gina artigo 81

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1 PEÇA PRÁTICA: DEFESA EM IMPUGNAÇÃO DE CANDIDATURA DE VEREADOR. CONTAS JULGADAS IRREGULARES. VÍCIO SANÁVEL Gina Copola * (agosto de 2.012) 1. Peça prática de defesa em ação de impugnação de candidatura de Vereador. Tema atualíssimo é o relativo à defesa de candidatos em ação de impugnação de candidatura promovida pelo e. Ministério Público Eleitoral, ou por candidatos concorrentes. O cerne da defesa em geral é a demonstração de que o vício é sanável, e, portanto, não se enquadra na hipótese proibitiva legal. Com efeito, reza o art. 1º, inc. I, al. g, da LC nº 64/90, com a redação que lhe foi dada pela LC nº 135/10, a Lei da Ficha Limpa: “Art. 1º São inelegíveis: I – para qualquer cargo: (...) g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade administrativa, e por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver * Advogada militante em Direito Administrativo. Pós-graduada em Direito Administrativo pela FMU. Autora dos livros Elementos de Direito Ambiental, Rio de Janeiro: Temas e Idéias, 2.003; Desestatização e terceirização, São Paulo: NDJ – Nova Dimensão Jurídica, 2.006; A lei dos crimes ambientais comentada artigo por artigo, Minas Gerais: Editora Fórum, 2.008, e 2ª edição em 2.012, e A improbidade administrativa no Direito Brasileiro, Minas Gerais: Editora Fórum, 2.011, e, ainda, autora de diversos artigos sobre temas de direito administrativo e ambiental, todos publicados em periódicos especializados. Professora de Direito Administrativo na FMU.

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    PEA PRTICA: DEFESA EM IMPUGNAO DE CANDIDATURA DE

    VEREADOR. CONTAS JULGADAS IRREGULARES. VCIO SANVEL

    Gina Copola

    (agosto de 2.012)

    1. Pea prtica de defesa em ao de impugnao de candidatura de Vereador.

    Tema atualssimo o relativo defesa de candidatos em

    ao de impugnao de candidatura promovida pelo e. Ministrio Pblico Eleitoral,

    ou por candidatos concorrentes.

    O cerne da defesa em geral a demonstrao de que o vcio

    sanvel, e, portanto, no se enquadra na hiptese proibitiva legal.

    Com efeito, reza o art. 1, inc. I, al. g, da LC n 64/90, com

    a redao que lhe foi dada pela LC n 135/10, a Lei da Ficha Limpa:

    Art. 1 So inelegveis:

    I para qualquer cargo: (...)

    g) os que tiverem suas contas relativas ao

    exerccio de cargos ou funes pblicas rejeitadas por irregularidade

    insanvel que configure ato doloso de improbidade administrativa, e

    por deciso irrecorrvel do rgo competente, salvo se esta houver

    Advogada militante em Direito Administrativo. Ps-graduada em Direito Administrativo pela FMU. Autora dos

    livros Elementos de Direito Ambiental, Rio de Janeiro: Temas e Idias, 2.003; Desestatizao e terceirizao, So Paulo: NDJ Nova Dimenso Jurdica, 2.006; A lei dos crimes ambientais comentada artigo por artigo, Minas Gerais: Editora Frum, 2.008, e 2 edio em 2.012, e A improbidade administrativa no Direito Brasileiro, Minas Gerais: Editora Frum, 2.011, e, ainda, autora de diversos artigos sobre temas de direito administrativo e ambiental, todos publicados em peridicos especializados. Professora de Direito Administrativo na FMU.

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    sido suspensa ou anulada pelo Poder Judicirio, para as eleies que se

    realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da data da

    deciso, aplicando-se o disposto no inciso II do art. 71 da

    Constituio Federal, a todos os ordenadores de despesa, sem

    excluso de mandatrios que houverem agido nessa condio;

    Conforme se l, a norma estipula algumas condies que

    devem ser atendidas concomitantemente, de forma a inserir o indivduo no

    proibitivo legal, restringindo-lhe a possibilidade de ser candidato em eleies por oito

    anos, a saber:

    a) ter suas contas rejeitadas por irregularidade insanvel;

    b) a irregularidade insanvel deve configurar ato doloso de

    improbidade administrativa, e

    c) o trnsito em julgado da r. deciso.

    E, portanto, ausente um ou mais requisitos acima, o

    candidato elegvel.

    2. Eis a pea prtica de defesa em ao de impugnao de candidatura:

    ......................................, nos autos da ao de

    impugnao de pedido de registro de candidatura de n em epgrafe, proposta pelo e.

    Ministrio Pblico Eleitoral, por seus advogados com instrumento de mandato

    incluso (doc. anexo), vem respeitosa e tempestivamente presena de V. Exa.,

    ofertar a presente defesa escrita, na forma que passa a aduzir e demonstrar.

  • 3

    I - DA TEMPESTIVIDADE DA PRESENTE DEFESA:

    I - A ora impugnada foi notificada da presente Ao de

    Impugnao ao Registro de Candidatura no dia 17 de julho p.p., motivo pelo qual

    recai no dia 24 de julho de 2.012 o termo final do prazo estipulado no art. 4, da Lei

    Complementar 64/90, e no art. 41, da Resoluo do TSE de n. 23.373/11, sendo,

    portanto, tempestiva a presente pea defensiva.

    II BREVE HISTRICO:

    II A impugnada candidata Vereadora na Cmara

    Municipal de ......................... conforme consta dos presentes autos.

    Ocorre que no exerccio de 2.005 (TC .......................)

    exerccio no qual a impugnada era Presidente da Cmara Municipal de

    .................................., as contas daquela Cmara Municipal foram julgadas irregulares,

    em razo da remunerao dos agentes polticos (pagamento de Auxlio Encargos Gerais de

    Gabinete e pagamento de Verba indenizatria pelo comparecimento de Vereadores em sesso

    extraordinria), conforme se l do r. acrdo cpia o doc. 1, anexo.

    foroso concluir, desde j, que no resta qualquer vcio

    ou irregularidade insanvel nas contas pblicas de tal Vereadora enquanto

    Presidente da Cmara Municipal de .........................., uma vez que os valores

    supostamente recebidos a maior podem perfeitamente ser devolvidos ao errio

    a qualquer tempo, e tudo isso conforme a jurisprudncia do e. Tribunal

    Superior Eleitoral abaixo transcrita.

    Esse um breve relato dos fatos.

  • 4

    III DA JUNTADA DE CERTIDES:

    III Consta da inicial da presente ao de impugnao

    movida pelo e. Ministrio Pblico Eleitoral que a impugnada no juntou aos autos:

    a) a folha de antecedentes criminais,

    b) as certides de objeto e p dos feitos cujo nome da

    impugnada eventualmente constar, e, ainda,

    c) a certido da Vara das Execues Criminais de

    Campinas.

    IV - Reza, porm, o art. 11, da Lei federal n 9.504, de 30

    de setembro de 1.997, com a redao que lhe foi dada pela Lei federal n 12.034, de

    29 de setembro de 2.009:

    Art. 11. Os partidos e coligaes solicitaro

    Justia Eleitoral o registro de seus candidatos at as dezenove horas

    do dia 5 de julho do ano em que se realizarem as eleies.

    1 O pedido de registro deve ser instrudo

    com os seguintes documentos:

    I cpia da ata a que se refere o art. 8;

    II autorizao do candidato, por escrito;

    III prova de filiao partidria;

    IV declarao de bens, assinada pelo

    candidato;

    V cpia do ttulo eleitoral ou certido,

    fornecida pelo cartrio eleitoral, de que o candidato eleitor na

  • 5

    circunscrio ou requereu sua inscrio ou transferncia de domiclio

    no prazo previsto no art. 9;

    VI certido de quitao eleitoral;

    VII certides criminais fornecidas pelos

    rgos de distribuio da Justia Eleitoral, Federal e Estadual;

    VIII fotografia do candidato, nas

    dimenses estabelecidas em instruo da Justia Eleitoral, para efeito

    do disposto no 1 do art. 59.

    IX propostas defendidas pelo candidato a

    Prefeito, a Governador de Estado e a Presidente da Repblica.

    L-se, portanto, que a impugnada estava obrigada apenas a

    fornecer certides criminais fornecidas pelos rgos de distribuio da Justia Eleitoral, Federal e

    Estadual, e tal certido foi devidamente juntada aos autos, assim como foram

    juntados todos os demais documentos exigidos e elencados pelo dispositivo legal

    acima transcrito.

    V - E, no mesmo diapaso, reza o art. 27, da Resoluo de

    n. 23.373/2011, do e. Tribunal Superior Eleitoral que dispe sobre a escolha e o

    registro dos candidatos para as eleies deste ano:

    Art. 27. A via impressa do formulrio

    Requerimento de Registro de Candidatura (RRC) ser apresentada

    com os seguintes documentos:

    I declarao atual de bens, preenchida no

    Sistema CANDex e assinada pelo candidato na via impressa pelo

    sistema (Lei no 9.504/97, art. 11, 1, IV);

  • 6

    II certides criminais fornecidas pelos

    rgos de distribuio da Justia Federal e Estadual (Lei no 9.504/97,

    art. 11, 1, VII);

    III fotografia recente do candidato,

    obrigatoriamente digitalizada e anexada ao CANDex,

    preferencialmente em preto e branco, observado o seguinte (Lei no

    9.504/97, art. 11, 1, VIII):

    a) dimenses: 5 x 7cm, sem moldura;

    b) cor de fundo: uniforme,

    preferencialmente branca;

    c) caractersticas: frontal (busto), trajes

    adequados para fotografia oficial e sem adornos, especialmente

    aqueles que tenham conotao de propaganda eleitoral ou que

    induzam ou dificultem o reconhecimento pelo eleitor;

    IV comprovante de escolaridade;

    V prova de desincompatibilizao,

    quando for o caso;

    VI propostas defendidas pelos candidatos

    a Prefeito, que devero ser entregues em uma via impressa e outra

    digitalizada e anexada ao CANDex (Lei n 9.504/97, art. 11, 1, IX);

    VII cpia de documento oficial de

    identificao.

    Pela simples leitura dos dispositivos transcritos foroso

    concluir que as certides criminais exigidas para o registro so aquelas emitidas

    pelos rgos judiciais, e s.

  • 7

    Tem-se, portanto, que as certides de antecedentes

    criminais emitidas pelo Instituto de Identificao e exigidas pelo douto impugnante

    no so exigidas pela Lei federal n 9.504/97, nem tampouco pela Resoluo TSE

    n 23.373/2011, motivo pelo qual no faz o menor sentido a presente impugnao.

    Repita-se que as certides criminais exigidas pela Lei so

    aquelas fornecidas pelos rgos judiciais, estadual e federal, e nenhuma outra sequer.

    o que se l dos dispositivos transcritos e que so de clareza solar.

    E no presente caso, observa-se da documentao acostada

    ao pedido de registro, que foram juntadas as Certides de Distribuio de Processos

    Criminais, e como as certides foram negativas, obviamente que no houve a

    necessidade de juntada de certido de objeto e p, porque nenhuma ao criminal

    existe contra a impugnada.

    preciso ter presente, ainda, que a impugnada fez ainda

    mais do que a lei exige, porque juntou tambm a certido de distribuio de processos

    civis, com as respectivas certides de objeto e p, tudo isso sem sequer a lei exigir,

    mas somente porque essa Comarca Eleitoral tem exigido.

    Tem-se, portanto, que a presente impugnao no faz o

    menor sentido lgico nem tampouco jurdico, uma vez que as certides exigidas pela

    Lei foram devidamente juntadas pela impugnada em seu pedido de registro de

    candidatura, conforme resta demonstrado.

    IV DAS CONTAS DO EXERCCIO DE 2.005 DA CMARA MUNICIPAL DE ........................................

  • 8

    VI O impugnante junta presente ao de impugnao de

    pedido de registro de candidatura deciso do e. Tribunal de Contas do Estado de So

    Paulo relativa s contas do exerccio de 2.005, da Cmara Municipal de ....................,

    poca em que a impugnada era Presidente daquela edilidade.

    Ocorre, porm, que os itens julgados irregulares pelo e.

    TCE no exerccio de 2.005 constituem irregularidades sanveis, e sem a existncia

    do elemento subjetivo do dolo, conforme se passa a demonstrar.

    Reza o art. 1, inc. I, al. g, da LC n 64/90, com a redao

    que lhe foi dada pela LC n 135/10, a Lei da Ficha Limpa:

    Art. 1 So inelegveis:

    I para qualquer cargo: (...)

    g) os que tiverem suas contas relativas ao

    exerccio de cargos ou funes pblicas rejeitadas por irregularidade

    insanvel que configure ato doloso de improbidade administrativa, e

    por deciso irrecorrvel do rgo competente, salvo se esta houver

    sido suspensa ou anulada pelo Poder Judicirio, para as eleies que se

    realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da data da

    deciso, aplicando-se o disposto no inciso II do art. 71 da

    Constituio Federal, a todos os ordenadores de despesa, sem

    excluso de mandatrios que houverem agido nessa condio;

    Conforme se l, a norma estipula algumas condies que

    devem ser atendidas concomitantemente, de forma a inserir o indivduo no

    proibitivo legal, restringindo-lhe a possibilidade de ser candidato em eleies por oito

    anos, a saber:

    a) ter suas contas rejeitadas por irregularidade insanvel;

  • 9

    b) a irregularidade insanvel deve configurar ato doloso de

    improbidade administrativa, e

    c) o trnsito em julgado da r. deciso.

    a) As irregularidades apontadas pelo e. TCE so sanveis:

    VII Verifica-se, portanto, no comando legal que no

    toda rejeio de contas que acarreta forosamente a inelegibilidade prevista no

    art. 1, inc. I, al. g, da Lei Complementar n 64/90, com a redao dada pela

    Lei da Ficha Limpa.

    Sempre h que se questionar o carter de insanabilidade da

    irregularidade que acarretou a rejeio pelo rgo competente, que no caso o

    Colendo Tribunal de Contas do Estado de So Paulo.

    Com efeito, sendo sanvel o vcio indicado, ento no se h

    de falar em inelegibilidade pelo motivo indicado no art. 1, inc. I, al. g, da Lei

    Complementar n 64/90 e este o objeto da presente impugnao.

    VIII - O magnfico e festejado Vocabulrio jurdico, de De

    Plcido e Silva, atualizado por Nagib Slaibi Filho e Geraldo Magela Alves, consagra a

    definio de insanvel como sendo:

    Insanvel, assim, identifica o que irremedivel, no tem

    cura nem conserto, insuprvel. Nesta contingncia, o vcio insanvel,

  • 10

    ou qualquer coisa que se mostre abalada pela insanabilidade ser levada,

    fatalmente, morte certa. (com grifos originais)

    E pela simples leitura do histrico da situao da

    impugnada, observa-se que no caso presente no persiste qualquer irregularidade

    insanvel, que aquela que no pode ser corrigida, irremedivel, insuprvel,

    irreversvel.

    Sim, porque no caso presente as duas irregularidades

    apontadas pelo e. Tribunal de Contas pagamento de Auxlio Encargos Gerais

    de Gabinete e Verba indenizatria pelo comparecimento de Vereadores em

    sesso extraordinria so irregularidades sanveis, porque os pagamentos

    supostamente realizados a maior podem perfeitamente ser devolvidos ao errio

    a qualquer tempo.

    IX Com todo efeito, vez por outra a Justia Eleitoral

    instada no trmite de aes de impugnao de registro de candidaturas a verificar in

    casu se os motivos que levaram rejeio das contas so de natureza insanvel, e

    destas manifestaes extrai-se importante ilao sedimentada pelos Tribunais: para

    ser considerada de natureza insanvel, a irregularidade h de ter tido traos de

    improbidade administrativa, m-f ou desvio de valores do errio pblico, no

    bastando equvocos.

    Conforme tem decidido o e. Tribunal Superior Eleitoral,

    irregularidade insanvel aquela que indica ato de

    improbidade administrativa ou qualquer forma de desvio de valores (RESPE n

    21.896).

  • 11

    X O que mais relevante, entretanto, que insanvel o

    que no pode ser sanado, e se a questo foi apenas um pagamento indevido, sem

    nenhuma m-f, dolo ou improbidade mas que decorreu apenas de uma leitura dos

    direitos dos Vereadores que o e. TCE afinal acabou entendendo equivocada, ento

    naturalmente esse no foi um vcio insanvel.

    Insanvel seria, por outro lado, uma falta de aplicao

    obrigatria de verbas pblicas na educao ou na sade, ou a falta de pagamento de

    um mnimo do estoque de precatrios no exerccio porque o tempo no volta atrs

    -, de modo que no se pode tentar fazer hoje o que precisava ter sido feito em ano

    anterior. Isso vcio que se revela materialmente insanvel, ainda que de boa-f.

    Mas nada disso ocorre no caso presente.

    XI - O repertrio jurisprudencial do C. TSE prdigo em

    exemplos que secundam a tese acima exposta, conforme se l das decises que se

    passa a transcrever.

    Comea-se pelo e. TSE, em Agravo Regimental em Recurso

    Ordinrio n 112254 - Boa Vista/RR (1122-54.2010.623.0000), julgado em

    24/11/2011, Relator(a) Min. ARNALDO VERSIANI LEITE SOARES, e publicado

    em DJE - Dirio de justia eletrnico, Tomo 82, Data 03/05/2012, Pgina 285, com a

    seguinte ementa:

    Ementa: Registro. Inelegibilidade. Rejeio

    de contas.

    - No h como reconhecer a inelegibilidade

    do art. 1, I, g, da Lei Complementar n 64/90 se a deciso de rejeio

  • 12

    de contas no explicita circunstncias que permitam concluir pela

    caracterizao de irregularidade insanvel que configure ato doloso de

    improbidade administrativa, o que se refora pelo fato de que o

    Tribunal de Contas da Unio, responsvel por julgar as contas de

    convnio de responsabilidade do candidato, assentou que o ato foi

    praticado com negligncia.

    XII E exatamente sobre a matria ora em foco que versa

    sobre subsdios supostamente recebidos a maior por Vereadores, assim j decidiu o

    Colendo Tribunal Superior Eleitoral, nos autos do Recurso Ordinrio n 450726 - So

    Paulo/SP (4507-26.2010.626.0000), Acrdo de 20/10/2011, Relatora Min.

    CRMEN LCIA ANTUNES ROCHA, Relator designado Min. MARCO

    AURLIO MENDES DE FARIAS MELLO, Publicao: DJE - Dirio da Justia

    Eletrnico, Tomo 227, Data 02/12/2011, Pgina 35, com a seguinte ementa:

    Ementa: CONTAS - REJEIO -

    REMUNERAO - CMARA - PRESIDENTE. A glosa de

    remunerao prevista em lei, ante o teto constitucional, no implica

    inelegibilidade, mormente quando devolvidos, pelo Presidente da

    Cmara de Vereadores, os valores recebidos a mais. Consideraes.

    Deciso: O Tribunal, por maioria, proveu o

    recurso, nos termos do voto do Ministro Marco Aurlio, que redigir

    o acrdo. Vencidos as Ministras Crmen Lcia (relatora) e Nancy

    Andrighi e o Ministro Ricardo Lewandowski (presidente).

    Ou seja, valores supostamente recebidos a mais podem ser

    devolvidos ao errio, e, portanto, a irregularidade no pode ser reputada como

    insanvel.

  • 13

    XIII E ainda no mesmo diapaso, o r. acrdo do e.

    TSE nos autos do AgR-RO - Agravo Regimental em Recurso Ordinrio n 307155 -

    Manaus/AM (3071-55.2010.600.0000), Acrdo de 01/02/2011, Relator Min.

    HAMILTON CARVALHIDO, Publicao: DJE - Dirio da Justia Eletrnico, Data

    18/02/2011, Pgina 23, com a seguinte ementa :

    Ementa: ELEIES 2010. REGISTRO

    DE CANDIDATURA. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO

    ORDINRIO. INELEGIBILIDADE. CONTAS PBLICAS DE

    CONVNIO. NATUREZA INSANVEL. NO

    CONFIGURAO. LEI DAS INELEGIBILIDADES.

    INTERPRETAO RESTRITIVA. DESPROVIMENTO. 1. A

    inelegibilidade do artigo 1, I, g, da Lei Complementar n 64/90, com a redao

    dada pela Lei Complementar n 135/2010, somente tem incidncia sobre aquelas

    contas cujas irregularidades sejam de natureza insanvel. 2. As inelegiblidades

    devem receber interpretao restritiva, conforme pacfica jurisprudncia desta Corte.

    3. Agravo regimental desprovido.

    Deciso: O Tribunal, por unanimidade, desproveu

    o agravo regimental, nos termos do voto do relator.

    XIV E mais uma vez o e. TSE decidiu sobre a matria

    dos presentes autos, ou seja, pagamento de subsdios a Vereadores (no caso Verba de

    Representao) no constitui irregularidade insanvel. o que se l do r. acrdo

    proferido no Agravo Regimental em Recurso Ordinrio n 223171 Recife/PE

    (2231-71.2010.617.0000, Acrdo de 14/12/2010, Relator(a) Min. MARCELO

  • 14

    HENRIQUES RIBEIRO DE OLIVEIRA, Publicao: PSESS - Publicado em

    Sesso, Data 14/12/2010, com a seguinte ementa:

    EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL.

    RECURSO ORDINRIO. REGISTRO DE CANDIDATURA.

    DEPUTADO ESTADUAL. IMPUGNAO. ART. 1, I, g, DA LC

    N 64/90. ALTERAO. LC N 135/2010. DECISO DE

    REJEIO DE CONTAS PBLICAS. PRESIDENTE. CMARA

    MUNICIPAL. TCE. VERBAS DE REPRESENTAO.

    PAGAMENTO. AUTORIZAO. RESOLUO MUNICIPAL.

    ATOS DOLOSOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.

    NO CONFIGURAO. DEFERIMENTO MANTIDO.

    1. Ante a nova redao do art. 1, I, g, da

    LC n 64/90, para se verificar se o ato gera inelegibilidade, deve-se

    indagar sobre o dolo de sua prtica.

    2. Na hiptese, havia resoluo da prpria

    Cmara Municipal que previa o recebimento da verba paga.

    3. No foi o prprio candidato que se

    beneficiou dos pagamentos, os quais foram efetivados aos Primeiro e

    Segundo Secretrios da Mesa Diretora e ao ento Presidente do rgo

    legislativo, com base em resoluo.

    4. Diante das peculiaridades do caso

    concreto, a irregularidade apontada no caracteriza ato doloso de

    improbidade administrativa, a atrair a incidncia da inelegibilidade

    prevista na alnea g do inciso I do artigo 1 da LC n 64/90.

    5. Agravo regimental desprovido.

  • 15

    E no caso presente os pagamentos impugnados (Auxlio

    Encargos Gerais de Gabinete, e pagamento por sesses extraordinrias) tambm

    sempre foram previstos em legislao municipal, conforme resta aqui demonstrado, e

    os valores podem perfeitamente ser devolvidos ao errio, o que torna o vcio uma

    irregularidade sanvel e passvel de ser consertada.

    XV Tem-se, portanto, que todas as decises trazidas

    colao apontam para um mesmo caminho, ou seja, o reconhecimento do carter

    insanvel dos vcios somente se d quando h traos de improbidade

    administrativa, m-f ou desvio de fundos, e de irreversibilidade da conduta.

    Nada disso aqui ocorreu nem ocorre, ao contrrio do

    que consta da petio inicial, e conforme a jurisprudncia tem decidido de

    forma reiterada.

    A mera irregularidade formal decorrente, por exemplo, de

    interpretao diversa daquela do e. TCE/SP, no tem esse condo de tornar insanvel

    a irregularidade apontada, ainda mais quando os valores supostamente pagos a maior

    podem ser devolvidos ao errio.

    No se verifica no caso em tela a irreversibilidade da

    conduta a tornar a irregularidade insanvel.

    Conforme se l do r. acrdo que j consta destes autos, o

    e. TCE/SP considerou irregulares as contas do exerccio de 2.005 do Legislativo de

    .............................., por entender que houve apenas uma equivocada interpretao

    do art. 29, inc. VI, da Constituio Federal de 1.988, com pagamentos a maior

    aos senhores Vereadores de .................................

  • 16

    XVI - E, conforme se l do r. acrdo, em nenhum

    momento a deciso do e. TCE apontou indcios de leso ao errio, desvio de

    dinheiros pblicos, m-f, dolo, ou qualquer tipo que enseje a caracterizao

    de ato de improbidade administrativa.

    A irrelevncia da conduta da impugnada tamanha que

    sequer a multa possvel de ser aplicada mereceu incidncia no caso sob exame, em que

    o e. Tribunal de Contas do Estado apenas determinou a devoluo ao errio das

    quantias supostamente pagas a maior.

    A nica ilao possvel, portanto, no sentido de que a

    impugnada no pode ser tida por inelegvel por vcio insanvel nas contas do exerccio

    de 2.005, que como se demonstrou no ocorreu.

    b) A irregularidade no constitui ato de improbidade administrativa:

    XVII E resta evidente no caso presente a mais absoluta

    ausncia de dolo ou de m-f da impugnada, sendo certo que sem dolo no h

    ato de improbidade administrativa, tem-se que a conduta da impugnada por mais esse

    motivo no se enquadra na hiptese da al. g, do inc. I, do art. 1, da LC n 64/90, com

    a redao que lhe foi dada pela Lei da Ficha Limpa.

    Com efeito, para a configurao do ato de improbidade

    administrativa imprescindvel, obrigatoriamente, a ocorrncia do elemento subjetivo

    do dolo, no bastando, portanto, a mera culpa do agente.

    Sim, porque sem a figura do dolo virtualmente impossvel

    a caracterizao de improbidade administrativa, porque o mprobo aquele que teve a

  • 17

    vontade, a inteno, ou o animus de causar leso ou prejuzo ao errio pblico, bem

    como aos princpios constitucionais que norteiam a Administrao.

    Tanto na doutrina quanto sobretudo na jurisprudncia

    majoritrio o entendimento segundo o qual em improbidade administrativa deve ser

    demonstrado que o agente pblico utilizou-se de expediente que possa ser

    caracterizado como de m-f, com a ntida inteno de prejudicar o interesse pblico, e

    apenas assim, portanto, poder ser alegada a improbidade administrativa.

    O elemento subjetivo da improbidade administrativa

    o dolo e apenas o dolo, decorrente da vontade do agente pblico causar dano ou

    prejuzo Administrao Pblica. Sim, porque a inteno do mprobo alcanar

    benefcio prprio ou de terceiro, em detrimento do interesse pblico.

    Com efeito, a lei alcana o administrador desonesto, no o

    inbil, conforme j decidiu o e. Superior Tribunal de Justia, rel. Min. Garcia Vieira,

    Recurso Especial n 213994/MG, 1 T., DJ de 27/09/99, p. 59.

    XVIII J tivramos ensejo de dizer que:

    Ningum, portanto, mprobo por acaso,

    nem desonesto por impercia, nem velhaco por imprudncia, nem

    inidneo se no quiser s-lo ostensiva e propositadamente. E,

    portanto, sem o elemento volitivo presente; sem a vontade de

    delinqir, de lesar, de tirar ilegtimo proveito, de locupletar-se

    indevidamente, de enriquecer ilicitamente, ningum pode ser

    inquinado de improbidade, uma vez que essa pecha somente tem

    sentido tcnico-jurdico, e mesmo lgico, se e quando imputada ao

    mal-intencionado, ao desonesto de propsitos, ao golpista, ao

    escroque. Quem no se enquadra nalguma dessas infames categorias

  • 18

    no pratica ato caracterizado como improbidade administrativa. (A

    improbidade Administrativa no Direito Brasileiro, ed. Frum, SP, 2.011, p.

    26/27).

    Improbidade figura que exige a essencial intencionalidade

    delitiva, a vontade ativa e efetiva de praticar ato sabidamente inadmitido pelo direito.

    Trata-se da m-f plenamente caracterizada, ou seja, a m inteno do agente.

    E, nesse diapaso, tem-se que a improbidade no pode ser

    atribuda a quem apenas olvida-se de mera formalidade, ou comete irregularidades,

    sem, porm, causar leso aos cofres pblicos.

    Ou, ainda, no pode ser caracterizado como ato de

    improbidade administrativa a regularidade sanvel como a aqui questionada, que se

    refere pagamentos supostamente irregulares a Vereadores, com valores que, porm,

    podem perfeitamente ser devolvidos ao errio.

    XIX - Sobre a necessria existncia do dolo para a prtica

    de ato de improbidade administrativa traz-se colao r. Acrdo proferido pelo e.

    STJ, em Recurso Especial n 480.387-So Paulo (2002/0149825-2), rel. Min. Luiz

    Fux, julgado em 16/3/04, e publicado in DJ de 24/5/04. Vejamos:

    6. cedio que a m-f premissa do ato

    ilegal e mprobo. Consectariamente, a ilegalidade s adquire o status de

    improbidade quando a conduta antijurdica fere os princpios

    constitucionais da Administrao Pblica coadjuvados pela m-f do

    administrador. A improbidade administrativa, mais que um ato ilegal,

    deve traduzir, necessariamente, a falta de boa-f, a desonestidade, o

    que no restou comprovado nos autos pelas informaes disponveis

  • 19

    no acrdo recorrido, calcadas, inclusive, nas concluses da Comisso

    de Inqurito. (Grifamos)

    Ainda no mesmo sentido, o entendimento do e. TJ/MG,

    Rel. Des. Clio Csar Paduani, Processo n 1.0024.94.075670-3/001(1), 4 CC, DJ de

    8.11.2005, de onde se l:

    Direito Administrativo. Ao Civil Pblica.

    Improbidade Administrativa. Sanes previstas pela Lei n 8.429/92.

    Atipicidade do fato em relao improbidade. Inexistncia de

    conduta intencional ou dolosa. Apelao no provida. A

    improbidade administrativa uma espcie de moralidade

    qualificada, tendo por elemento caracterizador a desonestidade. E a

    desonestidade, por sua vez, pressupe a existncia de conduta

    intencional, dolosa, ou seja, para configurar improbidade

    administrativa, necessrio que haja, no mnimo, a voluntariedade do

    agente pblico, no se contemporizando com a mera conduta

    culposa. (Grifamos).

    XX - Nesse exato diapaso, j decidiu tambm o e. Tribunal

    de Justia do Mato Grosso, rel. Des. Odiles Freitas Souza, AI n 8368/2002, 2 CC,

    julgado em 20/8/02, de onde se l que

    Para que seja tipificada a improbidade

    administrativa, faz-se necessrio que tenha havido a caracterizao

    inequvoca de dolo, ou seja, de que houve vontade deliberada do

    agente em fraudar a lei. (com grifo nosso)

  • 20

    Cite-se, ainda, r. acrdo do e. Tribunal de Justia de Minas

    Gerais, rel. Des. Jarbas Ladeira, Apelao Cvel 1.0000.00.332094-2/000, 6 CC, DJ de

    3/10/03, que reza:

    Como no houve indcios de dolo ou m-

    f, nem foi causado prejuzo financeiro aos cofres pblicos, afastada

    est a hiptese de improbidade administrativa. Sentena confirmada.

    (Grifamos)

    XXI - Nesse sentido, Ivan Barbosa Rigolin j tivera ensejo

    de dizer que:

    Ningum pode ser mprobo por simples

    culpa, (....). Sem a vontade expressa, ou a cincia da responsabilidade

    por ato irregular e desonesto, no existe improbidade. (Manual Prtico

    das Licitaes, 5 ed. So Paulo: Saraiva, 2.005, p. 118.)

    c) Do pagamento do Auxlio Encargos Gerais de Gabinete:

    XXII - L-se do r. acrdo do e. TCE s fls. 379:

    Com efeito, o pagamento de Auxlio

    Encargos Gerais de Gabinete Presidncia da Cmara irregular e

    enseja a reprovao das contas. Inclusive, tal ato corroborou para a

    rejeio das contas da Cmara Municipal de .................. dos exerccios

    de 2.003 e 2004, tendo sido aquelas decises mantidas em sede de

  • 21

    recurso ordinrio, julgados recentemente pelo E. Tribunal Pleno, em

    sesso de 09/05 do corrente (TCs ns .......................... e .......................)

    Conforme cedio em direito qualquer verba

    remuneratria, ou parcela remuneratria, jamais se confunde com verba indenizatria,

    uma vez que so instituies absolutamente distintas, criada cada qual para uma

    finalidade peculiar e absolutamente especfica, que em tudo as diferencia.

    Repita-se, portanto, exausto: remunerao no se

    confunde com verba indenizatria.

    Remunerao o pagamento realizado em razo de servio

    efetivamente prestado, trabalho realizado. a contraprestao monetria por servio

    efetuado. a paga pelo labor despendido, a sua compensao, a sua retribuio

    pecuniria ou monetria. No existe remunerao que isso, exatamente, no signifique.

    A indenizao, por sua vez, a retribuio instituda com a

    finalidade nica e exclusiva de reembolsar despesas, ou ressarcir perdas, reparar

    prejuzos, repor danos. a reparao pecuniria que tem a finalidade de recompor o

    patrimnio de algum daquilo que desembolsou, ou de desfalques ou subtraes.

    o ressarcimento de despesas, neste caso presente que

    algum suportou porque trabalha, mas nunca para pagar aquele trabalho, porque isso

    prprio da remunerao.

    XXIII A indenizao no se confunde com a

    remunerao e no a integra sob qualquer efeito ou hiptese.

    A doutrina transcrita em alegaes de defesa nesse exato

    sentido, e, por isso, aqui reiterada.

  • 22

    Ainda sobre o tema, Flvio Corra de Toledo Jnior e

    Srgio Ciquera Rossi, respectivamente, Assessor Tcnico e Secretrio-Diretor Geral e

    Substituto de Conselheiro, ambos do quadro do e. Tribunal de Contas do Estado de

    So Paulo, citando o advogado subscritor, tiveram ensejo de professar que:

    Como visto, o artigo em comento

    detalhou, exausto, as espcies remuneratrias que integram o

    dispndio em anlise; contudo, meno no fez s categorias

    indenizatrias. Nessa condio, o auxlio-moradia, o vale-refeio, a

    cesta bsica, o vale-transporte, a licena-prmio indenizada so, todos

    eles, benefcios que no se adicionam ao cmputo em anlise.

    Segundo o mestre Ivan Barbosa Rigolin,

    despesas com indenizaes e com prmios, no sendo nem

    constituindo quaisquer espcies remuneratrias nem mesmo no

    sentido alargado que a essa expresso empresta o art. 18, caput, da

    LRF, e por maiores que sejam -, no se integram quele somatrio,

    escapando portanto limitao de gasto prevista nos arts. 19 e 20, da

    mesma lei (IOB DCAP; outubro de 2.001).

    Confirmando essa linha de pensamento, o

    decreto federal que regulamenta o auxlio-alimentao (n 3.887, de

    17.8.01) determina a concesso em pecnia desse benefcio, que ter

    carter indenizatrio (art. 2), no se incorporando remunerao (art.

    4, I). (In Lei de responsabilidade fiscal, 2 ed. NDJ, SP, 2.002, p.121,

    com itlicos originais, e negritos nossos).

    L-se desta irrepreensvel lio que verbas indenizatrias no

    integram e no se confundem com remunerao, assim como no caso presente, em que a

  • 23

    parcela indenizatria instituda por lei municipal no integra a remunerao dos

    agentes polticos do Legislativo.

    XXIV So, ainda, lies dos eminentes autores Flvio C.

    de Toledo Jr. e Srgio Ciquera Rossi:

    No intento de evitar interpretaes

    diversas, o legislador no poupou esforos em apresentar, no artigo

    em destaque, extensa lista de despesas tidas como de pessoal:

    - Os vencimentos e salrios dos servidores

    ativos, os proventos dos aposentados e pensionistas, agregados a

    todas essas espcies remuneratrias, vantagens pessoais de qualquer

    natureza, adicionais, gratificaes e horas extras;

    - Os encargos sociais que o ente seja levado

    a atender frente sua condio de empregador. o caso do FGTS e

    do PASEP; este, apesar de incidir sobre a receita, no sobre a folha

    salarial, e apesar das modificaes da Carta de 1.998 (art. 239), tem

    ainda, o PASEP, natureza de encargo social, visto que boa parte dele

    (60%) financia o seguro-desemprego e o abono pago a trabalhadores

    que percebam at dois salrios mnimos por ms, entre os quais se

    inclui razovel contingente de servidores pblicos;

    - as contribuies recolhidas s entidades de

    previdncia, o INSS ou pessoas jurdicas que operam o regime prprio

    dos servidores. Interessante assinalar, quando esse regime for operado

    por um fundo especial da Administrao direta, no h despesa no

    momento da contribuio do empregador. H, no caso, uma simples

    transferncia financeira entre contas bancrias do Municpio, conta

  • 24

    central para conta vinculada do fundo; a despesa s se consuma

    quando o sistema, de fato, paga aposentadorias e penses.

    Tal qual j se fazia na Lei n 96/99, a LRF

    entende como despesa de pessoal os subsdios pagos a titulares de

    mandados eletivos, Prefeitos ou Vereadores. Pe-se fim polmica de

    que a remunerao dos agentes polticos no integra o gasto de

    pessoal, pois que esses no so, estrito senso, servidores pblicos.

    A despeito de o Anexo 4, da Lei n 4.320

    inserir as dirias pagas a servidores no mbito do gasto de pessoal, o

    art. 18 no reiterou tal equvoco, tendo em conta que tais despesas

    tm carter meramente indenizatrio. De igual modo, a concesso de

    cesta bsica, vale-refeio, vale-transporte, todas essas vantagens no

    tm natureza salarial; no se incorporam remunerao para todos os

    efeitos. (In Lei de Responsabilidade Fiscal, ed. NDJ, SP, 2.001, pp.

    102/3).

    Outra vez ainda se l, portanto, e de ilustres doutrinadores

    pertencentes aos quadros tcnicos do egrgio Tribunal de Contas do Estado de So Paulo, que

    parcelas indenizatrias no se incorporam e, por isso, no se confundem com

    remunerao para todos os efeitos.

    O r. acrdo proferido pelo e. TCE, data venia, est em

    desacordo com o entendimento do Assessor Tcnico, e do Secretrio-Diretor Geral e

    Substituto de Conselheiro, tambm do e. TCE, acima transcrito, alm de posicionar-

    se contra a doutrina.

    XXV Alm de todo o exposto, observa-se que a Lei

    municipal n ...................., em seu art. 2, reza de forma cristalina, que

  • 25

    Art. 2 Fica institudo para o Presidente da

    Cmara Municipal o Auxlio Encargos Gerais do Gabinete, no valor

    mensal de R$ 2.400,00 (dois mil e quatrocentos reais), a ser pago em

    conjunto com o subsdio, com natureza indenizatria e a ttulo de

    compensao pelo necessrio desempenho das funes

    administrativas inerentes chefia do Poder Legislativo

    municipal (com grifos nossos)

    A lei de meridiana clareza ao dispor que a verba

    indenizatria criada tem carter indenizatrio, e serve para compensar despesas.

    E se verifica s claras, em todo esse ensejo, a nica

    finalidade da parcela indenizatria, que de ressarcir despesas e repor prejuzos

    decorrentes do trabalho, o que resulta perfeitamente de acordo com a legislao que

    rege a matria.

    Demonstra-se assim, agora de modo ainda mais

    irretorquvel, o carter pura e eminentemente indenizatrio da verba, e dessa forma,

    no existe qualquer inconstitucionalidade a macular o pagamento de tal verba ao

    Presidente da Cmara Municipal de ............................., motivo pelo qual a

    irregularidade no caso presente sanvel e no tem nota de improbidade

    administrativa.

    d) Do pagamento pelo comparecimento a sesses extraordinrias da Cmara:

  • 26

    XXVI - Quanto ao pagamento de sesses extraordinrias insta

    demonstrar em primeiro lugar que o prprio Tribunal de Contas do Estado de So

    Paulo anunciou a regra em sua cartilha aos Municpios, que o Manual Bsico, que

    cuida da Remunerao dos Agentes Polticos Municipais, e elaborado pelos Agentes da

    Fiscalizao Financeira, srs. Jlio Csar Fernandes da Silva e Jlio Csar Machado, sob

    a superviso do Secretrio-Diretor Geral do TCE, dr. Srgio Ciquera Rossi. Vejamos:

    Por fora da EC 19/98, que deu nova

    redao ao art. 29, VI, da CF, instaurou-se a possibilidade dos

    Vereadores receberem o pagamento de parcela indenizatria em caso

    de convocao para sesso legislativa extraordinria exclusivamente

    durante o perodo de recesso, tendo ainda como restrio o fato de

    que esta parcela indenizatria no poderia ser superior ao valor fixado

    como subsdio.

    Promulgada a EC 25/00, o referido artigo

    foi alterado, retirando-se do texto constitucional o regramento da

    matria no mbito municipal, o que entendemos correto, por se tratar

    de assunto de economia interna do Legislativo municipal, inerente

    sua organizao; determinaes acerca do assunto, haja vista as

    especificidades de cada municpio, no caberiam ao texto

    constitucional, e sim edilidade local.

    Assim, cabe a cada Cmara Municipal

    deliberar acerca da necessidade, oportunidade, convenincia,

    limites e valores a serem pagos pelo comparecimento dos seus

    edis s sesses extraordinrias, incluindo-se na Resoluo

    fixatria dos subsdios, e insculpindo-se, na Lei Orgnica do

  • 27

    Municpio e no Regimento Interno da Cmara, a normatizao

    da matria. (Grifamos)

    E foi exatamente assim que procedeu a Cmara Municipal

    de .........................., j que as sesses extraordinrias da Cmara so designadas diante

    da necessidade da discusso das matrias, e mesmo fora do recesso parlamentar, e de

    acordo com o interesse municipal.

    Sim, porque a matria de disciplinamento municipal, local,

    e no de outro mbito, uma vez que se refere a assunto local, jamais federal nem

    estadual, e o Municpio dispe autonomamente nesses temas, conforme consta do

    Manual Bsico editado por esse e. Tribunal de Contas.

    Se o Municpio quiser adotar a forma federal para o assunto

    x, y ou z, por autonomia de vontade garantida pela Constituio, art. 30, pode faz-lo;

    mas se quiser fazer diverso, pelo mesmo fundamento constitucional tambm o pode.

    Jamais se invoque regra federal nem estadual alguma contra a

    autonomia constitucional de vontade, em assuntos locais, garantida aos Municpios pela Constituio

    Federal.

    XXVII - Com todo efeito, reza o art. 19, 4, da Lei

    Orgnica do Municpio de ................. que cuida das sesses extraordinrias:

    Art. 19 - A Cmara Municipal reunir-se-,

    ordinariamente, em sesso legislativa anual, de 15 de fevereiro a 30 de

    junho e de 1 de agosto a 15 de dezembro. (....)

    4 - A convocao extraordinria da

    Cmara Municipal far-se- pelo seu Presidente, pelo Prefeito ou a

  • 28

    requerimento da maioria dos Vereadores, em caso de urgncia ou de

    interesse pblico relevante.

    XXVIII - , entretanto, o Regimento Interno da Cmara

    Municipal de ................................, baseado na Lei Orgnica do municpio, que cuida,

    de forma expressa, da realizao de sesses extraordinrias no perodo legislativo

    ordinrio, e reza em seu art. 142 que:

    Art. 142 As sesses extraordinrias, no

    perodo normal de funcionamento, sero convocadas pelo

    Presidente da Cmara, em sesso ou fora dela, e nelas no se poder

    tratar de assunto estranho sua convocao. (Grifamos)

    Conforme se pode ler, as sesses extraordinrias podem

    perfeitamente ser realizadas em perodo normal de funcionamento da Cmara

    Municipal de .............................., conforme o admite expressamente o art. 142, do

    Regimento Interno daquela casa legislativa.

    XXIX - E ainda sobre a realizao de sesses

    extraordinrias mesmo fora do recesso, Ivan Barbosa Rigolin j tivera ensejo de lavrar

    parecer para a Cmara Municipal de Blumenau, e que foi publicado no BDM - Boletim

    de Direito Municipal, da ed. NDJ, de dezembro de 2.001, pp. 864/71, e do qual extrai-se

    o seguinte excerto final:

    Conhecem-se, de resto, leis municipais

    com teor muito similar de Blumenau, como a Lei municipal n

    2.441, de 27 de dezembro de 2.000, de .................., Estado de So

    Paulo, que no art. 2, 2, reza que

  • 29

    Sero indenizadas em R$ 500,00

    (quinhentos reais) as sesses extraordinrias realizadas no perodo

    ordinrio da sesso legislativa anual.

    Tal regra de pagar pelo trabalho dos

    Vereadores por sesses extraordinrias realizadas dentro do perodo

    legislativo normal, e no apenas no de recesso parlamentar, a ttulo

    indenizatrio como no caso, rotineira e desassombradamente aceita como

    regular pelo e. Tribunal de Contas do Estado de So Paulo, consoante se

    denota do seguinte parecer do sr. Secretrio-Diretor Geral, dr. Srgio

    Ciquera Rossi, datado de 21 de maro de 2.001, relativo s contas da

    Cmara Municipal de .................. j do exerccio (integral) de 1.998

    (Proc. TCE-SP n 5.270/026/98, fls. 112, ltimo pargrafo):

    Senhor Conselheiro, no obstante

    considerar como regular a incluso das sesses extraordinrias

    realizadas pelos Deputados Estaduais, para efeito da base de clculo

    do ndice de 75%, entendo que deveriam ser pagas aos Vereadores to somente

    as sesses extraordinrias efetivamente ocorridas na Cmara Municipal (e o

    grifo nosso).

    No constitui novidade, portanto, a lei

    blumenauense instituir pagamento, como indenizao, a seus

    Vereadores, por trabalho nas sesses extraordinrias, mesmo que fora

    do perodo de recesso parlamentar. O tema j vem sendo exercitado

    no Estado de So Paulo, com o aval rigorosamente acertado quanto

    a isso - do seu Tribunal de Contas.

    XII Por todo o exposto, o parecer de que

    resultou a deciso do e. TCE-SC lamentavelmente a nosso ver no

  • 30

    poderia sequer ter condo de indicar a orientao do Tribunal quanto

    ao caso presente ou a casos similares, muito menos conter carter

    minimamente intimidatrio da conduta estabelecida na lei local, cuja

    legitimidade absoluta porque editada com supedneo expresso no

    art. 30, inc. I, da Constituio Federal, contra cujo comando no pode

    vingar qualquer alegao de contedo subjetivo como o a relativa a

    legitimidade, se, como neste caso, apartada de fundamento formal e

    expresso, como exige o princpio da legalidade em sua aplicao mais

    linear. (com grifos originais).

    Nenhuma irregularidade, portanto, pode ser invocada

    quanto aos pagamentos por sesses extraordinrias.

    Porm, mesmo que alguma irregularidade pudesse ser

    apontada quanto a tais pagamentos, o mais importante que no podem

    constituir vcio ou irregularidade insanvel com nota de improbidade

    administrativa, conforme acima demonstrado.

    Ante o exposto e demonstrado exausto, requer a

    impugnada seja julgada totalmente improcedente a presente ao de impugnao de

    pedido de registro de candidatura proposta pelo e. Ministrio Pblico Eleitoral, para

    que afinal seja deferido o pedido de registro de candidatura da impugnada, pelos

    motivos de fato e de direito acima explicitados e demonstrados.

    Protesta provar o alegado por todos os meios em direito

    admitidos, sem exceo de um s.

  • 31

    Nestes termos, pede deferimento.

    So Paulo para ......................, aos ........................................

    ...................................................

    OAB/SP n ............................