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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP GLAUCO MONTEIRO CAVALCANTI MANSO JÚNIOR SISTEMA DE REMUNERAÇÃO DOS HOSPITAIS PRIVADOS NO BRASIL – PROBLEMAS E PROPOSTAS DE SOLUÇÕES DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO São Paulo 2017

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

GLAUCO MONTEIRO CAVALCANTI MANSO JÚNIOR

SISTEMA DE REMUNERAÇÃO DOS HOSPITAIS PRIVADOS NO BRASIL –

PROBLEMAS E PROPOSTAS DE SOLUÇÕES

DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO

São Paulo

2017

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GLAUCO MONTEIRO CAVALCANTI MANSO JÚNIOR

SISTEMA DE REMUNERAÇÃO DOS HOSPITAIS PRIVADOS NO BRASIL –

PROBLEMAS E PROPOSTAS DE SOLUÇÕES

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de DOUTOR em Administração, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Cristina Sanches Amorim.

São Paulo

2017

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GLAUCO MONTEIRO CAVALCANTI MANSO JÚNIOR

SISTEMA DE REMUNERAÇÃO DOS HOSPITAIS PRIVADOS NO BRASIL –

PROBLEMAS E PROPOSTAS DE SOLUÇÕES

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de DOUTOR em Administração.

BANCA EXAMINADORA

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São Paulo

2017

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a DEUS por guiar meu caminho, fazendo-me não desistir diante das

dificuldades que passei para a conclusão deste insigne Doutorado.

Agradeço ao meu pai, Prof. Dr. Glauco Manso, pelo permanente incentivo à educação

com sua honrosa e distinta história acadêmica e profissional na medicina.

Agradeço a minha mãe Régia Vitória (in memoriam) pela educação que obtive,

espelho de resistência e otimismo diante dos obstáculos que a vida apresenta.

Agradeço aos meus irmãos Glauber e Lisiane pelo encorajamento permanente

durante este trabalho.

Agradeço à minha esposa Mirna pelo companheirismo e por permitir que Deus

enviasse dois presentes para mim: meus filhos Marina e Davi; alegrias diárias em

minha vida.

A todos o meu mais afetuoso muito obrigado.

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RESUMO

A tese trata do sistema de remuneração dos hospitais privados no Brasil, setor que

representa parcela considerável da oferta dos serviços de saúde no Brasil,

materializando o acesso do cidadão ao seu direito à saúde. O setor tem sofrido perdas

financeiras e vem acumulando prejuízos em razão das políticas remuneratórias tanto

dos gestores do SUS, como das operadoras, ameaçando a viabilidade do

empreendimento e consequentemente, o atendimento ao cidadão. A pesquisa

objetivou apontar medidas para a solução dos problemas causados pelo sistema de

remuneração hospitalar (riscos de destruição de parte dos hospitais, em particular,

dos menores, aumento da tensão entre operadoras e prestadores de serviços) que

indiretamente prejudicam o cidadão. A metodologia consistiu na análise documental e

pesquisa sobre experiências estrangeiras na constituição e gestão dos sistemas de

remuneração dos hospitais. A primeira parte do trabalho trata do sistema de saúde e

o enquadramento da organização hospitalar no respectivo sistema. A segunda aborda

o sistema de remuneração hospitalar, comparando as práticas e sistemas adotados

na França, Japão, Espanha, Reino Unido, Estados Unidos, Austrália e Canadá. A

terceira analisa a remuneração do setor hospitalar privado no Brasil, cuja constituição

compreende a relação com o SUS, as operadoras e a Agência Nacional de Saúde

Suplementar - ANS. A quarta parte apresenta as perspectivas remuneratórias do setor

e apresentando proposta do autor. Por resultado a pesquisa mostrou que as ações

necessárias à solução do problema respeitam ao governo federal (revisão da tabela

de preços pagos aos prestadores, simplificação do aparato legal e regulatório e maior

controle sobre as decisões da ANS) e às organizações hospitalares quanto à adoção

de estratégias e práticas voltadas à eficácia e transparência da gestão.

Palavras-chaves: Saúde, Sistema de Remuneração, Hospital Privado.

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ABSTRACT

The thesis deals with the remuneration system of private hospitals in Brazil, a sector

that represents a considerable part of the offer of health services in Brazil, materializing

the citizen's access to his right to health. The sector has suffered financial losses and

has been accumulating losses due to the remuneration policies of both the SUS

managers and the operators, threatening the viability of the enterprise and,

consequently, the citizen service. The research aimed to identify measures to solve

the problems caused by the hospital remuneration system (risks of destruction of

hospitals, especially minors, increase of tension between operators and service

providers) that indirectly harm the citizen. The methodology consisted of documentary

analysis and research on foreign experiences in the constitution and management of

hospital compensation systems. The first part of the paper deals with the health system

and the hospital organization framework in the respective system. The second one

approaches the hospital remuneration system, comparing the practices and systems

adopted in France, Japan, Spain, United Kingdom, United States, Australia and

Canada. The third analyzes the remuneration of the private hospital sector in Brazil,

whose constitution includes the relationship with the SUS, the operators and the

National Supplementary Health Agency (ANS). The fourth part presents the sector's

remuneration prospects and presents the author's proposal. As a result, the research

showed that the actions required to solve the problem are related to the federal

government (revision of the price list paid to providers, simplification of the legal and

regulatory apparatus and greater control over ANS decisions) and hospital

organizations regarding the adoption of Strategies and practices aimed at the

effectiveness and transparency of management.

Key-words: Health, Remuneration System, Private Hospital.

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LISTA DE QUADROS E GRÁFICOS

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Sistemas de remuneração ..................................................................... 33

Quadro 2 – Gastos em Saúde no ano de 2014 ........................................................ 52

Quadro 3 – Sistema de remuneração nas regiões pesquisadas .............................. 53

Quadro 4 – Óbices na remuneração dos prestadores de serviços no Brasil ........... 55

Quadro 5 – Estabelecimentos de saúde no Brasil 2014/2015 .................................. 58

Quadro 6 – Internações hospitalares SUS 2013/2017 (por regime) ......................... 59

Quadro 7 – Leitos de internação por tipo de prestador (maio/2017) ........................ 60

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Estabelecimentos de saúde no Brasil (out/2015) ................................... 59

Gráfico 2 – Internações Hospitalares do SUS no Brasil por Regime ........................ 60

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9

1 O SISTEMA DE SAÚDE E A ORGANIZAÇÃO HOSPITALAR

1.1 O sistema de saúde ............................................................................................ 11

1.2 A Organização Hospitalar .................................................................................... 17

2 SISTEMAS DE REMUNERAÇÃO HOSPITALAR: ESTUDOS COMPARADOS

2.1 Sistema de remuneração hospitalar .................................................................... 28

2.2 Sistema de remuneração hospitalar no Brasil ..................................................... 35

2.3 Sistema de remuneração em alguns países ....................................................... 38

2.3.1 Sistema francês ................................................................................................ 38

2.3.2 Sistema japonês ............................................................................................... 41

2.3.3 Sistema espanhol ............................................................................................. 43

2.3.4 Sistema britânico .............................................................................................. 45

2.3.5 Sistema norte-americano ................................................................................. 47

2.3.6 Sistema australiano .......................................................................................... 48

2.3.7 Sistema canadense .......................................................................................... 50

2.4 Considerações .................................................................................................... 52

3 A REMUNERAÇÃO DO SETOR HOSPITALAR PRIVADO NO BRASIL

3.1 A remuneração hospitalar ................................................................................... 56

3.2 As relações entre SUS, ANS, Operadoras e Prestadores de Serviços ............... 62

4 PERSPECTIVAS REMUNERATÓRIAS DO SETOR HOSPITALAR PRIVADO

4.1 Considerações .................................................................................................... 71

4.2 Proposta de custeamento.................................................................................... 74

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 79

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 81

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INTRODUÇÃO

A gestão do sistema de saúde brasileiro é tarefa complexa, envolvendo

aspectos técnicos e políticos, o subsistema de remuneração aos hospitais privados

não foge à regra: prestadores de serviços, ANS, gestores diretos e indiretos do

Sistema Único de Saúde - SUS e fontes pagadoras privadas estão em frequente

conflito.

A remuneração dos prestadores é executada por meio de regras e critérios

estabelecidos pelas condições do mercado privado, da política econômica nacional e

da política nacional de saúde, tecnicamente orquestradas, em tese, pela ANS. Como

ocorre em toda parte do mundo, tabelas de preços estabelecem teto ou piso da

remuneração dos prestadores, estas por sua vez, instrumentos que revelam os

interesses dos agentes envolvidos.

A chamada tabela SUS estabelece o valor dos procedimentos pagos pelo

governo federal aos prestadores de serviços privados, reflete os interesses dos

governos e os limites impostos pelas políticas macroeconômicas. Serve de parâmetro

para as demais “tabelas” praticadas pelas fontes pagadoras privadas. Apesar das

tabelas, ou por causa delas, as fontes pagadoras privadas atrasam e/ou se recusam

a pagar aos prestadores determinados procedimentos, trata-se da glosa, prática

sustentada por trâmites intencionalmente longos e lentos, causando grandes prejuízos

aos últimos e aos cidadãos usuários do sistema de saúde.

A tabela SUS, criada no início da década de 90, possui atualmente 1.500

procedimentos hospitalares, sendo que 1.118 procedimentos não tiveram os valores

corrigidos pela inflação desde o ano de 2008, tornando clarividente o

subfinanciamento da saúde pública no Brasil. Ademais, a forma de remuneração dos

serviços hospitalares do SUS incentiva os procedimentos de alta complexidade e ao

mesmo tempo não incentiva os procedimentos de baixa e média complexidade. A

justificativa apresentada pelos gestores do SUS para o maior incentivo aos

procedimentos de alta complexidade é em função de que estas áreas eram

desassistidas antes da implantação do SUS e, com o aumento da cobertura em

atenção básica, passaram a ser mais necessárias com o aumento da demanda para

grupos de procedimentos especializados, tais como: quimioterapia, radioterapia,

terapia renal substitutiva, hemoterapia, radiodiagnóstico, dentre outros.

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O objetivo desta tese é apontar medidas para a solução dos problemas

provocados pelo sistema de remuneração hospitalar (riscos de destruição de parte

dos hospitais, em particular, dos menores, aumento da tensão entre operadoras e

prestadores de serviços) que indiretamente prejudicam o cidadão.

Justifica-se a realização da pesquisa pelo fato que o setor hospitalar privado no

Brasil, apesar de ser enquadrado constitucionalmente como complementar ao serviço

público, representa uma parcela considerável nos atendimentos aos usuários do SUS,

bem como atua na saúde suplementar na prestação de serviços aos beneficiários das

operadoras dos planos/seguros de saúde, demonstrando sua substancial importância

em todo sistema nacional. O setor tem sofrido perdas financeiras e vem acumulando

prejuízos em razão das políticas remuneratórias tanto do SUS, principalmente para os

hospitais não contratualizados, como das operadoras dos planos/seguros de saúde.

O empreendimento corre risco de desaparecer, o que prejudica o acesso do cidadão

aos serviços de saúde prestados pelos hospitais privados no Brasil.

As dificuldades financeiras são dadas pelo ambiente regulatório inadequado –

que se materializa no sistema de remuneração dos serviços - e por deficiências na

gestão das organizações hospitalares. Interesses divergentes e aspectos

macroeconômicos se combinam para constituir problema cuja solução exigiu

pesquisa.

A realização da pesquisa levou à investigação do sistema de remuneração dos

hospitais privados praticado pelas fontes pagadoras privadas, das relações entre SUS

e prestadores privados, da ação da ANS, dos sistemas de remuneração estrangeiros

(países selecionados tanto pela semelhança quanto pela diferença com o sistema

brasileiro) e dos modelos de gestão hospitalares.

A metodologia consistiu na observação com aspectos qualiquantitativos,

buscando mensurar por meio de investigação os fatores relevantes para as

dificuldades do sistema de saúde e, por consequência, da rede hospitalar privada. Tal

condução permite refletir acerca dos resultados concretos e qualitativos pela

observância dos aspectos subjetivos envolvidos na dimensão temática. Utilizou-se de

método sistemático no desenvolvimento por etapas durante o projeto, relatado de

forma descritiva diante dos resultados levantados no universo envolvido. A primeira

etapa compreendeu levantamento e revisão da literatura, oportunizando a segunda

etapa em que se efetuou por meio da observação e comparação na coleta de dados,

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tabulação e processamento estatísticos dos dados, analisando-se e discutindo o

diagnóstico encontrado, para apresentação de possível prognóstico.

A primeira parte do trabalho trata sobre o sistema de saúde, legislação,

organização e regulação e participação da organização hospitalar nesse contexto. A

segunda, dos sistemas de remuneração hospitalar, verificando-se os sistemas

adotados no Brasil e países selecionados - França, Japão, Espanha, Reino Unido,

Estados Unidos, Austrália e Canadá - por meio de um estudo comparativo. A terceira,

da remuneração hospitalar no composto das relações entre o SUS, a ANS, as

operadoras e os prestadores de serviço. A quarta analisa as perspectivas

remuneratórias do setor hospitalar privado, apresentando proposta de custeio para

otimização das atividades hospitalares.

1. O SISTEMA DE SAÚDE E A ORGANIZAÇÃO HOSPITALAR

1.1 O Sistema de Saúde

O sistema de saúde brasileiro atual foi instaurado por meio das previsões do

art. 197, da Constituição Federal de 1988 (CF/88), definindo as ações e serviços de

saúde a serem desenvolvidos pelo Poder Público e por instituições físicas ou jurídicas

de direito privado.

Dispõe o art. 196 da CF/88 que:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Por esta disposição constitucional, fica evidenciado o direito à saúde a todos

os brasileiros e dever do Estado na garantia por meio de políticas socioeconômicas

pela promoção, proteção e recuperação mediante os riscos de doenças.

Já o art. 197 da CF/88 prevê que:

Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado.

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Através da supradita previsão na Carta Magna do Brasil, definiu-se a

participação de pessoas físicas ou jurídicas de direito privado nas ações e serviços de

saúde, cabendo ao Poder Público regulamentar, fiscalizar e controlar o setor.

Nesse diapasão, o art. 199 da CF/88 prescreve:

Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. § 1º - As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos. § 2º - É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições privadas com fins lucrativos. § 3º - É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos em lei. § 4º - A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização.

A regulamentação dessas previsões constitucionais foi procedida com a edição

da Lei Federal nº 8.080/90, que trata do Sistema Único de Saúde (SUS), definido em

conformidade com o disposto no seu art. 4º:

Art. 4º O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde (SUS). § 1º Estão incluídas no disposto neste artigo as instituições públicas federais, estaduais e municipais de controle de qualidade, pesquisa e produção de insumos, medicamentos, inclusive de sangue e hemoderivados, e de equipamentos para saúde. § 2º A iniciativa privada poderá participar do Sistema Único de Saúde (SUS), em caráter complementar.

Na supracitada norma estão definidos os componentes do SUS, como as

instituições dos entes federativos em suas diversas esferas, regidos por princípios e

diretrizes definidas no art. 7º, da Lei Federal nº 8.080/90, facultando a participação da

iniciativa privada em caráter complementar no SUS.

Os serviços privados de assistência à saúde estão assinalados no art. 20, da

Lei Federal nº 8.080/90, como sendo caracterizados pela atuação e iniciativa de

profissionais liberais que se encontrem legalmente habilitados, e por pessoas jurídicas

de direito privado, na promoção, proteção e recuperação da saúde, obedecendo, por

sua vez, aos princípios éticos e às normas previstas legalmente para prestação dos

serviços, conforme expresso no art. 22, da Lei Federal nº 8.080/90.

A participação complementar da iniciativa privada no SUS também está

prevista no art. 24, da Lei 8080/90, definindo que:

Art. 24. Quando as suas disponibilidades forem insuficientes para garantir a cobertura assistencial à população de uma determinada área, o Sistema

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Único de Saúde (SUS) poderá recorrer aos serviços ofertados pela iniciativa privada. Parágrafo único. A participação complementar dos serviços privados será formalizada mediante contrato ou convênio, observadas, a respeito, as normas de direito público.

Por essa previsão, define o diploma legal acima dito, no seu art. 26, os critérios

e valores para remuneração de serviços e os parâmetros de cobertura assistencial

estabelecidos pelo SUS, observando-se, conforme disposto no § 1° do mencionado

artigo, a garantia da qualidade na execução dos serviços contratados, serviços esses

que serão submetidos às normas administrativas e técnicas, bem como aos princípios

e diretrizes do SUS, previstos no § 2°, do mesmo artigo.

Vê-se com o exposto que o responsável pelas ações e serviços de saúde no

Brasil é o Poder Público, constitucionalmente falando em ações e serviços públicos

de saúde, sendo prevista na Carta Magna brasileira a assistência à saúde pela

iniciativa privada, cujas instituições poderão participar de forma complementar do

sistema único de saúde (SILVA, 2014; ELIAS, 2017; GREGORI, 2011; PERILLO,

2006).

O financiamento do SUS, conforme disposto no art. 31, da Lei Federal nº

8.080/90, é oriundo do orçamento da seguridade social, bem como do que está

previsto no art. 32 do supradito diploma legal, definindo outras fontes que são

provenientes dos serviços que possam ser prestados, das contribuições, doações e

donativos, de alienações patrimoniais e rendimentos de capital, de taxas, multas,

emolumentos e preços públicos; de rendas eventuais, entre outras, sendo, portanto,

resultante da arrecadação de recursos das três esferas de governo, como sendo os

recursos com orçamento da seguridade social da União e os impostos estaduais e

municipais, além das transferências dos Fundos de Participações dos Estados (FPE)

e aos dos Municípios (FPM) (BRASIL, 2017).

Nesse sentido, o SUS prevê uma estrutura de natureza híbrida na gestão da

saúde no país, baseando-se no simultâneo funcionamento de uma rede que, de um

lado é de natureza jurídica de direito público, e de outro, de natureza jurídica de direito

privado, atuando de forma complementar e em conformidade com as diretrizes do

SUS, segundo previsões estabelecidas entre os artigos 20 a 26 da Lei Federal nº

8.080/90 (BRASIL, 2017; POMPEU, 2016).

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O setor público é traduzido por Salu (2013, p. 39) como aquele que “[...] trabalha

com metas, que quando ultrapassadas não significam maior remuneração, ou seja,

cumprindo ou extrapolando a meta, a remuneração permanece a mesma”.

A saúde no Brasil conta também com a assistência suplementar, permitida

constitucionalmente à iniciativa privada, que compreende os serviços de saúde que

são regulados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), criada pela Lei

Federal nº 9.961/2000, como autarquia de regime especial vinculada ao Ministério da

Saúde (MS), na condição órgão para regulação, normatização, controle e fiscalização

das atividades que garantam a assistência suplementar à saúde, englobando

operadoras de planos de saúde, seguradoras, medicina de grupo, empresas de

autogestão, cooperativas, federações, associações e sindicatos (BRASIL, 2017).

As operadoras de planos de saúde são empresas que administram planos com

o objetivo de obtenção de lucro ou para reduzir custos com a saúde de determinada

parcela da população (SALU, 2013; PINTO, 2016; CARVALHO, 2016; SOUZA,

PINHEIRO E ANDREAZZI, 2016).

As seguradoras são empresas que atuam no ramo de seguros, em

conformidade com as regras da ANS e por regulamentações da Superintendência de

Seguros Privados do Ministério da Fazenda (SUSEP). Essas organizações atuam com

um contrato de prestação com os serviços de saúde, definindo cobertura para os

pacientes dos serviços, a rede credenciada, as tabelas de preços e materiais (SALU,

2013; PINTO, 2016; CARVALHO, 2016; SOUZA, PINHEIRO E ANDREAZZI, 2016).

A medicina de grupo compreende as instituições que comercializam planos de

saúde destinados às pessoas físicas ou jurídicas, tendo o beneficiário a utilização de

estrutura própria como médicos, hospitais, laboratórios e clínicas que são contratadas

pela operadora (BRASIL, 2017).

As empresas de autogestão são pessoas jurídicas de direito privado criadas

por empresas, associações de pessoas físicas ou jurídicas, fundações, sindicatos,

entidades de categorias profissionais ou assemelhadas, instituídas com fins não

econômicos e que atuam na operação de plano de saúde, objetivando a prestação de

assistência à saúde exclusiva aos seus funcionários, ex-empregados,

administradores, associados e dependentes de grupo familiar e beneficiários. Estas

empresas ofertam planos de saúde para o público em geral e podem ser vinculadas a

entidades públicas ou privadas, ou constituídas sob forma de associação ou fundação

para determinada categoria profissional e seus dependentes, ou ainda, estabelecidas

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para operação de plano de saúde por intermédio de departamento de recursos

humanos ou assemelhado (BRASIL, 2017).

As cooperativas obedecem ao disposto na Lei Federal nº 5.764/71, prevista

como sendo uma sociedade sem fins lucrativos e formada pela associação autônoma

de pessoas unidas voluntariamente de forma coletiva e de interesse comum. Esse tipo

de operadora comercializa planos para pessoas físicas ou jurídicas, constituindo uma

rede de serviços próprios ou de contratação de terceiros (BRASIL, 2017).

As federações são associações de grau superior constituídas por sindicatos

que representam as categorias de atividades ou profissionais, similares ou conexas,

representando hospitais, clínicas, laboratórios, entre outros, com o objetivo de

defender e amparar os interesses gerais dos seus federados e estabelecimentos de

serviços de saúde, representando-os perante os poderes públicos federal, estaduais

e municipais, na defesa dos seus interesses (BRASIL, 2017).

As associações são iniciativas formais ou informais de natureza jurídica para

legalização da reunião de pessoas físicas ou jurídicas com objetivos comuns, com o

objetivo de gerar benefícios na construção de condições melhores e maiores para os

seus associados. O associativismo está embasado nos princípios da adesão

voluntária e livre, da gestão democrática pelos sócios, da participação econômica, da

autonomia e independência, da educação, formação e informação; da interação e do

interesse pela comunidade. São caracterizadas pela reunião de duas ou mais pessoas

com objetivos comuns e entidades de direito privado e não público (BRASIL, 2017).

Os sindicatos são agremiações que são fundadas e destinadas ao comum

interesse dos seus aderentes, representando categorias profissionais e classes

econômicas, regulados pelo Decreto-Lei nº 1402/39, com as prerrogativas de

representar, perante as autoridades administrativas e judiciárias, os interesses da

profissão e os interesses individuais dos associados, relativos à atividade profissional;

fundar e manter agências de colocação; firmar contratos coletivos de trabalho; eleger

ou designar os representantes da profissão; colaborar com o Estado, com órgãos

técnicos e consultivos no estudo e solução dos problemas que se relacionam com a

profissão e recolher contribuições de todos aqueles que participam das profissões ou

categorias representadas (BRASIL, 2017).

Os serviços de saúde compreendem atividades que envolvem as esferas

federal, estadual, municipal e privadas. Na esfera federal estão os estabelecimentos

que funcionam como órgãos e autarquias públicos dos Poderes Executivo, Legislativo

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e Judiciário Federal, tais como Ministérios, Secretarias, Agências e entidades do setor

de saúde; na esfera estadual estão órgãos e autarquias do Poderes Executivo,

Legislativo e Judiciário Estadual e do Distrito Federal, tais como Secretarias, Agências

e Instituições de atendimento à saúde; na esfera municipal estão os órgãos dos

Poderes Executivo e Legislativo Municipal, tais como Secretarias, Postos de Serviços,

entre outras instituições de atendimento à saúde; enquanto que na esfera privada

estão os estabelecimentos privados lucrativos simples, pessoas jurídicas, pessoas

físicas, sem fins lucrativos, beneficentes com certificação válida de entidade

beneficente de assistência social, em conformidade com a Lei Federal nº 12.101/2009,

com alterações pela Lei Federal nº 12.868/2013.

As organizações privadas do sistema de saúde podem ser sociedades

anônimas, sociedade por cotas limitadas, independentes ou vinculadas à fundação

especifica ou associação beneficentes. Assim sendo, o setor privado atua na área da

saúde na forma de hospitais, clínicas, laboratórios, consultórios particulares, planos e

seguros de saúde (CARVALHO, 2016).

O Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), base para

operacionalização dos Sistemas de informações em Saúde do SUS, registrava em

maio de 2017 um total de 301.569 estabelecimentos cadastrados, destes 6.783 eram

hospitais, correspondendo a um total de 438.541 leitos, sendo 304.890 destinados ao

SUS, representando 69,52% do total de leitos e 133.651 destinados ao não sus,

representando 30,48% do total de leitos (BRASIL, 2017).

O setor privado de assistência à saúde é administrado como uma empresa com

metas de negócio necessárias para se manter, com finalidade econômica, cumprindo

normas governamentais, com a liberdade de ação, captação e aplicação de seus

recursos da forma como julgar mais adequada, em consonância com suas regras

constituintes, na forma da legislação brasileira. Trata-se de uma prestação de serviços

que visa à maximização da riqueza para remunerar o capital investido e formar

reservas de investimento para contínuo desenvolvimento e modernização. As fontes

de suas receitas são o SUS, pacientes particulares e operadoras de planos/seguros

saúde, serviços educacionais, patrocínio, publicidade e merchandising e exploração

de serviço de apoio como restaurantes, lojas e serviços de hotelaria (SALU, 2013;

BRITTO, 2016; CENTA E MELLO, 2015; SOUZA, PINHEIRO, ANDREAZZI, 2016;

SILVA, AZEVEDO, SCHOSSLER, 2016).

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Observa-se, portanto, que o sistema de saúde é formado pelo cidadão que dele

faz uso, o governo que financia e normatiza o setor, as operadoras que são os planos

de saúde e fontes pagadoras da saúde suplementar e os serviços que são executados

por hospitais e associações profissionais.

Na representação governamental está a ANS que foi criada por meio da Lei

Federal nº 9.961/2000 e vinculada ao Ministério da Saúde (MS), funcionando com o

objetivo de órgão regulador, normatizador, controlador e fiscalizador das atividades

que garantam a assistência suplementar à saúde. Esta agência funciona por meio de

poder normativo, com competência para estabelecer as regras sobre a execução dos

serviços públicos transferidos para terceiros, com o sentido de contenção de abusos

entre os envolvidos na saúde suplementar no mercado, que possuem como

característica o impulso lucrativo de suas atividades, resguardando a boa atuação dos

serviços das concessionárias aos seus usuários para, ao fim, representar o cunho

para as quais foram originadas. (PESTANA, 2010; FRANÇA, 2011; SPITZCOVSKY,

2008; CARLIN, 2007; ROMAN, 2013; CARVALHO, 2016; PINTO, 2016).

Para um melhor entendimento a respeito dos estabelecimentos de saúde, em

específico a organização hospitalar, foco do presente estudo, passa-se para

abordagem acerca de sua fundamentação e desenvolvimento das suas atividades.

1.2 A organização hospitalar

O desenvolvimento das atividades médicas e hospitalares ao longo do tempo

precedeu à formação da organização hospitalar e, por consequência, a criação dos

sistemas de saúde, razão pela qual, o presente estudo efetua, inicialmente, uma

abordagem histórica acerca das atividades embrionárias até a formalização do

complexo organizacional hospitalar.

Introdutoriamente encontra-se que o termo hospital é oriundo do latim hospitalis

e derivado do adjetivo hospes, significando desde hóspede, viajante, estrangeiro e

conviva, como o local de hospedagem ou o que dá agasalho (ARAÚJO, 2017).

O termo possui também relação com a medicina e suas funções destinadas ao

cuidado do enfermo ou ferido, como também voltado para identificação da educação

médica, de enfermagem e do quadro de pessoal especial que desenvolve atividades

no ambiente hospitalar e de saúde pública, além de referenciar as atividades de

prevenção das doenças e promoção de condições higiênicas e da saúde em geral,

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incluindo-se a pesquisa científica na área médica (SALU, 2013; ARAÚJO, 2017,

LISBOA, 2002).

Historicamente, a criação do hospital baseou-se nos valores cristãos,

notadamente sob a influência do Papado, ao se preocupar com a assistência aos

desvalidos, principalmente no que tange aos cuidados médicos – sanitários (SALU,

2013; LISBOA, 2002).

Entretanto, já na antiguidade encontram-se registros de que os enfermos eram

agrupados juntamente com órfãos, miseráveis e viajantes, não sendo comum a

identificação de um lugar próprio para tratamento por profissionais. Além disso,

localizam-se assentamentos que datam cerca de 3 mil anos a.C., relativos aos

serviços de utilização da prática médica desde os antigos assírios-babilônios, sendo

regulamentada em aproximadamente 2.250 a.C., com o Código de Hamurabi

(CAMPOS E MARQUES, 2016).

Foi na Grécia Antiga que ocorreram os primórdios das práticas médicas e

hospitalares. Nesse período, evidenciam-se registros baseados no historiador e

geógrafo grego Heródoto (485-426 a.C.), ao comentar em sua obra a existência do

exercício da medicina, no qual os enfermos seriam transportados para serem

submetidos a diagnósticos sobre suas dores e enfermidades (MATOS, 2005, SALU,

2013).

A partir de então é que, com o surgimento do Cristianismo, os enfermos

passaram a ser socorridos, resultado da edição do Decreto de Milão, de 313 d.C., do

imperador Constantino, facultando aos cristãos a assistência aos necessitados e

enfermos. Em seguida, com o Concílio de Niceia, de 325 d.C., ficou estabelecido o

compulsório atendimento aos enfermos e carentes, motivando a criação e

desenvolvimento da instituição hospitalar. Dessa forma, as diaconias promoveram

atendimento com os cuidados necessários aos que se encontrassem em petição de

socorro e, consequentemente, em decorrência de uma determinação do Concílio de

Aachen, realizada em 816 d.C., surgiu o hospital, oriundo do grego Nosokhomeion,

tornando obrigatória para os bispos em suas dioceses e para os abades em seus

conventos, a construção de Hospitalis pauperum(LISBOA, 2002, OSMO, 2012;

(BRITTO, 2016; CENTA E MELLO, 2015; SOUZA, PINHEIRO &ANDREAZZI, 2016;

SILVA, AZEVEDO, SCHOSSLER, 2016).

Nessa época a cidade de Roma dispunha de acomodações estruturadas e

vastas, nas quais se desenvolviam atividades de ajuda aos enfermos, miseráveis e

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estrangeiros. É nesse período que as ordens monásticas criam espaços físicos dentro

dos conventos, acrescentando entre os assistidos, os idosos e os desamparados,

embrião notável das futuras Santas Casas de Misericórdia e das Sociedades de

Beneficência (MATOS, 2005; OSMO, 2012).

Durante a Idade Média, evidenciou-se a estimulação para criação de hospitais,

aprimorando o aprendizado da medicina e obras sanitárias, registrando em 1283, um

exemplar hospitalar no Cairo, que contava com enfermarias distintas e presença

médica na administração do complexo, contando com a ajuda de outros profissionais

na enfermagem assessorando o atendimento (MATOS, 2005; OSMO, 2012; LISBOA,

2002).

No século XVI, foi criada a Clínica do Hotel de Deus, em Paris, voltada para a

prática médica, mantendo-se até o presente. Desde então e ao longo dos séculos,

deu-se a evolução da instituição hospitalar, a partir do acolhimento das pessoas

empobrecidas (MATOS, 2005; OSMO, 2012; LISBOA, 2002)

A instituição hospitalar como se conhece nos tempos atuais surgiu no século

XVII, trazendo as mudanças para o domínio sobre as atividades corporais e da cura

das pessoas, inaugurando o rompimento com o hospital de exclusão, surgindo o

modelo hospitalocêntrico de cura contínua, devido ao crescimento populacional e de

atendimento, bem como por causa das constantes guerras, tornando cada vez mais

necessários os cirurgiões, alcançando prestígio na sociedade (OSMO, 2012)

No final do século XVIII e início do século XIX, em virtude das exigências por

providências nas áreas de higiene e da saúde pública, e como consequência da

Revolução Industrial Inglesa, ocorreu o surgimento dos hospitais modernos com

estruturas técnicas novas e aperfeiçoamento da medicina. A partir disso, os enfermos

foram enclausurados e distanciados da família e da sociedade, sendo asilados nos

edifícios identificados como instituição hospitalar (LISBOA, 2002; OSMO, 2012).

Em meados do século XIX, as influências e contribuições de profissionais de

diversas áreas incorporaram dados técnicos, científicos e sociológicos, possibilitando

à entidade hospitalar a consideração de instituição social (GONÇALVES, 2017).

Foi no século XX que ocorreram transformações com o avanço sobre o

conhecimento acerca das doenças e o incremento de métodos diagnósticos e

terapêuticos, bem como com a construção de aparelhagem industrial sofisticada para

identificação e tratamento de enfermidades, o crescimento do esclarecimento

populacional sobre seus direitos à prevenção e tratamento das doenças, entre outros

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fatores, consolidando a organização complexa da administração hospitalar (LISBOA,

2002; GONÇALVES, 2017).

No Brasil, os primeiros hospitais surgiram a partir da Igreja por meio das Santas

Casas e do Exército, este na condição de principal representante do Estado

português, ambos baseados nas misericórdias portuguesas. Destarte, a primeira

instituição hospitalar brasileira foi inaugurada no ano de 1539, em Olinda-PE, com a

instalação da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia e, posteriormente, em

Santos-SP, no ano de 1543 (OSMO, 2012).

O primeiro serviço hospitalar militar no Brasil apareceu no ano de 1727, com a

origem do Hospital Real Militar, no Rio de Janeiro, para, em seguida, surgirem

hospitais associados às comunidades estrangeiras estabelecidas no Brasil, seguindo-

se um processo de organização estruturada em diversos tipos de associações e

representações conforme a sua característica jurídica e assistencial (OSMO, 2012).

No final do séc. XIX, Vecina Neto (2012, p. 4) trata que tanto no Brasil como no

resto do mundo, o “[...] hospital era o lugar onde os pobres iam morrer. Quem tinha

posse era atendido em casa. Portadores de algumas enfermidades eram segregados”,

mantendo-se, portanto, no modelo tradicional.

Foi no período compreendido entre os anos de 1897 até 1930, que os assuntos

atinentes à saúde passaram a ser tratados pelo Ministério da Justiça e Negócios

Interiores, especificamente pela Diretoria de Saúde Pública, voltada para saneamento

e combate às endemias. O acesso à assistência de saúde era vinculado à previdência

social, como direito reconhecido às classes assalariados (ALTHAUS E BAUER, 2015).

Em 1930 ocorreu a criação do Ministério da Educação e Saúde, definindo-se

por ações de caráter coletivo e apenas no ano de 1940 que o modelo de medicina se

voltou para o hospital, em virtude das especialidades e do uso intensivo de tecnologia

da época na condição de medicina científica. Expandiu-se na década de 1950, já com

a estruturação de assistência médica previdenciária, orientando, também, a

organização de hospitais estaduais e universitários (ALTHAUS E BAUER, 2015;

MERE JÚNIOR E BICHUETTI, 2015).

Merece registro a criação do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) em

1942, seguindo o modelo rígido norte-americano e atuando com papel secundário na

saúde pública, vez que apenas cobria áreas isoladas do norte do país com um projeto

de atenção integral à saúde, e por meio de unidades mistas, pessoal em dedicação

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exclusiva e ações de saneamento o qual, mais tarde, originou o Serviço Autônomo de

Água e Esgoto (SAAE) (VECINA NETO, 2012).

Apenas em 1953 foi criado o Ministério da Saúde (MS), período em que se

expandiu a saúde suplementar no país que se desenvolverá na transição entre as

décadas 1950/60, quando empresas industriais no ABC paulista começaram a

oferecer assistência médica aos funcionários e dependentes, sem regulação pública

e baseada apenas nos contratos e acordos entre as partes (MERE JÚNIOR E

BICHUETTI, 2016).

No período compreendido entre os anos de 1960 e 1970, ocorreu a

consolidação do processo de privatização da assistência médica pela atuação do

Estado, ocasião em que foi editada a Lei 6229/75, dispondo sobre a organização do

Sistema Nacional de Saúde, cabendo ao Ministério da Saúde a responsabilidade da

formulação das políticas e o desenvolvimento das ações. Mesmo assim, na verdade,

não foi possível haver propriamente um sistema nesta época, por conta das práticas

fragmentadas e sem nenhuma integração (ALTHAUS E BAUER, 2015).

Contudo, foi em 1976 que ocorreram ações para organização do sistema, com

o estabelecimento do registro dos dados das internações hospitalares para fins

administrativos e de pagamento aos hospitais contratados, principalmente pela

criação do Sistema Nacional de Controle de Pagamentos e Contas Hospitalares,

implantando a Guia de Internação Hospitalar (GIH) que, posteriormente, foi convertida

em Autorização de Internação Hospitalar (AIH), por conta da criação do Sistema de

Atenção Médico-Hospitalar da Previdência Social (SAMHPS) (MÉDICI, 2012).

A elaboração da AIH baseou-se na construção de uma lista contendo

procedimentos clínicos, organizados segundo diagnósticos e procedimentos

cirúrgicos, baseados na Classificação Internacional de Procedimentos em Medicina

da Organização Mundial da Saúde (OMS). A essa lista foram atribuídos valores

financeiros a serem pagos a cada procedimento agrupado em diárias e taxas

hospitalares, materiais e medicamentos, serviços auxiliares de diagnóstico e

terapêutica (SADT) e serviços profissionais. A cada grupo de procedimento foi

atribuído um valor único de pagamento, um tempo médio de permanência e um

sistema de pontuação para o pagamento de serviços profissionais (MÉDICI, 2012).

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, passou-se a dispor no

art. 196, todas as previsões atinentes ao setor da saúde no Brasil:

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Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Por essa previsão constitucional, observa-se que o atendimento na área de

saúde passou a ser dever do Estado e direito de todo cidadão brasileiro, garantindo-

se por meio de políticas sociais e econômicas, o acesso universal e igualitário aos

serviços e ações que objetivem reduzir o risco de doenças, a recuperação, a

promoção e proteção da saúde em todo território nacional.

A regulamentação constitucional ocorreu com a edição da Lei Federal nº

8.080/90, que passou a dispor sobre as condições para promoção, proteção e

recuperação da saúde, bem como a organização e o funcionamento dos serviços

correspondentes, prevendo em seu art. 2º, com a redação dada pela Lei Federal nº

12.864, de 2013, que:

Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. § 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. § 2º O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da sociedade. Art. 3o Os níveis de saúde expressam a organização social e econômica do País, tendo a saúde como determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais. Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental e social.

O diploma legal em apreço passou a vigorar no país estabelecendo as normas

para desenvolvimento das ações ou serviços de saúde em todo território nacional,

sejam elas realizadas por pessoas ou por empresas. Além disso, a Lei em referência

instituiu o Sistema Único de Saúde (SUS), englobando as ações e serviços de saúde

a serem prestado por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais,

da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público.

Ao instituir o SUS, por meio do marco legal, o Estado definiu a competência,

objetivo, campo de atuação, princípios normatizadores, organização, registros,

procedimentos e acessos aos serviços de saúde. Trata-se de um sistema modelar em

sua concepção e tem sido benchmark para diversos países, contudo, após alguns

anos de suas atividades, foram apresentadas sérias lacunas derivadas da falta de

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financiamento e falhas de gestão, entre outros problemas (MERE JÚNIOR E

BICHUETTI, 2016).

Foi a partir da década de 1990, que o Ministério da Saúde assumiu as

atribuições de gestão do sistema de assistência médica da previdência social,

definindo as informações das internações no Sistema de Informações Hospitalares

(SIH-SUS). Este sistema tornou-se a principal central de dados para o estudo das

internações hospitalares, tendo sido modelado no final da década de 1970 e

implantado em todo país entre os anos de 1983/1984, sendo considerado um avanço.

Porém, por falta de revisão no sistema de classificação e de incorporação, tornou-se

desatualizado nos anos seguintes, razão pela qual tem apresentado problemas que

limitam a possibilidade de uso, tendo em vista a lista de procedimentos estática e de

difícil atualização frente às inovações tecnológicas, muitos procedimentos cirúrgicos

não diferenciais, os portes de cirurgia, comorbidades ou outros riscos, entre outros

entraves (MÉDICI, 2012; ESCRIVÃO JÚNIOR, 2012).

Destarte, o sistema foi aprimorado durante os anos 1990, contudo continuou

apresentando problemas relacionados com a qualidade do diagnóstico da internação,

levando os pesquisadores a classificarem os motivos de internação em capítulos ou

em grupos de causa da CID, em vez da categoria e, entre outros problemas que foram

surgindo por conta do seu engessamento (ESCRIVÃO JÚNIOR, 2012).

Com a edição da Lei Federal nº 9.961/2000, foi criada a Agência Nacional de

Saúde Suplementar (ANS), que passou a ser definida como autarquia em regime

especial com vinculação ao Ministério da Saúde, com a finalidade institucional de,

conforme o seu art. 3º, “[...] promover a defesa do interesse público na assistência

suplementar à saúde, regulando as operadoras setoriais, inclusive quanto às suas

relações com prestadores e consumidores, contribuindo para o desenvolvimento das

ações de saúde no País”.

A criação da ANS seguiu o surgimento da proposta de modernização do Estado

oriunda do modelo de agencificação adotado no corpo jurídico norte-americano,

introduzida e enquadrada como resultado do processo de desestatização e das

mudanças subsequentes ao movimento de privatização da década de 1990, a partir

da política governamental de transferir para o setor privado a execução de serviços

públicos, reservando ao Estado a regulamentação, o controle e a fiscalização desses

serviços (DI PIETRO, 2007; MEIRELLES, 2007; PESTANA, 2010; CARVALHO, 2009;

FRANÇA, 2011; CARVALHO FILHO, 2010).

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O objetivo das agências era de desburocratizar e desafogar politicamente a

administração pública, sendo caracterizadas como autarquias especiais, autonomia

em elevado grau, peculiar forma de investidura de seus dirigentes e a possibilidade

de adoção de processo de licitação diferenciado, entre outros (DI PIETRO, 2007;

MEIRELLES, 2007; PESTANA, 2010; CARVALHO, 2009; FRANÇA, 2011;

CARVALHO FILHO, 2010).

Essas agências são qualificadas de executivas ou regulatórias. As executivas

são aquelas que são autarquias ou fundações que celebrem contratos de gestão com

órgão da Administração Direta a que se achem vinculadas, para melhoria da eficiência

e redução de custos (DI PIETRO, 2007).

As agências reguladoras são compreendidas como qualquer órgão da

Administração Direta ou entidade da Administração Indireta, com função de regular a

matéria específica que lhe está afeta (DI PIETRO, 2007).

Essas agências reguladoras no Brasil foram criadas com base em lei,

possuindo típico poder de polícia, com a imposição de limitações administrativas

previstas em lei, fiscalização e repressão, como é o caso da ANS. Aliás, registre-se

que não apenas a doutrina jurídica, como também a jurisprudência dos tribunais no

Brasil corrobora o poder de polícia que a ANS possui, o qual está, inclusive, prescrito

nas entrelinhas do art. 18, da Lei Federal nº 9.961/2000, consubstanciando-se na

denominação “polícia administrativa”, atividade orientada para a contenção dos

comportamentos dos administrados aos interesses públicos e sociais. O regime

especial vem definido nas respectivas leis instituidoras dizendo respeito, em regra, à

maior autonomia em relação à Administração Direta; à estabilidade de seus dirigentes,

garantida pelo exercício de mandato fixo, que eles somente podem perder nas

hipóteses expressamente previstas; ao caráter final das suas decisões, que não são

passiveis de apreciação por outros órgãos ou entidades da Administração Pública.

Obedecem ao princípio da especialidade e com a função principal de controlar, em

toda a sua extensão, a prestação dos serviços públicos e o exercício de atividades

econômicas, bem como a própria atuação das pessoas privadas que passarem a

executá-las, inclusive impondo sua adequação aos fins colimados pelo Governo e às

estratégias econômicas e administrativas que inspiraram o processo de

desestatização. Além do poder regulatório, essas agências exercem atividades de

fiscalização, um dever que lhes é imposto pela legislação específica, seja quando trata

da regulação da exploração de um bem público, seja quando se trata de serviço

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público por particulares, seja quando simplesmente atinge pessoas privadas que

exploram atividades econômicas (DI PIETRO, 2007; GASPARINI, 2011; CARVALHO

FILHO, 2010).

Desde então a ANS vem atuando e regulando a área de saúde suplementar no

país, enfrentando diversos problemas que serão posterior e devidamente explicitados

no presente estudo.

Tendo-se, portanto, acompanhado o desenvolvimento e a evolução da

instituição hospitalar por meio da abordagem histórica realizada e que compreendeu

desde as ações embrionárias ocorridas na antiguidade até o processo de sua

instituição no país, passa-se a observar que a organização hospitalar atualmente é

compreendida como:

[...] parte integrante de um sistema coordenado de saúde, cuja função é dispensar à comunidade completa assistência à saúde, tanto curativa quanto preventiva, incluindo os serviços extensivos à família, em seu domicílio e ainda um centro de formação para os que trabalham no campo da saúde e para as pesquisas biossociais (LISBOA, 2002, p. 28).

Neste sentido, a instituição hospitalar possui planta física, equipamentos,

recursos e organização devidamente adequados para recepção de pacientes, tanto

em regime de internação como ao seu tratamento, a fim de devolvê-los à comunidade

em condições satisfatórias de saúde e, no que concerne aos cuidados com o doente,

o mais importante requisito para os hospitais é que o mesmo seja adequadamente

acomodado tanto no que diz respeito à sua condição física, como à sua condição

social e financeira (VERBIST, 2017).

A sua estrutura básica é geralmente formada por pronto-socorro, ambulatório,

serviço de apoio ao diagnóstico e tratamento (SADT), unidades de internação, bloco

cirúrgico formado por centros cirúrgicos (CC), suprimentos, farmácia, administração,

departamento comercial e marketing, engenharia hospitalar, tecnologia, hotelaria,

equipes assistenciais, serviços de apoio assistencial, telemedicina, ensino e pesquisa

(SALU, 2013; VERBIST, 2017).

Assim sendo, observa-se que a estrutura hospitalar usualmente envolve a

arquitetura hospitalar, a organização, o corpo médico, a clínica com serviços

subsidiários de diagnóstico e terapêutico, ambulatório e serviço social, dentre outras,

para atendimento da comunidade que necessita dos seus serviços. Possui, por isso,

uma estrutura complexa que incorpora simultaneamente aptidões, equipamentos e

instalações voltadas para a prática médica e de enfermagem, entre outras profissões,

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em grau de especialização e pela diversidade dos níveis hierárquicos que os compõe.

Além disso, essa estrutura se expande à medida que cresce a preocupação social do

bem-estar e saúde da sociedade, tornando-se o hospital o mecanismo institucional

identificado para alcançar esses objetivos, passando, com isso, a ser o

estabelecimento para prestação de serviços voltada para atenção médica e

assistência individual por meio de uma abordagem de medicina integral, solucionando

os problemas de saúde da população. Por essa razão, sua estrutura incorpora

avanços tecnológicos nos conhecimentos, equipamentos e instalações, numa

estrutura diversificada que se compõe de corpo funcional nas áreas administrativas,

diretivas, clínicas, técnicas e especializadas para prestação dos serviços (MATOS,

2005; GONÇALVES, 2017).

Neste sentido, Osmo (2012, p. 128) considera que a organização hospitalar:

[...] é uma das mais complexas devido à coexistência de inúmeros processos assistenciais e administrativos, diversas linhas de produção simultâneas e uma fragmentação dos processos de decisão assistencial com a presença de uma equipe multiprofissional com elevado grau de autonomia. Para tanto, utiliza a tecnologia de forma intensiva e extensiva. Podendo, ainda, constituir-se em espaço de ensino e aprendizagem além de campo de produção científica.

Portanto, trata-se de uma organização complexa e que envolve um corpo

funcional multiprofissional para o desenvolvimento de suas atividades.

Acrescentam Coutinho et al (2016, p. 61) que “O ambiente hospitalar, com sua

alta densidade de tecnologia e recursos humanos especializados, está no imaginário

da sociedade como o local que remete à solução dos problemas de saúde”. Dessa

forma, a organização é classificada em forma de redes, a saber: os hospitais públicos

que emergencialmente ou não efetuam atendimento aos destituídos de recursos, e a

rede privada formada por hospitais com ou sem fins lucrativos (VERBIST, 2017).

A função da organização hospitalar foi definida pelo Informe Técnico 122, de

1957, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que incluiu as funções

de prevenir a doença, restaurar a saúde, exercer funções educativas e promover a

pesquisa. Em vista disso são classificados em geral, especializado, de referência sem

emergência e pronto-socorro. O hospital geral é aquele que não tem especialidade

determinada e se propõe a servir de base para a realização de qualquer tipo de

procedimento, desde que suportado por sua estrutura técnica-administrativa. O

hospital especializado é aquele que atua prioritariamente em determinadas

especialidades, não tendo vocação técnico-administrativa para prestar serviços na

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maioria das especialidades. O hospital de referência sem emergência é aquele criado

para dar suporte de internação aos hospitais gerais e prontos-socorros, não

atendendo no nível primário de atenção e recebendo apenas pacientes referenciados

do sistema de saúde ao qual pertence, geralmente de uma região geográfica

especifica. O pronto-socorro é aquele hospital especializado em urgência e

emergência, com unidades de observação e repouso, salas de procedimentos e

centro de diagnóstico de exames de rotina (SALU, 2013).

Em referência à função do hospital, trata-se de um centro de treinamento de

médicos e enfermeiros, que se desenvolve em decorrência natural da necessidade de

formar pessoal altamente especializado, cujo treinamento efetivo só pode ser feito

neste ambiente. As funções hospitalares são plurais, abarcando desde atividades

restaurativas, que compreendem diagnóstico, tratamento, reabilitação e cuidados de

emergência; como preventivas, envolvendo supervisão, controle, prevenção e

educação; além das funções de ensino, incorporando graduação, pós-graduação,

enfermaria, técnica, interessados e profissões correlatas; e de pesquisa, através de

aspectos sociais, psicológicos, físicos com as práticas hospitalares, técnicas e

administrativas (ARAÚJO, 2017; MATOS, 2005).

Entre as funções da instituição hospitalar estão a de fazer parte integrante do

sistema de saúde, com o dever de prestar completa assistência preventiva e curativa

à comunidade e às famílias, podendo, inclusive, ser um centro de formação aos

profissionais da saúde e pesquisas biossociais, além das técnicas ou atividades-fim,

e de apoio ou atividades-meio (MATOS, 2005; GONÇALVES, 2017)

Por conta disso, enfatiza Araújo (2017), que é de suma importância o papel do

hospital na saúde pública, tendo em vista a medicina preventiva se encontrar

ocupando posição de relevo, como também a medicina curativa, sendo, por isso,

obrigatória ao hospital a cooperação com os departamentos de saúde pública e

demais instituições afins, no tocante à prevenção de doenças e controle dos males

contagiosos. Por essa razão, na condição de centro de pesquisa científica na área

médica, torna-se o hospital uma necessidade primária para o próprio desenvolvimento

da medicina.

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2. O SISTEMA DE REMUNERAÇÃO HOSPITALAR: ESTUDO COMPARATIVO

2.1. Sistema de remuneração hospitalar

Um sistema de remuneração compreende a reunião de procedimentos para o

pagamento do trabalho a determinadas pessoas ou grupos de pessoas, comportando

configurações variáveis. Esse sistema, portanto, possui as mais diversas formas de

expressão, obedecendo, cada qual, aos princípios que norteiam o processo de sua

elaboração (CHERCHIGLIA, 2017).

Esse sistema envolve o financiamento e gestão hospitalar, relacionados ao

pagamento e remuneração dos serviços hospitalares, e são classificados em Sistema

Orçamentário Tradicional (SOT), Sistema de Orçamentos Globais (SOG), Sistema

Tradicional de Compra e Venda de Serviços (STC), Sistemas de Pagamento

Retrospectivo (SPR), Sistemas de Pagamento por Capitação (SPC), Sistemas de

Pagamento por Seguro (SPS) e Sistemas de Pagamento por Incentivos e Resultados

(SPI) (MÉDICI, 2016).

O Sistema Orçamentário Tradicional (SOT) é o conjunto de sistemas de

pagamentos que são baseados em orçamento tradicional, não estimulam resultados

tangíveis na cobertura e na qualidade, dado que não existem prêmios associados a

essas melhorias. Trata-se de um sistema no qual a transferência de recursos compõe

um orçamento que é atado a gastos pré-programados para uma rede que pertence à

administração direta do financiador, sendo, portanto, um modelo utilizado no setor

público. As vantagens desse sistema estão em sua simplicidade administrativa, o que

exige recursos humanos sem manter qualificação ou criatividade. As desvantagens

estão na pouca flexibilidade para administrar recursos e estruturar soluções,

imobilismo, ineficiência administrativa, falta de transparência, entre outros (MÉDICI,

2016).

O Sistema de Orçamentos Globais (SOG) é aquele que engloba sistemas de

pagamentos baseados em orçamentos globais, conhecido internacionalmente como

global budgets, no qual o pagador pode fixar metas de cobertura e qualidade mais

elevadas e incentivar o cumprimento destas metas, associando-se a transferências

orçamentárias mais generosas. É um sistema que requer a contratualização, feito pelo

hospital com uma instituição que irá efetivar a gestão do patrimônio e da operação do

hospital, independente do governo, e são definidas as várias condições contratuais

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(autonomia de gestão do hospital, liberdade para definir salários e sistemas de

remuneração, contratação e desligamento de pessoal etc.), revisto a cada ano de

gestão e, ao final do exercício fiscal, são apresentados, avaliados e validados de

acordo com um sistema de avaliação mútua. Esse sistema permite maior flexibilidade

e autonomia de gestão, sendo adotado nos anos 1990 no Brasil, Chile, Argentina e

Colômbia com distintas denominações (MÉDICI, 2016).

O Sistema Tradicional de Compra e Venda de Serviços (STC), também

conhecido como pagamento por unidade de serviço ou sistema de reembolso, é o

modelo baseado na compra direta de serviços pelos pacientes ou pelos financiadores

por meio de tarifas estabelecidas pelo hospital. Apresenta como aspecto positivo a

possibilidade de incentivar a oferta quando determinados tipos de procedimentos tidos

como relevantes são ofertados aquém das necessidades. Por outro lado, dadas às

imperfeições do mercado de saúde - oriundas de informações assimétricas, incertezas

quanto ao futuro, dentre outros - esse modelo vem caindo crescentemente em desuso

como fonte de financiamento dos hospitais, em especial no que se refere a

procedimentos de internação. No entanto, todos os hospitais ainda mantêm algum

espaço para a venda direta de serviços àqueles desprovidos de seguros, ou a pessoas

que necessitem utilizar os serviços em caráter emergencial, por estarem em trânsito

ou outros motivos, sendo comum preços muito superiores aos valores estabelecidos

por tabelas públicas, como a Autorização de internação Hospitalar (AIH) ou privadas,

como a tabela da Associação Médica Brasileira - AMB (MÉDICI, 2016).

O Sistema de Pagamento Retrospectivo (SPR) reúne uma gama de serviços

de saúde em que as despesas incorridas pelo hospital são ressarcidas mediante

tabelas de pagamentos baseadas em diagnósticos, protocolos clínicos ou mesmo

classificações especiais para procedimentos ambulatoriais ou de internação. Para

tanto, nesses sistemas ocorrem os pagamentos por procedimento ou por diagnóstico,

quando relacionado a um conjunto de procedimentos necessários a cuidar de um

quadro clínico diagnosticado em um paciente. O valor fixado para ressarcimento

normalmente é feito através das negociações entre a fonte pagadora (governo, plano

de saúde, empresa, etc.) e o hospital, sendo comum algumas grandes fontes

pagadoras, tais como o governo ou grandes planos de saúde, atuarem de forma

monopolista em função do pouco poder de barganha da maioria dos hospitais

(MÉDICI, 2016).

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Importante destacar que a diferença entre o pagamento por procedimento e o

pagamento por diagnóstico reside no fato de que para o mesmo diagnóstico, pode

estar associada uma sequência de procedimentos (MÉDICI, 2016).

As possíveis vantagens da aplicação do pagamento por diagnóstico são

devidas ao aumento da qualidade da atenção ao paciente com a uniformização do

tratamento médico com uso de protocolos, economia dos recursos dos pagadores

com pagamento fixo por diagnóstico, melhoria na eficiência e estabelecimento de

mecanismo de contenção de custos dos hospitais com sistemas de informação. Já as

desvantagens estão associadas à necessidade de sistemas de informação eficientes,

além de funcionários e pacientes bem informados e treinados para operar o sistema

(MÉDICI, 2016).

A experiência brasileira no uso de pagamentos por procedimento se deu por

meio da Autorização de Internação Hospitalar (AIH), com a criação dos Grupos

Relacionados de Diagnóstico (GRD) ou Diagnosis Related Groups (DRG), na

linguagem norte-americana.

O modelo Diagnosis Related Groups (DRG) foi criado no final dos anos 1960,

pela Universidade de Yale, compreendendo um sistema em que foram agrupados

casos hospitalares em 500 classes de diagnóstico, usando a classificação

internacional de doenças (CID), cujos critérios de agrupamento foram baseados nos

procedimentos associados a esses diagnósticos, com variáveis como sexo, idade e

presença de complicações ou comorbidades, possibilitando a remuneração não

apenas pelo diagnóstico, mas também em função da gravidade destes diagnósticos,

com incentivos para que os hospitais não rejeitem casos mais graves de pacientes

associados a comorbidades ou outros tipos de riscos (MÉDICI, 2016).

Em 1983 os programas de Medicare e Medicaid dos Estados Unidos passaram

a utilizar o GRDs progressivamente para pagamento aos hospitais e, na década de

1990 esse sistema se espalhou em boa parte dos países desenvolvidos, como

Canadá, Austrália, Holanda e Portugal (MÉDICI, 2016; ESCRIVÃO JÚNIOR, 2012).

Há que se observar que o modelo em referência efetua os pagamentos a cada

especialista de forma separada, provocando descoordenação do serviço, além de

desconsiderar o ciclo completo de atenção para o tratamento da doença. Assim, a

vantagem deste modelo é a homogeneização que efetua nas categorias de doenças,

definindo-se por pacotes de serviços oriundos do modelo Fee for service (FFS). Além

disso, esse modelo exige flexibilidade para ajuste de preços ao longo do processo,

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porém com barreiras para precificação, face variações nas comorbidades e,

consequentemente, variações nos diagnósticos (BICHUETTI E MERE, 2017).

Ocorre, porém, que neste modelo a precificação de procedimentos mais

simples e previsíveis não correm risco de grandes variações, enquanto que nos mais

complexos ou de natureza clínica, teriam maior dificuldade por ter uma variabilidade

maior. Além do mais, a utilização de remuneração nessa metodologia tem

apresentado dificuldades enormes, notadamente em questões que envolvem casos

não cirúrgicos ou pacientes ambulatoriais, bem como pela necessidade de adoção de

um índice a ser aplicado por região (CHERCHIGLIA, 2017).

Os Sistemas de Pagamento por Capitação (SPC) são aqueles que são

definidos pelo estabelecimento de uma remuneração fixa para o cuidado parcial ou

integral da saúde de uma população definida, tendo por base a existência de estudos

definidores atuarial e epidemiologicamente dos riscos associados à cobertura da

população definida. Esses sistemas são definidos pelo estabelecimento de

remuneração fixa para o cuidado parcial ou integral da saúde de uma população

definida, em bases per capita. Ele possui diversas modalidades como subcapitação,

utilizada quando o hospital recebe por capitação, mas transfere parte do seu risco a

outro hospital ou provedor; capitação revertida ou por contato, utilizada quando

profissionais de atenção primária, pagos por outro sistema, contratam hospitais para

cuidar da assistência hospitalar sob esse sistema; a capitação parcial, utilizada nos

casos em parte da cobertura do hospital é contratada por capitação por um mesmo

provedor; e capitação global, utilizada quando todos os serviços que o hospital pode

prestar ao usuário são contratados sob o sistema de capitação (MÉDICI, 2016).

Esses sistemas de captação estimulam o hospital a realizar mais exames

preventivos, estratégias de promoção e outros processos para garantir o risco da

população coberta, possibilitando redução a médio prazo na utilização do hospital,

aumentando o retorno financeiro com o pagamento fixo pela fonte pagadora para uma

redução do risco da população coberta (BICHUETTI E MERE, 2017; MÉDICI, 2016).

Esse valor pode ser ajustado conforme necessidades específicas, dependendo

das informações relacionadas aos riscos populacionais geograficamente distribuídos,

requerendo sólida e complexa base estatística das enfermidades, região por região,

faixa etária, raça, sexo e outros segmentos. O estabelecimento do valor por associado

e a definição do hospital para o atendimento, pode acarretar variações nos

procedimentos, exigindo revisões dos valores acordados. Além disso, os prestadores

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ficam sujeitos tanto a receber um bônus como de sofrer uma penalidade, dependendo

da evolução dos resultados. Por conta disso, as fontes pagadoras passam a limitar

certos serviços a determinados prestadores, ou promover facilitações nas aprovações

de procedimentos para hospitais que lhes são mais convenientes, havendo um

processo seletivo de atividades em favor de uns, em detrimento de outros (BICHUETTI

E MERE, 2017; MÉDICI, 2016).

Importante registrar que esses sistemas de capitação, também denominados

de per capita, já foram testados por meio de inúmeras tentativas de aplicação sem

resultados práticos. As dificuldades de sua adoção encontram-se nas estatísticas

existentes que respaldam o modelo, além de não haver preparação adequada por

parte de prestadores e pagadores para sua aplicação (BICHUETTI E MERE, 2017;

MÉDICI, 2016).

Os Sistemas de Pagamento por Seguro (SPS) são aqueles que, normalmente,

pagam total ou parcialmente o prêmio associado a um risco de saúde, no momento

em que um indivíduo, detentor da apólice de seguro, o aciona para o pagamento de

um serviço de saúde. Os pagamentos são efetuados quando obedecidas as condições

estabelecidas pelas apólices e são definidos como copagamentos os valores que

devem ser pagos pelo segurado. Também se utilizam das deduções para que haja

responsabilidade por parte do consumidor por valores inferiores a determinado risco

financeiro. Além disso, existem seguros parciais identificados como aqueles que

cobrem somente parte dos cuidados médicos (MÉDICI, 2016).

Os Sistemas de Pagamento por Incentivos e Resultados (SPI) funcionam

adicionando outras modalidades definidas pelo pagamento de prêmios adicionais ao

desempenho dos hospitais. Esses prêmios são auferidos sem que os hospitais

enfrentem altos riscos de remuneração, sendo o pagamento pelo desempenho

associado às modalidades de pactuação de metas de resultados ou competição

aberta pelo melhor desempenho entre hospitais que prestam serviço ao pagador. Os

SPI são utilizados para robustecer o Sistema de Orçamentos Globais (SOG), sendo,

portanto, um sistema de pagamento que reforça ou estabiliza outros previamente

existentes, no sentido de melhorar sua eficiência e performance, quando os incentivos

são alinhados corretamente (MÉDICI, 2016).

Por outro lado, existem os sistemas de remuneração adotados pela

Organização Internacional do Trabalho (OIT), que são o Sistema de Remuneração

por Resultado (RPR) e o Sistema de Remuneração por Tempo (SRT). O RPR é o

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sistema constituído por ganhos variáveis em dinheiro por parte dos trabalhadores,

obedecendo a preestabelecidas regras, mudanças medidas por resultados

qualitativos, quantitativos e indiretos. Neste caso, a remuneração é definida após a

execução da tarefa, dependendo do que se alcançou por resultado. Este sistema é

classificado por diversas formas, como a individual que é estabelecido por tarefa,

produto ou prêmios; de grupo, considerando também tarefa, produto ou prêmios; de

seção, identificando determinado departamento; ou empresas, por prêmio ou redução

de custos (CHERCHIGLIA. 2017).

Já o Sistema de Remuneração por Tempo (SRT) considera o ganho em função

do tempo, não se levando em conta a variação de rendimento. Contudo, em virtude

do aumento nos custos dos cuidados médicos nos Estados Unidos durante as

décadas de 1960 e 1970, época do predomínio dos sistemas de pós-pagamento, ou

seja, per diem compensation system e de pagamento por procedimento, fee-for-

service (FFS), um processo reestruturador levou à implantação do Prospectve

Payment System (PPS), cujos principais objetivos eram reduzir a taxa de permanência

hospitalar e minimizar a realização de procedimentos desnecessários. Por esse

sistema, era definida uma quantia fixa a ser paga para cada alta hospitalar de casos

agudos, denominado de capitation, exigindo a criação de uma base de dados para

definir as quantias a serem pagas por paciente atendido (CHERCHIGLIA. 2017;

ESCRIVÃO JÚNIOR, 2012).

Para melhor visualização, segue abaixo quadro representativo dos sistemas de

remuneração estudados.

Quadro 1 – Sistemas de Remuneração

Sistema Características Vantagem Desvantagem Sistema Orçamentário Tradicional (SOT)

Transferência de recursos compostos de orçamento atado a gastos pré-programados para uma rede que pertence à administração direta do financiador.

Simplicidade administrativa.

Pouca flexibilidade para administrar recursos e estruturar soluções, imobilismo, ineficiência administrativa e falta de transparência.

Sistema de Orçamentos Globais (SOG)

Baseados em orçamentos globais e regido por contratualização.

Flexibilidade de gestão.

Restrição tecnológica e de campos procedimentais.

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Sistema Tradicional de Compra e Venda de Serviços (STC)

Pagamento por unidade de serviço ou sistema de reembolso.

Incentivar a oferta.

Limitações procedimentais.

Sistemas de Pagamento Retrospectivo (SPR)

Pagamentos baseadas em diagnósticos, com protocolos clínicos.

Maior controle das

despesas.

Menor flexibilidade.

Diagnosis Related Groups (DRG) Ou Grupos Relacionados de Diagnóstico (GRD)

Remuneração ocorre mediante um único pagamento para um conjunto de serviços prestados, conforme o diagnóstico.

Homogeneização das categorias de doenças, definindo-se por pacotes de serviços oriundos do modelo Fee for service (FFS).

Descoordenação do serviço e desconsideração do ciclo completo de atenção para o tratamento da doença.

Sistemas de Pagamento por Capitação (SPC)

Remuneração fixa para o cuidado parcial ou integral da saúde de uma população definida, em bases per capita.

Diversidade de modalidades.

Dificuldades das estatísticas que respaldam o modelo, além de não haver preparação adequada por parte de prestadores e pagadores para sua aplicação.

Sistemas de Pagamento por Seguro (SPS)

Os pagamentos são efetuados quando obedecidas as condições estabelecidas pelas apólices e são definidos como copagamentos os valores que devem ser pagos pelo segurado.

Popularização e facilidade de relação.

Seguros parciais e riscos financeiros.

Sistemas de Pagamento por Incentivos e Resultados (SPI)

Pagamento de prêmios adicionais ao desempenho dos hospitais.

Robustece o SOG reforçando a melhor da eficiência e performance.

Limitação das modalidades de pactuação.

Sistema de Remuneração por Resultado (RPR)

Constituído por ganhos variáveis em dinheiro, obedecendo a preestabelecidas regras, mudanças medidas por

Diversidade de formato.

Dependência do resultado na execução da tarefa.

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resultados qualitativos, quantitativos e indiretos.

Sistema de Remuneração por Tempo (SRT)

Considera o ganho em função do tempo.

Serviço definido por sua duração.

Não leva em conta a variação de rendimento.

Fonte: Pesquisa do autor (MÉDICI, 2016; CHERCHIGLIA, 2017;

2.2 Sistema de remuneração hospitalar no Brasil

Os modelos de remuneração adotados no Brasil são os Fee for service (FFS)

e o Diagnosis Related Groups (DRG). O modelo Fee for service (FFS) é o mais

utilizado nas últimas décadas, caracterizando-se a remuneração do prestador por

procedimento, por meio do estabelecimento prévio de uma tabela de preços por

procedimento ou conjunto deles, ocorrendo diferentes valores praticados para os

mesmos tipos de procedimento entre diferentes prestadores e pagadores. Neste

modelo o desempenho e os custos não são levados em conta, ficando os valores

condicionados aos poderes de barganha, constatando-se, assim, uma remuneração

que privilegia a quantidade em detrimento da qualidade, tendo em vista reinternações

por erros médicos ou evoluções clínicas. Nesse modelo as atividades são novamente

remuneradas, estimulando-se, a partir disso, a aplicação de glosas pelos pagadores

(BICHUETTI E MERE, 2017).

O instituto da glosa é baseado nos recursos administrativos ou técnicos,

aplicados de forma linear, transformando-se em destacado instrumento de pressão

por parte dos pagadores. Compreende, portanto, o não pagamento de valores

referentes a atendimentos, materiais, medicamentos ou taxas cobradas pelos

prestadores de serviço, submetidos a diversos fatores, como de falta de

documentação adequada, incorreção dos valores cobrados, entre outros (BICHUETTI

E MERE, 2017).

O instituto da glosa é uma atividade meio geradora de custos e seria definida

pela recusa de pagamento na clara identificação de uma não conformidade

operacional. Por conta disso, para Britto (2016, p. 260) a glosa envolve “[...] um

processo particularmente perverso, que gera desequilíbrio econômico-financeiro entre

a unidade de saúde e a operadora. Por consequência, esta prática tem sido motivo

imperativo da maior parte das tensões existentes no mercado”.

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Outros modelos têm sido experimentados no setor, a exemplo do Bundled

Services. Este modelo é uma das modalidades do modelo Pay for Performance (P4P),

que permite usar incentivos com base em desempenho, não apenas financeiro. Por

esse modelo o prestador recebe um valor acordado com a fonte pagadora pelos

serviços prestados ao paciente ao longo de todo o tratamento de uma condição

específica. Assim, nesse modelo os prestadores têm, portanto, responsabilidade pelo

ciclo completo do tratamento de determinada condição, levando em conta a melhoria

do desempenho dos tratamentos, tanto em economias como em qualidade,

requerendo uma base de dados sobre o histórico do paciente e da população.

Destacam os autores que nesse modelo o risco recai sobre o prestador, e não é

compartilhado pela fonte pagadora (BICHUETTI E MERE, 201; BRITTO, 2016)

Um outro modelo utilizado é o Porter/Kaplan que adota um método que exige

volume de informações sobre a evolução da população e das doenças, com o objetivo

de viabilizar análises econômicas e qualitativas. Nesse modelo o desempenho é

privilegiado, exigindo do prestador de serviços estar bem estruturado e especializado,

com planejamento de redução de custos operações e colaboração interna. A sua

adoção foi prejudicada no Brasil por causa da predominância de hospitais gerais no

país, como também pela complexa forma para implementação que demanda grande

esforço, boa vontade e colaboração entre as partes envolvidas, dificultando sua

adoção em mercado caracterizado por stakeholders fechados, cada um dentro de sua

muralha (BICHUETTI E MERE, 2017).

Esses sistemas e modelos de remuneração possuem referências para sua

aplicação por meio de tabelas, identificando-se entre elas a tabela do Sistema Único

de Saúde (SUS), que é utilizada para pagamento hospitalar da rede pública e

conveniada, e a tabela da Associação Médica Brasileira (AMB), que é empregada

como referência para a remuneração dos serviços médicos, principalmente dos

convênios. Outras tabelas estão disponíveis, contudo todas são derivadas de uma

dessas duas listas (CHERCHIGLIA, 2017).

A tabela do SUS é baseada em critérios preestabelecidas no que concerne à

definição prévia do valor para o pagamento, definido por meio de critérios adotados

com base em cálculo da média de cada ato realizado ou procedimento, consolidados

em grupos nosológicos, denominando-se essa forma de pagamento por diagnóstico,

ou caso ou produto agregado, sendo um exemplo de Remuneração por Produção. Os

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valores dessa tabela são determinados centralmente, não levando em consideração

os valores praticados no mercado (CHERCHIGLIA, 2017).

A tabela adotada pela AMB traz no seu contexto a discriminação do valor de

cada procedimento ou ato, identificado pelo coeficiente de honorário (CH), reajustado

mensalmente pela inflação anterior. Trata-se de uma forma de remuneração

retrospectiva, no qual cada procedimento ou ato considera o custo dos serviços

faturados ou por produto não agregado, considerando uma proximidade com os

valores praticados no mercado (CHERCHIGLIA, 2017).

O setor privado de saúde tem sido remunerado e, ao mesmo tempo, remunera

seus prestadores de serviços, dentro de um modelo que privilegia a quantidade de

procedimentos em detrimento da qualidade. As atividades de saúde possuem foco na

doença e não na prevenção de suas causas, havendo uma preocupação

predominante na forma de remuneração que considere a redução imediata de custos

e não no resultado final do serviço assistencial prestado. Além do mais, o setor de

saúde privado no Brasil possui uma lógica de remuneração que privilegia

custo/benefício de forma insatisfatória, por conta dos elevados custos administrativos

e que não agregam valor nos resultados (CHERCHIGLIA, 2017; BICHUETTI E MERE,

2017).

As negociações de preços de procedimentos assistenciais, desenvolvidas entre

prestadores de serviços e o plano de serviços de saúde, por exemplo, é um dos

principais entraves no avanço da relação entre eles no Brasil, tendo em vista que

essas negociações atrelam qualidade a custo, procurando equacionar todas as

situações do segmento empresarial complexo como é o da saúde. Conflitos surgem

disso e tem levado a crises no relacionamento entre as operadoras e os prestados de

serviços, e destes com a comunidade em geral (POMPEU, 2016; RIBEIRO, 2017;

BICHUETTI E MERE, 2017).

Fatores indutores também se encontram na relação do setor hospitalar privado,

como o custo da desconfiança, com distorção dos propósitos, com aplicação de

coeficientes de “adequação” dos preços como previsto na Resolução nº 3, de 2 de

março de 2011, da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), o

que resulta na necessidade de mudanças estruturais. Entretanto, é necessário ao

setor privado hospitalar a adoção da sustentabilidade na promoção do equilíbrio

econômico e financeiro, multiplicidade nas formas de remuneração que leve em

consideração o desempenho, engajamento do profissional médico, ajuste do risco,

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levando em consideração o perfil clínico e a complexidade, a livre concorrência, a

contratualização e a padronização das diretrizes clínicas (POMPEU, 2016; RIBEIRO,

2017; BICHUETTI E MERE, 2017).

Apesar do esforço para implementar diferentes sistemas de remuneração de

provedores e hospitais no Brasil, poucos têm sido aqueles que são utilizados como

instrumento de gestão. Os desencontros e discussões ocorridas no setor hospitalar

privado levaram os planos de saúde e as instituições hospitalares em 2014, sob a

coordenação da Agência Nacional de Saúde (ANS), a lançar um projeto-piloto, com o

objetivo de efetuar testagem em um novo modelo de remuneração que reduzisse

custos e melhorasse os serviços, bem como a troca do sistema atual. Com essa

experiência o pagamento passou a ser feito por meio de pacote com valores fechados

para um determinado conjunto de procedimentos, todos agrupados em uma só rubrica

na conta hospitalar (POMPEU, 2016; MÉDICI, 2017; SOUZA, PINHEIRO E

ANDREAZZI, 2016).

Pesquisou-se a respeito do andamento desse projeto-piloto capitaneado pela

ANS, tanto nas publicações da agência em seu portal na internet, como entre as

publicações das operadoras e dos prestadores de serviços de saúde, obtendo-se a

informação de que ainda se encontra em andamento até a presente data, não havendo

conhecimento de qualquer apreciação ou resultados a respeito dessa iniciativa.

Tendo-se efetuado uma abordagem acerca do modelo de remuneração

adotada no Brasil para o setor privado hospitalar, passa-se, a partir de então, para

verificação de como se processa a sistemática de remuneração do setor de saúde

público e privado em diversos países.

2.3. Sistema de remuneração em alguns países

2.3.1. Sistema francês

A saúde na França é um dos componentes do Sistema de Seguridade Social,

de solidariedade social e de natureza pública, com base na cotização obrigatória de

empregados e empregadores (GIRARDI, CARVALHO E GIRARDI, 2016).

As reformas do sistema de financiamento dos hospitais franceses resultaram

na integração total do sistema de registro das atividades ao funcionamento dos

serviços médicos e na sua utilização pela maioria dos profissionais que dispõem,

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assim, de uma ferramenta para analisar e medir suas atividades. Tais mudanças

evoluíram desde a implementação das Agências Regionais dos Hospitais (ARH), e da

Lei Hospital, Paciente, Saúde e Território (nº 2009-879, de 21 de julho de 2009),

quando as ARH foram transformadas em Agências Regionais de Saúde (ARS),

encarregadas de administrar todos os componentes do sistema regional de saúde e

de segurança social (CREMANDEZ, 2016).

O sistema de saúde francês é realizado por meio de uma combinação entre

cobertura universal e uma combinação de natureza público-privado para atendimento

tanto hospitalar como ambulatorial. A rede pública representa 67% dos leitos

hospitalares e 50% dos ambulatórios, sendo responsáveis por 65% dos pacientes

internados e 42% dos pacientes ambulatoriais. Esses hospitais públicos são

financiados por seguro médico estatutário (80%) e seguro voluntário e pagamento

direto ao paciente (20%). A rede hospitalar privada representa 33% dos leitos

hospitalares e 50% dos ambulatórios, envolvendo clínicas e corporações, possuindo

o mesmo mecanismo da rede pública, com proporção diferenciada, sendo os valores

mais baixos do que aqueles para hospitais públicos ou sem fins lucrativos, tendo em

vista o tamanho das instalações, o mix de Diagnosis Related Group (DRG) e a

população de pacientes, considerando, ainda, a idade, as condições de comorbidade

e a condução socioeconômica (CREMANDEZ, 2016; ZALESKI, 2016; WENZL E

ANDERSON, 2016; e RODWIN, 2016).

As instituições hospitalares privadas na França são reembolsadas tendo-se por

base uma diária negociada com taxas adicionais para serviços específicos, enquanto

que os hospitais públicos e privados sem fins lucrativos são pagos com base em

orçamentos globais anuais negociados entre as agências regionais e o setor. Já os

medicamentos obedecem aos preços unitários permitidos para reembolso sob The

National Health Index (NHI), definidos por comissão representativa dos Ministérios da

Saúde, da Indústria e das Finanças. Enfim, todos os encargos envolvendo a prestação

de serviços, seja pela rede hospitalar privada, profissionais de saúde, ambulatórios ou

consultórios, são submetidos às negociações anuais e firmados por acordos nacionais

que são celebrados entre os representantes da área, incluindo-se o Estado, os Fundos

e os profissionais do setor (RODWIN, 2016).

Já a rede privada sem fins lucrativos que são parceiros diretos da rede pública,

respondem por 64% dos leitos cirúrgicos, 36% dos leitos agudos, 21% dos leitos

médicos e 32% dos leitos psiquiátricos. Os serviços médicos e hospitalares da rede

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privada são pagos pelos pacientes e os valores cobrados obedecem a um cronograma

de taxa nacional, sendo os mesmos ressarcidos por seus fundos de seguro de saúde.

Esse setor também é beneficiado por subsídios adicionais de até 13% por atividades

de investigação e ensino, bem como para a prestação de serviços de emergências e

transplante com adicional entre 10 e 11% do orçamento (CREMANDEZ, 2016).

A remuneração da atividade médica possui uma classificação que é dividida

em três setores que interferem tanto no pagamento como no reembolso a ser

realizado. No setor 1, os honorários são fixados pelos acordos estipulados com a

Seguridade Social. No setor 2, os médicos, principalmente os das grandes cidades e

devido às suas especializações e títulos, negociam os honorários com a Seguridade

Social acrescidos de um adicional. Esse plus é de inteira responsabilidade do usuário.

Por último, há um pequeno grupo de médicos, no setor 3, que pratica honorários livres.

Desde 2015, a rede hospitalar pública e privada vem negociando a

remuneração dos serviços com o Ministério da Saúde, com a perspectiva de que em

2017 os médicos generalistas passem a ser remunerados tanto pelo governo, como

pelos planos de saúde e seguradoras, não recebendo mais do paciente, bem como

nas farmácias efetua-se o pagamento integral com a Carte Vitale, que é o cartão de

seguro médico francês, para ser reembolsado entre 15 a 100%, de acordo com a lista

de medicamentos. As negociações prosseguem definindo-se por mudanças a partir

de 2017 (CREMESP, 2016).

Desde 2008, todos os hospitais e clínicas são reembolsados através do grupo

de diagnóstico (DRG) de pagamento prospectivo, aplicando-se a todas as internações

hospitalares, o qual é definido pelo Ministério da Saúde, incluindo a cobertura dos

pagamentos com os salários médicos (WENZL E ANDERSON, 2016).

Vê-se, portanto, que no serviço de saúde francês o Estado se encontra na

posição de administrador e o garantidor do interesse público, cujo sistema é regido

por um regime de quase gratuidade, ao disponibilizar o cartão eletrônico, Cartão de

Seguridade Social, que cobre alta percentagem dos gastos com hospitais,

tratamentos, intervenções cirúrgicas, médicos, remédios e internações. Por esse

regime, a sociedade paga uma percentagem e o Estado assume o restante.

As agências estatais administram e controlam os setores de saúde público e

privado, o que conforme Rodwin (2016. p. 14),

[...] implica que o Estado assuma uma alta porcentagem do que a sociedade gasta em saúde: a média global de cobertura oscila entre 72% e 73%, o que

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representa 60% dos gastos em medicamentos, 90% dos gastos hospitalares, 34% dos gastos odontológicos e 62% dos gastos com médicos. [...].

Por conta disso, os serviços médico-hospitalares que não são reembolsáveis

possuem um teto anual de 50 Euros e de 18 Euros para cada internação hospitalar,

13,50 Euros em enfermarias psiquiátrica, 1,00 Euro por médico, 0,50 Euros por

medicamento sujeito à receita médica, 2,00 Euros por chamada de ambulância, 18,00

Euros por tratamento hospitalar acima de 120 Euros, sendo, portanto, copagamentos

que são inalterados após os acordos firmados em 2008, vigentes até 2014, não

havendo franquias. Trata-se de um sistema com alto nível de recursos e prestação de

serviços, cobrindo a assistência médico-odontológica, farmacêutica, domiciliar de

enfermagem, transportes sanitários e fornecimento de órteses e próteses, incluindo

óculos (RODWIN, 2016; WENZL E ANDERSON, 2016).

2.3.2 Sistema japonês

O Japão tem despendido uma crescente proporção de seu PIB em saúde, por

meio de um sistema denominado de público e universal de saúde, no qual estão

inscritos todos os cidadãos japoneses, tendo os mesmos o direito ao sistema de

acesso livre, que permite a escolha dos locais de atendimento de sua preferência,

assegurando, com isso, o direito aos serviços médico-hospitalares. O país tem

despendido 8.6% do PIB em atenção à saúde em 2008, segundo dados da

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD). Em 2011,

as despesas com saúde no país chegaram a 36.6 trilhões de ienes no ano fiscal de

2010, ou 282.400 ienes per capita, o que representou o equivalente a 10,61% de toda

a renda nacional. Em 2012, 82% dos gastos em saúde foi custeado pelo setor público,

o que pode ser comparado à média da OECD que é de 72%. Em 2013, esta proporção

subiu para 103%, principalmente devido ao explosivo custo da atenção a pessoas

idosas (MATSUDA, 2016; GIRARDI, CARVALHO E GIRARDI, 2016; CAMPOS E

MARQUES, 2016).

Esse sistema de seguro de saúde pública compreende um universo de mais de

3 mil e 400 seguradoras, segundo expresso pelo Instituto Nacional de Pesquisas de

População e Previdência Social em 2014, no qual cada cidadão se inscreve em

conformidade com sua condição de emprego e local de residência. Há, também, o

seguro complementar voluntário que é composto pela maioria da população,

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representando cerca de 70% desta. Por conta disso, em 2013, 15% da rede hospitalar

fazia parte da gestão dos governos nacional, locais e agências, sendo o restante de

natureza privada sem fins lucrativos que assumem papeis públicos e recebem

subsídios. Os hospitais com fins lucrativos da rede privada são praticamente

proibidos, havendo apenas aqueles que pertencem às empresas japonesas, a

exemplo da Toyota (MATSUDA, 2016).

A remuneração do setor obedece ao sistema público de seguro de saúde,

incluindo os custos médicos. Esse sistema regula as taxas de consulta para grandes

hospitais e centros médicos acadêmicos que são menores do que os pequenos

hospitais e clínicas. Os hospitais com mais de 200 leitos cobram taxas extras a

pacientes, exceto nos casos de emergência, enquanto os doentes em geral são livres

para a autorreferência. Mais da metade de todos os leitos hospitalares de cuidados

agudos são pagos por usar a modificação de combinação de procedimento de

diagnóstico, uma combinação de casos com classificação semelhante à dos grupos

relacionados ao diagnóstico. A outra metade é paga apenas em conformidade com a

taxa de serviço Fee-For-Service (FFS). Os hospitais optam voluntariamente por

receber a combinação de procedimentos de diagnóstico dos pagamentos ou

permanecer sob FFS. O procedimento de diagnóstico na combinação de pagamento

consiste num Diagnóstico Procedimento Combinação e um componente de taxa por

serviço, uma diária. Determinado pelo Grupo de Combinação de Procedimentos de

Diagnóstico, esse é utilizado para o Procedimento Combinação, que inclui serviços

hospitalares básicos e tratamentos menos dispendiosos; o componente de taxa por

serviço inclui procedimentos cirúrgicos, serviços de reabilitação e outros serviços. As

taxas de combinação são multiplicadas por um coeficiente específico do hospital, de

modo a mantê-los relativamente em linha com os pagamentos de honorários por

serviços, limitando os incentivos para conter custos (MATSUDA, 2016).

Os honorários médicos acima de certo limite, ou seja, que estão na

dependência da renda e da idade, são pagos totalmente pelo governo, enquanto que

pessoas sem seguro e de baixa renda recebem apoio do governo.

O imposto pago por um serviço nacional de cuidado a idosos financia

atendimento domiciliar e comunitário para todos os cidadãos, medida adotada para

impedir aumentos incalculáveis para gastos em hospitais, preservando o setor saúde

de atender a população mais idosa do mundo. Dessa forma, cada japonês é protegido,

em princípio, por um seguro público de saúde. Empregados regulares são cobertos

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por um esquema ligado ao trabalho e devem pagar 20% das suas despesas em saúde

diretamente aos prestadores dos serviços. Os que não são cobertos por seus

empregadores, como os autônomos e os desempregados, aderem ao esquema

público. Os prêmios se baseiam no salário, valor da propriedade e número de

dependentes, devendo ser pago 30% do custo de intervenções e consultas, incluindo

emergências, com o governo se responsabilizando pelo restante. Idosos com mais de

70 anos pagam 10% dos custos. Assim, todos os planos públicos de saúde cobrem

uma ampla gama de serviços, incluindo cuidados hospitalares, saúde mental,

medicamentos prescritos, fisioterapia e, significativamente, atenção odontológica

(CREMESP, 2016: GIRARDI, CARVALHO E GIRARDI, 2016; CAMPOS E

MARQUES, 2016).

Dentro dos planos de seguro de saúde do Japão, 20% das despesas médicas

são destinadas aos recém-nascidos e crianças menores; 30% para crianças maiores

até idosos de 69 anos; 20% para a faixa entre 70-74 anos (entretanto, esse porcentual

tem sido reduzido sucessivamente a 10% até o ano de 2010). O grupo de pessoas

com mais de 75 anos está inscrito em um sistema separado do sistema de saúde

geral, e se chama Sistema de Saúde Vida Longa. O portador do seguro então paga

pelo médico, hospital, clínica, ou outros mecanismos de saúde um residual pelo

serviço utilizado conforme previsto pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar

(CAMPOS E MARQUES, 2016).

Observa-se, com isso, que o sistema de seguro de saúde adotado pelo Japão

possibilita a todos os cidadãos o acesso a um tratamento médico adequado e, por

conseguintemente, contribui grandemente para a tranquilidade e saúde da sociedade

em geral.

2.3.3. Sistema espanhol

O sistema de saúde espanhol é inspirado no modelo Beveridge de 1942 que

garante a cobertura universal e gratuita sem despesas antecipadas para os pacientes,

sejam eles residentes legais ou ilegais, turistas ou visitantes. Esse sistema está

pautado no reconhecimento do direito à saúde, com financiamento executado pelo

orçamento estatal e em atendimento aos princípios básicos da universalidade,

equidade e inclusão. Trata-se de um sistema mutualista, com provisão pública ou

privada e com seguros privados voluntários, possuindo, portanto, uma cobertura

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quase universal com financiamento público. Esse sistema é descentralizado ao longo

de todas as 17 Regiões Autônomas em que se divide o país, variando de qualidade e

remuneração, inclusive no tocante ao acesso a especialistas (ARMESTO ET AL,

2016; PINTO, 2016).

Assim sendo, há que se observar que:

As principais características do SNS são a universalidade, com livre acesso a quase todos os habitantes; financiamento público, principalmente através de taxas; diferentes serviços de saúde compondo uma estrutura nacional e; gestão descentralizada para as 17 Comunidades Autônomas (PINTO, 2016, p. 40).

Observa-se que o Sistema Nacional de Saúde (SNS) espanhol é composto,

conforme dados levantados em 2009 pela OECD (2016), por 804 hospitais, sendo 313

públicos e 419 privados, destes 70 sem fins lucrativos, 245 com fins lucrativos e 26

com outras dependências funcionais. As despesas de saúde na Espanha

representaram 9,6% do PIB, em 2010. Com isso, 74% das despesas na área foram

financiadas pelo setor público, sendo que 20% correspondentes a desembolsos

particulares e 6% dos seguros privados (OECD, 2016).

Por consequência, observa Juan (2016), que o país tem atravessado uma

grave crise econômica, fato que tem comprometido os recursos gastos com o sistema

de saúde, a partir de 2012. Destarte, a Espanha possui uma forma de pagamento

única ou centralizada, impondo freios aos custos (JUAN, 2016; PINTO, 2016).

A rede hospitalar espanhola compreende instituições públicas e privadas, como

também centros de saúde. Nesse sistema, o Estado exerce controle total, envolvendo

no seu campo de ação ambos os setores, ou seja, a rede pública e privada de saúde.

A rede pública denominada de Assistência Sanitária Pública é financiada pela

contribuição da seguridade social, sendo de responsabilidade de cada região

espanhola (JUAN, 2016; ARMESTO ET AL, 2016).

Nos dados disponibilizados pela OECD em 2016, cerca de 90% dos espanhóis

fazem uso do sistema público, enquanto que cerca de 18% dos espanhóis possuem

plano de saúde privado adicional. A procura pela garantia de igual acesso aos

espanhóis tem provocado dificuldades no controle de aumento das despesas e na

integração e coordenação dos diversos serviços, possibilitando a adoção de medidas

privatistas, tanto para hospitais como de centros de atenção primária (OECD, 2016;

ARMESTO ET AL, 2016).

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O setor privado tem pouca relevância no sistema espanhol, funcionando de

forma complementar. Entretanto, o setor privado tem ampliado sua atuação, resultante

do processo de privatização ocorrido nos últimos anos. A prestação dos serviços de

saúde corresponde a 80% pela rede pública, enquanto a rede privada, com ou sem

fins lucrativos, representa os 20% restantes. Tal fato leva a um importante papel

desempenhado pelos seguros-voluntários privados que são independentes do

sistema público, mesmo não havendo possibilidade de renúncia à cobertura pública,

com exceção apenas para os grupos de seguros mútuos que assistem os funcionários

públicos e seus beneficiários (JUAN, 2016; RUBIO, 2016).

Em razão do modelo de financiamento misto adotado pelo sistema de saúde

espanhol, Pinto (2016, p. 45), observa que os “[...] recursos provêm de fontes públicas

e privadas. As mais importantes fontes de financiamento são os impostos, as

contribuições para a seguridade social e prêmios de seguro privado”. Segundo a

autora, o financiamento privado é composto por três fontes: pagamentos “out-of-

pocket” * para o setor privado, pagamentos “out-of-pocket” para o sistema público e,

seguros de saúde voluntários. Já os impostos são a base do financiamento das

Comunidades Autônomas que recebem 89,8%, a Administração Central recebe 3% e

as cidades autônomas 0,01%, representando 94,1% dos recursos totais do país.

Na Espanha não existe um sistema de registro oficial da remuneração, tanto

dos serviços, como dos profissionais de saúde que trabalham nos setores públicos e

privados, havendo 18 autoridades de saúde regionais que são autônomas e com

diferentes remunerações (OECD, 2016; ARMESTO ET AL, 2016).

2.3.4 Sistema britânico

O sistema de saúde no Reino Unido foi instituído em 1948 e é denominado de

National Health Service (NHS), que emprega 1 milhão e 300 mil profissionais e, devido

sua complexidade gigantesca, é considerada a maior estrutura de saúde pública do

mundo. Este sistema atua sob o princípio fundamental prover os serviços de saúde

gratuitamente para todos os cidadãos, independentemente da capacidade de

pagamento e em conformidade com as necessidades de cada cidadão. A partir de

2012, com a edição do Ato 2012, o NHS passou a ser dirigido pelo NHS Comissioning

Board, atuando na área dos serviços de saúde e assistência social, estabelecendo a

criação de conselhos de saúde e bem-estar para melhoria do atendimento e redução

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das disparidades. A partir disso, todo sistema de saúde é sustentado pelo sistema

tributário que emprega impostos progressivos (THORLBY E ARORA, 2016; GIRARDI,

CARVALHO E GIRARDI, 2016).

Esse sistema é formado por hospitais e clínicas públicas e privadas. Nesse

sistema possuem direito gratuito de atendimento: os residentes legais, refugiados,

imigrantes e asilados em casos de emergência, pessoas que possuem permissão de

trabalho (work permit) e estudantes matriculados e seus familiares. Por essa razão,

em 2012, o Reino Unido gastou aproximadamente 9,3% do PIB em cuidados de

saúde, sendo em 84% as despesas públicas (OECD, 2016).

Os hospitais públicos são organizados pelo NHS e a remuneração dos serviços

é efetuada por meio de partilha entre o órgão organizador do sistema e a rede. Nesse

tocante, os estudantes de medicina ao concluírem o curso de graduação, recebem um

registro provisório para inscrição no The Foundation Programme e precisam,

obrigatoriamente, realizar treinamento remunerado em hospitais públicos antes de

receberem a licença para o exercício da profissão (THORLBY E ARORA, 2016).

A rede hospitalar privada é formada por 548 hospitais e aproximadamente 600

clinicas que ofertam serviços, incluindo os tratamentos não disponibilizados pelo NHS.

Os encargos não são regulamentados e nem existem, sendo mantidos por subsídios

dos fundos públicos. Essa categoria hospitalar é financiada por meio de seguros que

cobrem cerca de 10,9% da população, tendo em vista que cerca de 11% dos britânicos

preferem pagar um plano de saúde privado, devendo-se tal fato pelo desenvolvimento

de programa de desregulamentação geral da economia e as mudanças privatizantes

(THORLBY E ARORA, 2016).

Os médicos são classificados de duas formas, os de atenção primária,

denominados de General Practitioners (GPs), remunerados por contratos

independentes e não-assalariados, e os de atenção secundária que são remunerados

por salários para trabalharem nos hospitais (hospital consultants) (THORLBY E

ARORA, 2016).

A prática de arranjos adotada pelo NHS adota o modelo de remuneração por

capitação, com a contratação incluindo a provisão de serviços essenciais e

complementares pagando-se por meta de qualidade referenciado no Qualityand

Outcomes Framework (QOF), eleito como Quadro Referencial de Qualidade e

Resultados, introduzindo esquemas de pagamento por resultados (payment by

results) e metas (GIRARDI, CARVALHO E GIRARDI, 2016).

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2.3.5 Sistema norte-americano

O sistema de saúde norte-americano, após a edição da Lei de Proteção ao

Paciente e Cuidados Acessíveis (The Patient Protection and Affordable Care Act -

ACA), passou a ter o regime de responsabilidade compartilhada, envolvendo

governos, empregadores e cidadãos, no sentido de garantia acesso à saúde por meio

de preços acessíveis e com qualidade. Este sistema é formado por hospitais que

atuam sem fins lucrativos e compreendem aproximadamente 70% dos leitos no âmbito

nacional, e os com fins lucrativos perfazem o total de 15% dos leitos, ou os públicos

que detêm 15% dos leitos (WENZL E ANDERSON, 2016; GIRARDI, CARVALHO E

GIRARDI, 2016).

Neste país o gasto total com a saúde chega a 17% do PIB, considerado como

a vanguarda da implantação de novas tecnologias, bem como no uso da medicina

preventiva, observando-se que 90% desses gastos não são desembolsados pelo

paciente. De forma mais detalhada, 45% dos gastos em saúde são desembolsados

pelas seguradoras, sendo que os 45% restantes são mantidos pelo programa estatal

Medicare, que reembolsa tanto hospitais como médicos por tratamentos fornecidos a

cidadãos acima dos 65 anos de idade, e o Medicaid, que é financiado pelo governo

federal em conjunto com os estados, que reembolsa médicos e hospitais quando do

tratamento de pessoas que não podem financiar suas próprias despesas, e os 10%

restante são desembolsados pelo paciente (WENZL E ANDERSON, 2016).

Os hospitais públicos podem atender pacientes particulares e são pagos

através de uma combinação de métodos, incluindo as taxas por serviço ou diárias, os

pagamentos por caso e os pagamentos agrupados, caso em que o hospital pode ser

financeiramente responsável por readmissões e serviços prestados por outros

provedores. Fazem parte desse sistema os programas Medicare e Medicaid que são

administrados pelos Centros de Medicare e Medicaid Services (CMS), que trabalham

em parceria com os governos estaduais para Medicaid e o Programa de Seguro de

Saúde da Criança, reunindo um conglomerado de programas federais, destinados aos

programas para certas populações de baixa renda. Dessa forma, o Medicare é

financiado por meio de uma combinação de impostos sobre os salários, prémios e

receitas gerais federais. Já o Medicaid é um programa de seguro de saúde federal-

estadual conjunto, financiado por impostos (WENZL E ANDERSON, 2016; GIRARDI,

CARVALHO E GIRARDI, 2016).

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O seguro privado é regulado principalmente no âmbito estadual. A sua atividade

possui subsídios de prêmios baseados em renda para famílias de baixa e média renda

e a expansão subsidiada pelo governo federal da elegibilidade do Medicaid passou a

ser disponibilizada nos estados que optaram por participar a partir de 2012 (WENZL

E ANDERSON, 2016).

Dados da OECD (2016) noticiam que em 2013 cerca de 64% dos residentes

norte-americanos receberam cobertura de seguro de saúde voluntária (VHI), sendo

que 54% receberam seguro fornecido pelo empregador, e 10% por cento adquiriram

cobertura diretamente. Já os programas públicos cobriram aproximadamente 33%,

sendo que o Medicare cobriu 16% e o Medicaid 17% dos residentes norte-americanos,

enquanto aproximadamente 42 milhões de cidadãos não possuíam seguro individual.

A maioria dos centros de cuidados de urgência é propriedade independente de

médicos, enquanto cerca de 25% são propriedades de Hospitais. Além disso, os

médicos são funcionários assalariados do hospital, mas a maioria é paga em algum

tipo de honorário-por-serviço-médico O pagamento não está incluído nos pagamentos

do grupo de diagnósticos relacionados ao Medicare (DRG). Diante destes fatos, a

concorrência médica é cartelizada e todos possuem diversos tipos de licenças

(WENZL E ANDERSON, 2016).

2.3.6 Sistema australiano

O sistema de saúde australiano combina fornecedores públicos e privados,

usando a tecnologia e o conhecimento científico para prevenir, diagnosticar e tratar as

doenças, dispondo de 9,67% do PIB nos cuidados com saúde (OECD, 2016;

DUGDALE E HEALY, 2016).

O sistema australiano é formado pelo serviço universal Medicare que é

disponível para todos os cidadãos e residentes permanentes, financiado pelo

Medicare Law, um imposto de 1,5% da renda para indivíduos de rendimentos

intermediários, e de 2,5% para aqueles que tenham rendimentos altos e não sejam

associados de seguros de saúde particulares. Também é complementado pelo

Pharmaceutical benefits scheme, que contribui com as despesas relacionadas com a

compra de medicamentos. Assim sendo, o governo financia e administra o Medicare,

o sistema nacional de seguro médico; fornece produtos farmacêuticos e benefícios;

financia fundos de hospitais públicos e programas de saúde da população (com os

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estados e territórios); regulando o sistema de saúde, incluindo seguros privados de

saúde, produtos farmacêuticos e serviços médicos (DUGDALE E HEALY, 2016).

O sistema australiano é definido pelo governo nacional que se destina à criação

de políticas, regulamentos e tipos de financiamento, enquanto que os estados e

territórios são responsáveis pela gestão de serviços públicos e pelo gerenciamento

das relações com os profissionais de saúde e estabelecimentos hospitalares. Os seis

estados e os dois territórios administram hospitais públicos e regulam todos os

hospitais e serviços de saúde baseados na comunidade, por meio das Redes

Hospitalares Locais (DUGDALE E HEALY, 2016; MORAES, 2016).

O Medicare é financiado principalmente a partir de receitas fiscais gerais,

incluindo um imposto sobre valor agregado; taxas de pacientes e outras fontes

privadas, e oferece cobertura universal a cidadãos e residentes permanentes, bem

como cobertura automática para pessoas com visto temporário de países com

acordos recíprocos e, além disso, oferece acesso gratuito ou subsidiado a serviços

médicos abrangentes, quando o médico considerar que há uma necessidade médica.

Por conta disso, o Medicare geralmente reembolsa de 85% a 100% de sua taxa para

serviços ambulatoriais, também reembolsando 75% da taxa médica, excetuando

alojamento, taxas de cirurgias ou medicamentos para pacientes privados. A

internação é gratuita em hospitais públicos e privados, porém, qualquer montante

acima deste é pago pelos pacientes. Os médicos podem tratar pacientes e faturar o

Medicare diretamente o montante da subvenção sem encargos para os pacientes

(DUGDALE E HEALY, 2016).

O atendimento em hospitais públicos é gratuito, mas as pessoas podem optar

por pagar hospitais públicos ou privados.

O sistema de saúde australiano conta também com o Private Health Insurance,

que gera incentivos para adquirir sistemas de cobertura de saúde privados,

alternativos ao Medicare. Por meio deste, famílias e indivíduos que pagam um seguro

de saúde privado podem obter uma redução de 30% do prêmio do seu plano. É que a

política governamental encoraja as pessoas a contrair um seguro de saúde privado

no início da vida e regula prémios. Por conta disso, as seguradoras devem aceitar

todos os participantes e não podem discriminar com base no estado de saúde ou

qualquer fator que possa afetar o estado de saúde, só podendo discriminar em relação

à idade e em obediência à Lifetime Regras de cobertura de saúde. A maioria das

seguradoras de saúde privada não tem fins lucrativos, mas representam apenas cerca

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de 30% de participação de mercado. Os honorários médicos não são regulados e eles

são livres para cobrar acima da taxa de Medicare (DUGDALE E HEALY, 2016).

O setor privado tem respondido por 31,6% das despesas de saúde e o seguro

privado representa 8% do total das despesas de saúde e são muitos os tipos de

seguros privados, observando-se que o seguro de saúde privado voluntário

desempenha um papel misto complementar. Esse setor, em 2014, cobria um pouco

mais de 47% da população (OECD, 2016).

2.3.7 Sistema canadense

O sistema de saúde canadense adotou o modelo beveridgiano, no qual não se

exige contribuição individual anterior para a obtenção do benefício básico, bastando

que a pessoa seja um cidadão do país que adote este modelo. Seu financiamento

ocorre por tributos gerais e incorpora, portanto, mecanismos redistributivos. Dessa

forma, todo cidadão tem direito à saúde, gratuita e com qualidade (CONILL, 2016;

ALLIKN E RUDOLER,2016; GIRARDI, CARVALHO E GIRARDI, 2016).

O sistema é regulado pela Lei de Saúde do Canadá que estabelece padrões

para serviços médicos, hospitalares e de diagnóstico médico necessários. Por força

dessa lei, o governo federal regula a segurança e a eficácia de dispositivos médicos,

produtos farmacêuticos e produtos de saúde natural, e administra várias funções de

saúde pública. Além disso, conduz uma série de serviços de saúde, tais como

medicamentos prescritos e serviços de saúde auxiliares e comunitários para as

Membros da Royal Canadian Mounted Police e das Forças Canadenses, veteranos,

requerentes e reclusos nas penitenciárias federais (ALLIKN E RUDOLER, 2016).

O governo fornece e financia diretamente uma ampla gama de serviços

preventivos através da Agência de Saúde Pública, partilhando custos e despesas com

as províncias e territórios, tendo em vista que todo sistema é usado por 90% da

população. A assistência médica é fornecida por meio de um sistema de saúde

financiado com fundos públicos em que cada província e território têm seus próprios

regulamentos e regras de saúde, porém, todos oferecem um sistema de assistência

médica pública, popularmente chamada de Medicare. Assim, o governo federal,

através do Canada Health Act e emendas, exige um padrão mínimo de qualidade e

assistência que as províncias e territórios seguem (ALLIKN E RUDOLER, 2016).

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Todo o sistema obedece aos princípios de universalização, descentralização,

integralidade e gestão pública tanto nos sistemas provinciais como nos territoriais,

com base em orçamento fiscal e financiamento compartilhado entre os dois níveis de

governo. A descentralização é outra característica importante, tendo as províncias

grande liberdade na organização do modelo assistencial e nas relações com os

prestadores, desde que respeitado esse quadro legal. Nesse sistema as províncias e

os territórios são os principais responsáveis pela organização, prestação e supervisão

dos prestadores de cuidados de saúde (CONILL, 2016).

Muitas províncias e territórios estabeleceram autoridades regionais de saúde

que planejam e prestam serviços públicos financiados localmente, sendo estas

responsáveis pelo financiamento e prestação de cuidados hospitalares, comunitários

e de longo prazo, além de serviços de saúde mental e pública. As províncias e

territórios administram seus próprios programas universais de seguro de saúde,

cobrindo residentes territoriais de acordo com seus próprios requisitos de residência,

incluindo os requerentes de refugiados negados, os que permanecem no Canadá para

além da duração. Há que se levar em consideração que a maioria das decisões de

cobertura pública são tomadas pelos governos provinciais e conjuntamente com a

profissão médica. Encontram-se registros de que os governos provinciais e territoriais

fornecem níveis variáveis de benefícios adicionais, tais como medicamentos de

prescrição ambulatorial, cuidados de saúde mental, cuidados de saúde em casa,

fisioterapia, auxílios à vida independente e serviços de ambulância. Também

fornecem serviços públicos de saúde e prevenção, incluindo imunizações como parte

de seus programas públicos (ALLIKN E RUDOLER, 2016; GIRARDI, CARVALHO E

GIRARDI, 2016).

A rede hospitalar canadense compreende organizações públicas e privadas,

predominantemente sem fins lucrativos, muitas vezes gerenciados localmente por

autoridades regionais ou conselhos hospitalares, representando a comunidade. Em

algumas províncias muitos hospitais são de propriedade pública, enquanto, em outras,

como Ontário, são predominantemente privados ou corporações com ou sem fins

lucrativos. Nesse sentido, os hospitais canadenses geralmente operam sob

orçamentos anuais, globais, negociados com os governos provinciais ou territoriais,

Ministério da Saúde ou autoridade regional de saúde (ALLIKN E RUDOLER, 2016).

Nesse contexto, a rede privada de seguros cobrem os serviços excluídos do

reembolso público, representando, conforme a OECD (2016), aproximadamente 91%

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dos pagamentos do setor, levando-se em consideração que os fornecedores são

quase inteiramente privados no Canadá e que o governo federal cofinancia programas

provinciais e territoriais, observando-se que cada plano provincial de seguro de saúde

deve ser: administrado publicamente, ter abrangência na cobertura universal e

acessível sem taxas para usuário. Aproximadamente dois terços dos canadenses

também possuem seguro de saúde que abrange serviços não cobertos pelos

programas públicos. Por conseguinte, os planos de seguro privado para se

qualificarem para contribuições financeiras federais, devem se adequar ao âmbito da

Transferência de Saúde do Canadá, fornecendo cobertura de médicos, diagnósticos

e hospitalares, incluindo medicamentos prescritos para pacientes internado e para

todos os residentes elegíveis. Entretanto, vale salientar que não existe uma legislação

nacional para pacote de benefícios. Assim, o governo fornece e financia diretamente

uma ampla gama de serviços preventivos através da Agência de Saúde Pública,

partilhando custos e despesas, observando-se que as isenções de custos variam de

acordo com as províncias e territórios (OECD, 2016; GIRARDI, CARVALHO E

GIRARDI, 2016).

2.4 Considerações

Ao se discorrer acerca da remuneração dos hospitais privados nos países

pesquisados, apresenta-se abaixo, à guisa de ilustração, quadro representativo dos

gastos em saúde, com base em dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), com

ano de referência 2014:

Quadro 2 – Gastos em saúde no ano de 2014

País % Gasto do PIB em

Saúde Gasto Total em Saúde

Per Capita ($int.1) Estados Unidos 17,1% 9.403

Canadá 10,4% 4.641 França 11,5% 4.508 Austrália 9,4% 4.357 Japão 10,2% 3.727

Reino Unido 9,1% 3.377 Espanha 9,0% 2.966

1 Dólar internacional.

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Brasil 8,3% 1.318 Fonte: OMS, 2017.

Pelo exposto, observa-se que apenas o comparativo do percentual gasto do

PIB com saúde é absolutamente falho e equivocado. Isto porque o supradito

percentual não reflete a realidade proporcional em relação à população em cada País.

De acordo com o quadro 2 acima, o Brasil gastou em 2014 8,3% do seu PIB

com saúde, aproximando-se da média mundial que é cerca de 9,9% do PIB. Porém,

quando comparado com o gasto per capita, o valor ficou nos ínfimos 1.318 dólares

internacionais no ano de 2014. Para se ter uma ideia da escassez do investimento em

saúde no Brasil, os Estados Unidos gastaram 9.403 dólares internacionais; o Canadá

gastou 4.641 dólares internacionais; a França gastou 4.508 dólares internacionais; a

Austrália gastou 4.357 dólares internacionais; o Japão gastou 3.727 dólares

internacionais; o Reino Unido gastou 3.377 dólares internacionais e a Espanha gastou

2.966 dólares internacionais.

Com isso observa-se que apesar de aproximar-se da média mundial do

percentual do PIB gasto em saúde, dado inexpressivo da realidade no País, o gasto

total em saúde no ano de 2014 per capita no Brasil está muito aquém dos países

pesquisados, tornando clarividente um gravíssimo problema de escassez de recursos

investidos na saúde do povo brasileiro, demonstrando, pois, as distorções do país com

relação aos países pesquisados.

A partir de então, segue abaixo quadro comparativo com os modelos

sistemáticos remuneratórios adotados pelos países pesquisados.

Quadro 3 – Sistema de Remuneração nas Regiões Pesquisadas

País Sistema Remuneratório

Brasil Fee for service (FFS) e o

Diagnosis Related Groups (DRG) França Diagnosis Related Group (DRG) Japão Diagnosis Related Group (DRG)

Espanha Pagamentos out-of-pocket

Reino Unido Capitação/Pagamento por resultados (payment by

results) e metas Estados Unidos Medicaid / Medicare (Diagnosis Related Group - DRG)

Austrália Medicare / Sistemas Mistos

Canadá Medicare / Sistema Misto

Fonte: Pesquisa do autor baseada em dados da OECD, 2016.

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Verificou-se com a pesquisa realizada que países como a França, Japão e

Estados Unidos adotam o sistema de remuneração Diagnosis Related Group (DRG),

para efetuarem seus pagamentos às redes pública e privada, definindo-se mediante

ao pagamento único efetuado para um conjunto de serviços prestados em

conformidade com o diagnóstico e baseado na CID, utilizando-se do modelo Fee for

servisse (FFS) para definição dos pacotes de serviços.

O sistema de remuneração adotado pela Espanha é formado por um modelo

misto, tendo em vista a liberdade de remuneração e qualidade promovida pela

descentralização do sistema de saúde, garantindo a autonomia das regiões do país,

pela qual cada uma delas é livre para praticar a modalidade sistêmica de

remuneração, verificando-se a adoção de sistemas mistos de remuneração, reunidos

sob a nomenclatura de pagamentos “out-of-pocket”.

O sistema de remuneração adotado no Reino Unido é o de Sistema de

Pagamento por Capitação (SPC), combinando a provisão de serviços essenciais e

complementares por meta de qualidade e por resultados (payment by results).

A Austrália e o Canadá adotam sistemas mistos de remuneração não regulando

valores pelo processo de descentralização promovido para autonomia de suas

províncias na adoção de modelos remuneratórios.

Observou-se que nos países estudados, a remuneração dos serviços médico-

hospitalares utiliza sistemas que se articulam e são definidos por meio de acordos

formulados mensal, semestral ou anualmente entre o governo, por meio de suas

agências ou órgãos reguladores do setor, as operadoras, seguradoras e gestores do

setor médico-hospitalar público e privado, razão pela qual, ocorrem os pagamentos e

transferências do setor público com razoável equilíbrio entre os envolvidos.

Mediante o exposto, surge então uma indagação: se os sistemas de

remuneração existentes são utilizados de forma plena ou articulados a outros na

formação de sistemas mistos em outros países, por que o mesmo não ocorre no

Brasil?

A adoção de quaisquer sistemas remuneratórios para o setor hospitalar privado

no Brasil, passa, inicialmente, por três óbices: o primeiro deles, referente ao

pagamento efetuado pelo SUS aos prestadores de serviços da rede hospitalar

privada, com valores defasados e que requerem atualização relativa aos preços

praticados no mercado, exceto os hospitais que, mediante contratualização, recebem

valores maiores que os fixados pelo SUS. O segundo deles, é que o processo de

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remuneração praticado pelas operadoras de saúde é efetuado por meio do instituto

da glosa, prática que posterga, atrasa e prejudica a saúde financeira dos prestadores

de serviço. Por fim, em terceiro, a rede hospitalar privada, salvo algumas exceções,

não adota sistema de custeio próprio devido à complexidade organizacional,

submetendo-se às tabelas existentes no setor que, por sua vez, não atendem às suas

necessidades.

Essa situação está melhor visualizada no quadro a seguir, no qual se

encontram discriminados os atores envolvidos no sistema remuneratório dos

prestadores de serviço.

Quadro 4 – Óbices na Remuneração dos Prestadores de Serviços de Saúde no Brasil.

Órgão Dificuldade SUS

Pratica preços defasados na remuneração dos prestadores de serviço.

Operadoras da Saúde Suplementar

Pratica o instituto da glosa para postergar, dificultar e atrasar os pagamentos.

Rede Hospitalar Privada Não possui custeamento de suas atividades Fonte: Pesquisa do autor, 2017.

Por conta disso, esses obstáculos detectados são o foco da próxima

abordagem deste trabalho, analisando-se como ocorre o conflito entre as fontes

pagadoras do sistema remuneratório da saúde suplementar no Brasil e o setor

hospitalar privado diante desses óbices.

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3 A REMUNERAÇÃO DO SETOR HOSPITALAR PRIVADO NO BRASIL

3.1 A remuneração hospitalar

O setor privado de saúde foi inserido nas previsões constitucionais, definindo-

se no art. 199 da CF/88, que:

Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.§ 1º -As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.§ 2º -É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições privadas com fins lucrativos.§ 3º -É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos em lei.§ 4º -A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização.

Por essa disposição ficou estabelecido que o setor privado passasse a ter

participação complementar ao SUS no país. Entretanto, Kaiuca e Simões (2016, p.

24) encontram que com: “[...] a Constituição Cidadã de 1988 e a criação do Sistema

Único de Saúde – SUS, os serviços de saúde (CF, art. 199, caput) foram elencados

dentre os serviços públicos sociais, sendo permitida a atuação por direito próprio dos

particulares”.

Neste sentido, em conformidade com as previsões constitucionais, o SUS

passou a ser formado pela atuação direta da administração pública, bem como

complementado através de serviços prestados por particulares, por via de contratos

administrativos e convênios e, ainda, suplementando pela atuação exclusivamente

voltada para o mercado privado, de empresas que prestam serviços de saúde com

intuito de resultado.

Observou-se, portanto, que com a edição da Lei Federal nº 8.080/90, deu-se a

regulamentação das previsões constitucionais, ao mesmo tempo que instituiu a Lei

Orgânica da Saúde, na qual ficou definido que o Sistema Único de Saúde (SUS) é o

conjunto de ações e serviços de saúde prestados por órgãos e instituições públicas,

explicitando que a iniciativa privada somente poderia participar em caráter

suplementar.

É o que consta no art. 24, da Lei Federal nº 8080/90, que traz a seguinte

previsão:

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Art. 24. Quando as suas disponibilidades forem insuficientes para garantir a cobertura assistencial à população de uma determinada área, o Sistema Único de Saúde (SUS) poderá recorrer aos serviços ofertados pela iniciativa privada. Parágrafo único. A participação complementar dos serviços privados será formalizada mediante contrato ou convênio, observadas, a respeito, as normas de direito público.

Assim sendo, em conformidade com as previsões do art. 199 da CF/88, o

diploma legal de 1998 regulamentou a determinação de que o setor privado passaria

a participar de forma complementar ao SUS.

Ainda com o disposto no art. 199 da CF/88, o sistema complementar de

assistência à saúde passou a ser definido como aquele que atua na rede privada,

sendo, pois, regulamentado pela Lei Federal nº 9.656/98, tratando sobre os planos e

seguros privados, as pessoas jurídicas de direito privado que explorariam este

mercado e que passaram a se sujeitar à regulação emanada da Agência Nacional de

Saúde Suplementar (ANS), que foi criada com a edição da Lei Federal nº 9.961/2000,

definida como autarquia em regime especial com vinculação ao Ministério da Saúde,

com a finalidade institucional de, conforme o seu art. 3º, “[...] promover a defesa do

interesse público na assistência suplementar à saúde, regulando as operadoras

setoriais, inclusive quanto às suas relações com prestadores e consumidores,

contribuindo para o desenvolvimento das ações de saúde no País”.

Assim, a ANS foi dotada de prerrogativa, poder/dever legal para regulação e

normatização do setor suplementar em todas as frentes contratuais das operadoras e

seguradoras, seja com o consumidor ou com o prestador de serviços de saúde. Além

do mais, esse diploma legal evidenciou instrumentos de intervenção direta do Estado

no sistema privado de assistência, alicerçado na relevância pública das ações e dos

serviços de saúde, como direito fundamental e, com o objetivo de criar mecanismos

para garantir o equilíbrio e a solvência econômica do mercado, bem como os direitos

dos consumidores de planos que são comercializados pelas operadoras (ZANETTI E

PEREIRA, 2016; LINHARES E MEURER, 2016).

Ao longo da primeira década dos anos 2000, os grandes desafios da ANS

passaram pelo desenvolvimento, aprimoramento e acompanhamento da qualidade e

eficiência do sistema suplementar de saúde e em sua capacidade de atuar como

agente catalisador da transformação necessária e desejada do setor. Entretanto,

observou-se que as regulações emanadas da agência, ao invés de promover o ajuste

e a harmonia entre os setores envolvidos, provocaram vários problemas que, desde

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então, não se conseguiu visualizar pacificação nas relações conflituosas entre as

operadoras e os prestadores de serviços (FIGUEIREDO E VECINA NETO, 2012).

Ocorre que, pelas previsões constitucionais, foram conferidas à iniciativa

privada atuar com liberdade na exploração da assistência à saúde, direito fundamental

de prestação estatal e sucessivo do direito à vida. Assim, pela legislação então

vigente, os serviços privados passaram legalmente a realizar atendimento público

gratuito para a população, desde que se sujeitassem às regras do SUS para tais fins,

e que o atendimento do SUS fosse exclusivamente remunerado por ele mesmo, não

sendo permitido nenhum tipo de complementação financeira por parte do paciente

(SALU, 2013; CENTA E MELLO, 2015; FIGUEIREDO E VECINA NETO. 2012).

A partir dessa função complementar, o setor privado tornou-se parceiro do

SUS, tendo em vista dados da Confederação Nacional de Saúde - CNS (2016), no

que concerne ao atendimento e assistência da rede médica hospitalar privada,

responsável pela disponibilização de leitos hospitalares e do atendimento de saúde

no país. Nesse sentido, os resultados alcançados pelas ações da rede hospitalar

privada passaram a ser de interesse público, tendo em vista contribuir diretamente

para a melhoria dos indicadores de saúde geral da população (SILVA, AZEVEDO E

SCHOSSLER, 2016).

A representatividade do setor privado está expressa nos dados do Cadastro

Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES/DATASUS), compreendendo dados

de dezembro de 2014 e outubro 2015, conforme expresso no quadro a seguir:

Quadro 5 – Estabelecimentos de Saúde no Brasil 2014/2015

Ano Estabelecimentos Públicos de Saúde

Estabelecimentos Privados de Saúde Total

2014 77.608 199.164 276.722 2015* 78.192 203.100 281.292

Fonte: Cadastro Nacional Estabelecimentos de Saúde (CNES/DATASUS) (BRASIL 2017). * Dados apurados até outubro/2015.

Pelos dados CNES/DATASUS, em 2014 estavam cadastrados 77.608

estabelecimentos públicos e 199.164 estabelecimentos privados, totalizando 276.722

estabelecimentos cadastrados (BRASIL, 2017).

Já em 2015, dados apurados até outubro de 2015, estavam cadastrados 78.192

estabelecimentos públicos e 203.100 privados, perfazendo um total de 281.292

estabelecimentos cadastrados (BRASIL, 2017).

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Para melhor visualização da realidade encontrada no cadastramento de

estabelecimentos públicos e privados da CNES/DATASUS, segue abaixo o gráfico

específico:

Gráfico 1 – Estabelecimentos de Saúde no Brasil (out/2015)

Fonte: CNES/DATASUS (BRASIL, 2017).

Pelo exposto, observa-se que os estabelecimentos públicos compreendem

28%, enquanto que o setor privado representa 72% dos estabelecimentos que se

encontram cadastrados no CNES/DATASUS, até outubro de 2015.

No que se refere as internações hospitalares, apurou-se no período

compreendido entre 2013 e 2017:

Quadro 6 – Internações Hospitalares do SUS em 2013/2017 (por regime)

Ano Hospitais Públicos Hospitais Privados Total

2013 5.641.457 5.555.703 11.197,160 2014 5.754.171 5.566.116 11.320.287 2015 4.974.773 6.402.943 11.377.716 2016 Não divulgado 11.291.010 11.291.010 2017* Não divulgado 4.547.236 4.547.236

Fonte: DATASUS (Brasil, 2017). * Dados apurados jan-maio, 2017.

As internações hospitalares dos pacientes do SUS no ano de 2015 totalizaram

em 11.377.716 internações, sendo 4.974.733 realizadas pelos hospitais públicos e

6.402.943 realizadas pelos hospitais privados, assim distribuídas em percentual:

28%

72%

PUBLICO PRIVADO

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Gráfico 2 – Internações Hospitalares do SUS no Brasil por Regime (2015)

Fonte: CNES/DATASUS (BRASIL, 2017).

Com o exposto tem-se a dimensão da participação do setor privado nas

internações do SUS, detectada pela crescente participação do setor nos dados

apurados (BRASIL, 2017).

Com relação aos recursos físicos hospitalares, concernente ao número de

leitos no Brasil disponíveis no período de maio de 2017, encontrou-se que:

Quadro 7 – Leitos de Internação por Tipo de Prestador (maio/2017)

Prestador Quantidade Percentual SUS 304.890 70%

Não SUS 133.651 30% Total 438.541 100%

Fonte: DATASUS (BRASIL, 2017).

Por esse resultado, observou-se que o setor público dispõe de 70% dos leitos

para internação, enquanto o setor privado compreende 30% dos leitos disponíveis

para atendimento público (BRASIL, 2017).

De acordo com informações disponibilizadas pela ANS, em maio de 2017

encontravam-se cadastradas 804 operadoras em atividades, destas 771 estavam

ativas, perfazendo um total de 47.364.049 de beneficiários que representam uma taxa

de cobertura de 24,42% da população brasileira (BRASIL, 2017).

43,72%

56,28%

Hospitais Públicos Hospitais Privados

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Com efeito, a participação da rede privada no sistema de saúde do Brasil é

referida por Linhares e Meurer (2016, p. 83), como “[...] o segmento privado de

assistência à saúde vem consolidando prestigio, posição econômica e padrão de

serviços especializados, contrastando, de um modo geral, com a qualidade das ações

e dos serviços de saúde oferecidos diretamente pelo Poder Público”. Por

consequência, a rede privada hospitalar passou a ser responsável pelas propostas de

universalização e gratuidade prevista constitucionalmente, encontrando dificuldades

nas suas relações tanto com o SUS, como com as operadoras, conforme mencionado

ao final do capítulo anterior.

Ocorre, porém, que na relação entre operadoras e prestadores de serviços de

saúde, deu-se a publicação da Lei Federal nº 9.656/98, que dispôs sobre os planos e

seguros privados de assistência à saúde, bem como sobre aqueles que possuem o

poder de contratar esta modalidade, trazendo a previsão da contratualização dos

serviços de saúde.

Destarte, a supradita norma explicitou no inciso III, do seu art. 1º, com a

redação dada pela Medida Provisória 2177-44/2001, que a modalidade contratual

envolvendo planos de saúde e a prestação de serviços dos estabelecimentos

hospitalares, compreende “[...] o conjunto de contratos de cobertura de custos

assistenciais ou de serviços de assistência à saúde em qualquer das modalidades de

que tratam o inciso I e o § 1o deste artigo, com todos os direitos e obrigações nele

contidos”.

A partir de então passou a ser compulsória a celebração de contrato na relação

entre as operadoras e os prestadores de serviços.

Diante disso, operadoras e prestadores de saúde foram levados a procederem

à lavratura de contratualização das suas relações, estabelecendo-se uma tabela

nacional de preços dos componentes da conta médico-hospitalar, especificamente de

materiais ou insumos descartáveis. Este contrato teria como base ou referência uma

tabela de terceiros de publicação nacional denominada Simpro Hospitalar (BRITTO,

2016; CHERNIGLIA, 2017).

Entretanto, certo período depois, as operadoras passaram a adotar tabela

própria, de origem desconhecida, e sempre à revelia dos prestadores de saúde que,

por sua vez, passaram a manifestar insatisfação quanto à forma adotada tanto pelas

prestadoras, como pelas regulações da agência (BRITTO, 2016; ZANETTI E

PEREIRA, 2016).

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Além do mais, há que se considerar uma variedade de tabelamento para os

serviços do setor de saúde, encontrando-se disponíveis na relação entre operadoras

e prestadores de serviços, as tabelas da Associação Médica Brasileira, denominada

de Tabela AMB 90, transformada posteriormente em Classificação Hierarquizada de

Honorários e Procedimentos Médicos (CBHPM), afora a constatação de outras

tabelas que se encontram disponíveis para outros serviços médico-hospitalares

(SALU, 2013).

Desse conflito, Zanetti e Pereira (2016, p. 59) expuseram o cenário de que:

[...] o setor continua sem contrato, porque os que foram efetivamente assinados representam, em sua esmagadora maioria, única e coagida vontade das operadoras de planos de saúde, e sem reajuste habitual, porque esse contrato, que não representa a manifestação de vontade das partes, contempla reajustes vis, que não se traduzem na necessidade de sobrevivência econômica de um setor empresarial.

Surgem, então, com esse fato, problemas que passaram a ser de natureza

jurídica, vez que os contratos são regulados por legislação própria, exigindo igualdade

entre as partes e preconizando a boa-fé entre ambos, com definição de regras e

procedimentos a serem atendidos. Esse, portanto, um dos problemas que exigem a

intervenção do Poder Judiciário para dirimir todas as questões atinentes à assinatura

contratual.

Para melhor entendimento do que ocorre na relação entre operadoras e

prestadores de serviços na área de saúde, faz-se necessário trazer à luz o sistema

modelar de remuneração adotada no Brasil e os resultados destas para o setor

hospitalar privado brasileiro.

3.2. As relações entre SUS, ANS, Operadoras e Prestadores de Serviços.

No Brasil há uma diversidade de metodologia de remuneração dos serviços de

saúde, observando-se de forma majoritária a utilização do Fee-for-service (FFS),

pacote e por procedimento, tornando-se o formato convencional de remuneração

hospitalar adotado.

O Fee-for-service (FFS), também identificado como conta aberta por unidade

de serviço, traz apresentação dos itens utilizados na internação dos pacientes são

discriminados na conta e analisados pelos profissionais contratados para efetuar o

processo de faturamento.

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Ocorre que nessa metodologia, os planos de saúde detêm equipe

especializada devidamente contratada para revisão das contas e discussão das

quantidades e valores cobrados, provocando desconforto para os prestadores de

serviço diante da recusa do pagamento cobrado, prática que levou a instituição da

glosa (CHERCHIGLIA, 2017; LINHARES E MEURER, 2016).

A remuneração por pacote avaliado pela CNS (2016) traz o predomínio da

precificação dos serviços em função dos valores financeiros médios das contas,

considerando a média dos preços praticados, independente da base técnica que

fundamenta o procedimento.

Já a remuneração por procedimento é uma forma de pagamento retrospectivo

em que o reembolso é efetuado de forma tradicional pela prestação de serviço quando

do ato médico, sendo este remunerado a cada consulta e procedimento adotado

(CHERCHIGLIA, 2017; LINHARES E MEURER, 2016).

Há que se observar que a relação entre o SUS e os prestadores de serviços de

saúde tem sido conflituosa, devido aos baixos valores praticados pelo SUS, fato pelo

qual a rede hospitalar privada tem se ressentido de necessário reajustamento.

A esse respeito, Souza, Pinheiro e Andreazzi (2016, p. 56) assinalam que:

[...] o orçamento do SUS considera o montante de R$ 25,00 por pessoa, valor que é dez vezes menos ao que é destinado pelos sistemas de saúde de países desenvolvidos, além de se encontrar abaixo de mensalidades cobradas por qualquer plano de saúde.

Dessa forma, tem-se considerado uma série de reclamos do setor privado, no

sentido de que os valores praticados com o SUS não atendem aos custos pela

prestação do serviço.

Tal fato levou Pompeu (2016, p. 63) a expressar que o Ministério da Saúde

vincula hospitais da rede privada, sejam eles com ou sem fins lucrativos, e que ao ter

por base uma tabela que não tem sido corrigida há anos, constata-se que “[...] O valor

total das AIHs pagas pelo SUS revela algumas distorções”.

Essas distorções são vistas por Médici (2012, p. 71) como situação conflituosa,

vez que “[...] Os hospitais, por sua vez, buscam não somente atender aos requisitos

de maximização de seus retornos econômicos [...], porém, esbarram na baixa

remuneração do SUS que inviabiliza a prestação de serviço”. Essas distorções e

imperfeições provocam situações embaraçosas para a rede hospitalar privada, tendo

em vista que o SUS adota sistemas de remuneração por procedimento, fixando o

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preço-sombra (tarifa) dos serviços comprados dos hospitais, remunerando-os, em

média, abaixo do custo unitário do produto (MÉDICI, 2012).

Por consequência, tem-se constatado que a rede hospitalar privada não está

encontrando saída para sua manutenção no mercado e diante da negativa de

atualização de preços, vai progressivamente abandonando o SUS e passando a atuar

nos mercados de planos privados de saúde ou de empresas. Neste cenário, todavia,

os de pequeno e médio porte tentam sobreviver recebendo os recursos do SUS e

compensando suas perdas, com a venda de serviços aos planos de saúde, empresas

e particulares. Tal fato tem levado ao fechamento de hospitais privados de pequeno e

médio porte, inclusive filantrópicos, sendo substituída progressivamente por unidades

públicas do SUS. Dessa forma, tem-se considerado uma série de reclamos do setor

privado, no sentido de que os valores praticados pelo SUS não atendem aos custos

pela prestação do serviço (MÉDICI, 2012; AMORIM, 2006).

No que concerne às relações entre as operadoras e prestadores de serviços, a

ANS procurou harmonizar com a edição de medidas para o setor. Para tanto, deu-se,

então, a edição do Decreto nº 6.170/2007, que dispôs sobre as normas relativas às

transferências de recursos da União, mediante convênios e contratos de repasse, com

a tentativa de minimizar os problemas do setor.

Regulamentando o Decreto em comento, foi editada a Portaria Interministerial

nº 507/2011, estabelecendo normas para execução das disposições legais,

revogando a Portaria Interministerial nº 127/MP/MF/CGU, de 29 de maio de 2008.

Com efeito, foi publicada a Instrução Normativa da Diretoria de Normas e

Habilitação dos Produtos – IN/DIPRO nº 43, de 05 de junho de 2013, estabelecendo

o formato XML como padrão para o envio eletrônico de informações relacionadas às

seguintes alterações da rede de prestadores: cadastramento de prestadores de

serviços hospitalares e não hospitalares, na rede assistencial da operadora;

vinculação de prestadores de serviços hospitalares na rede assistencial dos produtos;

vinculação de prestadores de serviços (hospitalares ou não hospitalares) que

ofereçam o serviço de urgência e emergência na rede assistencial dos produtos;

exclusão da rede assistencial da operadora de prestadores de serviços que não

estejam vinculados à rede assistencial de produto; e alteração dos dados cadastrais

dos prestadores de serviço.

Em seguida, deu-se a edição da Lei Federal nº 13.003/2014 que alterou a Lei

Federal nº no 9.656/98, passando a dispor sobre os planos e seguros privados de

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assistência à saúde, com a redação dada pela Medida Provisória no 2.177-44, de 24

de agosto de 2001, para tornar obrigatória a existência de contratos escritos entre as

operadoras e seus prestadores de serviços.

A edição desse diploma legal instituiu a obrigatoriedade da contratualização

entre operadoras e prestadores de serviço, procurando reequilibrar a relação, criando

assimetria de forças e um ambiente propício às negociações que permitisse a

evolução do setor (ZANETTI E PEREIRA, 2016).

Em seguida, deu-se a edição da Lei Federal nº 13.019/2014, estabelecendo o

regime jurídico das parcerias voluntárias, envolvendo ou não transferências de

recursos financeiros entre a administração pública e as organizações da sociedade

civil, em regime de mútua cooperação, para a consecução de finalidades de interesse

público, além de definir as diretrizes para a política de fomento e de colaboração com

organizações da sociedade civil, instituindo o termo de colaboração e o termo de

fomento, alterando por fim, as Leis Federais nº 8.429/92 e 9.790/99, respectivamente.

Em relação à remuneração hospitalar no Sistema Suplementar de Assistência

Médica (SSAM), o qual é de natureza privada, encontra-se em vigor a Resolução

Normativa (RN) nº 363/2014, da Agência Nacional de Saúde (ANS), a qual dispõe

sobre as regras para celebração dos contratos firmados entre as operadoras de

planos de assistência à saúde e os prestadores de atenção à saúde, definindo tabela

de preços de diárias, taxas, pacotes e kits, taxas de salas e de procedimentos de

profissionais assistenciais, usam de equipamentos, consumo de gases medicinais,

serviços especiais, entre outros (BRASIL, 2017).

Com a edição da Resolução Normativa – RN 364 da ANS, de 11 de dezembro

de 2014, ficou definido o índice de reajuste pela ANS a ser aplicado pelas operadoras

de planos de assistência à saúde aos seus prestadores de serviços de atenção, em

situações específicas. O objetivo dessa Resolução era pacificar as conflituosas

relações entre as operadoras e os prestadores de serviço no tocante ao índice de

reajuste de preços praticados. Além da RN em referência, também ocorreu a edição

da Instrução Normativa – IN 61/2015 pela ANS, instituindo, assim, novas regras para

os reajustes contratuais entre operadoras e prestadores de serviços de saúde,

propondo utilização de programas de acreditação, indicadores e programas de

indução e melhoria da qualidade, como parâmetros para aplicação do Fator de

Qualidade para os reajustes contratuais. Com estas determinações, passou a

utilização de base de cálculo pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo

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(IPCA) a ser aplicado nos reajustes, considerando distinção entre estabelecimentos

com e sem acreditação (BRASIL, 2017; ANAHP, 2016).

Já com a Resolução Normativa – RN 365, de 11 de dezembro de 2014, da ANS,

foi estabelecida a substituição de prestadores de serviços, no caso de não haver

entendimento entre operadoras e prestadores, procurando viabilizar o acesso da

população aos serviços de saúde, definido em seu art. 3º:

Art. 3º É facultada a substituição de prestadores de serviços de atenção à saúde não hospitalares, desde que por outro equivalente e mediante comunicação aos beneficiários com 30 (trinta) dias de antecedência. § 1º A operadora poderá indicar estabelecimento para substituição já pertencente a sua rede de atendimento desde que comprovado, através de aditivo contratual, que houve aumento da capacidade de atendimento correspondente aos serviços que estão sendo excluídos. § 2º O disposto no caput se aplica às pessoas físicas ou jurídicas, independentemente de sua condição como contratados, referenciados ou credenciados. § 3º A substituição deve observar a legislação da saúde suplementar, em especial, no que se refere ao cumprimento dos prazos de atendimento e à garantia das coberturas previstas nos contratos dos beneficiários. § 4º A operadora é responsável por toda a rede de prestadores oferecida aos seus beneficiários, independentemente da forma de contratação ser direta ou indireta.

A medida ampliou os desencontros e conflitos entre operadores e prestadores

de serviços, tendo em vista os reclamos de que os primeiros tiveram ampliação dos

seus privilégios em detrimento dos segundos.

Assim, como no setor persistiam os problemas, foi editada a Lei Federal nº

13.204/2015, alterando a Lei Federal nº 13.019/2014, estabelecendo o regime jurídico

das parcerias voluntárias, tornando-se, com isso, o marco regulatório das regras sobre

as parcerias entre a administração pública e as organizações da sociedade civil, para

consecução de finalidades de interesse público e recíproco, mediante a execução de

atividades ou de projetos previamente estabelecidos em planos de trabalho inseridos

em termos de colaboração, fomento ou acordos de cooperação.

É nesse ínterim que se pronunciam os debates acerca dos reajustes sob a

vigência da Instrução Normativa 49/2012, que regulava os critérios para tal com o

disposto no seu art. 4º, o que, nessa discussão Sawaya (2015, p. 238) chamou a

atenção para fato de que a correção monetária na saúde:

[...] possui importante papel, seja para evitar o empobrecimento de fornecedores de bens e serviços, seja para manter a qualidade dos serviços prestados, seja como forma de justiça à manutenção de um sistema custeado por toda a sociedade, o qual deve ser o mais equânime possível.

Em 2015, a Associação Nacional dos Hospitais Privados (ANAHP) catalogou a

edição de novas regras para os reajustes contratuais entre operadoras e prestadoras

de serviço de saúde, quando a ANS instituiu a Instrução Normativa nº 61/2015,

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propondo a utilização de programas de acreditação estabelecidos, bem como

indicadores e programas de indução e melhoria da qualidade como parâmetros para

aplicação do Fator de Qualidade para os reajustes contratuais.

As normas passaram a ter vigência em 2016, tendo sido definida a base de

cálculo pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), pela ANS.

Enquanto isso, foi editada a Resolução Normativa nº 363/2015, da ANS, que

passou a dispor sobre as regras para celebração dos contratos escritos firmados entre

as operadoras de planos de assistência à saúde e os prestadores de serviços de

atenção à saúde, alterando a RN 49/2012, da ANS (SAWAYA, 2015).

Com a edição do Decreto Federal nº 8.915/2016, foi alterada a vigência dos

convênios e dos contratos de repasse, com execução de objeto iniciada, celebrados

entre os órgãos e as entidades da administração pública federal com os órgãos e as

entidades da administração pública municipal.

Em seguida o Decreto Federal nº 8.493/2016 alterou o disposto no Decreto

Federal nº 6.170/2007, dispondo sobre as normas relativas às transferências de

recursos da União, mediante convênios e contratos de repasse.

Por consequência, foi editada a Portaria Interministerial nº 424/2016, que

passou a estabelecer as normas para execução do previsto no Decreto Federal nº

6.170/2007, dispondo sobre as normas relativas às transferências de recursos da

União mediante convênios e contratos de repasse, além de revogar a Portaria

Interministerial nº 507/MP/MF/CGU/2011.

Observou-se que diante desses conflitos, a ANS procurou publicar normativos

e regramentos na relação entre operadoras e prestadores de serviços, que Zanetti e

Pereira (2016) avaliaram como ineficazes.

Pelo exposto, observou-se que o setor privado de saúde, compreendido pelas

operadoras e prestadores de serviço, vem historicamente enfrentando problemas,

exigindo com isso a publicação de diversos diplomas legais para solução, enquanto

vão se acumulando os conflitos.

Um dos motivos mais conflituosos nessa relação é a adoção do instituto da

glosa, pelo qual as operadoras, no ato de recepção das contas a serem pagas,

detectam divergência entre os valores cobrados e os procedimentos anotados, ou de

qualquer outra natureza, suspendendo imediatamente o respectivo pagamento

(BRITTO, 2016).

Com relação ao instituto da glosa, Britto (2016, p; 263) denuncia que:

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As operadoras inovam no quesito glosa. Criam novas modalidades de críticas impedindo o correto faturamento. O processo é demasiado perverso. [...] o que deveria ser um instrumento de equilíbrio do mercado, as glosas, tornou-se o mais importante fator de desequilíbrio no relacionamento das operadoras com as unidades de saúde. Utilizado como regra, estabelece privilégios do mais forte sobre o mais fraco.

E acrescenta:

O instituto da glosa existe em todas as unidades de saúde do território brasileiro. Atinge desde as menores unidades do interior do nosso país aos maiores hospitais brasileiros. É utilizado por todas as operadoras, desde as menores, de abrangência local, às maiores, de contexto nacional (BRITTO, 2016, p. 265).

Observa-se, portanto, que a relação entre operadoras e prestadores de serviço

é mantida, aparentemente e de certa forma conformadas, em razão da preservação

de antigos contratos celebrados e que se encontram vigentes em face da possibilidade

de substituição do prestador que não atenda aos requisitos previstos em Lei.

É o que tem levantado Linhares e Meurer (2016, p. 85) diante da realidade

encontrada:

[...] os estabelecimentos prestadores de serviços passaram a ter as operadoras como suas principais fontes de receitas, acompanhando o exponencial crescimento do sistema de saúde complementar em relação ao sistema público. Portanto, a relação entre as operadoras e sua rede credenciada deveria ser de simbiose, com a finalidade de colocar à disposição dos beneficiários um serviço eficaz e eficiente que, há muito, deixou de ser ofertado pelo sistema público. Ocorre que após consolidarem sua posição no mercado, algumas operadoras passaram a impor aos seus prestadores uma verdadeira relação de subordinação, sustentada pela dependência financeira desses ao contrato firmado. Em tal cenário, ante a necessidade de manutenção do serviço, os estabelecimentos prestadores acabam sendo coagidos a aceitar cláusulas e condições contratuais desfavoráveis, sob a ameaça de terem o seu vínculo contratual sumariamente resilido e, consequentemente, suprimida parcela do seu faturamento, o que, por vezes, inviabiliza a continuidade do negócio.

Nos posicionamentos dicotômicos entre operadoras e prestadores de serviços,

cada qual apresenta um elenco de justificativas para permanecerem irredutíveis nos

processos de negociações. As operadoras alegam o aumento de sinistralidade

impactando nos seus resultados, influenciando sobremodo na operação e negociação,

tendo, por isso, optado pela remuneração por produção, porém com a preocupação

relativa ao controle do preço dos serviços médicos, tendo em vista a influência que

essa remuneração possui nos custos e com a consequente competitividade no

mercado. Constatou-se, também que a maioria das operadoras utiliza a tabela da

AMB como remuneração médica (LINHARES E MEURER, 2016; MÉDICI, 2012).

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Tem-se observado que as operadoras têm procurado reduzir suas despesas

básicas ao forçar os prestadores de serviços a negociações baseadas apenas na

precificação, procurando, com isso, meios para aplicação rotineira das glosas,

detectando-se, inclusive, metas de glosas a serem cumpridas pelos setores de

auditoria (SOUZA, PINHEIRO &ANDREAZZI, 2016).

Acontece que durante essas discussões, a ANS (2017) organizou um grupo de

trabalho iniciado em outubro de 2012, elaborando propostas para sistemáticas de

remuneração hospitalar, adotando o modelo de procedimentos gerenciados.

Essa proposta estudada pela ANS (2017) reuniu diversas entidades do setor

privado, como a Confederação Nacional de Saúde (CNS), Federação Brasileira de

Hospitais (FBH), Federação Nacional de Saúde Suplementar (FENSASAÚDE),

Associação Brasileira de Medicina de Grupo (ABRAMGE), a Associação Nacional dos

Hospitais Privados (ANAHP), Confederação das Santas Casas de Misericórdia,

Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB), entre outras, no sentido de adotar novos

modelos de remuneração dos atendimentos com utilização de boas práticas de

gestão, tanto nos hospitais quanto nos planos de saúde.

O modelo denominado Procedimento Gerenciado é definido pela ANS (2017,

p. 5) como sendo o:

[...] conjunto de ações assistenciais e administrativas necessárias e suficientes para a realização integral de procedimentos cirúrgicos, contemplando recursos humanos, instalações físicas, equipamentos, instrumentos e materiais de insumo, inerentes ao processo assistencial.

Importante destacar que a instituição reguladora supradita elencou como

vantagens desse modelo de contratação ser considerado um modelo que tem como

premissa a gestão da assistência, estimulando previsibilidade de custos,

racionalização de recursos, envolvimento dos fornecedores de insumos, participação

e contribuição das equipes médicas, posição para qualidade e resultados nos serviços

prestados; segurança assistencial do paciente; reconhecimento dos resultados e da

qualidade dos prestadores de serviços; agilidade das autorizações, faturamento e

cobrança pelo prestador; diminuição das divergências e dos conflitos de auditoria que

passam a ser sobre a pertinência do procedimento, da análise de risco do paciente e

da necessidade de saída do Procedimento Gerenciado ou não; discussão prévia sobre

a inclusão de novas tecnologias, medicamentos e materiais; manutenção do equilíbrio

econômico-financeiro com revisões sistemáticas prévias e periódicas dos

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procedimentos, contemplando critérios de reajustes, os quais devem ser livremente

negociados entre as partes (critérios x livre negociação).

Dessa forma, a ANS (2017) passou a defender que esse modelo proporcionaria

previsibilidade com relação ao preço, promovendo a racionalização, controle e

garantia de custos adequados, com o objetivo de aumentar a eficiência do sistema,

estabelecendo uma mudança cultural na qual se substitui a precificação dos serviços

médicos baseada na simples relação das despesas incorridas pela identificação de

valor agregado aos serviços médicos oferecidos. Por consequência, possibilitaria a

agilidade dos processos de autorização, faturamento e cobrança, permitindo a

diminuição de glosas e divergências entre as partes envolvidas.

A elaboração desse modelo pela ANS (2017) teve embasamento no

protocolo/gabarito técnico que possui um elenco de itens, como a elegibilidade dos

pacientes para a realização do referido procedimento, baseados em critérios próprios

do hospital, validados por seu corpo clínico, ou em diretrizes das sociedades médicas;

recursos necessários para o tratamento do paciente durante seu período de

internação; indicação das intercorrências mais frequentes para o procedimento, que

caracterizariam a mudança na forma de cobrança da internação, parcial ou total, de

Procedimento Gerenciado para Conta Aberta Aprimorada. Esse protocolo funciona

como uma espécie de roteiro com a relação dos materiais, exames e recursos

utilizados no atendimento ao paciente.

Por isso, observa-se que o modelo só pode ser elaborado com a definição

prévia das ações médicas, de enfermagem e administrativas, aplicáveis na realização

de todo o processo, levando-se em conta o histórico de pacientes com casos clínicos

semelhantes que efetuaram o tratamento com base no protocolo acordado com a

operadora de plano de saúde. Tal condução permite que com o acordo relativo aos

aspectos técnicos, pode haver elaboração de versos dos procedimentos que

contemplem aspectos não técnicos, a exemplo do padrão de acomodação, de

serviços adicionais, entre outros (ANS, 2017).

Nesse modelo proposto é menor o peso administrativo, tendo em vista que os

itens da internação dos serviços médicos, de enfermagem, administrativos e recursos

físicos são agrupados e cobrados na condição de item único na conta hospitalar. Com

isso, o modelo objetiva o oferecimento de produtos completos por parte dos hospitais

aos planos de saúde. Dessa forma, esse modelo traz a exigência de qualificação dos

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processos de trabalho e modelo de gestão de hospitais e operadoras, por ter foco na

melhoria da assistência e atendimento (ANS, 2017; RIBEIRO, 2017).

Observa-se, portanto, que o Procedimento Gerenciado é fundamentado por

meio de protocolos, diretrizes clínicas e consenso dos especialistas que compõem o

corpo clínico do hospital. A partir disso é que são apurados os custos e precificados

os serviços que serão negociados com as operadoras, considerando primeiro a

fundamentação técnica para apurar os custos relacionados e calcular o preço (ANS,

2017; RIBEIRO, 2017).

Em 2016, essa proposta passou a ser desenvolvida por meio de um plano

piloto. Por esse modelo estabeleceu-se um preço global concentrando itens que

compõem o procedimento, visando agilizar e racionalizar a operacionalização da

cobrança e do pagamento. Ocasião essa em que a ANS também implantou o sistema

de Troca de Informações na Saúde Suplementar (TISS), com o objetivo de formar uma

base de dados, tendo, porém, uso restrito (ANS, 2017; SOUZA, PINHEIRO

&ANDREAZZI, 2016; RIBEIRO, 2017).

Enquanto isso, os prestadores de serviços passaram a investir na melhoria do

atendimento, embasando sua receita nos insumos e não nos serviços assistenciais,

fato que vem tornando o modelo de conta aberta aprimorada, proposto pela ANS,

inócuo na minimização de problemas para o setor (SOUZA, PINHEIRO, ANDREAZZI,

2016).

Dessa forma, o modelo adotado pela ANS não tem obtido resultado aparente,

excetuando-se o processo de padronização procedido na composição de algumas

diárias e taxas já praticadas por outros convênios, merecendo, por isso, atenção de

todas as partes envolvidas (SOUZA, PINHEIRO, ANDREAZZI, 2016).

4. PERSPECTIVAS REMUNERATÓRIAS DO SETOR HOSPITALAR PRIVADO

4.1 Considerações

O setor de saúde é embasado por princípios que compreendem aspectos

técnicos e políticos.

Os aspectos técnicos compreendem a prestação de serviços eficientes e

eficazes que exigem da organização hospitalar privada competência e estrutura que

legitimem a capacidade no atendimento da demanda, garantindo o acesso do cidadão

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aos serviços de saúde, bem como gestão que possibilite o conhecimento e respectiva

minimização dos custos e otimização dos resultados.

Os aspectos políticos se encontram na plataforma de legislações que

regulamentam as previsões constitucionais, por meio de diplomas legais e

normatizações estabelecidas pelos órgãos do Poder Público, na garantia do acesso

dos cidadãos brasileiros, no cumprimento das regras estabelecidas para o

desenvolvimento de suas atividades e no grau de transparência dos procedimentos

dos prestadores e das fontes pagadoras de assistência à saúde.

A partir de então, observa-se que os problemas referentes à remuneração dos

atendimentos realizados pelos prestadores de serviços, especificamente da rede

hospitalar privada, objeto do presente estudo, têm se mostrado sob diversas faces e

diferentes conduções.

O primeiro dos problemas detectados está na política de preços praticada pelo

SUS, praticando preços engessados por décadas e que, por isso, são insatisfatórios

para cobertura dos insumos, provocando dificuldades de gestão no setor (SILVA,

AZEVEDO E SCHOSSLER, 2016).

O segundo deles é a prática do instituto da glosa nas relações financeiras entre

as operadoras e os prestadores de serviços na saúde suplementar, sem que a ANS

atue de forma eficaz nesse sentido.

Além do mais, o setor privado da saúde suplementar tem enfrentado distorções

que vão desde reajuste por readequação inflacionária, desvio nas condições de

acesso e rescisões contratuais, negativas ou exclusões não justificadas de coberturas

de procedimento, descredenciamento de recursos prestadores ou insuficiência na

oferta dos serviços, entre outras, todas tornando mais aguda a relação entre

operadoras e prestadores de serviço, bem como causando problema ao acesso do

consumidor ao sistema (FIGUEIREDO, VECINA NETO, 2012)

Por sua vez, as operadoras de saúde suplementar, embasadas nas

normatizações da ANS, ditam as regras, inclusive, com o favorecimento de

substituição de prestadores, caso não atendam às exigências estipuladas pela

agência que favorecem unicamente os seus interesses. Assim, obstam pagamentos

por meio da instituição da glosa, que inviabiliza completamente a recepção de valores

devidos aos prestadores. Se nessa relação ocorre litígio entre as partes, a operadora

substitui imediatamente, com amparo legal, o prestador de serviço, deixando o

creditado na situação de recorrer ao Judiciário para resolver o impasse, o que

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demanda tempo e, por consequência, o seu descredenciamento, ou a opção de

acordo acumulando perdas, tendo em vista que a rede hospitalar privada, lucrativa e

filantrópica, tem dependido do financiamento das operadoras (MÉDICI, 2012;

FIGUEIREDO E VECINA NETO, 2012; SILVA, AZEVEDO E SCHOSSLER, 2016).

Ocorre, porém, que toda relação contratual na legislação brasileira é regida

pelo princípio da boa-fé que, por sua vez, compreende a fidelidade e cooperação nas

relações contratuais, pelo qual cada contratante deve fazer o ajustamento de sua

conduta ao arquétipo social vigente, respeitando-se os interesses legítimos, os direitos

e expectativas legítimas, visando o cumprimento da obrigação acertada entre as

partes (VENOSA, 2007; CAVALIERI FILHO, 2010; DINIZ, 2010).

A construção do contrato deve obedecer a conteúdo mínimo, segundo a

legislação que o instituiu, a saber, a descrição do contexto macroeconômico em que

os contratantes operam e os cenários previstos para sua atenção futura; diagnóstico

empresarial, no qual se analisa a capacidade do setor cumprir determinado papel

social. Igualmente devem ser identificados os principais problemas de dificuldades

enfrentados, listando-se séries históricas de seus principais indicadores operacionais

e econômicos financeiros; e determinação das partes contratantes (VENOSA, 2007;

CAVALIERI FILHO, 2010; DINIZ, 2010).

Por essa convenção jurídica, os contratantes garantem a integridade dos

direitos e bens na relação mútua entre ambos, servidos pela equidade, razoabilidade,

cooperação nos consensos nas cláusulas estipuladas e abertas, tudo em nome da

harmonia e equilíbrio pela igualdade das partes (STOCO, 2007; DIAS, 2006; COUTO

FILHO e SOUZA, 2008).

O instituto da glosa incide na relação entre as operadoras e prestadores de

serviço como distorção de propósitos e custos da desconfiança, que tem levado o

setor a uma relação conflituosa e baseada na precificação, forçando negociações

extras para revisão e redução das despesas básicas (SOUZA, PINHEIRO e

ANDEAZZI, 2016).

Com a prática incisiva de atribuição do instituto da glosa por parte das

operadoras em toda e qualquer apresentação das despesas hospitalares privada,

pressupõe a quebra da confiança e adoção da perspectiva da má fé diante da relação

entre as operadoras e prestadoras de serviços, condução que fere o complexo jurídico

do princípio da boa-fé nas relações contratuais (GREGORI, 2011; CECHIN e BADIA,

2008).

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Dessa forma, todo e qualquer modelo de remuneração adotado torna-se

prejudicial, causando transtornos, constrangimentos e todo tipo de dispêndio para

negociações que passaram a ser pautadas na desconfiança.

A ANAHP (2016, p. 10) diante desse quadro, manifestou-se no sentido de que

“[...] O modelo de remuneração atual possui uma lógica que privilegia uma relação de

custo-benefício perversa. Essa realidade precisa ser vista. Melhorar a qualidade e a

eficiência hospitalar, responsáveis por cerca de 50% das despesas, são medidas

urgentes”.

Visualiza-se, com isso, um impasse que tem acarretado o fechamento das

atividades de prestadores de serviço de pequeno e médio porte, ampliando o nível de

descontentamento e de discussões, no sentido de se encontrar uma saída.

Além do mais, detectou-se que o impasse se encontra na pulverização dos

prestadores que atuam sem considerar consensualmente as questões corporativas

na defesa dos seus interesses, enquanto que as operadoras estão acomodadas no

modelo FFS demonstrando que não estão dispostas a correr riscos com a mudança.

Todavia, torna-se evidente que o processo de mudança do modelo de

remuneração é consensual e convergente diante dos conflitos existentes entre os

envolvidos, desde que a modelagem adotada seja devidamente adequada para as

partes e que possua regras claras para funcionamento e padronização dos insumos e

processos na formulação de preços (RIBEIRO, 2017).

4.2 Proposta de custeamento

Visualizou-se durante a realização do presente estudo que o problema da

remuneração e sustentabilidade do setor hospitalar privado para garantia do acesso

a todo cidadão brasileiro, passa pela gestão dos custos que tem sido o principal óbice

organizacional do setor (MATOS, 2005).

A prestação dos serviços eficientes e eficazes exige da organização hospitalar

privada a superação dos óbices de custeio na adoção de uma modelagem que atenda

às suas exigências e as governamentais, das operadoras e dos pacientes.

Por essa razão, a adoção de um modelo de custeio se faz necessário, tendo

em vista que os problemas estão sempre ligados aos resultados dos processos, ou

seja, aos produtos ou serviços ofertados.

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Surge, então, a necessidade de dedicar esforços particulares à gestão da

qualidade, especialmente em projetos de certa importância, com a observância de

custos minimizados para maximização dos resultados (MATOS, 2005; NASCIMENTO,

2008; PERILLO e AMORIM, 2011).

Na organização hospitalar, devido sua complexidade e envolvimento

multiprofissional, muitas atividades geram custos que não são possíveis conhecer de

antemão, com precisão. Por isso, convém verificar as zonas de incerteza, e tentar

prever os custos, a cada momento, se possível em termos de probabilidade. Esta

previsão, de caráter contínuo, consiste essencialmente em conseguir informação

atualizada dos custos reais; comparar esses custos com os planos/objetivos; estimar

os custos finais; e efetuar as correções necessárias (MATOS, 2005).

Com base nessas considerações é possível estabelecer a seguinte sequência

de ações: identificar todos os conceitos que geram custos (materiais, equipamentos,

mão-de-obra, seguros, penalizações, etc.); estimar as incertezas (com respeito às

previsões) de cada conceito gerador de custos, sem ser otimista. Expressar estas

incertezas em termos de probabilidade; determinar qual informação sobre custos é

realmente necessária e como se deve obtê-la; prever o custo final do processo,

levando-se em conta as incertezas, desde agora até o término do serviço; comparar

esse custo previsto com o planejado, e informar, aos participantes, o melhor possível;

tomar medidas adequadas, caso existam grandes discrepâncias entre os dois valores;

comprovar se essas medidas podem ser tomadas sem afetar a qualidade planejada;

e retroação da informação com repetição do ciclo de forma regular, em datas

predeterminadas (MATOS, 2005).

É nesse sentido que, como primeiro passo, sugere-se a adoção do modelo

departamentalizado, ou seja, avaliação contábil de custeio por departamentalização,

uma vez que se trata de um critério bastante eficaz no sentido de se obter uma ativa

racionalização na distribuição, por exemplo, dos custos indiretos. Tal modelo implica

que cada departamento organizacional pode se dividir e subdividir em mais de um

centro de custos a partir da produção e dos serviços realizados.

Tendo em vista que uma unidade hospitalar está organizada nas mais diversas

áreas e departamentos para os respectivos atendimentos, possuindo por sua vez duas

categorias departamentais identificadas como sendo produtivas e não produtivas ou

de apoio, um modelo de custeamento departamentalizado possibilitará o controle

custo/paciente, determinando os custos totais (MARTINS, 2001; MARTINS, 2003).

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Os departamentos produtivos envolvem aqueles que são geradores de

receitais, a exemplo de UTI, Radiologia, Centro Cirúrgico, Ambulatório, Emergência

entre outros. Já os departamentos de apoio são aqueles em que geralmente os

pacientes não passam e que não geram receitas, tais como: farmácia, nutrição,

manutenção, limpeza e administração (MARTINS, 2001; MARTINS, 2003).

Tem-se, portanto, que a departamentalização hospitalar possui importância

significativa na determinação do custeamento, notadamente aqueles que geram

custos por paciente, dos procedimentos médicos e efetivo controle dos custos

organizacionais em geral. Tal entendimento é devido ao trânsito de paciente pelos

departamentos da produção médica na utilização de medicamentos, materiais, salas,

entre outros (MARTINS, 2001).

Assim sendo, o modelo de departamentalização dos custos está baseado na

perspectiva de se evitar uma super ou subavaliação, bem como as distorções durante

a avaliação e apuração dos custos e, também, porque neste tipo de sistema o

desempenho da unidade passa a ser analisado sob a comparação entre os setores

produtivos, satisfazendo assim às metas e objetivos estabelecidos no processo de

gestão organizacional, ao mesmo tempo em que inclui mão-de-obra direta, gastos

diretos, encargos, dentre outros, eliminando o problema com a preocupação cotidiana

e garantindo, permanentemente, a disponibilidade de atuação de toda estrutura

departamental (MARTINS, 2001; MARTINS, 2003).

Visualiza-se, portanto, que o modelo de custeio departamentalizado possibilita

melhor atendimento às necessidades da organização hospitalar, multiprofissional que

é, carecendo cada vez mais de um detalhamento de suas atividades para evitar

distorções orçamentárias e de custeio.

Após a adoção do primeiro passo, com o modelo departamentalizado de

custeamento, surge a oportunidade de eleição e elaboração dos protocolos

necessários que envolvam todas as atividades, procedimentos e recursos

desenvolvidos na organização hospitalar.

A confecção de protocolos permitirá o conhecimento geral de todas as

atividades, procedimentos e recursos utilizados e que geram custos no contexto

organizacional, possibilitando, com isso, o estabelecimento de mais um passo em

direção a um modelo de custeio identificado com o complexo organizacional pautado

nos procedimentos.

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A adoção do segundo passo é a articulação dos procedimentos de todas as

atividades e recursos adotados na complexa organização hospitalar pelo

envolvimento multiprofissional em suas atividades ao custeamento

departamentalizado, possibilitando a capacidade de satisfatoriamente responder as

exigências de qualidade, equilíbrio e sustentabilidade organizacionais (MATOS, 2005;

LAY, LOBATO, 2017).

A adoção do modelo departamentalizado possui a representação conceitual de

acumulação de custeio, consistindo de acumulação e apuração de custos relativos à

assistência prestada, possibilitando o estabelecimento de uma interconexão entre as

mais diversas atividades e procedimentos multiprofissionais da organização

hospitalar, por meio de uma composição monetária e física de cada procedimento

adotado nas atividades e permitindo a avaliação dos resultados por meio dos serviços

e suas remunerações. (MATOS, 2005; LAY, LOBATO, 2017)

Por se tratar de um método de acumulação de custeio, esse modelo apura de

cada procedimento prestado o seu custo, facilitando a avaliação do desempenho e

melhor compreensão acerca da eficiência e eficácia dos serviços prestados e os

custos que incidirão sobre esses serviços (LAY, LOBATO, 2017).

Tem-se, por consequência, um custo padrão que compreenderá os parâmetros

tanto qualitativos como quantitativos, desde o número de diárias, exames, cirurgias,

procedimentos, medicamentos, entre outros, com o seu respectivo valor

correspondente, tornando-se uma referência aos gastos ocorridos nas mais diferentes

seções e dependências organizacionais (LAY, LOBATO, 2017).

Esse modelo departamentalizado possibilitará a definição da remuneração por

procedimento em cada um dos diversos departamentos organizacionais,

compreendendo método retrospectivo com o reembolso tradicional quando da

prestação de serviço que envolve atos médicos, ambulatoriais, enfermagem, entre

outros (CHERCHIGLIA, 2017).

Articulando-se o exposto, com o primeiro passo na adoção do modelo de

custeamento departamentalizado para identificação dos protocolos que envolverão

todas as atividades da organização hospitalar, formado os conjuntos protocolares,

procede-se ao passo que compreende a adoção do custeio por procedimento, para,

assim, com os conjuntos protocolares com os devidos procedimentos indexados,

formatar o que se pode denominar de Modelo de Remuneração por Protocolo e

Custeio (RPC).

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O modelo de Remuneração por Protocolo e Custeio (RPC) compreende,

portanto, o levantamento e a configuração de cada procedimento articulado num

conjunto protocolar, para possibilitar um sistema de remuneração que contemple o

custeio de todas as diversas atividades da organização hospitalar.

Diante do exposto, passa-se para as considerações finais do presente trabalho.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O acesso aos serviços de saúde no Brasil é um tema em constante debate

tanto pela importância para o cidadão como pela multiplicidade de interesses

associados à prestação desses. É característico dos sistemas de saúde que os

pagamentos dos serviços não sejam efetuados diretamente pelos usuários, mas

intermediado por fontes pagadoras públicas ou privadas – a relação comercial direta

entre prestadores de serviços e usuários é muito pequena. É inevitável, portanto, a

utilização de “tabelas” de preços estabelecendo as condições e pagamento e de

aparato regulatório tanto no âmbito do direito do consumidor quando da regulação

governamental de serviços essenciais custeados direta ou indiretamente pelo fundo

público.

No Brasil o aparato legal, a prática das fontes pagadoras privadas, as tabelas

de preços, o posicionamento da ANS e o amadorismo na gestão dos hospitais causam

dificuldades adicionais a relações complexas na origem. Juntos, lei, regulação, tabelas

e amadorismo organizacional ameaçam a sobrevivência dos prestadores de serviços

privados, parte substancial da materialização do direito do cidadão à saúde,

Os problemas abordados nesta tese – considerados os mais graves para a

sobrevivência do segmento hospitalar privado – são relativos ao sistema de

remuneração: preços das várias tabelas, inclusive a do SUS, defasados; classificação

rígida dos procedimentos; ação da ANS claramente para favorecer os interesses das

operadoras privadas, regras excessivas e em constantes mudanças que remetem ao

casuísmo. Ora, dado que esses elementos controlam a remuneração aos hospitais,

atingem diretamente a sobrevivência do negócio.

A pesquisa mostrou que a solução dos problemas relativos ao sistema de

remuneração aos hospitais privados estão em (1) simplificar as leis, decretos e normas

- a existência de farto aparato legal editado para corrigir as distorções do setor de

saúde, de fato produzem disfuncionalidade burocrática, tendo em vista que leis,

decretos e normas regulamentadoras entram em vigência, ora revogando parcial ou

totalmente legislação anterior, ora ampliando disposições anteriores determinadas

que se acumulam, produzindo confusões e custos jurídicos; (2) unificar a legislação

em único diploma legal e que obedeça ao princípio da equidade entre prestadores e

fontes pagadoras, objetivando pacificar as relações entre esses; (3) correção

monetária e ajuste do preços (para mais e para menos) com periodicidade

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estabelecida por lei – as tabelas não devem ser utilizadas para fins outros que não a

saúde do cidadão; (4) recuperação da missão original da ANS, regular o segmento da

saúde suplementar para o benefício e proteção do cidadão, apenas - é flagrante a

omissão da ANS nas relações entre as operadoras e prestadores de serviço,

notadamente quanto ao “instituto” da glosa, indisfarçável inobservância à legislação

contratual vigente, às expensas dos hospitais e cidadãos; (5) criar incentivos aos

hospitais para adoção das melhores práticas de gestão, por sua vez, condição para

adoção por exemplo, do modelo de remuneração por protocolo e custeio (RPC).

No âmbito da gestão o setor hospitalar precisa definir estratégias e práticas

para ampliar receitas, tais como seguro-saúde próprio, seguro cobertura/adimplência,

oferta consorciada de serviços, planos de pré-venda, exploração espaços para lojas,

hotelaria, creche, ações de marketing e merchandising. No campo do marketing é

preciso cuidar da marca, promover o mix adequado de produtos e serviços.

A importância da gestão da qualidade é indiscutível, não apenas pelos

benefícios ao negócio como à proteção do usuário. Vale o mesmo para os

instrumentos de governança corporativa, ampliando os controles, alargando as

possibilidades de adoção de estratégias e construindo relações transparentes com a

sociedade.

Conclui-se, portanto, que para viabilização do setor hospitalar privado se faz

necessário a adoção de um conjunto de medidas que vão desde reestruturação do

SUS, reposicionamento da ANS no diálogo com os envolvidos, possibilitando, com

isso, a adoção de um sistema remuneratório que seja justo e promissor na relação

com as operadoras.

Por derradeiro, sugere-se os seguintes temas relevantes para futuras

pesquisas na área do presente estudo, quais sejam: i) segurança jurídica dos

contratos entre operadoras e prestadores de serviço na saúde suplementar; ii)

investigação do grau de transparência entre fontes pagadoras e prestadores de

serviços de saúde; iii) financiamento da saúde pública com novo modelo de

governança e gestão.

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