granadas explosivos
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TEMA LIVRE MEDICINA LEGAL
LESES POR EXPLOSO DE GRANADAS DE MO
BLAST INJURIES FROM HAND GRENADES
LESIONES POR EXPLOSIN DE GRANADAS DE MANO
Autora: DIAS, VIRGINIA ROSA RODRIGUES
Perito Legista do Estado do Rio de Janeiro, Especialista em Medicina Legal pela
Associao Brasileira de Medicina Legal, Professora de Medicina Legal daUniversidade Gama Filho/RJ, Membro da Cmara Tcnica de Medicina Legal do
Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro.
INTRODUO: O Brasil um dos poucos pases isentos de conflitos
armados que mostra uma estatstica sombria com relao ao emprego
crescente de armas de guerra nas grandes metrpoles, em especial no Riode Janeiro, desde a ltima dcada do sculo passado, na razo direta com o
avano do poder paralelo do trfico de drogas e de armas. Recentemente,
alm do uso de armas longas do tipo fuzil, verificou-se o emprego
concomitante de metralhadoras de grande porte e das granadas de mo, quer
de fabricao militar ou mesmo artesanal. As granadas so artefatos blicos
de arremesso, que podem ser lanados com a mo ou com o auxlio de uma
arma de fogo e atuam por efeitos moral, material e especial. A maioria das
vtimas atingidas por granadas exibe padres clssicos de leso complexa
provocada por uma srie de mecanismos vulnerantes, de natureza mecnica,
trmica e qumica.
MATERIAL E MTODOS: O presente trabalho tem por base a anlise tcnica
de casos de necropsia realizados pela autora, como plantonista do Instituto
Mdico-Legal Afrnio Peixoto do Rio de Janeiro, no perodo de 2002 at
2010, associada reviso bibliogrfica especfica sobre o assunto.
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OBJETIVOS: 1. Documentar os diferentes tipos de leses produzidas pela
exploso de granadas de mo em vtimas fatais, com fotografia e descrio
pormenorizada dos ferimentos; 2. Estudar os mecanismos lesivos das
granadas e a fisiopatologia das leses; 3. Estabelecer as diferenas entre as
leses por exploses em locais abertos e fechados; 4. Determinar o modo
predominante no evento morte; 5. Enumerar as dificuldades periciais nesses
casos.
RESULTADOS/DISCUSSO: As granadas so recipientes metlicos de
forma esfrica, cilndrica ou oval, munidos de espoletas e dotados de carga
explosiva interior varivel segundo sua aplicao, que possuem trajetria
curva e detonam no impacto ou a alturas previamente programadas, por
tempo. Podem ser lanadas com a mo ou com o auxlio de uma arma defogo. Atuam por efeito: moral, atravs do som, sopro ou claro; material,
atravs dos estilhaos; e especial, atravs da utilizao de determinados
produtos qumicos. As granadas possuem caractersticas especficas, que
permitem a sua distino e poder-se-o classificar de acordo estes
parmetros:
Emprego ttico (onde e porqu se utilizam) ofensivas e defensivas.
Artifcio de fogo (mecanismos usados) tempo e percusso.
Finalidade (quais os objetivos pretendidos) guerra, instruo e inertes.
Efeitos (tipo de carga) explosivos e especiais.
Conforme seu mecanismo de ao, as granadas de mopodem serofensivas
agem principalmente pela onda explosiva, resultante da detonao da carga de
arrebentamento; so empregadas no assalto e servem para abater o moral do
inimigo; raio de ao de 10-15 metros; explosivo= 30 g de trinitrotolueno;
defensivas agem pelo estilhaamento ou fragmentao do invlucro;
permitem realizar barragens a curta distncia e apresentam grande resultado
contra o inimigo que se aproxima, proporcionando defesa em ngulos mortos ou
atrs de obstculos; sua principal finalidade causar baixas; raio de ao de 20-
30 metros; explosivo= 40 g de trinitrotolueno; ou especiais so as que contm
um agente qumico que produz um efeito txico ou irritante, cortinas de fumaa,
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aes incendiria e luminosa ou qualquer combinao das mesmas; as cargas
utilizadas dependem do tipo de efeito que deseja obterpor ocasio do emprego.
Exemplos: cloroacetofenona, cido ciandrico, gasolina gelia, termita, fsforo
branco etc.6
Seus efeitos lesivos podem ser:
Mecnicos: decorrentes do blast ondas de choque; da ao prfuro-
contundente projteis/fragmentos; ao contundente atrito ou coliso
contra obstculos;
Trmicos: queimaduras;
Qumicos ou radioativos: resultantes da combusto de gases txicos
(monxido de carbono e cianetos) ou de agentes nucleares.
As leses externas comumente observadas so numerosas, prximas entre si e
representadas por escoriaes irregulares, equimoses, pequenas feridas
arredondadas ou ovalares, de bordas escoriadas, laceraes, amputaes e
queimaduras de espessura parcial profunda ou total, s vezes com carbonizao
segmentar. A distribuio das leses pode informar a posio da vtima em
relao ao explosivo. 2, 3, 4, 5, 8
As leses internas mais frequentes so provocadas pelo barotrauma pulmonar,
que inclui contuso do parnquima com rotura alveolar, embolia gasosa arterial e
hemorragias, contuso e hemorragia cerebral e leses viscerais diversas
causadas pela ao perfuro-contundente dos fragmentos da granada ou
contundente por objetos arremessados contra a vtima ou por sua projeo
contra obstculos.4, 5
Os danos produzidos pela exploso de granadas em locais abertos tendem a
apresentar gravidade menor do que em recintos fechados, onde o efeito do blast
ampliado, obviamente levando-se em considerao a distncia do centro da
exploso e o tipo e a carga de material explosivo contidos no artefato. O corpo
das pessoas atingidas costuma ficar impregnado com resduos oriundos da
exploso, tais como fuligem, graxa, fragmentos do envoltrio da bomba etc.5, 8
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A fisiopatologia das leses pode ser explicada pelo impacto das ondas de
choque geradas pelo deslocamento areo abrupto e intenso decorrente da
exploso chamado de blast.3, 4, 5 Existem quatro formas de blast: primrio,
secundrio, tercirio e quaternrio. O primrio resulta da onda de choque
propriamente dita. O secundrio causado pelo lanamento de fragmentos do
engenho blico, como estilhaos do revestimento da granada ou de projteis
colocados em seu interior, pedaos de materiais slidos fragmentados pela
exploso e pela reflexo das ondas de choque em ambientes fechados, com
ampliao do seu potencial lesivo. O tercirio consiste no choque dos corpos das
pessoas jogadas contra o solo ou objetos diversos. O quaternrio advm da
ocorrncia de todas as outras leses e doenas relacionadas ao traumaexplosivo que no podem ser atribudas aos mecanismos lesivos dos outros trs
tipos de blast, tais como queimaduras, esmagamentos, intoxicaes, leso
cerebral, distrbios respiratrios, cardiovasculares e metablicos, com a incluso
de exacerbao ou complicao de condies pr-existentes.1, 7
Os principais entraves encontrados na percia das pessoas vitimadas por esses
tipos de explosivo consistem na inexistncia de um histrico do caso fornecido
pela perinecroscopia, nos problemas relacionados sua identificao, na
dependncia do grau de destruio do corpo, na dificuldade de descrio das
leses sobrepostas e complexas, na determinao do modo de morte, que por
vezes misto, no desconhecimento tcnico do artefato, na localizao dos
projteis/fragmentos e na convico para responder ao 4 quesito oficial.
CONCLUSES: As leses provocadas pela exploso de granadas de mo
so complexas e seus efeitos lesivos dependem do tipo de artefato, daproximidade com o explosivo e do local de ocorrncia, se em ambiente aberto
ou fechado. A morte pode decorrer do barotrauma (blastprimrio), da ao
prfuro-contundente ou contundente de fragmentos do artefato ou de objetos
arremessados contra a vtima (blast secundrio), da ao contundente da
projeo da vtima contra objetos (blast tercirio) e da ao trmica,
intoxicaes, esmagamentos, problemas respiratrios, cardiovasculares e
metablicos relacionados ao trauma inicial ou por ele agravados (blast
quaternrio).
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BIBLIOGRAFIA:
1. Centers for Disease Control and Prevention. Explosions and Blast Injuries: a
Primer for Clinicians. CDC Emergency Preparedness & Response. ltimareviso em Jun, 2006. Web site. Disponvel em
http://www.bt.cdc.gov/masscasualties/explosions.asp.
2. CROCE, Delton e CROCE JNIOR, Delton. Manual de Medicina Legal.
4ed., So Paulo: Editora Saraiva, 1998.
3. FRANA, Genival Veloso. Traumatologia Mdico-legal. Leses produzidas
por artefatos explosivos. Medicina Legal. 6ed., Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2001. 579 p. Cap. 4, p. 74 e 75, 81-90.
4. GOMES, Hlio. Energias de ordem fsica. Energia cintica. Instrumentos
prfuro-contundentes. Armas de fogo. Baropatias. Medicina Legal. 32 ed.,
Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1997. 846 p. Cap. 14, p. 258-301; Cap. 16, p.
354-363.
5. HERCULES, Hygino de Carvalho. Leses e Morte por Instrumentos Prfuro-
contundentes. Armas de Fogo. Estudo Mdico-Legal das Baropatias.
Medicina Legal Texto e Atlas. 1 ed., So Paulo: Atheneu, 2005. Parte 4,
Captulo 14, p. 229-258 e Captulo 16, p. 292-296, 300-302.
6. Instruo Militar do Ministrio da Aeronutica-Escola de Especialistas de
Aeronutica-Diviso de Instruo Militar. Nelson Joaquim de Oliveira
(Organizador) - grfica da EEAer 1 ed., Guaratinguet, So Paulo: 1974.
3 Parte - Armamento e Tiro/ Captulo IV/ Granadas/ p. 160-162.
7. PENNARDT, Andre & LAVONAS, Eric J. Blast Injuries. Atualizado em May,
2010. eMedicine Emergency Medicine. Web site. Disponvel em
http://emedicine.medscape.com/article/822587.
8. SPITZ, Werner U. and FISHER, Daniel J. Medicolegal Investigation of
Death: Guidelines for the Application of Pathology to Crime
Investigation. Charles C. Thomas Publisher, Springfield, 4th ed., 2006. Cap.
13, p. 777-781 e Cap. 18, p. 990-992.