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• Seiior Manfredo Von Rennekampff, presidente de Asociación Argentina de Consorcios Regionales de Ex- perimentación Agrícola (AACREA). 1. Introdução; 2. Antecedentes; 3. O Plano Austral; 4. Comentários conclusivos. Avaliação do plano austral - aspectos destacados da agricultura argentina Mauro Márcio Oliveira (Agrônomo. Mestre em economia. Assessor da presidência da Embrater.) 1. INTRODUÇÃO Este trabalho originou-se do interesse em trazer uma contribuição ao acompanhamento do Plano Cruzado através de um estudo da evolução do Plano Austral da Argentina, com algum detalhamento para a situação da agricultura daquele país. Afora as informações conti- das na literatura pertinente (citada e consultada), as po- sições aqui expostas decorrem, em boa proporção, dos contatos e discussões com as pessoas e instituições en- trevistadas em maio deste ano, na Argentina: • Lic. Miguel Paulette - Chefe do escritório local do lica. • Ing. Andrés Abramovic e Dr. Carlos Garramon, as- sessores do Secretário de Agricultura, Ganadería y Pes- ca, Ing. Lucio Reca. • Ing. Agr. Angel Marzocca, diretor nacional do Ins- tituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (lnta). Rev•.Adm, Emp. • Dr. Evangelino Gomez, assessor do Secretário de Agricultura, Ganadería y Pesca. • Ing. Agr. Martín Nauman, diretor nacional de exten- são agropecuária do Inta. • Ing. Agr. Juan Noccetti, do Inta. • Lic. Alejandro Vegh Villegas, economista-chefe da Sociedad Rural Argentina. • Ing. Agr. Agustín Segovia Fernández, gerente da Cá- mara de Productos Fitosanitarios e Fertilizantes. • Ing. Luis Cuscia, diretor de economia e sociologia ru- ral da Secretaría de Agricultura, Ganadería y Pesca. Todas as opiniões aqui externadas são de exclusiva responsabilidade do autor, não cabendo ônus de erros e de interpretação às pessoas e instituições menciona- das. 2. ANTECEDENTES 2.1 Aspectos macroeconômicos A economia argentina, no período anterior mais recen- te, esteve mergulhada num ciclo recessivo em virtude de uma série de fatores. A dívida externa elevada - pro- porcionalmente, a maior do mundo - associada a uma excessivacarga de juros acelerou e aprofundou os sinais de crise. Para tanto contribuiu a fuga de capitais entre os anos de 1980e 1981. Da mesma forma que no Bra- sil, a transferência da dívida externa do setor privado para o setor público tornou crítica sua gerência, obri- gando o Governo a promover sucessivos ajustes nas ta- rifas, seguidas emissões e novos empréstimos externos para pagar o serviço da dívida. Como se isso não bas- tasse, a depressão dos preços internacionais das com- modities agrícolas (3/4 da exportação argentina) aca- bou por inviabilizar o pagamento integral dos serviços como o saldo da balança comercial. A conseqüência des- tes fatores cumulativos foi a recessão, aumento do dé- ficit fiscal e aceleração inflacionária ao nível de 3011,70 ao mês, no primeiro semestre de 1985. 2.2 Aspectos da agricultura o fato mais saliente da história recente da agricultura argentina é o que se pode chamar de' 'Revolução Pam- piana", compreendida entre os anos 1975/76 e 1982/83. Neste período, a produção de grãos cresce 80%, 16% dos quais atribuíveis à ampliação de área. Isso mostra que o vetor fundamental foi a melhoria do padrão tec- nológico de exploração. Os elementos dinâmicos que Rio de Janeiro 26(4) 53-63 out./dez. 1986

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Page 1: Avaliação do plano austral - aspectos destacados da ... · • Seiior Manfredo Von Rennekampff, presidente de Asociación Argentina deConsorcios Regionales deEx-perimentación Agrícola

• Seiior Manfredo Von Rennekampff, presidente deAsociación Argentina de Consorcios Regionales de Ex-perimentación Agrícola (AACREA).

1. Introdução;2. Antecedentes;

3. OPlano Austral;4. Comentários conclusivos.

Avaliação doplano austral -

aspectos destacados daagricultura argentina

Mauro Márcio Oliveira(Agrônomo. Mestre em economia. Assessor da presidência da

Embrater.)

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho originou-se do interesse em trazer umacontribuição ao acompanhamento do Plano Cruzadoatravés de um estudo da evolução do Plano Austral daArgentina, com algum detalhamento para a situação daagricultura daquele país. Afora as informações conti-das na literatura pertinente (citada e consultada), as po-sições aqui expostas decorrem, em boa proporção, doscontatos e discussões com as pessoas e instituições en-trevistadas em maio deste ano, na Argentina:

• Lic. Miguel Paulette - Chefe do escritório local dolica.

• Ing. Andrés Abramovic e Dr. Carlos Garramon, as-sessores do Secretário deAgricultura, Ganadería y Pes-ca, Ing. Lucio Reca.

• Ing. Agr. Angel Marzocca, diretor nacional do Ins-tituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (lnta).

Rev•.Adm, Emp.

• Dr. Evangelino Gomez, assessor do Secretário deAgricultura, Ganadería y Pesca.

• Ing. Agr. Martín Nauman, diretor nacional de exten-são agropecuária do Inta.

• Ing. Agr. Juan Noccetti, do Inta.

• Lic. Alejandro Vegh Villegas, economista-chefe daSociedad Rural Argentina.

• Ing. Agr. Agustín Segovia Fernández, gerente da Cá-mara de Productos Fitosanitarios e Fertilizantes.

• Ing. Luis Cuscia, diretor de economia e sociologia ru-ral da Secretaría de Agricultura, Ganadería y Pesca.

Todas as opiniões aqui externadas são de exclusivaresponsabilidade do autor, não cabendo ônus de errose de interpretação às pessoas e instituições menciona-das.

2. ANTECEDENTES

2.1 Aspectos macroeconômicos

A economia argentina, no período anterior mais recen-te, estevemergulhada num ciclo recessivo em virtude deuma série de fatores. A dívida externa elevada - pro-porcionalmente, a maior do mundo - associada a umaexcessivacarga de juros acelerou e aprofundou os sinaisde crise. Para tanto contribuiu a fuga de capitais entreos anos de 1980e 1981. Da mesma forma que no Bra-sil, a transferência da dívida externa do setor privadopara o setor público tornou crítica sua gerência, obri-gando o Governo a promover sucessivos ajustes nas ta-rifas, seguidas emissões e novos empréstimos externospara pagar o serviço da dívida. Como se isso não bas-tasse, a depressão dos preços internacionais das com-modities agrícolas (3/4 da exportação argentina) aca-bou por inviabilizar o pagamento integral dos serviçoscomo o saldo da balança comercial. A conseqüência des-tes fatores cumulativos foi a recessão, aumento do dé-ficit fiscal e aceleração inflacionária ao nível de 3011,70 aomês, no primeiro semestre de 1985.

2.2 Aspectos da agricultura

o fato mais saliente da história recente da agriculturaargentina é o que sepode chamar de' 'Revolução Pam-piana", compreendida entre os anos 1975/76 e 1982/83.Neste período, a produção de grãos cresce 80%, 16%dos quais atribuíveis à ampliação de área. Isso mostraque o vetor fundamental foi a melhoria do padrão tec-nológico de exploração. Os elementos dinâmicos que

Rio de Janeiro 26(4) 53-63 out./dez. 1986

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concorreram para a configuração deste fenômeno são,de forma sintética:

• exploração da fertilidade natural dos solos;• melhoramento genético dos grãos;• introdução da soja;• propagação das variedades de trigo de ciclo curto (osmexicanos);• rotação trigo-soja:• generalização da figura do contratista;• mercado quase cativo da URSS, durante o embargoamericano, por conta da invasão do Afeganistão.

A "Revolução Pampiana" foi levada a cabo na re-gião central da Argentina (províncias de Buenos Aires,Córdoba, Santa Fé), onde a pecuária tem sua zona demáxima exploração. A fertilidade natural dos solos,acrescida da adubação orgânica proporcionada pela ex-ploração da pecuária, foi fundamental para - substi-tuindo pastagens por lavouras de grãos - a obtençãode rendimentos físicos médios de 3.100kg/ha para osorgo, 3. 140kg/haparao milho, 3.700kg/ha para o ar-roz, entre outras. O avanço das lavouras, especialmen-te cereais e oleaginosas, se, em parte, deslocou a pecuá-ria a ponto de provocar a redução do efetivo da pecuá-ria em 5milhões de cabeças, por outro lado contribuiupara intensificar tal exploração.

O melhoramento genético dos grãos coube ao Esta-do (através do Inta) e às empresas multinacionais, es-tas, em especial, produtoras de sementes híbridas de mi-lho e girassol.

A figura do contratista ocupa lugar de destaque naorganização da produção. O contratista é um empresá-rio capitalista que concentra seu capital em maquina-ria, alugando a terra para a exploração. A diferença en-tre este empresário e o da forma trinitária clássica é que,na Argentina, o pagamento da renda da terra tem ummecanismo de risco embutido, qual seja, o de remune-rar o dono da terra com parte da própria produção. As-sim, o risco fica dividido entre o proprietário da terrae o contratista.

Dois importantes vetores para a sustentação e pro-longamento da "Revolução Pampiana" foram a que-da dos direitos de exportação durante 1978a 1981, e ademanda adicional representada pelas volumosas com-pras da Rússia, submetida ao embargo comercial pelosEUA a partir de 1979.A partir deste ano, o comprome-timento das exportações argentinas com a Rússia che-gou a 50070do total, situação que se prolongou até1983/84. Atualmente a participação caiu abaixo de25%.

O aproi undamento da "Revolução Pampiana" aca-bou sendo refreado pelos seguintes elementos:

• deterioração dos preços internacionais de commodi-ties agrícolas;• queda da fertilidade natural e da fertilidade residualproporcionada pela pecuária;• alto custo financeiro;• uso dos direitos de exportação como política fiscalistado Governo;• esgotamento das inovações tecnológicas;• problemas estruturais para exportação de produtosargentinos.

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A queda dos preços internacionais das commoditiesagrícolas, por conta da deterioração do poder de com-pra em escala mundial e, mais recentemente (no atualano comercial), a guerra de subsídios entre a CEE e osEUA afetam negativamente a rentabilidade das explo-rações argentinas, com o que o estímulo de mercado seesvai.

O esgotamento da fertilidade natural e residual dossolos, provocado por explorações sucessivas de lavou-ras em terras ocupadas por pastagens, acentuou-se coma generalização do contratista na medida em que os con-tratos são de curto prazo, suficientes para cobrir umasafra, quando muito duas. Nestas condições, o contra-tista não tem compromissos, seja com práticas de ma-nejo para conservação do solo, seja para recuperar-lhea fertilidade.

O alto custo financeiro para obtenção de emprésti-mos bancáriostem freado o ímpeto da modernização,uma vez que a agricultura argentina de grãos é integra-da ao mercado e literalmente monetarizada. Juros al-tos impõem barreiras muitas vezes intransponíveis, oque acaba acarretando sucateamento de máquinas eequipamentos agrícolas, redução na compra de semen-tes selecionadas e compressão das despesas com com-bustíveis (o item do custeio mais expressivo), defensi-vos e herbicidas.

O fato de a agricultura argentina apresentar-se secu-larmente como exportadora líquida de alimentos cris-talizou uma postura fiscalista do governo federal, atra-vés da cobrança dos direitos de exportação. Na práti-ca, o Governo estabelece câmbios diferenciados sobre

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uma determinada pauta de produtos como forma de ar-recadação fiscal.

No auge da "Revolução Pampiana" (entre 1978 e1981)eles representavam 1% ou menos da massa de re-cursos tributários federais. No triênio 83/85, esta par-ticipaçãovariou de9,5 a 16,5%. Dados dos três primei-ros trimestres de 1985informam que tais direitos de ex-portação constituem a terceira fonte mais importantede tributos federais para o país.

Do ponto de vista da exportação de grãos, a Argen-tina tem problemas estruturais sérios na infra-estrutu-ra portuária e de navegação, pois seus portos têm limi-tação para receber embarcações de grande calado. Asperdas relativas em que incorre a Argentina referem-sea custos unitários mais altos.

3. O PLANO A USTRAL

3.1 Concepção de heterodoxia

As diversas tentativas de reordenar a economia argen-tina, antes do Plano Austral, foram do tipo ortodoxo,ou seja, desvalorização cambial acompanhada de polí-ticas monetária e fiscal para possibilitar a absorção in-terna dos impactos, o que redunda em contração da eco-nomia.

A desesperança com o uso dos instrumentos dispo-níveis para, simultaneamente, debelar o processo infla-cionário e possibilitar a consolidação das precondiçõesde crescimento econômico levou à visão do que Rozen-wurcel (D.l) chama de neo-estruturalismo, e daí ao he-terodoxismo como forma alternativa de tratar o proble-ma. Entre outras coisas se reconhece que nem todos ospreços na economia são simplesmente produto da inte-

PIIlno Austntl

ração das forças de oferta e procura (preços exógenos,flexprice, etc.) tal como preconizam os neoclássicos.Com isso quer-se destacar preços que são fixados pelosempresários (preços endógenos, fixprice, etc.). Alémdisso, entende-se que os processos inflacionários daseconomias latino-americanas apresentam um caráterfortemente inercial. Estas são duas posições que irão in-fluenciar a montagem dos programas heterodoxos deestabilização: a) controle dos preços dos produtos desetores oligopolizados por um período longo, quandonão de forma definitiva e permanente; b) eliminaçãoda indexação como mecanismo generalizado na econo-mia.

Dada a base de compreensão sobre a estrutura eco-nômica e sobre o processo específicoda inflação nos paí-ses latino-americanos, a preocupação inicial para im-plantar o Plano Austral- e que deve ser comum a qual-quer medida semelhante - foi a de investigar os preçosrelativos. Os preços relativos, num determinado mo-mento, mostram como os diversos agentes, setores, em-presas, se situam uns frente aos outros em termos de po-der de compra, ganhos e perspectivas de acumulação.Quanto maior a simultaneidade dos reajustes nos pre-ços nominais, menos problemas de preços relativos.!Embora o governo argentino não tenha expendido de-claração oficial nenhuma sobre o assunto, é possívelobservar-se um senso comum em termos de que a des-valorização cambial,o ajuste de tarifas de serviços pú-blicos e alta do preço da carne promovidos antes da im-plantação do Plano Austral visaram ajustar preços re-lativos de setores importantes da economia. A correçãodeste último deve levar em conta um "atraso" de qua-se 50% dos produtos agropecuários em relação aosnão-agropecuários, em junho/85.2 Some-se a isso oreajuste salarial de 22,6% e de 25,1% para aposenta-dos, ainda em junho.

As linhas básicas do Plano Austral são as seguintes:

a) congelamento generalizado de preços, salários, ren-dimentos e tarifas, inclusive taxas de câmbio, por tem-po indeterminado;b) reforma monetária, com nova moeda de curso legal,o Austral (A);c) mecanismo de conversão entre a nova e velha moe-da para arbitrar as relações entre credores e devedoreslocais;d) promessa de não-emissão para financiar o déficit fis-cal; opção de utilização de empréstimos externos paraeste fim. Foi fixada a meta de reduzir o déficit fiscal, emum ano (nov. 1984- fins de 1985), de 11,4 para 2,5%do PIB;e) embora não faça parte propriamente dita de um pla-no heterodoxo, a manutenção da taxa de juros em pa-tamares próximos a 70% a.a. pode ser considerada umponto importante do Plano Austral, dada a conveniên-cia de repatriar capitais argentinos desviados para o ex-terior e evitar-se a formação de estoques especulativos.

3.2 Desempenho da economia sob o Austral

O desempenho da economia argentina, após a implan-tação do Plano Austral, pode ser visto através do com-portamento de quatro indicadores básicos: taxa de câm-

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bio, déficit fiscal, movimento de preços e salários, e mo-netarização da economia.

A taxa de câmbio é considerada pelo próprio Gover-no como um indicador com êxito do Austral, seja pelaestabilidade da nova moeda frente ao dólar, seja pelobaixo diferencial entre os mercados oficial e paralelo pa-ra compra e venda de dólares. Assim é que, desde ju-nho de 1985, o ágio uma só vez atingiu 18070, manten-do-se em um valor médio de 12%. A taxa de juros deUSS 1.00/0,80 pôde ser mantida fixa até início de abrilde 1986 (portanto, durante quase dez meses), quandosofreu a primeira desvalorização. De 7 de abril até 6 dejunho, o Austral foi desvalorizado cinco vezes num to-tal de 8,04070,3e o ágio caiu para a metade daquela or-dem de grandeza.'

A manutenção da taxa de câmbio fixa por um bomperíodo e a estreiteza da brecha cambial se devem, emgrande medida, à política de administração da taxa dejuros internos em patamares muito elevados. Estima-seque a venda de dólares para investimento em Austraistenha proporcionado, de jun. 1985 a maio/l986, ganhosda-ordenrde 801IJo.Dessa maneira, a conduta especula-tiva permanece, com a inversão dos termos: agora, a"bicicleta financeira" - como os argentinos a chamam- consiste em vender dólares e comprar austrais paraaproveitar as taxas de juros de aplicações de curto pra-zo e não mais a troca de pesos por dólares como no pe-ríodo inflacionário anterior. Como neste contexto nãose materializam as oportunidades de investimento, umaconsiderável massa de recursos permanece em estadopotencial, servindo apenas para a rolagem diária da dí-vida do Governe,"

O déficit fiscal teve uma evolução favorável mesmonão tendo atingido a meta fixada. Por efeito direto dochoque tarifário que antecedeu o Plano Austral, da ma-nutenção dos direitos de exportação e de importação,e da poupança forçada, a receita fiscal passou de 21,4para 27,8% do PIB do primeiro para o segundo semes-tre de 1985. Esta arrecadação adicional, somada aos em-préstimos externos para combater o déficit, concorre-ram para reduzi-lo de 12,75 para 4,5"70 do PIB nestemesmo período.v

Este fato que, em si mesmo, é positivo, deixa algu-mas dúvidas quanto à sua sustentação a médio e longoprazos, não só porque o aumento da arrecadação fis-cal encontra cada vez mais um número crescente de opo-sitores que o transformam em objeto político de ques-tionamento da ação governamental, mas também por-que a receita não vem sendo utilizada de forma signifi-cativa para alavancar o desenvolvimento, mas sim pa-ra proporcionar liquidez ao caixa do Governo. Um ins-trumento de política econômica de caráter produtivo,que poderia servir para dinamizar a produção, está re-presentado por um sistema de incentivos fiscais que mo-vimentará, em 1986, montante de recursos correspon-dente a 15"70da receita tributária, ou da ordem de 2,6"70do PIB, fundamentalmente para promoção industrial(81 "70).Entretanto, um relatório do PMI sobre este sis-tema mostrou que o mesmo, por estar controlado emsua maioria pelos governos provinciais (estaduais), dei-xa de seguir orientação no sentido de criação de opor-tunidades industriais multiplicadoras de emprego, co-mo deveria ser o caso.?

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Afora esses aspectos, o caso mais grave do déficit pú-blico está no seu componente formado pelo pagamen-to da dívida externa. Já em 1984, o Governo havia as-sumido boa parte da dívida externa (em 7.9.84, o setorpúblico devia US$31 ,6 milhões contra US$12,8 bilhõesdo setor privado - BCRA, Comunicado n? 645), o queé um complicador não só para administrar o déficit, mastambém para o índice de preços e para a retomada docrescimento. A situação se complica na medida em queos saldos comerciais não são suficientes para o paga-mento dos serviços. Isto, evidentemente, exige esforçosadicionais do Governo, com o resultado final de debi-litação para toda a economia.

O terceiro indicador - movimento de preços e salá-rios - mostra, no decorrer de 11 meses de Plano Aus-tral Gun.1985/maio 1986), fatos alentadores e motivosde preocupação com a condução da política de estabi-lização. Desde o início do Plano Austral sabia-se dasenormes dificuldades para se alcançar e manter a metada inflação zero ou inflação internacional. O próprioministro da Fazenda, em trabalho de 1973 (La políticaeconómica en una sociedad conflictiva), advogava a teseda inflação neutra que, durante um certo tempo, avan-çaria a taxas mais elevadas do que a internacional, a fimde corrigir as distorções de altas taxas inflacionárias an-teriores.f Desconsiderada a possibilidade de ter-se in-flação zero, apela-se agora para a manutenção das ta-xas neutras, algo um pouco maior que a internacional,porém estável e suportável pela estrutura produtiva e pe-la própria população. Hoje se questiona se os níveis demaio (4,7"70) significam ou não um rompimento do te-to da inflação neutra.

Na administração dos preços, uma regra fundamen-tal tem sido respeitada até onde permitam as circuns-tâncias: onde o Governo tem como bancar o abasteci-mento, o controle sobre os preços pode ser bastante rí-gido; onde, porém, não há como prover o adequadoabastecimento, os graus de controle são mais flexíveis.A importância 'relativa do setor (formador de preços,oligopolizado, papel influente na composição do índi-ce de preços, etc.) também foi levada em conta para apolítica de congelamento. Em função deste controle, osresultados obtidos até maio vinham sendo consideradossatisfatórios, quando comparados com as taxas infla-cionárias anteriores ao Plano Austral. Assim é que, dejan. a ju1.1985, a taxa inflacionária mensal andou ao re-dor de 20-30"70; em ju1.1985, caiu para 6"70; já entreago.1985 e fev.1986, entre 2 e 3"70, e de mar. a maio1986, entre 5 e 6"70.9Excluído o resultado de ju1.1985,influenciado pela metodologia de medição do índice,que mede a variação de preços entre os dias 15 de doismeses subseqüentes, há uma preocupação de que o sen-tido crescente dos valores assuma um perfil exponen-cial e, por isso mesmo, venha a eliminar os ganhos atéentão verificados. Na época em que o Executivo defi-niu a taxa de 28"70a.a. na proposta orçamentária para1986, os empresários avaliavam-na como inatingível,acreditando em algo entre 40-50% anuais. Se se anua-lizar a taxa inflacionária verificada até abril, o valor al-cança 57"70.10 Detalhe metodológico a ser registrado:estes valores representam ponderação entre as taxas aonível do atacado e do consumidor. Para perceber a di-ferença pronunciada entre estas, resume-se o quadro ge-ral de evolução dos diferentes índices de preços.

Revista de Adminirtração de Emprellllr

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a tabela permite algumas constatações:

a) os preços no atacado, para qualquer base, evoluírammenos do que os preços ao consumidor. A diferença en-tre ambos, que girava ao redor de 300/0por época da in-vestidura de Alfonsín na Presidência, caiu para 15% nomês que antecedeu o Plano Austral, tendo voltado aopatamar de 25% após sua implantação. Parte da expli-cação do "atraso" dos preços ao nível do atacado resi-de na maior eficiência do controle que é possível ter-seaí em relação à prática de preços do varejo, cuja estru-tura é extremamente pulverizada;

b) internamente aos preços ao atacado, os da agrope-cuária destacam-se dos demais, de forma flagrante,quando a referência é maio ou jun.1985, exatamente ocontrário quando a comparação toma como marco aposse de Alfonsín. Isso mostra que os preços da agro-pecuária, no atacado, estavam relativamente desfavo-ráveis entre a posse de Alfonsín ea decretação do Pla-no Austral, mas que, após esta data, houve um movi-mento de recuperação bastante claro no que concerneà sua relatividade com preços de outros setores;

c) na estrutura interna dos preços ao consumidor osdestaques são.jior um lado, para alimentos e bebidase despesas com saúde, que sobem mais do que a média,e por outro, para habitação e transportes e comunica-ção, que sobem menos do que a média. No corte tem-poral, verifica-se que o item alimentos e bebidas já erae continuou sendo maior do que a média, o mesmo ocor-rendo com despesas de saúde;

d) tanto no caso dos preços ao atacado quanto no casodos preços ao consumidor, o setor agropecuário pres-siona os índices respectivos. No período que se iniciacom a implantação do Plano Austral, a explicação estáclaramente na decisão do governo de: I. não contro-

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lar preços de frutas, hortaliças e legumes; 2. reajustarpreços de alguns produtos como carne e leite;3. congelar preços de apenas alguns derivados em se-tores como o da suinocultura, deixando os preços dosdemais flutuar livremente. 11

Dentre todos os preços, os salários constituem casoa parte para registro. De início, assim como os preços,os salários também foram congelados. A política de es-tabilização contida no Plano Austral foi vaga quantoaos reajustes salariais. Acredita-se que a definição pre-liminar e de surpresa - como foi a implantação do Aus-tral-i- de uma política de reajustes salariais poderia dei-xar o Governo sem flexibilidade para negociar este as-pecto específico com as classestrabalhadoras, represen-tadas pela CGT. Sabendo que a CGT é dominada peloperonismo - oposição ao Governo - o Executivo tra-tou de constituir uma Conferencia Económica y Socialpara tratar das grandes questões nacionais que afetamtrabalhadores e empresários, das quais o salário é a maisimportante delas. Os pontos de acordo neste Conselhotornaram-se raros, e ainda no início deste ano, a CGTconvocou greve geral dos trabalhadores para demons-trar a insatisfação da classe diante da queda do poderaquisitivo. Diante da falta de acordo das partes, o Go-verno estabeleceu, para o trimestre abr .Ijun. 1986,rea-justes de 5% para o setor público e 8,5% para trabalha-dores do setor privado, e elevou o "salário de garantia" .Com isso, a insatisfação não foi resolvida, sendo ape-nas adiada, de tal forma que novos movimentos grevis-tas poderão ser verificados. Ademais, ainda em maiode 1986, a CGT resolveu abandonar a referida confe-rência diante da negativa de senegociar um reajuste paraos aposentados, uma vez que a única alternativa técni-ca para concedê-lo, segundo o próprio Governo, seriaatravés do aumento de 100% da cota de previdência pa-tronal (de 7,5% para 15%). A deterioração dos saláriosno setor público era de 33%, quando o mês de dezem-

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bro de 1985 era comparado com o de 84. Ao fim do pri-meiro trimestre de 1986, a tal valor dever-se-ia agregarmais 5"70,12dada a inflação até então acumulada.

Por fim, o quarto indicador de desempenho do Pla-no Austral, qual seja, a monetarização da economia,aponta para uma direção já esperada que é a de maio-res ativos monetários em poder do público. De julho de1985 a março de 198'6a oferta monetária cresceu 170%,o que dá a média de 12% ao mês; já a demanda subiu124% no mesmo período, ou.9% ao mês.13 Embora omovimento seja no sentido esperado, não há como jul-gar estes números como favoráveis ou desfavoráveis deforma isolada, fora do contexto geral. A maior ofertamonetária é, em princípio, favorável, se, num momen-to seguinte, a poupança que com ela se forma se trans-formar em investimento produtivo. Caso, entretanto,ela venha a ficar em estadopotencial, o investimento co-mo componente propulsor da economia não se realizae as oportunidades de ganho de natureza especulativase reativam. Parte dá monetarização conseguida se de-veu, nos meses iniciais do Plano Austral - junho e ju-lho - à entrada líquida de cerca de US$1 bilhão comoantecipação de receitas de exportação e repatriação decapitais argentinos até então no exterior. Neste sentido,a manutenção da taxa de juros em patamar de 70% a.a.contribuiu decisivamente. Entretanto, o que num pri-meiro momento é favorável, acaba por se transformarem transtorno se as forças produtivas não encontramum caminho alternativo de expansão.

3.3 Fases do Austral

Qualquer plano de estabilização que adote o corte he-terodoxo presumivelmente apresentará uma primeirafase de preços e salários congelados, quando não emqueda, e logo após uma fase de transição de volta à nor-malidade de mercado.

A primeira fase do Plano Austral- a do congela-mento - vai de jun.l85 a fev.l86, quando predominaa idéia da rigidez dos controles. A segunda fase, maiscurta - a da flexibilidade - se traduz por ajustes sele-tivos em combustíveis, alguns alimentos e salários, in-do de fevereiro a abr .lmaio 1986. Por fim, a terceira fa-se - a de administração de preços - teve início com aedição da Resolução n? 50, de 14.5.86, adiante comen-tada.

3.4 O caso particular da agricultura

Os comentários sobre o impacto do Plano Austral naagricultura argentina serão feitos, sempre que possível,obedecendo ao esquema das três fases já mostrado. Nafase do congelamento, em nenhum momento o Gover-no enquadrou os preços das frutas, hortaliças e legumes.Explicitamente, o Governo os deixou de fora do con-gelamento. Algumas razões foram invocadas para esteprocedimento: em primeiro lugar, a estacionalidade deprodução destes produtos é muito marcada. Ou seja,sob condições climáticas mais severas, há épocas em quea oferta se anula e, portanto, deixa de haver cotaçõesde mercado. Assim, o congelamento de preços em ju-nho de 1985, por definição, não afetou produtos des-tes grupos que, naquela época, não eram cotados no

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mercado. Em segundo lugar, a recente inauguração deum mercado central de hortigranjeiros em Buenos Ai-res foi levada em consideração pelo Governo para onão-congelamento dos preços destes produtos na me-dida em que, alternativamente, se abriu a possibilida-de de o consumidor ali adquirir, diretamente do produ-tor, sua cesta de produtos. Com isso, o Governo enten-deu que os preços finais estariam reduzidos da margemde intermediação. Este segundo argumento leva em con-ta que os preços coletados para composição do índicede preços da Argentina restringem-se a Buenos Aires.Em terceiro lugar, levou-se em conta a regra básica jáenunciada de que a rigidez dos controles é diretamenteproporcional à capacidade de o próprio Governo pro-ver o abastecimento.

Os insumos à produção também não foram con~~-lados no ponto terminal de venda. O argumento utili-zado é o da impossibilidade do controle de preços empontos espacialmente dispersos e, mais importante, co-mo os insumos fundamentais à agricultura (pelo menoslavouras) são os combustíveis e os agroquímicos, o con-trole na ponta estaria substituído pelo congelamento dospreços de fábrica das empresas oligopolíticas dos. do~ssetores. A queixa dos agricultores e a de que, em pnmei-ro lugar, os preços dos agroquímicos, mesmo contro-lados na produção, foram alterados; em segundo, quepreços de sementes não foram congelados e, terceiro,que os preços dos serviços em geral desconheceram?Plano Austral. A situação não se agravou porque a bai-xa rentabilidade dos produtos exportáveis determinouum arrefecimento pela demanda de insumos.

Durante toda a fase do congelamento, o país convi-veu com distorções nos mercados de carnes (bovina esuína) tais como mercado negro, sobrepreço, falta deprodutos etc. O agravamento destes problemas levouo Governo a rever o congelamento para os casos maisgraves, tendo liberado o preço do gado em pé - no queapenas convalidou o mercado - e aplicado 15% de rea-juste, ao nível de consumidor, para os cortes de primeirae manutenção do congelamento dos preços para os cor-tes populares. No caso do leite, o reajuste ao produtorfoi concedido em duas etapas, sendo de 15% a partir de20.2.86 e de 9%, a partir de 20.3.86. Para o consumi-dor, o reajuste foi de 9%.

No caso das carnes de suínos, a solução encontradafoi o congelamento seletivo de alguns derivados, deixan-do outros livres para permitir rentabilidade sustentávelao nível da produção. Já a produção de aves foi literal-mente inviabilizada com o não-controle dos preços deseu principal insumo, as rações. Por conta disso, a ofer-ta foi interrompida, o setor entrou em crise e o país pas-sou a importar frangos abatidos.

Caso particular de interesse da agricultura reside nosdireitos de exportação. Como medida fiscalista impos-ta a mais de uma geração ao setor, ela não se enquadracomo instrumento de estabilização da economia. Masnessa ocasião, como forma de ceder às pressões - ra-dicalizadas por conta da depressão de preços interna-cionais das commodities agrícolas exportadas pela Ar-gentina - o Governo fez algumas concessões, reduzin-do alíquotas de direitos de exportação sobre alguns pro-dutos, prometendo a unificação das mesmas para a sa-fra 1986/87, na marca de 15%, para os principais.

Revista de Administração de EmprelQs

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A estrutura produtiva na Argentina fornece indica-dores importantes para se perceber o real impacto doAustral sobre o setor. Do ponto de vista de preços aoprodutor, o funcionamento do mercado internacionale a administração dos direitos de exportação são muitomais importantes do que o próprio Plano Austral, já quea Argentina é um país essencialmente exportador degrãos e derivados. O inverso ocorre nos casos da carnee nos produtos regionais, voltados na sua maioria parao mercado interno.

Como medidas compensatórias à perda de renda, oGoverno acenou para os agricultores com a promessade implementar créditos de investimentos a partir de em-préstimos do Bird; com a revisão do modelo institucio-nal do Inta (Instituto Nacional de Tecnologia Agrope-cuária), buscando maior eficiência técnico-administra-tiva e participação do público destinatário; com a polí-tica de minidesvalorizações cambiais, o que aumenta areceita final dos agricultores de grãos em austrais e, fi-nalmente, com a perspectiva de substituir os direitos deexportação por impostos sobre a terra, de forma a in-centivar a produtividade e a eficiência.

3.5 Estratégia de descongelamento (política deadministração de preços)

Se Abraham Lincoln fosse economista ele certamenteteria dito: "Pode-se controlar todos os preços por al-gum tempo, pode-se controlar alguns preços durante to-do otempo, mas não se pode controlar todos os preçosdurante todo o tempo."

O descongelamento na Argentina, caracterizado co-mo uma política de preços administrados, foi implan-tado oficialmente através da Resolução n? 50, da Se-cretaria de Comércio Interior (SCI), em 14de maio de1986, a partir de quando se inicia a terceira fase do Pla-no Austral.

Trata-se de um conjunto de regras para regulamen-tar o repasse de custos aos preços dos produtos. Paratanto, divide o período que vai desde a implantação doPlano Austral até a data de promulgação da Resoluçãon? 50 em dois subperíodos, para os quais define pro-cedimentos básicos de encaminhamento de solicitações.

Plano AUltral'

I. Para oprimeiro subperíodo (12.6.85 a 31.3.86) es-tabelece:

1. reajustes aceitáveis:a) de matérias-primas nacionais, para as quais a SCI te-nha oficialmente aprovado o reajuste. Preços de insu-mos ematérias-primas não-sujeitos ao controle não po-dem ser levados em conta na solicitação de reajuste depreços dos produtos finais e, portanto, eventuais atra-sos daí decorrentes não podem ser minorados ou elimi-nados;b) dematérias-primas importadas, seja por conta de al-teração da paridade cambial, seja por alteração nos di-reitos de importação.

2. forma de repasse:os custos acrescidos deverão ser repassados aos preçossegundo sua exata incidência no custo total, definida poruma planilha-padrão de custos que regulamentará oscálculos, na data-base de 31.7.85. Uma vez apurado opercentual de aumento dos preços, o mesmo deverá serdistribuído nos meses de maio e junho de 1986em alí-quotas mensais iguais.

11. Para o segundo subperíodo (1.4 a 14.5.86) estabe-lece:

1. reajustes aceitáveis:a) de matérias-primas nacionais e importadas, tal co-mo definidos anteriormente;b) de serviços públicos e de combustíveis, para os quaisa SCI tenha emitido autorização expressa para algumreajuste anterior;c) de salários, encargos sociais, comissões de venda etrabalho de terceiros:d} de fretes.2. forma de repasse:a) os custos acrescidos deverão ser repassados aos pre-ços segundo sua exata incidência no custo total, defini-da por uma planilha-padrão de custos que deverá regu-lar os cálculos na data-base de 31.3.86;b) os custos acrescidos referentes a La, 1.b e I.d pode-rão ser repassados de uma só vez;c) os custos acrescidos referentes al ,c serão reduzidosde 0,40/0e repassados, no mês de junho de 1986,aos pre-ços finais; no caso de futuros aumentos deste item, osrepasses aos preços finais poderão ser feitos em um sómês, aplicando-se, neste caso, o redutor de 0,2%;d) no caso dos custos referentes ao item I.d, o percen-tual não pode ultrapassar o apurado pelo índice de Pre-ços ao Consumidor, em seu subitem Transportes e co-municação, conforme definição do Indec.

Independente do caso, a estrutura de custos apresen-tada pela Resolução n? 50penaliza o endividamento ex-cessivo das empresas ao não assumir custos financeirossuperiores ao de uma proporção de 1:1entre capital detrabalho próprio edívida.

Uma vezdefinidos os itens cujos reajustes serão acei-táveis e as regras de repasse dos mesmos, a Resoluçãon? 50tipifica as empresas para enquadramento das so-licitações. Basicamente, os grupos estão assim consti-tuídos:

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1. empresas líderes - 500empresas nominalmente ci-tadas pela resolução, enquadráveis como oligopó-lios/monopólios, produtoras de insumos básicos e em-presas formadoras de preços.2. as não-enquadráveis no primeiro grupo estão agru-padas em três outras categorias, por faturamento bru-to anual no mercado interno:2.1 superior a 12milhões (ou US$ 10milhões);2.2 entre 6 e 12milhões (ou de US$ 5 a 10milhões):

2.3 inferior a 6 milhões (ou menos de US$ 5 milhões).Para cada uma delas, o quadro a seguir resume as dis-

posições legais da política de preços administrados.

Afora estas definições específicas, a Resolução n? 50estabelecealguns princípios emecanismos, seja para evi-tar transgressão às regras criadas, seja para evitar ma-nipulação das informações, seja para enfrentar situa-ções como a colocada por produtos novos, sem simila-

60 Revútll de Adminútração de EmpreroB

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res anteriores com os quais se possa comparar preçospara definir reajustes.

Como definição final ficam impedidos de alterarseus preços sem prévia autorização da SCI as escolasparticulares, os bares, restaurantes, confeitarias, as ca-sas de comidas prontas, os estabelecimentos de produ-ção e comercialização de produtos medicinais de uso hu-mano e os prestadores de serviços de medicina em as-sociações (ou pagos' em forma de mensalidade).

Embora não-regulados pela referida resolução, con-tinua em vigor o regime de preços máximos para meiacentena de produtos da cesta básica com promessa deliberação gradativa ao longo deste ano, de forma queem 31.12.86 nenhum deles mais esteja sob este tipo decontrole. Para este conjunto de produtos foi concedi-do um reajuste geral entre 4,2 e 4,3070, em 19.5.86.14

Os comentários sobre o descongelamento são em ge-ral restritivos, pois se entende que a rigidez acabou sendomaior que a esperada, além do que tamanho grau decomplexidade na operação deste instrumento acabarápor tornar as decisões mais complicadas, o que será pre-judicial às empresas ali enquadradas. Outro aspecto alembrar é o sentimento de que, de uma forma ou de ou-tra, as empresas líderes (Grupo I) nunca mais deixarãode ser controladas, dada sua importância no contextoda economia argentina. Não se justifica que estatais doporte de Aerolineas Argentinas, Obras Sanitárias, Gásdel Estado e Entel não estejam no Grupo I, se bem queali esteja a YPF. Por fim, são setores claramente pre-judicados os das empresas que trabalham com insumoscujos preços não foram congelados, pois não terão seusacréscimos em custos reconhecidos (é o caso de têxteis,papel, celulose, legumes e frutas industrializados) e asendividadas, seja para prover capital de giro, seja parainvestir na melhoria e/ ou ampliação de produção. O fa-to positivo é o fim do congelamento e, com isso, a crençade que outras formas de negociação à margem da Re-solução n? 50 terão lugar.

4. COMENTÁRIOS CONCLUSIVOS

Decorrido um ano, a experiência da Argentina com oPlano Austral não é exatamente o que os seus simpati-zantes gostariam que fosse. Há problemas; alguns sim-ples, outros extremamente complexos para serem solu-cionados.

De antemão, cumpre registrar que nenhum plano deestabilização opera milagres na economia. A Argenti-na partiu de uma situação crítica, na qual os principaisingredientes eram a recessão e a inflação. O comporta-mento da economia sob o Austral revelou que as medi-das de um plano de estabilização de corte heterodoxonão têm vida longa e, mais ainda, em si não trazem ne-nhuma proposta renovada de desenvolvimento. Ou se-ja, por trás de um plano de estabilização não há nenhumnovo modelo econômico, mas muito mais uma vonta-de política de enfrentar um quadro econômico crítico.Os desdobramentos colocados pela economia é que irãodizer se há como redirecionar o esforço nacional parao crescimento, através da poupança e do investimentosincronizados.

A fuga a uma solução ortodoxa evitando, com isso,o caminho direto à recessão, é correta. Entretanto, nu-

Plt.mo AustTtll

ma situação de preços congelados, a condução da polí-tica monetária revelada, entre outras coisas, pelo com-portamento da taxa de juros, também pode levar, porvias tortuosas, à situação recessiva, na medida em queo seu elevado nível se presta não mais do que à manu-tenção do dinheiro em estado potencial, sem sua neces-sária transformação em investimento.

A agricultura argentina que, por sua natureza secu-larmente excedentária, sempre se prestou à extração deriqueza para montar e diversificar o quadro econômi-co nacional, diante da queda do poder de compra da po-pulação e da depressão dos preços no mercado interna-cional- comandada pela guerra de subsídios entre osEUA e a CEE - não suporta mais a postura fiscalistagovernamental. Há sinais de desencanto e de sérias preo-cupações com a sustentação do processo produtivo nospadrões argentinos habituais. Em especial, parece terchegado ao fim a vantagem relativa de terras natural-mente férteis, hoje dando sinais de esgotamento e de ero-são, para os quais a saída natural é o investimento, oque, nas circunstâncias atuais de mercado, conspiracontra a competitividade dos produtos argentinos nomercado internacional.

Mas que lições a Argentina oferece ao Brasil? Semdesconhecer os inúmeros pontos que diferenciam as eco-nomias dos dois países, entende-se que poderiam ser ob-jeto de estudo para o nosso caso:• a meta de conviver com um nível inflacionárío quenão inviabilize o crescimento da economia diferente dainflação zero. Há que se definir, em função da históriaeconômica de nosso país, umainflação de crescimento.Esta postura não significa, de maneira alguma, capitu-lação, mas sim maturidade e realismo;• o nível da taxa de juros não deve ser tão alto quantoo da Argentina, mas também não tão baixo que dê a im-pressão de que, em determinado momento, o Governoresolva aplicar-lhe uma maxicorreção. Taxas muito bai-xas, ao contrário de estimular o investimento, podemafugentá-lo exatamente porque podem representar umasituação não-sustentável a médio e longo prazos. A ex-periência brasileira de mercados segmentados de crédito(rural, habitacional, da pequena e média empresas, deexportação) pode ser explorada ainda um pouco mais,através da diferenciação das taxas ali praticadas. Na me-dida em que a economia retome sua perspectiva de cres-cimento, seria de todo recomendável que a interligaçãodestes mercados fosse sendo feita, preservando apenasaqueles julgados essenciais à correção de distorções ina-ceitáveis numa sociedade democrática;• a garantia de que a dívida externa deixe de drenar re-cursos fundamentais ao nosso crescimento não pode sercolocada de lado. Na medida em que o próprio Gover-no assumiu boa parte da dívida privada, por aí poten-cializou os mecanismos inflacionários a um ponto alémde suas próprias capacidades;• a intervenção governamental nos mercados deve le-var em conta a sua capacidade de prover o abastecimen-to que, por sua ação, se vê interrompido ou prejudica-do. Aceita-se que no Brasil o grau de intervenção do Go-verno nos diversos mercados seja maior do que para aArgentina. O que não parece correto é estender tais me-canismos de intervenção além da própria capacidade desustentar o funcionamento dos mercados em condiçõesartificiais;

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• na medida em que amadureçam as condições para adiscussão do congelamento, o modelo argentino - es-pecialmente no que se refere aos setores oligopolizados(Resolução n? 50) - e o revigoramento do CIP serãoduas peças básicas na montagem de nossa estratégia;• o descongelamento ainda é muito prematuro para serdiscutido no Brasil de forma global, já que nossas prin-cipais safras já estão colhidas e/ ou nossas importaçõesjá providenciadas. Assim, para os produtos de consu-mo massivo não há perspectivas de problemas insusten-táveis. Entretanto, problemas particulares deveriammerecer tratamento específicona perspectiva de formar,pouco a pouco, uma situação compatível com taxas deinflação de crescimento. O leite, mesmo com subsídio,ainda éum problema. Os hortigranjeiros, ao fim da sa-fra que estamos vivendo, secredenciam como outro pro-blema para dentro em breve. Esta última é uma área naqual a excessiva interferência nos mercados parece serdanosa, pois não épossívelter-se controle sobre a ofer-ta. Finalmente, o caso da safra 1986/87 deve mereceratenção especial porque, enquanto a decisão sobre oplantio (redução, manutençtfo, ampliação) se fará bre-vemente, sob os rigores do Plano Cruzado, a prática decomercialização ocorrerá após o primeiro aniversáriodo plano, entre março e junho de 1987. De forma sim-plificada talvez seja necessário simular o mercado maisliberado de 1987agora em 1986,época das decisões fun-damentais da safra vindoura;

• o momento presente é o de simultaneamente conti-nuar administrando a política de estabilização - no sen-tido de consolidar um cenário favorável para o cresci-mento - e instrumentalizando o Estado brasileiro pa-ra apoiar, liderar e dar suporte ao desenvolvimento na-cional, através de políticas de estímulo à produção e deincremento do emprego e renda nacionais, exatamenteporque o plano de estabilização é apenas um passo ini-cial para a definição de uma nova opção de modelo eco-nômico.

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I Neste particular, a hiperinflação tende a tornar simultãneos todosos reajustes de preços nominais, reduzindo a quase zero o intervalode tempo para a troca de preços.

2 Gómez, Evangelino. Mayores márgens de comercialización. Cla-rín Económico, Buenos Aires, 11 mayo 1986. p. 12.

3 Gazeta Mercantil, São Paulo, 9 jun. 1986.

4 Clarín, Buenos Aires, 14 mayo 1986.

5 EI Periodista de Buenos Aires, Buenos Aires, 2 (88): 2-3, 16-22 ma-yo 1986.

6 Diário Ámbito Financiero, Buenos Aires, 14 mayo 1986.

7 Diário Ámbito Financiero, Buenos Aires, 14 mayo 1986.

8 Clarín Economico, Buenos Aires, 11 mayo 1986.

9 Ahusborde, Hugo. Complicaciones en el plan austral. Diário Ám-bito Financiero, Buenos Aires, 14 mayo 1986. p.7.

10 Clarín, Buenos Aires, 11 mayo 1986.

II Para maiores detalhes, ver Górnez, E. op. cít,

12Clarín Económico, Buenos Aires, 11 mayo 1986.

13 Ahusborde, Hugo. op. cit.

14Gazeta Mercantil, São Paulo, 20 maio 1986.

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