governo afina discurso e corta novas estradas · rave rede de alta velocidade empresa pública...

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Tiragem: 23854 País: Portugal Period.: Diária Âmbito: Economia, Negócios e. Pág: 6 Cores: Cor Área: 26,33 x 37,33 cm² Corte: 1 de 9 ID: 28663696 02-02-2010 DESTAQUE Nuno Miguel Silva [email protected] As obras públicas e os grandes projectos de investimento regres- saram à primeira linha da discus- são política, depois do Governo ter anunciado, ontem, a suspensão do lançamento dos concursos públi- cos internacionais para a constru- ção e exploração de cinco conces- sões rodoviárias, anunciadas para este ano. Sob pressão, interna e externa, José Sócrates afinou o tom do discurso: o Governo vai manter os investimentos em in- fraestruturas, nomeadamente no TGV e no novo aeroporto de Lis- boa, mas não vai lançar novas parcerias público-privadas. Na conferência promovida pelo Diário Económico e Ordem dos Técnicos Oficiais de Conta sobre o Orçamento do Estado para 2010, no Centro Cultural de Belém, José Sócrates foi claro: “Portugal não pode e não deve desistir de mo- dernizar as suas infra-estruturas para ficar bem ligado ao mundo”. O primeiro-ministro definiu cin- co áreas de investimento para os próximos anos. As barragens, as escolas, os hospitais, os equipa- mentos sociais e, finalmente, as infraestruturas. Em tom irónico, aliás, Sócrates referiu que os críti- cos do investimento público cen- tram as suas atenções nas infraes- truturas para “esconder” os ou- tros investimentos. Mesmo assim, disse, o TGV e o novo aeroporto são para avançar. Sem desmentir as palavras do primeiro-ministro, António Men- donça ficou com a responsabilida- de de anunciar que o Governo não promoveria novos lançamentos de concursos de estradas. O ministro das Obras Públicas esteve num al- moço da Ordem dos Economistas e deu os sinais que o país e os in- vestidores internacionais aguar- davam. Tendo em conta a situação económica e financeira de Portu- gal e a necessidade de controlar as contas públicas, não haverá novos projectos de estradas e novas con- cessões para lá das que já estavam em concurso. António Mendonça acrescen- tou que o projecto de alta veloci- dade ferroviária e o novo aeropor- to internacional de Lisboa são projectos cujos calendários de lançamento se mantêm, conside- rando-os “prioridades” do actual Governo. Mas, no caso do TGV, o ministro das Obras Públicas fez uma ressalva: no caso da linha Porto-Vigo, o governante anun- ciou que será feita uma reavaliação da análise custo-benefício para concluir se compensa construir uma linha mista, para mercado- rias e passageiros (ver página 8). Também Pedro Silva Pereira afinou pelo mesmo tom. Reagindo a um estudo do Ministério das Fi- nanças que evidenciou a possibili- dade de algumas das grandes obras apresentarem défices de ex- ploração e prejuízos, o ministro da Presidência rejeitou a possibilida- de de cancelamento desses pro- jectos. “Não podemos continuar com a situação em que demora- mos anos a discutir os projectos, 20 anos para a alta velocidade, quando os estudos dizem que pre- cisamos deles”. “Se estes investimentos são úteis a prazo, o Governo não vai abandoná-los”, afiançou o minis- tro-adjunto, na conferência após a realização do Conselho de Minis- tros de ontem. Mais cuidadoso, Teixeira dos Santos preocupa-se sobretudo por falar para os mercados internacio- nais. Sem se comprometer com nenhuma resposta clara à questão do calendário das grandes obras públicas, o ministro das Finanças é bastante menos assertivo que os seus pares do Governo. Ontem, na comissão parla- mentar de Economia e Finanças, na primeira reunião sobre a pro- posta de orçamento para o próxi- mo ano, Teixeira dos Santos con- cordou que “o TGV é um projecto importante para o reforço da competitividade e para melhorar as acessibilidades do País”, mas alertou para o facto de ser “um es- forço de investimento que tem de ser levado a cabo dentro do qua- dro orçamental que temos”. E, sobre calendários, foi ainda mais distante. “Este é um pri- meiro debate e iremos discutir isto mais na especialidade. Re- meto para o colega das Obras Públicas as respostas mais espe- cíficas que foram colocadas [re- ferentes a calendários], para que ele possa entrar em mais deta- lhe. Estamos perfeitamente ali- nhados quanto ao sentido gené- rico, mas no que tem a ver com política sectorial gostaria que fosse ele a falar e não eu. Mas no quadro geral temos perfeita con- sonância.”. com M.G., M.P. e P.C.S. DESTAQUE ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2010 Governo afina discurso e corta novas estradas Cinco concessões rodoviárias suspensas e a reanálise do troço de TGV entre o Porto e Vigo marcam um recuo. “Portugal tem de se inserir numa visão mundial e europeia dos seus mercados e precisa de ter um sistema de logística e de transportes para colocar os seus produtos junto dos seus clientes. A rede de alta velocidade é absolutamente essencial.” José Sócrates Primeiro-ministro “Não há aqui qualquer regressão nas opções do Governo, agora, estes objectivos têm que ser levados a cabo tendo em conta o quadro orçamental.” Teixeira dos Santos Ministro das Finanças “Todos os investimentos implicam numa primeira fase o endividamento, necessário para realizar a obra. O país está numa fase em que precisa de fazer escolhas estruturantes e modernizar.” Pedro Silva Pereira Ministro-Adjunto “Os objectivos que estão definidos em alta velocidade são para ser levados para a frente.” António Mendonça Ministro das Obras Públicas Jorge Costa Deputado do PSD “Tudo isto vem dar razão àquilo que andámos a dizer meses a fio. O país não tem condições para avançar para investimentos públicos com este modelo de financiamento que implica elevados custos para o país.” Heitor de Sousa Deputado do Bloco de Esquerda “O recuo do Governo é em relação a algo que já tínhamos considerado escandaloso e óbvio, que foi a criação de um mercado de negócio para as empresas de obras públicas crescerem e se desenvolverem com custos para a população.” REACÇÕES AO ANÚNCIO DE DESACELERAÇÃO DOS INVESTIMENTOS José Sócrates abriu ontem a conferência do Diário Económico, no Centro Cultural de Belém.

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Page 1: Governo afina discurso e corta novas estradas · RAVE Rede de Alta Velocidade empresa pública responsável pela condução do pr ojecto para a construção deste troço de TGV apontaparaumcustodecercade

Tiragem: 23854

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Economia, Negócios e.

Pág: 6

Cores: Cor

Área: 26,33 x 37,33 cm²

Corte: 1 de 9ID: 28663696 02-02-2010

DESTAQUE

Nuno Miguel [email protected]

As obras públicas e os grandesprojectos de investimento regres-saram à primeira linha da discus-sãopolítica,depoisdoGoverno teranunciado,ontem,asuspensãodolançamento dos concursos públi-cos internacionais para a constru-ção e exploração de cinco conces-sões rodoviárias, anunciadas paraeste ano. Sob pressão, interna eexterna, José Sócrates afinou otom do discurso: o Governo vaimanter os investimentos em in-fraestruturas, nomeadamente noTGV e no novo aeroporto de Lis-boa, mas não vai lançar novasparceriaspúblico-privadas.

Na conferência promovida peloDiário Económico e Ordem dosTécnicos Oficiais de Conta sobre oOrçamento do Estado para 2010,no Centro Cultural de Belém, JoséSócrates foi claro: “Portugal nãopode e não deve desistir de mo-dernizar as suas infra-estruturaspara ficar bem ligado aomundo”.O primeiro-ministro definiu cin-co áreas de investimento para ospróximos anos. As barragens, asescolas, os hospitais, os equipa-mentos sociais e, finalmente, asinfraestruturas. Em tom irónico,aliás, Sócrates referiu que os críti-cos do investimento público cen-tram as suas atenções nas infraes-truturas para “esconder” os ou-tros investimentos.Mesmo assim,disse, o TGV e o novo aeroportosãoparaavançar.

Sem desmentir as palavras doprimeiro-ministro,AntónioMen-donçaficoucomaresponsabilida-de de anunciar que oGovernonãopromoverianovos lançamentosdeconcursos de estradas.O ministrodasObras Públicas estevenumal-moço da Ordem dos Economistase deu os sinais que o país e os in-vestidores internacionais aguar-davam.Tendoemcontaa situaçãoeconómica e financeira de Portu-gal e a necessidade de controlar ascontas públicas, não haverá novosprojectosde estradas enovas con-cessões para lá das que já estavamemconcurso.

António Mendonça acrescen-tou que o projecto de alta veloci-dade ferroviária e onovo aeropor-to internacional de Lisboa sãoprojectos cujos calendários delançamento se mantêm, conside-rando-os “prioridades” do actualGoverno. Mas, no caso do TGV, o

ministro das Obras Públicas fezuma ressalva: no caso da linhaPorto-Vigo, o governante anun-ciouqueserá feitaumareavaliaçãoda análise custo-benefício paraconcluir se compensa construiruma linha mista, para mercado-riasepassageiros (verpágina8).

Também Pedro Silva Pereiraafinoupelomesmotom.Reagindoa um estudo doMinistério das Fi-nançasqueevidenciouapossibili-dade de algumas das grandesobras apresentaremdéfices de ex-ploração eprejuízos, oministrodaPresidência rejeitou a possibilida-de de cancelamento desses pro-jectos. “Não podemos continuarcom a situação em que demora-mos anos a discutir os projectos,20 anos para a alta velocidade,quandoosestudosdizemquepre-cisamosdeles”.

“Se estes investimentos sãoúteis a prazo, o Governo não vaiabandoná-los”, afiançouominis-tro-adjunto,naconferênciaapósarealização do Conselho de Minis-trosdeontem.

Mais cuidadoso, Teixeira dosSantospreocupa-sesobretudoporfalarparaosmercados internacio-nais. Sem se comprometer comnenhuma resposta clara à questãodo calendário das grandes obraspúblicas, o ministro das Finançasé bastante menos assertivo que osseusparesdoGoverno.

Ontem, na comissão parla-mentar de Economia e Finanças,na primeira reunião sobre a pro-posta de orçamento para o próxi-mo ano, Teixeira dos Santos con-cordou que “o TGV é um projectoimportante para o reforço dacompetitividade e para melhoraras acessibilidades do País”, masalertouparao factode ser“umes-forço de investimento que tem deser levado a cabo dentro do qua-droorçamentalque temos”.

E, sobre calendários, foi aindamais distante. “Este é um pri-meiro debate e iremos discutiristo mais na especialidade. Re-meto para o colega das ObrasPúblicas as respostas mais espe-cíficas que foram colocadas [re-ferentes a calendários], para queele possa entrar em mais deta-lhe. Estamos perfeitamente ali-nhados quanto ao sentido gené-rico, mas no que tem a ver compolítica sectorial gostaria quefosse ele a falar e não eu. Mas noquadro geral temos perfeita con-sonância.”.■comM.G.,M.P. eP.C.S.

DESTAQUE ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2010

Governo afinadiscurso e cortanovas estradasCinco concessões rodoviárias suspensas e a reanálisedo troço de TGV entre o Porto e Vigo marcam um recuo.

“Portugal tem de seinserir numa visãomundial e europeiados seus mercadose precisa de ter umsistema de logísticae de transportespara colocar os seusprodutos junto dosseus clientes. A redede alta velocidadeé absolutamenteessencial.”

José SócratesPrimeiro-ministro

“Não há aquiqualquer regressãonas opções doGoverno, agora, estesobjectivos têm queser levados a cabotendo em conta oquadro orçamental.”

Teixeira dos SantosMinistro das Finanças

“Todos osinvestimentosimplicam numaprimeira fase oendividamento,necessário pararealizar a obra. Opaís está numa faseem que precisade fazer escolhasestruturantese modernizar.”

Pedro Silva PereiraMinistro-Adjunto

“Os objectivosque estão definidosem alta velocidadesão para ser levadospara a frente.”

António MendonçaMinistro das Obras Públicas

Jorge CostaDeputadodo PSD

“Tudo isto vem dar razão àquiloque andámos a dizer meses a fio.O país não tem condições paraavançar para investimentospúblicos com este modelo definanciamento que implicaelevados custos para o país.”

Heitor de SousaDeputado do Blocode Esquerda

“O recuo do Governo é em relação aalgo que já tínhamos consideradoescandaloso e óbvio, que foi acriação de um mercado de negóciopara as empresas de obras públicascrescerem e se desenvolverem comcustos para a população.”

REACÇÕES AO ANÚNCIO DE DESACELERAÇÃO DOS INVESTIMENTOS

José Sócrates abriu ontem aconferência do Diário Económico,no Centro Cultural de Belém.

Page 2: Governo afina discurso e corta novas estradas · RAVE Rede de Alta Velocidade empresa pública responsável pela condução do pr ojecto para a construção deste troço de TGV apontaparaumcustodecercade

Tiragem: 23854

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Economia, Negócios e.

Pág: 7

Cores: Cor

Área: 26,31 x 37,70 cm²

Corte: 2 de 9ID: 28663696 02-02-2010PONTOS-CHAVE O investimento em

grandes obras voltou amarcar a agenda política no diaem que o Governo confirmou oadiamento de cinco concessõesrodoviárias.

O ministro das ObrasPúblicas afirmou ontem

que faz sentido voltar a discutiras características da linha dealta velocidade ferroviária entrePorto e Vigo.

Os estímulos à economiavão continuar, pelo menos

durante este ano, garantiuontem o primeiro-ministro naconferência organizada peloDiário Económico.

PEDRO ADÃO E SILVA

Sociólogo

TRÊS PERGUNTAS A...

“Faz todo o sentidocortar nas novasestradas”

O sociólogo Pedro Adão e Silvaaplaude a decisão do Governo.Apesar de fazer parte domanifesto a favor das obraspúblicas. Adão e Silva defendeque este não é o momento.

A suspensão de novasconcessões rodoviárias foi um

recuou do Governo?As condições de financiamentoalteraram-se e, por isso, faz todoo sentido que, tendo que cortarem alguma coisa, então que secorte nas concessões rodoviárias.Sobretudo porque muitas delaseram semelhantes às SCUT, ouseja, não eram portajadas. Poroutro lado, não pode haver umaretracção brutal no investimentopúblico e o TGV e o novoaeroporto parecem-meprioritários sobre muitas dessasconcessões rodoviárias queestavam previstas. Parece-meque, mesmo aquelas que erammais prioritárias, como a de Trás-os-Montes, poderão esperar porcondições financeiras maisfavoráveis.

A opção do Governo foi, então,a mais correcta?Penso que sim. Se é precisodesistir de alguma coisa, faz todoo sentido desistir das novasestradas e não do TGV ou do novo

aeroporto, já que estes projectossão estratégicos do ponto de vistade serem importantes pontos deligação à rede europeia.

A decisão do Governo poderáter ocorrido por pressão doPartido Social Democrata oudo Presidente da República?Penso que não. Na minhaopinião, penso que a decisãoagora anunciada terá tido maispressão financeira do ministrodas Finanças, Fernando Teixeirados Santos. O que é natural,nesta altura. Aliás, o ministrodas Finanças já tinha dado aentender que as concessõesrodoviárias iam ser suspensas.O ministro das Finanças está achamar mais poderes para sipróprio, o que é justificável. Enão é só na economia. Por issopenso que aqui é mais relevanteo ganhar de peso político doministro das Finanças do quede qualquer outras forçaspolíticas. ■ D.F.

Manuel Teixeiravice-presidenteda ANJE

“É preferível o adiamentodo que uma insistência ceganum investimento que ia prejudicaro financiamento da economia.Estamos numa fase em que nãose podem cometer erros. Temosque ser muito selectivos.”

Pedro Mota SoaresDeputadodo CDS-PP

“Sempre defendemos que osinvestimentos deviam serrevistos globalmente em termosde prioridades e de calendário.Confirma-se que o Governo tinhaum discurso antes das eleições eoutro discurso depois.”

António SaraivaPresidente da CIP

António Saraiva defendeu umarigorosa análise à relação entrecustos e benefícios do projectoferroviário de alta velocidade,considerando que só poderáhaver retorno com uma apostano transporte de mercadorias.

Bruno DiasDeputadodo PCP

“O Governo insiste numa atitudeque levanta dois problemas: só háinvestimento da base de PPP, quejá demonstraram ser lesivas parao Estado e faz chantagem dizendoque só há investimento atravésdeste modelo de financiamento.”

PÚBLICOS

EDUARDO CATROGA

Economista e ex-ministro das Finanças

TRÊS PERGUNTAS A...

“O Governo começaa ouvir, emboracom muito atraso”

Eduardo Catroga diz queé necessário redefinir prioridades,mas não de forma cega.

As declarações dos ministrosdas finanças e obras públicaspodem ser lidas comoum recuo?Fui subscritor de ummanifestocuja mensagem era a de que era

necessário redefinir prioridades.Parece que o Governo começa aquerer ouvir, mas os seu membrosainda não ouvem todos pelo mesmodiapasão. Embora comece a ouvircommuito atraso porque oscompromissos assumidos emrelação às parcerias público-privadas já são muito importantes.Mas vale mais tarde do que nunca.

A opção de não avançar commais estradas está correcta?Redefinir prioridades não é sercego. Há estradas, como os acessosa centros urbanos que sãoabsolutamente necessárias atépara aumentar a produtividade deinvestimentos rodoviários já feitos.Mas o plano rodoviário nacional deauto-estradas precisa de ser visto.Cada quilómetro custa 16 milhõesde euros, 500 quilómetrosdesnecessários, pelo menos emfunção da procura nos próximos 10anos, são 8.000milhões de euros…É necessário redefinir prioridadesnas auto-estradas, nos troços doTGV e omodelo de execução das

parcerias público-privadas. Mesmono caso do troço do TGV paraMadrid devia haver um contratoconcessão-exploração e não como risco do lado do contribuinte.

O Governo sempre disse que oinvestimento era fundamental.Esta escolha pode condicionara retoma?O Governo disse isso mas já nãoacreditava. É necessárioinvestimento público de qualidadepara a recuperação, mas issovê-se sobretudo na recuperaçãodo investimento empresarial.O Governo tem vindo a reduzirfortemente nos últimos anoso investimento no sector públicoadministrativo. E ainda perdemosinvestimento público fora doOrçamento. E não é por falta destesinvestimento que o País nãotem crescido. É preciso começara pensar nomodelo dedesenvolvimento, em investimento dequalidade, para o sector de benstransaccionáveis, para o créditobancário para as empresas...■C.O.S.

João Paulo Dias

Fernando SantoBastonárioda Ordemdos Engenheiros

“Se as receitas de exploração doTGV forem inferiores ao previsto,quem assume esse risco é o Estadoou os privados? É preciso um tra-balho aprofundado sobre o investi-mento do Estado e a forma comoo dinheiro vai ser recuperado.”

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País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Economia, Negócios e.

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Área: 26,55 x 37,55 cm²

Corte: 3 de 9ID: 28663696 02-02-2010

DESTAQUE

Nuno Miguel [email protected]

Após anos e anos de estudos eanálises custo-benefício, ominis-tro das Obras Públicas surpreen-deu ontem ao anunciar, no almo-ço organizado pela Ordem dosEconomistas, uma reanálise daviabilidade económico-financeirada construção da linha de alta ve-locidade no eixo Porto-Vigo, navertentedemercadorias.

“Vamos rediscutir a possibili-dade da viamista para passageirosemercadorias.Nestemomento, osdados que temos apontam paradois ou três comboios por semanaentre a Galiza e o Norte de Portu-gal.Asestimativasmaisoptimistasapontam para que em 2020 possahaverentredoise trêscomboiosdemercadorias por dia nesta linha”,explicouAntónioMendonça.

Face aos fracos índices de pro-cura existentes e previstos no seg-mento ferroviário de mercadoriasentre oNorte de Portugal e aGali-za, o novoministro dasObras Pú-blicas decidiu refrear os ânimos ereequacionar o projecto. “Cons-truir uma linha para mercadoriaslevantaquestões técnicasporcau-sa das pendentes [desníveis dotraçado] e é mais cara entre 150 e200 milhões de euros”, justificouo governante. Recorde-se que opreço de referência previsto pelaRAVE –Rede de Alta Velocidade –

empresa pública responsável pelacondução do projecto – para aconstrução deste troço de TGVaponta para um custo de cerca de1.400milhõesdeeuros.

AntónioMendonçavai avançarpara este novo estudo de viabili-dade e de procura aproveitando ofacto de, em Espanha, o troço dealta velocidade ter sofrido umchumboporpartedas autoridadesambientaisdopaísvizinho.

Esse novo obstáculo já levou osdois governos ibéricos a assumirque será impossível concretizar ocompromisso de ter a linha ope-racional em2015.Mas,queroGo-verno de Zapatero, quer o de Só-crates, se escusam, por enquanto,a arriscar nova data previsível deinauguraçãodoserviço.

Diversas fontes contactadaspelo Diário Económico que solici-taram o anonimato consideramque, “se for por uma questão deviabilidade económico-financei-ra, então, émelhor optarem já pornão fazer qualquer linha de altavelocidade entre o Porto e Vigo”.Segundo sublinham, “o impor-tante do projecto é o impactoma-cro-económico que gera, a jusan-te e a montante, e ao longo demuitasdécadas”.

Outras fontes conhecedoras doprocesso contactadas pelo DiárioEconómico alertam para o factodea linhaPorto-Vigosó fazersen-tido como linha mista, para pas-

sageiros e mercadorias, ou entãosó para mercadorias. “Construiruma linha de alta velocidade queimplica aquele montante de in-vestimento só para transportarpassageiros, é que não faz sentidonenhum”.

Todavia, a linha Porto-Vigo é aúnica em que o actual Governoadmite vir a mexer. Nos restantesaspectos, todo o projecto de altavelocidade semantém, por agora,comoestavaprevistodesdehává-rios meses. António Mendonçagarante a assinatura do contratopara a construção e exploração dotroço Poceirão-Caia já nas próxi-mas semanas. A decisão sobre oconsórciovencedordaconstruçãoe exploração do troço Lisboa-Po-ceirão, incluindo a TTT – TerceiraTravessia sobre o Tejo deverá seranunciada nos próximos meses.Assim, deverá cumprir-se o prazode 2015 para a linha Lisboa-Ma-dridestara funcionar.

Os concursos para as estaçõesde alta velocidade de Lisboa (am-pliação da Gare do Oriente) e doCaiadeverãotambémser lançadoseste ano, assim como o concursoparao fornecimentode telecomu-nicações e sinalização para toda arede de TGV. Em preparação paraos respectivos lançamentos vãoestar os concursos para os troçosLisboa-Pombal e Pombal-Porto,no eixo Lisboa-Porto, e para a es-tação de alta velocidade do Porto.

Além da suspensão das cincoconcessões rodoviárias e da rea-nálise sobre a linhadeTGVentre oPorto e Vigo, o discurso ontemproferido por António Mendonçaé sintomático também pelo quenãodisse.Oministroomitiuqual-quer referência aos planos de ex-pansãodosváriosmetropolitanos,os quais haviam sido anunciadoscom pompa e circunstância nosúltimosmeses domandatodo an-teriorGovernodeJoséSócrates.

Só nos planos de expansão dosmetros de Lisboa e do Porto os in-vestimentos previstos eramde 3,5mil milhões de euros, um valorsuperior aos 3,1 mil milhões deeuros que estão previstos ser apli-cados no novo aeroporto interna-cional de Lisboa. A estes, há quejuntar os investimentos estimadospara o metro do Mondego, na re-gião de Coimbra, e a segunda fasede expansão dometro Sul do Tejo,deAlmadaparaaCostadeCapari-ca,namargemSuldoTejo.

Estesprojectos,emborademe-nor dimensão que os dos metro-politanosdeLisboaedoPorto,de-verão (ou deveriam) envolver uminvestimento de várias centenasdemilhõesdeeuros.

Até ao fecho da edição, não foipossível obter uma resposta doMinistério das Obras Públicas so-bre qual o posicionamento actualem relação a estes investimentoseminfra-estruturas.■

DESTAQUE ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2010

Linha de TGV Porto-Vigo vai ser

Paula Nunes

Além da suspensãodas cinco concessõesrodoviárias e dareanálise sobre alinha de TGV entre oPorto e Vigo, oministro das ObrasPúblicas omitiuqualquer referênciaaos planos deexpansão dos váriosmetropolitanos.

Esta é a única linha de alta velocidade que o Governo admite vir a mexer. Tudo o resto será, pelo

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País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Economia, Negócios e.

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Área: 26,22 x 35,71 cm²

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Aeroporto e alta velocidadepara Madrid deverão manter-se.

Margarida [email protected]

Oprimeiro-ministro, José Sócra-tes, após a sua reeleição enco-mendou umestudo para avaliar oimpacto económico dos grandesinvestimentospúblicos.

Este estudo que acompanhaparcialmente a proposta de Or-çamento do Estado para esteano – e que pretende avaliar ointeresse dos investimentos pú-blicos no sentido de redefinirprioridades – começou a serpreparado em Outubro do anopassado, logo a seguir às elei-ções legislativas, ganhas peloPS a 27 de Setembro.

O primeiro-ministro continuaa defender a importância deprosseguir com os investimentosplaneados, como forma de con-trariar a crise e melhorar a com-petitividade da economia nomé-dio-longo prazo. “Todos sabe-mos ao que conduz o isolamentoeconómico, que apenas significapobreza, atraso e subdesenvolvi-mento”,dizia oentãocandidatoaprimeiro-ministro, criticandoFerreira Leite por defender a sus-pensão do TGV. Os grandes in-vestimentos públicos sempreopuseramos dois líderes. Noúlti-mo frente-a-frente entre Sócra-tes e Ferreira Leite antes das elei-ções legislativas, o primeiro-mi-nistro defendia a manutençãodos investimentos, enquantoFerreira Leite exigia umpé a fun-dono travão.

Mas este novo estudo, que po-derá servir para posteriormentereavaliar os grandes projectos,vem lançar alguma confusão namensagemdoExecutivo.

O próprio actual ministro dasObras Públicas, antes de ser elei-to, tambémtinha assinadooúlti-mo de três manifestos sobre osgrandes investimentos na calha –alta velocidade, aeroporto, maisestradas, barragens, entre outros– onde criticava duramente a op-ção de suspender ou reavaliar asgrandes obras.

“A proposta de suspensão ereavaliação dos investimentospúblicos em infra-estruturasviárias e aeroportuárias pode co-lher uma fácil adesão, na actualconjuntura de crise e de restri-ções económicas acrescidas.Mas, na realidade, revela umaatitude demissionista e de impo-tência relativamente ao que podee deve ser feito no sentido demelhor preparar o País para a re-cuperação sustentada da econo-mia portuguesa”, lê-se nomani-festo liderado por António Men-

donça, Luís Nazaré e José MariaBrandãodeBrito.

Contudo, depois da guerraaberta em período de campanhaeleitoral sobre a eventual inter-rupção dos grandes investimen-tos públicos, o Executivo de JoséSócrates assume agora a necessi-dade de enquadrar as obras nasactuais restrições orçamentais.

O estudo encomendado pelasFinanças a Manuel Cabral, pro-fessor daUniversidadedoMinho,e Joana Taveira Almodovar, quefaz parte da equipa das Finanças,revela quais são os investimentoscommaior impacto no endivida-mento público e dá pistas sobreaqueles que fará mais sentidoadiar numa conjuntura de fortesrestrições orçamentais.

“Há muitos projectos de in-vestimentos interessantes, mashavendo dificuldades orçamen-tais nem todos podem ser fei-tos”, explica Manuel Cabral, aoDiário Económico. “Tem de ha-ver critérios de selectividadepara sabermos quais os investi-mentos que podem ser lançadosmais rapidamente e quais podemser adiados”, acrescenta.

E nesta matéria, há algumasconclusões claras: a linha dealta-velocidade que ligará Portoa Vigo é a que implica um im-pactomais elevado no endivida-mento do país. “Esta linha nãogera receitas que paguem oscustos do projecto, dará lucrosmuito baixos, ou até ligeirosprejuízos”, explica Manuel Ca-bral. Esta poderá ser uma das li-nhas na calha para umadiamen-to. Também a ligação de Lisboaao Porto favorece sobretudo asligações internas, ao mesmotempo que tem um impacto ele-vado no endividamento, poden-do por isso ficar paramais tarde.

Já a linha de alta velocidadeparaMadrid está entre as que re-presenta um custo mais baixopara o Estado, ao mesmo tempoque gera mais dinamismo eco-nómico e garante o aumento dasacessibilidades à Europa, defen-de o estudo. O mesmo acontececom o novo aeroporto: “parar oaeroporto por questões de endi-vidamento seria errado”, subli-nhaManuel Cabral.

O Governo já deu sinais que arecalendarização pode estar emcima da mesa para algumas dasgrandes obras,mas ainda não es-tará definido nenhum novo ca-lendário, nem está completa-mente claro quais serão os gran-des investimentos adiados. Aoque o Diário Económico apurou,o assunto está a ser sobretudode-batido internamente, entre omi-nistro das Obras Públicas e Tei-xeira dos Santos. ■

reanalisada

Manuel Cabral,co-autor do estudoque reavaliaas grandes obras

“Tem de haver selectividadenos investimentos públicos parasaber quais podem ser lançadosmais rapidamente e quais podemser adiados”, sublinhouo economista e professorda Universidade do Minho.

Estudo para avaliargrandes obras foipedido após as eleições

PONTO DA SITUAÇÃO SOBRE GRANDES INVESTIMENTOS

Projecto do TGVquase a 100%

Aeroporto em forçasem data para a ANA

Se não fosse a reanálise doinvestimento na linha mista, coma vertente de mercadorias emcausa, da linha Porto-Vigo, poder-se-ia dizer que o projectonacional de TGV permaneceuintacto face ao que estavaanteriormente previsto. AntónioMendonça até acrescentou apossibilidade de ligar o aeroportoSá Carneiro à alta velocidade.

Já não é a primeira vez queAntónio Mendonça sublinha que oprojecto para a construção e explo-ração do novo aeroporto interna-cional de Lisboa é uma dasmaioresprioridades deste Governo. Ontemvoltou a insistir nesta tónica, mascontinuou a não querer revelarmais pormenores do processo,incluindo qual a data previstapara a privatização da ANA.

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Estradas sob pressãodo Tribunal de Contas

Um vazio sobretransportadoras

Não são só os constrangimentosfinanceiros e a racionalidade dosinvestimentos em obras públicasque preocupam AntónioMendonça e que o levaram asuspender cinco concessõesrodoviárias. Também o imbrógliojurídico levantado pelos chumbosdo Tribunal de Contas ao vistoprévio de outras cinco concessõesterão pesado nesta suspensão.

Não foram só os planos deinvestimentos em expansões dasredes de metros de Lisboa, doPorto, do Mondego e Sul do Tejoque não mereceram uma palavrado ministro António Mendonça.Os planos de investimento de CP,Refer, Transtejo, Carris, STCP eoutras transportadoras públicascontinuam incógnitos. A limpezados passivos é a maior prioridade.

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CONCLUSÕES DO ESTUDO

● Adiar a construção do novoaeroporto por questões deendividamento público não fariasentido.

● A linha de alta-velocidadepara Vigo é a que pesa maisna dívida pública. Mais caropara o Estado só osinvestimentos na saúde.

● A linha de TGV para Madridé a que custa menos ao Estado,de entre todos os investimentosque significam agravamentoda dívida.

● Os investimentos nas escolassão os que criam mais empregose os que mais contribuem parao crescimento económico.

Infografia: Mário Malhão | mario.malhã[email protected]

menos por agora, para manter.

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Period.: Diária

Âmbito: Economia, Negócios e.

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DESTAQUE

Paula Cravina de [email protected]

Os estímulos à economia vãocontinuar, pelo menos duranteeste ano. A garantia foi dada on-tem pelo primeiro-ministro,José Sócrates na conferência or-ganizada pelo Diário Económi-co. “A crise ainda não acabou”,afirmou o chefe do Executivo.“Teremos um crescimento eco-nómico este ano,mas será débil,por isso é necessário que o Esta-do dê uma ajuda”, acrescentou.

Com um discurso baseado nooptimismo e confiança, Sócra-tes explicou que o Orçamentodo Estado para 2010 (OE/10)tem dois objectivos: um de res-ponder à crise e outro de sinali-

zar e fazer um esforço no senti-do de equilibrar as contas públi-cas. Sobre as Finanças Públicas,o primeiro-ministro consideraque o “défice pode aumentarnuma altura de emergência”,referindo-se às medidas anti-crise destinadas às famílias e àsempresas. “E o facto de isso tersido feito produziu bons resul-tados na economia”, garantiu.

Sócrates realçou que Portugalfoi dos “primeiros países a sair darecessão técnica”, ao contráriodo que muitos previam, e prefe-riu sublinhar que há países comuma conjuntura pior que a por-tuguesa. “A dívida subiu 13,1%,mas subiu 16,9% nos países daOCDE ou 14,4% nos da UniãoEuropeia a 27”, exemplificou.

“O Estado agiu com estímulosorçamentais para aguentar aqueda do emprego e do ProdutoInterno Bruto”, disse o chefe deGoverno, acrescentando que “onosso défice aumentou nãopordescontrolomasparaajudar as empresas e asfamílias”. Ainda as-sim, os efeitos dasmedidas anti-criseainda deverão demo-rar até se fazerem sen-tir no emprego. A taxade desemprego previstapelo Governo para 2009 é de9,5%epara este anoéde9,8%.

Sócrates referiu ainda o inves-timento que tem sido feito nopaís, como as barragens, escolas,hospitais, equipamentos sociais e

as grandes obras públicas como oTGV e as auto-estradas (ver pág.6). “O impactododéficedependemais do sítio onde se gasta o di-nheiro”.

Já o ex-presidente daAssociação Portuguesade Bancos, João Sal-gueiro apontou a fal-ta de competitivida-de como um dosproblemasmais gra-ves do país. “Apesarde ser uma época de

grande mudança, o mo-delo económico português

está gasto e têm-se concedidoapoiosaempresas ineficazes, comajudas do Estado, em prejuízo deoutras que poderiam introduzircompetitividade”,disse.■

DESTAQUE ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2010

Governomantém estímulos à economiaSócrates reconhece que “a crise ainda não acabou” e sublinhou a importância das ajudas do Estado.

O economista João Salgueiroafirmou que “Sócrates passou aolado do problema”.

João Salgueiroaponta a falta decompetitividadecomo o principalproblema daeconomia nacional.

Conferência

do Diário

Económico

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O secretário de Estado dosAssuntos Fiscais, Sérgio Vasques,frisou as medidas de simplificação ede aproximação ao contribuinte doOE/10. “Com os constrangimentosorçamentais optou-se por dar esseapoio”. O responsável referia-se, porexemplo, à agilização do regimesimplificado do IRS e à dispensa daentrega das declarações de IRS,para os contribuintes cujosrendimentos não ultrapassem oscerca de quatro mil euros. Aeliminação do imposto de selo numconjunto de operações também foireferido.

OS PROTAGONISTAS DA CONFERÊNCIA

Sector bancário mostra resistência à crise“Abençoados sejam os jovens,pois eles vão herdar a dívidapública”. Foi citando HerbertHoover, que o vice-presidente doconselho de administração do Banifterminou a sua intervenção. ParaCarlos Duarte de Almeida, o OEpara 2010 não altera a dinâmicarecente da dívida pública, cujo nívelé preocupante em termoshistóricos. Não obstante a criseeconómica e financeira, o banqueiroafirmou que “os principaisindicadores do sector têm mostradoforte contributo para a economiaportuguesa”.

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Secretário de Estado dos AssuntosFiscais, Sérgio Vasques.

“Sócrates passou ao lado do problema”

Reequilíbrio entre Fisco e contribuintes

Para o ex-presidente da APB, o“principal problema” de Portugalé “a falta de competitividade”.E, para João Salgueiro, o discursodo primeiro-ministro “passouao lado deste problema”. Parao economista, é sobretudo a faltade competitividade das nossasempresas que impede Portugalde atrair mais investimentos.Para além disso, “condiciona,já que leva ao desemprego,que faz com que o país não tenhacrescido para poder reduzira carga fiscal e não permitepagar mais depressa a dívida”.

O ex-secretário de Estado,Rogério M. Fernandes Ferreira,optou por destacar as medidas dejustiça fiscal e de reequilíbrio dasrelações entre a AdministraçãoTributária e os contribuintesincluídas no OE/10. O especialistaexemplificou com as novas regrasde compensação de créditos e desuspensão de penhoras e asnotificações por transmissãoelectrónica de dados. “Trata-se deuma medida de desmaterializaçãode louvar, mas o conteúdo deveriaser feito com uma linguagemmais simples e objectiva”.

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Orçamento “vai criar dificuldades à banca”

Carga fiscal muito elevada em Portugal

Para Mira Amaral, “2010 vai serum ano difícil para a banca”, umavez que “verá certamentediminuída a rentabilidade dosseus capitais próprios e terá deenfrentar alguns desafios eajustamentos estruturais”. Nessecontexto, o presidente do BIC nãotem dúvidas: “A proposta do OEde 2010 não vai ajudar”. Para obanqueiro, o défice apontado é“surpreendentemente elevado”e a proposta do OE “não nos vaiafastar dos radares das agênciasde ‘rating’ e dos mercadosfinanceiros”.

O deputado do PSD, MiguelFrasquilho, criticou o aumentoda carga fiscal em Portugal.O responsável afirmou que “atendência na Europa tem sidopara um peso progressivamentecrescente da tributação indirecta,o que também tem acontecido emPortugal – e para uma redução aonível dos impostos directos, o quejá não aconteceu no nosso país”.“Para reduzir a carga fiscal é precisoreduzir igualmente a despesapública para níveis comportáveis,o que não foi feito ao longodos últimos anos”, acrescentou.

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“Um PEC austero e virtuoso é determinante”

“Portugal continua a assistir a fuga de capitais”

Para Paulo Macedo, a propostado OE para 2010 “não sediferencia de uma forma muitosubstantiva da evolução propostados principais agregadosorçamentais de outros Estados-membro”. O vice-presidente doMillennium bcp defende o sector,ao afirmar que “o sistemafinanceiro tem desempenhadoadequadamente o seu papel definanciador da economia”. Naopinião do banqueiro, um Pactode Estabilidade e Crescimento“austero mas virtuoso édeterminante”.

O partner da KPMG, LuísMagalhães, está optimista quantoao sucesso do ‘perdão fiscal’previsto no OE/10 para os capitaisrepatriados. “Há fortes razões paraas pessoas poderem repatriar oscapitais”, afirmou. A conjuntura éactualmente diferente doverificado aquando da amnistiafiscal de 2005. “Hoje há trocas deinformação com ‘offshores’, porexemplo”. O especialista relembrouainda que Itália conseguiu 95 milmilhões de euros com o perdãodado, sendo que 93 mil milhõesforam repatriados.

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Vice-presidente do conselho deadministração do Banif, Carlos Duartede Almeida.

Economista e ex-presidente e daAssociação Portugesa de Bancos, JoãoSalgueiro.

Fiscalista e ex-secretário de Estadodos Assuntos Fiscais, Rogério M.Fernandes Ferreira.

Presidente da comissão executiva doBanco BIC Português, Mira Amaral.

Deputado do PSD e ex-secretário deEstado do Tesouro e Finanças, MiguelFrasquilho.

Vice-presidente do conselho deadministração executivo do Millenniunbcp, Paulo Macedo.

Partner da KPMG, Luís Magalhães.

João Paulo Dias

DÉFICE

9,3%Depois de ter apontado para umdéfice de 8,3%, o Governoapresentou um défice de 9,3% noOE/10. A justificar o aumentosurpresa está a quebra dasreceitas fiscais e o fracocrescimento do saldo daSegurança Social.

9,8%Este ano, o desemprego deverácontinuar a agravar-se, apesar daprevisão de retoma. O Presidenteda República, Cavaco Silva, já oelegeu como o maior problemada economia portuguesa.

DESEMPREGO

0,7%Para este ano, o Governo prevêum crescimento da economia de0,7%, que compara com umdesempenho negativo de 2,6%no ano passado.

PRODUTO INTERNO BRUTO

Simplificação e aproximação ao contribuinte

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DESTAQUEDESTAQUE ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2010

Sandra Almeida Simõ[email protected]

“Medida política”. Foi destaforma que a quase generalidadedos gestores da banca apelidouontem a tributação aos bónusdos gestores do sector. Na con-ferência “Orçamento do Estado2010”, organizada pelo DiárioEconómico e pela Ordem dosTécnicos Oficiais de Contas(OTOC), os banqueiros, quaseem uníssono, salientaram aindaa produção legislativa intensa,questionaram o objectivo “mo-ralizador” das medidas de agra-vamento da tributação da bancae a sua constitucionalidade.

No painel, dedicado às con-sequências do orçamento nosistema financeiro, os ban-queiros centraram grande partedo discurso nas medidas mais“polémicas” e com impacto di-recto na banca. Falamos, re-corde-se, da proposta do Orça-mento do Estado (OE) para esteano que introduz uma taxa au-tónoma de 35% sobre os bónuse outras remunerações variá-veis pagas a gestores, adminis-tradores ou gerentes, para além

de um imposto de 50% para osprémios dos banqueiros atri-buídos em 2010.

João Salgueiro, antigo presi-dente da Associação Portuguesade Bancos, contestou a lógica dadecisão do Governo. “A nossabanca oferece produtos finan-ceiros nas mesmas condiçõesque a banca estrangeira. No en-tanto, há sectores que têm lu-cros e que estão a vender maiscaro que os concorrentes es-trangeiros”, afirmou.

Já o presidente do Ban-co BIC quis demarcar-se da opinião dos res-tantes banqueiros,que apelidam a me-dida de “discrimina-tória”, apesar de in-sistir no carácter po-lítico da medida. “´Éapenas uma manobrapolítica para gerir o Blocode Esquerda”, repetiu MiraAmaral. O banqueiro recordouque a banca, mesmo quandoprivada, não pode ser vistacomo um assunto apenas entreos seus gestores e os seus accio-nistas: “Quando há um proble-ma sério, o Estado intervém e

os contribuintes pagam a factu-ra, socializando os prejuízos”.Daí que considere que há “legi-timidade” para o Governo in-tervir na banca privada. Contu-do, Mira Amaral destacou que aproposta é “perfeitamente des-ajustada pela exiguidade do va-lor em causa” (a partir de27.500 euros) e que irá afectar o“gerente de balcão a quem te-nha sido atribuído esse peque-no bónus de 30mil euros” e não

os gestores.Nesta matéria, Pau-lo Macedo, vice-presidente doconselho de ad-ministração exe-cutivo do BCP eanterior Direc-tor-geral dos Im-postos, citou a

proposta de OE paramostrar as incoerên-

cias. “Essas medidas mostram-se especialmente justificadasno tocante ao sector financeiro,pelo papel que teve na criaçãodo risco sistémico subjacente àpresente crise económica”,justificou o Governo, apesar deter salientado que a “crise in-

ternacional que temos vindo aatravessar, sendo largamentedevida a falhas de regulação dosmercados financeiros”. Ora,para o banqueiro, “verifica-seuma produção legislativa in-tensa – interna e externa – di-reccionada ao sistema financei-ro, complexa e de impacto ge-nericamente desfavorável nosfactores de atracção do sector”.Nesse sentido, no seu entender,“as medidas discriminatórias,contribuem para distorções demercado importantes, lesivasdo bom funcionamento e da re-putação do sistema financeiro eda economia”.

O vice-presidente do conse-lho de administração do Banifrecordou que o sector bancárionacional paga uma dasmais altastaxas de tributação efectiva, deentre os diversos sectores de acti-vidade económica. Carlos DuartedeAlmeida afirmou, por isso, que“ amedida é irrelevante do pontode vista financeiro para o Esta-do”, “negativa para o sector”, aoafectar a capacidade de premiar omérito, e inclusive apelidando de“discriminação injusta” para osector.■ComP.C.S.

Paulo Macedo, vice-presidente doBCP, diz que a banca tem sido alvode “legislação intensa”.

Paulo Alexandre Coelho

Propostas do OEpara a banca

A proposta de Orçamento doEstado para 2010 prevê, recorde--se, a criação de uma nova taxade imposto para os gestoresbancários. O Governo queraprovar uma taxa autónoma deIRC de 35% sobre os bónus eoutras remunerações variáveispagas a gestores,administradores ou gerentes.Para além deste imposto, o OEprevê ainda uma taxa,semelhante à aplicada por paísescomo a França ou o Reino Unido,de tributação de 50% dos“gastos ou encargos relativos abónus e outras remuneraçõesvariáveis, pagas ou apuradas noano de 2010 por instituições decrédito e sociedades financeiras,a administradores ou gerentes”.Ambos os impostos só serãoaplicados a gestores em que aremuneração variável representemais de 25% da remuneraçãoanual e possuam valor superior a27,5 mil euros anuais. Outras dasmedidas previstas no Orçamentovisa reduzir os benefícios fiscaisque a banca pode deduzir emimpostos. O Executivo de JoséSócrates quer ainda alterar de60% para 75% o valor mínimoque as entidades terão de pagarde IRC, independentemente dosbenefícios fiscais de queusufruam.

“Verifica-se umaprodução legislativaintensa, direccionadaao sistema financeiro,complexa e deimpactogenericamentedesfavorável nosfactores de atracçãodo sector”, afirmouPaulo Macedo, vice-presidente doMillennium bcp.

Conferência

do Diário

Económico

Banqueiros apelidam tributaçãodos bónus de “medida política”O objectivo “moralizador” do agravamento de impostos na banca suscita muitas dúvidas ao sector.

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1 Aspecto daconferência sobre oOrçamento de 2010,organizada pela OTOC epelo Diário Económico,que levou mais de 1.300pessoas ao grandeauditório do CentroCultural de Belém.

2 Fernando Gomes,administrador da GalpEnergia, foi umadas personalidadespresentes.

3 Diogo Ortigão Ramos,advogado, sócioda Cuatrecasas,Gonçalves Pereira.

4 João Coutinho,administradordo Barclays e JoãoPeleteiro, directorde business marketingdo mesmo banco.

5 Luís Mira Amaral,presidente do BancoBIC Português conversacom Joaquim SilvaCorreia, presidenteda Finangeste.

6 Carlos Duartede Almeida, vice--presidente do Banif,troca impressões comLuís Magalhães,‘partner’ da KPMG.

7 Norberto Rosa,administrador da CaixaGeral de Depósitos, àchegada à conferência.

8 Os participantesinteressados na ediçãodo Diário Económico.

9 Azevedo Pereira,director-geral dosImpostos, conversa comDomingues de Azevedo,presidente da OTOC.

10 O primeiro-ministroà entrada paraa conferênciaacompanhado pelodirector do Económico,António Costa.

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Fotos:João

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