governança, agência e autonomia: temas anarquistas na obra de elinor ostrom

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Estudo de Kevin Carson sobre a relação da obra de Elinor Ostrom acerca de instituições de governança de bens comuns e a teoria anarquista.

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  • Governana,AgnciaeAutonomia:TemasAnarquistasnaObradeElinorOstrom

    KevinCarson

  • CentroporumaSociedadeSemEstado,N16(2Metadede2013)

    INTRODUOEste artigo proposto como um em uma srie, a ser lido em conjunto com meu anterior sobre James C. Scott , sobre pensadores anarquistas e descentralistas cuja afeio pela 1

    particularidade de instituies locais e de escala humana ultrapassa quaisquer rtulos ideolgicosdoutrinrios.A Governana de Recursos de Reserva Comum. Ostrom comea observando o problema do esgotamento de recursos naturais, o que ela chama de "recursos de reserva comum" e ento passa a examinar trs teorias principais largamente complementares ("conceitos intimamente relacionados") que tentam explicar "os muitos problemas que as pessoas enfrentam quando tentam alcanar benefcios coletivos": a "tragdia dos comuns" deHardin,odilemadoprisioneiro,ea"lgicadaaocoletiva"deOlson. 2

    Infelizmente, estes modelos (ou este modelo) se ossificou em um dogma, servindo mais frequentemente como um substituto para o pensamento do que como um ponto de partida. Mais do que vinte anos aps a obra seminal de Ostrom, ainda comum afirmar como um trusmo suportado apenas por uma aluso passageira a Hardin ou ao dilema do prisioneiro que os usurios reais de recursos inevitavelmente os esgotaro na ausncia de governana por parte de uma autoridade superior ou outra. Ostrom cita uma afirmao jovial, em um artigo sobre reas de pesca na The Economist: "deixados prpria sorte, os pescadores vo explorar excessivamente os estoques .... [P]ara evitar o desastre, os gestoresdevemterhegemoniaefetivasobreeles" .3

    Esta ltima citao exemplifica perfeitamente a abordagem comum em relao governana de recursos de reserva comum assumida por defensores tanto da regulamentao estatal quanto da privatizao corporativa. O prprio Garrett Hardin,

    1 Kevin Carson, Legibility & Control: Themes in the Work of James C. Scott. Center for a Stateless Society Paper No. 12 (Winter/Spring 2011) .2 Elinor Ostrom, Governing the Commons: The Evolution of Institutions for Collective Action (CambridgeUniversityPress,1990),pp.17.3Ibid.,p8.

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  • revisitando mais tarde seu artigo sobre a tragdia dos comuns, argumentou que o problema de esgotamento de recursos teria que ser abordado ou por "um sistema empresarial privado" (isto , propriedade por parte de firmas empresariais com fins lucrativos) ou pelo "socialismo" (isto , propriedade e regulamentao por parte do estado) . (A suposio de 4

    que a "empresa privada" e o "socialismo" ambos exigem hierarquias administrativas de um tipo ou de outro e so incompatveis com instituies horizontais e auto organizadas, diz muitosobreosvaloresinternalizadosdoestratointelectual.)Ostrom passa a considerar o desempenho insatisfatrio tanto do Estado quanto do mercado naresoluodoproblema.5

    Deverseia notar imediatamente que a justaposio entre "propriedade comum" e "propriedade privada" apresentada pelos libertrios capitalistas do mainstream simplesmente tola. Nos casos em que parcelar um recurso comum pelos indivduos , pela natureza do caso, impossvel, Ostrom diz, se duramente pressionado para entender exatamente o que se quer dizer com "privado". Campos abertos ou pastagens comuns podem ser divididas em lotes separados e distribudas aos indivduos mas reas de pesca?

    Recursos de reserva comum, pela natureza das coisas, devem ser possudos e 6

    governados por algum tipo de instituio coletiva, quer se trate do Estado, de uma corporaooudeumaassociaohorizontalautoorganizadadosprpriosusurios.A propriedade por parte de uma corporao com fins lucrativos no mais "privada" do que (ou, se voc preferir, to "coletivista" quanto) a administrao de bens comuns por parte de seus usurios. Na lei corporativa, a propriedade de uma firma detida, e sua gerncia empregada, por uma pessoa unitria criada sob os termos da licena corporativa. Nenhum acionista individual ou grupo de acionistas tm qualquer direito de propriedade sobre os ativosdafirmaouautoridadesobresuagerncia.Ambas as abordagens convencionais de "privatizao" e "regulamentao estatal" equivalem, quando todas as fices legais so tiradas fora, a substituir o julgamento dos usurios pelo de gestores trabalhando para alguma autoridade central absentesta (talvez apenas em teoria, trabalhado, na verdade, por seus prprios interesses). Ento poderamos esperar que isso resultasse nos mesmos problemas de conhecimento e incentivo que sempre resultam de externalizar custos e benefcios, quando a propriedade e o controle estodivorciadosdoconhecimentodiretodasituao.Por outro lado, poderamos esperar que colocar o controle diretamente nas mos daqueles com o conhecimento local Hayekiano de uma situao resulte em resultados bem preferveis a qualquer uma das duas outras abordagens baseadas em verticalidade e controleabsentesta.

    4Ibid.,p.9.5 Ostrom consistentemente usa o termo "mercado" no sentido de "nexo monetrio" ou "setor com fins lucrativos", em vez de um regime jurdico geral de contrato voluntrio e direitos executveis de propriedade.Salvodisposioemcontrrio,estareiusandootermonosentidodela.6Ibid.,p.19.

    2

  • EasdescobertasdeOstromconfirmamessaexpectativa.Em vez de partir da suposio de que os usurios de recursos comuns esto desamparados sem uma autoridade externa intervindo para proteglos de si mesmos, ela assume que "a capacidade dos indivduos de se desenredarem de vrios tipos de situaes de dilema varia de situao para situao" e ento adota a abordagem emprica de pesquisar "os esforos tanto bem quanto malsucedidos de se escapar de resultados trgicos" .7

    Aos dois modelos ortodoxos de propriedade estatal e corporativa, Ostrom justape a administrao de bens comuns por um contrato vinculante entre os prprios usurios "para secomprometeremaumaestratgiacooperativaqueelesmesmosrealizaro".Claro que h maneiras em que eles poderiam dar errado proprietrios de animais "podem superestimar ou subestimar a capacidade de carga da campina" ou seu sistema de monitoramento pode quebrar. Mas mesmo assim, estes potenciais pontos de falha sem dvida existem de forma mais forte no caso da governana absentesta por parte de instituies centrais. O sistema de monitoramento baseado nos prprios usurios, que so vizinhos e que, enquanto usurios, tm um forte incentivo a impedir a desero por parte dos outros, observando uns aos outros diretamente consideravelmente mais efetivo, se pensaria, do que o regime de inspeo tpico de uma autoridade reguladora estatal (minha me, que trabalhou em uma fbrica de processamento de aves e entrava em contato dirio com os inspetores do USDA, poderia ter lhe dito isso). E seus clculos de capacidade de carga e produo sustentvel, embora falveis, pelo menos "no so dependentes da exatido das informaes obtidas por um distante oficial do governo [ou escritrio central corporativo,eupoderiaadicionar]emrelaossuasestratgias" .8

    A pesquisa emprica de Ostrom lana luz, no tanto sobre se tal governana horizontal de bens comuns por parte dos prprios usurios funciona obviamente s vezes funciona massobrequaisregrasdegovernanaemparticularproduzemresultadostimos.Realmente, lgico que a governana cooperativa de recursos comuns, todas as outras coisas sendo iguais, ser mais eficaz na formulao e aplicao das regras do que a governana tanto por uma agncia governamental quanto por uma corporao, "J que os indivduos envolvidos ganham uma grande parte de seu retorno econmico dos RRCs, eles so fortemente motivados a tentar resolver os problemas comuns para melhorar sua prpria produtividadeaolongodotempo" .9

    Ento o que resta, no decurso da investigao de Ostrom, "identificar os princpios de design subjacentes das instituies usadas por aqueles que administraram com sucesso seus prprios RRCs ao longo de extensos perodos de tempo..." . Quais medidas, em 10

    particular, eles tomaram para resolver os reais problemas apresentados pelas "tentaes de

    7Ibid.,p.14.8Ibid.,pp.1518.9Ibid.,p.26.10Ibid.,p.27.

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  • se aproveitar, se esquivar ou de outro modo agir de forma oportunista" ? A parte do meio 11

    deseulivro,apropriadamente,devotadaaumlevantamentodas

    configuraes de campo nas quais (1) os apropriadores desenvolveram, aplicaram e monitoraram suas prprias regras para controlar o uso de seus RRCs e (2) os sistemas de recursos, assim como as instituies, sobreviveram por longos perodos de tempo. O conjunto mais jovem de instituies a ser analisado... j tem mais de 100 anos de idade. A histria do sistema mais antigo a ser examinado excede 1000 anos. 12

    As regras para se governar recursos de reserva comum, nos exemplos que Ostrom examinou, funcionavam em situaes em que a teoria dos jogos teria predito que os incentivos para desertar eram fortes e as consequncias negativas da desero eram fracas (como em sistemas de governana comum para gua de irrigao nas Filipinas Espanholas, onde o monitoramento era relativamente fraco e as multas eram baixas, comparadas aos benefcios da desero, e roubar gua numa seca poderia ter salvado a colheita de uma estaointeira) .13

    E longe de refletir "um anacrnico remanescente do passado", os sistemas de governana para recursos de reserva comum tipicamente refletem um raciocnio emprico rigoroso a partirdaexperinciahistrica.Nocasodaterrapastoralcomunaldemontanha,

    durante pelo menos cinco sculos, esses aldees suos foram intimamente familiarizados com as vantagens e desvantagens de ambos os sistemas de posse, pessoal e comunitrio, e combinaram cuidadosamente determinados tipos de posse deterracomdeterminadostiposdeusodaterra. 14

    Baseada em seu levantamento, Ostrom destilou esta lista de princpios de design de comunsapartirdaexperinciadeinstituiesbemsucedidasdegovernana:

    1. Limites claramente definidos. Indivduos ou famlias que tm direitos a retirar unidades de recurso do RRC devem ser claramente definidos, assim como o devemoslimitesdoprprioRRC.

    2. Congruncia entre regras de apropriao e proviso e condies locais.

    Regras de apropriao que restringem o tempo, o local, a tecnologia e/ou a quantidade de unidades de recurso esto relacionadas s condies locais e sregrasdeprovisoqueexigemtrabalho,materiale/oudinheiro.

    3. Arranjos de escolha coletiva. A maioria dos indivduos afetados pelas regras

    operacionaispodemparticiparnamodificaodasregrasoperacionais.

    11Ibid.,p.29.12Ibid.,p.58.13Ibid.,p.59.14Ibid.,p.63.

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  • 4. Monitoramento. Monitores, que ativamente auditam as condies do RRC e o comportamento dos apropriadores, so responsveis perante os apropriadoresousoosapropriadores.

    5. Sanes graduadas. Os apropriadores que violam as regras operacionais

    esto suscetveis serem aferidos sanes graduadas (que dependem da seriedade e do contexto do delito) por outros apropriadores, por oficiais responsveisperanteestesapropriadoresouporambos.

    6. Mecanismos de resoluo de conflitos. Apropriadores e seus oficiais tem um

    acesso rpido a arenas locais de baixo custo para resolver conflitos entre apropriadoresouentreapropriadoreseoficiais.

    7. Reconhecimento mnimo de direitos de se organizar. Os direitos dos

    apropriadores de desenvolver suas prprias instituies no so desafiados porautoridadesgovernamentaisexternas.

    ParaRRCsquesopartedesistemasmaiores:

    8. Empresas aninhadas. A apropriao, fornecimento, acompanhamento, execuo, resoluo de conflitos e atividades de governana so organizadasemvriascamadasdeempresasaninhadas. 15

    Aqui esto alguns pensamentos que me ocorreram enquanto eu lia os princpios de comuns de Ostrom. Historicamente, muitos regimes de governana de bens comuns falharam como resultado da interferncia externa, por parte do estado e de elites agrrias, com o esprito do N7. Isso foi verdadeiro tanto da "reforma" de Stolypin quanto da coletivizao forada de Stalin, que passaram ambos grosseiramente por cima dos direitos internos de autogovernana da Mir. Alm disso, a poltica fundiria de Stolypin, em sua substncia, violava o No. 1, permitindo que famlias individuais retirassem partes alquotas de terra dos campos comuns da aldeia como um close (em termos ingleses) sem o consentimento da Mir como um todo. Ao fazlo, violava o entendimento o social bsico da natureza do direito depropriedadeembutidonosistemadesdesuafundao.Para colocar em termos compreensveis pelo tipo de libertrio de direita que instintivamente torce pela palavra "privado" e vaia "comum", imagine se uma legislatura passasse por cima de uma licena corporativa e deixasse os acionistas individuais invadissem fbricas com retroescavadeiras e carregassem alguma parcela alquota do maquinrio sob os termos da licena, detido unicamente pela corporao enquanto pessoa nica das linhas de montagem. isso que as polticas de Stolypin fizeram ao planejamento de uso de terra pelasMirparaaquelasterrasquepermaneciamdentrodecamposabertos.

    15Ibid.,p.90.5

  • O N3, o direito daqueles afetados pelas regras de ter voz no desenvolvimento delas teorias normativas de democracia participativa parte um prrequisito para uma instituioeficientementefuncional.ComoOstromdiz:

    instituies de RRC que utilizam este princpio so mais capazes de adaptar suas regras s circunstncias locais, porque os indivduos que interagem diretamente um com o outro e com o mundo fsico podem modificar as regras ao longo do tempo, de formaamelhoradequlasscaractersticasespecficasdeseuambiente. 16

    A separao entre o poder de tomada de deciso e tanto o conhecimento situacional distribudo quanto a experincia das consequncias a chave para todos os problemas de conhecimento e incentivo de instituies autoritrias hierrquicas, sejam elas governos ou corporaes. A autoridade de cima para baixo um mecanismo para expropriar os benefcios do trabalho dos outros para si mesmo e externalizar custos e inconvenincias parabaixo.Dados os problemas bvios de conhecimento e incentivo resultantes da separao entre autoridade e competncia, por que a hierarquia sempre adotada em primeiro lugar? A resposta encontrase em limpar nossas mentes de suposies inconscientes de que o desenho institucional algo que "ns" ou "a sociedade" faz a fim de maximizar alguma vaga ideia do "bem comum". A hierarquia existe porque aqueles que dirigem as instituies dominantes do estado e da corporao tem um conflito fundamental de interesses com aqueles que possuem o conhecimento situacional, de tal forma que os primeiros no podem confiar que os ltimos usem seu prprio bom senso. A gerente de uma instituio hierrquica, como o proprietrio de uma plantao de escravos, no pode confiar em seus subordinados para usar seu prprio bom senso, com receio de que ela descubra sua garganta cortada no meio da noite. E os subordinados sabem muito bem que, se eles usarem seu conhecimento situacional para maximizar a eficincia, quaisquer ganhos de produtividade sero desapropriados pela administrao sob a forma de redues, aceleraesebnusdegesto.A maioria dos trabalhos de produo envolvem uma boa quantidade de conhecimento oculto ou distribudo e dependem da iniciativa dos trabalhadores em improvisar, aplicar as habilidades de novas maneiras, em face de eventos que so ou totalmente imprevisveis ou no podem ser plenamente previstos. Hierarquias rgidas e regras de trabalho rgidas s funcionam em um ambiente previsvel. Quando o ambiente imprevisvel, a chave para o sucesso reside em capacitao e autonomia para aqueles em contato direto com a situao.O problema com relaes de autoridade em uma hierarquia que, dado o conflito de interesses criado pela presena do poder, aqueles com autoridade no podem permitir discrio queles em contato direto com a situao. A estupidez sistemtica resulta, por necessidade, de uma situao em que uma hierarquia burocrtica deve desenvolver alguma mtrica para avaliar as habilidades ou a qualidade do trabalho de uma fora de trabalho

    16Ibid.,p.93.6

  • sobre cujo trabalho real eles no sabem nada, e cujos interesses materiais militam contra remediar a ignorncia da gesto. Quando a gerncia no sabe (nas palavras de Paul Goodman) "o que um bom servio no trabalho ", eles so forados a confiar em mtricas arbitrrias.Regras de trabalho weberianas so necessrias porque os que esto no topo da pirmide no podem se dar ao luxo de permitir queles na parte inferior a discrio de usar seu prprio bom senso. J que a subordinada tem um conflito fundamental de interesses com o superior e no internaliza os benefcios da aplicao de sua inteligncia, ela no pode ser confivel para usar sua inteligncia em benefcio da organizao. Em tal relao de soma zero,qualquerpoderdiscricionriopodeserabusado.Por outro lado, os subordinados no podem se dar ao luxo de contribuir com o conhecimento necessrio para projetar um processo de trabalho eficiente. A analogia de R.A. Wilson da pessoa em posio de autoridade confrontando o subordinado como um "assaltante" boa. A parte com a reivindicao residual em qualquer instituio econmica como uma empresa comercial utilizar os poderes associados com a propriedade para obterumaparceladesproporcionaldoexcedente.Aqueles que carecem de participao acionria tero um incentivo correspondente a no investir o seu conhecimento e habilidades no desempenho da empresa. Assim, a abordagem mais racional para a maximizao da produtividade atribuir a reivindicao residual ou direitos de propriedade s partes interessadas, de acordo com a sua contribuioparaaprodutividade. 17

    Isso quase nunca acontece, porque do interesse prprio percebido da gesto se envolver em auto negociao, mesmo custa da produtividade geral da empresa. Assim, os trabalhadores em vez disso, acumulam conhecimento e minimizam sua legibilidade (nos termos de James Scott) para a gesto, e minimizam a chance de que o aumento da produtividade resultante de seu conhecimento oculto seja usado contra eles ou expropriados. Por isso, as hierarquias so uma maneira muito ineficiente de organizar a atividade, do ponto de vista do aproveitamento de todas as capacidades e conhecimentos dostrabalhadores.Mas quando dada uma escolha entre eficincia e controle entre um bolo maior e uma fatia maior de um bolo menor a gesto geralmente prefere maximizar o tamanho da sua fatia em vez do tamanho do bolo. A hierarquia uma forma de organizar a atividade humana, de modo a facilitar a extrao de rendas dela, mesmo custa de uma severa degradao da eficincia.Sistemas de monitoramento, No. 4, so mais bem projetados quando "atores mais afetados pela trapaa [so colocados] em contato direto um com o outro". Por exemplo, em um sistema de rotao de irrigao o ator cujo turno o atual impedido de aumentar a seu turno alm de seu fim programado pela presena dos atores cujo turno o prximo,

    17 Sanford J. Grossman e Oliver D. Hart, The Costs and Benefits of Ownership: A Theory of Vertical andLateralIntegration,JournalofPoliticalEconomy94:4(1986),pp.716717.

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  • esperando ansiosamente para assumir. A prtica da vov de deixar uma criana cortar o 18

    bolo ao meio e outro escolher primeiro o exemplo clssico desse princpio. Em muitos casos, o monitoramento da utilizao dos outros de um bem comum "um subproduto natural do uso dos bens comuns". E o monitoramento bemsucedido encorajado pelas sanes e recompensas informais, por vezes to simples quanto a aprovao ou desaprovaosocialdeseusvizinhos. 19

    O custo de superviso da linha de frente , geralmente, cerca de um quarto do custo nas cooperativas de compensado de madeira do noroeste do Pacfico do que em operaes capitalistasconvencionais,porcausadoautomonitoramentodosempregados. 20

    Sob sanes graduadas, as multas modestas realmente servem como um regime de construo de confiana mtua. Usurios que entram em um sistema de governana desconfiados de que seus vizinhos violaro as regras e, assim, tendo um incentivo para desertar eles mesmos, iro, ao serem detectados e pagarem uma penalidade modesta, ser reassegurados de que a execuo crvel, a conformidade generalizada e eles podem esperarsebeneficiaremvezdeseremaproveitadosatravsdaparticipaonosistema.Haver sempre uma pequena minoria, claro, que so imunes a tais sanes morais. Mas a maioria com quem essas sanes de fato funcionam vai reduzir o custo de monitorar aquelesqueprecisamdevigilnciamaisestrita.Ostrom considera tambm as condies ideais para superar os custos de transao de melhorar de forma incremental um sistema de governana de RRC. Ela comea com a suposio de que os apropriadores esto "em um local remoto sob um regime poltico que basicamente indiferente ao que acontece em relao aos RRCs deste tipo", e, portanto, pouco provvel que interferira, seja para promover seja para impedir decises de governana locais. Sob tais condies, "a probabilidade dos apropriadores do RRC adotarem uma srie de mudanas incrementais em regras operacionais para a melhoria do bemestar comum estar positivamente relacionada com as seguintes caractersticas internas":

    1. A maioria dos apropriadores compartilha de um julgamento comum de que seroprejudicadossenoadotaremumaregraalternativa.

    2. A maioria dos apropriadores ser afetada de maneiras similares palas

    mudanaspropostasderegras.

    3. A maioria dos apropriadores valoriza altamente a continuao das atividades desteRRC...

    18Ostrom,GoverningtheCommons,p.95.19Ibid.,p.96.20 Edward S. Greenberg, Producer Cooperatives and Democratic Theory in Jackall and Levin, eds., WorkerCooperativesinAmerica(UniversityofCaliforniaPress,1986),p.193.

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  • 4. Os apropriadores encaram custos relativamente baixos de informao, transformaoeexecuo.

    5. A maioria dos apropriadores compartilha de normas generalizadas de

    reciprocidadeeconfianaquepodemserusadascomocapitalsocialinicial.

    6. OgrupoqueseapropriadoRRCrelativamentepequenoeestvel. 21

    Em outras palavras, as mesmas condies sob as quais a lista anterior de oito prrequisitos para uma governana bemsucedida de RRCs de Ostrom provavelmente seroencontradas,emprimeirolugar.Como veremos na prxima seo, estados exacerbaram os problemas inflando artificialmente a extenso das condies de fundo por exemplo, reas grandes e annimas de mercado com negcios pontuais, atomizao social, etc. em que no existem os prrequisitosdeOstromparaaautogovernanabemsucedida.A existncia de um estado intervencionista pode dificultar a formao de regimes locais de governana de RRC de uma outra maneira, mesmo quando as intenes so boas. Quando os locais em uma rea sem regimes de governana de RRC j em vigor esto cientes de um governo central com um interesse em regular os RRCs, a tentao de "esperar e ver" ser grandemente aumentada, na esperana de se aproveitar de uma poltica regulatria do governocentral. 22

    E, claro, a dificuldade enfrentada pelos oficiais de um governo central em obter conhecimento suficiente das condies locais para formular regras de governana to efetivas quanto aquelas projetadas pelos apropriadores locais em contato direto com as condies locais e a constante tentao de se desenvolver polticas uniformes para todas asjurisdiesimpediroaboagovernana. 23

    Centralizao, Atomizao e Sustentabilidade. Ostrom, pesquisando o valor das instituiesautoorganizadasdegovernana,escreve:

    ...seremos tanto mais pobres se as instituies auto organizadas no forem uma poro substancial do portflio institucional do sculo XXI. Muitas instituies nativas, desenvolvidas para governar e gerenciar recursos de reserva comum locais tem se provado capazes de possibilitar que os indivduos faam uso intensivo daqueles recursos no longo prazo sculos ou mesmo milnios sem destruir a delicada base de recursos da qual os indivduos e sua futura prognie dependem parasuasubsistncia...Sob bandeiras associadas com a conservao do meioambiente para geraes futuras, doadores internacionais, governos nacionais, organizaes

    21Ostrom,GoverningtheCommons,p.211.22Ibid.,p.213.23Ibid.,pp.213214.

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  • nogovernamentais internacionais, caridades nacionais e outros tm, em muitos casos, involuntariamente destrudo o prprio capital social os relacionamentos, normas, conhecimentos e compreenses compartilhados que tm sido usadas pelos usurios de recursos para sustentar a produtividade do capital natural ao longo dostempos.Estas instituies esto mais em perigo quando oficiais do governo central presumemqueelesnoexistem(ounosoefetivos). 24

    Infelizmente, o quadro ideolgico convencional para o entendimento de instituies de governana presume que o estado natural das coisas, ausente regras introduzidas a partir de cima, uma guerra Hobbesiana de todos contra todos a questo apropriada, seguese deste ponto de partida, quais polticas os governos deveriam formular para impor ordem aocaosdainteraovoluntria.Essa mentalidade representa sculos de hbitos arraigados de pensamento, resultantes de uma mudana de organizaes sociais primariamente (para a terminologia de James Scott em Seeing Like a State) "legveis" ou transparentes para as pessoas das comunidades locais organizadas horizontalmente e opacas para o estado para organizaes sociais que soprimariamente"legveis"paraoestadoapartirdecima. 25

    O tipo anterior de arquitetura, como descrito por Pyotr Kropotkin, era o que predominava nas cidades livres em rede da baixa idade mdia na Europa. O padro primrio de organizao social era horizontal (guildas, etc.), com as funes de certificao de qualidade e de reputao visando principalmente deixar a confiabilidade dos indivduos transparenteunsparaosoutros.Paraoestado,taisformaeslocaiseramopacas.Com o surgimento do estado absolutista, o foco primrio se tornou deixar a sociedade transparente (ou "legvel") a partir de cima. Coisas como a adoo sistemtica de sobrenomes de famlia que persistiam de uma gerao para a outra (e a sequncia, no sculo XX, de Nmeros de Seguro Social e outros nmeros de identificao do cidado), o mapeamento sistemtico de endereos urbanos para servios postais ou de emergncia, etc., foram todos para o propsito de torna a sociedade legvel para o estado. Como ns, o estadoquermanterocontroledeondesuascoisasestoeadivinheoquesomosns?Antes desta transformao, por exemplo, os sobrenomes existiam principalmente para a convenincia das pessoas em comunidades locais, de modo que pudessem se diferenciar umas das outras. Os sobrenomes eram adotados em uma base ad hoc para esclarecimento, quando havia algum perigo de confuso, e raramente continuavam de uma gerao para a outra. Se houvesse mltiplos Joos em uma vila, eles poderiam ser distinguidos em qualquer momento em particular por ofcio ("Joo Moleiro"), localizao ("Joo do Monte"), patronmico ("Joo filho de Ricardo"), etc. Em contraste, em todos

    24 Ostrom, "Neither Market Nor State: Governance of CommonPool Resources in the Twentyfirst Century", Palestra apresentada em 2 de Junho de 1994 no International Food Policy Research Institute, Washington,D.C.,p.2.25JamesScott,SeeingLikeaState(NewHavenandLondon:YaleUniversityPress,1998).

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  • lugares onde houve sobrenomes familiares com continuidade transgeracional, eles foram impostos por estados centralizados como uma maneira de catalogar e localizar a populao tornandoalegvelparaoestado,naterminologiadeScott. 26

    Durante a ascenso do Estado moderno, as instituies horizontais das cidades livres foram, na melhor das hipteses, apenas toleradas e geralmente nem isso. Kropotkin escreveu:

    Durante os trs sculos seguintes, os Estados, tanto na Europa quanto nestas ilhas, eliminaram todas as instituies nas quais a tendncia da ajuda mtua encontrara expresso. As comunidades aldes foram privadas de suas assembleias populares, de seus tribunais e de sua administrao independente suas terras foram confiscadas. As guildas foram espoliadas de suas posses e liberdades e submetidas ao controle, ao capricho e ao suborno dos funcionrios do Estado... Ensinavase nas universidades e do plpito que as instituies com as quais antigamente os homens expressavam suas necessidades de ajuda mtua no eram tolerveis em um Estado adequadamente organizado que apenas o Estado poderia representar os laos de unio entre seus sditos que o federalismo e o particularismo eram inimigos do progresso e que o Estado era o nico iniciador apropriado de novos desenvolvimentos. Por volta do final do sculo passado, os reis da Europa, o parlamento nestas ilhas e a Conveno revolucionria da Frana, embora estivessem em guerra entre si, concordaram em afirmar que nenhum tipo de associao independente entre cidados deve existir dentro do Estado... Nada de Estado dentro do Estado! S o Estado... deve cuidar de questes de interesse geral, enquanto os sditos deviam representar agregados frouxos de indivduos, sem vnculos particulares e obrigados a apelar ao governo toda vez que sentissem a pressodeumanecessidadecomum...A absoro de todas as funes sociais pelo Estado favoreceu necessariamente o desenvolvimento de um individualismo desenfreado e tacanho. medida que as obrigaes para com o Estado cresceram em nmero, os cidados iam sendo evidentementealiviadosdasobrigaesdeunsparacomosoutros. 27

    Da mesma forma, a preempo e absoro ou supresso de todas as funes regulatrias por parte do estado favoreceu o desenvolvimento de uma mentalidade pela qual os fornecedores de bens e servios foram dispensados de suas obrigaes de fornecer certificaes confiveis da qualidade de seus produtos para os consumidores e consumidores foram dispensados de suas obrigaes de controle da sua qualidade e da reputao dos vendedores. Era trabalho do estado cuidar desse negcio para ns, e ns noprecisamospreocuparnossascabeascomisso.Para realizar uma mudana de volta para a transparncia horizontal, ser necessrio superar um poderoso hbito cultural residual, entre o pblico em geral, de pensar em tais

    26Ibid.,pp.6473.27 Pyotr Kropotkin, Mutual Aid: A Factor of Evolution (New York: Doubleday, Page & Company, 1909), pp.226227

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  • coisas atravs dos olhos da mente do estado: ou seja, se "ns" no tivermos alguma forma de verificar o cumprimento de uma regulamentao atual ou outra, alguma empresa, em algum lugar, pode ser capaz de se safar de uma coisa ou outra. Temos que superar seiscentos anos, mais ou menos, de hbitos quase inatos de pensamento, nos quais o estado o guardio que tudo v da sociedade, nos protegendo da possibilidade de que algum,emalgumlugar,poderiafazeralgoerrado,se"asautoridades"nooimpedissem.No lugar desse hbito de pensamento, devemos pensar, em vez disso, em ns mesmos criando mecanismos com base em rede, para nos tornarmos to transparentes quanto possvel entre ns, enquanto fornecedores de bens e servios para evitar que as empresas se safem com mau comportamento, nos informando uns aos outros para evitar que vendamos mercadorias com defeito uns aos outros, para nos proteger de fraudes, etc. O estado tentou cooptar a retrica da horizontalidade (por exemplo, "Ns somos o governo"). Mas, na verdade, a criao de tais mecanismos longe de nos tornar transparentes para o estado regulatrio pode exigir medidas ativas para nos tornar opacos para o estado (por exemplo, criptografia, darknets, etc.) para a proteo contra as tentativas de suprimir tal autoorganizaolocalcontraosinteressesdosatorescorporativos.Precisamos perder o hbito centenrio de pensar sobre a "sociedade" como um mecanismo de eixoeraios e de ver o mundo vicariamente a partir da perspectiva imaginada do eixo e, em vez disso, pensar sobre ela como uma rede horizontal e visualizar as coisas a partir da perspectiva dos ns individuais que ocupamos. Precisamos perder o hbito de pensamento atravs do qual a transparncia a partir de cima sequer veio a ser percebida como uma questo em primeiro lugar. Porque as pessoas que esto vendo as coisas "de cima", na realidade,nonosrepresentamoutmqualquercoisaemcomumconosco.Tal mudana de perspectiva exigir, em particular, superar a hostilidade de liberais convencionais que tm o hbito de reagir visceral e negativamente, e por princpio, a qualquer coisa que no esteja sendo feita por "profissionais qualificados" ou pelas "autoridadesapropriadas".Sem dvida, liberais convencionais, com seu sistema de pensamento originandose, como o fez, como a ideologia dos gerentes e engenheiros que administravam as corporaes, agncias governamentais e outras organizaes gigantescas do final do sculo XIX e comeo do XX, desempenharam o mesmo papel para o nexo corporativoestatal que os politiquesdesempenharamparaosestadosabsolutosdocomeodaidademoderna.Em seu antigo programa na MSNBC, Keith Olbermann rotineiramente zombava das exortaes caridade e autoajuda, buscando imagens de caipiras do sculo XIX fazendo arrecadaes de celeiro, por falta de qualquer outra comparao suficiente, para deixar claro o quo retrgrado e ridculo esse tipo de coisa realmente era. No mundo de Olbermann, claro, tais ideias vm unicamente de conservadores. A nica escolha ideolgica entre o liberalismo gerencialista puro e simples e a Direita. No mundo de Olbermann, a Esquerda descentralista de Ivan Illich, Paul Goodman e Colin Ward "a 'Esquerda regressiva' de anarquistas, utpicos e visionrios, que tende a se manifestar apenas quando

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  • os genes dominantes como Lenin ou Harold Wilson esto fora fazendo alguma outra coisa", comoumdoseditoresdaRadicalTechnologycolocasequerexiste.Ajudar seu vizinho diretamente ou participar em uma sociedade fraternal ou mutual auto organizada aceitvel, em sua prpria maneira, claro se nada mais estiver disponvel. Mas carrega a mancha inescapvel no apenas do excntrico, mas do provinciano e do reles muito parecido com a estigmatizao do po caseiro e dos vegetais caseiros na propaganda corporativa no comeo do sculo XX, falando nisso. Pessoas que ajudam umas s outras ou se organizam voluntariamente para compartilhar riscos e custos devem ser louvadas com apenas o menor indcio de condescendncia por heroicamente fazer o melhor que podem em uma era de servios sociais implacavelmente reduzidos. Mas que as pessoas sejam foradas a recorrer a tais expedientes, em vez de encontrar todas as suas necessidades de rede de segurana social atravs de uma nica sesso de compras no escritrio do Ministrio de Servios Centrais em uma construo monumental gigantesca com uma esttua de uma vitria alada no saguo, a la Brazil, uma acusao grave contra qualquer sociedade civilizada. A sociedade progressista uma de cidados confortveis e bemalimentados, administrados de forma competente por autoridades apropriadamente credenciadas, vagueando contentemente como formigas s sombras de construes de quilmetros de altura que parecem que foram projetadas por Albert Speer. E esse tipo de utopia de H. G. Wells simplesmente no tem espao para atavismos como arrecadao em celeirosouumaassociaoembenefciodosenfermos.No apenas Ostrom desafia as suposies autoritrias da viso recebida, como o foco de seu trabalho quase inteiramente nos fatores que fomentam a legibilidade horizontal na formaoderedesdeconfiana.

    ...refoca a anlise, saindo de uma suposio que os indivduos esto irremediavelmente presos em uma situao da qual no conseguem se arrancar sem uma autoridade externa que decida o que deveria ser feito e imponha essa deciso aos participantes. Perguntar o que "o" governo deveria fazer assume que atores externos sempre apresentaro decises sbias e as implementaro efetiva e razoavelmente. A perspectiva deste captulo leva o analista a inquirir como indivduos que encaram problemas de comuns podem obter a confiana de que os outros so confiveis e de que um cooperador no ser um idiota que contribui enquanto outros continuam a seaproveitar. 28

    Deveramos estar perguntando como diferentes instituies auxiliam ou enfraquecem as normas de reciprocidade, em vez de simplesmente presumir que uma autoridade central necessria para impor as regras relacionadas cooperaoaosparticipantes... 29

    Elalistaumasriadefatoresquefacilitamacriaodeumagarantiadebenscomuns:

    28Ostrom,BuildingTrusttoSolveCommonsDilemmas,pp.1213.29Ibid.,p.25.

    13

  • Quando a estrutura de uma situao incluir interaes repetidas, o nvel de cooperao alcanado provavelmente aumentar naqueles contextos em que os seguintesatributosocorrerem

    4. Informaosobreaespassadassocolocadasdisposio

    5. Interaesrepetidasocorrementreomesmoconjuntodeparticipantes

    6. Os participantes conseguem sinalizar uns aos outros enviando informaes prestruturadas

    7. So adotadas e aplicadas prescries que, quando seguidas, de fato levam a

    resultadosmaiores

    8. Os participantes so capazes de se envolverem em comunicao plena (atravs da escrita ou de "salas de batepapo" sem conhecerem a identidade dosoutrosenvolvidos)

    9. Os participantes so capazes e se envolverem com outros conhecidos

    (atravs de discusses faceaface ou de outros mecanismos) Alm da comunicao, os participantes podem sancionar (ou recompensar) uns aos outrospelasaespassadasquetomarame

    10. Os participantes podem projetar suas prprias regras em relao aos nveis

    de cooperao e s sanes que devem ser atribudas queles que no seguiremasregrasacordadas. 30

    A comunicao central para o modelo de Ostrom para a formulao de sistemas viveis degovernana.A"teoriapura"portrsdojogodoDilemadoPrisioneiro,elaescreve,

    sobre indivduos que no conhecem um ao outro, no compartilham uma histria comum e no podem se comunicar um com o outro. Neste modelo, a teoria dos jogos prev que os indivduos usando conjuntamente um bem comum iro consumir excessivamente,levando"TragdiadosComuns"deHardin(1968)..... Quando um conjunto de sujeitos annimos toma decises, sem comunicao, sobre a apropriao de um recurso de reserva comum, uma nica vez ou repetida de maneira finita, em um ambiente de laboratrio em embasado na teoria bioeconmica de Gordon (1954), eles se comportam largamente como a teoria dos jogos prev.... Eles consomem em excesso.... Isto, contudo, no o fim da histria. Fazendo uma simples mudana no desenho de um experimento de laboratrio, permitindo que os participantes se envolvam comunicao faceaface (conversa fiada), lhes possibilita reduzir o consumo excessivo substancialmente.... Quando dados a chance de se comunicar, a maioria dos sujeitos primeiro tenta descobrir

    30Ibid.,p.22.14

  • qual a melhor estratgia conjunta. Os sujeitos que so mais bemsucedidos usam a comunicao para ajudar a construir uma identidade de grupo e um comprometimento de seguir a estratgia acordada entre eles... O comportamento muda dramaticamente e os sujeitos aumentam grandemente seus retornos conjuntos....... Mais ainda, quando dados uma oportunidade de desenvolver suas prprias regras de sancionamento, aqueles que adotam suas prprias regras tendem a seguir estas regras rigorosamente, alcanam retornos conjuntos maiores e o uso da punio cai a quase zero (Ostrom et al. 1992). Em paralelo a descobertas em laboratrio, pesquisadores de campo registraram um grande nmero de cenrios empricos em que aqueles diretamente envolvidos em um comum desenvolveram, adotaram e monitoraram eles mesmos as regras que ao longo do tempo levaram a instituiesrobustasderecursosdereservacomum.... 31

    interessante que no apenas os resultados patolgicos no jogo do Dilema do Prisioneiro dependem de impedir a comunicao horizontal, mas os resultados do Experimento de Milgram dependeram de isolar totalmente cada sujeito em face autoridade essencialmente a estratgia de "individualizao" que Foucault descreveu em Vigiar e Punir. O comportamento prsocial e cooperativo depende das pessoas estarem em situaes contnuas com canais de comunicao horizontais, nos quais elas sabem que estaro lidando umas com as outras no futuro e tm um incentivo para no cagar onde comem.Em outro lugar, as normas compartilhadas figuram proeminentemente na lista de Ostrom dos atributos de comunidade que so relevantes para sistemas locais sustentveis de regrasparasegovernarrecursoscomuns:

    os valores de comportamento geralmente aceitos na comunidade o nvel de entendimento comum que os participantes em potencial compartilham... sobre a estrutura de tipos particulares de arenas de ao a medida da homogeneidade nas preferncias daqueles que vivem em uma comunidade o tamanho e a composio da comunidade relevante e a medida de desigualdade de ativos bsicos entre aquelesafetados. 32

    Normas culturais locais compartilhadas e modelos cognitivos para se interpretar o comportamento dos outros so importantes para um sistema sustentvel de regras. 33

    Quando os participantes compartilham normas culturais contra a desero, eles provavelmente se comportaro de maneira mais cooperativa do que a teoria dos jogos, baseadaemconsideraespuramentemaximizadorasdeutilidade,prediria. 34

    31 Elinor Ostrom. "Building Trust to Solve Commons Dilemmas: Taking Small Steps to Test an Evolving Theory of Collective Action", Workshop em Teoria Poltica e Anlise Poltica. Indiana University. Center fortheStudyofInstitutionalDiversity(ArizonaStateUniversity,2008),pp.23.32 Ostrom, Understanding Institutional Diversity (Princeton and Oxford: Princeton University Press, 2005),pp.2627.33Ibid.,pp.106108.34Ibid.,p.122.

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  • Claro, os indivduos comeam com mais inclinao inata cooperao do que a teoria dos jogos prediria. Ostrom ecoa a abordagem cooperativa de Kropotkin psicologia evolutiva a respeitodisso:

    A evoluo humana ocorreu majoritariamente durante a longa era do Pleistoceno, que durou por volta de 3 milhes de anos at cerca de 10.000 anos atrs. Durante esta era, os humanos andavam pela terra em pequenos bandos de caadorescoletores que eram dependentes uns dos outros para proteo mtua, compartilhamento de comida e proviso para os jovens. A sobrevivncia era dependente no apenas de buscar agressivamente retornos individuais, mas tambm de resolver muitos problemas cotidianos de ao coletiva. Aqueles de nossos ancestrais que resolviam estes problemas mais efetivamente e aprendiam como reconhecer quem era traioeiro e quem era um reciprocador confivel tinha uma vantagem seletiva sobre aqueles que no o faziam.... Os humanos adquiriram habilidades bem afiadas de reconhecimento facial e fortes capacidades de detectar trapaa. Pesquisas fornecem evidncia de que os humanos mantm contas internas aproximadastantodeboavontade...quantodeameaas... 35

    Alm de tudo isso, o comportamento tambm evolui em um padro Lamarckiano, com estratgias bemsucedidas rapidamente se popularizando e sendo propagadas culturalmente. 36

    Os indivduos tambm esto mais propensos a se comportar cooperativamente e a formular um conjunto sustentvel de regras de governana, se estiverem engajados em um relacionamento contnuo no qual a desero no presente tem consequncias no futuro e a confiana aumenta com a interao continuada, em vez de em uma troca pontual com pessoas que no se vero novamente. Os resultados dos jogos do Dilema do Prisioneiro variam bastante, dependendo de "se os participantes esto engajados em um encontro pontualouaolongodeumasequnciaindefinidamentelongadepartidas" .37

    A questo no simplesmente se estados no necessrios para se criar sistemas de governana cooperativa. O modelo de capitalismo corporativo promovido pelos estados modernos, sem dvidas, fomenta nveis de centralizao, atomizao e anonimidade que minam diretamente as condies necessrias para sistemas estveis de regras de governana local e, em vez disso, so conducentes a adoo individual de estratgias egostasracionais,scustasdeoutrasmaiscooperativas.Como William Gillis coloca, "Os estados criam ambientes da teoria dos jogos em torno de suasperiferiasquesuprimemacooperaoerecompensamestratgiasantisociais" .38

    35Ibid.,p.125.36Ibid.,pp.126127.37Ibid.,p.53.38 William Gillis, The Retreat of the Immediate, Center for a Stateless Society, November 17, 2013 .

    16

  • O capital social incorporado nos sistemas auto organizados de governana levam geraes de experincia vivida para se construir e pode ser rapidamente dissipado quando polticas estataislhesodestrutivas.

    Os aspectos cognitivos compartilhados do capital social ajudam a explicar duas de suas caractersticas incomuns que diferem daquelas do capital fsico. Primeiro, o capital social no se desgasta quanto mais usado. Ele pode, na verdade, melhorar com o uso, contanto que os participantes continuem a manter os compromissos anteriores. Usar o capital social para um propsito inicial cria entendimento mtuo e maneiras de se relacionar que podem frequentemente ser usadas para realizar atividades conjuntas inteiramente diferentes a custos iniciais muito mais baixos. No que as curvas de aprendizado para novas atividades desapaream inteiramente. Em vez disso, uma das seces mais ngremes de uma curva de aprendizagem aprender a assumir compromissos e a confiar um no outro em uma empreitada conjunta j foi superada. Um grupo que aprendeu a trabalhar junto de maneira efetiva em uma tarefa pode assumir outras tarefas similares a um custo, em tempo e esforo, que bem menor do que reunir um grupo inteiramente novo que tem que aprender tudo desde o princpio. A fungibilidade do capital social, claro, est limitada a atividade largamente similares. Nenhuma ferramenta til para todas as tarefas. O capital social que est bem adaptado a um amplo conjunto de atividades conjuntas pode no ser facilmente moldado a atividades que requerem padres vastamente diferentes de expectativas, autoridade e distribuio de recompensas e custos do queaquelesusadosnasatividadesiniciais.Segundo, se no utilizado, o capital social deteriora a uma taxa relativamente rpida. Indivduos que no exercitam suas prprias habilidades podem perder capital humano relativamente rpido. Quando diversos indivduos tm todos que se lembrar da mesma rotina, da mesma maneira, contudo, a probabilidade de que pelo menos um deles se esquea de algum aspecto aumenta rapidamente ao longo do tempo. Alm disso, conforme o tempo passa, alguns indivduos deixam e outros entram no grupo social. Se os recmchegados no forem introduzidos a um padro estabelecido de interao conforme eles entram (atravs de formao profissional, iniciao ou qualquer uma da mirade de outras maneiras em que o capital social passado de uma gerao para a prxima), o capital social pode se dissipar atravs da no utilizao. E a ningum est bem certo de como uma atividade conjunta em particular costumava ser feita. Ou o grupo tem que pagar alguns dos custos iniciais mais uma vez ou renunciar s vantagens conjuntas que haviam alcanado em um momentoanterior. 39

    Autoridade, Legibilidade e Alto Modernismo Autoritrio: Folheando James Scott. De acordo com Ostrom, a maior parte da literatura "omissa" sobre questes que envolvem os fatores que influenciam a adoo de regras de governana de recursos de reserva comum por parte dos apropriadores, "uma vez que se faz a presuno, nesta literatura, de que criar

    39Ostrom,NeitherMarketNorState,p.21.17

  • polticas o que oficiais do governo, e no aqueles que so diretamente afetados pelos problemas,fazem" .40

    Infelizmente da perspectiva dos oficiais do governo, em todo caso os tipos de polticas criadas por oficiais do governo, em vez daqueles diretamente afetados pelos problemas, quase sempre resultam em estupidez, irracionalidade e suboptimalidade. Na verdade, isto verdadeiro sobre todas as situaes incluindo decises por parte da gerncia corporativa em que regras embasadas em autoridade se sobrepem o julgamento daqueles em contato diretocomumasituao.Ostrom cita uma ampla gama de estudo que mostram que "agncias governamentais nacionais tm sido notavelmente malsucedidas em seus esforos de projetar conjuntos efetivos e uniformes de regras para regular importantes recursos de reserva comum ao longo de um amplo domnio", incluindo polticas governamentais de nacionalizao de florestas, reas de pesca, etc., anteriormente governadas pelos grupos usurios locais. 41

    Muitos pases em desenvolvimento recentemente independentes nacionalizaram recursos terrestres e hdricos no perodo a partir da dcada de 1950 at os anos 1970, com resultadosdecepcionantes.

    Os arranjos institucionais que os usurios de recursos locais haviam concebido para limitar a entrada e o uso perderam seu estatuto jurdico. Os governos nacionais que assumiram estas novas e difceis tarefas careciam de fundos e pessoal adequados para monitorar o uso de recursos efetivamente. Eles frequentemente se voltaram para firmas privadas de silvicultura para obter receitas a partir destes recursos. Governos nestes pases queriam converter recursos de reserva comum em um regime de jure de propriedade governamental, mas suas aes frequentemente resultaram em regimes de facto de acesso livre.... Os incentivos de um bem comum de acesso livre foram acentuados, uma vez que os usurios locais haviam sido especificamente informados de que no receberiam os benefcios de longo prazo de seusprprioscustososesforosdemanejo. 42

    Conforme a preocupao com a proteo dos recursos naturais escalou durante os anos 1960, todos os pases em desenvolvimento nacionalizaram todos os recursos terrestres e hdricos que ainda no haviam sido registrados como propriedade privada. Os arranjos institucionais que os usurios de recursos locais haviam concebido para limitar a entrada e o uso perderam seu estatuto jurdico, mas os governos nacionais careciam de recursos monetrios e pessoal para monitorar o uso destes recursos efetivamente. Assim, recursos que haviam estado sob um regime de facto de propriedade comum aplicado pelos usurios locais foram convertidos a um regime de jure de propriedade governamental, mas se reverteram a um regime de facto de acesso livre. Quando recursos que eram anteriormente controlados por participantes locais foram nacionalizados, o controle estatal usualmente provou ser menos efetivo e eficiente do que o controle por parte daqueles diretamente afetados,

    40Ostrom,UnderstandingInstitutionalDiversity,p.220.41Ibid.,p.22142Ibid.,pp.221222.

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  • se no desastroso em suas consequncias... Os efeitos prejudiciais de se nacionalizar florestas que haviam sido anteriormente governados por grupos usurios locais tm sido bem documentados na Tailndia..., Nepal... e ndia... Resultados similares ocorreram em relao a reas de pesca costeiras tomadas por agncias estaduais ou nacionais do controle local por parte dos prprios pescadores costeiros... 43

    Duas coisas so dignas de nota aqui. Primeiro, relaes de autoridade criam problemas tanto de conhecimento quanto de incentivo que resultam da internalizao deficiente. O principal efeito da autoridade dissociar o poder de tomada de deciso tanto do conhecimento situacional quanto da experincia das consequncias da deciso. Isto parece lgico, uma vez que o poder , por definio, a capacidade de sobrepor o julgamento de outros, deslocar os custos para outros e se apropriar dos benefcios para si mesmo. Privar os usurios dos comuns dos benefcios de um manejo sbio de recursos de reserva comum destriseuincentivoparamonitorareficientementeefazercumprirautilizao.Isto nos leva ao segundo ponto digno de nota: polticas adotas por aqueles com autoridade frequentemente refletem um relacionamento de soma zero entre seus interesses e os daqueles sobre quem eles exercem autoridade, na qual o efeito prtico de uma poltica a despeito de seu enquadramento e legitimao ideolgica em termos de "eficincia", "conservao" ou algum outro tipo de considerao de "bemestar geral" promover diretamente os interesses das autoridades e de seus aliados s custas dos governados. A referncia a relacionamentos colusivos entre autoridades regulamentadoras e firmas privadasdesilviculturanacitaoacimaumexemploclssicodisso.Ostrom prossegue citando descobertas de que "sistemas de irrigao governamentais em larga escala no tendem a ter um desempenho no mesmo nvel que sistemas de pequena escala gerido por fazendeiros", e "em termos de intensidade de cultivo e produo agrcola, sistemas de irrigao construdos de maneira rudimentar usando barro, pedra, madeira e gravetos tm um desempenho significativamente superior a sistemas construdos com concretomodernoeestruturasdecaptaodeferrooperadosporagnciasnacionais" .44

    O conhecimento situacional dos participantes a chave para se governar sistemas adaptativos complexos. E, uma vez que o nmero total de componentes possveis de uma poltica grande demais para um tomador de deciso considerar todas as suas combinaes possveis, a abordagem mais bemsucedida tomada de deciso , muitas vezes, selecionar a partir de uma srie de possveis combinaes com base na intuio e no desempenho passado combinados com a capacidade daqueles em contato com a situao de retocar e ajustar rapidamente em face do retorno imediato. Ostrom usa o exemplodoprojetodeaeronaves.

    Por tempo demais, cientistas sociais visualizaram a fsica de sistemas estticos e simples como o modelo de cincia que deveramos tentar emular. Aqueles que

    43 Elinor Ostrom e Charlotte Hess. Private and Common Property Rights", Workshop em Teoria Poltica eAnlisePoltica,IndianaUniversityW072511/29/07,pp.78.44Ostrom,UnderstandingInstitutionalDiversity,p.222.

    19

  • querem emular a cincia de sistemas estticos e simples esto grosseiramente desatualizados quando se trata de entender a cincia contempornea e particularmente a engenharia contempornea. Os engenheiros responsveis pelos projetos de avies e pontes e, agora, computadores tm h muito lidado com sistemas dinmicos complexos. O Boeing 777, por exemplo, tem 150.000 subsistemas distintos que so compostos, em alguns casos, de componentes altamentecomplexos.Os engenheiros de projeto de sistemas complexos h muito perderam a esperana de sequer fazer anlises completas de todas as combinaes de subsistemas sob todas as combinaes de condies ambientais externas. Obviamente, eles investem pesadamente em testar diversos elementos de projeto sob uma variedade de condies. Testar projetos construindo modelos, usando tuneis de vento e simulaes de computador, aumenta a probabilidade de que os engenheiros consigam produzir uma combinao vivel de elementos de projetos que sejam robustos sob muitas condies. Eles tambm investem em sistemas de apoio complexos que permitem que estes sistemas projetados alcancem um alto grau de robustez o que significa a capacidade de manter algumas caractersticas desejadas do sistema sob mudanas nas condies. Todos esses sistemas robustos so, contudo, frgeis a uma variedade de pequenas perturbaes... Perturbaes pequenas e raras podem causar uma cascata desastrosa de falha em qualquer sistemaprojetadoaltamentecomplexo.Em vez de assumir que conceber regras que se aproximam da optimalidade, ou mesmo melhorem o desempenho, seja uma tarefa analtica relativamente simples que pode ser realizada por analistas distantes e objetivos, precisamos entender o processo de elaborao de polticas como envolvendo um esforo para mexer com uma grande nmero de partes componentes... Aqueles que mexem com quaisquer ferramentas inclusive regras esto tentando encontrar combinaes que funcionem juntas mais efetivamente do que outras combinaes. Mudanas de polticas so experimentos embasados em expectativas mais ou menos informadas sobre resultados potenciais.... Quando quer que os indivduos decidam adicionar uma regra, mudar uma regra ou adotar um conjunto de regras proposto por alguma outra pessoa, eles esto conduzindo um experimento de polticas. Mais ainda, a complexidade do mundo biofsico e socioeconmico, em constante mutao, combinada com a complexidade dos sistemas de regras significam que qualquer mudanaderegraspropostaencaraumaprobabilidadenotrivialdeerro. 45

    Ostrom ento descreve uma abordagem vivel para a formulao de regras de governana pararecursosdereservacomum,baseadanaanalogiadaengenharia:

    Oficiais e/ou os prprios apropriadores podem tentar melhorar o desempenho mudando uma ou mais regras em um processo adaptativo. Os participantes adaptam as regras, normas e estratgias de seus pais e ancies, assim como

    45Ibid.,pp.242243.20

  • aquelas que so vistas como altamente bemsucedidas em uma cultura em particular. Eles aprendem sobre sistemas de vizinhana que funcionam melhor do que o seu e tentam discernir quais regras esto ajudando seus vizinhos a se sair melhor. Agentes humanos tentam usar a razo e a persuaso em seus esforos para conceber regras melhores, mas o processo de escolha a partir de uma vasta gama de regras que eles poderiam usar sempre envolve experimentao. Sistemas auto organizados de governana de recursos usam muitos tipos de regras de deciso para fazer escolhas coletivas, indo do adiamento ao julgamento de uma pessoaouancio,aousodovotodamaioriaeinvocaodeunanimidade. 46

    E ela lista variveis que aumentam a probabilidade de os apropriadores melhorarem as regrasdegovernanacomsucessoemfacedaexperincia:

    AtributosdoRecurso

    [R1]. Melhoria vivel: As condies do recurso no so esto em um ponto de deteriorao tal que seja intil organizar ou to subutilizado que pouca vantagemresultedaorganizao.

    [R2]. Indicadores: Indicadores confiveis e vlidos da condio do sistema de

    recursosestofrequentementedisponveisaumcustorelativamentebaixo.

    [R3]. Previsibilidade:Ofluxodeunidadesderecursorelativamenteprevisvel.

    [R4]. Extenso espacial: O sistema de recursos suficientemente pequeno, dada a tecnologia de transporte e comunicao em uso, que os apropriadores podem desenvolver conhecimento acurado dos limites externosedosmicroambientesinternos.

    AtributosdosApropriadores

    [A1]. Salincia: Os apropriadores dependem do sistema de recursos para uma poro majoritria de seu sustento ou para a realizao de valores sociais ou religiososimportantes.

    [A2]. Entendimento comum: Os apropriadores tm uma imagem compartilhada

    de como o sistema de recursos opera (atributos R1, 2, 3 e 4 acima) e como suasaesafetamunsaosoutroseaosistemaderecursos.

    [A3]. Baixa taxa de abatimento: Os apropriadores usam uma taxa de

    abatimento suficientemente baixa em relao aos benefcios futuros a serem alcanaapartirdorecurso.

    46Ibid.,p.244.21

  • [A4]. Confiana e reciprocidade: Os apropriadores confiam uns nos outros para cumprirpromessaseserelacionamunscomosoutroscomreciprocidade.

    [A5]. Autonomia: Os apropriadores so capazes de determinar as regras de

    acessoedecolheitasemqueautoridadesexternaslhesanulem.

    [A6]. Experincia organizacional anterior e liderana local: Os apropriadores aprenderam pelo menos habilidade mnimas de organizao e liderana atravs da participao em outras associaes locais ou aprendendo sobre asmaneirasemquegruposvizinhostmseorganizado. 47

    Claro, estes so todos atributos facilitados pelo terceiro princpio de Ostrom para a governana de recursos de reserva comum em Governing the Commons: "arranjos de escolhacoletiva".

    O terceiro princpio que a maioria dos indivduos afetados por um regime de recursos esto autorizados a participar na produo e modificao de suas regras. Regimes de recursos que usam este princpio so mais capazes tanto de adequar as regras s circunstncias locais quanto de conceber regras que sejam consideradas justas pelos participantes. Conforme os ambientes mudam ao longo do tempo, ser capaz de criar as regras locais particularmente importante, j que oficiais localizados muito longe no sabem da mudana. Quando uma elite local empoderada no nvel de escolha coletiva, polticas que beneficiam primariamente a elaspodemseresperadas...Em um estudo de quarenta e oito sistemas de irrigao na ndia, Bardhan (2000) descobriu que a qualidade da manuteno de canais de irrigao significantemente menor naqueles sistemas em que os fazendeiros percebem que as regras foram feitas por uma elite local. Por outro lado, aqueles fazendeiros (dos 480 entrevistados) que responderam que as regras para seu sistema foram criadas pela maioria dos fazendeiros, em vez de pela elite ou pelo governo, tm uma atitude mais positiva sobre as regras de alocao de gua e sobre a adeso s regras por parte dos outros fazendeiros. Alm disso, em todas as vilas em que uma agncia governamental decide como a gua deve ser alocada e distribuda, violaes frequentes das regras so reportadas e os fazendeiros tendem a contribuir menos para o fundo local da vila. Consistente com isto a descoberta de Ray e Williams (1999) de que a perda de peso morto de fazendeiros a montante roubando gua em sistemas de irrigao de propriedade governamental em Maharashtra, ndia, se aproxima de um quarto das receitas que poderiam ser obtidas em um regime eficientedealocaoeprecificaodegua.Knox e MeinzenDick (2001, 22) notam que os direitos de propriedade "tem uma probabilidade significativamente maior de atender aos interesses e necessidade da populao local quando no so impostos a partir do exterior, mas, antes, so

    47Ibid.,pp.244245.22

  • embasados nos direitos existentes e refletem os valores e normas locais". Como eles apontam, estas regras tomam tempo e esforo para desenvolver, testar, modificar e ento experimentar novamente. Usurios que estiveram engajados neste processo por algum tempo entendem as regras que eles criaram, concordam sobre por que esto usando uma regra em vez da outra e tendem a seguir suas prprias regras em uma medida maior do que aquelas que lhes so impostas. Sekher (2000) conduziu um estudo de vilas em Orissa, ndia, que variavam em relao medida da participao dos aldees locais na criao das regras relacionadas a florestas prximas que eles usavam. Ele descobriu que quanto "mais ampla a representao da comunidade na organizao, melhor so suas chances de assegurar a cooperao local e confirmao das regras para a gesto e preservao do recurso"...Em um estudo comparativo de sistemas de irrigao projetados e governados por fazendeiros (FMIS, "farmerdesigned and governed irrigation systems"), em contraste com aqueles projetados e operados por engenheiros sem o envolvimento dos fazendeiros na criao de regras para governas esses sistemas, Shukla (2002, 83), ele prprio um engenheiro hdrico, relativamente crtico de "planejamento e projeto irrealistas, desenvolvimento incompleto, um programa de manuteno inadequado e no sistemtico, operao deficitria e falta de participao dos usurios" que caracterizam muitos desses sistemas no Nepal. Com base em pesquisa anterior de Pant and Lohani (1983), Yoder (1994), Lam (1998), and Pradhan (1989), Shukla identifica o seguinte como pontos fortes dos sistemas projetados por fazendeiros: "(1) Suas deficincias tcnicas so compensadas por insumos de gerenciamento (2) so de baixo custo e embasados em recursos locais (3) organizaes de irrigao efetivas existem na maioria dos FMIS (4) a maioria dos FMIS tem regras e papeis bem definidos para a alocao e distribuio de gua, mobilizao de recursos e resoluo de conflitos e (5) os lderes desses sistemas respondemaosusurios... 48

    Inversamente, eles so minados por polticas estatais que promovam como consideramos naseoanteriorcentralizao,atomizaosocialeanonimidade.Ostrom argumenta que os regimes de polticas de governos centrais so relevantes principalmente na medida em que eles facilitam ou obstruem os esforos locais primrios de formular regras de governana. A melhor abordagem do governo central simplesmente fornecer informao e uma atmosfera de apoio sem interferncia ativa. Ela apresenta, como umcasoideal,oU.S.GeologicalSurvey:

    Deixeme usar o exemplo do importante papel que o U.S. Geological Survey desempenhou no desenvolvimento de instituies locais mais efetivas de guas subterrneas em algumas partes dos Estados Unidos. O que importante enfatizar que o Geological Survey no constri obras de engenharia nem faz qualquer coisa alm de obter e disseminar informao precisa sobre estruturas hidrolgicas e

    48Ibid.,pp.263265.23

  • geolgicas dentro dos Estados Unidos. Quando um conjunto local de usurios de gua quer obter melhores informaes sobre uma bacia local de gua subterrneas, eles podem fazer um contrato com o Geological Survey para conduzir um estudo intensivo na rea. Os produtores de gua pagariam uma poro do custo de tal pesquisa. O Geological Survey pagaria a outra poro. A informao contida em tal pesquisa , ento, informao pblica disponvel para todas as partes interessadas. O Geological Survey emprega um pessoal altamente profissional que conta com as tcnicas cientficas mais recentes para determinar a estrutura e condio das bacias de guas subterrneas. Produtores locais de gua obtm a melhor informao disponvel de uma agncia que no est tentando empurrar nenhum projeto futuro emparticularqueaagnciaestejainteressadaemconduzir. 49

    A coisa interessante que esta funo fornecer uma reserva comum de informao aproximadamente to prximo quanto qualquer funo governamental pode chegar da nocoercitiva "administrao das coisas". Ao se considerar como a mesma funo poderia ser fornecida por instituies completamente fora do framework estatal, modelos de rede/crowdsource,comoaastronomiaamadora,podemserrelevantes.Em todo caso, as vantagens de conhecimento concreto que Ostrom lista para a governana local por parte dos usurios de recursos de reserva comum so coisas que tanto Friedrich HayekquantoJamesScottreconheceriam:

    Conhecimento local. Os apropriadores que viveram e se apropriaram de um sistema de recursos ao longo de um longo perodo de tempo desenvolveram modelos mentais relativamente precisos de como o sistema biofsico em si opera, uma vez que o prprio sucesso de seus esforos de apropriao depende de tal conhecimento. Eles tambm conhecem bem os outros que vivem na rea e quais normasdecomportamentosoconsideradasapropriadas.Incluso de participantes confiveis. Os apropriadores conseguem conceber regras que aumentar a probabilidade de que os outros sero confiveis e usaro da reciprocidade. Isto diminui o custo de depender inteiramente de sanes formais e depagarporguardaextensiva.Confiana no conhecimento desagregado. O retorno sobre como o sistema de recursos responde a mudanas nas aes dos apropriadores fornecido de uma maneira desagregada. Pescadores esto bastante cientes, por exemplo, se o tamanho e distribuio de espcies de sua pesca esto mudando ao longo do tempo. Irrigadores aprendem se um sistema de rotao em particular permite que a maioria dos fazendeiros cultivem as culturas que eles mais preferem ao examinar a produtividaderesultantedecamposespecficos.

    49Ibid.,pp.278279.24

  • Regras mais bem adaptadas. Dado o acima exposto, os apropriadores esto mais propensos a criar regras ao longo do tempo que esto melhor adaptadas a cada um dosrecursosdereservacomumlocaisdoquequalquersistemageralderegras.Custos de execuo menores. Uma vez que os apropriadores locais tm que arcar com o custo de monitoramento, eles esto aptos a criar regras que tornem as infraes altamente bvias, de modo que os custos de monitoramento sejam menores. Alm disso, ao criarem regras que parecem legtimas, a conformao s regrastenderasermaior.Sistemas autnomos paralelos. A probabilidade de falha ao longo de uma grande regio grandemente reduzida pelo estabelecimento de sistemas paralelos de criao,interpretaoeexecuoderegras. 50

    Alm das questes cognitivas, uma razo pela qual os sistemas impostos a partir de fora por autoridades centrais so to propensos a falhas que eles so percebidos como ilegtimos.ComoOstromnota:

    Se os indivduos voluntariamente participam de uma situao, eles devem compartilhar algum senso geral de que a maioria das regras que governam a situao apropriada. De outra forma, o custo de execuo dentro de atividades voluntrias se torna alto o suficiente para que seja difcil, se no impossvel, manter aprevisibilidadeemumaatividadevoluntriacontnua. 51

    As pessoas so instintivamente alienadas por sistemas de regras nos quais elas se sintam impotentes, e questionam a legitimidade de regras impostas por uma autoridade sobre quemelasnotmqualquercontrole.

    a pesquisa psicolgica fornece evidncia de que a motivao intrnseca positiva aumentada quando os indivduos sentem que sua prpria autodeterminao ou autoestima reforada... Isto leva possibilidade de que a motivao intrnseca possa ser "eviccionada" em situaes em que os indivduos no se percebam como tendoautocontrolesuficientesobreasaesquetomam. 52

    Ostrom prossegue citando uma srie de experimentos que fornecem "forte evidncia para a evico da reciprocidade atravs da imposio de sanes externas", citando os resultados deumadeque:

    1. Intervenes externas eviccionam a motivao intrnseca se os indivduos afetados as percebem como sendo controladoras. Nesse caso, tanto a autodeterminao quanto a autoestima sofrem, e os indivduos reagem reduzindosuamotivaointrnsecapelaatividadecontrolada.

    50Ibid.,pp.281282.51Ibid.,p.21.52Ibid.,p.112.

    25

  • 2. Intervenes externas inserem motivao intrnseca se os indivduos interessados a percebem como solidrias. Nesse caso, a autoestima fomentada, e os indivduos sentem que lhes dada mais liberdade para agir, oqueampliaaautodeterminao. 53

    Isto est intimamente associado tendncia de regras externas impostas de "'eviccionar' o comportamento cooperativo endgeno". Em um experimento, jogadores de um dilema do prisioneiro sobre quem incentivos externos cooperao foram impostos foram menos cooperativos aps os incentivos terem sido retirados do que o foram os jogadores em um grupo de controle que jogaram o jogo regular sem incentivos para a cooperao e desenvolveramespontaneamentesuasprpriasestratgias. 54

    uma norma social, especialmente em um cenrio onde h comunicao entre as partes, pode funcionar to bem ou quase to bem em gerar comportamento cooperativo quanto um conjunto de regras e um sistema de monitoramento e sano externamente impostos. Alm disso, as normas parecem ter um certo poder de permanncia ao encorajar um crescimento do desejo por comportamento cooperativo ao longo do tempo, ao passo que a cooperao que existe primariamente devido a regras externamente impostas e executadas pode desaparecermuitorapidamente. 55

    Desenvolvimento e Poltica de Infraestrutura do Terceiro Mundo e a Dimenso de Classe Ausente. difcil saber quanto do argumento de Institutional Incentives and Sustainable Development atribuir a Ostrom, dado que coescrito com outras duas 56

    pessoas. Mas considerando que seu nome aparece primeiro na assinatura, e um desenvolvimento direto de sua abordagem em Governing the Commons, creio que seguro tratlocomosefalasselargamentecomsuavoz.Ostrom tima em sua anlise da poltica de desenvolvimento do Terceiro Mundo e mais especificamente dos projetos de infraestrutura ao tratar a maneira como as agncias multilaterais de desenvolvimento e os governos nacionais tendem a adotar a abordagem "altomodernista autoritria" de James Scott, e ignorar o conhecimento local, distribudo. Especialistas ocidentais em desenvolvimento, em sua maior parte, viam as infraestruturas sociais locais em pases do Terceiro Mundo como atvicas e as conflacionavam com tribalismo,corrupo,nepotismo,desigualdadeeautoritarismo.

    Quando quantias massivas de capital fsico foram introduzidas por pases doadores nos pases da frica, sia e Amrica Latina, que haviam passado por longos perodos de colonizao, pouca ateno foi dada massiva destruio de capital social que havia ocorrido sob a colonizao. Comunidades tribais na ndia, por

    53Ibid.,pp.112113.54Ibid.,p.130.55Ibid.,p.130.56 Elinor Ostrom, Larry Schroeder e Susan Wynne. Institutional Incentives and Sustainable Development: Infrastructure Policies in Perspective (Boulder, San Francisco, Oxford: Westview Press, 1993).

    26

  • exemplo, haviam se organizado por sculos para obter sua comida, forragem, ferramentas e materiais de construo de uma maneira sustentvel a partir de reas florestais que elas governavam e geriam como propriedade comum. O governo britnico no reconheceu a propriedade da comunidade e, na verdade, aprovou legislao durante a dcada de 1860 para criar um departamento florestal e exercer poder de monoplio sobre territrios cada vez maiores.... Por volta da poca da independncia, o governo da ndia exercia controle total sobre mais de 40 por cento do total de rea de floresta da ndia. Semelhante despojamento da legitimidade de instituieslocaisocorreuportodaafrica,siaeAmricaLatina.Na medida em que se deu ateno ao capital social inicial das pessoas que viviam nessas reas, se assumiu que os padres anteriores de relacionamentos eram "primitivos" e no valiam a pena salvar. Muitos oficiais coloniais e pscoloniais sentiam que as instituies anteriores tinham que ser destrudas antes que o desenvolvimento pudesse realmente ocorrer. A diversidade de diferentes meios de vida foi vista como um obstculo a ser substitudo pelas instituies modernas centralizadasquepoderiamenergizaraatividadeeconmicaapartirdacapital. 57

    Em vez disso, ...os doadores dos blocos Oriental e Ocidental procederam ou, como era o caso das antigas potncias imperiais, continuaram a apoiar a destruio da infraestrutura institucional indgena em pases subdesenvolvidos e a substituio desta infraestrutura social por arranjos institucionais que eram familiares aos doadores. Eles encontraram cmplices dispostos nos novos lderes nacionais dos pases subdesenvolvidos que tinham esperana de suprimir qualquer atividade organizacional fora de seu controle, a fim de impedir a emergncia de concorrentes polticosviveis...A nica caracterstica institucional dos pases subdesenvolvidos que todos os doadores acharam potencialmente til como fundao para o desenvolvimento foram os governos nacionais altamente centralizados, que eram primariamente o legado do perodo colonial. Os governos nacionais eram vistos como os instrumentos atravs dos quais a mudana e o desenvolvimento econmico seriam alcanados. Eles eram considerados to cruciais, na verdade, que esforos de desenvolvimento foram especialmente formados, na maior parte do ltimo meio sculo, para reforar a capacidade e a autoridade destes governos nacionais s custas de agncias pblicas subnacionais e instituies do setor privado. Na fase mais recente de "ajuste estrutural", esta tendncia de reforar instituies nacionais foi acelerada. Grandes reformas polticas foram concebidas por pequenos times compostos quase exclusivamente de representante de ministrios de finanas e bancos centrais, trabalhando com consultores envolvidos pelo Banco Mundial e pelo FMI. 58

    Ostrom apresenta considerveis evidncia de estudos de caso para mostrar que os projetos de infraestrutura empreendidos em tal atmosfera de desprezo pelo conhecimento local

    57Ostrom,NeitherMarketnorState,pp.2122.58Ostrometal,InstitutionalIncentivesandSustainableDevelopment,pp.67

    27

  • tendem a ter resultados menos que timos uma descoberta que no deveria ser nenhuma surpresaparaleitoresdeseuamploconjuntodeobras.Ostrom est bastante certa em assumir que "Indivduos de quem se espera que invistam recursos... na sustentao da infraestrutura rural, devem perceber que os benefcios que obtm... excedem os custos dos recursos que devotam a este esforo" . E ela aborda 59

    problemas de rentseeking, nos quais projetos so promovidos pelos interesses que obtm maisdoqueinvestem.Mas ela considera o rentseeking sobretudo no nvel micro, em vez de tratar o rentseeking como embutido na macroestrutura do sistema e central para suas metas. Mesmo a nica vez que ela menciona especificamente o rentseeking no caso de projetos de infraestrutura que geram "benefcios desproporcionais" para "certos grupos de potenciais usurios, tais como grandes proprietrios de terras" , ela o trata como apenas um desvio a ser 60

    consertadoatravsrearranjostcnicosnaestruturadeincentivos.A omisso flagrante em tudo isto, o elefante na sala de estar que ela falha em mencionar, o conflito de classes e o papel dos estados na promoo dos interesses das classes econmicasqueoscontrolam.As sociedades modernas de fato adotam, como Ivan Illich apontou em Tools for Conviviality, formas particulares de tecnologia e organizao alm do ponto de contraprodutividade ou retornos decrescentes. Mas elas apenas o fazem porque o estado coercitivo, ao criar externalidades, desloca os custos e fardos da adoo para uma classe de pessoas diferente daquelas que recebem os benefcios. Uma vez que o custo total da adoo de uma tecnologia no aparece na contabilidade de seus adotantes, sua deciso de quanto adotla no est embasada em um balano social completo dos custos e benefcios. O preo de mercado da adoo da tecnologia, que informa o adotante dos custos e benefcios totais e lhepermitefazerumadecisoracional,estcorrompido.Ostrom adota a mtrica do Banco Mundial para "sustentabilidade" de projetos de infraestrutura: "se a taxa de retorno foi igual a, ou maior que, o atual custo de oportunidade do capital investido em cada projeto ou no". O projeto, em outras palavras, paga no que seu resultado adiciona ao PIB. Isto ignora a questo central como Lenin formulou de 61

    "Ktokogo?"Quempagapelosinsumos,equemsebeneficiadosresultados?A questo no simplesmente que as agncias centralizadas de desenvolvimento, por causa de problemas de conhecimento resultantes de seu centralismo, cometam erros ao buscar alguma meta desinteressada de "desenvolvimento". A questo tambm que o tipo de desenvolvimento que elas esto buscando reflete uma coalizo particular de interesses e sua percepo do mundo. Estes interesses, e suas percepes, so aqueles comumente associadoscomostermos"desenvolvimentoorientadoaexportaes"e"neoliberalismo".

    59Ibid.,p.9.60Ibid.,p.96.61Ibid.,pp.1416.

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  • O papel funcional mais amplo do Banco Mundial, do FMI e dos projetos nacionais de ajuda internacional desde a Segunda Guerra Mundial foram bem resumidos por Kwame Nkrumah em NeoColonialism: ajuda internacional, sob o neocolonialismo, o que, sob o colonialismo,costumavasechamadosimplesmentede"investimentoexternodecapital".No caso especfico da infraestrutura rural do Terceiro Mundo, o modelo dominante de desenvolvimento rural se concentra em produo em larga escala orientada exportao de culturas comerciais em grandes extenses de terra frequentemente situadas em terras roubadas de camponeses expulsos com a ajuda dos governos coloniais ou pscoloniais mantidasporoligarcasproprietriosnativos.Assim, em um sentido, a ateno de que Ostrom devota a aproveitadores no projeto de sistemas locais de infraestrutura enganadora: o aproveitamento, ou o rentseeking o propsito primrio da grande maioria dos projetos de infraestrutura rural em larga escala como sistemas de irrigao. Seu propsito fornecer insumos subsidiados a um modelo de produo agrcola fortemente dependente de tais insumos subsidiados, de terra roubada mantidaporelitesagrriaslocais.Ela discute "equidade" no financiamento de infraestrutura no contexto de duas abordagens rivais: 1) beneficirios pagam em proporo ao custo marginal de fornecer a poro de produo que consomem e 2) beneficirios pagam em proporo a sua capacidade de pagar. Mas, da perspectiva dos poderosos interesses econmicos servidos pelos grandes 62

    projetos de infraestrutura, ambas as abordagens violariam todo o propsito: externalizar seuscustosoperacionaisparaalgumaoutrapessoa.Dando ainda mais um passo atrs, o capitalismo, por definio, depende do deslocamento inquo de benefcios e custos para diferentes partes. O capitalismo foi definido por mais de umcrticoradicalcomoasocializaodocustoedoriscoeaprivatizaodolucro.Infelizmente, Ostrom (e/ou uma ou ambas de suas coautoras) descartam tais consideraes como "teorias da conspirao". "s vezes, a crtica presume motivao conspiratria, com agncias doadoras caracterizadas como fronts para uma nova forma de imperialismo consciente" .63

    Mas qualquer um que tenha observado os projetos de infraestrutura em operao fica impressionado com o nmero de indivduos extremamente trabalhadores e altamente motivados, tanto nos governos hspedes quanto nas agncias doadoras, cuja meta principal claramente melhorar o bemestar daqueles que vivem nos pases que recebem ajuda externa. Ainda assim, avaliaes realistas dos muitos projetos concebidos pelo pessoal doador e do governo hospedeiro repetidamente revelam resultados no intencionais negativos. Avaliaes mostram que os projetos aumentaram ou reforaram a supercentralizao dos governos dos pases recebedores, foram mal projetados (dadas as circunstncias locais) e geraram encargos de dvida inapropriadamente grandes para os pases recebedores. Como

    62Ibid.,pp.113115.63Ibid.,p.156.

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  • possvel que pessoas altamente motivadas e trabalhadoras que sinceramente querem melhorar as condies nestes pases re