintes temas gerais: o uso de tinturas no passado, o apoio de amigos,

companheiros ou familiares para o uso do cabelo branco, os motivos para assumir os fios grisalhos,

os sentimentos que afloraram após deixar de pintar os fios, a admiração ou discriminação das

demais pessoas e as formas como o cabelo grisalho afeta a autoimagem dessas mulheres.

Corpo, cabelo e subjetividade

Marcel Mauss, no seu estudo intitulado “As técnicas corporais” (1934), nos relata que o

corpo repleto de símbolos é o instrumento técnico primordial em que se inscrevem as tradições,

cultura e aprendizados de uma determinada sociedade. Dessa maneira, o corpo e a aparência física

de uma pessoa são carregados de simbologias e informações que fazem sua mediação com o mundo.

Determinados itens de nossa aparência podem trazer importantes dados sobre nossa personalidade a

serem exibidos para o mundo externo. Louro, 2001, reafirma que nosso corpo é uma construção

cultural: “através de processos culturais, definimos o que é- ou não- natural: produzimos e

transformamos e natureza e a biologia e, consequentemente, as tornamos históricas. Os corpos

ganham sentidos socialmente” (LOURO, 2001, p 11).

Na contemporaneidade, observamos o enorme destaque que é conferido ao corpo.

Os imperativos pelo corpo forte, belo, jovem e saudável, ocupam a pauta de preocupações

das pessoas. Outro ponto importante são os discursos que responsabilizam os atores pela

magreza e juventude de seu corpo, delegando aos que não conseguem se encaixar nesse

padrão o estigma de preguiçosos e desleixados. O corpo forte, magro e jovem é o único

aceitável, de acordo com os discursos mais massificados (geralmente veiculados pelas

grandes mídias). Visto como objeto a ser exposto, objeto de consumo, a manipulação

corporal, hoje, alcança um nível de banalização jamais visto anteriormente nas sociedades,

apesar do tema da transformação corporal ser milenar na história da humanidade. “O corpo

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é muitas vezes considerado pela tecnologia como um rascunho a ser retificado, senão no

nível da espécie, pelo menos no nível do indivíduo, uma matéria-prima a ser arranjada de

outra forma” (LE BRETON, 2009, p 22).

Entre as alterações em diversas partes do corpo, é dado um destaque especial aos cabelos.

Mauss, no estudo acima citado, ressaltou a importância do cabelo na vida social de um indivíduo

quando afirma que os cabelos passam por diferentes fases ao longo da vida de uma pessoa, podendo

variar de acordo com o papel desempenhado pelo indivíduo em determinado grupo. O cabelo, pelo

seu lugar de evidência no corpo, funcionando como uma moldura para o rosto, e pela relativa

facilidade de manipulá-lo, é um importante fator na criação e reforço de identidades. De acordo

com Queiroz e Otta (2000), a simbologia das partes do corpo pode ser associada às suas metades

superior e inferior. Sendo que a parte superior se destaca pela sua relação com as funções mais

importantes.

Segmentado, dividido à luz de critérios simbólicos ou classificatórios, as suas diferentes

partes dão margens a representações variadas. A porção superior é associada as suas

funções mais relevantes.

Na cabeça, encontra-se a face e nesta a boca e os olhos, os órgãos mais expressivos para a

comunicação humana, marca de identidade da pessoa, e o crânio, sede do cérebro e da

razão, justamente a faculdade que mais nos distinguiria dos animais. A porção inferior do

corpo reúne os órgãos considerados mais animalescos e “indignos”, reprodutivos,

digestores e excretores (…). (QUEIROZ; OTTA, 2000: 23)

Os cabelos funcionam como um importante veículo de comunicação e troca com o mundo.

Através do significado da cor, corte, textura ou comprimento, cria-se imagens de si a serem

veiculadas no meio social. Dessa maneira, o cabelo pode ser visto como uma das partes do corpo

que estabelece uma relação subjetiva com o mundo. Patrícia Bouzón nos informa que “o cabelo

classifica e hierarquiza, qualifica e desqualifica, exclui e inclui, aproxima e distancia, deixando

pouco espaço para indefinições” (BOUZÓN, 2010, ps 278-279), sendo um dos elementos de

representação dos indivíduos no cenário social. O grande objetivo da modificação corporal, de uma

maneira geral, está pouco ligado à satisfação com a modificação física. O que se deseja, com a

manipulação da aparência física, são os ganhos simbólicos ali embutidos.

Dessa maneira, ao observarmos sobre o destacado aspecto subjetivo embutido nos cabelos, é

interessante pensar que a atitude ir contra um tabu (mulheres que, especialmente as jovens e de

meia-idade, não tingem os cabelos brancos) pode nos informar sobre conteúdos ligados aos

processos de empoderamento feminino. Bem como a inauguração de novas imagens sobre a mulher

madura. Ao lado da imagem da mulher mais velha que procura esconder os sinais da idade (sendo o

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cabelo, inclusive pela já citada facilidade de manipulação, o adereço corporal que é o primeiro alvo

do camuflamento da velhice), surge a imagem de uma mulher que não procura esconder esses sinais.

A juventude e beleza como deveres femininos

Podemos dizer que, na contemporaneidade, destacando o caso brasileiro, os discursos sobre

a mulher bela a atraente aceitam apenas um tipo de aparência física: jovem, magra (ou a variação

“sarada”) e de traços harmônicos. A velhice feminina, ainda está afastada do que se pode considerar

como uma mulher bonita e sexualmente interessante.

Na contemporaneidade, a imposição de um físico atlético, forte, jovem e saudável, tornam a

ideia de envelhecer um tabu. “Sinais de uma derrota na luta pela permanência do aspecto juvenil, as

rugas são moralmente condenáveis devido à sua indecência: a velhice é um direito negado ou algo

que deveria permanecer oculto, longe ambicionar a tão cotada visibilidade” (SIBILIA, 2011, p 83).

A velhice feminina parece requerer um novo status, mais positivo e desvinculado da

obsessão por imagens padronizadas de beleza ligadas, exclusivamente à jovialidade. Naomi Wolf

(1992), ressalta que, após a primeira e segunda ondas feministas, nas quais as mulheres lutaram para

conquistar diversos direitos, se fortaleceu uma nova, e poderosa, forma de opressão feminina: O

mito da beleza.

Um maior número de mulheres dispõe de mais dinheiro, poder, maior campo

de ação e reconhecimento legal do que antes. No entanto, em termos de como nos

sentimos do ponto de vista físico, podemos realmente estar em pior situação que

nossas avós não liberadas. Pesquisas recentes revelam com uniformidade que em

meio à maioria das mulheres que trabalham, têm sucesso, são atraentes e controladas

no mundo ocidental, existe uma subvida secreta que envenena nossa liberdade:

imersa em conceitos de beleza, ela é um escuro vilão de ódio a nós mesmas,

obsessões com o físico, pânico de envelhecer e pavor de perder o controle.

(…) Estamos em meio a uma violenta reação contra o feminismo que

emprega imagens da beleza feminina como uma arma política contra a evolução da

mulher: o mito da beleza (Wolf, 1992, p12).

Entretanto, se existe uma neurose feminina generalizada com relação a beleza e

aparência física existe, também, um movimento contrário. O questionamento dos padrões de beleza

e o avanço de ações que os contrariam são constantes na contemporaneidade. Mulheres de cabelos

crespos e cacheados que deixam de alisar os cabelos, mulheres gordas que desistem de serem

magras e se sentem confortáveis com seus corpos, mulheres que fotografam suas marcas físicas

(cicatrizes, celulites e estrias) e compartilham em redes sociais como forma de naturalizar o que o

mito da beleza chama de “imperfeições”, mulheres que deixam de pintar os fios brancos e

estabelecem uma relação mais saudável com os processos de envelhecimento.

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Muitas das grisalhas que entrevistamos, a maioria, disse que a palavra que mais se adéqua ao

ato de deixar de pintar os cabelos brancos é liberdade. Libertar-se de uma obrigação desconfortável

(pintar os cabelos a cada quinzena) para corresponder a um padrão de beleza imposto. As

entrevistadas passaram a não ver mais sentido em sacrificar-se para atender às demandas externas.

Pelo contrário, buscam por um bem-estar também ligado a aceitação e admiração de sua aparência

física e de seus cabelos brancos.

Do tingido ao grisalho- o processo de transição

Entre as mulheres que entrevistamos a grande maioria disse que sempre haviam tingido os

cabelos brancos. As cores escolhidas variavam do tom natural do cabelo, a uma variação de tons de

tempos em tempos. Outro ponto interessante é que grande parte das entrevistadas relatou que o ato

de tingir os fios brancos era automático. Nunca haviam se questionado sobre a necessidade ou

desejo de pintar os cabelos grisalhos. Era como se não existisse a opção de não pintar, a opção de

ser uma mulher grisalha. Essa ausência de opção também está ligada ao julgamento que sofrem,

ainda hoje, as mulheres (como já citado, especialmente as jovens e de meia idade que assumem os

cabelos brancos e grisalhos).

Além do ato automático de pintar os cabelos brancos, muitas das entrevistadas relataram que

esse ato estava diretamente ligado à manutenção da aparência jovial. Pintar os cabelos para parecer

mais jovem. A escrita norte americana Anne Kraemer, relatou sua experiência ao assumir seus

cabelos brancos no livro “Meus cabelos estão ficando brancos mas eu me sinto cada vez mais

poderosa” (2007). A escritora relata que tingia os cabelos para ter a falsa ideia de que poderia

permanentemente se sentir com 34 anos. Ela não estava preparada para ter a aparência de sua idade

cronológica. “Embora nunca tivesse enganado a idade, simplesmente não estava preparada para

parecer minha idade. E achei que, se ficasse com minha cor natural de cabelo, seja ela qual fosse,

instantaneamente pareceria mais velha. Qual era o problema em parecer minha idade? (KRAEMER,

2007,p 17).

Esse tipo de questionamento, atrelado à exaustão de se submeter a um dispendioso e

demorado processo químico-cosmético a cada semana, quinzena ou mês, foram os disparadores

para Anne, e grande parte de nossas entrevistadas, iniciarem o processo de transição do cabelo

tingido para o cabelo grisalho ou branco. “Ao chegar perto dos cinquenta, dei-me conta de que

estava exausta da manutenção tirânica, do enorme investimento de tempo e dinheiro apenas para

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parecer mais jovem- ou, pelo menos, não mais velha. (…) Então, quão horrorosa poderia ser minha

cor natural- qualquer que fosse, comparada à libertação?” (KRAEMER, ibid, p 18)

Muitas entrevistadas relataram que o processo de transição do cabelo tingido para o cabelo

branco é uma das partes mais difíceis do projeto de tornarem-se assumidamente grisalhas.

Permanecer durante meses ou anos com os cabelos com cor indefinida, raízes brancas e pontas dos

cabelos pintadas, foi visto como algo penoso para as mulheres que entrevistamos.

Na contemporaneidade, com relação à estética feminina, observamos alguns movimentos de

resgate da forma natural da aparência física de cada mulher. Existe uma vertente dos discursos

femininos, e feministas, que se propõe a valorizar a individualidade estética de cada mulher

rejeitando, dessa maneira, padrões massificados de beleza. Um bom exemplo é o de mulheres que

estão deixando de alisar seus cabelos. A moda dos alisamentos no Brasil impôs, durante muito

tempo, um padrão de cabelos lisos que forma uma antítese com os cabelos naturalmente crespos e

cacheados da brasileira média. Usar os cabelos naturalmente enrolados ou afro, estava fora de

questão. Porém, com esse novo movimento pela naturalização da aparência feminina, vemos muitas

cacheadas e crespas em processo de transição para os cabelos naturais. Algumas dessas mulheres,

com o intuito de acelerar o processo, cortam todo o cabelo alisado deixando somente a parte natural,

elas nomeiam esse ato como BC (Big Chop), o que é por si só mais um ato de enfrentamento de

padrões estéticos massificados, já que vivemos em um país no qual os cabelos femininos longos são

altamente valorizados.

De acordo com os discursos que recolhemos nas entrevistas, pudemos perceber que as

motivações para usar os cabelos grisalhos se conectam com uma vontade de livrar-se dos

incômodos que as tinturas de cabelo causavam a essas mulheres: uso do tempo, dinheiro, danos à

saúde dos cabelos e outros. A percepção de que as tinturas não são uma obrigação, mas uma

alternativa, possibilitou, para as mulheres que entrevistamos, uma forma mais livre de lidar com sua

aparência física e o questionamento de padrões massificados de beleza.

Cabelos grisalhos, liberdade e “política-vida”

Um ponto em comum nos discursos todas as mulheres que entrevistamos, foi a ideia de que

o cabelo grisalho aumentou sua autoestima. A atitude de assumir os cabelos naturalmente brancos e

grisalhos trouxe poder para essas mulheres, de acordo com seus relatos. A coragem de quebrar um

tabu: o da suposta disparidade entre beleza feminina e envelhecimento, trouxe uma nova visão

sobre estar bem com sua aparência física e uma ampliação da ideia de beleza para nossas

entrevistadas.

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Para além dos modelos padronizados de beleza, essas mulheres disseram sentirem-se muito

bem com seus cabelos grisalhos, se sentirem mais bonitas e até com uma aparência mais coerente

com sua real idade. A palavra-chave é liberdade. Os relatos destacaram uma liberdade tão grande

que trouxe um novo olhar sobre si mesmas e um gostar de si muito maior.

“5- Como se sente com os cabelos brancos? Gosto muito, acho bonito, natural, libertador… sou

feliz com a minha decisão.

6- Ser grisalha aumentou ou diminuiu sua segurança com relação à sua aparência? Aumentou.

7- Você se sente mais autêntica com os cabelos brancos? Por que? SIM, esta sou EU. não mais a

loira, ruiva, noiada, velha. A maturidade faz com q você assuma sua idade, seu corpo (não sou gorda)

mas não tenho mais o corpinho de 30 anos.” (Entrevistada 34, 52 anos, fisioterapeuta, Nürnberg,

Alemanha)

Ao pensar sobre a sensação de liberdade que nossas entrevistadas disseram experimentar ao

poderem decidir sobre tingir ou não os cabelos brancos, podemos fazer uma ligação com o tema da

disciplina imposta ao corpo das mulheres. Foucault (1987) nos informa sobre as sociedades

disciplinares (implantadas por volta dos séculos XVII e XVIII) e as formas como agiam sobre os

corpos dos indivíduos.

O momento histórico das disciplinas é o momento em que nasce uma arte do corpo

humano, que visa não unicamente o aumento de suas habilidades, nem tampouco aproveitar

sua sujeição, mas a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o torna mais

obediente quanto é mais útil, e inversamente. Forma-se então uma política das coerções que

são um trabalho sobre o corpo, uma manipulação calculada, de seus elementos, de seus

gestos, de seus comportamentos. O corpo humano entre numa maquinaria de poder que o

esquadrinha, o desarticula e o recompõe (FOUCAULT, 1987, p 119).

Historicamente os imperativos da disciplina sobre os corpos recaem de maneira mais forte

sobre as mulheres. A mulher deve estar sempre limpa, perfumada, sem pelos, elegante e fisicamente

bem cuidada. Com relação ao gestual deve ser contida, sentar-se de pernas cruzadas, rir e falar

baixo. Inclusive sobre a liberdade de decidir sobre seu corpo existe uma forte disciplina que vai

desde a proibição do aborto em nações ocidentais desenvolvidas até a mutilação genital feminina

comum em algumas sociedades tribais. Por mais que exista, simbolicamente, a liberdade e poder da

mulher sobre seu corpo, concretamente, por influência da forte cultura de dominação masculina

sobre as mulheres, o corpo feminino deve responder ao forte poder disciplinar que lhe é imposto.

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Ao observar a atitude de nossas entrevistadas de quebrarem o tabu do envelhecimento

feminino através do ato de assumir seus fios brancos, pensamos no quanto esse atitude pode ser

vista como política. Não a política emancipatória, que procura libertar a todos das amarras da

tradição e dos costumes, mas uma política mais individualizada, política que confere às pessoas o

poder de tomar decisões sobre a forma como ela pretende viver a sua vida. Esse tipo de política foi

nomeada por Anthony Giddens (2002) como “política- vida”. Giddens diferencia a política

emancipatória da política-vida:

Defino a política emancipatória como uma visão genérica interessada, acima de tudo,

em libertar os indivíduos e grupos das limitações que afetam negativamente suas

oportunidades de vida. Ela envolve dois elementos principais: o esforço por romper as

algemas do passado, permitindo assim uma atitude transformadora em relação ao futuro; e

o objetivo de superar a dominação ilegítima de alguns indivíduos e grupos por outros.

(…) Para dar uma definição formal: a política-vida refere-se a questões políticas que

fluem a partir dos processos de autorrealização em contextos pós-tradicionais, onde

influências globalizantes penetram profundamente no projeto reflexivo do eu e,

inversamente, onde os processos de autorrealização influenciam as estratégias globais

(GIDDENS, 2002, ps 194 e 197).

Dessa maneira podemos compreender a política-vida como uma política de decisões de vida,

de estilos de vida. Uma política que se conecta com as escolhas individuais das pessoas. Uma

liberdade de escolha que não se limita a padrões de comportamento e formas de vida tradicionais

disseminados na esfera cultural. Ao contrário, a política-vida é um existir político pautado na

liberdade individual, independente do status quo.

No caso das mulheres grisalhas que entrevistamos, a busca pela liberdade e a coragem de

quebrar um tabu (mulheres, especialmente as jovens e de meia-idade com cabelos grisalhos) se

conectam com o tema da política-vida pois é uma atuação no campo individual, mas que, ao mesmo

tempo, contesta toda uma tradição sobre o que se espera de uma mulher: que tenha sempre um

aspecto jovem.

Ao falar da política-vida como uma política de decisões de vida, Giddens nos informa que

essas decisões são, primordialmente, aquelas que afetam a própria identidade (pensando na auto-

identidade como uma realização reflexiva). “ A narrativa da auto-identidade deve ser formada,

alterada e reflexivamente sustentada em relação a circunstâncias da vida social que mudam

rapidamente, numa escala local e global” (GIDDENS, Ibid, 198). Dessa maneira, frente a

diversidade e fluidez de eventos da vida contemporânea, uma pessoa será capaz de conectar

acontecimentos passados com projetos para o futuro, criando um caminho para um modo de vida

razoavelmente coerente, se for capaz de “desenvolver uma autenticidade interior- um referencial de

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confiança básica por meio do qual a vida pode ser entendida como uma unidade contra o pano de

fundo de eventos sociais em mudança” (GIDDENS, Ibid, 198).

Algumas das perguntas do nosso questionário tinham como tema a questão da identidade. As

respostas das entrevistadas nos fazem pensar em uma busca desse grupo de mulheres por uma

identidade que seja condizente com suas opiniões sobre envelhecimento feminino e aparência física.

Não se trata de supor que somente as mulheres que não pintam os fios grisalhos são capazes de

elaborar uma identidade que a faça sentir mais confortável com a questão do envelhecimento. Mas

sim que, é possível escolher e decidir sobre pintar, ou não, os fios brancos. O imperativo da tintura é

quebrado pela liberdade de escolha da mulher que opta por ser grisalha. Sim, existem mulheres que

se sentem mais confortáveis e empoderadas ao assumir um dos mais aparentes aspectos do

envelhecimento (os fios brancos) e, dessa forma, se sentem capazes de elaborar uma autenticidade

interior sobre esse tema.

“11- O que você acha que seu cabelo branco comunica às pessoas? Que eu faço minhas regras,

não me submeto.

17- Com os cabelos grisalhos você se sente mais próxima de sua real identidade? Eu me sinto

mais próxima de mim, mais dona de mim, menos sujeita a regras e convenções. É libertador! Assim

como raspar a cabeça, acho que as mulheres deviam raspar seus cabelos ao menos uma vez na

vida!” (Entrevistada 5, 53 anos, Psicóloga Clínica, São José dos Campos)

“9- Você se reconheceu uma nova pessoa quando se tornou grisalha? Totalmente. Me sinto

muito mais EU. E acho interessante colocar que no desenrolar dessa trajetória, da descoberta do

meu EU, resolvi também assumir meu cabelo crespo. Esse processo de autoaceitação é algo muito

mais profundo do que um simples modismo. É autoconhecimento.” (Entrevistada 10, 48 anos,

professora, Maceió)

As entrevistas acima citadas destacam bastante o peso da opinião e da vontade pessoal

dessas mulheres na escolha por assumir os fios grisalhos. A ideia de fazer a próprias regras, de não

se submeter a um padrão, nos revelam um tipo de ação que também se baseia na resistência ao que

se espera de uma mulher idosa ou de meia-idade (que procure amenizar os efeitos físicos do

envelhecimento). Chama a atenção a ideia de reencontro com sua identidade mais íntima e autêntica

desencadeada pela atitude de não pintar os cabelos brancos.

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Podemos pensar que, assim como o ato de não pintar os fios grisalhos, demais atitudes de

não aceitação de padrões estéticos massificados, compõem a agenda do debate feminista

contemporâneo. Como já citado, Naomi Wolf (1992) destaca que a grande opressão sobre as

mulheres na contemporaneidade se refere ao “mito da beleza”, ou seja, a obrigatoriedade da beleza

que recai sobre cada mulher.

Ainda sobre o tema das relações entre feminismo e política-vida, Giddens afirma que o

feminismo, ao levar à agenda da luta pela emanciapção feminina a ideia de que “o pessoal é

político”, inaugurou a esfera da política-vida.

O feminismo pode ser visto de maneira mais aprorpiada como inaugurando a

esfera da política-vida (…). O feminismo, pelo menos em sua forma contemporânea,

foi mais ou menos forçado a dar prioridade à questão da auto-identidade. (…) À

medida que as mulheres dão cada vez mais “dão o passo” para fora [do lar],

contribuem para processos de emancipação. Mas as feministas logo viram que, para

a mulher emancipada, questões de identidade tornavam-se de importância primordial.

Pois ao se libertarem do lar, e da vida doméstica, as mulheres enfrentavam um

ambiente social fechado. As identidades das mulheres eram definidas tão

estritamente em termos do lar e da família que “davam o passo” e entravam em

ambientes sociais em que as únicas identidades disponíveis eram aquelas oferecidas

pelos estereótipos masculinos (GIDDENS Ibid, 199).

Dessa forma, por mais emancipadas do lar e economicamente independentes que fossem, as

mulheres tinham que lidar com a visão social massificada sobre a identidade feminina. Criar uma

identidade forte e que representasse uma mulher autônoma e confiante em suas escolhas, era algo

que ficaria a cargo das próprias mulheres. Por isso a questão de identidade pessoal é tão forte para o

feminismo.

Outra questão interessante das grisalhas que entrevistamos, que também remete a uma

questão política, é o encorajamento e solidariedade que elas encontram nas redes sociais da internet.

Diversas páginas do Facebook são voltadas para que mulheres grisalhas, ou em transição para o

branco, postem fotos e relatos sobre sua atitude de assumir os fios brancos: “Tenho cabelos brancos,

e daí?” “Grisalhando com alegria” e “Branco e prata” são alguns exemplos de comunidades virtuais

que servem como motivação e apoio para muitas mulheres que, com isso, podem ver uma nova

forma de lidar com o envelhecimento feminino.

Finalmente, algumas mulheres que entrevistamos reconhecem que está surgindo um

movimento para que as mulheres, que assim desejarem, possam assumir os cabelos brancos.

Atrelado a isso, algumas entrevistadas também concordam que assumir o cabelo branco é um ato

político (pensando na ideia de política-vida).

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15- Você sente que existe um movimento para que as mulheres assumam seus cabelos

grisalhos? Sim, e em forte movimento ascendente. A mulher quer ser livre. É isso que está forçando

passagem. Queremos ser nós mesmas. A palavra “autenticidade” ressoa fortemente no discurso

dessas mulheres.

16- Você acha que ser grisalha é um ato político / uma forma de aceitação social? Sim. Sempre

que a gente assume algo que não está dentro do padrão, é um ato político. Ter cabelo curto, por

exemplo, que um monte de gente associa à lesbiandade. Ter cabelo afro, pra quem é negro. Acho

que assumir os cabelos brancos entra na mesma categoria da identidade, de se amar como você é, de

ter orgulho de ser quem você é, mesmo que isso vá contra as convenções.

(Entrevistada 22, 49 anos, professora Universitária, Fortaleza)

Conclusão

Os cabelos brancos, nas mulheres, há pouco tempo significavam o abandono com a imagem, deixar

de lado os cuidados com a beleza e, acima de tudo, o abandono do corpo à inexorável marca do tempo.

Mulheres com os cabelos grisalhos não eram sedutoras, tampouco atraentes, no máximo uma senhora

simpática, com a “cabeça branquinha”. O cabelo, mais do que as rugas que se instalam pelo rosto, mãos e,

com o passar dos anos por todo o corpo – salvo quem se esticava desesperadamente em intermináveis

cirurgias plásticas, mas a marca do tempo é mais rápida do que o desejo - era a imagem da escolha de

algumas mulheres por ocupar o lugar dos idosos, daqueles que teoricamente precisam de ajuda para viver,

dos que perderam a saúde e a vontade de ser sujeito da própria vida. Os cabelos brancos, para as mulheres,

até bem pouco tempo atrás, era o fim ou o começo do fim.

Entretanto, vemos surgir um movimento de reconhecimento do lugar do envelhecimento como uma

nova fase da vida. E assumir a identidade da mulher madura, em processo de envelhecimento, inclusive

através dos cabelos grisalhos, marca um novo lugar para o envelhecimento feminino. Em vez de ser um lugar

da neurose pela juventude (por não corresponder mais aos imperativos da aparência jovial) ou o lugar do

início do final da vida, as mulheres que entrevistamos nos mostram uma nova cara do envelhecimento

feminino. Diferentes papéis.

A ideia de uma mulher de meia-idade que assuma os cabelos brancos e ainda se sinta uma

mulher saudável, ativa, dinâmica e sexualmente ativa, vai contra a visão fornecida pelos

estereótipos masculinos sobre a mulher que envelhece. Pensamos que essas mulheres, decidindo

individualmente por exibir uma nova concepção de envelhecimento feminino, tornam o pessoal

político na medida que não se submetem a um padrão opressor que endossa o discurso de que a

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mulher que envelhece tem duas opções: ou lutar brutalmente contra todos os aspectos físicos e

simbólicos do envelhecimento e exibir uma aparência falseada de juventude ou assumir os sinais da

idade e abrir mão de sua sexualidade e vaidade. As grisalhas enfrentam esses padrões.

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WOLF, Naomi. O mito da beleza. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.

Women with gray hair: a study on hair, women's freedom and "politics-life"

Abstract: This study aims to find the motivations of women who assume gray hair. In the dozens

of interviews we conducted with women in their 20s and 80s, we perceive that there is a strong

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political attitude when failing to paint the white wires. However, it is a politics that approaches the

idea of "life-politics", Guiddens (2002) - "life politics refers to political issues that flow from the

processes of self-realization in post-traditional contexts, where Globalizing influences permeate the

reflexive design of self and vice versa. " We realize that assuming white hair is, for many women,

both a form of freedom and a claim to women's right to their physical appearance and ways of

dealing with their aging.

Key-words: women with gray hair, female aging, life-politics.