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“SISTEMA DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS” UFPR - Manejo de Bacias Hidrográficas – 2009. Prof. Nivaldo Rizzi - Doutoranda - Mariese C. Muchailh 1.FUNDAMENTOS DA POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS LEI FEDERAL 9.433 DE 08 DE JANEIRO DE 1997- Institui a Política Nacional de recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Recursos Hídricos. 1.1. A água é um bem de domínio público; Em consonância com o art. 225 da CF “ Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado... ”. A Lei abrange todo tipo de água. O domínio hídrico público deve dar acesso à água àqueles que não sejam proprietários dos terrenos em que as nascentes aflorem,... As águas subterrâneas passam a fazer parte do domínio público (art. 1º, I, 12, II e 49), não é mais possível apropriar-se das águas subterrâneas, apenas usá-las com outorga do órgão público e pagamento do uso (art. 21, I); integram os bens dos Estados (art. 26, I da CF). (revoga art. 12, II Decreto 24.643/34). 1.2 A água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico; Art. 19 – “a cobrança pelo uso dos recursos hídricos objetiva reconhecer a água como um bem

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“SISTEMA DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS”

UFPR - Manejo de Bacias Hidrográficas – 2009.Prof. Nivaldo Rizzi - Doutoranda - Mariese C. Muchailh

1. FUNDAMENTOS DA POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS

LEI FEDERAL 9.433 DE 08 DE JANEIRO DE 1997- Institui a Política Nacional de recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Recursos Hídricos.

• 1.1. A água é um bem de domínio público;

Em consonância com o art. 225 da CF “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado...”. A Lei abrange todo tipo de água. O domínio hídrico público deve dar acesso à água àqueles que não sejam proprietários dos terrenos em que as nascentes aflorem,... As águas subterrâneas passam a fazer parte do domínio público (art. 1º, I, 12, II e 49), não é mais possível apropriar-se das águas subterrâneas, apenas usá-las com outorga do órgão público e pagamento do uso (art. 21, I); integram os bens dos Estados (art. 26, I da CF). (revoga art. 12, II Decreto 24.643/34).

• 1.2 A água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;

Art. 19 – “a cobrança pelo uso dos recursos hídricos objetiva reconhecer a água como um bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu valor real” interpreta-se que a captação para uso das necessidades básicas de cada um é insignificante do ponto de vista econômico (art. 20 e 12). A valorização econômica deve levar em conta o preço da conservação, da recuperação e da melhor distribuição do bem – recurso natural limitado.

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• 1.3 Em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais.

Uso Prioritário - Art. 1º, IV - “a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas”, III – a escassez deve priorizar o consumo humano (necessidades mínimas) e a dessedentação dos animais. Art. 15 – perante a escassez o órgão publico federal ou estadual responsável pela outorga dos direitos de uso deve suspendê-la parcial ou totalmente, as que prejudiquem o consumo humano e a dessedentação dos animais (não agindo a Administração Pública o fará o Poder Judiciário).

• 1.4 A gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas;

A multiplicidade de usos é imensa e não é enumerada em sua totalidade na Lei. Art. 7º, VIII – “prioridades para a outorga de direitos de uso de recursos hídricos”. Art. 13 “a outorga de uso dos recursos hídricos deverá preservar o uso múltiplo destes, veda-se o privilégio a um ou alguns usos.

• 1.5 A bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;

A Política Nacional e Estadual dos Recursos Hídricos terá como unidade territorial a “bacia hidrográfica” – art. 1º, V. Segundo a Lei, o termo abrange cursos de água, catalogados como principal e/ou tributário; a falta de definição do termo dá dupla dominialidade (federal/estadual) das águas. As águas no Brasil são de domínio da União ou dos Estados (art. 20 e 26 da CF).

• 1.6 A gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.

Art. 1º, VI – “a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades” – gestão poderá ser pública ou mista,

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nunca totalmente privada. A competência para legislar é da União (art. 22, IV da CF). Como órgão superior, o “Conselho Nacional de Recursos Hídricos”, abaixo as “Agencias de Água” e os “Comitês de Bacias Hidrográficas” e por fim a administração/gestão pelos “novos órgãos hídricos”.

Figura 01 – Esquema Comitês de Bacias

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De forma concordante estão os aspectos relacionados na Lei Estadual 12.726 /99 - 29/11/1999, que ressalta os seguintes instrumentos como mecanismos de implementação, conforme suas competências . Art. 5º - O Estado do Paraná articular-se-á com a União e com outros Estados tendo em vista o gerenciamento dos recursos hídricos de interesse comum. Parágrafo único - A articulação com a União, referida no caput, contemplará mecanismos de delegação, ao Governo do Estado, da gestão de sub-bacias de rios federais que drenem o território paranaense.

Planos de Recursos Hídricos

Responsabilidade execução

Responsabilidade aprovação

Nacional

Secretaria de Recursos Hídricos do MMA (Decreto nº 4.755, 20/06/2003)

CNRH (Lei 9.433/97, art.35, IX)

Estadual Secretarias Estaduais

Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos

Bacia Hidrográfica

- Agências de Água - Entidades ou órgãos gestores (enquanto não houver agência)

Comitês de Bacia

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Os Objetivos da Política Estadual de Recursos Hídricos também pouco diferem dos citados na Lei Federal, sendo:

LEI FEDERAL 9.433 LEI ESTADUAL 12.726

Art. 2º São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:

Art. 3º - São objetivos da Política Estadual de Recursos Hídricos:

I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos;

II - a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável;

III - a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.

I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de águas em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos;

II - a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável;

III. a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.

A gestão indicada pela PNRH relaciona que deva ser sistemática, contemplativa em relação ao meio ambiente, articulada aos planejamentos regional, estadual e nacional (art. 4 º - dever da União de articular-se (conceder outorgas e suspende-las) com os Estados no gerenciamento dos recursos hídricos de interesse comum).

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2. INSTRUMENTOS DA POLÍTICA ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS, Paraná, conforme a Lei Estadual 12.726 DE 29/11/1999:

• 2.1 O Plano Estadual de Recursos Hídricos;

Os Planos de Recursos Hídricos são planos diretores que visam fundamentar e orientar a implementação da PNRH e o gerenciamento dos recursos hídricos”, Art. 6º - Lei Federal 9.433/97.Competencias: “Conselho Nacional de Recursos Hídricos” – estabelecer diretrizes, emendar ou modificas os Planos (art. 35). “Agencias de Águas” – elaborar o Plano e sugerir o prazo de vigência. “Comitês de Bacias Hidrográficas” – aprovar ou não o prazo.

Os Planos de Recursos Hídricos serão elaborados por bacia hidrográfica, por Estado e para o País”. Os Planos nascerão da base do SNGRH (art. 1º, V e VI e art. 20 da Lei 8.171/91 Política Agrícola), o Plano fundamental é o Plano por bacia hidrográfica; pela unidade territorial, e gestão descentralizadora. Os Planos estaduais irão fazer uma interação dos dados e prioridades apontados pelos Planos de bacia hidrográfica;

Efetuado com base nos planejamentos efetuados nas bacias hidrográficas, o Plano Estadual de Recursos Hídricos – PERH - deve conter:• Objetivos e metas;• Diretrizes e critérios para gerenciamento;• Alternativas de aproveitamento dos RH;• Programa de investimentos em ações para uso, recuperação

e conservação dos RH;• Programa de desenvolvimento institucional, tecnológico e

gerencial, valorização profissional e comunicação na área de RH.

• 2.2 O Plano de Bacia Hidrográfica;

O planejamento de recursos hídricos, elaborado por bacia ou conjunto de bacias hidrográficas do Estado, consubstanciar-se-á, formalmente, em plano que visa a fundamentar e orientar a implementação da Política Estadual de Recursos Hídricos e o seu

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respectivo gerenciamento ( Art. 8º, Lei Estadual 12.726). O Plano de Bacia Hidrográfica é de longo prazo, com horizonte de planejamento compatível com o período de implantação de seus programas, projetos, ações e atividades. O conteúdo mínimo do plano será:

I. diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos;II. análise de cenários alternativos de crescimento demográfico, de evolução de atividades produtivas e de modificações dos padrões de ocupação do solo;III. balanço entre disponibilidade e demandas futuras dos recursos hídricos, em quantidade e qualidade, com identificações de conflitos potenciais;IV. metas de racionalização de uso, adequação da oferta, melhoria da qualidade dos recursos hídricos disponíveis, proteção e valorização dos ecossistemas aquáticos;V. medidas a serem tomadas, programas a serem desenvolvidos e projetos a serem implantados, para o atendimento de metas previstas;VI. divisão dos cursos de água em trechos de rio, com indicação da vazão outorgável em cada trecho;VII. prioridades para outorga de direitos de uso de recursos hídricos;VIII. diretrizes e critérios para cobrança pelos direitos de uso dos recursos hídricos;IX. propostas para a criação de áreas sujeitas a restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos hídricos e dos ecossistemas aquáticos.

O art. 37 ( Lei Federal 9.334/97) implementa as diretrizes dos “Comitês de Bacia Hidrográfica” que irão por fim tornar efetiva a idéia de “bacia hidrográfica” como unidade territorial básica (sejam contíguas ou um conjunto misto – bacia do curso de água principal e duas sub-bacias), para a efetivação da PNRH.

• 2.3 O enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água;

Às Agências de Água competem à proposição do enquadramento dos corpos de água nas classes de uso, para encaminhamento ao respectivo Conselho Nacional ou Conselhos estaduais de Recursos Hídricos (art. 44, XI). Estes podem

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concordar com a atual classificação ou com nova proposta, mas não tem competência de efetuar nova classificação. O enquadramento em classes visa: assegurar às águas qualidade compatível com o uso mais exigente a que foram destinadas, e diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante ações preventivas permanentes.As classes de corpos de água será estabelecidos pela legislação ambiental” (Resolução CONAMA 20/86, alterada pela Resolução CONAMA 357/2005 ), e atribuído pelo organismo público que tenha a competência para o licenciamento, fiscalização e a imposição de penalidades administrativas ambientais.

• 2.4 A outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;

Conceito - Outorga (consentimento, concessão, aprovação) de direitos de uso de recursos hídricos competência da União, prazo máximo de 35 anos (renovação e suspensão). A outorga confere ao usuário o direito de uso do corpo hídrico, condicionado à disponibilidade de água (Art. 16 , Lei Estadual ).Conforme o Art. 21 da CF – compete a União definir os critérios de outorga de uso dos recursos hídricos, assim fica impedido de conceder usos que agridam a qualidade e quantidade das águas. Previsto no Art. 11 da Lei Federal 9.433/97 – “o regime de outorga de direitos de uso de recursos hídricos tem como objetivos assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso á água”.A outorga é competência do Poder Executivo Federal que indicará por decreto a autoridade responsável pela efetivação de outorga, na implementação da PNRH cabe aos Poderes Executivos estaduais e do Distrito Federal. (Cap. VI do Tít. I, art. 29, art. 30). Já o artigo Art. 12 estabelece os usos sujeitos à outorga pelo Poder Público. A ausência de outorga nos casos especificados configuram “infração das normas de utilização de recursos hídricos superficiais ou subterrâneos” (art. 49) (cabe ação civil pública).O Poder público não poderá conceder todas as outorgas solicitadas por ter de deixar um saldo hídrico suficiente para atender emergências ambientais da coletividade. (art. 11 e 13). Outorga preventiva para declaração de disponibilidade de água – a lei 9.984/2000 criou duas outorgas preventivas em seus art. 6º e 7º. A outorga preventiva se destina preservar a vazão possível de outorga.

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Declaração de reserva de disponibilidade hídrica para uso do potencial de energia hidráulica – é obrigatória para a licitação (ANEEL). A ANA deve obedecer ao disposto sobre o uso múltiplo dos recursos hídricos (art.13). Obtida a Declaração receberá automaticamente a outorga de uso de recursos hídricos (art. 7 da Lei 9.984/2000). Não será concedida a outorga se não houver o EIA, conforme o citado pelo CONAMA 1/86, art. 2º, ou caso o órgão público responsável ache necessário (embasado no art. 225 da CF).A outorga é mais ampla que o licenciamento por considerar o Plano de recursos hídricos da bacia hidrográfica. A outorga não exime a obtenção do licenciamento (decretos de SP e RGS). A integração eficiente da outorga e licenciamento é ponto crucial da política nacional de recursos hídricos. Cabe ao órgão público que emitir a outorga regulamentar e fiscalizar os usos (art. 29 e 30).Caso não seja cumprido as condições constantes da outorga, esta poderá ser suspensa, esta de interesse público geral, não dando direito à indenização por parte do outorgado ( Art. 15 ).A outorga está subordinada ao Plano Nacional de Recursos Hídricos (art.12), aos Planos Estaduais e de bacia hidrográfica (art. 52). São dois os tipos de outorga: 1- ligada ao uso (depósitos e reservatórios) (art. 12), e 2 - ao potencial hidráulico (ANEEL – Lei 9.427/96, art. 3º). Deve-se observar a aplicação do disposto na CF sobre áreas protegidas, autorização do congresso Nacional e sítios dos quilombos; o requerente da outorga deve provar tais requisitos de legalidade (art.37 da CF).Conforme o art. 12, não serão exigidos outorga nos seguintes casos: pequenos núcleos populacionais; derivações, captações e lançamentos considerados insignificantes; e acumulações de volumes de água insignificantes. Há um direito das pessoas usarem a água, não desobrigando o Poder Público de inspecionar e constatar tais situações.

O Poder Federal poderá delegar aos estados e ao DF competência para conceder outorgas, entretanto a União se exime de co-responsabilidade (Art. 14, Lei Federal 9.334/97). Toda outorga estará condicionada às prioridades de uso estabelecidas nos Planos de Recursos Hídricos...”, o uso que não for apontado como prioritário será concedido apenas se comprovado que a prioridade hídrica foi atendida. O regime de outorga de direito de uso tem como objetivo assegurar o controle quantitativo e qualitativo às águas...” (art. 11), nunca servir ao lucro de minorias.Art. 18 – “a outorga não implica a alienação parcial das águas que são inalienáveis, mas o simples direito de uso”. A inalienabilidade é

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característica como bem de domínio público. (revoga o art. 1º Decreto 24.643/34 – Código das águas). A Lei introduz o direito de COBRAR PELO USO das águas, mas não instaura o direito de venda das águas.

• 2.5 A cobrança pelo direito de uso de recursos hídricos;

No art. 20, Lei Estadual 12.726, ficou estabelecido fatores para o cálculo do valor a ser cobrado pelo direito de uso de recursos hídricos, excluídos os usos definidos como insignificantes e não sujeitos a outorga muitos fatores como: a classe de uso preponderante em que esteja enquadrado o corpo de água objeto do uso; as características e o porte da utilização;. as prioridades regionais;as funções social, econômica e ecológica da água; a época da retirada; o uso consumptivo;. a vazão e o padrão qualitativo de devolução, entre os de maior relevância. Já o Art. 22 cria o Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FRHI/PR), de natureza e individuação contábeis, destinado à implantação e ao suporte financeiro de custeio e de investimentos do Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SEGRH/PR), de que trata esta Lei.

Já Art. 19, III – a cobrança pelo uso objetiva “obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções contemplados nos Planos de Recursos Hídricos”. Vincula os recursos financeiros arrecadados pelas Agências de Águas com os programas e projetos dos Planos de Recursos Hídricos ( Lei Federal 9.334/97). Segundo o art. 7º os Planos de Recursos Hídricos devem prever os “programas a serem desenvolvidos e projetos a serem implantados”, sem estabelecer o cronograma de execução. Entretanto cabe às Agencias de Águas proporem ao Comitê de Bacia Hidrográfica o “plano de aplicação dos recursos arrecadados... (art. 44, XI)”; e aos Comitês de Bacia Hidrográfica sugerir providencias necessárias ao cumprimento das metas apontadas nos Planos (art. 38, IV). Art. 19 – objetiva: reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação real de seu valor; incentivar a racionalização do uso da água; e obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções contemplados nos Planos de Recursos Hídricos. Aplica-se o princípio 16 da Rio-92, e do usuário-poluidor-pagador. O principio da cobrança já estava contido genericamente na Lei 6.938/81, art. 4º, ao dizer que a Política Nacional do Meio Ambiente

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visará a impor ao usuário uma contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.

O Art. 20 da CF e anteriormente a Lei 7.990/89, coloca a exploração de recursos hídricos para fins de energia elétrica dá direito a participação (aos órgãos da administração) nos resultados dessa exploração, ou à compensação financeira.

Conforme o Art. 21, Lei Federal 9.334/97, deve ser observado: nas derivações, captações e extrações de água, o volume retirado e seu regime de variações; nos lançamentos de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, o volume lançado e seu regime de variação e as características físico-químicos, biológicas e de toxicidade do afluente. Os Comitês de Bacia Hidrográfica e a ANA cabem o estudo de valores a serem cobrados; e ao CNRH definir os valores. No Art. 21 da Lei 9.984/2000 - As receitas da cobrança pelo uso de recursos hídricos de domínio da União serão mantidas à disposição da ANA na Conta Única do tesouro Nacional.

No Estado do Paraná, a Lei Estadual 9.334/97 prevê que os valores arrecadados com a cobrança pelo direito de uso de recursos hídricos e inscritos como receita do Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FRHI/PR) serão aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica em que foram gerados, respeitando-se o percentual mínimo de 80% (oitenta por cento), à exceção de proposição expressamente aprovada pelo respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica, sendo os valores arrecadados utilizados para:

a. o financiamento de estudos, programas, projetos e obras incluídas no Plano de Bacia Hidrográfica;b. o pagamento de despesas de monitoramento dos corpos de água e de implantação e custeio administrativo dos órgãos e entidades integrantes do Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SEGRH/PR).

• 2.6 O Sistema Estadual de Informações sobre Recursos Hídricos - SEIRH.

O Poder Público Federal e Estadual tornam-se, não proprietários, mas GESTORES do bem de interesse de todos. “Os organismos integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos terão obrigação de fornecer todos os dados ao SIRH...”; “...

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é um sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos e fatores inerentes em sua gestão...”. Objetiva: reunir, dar consistência e divulgar informações sobre a qualidade e quantidade dos recursos hídricos, atualizar permanentemente as informações sobre demanda e disponibilidade de águas em todo o território nacional; fornecer subsídios para a elaboração dos Planos de Recursos hídricos.

Como principio básico do Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos – art. 26, III - “acesso aos dados e informações garantido a toda sociedade”, reforçado pela Lei 6.938/81. A Lei 9.984/2000 insere a obrigatoriedade da ANA de dar publicidade aos pedidos de outorga. Pelo estabelecido na Lei Estadual 9.334/97, são objetivos do Sistema – SEIRH, I. reunir, dar consistência e divulgar os dados e informações ; atualizar, permanentemente, as informações sobre disponibilidade e demanda de recursos hídricos e sobre ecossistemas aquáticos; fornecer subsídios para a elaboração de Plano de Bacia Hidrográfica; apoiar as ações e atividades de gerenciamento.

Figura 02 - SEIRH Diagnóstico - balanço - demanda e disponibilidade

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DEFINIÇÕES ESTRUTURAIS DA POLÍTICA NACIONAL DE GERENCIAMEWNTO DE RECURSOS HÍDRICOS

Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos HídricosÉ o conjunto de órgãos que atuam na gestão dos recursos hídricos (art. 21, XIX da CF e Título II da Lei 9.433/97). Estabeleceu um arranjo institucional claro e baseado em novos princípios de organização para a gestão compartilhada do uso da água. O fato da CF ter inserido o tema em seu texto obriga a União, os Estados, o DF, e os Municípios a se articularem na gestão das águas. Objetivos: coordenar a gestão integrada das águas; arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com recursos hídricos; implementar a PNRH; planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos hídricos; promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos.

Figura 3- Matriz institucional do SINGREH

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Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) - criado em 1998, é o órgão mais expressivo da hierarquia do SINGREH, de caráter normativo e deliberativo, com atribuições de: promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com os planejamentos nacional, regional, estadual e dos setores usuários; deliberar sobre os projetos de aproveitamento de recursos hídricos; acompanhar a execução e aprovar o Plano Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.984/2000, art. 31); estabelecer critérios gerais para a outorga de direito de uso dos recursos hídricos e para a cobrança pelo seu uso (art. 35). É composto, por representantes do poder executivo federal (não poderá exceder a metade mais um do total de membros – art. 34); representantes indicados pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos; representantes dos usuários dos recursos hídricos e, representantes das organizações civis de recursos hídricos.

Agência Nacional de Água – ANA - foi instituída pela Lei 9.984/2000, é uma autarquia com autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente. É responsável pela implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, e tem como especial atribuição cuidar das águas da União. É dirigida por uma diretoria colegiada de cinco membros nomeados pelo Presidente da república.

Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos - Integram o SNGRH – art. 33, II. Poderão encaminhar questões para deliberação do CNRH (art. 35), suplementar as regras da Lei mas nunca descumpri-las. Tem autorização para criar Agências de Águas em bacias de rios de domínio estadual (art. 38).

No Paraná: o Decreto nº. 2314, de 14 de julho de 2000, cria o Conselho Estadual de Recursos Hídricos. Decreto nº. 4320, de 29 de junho de 2001 que nomeia os integrantes do Conselho Estadual de Recursos Hídricos.

Comitês de Bacias Hidrográficas – são órgãos colegiados com atribuições normativas, deliberativas e consultivas a serem exercidas na bacia hidrográfica de sua jurisdição – art. 1º, §1º, da Resolução cinco de 10/04/2000 do CNRH. Com as atribuições de: promover o debate das questões  relacionadas aos recursos hídricos da bacia;  articular a atuação das entidades que trabalham com este tema; arbitrar os conflitos relacionados a recursos hídricos; aprovar e acompanhar a execução do Plano de Recursos

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Hídricos da Bacia; estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos e sugerir os valores a serem cobrados; estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo. Serão instituídos diferentes tipos de Comitês: em relação ao domínio - Federal e Estadual; em relação à bacia, em rios de domínio da União. Participação: dos usuários, da sociedade civil organizada, de representantes de governos municipais, estaduais e federal, dependendo do tipo de Comitê. Comporão os Comitês em rios de domínio da União representantes públicos da União, dos Estados, do DF, dos municípios e representantes da sociedade como usuários das águas de sua área de atuação, e das entidades civis de recursos hídricos com atuação comprovada na bacia.

Agências de Águas - As principais competências são: manter balanço hídrico da bacia atualizado; manter o cadastro de usuários e efetuar, mediante delegação do outorgante, a cobrança pelo uso de recursos hídricos; analisar e emitir pareceres sobre os projetos e as obras a serem financiados com recursos gerados pela cobrança pelo uso dos recursos hídricos e encaminhá-los à instituição financeira responsável pela administração desses recursos; acompanhar a administração financeira dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso dos recursos hídricos em sua área de atuação; gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos em sua área de atuação; celebrar convênios e contratar financiamentos e serviços para a execução de suas competências; promover os estudos necessários para a gestão de recursos hídricos em sua área de atuação; elaborar o Plano de Recursos Hídricos para apreciação do respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica; propor ao respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica o enquadramento dos corpos de água nas classes de uso, os valores a serem cobrados pelo uso dos recursos hídricos, o plano de aplicação de recursos e o rateio de custos das obras de uso múltiplo. As Agências de Águas em rios de domínio da União atuarão como secretarias executivas do respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica. A criação das Agências está condicionada, em cada bacia, à prévia existência do respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica e à sua viabilidade financeira.

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SISTEMA ESTADUAL DE GERENCIAMENTO DERECURSOS HÍDRICOS

* Conselho Estadual de Recursos Hídricos* Comitês de Bacia Hidrográfica* Agências de Bacia Hidrográfica* Sema* Suderhsa

Figura 4. Esquema de gerenciamento de Recursos Hídricos no Paraná.