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FACULDADES INTEGRADAS DE PEDRO LEOPOLDO Mestrado Profissional em Administração CLÁUDIA MÁRCIA SÁ MARTINS MOURA GESTÃO DAS RELAÇÕES COM TERCEIRIZADOS NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO EM UMA EMPRESA DE TELECOMUNICAÇÕES Pedro Leopoldo 2006

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FACULDADES INTEGRADAS DE PEDRO LEOPOLDO

Mestrado Profissional em Administração

CLÁUDIA MÁRCIA SÁ MARTINS MOURA

GESTÃO DAS RELAÇÕES COM

TERCEIRIZADOS NA PRESTAÇÃO DE

SERVIÇO EM UMA EMPRESA DE

TELECOMUNICAÇÕES

Pedro Leopoldo2006

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CLÁUDIA MÁRCIA SÁ MARTINS MOURA

GESTÃO DAS RELAÇÕES COM

TERCEIRIZADOS NA PRESTAÇÃO DE

SERVIÇO EM UMA EMPRESA DE

TELECOMUNICAÇÕES

Dissertação apresentada ao Curso de MestradoProfissional em Administração da FaculdadeIntegrada de Pedro Leopoldo como requisitoparcial para obtenção do título de Mestre emAdministração.

Orientadora: Profª Vera L. Cançado, Drª.

Faculdades Integradas de Pedro Leopoldo

Mestrado Profissional em Administração

2006

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Ao meu marido, Rogério,

pelo constante apoio, compreensão, carinho

e, acima de tudo, tolerância,

presentes durante todo o mestrado.

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AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Profª. Vera Cançado, pela disponibilidade em compartilhar conhecimento

através de suas orientações.

À Profª Valéria Júdice, pelas valiosas observações e contribuições.

Ao gerente de Recursos Humanos da empresa pesquisada, por permitir-me o acesso às pessoas

e aos dados da organização, fundamentais para o presente trabalho. Estendo meu

agradecimento a todos os entrevistados, a quem devo muito mais do que o acesso às suas

narrativas.

Aos amigos, colegas de trabalho e integrantes da minha equipe, que generosamente me

ajudaram no levantamento de bibliografia, informações e suporte para realização das

entrevistas: Gilson, Aléxia, Carlos Augusto, Olívia, Kátia, Victor, Beth.

Agradeço, de forma especial, aos amigos, por não terem desistido de mim, e à família, que

sempre me supriu de carinho, compreensão e estímulo durante toda esta jornada.

A Deus, pela possibilidade de iniciar este trabalho e, acima de tudo, concluí-lo.

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“A diferença entre um homem comum e um homem de sucesso não é causada pelas

oportunidades diferentes que os dois tiveram, mas pela capacidade de cada um deles de ter

sabido aproveitar aquelas oportunidades.”

Ilie Gilbert

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RESUMO

As empresas, pressionadas pelo dinamismo e rapidez das mudanças, passaram a adotararranjos organizacionais em formato em rede, objetivando ganhar mais agilidade ecompetitividade. Em termos organizacionais, ocorre uma reestruturação com vistas a maisflexibilidade, combinando novas tecnologias e novas formas de gestão. Uma dessas formas dereestruturação é através de terceirizações, que se caracteriza pela eficiente prática deflexibilidade organizacional na busca de especialização e racionalização dos recursos. Aterceirização é aqui entendida como a prática de comprar externamente produtos e serviçosnecessários ao processo produtivo, auxiliando as empresas a racionalizar recursos, redefiniroperações, funcionar com estruturas mais enxutas e flexíveis. Do ponto de vista das relaçõesde trabalho, as empresas vêm também flexibilizando os vínculos e os contratos de trabalho.Os gestores têm que lidar com recursos oriundos de múltiplos vínculos contratuais, sendodesafiados a conseguir o comprometimento necessário para o atingimento dos resultadosdesejados. No setor de telecomunicações, tem se observado a crescente prática deterceirizações e diversos problemas oriundos dessas novas relações. Nesse contexto, éobjetivo desta dissertação analisar como estão sendo gerenciadas as relações comterceirizados na prestação de serviço em uma empresa de telecomunicações. No referencialteórico, foram abordados os elementos históricos influenciadores do ambiente competitivoatual, a nova arquitetura organizacional, focalizando a organização em rede, a terceirização eo gerenciamento do processo da terceirização. Foi realizada uma pesquisa de campo, decaráter qualitativo, em uma empresa de telecomunicações aqui denominada Telmobile (nomefictício). Foram levantados dados secundários em documentos, relatórios e sites da empresa; edados primários por meio de entrevistas semi-estruturadas com 17 gestores que gerenciamrecursos de vínculos diferenciados e de grupo focus com oito desses gestores. Os resultadosda pesquisa apontam algumas diferenças na gestão de recursos terceiros e prestadores deserviço em comparação aos recursos efetivos, cuja política de salário e benefícios são maisatraentes, com maiores recompensas financeiras e perspectivas de carreira. Ficou evidenciadotambém que existe um distanciamento no nível de comprometimento, confiança ecumprimento das normas, padrão e procedimentos. Ressalta-se que essas diferenças não sãoobservadas na gestão de terceiros envolvidos com processos que exigem mais conhecimentotécnico específico. Constatou-se também que a relação estabelecida com os parceiros ébaseada na pessoalidade, já que os contratos não são bem construídos e gerenciados. Pode-seconcluir que os gestores sentem-se despreparados para lidar com esses desafios.

Palavras chave: Terceirização. Gestão de terceiros. Administração de pessoal.

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ABSTRACT

The companies, pushed by the dynamism and speed of changes, started to use organizationalarrangements in net, aiming at increasing the agility and competitiveness. In organizationalterms, a restructuring takes place aiming at more flexibility, combining new technologies andnew managements. One of these ways of restructuring is through outsourcing, which ischaracterized by and efficient practice of organizational flexibility in search of specializationand rationalization of the resources. Outsourcing is I here understood as the practice ofpurchasing outside products and services necessary to the productive process, helping thecompanies to rationalize resources, re-define operations, work with more trimmed andflexible structures. About the work relationships, the companies have also made flexible theworkforce and employment contracts. The managers have to deal with resources from severalemployment contracts, being challenged to make the necessary commitment in order toachieve goals. In the telecommunication sector, it has been noticed an increasing practice ofoutsourcing as well as several problems originated from it. In this context, it is the objectiveof this dissertation, to analyse how the relationships with the outsourced providing theservices at a telecommunication company have been managed. With reference to theory, weapproached the historical elements which influence the current competitive environment, thenew organizational architecture, focusing on the organization in net, the outsourcing and themanagement of the outsourcing process. A quality field research was done in atelecommunication company called Telmobile (a fictitous name). Secondary data weresurveyed in documents, reports and sites of the company; and primary data through semi-structured interviews with 17 managers who manage resources of differentiated workforce,and of focus group with 8 of these managers. The results point out some differences from themanagement of outsourced resources and service providers in comparison to co-workersresources in terms of remuneration, benefits and career, concerning the salary policies andmore attractive benefits as well as more structured career planning. It was also clear that thereis a distance in relation to commitment, reliability and follow-up of the regulations, standardsand procedures if the co-workers`resources are compared to the outsourced and serviceproviders. We stand out that these differences are not noticed in the management of theoutsourced involved in the processes which require more specific technical knowledge. Wealso realized that the relationship established with the partners is based on individuality sincethe contracts are not well established and managed. We could conclude that the managers feelunprepared to deal with these challenges.

Key words: Outsourcing. Management outsourced. People management and human resources.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Fatores na tendência para organizações em rede ............................................... 30

Figura 2 – Transformação das empresas.............................................................................. 35

Figura 3 – Modelo de pesquisa............................................................................................. 65

Figura 4 – Organograma Telmobile...................................................................................... 74

Figura 5 – Estrutura da gerência de relacionamento com o cliente....................................... 77

Figura 6 – Estrutura da gerência de gestão de rede............................................................... 78

Figura 7 – Estrutura da gerência de tecnologia da informação .............................................. 80

Figura 8 – Estrutura da gerência de suporte a vendas .............................................................81

Figura 9 – Estrutura da gerência financeira .............................................................................82

Figura 10 – Caracterização da Telmobile como empresa em rede ..........................................83

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LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 1 – Portfólio de relacionamentos entre empresa central e fornecedores ...................... 45

Quadro 2 – Tipos de vínculos segundo o contrato .....................................................................50

Quadro 3 – Tipos de vínculos segundo a jornada e tempo de trabalho ......................................51

Quadro 4 – Segmentação dos canais de vendas x composição recursos ....................................75

Quadro 5 – Vantagens e desvantagens da terceirização ...........................................................105

Tabela 1 – Composição do quadro de funcionários da Telmobile ...........................................60

Tabela 2 – Distribuição dos múltiplos vínculos nas diversas áreas da Telmobile....................61

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CLT Consolidação das Leis TrabalhistasCRC Central de Relacionamento com o ClienteEUA Estados Unidos da AméricaGSM Global system móbile

MMS MultimídiaOPEP Organização dos Países Exportadores de PetróleoPJ Pessoa jurídicaSLA Service level agreement

TI Tecnologia da informaçãoURSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................12

2 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................................18

2.1 Elementos históricos influenciadores do ambiente competitivo atual..................................18

2.2 A nova arquitetura organizacional: a empresa-rede..............................................................24

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2.2.1 Organizações em rede .......................................................................................................26

2.3 Terceirização.........................................................................................................................36

2.3.1 Gestão da terceirização......................................................................................................44

2.4 Gestão de múltiplos vínculos de trabalho.............................................................................48

3 METODOLOGIA..................................................................................................................59

3.1 Tipo de pesquisa..................................................................................................................59

3.2 Unidade de análise e observação........................................................................................60

3.3 Modelo de pesquisa.............................................................................................................62

3.4 Técnicas de levantamento de dados....................................................................................66

3.5 Análise dos dados................................................................................................................69

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................................70

4.1 Caracterização da Telmobile como organização em rede........................................................70

4.2 Desafios na gestão da relação com terceirizados................................................................85

4.2.1 Questões gerais da terceirização......................................................................................85

4.2.2 Gestão...............................................................................................................................91

4.2.3 Percepções........................................................................................................................99

4.2.4 Vantagens e desvantagens, problemas e sugestões de solução......................................104

4.2.5 Gestão de contratos........................................................................................................109

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................114

REFERÊNCIAS....................................................................................................................123

APÊNDICES...............................................................................................................................129

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produto, do atendimento ao cliente e do tratamento dispensado aos seus empregados torna-se

aspecto fundamental numa sociedade que cada vez mais demanda por excelência de produtos

e serviços com preços competitivos (FERNANDES, 2003).

Assim, com a crescente adoção do processo de terceirização de processos e de

pessoas no ambiente organizacional, torna-se pertinente aprofundar no tema, visto que não se

encontram muitos estudos que possam oferecer subsídios aos profissionais da área de gestão

de pessoas no desenvolvimento de projetos factíveis e de aplicação no ambiente

organizacional.

Para tanto, compreende-se terceirização como uma tendência de transferir, para

terceiros, atividades que não fazem parte do negócio principal da empresa, concentrando-se

esforços nas atividades essenciais e delegando-se a terceiros as complementares. Assim, a

terceirização pode ser definida como um processo pelo qual se repassam algumas atividades

para terceiros – com os quais se estabelece uma relação de parceria – ficando a empresa

concentrada apenas em tarefas essencialmente ligadas ao negócio em que atuam (GIOSA,

1997).

O setor de serviços, pontualmente o segmento de telecomunicações, absorve

grande contingente de trabalhadores terceirizados envolvidos na relação direta com o cliente e

vem enfrentando algumas especificidades:

a) No setor de telefonia móvel, em um ambiente altamente competitivo, o elemento

diferenciador é o atendimento, tendo como desafio garantir o mesmo nível de

qualidade, eficiência e eficácia dos serviços prestados por pessoas com diferentes

relações de trabalho com a empresa central e, conseqüentemente, diferente

vínculos contratuais.

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b) O rigor pelo cumprimento das metas de gerenciamento do headcount5 remete para

a necessidade de capacitar os gestores para a gestão de pessoas em diferentes

vínculos de trabalho.

c) Observa-se despreparo dos gestores para lidar com os múltiplos vínculos, deixando

a empresa em situações de vulnerabilidade.

Na empresa a ser investigada nesta dissertação, denominada Telmobile (nome

fictício), a orientação e preocupação essencial é concentrar a atenção no seu core business, na

sua competência essencial que gera diferencial nesse mercado competitivo. Com o

acirramento da competitividade, com a concentração em atividades e processos estratégicos e

o rigor no controle do custo fixo, houve intensificação dos processos de terceirização e da

desmobilização de diversos postos de trabalho efetivo na empresa. Por outro lado, apesar da

transferência de postos de trabalho efetivo para processos terceirizados poder implicar em

redução de custo fixo e foco nos processos estratég

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b) Identificar alguns dos desafios da gestão de pessoas terceirizadas na Telmobile.

c) Comparar a gestão dos diferentes tipos de vínculos de trabalho.

d) Identificar algumas situações de vulnerabilidade para a Telmobile frente à

gestão de terceirizados.

Para atingir tais objetivos, foi realizado um estudo de caso na empresa Telmobile,

de caráter qualitativo, por meio de levantamento de dados secundários, em documentos, site e

relatórios da empresa e de dados primários, com a realização de entrevistas e grupo focus com

gestores das áreas envolvidas (gerentes, coordenadores e supervisores).

A contribuição teórica deste estudo consiste em aprofundar no tema ainda pouco

explorado no meio acadêmico, mediante estudo da literatura disponível e confronto com a

realidade empresarial. Procuram-se analisar aspectos dos elementos intervenientes na

terceirização, suas inter-relações e implicações sobre os múltiplos vínculos contratuais, além

das tendências e perspectivas da terceirização.

Como contribuição para a empresa, serão buscadas alternativas para preparação

dos gestores frente à gestão de múltiplos vínculos. Essa proposta atende aos requisitos de uma

dissertação de mestrado profissional, na medida em que está associada à realidade

empresarial, com aplicação prática no setor das telecomunicações.

Este trabalho está estruturado em quatro capítulos, além deste que contém a

introdução. O referencial teórico, apresentado no capítulo 2, está subdividido em três seções:

na primeira focalizou-se o cenário das transformações organizacionais, compreendendo os

elementos que compõem o ambiente competitivo atual. Na segunda seção, procurou-se

abordar a nova arquitetura organizacional, focalizando a empresa-rede e o processo de

terceirização, especialmente nas empresas do segmento de serviços. Na terceira seção,

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procurou-se descrever os múltiplos vínculos, bem como os desafios dos gestores em

gerenciar pessoas oriundas desses diferentes vínculos de trabalho.

O capítulo 3 apresenta a metodologia aplicada para o desenvolvimento do estudo

de caso na empresa do segmento de telecomunicações, aqui denominada Telmobile, a fim de

resguardar o sigilo solicitado pela empresa.

O capítulo 4 traz a apresentação dos dados obtidos pela pesquisa qualitativa

realizada com o grupo de 17 gestores envolvidos no gerenciamento de recursos oriundos de

múltiplos vínculos, confrontando-os com o referencial teórico.

O capitulo 5 descreve as conclusões do autor sobre o estudo de caso e as

recomendações para o aprofundamento dos pontos observados.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Este capítulo tem por finalidade apresentar um breve resgate da trajetória

industrial, discutindo as características do modelo taylorista fordista e as razões pelas qual ele

deixou de atender às necessidades das empresas. Descreve também o modelo de arquitetura

em rede como um tipo de resposta das empresas às mudanças ambientais no mundo dos

negócios, bem como a adoção da terceirização de processos e recursos pelas empresas e a

importância da gestão eficiente desses processos. E em face dessa nova estrutura em rede,

desafia a gestão dos múltiplos vínculos de trabalho.

2.1 Elementos históricos influenciadores do ambiente competitivo atual

Para compreender as diferenças entre as lógicas da sociedade industrial e da pós-

industrial, faz-se necessário contextualizar o cenário sócio-histórico-político-econômico,

resgatando, assim, importantes elementos da trajetória industrial.

Durante os anos 50 e 60, de grande expansão econômica sob o modelo taylorista-

fordista, implantado no pós-guerra pelos Estados Unidos da América (EUA), no Japão e na

Europa, realizou-se o círculo virtuoso: investimento – expansão da produção – pleno emprego

– aumento da produtividade – aumento real de salários – consumo de massa – ganhos de

escala – investimentos (CARVALHO NETO, 1997).

Até a década de 60, os EUA viveram notável hegemonia industrial, comercial e

econômica, que vinha desde o pós-guerra, os chamados golden years6 da indústria americana.

Nesse período, inexistia preocupação do empresariado em relação às variáveis de custos,

qualidade e preços dos produtos. Esse cenário denota, ainda, a despreocupação com questões6 Anos dourados.

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monetária, aumentando a taxa de juros para atrair capital, desregulamentando o sistema

financeiro. O resultado foi o acelerado crescimento do mercado financeiro internacional e a

menor capacidade dos governos nacionais de controlarem ou mesmo estabelecerem políticas

monetárias próprias (CARVALHO NETO, 1997).

Esse novo contexto de crise da hegemonia dos EUA impulsiona as empresas

americanas no sentido de maior competição no mercado externo. A crescente globalização da

economia que se segue traz o acirramento da competição internacional e da procura pelas

empresas, especialmente transnacionais, de novos mercados em todo o planeta (PORTER,

1989).

Como resposta aos novos padrões competitivos internacionais, segundo Pereira et

al. (1997), passaram a predominar, em maior ou menor grau, nos diferentes países, políticas

que redefiniram o papel do Estado, estabelecendo cortes nos gastos, programas intensos de

privatizações, liberação de preços e maior abertura da economia a competição externa.

A origem mais próxima desse movimento global da economia, conforme Baumann

(1996), pode ser encontrada a partir de meados da década de 70, com a acumulação de capital

e crescimento dos lucros sendo obtidos cada vez mais por meio das trocas entre os grandes

grupos econômicos, das fusões e incorporações de empresas e, particularmente, mais pela

desenfreada especulação financeira do que pelo crescimento da produção.

Os mercados globalizados altamente competitivos da década de 80 e 90

demonstraram que a estabilidade pós-Segunda Guerra Mundial terminou. A era das constantes

mudanças, obrigando as empresas multinacionais de todo mundo a se reestruturarem e

adequando-as às novas regras do mercado está em pleno vigor (OVERHOLT, 2000).

As disputas intra e entre os novos blocos econômicos fizeram aumentar a pressão

por maior abertura comercial, segundo Porter (1989). A intensificação nas pressões para a

economia de mercado implicou políticas de privatização de empresas estatais e

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desregulamentação ou flexibilização de monopólios estatais, permitindo a concorrência com a

iniciativa privada. Assim, o Estado passou a aceitar integralmente a lógica das duras

condições da concorrência no mercado mundial (CARVALHO NETO, 1997).

Diante da rápida necessidade por renovação dos produtos e serviços e pela pressão

na aquisição de mercados, novas combinações de operações são buscadas para superar os

fracassos em desenvolver novas tecnologias, novos ramos de atuação. Intensificam-se as

operações de alianças, joint ventures, fusões e aquisições, no sentido de solucionar

deficiências de conhecimentos, de capital e de acesso a mercados (BALDI, 2002; NADLER;

GERSTEIN; SHAW, 1993; NADLER; TUSHMAN, 2000).

Frente ao desafio de atender a um mercado mais exigente e imprevisível, um

significativo número de empresas buscou adequação de suas estratégias, de seus processos e

seus métodos de gerenciamento, o que acabou provocando transformações nas configurações

organizacionais. As organizações viram-se compelidas a atender demandas diversificadas do

mercado local e global, em que o desafio é criar valor e manter o diferencial competitivo. Na

busca por melhor arranjo organizacional que possibilitasse maiores e melhores resultados

empresariais, os modelos de gestão caracterizados pelo controle, pela centralização e pela

hierarquização passaram a ser substituídos por outros mais flexíveis (FERNANDES;

CARVALHO NETO, 2004). Outra característica marcante desse ambiente empresarial são os

avanços na área de tecnologia da informação, criando negócios completamente novos

virtualmente em todos os setores, segundo Nadler e Tushman (2000). Deve-se, também,

destacar o crescimento do tamanho e importância do setor de serviços, no qual estão surgindo

praticamente todas as grandes oportunidades de negócios das últimas décadas

(GONÇALVES, 1998).

Por outro lado, a evolução dos modelos organizacionais em busca da flexibilidade,

principalmente em estruturas econômicas fragilizadas, acarretou também efeitos negativos. A

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acirrada competição internacional levou à reestruturação produtiva da economia, com

significativa redução dos tempos de fabricação de produtos, substituição da mão-de-obra pela

crescente automação e enxugamento das estruturas empresariais. Esse quadro favorece a

desregulamentação de direitos trabalhistas, a flexibilização do contrato de trabalho e a

aceleração de variadas práticas de subcontratação como formas de diminuir os custos do

trabalho. Os cortes de benefícios sociais tornaram-se freqüentes. Os trabalhadores cujos

contratos de trabalho foram flexibilizados tiveram salários rebaixados e o acesso à seguridade

social e assistência médica restringido ou eliminado (LIPIETZ, 1991; MATTOSO, 1997).

Para as empresas brasileiras, a opção pela abertura de mercado aconteceu marcada

por características de total submissão. Com uma década de atraso em relação à economia

americana, o país não teve mais como postergar e se viu com necessidade de enfrentar a

concorrência acirrada do mercado internacional, embora de forma despreparada. A exemplo

das empresas americanas, e muito mais aprofundadamente do que naquele país, o modelo

brasileiro reproduziu características de ineficiência, traduzidas por: superdimensionamento da

burocracia, excesso de controles, fragilidade de resultados, além da pouca capacidade de

enfrentar a competição do mercado internacional (GONÇALVES, 1998).

Outra marca característica da desestruturação do mercado de trabalho brasileiro

tem-se dado pela expansão de ocupações precarizadas, comumente aquelas que têm sido

ampliadas através das empresas terceirizadas que, em geral, empregam com remuneração e

condições de trabalho inferiores (QUEIROZ, 1992).

Nesse intenso movimento de mudanças no país, segundo vários autores, como

Baumann (1996), Dedecca (1997) e Pochmann (1997), não tem havido propostas globais que

apontem a resolução do desemprego, uma vez que são diferentes as interpretações quanto aos

rumos que o Brasil deva seguir em sua trajetória econômica. Entre as diferentes previsões

quanto ao emprego, umas sugerem extensa e intensa redução do seu nível; outras, a ampliação

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de algumas ocupações no futuro, embora admitam a queda geral do nível de emprego; outras,

ainda, defendem que a eliminação de empregos em algumas áreas será compensada pela

criação em outras.

Embora existam controvérsias quanto às conseqüências do processo de

reestruturação, torna-se inevitável para as empresas a adaptação aos novos tempos. Na

verdade, elas têm três motivos para se adaptarem: tirar o atraso das décadas que passaram sem

realizar maiores ajustes, adequar-se às novas exigências do mercado e reinventar modelos de

gestão (GONÇALVES, 1998).

Assim, a realidade mostra que a natureza do trabalho está mudando. O emprego

tradicional, em regime integral e por tempo indeterminado, está migrando para o trabalho em

tempo parcial, sejam terceirizados, temporários ou autônomos, segundo Cançado et al..

(2002). As empresas estão reduzindo a força de trabalho diretamente empregada, os core

workers, ou “empregado com jornada em tempo integral, com salário e condições de trabalho

melhores que os empregados temporários e/ou empresas subcontratadas” (CARVALHO

NETO, 1997, p. 55).

Esse movimento caminha para a flexibilização das estruturas organizacionais mais

rígidas do período fordista. A maioria das práticas gerenciais anteriores foram criadas para

atender a um ambiente estável e previsível. Assim, novas arquiteturas organizacionais e

mecanismos gerenciais multiplicaram-se. As empresas estão se reestruturando, com o objetivo

de se tornarem mais empreendedoras, competitivas, ágeis, com foco na criação de valor para o

cliente, buscando a maximização do desempenho e objetivando a manutenção do negócio.

2.2 A nova arquitetura organizacional: a empresa-rede

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A mais importante transformação subjacente ao surgimento da economia global

diz respeito à gestão da produção e distribuição e ao próprio processo produtivo. Os

segmentos dominantes da maioria dos setores econômicos (tanto bens quanto serviços) estão

organizados mundialmente em seus procedimentos operacionais reais, formando “a rede

global”. O processo produtivo incorpora componentes produzidos em vários locais diferentes,

por diferentes empresas e montados para atingir finalidades e mercados específicos, em uma

nova forma de produção e de comercialização: produção em grande volume, flexível e sob

encomenda. Assim, para que a empresa opere em uma geometria de produção e distribuição

tão variável, há necessidade de uma forma flexível de gerenciamento (CASTELLS, 1999).

A evolução mostra o surgimento de um novo modelo de divisão internacional do

trabalho, característico da economia global, organizado em quatro posições diferentes na

economia informacional/global: produtores de alto valor com base no trabalho informacional;

produtores de grande volume baseado no trabalho de mais baixo custo; produtores de

matérias-primas que se baseiam em recursos naturais; e os produtores redundantes reduzidos

ao trabalho desvalorizado. A posição da divisão internacional do trabalho não depende,

fundamentalmente, das particularidades do país, mas das características de sua mão-de-obra

(inclusive dos conhecimentos incorporados) e de sua inserção na economia global

(CASTELLS, 2005).

A reestruturação econômica dos anos 80 induziu várias estratégias de

reorganização nas empresas. A primeira e mais abrangente tendência é a transição da

produção de massa para a produção flexível, ou do “fordismo” ao “pós-fordismo”. A segunda,

enfatizada pelos analistas nos últimos anos, é a crise da grande empresa e a flexibilidade das

pequenas e médias empresas como agentes de inovação e fontes de criação de empregos

(CASTELLS, 1999).

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Dentro desse contexto, as empresas de pequeno e médio porte parecem ser formas

de organização bem adaptadas ao sistema produtivo flexível da economia informacional. O

seu renovado dinamismo surge sob o controle das grandes empresas, que permanecem no

centro da estrutura do poder econômico na economia global. O modelo corporativo

tradicional baseado na integração vertical e na gestão funcional hierárquico vem dando espaço

aos novos arranjos organizacionais. A organização de empresas em rede apresenta mais

flexibilidade e agilidade diante da necessidade de respostas rápidas do mercado fornecidas

pela descentralização de suas unidades juntamente com a crescente autonomia outorgada a

cada uma delas. Dessa forma, a colaboração e a interconexão oferecem a possibilidade de

partilhar custos, riscos e informações (DUPAS, 2001).

Contribuindo para ampliar o entendimento do conceito de flexibilização, Murphi

(1996) comenta que o termo está relacionado com organizações, pessoas, contratos e vida no

trabalho.

a) Organizações flexíveis – possuem habilidade para responder rapidamente às

oportunidades e aos desafios do mercado.

b) Pessoas mais flexíveis – são trabalhadores com múltiplas ou variadas

habilidades e mais flexibilidade sobre as tarefas. Essas características podem

adicionar valor ao empregado e aumentar sua qualidade ou nível de

produtividade e provavelmente sua futura empregabilidade dentro da

organização ou fora dela.

c) Contratos flexíveis – são realizados entre empregado e empregador, sem ou

com menos interveniência de órgãos reguladores, sindicatos/governos.

d) Flexibilidade da vida no trabalho – pessoas que se aposentam cedo ou na meia-

idade e começam a desenvolver novas carreiras ou atividades.

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Tenório (2000) argumenta que esse novo modelo de gestão da produção tem como

objetivo superar a produção de massa por uma produção diversificada – elasticidade e

integração dos processos produtivos – e superar a produção centrada no trabalhador

especializado por um trabalhador multifuncional polivalente, versátil e em interação como o

processo produtivo.

Uma terceira evolução diz respeito a novos métodos de gerenciamento – sistema just-in-

time (produção ou compra do produto no momento exato em que é necessário). Nesse

modelo, a estabilidade e complementariedade das relações entre a empresa principal e a rede

de fornecedores são extremamente importantes. O que se torna importante é a desintegração

vertical da produção em uma rede de empresas, processo que substitui a integração vertical de

departamentos dentro da mesma estrutura empresarial. A rede permite mais diferenciação dos

componentes de trabalho e capital da unidade de produção (CASTELLS, 1999).

2.2.1 Organizações em rede

A gênese das redes de empresas remonta ao século XVIII. As regiões de Lyon na

França e Birminghan na Inglaterra, antes de se tornarem zonas de grandes indústrias (modelo

fordista), foram distritos industriais (pré-fordismo).

Uma multidão de pequenas unidades produtivas artesanais criou naquelas regiõesuma tradição savoir-faire a partir de uma intensa circulação de informações sobreas especializações em emergência (tecelagem/têxtil, ferramentas/pequenamecânica, serralheria/siderurgia, etc.) A grande indústria que se tornará tayloristanão nasceu de uma geração espontânea. Na origem, os ganhos de produtividadeforam obtidos pelos efeitos da proximidade e da propagação de um savoir-faire,criando uma população de profissionais (GILLY; PECQUER, 1995, p.309.Tradução livre do autor).

Adam Smith, em 1776, publicava a “Riqueza das Nações – Investigação sobre

suas naturezas e suas causas”, no qual afirmava que o principal fator de crescimento da

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produtividade era a especialização do trabalho. Sem saber, Smith fazia referências a conceitos

atuais, como resultados por projetos, redes de subcontratação, joint-ventures7

e alianças estratégicas, que atualmente são necessários devido a especificidades de mercados.

Assim, o conceito de redes representa o fim do isolacionismo das organizações e suscita

mudanças, seja na forma de estrutura organizacional, no estilo de gestão ou na forma de

organização das relações entre as empresas (VILELLA, 2005).

Os elementos estruturantes de uma rede, segundo Britto (2002), são os nós

(organizações ou atividades), as ligações (relacionamento entre organizações), os fluxos (de

bens e informações) e as posições (estrutura de divisão do trabalho). A forma com que se

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cooperação; redes formais – a dimensão contratual; e redes informais – a dimensão da

conivência.

Já para Candido e Abreu (2000), as redes envolvem amplo processo de atividades

conjuntas, podendo ter grande conjunto de variações e aplicações no contexto organizacional,

desde as redes flexíveis de pequenas e médias empresas, as redes top-down9, redes de

relacionamento, de informação, de pesquisa e de inovação envolvendo empresas de diversos

tamanhos e que atuem em diversos segmentos econômicos.

Embora exista um esforço em concentrar todas essas possibilidades, a ampla

diversidade de tipologias de arranjos, permitem destacar outros tipos de estruturas de rede,

segundo Britto (2002):

a) Alianças estratégicas entre empresas e outras formas de cooperação produtiva e

tecnológica.

b) Programas de cooperação específicos, envolvendo agentes com competências

em áreas distintas.

c) Processos de subcontratação e terceirização realizados por empresas

especializadas em determinadas atividades.

d) Sistemas flexíveis de produção baseados em relação estáveis e cooperativas.

e) Distritos industriais baseados na aglomeração espacial de empresas e outras

instituições.

f) Sistemas nacionais ou regionais de inovação como: empresas, universidades,

outras instituições.

O conceito de redes é amplamente utilizado nos últimos anos e, algumas vezes, em

situações aparentemente contraditórias (PECI, 1999). Todas as organizações se situam em

redes sociais e devem ser analisadas como tais. Uma rede social tem a ver com um conjunto

9 De cima para baixo.

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de pessoas e de organizações ligadas por um conjunto de relações sociais de um tipo

específico (exemplo: amizade, transferência de fundos). O ambiente operacional de uma

organização também pode ser visto como uma rede de organizações, de fornecedores,

distribuidores, agências reguladoras e outras organizações. Alguns autores10 ressaltam a

importância das relações estabelecidas numa rede de organizações, sendo que as ações,

atitudes e comportamentos dos atores de uma organização são explicados em termos da sua

posição nessa rede. Entretanto, as próprias redes não são imutáveis. Elas se encontram em

processo de contínua mudança e podem ser construídas, reproduzidas e alteradas como

resultado das ações dos atores que a compõem (PECI, 1999).

O uso do termo rede é uma metáfora que traduz os novos tempos e a necessidade

de refinar as relações entre as empresas, buscando-se a interdependência harmonizada

mediante regras e objetivos comuns. Para Nadler, Gerstein e Shaw (1993), o ambiente cada

vez mais complexo e o ritmo acelerado dos novos conhecimentos são forças que tornam

obsoletas as soluções tradicionais da burocracia mecânica e da empresa simples. As atividades

mudam mais depressa do que a capacidade de adaptação dessas organizações, tornando as

soluções tradicionais menos eficientes.

Assim, essas organizações são levadas na direção do que é chamado “organização

em rede”. A FIG. 1 mostra os fatores na tendência para esse novo paradigma de organização.

10 Os conceitos utilizados são adaptados de Castells (1996).

29

RITMO DA MUDANÇA

BUROCRACIA MECÂNICA

ORGANIZAÇÃO EM REDE

EMPRESA SIMPLES

LENTO RÁPIDO

BAIXO

ALTO

CO

MPLEX

IDA

DE

AM

BIE

NTA

L

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FIGURA 1 - Fatores na tendência para organização em rede.Fonte: Nadler, Gerstein e Shaw (1993).

As redes organizacionais nascem em conseqüência da coexistência de vários

fatores, conforme referenciam Nadler, Gerstein e Shaw (1993) e Peci (1999). Em primeiro

lugar, elas surgem como resposta às drásticas mudanças ambientais que fazem crescer a

necessidade de interdependência. A organização em larga escala integrada verticalmente ou a

empresa pequena isolada não conseguem sobreviver nesse ambiente altamente mutável e a

rede apresenta-se como alternativa viável. A empresa hierarquizada e integrada verticalmente

que, por vários anos, caracterizou o modo de produção e gestão fordista está se mostrando

cada vez menos adequada ao ambiente contemporâneo de negócios, o qual passa a ser

dependente da capacidade de mobilização dos diversos parceiros para a conclusão dos seus

projetos, ou seja, da estrutura em rede (VILELLA, 2005).

Candido e Abreu (2000) corroboram essa perspectiva, afirmando que a aplicação

dos conceitos de redes no atual ambiente de negócios decorre primeiramente do constante e

crescente aumento da concorrência e competitividade empresarial e do fato de que as

empresas atuando de forma isolada não terão condições de obter as devidas condições de

sobrevivência e desenvolvimento. Deve-se também considerar que o desenvolvimento

contínuo das novas tecnologias de informação e comunicação tornou-se elemento chave de

sustentação para o funcionamento das redes, segundo Peci (1999).

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Villela (2005) complementa listando alguns motivos pelos quais as organizações

se estruturam em redes: complementaridade e compatibilidade, grau de integração, ganhos

relacionados ao progresso técnico, formação de infra-estrutura, aumento de poder de

barganha, redução do custo operacional, entre outros.

Subjacente ao conceito de rede está implícita a possibilidade de se obter vantagem

competitiva por meio da forma de organização dos recursos. Nesse sentido, Nadler, Gerstein e

Shaw (1993, p. 31) afirmam: "o que se tornou claro é que a arquitetura organizacional pode

ser uma fonte de vantagem competitiva, na medida em que motiva, facilita ou capacita as

pessoas e os grupos a interagir com mais eficiência com os clientes, o trabalho e entre si".

A partir da arquitetura organizacional concebida no foco da abordagem integrada,

segundo esses autores, garante-se, primordialmente:

a) visão da horizontalidade da dinâmica organizacional;

b) consideração da identidade estratégica como referência básica de todas as

atividades do negócio;

c) clara identificação da integração necessária dos principais grupos de atividades

a serem desenvolvidas;

d) adequada caracterização e consideração do cliente, do acionista e dos resultados

empresariais desejados;

e) clarificação da dinâmica de atuação dos papéis organizacionais à luz da visão

integrada de processos para cada uma das posições-chave;

f) adequação da estrutura às características de complementaridade do patrimônio

humano disponível.

Em face da necessidade de se reorganizarem, optando por formatos mais flexíveis,

as empresas se deparam com grandes desafios. Entre eles, destaca-se a capacidade de

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transcender fronteiras convencionais, ou seja, de atuar num contexto em que não é mais

possível estabelecer com absoluta clareza as fronteiras da organização (LIPNACK; STAMPS,

1994). Ashkensas et al. (199511 apud CALDAS; WOOD JR., 1997) salientam que as

fronteiras organizacionais têm sido quebradas em quatro direções:

a) vertical – com hierarquias enfraquecidas;

b) horizontal – focalizando processos que atravessam toda a organização;

c) externo – na aproximação com fornecedores e clientes;

d) geográfico – com a expansão mundial dos negócios.

Assim, a estratégia de formação de redes como resposta aos novos desafios do

ambiente de negócios mais competitivo parece ser mais adequada à intensificação da

globalização, por sua capacidade de criar um jogo de equipe com mais participação dos

diversos níveis, assegurando inovações mais rápidas em toda a cadeia produtiva, menores

riscos e mais baixos custos de reestruturação diante da necessidade de mudanças

(FERNANDES, 2003).

Pressionadas por esse ambiente, as empresas passam a funcionar como uma rede

de recursos muito mais diversificada e freqüentemente com fronteiras menos perceptíveis. Os

negócios começam a ser feitos por um conjunto de empresas, somam-se recursos e fazem-se

intercâmbios técnicos e complementares sem que as empresas, contudo, percam sua

independência (FERNANDES, 2003). Esse conjunto de empresas independentes, a maioria de

função única, é conhecido como organizações em rede (MILES; SNOW, 1986). Castells

(2005) complementa esta abordagem apresentando as sete tendências principais da empresa

em rede:

a) organização em torno do processo em detrimento da tarefa;

11 ASHKENSAS, R. et al. The boundaryless organization: breaking the chains of organizational structure. SanFrancisco: Jossey-Bass, 1995.

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b) hierarquia horizontal;

c) gerenciamento em equipe;

d) medida do desempenho focada na satisfação do cliente;

e) recompensa com base no desempenho da equipe;

f) aproximação da relação do fornecedor e cliente;

g) foco em informação, treinamento e retreinamento.

Assim, a rede pode ser concebida como um conjunto de unidades interconectadas.

No sentido social mais amplo, Castells (1999) conceitua redes como estruturas abertas

capazes de se expandirem de forma ilimitada, conectando novas unidades e que comuniquem

entre si, isto é, que compartilhem os mesmos códigos de comunicação, por exemplo, valores

ou objetivos de desempenho. Por esse prisma, os princípios fundamentais da aplicação dos

conceitos de redes são: sincronização, integração, interatividade, compartilhamento,

reciprocidade e complementaridade.

As condições para o sucesso da atuação em rede estão relacionadas a aspectos

subjetivos, como a motivação e o comportamento dos atores envolvidos no processo. Um

fator determinante é o engajamento voluntário dos atores nas atividades que lhes são

designadas, assim como sua forma de integração no grupo. Sem o devido engajamento e

participação, inexiste adaptação aos novos modos de produção necessária ao trabalho

sinérgico. Os sistemas de informação e de controle, mais do que em outro tipo de estrutura,

devem ser transparentes e fluídos (DÉTRIE apud VILLELA, 2005). Além disso, o elo que

mantém a rede unida é o espírito de cooperação. Se essa força, por algum motivo, ceder à

competição entre os participantes da rede, pode assistir-se ao desmantelamento dessa

arquitetura e até à sua ruptura. Esse delicado equilíbrio certamente é uma construção

complexa a ser feita e está longe de ser simples (FERNANDES, 2003).

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FIGURA 2 - Transformação das empresas.Fonte: Tapscott (1997).

Diante do exposto, observa-se que as transformações impactam as sociedades em

todos seus espectros. Porém, são as relações sociais e as relações de trabalho as mais afetadas

no âmbito das sociedades desenvolvidas. Em termos organizacionais, as empresas vêm se

reestruturando com vistas a mais flexibilidade combinada às novas tecnologias e novas

formas de gestão. Uma dessas formas de reestruturação é por meio de terceirizações.

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2.3 Terceirização

A estratégia de contratar serviços de terceiros surgiu nos Estados Unidos, antes da

II Guerra Mundial, com o desenvolvimento acelerado da indústria. No Brasil, a rotina da

terceirização foi introduzida pelas fábricas multinacionais de automóveis. No âmbito das

relações empresariais, o costume de contratar serviços de terceiros é antigo. Nova é a palavra

terceirização, assim como novidade é a intensidade com que o fenômeno vem se ampliando

(GIOSA, 1997).

Segundo Rezende (1997), a crescente burocratização das organizações, com o

crescimento desmensurado das atividades de apoio, a diminuição dos níveis hierárquicos e a

necessidade de fazer caixa para manter as atividades principais podem ser consideradas

aspectos conjunturais alanvacadores da terceirização.

A terceirização surge como forma criativa de buscar mais flexibilidade nas

relações de trabalho frente à realidade do mercado de trabalho. Essas soluções devem ser, sob

o ponto de vista patronal, competitivas em termos de custos e qualificação de pessoal,

enquanto que sob a ótica dos trabalhadores devem aumentar as oportunidades de emprego e

propiciar condições adequadas de trabalho e remuneração (REISDORFER, 2000).

Algumas empresas, principalmente as grandes indústrias, já descobriram as

vantagens de se adotar a contratação de terceiros. Seu princípio é que tudo que não constitui

atividade essencial para um negócio pode ser confiado a terceiros (LEIRIA, 1993).

Na visão de Valença e Barbosa (2002), a terceirização está sendo utilizada como

estratégia de gestão, como opção de modernização e posicionamento competitivo no contexto

atual e como forma de adequação às necessidades do mercado.

Para tanto, a empresa deverá concentrar-se no seu produto estratégico, naquilo que

é capaz de fazer melhor, com competitividade e mais produtividade, deixando as tarefas

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secundárias e auxiliares a serem realizadas por empresas que se especializaram de maneira

mais racional e com menor custo (FARIA, 1994).

Esse conceito é compartilhado por Oliveira e Santos (2000), que afirmam que a

terceirização é vista como uma estratégia empresarial que permite à empresa concentrar

esforços e inteligência nas atividades-fim, deixando as atividades-meio a cargo de parceiros

especializados que melhor exerçam suas funções e traduzam melhores resultados com ganhos

efetivos para as duas partes. Os autores (p.1) mencionam que “as empresas têm recorrido à

terceirização com o intuito de aumentar a produtividade e a competitividade no mercado”.

Geralmente, as empresas optam pela terceirização a partir de três propósitos

básicos: a diluição dos custos diretos e indiretos; a elevação do nível de eficiência de

atividade, pela sua execução terceirizada; e a manutenção de um nível mínimo aceitável de

lealdade à empresa, por parte dos novos executores da atividade terceirizada (VALENÇA;

BARBOSA, 2002). Assim, a terceirização ganha importância em um momento em que as

empresas precisam racionalizar recursos, redefinir suas operações, funcionar com estruturas

mais enxutas e flexíveis (SÁ et al., 1997).

Para fazer frente às mudanças de mercado, as empresas produtivas têm buscado

enxugar suas estruturas de modo a tornarem-se mais eficazes e eficientes, para atingirem seus

objetivos (ALMEIDA; SILVA, 1997). Isto tem levado a busca por mais qualidade e

produtividade, promovendo um processo de escolha de profissionais mais preparados e

adequados às exigências globais. Essa necessidade vem ao encontro das novas formas de

gestão, entre elas a formação de redes organizacionais que permitem às empresas

concentrarem-se em suas atividades-fim, deixando para outras a execução de atividades

anteriormente exercidas internamente. Assim, a terceirização pode ser entendida como a

prática de comprar externamente produtos e serviços necessários ao processo produtivo

(COSTA, 1994).

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Salerno (1995) ressalta que a empresa tende a terceirizar a partir de três processos

não excludentes:

a) terceirização da atividade produtiva – a empresa, ao comprar determinados

produtos e serviços de fornecedores, deixa de produzi-los;

b) terceirização de atividades de apoio – contratam-se empresas para

fornecimento de serviços como limpeza, manutenção, restaurante, entre outros;

c) subcontratação – sublocam-se pessoas, via agências, para atuarem em

atividades diretas da contratante, mas com vínculo junto à contratada.

O processo de terceirização caracteriza-se por uma eficiente prática de

flexibilidade organizacional na busca da especialização e racionalização dos recursos. Um dos

principais motivadores do interesse pela terceirização, conforme Segala (1994, p.32), “foi a

redução de custos, num momento de mercado marcado pela competitividade aguçada.” A

incorporação de know-how12 também é um dos motivos alegados por muitas empresas. Na

verdade, pode-se dizer que a terceirização combina objetivos econômicos (redução de custos)

e objetivos organizacionais (aumento de flexibilidade), buscando qualidade, produtividade e,

conseqüentemente, competitividade.

Pagnoncelli (1997) complementa afirmando que a necessidade de aumentar

vantagens competitivas, melhorar a produtividade e reduzir custos tem levado as empresas a

considerarem o relacionamento com os seus funcionários, clientes e fornecedores como uma

estratégia para atingir tais objetivos.

Segundo Barbosa e Valença (2002), Bernstorff (1999) e Bicudo (2003), as novas

técnicas de relacionamento e de terceirização têm sido muito utilizadas pelas empresas, tanto

no Brasil como no exterior, nos últimos anos.

12 Saber como fazer.

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Um exemplo moderno que vem sendo bastante utilizado por alguns países são as

offshore companies13, entidades situadas no exterior, sujeitas a um regime legal diferente,

“extraterritorial” em relação ao país de domicílio de seus associados. Associado ao formato de

outsourcing, a companhia offshore pode contratar os serviços de um profissional fora do país

no qual ele normalmente reside e os honorários ganhos podem ser pagos e acumulados no

exterior, livres de impostos. Países como Índia e Filipinas estão sendo escolhidos para abrigar

o outsourcing dos Estados Unidos, call center14 que atendem clientes americanos (POLAK,

2005).

Pressionados a reduzir custos, empresas ao adotarem essa alternativa vêm se

deparando com desafios e dificuldades no que se refere à gestão e controle desse

relacionamento. Como forma de minimizar possíveis impactos, um planejamento bem feito

vem sendo realizado anteriormente à decisão de se utilizar o offshore. A fim de suportar esse

planejamento, quatro etapas são sugeridas por Polak e Charugundla (2005).

a) Gestão executiva – avaliar e analisar a legislação local, definindo o que e onde

implantar o outsourcing.

b) Gestão da informação – definir como será o armazenamento e gestão dos dados

e informação.

c) Gestão dos chamados – definir parâmetros quanto ao tráfego e volume de

chamadas.

d) Monitoração e controle – qualidade dos sistemas, ferramentas e conteúdo das

informações.

13 Empresas que compartilham parte da operação fora do país de origem.1

14 Central de atendimento.

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Na visão de Alvarez (1996), a terceirização de serviços tem sido uma das

ferramentas para que as empresas enfrentem essa concorrência com competitividade, podendo

ser encarada não como modismo, mas como um novo conceito de relacionamento comercial.

Nas economias contemporâneas, o sistema outsourcing, ou seja, “especialização

flexível”, termo empregado nos Estados Unidos e Europa para definir terceirização, vem se

associar aos novos modelos e técnicas de gestão participativa que primam pela “focalização”

nas atividades estratégicas da empresa e pela sua reestruturação organizacional, na busca da

redução de custos, eficiência produtiva e flexibilidade gerencial. Dessa forma, todo esse

processo requer mudanças na cultura, na mentalidade e no comportamento das partes

envolvidas para o alcance do objetivo proposto (COSTA, 1994).

Rezende (1997) concorda que a contratação de terceiros melhora a

competitividade da organização, amplia significativamente a flexibilidade técnica e

econômica e possibilita o estabelecimento de parcerias. O autor descreve alguns fatores

estruturais alavancadores do processo de terceirização:

a) pagamento do bem ou serviço quando de sua efetiva utilização;

b) cálculo econômico – ocupação apenas dos segmentos mais rentáveis dentro da

cadeia produtiva;

c) benefício dos ganhos da especialização;

d) exploração das competências centrais;

e) flexibilização da produção;

f) transformação e integração de atividades ao mercado;

g) necessidade de intensificar o uso de ativos.

Contudo, é preciso lembrar que esse mesmo processo acaba sendo deflagrador de

uma extensa gama de riscos e conflitos relativos a: dependência dos fornecedores, eventuais

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perdas estratégicas, perda da qualidade dos produtos e serviços, perda de comprometimento,

problemas de padronização, controle e gestão, bem como o risco de substituir a relação de

reciprocidade afetiva entre empregado e empregador por uma relação exclusivamente

contratual, afetando questões relacionadas à fidelidade, confiança e produtividade

(FERNANDES et al., 2001; OLIVEIRA, 1994; REZENDE, 1997).

Outros estudos demonstram situações contraditórias em terceirizações que não

atingiram seus objetivos no que se refere à qualidade nos serviços e produtos, tampouco na

redução dos custos. O descontentamento dos trabalhadores, quando da terceirização por

empresas de trabalhos temporários, situa-se principalmente em dois pontos: baixa

remuneração e reduzidas garantias sociais (REISDORFERI, 2000).

Do ponto de vista das relações de trabalho, a flexibilização tem acarretado a

precarização acentuada das condições de trabalho, fazendo com que profissionais nos diversos

tipos de vínculos contratuais acabem aceitando salários, garantias e benefícios inferiores, com

ausência, muitas vezes, de formalização contratual. A aceitação dessas condições adversas

pode, por sua vez, ser mal interpretada por gestores quando confundidas com

“comprometimento” por parte dos trabalhadores. Daí ressalta-se a dificuldade que esse quadro

representa para o estabelecimento de um clima de confiança entre gestores e trabalhadores

(DEDECCA, 1997; OFFE, 1997; TENÓRIO, 2000).

Na análise de Novelli (2002) e destacado também no trabalho de Fernandes

(2003), além da vulnerabilidade do emprego, tem-se a impressão de que a empresa exige

adesão dos empregados sem cumprir integralmente a parte que lhe cabe nesse pacto. A falta

de investimento em capacitação e desenvolvimento; a ausência de transparência e clareza nas

expectativas de desempenho e a falta de acompanhamento e orientação ao trabalhador

reforçam essa observação.

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Complementando tais colocações, Costa (1994) cita que entre os aspectos mais

significativos que dificultam a terceirização podem-se destacar: dificuldade de integração das

culturas do contratante e do fornecedor; risco na escolha dos parceiros (negligência e

incapacitação, inexperiência); risco da não conformidade do produto ou serviço (qualidade);

não cumprimento das cláusulas contratuais como acordadas; risco de desemprego e não

absorção da mão-de-obra na mesma proporção; reclames jurídico-trabalhistas; e confronto

sindical.

Concordando com esses aspectos, Valença e Barbosa (2002), em pesquisa

realizada em grandes organizações de Minas Gerais, constataram a presença de diversos

problemas decorrentes do processo de terceirização:

a) insatisfação na prestação do serviço pelos terceiros;

b) relacionamento deficiente entre os terceiros e os funcionários efetivos da

empresa;

c) distanciamento entre as necessidades e expectativas da empresa daquilo que

tem sido oferecido pelos terceiros;

d) dificuldade em estabelecer relação de parceria com os terceiros;

e) gasto de muito tempo e energia na gestão da rede de fornecedores e serviços

terceirizados;

f) menos capacidade técnica dos terceiros;

g) choque cultural entre os terceiros e funcionários que já trabalham na empresa;

h) relacionamento ruim entre os funcionários da empresa e os terceiros.

Quanto mais as atividades terceirizadas estiverem ligadas ao negócio da empresa,

mais devem estabelecer relações de parceria de modo a garantir a qualidade dos resultados.

Entre os objetivos da terceirização, encontram-se: mais flexibilidade administrativa, incluindo

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a flexibilização do contrato de trabalho, redução dos custos, mais possibilidade de controle de

gestão da atividade-fim e transferência da gestão de parte da força de trabalho a terceiros

(CARVALHO NETO, 2001).

Nesse cenário, as diversas formas de terceirização e quarteirização começaram a

ser otimizadas como saídas pertinentes para enfrentamento das mudanças em curso

(VALENÇA; RODRIGUES DA SILVA, 1997). Intensificaram-se a contratação de empresas

prestadoras de serviço e a concentração das empresas centrais em suas atividades principais.

Procurou-se, assim, reduzir a dimensão das organizações (downsizing) e aumentar sua

capacidade competitiva, focando suas competências distintivas (core business, em nova

arquitetura que gera interfaces ao longo da cadeia produtiva.

Apesar dos desafios, riscos e conflitos enfrentados pelas empresas, a realidade

traduz que as organizações, no caso brasileiro, têm ampliado os processos de terceirização

como estratégia principal de economia de custos. Assim, na adoção dessa prática, torna-se

necessário estabelecer e gerenciar esse relacionamento próximo de operação dos processos

que ocorrem em várias empresas (HAGEL III, 2003).

2.3.1 Gestão da terceirização

O compartilhamento de ativos, com o conseqüente crescimento alavancado, vai

além de um simples relacionamento entre comprador e vendedor. Implica a mobilização

coordenada de recursos fornecidos por muitas empresas e que funcionam em vários níveis da

cadeia de valor. Na última década, o sistema tradicional de terceirização evoluiu para um

modelo mais estratégico, no qual a empresa terceiriza várias atividades, exceto aquelas

específicas que lhe podem gerar vantagem competitiva (FRANCESCHINI et al, 2004).

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Investimentos específicos do fornecedor

alto

Reforçando essa idéia, pesquisa desenvolvida por Bensaou (1999) revela que o

sucesso da gestão de terceiros requer efetivo gerenciamento de um amplo portfólio de

relações entre os envolvidos – empresa central (designada pelo autor como compradores) e

terceirizadas (fornecedores), conforme apresentado no QUADRO 1.

Comprador cativoCaracterísticas do produto

• Tecnologia moderna e complexa• Pouca inovação

Características do mercado• Demanda estável com crescimento

limitado• Mercado concentrado

Características do fornecedor• Propriedade da tecnologia • Poucos fornecedores fortemente

estabilizados• Forte poder de barganha

Parceiro estratégicoCaracterísticas do produto

• Alto nível de customização, próximo àcore competence do comprador

• Baseado em nova tecnologia.Investimento de capital

Características do mercado• Forte demanda, mercado competitivo e

concentradoCaracterísticas do fornecedor

• Fornecedores de multiprodutos• Proprietário forte de tecnologia• Ativo em pesquisa e inovação

Market exchange

Características do produto• Tecnologia madura, simples, pouca

inovação e mudança• Pouca customização• Pouco investimento de capital

Características do mercado• Demanda estável ou declinante• Alta competitividade• Muitos fornecedores capazes

Características do fornecedor• Não proprietários da tecnologia• Baixo custo de transação• Pouco poder de barganha

Fornecedor cativoCaracterísticas do produto

• Tecnicamente complexo• Nova tecnologia (desenvolvimento

próprio)• Forte investimento de capital

Características do mercado• Mercado de grande crescimento,

competitivo• Poucos fornecedores qualificados

Características do fornecedor• Forte proprietária de tecnologia• Alto investimento em P&D• Forte dependência do comprador e

confiança no trato econômico

baixo Investimentos específicos do fornecedor alto

Fonte: Adaptado de Bensaou (1999).

Segundo o autor, nem todos os processos de terceirização implicam parcerias,

necessariamente e conforme se pressupõe. Existem condições específicas que justificam esse

investimento. Dependendo dos fatores-chave, como: a) o produto fornecido e sua tecnologia;

b) as condições competitivas do mercado; e c) as capacidades disponíveis dos fornecedores,

pode-se estabelecer um portfólio de relacionamentos, que vão desde a relação de troca ou

prestação de serviço à relação de parceria estratégica. Assim, as empresas devem combinar o

tipo ideal de relacionamento para os vários produtos, mercado e condições dos fornecedores e

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Quadro 1 - Portfólio de relacionamentos entre empresa central e fornecedoras

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adotar a forma apropriada de gestão para cada tipo. O fracasso da terceirização pode ser

resultado de uma decisão errada no design do tipo de parceria ou em sua gestão.

Ainda segundo o autor, para definir-se o tipo de relacionamento específico com o

fornecedor, três pontos deverão ser analisados:

a) o tipo de relacionamento deverá estar adaptado às condições do mercado,

tecnologia e competitividade do produto;

b) adoção do estilo de gestão para cada tipo de projeto;

c) a capacidade dos fornecedores disponíveis.

Torna-se importante definir-se a alternativa apropriada para conduzir diferentes

tipos de relacionamento, o que garantirá a longevidade do negócio traduzida por vantagem

competitiva. Mercados agressivos e em crescimento, com alto grau de inovação e freqüente

mudança da tecnologia exigem elevado investimento no relacionamento, com elevado grau de

cooperação mútua e estabelecimento de relacionamento de longo prazo. O modelo estratégico

de terceirização, adotado por grande número de organizações, tem demandado do comprador

e fornecedor estilo de relacionamento no formato de parceria estratégica. Nesse estágio, tanto

comprador quanto fornecedor são exigidos a investir alto no relacionamento, cultivando

reciprocidade no comprometimento, com alto nível de confiança e compartilhamento de

informações.

Na modalidade comprador cativo, a tecnologia é complexa, porém bem conhecida.

O processo possui poucas características de inovação e reduzida melhoria do produto. Os

fornecedores possuem forte poder de barganha. A demanda é estável, com limitado

crescimento do mercado. O mercado está concentrado em poucos competidores estabilizados.

Na modalidade mercado de troca, os produtos são altamente padronizados. A

tecnologia requerida é madura, com reduzido grau de inovação. O investimento e expertise

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requeridos pela engenharia são pequenos. O mercado possui demanda estável com ligeiro

declínio. Existem muitos fornecedores capacitados, traduzindo-se em baixo poder de

barganha. O relacionamento entre fornecedor e comprador não está pautado em confiança

mútua e cooperação.

Na modalidade fornecedor cativo, os produtos possuem tecnologia complexa, com

a existência de novas funcionalidades e inovação constante, requerendo alto grau de expertise

e investimento de capital. O mercado é instável e oferece poucos competidores qualificados.

A competição é feroz em um mercado com tendência de elevado crescimento. Os

fornecedores dominam e possuem tecnologia e investem em pesquisa e desenvolvimento.

Neste formato a troca de informações é reduzida.

Alguns critérios servem, ainda, para nortear as atividades a serem terceirizadas,

segundo Franceschini et al. (2004):

a) Habilidade técnica do contratado – capacidade de gerenciar a transição para o

novo sistema de organização.

b) Custo total de compra – soma da produção do fornecedor e dos custos de

gerenciamento.

c) Impacto sobre o usuário final – nível de interação entre o contratante e o

consumidor final.

d) Relação com o negócio principal – uma atividade a ser terceirizada é

considerada de maior importância quanto mais se aproximar do negócio

principal da empresa.

Critérios, modelos e estilos de relacionamento não apenas orientarão o gestor,

como também facilitarão a relação de parceria e confiança entre compradores e fornecedores.

Entretanto, não bastam sistemas e processos bem definidos. A habilidade do gestor em lidar

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com pessoas, em desenvolver o espírito de equipe, em fomentar o desenvolvimento

profissional, em fornecer feedback regular para os profissionais nos diversos vínculos

contratuais tornar-se-á fator chave para a gestão (FERNANDES, 2003).

As empresas terão, portanto, que desenvolver formas criativas de organização,

integrar seus diversos componentes e gerenciar os conflitos tanto no âmbito dos negócios, das

estratégias, de parceiros, quanto no que tange às relações e à gestão dos múltiplos vínculos

contratuais.

2.4 Gestão de múltiplos vínculos de trabalho

A tendência atual das empresas é adotar novas arquiteturas organizacionais, com a

flexibilização de suas estruturas, mediante parcerias e terceirização de atividades. Diante

dessas novas arquiteturas, vêm-se flexibilizando também os vínculos e contratos de trabalho

que, no passado, eram caracterizados por relações de empregos, com contratos regidos pela

Consolidação das leis trabalhistas (CLT) no Brasil.

Para Pettinger (1998), a flexibilização dos vínculos de trabalho é fruto da

combinação de diferentes contratos baseados na jornada de trabalho, na expertise do

contratado, na capacidade tecnológica da empresa e em aspectos específicos de determinadas

atividades empresariais, tornando-se possível melhor aproveitamento da força de trabalho.

Atualmente, utiliza-se a combinação de diferentes contratos, baseados na jornada

de trabalho, no conhecimento do contratado, na capacidade tecnológica da empresa e em

aspectos específicos de determinadas atividades empresariais, estabelecendo-se novas

relações de trabalho (CANÇADO et al., 2002).

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As novas formas de organização levam à alteração das relações de trabalho e à

adoção de contratos de trabalho flexíveis entre empregados e empregadores, ampliando a

presença de subcontratados e terceirizados (FERNANDES, 2003).

Handy (199616 apud SILVA; ANTUNES, 2002) caracteriza essas novas relações

de trabalho na sua conhecida “organização em trevo”, segundo a qual os gestores terão que

gerenciar três grupos distintos de pessoas. A primeira folha desse trevo representa o núcleo de

profissionais, técnicos e trabalhadores detentores de conhecimento. Esses profissionais devem

obter salários compatíveis, benefícios adicionais e incentivos necessários à sua manutenção,

além de uma carga horária ditada pela necessidade e não pelo contrato coletivo. A segunda

folha representa os consultores, os fornecedores de serviços e outros especialistas contratados

para trabalhar em projetos específicos, remunerados por tarefa ou pelos resultados. A terceira

folha representa os funcionários temporários e de meio-expediente, contratados para efetuar

trabalhos extras ou trabalhos de menor especialização. Embora, de forma embrionária, essas

três folhas tenham sempre existido, hoje a escala e o grau de complexidade são muito

maiores. No lugar de um único tipo de vínculo de trabalho, atualmente existem vários, cada

qual com responsabilidades, expectativas e situação contratual distintas, tanto dentro quanto

fora da empresa.

Assiste-se, assim, a uma tendência das grandes empresas a diminuir o trabalho em

regime integral, por tempo indeterminado, substituindo-o por trabalhadores sem ou com

encargos sociais reduzidos, dentro do chamado cost-free labor (trabalho com custo flexível),

tipo trabalhadores temporários, com jornadas em tempo parcial, teletrabalhadores, aprendizes

e estagiários. No plano internacional, o número de cost-free labor cresce mais que o de

trabalho em tempo integral, assim como o emprego part-time, caracterizado como o emprego

de jornada em tempo parcial, em média quatro a seis horas diárias, cinco ou seis vezes por

semana (CARVALHO NETO, 2001, p.55). Ou seja, os core workers, trabalhadores em tempo

16 HANDY, Charles. A era da irracionalidade. Lisboa: Ed: CETOPO, 1996.

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integral, com melhores salários, condições de trabalho e mais estabilidade no emprego,

considerados fundamentais pelas empresas, são em número cada vez mais reduzido.

Diversos tipos de vínculos contratuais podem ser estabelecidos com trabalhadores

de uma mesma empresa (QUADRO 2), que apresenta esses vínculos segundo a natureza do

contrato. O QUADRO 3 apresenta os vínculos segundo jornada e tempo de trabalho.

QUADRO 2

Tipos de vínculos segundo o contrato

Tipos de vínculos Conceituação

Terceirizados eQuarteirizados

Empregados de outras empresas que trabalham para a empresa-central, sob sua supervisãoindireta, sejam portadores de contratos mais ou menos formalizados – full time (jornadaem tempo integral, em média sete a oito horas diárias), part time ou flexitime (tempoparcial/flexível) – por tempo indeterminado ou determinado.

Subcontratados Terceirizados que atuam na empresa-central em regime full-time, part time ou flexitime,sob a supervisão direta do gestor dessa empresa-central, que define todos os termos docontrato individual.

Contratadosautônomos

Prestadores de serviços contratados como autônomos, free-lancers (profissional quetrabalha para diferentes empresas sem possuir vínculo com qualquer uma delas),consultores, mantendo relação individualizada com a empresa. Podem variar desde apoioadministrativo até especialistas utilizados para aumentar a performance organizacional,não sendo substitutos para expertise (conhecimento e experiência) regular, pois atuammais pontualmente.

Compartilhamen-to de tarefas

Quando um determinado posto de trabalho é dividido entre duas ou mais pessoas.

Teletrabalhador Existem diversas formas de teletrabalho, seja o empregado da própria empresa, autônomoou dono de uma micro-empresa, cujo trabalho pode ser full time, part time ou flexitime,nas seguintes condições:

� home-office (escritório em casa) – em tempo parcial ou integral, como empregado,autônomo, free-lancer, seja trabalhando distante do local de trabalho ou em casa, emtempo integral, para a empresa ou para vários clientes ou empregadores;

� pendular – alguns dias na residência e outros na sede da empresa;

� no escritório (de várias empresas ou da própria empresa) – que atendem empregadosque moram nas proximidades;

� em sistema de hotelagem – trabalhando em local a ser utilizado esporadicamente.

Fonte: Fernandes (2003, p. 48).

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QUADRO 3

Tipos de vínculos segundo a jornada e tempo de trabalho

Tipos de vínculos Conceituação

Trabalho por tempoindeterminado

Trabalho contratado sem tempo determinado para encerrar, mais comum emtrabalhadores full-time, podendo abranger profissionais contratados direta ouindiretamente pela empresa (CARVALHO NETO, 2001).

Trabalho por tempodeterminado

Trabalho contratado com período determinado para encerrar, com prazo de início efim das atividades, podendo abranger profissionais contratados direta ouindiretamente pela empresa (SILVA; ANTUNES, 2002).

Contrato por horasanuais

Contrato que estabelece entre o indivíduo e a organização o número de horastrabalhadas (MURPHI, 1996).

Trabalho full-time Contratado por tempo em geral indeterminado, na maioria das vezes com todas asgarantias legais, melhores benefícios e condições de trabalho, incluindo saláriossuperiores. Há casos de contrato por tempo determinado (CARVALHO NETO,2001).

Trabalho part-time Contratado por tempo determinado ou indeterminado, trabalhando menos tempo doque o exigido em turno integral, geralmente com piores condições de salário etrabalho que os full-time (MURPHI, 1996).

Horário flexível Períodos compulsórios por dia, por determinados períodos ou, ainda, pordeterminados dias, permitindo que os empregados escolham o horário maisadequado, em que são mais produtivos (MILKOVICH; BOUDREAU, 2000);ROBBINS, 2002).

Trabalho por turno(Shiftworking)

Situação em que o trabalhador ou grupo de trabalhadores, tendo completado umajornada normal de trabalho, é substituído por outro(s) trabalhador(es) cobrindo todo operíodo de 24 horas (PETTINGER, 1998).

Continental shifts Quando o trabalho é realizado em determinados padrões de dias pré-estabelecidos,como quatro dias de trabalho e 1 de folga, ou três dias e duas de folga(MILKOVICH; BOUDREAU, 2000; PETTINGER, 1998; ROBBINS, 2002).

Twilight shifts Trabalho realizado entre 17:30h e 22:30h, propiciando conciliar interesses pessoais(PETTINGER, 1998).

Trabalho condensado Quando o trabalho é mais comprimido, em número menor de dias por semana –exemplo: 10 horas/dia por quatro dias, no lugar de 8 horas/dia por cinco dias(ROBBINS, 2002).

Hours to suit Quando as demandas do trabalho são conciliadas com a preferência de tempo dosempregados, mais livremente (PETTINGER, 1998).

FONTE: Fernandes (2003, p. 47).

A coexistência na empresa de empregados com tipos de contratos de trabalho

muito diferentes pode afetar os níveis de confiança dos trabalhadores na empresa e desta nos

trabalhadores. Diante das organizações flexíveis que contam com múltiplos vínculos

contratuais, aumentam-se as condições de vulnerabilidade dos trabalhadores (RODRIGUES,

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CUNHA, 2000). Contribuindo para essa reflexão, Novelli (2002) salienta que o ambiente de

trabalho vem desestimulando a confiança dos empregados, o que pode gerar a cultura de

“insegurança no trabalho”.

Fernandes et al. (2001) identificam como um dos maiores desafios para o gestor de

empresas de grande porte quanto aos recursos oriundos de múltiplos vínculos contratuais o

estabelecimento de um relacionamento de confiança m

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em empresas de grande porte do Brasil, no que se refere à gestão dos múltiplos vínculos de

trabalho (FERNANDES et al., 2001).

Essas discrepâncias em relação à remuneração encontram ressonância em outros

autores, como: Carvalho Neto (2001) Offe (1997), que alertam para a fragilização das

relações de trabalho a partir dos processos de flexibilização.

Diante de tantas variáveis a serem contornadas e gerenciadas, Pettinger (1998)

ressalta que as empresas e os gestores necessitam de adequada preparação para tratar de todos

esses aspectos nos diferentes vínculos contratuais.

Ulrich (1997) relata que, frente a esse cenário, novas habilidades são demandadas

do gestor:

a) capacidade de fortalecer a identidade da empresa;

b) capacidade de envolver os funcionários para atingimento dos objetivos

contratados;

c) capacidade de atuar de forma a favorecer a quebra das fronteiras

organizacionais;

d) capacidade para governar processos de mudança;

e) capacidade de envolver os funcionários na geração e manutenção de processos

de aprendizado contínuo, compartilhando com profissionais de múltiplos

vínculos.

Reforçando o que propõe Ulrich, os autores Useem e Harder (2000) apresentam quatro

competências que compõem a combinação de talentos, denominada liderança lateral. São

requeridos aos gestores que se vêem envolvidos em processos de terceirização:

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a) pensamento estratégico – saber distinguir o que é essencial, analisando de

forma criteriosa e estratégica o que representa vantagem competitiva e o que

poderá deixar a empresa vulnerável se terceirizada;

b) negociação – assegurar-se de que os serviços prestados pelos terceiros sejam

adequados e efetivos. Implica a escolha correta do fornecedor, buscando a

adesão interna dos envolvidos e traçando cenários futuros de forma a

resguardar a empresa mediante um bom contrato, tentando os melhores

acordos;

c) governança compartilhada - após a escolha das áreas apropriadas para a

terceirização, através de avaliação estratégica, torna-se necessária a

coordenação dos múltiplos vínculos contratuais;

d) gestão da mudança – determinação para identificar e imprimir as mudanças

necessárias, administrando a resistência dos funcionários.

Embora novos parâmetros de gestão sejam apresentados, empresas e gestores

ainda estão distantes de incorporarem os múltiplos vínculos de trabalho. A maioria dos

administradores ainda repete o mesmo padrão de gestão em vigor nas décadas anteriores,

onde a estabilidade da economia, combinada à força de trabalho tradicional e com dedicação

em tempo integral, era característica dominante (GONÇALVES, 1998).

Fernandes et al. (2001) identificam como um dos maiores desafios para o gestor de

empresas de grande porte em relação aos recursos oriundos de múltiplos vínculos contratuais,

o estabelecimento de um relacionamento de confiança mútua entre os empregados da empresa

central, terceirizados e os prestadores de serviço. Com isso, amplia-se a necessidade de

alternativas capazes de gerar confiança entre os empregados e a organização, restando ao

gestor o desafio de lidar com as diferenças e integrá-las.

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Também há que se considerar que os processos de comunicação constituem-se, por

sua vez, fator importante no engajamento desses recursos. Por meio da comunicação pode-se

alcançar a uniformidade e o entendimento dos valores e disseminação dos objetivos e metas

da organização (FERNANDES, 2003).

Sarsur et al. (2002) afirmam que a dificuldade de integração entre as culturas das

empresas centrais e terceirizadas e os prejuízos gerados à imagem da empresa e à agregação

de valor ao produto e serviço no longo prazo podem não estar sendo percebidos ou sendo

negligenciados.

Esse fato ratifica a necessidade de padronização dos serviços contratados entre

empresa central e terceirizados/prestadores de serviços, fazendo parte também do repertório

de desafios a serem enfrentados pelos gerentes, como observado na pesquisa desenvolvida por

Fernandes et al. (2001).

Bensaou (1999) e Carvalho Neto (2001) consideram que quanto mais próximas as

atividades terceirizadas estiverem do core business, maior a necessidade de estabelecerem-se

relações de parceria de modo a garantir a qualidade dos resultados.

Se, por um lado, empresas flexibilizam seus vínculos de trabalho para tornarem-se

mais competitivas mediante a focalização de sua atuação nas atividades que realmente

agregam valor, por outro lado, quando a motivação tem na redução imediata dos custos sua

única justificativa, pode-se incorrer em prejuízos empresariais nem sempre claros e visíveis

aos olhos do gestor, além de graves prejuízos sociais.

Riscos, dificuldades e desafios são mencionados por autores como Costa (1994),

Fernandes et al. (2001), Fernandes (2003) e Silva e Almeida (1997):

a) dificuldade em contar com equipe qualificada de terceiros, autônomos e

demais prestadores de serviço;

b) dificuldade em reter os trabalhadores que apresentam melhor desempenho;

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Em pesquisa realizada por Fernandes (2003) com a aplicação de questionário a

513 executivos de grandes empresas do Brasil, esses desafios e dificuldades foram

confirmados. Em todos os aspectos da gestão de pessoas pesquisadas verificou-se que os

terceirizados, autônomos e demais prestadores de serviço revelaram médias

significativamente inferiores às dos core workers. A gestão dos terceirizados denota estar

mais fragilizada no que tange à extensão das práticas de treinamento em comparação com os

empregados. Os dados da pesquisa indicam que as grandes empresas no Brasil estão ainda

distantes da equalização das práticas e políticas de gestão de pessoas entre core workers e

terceirizados.

Há de se evidenciar que houve, nos últimos quatro anos, evolução dos aspectos de

gestão de pessoas em múltiplos vínculos de trabalho, o que revela avanço nas políticas e

práticas de gestão de pessoas nas empresas brasileiras de grande porte, conforme referencia

Fernandes e Carvalho Neto (2004). Embora seja evidente o progresso de aspectos da gestão,

percebe-se que, em alguns aspectos fundamentais, aumentou-se a distância no tratamento

concedido aos terceirizados. Essa constatação denota atraso em pontos importantes de práticas

de gestão, como: recompensa monetária pelo atingimento de metas, comprometimento com os

resultados, autonomia para decidir e compartilhamento do aprendizado. Os autores desta

pesquisa concluem que as empresas pesquisadas ainda estão longe de se revelarem preparadas

para a gestão dos profissionais em múltiplos vínculos de trabalho.

Diante da complexidade da situação, motivada por maior competitividade, as

empresas caminham com forte tendência a ampliarem a adoção de modelos flexíveis, a

exemplo da terceirização, a fim de responderem com rapidez à velocidade das mudanças.

Assim, o gestor se vê desafiado a gerenciar questões contraditórias, adversas e até paradoxais

(CALDAS et al., 2001).

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No Brasil, historicamente, o relacionamento emocional, a camaradagem e a

informalidade estão associados a um sistema paternalista, assim como a segurança do vínculo

empregatício. Diante da flexibilização dos vínculos contratuais, questões relacionadas com

fidelidade e confiança são afetadas, pois de um parceiro se esperam impessoalidade e estrito

cumprimento de suas responsabilidades contratuais (FERNANDES, 2003).

É reservada aos gestores a responsabilidade pela obtenção de resultados por meio

de equipes diversificadas, composta de recursos de vínculos diferenciados e gerenciados por

diferentes práticas de gestão. Somado a isso, deve-se considerar o distanciamento dos gestores

em relação aos contratos firmados com esses parceiros, fragilidade nas relações e, muitas

vezes, desconhecimento do escopo de responsabilidade e conteúdo daquilo que foi contratado.

Esses desafios enriquecidos com tantas variáveis deverão ser conhecidos e compreendidos por

parte da empresa, com vista à maior compreensão do contexto e das implicações de todas as

variáveis no comportamento e desempenho dos diversos profissionais.

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3 METODOLOGIA

3.1 Tipo de pesquisa

O objetivo geral desta pesquisa é compreender os desafios de gestão das relações

com terceirizados na prestação de serviço em uma empresa do segmento de

telecomunicações, aqui denominada ficticiamente de Telmobile.

Para tanto, optou-se por desenvolver uma pesquisa explicativa, por meio de um

estudo de caso de caráter qualitativo, realizado em uma empresa do setor de serviços do

segmento de telecomunicação. A escolha dessa empresa deveu-se ao fato de ser

representativa do segmento de telecomunicação móvel e de possuir funcionários oriundos de

diferentes vínculos contratuais em seu quadro, o que permite uma rica análise do seu

processo de terceirização e dos desafios na gestão de múltiplos vínculos.

A pesquisa explicativa tem como preocupação central identificar os fatores que

determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Esse é o tipo de pesquisa

que mais aprofunda o conhecimento da realidade porque explica a razão, o porquê das coisas

(GIL, 1999). No estudo de caso, segundo Yin (2002), colocam-se questões do tipo “como” e

“por que”, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e quando o foco se

encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em alguma situação da vida real. Tais

estratégias são, portanto, indicadas para o estudo proposto.

3.2 Unidade de análise e observação

A unidade de análise consiste-se em uma empresa do setor de serviços do

segmento de telecomunicação, aqui com o nome fictício de Telmobile. A empresa foi

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escolhida pelo fato de abrigar em seu quadro diferentes vínculos de trabalho, entre eles o

terceirizado. Esses diferentes tipos de vínculo estão distribuídos conforme apresentado na

TAB. 1

TABELA 1

Composição do quadro de funcionários da Telmobile

Tipos de Vínculos Número de Funcionários

Efetivo 1175Terceiro 1711Temporário 69Subcontratados 198TOTAL 3153Fonte – Administração de pessoal da Telmobile (2005).

Os diferentes vínculos de trabalho são caracterizados como:

a) Efetivo: funcionário CLT com vínculo por tempo indeterminado com a

empresa central, geralmente em melhores condições de trabalho e melhores

salários (FERNANDES, 2003).

b) Terceiro: funcionário de outra empresa que trabalha para a empresa central por

tempo indeterminado, sob supervisão direta do gestor da empresa central

(SALERNO, 1995).

c) Temporário: funcionário com contrato de trabalho estabelecido entre empresa

central e contratado, com prazo de início e fim das atividades. Nesse caso, os

benefícios para os empregados, se existirem, são pré-determinados nos

contratos de trabalho (SILVA, 2001).

d) Subcontratado: funcionário sublocado, via agências, para atuar em atividades

diretas da contratante, mas com vínculo junto à contratada (SALERNO, 1995).

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A unidade de observação é constituída pelos gestores (gerentes e coordenadores)

que possuem funcionários de diferentes vínculos de trabalho ou têm responsabilidade de

gestão das relações com terceirizados na prestação de serviço na Telmobile, na unidade a ser

pesquisada. Para a escolha dessas áreas e gestores, foram consideradas áreas que estão

relacionadas diretamente com o core business, além da acessibilidade. Foram selecionadas as

seguintes: atendimento ao cliente; fidelização de cliente; retenção de cliente; gestão de

outsourcing, cobrança; rede; tecnologia da informação: área de projetos e área de produção,

vendas consumer: grandes redes, televendas-telemarketing, revendas, financeiro e suporte a

vendas. Os diferentes tipos de vínculos presentes nessas áreas são apresentados na TAB. 2:

TABELA 2

Distribuição dos múltiplos vínculos nas diversas áreas da Telmobile

Áreas

Tipos de Vínculos

Efetivo Terceiro Temporário Subcontratrato Total %

Suporte a vendas 68 85 1 33 187 4,96%

Financeiro 14 06 02 0 22 0,58%

Gestão de outsourcing 09 1500 0 0 1509 40,03%

Vendas consumer 202 1161 0 14 1377 36,53%

Atendimento ao cliente 94 64 64 0 222 5,89%

Fidelização de cliente 18 37 0 0 55 1,46%

Retenção de cliente 80 29 0 0 109 2,89%

Cobrança 51 13 0 0 64 1,70%

Rede 78 50 0 5 133 3,53%

Tecnologia da informação 33 54 0 5 92 2,44%

Total 647 2999 67 57 3770 100%

Fonte: Administração de pessoal Telmobile (2005).

O foco da pesquisa são 17 colaboradores que ocupam posição de gerência e

supervisão desses terceiros e prestadores de serviço.

3.3 Esquema da pesquisa

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Com base no referencial teórico, parte-se da questão central: como são gerenciadas

as relações com terceirizados na prestação serviço em uma empresa de telecomunicações?

Como fundamento para este estudo, considera-se como organização em rede um

conjunto de empresas – pessoa jurídica – reunidas para obter mais valor agregado aos produtos

e serviços, transpondo as fronteiras convencionais entre espaço físico, nicho de mercado e

limites estruturais. A rede caracteriza-se por mais flexibilidade administrativa que permite à

empresa utilizar, ao lado de sua força de trabalho permanente, um conjunto de profissionais

terceirizados em regime de contrato entre pessoas jurídicas, ou seja, entre empresas

(CÂNDIDO; ABREU, 2000; CASTELLS, 2005; LIPNACK; STAMPS, 1994; NADLER;

GERSTEIN; SHAW, 1993; PECI, 1999). São também consideradas algumas tendências

principais da empresa em rede, apontadas por Castells (1996, 1999) e Nadler, Gernstein e

Shaw (1993):

a) organização em torno do processo em detrimento da tarefa;

b) consideração da identidade estratégica como referência básica de todas as

atividades do negócio;

c) hierarquia horizontal com clara identificação da integração necessária dos

principais grupos de atividades a serem desenvolvidas;

d) gerenciamento em equipe; adequada caracterização e consideração do cliente,

do acionista e dos resultados empresariais desejados;

e) medida do desempenho focada na satisfação do cliente;

f) adequação da estrutura às características de complementaridade do patrimônio

humano disponível e recompensa com base no desempenho da equipe.

g) aproximação da relação do fornecedor e cliente;

h) foco em informação, treinamento e retreinamento.

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i) clarificação da dinâmica de atuação dos papéis organizacionais à luz da visão

integrada de processos, para cada uma das posições-chave.

A terceirização é aqui entendida como a prática de comprar externamente produtos

e serviços necessários ao processo produtivo, auxiliando as empresas a racionalizar recursos,

redefinir operações, funcionar com estruturas mais enxutas e flexíveis, conforme proposição

de Costa (1994). A terceirização é vista como uma estratégia empresarial para que se possam

concentrar esforços e inteligência nas atividades-fim, deixando as atividades-meio a cargo de

parceiros especializados que melhor exerçam suas funções e traduzam melhores resultados

com ganhos efetivos para as duas partes. São consideradas as terceirizações de: atividade

produtiva (compra de determinados produtos e serviços de fornecedores); atividades de apoio

(para fornecimento de serviços como limpeza, manutenção, restaurante, entre outros); e a

subcontratação (sublocação de pessoas para atuarem em atividades diretas da contratante, mas

com vínculo junto à contratada) - (SALERNO, 1995).

Para se comparar e identificar o tratamento dispensado aos diversos funcionários

em função do contrato de trabalho, são tomadas como referência Costa (1994), Fernandes et

al. (2001), Fernandes (2003) e Silva e Almeida (1997), ressaltando-se os seguintes desafios:

a) contar com equipe qualificada de terceiros, autônomos e demais prestadores de

serviço;

b) reter os trabalhadores que apresentam melhor desempenho;

c) aos gestores, diante da não interferência direta na perspectiva de carreira e

diante do acesso à promoção e ao treinamento dos profissionais nos múltiplos

tipos de vínculos contratuais;

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da empresas e dos gestores mais compreensão do contexto e melhor entendimento do impacto

das práticas de gestão no comportamento e no desempenho dos diversos profissionais.

Essas diversas referências constituíram a base para um modelo de pesquisa que

norteou o levantamento e a análise dos dados do estudo de caso (FIG. 3).

Gerenciamento dos recursos�Distribuição e gestão das metas

�Feedback quanto a desempenho e

resultado

�Treinamento & desenvolvimento

�Processo de comunicação

�Compartilhamento de informação

�Remuneração & benefícios

�Promoção & carreira

�Participação

�Comprometimento e cooperação

�Grau de autonomia

�Tomada de decisão

�Desejo de pertencimento

�Cumprimento normas e procedimentos

�Qualidade do serviço

�Posição de liderança /cargos

estratégicos

TIPOS DE VÍNCULO

Efetivo

Temporário

Subcontratado

FIGURA 3 - Modelo de pesquisa.

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diversos, manuais da empresa, procedimentos, políticas de recursos humanos, orçamento de

pessoal e estrutura de cargos e site da empresa.

Os diversos tipos de vínculos de trabalho existentes na Telmobile foram analisados

a partir de documentos específicos, o orçamento de pessoal e a estrutura de cargos.

Para identificar e comparar os desafios enfrentados na gestão dos múltiplos vínculos

– terceiros e efetivos – foi realizado, inicialmente, um grupo focal com oito gestores escolhidos

(APÊNDICE A). A seleção dos entrevistados obedeceu aos seguintes critérios: acessibilidade,

representatividade das áreas de negócio em que existem pessoas de diferentes vínculos,

distribuição por sexo e tempo de experiência profissional. Essa etapa objetivou validar e

enriquecer o roteiro de entrevista.

O focus group (grupo focal) é uma modalidade de pesquisa qualitativa que

consiste na investigação das percepções de vários grupos de entrevistados. Valoriza as

interações sociais, a troca de idéias e as experiências compartilhadas por um grupo. É

particularmente útil nas abordagens de pesquisas exploratórias, revelando características,

padrões de comportamento, imagens, conceitos, tendências e atitudes dos entrevistados

(MALHOTRA, 2001).

McDaniel e Gates (2003) mencionam que essa técnica consiste na reunião de um

grupo de pessoas (oito a 12) para discussão de um tema comum a todos os participantes. A

coordenação da reunião fica a cargo do moderador, que apresenta aos participantes, a partir de

um roteiro tópico e flexível, aspectos que devem ser avaliados. Dessa forma, é possível

conhecer atitudes e opiniões referentes ao assunto em pauta, possibilitando ao pesquisador a

abertura para desenvolver pensamentos e conceitos que entrevistas e questionários

estruturados não conseguiriam.

As principais características do focus group são o envolvimento das pessoas, a

homogeneidade dos participantes, no que diz respeito aos aspectos e interesses da pesquisa, a

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geração de dados novos, a natureza qualitativa e a discussão focada no objetivo da pesquisa

(MALHOTRA, 2001).

Foram também realizadas entrevistas em profundidade com 17 gestores (14

coordenadores e três gerentes) responsáveis pelas áreas selecionadas. As entrevistas foram

realizadas individualmente, no próprio local de trabalho do gestor e conduzidas pela autora

deste estudo, seguindo o roteiro apresentado no APÊNDICE B, com questões comuns a todos

os gestores. As respostas foram registradas por meio de anotações sistematizadas para cada

categoria estabelecida. O grupo de gestores foi organizado em três subgrupos:

a) gerencia processos e pessoas com vínculo terceirizado;

b) gerencia processos terceirizados;

c) gerencia pessoas com vínculo terceirizado.

A técnica de entrevista, mesmo sem obedecer a uma estrutura formal,

preestabelecida, permite ao pesquisador a utilização de um roteiro, com os principais tópicos

relativos ao assunto da pesquisa (ANDRADE, 2002). Yin (2002) ressalta que a opção por

entrevistas justifica-se por constituírem fonte essencial de evidências para os estudos de caso,

sendo que as informações devem ser registradas e interpretadas pelos olhos de entrevistadores

específicos e respondentes bem informados, seguindo o modelo de análise proposto.

A entrevista em profundidade, segundo Malhotra (2001, p.163), “é uma entrevista

não estruturada, direta, pessoal, em que um único respondente é testado por um entrevistador

altamente treinado, para descobrir motivações, crenças, atitudes e sensações subjacentes sobre

um tópico”. Na medida em que “a entrevista se desenvolve, o entrevistador investiga as

respostas e as usa como base para fazer perguntas adicionais” (McDANIEL; GATES, 2003,

p.143).

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Além disso, houve a observação participante, haja vista que a pesquisadora é

funcionária da empresa em estudo. Segundo Marconi e Lakatos (1999, p.194), a observação

participante “consiste na participação real do pesquisador com a comunidade ou grupo. Fica

tão próximo quanto um membro do grupo que está estudando e participa das atividades

normais deste”. Já Gil (1999) relata que a observação participante consiste na participação

real do conhecimento na vida da comunidade, grupo ou de uma situação determinada,

podendo assumir duas formas distintas:

a) natural - quando o observador pertence à mesma comunidade ou grupo que

investiga. Esta é a situação deste estudo, devido ao fato de a autora ser

funcionária da Telmobile;

b) artificial - quando o observador se integra ao grupo com o objetivo de realizar

a investigação.

Reconhece-se que a observação participante apresenta, em relação às outras

modalidades de observação, algumas vantagens e desvantagens. As principais vantagens

relacionam-se com a facilidade e rápido acesso a dados. As desvantagens referem-se

especialmente às restrições determinadas pelo duplo papel de pesquisador e de membro do

grupo, devendo-se observar certo distanciamento a fim de se evitar viés na obtenção e análise

dos dados (GIL, 1999).

Considera-se aspecto de favorabilidade o fato de a autora deste estudo pertencer ao

quadro de funcionários da empresa em estudo, o que permite acesso mais rápido no

levantamento dos dados secundários, na realização do grupo focus e das entrevistas. Em

contrapartida, consideram-se elemento de risco o envolvimento da pesquisadora e a visão

tendenciosa devida à sua inserção no ambiente organizacional. Entretanto, acredita-se que o

referencial teórico e modelo de análise construído são de vital importância no sentido de se

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste capítulo são apresentados e discutidos os dados referentes à análise da

gestão das relações com terceirizados na prestação de serviço, a partir das variáveis definidas

no modelo de pesquisa:

a) Questões gerais sobre o processo de terceirização. Buscou-se compreender,

entre outros aspectos, o nível de participação na tomada de decisão em adotar a

terceirização.

b) Os desafios de gestão das relações com terceirizados a partir das práticas:

seleção do terceirizado e empresa contratada, treinamento, remuneração

(salário e benefícios), carreira, desempenho, processo de comunicação,

distribuição e gestão de metas e participação em eventos e comemorações da

empresa.

c) A percepção do gestor quanto ao nível de comprometimento, cooperação,

compartilhamento de informação, autonomia, qualidade do serviço, rigor no

cumprimento de normas e procedimentos, desejo de pertencimento à estrutura

da empresa central pelos recursos terceirizados.

4.1 Caracterização da Telmobile como uma organização em rede1718

A Telmobile faz parte de grupo multinacional que possui cerca de 42 milhões de

clientes na Europa e América do Sul, assegurando supremacia no mercado europeu em seu

segmento. A empresa possui pioneirismo tecnológico e inovação, com lançamento de serviços

17 As informações relativas à Telmobile foram extraídas do site e de documentos da empresa e de entrevistas comseus funcionários.

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multimídia (MMS) e domínio da tecnologia GSM (Global System Móbile)18.19 Em meados da

década de 90, a Telmobile iniciou suas operações no Brasil após a compra da licença da banda

B. Para efeito deste estudo, em função da acessibilidade, será focada a Telmobile com atuação

no estado de Minas Gerais.

A Telmobile iniciou suas operações investindo na estruturação de sua tecnologia

de rede, ou seja, na infra-estrutura básica necessária para dar suporte sua operação de

telefonia celular. A área de rede é fundamental no início da atividade de uma empresa do

segmento de telecomunicação móvel. A área comercial foi organizada voltada para a

estratégia de mostrar visibilidade para o mercado. O foco da empresa foi investir em lojas

próprias. Simultaneamente, para garantir capilaridade e volume, estruturou-se em parcerias

com revendas e grandes redes de varejo. A estrutura de atendimento absorvia apenas recursos

próprios, com duas células de atendimento: pessoa física e pessoa jurídica. Toda a estrutura de

suporte a vendas e tecnologia da informação encontrava-se organizada com recursos próprios.

Inserida em um mercado altamente desafiador, dinâmico, competitivo e instável, a

Telmobile, ao longo do tempo, precisou redefinir sua estratégia e se ajustar, buscando

combinar volume e qualidade. A variável custo passou também a ser prioridade, sendo o

orçamento cada vez mais controlado e enxuto.

Do ponto de vista de atendimento, estabelecer um gerenciamento de

relacionamento com o cliente tornou-se realidade. Para tanto, foram criadas as células de

fidelização e retenção ao cliente. Com o intuito de minimizar as perdas de receita, a célula de

habilidades–cobrança também foi estruturada.

Atualmente, a estratégia de sustentabilidade do negócio encontra-se ancorada na

satisfação e fidelização dos clientes, com ampliação da base de clientes nos segmentos

rentáveis e estratégicos (alto valor). A Telmobile tem como visão, para a qual vem

canalizando todos os esforços, assegurar liderança em crescimento dentro do seu segmento

18 Sistema móvel global.

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com o foco em excelência no atendimento ao cliente. A variável custo, por meio da

otimização do uso da capacidade instalada e dos custos de aquisição e retenção de clientes,

torna-se importante e necessária na sua gestão.

A exemplo da matriz, a Telmobile incorporou a diretriz estratégica do grupo

controlador de rigoroso controle de custo fixo. A opção pela terceirização baseou-se, segundo

a totalidade dos entrevistados, no desdobramento do modelo para as operações no Brasil e

fundamentalmente na redução de custo com o conseqüente controle do headcount (recursos

efetivos) e adaptação da estrutura para fazer frente à oscilação da demanda e competitividade

do mercado. Essa visão unânime dos entrevistados corrobora as observações de Costa (1994),

Faria (1994), Rezende (1997) e Sá et al. (1997) de que a terceirização ganha importância num

momento em que as empresas precisam, inicialmente, racionalizar recursos, redefinir suas

operações e funcionar com estruturas mais enxutas e flexíveis. À medida que o orçamento de

pessoal tornava-se escasso, a terceirização foi introduzida com a contratação de recursos

terceirizados – subcontratação. Esse processo estendeu-se para as áreas de suporte

administrativo. Já nas áreas de contato direto com o cliente – central de atendimento e lojas

próprias, toda a estrutura era arcada por recursos próprios.

As atividades consideradas não essenciais ao seu negócio principal (portaria,

transporte, segurança patrimonial, conservação e limpeza, help desk19)20foram terceirizadas.

Isso é confirmado pelas observações de Costa (1994), Faria (1994), Oliveira e Santos (2000) e

Salerno (1995), que pontuam que, com a terceirização, a empresa concentra-se no seu

negócio, naquilo que é capaz de fazer melhor, com competitividade e mais produtividade. As

tarefas secundárias e auxiliares são realizadas por empresas que se especializaram de maneira

mais racional e com mais baixo custo.

Desde o início de sua operação, a Telmobile tinha como estratégia o

estabelecimento de parcerias, através de revendas, para garantir capilaridade e ampliar volume

219 Suporte de atendimento.

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de vendas. Optou por terceirizar processos e atividades que, embora representem importância

para o seu core business, sustentam uma combinação de variáveis, como: necessidade de

baixo expertise, oferta de fornecedores no mercado e baixo risco para o negócio. Foram

também terceirizados processos que implicam conhecimento técnico específico, mas que

favorecem a empresa, reduzindo custo fixo devido à flexibilidade na utilização desses

recursos, quando necessário.

A Telmobile, como uma empresa de serviço que tem como negócio principal o

atendimento, organiza-se em áreas que ocupam posição de contato direto com o cliente, seja

de forma ativa (vendas) ou retaguarda (Central de Relacionamento com o Cliente). Nesse

conceito, as demais áreas ocupam posição intermediária, dando suporte ao processo

comercial. Atualmente, organiza-se em torno das gerências de vendas consumer (varejo) e

vendas business (corporativo), relacionamento com cliente, marketing, recarga, suporte a

vendas, rede, tecnologia da informação; e das gerências de suporte: assuntos corporativos,

segurança corporativa, financeiro, recursos humanos, suprimentos e logística, jurídico e

planejamento comercial. A FIG. 04 apresenta o organograma da Telmobile.

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FIGURA 4 – Organograma da Telmobile.

Fonte – Desenvolvimento organizacional Telmobile (2005).

Legenda:

Conforme apresentado na FIG. 4, a pesquisa foi realizada com as gerências:

financeiro, rede, consumer, suporte a vendas, relacionamento com o cliente e tecnologia da

informação, onde existe presença mais significativa de processos de terceirização de recursos

e processos – prestadores de serviço. Optou-se por concentrar o estudo nas seguintes áreas,

diretamente ligadas ao core business e de grande impacto no resultado da empresa:

a) Vendas varejo: grandes redes, revendas, telemarketing e televendas.

b) Relacionamento com o cliente: atendimento ao cliente consumer (pessoa

física), retenção e fidelização consumer e gestão de outsourcing e habilidades.

c) Tecnologia da informação: projetos e suporte técnico.

d) Rede: operação e manutenção de campo.

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Gerências participantes pesquisa

Demais gerências da Telmobile

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e) Suporte a vendas: Help desk comercial (suporte a rede de vendas varejo) e

Back Office (suporte ao segmento de vendas corporativo).

f) Financeiro.

A gerência de vendas consumer - varejo - está organizada com pessoas de vínculo

efetivo e parceiros (terceiros), conforme apresentado no QUADRO 4.

QUADRO 4

Segmentação dos canais de vendas x composição de recursos

Canal Segmentação Composição Recursos Consumer Pessoa física Próprios/Terceiros

Canais Especiais(telemarketing/Televendas

Cliente médio e baixo valor 5% próprios

95% terceiros

Lojas próprias Cliente pós-pago e pré-pago alto uso 100% próprios

Revendas Cliente pós-pago e pré-pago alto uso 100% parceiros terceiros

Grandes redes de varejo Cliente pré-pago baixo uso 100% promotores terceirosFonte: Gerência de Vendas Telmobile (2005).

Um dos pilares estratégicos da organização em estudo, dentro da perspectiva de

mercado, é ampliar a base de clientes nos segmentos rentáveis e estratégicos, fidelizando e

retendo a base de clientes. Assim, em alguns canais de venda, o foco é vender para cliente de

alto valor de uso, investindo-se na composição da estrutura organizacional em recursos

próprios (canal direto) e em terceiros nas revendas (canal indireto). O canal de vendas – lojas

próprias – tem na sua estrutura recursos próprios, sendo de responsabilidade da Telmobile

(empresa central) os processos de seleção, contratação, treinamento e remuneração.

O canal revendas possui recursos próprios nos cargos: coordenador, supervisores

regionais e consultores de vendas varejo. Cabe a esses recursos próprios a responsabilidade

pela gestão de toda a rede de parceiros, proprietários das revendas, distribuídas em todo o

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estado de Minas Gerais. A Telmobile responsabiliza-se pelo treinamento da força de vendas,

ficando sob a responsabilidade da rede de parceiros a seleção, contratação e remuneração

desses recursos.

O canal grandes redes de varejo possui em sua composição recursos próprios nas

funções de coordenação e consultores de vendas varejo. A esses recursos cabe a

responsabilidade de gerir o contrato do parceiro terceirizado – líder –, monitorando a

qualidade do serviço prestado pelos promotores de vendas e o atingimento das metas de

vendas. O parceiro responsabiliza-se pelos processos de: seleção, contratação e remuneração.

A Telmobile responsabiliza-se pelo treinamento dos promotores.

No canal especial – televendas e telemarketing –, todo o processo de

teleagendamento, realização da oferta e fechamento da venda é realizado por parceiro

terceirizado (a empresa A&C). Fica também sob responsabilidade do parceiro terceirizado dar

suporte à atividade de tratamento dos contratos dos processos vendidos. Aos gestores da

Telmobile cabe o papel de monitorar o processo e controlar os resultados. Todo o processo de

seleção, contratação, treinamento e remuneração são de responsabilidade do parceiro

terceirizado. É atribuição da Telmobile capacitar os instrutores de treinamento do parceiro

acerca dos processos e oferta da empresa.

Essa realidade é percebida como desafiadora por alguns entrevistados ligados

diretamente a essas áreas de negócio, no tocante a coordenar e garantir o mesmo resultado de

volume e qualidade de venda através de recursos concentrados, algumas vezes integralmente,

nas mãos de parceiros diferenciados.

Com o foco de retaguarda, a Central de Relacionamento com o Cliente tem

importância vital e tem como atributo principal assumir todo o atendimento ao cliente,

evitando que este, uma vez insatisfeito, deixe a empresa.

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TMS), os processos de seleção, contratação, remuneração e treinamento ficam sob a

responsabilidade dos parceiros terceirizados. Cabe à Telmobile a capacitação dos

multiplicadores dos parceiros terceirizados para que eles se responsabilizem pela capacitação

e atualização.

As demais áreas respaldam a área comercial (vendas e Central de Relacionamento

com o Cliente). Ocupa papel importante a gerência de tecnologia de rede, que se organiza em

áreas de: acesso à rede, infra-estrutura e gestão da rede. A adoção da estratégia de

terceirização foi concentrada na gerência de gestão de rede. Nas demais áreas, a estrutura

comporta apenas recursos efetivos, conforme apresentado na FIG. 6.

FIGURA 6 – Estrutura da gerência de gestão de rede.

Fonte: Desenvolvimento Organizacional Telmobile (2005).

Na gerência de gestão de rede, a estratégia foi terceirizar tudo aquilo que exige

nível baixo de conhecimento, aliado à oferta de fornecedores no mercado. O risco que o

processo representa para o negócio também foi considerado. A gerência está estruturada nas

áreas:

a) Comutação: (recursos próprios). Alto grau de expertise requerido, reduzida

oferta de fornecedores no mercado e processo com alto grau de risco para o

negócio.

Gerência de Gestão de Rede

Comutação100%

RecursosPróprios

TransmissãoPróprios – 10Terceiros – 30

Manutenção Civil100%

RecursosPróprios

Alarme100%

RecursosPróprios

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b) Manutenção de campo: gestão da força de campo e tratamento de falhas em

campo (recursos terceirizados). Processos que requerem relativo ou baixo grau

de expertise, alta oferta de fornecedores no mercado e relativo risco para o

negócio.

c) Manutenção civil: processo com forte impacto para o negócio. Recebe suporte

de equipe de recursos próprios.

d) Alarme: processo com forte impacto para o negócio. Recebe suporte de equipe

de recursos próprios;

e) Sistemas: processo que exige know how específico. Composta de recursos

próprios.

f) Qualidade: processo que permeia todas as áreas, com o foco na garantia da

qualidade e efetividade de toda a rede. Estrutura totalmente composta por

recursos próprios.

Aos recursos próprios (coordenadores e especialistas) da Telmobile (empresa

central) cabe a responsabilidade pela gestão e controle dos resultados do parceiro terceirizado.

As práticas de seleção, contratação, treinamento e remuneração ficam também sob sua

responsabilidade. Devido ao teor técnico da atividade, é reservada ao prestador de serviço a

gestão de todo o processo de capacitação e atualização constante dos recursos terceiros

envolvidos com o processo.

Uma eficiente área de sistemas é de vital importância para respaldar todo o banco

de dados, contendo informações da base de clientes em uma empresa do segmento de

telecomunicações. Para tanto, a gerência de tecnologia de informação

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FIGURA 7 – Estrutura da gerência de tecnologia da informação.

Fonte – Desenvolvimento organizacional Telmobile (2005).

Concentrando a atenção nas áreas de projeto e produção, pelo fato de abrigar em

sua estrutura recursos próprios e terceiros, além do fator acessibilidade, tanto a gerência de

projetos como a gerência de produção têm seus processos amparados por recursos próprios,

por terceiros e por processos terceirizados realizados por prestadores de serviço. Os processos

de help desk são realizados pelo parceiro terceirizado. Embora haja compartilhamento do

espaço físico, toda a responsabilidade pelos processos de recrutamento, contratação,

treinamento e remuneração são do parceiro terceirizado. De igual forma acontece com os

terceiros–consultores, sendo muito deles pessoas jurídicas (PJ).

Devido ao conceito que a área de vendas trabalha, comum no segmento de

telecomunicações, os processos realizados pela rede de parceiros, quer seja venda presencial

por revendas e grandes redes ou pelo telefone telemarketing e televendas, encontram recursos

na gerência de suporte a vendas por meio da área help desk comercial. Dessa forma, essa área

se organiza com estrutura de recursos próprios e de terceiros a partir de um prestador de

serviço (FIG. 8).

Gerência de Tecnologia da Informação

Projetos de SistemasPróprios – 16Terceiros – 18

Suporte TécnicoPróprios – 14Terceiros – 01

ProduçãoPróprios – 18Terceiros – 50

Planejamento e Controle100%

Recursos Próprios

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FIGURA 8 – Estrutura da gerência de suporte a vendas.

Fonte – Desenvolvimento Organizacional Telmobile (2005).

Fica sob a responsabilidade dos recursos próprios coordenar a operação com vistas

ao atingimento dos resultados acordados. Os processos de seleção, contratação e remuneração

ficam sob a responsabilidade do parceiro terceirizado–líder, ficando a Telmobile com a

incumbência do treinamento (formação e atualização).

A gerência financeira está estruturada nas áreas de planejamento/orçamento e

fiscal. A área de planejamento e orçamento é composta por recursos próprios e tem como um

dos principais objetivos a garantia do cumprimento do orçamento, meta compartilhada por

todas as gerências da Telmobile. A área fiscal possui, entre outras atribuições, a manutenção e

controle do fluxo de contas – a pagar e receber. Esse processo tem suporte de recursos

próprios e de terceiros, conforme apresentado na FIG. 9.

Gerência de Suporte a Vendas

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FIGURA 10 – Caracterização da Telmobile como empresa em rede.

Fonte: elaborado pela autora.

Assim, pode-se concluir que a forma da Telmobile se estruturar está de acordo

com a tendência de estruturação das organizações em rede, nas quais se observa um crescente

processo de externalização das atividades anteriormente desenvolvidas pela própria

organização, confirmando as proposições de Cançado et al. (2002), Fernandes et al. (2001),

Fernandes (2003), Lawler e Galbraith (1995) e outros.

A estratégia de terceirização adotada pela Telmobile foi a de concentrar esforços e

inteligência nas atividades-fim, deixando as atividades-meio a cargo de parceiros/recursos

especializados que melhor exerçam suas funções e que traduzam melhores resultados com

82

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ganhos efetivos para as partes, conforme proposto por Costa (1994). A empresa buscou

aumentar vantagens competitivas, melhorar a produtividade e reduzir custos, conforme

observado por Pagnoncelli (1997), enfrentando a concorrência com competividade

(ALVAREZ, 1996). A principal vantagem da estrutura em rede buscada pela Telmobile é

proporcionar agilidade à organização, permitindo que se reaja de forma rápida e criativa às

variáveis de mercado, concentrando-se nas atividades e processos que garantam vantagem

competitiva e redução de custo fixo.

Dessa forma, a Telmobile caracteriza-se como empresa-mãe ou empresa central,

com relacionamento de parceria com empresas fornecedoras, de menor porte, cuja

organização se dá em torno de processos, sendo a hierarquia horizontalizada e a avaliação de

desempenho dos parceiros baseada na satisfação dos clientes, conforme demonstraram

Castells (2005), Lipnack e Stamp (1994) e Nadler, Gerstein e Shaw (1993)..

Observa-se também na Telmobile a estratégia de flexibilidade administrativa que

permite à empresa utilizar, ao lado de sua força de trabalho permanente, um conjunto de

profissionais terceirizados, em regime de contrato entre pessoas jurídicas, ou seja, entre

empresas (CANÇADO et al, 2002; CÂNDIDO; ABREU, 2000; CASTELLS, 2005; PECI,

1999). Assim, pode-se evocar a estrutura da organização em trevo, proposta por Handy

(1996), na qual os gestores têm que gerenciar três grupos distintos de pessoas: o núcleo de

profissionais, técnicos e trabalhadores detentores de conhecimento; os consultores, os

fornecedores de serviços e outros especialistas contratados para trabalhar em projetos

específicos, remunerados por tarefa ou pelos resultados; e os funcionários temporários e de

meio-expediente, contratados para efetuar trabalhos extras ou trabalhos que exigem

especialização. Na Telmobile, essa realidade se confirma na medida em que se vislumbram,

dentro da mesma área, recursos de diferentes vínculos contratuais envolvidos em processos

distintos.

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Essa situação remete e confirma o desafio dos gestores na gestão desse variado

grupo de profissionais.

4.2 Desafios na gestão da relação com terceirizados207

4.2.1 Questões gerais da terceirização

O grau/nível de terceirização dos serviços/processos no setor gerenciado depende

da área. Segundo entrevistados da gerência de rede:

25% dos processos existentes na gerência de operação e manutenção de campoforam terceirizados. Ou seja, os processos ligados à manutenção de campo:recuperação de defeitos, manutenção preditiva e implementação de site”. Para ofinanceiro, “45% dos processos de contas a pagar e tratamento das notas fiscaispara provisionamento são terceirizados”. No suporte a vendas, “90% dos processosestão nas mãos de terceiros” (Entrevistado).

Nos processos tecnologia da informação (TI), existem situações distintas. Nas

atividades ligadas ao suporte ao usuário interno, 100% dos processos são terceirizados. Já nas

atividades de projeto, nos processos de desenvolvimento, 50% dos recursos são terceirizados.

Na Central de Relacionamento com o Cliente (CRC), 90% dos processos de

atendimento são terceirizados, distribuídos entre parceiros diferentes. De acordo com

depoimentos de entrevistados da CRC: [...]“Hoje todos os processos ligados a oferta,

migração, atendimento e fidelização estão terceirizados”. “Em função do alto turn-over,

possuímos também recursos terceiros, na condição de mão-de-obra temporária, como forma

de controlar esse índice”.

A Telmobile lança mão da terceirização na área de vendas para conjugar

velocidade com capilaridade. Dessa forma, 100% dos processos são realizados por terceiros.

720 Dados extraídos a partir das entrevistas com gestores e coordenadores e do Focus Group.

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Assim, a opção pela redução de custo conjugado com a incorporação de know how

foi uma das estratégias adotadas, buscando melhorar a flexibilidade técnica e econômica da

empresa, conforme preconizado por Rezende (1997) e Segala (1994). Os seguintes

depoimentos ilustram essa situação: “Vejo como vantagem a rapidez na alocação do recurso

capacitado em determinada competência. A contratatação do terceiro é muito mais rápida e

traz economia para a empresa, pois não tem custo com seleção desse profissional” ou:

“algumas vezes, inclusive, ocorre de recursos terceiros possuir um conhecimento maior”.

As estratégias de terceirização adotadas parecem ser compatíveis com a

perspectiva citada por Fernandes (2003), que lembra que formação de redes como resposta

aos novos desafios do ambiente de negócios mais competitivo parece ser adequada por sua

capacidade de criar um jogo de equipe com mais participação dos diversos níveis. E que isso

assegura inovações mais rápidas em toda a cadeia produtiva, menores riscos e menores custos

de reestruturação frente à necessidade de mudanças.

Observa-se, assim, que o ambiente cada vez mais complexo, o ritmo acelerado dos

novos conhecimentos e a velocidade da mudança são forças que tornam obsoletas as soluções

tradicionais da empresa simples. As atividades mudam mais depressa do que a capacidade de

adaptação dessas organizações, tornando as soluções tradicionais menos eficientes. Assim, as

organizações e especificamente a Telmobile são levadas em direção ao formato de

organização em rede, em busca de se adequar a esse ambiente e garantir níveis de

competitividade necessários (CANDIDO; ABREU, 2000; NADLER; GERSTEIN; SHAW,

1993; PECI, 1999; VILELLA, 2005).

Em relação aos fatores determinantes para a decisão de adotar a estratégia de

terceirização, para todos os entrevistados o principal foi a redução do custo fixo com

automática redução de recursos próprios – headcount.

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Verificou-se que existiu um alinhamento de respostas por parte do grupo de

gestores de uma mesma área. Os entrevistados da área comercial atrelam, também, a adoção

da terceirização à necessidade de garantia da capilaridade e incremento do volume de vendas.

Já para os entrevistados do CRC, o modelo de negócio definido pela matriz aliado

à facilidade de flexibilidade da operação para fazer frente à oscilação da demanda e o elevado

turn-over se colocam entre as principais razões.

Para os entrevistados da TI, além da necessidade de limitação de headcount como

forma de redução de custo fixo, a terceirização foi uma alternativa para alocação de recursos

com know how específico para responder à ampliação da empresa e da demanda. A

determinação de fornecedores de desenvolvimento de sistemas pela matriz apresenta-se como

outro motivo. Um ponto peculiar detectado por todos os entrevistados desse grupo é o

reconhecimento positivo quanto à terceirização de processos, manifestado em alguns

depoimentos: “A contratação de serviços é essencial para a TI”; “Aceita-se e entende-se

como normal a terceirização dos processos”.

Para a área de rede, pode-se perceber que as razões derivam da necessidade de dar

foco ao negócio, transferindo para o parceiro terceirizado as atividades que demandam baixo

conhecimento e experiência. Pode-se constatar também a necessidade de padronização dos

processos, buscando um alinhamento com as demais unidades de negócio da Telmobile, com

vista ao ajuste de preço e conseqüente ganho de escala.

Já para a área de suporte a vendas, a razão manifestada pelo grupo deve-se à

necessidade de facilitar e minimizar o controle. Para o financeiro, a razão atribuiu-se-se

exclusivamente à limitação de recurso efetivo – headcount.

Comprova-se que a Telmobile vem utilizando a terceirização como forma de

redução de custos aliada à busca por mais flexibilidade em face da realidade do mercado de

trabalho. A combinação de objetivos econômicos (redução de custo) e objetivos

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organizacionais (aumento da flexibilidade) tornam-se elementos importantes para garantir

competitividade. Concentrar-se nas atividades essenciais e entregar para parceiros atividades

que estes podem fazer melhor tem sido uma das estratégias adotadas pela empresa para

efetivar o enxugamento das estruturas de modo a tornarem-se mais eficazes e eficientes,

comprovando o que atestam diversos autores (SILVA; ALMEIDA, 1997; COSTA, 1994;

REISDORFER, 2000; SÁ et al.(1997; SEGALA, 1994, entre outros).

Em relação à participação no processo de decisão de terceirização, no que refere-se

à definição e escolha do parceiro terceirizado, todos os entrevistados manifestaram que essa

definição acontece em nível estratégico. Segundo alguns entrevistados da CRC e de TI, alguns

contratos são fechados em âmbito nacional e até internacional. Cabe aos gestores o papel da

gestão da operação, ou seja: seleção dos recursos, desdobramento de metas, acompanhamento

e feedback. Os entrevistados da área comercial (Grandes redes, revendas e televendas) e

suporte a vendas declararam ter autonomia na definição e escolha do parceiro, embora o

mercado limite essa oferta, tornando reduzidas as opções. Já para os entrevistados da área de

rede, a definição do parceiro foi tomada em nível estratégico, sendo que o critério deveu-se

exclusivamente às questões técnicas. Os entrevistados do financeiro percebem autonomia na

seleção dos recursos subcontratados.

Para a grande parte dos entrevistados, essa participação vinculou-se mais aos

aspectos de gestão da operação, escolha dos terceiros e gestão da equipe com vistas a garantir

resultados. Segundo a fala de um dos entrevistados, “a decisão pela terceirização foi definida

numa esfera mais estratégica, a minha autonomia está no âmbito da gestão da operação”.

Diante dos dados extraídos nos documentos consultados e da análise das

entrevistas, nota-se que ocorre o envolvimento de gestores das áreas com escopo mais técnico

nos processos de terceirização, em função do conhecimento do negócio e disponibilidade de

fornecedores capacitados e qualificados no mercado. A fala de um dos entrevistados reforça

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Assim, pode-se concluir que no compartilhamento de valores de muitos parceiros,

cada qual com sua cultura e valores específicos, torna-se desafiador garantir a coerência e a

adesão aos valores da contratante. Há de se observar que, por sua vez, também a contratante

tem dificuldades em termos de foco e de transparência em relação aos seus próprios valores.

Diante da declaração de todos os entrevistados, deduz-se que na Telmobile, apesar

de um dos principais valores ser o foco no cliente, as situações vivenciadas na prática não

traduzem essa intenção. Uma das principais motivações para a adoção da terceirização pela

empresa foi a questão da redução do custo, o que, em algumas situações, compromete a

qualidade do serviço. Por outro lado, a terceirização levou à maior proximidade com o cliente,

na medida em que permitiu mais flexibilidade da estrutura. Entretanto, a não participação dos

gestores em etapas importantes do processo de decisão compromete o conhecimento de

variáveis que certamente contribuem para ampliar a visão sistêmica. Percebe-se nos

depoimentos que o conhecimento restringe-se às suas respectivas áreas de atuação.

Independentemente de seu escopo de atuação, para que seja instaurada a cultura da qualidade,

todos deverão estar conectados com esse princípio.

Respaldado nas considerações de Costa (1994), a Telmobile terá que trabalhar no

sentido de se aproximar do parceiro, investindo no alinhamento e integração de suas

respectivas culturas para garantir resultado.

4.2.2 Gestão

Em relação ao acompanhamento dos processos terceirizados e métodos de gestão,

distribuição e gestão das metas, feedback quanto ao desempenho e resultado , todos os

entrevistados afirmam que existe, embora haja diferenciação no nível de gestão de alguns

processos em detrimento de outros. Na Central de Relacionamento com o Cliente, o processo

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de distribuição de metas e a cultura de feedback estão em fase de construção. Uma área

específica com o foco na gestão dos parceiros terceirizados foi criada e, embora a qualidade

seja considerada prioridade, os entrevistados afirmam que os parceiros terceirizados são

focados apenas em quantidade e ainda não existem sistemas e processos capazes de garantir

desdobramento e controle de metas de forma eficiente e eficaz. Um dos entrevistados afirmou

que “os parceiros têm clareza quantitativamente e não qualitativamente do que é esperado

deles”, havendo dificuldade e fragilidade de se exigirem metas qualitativas por parte da

contratante. Apesar de esse processo ser incipiente, os parceiros terceirizados já recebem

reporte diário das improcedências ocorridas, apontadas pela monitoria realizada pela

contratante.

Por outro lado, na gestão de recursos subcontratados, as metas são desdobradas de

forma similar à dos recursos próprios. São utilizados instrumentos de acompanhamento e

feedback adaptados e similares aos da empresa central. As informações são concentradas no

supervisor terceiro, alocado dentro da operação, ficando sob sua responsabilidade o

desdobramento e acompanhamento do processo.

Nas áreas de rede, as metas são repassadas e o acompanhamento de resultados vem

sendo realizado por meio de sistemas desenvolvidos internamente, de indicadores de nível de

serviço – service level agreement (SLA) – que são avaliados pela contratante. Na área de

Tecnologia da Informação, o processo de desdobramento de metas é compartilhado entre

próprios e terceiros e os processos terceirizados existentes são também acompanhados a partir

de indicadores de nível de serviço SLA. Existe uma rotina sistematizada de reuniões para

gestão de resultados.

Nas áreas de vendas, o desdobramento de metas é realizado com cada parceiro,

traduzido pelo volume a ser atingido. O acompanhamento objetiva o atingimento de resultado

de vendas. Nas áreas de suporte a vendas e financeiro, respectivamente, as metas, bem como o

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processo de acompanhamento de resultado e feedback, acontecem de forma equivalente aos

recursos subcontratados.

Um fato interessante observado em quase todo o grupo de entrevistados foi a

preocupação em não configurar situações que possam representar vínculo trabalhista,

deixando a empresa em situação de vulnerabilidade. Apenas alguns entrevistados

manifestaram não perceber e não fazer diferenciação entre recurso próprio e terceirizado.

Observa-se uma preocupação das áreas de atendimento quanto aos aspectos

qualitativos, embora essa preocupação ainda não traduza com eficiência o controle e

acompanhamento do SLA – nível de serviço acordado. Existe ainda um longo espaço de

aprimoramento desse processo, não apenas para os terceirizados, mas a contratante necessita

evoluir para processos e sistemas eficientes de controle. Em contrapartida, a área de vendas,

embora tenha o discurso de preocupação com qualidade, tem como acompanhamento de

resultados exclusivamente o atingimento de metas relativo a volume.

Conclui-se que, para o gerenciamento eficiente dos processos de terceirização na

Telmobile, o acordo sobre o nível de serviço desejado (SLA), definido pelo contratante em

alinhamento com o prestador de serviço/fornecedor, precisa ser mais bem trabalhado nas áreas

onde já é adotado e implantado nas demais áreas. O SLA, que constitui o compromisso entre

os responsáveis pelo processo e suas equipes, deve ser incluído no contrato, conforme

proposição de Franceschini et al. (2004).

Quanto à preocupação em relação à terceirização: qualidade do serviço, custo e

fidelidade, observa-se uma polarização de opiniões. Um grupo reconhece a preocupação da

empresa com o aspecto de qualidade, com a implantação de uma área específica – gestão de

outsourcing – com dedicação exclusiva aos processos terceirizados. Segundo um entrevistado,

“não era assim. Hoje existe preocupação que não existia. Hoje a empresa está no caminho

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certo”, porém outro, apesar de concordar com tal posicionamento, reconhece que o processo

está ainda incipiente.

Os demais entrevistados manifestam que a preocupaçã

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denota uma distinção dessas práticas em relação às pessoas com vínculo próprio, terceiros e

prestadores de serviço.

No aspecto de treinamento, grande parte dos entrevistados manifestou existir

diferença no nível de capacitação. Os entrevistados do CRC manifestaram mais preocupação,

tendo em vista a atuação da área na linha de frente com o cliente. Detecta-se na fala dos

entrevistados: “Treinamento e capacitação são muito discrepantes entre próprios e terceiros.

Isso tem impacto grande na operação. E essa é a informação repassada ao cliente”. Ou: “o

impacto da fragilidade da capacitação esbarra no cliente”.

Para os entrevistados da área de vendas, a percepção não é homogênea. Gestores

ligados ao processo da venda presencial não percebem diferenciação, embora tenham

manifestado a inexistência de ferramentas de treinamento à distância para imprimir

velocidade à capacitação. Para o processo de vendas virtual, verifica-se nível de qualidade

inferior no atendimento.

Para os entrevistados de rede, a diferenciação do nível de capacitação entre os

recursos existe, embora haja uma cláusula contratual ratificando essa condição. Um ponto

peculiar foi manifestado por outro grupo de entrevistados que, apesar de não visualizarem

impacto na resposta de trabalho dos recursos terceiros, foram incisivos e críticos quanto à

diferença de investimento de treinamento para terceiros. Essa diferença é contornada pela

própria gestão, que envolve ocasionalmente os terceiros nos treinamentos oferecidos pela

empresa-mãe, a Telmobile. Por tratar-se de treinamentos que demandam alto investimento, os

custos são compartilhados com o prestador de serviço.

Os demais entrevistados não notam diferenciação do nível de capacitação entre

ambos os recursos.

No que tange à remuneração, observou-se quase unanimidade das respostas

manifestando discrepância nos aspectos relativos à remuneração dos recursos efetivos e

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terceirizados, com recompensas financeiras e carteira de benefícios mais atraentes para os

efetivos. Grande parte dos entrevistados considerou esse aspecto de extrema delicadeza e

complexidade. A análise das entrevistas remete aos dilemas enfrentados pelos gestores,

verificados em alguns depoimentos “o meu desafio é criar uma equipe mais coesa, mais

harmonizada para garantir produtividade para a empresa. Para isso não adianta eu

trabalhar com meia equipe, cobrando mais daqueles que ganham mais”.

O grupo de entrevistados ligados aos processos de TI não registra diferenciação

substancial da remuneração entre efetivos e terceiros, embora manifestem que os terceiros não

recebem benefícios em função do vínculo que mantêm com a empresa terceirizada.

Uma peculiaridade que deve ser considerada é o pagamento de remuneração

variável para o grupo de terceirizados ligados aos processos de vendas e suporte a vendas.

Essa prática indica avanço se comparada com dados da pesquisa realizada por Fernandes

(2003), que constatou que a prática de remuneração por metas e resultados concentrava-se

apenas nos recursos próprios. Vale salientar que os programas de remuneração variável

relacionados ao atingimento de metas apresentam-se como uma das mais importantes formas

de comprometer os trabalhadores com os objetivos da empresa (CARVALHO NETO, 2001).

As discrepâncias em relação à remuneração evocam as considerações feitas por

alguns autores, como: Carvalho Neto (2001) e Offe (1997), que relatam a fragilização das

relações de trabalho a partir dos processos de flexibilização. Via de regra, os processos de

terceirização, subcontratação, quarteirização e contratação temporária acarretam rebaixamento

dos salários e restrição de benefícios, como observado na Telmobile.

Esse cenário ajuda a entender, por um lado, a dificuldade dos gestores em obter

quadro de terceirizados e demais prestadores de serviços mais qualificados. Por outro, traz

algumas explicações sobre o porquê desses profissionais manterem elevada expectativa de vir

a pertencer ao quadro efetivo da Telmobile.

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No aspecto relativo à oportunidade de carreira, a Telmobile busca preencher suas

posições efetivas com recursos terceirizados. Esse processo permeia todas as áreas

pesquisadas, sendo utilizado com mais constância na CRC, devido ao alto índice de turn-

over21.22Essa alternativa é bastante utilizada pelos gestores como forma de melhorar o nível de

capacitação e comprometimento do grupo. Essas situações são percebidas na fala de alguns

entrevistados: “A mão-de-obra própria vem do terceiro”. Ou “Os terceiros viraram um

celeiro de talentos, minimizando com isso o impacto da seleção e treinamento”. A fala de

outro entrevistado ilustra a relação da efetivação como melhoria do comprometimento:

“Percebo um aumento do comprometimento dos terceiros, uma vez que a operação própria

vem absorvendo 70 a 80% destes. Assim, a qualidade do trabalho prestado por ele melhora”.

Essa prática de contratação dos terceirizados pela empresa central revela-se

incoerente e inconsistente com a política de flexibilização dos vínculos de trabalho que, para

comprometer os empregados, utiliza a reversão da flexibilização como fator motivacional.

Parece que a Telmobile está caminhando no sentido inverso ao “premiar” o terceiro não pelos

resultados alcançados, mas com a sua “efetivação” na empresa.

Posições estratégicas e de liderança, embora tenham existido alguns casos, ainda

vêm sendo muito timidamente exercidas pelos terceirizados. Detectou-se também na área de

vendas caso isolado de “carreira inversa”, ou seja, recurso efetivo convidado a gerenciar

negócio do parceiro – revenda.

Já na área de TI, alguns entrevistados mostraram-se críticos quanto ao assunto,

revelando a inexistência de critérios ou políticas de carreira, independentemente da natureza

do vínculo contratual. Coincidentemente, alguns terceiros, da área de consultoria, em

oportunidades de efetivação não manifestaram interesse em ocupar um cargo efetivo.

Dessa forma, vê-se a aplicação das folhas de trevo proposta por Handy (1996):

recursos ligados ao core business, consultores e técnicos especializados e prestação de

21 Índice referente à saída de funcionário do quadro de efetivos.

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Isso configura mais um grande desafio para os gestores: manter qualidade na

informação, fluidez na comunicação para vários parceiros, cada qual com sua especificidade.

Observa-se a necessidade de se estruturar melhor o processamento e a troca de informação

entre a Telmobile (empresa coordenadora) e os prestadores de serviço. Cabe à Telmobile ser

seletiva no processamento e na troca de informações com os prestadores de serviços (HAGEL

III, 2003).

Também há que se considerar que os processos de comunicação constituem-se, por

sua vez, fator importante no engajamento desses recursos. Por meio da comunicação podem-

se alcançar a uniformidade e o entendimento dos valores e disseminação dos objetivos e

metas da organização (FERNANDES, 2003).

No tocante à participação em eventos e comemorações, contempla-se uma

mobilização em grande parte do grupo de entrevistados. Segundo depoimentos, além dos

recursos próprios, somente os subcontratados, que compartilham o espaço físico da

Telmobile, participam dos eventos e comemorações oficiais da empresa. Os entrevistados que

gerenciam processos nos quais os recursos não compartilham o mesmo espaço físico da

empresa central manifestaram compreensão. Um dos entrevistados, inclusive, buscou

justificar a empresa central: “Os terceiros não participam dos eventos e eu até acho isso

certo”, ressaltando, entretanto que teria dificuldade em relação a essa questão caso

gerenciasse recursos e não processos.

Outros entrevistados que gerenciam recursos, que fisicamente encontram-se no

mesmo espaço da empresa central, mostraram dificuldade também em lidar com essa

situação, relatando que ocorre um impacto direto na motivação do grupo: “Os terceiros não

têm acesso às comemorações e isso causa um impacto psicológico muito forte nos

operadores”. Ou: “O moral da equipe vai lá embaixo, além da desmotivação”. Para

minimizar essa dificuldade, os terceiros são envolvidos em comemorações internas

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organizadas na própria área ou são distribuídos brindes como forma de reforçar a imagem da

empresa. Diante de todos os depoimentos conclui-se que os gestores têm que lidar com outro

grande desafio, em algumas situações: “tratar os diferentes como iguais e em outras

situações tratá-los de forma segregada”. A fala de um dos entrevistados ilustra bem esse

desafio: “Ele tem que ser tratado como igual, para que se sinta igual e se comporte como

igual”.

Fernandes et al. (2001) identificam como um dos maiores desafios para o gestor de

empresas de grande porte frente aos recursos oriundos de múltiplos vínculos contratuais o

estabelecimento de um relacionamento de confiança mútua entre os empregados da empresa

central, terceirizados e os prestadores de serviço. Com isso, amplia-se a necessidade de

alternativas capazes de gerar confiança no nível dos empregados e da organização, restando

ao gestor o desafio de lidar com as diferenças e integrá-las, observando aspectos importantes

como: identidade, comprometimento e sentimento de pertencimento.

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Essa característica pode significar que a autonomia está relacionada ao conhecimento e

experiência do profissional.

Esses resultados vão ao encontro da constatação da pesquisa realizada por

Fernandes et al. (2001), em que o item comprometimento dos terceirizados, autônomos e

demais prestadores de serviço foi considerado um dos quatro maiores desafios encontrados

em empresas de grande porte do Brasil, na gestão dos múltiplos vínculos de trabalho. Nesta

pesquisa, comprometimento, cooperação e autonomia não são vistos como os maiores

problemas pelos entrevistados. Há de se ressaltar que a questão do comprometimento de

terceiros foi relacionada à possibilidade de contratação pela empresa central (ou à

remuneração variável para o pessoal de vendas). Isso pode estar sendo incentivado por esse

movimento reverso à flexibilização, já detectado anteriormente.

As informações coletadas em relação à qualidade e confiança mostram opiniões

diferentes entre recursos próprios e terceiros, com exceção dos entrevistados da TI, que não

vêem qualquer distinção entre os dois grupos. O estabelecimento de relacionamento de

confiança guarda estreita relação com a qualidade de resposta do trabalho desenvolvido por

esses recursos.

Perceberam-se posicionamentos enfáticos de alguns entrevistados do CRC quanto

à confiança. Como exemplo, um deles afirma que “não existe confiança em relação à

qualidade do serviço prestado pelo terceiro. Confiança vem da proximidade e não existe

proximidade, pois a interface do atendente que está na linha de frente da operação com o

cliente é com o supervisor da terceirizada”.

Na medida em que 90% dos processos de atendimento da Telmobile estão

concentrados nas mãos dos recursos terceirizados, constata-se uma lacuna no estabelecimento

de um elo de confiança nessas relações. Essa situação merece cuidado, pois, como salientam

Rodrigues e Cunha (2000), a confiança é um fator de extrema importância para se estabelecer

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a relação de pareceria. Quanto mais as atividades terceirizadas estiverem ligadas ao core

business da empresa, maior a necessidade de estabelecer relações de parceria de modo a

garantir a qualidade dos resultados.

A adoção crescente do modelo de terceirização vem causando insegurança e receio

generalizado nos recursos efetivos em tornarem-se terceiros. Esse receio parece desestimular

a confiança, o que pode gerar uma cultura de “insegurança no trabalho”, conforme apontado

por Novelli (2002).

Fernandes et al. (2001) também identificaram como uma dos maiores desafios

para o gestor de empresas de grande porte frente aos múltiplos vínculos contratuais o

estabelecimento de um relacionamento de confiança mútua entre os trabalhadores da empresa

central, os terceirizados e os prestadores de serviço. Nessas condições, aumenta-se a

necessidade de mecanismos capazes de gerar confiança, ficando a cargo do gestor lidar com

as diferenças e integrá-las.

Na avaliação de padrões, normas e procedimentos, o posicionamento é

diferenciado entre entrevistados da mesma área. Para alguns, o não cumprimento das normas,

padrões e procedimentos é total: “Eles fazem registro no sistema quando querem”.

Entrevistados dos processos de vendas ressaltam o não cumprimento dos padrões,

procedimentos e normas da empresa central. Outros reconhecem que ocorre o cumprimento

das normas, embora não o visualizem como positivo. Um deles alegou que “o terceiro

esconde-se no procedimento para justificar uma atividade não cumprida”. Já outros

comentam que durante as monitorias verifica-se o cumprimento desses aspectos na operação

terceirizada.

Um ponto peculiar abordado por alguns entrevistados é a co-responsabilização da

Telmobile quanto ao não cumprimento das normas pelos terceiros: “O não cumprimento do

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procedimento pelo parceiro deve-se muitas vezes à falta de estrutura e de sistemas

disponibilizados pela própria Telmobile”.

Por outro lado, nas demais áreas - rede, TI, financeiro e suporte a vendas, os

depoimentos demonstram não haver quaisquer desobedi

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mencionado, não existe diferenciação significativa de remuneração entre efetivos e terceiros.

Percebe-se na fala de alguns entrevistados que a razão que os move pode estar atrelada à

necessidade de fazer parte de algum um grupo. “Na maioria das vezes não é evidente o

desejo de pertencer à Telmobile. Percebo que os recursos não se sentem ligados a nenhuma

empresa. Nem à Telmobile, nem à empresa com a qual mantém contrato”.

Essa situação já foi abordada nos itens remuneração, benefícios, carreira e,

principalmente, comprometimento. O desejo de pertencimento está intimamente ligado ao

desejo de vincular-se a uma empresa que possibilite melhores condições de remuneração,

possibilidade de carreira, sentimento de pertencer à equipe e integração. Pettinger (1998)

ressalta que as empresas e os gestores necessitam de uma adequada preparação para tratar

desses aspectos nos diferentes vínculos contratuais.

4.2.4 Vantagens e desvantagens, problemas e sugestões de solução

Com o intuito de tornar mais organizado e dar visibilidade, os diversos aspectos

levantados pelos entrevistados foram reunidos no QUADRO 5, preservando-se literalmente a

fala dos entrevistados.

QUADRO 5

Vantagens e desvantagens da terceirização

Vantagens DesvantagensRapidez na alocação do recurso capacitado

Substituir a mão-de-obra com velocidade, com vistas a

minimizar o turn-over

Flexibilidade para ajuste com o aumento ou redução da

demanda

Administrar o alto turn-over

Flexibilidade para ampliar ou reduzir estrutura

Flexibilidade combinada com agilidade

Desmotivação dos terceiros

Nível de comprometimento dos terceiros

Restrição de acesso aos sistemas

Perda da qualidade de atendimento

Não enraizamento da cultura/valores Telmobile

Vulnerabilidade da empresa em deixar informações nas

mãos dos terceiros

Perda do sigilo da informação

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Realizar mais do que a equipe suporta

Possibilidade de adequar a equipe à sua necessidade,

embora tenha o limitador da necessidade do

conhecimento específico

Absorver o pico do trabalho

Ausência de vínculo com o recurso, minimizando o

impacto e ônus social

Garantia da capilaridade do negócio

Ampliação das vendas

Complementar o headcount

Trabalhar a limitação de estrutura física aliada à

limitação de headcount

Facilidade para justificar custo

Redução de custo

Ajudou a empresa a concentrar no seu core business

Diminuição da gestão de etapas acessórias ao negócio

para concentrar no essencial

Dificuldade de reposição do recurso terceiro com

determinado conhecimento técnico

Não atuar mais diretamente na resolução do problema

Fonte: elaborado pela autora a partir de informações coletadas nas entrevistas.

Apesar de serem apontadas desvantagens, o grupo de entrevistados na Telmobile

considera um maior número de vantagens com a adoção da terceirização. O aspecto destacado

como mais significativo pelo grupo foi a flexibilidade que a organização passa a ter no sentido

de reduzir ou ampliar a estrutura quando necessário. O grupo considera como desvantagens: a

vulnerabilidade quanto ao sigilo das informações e o não enraizamento da cultura da

contratante pelas contratadas, refletindo no reduzido nível de comprometimento. Na seção

anterior, o comprometimento não foi um dos principais problemas, mas em termos de

desvantagens o item ganha relevância.

Os pontos abordados pelos entrevistados são similares à análise de diversos

autores sobre o assunto. Como visto no referencial teórico, autores como Faria (1994), Leiria

(1993), Oliveira e Santos (2000), Rezende (1997) e Valença e Barbosa (2002) destacam os

motivos alavancadores do processo de terceirização nas empresas, aqui ressaltados pelos

entrevistados como vantagens. Esses mesmos autores e outros como Costa (1994), Fernandes

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et al. (2001), Fernandes (2003), Oliveira (1994) e Rezende (1997) referenciam também os

impactos negativos do processo, aqui vistos como de

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atividades terceirizadas estiverem do core business, maior a necessidade de estabelecerem-se

relações de parceria de modo a garantir a qualidade dos resultados.

A homogeneização das práticas de gestão de pessoas com vínculo efetivo e com

vínculo terceirizado, no tocante à remuneração e capacitação, foi outro ponto sugerido pe

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e) capacidade para envolver os funcionários na geração e manutenção de

processos de aprendizado contínuo, compartilhando com profissionais de

múltiplos vínculos.

A proposta de Useem e Harder (2000) para o desenvolvimento da liderança lateral

complementa aspectos centrais a serem desenvolvidos pelos gestores da Telmobile:

a) pensamento estratégico – decidir sobre o que produzir na empresa central e o

que deve ser repassado a outros, distinguindo entre o que é essencial e o que

não é;

b) negociação – escolher o melhor fornecedor, assegurando que os serviços

prestados por eles sejam adequados e efetivos;

c) governança compartilhada – coordenar os múltiplos vínculos contratuais;

d) gestão da mudança – identificar as mudanças necessárias e implementá-las.

Esses resultados sugerem que a Telmobile deva oportunamente repensar o

processo em direção à adoção de uma estratégia mais planejada, pois, conforme ressalta um

dos entrevistados, “a terceirização da forma que vem acontecendo é uma situação e não

derivada de um planejamento vinculado a uma estratégia da empresa”. Diversos autores

descrevem a necessidade da gestão tanto das pessoas, com a conseqüente preparação dos

gestores, como dos contratos, assunto analisado na próxima seção.

4.2.5 Gestão de contratos

O aspecto no qual se percebe mais fragilidade refere-se ao conhecimento e gestão

do contrato. A maior parte dos entrevistados demonstrou desconhecer o contrato ou o

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conteúdo que foi contratado, conforme declarações: “Desconheço o contrato e nem sei como

funciona”. Ou: “Tenho vaga noção do conteúdo”.

Para alguns entrevistados da TI, o desconhecimento do contrato se deve ao fato de

que grande parte foi negociada pela matriz, deixando os gestores locais vulneráveis junto ao

fornecedor: “O fornecedor age como se fizesse um favor”. Eles têm clareza de que o sucesso

na relação com o parceiro atribui-se ao que foi contratado e manifestaram não sentirem-se

preparados para a gestão da terceirização. Outros entrevistados posicionam-se a favor da

necessidade da formatação de contratos inteligentes e da necessidade da empresa se estruturar

para que sejam definidos processos e sistemas capazes de aferir o SLA – nível de serviço

acordado.

Algumas exceções foram apontadas. Diferentemente dos demais, um entrevistado

do CRC declarou conhecer o objeto do contrato com os parceiros, inclusive revelando haver

diferenciação no conteúdo contratado com cada um deles. Na área de rede, percebe-se uma

evolução, na medida em que os entrevistados afirmaram ter participado de todo o processo,

desde a definição do escopo técnico, estabelecimento do SLA e custo. Integraram um grupo

de trabalho para troca de experiência, uma vez que o processo estava sendo instaurado em

outras unidades de negócio. Alegam também que o contrato é objeto de constante consulta na

sua gestão: “O contrato é de total conhecimento do gestor, com acompanhamento diário”.

Diante do relatado e considerando que grande parte dos processos terceirizados

estão intimamente ligados ao core business, vê-se a necessidade de conhecimento e gestão

mais próximos de todo o processo com vistas a garantir a integração do recurso terceiro nos

processos gerenciados.

Há ainda de se observar a necessidade de estabelecerem-se contratos diferentes

para cada situação específica. Bensaou (1999) salienta essa questão ao analisar os tipos de

relacionamento entre contratada e contratante, que poderão ser estabelecidos em função do

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investimento, tangível ou intangível, feito pelo fornecedor, bem como dos investimentos

aportados pelo comprador. Para tanto, o tipo de relacionamento deverá estar adaptado às

condições do mercado, tecnologia, competitividade do produto e capacidade dos fornecedores

disponíveis.

Na questão relacionamento contratante-fornecedor, grande parte dos entrevistados

não conhece um modelo definido pela Telmobile que norteie o relacionamento entre

contratante-fornecedor, situação agravada pelo desconhecimento do objeto de contrato.

Grande parte dos entrevistados reconhece que essas condições dificultam, e muitas vezes

impedem, que o gerenciamento seja mais eficiente. Esse quadro favorece a construção de

algumas relações com base na pessoalidade.

Os entrevistados do CRC citam diferenciação de relacionamento entre os diversos

parceiros contratados. Alguns apresentam boa infra-estrutura e disposição para

estabelecimento de parceria; outros, embora tenham infra-estrutura adequada, não apresentam

abertura e flexibilidade para negociação e construção de uma parceria; e outros, ainda,

evidenciam fragilidade de infra-estrutura e do objeto de contrato, favorecendo que a

negociação seja baseada totalmente na pessoalidade.

Grande parte dos entrevistados da área comercial, vendas e suporte a vendas

sabem que a relação com parceiros e fornecedores tem evoluído para uma parceira. Já para TI,

houve unanimidade em dizer que pelo fato de os fornecedores/prestadores de serviço serem

contratados no exterior, torna-se difícil o acesso ao contrato e o conhecimento do conteúdo

contratado. Por outro lado, os depoimentos desse grupo indicam que a construção de uma

relação de parceria guarda íntima relação com o que foi contratado: “A relação com os

parceiros oscila para mais evoluída ou não, quanto maior for a evolução do contrato e do

que foi negociado com o fornecedor”.. Entretanto, para outro entrevistado da TI, a relação

com o contratado encontra-se bem próxima do formato de parceria, com rotina sistematizada

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de reuniões para acompanhamento, do nível de serviço acordado – SLA. Essas diferenças de

opinião parecem indicar o uso de diferentes contratos para cada área.

Os entrevistados da área de rede percebem que, embora o processo esteja

incipiente, “o contrato estabelecido é de muita parceria”. O contrato é de total conhecimento

do gestor, com SLA bem definido e acompanhamento diário com monitoramento dos

indicadores mais críticos.

Merece salientar também que alguns entrevistados disseram que algumas vezes a

própria contratante não cumpre as condições pactuadas no contrato: “Muitas vezes a

contratante não se preocupa com o negócio da contratada, assim, a relação de parceria é

quebrada”. Ou quando o foco é a questão do compartilhamento de informações, característica

essencial do formato de parceria estratégica: “A troca de informações hoje é mais

homogênea, mas num passado recente o terceiro era visto como inimigo”.

Um ponto de atenção que deve ser considerado e que foi relatado por muitos

entrevistados é que, se por um lado a empresa evolui, com contratos mais bem redigidos, por

outro lado o fato de serem firmados em nível nacional ou até internacional dificulta o

estabelecimento de mais proximidade e acompanhamento junto a esses prestadores de serviço

contratados. Grande parte dos fornecedores está localizada distante da operação/unidade de

negócio, prejudicando o compartilhamento de informações. Não se pode deixar de considerar,

no entanto, o ganho de escala e poder de barganha, característicos de negociações conjuntas

em âmbito nacional e internacional.

O grupo reconhece sinais de melhoria quando comparado com o que acontecia

num passado recente. Atualmente, alguns contratos já estão mais bem elaborados, com o

objeto mais definido e inserção de cláusulas que atrelam o SLA às questões de ordem

qualitativa.

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Para garantirem-se eficiência e efetividade no relacionamento, deve-se atentar para

características do mercado, do produto e das condições dos prestadores de serviço existentes,

estabelecendo contratos diferenciados, conforme já ressaltado por Bensaou (1999). Torna-se

importante definir um modelo apropriado para conduzir diferentes tipos de relacionamento. A

definição da estratégia correta para conduzir diferentes tipos de relacionamentos garantirá a

longevidade do negócio traduzida por vantagem competitiva. Mercados agressivos e em

crescimento, com alto grau de inovação e freqüente mudança da tecnologia exigem alto

investimento no relacionamento com elevado grau de cooperação mútua e estabelecimento de

relacionamento de longo prazo. O modelo estratégico de terceirização, adotado por grande

número de organizações, demanda da contratante e contratada relacionamento no formato de

parceria estratégica. Nesse estágio, de ambas é exigido investir firmemente no

relacionamento, cultivando reciprocidade no comprometimento, com alto nível de confiança e

compartilhamento de informações.

Na realidade, apesar da grande utilização da terceirização pela Telmobile, ainda há

necessidade de se definir um procedimento estruturado capaz de coordenar os diversos

processos de forma conjugada, buscando garantir a efetividade. Pode-se concluir que em

função das especificidades de cada área pesquisada, há a necessidade de estabelecimento de

tipos de relacionamento e de contratos diferenciados, embora as entrevistas demonstrem a

necessidade de evolução e melhoria nos diversos aspectos já mencionados. Algumas áreas, no

intuito e necessidade de agregar novas habilidades técnicas, devem manter relacionamento de

médio a longo prazo, próximo de uma relação de parceria. O grau de confiança deverá estar

pautado na eficiência e melhoria dos processos acordados entre contratante e contratada.

Outras áreas devem estabelecer relacionamento de parceria de longo prazo, seguindo a

orientação estratégica. O grau de confiança requerido é de elevada reciprocidade e a

necessidade de compartilhamento de informações é primordial (BENSAOU, 1999). Percebe-

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se, entretanto, na Telmobile, fragilidade nesses aspectos, conforme comenta um dos

entrevistados: “A relação de parceria ainda não existe. Não existe reciprocidade de intenção.

A empresa está resgatando os papéis e investindo na construção do relacionamento”.

Um fato importante que merece ser salientado é que grande parte das áreas

pesquisadas guarda relação próxima com o negócio principal, representando impacto sobre o

cliente, requerendo, dessa forma, planejamento mais acurado, bem como gerenciamento

eficiente de todas as etapas do processo. Franceschini et al. (2004) ressaltam que as empresas

deverão observar alguns critérios que servirão para nortear as atividades a serem terceirizadas,

como a habilidade técnica do contratado, o custo total de compra e a relação com o negócio

principal.

Embasando, portanto, a análise de Bensaou (1999) e Franceschini et al. (2004),, a

empresa pesquisada precisa estar atenta para a definição de um modelo que garanta a

negociação e a elaboração de um contrato bem construído, capaz de acomodar informações

essenciais quanto a: objetivos bem definidos, critérios de avaliação de desempenho do

fornecedor/prestador de serviço através do SLA, tempo de duração e a forma de atuação em

casos de controvérsias. O formato do relacionamento deverá estar alinhado com a

especificidade e complexidade dos processos terceirizados e a definição do tipo de

relacionamento deverá levar em conta as condições de mercado, concorrência e capacidade

dos fornecedores disponíveis. Critérios, modelos e estilos de relacionamento não apenas

orientarão o gestor, como também facilitarão a relação de parceria e confiança entre

contratada e contratante.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do estudo realizado na Telmobile (nome fictício de uma empresa de

telecomunicações multinacional, com operações no Brasil), pôde-se concluir que o modelo de

pesquisa construído foi robusto o suficiente para responder à questão central dessa

dissertação: como são gerenciadas as relações com terceirizados na prestação serviço em uma

empresa de telecomunicações? Existem diferenças em termos de gerenciamento de pessoas

com vínculo efetivo, de pessoas com vínculo terceirizado e de processos terceirizados na

Telmobile? O estudo empírico confirmou e avançou nos aspectos levantados no referencial

teórico.

Para responder às exigências da economia globalizada, as empresas alteraram sua

concepção de negócio concentrando-o em atividades essenciais (core business), reduziram

seus quadros de pessoal e alteraram os requisitos de perfil de seus empregados. Frente a esse

cenário, novos arranjos organizacionais e novos mecanismos gerenciais multiplicam-se, com

destaque para a empresa-rede. Saber lidar com distintas formas de vínculos empregatícios sem

ferir a imagem da empresa no mercado, do ponto de vista da qualidade do produto, do

atendimento ao cliente e do tratamento dispensado aos seus empregados, torna-se aspecto

fundamental numa sociedade que cada vez mais demanda por excelência de produtos e

serviços a preços competitivos. Nessa nova configuração, intensificada pelos processos de

terceirização, ganha maior escala a presença de múltiplos tipos de vínculos de trabalho,

resultando em novos desafios para os gestores.

Diante disso, esta pesquisa empírica buscou conhecer como são gerenciadas as

relações com as diferentes pessoas efetivas, terceiras e prestadores de serviço da Telmobile.

Os dados primários foram levantados entre um grupo selecionado de gerentes, coordenadores

e supervisores da empresa, por meio de entrevistas e de focus group. Os dados secundários

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foram obtidos de documentos, relatórios e no site da empresa. Pôde-se concluir que existem

diferenças no gerenciamento das diferentes pessoas e que essas diferenças representam

desafios significativos para o gestor e para a empresa. Detectou-se também que esses gestores

encontram-se despreparados para lidar com essa situação. Considerando que os gestores

pesquisados neste estudo constituem uma amostra representativa do universo da Telmobile,

pode-se inferir que esse despreparo esteja generalizado entre os demais gestores.

Os resultados da pesquisa indicam um alto grau de terceirização nas áreas

pesquisadas da empresa, podendo-se caracterizar a combinação de: terceirização de processos

e de pessoas. Na terceirização de processos, os parceiros cuidam de parte ou da totalidade de

uma operação realizada por recursos terceiros, alguns destes nomeados como consultores.

Alguns processos são desenvolvidos no ambiente da contratada, outros da contratante. Na

terceirização de recursos, no formato de subcontratação, os mesmos compartilham o espaço

físico da contratante, ao lado dos recursos efetivos envolvidos em processos, que muitas vezes

detêm mais expertise.

Uma das principais razões para a adoção da estratégia de terceirização pela

Telmobile foi o controle de custos e do headcount, seguido da idéia de focar-se nas atividades

ligadas ao core business e possibilitar ampliação de vendas, garantindo capilaridade ao

negócio. A opção pela terceirização foi uma decisão de nível estratégico, não havendo

participação do grupo pesquisado.

Os resultados da pesquisa indicam um tímido alinhamento e adequação aos valores

da empresa central, realçando significativo distanciamento no que tange ao valor foco no

cliente. A forma como vem sendo efetivada a terceirização na Telmobile compromete a

qualidade dos serviços, uma vez que o cliente passa a ser atendido por quatro empresas, sendo

três parceiros e a própria empresa central. Cada uma tem sua cultura específica, verificando-se

a dificuldade de padronização dos processos. Esse parece ser um marcante desafio para a

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empresa que apresenta tendência a ampliar a adoção de processos terceirizados e,

concomitantemente, ter como meta garantir qualidade nos processo de atendimento.

Uma análise conjunta dos aspectos relativos ao acompanhamento, distribuição das

metas e feedback quando ao desempenho e resultado dos processos terceirizados demonstra

não haver uniformidade ou padrão nas áreas pesquisadas. Nas áreas com o escopo de trabalho

técnico, como área de rede e TI, esse processo é similar ao dos recursos próprios. O

compartilhamento de metas e objetivos permite coordenar, com mais possibilidade de

sucesso, a atuação dos diversos profissionais, independentemente do tipo de vinculo

estabelecido, propiciando o espírito de equipe e o fortalecimento de relações de confiança.

Entretanto, nas demais áreas observou-se distanciamento quanto à condução desses aspectos,

uma vez que essas atribuições ficam sob a responsabilidade do supervisor do parceiro,

encarregado pela gestão da operação terceirizada. Detectou-se que, muitas vezes, embora

sejam repassadas as metas e a forma de como acompanhá-las, bem como um modelo adaptado

de feedback e desempenho, não se percebeu eficiência na utilização desses instrumentos.

Pôde-se, assim, confirmar a necessidade de diferentes formas de gestão em função

da diferenciação e especificidade do processo terceirizado. Processos que envolvem maior

conhecimento técnico tenderiam a apresentar menor diferenciação no estilo de gestão, quando

comparados a recursos próprios e terceiros.

Em relação à qualidade do serviço, custo e fidelidade na terceirização, a pesquisa

denota divergência de posicionamento entre os pesquisados. Evidencia-se preocupação mais

acentuada em relação à qualidade e custo entre os pesquisados da área de vendas e do

atendimento, respectivamente. Nessas áreas, por estarem em contato direto com o cliente, há

mais rigor na exigência em relação aos terceiros.

Quanto às práticas de treinamento e desenvolvimento, carreira, remuneração e

benefícios, também é significativa a diferença entre os recursos terceirizados e prestadores de

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serviço comparados aos recursos próprios, na maior parte das áreas pesquisadas. Entretanto,

nas áreas de escopo técnico, observa-se mais paridade de remuneração entre os recursos

próprios e terceiros. Há também de se evidenciar a relativa evolução quanto à prática de

pagamento de remuneração variável pelo atingimento de metas para alguns recursos terceiros

concentrados em alguns processos da área de vendas. Apesar dessas exceções, esse quadro

remete mais uma vez à fragilização das relações de trabalho, comuns nos processos de

terceirização, subcontratação, que, via de regra, acarreta redução de remuneração e perda de

garantias sociais. Esse aspecto reforça o sentimento do recurso terceirizado e prestador de

serviço do não pertencimento, de não fazer “parte do time”.

A pesquisa também revela grande interesse dos recursos terceirizados e

prestadores de serviço em serem efetivados no quadro da empresa. Em contrapartida, verifica-

se também a adoção, por parte da empresa central, da contratação dos terceirizados, como

forma de premiação aos melhores em função dos resultados alcançados e de garantir o

comprometimento. Essa prática, entretanto, mostra-se um tanto paradoxal, uma vez que, se o

objetivo é comprometer os terceirizados com os objetivos da empresa central, há de se investir

na melhor condição de remuneração e no maior envolvimento para garantir-se

comprometimento, em vez de “premiar com a efetivação” na empresa. Isso reforça a condição

inferior dos recursos terceirizados, além de ser contrário à decisão da empresa de terceirizar

mais processos.

Os processos de comunicação não apresentam homogeneidade entre as áreas

pesquisadas e encontram-se timidamente desenvolvidos. Esse quadro dificulta a disseminação

dos valores para adesão à cultura da empresa central, bem como o desdobramento das metas e

objetivos.

Os dados da pesquisa não evidenciaram participação de recursos terceirizados e

prestadores de serviço em cargos estratégicos de liderança. Por outro lado, observou-se a

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presença de alguns especialistas em atividades importantes, com o escopo mais técnico,

ligadas ao negócio da empresa central.

Analisando de forma conjugada os aspectos comprometimento, grau de

autonomia, qualidade e confiança, identificam-se diferenças entre terceiros e de efetivos. Nas

áreas com escopo técnico, obteve-se mais equilíbrio quanto a esses aspectos. Quanto à

participação em eventos e comemorações, a pesquisa denota existir significativa diferenciação

entre recursos terceirizados e efetivos, sendo facultado somente aos efetivos esse benefício.

Também esse é um dos fatores dificultadores na manutenção de terceiros motivados,

comprometidos e integrados nos objetivos da empresa central. Esse ponto foi detectado na

pesquisa de forma unânime, representando um grande dilema enfrentado pelos gestores.

Pode-se formular a hipótese de que a não participação nessas comemorações exponha, de

forma mais explicita, as diferenças de tratamento entre efetivos e terceiros.

O comprometimento é um dos desafios encontrados pelos gestores para que

consigam atingir resultados de forma homogênea de todos os recursos, sendo um elemento

importante, nesse sentido, o vínculo de confiança. O problema é mais concentrado nos

processos ligados ao atendimento ao cliente, traduzidos pelo índice de turn-over, absenteísmo

e atraso dos recursos. Os dados da pesquisa registram que o elo de confiança se estabelece e

fortalece a partir do contato físico e da relação direta com os supervisores e com a empresa.

Há um vínculo e um envolvimento mais forte do gestor quando de trata da gestão de recursos

terceiros que compartilham o mesmo espaço físico, na empresa central. Ao contrário, gestores

que gerenciam processos e operação nos quais esses recursos permanecem no ambiente do

próprio prestador de serviço manifestam “certa frieza” e mais dificuldade na gestão.

No item cumprimento de normas, procedimentos e padrões, os dados da pesquisa

expõem diferenças nas áreas pesquisadas e entre os grupos de recursos próprios, terceirizados

e prestadores de serviço. Os recursos próprios correspondem-se adequadamente ao

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cumprimento de normas e padrões. Para os recursos terceiros ligados aos processos de TI,

financeiro, suporte a vendas e rede, o comportamento é similar. Já para os terceiros ligados

aos processos da área de vendas e atendimento ao cliente, observa-se mais dificuldade no

cumprimento de normas e procedimentos e na padronização do serviço prestado.

O conjunto de vantagens e desvantagens relativas ao processo de terceirização

apresentado pelo grupo de pesquisados mostrou que, embora reconheçam aspectos

dificultadores e problemas, ressaltam as vantagens do processo. Apesar da existência de

problemas capazes de deixar a empresa em situação de vulnerabilidade, ainda assim não se

configura, na visão dos entrevistados, situação de risco capaz de colocar sob questionamento a

decisão da empresa de adotar a terceirização. A maior parte do grupo pesquisado considera

que a terceirização é uma alternativa interessante para fazer frente ao dinamismo e velocidade

das mudanças impostas pelo atual ambiente competitivo. É importante considerar-se a

variedade de sugestões apontadas pelo grupo de pesquisados, uma vez que são fruto da

experiência vivenciada na sua prática diária, podendo trazer alternativas capazes de minimizar

os impactos causados pela adoção dessa estratégia. Os gestores descrevem a necessidade de

estabelecimento de um procedimento estruturado para a gestão do processo de terceirização,

fomentando o compartilhamento das melhores práticas dos contratos já construídos e

negociados das diferentes áreas da empresa. Ressaltam, ainda, a necessidade da participação

na decisão e definição do que terceirizar e do envolvimento na negociação dos contratos, o

que pode possibilitar uma relação de parceria que permita compartilhamento mais intenso e

adequado de informações.

Para os formatos de relacionamento e modelo de contrato não existe orientação por

parte da empresa ou modelo preestabelecido que norteie as relações com os fornecedores e

empresas contratadas. A pesquisa detectou desconhecimento por parte do gestor daquilo que

foi contratado e a não participação na seleção dos parceiros, o que dificulta a relação e gestão

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desse processo. Em algumas situações, a saída é construir uma relação baseada na

pessoalidade e em um relacionamento próximo entre contratante e contratada, reforçando o

sentimento dos gestores em não se sentirem preparados para a gestão desses processos.

Com base na análise realizada, a adoção da estratégia de terceirização pela

Telmobile centrou-se na redução de custos e gestão do headcount, deixando de lado aspectos

importantes que dizem respeito e à gestão de pessoas e do contrato de terceirização. Verifica-

se, ainda, uma incoerência na lógica subjacente a essa estratégia, uma vez que um dos valores

centrais da empresa é o foco no cliente. A pesquisa salientou que o paradoxo que se

estabelece é que, ao mesmo tempo em que se reduz custo diretamente, aumenta-se o desafio

dos gestores em lidar com toda essa diversidade, o que vem comprometendo a qualidade do

serviço e o atendimento ao cliente, realizado em sua maior parte por terceiros.

Já podem ser reconhecidos avanços em aspectos ligados à gestão de pessoas e de

contratos em algumas áreas, notadamente nas áreas técnicas, que envolvem mais domínio de

conhecimentos. Essa experiência pode ser fonte de um benchmarking interno para a aplicação

em outras áreas da empresa.

Todos esses aspectos indicam que a Telmobile necessita se preparar para melhor

lidar com os diversos tipos de vínculos contratuais, o que certamente exigirá desenvolvimento

de competências e habilidades dos gestores, além de novos parâmetros de gestão por parte das

empresas, tais como:

a) melhor definição das áreas e processos a serem terceirizados;

b) elaboração de contratos mais bem formatados e inteligentes;

c) definição e gerenciamento de todas as etapas da terceirização;

d) desenvolvimento de processos e sistemas capazes de aferir as condições

contratadas, como por exemplo o SLA;

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e) capacitação e atualização sistemática dos gestores para a adequada gestão dos

diferentes vínculos;

f) clareza na especificação dos resultados esperados de cada recurso de vínculo

diferenciado;

g) fortalecimento da cultura com a coerência entre os valores e sua prática.

Algumas questões se impõem para a Telmobile diante esses resultados: a empresa

tem decidido corretamente, de forma consciente, quais processos terceirizar? A empresa tem

sido criteriosa na definição dos fornecedores/prestadores de serviço? O fato de manter

recursos terceiros – subcontratados e processos terceirizados abrigados no mesmo espaço

físico, sob a gestão do mesmo profissional, tem valido a pena? Tem valido a pena contratar

tantos e diferentes vínculos de trabalho? A empresa tem investido da forma correta na

capacitação e preparação desses gestores para lidar com todos esses desafios? Tem-se dado a

devida atenção aos contratos estabelecidos entre a empresa e suas contratadas? A experiência

bem sucedida de algumas áreas tem sido tomada como benchmarking?

Muitos dos processos de gestão da Telmobile são estabelecidos na prática, no dia-

a-dia, sem a devida consideração aos avanços teóricos já produzidos pela academia. Sugere-

se, assim o desenvolvimento de programas de capacitação dos gestores, focando as novas

habilidades e a liderança lateral.

A partir deste estudo, podem-se sugerir outros estudos de âmbito acadêmico. Os

resultados da pesquisa na Telmobile indicam tratamento diferenciado dispensado aos terceiros

envolvidos em processos que requerem mais alto grau de conhecimento. Pesquisas posteriores

poderiam analisar a gestão de terceiros em função do grau de conhecimento agregado no

processo terceirizado. Outro aspecto que pode ser aprofundado refere-se às diferenças no

estilo de gestão em função do espaço físico onde o serviço é prestado.

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Conclui-se que, apesar dos resultados desta pesquisa não serem generalizáveis a

outras situações, permitem a generalização teórica. Aspectos evidenciados neste estudo

comprovam a importância do foco em gestão de pessoas e de contratos nos processos de

terceirização.

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APÊNDICES

APÊNDICE A - ROTEIRO FOCUS GRUPO

Introduzir o tema da discussão

1) Qual o grau/nível de terceirização dos serviços/processos no setor que gerencia?

2) Na sua visão, quais foram os fatores determinantes para que a empresa adotasse a estratégiade terceirização?

3) Qual o seu grau de envolvimento e participação no processo de decisão para terceirização?

4) Na sua visão, os objetivos que motivaram a decisão da empresa em terceirizar vem sendoalcançados?

5) Na sua visão, a empresa possui valores coerentes com o processo de terceirização

6) Os métodos de gestão utilizados entre recursos efetivos e terceirizados

7) Existência de preocupação com o processo de terceirização (qualidade do serviço, custo,alinhamento e fidelidade dos recursos)

8) Como são realizados a gestão, acompanhamento e avaliação dos serviços terceirizados?Estreitamento de relação entre contratante e contratada

9) Como é realizado o processo de escolha do recurso terceirizado ou empresa contratada?

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APÊNDICE B– ROTEIRO DE ENTREVISTA

Questões gerais

1) Qual o grau/nível de terceirização dos serviços/processos no setor que gerencia?

2) Na sua visão, quais foram os fatores determinantes para que a empresa adotasse a estratégiade terceirização?

3) Qual o seu grau de envolvimento e participação no processo de decisão para terceirização?

4) Na sua visão, os objetivos que motivaram a decisão da empresa em terceirizar vêm sendoalcançados?

5) Na sua visão, a empresa possui valores coerentes com o processo de terceirização?

Gestão

Questão 6– variável cooperação e compartilhamento de informações6) Como você percebe o nível de cooperação no momento de compartilhar dados e

informações para a realização do trabalho entre funcionário efetivo e terceirizado? Percebeexistência de resistência ou boicote de informação entre eles?

Questão 9– variável políticas de Treinamento & desenvolvimento7) A empresa dispõe de políticas de recursos humanos que viabilize condição de

desenvolvimento profissional? Quais são essas políticas? Existe distinção entre funcionárioefetivo e terceiro quanto ao acesso a essas políticas de treinamento e desenvolvimento?Na sua visão, caso haja distinção, qual o impacto gerado no funcionário?

Questão 8 – variável processo de comunicação8) Na sua avaliação, como você considera o processo de comunicação existente na empresa?

Os processos de comunicação são claros? Eles se estendem tanto ao funcionário efetivoquanto ao terceirizado? A empresa dispõe de infra-estrutura de comunicação? Os veículosde comunicação são de comum acesso aos funcionários efetivos e terceirizados?

Questão 9 – variável remuneração & benefícios9) Você tem conhecimento sobre a política de remuneração e benefícios da empresa? Como

avalia essa política? Essa política privilegia desempenho, competência e resultado? Oscritérios de recompensa são aplicados de igual forma para o funcionário efetivo eterceirizado?

Questão 10 – variável promoção e carreira10) Como acontecem as oportunidades de promoção? Existe algum critério que norteie essas

oportunidades? Quais são? Essas oportunidades são oferecidas de igual forma parafuncionários efetivos e terceirizados?

Questão 11 – variável comemorações e eventos11) Os recursos terceiros são envolvidos nas comemorações da empresa?

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Questão 12– variável liderança/posição estratégica12) As oportunidades para ocupação das posições estratégicas e de liderança são concedidas

tanto para o recurso efetivo quanto para o terceirizado?

Questão 13, 14, 15 e 16- variável desempenho, feedback e resultado13) Os gestores negociam com o funcionário efetivo as expectativas de desempenho e

resultado esperados por eles? Como acontece essa negociação? Como esse processoacontece com o terceiro? O espaço para negociar é concedido para ambos os recursos?

14) Como o gestor acompanha o desempenho dos funcionários efetivos no dia-a-dia? Existealgum processo sistematizado pela empresa que auxilie esse processo? E com o terceiro,como isso acontece?

15) Existe por parte da empresa preocupação em relação à terceirização? Caso exista, quais sãoessas preocupações? (qualidade do serviço, custo, fidelidade dos recursos)

16) Qual a sua percepção em relação à prática do feedback dentro da empresa? Os funcionáriosefetivos recebem dos gestores feedback quanto ao desempenho? E com os terceiros, comoesse processo acontece?

Questão 17 – Grau de autonomia do gestor para escolha do recurso/empresa contratada17) Como acontece a escolha do recurso terceirizado e/ou processo terceirizado? Os gestores

possuem autonomia e poder de escolha e decisão nesse processo?

Percepções do gestor

Questão 18 – variável comprometimento 18) Como você percebe o nível de comprometimento dos efetivos sob sua supervisão? E dos

terceiros? Quais as principais diferenças percebidas por você? A que você atribui essadiferença? Como poderia ser tratada a questão? Com que o terceiro é comprometido? Porque?

Questão 19 – variável metas, desafios e objetivos19) Qual o nível de clareza quanto às metas, desafios e objetivos da empresa por parte dos

funcionários com vínculo efetivo? De que forma você percebe isso? Como essa informaçãoé repassada a eles? E no que diz respeito aos funcionários terceirizados, como essainformação é repassada?

Questão 20- variável grau de autonomia e tomada de decisão20) Como avalia o grau de autonomia do funcionário efetivo no que diz respeito à tomada de

decisão? Você percebe que esse grau de autonomia tem relação com o nível deconhecimento e domínio do processo de trabalho? Em qual(is) situações é evidenciado? Equanto ao terceirizado, como percebe isso?

Questão 21 – variável padrão, normas e procedimentos21) Como você percebe o trabalho desenvolvido pelos terceiros dentro da empresa? Existe

rigor quanto ao atendimento de padrões, normas e procedimentos da empresa? Como éaferido?

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Questão 22- variável expectativa de pertencimento22) Qual a sua percepção em relação à expectativa dos terceiros em pertencer ao quadro de

empregados da empresa?

Questão 23 e 24 – variável qualidade e confiança23) Como percebe o nível de qualidade dos processos conduzidos pelos efetivos em relação

aos terceiros? Existe diferença em relação a resultados entregues pelos recursos efetivos eterceiros?

24) Na relação estabelecida entre gestor x funcionário, o elo de confiança construído é omesmo estabelecido com recursos efetivos e terceiros?

Questão 25, 26, 27 e 28 – variável problemas, dificuldades, vantagens e desvantagens

25) Na sua visão, existem problemas decorrentes do processo de terceirização da empresa?

26) Caso existam, os problemas colocam em risco os objetivos iniciais da terceirização?

27) Em sua opinião, quais são as vantagens e as desvantagens da terceirização?

28) Você teria sugestões para o melhor desempenho do processo?

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