grande imprensa nanica

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Grande imprensa nanica Luís Fernando Rabello Borges Também rotulada como imprensa alternativa, ou marginal, a “imprensa nanica” é assim definida por materializar um jornalismo que não se enquadra dentro dos limites da dita “grande imprensa”, aquela que se faz predominante nas bancas de qualquer localidade, por menor que seja. Trata-se de uma imprensa que, apesar de nanica, oferece possibilidades de atuação jornalística bem maiores do que as oferecidas pela grande imprensa, cujo tamanho é inversamente proporcional aos horizontes de criação, autoria e exploração de linguagem, sem dúvida bastante limitados e enquadrados – só pra recuperar duas palavras utilizadas na primeira frase deste texto. Curioso é que a imprensa nanica e suas vastas possibilidades de prática de um jornalismo mais diferenciado – em termos tanto de conteúdo quanto de forma – foram encontrar o seu ápice nos anos 1970, justamente o período em que a liberdade – em todos os sentidos – foi mais combatida no país. Em princípio, os tempos de hoje seriam muito mais propícios para propostas jornalísticas arrojadas como as que caracterizaram os jornais rotulados como pertencentes à imprensa nanica dos anos 1970. Só que, nesse caso, liberdade parece não rimar com democracia. Como se o processo criativo demonstrado por esses jornais tivesse necessariamente que ser alimentado por regimes ditatoriais e adversidades do tipo. O argumento utilizado por muitos é o de que hoje não há um “inimigo” tão visível contra o qual se opor – no caso, a ditadura militar brasileira da época. Mas, em compensação, pode-se dizer que hoje há uma verdadeira “ditadura da mídia”, uma ditadura fantasiada de democracia, uma mídia composta por cada vez mais veículos oferecendo um acesso à informação cada vez menor, inferior até mesmo ao dos tempos de censura de três décadas atrás. E é aí que eu pergunto: essa passividade midiática é tão invisível assim? Responsável pela visibilidade de grande parte dos acontecimentos que acabam se tornando notícia, a mídia consegue esconder sua própria passividade? Se a sua resposta é não, você corre o risco de fazer parte do público-alvo da revista Voz Ativa, um veículo que se propõe a cometer a audácia de, em plenos tempos atuais de

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Crônica sobre a imprensa chapecoense e suas vozes não tão ativas assim.

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Grande imprensa nanicaLus Fernando Rabello BorgesTambm rotulada como imprensa alternativa, ou marginal, a imprensa nanica assimdefinida por materializar um jornalismo que no se enquadra dentro dos limites da ditagrande imprensa, aquela que se faz predominante nas bancas de qualquer localidade,por menor que seja. Trata-se de uma imprensa que, apesar de nanica, oferecepossibilidadesdeatuaojornalsticabemmaioresdoqueasoferecidaspelagrandeimprensa, cujo taman!o inversamente proporcional aos !orizontes de criao, autoriaee"ploraodelinguagem, semd#vidabastantelimitados eenquadrados $s%prarecuperar duas palavras utilizadas na primeira frase deste te"to. &urioso que aimprensa nanica e suas vastas possibilidades de pr'tica de umjornalismo maisdiferenciado $ em termos tanto de conte#do quanto de forma $ foram encontrar o seu'pice nos anos ()*+, justamente o perodo em que a liberdade $ em todos os sentidos $foi mais combatida nopas. ,mprincpio, os tempos de !ojeseriammuitomaispropcios para propostas jornalsticas arrojadas como as que caracterizaram os jornaisrotuladoscomopertencentes-imprensananicadosanos()*+. .%que, nessecaso,liberdade parece no rimar com democracia. &omo se o processo criativo demonstradopor esses jornais tivesse necessariamente que ser alimentado por regimes ditatoriais eadversidadesdotipo. /argumentoutilizadopormuitosodeque!ojeno!'uminimigo to visvel contra o qual se opor $ no caso, a ditadura militar brasileira dapoca. 0as, em compensao, pode-se dizer que !oje !' uma verdadeira ditadura damdia, uma ditadura fantasiada de democracia, uma mdia composta por cada vez maisveculos oferecendo um acesso - informao cada vez menor, inferior at mesmo ao dostempos decensuradetr1s dcadasatr's. ,a queeupergunto2 essapassividademidi'ticatoinvisvel assim34espons'vel pelavisibilidadedegrandepartedosacontecimentos que acabam se tornando notcia, a mdia consegue esconder sua pr%priapassividade3 .e a sua resposta no, voc1 corre o risco de fazer parte do p#blico-alvodarevistaVozAtiva, umveculoqueseprop5eacometer aaud'ciade, emplenostempos atuais de democracia, resgatar o esprito de liberdade criativa e crtica associado- imprensa alternativa e"istente em tempos ditatoriais de outrora. , dessa forma que,doaltodesuacondiodeimprensananica, arevistaVoz Ativapretendesefazervisvel em meio - grande imprensa c!apecoense. 6ue, pensando bem, no to grandeassim.&onsiderando que duas das caractersticas mais marcantes da imprensa nanicasoabai"aremuneraoeainstabilidadeprofissional, pode-sedizer queagrandeimprensa c!apecoense como um todo merece o r%tulo de imprensa nanica. 7li's, no s%a grande imprensa c!apecoense, mas grande parte da imprensa de todo o mundo $ sejaelagrandeouno. ,, nessecaso, trata-sedeumaimprensaaindamenor doqueaimprensa nanica propriamente dita, na medida em que representa um nanismo em todosos sentidos $ incluindo as limita5es e enquadramentos no que diz respeito -spossibilidades de pr'ticas jornalsticas. 8esse sentido, os membros de meios impressoscomo o Voz Ativa ao menos podem tomar para si a frase segundo a qual a gente gan!apouco mas se diverte. 9iverso que esperam poder compartil!ar com cada leitor. 6uemno gostar, que procure por outras vozes :passivas; da imprensa escrita local.