gl n - usp · geômetras vindos do impa e com um sabor muito especial da geometria diferencial...

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gl(n)

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Módulos de Gelfand-Tsetlin

singulares de gl(n)

Carlos Alexandre Gomes da Silva

Tese apresentada

ao

Instituto de Matemática e Estatística

da

Universidade de São Paulo

para

obtenção do título

de

Doutor em Matemática

Programa: Doutorado em MatemáticaOrientador: Prof. Dr. Vyacheslav Futorny

Durante o desenvolvimento deste trabalho o autor recebeu auxílio nanceiro da CAPES e daUFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

São Paulo, 05 Outubro de 2017

Módulos de Gelfand-Tsetlin singulares de gl(n)

Esta versão da tese contém as correções e alterações sugeridaspela Comissão Julgadora durante a defesa da versão original do trabalho,realizada em 08/12/2017. Uma cópia da versão original está disponível no

Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo.

Comissão Julgadora:

• Prof. Dr. Vyacheslav Futorny (orientador) - IME-USP

• Prof. Dr. Raul Antônio Ferraz - IME-USP

• Prof. Dr. Adriano Adrega Moura - UNICAMP

• Prof. Dr. Luís Enrique Ramirez - UFABC

• Prof. Dr. Viktor Bekkert - UFMG

Agradecimentos

Subitamente passaram 4 anos daquele mês de outubro de 2013, quando o então chefe do Depar-tamento de Matemática da UFRN, o prof. David Armando Villanueva, me fez um pedido para irao aeroporto buscar um ilustre convidado que iria dar uma pelestra na tradicional Semana da Ma-temática da UFRN (um evento que já ocorre a cerca de 30 anos em Natal/RN no DMAT-UFRN).O convidado ilustre, que eu não conhecia, era o prof. Vyacheslav Futorny. Com a simpatia e bomtrato que lhe é peculiar, logo nos primeiros minutos a nossa conversa já uia naturalmente. Durantea semana desse evento, em meio a tantas outras conversas, falei ao professor Futorny, que por coin-cidência havia me inscrito para a seleção do programa de doutorado em Matemática do IME-USP.Eu estava inscrito para seleção na área de Geometria Diferencial, pois eu já vinha seguindo maisou menos esse caminho desde a época que migrei da Engenharia Elétrica para o Bacharelado emMatemática na UFRN, onde eu conheci os professores Rubens Leão de Andrade, Cláudio CarlosDias e Ronaldo Freire de Lima (aos quais sou muito grato e tenho profunda admiração), que sãogeômetras vindos do IMPA e com um sabor muito especial da Geometria diferencial clássica, for-mados na escola do eminente prof. Manfredo Perdigão do Carmo. Apesar de ter feito um mestradocom uma dissertação em Teoria da Probabilidade (Cadeias de Markov) com o prof. André GustavoCampos Pereira, que também me ensinou muitas coisas e a quem também sou bastante grato,aquela base dada pelos professores Rubens, Cláudio e Ronaldo, falou mais alto e entre os anos de2009-2010 iniciei o Doutorado em Geometria diferencial na UFC-Universidade Federal do Ceará.Após um período inicial por lá, regressei a Natal pois fui aprovado para o quadro efetivo de pro-fessores do DMAT-UFRN. Foram mais ou menos essas as palavras que falei ao professor Futornynaquelas nossas conversas iniciais. Em meio às nossas primeiras convesas, o professor Futorny mefalou do seu trabalho sobre Teoria de Lie (a qual eu nunca havia ouvido ao menos falar até então)e me propôs o desao de vir me juntar ao seu grupo no IME-USP para o doutoramento. De inícioisso me causou um certo desconforto pois eu tinha que deixar de lado o meu já iniciado projetode estudar Geometria Diferencial, sem falar que eu iria migrar para um terreno totalmente novo,que eu nem sequer tinha ouvido falar; A teoria de representações das álgebras de Lie. O fato é queessa foi a decisão mais acertada que tomei até então na minha vida acadêmica. Ao chegar aqui naUSP, um novo mundo se descortinou para mim. Nos primeiros momentos não foi nada fácil entrarnesse novo mundo, principalmente pela ausência de uma formação básica adequada em álgebra (re-alidade que infelizmente era bastante comum nas universidades do nordesde no nosso país, mas quefelizmente já mostra pequenos sinais de progresso com mais pessoas qualicadas na área se xandonas maiores universidades da região). Aqui consegui, com bastante esforço, preencher muitas dessaslacunas anteriores e também avançar em direção à fronteira do conhecimento da área. Para isso,além do apoio e encorajamento constante do prof. Futorny, foram essenciais os seminários semanaissobre álgebra de Lie do grande grupo de alunos de doutorado e pós-doutorado vinculados ao prof.Futorny. Toda a base adquirida nesses seminários foi fundamental para tudo que veio em seguida eno trabalho que continuo a desenvolver junto a esse grupo de pesquisa.

No meio do caminho, outros desaos cada vez maiores foram surgindo. Do dia para noite quandome vi em Los Angeles nos EUA apresentando meu trabalho de tese numa conferência Internacionalonde estavam grandes nomes da teoria de representações na University of Southern California. Nasequência z uma visita de 60 dias na Stanford-University, sob orientação do simpático professorindiano Apoorva Khare (ao qual sou muito grato pela orientação e por ter me recebido nessa

i

ii

fantástica universidade, na bela cidade da Palo-Alto), discutindo seus recentes trabalhos sobrePolytopes de Gelfand-Tselin e ouvindo as ideias que eu estava desenvolvendo na minha pequisapara a tese. Ainda nessa mesma viagem, tive a oportunidade de Visitar a Berkeley Universitypor uma semana e assistir um minicuros sobre representações de grupos nitos com o professorMartin Isaacs. Após os 90 dias na Califórnia, voltei ao Brasil e bem pouco tempo depois do meuregresso, com meu projeto inicial de tese já bem encaminhado, o prof. Futorny, me propôs um novoproblema que veio junto com um agradável desao; visitar por 6 meses o Instituto Camile-Jordan naUniversidade de Lyon - França, sob orientação do eminente prof. Olivier Mathieu, ao qual tambémdeixo registrada aqui a minha profunda gratidão por todos os ensinamentos sobre álgebras de Lie ea sua teoria sobre os módulos cuspidais, assim como pela sua recepção muitíssimo acolhedora no seubelo pais, particularmente na belissíma cidade de Lyon, onde aprendi muito mais que Matemática.Realmente foi uma experiência incrível. Aproveito também para agradecer a CAPES pelo apoionanceiro nesse período.

Deixo aqui registrados meus agradecimentos especiais a algumas pessoas que contribuíram,cada um ao seu modo, para que eu realizasse, depois de tanto tempo, esse sonho de cursar umdoutoramento em matemática numa grande instituição como o IME-USP. Agradeço profundamenteao meu grande amigo prof. Iesus Carvalho Diniz, que foi sem dúvida um dos grandes responsáveispor eu ter vindo fazer essa formação nessa fantástica instituição, além de todo o trabalho quedeselvolveu, me substituindo como coordenador regional das olimpíadas de matemática: OBM,OMBU e OMRN durante esses meus 4 anos de ausência, sem falar no seu apoio amigo sempreque precisei. Aos meus amigos pessoais de longa data, Lionaldo Duarte, Augusto Macêdo, JoãoMesquita, Mauro Melo, Eduardo César e Paulo de Sousa Sobrinho (o grande Paulinho), que mesmode longe sempre me deram força para continuar. Às minhas amigas Lídia Mortera e Sandra Mortera,que foram fundamentais durante a minha estadia na França. A Nadja Camila e Júlia Kamilly, pelogrande apoio na fase inicial aqui em São Paulo. Aos meus amigos aqui na USP: German Benito,Wilson Mutis, André Oliveira, André Zaidan, Marcela Aguerrini, Jailson Calado, Edite Taufer, YuriSampaio, Jadevilson Cruz, Vitor Hugo, Oscar Armando, Pablo Zadunaisky, Jian Zhang e ao meugrande amigo e parceiro Eurípedes Carvalho da Silva, cujas conversas diárias sobre a sua tese mezeram aprender muitas coisas, entre elas muita matemática, especialmente Geometria Riemanianae ideias sobre Teoria de Folheações.

Também agradeço aos meus pais Geraldo Alexandre da Silva e Juliêta Gomes da Silva e aosmeus irmãos Sandro, Giuliana, Priscila e Júnior pelo apoio constante, mesmo na minha longa au-sência. Aos colegas do DMAT-UFRN pelo apoio, sem o qual eu não poderia ter participado dessafantástica aventura e um obrigado muito especial ao meu orientador prof. Vyacheslav Futorny, porter me aceito no seu grupo, por ter me resgatado da minha mais completa ignorância algébricaquando eu cheguei e ter me levado à visitar a fronteira do conhecimento da Teoria de Lie, pelaorientação e paciência constante, pela execução desse projeto sempre me motivando e estimulandoa progredir e por todas as portas e oportunidades que abriu para mim ao longo desses 4 anos.

Por m, aos meus professores do IME-USP, que foram tantos, dado o enorme número de discipli-nas, seminários, cursos e minicursos que frequentei nesses 4 anos. Particularmente aos professoresKostyatyn Yousenko, Cristian Ortiz, Oswaldo Rio Branco e Odilon Luciano do IME-USP pelasconversas sempre esclarecedoras e ao prof. Luis Enrique Ramirez (UFABC) pela enorme paciên-cia em esclarecer e discutir, por repetidas vezes, muitas das minhas dúvidas sobre os módulos deGelfand-Tsetlin. Registro aqui a minha enorme gratidão a todos!

Carlos A. GomesSão Paulo, 02 de Outubro de 2017.

Resumo

da Silva, Carlos. A. Gomes. Módulos de Gelfand-Tsetlin singulares de gl(n). 2017. 66 p. Tese(Doutorado) - Instituto de Matemática e Estatística, Universidade de São Paulo, 2017.

Neste trabalho estudamos os módulos de Gelfand-Tsetlin 1-singulares para gl(n). Em particular,descrevemos bases explícitas para certos subquocientes dos mesmos e estabelecemos um critério quegarante a sua irredutibilidade.

Palavras-chave:Módulos de Gelfand-Tsetlin, bases de Gelfand-Tsetlin, Módulos de pesos.

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iv

Abstract

da Silva, Carlos A. Gomes. Singular Gelfand-Tsetlin Modules of gl(n). 2017. 66 p. Phd. Thesis- Instituto de Matemática e Estatística, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.

In this work we study the Gelfand-Tsetlin 1-singular modules for gl(n). In particular, we des-cribe explicit bases for certain subquotients of the same and establish a criterion that guaranteesits irreducibility.

Keywords: Gelfand-Tselin modules, Gelfand-Tsetlin basis, Weight modules.

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vi

Sumário

1 Introdução 11.1 Panorama histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11.2 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41.3 Prólogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2 Preliminares 52.1 Álgebras de Lie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

2.1.1 Constantes de estrutura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62.1.2 Subálgebras e ideais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

2.2 Módulos e Representações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72.2.1 Módulos sobre álgebras de Lie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72.2.2 Decomposição de Cartan . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92.2.3 Forma de Killing . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122.2.4 O grupo de Weyl . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

2.3 Classicação das álgebras de Lie simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132.3.1 A álgebra envolvente universal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

3 Módulos de Gelfand-Tsetlin 153.1 Módulos de peso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153.2 Módulos de Gelfand-Tsetlin para gl(n) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173.3 gl(n)-módulos irredutíveis de dimensão nita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193.4 Módulos de Gelfand-Tsetlin genéricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

3.4.1 Fórmulas de Gelfand-Tsetlin em termos de permutações . . . . . . . . . . . . 213.5 Módulos de Gelfand-Tsetlin singulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

4 Reticulados de Tabelas em V (T (v)) 274.1 A ação de Γ sobre V (T (v)) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 274.2 Tabelas relacionadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 344.3 Relação de pré-ordem em V (T (v)) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

5 Submódulos irredutíveis em V (T (v)) 375.1 Algumas noções preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 375.2 Submódulos irredutíveis em V (T (v)) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

6 A irredutibilidade de V (T (v)) 436.1 Alguns resultados auxiliares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 436.2 O resultado principal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

Referências Bibliográcas 51

vii

viii SUMÁRIO

ix

x SUMÁRIO

Lista de Símbolos

Z - Anel dos números inteiros.Z>0 - Conjuto dos números inteiros não negativos.R - Corpo dos números reais.C - Corpo dos números complexos.g - Álgebra de Lie.h - Subálgebra de Cartan da álgebra de Lie g.h∗ - Dual da subálgebra de Cartan da álgebra de Lie g.U(g) - Álgebra envolvente universal da álgebra de Lie g.M(n× n,C) - Conjunto das matrizes de ordem n com entradas complexas.gl(n) - Álgebra de Lie das matrizes complexas de ordem n.sl(n) - Álgebra de Lie das matrizes complexas de ordem n com traço nulo.

v - Vetor no espaço Cn(n+1)

2 .

v - Vetor 1-singular no espaço Cn(n+1)

2 .V (T (v)) - Módulo gerado pelas das tabelas genéricas de Gelfand-Tsetlin.V (T (v)) - Módulo gerado pelas das tabelas 1-singulares de Gelfand-Tsetlin.V - Espaço vetorial sobre C.dimC V - Dimensão do C-espaço vetorial.End(V ) - Espaço vetorial dos operadores lineares em V .I(h) - Normalizador de h em g.ad - Aplicação adjunta.Φ - Sistema de raízes da álgebra de Lie g.Φ+ - Conjunto das raízes positivas da álgebra de Lie g.Φ− - Conjunto das raízes negativas da álgebra de Lie g.∆ - Base de um sistema de raízes Φ.λ - Raiz ou peso da álgebra de Lie g.W - Grupo de Weyl.M - Módulo de peso ou de Gelfand-Tsetlin.SuppM - Suporte do módulo M .Γ - Subálgebra de Gelfand-Tsetlin.Γ∗ - Dual da subálgebra de Gelfand-Tsetlin.cmk - Gerador de Γ.γmk - Autovalor da ação do centro de Γ sobre tabelas de Gelfant-Tsetlin.SpecmΓ - Espectro maximal de Γ.Φ+ - Conjunto das raízes positivas da álgebra de Lie g.χ - Carácter de Gelfand-Tsetlin.Ker(χ) - Kernel do carácter χ.M(χ) - Submódulo do módulo M .T (v + z) - Tabela regular de Gelfand-Tsetlin.DT (v + z) - Tabela derivada de Gelfand-Tsetlin.B(T (v)) - Base de tabelas de Gelfand-Tsetlin.Sn - Grupo simétrico de ordem n!.Id - Identidade.|A| - Cardinalidade do conjunto A.d(z, w) - Distância entre os vetores z e w.

SUMÁRIO xi

Tab(w) - Tabela regular ou derivada de Gelfand-Tsetlin.Eij - Matriz elementar.Ω+(T (v)) - Parte positiva de uma tabela de Gelfand-Tsetlin.N (T (v)) - Base para o submódulo gerado pela tabela T (v).I(T (v)) - Base para o submódulo irredutível gerado pela tabela T (v).

Cn(n+1)

2gem - Conjunto dos vetores genéricos em C

n(n+1)2 .

xii SUMÁRIO

Capítulo 1

Introdução

1.1 Panorama histórico

A teoria de representações das álgebras de Lie de dimensão nita e suas generalizações é

uma das áreas mais importantes e ativas da teoria de representações com uma ampla variedade de

resultados e numerosas aplicações na ciência moderna. Nessa teoria, um dos principais problemas é

a classicação dos módulos irredutíveis para álgebras de Lie simples de dimensão nita. Esse pro-

blema foi resolvido somente no caso da álgebra sl(2) por R. Block [1]. O problema está em aberto

nos outros casos.

Sejam g uma álgebra de Lie simples de dimensão nita sobre C, h ⊂ g uma subálgebra de Cartan

xa, Φ o sistema de raízes correspondente e Q retículado de raízes. Um móduloM sobre g é um mó-

dulo de pesos, quando a ação de h é diagonalizável noM . Em outras palavras,M admite uma decom-

posição em subespaços de pesosM = ⊕λ∈h∗Mλ, ondeMλ = v ∈M | hv = λ(h)v, para todo h ∈ h.O conjunto de pesos SuppM consiste de tais λ ∈ h∗ para os quaisMλ 6= 0. Os g-módulos de dimensão

nita são módulos de pesos. Estes módulos de dimensão nita são muito bem entendidos. Por outro

lado, os novos desenvolvimentos da física-matemática e da geometria não-comutativa sugeriram a

necessidade de estudar os g-módulos de dimensão innita tais como módulos de Gelfand-Tsetlin

(que deniremos mais adiante).

Um módulo de pesos M é dito denso se SuppM = λ+Q para algum λ ∈ SuppM . No caso em

que M é um módulo de pesos irredutível e denso com subespaços de pesos de dimensão nita, o

módulo M é dito cuspidal. Neste caso, qualquer elemento não nulo Xα ∈ gα age injetivamente em

M para todo α ∈ Φ.

Em 1987, na sua tese de doutorado [9], V. Futorny mostrou que todos os módulos irredutíveis de

peso com subespaços de pesos de dimensão arbitrária para álgebras de Lie do tipo An, Bn, Cn e Dn,

ou são densos ou são quocientes de módulos induzidos a partir de módulos densos. S. Fernando [8],

mostrou que todos os módulos irredutíveis de peso, cujos subespaços de pesos tem dimensão nita,

ou são cuspidais ou são quocientes de módulos induzidos a partir de módulos cuspidais. Neste caso

(subespaços de pesos de dimensão nita) os módulos cuspidais só existem para as álgebras de Lie do

tipo An ou Cn. Em 1996, A. Cylke, V. Futorny e S. Ovsienko em [2], estenderam o resultado de [9]

para todas álgebras de Lie simples de dimensão nita, exceto E8. Em 2000, I. Dimitrov, O. Mathieu

e I. Penkov, em [3], estabeleceram um resultado análogo mas que contempla todas as álgebras de

Lie simples de dimensão nita. Por m, também no ano 2000, o famoso trabalho de O. Mathieu [20]

1

2 INTRODUÇÃO 1.1

forneceu uma realização para os módulos irredutíveis cuspidais para as álgebras de Lie de dimensão

nita e do tipo An ou Cn. Como já mencionamos, esses módulos cuspidais tem papel crucial na

classicação dos módulos irredutíveis de peso com subespaços de pesos de dimensões nitas. Assim,

o estudo de módulos cuspidais se tornou um dos problemas principais em teoria de representações

das álgebras de Lie.

Por outro lado, a classicação dos módulos irredutíveis de pesos com a possibilidade dos seus

respectivos subespaços de pesos serem de dimensão innita continua sendo um problema em aberto

em caso geral. Um primeiro passo natural na direção da solução geral é olhar para a subcategoria

dos módulos de pesos constituída pelos módulos de Gelfand-Tsetlin no caso de g ser do tipo A

(para conveniência, vamos trabalhar com a álgebra gl(n) em vez de sl(n)). A denição geral dos

módulos de Gelfand-Tsetlin foi dada por Drozd, Futorny e Ovsienko em [4], [5]. Esses módulos

tem a propriedade que a subálgebra de Gelfand-Tsetlin possui um autovetor comum nesse módulo.

Os gl(n)-módulos de pesos (em relação à subálgebra de Cartan contida na subálgebra de Gelfand-

Tsetlin) cujas dimensões dos subespaços de pesos são nitas, em particular os módulos da categoria

O, são exemplos de módulos de Gelfand-Tsetlin. Isso justica porque o estudo da categoria dos

módulos de Gelfand-Tsetlin é extremamente importante. Em muitos casos, a descrição dos módulos

de Gelfand-Tsetlin pode ser obtida através de uma base explícita e com ação explícita dos geradores

da álgebra de Lie, como veremos ao longo das próximas seções desse trabalho.

Vamos apresentar agora um breve panorama histórico sobre o surgimento e desenvolvimento da

teoria dos módulos de Gelfand-Tsetlin, assim como o contexto atual do desenvolvimento da pesquisa

referente a esse tema.

Na metade do século passado, I. Gelfand e M. Tsetlin, em [15], descreveram bases explícitas

para os gl(n)-módulos irredutíveis de dimensão nita, conforme explicaremos nas primeiras páginas

desse trabalho. Tais bases são parametrizadas pelas, desde então, chamadas tabelas de Gelfand-

Tsetlin, cujos elementos (entradas) são números complexos que satisfazem certas condições (que

descreveremos precisamente mais adiante). Observando que os coecientes presentes nas fórmulas

de Gelfand-Tsetlin (que descrevem explicitamente a ação dos elementos da base de gl(n) sobre

essas tabelas) são funções racionais das entradas das tabelas, surgiu naturalmente a pergunta se

não seria possível estender a construção feita por I. Gelfand e M.Tsetlin no referido trabalho para

construir módulos mais gerais, incluindo o caso dos módulos de dimensão innita. Essas ideias foram

implementadas por Y. Drozd, S. Ovsienko e V. Futorny em [5], onde foram denidos os chamados

gl(n)-módulos de Gelfand-Tsetlin genéricos (que são de dimensão innita) e foram estabelecidas

muitas propriedades relevantes desses módulos. Recentemente, a classicação completa dos módulos

de Gelfand-Tsetlin irredutíveis foi obtida por V. Futorny, D. Grantcharov e L. E. Ramirez em [11]

para sl(3), mas o problema continua em aberto em geral.

Observamos que cada tabela na base de Gelfand-Tsetlin é um autovetor da subálgebra de

Gelfand-Tsetlin. Além disso, cada gerador desta subálgebra age na tabela por um escalar que o

é valor de certo polinômio simétrico nas entradas da tabela. Assim, cada tabela de Gelfand-Tsetlin

dene um caráter da subálgebra de Gelfand-Tsetlin. Esta correspondência não é biunívoca pois a

cada caráter está associado número nito de tabelas.

Nesse contexto um dos principais problemas é: dada qualquer tabela de Gelfand-Tsetlin (e por-

1.2 PANORAMA HISTÓRICO 3

tanto um caráter da subálgebra de Gelfand-Tsetlin), podemos construir um gl(n)-módulo contendo

essa tabela como um elemento da base desse módulo? Aparentemente o principal obstáculo para

resolver esse problema são as possíveis relações inteiras entre as entradas de uma mesma linha da

tabela.

Esse problema foi resolvido por V. Futorny, D. Grantcharov e L. E. Ramirez, em [10], no caso

de tabelas 1-singulares de Gelfand-Tsetlin (quando existe exatamente uma linha da tabela tal que

nessa linha exista apenas um par de entradas vki, vkj tais que vki− vkj ∈ Z), assim como um gl(n)-

módulo cujos elementos da base são essas tabelas sujeitas a certas relações. Este trabalho estendeu

o resultado de [12], onde foram explicitamente construídos novos módulos irredutíveis para gl(n) a

partir de tabelas genéricas (quando não existe exatamente nenhuma linha da tabela tal que nessa

linha exista par de entradas vki, vkj com vki − vkj ∈ Z).Particularmente no caso dos módulos de Gelfand-Tsetlin 1-singulares um novo tipo de tabelas

de Gelfand-Tsetlin foi introduzido; as desde então chamadas de tabelas derivadas, que podem ser

denidas a partir das tabelas regulares através de um processo de limite formal, conforme é mos-

trado em [10]. O espaço vetorial gerado por essas tabelas regulares e derivadas tem uma estrutura de

gl(n)-módulo, cujas ações dos elementos da base de gl(n) são dadas explicitamente em [10]. Tais mó-

dulos são chamados de módulos de Gelfand-Tsetlin 1-singulares. Nesse mesmo trabalho, foi exibida

uma condição suciente para a irredutibilidade de tais módulos e foi proposta a seguinte conjectura:

Conjectura 1.1.1 Para qualquer n, se o gl(n)-módulo de Gelfand-Tsetlin 1-singular associado a

uma tabela T (v) for irredutível, então as diferenças entre os elementos entre linhas consecutivas da

tabela T (v) não são inteiras.

A conjectura foi demonstrada no caso n = 3 [11]. A classicação completa dos gl(n)-módulos

irredutíveis de Gelfand-Tsetlin 1-singulares foi obtida em [13]. Já em 2017, um novo ponto de vista

para os módulos de Gelfand-Tsetlin 1-singulares foi introduzido independentemente por P. Zadu-

naisky em [25] e por E. Vishnyakova em [23]. Para os casos t-singulares com t > 1, E. Vishnyakova

em [24] e L. E. Ramirez e P. Zadunaisky em [21] forneceram novas maneiras de construir esses mó-

dulos. N. Early, E. Vishnyakova e V. Mazorchuck estabeleceram condições sucientes (vide Teorema

1.1 em [6]) para a irredutibilidade dos módulos de Gelfand-Tsetlin para os casos t-singulares com

t > 1, mas a pergunta de que essas mesmas condições também são necessárias para t > 1 continua

não respondida.

O resultado principal dessa Tese é a demonstração desta conjectura da condição necessária para

a irredutibilidade dos módulos 1-singulares de Gelfand-Tsetlin. Será apresentada uma generalização

da construção feita em [12] de um gl(n)-módulo irredutível contendo uma dada tabela, no caso 1-

singular. Esse resultado nos levou a uma nova prova das condições sucientes para a irredutibilidade

do módulo V (T (v)), associado a uma tabela T (v) no caso 1-singular.

4 INTRODUÇÃO 1.3

1.2 Objetivos

Nesta Tese damos uma resposta positiva a conjectura acima demonstrando o seguinte:

Teorema:

Para qualquer tabela 1-singular T (v), o correspondente módulo de Gelfand-Tsetlin é irredutível se e

somente se vrs − vr−1,t /∈ Z para quaisquer 1 ≤ s ≤ r ≤ n e 1 ≤ t ≤ r − 1.

Além disso, descrevemos alguns submódulos irredutíveis para certas famílas de gl(n)-módulos

V (T (v)), no caso 1-singular.

1.3 Prólogo

O texto está organizado da seguinte forma: No capítulo 2, introduziremos as denições que

serão necessárias ao longo do trabalho, alguns resultados clássicos sobre a teoria das álgebas de Lie,

assim como as notações que serão utilizadas ao longo do texto. No capítulo 3 vamos relembrar a

denição da subálgebra de Gelfand-Tsletlin assim como os conceitos relacionados com os módulos

de Gelfand-Tsetlin. Nesse mesmo capítulo apresentaremos o Teorema de Gelfand-Tsetlin (ver [15])

sobre as realizações dos módulos irredutíveis de dimensão nita utilizando as tabelas de Gelfand-

Tsetlin, que é uma das principais fontes de inspiração para essa teoria. Para nalizar esse capítulo,

apresentaremos a construção dos módulos de Gelfand-Tsetlin genéricos estabelecida em [12], assim

como as principais denições e os fatos mais relevantes sobre a construção dos módulos de Gelfand-

Tsetlin 1-singulares, seguindo diretamente o que foi estabelecido em [10]. No capítulo 4, vamos

denir uma relação de pré-ordem sobre o conjunto de todas as tabelas (regulares e derivadas) e

estabelecer muitas propriedades importantes dessa relação que serão utilizadas em resultados dos

capítulos seguintes. Finalmente, nos dois últimos capítulos, estabelecemos os principais resultados

dessa tese. A saber; exibir uma base explícita para um subquociente irredutível que contém uma

dada tabela de um módulo de Gelfand-Tsetlin 1-singular, e dar uma demonstração alternativa para

o Teorema 4.14 em [10], que estabelece uma condição suciente para a irredutibilidade do módulo

de Gelfand-Tsetlin associado a uma dada tabela 1-singular T (v) e por m, no capítulo 6, vamos

estabelecer o nosso mais importante resultado: dar uma resposta positiva para a conjectura citada

anteriormente.

Capítulo 2

Preliminares

2.1 Álgebras de Lie

Ao longo do texto vamos utilizar como corpo base o corpo C dos números complexos. Sendo Z o

conjunto dos números inteiros, dado a ∈ Z, vamos denotar por Z≥a o conjunto de todos os inteiros

m tais que m ≥ a.Lembrando que uma álgebra associativa A é um espaço vetorial sobre o corpo C, munido de

uma multiplicação bilinear a, b 7→ ab, com a, b ∈ A tal que a · (b · c) = (a · b) · c quaisquer que sejama, b, c ∈ A. Vamos sempre considerar álgebras associativas com unidade, isto é, com um elemento

1 ∈ A tal que 1 ·a = a · 1 = a para todo a ∈ A. Um importante exemplo de uma álgebra associativa

é a álgebra End(V ), dos operadores lineares de um espaço vetorial V com operação da composição

de operadores.

Denição 2.1.1 Uma álgebra de Lie é um C−espaço vetorial g, munido com uma aplicação bili-

near [ , ] : g× g→ g, (x, y) 7→ [x, y] que goza das seguintes propriedades:

(L1)[x, x] = 0, ∀x ∈ g;

(L2)[x, [y, z]] + [y, [z, x]] + [z, [x, y]] = 0,∀x, y, z ∈ g (identidade de Jacobi).

A aplicação [ , ] é chamada de colchete de Lie.

Como a característica do corpo C é diferente de 2, a condição (L1) é equivalente a [x, y] =

−[y, x],∀x, y ∈ g (anti-comutatividade).

A álgebra de Lie g é dita abeliana se [x, y] = 0 quaisquer que sejam x, y ∈ g.

Vale a pena lembrar que pode-se dar a qualquer álgebra associativa A uma estrutura de álgebra

de Lie denindo-se sobre o espaço A um colchete dado pelo comutador [x, y] := x · y − y · x, onde ·é a multiplicação denida originalmente sobre A.

Para cada espaço vetorial V , consideremos o espaço vetorial End(V ) dos operadores lineares

T : V → V . Vamos representar por gl(V ) a álgebra de Lie associada a End(V ) quando munido

do comutador [f, g] = f g − g f . No caso em que V é de dimensão nita e dimV = n, vamos

denotar gl(V ) simplesmente por gl(n). Nesse caso, xada uma base do espaço vetorial V , há uma

5

6 PRELIMINARES 2.1

identicação natural de gl(n) com a álgebra de Lie das matrizes quadradas de ordem n, cujo colchete

de Lie é dado pelo comutador [A,B] := AB − BA. O conjunto Ei,j | 1 ≤ i, j ≤ n é uma base

da álgebra de Lie gl(n) que é constituída pelas matrizes elementares, isto é, Eij é a matriz de

ordem n que tem entrada igual a 1 na posição (i, j) e 0 em todas as demais posições. Note que

[Eij , Ekl] = δjkEil − δliEkj , onde δij é o delta de Kronecker.

2.1.1 Constantes de estrutura

Se g é uma álgebra de Lie sobre um corpo C com base B = x1, · · · , xn, então o colchete de

Lie [ , ] para quaisquer dois elementos de g ca completamente determinado pelos colchetes [xi, xj ],

i, j = 1, . . . , n. Denimos os escalares akij ∈ C tais que

[xi, xj ] =n∑k=1

akijxk.

Os escalares akij são chamados de constantes de estrutura da álgebra de Lie g com relação à base B.A partir dos axiomas que denem uma álgebra de Lie, podemos vericar que

akii = 0, akij + akji = 0 e∑k

(akija

mkl + akjla

mki + aklia

mkj

)= 0.

2.1.2 Subálgebras e ideais

Uma noção importante para o estudo das álgebras de Lie é a noção de subálgebra, particular-

mente a noção de subálgebra de Cartan, que é essencial para descrevermos a decomposição de uma

álgebra de Lie de dimensão nita semissimples como uma soma direta de seus subespaços de raízes

e a decomposição de Cartan.

Denição 2.1.2 Um subespaço a de uma álgebra de Lie g é chamado de uma subálgebra de g

quando para quaisquer x, y ∈ a temos que [x, y] ∈ a, ou seja, a é fechado com respeito ao colchete

de Lie de g.

Exemplo 2.1.3 Em gl(n), o subespaço vetorial sl(n) = A ∈ gl(n) | tr(A) = 0 é uma subálgebra

de gl(n), visto que se X,Y ∈ sl(n), segue que

tr([X,Y ]) = tr(XY − Y X) = tr(XY )− tr(Y X) = 0,

o que revela que [X,Y ] ∈ sl(n).

A álgebra de Lie sl(n) desempenha um papel importante na teoria das representações das

álgebras de Lie, como vamos ver mais adiante.

Um outro importante conceito no estudo da teoria é o de ideal, cuja denição vem a seguir.

Denição 2.1.4 Um subespaço i de uma álgebra de Lie g é chamado de ideal se para todo x ∈ g

e y ∈ i temos que [x, y] ∈ i.

2.2 MÓDULOS E REPRESENTAÇÕES 7

Por exemplo, a subálgebra de Lie sl(n) é um ideal de gl(n). Um outro exemplo importante de

ideal de uma álgebra de Lie g é o seu centro, que é denido por:

Z(g) := x ∈ g | [x, y] = 0, ∀y ∈ g ,

ou seja, é o conjunto dos elementos de g que comutam com todos os elementos de g.

De acordo com a denição acima pode-se notar que todo ideal de uma álgebra de Lie g é uma

subálgebra, mas o contrário não é verdadeiro.

Quando uma álgebra de Lie não abeliana g não possui ideais próprios e não triviais, isto é, ideais

diferentes do ideal nulo e da própria álgebra g, diz-se que g é uma álgebra de Lie simples. A álgebra

de Lie sl(n) é um exemplo de álgebra de Lie simples.

Vamos dizer que uma álgebra de Lie g é soma direta de suas subálgebras n e l, se g = n⊕l é soma

direta de espaços vetoriais e [n, l] = 0. Por exemplo, gl(n) = sl(n)⊕CI, onde CI é a subálgebra de

Lie abeliana de matrizes escalares.

Caso uma álgebra de Lie g seja uma soma direta de subálgebras de Lie simples, vamos dizer

que a álgebra g é semissimples (referimos a [22] para detalhes e para outra denição equivalente de

álgebras de Lie semissimples).

Por m, uma álgebra de Lie g é dita redutiva quando ela pode ser escrita como soma direta de

uma subálgebra de Lie semissimples com outra subálgebra de Lie abeliana.

Outra noção relevante é a de morsmo entre duas álgebras de Lie, cuja denição é:

Denição 2.1.5 Dadas duas álgebras de Lie (g1, [ , ]1) e (g2, [ , ]2), um homomorsmo (ou mais

simplesmente um morsmo) entre essas álgebras de Lie é uma aplicação linear ϕ : g1 → g2 que

preserva os colchetes de Lie dessas duas álgebras, ou seja, ϕ([x, y]1) = [ϕ(x), ϕ(y)]2 para quaisquer

x, y ∈ g1.

Duas álgebras de Lie (g1, [ , ]1) e (g2, [ , ]2) são isomorfas se existe um morsmo inversível entre

g1 e g2.

2.2 Módulos e Representações

Nesse ponto vamos recordar algumas noções básicas sobre módulos e representações que serão

úteis para o desenvolvimento do nosso trabalho.

2.2.1 Módulos sobre álgebras de Lie

Um módulo sobre uma álgebra de Lie é uma extensão natural do conceito de espaço vetorial,

como mostra a denição a seguir:

Denição 2.2.1 Seja g uma álgebra de Lie. Um g-módulo é um espaço vetorial V (sobre o corpo

C) juntamente com uma operação de multiplicação · : g × V → V tal que para quaisquer x, y ∈g, u, v ∈ V e α ∈ C são satisfeitas as seguintes condições:

8 PRELIMINARES 2.2

1. (x+ y) · v = x · v + y · v;

2. x · (u+ v) = x · u+ x · v;

3. αx · v = x · (αv);

4. [x, y] · v = x · (y · v)− y · (x · v).

Além disso, denimos como sendo a dimensão do g-módulo V a sua dimensão como C-espaçovetorial.

Dados dois g-módulos V1 e V2, um homomorsmo φ : V1 → V2 é uma transformação linear que

comuta com a ação de g, i.e., φ(xv) = xφ(v) para todos x ∈ g e v ∈ V . Caso φ seja inversível os

módulos V1 e V2 são ditos isomorfos.

Para uma xada álgebra de Lie g, um importante exemplo de homomorsmo é a aplicação cha-

mada de adjunta que é denida da seguinte forma: ad : g→ End(g) tal que x 7→ adx : g→ g, onde

adx(y) := [x, y]. Desta maneira g torna-se um g-módulo.

Para nalizar essa subseção, vamos relembrar o conceito de representação de uma álgebra de

Lie g assim como a sua equivalência com o conceito de g-módulo.

Denição 2.2.2 Uma representação de uma álgebra de Lie g é um par (V, ρ), onde V é um C-espaço vetorial e ρ : g→ End(V ) é um homomorsmo de álgebras de Lie. Explicitamente,

ρ : g→ End(V )

x 7→ ρx : V → V

v 7→ ρx(v),

ou seja, a cada elemento x ∈ g associamos uma aplicação linear ρx : V → V tal que

ρ[x,y] = [ρx, ρy] = ρxρy − ρyρx.

A dimensão do C-espaço vetorial V é denominada de dimensão da representação.

Como vimos anteriormente, para uma álgebra de Lie g, a aplicação adjunta ad : g→ End(g) é

um homomorsmo de álgebras de Lie. Em particular, (ad, g) é uma representação de g, chamada

de representação adjunta de g.

Para nalizar essa seção, observamos que, xada uma álgebra de Lie g e uma representação

dessa álgebra de Lie (ρ, V ), podemos enxergar V como sendo um g-módulo, cuja ação de g sobre

V é dada por x · v := ρx(v) para cada x ∈ g e cada v ∈ V . Por outro lado, dado um g-módulo

V , podemos enxergar o par (ρ, V ) como uma representação de g, onde para cada x ∈ g e v ∈ Vdenimos ρx : V → V dada por ρx(v) := x · v, onde · representa a ação de g sobre V . Assim, as

representações de uma álgebra de Lie g e os g-módulos podem ser usados indistintamente conforme

a linguagem que seja mais conveniente em um dado ponto da teoria.

Uma pergunta natural é se para uma dada representação (V, ρ) de uma álgebra de Lie g existe

um subespaço vetorialW ⊂ V tal que (W,ρ|W ) ainda seja uma representação de g, i.e. ρx(W ) ⊂W ,

2.2 MÓDULOS E REPRESENTAÇÕES 9

para todo x ∈ g. Nesse ponto surge então uma outra noção importante que é a de submódulo ou de

subrepresentação, cuja denição é apresentada a seguir:

Denição 2.2.3 Uma subrepresentação de uma representação (V, ρ) de uma álgebra de Lie g é um

subespaço W ⊂ V que é ρx-invariante, para todo x ∈ g. Neste caso, W é um submódulo de V .

Dizemos que uma representação não nula (V, ρ) é irredutível (ou simples) se as suas únicas su-

brepresentações são as triviais, isto é, são os subespaços 0 e o próprio V . Por outro lado, dizemos

que uma representação (V, ρ) é indecomponível quando V não pode ser escrito como soma direta

de duas subrepresentações não triviais. Claramente temos que toda representação irredutível é in-

decomponível, mas o contrário não é verdadeiro.

Um dos principais problemas da teoria das representações de álgebras de Lie é classicar as

representações irredutíveis e indecomponíveis de uma dada álgebra de Lie a menos de isomorsmo.

Esse problema é bastante difícil e frequentemente é estudado parcialmente, com alguns bons resul-

tados já estabelecidos, por exemplo no caso de representações de dimensão nita.

Nesse ponto recordaremos a generalização do famoso Lema de Schur, que desempenha um papel

fundamental na teoria das representações de dimensão innita das álgebras de Lie de dimensão

nita.

Lema 2.2.4 (Lema de Dixmier) Sejam M um módulo irredutível de dimensão no máximo con-

tável sobre uma álgebra R denida sobre um corpo K algebricamente fechado não contável e f um

endomorsmo de M . Então existe λ ∈ K tal que f(m) = λm para qualquer m ∈M .

Observamos que, no caso de módulo de dimensão nita, esta armação vale para qualquer corpo

algebricamente fechado (Lema de Schur clássico). Uma prova deste resultado pode ser encontrada

em [7].

Uma consequência direta do Lema de Schur é que os módulos irredutíveis de dimensão nita

para uma álgebra de Lie abeliana complexa são todos 1-dimensionais. Outra aplicação é seguinte:

sejam g uma álgebra de Lie de dimensão nita complexa e (V, ρ) uma representação de dimensão

nita e irredutível de g. Se x ∈ Z(g) então existe um escalar λ ∈ C tal que z · v = λv para todo

v ∈ V , ou seja, nessas condições, o centro de g age por escalares. A mesma armação vale para

elementos do centro da álgebra envolvente universal de g.

A importancia do Lema de Dixmier é que os mesmos resultados sobre a ação do centro de uma

álgebra (de Lie ou da sua álgebra envolvente universal) podem ser obtidos para certas classes de

módulos irredutíveis de dimensão innita.

2.2.2 Decomposição de Cartan

A esta altura, vamos relembrar o conceito de subálgebra de Cartan de uma álgebra de Lie

semissimples, assim como os conceitos de raízes e de subespaços de pesos.

10 PRELIMINARES 2.2

Denição 2.2.5 Seja g uma álgebra de Lie de dimensão nita sobre C. Para qualquer subálgebra

h ⊂ g, denimos o normalizador de h em g como sendo o conjunto I(h), dado por:

I(h) := x ∈ g | [x, y] ∈ h, para todo y ∈ h .

Não é difícil vericar que I(h) é uma subálgebra de g que contém h e que h é um ideal de I(h).

Além disso, se a é uma subálgebra de g e h é um ideal de a, então a está contida em I(h), ou seja,

I(h) é a maior subálgebra de g na qual h é um ideal.

Uma subálgebra de Lie h de g é nilpotente se hk = 0 para algum k, onde h1 = [h, h] e para

qualquer i temos hi = [h, hi−1].

Denição 2.2.6 Dada uma álgebra de Lie g de dimensão nita sobre o corpo C, dizemos que uma

subálgebra h ⊂ g é uma subálgebra de Cartan de g se h é nilpotente e I(h) = h.

Temos o seguinte resultado de existência e que pode ser encontrado em [17]:

Teorema 2.2.7 Toda álgebra de Lie de dimensão nita g sobre C possui uma subálgebra de Cartan.

Mais ainda, dadas duas subálgebras de Cartan h1 e h2 de g, existe um automorsmo φ de g tal que

φ(h1) = h2. Além disso, se g é simples, então qualquer subálgebra de Cartan de g é abeliana.

Seja g uma álgebra de Lie simples de dimensão nita denida sobre o corpo C. Consideramos a

representação adjunta de g restrita a h, a saber:

ad : h→ End(g)

x 7→ adx : g→ g

y 7→ adx(y) = [x, y].

Dessa forma, como para cada elemento x ∈ h associamos um operador linear adx, podemos

enxergar"h como uma coleção de operadores lineares no C-espaço vetorial g. Como g é simples,

temos que h é uma subálgebra de Lie abeliana, segue que todos os operadores lineares de ad(h)

comutam entre si, pois [h1, h2] = 0 para quaisquer h1, h2 ∈ h, o que revela que

adh1 adh2(x) = adh1([h2, x])

= [h1, [h2, x]]

= [h1, h2], x]︸ ︷︷ ︸=0

+[h2, [h1, x]]

= [h2, [h1, x]

= adh2 adh1(x).

Além disso, como g é um g-módulo simples (em relação da representação adjunta) pode-se mos-

trar que ad(h) é uma coleção de operadores lineares diagonalizáveis. Daqui segue que existe uma

base g constituída de autovetores comuns de todos elementos de ad(h).

Nessas condições, provas-se que (ver por exemplo, [17]) pode-se decompor g da seguinte forma:

2.2 MÓDULOS E REPRESENTAÇÕES 11

g = h⊕

(⊕α∈Φ

), (2.1)

onde h∗ é o dual da subálgebra de Cartan, Φ ⊂ h∗ \ 0 é o sistema de raízes de g com respeito

a h, gα = x ∈ g ; adh(x) = α(h)x, ∀h ∈ h. Essa decomposição chama-se decomposição de Cartan

da álgebra de Lie g. Os α's são chamados raízes e os subespaços gα's são chamados subespaços de

raízes. Dizemos que ` := dim h é o posto da álgebra de Lie g. Como a dimensão de cada gα, α ∈ Φ

é 1, no caso de álgebra de Lie simples g, de (2.1), segue que:

dimg = dimh + |Φ|.

Exemplo 2.2.8 Se g = sl(n) e h é a subalgebra de Cartan constituída pelas matrizes diagonais,

temos que:

g = h⊕

⊕i 6=jCEij

, (2.2)

Perceba que se A ∈ h, então

A =

λ1 0

. . .

0 λn

com λ1+· · ·+λn = 0 e [A,Eij ] = (λi−λj)Eij. Nesse caso, o sistema de raízes é Φ = ei − ej | i 6= j,onde

ei :

λ1 0

. . .

0 λn

7→ λi.

Um sistema de raízes Φ goza das seguintes propriedades: Se α ∈ Φ, então −α ∈ Φ e além disso,

Φ gera h∗.

Denição 2.2.9 Sejam g uma álgebra de Lie de dimensão nita, h ⊂ g uma subálgebra de Cartan

de g e Φ ⊂ h∗ o sistema de raízes de g, com respeito a h. Dizemos que ∆ ⊂ Φ é um sistema de

raízes simples se:

• ∆ é uma base de h∗ como espaço vetorial.

• Cada raiz β ∈ Φ pode ser escrita como β =∑

α∈∆ kαα sendo os coecientes kα todos inteiros

não negativos ou todos inteiros não positivos.

As raízes de ∆ são então chamadas de raízes simples. Além disso, dizemos que β =∑kαα é

positiva quando todos os escalares kα são inteiros não negativos e que β é negativa no caso em que

os escalares kα são todos não positivos. No primeiro caso escrevemos β 0 e β ≺ 0 no segundo

caso. Por m, representamos por Φ+ o conjunto das raízes positivas e por Φ− o conjunto das raízes

negativas.

Note que ∆ dene uma relação de ordem parcial em h compatível com a relação α 0, denindo

λ µ se λ− µ é uma soma de raízes positivas ou λ = µ.

12 PRELIMINARES 2.2

Um fato importante, provado por exemplo em [17], é que todo sistema de raízes de uma álgebra

de Lie semissimples de dimensão nita admite uma base.

Usualmente xamos um sistema de raízes simples ∆ ⊂ Φ e os correspondentes conjuntos de

raízes positivas e negativas. Isso dene a decomposição de Cartan

g = n− ⊕ h⊕ n+, onde n− =⊕α≺0

gα e n+ =⊕α0

gα.

Por exemplo, no caso da álgebra de Lie g = sl(2), cuja base é dada explicitamente por

h =

(1 0

0 −1

), e =

(0 1

0 0

)e f =

(0 0

1 0

). (2.3)

temos h = Ch, n− = Cf e n+ = Ce. Esta álgebra desempenha um papel central na teoria das

representações das álgebras de Lie, pois cada α ∈ Φ+ determina uma subálgebra sα ' sl(2) com

base xα ∈ gα, yα ∈ g−α and hα ∈ h tais que [xα, yα] = hα e α(hα) = 2. Os elementos do conjunto

xα, yα, hα;α ∈ ∆ são chamados geradores de de Chevalley de g [17].

2.2.3 Forma de Killing

Fixada uma álgebra de Lie g, já denimos anteriormente a representação adjunta ad : g →End(g). A partir da adjunta pode-se denir uma forma bilinear simétrica sobre g, que é a chamada

forma de Killing, cuja denição é seguinte:

Denição 2.2.10 A forma de Killing de uma álgebra de Lie g de dimensão nita é a forma bilinear

simétrica 〈·, ·〉 : g× g→ C dada por

〈x, y〉 := tr (adx ady) .

A forma de Killing é uma ferramenta importante para detectar se a álgebra de Lie é semissimples,

pois pelo Critério de Cartan, uma álgebra de Lie g de dimensão nita é semissimples se e somente se

a sua forma de Killing é não degenerada. Neste caso, a restrição da forma de Killing da subálgebra de

Cartan h ⊂ g é não degenerada também. Assim, ela induz uma aplicação linear (bijetiva) ϕ : h→ h∗

dada por ϕ(x) = fx tal que

fx(y) = 〈x, y〉 , ∀y ∈ h.

2.2.4 O grupo de Weyl

Para um sistema de raízes Φ associado a uma álgebra de Lie g, com subálgebra de Cartan h, há

um grupo de operadores lineares de h∗ que revela uma bela geometria e simetria no sistema de raízes

Φ, que é o chamado grupo de Weyl. Relembraremos a sua construção e as principais propriedades

do grupo de Weyl nesta subseção.

Para cada α ∈ Φ consideremos o operador linear sα : h∗ → h∗ que é a reexão em torno do

hiperplano ortogonal a α dada por:

sα(λ) = λ− 2.〈λ, α〉〈α, α〉

α.

2.3 CLASSIFICAÇÃO DAS ÁLGEBRAS DE LIE SIMPLES 13

De posse desses operadores, temos então a denição do grupo de Weyl.

Denição 2.2.11 O grupo W gerado pelas reexões sα, com α ∈ Φ, é chamado de grupo de Weyl

de g.

O grupo de Weyl goza de inúmeras propriedades interessantes. Aqui vamos listar as mais rele-

vantes (cujas provas podem ser encontradas, por exemplo, em [17]). A primeira delas é que o grupo

de Weyl permuta as raízes, ou seja, se w ∈ W , então w(α) ∈ Φ, sempre que α ∈ Φ, o que nos

permite concluir que W é um grupo nito, visto que é um subgrupo do grupo de permutações do

conjunto nito Φ. Uma outra propriedade relevante é que dada qualquer raiz α ∈ Φ, existe uma

raiz simples β ∈ ∆ e um elemento w ∈ W tais que α = w(β), isto é, Φ = W (∆), em particular, se

conhecermos as raízes simples, podemos obter todo o sistema de raízes Φ por sucessivas reexões.

2.3 Classicação das álgebras de Lie simples

As álgebras de Lie complexas simples de dimensão nita foram classicadas por Killing e Cartan.

Elas pertencem às famílias An, Bn, Cn e Dn (álgebras de Lie clássicas) ou correspondem a uma das

cinco álgebras de Lie excepcionais, a saber: E6, E7, E8, F4 ou G2. Para que não haja redundância

nessa classicação consideramos que para An temos n ≥ 1, para Bn, n ≥ 2, para Cn, n ≥ 3 e no

caso Dn, temos que n ≥ 4. As álgebras de Lie simples estão associadas aos chamados diagramas de

Dynkin.

Denição 2.3.1 Se ∆ é um conjunto de raízes simples de um sistema de raízes Φ de uma álgebra

de Lie complexa g de dimensão nita, o diagrama de Dynkin associado a Φ é um grafo construído

da seguinte maneira:

• Para cada raiz simples α ∈ ∆, construímos um vértice do grafo.

• Para cada par de raízes distintas αi, αj ∈ ∆, conectamos os respectivos vértices n arestas,

onde n depende do ângulo ϕ entre essas duas raízes do seguinte modo:

Se ϕ = π2 , n = 0, isto é, nesse caso não haverá arestas conectando os vértices correspondento

as raízes αi e αj;

Se ϕ = 2π3 , n = 1;

Se ϕ = 3π4 , n = 2;

Se ϕ = 5π6 , n = 3.

• Para cada par de raízes distintas (e não ortogonais) αi, αj ∈ ∆ tais que |αi| 6= |αj |, orientamos

as arestas que conectam os vértices correspondentes a essas raízes indicando uma seta que tem

o sentido da raiz mais longa para a raiz mais curta.

Para as álgebras de Lie dos tipos An, Bn, Cn, Dn, E6, E7, E8, F4 ou G2, os diagramas de Dynkin

são os seguintes (para maiores detalhes, vide [17]).

14 PRELIMINARES 2.3

No caso em que o corpo sobre o qual a álgebra de Lie está denida não é algebricamente fechado,

a classicação existe mas é mais complicada. Essa classicação é feita através dos diagramas de

Satake, conforme podemos encontrar uma descrição em [19].

2.3.1 A álgebra envolvente universal

Uma ferramenta essencial para o estudo das representações dos módulos sobre a uma álgebra

de Lie g é a sua álgebra envolvente universal U(g). A álgebra U(g) é uma álgebra associativa com

unidade, sem divisores de zero, noetheriana à direita, de dimensão innita se g 6= 0 e não comutativa

se g não é abeliana.

Se x1, · · · , xn é uma base ordenada de g, então os monômios xt11 · · ·xtnn (como elementos de

um certo quociente de álgebra tensorial construída a partir de g), com ti ∈ Z+, formam uma base

de U(g). Esse é o conteúdo do famoso Teorema de Poincaré-Birkho-Witt. Em particular, g pode

ser identicada com um subespaço de U(g).

Vamos denotar por Zg o centro da álgebra U(g). Se g é uma álgebra complexa simples de dimen-

são nita, então Zg é isomorfo a uma álgebra polinomial em ` indeterminadas, onde ` é a dimensão

de uma subálgebra de Cartan de g. Por exemplo, no caso de g = sl(n), o centro Zg é isomorfo a uma

álgebra polinomial em n − 1 indeterminadas, enquanto o centro Zgl(n) é isomorfo a uma álgebra

polinomial em n indeterminadas. O centro de U(gl(n)) é usado para construir a chamada subálgebra

de Gelfand-Tsetlin, que apresentaremos numa seção posterior, e que é de fundamental importância

para o presente trabalho.

Um outro fato que mecere ser destacado é que qualquer representação de uma álgebra de Lie

g tem uma estrutura canônica de U(g)-módulo, e reciprocamente, qualquer U(g)-módulo tem uma

estrutura canônica de representação de g. Assim, as categorias das representação de g-módulos e

de U(g)-módulos são equivalentes.

Capítulo 3

Módulos de Gelfand-Tsetlin

Neste capítulo abordamos os principais fatos sobre os módulos de Gelfand-Tsetlin para a álgebra

de Lie complexa gl(n). O tratamento da teoria de módulos de Gelfand-Tsetlin para a álgebra de Lie

sl(n) é analogo, mas por conveniência técnica vamos considerar o caso de gl(n). Destacamos que todo

módulo de Gelfand-Tsetlin sobre gl(n) é um módulo de Gelfand-Tsetlin sobre sl(n). Reciprocamente,

todo módulo de Gelfand-Tsetlin sobre sl(n) torna-se um módulo de Gelfand-Tsetlin sobre gl(n) após

de denir-se a ação da matriz identidade de gl(n) por um escalar. Além disso, a irredutibilidade ou

a falta dela é preservada para os dois lados.

Além dos conceitos e terminologias peculiares dessa família de módulos, apresentaremos o Teo-

rema de Gelfant-Tsetlin [15], onde são dadas realizações explícitas, através das chamadas tabelas de

Gelfand-Tsetlin, para os módulos irredutíveis de dimensão nita. Ainda neste capítulo, mostraremos

as principais extensões desse teorema no caso de dimensão innita, passando pelos módulos gené-

ricos de Gelfand-Tsetlin e culminando com os módulos 1-singulares, onde se encontra o principal

problema resolvido nesta tese.

3.1 Módulos de peso

Para conveniência do leitor, vamos relembrar a denição de módulos de peso dada na Introdu-

ção. Fixadas uma álgebra de Lie simples de dimensão nita g e uma subálgebra de Cartan h ⊂ g,

um módulo de peso sobre g, é um módulo M com decomposição de pesos M = ⊕λ∈h∗Mλ onde

Mλ = v ∈M | hv = λ(h)v, ∀h ∈ h. Denimos SuppM = λ ∈ h∗ | Mλ 6= 0. A dimensão de Mλ

é chamada de multiplicidade de λ como peso de M .

Além dos módulos de dimensão nita sobre g, os mais estudados e conhecidos entre os módulos

de peso são módulos de peso máximo.

Seja g = n− ⊕ h⊕ n+ uma decomposição de Cartan(2.1).

Denição 3.1.1 Um vetor de peso máximo λ num g-módulo V é um vetor não nulo v de peso λ

tal que gαv = 0 para qualquer α 0. Nesse caso, dizemos também que λ é um peso máximo de V .

Se o módulo V é gerado por um vetor v de peso máximo, então V é dito módulo de peso máximo λ.

Sejam λ ∈ h∗ e Iλ o ideal (à esquerda) de U(g) gerado pelos elementos de n+ e hi − λ(hi).1,

15

16MÓDULOS DE GELFAND-TSETLIN 3.2

com i = 1, · · · , l (onde l = dimh). Denimos o módulo de Verma de peso máximo λ como sendo o

quociente M [λ] = U(g)/Iλ.

Como cada elemento u ∈ U(g) pode ser escrito como u = u.1, segue uma maneira alternativa

para denirmos o módulo de Verma que é a seguinte: sendo b = h ⊕ n+ uma subálgebra de Borel

de g e Cvλ o módulo de dimensão 1 sobre b, onde n+vλ = 0 e hvλ = λ(h)vλ para todo h ∈ h, temos

M [λ] ' U(g)⊗U(b) Cvλ.

Todo vetor v ∈M [λ] pode ser escrito unicamente da forma v = u⊗ vλ, com u ∈ U(n−), ou seja,

a aplicaçãoU(n−)→M [λ]

u 7→ u⊗ vλ

é um isomorsmo de espaços vetoriais.

O módulo de Verma M [λ] é obviamente um módulo de peso com todos os subespaços de pesos

sendo de dimensão nita e além disso o conjunto dos pesos de M [λ] é dado por:

SuppM [λ] = λ−Q+, com Q+ =∑

niαi, ni ∈ Z≥0, αi ∈ ∆

e dimM [λ]λ = 1 [Teorema 8.14 em [18]].

Pela construção M [λ] é um módulo de peso máximo com a seguinte propriedade universal:

Proposição 3.1.2 (Lema 8.13 em [18]) Se V é um módulo de peso máximo com peso máximo

λ, então

V 'M [λ]/W

para algum submódulo W ⊂M [λ].

O módulo de VermaM [λ] tem um único submódulo próprio maximal. Portanto existe um único

quociente irredutível L[λ] deM [λ] de peso máximo λ. Relembramos que a dimensão de L[λ] é nita

se, e somente se, λ é dominante integral, i.e.,

λ(hi) ∈ Z≥0, para i = 1, · · · , l,

onde h1, . . . , h` são co-raízes simples de g [17]). Além disso, todo g-módulo irredutível de dimensão

nita tem a forma L[λ] para algum peso dominate integral λ ∈ h∗.

Os módulos M [λ] e L[λ] são exemplos de módulos de Gelfand-Tsetlin para todo λ ∈ h∗.

A partir de agora, vamos xar a notação g = gl(n) com subálgebra de Cartan h xa de matrizes

diagonais. Como já mencionamos no capítulo introdutório, o problema da classicação de todos os

g-módulos de peso irredutíveis é bastante complicado e ainda está longe de ser resolvido comple-

tamente. Uma estratégia para estudar parcialmente esse problema é considerar a subcategoria dos

módulos de Gelfand-Tsetlin. A seguir, vamos apresentar os conceitos, notações e alguns resultados

fundamentais sobre os módulos de Gelfand-Tsetlin.

3.2 MÓDULOS DE GELFAND-TSETLIN PARA GL(N) 17

3.2 Módulos de Gelfand-Tsetlin para gl(n)

Nesta seção vamos resumir algumas denições e fatos mais relevantes sobre os módulos de

Gelfand-Tsetlin. Para simplicar a notação, no caso da álgebra de Lie gl(n), usaremos U = U(gl(n))

ao longo do restante do texto. Para um anel comutativo R, usaremos SpecmR para denotar o

conjuntos dos ideais maximais de R.

A partir de agora, xemos a base Eij , i, j = 1, . . . , n de gl(n) e a base E11, . . . , Enn de h.

Os pesos de gl(n) serão representados por n-uplas λ = (λ1, ..., λn).

Para cada m 6 n, consideremos gl(m) a subálgebra de Lie de gl(n) gerada pelas matrizes

elementares Eij | i, j = 1, . . . ,m. Temos então a seguinte cadeia de álgebras de Lie

gl(1) ⊂ gl(2) ⊂ . . . ⊂ gl(n),

que por sua vez induz a cadeia U1 ⊂ U2 ⊂ . . . ⊂ Un das correspondentes álgebras envolventes

universais Um = U(gl(m)), com 1 ≤ m ≤ n. Seja Zm o centro de Um. Segue de [26] que Zm é uma

álgebra polinomial nas m variáveis cmk | k = 1, . . . ,m, onde

cmk =∑

(i1,...,ik)∈1,...,mkEi1i2Ei2i3 . . . Eiki1 . (3.1)

Seguindo [4], chamamos a subálgebra de U gerada por Zm |m = 1, . . . , n de subálgebra de

Gelfand-Tsetlin de U e a vamos denotar por Γ. Sabe-se que Γ é uma álgebra polinomial nasn(n+ 1)

2variáveis cij | 1 6 j 6 i 6 n (conforme o Capítulo 10 de [26]), i.e., os geradores cij de Γ são

algebricamente independentes.

Denotaremos por Λ a álgebra polinomial nas variáveis λij | 1 6 j 6 i 6 n. Seja ı : Γ−→ Λ

denida por ı(cmk) = γmk(λ), onde

γmk(λ) :=m∑i=1

(λmi +m− 1)k∏j 6=i

(1− 1

λmi − λmj

). (3.2)

Zhelobenko [26], mostra que a imagem de ı coincide com a subálgebra dos polinômios G-invariantes

em Λ, a qual nós identicamos com Γ, onde G = Sn × Sn−1 × . . . × S1. Além disso, para cada

m ∈ 1, 2, · · · , n, γmk(λ) é um polinômio simétrico de grau k nas variáveis λm1, · · · , λmm e

γm1(λ), · · · , γmm(λ) gera a álgebra dos polinômios simétricos nas variáveis λm1, · · · , λmm.

Vale a pena destacar o fato de que Γ contém a subálgebra de Cartan h de gl(n), pois

cm1 =

m∑i=1

Eii ∈ Γ

ou seja, E11, E11 +E22, · · · , E11 + · · ·+Enn ∈ Γ, o que nos permite concluir que E11, · · · , Enn ∈ Γ.

Denição 3.2.1 Um U -módulo nitamente geradoM é chamado de um módulo de Gelfand-Tsetlin

(com respeito a Γ) se M se escreve como a seguinte soma direta de Γ-submódulos:

18MÓDULOS DE GELFAND-TSETLIN 3.2

M =⊕

m∈Specm Γ

M(m),

onde M(m)=v ∈M | mkv = 0 para algum k ≥ 0

.

Observação 3.2.2 Os gl(n)-módulos irredutíveis de Gelfand-Tsetlin são módulos de peso com res-

peito à subálgebra de Cartan h, gerada pelas matrizes elementares E11, · · · , Enn ∈ Γ. Entretanto, o

contrário nem sempre é verdade, ou seja, um módulo de peso não necessariamente é um módulo de

Gelfand-Tselin (apesar de não ser simples dar um exemplo explícito de um módulo de peso irredutí-

vel que não seja um módulo de Gelfand-Tsetlin). No caso particular em que n = 2, todo módulo de

peso irredutível é um módulo de Gelfand-Tsetlin. Também, todo módulo de peso com multiplicidades

de todos os pesos nitas é um módulos de Gelfand-Tsetlin.

Um homorsmo de álgebras χ : Γ→ C é chamado um de caráter de Gelfand-Tsetlin. Para cada

m ∈ SpecmΓ está associado um caráter χm : Γ → C e reciprocamente. Ou seja, para cada caráter

de Gelfand-Tsetlin χ : Γ → C tem-se que Ker(χ) ∈ SpecmΓ. Dessa forma existe um identicação

natural entre os caráteres de Gelfand-Tsetlin e o espectro maximal de Γ, o que, para cada módulo

de Gelfand-Tsetlin M , nos permite escrever M =⊕

χ∈Γ∗ M(χ), onde

M(χ) :=v ∈M | para cada γ ∈ Γ,∃k ∈ Z>0 tal que (γ − χ(γ))k v = 0

.

Motivado pelo que acabamos de expor, temos a seguinte denição:

Denição 3.2.3 Para um módulo de Gelfand-Tsetlin M =⊕

χ∈Γ∗ M(χ), denimos o suporte de

Gelfand-Tsetlin de M como sendo

SuppGT (M) = χ ∈ Γ∗ | M(χ) 6= 0 .

Fazendo a já mencionada identicação de m através o homomorsmo χ : Γ→ C com Kerχ = m,

podemos chamar m de um caráter de Gelfand-Tsetlin deM no caso em queM(m) 6= 0, e dimM(m)

é denida como sendo a multiplicidade de Gelfand-Tsetlin de m. Frequentemente chamaremos de

caráter de Gelfand-Tsetlin, multiplicidade de Gelfand-Tsetlin, e suporte de Gelfand-Tsetlin, sim-

plesmente de caráter, multiplicidade e suporte, respectivamente.

Como já foi mencionado, os módulos irredutíveis de dimensão nita são exemplos clássicos

de módulos de Gelfand-Tsetlin. A seguir, vamos mostrar que esses módulos podem ser realizados

através de certas tabelas que constituem uma base de autovetores para a ação de Γ e que, nesse

caso, dimM(χ) ≤ 1 para todo χ ∈ Γ∗.

Para nalizar vamos mencionar um importante resultado sobre os módulos de Gelfand-Tsetlin.

Teorema 3.2.4 (V. Futorny e S. Ovsienko, [14]) Sejam Γ ⊂ U a subálgebra de Gelfand-Tsetlin

e Qn = 1!.2!. · · · .(n− 1)!. Se m ∈ SpecmΓ, então:

1. Para um g-módulo M tal que M(m) 6= 0 e M é gerado por algum x ∈ M(m) (em particular

quando M é irredutível), tem-se que

dimM(m) ≤ Qn.

3.3 GL(N)-MÓDULOS IRREDUTÍVEIS DE DIMENSÃO FINITA 19

2. O número de classes de isomorsmos de g-módulos irredutíveis N tais que N(m) 6= 0 é sempre

não nulo e é limitado por Qn.

3.3 gl(n)-módulos irredutíveis de dimensão nita

Nesta seção vamos relembrar o resultado clássico de Gelfand-Tsetlin (apresentado em [15]) no

qual eles fornecem bases explícitas para todos os gl(n)-módulos irredutíveis de dimensão nita. Para

isso vamos começar denindo as chamadas tabelas de Gelfand-Tsetlin.

Vamos representar os vetores do espaço vetorial Cn(n+1)

2 da seguinte forma:

v = (vn1, ..., vnn|vn−1,1, ..., vn−1,n−1| · · · |v21, v22|v11).

Para 1 ≤ j ≤ i ≤ n, δij ∈ Zn(n+1)

2 é denido por (δij)ij = 1 enquanto que todas as outras entradas

de (δij)k` são iguais a zero.

Relembrando que para o inteiro i > 0 representaremos por Si o i-ésimo grupo simétrico. Por

m (k, `) denotará a transposição de Sn, i.e, a permutação que troca de posição os elementos k e `

e xa as demais posições.

Denição 3.3.1 Seja v = (vij) ∈ Cn(n+1)

2 , representamos por T (v) o seguinte arranjo de números

complexos vij : 1 ≤ j ≤ i ≤ n

vn1 vn2 · · · vn,n−1 vnn

vn−1,1 · · · vn−1,n−1

· · · · · · · · ·

v21 v22

v11

que denominamos de tabela de Gelfand-Tsetlin de altura n.

Para qualquer tabela de Gelfand-Tsetlin T (v) (de altura n), vamos denotar por B(T (v)) o

conjunto de todas as tabelas que são obtidas a partir de T (v) por translações de inteiros, ou seja

todas as tabelas que são obtidas a partir de T (v) adicionando números inteiros quaisquer em cada

uma das entradas da tabela original, exceto na linha do topo da tabela, que deve permancer xa.

Mais precisamente:

B(T (v)) :=T (v + z) | z ∈ Z

n(n−1)2

.

Cabe aqui uma observação que os elementos de z ∈ Zn(n−1)

2 são considerados como elementos

de Zn(n+1)

2 onde zn1 = . . . = znn = 0.

Uma tabela de Gelfand-Tsetlin T (v) é chamada de standard se:

vki − vk−1,i ∈ Z≥0 e vk−1,i − vk,i+1 ∈ Z>0, for all 1 ≤ i ≤ k ≤ n.

20MÓDULOS DE GELFAND-TSETLIN 3.4

Existe uma correspondência natural entre os caráteres da subálgebra de Gelfand-Tsetlin e o

conjunto das tabelas de Gelfand-Tsetlin de altura n. Com efeito, para obter uma tabela de Gelfand-

Tsetlin a partir de um caráter χ, basta resolvermos o sistema de equações

γmk(λ) = χ(cmk) com 1 ≤ k ≤ m ≤ n

(veja (3.2)) e reciprocamente, dada uma tabela de Gelfand-Tsetlin com entradas vij | 1 ≤ j ≤ i ≤ n,podemos construir um carácter de Gelfand-Tsetlin χ ∈ Γ usando o mesmo sistema de equações

acima. Dessa forma cada tabela de Gelfand-Tsetlin determina um único caráter, entretanto um

carácter χ ∈ Γ dene uma tabela de Gelfand-Tsetlin a menos de permutações dos elementos das

suas linhas, visto que as funções γmk(v) são polinômios simétricos.

Agora vamos apresentar o resultado de Gelfand-Tsetlin (que surgiu por volta de 1950) e que

dá uma realização através de Tabelas de Gelfand-Tsetlin para os módulos irredutíveis de dimensão

nita.

Teorema 3.3.2 (Gelfand-Tsetlin, [15]) Seja L(λ) um gl(n)-módulo de dimensão nita e irredu-

tível de peso máximo λ = (λ1, . . . , λn). Então existe uma base de L(λ) constituída de tabelas standard

T (v) cuja linha do topo (linha n) de todas as tabelas é xada vn1 = λ1, vn2 = λ2 − 1, . . . , vnn =

λn − n + 1. Além disso, a ação dos geradores de gl(n) em L(λ) é dada pelas chamadas fórmulas

(clássicas) de Gelfand-Tsetlin, a saber:

Ek,k+1(T (v)) = −k∑i=1

(∏k+1j=1(vki − vk+1,j)∏kj 6=i(vki − vkj)

)T (v + δki),

Ek+1,k(T (v)) =

k∑i=1

(∏k−1j=1(vki − vk−1,j)∏kj 6=i(vki − vkj)

)T (v − δki),

Ekk(T (v)) =

(k − 1 +

k∑i=1

vki −k−1∑i=1

vk−1,i

)T (v).

Se uma nova tabela T (v± δki) não for standard, então o correspondente somando em Ek,k+1(T (v))

ou Ek+1,k(T (v)) é igual a zero, por denição. Além disso, a ação dos geradores crs de Γ (os quais

foram denidos em (3.1)) é dada por,

crs · T (v) = γrs(v)T (v), (3.3)

onde γrs são denidos em (3.2).

3.4 Módulos de Gelfand-Tsetlin genéricos

Observando que os coecientes das fórmulas clássicas de Gelfand-Tsetlin do Teorema 3.3.2 são

funções racionais das entradas das tabelas, é bastante natural tentar estender a construção de

Gelfand-Tsetlin para módulos mais gerais. No caso em que todos os denominadores não são números

inteiros, podemos utilizar as mesmas fórmulas para denir uma nova classe de módulos, agora de

3.4 MÓDULOS DE GELFAND-TSETLIN GENÉRICOS 21

dimensão innita, chamadosmódulos de Gelfand-Tsetlin genéricos. Vamos então apresentar de modo

sucinto essa construção feita por Y. Drozd, V. Futorny e S. Ovisienko na seção 2.3 de [5].

Denição 3.4.1 Uma tabela de Gelfand-Tsetlin T (v) é chamada genérica se vrs − vru /∈ Z para

cada 1 ≤ s < u ≤ r ≤ n− 1.

Teorema 3.4.2 (Seção 2.3, [5]) Seja T (v) uma tabela de Gelfand-Tsetlin genérica. Denotamos

por V (T (v)) o espaço vetorial com base consistindo de todas as tabelas de Gelfand-Tsetlin T (w)

satisfazendo wnj = vnj, wij − vij ∈ Z para , 1 ≤ j ≤ i ≤ n− 1. Então:

(i) O espaço vetorial V (T (v)) tem uma estrutura de gl(n)-módulo com a ação dos geradores de

gl(n) dada pelas fórmulas clássicas de Gelfand-Tsetlin. Além disso, o módulo V (T (v)) tem

comprimento nito.

(ii) A ação dos geradores de Γ sobre os elementos da base de V (T (v)) é dada por (3.3).

(iii) O módulo denido em (i) é um módulo de Gelfand-Tsetlin e, além disso, todas as multiplici-

dades de Gelfand-Tsetlin são iguais a 1.

Note que o módulo V (T (v)) não necessariamente é irredutível. Como Γ tem um espectro simples

em V (T (v)) (i.e., as multiplicidades de Gelfand-Tsetlin são iguais a 1), para cada tabela T (w) em

V (T (v)) podemos denir o gl(n)-módulo irredutível em V (T (v)) contendo T (w) como sendo um

subquociente de V (T (v)) contendo T (w) (veja o Teorema 3.4.2(i)). O conjunto:

Ω+(T (w)) := (r, s, u) | wrs − wr−1,u ∈ Z≥0 (3.4)

é crucial para descrever bases de subquocientes de V (T (v)).

Teorema 3.4.3 (Teorema 6.14, [10]) Seja T (v) uma tabela genérica de Gelfand-Tsetlin e seja

T (w) uma tabela em V (T (v)). Então as seguintes condições ocorrem:

(i) O submódulo de V (T (v)) gerado por T (w) tem base

N (T (w)) := T (w′) ∈ B(T (v)) | Ω+(T (w)) ⊆ Ω+(T (w′));

(ii) O gl(n)-módulo irredutível em V (T (v)) contendo T (w) tem base

I(T (w)) := T (w′) ∈ B(T (v)) | Ω+(T (w)) = Ω+(T (w′)).

3.4.1 Fórmulas de Gelfand-Tsetlin em termos de permutações

Nesta subseção vamos mostrar como reescrever e generalizar as fórmulas clássicas de Gelfand-

Tsetlin que foram introduzidas no Teorema 3.3.2, usando uma notação que será bastante conveniente

para os nossos propósitos, seguindo diretamente as ideias do nal da seção §3 em [11].

Dizemos que v em Cn(n+1)

2 é um vetor genérico se T (v) é uma tabela de Gelfand-Tsetlin genérica

(como denimos em 3.4.1), a denotaremos por Cn(n+1)

2gen o conjunto de todos vetores genéricos em

Cn(n+1)

2 .

22MÓDULOS DE GELFAND-TSETLIN 3.5

Sejam G = Sn×· · ·×S1 e Sm o subconjunto de Sm consistindo de todas as transposições (1, i),

com i = 1, ...,m. Para ` < m, seja Φ`m = Sm−1 × · · · × S`. Para ` > m, denimos Φ`m = Φm` e

nalmente Φ`` = Id. Todo σ ∈ Φ`m pode ser escrita como uma |`−m|-upla de transposições σ[t]

(onde σ[t] é a t-ésima componente de σ). Além disso, consideremamos que toda σ ∈ Φ`m como um

elemento de G = Sm × · · · × S1 denindo σ[t] = Id quando t < min(`,m) ou t > max(`,m) − 1.

Por m, considere todo σ ∈ Sm como um elemento de G representado por σ[t] = Id, com t 6= m.

Denição 3.4.4 Seja 1 ≤ r ≤ n− 1. Denimos

εr,r+1 := δr,1 ∈ Zn(n+1)

2 .

Além disso, denimos também εrr = 0 e εr+1,r = −δr,1.

Denição 3.4.5 Para cada vetor genérico w e qualquer 1 ≤ r ≤ n− 1, 1 ≤ s ≤ n, denimos

er,r+1(w) := −∏r+1j=1(wr1 − wr+1,j)∏rj 6=1(wr1 − wrj)

,

er+1,r(w) :=

∏r−1j=1(wr1 − wk−1,j)∏kj 6=1(wr1 − wrj)

,

ess(w) :=1

s

(s− 1 +

s∑i=1

wsi −s−1∑i=1

ws−1,i

).

(3.5)

Utilizando as denições e notações que acabamos de estabelecer, podemos reescrever as fórmulas

clássicas de Gelfand-Tsetlin apresentadas no Teorema 3.3.2 da seguinte maneira:

Proposição 3.4.6 (Proposição 3.15, em [10]) Seja v ∈ Cn(n+1)

2gen . As fórmulas de Gelfand-Tsetlin

para um gl(n)-módulo de Gelfand-Tsetlin genérico V (T (v)) podem ser reescritas da seguinte forma:

E`m(T (v + z)) =∑σ∈Sr

e`m(σ(v + z))T (v + z + σ(ε`m)),

onde (`,m) ∈ (r, r + 1), (r + 1, r), (r, r) e z ∈ Zn(n+1)

2 tem uma linha nula no topo da tabela.

3.5 Módulos de Gelfand-Tsetlin singulares

Nesta seção vamos relembrar a construção dos módulos de Gelfand-Tsetlin singulares seguindo

diretamente as ideais do trabalho de V. Futorny, D. Grantcharov e L.E. Ramirez em [11].

Denição 3.5.1 Um vetor v ∈ Cn(n+1)

2 será chamado de 1-singular se existirem i, j, k com 1 ≤ i <j ≤ k ≤ n− 1 tais que vki − vkj ∈ Z e vrs − vrt /∈ Z para todos os demais (r, s, t) 6= (k, i, j). Além

disso, para cada vetor 1-singular v associamos uma tabela T (v), chamada de tabela de Gelfand-

Tsetlin 1-singular.

A partir de agora xemos a tripla (i, j, k) tal que 1 ≤ i < j ≤ k ≤ n−1 e xamos um vetor v que

seja 1-singular com vki = vkj . Nesse caso dizemos que a correspondente tabela de Gelfand-Tsetlin

T (v) associada ao vetor v é uma tabela crítica.

3.5 MÓDULOS DE GELFAND-TSETLIN SINGULARES 23

Sendo T (v) a tabela de Gelfand-Tsetlin assosiada ao vetor 1-singular v, em [11] é construído um

gl(n)-módulo de Gelfand-Tsetlin 1-singular V (T (v)) e as ações explicitas das fórmulas de Gelfand-

Tsetlin são fornecidas para os geradores de gl(n) assim como para os geradores Γ. Nesta seção vamos

relembrar os principais detalhes dessa construção.

A partir desse ponto representaremos por τ o elemento (τ [n], . . . , τ [2], τ [1]) de G tal que τ [k]

é a transposição (i, j) e todos os outros τ [t] são iguais a identidade (perceba que k é exatamente

a linha onde ocorre a singularidade da tabela). Em [11], os autores introduziram formalmente um

novo tipo de tabela, denotada por DT (v+w) para todo w ∈ Zn(n+1)

2 sujeita a relação DT (v+w) +

DT (v + τ(w)) ≡ 0 a qual chamaram de tabela Gelfand-Tsetlin derivada associada a w.

Como as funções γrs denidas em (3.2) são polinômios simétricos nas entradas da tabela T (v),

segue que γrs(v + w) = γrs(v + τ(w)) para todo 1 ≤ s ≤ r ≤ n e por isso identicamos as tabelas

T (v + w) e T (v + τ(w)), expressamos esse fato dizendo que elas satisfazem a relação T (v + w) −T (v + τ(w)) ≡ 0, ou ainda T (v + w) ≡ T (v + τ(w)).

Denição 3.5.2 Seja V (T (v)) o espaço vetorial gerado pelo conjunto de tabelas (regulares e deri-

vadas) T (v + w), DT (v + w) | w ∈ Zn(n−1)

2 , sujeitas às relações

T (v + w) = T (v + τ(w)) e DT (v + w) +DT (v + τ(w)) = 0.

Fixemos uma base para V (T (v)) como sendo o conjunto Tab(w) : w ∈ Zn(n−1)

2 , onde

Tab(w) :=

T (v + w), se wki − wkj ≤ 0

DT (v + w), se wki − wkj > 0.

Para cada w ∈ Cn(n+1)

2gen , seja bRe(v − w)c um vetor em C

n(n+1)2 cuja (r, s)-ésima componente é

bRe(vrs − wrs)c, que é a parte inteira da parte real do vetor vrs − wrs. Denimos,

S :=

w + bRe(v − w)c | w ∈ C

n(n+1)2

gen

e Vgen :=

⊕v∈S V (T (v)).

Seja F o espaço das funções racionais nas variáveis v`m, com 1 ≤ m ≤ ` ≤ n, com polos nos

hiperplanos vrs − vrt = 0, e Fij o subespaço de F consistindo de todas as funções que são suaves

em H, que é o conjunto dos vetores v ∈ Cn(n+1)

2 tais que vtr 6= vts para todas as triplas (t, r, s),

exceto para (t, r, s) = (k, i, j).

Denindo V ′ = V (T (v))⊕ Vgen e a aplicação evaluação ev(v) : Fij ⊗ V ′ → V ′, a qual é linear e

fT (v + z) 7→ f(v)T (v + z) , fDij(f)T (v + z) 7→ f(v)Dij(f)T (v + z),

para z ∈ Zn(n+1)

2 , f ∈ Fij e v ∈ S.Finalmente, consideremos o operador linear D : Fij ⊗ V (T (v))→ V (T (v)), denida por

Dv(fT (v + z)) = Dv(f)T (v + z) + f(v)DT (v + z),

24MÓDULOS DE GELFAND-TSETLIN 3.5

onde Dv(f) = 12

(∂f∂vki− ∂f

∂vkj

)(v).

O seguinte lema será bastante útil para alguns cálculos que aparecerão nos próximos capítulos.

Lema 3.5.3 Seja f uma função racional nas variáveis vrs que é suave no hiperplano vki−vkj = 0.

Então,

(i) Dv((vki − vkj)f) = f(v).

(ii) Se f é simétrica com respeito a vki e vkj então, Dv(f) = 0.

Prova:

(i) Como f suave no hiperplano vki − vkj = 0, segue que

Dv((vki − vkj)f) = 12

(f + (vki − vkj) ∂f

∂vki− (−f + (vki − vkj) ∂f

∂vkj

)(v)

= 12(f(v) + f(v))

= f(v)

(ii) Seja f suave e simétrica com respeito a vki e vkj , e sejam vki = vkj = x. Então

∂f∂vki

(v) = limh→0

f(· · · , x+ h, · · · , x, · · · )− f(· · · , x, · · · , x, · · · )h

= limh→0

f(· · · , x, · · · , x+ h, · · · )− f(· · · , x, · · · , x, · · · )h

= ∂f∂vkj

(v).

Portanto , Dv(f) = 12

(∂f∂vki− ∂f

∂vkj

)(v) = 0.

Teorema 3.5.4 (Teoremas 4.11 e 4.12 em [11]) Se v é um vetor 1-singular em Cn(n+1)

2 , então

V (T (v)) é um gl(n)-módulo de Gelfand-Tsetlin 1-singular, com a ação dos geradores de gl(n) dada

por

Ers(T (v + z)) = Dv((vki − vkj)Ers(T (v + z))) (3.6)

Ers(DT (v + z′))) = Dv(Ers(T (v + z′))), (3.7)

Além disso, a ação dos geradores de Γ pode ser escrita explicitamente da seguinte forma:

crs(T (v + z)) = γrs(v + z)T (v + z) (3.8)

crs(DT (v + z′)) = γrs(v + z′)DT (v + z′) +Dv(γrs(v + z′))T (v + z′) (3.9)

para todos z, z′ ∈ Zn(n−1)

2 com z′ 6= τ(z′).

Para alguns geradores de gl(n) a ação de V (T (v)) coincide com a ação dada pelas fórmulas

clássicas de Gelfand-Tsetlin. O seguinte corolário dá algumas condições sucientes para que isso

ocorra.

Corolário 3.5.5 Seja z qualquer elemento de Zn(n−1)

2 , então:

3.5 MÓDULOS DE GELFAND-TSETLIN SINGULARES 25

(i) Para quaisquer `,m tais que k < min`,m ou max`,m ≤ k tem-se que

E`m(T (v + z)) =∑

σ∈Φ`m

e`m(σ(v + z))T (v + z + σ(ε`m)).

(ii) A igualdade

Ers(DT (v + z)) =∑σ∈Φrs

ers(σ(v + z))DT (v + z + σ(εrs)),

ocorre se r, s satisfazem: k /∈ r, r + 1, . . . , s, se r < s,

k /∈ s, s+ 1, . . . , r, se s < r.

Prova:

A prova desse fato está baseada nas propriedades básicas das funções racionais eij(w) que foram

denidas em 3.4.5.

(i) Se k < min`,m ou max`,m−1 < k então, e`m(σ(v+z)) é uma função suave, para qualquer

σ ∈ Φ`m. Então, pelo Lema 3.5.3 segue que Dv((vki − vkj)e`m(σ(v + z))) = e`m(σ(v + z)) e

ev(v)((vki − vkj)e`m(σ(v + z))) = 0. Agora, por (3.6) temos então a igualdade.

(ii) Nessas condições para r, s a função ers(σ(v + z)) é simétrica com respeito a vki e vkj para

qualquer σ ∈ Φrs. Assim, pelo Lemma 3.5.3, Dvers(σ(v + z))) = 0 e então,por (3.7) temos a

igualdade desejada.

Observação 3.5.6 Note que χ ∈ SuppGT (V (T (v))) se, e somente se, existe w ∈ Zn(n−1)

2 tal que

χ(crs) = γrs(v+w) para qualquer 1 ≤ s ≤ r ≤ n. Nessa situação cada subespaço de Gelfand-Tsetlin

V (T (v))(χ) é gerado por T (v + w) e DT (v + w).

Observação 3.5.7 Como os polinômios γrs(λ) com 1 ≤ s ≤ r ≤ n são simétricos nas entradas de v

e geram todos os polinômios simétricos, segue que γrs(v) = γrs(v′) para quaisquer r, s se, o somente

se, v = σ(v′) para algum σ ∈ Sn × · · · × S1. Em particular, para um vetor 1-singular v, temos que

γrs(v + z) = γrs(v + w) com 1 ≤ s ≤ r ≤ n se, e somente se, w = z ou w = τ(z).

Para nalizar, apresentaremos mais um lema que será uma ferramenta essencial para o próximo

capítulo, onde estudaremos de um modo mais detalhado como Γ age sobre o módulo V (T (v)).

Mostraremos no próximo capítulo que Γ separa" tabelas num sentido que vamos deixar claro mais

adiante. Essa propriedade será fundamental para a prova do principal resuldado desta tese no último

capítulo.

Lema 3.5.8 (Lemma 5.2 em [11]) Se τ(z) 6= z então temos as seguintes identidades em V (T (v):

(i) (ck2 − γk2(v + z))T (v + z) = 0;

(ii) (ck2 − γk2(v + z))DT (v + z) = Dv(γk2(v + z))T (v + z) com Dv(γk2(v + z)) 6= 0;

(iii) (ck2 − γk2(v + z))2DT (v + z) = 0.

26MÓDULOS DE GELFAND-TSETLIN 3.5

Capítulo 4

Reticulados de Tabelas em V (T (v))

Uma propriedade essencial dos módulos de Gelfand-Tsetlin genéricos descritos no Teorema 3.4.2

é que, para quaisquer duas tabelas diferentes, existe um elemento γ de Γ que separa essas tabelas

(ou seja, a ação de Γ tem autovalores diferentes sobre essas duas tabelas para algum gerador). Neste

capítulo vamos dar uma prova detalhada deste fato para módulos 1-singulares.

4.1 A ação de Γ sobre V (T (v))

Lembre que xamos uma base Tab(z) | z ∈ Zn(n+1)

2 para V (T (v)).

Para quaisquer 1 ≤ s ≤ r ≤ n e z ∈ Zn(n+1)

2 vamos denotar por Crs(z) o elemento crs−γrs(v+z)

de Γ.

Lema 4.1.1 Para quaisquer 1 ≤ s ≤ r ≤ n, z ∈ Zn(n−1)

2 e χ ∈ SuppGT (V (T (v))), o subespaço

V (T (v))(χ) é Crs(z)-invariante.

Prova: Pela Observação 3.5.6, qualquer subespaço V (T (v))(χ) é gerado por T (v+w) ou DT (v+w)

para algum w ∈ Zn(n+1)

2 . Assim,

Crs(z)T (v + w) = (crs − γrs(v + z))T (v + w)

= crsT (v + w)− γrs(v + z)T (v + w)

= γrs(v + w)T (v + w)− γrs(v + z)T (v + w)

= (γrs(v + w)− γrs(v + z))T (v + w).

Por outro lado,

Crs(z)DT (v + w) = (crs − γrs(v + z))DT (v + w)

= γrs(v + w)DT (v + w) +Dv (γ(v + w))T (v + w)− γrs(v + z)DT (v + w)

= Dv(γrs(v + z))T (v + w) + (γrs(v + w)− γrs(v + z))DT (v + w).

o que revela que o subespaço V (T (v))(χ) é Crs(z)-invariante.

Agora vamos denir no conjunto das tabelas regulares e derivadas a seguinte relação binária.

27

28RETICULADOS DE TABELAS EM V (T (V )) 4.1

Denição 4.1.2 Dados z, w ∈ Zn(n+1)

2 , vamos escrever Tab(z) ≺ Tab(w) se, e somente se, existe

u ∈ U tal que Tab(w) aparece com coeciente não nulo na decomposição de u · Tab(z) como uma

combinação linear de tabelas.

Lema 4.1.3 Se w ∈ Zn(n+1)

2 é tal que w 6= τ(w), então DT (v + w) ≺ T (v + w).

Prova: Temos que:

Ck2(w)DT (v + w) = (ck2(w)− γk2(v + w))DT (v + w)

= Dv(γk2(v + w))T (v + w).

Como w 6= τ(w), pelo Lema 3.5.8(ii) segue que Dv(γk2(v +w)) 6= 0, então DT (v +w) ≺ T (v +w),

visto que o coeciente da tabela T (v+w) é não nulo na decomposição (expansão) de Ck2(w)DT (v+

w).

Lema 4.1.4 Sejam z, w ∈ Zn(n+1)

2 tais que w 6= z e w 6= τ(z). Fixe r e s tais que γrs(v + w) 6=γrs(v + z) (tais r, s existem pela observação 3.5.7) e seja a := γrs(v + w)− γrs(v + z) 6= 0. Valem

as seguintes identidades:

(i) Crs(z)T (v + z) = 0 = (Crs(z))2DT (v + z).

(ii) Crs(z)DT (v + z) = Dv(γrs(v + z))T (v + z).

(iii) Crs(z)T (v + w) = aT (v + w)

(iv) Crs(z)DT (v + w) = Dv(γrs(v + w))T (v + w) + aDT (v + w).

(v) C2rs(z)T (v + w) = a2T (v + w)

(vi) C2rs(z)DT (v + w) = 2aDv(γrs(v + w))T (v + w) + a2DT (v + w).

Prova: Analisemos caso a caso:

(i) Ora, como Crs(z) = crs − γrs(v + z), segue que:

Crs(z)T (v + z) = (crs − γrs(v + z))T (v + z)

= crsT (v + z)− γrs(v + z)T (v + z)

= γrs(v + z)T (v + z)− γrs(v + z)T (v + z)

= 0.

4.1 A AÇÃO DE Γ SOBRE V (T (V )) 29

Por outro lado,

(Crs(z))2DT (v + z) = Crs (crs − γrs(v + z))DT (v + z)

= Crs (crsDT (v + z)− γrs(v + z)DT (v + z))

= Crs (γrs(v + z)DT (v + z) +D (γrs(v + z))T (v + z)− γrs(v + z)DT (v + z))

= Crs (D (γrs(v + z))T (v + z))

= D (γrs(v + z))CrsT (v + z)

= D (γrs(v + z)) .0

= 0.

(ii) Analogamente ao que zemos no item anterior, temos que:

Crs(z)DT (v + z) = (crs − γrs(v + z))DT (v + z)

= crsDT (v + z)− γrs(v + z)DT (v + z)

= γrs(v + z)DT (v + z) +D (γrs(v + z))T (v + z)− γrs(v + z)DT (v + z)

= D (γrs(v + z))T (v + z).

(iii) Segue que:

Crs(z)T (v + w) = (crs − γrs(v + z))T (v + w)

= crsT (v + w)− γrs(v + z)T (v + w)

= γrs(v + w)T (v + w)− γrs(v + z)T (v + w)

= (γrs(v + w)− γrs(v + z))T (v + w)

= aT (v + w).

(iv) Temos que:

Crs(z)DT (v + w) = (crs − γrs(v + z))DT (v + w)

= crsDT (v + w)− γrs(v + z)DT (v + w)

= γrs(v + w)DT (v + w) +Dv (γrs(v + w))T (v + w)− γrs(v + z)DT (v + w)

= Dv(γrs(v + w))T (v + w) + (γrs(v + w)− γrs(v + z))DT (v + w)

= Dv(γrs(v + w))T (v + w) + aDT (v + w).

30RETICULADOS DE TABELAS EM V (T (V )) 4.1

(v) Analogamente aos casos anteriores temos que:

C2rs(z)T (v + w) = Crs (crs − γrs(v + z))T (v + w)

= Crs (crsT (v + w)− γrs(v + z)T (v + w))

= Crs (γrs(v + w)T (v + w)− γrs(v + z)T (v + w))

= (γrs(v + w)T (v + w)− γrs(v + z)CrsT (v + w))

= (γrs(v + w)T (v + w)− γrs(v + z) (γrs(v + w)T (v + w)

−γrs(v + z)T (v + w)

=(γrs(v + w)T (v + w)− γrs(v + z)2T (v + w)

)= a2T (v + w).

(vi) Finalmente,

C2rs(z)DT (v + w) = Crs (crs − γrs(v + z))DT (v + w)

= Crs (crsDT (v + w)− γrs(v + z)DT (v + w))

= Crs (γrs(v + w)DT (v + w) +Dv (γrs(v + w))T (v + w)

−γrs(v + z)DT (v + w)

= Crs (Dv (γrs(v + w))T (v + w) + (γrs(v + w)− γrs(v + z))DT (v + w))

= Crs (Dv (γrs(v + w))T (v + w) + aDT (v + w))

= (crs − γrs(v + z)) (Dv (γrs(v + w))T (v + w) + aDT (v + w))

= crsDv (γrs(v + w))T (v + w) + crsaDT (v + w)

−γrs(v + z)Dv (γrs(v + w))T (v + w)− γrs(v + z)aDT (v + w)

= Dv (γrs(v + w)) crsT (v + w) + acrsDT (v + w)

−γrs(v + z)Dv (γrs(v + w))T (v + w)γrs(v + z)aDT (v + w)

= Dv (γrs(v + w)) γrs(v + w)T (v + w) + aγrs(v + w)DT (v + w)+

+aDv (γrs(v + w))T (v + w)

−γrs(v + z)Dv (γrs(v + w))T (v + w)− γrs(v + z)aDT (v + w)

= (γrs(v + w)− γrs(v + z))Dv (γrs(v + w))T (v + w)

+aDv (γrs(v + w))T (v + w)

+ (γrs(v + w)− γrs(v + z)) aDT (v + w)DT (v + w)

= aDv (γrs(v + w))T (v + w) + aDv (γrs(v + w))T (v + w) + a2DT (v + w)

= 2aDv(γrs(v + w))T (v + w) + a2DT (v + w).

Vamos utilizar esse lema para provar a seguinte proposição:

4.1 A AÇÃO DE Γ SOBRE V (T (V )) 31

Proposição 4.1.5 Sejam z, w ∈ Zn(n+1)

2 tais que w 6= z e w 6= τ(z). Existe γwz ∈ Γ tal que

γwz · T (v + z) = γwz · DT (v + z) = 0 e γwz · Tab(w) = Tab(w)

Prova: Temos dois casos, a saber:

Caso 1. Suponha que Tab(w) = T (v + w). Nesse caso basta tomar γwz = 1a2C

2rs(z), pois usando o

Lema 4.1.4(i), segue que

γwz · T (v + z) = 1a2 (Crs(z))

2 T (v + z)

= 1a2CrsCrs(z)T (v + z)

= 1a2Crs · 0

= 0.

Analogamente,γwz · DT (v + z) = 1

a2 (Crs(z))2DT (v + z)

= 1a2 · 0

= 0.

Finalmente, usando o Lema 4.1.4(v), segue que

γwz · Tab(w) = 1a2 (Crs(z))

2 T (v + w)

= 1a2a

2T (v + w)

= T (v + w)

= Tab(w).

Caso 2. Suponha que Tab(w) = DT (v + w). Nesse caso temos duas possibilidades, a saber:

(i) Dv(γrs(v + w)) = 0. Nesse caso, pelo Lema 4.1.4(vi), temos que (Crs(z))2 · DT (v + w) =

a2DT (v + w). Então, basta tomar γwz = 1a2 (Crs(z))

2, visto que, pelo caso anterior, teremos

que:

γwz · T (v + z) = γwz · DT (v + z) = 0

Além disso,γwz · Tab(w) = 1

a2 (Crs(z))2DT (v + w)

= 1a2a

2DT (v + w)

= DT (v + w)

= Tab(w).

(ii) Dv(γrs(v + w)) 6= 0. Pelo Lema 3.5.8(ii), Dv(γk2(v + w)) 6= 0 eCk2(w)T (v + w) = 0,

Ck2(w)DT (v + w) = Dv(γk2(v + w))T (v + w).

32RETICULADOS DE TABELAS EM V (T (V )) 4.1

Assim, aplicando Ck2(w) na igualdade (vi), segue que:

Ck2(w) (Crs(z))2DT (v + w) = Ck2(w)

(2aDv(γrs(v + w))T (v + w) + a2DT (v + w)

)= 2aDv(γrs(v + w))Ck2(w)T (v + w) + a2Ck2(w)DT (v + w)

= 2aDv(γrs(v + w)) · 0 + a2Dv(γk2(v + w))T (v + w)

= a2Dv(γk2(v + w))T (v + w).

(4.1)

Ou seja,

Ck2(w) (Crs(z))2DT (v + w) = a2Dv(γk2(v + w))T (v + w).

Como Dv(γk2(v + w)) 6= 0, segue que:

T (v + w) =Ck2(w)C2

rs(z)DT (v + w)

a2Dv(γk2(v + w)). (4.2)

Agora, substituindo a igualdade (4.2) em (vi), obtemos:

(Crs(z))2DT (v + w) = 2aDv(γrs(v + w))T (v + w) + a2DT (v + w)⇒

(Crs(z))2DT (v + w)− 2aDv(γrs(v + w))T (v + w) = a2DT (v + w)⇒

(Crs(z))2DT (v + w)− 2aDv(γrs(v + w))

Ck2(w) (Crs(z))2DT (v + w)

a2Dv(γk2(v + w))= a2DT (v + w),

o que nos permite escrever(1− 2Ck2(w)Dv(γrs(v + w))

aDv(γk2(v + w))

)(Crs(z))

2DT (v + w) = a2DT (v + w). (4.3)

Portanto, nesse caso, basta considerar γwz = 1a2

(1− 2Ck2(w)Dv(γrs(v+w))

aDv(γk2(v+w))

)(Crs(z))

2, pois

γwz · T (v + z) = 1a2

(1− 2Ck2(w)Dv(γrs(v+w))

aDv(γk2(v+w))

)(Crs(z))

2 · T (v + z)

= 1a2

(1− 2Ck2(w)Dv(γrs(v+w))

aDv(γk2(v+w))

)· 0

= 0.

Analogamente,

γwz · DT (v + z) = 1a2

(1− 2Ck2(w)Dv(γrs(v+w))

aDv(γk2(v+w))

)(Crs(z))

2 · DT (v + z)

= 1a2

(1− 2Ck2(w)Dv(γrs(v+w))

aDv(γk2(v+w))

)· 0

= 0.

4.1 A AÇÃO DE Γ SOBRE V (T (V )) 33

Finalmente, sendo Tab(w) = DT (v + w), segue que

γwz · Tab(w) = 1a2

(1− 2Ck2(w)Dv(γrs(v+w))

aDv(γk2(v+w))

)(Crs(z))

2 · DT (v + w)

= 1a2a

2DT (v + w)

= DT (v + w)

= Tab(w).

Resumindo, temos:

γwz =

1a2 (Crs(z))

2 , se Tab(w) = T (v + w) ou

Dv(γrs(v + w)) = 0

1a2

(1− 2Ck2(w)Dv(γrs(v+w))

aDv(γk2(v+w))

)(Crs(z))

2 , se Dv(γrs(v + w)) 6= 0.

Observação 4.1.6 Note que cada γwz no lema anterior é uma combinação de produtos de elementos

de Γ da forma C`m(w′). Portanto, pelo Lemma 4.1.1, os subespaços de Gelfand-Tsetlin V (T (v))(χ)

são γwz -invariantes.

Lema 4.1.7 Considere T = aT (v + w) + bDT (v + τ(w)), com w ∈ Zn(n+1)

2 tal que w 6= τ(w) e

a, b ∈ C. Então,

(i) Se a 6= 0, então γ1 · T = T (v + w) para algum γ1 ∈ Γ.

(ii) Se b 6= 0, então γ2 · T = DT (v + τ(w)) para algum γ2 ∈ Γ.

Prova: Sejam γ1, γ2 ∈ Γ denidos por:

γ1 =

1a , se b = 0

Ck2(w)bDv(γk2(v+w)) , se b 6= 0

, γ2 =

1b , se a = 0

1b

(1− aCk2(w)

bDv(γk2(v+w))

), se a 6= 0.

Inicialmente perceba que pelo Lema 3.5.8, os denominadores de γ1, γ2 são não nulos e para vericar

que γ1 e γ2, cumprem os papéis desejados, basta apenas efetuar o cálculo direto da ação desses

elementos sobre T . De fato, se b = 0 temos que T := aT (v + w) + 0.DT (v + τ(w)) = aT (v + w).

Portanto,

γ1 · T =1

aaT (v + w) = T (v + w).

Se b 6= 0, temos que:

γ1 · T =Ck2(w)

bDv(γk2(v + w))(aT (v + w) + bDT (v + τ(w)))

=a

bDv(γk2(v + w))Ck2(w)T (v + w) +

b

bDv(γk2(v + w))Ck2(w)DT (v + τ(w))

=a

bDv(γk2(v + w))· 0 +

1

Dv(γk2(v + w))Ck2(w)DT (v + τ(w))

=1

Dv(γk2(v + w))Dv(γk2(v + w))T (v + w)

= T (v + w).

34RETICULADOS DE TABELAS EM V (T (V )) 4.2

Com um cálculo completamente análogo podemos vericar que se b 6= 0, então γ2·T = DT (v+τ(w)).

4.2 Tabelas relacionadas

Vamos iniciar essa seção mostrando que, se duas tabelas Tab(z) e Tab(w) do módulo V (T (v))

estão num mesmo reticulado pela a ação de U (isto é, pelo menos uma pode ser obtida a partir

da outra pela a ação de U), então há certas propriedades que essas tabelas devem satisfazer, como

revela o teorema a seguir:

Teorema 4.2.1 Se z, w ∈ Zn(n+1)

2 são tais que Tab(z) ≺ Tab(w), então existe u ∈ U tal que

u · Tab(z) = Tab(w).

Prova: Como Tab(z) ≺ Tab(w), segue que Tab(w) aparece com coeciente não nulo na decom-

posição (expansão) U · T (z), ou seja, existe u′ ∈ U tal que u′ · Tab(z) pode ser escrito da seguinte

forma:s∑i=0

aiT (v + wi) + biDT (v + τ(wi)) ∈ V (T (v))(χ0)⊕ · · · ⊕ V (T (v))(χs), (4.4)

onde wi 6= wj , τ(wj) para qualquer i 6= j e w0 = w ou w0 = τ(w), a0 6= 0 ou b0 6= 0, e χi é o caráter

de Gelfand-Tsetlin associado com wi. Pelo Lema 4.1.5, para cada j ∈ 1, 2 · · · , s, existe γw0wj∈ Γ

tal que

γw0wjT (v + wj) = γw0

wjDT (v + wj) = 0 e γw0

wjTab(w0) = Tab(w0)

Então, pela Observação 4.1, aplicando γ := γw0ws· · · γw0

w1em u′ · Tab(z), temos que:

γu′ · Tab(z) = γw0ws· · · γw0

w1

(s∑i=0

aiT (v + wi) + biDT (v + τ(wi))

)∈ V (T (v))(χ0).

Portanto, γu′ · Tab(z) = aT (v + w) + bDT (v + τ(w)) para certos a, b ∈ C. Vamos ver a relação

entre os coecientes a, b e a0, b0.

Caso 1. Suponha Tab(w) = T (v + w). Nesse caso, para qualquer j = 1, . . . , s, ocorre a igualdade

γwwjT (v+w) = T (v+w) (pela construção de γw0

wj) e pela Observação 4.1, segue que γwwj

DT (v+w) =

DT (v + w). Portanto,

γu · Tab(z) = a0T (v + w) + b0DT (v + τ(w)).

Agora, como a0 6= 0, pelo Lema 4.1.7 existe γ1 ∈ Γ tal que

γ1γu · Tab(z) = γ1(a0T (v + w) + b0DT (v + τ(w))) = T (v + w).

Caso 2. Suponha Tab(w) = DT (v + w). Nesse caso, pela construção de γw0wj, para qualquer j =

1, . . . , s, temos que γwwjDT (v + w) = DT (v + w) e γwwj

T (v + w) = αjT (v + w) para algum αj ∈ C.Portanto,

γu · Tab(z) = aT (v + w) + b0DT (v + τ(w)),

com a = αs · · ·α1a0 e b0 6= 0. Pelo Lema 4.1.7, existe γ2 ∈ Γ tal que

γ2γu · Tab(z) = γ2(aT (v + w) + b0DT (v + τ(w))) = DT (v + w).

4.3 RELAÇÃO DE PRÉ-ORDEM EM V (T (V )) 35

4.3 Relação de pré-ordem em V (T (v))

Para nalizar, vamos mostrar que as ideias desenvolvidas nesse capítulo, nos permite estabelecer

no conjunto das tabelas B(T (v)) uma pré-ordenação, conforme arma a proposição a seguir:

Proposição 4.3.1 A relação ≺"dene uma pré-ordem no conjunto das tabelas B(T (v)) (i.e. ≺ é

uma relação reexiva e transitiva).

Prova: A reexibilidade é clara da denição de "≺", visto que Tab(w) = 1.Tab(w). Para a

transitividade, assuma que Tab(w1) ≺ Tab(w2) e que Tab(w2) ≺ Tab(w3) para w1, w2, w3 ∈ Zn(n+1)

2 .

Pelo Teorema 4.2.1, existem u1, u2 ∈ U tais que u1Tab(w1) = Tab(w2) e u2Tab(w2) = Tab(w3).

Portanto, u2u1Tab(w1) = Tab(w3). Assim, Tab(w1) ≺ Tab(w3), o que mostra a transitividade.

Nos próximos capítulos veremos que essa relação de pré-ordem sobre o conjunto B(T (v)) será

uma forte ferramenta para demonstrarmos alguns resultados sobre o módulo V (T (v)). Em particu-

lar, será essencial para estabelecer a irredutibilidade do módulo V (T (v)).

36RETICULADOS DE TABELAS EM V (T (V )) 4.3

Capítulo 5

Submódulos irredutíveis em V (T (v))

O Teorema 3.4.3 fornece, para o caso genérico, uma base explícita para um submódulo irredutível

de V (T (v)) que contém uma dada tabela. Neste capítulo vamos apresentar um resultado semelhante

no caso 1-singular e como consequência desse resultado daremos uma nova demonstração para o

Teorema 4.14 em [11].

5.1 Algumas noções preliminares

Começaremos este capítulo introduzindo mais algumas denições, notações e um lema que serão

ingredientes necessários para provar o principal teorema deste capítulo.

Denição 5.1.1 Dados z, w ∈ Zn(n+1)

2 , denimos a distância entre duas tabelas, Tab(z) e Tab(w)

como sendo

d(z, w) =∑

1≤s≤r≤n|zrs − wrs|.

O Teorema 4.14 em [11] garante que se vrs− vr−1,t /∈ Z, para quaisquer (r, s, t), então o módulo

V (T (v)) é irredutível. Agora, consideremos uma tabela 1-singular, com vki = vkj , em que a condição

vrs − vr−1,t /∈ Z é satisfeita para quaisquer (r, s, t) tais que r ≥ k. Vamos mostrar como construir

um submódulo irredutível de V (T (v)) que contém uma dada tabela que satisfaz essa condição. Para

isso, precisamos estabelecer mais algumas denições.

No caso das tabelas genéricas, se tomarmos uma tabela T (w) ∈ V (T (v)), o Teorema 3.4.3,

arma que o conjunto I(T (w)) = T (w′) ∈ B(T (v)) | Ω+(Tab(w)) = Ω+(Tab(w′)) é uma base

para um gl(n)-módulo irredutível contendo a tabela T (w). Para construímos um resultado análogo

no caso 1-singular, faremos a seguinte denição:

Denição 5.1.2 Seja v ∈ Cn(n+1)

2 um vetor 1-singular tal que vki = vkj. Para w ∈ Zn(n+1)

2 e

Tab(w) = T (v + w) ou Tab(w) = DT (v + w), denimos

Ωk(Tab(w)) = (r, s, t) | r ≤ k, (vrs + wrs)− (vr−1,t + wr−1,t) ∈ Z;

Ω+k (Tab(w)) = (r, s, t) | r ≤ k, (vrs + wrs)− (vr−1,t + wr−1,t) ∈ Z≥0;

Ik(Tab(w)) = Tab(w′) ∈ B(T (v)) | Ω+k (Tab(w)) = Ω+

k (Tab(w′)).

37

38 SUBMÓDULOS IRREDUTÍVEIS EM V (T (V )) 5.2

Lema 5.1.3 Sejam Tab(w′), Tab(w∗) ∈ Ik(Tab(w)) tabelas tais que Tab(w′) ⊀ Tab(w∗). Então

existem i, j, com k ≤ j ≤ i < n tais que w′ij 6= w∗ij.

Prova: As tabelas Tab(w′), Tab(w∗) ∈ Ik(Tab(w)) podem ser imaginadas como estando separadas

em duas partes, a saber: a parte de cima, isto é, a parte que começa na k-ésima linha a vai até

a n-ésima linha; e a parte de baixo, ou seja, a parte que inicia na linha 1 e termina na linha k.

Vamos denotar as partes de baixo dessas tabelas por Tabk(w′), Tabk(w∗). Agora, suponha que

w′ij = w∗ij para quaisquer k ≤ j ≤ i < n. Com essa suposição, as partes de cima das tabelas já estão

coincidindo. Por outro lado, pelo fato de que Tab(w′), Tab(w∗) ∈ Ik(Tab(w)), olhando apenas

para a ação de gl(k) ⊂ gl(n) sobre a parte de baixo das tabelas, segue pelo Teorema 3.4.3, que

Tabk(w′) ≺ Tabk(w∗), uma vez que o conjunto Ik(Tab(w)) é uma base para um módulo irredutível

contendo essas tabelas, o que nos permite concluir que Tab(w′) ≺ Tab(w∗), que é uma contradição.

Assim, não podemos ter w′ij = w∗ij para quaisquer k ≤ j ≤ i < n.

5.2 Submódulos irredutíveis em V (T (v))

Nesta seção vamos estabelecer o principal resultado deste capítulo e nalizar com uma nova

demonstração para o Teorema 4.14 em [11], que fornece condições sucientes para a irredutibilidade

do módulo V (T (v)). Eis o teorema:

Teorema 5.2.1 Seja T (v) uma tabela 1-singular de Gelfand-Tsetlin tal que vki = vkj e vrs−vr−1,t /∈Z, para quaisquer (r, s, t) tais que r ≥ k. Se Tab(w) ∈ V (T (v)) é tal que |Ω+

k (Tab(w))| é o maior

possível, então o espaço vetorial N , gerado por Ik(Tab(w)) é um submódulo irredutível de V (T (v)).

Prova: Inicialmente vamos provar que N é invariante pela ação de U . Para isso, mais uma vez

usaremos a mesma notação Tabk(w), do Lema 5.1.3, para representar a parte de baixo da tabela

Tab(w). Se Tab(w′) ∈ U · N , temos que |Ω+k (Tab(w′))| ≤ |Ω+

k (Tab(w))|, visto que, por hipótese,

|Ω+k (Tab(w))| é o maior possível.

Por outro lado, Tabk(w) é genérica, e pelo Teorema 3.4.3, temos |Ω+k (Tabk(w

′))| ≥ |Ω+k (Tabk(w))|

para qualquer Tab(w′) ∈ U ·N . A partir das duas desigualdades que acabamos de expor, podemos

concluir que |Ω+k (Tab(w′))| = |Ω+

k (Tab(w))| para toda tabela Tab(w′) ∈ U · N , o que revela que

Ω+k (Tab(w′)) = Ω+

k (Tab(w)), isto é, Tab(w′) ∈ N . Portanto, N é invariante pela ação de U .

Agora mostraremos a irredutibilidade de N . De fato, se N não fosse irredutível, existiriam

duas tabelas Tab(z′), Tab(w′) ∈ N tais que Tab(z′) ⊀ Tab(w′). Agora, xando w′ e escolhendo

z ∈ z′ ∈ Zn(n−1)

2 | Tab(z′) ⊀ Tab(w′) tal que d(z, w′) seja mínima e denindo d := d(z, w′), segue

que, se z∗ ∈ Zn(n−1)

2 é tal que d(z∗, w′) < d, teríamos Tab(z∗) ≺ Tab(w′).

Ora, como Tab(z), Tab(w′) ∈ Ik(Tab(w)), Tab(z) ⊀ Tab(w′) e d ≥ 1, pelo Lema 5.1.3, segue

que zrs 6= w′rs para pelo menos um par de valores r, s, tais que r ≥ k.

Agora xemos a posição r, s e assumimos (sem perda de generalidade) que zrs < w′rs. O caso

em que w′rs < zrs pode ser tratado de modo completamente análogo.

Como zrs < w′rs, segue que d(z+ δrs, w′) = d−1 < d. Então, Tab(z+ δrs) ≺ Tab(w′). Portanto,como pela Proposição 4.3.1, "≺" é transitiva, deveríamos ter Tab(z) ⊀ Tab(z + δrs). Então, o coe-

5.2 SUBMÓDULOS IRREDUTÍVEIS EM V (T (V )) 39

ciente de Tab(z + δrs) na expansão de u · Tab(z), com u ∈ U , será igual a zero.

Como as fórmulas que denem a ação de gl(n) sobre V (T (v)) dependem do tipo de tabela

(regular ou derivada), vamos considerar e analisar os seguintes quatro casos:

Tab(z) Tab(z + δrs)

Caso 1 T (v + z) T (v + z + δrs)

Caso 2 DT (v + z) DT (v + z + δrs)

Caso 3 T (v + z) DT (v + z + δrs)

Caso 4 DT (v + z) T (v + z + δrs)

Caso 1. O coeciente de T (v + z + δrs) na decomposição de Er,r+1T (v + z) é dado por Dv((vki −vkj)er,r+1(σs(v + z))) onde σs é a transposição (1, s) na linha r e a identidade nas demais linhas.

Mas ocorre que

Dv((vki − vkj)er,r+1(σs(v + z))) = er,r+1(σs(v + z))

pois, nesse caso, a função er,r+1(σs(v + z)) é suave.

Ora, como o numerador de er,r+1(σs(v + z)) é um produto de diferenças do tipo (vrs + zrs) −(vr+1,t + zr+1,t), necessariamente temos que (vrs + zrs)− (vr+1,t + zr+1,t) = 0 para algum t, isto é:

vr+1,t − vr,s ∈ Z, com r ≥ k, o que é uma contadição.

Caso 2. O coeciente de DT (v + z + δrs) na decomposição Er,r+1DT (v + z) é dado por

er,r+1(σs(v + z)).

Assim, de modo completamente análogo ao primeiro caso, obtemos que vr+1,t− vr,s ∈ Z para algum

t, com r ≥ k, o que é uma contradição.

Caso 3. A única possibilidade para que tenhamos

Tab(z) = T (v + z) e Tab(z + δrs) = DT (v + z + δrs)

é que zki = zkj e (r, s) ∈ (k, i), (k, j). Ora, como o coeciente de DT (v + z + δks) é igual a

ev(v)((vki− vkj)ek,k+1(σs(v+ z)) e a função racional ek,k+1(σs(v+ z)) possui uma singularidade no

hiperplano vki − vkj = 0, segue que ev(v)((vki − vkj)ek,k+1(σs(v + z)) = 0 se, e somente se,

k+1∏j=1

((v + z)ks − (v + z)k+1,j) = 0,

o que implica que alguma diferença vks − vk+1,t ∈ Z, com r ≥ k, o que é uma contradição.

Caso 4. Nesse caso, temos que:

Er,r+1(DT (v + z)) =∑

σ∈Φr,r+1

Dv(er,r+1(σ(v + z))T (v + z + σ(εr,r+1))

+∑

σ∈Φr,r+1

er,r+1(σ(v + z))DT (v + z + σ(εr,r+1)).

40 SUBMÓDULOS IRREDUTÍVEIS EM V (T (V )) 5.2

(i) Se er,r+1(σs(v+ z)) = 0 então, como no Caso 1, segue que vr+1,t− vr,s ∈ Z para algum t, com

r ≥ k, o que é uma contradição.

(ii) Se er,r+1(σs(v + z)) 6= 0 então, DT (v + z) ≺ DT (v + z + δrs). Por outro lado, sabemos que

ck2(DT (v + z + δrs)) ≺ T (v + z + δrs).

Portanto, o coeciente de T (v + z + δrs) na decomposição (expansão) de ck2Er,r+1DT (v + z)

é diferente de zero. Assim, temos que DT (v+ z) ≺ T (v+ z+ δrs), o que contradiz a hipótese.

Diante do que foi exposto acima, temos que a condição vrs − vr−1,t ∈ Z é satisfeita para algum

trio (r, s, t), nesse caso, com r ≥ k, o que é uma contradição. Assim, concluímos que o módulo N é

irredutível.

Corolário 5.2.2 O módulo V (T (v)), descrito no enunciado do teorema anterior, tem comprimento

nito.

Prova: De fato, pelo Teorema 5.2.1, tomando Tab(w) ∈ V (T (v)) tal que m := |Ω+k (Tab(w))| seja

o maior possível, temos o submódulo irredutível N = spanCIk(Tab(w)). Fazendo o quociente de

V (T (v)) por N , restarão apenas tabelas Tab(w′) tais que |Ω+k (Tab(w′))| ≤ m− 1. Note que existe

apenas um número nito de tabelas Tab(w′i), com i = 1, · · · , s, com |Ω+k (Tab(w′i))| = m − 1 tais

que qualquer outra tabela Tab(u) desse quociente com |Ω+(Tab(u))| = m− 1, tem-se que:

Tab(u) ∈ Ik(Tab(w′1)) ∪ · · · ∪ Ik(Tab(w′s)).

Na etapa seguinte, fazemos um novo quociente de modo a eliminar todas as tabelas Tab(w′) tais

que |Ω+k (Tab(w′))| = m − 1. Nesse novo quociente, existirão apenas tabelas Tab(w′′) tais que

|Ω+k (Tab(w′′))| ≤ m − 2. Mais uma vez existe um número nito de tabelas Tab(w′′r ), com r =

1, · · · , t, com |Ω+k (Tab(w′′r ))| = m− 2 tais que para qualquer outra tabela Tab(u′) desse quociente

com |Ω+(Tab(u′))| = m − 2, tem-se que Tab(u′) ∈ Ik(Tab(w′′1)) ∪ · · · ∪ Ik(Tab(w′′t )). Repetindo

a mesma construção do caso anterior, passaremos na etapa seguinte às tabelas Tab(w′′′) tais que

|Ω+k (Tab(w′′))| ≤ m − 3 e assim sucessivamente. Dessa forma, após um número nito de etapas

todas as tabelas do módulo original V (T (v)) serão aniquiladas pelos sucessivos quocientes, o que

revela que o módulo V (T (v)), descrito no enunciado do teorema anterior, tem comprimento nito.

Para nalizar esse capítulo, vamos ressaltar o fato que o teorema que acabamos de provar fornece

uma demonstração alternativa para o Teorema 4.14 em [11], cuja recíproca é o principal resultado

a ser estabelecido nessa tese.

Teorema 5.2.3 (Teorema 4.14 em [11]) O módulo V (T (v)) é irredutível quando vrs−vr−1,t /∈ Zpara quaisquer 1 ≤ t < r ≤ n e 1 ≤ s ≤ r.

Em [11], os autores fornecem uma prova do teorema acima. Note que, o nosso Teorema 5.2.1

dá uma demonstração alternativa para o Teorema 5.2.3, que exibe condições sucientes sobre as

entradas de v para que o módulo V (T (v)) seja irredutível. Com efeito, se vrs − vr−1,t /∈ Z para

quaisquer 1 ≤ t < r ≤ n e 1 ≤ s ≤ r, isso implica que Ω+k (w) = ∅ para todo w ∈ Z

n(n+1)2 . Assim

0 = max∣∣Ω+

k (w)∣∣, o que implica que V (T (v)) é irredutível.

5.2 SUBMÓDULOS IRREDUTÍVEIS EM V (T (V )) 41

No próximo capítulo vamos nalmente mostrar o nosso último teorema, que estabelece que a

condição vrs − vr−1,t /∈ Z para quaisquer 1 ≤ t < r ≤ n e 1 ≤ s ≤ r, também é necessária para

garantir a irredutibilidade do módulo V (T (v)).

42 SUBMÓDULOS IRREDUTÍVEIS EM V (T (V )) 5.2

Capítulo 6

A irredutibilidade de V (T (v))

Neste capítulo vamos provar o nosso resultado nal. Vamos dar uma prova que as condições

exibidas no Teorema 5.2.3 também são necessárias para a irredutibilidade do módulo V (T (v)). Para

iniciar o caminho na direção da prova serão necessárias algumas denições e lemas que faremos logo

a seguir.

6.1 Alguns resultados auxiliares

Antes de abordarmos o principal problema a ser tratado nesta tese (que é a Conjectura 1.1.1)

precisamos de uma série de denições e resultados auxiliares que serão necessários para a prova

desse resultado.

Inspirado no caso genérico, aqui no caso 1-singular, faremos a seguinte denição:

Denição 6.1.1 Para qualquer w ∈ Zn(n+1)

2 denimos

Ω+(Tab(w)) := (r, s, t) | (vrs + wrs)− (vr−1,t + wr−1,t) ∈ Z≥0.

No caso dos módulos genéricos, Tab(z) ≺ Tab(w) implica que |Ω+(Tab(z))| ≤ |Ω+(Tab(w))|(veja o Teorema 3.4.3(i)). Entretanto, para os módulos singulares, pode ocorrer a igualdade |Ω+(Tab(w))| =|Ω+(Tab(z))| − 1, como conrma o exemplo a seguir:

Exemplo 6.1.2 Para o caso em que n = 3, se considerarmos v = (a, b, c, x, x, x) tal que a−x, b−x, c− x ∩ Z = ∅ e w = (0, 0, 0), então |Ω+(Tab(z))| = 2 enquanto que E32Tab(z) = Tab(z − δ21)

e |Ω+(Tab(z − δ21))| = 1.

Denição 6.1.3 Sejam Tab(z) e Tab(w) duas tabelas em B(T (v)) e g ∈ gl(n). Vamos escrever

Tab(z) ≺g Tab(w) para indicar que a tabela Tab(w) aparece com coeciente não nulo na expansão

g · Tab(z).

A próxima proposição mostra que |Ω+(Tab(z))| − 1 é o mínimo valor para a cardinalidade de

Ω+(Tab(w)) para qualquer Tab(w) ∈ U · Tab(z).

43

44A IRREDUTIBILIDADE DE V (T (V )) 6.1

Vamos escrever Tab(z) ≺g Tab(w) para algum g ∈ gl(n) quando a tabela Tab(w) aparece com

coeciente não nulo na decomposição g · Tab(z).

Proposição 6.1.4 Sejam Tab(z) e Tab(w) duas tabelas em B(T (v)) tais que Tab(w) ∈ U ·Tab(z).Então |Ω+(Tab(w))| ≥ |Ω+(Tab(z))| − 1.

Para provar essa proposição, vamos inicialmente provar que o resultado proposto é verdadeiro

quando Tab(z) ≺g Tab(w) para algum g ∈ gl(n) da forma Er,r+1 or Er+1,r. Para isso enunciamos

o seguinte lema:

Lema 6.1.5 Sejam Tab(z) e Tab(w) tabelas em B(T (v)) tais que Tab(z) ≺g Tab(w) para algum

g ∈ gl(n) da forma Er,r+1 ou Er+1,r com 1 ≤ r ≤ n− 1. Então |Ω+(Tab(w))| ≥ |Ω+(Tab(z))| − 1.

Prova: Vamos analisar a ação dos geradores de gl(n) da forma Er,r+1 ou Er+1,r em todas as tabelas

Tab(z) ∈ V (T (v)) tais que |Ω+(Tab(w))| ≤ |Ω+(Tab(z))| − 1 e Tab(z) ≺g Tab(w). Analisaremos

caso a caso e vamos vericar que o coeciente da tabela Tab(w) é igual a zero quando ocorrer

|Ω+(Tab(w)| ≤ |Ω+(Tab(z)| − 2. Para começar, vamos apresentar uma lista de todas as possíveis

tabelas Tab(z) e Tab(w) tais que ocorra a igualdade |Ω+(Tab(w)| = |Ω+(Tab(z)|−1 e o coeciente

de Tab(w) não é zero. A lista completa é a seguinte:

1. D

(x x+ a

x

)≺Ek−1,k

(x x+ a

x+ 1

), a ∈ Z<0;

2. D

(x

x x+ a

)≺Ek−1,k

(x

x+ a x+ 1

), a ∈ Z<0;

3. D

(x x+ a

x

)≺Ek+1,k

(x− 1 x+ a

x

), a ∈ Z<0;

4.

(x

x x

)≺Ek−1,k

(x

x x+ 1

);

5.

(x x

x

)≺Ek+1,k

(x− 1 x

x

).

As congurações acima representam a parte de cada uma das tabelas com parte das linhas k e k−1

ou k e k + 1 (linha k é a linha onde ocorre a singularidade vki − vkj ∈ Z) e a presença de um Dantes de uma tabela indica que aquela tabela é do tipo derivada

Antes de qualquer outra coisa, pelo Corolário 3.5.5 é suciente considerar r ∈ k, k − 1. Defato, nos demais casos a ação é dade pelas fórmulas clássicas de Gelfand-Tsetlin formulas, como no

caso genérico, no qual temos que |Ω+(Tab(w))| ≥ |Ω+(Tab(z))| (veja o Teorema 3.4.3(i)).

Inicialmente vamos assumir que g = Er,r+1 (o outro caso é completamente análogo). A ação de

Er,r+1 nos elementos da base de V (T (v)) é dada por:

6.1 ALGUNS RESULTADOS AUXILIARES 45

Er,r+1T (v + w) =∑σ

Dv ((vri − vrj)er,r+1(σ(v + w))T (v + w + σ(δr1))+∑σ

((vri − vrj)er,r+1(σ(v + w))) (v)DT (v + w + σ(δr1)),(6.1)

Er,r+1DT (v + w) =∑σ

Dv (er,r+1(σ(v + w))T (v + w + σ(δr1))

+∑σ

er,r+1(σ(v + w))DT (v + w + σ(δr1)).(6.2)

Dependendo de Tab(z) e Tab(z + δr1) serem tabelas regulares ou tabelas derivadas, teremos que

analisar diferentes tipos de coecientes, como ilustra resumidamente a seguinte tabela:

Tipo Tab(z) Tab(z + δr1) Coeciente de Tab(z + δr1)

(a) T (v + z) T (v + z + δr1) Dv ((vki − vkj)er,r+1(v + z))

(b) DT (v + z) DT (v + z + δr1) er,r+1(v + z)

(c) T (v + z) DT (v + z + δr1) ((vki − vkj)er,r+1(v + z)) (v)

(d) DT (v + z) T (v + z + δr1) Dv (er,r+1(v + z))

(i) Considere as tabelas Tab(z) tais que (v + z)ki = (v + z)k−1,t = x e (v + z)kj = x + a, com

a ∈ Z. Vamos representar uma parte da tabela Tab(z) por (a linha em que aparecem duas

variáveis iguais a x é a k-ésima linha da tabela Tab(z)).

Tab(z) =

(x x+ a

x

).

Essa tabela pode ser regular (se a ≥ 0) ou derivada (se a < 0). Vamos analisar esses dois

casos separadamente.

Quando Ek−1,k age nessa tabela obtemos a seguinte tabela:

Tab(z + δk−1,t) =

(x x+ a

x+ 1

).

Note que

|Ω+(Tab(z + δk−1,t))| =

|Ω+(Tab(z))| − 2, se a = 0

|Ω+(Tab(z))| − 1, caso contrário.

Para a ≥ 0, a tabela Tab(z) é regular. Nesse caso, vamos analisar os coecientes dos tipos (a)

e (c). Relembrando que,

ek−1,k(v + z) = −∏kt=1 ((v + z)k−1,1 − (v + z)kt)∏k−1

t6=1 ((v + z)k−1,1 − (v + z)k−1,t). (6.3)

Nesse caso, ek−1,k(v+ z) é uma função suave (porque a singularidade está na k-ésima linha e

as diferenças que aparecem no denominador são diferenças entre os elementos da (k−1)-ésima

46A IRREDUTIBILIDADE DE V (T (V )) 6.1

linha). Assim, pelo Lema 3.5.3, segue que:

• Dv ((vri − vrj)ek−1,k(v + z)) = ek−1,k(v+z), e como nesse caso temos que ocorre a relação

(v + z)kj = (v + z)k−1,t, segue que ek−1,k(v + z) = 0.

• Temos também que ((vki − vkj)ek−1,k(v + z)) (v) = 0.

Se a < 0, a tabela Tab(z) é uma tabela derivada. Nesse caso, precisamos analisar os coeci-

entes dos tipos (b) e (d). Agora os coecientes da tabela Tab(z + δk−1,t) são ek−1,k(v + z) e

Dv (ek−1,k(v + z)). Nesse caso, temos que:

• ek−1,k(v + z) = 0, visto que no produtório do numerador dessa função racional aparece

a diferença (v + z)kj − (v + z)k−1,t que é igual a zero, nesse caso.

• Para o coeciente Dv (ek−1,k(v + z)), temos o seguinte:

Dv (ek−1,k(v + z)) = Dv(−(vk−1,t − (vki + a))(vk−1,t − vki)ϕ(v))

= −12ϕ(v)a,

onde ϕ(v) é uma função racional das entradas do vetor v a qual não depende das entradas vkie vkj . Além disso, ϕ(v) 6= 0. Como a 6= 0, nesse caso, segue que: Dv (ek−1,k(v + z)) 6= 0.

(ii) Agora vamos considerar uma tabela Tab(z) tal que k 6= n− 1, (v + z)k+1,t = (v + z)ki = x e

(v + z)kj = x+ a, com a ∈ Z. Uma representação de parte dessa tabela é:

Tab(z) =

(x

x x+ a

).

Essa tabela pode ser regular ou derivada dependento do valor de a. Vamos analisar esses dois

casos.

Quando Ek,k+1 age nessa tabela, obtemos a tabela

Tab(z + δk,t) =

(x

x+ 1 x+ a

).

Nesse caso, temos que |Ω+Tab(z + δk,t)| = |Ω+Tab(z)| − 1. Inicialmente vamos assumir que

essa tabela é regular (o que ocorre se a ≥ 0) e vamos analisar os coecientes dos tipos (a) e

(c). Para isso, relembrando que

ek,k+1(v + z) = −∏k+1t=1 ((v + z)k,1 − (v + z)k+1,t)∏kt6=1 ((v + z)k1 − (v + z)kt)

. (6.4)

Se a > 0, ek,k+1(v + z) é uma função suave, então pelo Lema 3.5.3 segue que

• Dv ((vri − vrj)ek,k+1(v + z)) = ek,k+1(v + z), e como temos que ocorre a relação (v +

z)k+1,t = (v + z)k−1,1 então, ek,k+1(v + z) = 0.

• Além disso, ((vki − vkj)ek−1,k(v + z)) (v) = 0.

6.1 ALGUNS RESULTADOS AUXILIARES 47

Por outro lado, se a = 0, temos que:

((vk1 − vkj)ek−1,k(v + z)) (v) =

( ∏kt=1 ((v + z)k−1,1 − (v + z)kt)∏k−1

t6=1,j ((v + z)k−1,1 − (v + z)k−1,t)

)(v)

= 0.

Dv ((vki − vkj)ek−1,k(v + z)) = Dv( ∏k

t=1 ((v + z)k−1,1 − (v + z)kt)∏k−1t6=1,j ((v + z)k−1,1 − (v + z)k−1,t)

)= 0.

Finalmente, se a < 0 a tabela Tab(v + z) é uma tabela derivada. Nesse caso, vamos analisar

os coecientes dos tipos (b) e (d). Nessas circunstâncias, usando a fórmula (6.4), segue que:

• ek−1,k(v + z) = 0, visto que no numerador dessa função racional aparece a diferença

(v + z)k1 − (v + z)k+1,1, que é igual a zero nesse caso.

• Novamente utilizando a fórmula (6.4), segue que Dv (ek−1,k(v + z)) 6= 0.

Continuando com essa análise, caso a caso, identicamos todas as possíveis tabelas Tab(w) ∈U · Tab(z) tais que |Ω+(Tab(w))| = |Ω+(Tab(z))| − 1 entre as tabelas que foram descritas no

início da prova do Lema 6.1.5 (casos (1)-(5)). Além disso, para todas as tabelas Tab(w) ∈V (T (V )) tais que |Ω+(Tab(w))| ≤ |Ω+(Tab(z))|−2, o correspondente coeciente na expansão

g · Tab(z), tal que g ∈ Er,r+1, Er+1,r, é igual a zero.

O lema a seguir mostra que, para cada caso descrito no Lemma 6.1.5, onde Tab(z) ≺ Tab(w)

e |Ω+(Tab(w))| = |Ω+(Tab(z))| − 1, (casos (1)-(5)), a ação dos elementos da base de gl(n) sobre

Tab(w) irá gerar tabelas Tab(w′) tais que |Ω+(Tab(w′))| ≥ |Ω+(Tab(w))|, de modo mais explícito:

Tab(w) ≺g Tab(w′) para algum g ∈ gl(n) da forma Er,r+1 ou Er+1,r implica que |Ω+(Tab(w′))| ≥|Ω+(Tab(w))|.

Lema 6.1.6 Seja Tab(w) uma tabela tal que Tab(z) ≺ Tab(w) e |Ω+(Tab(w))| = |Ω+(Tab(z))|−1

para algum Tab(z). Se Tab(w) ≺g Tab(w′) para algum g ∈ gl(n) da forma Er,r+1 ou Er+1,r, então

|Ω+(Tab(w′))| ≥ |Ω+(Tab(w))|.

Prova: Pelo Lema 6.1.5 a lista de todas possíveis tabelas Tab(w) satisfazendo a condição imposta

no enunciado é dada por:

1.

(x x+ a

x+ 1

);

(x

x+ a x+ 1

);

(x− 1 x+ a

x

)com a ∈ Z<0 .

2.

(x

x x+ 1

);

(x− 1 x

x

).

Agora, para cada Tab(w) como antes, vamos construir os subconjuntos W (Tab(w)) e W ∗(Tab(w)),

de B(T (v)) tais que:

(i) Se Tab(w) ∈ W (Tab(w)) ∪W ∗(Tab(w)) e Tab(w′) ∈ W (Tab(w)) ∪W ∗(Tab(w)), podemos

garantir que |Ω+(Tab(w′))| ≥ |Ω+(Tab(w))|.

48A IRREDUTIBILIDADE DE V (T (V )) 6.1

(ii) O conjunto W (Tab(w)) ∪W ∗(Tab(w)) é gl(n)-invariante.

A construção anterior será suciente para nalizar a prova. De fato, se Tab(w) ≺g Tab(w′) com

g ∈ gl(n), então Tab(w′) ∈W (Tab(w))∪W ∗(Tab(w)) (pela condição (ii)). Assim, temos a seguinte

desigualdade: |Ω+(Tab(w′))| ≥ |Ω+(Tab(w))| (pela condição (i)).

Agora, considere Tab(w) como sendo da forma

(x x+ a

x+ 1

). Dena os seguintes sub-

conjuntos de B(T (v)):

W (Tab(w)) =(

x + b x + a + c

x + 1 + d

)| b− 1− d < 0 e b+ a− 1− d < 0

;

W ∗(Tab(w)) =(

x + b x + a + c

x + 1 + d

)| b− 1− d ≥ 0 ou b+ a− 1− d ≥ 0

.

Note que, as tabelas em W (Tab(w)) ou W ∗(Tab(w)) podem ser regulares ou derivadas. O conjunto

W (Tab(w)) ∪ W ∗(Tab(w)) é gl(n)-invariante. Além disso, temos que Tab(w′) ∈ W (Tab(w)) ∪W ∗(Tab(w)) satisfaz a condição

|Ω+(Tab(w′))| ≥ |Ω+(Tab(w))|.

De fato, se Tab(w′) ∈ W (Tab(w)) segue que |Ω+(Tab(w′))| = |Ω+(Tab(w))| e, por outro lado, se

Tab(w′) ∈W ∗(Tab(w)) segue que |Ω+(Tab(w′))| > |Ω+(Tab(w))|.A construção de W (Tab(w)) e W ∗(Tab(w)) para os demais caso é completamente análoga.

Prova da Proposição 6.1.4. Finalmente vamos mostrar que se Tab(w) ∈ E1 · · ·Et · Tab(z),onde Es ∈ Eij | 1 ≤ i ≤ j ≤ n, com s = 1, · · · , t, então

|Ω+(Tab(w))| ≥ |Ω+(Tab(z))| − 1, (6.5)

e por linearidade, o resultado segue para qualquer elemento de u ∈ U(gl(n)).

Prova: Sejam Tab(z) ∈ V (T (v)) e E1 · · ·Et ∈ U . Vamos utilizar indução sobre t. De fato, se

t = 1, o resultado é verdadeiro pelo Lema 6.1.5. Agora, suponha que o resultado que desejamos seja

verdadeiro para o inteiro s tal que 1 ≤ s ≤ t− 1. Vamos provar que o resultado é verdadeiro para

t. Com efeito, como

E1E2 · · ·Et−1Et · Tab(z) = E1E2 · · ·Et−1(Et · Tab(z)),

vamos considerar dois casos, a saber:

Caso 1. Se Tab(z) não é uma das tabelas descritas no Lema 6.1.5 (casos (1)-(5)), segue que

Et · Tab(z) =∑i

αiTab(wi), onde |Ω+(Tab(wi))| ≥ |Ω+(Tab(z))|.

Nesse caso, pela hipotese da indução, a ação de E1E2 · · ·Et−1 sobre (Et · Tab(w)) faz surgir uma

combinação linear de tabelas Tab(w′′i ) tais que |Ω+(Tab(w′′i ))| ≥ |Ω+(Tab(z))| − 1, o que prova o

resultado nesse caso.

Caso 2. Agora vamos assumir que Tab(z) é uma tabela das que são descritas no Lema 6.1.5

6.2 O RESULTADO PRINCIPAL 49

(casos (1)-(5)). Nesse caso, segue que:

Et · Tab(z) =∑i

α1Tab(wi) +∑i

β1Tab(w′i),

onde |Ω+(Tab(wi))| ≥ |Ω+(Tab(z))| e |Ω+(Tab(w′i))| = |Ω+(Tab(z))| − 1 Assim, pela hipótese da

indução, segue que quando E1E2 · · ·Et−1 age sobre as tabelas Tab(wi) obtemos uma combinação

linear de novas tabelas Tab(w′′i ) tais que |Ω+(Tab(w′′i ))| ≥ |Ω+(Tab(z))|−1. Por outro lado, quando

E1 · · ·Et−1 age sobre a tabela Tab(w′i), obtemos uma combinação linear de tabelas pertencentes ao

conjunto W (Tab(w)) ∪W ∗(Tab(w)) (que foi descrito no Lema 6.1.6). Assim, nesse caso nós temos

que na decomposição E1 · · ·Et−1 · Tab(w′i) aparecerão tabelas Tab(w∗i ) tais que

|Ω+(Tab(w∗i ))| = |Ω+(Tab(z))| − 1,

o que prova o resultado no segundo caso.

Corolário 6.1.7 Se z ∈ Zn(n+1)

2 é tal que |Ω+(Tab(z))| ≥ 1 então, U · Tab(z) é um submódulo

próprio de V (T (v)).

Prova: De fato, se U · Tab(z) não fosse uma submódulo prório de V (T (v)), para toda tabela

Tab(w) ∈ V (T (v)) teríamos que Tab(z) ≺ Tab(w). Mas, pela Proposição 6.1.4, teríamos que

|Ω+(Tab(w))| ≥ |Ω+(Tab(z))| − 1.

Temos então dois casos a considerar:

Caso 1. Se |Ω+(Tab(z))| ≥ 2, segue que:

|Ω+(Tab(w))| ≥ |Ω+(Tab(z))| − 1 ≥ 2− 1 = 1.

Mas, isso é uma contradição, pois nós sempre podemos encontrar tabelas T (w) ∈ V (T (v)) tais que

|Ω+(Tab(w))| = 0.

Caso 2. Se |Ω+(Tab(z))| = 1, segue que a única diferença inteira vrs − vr−1,t não está próxima a

linha crítica i.e., numa linha que não é vizinha a linha onde ocorre a singularidade) pois se essa

diferença inteira estivesse próxima a linha crítica teríamos |Ω+(Tab(z))| ≥ 2. Por outro lado, longe

da linha crítica tudo funciona como no caso genérico, onde ocorre a seguinte desigualdade:

|Ω+(Tab(w))| ≥ |Ω+(Tab(z))| = 1.

Como no caso anterior, isso é uma contradição.

6.2 O resultado principal

Finalizaremos este capítulo enunciando e dando uma prova para o nosso principal resultado,

estabelecido em [16], que é a conrmação da Conjectura 1.1.1, ou seja, o teorema a seguir:

50A IRREDUTIBILIDADE DE V (T (V )) 6.2

Teorema 6.2.1 Se V (T (v)) é irredutível, então vrs − vr−1,t /∈ Z para quaisquer 1 ≤ s ≤ r ≤ n e

1 ≤ t ≤ r − 1.

Depois dos resultados desenvolvidos na seção anterior, podemos dar uma prova curta para esse

teorema, visto que a diculdade da sua prova está concentrada na diculdade de provar a Proposição

6.1.4. Finalmente vamos à prova:

Prova: Suponha, por absurdo, que vrs − vr−1,t ∈ Z para algum 1 ≤ t < r ≤ n, 1 ≤ s ≤ r e escolhaw ∈ Z

n(n−1)2 tal que |Ω+(Tab(w))| é máximo (nesse caso , |Ω+(Tab(w))| ≥ 1). Considerando o

submódulo N de V (T (v)) gerado por Tab(w), segue, pelo Corolário 6.1.7, que o submódulo N é

próprio, o que é uma contradição com a hipótese de que o módulo V (T (v)) é irredutível. Portanto,

concluímos que vrs − vr−1,t /∈ Z para quaisquer 1 ≤ s ≤ r ≤ n e 1 ≤ t ≤ r − 1.

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51

52REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 6.2

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