governanÇa global energÉtica e a transiÇÃo … · impacto do uso da energia sobre o ciclo...

21
2o Seminário de Pós-Graduação da ABRI: “Os BRICS e as transformações da ordem global” 28 a 29 de agosto de 2014, João Pessoa – PB Workshop doutoral: GOVERNANÇA GLOBAL ENERGÉTICA E A TRANSIÇÃO PARA O BAIXO CARBONO: INSERÇÃO DE BRASIL, ÍNDIA E CHINA Larissa Basso –doutoranda Instituto de Relações Internacionais – Universidade de Brasília (UnB) Campus Darcy Ribeiro, Caixa Postal 04306, 70904-970, Brasília – DF, Brasil http://irel.unb.br

Upload: nguyennguyet

Post on 14-Dec-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

2o Seminário de Pós-Graduação da ABRI: “Os BRICS e as transformações da ordem global”

28 a 29 de agosto de 2014, João Pessoa – PB

Workshop doutoral:

GOVERNANÇA GLOBAL ENERGÉTICA E A TRANSIÇÃO PARA O BAIXO CARBONO:

INSERÇÃO DE BRASIL, ÍNDIA E CHINA

Larissa Basso –doutoranda

Instituto de Relações Internacionais – Universidade de Brasília (UnB)

Campus Darcy Ribeiro, Caixa Postal 04306, 70904-970, Brasília – DF, Brasil

http://irel.unb.br

RESUMO

A preocupação com a implementação de um modelo de desenvolvimento de baixo carbono está ligada à necessidade de mitigação dos impactos do atual modelo – intensivo no uso de recursos naturais e nas emissões de carbono – sobre o ambiente global. O modelo atual é insustentável porque resulta na ultrapassagem das fronteiras planetárias, os limites para a segurança da vida humana no planeta (ROCKSTROM et al, 2009). Dentre as fronteiras está a estabilidade do clima, seriamente ameaçada pelo acúmulo de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera. De acordo com o IPCC,78% das emissões de GEE produzidas entre 1970 e 2010 foram resultado daqueima de combustíveis fósseis para geração de energia e em processos industriais (IPCC, 2014). Seo controledas emissões de GEE está diretamente relacionado à produção e ao uso da energia, a análise da governança energética global passa a ser central para o modelo de desenvolvimento de baixo carbono.

A principal característica da atual governança energética global é sua fragmentação (DUBASH e FLORINI, 2011; FLORINI e DUBASH, 2011; MEYER, 2013). São 04 as grandes arenas nas RI contemporâneas em que a energia é central, por ordem de prioridade: impacto do uso da energia sobre o ciclo global do carbono, segurança energética, acesso à energia e combate a outras externalidades da produção e do uso de energia (CHERP, JEWELL e GOLDHAU, 2011). Nas 04 arenas, muitos são os atores – importante salientar que estamos no marco da governança global multidimensional multiestrato (VIOLA, FRANCHINI e RIBEIRO, 2013)–, 1 com interesses específicos e cujas ações não são coordenadas entre si. Além disso, falta coordenação entre energia e outros temas que interagem (direta ou institucionalmente, ou na mesa de negociações) com ela. Como resultado dessa complexidade, as negociações multilaterais para o desenvolvimento de baixo carbono têm resultados insatisfatórios: a cooperação é difícil porque o tema é de profundo dissenso, envolvendo a produção de bens públicos globais e graves conflitos sobre a distribuição das perdas e ganhos (KEOHANE e VICTOR, 2013).

Nesse sentido, pesquisas recentes têm focado a importância de fóruns intergovernamentais como comitês de direção (steering committees) da governança energética global (VAN DER GRAFF e WESTPHAL, 2011). Entre os fóruns intergovernamentais que exercem funções de comitês de direção da governança energética global, o G-8 foi o mais relevante até 2008, substituído então peloo G-20, que conta com maior representatividade global e reúne a maioria dos grandes produtores e consumidores de energia: dados de 2011 mostram que os 19 países-membros2 respondem por 73,2% do fornecimento mundial de energia, 78,6% do consumo de eletricidade e 75,9% das emissões de GEE (IEA, 2013).3

Os efeitos do alto carbono já estão sendo sentidos, em muitos casos de forma dramática. Há tecnologia suficiente para a transição ao desenvolvimento de baixo carbono; porém a governança energética global está apenas incipientemente no rumo da descarbonização, porque a mudança de patamar toca modelos econômicos e estilos de vida carbono-intensivos que permanecem centrais.Se resultados relevantes na direção da descarbonizaçãodependem do comprometimento dos países do G-20, investigá-los em suas diferenças e iniciativas é essencial para propor medidas que possibilitem o avanço da concertação internacional.

1Diversos atores – estatais e não estatais – agrupam-se, em alinhamentos e coalizões, e dão origem a instituições em diversos níveis – global, nacional, regional, local – com impacto sobre os diferentes temas das RI. 2Excluindo-se a União Europeia, por ser um agregado de países. 3Cálculo próprio com base em IEA Key world energy statistics 2013.

Dentre os emergentes do G-20, Brasil, Índia e China são atores chave na transição ao baixo carbono. Os três estão entre os 08 maiores emissores de GEE em números absolutos,4entre os 12 maiores produtores e entre os 10 maiores consumidores de energia.5 Também estão entre os 10 maiores produtores mundiais de tecnologia de energia de baixo carbono (WWF & ROLAND BERGER, 2012; THE PEW CHARITABLE TRUSTS, 2012).6 Como são altamente vulneráveis às mudanças climáticas, têm interesse objetivo na descarbonização; porém mantêm perfil conservador nas negociações multilaterais, ainda que com algum avanço rumo à reforma no caso de Brasil e China (VIOLA, FRANCHINI e RIBEIRO, 2013).Os 03 formam, com a África do Sul, a coalizão BASIC para atuar nas negociações climáticas multilaterais.

A pesquisa tem como objetivo analisar como os países emergentes do G-20 estão avançando na direção do desenvolvimento de baixo carbono e, dentre eles, Brasil, Índia e China. A análise é dividida em 03 partes. A primeira parte quer estabelecer parâmetros capazes de indicar progresso na direção do baixo carbono. A partir de pesquisa preliminar, será desenvolvido um índice que inclua variáveis políticas para medir avanço na direção do baixo carbono. A segunda parte utilizará o índice desenvolvido para classificar o desempenho, entre 2005 e 2015, dos países do G-20 na direção do baixo carbono. É previsto que os desempenhos vão variar substancialmente. Na terceira parte, as performances de Brasil, Índia e China serão analisadas em detalhe, em razão tanto (i) do valor intrínseco desses 03 casos para a governança energética global na transição para o baixo carbono, como (ii) da previsão de que o peso das diferentes variáveis independentes será diverso para os 03 países.

A pesquisa quer construir um esboço de explicação teórica sobre a transição de países emergentes para o baixo carbono por meio da compreensão de causas políticas e sociais profundas. A partir dela, será mais fácil identificaralguns dos porquês das coalizões e as possibilidades de novos arranjos cooperativos, mais bem sucedidos em obter resultados relevantes nessa arena de negociações.

PALAVRAS CHAVE:

Fronteiras planetárias; mudanças climáticas; descarbonização; governança energética global; países emergentes.

4 Dados para emissões derivadas da queima de combustíveis fósseis. 5Dados do Banco Mundial. Disponíveis em <http://data.worldbank.org/indicator>.Acesso em 28 Jul 2013. 6 China em 1º, Brasil em 5º e Índia em 10º lugar.

DESENVOLVIMENTO DE BAIXO CARBONO

A sustentabilidade tem ocupado a agenda internacional desde 1972, quando, na

Conferência da Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, surge o conceito de

ecodesenvolvimento: “desenvolvimento pleno precisa considerar o impacto no meio

ambiente”. Em 1987, o relatório “Nosso Futuro Comum” (WCED, 1987)adota o conceito de

desenvolvimento sustentável, definido como “desenvolvimento que supre as necessidades

das gerações atuais presente sem comprometer a habilidade de gerações futuras em suprir

suas próprias necessidades”, e consagrado na Conferência das Nações Unidas para o Meio

Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), de 1992. Apesar de mais precisa do que

ecodesenvolvimento, a noção de desenvolvimento sustentável é incapaz de fornecer

parâmetros concretos para políticas ambientais; por esse motivo, com o desdobrar das

discussões ambientais em diversos ramos, surgiram outras definições para nortear as

medidas a serem tomadas, entre elas a noção de desenvolvimento de baixo carbono

(desenvolvida no âmbito da CQNUMC), cuja essência é planejar o desenvolvimento

econômico dentro de uma estratégia de baixas emissões de carbono, tornando-

oestruturalmente compatível com a manutenção do clima (UNDESA, 2012, p. 51).

O conceito de economia verde surgiu no título de um relatório encomendado pelo

governo britânico,7 e passou, a partir do início da crise econômico-financeira mundial, a ser

o lema de um novo modelo econômico. Não há definição oficial para economia verde, mas a

mais disseminada é: “economy that results in improved human well-being and social equity,

while significantly reducing environmental risks and ecological scarcities” (PNUMA, 2011, p.

02). A discussão foi incluída na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento

Sustentável, de 2012, mas não houve avanço em tornar o conceito mais prescritivo: o texto

final da conferência fala que a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável

e da erradicação da pobreza é considerada “one of the important tools available for

achieving sustainable development and that it could provide options for policymaking but

should not be a rigid set of rules” (UNCSD, 2012).

O conceito de economia verde, assim como o de desenvolvimento sustentável,

pretende uma alteração profunda na estrutura socioeconômica, tornando-a compatível com

a manutenção do equilíbrio ambiental. Especula-se que sua tradução mais concreta seria a

de um modelo econômico que respeita as nove fronteiras planetárias já identificadas e

quantificadas pela ciênciacomo limites à ação humana antes de uma disrupção ambiental

sistêmica: perda de biodiversidade, ciclo do nitrogênio e do fósforo, depreciação da camada

de ozônio, acidificação dos oceanos, uso da água doce, mudanças no uso dos solos,

7PEARCEet al.Blueprint for a Green Economy, 1989.

poluição por aerossóis e contaminação química (ROCKSTROM et al, 2009).É um parâmetro

complexo, e ainda sem métrica definida, ao contrário do desenvolvimento de baixo carbono,

com métrica relativamente conhecida e clara: intensidade-carbono – quantidade de

emissões de CO2 por unidade de produto (PIB). Por esse motivo, adota-se, nessa, pesquisa

o último.

A ENERGIA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONTEMPORÂNEAS

A energia aparece nas RI contemporâneas em três grandes arenas de governança:

segurança energética, acesso à energia e combate às externalidades da produção e do uso

de energia (CHERP, JEWELL e GOLDHAU, 2011, p. 81). A primeira arena emerge no

contexto dos choques de petróleo nos anos 1970. Tem atuação predominante de Estados e

suas alianças – a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), a IEA (criada

no âmbito da OCDE), o Fórum Internacional de Energia (IEF), a Organização Latino-

Americana de Energia (OLADE), e a Organização para Cooperação de Xangai (SCO) –,

complementada por acordos multilaterais e bilaterais no âmbito do acesso a recursos e

infraestrutura de energia; relaciona-se ocasionalmente com cooperação e desenvolvimento

econômico, comércio, não proliferação nuclear, corrupção e práticas de boa governança. O

objetivo principal da arena tem sido a estabilidade do mercado de petróleo; como

consequência, os mecanismos objetivam assegurar o fornecimento e controlar os preços no

mercado de petróleo, e têm base em cotas de exportação (OPEP) e controle de estoques de

petróleo (IEA), complementados por compilações estatísticas e divulgação centralizada

desses dados (CHERP, JEWELL e GOLDHAU, 2011, p. 81).

A segunda arena desenvolve-se preponderante a partir dos anos 1980, no contexto da

agenda internacional de desenvolvimento; tem foco no acesso à energia para os países em

desenvolvimento, eabrange temas como tecnologias de fornecimento e infraestrutura para

produção de energia; interage com combate à pobreza e desenvolvimento sustentável.

Recursos para obras de infraestrutura, para tecnologias de acesso à eletricidade, e para

eletrodomésticos e combustíveis modernos para cozinhar são exemplos de iniciativas. Os

atores principais são ligados à comunidade internacional de desenvolvimento –

organizações de desenvolvimento econômico, bancos internacionais e regionais de

desenvolvimento, agências de desenvolvimento e organizações não governamentais. Os

mecanismos principais são o direcionamento de fluxos financeiros internacionais para

ampliar o acesso à energia – empréstimos, a países ou a comunidades (microcrédito) – e a

assistência técnica. A arena é marcada por iniciativas com baixos níveis de compromisso e

coordenação, e pouca coerência e eficiência no longo prazo(CHERP, JEWELL e GOLDHAU,

2011, p. 81-82).

A terceira arena emerge no contexto das discussões sobre sustentabilidade, que

ganham força nos anos 1990. Elafoca a redução dos impactos dos sistemas energéticos

(produção, distribuição e uso da energia) no meio ambiente, e interage especialmente com o

regime do clima, uma vez que as emissões de gases de efeito estufa (GEE) são diretamente

responsáveis pelas mudanças climáticas; por isso, o principal objetivo da arena é a

descarbonização dos sistemas energéticos. Seus contornos são menos definidos, porque

interage intrinsecamente com outros temas; seus atores são diversificados – Estados,

Organizações Internacionais, ONGs, comunidade epistêmica –, e não focados apenas em

energia; e há diversidade institucional e estrutural. Os instrumentos de governança variam:

há acordos internacionais vinculantes, declarações não vinculantes, e fluxos – formais e

informais – de assistência tecnológica e financeira, de disseminação de conhecimento e

informação, e de capacitação. Sua influência na descarbonização dos sistemas energéticos

têm sido baixa, em razão da complexidade do problema da mudança do clima e de seu

enfrentamento (CHERP, JEWELL e GOLDHAU, 2011, p. 82-83).

A mudança do clima é um problema complexo e de tratamento bastante difícil; sua

mitigação requer implementação de medidas que tocam questões centrais da realidade

contemporânea, como fontes de energia, estilos de vida, instituições e governança, formas

de organização econômica e valores (STEFFEN, 2011, p. 21; JAMIESON, 2011, p. 38-42).

São suas características: (i) ser intrinsicamente global, centrado em alterações na atmosfera

e no oceano; (ii) operar em uma escala de tempo estranha à experiência quotidiana

humana; (iii) envolver profundas questões de equidade, intra e intergerações; (iv) não

apresentar linearidade causa-efeito; (v) desafiar o quadro institucional e os sistemas

jurídicos, não preparados para lidar com questões que extrapolam a lógica causa-efeito

(STEFFEN, 2011, p. 22-26). Sua relevância para a vida humana tornam-na um dos macro-

vetores civilizatórios principais da sociedade contemporânea, ao lado da globalização e da

hegemonia das democracias (VIOLA, FRANCHINI e RIBEIRO, 2013, p. 37).

A mitigação das mudanças climáticas requer a descarbonização: diminuição da

concentração de carbono na atmosfera. Esta “willonlybesuccessfullyachieved as a

benefitcontingentuponothergoalswhich are politicallyattractiveandrelentlesslypragmatic”

(PRINS et al, 2010, p. 05). São nove os vetores principais para a descarbonização global: (i)

acelerar o ritmo da eficiência energética; (ii) descarbonizar a matriz energética mundial; (iii)

usar carros híbridos e transporte coletivo; (iv) parar o desmatamento e reflorestar; (v) utilizar

técnicas agropecuárias virtuosas, (vi) reduzir o consumo de carne nos países de maior

renda; (vii) usar eficientemente a água; (viii) acelerar o desenvolvimento de tecnologias de

captura e sequestro de carbono fóssil; (ix) diminuir reuniões presenciais e tráfego aéreo

(VIOLA, FRANCHINI e RIBEIRO, 2013, p. 143-144). Essas mudanças exigem novas

tecnologias e designs, mas, principalmente, mudanças políticas e culturais, que são

altamente influenciadas por complexos processos sociais e psicológicos (VEIGA, 2011, p.

410).

O desafio da eficiência energética e da descarbonização das fontes de energia não é

técnico (PACALA e SOCOLOW, 2004). Existe uma variedade de tecnologias já maduras,

que são – ou podem ser – empregadas, em escala comercial e de forma rentável, entre

elas: eletrodomésticos menos energia-intensivos; técnicas para aproveitamento da luz solar

em edifícios; aquecimento de água por energia solar; eletricidade gerada por energia eólica,

gases de aterros sanitários, nuclear, energia geotérmica e marés; veículos movidos a gás

natural, biomassa e íons de lítio. Outra quantidade está em estágio pré-comercial; muitas

outras encontram-se em estágios de demonstração ou pesquisa e desenvolvimento

(DIESENDORF, 2011, p. 565).

A prioridade sociopolítica dada à causa, todavia, é questionável (KEOHANE e

VICTOR, 2013, p. 98).Há sinais positivos: o aumento de popularidade de partidos políticos

verdes; a conscientização crescente da importância da reciclagem; o desenvolvimento de

índices de intensidade energética (unidades de energia por uma unidade do PIB) e

intensidade-carbono (unidades de emissão de CO2 por uma unidade do PIB). Entretanto há

também sinais contrários: as mudanças climáticas, em geral, não recebem a devida

atenção; as pessoas não aceitam pagar mais pela energia, ainda que a internalização do

custo social total de sua geração e de seu consumo seja chave para uma política energética

de baixo carbono (KEOHANE e VICTOR, 2013, p. 98); a disseminação do padrão de vida

consumista perpetua o alto consumo energético per capita,8 insustentável se adotado por

todos os países do mundo. A sociedade enfrenta um profundo conflito de valores que afeta

os rumos da descarbonização (JAMIESON, 2011, p. 49-50).

A análise das políticas públicas também não é animadora. Há boas iniciativas em

eficiência energética: diversos países aderiram ao fórum de alto nível Ministerial para

Energia Limpa (CEM) e têm políticas que incentivam o consumo de aparelhos, veículos e

performances industriais menos energia ou carbono-intensivos;9 também são múltiplas as

políticas de investimento na produção e de incentivo ao uso de energias de baixa emissão

de carbono.10 No entanto nos mesmos países existem importantes políticasde incentivo a

8Dados do Banco Mundial, <http://data.worldbank.org/indicator/EG.USE.ELEC.KH.PC/countries?display=map>, acesso em 16 jul 2013. 9 Dados disponíveis em <http://www.cleanenergyministerial.org/OurWork/Initiatives.aspx>. Acesso em 16 Jul 2013. 10Renewable Energy Policy Network (REN 21). Disponível em <http://map.ren21.net>. Acesso em 16 jul 2013.

combustíveis fósseis, entre elas subsídios diretos e indiretos (FMI, 2013), que muitas vezes

neutralizam as medidas a favor do baixo carbono.

Houve avanços na direção da descarbonização da matriz energética mundial: entre

1973 e 2010, fontes de energia menos intensas em carbono passaram de 29,3% para

40,3% do total; a produção de gás natural aumentou em 176%, a de energia nuclear em

1.257% e a de hidroenergia em 171%; e a produção de eletricidade via matrizes de baixo

carbono,de 37% para 44,8% (IEA, 2012a).No entanto a maior parte da energia consumida

no mundo ainda provém da queima de carvão e petróleo: em 2010, carvão e petróleo juntos

somaram 59,7% do total da energia produzida no mundo e 45,2% da eletricidade; de 1973 a

2011, a produção mundial de petróleo aumentou em 40%, e a de carvão, em 156% (IEA,

2012a). Entre 1990 e 2011 houve declínio da intensidade-carbono da economia mundial,

mas foi de menos de um quarto (IEA, 2012b),11 evidenciando que mundo ainda está distante

de completar a transição para o baixo carbono.

Em síntese, apesar da relevância da transição ao baixo carbono, ainda há barreiras

para que ela se concretize, fundadas na dissociação temporal e espacial das causas e

efeitos do alto carbono – em especial nas mudanças climáticas (JAMIESON, 2011) –, e na

ausência de políticas energéticas coerentes, que decorre da competição entre prioridades

divergentes nas sociedades (KEOHANE e VICTOR, 2013, p. 98).

GOVERNANÇA GLOBAL MULTIDIMENSIONAL MULTIESTRATO

Adota-se, nesta pesquisa o marco analítico da governança global multidimensional

multiestrato (VIOLA, FRANCHINI e RIBEIRO, 2013, p. 201 e ss). Desde a década de 1990,

a globalização e os conflitos intraestatais tornaram visível que relações, redes e associações

afetam as relações interestatais. Reconheceu-se o caráter social das Relações

Internacionais, e que é preciso considerar, em política internacional, outros atores e suas

relações, que competem com ou complementam a atuação dos Estados (PETERS, 2012, p.

19; BARNETT e SIKKING, 2010, p. 63-64 e 70). O próprio Estado deixa de ser considerado

um ator unitário para ser visto como um conjunto de comunidades plurais, heterogêneas, por

vezes desagregadas nas tomadas de decisão (SCHOLTE, 2008, p. 306; KOENIG-

ARCHIBUGI, 2010, p. 21).

Governança pode ser definida como “the maintenance of collective order, the

achievement of collective goals, and the collective processes of rule through which order and

goals are sought”(ROSENAU, apud BARNETT e SIKKING, 2010, p. 63), e governar como

11 A redução foi de 23,6% (emissões de CO2, em kg, por unidade do Produto Nacional Bruto corrigido para paridade de compra).

capacidade de dirigir, de conduzir o encaminhamento de questões (LEVI-FAUR, 2012, p. 03).

Seu objeto é a construção social do que deve ser governado, a forma como estruturas

domésticas, internacionais e transnacionais moldam os encaminhamentos, bem como

questões de legitimidade, de responsabilidade e de poder (BARNETT e SIKKING, 2010, p.

67-69) – que é considerado em suas dimensões múltiplas: compulsório (controle direto de

um ator sobre outro), institucional (controle indireto), estrutural (constituição estrutural das

capacidades do sujeito) e produtivo (produção discursiva da subjetividade) (BARNETT e

SIKKING, 2010, p. 79).

A governança global deve ser considerada no marco da transição de uma ordem

internacional para uma ordem global (KACOWICZ, 2012p. 686-688). Ela pode ser definida

como:

“The sum of the many ways individuals and institutions, public and private, manage their

common affairs. It is a continuing process through which conflicting or diverse interests may

be accommodated and co-operative action may be taken. It includes formal institutions and

regimes empowered to enforce compliance, as well as informal arrangements that people and

institutions either have agreed to or perceive to be in their interest”(COMISSÃO DAS

NAÇÕES UNIDAS SOBRE GOVERNANÇA GLOBAL, 1995).

A governança global é multiestrato porque considera os diversos atores capazes de

direcionar as questões políticas contemporâneas, nos diversos estratos de atuação: atores

estatais e não estatais – com especial atenção para a política doméstica e para os atores

transnacionais –, individualmente ou em alinhamentos e coalizões que se inter-relacionam e

que co-constituem os níveis global, nacional, regional e local (BARNETT e SIKKING, 2010,

p. 70-73; VIOLA, FRANCHINI e RIBEIRO, 2013, p. 201 e ss;ZURN, 2012, p. 736-738). E é

multidimensional porque a complexidade das questões a serem direcionadas escapa a

abordagens unidisciplinares, exigindo, portanto, um marco necessariamente multidisciplinar

(VIOLA, FRANCHINI e RIBEIRO, 2013, p. 201 e ss; ZUMBASEN, 2012, p. 89-92).

GOVERNANÇA ENERGÉTICA GLOBAL E O G-20 NA TRANSIÇÃO AO BAIXO CARBONO

É característica dos sistemas energéticos a amplitude de elementos interconectados,

a interação entre sistemas naturais, sociais e tecnológicos, uma alta dependência das

escolhas já feitas e, como todo sistema complexo, a capacidade de mudanças rápidas e

imprevisíveis (CHERP, JEWELL e GOLDHAU, 2011, p. 75-77). A transição para o baixo

carbono pressupõe profundas transformações dos sistemas energéticos para dar suporte a

objetivos de preservação do meio ambiente, especialmente o clima, ao mesmo tempo em

que preservam sua viabilidade econômica e tecnológica. Esse desafio implica a

coordenação de tecnologias e de práticas, harmonizando objetivos de curto e de longo

prazos – planejados simultaneamente, e não sucessivamente –, e a consciência de que a

interdependência, tanto entre as matrizes energéticas nacionais como entre setores

energéticos e não energéticos, vai aumentar. A governança de processos complexos deve

(i) harmonizar previsibilidade (estabilidade, coerência e eficiência) e flexibilidade (inovação e

diversidade, necessárias para lidar com não linearidade); (ii) coordenar setores e escalas,

centralização e descentralização; e (iii) assegurar a participação de todos os atores

envolvidos na transição. Ela é necessariamente multiestrato e policêntrica (CHERP,

JEWELL e GOLDHAU, 2011, p. 77-80).

A principal característica da atual governança energética global é sua fragmentação

(DUBASH e FLORINI, 2011, p. 06-07; FLORINI e DUBASH, 2011, p. 01-02; MEYER, 2013,

p. 01-03). Ela ocorre porque os atores, em especial as instituições, surgiram para lidar com

questões conforme essas emergiam, e não para planejar os desafios de longo prazo

(MEYER, 2013, p. 01). 12 São muitos atores, na maioria das vezes ligados a fontes

energéticas específicas, cujas ações não são coordenadas entre si e muitas vezes carecem

de legitimidade e de efetividade (FLORINI e DUBASH, 2011, p. 02). A ausência de

efetividade decorre da fragmentação: instituições e regras transnacionais promovem

inovações políticas, mas nem sempre compartilham princípios e normas ou conseguem

influenciar políticas nacionais; e, quando conseguem, a governança nacional nem sempre

têm capacidade e coerência para integrar as considerações globais às iniciativas políticas

nacionais (DUBASH e FLORINI, 2011, p. 06-08; FLORINI e DUBASH, 2011, p. 02). As

políticas nacionais em energia, por sua vez, muitas vezes almejam objetivos que estão

muito além do escopo de qualquer governo nacional singularmente considerado. Além disso,

a falta de coordenação de iniciativas em energia com as de outros temas que interagem

(direta ou institucionalmente, ou na mesa de negociações) com ela – e.g. clima, comércio,

investimentos, pobreza – também afeta sua efetividade (FLORINI e DUBASH, 2011, p. 02;

MEYER, 2013, p. 03-05). Aumentar a cooperação energética, portanto, é tema chave nas

Relações Internacionais contemporâneas (DUBASH e FLORINI, 2011, p. 07-11; FLORINI e

DUBASH, 2011, p. 01-02).

As condições para cooperação em nível global variam de acordo com a natureza do

problema em questão, especialmente duas dimensões: (i) o grau de conflito entre interesses

dos Estados; e (ii) em que medida os benefícios da cooperação podem ser capturados pelos

12 E.g. a OPEP foi criada “to coordinate and unify the petroleum policies of its Member Countries and ensure the

stabilization of oil markets in order to secure an efficient, economic and regular supply of petroleum to

consumers, a steady income to producers and a fair return on capital for those investing in the petroleum

industry” (<http://www.opec.org/opec_web/en/about_us/23.htm>, acesso em 22 jun 2013), enquanto a IEA surgiu “to help countries co-ordinate a collective response to major disruptions in oil supply through the release

of emergency oil stocks to the markets” (<http://www.iea.org/aboutus/whatwedo/>. Acesso em 22 Jun 2013).

Estados que cooperam (se não podem, são difusos) (KEOHANE e VICTOR, 2013, p. 99).

Há quatro estruturas básicas de cooperação: (i) harmonia: países têm incentivo em cooperar,

porque a cooperação produz primordialmente bens privados e baixos conflitos sobre

distribuição de perdas e ganhos; (ii) cooperação hegemônica: envolve bens públicos, mas

como o país que mais ganha com a cooperação aceita incorrer nos maiores custos para

promovê-la, a cooperação acontece; (iii) iteração: envolve a produção de bens privados e

importantes conflitos sobre distribuição de perdas e ganhos, mas as sucessivas rodadas de

negociação aumentam a possibilidade de cooperação visando ganhos de longo prazo; e (iv)

profundo dissenso: envolvem produção de bens públicos e graves conflitos sobre a

distribuição das perdas e ganhos, resultando em cooperação improvável. Nesse último caso,

a possibilidade de cooperação aumenta conforme as questões de dissenso são

destrinchadas em pontos em que harmonia, cooperação hegemônica ou iteração são

possíveis (KEOHANE e VICTOR, 2013, p. 99-100).

O tema da cooperação energética na transição para o baixo carbono encaixa-se na

categoria de profundo dissenso. Como os interesses são conflitantes – e.g. dissenso entre

países com grande disponibilidade de combustíveis fósseis e países sem essa

disponibilidade; discussões sobre a responsabilidade histórica pelas emissões de GEE, os

custos da alteração da matriz energética e seus benefícios, que serão desfrutados por

gerações futuras –, as tentativas de criar regime único e coerente de energia fracassam.

Mais construtivo do que tentar construir esse regime único é aceitar que o tema conforma

um complexo de regimes, e que a flexibilidade e a adaptabilidade – características de

sistemas complexos – podem ser aproveitadas por comportamentos estratégicos que criem

convergência de interesses, em questões particulares ou entre grupos menores de atores

(KEOHANE e VICTOR, 2013, p. 104-107).

Nesse sentido, pesquisas recentes têm focado a importância de fóruns

intergovernamentais como comitês de direção (steering committees) da governança

energética global. Um comitê de direção é um mecanismo diplomático que encoraja o

consenso entre países com capacidade para e intenção de produzir bens comuns

internacionais; ele complementa o trabalho das instituições multilaterais, com o objetivo de

aprofundar a coerência política internacional. As funções de um comitê de direção são

liderança interna e externa. No primeiro caso, as negociações diminuem o custos de

transação e aumentam a transparência e a confiança entre os participantes, dando origem a

posições comuns e, em alguns casos, a uma identidade compartilhada; além disso,

promovem a coordenação das políticas nacionais na transição para a economia de baixo

carbono, com provável propagação para os demais países do mundo. No segundo caso, a

atuação do comitê molda a agenda internacional em torno dos pontos que têm destaque nas

negociações, especialmente quando estabelece princípios globais que devem nortear a

atuação dos países, e direciona os trabalhos das instituições multilaterais (VAN DEN

GRAFF e WESTPHAL, 2011, p. 20-21).

Entre os fóruns intergovernamentais que exercem funções de comitês de direção da

governança energética global, o G-8 foi o mais estudado. Em geral, sua atuação foi uma

reação aos desenvolvimentos do mercado de energia, e não uma iniciativa de planejamento

de longo prazo. Produziu declarações coerentes e obteve progresso em temas de pouca

controvérsia, mas houve pouca ação e grandes divisões em temas nos quais os países têm

perfil conflitivos (e.g. entre exportadores e importadores líquidos de energia). Não se pode

deixar de citar o Plano de Ação de Gleneagles sobre Mudanças Climáticas, Energia Limpa e

Desenvolvimento Sustentável,13 marco da Conferência de Cúpula de 2005, documento que

declaroudescarbonização energética e clima como desafios inter-relacionados, formulou 63

compromissos (não vinculantes) de ação política, convidou organizações internacionais para

desenvolver pesquisas e fazer recomendações para o grupo, e criou a Parceria Global em

Bioenergia (GPEB) (VAN DEN GRAFF e WESTPHAL, 2011, p. 22-25).

Pesquisas mais recentes têm foco no aproveitamento do G-20 como comitê de

direcionamento das negociações multilaterais do clima. Em primeiro lugar, o grupo conta

com maior representatividade global em relação ao G-8, o que favorece uma melhor

interação com as organizações multilaterais. Em segundo lugar, os países do G-20, em

conjunto, respondem por 73,22% (IEA, 2013)14 do total de energia – globalmente, a maior

fonte de emissões de GEE – utilizada no mundo e por 74,39% (IEA, 2013)15 do total mundial

de emissões de GEE, e “(…) ultimately, it isthe major consumernationsthatneedtotakethe

lead in thetransitiontowards a low-carbon future” (VAN DEN GRAFF e WESTPHAL, 2011, p.

22-25, citação na p. 26). Em terceiro lugar, reuniões de cúpula são mais ágeis e flexíveis do

que reuniões multilaterais tradicionais, uma vez que participam delas os principais

representantes políticos dos países, autorizados a tomar decisões de cúpula em nome de

seus representados (VAN DEN GRAFF e WESTPHAL, 2011, p. 21-22).

Além de potencializar a obtenção de um acordo que envolva os países com papel

central para mitigar as mudanças climáticas em prazo menor do que o de negociações

multilaterais, a efetividade de um acordo firmado neste fórum pode ser maior do que a do

obtido em organizações multilaterais se desprovidas de mecanismos de sanção para

comportamentos desviantes, como é o caso da CQNUMC. Essa maior efetividade é dada

pelo engajamento político de alto nível dos participantes e pela periodicidade maior dos

13 Disponível em <http://www.g8.utoronto.ca/summit/2005gleneagles/index.html>, acesso em 28 Jul 2013. 14 Total de energiaprimáriautilizada (TPES). Cálculopróprio. 15Emissões de CO2. Cálculopróprio.

encontros, cuja proximidade entre os participantes pode dar origem a mecanismos políticos

de pressão mais efetivos. O aumento de efetividade também é assegurado pela

possibilidade de que os países membros do G-20 assumam obrigações mais ambiciosas

quando reunidos em um fórum intergovernamental de negociação mais direta entre os

participantes, uma vez que aumentam as possibilidades de barganha e de compensação

entre eles e diminuem as chances de uma vinculação institucional das obrigações

assumidas. Perde-se em previsibilidade, mas, se as obrigações são levadas a sério, ganha-

se em abrangência e efetividade (VAN DEN GRAFF e WESTPHAL, 2011, p. 22).

Entre 2009 e 2011, o G-20 estabeleceu quatro grupos de trabalho em temas

relacionados à mitigação das mudanças climáticas: (i) o grupo de trabalho sobre subsídios a

combustíveis fósseis, (ii) o grupo de trabalho sobre volatilidade de preços de combustíveis

fósseis, (iii) o grupo de trabalho sobre proteção do meio ambiente marinho global (criado

após o derramamento de petróleo da British Petroleumno golfo do México), e (iv) o grupo de

trabalho sobre energia limpa e eficiência energética (C3E). Os resultados dessas iniciativas

ainda são pequenos, porém (VAN DEN GRAFF e WESTPHAL, 2011, p. 25-26). No entanto,

o relativo sucesso da concertação entre os países para evitar um aumento do protecionismo

em decorrência da crise financeira mundial é animador: se estendido para outros temas,

como o das mudanças climáticas, poderia dar origem a resultados muito mais significativos

do que os até agora obtidos pelas negociações climáticas multilaterais, e em espaço de

tempo bastante mais curto.

Para que o G-20 possa ser verdadeiramente um fórum de direcionamento da transição

global ao desenvolvimento de baixo carbono, é preciso que os países membros participem

com seriedade das reuniões, buscando contribuir de maneira substantiva e duradoura para

seu sucesso (VAN DEN GRAFF e WESTPHAL, 2011, p. 22). Além disso, analisar as causas

profundas dos conflitos de interesses entre eles pode ser extremamente vantajoso para

promover acordos que incluam compensações por comportamentos alinhados à mitigação

das mudanças climáticas, mas que não seriam adotados sem elas (KEOHANE e VICTOR,

2013, p. 107; DUBASH e FLORINI, 2011, p. 08-10; MEYER, 2013, p.05-06). De fato, a

compreensão da complexidade criada pelas mudanças dinâmicas e pela competição

institucional e regulatória, dos conflitos de interesses e do papel das políticas nacionais na

governança energética global é essencial para determinar comportamentos estratégicos que

podem ser adotados no âmbito do G-20 para acelerar a descarbonização mundial (DUBASH

e FLORINI, 2011, p. 11-15).

BRASIL, ÍNDIA E CHINA

A ascensão de novos países no cenário internacional e a transição para uma realidade

multipolar são elementos constantes na literatura contemporânea das Relações

Internacionais (HAASS, 2008; IKENBERRY, 2011;NYE, 2011). A multipolaridade é

característica de um sistema de países heterogêneos entre si em relação a instrumentos de

poder, capacidade de influenciar a agenda internacional, população, recursos e valores.

Sendo heterogênea, a ordem multipolar traz grandes desafios de coordenação para as

relações internacionais (IKENBERRY, 2011;NYE, 2011).

Entre os países que emergem para a relevância global estão Brasil, Índia e China. Os

três países têm grandes territórios e populações, são economias em crescimento –

aumentam seu poder econômico – e exercem influência em suas regiões. Em outras

dimensões do poder internacional, todavia, são bastante diferentes: o Brasil tem soft power;

a China tem poder militar; a Índia tem recursos de poder militar e algum soft power(NYE,

2011, p. 153-204). Partindo de um dos patamares de desigualdade social mais altos do

mundo, o Brasil tem-na reduzido – de Gini de 61,4 (1990), passou a 54,7 (2009); A Índia tem

Gini de 33,9 (2009), mas 32,7% de sua população vive com menos de USD 1,25 por dia; na

China, a desigualdade social tem aumentado: de Gini de 32,4 (1990), passou a 42,06 (2009).

A corrupção ainda é um problema nos três países – o Brasil está em 69º, a China em 80º e

a Índia em 94º lugar entre os países menos corruptos do mundo –, assim como a qualidade

das instituições e dos serviços públicos (NYE, 2004, p. 88-89; NYE, 2011, p. 173-186).16

Brasil, Índia e China são atores chave na governança energética global na transição

ao baixo carbono. Os três países estão entre os 10 maiores emissores de GEE em números

absolutos (emissões da queima de combustíveis fósseis), entre os 20 maiores produtores e

os 10 maiores consumidores de energia, e entre os 10 maiores produtores mundiais de

tecnologia de baixo carbono. Em emissões de CO2 e consumo de energia per capita, no

entanto, os três apresentam montantes menores do que a média dos países da OCDE –

muito menores no caso da Índia.17

São três países vulneráveis às mudanças climáticas:as vulnerabilidades do Brasil e da

China são altas, e a da Índia, altíssima. Os países vêm sofrendo com eventos climáticos

16Ds dados do índice Gini, da linha de pobreza e da qualidade das instituições e dos serviços públicos são do Banco Mundial. Disponíveis, respectivamente, em <http://iresearch.worldbank.org/PovcalNet/index.htm?2>, <http://povertydata.worldbank.org/poverty/country/IND> e <http://data.worldbank.org/data-catalog/world-development-indicators>. Acesso 28 Jul 2013. Os dados sobre corrupção são da Transparência Internacional. Disponíveis em <http://www.transparency.org/country>. Acesso 28 Jul 2013. 17 Dados do Banco Mundial, de 2009: as emissões anuais de CO2 per capita, derivadas da queima de combustíveis fósseis, são de 1,7 toneladas métricas para o Brasil, 5,8 para China e 1,7 para Índia, e a média da OCDE é 8,7; em dados de 2010, o Brasil consome anualmente 1,3 toneladas de óleo equivalente per capita, a China 1,8 e a Índia 0,5, enquanto a média nos países da OCDE é de 4,4; o consumo anual per capita de eletricidade é de 2.381 quillowatts-hora no Brasil, 2.944 na China e 626 na Índia, e a média nos países da OCDE é de 9.550. Disponíveis em <http://data.worldbank.org/indicator> (utilizados para o cálculo da média da OCDE). Acesso 28 Jul 2013.

extremos – grandes enchentes nos três países, ondas de calor na China e na Índia, invernos

com recordes de baixas na China – e as previsões de longo prazo são catastróficas: e.g.

alteração do regime de chuvas e degelo do Himalaia, que afetarão a hidrografia de Índia e

China; alteração do clima das monções; aumento de áreas áridas no Brasil e na China.

Além dos transtornos para as populações desses países – seja em perigos para a vida ou

para o fornecimento de bens essenciais à vida, como a água –, é importante lembrar que os

três estão entre os maiores produtores mundiais de alimentos, 18 sendo o Brasil uma

potência exportadora de alimentos e a Índia com 68% da população dependendo do setor

primário para viver.19 O impacto da mudança do clima terá efeitos complexos nos três

países e repercutirá para o resto do mundo.

A alta vulnerabilidade às mudanças climáticas poderia servir de incentivo para que os

três assumissem metas de redução de emissões de GEE provenientes de suas matrizes

energéticas. Nas negociações climáticas, no entanto, os três têm perfil conservador: têm

metas voluntárias de redução, mas não necessariamente relacionadas à descarbonização

das economias – o Brasil ainda foca na redução do desmatamento para cumprir suas metas;

a Índia quer reduzir a intensidade-carbono do PIB em 20-25% para 2020 em relação aos

níveis de 2005, mas não aceita incluir a agricultura, seu principal setor produtivo, nos

cálculos; a China quer diminuir a intensidade entre 4-5% para o período 2005-2020, mas

não aceita assumir compromissos relacionados a um pico de emissões e a um ano de

estabilização anterior a 2020. Em relação a metas vinculantes, Brasil e China acenam com a

possibilidade de aceitarem-nas no futuro, sendo então considerados moderadamente

conservadores; a Índia, por sua vez, alega suas baixas emissões históricas e per capita, e a

necessidade de tirar centenas de milhões de pessoas da pobreza, como razões para não as

aceitar (VIOLA, FRANCHINI e RIBEIRO, 2013, p. 246-252, 271-288).

Em relação às matrizes energéticas, a da China é intensiva em carbono: em 2010, os

combustíveis fósseis forneceram 87,5% do total da energia consumida no país;2084,1% de

sua energia é produzida por petróleo e carvão, sendo 67,2% produzidos por carvão, a fonte

energética que mais libera GEE na atmosfera; 80,6% da eletricidade do país é gerada por

termoelétricas.21 O país é o maior produtor, importador e consumidor de carvão, tendo

produzido 3471 milhões de toneladas em 2011.22 O país tem aumentado sua capacidade

para gerar eletricidade via fontes renováveis – tem a maior usina hidroelétrica do mundo, a

18Dados da FAO. Disponíveis em <http://faostat.fao.org/site/339/default.aspx>. Acesso 28 Jul 2013. 19Dados do Banco Mundial. Disponíveis em <http://data.worldbank.org/topic/agriculture-and-rural-development>. Acesso 28 Jul 2013. 20Dados do Banco Mundial. Disponíveis em <http://data.worldbank.org/indicator/EG.USE.COMM.FO.ZS/countries>. Acesso 28 Jul 2013. 21Dados disponíveis em <http://www.reegle.info/countries/china-energy-profile/CN>. Acesso 17 Jul 2013. 22 Dados disponíveis em <http://www.worldcoal.org/resources/coal-statistics/>. Acesso 17 Jul 2013.

de Três Gargantas –, e investe pesadamente em energia eólica e solar, mas porcentagem

de energia de baixo carbono na matriz ainda é de apenas 4%.23 O meio ambiente tem

ganhado destaque na política chinesa nos últimos anos, com a edição do Plano Nacional de

Mudanças Climáticas em 2009 e do 12º Plano Plurianual (2011-2015), que inclui metas de

eficiência energética e de aumento da participação de energias renováveis na matriz.

Todavia subsídios diretos e indiretos à produção de combustíveis fósseis persistem, e há

políticas de controle de preços da energia. A burocracia chinesa, além da complexidade de

divisão de competências entre governo central e províncias, envolve as maiores empresas

do setor de energia, de propriedade do governo, que ocupam a mesma posição hierárquica

dos ministérios na estrutura governamental, acima da Agência Nacional de Energia que lhes

fiscaliza (IISD, 2010).

Na Índia, 72,7% da energia consumida provém de combustíveis fósseis,24 e o carvão

responde por 68,6% da eletricidade do país. O país é o 3º maior produtor mundial de carvão

e o 5º em reservas, tendo produzido 585 milhões de toneladas em 2011.25 A Índia tem baixa

eficiência energética (VIOLA, FRANCHINI e RIBEIRO, 2013, p. 250), e enfrenta sérios

problemas de infraestrutura e abastecimento: há blackouts importantes (como os de julho de

2012)e constantes, e 288 milhões de pessoas ainda não têm acesso à eletricidade.26 625

milhões dependem de biomassa para cozinhar.27 As importações de petróleo e carvão têm

aumentado.28 Há grandes investimentos em energia solar, eólica e etanol, e em pesquisas

para utilização do tório, em razão das grandes reservas no país; porém apenas 2,7% da

energia é produzida por fontes de baixo carbono;29 os políticos indianos favorecem o carvão

por conta das grandes reservas nacionais (DUBASH, 2011, p. 66-79). As mudanças no

pensamento estratégico a favor de outras fontes energéticas têm sido motivadas muito mais

pela incapacidade das reservas nacionais de carvão em atender a demanda do que pela

preocupação com o ambiente/clima, ainda em estágio embrionário (DUBASH, 2011, p. 68).

A burocracia indiana em energia é particularmente fragmentada e complicada: são cinco

Ministérios setoriais de energia, vinculados a combustíveis específicos e sem coordenação

entre si, e empresas estatais em toda a cadeia produtiva, incluindo produção, financiamento

23 Dados disponíveis em <http://www.reegle.info/countries/china-energy-profile/CN>. Acesso em 17 Jul 2013; Dados do Banco Mundial. Disponíveis em <http://data.worldbank.org/indicator/EG.USE.COMM.CL.ZS/countries>. Acesso 28 Jul 2013. 24Dados do Banco Mundial. Disponíveis em<http://data.worldbank.org/indicator/EG.USE.COMM.FO.ZS/countries>. Acesso 28 Jul 2013. 25 Dados disponíveis em <http://www.worldcoal.org/resources/coal-statistics/>. Acesso 17 Jul 2013. 26 Segundo o Banco Mundial, apenas 75% da população têm acesso à eletricidade. Dados disponíveis em <http://data.worldbank.org/indicator/EG.ELC.ACCS.ZS/countries>. Acesso 28 Jul 2013. 27 Dados disponíveis em <http://www.reegle.info/countries/india-energy-profile/IN>. Acesso 17 Jul 2013. 28 Dados disponíveis em <http://www.reegle.info/countries/india-energy-profile/IN>. Acesso 17 jul 2013. 29Dados do Banco Mundial. Disponíveis em<http://data.worldbank.org/indicator/EG.USE.COMM.CL.ZS/countries>. Acesso 28 Jul 2013.

e comercialização da energia. Há também dissociação entre política doméstica e externa em

energia (DUBASH, 2011, p. 68-75; VIOLA, FRANCHINI e RIBEIRO, 2013, p. 250-252).

Em comparação com os outros países, o Brasil possui uma matriz energética de baixo

carbono: as fontes fósseis são responsáveis por 53,5% da energia do país, e as de baixo

carbono, por 14,7%.30 83,8% da eletricidade é gerada por hidroelétricas.31 O país é produtor

do etanol de cana de açúcar, mas o setor de transportes é altamente dependente do

petróleo, pois transporte de cargas é predominantemente feito por caminhões movidos a

óleo diesel.32 Com a descoberta das reservas do pré-sal, há preocupação com o aumento

da participação de petróleo na matriz energética. O país tem importantes políticas de meio

ambiente, e políticas específicas em energia, tanto para alcançar eficiência energética –

como o Plano Nacional para a Eficiência Energética –, como para aumentar a parcela de

energia de baixo carbono na matriz, como o Plano Decenal de Energia 2030. Ainda assim,

subsistem distorções: o Plano Plurianual 2012-2015 prevê destinação de 19,1% dos 1194

bilhões de reais destinados a projetos de infraestrutura para a exploração de petróleo e gás

do pré-sal;33 as desonerações à gasolina estimulam a ineficiência energética e distorcem o

mercado de etanol, além de causarem grandes prejuízos financeiros para a Petrobras.34

DESENHO DE PESQUISA

O objetivo central da pesquisa é analisar como se inserem os países do G-20 e Brasil,

Índia e China na governança energética global no contexto da transição ao baixo carbono. A

hipótese central é que a inserção desses países será bastante diversa entre si, em razão do

peso de diferentes variáveis que contribuem para a transição ao baixo carbono. O G-20 é

escolhido por congregar os países maiores consumidores de energia e maiores emissores

de gases de efeito estufa: se esses países adotarem estratégias de aumento da eficiência

energética e de consumo de energias provenientes de fontes de baixo carbono, a transição

global ao baixo carbono avançará consideravelmente. Brasil, Índia e China são escolhidos

por seu valor intrínseco: são três países emergentes extremamente relevantes para a

governança energética global, por seu peso na produção e no consumo mundial de energia;

em razão de sua ascendência internacional, um acordo internacional de compromisso com

30Dados do Banco Mundial. Disponíveis em<http://data.worldbank.org/indicator/EG.USE.COMM.CL.ZS/countries>. Acesso 28 Jul 2013. 31Dados disponíveis em <http://www.reegle.info/countries/brazil-energy-profile/BR>. Acesso 19 Jul 2013. 32Dados disponíveis em <http://www.reegle.info/countries/brazil-energy-profile/BR>. Acesso 19 Jul 2013. 33Dados do Ministério do Planejamento, disponíveis em <http://www.planejamento.gov.br/secretarias/upload/Arquivos/spi/PPA/2012/mensagem_presidencial_ppa.pdf>. Acesso 19 Jul 2013. 34<http://www.sindpese.com/index.php?view=article&catid=68%3Aiceslider&id=1360%3Adesoneracao-da-gasolina-e-custo-maior-de-producao-destruiram-competitividade-do-etanol&option=com_content&Itemid=111>. Acesso 19 Jul 2013.

eficiência energética e descarbonização energética por parte dos países desenvolvidos

depende da participação conjunta desses três emergentes. O período de 2005 a 2015 é

escolhido porque em 2005 ocorreram os primeiros esforços internacionais para incluir a

questão energética nas discussões para a transição ao baixo carbono, conforme visto na

Conferência de Cúpula do G-8 + 5 com o Plano de Ação de Gleneagles sobre Mudanças

Climáticas, Energia Limpa e Desenvolvimento Sustentável, e 2015 é o prazo para que os

países entrem em acordo, no âmbito multilateral, sobre as novas regras que substituirão o

Protocolo de Quioto a partir de 2020.

A pesquisa é dividida em três partes, complementares. A primeira parte é descritiva, e

ferramenta para condução das demais partes. De acordo com uma revisão aprofundada da

literatura, será desenvolvido um índice de compromisso com baixo carbono que inclua

variáveis políticas. Em forma de pergunta, o objetivo é responder: “o que é compromisso

com baixo carbono?” A justificativa para essa parte da pesquisa é a de que não existe um

índice internacional de compromisso com o baixo carbono que inclua variáveis políticas;

existem apenas índices que medem a habilidade de diferentes economias nacionais para

produzir prosperidade para seus habitantes no contexto da restrição de emissões de

carbono.35 Como baixo carbono é uma questão complexa, que envolve muitas variáveis, a

melhor maneira de defini-lo é por meio de um índice em que a variável dependente é o

compromisso com a descarbonização, e diversas são as variáveis independentes, técnicas

e políticas. Para cada uma delas, serão buscados os dados para o período 2005-2015.

A segunda parte é uma análise comparativa. A partir do índice de compromisso com o

baixo carbono, serão verificados os desempenhos dos países do G-20, incluindo Brasil,

Índia e China, em relação a ele. O objetivo desta parte da pesquisa é responder a pergunta:

“qual o compromisso dos países do G-20, incluindo Brasil, Índia e China, com o baixo

carbono?” A análise comparativa permitirá uma série de conclusões que mostrarão o estado

da arte do compromisso do baixo carbono para os países estudados no período 2005 a

2015.

A terceira parte da pesquisa terá estudos de casos para Brasil, Índia e China. O

objetivo desta parte da pesquisa é responder a pergunta: “por que Brasil, Índia e China têm

compromisso baixo/alto com o baixo carbono?” Esses países são escolhidos dada a

impossibilidade de realizar estudos de caso para todos os países do G-20, e a escolha é

feita tendo em vista (i) a ausência ou pouco desenvolvimento de pesquisas, até o momento,

para esses três países e (ii) a importância da participação desses países na governança

35 E.g. ACCOUNTABILITY, Climate Competitiveness Index, 2010; OCDE, OECD Indicators for Green Growth, 2011; VIVID ECONOMICS, G20 low carbon competitiveness report, 2009 e 2013.

global da energia para a transição ao baixo carbono. A hipótese é os três países

apresentarão baixo compromisso com a descarbonização, mas que, em razão de sua

heterogeneidade, o peso de cada uma das variáveis na configuração do baixo compromisso

com a descarbonização será diverso.

Ao final, espera-se que a pesquisa chegue a conclusões sobre o que é compromisso

com o baixo carbono, como os países do G-20 se inserem na governança energética global

em relação a esse compromisso e quais as possíveis causas de um compromisso baixo

para Brasil, Índia e China. Sabe-se que as conclusões serão restritas e que os resultados

serão incertos, uma vez que outras causas que os estudos de casos não permitem testar

podem contribuir para o resultado encontrado; sabe-se também que outras variáveis, não

incluídas no índice, podem influenciar no compromisso com o baixo carbono. Ainda assim,

acredita-se quea pesquisa apontaráimportantes avanços ou obstáculos à implementação do

baixo carbono e possibilidadespara a ampliação da cooperação internacional dos países

neste tema fundamental para o futuro da humanidade.

REFERÊNCIAS

BARNETT, Michael;SIKKINK, Kathryn. From international relations to global society. REUS-SMIT, Christian; SNIDAL, Duncan (eds.). The Oxford Handbook of International Relations. Oxford: OUP, p. 62-83, 2010.

CHERP, Aleh; JEWELL, Jessica; GOLDHAU, Andreas. Governing global energy: systems, transitions, complexity. Global PolicyJournal, v. 02, n. 01, p. 75-88, 2011.

COMISSÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE GOVERNANÇA GLOBAL. Relatório Our Global Neighbourhood, 1995. Disponível em <http://www.gdrc.org/u-gov/global-neighbourhood/chap1.htm>. Acesso em 28 Jun 2014.

CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. The future we want, 2012. Disponível em <http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N11/476/10/PDF/N1147610.pdf?OpenElement>. Acesso 01 Jul 2013.

DIESENDORF, Mark. Redesigning energy systems. DRYZEK, John S.; NORGAARD, Richard B.; SCHLOSBERG, David (eds.). The Oxford Handbook of Climate Change and Society. Oxford: OUP, p. 561-578, 2011.

DUBASH, Navroz; FLORINI, Ann. Mapping global energy governance. Global Policy Journal, v.2, special issue, p. 06-18, 2011.

FLORINI, Ann; DUBASH, Navroz. Governing energy in a fragmented world. Global Policy Journal, v. 2, special issue, p. 01-05, 2011.

FMI. Energy subsidy reform: lessons and implications, 2013. Disponível em <http://www.imf.org/external/np/pp/eng/2013/012813.pdf>. Acesso 16 Jul 2013.

HAASS, Richard N. The age of nonpolarity: what will follow U.S. dominance. Foreign Affairs, v. 87, n. 03, p. 44-56, 2008.

IEA. Key World Energy Statistics 2012. Disponível em <http://www.iea.org/publications/freepublications/publication/name,31287,en.html>. Acesso em 22 jun 2013. (2012a).

IEA. IEA Statistics, CO2Emissions from fuel combustion highlights, 2012. Disponível em <http://www.iea.org/co2highlights/co2highlights.pdf>. Acesso 22 Jun 2013. (2012b)

IEA. Key world energy statistics 2013.Disponível em <http://www.iea.org/publications/freepublications/publication/KeyWorld2013.pdf>. Acesso em 17 Jun 2014.

IISD. Mapping the characteristics of producer subsidies: a review of pilot country studies, 2010. Disponível em <http://www.iisd.org/gsi/sites/default/files/mapping_ffs.pdf>. Acesso 17 Jul 2013.

IKENBERRY, John. The future of the liberal world order. Foreign Affairs, v. 90, n. 3, p. 56-68, 2011.

IPCC. Climate Change 2014 – Synthesis Report, approved draft, 2014.

JAMIESON, Dale. The nature of the problem. DRYZEK, John S.; NORGAARD, Richard B.; SCHLOSBERG, David (eds.). The Oxford Handbook of Climate Change and Society. Oxford: OUP, p. 38-42, 2011.

KACOWICZ, Arie. Global governance, international order and world order. LEVI-FAUR, David (ed.). The Oxford Handbook of Governance. Oxford: OUP, p. 686-698, 2012.

KEOHANE Robert O.; VICTOR, David. The TransnationalPoliticsof Energy. Dædalus, theJournalofthe American AcademyofArts&Sciences,v. 142, n. 01 p. 97-109, 2013.

KEOHANE, Robert O.; VICTOR, David. The Regime Complex for ClimateChange. Perspectives onPolitics, v. 09, n. 01, p. 07-23, 2011.

KOENIG-ARCHIBUGI, Mathias. Understanding the global dimensions of policy. Global Policy Journal, v. 01, n. 01, p. 16-28, 2010.

LEVI-FAUR, David. From Big Government to Big Governance?. LEVI-FAUR, David (ed.). The Oxford Handbook of Governance. Oxford: OUP, p. 03-18, 2012.

MEYER, Timothy. The architecture of international energy governance. University of Georgia School of Law Research Paper Series, paper 2013-13, 2013. Disponível em <http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2240412>, Acesso em 20 mai 2013.

NYE, Joseph. Soft Power – the means to success in world politics. NY: Public Affairs, 2004.

NYE, Joseph. The future of power. NY: Public Affairs, 2011.

PACALA, S.; SOCOLOW, R. Stabilization wedges: solving the climate problem for the next 50 years with current technologies. Science, v. 305, 13 ago 2004. Disponível em <http://www.princeton.edu/mae/people/faculty/socolow/Science-2004-SW-1100103-PAPER-AND-SOM.pdf>. Acesso 12 Jun 2014.

PETERS, B. Guy. Governance as political theory. LEVI-FAUR, David (ed.). The Oxford Handbook of Governance. Oxford: OUP, p. 19-32, 2012.

PNUMA. Towards a Green Economy: Pathways to Sustainable Development and Poverty Eradication, 2011. Disponível em <http://www.unep.org/greeneconomy/Portals/88/documents/ger/ger_final_dec_2011/Green%20EconomyReport_Final_Dec2011.pdf>. Acesso 01 Jul 2013.

PRINS, Gwynet al. The Hartwell Paper – a new direction for climate policy after the crash of 2009. London School of Economics and University of Oxford, 2010. Disponível em <http://eprints.lse.ac.uk/27939/1/HartwellPaper_English_version.pdf>. Acesso em 12 Jun 2014.

ROCKSTROM, Johan et al. A safe operatingspace for humanity. Nature, v. 461, p. 472-475, 24 set 2009.

SCHOLTE, Jan Aart. Reconstructing Contemporary Democracy. Indiana Journal of Global Legal Studies, v. 15, n. 01, p. 305-350, 2008.

STEFFEN, Will. A truly complex and diabolical policy problem. DRYZEK, John S.; NORGAARD, Richard B.; SCHLOSBERG, David (eds.). The Oxford Handbook of Climate Change and Society. Oxford: OUP, p. 21-37, 2011.

THE PEW CHARITABLE TRUSTS. Relatório Who is winning the energy race, 2012. Disponível em <http://www.pewenvironment.org/news-room/reports/whos-winning-the-clean-energy-race-2012-edition-85899468949>. Acesso em 12 Jul 2013.

UNDESA (Departamento das Nações Unidas para assuntos econômicos e sociais). A guidebook to the green economy, 2012. Disponível em <http://www.uncsd2012.org/content/documents/528Green%20Economy%20Guidebook_100912_FINAL.pdf>. Acesso em 12 jun 2014.

VAN DEN GRAAF, Thijs; WESTPHAL, Kirsten. G-8 and G-20 as steeringcommittees for energy. Global PolicyJournal, v. 2, specialissue, p. 19-30, 2011.

VEIGA, José Eli da. Transição ao baixo carbono. GUILHOTO, Joaquimet al (orgs.). O Brasil do século XXI. Coleção O Brasil e a ciência econômica em debate, v. 1. São Paulo: Saraiva, 2011.

VIOLA, Eduardo; FRANCHINI, Matias; RIBEIRO, Thais Lemos. Sistema internacional de hegemonia conservadora – governança global e democracia na era da crise climática. São Paulo: Annablume, 2013.

VIOLA, Eduardo. O regime internacional de mudança climática e o Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 17, n. 50, p. 25-46, 2002. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v17n50/a03v1750.pdf>. Acesso 01 Mai 2014.

WMED (Comissão Mundial para Meio Ambiente e Desenvolvimento). Nosso Futuro Comum. Anexo do documento A/42/427 do Secretário-Geral das Nações Unidas, de 04 ago 1987. Disponível em <http://www.un-documents.net/wced-ocf.htm>. Acesso em 12 jun 2014.

WWF; ROLAND BERGER. Clean Economy, Living Planet: The Race to the Top of Global Clean Energy Technology Manufacturing, 2012. Disponível em: <http://www.rolandberger.com/media/publications/2012-06-06-rbsc-pub-Clean_Economy_Living_Planet.html>. Acesso 10 Jul 2013

ZUMBASEN, Peer. Governance: an interdisciplinary perspective. LEVI-FAUR, David (ed.). The Oxford Handbook of Governance. Oxford: OUP, p. 83-96, 2012.

ZURN, Michael. Global governance as multi-level governance. LEVI-FAUR, David (ed.). The Oxford Handbook of Governance. Oxford: OUP, p. 730-744, 2012.