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Fábio Hiroshi Matsuo Hugo Steinberg Luana Reis Rocha Tatiana Araki GOVERNANÇA CORPORATIVA: As Influências do Conselho de Administração Independente. Projeto do Trabalho de Graduação Interdisciplinar apresentado à Faculdade de Ciências Econômicas, Contábeis e Administrativas, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como defesa da tese de conclusão de curso em Administração de Empresas. Orientadores: Prof. ANTÔNIO ROBLES JÚNIOR Prof. WILSON TOSHIRO NAKAMURA São Paulo 2003

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Fábio Hiroshi MatsuoHugo Steinberg

Luana Reis RochaTatiana Araki

GOVERNANÇA CORPORATIVA:As Influências do Conselho de Administração Independente.

Projeto do Trabalho de GraduaçãoInterdisciplinar apresentado àFaculdade de Ciências Econômicas,Contábeis e Administrativas, daUniversidade Presbiteriana Mackenzie,como defesa da tese de conclusão decurso em Administração de Empresas.

Orientadores: Prof. ANTÔNIO ROBLES JÚNIOR Prof. WILSON TOSHIRO NAKAMURA

São Paulo2003

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REITORA DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Prof. Dra. Maria Lúcia Vasconcelos

DIRETOR DA FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS, CONTÁBEIS EADMINISTRATIVA

Prof. Dr. Reynaldo Cavalheiro Marcondes

CHEFE DO DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO GERAL

Prof. Ms. Alexandre Nabil Ghobril

COORDENADORA DO TGI - TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTERDISCIPLINAR

Profa. Dra. Vânia Maria Jorge Nassif

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FICHA DE AVALIAÇÃO - TGII

tema/título

GOVERNANÇA CORPORATIVA

Autores Participação turma/sem;ano1. Fábio Hiroshi Matsuo 1. Turma: T / W2. Hugo Steinberg 2. Semestre: 8o.3. Luana Reis Rocha 3. Ano: 20034. Tatiana Araki 4.

Curso orientador

ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS WILSON TOSHIRONAKAMURA

Estrutura Formal (30%) 0 2 4 6 8 10

1. Normatização: o trabalho está dentro dos requisitosexigidos pela ABNT: capa, folha de rosto, formatação,paginação; numeração; abreviaturas; quadros; tabelas;figuras; citações bibliográficas.

2. Aspecto estrutural do trabalho: O trabalho apresentadelimitação do tema, objetivos geral e específicos,justificativa, problema de pesquisa/hipótese, referencialteórico, metodologia, roteiro provisório, cronograma ereferência bibliográfica.

3. Linguagem:a linguagem está clara,concisa,gramaticalmente correta e com leitura fluída.

Análise do Conteúdo (70%) 0 1 2 3 4 5

1.A escolha do Assunto: o tema contemporâneo, oportunoe de interesse para comunidade acadêmica e empresarial.

2. O Problema de Pesquisa é claro, compreensível evariável (tempo e recurso).

3.O problema de pesquisa relaciona duas variáveis.

4. O Objetivo Geral inicia com um verbo no infinitivo. Éclaro e preciso.

5. Os Objetivos Específicos estão subdivididos emcomponentes viáveis de operacionalizar o ObjetivoGeral.

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6. A variável independente tem definição operacional e estáclara.

7. A variável dependente tem definição operacional e estáclara.

8. O Referencial Teórico está focado e utiliza vários autorese abordagens.

9. O Método de pesquisa está definido: Quantitativo e/ouQualitativo.

10.O Plano Amostral (se quantitativo) está claro.

11.O Instrumento de coleta de dados está claro.

12.O Roteiro Provisório da pesquisa está articulado ecompatível para o desenvolvimento do TGI II.

13.O Cronograma está articulado e compatível para odesenvolvimento do TGI II.

14.A referência bibliográfica está coerente e adequada aotema estudado.

Observação: ___________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

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__________________________________________________________________________________

Avaliação: Aprovado

NOTA:

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Reprovado

__________________________________________ _______ / _______ / _______Professor (a) - Orientador (a) data

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Dedicamos este trabalho aos nossos pais, que nos deram a vida e nosensinaram a vivê-la com dignidade; que nos iluminaram os caminhosobscuros com afeto e dedicação, para que os trilhássemos sem medo echeios de esperança; que se doaram inteiros e renunciaram aos seussonhos, para que, muitas vezes, pudéssemos realizar os nossos.

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Agradecemos, em especial, aos nossos orientadores Antônio RoblesJúnior e Wilson Toshiro Nakamura, às empresas pesquisadas e atodas as pessoas que de alguma forma contribuíram para aelaboração deste trabalho.

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O relacionamento entre os agentes da Governança Corporativa e asdiferentes classes de proprietários deve ser caracterizado pelatransparência, prestação de contas e pelo tratamento justo eequânime.

IBGC, 2001 , p. 09

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RESUMO

A governança corporativa é um conjunto de “práticas” que garante transparência e igualdadenas negociações entre investidores e acionistas, diminuíndo significativamente o conflito deinteresses entre as partes envolvidas.

Através do conselho de administração, que é o órgão regulador das atividades dentro de umaempresa, podemos avaliar o desempenho da organização na atratividade de acionistas nomercado de capitais.

A manutenção de leis que regem a governança corporativa transmitem maior segurança aosinvestidores; as principais delas são, o código das melhores práticas de governançacorporativa do ibgc (instituto brasileiro de govenança corporativa) e a da comissão de valoresmobiliários (cvm).

O conselho sendo avaliado periódicamente, seguindo as normas internas de cada empresa, setorna mais eficaz aumentando a transparência nas negociações e agregando valor a empresaem relação à imagem criada aos investidores.

Progressivamente as empresas caminham para melhorar suas formas de negociação, pois ésignificativo o comportamento do índice de governança corporativa-igc; no intuíto de refletirno preço das ações de empresas nos níveis I e II e do novo mercado.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................................................................121.1 ÁREA, TEMA E ASSUNTO .........................................................................................141.2 JUSTIFICATIVA E DELIMITAÇÃO DO TEMA........................................................151.3 PROBLEMA DE PESQUISA........................................................................................171.4 OBJETIVO GERAL.......................................................................................................181.5 OBJETIVO ESPECÍFICO..............................................................................................181.6 VARIÁVEIS INDEPENDENTES .................................................................................191.7 VARIÁVEIS DEPENDENTES .....................................................................................19

2. REFERENCIAL TEÓRICO.............................................................................................202.1 OS 50 ANOS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA .................................................212.2 O CÓDIGO DAS MELHORES PRÁTICAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA 232.3 LEI SARBANES OXLEY..............................................................................................242.4 CHIEF GOVERNANCE OFFICER...............................................................................28

3. CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO............................................................................293.1 PREVENÇÃO DE CRISES E COMO ENGRENAR O CONSELHO..........................293.1.1 TAMANHO E FORMA DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO E QUEM ESTÁNO CONTROLE ..................................................................................................................313.1.2 COMISSÕES DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO.........................................323.1.3 ANÁLISE DE DESEMPENHO E QUEM AVALIA O CEO ....................................333.1.4 QUAL O MELHOR PROCESSO E SUAS NOMEAÇÕES.......................................343.1.5 FUNÇÕES DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO.............................................373.1.6 PLANEJAMENTO DE LONGO PRAZO E SELEÇÃO DO CEO............................393.1.7 CONSELHEIROS ATIVOS E QUAL É O RETORNO.............................................413.1.8 CONFIANÇA GRUPAL.............................................................................................423.2 EMPOWERMENT DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO...................................433.2.1 PRESSÕES PELO EMPOWERMENT ......................................................................453.2.2 PRESSUPOSTOS ERRÔNEOS SOBRE O FORTALECIMENTO DOSCONSELHEIROS ................................................................................................................453.2.3 FONTES E LIMITES DO PODER DOS CONSELHEIROS.....................................503.2.4 O QUE CONSTITUI UM CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO FORTALECIDO513.2.5 EFICÁCIA DO EMPOWERMENT............................................................................533.2.6 CONHECIMENTOS DOS CONSELHEIROS...........................................................563.2.7 AUTOMONITORAMENTO ......................................................................................593.3 NOVA FERRAMENTA PARA OS CONSELHOS DE ADMINISTRAÇÃO .............613.3.1 SUPERVISÃO PELO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO E ESTRATÉGIA DAEMPRESA............................................................................................................................62

4. ASPECTOS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA NO BRASIL E NO MUNDO .....654.1 PAPEL DO CONSELHO...............................................................................................664.2 TRANSPARÊNCIA .......................................................................................................684.3 IMPACTO DOS ESCÂNDALOS CONTÁBEIS ..........................................................714.4 PROPRIEDADE DA EMPRESA ..................................................................................72

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4.5 IMPORTÂNCIA DA GOVERNANÇA EM RELAÇÃO A CRITÉRIOSFINANCEIROS EM DECISÃO DE INVESTIMENTO .....................................................744.6 INTERFERÊNCIA DA GOVERNANÇA NAS DECISÕES DE INVESTIMENTO...754.7 SATISFAÇÃO COM O MODELO ATUAL DE GOVERNANÇA NO BRASIL........76

5. ANÁLISE DOS ESTUDOS DE CASO ...........................................................................785.1 GRUPO PAO DE AÇUCAR S/A. .................................................................................785.2 NET SERVIÇOS DE COMUNICAÇÃO S/A. ..............................................................90

6.0 CONCLUSÃO GERAL ...............................................................................................108

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...........................................................................110

8. ANEXOS........................................................................................................................1128.1 CÓDIGO DAS MELHORES PRÁTICAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA..1128.2 RECOMENDAÇÕES DA CVM SOBRE GOVERNANÇA CORPORATIVA .........1258.3 REGULAMENTO DO NOVO MERCADO DA BOVESPA .....................................1358.4 QUESTIONÁRIO ........................................................................................................144

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1. INTRODUÇÃO

Após ler essa monografia você irá identificar um panorama do que tem acontecido com a

governança corporativa nas nações mais desenvolvidas e dotadas de mecanismos

institucionais mais exigentes, mas lembrando que o enfoque principal de nossa monografia é

o avanço da governança no Brasil e os impactos dos conselhos de administração nos

resultados das empresas.

Como definição de governança corporativa podemos dizer que, constitui o conjunto de

práticas e de relacionamentos entre os acionistas/cotistas, conselho de administração, diretoria

executiva, auditoria independente e conselho fiscal com a finalidade de otimizar o

desempenho da empresa e facilitar o acesso ao capital. Já existe consenso sobre a máxima de

que quanto maior o valor da empresa mais facilmente se exerce a cidadania e o interesse dos

stakeholders (públicos de interesse). Há quem resuma tudo isso numa frase: é criar um

ambiente de controle, dentro de um modelo balanceado de distribuição do poder.

É um engano imaginar que praticar boa governança implica quase somente acatar os

regulamentos. Governança tem tudo a ver também com qualidade da atitude, com escala de

valores, no mais puro sentido humano. Daí alguns situarem que a boa governança depende de

alinhar o pensamento entre acionistas, controladores e stakeholders.

Há de tudo nas organizações. Um dirigente busca garantir a sobrevivência, outro busca

significado, um terceiro quer usar a empresa ou entidades como exercício de vaidade. Há

também quem só pense em atravessar o caminho de um parente ou desafeto e quem

simplesmente queira vender tudo, ao preço mais elevado possível a um potencial controlador.

Imagine a confusão quando existem diversos sócios ou familiares, cada um com sua própria

agenda.

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É muito difícil trabalhar com dupla agenda – a oficial e a oculta. É preciso que as pessoas

envolvidas nos projetos abram aos demais seus sonhos e objetivos pessoais e conciliem esses

impulsos com a necessidade da organização de desenvolver boa gestão, alcançar resultados

plausíveis e garantir sua perenidade.

Quando existem mais de uma agenda, a organização sofre, qualquer que seja sua natureza,

finalidade ou tamanho. Daí a importância do desempenho do presidente e dos conselheiros –

e do entrosamento entre eles.

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1.1 ÁREA, TEMA E ASSUNTO

Área : Administração Estratégica e Finanças

Tema : Governança Corporativa

Assunto : Conselho de Administração Independente

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1.2 JUSTIFICATIVA E DELIMITAÇÃO DO TEMA

O Grupo se envolveu com o tema à partir da curiosidade, gerada em sala de aula, pois o tema

era muito discutido, porém pouco publicado em língua portuguesa.

O termo Governança Corporativa, apesar de estar em uso há cerca de 10 anos nos países

desenvolvidos, ainda é novo no Brasil e vem se tornando cada vez mais discutido, em todo o

mundo, devido à divulgação de fraudes contábeis em grandes corporações americanas; um

bom exemplo são os casos que envolveram a Enron, WorldCom, Andersen Consulting e

Tyco.

Assuntos como remuneração e responsabilidades dos diretores, independência dos membros

do Conselho de Administração (que é o principal assunto a ser tratado em nosso trabalho) e

supervisão de auditores externos foi exaustivamente debatidos, ganhando significativo

destaque na mídia.

A crise de confiança instalada após esses eventos fez com que as empresas acelerassem a

adoção de medidas visando maior transparência com o intuito de garantir credibilidade.

Adicionalmente, é importante que as empresas reforcem sua comunicação com o mercado,

ressaltando suas práticas de Governança e disponibilizando suas demonstrações financeiras de

forma detalhada, objetiva e imediata.

As aulas de Estratégia Corporativa enfatizaram a importância da transparência nas

negociações do CEO e do Conselho de Administração no papel decisório das negociações nas

empresas.

No Brasil , e principalmente em São Paulo, temos a Bovespa como forte indutora a favor da

boa governança, onde pesquisamos seus significativos benefícios às melhores práticas e seus

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esforços para obter maior atratividade na adesão de empresas que ainda não participam do

padrão Novo Mercado.

Portanto, o grupo pretende mostrar um assunto que envolve as empresas no âmbito

Estratégico e Financeiro de suas organizações, fatores éticos de respeito para com seus

acionistas, em um tema muito discutido, onde os fatores atuais vêm sendo modificados a todo

o momento e a necessidade das empresas de se atualizarem para sua própria sobrevivência em

um mercado cada vez mais exigente.

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1.3 PROBLEMA DE PESQUISA

O problema a ser pesquisado consiste em conhecer quais são os impactos do grau de

independência do Conselho de Administração na performance das ações das empresas.

Para tanto, o conselheiro deve trabalhar para o bem da empresa e, por conseguinte, para todos

os acionistas; além disso, deve buscar máxima independência possível em relação ao

acionista, grupo acionário ou parte interessada que o tenha indicado para o cargo.

A razão fundamental da importância da independência é a de evitar conflitos de interesse nas

organizações.

Aumentar a transparência nas negociações significa melhor organização da empresa e

relacionamento com seus investidores, aumentando sua atratividade na visão do acionista.

As companhias com clara visão dos papéis do conselho de administração e diretoria executiva

e que desejem evitar os conflitos de interesse, mantendo um relacionamento de respeito e

transparência com seus acionistas, credores, empregados, fornecedores, clientes e a

comunidade, oferecem menos riscos em relação ao mercado de capitais e elevam seu retorno

para os próprios gestores, com desempenhos positivos a médio e longo prazo.

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1.4 OBJETIVO GERAL

O objetivo do trabalho é conhecer o processo de Governança Corporativa, estudando as

vantagens, para as empresas, da independência do Conselho de Administração e suas

influências nas ações das empresas.

Inicialmente, conhecendo a governança corporativa durante os últimos cinqüenta anos,

perceberemos a evolução do planejamento estratégico interno da corporação até chegarmos ao

nível da governança como ela é hoje.

1.5 OBJETIVO ESPECÍFICO

O objetivo específico é estudar o conselho independente perante duas empresas que adotam a

governança corporativa, a Net Serviços de Comunicação S/A e o Grupo Pão de Açúcar S/A.

O conhecimento claro do que é independência e as questões mais abordadas e discutidas em

relação a governança foi o foco da pesquisa, para que pudéssemos ter a visão clara do que as

empresas realmente precisam para chegar a um conselho independente. Na pesquisa de

campo, lançamos às empresas e às pessoas relacionadas as grandes corporações brasileiras, a

questão da governança e sua independência com seu conselho de administração, bem como

sua transparência e relacionamento com os acionistas.

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1.6 VARIÁVEIS INDEPENDENTES

A variável diretamente relacionada à Governança Corporativa é a performance das ações e

suas perspectivas no mercado de capitais.

1.7 VARIÁVEIS DEPENDENTES

A variável que tem relação indireta é o grau de independência do Conselho de Administração,

privilegiando empresas que adotam um Conselho de Administração independente, como

melhor forma de organizar suas estratégias corporativas, podendo assim, analisar melhor seus

problemas e evitar os conflitos de interesse.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

Em princípio, descreveremos algumas definições de Governança Corporativa segundo os

seus “gurus”; e as principais leis (disclosures), que foram evoluindo no decorrer desses

cinqüenta anos.

Ira Millstein, um dos iniciadores e por assim dizer guru do movimento, define Governança

Corporativa como “o sistema de relacionamento entre os acionistas, os auditores

independentes, os executivos da empresa e os conselheiros de administração, liderados por

estes últimos”.

De acordo com o Cadbury Report, Governança Corporativa é o “sistema pelo qual as

companhias são dirigidas e controladas. Ela coloca os conselheiros de administração no centro

de qualquer discussão sobre o processo”.

O IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) define a Governança como “um

sistema que assegura aos sócios-proprietários o governo estratégico da empresa e a efetiva

monitoração da diretoria executiva. A relação entre propriedade e gestão se dá através do

conselho de administração, a auditoria independente e o conselho fiscal, instrumentos

fundamentais para o exercício do controle. A boa Governança assegura aos sócios; eqüidade,

transparência, responsabilidade pelos resultados (accountability) e obediência às leis do país

(compliance). No passado recente, em empresas privadas e familiares, os acionistas eram

gestores, confundindo em sua pessoa, propriedade e gestão. Com a profissionalização, a

privatização, a globalização e o afastamento das famílias, a Governança Corporativa colocou

o Conselho entre a Propriedade e a Gestão”.

João Bosco Lodi, define a Governança Corporativa como “o papel que os Conselhos de

Administração passam a exercer para melhorar o ganho dos acionistas e arbitrar os conflitos

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existentes entre acionistas, administradores, auditores externos, minoritários, conselhos fiscais

e os stakeholders".

2.1 OS 50 ANOS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA

João Bosco Lodi*, caracteriza a formação da Governança Corporativa, por volta dos anos 50,

até atingir sua maturação, nos anos 90.

Nas décadas de 1950 e 1960 houve uma forte presença do acionista controlador familiar, os

conselheiros eram “enfeites na árvore de Natal”, sendo usado como lobby à procura de

“Medalhões” fazendo com que os conselheiros inatuantes não estivessem a par de negócios do

acionista gestor.

Na década de 70, surgem grandes Conselhos brasileiros como Alpargatas, Monteiro Aranha,

Docas e Mappin. Nota-se, também, sinais iniciais de independência do Conselho e maiores

poderes (Empowerment).

Em 1976, surgiu a primeira Lei das S.A., nº 6.404, no Brasil, fixando as competências do

Conselho de Administração.

Já na década de 80, destaca-se o mercado voltado para controle corporativo, com maior

abertura de capital, fundos de pensão, fundos de investimento e participação de bancos.

Houve, ainda , a valorização do acionista ( Shareholder enhancement) e dos fundos tipo

Calpers e Fidelity. No Brasil, os mercados de capitais eram muito pequenos e apenas 80

empresas possuíam liquidez.

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Na década de 90, foram delegados maiores poderes para os Conselhos (Board

Empowerment). Grandes escândalos envolvendo pareceres de auditorias externas nos bancos

ajudaram a esclarecer o papel dos auditores: Nacional, Econômico, Bamerindus, Noroeste,

Bandeirantes. Ocorreram, a globalização, privatizações, fusões e aquisições.

Em meados de 1992, nasce a Governança Corporativa. Ira Millstein lidera o movimento de

acionistas e conselheiros para derrubar o principal executivo e, também, presidente do

conselho, da General Motors. Posteriormente, houve várias trocas de famosos presidentes por

pressão do Conselho: General American Express, IBM, Kodak, Sears, Time Warner, Compaq.

Ainda em 1992, surge o primeiro de todos os “Códigos” (The Cadbury Report).

No ano de 1994, surge a General Motors: Corporate Governance Guidelines.

O IBCA (Instituto Brasileiro de Conselheiros de Administração) que, posteriormente passou

a se chamar IBGC, foi fundado em 1995.

Já em 1996, surge o NACD Report e no ano seguinte, o Hempel Report – a primeira revisão

do Cadbury onde 25% dos investimentos fora dos Estados Unidos são realizados por 25

fundos norte-americanos, sejam fundos de pensão ou fundos de investimento. Foi criada uma

nova Lei das S/A.s, nº 9.457, que mantém as atribuições do Conselho e aumenta o poder da

CVM para fiscalizar. Até o momento, já existem, 49 Códigos das Melhores Práticas de

Governança Corporativa, dos quais nove nos Estados Unidos.

Em 2002 nasce a Lei Sarbanes-Oxley que será comentada, logo abaixo, no tópico 2.3.

* João Bosco Lodi em seu livro: Governança Corporativa - O Governo da Empresa e o Conselho deAdministração

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2.2 O CÓDIGO DAS MELHORES PRÁTICAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA

A BOVESPA define como prática diferenciada de governança corporativa,um conjunto de

normas de conduta para empresas, administradores e controladores considerados importantes

para uma boa valorização das ações e outros ativos emitidos pela companhia. A adesão a estas

práticas distingue a companhia como nível 1 ou nível 2, dependendo do grau de compromisso

assumido pela empresa.

Dividido em seis partes (propriedade, conselho de administração, gestão, auditoria,

fiscalização e ética/conflito de interesses), o código não substitui leis ou regulamentos; sua

aplicação é voluntária, por empresários que desejam melhorar seu desempenho ou facilitar o

acesso ao capital. Suas linhas mestras são transparência, prestação de contas e eqüidade.

A Governança corporativa em seus níveis 1 ou 2 foram implantados em dezembro de 2002,

pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), e preocupava-se em melhorar a relação com

investidores elevando o potencial de valorização dos seus ativos.

Os Níveis diferenciados pela Bovespa† são direcionados à empresas que já possuem ações

negociadas. Já , o Novo Mercado, é voltado à empresas que pretendam abrir seu capital.

A vantagem das boas práticas de Governança Corporativa é trazer valor ao investidor, através

dos direitos concedidos aos acionistas e a qualidade das informações, reduzindo assim, a

incerteza do processo de aquisições de ações no mercado de capitais, aumentando-se as

transparências nas relações com os investidores e diminuindo o risco de investimento.

A redução do risco refletirá na valorização das ações e, por conseguinte, no incentivo a novas

aberturas de capitais e novas emissões, fortalecendo o mercado acionário.

Atualmente a adoção da Governança Corporativa vem sendo, por boa parte das empresas que

a adotam, um fator cada vez mais importante nas decisões de investimento.

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No nível I, as empresas devem mostrar melhorias significativas nas informações ao mercado e

dispersão acionária. Seguindo os seguintes requisitos: A manutenção em circulação de uma

parcela mínima de ações equivalentes a 25% do capital; ofertar publicamente as ações por

mecanismos mais eficazes na dispersão de capital; demonstrar trimestralmente as informações

contábeis com revisões especiais; obedecer a regras de disclosure; divulgar acordos com

acionistas e stock opitions além de um calendário anual de eventos corporativos.

O nível II de governança, abrange todas as regras do nível I, acrescida de algumas regras

societárias e da divulgação de demonstrações financeiras de acordo com os padrões

internacionais, aceitando-se US GAAP ou IASC GAAP (para cumprir essa exigência, pela

sua complexidade, há um prazo de carência de dois anos); elaborar trimestralmente

demonstrações financeiras com padrões internacionais traduzidos na língua inglesa. O

conselho de administração deve contar com cinco membros cujos mandatos são anuais e

unificados.

2.3 LEI SARBANES OXLEY

A lei Sarbanes-Oxley foi aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos no final de julho

2002, na seqüência dos escândalos financeiros em grandes empresas (Enron, Worldcom, etc.)

que abalaram os meios de negócios norte-americanos e lançaram o pânico nos mercados de

ações.

A referida lei constitui, talvez, a mais extensa iniciativa regulatória da governaça das

empresas (corporate governance). Seu âmbito é vasto. Embora o seu alvo principal seja a

reforma da prestação de contas e da auditoria das empresas, suas normas não são dirigidas

somente às firmas de auditoria e à administração das restantes empresas, mas também aos

† Os níveis diferenciados da Bovespa podem ser encontrados no site: www.bovespa.com.br

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demais intervenientes do mercado de valores mobiliários, como as próprias bolsas, os

corretores, as empresas de ratting, inclusive os analistas de mercado, e os advogados e

procuradores das empresas junto da entidade reguladora do mercado de ações.

Uma das suas principais inovações é a criação de uma "Public Company Accounting

Oversight Board", um organismo de supervisão das empresas de auditoria contábil e

financeira. Trata-se de uma comissão composta por cinco personalidades independentes

("pessoas proeminentes de integridade e reputação com provas de dedicação aos interesses

dos investidores e do público", como diz a lei), em dedicação exclusiva a esse cargo,

nomeadas para um mandato de cinco anos, pela Securities and Exchange Commission (SEC),

a comissão norte-americana de mercado de valores mobiliários, sob cuja supervisão ficará,

nomeadamente para efeitos de aprovação das normas por ela estabelecidas. Todas as

entidades de auditoria terão de se registrar nesse organismo, como condição de exercício da

atividade de auditoria ou revisão de contas. O registro inclui, entre outras coisas, a lista do seu

pessoal qualificado, as suas regras internas de controle de qualidade, a identificação das

empresas a quem tenham que prestar serviços, bem como as remunerações recebidas. Todas

as firmas ficam subordinadas aos poderes de regulação e supervisão do Board, sendo

obrigadas nomeadamente a apresentar-lhe um relatório anual sobre as suas atividades,

inclusive para efeitos de atualização das informações constantes do registro. Esses poderes

são vastos, desde a aprovação de "accounting standards" e códigos de conduta, passando pela

inspeção das suas atividades, até à aplicação de sanções disciplinares, as quais podem incluir

a suspensão ou cancelamento do registro da firma (com a conseqüente suspensão ou cessação

de atividade) ou individualmente dos seus colaboradores.

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Uma das preocupações centrais da referida lei é a garantia da independência da auditoria das

contas das empresas. Para esse fim, cria-se a obrigação de existência em cada empresa, de

uma comissão de auditoria ("audit committee"), composta por pessoas independentes da

empresa, com poderes para supervisionar a empresa de contabilidade contratada pela empresa

e para contratar consultores independentes, bem como o estabelecimento de

incompatibilidades várias das firmas de auditoria, de modo a impedir conflitos de interesses,

incluindo a proibição de prestação de serviços de consultoria ou assessoria, ou outros, em

acumulação com os serviços de auditoria, bem como a obrigação de rotação periódica dos

auditores de cada empresa, para evitar a criação de "vested interests". Outra das finalidades da

reforma consiste no aumento da transparência da situação financeira das empresas e de todos

os procedimentos de auditoria. Isso passa nomeadamente pelo acréscimo das obrigações de

disponibilização pública de informações relevantes (disclosure), incluindo alterações da

composição acionista, pela publicação de novos relatórios periódicos das empresas; pela

regulação das regalias dos administradores (essencialmente as stock options); pelo reforço da

informação pública sobre operações com ações das empresas por parte dos administradores e

dos acionistas principais; pela publicação dos relatórios das firmas de auditoria apresentados

ao "Board" dos relatórios de inspeção deste sobre as firmas de auditoria e das sanções

aplicadas pelo mesmo "Board" às firmas de auditoria, etc.

Uma das medidas de maior impacto da nova lei está, seguramente, na definição da

responsabilidade das próprias empresas pelas suas contas (corporate responsabilitiy). As

empresas passarão a ter um "audit committee" encarregado de assegurar o rigor dos

procedimentos e dos relatórios contábeis. Mais importante ainda estabelece-se a

responsabilidade direta da administração pelos relatórios financeiros, com responsabilidade

criminal pessoal dos dois administradores implicados, ou seja, o presidente da comissão

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executiva e o administrador encarregado pelo ouro financeiro da empresa (chief financial

officer). Além disso, os administradores passam a estar sujeito a uma série de limitações,

deixando de beneficiar de vantagens e regalias até agora correntes.

É de observar que esta nova iniciativa regulatória se mantém dentro dos parâmetros

tradicionais da filosofia regulatória norte-americana, baseada nos princípios da regulação por

autoridade reguladora independente, em vez de recorrer a formas de regulação governamental

direta ou de auto-regulação profissional-corporativa. Na verdade, a regulamentação da lei e a

sua implementação ficam a cargo da SEC (Securitites and Exchange Commission), a

autoridade reguladora independente do mercado de valores mobiliários, cujos meios e poderes

são correspondentemente reforçados e nomeados por um extenso poder regulamentar

autônomo para "emitir todos os regulamentos necessários ou adequados para implementar a

lei, no interesse público ou para proteção dos investidores" e do novo organismo

especificamente criado para regular e supervisionar as entidades de contabilidade e auditoria,

o referido "Public Company Accounting Oversight Board".

Seja como for, esta notável reforma legislativa é um verdadeiro marco na regulação

econômica nos Estados Unidos e constitui evidentemente mais uma prova, se ela fosse

necessária, de que a economia de mercado não pode bastar-se com o funcionamento

espontâneo do mercado. A economia de mercado é um produto jurídico-institucional. A

regulação é essencial ao seu funcionamento apropriado. A "mão invisível do mercado" carece

da mão visível da regulação pública. Nada melhor do que uma crise para tornar isso evidente.

Mesmo os governos apostados em campanhas de não regulação e de diminuição da

intervenção do Estado no mercado, como é o caso da Administração Bush, acabam por se

render à força dos fatos e a regulação quer dizer naturalmente mais normas, instâncias de

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regulação, instrumentos de supervisão e implementação, medidas que sancionam contra as

infrações. Tudo isto abunda no Sarbanes-Oxley Act 2002.

2.4 CHIEF GOVERNANCE OFFICER

Em função da pressão exercida pelos investidores institucionais, as empresas estão criando

um novo cargo de alto executivo, cujo papel e responsabilidade é desenvolver uma boa

plataforma e a prática da governança: O CGO – Chief Governance Officer.

São os secretários corporativos que estão assumindo o papel de construtores da plataforma da

governança, devido a vários fatores que os qualificam como os mais indicados para exercer o

novo cargo.

Primeiramente, o trabalho que normalmente é parte de suas responsabilidades está

intimamente alinhado com a governança. Dentre eles, destaca-se a coordenação das

assembléias anuais, administração das atividades do conselho e a administração das

transações com ações dos insiders.

De acordo com David Smith, presidente da American Society of Corporate Secretaries

(ASCS) “o típico secretário corporativo tem o nível correto de experiência e temperamento

para a função de CGO”. Essas características incluem maturidade e tempo de experiência.

“Eles são os guardiões da consciência da empresa, geralmente diplomáticos, e não possuem

grandes “egos”- embora sejam em sua maioria, advogados”.

Além disso, o trabalho diário leva os secretários corporativos a um estreito contato com a alta

administração e com o Conselho da empresa, uma experiência que lhes serviria bem como

CGOs capazes de atuar em igual nível de respeito.

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Quanto à remuneração, Smith descreve uma recente discussão que teve com um executivo de

recrutamento sobre o salário adequado para o CGO. “Eu lhe disse que deve ser no mínimo

US$ 250.000 / ano, e ele respondeu dizendo que deveria ser bem mais”.

A Pfizer foi pioneira quando atribuiu a mais de uma década, a função de Chief Governance

Officer (CGO) a Terry Gallagher, que na época era o secretário corporativo.

Segundo Ann C. Mulé, inicialmente eleita secretária corporativa da Sunoco Inc., pelo

Conselho de Administração há sete anos atrás, e depois eleita ao cargo adicional de Chief

Governance Officer em novembro último, “trazer uma visão externa sobre o estado da prática

da governança é um dos principais papéis desempenhados por ela”.

Ter uma série de princípios de governança é uma prioridade na lista de recomendações da

sociedade de secretários corporativos. Segundo Smith, “cada vez mais as empresas estão

adotando-os e publicando-os nos seus relatórios anuais e nos seus Web sites”.

Mulé destaca que os princípios adotados pela Sunoco são dinâmicos, avaliados com as

melhores práticas, sensíveis às preocupações dos acionistas, e modificados quando é

necessário, virtualmente a cada ano. Ela os considera como um “referencial” para as melhores

práticas.

3. CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

3.1 PREVENÇÃO DE CRISES E COMO ENGRENAR O CONSELHO

Os atuais críticos dos conselhos de administração dispõem de argumentos flagrantes de que

muitos conselhos não cumprem suas funções. Segundo Salmon, as duas atribuições cruciais

desses órgãos colegiados – supervisão da estratégia de longo prazo da empresa e seleção,

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avaliação e remuneração da alta administração – “reduziram-se a mero controle de danos ao

longo da década de 1980”.

Walter Salmon é um conselheiro de empresas com vasta experiência. Ele adverte que, embora

os conselhos de administração tenham melhorado desde que passou a atuar neles, em 1961,

não conseguiram corresponder às efetivas necessidades de mudança.

Salmon é contra a reforma dos conselhos de administração por força de iniciativas

governamentais e prescreve, em vez disso, como remédio, uma série de mudanças

incrementais. Para começar, sugere a limitação do tamanho dos conselhos de administração e

o aumento da quantidade de conselheiros externos; ressaltando que, apenas três pessoas de

dentro da empresa devem pertencer ao conselho de administração: o CEO (principal

executivo), o COO (principal executivo de operações) e o CFO (principal executivo

financeiro).

A dinamização do conselho de administração também exige a mudança da forma de

funcionamento das comissões internas. A comissão de auditoria, por exemplo, analisaria,

periodicamente, as “áreas de alto risco” da empresa, talvez, ajudando a prevenir quedas

embaraçosas nos lucros futuros. As comissões de remuneração reestruturariam os programas

de remuneração por incentivos, a fim de enfatizar o desempenho de longo prazo no lugar do

desempenho de curto prazo. E as comissões de seleção, não o CEO, seriam responsáveis pela

escolha de novos conselheiros independentes.

Em geral, os conselhos de administração, como um todo, devem detectar os primeiros sinais

de problemas e disparar o alarme, exercitando o que Salmon chama de “insatisfação

construtiva”. Segundo ele, “em um conselho de administração revitalizado, os conselheiros

teriam suficiente confiança no processo para desafiarem uns aos outros incluindo o principal

executivo da empresa”.

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3.1.1 TAMANHO E FORMA DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO E QUEMESTÁ NO CONTROLE

Salmon destaca que embora o equilíbrio entre os conselheiros internos e externos tenha

melhorado desde a década de 1970, muitos conselhos de administração, sobretudo os de

pequenas empresas, continuam padecendo de excesso de membros oriundos da própria

gerência; gerando um desequilíbrio de poder e comprometendo a real função desse órgão. Por

outro lado, os conselheiros externos, sem fontes de informação independentes, poucas vezes

são capazes de ir além das discussões. Como resultado: mudam os consumidores, a

concorrência, a tecnologia e a economia, mas a empresa não consegue acompanhar o ritmo

das transformações.

Há quem argumente que a inclusão de outros membros da gerência no conselho de

administração familiarizaria os conselhos externos com o perfil do pessoal sênior.

Segundo Salmon, a maioria dos relacionamentos entre conselheiros e gerentes sêniors é

promovida pelo CEO. Sendo assim, boa parte dos conselheiros hesitaria, com razão, em

procurar algum gerente sem a sanção do CEO, devido o receio de abalar a autoridade do

principal executivo.

Quanto ao tamanho do conselho de administração, Salmon sugere algo entre oito e quinze

membros sendo que menos de oito membros seria pouco para compor as comissões internas

de auditoria, remuneração e outras com um número suficiente de conselheiros externos. No

sentido oposto, mais de quinze membros quase sempre dificulta e emperra os debates

produtivos, uma vez que a maioria das reuniões demora mais do que quatro horas.

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3.1.2 COMISSÕES DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

O tamanho adequado e a quantidade limitada de conselheiros internos não são os únicos

ingredientes importantes para a composição de um conselho de administração produtivo.A

mudança do próprio funcionamento das comissões também é indispensável para a eficácia de

qualquer plano de melhoria do conselho de administração, de acordo com Walter Salmon.

As comissões do conselho de administração poderiam agregar várias outras atribuições à suas

agendas tradicionais.

Segundo Salmon um exemplo seria a transferência para a comissão de auditoria da

responsabilidade pela escolha do sócio. “Funciona como importante advertência à auditoria

interna de que o papel desse órgão do conselho de administração vai além da homologação

superficial das políticas e decisões contábeis”.

Salmon destaca que a comissão de auditoria também tem condições de contribuir para

fortalecer o desempenho da empresa, mediante a adoção da prática de revisões periódicas das

chamadas “áreas de alto risco”, ou seja, iniciativas sob pressão, em virtude de mudanças no

ambiente de negócios externo.

Além disso, as comissões de remuneração sem dúvida poderiam assumir outras

responsabilidades. As atuais comissões de remuneração,em geral, se ocupam com o nível de

remuneração da alta administração, com a proporção representada pelos salários e com as

fórmulas utilizadas para determinar os incentivos de curto e longo prazo como opções sobre

ações. No entanto, Salmon destaca que existem muitas maneiras de exercer essas atribuições

com mais eficácia. “Para começar, quando se contratam especialistas em remuneração, o

cliente deve fazer parte da comissão de remuneração do conselho de administração e não o

diretor de recursos humanos da empresa. Nessas condições, reduz-se a probabilidade de que o

consultor apresente recomendações que favoreçam a alta administração”.

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A comissão de remuneração,sem dúvida, tem autoridade para desenvolver planos de

remuneração por incentivos que atribuam maior ênfase ao desempenho de longo prazo do que

aos resultados de curto prazo, porém se tratando de comissão executiva, Salmon não

recomenda a sua ampliação. O motivo é que a atribuição de excesso de poder às comissões

executivas, ao ensejar o surgimento de conselhos de administração de dois níveis,

comprometeria em vez de melhorar a governança corporativa. Em essência, os conselheiros

da comissão executiva comporiam o “primeiro nível”, dominando o processo decisório,

enquanto o papel de “segundo nível”, estaria reservado aos demais conselheiros.

Há quem argumente que se necessita de uma comissão executiva poderosa para cuidar de

graves situações de emergência, entre as reuniões do conselho de administração.

De acordo com Walter Salmon, “a autoridade da comissão executiva deve restringir-se à

execução de decisões que tenham sido objeto de aprovação informal pelo conselho de

administração pleno. Iniciativas como a aprovação de dividendos conforme as políticas

estabelecidas ou a assinatura de acordos de vendas já endossados pelo conselho de

administração enquadra-se no escopo limitado e razoável da comissão executiva”.

3.1.3 ANÁLISE DE DESEMPENHO E QUEM AVALIA O CEO

Segundo Walter Salmon, poucos são os conselhos de administração que realizam revisões

anuais referentes ao plano de sucessão da alta administração. No entanto, essa tarefa deve ser

promovida pelas comissões de remuneração.

Planos de sucessão bem elaborados envolvem reflexões sobre a evolução da estrutura

organizacional da empresa, sobre o potencial dos atuais gerentes seniores e sobre as

iniciativas indispensáveis à satisfação de futuras necessidades da organização, em termos

gerenciais.

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Salmon destaca que, o ápice lógico do envolvimento da comissão de remuneração no

planejamento da sucessão é a avaliação anual do CEO; sendo que esse processo deve abranger

o diálogo com o principal executivo sobre seus pontos fortes e fracos, seus objetivos, seus

planos pessoais e, evidentemente, sobre o seu desempenho em si. As avaliações redundam em

críticas construtivas a respeito do desempenho do CEO – as quais podem ser tecidas com

autoridade apenas pela comissão de remuneração e pelos conselheiros externos.

Salmon enfatiza que a necessidade de efetuar essas avaliações ficou evidente no caso de um

CEO que concentrou muita atenção ao lucro por ação ao final de cada trimestre, em

detrimento da saúde da empresa á longo prazo. Embora o lucro por ação estivesse em alta,

outros importantes indicadores da rigidez corporativa, como volume de vendas e rotatividade

dos ativos, estavam abaixo das metas. Sendo assim o conselho de administração inicia o

programa de avaliação formal adotando por uma cadeia de supermercados que implementou o

programa de avaliação do CEO numa época em que a empresa apresentava bom desempenho

e era dirigida por um CEO capaz. “Ele quis estabelecer um precedente que seria positivo para

ele, para seu sucessor, para a empresa e quando de sua aposentadoria também para sua própria

participação acionária na empresa”.

3.1.4 QUAL O MELHOR PROCESSO E SUAS NOMEAÇÕES

A atribuição de responsabilidade à comissão de seleção pela escolha de novos conselheiros

representa outra mudança positiva na autoridade do órgão, destaca Salmon. Entretanto, “ isso

raramente acontece na vida real ”.

“A tarefa de indicar novos conselheiros jamais deveria ser delegada ao CEO. Alguns CEOs

selecionam conselheiros de forma subjetiva; pessoas de sua confiança, quando na verdade,

deveriam estar selecionando pessoas capazes de desempenhar suas tarefas de forma imparcial.

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Em geral, esses indivíduos, o CEO e outros membros do conselho de administração, residem e

mantém relações sociais na mesma comunidade. Muitas vezes, o receio de prejudicar o

convívio harmonioso priva o CEO de conselhos, críticas e avaliações imprescindíveis”.

Salmon adverte que, as sugestões do CEO não podem ser menosprezadas. E por certo, este

costuma ter boas idéias sobre as habilidades necessárias aos conselheiros. Também é essencial

que o CEO se reúna com o conselheiro em potencial, antes de sua indicação como candidato à

eleição, não só para garantir-lhe seu apoio pessoal, mas também como meio de avaliar a

efetiva disposição dele para atuar no conselho de administração. Contudo, como símbolo de

autoridade final pela indicação de conselheiros aos acionistas, o presidente da comissão de

seleção, e não o CEO deve fazer o convite para que a pessoa se inscreva como candidato à

eleição. Do mesmo modo, Salmon destaca que a autoridade pela escolha dos membros das

comissões deve ser das próprias comissões, a fim de evitar mais uma vez a acusação de que as

principais comissões, como a de remuneração – e os conselheiros externos que as compõem

foram constituídas a dedo pelo CEO.

Os conselheiros externos com reputação de independência desfrutam de melhores chances

para monitorar a administração. O problema prático consiste em descobrir candidatos

efetivamente desinteressados, capazes e comprometidos.

O requisito “desinteressado”, citado por Salmon, de pronto desqualifica prestadores de

serviços profissionais, como advogados, banqueiros e consultores. Por motivos semelhantes,

também os fornecedores devem ser inelegíveis; entretanto, a presença de representantes de

clientes importantes levanta questões mais árduas.

Salmon destaca ainda, que embora eles possam oferecer idéias originais sobre a eficácia do

programa de marketing da empresa, também é possível que a situação desperte suspeitas entre

outros clientes quanto à concessão de tratamento mais favorável aos clientes conselheiros.

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Além disso, quando as políticas analisadas pelo conselho de administração exercerem efeito

adverso sobre as próprias empresas dos clientes conselheiros, por vezes surgirão conflitos de

interesses.

Cabe à comissão de seleção a definição de critérios de avaliação que incluam capacidade

profissional, disponibilidade de tempo, idade e conforme Salmon, possivelmente, sexo, raça e

nacionalidade. Uma vez definida a lista de exigências e qualificações, os membros da

comissão de seleção devem solicitar aos demais membros do conselho de administração,

inclusive o CEO, a indicação regular de candidatos.

Salmon destaca que “integridade, transigência, disposição de participar de discussões

construtivas com outros membros do conselho de administração e a capacidade de tomar

decisões difíceis, são atributos indispensáveis a um bom conselheiro”.

Walter Salmon adverte que os conselheiros capazes de expressar seus pontos de vista com

franqueza agregam substância e fecundidade ao processo decisório do conselho de

administração. As empresas efetivamente precisam de conselheiros com antecedentes e com

habilidades que se complementem reciprocamente e se relacionem com a missão singular

dela. Por exemplo, o conselho de administração de um varejista deve incluir pessoas que se

interessem por marketing, sistemas de informações gerenciais, logística, recursos humanos,

finanças e até pela análise dos estilos de vida dos consumidores. Entretanto, um bom conselho

de administração não é apenas um conjunto de especialistas; é uma equipe de indivíduos

ponderados, capazes de aconselhar, apoiar e por vezes dissuadir o CEO.

De acordo com Salmon, a existência de conselheiros independentes, capazes de tomar

decisões árduas, é importante exatamente em razão do ambiente agressivo em que hoje atua a

maioria dos conselhos de administração. Por exemplo, a demissão de um CEO que se tornou

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ineficaz, com quem os conselheiros talvez tenham desenvolvido relações de amizade, é uma

deliberação traumática, mas muitas vezes inevitável.

3.1.5 FUNÇÕES DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

Na maioria das empresas, a função de “chairman” (presidente do conselho de administração)

é desenvolvida pelo próprio CEO. Embora a maioria deles se empenhe ao máximo para

concentrar a ordem do dia em temas críticos, a seleção dos assuntos a serem abordados na

reunião às vezes não representa o que os conselheiros externos têm em mente.

Salmon destaca que, quando o presidente do conselho de administração é também o CEO, as

diferenças de opinião sobre a composição da agenda crítica nem sempre vêm à superfície.

“Um conselheiro externo que não esteja disposto a demonstrar falta de confiança no CEO

muitas vezes não se sente à vontade para expressar discordância quanto à ordem do dia”.

Embora tal retraimento possa não interferir na franqueza dos debates, Salmon adverte que, sua

experiência revela que o oposto é mais comum.

A solução proposta por Jay Lorsch, professor de Harvard, e outros é separar as funções de

CEO e presidente do conselho de administração. Salmon, apesar de não se opor à idéia,

acredita que uma solução mais realista para o problema da definição da ordem do dia

consistiria em atribuir a um conselheiro externo a tarefa de ajudar o presidente do conselho a

planejar os assuntos a serem tratados na reunião. “Esse conselheiro atuaria como o canal de

comunicação por meio do qual os demais conselheiros externos, sem hesitação, levantariam

temas que julgam merecedores da atenção do conselho de administração”.

Embora a ordem do dia bem elaborada seja importante referencial para reuniões construtivas,

todos os conselheiros precisam saber o que realmente está ocorrendo, para terem condições de

exercer com eficácia as funções do conselho de administração.

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Walter Salmon destaca que, dois tipos de informações ajudam a converter os conselheiros

externos em efetivos participantes nas discussões do conselho de administração: dados

rotineiros que demonstrem o desempenho da empresa em comparação com os planos, com os

concorrentes e com os números do ano anterior, e fatos específicos referentes aos principais

itens da ordem do dia da reunião. Além disso, as informações financeiras e os comentários

sobre o desempenho devem ser enviados todos os meses aos conselheiros (mesmo que as

reuniões sejam menos freqüentes), para que o conselho possa manter-se atualizado quanto às

operações.

De acordo com Salmon, as informações mais úteis são : os resultados operacionais, balanços

patrimoniais e demonstrações de fluxo de caixa que comparem os números do período em

curso e do ano até a data com os planos da empresa e com as mesmas informações referentes

ao ano anterior; breves comentários gerenciais que expliquem as variações entre o

desempenho real e o desempenho previsto, inclusive projeções revisadas para o restante do

ano; dados referentes à participação de mercado; atas de reuniões gerenciais em que se

analisaram importantes relatórios ou se tomaram decisões quanto a despesas de capital e os

principais artigos publicados na imprensa além de relatórios de analistas fianceiros, sobre a

empresa e seus concorrentes.

Ainda, de acordo com Salmon, no caso de questões importantes que demandem o debate

exaustivo de vários cursos de ação, a gerência deve enviar um memorando a todos os

conselheiros, definindo o problema, propondo alternativas e analisando as prováveis

conseqüências de cada uma, em termos financeiros e sob aspectos intangíveis. “O memorando

deve incluir análises do tipo melhor cenário, pior cenário e situação mais provável e concluir

com as recomendações da administração, inclusive a identificação de riscos. Os conselheiros

externos devem receber essas modalidades de análise com antecedência suficiente para

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solicitar esclarecimentos ou obter mais dados antes da reunião, em vez de depender

exclusivamente do material enviado de início pela gerência”.

Além de se assegurar de que as informações sejam distribuídas em quantidade e com

antecedência suficientes, os conselheiros podem decidir realizar reuniões mais longas, com

menos freqüência. A maior duração e a menor freqüência das reuniões não só possibilitam

debates mais exaustivos, como também reduzem o tempo em trânsito para executivos

ocupados, adverte Salmon.

Em geral, os grandes conselhos de administração, não realizam mais do que seis reuniões

anuais. Sendo assim, é bem provável que os conselheiros não se conheçam bem. Nesse caso,

compromete-se o desenvolvimento da confiança mútua e o resultante espírito de coesão.

Apenas por esse motivo, Salmon considera imprescindível que os conselheiros externos se

reúnam esporadicamente sem a presença da administração.

3.1.6 PLANEJAMENTO DE LONGO PRAZO E SELEÇÃO DO CEO

Dirigir os negócios cotidianos da empresa, segundo Salmon, não é função do conselho de

administração. No entanto, os acionistas têm o direito de esperar suficiente envolvimento do

órgão colegiado no planejamento de longo prazo. Um conselho de administração responsável

não deve limitar-se a ouvir e endossar as estratégias da gerência. Salmon adverte que, quando

o envolvimento do conselho de administração no planejamento de longo prazo é muito

superficial, os conselheiros e a gerência não tem condições de manter debates proveitosos

sobre as estratégias da empresa. Como o processo de planejamento em si quase sempre

envolve meses de trabalho intenso, a gerência muitas vezes já está comprometida

psicologicamente com o plano quando de sua apresentação ao conselho de administração.

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De acordo com Salmon, conselhos de administração responsáveis e eficazes participam do

processo de planejamento de longo prazo desde o início, especificando as questões a serem

tratadas pela gerência. Em seguida, se os conselheiros externos receberem informações

adequadas desde o começo, os debates com a gerência a respeito do andamento dos trabalhos

será muito mais questionador e objetivo. Além disso, é mais provável que a gerência encare o

conselho de administração como parceiro do processo de planejamento e assim seja menos

refratária às possíveis propostas dos conselheiros no sentido de mudanças na estratégia.

Quanto à seleção do CEO, Salmon adverte que, se o conselho de administração não controlar

o processo, o CEO titular decerto preencherá o vazio. E, evidentemente, o titular pretenderá

assegurar um sucessor à sua imagem e semelhança. Além do mais, os conselheiros devem ter

plena consciência de que as mudanças no ambiente de negócios, o planejamento de longo

prazo ou a própria organização talvez exijam um novo CEO com um conjunto de habilidades

e experiências totalmente novo. “Nesses casos, o conselho de administração tem a obrigação

indiscutível de deflagrar o processo de busca”.

Salmon destaca que em função da própria natureza humana, os conselheiros não se perguntam

todos os anos “Será que precisamos de um novo CEO?” Se o fizessem, a empresa e o CEO

enfrentariam problemas. No entanto, o CEO pode decidir aposentar-se ou talvez precise se

afastar por motivos de saúde, em face de outros compromissos de negócios ou, quem sabe,

deve ser afastado por consistente mau desempenho. Em tais circunstâncias especiais, compete

ao conselho de administração definir os talentos desejáveis no próximo CEO, conduzir a

busca (com recursos internos ou externos) e finalmente identificar o candidato mais

adequado.“Embora os conselheiros devam considerar com seriedade as opiniões do atual

CEO e dos gerentes seniores, incumbe ao conselho de administração, em última instância,

selecionar o novo CEO”.

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3.1.7 CONSELHEIROS ATIVOS E QUAL É O RETORNO

Partindo-se da premissa de que não ocorram crises inesperadas, a atuação ativa dos

conselheiros, demanda duas vezes e meia o número de horas gastas em reuniões. Assim, se,

por exemplo, o conselho de administração e suas comissões se reunirem seis vezes por ano,

cada reunião com a duração média de seis horas, a participação do conselho de administração

ocupa de 9 a 11 ¼ dias de trabalho de cada conselheiro por ano.

“Embora as principais recompensas da atuação ativa em conselhos de administração sejam

mais de natureza emocional e intelectual, além do acesso a idéias aproveitáveis em outras

atividades profissionais, a remuneração é, evidentemente outro fator de motivação”, destaca

Salmon. As atuais formas de remuneração não vinculam o salário dos conselheiros ao seu

respectivo desempenho. Em conseqüência, muitas empresas estão oferecendo aos

conselheiros, ações ou opções sobre ações, além ou em lugar de honorários.

Salmon destaca, ainda, que o pagamento com base no desempenho é a tendência mais recente.

Geralmente, o próprio conselho de administração é o responsável pela remuneração dos

conselheiros. Portanto, cabe ao órgão decidir que período servirá de base para a avaliação do

desempenho. Partindo-se do pressuposto de que a missão básica dos conselheiros é proteger a

saúde de longo prazo da empresa e zelar por sua sobrevivência, a remuneração com base no

desempenho também deve orientar-se para o longo prazo. Segundo Walter Salmon, um

período de cinco anos, até o vencimento das restrições quanto às ações ou para o exercício das

opções, é um bom horizonte no caso de conselheiros. O pagamento com base no desempenho

também deve depender de um nível mínimo de resultados auferidos pela empresa.

Para que o conselho de administração tenha condições de efetivamente assegurar melhor o

processo de governança, é preciso prever a substituição dos conselheiros que não cumprem

mais o seu papel.

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Salmon adverte que, embora os conselheiros, tanto quanto qualquer outro profissional,

aferrem-se à esperança de derrotar os colegas, chega um momento em que se torna muito

incômoda a permanência num conselho de administração quando se mantém profunda

discordância com suas diretrizes. Além disso, a estabilidade da composição do conselho de

administração sugere aos acionistas um consenso na verdade inexistente. Embora as

circunstâncias sejam diferentes, a maioria dos conselheiros que se vêm nesse aperto se sente

obrigado a alertar os acionistas e outros quanto aos verdadeiros motivos da renúncia.

3.1.8 CONFIANÇA GRUPAL

De acordo com Walter Salmon, as empresas devem reduzir o número de conselheiros

internos, controlar o tamanho do conselho de administração, aumentar e mudar as atribuições

e procurar conselheiros independentes. Embora, todas essas sugestões constituam ingredientes

importantes de um bom plano de melhoria, a qualidade das ações grupais será, em última

instância, o fator determinante – ou não – da capacidade do conselho de administração para o

cumprimento de sua missão.

Salmon destaca, ainda, que os conselhos de administração, como um todo, devem ser capazes

de identificar os problemas e soprar o apito o mais cedo possível. Recentemente, os

conselheiros de uma empresa manifestaram “insatisfação construtiva” numa época em que a

organização parecia apresentar bom desempenho. A empresa, uma rede de fitness centers,

vinha apresentando, continuamente, bom nível de rentabilidade. Do ponto de vista financeiro,

parecia inexpugnável, com 99% de capital próprio e 1% de endividamento. Contudo, os

conselheiros perceberam que sob um único aspecto o desempenho era insatisfatório: o número

de clientes que todos os dias ingressavam em suas instalações estava diminuindo. O conselho

de administração enfrentou o CEO e sugeriu que, em vez de continuar fazendo o que sempre

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fizera bem, talvez fosse a hora de se tentar algo diferente – por exemplo, alguma mudança na

estratégia de marketing. Nesse caso, os conselheiros induziram o CEO a contratar uma

empresa de consultoria, que analisou em profundidade as práticas vigentes.

Salmon sugere que, para manter-se em constante estado de alerta, os conselhos de

administração devem adotar medidas para fomentar a confiança entre seus membros. Viagens

em grupo a unidades da empresa distantes da sede por vezes são, segundo Salmon, uma boa

ajuda.

Para finalizar, Salmon adverte que a pretensão de que o conselho de administração se

converta de simples carimbo de homologação em sistema de alerta avançado, por meio da

transformação de suas condições de funcionamento, com base nas sugestões aqui

apresentadas, seria excesso de simplificação. “Quando uma empresa entra em parafuso,

podemos concluir que o conselho de administração não vinha exercendo suas funções a

contento”. Contudo, até os observadores mais perspicazes raramente atribuem o fracasso a

uns poucos erros específicos. Do mesmo modo como os conselheiros de administração

ineficazes raramente padecem de um único mal – por exemplo, permitir que o CEO escolha

os novos conselheiros – nenhuma mudança isolada melhorará o desempenho dos

conselheiros. Apenas mediante a adoção de um tratamento abrangente, que se concentre nos

pontos críticos analisados, os conselhos de administração conseguirão recuperar a saúde.

3.2 EMPOWERMENT DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

“A década de 1990 ficará marcada como a época em que o empowerment chegou aos

conselhos de administração”. De acordo com Lorsch, empowerment significa que “os

conselheiros externos passam a dispor de recursos e de autonomia para monitorar o

desempenho da alta gerência e da empresa como um todo; para induzir a alta gerência a

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alterar a trajetória estratégica da empresa, caso seu desempenho não corresponda às

expectativas do conselho de administração; e, em situações extremas, para mudar a própria

liderança da empresa”.

Uma vez que em mais de 80% das companhias abertas ao Estados Unidos, o CEO também

exerce as funções de presidente do conselho de administração, a maioria dos CEOs encara

com reservas o empowerment do conselho de administração. Segundo Lorsch,

tradicionalmente os líderes empresariais vêem o conselho de administração ativo e poderoso

como mera bobagem, na melhor das hipóteses, ou como força capaz de interferir

indevidamente na gestão da empresa, na pior das hipóteses. Preferiam os conselheiros que se

contentavam em apresentar sugestões, quando solicitados, e em apoiar a gerência em tempos

de crise.

Lorsch afirma que se os CEOs se opuserem à tendência em curso, as pressões para o

fortalecimento dos conselheiros provavelmente se acumularão fora do ambiente da empresa,

conferindo à mudança um caráter de rivalidade e talvez induzindo o conselho de

administração a práticas que interferirão indevidamente na gestão da empresa. “Mas se os

CEOs reconhecerem que os conselhos de administração fortalecidos são capazes de prestar

melhores serviços a eles e às empresas, o empowerment do conselho de administração se

processará com o mínimo de transtornos e o máximo de benefícios para os CEOs, para os

acionistas e para a economia como um todo”.

O CEO deve compreender o poder e a responsabilidade do conselho de administração, e os

conselheiros externos precisam reconhecer e respeitar as fronteiras entre o monitoramento da

gerência e o efetivo gerenciamento da empresa. Lorsch destaca que esse novo relacionamento

redefinido revigorará a capacidade do conselho de administração de assessorar a gerência e

monitorar o desempenho da empresa. O CEO preservará o poder de dirigir a empresa, ao

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mesmo tempo em que usufruirá a orientação de conselheiros esclarecidos e ativos, enquanto o

desempenho da empresa for satisfatório.

3.2.1 PRESSÕES PELO EMPOWERMENT

Lorsch destaca que várias são as forças motrizes que fortalecem os conselheiros externos.

Embora a maioria dos investidores institucionais não pretenda participar dos conselhos de

administração e desempenhar o papel direto na governança das empresas, eles se tornaram

mais propensos a pressionar os conselhos de administração a questionar a gerência, ao mesmo

tempo em que têm sido eficazes em convencer os meios de comunicação a agir da mesma

maneira.

As recentes dificuldades de desempenho de muitas empresas importantes e o afastamento dos

respectivos CEOs aumentaram o interesse do público por conselhos de administração ativos e

os conselhos de competitividade do governo enfatizaram a correlação entre governança

corporativa e sucesso competitivo.

Lorsch destaca, ainda, que o movimento para o fortalecimento dos conselhos tem sido

difundido pela controvérsia a respeito da remuneração dos executivos – ou, sendo mais exato,

pela percepção de que muitos CEOs recebem remunerações excessivas, em comparação com

o desempenho das respectivas empresas.

3.2.2 PRESSUPOSTOS ERRÔNEOS SOBRE O FORTALECIMENTO DOSCONSELHEIROS

Muitos CEOs e outros que manifestaram resistência sobre o fortalecimento dos conselhos

externos partem de premissas falsas sobre os conceitos de poder e de conselho de

administração.

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Poder é soma zero

Trata-se de grave erro conceitual. Conforme demonstram as fábricas e escritórios dos Estados

Unidos, uma das partes envolvidas (empregados) pode ganhar poder sem que outra parte

(gerência) perca poder. Lorsch destaca que o mesmo é verdadeiro em relação ao conselho de

administração. Em empresas como Dayton Hudson Corporation e Medtronic, nas quais os

conselheiros há muito tempo já dispõem de poderes para monitorar o desempenho da empresa

e da gerência, não se encontram provas de que o CEO e outros gerentes de alto nível tenham

sido enfraquecidos na gestão da empresa. O que se constata é que os conselheiros estão

melhores informados, comunicam suas idéias com mais eficácia e, em geral, oferecem

melhores orientações. Por exemplo, na empresa siderúrgica Lukens, o CEO e presidente do

conselho de administração pediu a vários conselheiros externos que participassem de uma

comissão do conselho de administração para analisar minuciosamente importante aquisição de

outra empresa. Cada conselheiro analisou todos os dados em que se baseou a gerência para

recomendar a aquisição e em seguida a comissão se reuniu um dia inteiro com a equipe

gerencial. Por fim, a comissão recomendou a aquisição ao plenário do conselho de

administração, que aprovou com convicção e entusiasmo. O CEO comentou que, como

resultado do processo, todo o conselho de administração se tornou mais ativo, envolvido e

comunicativo e que a mudança de procedimento tinha sido muito valiosa.

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Aconselhamento e Monitoramento são conflitantes

Segundo Lorsch, orientação é o que os CEOs mais querem dos conselheiros externos, e

muitos CEOs receiam que, se os conselheiros intensificarem o monitoramento, a utilidade

deles como orientadores diminuirá. Lorsch afirma que essa idéia é enganosa, pois os

conselheiros necessitam dos mesmos dois ingredientes para o desempenho de ambos os

papéis: acesso a informações úteis e tempo para discuti-las entre si e com a gerência. De fato,

os membros de conselhos de administração fortalecidos tendem a dispor de mais

conhecimentos e informações e estar mais envolvidos nos assuntos da empresa do que os

conselheiros tradicionais e, portanto, podem oferecer melhores conselhos.

Não há necessidade de agir a não ser em situações de crise

De acordo com Lorsch, o pressuposto de que os conselhos de administração podem

permanecer passivos, sem maiores conseqüências, até o surgimento de crises sugere que “os

conselheiros são como bombeiros, que ficam no quartel jogando damas até que irrompa um

incêndio e soe o alarme”. Lorsch afirma que os conselhos de administração que se mantêm

passivos esperando pela crise não disporão das informações necessárias, da capacidade

decisória e dos mecanismos de comunicação de que necessitam para agir com rapidez nas

conjunturas críticas.

Além disso, como demonstraram os acontecimentos em empresas como a General Motors e

IBM, as crises mais difíceis com que se defrontam os conselhos de administração se

desenvolvem aos poucos. Sendo assim, os conselhos de administração que não monitoram

ativamente o desempenho da empresa, mesmo em épocas que parecem tranqüilas, enfrentam

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grandes dificuldades para identificar e compreender os problemas de maneira oportuna.

Lorsch destaca que uma importante qualidade do conselho de administração fortalecido é

criar condições para que os conselheiros evitem crises. “Ao atuar como monitores ativos, os

conselheiros são capazes de estimular e respaldar o CEO na implementação das mudanças

necessárias para impedir que pequenas dificuldades se convertam em grandes crises”.

Realmente, nas organizações cujos conselhos de administração afastaram os CEOs, em

virtude de mau desempenho, os próprios conselhos de administração não monitoraram a

gerência e a empresa em si, nos anos anteriores à crise.

Tamanho único para todas as empresas

Lorsch afirma que muitos gerentes presumem erroneamente que o empowerment do conselho

de administração segue os mesmos procedimentos e processos em todas as empresas.

Segundo ele, pelo menos três fatores influenciam os processos e procedimentos a serem

adotados pelos conselheiros externos. O primeiro é a confiança dos conselheiros no CEO e a

natureza do relacionamento entre eles. Lorsch destaca que se o CEO for novo e os

conselheiros ainda não compreenderem bem suas idéias, a tendência será a de monitorar as

opiniões e ações do CEO com mais freqüência e cuidado. Entretanto, se o CEO já estiver

liderando a empresa com sucesso há muitos anos, o monitoramento eficaz pelos conselheiros

exigirá avaliações anuais menos detalhadas. Contudo, nesta última situação, os conselheiros

externos devem assegurar-se de que nem o conselho de administração nem a gerência estão

negligenciando mudanças significativas nas circunstâncias com que se defronta a empresa.

Um segundo fator, segundo Lorsch, que afeta a maneira como o conselho de administração

deve raciocinar em termos de empowerment é o desempenho da empresa. “Se a empresa

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estiver enfrentando problemas, os conselheiros devem empenhar-se com mais afinco para

compreender o pensamento e as decisões da gerência do que em situações normais”.

O papel do conselho de administração como monitor também dependerá da complexidade das

decisões com que se deparam os gerentes e conselheiros, afirma Lorsch. Além dos problemas

referentes ao desempenho da empresa, Lorsch destaca que o fator que mais influencia a

dificuldade do processo decisório é a diversidade de negócios da empresa – em outras

palavras, o número de diferentes produtos e mercados e também a variedade de países que

constituem o escopo das operações da empresa. Por exemplo, o conselho de administração de

uma empresa como a Procter & Gamble, que opera diferentes negócios em todo o mundo,

trata de questões mais complexas do que o conselho de administração de uma empresa que

atua basicamente em um único negócio e em um único país.

Há quem argumente que o tamanho da empresa também é fator determinante da

complexidade de suas decisões. Embora essa posição tenha algum mérito, segundo Lorsch, o

efeito do porte em si sobre a dificuldade do processo decisório é menor do que o da

diversidade. Em essência, as empresas maiores tomam decisões mais vultosas sobre os

mesmos temas; no entanto, se os negócios da empresa forem mais diversificados, o conselho

de administração enfrentará maior quantidade de temas diferentes.

Ainda de acordo com Lorsch, outro fator que afeta a dificuldade das decisões é a velocidade

das mudanças mercadológicas e tecnológicas nos negócios da empresa. Evidentemente, uma

empresa como a IBM, que, além de operar vários negócios em todo o mundo, ainda enfrenta

mudanças de mercado e de tecnologia contínuas e rápidas, caracteriza-se por enorme

complexidade. A tarefa para manter-se a par dessas mudanças é muito grande.

Os requisitos e componentes do monitoramento em determinada empresa mudarão com o

tempo, à medida que evoluem as circunstâncias. Os conselheiros devem dispor de

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informações necessárias para concentrarem-se nos temas certos e para aproveitar da maneira

mais produtiva o tempo que passam juntos. Lorsch afirma que “a eficácia grupal é a

verdadeira fonte de fortalecimento do conselho de administração”.

3.2.3 FONTES E LIMITES DO PODER DOS CONSELHEIROS

Em geral, o conselho de administração delega à gerência os poderes para a gestão da empresa.

Ao exercer sua função residual de supervisionar a gerência, os conselheiros devem, segundo

Lorsch, demonstrar diligência e lealdade (não ter conflitos de interesse) e julgar as

oportunidades de negócios.

Na realidade, Lorsch afirma, que o poder e o desempenho do conselho de administração

dependem das habilidades dos conselheiros e da coesão do grupo. Cada uma dessas fontes

deve ser analisada em função do CEO, pois o verdadeiro poder do conselho de administração

depende de seu relacionamento com o CEO e com outros altos executivos.

Lorsch destaca que, um elemento importante nesse relacionamento é o fato de os conselheiros

atuarem em tempo parcial e o CEO dedicar-se em tempo integral à empresa, na qual muitas

vezes desenvolveu toda a sua carreira. Não surpreende que os CEOs conheçam a empresa

com mais profundidade do que os conselheiros. Sob a perspectiva dos conselheiros, não é

exagero afirmar que um dos principais objetivos das reuniões do conselho de administração é

aprender sobre a empresa com o CEO. Lorsch afirma que, os conselheiros podem obter

quaisquer informações, mas esses dados devem ser convertidos em conhecimentos úteis sob o

prisma da compreensão mais ampla da empresa de seus mercados e operações – perspectiva

que inevitavelmente será proporcionada pela gerência nas reuniões do conselho de

administração.Lorsch adverte que as demonstrações financeiras e os relatórios formais contam

apenas parte da história, e os conselheiros geralmente chegam às reuniões com muitas

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perguntas: Por que as receitas subiram ou desceram? Quais são os principais clientes e qual

tem sido a atuação dos revendedores? Qual a situação de um novo produto no mercado de

teste? Por que as negociações referentes a uma proposta de aquisição estão sendo tão lentas?

Se juntarmos, segundo Lorsch, a esse trunfo o fato de ser o CEO quem geralmente define a

ordem do dia das reuniões e preside os eventos, torna-se evidente o motivo pelo qual é preciso

que os CEOs estejam convencidos do valor do fortalecimento dos conselheiros. Se resistirem

à idéia, facilmente conseguirão inibir o processo.

Entretanto, os conselheiros dispõem de importante fonte de poder a que recorrer em proveito

próprio: a solidariedade grupal. Considerando a experiência e a capacidade dos conselheiros,

Lorsch afirma que, apenas um CEO refratário e arrogante se oporia a um conselho de

administração coeso.

Segundo ele “o conselho de administração fortalecido é capaz de facilitar o necessário diálogo

e promover a solidariedade entre seus membros”.

3.2.4 O QUE CONSTITUI UM CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO FORTALECIDO

Muito tem se dito e escrito recentemente sobre as características de um conselho de

administração fortalecido. Segundo Lorsch, essas características, que se aplicam com

intensidade variável a diferentes conselhos de administração, podem ser resumidas nos

seguintes termos:

• A maioria dos conselhos é oriunda de fora da empresa e não tem relações com a

organização;

• O conselho de administração é suficientemente pequeno para atuar como um grupo coeso;

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• Seus membros compreendem os objetivos comuns e estão dispostos a dedicar-se à sua

implementação. Reconhecem que sua principal obrigação consiste em monitorar a gestão

e o desempenho da empresa, e não gerenciar a empresa;

• Os conselheiros representam um amplo espectro de setores de atividade e de experiências

de liderança, que ajudam a compreender as questões enfrentadas pela empresa;

• Os membros se comunicam livremente uns com os outros, tanto nas reuniões das

comissões como nas reuniões do conselho de administração pleno, além de em outros

ambientes, com ou sem a presença da gerência.

• Se o CEO também for presidente do conselho de administração, os conselheiros externos

selecionam um líder entre eles. Essa pessoa coordena as deliberações quando se reúnem

sem a presença da gerência e trabalha em estreito entrosamento com o CEO para planejar

as atividades do conselho de administração;

• As comissões são compostas inteiramente por conselheiros externos. Embora a gerência

seja consultada sobre assuntos discutidos nas comissões, estas também se reúnem

regularmente com a gerência e por fim;

• Os conselheiros recebem informações sobre o desempenho financeiro e mercadológico da

empresa em formato inteligível e que os ajude a compreender os resultados da empresa

em comparação com os dos concorrentes.

Lorsch afirma que essas características são os alicerces para o fortalecimento do conselho de

administração, mas as questões mais importantes e menos exploradas são o que os conselhos

de administração fortalecidos devem fazer de maneira diferente ao exercer suas funções de

monitoramento e aconselhamento e como devem desempenhar suas atividades, sem interferir

nas atribuições e recursos da gerência referentes à direção da empresa.

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Lorsch destaca as três atividades essenciais para que o conselho de administração atue como

monitor eficaz: zelar pela conduta legal e ética dos diretores e empregados da empresa;

aprovar a trajetória estratégica da empresa e avaliar seu progresso; selecionar, avaliar e

recompensar e, se necessário, afastar o CEO, e garantir a disponibilidade de planos de

sucessão adequados na alta administração.

Um aspecto final do trabalho de monitoramento pelo conselho de administração, segundo

Lorsch, é o desenvolvimento de programas de planejamento e análise, a serem executados

pelo órgão colegiado e pela gerência. Esses programas orientam a agenda do conselho de

administração em empresas como Dayton Hudson, Medtronic e Stanhome, prevendo reuniões

específicas para planejamento e análise estratégica, para avaliação do desempenho de CEO e

para revisão dos planos de sucessão.

Lorsch afirma que essas ferramentas não só direcionam e concentram o foco das atividades do

conselho de administração, mas também enfatizam, para conselheiros e gerentes, a interação

de aspectos críticos do papel dos conselheiros como monitores.

3.2.5 EFICÁCIA DO EMPOWERMENT

Embora sejam muitas as preocupações dos conselheiros dotados de novos poderes, os

principais focos de atenção, segundo Lorsch, têm sido a avaliação do desempenho do CEO e a

análise da estratégia corporativa. Lorsch afirma que os conselheiros fortalecidos esperam que

ao melhorar sua atuação nessas áreas, evitarão os problemas que afligiram muitas das grandes

corporações na década de 1980, quando conselheiros e gerentes não identificaram as

mudanças tecnológicas e mercadológicas que exerceram impacto negativo sobre as empresas.

Por vários motivos, “a avaliação anual do CEO é essencial para o monitoramento eficaz”.

Basicamente, é um passo importante para o fortalecimento do conselho, pois emite uma

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mensagem clara para o CEO e para os conselheiros no sentido de que aquele é responsável

perante estes, afirma Lorsch. Segundo ele, também motiva os conselheiros a se envolver em

discussões abertas e francas sobre o desempenho do CEO e da empresa, pelo menos uma vez

por ano. Em conseqüência, os conselheiros compreenderão melhor a empresa e o CEO e serão

monitores mais eficazes. Certo conselheiro que atuou em dois conselhos de administração

onde se avaliava o CEO, afirma que na maioria dos órgãos que não adotam tal prática os

conselheiros não têm muitas oportunidades de conversar uns com os outros. Nos dois órgãos

que efetuavam essas avaliações, os conselheiros não tinham o intuito de criticar o CEO, mas

consideravam útil conversar abertamente sobre questões que não queriam abordar na presença

do CEO. O mesmo conselheiro acrescenta que essas análises possibilitam que os conselheiros

aprendam mais sobre a organização e representam uma oportunidade para a abordagem de

certas preocupações.

Por fim, Lorsch afirma que a avaliação do desempenho beneficia pessoalmente o CEO, ao

transmitir-lhe diretamente as preocupações, sugestões e elogios dos conselheiros. “Quando

executada de maneira adequada, a prática também permite que o CEO discuta sua reação com

os conselheiros. Todos os líderes de empresas percebem que esse processo de diálogo e

feedback é de valor inestimável, mas também muito raro”.

À medida que a lista de empresas que avaliam o CEO passou a incluir organizações como

Alcoa e General Motors, entre outras, desenvolveram-se métodos diferenciados para tais

análises. Contudo,de acordo com Lorsch, certos critérios são essenciais para a eficácia do

processo:

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• Deve ser executado pelo menos uma vez por ano;

• Precisa analisar o desempenho anual e de longo prazo da empresa, em comparação com o

de organizações congêneres;

• As realizações do CEO devem ser avaliadas com base nas metas individuais e nos

objetivos da empresa. As metas individuais do CEO devem abranger iniciativas diversas,

como algum programa importante de melhoria da qualidade ou a aquisição de outra

empresa. Embora tais metas variem de ano para ano, o CEO deve planejar continuamente

a sucessão da alta administração;

• CEO deve apresentar a avaliação de seu próprio desempenho.

• Os conselheiros externos devem fazer suas avaliações isoladamente. As várias avaliações

são compiladas por um conselheiro, por uma comissão de conselheiros ou por um terceiro

independente, de modo a identificar a essência das opiniões dos conselheiros, assim como

a variedade das diferentes perspectivas. O feedback deve ser transmitido ao CEO de

maneira confidencial;

• CEO deve discutir a avaliação frente a frente com um ou mais conselheiros externos e ter

a oportunidade de discutir sua reação à análise com todos os conselheiros.

Lorsch adverte que depois de implementado o processo de avaliação, as funções de cada parte

são muito claras. “O CEO definirá seus próprios objetivos e efetuará sua auto-avaliação,

enquanto os conselheiros analisarão o desempenho do CEO e lhe comunicarão como vêem a

atuação dele. Uma vez que o CEO e o conselho de administração cheguem a um acordo

quanto à conveniência do processo, serão poucas as dúvidas sobre a divisão de

responsabilidades entre as duas partes”.

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Já a questão sobre quando e com que profundidade o conselho de administração se envolverá

em questões estratégicas é menos clara, afirma Lorsch, e, em geral, mais controversa. “Uma

velha preocupação de gerentes e conselheiros é onde traçar a linha que separa as prerrogativas

da gerência e do conselho de administração. Quando algum conselheiro ultrapassa essa linha,

o conselho de administração enfrenta sérios problemas, pois o gerenciamento da empresa não

é função do conselho de administração”.

Sonegar informações ao conselho de administração decerto não é uma boa solução para o

problema, afirma Lorsch, mas a questão sobre onde traçar a linha é importante. “No mínimo,

os conselheiros devem aprovar a estratégia corporativa e analisar e avaliar seus resultados. O

grau de envolvimento dos conselheiros em decisões estratégicas depende das circunstâncias

específicas”.

3.2.6 CONHECIMENTOS DOS CONSELHEIROS

A fim de contribuir com eficácia para as análises sobre a estratégia corporativa e avaliar com

competência o desempenho do CEO, é óbvio que os conselheiros precisam de conhecimentos

adequados, afirma Lorsch. Nesse contexto, segundo ele, o termo adequado é “conhecimento”,

em vez de informação, palavra mais comum, pois o verdadeiro problema dos conselheiros não

é a falta de informação, mas o conteúdo e contexto das informações.

Os conselheiros recebem informações de duas maneiras. A primeira são relatórios por escrito.

Em geral, eles contêm informações sobre os resultados financeiros da empresa, assim como

sobre propostas específicas a serem discutidas em determinada reunião. A segunda são as

apresentações orais pelos gerentes. De grande importância é o relatório do CEO, peça central

de muitas reuniões do conselho de administração. Embora o conteúdo específico possa variar

de uma para outra empresa, Lorsch afirma que os comentários do CEO sobre a situação da

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empresa e sobre os acontecimentos que a afetaram desde a reunião anterior são importante

fonte de conhecimento para os conselheiros.

“Em geral, os conselheiros absorvem grande quantidade de dados ao longo de muitos anos de

serviço e aos poucos convertem em conhecimento sobre a empresa”. Em muitos conselhos de

administração do passado Lorsch afirma que esse método gradual de construção do

conhecimento era adequado. Contudo, em empresas que enfrentam o risco de declínio em

longo prazo, em virtude de tecnologias e mercados em rápida evolução, a abordagem se

revelou imprópria. Os conselheiros não se mostravam mais conscientes do que os gerentes de

alto nível quanto ao significado dos eventos externos. Lorsch adverte que uma das causas da

“miopia” talvez seja o fato de os gerentes serem os fornecedores de informações ao conselho

de administração. Mas outra razão talvez decorra da tendência de os conselheiros disporem de

muito conhecimento sobre finanças e pouco conhecimento sobre mercados e tecnologias em

mutação. Não que a gerência, deliberadamente, tenha segurado informações sobre produtos e

mercados, mas sim que, em geral, não se consideravam tais dados dentro do escopo do

conselho de administração.

Para serem eficazes na avaliação do CEO e na aprovação da estratégia corporativa, segundo

Lorsch, os conselheiros precisam desenvolver conhecimento não apenas sobre os resultados

financeiros da empresa, que são uma indicação do desempenho passado, mas também sobre o

progresso da organização no desenvolvimento de novas tecnologias e de novos produtos e

serviços, assim como na entrada em novos mercados. Para tanto seria necessário compreender

as novas demandas dos clientes em constante evolução, e as iniciativas dos respectivos

concorrentes. Do mesmo modo, os conselheiros necessitam de informações para desenvolver

conhecimento sobre a saúde organizacional da empresa.

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Como em outros aspectos da atuação dos conselhos de administração, Lorsch adverte que os

conselheiros e gerentes precisam decidir sobre o mix de conhecimentos mais adequado às

circunstâncias específicas da empresa. Mais uma vez, há certos requisitos mínimos. Segundo

ele, os dados devem abranger temas financeiros e estratégicos e envolver tanto as perspectivas

para o futuro quanto ao desempenho passado. As informações devem voltar-se para os

objetivos estratégicos e para as demandas competitivas, além de proporcionar ampla

visualização das condições enfrentadas pela empresa. Também é importante que os dados

mostrem o progresso do CEO na consecução de seus objetivos individuais.

Lorsch destaca que o principal desafio para os conselheiros é partir do que talvez seja uma

vasta quantidade e um amplo espectro de informações e rapidamente converter tudo isso em

conhecimentos úteis. Alguns conselhos de administração, como o da Monsanto Company, que

enfrenta esse desafio mediante a adoção de limites mais altos para os projetos de capital que

exigem a aprovação do conselho de administração, liberando, assim, mais tempo para que os

conselheiros se dediquem a temas estratégicos mais amplos.

Outra prática adotada pelos conselhos de administração da Monsanto e da Alcoa, segundo

Lorsch, é pedir aos conselheiros, periodicamente, que avaliem a quantidade de informações

recebidas. Segundo ele, “tal iniciativa estimula os conselheiros a fornecer uns aos outros e à

gerência comentários explícitos sobre os dados disponíveis, desestimula a empresa a fornecer

constantemente as mesmas informações”. Outra solução para o problema do excesso e

inadequação das informações, de acordo com Lorsch, é a organização eficiente dos dados e o

fornecimento de uma visão geral concisa, mas abrangente, do progresso estratégico da

empresa. As informações devem ser fornecidas aos conselheiros com antecedência, para que

tenham condições de estudá-las, formular perguntas e identificar assuntos a serem debatidos

nas reuniões do Conselho de Administração. Lorsch adverte que “os conselheiros devem

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dispor da opção de se reunirem sozinhos para desenvolver um entendimento comum sobre a

situação da empresa e decidir quanto às questões e assuntos a serem discutidos com a

gerência”. Tal prática vem sendo adotada por uma quantidade crescente de empresas, como a

Alcoa e a General Motors, entre outras.

Em geral, essas iniciativas possibilitam que os conselheiros se mantenham a par dos

acontecimentos num mundo em rápida evolução, para que possam tomar decisões

esclarecidas sobre questões estratégicas específicas e formular julgamentos conscienciosos a

respeito dos objetivos e realizações do CEO. Trata-se de condições essenciais para o bom

desempenho do conselho de administração como monitor eficaz, afirma Lorsch.

3.2.7 AUTOMONITORAMENTO

Neste mundo dinâmico, de acordo com Lorsch, nenhum conjunto de atividades preencherá os

requisitos de monitoramento eficaz durante muito tempo. As circunstâncias com que se

defronta a empresa e a própria composição do conselho de administração mudarão com o

tempo. Segundo ele, “a inevitabilidade da mudança e o fato de que mesmo os conselheiros e

os gerentes mais talentosos e motivados acabarão descobrindo que seus melhores planos nem

sempre produzem resultados esperados significam que o conselho de administração

fortalecido precisa monitorar seu próprio desempenho periodicamente”.

A idéia de todo o conselho de administração analisar seu próprio desempenho uma vez por

ano é proveitosa, segundo Lorsch, pois possibilita que todos os conselheiros, internos e

externos, contribuam para eventuais aprimoramentos e assim se comprometam com as

mudanças no processo. Lorsch adverte que quaisquer que sejam os métodos específicos

adotados, o desempenho do conselho de administração deve ser avaliado à luz das condições

com que se defrontam os conselheiros: Como é o relacionamento deles com o CEO e qual o

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grau de desconfiança que depositam nele? Como tem sido o desempenho da empresa? Quão

complexas são as questões enfrentadas pelos conselheiros?

No contexto específico, os conselheiros precisam avaliar em profundidade o que

compreendem e o discernimento com que monitoram a execução da estratégia da empresa.

Qual tem sido a eficácia do processo de avaliação do CEO? Qual o nível de aproveitamento

do tempo que os conselheiros passam juntos? As comissões do conselho de administração

estão funcionando bem? Os conselheiros estão recebendo informações adequadas e bem

organizadas? Esses são alguns dos principais pontos a serem abordados, com o objetivo de

aumentar a eficácia do conselho de administração como órgão de monitoramento, afirma

Lorsch.

“A análise dos procedimentos será efetuada com mais eficácia se os conselheiros tiverem

desenvolvido antecipadamente um conjunto explícito de princípios, sobre como pretendem

atuar no exercício das funções do conselho de administração, a exemplo da iniciativa da

General Motors, ao fixar, em 1994, as diretrizes gerais da empresa. O desenvolvimento dessas

diretrizes, embora demorado, induz os conselheiros a raciocinarem juntos sobre possíveis

mudanças”.

Além da revisão dos processos e dos procedimentos do órgão como um todo, Lorsch destaca

que alguns conselhos de administração estão realizando avaliações explícitas dos próprios

conselheiros.

Isso sugere que, embora o conselho de administração pleno deva envolver-se em ambos os

aspectos de avaliação, as diferentes comissões também têm um papel a desempenhar no

monitoramento dos trabalhos do conselho de administração. De acordo com Lorsch, a

comissão de remuneração se concentraria no processo de avaliação do CEO. A comissão de

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auditoria, já familiarizada com o sistema de informações da empresa, é o grupo ideal para

monitorar a melhoria das informações recebidas pelos conselheiros.

A comissão de seleção, além da avaliação dos diferentes conselheiros, também coordenaria a

revisão anual das atividades do conselho de administração pelo órgão pleno. Assim, segundo

Lorsch, cada comissão contribui de maneira singular para a supervisão pelo conselho de

administração de seu próprio funcionamento.

3.3 NOVA FERRAMENTA PARA OS CONSELHOS DE ADMINISTRAÇÃO

De acordo com Gordon Donaldson, “a onda de reestruturações referentes ao desempenho

corporativo e ao ativismo dos investidores resultou em inúmeras propostas de reforma”.

Sendo assim, afirma ele, os membros dos conselhos de administração, em face do número de

ações judiciais movidas por acionistas e do custo crescente do seguro de responsabilidade de

conselheiros e diretores, também estão sentindo as pressões dos riscos crescentes no exercício

de suas atividades.Ainda mais intensa é a pressão dos detentores de grandes blocos de ações

(fundos de pensão e fundos de investimento), das autoridades judiciais e reguladoras e da

imprensa financeira – todos demandando que os conselhos de administração sejam mais

ativos.

Gordon Donaldson destaca que, esses fatores exerceram forte impacto sobre as companhias

abertas dos Estados Unidos e induziram a mudanças significativas no comportamento dos

conselhos de administração, ainda que imperceptíveis para o público externo. Donaldson

descreve que, atualmente os conselheiros externos estão muito mais dispostos a assumir

posições independentes nos debates e, por vezes, até mesmo ostensivamente opostas às do

CEO, se acreditarem que interesses vitais da empresa estão em jogo. Recentemente, a

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independência dos conselhos redundou na saída do presidente do conselho de administração

ou do CEO, na Morrison Knudsen, na W.R. Grace e na Kmart.

Segundo Gordon Donaldson, “um dos problemas em muitas das propostas de reforma é o fato

de tratarem apenas dos princípios amplos da governança corporativa e oferecerem poucas

diretrizes práticas”. Ainda mais importante,destaca Donaldson, é que essas propostas não

versam diretamente sobre questões fundamentais que se situam no âmago da preocupação dos

investidores – nomeadamente, a capacidade do conselho de administração de intervir, na

hipótese de estratégias de negócios mal sucedidas ou debilitadas. De acordo com Donalson,

“as idéias referentes ao fortalecimento dessa capacidade estão entre as que primeiro devem ser

consideradas, mas também entre aquelas cujo consenso e implementação envolverão maiores

dificuldades”.

3.3.1 SUPERVISÃO PELO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO E ESTRATÉGIA DAEMPRESA

De acordo com Gordon Donaldson, o envolvimento do conselho de administração na

formulação e implementação da estratégia da empresa sempre foi um tema delicado.

“Para serem eficazes, todas as organizações precisam não só de uma missão estratégica nítida

e inequívoca, mas também da confiança de que a alta administração tem autoridade e

capacidade para executá-la. Por natureza, o conselho de administração típico é mal concebido

e mal equipado para exercer a liderança ativa em termos de produtos e mercados”.Gordon

destaca que a maioria de seus membros geralmente carece de experiência específica sobre o

setor e de conhecimentos específicos sobre a empresa e, mais importante, não dispõe de

tempo necessário para converter a visão estratégica ampla em realidade operacional. Os

conselheiros dedicam atenção exclusiva à empresa não mais do que uma vez por mês, durante

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seis a oito horas de cada vez. Assim, seria difícil esperar que dominassem com detalhe os

assuntos e manifestassem opiniões próprias com firmeza suficiente para contrapor-se às

propostas da gerência.

Gordon adverte, ainda, que as reuniões típicas do conselho de administração são foro

impróprio para a manifestação de preocupações sérias quanto à trajetória estratégica da

empresa.

“A costumeira ordem do dia é definida pelo presidente do conselho de administração e

sempre se concentra nos detalhes da implementação da estratégia de negócios em curso”. As

apresentações refletem a busca enorme da missão definida para a empresa, e os gerentes

tendem a demonstrar impaciência em relação aos conselheiros que não compartilham seu

comprometimento total com a trajetória escolhida, segundo Gordon.

Ainda, de acordo com Gordon Donaldson, alguns conselheiros, seja o fundador da empresa,

um grande investidor ou um ex- CEO, muitas vezes exerceram considerável influência sobre a

trajetória estratégica, embora quase sempre nos bastidores.

Afora essas prerrogativas pessoais singulares, os conselheiros devem atuar como críticos

solidários da estratégia em curso. Os que optam por violar as normas dos debates nas reuniões

do conselho de administração, questionando com agressividade e persistência a liderança

corporativa – e assim invadindo a zona desmilitarizada entre o conselho de administração e a

gerência executiva corre o risco de serem discriminados e, com o tempo, substituídos. Sem a

existência de foro apropriado ao debate vigoroso, os questionamentos mais sérios ou se

retraem ao fogo brando das discussões individuais, fora das reuniões formais, ou explodem

em confrontos promíscuos e destrutivos, em frente a gerentes subordinados, sempre presentes

nas reuniões do “órgão colegiado”.

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Gordon adverte que, quando de alguma forma ocorrem tais intervenções, a situação parece

enquadrar-se em uma das três circunstâncias: A mais comum é a aposentadoria do CEO

titular, ainda que este muitas vezes indique o sucessor. A segunda circunstância é uma queda

repentina e acentuada na rentabilidade ou no valor dos ativos da empresa. Uma terceira

situação que por vezes deflagra a intervenção é algum desafio externo que envolva a ameaça

de mudança de controle – o caso clássico de bárbaros no portão. Tal cenário era comum na

década de 1980, apogeu dos caçadores de empresas e de CEOs tão debilitados, que muitas

vezes surgiam oportunidades para que os conselhos de administração tomassem a iniciativa.

Gordon garante que a ameaça de um ou de todos esses eventos é “insuficiente” para garantir a

supervisão vigilante.

Donaldson adverte que, mesmo quando “ a intervenção decisiva se inicia dentro do processo

de governança, raramente sua causa é um ato formal do conselho de administração pleno. Ao

contrário, a situação mais comum é um conselheiro, em atitude impulsiva, dar um passo à

frente, assumir a liderança e instigar a adesão de outros conselheiros independentes”. Talvez o

exemplo mais conhecido seja a iniciativa de John Smale, em 1992, como membro do

conselho de administração da GM, para substituir o chairman e CEO Robert Stempel. Como

os três gatilhos mencionados, tal abordagem é um mecanismo pouco confiável de supervisão

pelo conselho de administração e parece desnecessariamente traumático.

Portanto, continua em aberto a questão: é possível criar mecanismos formais dentro dos atuais

processos de governança corporativa, a fim de que o conselho de administração tenha

condições de exercer, de maneira proativa, suas atribuições de supervisão estratégica?

Segundo Gordon Donaldson, sim. O mecanismo é um processo formal de análise estratégica –

uma auditoria estratégica – que imponha sua própria disciplina ao conselho de administração

e à gerência, do mesmo modo como funciona o processo de auditoria financeira. Ainda

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segundo Donaldson, é possível projetar a auditoria estratégica de modo a resistir ao teste do

tempo e sobreviver às inevitáveis disputas sobre autoridade. O processo centralizaria a

liderança da supervisão estratégica nas mãos dos conselheiros independentes e os investiria de

autoridade para definir os critérios e os métodos de análise. Também demandaria que o

conselho de administração e o CEO efetuassem análises conjuntas regulares sobre o

desempenho de empresa e sinalizaria para o público investidor que o conselho de

administração e a gerência aceitam a autoridade e a responsabilidade do “órgão colegiado”

quanto à supervisão estratégica contínua e ativa.

4. ASPECTOS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA NO BRASIL E NO MUNDO

Esse capítulo irá abordar aspectos de Governança Corporativa tanto no Brasil como no

Mundo e mostrará que o governo corporativo está chegando à América Latina para

estabelecer os princípios da nova ordem que vai reger o mundo dos negócios: igualdade,

transparência e segurança.

Também irá mostrar que a forma de funcionamento dos poderes nos Estados Unidos é

diferente na América Latina. Nos Estados Unidos, na maioria das corporações, a separação de

poderes entre acionistas, executivos e conselhos de administração é clara e o conselho é um

contrapeso ao poder dos executivos. Porém na América Latina os executivos e conselheiros

são uma extensão do poder dos controladores.

Contudo, o Brasil é o país da região que mais se compara ao modelo americano. A legislação

do país não está entre as melhores, mas as empresas estão na vanguarda da governança

corporativa. Um fato foi a criação do IBGC. O Brasil é o único país da região onde a bolsa de

valores abriu um espaço exclusivo para as empresas com boas práticas de Governança

Corporativa.

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4.1 PAPEL DO CONSELHO

Este gráfico avalia o papel dos conselhos, nas grandes empresas de cada país, podendo ser

avaliado como positivo, negativo ou irrelevante.

29%

18%

43%

31%

70%74%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Chile México Argentina Peru Brasil AméricaCentral

Podemos concluir que tanto o Chile como o México avaliam positivamente o papel de seu

conselho na organização. A Argentina e o Peru avaliam o mesmo fato negativamente, já o

Brasil e outros países da América Central entram na faixa de irrelevantes.

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Ainda, referindo-se ao papel do conselho, que é um dos focos principais dessa monografia,

podemos citar os fatores associados aos conselhos que causam impacto negativo à

transparência nas empresas no que tange ao profissionalismo.

46%

41%

35%

26%

34%

48%

50%

57%

Muito poucos são osconselhos

profissionais

Estar entre muitosconselhos impedeum trabalho sério

A maioria é deexecutivos da

mesma empresa

Seu papel estáenfocado no lobby

Esse gráfico compara percentualmente ,um país em relação ao total regional, para cada um

dos fatores associados aos conselhos que causam impactos negativos à transparência das

empresas.

Na Argentina 26% do papel de seu conselho está enfocado no lobby em relação ao total

regional em análise que é de 34%.

Podemos destacar que 41% dos entrevistados no Brasil disseram estar “entre muitos

conselhos impede um trabalho sério”.

Total Regional

ARGENTINA

CHILE

BRASIL

PERU

Total Regional

Total Regional

Total Regional

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4.2 TRANSPARÊNCIA

O quanto é maquiada as demonstrações financeiras em cada país:

10%

59%

31%

Poucos o fazem, a supervisão e a legislação são severas

Como em tudo, alguns fazem e outros não

Todos fazem, inclusive nas mais prestigiosas empresas

Dos 31% dos entrevistados que dizem que “todos fazem”, inclusive nas mais prestigiadas

empresas, 52% corresponde à Argentina, 39% ao Peru e 33% à Venezuela. A maioria tem

opinião mediana e apenas 10% dizem que “poucos o fazem”.

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O que acontece com os executivos envolvidos em fraudes nas empresas, em cada país?

47%

35%

30%

25%

12%

Se tem uma boarede de

contatos, nada

A demissão é amaior e maisgeneralizada

punição

Em empresasestatais, oscastigos são

menores

Sempre há umexecutivo que

"paga"injustamentepelos demais

São impostasseveras penasaos implicados

Dos entrevistados que dizem que tendo “ uma boa rede de contatos não acontece nada”, 68%

refere-se à Argentina, 61% ao Brasil e 56% à América Central.

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Como qualificaria a forma como se determinam as remunerações dos executivos e diretores

das empresas?

17%

60%

23%

É UM TEMA TABU

POUCO CLARA E SUBJETIVA

TRANSPARENTE E OBJETIVA

De acordo com a remuneração dos executivos podemos dizer, através desse gráfico, que 60%

diz que a remuneração é pouco clara e subjetiva, sendo que desse grupo o México possui uma

participação de 70%, o Peru 60% e a Argentina 62%.

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4.3 IMPACTO DOS ESCÂNDALOS CONTÁBEIS

Esse gráfico representa o impacto que cada país teve em relação aos escândalos contábeis nos

Estados Unidos.

68%64%

35%

24%

44%50%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Bras

il

Chile

Colombia

Arge

ntina

Vene

zuela

O Brasil e México destacaram que houve muito impacto e citaram que as principais empresas

locais estão na mira. Já, o Chile e a Colômbia, destacaram como poucos os impactos e que o

foco na ética empresarial é passageiro. Na Argentina e Venezuela nada causou impacto

mesmo afirmando que, no país deles, é melhor não dizer certas coisas.

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4.4 PROPRIEDADE DA EMPRESA

Que impactos têm sobre as empresas de cada país a concentração da propriedade em grandes

grupos econômicos familiares?

66%

14%

20%

Dificulta a gestão, dá margem a excessos e arbitrariedades

Aumenta o controle e diminui a possibilidade de fraudes

A estrutura da propriedade não influi nos resultados da empresa

Podemos afirmar que “aumenta o controle diminuindo a possibilidade de fraudes”, é a opinião

de apenas 14% dos entrevistados. Já, a maioria acredita ser verdade que a concentração da

propriedade em grandes grupos econômicos familiares “dificulta a gestão e dá margens a

excessos e arbitrariedades”.

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Em relação aos paises:

26%

19%

71%74%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Brasil México Colombia Chile

No Brasil e no México, o fato das empresas concentrarem a propriedade em grandes grupos

econômicos familiares, é apontado como uma dificuldade na gestão. Já, na Colômbia e no

Chile acredita-se que diminui a possibilidade de fraudes.

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4.5 IMPORTÂNCIA DA GOVERNANÇA EM RELAÇÃO A CRITÉRIOSFINANCEIROS EM DECISÃO DE INVESTIMENTO

A governança corporativa é:

4018 21 15 7

45

66 61

41 50

15 16 18

44 43

EuropaOriental/Africa

América Latina Ásia América do Norte Europa Ocidental

Mais Importante Igualmente Importante Menos Importante

Segundo os investidores, governança corporativa é um critério tão importante quanto critérios

financeiro, em suas avaliações de investimento.

Através do gráfico é possível notar que, na América Latina, a governança corporativa já é

muito forte e mais importante do que propriamente na América do Norte.

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4.6 INTERFERÊNCIA DA GOVERNANÇA NAS DECISÕES DE INVESTIMENTO

Diversos investidores deixariam de investir ou reduziriam seus investimentos em empresas,

por uma percepção de má governança.

65

58

30

27

3

Evitar algumasempresas

Reduzir/aumentarparticipação em

algumas empresas

Evitar algunspaíses

Reduzir/aumentarparticipação emalguns países

Nenhumainfluência

Dos respondentes, 65% evitariam investir em empresas pela percepção de uma governança

inadequada e apenas 3% não estaria sofrendo influências.

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4.7 SATISFAÇÃO COM O MODELO ATUAL DE GOVERNANÇA NO BRASIL

De acordo com as pesquisas, em 2001, muitos conselheiros de empresas brasileiras indicavam

potencial de melhoria na governança corporativa de suas empresas.

14

24

44

10

8 Muito Satisfeito

Satisfeito

Satisfeito, mas poderia melhorar

Insatisfeito, mudanças são necessárias

Insatisfeito, mas o problema não é fundamental para o desempenho da empresa

Mais de 50% dos conselheiros entrevistados manifestaram que a governança de suas empresas

poderia melhorar.

A formalização de um modelo de governança corporativa é condição necessária, mas não

suficiente para a criação de valor. Para que isso ocorra é necessária a realização de mudanças

estruturais nas práticas adotadas pelas companhias.

Pesquisas recentes com investidores institucionais, agentes reguladores e membros de

conselho confirmam disposição de reconhecimento e valorização de empresas que

implementam práticas de governança adequada.

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Porém, a captura destes prêmios não está associada apenas à formalização de um modelo de

governança, mas também à implementação de práticas que assegurem entendimento entre

acionistas, gestão eficaz do negócio pelos executivos e credibilidade no relacionamento com o

mercado.

As condições específicas de cada empresa em relação a sua estrutura de propriedade, estrutura

de capital e estrutura organizacional devem definir as características do modelo de

governança mais adequado.

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5. ANÁLISE DOS ESTUDOS DE CASO

5.1 GRUPO PAO DE AÇUCAR S/A.

Histórico da Empresa:

O grupo Pão de Açúcar, atuando a mais de 50 anos no mercado, é um dos pioneiros do setor

de varejo de alimentos no Brasil.

Sua trajetória teve início em 1948, com a fundação da Doceria Pão de Açúcar, sendo que, em

1959, abre seu primeiro supermercado em São Paulo.

Sua expansão, observada à partir da década de 1960, se deu através da adoção de duas

estratégias: abertura de novas lojas e aquisição de supermercados já existentes.

Os anos 70 caracterizaram-se pelo aumento no escopo de atuação do grupo, por meio da

diversificação dos negócios e da continuidade de expansão do varejo, através da abertura de

hipermercados e aquisição de redes, em vários estados brasileiros.

Na década de 80, o grupo investe em novos formatos de loja, dentre elas, a Sandiz (loja de

departamento) e o Superbox (loja de depósito).

Já, nos anos 90, estreita seu relacionamento com os consumidores através do implantação de

um programa de fidelização, concentrando-se no Brasil e no varejo.

Em 1993, Abílio Diniz assume o controle acionário da empresa, após comprar parte dos

irmãos Alcides, Arnaldo, Sônia e Vera. No entanto, ele tinha um problema nas mãos. A

empresa era recheada de conflitos familiares e resultados tímidos.

No ano de 1995, abre seu capital, com a colocação simultânea de ações no Brasil, EUA e

Europa, sendo dois anos depois a quarta empresa brasileira e a primeira no setor de varejo do

Brasil a ser listada na NYSE (Bolsa de Valores de Nova York).

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Nos anos seguintes, decidiu profissionalizar o negócio, abriu o capital da cadeia e vendeu

25% da rede para o grupo francês Casino – inimigo número um de seu principal rival, o

Carrefour.

Em 1998 o grupo Pão de Açúcar inaugura os hipermercados com a marca Extra e inicia um

processo de profunda reestruturação. O novo posicionamento mercadológico caracterizou-se

pelo fechamento de lojas não lucrativas, diminuição do quadro de funcionários e venda de

empresas coligadas.

Resultado: de 1998 a 2001, triplicou o lucro operacional da rede e, ultrapassou, em 2000, o

Carrefour na liderança.

Atualmente, do total de 100% das ações, 25% estão em circulação, sendo que 80% são

investidores estrangeiros. Os 75% restantes ficam em poder da família Diniz - controladora

da empresa - e do grupo francês de varejo, Casino Guichard Perrachon.

Em 2002, a empresa faturou cerca de R$ 10 bilhões e é líder do setor, com 15% de

participação no mercado.

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

O Conselho de Administração do grupo Pão de Açúcar reúne-se, geralmente, seis vezes por

ano. Ele é composto por quatorze membros, sendo sete externos e independentes e dois do

Grupo Cassino. Eles são eleitos nas assembléias gerais de acionistas, para um período de três

anos e devem ser, necessariamente, acionistas do grupo.

Suas responsabilidades incluem; a determinação da política geral dos negócios do grupo,

eleição dos diretores e supervisão da administração.

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O Conselho de Administração do Grupo Pão de Açúcar, passou por um profundo processo de

reestruturação cujo objetivo foi aperfeiçoar o relacionamento com acionistas e investidores,

visando atender, de maneira mais satisfatória, aos princípios de Governança Corporativa.

Com a reestruturação, os atuais acionistas controladores da Companhia deixam de compor a

Diretoria Executiva para participar do Conselho de Administração. O acionista fundador,

Valentim dos Santos Diniz, assume o cargo de Presidente Honorário do Conselho. Abílio

Diniz deixa o cargo de Diretor Presidente do Grupo para assumir a presidência do Conselho.

A Presidência do Grupo passa a ser ocupada por Augusto Marques da Cruz Filho, atual

Diretor Vice-Presidente Administrativo Financeiro. Nesse novo modelo, o cargo de diretor

Vice-Presidente está extinto.

Comitês

O papel fundamental dos Comitês é o de interagir com a Diretoria Executiva, preparando

antecipadamente os temas a serem debatidos e aprovados pelo Conselho de Administração.

Cada Comitê deverá propôr desafios à Diretoria Executiva, visando a melhoria de índices de

produtividade, controle, qualidade e responsabilidade. Também avaliarão a performance da

empresa em relação ao planejado e às práticas de mercado.

Atribuições :

Comitê Executivo

• Estabelecer metas e aprovar orçamentos e planos de investimentos;

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• Monitorar a performance da companhia em múltiplas dimensões;

• Cobrar resultados dos executivos;

• Acompanhar os planos de carreira dos principais executivos e aprovar os planos de

remuneração;

• Definir diretrizes e revisar o planejamento estratégico;

• Discutir assuntos estratégicos a serem abordados pelo Conselho, como, por exemplo,

mudanças na estrutura de capital e aquisições.

Comitê de Desenvolvimento e Marketing

• Lançar desafios inovadores para a companhia;

• Supervisionar as atividades de marketing institucional da CBD, como ações culturais e

eventos esportivos;

• Decidir sobre a distribuição de investimentos.

Comitê de Finanças

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• Acompanhar o desenvolvimento de indicadores financeiros, principalmente fluxo e

posição de caixa;

• Monitorar a estrutura de capital, endividamento e custos;

• Identificar assuntos a serem discutidos no Comitê Executivo;

• Convidar executivos da área financeira para esclarecer dúvidas ou solicitar novos

formatos de relatórios;

• Utilizar o Comitê Executivo para discutir assuntos financeiros de maior relevância;

• Identificar oportunidades e riscos de negócios financeiros.

Comitê de Auditoria

• Receber e avaliar os relatórios da auditoria externa;

• Sugerir ao Conselho uma eventual troca de auditoria externa,

• Receber e avaliar relatórios da auditoria externa sobre os procedimentos e controles na

área financeira.

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Membros do Conselho de Administração

Valentin dos Santos Diniz – Presidente Honorário

Abílio dos Santos Diniz – Presidente

Ana Maria F. dos Santos Diniz D’Avila – Membro

João Paulo Falleiros dos Santos Diniz – Membro

Pedro Paulo F. dos Santos Diniz - Membro

Augusto Marques da Cruz Filho – Membro e Diretor Presidente da CBD

Maria Silvia Bastos Marques – Membro

Fernão Carlos Botelho Bracher – Membro

Gerald Dinu Reiss – Membro

Luiz Carlos Bresser Gonçalves Pereira – Membro

Maílson Ferreira da Nóbrega – Membro

Roberto Teixeira da Costa - Membro

José Roberto Mendonça de Barros – Membro

Christian Pierre Couyreux – Membro

Pierre Bruno Charles Bouchut – Membro

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Currículum dos membros do Conselho de Administração

Valentin dos Santos Diniz

Presidente Honorário do Conselho de Administração da Companhia. O Sr. Santos fundou o

grupo Pão de Açúcar em 1948 e é atualmente o Presidente do PAIC – Pão de Açúcar S/A

Indústria e Comércio.

Abílio dos Santos Diniz

Presidente do Conselho de Admnistração. O Sr. Abílio Diniz foi um dos fundadores da

Associação Paulista de Supermercados (APAS) e da ABRAS, bem como membro do

Conselho Monetário Nacional Brasileiro. É bacharel em Administração de Empresas pela

Fundação Getúlio Vargas e foi aluno da Columbia University em Nova York e da University

of Ohio em Dayton. O Sr. Abílio Diniz é filho do Sr. Valentin dos Santos Diniz.

Ana Maria Falleiros dos Santos Diniz D’Àvila

Membro do Conselho de Administração da Companhia. Foi Diretora e Vice-Presidente de

Operações da Companhia e também responsável pelas Relações Públicas e Assessoria de

Imprensa, Marketing e Serviço de Atendimento ao Consumidor. É bacharel em Administração

de Empresas pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e pós-graduada em

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Marketing pela Fundação Getúlio Vargas e pela FAAP. Concluiu o Owner/President

Management na Harvard Business School. A Sra. Diniz D’Àvila é filha do Sr. Abílio Diniz.

João Paulo Falleiros dos Santos Diniz

Membro do Conselho de Administração da Companhia. O Sr. João Paulo Diniz começou sua

carreira na Companhia em 1985 e foi Diretor de Desenvolvimento e Novos Negócios e

Diretor responsável pelas empresas coligadas da Companhia e pela Divisão Internacional,

tendo sido responsável também pelos ativos da Companhia. O Sr. Diniz é bacharel em

Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e freqüentou a Escola de

Administração de Londres. O Sr. João Paulo Diniz é filho do Sr. Abílio Diniz.

Pedro Paulo Falleiros dos Santos Diniz

Membro do Conselho de Administração da Companhia. O Sr. Pedro Paulo é empresário e

presidente da PPD Sports, empresa que atua no segmento de Marketing Esportivo. O Sr.

Pedro Paulo Diniz é filho do Sr. Abílio Diniz.

Augusto Marques da Cruz Filho

Membro do Conselho de Administração e Diretor Presidente da Companhia. O Sr. Marques

da Cruz Filho foi diretor Financeiro da Tintas Coral S/A e do Grupo Bunge Born. Está na

Companhia desde setembro de 1994. Graduou-se em Economia pela Universidade de São

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Paulo. O Sr. Marques da Cruz Filho foi membro do Conselho de Administração da Arafértil

ISF – Ipiranga Serrana de Fertilizantes.

Maria Silvia Bastos Marques

Membro do Conselho de Administração da Companhia. A Sr. Maria Silvia é sócia da MS &

CR2 Finanças Corporativas. Foi Presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia, Diretora

Presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, Secretária Municipal de Fazenda da

Prefeitura do Rio de Janeiro e Diretora do BNDES. É graduada em Administração Pública

pela Fundação Getúlio Vargas, RJ, onde também obteve títulos de Mestra e Doutora em

Economia.

Fernão Carlos Botelho Bracher

Membro do Conselho de Administração da Companhia. O Sr. Bracher foi membro do

Conselho de Administração do Banco da Bahia S.A, da Atlântica Companhia Nacional de

Seguros e do Banco Brasileiro de Descontos S.A. O Sr. Bracher foi também Presidente do

Banco Central e Conselheiro Especial da negociação da dívida externa brasileira e foi

Presidente do Banco BBA Creditanstalt. O Sr. Bracher graduou-se em Direito na

Universidade de São Paulo e freqüentou a Universidade de Freiburg e Heidelberg, na

Alemanha.

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Gerald Dinu Reiss

Membro do Conselho de Administração da Companhia. O Sr. Reiss é titular da Reiss &

Castanheira Consultoria e Empreendimentos Ltda. Foi Diretor de planejamento da Metal Leve

S.A e Vice-Presidente Executivo da Cevekol S.A. O Sr. Reiss graduou-se em Engenharia

Elétrica na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, tendo obtido títulos de MBA

(Masters in Business Administration) e de PhD, na Universidade da Califórnia, em Berkeley.

Luiz Carlos Bresser Gonçalves Pereira

Membro do Conselho de Administração da Companhia. O Sr. Bresser Pereira é professor de

economia na Fundação Getúlio Vargas em São Paulo e editor da Revista de Economia

Política. Foi ministro da Ciência e Tecnologia, da Administração Federal e Reforma do

Estado, Ministro das Finanças, Secretário de Governo do Estado de São Paulo e Presidente do

Banco do Estado de São Paulo. Autor de diversos livros, graduou-se em Direito pela

Universidade de São Paulo onde obteve títulos de Doutor e Livre Docente em Economia e

MBA pela Michigam State University.

Maílson Ferreira da Nóbrega

Membro do Conselho de Administração da Companhia. O Sr. Nóbrega foi Ministro da

Fazenda do Brasil de 1988 a 1990, quando presidiu o Conselho Monetário Nacional. Foi

Diretor Executivo do European Brazilian Bank, em Londres, e membro do Board de

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Governadores do FMI e do Banco Mundial. Graduou-se em Economia no Centro de Ensino

Unificado de Brasília.

Roberto Teixeira da Costa

Membro do Conselho de Administração da Companhia. O Sr. Teixeira da Costa foi o

primeiro Presidente da CVM. Foi o Vice-Presidente do Banco de Investimentos do Brasil e do

Unibanco. O Sr. Teixeira da Costa é membro do Conselho de Administração de diversas

grandes empredas brasileiras tais como Brasmotor S/A, Solvay do Brasil S/A, São Paulo

Alpargatas S/A, Banco Sul América S/A e Pirelli S/A. É também Presidente da divisão

brasileira do Conselho de Executivos da América Latina, membro do Comitê Empresarial

Permanente do Ministério das Relações Exteriores e membro do Fernand Braudel Institute of

World Economics. O Sr. Teixeira da Costa graduou-se em Economia na Faculdade Nacional

de Ciências Econômicas da Universidade do Brasil.

José Roberto Mendonça de Barros

Membro do Conselho de Administração da Companhia. O Sr. Mendonça de Barros foi

Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e Secretário Executivo da Câmara

de Comércio Exterior da Presidência da República. Foi Sócio-Gerente da Mendonça de

Barros Associados S/C Ltda, retomando suas atividades à partir de janeiro de 1999. O Sr.

Mendonça de Barros é economista, com Doutorado em Economia pela Universidade de São

Paulo e Pós-Doutorado no Economic Growth Center, Yale University, USA. Foi professor

visitante do Departamento de Economia Agrícola e Sociologia Rural da Ohio State

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University e desde 1967 é Professor Assistente Doutor da Faculdade de Economia da

Universidade de São Paulo.

Christian Pierre Couvreux

Membro do Conselho de Administração da Companhia. O Sr. Couvreux é Presidente do

Conselho de Administração e Diretor Presidente do Grupo Casino Guichard Perrachon -

França. O Sr. Couvreux foi Diretor Presidente da La Ruche Meridionale, França, bem como

foi Adido Comercial na embaixada francesa da Noruega e Arábia Saudita. Obteve o título de

MBA pela Hautes Etudes Commerciales - HEC na França e freqüentou o INSEAD.

Pierre Bruno Charles Bouchut

Membro do Conselho de Administração da Companhia. O Sr. Bouchut é Diretor

Superintendente e membro do Conselho de Administração do Grupo Casino Guichard

Perrachon – França. Foi consultor da MCKinsey, Vice-Presidente da Bankers Trust France e

Vice-Presidente do Citibank em Paris. O Sr. Bouchut graduou-se em Administração com

ênfase em finanças e bancos pela Hautes Etudes Commerciales -HEC e Pós-Graduado em

Economia pela Paris IX - Dauphine.

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Conclusão - Grupo Pão de Açúcar S/A

• O Grupo Pão de Açúcar tende a se tornar mais atraentes a futuros investidores e terá

acesso a recursos mais baratos no mercado. Isso porque, nesse modelo – adotado por

empresas americanas. Presidente do Conselho não é o Presidente da empresa, implicando

na descentralização, ou seja, divisão de responsabilidades; sendo assim, os investidores

terão maior segurança na hora de escolher a Comapnhia para investir.

• Anteriormente, Abílio Diniz não só definia as linhas estratégicas de atuação da rede como

ainda executava o trabalho. Com a entrada do Sr. Augusto Marques Filho, Vice-Presidente

administrativo, Abílio não terá mais “dupla função”.

• Ao fortalecer o Conselho de Administração, o Grupo Pão de Açúcar deixa claro aos

futuros investidores que haverá forte supervisão na gestão da empresa, por meio do

Conselho.

5.2 NET SERVIÇOS DE COMUNICAÇÃO S/A.

Histórico da Empresa:

O início das operações da Companhia ocorreu em 1991, através da aquisição de pequenas

operadoras de televisão a cabo, já existentes, e de licenças operacionais para diversas

localidades. A primeira das operadoras adquiridas foi a localizada na cidade de Campo

Grande, Mato Grosso do Sul, que na época detinha aproximadamente 100 assinantes. De 1991

a 1993, foram adquiridas 7 operadoras/licenças, sendo que 6 delas em localidades situadas no

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Estado de São Paulo, e uma no Estado de Goiás. Essas 8 operadoras cobriam originalmente

uma base de assinantes de até 2.000 assinantes por operadora.

À medida que o negócio se desenvolveu, tornou-se necessário encontrar sócios estratégicos

que pudessem adicionar capital e expertise de programação. Assim, ao longo de 1993 e 1994,

dois novos sócios, Globopar e Ralph Partners II, se juntaram ao sócio original, Sr. Antônio

Dias Leite. Em 1996, cada um desses sócios detinha 33,3% do capital votante da Companhia.

Ao fim de 1997, a Globo Cabo Holding (empresa para a qual foi transferida a participação

acionária originalmente detida pela Globopar) comprou a totalidade da participação até então

detida pelo Sr. Antônio Dias Leite. No mesmo período, a Globopar (controladora da Globo

Cabo Holding) adquiriu a quase totalidade da participação acionária da Ralph Partners II, e

subseqüentemente as revendeu para a União Comércio e Participações S.A., uma subsidiária

integral do Banco Bradesco S.A. (atualmente o Bradesco detém sua participação acionária na

Companhia através de sua subsidiária Bradesplan.).

Adicionalmente, ao longo de 1996, 1997 e 1998, a Companhia intensificou a construção de

sua rede de cabos, adquiriu outras operadoras, incluindo a Net Belo Horizonte, Net Anápolis e

Net Piracicaba, bem como aumentou sua participação na Net Rio, tornando-se a maior

operadora de sistema múltiplo de televisão por assinatura ("MSO") do País.

Em 4 de setembro de 1998, os principais ativos, passivos e operações da Globo Cabo

Participações S.A, subsidiária integral e operadora de MSO da Globo Cabo Holding, foram

incorporados na Companhia, com efeitos contábeis retroativos a 1° de agosto de 1998.

Como resultado, a Globo Cabo Holding aumentou sua participação acionária na Companhia,

através da conversão de ações da Globo Cabo Participações S.A. em novas ações da

Companhia. Na mesma data, a Companhia, até então denominada Multicanal Participações

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S.A., teve sua denominação social alterada para Globo Cabo S.A. Com essa transação, as duas

MSOs controladas pela Globo Cabo Holding foram unificadas na Globo Cabo S.A.

Os ativos da Globo Cabo Participações S.A. que foram objeto da incorporação com a Globo

Cabo consistiam em 97% de participação acionária na Cabodinâmica TV Cabo São Paulo

S.A. (antiga Net São Paulo), 63% de participação acionária na Net Rio S.A., 100% de

participação acionária na Net Brasília S.A., 92,14% de participação acionária na Net Recife

S.A. e 50% de participação acionária na Unicabo Comunicações e Participações S.A.

Em 17 de julho de 2000 a Globo Cabo comprou a VICOM, empresa privada nacional que

possui mais de três mil estações terrenas de telecomunicação por satélite instaladas no Brasil.

Através desta operação, a Globo Cabo dá um importante passo para a entrada no mercado de

transmissão de dados. Essa aquisição vai permitir que a empresa explore as sinergias

resultantes da combinação da sua extensa rede de cabos urbana com a rede de satélites da

VICOM. A tecnologia desenvolvida com o Vírtua tem um papel importante na alavancagem

dos produtos oferecidos para a significativa base de clientes corporativos da VICOM.

Em 18 de setembro de 2000 a Globo Cabo comprou a Net Sul, segunda maior operadora de

cabo do Brasil com 374,1 mil assinantes e 1.125,4 mil domicílios cabeados ao final do mês de

março de 2000. Sua rede de cabos possui uma extensão de 9 mil Km, dos quais 57% em 750

Mhz, 26% em 550 Mhz e o restante em 450 Mhz. Em suma, a empresa traz para a Globo

Cabo uma relevante base de assinantes e domicílios cabeados com perfil para a introdução de

serviços de maior valor agregado.

Em junho de 2001, a NET Serviços assinou o Contrato de Adoção de Práticas Diferenciadas

de Governança Corporativa - Nível 1 com a Bovespa. A Empresa adotou práticas que

minimizam possíveis conflitos de interesses entre os seus acionistas e os responsáveis pela sua

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gestão, e vem mantendo um alto padrão em transparência no relacionamento com a

comunidade financeira.

No final de 2001, o Sr. Moysés Pluciennik deixou a direção da NET Serviços por razões

pessoais. O conselho convidou o Sr. Luiz Antonio Viana para ser o novo Diretor Geral da

Companhia.

Em maio de 2002 houve a alteração da denominação social da companhia para Net Serviços

de Comunicação S.A., tendo como principal objetivo associar o nome da empresa à marca

pela qual ela é reconhecida pelos seus clientes e enfatizar a sua preocupação com a qualidade

dos serviços prestados ao assinante.

Dando continuidade à adoção de melhores práticas de governança corporativa, em 27 de

junho de 2002, a Net Serviços firmou com a Bovespa o contrato de Práticas Diferenciadas de

Governança Corporativa - Nível 2, se tornando uma das pioneiras na adoção de práticas mais

rígidas de transparência no relacionamento com o mercado de capitais.

A NET Serviços de Comunicação é a maior multioperadora de TV por assinatura no Brasil,

operando com a marca NET nas principais cidades brasileiras, incluindo operações nas 4

maiores cidades do país: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre. A

Empresa oferece também serviços de Internet Banda Larga através da marca VÍRTUA, e

serviço de comunicação de dados e multimídia para redes corporativas através da VICOM.

O Capital Social da NET SERVIÇOS é de R$2.748.650.800,11 (dois bilhões, setecentos e

quarenta e oito milhões, seiscentos e cinquenta mil, oitocentos reais e onze centavos),

dividido em 828.371.343 ações ordinárias e 1.200.484.187 ações preferenciais, todas

nominativas, escriturais e sem valor nominal. O Capital Social poderá ser aumentado até

R$5.000.000.000,00 (cinco bilhões de reais), independentemente de alteração estatutária, na

forma do artigo 168 da Lei 6.404/76, por deliberação do Conselho de Administração, que

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fixará as condições de emissão, nos termos do parágrafo primeiro do artigo 170 da Lei

6.404/76.

Governança Corporativa:

A NET Serviços de Comunicação S.A. faz parte do Nível 2 de Governança Corporativa da

Bovespa desde junho de 2002, sendo uma das pioneiras na adoção de práticas rígidas de

transparência no relacionamento com o mercado de capitais. O Nível 2 de Governança

Corporativa significa o segmento especial de listagem de ações da Bolsa de Valores de São

Paulo - BOVESPA, destinado à negociação de ações emitidas por empresas que adotam um

conjunto amplo de práticas diferenciadas de governança corporativa e de direitos adicionais

para os acionistas minoritários, conforme estabelecido no Regulamento dos Níveis

Diferenciados de Governança Corporativa da BOVESPA.

Além de cumprir com todas as exigências previstas no Regulamento de Práticas Diferenciadas

de Governança Corporativa – Nível 2 da Bovespa, a Net Serviços decidiu ir além, já se

preparando para os próximos passos. Entre outras medidas, adotou o Tag Along para todas as

ações, onde, em caso de venda de controle, a companhia irá estender os mesmos direitos do

acionista controlador para todos os demais acionistas, inclusive os detentores de ações

preferenciais. O Tag Along assegura aos acionistas da NET SERVIÇOS a oportunidade de

alienar as suas ações para o adquirente do Controle da NET SERVIÇOS ao preço

correspondente a 100% (cem por cento) do valor pago por ação com direito a voto integrante

do bloco de Controle da NET SERVIÇOS, conforme o disposto no Estatuto Social da

COMPANHIA.

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Reafirmando seu compromisso com as melhores práticas de governança corporativa, a

companhia continua com a intenção de aderir ao Novo Mercado da BOVESPA o mais breve

possível. O Novo Mercado significa o segmento especial de listagem de ações da Bolsa de

Valores de São Paulo – BOVESPA, destinado à negociação de ações emitidas por empresas

que se comprometem, voluntariamente, com a adoção de práticas de governança corporativa e

transparência na prestação de informações periódicas e eventuais adicionais em relação ao

que é exigido pela legislação aplicável, conforme estabelecido no Regulamento de Listagem

do Novo Mercado da BOVESPA. A NET está a um passo de aderir ao Novo Mercado, para

isso ela somente necessita da conversão compulsória de todas as ações preferenciais da

COMPANHIA em ações ordinárias.

As ações da companhia são negociadas no Brasil, Estados Unidos e Europa, sendo seus títulos

listados na Bovespa, Nasdaq e Latibex respectivamente. A Net Serviços possui ainda sólidos

acionistas em seu grupo de controle.

Assembléia Geral:

A Assembléia Geral da NET SERVIÇOS tem poderes para decidir todos os negócios relativos

ao objeto social a Companhia e tomar as resoluções que julgar convenientes à sua defesa e

desenvolvimento, a qual deverá ser convocada com, no mínimo, 15 (quinze) dias de

antecedência.

A Assembléia Geral será instalada e presidida pelo Presidente do Conselho de Administração

e, em sua falta ou impedimento, por um outro membro do Conselho de Administração, ou

ainda na falta destes por qualquer dos diretores da Companhia presentes.

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Conselho de Administração:

A Companhia NET SERVIÇOS é administrada por um Conselho de Administração e por uma

diretoria. A posse dos administradores estará condicionada à prévia subscrição do Termo de

Anuência dos Administradores aludido no Regulamento Nível II da BOVESPA.

O Conselho de Administração é costituído de 8 membros, todos acionistas, eleitos pela

Assembléia Geral e por ela destituíveis a qualquer tempo, com mandato unificado de 01 (um)

ano, permitida a reeleição.

Compete ao Conselho de Administração:

• Fixar a orientação geral dos negócios da Companhia, aprovando as diretrizes, política e

objetivos básicos, para todas as áreas principais de atuação da Companhia e de suas

controladas;

• Aprovar os planos de negócios da Companhia e de controladas, os orçamentos anuais, os

planos de investimentos, abrangendo todos os programas de expansão da Companhia e de

suas controladas, a política e os planos financeiros, juntamente com regras sobre nível de

endividamento e outros compromissos relativos a endividamento e à Companhia,

incluindo condições para contratar novas dívidas e a política de hedge adotada pela

Companhia;

• Eleger e destituir os Diretores da Companhia e fixar-lhes as atribuições;

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• Fiscalizar a gestão dos Diretores, examinar, a qualquer tempo, os livros e papéis da

Companhia, solicitar informações sobre contratos celebrados ou em via de celebração,

e sobre quaisquer outros atos;

• Atribuir, no montante global da remuneração fixada pela Assembléia Geral, os

honorários mensais, a cada um dos membros da Administração da Companhia;

• Atribuir aos membros da Administração a sua parcela de participação nos lucros

apurados em balanços levantados pela Companhia, inclusive intermediários,

respeitadas as limitações e disposições estatutárias e legais;

• Manifestar-se sobre o relatório da Administração e as contas da Diretoria, e autorizar a

distribuição de dividendos intermediários e, se distribuídos estes com base em

resultados apurados em balanço intermediário, fixar a participação nos lucros que

farão jus os administradores;

• Escolher e destituir os auditores independentes;

• Convocar a Assembléia Geral quando julgar conveniente ou por exigência legal ou

estatutária;

• Fixar o voto a ser dado pela Companhia nas Assembléias Gerais e aprovar

previamente alterações contratuais das Sociedades em que participe como sócia,

Acionista ou Cotista, inclusive aprovando a escolha dos administradores de sociedades

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controladas ou coligadas a serem eleitos com o voto dos representantes da Companhia,

respeitado sempre o disposto no parágrafo primeiro do artigo anterior;

• Submeter à deliberação da Assembléia Geral proposta de alteração deste Estatuto;

• Estabelecer os critérios gerais de remuneração da administração e dos funcionários de

escalão superior (como tal entendidos os superintendentes ou ocupantes de cargos de

direção equivalentes) de sociedade em que a Companhia houver efetuado investimento

ou das Companhias controladas, direta ou indiretamente, pela Companhia;

• Fixar a política de remuneração e de benefícios (benefícios indiretos, participação no

lucro e/ou nas vendas) da administração e dos funcionários em geral da Sociedade em

que a Companhia houver efetuado investimento ou das Companhias controladas,

direta ou indiretamente, pela Companhia, ou coligadas às suas controladas, respeitado

o que estiver previsto nos acordos existentes;

• Tomar decisões relativas à política de investimentos da Companhia e das Sociedades

em que a Companhia houver efetuado investimento ou das Companhias controladas,

direta ou indiretamente, pela Companhia ou coligadas às suas controladas;

• Decidir sobre a estrutura de capital da Companhia e das Sociedades em que a

Companhia houver efetuado investimento ou das Companhias controladas, direta ou

indiretamente, pela Companhia, ou coligadas à mesma ou às suas controladas;

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• Escolher o executivo principal da Companhia e das Sociedades em que a Companhia

houver efetuado investimento ou das Companhias controladas, direta ou

indiretamente, pela Companhia, ou coligadas à mesma ou às suas controladas;

• Designar um dos membros da Diretoria para representar a Companhia em atos e

operações no País ou no Exterior, ou autorizar que seja constituído um procurador

apenas para a prática de ato específico, devendo a ata que contiver a resolução do

Conselho ser arquivada na Junta Comercial, se necessário.

• Autorizar a aquisição de ações de emissão da própria Companhia, para efeito de

cancelamento ou permanência em tesouraria e posterior alienação, observadas as

disposições legais pertinentes;

• Aprovar a emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações e sem garantia

real;

• Definir e apresentar à Assembléia Geral a lista tríplice de empresas especializadas em

avaliação econômica de empresas, para a preparação do laudo de avaliação das ações

da Companhia pelo valor econômico de que trata o artigo 32 deste Estatuto;

• Aprovar a celebração de contratos entre a Companhia e acionista controlador, partes

direta ou indiretamente controladas ou controladoras de acionista controlador;

• Aprovar a celebração, pela Companhia, de contratos de conteúdo e de programação,

bem como a manutenção ou renovação desses contratos.

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O Conselho de Administração da NET SERVIÇOS é composto por:

Roberto Irineu Marinho

Membro do Conselho de Administração da Globopar e integrante do Colegiado Executivo de

Gestão das Organizações Globo, órgão máximo decisório da mesma.

Começou sua carreira como jornalista, trabalhando no jornal O Globo e depois na Rede de

Televisão ABC em Nova Iorque.

Ao retornar, após passagem por outras empresas das Organizações Globo, ingressou na TV

Globo.

É também diretor de outras empresas que pertencem à família Marinho e responsável

principal pelo direcionamento estratégico das Organizações Globo.

Ronnie Vaz Moreira

Membro do Conselho administrativo desde 30 de Abril de 2002, tornou-se Diretor Executivo

da Globopar em Março de 2002, onde é responsável pela área de finanças corporativas das

Organizações Globo. Anteriormente, era Diretor Executivo do Deustsche Bank e Diretor

Financeiro da Petrobrás.

Formado em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, também é Pós Graduado

em Administração Internacional pela American Graduate School of International

Management.

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Jorge Luiz de Barros Nóbrega

Membro do Conselho Administrativo desde 30 de Abril de 2002 é o Diretor Coordenador

Estratégico das Organizações Globo, desde 1998.

Anteriormente, foi consultor do Banco Mundial e coordenador de projetos do Banco

Interamericano de Desenvolvimento e também trabalhou na General Eletric e Xerox.

É graduado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro

e Mestrado em Engenharia Industrial pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Stefan Alexander

É membro do Conselho de Administração desde Setembo 2000 e atual Diretor de Finanças

Corporativas da Globopar. Foi anteriormente Diretor de Finanças corporativas no Brasil do

Bank of America/Nations Bank, onde foi responsável por diversas operações, incluindo a

acessoria financeira da aquisição da Companhia Vale do Rio Doce pela Companhia

Siderúrgica Nacional.

Trabalhou também no Departamento de Mercado de Capitais do Banco BBA, é Graduado e

Mestrado em Economia pela Pontifícia Unversidade Católica do Rio de Janeiro.

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Rômulo de Mello Dias

Membro do Conselho Administrativo desde Abril de 2002, é graduado em Economia pela

Universidade Federal Fluminense, MBA pelo IBMEC Business School e também concluiu o

PDG EXEC Executive Management Development Program – SDE.

É o Diretor para Novos Negócios na Bradespar desde 2000, onde é responsável pela análise e

negociação de novos investimentos no Brasil e América Latina.

Membro do Conselho de Administração de diversas companhias, entre elas CVRD, Valepar,

Valepontocom, Latinexus e Estrutura Net.

Nelson Pacheco Sirotsky

Formado em Administração Pública pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pós-

graduado pela University of Southern California.

Iniciou sua carreira na Rádio Gaúcha em 1972, tendo sido diretor da Rádio Gaúcha antes de

se tornar diretor regional do Grupo RBS. Em 1981 tornou-se Vice-Presidente da Companhia.

Foi Diretor Presidente e executivo da RBS e membro da administração do Grupo RBS a partir

de 1992.

Atualmente, é membro do Conselho da Associação Brasileira de Jornalismo - ANJ e da

Associação Brasileira de Rádio e Televisão - ABERT, e da Associação dos Dirigentes de

Vendas do Brasil. É, também, membro do conselho do Instituto Europeu de Administração de

Empresas - INSEAD.

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Jorge Eduardo Martins Moraes

Membro do Conselho de Administração da Emissora desde 30 de abril de 2003, é formado em

Engenharia Civil pela UFRJ desde 1980, com mestrado em Administração de Empresas pela

COPPEAD/UFRJ em 1993.

Na BNDES Participações S/A, foi Analista de Empresas de 1982 a 1992, Gerente de

Investimentos de abril/1992 a agosto/2000 e Superintendente de Divisão de julho/2000 a

fevereiro/2003.

Atualmente também é membro do Conselho de Administração da Aços Villares S/A, e do

Conselho Consultivo do Fundo Brasil Private Equity.

A Diretoria da NET SERVIÇOS é composta por 2 (dois) Diretores eleitos pelo Conselho de

Administração e por ele destituíveis a qualquer tempo, cujos títulos e funções serão definidos

pelo Conselho de Administração quando da eleição dos mesmos, todos com mandato de 02

(dois) anos, podendo ser reeleitos.

A Diretoria da NET SERVIÇOS é formada por:

Francisco Tosta Valim Filho - Diretor Executivo / CEO

Assumiu o cargo de Diretor Geral em fevereiro de 2003. Antes foi Superintendente

Administrativo Financeiro (CFO) da Telemar por 3 anos, após atuar como Vice -Presidente da

RBS. Foi também Diretor Executivo da Net Sul e Diretor Financeiro da RBS.

É graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(UFRGS), com pós-graduação em Finanças pela Fundação Getúlio Vargas (FGV - SP), e em

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Planejamento Estratégico e Organizacional pela UFRGS. Também possui MBA em Finanças

e Administração de Cias Multinacionais na University of Southern California (EUA).

Leonardo Pereira – Diretor de Financeiro e de Relações com Investidores

Formado em Engenharia de Produção pela Universidade do Rio de Janeiro, em Economia

pela Universidade Cândido Mendes e Mestrado (MBA) pela Universidade Warwick, na

Inglaterra.

Atua na Organização Globo desde setembro de 1995, na área de Relações com Investidores.

Está ocupando a posição de Diretor Financeiro e de RI da Globo Cabo desde março de 2000.

Conselho Fiscal:

O Conselho Fiscal da Companhia não tem caráter permanente, podendo ser instalado pela

Assembléia Geral, a pedido de acionistas que representem um décimo das ações ordinárias ou

5% das ações preferenciais, nas hipóteses previstas na Lei n. 6.404/76. Na hipótese de

instalação do Conselho Fiscal, este será composto por 5 membros e igual número de

suplentes.

A Remuneração dos membros do Conselho Fiscal será fixada pela Assembléia Geral que os

eleger.

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Diretoria De Relações com Investidores:

A Companhia possui uma Diretoria de Relações com Investidores que tem como principal

objetivo desenvolver o relacionamento com os atuais e potenciais investidores e com analistas

de investimento.

A Diretoria de Relações com Investidores é formada por:

Marcio Minoru Miyakava - Gerente de Relações com Investidores

• Formado em Administração pela Fundação Armando Alvares Penteado com pós

graduação em Finanças pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC);

• Possui experiência no mercado financeiro, tendo trabalhado por 1 ano no Banco Dibens

como assistente de analista econômico. Posteriormente, trabalhou por 4 anos na Tecbens

Investimentos como analista e administrador de recursos.

Lu Yuan Fang - Gerente de Relações com Investidores

• Formada em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo e Pós-

graduada em Finanças pelo IBMEC Business School;

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• Possui experiência na área financeira, trabalhou em por dois anos na Distel Holding

(Controladora da Net Serviços de Comunicação S.A.) e em outras empresas como

Lloyds Bank, Sadia, Duratex e Brinquedos Estrela.

Conclusão do Caso - Net Serviços de Comunicação S/A

À partir da entrevista com Leonardo Pereira‡ , Diretor Financeiro e de Relações com

Investidores da NET SERVIÇOS, pudemos concluir que a NET não possui um conselho

totalmente independente, mas em suas melhorias, com o implemento da Governança em sua

empresa pode identificar a maior qualidade nas transparências das negociações e

confiabilidade de investidores. Na entrevista, Leonardo cita a grande importância de um

conselho totalmente independente, devido ao alto grau de envolvimento com o nível de

transparência das informações.

A NET SERVIÇOS hoje faz parte da Governança Corporativa – Nível 2 da BOVESPA e está

a um passo de aderir ao NOVO MERCADO, mas para isso é necessário somente que a

empresa tenha exclusivamente ações ordinárias e conceda a todos os acionistas a opção de

vender suas ações nas mesmas condições obtidas pelos controladores; o chamado “Tag

Along”, adotado em 100% (cem porcento) pela NET SERVIÇOS em todas as suas ações,

tanto ações preferenciais quanto ordinárias. Antes de ocorrer a transferência de todas as ações

em ordinárias, a NET SERVIÇOS pretende primeiramente reestruturar seu capital e eliminar a

dívida, mantendo um grau de liquidez aceitável e seguro.

‡ Entrevista cedida exclusivamente para o grupo de TGI.(Dia 29/05/2003)Anexo 4-Entrevistas : perguntas e respostas.

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Atualmente, a NET SERVIÇOS não possui um conselho totalmente independente, mas busca

a total independência. Leonardo ainda ressalta a dificuldade que as empresas possuem em

avaliar o conselho regularmente, cita que em uma avaliação 360ºseria muito difícil de ocorrer

entre conselheiros e executivos, mas seria um ideal futuro.

A Governança Corporativa agregou valor na CIA NET SERVIÇOS no sentido da maior

disciplina e controle das informações, onde as pessoas prestam mais atenção na qualidade e

confiabilidade das informações, fazendo com que acionistas invistam mais na companhia,

devido a qualidade e transparência das informações prestadas.

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6.0 CONCLUSÃO GERAL

Através da pesquisa e dos estudos de caso, pudemos concluir que o Conselho de

Administração independente ainda é uma meta a ser atingida por todas as empresas que

adotam as práticas de Governança Corporativa. Os estudos de caso mostraram que a tendência

do Conselho de Administração é tornar-se cada vez mais independente, pois tanto o Grupo

Pão de Açúcar quanto a Net Serviços de Comunicação eram empresas familiares que vem,

através das novas regras de Governança Corporativa (principalmente a Lei Sarbanes-Oxley),

buscando atingir a independência do Conselho, tornando assim exemplos de empresas de

sucesso que conseguem melhores relações com investidores.

Nos estudos de caso do Grupo Pão de Açúcar e da Net Serviços e Comunicação foi possível

observar modificações estruturais quanto à independência do Conselho de Administração,

onde o principal executivo (CEO) não exerce mais a função de presidente do conselho

(Chairmam), ou seja, uma melhor separação dos papéis. Verifica-se, portanto, um movimento

de descentralização de poder, onde são definidos os limites de atuação, o que torna mais

eficientes e eficazes os processos de avaliação do conselho e dos executivos nas empresas,

melhorando assim o relacionamento entre a direção e o conselho, evitando o conflito de

interesses.

Segundo a pesquisa da Mckinsey, foi possível observar a importância que a Governança

Corporativa exerce no processo decisório de investimento, pois a pressão exercida pelos

investidores institucionais é e tende ser cada vez maior no que se refere à qualidade e

transparência das informações. Dessa forma as empresas buscam um Conselho Independente

no intuito de enfrentar a queda na confiança dos investidores, através da imagem e das

informações prestadas ao mercado.

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A importância de ressaltarmos os processos que englobam a transparência nas negociações,

princípio que permeia a Governança Corporativa, por meio da BOVESPA, IBGC, SEC e

CVM, em um compromisso contratual para cumprir seu regulamento e punir eventuais

inadimplências, estabelece padrões mais rígidos no tocante a proteção a sócios minoritários o

que reduz significantemente o conflito de interesse, além de agregar valor a boa imagem que a

empresa passa junto ao mercado de capitais.

A partir da Lei Sarbanes-Oxley, percebemos que as reuniões mensais ao invés de anuais

minimizam as margens de erro, pois podem ser levantados problemas e soluções em curto

prazo,o que aumenta a velocidade no processo de negociação e as informações tendem a ser

mais transparentes.

Concluímos que para um perfil ideal de Conselho Independente é necessário que os

conselheiros tenham integridade pessoal, ausência de conflito de interesses, disponibilidade

de tempo, motivação, alinhamento com os valores da empresa e conhecimento das melhores

práticas de Governança Corporativa. Como experiência os conselheiros devem possuir visão

estratégica, ter participado de bons Conselhos de Administração, conhecimento do ramo da

empresa. Já, no que se refere à remuneração, os conselheiros não devem receber nada além

dos honorários e eventuais dividendos, se estes forem também proprietários.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Livros

CONGER, Jay A.; DONALDSON, Gordon; FINEGOLD, David; KHURANA, Rakesh;LAWLER III, Edward E.; LORSCH, Jay W.; SALMON, Walter J. Experiências deGovernança Corporativa. Rio de Janeiro: Campus, 2001.

HITT, Michael. Administração Estratégica.

LODI, João Bosco. Governança Corporativa. São Paulo: Campus, 2000.

LAMEIRA, Valdir de Jesus Governança Corporativa. Rio de Janeiro: ForenseUniversitária, 2001.

Congressos, Seminários, Encontros

MAURO, Maurízio; CONTADOR, José Hélio; BOSCOLO, Marcos A. GovernançaCorporativa - I Semana da Administração e Contabilidade da UPM - São Paulo -Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2002.

Slides da Apresentação IBGC – Criação de valor por meio da Governança Corporativa –McKinsey&Company. – 16 de janeiro de 2003.

Legislação

SÃO PAULO, BOVESPA, Lei 10.303 nova lei das S.A e ICVM 358. Companhia Nível 1 e2 mercado Bovespa-Brasil, 2000.

Código

SÃO PAULO, Código Brasileiro das Melhores Práticas de Governança Corporativa.Coordenação do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa). Edição ampliada.São Paulo: Editora Siciliano, 2001.

Meios Eletrônicos

INSTITUTO Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Apresenta informações sobre otema da nossa pesquisa. Disponível em: <http://www.ibgc.org.br>. Acesso em: 20 agosto2002.

COMISSÃO de Valores Mobiliários (CVM). Apresenta informações sobre o tema da nossapesquisa. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br>. Acesso em: 06 de set 2002.

BOLSA de Valores de São Paulo (BOVESPA). Apresenta informações sobre o tema da nossapesquisa. Disponível em: <http://www.bovespa.com.br>. Acesso em: 19 de agosto 2002.

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AC Vidigal consultores. Apresenta informações sobre o tema da nossa pesquisa. Disponívelem: <http://www.acvidigal.com.br/acv/artigos/artII.html>. Acesso em: 30 de setembro 2002

Revistas

Especial Management – América Economia – 15 a 28 de novembro,2002.

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8. ANEXOS

8.1 CÓDIGO DAS MELHORES PRÁTICAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA

Anexo 1 : Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa

No desenvolvimento deste Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa foramouvidos entidades governamentais, entidades de mercado, associações de classe, associaçõesprofissionais e indivíduos de reconhecida competência na matéria, além de entidadesinternacionais congêneres. O Código, entretanto, foi elaborado com total independência peloInstituto Brasileiro de Governança Corporativa.A história do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa — IBGC está intrinsecamenteligada a um grupo de empresários, membros de conselhos, executivos, consultores eestudiosos de administração empresarial, que o fundaram em 27 de novembro de 1995.A primeira denominação adotada foi Instituto Brasileiro de Conselheiros de Administração,com foco no conselho de administração, mas com o alargamento de suas preocupações, paraabranger também o conselho fiscal, a auditoria independente e a diretoria, no início de 1999 aentidade passou a denominar-se Instituto Brasileiro de Governança Corporativa — uma socie-dade civil de âmbito nacional, sem fins lucrativos.Composição do conselho de administração do IBGCPresidente: BENGT HALLQVISTVice-Presidente: JOÃO BOSCO LODIVice-Presidente: RONALDO DE CAMARGO VEIRANOConselheiros: CELSO GIACOMETTI, HELOISA BELOTTI BEDICKS, LÉLIO LAURETTI,LEONARDO VIEGAS, PAULO VILLARES e SANDRA GUERRA.

São Paulo, 09 de abril de 2001.

Sumário

• Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa• Transparência, 8• Prestação de contas (accountability), 8• Eqüidade, 9

1. Propriedade - Acionistas, Quotistas e Sócios, 101.01. Uma ação/um voto, 101.02. Acordos entre os proprietários, 101.03. Registro de proprietários, 101.04. Assembléia-geral, 111.04.01. Competências, 111.04.02. Convocação, 111.04.03. Localidade, 121.04.04. Agenda e documentação, 121.04.05. Assuntos de interesse dos proprietários, 121.04.06. Perguntas prévias dos proprietários, 12

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1.04.07. Regras de votação, 131.05. Mudança de controle da empresa, 131.05.01. Opção de venda dos minoritários (tag along), 131.05.02. Fechamento de capital, 131.05.03. Medidas protetoras do statu quo (poison pills), 141.06. Uso de informação privilegiada (insider information), 141.07. Arbitragem, 141.08. Conselho familiar, 142. Conselho de Administração — Representando

a Propriedade, 152.01. Conselho de administração, 152.02. Missão do conselho de administração, 152.03. Competências, 152.04. Comitês, 162.05. Tamanho, 162.06. Conselheiros internos e externos, 162.07. Reunião dos conselheiros externos, 172.08. Convidados para as reuniões, 172.09. Avaliação do conselho e do conselheiro, 172.10. Qualificação do conselheiro, 172.11. Prazo do mandato, 182.12. Limite de idade, 192.13. Mudança da ocupação principal do conselheiro, 192.14. Remuneração, 192.15. Consultas externas, 192.16. Conselheiro independente, 202.17. Presidente do conselho de administração, 212.18. Presidente do conselho e presidente da diretoria, 212.19. Liderança independente do conselho, 212.20. Porta-voz da empresa, 212.21. Avaliação do executivo principal (CEO), 222.22. Planejamento da sucessão, 222.23. Introdução de novos conselheiros, 222.24. Documentação das reuniões, 232.25. Agenda, 232.26. Atas das reuniões, 232.27. Relacionamento com os proprietários, 232.28. Relacionamento com o executivo principal (CEO)

e a diretoria, 242.29. Relacionamento com os auditores independentes, 242.30. Relacionamento com o conselho fiscal, 243. Gestão - Executivo Principal (CEO) e Diretoria, 253.01. Competências, 253.02. Indicação dos membros da diretoria, 253.03. Dever de prestar contas (accountability), 253.04. Transparência (disclosure), 253.04.01 Relatório anual, 253.04.02. Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, 26

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3.04.03. Participações e remuneração dos conselheiros e diretores, 263.04.04. Informações periódicas, 273.04.05. Fatos relevantes, 273.04.06. Transparência, 273.04.07. Padrões internacionais de contabilidade, 273.04.08. Divulgação simultânea e canais de disclosure, 273.05. Código de ética, 283.06. Relacionamento com o conselho de administração, 283.07. Relacionamento com as partes interessadas (stakeholders), 283.08. Relacionamento com os auditores independentes, 283.09. Relacionamento com o conselho fiscal, 29

4. Auditoria - Auditoria Independente, 304.01. Auditoria independente, 304.02. Competências, 304.03. Plano anual dos trabalhos e acordo de honorários, 304.04. Prazo de contrato, 304.05. Consultoria, 314.06. Relacionamento com os proprietários, o conselho de

administração e o comitê de auditoria, 314.07. Relacionamento com o executivo principal

(CEO) e a diretoria, 314.08. Relacionamento com o conselho fiscal, 324.09. Declaração anual de independência, 325. Fiscalização - Conselho Fiscal, 335.01. Conselho fiscal, 335.02. Competência, 335.03. Relacionamento com os proprietários, 335.04. Relacionamento com o conselho de administração,

o executivo principal (CEO) e a diretoria, 335.05. Relacionamento com os auditores independentes, 346. Ética/Conflito de Interesses, 356.01. Código de ética, 356.02. Abrangência, 356.03. Conflito de interesses, 366.04. Afastamento das discussões e deliberações, 36

Código das Melhores Práticas de Governança CorporativaO objetivo central do Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa é indicarcaminhos para todos os tipos de empresas — sociedades por ações de capital aberto oufechado, limitadas ou sociedades civis —, visando:

n Melhorar seu desempenhon Facilitar o acesso ao capital

O Código está dividido em seis partes:n Propriedade — acionistas, quotistas, sóciosn Conselho de administração — representando a propriedaden Gestão — executivo principal (CEO) e diretorian Auditoria — auditoria independente

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n Fiscalização — conselho fiscaln Ética/Conflito de interesses

O Código pode incluir temas já cobertos pela legislação ou sujeitos a novas leis ouregulamentos, mas sua aplicação será voluntária. Os proprietários de empresas que desejammelhorar seu desempenho ou facilitar o acesso ao capital são aconselhados a adotar oCódigo. O acesso ao capital não se restringe a ofertas públicas de ações, mas envolve tambémoperações de private equity ou recursos oriundos do próprio fluxo de caixa.As linhas mestras deste Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa são:

n Transparêncian Prestação de contas (accountability)n Eqüidade

Transparência

O Código exige que o executivo principal (CEO) e a diretoria satisfaçam às diferentesnecessidades de informação dos proprietários, do conselho de administração, da auditoriaindependente, do conselho fiscal, das partes interessadas (stakeholders) e do público em geral.

Prestação de contas (accountability)

Os agentes da governança corporativa são:n Conselho de administraçãon Executivo principal (CEO) e diretorian Auditoria independenten Conselho fiscal

Eles devem prestar contas de suas atividades a quem os elegeu ou escolheu.

Eqüidade

O relacionamento entre os agentes da governança corporativa e as diferentes classes deproprietários deve ser caracterizado pelo tratamento justo e equânime.

Código das Melhores Práticas deGovernança Corporativa

1. Propriedade — Acionistas, Quotistas, Sócios1.01. Uma ação/um votoEsse princípio deve valer para todos os tipos de sociedades.As empresas que contemplam a abertura do capital devem pensar exclusivamente em açõesordinárias. As empresas com capital já aberto, com ações ordinárias e preferenciais, devempensar em converter estas em ordinárias, ou, se houver dificuldades intransponíveis, emconceder às preferenciais voto restrito aos assuntos de interesse direto dos preferencialistas.1.02. Acordos entre os proprietáriosTodos os acordos societários devem estar disponíveis para todos os proprietários.Os acordos societários devem abster-se de especificar indicações de diretores. Isso deve ser deresponsabilidade do executivo principal (CEO) e aprovado pelo conselho de administração.1.03. Registro de proprietáriosO registro de proprietários deve estar disponível para todos eles, com exclusividade.

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1.04. Assembléia-geralA assembléia-geral é o órgão soberano da empresa.“... tem poderes para decidir todos os negócios relativos ao objeto da companhia e tomar asresoluções que julgar convenientes à sua defesa e desenvolvimento” (art. 121 da Lei das S.A.,Lei no 6.404, de 15/12/1976).1.04.01. CompetênciasAs competências principais são:

n Reformar o estatuto socialn Eleger ou destituir, a qualquer tempo, conselheiros de administração e

conselheiros fiscaisn Tomar, anualmente, as contas dos administradores e deliberar sobre as

demonstrações contábeisn Deliberar sobre transformação, fusão, incorporação, cisão, dissolução e

liquidação da companhia1.04.02. ConvocaçãoÉ desejável que a data da assembléia-geral ordinária seja comunicada a todos os proprietáriosaté o último dia do ano fiscal e que seja escolhida com vista a facilitar a presença deles.A convocação da assembléia-geral extraordinária deve ser feita com um mínimo de 15 dias deantecedência.No caso de haver American Depositary Receipts — ADR, a convocação exige, no mínimo, 40dias de antecedência.1.04.03. LocalidadeO local das assembléias-gerais deve ser escolhido de forma a facilitar a presença dosproprietários. A atual Lei das S.A., que estipula que a assembléia-geral “... realizar-se-á noedifício onde a companhia tiver a sede”, em seu art. 124, §2o, deveria ser mudada nessesentido.1.04.04. Agenda e documentaçãoTodos os proprietários devem receber agenda e documentação adequadas com antecedênciasuficiente para poder posicionar-se a respeito de decisões a ser tomadas. A agenda não deveincluir “outros assuntos”, para evitar que assuntos importantes não sejam revelados naagenda.1.04.05. Assuntos de interesse dos proprietáriosOs proprietários devem ter oportunidade de colocar os assuntos de seu interesse na agenda.1.04.06. Perguntas prévias dos proprietáriosOs proprietários devem sempre ter oportunidade de pedir informações ao conselho deadministração, aos auditores independentes ou ao conselho fiscal. As perguntas devem serfeitas por escrito e dirigidas ao presidente do conselho de administração.1.04.07. Regras de votaçãoAs regras de votação devem ser bem definidas e estar disponíveis para todos os proprietários.Devem ser feitas com o propósito de facilitar a votação, inclusive por procuração ou outroscanais. Os custodiantes devem votar de acordo com os desejos expressos ou subentendidosdos proprietários.1.05. Mudança de controle da empresaTendo em vista que a maioria das empresas brasileiras tem um controlador ou um grupocontrolador, a compra do controle ou o fechamento do capital são, na atualidade, dois dosproblemas mais críticos da governança corporativa no Brasil.1.05.01. Opção de venda dos minoritários (tag along)A transferência do controle deve ser feita a preço transparente.

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As vendas das participações dos minoritários e/ou preferencialistas devem ser feitas nas basesprevistas no estatuto, que deve ter as condições de venda bem definidas.1.05.02. Fechamento de capitalUm controlador ou grupo de controle que queira obter 100% do capital e proceder aofechamento do capital da empresa deve informar os demais acionistas de suas intenções.Para companhias fechadas ou limitadas devem também valer, sempre que possível, osmesmos princípios. O controlador não deve valer-se de sua posição de único comprador paradeprimir o preço de aquisição.O preço deve corresponder ao valor econômico.1.05.03. Medidas protetoras do statu quo (poison pills)O conselho de administração e a diretoria não devem criar compromissos com o intuitoespecífico de dificultar a alienação de controle.1.06. Uso de informação privilegiada (insider information)O uso de informação privilegiada para negociar ações ou quotas deve ser proibido a qualquerpessoa e vigiado pelos conselheiros de administração.1.07. ArbitragemO estatuto deve prever que as divergências entre proprietários sejam resolvidas por meio dearbitragem, evitando assim o recurso à esfera judicial.1.08. Conselho familiarA empresa familiar deve estabelecer um foro especial para resolver assuntos de âmbitofamiliar e evitar que esses assuntos interfiram na governança da empresa.2. Conselho de Administração — Representando

a Propriedade2.01. Conselho de administraçãoIndependentemente de sua forma societária e de ser aberta ou fechada, a empresa deve terconselho de administração.2.02. Missão do conselho de administraçãoA missão do conselho de administração é proteger o patrimônio e maximizar o retorno doinvestimento dos proprietários, agregando valor ao empreendimento.O conselho de administração deve zelar pela manutenção dos valores da empresa, crenças epropósitos dos proprietários, discutidos, aprovados e revistos em reunião do conselho deadministração.2.03. CompetênciasA Lei das S.A., Lei no 6.404, de 15/12/1976, determina a competência do conselho deadministração. Deve-se destacar a determinação de estratégias, a eleição e a destituição dediretores, a fiscalização da gestão dos diretores e a indicação e a substituição dos auditoresindependentes.As atividades de competência do conselho de administração devem estar normatizadas em umregimento interno, tornando claras suas responsabilidades e atribuições, e prevenindosituações de conflito com a diretoria executiva, notadamente com o executivo principal(CEO).O conselho aprova o código de ética da empresa.2.04. ComitêsVárias atividades do conselho de administração precisam de análises profundas que tomammais tempo do que é disponível nas reuniões. Diferentes comitês, cada um com alguns mem-bros do conselho, devem ser formados, por exemplo: comitê de indicação, de auditoria, deremuneração etc. Os comitês estudam seus assuntos e preparam as propostas. Só o conselhopleno pode tomar decisões.

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Cada empresa deve formar pelo menos o comitê de auditoria.2.05. TamanhoO tamanho do conselho de administração deve variar em função do perfil da empresa, entre 5e 9 membros.2.06. Conselheiros internos e externosHá três classes de conselheiros:

n Independentes (ver item 2.16)n Externos (conselheiros que não trabalham na empresa, mas não são

independentes)n Internos (conselheiros que são diretores ou empregados da empresa)

O conselho fiscaliza a gestão dos diretores. Fiscalizar a si mesmo é uma situação típica deconflito de interesses. Por conseguinte, deve-se evitar acumulação de cargos entreconselheiros e diretores.2.07. Reunião dos conselheiros externosPara que o conselho possa avaliar a gestão da diretoria sem constrangimento, é importante queos conselheiros externos e independentes possam reunir-se com regularidade, sem a presençados diretores e/ou dos conselheiros internos.2.08. Convidados para as reuniõesPessoas-chave da empresa ou assessores técnicos podem ser convidados ocasionalmente paraas reuniões do conselho de administração, para prestar informações e/ou expor suasatividades.2.09. Avaliação do conselho e do conselheiroA cada ano deve ser feita uma avaliação formal do desempenho do conselho e de cada um dosconselheiros. A sistemática de avaliação deve ser adaptada à situação de cada empresa.2.10. Qualificação do conselheiroO conselheiro deve ter:

n Integridade pessoaln Capacidade de ler e entender relatórios contábeis e financeirosn Ausência de conflito de interessesn Disponibilidade de tempon Motivaçãon Alinhamento com os valores da empresan Conhecimento das Melhores Práticas de Governança Corporativa

Na composição do conselho devem estar presentes, entre os membros, as seguintesexperiências ou conhecimentos:

n Experiência de participação em bons conselhos de administração, ou seja, osreconhecidos por sua excelência

n Experiência como executivo principal (CEO)n Experiência em administrar crisesn Conhecimentos de finançasn Conhecimentos contábeisn Conhecimentos do ramo da empresan Conhecimentos do mercado nacional e internacionaln Visão estratégican Contatos de interesse da empresa

A maioria do conselho deve ser formada de conselheiros independentes (ver item 2.16).O conselho, como um todo, deve reunir diversidade de conhecimentos e experiências.2.11. Prazo do mandato

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O prazo do mandato do conselheiro deve ser definido. Sua duração deve ser curta,preferivelmente de só um ano. A reeleição deve ser possível depois de uma avaliação formalde seu desempenho. A reeleição não deve ser automática. Todos os conselheiros devem sereleitos ao mesmo tempo.2.12. Limite de idadeAlgumas pessoas já estão improdutivas antes de chegar aos 60 anos. Outras estão muitoprodutivas aos 75. Se o mandato é curto e o sistema de avaliação de desempenho é eficiente,não deve ser fixado um limite de idade.2.13. Mudança da ocupação principal do conselheiroA ocupação principal do conselheiro é um dos fatores importantes em sua escolha. Quandotem sua ocupação principal mudada, o conselheiro deve colocar o cargo à disposição. Ocomitê de indicação deve analisar a conveniência de propor sua reeleição.2.14. RemuneraçãoO conselheiro independente deve receber na mesma base do valor da hora de trabalho doexecutivo principal (CEO), inclusive bônus e benefícios proporcionais ao tempo efetivamentededicado à função.2.15. Consultas externasOs conselheiros devem ter o direito de fazer consultas a profissionais externos (advogados,auditores, especialistas em impostos etc.), pagos pela empresa, para obter uma segundaopinião. O conselho deve incluir essa questão em seu regulamento interno.2.16. Conselheiro independenteO conselho da empresa deve ser formado, em sua maioria, por conselheiros independentes. Adefinição de independência é:

n Não ter qualquer vínculo com a empresa, exceto eventual participação decapital

n Não ter sido empregado da empresa ou de alguma de suas subsidiáriasn Não estar oferecendo serviço ou produto à empresan Não ser empregado de entidade que esteja oferecendo serviço ou produto à

empresan Não ser cônjuge ou parente até segundo grau de algum diretor ou gerente da

empresan Não receber outra remuneração da empresa além dos honorários de conselheiro

e eventuais dividendos (se for também proprietário)O conselheiro deve trabalhar para o bem da empresa e, por conseguinte, de todos osacionistas.O conselheiro deve buscar a máxima independência possível em relação ao acionista, grupoacionário ou parte interessada que o tenha indicado ou eleito para o cargo, consciente de que,uma vez eleito, sua responsabilidade refere-se ao conjunto de todos os proprietários.2.17. Presidente do conselho de administraçãoO presidente do conselho de administração é responsável pelo bom desempenho do conselho,tanto no estabelecimento de seus objetivos e programas quanto na condução de suas reuniões,para cumprir sua finalidade e exercer sua missão de representar todos os proprietários e deacompanhar e avaliar os atos da diretoria.2.18. Presidente do conselho e presidente da diretoriaDeve-se buscar a separação dos cargos do presidente do conselho e do presidente da diretoria(executivo principal — CEO).

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A lógica é a mesma do caso de evitar conselheiros internos. O conselho fiscaliza a gestão dosdiretores. Por conseguinte, o presidente do conselho não deve ser também presidente dadiretoria.2.19. Liderança independente do conselhoNo caso em que o presidente do conselho e o presidente da diretoria sejam a mesma pessoa, éimportante que o conselho tenha um membro de peso, respeitado por seus colegas e pelacomunidade empresarial em geral, que possa servir como um contrapeso ao poder da pessoaque é presidente do conselho e da diretoria.2.20. Porta-voz da empresaO conselho de administração deve designar uma só pessoa com a responsabilidade de ser oporta-voz da empresa, eliminando-se o risco de haver contradições entre as declarações dopresidente do conselho e as do executivo principal (CEO). O diretor de relações com osinvestidores tem poderes delegados de porta-voz da empresa.2.21. Avaliação do executivo principal (CEO)O conselho de administração deve fazer anualmente uma avaliação formal do desempenho doexecutivo principal (CEO).2.22. Planejamento da sucessãoO conselho de administração deve ter, sempre atualizado, um plano de sucessão do executivoprincipal (CEO) e de todas as outras pessoas-chave da empresa.2.23. Introdução de novos conselheirosCada novo conselheiro deve ser exposto a um programa de introdução, incluindo uma pastado conselho com a descrição da função do conselheiro, os últimos relatórios anuais, atas dasassembléias ordinárias e extraordinárias, atas das reuniões do conselho e outras informaçõesda empresa. O novo conselheiro deve ser apresentado aos seus colegas, aos diretores e àspessoas-chave da empresa. Também deve visitar os principais locais onde exerce suasatividades. Dependendo do perfil da empresa, devem ser incluídos programas adicionais.2.24. Documentação das reuniõesA eficácia das reuniões do conselho de administração depende muito da qualidade dadocumentação distribuída antecipadamente aos conselheiros. As propostas para decisõesdevem ser devidamente formuladas e fundamentadas. A documentação deve estar em mãosdos conselheiros antes do fim de semana anterior à reunião. Os conselheiros devem ter lidotoda a documentação e estar bem preparados para a reunião.2.25. AgendaA agenda da reunião do conselho de administração deve ser preparada pelo presidente doconselho com base em solicitações de conselheiros e consultas aos diretores.2.26. Atas das reuniõesAs atas devem ser redigidas com clareza e registrar todas as decisões tomadas. As própriasatas devem ser objeto de aprovação formal.Em caso de conflitos entre conselheiros, as atas devem ser assinadas antes do encerramentodas reuniões em que se registraram as divergências.2.27. Relacionamento com os proprietáriosO conselho de administração é eleito pelos proprietários. O conselho representa e respondeaos proprietários pelo desempenho e atuação da empresa.2.28. Relacionamento com o executivo principal (CEO)

e a diretoriaO conselho de administração elege e destitui o executivo principal (CEO) e fixa suaremuneração.

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O conselho decide sobre a proposta de eleição de diretores apresentada pelo executivoprincipal (CEO).O conselho fiscaliza a diretoria com atenção especial nos relacionamentos entre a empresa eas partes interessadas.O conselho não deve interferir nos assuntos operacionais.2.29. Relacionamento com os auditores independentesO conselho de administração, como representante dos proprietários, escolhe e substitui osauditores independentes.O conselho também aprova o plano de auditoria e os honorários.2.30. Relacionamento com o conselho fiscalO conselho fiscal é eleito pelos proprietários. Suas atribuições e responsabilidades estãodefinidas na Lei das S.A., Lei no 6.404, de 15/12/1976, inclusive no que se refere à suainstalação.3. Gestão — Executivo Principal (CEO) e

Diretoria3.01. CompetênciasO executivo principal (CEO) é o responsável pela execução das diretrizes fixadas peloconselho de administração.3.02. Indicação dos membros da diretoriaCabe ao executivo principal (CEO) a indicação dos membros da diretoria para aprovação doconselho de administração.3.03. Dever de prestar contas (accountability)O executivo principal (CEO) responde pelo desempenho e pela atuação da empresa.3.04. Transparência (disclosure)O executivo principal (CEO) deve prestar todas as informações de real interesse, obrigatóriasou espontâneas, para os proprietários e para todas as partes interessadas.3.04.01 Relatório anualO relatório anual é a mais importante e mais abrangente informação da companhia, e por issomesmo não deve se limitar às informações exigidas por lei. Envolve todos os aspectos daatividade empresarial em um exercício completo, comparativamente a exercícios anteriores,ressalvados os assuntos de justificada confidencialidade, e destina-se a um públicodiversificado.O relatório anual deve incluir a mensagem de abertura, escrita pelo presidente do conselho deadministração ou da diretoria, o relatório da administração e o conjunto das demonstraçõescontábeis, acompanhadas, quando for o caso, do parecer da auditoria independente e doconselho fiscal.A preparação do relatório anual é de responsabilidade da diretoria, mas o conselho deadministração deve aprová-lo e recomendar sua aceitação ou rejeição pela assembléia-geral.3.04.02. Código das Melhores Práticas de Governança

CorporativaO relatório anual deve conter uma declaração a respeito de quais práticas de governançacorporativa são cumpridas.3.04.03. Participações e remuneração dos conselheiros

e diretoresOs códigos das melhores práticas internacionais recomendam que o relatório anualespecifique a participação no capital da empresa e a remuneração de cada um dosconselheiros e diretores.3.04.04. Informações periódicas

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Informações periódicas de companhias abertas são regulamentadas pela Comissão de ValoresMobiliários — CVM. Companhias fechadas ou limitadas devem fazer o mesmo naquilo quese aplicar.3.04.05. Fatos relevantesFatos importantes, de caráter extraordinário, deverão ser comunicados imediatamente aosproprietários e, no caso de companhias abertas, ao mercado, de acordo com instruções daComissão de Valores Mobiliários — CVM.3.04.06. TransparênciaAs informações da empresa devem ser equilibradas, abordando tanto os aspectos positivosquanto os negativos, para facilitar ao leitor a correta avaliação da empresa.3.04.07. Padrões internacionais de contabilidadeAs demonstrações contábeis também devem ser preparadas de acordo com o InternationalAccounting Standards — IAS ou o Generally Accepted Accounting Principles — GAAP.3.04.08. Divulgação simultânea e canais de disclosureToda informação que possa influenciar decisões de investimento deve ser divulgada imediatae simultaneamente a todos os usuários. Internet e outras tecnologias de informaçãoapresentam oportunidades interessantes.3.05. Código de éticaA diretoria deve desenvolver um código de ética a ser aprovado pelo conselho deadministração.3.06. Relacionamento com o conselho de administraçãoO executivo principal (CEO) e a diretoria estão subordinados ao conselho de administração edevem dar satisfação a ele a respeito do desempenho e da atuação da empresa.3.07. Relacionamento com as partes interessadas

(stakeholders)As partes interessadas são normalmente empregados, clientes, fornecedores, bancos,governos, organizações ambientais, organizações não-governamentais, entre outros. Oexecutivo principal (CEO) e a diretoria devem satisfação a elas e são responsáveis pelorelacionamento com as partes interessadas.3.08. Relacionamento com os auditores independentesO executivo principal (CEO) e a diretoria devem buscar um relacionamento estritamenteprofissional com os auditores independentes.3.09. Relacionamento com o conselho fiscalA Lei das S.A., Lei no 6.404, de 15/12/1976, determina a competência do conselho fiscal. Oexecutivo principal (CEO) e a diretoria devem colaborar com o conselho fiscal para que elepossa cumprir sua missão.4. Auditoria - Auditoria Independente4.01. Auditoria independenteAuditoria independente é um importante agente de governança corporativa para osproprietários de todos os tipos de empresas, uma vez que sua atribuição básica é verificar seas demonstrações contábeis refletem adequadamente a realidade da empresa.4.02. CompetênciasExpressar uma opinião sobre as demonstrações contábeis que serão divulgadas, de acordocom as normas profissionais e, para esse fim, avaliar os controles e procedimentos internos daempresa.4.03. Plano anual dos trabalhos e acordo de honoráriosOs auditores independentes estabelecem com o conselho de administração ou o seu comitê deauditoria o plano de trabalho e o acordo dos honorários. No primeiro ano, os auditores

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estarão tomando conhecimento da empresa e normalmente deverão dedicar mais horas detrabalho do que em anos subseqüentes, portanto, é natural que este fato seja refletido noshonorários.4.04. Prazo de contratoRecomenda-se que os auditores, em benefício de sua independência, sejam contratados porperíodo predefinido, compreendendo vários exercícios, podendo ser recontratados apósavaliação de independência e desempenho, observados a legislação e os regulamentos emvigor.4.05. ConsultoriaO conselho de administração deve assegurar-se de que os procedimentos adotados pela firmade auditoria garantam independência e objetividade, especialmente quando a mesma firma deauditoria presta serviços de consultoria. Essa questão é importante, uma vez que os serviçosde auditoria devem ser contratados pelo conselho e os serviços de consultoria são,normalmente, contratados pela diretoria. Quando houver comprometimento da independência,o conselho deve orientar quanto ao uso de outros consultores ou outros auditores.4.06. Relacionamento com os proprietários, o conselho

de administração e o comitê de auditoriaOs proprietários, o conselho de administração e o comitê de auditoria são os clientes dosauditores independentes. Isso determina o relacionamento entre as partes.4.07. Relacionamento com o executivo principal

(CEO) e a diretoriaO relacionamento dos auditores independentes com o executivo principal (CEO), a diretoria ea empresa deve ser estritamente profissional.4.08. Relacionamento com o conselho fiscalA Lei das S.A., Lei no 6.404, de 15/12/1976, define a competência do conselho fiscal. Osauditores independentes devem colaborar com o conselho fiscal para que ele possa cumprirsua missão.Para evitar conflitos de interesse, os auditores independentes não devem ser membros deconselhos fiscais.4.09. Declaração anual de independênciaOs auditores independentes devem entregar anualmente uma carta ao conselho deadministração confirmando sua independência.5. Fiscalização - Conselho Fiscal5.01. Conselho fiscalO conselho fiscal é uma instituição brasileira, criada com o objetivo de preencher uma lacunana fiscalização das atividades do conselho de administração, funcionando como um controleindependente para os proprietários, sejam majoritários, sejam minoritários.5.02. CompetênciaA competência do conselho fiscal está definida na Lei das S.A., Lei no 6.404, de 15/12/1976.5.03. Relacionamento com os proprietáriosOs proprietários elegem o conselho fiscal.O conselho fiscal responde aos proprietários.5.04. Relacionamento com o conselho de administração,

o executivo principal (CEO) e a diretoriaO conselho fiscal, ou qualquer de seus membros, tem direito de pedir aos administradorescópias das atas das reuniões do conselho de administração, dos relatórios contábeis oufinanceiros, além de esclarecimentos e informações.

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Os membros do conselho fiscal devem assistir às reuniões do conselho de administração ou dadiretoria em que sejam discutidos assuntos sobre os quais devam opinar.5.05. Relacionamento com os auditores independentesSe a empresa contrata serviços de auditoria independente, o conselho fiscal poderá solicitar-lhes esclarecimentos e informações. Se a empresa não contrata serviços de auditoriaindependente, o conselho fiscal poderá, para melhor desempenho das suas funções, escolhercontador ou firma de auditoria para aquela finalidade e contratá-lo por conta da empresa.6. Ética/Conflito de interesses6.01. Código de éticaDentro do conceito das melhores práticas de governança corporativa, além do respeito às leisdo país, toda empresa deve ter um código de ética que comprometa toda a sua administração eseus funcionários, elaborado pela diretoria e aprovado pelo conselho de administração.6.02. AbrangênciaO código de ética deve abranger o relacionamento entre funcionários, fornecedores eassociados. Deve cobrir principalmente os seguintes assuntos:

n Propinasn Pagamentos imprópriosn Conflito de interessesn Informações privilegiadasn Recebimento de presentesn Discriminação de oportunidadesn Doaçõesn Meio ambienten Assédio sexualn Segurança no trabalhon Atividades políticasn Relações com a comunidaden Uso de álcool e drogasn Confidencialidade pessoaln Direito à privacidaden Nepotismon Trabalho infantil

6.03. Conflito de interessesExiste um conflito de interesses quando alguém não é independente em relação à matéria empauta e a pessoa em questão pode influenciar ou tomar decisões correspondentes. Algumasdefinições de independência têm sido dadas para conselheiros de administração e paraauditores independentes. Critérios similares valem para diretores ou qualquer empregado ourepresentante da empresa.Preferivelmente a pessoa em questão deve manifestar seu conflito de interesses. Se isso nãoacontecer, qualquer outra pessoa pode fazê-lo.6.04. Afastamento das discussões e deliberaçõesTão logo um conflito de interesses tenha sido identificado em relação a um tema específico, apessoa em questão deve afastar-se, inclusive fisicamente, das discussões e deliberações. Oafastamento temporário deve ser registrado em ata ou de outra forma.

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8.2 RECOMENDAÇÕES DA CVM SOBRE GOVERNANÇA CORPORATIVA

INTRODUÇÃO:

Governança corporativa é o conjunto de práticas que tem por finalidade otimizar odesempenho de uma companhia ao proteger todas as partes interessadas, tais comoinvestidores, empregados e credores, facilitando o acesso ao capital. A análise das práticas degovernança corporativa aplicada ao mercado de capitais envolve, principalmente:transparência, eqüidade de tratamento dos acionistas e prestação de contas.

Para os investidores, a análise das práticas de governança auxilia na decisão de investimento,pois a governança determina o nível e as formas de atuação que estes podem ter nacompanhia, possibilitando-lhes exercer influência no desempenho da mesma. O objetivo é oaumento do valor da companhia, pois boas práticas de governança corporativa repercutem naredução de seu custo de capital, o que aumenta a viabilidade do mercado de capitais comoalternativa de capitalização.

Quando investidores financiam companhias, eles sujeitam-se ao risco de apropriaçãoindevida, por parte de acionistas controladores ou de administradores da companhia, deparcela do lucro do seu investimento. A adoção de boas práticas de governança corporativaconstitui, também, um conjunto de mecanismos através dos quais investidores, incluindocontroladores, se protegem contra desvios de ativos por indivíduos que têm poder deinfluenciar ou tomar decisões em nome da companhia.

Companhias com um sistema de governança que proteja todos os seus investidores tendem aser mais valorizadas, porque os investidores reconhecem que o retorno dos investimentos seráusufruído igualmente por todos.

Com a publicação desta cartilha, a CVM busca estimular o desenvolvimento do mercado decapitais brasileiro por meio da divulgação de práticas de boa governança corporativa. Seuobjetivo é orientar nas questões que podem influenciar significativamente a relação entreadministradores, conselheiros, auditores independentes, acionistas controladores e acionistasminoritários. A CVM ressalta que esta cartilha não pretende esgotar o assunto, e, portanto,entende que as companhias podem e devem ir além das recomendações aqui incluídas. Para aelaboração desta cartilha, utilizou-se a experiência de 25 anos de CVM e analisou-se aexperiência de diversos países, além de relatórios de pesquisas e códigos de governançanacionais e internacionais.

A CVM procurou adaptar alguns conceitos de governança corporativa internacional àscaracterísticas próprias da realidade brasileira, notadamente a predominância de companhiascom controle definido. Cabe ressaltar que alguns conceitos importantes de governançacorporativa já fazem parte da estrutura legal no Brasil, razão pela qual não se faz referência aeles.

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I.TRANSPARÊNCIA: ASSEMBLÉIAS, ESTRUTURA ACIONÁRIA E GRUPO DECONTROLE

Forma da Convocação e Pauta da Assembléias Gerais de Acionistas

I.1 As assembléias gerais devem ser realizadas em data e hora que não dificultem oacesso dos acionistas. O edital de convocação de assembléias gerais deve conterdescrição precisa dos assuntos a serem tratados. O conselho deve incluir na pautamatérias relevantes e oportunas sugeridas por acionistas minoritários,independentemente do percentual exigido por lei para convocação de assembléias geralde acionistas.

É recomendável que a assembléia geral ordinária realize-se na data mais próxima possível aofim do exercício fiscal a que ela se refere. As recomendações visam facilitar a participação deacionistas no conclave, assegurar a perfeita informação dos acionistas sobre os assuntos aserem tratados em assembléia e permitir que o maior número possível de assuntos de interesseda companhia seja submetido à assembléia geral, evitando convocação de novas assembléias.

Prazo de Convocação de Assembléias Gerais

I.2 Quando os assuntos objeto da pauta forem complexos, a companhia deveconvocar a assembléia com antecedência mínima de 30 dias. Companhias comprogramas de certificado de depósito de valores mobiliários no exterior, como ADR-American Depositary Receipt e GDR-Global Depositary Receipt (aqui definidos como“DR”), representativos de ações ordinárias ou de ações preferenciais que detenhamdireito de voto em determinadas matérias, devem convocar a assembléia comantecedência mínima de 40 dias.

A primeira recomendação visa tornar desnecessário o pleito dos acionistas minoritários àCVM, como previsto em lei, para prorrogação do prazo de convocação em casos de matériascomplexas, poupando a companhia e seus acionistas desse desgaste. A recomendação paracompanhias com programas de DR visa permitir a maior participação em assembléias geraisdos detentores de DRs, considerando as dificuldades operacionais inerentes ao exercício dodireito de voto por tais acionistas.

Acordos de Acionistas

I.3 A companhia deve tornar plenamente acessíveis a todos os acionistas quaisqueracordos de seus acionistas de que tenha conhecimento, bem como aqueles em que acompanhia seja interveniente.

A recomendação visa enfatizar que o conhecimento do acordo de acionistas, assim como doestatuto social, é fundamental para que o acionista faça uma perfeita avaliação dos seusdireitos e do funcionamento da sociedade.

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Relação de Acionistas

I.4 A companhia deve adotar e dar publicidade a procedimento padrão que faciliteao acionista obter a relação dos acionistas com suas respectivas quantidades de ações, e,no caso de acionista detentor de pelo menos 0,5% (meio por cento) de seu capital social,de seus endereços para correspondência.

A lei já prevê hipóteses de obtenção da relação de acionistas e de suas quantidades de ações,mas a experiência revela que muitos acionistas encontram dificuldades práticas no momentode obter tais listas. A padronização de procedimentos visa simplificar o acesso periódico àlista. Além disto, para facilitar seu uso, a lista deve também ser entregue em meio eletrônicode padrão comum no mercado.

A facilidade na obtenção desta lista é importante, pois a lei estabelece percentuais mínimossobre o capital para a efetivação de alguns atos societários relevantes (instalação de conselhofiscal, convocação de assembléia, prestação de informações na assembléia e outros), e oacesso às listas facilita a organização dos acionistas.

Os endereços para correspondência poderão ser endereços eletrônicos. Caso o acionista desejee arque com os custos, pode pedir ao agente escritural que envie em seu nomecorrespondência a todos os acionistas.

Processo de Votação

I.5 O estatuto deve regular com clareza as exigências necessárias para voto erepresentação de acionistas em assembléias, tendo como objetivo facilitar a participaçãoe votação.

A companhia deve adotar, na fiscalização da regularidade documental da representação doacionista, o princípio da boa-fé, presumindo verdadeiras as declarações que lhe forem feitas.Nenhuma irregularidade formal, por exemplo, a apresentação de documentos por cópia, oufalta de autenticação de cópias ou reconhecimento de firma, deve ser motivo paraimpedimento do voto.

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II. ESTRUTURA E RESPONSABILIDADE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

Função, Composição e Mandato do Conselho de Administração

II.1 O conselho de administração deve atuar de forma a proteger o patrimônio dacompanhia, perseguir a consecução de seu objeto social e orientar a diretoria a fim demaximizar o retorno do investimento, agregando valor ao empreendimento. O conselhode administração deve ter de cinco a nove membros tecnicamente qualificados, com pelomenos dois membros com experiência em finanças e responsabilidade de acompanharmais detalhadamente as práticas contábeis adotadas. O conselho deve ter o maiornúmero possível de membros independentes da administração da companhia. Paracompanhias com controle compartilhado, pode se justificar um número superior a novemembros. O mandato de todos os conselheiros deve ser unificado, com prazo de gestãode um ano, permitida a reeleição.

A recomendação sobre o número de membros leva em conta que o conselho de administraçãodeve ser grande o suficiente para assegurar ampla representatividade, e não tão grande queprejudique a eficiência. Mandatos unificados facilitam a representação de acionistasminoritários no conselho.

Funcionamento e Comitês do Conselho de Administração

II.2 O conselho deve adotar um regimento com procedimentos sobre suas atribuiçõese periodicidade mínima das reuniões, além de dispor sobre comitês especializados paraanalisar certas questões em profundidade, notadamente relacionamento com o auditor eoperações entre partes relacionadas. O conselho de administração deve fazeranualmente uma avaliação formal do desempenho do executivo principal. Osconselheiros devem receber os materiais para suas reuniões com antecedênciacompatível com o grau de complexidade da matéria.

O regimento do conselho também deve incluir disposições sobre método de convocação dereuniões, direitos e deveres dos conselheiros, relacionamento com a diretoria e procedimentospara solicitação de informações por conselheiros. O conselho deve ser autorizado a solicitar acontratação de especialistas externos para auxílio em decisões, quando considerar necessário.O estatuto deve autorizar qualquer membro do conselho a convocar reuniões em caso denecessidade, quando o conselheiro que é encarregado não o faz.

Os comitês especializados devem ser compostos por alguns membros do conselho deadministração para estudar seus assuntos e preparar propostas, as quais deverão sersubmetidas à deliberação do conselho de administração.

Participação de Preferencialistas no Conselho de Administração

II.3 A companhia deve permitir imediatamente que os acionistas detentores de açõespreferenciais elejam um membro do conselho de administração, por indicação e escolhapróprias.

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Embora até 2006 a Lei de S.A. estabeleça que os acionistas preferencialistas podem escolherum membro do conselho de administração a partir de lista tríplice elaborada pelo controlador,entende-se que tal tutela não se justifica, à luz das melhores práticas de governançacorporativa, e, por isto, a companhia deve incluir em seu estatuto regra que assegure desde jáaos acionistas titulares de ações preferenciais que não integrem o grupo de controle o direitode indicar e eleger livremente um membro e seu suplente para o conselho de administração.

Presidente do Conselho de Administração e Presidente da Diretoria

II.4 Os cargos de presidente do conselho de administração e presidente da diretoria(executivo principal) devem ser exercidos por pessoas diferentes.

O conselho de administração fiscaliza a gestão dos diretores. Por conseguinte, para evitarconflitos de interesses, o presidente do conselho de administração não deve ser tambémpresidente da diretoria ou seu executivo principal.

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III. PROTEÇÃO A ACIONISTAS MINORITÁRIOS

Decisões Relevantes

III.1 As decisões de alta relevância devem ser deliberadas pela maioria do capitalsocial, cabendo a cada ação um voto, independente de classe ou espécie. Dentre asdecisões de maior importância, destacam-se: (1) aprovação de laudo de avaliação debens que serão incorporados ao capital social; (2) alteração do objeto social; (3) reduçãodo dividendo obrigatório; (4) fusão, cisão ou incorporação; e (5) transações relevantescom partes relacionadas.

Em certas matérias, dentre as quais as citadas, a restrição de direito de voto que houver sidoimposta às ações preferenciais não deve subsistir, pois, dada a relevância das decisões, seuimpacto nos direitos dos acionistas dar-se-á sem distinção. Em transações relevantes compartes relacionadas, as partes interessadas não poderão votar.

Tag-along para Companhias Constituídas antes da Entrada em Vigor da Lei nº 10.303,de 31 de outubro de 2001

III.2 A alienação de ações representativas do controle da companhia somente deve sercontratada sob a condição de que o adquirente realize oferta pública de aquisição detodas as demais ações da companhia pelo mesmo preço, independente de espécie ouclasse.

De acordo com a lei, o adquirente é obrigado a fazer oferta pública de aquisição das açõesordinárias não integrantes do bloco de controle por, no mínimo, 80% do preço pago por cadaação de controle. Segundo as boas práticas de governança corporativa, o adquirente deve dartratamento igual a todas as classes ou espécies de ações. Portanto, o preço ofertado aosacionistas ordinários minoritários deve se estender a todas as demais ações da companhia,independente de espécie ou classe.

Tag-along para Companhias Constituídas Após a Entrada em Vigor da Lei nº10.303/2001

III.3 Para companhias constituídas após a entrada em vigor da Lei nº 10.303/2001, oadquirente deve oferecer o mesmo preço pago pelas ações de controle a todas as classesou espécies de ações.

O objetivo é que companhias novas se constituam de forma a superar a recomendaçãoIII.2, garantindo tratamento igual a todos os acionistas na troca de controle, sejam elesminoritários ou controladores, independente de espécie ou classe.

Transações Entre Partes Relacionadas

III.4 O conselho de administração deve se certificar de que as transações entre partesrelacionadas estão claramente refletidas nas demonstrações financeiras e foram feitaspor escrito e em condições de mercado. O estatuto da companhia deve proibir contratosde prestação de serviços por partes relacionadas com remuneração baseada em

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faturamento/receita e, a princípio, contratos de mútuo com o controlador ou partesrelacionadas.

Independentemente das cautelas ordinariamente adotadas para que a prova de contratoscelebrados seja feita da melhor forma possível, é imperativo que se dê a devida transparênciaaos contratos entre partes relacionadas, de forma a facultar aos acionistas o exercício dodireito essencial de fiscalização e acompanhamento dos atos de gestão da companhia, semprejuízo do dever de promover sua ampla divulgação ao mercado, quando a contrataçãoconfigure fato relevante ou quando da divulgação das demonstrações financeiras.

Contratos entre partes relacionadas devem ser formalizados por escrito, detalhando-se as suascaracterísticas principais (direitos, responsabilidades, qualidade, preços, encargos, prazos,indicativos de comutatividade, etc.). Nas assembléias para discutir tais contratos, caso osacionistas minoritários julguem necessário, poderão pedir um parecer a uma entidadeindependente, a ser pago pela companhia.

Em regra, contratos de mútuo entre a companhia e partes relacionadas devem ser proibidos. Acompanhia não deve conceder créditos em favor de partes relacionadas, pois freqüentementeestes não são concedidos em condições de mercado. Já que a lei exige que tais contratos sejamcelebrados em condições de mercado (prazo, taxa e garantias), se a parte relacionada buscacrédito, deve fazê-lo com terceiros, e não por intermédio da companhia.

Contratos de prestação de serviços entre a companhia e o controlador ou partes relacionadasdevem estar alinhados com os interesses de todos os acionistas da companhia. Em especial,tais contratos não deverão ser baseados em faturamento/receita, pois parte da remuneração docontrolador ou da parte relacionada independerá do desempenho operacional da companhia.

Direito A Voto Para Ações Preferenciais No Não Pagamento De Dividendos

III.5 O estatuto da companhia deverá determinar que, se a assembléia geral nãodeliberar pelo pagamento dos dividendos fixos ou mínimos às ações preferenciais ou acompanhia não pagá-los no prazo permitido por lei, tais ações adquirirão imediatamenteo direito a voto. Se a companhia não pagar dividendos por 3 anos, todas as açõespreferenciais adquirirão direito de voto.

As companhias em que existam ações preferenciais com dividendo fixo ou mínimo deverãoconferir imediatamente direito de voto se não forem pagos os dividendos devidos e quaisquerações preferenciais que não recebam dividendos por 3 anos adquirirão direito de voto.

Arbitragem Para Questões Societárias

III.6 O estatuto da companhia deve estabelecer que as divergências entre acionistas ecompanhia ou entre acionistas controladores e acionistas minoritários serãosolucionadas por arbitragem.

A adoção da arbitragem visa acelerar a solução de impasses, sem prejuízo da qualidade dojulgamento. A eficácia de uma tal disposição estatutária depende de que sejam escolhidascâmaras arbitrais cujos membros tenham reconhecida capacidade em matérias societárias.

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Proporção de Ações Ordinárias e Preferenciais

III.7 As companhias abertas constituídas antes da entrada em vigor da Lei nº10.303/2001 não devem elevar a proporção de ações preferenciais acima do limite de50%, que foi estabelecido pela referida lei para novas companhias abertas. Companhiasque já tenham mais de 50% de seu capital representado por ações preferenciais nãodevem emitir novas ações dessa espécie.

O objetivo é estimular que as companhias tenham cada vez mais o capital composto por açõescom direito a voto.

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IV. AUDITORIA E DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Discussão e Análise da Administração

IV.1 Trimestralmente, em conjunto com as demonstrações financeiras, a companhiadeve divulgar relatório preparado pela administração com a discussão e análise dosfatores que influenciaram preponderantemente o resultado, indicando os principaisfatores de risco a que está sujeita a companhia, internos e externos.

O relatório de discussão e análise da administração deve explicar mudanças expressivas nademonstração de resultados e no balanço. Os acontecimentos relevantes do período cobertodevem ser comentados, tanto do ponto de vista contábil-financeiro, como do ponto de vistaestratégico. A companhia também deve orientar o acionista quanto às perspectivas de seuambiente de negócios e detalhar a política adotada pela administração para criar valor paraseus acionistas. A descrição dos fatores de risco deve incluir fatores internos da companhia,fatores da concorrência e ambiente de negócios e fatores macroeconômicos de suas áreas eregiões de atuação.

Composição e Funcionamento do Conselho Fiscal

IV.2 O conselho fiscal deve ser composto por, no mínimo, três e, no máximo, cincomembros. Os titulares de ações preferenciais e os titulares de ações ordinárias, excluídoo controlador, terão direito de eleger igual número de membros eleitos pelo controlador.O controlador deve renunciar ao direito de eleger sozinho o último membro (terceiro ouquinto membro), o qual deverá ser eleito pela maioria do capital social, em assembléiana qual a cada ação corresponda um voto, independente de sua espécie ou classe,incluindo as ações do controlador. O conselho fiscal deve adotar um regimento comprocedimentos sobre suas atribuições, com foco no relacionamento com o auditor, e quenão limite a atuação individual de nenhum conselheiro.

Segundo os princípios da boa governança corporativa, a maioria do conselho fiscal não deveser eleita pelo acionista controlador. Além disto, visando à eficácia da atuação do próprioórgão, o regimento deve incluir disposições sobre periodicidade e método de convocação dereuniões do conselho fiscal, disponibilização antecipada de materiais a serem discutidos,direitos e deveres dos conselheiros, relacionamento com a administração e auditores eprocedimentos para solicitação de informações. O conselho fiscal também deve se reunirquando requerido de forma fundamentada por representante dos minoritários. O conselho deadministração deve prover meios adequados para o bom funcionamento do conselho fiscal,como convocação e local das reuniões, elaboração de agenda e assistência aos pedidos deinformações dos conselheiros fiscais.

Relacionamento com Auditor Independente

IV.3 Um comitê de auditoria, composto por membros do conselho de administraçãocom experiência em finanças e incluindo pelo menos um conselheiro que represente osminoritários, deve supervisionar o relacionamento com o auditor. Como parte da análise

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das demonstrações da companhia, o conselho fiscal e o comitê de auditoria devem sereunir regular e separadamente com os auditores sem a presença da diretoria.

Esta recomendação tem por finalidade a disseminação e discussão detalhada dasdemonstrações financeiras da companhia por agentes capazes de analisá-las e propor aoconselho de administração as alterações que se façam necessárias para que reflitam maisadequadamente a situação financeira, econômica e patrimonial da companhia. Naturalmente,caso um executivo da companhia seja membro do conselho de administração, este não deveser membro do comitê de auditoria. Qualquer membro do comitê de auditoria pode solicitarreunião individual com diretor ou auditor, quando achar necessário.

Auditoria

IV.4 O conselho de administração deve proibir ou restringir a contratação do auditorda companhia para outros serviços que possam dar origem a conflitos de interesse.Quando permitir a contratação do auditor para outros serviços, o conselho deadministração deve, no mínimo, estabelecer para quais outros serviços o auditor podeser contratado, e que proporção máxima anual tais serviços prestados pelo auditorpoderá representar em relação ao custo de auditoria.§

As práticas de boa governança recomendam a completa independência dos auditores comorequisito da qualidade de sua atuação. A restrição à prestação de outros serviços visa evitar aperda dessa independência, ao longo do tempo.

Acesso a Informações

IV.5 A companhia deve disponibilizar informações a pedido de qualquer membro doconselho fiscal, sem limitações relativas a exercícios anteriores, desde que taisinformações tenham relação com questões atuais em análise, e a informações desociedades controladas ou coligadas, desde que não viole o sigilo imposto por lei.

A capacidade de fiscalização do conselheiro fiscal deve ser a mais ampla possível, em virtudeinclusive das responsabilidades que a lei lhe impõe, em caso de má conduta. Desde quepossam influenciar os números fiscalizados, todos os documentos e informações sobre osquais não recaia dever legal de sigilo devem ser disponibilizados.

Informações Contábeis

IV.6 A companhia deve adotar, além dos princípios de contabilidade em vigor noBrasil, normas internacionais de contabilidade promulgadas pelo InternationalAccounting Standards Board (IASB) ou utilizadas nos Estados Unidos da América(United States Generally Accepted Accounting Principles-US GAAP), atestados porauditor independente.

Os principais mercados estão caminhando para um padrão internacional de contabilidade quefacilite aos investidores analisar o desempenho da companhia e compará-lo com seus pares. § A Instrução nº 308 da CVM já dispõe sobre certos assuntos tratados no item IV.4-Auditoria, mas nomomento da publicação desta cartilha esta Instrução está parcialmente suspensa por liminar.

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Os países da União Européia vão adotar as normas da IASB até 2005, e a OrganizaçãoInternacional das Comissões de Valores (IOSCO), em sua reunião de 2002, recomendou quetodos os seus membros cooperassem para que suas normas contábeis convergissem emdireção a este padrão contábil.

Empresas de pequeno porte, para as quais o custo de produzir as demonstrações em padrõesinternacionais seja elevado, devem ao menos incluir uma demonstração de fluxo de caixa.Transações relevantes que não são obrigatoriamente incluídas nas demonstrações financeiras(“off balance-sheet transactions”) devem ser detalhadas nas notas explicativas.

Recomendações dos Auditores

IV.7 O documento de recomendações dos auditores deve ser revisado por todos osmembros do conselho de administração e do conselho fiscal.

Esta recomendação leva em conta o fato de que, freqüentemente, os auditores, além deelaborarem seu parecer, apresentam à administração da companhia uma lista derecomendações incluindo procedimentos que melhorariam a qualidade das demonstraçõesfinanceiras ou das próprias rotinas da companhia. Tal documento deve ser apresentado aoconselho de administração, e ao conselho fiscal, visando à discussão e adoção, se for o caso,das medidas propostas.

8.3 REGULAMENTO DO NOVO MERCADO DA BOVESPA

APRESENTAÇÃO:

Implantados em dezembro de 2000 pela Bolsa de Valores de São Paulo - BOVESPA, o NovoMercado e os Níveis Diferenciados de Governança Corporativa são segmentos especiais queforam desenvolvidos com o objetivo de proporcionar um ambiente de negociação queestimulasse, ao mesmo tempo, o interesse dos investidores e a valorização das companhias.

Embora tenham fundamentos semelhantes, o Novo Mercado é mais voltado à listagem deempresas que venham a abrir capital, enquanto os Níveis Diferenciados são mais direcionadospara empresas que já possuem ações negociadas na BOVESPA.

Este documento é dedicado ao Novo Mercado e descreve os compromissos de governançacorporativa (GC) que as empresas registradas nesse segmento assumem, adicionalmente aosexistentes na legislação atual.

Esses compromissos adicionais referem-se à prestação de informações que facilitam oacompanhamento e a fiscalização dos atos da administração e dos controladores dacompanhia e à adoção de regras societárias que equilibram os direitos de todos os acionistas,independentemente da sua condição de controlador ou investidor.

A premissa básica do Novo Mercado é de que boas práticas de GC têm valor para osinvestidores, pois os direitos concedidos aos acionistas e a qualidade das informaçõesprestadas reduzem as incertezas no processo de avaliação e, conseqüentemente, o risco.

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A redução do risco gera uma melhor precificação das ações que, por sua vez, incentiva novasaberturas de capital e novas emissões, fortalecendo o mercado acionário como alternativa definanciamento às empresas, cujas necessidades de investimento aumentaram com a aberturada economia e a globalização.

Diversos estudos, entre eles o Legal Determinants of External Finance, elaborado em 1997por Rafael La Porta e outros, professores da Universidade de Harvard, confirmam que quantomais rígida a regulamentação de um país em termos de proteção aos direitos dos acionistas,mais forte é o seu mercado acionário.

Por exemplo, com base em dados de 49 países, o estudo citado acima aponta que indicadoresdo grau de desenvolvimento do mercado, como capitalização do mercado/PIB, número deempresas/milhão de habitantes e número de aberturas de capital/milhão de habitantes, sãomais sólidos nos países onde os acionistas minoritários contam com maiores garantias.

Desde sua implantação, a BOVESPA tem trabalhado no sentido de divulgar e esclarecer aimportância e os benefícios do Novo Mercado para as empresas, os investidores e o própriomercado de capitais brasileiro.

A adesão de uma empresa ao Novo Mercado é voluntária e concretiza-se com a assinatura deum contrato entre a companhia, seus controladores, administradores e a própria BOVESPA.Pelo contrato, as partes acordam em cumprir o Regulamento de Listagem do Novo Mercado,que consolida todos os requisitos adicionais desse segmento.

As empresas do Novo Mercado, ao assinarem o Contrato, também adotam a arbitragem para asolução de eventuais conflitos societários que possam surgir. Por isso, foi constituída pelaBOVESPA a Câmara de Arbitragem do Mercado, oficialmente instalada desde 27/07/2001.

Certamente, a decisão de uma empresa em se listar no Novo Mercado receberá um tratamentoespecial. Isso se justifica em vista da adoção de boas práticas de GC e da crescentepreocupação com o tema, como demonstra a declaração da OCDE (Organização paraCooperação e Desenvolvimento Econômico) de que “o grau de observância dos princípiosbásicos da boa governança corporativa, por parte das empresas, é um fator cada vez maisimportante nas decisões de investimento”.

Nas próximas páginas, apresentamos os procedimentos para o registro no Novo Mercado, osseus requisitos e alguns mecanismos implementados pela BOVESPA para conferir maiorvisibilidade à decisão dessas companhias.

ADESÃO AO NOVO MERCADO

EMPRESAS ALVO

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Não há restrições quanto ao porte ou setor de atuação da empresa. Qualquer empresa queimplemente as boas práticas de GC fixadas no Regulamento de Listagem pode ter suas açõesnegociadas nesse segmento.

São empresas alvo:

- as que venham a abrir seu capital;

- as listadas na BOVESPA com apenas ações ordinárias ou que possam, no caso deexistência de ações preferenciais, convertê-las em ações ordinárias.

CONDIÇÕES PARA A ENTRADAAs empresas que estão abrindo o seu capital podem listar-se no Novo Mercado mediante umadistribuição pública mínima de R$ 10 milhões, seja ela primária, secundária ou umacombinação de ambas.

As empresas já listadas na BOVESPA podem migrar para o Novo Mercado sem necessidadede distribuição pública, desde que tenham pelo menos 500 acionistas e atendam às demaiscondições do Regulamento.

ASSINATURA DO CONTRATOA BOVESPA não registra automaticamente as empresas no Novo Mercado, ainda que,hipoteticamente, haja alguma que atenda a todos os requisitos de listagem desse segmento.

Para ser considerada companhia do Novo Mercado, é necessária a assinatura do Contrato deParticipação no Novo Mercado, tendo a companhia, seus controladores, administradores(Conselho de Administração e Diretoria) e a BOVESPA como partes.

ESCOPO DO CONTRATOCom o Contrato, todas as partes signatárias concordam em seguir o Regulamento de Listagemdo Novo Mercado, além de aderir à Câmara de Arbitragem do Mercado.

FISCALIZAÇÃO E OBRIGATORIEDADE DE CUMPRIR O REGULAMENTOO Contrato é imprescindível pois, enquanto estiver em vigor, torna obrigatório o cumprimentodos requisitos do Novo Mercado, tendo a BOVESPA o dever de fiscalizar e, se for o caso,punir as infrações.

CÂMARA DE ARBITRAGEM DO MERCADO

OBJETIVO E ABRANGÊNCIAA Câmara foi instituída pela BOVESPA com o objetivo de agilizar a solução de eventuaisconflitos societários. Proporciona aos seus participantes um grupo de árbitros especializadosem matérias societárias, economia de tempo e, conseqüentemente, economia de recursos.

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São participantes da Câmara a companhia listada no Novo Mercado, seus controladores,administradores, membros do Conselho Fiscal e a BOVESPA. Obviamente, todos osinvestidores também poderão aderir, por meio da assinatura de um Termo de Anuência aoRegulamento de Arbitragem.

Ao aderirem, os participantes obrigam-se a submeter à Câmara todos os conflitos que possamsurgir entre eles, decorrentes da aplicação das disposições contidas na Lei das S.A.s, nosEstatutos Sociais das companhias, nas normas editadas pelo Conselho Monetário Nacional,pelo Banco Central do Brasil e pela Comissão de Valores Mobiliários, bem como nas demaisnormas aplicáveis ao funcionamento do mercado de capitais em geral, além daquelasconstantes do Regulamento de Listagem do Novo Mercado.

As partes obrigam-se também a não recorrer ao Poder Judiciário, a não ser nos casos previstosno Regulamento de Arbitragem, garantindo assim agilidade na resolução dos conflitos.Ressalta-se que as regras da Câmara de Arbitragem do Mercado estão de acordo com a Lei n.º9.307/96 (“Lei da Arbitragem”).

COMPOSIÇÃOEla é composta por, no mínimo, 30 árbitros, escolhidos pelo Conselho de Administração daBOVESPA. A cada dois anos haverá uma nova escolha a partir de nomes indicados pelasmais diversas entidades representativas dos participantes do mercado de capitais, sempre como compromisso de manutenção de um corpo de árbitros da mais alta qualidade técnica.

PROCEDIMENTOS ARBITRAISNuma disputa, as partes poderão adotar um dos três tipos de procedimento arbitral: arbitragemordinária, arbitragem sumária e arbitragem ad hoc.

A arbitragem ordinária destina-se a questões mais complexas, enquanto a arbitragem sumáriapode ser utilizada em disputas mais simples. Por sua vez, a arbitragem ad hoc permite umamaior flexibilidade, estando as partes livres, de comum acordo, para definir oencaminhamento da arbitragem.

TRIBUNAL ARBITRALO procedimento escolhido define a composição do Tribunal Arbitral que julgará o caso. Porexemplo, na arbitragem ordinária, procedimento mais adequado para questões complexas, oTribunal Arbitral é formado por três árbitros. Cada parte indica um árbitro (e seu suplente),sendo o terceiro deles escolhido em comum acordo pelas partes.

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REQUISITOS PARA A LISTAGEM NO NOVO MERCADO

REGRAS SOCIETÁRIASEntre os requisitos para a listagem no Novo Mercado, os mais fortes são os compromissossocietários, que garantem maior equilíbrio de direitos entre todos os acionistas.

- A empresa deve ter e emitir exclusivamente ações ordinárias, tendo todos os acionistas odireito ao voto.

- Em caso de venda do controle acionário, o comprador estenderá a oferta de compra a todosos demais acionistas, assegurando-se o mesmo tratamento dado ao controlador vendedor.

- Em caso de fechamento de capital ou cancelamento do contrato do Novo Mercado, ocontrolador fará uma oferta pública de aquisição das ações em circulação, tomando porbase o valor econômico da companhia, determinado por empresa especializada. A empresaespecializada deve ser selecionada, em assembléia geral, a partir de uma lista trípliceindicada pelo Conselho de Administração. A escolha dá-se por maioria absoluta de votosdas ações em circulação (ou seja, sem os votos do controlador).

- O Conselho de Administração da companhia deve ser composto por, no mínimo, cincomembros, com mandados unificados de um ano.

- A companhia não deve ter Partes Beneficiárias em circulação.

DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÕESOutro grupo importante de compromissos que as empresas listadas no Novo Mercadoassumem perante os investidores é o fornecimento de informações que auxiliam na avaliaçãosobre o valor da companhia.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS NAS ITRS

As ITRs (Informações Trimestrais) constituem um documento que todas as empresas decapital aberto listadas na BOVESPA enviam à CVM e à própria Bolsa trimestralmente. Essedocumento contém as demonstrações financeiras do trimestre em referência e outroscomentários considerados importantes.

Além das informações que já são obrigatórias por lei, a companhia do Novo Mercado deveincluir nas ITRs:

- demonstrações financeiras consolidadas;

- demonstração dos fluxos de caixa da companhia e do consolidado;

- abertura da posição acionária de qualquer acionista que detiver mais de 5% do capital total,de forma direta ou indireta, até o nível de pessoa física;

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- a quantidade e as características dos valores mobiliários de emissão da companhia detidospelo Grupo de Controladores, Grupo dos Membros do Conselho de Administração, Grupodos Diretores e Grupo dos Membros do Conselho Fiscal;

- a evolução do item acima em relação aos doze meses anteriores;

- a quantidade de ações em circulação e a sua porcentagem em relação ao total das açõesemitidas, por tipo e classe;

- revisão especial emitida por Auditor Independente.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS NAS DFPS

As DFPs (Demonstrações Financeiras Padronizadas) constituem um documento que todas asempresas de capital aberto listadas na BOVESPA devem enviar à CVM e à própria Bolsa atéo final de março de cada ano. Esse documento contém as demonstrações financeirasreferentes ao exercício findo e outros comentários considerados importantes.

Além dessas informações, o Regulamento estabelece que a empresa deve incluir nessedocumento as demonstrações dos fluxos de caixa da companhia e do consolidado.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS NAS IANS

As IANs (Informações Anuais) constituem um documento que todas as empresas de capitalaberto listadas na BOVESPA entregam à CVM e à própria Bolsa até o final de maio de cadaano, contendo informações corporativas. A essas informações devem ser acrescentados osseguintes dados:

- a quantidade e as características dos valores mobiliários de emissão da companhia detidospelo Grupo de Controladores, Grupo dos Membros do Conselho de Administração, Grupodos Diretores e Grupo dos Membros do Conselho Fiscal;

- a evolução do item acima em relação aos doze meses anteriores;

- a quantidade de ações em circulação e a sua porcentagem em relação ao total das açõesemitidas, por tipo e classe.

DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÕES FINANCEIRAS EM PADRÃO INTERNACIONAL

Com a intenção de aumentar a sua visibilidade, visando especialmente aos investidoresestrangeiros, a empresa deve:

- elaborar demonstrações financeiras anuais de acordo com padrões internacionais decontabilidade, aceitando-se o US GAAP ou o IAS. Para o cumprimento desse requisito, emfunção da sua complexidade, há um prazo de carência de aproximadamente dois anos;

- elaborar as demonstrações financeiras trimestrais de acordo com padrões internacionais oudivulgar as ITRs, no padrão do Novo Mercado, traduzidas para a língua inglesa.

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DIVULGAÇÃO DE OUTRAS INFORMAÇÕES- A empresa deve realizar ao menos uma reunião pública anual com analistas e outros

interessados para apresentar a sua situação econômico-financeira, projetos e perspectivas,com o objetivo de promover uma maior aproximação com os investidores.

- Deve também divulgar um calendário anual com as datas dos principais eventoscorporativos, tais como assembléias, divulgação dos resultados financeiros trimestrais eoutros, facilitando o acompanhamento pelo mercado.

- A companhia deve divulgar os termos dos contratos firmados entre a empresa e partesrelacionadas, quando atingirem o valor fixado no Regulamento de Listagem, que variasegundo o porte da empresa listada. O objetivo é dar elementos para que os acionistasinvestidores avaliem esses contratos em comparação às condições normais do mercado.

- Os acordos de acionistas devem ser enviados à BOVESPA, pela empresa, para divulgaçãoao mercado, melhorando a compreensão sobre as regras que regem o relacionamento entreos controladores.

- A empresa também deve dar conhecimento dos programas de opções de aquisição de açõesdestinados aos funcionários ou administradores.

- Visando a garantir transparência aos negócios das pessoas que possam ter acesso ainformações privilegiadas, a empresa deve divulgar, em bases mensais, as negociações comvalores mobiliários de emissão da própria companhia e seus derivativos por parte doscontroladores, administradores e membros do Conselho Fiscal.

DISPERSÃO DE AÇÕESPara melhorar a liquidez e a pulverização das ações da companhia no mercado secundário e,ao mesmo tempo, garantir a credibilidade e a transparência durante o processo de distribuiçãopública, o Regulamento exige que:

- a empresa mantenha um percentual mínimo de 25% de ações em circulação. Ações emcirculação são todas as ações de emissão da Companhia, exceto aquelas: (i) detitularidade do Acionista Controlador, seu cônjuge, com-panheiro(a) e dependentesincluídos na declaração anual do imposto de renda; (ii) em tesouraria; (iii) detitularidade de Controladas e Coligadas da Companhia; (iv) de titularidade deControladas e Coligadas do Acionista Controlador;

- quando das distribuições públicas, que a empresa adote procedimentos especiais dedistribuição que podem ser, entre outros, a garantia de acesso a todos os investidoresinteressados ou distribuição a pessoas físicas ou investidores não institucionais de, nomínimo, 10% do total a ser distribuído. O procedimento de dispersão deverá estardescrito no prospecto de distribuição pública;

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- em se tratando de Oferta Inicial de Ações (primeira distribuição pública), oscontroladores e administradores devem abster-se de negociar com ações de que eramtitulares logo após a Oferta por um período de seis meses. Após esse período inicial,devem abster-se de negociar com 60% dessa posição por mais seis meses.

PROSPECTOS DE DISTRIBUIÇÕES PÚBLICASOs prospectos de distribuição pública da Companhia deverão observar os requisitos doRegulamento quanto às informações que devem ser divulgadas. Entre as informaçõessolicitadas encontram-se, por exemplo, a descrição de fatores de risco, descrição dosnegócios, processos produtivos e mercados, análise e discussão de sua administração arespeito das demonstrações financeiras etc.

Um prospecto mais completo fornece maior número de subsídios para o processo deprecificação das ações, aumentando a precisão da análise.

SAÍDA DO NOVO MERCADO

RESCISÃO DO CONTRATOEstá prevista, no Regulamento de Listagem, a possibilidade de uma empresa do NovoMercado solicitar a sua deslistagem do segmento, indo para o mercado tradicional. Esse fatorepresenta a rescisão do Contrato.

IMPLICAÇÕESA principal implicação é a empresa não estar mais obrigada a cumprir os requisitos doRegulamento. Isso quer dizer que os investidores não terão mais garantido o conjunto decompromissos assumidos anteriormente pela empresa, por seus controladores eadministradores.

Em função desse fato, há procedimentos específicos de saída, com mecanismos de“compensação” pela perda dos direitos societários. A saída do Novo Mercado implica aaprovação da decisão por uma assembléia geral, comunicação com antecedência de 30 dias àBOVESPA e realização de uma oferta pública de compra das ações que se encontram emcirculação pelo valor econômico.

INICIATIVAS DA BOVESPA

Visando a dar maior destaque aos compromissos assumidos pelas empresas que aderirem aoNovo Mercado e, ao mesmo tempo, facilitar a identificação por parte dos investidores, aBOVESPA desenvolveu uma série de medidas operacionais. Entre elas, destacam-se:

- identificação diferenciada dos códigos de negociação das companhias listadas no NovoMercado: NM;

- identificação diferenciada em todos os meios de difusão da BOVESPA: painéis no pregão,BDI (Boletim Diário de Informações), MEGA BOLSA;

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- site da BOVESPA na Internet, no qual estão todas as informações enviadas à BOVESPApelas empresas do Novo Mercado;

- ampla divulgação, aos investidores nacionais e estrangeiros, sobre a adesão das empresasao Novo Mercado;

- participação das ações das empresas no IGC - Índice de Ações com GovernançaCorporativa Diferenciada. O IGC é um índice ponderado por:

- um fator crescente conforme o segmento de listagem, Nível 1, Nível 2 ou NovoMercado; e

- valor de mercado das empresas com base nas ações em circulação.

BENEFÍCIOS

A decisão das empresas de listarem-se no Novo Mercado traz benefícios aos investidores, aelas próprias e fortalece o mercado acionário como alternativa de investimento.

INVESTIDORES- maior precisão na precificação das ações;- melhora do processo de acompanhamento e fiscalização;- maior segurança quanto aos seus direitos societários;- redução de risco.

EMPRESAS- melhora da imagem institucional;- maior demanda por suas ações;- valorização das ações;- menor custo de capital.

MERCADO ACIONÁRIO- aumento de liquidez;- aumento de emissões;- canalização da poupança na capitalização das empresas.

BRASIL- empresas mais fortes e competitivas;- dinamização da economia.

A íntegra do Regulamento do Novo Mercado e do Regulamento de Arbitragem pode serobtida no site www.bovespa.com.br

Para informações adicionais, consulte o site www.bovespa.com.br

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Gerência de Desenvolvimento de Empresas - GDETels.: (11) 3233-2341/2371/2003/2004E-mail: [email protected]

Atualizado em maio/2002

8.4 QUESTIONÁRIO

A fim de concluir nossa pesquisa de conclusão de curso "GOVERNANÇA CORPORATIVA: As influências do

Conselho de Administração Independente", gostaríamos de obter as respostas do questionário abaixo para a

elaboração de um estudo de caso. Muito Obrigado.

Nome da empresa: NET SERVIÇOS DE COMUNICAÇÃO S/A (NÍVEL II)

Nome/Cargo: LEONARDO PEREIRA / DIRETOR FINANCEIRO E DE RI

1) Na NET Serviços o diretor presidente é ao mesmo tempo presidente do Conselho?Não. O conselho administrativo é formado por 8 membros sendo todos representantes

de acionistas, mas antigamente eu e o diretor presidente já fizemos parte do conselho. Aempresa pretende tirar do conselho os executivos e familiares sendo que hoje isso já é válido.

2) O Conselho de Administração na NET Serviços avalia o desempenho do diretor executivo daempresa? Em caso afirmativo, explique como?

Sim, avalia. Existe uma política de avaliação para que não tenhamos conflitos deinteresse.

3) Além de cumprir com todas as exigências previstas no Regulamento de Práticas Diferenciadasde Governança Corporativa – Nível 2 da Bovespa, a Net Serviços irá decidir ir além disso, sepreparando para próximos passos? Comente.

Sim, hoje a NET cumpri todas as regras do nível 2 da BOVESPA, porém paraingressar no NOVO MERCADO, que seria o próximo passo, é necessário que a empresatenha exclusivamente ações ordinárias e conceda a todos os acionistas a opção de vender suasações nas mesmas condições obtidas pelos controladores, o que hoje na NET não ocorre masestamos reestruturando o capital para transformar as ações em ordinárias para assim ingressarno NOVO MERCADO.

4) Comente qual é o grau de envolvimento do Conselho nas estratégias da Empresa?Total, o conselho se reúne mensalmente sempre levantando dados efetivos do mês

anterior para discutir as estratégias da empresa, lembrando que o conselheiro tem que saberaté onde “meter as caras”, pois quem executa é o executivo.

5) Sua empresa concede stock options para os conselheiros?Até o momento não, mas seria uma boa, pois o envolvimento do conselho com as

estratégias da empresa é total, ou seja, se o conselheiro for remunerado de acordo com onegócio ele poderá trazer melhores soluções para a estratégia.

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6) Os membros do conselho são avaliados regularmente com base em critérios claros? Sim ounão? Quais?

Não, uma avaliação 360 graus é muito difícil de ocorrer, principalmente entreconselheiros e executivos, mas o ideal seria que isso fosse implementado.

7) Dos 8 membros do conselho da NET Serviços, quantos são conselheiros independentes?Comente um pouco sobre cada um de acordo com suas origens e funções.• Roberto Irineu Marinho• Ronnie Vaz Moreira• Jorge Luiz de Barros Nóbrega• Stefan Alexander• Rossana Fontenele Berto• Rômulo de Mello Dias• Nelson Pacheco Sirotsky• Jorge Eduardo Martins Moraes

Nenhum. Os membros representam osacionistas sendo que nenhum é executivo daNET, mas possuem participação no grupo da

globo.

8) O conselho de Administração facilita a relação com os investidores de sua Companhia?Comente.

Não, o fato de possuir um nível 2 de governança corporativa que facilita a relação comos investidores, o conselho esta lá só para ajudar o executivo, tendo uma visão externa donegócio. A relação com os investidores é tratada direto com os executivos.

9) Podemos dizer que as ações de uma empresa podem ser afetadas em sua valorização pelo fatode não possuir um conselho independente?

Sim, as ações estão vinculados a uma serie de coisas relacionadas a empresa, como aestrutura de capital, as estratégias de negócio, a imagem corporativa e uma delas é agovernança corporativa onde destacamos a importância de um conselho independente namesma, ou seja, o fato de não possuir um conselho independente pode afetar as ações dasempresas em relação ao pilar estratégico GOVERNANÇA CORPORATIVA.

10) O nível de transparência das informações é maior na empresa pelo fato de possuir um conselhoindependente?

Com certeza, hoje em dia a NET não possue um conselho totalmente independente você jápode notar as informações, mas fluindo com mais precisão e transparência e quando oconselho for totalmente independente podemos considerar como sendo uma empresa degrande transparência.

11) De acordo com o sexto pilar do plano estratégico da Net (Imagem Corporativa) podemos dizerque a imagem corporativa da empresa pode ser avaliada pelo simples fato de ter ou não umconselho independente na empresa?

Tudo está relacionado, não só a imagem corporativa mas como tudo na empresa estárelacionado ao fato de possuir um conselho de Administração independente.