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Governador

Vice Governador

Secretária da Educação

Secretário Adjunto

Secretário Executivo

Assessora Institucional do Gabinete da Seduc

Coordenadora da Educação Profissional – SEDUC

Cid Ferreira Gomes

Domingos Gomes de Aguiar Filho

Maria Izolda Cela de Arruda Coelho

Maurício Holanda Maia

Antônio Idilvan de Lima Alencar

Cristiane Carvalho Holanda

Andréa Araújo Rocha

FRUTICULTURA

SUMÁRIO Página

CAPÍTULO 1 – IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DA FRUTICULTURA .................. 01

CAPÍTULO 2 - PROPAGAÇÃO DE ÁRVORES FRUTÍFERAS ................................ 12

CAPÍTULO 3 – MANEJO DO SOLO E IRRIGAÇÃO .................................................. 29

CAPÍTULO 4 - PODA DAS PLANTAS FRUTÍFERAS ................................................. 42

CAPÍTULO 5 - PRINCIPAIS PRAGAS E DOENÇAS EM FRUTICULTURA........... 48

CAPÍTULO 6 – COLHEITA, PÓS-COLHEITA E ARMAZENAMENTO.................. 108

CAPÍTULO 7 – PERDAS PÓS-COLHEITA DE FRUTAS............................................ 119

CAPÍTULO 8 – MERCADO E COMERCIALIZAÇÃO DE FRUTAS......................... 124

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................... 136

1

CAPÍTULO 1 - IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DA FRUTICULTURA

A cadeia da fruticultura está emergindo e sendo chamada no resto do mundo – e

também no Brasil – como a “indústria das frutas” e não mais “fruticultura”. Por quê? Se

hoje visitarmos um pecking house (as instalações onde são beneficiadas, por exemplo,

as maçãs no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina), verificaremos que são instalações

que já superaram a era da mecanização, e encontram-se na era da robotização. Irei

restringir a minha palestra à produção de frutas in natura devido ao tempo escasso mas,

por analogia, o que for abordado sobre as frutas frescas, refere-se também às frutas

secas, como as castanhas, além das polpas de frutas e os sucos.

O Brasil é hoje um dos três maiores produtores de frutas no mundo. Só perde

para a China e para a Índia. A produção brasileira superou 35 milhões de toneladas em

2005, o que representa 5% da produção mundial.

A fruticultura emprega hoje 5,6 milhões de trabalhadores, ou seja, 27% da mão-

de-obra agrícola. Para cada US$ 10 mil investidos, geram-se três empregos diretos

permanentes e dois empregos indiretos. A agricultura de exportação necessita de

recursos humanos qualificados e com conhecimento específico, em outras palavras,

oferece bons empregos.

A fruticultura está fundamentada em pequenas e médias propriedades e este

aspecto é extremamente importante para um país em desenvolvimento, onde se busca o

crescimento do setor rural, o aumento de renda e a fixação do homem à terra. Hoje um

produtor, produzindo frutas adequadas, na hora certa e de forma correta, tem uma

rentabilidade financeira suficiente não apenas para a sua sobrevivência, mas também

para a sua evolução socioeconômica e de sua família. Para se ter uma ideia, um produtor

de uvas sem sementes hoje, no Vale do São Francisco, pode conseguir com a sua

produção, em um hectare, renda bruta anual de US$ 20 mil.

A fruticultura está em constante evolução, sendo que a base agrícola deste setor

já ultrapassou os 2,3 milhões de hectares, gerando oportunidades de 2 a 5 postos de

trabalho na cadeia produtiva por hectare cultivado.

O Quadro 1 apresenta a produção de frutas no Brasil. Através dele, é possível se

verificar que a produção de citros mais a de banana, representam 77% da produção total

de frutas brasileiras. O país tem muito o que caminhar ainda.

2

Fonte: Fernandes in 8º Congresso de Agribusiness

Apesar de serem produzidas frutas em todo o Brasil, frutas de clima temperado,

de clima sub tropical, frutas tropicais, de clima equatorial úmido, o grande consumo

deste produto ocorre na Região Sudeste brasileira que absorve 48,3% das frutas

produzidas no país. O estado de São Paulo consome os 25,53% da produção (Ilustração

1).

Este fenômeno é devido a dois fatores: o primeiro, é claro, pelo alto poder

aquisitivo, mas o outro motivo é extremamente importante: a fruticultura gera frutas,

frutas são alimentos e alimentos são consumidos proporcionalmente ao número de

pessoas. Consequentemente, há uma distribuição de consumo bastante concentrada

nesses grandes centros urbanos. Este aspecto é relevante para que haja competitividade

quando as frutas são produzidas longe desses centros de consumo. É preciso que se

cuide da logística para que se chegue aos mercados do Sudeste de forma competitiva.

3

O Gráfico 1 apresenta a curva de evolução da exportação brasileira de frutas

frescas entre 1998 e 2000. Verifica-se que o Brasil chegou em 2005 com mais de 800

mil toneladas, equivalendo a US$ 440 milhões. E as perspectivas são de que, nos

próximos seis anos, o país atinja o patamar de 1 bilhão e 300 mil toneladas e ultrapasse

o patamar de US$ 1 bilhão, somente em frutas frescas.

4

Com relação às exportações, o Gráfico 2 mostra que o Brasil exporta hoje para

55 países. Porém, gostaria de indagar: perante esse gráfico, qual é o país que mais

consome frutas frescas? É o Brasil? Colocamos esse gráfico para mostrar algumas

armadilhas da estatística e esta é uma delas. Realmente o maior mercado brasileiro hoje

é a Comunidade Europeia e a maior parte dos países que funcionam como entrada para

as frutas nacionais são dois: Inglaterra e Holanda. Porém, o maior consumidor de frutas

brasileiras e o qual temos mantido com muito carinho, é o alemão. Porque a maior parte

das importações alemãs são feitas indiretamente. Este é um viés que estamos

procurando modificar, porque se conseguirmos deixar essa intermediação por nossa

conta, iremos, além de uma melhor rentabilidade, termos um maior controle sobre

odestino das nossas frutas. Hoje é possível se encontrar melão na Rússia, cujo produtor,

o Rio Grande do Norte, nem imagina que seu produto esteja sendo vendido lá. É

necessário que passemos a controlar o destino e a forma como os produtos nacionais são

comercializados, pois precisamos valorizá-los. O alvo brasileiro para os próximos anos

não é nenhum desses países do Gráfico 2. Dentro dos próximos seis a oito anos, o futuro

grande mercado para as frutas brasileiras é o constituído pelos países árabes, os países

do Leste Europeu, os do Sudoeste Asiático, mais a China.

5

O Quadro 2 lista as estrelas das exportações brasileiras. Verificarmos que, por

esta tabela, em termos de faturamento, a grande estrela brasileira é a uva de mesa

também seguida pelo melão. Mas, com relação ao volume exportado, a banana é a

vedete, seguida também pelo melão. Estamos vivenciando uma nova estratégia da

fruticultura de exportação, ou seja, a substituição de frutas de menor valor agregado

pelas de maior valor agregado, o que permite que seja alcançado maior faturamento com

menor volume de produção. Para se ter uma ideia, a uva sem semente produzida hoje no

Vale do São Francisco, está valendo na cotação de ontem em Rotterdam, cerca de US$

3.200 a tonelada o que não é nada ruim.

O crescimento da fruticultura nacional

Alguns indicadores dos gráficos anteriores mostravam o crescimento médio

anual da fruticultura desde 1998 a patamares de 32%, em volume exportado, e 42% em

valor. Se olharmos a avaliação de 2005 a 2004, verificaremos que esse crescimento não

foi brilhante, mas isso não deve nos preocupar, porque a fruticultura, como qualquer

outra atividade agrária, é um negócio de risco. E, normalmente, a maior parte das frutas

provêm de plantios perenes e tem ocorrido, durante estes últimos dois/três anos,

problemas bastante sérios de adversidades climáticas. Há três anos a maçã não consegue

alcançar seu potencial de produção no Rio Grande do Sul por causa de secas, e agora

por conta do granizo. O Vale do São Francisco inundou onde não chovia. Aconteceram

problemas com a uva relacionados a chuvas fora do tempo. A consequência é que foram

6

obtidos, em 2005, menos 3% em volume (827,7 mil toneladas), em comparação com o

ano de 2004. Porém, houve um aumento de 19,5% em valor (US$ 440,1 milhões) que é

justamente o diferencial de valor agregado que estamos considerando.

O saldo da Balança Comercial de Frutas Frescas é crescente (US$ 315 milhões

em 2005). É evidente que a valorização do Real está desfavorecendo a fruticultura de

exportação como qualquer outro setor. Mas a fruticultura brasileira está começando a

mudar seu posicionamento negocial com uma nova filosofia de que não devemos mais

nos abater contra as adversidades, mas sim tentar contorná-las. Realmente, é com ações

pró-ativas e procurando-se conhecer melhor os mercados externos, suas atitudes e

costumes e também sabendo como negociar com cada um dos povos, inclusive com o

nosso – que precisa ser negociado para consumir mais frutas –, que teremos dias

melhores.

O Gráfico 3 apresenta as perspectivas do comércio exterior até 2008. Verifica-

se, pela cor mais escura, o crescimento médio anual do mercado internacional de frutas

como a maçã, o papaia, o melão, a manga, etc. E na cor mais clara, o crescimento médio

anual esperado para as exportações das frutas brasileiras. Constata-se que há

perspectivas de crescermos – ou de aumentarmos as nossas exportações – acima do

crescimento médio do comércio internacional. Isto significa que estamos ganhando

share de mercado e não exportando mais porque existe um mercado crescente, o que

não é verdade.

O mercado europeu, por exemplo, já há alguns anos, está saturado em termos de

consumo per capita de frutas e a única forma de conseguirmos nele entrar é com a

diferenciação, exportando para lá frutas diferentes, frutas brasileiras e tropicais. A nossa

estrela deverá continuar sendo a uva. Neste ano de 2006, já mais da metade dos

parreirais de uva de mesa para a exportação do Vale do São Francisco são de variedades

sem sementes. O produtor brasileiro está reagindo rapidamente às demandas do

mercado internacional. Hoje os melões – que inclusive estão disponíveis nos

supermercados brasileiros – são tão diferenciados que é até difícil reconhecê-los.

Conhecíamos o velho melão valenciano amarelo, e hoje o Brasil está

exportando melões nobres de todas as variedades demandadas e apreciadas no mercado

internacional.

7

Peculiaridades do comércio exterior da fruticultura

Vamos agora entender um pouco o comércio exterior, que é muito falado, mas

que para a fruticultura existem uma série de peculiaridades que merecem ser tratadas e

discutidas. Como indicador referencial, a produção mundial de frutas hoje é de

aproximadamente 633 milhões de toneladas (em 2005). Qual é o destino dessa

produção? Cerca de 91,5% permanece nos mercados domésticos, ou seja, a maior parte

da produção de frutas são consumidas nos países onde são produzidas. O mercado

internacional de frutas representa apenas de 8,5% a 9% da produção. Nos mercados

externos, 30% vão para a industrialização e 70% para o mercado in natura. No Brasil, se

for feita essa análise, ela não baterá muito bem, porque grande parte de nossa produção

de laranja vai para produção de suco. Mas, se desconsiderarmos este case, verificaremos

que a regra também se aplica ao nosso país. Portanto, o comércio internacional

apresenta um volume de 53,7 milhões de toneladas, e o valor é de aproximadamente

US$ 31,5 bilhões.

As características estruturais são interessantes para a fruticultura (Gráfico 4).

Dentro do comércio internacional existem dois tipos de mercados: os de proximidade,

que hoje equivalem a 24,8 milhões de toneladas; e os mercados de longa distância, que

representam 28,9 milhões de toneladas. Infelizmente, o Brasil não tem muitos mercados

de proximidade. Os nossos mercados de proximidade se resumiriam aos nossos vizinhos

territoriais, que não compram muito os nossos produtos. Assim, os grandes mercados de

proximidade são entre os países compradores do Hemisfério Norte, do Canadá para os

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Estados Unidos; dos Estados Unidos para o Canadá; da Alemanha para a França; da

França para a Espanha; e, consequentemente, se fecham as nossas perspectivas de

entrada. O que nos resta? Os mercados de longa distância, que se subdividem em apenas

um mercado, o de banana. Só a banana representa 29,6% da comercialização mundial de

frutas, o que explica a famosa “guerra das bananas”, para a conquista desse mercado,

que não é nada desprezível. As frutas exóticas e tropicais representam somente 8,4%.

Assim, temos que nos concentrar nos mercados de contra-estação, que

representam 15,8%. Que mercados são esses? Na Europa, quando começa a esfriar, não

há mais disponibilidade de frutas, sendo necessário importá-las, se a população quiser

continuar comendo frutas. Por exemplo, a Espanha hoje é o maior produtor do mundo

de melões mas, paradoxalmente, é o nosso maior importador do produto na Europa,

justamente nos meses mais frios, ou seja, em novembro, dezembro e uma parte de

janeiro.

As uvas que estamos exportando, além de uma série de outras frutas, como a

maçã são produtos de contra-estação. Salvo a manga, as nossas estrelas de exportação

têm como estratégia buscar esse mercado de contra-estação. Por quê? Porque são

produtos normalmente já conhecidos naqueles mercados, como a uva e a maçã não

sendo necessário se investir em marketing, em promoção de forma substancial para que

as pessoas se acostumem com essas frutas. Isso já não acontece com as frutas tropicais,

apesar de termos um mercado de 8,4%, e sermos hoje o terceiro exportador mundial de

manga e o primeiro de mamão papaia. O Brasil tem 70% do mercado europeu em suas

mãos, mas ele consome pouco e precisamos ensiná-los a consumir melhor. Para isso,

precisamos aperfeiçoar nossos sistemas de promoção e nossas estratégias de divulgação

das frutas brasileiras.

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Oportunidades

O Brasil tem um grande potencial de crescimento no setor da fruticultura com o

aumento, por exemplo, do cultivo de melões nobres (outras variedades); de frutas

orgânicas – se há um país que poderá realmente abastecer, não só o Brasil, como todo o

mundo, com frutas orgânicas, esse país chama-se Brasil, não tenham dúvidas sobre isso.

Outro fator de indução desse crescimento será o aumento do cultivo de uvas sem

sementes, que hoje predominam no mercado americano; com as uvas sem sementes

voltamos também a comercializar e a vender frutas para os Estados Unidos. Há também

a possibilidade de habilitação de mais packing houses para mangas, ou seja, sistemas de

manipulação de frutas para mangas. Não sei se todos sabem mas, para vendermos para o

Japão, para os Estados Unidos, os exportadores de manga têm que fazer um tratamento

quarentenário que pressupõe colocar a manga em temperatura de 58ºC durante tantos

minutos. Então, por favor, não comam manga nos Estados Unidos ou no Japão porque

elas já estão meio cozidas. Mas é o único jeito de se vender.

Precisamos mudar este tipo de mentalidade através de negociações

internacionais, porque não vamos matar nenhuma criancinha vendendo manga tirada do

pé. Mais uma oportunidade de crescimento do setor é a expansão do cultivo de banana

no Rio Grande do Norte e no Ceará, com qualidade e logisticamente mais competitiva.

Os grandes produtores de banana estão vindo para o Brasil, aliás, já estão aqui e os

10

estados para exportarmos para a União Européia chamam-se Rio Grande do Norte e

Ceará. Por quê? Os custos de produção são menores e, consequentemente,

logisticamente estão mais perto da Europa, que recentemente abriu um mercado para a

banana e todos agora deverão concorrer em igualdade de condições, desde que paguem

E$ 176 por tonelada. Mas como são todos, creio que teremos vantagens.

Outro fator é o aumento das áreas certificadas de mamão no Nordeste, que vão

nos permitir entrar nos Estados Unidos que são, sem sombra de dúvidas, o maior

mercado de papaia. Outras frutas, a médio prazo, poderão entrar nos Estados Unidos

como o limão, as laranjas e as tangerinas. Obviamente, o Brasil pode aumentar a

produção de frutas o quanto quiser. Existem também oportunidades em novos

mercados, como, por exemplo, o Leste Europeu, países árabes, Sudeste Asiático e

China.

A potencialidade de aumento de competitividade internacional é real, mas temos

muito a melhorar em termos de custos e podemos melhorar nossa competitividade mais

ainda. Para se ter uma ideia, se considerarmos o custo “SIF” da uva sem semente

colocada no mercado de Rotterdam, com os economistas fazendo detalhamento da

planilha de custos, verificar-se que 80% dos custos provêm do custo de produção e de

embalagem, ou seja, se me derem o transporte de graça, ótimo, porque o meu problema

está com a produção e com as embalagens.

Barreiras e dificuldades

Não são poucas as barreiras que dificultam a expansão da competitividade da

fruticultura brasileira. Os custos de produção altos e pouca tradição no mercado

internacional estão entre elas. Normas e exigências diferentes são mais outras barreiras.

As diversidades de exigências são realmente significativas, não só as advindas das

legislações agro-alimentares, como agora, mais modernamente, as dos compradores e

consumidores.

Quem pretende exportar para determinada rede de supermercados precisa

cumprir os requisitos exigidos. Outra barreira enfrentada pela fruticultura é a baixa

capacitação dos pequenos produtores, apesar de o setor estar fundamentado em

pequenas propriedades, há muito o que se fazer para transformá-los de produtores em

empresários, porém é um trabalho gigantesco.

Mais uma dificuldade é a ausência de sistemas de organização competitivos para

a comercialização. Este é realmente o nosso grande “calcanhar de Aquiles”: sabemos

produzir, sabemos beneficiar, mas, na hora de comercializar, somos extremamente

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individualistas e não temos a mínima capacidade de organização. Precisamos melhorar

porque, de repente, alguém liga informando que chegaram dez contêineres juntos, ou

dez navios com contêineres de manga em Rotterdam, por exemplo, e ninguém soube. E

o que acontece na prática? Exatamente o que os intermediários querem: o preço vai lá

para baixo e os produtores vão receber talvez até menos do que o custo de produção que

eles tiveram.

O conhecimento insuficiente dos mercados e nichos é outra barreira bastante

importante e hoje é fundamental este conhecimento. Os nichos estão muito relacionados

com produtos diferenciados. Atualmente, para se ganhar mercados, existem três

alternativas no setor de fruticultura: produzir mais barato, o que não é muito fácil;

produzir com a mesma, ou com uma melhor qualidade que os demais, que também é

complicado; e, a terceira, competirmos com produtos diferenciados e é exatamente por

este caminho que iremos atingir nichos em outros segmentos.

Continuando a relacionar as dificuldades, é preciso haver uma análise

empresarial para a competitividade, além do aumento da concentração dos agronegócios

no mercado interno e externo. É uma realidade a fusão das grandes empresas, é um fato

com o qual temos que começar a conviver e traçar estratégias porque veio para ficar. E,

finalmente, a existência de barreiras fitossanitárias e também o baixo consumo de frutas

comercializadas no Brasil. É preciso se consumir mais frutas. Finalizando, se eu

perguntar a cada pessoa se considera as frutas um alimento, creio que unanimamente a

resposta será afirmativa. Porém, na prática não é o que acontece. O brasileiro considera

a fruta não como um alimento principal, mas sim como um complemento. Se o

Joãozinho passar na fruteira e pegar uma maçã antes do almoço, provavelmente, sua

mãe irá dizer: “coloque esta fruta aí na fruteira porque, senão, você não almoça,

Joãozinho”. E depois ele vai comer uma feijoada ou uma rabada, coisa leve!

Então, para nós brasileiros as frutas ainda são um complemento alimentar.

Existem muitos fatores que dificultam, falácias, preconceitos, como, por exemplo, “não

se pode dar abacaxi para crianças porque dá aftas”. Alguém já viu frutas tropicais na

fruteira de uma mãe que acabou de ter neném? Não, apenas algumas frutas mais

conhecidas tradicionalmente. Eu mesmo venho de um berço onde meus avós sempre me

ensinaram que “chupar laranja de manhã é ouro, à tarde é prata, e à noite mata”.

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CAPÍTULO 2 – PROPAGAÇÃO DE ÁRVORES FRUTÍFERAS

Para se perpetuarem, as espécies se multiplicam. Os vegetais superiores

multiplicam-se naturalmente por duas vias: pelo ciclo sexuado e assexuado. No ciclo

sexuado, também denominado de ciclo reprodutivo a multiplicação ocorre pela união do

gameta masculino (grãos de pólen) com o gameta feminino (oosfera) gerando um

embrião que está presente nas sementes.

Nesse processo há recombinação genética, ocorrendo variabilidade no genoma.

Por essa razão, a nova planta que se origina da germinação da semente é denominada

indivíduo, pois será geneticamente diferente da planta matriz. Pelo ciclo assexuado

também denominado vegetativo, a nova planta gerada é oriunda de estruturas

vegetativas (propágulos) como brotos, e nesse caso não ocorre recombinação genética,

ou seja, elas possuem a mesma carga genética da planta matriz.

Essas novas plantas são denominadas clones, que são cópias perfeitas, ou seja,

geneticamente iguais à planta que lhe deu origem. Em fruticultura, que é uma atividade

com enorme potencial de crescimento, o Brasil encontra-se em posição privilegiada em

decorrência da extensão territorial, posição geográfica e condições de clima e solos, que

permite a produção de uma grande diversidade de frutas, em diferentes regiões, o ano

inteiro.

Nesse aspecto, a produção de mudas ou a multiplicação de plantas controlada

pelo homem representa um dos requisitos de maior importância para o sucesso

econômico da implantação de um pomar. Como a maioria das espécies frutíferas são

plantas perenes, que produzem por um longo período, é de suma importância que as

mudas sejam de qualidade, pois terão influência direta na produtividade e rentabilidade

do empreendimento agrícola.

Diversas técnicas são utilizadas na produção de mudas de árvores frutíferas. O

desenvolvimento dessas técnicas permite que as mudas sejam obtidas com as mesmas

características da planta que se deseja multiplicar, o que garante a uniformidade das

mesmas em campo.

Como cada espécie apresenta uma particularidade, é necessário conhecer suas

formas de propagação e, assim, utilizar o melhor método para formação das mudas. A

produção de mudas de árvores frutíferas pode ser realizada pelo uso de sementes, cujas

plantas originárias não serão idênticas. É bastante utilizada na produção de porta-

enxertos de algumas espécies, em árvores silvestres que ainda não possuem cultivares

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melhoradas e em algumas fruteiras que apresentam vantagens na produção de mudas

como maracujazeiro, mamoeiro e coqueiro. Porém, os métodos mais adequados para se

produzir mudas de plantas frutíferas são os propagativos, pois eles garantem à nova

planta as características desejáveis da planta matriz.

Razões do uso da propagação

A propagação deve ser utilizada para:

• Manter as características da variedade que se deseja propagar, como produção e

qualidade dos frutos e homogeneidade entre as plantas;

• Multiplicar em larga escala uma única planta, selecionada como planta matriz;

• Combinar duas espécies para formar uma só planta, pelo uso do método de enxertia;

• Produção precoce de frutos por evitar a fase juvenil da planta, devendo-se selecionar

propágulos de plantas adultas;

• Produção de mudas de espécies em que a propagação é o único meio de multiplicação.

Como exemplo, temos a bananeira, cujo método de propagação é por meio de rizomas.

Outras espécies como a lima ácida tahiti, laranja-de-umbigo e figueira também

dependem de alguma técnica de propagação, pois as sementes que produzem não são

viáveis;

• Multiplicar espécies em que a propagação é mais fácil, rápida e econômica.

Métodos de propagação

Os principais métodos de propagação, que proporcionam a clonagem de plantas

com características desejáveis são: estaquia, alporquia, mergulhia, enxertia e estruturas

especializadas. O que vai definir a escolha de um ou outro método será a adaptação e

facilidade de formação de mudas em cada espécie.

Um dos principais fatores para o sucesso na produção de mudas, por meio da

propagação, é a escolha da planta matriz que deve ser representativa da variedade, ter

boa sanidade, ou seja, sem pragas e doenças, ser produtiva e esteja sendo conduzida

com todos os tratos culturais recomendados para a cultura, principalmente adubação e

irrigação.

A seleção adequada do material vegetativo que será retirado da planta matriz, o

substrato, a disponibilidade de água e as condições apropriadas de luz, aeração,

temperatura e umidade são elementos fundamentais para o sucesso de qualquer método

de propagação que se deseja utilizar.

Estaquia

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A estaquia é um método de propagação simples que consiste na retirada e

utilização de partes da planta matriz que deseja-se propagar. Esse método consiste na

capacidade de regeneração dos tecidos da estaca e emissão de raízes adventícias e

brotações. Pode ser utilizada na produção direta de mudas ou para a produção de porta-

enxertos. As estacas, ou seja, partes da planta podem ser obtidas de órgãos aéreos ou

subterrâneos, tais como, folhas, ramos e raízes.

Tipos de Estacas

A preferência por um ou outro tipo de estaca irá depender da espécie, da

facilidade de enraizamento e da infraestrutura do local. Em fruticultura, as estacas de

ramos com pelo menos uma gema, são as mais utilizadas, pois precisam apenas formar

novas raízes adventícias visto que já possuem um ramo em potencial, a gema. Com

exceção de algumas espécies como figo da índia e framboesa, as estacas de folhas e de

raízes, não são utilizadas na produção comercial de mudas de espécies frutíferas (Figura

1).

Figura 1: Tipos de estacas

São diversos os fatores que afetam o enraizamento das estacas de ramos, tais

como: condições fisiológicas da planta matriz, juvenilidade, condições do ambiente de

enraizamento, posição e graus de lignificação dos ramos. Quanto ao grau de

lignificação, pode-se classificar as estacas de ramos em herbáceas, semilenhosas ou

lenhosas (Figura 2).

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As estacas herbáceas são aquelas cujos tecidos não estão lignificados, ou seja,

estão com tecidos tenros e de coloração verde. São retiradas da parte apical dos ramos

no período de primavera/verão, épocas em que ocorrem os fluxos de crescimento

vegetativo. Como é um material sensível à desidratação, a coleta deve ser feita

preferencialmente pela manhã. As folhas (inteiras ou pela metade) devem ser mantidas.

A função da manutenção das folhas é a continuação do processo fotossintético

que fornecerá fotoassimilados tanto para a manutenção da estaca, quanto para a

formação das raízes. A utilização de estacas herbáceas é muito utilizada na produção de

mudas de goiabeira.

Estacas semilenhosas são obtidas de ramos parcialmente lignificados, após o

mesmo ter completado seu crescimento. Para enraizar, essas estacas ainda com folhas,

devem ser mantidas, assim como as estacas herbáceas, em ambiente com umidade

relativa alta para reduzir a perda de água pelas folhas. É bastante utilizada na

propagação de algumas espécies tropicais e subtropicais.

As fruteiras que perdem as folhas no outono (caducifólias), como figo e uva, por

exemplo, apresentam seus ramos lenhosos com boa capacidade de enraizamento. As

estacas são obtidas de ramos lenhosos, bastante lignificados, sem folhas, com idade

superior a um ano, sendo coletadas geralmente no período de dormência da planta

(inverno).

A propagação com esse tipo de estaca é mais fácil e mais barata, pois são mais

resistentes e não exigem ambiente com controle de temperatura e umidade.

Figura 2 - Graus de lignificação de ramos de seriguela

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Após a coleta das estacas da planta matriz, faz-se o preparo das mesmas,

colocando-as para enraizar em substrato adequado que possua boa capacidade de

retenção de água, drenagem satisfatória e esteja livre de patógenos de solo, planta

daninha e nematóide. Um dos principais substratos utilizados para o enraizamento de

estacas é a vermiculita.

Nessa etapa é importante garantir que o substrato esteja bem aderido à estaca.

Então se faz uma leve compactação do substrato ao redor das estacas, para evitar a

permanência de bolsões de ar, que impeçam a aeração na base das mesmas. É

importante lembrar que para algumas espécies frutíferas o uso de reguladores vegetais

auxilia no enraizamento, principalmente os produtos com ação auxínica comercializados

no mercado com os nomes de ácido indolbutírico (AIB) e ácido naftalenoacético

(ANA).

Por apresentarem difícil diluição em água, esses produtos podem ser dissolvidos

em solução alcoólica ou hidróxido de potássio para serem aplicados na forma líquida ou

misturados em talco para serem aplicados em pó. Depois de prontas, as estacas são

levadas para ambientes propícios ao enraizamento.

Ambiente para enraizamento

Devido à evapotranspiração, estacas semilenhosas e herbáceas requerem

instalações com sistema de nebulização intermitente, que permite a emissão de

pequenas gotículas de água, de tempo em tempo, mantendo a superfície das folhas

molhadas. No caso de estacas lenhosas, essas instalações não são necessárias, podendo

ser colocadas em canteiros de areia ou saquinhos contendo substrato com no máximo

uma tela de sombreamento para evitar os efeitos do excesso de radiação solar e chuva

(Figura 3 a, b, c).

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Figura 3 - Nebulizador com alta umidade relativa (a); canteiros de areia com

estacas lenhosas (b e c).

Alporquia

A alporquia é um método de propagação em que se faz o enraizamento de um

ramo ainda ligado à planta matriz (parte aérea), que só é destacado da mesma após o

enraizamento.

O método consiste em selecionar um ramo da planta, de preferência com um ano

de idade e diâmetro médio. Nesse ramo, escolhe-se a região sem brotação e faz-se um

anelamento, de aproximadamente dois centímetros, retirando toda a casca (floema) e

expondo o lenho. Depois disso, deve-se cobrir o local exposto com substrato

umedecido, a base de fibra de coco e envolvê-lo com plástico, cuja finalidade é evitar a

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perda de água, amarrando bem as extremidades com um barbante, ficando com o

aspecto de um bombom embrulhado. Os fotoassimilados elaborados pelas folhas e as

auxinas pelos ápices caulinares deslocam-se pelo floema e concentram-se acima do

anelamento, promovendo a formação das raízes adventícias nesse local. Recomenda-se

que a alporquia seja feita de preferência na época em que as plantas estejam em plena

atividade vegetativa, após a colheita dos frutos, com o alporque mantido sempre úmido.

A separação do ramo que sofreu alporquia da planta matriz, depende da espécie

e da época do ano em que foi feito o alporque. Após a separação, o ramo enraizado é

colocado num saco plástico contendo substrato e mantido à meia sombra até a

estabilização das raízes e a brotação da parte aérea. Quando isso ocorrer, as mudas

estarão prontas para serem plantadas no campo.

A alporquia é utilizada na propagação de muitas espécies frutíferas, e um

exemplo do sucesso do método ocorre na cultura da lichia.

Mergulhia

A mergulhia é um método de propagação semelhante à alporquia. A única

diferença é que na mergulhia, o enraizamento do ramo ainda ligado à planta matriz

ocorre no solo (Figura 4).

Figura 4 - Mergulhia natural em cajueiro/ Natal-RN

Assim como ocorre no processo de alporquia, na mergulhia a planta a ser

formada fica unida a planta matriz até o enraizamento. A mergulhia é feita no solo, vaso

ou canteiros, quando os ramos das espécies são flexíveis e de fácil manejo. O método de

mergulhia consiste em enterrar partes de uma planta, como ramos, por exemplo, com o

objetivo de que ocorra o enraizamento na região coberta. É um processo usado na

obtenção de plantas que dificilmente se propagariam por outros métodos.

19

O enraizamento ocorre devido ao acúmulo de auxinas (hormônios endógenos)

pela ausência de luz na região enterrada ou coberta, que promove a formação das raízes

adventícias e também pelo aproveitamento do fornecimento contínuo de água e

nutrientes da planta matriz.

É muito importante que o local para a realização da mergulhia esteja isento de

patógenos, pois como é utilizado o solo para o enraizamento, há sempre o risco de

contaminação das novas plantas por doenças e/ou pragas. A mergulhia é um método

bastante utilizado na obtenção de porta-enxertos de macieira, pereira e marmeleiro.

Tipos de mergulhia

Há vários tipos de mergulhia, mas em fruticultura utiliza-se principalmente a

mergulhia de cepa, também chamada de amontoa.

Mergulhia de cepa

A mergulhia de cepa é muito utilizada na produção de porta-enxertos de

macieira. Inicialmente faz-se uma poda drástica da planta matriz do porta-enxerto,

deixando somente uma pequena parte do tronco, chamada de cepa. Essa poda irá

favorecer a emissão de inúmeras brotações jovens a partir da cepa. Após o

desenvolvimento dessas brotações, realiza-se a amontoa com terra, cobrindo a parte

inferior das mesmas.

Será nessa região enterrada que irá ocorrer o enraizamento de cada brotação

individualmente. Após o enraizamento, cada brotação será destacada da planta matriz,

formando um novo porta-enxerto. A planta matriz do porta-enxerto será novamente

podada drasticamente para iniciar um novo ciclo de produção, podendo ser utilizada por

muitos anos, dependendo de como as plantas são cuidadas.

Enxertia

A enxertia é um método de propagação que consiste em unir partes de plantas,

de tal maneira, que continuem seu crescimento como uma só planta. A parte superior

que formará a copa da nova planta recebe o nome de enxerto ou cavaleiro e a parte

inferior que formará o sistema radicular recebe o nome de porta-enxerto ou cavalo.

Cada uma das partes possui suas características próprias. O porta-enxerto tem a

função de dar suporte mecânico à planta, retirar água e nutrientes do solo, e em muitos

casos beneficiar a copa pela resistência a pragas e doenças de solo, seca ou a solos

encharcados. O enxerto ou copa é responsável pela fotossíntese que irá alimentar toda a

planta para a produção.

20

A enxertia deve ser realizada para propagar espécies que não podem ser

facilmente multiplicadas por outros métodos, para obter benefícios do porta-enxerto,

mudar a cultivar copa em plantas adultas (sobreenxertia) ou substituir o porta-enxerto

(subenxertia).

O sucesso da cicatrização entre as partes após a prática da enxertia dependerá da

espécie que se estará trabalhando; da habilidade do enxertador; da atividade fisiológica

do enxerto e do porta-enxerto; das condições a que as plantas serão submetidas durante

e após a enxertia; dos problemas de pragas e doenças e da incompatibilidade que possa

ocorrer entre as partes.

É importante destacar também que existem alguns limites na enxertia

relacionados à combinação copa e porta-enxerto. A maior facilidade da enxertia ocorre

entre plantas de um mesmo clone, aumentando o grau de dificuldade à medida que se

enxertam diferentes cultivares da mesma espécie, diferentes espécies e diferentes

gêneros.

O sucesso da enxertia intergenérica (entre gêneros) é bastante limitado, sendo

conhecidos alguns casos como o de pereira sobre marmeleiro, por exemplo. Em

fruticultura não se conhece sucesso de enxertia entre plantas de famílias botânicas

diferentes.

Tipos de enxertia

São três os tipos de enxertia: borbulhia, garfagem e encostia. No primeiro caso,

o enxerto é uma borbulha, ou gema; no segundo, um pedaço de ramo ou garfo destacado

da planta matriz com uma ou mais gemas e no terceiro, a união de duas plantas inteiras.

Borbulhia

A borbulhia consiste na justaposição de uma única gema sobre um porta-enxerto

enraizado. Embora haja vários tipos de borbulhia, serão descritas as formas em “T”

normal, “T” invertido, placa ou janela aberta e janela fechada. Cada denominação varia

em função do tipo de corte efetuado e na forma de fixação das gemas (borbulhas) no

porta-enxerto (Figura 5).

21

Figura 5 - Borbulhia “T” normal (a); Borbulhia “T” invertido (b); Borbulhia em

placa ou janela aberta(c); Borbulhia janela fechada (d). Fonte: Adaptado de

Hartmann et al. (2002)

As borbulhias em “escudo” e em “T” referem-se a uma mesma técnica (“T”

designa a aparência do corte no cavalo, onde a gema será introduzida e o “escudo”

refere-se ao formato dessa gema). O corte em “T” no porta-enxerto é feito abrindo uma

incisão transversal e outra longitudinal, onde será inserida a borbulha. A borbulha é um

fragmento de forma triangular, retirada da planta matriz após o corte do ramo que a

contém, também chamado de ramo porta-borbulha. Esse fragmento deve ter dimensões

proporcionais ao corte em “T” efetuado no porta-enxerto.

Com a ponta do canivete de enxertia, abre-se a região da casca abrangida pelas

incisões, levantando-a para inserção da borbulha que é introduzida com a gema voltada

para o lado externo. Em seguida, deve-se amarrá-la de cima para baixo, com o auxílio

de um fitilho plástico ou fita biodegradável. Toda essa operação deve ser rápida, para

que não ocorra ressecamento das regiões de união dos tecidos ou cicatrização dos cortes

antes que ela seja finalizada.

O “T” invertido é muito parecido, apenas o sentido do corte que o difere do

anterior, sendo o corte horizontal feito na extremidade inferior do corte perpendicular

do porta-enxerto. O escudo retirado da planta matriz agora tem sua base invertida. O

objetivo da variação na técnica é evitar a infiltração de água na região da enxertia. É

importante observar que a posição da borbulha não muda. A amarração do escudo deve

iniciar-se de baixo para cima no porta-enxerto. A facilidade operacional é maior, além

de impedir o acúmulo de água nos cortes, por isso é o tipo mais utilizado quando

22

comparado ao corte em “T” normal. O “T” invertido é amplamente utilizado por

viveiristas, principalmente os produtores de mudas de citros.

Na produção de mudas de pessegueiro pode-se utilizar o método de borbulhia

por janela aberta ou placa, onde a gema é retirada da variedade copa com um segmento

retangular e encaixada num porta-enxerto previamente preparado com a mesma

abertura. São feitos dois cortes perpendiculares paralelos e outros dois transversais,

formando um retângulo. O pedaço da casca é retirado, com o auxílio de um canivete.

Toma-se o cuidado para que os dois retângulos sejam de tamanhos bem próximos.

Depois o escudo encaixado é amarrado com fitilho plástico ou fita biodegradável,

sempre deixando a gema do pessegueiro exposta, pois ela é muito sensível e pode se

quebrar.

Na borbulhia tipo janela fechada, o corte da copa deve permitir a abertura da

casca em duas partes, como as folhas de um portão, que serão fechadas sobre a borbulha

após sua inserção. Duas incisões transversais e paralelas são feitas no porta-enxerto, e

um corte perpendicular une as duas pelo ponto central de seu comprimento. Levanta-se

a casca entre os cortes e a borbulha retangular semelhante à janela aberta é introduzida,

ficando em estreito contato com os tecidos internos do caule. A casca deve ser fechada

contra o escudo e amarrada com fitilho plástico, aumentando o contato entre os tecidos.

Garfagem

Garfagem é um método de enxertia que consiste na retirada e transferência de

um pedaço de ramo da planta matriz (copa), também denominado garfo, que contenha

uma ou mais gemas para outra planta que é o porta-enxerto. Embora haja várias

denominações, os tipos mais comuns de garfagem são: meia-fenda, fenda cheia; fenda

dupla, fenda lateral, inglês simples e inglês complicado (Figura 6).

23

Figura 6 - Garfagem fenda cheia (a); Garfagem meia fenda (b); Garfagem inglês

simples (c); Garfagem inglês complicado (d). Fonte: Adaptado de Hartmann et al.

(2002)

Na garfagem em meia fenda, o garfo é cortado em bisel duplo. O porta-enxerto

é cortado transversalmente, fazendo-se, em seguida, uma incisão igual a largura do

bisel. Aprofunda-se a incisão para baixo, por meio de movimentos com o canivete de

enxertia, então introduz-se o garfo na fenda, de tal modo que as camadas das duas partes

fiquem em contato em pelo menos um dos lados. Esse tipo de garfagem é utilizado

quando os garfos são de diâmetros diferentes do porta-enxerto, sendo necessário que

pelo menos um dos lados esteja em contato com os tecidos para que ocorra o processo

de cicatrização e sobrevivência do enxerto.

Já na garfagem em fenda cheia, a obtenção do garfo é idêntica ao caso anterior.

O porta-enxerto é cortado transversalmente à altura desejada, praticando-se em seguida

uma fenda cheia, do mesmo tamanho do garfo que será introduzido nessa fenda, de

maneira que os dois lados desse garfo coincidam por completo com o diâmetro do

porta-enxerto. Para a prática da enxertia por inglês simples é necessário que o garfo e o

porta-enxerto tenham o mesmo diâmetro. Corta-se o porta-enxerto a uma altura

conveniente do solo, talhando-o em um bisel simples enquanto o garfo também é

cortado em bisel, exatamente para encaixar no porta-enxerto, a fim de que possam

coincidir em toda sua extensão.

24

A garfagem por inglês complicado é realizada como no caso anterior, mas com

um encaixe mais perfeito. Coloca-se a lâmina do canivete um pouco acima do meio do

bisel do porta-enxerto e, a partir deste ponto, em sentido longitudinal e paralelo ao eixo,

fende-se o próprio cavalo, até que a fenda atinja o nível da base do seu bisel.

Faz-se o mesmo no bisel do enxerto. Então encaixa-se o garfo no porta-enxerto,

tomando o cuidado de fazer com que as cascas de ambos se coincidam. Os instrumentos

utilizados para a prática da garfagem são tesoura de poda e canivete.

Após a realização da garfagem, é importante amarrar bem forte o garfo no porta-

enxerto para manter as partes perfeitamente unidas. Depois, cobre-se o enxerto com um

saquinho plástico, os mesmos utilizados para sorvetes, para evitar que ocorra perda ou

infiltração de água na região de enxertia.

Quando iniciar a brotação do enxerto, retira-se o saquinho plástico o que deve

ocorrer por volta de 30 dias, dependendo da espécie. Já o fitilho plástico será retirado

após 60 dias, para garantir a união das partes enxertadas. Então é só esperar o

desenvolvimento da brotação para que as mudas possam ser plantadas em campo.

Encostia

A encostia é um método de enxertia usado para árvores frutíferas que

dificilmente se propagam por outros métodos. Em resumo é uma técnica que consiste na

junção de duas plantas inteiras, que são mantidas dessa forma até a união dos tecidos

(Figura 7).

Figura 7 - Enxertia por encostia. Fonte: Adaptado de Hartmann et al. (2002)

Após essa união, uma será utilizada somente como porta-enxerto e a outra como

copa. Para fazer essa enxertia, o porta-enxerto deve ser transportado em um recipiente

até a planta que se quer propagar sendo geralmente colocado na altura da copa, através

da utilização de suportes de madeira que o sustentarão.

25

Corta-se uma porção do ramo de cada uma das plantas, de mesma dimensão, e

encostam-se as partes cortadas, amarrando-as em seguida com fita plástica para haver

união dos tecidos.

O enxerto é representado por um ramo da planta matriz, sem dela se desligar até

que ocorra a soldadura ao porta-enxerto. Após 30-60 dias, havendo a união dos tecidos,

faz-se o desligamento da nova planta, cortando-se acima do ponto de união do porta-

enxerto.

Nessa fase, retira-se o fitilho plástico que estava amarrado e destaca-se o ramo

da planta original, formando uma nova copa. Tem-se, assim, a muda, constituída de

copa e porta-enxerto.

A primavera é a estação mais adequada para a prática da encostia e as que são

realizadas no outono desenvolvem-se muito lentamente.

Incompatibilidade entre copa e porta-enxerto

A compatibilidade pode ser definida como a capacidade que duas plantas ou

parte de plantas enxertadas possuem de se desenvolverem satisfatoriamente como se

fossem uma única planta. Já a incompatibilidade pode ocorrer devido a diferenças

fisiológicas, bioquímicas e anatômicas entre as plantas que podem ser favoráveis ou

desfavoráveis à união do enxerto.

Os problemas de incompatibilidade ocorrem principalmente em função da

enxertia entre espécies de diferentes famílias e gêneros. Os principais sintomas

associados à incompatibilidade de enxertia são:

• expansão da união do enxerto quando ocorre o super crescimento do diâmetro do

tronco acima ou abaixo do ponto de enxertia;

• quebra ou ruptura do enxerto na ocorrência de ventos fortes ou até mesmo quando a

produção de frutos na planta for muito grande;

• morte prematura da planta;

• amarelecimento e queda prematura das folhas no outono;

• aparecimento de uma linha escura na região da enxertia pela morte dos tecidos.

A presença de um ou mais desses sintomas não significa necessariamente, que a

combinação seja incompatível. Podem ser resultantes de condições ambientais

desfavoráveis, tais como falta de água ou nutrientes, ataques de pragas, doenças ou

inclusive, enxertia mal sucedida.

26

Micropropagação

A propagação “in vitro” ou micropropagação, consiste na aplicação da técnica

de cultura de tecidos para a produção de plantas idênticas a planta matriz. Este tipo de

propagação permite produzir mudas com alta qualidade genética e fitossanitária.

É feita em laboratórios a partir de pedaços de tecido vegetal. Estes fragmentos

retirados de vegetais são chamados de explantes e multiplicados em meio artificial (sem

solo), o qual fornece nutrientes e outras substâncias necessárias à multiplicação e

regeneração de novas plantas. A base para o cultivo de pequenas partes de plantas só é

possível pela propriedade da totipotência, que é a capacidade que toda célula vegetal

tem de regenerar uma planta completa, a partir de informações genéticas contidas na

mesma.

As técnicas de propagação “in vitro” permitem multiplicar vegetativamente

espécies de difícil propagação pelos métodos convencionais. Além disso, permite a

produção de um grande número de plantas a partir de um explante em menor tempo que

os métodos tradicionais de propagação. Possibilitam também, a produção de mudas

livres de patógenos causadores de doenças que pelos métodos convencionais de

propagação, podem ser transmitidos pelas mudas.

Entre as fruteiras tropicais multiplicadas pela cultura de tecidos destacam-se as

culturas do abacaxizeiro e da bananeira que estão sendo produzidas em maior escala por

algumas empresas do setor (Figura 8).

Figura 8 - Mudas de bananeira micropropagadas.

Estruturas especializadas

Algumas espécies possuem processos naturais de propagação por meio de

estruturas especializadas. Essas estruturas são caules, folhas ou raízes modificadas que

27

além de funcionarem como órgãos de reserva de alimentos podem também ser utilizadas

na propagação. Em condições adversas são esses órgãos que possibilitam a

sobrevivência das plantas.

Vários tipos de estruturas especializadas podem ser utilizadas na produção de

mudas. Em espécies frutíferas, as principais estruturas são estolões, rebentos e rizomas

que são úteis na propagação de algumas espécies, como, por exemplo, o morangueiro, a

bananeira, o abacaxizeiro, a framboeseira e a amoreira-preta.

Os estolões são definidos como caules aéreos especializados, muito comuns na

propagação do morangueiro; já os rizomas são caules subterrâneos que possuem gemas

para formação de novas brotações, as quais originarão novos pseudocaules e passarão a

ter o seu próprio sistema radicular. É o principal método de multiplicação das

bananeiras.

As mudas de bananeira são obtidas a partir do desenvolvimento das gemas do

rizoma. A denominação das mudas é dada de acordo com o desenvolvimento e peso do

rizoma. As mudas obtidas de rizoma inteiro são denominadas popularmente de:

• Chifrinho – apresentam de 20 a 30 cm de altura e têm unicamente folhas lanceoladas

(em forma de lança) com até 1,5 kg;

• Chifre – apresentam de 50 a 60 cm de altura e folhas lanceoladas, com peso variando

de 1,5 a 2,5 kg;

• Chifrão: apresentam de 60 a 150 cm de altura, com uma mistura de folhas lanceoladas

e folhas características de planta adulta, com peso superior a 2,5 kg.

28

Figura 9 - Mudas do tipo chifrão, chifre e chifrinho com folhas (a), sem folhas (b);

Pedaços de rizoma (c)

Essas mudas podem ser obtidas diretamente do bananal, tomando o cuidado de

selecioná-las de plantas vigorosas, que represente a variedade a ser propagada, esteja

isenta do ataque de pragas e doenças e com idade que não seja superior a quatro anos.

Embora a propagação por rizomas seja muito utilizada, nos últimos anos tem

crescido muito a produção de mudas de bananeira utilizando a técnica de cultura de

tecidos, ou micropropagação, como visto anteriormente.

29

CAPÍTULO 3 - MANEJO DO SOLO E IRRIGAÇÃO

O manejo do solo envolve todos os tratos culturais aplicados à camada de solo

utilizada pelas plantas frutíferas, desde o momento do plantio até a colheita. Deve ser o

mais eficiente possível quanto ao controle da erosão do solo, regulação da

disponibilidade de água, manutenção de um bom nível de matéria orgânica, redução da

competição com ervas daninhas, manutenção da fertilidade do solo, facilidade no

trânsito do homem e máquinas no pomar, levando em consideração a economicidade,

equipamentos e máquinas disponíveis na propriedade. O manejo do solo e a sua

execução estão intimamente ligados ao sistema de plantio, espaçamento adotado,

dimensão da área, espécie cultivada, clima e topografia.

Preparo do solo antes do plantio

As plantas frutíferas apresentam um sistema radicular que se concentra numa

faixa de 0 a 40cm, entretanto é possível que algumas espécies atinjam até alguns metros

de profundidade.

O solo, portanto, deve ser profundo, bem drenado e conter nutrientes e água em

quantidades adequadas para que a planta alcance um bom desenvolvimento. O solo deve

ser preparado até uma profundidade de 40 a 50cm, para que seja possível incorporar os

fertilizantes e corretivos. Para isso, é utilizada subsolagem seguida de lavração

profunda, quando as condições do terreno permitirem.

Para plantas frutíferas, o solo deve ser corrigido até uma profundidade de 40cm,

portanto a quantidade de corretivos deve ser duplicada, uma vez que a análise de solo

prescreve os corretivos para uma faixa que vai até 20cm de profundidade. Durante o

preparo do solo, antes do plantio, é a melhor ocasião para incorporar os corretivos em

profundidade, tendo-se em vista que os mesmos são pouco móveis no solo; e que,

depois de implantado o pomar, as dificuldades para colocá-los a disposição do sistema

radicular seriam aumentadas.

O preparo do solo de maneira superficial dificulta a penetração do sistema

radicular da planta e limita a disponibilidade de nutrientes e água, provocando menor

crescimento das mesmas, podendo, em algumas situações, aumentar o risco de erosão

pela menor retenção de água das chuvas. Deve-se levar em conta o tipo de solo e a

declividade do terreno, condições climáticas, recursos do fruticultor, espécie cultivada,

condução da planta e área do pomar. Em terrenos pedregosos ou muito acidentados o

preparo normalmente é feito em covas.

30

Preparo do solo com subsolagem e lavração profunda

A subsolagem é uma prática realizada a uma profundidade de 40 a 50cm no solo,

seguida de lavração e gradagem. Este sistema permite colocar os nutrientes em maiores

profundidades e a disposição das raízes das plantas, melhorando a aeração do solo, e a

infiltração de água, além de romper camadas adensadas existentes, facilitando a

penetração e o desenvolvimento do sistema radicular das plantas.

Esta forma de cultivo não pode ser utilizada em solos rasos, pedregosos ou que

apresentem horizonte com adensamento. Exige máquinas apropriadas e apresenta um

custo inicial mais elevado. O calcário e os demais corretivos podem ser aplicados em

duas etapas; metade da quantidade antes da subsolagem e a outra metade antes da

lavração.

Quando for usado um fosfato natural, como fonte de P2O5, deve-se aplicá-lo

antes da aplicação do calcário, pois em meio ácido esta fonte de fósforo se solubiliza

mais facilmente, aproveitando, desta forma, a acidez natural do solo. Os corretivos são

aplicados em toda a área e, por ocasião do plantio, faz-se abertura de pequenas covas,

com tamanho suficiente para acomodar o sistema radicular da planta, não havendo

necessidade de adubação nas covas. O plantio das mudas, dependendo da declividade,

poderá ser:

a) Em nível, quando a declividade do terreno for menor do que 3%;

b) Com construção de terraços, quando a declividade for menor do que 20% e;

c) Em patamares, quando a declividade for superior a 20%.

Preparo convencional do solo seguido ou não de abertura de covas

Neste sistema o solo é preparado e corrigido até uma profundidade de 20 a

25cm, em seguida são abertas covas de 60 x 60 x 60 ou 80 x 80 x 80cm. Os fertilizantes

são utilizados de acordo com o volume do solo e os resultados da análise do mesmo.

Este sistema pode ser utilizado em situações onde não é possível realizar o preparo do

solo, devido à presença de impedimentos à mecanização, tais como pedras e declive

acentuado, ou quando a espécie a ser cultivada não apresenta um sistema radicular

profundo. Em solos mal drenados ou muito argilosos a utilização de covas pode

provocar acúmulo de água e morte das raízes por asfixia. Em outras situações, a

adubação na cova cria um ambiente propício ao desenvolvimento da planta e não

permite que haja uma expansão lateral, quer por problemas mecânicos (parede espessa)

ou químicos (maior disponibilidade de nutrientes na cova).

31

Preparo convencional do solo seguido ou não de abertura de covas

Neste sistema o solo é preparado e corrigido até uma profundidade de 20 a

25cm, em seguida são abertas covas de 60 x 60 x 60 ou 80 x 80 x 80cm. Os fertilizantes

são utilizados de acordo com o volume do solo e os resultados da análise do mesmo.

Este sistema pode ser utilizado em situações onde não é possível realizar o preparo do

solo, devido à presença de impedimentos à mecanização, tais como pedras e declive

acentuado, ou quando a espécie a ser cultivada não apresenta um sistema radicular

profundo.

Em solos mal drenados ou muito argilosos a utilização de covas pode provocar

acúmulo de água e morte das raízes por asfixia. Em outras situações, a adubação na

cova cria um ambiente propício ao desenvolvimento da planta e não permite que haja

uma expansão lateral, quer por problemas mecânicos (parede espessa) ou químicos

(maior disponibilidade de nutrientes na cova).

Preparo convencional seguido da construção de terraços tipo camalhão

O solo é preparado até uma profundidade de 20 a 40cm, ao mesmo tempo em

que é realizada a correção de acordo com os resultados da análise do solo. Sobre o solo

previamente preparado são construídos camalhões, ou seja, terraços de base estreita com

2,0 a 3,0m de largura e 40 a 60cm de altura, sobre os quais são plantadas sobre o solo

previamente preparado são construídos camalhões, ou seja, terraços de base estreita com

2,0 a 3,0m de largura e 40 a 60cm de altura, sobre os quais são plantadas as mudas,

conforme indica a Figura.

Figura: Corte de um terraço, mostrando sua localização, bem como a do canal.

Pode ser utilizado em terrenos de até 20% de declividade. Permite um bom

desenvolvimento radicular da planta, pois aumenta a quantidade de solo arável a ser

32

explorado; preparo totalmente mecanizado; contribui para o controle da erosão e auxilia

a drenagem em solos planos.

Preparo do solo em faixas

Consiste em preparar apenas uma faixa do terreno, na qual será plantada a

espécie frutífera. A faixa de preparo, dependendo do terreno, pode ser em nível e ter

uma largura de até 2,5m. Nesta faixa são aplicados todos os corretivos e a muda é

plantada sobre solo preparado. A medida que a planta vai crescendo, a faixa de cultivo

pode ser ampliada. Entre as duas filas de plantas pode permanecer uma faixa de

vegetação nativa ceifada periodicamente.

O preparo do solo pode ser com subsolagem e lavração profunda ou ainda

lavração convencional seguida da construção de camalhões. Este sistema tem um custo

menor na instalação do pomar e permite um bom controle da erosão do solo. A

desvantagem seria que ele não permite a instalação de culturas intercalares no pomar.

Figura: Sistema de cultivo onde as linhas de plantas são mantidas limpas e as

entrelinhas com cobertura vegetal. Foto: José Carlos Fachinello

Plantio em terraços tipo patamar

Este sistema envolve grande movimentação de solo e é restrito a áreas que

apresentam riscos de erosão, com declividade superior a 20%, e para culturas de alto

rendimento econômico, devido ao elevado custo da construção.

Deve-se dar preferência para o plantio em solos planos e com outros sistemas de

preparo do solo. Este sistema é utilizado na região da serra do RS, com viticultura.

Existem três tipos de terraços em patamar: patamar contínuo, utilizado em culturas

permanentes; patamar descontínuo ou "banquetas individuais", construído para cada

33

planta do pomar a ser formado e; por último, o patamar de irrigação. Este sistema é

muito oneroso, pois implica em grandes movimentações de solo.

Outros sistemas e disposição dos carreadores

É possível, ainda, o cultivo de plantas em trincheiras, banquetas individuais,

entre outras. A escolha do melhor sistema ficará na dependência da espécie frutífera,

espaçamento, condições climáticas, solo, topografia, disponibilidade de equipamentos e

recursos financeiros.

Os carreadores, sempre que possível, devem ser planejados e em nível. Toda

água que sai do pomar deve ser canalizada para escoadouros protegidos, para evitar-se

problemas com erosão em voçorocas, principalmente.

Características do uso de máquinas no pomar

A utilização de equipamentos com tração mecânica permite grande rendimento

do trabalho e a execução das atividades dentro do menor espaço de tempo. Para que as

máquinas diminuam os riscos de erosão, adensamento do solo e danos sobre as plantas,

recomenda-se:

a) Evitar o uso de máquinas pesadas, pois provocam adensamento no solo e danificam

as plantas;

b) Evitar o uso contínuo de equipamentos que pulverizam o solo, como as enxadas

rotativas, pois contribuem para aumentar a erosão do solo;

c) O trabalho no solo com arados e grades deve ser superficial e realizado nas épocas

adequadas para cada cultura;

d) Os equipamentos devem ser apropriados para as atividades dentro do pomar.

Sistemas de cultivo do pomar depois do plantio das mudas

O sistema de cultivo ou manejo do solo refere-se às práticas culturais aplicadas à

superfície do solo e deve levar em conta:

a) Conservação da umidade e aeração do solo;

b) Adição de matéria orgânica e fertilizantes;

c) Conservação das características físicas do solo;

d) Facilitar o trânsito de máquinas e homens no pomar;

e) Controle de erosão e plantas daninhas;

f) Economicidade e possibilidade de efetuação com mão-de-obra e equipamentos

disponíveis;

g) Dimensão da área, espécie e espaçamento utilizado;

h) Topografia e clima.

34

Pomar em formação

Nos primeiros anos de vida do pomar, recomenda-se manter uma faixa de solo

limpa periodicamente ao longo da linha das plantas. Esta faixa deve ser um pouco maior

que a projeção da copa das plantas. A área entre as filas de plantas é mantida com

cobertura vegetal nativa ceifada ou, principalmente, com culturas intercalares de porte

baixo, tais como: feijão, soja, amendoim, aveia, trevo, entre outras. Este cultivo

intercalar deve receber adubação apropriada e não deve competir com a muda em luz,

umidade e nutrientes.

O cultivo intercalar é uma prática muito utilizada, pois, mantém uma cobertura

do solo, evitando problemas de erosão e propiciando melhorias nas condições físicas e

químicas do solo. Quando bem sucedidas, as culturas intercalares contribuem para

custear as despesas do pomar na fase de implantação. É importante que o solo

permaneça sempre com algum tipo de cobertura, assim diminui-se as perdas pela

erosão.

Pomar em produção

As plantas frutíferas para se desenvolverem necessitam encontrar, no solo, água,

ar e nutrientes minerais. Estas condições são básicas e precisam ser consideradas

quando se pretende estabelecer um bom sistema de manejo do solo.

Pomar permanentemente limpo

Neste sistema, toda área do pomar é mantida livre de vegetação nativa ou

invasoras, por meio de mobilizações periódicas e superficiais ou mesmo com uso de

herbicidas. Apesar desta forma de manejo evitar a concorrência das plantas daninhas,

facilitar a incorporação de nutrientes e demais tratos culturais, expõe o solo à erosão;

provoca compactação, pelo trânsito de máquinas e implementos agrícolas; além de

diminuir a matéria orgânica, deixando o solo mais sujeito às variações de temperatura

durante o dia e a noite.

O uso freqüente de equipamentos que pulverizam o solo, tais como enxadas

rotativas, além de desagregar o solo, facilita, enormemente, a erosão. A manutenção do

solo limpo, com aplicações sucessivas de herbicidas, provoca um endurecimento na

camada superficial, contribuem para aumentar os riscos de intoxicação dos aplicadores e

podem poluir os mananciais de água.

Pomar com cultivo intercalar

Neste sistema de cultivo, o pomar é mantido na entrelinha com um cultivo

intercalar, que pode ter um caráter temporário ou permanente. As espécies cultivadas

35

devem ser de porte baixo e, normalmente, leguminosas ou associação com gramíneas e

têm o objetivo de melhorar as propriedades físicas e químicas do solo, porém deve-se

considerar que, em períodos de seca, as leguminosas causam maiores prejuízos às

plantas do que as gramíneas, pois apresentam sistema radicular mais desenvolvido e,

com isso, uma maior capacidade de absorção de água do solo. Quando se mantém a

vegetação espontânea, a mesma é mantida ceifada periodicamente. Ao longo das filas é

mantida uma faixa limpa, do tamanho ou um pouco maior do que a projeção da copa

das plantas, através do uso de capinas ou aplicações de herbicidas.

Este sistema combina as vantagens do sistema que mantém o solo limpo na linha

da planta e da cobertura vegetal na entrelinha como auxílio no controle da erosão. Esta

modalidade de sistema pode ser alterada ao longo do ciclo vegetativo da planta, no caso

específico de plantas frutíferas de clima temperado. Depois que as frutas foram colhidas

pode-se deixar a vegetação espontânea crescer também ao longo da linha de plantas, até

o início da primavera seguinte.

No caso de algumas espécies de folhas permanentes, como é o caso de plantas

cítricas no estado de São Paulo, recomenda-se, na época das águas, manter a faixa limpa

periodicamente e a entrelinha ceifada ou discada através de grades. Se for utilizada uma

planta intercalar para exploração econômica, deve-se realizar a adubação da planta

independente da adubação da frutífera.

Pomar com cobertura vegetal permanente

O solo todo do pomar é mantido com uma cobertura vegetal rasteira, nativa ou

cultivada de forma permanente. Oferece vantagens para a proteção do solo no que diz

respeito à melhoria na estrutura, proteção contra erosão, trânsito de máquinas e diminui

a compactação.

Entretanto, é um sistema que a vegetação dentro do pomar concorre com a

plantafrutífera em água e nutrientes, podendo causar prejuízos em épocas de estiagem.

Este sistema pode ser utilizado em solos com grande declividade, apenas realizando um

pequeno coroamento na projeção da copa durante o ciclo vegetativo da planta, através

do uso de capinas ou herbicidas. Pode ser utilizado em plantas que apresentem um

sistema radicular profundo, como é o caso da nogueira-pecan.

Pomar com cobertura morta permanente

O solo é mantido com uma cobertura de restos vegetais, cortados de espécies

forrageiras, palha ou casca de arroz, serragem, palha de leguminosas, entre outras. A

espessura da cobertura varia de 10 a 20cm, conforme o material utilizado.

36

Através de experimentos, verificou-se que é necessário cortar até 3m2 de área de

capim gordura para cobrir 1m2 do pomar com folha seca, numa espessura de 20cm.

Apesar deste sistema ser oneroso e limitado à pequenas áreas, traz vantagens para o

desenvolvimento das plantas, tais como:

a) Redução das perdas de água, pois funciona como uma válvula que permite a

penetração da água, opondo-se, no entanto, a sua perda por evaporação direta;

b) Evita que a gota da chuva cause desagregação das partículas pelo impacto direto;

c) Aumenta as taxas de N, S, B e P no solo;

d) Contribui para o controle das ervas daninhas, possibilitando que as plantas possam

desenvolver o sistema radicular na superfície do solo.

As limitações para uso deste sistema de cultivo seriam:

a) Em solos mal drenados os problemas de aeração são acentuados;

b) Em pomares conduzidos com cobertura morta por alguns anos, o abandono da prática

pode trazer sérias consequências, pois o sistema mantém as raízes da planta na

superfície do solo;

c) A cobertura morta aumenta o risco de geadas por impedir a irradiação do calor do

solo para o ar;

d) Favorece o risco de incêndio e ataque de roedores;

e) O custo é significativo, pois necessita-se adicionar matéria seca anualmente;

f) Não deve ser estabelecida antes de três anos de vida da planta, pois estimula o

desenvolvimento superficial das raízes da planta.

A adição periódica de restos vegetais faz com que se necessite de uma adubação

suplementar de nitrogênio, na base de 50 kg/tonelada de cobertura morta, uma vez que a

mesma altera a relação C/N.

Variantes para combinar sistemas de cultivo do pomar

Na prática os sistemas de cultivos citados anteriormente são pouco utilizados

isoladamente, o que se utiliza são as combinações deles durante o desenvolvimento da

cultura, baseados na espécie vegetal, regime hídrico, declividade, disponibilidade de

mão-de-obra, equipamentos e custos. Em algumas situações, pode-se utilizar:

a) Cobertura vegetal permanente e cobertura morta na linha das plantas;

b) Cobertura com vegetal ceifado na entrelinha e limpo na projeção da copa, através de

herbicidas e/ou capinas periódicas;

c) Cultivo do solo com planta leguminosa durante parte do ano para posterior

incorporação ao solo;

37

d) Vegetação nativa na entrelinha, mantida rasteira através do uso de grades que

atingem pequenas profundidades do solo;

e) Vegetação natural ceifada no período das chuvas e limpo, na época da seca, com

máquinas ou herbicidas;

f) Vegetação natural ceifada quando necessário e plantas coroadas com herbicidas.

Escolha do sistema de cultivo

É difícil recomendar um ou outro sistema de cultivo apenas a partir de

considerações teóricas, pois a escolha do sistema deverá levar em conta:

a) Aspectos relativos à planta (espécie, espaçamento);

b) Aspectos relativos ao solo (profundidade, textura, estrutura, topografia);

c) Aspectos relativos ao clima (chuvas, geadas);

d) Aspectos econômicos (custo operacional, equipamentos disponíveis);

IRRIGAÇÃO EM FRUTICULTURA

As regiões tradicionais produtoras de frutas de todo o mundo utilizam a irrigação

como um insumo importante para garantir produtividade e qualidade das frutas. Isto

acontece na Argentina, Chile, Estados Unidos, Espanha, Itália, Egito, Israel, região

nordeste do Brasil, onde se produz um grande volume de frutas tropicais e temperadas

sob irrigação.

No Sul e Sudeste do Brasil, normalmente ocorrem precipitações em torno de

1.500mm, porém nem sempre há uma boa distribuição das chuvas durante o ano. É

comum acontecerem estiagens durante os meses de dezembro e janeiro e no período de

inverno, respectivamente. Estes períodos com falta de umidade do solo, ocasionam

perdas nas colheitas, pois provocam rachaduras nas frutas e diminuição do tamanho das

frutas, além de diminuir a absorção de nutrientes do solo.

Os sistemas de irrigação disponíveis permitem que se tenham projetos eficientes,

com economia hídrica e permitindo que sejam aplicados os fertilizantes através da água

de irrigação, a chamada fertirrigação.

A fertirrigação é o processo pelo qual os fertilizantes são aplicados junto com a

água de irrigação. Esta prática se converteu em rotina e é um componente essencial dos

modernos sistemas de irrigação. Neste sistema são aplicados os macro e micronutrientes

para as plantas frutíferas, para isso é necessário que os mesmos sejam solúveis em água.

O consumo de água depende de fatores como o solo, a cultura, a umidade do ar, entre

outros. A umidade do solo é determinada por tensiômetros. Por exemplo, quando os

38

tensiômetros chegam a uma tensão de 15 a 20 centibares, em solos leves, deve-se

renovar a irrigação, pois a maior parte da água disponível no solo já foi aproveitada.

A retirada de água do solo pela planta aumenta à medida que se desenvolvem os

ramos e se amplia a área foliar. A multiplicação de células nessa fase (35 a 40 dias após

a floração) é muito grande, diminuindo após o fim da polinização. Como o número de

células irá determinar o tamanho final das frutas, a falta de água nesse período reduz o

número de células, diminuindo o tamanho da fruta e a produção. Após a divisão celular,

inicia-se a fase de aumento de volume da célula. Nesse período, a etapa mais crítica

ocorre durante a aceleração máxima do crescimento da fruta, duas a três semanas antes

da colheita. Pode-se manejar a água ao longo desse estágio, antes da etapa crítica,

reduzindo o teor de umidade do solo na fase que se inicia com a fruta no tamanho de

uma azeitona até o período de seu crescimento rápido, visando-se à economia de água e

melhoria da qualidade da fruta, sem comprometimento da produtividade.

Sistemas de Irrigação em Pomares

A escolha do sistema deve considerar o tipo de solo, clima, disponibilidade e

qualidade da água, sistema de cultivo, manejo do solo e custo da energia.

Irrigação por inundação

Este sistema requer um bom nivelamento do terreno, normalmente declives

inferiores a 1% e um grande fluxo de água, na ordem de 1,6 L seg. ha-1. É pouco

utilizado nas condições do Brasil, pois normalmente os pomares são implantados em

terrenos com declividade superiores. É um sistema que exige grandes volumes de água

e, mesmo em solos nivelados, dificilmente se consegue uma boa distribuição da água no

solo (70%).

Irrigação em sulcos

Como no sistema anterior, a irrigação em sulcos requer uma nivelação do

terreno, normalmente é recomendado para declives até 2%. Em declives superiores,

pode causar sérios problemas de erosão. O fluxo de inundação nos sulcos é da ordem de

1,2 a 1,5 L seg. ha-1 e a eficiência do sistema é da ordem de 40 a 70%. A principal

vantagem é o baixo custo de instalação em solos nivelados.

Irrigação por aspersão

Este sistema pode ser utilizado em terrenos onde os custos para nivelamentos

são elevados, em solos com topografia irregular, para controle de geadas e permite uma

boa uniformidade de distribuição da água.

39

A irrigação por aspersão pode ser de dois tipos: sobrecopa e sub-copa, quando

feita por cima ou por baixo da copa das plantas. A irrigação sobrecopa apresenta como

principais desvantagens o molhamento das folhas, o que aumenta a incidência de

doenças, e maiores perdas por evapotranspiração e pela ação dos ventos. Já a aspersão

sub-copa apresenta como desvantagem principal a interferência do tronco e copa das

plantas, o que dificulta o molhamento uniforme do terreno.

Na aspersão, as vazões e pressões são, normalmente, de média a alta, exigindo

motobombas de maior potência e demandando maior consumo de energia em relação ao

gotejamento e à microaspersão. Por outro lado, os aspersores não necessitam de

equipamentos de filtragem e apresentam uma menor necessidade de manutenção.

Figura: Irrigação por aspersão em videira. Foto: Marco Antônio Fonseca

Conceição.

Irrigação por microaspersão

A irrigação por microaspersão é bastante usada em videiras e outras frutíferas,

diferindo da aspersão, basicamente, pela vazão menor dos aspersores. Este sistema

requer filtros, sendo comum, porém, empregar-se somente filtros de discos (ou tela).

Nesses sistemas podem ocorrer problemas com a entrada de insetos e aranhas nos

microaspersores, causando entupimentos e, com isso, prejudicando a aplicação de água.

Por isso deve-se optar, sempre que possível, por microaspersores com dispositivos anti-

insetos.

Na microaspersão os emissores são, normalmente, posicionados individualmente

ou a cada duas plantas, não havendo problemas de interferência dos troncos, como na

aspersão sub-copa.

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Figura: Irrigação por micraspersão em videira. Foto: Jair Costa Nachtigal

Irrigação por gotejamento

Trata-se de um sistema moderno de irrigação e consiste, basicamente, na

aplicação frequente de água a um volume de solo limitado e com um consumo inferior a

qualquer outro sistema. A água é aplicada em pontos localizados na superfície do

terreno, sob a copa das plantas. O solo é mantido próximo à capacidade de campo (CC),

o que proporciona condições mais adequadas ao desenvolvimento e à produção.

O gotejamento é uma instalação permanente, isto é, não pode ser deslocada de

uma área para outra e os gotejadores são distribuídos sob a planta ou enterrados no solo.

Este sistema utiliza pouca mão-de-obra e apresenta uma eficiência de 95% em zonas

tropicais, porém requer o uso de água de boa qualidade e de filtros eficientes,

normalmente filtros de areia.

Os gotejadores são peças especiais que dissipam a pressão da água de irrigação,

a fim de manter a vazão homogênea ao longo da linha de gotejamento. Tal dissipação de

energia se dá pela passagem da água por delgadas secções. Por essa razão ela deve ser

limpa e livre de impurezas em suspensão. Este sistema é muito utilizado na fruticultura

moderna e, normalmente, associado à fertirrigação.

41

Figura: Irrigação por gotejamento em pereira. Foto: José Carlos Fachinello.

42

CAPÍTULO 4 - PODA DAS PLANTAS FRUTÍFERAS

A poda, muito embora seja praticada para dirigir a planta segundo a vontade do

homem, em fruticultura, é utilizada com o objetivo de regularizar a produção e melhorar

a qualidade das frutas.

A poda é uma das práticas culturais realizadas em fruticultura que, juntamente

com outras atividades, como fertilização, irrigação e drenagem, controle fitossanitário,

afinidade entre enxerto e porta-enxerto e condições edafoclimáticas, torna o pomar

produtivo. Para que a poda produza resultados satisfatórios é importante que seja

executada levando-se em consideração a fisiologia e a biologia da planta e seja aplicada

com moderação e oportunidade.

4.1. Conceitos

Existem diversos conceitos referentes à poda, dentre eles:

a) Poda é a remoção metódica das partes de uma planta, com o objetivo de melhorá-la

em algum aspecto de interesse do fruticultor;

b) É a arte e a técnica de orientar e educar as plantas, de modo compatível com o fim

que se tem em vista.

c) É a técnica e a arte de modificar o crescimento natural das plantas frutíferas, com o

objetivo de estabelecer o equilíbrio entre a vegetação e a frutificação.

4.2. Importância da poda

A importância da poda varia com a espécie, assim para uma ela é decisiva,

enquanto que, para outra, ela é praticamente dispensável. Com relação à importância da

poda, as espécies podem ser agrupadas da seguinte maneira:

a) Decisiva - Videira, pessegueiro, figueira.

b) Relativa - Pereira, macieira, caquizeiro.

c) Pouca importância - Citros, abacateiro, nogueira-pecan.

4.3. Objetivos da poda

Os principais objetivos da poda são:

a) Modificar o vigor da planta;

b) Manter a planta dentro de limites de volume e forma apropriados;

c) Equilibrar a tendência da planta de produzir maior número de ramos vegetativos

ouprodutivos e vice-versa;

d) Facilitar a entrada de ar e luz no interior da planta, com a abertura da copa;

e) Suprimir ramos supérfluos, doentes e improdutivos;

f) Facilitar a colheita das frutas e os tratos culturais dentro do pomar;

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g) Evitar a alternância de safras, de modo a proporcionar anualmente colheitas médias

com regularidade.

4.4. Fundamentos da poda

Sob o ponto de vista fisiológico, a poda pode ser fundamentada pelo que segue:

a) A seiva se dirige com maior intensidade para as partes altas e iluminadas da planta;

b) A circulação da seiva é mais intensa em ramos retos e verticais;

c) Quanto mais intensa for a circulação de seiva, maior será o vigor nos ramos, maior

será a vegetação e, ao contrário, quanto maior a dificuldade na circulação de seiva mais

gemas de flor serão formadas;

d) Cortada uma parte da planta, a seiva fluirá para as partes remanescentes,

aumentando-lhe o vigor vegetativo;

e) Podas curtas (severas) têm a tendência de provocar desenvolvimento vegetativo,

retardando a frutificação;

f) Diminuindo a intensidade de circulação de seiva, o que ocorre no período após a

maturação das frutas, verifica-se uma correspondente maturação de ramos e de folhas.

Nesse período, acumulam-se grandes quantidades de reservas nutritivas, que são

utilizadas para transformar as gemas foliares em frutíferas;

g) O vigor das gemas depende da sua posição e do seu número nos ramos, geralmente as

gemas terminais são mais vigorosas;

h) O vigor e a fertilidade de uma planta dependem, em grande parte, das condições

climáticas e edáficas;

i) Deve haver um equilíbrio na relação entre copa e sistema radicular. Este equilíbrio

afeta o vigor e a longevidade das plantas.

Numerosos trabalhos têm demonstrado que a poda tem um efeito ananizante

sobre o crescimento vegetativo, ou seja, as plantas podadas, além de terem uma menor

longevidade, apresentam um porte menor.

Geralmente a poda reduz os pontos de crescimento da planta, aumentando,

assim, a provisão de nitrogênio aproveitável e de outros elementos essenciais para os

pontos de crescimento que permaneceram e isto, por sua vez, aumenta o número de

células que podem ser formadas. Desta maneira, a poda da copa favorece a formação de

células e a utilização de carboidratos. Por conseguinte, favorece a fase vegetativa e

retarda a fase reprodutiva.

O estímulo à fase vegetativa pode ser ou não desejável, depende da espécie

frutífera que se está trabalhando. A redução do sistema aéreo pela poda, qualquer que

44

seja o método utilizado, leva consigo uma perda mais ou menos importante das reservas

contidas na madeira suprimida e na diminuição do número de folhas, ou seja, de órgãos

assimiladores de carbono.

Nos primeiros anos de vida, toda a energia produzida é gasta para o próprio

crescimento da planta. Depois de formada as estrutura da planta, então começa a sobrar

seiva elaborada, que se transforma em reserva e é armazenada na planta. Desta maneira,

a planta, através destas reservas, pode transformar as gemas vegetativas em botões

florais. Esta acumulação é maior nos ramos novos e finos do que nos ramos velhos e

grossos. O equilíbrio entre a fase vegetativa e reprodutiva onde se considera a relação

entre o carbono e o nitrogênio nas diferentes fases da vida da planta.

4.5. Hábito de frutificação das principais espécies frutíferas

Afim de entender as necessidades da poda das plantas cultivadas, é necessário

um conhecimento prático dos seus hábitos de frutificação. De acordo com a natureza

que possuem, as plantas frutíferas podem ser divididas em três tipos:

4.5.1 Plantas que produzem em ramos especializados

Só produzem em ramos especializados, os demais ramos dessas plantas

produzem brotos vegetativos e folhas. Ex.: macieiras e pereiras. Esses ramos

especializados são geralmente curtos e muitos deles denominados esporões, podendo

apresentarem as seguintes denominações:

a) Dardos - são estruturas pequenas e pontiagudas, com entrenós muito curtos.

Apresentam uma roseta de folhas na extremidade, pouco maior que uma gema.

b) Lamburda - ramo curto com nodosidades na base, sem gemas laterais, podendo

terminar em gemas vegetativas ou de frutas (coroadas).

c) Bolsa - parte curta, inchada, constituída por tecido pouco diferenciado, porém com

grande acumulação de substâncias nutritivas, que se formam no ponto de união da fruta

colhida com o ramo. É um órgão de transição que pode dar origem a novas gemas

florais, dardos, lamburdas, brindilas ou vários deles de cada vez. Geralmente, são

formadas a partir de um esporão depois de vários anos.

d) Brindilas - são ramos finos, com diâmetro de 3 a 5mm e comprimento em torno de

20cm. Na ponta, podem apresentar um dardo, gema vegetativa ou floral.

e) Botão floral - forma arredondada e destacado, em geral apresenta maior volume do

que as gemas vegetativas.

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Figura: Principais tipos de ramos especializados encontrados em plantas

frutíferas. Foto:José Carlos Fachinello

4.6. Modalidades de poda

A poda acompanha a planta desde o início da vida até a sua decrepitude. As

necessidades de poda vão sofrendo alterações à medida que a idade da planta vai

avançando.

Poda de formação

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A poda de formação é realizada nos primeiros anos de vida da planta, o que, para

a maioria das plantas frutíferas, se prolonga até o 3o ou 4o ano. Durante esta etapa não

se busca a produção e sim uma estrutura de ramos suficientemente fortes para poder

resistir o peso das colheitas sem romperem-se. Assim, é essencial o desenvolvimento de

bifurcações fortes e ramos bem espaçados. Procura-se uma arquitetura que propicie um

ótimo aproveitamento da radiação solar e boa produção por planta.

Poda de frutificação

É iniciada depois que a copa está formada. Para praticá-la, tem-se a necessidade

de conhecer a constituição dos órgãos da planta para saber o que se elimina e porque se

elimina. Assim, assegura-se uma regularidade e melhora da frutificação através de um

controle rigoroso do equilíbrio entre as funções vegetativa e reprodutiva.

A importância da poda de frutificação está intimamente relacionada com o

hábito de frutificação da planta. Assim sendo, a poda de frutificação é mais importante

para aquelas espécies que produzem em ramos novos, ou seja, ramos do ano, como é o

caso da figueira, da videira e do quivizeiro. A poda de frutificação também é importante

porque é responsável pela manutenção do equilíbrio entre a parte vegetativa e a parte

produtiva da planta, com isso é possível evitar diversos problemas que ocorrem quando

as plantas apresentam produções desequilibradas.

A poda de frutificação é bastante variável com a espécie, cultivar, espaçamento,

vigor da planta, estado nutricional e fitossanitário, condições climáticas, épocas, entre

outras. Isso faz com que, para algumas espécies, como a macieira, a poda de frutificação

seja importante para algumas cultivares e, para outras, possa até não ser realizada.

Poda de rejuvenescimento

Tem por finalidade livrar as plantas frutíferas de ramos doentes, atacados por

pragas ou renovar a copa através do corte total da mesma, deixando-se apenas as

ramificações principais, com isso pode-se reativar a produtividade perdida. Este tipo de

poda é frequente em pomares abandonados, mas de vigor ainda razoável, como, por

exemplo, laranjeiras, macieiras e pereiras. Normalmente, cortam-se as pernadas

principais, deixando-se com 40 a 50cm, e, posteriormente, seleciona-se os ramos que

irão permanecer, através da poda verde. Estes cortes maiores são realizados no inverno,

ocasião em que são aplicadas pastas fungicidas no local que foi cortado.

Poda de limpeza

É uma poda leve, constituindo-se na retirada de ramos secos, atacados por

doenças, pragas ou mal localizados. É realizada em frutíferas que requerem pouca poda,

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como é o caso de laranjeiras, jabuticabeiras, mangueiras, entre outras. Esta prática

normalmente é realizada em períodos de baixa atividade fisiológica da planta, ou seja,

durante o inverno ou, como no caso das plantas cítricas, logo após a colheita das frutas.

48

CAPÍTULO 5 – PRINCIPAIS PRAGAS E DOENÇAS EM FRUTICULTURA

PRAGAS DA MANGUEIRA

Moscas das frutas - Ceratitis capitata e Anastrepha spp. (Diptera: Tephritidae)

As moscas-das-frutas fazem parte de um grupo de pragas responsável por

grandes prejuízos econômicos na cultura da mangueira, não só pelos danos diretos que

causam à produção, como, também, pelas barreiras quarentenárias impostas pelos países

importadores. A. obliqua é a principal mosca-das-frutas que ataca a manga. No Vale do

São Francisco C. capitata (Figura 1) é a espécie mais comum, contudo, além dessa

espécie, são relacionadas onze espécies do gênero Anastrepha (Figura 2):

Fig. 1. Adulto de Ceratitis Fig. 2. Adulto de Anastrepha

Os ovos das moscas-das-frutas são introduzidos, por meio do ovipositor, abaixo

da casca do fruto, de preferência ainda imaturos. No local onde são depositados, pode

ocorrer contaminação por fungos ou bactérias, o que resulta no apodrecimento local do

fruto. Aproximadamente dois dias após a postura, eclode a larva, que passa a se

alimentar da polpa do fruto hospedeiros, reduzindo sua qualidade e tornando-o

impróprio para consumo in natura, comercialização e industrialização.

1.1. PRAGAS SECUNDÁRIAS DA MANGUEIRA

1. PRAGAS DA INFLORESCÊNCIA E DE FRUTOS

Tripes - Selenothrips rubrocinctus e Frankliniella schultzei (Thysanoptera: Thripidae)

No Vale do São Francisco, S. rubrocinctus (Figura 3) e F. schultzei são as espécies mais

comuns de tripes que atacam a mangueira. Espécies do gênero Frankliniella têm sido

relatadas ocasionando danos em panículas, por sua alimentação em nectários e anteras

de flores, que poderá resultar em perda prematura de pólen (Peña and Mohyuddin,

1997). S. rubrocinctus e F. schultzei também têm sido reportados danificando frutos.

49

Em altas infestações o dano é visível na casca dos frutos, que apresentam manchas ou

rachaduras que depreciam o seu valor com comercial (Barbosa et al., 2000a; Brandão &

Boaretto,1999).

Fig. 3. Adulto de Selenothrips

Lagartas - Pleuroprucha asthenaria (Lepidoptera: Geometridae) e Cryptoblabes

gnidiella (Lepidoptera: Pyralidae).

Alimentam-se de pétalas e ovários de flores, resultando no secamento parcial ou

total da inflorescência com consequente diminuição da frutificação. Frutos pequenos e o

pedúnculo podem, ainda, apresentar a superfície da epiderme danificada pelas larvas,

levando a queda ou amadurecimento precoce. A presença destas lagartas é maior em

inflorescências compactadas pelo uso do paclobutrazol ou, infectadas pelo fungo

Fusarium spp., (agente da malformação floral), ambiente favorável ao ataque da praga.

C. gnidiella (Figura 5) também é uma praga comum em videiras na nossa região

(Moreira et al., 2004) enquanto P. asthenaria (Figura 6) tem sido relatada em

inflorescências e grãos de sorgo, na Colômbia (Pulido, 1979).

Fig. 5. Larva de Cryptoblabes gnidiella. Fig. 6. Larva de Pleuroprucha sp.

Cochonilhas

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As cochonilhas Aulacaspis tubercularis (Figura 7), Saissetia oleae, Pinnaspis

sp. e Pseudococus sp., infestam os frutos da mangueira, podendo ocasionar exsudação

de látex, manchas e deformações nos frutos, desqualificando-os para fins comerciais

(Peña, 2004; Icuma & Cunha, 2001; Gallo et al., 2002).

A.tubercularis é considerada a espécie mais importante nos pomares destinados

à exportação (Nascimento et al., 2002). De acordo com Souza Filho et al (2004), há

indícios de que o orifício feito para a sua alimentação no fruto, favorece a penetração de

patógenos de pós-colheita.

Fig. 7. Aulacaspis tubercularis

Pulgões - Aphis gossypii, A. craccivora e Toxoptera aurantii (Hemiptera: Aphididae)

A ocorrência de pulgões em mangueira, em condições de campo, não é comum.

Entretanto, em plantios comerciais no Submédio São Francisco, observam-se

infestações de afídeos causando danos às plantas. São insetos sugadores, polífagos e

podem estar em outras culturas ou colonizando plantas invasoras, localizadas próximas

ou no interior do pomar (Barbosa et al., 2005; Ferreira & Barbosa, 2002).

Ao alimentarem-se da seiva, injetam na planta substâncias tóxicas, que

provocam o o secamento e a queda de flores, reduzindo, consequentemente, a produção

de frutos. Além disso, há redução da capacidade fotossintética da planta, devido à

ocorrência de fumagina (Barbosa et al., 2001b).

Formigas cortadeiras - Atta sexdens, Atta laevigata e Acromyrmex spp.

(Hymenoptera, Formicidae)

As formigas cortadeiras podem causar severas desfolhas em mudas, ainda nos

viveiros e em pomares em formação. Quando não controladas, após a transferência das

mudas para o campo, retardam o desenvolvimento e podem causar até morte de plantas

(Cunha et al., 2000).

51

PRINCIPAIS DOENÇAS DA MANGUEIRA

As principais doenças que ocorrem na região do Submédio São Francisco estão

descritas a seguir:

Antracnose (anamorfo Colletotrichum gloeosporioides; teleomorfo

Glomerella cingulata)

É considerada uma das doenças mais frequentes e responsáveis pelas maiores

perdas econômicas em áreas produtoras de manga no mundo, necessitando, em certas

ocasiões, de tratamento pós-colheita. Alta severidade da antracnose ocorre em locais ou

épocas onde há frequência de chuvas e predominância de alta umidade relativa. No

Semiárido nordestino, sua importância é restrita às épocas em que a floração e o

desenvolvimento de frutos, coincidem com a ocorrência de chuvas.

Sintomatologia

Os períodos críticos de maior suscetibilidade da mangueira às infecções por C.

gloeosporioides são: fase de florescimento, frutificação, emissão de folhas novas e

gemas florais. São nessas ocasiões em que o patógeno pode causar queima de panículas,

mumificação de frutos e necroses em folhas (Figuras 1 e 2).

Fotos: Lopes, D. B.

Fig. 1. a) Sintoma de antracnose em frutos jovens e, b) em folhas.

Fotos: Batista, D. da C. (a); Lopes, D. B. (b).

Fig. 2. a) Sintomas de antracnose em folhas jovens e, b) em panícula.

52

Sintomas em folhas são inicialmente manchas pequenas, de contorno

arredondado ou irregular e coloração marrom escura, cerca de 1 mm a 10 mm de

diâmetro, que podem surgir tanto nas margens como o centro do limbo foliar, e em

ambos os lados da folha. Em condições de alta umidade, estas manchas ficam maiores e

podem causar o rompimento do limbo.

Infecções em brotações e/ou ramos novos, desenvolvem manchas necróticas e

escuras, que podem evoluir para um secamento descendente, da ponta para a base,

causando desfolha do ramo. Em inflorescências, surgem pontuações escuras que se

tornam alongadas e profundas, provocando a morte de flores e queda de frutos jovens.

Quando a infecção é em frutos, o patógeno pode permanecer quiescente e os

sintomas surgirem durante o amadurecimento em pós-colheita (Figura 3). Durante o

amadurecimento, manchas marrom-escuras a pretas, geralmente arredondadas e

levemente deprimidas podem se desenvolver em qualquer parte do fruto. Com a

evolução dos sintomas, as manchas se tornam maiores e mais deprimidas, com

pequenas rachaduras em certos casos, levando ao apodrecimento do fruto.

Fotos: Batista, D. da C.

Fig. 3. Sintomas de antracnose em mangas.

Aspectos epidemiológicos e controle

A disseminação da doença pode ocorrer a partir de lesões em folhas, panículas

ou frutos que servem como fonte de inóculo para infecção em órgãos sadios. Essa

disseminação ocorre, principalmente, por respingos de água (chuva, orvalho ou

irrigação). O patógeno também sobrevive sob lesões em folhas velhas, ramos verdes ou

secos, inflorescências ou panículas presas à planta. A infecção ocorre, principalmente,

na presença de água livre ou umidade relativa acima de 90%, sendo que a infecção

depende da temperatura.

Temperaturas altas, em torno de 28 oC, são mais favoráveis às infecções de C.

gloeosporioides. Períodos chuvosos e encobertos ou de orvalho prolongado coincidindo

com o florescimento são condições ideais para a ocorrência de epidemias de antracnose.

53

O patógeno possui vários hospedeiros alternativos, desde plantas silvestres a

cultivadas, a exemplo da goiabeira, abacateiro, morangueiro, maracujazeiro, mamoeiro,

etc. Além de aplicações de fungicidas (cúpricos, mancozebe, tiofanato metílico e

tebuconazole), é recomendada a adoção de práticas culturais para reduzir o nível de

inóculo e as condições favoráveis à doença. Entre as medidas recomendadas, destacam-

se: eliminar ramos doentes; indução em épocas em que a floração não coincida com

períodos chuvosos; realizar podas que propiciem boas condições de arejamento; efetuar

limpeza do pomar, retirando e queimando restos de cultura contaminados; não deixar

frutos infectados nas plantas; fazer o tratamento químico pós-colheita com procloraz ou

o hidrotérmico com temperatura de 52 oC durante 5 minutos.

Oídio (Oidium mangiferae)

O oídio denominado, pelos produtores, de cinza, é uma doença muito comum em

pomares de mangueiras. As fases críticas para ocorrência de epidemias são: emissão de

folhas novas, florescimento e início de frutificação. Na região semiárida do Vale do São

Francisco, a intensidade da doença é maior, principalmente no segundo semestre.

Sintomatologia

Inflorescências, folhas e frutos, ambos, ainda jovens são bastante suscetíveis.

Quando a infecção ocorre na inflorescência, as partes infectadas ficam recobertas por

um crescimento pulverulento branco-acinzentado (Figura 4). O pó branco-acinzentado é

formado por estruturas do patógeno (micélios, conidióforos e esporos). Com o

desenvolvimento dessas estruturas, as mesmas acabam danificando as inflorescências,

acarretando sérios abortamentos de flores e, consequentemente, comprometendo

diretamente a produção da mangueira. As ramificações das inflorescências e os frutos

jovens também ficam recobertos com as estruturas do fungo.

Fotos: Lopes, D. B.

Fig. 4. Sintomas de oídio em inflorescências da mangueira.

54

O pedúnculo de frutos, quando infectado pelo fungo, torna-se mais fino e

quebradiço, o que resulta em queda de frutos. Entretanto, os frutos à medida que se

desenvolvem, tornam-se resistentes à infecção. Folhas infectadas, além de ficarem

recobertas pelo crescimento branco-acinzentado, tornam-se deformadas e com aspecto

de queima. Quando o sintoma é muito severo pode ocorrer queda prematura de folhas.

Aspectos epidemiológicos e controle

O fungo O. mangiferae é um parasita obrigado, isto é, sobrevive apenas sob

órgãos vegetais vivos. Portanto, O. mangiferae sobrevive em tecido vivo da planta, tais

como: folhas, ramos, inflorescência, frutos ou gemas. Para epidemias de oídio as

condições favoráveis são: ambiente com baixa umidade relativa, temperaturas amenas e

ocorrência de ventos, que facilita a dispersão do fungo.

Para o controle da doença, é recomendado que o produtor intensifique o

monitoramento durante a fase de desenvolvimento das inflorescências para detecção dos

primeiros focos. Para o controle da doença, pode ser aplicado fungicida à base de

enxofre, antes da abertura das flores e início da frutificação. Aplicações de enxofre

devem ser evitadas durante as horas com temperaturas muito altas, pois o enxofre é

fitotóxico nesta condição. Produtos dos grupos químicos Triazol e Estrobilurinas são

também eficientes.

Seca-da-mangueira (anamorfo Chalara sp.; teleomorfo Ceratocystis imbriata)

Dentre as doenças que ocorrem em mangueiras, a seca-da-mangueira, causada

por Ceratocystis fimbriata pode levar à morte de plantas. A doença pode causar o

declínio de plantas em pomares de mangueira, como ocorrido em Jardinópolis, SP, onde

dizimou pomares das cultivares Haden e Bourbon nas décadas de 1950 e 1960. Em

outras regiões há registros dos mesmos prejuízos em consequência da morte de plantas

em pomares comerciais.

Sintomatologia

O sintoma mais típico da doença consiste em seca, iniciada a partir de ramos

mais finos do dossel, que progride lentamente em direção ao tronco da mangueira

causando o anelamento e a morte da planta (Figura 5). O quadro da doença em planta no

campo caracteriza-se pelo surgimento de sintomas de amarelecimento de folhas, murcha

e seca dos galhos afetados onde as folhas secas e de coloração palha ficam presas,

contrastando com galhos sadios no dossel da mangueira. O sintoma é, principalmente,

constatado nas secções transversais de ramos e troncos infectados, na forma de estrias

radiais escuras, partindo da medula em direção ao exterior do lenho e/ou da periferia do

55

lenho para a medula. Embora menos comum, o sintoma da seca-da-mangueira pode ter

início a partir de infecções pelas raízes, sem deixar sinais perceptíveis até a ocorrência

de morte repentina da mangueira.

Aspectos epidemiológicos e controle

O fungo sobrevive em ramos secos presentes no solo e em diversas plantas que

são hospedeiros naturais. A ocorrência de lesões na parte aérea pode estar associada

com a dispersão do patógeno por pequenos besouros dos gêneros Hypocryphalus. A

broca-da-mangueira, H. mangiferae é o principal vetor de C. fimbriata. Numerosos

orifícios (1 mm) podem ser constatados nos ramos e tronco da mangueira, dos quais há

liberação de resinas e/ou serragem que, após cortes longitudinais ou transversais,

revelam estrias de cor marrom. O fungo também pode ser disperso através do solo

aderido aos implementos agrícolas, pela água de irrigação e, a longa distância, através

de mudas contaminadas. Condições ambientais com temperatura alta e períodos de

precipitações prolongadas são condições que favorecem a doença.

Fotos: Batista, D. da C.

Fig. 5. a) Seca do ramo causada por Ceratocystis fimbriata; b) escurecimento do

tronco da mangueira causado pela colonização por C. fimbriata; c) mangueiras

mortas; d) presença de pequenos orifícios, próximos às lesões, feitos por

coleobrocas.

56

As medidas de controle consistem, primeiramente, na prevenção da introdução

do patógeno em áreas isentas por meio de mudas. Portanto, a aquisição de mudas em

viveiristas idôneos e registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

(MAPA) é essencial. Em áreas onde já ocorre o problema, devem ser realizadas

inspeções periódicas do pomar para a eliminação de plantas doentes. Ramos afetados

devem ser eliminados com a realização de cortes a 40 cm de distância da região de

contraste entre tecido sadio e doente. Materiais infectados ou plantas mortas devem ser

imprescindivelmente queimados sem nenhuma restrição, enquanto as regiões podadas

devem ser protegidas com pasta cúprica.

Ferramentas utilizadas durante a operação de remoção de ramos e partes de

plantas afetadas devem ser desinfectadas em solução de hipoclorito de sódio a 2% de

cloro ativo. A estratégia mais recomendada para conter a seca-da-mangueira é a

resistência genética, pois não há fungicidas registrados para o controle dessa doença.

Algumas variedades são citadas como resistentes: Carabao, Manga d’água, Pico, IAC

101 Coquinho, IAC 102 Touro, IAC 103 Espada Vermelha, IAC 104 Dura, Jasmim,

Rosa, Sabina, Oliveira Neto, São Quirino, Van Dyke, Keitt, Espada, Sensation, Kent,

Irwin e Tommy Atkins.

Morte descendente ou seca-de-ponteiros (Lasiodiplodia theobromae)

Essa doença já foi constatada em vários países produtores de manga do mundo, e

sua importância tem sido maior em condições semiáridas. No Vale do São Francisco, a

incidência tem aumentado nos últimos anos, o que é atribuído às condições da planta

durante a indução floral, pois altas incidências da doença são observadas em condições

de estresse hídrico e nutricional. A lista de espécies hospedeiras de L. theobromae é

bastante extensa, incluindo espécies frutíferas como cajueiro, coqueiro, goiabeira,

videira, maracujazeiro, pinha, cana-de-açúcar e etc.

Sintomatologia

O fungo causa seca-de-ponteiros (Figura 6), queima de inflorescências,

abortamento de frutos e, também, podridão peduncular em manga durante a pós-

colheita. Em ramos verdes, causa lesões escuras de forma irregular, não deprimida,

geralmente associada à base do pecíolo da folha. Sintoma semelhante pode ser

observado nas gemas apicais, com frequente exsudação de goma. Os sintomas em

ramos evoluem para uma seca e morte do ponteiro, onde as folhas secam e ficam presas

ao ramo. Caso os ramos infectados não sejam retirados da planta, a infecção pode

57

progredir lentamente de cima para baixo, deixando toda área afetada necrosada. A seca

pode progredir para os ramos mais velhos, tronco e até matar a planta. Geralmente,

quando esse tipo de sintoma é detectado, a planta já está debilitada e de difícil

recuperação.

Fotos: Batista, D. da C (a); Lopes, D. B. (b).

Fig. 6. Sintomas de seca-de-ponteiros causados por Lasiodiplodia

theobromae.(Fotos: Diógenes da Cruz Batista; Daniela B. Lopes).

O fungo pode causar morte de mudas quando a infecção se dá na região da

enxertia. Nas inflorescências, ocorrem lesões escuras e morte de frutos jovens. A

infecção ocorre frequentemente na ponta da raque e progride da ponta para a base,

causando o secamento da inflorescência. Em frutos jovens, por meio do pedúnculo, a

doença provoca podridão e queda dos mesmos. Em frutos maduros, o patógeno causa

uma podridão de aspecto mole e aquoso, deixando os frutos imprestáveis para o

consumo. Semelhante à antracnose, a infecção pode permanecer quiescente na região do

pedúnculo, em frutos maiores, manifestando-se em pós-colheita.

Aspectos epidemiológicos e controle

O fungo L. theobromae sobrevive como saprófita em ramos secos, restos de

inflorescências, frutos mumificados e material vegetal podado, onde pode se reproduzir

abundantemente, principalmente sob condições de alta umidade (por exemplo, restos de

cultura próximos aos microaspersores). O fungo penetra na planta principalmente por

ferimentos causados pela prática da poda, outras doenças e pragas. As condições mais

favoráveis ao desenvolvimento do fungo são temperaturas em torno de 30 oC a 35

oC.

Para o controle da doença, recomendam-se as seguintes práticas: realizar podas

de limpeza após a colheita; proteger as áreas podadas, com pasta cúprica; desinfectar as

ferramentas de poda; eliminar plantas mortas ou muito doentes; adubar e irrigar

adequadamente o pomar, evitando-se que a água atinja o tronco das plantas; evitar o

estresse hídrico ou nutricional prolongado; controlar insetos, principalmente a

mosquinha, que possam causar ferimentos às plantas; utilizar fungicidas à base de

cobre, tiofanato metílico ou carbendazim e mancozeb.

58

Malformação floral e vegetativa (Fusarium subglutinans)

A malformação ou embonecamento é um dos mais sérios problemas

fitossanitários da mangueira em diversas regiões produtoras em todo o mundo, podendo

ocasionar perdas na produção de até 86%. A incidência da doença na região do Vale

São Francisco é variável, mas pode afetar 100% das plantas em pomares pouco

manejados, ocasionando perdas de produção bastante significativas.

Sintomatologia

Sintoma de embonecamento ocorre por causa da redução no comprimento do

eixo principal e surgimento de ramificações secundárias na panícula, gerando um

aspecto de cacho que lembra uma boneca de pelúcia (Figura 7a), daí o nome popular

adotado pelos produtores e denominado “embonecamento”. As inflorescências

malformadas ou embonecadas não produzem frutos, pois ocorre uma alteração nas

flores que, ao invés de hermafroditas, se tornam estaminadas. Panículas malformadas

ficam retidas na planta e, se não forem retiradas, escurecem e necrosam, servindo como

fonte de inóculo para reprodução do patógeno.

Infecção em ramos vegetativos também causa um superbrotamento dos mesmos,

e decorre do grande número de brotos oriundos das gemas axilares do ramo principal.

Ramo infectado apresenta internódios curtos, folhas rudimentares e grande número de

gemas intumescidas que não chegam a brotar, gerando também uma estrutura de

aspecto compacto (Figura 7b).

Fotos: Lopes, D. B.

Fig. 7. a) Sintomas de malformação floral e b) vegetativa causados por Fusarium subglutinans.

A doença pode ser disseminada pela prática da enxertia, ao utilizar material

propagativo infectado. A disseminação da doença dentro de um pomar é favorecida pela

ocorrência de ventos, principalmente em pomares onde a inflorescência ou os ramos

malformados não são retirados.

59

O período de incubação da doença, ou seja, o intervalo entre a infecção do tecido

e a manifestação dos sintomas, pode variar de semanas a meses. Em trabalhos, sob

condições controladas, verificou-se que os sintomas surgiram entre 6 a 8 semanas.

Durante estudos realizados em fazendas de Petrolina, PE, verificou-se que a maior

dispersão de esporos do fungo ocorre após período de alta umidade associado a

temperaturas altas. Outro aspecto importante relacionado à intensificação da doença é a

associação do fungo com o microácaro Aceria mangiferae, que ao alimentar-se das

gemas apicais favoreçam a infecção do fungo, em virtude das aberturas de ferimentos.

Algumas práticas de manejo necessitam ser adotadas em conjunto para reduzir a

ocorrência da doença, tais como: fazer vistoria periódica do pomar e viveiros para

eliminar material vegetal sintomático; não usar material de propagação doente na

formação de mudas; eliminar mudas doentes; podar e destruir ramos e panículas

infectados; queimar panículas e ramos retirados das plantas. A variedade Rosa é

considerada resistente, enquanto ‘Tommy Atkins’, ‘Van Dyke’, ‘Palmer’e a

‘Haden’suscetíveis.

Mancha angular ou cancro bacteriano (Xanthomonas campestris pv.

mangiferaeindicae)

É uma doença que pode afetar ramos, folhas, inflorescências e frutos. Ocorre,

principalmente, durante períodos em que altas temperaturas coincidem com chuvas ou

períodos úmidos prolongados. Em regiões com predominância de baixa umidade e

pouca precipitação pluviométrica, sua ocorrência é baixa e não causa sérios prejuízos.

No Estado de São Paulo, onde os relatos dessa doença é mais severa, os danos podem

ser superiores a 70%. Nas condições do Submédio do Vale São Francisco, ocorrência da

bactéria é baixa e as perdas insignificantes.

Sintomatologia

Os sintomas em folhas têm início com o encharcamento do tecido, seguido do

desenvolvimento de lesões angulares e limitadas pelas nervuras, com a presença ou não

de halo amarelado. Geralmente, as lesões são menores que 0,5 cm2, podendo coalescer

e formar grandes áreas necróticas, causando a desfolha. Lesões podem surgir nas

nervuras e em pecíolos de folhas, em forma de manchas escuras irregulares e alongadas,

onde futuramente se formam cancros. Em ramos e panículas podem se desenvolver

lesões semelhantes. Nos frutos, as lesões surgem como pequenas manchas encharcadas

(aspecto úmido) sob as lenticelas. As manchas são de coloração verde-escuras que

60

posteriormente se tornam enegrecidas. Essas manchas têm um aspecto de estrela,

rompe-se e exsuda uma goma bacteriana infecciosa.

Aspectos epidemiológicos e controle

Semelhante ao fungo C. gloeosporioides, as células bacterianas de X. campestris

pv. mangiferaeindicae são dispersas por respingos de água, que pode ser oriunda da

chuva ou irrigação. A doença pode ser disseminada também, por insetos como as

moscas das frutas e por sementes contaminadas. A penetração da bactéria no hospedeiro

acontece por meio de ferimentos ou aberturas naturais (lenticelas e estômatos).

Condições ambientais como temperatura e umidade altas são favoráveis à doença;

ventos fortes ou granizos, por causar ferimentos, são fatores que também favorecem a

contaminação.

A disseminação da doença entre plantas se dá, primariamente, pelos respingos de

água da chuva ou irrigação que dispersam a bactéria para plantas vizinhas. A chuva é o

fator climático que mais se correlaciona com a incidência da doença.

Além das práticas culturais mencionadas anteriormente para as demais doenças, a

produção de mudas isentas da doença é essencial para o manejo integrado. Medidas

como o uso de quebra vento, remoção de órgãos infectados que servem como fontes de

inóculos e aplicações de produtos à base de cobre são igualmente importantes.

Entretanto, o uso de cúpricos ajuda apenas a reduzir a população epifítica

localizada na superfície da planta, porém, não tem efeito curativo. Como a presença de

água livre é um pré-requisito para infecções bacterianas, a região semiárida se destaca

pela baixa incidência da doença.

Patógenos emergentes

A utilização de práticas inadequadas de manejo no cultivo da mangueira tem

favorecido a intensificação de outras doenças que possuíam pouca importância no

Submédio do Vale São Francisco, as quais são causadas por Alternaria alternata,

Fusicoccum aesculis e Neofusicoccum parvum. Uma característica comum, entre esses

patógenos, é que eles causam perdas pós-colheita. Os sintomas em manga variam com o

fungo envolvido na infecção e com a região da manga infectada.

Normalmente, a podridão tem origem a partir da infecção do pedúnculo ou da

superfície do fruto. Mais de um fungo podem estar associados com a podridão

peduncular. Além das podridões causadas por L. theobromae e C. gloeosporioides, é

comum observar infecções por A. alternata, F. aesculis e N. parvum. Infecções em

61

manga, a partir do pedúnculo por L. theobromae, F. aesculis e N. parvum, origina

sintoma de podridão que é impossível distinguir o agente causal (Figura 8a). Por outro

lado, infecções na superfície da manga por A. alternata, F. aesculis e N. parvum

originam manchas que podem ser confundidas, pelo agricultor, com a antracnose

(Figuras 8b e 9).

Alternaria alternata afeta folhas, induzindo a formação de manchas escuras e

arredondadas, perceptíveis mais facilmente na parte inferior da folha. No fruto, lesão

similar se desenvolve ao redor das lenticelas, tendo a lesão uma profundidade inicial de

apenas 1 mm a 2 mm sem apresentar amolecimento (Figura 9). Sob condições de

umidade, a lesão se desenvolve, tornando-se deprimida com reprodução do patógeno no

centro da lesão. Sintomas de podridão de Alternaria são mais restritos que os da

antracnose.

Os fungos F. aesculis e N. parvum causam, também, sintomas de queima de

inflorescência, morte-descendente e declínio (Figura 10) da mangueira que podem ser

confundidos por aqueles causados por L. theobromae. Para esses tipos de patógenos a

eliminação de fontes de inóculos, a exemplo de órgãos infectados (frutos, ramos, folhas

e panículas) é essencial para o sucesso do programa de manejo fitossanitário, pois o

controle químico somente não proporciona resultados satisfatórios, caso a pressão de

inóculo e, consequentemente, a taxa de infecção seja alta.

Fotos: Terao, D. (A); Batista, D. da C. (B)

Fig. 8. a) Sintomas de podridão peduncular e, b) manchas em mangas

causados por Fusicoccum parvum.

62

Fotos: Batista, D. da C.

Fig. 9. Sintomas de manchas em mangas causadas por Alternaria alternata.

Fotos: Tavares, S. C. C. H.; Batista, D. da C.

Fig. 10. a) Sintomas de declínios (infecções no tronco) causados por

Lasiodiplodia theobromae e, b) Fusicoccum aesculis (B).

PRINCIPAIS PRAGAS MELÃO

A cultura do melão, Cucumis melo L., expandiu-se muito no Nordeste brasileiro,

durante os últimos anos. Trata-se de importante opção agrícola nos pólos irrigados.

Dessa forma, as maiores áreas cultivadas com melão encontram-se nos estados do

Ceará, Rio Grande do Norte (Mossoró e Vale do Rio Açu), Pernambuco (Petrolina) e

Bahia (Juazeiro). Essas regiões são reconhecidamente áridas; entretanto, apesar dessa

condição, algumas pragas têm-se destacado e causado muitos problemas aos produtores.

A cultura do melão não tem muita importância nos estados da região Centro-Sul devido,

provavelmente, às dificuldades de cultivo durante o período das águas (verão) e à

sensibilidade da cultura às baixas temperaturas.

Mosca-branca – Bemisia tabaci, biótipo B (Hemiptera: Aleyrodidae)

Trata-se de uma das pragas de maior Socioeconomia para cultura do meloeiro no

Brasil (Figura 1). Este inseto apresenta alto potencial biótico, elevada capacidade de

63

adaptação a novos hospedeiros, diferentes condições climáticas e grande capacidade

para desenvolver resistência aos inseticidas. Estes fatores fazem com que seu controle

seja dificultado.

Os fatores climáticos são condicionantes para o desenvolvimento da mosca-

branca. Altas temperaturas e baixa umidade relativa do ar favorecem seu

desenvolvimento. A disseminação da praga ocorre mais frequentemente pelo transporte

de partes vegetais de plantas infestadas de um local para outro.

Fotos: José Adalberto de Alencar

Figura 1. a) Adultos de mosca-branca em meloeiro; b) ninfas (fase jovem) de mosca-branca em

meloeiro.

Danos

A mosca-branca pode ocasionar danos diretos e indiretos na cultura do meloeiro.

Os danos diretos são causados pela sucção da seiva da planta e inoculação de toxinas

pelo inseto, provocando alterações no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo da

planta, reduzindo o peso, o tamanho e o grau Brix dos frutos e prolongando o ciclo da

cultura. Em ataques severos pode ser observado o amarelecimento das folhas mais

velhas enquanto em plantas jovens ocorre a seca das folhas e, dependendo da

intensidade da infestação, até mesmo morte de plantas.

Além disso, grande parte do alimento ingerido é excretado na forma de um

líquido semelhante a mel, que serve de meio de crescimento para um fungo saprófita de

coloração negra (fumagina) que recobre as partes vegetais interferindo no processo de

fotossíntese da planta. Contudo, o maior problema causado pela mosca-branca à cultura

64

do meloeiro está relacionado com os danos indiretos, pela transmissão do vírus causador

do amarelão.

Táticas de controle

O planejamento para adoção do manejo da mosca-branca no meloeiro deve ser

feito antes da realização dos plantios, pois trata-se de uma cultura suscetível à essa

praga, e que, na maioria dos casos, segue um modelo de exploração dependente do

mercado, ou seja, realizando-se cultivos escalonados, o que dificulta um bom manejo

fitossanitário. Este manejo deve ser baseado em medidas preventivas e curativas.

As medidas preventivas visam dificultar ou retardar a entrada do inseto na área,

bem como eliminar as suas fontes de abrigo, de alimento e de reprodução. Medidas que

favoreçam o equilíbrio biológico no agroecossistema, também, devem ser consideradas

antes e após a implantação da cultura.

As principais medidas preventivas para o controle e/ou convivência com a

mosca-branca são: a) planejar os plantios de forma que sejam feitos na direção contrária

à dos ventos predominantes. Assim, os plantios novos serão menos infestados pela

mosca-branca oriunda do plantio mais velho; b) fazer plantios isolados ou utilizar como

cerca-viva, plantas não hospedeiras da praga (sorgo, capim-elefante, etc.), intercaladas,

ao redor do plantio ou do lado do vento predominante; c) eliminar fontes de inóculo

como maxixe, abóbora, melancia, ervas daninhas hospedeiras da praga ao redor da área

a ser plantada; d) iniciar o preparo do solo, mantendo a área limpa, pelo menos 30 dias

antes do plantio; e) não intercalar o plantio com culturas suscetíveis à praga; f) rotação

de culturas com plantas não suscetíveis; g) após o plantio, manter a área isenta de

plantas hospedeiras da praga, no interior e ao redor da cultura; h) não permitir cultivos

abandonados nas proximidades da área cultivada; i) eliminar os restos culturais

imediatamente após a colheita.

Como medida curativa, pode-se adotar o controle químico, porém,

considerando-se o uso das substâncias químicas dentro de um programa de manejo

integrado de pragas (MIP), pois, o uso exclusivo, não criterioso e contínuo de

inseticidas não é a solução permanente para o controle da mosca-branca. Os produtos a

serem utilizados no controle químico devem ser aqueles registrados no Ministério da

Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) para a cultura do meloeiro, respeitando-

se as doses indicadas e o período de carência de cada produto.

65

Amostragem

O processo de amostragem deve ser realizado de preferência em horário com

temperatura do dia mais amena, geralmente, de 6h às 9h. Para o adulto, amostrar uma

folha do terceiro nó, a partir do ápice do ramo, observando-se, a parte inferior da folha.

Para as ninfas, amostrar uma folha do oitavo ao décimo nó do ramo, observando-se,

com auxílio de uma lupa de bolso, uma área de uma polegada quadrada na face inferior

da folha, próxima à nervura central.

Nível de controle

Dois insetos adultos, quando na presença de sintomas de ataque do vírus do

amarelão e dez insetos adultos, na ausência de sintomas do amarelão. Pelos resultados

de pesquisa com a mosca-branca, constataram-se que o nível de controle encontra-se

dentro de uma faixa que é definida em função da variedade e/ou híbrido utilizado,

condições climáticas, bem como condições nutricionais da planta.

Brocas-das-cucurbitaceas – Diaphania nitidalis e Diaphania hyalinata

(Lepidoptera: Pyralidae)

As lagartas podem atingir até 20 mm de comprimento (Figura 2). Contudo,

Diaphania nitidalis e Diaphania hyalinata, são espécies que diferem quanto à coloração

dos adultos. D. nitidalis tem coloração marrom-violácea, com as asas apresentando uma

área central amarelada semitransparente e os bordos marrom-violáceos (Figura 3),

enquanto que a D. hyalinata tem asas com áreas semitransparentes, brancas e a faixa

escura retilínea nos bordos (Figura 4).

A postura é feita nas folhas, ramos, flores e frutos. O período larval é de

aproximadamente 10 dias. O ciclo evolutivo completo é de 25 a 30 dias.

Fotos: José Adalberto de Alencar.

Figura 2. Lagartas da broca-das-cucurbitáceas.

66

Figura 3. Adulto de Diaphania nitidalis.

Figura 4. Adulto de Diaphania hyalinata

Danos

As lagartas atacam folhas, brotos, ramos, flores e frutos. Quando o ataque é

severo, observa-se na polpa dos frutos abertura de galerias tornando-os inviáveis à

comercialização. A espécie D. nitidalis ataca os frutos em qualquer idade, enquanto D.

hyalinata ataca, geralmente, as folhas, causando desfolha total da planta, quando em

altas populações (Figura 5).

67

Figura 5. Folha de meloeiro apresentando danos pelo ataque de lagarta da broca-das-

cucurbitáceas.

Táticas de controle

O controle das brocas-das-cucurbitaceas é efetuado, basicamente, com uso de

inseticidas. A ação desses agroquímicos no controle de D. nitidalis é dificultada, pela

preferência das lagartas pelas flores e frutos, onde penetram rapidamente. As lagartas de

D. hyalinata são controladas mais facilmente, pelo fato de terem preferência pelas

folhas. Vários princípios ativos são registrados pelo Ministério da Agricultura Pecuária

e Abastecimento (MAPA) para o controle dessas lagartas e, poderão ser encontrados no

site http://agrofit.agricultura.gov.br.

Na presença de lagartas nos primeiros estádios de desenvolvimento, a

pulverização com Bacillus thuringiensis pode apresentar elevada eficiência sem

acarretar impacto negativo sobre os inimigos naturais e sem deixar resíduos nos frutos.

Amostragem

Avaliar 20 pontos em ziguezague, com cada ponto correspondendo a uma planta.

Nível de controle

O nível de ação é alcançado quando se registrar a presença de três lagartas por

planta, em média, nos 20 pontos amostrados.

Pulgão – Aphis gossypii (Hemiptera: Aphididae)

Esse inseto apresenta um potencial biótico elevado, formando colônias em

brotações e folhas novas da planta. Porém, na escassez de alimento, há o aparecimento

de formas aladas que migram para outras plantas em busca de alimento e formação de

novas colônias.

68

Danos

Os pulgões atacam brotações e folhas novas do meloeiro, sugando

continuamente uma grande quantidade de seiva. Em elevadas infestações, essas partes

da planta tornam-se deformadas, comprometendo o desenvolvimento da mesma. No

entanto, o maior dano causado pela praga ao meloeiro é a transmissão do vírus-do-

mosaico, que compromete totalmente o desenvolvimento da planta, principalmente se a

transmissão ocorrer nas primeiras fases de desenvolvimento da cultura.

Amostragem

Avaliar em cada ponto do total de 20, uma folha do quarto nó a partir do ápice

do ramo.

Nível de controle

Sugere-se a presença de 10 insetos, em média, nos 20 pontos amostrados.

Táticas de controle

A aplicação de inseticidas para o controle do pulgão requer alguns cuidados e

precauções, pois, esse inseto é preso preferencial para os inimigos naturais das pragas.

Recomenda-se a não aplicação de produtos do grupo dos piretroides nas primeiras fases

de desenvolvimento da cultura, período no qual a presença de inimigos naturais começa

a ocorrer. Os produtos registrados pelo MAPA para o pulgão em meloeiro poderão ser

encontrados no site http://agrofit.agricultura.gov.br.

A eliminação de ervas daninhas hospedeiras do pulgão é uma importante medida

de controle cultural. No polo Petrolina, PE/Juazeiro, BA, constatou-se como ervas

daninhas hospedeiras deA. gossypii: beldroega (Portulacaoleracea L.), bredo

(Amaranthus spinosus L.), pega-pinto (Boerhaavia diffusa L.) e malva branca (Sida

cordifolia L.).

Outras medidas alternativas de controle são citadas como auxiliares na redução

populacional da praga, tais como: a) efetuar os plantios em sentido contrário aos ventos;

b) culturas atrativas aos inimigos naturais, como o sorgo, que é uma das fontes de

desenvolvimento para a fauna benéfica; c) manutenção da vegetação nativa entre os

talhões para preservar a fauna e a flora benéfica; d) eliminação de plantas atacadas pelo

vírus-do-mosaico a fim de reduzir as fontes de inóculo dentro do cultivo e, e) utilização

de quebra-vento com plantas não hospedeiras da praga.

Moscas minadoras – Liriomyza sativae e Liriomyza huidobrensis (Diptera:

Agromyzidae)

69

Os adultos da mosca-minadora são insetos pequenos, com aproximadamente 2

mm de comprimento, coloração preta, com manchas amarelo-claras na cabeça e na

região entre as asas. A larva da espécie L. sativae tem coloração amarelo-intensa, ao

passo que a larva de L. huidobrensis tem coloração branco-creme e é mais robusta. O

período chuvoso é o mais favorável para essa praga, ocorrendo o inverso em períodos

com temperaturas elevadas.

Danos

A fase larval é a que causa prejuízos, pois o inseto abre galerias em formato de

ziguezague nas folhas, formando lesões esbranquiçadas (Figura 6). As galerias

aumentam de tamanho à medida que as larvas crescem. Um número elevado de minas

nas folhas pode causar a seca das mesmas e resultar na queima dos frutos pela

exposição aos raios solares.

Figura 6. Folha de meloeiro apresentando danos pelo ataque de L. sativae.

Táticas de controle

Em pesquisas realizadas na Embrapa Semiárido, observou-se uma eficiência de

100% no controle da mosca-minadora em melão com a utilização do princípio ativo

abamectin na dose de 100 ml para 100 L de água, efetuando-se três pulverizações em

intervalos de 10 dias, sendo a primeira quando foi observado as primeiras folhas

minadas na área. No entanto, outros produtos registrados no MAPA para o meloeiro,

poderão ser encontrados no site http://agrofit.agricultura.gov.br.

Como controle cultural recomenda-se a destruição dos restos culturais e a não

implantação da cultura próxima de culturas hospedeiras da mosca-minadora, tais como,

(feijão, ervilha, fava, batatinha, tomateiro, berinjela, abóbora, melancia, pimentão, entre

outras).

70

Amostragem

Avaliar a folha mais desenvolvida do ramo em 20 pontos amostrados.

Nível de controle

Sugere-se a presença de cinco larvas vivas, em média, nos 20 pontos

amostrados.

Mosca-das-frutas – Anastrepha grandis (Diptera: Tephritidae)

Os adultos são de coloração amarela e medem cerca de 10 mm de comprimento.

Apresenta duas manchas nas asas, tendo a mancha anterior o formato de "S", enquanto a

posterior assemelha-se a um "V" invertido. Acredita-se que apenas as cucurbitáceas

sejam hospedeiras dessa espécie de mosca-das-frutas, pois, diversas e contínuas

prospecções foram, e estão sendo realizadas no Brasil, tendo sido verificada a presença

de A. grandis em apenas três espécies de cucurbitáceas.

A presença dessa espécie de mosca-das-frutas em áreas de produção de melão

pode inviabilizar a exportação da fruta. Pois trata-se de uma praga de importância

quarentenária.

Danos

As larvas, além de se alimentam da polpa dos frutos, danificando-os pela

abertura, facilitam a entrada de patógenos oportunistas, deixando-os impróprios tanto

para o consumo in natura, como para a industrialização. Os frutos atacados amadurecem

prematuramente.

Amostragem

A. grandis deve ser monitorada com o uso de armadilhas do tipo McPhail.

Devem ser utilizadas três armadilhas por hectare, tendo como atrativo alimentar,

proteína hidrolisada, na proporção de 500 ml para 10 L de água e 200 ml desta solução

por armadilha.

PRINCIPAIS DOENÇAS DO MELÃO

OÍDIO – Oidium spp. [Podosphaera xanthii]

O oídio do meloeiro é causado principalmente pelo fungo Oidium sp., fase

imperfeita de Podosphaera xanthii (=Sphaerotheca fuliginea). No Brasil ocorre apenas

a forma imperfeita do patógeno. O fungo afeta grande número de cucurbitáceas, tanto

cultivadas quanto selvagens, e existem várias raças fisiológicas que diferem quanto a

capacidade de infectar diferentes espécies de cucurbitáceas ou variedades de melão.

Aparentemente, a raça 1 predomina no Brasil, contudo as raça 2, 3 e 4 já foram

71

identificadas no Distrito Federal (Kobori et al.;2002; Reis & Buso, 2004; Reis et al.,

2005).

Figura 1. Sintomas de oídio em folhas de meloeiro com abundante esporulação na face superior das

folhas.

MÍLDIO - Pseudoperonospora cubensis

O míldio é causado por Pseudoperonospora cubensis, um oomiceto biotrófico

pertencente à família Peronosporaceae. Essa doença é considerada uma das mais

importantes do meloeiro no Brasil e ocorre também em outras cucurbitáceas cultivadas

(pepino, melancia e abóbora) e selvagens. A doença ocorre de forma endêmica durante

o período seco e limita a produção de melão no período chuvoso.

Os sintomas iniciam-se na face superior das folhas mais velhas, na forma de

manchas cloróticas, angulosas e encharcadas, que se desenvolvem no limbo foliar

(Figura 2). Com o progresso da doença, as manchas tornam-se marrons ou bronzeadas,

e sob alta umidade, crescem e se unem (coalescem), formando áreas necróticas de maior

tamanho (Figura 3). A folha torna-se completamente seca, porém continua aderida à

planta.

Nestas áreas, na face inferior da folha, formam-se frutificações do patógeno

(esporangióforos e esporângios) de coloração verde-oliva a púrpura. A alta intensidade

da doença resulta em desfolhamento precoce e, consequentemente, em crescimento

reduzido da planta.

72

Figura 2. Manchas necróticas causadas por Pseudoperonospora cubensis em folhas de meloeiro.

CRESTAMENTO GOMOSO - Didymella bryoniae (sin. Mycosphaerella melonis)

O crestamento gomoso, conhecido também como cancro da haste, é considerado

uma das mais importantes doenças do meloeiro, a qual pode ser encontrada em todas as

regiões produtoras de cucurbitáceas. É causada pelo fungo Didymella bryoniae,

Anamorfo de Phoma cucurbitacearum. O fungo ataca todos os órgãos aéreos da planta

em qualquer estádio de desenvolvimento. Em mudas, provoca necrose na região do colo

e seu tombamento. Nos cotilédones, provoca manchas necróticas circulares, que em

pouco tempo destroem o órgão e atingem o caule da plântula.

73

Figura 4. Crestamento-gomoso causado por Didymella bryoniae na haste e no colo do meloeiro.

COLÁPSO ou MORTE SÚBITA – Monosporascus cannonballus

Dentre as principais doenças radiculares que afetam a produção comercial de

melão, destaca-se o colapso ou morte súbita, ocasionada pelo ascomiceto

Monosporascus cannonballus, considerada um dos fatores limitantes ao cultivo desta

cucurbitácea em diversos países. Perdas variam de ano para ano, de 10 a 25%, mas a

safra de campos individuais pode ser destruída completamente.

A doença inicia com uma podridão da raiz que evolui para uma súbita morte ou

colapso das plantas no campo, pouco antes da colheita. O fungo sobrevive no solo, onde

os esporos (ascósporos) germinam e penetram nas raízes secundárias, causando a morte

destas. Nesta fase a planta já começa a apresentar sinais de estresse hídrico,

amarelecimento e murcha das folhas. Com o progresso da doença ocorre a necrose

progressiva de folhas e toda a parte aérea da planta ou parte dela entra em colapso,

podendo a planta morrer a qualquer momento. Esse sintoma geralmente ocorre

momentos antes da colheita, quando a planta necessita de uma maior quantidade de

água e o sistema radicular está apodrecido, não podendo suprir a necessidade de água da

planta. As raízes atacadas adquirem uma coloração pardo escurecida, com o córtex

totalmente destruído.

74

CANCRO-SECO OU PODRIDÃO-DO-COLO – Macrophomina phaseolina

O cancro-seco ou podridão-do-colo é causado pelo fungo Macrophomina

phaseolina e ocorre principalmente na região do coleto das plantas e nas partes baixas

das ramas. Os sintomas iniciais da doença assemelham-se aos provocados por D.

bryoniae, aparecendo lesões aquosas de coloração marrom clara, com presença de

gotículas de exsudado translúcido de coloração marrom, que com o passar do tempo

tornam-se de coloração mais escura. Com o progresso da doença, a área afetada seca e

adquiri um aspecto esbranquiçado, com fendas longitudinais, dando a impressão de que

a epiderme se separa do restante da rama.

Para distinguir o cancro-seco do cancro-gomoso, fricciona-se o colo da planta na

região afetada. Tratando-se do cancro-seco ocorre o desfiamento dos tecidos, sendo o

cancro-gomoso, o colo da planta se despedaça. Em uma fase mais desenvolvida da

doença podem-se observar numerosos pontos negros, que são estruturas de resistência

do patógeno (esclerócios).

Na parte aérea, ocorre o amarelecimento das folhas, podendo apresentar

manchas necróticas das folhas, seguido do completo secamento destas. Assim como em

míldio, as folhas permanecem aderidas ao pecíolo. Raramente os sintomas podem ser

encontrados nos frutos. No entanto, quando ocorre a penetração pelo pedúnculo, em

poucos dias o fungo invade todo o fruto e surgem inúmeras pontuações negras; os

esclerócios.

FUSARIOSE - Fusarium oxysporum f.sp. melonis

A murcha de Fusarium é causada pelo fungo Fusarium oxysporum f.sp. melonis.

A doença é caracterizada por murcha e necrose nas folhas que, inicialmente, afetam a

planta unilateralmente e mais tarde atinge toda a planta. Outro sintoma característico é a

redução no desenvolvimento e o escurecimento vascular. Em plantas jovens a infecção

pode levá-las a morte.

A doença pode ocorrer sozinha ou juntamente com o cancro-gomoso. Neste

caso, os danos às plantas são bem mais sérios. As estruturas do patógeno sobrevivem

durante vários anos no solo e dão origem a novas infecções. A disseminação do

patógeno pode ocorrer por meio de partículas de solo transportadas por implementos

agrícolas, irrigação e por outras práticas agrícolas. Sementes infectadas podem

disseminar o patógeno a longas distâncias.

75

RHIZOCTONIA – Rhizoctonia solani

Além de Didymella bryoniae e Fusarium oxysporum, Rhizoctonia solani

também pode causar podridão do colo em meloeiro. A doença é favorecida por altas

temperaturas e alta umidade do solo. Nas plantas atacadas por R. solani, os sintomas

iniciam-se por uma clorose e posterior necrose das folhas basais. Posteriormente ocorre

rápido murchamento ou declínio da rama. Em ataques severos é possível que o fungo

afete o colo da planta, causando murcha.

BANANA

Principais pragas e métodos de controle

Broca-do-rizoma - Cosmopolites sordidus (Germ.) (Coleoptera: Curculionidae)

É um besouro preto, que mede cerca de 11 mm de comprimento e 5 mm de

largura. Durante o dia, os adultos são encontrados em ambientes úmidos e sombreados

junto às touceiras, entre as bainhas foliares e nos restos culturais. Os danos são causados

pelas larvas, as quais constróem galerias no rizoma, debilitando as plantas e tornando-as

mais sensíveis ao tombamento. Plantas infestadas normalmente apresentam

desenvolvimento limitado, amarelecimento e posterior secamento das folhas, redução

no peso do cacho e morte da gema apical.

Figura 1. Adulto da broca-do-rizoma da

bananeira. Foto: Nilton F. Sanches

Figura 2. Danos provocados pela larva da

broca-do-rizoma da bananeira.

A utilização de mudas sadias (convencionais ou micropropagadas) é o primeiro

cuidado a ser tomado para controle dessa praga.

76

O emprego de iscas atrativas tipo telha ou queijo é bastante útil no

monitoramento/controle do moleque. Estas devem ser confeccionadas com plantas

recém-cortadas (no máximo até 15 dias após a colheita). Recomenda-se o emprego de

20 iscas/ha (monitoramento) e de 50 a 100 iscas/ha (controle), com coletas semanais e

renovação quinzenal das iscas. Os insetos capturados podem ser coletados manualmente

e posteriormente destruídos. As iscas também podem ser tratadas com inseticida

biológico à base de um fungo entomopatogênico (Beauveria bassiana), dispensando-se,

nesse caso, a coleta dos insetos.

Quanto ao emprego de inseticidas, estes podem ser introduzidos em plantas

desbastadas e colhidas através de orifícios efetuados pela lurdinha. Também podem ser

aplicados na superfície das iscas e em cobertura. A utilização de quaisquer produtos

químicos deve ser realizada de acordo com os procedimentos de segurança

recomendados pelo fabricante.

O controle por comportamento preconiza o emprego de armadilhas contendo

Cosmolure, o qual atrai adultos da broca para um recipiente do qual o inseto não

consegue sair (Fig. 3 e 4).

Figura 3: Armadilhas de feromônio. (Fonte:

http://www.biocontrole.com.br/bio_cosmolure.htm)

77

Figura 4: Armadilhas de feromônio. (Fonte:

http://www.biocontrole.com.br/bio_cosmolure.htm)

Recomenda-se o uso de quatro armadilhas/ha para o monitoramento da broca,

devendo-se renovar o sachê contendo o feromônio a cada 30 dias.

Tripes

Tripes da erupção dos frutos - Frankliniella spp. (Thysanoptera: Aelothripidae)

Apesar do pequeno tamanho (cerca de 1 mm de comprimento) e da agilidade,

são facilmente vistos por causa da coloração branca ou marrom-escura. Os adultos são

encontrados geralmente em flores jovens abertas. Também podem ocorrer nas flores

ainda protegidas pelas brácteas. Os danos provocados por esses tripes manifestam-se

nos frutos em desenvolvimento, na forma de pontuações marrons e ásperas ao tato (Fig.

5), o que reduz o seu valor comercial, mas não interfere na qualidade da fruta. A

despistilagem e a eliminação do coração reduzem a população desses insetos.

Recomenda-se a utilização de sacos impregnados com inseticida, no momento da

emissão do cacho, para reduzir os prejuízos causados aos tripes da erupção dos frutos.

Tripes da ferrugem dos frutos - Chaetanaphothrips spp., Caliothrips bicinctus

Bagnall,Tryphactothrips lineatus Hood (Thysanoptera: Thripidae)

São insetos pequenos (1 a 1,2 mm de comprimento), que vivem nas

inflorescências, entre as brácteas do coração e os frutos. Seu ataque provoca o

aparecimento de manchas de coloração marrom (semelhante à ferrugem) (Fig. 6). O

dano é causado pela oviposição e alimentação do inseto nos frutos jovens. Em casos de

forte infestação, a epiderme pode apresentar pequenas rachaduras em função da perda

de elasticidade. Para o controle desses insetos, deve-se efetuar o ensacamento do cacho

e a remoção das plantas invasoras, tais como Commelina sp. e Brachiaria purpurascens,

hospedeiras alternativas dos insetos.

78

Figura 5. Danos provocados pelo tripes da

erupção dos frutos.

Figura 6. Danos provocados pelo tripes da

ferrugem dos frutos.

Lagartas desfolhadoras - Caligo spp., Opsiphanes spp. (Lepidoptera: Nymphalidae),

Antichloris spp. (Lepidoptera: Arctiidae)

As principais espécies de Caligo que ocorrem no Brasil são brasiliensis, beltrao

e illioneus. No estágio adulto, Caligo sp. é conhecida como borboleta corujão. As

lagartas, no máximo desenvolvimento, chegam a medir 12 cm de comprimento e

apresentam coloração parda.

No gênero Opsiphanes, registram-se no Brasil as espécies invirae e cassiae. Na

fase adulta, são borboletas que apresentam asas de coloração marrom, com manchas

amareladas. Na fase jovem, as lagartas possuem coloração verde, com estrias

amareladas ao longo do corpo, alcançando cerca de 10 cm de comprimento. O terceiro

grupo de lagartas que atacam a bananeira pertencem às espécies Antichloris eriphia e A.

viridis.

Os adultos são mariposas de coloração escura, com brilho metálico. As lagartas

apresentam fina e densa pilosidade de coloração creme, medindo 3 cm de comprimento.

As lagartas pertencentes ao gênero Caligo e Opsiphanes provocam a destruição de

grandes áreas, enquanto que as do gênero Antichloris apenas perfuram o limbo foliar

(Fig. 7). A aplicação de inseticidas no bananal ser realizada com cautela, para evitar a

destruição dos inimigos naturais.

79

Figura 7. Danos causados por lagartas desfolhadoras. a) Caligo spp. e Ospiphanes spp. b)

Antichloris spp.

Pulgão da bananeira - Pentalonia nigronervosa Coq. (Homoptera: Aphididae)

Outras espécies de pulgões podem transmitir viroses à cultura, entretanto apenas

Pentalonia nigronervosa desenvolve-se na bananeira. As colônias desse inseto

localizam-se na porção basal do pseudocaule, protegidas pelas bainhas foliares externas.

Medem cerca de 1,2 a 1,6 mm de comprimento, sendo que as formas adultas apresentam

coloração marrom, enquanto que as formas jovens são mais claras. Os danos diretos são

devidos à sucção de seiva das bainhas foliares externas (próximo ao nível do solo),

levando à clorose das plantas e deformação das folhas. Em altos níveis populacionais,

podem ser encontrados no ápice do pseudocaule, provocando o enrugamento da folha

terminal. Os danos indiretos são devidos à transmissão do mosaico da bananeira

(CMV). Os inimigos naturais são fundamentais para a manutenção das populações do

pulgão da bananeira em níveis não prejudiciais à cultura.

Ácaros de teia - Tetranychus spp. (Acari: Tetranychidae)

Na forma adulta, medem cerca de 0,5 mm de comprimento. Apresentam

coloração avermelhada, com pigmentação mais acentuada lateralmente. Os ácaros

formam colônias na face inferior das folhas, tecendo teias no limbo foliar normalmente

em torno da nervura principal (Fig. 8). São favorecidos por umidade relativa baixa. O

ataque dessa praga torna a região infestada inicialmente amarelada; posteriormente,

torna-se necrosada, podendo secar a folha. Sob alta infestação, podem ocorrer danos aos

frutos. Não há produtos registrados para o controle desta praga em bananeira.

80

Figura 8. Danos causados pelos ácaros tetraniquídeos (de teia).

PRINCIPAIS DOENÇAS DA BANANEIRA

Sigatoka Negra

A Sigatoka-negra é causada pelo fungo Mycosphaerella fijiensis, cuja fase

anamórfica é o fungo Paracercospora fijiensis.

A doença foi constatada em fevereiro de 1998, nos Municípios de Tabatinga e

Benjamin Constant, região fronteiriça do Brasil com a Colômbia e o Peru. Atualmente

encontra-se disseminada em toda a Região Norte do Brasil e no Estado do Mato Grosso.

Com relação ao progresso da doença, trabalhos de epidemiologia mostraram que, no

Amazonas, durante todo o ano não ocorre nenhuma restrição com relação a fatores de

ambiente, tais como temperatura, umidade relativa e duração do molhamento foliar,

favoráveis à ocorrência da doença.

As principais vias de disseminação têm sido folhas infectadas colocadas entre os

cachos ou pencas de banana para prevenir ferimentos, utilização de mudas infectadas

e/ou oriundas de região com histórico da doença e principalmente vento, que carrega os

esporos do agente causador a longas distâncias. Além disso, os esporos do patógeno

podem ser disseminados a longas distâncias aderidos à superfície de frutos, madeira,

papelão, plásticos, tecidos e veículos.

Sintomas

Inicialmente são observadas, na fase abaxial, via de regra na margem esquerda e

próximas à extremidade distal, pequenas pontuações claras ou áreas despigmentadas

(Fig. 9). Essas pontuações progridem dando origem a estrias de coloração marrom-clara,

que podem atingir de 2 a 3 mm de comprimento. Com o progresso da doença, essas

81

pequenas estrias expandem radial e longitudinalmente, ainda com coloração marrom-

clara, e já podem ser visualizadas na face adaxial, podendo atingir até 3 cm de

comprimento. A partir desse estádio, as estrias só expandem radialmente e adquirem

coloração marrom-escura na face abaxial. Em estádio mais avançado da doença, as

estrias de coloração marrom-escura assumem o formato de manchas escuras. Via de

regra, o coalescimento de várias manchas, as quais correspondem às lesões da doença,

dá ao limbo foliar uma coloração próxima à negra, justificando, dessa forma, o nome

atribuído à doença: Sigatoka-negra.

Nos estádios finais da doença, as lesões podem, às vezes, em função do

genótipo, apresentar-se com um halo interno proeminentemente marrom-escuro

circundado por um pequeno halo amarelo. Ocorre, pela coalescência de várias lesões,

morte prematura do limbo foliar que adquire coloração branco-palha. Em geral, pode-se

visualizar nas regiões do limbo, na face adaxial, pontuações escuras representadas pela

frutificação do agente causal na sua fase teliomórfica.

Figura 9. Sintomas iniciais da Sigatoka-

negra, com estrias de coloração marrom-

clara. (Foto: L. Gasparotto).

Figura 10. Estrias de coloração café

expandindo-se radial e longitudinalmente,

causadas pela Sigatoka-negra. (Foto: L.

Gasparotto)

82

Figura 11. Sintomas da Sigatoka-negra,

com coalescência das lesões e manchas

escuras. (Foto:L. Gasparotto)

Figura 12. Folha com áreas necróticas e

manchas escuras causadas pela Sigatoka-

negra. (Foto: L. Gasparotto).

Danos

A Sigatoka-negra é a mais grave e destrutiva doença da bananeira em quaisquer

regiões do mundo onde ocorre. Pelo fato de a bananeira não emitir mais folhas após o

florescimento, não ocorrendo, portanto, compensação, a doença torna-se extremamente

destrutiva após o florescimento (Fig. 13).

As perdas devidas ao ataque da Sigatoka-negra podem atingir 100% na produção

de bananas dos subgrupos Prata (Fig. 14) e Cavendish (Fig. 15), já a partir do primeiro

ciclo produtivo, e 70% na produção de plátanos a partir do segundo ciclo produtivo.

Devido à sua maior agressividade, a Sigatoka-negra substitui a Sigatoka-

amarela num curto período de tempo que pode variar de seis meses até três anos. Além

de infectar cultivares que são resistentes à Sigatoka-amarela, a Sigatoka-negra causa

elevação do custo de produção do bananal na medida em que são necessárias até 52

pulverizações por ano com fungicidas protetores ou até 26 pulverizações com

fungicidas sistêmicos para o efetivo controle da doença em cultivares suscetíveis como

aquelas dos subgrupos Prata e Cavendish, o que significa um custo quatro a cinco vezes

maior do que o necessário para controlar a Sigatoka-amarela.

83

Figura 13. Planta da cultivar Maçã com as folhas totalmente

destruídas pela Sigatoka-negra. (Foto: L. Gasparotto).

Figura 14. Cacho da cultivar Prata afetada pela Sigatoka-negra com

bananas pequenas, maturação precoce e desuniforme.

(Foto: L. Gasparotto)

84

Figura 15. Planta da cultivar Nanica com as

folhas totalmente destruídas pela Sigatoka-

negra.(Foto: L. Gasparotto).

Controle

Com relação às estratégias de controle da Sigatoka-negra, a ênfase tem sido dada

à utilização de técnicas de controle econômicas e socio-ambientalmente corretas para

reduzir ou impedir a introdução de resíduos de defensivos agrícolas na cadeia trófica,

principalmente em regiões e/ou bananais com baixa adoção de tecnologia e também

próximos a lagos e mananciais como na Região Amazônica.

a) Utilização de cultivares de bananeiras resistentes

A utilização de cultivares resistentes constitui-se na estratégia de controle mais

econômica e socio-ambientalmente correta, pois é de fácil aplicação, não depende de

ações complementares por parte dos bananicultores e é estável do ponto de vista de

preservação do meio ambiente.

As cultivares recomendadas são: Caipira, Thap Maeo, Prata Zulu, Prata

(Pacovan) Ken, FHIA 18, FHIA 01, FHIA 02 AM e Pelipita. As reações dessas

cultivares e genótipos às principais doenças são apresentadas na Tabela 1.

85

Tabela 1. Reação de cultivares às principais doenças da bananeira.

Cultivar Grupo

Genômico Sigatoka-

negra Sigatoka-amarela

Mal-do-panamá

Moko

Caipira AAA R* R R S Thap

Maeo AAB R R R S

Prata Zulu AAB R R S S Prata Ken AAAB R R R S FHIA 18 AAAB R MS S S FHIA 01 AAAB R MS - S FHIA 02

AM AAAA R R R S

Pelipita ABB R R R S *R = Resistente; S = Suscetível; MS = Moderadamente suscetível.

b) Controle químico

Apesar de existirem vários fungicidas eficientes, testados e avaliados pela

pesquisa, no controle da Sigatoka-negra, para o Estado do Amazonas não se recomenda

a adoção do controle químico. Essa decisão está embasada nos seguintes pontos: no

Amazonas, as cultivares resistentes recomendadas atendem plenamente os

consumidores; os plantios são constituídos por pequenas áreas; a maioria dos produtores

não tem tradição no uso de defensivos e, além disso, o Amazonas é rico em mananciais

e conta com exuberante biodiversidade que poderão ser afetados pelo uso

indiscriminado de defensivos agrícolas.

c) Controle cultural

A utilização de medidas culturais que reduzem as condições favoráveis ao

progresso da doença ou pela redução do molhamento foliar ou pela redução de luz

incidente, bem como pela redução da formação de ventos convectivos, os quais

disponibilizam os esporos do agente causal nas correntes de fluxo de ventos horizontais,

permite um convívio harmonioso com a doença. Nesse sentido, os resultados de

pesquisa e observações em propriedades rural têm demonstrado que plantas cultivadas

sob condições de sombreamento apresentam pouca ou nenhuma doença. Não obstante

plantas mantidas sob condições de sombra apresentarem maior período de ciclo

produtivo e menor peso de cachos, a utilização de sombreamento pode viabilizar o

cultivo de bananeiras, do ponto de vista de comercialização, como as cultivares Maçã,

Prata Anã, D´Angola e Terra, para pequenos produtores, inclusive em sistemas

agroflorestais.

86

Além de melhorar o crescimento geral das plantas, a drenagem rápida de qualquer

excesso de água no solo reduz as possibilidades de formação de microclimas adequados

ao desenvolvimento da doença.

Sigatoka Amarela

A Sigatoka-amarela ou mal-de-Sigatoka ainda constitui-se em uma das

principais doenças da bananeira nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste. Na Região

Amazônica, mais especificamente no Estado do Amazonas, a Sigatoka-amarela tem sido

rapidamente substituída pela Sigatoka-negra, ocorrendo atualmente em poucas micro-

regiões e/ou na periferia das cidades. A doença é causada pelo fungo Mycosphaerella

musicola, cuja fase anamórfica é o fungo Pseudocercospora musae.

Sintomas

Embora as infecções ocorram nas folhas um, dois ou três, a partir da folha

bandeira ou vela, os sintomas só são observados a partir da quarta ou quinta folha.

Inicialmente, são observados pontos apresentando leve descoloração entre as nervuras

secundárias. Estas áreas despigmentadas expandem-se e tomam o formato de estria de

coloração marrom-escura (Fig. 16). Com o progresso da doença, as estrias expandem-se

radialmente e assumem o formato de manchas necróticas, elíptico-alongadas e se

dispõem paralelas às nervuras secundárias (Fig.17). A partir desse estádio, a mancha

apresenta o centro deprimido, com a parte central acinzentada e um halo amarelo

proeminente.

Em geral, as lesões concentram-se a partir do primeiro terço médio, no sentido

da bordadura no limbo, existindo, portanto, poucas lesões próximas à nervura principal.

Embora a freqüência de infecções seja menor (em relação à observada para Sigatoka-

negra), com o progresso da doença, as lesões tendem a coalescer, podendo causar a seca

total da folha. A menor freqüência de infecções (lesões por centímetro quadrado de área

foliar) e as manchas de formato oval alongado (elíptico), com halo amarelo

proeminente, permitem distinguir a Sigatoka-amarela da negra.

87

Controle

As mesmas cultivares resistentes recomendadas para o controle da Sigatoka-

negra são resistentes à Sigatoka-amarela, exceto a FHIA 18, que é suscetível.

Mal-do-Panamá

O mal-do-Panamá é causado por Fusarium oxysporum f. sp. cubense. É uma

doença endêmica por todas as regiões produtoras de banana do mundo. No Brasil, o

problema é ainda mais grave em função das cultivares plantadas, que na maioria dos

casos, são suscetíveis. No Estado do Amazonas, a doença prevalece em solos de

ecossistema de terra firme, não sendo detectada em solos de várzea.

As principais formas de disseminação do patógeno são o contato dos sistemas

radiculares de plantas sadias com esporos liberados por plantas doentes e, em muitas

áreas, o uso de material de plantio contaminado. O fungo também é disseminado por

água de irrigação, de drenagem, de inundação, assim como pelo homem, por animais e

equipamentos.

Sintomas

As plantas infectadas por F. oxysporum f. sp. cubense exibem externamente um

amarelecimento progressivo das folhas mais velhas para as mais novas, começando

pelos bordos do limbo foliar e evoluindo no sentido da nervura principal.

Posteriormente, as folhas murcham, secam e se quebram junto ao pseudocaule (Fig. 18).

Em conseqüência, ficam pendentes, o que confere à planta a aparência de um

guarda-chuva fechado. É comum constatar-se que as folhas centrais das bananeiras

permanecem eretas mesmo após a morte das mais velhas. É possível notar, próximo ao

solo, rachaduras do feixe de bainhas (Fig. 19), cuja extensão varia com a área afetada no

rizoma.

Internamente, observa-se uma descoloração pardo-avermelhada na parte mais

externa do pseudocaule provocada pela presença do patógeno nos vasos (Fig. 20).

88

Figura 18. Planta afetada pelo mal-do-

Panamá, com amarelecimento das folhas,

murcha e colapso do pecíolo junto ao

pseudocaule. (Foto: L. Gasparotto)

Figura 19. Parte do pseudocaule de

bananeira afetada pelo mal-do-Panamá,

apresentando rachaduras na bainha.

(Foto: L. Gasparotto).

Figura 20. Corte transversal do

pseudocaule de bananeira,

apresentando necrose dos tecidos

disposta em anéis concêntricos, causada

pelo mal-do-Panamá.

(Foto: L. Gasparotto)

89

Danos

O mal-do-Panamá, quando ocorre em cultivares altamente suscetíveis como a

banana Maçã, provoca perdas de 100% na produção. Já nas cultivares tipo Prata, que

apresentam grau de suscetibilidade bem menor do que a ‘Maçã’, a incidência do mal-

do-Panamá, geralmente, situa-se num patamar de 20% de perdas. Por outro lado, o nível

de perdas é também influenciado por características de solo, que em alguns casos

comporta-se como supressivo ao patógeno. Como se trata de uma doença letal, não há

porque comentar sobre distúrbios fisiológicos.

Controle

O melhor meio para o controle do mal-do-Panamá é a utilização de cultivares

resistentes, dentre as quais podem ser citadas as cultivares do subgrupo Cavendish e do

subgrupo Terra, a Caipira, Thap Maeo e Prata (Pacovan) Ken. Como medidas

preventivas recomendam-se as seguintes práticas:

Evitar plantios em áreas com histórico de ocorrência do mal-do-Panamá.

Utilizar mudas comprovadamente sadias e livres de nematóides.

Corrigir o pH do solo, mantendo-o com níveis ótimos de cálcio e magnésio, que

são condições menos favoráveis ao patógeno.

Dar preferência a solos com teores mais elevados de matéria orgânica; isso

aumenta a concorrência entre as espécies, dificultando a ação e a sobrevivência

de F. oxysporum f sp. cubense no solo.

Manter as populações de nematóides sob controle; eles podem ser responsáveis

pela quebra da resistência ou facilitar a penetração do patógeno, através dos

ferimentos.

Manter as plantas bem nutridas, guardando sempre uma boa relação entre

potássio, cálcio e magnésio.

Nos bananais já estabelecidos e que a doença comece a se manifestar, recomenda-se

a erradicação das plantas doentes, utilizando herbicida glifosate na dosagem de 1 ml do

produto comercial injetado no pseudocaule de plantas adultas e/ou chifrão. Isso evita a

propagação do inóculo na área de cultivo. Na área erradicada, aplicar calcário ou cal

hidratada.

90

Mancha de Cordana

Doença causada pelo fungo Cordana musae, de importância secundária,

normalmente associada a alguma forma de estresse na planta. Via de regra, a mancha de

cordana está associada à outra doença, principalmente à Sigatoka-amarela e/ou à

deficiência mineral.

Os sintomas, no início da doença, podem ser confundidos com os da Sigatoka-

amarela. Às vezes, ocorre superposição de lesões de ambas as doenças. No caso

específico da mancha de cordana, as lesões apresentam, devido ao maior crescimento

radial, um formato piriforme, com zonas concêntricas e circundadas por um halo

amarelo (Fig. 21).

No controle, recomenda-se o plantio de cultivares resistentes e o uso de

adubações balanceadas. Em geral, as cultivares resistentes às doenças do tipo Sigatoka

também o são à mancha de cordana.

Figura 21. Folhas com manchas piriformes,

esbranquiçadas e halo amarelo, causada por Cordana

musae. (Foto: L. Gasparotto)

Antracnose

Causada pelo fungo Colletotrichum musae, é considerada o mais grave problema

na pós-colheita da banana.

O controle deve começar no campo, com boas práticas culturais, ainda na pré-

colheita. Na fase de colheita e pós-colheita, todos os cuidados devem ser tomados a fim

de evitar ferimentos nos frutos, que são a principal via de penetração dos patógenos. As

práticas de despencamento, lavagem e embalagem devem ser executadas com manuseio

extremamente cuidadoso dos frutos e medidas rigorosas de assepsia. Em último caso, o

controle químico pode ser feito por imersão ou por atomização dos frutos. Os seguintes

princípios ativos têm sido utilizados: thiabendazole; benomil, tiofanato metílico e

91

imazalil. O agricultor pode, ainda, optar pelo uso do fungicida natural Ecolife na

dosagem de 1,5 ml/l. As dosagens recomendadas para thiabenzole, benomil e tiofanato

metílico variam de 200 a 400 mg do ingrediente ativo/ l de água, dependendo da

distância do mercado consumidor. Essas recomendações são válidas também para o

controle da podridão-da-coroa.

Podridão-da-coroa

Os fungos mais freqüentemente associados ao problema são: Fusarium roseum,

Verticillium theobromae e Gloeosporium musarum (Colletotrichum musae). Outros

fungos também têm sido isolados, porém com menor freqüência.

DOENÇAS BACTERIANAS

Moko

A doença é causada pela bactéria Ralstonia solanacearum, raça 2. Na Região

Norte do Brasil, o moko ou murcha bacteriana da bananeira está presente nos Estados

do Amazonas, Pará e Amapá. No Estado do Amazonas, a doença prevalece em solos do

ecossistema de várzea; apenas seis por cento dos casos ocorrem em solos do

ecossistema de terra firme.

A disseminação da bactéria pode ocorrer de diferentes formas, dentre as quais se

destacam o uso de ferramentas infectadas nas várias operações que fazem parte do trato

dos pomares, bem como a contaminação de raiz para raiz ou do solo para a raiz. Outro

veículo importante de transmissão são os insetos visitadores de inflorescências, tais

como as abelhas (Trigona spp.), vespas (Polybia spp.), mosca-das-frutas (Drosophila

spp.).

Sintomas

O moko ou murcha bacteriana da bananeira, por ser uma doença vascular, pode

atingir todas as partes da planta.

Os sintomas da doença em plantas jovens caracterizam-se pela má- formação

foliar, necrose e murcha da folha cartucho ou vela, seguidos de amarelecimento das

folhas baixeiras (Fig. 22). Em plantas adultas, ocorre amarelecimento das folhas basais

e murcha das folhas mais jovens, progredindo para as folhas mais velhas (Fig. 23). Em

solos férteis, com bom teor de umidade, ocorre quebra dos pecíolos junto ao

pseudocaule, dando à planta o aspecto de um guarda-chuva fechado. Além desses,

internamente, ocorrem os seguintes sintomas:

92

No pseudocaule, escurecimento vascular, não localizado, de coloração pardo-

avermelhada intensa, atingindo inclusive a região central (Fig. 24). O escurecimento

vascular também ocorre no engaço (Fig. 25).

No rizoma, além do escurecimento vascular na região central, ocorre também na

região de conexão do rizoma principal com o rizoma das brotações.

Nas ráquis masculina e feminina pode ocorrer escurecimento vascular, na forma

de pontos avermelhados dispostos uniformemente.

Nos frutos, além do amarelecimento precoce, observa-se o escurecimento da

polpa, seguido de podridão seca (Fig. 26). Exsudação de pus bacteriano de coloração

pérola clara, logo após o corte de órgãos infectados.

Para um teste rápido, destinado a detectar a presença da bactéria nos tecidos da

planta, utiliza-se um copo transparente com água até dois terços de sua altura, em cuja

parede se adere uma fatia delgada da parte afetada (pseudocaule ou engaço), cortada no

sentido longitudinal, fazendo-a penetrar ligeiramente na água. Dentro de

aproximadamente um minuto ocorrerá a descida do fluxo bacteriano.

Figura 22. Planta jovem afetada pelo moko,

apresentando as folhas baixeiras murchas e

o cartucho com necrose e murcha.

(Foto: L. Gasparotto)

93

Figura 23. Bananeira afetada pelo moko, com

algumas folhas basais mortas, outras

amarelas apresentando colapso do pecíolo.

(Foto: L. Gasparotto)

Figura 24. Pseudocaule de bananeira com

escurecimento dos feixes vasculares, inclusive os

localizados no cilindro central, causado pelo moko.

(Foto: L. Gasparotto)

94

Figura 25. Engaço do cacho de banana com

escurecimento dos feixes vasculares causado pelo moko.

(Foto: L. Gasparotto).

Figura 26. Frutos de bananeira

afetados pelo moko, apresentando

polpa escurecida e podridão seca.

(Foto: L. Gasparotto)

Danos

As perdas causadas pela doença podem atingir até 100% da produção, mas com

vigilância permanente, é possível conviver com a doença e mantê-la em baixa

percentagem de incidência.

Controle

A base principal do controle do moko é a detecção precoce da doença e a rápida

erradicação das plantas infectadas como das que lhes são adjacentes, as quais embora

95

aparentemente sadias podem ter contraído a doença. Para tanto, é indispensável que um

esquema de inspeção de cada planta seja cumprido por pessoas bem treinadas e repetido

a intervalos regulares de duas a quatro semanas, dependendo do grau de incidência da

doença.

A erradicação é feita mediante a aplicação de herbicida como o glifosate,

injetado no pseudocaule na dosagem de 1 ml do produto comercial por planta adulta

e/ou por chifrão.

É importante que a área erradicada permaneça limpa durante o pousio (12

meses). Nas áreas virgens onde houver infestação de espécies de Heliconia, estas

deverão ser destruídas com herbicidas, mantendo-se a área em pousio durante 12 meses.

Outras medidas importantes para o controle do moko:

Desinfestação das ferramentas usadas nas operações de desbaste e colheita com

hipoclorito de sódio a 2,5%, formol 5%, ou com germicidas comerciais do tipo

pinho.

Eliminação do coração em cultivares com brácteas caducas, assim que as pencas

tiverem emergido. Essa prática visa impedir a transmissão pelos insetos. A

remoção deve ser feita quebrando-se a parte da ráquis com a mão.

Plantio de mudas comprovadamente sadias.

Na medida do possível, o uso de herbicidas ou a roçagem do mato deve

substituir as capinas manuais ou mecânicas.

Podridão-mole

A podridão-mole é causada pela bactéria Erwinia carotovora subsp. carotovora.

O número de casos de podridão-mole tem aumentado no Brasil nos últimos anos. Na

Região Norte do País, notadamente no Amazonas, raramente tem ocorrido. O problema

pode ser observado em todas as regiões produtoras, mas aparece com maior freqüência

nas áreas irrigadas, provavelmente por deficiência no manejo da irrigação, que tem

possibilitado o excesso de umidade em pontos localizados dentro da plantação.

Sintomas

A doença inicia-se no rizoma, causando seu apodrecimento, progredindo

posteriormente para o pseudocaule. Ao se cortar o rizoma ou pseudocaule de uma planta

afetada, pode ocorrer a liberação de grande quantidade de material líquido fétido, daí o

nome podridão aquosa. Na parte aérea, os sintomas podem ser confundidos com os do

moko ou mal-do-Panamá. A planta normalmente expressa sintomas de amarelecimento

e murcha das folhas, podendo ocorrer quebra da folha no meio do limbo ou junto ao

96

pseudocaule. Os sintomas são mais típicos em plantas adultas, mas tendem a ocorrer

com maior severidade em plantios jovens estabelecidos em solos infectados, devido à

presença de ferimentos gerados pela limpeza das mudas.

Danos

Não existem dados a respeito das perdas. Geralmente as plantas afetadas entram

em colapso devido à murcha, seguida de podridão, provocada pela bactéria.

Controle

As medidas de controle não incluem intervenções com agrotóxicos, e sim

algumas práticas que mantenham as condições menos favoráveis ao desenvolvimento da

bactéria, tais como:

Manejar corretamente a irrigação, de modo a evitar excesso de umidade no solo.

Eliminar plantas doentes ou suspeitas, procedendo-se vistorias periódicas da

área plantada.

Utilizar, em lugares com histórico de ocorrência de doenças, mudas já

enraizadas, para prevenir infecções precoces.

Utilizar práticas culturais que promovam a melhoria da estrutura e aeração do

solo.

Viroses

No Brasil, assim como no mundo, há poucos dados sobre as perdas ocasionadas

por viroses em bananeira. Geralmente os danos causados por uma virose são pouco

visíveis e passam despercebidos.

Até o momento, já foram encontrados infectando bananeira no Amazonas o

vírus das estrias da bananeira (Banana streak virus, BSV) e o vírus do mosaico do

pepino (Cucumber mosaic virus, CMV).

Virose das estrias da bananeira

Esta doença é causada pelo vírus das estrias da bananeira (Banana streak virus,

BSV), transmitido de bananeira para bananeira pela cochonilha Planococcus citri, e por

meio de mudas infectadas.

Esse vírus possui uma importância potencial muito grande, uma vez que, até o

momento, não existe um método que permita eliminá-lo de plantas infectadas. A cultura

de tecidos não permite obter mudas sadias a partir de matrizes infectadas.

O BSV produz inicialmente estrias amareladas nas folhas (Fig. 27), que

posteriormente ficam escurecidas ou necrosadas (Fig. 28). Pode ocorrer a deformação

97

dos frutos e a produção de cachos menores. As plantas apresentam menor vigor,

podendo em alguns casos ocorrer a morte do topo da planta, assim como a necrose

interna do pseudocaule. Geralmente os sintomas são percebidos apenas em alguns

períodos do ano. No Estado do Amazonas, quatro estirpes do BSV têm sido detectadas,

ocorrendo nas cultivares Thap Maeo, Prata Zulu, FHIA 21 e FHIA 20.

Figura 27. Folha afetada pela estria da

bananeira, causada pelo BSV (Banana streak

virus).

(Foto: L. Gasparotto)

Figura 28. Folha velha de bananeira com

estrias amarelas e escuras, causada pelo BSV

(Banana streak virus).

(Foto: L. Gasparotto)

Mosaico, clorose infecciosa ou “heart rot”

Esta virose é causada pelo vírus do mosaico do pepino (Cucumber mosaic virus,

CMV), que é transmitido por várias espécies de pulgões. A fonte de inóculo para a

infecção de novos plantios provém geralmente de outras culturas ou de plantas

daninhas, especialmente trapoeraba ou maria-mole (Commelina diffusa).

Os sintomas variam de estrias amareladas (Fig. 29), mosaico, redução de porte,

distorção foliar até necrose do topo; pode haver também distorção dos frutos, com o

surgimento de estrias cloróticas ou necrose interna; necrose da folha apical e do

pseudocaule, quando ocorrem temperaturas abaixo de 24ºC.

Presente nas principais áreas produtoras de bananeira, essa virose pode provocar

perdas elevadas em plantios novos, especialmente quando eles são estabelecidos em

áreas com elevada incidência de trapoeraba e alta população de pulgões. No Amazonas,

o CMV ocorre nas cultivares FHIA 02, FHIA 18, SH 3640 e PV 0344.

98

Figura 29. Folha afetada pelo mosaico da bananeira, causado pelo

vírus do mosaico do pepino (Cucumber mosaic virus, CMV).

(Foto: L. Gasparotto)

Controle das viroses

Utilizar mudas livres de vírus.

Evitar a instalação de bananais próxima a plantios de melancia, pepino, abóbora

ou jerimum e maxixe (hospedeiras de CMV).

Controlar as plantas daninhas dentro e em volta do bananal.

Erradicar, nos plantios já estabelecidos, as bananeiras com sintomas.

Nematóides

Os nematóides são micro-organismos tipicamente vermiformes que, em sua

maioria, completam o ciclo de vida no solo. Sua disseminação é altamente dependente

do homem, seja por meio de mudas contaminadas, deslocamento de equipamentos de

áreas contaminadas para áreas sadias, ou por meio da irrigação e/ou água das chuvas.

O resultado dessa doença pode ser observado pela redução no porte da planta,

amarelecimento das folhas, seca prematura, má-formação de cachos, refletindo em

baixa produção e reduzindo a longevidade dos plantios. Nas raízes, podem ser

observados o engrossamento e as nodulações, que correspondem às galhas e massa de

ovos, em decorrência da infecção por Meloidogyne spp. (nematóide-das-galhas) ou

mesmo necrose profunda ou superficial provocada pela ação isolada ou combinada das

espécies Radopholus similis (nematóide cavernícola), Helicotylenchus spp. (nematóide

espiralado), Pratylenchus sp. (nematóide das lesões) ou Rotylenchulus reniformis

(nematóide reniforme), que são os mais freqüentes na bananicultura brasileira e

mundial. Esses nematóides contribuem para a formação de áreas necróticas extensas que

podem também ser parasitadas por outros microorganismos.

99

Os danos causados pelos fitonematóides podem ser confundidos ou agravados

com outros problemas de ordem fisiológica, como estresse hídrico, deficiência

nutricional, principalmente deficiência de fósforo, ou pela ocorrência de pragas e

doenças de origem virótica, bacteriana ou fúngica, devido à redução da capacidade de

absorver água e nutrientes, pelo sistema radicular. A sustentação da planta é também

bastante comprometida. A diagnose correta deve ser realizada por meio de amostragem

de solo e raízes e do conhecimento da cultivar utilizada.

Controle

Após o estabelecimento de fitonematóides no bananal, o seu controle é muito

difícil. Portanto, a medida mais eficaz é a utilização de mudas sadias, micropropagadas,

em áreas livres de nematóides. O descorticamento do rizoma, combinado com o

tratamento térmico ou químico, pode reduzir sensivelmente a população de nematóides

nas mudas infectadas. Nesse caso, após limpeza, os rizomas devem ser imersos em água

à temperatura de 55oC por 20 minutos.

Em solos infestados, a utilização de plantas antagônicas, como crotalária

(Crotalaria spectabilis, C. paulinea), incorporadas ao solo antes do seu florescimento,

pode reduzir a população dos nematóides e favorecer a longevidade da cultura. Em

pomares já instalados, a eficiência dessa estratégia está relacionada principalmente ao

nível populacional, tipo de solo e idade da planta, sendo recomendado o plantio dessas

espécies ao redor das bananeiras. A utilização de matéria orgânica junto ao rizoma é

mais benéfica que a matéria orgânica depositada entre as linhas de cultivo. Para evitar a

disseminação dos nematóides, por meio de equipamentos de desbrota ou capinas,

recomenda-se a lavagem completa e a desinfestação superficial dos equipamentos com

solução de formaldeído (20g/l). Esses tratos culturais devem, sempre que possível, ser

iniciados em áreas de melhor condição nutricional e sanitária. Dessa forma, evita-se a

disseminação de pragas e doenças passíveis de serem encontradas em áreas menos

vigorosas.

No controle químico dos nematóides em bananais em formação, recomenda-se a

aplicação dos nematicidas 30 dias após o plantio, quando as mudas já possuem raízes

que facilitarão a absorção do produto. São recomendados os produtos Furadan 50 G e

Counter 50 G, nas dosagens de 80 a 60 g/planta, respectivamente. Posteriormente, no

desbaste que ocorre mais ou menos seis meses após o plantio, realiza-se outra aplicação.

Nessa aplicação, o nematicida será colocado na abertura do furo deixado pela

100

“Lurdinha”, na remoção do perfilho, utilizando-se 20% a 30% da dosagem

recomendada para aplicação no solo.

PRINCIPAIS PRAGAS E DOENÇAS DO CAJU

PRAGAS

Broca-das-pontas (Anthistarcha binocularis Meyrick)

Fig. 1. Ramo atacado pela broca-das-pontas.

Sintomas: ocorrência de galerias no interior dos ramos e inflorescência atacados,

presença de orifícios de saída do adulto e secamento da inflorescência. Na maioria dos

casos ocorre quebra do ramo da inflorescência no orifício de saída do adulto. Esses

sintomas permitem distinguir entre o ataque da praga e o da antracnose, que também

causa a seca da inflorescência.

Controle: quatro pulverizações em intervalos de dez dias, na época da floração e início

da frutificação. Recomenda-se o fenitrothion e o malathion na dosagem de 150 a 200 g

ou ml para cada 100 L de água.

Traça-da-castanha (Anacampsis phytomiella Busck)

101

Fig. 2. Sintomas de ataque da traça-da-castanha.

Sintomas: a lagarta recém emergida penetra na castanha no estágio de maturi e destrói

toda a amêndoa. Antes de se tornar pupa, abre um orifício circular na castanha,

geralmente na parte distal, por onde sairá posteriormente o inseto adulto (pequena

mariposa). A presença da praga, portanto, só é notada quando os maturis apresentam um

pequeno furo circular na sua parte inferior.

Controle: os inseticidas cartap, triazophos e monocrotophos mostraram-se eficientes no

controle dessa praga.

Pulgão da inflorescência (Aphis gossypii Glover)

Fig. 3. Ataque do pulgão-da-inflorescência.

102

Sintomas: o inseto, ao mesmo tempo em que suga a seiva da planta, expele uma

substância açucarada denominada "mela", que recobre principalmente as inflorescências

e folhas, servindo de substrato para o crescimento da fumagina, que é um fungo de

coloração negra. O ataque intenso às inflorescências do cajueiro tem como

conseqüência a murcha e a seca, com reflexos diretos na produção.

Controle: os produtos etoato ethyl, monocrotophos, ometoato, dimetoato e pirimicarb,

são também recomendados.

Tripes (Selenothrips rubrocinctus Giard)

Fig. 4. Ataque de tripes.

Sintomas: o inseto ataca principalmente a face inferior das folhas, preferindo as de

meia idade, ponteiros, inflorescências, pedúnculos e frutos. As partes atacadas tornam-

se cloróticas a princípio, passando depois para uma coloração prateada, com

ressecamento e queda intensa das folhas, diminuindo a área foliar da planta, ocorrendo

também secamento da inflorescência e depreciação dos frutos.

Lagarta saia-justa (Cicinnus callipius Sch.)

103

Fig. 5. Ataque de lagarta-saia-justa.

Sintomas: o ataque ocorre principalmente em época de início de floração, prejudicando

a produção pela redução da área foliar e brotações novas, como também pela destruição

parcial ou total das inflorescências.

Controle: os inseticidas listados como eficientes no controle desta praga são triclorfon,

malathion, fenthion, parathion, diazinon, monocrotophos, phosphamilon e methidathion.

Broca-do-tronco e das raízes (Marshallius anacardii Lima e M. bondari Rosado Neto)

Fig. 6. Sintoma de ataque da broca-do-tronco.

Sintomas: os danos às plantas são causados pelas larvas que são encontradas formando

galerias abaixo da casca, no caule e nas raízes. À medida que se desenvolvem,

aprofundam-se cada vez mais em seu interior. Quando completamente desenvolvidas,

penetram no lenho. Ao abandonarem a planta, deixam a marca de sua presença por meio

de vários furos visíveis ao longo do caule seco. Outros sintomas: queda parcial ou total

das folhas ou morte completa da planta.

104

Controle: derrubada e queima de galhos das plantas atacadas no local de ocorrência,

evitando a disseminação do inseto.

Mosca Branca (Aleurodicus cocois)

Fig. 7. Sintoma de ataque de mosca-branca.

Sintomas: presença de colônia de insetos envolvidos por secreção pulverulenta branca

na face inferior da folha e ocorrência de fumagina na face superior da folhas. O adulto é

completamente branco e se assemelha á uma minúscula "borboleta".

Controle: Os produtos que controlam a Mosca Branca são os seguintes: diazinon,

metidathion, fenthion, endosulfan, parathion metil, dimetoato, monocrotophos.

DOENÇAS

Antracnose (Colletotrichum gloeosporioides (Penz) Pez. & Sacc.)

Fig. 8. Sintomas de Antracnose nas Folhas e Frutos.

Sintomas: lesões necróticas, irregulares, inicialmente de cor parda em folhas jovens e

posteriormente de coloração avermelhada em folhas mais velhas. As folhas jovens

ficam enegrecidas, retorcidas e posteriormente caem, quando o ataque é muito severo.

Também causa queda das flores e frutos jovens, com enormes prejuízos no pomar.

Controle: pulverizações semanais alternadas com benomil, na dosagem de 100 g/ 100L

d’água, cujo intervalo de segurança é de 21 dias; e com mancozeb (150 g/ 100L

d’água), cujo intervalo de segurança também é de 21 dias. Ambos são enquadrados

105

como pouco tóxicos. O oxicloreto de cobre, em dosagens que variam de 200 a 400 g/

100L d’água, dependendo do produto comercial, apresenta excelentes resultados quando

aplicado preventivamente.

Mofo-preto (Pilgeriella anacardii von Arx & Miller)

Fig. 9. Sintomas do mofo-preto.

Sintomas: ocorre geralmente no início da floração, atacando preferencialmente as

folhas mais velhas, produzindo um bolor negro de aspecto similar ao feltro, que se

forma na parte inferior das folhas, daí a denominação de mofo-preto. É encontrado mais

comumente no cajueiro anão precoce do que no tipo comum.

Controle: pulverizações quinzenais alternadas com oxicloreto de cobre (3 g/ L de água)

e benomil (1 g/ L de água).

Mancha angular (Septoria anacardii Freire)

Fig. 10. Sintomas da mancha-angular.

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Sintomas: em folhas de plantas adultas as manchas são pretas, circundadas por um halo

amarelado. Ataques muitos severos podem provocar a queda de folhas.

Controle: os mesmos produtos utilizados para a antracnose.

Oídio (Oidio anacardii Noack)

Fig. 11. Sintomas de oídio.

Sintomas: presença de um revestimento pulverulento, branco-acinzentado, nas folhas.

A ocorrência é centralizada nas folhas adultas, ocasião em que não é tão prejudicial

como quando ataca as inflorescências. No Brasil é considerada de importância

secundária, não necessitando medidas de controle. Entretanto, pulverizações com

produtos à base de enxofre e benomil podem controlar o fungo.

Resinose (Lasiodiplodia theobromae (Pat.) Griffon & Maubl)

Fig. 12. Sintomas de resinose.

Sintomas: em plantas adultas, caracterizam-se pelo escurecimento, intumescimento e

rachadura da casca, formando cancros no tronco e ramos, seguidos de intensa exsudação

107

de goma. Abaixo da casca, observa-se um escurecimento dos tecidos o qual se prolonga

até a parte interna do lenho. Ocorrem também amarelecimento e queda foliares.

Prevenção: evitar ferimentos na planta; desinfetar os instrumentos de corte, remover e

destruir plantas ou tecidos infectados.

Controle: proceder a uma cirurgia de limpeza por meio de um canivete ou faca bem

afiada. Retirado todo o tecido atacado, aplicar uma porção de pasta bordalesa ou de um

fungicida comercial à base de cobre na área lesionada. A pasta bordalesa deve ser

preparada no dia anterior, misturando-se uma solução feita com 2 kg de sulfato de cobre

em 5 L de água com outra solução feita com 3 kg de cal virgem em 5 L de água.

Queima-das-mudas (Phytophthora heveae Thompson e P. nicotiana Tucker)

Fig. 13. Sintomas de queima-das-mudas.

Sintomas: Inicialmente surgem manchas foliares arredondadas, com aspecto

encharcado, de coloração marrom-clara. As folhas necrosam rapidamente e podem cair.

Em mudas enxertadas ocorre morte das brotações novas. A infecção pode se iniciar

também pelas raízes, provocando murcha, seca e morte das mudinhas.

Controle: Pulverizações semanais com metalaxyl (1 g/ L de água). Eliminar as mudas

mortas ou com sintomas avançados da doença.

108

CAPÍTULO 6 – COLHEITA, PÓS-COLHEITA E ARMAZENAMENTO

A maturação é a fase do desenvolvimento da fruta em que ocorrem diversas

mudanças físicas e químicas, tais como alterações na coloração, no sabor, na textura,

mudanças na permeabilidade dos tecidos, produção de substâncias voláteis, formação de

ceras na epiderme, mudanças nos teores de carboidratos, de ácidos orgânicos, nas

proteínas, nos compostos fenólicos, nas pectinas, entre outros.

A determinação do grau de maturação adequado, por ocasião da colheita da

fruta, é de grande importância para que o produto atinja o mercado ou a indústria em

perfeitas condições. O grau de maturação ideal é bastante variável com a espécie e,

também, com a cultivar. Outro fator que determina o ponto de colheita é o destino que

será dado à fruta, assim frutas destinadas ao consumo “in natura” devem ser colhidas

maduras ou ligeiramente firmes, enquanto que as destinados à industrialização ou

armazenamento podem ser colhidas com um grau de maturação menos avançado.

As mudanças ocorridas durante a fase da maturação são desencadeadas,

principalmente, pela produção de etileno e, em consequência, aumento na taxa

respiratória. A respiração consiste na decomposição oxidativa de substâncias de

estrutura química mais complexa, como amido, açúcares e ácidos orgânicos, em

estruturas mais simples, como CO2 e água, havendo produção de energia.

O processo respiratório continua a ocorrer mesmo com a colheita da fruta e está

intimamente ligado com a temperatura. Em geral, temperaturas mais elevadas, tanto

antes como após a colheita, aumentam a taxa respiratória, reduzindo, com isso, a

longevidade da fruta.

De acordo com o modelo de respiração apresentado na figura 85, as frutas

podem ser classificados em dois grupos:

a) Frutas Climatéricas - são aquelas que apresentam um período em que ocorre uma

elevação na taxa respiratória, devido à produção autocatalítica de etileno. Esta produção

de etileno, ácido ribonuclêico (RNA) e proteínas, juntamente com aumento na taxa

respiratória e com a decomposição de certas estruturas celulares, marcam a transição

entre a fase de maturação e senescência.

109

Figura: Caracterização da respiração em frutas climatéricas

As frutas climatéricas podem ser colhidas mesmo que ainda não estejam

maduros, pois a maturação é atingida após a colheita. No entanto, as frutas não devem

ser colhidas muito jovens, devido a perdas nas qualidades organolépticas. As principais

frutas climatéricas são maçã, pêra, pêssego, ameixa, goiaba, figo, caqui, abacate,

mamão, manga, maracujá, banana, cherimólia, damasco, melão e tomate.

b) Frutas Não Climatéricas - são aquelas que não apresentam elevação na taxa

respiratória próximo ao final do período de maturação, ou seja, a taxa respiratória

apresenta um declínio constante até atingir a fase de senescência.

110

Figura: Caracterização da respiração em frutas não climatéricas

As frutas não climatéricas devem permanecer na planta até atingirem a fase de

maturação, visto que não ocorrem modificações nos parâmetros físicos e químicos após

a colheita. Dentre as principais frutas não climatéricas destacam-se os citros em geral, a

uva, o morango, o abacaxi, a cereja, a romã, a nêspera e a carambola.

6.1. Parâmetros para determinação do ponto de colheita

Os principais parâmetros utilizados para determinação do ponto de colheita

podem ser divididos em dois grupos:

6.1.1 Parâmetros de indicação direta

a) Mudanças na coloração da casca

A mudança na coloração da casca (epiderme) e/ou da polpa é devido à

degradação da clorofila e síntese de novos pigmentos, como, por exemplo, carotenóides

(amarelo) e antocianinas (vermelho e roxo). É o parâmetro mais utilizado para a maioria

das frutas. É uma medida empírica que requer experiência do fruticultor, pois a

mudança na coloração da casca é característica individual de cada espécie e/ou cultivar.

b) Firmeza da polpa

A firmeza da polpa é dada pelas substâncias pécticas que compõem as paredes

celulares. Com a maturação, tais substâncias vão sendo solubilizadas, o que ocasiona o

amolecimento dos tecidos das frutas.

111

A medida da firmeza da polpa é feita com um aparelho denominado

penetrômetro (Figura), cuja leitura indica o grau de resistência da polpa. Recomenda-se

a realização de duas ou mais leituras em cada fruta, em posições opostas, devido ao fato

de que a maturação não ocorre de maneira uniforme na fruta.

Figura:Penetrômetro utilizado para medir a firmeza da polpa das frutas. Foto:

José Carlos Fachinello

c) Crescimento da fruta

O crescimento das frutas, tanto com como sem caroço, é caracterizado por um

crescimento final rápido, ocorrendo declínio com início da fase da maturação. Assim, o

acompanhamento do crescimento pode ser um parâmetro para determinar o início da

maturação, já que as frutas atingem o peso e o tamanho máximos antes do

amadurecimento. O crescimento pode ser avaliado pelo peso ou pelo diâmetro das

frutas.

d) Teor de Sólidos Solúveis Totais (SST)

Embora outros compostos também estejam envolvidos, o teor de sólidos solúveis

totais nos fornece um indicativo da quantidade de açúcares presente nas frutas. Com a

maturação, os teores de SST tendem a aumentar devido à biossíntese ou à degradação

de polissacarídeos. A medição do teor de SST é feita utilizando-se um aparelho

denominado de refratômetro (Figura), sendo a leitura dada em °Brix. Como a

solubilidade dos açúcares é dependente da temperatura da fruta, recomenda-se fazer a

correção do teor de SST para a temperatura de 20°C.

112

Figura – Refratômetros utilizados para a determinação do teor de sólidos solúveis

totais (SST) das frutas. Foto: José Carlos Fachinello

e) Acidez Total Titulável (ATT) e pH

A ATT é medida, num extrato da fruta, por meio de titulação com hidróxido de

sódio e representa o teor de ácidos presentes (Figura 96). Normalmente a ATT diminui

com a maturação da fruta. O pH apresenta comportamento inverso ao da ATT, ou seja,

aumenta com a maturação da fruta.

Figura – Medição da acidez titulável em frutas. Foto: José Carlos Fachinello

113

f) Relação entre SST/ATT

A relação SST/ATT é um importante indicativo do sabor, pois relaciona os

açúcares e os ácidos da fruta. Durante o período de maturação a relação SST/ATT tende

a aumentar, devido à diminuição dos ácidos e aumento dos açúcares, sendo que o valor

absoluto depende da cultivar utilizada.

g) Teste Iodo-amido

Este teste é utilizado, principalmente, para determinação do ponto de colheita de

maçãs e mede, pela reação do iodo como o amido, a quantidade de amido que foi

hidrolisada. É um teste de fácil execução e bastante preciso, porém é influenciado pela

cultivar, condições da cultura e condições climáticas.

A execução do teste é feita pela imersão das frutas durante 1 minuto, cortadas ao

meio, em uma solução de 12g de iodo metálico e 24g de iodeto de potássio, diluídos em

1 litro de água destilada. Os resultados são expressos em percentagem de área que não

reagiu com o iodo, sendo que já existem tabelas específicas para as principais cultivares

de maçãs.

Além dos parâmetros acima mencionados, existem outros como, por exemplo,

ressonância magnética, liberação de etileno, CO2 e complexos aromáticos, os quais

necessitam de equipamentos e de técnicos especializados, o que restringe a utilização a

nível de instituições de pesquisa.

Figura Teste iodo-amido em maçãs. Foto: José Carlos Fachinello

6.1.2. Parâmetros de Indicação Indireta

a) Dias após a plena floração

114

O número de dias desde a plena floração até a colheita é relativamente constante

para uma mesma cultivar, dentro de uma dada região. Assim, é possível saber-se, com

antecedência, a época em que as frutas de uma determinada cultivar iniciarão o estágio

de maturação. Tal fato é importante, nem tanto para determinar o início da colheita

propriamente dito, mas sim para fazer um planejamento de atividades.

Existem outros parâmetros indiretos para determinar o ponto de colheita, como,

por exemplo, dias após o estágio T, soma das temperaturas a partir dos 40 dias após a

plena floração, entre outros, porém não são comumente utilizados.

6.2. Colheita

Uma vez determinado o ponto de maturação mais adequado, inicia-se o processo

de colheita, que, normalmente, é feita manualmente, colhendo-se as frutas

individualmente. Embora a colheita seja uma operação realizada por mão-de-obra

menos qualificada, é necessário que sejam tomados alguns cuidados básicos para que as

frutas cheguem ao destino final com boas qualidades. Dentre os principais cuidados que

devem ser tomados estão:

Não provocar qualquer tipo de dano mecânico à fruta, quer seja devido à

utilização de ferramentas, como tesouras de colheita, ou a unhas

demasiadamente compridas; ao choque da fruta com a embalagem (caixas, bins,

entre outras); à queda da fruta no chão, devido a sacudidas nos galhos; entre

outras. Tais danos favorecem a entrada de patógenos, principalmente de fungos

que causam o apodrecimento das frutas;

A colheita normalmente é feita em 3 ou 4 operações, devido à

maturaçãodesuniforme das frutas. Portanto, deve-se tomar o cuidado de não

colher frutas verdes, não danificar os frutas que permaneceram na planta e não

causar a quebra de galhos;

Em plantas muito altas, pode-se utilizar escadas, varas de colheita ou máquinas

apropriadas, porém deve-se tomar o cuidado para não lesionar as frutas, nem

deixá-las cair no chão;

A colheita deve, sempre que possível, ser realizada nas horas mais frescas do

dia, sendo que as frutas colhidas devem ser colocadas em local protegido do sol,

seja no galpão ou mesmo na sombra das plantas do pomar, pois o sol pode

provocar sérios danos à película das frutas, bem como aumentar a temperatura

das mesmas, com aumento na taxa respiratória e na transpiração;

115

As frutas devem ser colhidas com pedúnculo, isto é conseguido através de uma

leve torção das frutas. No caso dos citros, a colheita com pedúnculo é facilitada

pela utilização de tesouras de colheita;

Para cada tipo de fruta existem embalagens mais apropriadas, porém o

importante é que a embalagem proporcione o máximo de rendimento ao

operador, com um mínimo de dano às frutas. O tipo de embalagem é variável

com o tipo de fruta, assim, por exemplo, a colheita do pêssego é feita em caixa

de madeira ou de plástico, com capacidade aproximada de 20kg; para a maçã, a

colheita é feita utilizando-se bolsas presas ao corpo do operador e, depois, as

frutas são colocadas em caixas grandes de madeira (bins), com capacidade de

350 a 400kg, que são transportados por tratores;

Deve-se fazer a desinfecção do material utilizado para a colheita das frutas,

principalmente das embalagens de transporte e armazenamento, para tanto,

pode-se utilizar o hipoclorito de sódio (água sanitária), na concentração de

400mg.L-1, para embalagens de plástico, e 800mg.L-1, para embalagens de

madeira;

Antes do início da colheita, deve-se fazer a manutenção das estradas internas do

pomar, eliminando-se tocos, pedras e buracos que possam provocar saltos

bruscos nos veículos que transportam as frutas colhidas;

As frutas são, na maioria, produtos bastante perecíveis, isto faz com que o

intervalo de tempo, entre a colheita e o destino final, deva ser o mais reduzido

possível.

6.3. Seleção e classificação

Por seleção, entende-se a separação das frutas quanto à sanidade, forma,

coloração, defeitos, entre outras. Já classificação é a separação das frutas quanto ao

tamanho, que pode ser representado pelo peso ou pelo diâmetro.

A seleção e a classificação das frutas são processos que podem iniciar na

colheita, onde já são eliminados aquelas demasiadamente verdes, podres, manchadas,

muito pequenas, entre outros. Após a colheita, as frutas são levadas para os galpões de

beneficiamento (packing house).

Ambos os processos podem ser realizados manual ou mecanicamente, sendo

que, neste último, o rendimento é bastante superior. A operação realizada manualmente

apresenta bons resultados, porém é um processo lento que exige mão-de-obra com

experiência e em quantidade. A utilização de máquinas normalmente é restrita pelo

116

elevado custo de aquisição e pela inviabilidade de utilização para mais de um tipo de

fruta, o que praticamente limita o seu uso a grandes empresas monocultoras.

A maçã é, hoje, a fruta que mais tem evoluído tecnicamente, no Brasil, na parte

de pós-colheita, sendo que algumas empresas já realizam a classificação e seleção

simultaneamente através de máquinas que separam as maçãs eletronicamente pela cor e

tamanho, perfazendo, em torno, de 24 toneladas/hora.

A padronização e a rotulagem das frutas, de acordo com a finalidade desejada, é

feita através de portarias específicas para cada cultura, expedidas pelo Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

6.4. Armazenamento

A colheita da maioria das frutas se dá num espaço de tempo relativamente curto,

isso faz com que haja necessidade de conservá-los além da época de produção, o que

proporciona benefícios tanto para o produtor, que obtém melhores preços, quanto para o

consumidor que pode dispor das frutas em épocas em que não é possível produzí-las.

Dentre os diversos métodos de conservação de frutas e hortaliças, somente será

abordado o método de conservação pela utilização do frio ou frigoconservação ou

armazenamento refrigerado, embora existam outros também importantes.

A frigoconservação é o método mais utilizado para conservação de frutas, que

podem ser destinadas tanto ao consumo “in natura” quanto para a industrialização, daí

sua grande importância.

Tipos de armazenamentos refrigerados

a) Atmosfera Normal (AN)

A atmosfera normal é o sistema mais utilizado para prolongamento do período

de armazenamento da maioria das frutas, principalmente as de clima temperado. Baseia-

se na combinação de baixas temperaturas, geralmente de -1 a 4°C, com alta umidade

relativa do ar (UR), geralmente superior a 85%.

A temperatura baixa reduz a velocidade do metabolismo respiratório, sendo que

o valor mínimo tolerado é variável com a espécie e cultivar. Por outro lado, frutas com

atividade respiratória alta, como as frutas de clima tropical, não se adaptam ao

armazenamento com temperatura muito baixa.

A utilização de UR alta no armazenamento dificulta a desidratação das frutas,

porém demasiadamente alta, favorece a proliferação de microrganismos patogênicos.

b) Atmosfera Modificada (AM)

117

A atmosfera modificada é um método de conservação que visa modificar a

concentração de gases ao redor e no interior da fruta, associada ou não à utilização de

baixas temperaturas, porém sem um controle preciso dos teores gasosos.

A alteração da atmosfera pode ser conseguida colocando-se as frutas em

embalagens de polietileno ou PVC, aplicando-se ceras, ésteres de sacarose, Na-

carboximetilcelulose, ácidos graxos não saturados de cadeia curta, entre outros. Alguns

materiais plásticos são pouco permeáveis ao vapor d’água, o que provoca aumento

excessivo da umidade relativa (95%), favorecendo a ocorrência de fungos. Para evitar

este problema, pode-se fazer pequenas perfurações nos plásticos, que impedem,

também, o acúmulo excessivo de CO2.

As ceras não alteram a transpiração, mas reduzem as trocas de O2 e CO2 com a

atmosfera e podem induzir a produção de alcoóis, aldeídos e outros compostos

indesejáveis.

c) Atmosfera Controlada (AC)

O armazenamento em atmosfera controlada é uma técnica que vem sendo

utilizada com bastante sucesso em algumas frutíferas, principalmente em maçãs. Baseia-

se na manutenção das frutas em uma câmara fria com uma proporção definida de O2 e

CO2, aliada à baixa temperatura.

O ar atmosférico é composto por, aproximadamente, 78% de N2, 21% de O2 e

0,03 de CO2. Com a utilização de câmaras frias hermeticamente fechadas, se pode

alterar os teores de O2 e CO2 para 1 a 3% e 1 a 5%, respectivamente. Com isso, se reduz

o processo respiratório da fruta, reduzindo, consequentemente, os processos de

degradação.

O O2, na atmosfera e no interior da fruta, atua no seu metabolismo, porém

concentrações muito baixas fazem com que ocorra a respiração anaeróbia e a produção

de etanol, acetaldeído e outros compostos que prejudicam as qualidades organolépticas

das frutas. Com relação ao CO2, concentrações altas (acima de 5%) provocam

alterações estruturais, como desintegração das membranas e do citoplasma.

Os níveis de O2 e CO2 a serem utilizados são bastante variáveis com a espécie e

com a cultivar utilizadas, sendo que se controle é feito por computadores que analisam a

composição do ar no interior da câmara, fazendo automaticamente a correção. A

proporção adequada do ar atmosférico no interior da câmara pode ser conseguido pela

eliminação de O2 e aumento de CO2, através da respiração natural das frutas. Caso os

níveis de CO2 ultrapassem os limites máximos, passa-se o ar por soluções de Ca(OH)2,

118

NaOH ou H2O, que absorvem o gás. Caso os níveis de O2 diminuam muito, a

recomposição é feita através da injeção de ar no interior da câmara. Para retirar o

excesso de etileno, passa-se a atmosfera da câmara numa solução de permanganato de

potássio (KMnO4).

Outras maneiras mais rápidas de rebaixar a concentração de O2 e aumentar a de

CO2 são a combustão do gás propano ou através da purga da câmara com nitrogênio. Os

grandes inconvenientes deste sistema são a exigência de câmaras frias praticamente

herméticas, equipamentos complexos e mão-de-obra especializada o que aumentam os

custos de utilização.

Condições de armazenamento

A manutenção da qualidade das frutas durante um período mais prolongado

depende de uma interação entre as condições envolvidas no armazenamento. As

principais condições que influenciam na qualidade das frutas são a temperatura, a

umidade relativa e o período de armazenamento. Tais condições são bastante variáveis

com as espécies e também com as cultivares.

119

CAPÍTULO 7 – PERDAS PÓS-COLHEITA DE FRUTAS

Poliana Cristina Spricigo – Doutoranda – CPG Biotecnologia – UFSCAR.

Aumentar a produção de frutas é uma solução primária para atender a futura

demanda global de alimentos, seja aumentando a área plantada ou o rendimento das

culturas. Viabilizar a chegada do alimento produzido até a população, através da

redução de perdas e desperdícios com a adoção de soluções eficientes ao longo da

cadeia produtiva, configura uma das formas de garantir segurança alimentar e

nutricional a todo o mundo. Neste sentido, a integração das partes componentes da

cadeia produtiva passa a ser ação essencial para o gerenciamento das perdas, uma vez

que cada parte isolada tem efeito positivo ou negativo sobre a outra (FAO, 2011).

"Segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao

acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem

comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas

alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e sejam

ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis (art. 3º da Lei nº 11.346, de

15 de setembro de 2006)."

Segundo Chitarra e Chitarra (2005) as perdas pós-colheita podem ser definidas

como aquelas que ocorrem após a colheita em virtude da falta de comercialização ou do

consumo do produto em tempo hábil; ou seja, resultante de danos à cultura, ocorridos

após a sua colheita, acumulada desde o local da produção, somando-se aos danos

ocorridos durante o transporte, armazenamento, processamento e /ou comercizalização

do produto vendável.

As tecnologias aplicadas em pós-colheita de frutas e hortaliças buscam manter a

qualidade através da aparência, textura, sabor, valor nutritivo, segurança alimentar e

também reduzir perdas qualitativas e quantitavas entre a colheita e consumo. No

entanto, perdas pós-colheita podem ocorrem em número expressivo e representam gasto

de valiosos e escassos recursos utilizados na produção, como água e energia (Fig. 1).

Produzir alimentos que não são consumidos leva a emissões desnecessárias de dióxido

de carbono, além de perda do valor econômico dos alimentos produzidos (FAO, 2011).

120

Figura 1: Perda ou desperdício de frutas e hortaliças em diferentes etapas da

cadeia produtiva em diferentes regiões do mundo. Fonte: FAO, 2011.

Em países em desenvolvimento mais de 40% das perdas de alimentos ocorrem

nas etapas de pós-colheita e processamento. Nestes países, medidas de controle devem

ser adotadas da perspectiva do produtor, por meio de técnicas pós-colheita adequadas,

programas de conscientização, melhoria das instalações de armazenamento e cadeia do

frio. Em países industrializados mais de 40% das perdas ocorrem nas etapas do varejo e

consumo e as soluções direcionadas ao produtor passam a ter importância apenas

marginal, uma vez que os consumidores perdem grandes quantidades de alimentos (Fig.

2) (FAO, 2011).

Figura 2. Perda ou desperdício de alimento per capita (kg.ano-1

) no consumo e

etapas pré-consumo em diferentes regiões do mundo. (FAO, 2011).

121

Origem das Perdas

Perdas pós-colheita variam muito entre produtos, áreas de produção e época de

cultivo além de estarem relacionadas com a colheita de frutos imaturos, controle

inadequado de qualidade nas etapas da produção, incidência e gravidade de danos

mecânicos, exposição a temperaturas inadequadas e demora no consumo (Kader, 1986).

Os padrões de qualidade, preferências e poder de compra variam muito entre países e

culturas e essas diferenças influenciam a comercialização e a magnitude das perdas pós-

colheita (Kader e Rolle, 2004).

As perdas podem ser classificadas em quantitativas, qualitativas e nutricionais.

Perdas qualitativas e nutricionais, valor calórico e aceitação pelos consumidores, são

muito mais difíceis de avaliar do que perdas quantitativas. As causas primárias das

perdas podem ser fisiológias, fitopatológicas e por danos mecânicos (Chitarra e

Chitarra, 2005).

As causas fisiológicas são perdas relacionadas a elevada taxa de respiração,

produção de etileno, atividade metabólica, perda de massa, amaciamento dos tecidos,

perda do flavor e valor nutritivo.A adoção de práticas que controlem esses parâmetros

contribui para a conservação dos alimentos. Por exemplo, Silva et al. (2011)

trabalhando com aplicação de ceras na pós-colheita de caquis verificaram menor perda

de massa durante o armazenamento com relação aos caquis não tratados. A aplicação de

cera mostrou-se efetiva na conservação da qualidade pós-colheita do caqui

cv.Fuyudurante armazenamento, com melhor conservação da massa, coloração externa

e firmeza além dos parâmetros químicos.

As perdas fitopatológicas são resultado do ataque de microrganismos que

causam o desenvolvimento de doenças provocadas por fungos, bactérias e vírus. As

perdas fitopatólógicas podem deteriorar apenas a aparência do produto levando a perdas

qualitativas ou então levar a destruição total dos tecidos (Chitarra e Chitarra, 2005). Um

trabalho realizado com mamões e laranjas comercializados em Recife-PE indicou

elevada incidência de diferentes doenças fúngicas pós-colheita, que atingiram 82,53%

dos frutos amostrados de mamão e 21,85% dos frutos de laranja (Dantas et al. 2003).

Esses resultados alertam sobre a importância econômica das doenças em pós-colheita de

frutos de mamão e laranja, pois essas doenças desqualificam a fruta para

comercialização.

O alto teor de umidade e textura macia de frutas e hortaliças as tornam

suscetíveis ao dano mecânico (FAO, 1989). Danos mecânicos são as principais causas

122

de perdas em qualidade e quantidade de produtos hortícolas in natura. A incidência e

gravidade das lesões podem ser minimizadas reduzindo o número de etapas envolvidas

até o consumidor e educando os profissionais envolvidos sobre a necessidade de

manipulação cuidadosa (Kader e Rolle, 2004). Neste ponto, as pesquisas desenvolvidas

para o aprimoramento da cadeia produtiva contribuem para a manutenção da qualidade

dos produtos hortícolas. Em tomates, Ferreira et al. (2006a) avaliaram o efeito do

manuseio e transporte dos frutos em várias etapas da colheita tendo como objetivo

apontar pontos críticos.

Também para tomate Ferreira et al. (2009) verificaram danos por impacto em

linhas de embalagem de tomates frescos, bem como determinaram a qualidade dos

frutos submetidos a danos por impactos em diferentes tipos de superfície. Estudos

semelhantes, detectando pontos de queda e níveis críticos de impactos também foram

conduzidos com outros produtos, como citros e caqui (Ferreira et al., 2006b; Valentini

et al., 2009), afim de colaborar para o desenvolvimento de estratégias que sejam melhor

adaptadas a cada tipo de fruta ou hortaliça ao longo de seu beneficiamento.

Segundo Ferreira et al. (2008) uma intervenção através de cursos e treinamentos

das pessoas envolvidas na cadeia produtiva pode auxiliar na diminuição das perdas e

melhoria da qualidade do produto final.Os danos mecânicos podem acelerar a perda de

água, reduzir os teores de vitamina C e aumentar a suscetibilidade a patógenos. Durigan

et al. (2005) concluiram que houve perda significativa da qualidade das limas ácidas

'Tahiti' em função de diferentes injúrias mecânicas, principalmente naquelas submetidas

às injúrias por impacto.

Os danos que deixam o tecido intacto, mas causam injúrias internas podem

causar aumento na respiração, descoloração interna e off-flavors por causa de reações

fisiológicas anormais (FAO, 1989). As desordens fisiológicas causadas por impactos

alteram, por exemplo, o sabor e aroma do tomate, reduzindo assim a potencial aceitação

deste produto (Moretti e Sargent, 2000). Moretti et al. (1997) estudaram a aceitação de

tomates com danos internos pelos consumidores através de análise sensorial.

Verificaram que os consumidores diferenciaram o sabor em homogeneizados

preparados com frutos que apresentavam danos internos.

Custos das Perdas

Cerca de um terço dos produtos hortícolas produzidos nunca são consumidos

pela população mundial (Kader e Rolle, 2004). Essas perdas refletem de forma

significativa na quantidade de produto ofertado e na formação de preços finais. Ricarte

123

et al. (2008) avaliando o desperdício de alimentos em um restaurante universitário de

Fortaleza-CE, por um período de dois meses, identificaram que de 642 kg de frutas e

hortaliças recebidos, foram perdidos 203 kg entre armazenamento e pré-preparo,

representando 31,6% de desperdício. Silva et al. (2003) constataram que o volume de

perda anual de três variedades de banana, na cidade de Botucatu, somou 39 toneladas,

representando um valor de R$ 35.038,00 mil reais.

As perdas colaboram para que haja aumento no custo da pós-colheita. Muitas

vezes, esse custo representa o maior gasto ao longo da pós-colheita e comercialização,

como o que ocorre no caso da banana, ou então o valor sobrepõe o custo de alguma

etapa muito importante para a qualidade do produto, caso que ocorre com a manga, que

apresenta o custo de perda mais elevado do que o próprio beneficiamento. As perdas

significativas que ocorrem durante a produção, colheita, pós-colheita, armazenamento e

transporte ao canal distribuidor também contribuem fortemente para a redução da oferta.

124

CAPÍTULO 8 – MERCADO E COMERCIALIZAÇÃO DE FRUTAS

A globalização leva ao livre mercado sem fronteiras, com os concorrentes mais

próximos, com integração cada vez maior dos mercados e dos meios de comunicação e

transporte, permite que o abastecimento de uma empresa possa ser feito por

fornecedores que se encontram em diversas partes do mundo, cada um oferecendo

melhores condições de preço e qualidade. Esse mercado exige volume, constância na

oferta, diversidade e produtos de qualidade com rastreabilidade.

Quando o mercado se torna altamente excludente cabe a mediação por parte do

Estado. O acesso ao mercado e à comercialização de produtos agrícolas da AF

(Agricultura Familiar) constitui um dos principais gargalos dessa categoria de

produtores. A escolha do mecanismo de comercialização envolve ações que se adaptem

à pequena escala, ao tipo de qualificação do trabalho, ao relacionamento com

fornecedores, clientes e prestadores de serviços e à existência de estratégias

competitivas.

O processo de comercialização tem início com a produção, mas não se limita a

isso, passando pelo beneficiamento, embalagem, compra, venda e atividades de

logística. Essa dinâmica de produção, para permanência no mercado, implica que os

produtores tenham volume, qualidade, diversidade e regularidade de oferta, pois os

consumidores precisam se alimentar diariamente e os fornecedores devem estar

estruturados para isso.

No momento de vender a produção, a maioria dos agricultores sofre deságio de

preços em seus produtos, por desconhecer as regras de mercado, principalmente quando

se trata de produtos perecíveis (frutas, legumes e verduras). Há deságio por ser

perecível, por ser colhido fora do ponto ideal de colheita, por não ser classificado, não

ser devidamente embalado, não ter rastreabilidade e não ser transportado corretamente.

A redução das perdas na comercialização começa no planejamento da atividade,

antes de iniciar a produção, através do estudo de mercado e verificação de suas

exigências em relação aos produtos que se quer produzir. O ideal é vender o produto

antes de produzi-lo e, quando possível, formalizado via contrato.

Geralmente ao se falar em mercados como áreas geográficas (mercado local,

regional, estadual, internacional etc) pode-se segmentá-lo em mercados geográficos,

incorporando a utilidade de lugar, mercados de um produto, incorporando a utilidade de

forma (mercado de milho, como exemplo) e mercados temporais, como utilidade de

125

tempo (mercado de feijão em junho). O problema a ser analisado na comercialização é

que define o tipo de mercado. Como exemplo, tem-se o preço do tomate praticado na

CEASA ou o preço da soja no mercado internacional.

As atividades da comercialização devem facilitar respostas aos problemas

econômicos: o que, quanto, quando, e onde e como produzir, e de que forma distribuir

os produtos. O papel da comercialização está centrado em orientar a produção e o

consumo e produzir utilidades.

1. PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO

O primeiro passo de qualquer empreendimento é o planejamento para verificar

os riscos que estão embutidos no negócio e como implementá-lo com segurança. O

planejamento, ou plano de negócio, quando bem feito, permite identificar os riscos,

analisá-los e tomar a decisão antes de fazer os investimentos, reduzindo, assim, as

possibilidades de prejuízo.

Numa breve reflexão é possível verificar que na comercialização de frutas,

legumes e verduras (FLV) existem alguns riscos tais como: risco de produção, de preço,

de crédito, risco de conduta e dos contratos, como se pode observar na figura.

1.1 CONHECER PRIMEIRO O MERCADO A QUE SE DESTINA O PODUTO

PARA DEPOIS PRODUZIR

A questão é amadurecer a idéia de que a comercialização não pode mais ser

deixada para depois da colheita. Tornou-se necessário dedicar tempo e atenção às

cotações e às oportunidades de negócios antes mesmo do plantio. Esse monitoramento,

à base de informação qualificada, é que permite as avaliações particulares.

Figura: riscos que ocorrem na comercialização de frutas.

Em ano de incerteza climática, amadurecer as vendas dá mais resultado do que

reclamar do clima e da produtividade.

126

- Antes de decidir o que e quanto produzir, é preciso conhecer o mercado ao qual se vai

vender o produto (indústria, cooperativa, intermediário, atacadista, varejista,

consumidor), a sua localização e a sua infraestrutura e área disponível para produção;

- Analisar as potencialidades, dificuldades, oportunidades e ameaças;

- Que quantidade o mercado está disposto a comprar;

- Qual a estimativa de preço que o mercado está disposto a pagar;

- De quem o mercado compra atualmente e qual a forma de pagamento;

- Qual a periodicidade de compra e qual a qualidade exigida (classificação,

padronização, embalagem, rotulagem desejada do produto).

A pesquisa de mercado pode ser feita junto aos canais locais de comercialização,

tais como: agroindústrias, supermercados, armazéns, mercearias, açougues, padarias,

sacolões, feiras, restaurantes, cooperativas e hotéis, entre outros.

Planejamento é o ato de pensar, analisar, refl etir, organizar e exercitar

antecipadamente o que deve ser feito para alcançar os resultados esperados. O que

produzir, quanto produzir, quando produzir, para quem produzir e como produzir.

O que produzir

Uma vez estudado o mercado é necessário definir:

- O que produzir e a tecnologia a ser usada, considerando as exigências dos

consumidores;

- Verificar se existem recursos produtivos suficientes;

- Verificar para qual mercado em que quantidade produzir.

O mercado de frutas, legumes e verduras é exigente em quantidade, qualidade,

preço, regularidade de oferta, padronização da mercadoria e embalagem, além de exigir

a nota fiscal dos produtos. Diante dos possíveis mercados (municipal, regional,

nacional) é preciso que o produtor defina do qual deles irá participar e a capacidade de

produção a ser ofertada em função da demanda existente. Fazer o cadastramento dos

possíveis compradores e iniciar os contatos na perspectiva das futuras vendas:

- Que qualidade a produção deverá ter;

- Com que frequência o produto vai chegar ao mercado: diária, semanal, mensal, anual

ou, ainda, na safra ou na entressafra. Conforme a frequência será preciso todo um

esforço no planejamento da infraestrutura da propriedade, da logística e do processo de

comercialização;

- Aumentar o valor do produto.

127

2. DIAGNÓSTICO/PROBLEMAS DO AGRONEGÓCIO FRUTI-OLERÍCOLA

- Baixa produção/produtividade, baixa qualidade e alto custo de produção;

- Produção segmentada e inconstante (desequilibrada);

- Deficiência na qualifi cação dos produtos pós-colheita (seleção, limpeza, classifi

cação, acondicionamento, embalagens, rotulagem e identifi cação do produtor e do

produto);

- Muitos produtores sem casas de embalagens (“paking house”), ou local apropriado

para o processamento pós-colheita;

- Problemas ambientais e sanitários, tanto na produção e no processamento, quanto na

comercialização;

- Deficiência na logística de armazenamento, transporte e comercialização;

- Baixo consumo e hábito alimentar restrito;

- Escassez de tecnologia mais avançada e de conhecimento do mercado;

- Deficiência no “marketing”;

- Desorganização do setor produtivo com deficiência na oferta de produtos e serviços

diferenciados;

- Espírito imediatista e ganância dos agentes da cadeia.

3. OS VÍCIOS DO MERCADO

- Produtores desunidos, desorganizados, fragmentados e desvinculados dos

consumidores;

- Comerciantes (atacadistas e atravessadores) com visão oportunista;

- Setor varejista inexperiente, embora perceba necessidade de mudanças;

- Inexistência de dados oficiais e/ou confi áveis para se determinar o mercado no Brasil.

4. ONDE ESTÃO OS MERCADOS

Dependendo do planejamento e do sistema de produção, do produto e do volume

de produção, o mercado pode estar no próprio município ou nos municípios

circunvizinhos. Pode estar nos estados, principalmente junto aos grandes centros

urbanos. No Brasil, o mercado localiza-se nas capitais, regiões metropolitanas e cidades

mais populosas.

5. OPORTUNIDADES DO SETOR DE FRUTAS E HORTALIÇAS

- Efetivação e surgimento de novos canais de distribuição e de demanda e novas formas

de comercialização forçarão o desenvolvimento de novas organizações, melhorando o

lucro da cadeia;

128

- Surgimento de formas para encurtar o caminho até o consumidor final, reduzindo as

intermediações;

- Possibilidade de agregação de renda através da melhoria na qualidade, da qualificação

pós-colheita e do uso de embalagens adequadas e padronizadas;

- Novos nichos de mercado: produtos orgânicos; produtos hidropônicos; produtos

isentos de agrotóxicos e de agentes biológicos nocivos à saúde humana; produtos

desdobrados, diferenciados; produtos pré ou minimamente processados (lavados,

higienizados, cortados, descascados, picotados, ralados) e produtos

agroindustrializados;

- Redução do desperdício médio, que gira, na pós-colheita, em torno de 30%.

6. GRANDES ESTRATÉGIAS PARA AS MUDANÇAS DO SETOR DE FRUTAS,

LEGUMES E VERDURAS

- Produção e comercialização programada, visando constância de oferta, em volume

adequado (de acordo com o mercado ou o cliente);

- Instalações em conjunto de infraestrutura (“paking house”) de classificação,

processamento pós-colheita, de armazenamento e/ou de agroindústrias;

- Compra conjunta de insumos, venda conjunta da produção e transporte em conjunto;

- Melhoria na qualidade e na qualificação pós-colheita (reconquistar a credibilidade);

- Aumento na produtividade e redução de custo;

- Educação alimentar junto ao consumidor final;

- Desenvolvimento de polos de produção programada, transporte, aquisição de insumos

e agroindústria conjunta, para maximizar a comercialização;

- Organização da classe produtora para produção e comercialização conjunta e/ou

ordenada, visando lucros a médio/longo prazo com oferta diversificada e em escala, a

preços competitivos e através de produtos e prestação de serviços diferenciados.

7. MERCADOS

7.1. CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO OU DE COMERCIALIZAÇÃO DISPONÍVEIS

Entende-se aqui canais de comercialização como os vários espaços e

oportunidades nos quais se praticam as transações comerciais, desde locais até

internacionais.

Canais de marketing ou de distribuição podem ser entendidos como “um

conjunto de organizações interdependentes envolvidas no processo de tornar o produto

ou serviço disponível para o consumo ou uso”(STERN, 1996). O conceito indica que

129

várias empresas estão evolvidas no processo, a fim de satisfazer os usuários finais no

mercado, sejam eles consumidores ou compradores empresariais.

Os canais de comercialização desempenham, cada vez mais, papel importante

para o agricultor, podendo ser o fator mais relevante para o desenvolvimento efetivo da

participação de mercado. Os canais de distribuição eficientes vêm se tornando mais

importantes para garantir que os agricultores alcancem sucesso em mercados altamente

competitivos. É preciso conhecer os canais de comercialização para:

- Entender o processo de formação de preços;

- Identificar pontos de estrangulamento da comercialização;

- Identificar possíveis oportunidades;

- Identificar possíveis parcerias e alianças;

- Organizar estratégias para participar de mercados mais competitivos.

Os principais canais de comercialização utilizados pelos agricultores familiares

estão relacionados a seguir, com a predominância do intermediário, o que demonstra um

longo caminho a ser percorrido na organização dos agricultores e da produção para que

passem a ser protagonistas de seus negócios, através do cooperativismo. Principais

canais de comercialização: Intermediário, Cooperativas, Indústria, Mercado atacadista

(Centrais de Abastecimento – CEASA), Operadores independentes e Produtores

expedidores), Mercado Institucional (PAA E PNAE), Comércio Justo etc.

7.2. QUEM SÃO OS CONCORRENTES E COMO SE COMPORTAM

O agricultor precisa identificar quem são os concorrentes que atuam no mercado

de seus produtos, como eles operam, qual a qualidade apresentada, como são feitas as

transações, forma de pagamento e qual a fatia de mercado ocupada pelos concorrentes.

Tais observações permitem detectar os pontos fortes e fracos e identificar novas

oportunidades de mercado.

7.3. COMO SÃO PRATICADAS AS TRANSAÇÕES DE COMPRA E VENDA

Entendendo a cadeia produtiva dos produtos

Um desafio para os agricultores familiares é entender como estão estruturadas as

cadeias produtivas de seus produtos e de seus negócios, como interagem os agentes

nessas cadeias, como estão compostas as forças de mercado, como a cadeia é

coordenada e identificar o mercado apropriado para cada produto, os canais de

comercialização, as estratégias específicas para cada grupo de produtos e como

fortalecer o poder de barganha dos produtores para enfrentar a força dos compradores.

130

Sem dúvida é uma tarefa difícil, quase impossível, para os agricultores

enfrentarem individualmente, sem o espírito cooperativo. As cadeias produtivas são

entendidas como um conjunto de componentes interativos, compreendendo desde os

fornecedores de serviços e insumos, sistemas produtivos agropecuários e agroflorestais,

processamento e transformação, distribuição e comercialização, até os consumidores

finais de produtos e subprodutos.

Figura: Representação de uma cadeia produtiva hortifrutícola.

Segundo (Batalha et al, 1997) a cadeia produtiva pode ser analisada sob diversos

enfoques:

Técnico - A cadeia de produção é uma sucessão de operações de transformação

dissociáveis, capazes de serem separadas e ligadas entre si por um encadeamento

técnico;

Econômico - A cadeia de produção é também um conjunto de relações comerciais e

financeiras que estabelecem, entre todos os estados de transformação, um fluxo de troca

situado de montante a jusante, entre fornecedores e clientes;

Estratégico - A cadeia de produção é um conjunto de ações econômicas que presidem a

valoração dos meios de produção e asseguram as articulações das operações.

Forma de comercialização

A comercialização é complexa, dinâmica e processual. Ela possui as seguintes

funções:

- Função comercial – refere-se às informações e decisões de venda;

- Função logística – inerente ao transporte e à entrega de mercadorias;

131

- Função financeira – trata da forma de pagamento e de como serão formalizados os

contratos entre as partes.

A forma de comercialização do produto, venda “in natura”, produto

minimamente processado e produto processado irá implicar no investimento em

infraestrutura e na legislação a ser seguida no processo de comercialização.

Estratégia de comercialização

No contexto do mundo globalizado, as relações comerciais são caracterizadas

pela alta competitividade. Somente haverá espaço para quem:

Buscar, permanentemente, informações sobre o mercado consumidor de seus

produtos e sobre o mercado fornecedor de suas matérias-primas;

Dominar técnicas de gerenciamento da atividade rural e aplicá-las no seu

negócio; analisar, rotineiramente, os preços praticados pelo mercado, os custos

de produção e os preços de seus produtos.

A comercialização pode ser efetuada de várias formas:

- Venda individual;

- Venda associativa;

- Organização de rede.

Para inserção dos agricultores familiares no mercado é necessário melhorar o seu

poder de competição com organização em cooperativas, centrais de associações,

formando redes de comercialização e parcerias formalizadas, como forma de superar

mais facilmente as barreiras de sua inserção no mercado, para atenderem as demandas

dos diversos canais de comercialização públicos e privados, para que possam organizar

a oferta de produção, a diversidade de alimentos, a logística de beneficiamento,

armazenagem, processamento, embalagem, padronização, transporte, distribuição,

aquisição de insumos, caminhões, máquinas de beneficiamento e marketing. As

transações devem ocorrer do informal para o formal, através de contratos, alianças e

outros mecanismos. Instituições, devidamente registradas, observando os amparos

legais tornam-se “o braço” dos produtores no mercado.

O agricultor sozinho dificilmente consegue acessar bons mercados e manter a

regularidade na oferta de produtos também, na maioria dos casos, não dispõe da

infraestrutura necessária. Portanto, o associativismo é uma estratégia competitiva de

acesso ao mercado.

A tendência de monopolização no sistema de abastecimento agroalimentar tem

dificultado a inserção de alguns segmentos tradicionais ao mercado. O resultado tem

132

sido a exclusão de pequenos e médios empreendimentos agrícolas, industriais e

comerciais.

Paralelamente, novas possibilidades são abertas à comercialização para produtos

diferenciados, como os artesanais, orgânicos e “naturais”, que apresentem valor

econômico, social e cultural. Dentre as estratégias de inserção no mercado destacam-se

duas: verticalizar a comercialização ou fazer parcerias. Na verticalização é necessário

criar “uma marca para obter a fidelidade dos consumidores”. É preciso conhecer os

consumidores pois, normalmente, nesse caso as margens de ganho são pequenas.

Isso tem implicações na eficiência em termos de redução dos custos de produção

e transação. Já no caso das parcerias, o ideal é buscar produtores parceiros já

estabelecidos. É fundamental ter uma coordenação das atividades, que também realizam

o controle dos custos dessa transação e uma postura associativista madura de forma a

reduzir o oportunismo, evitando criar a fi gura do intermediário.

7.4. TIPOS DE MERCADOS

Mercado atacadista (basicamente três canais)

1) Centrais de abastecimento (CEASA): Existem nos principais centros urbanos, de

propriedade do estado e/ou municípios e, por não terem acompanhado a evolução da

globalização e da modernização, começam a perder forças para outros canais;

2) Operadores Independentes: São os intermediários ou atravessadores operando dentro

e fora das Centrais de Abastecimento, atendendo pequenos varejistas localizados nas

pequenas cidades. De modo geral, esses intermediários não têm qualquer

comprometimento com o produtor e assumem poucos riscos;

3) Produtores Expedidores: Representam uma classe nova de distribuidores, resultado

da demanda de mercado, gerado por varejistas em busca de melhor serviço e menor

custo, além da constância de entrega em volume e qualidade. São originários de

operadores independentes, com a diferença de que também são produtores. Esses

mecanismos substituem a dificuldade de operacionalização de associações e

cooperativas, na área de perecíveis.

Mercado varejista

Composto pelos canais tradicionais como as feiras livres os varejões, as

quitandas, as mercearias, os ambulantes, sacolões, mercados municipais e os canais que

englobam as grandes redes de super e hipermercados.

Mercado consumidor institucional

133

É constituído de inúmeros canais como: cozinhas industriais de grandes fábricas,

exército, merenda escolar, rede de restaurantes e de hotéis e outros. Pontos de

estrangulamento para os produtores venderem seus produtos neste mercado:

a) Baixa produção, tanto em volume como em diversidade de produtos;

b) Descontinuidade na oferta;

c) Falta de padronização da qualidade ofertada;

d) Fraca infraestrutura de produção e comercialização;

e) Baixa disponibilidade de recursos produtivos (capital e mão de obra);

f) Pouca organização dos pequenos agricultores;

g) Baixa remuneração.

Os super e hipermercados, sacolões, quitandas, mercearias, varejões, feiras livres

e os ambulantes representam o setor varejista de frutas e hortaliças no Brasil. Os

estabelecimentos acima citados, exceto os super e hipermercados, ainda participam com

considerável fatia de mercado na distribuição de frutas e hortaliças.

Entretanto, o aumento da concorrência aliado a baixos custos (economia de

escala) e o incremento da eficiência fará com que os super e hipermercados (que hoje

detêm aproximadamente entre 45-50% da fatia do mercado) continuem a ganhar maior

fatia de mercado (podendo atingir, nos próximos 5 anos, em torno de 70-80 %).

As redes recentes (de cadeias internacionais) e as antigas redes de super e

hipermercados estão submetendo os seus departamentos de frutas e hortaliças a

substanciais mudanças, realocando e atualizando o setor, transformando-o num

elemento muito importante para atrair o consumidor, considerando-o como “ponto

chave diferencial” entre todos os outros produtos. Eficiência operacional e baixo custo

são as chaves da sobrevivência.

Os segmentos da cadeia de frutas e hortaliças que os antecedem (produtores e

distribuidores) estão muito longe de atender os requisitos necessários para garantir uma

efi ciente operacionalidade desse setor, excessivamente segmentado, oportunista, com

inadequada tecnologia de classificação, manuseio, armazenagem pós-colheita e

transporte de distribuição.

É necessário na cadeia o incremento e a organização de empresas e associações

independentes de distribuição, com adequada infraestrutura de armazenamento, classifi

cação, acondicionamento, armazenamento e de transporte para, de forma efi ciente,

constante e preço competitivo (ganho por escala) poder suprir o moderno setor varejista

(principalmente, super e hipermercados e consumidores institucionais).

134

Mercado institucional

Nas imperfeições do mercado o Estado deve interferir para proteger as

populações excluídas desse processo. Nesse sentido, o mercado institucional aparece

como alternativa para inclusão dos agricultores, especialmente os mais descapitalizados

e para distribuição de alimentos seguros e saudáveis, para grupos de pessoas com

insegurança alimentar.

É um canal de comercialização no qual o agricultor familiar e/ou suas

organizações comercializam a produção com instituição governamental ou não, desde

que permitida uma relação direta com o consumidor final. A utilização desse canal pela

agricultura familiar é comumente fomentada pela ação extensionista em diversas

experiências no estado, e tem como propósito oportunizar a inclusão social e sua

inserção nas políticas públicas locais de abastecimento, bem como contribuir com a

promoção da soberania alimentar.

É responsabilidade coletiva fortalecer esse canal de comercialização como

estratégia de promoção do desenvolvimento rural sustentável e solidário, o que depende

da ação organizada dos agricultores familiares, dos demais atores sociais e do interesse

do poder público, sendo de fundamental importância relacionar o mercado institucional

com as compras governamentais de alimento, do ponto de vista da construção e

fortalecimento de políticas públicas de abastecimento.

7.5. AGREGAÇÃO DE VALOR AO PRODUTO

Existem diversas formas de agregar valor às frutas pela sua diferenciação. A

estratégia de diferenciação dos produtos para a agricultura familiar compreende o grau

em que um determinado produto é considerado diferente pelos compradores e

consumidores. As frutas podem diferenciar-se por meio de diversas estratégias, tais

como:

- Diferenciação de produto (tecnologia, rotulagem, desempenho, conformidade,

confiabilidade, durabilidade, estilo e design);

- Diferenciação de serviços ao cliente (facilidade de pedido, consulta e consultoria ao

consumidor, prêmios oferecidos aos adquirentes dos produtos, compra pela internet);

- Diferenciação por meio do canal de distribuição (rapidez de entrega, entrega em

domicílio e cobertura geográfica ampliada do canal de entrega);

- Diferenciação pela imagem da marca (conhecimento, tradição, segurança, garantia de

qualidade);

135

- Diferenciação de pessoas no atendimento aos clientes (vantagens competitivas pela

qualificação das pessoas, cortesia, credibilidade, confiabilidade, responsabilidade e

comunicação);

- Diferenciação por atributos especiais de qualidade do produto (orgânico e

agroecológico, alimento funcional e assemelhado);

- Diferenciação pela rastreabilidade, certificação e denominação de origem;

- Diferenciação pelo respeito socioambiental e não emissão de gases de efeito estufa;

- Diferenciação pela transformação dos produtos e processamento mínimo

(Agroindústria Familiar) – segue uma estratégia de comercialização específica para cada

produto, em função da tributação e outras exigências legais para acesso ao mercado.

136

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Hino do Estado do Ceará

Poesia de Thomaz LopesMúsica de Alberto NepomucenoTerra do sol, do amor, terra da luz!Soa o clarim que tua glória conta!Terra, o teu nome a fama aos céus remontaEm clarão que seduz!Nome que brilha esplêndido luzeiroNos fulvos braços de ouro do cruzeiro!

Mudem-se em flor as pedras dos caminhos!Chuvas de prata rolem das estrelas...E despertando, deslumbrada, ao vê-lasRessoa a voz dos ninhos...Há de florar nas rosas e nos cravosRubros o sangue ardente dos escravos.Seja teu verbo a voz do coração,Verbo de paz e amor do Sul ao Norte!Ruja teu peito em luta contra a morte,Acordando a amplidão.Peito que deu alívio a quem sofriaE foi o sol iluminando o dia!

Tua jangada afoita enfune o pano!Vento feliz conduza a vela ousada!Que importa que no seu barco seja um nadaNa vastidão do oceano,Se à proa vão heróis e marinheirosE vão no peito corações guerreiros?

Se, nós te amamos, em aventuras e mágoas!Porque esse chão que embebe a água dos riosHá de florar em meses, nos estiosE bosques, pelas águas!Selvas e rios, serras e florestasBrotem no solo em rumorosas festas!Abra-se ao vento o teu pendão natalSobre as revoltas águas dos teus mares!E desfraldado diga aos céus e aos maresA vitória imortal!Que foi de sangue, em guerras leais e francas,E foi na paz da cor das hóstias brancas!

Hino Nacional

Ouviram do Ipiranga as margens plácidasDe um povo heróico o brado retumbante,E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,Brilhou no céu da pátria nesse instante.

Se o penhor dessa igualdadeConseguimos conquistar com braço forte,Em teu seio, ó liberdade,Desafia o nosso peito a própria morte!

Ó Pátria amada,Idolatrada,Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívidoDe amor e de esperança à terra desce,Se em teu formoso céu, risonho e límpido,A imagem do Cruzeiro resplandece.

Gigante pela própria natureza,És belo, és forte, impávido colosso,E o teu futuro espelha essa grandeza.

Terra adorada,Entre outras mil,És tu, Brasil,Ó Pátria amada!Dos filhos deste solo és mãe gentil,Pátria amada,Brasil!

Deitado eternamente em berço esplêndido,Ao som do mar e à luz do céu profundo,Fulguras, ó Brasil, florão da América,Iluminado ao sol do Novo Mundo!

Do que a terra, mais garrida,Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;"Nossos bosques têm mais vida","Nossa vida" no teu seio "mais amores."

Ó Pátria amada,Idolatrada,Salve! Salve!

Brasil, de amor eterno seja símboloO lábaro que ostentas estrelado,E diga o verde-louro dessa flâmula- "Paz no futuro e glória no passado."

Mas, se ergues da justiça a clava forte,Verás que um filho teu não foge à luta,Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada,Entre outras mil,És tu, Brasil,Ó Pátria amada!Dos filhos deste solo és mãe gentil,Pátria amada, Brasil!