granadas explosivos

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  • 7/30/2019 Granadas Explosivos

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    TEMA LIVRE MEDICINA LEGAL

    LESES POR EXPLOSO DE GRANADAS DE MO

    BLAST INJURIES FROM HAND GRENADES

    LESIONES POR EXPLOSIN DE GRANADAS DE MANO

    Autora: DIAS, VIRGINIA ROSA RODRIGUES

    Perito Legista do Estado do Rio de Janeiro, Especialista em Medicina Legal pela

    Associao Brasileira de Medicina Legal, Professora de Medicina Legal daUniversidade Gama Filho/RJ, Membro da Cmara Tcnica de Medicina Legal do

    Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro.

    INTRODUO: O Brasil um dos poucos pases isentos de conflitos

    armados que mostra uma estatstica sombria com relao ao emprego

    crescente de armas de guerra nas grandes metrpoles, em especial no Riode Janeiro, desde a ltima dcada do sculo passado, na razo direta com o

    avano do poder paralelo do trfico de drogas e de armas. Recentemente,

    alm do uso de armas longas do tipo fuzil, verificou-se o emprego

    concomitante de metralhadoras de grande porte e das granadas de mo, quer

    de fabricao militar ou mesmo artesanal. As granadas so artefatos blicos

    de arremesso, que podem ser lanados com a mo ou com o auxlio de uma

    arma de fogo e atuam por efeitos moral, material e especial. A maioria das

    vtimas atingidas por granadas exibe padres clssicos de leso complexa

    provocada por uma srie de mecanismos vulnerantes, de natureza mecnica,

    trmica e qumica.

    MATERIAL E MTODOS: O presente trabalho tem por base a anlise tcnica

    de casos de necropsia realizados pela autora, como plantonista do Instituto

    Mdico-Legal Afrnio Peixoto do Rio de Janeiro, no perodo de 2002 at

    2010, associada reviso bibliogrfica especfica sobre o assunto.

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    OBJETIVOS: 1. Documentar os diferentes tipos de leses produzidas pela

    exploso de granadas de mo em vtimas fatais, com fotografia e descrio

    pormenorizada dos ferimentos; 2. Estudar os mecanismos lesivos das

    granadas e a fisiopatologia das leses; 3. Estabelecer as diferenas entre as

    leses por exploses em locais abertos e fechados; 4. Determinar o modo

    predominante no evento morte; 5. Enumerar as dificuldades periciais nesses

    casos.

    RESULTADOS/DISCUSSO: As granadas so recipientes metlicos de

    forma esfrica, cilndrica ou oval, munidos de espoletas e dotados de carga

    explosiva interior varivel segundo sua aplicao, que possuem trajetria

    curva e detonam no impacto ou a alturas previamente programadas, por

    tempo. Podem ser lanadas com a mo ou com o auxlio de uma arma defogo. Atuam por efeito: moral, atravs do som, sopro ou claro; material,

    atravs dos estilhaos; e especial, atravs da utilizao de determinados

    produtos qumicos. As granadas possuem caractersticas especficas, que

    permitem a sua distino e poder-se-o classificar de acordo estes

    parmetros:

    Emprego ttico (onde e porqu se utilizam) ofensivas e defensivas.

    Artifcio de fogo (mecanismos usados) tempo e percusso.

    Finalidade (quais os objetivos pretendidos) guerra, instruo e inertes.

    Efeitos (tipo de carga) explosivos e especiais.

    Conforme seu mecanismo de ao, as granadas de mopodem serofensivas

    agem principalmente pela onda explosiva, resultante da detonao da carga de

    arrebentamento; so empregadas no assalto e servem para abater o moral do

    inimigo; raio de ao de 10-15 metros; explosivo= 30 g de trinitrotolueno;

    defensivas agem pelo estilhaamento ou fragmentao do invlucro;

    permitem realizar barragens a curta distncia e apresentam grande resultado

    contra o inimigo que se aproxima, proporcionando defesa em ngulos mortos ou

    atrs de obstculos; sua principal finalidade causar baixas; raio de ao de 20-

    30 metros; explosivo= 40 g de trinitrotolueno; ou especiais so as que contm

    um agente qumico que produz um efeito txico ou irritante, cortinas de fumaa,

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    aes incendiria e luminosa ou qualquer combinao das mesmas; as cargas

    utilizadas dependem do tipo de efeito que deseja obterpor ocasio do emprego.

    Exemplos: cloroacetofenona, cido ciandrico, gasolina gelia, termita, fsforo

    branco etc.6

    Seus efeitos lesivos podem ser:

    Mecnicos: decorrentes do blast ondas de choque; da ao prfuro-

    contundente projteis/fragmentos; ao contundente atrito ou coliso

    contra obstculos;

    Trmicos: queimaduras;

    Qumicos ou radioativos: resultantes da combusto de gases txicos

    (monxido de carbono e cianetos) ou de agentes nucleares.

    As leses externas comumente observadas so numerosas, prximas entre si e

    representadas por escoriaes irregulares, equimoses, pequenas feridas

    arredondadas ou ovalares, de bordas escoriadas, laceraes, amputaes e

    queimaduras de espessura parcial profunda ou total, s vezes com carbonizao

    segmentar. A distribuio das leses pode informar a posio da vtima em

    relao ao explosivo. 2, 3, 4, 5, 8

    As leses internas mais frequentes so provocadas pelo barotrauma pulmonar,

    que inclui contuso do parnquima com rotura alveolar, embolia gasosa arterial e

    hemorragias, contuso e hemorragia cerebral e leses viscerais diversas

    causadas pela ao perfuro-contundente dos fragmentos da granada ou

    contundente por objetos arremessados contra a vtima ou por sua projeo

    contra obstculos.4, 5

    Os danos produzidos pela exploso de granadas em locais abertos tendem a

    apresentar gravidade menor do que em recintos fechados, onde o efeito do blast

    ampliado, obviamente levando-se em considerao a distncia do centro da

    exploso e o tipo e a carga de material explosivo contidos no artefato. O corpo

    das pessoas atingidas costuma ficar impregnado com resduos oriundos da

    exploso, tais como fuligem, graxa, fragmentos do envoltrio da bomba etc.5, 8

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    A fisiopatologia das leses pode ser explicada pelo impacto das ondas de

    choque geradas pelo deslocamento areo abrupto e intenso decorrente da

    exploso chamado de blast.3, 4, 5 Existem quatro formas de blast: primrio,

    secundrio, tercirio e quaternrio. O primrio resulta da onda de choque

    propriamente dita. O secundrio causado pelo lanamento de fragmentos do

    engenho blico, como estilhaos do revestimento da granada ou de projteis

    colocados em seu interior, pedaos de materiais slidos fragmentados pela

    exploso e pela reflexo das ondas de choque em ambientes fechados, com

    ampliao do seu potencial lesivo. O tercirio consiste no choque dos corpos das

    pessoas jogadas contra o solo ou objetos diversos. O quaternrio advm da

    ocorrncia de todas as outras leses e doenas relacionadas ao traumaexplosivo que no podem ser atribudas aos mecanismos lesivos dos outros trs

    tipos de blast, tais como queimaduras, esmagamentos, intoxicaes, leso

    cerebral, distrbios respiratrios, cardiovasculares e metablicos, com a incluso

    de exacerbao ou complicao de condies pr-existentes.1, 7

    Os principais entraves encontrados na percia das pessoas vitimadas por esses

    tipos de explosivo consistem na inexistncia de um histrico do caso fornecido

    pela perinecroscopia, nos problemas relacionados sua identificao, na

    dependncia do grau de destruio do corpo, na dificuldade de descrio das

    leses sobrepostas e complexas, na determinao do modo de morte, que por

    vezes misto, no desconhecimento tcnico do artefato, na localizao dos

    projteis/fragmentos e na convico para responder ao 4 quesito oficial.

    CONCLUSES: As leses provocadas pela exploso de granadas de mo

    so complexas e seus efeitos lesivos dependem do tipo de artefato, daproximidade com o explosivo e do local de ocorrncia, se em ambiente aberto

    ou fechado. A morte pode decorrer do barotrauma (blastprimrio), da ao

    prfuro-contundente ou contundente de fragmentos do artefato ou de objetos

    arremessados contra a vtima (blast secundrio), da ao contundente da

    projeo da vtima contra objetos (blast tercirio) e da ao trmica,

    intoxicaes, esmagamentos, problemas respiratrios, cardiovasculares e

    metablicos relacionados ao trauma inicial ou por ele agravados (blast

    quaternrio).

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    BIBLIOGRAFIA:

    1. Centers for Disease Control and Prevention. Explosions and Blast Injuries: a

    Primer for Clinicians. CDC Emergency Preparedness & Response. ltimareviso em Jun, 2006. Web site. Disponvel em

    http://www.bt.cdc.gov/masscasualties/explosions.asp.

    2. CROCE, Delton e CROCE JNIOR, Delton. Manual de Medicina Legal.

    4ed., So Paulo: Editora Saraiva, 1998.

    3. FRANA, Genival Veloso. Traumatologia Mdico-legal. Leses produzidas

    por artefatos explosivos. Medicina Legal. 6ed., Rio de Janeiro: Guanabara

    Koogan, 2001. 579 p. Cap. 4, p. 74 e 75, 81-90.

    4. GOMES, Hlio. Energias de ordem fsica. Energia cintica. Instrumentos

    prfuro-contundentes. Armas de fogo. Baropatias. Medicina Legal. 32 ed.,

    Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1997. 846 p. Cap. 14, p. 258-301; Cap. 16, p.

    354-363.

    5. HERCULES, Hygino de Carvalho. Leses e Morte por Instrumentos Prfuro-

    contundentes. Armas de Fogo. Estudo Mdico-Legal das Baropatias.

    Medicina Legal Texto e Atlas. 1 ed., So Paulo: Atheneu, 2005. Parte 4,

    Captulo 14, p. 229-258 e Captulo 16, p. 292-296, 300-302.

    6. Instruo Militar do Ministrio da Aeronutica-Escola de Especialistas de

    Aeronutica-Diviso de Instruo Militar. Nelson Joaquim de Oliveira

    (Organizador) - grfica da EEAer 1 ed., Guaratinguet, So Paulo: 1974.

    3 Parte - Armamento e Tiro/ Captulo IV/ Granadas/ p. 160-162.

    7. PENNARDT, Andre & LAVONAS, Eric J. Blast Injuries. Atualizado em May,

    2010. eMedicine Emergency Medicine. Web site. Disponvel em

    http://emedicine.medscape.com/article/822587.

    8. SPITZ, Werner U. and FISHER, Daniel J. Medicolegal Investigation of

    Death: Guidelines for the Application of Pathology to Crime

    Investigation. Charles C. Thomas Publisher, Springfield, 4th ed., 2006. Cap.

    13, p. 777-781 e Cap. 18, p. 990-992.