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Avaliação Ambiental – Projeto Florestas para a Vida – Espírito Santo – Versão 04 – 30mar08 1 GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PROJETO DE RESTAURAÇÃO E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE E DOS RECURSOS HIDRÍCOS NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DOS RIOS JUCU E SANTA MARIA DA VITÓRIA NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO – BRASIL “Projeto Florestas para a Vida” PROPOSTA PARA OBTENÇÃO DE FINANCIAMENTO DO GLOBAL ENVIRONMENT FACILITY – GEF DOCUMENTO DE AVALIAÇÃO AMBIENTAL Proponente (Executor): Governo do Estado do Espírito Santo, por intermédio do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Agência Implementadora do GEF: Banco Mundial Área Focal: Biodiversidade (Programa Operacional 3: Ecossistemas Florestais) Prazo de Implementação: 4 (quatro) anos SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS DO ESPÍRITO SANTO FEVEREIRO DE 2008 E1885 Public Disclosure Authorized Public Disclosure Authorized Public Disclosure Authorized Public Disclosure Authorized Public Disclosure Authorized Public Disclosure Authorized Public Disclosure Authorized Public Disclosure Authorized

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Avaliação Ambiental – Projeto Florestas para a Vida – Espírito Santo – Versão 04 – 30mar08 1

GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

PROJETO DE RESTAURAÇÃO E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE E DOS RECURSOS HIDRÍCOS NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DOS RIOS JUCU E SANTA MARIA DA VITÓRIA NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO – BRASIL

“Projeto Florestas para a Vida”

PROPOSTA PARA OBTENÇÃO DE FINANCIAMENTO DO GLOBAL ENVIRONMENT FACILITY – GEF

DOCUMENTO DE AVALIAÇÃO AMBIENTAL

Proponente (Executor): Governo do Estado do Espírito Santo, por intermédio do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Agência Implementadora do GEF: Banco Mundial Área Focal: Biodiversidade (Programa Operacional 3: Ecossistemas Florestais) Prazo de Implementação: 4 (quatro) anos

SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS DO ESPÍRITO SANTO

FEVEREIRO DE 2008

E1885

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SUMÁRIO EQUIPE TÉCNICA RESPONSÁVEL PELA AVALIAÇÃO AMBIENTAL ................ 4 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 5 2. DESCRIÇÃO DO PROJETO ....................................................................................... 6

2.1. Contexto e Justificativas ..................................................................................... 6 2.2. Objetivo de Desenvolvimento do Projeto .......................................................... 8 2.3. Objetivo Ambiental Global do Projeto .............................................................. 8 2.4. Componentes e Atividades .................................................................................. 8

3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ABRANGÊNCIA ........................................... 9 3.1. Bacia Hidrográfica Santa Maria da Vitória ...................................................... 9 3.2. Bacia Hidrográfica do Rio Jucu ....................................................................... 11 3.3. Diagnóstico Sócio-econômico das Bacias ......................................................... 12 3.4. Diagnóstico Físico Hidrológico ......................................................................... 17 3.5. Diagnóstico da Biodiversidade ......................................................................... 22 3.6. Diagnóstico do Meio Rural ............................................................................... 23

4. MARCO LEGAL ....................................................................................................... 26 4.1. Política Estadual de Recursos Hídricos ........................................................... 26 4.2. Código Florestal Brasileiro ............................................................................... 27 4.3. Outros Aspectos da Legislação Federal ........................................................... 31 4.4. Mata Atlântica ................................................................................................... 31 4.5. Pagamento por Serviços Ambientais ............................................................... 32 4.6. Recuperação de Áreas Degradadas – Lista de Espécies ................................ 34 4.7. Espécies exóticas invasoras ............................................................................... 35

5. IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS .............................................................. 35 5.1. Diretrizes para avaliação .................................................................................. 35 5.2. Metodologia ........................................................................................................ 36 5.3. Resultados........................................................................................................... 38

6. PLANO DE GESTÃO AMBIENTAL ....................................................................... 44 6.1. Seleção das áreas para implementação do projeto ......................................... 44 6.1.1. Avaliação da adequação ambiental da seleção de áreas ............................. 44 6.1.2. Características físicas e bióticas: ................................................................... 45 6.1.3. Informações sócio-econômicas ....................................................................... 45 6.1.4. Identificação dos fatores de degradação ....................................................... 45 6.2. Elaboração e implantação de projetos ............................................................. 45 6.3. Identificação de impactos ambientais potenciais e indicação de medidas de controle ...................................................................................................................... 46

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 48

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ANA Agência Nacional de Águas APP Área de Preservação Permanente BIRD Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento CESAN Companhia Espírito Santense de Saneamento VALE Companhia Vale do Rio Doce FPV Florestas para a Vida ESCELSA Espírito Santo Centrais Elétricas S.A. GOES Governo do Estado do Espírito Santo GRN = NRM Gerenciamento dos Recursos Naturais IDAF Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal IEMA Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos INCAPER Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural IUCN União Internacional para a Conservação da Natureza M&E MIP

Monitoramento e Avaliação Manejo Integrado de Pragas

NRM Gerenciamento de Recursos Naturais PCH Pequenas Centrais Hidrelétricas PDF Plano de Desenvolvimento Florestal PERH Política Estadual de Recursos Hídricos PSA Pagamento por Serviços Ambientais PIU Unidade de Gerenciamento do Projeto RL Reserva Legal RMGV Região Metropolitana da Grande Vitória RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural SAF Sistema Agroflorestal SAFF Sistema de Administração Físico-Financeira SEAG Secretaria de Estado de Agricultura, Abastecimento, Aqüicultura e

Pesca SEAMA Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos SEDES Secretaria de Estado de Desenvolvimento SEFAZ Secretaria de Estado da Fazenda SEP Secretaria de Estado de Economia e Planejamento SETUR Secretaria de Estado de Turismo SEDURB Secretaria de Estado de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento

Urbano SIAFEM Sistema Integrado de Administração Financeira para Estados e

Municípios SLM Gerenciamento Sustentável do Solo TA Técnicas Agrícolas UC Unidade de Conservação UFES Unidade Federal do Espírito Santo TM Equipe de Gerenciamento (Management Team)

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EQUIPE TÉCNICA RESPONSÁVEL PELA AVALIAÇÃO AMBIENTAL

Marcos Franklin Sossai Engenheiro Florestal - UFV Especialização em Manejo Integrado de Pragas - UFES MSc Ciência Florestal – UFV DS Entomologia - UFV Ricardo Alcântara Valory Engenheiro Agrônomo – Especialista em Nutrição de Plantas

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1. INTRODUÇÃO

O Projeto de Restauração e Conservação da Biodiversidade e dos Recursos Hídricos nas Bacias Hidrográficas dos Rios Jucu e Santa Maria da Vitória no Estado do Espírito Santo – Brasil – Projeto Florestas para a Vida, objeto desta avaliação, foi elaborado pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado do Espírito Santo e tem como objetivo reduzir as ameaças à biodiversidade de importância global, estimulando a adoção de práticas sustentáveis de uso do solo, a partir da implementação de mecanismo de pagamento por serviços ambientais e do fornecimento de assistência técnica especializada.

O projeto FPV teve sua Nota Conceitual aprovada pelo Global Environmental Facility – GEF em junho de 2005. O detalhamento das propostas previstas na Nota Conceitual foi realizado inicialmente por um Grupo de Trabalho coordenado pelo Instituto Bioatlântica, com participação direta das ONG´s IPEMA, Conservação Internacional e Fundação Promar. Posteriormente, a elaboração do PAD passou a ser executada sob a coordenação direta do Estado do Espírito Santo, por intermédio do IEMA, contando com a participação direta da SEDES, SEAG/INCAPER, além de ONG’s e representações locais. O projeto foi aprovado pela SEAIN (Secretaria de Assuntos Internacionais do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão), que é o ponto focal do GEF no Brasil, em agosto de 2007. O PIF foi aprovado pelo Conselho do GEF em novembro do mesmo ano. De acordo com o conselho do GEF, o documento completo deverá ser avaliado até 30 de maio de 2008.

Estruturado em quatro componentes, o projeto irá atuar no fortalecimento das entidades que atuam na gestão e no monitoramento dos recursos naturais das bacias hidrográficas alvo do projeto, como os comitês de bacia hidrográfica, nas unidades de conservação existentes, etc. O fortalecimento dessas estruturas somado a outras atividades como aquelas previstas nos componentes um e dois irão permitir maior capacidade de gestão e monitoramento desses recursos naturais. Dessa forma, entende-se que avanços expressivos serão alcançados ao que se refere à redução da pressão sob os recursos naturais das bacias.

O projeto também prevê e tem como uma das suas principais linhas de ação o desenvolvimento de mecanismos de estímulo ao produtor rural, para que este passe a adotar práticas sustentáveis de usos do solo nas regiões do projeto, com destaque para a compensação financeira – PSA, treinamento e assistência técnica especializada.

Ressalta-se que o projeto não irá gerar impactos ambientais significativos, nos termos definidos na legislação nacional, não sendo exigível, portanto, a elaboração de Estudo de Impacto Ambiental - EIA e respectivo relatório – RIMA. A presente avaliação foi efetuada com o objetivo de atender às políticas de salvaguarda do Banco Mundial, que classificou o projeto na categoria B (para qual se exige a elaboração de Plano de Gestão Ambiental), e para identificar, prevenir e mitigar eventuais impactos ambientais negativos, mesmo que não sejam considerados significativos. A avaliação permitirá, também, a identificação de medidas para maximizar os impactos positivos do projeto.

Para elaboração desta Avaliação Ambiental foram utilizados como base os relatórios/diagnósticos dos meios rural, biótico, físico-hidrológico, sócio-econômico,

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sócio-ambiental e PSA e demais informações coletadas durante a fase de preparação do documento de projeto. 2. DESCRIÇÃO DO PROJETO 2.1. Contexto e Justificativas O Estado do Espírito Santo localiza-se no bioma da Mata Atlântica, que está entre uma das cinco principais áreas prioritárias de biodiversidade e entre as 25 áreas prioritárias de conservação no mundo, devido a seu excepcional nível de diversidade de espécies e sua vulnerabilidade à ameaças contínuas. Estima-se que no Brasil exista atualmente menos de 8% de remanescentes de Mata Atlântica com formação original. No estado do Espírito Santo esse percentual chega a cerca de 9% (3.700 Km2), sendo a maior parte em fragmentos, o que inibi a movimentação, dispersão e o fluxo gênico das espécies, dificultando a sobrevivência e a conservação das mesmas. Embora o processo de substituição da cobertura florestal original (Mata Atlântica) por áreas de pastagens, monoculturas agronômicas e assentamentos urbanos venha ocorrendo há vários séculos, verifica-se que nos últimos 40-50 anos esse processo se intensificou substancialmente. É importante notar que grande parte da população brasileira (80%), da atividade econômica (70% do PIB) e das frentes agrícolas (pecuária, cana-de-açúcar, café, frutas cítricas, etc.) se instalaram em áreas onde originalmente ocorria Mata Atlântica.

O Estado do Espírito Santo é um dos menores estados brasileiros em extensão (46.184 km2) e, embora tenha sido ao longo de vários anos considerado um dos estados mais pobres da federação, vem passando por um período de grande crescimento econômico, com destaque no cenário nacional. As atividades econômicas de maior destaque incluem o reflorestamento realizado predominantemente nas planícies costeiras (maior exportador de celulose do mundo), a exploração de energia fóssil (uma das maiores reservas marinhas de petróleo descobertas no Brasil) e a agricultura (principalmente café e horticultura). O complexo portuário localizado no estado é um dos mais importantes do Brasil e, através de sua integração com os sistemas ferroviário e rodoviário, permite o escoamento de uma parcela significativa das exportações Brasileiras, com destaque para o minério-de-ferro (o maior do mundo), aço, café, rochas ornamentais e celulose. A Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV) é habitada por aproximadamente 1.5 milhões de pessoas, representando quase metade da população do Estado.

O Projeto Florestas para a Vida tem sua área de atuação focada em duas bacias hidrográficas de alta biodiversidade, localizadas na região centro-sul do Espírito Santo: as bacias dos rios Jucu e de Santa Maria da Vitória, que abrangem uma área de 4.010 Km2, ou 9% do território do Estado. Essas bacias são de extrema importância para o bioma Mata Atlântica, pois seus municípios possuem cobertura florestal (em estágios médio e avançado) que variam de cerca de 10 a 50% de suas superfícies, ou seja, valores significativamente superiores às médias estaduais e nacional. Excluindo os municípios predominantemente urbanos (Vitória, Vila Velha, Cariacica e Serra) e que compõe a parte baixa das bacias, os demais apresentam cobertura florestal superior a 40% de suas áreas. Os elevados percentuais de cobertura florestal fazem com que essas duas bacias possuam, em apenas 9% da área de todo o estado do Espírito Santo, mais da metade da sua cobertura florestal (Mata Atlântica), o que representa cerca de 1.900 Km2.

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Além da relevada importância para a biodiversidade, as bacias do Jucu e Santa Maria da Vitória também são consideradas estratégicas por fornecerem cerca de 95% da água potável distribuída na RMGV. Sob esse aspecto, destacam-se os municípios localizados nas regiões de cabeceiras (Domingos Martins, Marechal Floriano, Santa Maria de Jetibá e Santa Leopoldina), por abrigarem áreas consideradas chaves para recarga de aqüíferos (“produção de água”). Essas áreas caracterizam-se por terem sido ocupadas há mais de um século por imigrantes europeus (predominantemente, descendente de pomeranos, italianos e alemães) e por ainda serem, predominantemente, utilizadas de forma tradicional por famílias de pequenos agricultores (tamanho médio de propriedade: 20 a 30 ha.), com média de cerca de duas famílias por propriedade, e tendência para maior fragmentação futura. As principais atividades agrícolas nas bacias incluem o cultivo do milho, feijão, raízes, café, banana, horticultura, pomares, florestas plantadas, gado e avicultura. O uso da agricultura tradicional trouxe como conseqüência a redução e fragmentação da cobertura florestal, enquanto que a invasão de encostas íngremes e florestas ribeirinhas (APP’s), à erosão do solo, poluição das águas e ao assoreamento dos rios. Contudo, nas últimas décadas, o uso de encostas mais íngremes para a agricultura diminuiu, permitindo a recuperação gradual de muitas áreas (florestas secundárias). Ainda assim, a perda do habitat e a degradação proveniente da agricultura permanecem como uma ameaça significativa à biodiversidade e às funções ecológicas desse ecossistema. Outras atividades econômicas nas bacias incluem mineração, plantações de eucalipto e hidrelétricas de pequeno porte. O desenvolvimento da agricultura orgânica certificada, particularmente de hortaliças, tem sido estimulado com êxito pelo Governo e por ONG’s em certas áreas dessas bacias.

Nas bacias do Jucu e Santa Maria da Vitória estão localizadas quatro Unidades de Conservação (um parque estadual, uma reserva biológica e duas Áreas de Proteção Ambiental). A despeito da pressão humana, a região das bacias ainda possui níveis extremamente altos de biodiversidade em todas as categorias (em perigo, vulnerável, etc.) e foi identificada como sendo uma das áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade dentro do Corredor Ecológico Central da Mata Atlântica. Das cerca de 280 espécies de mamíferos listadas para a Mata Atlântica, pelo menos 84 já foram identificadas nas áreas de estudo, sendo 15 endêmicas e 10 estão citadas na Lista Brasileira de Espécies Ameaçadas de Extinção, incluindo o macaco muriqui (Brachyteles hypoxanthus) maior primata das Américas e uma das 25 espécies mais ameaçadas do mundo. A avifauna das duas bacias caracteriza-se pela ocorrência de cerca de 245 espécies, com significativo grau de endemismo (29%) e ocorrência de 7 espécies ameaçados de extinção, de acordo com lista estadual. A fragmentação da Mata Atlântica tem um impacto especialmente severo para os mamíferos, devido ao isolamento provocado a pequenas populações, acarretando em graves conseqüências para sua reprodução. Embora aparentemente poucas espécies possam ser classificadas como extintas, existe uma clara relação entre perda do habitat e o número de espécies sob ameaça de extinção. Antas (Tapyrus terrestris), porcos-do-mato (Tayassu pecari e Pecari tajacu) e felinos de maior porte estão em fase de extinção ou extintos. Dadas as ameaças à estabilidade do ecossistema e à biodiversidade devido a expansão da agropecuária em terras frágeis (encostas e florestas ribeirinhas), uma ação imediata é necessária para assegurar a biodiversidade de importância global que resta.

Os recursos ambientais proporcionados pelas duas bacias, principalmente a água, também é de vital importância para as indústrias nelas localizadas. Alem disso, três

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hidroelétricas estão implantadas nos dois rios que contribuem significativamente para a geração de energia no estado. A erosão do solo advinda da redução/retirada da cobertura florestal originalmente encontrada, somado ao relevo local acidentado, tem contribuído para a deposição de argila nos leitos dos rios, prejudicando a qualidade das águas, gerando aumento dos custos de tratamento e reduzindo os estoques dos reservatórios. A retirada da cobertura florestal também têm impacto negativo sobre o regime hidrológico dos rios, com tendências pronunciadas de aumento das enchentes e redução das vazões mínimas. Mesmo com um padrão pluviométrico sem modificações, a recarga anual dos aqüíferos é afetada negativamente.

O Espírito Santo está assim enfrentando sérias ameaças de médio e longo prazo no suprimento de água para a região metropolitana, geração de energia e indústrias. Problemas como a erosão do solo, assoreamento dos rios, bem como a mitigação dos eventos hidrológicos extremos (enchentes e vazões) podem ser trabalhados através do manejo do uso do solo (especialmente cobertura vegetal) nas encostas e demais áreas de preservação permanente. Além disso, o aumento da cobertura florestal através de restauração de terras desnudas e degradadas também pode beneficiar diretamente a biodiversidade.

2.2. Objetivo de Desenvolvimento do Projeto Estimular a adoção de práticas sustentáveis de uso do solo1 em duas bacias hidrográficas do Espírito Santo consideradas estratégicas para a conservação da Mata Atlântica, contribuindo para a melhora dos recursos hídricos e podendo contribuir para um incremento na receita de produtores rurais. 2.3. Objetivo Ambiental Global do Projeto Reduzir as ameaças à biodiversidade, de relevância global (por exemplo, o macaco Muriqui que está ameaçado de extinção) a partir da adoção de práticas e sistemas de produção sustentáveis e da promoção de melhores condições para a sobrevivência da biota nativa nas duas bacias hidrográficas alvo do Projeto.

2.4. Componentes e Atividades

O Projeto está estruturado em quatro componentes, conforme segue:

Componente 01 - Fortalecimento da Gestão nas Bacias: Obter melhoras efetivas na conservação e preservação da biodiversidade e das águas das bacias hidrográficas do Jucu e de Santa Maria da Vitória requer ações de fortalecimento das instituições responsáveis pelo planejamento e implantação de estratégias de GRN nessas bacias, incluindo demais instituições que possam atuar de alguma forma no monitoramento e controle de suas condições ambientais (água, cobertura florestal, etc). O fortalecimento dessas instituições deverá permitir melhor capacidade para apontar soluções para problemas/conflitos verificados e propor mecanismos de controle mais eficientes. Também deverão ser envolvidos demais atores chaves, de forma que as soluções

1 Uso sustentável: “exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável” (Lei Federal 9985/00)l;

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apontadas possam ser determinadas em comum acordo com todas as partes envolvidas. Isto requer tanto o estabelecimento/fortalecimento das instituições que irão supervisionar a gestão das duas bacias como fornecer a elas as ferramentas que precisarão para fazer seu trabalho. As principais atividades deste componente incluirão: (i) fortalecimento dos comitês de bacias hidrográficas; (ii) elaboração do zoneamento econômico-ecológico para as bacias; e (iii) priorização das áreas de intervenção.

Componente 02 - Proteção da Biodiversidade e Gestão de Unidades de Conservação: Empreenderá intervenções que tem como alvo restaurar e melhorar a proteção de áreas críticas para a conservação e preservação da biodiversidade e apoiar UC’s públicas existentes nas bacias, incluindo a elaboração de plano estratégico de implementação de plano de manejo e apoio aos proprietários de terras para incentivar a criação de RPPN’s. Entre as principais atividades deste componente estão: (i) suporte para a implantação do plano de manejo do Parque Estadual Pedra Azul; (ii) desenvolvimento e implantação de novos instrumentos para a conservação da biodiversidade; (iii) suporte à recuperação de áreas degradadas; e, (iv) suporte à implantação de dois Corredores Ecológicos.

Componente 03 - Integrando a Biodiversidade em Áreas Produtivas: O manejo sustentável de paisagens produtivas requer a abordagem de duas vertentes: (i) medidas que visem a remoção dos obstáculos à adoção de práticas de uso do solo que sejam benéficas para os proprietários rurais e para o meio ambiente, tais como a falta de conhecimento ou a indisponibilidade de insumos; e (ii) medidas para induzir a adoção de práticas que gerem externalidades positivas, especialmente quanto à preservação da biodiversidade e serviços que visem a proteção e conservação dos recursos hídricos, e que não sejam atrativas aos proprietários rurais. Esse sub-componente buscará analisar meios que viabilizem essa troca de práticas, a partir do fomento de mercados para bens e serviços favoráveis à biodiversidade, em especial pelo desenvolvimento de mecanismo de pagamento pelos serviços ambientais (PSA), a ser custeado pelos usuários de água (tais como a CESAN e UEH/PCH locais).

Componente 04 - Monitoramento, Avaliação e Gerenciamento do Projeto: Irá coordenar, gerenciar e monitorar todas as atividades apoiadas pelo Projeto. O Projeto estabelecerá mecanismos de monitoramento e de avaliação em dois níveis distintos: (i) uma estrutura de monitoramento e de avaliação em nível de projeto para as atividades cobertas pelo mesmo, e (ii) um sistema de informações em nível regional, cobrindo as duas bacias sob intervenção do Projeto. A estrutura de monitoramento e avaliação em nível do Projeto (M&E) irá acompanhar o progresso da implantação, medirá os resultados intermediários e avaliará os impactos do Projeto. Em nível regional, o Projeto apoiará a criação de um sistema de informações ambientais que permitirá o acompanhamento de parâmetros chaves, em ambiente Web.

3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ABRANGÊNCIA 3.1. Bacia Hidrográfica Santa Maria da Vitória A bacia hidrográfica do rio Santa Maria da Vitória localiza-se no Estado do Espírito Santo, entre os paralelos 19°56’ e 20°18’ de latitude sul e os meridianos 40°20’ e 41°05’ de longitude oeste. É limitada a leste pela baía de Vitória, ao Norte e a Oeste

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pelas bacias dos rios Magos e Doce e ao Sul com a bacia do rio Jucu. A bacia apresenta até seu deságüe na baía de Vitória uma área de drenagem de aproximadamente 1.800 km².

O rio Santa Maria da Vitória pertence à Bacia do Atlântico Leste, pela classificação da Agência Nacional de Águas (ANA), e nasce a cerca de 1.100 m de altitude, na Região Serrana do Centro do Estado do Espírito Santo, no município de Santa Maria do Jetibá, em uma região conhecida como Alto Santa Maria, desaguando na baía de Vitória.

Até as proximidades da cidade de Santa Maria de Jetibá o rio Santa Maria da Vitória possui seu curso seguindo a direção geral Nordeste. A jusante da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) de Rio Bonito, altera seu curso para a direção geral Sudeste. O rio percorre aproximadamente 220 km até sua foz.

No alto Santa Maria da Vitória, os principais afluentes, pela margem direita, são os rios Lamego e São Sebastião de Baixo, e, pela margem esquerda, os rios Possmoser, São Luís e Bonito. Entre as usinas hidrelétricas de Rio Bonito e Suíça o rio Santa Maria da Vitória recebe a contribuição do ribeirão Timbuí Seco. Dentro do reservatório da usina hidrelétrica Suíça, o rio Santa Maria da Vitória recebe, pela margem direita, a contribuição do rio Caramuru.

No rio Santa Maria da Vitória existem duas usinas hidrelétricas operadas pela Escelsa Energias do Brasil, denominadas Rio Bonito e Suíça. A PCH Rio Bonito fica localizada no município de Santa Maria de Jetibá, a 60 km de Vitória. Foi inaugurada em 1959, possui capacidade instalada de 15 MW. A UEH Suíça iniciou sua operação em 1965 e possui potência instalada de 30 MW, estando localizada no município de Santa Leopoldina.

A região mais alta da bacia abrange os municípios de Santa Maria de Jetibá e Santa Leopoldina. A região mais baixa da bacia abrange parte dos municípios de Cariacica e Serra.

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Dentre os diversos cursos d’água que deságuam na baía de Vitória incluem-se os rios Bubu, Formate-Marinho, Aribiri e canal da Costa, além de diversos canais e galerias de águas pluviais urbanas situados em áreas urbanas dos municípios de Cariacica, Serra e Vitória.

A bacia hidrográfica do rio Santa Maria da Vitória apresenta baixa densidade populacional. Apresenta, tipicamente, atividades agropecuárias no trecho médio e superior da bacia hidrográfica, onde as principais cidades são Santa Maria de Jetibá, localizada a montante dos barramentos de Rio Bonito e Suiça, e Santa Leopoldina, localizada a jusante dos referidos barramentos. Nas partes mais altas da bacia encontra-se a vila de Garrafão e os povoados de Rio da Farinha, Barracão, Possmouser, Lamego, Alto Jequitibá, São João do Recreio, e a cidade de Santa Maria de Jetibá. No seu trecho médio localizam-se a cidade de Santa Leopoldina e as vilas de Mangarai e Djalma Coutinho.

Na bacia do rio Santa Maria da Vitória as principais captações nas suas partes superior e média servem ao abastecimento das cidades de Santa Maria de Jetibá e Santa Leopoldina. A captação para abastecimento de Santa Leopoldina é feita no Rio da Prata. O rio São Sebastião abastece a população de Santa Maria de Jetibá. A localidade de Alto Possmouser recebe água a partir de nascentes. A localidade de Garrafão é abastecida a partir de poço freático. 3.2. Bacia Hidrográfica do Rio Jucu A bacia do Rio Jucu está localizada entre os meridianos 40º 15’ e 41º 10’ a Oeste, e os paralelos 20º 10’ e 20º 40’ ao Sul, com as cabeceiras situadas na Serra do Castelo, na região serrana central do Estado do Espírito Santo. O rio percorre uma extensão de 227 km até sua foz, recebendo afluentes em ambas as margens. Compreende uma área de aproximadamente 2000 km2, localizada na região centro sul do Estado do Espírito Santo, nas latitudes Sul 17º 45’ e 21º 15’; e longitudes Este 42º 15’ e 39º 45’, e juntamente com o rio Santa Maria da Vitória, contribui para o abastecimento da Grande Vitória, nascendo na região serrana do Estado e desaguando no Oceano Atlântico na localidade de Barra do Jucu.

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A bacia do Rio Jucu está limitada a leste pelo Oceano Atlântico, ao norte pelas bacias hidrográficas dos rios Doce e Santa Maria da Vitória, a nordeste pela bacia do rio Formate-Marinho, a oeste pela bacia do rio Itapemirim e ao sul pelas bacias dos rios Benevente e Guarapari. Dividido em dois principais afluentes – Braço Norte e Braço Sul, os trechos médio e superior da bacia estão relacionados com a agropecuária, enquanto as principais concentrações urbanas estão localizadas nas cidades de Domingos Martins e Marechal Floriano. O pólo industrial na região se resume à indústrias de refrigerantes, de derivados do leite, de ração animal e alimentícia de médio porte, enquanto os esgotos sanitários são lançados nos cursos d’água geralmente sem tratamento. A bacia do rio Jucu abrange integralmente os municípios de Domingos Martins e Marechal Floriano, grande parte de Viana e Vila Velha, e uma pequena parcela de Cariacica (bacias dos córregos Biriricas e Boqueirão) e Guarapari (Distritos de Rio Calçado e Todos os Santos, ambos na bacia do rio Jacarandá). As áreas urbanas principais são as cidades de Domingos Martins, Marechal Floriano, parte de Viana (sub-bacia do ribeirão Santo Agostinho) e as localidades, povoados e vilas de São Paulinho, Pedra Azul, Aracê, Barcelos, São Rafael, Goiabeiras, Ponto Alto, Perobas, Paraju, Melgaço, Biriricas, Isabel, Vítor Hugo, Araguaia, Bom Jesus do Morro Baixo, São Paulo de Cima, Rio Calçado, Araçatiba e Barra do Jucu.

3.3. Diagnóstico Sócio-econômico das Bacias

A população da região de abrangência do projeto passou de pouco mais de 157 mil habitantes em 1950 para mais de 1,5 milhão em 2000. Isto significou uma Taxa de Crescimento Geométrica Anual para essas cidades, no período 1950-2000, de 4,62%, bem acima da média observada para o Espírito Santo, que foi de 2,59%. Nesse período em questão dois acontecimentos foram decisivos para impulsionar este aumento da população, sobretudo no meio urbano: o primeiro foi a política de erradicação de cafezais implementada nos anos sessenta; o segundo foi a implementação dos chamados “Grandes Projetos” no final da década de setenta que trouxe grandes plantas industriais

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para a RMGV e entorno. Estes dois fatores determinaram um expressivo fluxo migratório para a região, o que desencadeou em inchaço populacional e “favelização” de algumas áreas. De uma forma geral, fica evidente que na região predomina a população residente no meio urbano, que atingiu pouco mais de 1,4 milhão em 2000. Segundo o IBGE (2000), os municípios que concentram maior população urbana são os da Região Metropolitana (taxas de urbanização acima de 90%). As menores taxas de urbanização encontram-se nos municípios de Domingos Martins (19,0%) Santa Leopoldina (19,8%) Santa Maria de Jetibá (17,7%) e Marechal Floriano (43,3%). A razão da urbanização está na industrialização que ocorreu no Estado, sobretudo na RMGV. As duas bacias comportam aproximadamente 50% de toda a população do Espírito Santo. Em 1950, a participação da região de influência das duas bacias comportava apenas 18% do total da população do Estado. Os municípios da cabeceira das duas bacias perderam participação relativa na população do Estado e da própria região de influência. Em 1950, a participação dos municípios da cabeceira foi de 4% do total do Estado. Esse percentual caiu para 2,7% em 2000, resultado do menor dinamismo econômico da região e do elevado dinamismo da RMGV. A redução nas participações relativas dos municípios da parte alta das bacias é reflexo da redução das taxas geométricas anuais de variação das populações devido a emigração para a região metropolitana. À exceção dos municípios de Guarapari, Serra, Vila Velha e Santa Maria de Jetibá, que se desmembrou do município de Santa Leopoldina, os demais municípios apresentaram taxas abaixo da média observada para o Estado, na década de 1990, que foi de 1,7% ao ano. Dos municípios da região de influência, Serra e Santa Maria de Jetibá são os municípios com melhor desempenho econômico, principalmente a partir da década de noventa. O primeiro em função da instalação e ampliação de indústrias e, o segundo, por causa de uma maior diversificação da sua base econômica. Isso ajuda a explicar porque suas taxas de crescimento populacionais foram maiores que as verificadas para o Estado. • Indicadores socioeconômicos a) Índice de Desenvolvimento Humano O IDH é obtido pela média aritmética simples de três sub-índices, referentes às dimensões Longevidade (IDH-Longevidade), Educação (IDH-Educação) e Renda (IDH-Renda). Segue uma escala que vai de 0 a 1, sendo que 0 significa nenhum desenvolvimento humano e 1 significa desenvolvimento humano total. Além disso, existe uma classificação que permite avaliar o grau de desenvolvimento de uma cidade, região, Estado ou país que é a seguinte: de 0,000 a 0,499 indica um baixo grau de desenvolvimento; de 0,500 a 0,799 demonstra um médio grau de desenvolvimento; e de 0,800 a 1,000 significa um alto grau de desenvolvimento.

Dos dez municípios somente dois (Vitória e Vila Velha) possuem um IDH maior que 0,800, significando um alto grau de desenvolvimento humano. Todos os demais municípios têm um grau médio de desenvolvimento, ou seja, o IDH varia entre 0,500 e 0,799. Os municípios do interior da Bacia apresentam IDHs menores que a média da região de influência e também do Estado. Santa Leopoldina, por exemplo, é o município

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com o menor IDH (0,711), devido ao menor IDH-Renda entre os municípios pesquisados (0,609). b) Indicadores de renda, pobreza e desigualdade. Vitória e Vila Velha possuem uma renda per capita média (R$ 667,70 e R$ 443,80 respectivamente) bem superior à média estadual (R$289,60), por concentrarem parte significativa da riqueza gerada no Estado e por terem grande parte dos bairros de classe alta da RMGV, enquanto Santa Leopoldina (R$149,60) e Viana (R$175,40) têm uma renda per capita média muito inferior à média do Estado, dado que suas bases econômicas são limitadas e possuem uma dinâmica econômica menor que os demais municípios. Proporção de pobres é a distância que separa a renda domiciliar per capita média dos indivíduos pobres (definidos como os indivíduos com renda domiciliar per capita mensal inferior a R$ 75,50) do valor da linha de pobreza medida em termos de percentual do valor dessa linha de pobreza. Ou seja, trata-se de domicílios que possuem uma renda per capita domiciliar mensal média abaixo de R$ 75,50. A maior proporção de pobres no ano de 2000 é observada no município de Santa Leopoldina (37%), muito acima da média para o Estado e para a região das duas bacias que foi de 28%. A maior incidência de pobreza nos municípios das cabeceiras das duas bacias – em termos proporcionais às populações – evidencia de imediato um desafio as ações de preservação devem estar casadas com uma lógica econômica de renda e ocupação.

A escala desse índice varia de 0 a 1, sendo que 0 significa nenhuma concentração na distribuição de renda e 1 significa uma concentração total de renda. De 0,000 a 0,399 indica um baixo grau de concentração de renda; de 0,400 a 0,599 demonstra um médio grau de concentração; e de 0,600 a 1,000 significa um alto grau de concentração.

O Índice de Gini mede a concentração de renda. A escala desse índice varia de 0 a 1, sendo que 0 significa nenhuma concentração na distribuição de renda e 1 significa uma concentração total de renda. De 0,000 a 0,399 indica um baixo grau de concentração de renda; de 0,400 a 0,599 demonstra um médio grau de concentração; e de 0,600 a 1,000 significa um alto grau de concentração. Verifica-se que a média dos municípios estudados (0,56) é menor que a média do Espírito Santo (0,61), o que demonstra que a concentração de renda é menor entre aqueles municípios. Entre estes os que apresentam uma maior concentração de renda são Santa Maria de Jetibá (0,63) e Vitória (0,61), e os que têm menor concentração são Cariacica (0,52) e Serra (0,53). c) Indicadores de Longevidade, Mortalidade e Fecundidade. No que tange à mortalidade, a média dos municípios investigados (25,9 mortes por mil nascidos vivos) é inferior a estadual (29,2). Para este indicador, Guarapari apresenta o melhor desempenho (18,8.) e Viana o pior (31,8). Segundo o Documento Final da Agenda Metropolitana da Grande Vitória 2002, na mortalidade infantil a principal causa de óbito na RMGV é as afecções de período perinatal, representando deficiências no controle do pré-natal e na assistência ao parto.Quanto à longevidade, a média dos municípios (69,4 anos) é superior a estadual (68,2). Mais uma vez Guarapari apresenta o melhor indicador (72) e Viana o pior (67). Com relação à taxa de fecundidade não são observadas distâncias muito significativas entre os municípios. As exceções ficam por

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conta de Vitória, com uma taxa de 1,7 filhos por mulher, para uma média estadual de 2,2, e uma taxa mais elevada para Santa Maria de Jetibá (2,8). d) Nível educacional da população adulta (25 anos ou mais). A taxa de analfabetismo média dos municípios (13,5%) foi menor que a média estadual (14,2). Vitória tem a menor taxa de analfabetismo (5,2) e Santa Leopoldina (24) possui a maior. A média do anos de estudo observada nos municípios das duas bacias é menor que a média do Estado. No limite superior aparece Vitória, com 9,1 anos de estudo, e no limite inferior Santa Leopoldina, com 3,6. • Habitação e condições de moradia a) Domicílios Os dados sobre a quantidade de domicílios existentes nas áreas urbana e rural dos municípios das bacias dos rios Jucu e Santa Maria da Vitória dão uma noção da demanda domiciliar por água. Dos mais de 435 mil domicílios existentes quase 94% estão localizados nas áreas urbanas. Vale destacar também que 86% dos domicílios estão localizados em Cariacica, Serra, Vila Velha e Vitória. b) Acesso a serviços básicos Por acesso a água encanada, entende-se o percentual de pessoas que vivem em domicílios com água canalizada para um ou mais cômodos, proveniente de rede geral, de poço, de nascente ou de reservatório abastecido por água das chuvas ou carro-pipa. Quanto ao acesso da população à água encanada, Marechal Floriano possui a maior proporção (98% da população têm acesso a esse serviço) e Santa Leopoldina o menor (89,3%). No caso da energia elétrica, é o percentual de pessoas que vivem em domicílios com iluminação elétrica, proveniente ou não de uma rede geral, com ou sem medidor. Na pesquisa verificou-se que quase 100% da população têm acesso a esse serviço. c) Moradores com Acesso à Rede Geral de Esgoto Nos municípios das duas bacias 63% do total dos seus moradores residem em domicílios com acesso à rede geral de esgoto, ao passo que a média estadual é de 66,4%. Em Vitória aproximadamente 90% dos seus moradores têm acesso a esse serviço, enquanto que em Santa Leopoldina somente 5,7% dos moradores dispõem desse serviço. Investigou-se também quantos moradores (meio urbano e rural) têm seu esgoto sanitário despejado em rio, lago ou mar. Na região de abrangência das bacias, são pouco mais de 42 mil moradores que escoam seus esgotos (3% da população total). Estes 42 mil estão concentrados no meio urbano com 74% do total. d) Moradores com Lixo Coletado por Serviço de Limpeza No que tange ao lixo coletado por serviço de limpeza, pouco mais de 81% dos moradores dos municípios pesquisados dispõem desse serviço, enquanto que para o Estado esse número é de 70%. Em Vitória mais de 96% de seus moradores dispõem desse serviço, ao passo que em Santa Leopoldina esse número é de apenas 20,4%.

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Segundo o Documento Final da Agenda Metropolitana de Vitória, os resíduos sólidos dos municípios do Espírito Santo, em sua maioria (77%), são dispostos de maneira inadequada e/ou irregular. Na maioria dos municípios do Estado o gerenciamento dos resíduos apresenta-se da mesma forma, envolvendo apenas as atividades de coleta regular, transporte e descarga final em áreas inadequadas. Em alguns municípios (cerca de 15%) esse gerenciamento é realizado de forma mais satisfatória, incluindo procedimentos diferenciados como coleta seletiva, compostagem, incineração e disposição em aterros sanitários. • Dinâmica Econômica (dados sobre economia) a) PIB dos municípios Vitória, Serra e Vila Velha exercem papel central não só na economia da região, mas também na do Estado. Por outro lado, Santa Leopoldina e Marechal Floriano têm menor expressão econômica. b) Distribuição do PIB Mais de 64% do PIB capixaba em 2002 estava concentrado nos municípios que compõem as bacias dos rios Jucu e Santa Maria da Vitória. Somente dois municípios, Vitória e Serra, concentram mais de 43% de todo o PIB estadual, devido a grande aglomeração de indústrias, empresas de comércio e serviços, a concentração dos grandes investimentos e maior dinamismo. Por fim, vale observar que tal concentração vem aumentando ao longo dos anos devido a aglomeração dos grandes investimentos na Região Metropolitana, uma vez em 1970 cerca da metade do PIB estadual estava concentrado nos municípios da região. c) Taxa de Variação do PIB No período 1970-2002 o PIB dos municípios (6,67%) cresceu a uma taxa maior que a média estadual (6,25%). Entre os municípios o destaque fica para a Serra que entre 1970 e 2002 teve uma TCGA de quase 15% devido a instalação de grandes empresas (CST, por exemplo) e a investimentos industriais (Civit, por exemplo), enquanto Santa Leopoldina teve uma TCGA de apenas 1,91% em igual período. Vale ressaltar que os municípios que obtiveram as maiores taxas de crescimento no período estudado foram justamente aqueles que fazem parte da RMGV. A razão para isso é que nesses municípios se concentraram as principais empresas que integram o eixo central do crescimento econômico capixaba, qual seja, a indústria e a prestação de serviços ligados ao comércio exterior e logística. d) Composição do PIB A estrutura da economia da região se assemelha bastante a estadual, ou seja, existe uma predominância do setor terciário (comércio e serviços), seguido do secundário (indústria). A agropecuária tem expressão econômica apenas nos municípios interioranos. Nesses municípios a agricultura responde por quase 30% do PIB. As composições do PIB por município são: Domingos Martins (29,7% agropecuária, 16,7% indústria e 53,7% terciário); Marechal Floriano (11,6% para agricultura, 13% para

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secundário e 75,5% para terciário); Santa Leopoldina (35,9% para agricultura, 6,4% para indústria e 57,7% para terciário); e Santa Maria de Jetibá (39,6% agricultura, 11,4% indústria e 49% terciário). Já na Grande Vitória, o setor terciário predomina (58%). A única exceção é a Serra, em que 57% de sua economia é industrial. À montante a composição do PIB em 2002 é: 29,2% para agricultura, 11,9% para indústria e 59% para o setor terciário. Já à jusante, a composição do PIB é: 0,7% para a agricultura, 41,4% para a indústria e 58% para o terciário. • Perfil Econômico Nos municípios das cabeceiras dos rios a ocupação se dá de forma dispersa, com baixa densidade demográfica, sob uma estrutura fundiária desconcentrada, com núcleos urbanos de dimensões ainda compatíveis com a capacidade de “carga” suportável. No entanto, trata-se de um sistema frágil sob o ponto de vista ambiental, principalmente em razão da topografia – área montanhosa e de difícil manejo. Em termos econômicos a tendência é a predominância da pequena produção agrícola, com base na multifuncionalidade da agricultura familiar. No entanto, observa-se uma tendência de ocupação do espaço para fins de lazer, numa lógica metropolitana, representado principalmente pela proliferação de condomínios fechados, sítios de lazer etc.

Já à jusante dos rios, situa-se o maior aglomerado urbano do Estado, detendo aproximadamente 50% da população e 64% da riqueza produzida. Nesta sub-área estão localizados os grandes consumidores de água provida pelas duas bacias. Também em termos institucionais, estão nela as instituições públicas, privadas e da sociedade mais representativas e com maior capacidade de intervenção. • Perfil Empresarial Nos municípios das bacias estão concentrados quase 53% das 120 mil empresas existentes no Estado. Vale ressaltar também que na Serra, em Vila Velha e em Vitória estão cerca de 40% dos estabelecimentos empresariais capixabas. Dentre as empresas da região a divisão é a seguinte: 7,3% atuam na indústria; 4,5% na construção civil; 43% no comércio; 43,5% no setor de serviços; e, por fim, 1,7% na agropecuária. Das 150 maiores existentes no Espírito Santo 115 estão na região pesquisada – somente Marechal Floriano e Santa Leopoldina não se incluem neste ranking.

3.4. Diagnóstico Físico Hidrológico

As bacias dos rios Santa Maria da Vitória e Jucu são os principais mananciais de abastecimento de água da RMGV e concentram em grande parte importantes fragmentos florestais. Estas bacias são consideradas como prioritárias para implementação no Estado do Espírito Santo das políticas nacional e estadual de gestão de recursos hídricos, de acordo com a Lei Federal 9433/97 e a Lei Estadual 5818/98. Abastecem de água mais de quarenta por cento da população do Estado, além de indústrias de grande porte e pólos industriais localizadas na RMGV, apresentando importante produção de hortifrutigranjeiros, em termos regionais, nas suas regiões mais altas.

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• Geologia e Geomorfologia O embasamento cristalino da região é formado pelo complexo Paraíba do Sul, com entremeios de (i) rochas intrusivas básicas e ácidas sin e tarditectônicas; (ii) rochas intrusivas ácidas intermediárias e básicas tardias a pós-transcorrentes; e (iii) rochas intrusivas ácidas pós transcorrentes. Nas bordas do continente ocorrem depósitos marinhos arenosos e rochas do grupo Barreiras. Ao longo de alguns rios ocorrem depósitos aluviais. Apresentam uma variedade de feições geomorfológicas, decorrentes das sucessivas mudanças climáticas, das características litológicas e estruturais e dos fatores biológicos. Feições morfológicas presentes: planícies costeiras, tabuleiros costeiros, colinas e maciços costeiros e Mantiqueira Setentrional. Os rios são encaixados, geralmente possuindo leitos pedregosos e encachoeirados. As várzeas estão representadas nas áreas planas, resultantes da acumulação fluvial ou de enxurradas, sendo de grande importância econômica e amplamente utilizadas para olericultura. • Caracterização dos aqüíferos São encontrados nas duas bacias: aqüíferos livres em sedimentos e solos residuais e aqüíferos profundos confinados em fraturas de rochas cristalinas. Grande parte da região pode ser considerada como áreas de recarga ou de descarga de aqüíferos subterrâneos, dependendo da direção do fluxo da água no interior dos mesmos. A metodologia recomendada para identificação das áreas de recarga exige mapas atualizados de uso dos solos e mapas pedológicos, que possibilitem a individualização de cada tipo e cada mancha de uso do solo. Com relação aos seus aqüíferos subterrâneos, as bacias em questão foram caracterizadas neste trabalho segundo Habtec (1997). As bacias podem ser divididas em duas áreas distintas. A primeira é a faixa costeira, que contém coberturas sedimentares sobre maciços cristalinos numa largura aproximadamente de 10 km, paralela à linha de costa. A segunda, que se estende por uma área muito maior, se assenta sobre rochas cristalinas precambrianas bastante complexas, muito fraturadas, com características próprias de região montanhosa. A área costeira pertence ao domínio de depósitos sedimentares quaternários a recentes e é caracterizada por planícies costeiras e tabuleiros costeiros. As planícies costeiras são constituídas de sedimentos marinhos intercalados por depósitos fluviais, eólicos e lacustres contendo níveis clásticos, finos, argilosos e orgânicos. Os tabuleiros costeiros são constituídos de depósitos argilo-arenosos do Grupo Barreiras de idade Terciária formando colinas suaves com falésias entre 15 a 40 m de altitude entre as planícies costeiras e região das colinas mais elevadas. A segunda faixa pertence ao domínio de dobramentos remobilizados e maciços graníticos representados por colinas e maciços com evidências de estruturas dobradas e fraturadas, movimentos de blocos, formando espessas saias de colúvio. Na região mais alta das bacias, ocorrem os patamares escalonados da Mantiqueira Setentrional com sulcos estruturais N-S, de blocos basculados de grande extensão regional, caracterizados por ravinamento profundo e superfícies de dissecação regional.

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Dois tipos distintos de aqüíferos de água doce são encontrados nas duas bacias, aqüíferos livres em sedimentos e solos residuais e aqüíferos profundos confinados em fraturas de rochas cristalinas. Os aqüíferos livres em sedimentos e solos residuais são em geral associados aos sedimentos e solos residuais nas várzeas e nas encostas, tanto na faixa litorânea como na região montanhosa. Com profundidades variando entre 0 m e 20 m e vazões entre 200 a 1.000 l / h, são explorados através de cacimbas, poços manuais e de ponteiras com tubos de PVC e as águas extraídas geralmente através de bombeamento. O método de ponteiras ou poços semi-artesianos é ainda pouco divulgado na região serrana, sendo mais freqüente na faixa litorânea, em regiões de dunas, acima do nível de água salobra. Em geral, o lençol freático se acumula acima de trappes impermeáveis, como topo rochoso ou camadas argilosas. Os aqüíferos livres são importantes para o futuro sistema de irrigação nas lavouras e para o abastecimento de casas unifamiliares fora dos grandes centros urbanos. Os aqüíferos profundos confinados em fraturas de rochas cristalinas ocorrem em zonas de fraturas de rochas, falhamentos regionais, juntas de alívio, diques de diabásio, ou cruzamento delas entre si. Os de maior produção são os de profundidade variando entre 50 e 190 m. Destes, mais da metade mostraram ter uma vazão média entre 10.000 e 35.000 l/h. Foram registrados, em alguns casos, poços contendo água com alto teor de ferro, remediáveis através de tratamentos específicos. Por outro lado, constam também nos arquivos do DNPM - Departamento Nacional de Produção Mineral, registros de poços de água mineral, o que valoriza o potencial hídrico na região. As condições hidrogeológicas apresentam-se, portanto muito favoráveis em certas regiões, sejam elas na região serrana ou na região litorânea. Entretanto existem condições naturais de contaminação de aqüíferos e aquelas provocadas por ações humanas. As condições naturais de contaminação dos aqüíferos são as cunhas de águas salinas próximas às linhas de costa, ou solubilização de óxidos de ferro e outros metais em rochas básicas ou similares. Entre as possíveis contaminações causadas por ações antrópicas sobressaem o aporte de nitrogênio e pesticidas em áreas de intensa utilização agrícola onde os aqüíferos estiverem próximos à superfície, aporte de águas residuárias em áreas urbanas e rurais onde não existe tratamento de esgoto doméstico e o aporte de resíduos líquidos provenientes de depósitos de resíduos sólidos urbanos. • Definição de áreas de recarga de aqüíferos Toda área dentro de uma bacia de drenagem pode ser considerada como área de recarga ou de descarga de aqüíferos subterrâneos, dependendo da direção do fluxo da água no interior dos mesmos. Nas áreas de recarga, o fluxo de água na zona saturada tem direção contrária à superfície do lençol freático, enquanto que em áreas de descarga, o fluxo na área saturada ocorre em direção à superfície do lençol. Próximo à superfície do solo em áreas de recarga, a direção do fluxo ocorre em direção à superfície do lençol, enquanto em áreas de descarga a direção é em direção à superfície do solo (King County, 2003). Tipicamente 70 a 90% de uma bacia constituem-se de áreas de recarga (Dingman, 2002). Existem cinco métodos para mapear áreas de recarga e descarga de aqüíferos (Freeze and Cherry, 1979):

� Topografia,

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� Nível de água, � Quimica da água, � Isotopia, e � Feições da superfície do solo. O mais simples método para a identificação de áreas de recarga e descarga de aqüífero é através de topografia. Áreas mais altas na paisagem tendem a ser áreas de recarga, enquanto áreas mais baixas, de descargas. Este aspecto, entretanto falha na contabilização do efeito causado por cursos d’água, lagos e poços de extração de água subterrânea. O mais direto e mais confiável método para identificação de áreas de recarga e descarga é o uso de mapas de superfícies piezométricas. A leitura do nível da água em poços em uma região possibilita a determinação dessas superfícies, incluindo a localização de fontes d’água e áreas de infiltração. A maior limitação para a utilização desta técnica é o alto número de poços necessários para se obter resultados confiáveis (Freeze and Cherry, 1979). Os outros três métodos (química da água, isótopos e feições de superfície do solo) tipicamente possuem papel secundário na identificação de áreas de recarga e descarga de aqüíferos. As informações produzidas por estes métodos normalmente não são suficientes para distinguir as citadas áreas, mas podem ser usadas em conjunto com outras técnicas (King County, 2003).

Áreas de recarga podem ser categorizadas de acordo com a importância e utilização da água, uma vez atingidos os aqüíferos: � Áreas de recarga de aqüíferos de utilização pública – São as áreas de infiltração de

água que enriquecem aqüíferos já utilizados ou com potencial de utilização em sistemas de abastecimento doméstico;

� Áreas de recarga de aqüíferos de utilização privada - São as áreas de infiltração de

água que enriquecem aqüíferos já utilizados ou com potencial de utilização por empresas ou indivíduos isolados em irrigação, abastecimento doméstico ou industrial, dessedentação de animais ou outros;

� Áreas de recarga de aqüíferos para enriquecimento de cursos d’água – Embora as

outras áreas citadas também possuam potencial para exercer esta função, nesta categoria entram áreas de recarga de aqüíferos cuja função se prende a fornecer água aos cursos d’água para a manutenção de suas vazões em períodos de seca.

Quanto ao tipo de aqüífero, as áreas de recarga podem ser classificadas em áreas de recarga de aqüíferos freáticos ou áreas de recarga de aqüíferos confinados. As primeiras ocupam as maiores áreas em uma bacia hidrográfica e estão normalmente posicionadas sobre aqüíferos freáticos. São de grande importância para a hidrografia da região em que se inserem por serem locais onde são infiltradas águas que mantêm a maior parte das vazões dos cursos d’água em épocas de estiagem. As áreas de recarga de aqüíferos confinados abrangem áreas do entorno das cabeceiras de aqüíferos confinados. São de grande importância porque estes aqüíferos são normalmente muito produtivos e de relativamente fácil localização, além de também exercerem funções de manutenção de vazões residuais em cursos d’água.

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São definidas como áreas críticas de recarga de aqüíferos as áreas geográficas nas quais um aqüífero utilizado para abastecimento humano é vulnerável a contaminações, podendo afetar a potabilidade de sua água. Todas as águas subterrâneas são susceptíveis à contaminação (King County, 2003); entretanto, segundo Merchant (1994), este problema apresenta forte variação espacial e nem todas as regiões são igualmente vulneráveis. Desta forma, para a efetiva proteção dos aqüíferos subterrâneos é necessária a concentração de esforços nestas áreas de maior vulnerabilidade. A identificação dessas áreas envolvem dois esforços. O primeiro é identificar e mapear as áreas mais susceptíveis à contaminação de águas subterrâneas e o segundo é identificar e mapear o valor da água ou uso da mesma, onde os impactos aos aqüíferos subterrâneos seriam mais sentidos. O produto final é um terceiro mapa que combina o mapa de susceptibilidade com o mapa de valor de uso da água (King County, 2003). A metodologia proposta para identificação de áreas de recarga de aquíferos nas bacias dos rios Jucu e Santa Maria da Vitória foi descrita por Braun et al. (2003) e poderá ser verificada na íntegra, no Relatório do Meio Físico Hidrológico, elaborado durante a fase de preparação do Projeto. Ela se propõe a identificar todas as áreas de recarga de aqüíferos, não se importando com o tipo de aqüífero, se freático ou confinado, nem com o tipo de uso do mesmo ou sua criticidade de proteção. Metodologia similar vem sendo utilizada para a identificação de áreas de aqüífero no estado de New Jersey, EUA (New Jersey Geological Survey, 2005) • Conclusões a respeito dos recursos hídricos dos rios SMV e Jucu A partir do diagnóstico são inferidas as seguintes conclusões: (i) São de grande importância para o Estado do Espírito Santo por suprirem a quase totalidade da demanda hídrica da região metropolitana da Grande Vitória, onde estão concentrados mais de 40% da população estadual e grandes indústrias; (ii) Apresentam um regime fluviométrico com período de estiagem de maio a novembro, com menores vazões ocorrendo entre agosto e outubro; (iii) O período de águas altas ocorre entre dezembro e abril, com vazões máximas tendendo a ocorrer em dezembro/janeiro; (iv) Existem grandes variações de vazões ao longo dos anos; (v) Operação de usinas hidrelétricas influencia as vazões ao longo dos dias, a jusante, por ocorrer armazenamento durante o dia para geração no período da noite; (vi) Desmatamento e urbanização ocorridos, principalmente a partir de meados do último século causaram alterações de regime hidrológico, com aumento de vazões e redução de disponibilidade hídrica em períodos com menores índices de precipitações pluviométricas, (vii) Ocorrem altos índices de transporte de sedimentos após períodos de precipitações pluviométricas, resultantes da erosão causada por atividades humanas em locais apresentando atividades agropecuárias e estradas rurais; (vii) A falta de infra-estrutura de saneamento básico adequada é responsável pela impropriedade das águas de diversos trechos de rios e córregos para diversos usos, tais como recreação de contato primário. A cidade de Marechal Floriano não conta com sistema de tratamento de esgotos e contribui para altos índices de coliformes no rio Jucu Braço Sul. Em Domingos Martins, o córrego do Gordo, apresenta péssimas condições qualitativas, devido ao baixo índice de ligações de domicílios à rede de coleta de esgotos existente; (xi) A cidade de Santa Maria de Jetibá contribui com alta carga de nutrientes, através do lançamento de esgotos sanitários sem tratamento adequado no rio Santa Maria da Vitória, causando eutrofização no reservatório de rio Bonito; (xii) Os menores valores de Índices de Qualidade de Água

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(IQA) são observados em períodos chuvosos, nos quais ocorre aumento de turbidez, das quantidades de sólidos suspensos e dos índices de coliformes.

3.5. Diagnóstico da Biodiversidade

A região das bacias dos rios Jucu e SMV reúne em seus remanescentes florestais de Mata Atlântica muitas espécies raras e ameaçadas, sendo o segundo em diversidade de mamíferos (hotspot); ii) Engloba uma área piloto da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica; iii) Está incluída no Corredor Central do Sub-programa Corredores Ecológicos, do Programa Piloto para as Florestas Tropicais Brasileiras (PPG-7), iv) Apresentam cobertura de floresta nativa (estágio médio e avançado) variando de cerca de 10 a 50% de suas superfícies; v) Excluindo os municípios predominantemente urbanos (Vitória, Vila Velha, Cariacica e Serra), todos os demais apresentam cobertura florestal de mais 40% de suas áreas; vi) Engloba as seguintes zonas: (1) terras de temperaturas amenas, acidentadas e chuvosas; (2) terras frias, acidentadas e chuvosas; (3) terras quentes, acidentadas e chuvosas; (4) terras quentes, acidentadas e transição chuvosa/seca; e (5) terras quentes, planas e transição chuvosa/seca; vii) Nas “terras quentes, acidentadas e chuvosas”, seguidas pelas “terras de temperaturas amenas, acidentadas e chuvosas” que são encontradas, proporcionalmente, as maiores coberturas de florestas nativas. • Conhecimento biológico Foram verificados 3.121 registros diferentes de ocorrência de diversos taxa, 995 gêneros e 1.559 espécies registradas. As plantas obtiveram maior número em termos absolutos, as aves apresentaram os maiores números (245 espécies), os insetos contaram 242 espécies; ii) Mamíferos foram registrados em 42 localidades; iii) Enorme potencial de biodiversidade a ser descoberta nas áreas destas duas bacias.

• Espécies ameaçadas de extinção Foram verificadas 179 presentes na lista estadual de espécies ameaçadas de extinção (26 de animais e 153 de plantas, e 17 delas presentes na lista nacional de espécies ameaçadas de extinção). • Importância para a conservação biológica – alguns grupos faunísticos como

indicadores a) Mamíferos Das cerca de 280 espécies de mamíferos listadas para a Mata Atlântica, pelo menos 84 já foram identificadas nas bacias em estudo; ii) 15 são endêmicas da Mata Atlântica e 10 estão citadas na Lista Brasileira de Espécies Ameaçadas de Extinção; iii) Presença do muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) uma das 25 espécies mais ameaçadas do mundo e sagüi-da-serra (Callithrix flaviceps). b) Aves

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A avifauna da Mata Atlântica é caracterizada por uma elevada riqueza de espécies (682 espécies) e um alto grau de endemismos (29%); ii) 245 espécies de aves registradas para a região, Das espécies conhecidas, 22 correspondem a endemismos do bioma Mata Atlântica e 12 taxa estão ameaçados de extinção. c) Insetos Registrados 242 espécies de insetos distribuídas em 72 famílias, sendo esses dados bastante representativos em relação ao estado. • Definição de áreas-chave para a biodiversidade Em 1970, o município de Santa Maria de Jetibá possuía 14,51% de sua superfície com Mata Atlântica em estágio médio e avançado de sucessão. Em 2002 imagens indicaram 42,83% de florestas nesses estágios. • Critérios pra definição de áreas-chave: ���� Centros de dispersão de biodiversidade Áreas de florestas que não sofreram cortes raso (matas primárias), em estágios avançados de sucessão, que guardam amostras da biodiversidade original, e que hoje são fontes de colonização de flora e fauna nativas para florestas em regeneração. ���� Corredores de dispersão de biodiversidade Áreas que conectam centros de dispersão próximos, onde a cobertura florestal seja mais representativa. ���� Áreas-chave para espécies ameaçadas Áreas-chave com presença de espécies ameaçadas. • Áreas e ações prioritárias para a conservação florestal Para recuperação deverão ser priorizadas micro bacias estratégicas para recarga hídrica, como as áreas-chave para a biodiversidade, de preferência abrangendo um ou mais “centros de dispersão de biodiversidade” e um “corredor de biodiversidade” adjacente; a recuperação deve priorizar as matas ciliares e as florestas nativas que contribuam para a conexão de fragmentos florestais isolados. 3.6. Diagnóstico do Meio Rural A região média e alta das bacias foi mais densamente ocupada com chegada dos europeus, a partir da metade do século XIX até meados do século XX. A imigração era composta por suíços, pomeranos, austríacos, tiroleses, alemães, luxemburgueses e italianos. O modelo de ocupação foi baseado na distribuição de pequenas glebas de terra, associado ao modo de produção trazido pelos europeus, o que influenciou fortemente o surgimento de uma agricultura de base familiar que, em linhas gerais, se mantém até hoje.

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No Espírito Santo, a Agricultura Familiar, está presente em 77,5% dos estabelecimentos rurais, num universo de 73.288 propriedades, respondendo por 36% do valor bruto da produção agropecuária (IBGE, 1996). A Agricultura Familiar tem um papel de destaque também no cenário agropecuário das bacias dos rios Santa Maria da Vitória e Jucu. • Caracterização agrícola da região A região se destaca como a maior produtora de hortaliças, raízes, tubérculos (35,23% do que é comercializado no Ceasa/ES) e avicultura, sobretudo postura (2º. maior produtor de ovos do País), tendo assim, uma função de segurança alimentar para o Estado e para outras regiões do País. Atualmente, a parte superior e média da Bacia do Santa Maria da Vitória se destina principalmente a atividades agropecuárias e hidroelétricas. A geração de energia elétrica é uma das importantes atividades econômicas proporcionadas pelas águas do Rio Santa Maria da Vitória, e a parte mais a montante da bacia se destina a atividades agropecuárias, sobretudo, olericultura, avicultura, bovinocultura e fruticultura de clima temperado. É cada vez mais importante o turismo rural, com grande número de hotéis e pousadas, além de condomínios de casas de campo, desenvolvidas após o asfaltamento da estrada BR-262 e ao clima agradável. Na cabeceira do Braço Sul, há também as atividades de lazer, cafezais e granjas avícolas. O Braço Norte, deixando as maiores altitudes vai perdendo a característica de lazer e turismo e marcando a forte presença de pastagens e cafezais, principalmente no Distrito de Parajú. No Município de Viana, já com grandes propriedades, as pastagens e bananais são dominantes, restando, poucos fragmentos de matas. Após descer a montanha, forma meandros entre morros e várzeas com pastagens e solos turfosos. • Estrutura Fundiária e Demografia No município de Santa Maria de Jetibá, constatou-se a existência de 5.918 famílias na zona rural, em 3.299 propriedades, resultando em uma taxa de ocupação de 1,79 famílias/propriedade. Há, entretanto, grande número de propriedades, não contabilizadas pelo INCRA, devido estas estarem abaixo do parcelamento mínimo da propriedade para registro, 3 ha para o município de Santa Maria. Segundo a Secretaria de Agricultura do Município, há mais de 1500 propriedades nesta condição. Os municípios de Domingos Martins e Marechal Floriano, também têm uma situação semelhante, ou seja, um número maior de famílias do que de propriedades rurais. Tendo em Marechal Floriano a situação mais crítica dentre os Municípios da região mais alta das bacias, tendo 1.895 famílias no meio rural, com uma taxa de ocupação de 1,84 famílias por propriedade. O município de Santa Leopoldina é uma exceção dentre os municípios das regiões mais altas, ou seja, tem mais propriedades do que famílias residindo no meio rural.

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• Organizações sociais atuantes na agricultura e projetos para promoção do desenvolvimento sustentável

Existem muitas organizações sociais na região que atuam na base produtiva, entretanto, são estruturalmente frágeis, o que dificulta o acesso dos agricultores a mercados mais sustentáveis, e conseqüentemente, aumenta a dependência dos atravessadores, que em muitos casos apesar de exercerem importante papel, atuando como elo de ligação às cadeias produtivas, não tem uma relação comercial ética com os produtores. Foram identificados vários projetos de promoção do desenvolvimento rural sustentável, no entanto, estes projetos atuam de forma desarticulada, provocando uma sobrecarga de ações no público rural. A articulação destes projetos, potencializando os recursos disponíveis, poderá ser uma das ações estratégicas do Projeto Floresta para a Vida. • Uso de agrotóxicos Com relação ao uso de agrotóxicos, foi identificado que as vendas são feitas através de receituários agronômicos, no entanto, não seguem a rotina necessária para a sua emissão, com a realização de visitas para melhor recomendar o uso. São facilmente receitados os produtos: manzate 800, orthocide 500, dithane pm, afalon sc, antracol 700 pm, score,, decis 25 ce, roundup original, glifosato 480 agripec, karate zeon 50 cs, gramoxone 200, folicur 200 ce, entre outros. O problema da compra e do uso dos agrotóxicos sem o devido controle, reflete a deficiência do setor de fiscalização, que na região consta apenas de dois escritórios locais, tendo sete postos de atendimento, o que diminui a liberdade de ação dos técnicos e dificulta a tomada de decisões. • Assistência técnica Em todos os Municípios da Bacia há insuficiência do número de técnicos e infra-estrutura necessária para um atendimento de qualidade, para a discussão e implantação de práticas sustentáveis. Em Santa Maria de Jetibá, Marechal Floriano e Domingos Martins, há técnicos capacitados, embora em número não suficiente para atender a demanda. Nos demais Municípios, além da não disponibilidade de técnicos em quantidades suficientes, estes também não estão capacitados para atuarem com sistemas de produção sustentável. • Regulamentação do uso e ocupação do solo e recursos hídricos A ausência de um zoneamento ecológico-econômico dificulta a realização de um planejamento agropecuário, capaz de promover o desenvolvimento do setor de forma sustentada e frear o quadro de degradação dos recursos naturais existentes. Nos Municípios de Santa Maria de Jetibá, Santa Leopoldina, Marechal Floriano e Domingos Martins, estão sendo discutidos os Planos Diretores Municipais (PDMs), com foco no uso e ocupação do solo, constituindo um importante instrumento para a valorização e garantia da conservação da biodiversidade da região. • Práticas agrícolas sustentáveis

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Foram identificadas várias experiências e iniciativas que podem reverter o quadro observado, identificando-se a prática da agricultura orgânica em mais de 200 propriedades, número este com potencial de crescer, mediante a ampliação e capacitação da assistência técnica e da consolidação de um canal de comercialização que valorize este importante sistema de produção para a reversão do quadro de degradação da região. Existem 75 propriedades certificadas e 131 em processo de certificação de produtos orgânicos. • Análise contextual (pontos fortes, fracos, riscos e potencialidades) Pontos fortes da região: (i)Estrutura fundiária predominantemente familiar; (ii) Cobertura florestal, bem superior às demais áreas do ES; (iii) Base produtiva diversificada; (iv) Acúmulo de experiências locais com o desenvolvimento de sistemas de produção com base ecológica; (v) Existência de Entidade Certificadora de produtos orgânicos, com reconhecimento nacional e internacional, com foco na agricultura familiar; (vi) Nas regiões mais altas (Santa Maria de Jetibá, Santa Leopoldina, Marechal Floriano e Domingos Martins), 75,15% da população residir no meio rural; (vii) Poder público e entidades locais sensibilizados da necessidade da atuação articulada; (viii) Riqueza hídrica e de biodiversidade; (ix) Políticas Públicas de apoio à promoção da produção sustentável e conservação dos recursos naturais já implantadas na região. Pontos fracos da região: (i)Base produtiva e comercial da agricultura familiar desorganizada; (ii) Regularização fundiária deficiente; (iii) Agricultores com pouca inserção, e pouca coordenação dos arranjos produtivos locais, e de suas entidades representativas; (iv) Poucas experiências de agregação de valor nos produtos/ agroindústrias; (v) Pouca capacidade de investimentos por parte dos produtores; (vi) Assistência técnica insuficiente para atender as demandas nas áreas de produção sustentável; (vii)Fiscalização ambiental insuficiente. 4. MARCO LEGAL

4.1. Política Estadual de Recursos Hídricos

O Espírito Santo após a promulgação da Lei Nacional de Recursos Hídricos, Lei Nº 9.433/97, instituiu a Política Estadual de Recursos Hídricos através da Lei 5.818 em 1998 e trouxe em relação ao texto da Política Nacional de Recursos Hídricos, alguns avanços importantes, como é o caso, por exemplo, da introdução do critério da paridade entre Governo, Sociedade Civil e Usuários, na composição do Conselho Estadual de Recursos Hídricos, bem como da formação dos Comitês de Bacias Hidrográficas. A Lei 5.818 estabeleceu um princípio adicional de estímulo às decisões compartilhadas, com a instituição dos Comitês de Bacias Hidrográficas, uma vez que na Lei Nacional há predominância do Setor Público. Outras inovações asseguradas pela Lei 5.818 foi a da obrigatoriedade da alocação dos recursos gerados pela cobrança em uma bacia, na própria bacia (e não preferencialmente como estabelece a Lei 9.433), além de introduzir um capítulo específico da compensação a municípios, usuários e proprietários rurais, parte que foi vetada na Lei 9.433 quando se sua promulgação.

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Deste modo, o Espírito Santo ingressou com a promulgação da Lei 5.818, no grupo de Unidades da Federação que conta com uma política específica para o tratamento da temática dos recursos hídricos. São instrumentos de gestão de recursos hídricos, a exemplo da Política Nacional, os Planos das Bacias Hidrográficas; o Enquadramento dos Corpos de Água em Classes, segundo os Usos Preponderantes; a Outorga do Direito de Uso de Recursos Hídricos; a Cobrança pelo Uso de Recursos Hídricos e o Sistema de Informações. Na Política Estadual de Recursos Hídricos (Lei 5.818/98) estão ainda previstos mais 3 instrumentos: o Plano Estadual dos Recursos Hídricos (PERH); os Relatórios sobre Recursos Hídricos; a Compensação a Municípios, Usuários e proprietários de terras reconhecidamente protetoras de mananciais. A outorga de direito de uso dos recursos hídricos é o único instrumento da Política Estadual de Recursos Hídricos regulamentado no Espírito Santo, mas pode apoiar as atividades do projeto no sentido de regularizar o uso da água nas bacias hidrográficas, na medida em que a outorga deixa de ser um mero instrumento regulador, mas também um instrumento que possibilita a avaliação da gestão dos recursos hídricos na bacia hidrográfica. 4.2. Código Florestal Brasileiro

• Áreas de Preservação Permanente De acordo com os objetivos propostos no projeto, que buscam melhorias na conservação e na restauração da biodiversidade e dos recursos hídricos nas áreas de sua influencia, áreas definidas no Código Florestal Brasileiro como de preservação permanente, especialmente aquelas localizadas em áreas ciliares, topos de morro e áreas declivosas, assumem importância estratégica. Ao que trata de áreas ciliares, no Código Florestal (Lei 4771/65, já alterada pela Lei nº 7.803/89 e Medida Provisória nº 2.166-67, de 24/08/01) constam os seguintes itens aplicáveis: Artigo 2º - Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas: a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja: 1) de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de largura; 2) de 50 (cinqüenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinqüenta)metros de largura; 3) de 100 (cem) metros para os cursos d'água tenham de 50 (cinqüenta) a 200 (duzentos)metros de largura; 4) de 200 (duzentos) metros para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos) a 500(quinhentos) metros de largura; 5) de 500 (quinhentos) metros para os cursos d'água que tenham largura superior a 600(seiscentos) metros; b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais;

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c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'água", qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinqüenta) metros de largura; (...) Parágrafo único - No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o território abrangido, observar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que se refere este artigo. Conforme a legislação federal de meio ambiente as matas localizadas em áreas consideradas como de preservação permanente são protegidas do corte, mas sua recomposição, se não for caracterizada uma infração ambiental, não é obrigatória, exceto no caso das nascentes (Lei n.º 7.754, de 14/04/89). Apesar de constituir uma categoria distinta da Reserva Legal em determinadas situações elas podem ser sobrepostas, em especial no caso de pequenas propriedades. As faixas ciliares, se devidamente cobertas por florestas ou outra vegetação natural são excluídas da área tributável do imóvel, conforme a legislação específica sobre o Imposto Territorial Rural – ITR (Lei 9.393/96). Apesar destas áreas serem protegidas pelo Código Florestal, a rigor não existe uma determinação explícita na legislação federal de que essas áreas sejam recuperadas. A caracterização dos usos admissíveis também não é clara na Lei, sendo freqüentemente usadas por analogia os usos caracterizados como utilidade pública e/ou interesse social para a supressão de vegetação (artigos 2º e 3º do Código Florestal). Assim, cabe ser discutida melhor a regulamentação para os usos em áreas já degradadas, considerando as propostas de recuperação de maneira sustentável em termos ecológicos e sociais. Um exemplo é o caso das atividades de manejo agroflorestal sustentável praticadas na pequena propriedade ou posse rural familiar, que não descaracterizem a cobertura vegetal e não prejudiquem a função ambiental da área, para cuja implantação é admitida até a supressão de vegetação nativa em APP. • Definições legais: Conforme o Código Florestal tem-se as seguintes definições: A - Área de Preservação Permanente: área protegida nos termos dos artigos. 2º e 3º desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com as funções ambientais;

• de preservar os recursos hídricos, • de preservar a paisagem, • de preservar a estabilidade geológica, • de preservar a biodiversidade, • de preservar o fluxo gênico de fauna e flora, • proteger o solo e

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• assegurar o bem-estar das populações humanas. B - Reserva Legal Área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas. Sua área deve se de, no mínimo, vinte por cento, na propriedade rural situada em área de floresta ou outras formas de vegetação nativa localizada nas demais regiões do País. As APPs só podem ser incluídas na Reserva Legal se a soma das duas ultrapassar: 50% da área do imóvel ou 25% da área do imóvel em pequenas propriedades. C - Pequena propriedade rural ou posse rural familiar Aquela explorada mediante o trabalho pessoal do proprietário ou posseiro e de sua família, admitida a ajuda eventual de terceiro e cuja renda bruta seja proveniente, no mínimo, em oitenta por cento, de atividade agroflorestal ou do extrativismo, cuja área não supere trinta hectares, se localizada em qualquer outra região do País (que não a Amazônia). D - Utilidade Pública: a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária; b) as obras essenciais de infra-estrutura destinadas aos serviços públicos de transporte, saneamento e energia; e c) demais obras, planos, atividades ou projetos previstos em resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA; E - Interesse Social: a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa, tais como: prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão, erradicação de invasoras e proteção de plantios com espécies nativas, conforme resolução do CONAMA; b) as atividades de manejo agroflorestal sustentável praticadas na pequena propriedade ou posse rural familiar, que não descaracterizem a cobertura vegetal e não prejudiquem a função ambiental da área; e c) demais obras, planos, atividades ou projetos definidos em resolução do CONAMA. • As possibilidades de supressão de vegetação APP - A supressão de vegetação em área de preservação permanente somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública ou de interesse social, quando não existir alternativa técnica e locacional e devendo-se apresentar as medidas de compensação ambiental que deverão ser adotadas pelo empreendedor. A supressão de vegetação em

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área de preservação permanente situada em área urbana dependerá de autorização do órgão ambiental competente, desde que: o município possua conselho de meio ambiente com caráter deliberativo e plano diretor, e com anuência prévia do órgão ambiental estadual competente. Poderá ser autorizada a supressão eventual e de baixo impacto ambiental, assim definido em regulamento, da vegetação em área de preservação permanente. A supressão de vegetação nativa protetora de nascentes, ou de dunas e mangues, somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública. É permitido o acesso de pessoas e animais às áreas de preservação permanente, para obtenção de água, desde que não exija a supressão e não comprometa a regeneração e a manutenção a longo prazo da vegetação nativa. A Reserva Legal – A vegetação da Reserva Legal não pode ser suprimida, podendo apenas ser utilizada sob regime de manejo florestal sustentável, de acordo com princípios e critérios técnicos e científicos estabelecidos no regulamento. Para cumprimento da manutenção ou compensação da área de Reserva Legal em pequena propriedade ou posse rural familiar (< 30 ha) podem ser computados os plantios de árvores frutíferas, ornamentais ou industriais, compostos por espécies exóticas, cultivadas em sistema intercalar ou em consórcio com espécies nativas. A localização da Reserva Legal deve ser aprovada pelo órgão ambiental estadual competente (o IDAF no Espírito Santo). Para esta definição devem ser considerados a função social da propriedade e (quando houver) o plano de bacia hidrográfica; o plano diretor municipal; o zoneamento ecológico-econômico; outras categorias de zoneamento ambiental; e a proximidade com outra Reserva Legal, Área de Preservação Permanente, unidade de conservação ou outra área legalmente protegida. A área de Reserva Legal deve ser averbada à margem da inscrição de matrícula do imóvel, no registro de imóveis competente, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, de desmembramento ou de retificação da área, com as exceções previstas neste Código. A averbação da Reserva Legal da pequena propriedade ou posse rural familiar é gratuita, devendo o Poder Público prestar apoio técnico e jurídico, quando necessário. No caso de posse, a Reserva Legal é assegurada por Termo de Ajustamento de Conduta, firmado pelo possuidor com o órgão ambiental, com força de título executivo e contendo, no mínimo, a localização da Reserva Legal, as suas características ecológicas básicas e a proibição de supressão de sua vegetação, aplicando-se, no que couber, as mesmas disposições previstas neste Código para a propriedade rural. Poderá ser instituída Reserva Legal em regime de condomínio (agrupada em uma ou mais porções) de mais de uma propriedade, respeitado o percentual legal em relação a cada imóvel, como no caso de loteamentos rurais. O proprietário ou possuidor de imóvel rural com área de floresta nativa, natural, primitiva ou regenerada ou outra forma de vegetação nativa em extensão inferior ao estabelecido no Código Florestal deve adotar as seguintes alternativas, isoladas ou conjuntamente, mediante aprovação do IDAF:

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I - recompor a Reserva Legal de sua propriedade mediante o plantio, a cada três anos, de no mínimo 1/10 da área total necessária à sua complementação, com espécies nativas, de acordo com critérios estabelecidos pelo órgão ambiental estadual competente; II - conduzir a regeneração natural da Reserva Legal; e III - compensar por outra área equivalente em importância ecológica e extensão, desde que pertença ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma microbacia. 4.3. Outros Aspectos da Legislação Federal 4.3.1. Penalidades É considerado crime ambiental destruir ou danificar a floresta, ou cortar árvores, considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la em desacordo com as normas ambientais. A pena prevista é de detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas cumulativamente, conforme os artigos 38 e 39 da Lei de Crimes Ambientais (9.605/97). Também pode ser aplicado ao caso o disposto no Artigo 26 (item g) da Lei 4.771/65, que define como contravenção penal, punível com três meses a um ano de prisão simples ou multa de uma a cem vezes o salário mínimo mensal do lugar e da data de infração ou ambas as penas cumulativamente no caso do ato de "impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação". O Artigo 31 da mesma Lei define como circunstância agravante de pena o fato da infração florestal, de qualquer tipo, ser cometida contra a floresta de preservação permanente ou material dela provido. 4.3.2. Aspectos tributários das Áreas de Preservação Permanente A regulamentação do Imposto Territorial Rural (ITR) trata em alguns pontos da questão das matas ciliares. Basicamente isenta de tributação as APPs. A Lei n.º 9393, de 19/12/96 (regulamentada pelo Decreto n.º 4.382, de 19/09/02), que dispõe sobre o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR, define como área tributável, a área total do imóvel, menos as áreas: de preservação permanente (efetivamente protegidas por vegetação nativa) e de reserva legal, de interesse ecológico para a proteção dos ecossistemas, assim declaradas mediante ato do órgão competente, federal ou estadual, e que ampliem as restrições de uso previstas na alínea anterior e comprovadamente imprestáveis para qualquer exploração agrícola, pecuária, granjeira, aqüícola ou florestal, declaradas de interesse ecológico mediante ato do órgão competente, federal ou estadual (Artigo 10). É importante observar que a Resolução CONAMA n.º 10, de 01/10/93 define em seu artigo 7º que "As áreas rurais cobertas por vegetação primária ou nos estágios avançados e médios de regeneração da Mata Atlântica, que não forem objeto de exploração seletiva, conforme previsto no artigo 2º do Decreto n.º 750/93, são consideradas de interesse ecológico para a proteção dos ecossistemas".

4.4. Mata Atlântica

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A Lei N° 11.428, de 22 de dezembro de 2006, que dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, além de reforçar aspectos já mencionados no Código Florestal Brasileiro, como a definição de áreas passíveis de intervenção devido ao caráter de utilidade pública e interesse social, dá outras providências, como, por exemplo, a competência do poder público, sem prejuízo das obrigações dos proprietários e posseiros estabelecidas na legislação ambiental, de estimular, com incentivos econômicos, a proteção e o uso sustentável do Bioma Mata Atlântica (Art. 33); veda o corte e a supressão de vegetação primária ou nos estágios avançado e médio de regeneração do Bioma Mata Atlântica quando as áreas em questão estiverem exercendo funções específicas, como, por exemplo, de proteção de mananciais ou de prevenção e controle de erosão, dentre outras (Art. 11). 4.5. Pagamento por Serviços Ambientais

• Pagamentos por serviços ambientais e agentes envolvidos

Práticas do uso do solo mais conservacionistas permitem a manutenção ou fortalecimento do fornecimento dos serviços ambientais. Os fornecedores desses serviços podem encarar custos de oportunidade (por não usar a terra para outros fins produtivos) e de manutenção (que são os custos relacionados com a sustentação da área preservada). Esses mesmos serviços podem ser valorizados (ou demandados) por aqueles que deles se beneficiam e que por isso teriam interesse em garantir o incremento ou manutenção do fluxo dos serviços. O sistema de PSA nasce quando aqueles que se beneficiam de algum serviço ambiental gerado realizam pagamentos para o proprietário ou gestor da área identificada como fonte dos serviços em questão.

• Potenciais beneficiários (ou demandantes) de serviços ambientais Os beneficiários são todos os agentes, privados ou públicos, que são favorecidos pelos serviços ambientais oriundos de práticas que conservam a natureza.

• Potenciais fornecedores (ou ofertantes) de serviços ambientais Os fornecedores de serviços ambientais podem ser divididos em dois grupos principais: (i) as áreas naturais protegidas, representado por áreas onde o meio ambiente encontra-se conservado, como as áreas protegidas (legalmente ou não) e (ii) as áreas com ou ameaçadas com certa degradação onde mudanças nas práticas vigentes fortaleçam a oferta dos serviços. O PSA constitui, assim, uma forma de agregar valor monetário aos serviços gerados, pois os usuários terão um incentivo direto para tornar suas práticas mais sustentáveis.

• Caracterização dos potenciais fornecedores e demandantes de serviços ambientais na região do Projeto Floresta para Vida

As bacias citadas são os principais mananciais de abastecimento de água da Região Metropolitana da Grande Vitória (Vila Velha, Viana, Cariacica, Guarapari e Vitória), onde habitam 48,8% da população do estado, resguardam a maior concentração de cobertura vegetal de mata atlântica do Estado do Espírito Santo e fazem parte da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, declarada em 1988, como Patrimônio Nacional.

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Avaliação Ambiental – Projeto Florestas para a Vida – Espírito Santo – Versão 04 – 30mar08 33

Pode-se dividir os municípios considerando a sua posição geográfica. Um primeiro grupo formado pelos municípios localizados na parte alta das bacias, considerados potenciais fornecedores que são: Domingos Martins, Marechal Floriano, Santa Leopoldina e Santa Maria de Jetibá e formando o segundo grupo: Guarapari, Viana, Cariacica, Serra, Vitória e Vila Velha, considerados como demandantes.

• Caracterização dos municípios potencialmente ofertantes de serviços hídricos

Os municípios localizados na parte alta apresentam estrutura fundiária baseada na pequena propriedade e na produção predominantemente familiar, embora utilizem grandemente as formas de agricultura convencional. Nesses, seria desejável que adotassem em maior escala práticas mais conservacionistas de maneira a fortalecer (e manter) os serviços hídricos que são demandados pelos municípios da parte baixa da bacia. Esses municípios possuem entre 40 e 50% de suas coberturas vegetais originais e são mais aptos a pleitear compensação pelo esforço dedicado à conservação do que os demais municípios abrangidos pelas bacias. Como destaque na conservação, temos o Parque Estadual de Pedra Azul, a Reserva Biológica Duas Bocas e o Parque Natural Municipal Rota das Garças, unidades de conservação além das 4 novas RRPN’s, em fase de criação, o que contribuirá na conservação de mais de 200 hectares de área destinada à conservação. Essas unidades de conservação podem ser consideradas como potenciais fornecedoras de serviços ambientais. Em contrapartida, são potencialmente demandantes de serviços hídricos os municípios que estão na parte baixa das bacias hidrográficas, por utilizarem água para abastecimento ou para outros fins, principalmente industrial e de geração de energia. Empresas que utilizam água no seu processo e a empresa de abastecimento de água e de produção de energia elétrica e que estão localizadas nos municípios considerados ofertantes, também se enquadram como potenciais demandantes. Em toda a região é possível identificar quais empresas seriam as potenciais e significativas usuárias de água. Consideráramos, também, as empresas usuárias de água que estão localizadas na parte alta das bacias. As principais empresas potenciais a fazer parte do PSA como demandantes dos serviços ambientais são: VALE (antiga CVRD) Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), Espírito Santo Centrais Elétricas SA (ESCELSA), Belgo BMP, Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan), e Refrigerantes Coroa.

• Fatores institucionais que podem fortalecer o sistema de PSA

Para ser implementado, o sistema de PSA necessita de uma articulação forte dos atores envolvidos. Entre eles estão as Secretarias Municipais de Meio Ambiente, associações de atuação local e o setor empresarial.

• Implementação do sistema de PSA

A maioria da área das duas bacias está em propriedade privada, e será necessário que os proprietários sejam motivados a assumir um papel pro - ativo na conservação de recursos florestais remanescentes e na recuperação de áreas degradadas de importância para a recarga dos aqüíferos e, aos demandantes da provisão de água, será necessário

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definir formas de cobrança e contribuição pelos usos desejados, de longo prazo, criando-se um elo entre ofertantes e demandantes. Neste contexto, devem ser considerados os pequenos proprietários que tenham abandonado atividades de corte e queima nas encostas para concentrar a produção nas áreas baixas, como prioritários para os benefícios, e que associam o cultivo à conservação e ao conhecimento e conservação dos recursos naturais, em detrimento de grandes propriedades. Para os primeiros, é imperativo buscar alternativas que permitam sua sobrevivência no campo.

• Definir foco principal de áreas prioritárias para conservação/recuperação de florestas e geração de serviços.

As áreas de recarga de aqüíferos e outras, julgadas prioritárias a partir de cruzamento de dados geográficos de solos, vegetação, relevo e etc, devem ser consideradas áreas chave para a aplicação dos instrumentos do PSA, além das áreas de entorno dos principais reservatórios de água (p.e., reservatório da CESAN no parque Duas Bocas; reservatórios de hidrelétricos da Escelsa). Outra área prioritária com potencial para elaboração do modelo PSA são as áreas de nascentes protegidas utilizadas pelas empresas de água mineral e refrigerantes, que teriam como contribuir como possíveis stakeholders.

• Definir meios institucionais para negociação, e instrumentos compensatórios

O compartilhamento dos royalties da produção petrolífera pode significar um excelente fundo de repasse aos potenciais produtores de serviços ambientais. O envolvimento das empresas de maior porte na constituição de fundos destinados à compensação ambiental complica-se quando se percebe que estas empresas já estão se esforçando para conservar a água que utilizam, e ainda subsidiam, através da tarifa, os consumidores de água tratada. Mesmo assim, o retorno em imagem oriundo de ações, tais como, o co-financiamento do banco de dados de imagens e a contribuição do programa Florestar da VALE podem ser elementos motivadores. Outro instrumento com grande potencial, é a permuta de reservas legais, e o estímulo para formação de condomínios de propriedades que, conjuntamente, conservem proporção superior dos 20% requerido pelo Código Florestal. A mesma proposta poderia ser elaborada para agrupamentos de RPPNs, distinta do conceito de “mosaicos” atualmente empregado pelo Ibama. Para implementar o sistema de PSA, seriam necessários estudos de viabilidade (incorporando modelagem físico-econômico), identificação de demandantes e fornecedores, e a institucionalização e negociação entre atores para instituir instrumentos de compensação, no contexto da criação dos comitês de bacia, além de um amplo programa de informação e comunicação e capacitação dos mais importantes atores, sugere-se que uma ou mais atividades-piloto sejam implantadas para testar os estudos e instrumentos propostos.

4.6. Recuperação de Áreas Degradadas – Lista de Espécies

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Devido a inexistência de bases legais que especifiquem parâmetros e diretrizes técnicas para a elaboração e execução de projetos de restauração de ambientes perturbados e recuperação de áreas degradadas no Espírito Santo, e a baixa diversidade de espécies nativas utilizadas na implantação dos projetos atualmente desenvolvidos, foi formado no Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do ES - IEMA, um grupo de trabalho composto por equipe técnica multidisciplinar, nomeada através da Instrução de Serviço nº 111, publicada no Diário Oficial do Espírito Santo em 21 de setembro de 2005. O Grupo para Recuperação de Áreas Degradadas e Especiais (GRADE) tem como principal objetivo elaborar um instrumento legal que especifique parâmetros técnicos para a confecção e execução de projetos de restauração, revegetação e recuperação de áreas degradadas no Estado do Espírito Santo, de acordo com as distribuições fitogeográficas das diferentes fitofisionomias que ocorrem no Estado. Entre os principais produtos já alcançados pelo GRADE, destaca-se a realização de grupos de discussão para proposição de lista de espécies a serem utilizadas para recuperação de áreas e proposição de Instrumento legal para substituição da Instrução Normativa 17 de 06 de dezembro de 2006. Os trabalhos já desenvolvidos pelo GRADE servirão de base para as ações de restauração e recuperação a serem desenvolvidas no âmbito do Projeto FPV.

4.7. Espécies exóticas invasoras

No ano de 2007 o IEMA constituiu grupo de trabalho responsável por conduzir ações com objetivo de eliminação de espécies exóticas invasoras de suas unidades de conservação. A ocorrência de espécies invasoras, além de descaracterizar ecossistemas locais, pode comprometer a biodiversidade local vez que, devido ao alto potencial invasor, pode suprimir a ocorrência de espécies nativas que se insiram no ciclo de determinado organismo. Por isso, os trabalhos de controle de espécies exóticas invasoras vêm sendo incorporados à rotina dos Parques Estaduais. A expertise acumulado pelos trabalhos referenciados serão multiplicados nas unidades de conservação presentes nas áreas do Projeto, bem como, nas áreas onde será executadas ações de restauração. 5. IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS

5.1. Diretrizes para avaliação

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Os impactos ambientais potenciais da implantação do projeto são majoritariamente positivos. As ações previstas visam criar os instrumentos necessários à viabilização de um futuro programa de Pagamentos por Serviços Ambientais de abrangência Estadual, bem como, fortalecer os instrumentos de gestão da biodiversidade e dos recursos hídricos nas bacias hidrográficas alvo do projeto. As ações voltadas à conscientização da sociedade e à capacitação de agentes públicos e privados deverão contribuir para incentivar e facilitar a implantação de usos sustentáveis do solo, permitindo, dessa forma, alcançar avanços em prol da biodiversidade das bacias. Os instrumentos econômicos, normativos e institucionais que serão desenvolvidos deverão igualmente contribuir para a viabilização de projetos de recuperação e proteção de ecossistemas, com reflexos positivos para a conservação dos recursos hídricos, do solo e da biodiversidade, além do aumento dos estoques de carbono em florestas nativas. O principal produto deste projeto será uma proposta de um Mecanismo de Pagamento por Serviços Ambientais de abrangência estadual e de longo prazo, que será submetida às instâncias competentes para aprovação. A avaliação dos impactos ambientais indiretos decorrentes deste projeto, ou seja, que poderão ser gerados pelo futuro programa, será executada oportunamente por meio de Avaliação Ambiental Estratégica, que deverá ser validada como condição para a aprovação e futura implementação do programa. Há previsão da execução de algumas intervenções localizadas, associadas à implantação de projetos demonstrativos e desenvolvimento de atividades experimentais voltadas à geração de renda pela exploração sustentada de produtos não madeireiros e sistemas agro-florestais, previstos no Subcomponente 3A, bem como ações que buscarão a restauração de ambientes degradados, especialmente aqueles localizados em áreas eleitas como estratégicas para conservação da biodiversidade e dos recursos hídricos. A avaliação dos impactos ambientais potenciais de tais intervenções foi realizada conforme metodologia a seguir descrita. Cabe ressaltar que não foi identificada a possibilidade de geração de impactos ambientais negativos considerados significativos, que demandariam uma avaliação ambiental nos termos da legislação nacional aplicável (elaboração de Estudo de Impacto Ambiental – EIA e respectivo relatório – RIMA). Não obstante, procurou-se avaliar a importância relativa dos impactos potenciais negativos com o objetivo de assegurar seu adequado tratamento no Plano de Gestão Ambiental. A identificação dos impactos ambientais positivos, por sua vez, permitirá a adoção de medidas visando sua maximização.

5.2. Metodologia

Foi definida uma matriz para a avaliação da importância dos impactos ambientais potenciais decorrentes das intervenções previstas nos Componentes 2 e 3A do projeto.

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Avaliação Ambiental – Projeto Florestas para a Vida – Espírito Santo – Versão 04 – 30mar08 37

O preenchimento da matriz e avaliação da importância relativa dos impactos foi feita segundo a seguinte metodologia: 5.2.1 - Identificação dos processos, atividades, aspectos ambientais e respectivos impactos ambientais potenciais; 5.2.2 - Identificação do regime e da forma de controle. Para a definição do regime foram consideradas as seguintes alternativas: � Normal (N) atividades consideradas inerentes à implantação dos Componentes 2 e 3; � Excepcional (Exc) atividades que podem ou não ser executadas, dependendo das condições locais; � Experimental (Exp): atividades que serão executadas somente no âmbito de pesquisas. Para a definição da forma de controle considerou-se como alternativas: � Controle direto (D): as atividades desenvolvidas sob o controle da equipe do projeto; ou; � Controle indireto (I): as demais foram consideradas na categoria controle indireto; 5.2.3 - Levantamento de legislação específica acerca de exigibilidade de licenciamento, bem como sobre medidas de controle da atividade; 5.2.4 - Análise dos impactos, considerando-se os seguintes fatores: abrangência, magnitude, permanência e freqüência ou probabilidade de ocorrência. Foi atribuída pontuação aos diferentes fatores, adotando-se o seguinte critério: 1 ponto para relação fraca, 2 pontos para relação média e 4 pontos para relação forte, conforme tabela abaixo;

Fator Relação Fraca (1 ponto) Média (2 pontos) Forte (4 pontos)

Abrangência Local/restrita à propriedade

Microbacia Regional

Magnitude Pequena Média Grande Permanência Temporário ou

reversível Permanente,

mitigável Permanente ou

irreversível Freqüência ou probabilidade

Eventual Raro Freqüente

5.2.5 - Cálculo da pontuação final relativa a cada impacto identificado: a pontuação final de cada impacto foi calculada pela multiplicação da pontuação atribuída a cada fator, uma vez que se considera que os mesmos exercem influência entre si, o que potencializa seus efeitos individuais; 5.2.6 - Definição dos impactos considerados importantes: Foram considerados importantes os impactos que atingiram pontuação superior a 16, para os quais são previstas medidas mitigadoras ou preventivas específicas no Plano de Gestão Ambiental. Os impactos que são objeto de legislação específica, tanto aqueles passíveis de licenciamento, quanto aqueles para os quais a legislação define condicionantes ou

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Avaliação Ambiental – Projeto Florestas para a Vida – Espírito Santo – Versão 04 – 30mar08 38

medidas de controle, foram considerados importantes independentemente da pontuação obtida; 5.2.7 - Indicação do item do PGA relativo aos impactos considerados importantes. Para cada impacto considerado importante o PGA define o momento em que deve ser feita a avaliação específica dos impactos ambientais potenciais, o responsável por fazê-lo e recomendações para a adoção de medidas preventivas e/ou mitigadoras pertinentes.

5.3. Resultados

A tabela a seguir apresenta os resultados da avaliação dos impactos ambientais potenciais das intervenções previstas nos componentes 2 e 3. Legenda

Reg. = Regime

Normal (N): atividades consideradas inerentes à implantação dos Componentes 2 e 3 Excepcional (Exc) atividades que podem ou não ser executadas, dependendo das condições locais.

Experimental (Exp): atividades que serão executadas somente no âmbito de pesquisas

Cont. = Forma de controle

Controle direto (D): as atividades desenvolvidas sob o controle da equipe do projeto Controle indireto (I): as demais foram consideradas na categoria controle indireto;

FATOR RELAÇÃO

FRACA (1 PONTO) MÉDIA (2 PONTOS) FORTE (4 PONTOS)

Abrangência Local/restrita à propriedade Microbacia Regional

Magnitude Pequena Média Grande

Permanência Temporário ou reversível Permanente Mitigável Permanente ou irreversível

Freqüência ou Probalidade Eventual

Raro Freqüente

Característica do Impacto IP Impacto positivo IN Impacto Negativo

Natureza da medida a ser tomada devido ao impacto Pot. Potencialzar impacto Mit. Mitigar impacto

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Processo Atividade Aspectos Ambientais Reg. Impactos Ambientais Cont. Caract. Impacto Legisl. Aplic. Abr. Mag. Per. Frq. Pont. Item na

Matriz Naturezada

Medida

Restauração de áreas degradadas.

1. Reabilitação das propriedades físicas e químicas do solo (quando couber);

Restaurar capacidade de recuperação ecossistêmica;

Exc

Estabelecimento de espécies vegetais, redução de processos erosivos, estabelecimento de ambiente propício a ocorrência de fauna.

I IP

4 4 4 4 256 1 Pot

2. Controle de formigas; Introdução de ingrediente químico no solo;

N

Contaminação do solo e da água

D IN

LEI N° 5.760, de 01 de dezembro de 1998

1 2 1 4 8 2 MIT

3. Abertura e preparo de covas;

Correção do solo;

N

Contaminação de curso d’água D IN

1 2 2 4 16 3 MIT

4. Plantio de mudas; Aumento da densidade de indivíduos arbóreos; N

Aumento da biodiversidade D IP

IN 17/06 1 4 4 4 64 4 Pot

N

Ampliação da cobertura florestal; D IP

1 4 4 4 64 Pot

N

Ampliação de habitats e refúgios para vida silvestre

D IP

2 2 4 4 64 5 Pot

5. Controle de invasoras até o estabelecimento das mudas (de 12 a 24 meses);

Exposição do solo;

N

Carreamento de sedimentos para os corpos d’água;

D IN

1 1 1 4 4 6 MIT

N

Aceleração do processo de estabelecimento das espécies florestais;

I IP

1 2 1 1 2 Pot

6. Cercamento da área; Restringir acesso de animais de pastorio as áreas plantadas;

Exc

Melhorar capacidade de infiltração do solo por não permiter a compactação pelo pastoreio;

I IP

2 2 4 4 64 Pot

Aceleração do processo de estabelecimento das espécies florestais;

I IP

1 2 4 4 32 Pot

7. Indução da regeneração natural.

Surgimento espontâneo de espécies de ocorrência local.

N

Introdução de espécies exóticas invasoras presentes na região;

I IN

1 1 4 4 16 7 MIT

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Avaliação Ambiental – Projeto Florestas para a Vida – Espírito Santo – Versão 04 – 30mar08 40

Processo Atividade Aspectos Ambientais Reg. Impactos Ambientais Cont. Caract. Impacto Legisl. Aplic. Abr. Mag. Per. Frq. Pont. Item na

Matriz Naturezada

Medida

Surgimento de espécies locais, incrementando a biodiversidade local.

I IP

1 1 4 4 16 8 Pot

Criação de RPPN 1. Delimitação de área Estabelecimento de áreas sob regime de proteção ambiental diferenciado

N

Isenção de Imposto Territorial Rural; Preferência na análise para pedido de crédito agrícola

D IP

Lei 9985/00; Decreto Estadual 1633-R de 10/02/06

1 1 4 4 16 9 Pot

Mudança de forma de uso do soloPotenciais mudanças:1. Transição de áreas de pastagens para sistemas agroflorestais e/ou silvipastoris;2. Transição de agricultura convencional para agroecológica

1. Estímulo ao Produtor rural

1.1. Capacitar extencionistas locais para multiplicação de conhecimento sobre SLM

Formação de equipe técnica capaz de oferecer assistência técnica especializada sobre SLM aos produtores rurais

N

Multiplicação de conhecimento sobre técnicas de SLM

I IP

4 4 1 2 32 10 Pot

1.2. Capacitar agricultores/as em conhecimentos gerais sobre agroecologia, práticas agrícolas sustentáveis, malefícios dos agrotóxicos, gestão da propriedade, plano de negócio, processamento, comercialização, etc.

Formação de conhecimento técnico nos agricultores

N

Abandono de práticas convencionais de uso do solo, de alto impacto.

I IP

2 2 2 2 16 11 Pot

1.3. Implementar estações Experimentais de SLM, com mecanismo de PSA funcionando

Geração de serviços ambientais decorrente da adoção de práticas de SLM

Exp

Estímulo a produtores rurais a migrarem para práticas de SLM I IP

1 4 1 1 4 12 Pot

2.1. Preparo do Solo 2.1. Movimentação do

solo N

Carreamento de sedimentos para o curso d´água

D IN

1 2 2 4 16 1 MIT

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Avaliação Ambiental – Projeto Florestas para a Vida – Espírito Santo – Versão 04 – 30mar08 41

Processo Atividade Aspectos Ambientais Reg. Impactos Ambientais Cont. Caract. Impacto Legisl. Aplic. Abr. Mag. Per. Frq. Pont. Item na

Matriz Naturezada

Medida

2.2. Controle de formigas 2.2. Introdução de ingrediente químico no solo

N

Contaminação do solo e da água D IN

1 2 1 4 8 2 MIT

2.3. Abertura de covas 2.3. Correção do solo N

Contaminação de curso d’água D IN 1 2 2 4 16 3 MIT

2.4. Plantio de mudas de essências florestais

2.4. Aumento da densidade de indivíduos arbóreos

N

Aumento da biodiversidade D IP

1 4 4 4 64 4 Pot

2.5. Controle de invasoras 2.5. Exposição do solo

N

Carreamento de sedimentos para os corpos d’água

D IN

1 1 1 4 4 6 MIT

2.6. Manejo sustentável de produtos madeiráveis e não madeiráveis provenientes dos sistemas florestais implementados

2.6.1. Comercialização de produtos originários de plantios florestais: madeira, sementes, etc.

N

Incremento da renda do produtor rural

D IP

2 2 4 4 64 13 Pot

2.6.2. Disponibilidade de madeira para uso na propriedade (lenha, mourão, etc.)

N

Diminuição da pressão sobre fragmentos florestais nativos. I IP

1 2 4 4 32 14 Pot

3.1. Conhecer os elementos

de diversidade local para que se possa manejá-los adequadamente;

Melhor capacidade para identificar a combinação de práticas mais adequada

Exp

Estabelecimento de relações ecossistêmicas apropriadas ao habitat e refúgio de vida silvestre

I IP

2 2 4 4 64 15 Pot

3.2. Trabalhar a melhora das propriedades físicas e químicas de solo a partir de práticas condizentes como os princípios da agroecologia, como uso de adubações verde, orgânica, mineral, etc.

Aumento da produtividade

N

Aumento do crescimento vegetativo, melhorando a cobertura do solo e potencializando as propriedades físicas do solo.

I IP

1 1 4 4 16 Pot

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Processo Atividade Aspectos Ambientais Reg. Impactos Ambientais Cont. Caract. Impacto Legisl. Aplic. Abr. Mag. Per. Frq. Pont. Item na

Matriz Naturezada

Medida

3.3. Promover o controle de insetos a partir do uso de defensivos naturais.

Estabelecimento de equilíbrio entre as populações de insetos presentes, potencializando controle biológico

N

Eliminação do uso de defensivos químicos

D IP

2 2 4 4 64 16 Pot

3.4. Definir a combinação e a rotação de culturas mais adequadas.

Uso de espécies mais adequadas e adaptadas a região

N

estabelecimentos de relações ecossistêmicas apropriadas ao habitat e refúgio de vida silvestre

I IP

2 2 4 4 64 Pot

3.5. Condução do sistema agroecológico estabelecido

3.5.1. Criação de novas alternativas de renda N

Melhoria da qualidade de vida do produtor rural I IP

1 2 4 4 32 17 Pot

3.5.2. Acesso a novos mercados N

Melhoria da qualidade de vida do produtor rural IP 1 2 4 4 32 Pot

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5.4 - Conclusões e Recomendações Gerais Com base na avaliação dos impactos potenciais foram identificados os processos e atividades que devem ser avaliados e controlados de modo a evitar ou minimizar a ocorrência de impactos negativos e maximizar os impactos positivos decorrentes do projeto, relacionando-os aos itens do Plano de Gestão Ambiental de acordo com a matriz de medidas mitigadoras / potencializadoras apresentada a seguir. Sem prejuízo das medidas preventivas e mitigadoras específicas previstas no Plano de Gestão Ambiental que deverá ser incorporado ao Manual Operativo do Projeto, é possível apresentar algumas recomendações gerais, a serem observadas conforme segue: Caso, em caráter excepcional (não é prevista essa necessidade), sejam identificadas intervenções que necessitem a sua regularização por parte do IEMA, IDAF ou mesmo IBAMA, o Manual Operativo do projeto deverá dispor sobre a forma com que essa regularização deverá ocorrer. As intervenções nos projetos demonstrativos deverão visar a restauração dos processos ecológicos. Portanto, para a proposição de modelos experimentais de mosaicos de paisagens produtivas deverão ser considerados o uso de espécimes que melhor se adeqüem as condições ambientais locais, principalmente se forem utilizadas espécimes de ocorrência não natural. Durante a elaboração de projetos de recuperação de áreas degradadas, deverá ser considerado o potencial de regeneração natural das áreas, o qual deverá ser favorecido. A eliminação da regeneração natural deve ser evitada. Os projetos deverão prever a introdução de espécies de ocorrência natural nas regiões de estudo/intervenção, com níveis de diversidade adequados. A introdução de espécies exóticas, de interesse econômico ou com o objetivo de facilitar o processo sucessional, deverá ser adequadamente monitorada. O uso de agroquímicos, considerando fertilizantes e defensivos, deverá ser precedido de avaliação criteriosa da necessidade e de eventual impacto ambiental potencial, especialmente considerando a proximidade de mananciais de abastecimento público. O Manual Operativo do Projeto deverá contemplar as responsabilidades pela recomendação e pelo monitoramento do uso de defensivos e fertilizantes. A realização de pesquisas sobre alternativas de geração de renda associadas à restauração e preservação de florestas ciliares, incluindo sistemas agroflorestais, cultivo intercalar e exploração sustentada de produtos não madeireiros, deverá ser precedida de avaliação de impacto ambiental específica, devendo ser assegurado o monitoramento dos projetos experimentais, além do necessário licenciamento junto aos órgãos competentes. O sistema de monitoramento deve dar especial atenção a alterações na renda dos produtores em decorrência do projeto, uma vez que este aspecto pode acarretar modificações (positivas ou negativas) na qualidade de vida da população diretamente afetada, além da ocupação irregular de outras áreas protegidas.

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6. PLANO DE GESTÃO AMBIENTAL Os processos e atividades potencialmente geradores de impactos ambientais, identificados na Matriz de Avaliação de Impactos Ambientais estão a seguir relacionados. Para cada atividade foram indicados: a) o momento em que deve ser feita a avaliação dos impactos ambientais potenciais; b) o responsável por fazê-lo e c) as recomendações pertinentes para a adoção de medidas preventivas e/ou mitigadoras pertinentes. As recomendações a seguir indicadas deverão ser incorporadas ao Manual Operativo do Projeto, sem prejuízo do monitoramento de indicadores adicionais eventualmente indicados no Plano de Monitoramento. 6.1. Seleção das áreas para implementação do projeto A seleção das propriedades rurais para a implantação de práticas sustentáveis de uso do solo, bem como as propriedades onde serão implementados os projetos pilotos deverá ser feita de acordo com os critérios definidos na Avaliação de Impactos do Projeto contido no Anexo 03 do PAD, ou seja, as propriedades deverão estar localizadas em áreas consideradas estratégicas para a conservação da biodiversidade e para melhoria quali-quantitativa dos recursos hídricos. Também de acordo com critérios estabelecidos no Anexo 03, para as propriedades rurais habilitadas a receberem o projeto, deverá ser verificado aquelas cujos proprietários rurais possuem desejo voluntário em estar implementando ações, para as quais, o critério do sorteio aleatório deverá ser atendido. A Coordenação do Projeto deverá assegurar que os critérios e a sistemática adotada para a apresentação de propostas sejam amplamente divulgados nas regiões, de modo a possibilitar que todas as instituições interessadas submetam propostas de áreas para avaliação. 6.1.1. Avaliação da adequação ambiental da seleção de áreas Uma vez selecionadas as propriedades rurais aptas a implantação do projeto a Coordenação do Projeto deverá avaliar se as áreas escolhidas são coerentes com os objetivos do Projeto e do Programa Operacional OP#15 do GEF. Caso se verifique inconsistência em relação à compatibilidade das áreas aos objetivos do projeto e do OP#15, a Coordenação do Projeto deverá considerar a seleção de nova área. Para cada uma das propriedades selecionadas para a implantação dos projetos deverão ser levantadas previamente as informações necessárias à elaboração das propostas de intervenção, de modo a assegurar a adequada avaliação e tratamento de eventuais impactos. O diagnóstico deverá ser realizado com a participação da comunidade. A Coordenação do Projeto e os Coordenadores dos Componentes 3 (Integrando a Biodiversidade em Áreas Produtivas) e 4 (Monitoramento, Avaliação e Gerenciamento do Projeto) deverão

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assegurar a coordenação das ações, de modo a possibilitar o envolvimento da comunidade local na etapa de diagnóstico. Os diagnósticos deverão considerar os parâmetros a seguir relacionados, sem prejuízo da inclusão de outros específicos cuja pertinência seja verificada: 6.1.2. Características físicas e bióticas:

• Presença de remanescentes de vegetação nativa; • Existência de áreas degradadas, sujeitas a processos erosivos intensos; • Existência de pontos de captação de água para abastecimento público; • Avaliação do potencial de regeneração natural; • Relatos e informações sobre a existência de animais da fauna nativa; • Espécies de ocorrência regional (obtidas por pesquisa em inventários publicados

por instituições de pesquisa); • Existência de Unidades de Conservação (coincidente com áreas abrangidas pela

microbacia ou em seu entorno); • Potencial para constituição de corredores ecológicos; • Existência de fragmentos significativos de vegetação nativa no entorno da

Microbacia; • Existência de áreas ciliares degradadas.

6.1.3. Informações sócio-econômicas Elaborar diagnostico detalhado das microbacias onde as propriedades selecionadas se localizam, com tipificações distintas das características das propriedades e dos proprietários, de forma a retratar fielmente a situação “exanti”, incluindo o estudo da importância econômica das atividades relacionadas ao uso atual das áreas e a identificação das organizações locais e potenciais parcerias. 6.1.4. Identificação dos fatores de degradação O diagnóstico deverá contemplar a identificação dos fatores de degradação relacionados ao uso atual e pretérito das áreas ciliares que se encontram degradadas. O conhecimento dos fatores de degradação é considerado imprescindível para a definição dos projetos de intervenção. 6.2. Elaboração e implantação de projetos Os projetos de intervenção deverão ser definidos considerando as informações obtidas no diagnóstico das propriedades e os objetivos definidos para os modelos a serem testados. As parcerias para a implantação do projeto deverão ser previamente definidas, envolvendo preferencialmente organizações locais de produtores. A parceria para a implantação deverá estender-se durante a fase de manutenção das mudas até o estabelecimento da floresta / sistema produtivo estabelecido. Os projetos deverão prever a eliminação dos fatores de degradação, especialmente o cercamento das áreas, quando couber.

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A responsabilidade pela elaboração dos projetos será do Coordenador do Componente 3 (Integrando a Biodiversidade em Áreas Produtivas). Durante a implantação dos projetos caberá ao técnico local assegurar-se de que as recomendações contidas no projeto sejam observadas.

6.3. Identificação de impactos ambientais potenciais e indicação de medidas de controle De acordo com a Matriz de impactos gerada e apresentada anteriormente, foram estabelecidas medidas potencializadoras e mitigadoras de impactos, de acordo com a natureza do mesmo (positivo ou negativo), conforme segue: Item Medidas Mitigadoras / Potencializadoras

1 Uso de espécies oportunistas (pioneiras) de rápido crescimento de forma a aumentar a velocidade de incorporação de material orgânico ao solo.

2 O combate às formigas cortadeira dos gêneros Atta a Acromyrmex é essencial para obter êxito no estabelecimento de algumas essências florestais, sendo ainda fundamental permanecer com técnicas de controle durante os 12 primeiros meses após o plantio. Então, em todas as atividades em que forem previstas o plantio de essências florestais, sejam elas essências nativas ou comerciais, práticas de combate precedendo o plantio e o uso de técnicas de controle durante o primeiro ano será essencial para garantir o sucesso dos plantios florestais. Embora o uso de formicida possa trazer impactos ao ambiente, esses podem ser satisfatoriamente minimizados a partir da utilização de determinadas técnicas. O combate que precederá o plantio deverá ser realizado utilizando-se iscas formicidas a base de sulfluramida. Esse princípio ativo apresenta vantagens por possuírem baixo poder residual (degradam-se em cerca de 30 dias no ambiente) e por apresentarem baixa toxidez (Classe Toxicológica IV). O combate será feito a partir da aplicação de uma dose da isca (5 a 8g) por olheiro ativo de formigueiro ou, quanto o sauveiro for identificado, a quantidade de isca será calculada a partir da mensuração do tamanho do formigueiro que será feito multiplicando-se a maior largura pelo maior cumprimento da área de terra solta. Para cada metro quadrado de área de terra solta deverá ser aplicado 10 g de isca formicida. De forma a reduzir a possibilidade de contaminação dos recursos hídricos, bem como, de forma a garantir a eficiência do produto, a isca deverá ser aplicada sob condições climáticas adequadas e, preferencialmente, no período de seca da região. Após o plantio das mudas e, de forma a evitar ao máximo o uso do formicida, o controle da população das formigas deverá ser feito a partir do Manejo Integrado de Pragas que, preconiza o uso do combate somente quando necessário para manter a população de formigas sob controle. Para que isso seja possível, os produtores rurais serão capacitados de forma a estarem aptos a realizarem o monitoramento da ocorrência dessa praga. Assim, o inseto somente será combatido se o mesmo for constatado causando

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Item Medidas Mitigadoras / Potencializadoras

dano ao plantio. O uso desses cuidados irá reduzir consideravelmente o risco de impactos causados pelo uso de formicidas nas áreas do projeto, não sendo esperada a verificação de problemas de maior relevância. Somente serão admitidos o uso de formicidas devidamente registrados, observando-se rigorosamente a legislação pertinente. O produto deverá ser aplicado por pessoa qualificada e mediante o uso de equipamentos de proteção individual recomendados. Após o uso das iscas, suas embalagens deverão ser destinadas em local devidamente licenciado para o recebimento das mesmas, de acordo com legislação vigente.

3 De forma a neutralizar a possibilidade de contaminação dos cursos d'água pelo uso de adubos químicos, será dada prioridade ao uso de adubos verdes, orgânicos e minerais. Tal atividade será facilitada visto que parte das 'ações previstas no projeto referem-se a migração de práticas convencionais para a agroecologia que preconiza o uso dos fertilizantes informados. Então, o mesmo tipo de técnica será replicada.

4 Utilizar espécies de ocorrência local de forma a favorecer a fauna local.

5 Priorizar áreas que, além da necessidade de reabilitação, sirvam como conectores de fragmentos, de forma a potencializar o fluxo gênico

6 Para o controle de invasores não será estimulado o uso de técnica invasiva, como enxada ou, o uso de herbicidas. Será estimulado o uso de ferramentas que mantenha a invasora com porte que não prejudique as mudas (roçada).

7 Para evitar que espécies exóticas invasoras se estabeleçam, os produtores rurais serão capacitados a identificá-las. O material vegetal deverá ser mantido no local de forma que seja incorporado ao solo. Alem disso, se forem identificados indivíduos adultos de exóticas invasoras, funcionando como dispersoras de propágulos e acelerando o surgimento dessas espécies, esses indivíduos serão eliminados a partir de técnicas que não causem impactos, como o roletamento do coleto.

8 Para potencializar o surgimento espontâneo de espécies locais, técnicas como a instalação de poleiros artificiais poderão ser utilizadas.

9 De forma a fomentar produtores locais a criarem RPPN, essa temática será incluída nos programas de capacitação previstos no componente 3. As vantagens em se criar RPPN serão destacadas, bem como, o suporte nesse processo que poderá ser fornecido pelo IEMA, reduzindo consideravelmente os custos que envolvem esse processo.

10 Deverão ser utilizadas técnicas de capacitação (dinâmica de grupo) que estimulem os participantes a estarem aprendendo novas práticas.

11 De forma a potencializar os efeitos previstos, lideranças locais deverão ser envolvidas na organização dos eventos de capacitação, bem como, deverão ser priorizadas técnicas já utilizadas na região e que possam ser apresentadas aos agricultores. Deverão ser previstas visitas de campo em locais onde existam experiências bem sucedidas como forma de estimulo.

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Item Medidas Mitigadoras / Potencializadoras

12 Serão evidenciados os benefícios ambientais logrados para a propriedade que implementarem técnicas de SLM, bem como, os pagamentos que vem sendo recebidos pela geração dos mesmos.

13 Fomentar a formação de mercados para absorver os produtos madeiráveis e não madeiráveis provenientes dos plantios estabelecidos pelo projeto.

14 Fomentar o plantio de espécies de rápido crescimento e que possam ser utilizados como lenha, mourões de cerca, etc.

15 Temas que abordem os benefícios gerados pelo uso de práticas agroecológicas deverão ser apresentados durante programas de capacitação que serão conduzidos.

16 Fomentar a experimentação do uso de espécies armadilhas como o gergelim. 17 Fomentar mercado para produtos agroecológicos.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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