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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEAR
SEANDRA DOROTEU DE MACDO
GESTO PEDAGGICA EM TEMPOS DE IDEB
FORTALEZA CEAR
2011
SEANDRA DOROTEU DE MACDO
GESTO PEDAGGICA EM TEMPOS DE IDEB
Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado
Acadmico em Educao do Centro de
Educao da Universidade Estadual do Cear,
como requisito parcial para obteno do grau
de mestre em Educao. rea de
Concentrao: Poltica Educacional, Gesto e
Aprendizagem.
Orientadora: Profa. Dr
a. Sofia Lerche Vieira
FORTALEZA CEAR
2011
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao Universidade Estadual do Cear
Biblioteca Central Prof. Antnio Martins Filho
M141g Macdo, Seandra Doroteu de Gesto pedaggica em tempos de IDEB / Seandra
Doroteu de Macdo. 2011. 189f.: il. color., enc.; 30 cm. Dissertao (Mestrado) Universidade Estadual do
Cear, Centro de Educao, Curso de Mestrado Acadmico em Educao, Fortaleza, 2010.
rea de Concentrao: Poltica Educacional, Gesto e Aprendizagem.
Orientao: Profa. Dra. Sofia Lerche Vieira. 1. Gesto Pedaggica. 2. Gesto de/por resultados.
3. Poltica Educacional. 4. IDEB. I. Ttulo.
CDD: 379
SEANDRA DOROTEU DE MACDO
GESTO PEDAGGICA EM TEMPOS DE IDEB
Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado
Acadmico em Educao do Centro de
Educao da Universidade Estadual do Cear,
como requisito parcial para obteno do grau
de mestre em Educao. rea de
Concentrao: Poltica Educacional, Gesto e
Aprendizagem.
Defesa em ___/___/___
Conceito obtido:___________
Nota obtida :________
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Prof.Dr.Sofia Lerche Vieira- Orientadora
Universidade Estadual do Cear- UECE
____________________________________________________
Prof.Dr.Elosa Maia Vidal
Universidade Estadual do Cear- UECE
____________________________________________________
Prof.Dr. Jacques Therrien
Universidade Federal do Cear- UFCE
AGRADECIMENTO
Ao concluir este trabalho de dissertao de mestrado, quero agradecer:
A todas as pessoas que foram essenciais ao desenvolvimento da pesquisa,
minha orientadora, Prof Dr Sofia Lerche Vieira, pela orientao e por ter me
proporcionado grandes momentos de aprendizagem.
banca de qualificao composta pela Prof. Dr. Elosa Vidal e Prof. Dr Socorro Lucena
pelas contribuies significativas para a concretude deste trabalho.
equipe de professores do CMAE UECE da Universidade Estadual do Cear pelos
conhecimentos nas disciplinas ministradas e a nossa querida secretria deste mestrado Joyce
Vieira pela competncia e a disponibilidade em ajudar.
todos que fazem parte do grupo de pesquisa da Poltica Educacional, Ensino e
Aprendizagem- UECE da Prof Dr Sofia Lerche Vieira e que constitui a equipe do
Observatrio da Educao, meu reconhecimento; e em especial a Edgar Nogueira, Karla
Karine e Keciane pelo carinho sincero, o abrao e o sorriso fraterno de sempre; todos que
tive o prazer de conviver.
bolsa de estudos concedida pela CAPES que me proporcionou investir nos meus estudos.
minha famlia, a minha amada me Vicncia Macdo, meus irmos, especialmente ao meu
esposo Sampaio, que diante da ausncia foi pai e me de nossa filha. Com certeza, um dos
pilares da minha vida.
minha amada filha, Isadora de Macdo Sampaio, por ser o raio de luz proporcionado por
Deus no percurso desta minha vida.
Aos meus amigos que fiz durante o mestrado, Francione, Fabrcia, Ada, Nilson Cardoso,
Paula Cardoso, Helena Cristina e Lidiane Campelo - minha eterna gratido por cada palavra
de estmulo, as risadas, o choro, o companheirismo e os puxes de orelha.
Antonia Loiola e Lia Loiola pelo carinho e conforto de todos os momentos.
Por ltimo e no porque seja menos importante, A DEUS, por se fazer presente sempre na
minha vida. Meu rochedo, meu mar, meu blsamo. Vejam o que ele proporcionou no meu
caminhar: uma famlia amada, amigos e a f na vida.
Aula de Vo
O conhecimento
caminha lento feito lagarta.
Primeiro no sabe que sabe
e voraz contenta-se com cotidiano orvalho
deixado nas folhas vividas das manhs.
Depois pensa que sabe
e se fecha em si mesmo:
faz muralhas,
cava trincheiras,
ergue barricadas.
Defendendo o que pensa saber
levanta certeza na forma de muro,
orgulha-se de seu casulo.
At que maduro
explode em vos
rindo do tempo que imagina saber
ou guardava preso o que sabia.
Voa alto sua ousadia
reconhecendo o suor dos sculos
no orvalho de cada dia.
Mas o vo mais belo
descobre um dia no ser eterno.
tempo de acasalar:
voltar terra com seus ovos
espera de novas e prosaicas lagartas.
O conhecimento assim:
ri de si mesmo
E de suas certezas.
meta de forma
metamorfose
movimento
fluir do tempo
que tanto cria como arrasa
a nos mostrar que para o vo
preciso tanto o casulo
como a asa
Mauro Iasi
RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo explicitar e compreender como o municpio faz a
gesto pedaggica no contexto das polticas de avaliao de desempenho, tendo o ndice de
Desenvolvimento da Educao Bsica (IDEB) como norteador de qualidade educacional. O
objeto de estudo desta investigao a gesto pedaggica, tendo como base os municpios
cearenses de So Gonalo do Amarante e Sobral que apresentaram nas edies de 2005 e
2007 bons resultados no ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica (Ideb) nas sries
iniciais do ensino fundamental.Mapeou-se a partir da gesto municipal na sua dimenso
pedaggica as iniciativas que fizeram melhorar os ndices educacionais, em especial, o Ideb.O
desenvolvimento da gesto pedaggica no municpio e na escola de alto IDEB. As
repercusses das polticas de avaliao orientadas pela pedagogia de resultados sobre a gesto
pedaggica e autonomia docente. O estudo qualitativo, constitui-se como pesquisa
documental por analisar os dados que foram colhidos pelo Observatrio da Educao do
Cear, sendo um dos trabalhos advindos de um estudo maior. Os instrumentos de coleta
analisados foram s entrevistas com gestores municipais de educao, coordenadores tcnicos
e das escolas de alto Ideb; anlise documental da poltica educacional recente (Plano de
Desenvolvimento da Educao e o Termo de Compromisso Todos pela Educao) que
embasam o novo ndice de desenvolvimento da educao (IDEB) .Avaliar as escolas um
tema presente nas discusses atuais, envolvendo intelectuais da educao, instituies e
governos. O amadurecimento em torno deste assunto, culmina com a criao de um sistema
de avaliao nacional em fins da dcada de 1980, denominado Sistema de Avaliao da
Educao Bsica (SAEB). A partir de ento, o SAEB ganha expressividade no escopo das
reformas educacionais implantadas na dcada de 1990, com a politica de reforma do Estado e
a publicao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao (Lei N9394/96). Pode-se afirmar que
o pas inicia o sculo XXI com um sistema nacional de avaliao abrangente e robusto
inclundo desdobramentos nos estados e municpios. Seguindo a mesma tendncia federal,
Cear implanta no inicio da dcada de 1990, o Sistema Permanente de Avaliao da Educao
Bsica do Cear (SPAECE) que embora tenha passado por ajustes metodolgicos ao longo do
perodo se mantm at os dias atuais. Para tanto, utilizou-se como forma de anlise
metodolgica, o ciclo de polticas na perspectiva de Ball e Bowe (apud MAINARDES, 2006),
a fim de acompanhar diferentes movimentos do governo federal e estadual at a instncia
municipal para compreendermos o contexto da influncia, o contexto da produo de texto e o
contexto da prtica referente s polticas de avaliao de desempenho. Para fins analticos, a
presente pesquisa enfocou os trs primeiros contextos. A investigao da poltica de gesto
educacional no contexto municipal nos possibilitou discutir a gesto pedaggica no modelo
gerencialista voltada para uma pedagogia de resultados, a poltica municipal adotada para o
xito nos resultados do Ideb, e a repercusso no desenvolvimento na gesto pedaggica das
escolas, resultados da rede e a autonomia docente Conclui-se que polticas isoladas no so
promotoras de mudanas, contudo, a implementao de aes em conjunto com vrias
instncias da dimenso educacional favorecem o desenvolvimento da aprendizagem a partir
de mudanas externas e internas.
Palavras-chave: Gesto Pedaggica. Gesto de/por Resultados. Poltica Educacional. IDEB.
ABSTRACT
This study aimed to clarify and understand how the council manages educational policies in
the context of performance evaluation, and the Index of Development of Basic Education
(IDEB) as a guide to educational quality. The object of this research study is the pedagogical
management, based on the municipalities of Ceara and Sao Goncalo do Amarante Sobral who
presented in 2005 and 2007 editions of good results in the Index of Basic Education
Development (Ideb) in the early grades of elementary school . it was mapped from the
municipal administration in its pedagogical dimension initiatives that have improved
educational indicators, in particular the Ideb.O development of educational management in
the municipality and school IDEB high. The repercussions of policies guided by assessment
results on the pedagogy of educational management and teacher autonomy. The study is
qualitative, as is documentary research to analyze the data that were collected by the Centre
for Education in Cear, one of the works arising from a larger study. The data collection
instruments were analyzed to interviews with municipal education, technical coordinators and
high school Ideb; documentary analysis of recent education policy (Education Development
Plan and Statement of Commitment Education for All) that support the new development
index education (IDEB). Assessing the schools is a theme in current discussions involving
intellectual education, institutions and governments. The maturing around this issue,
culminating in the creation of a national evaluation system in the late 1980s, called Evaluation
System of Basic Education (SAEB). Since then, SAEB significant gain in the scope of the
educational reforms implemented in the 1990s, with the politics of state reform and the
publication of the Law of Guidelines and Bases of Education (Law No. 9394/96). It can be
said that the country begins the new century, a national system of comprehensive and robust
assessment inclundo developments in states and municipalities. In the same vein federal Cear
implants in the early 1990s, the Permanent System of Evaluation of Basic Education of Cear
(SPAECE) that although it has been methodological adjustments over the period remains to
this day. For this purpose, we used as a form of methodological analysis, the policy cycle
from the perspective of Ball and Bowe (cited MAINARDES, 2006), to monitor movements
of different federal and state government to the municipal level to understand the context of
the influence , the context of the production of text and context of practice relating to policies
for evaluating performance. For analytical purposes, this research focused on the first three
contexts. Research policy in the context of educational administration has allowed us to
discuss the municipal educational management in a management model focused on pedagogy,
the policy adopted city for success in the Ideb results, and impact on development in the
pedagogical management of schools, results of network and teacher autonomy conclude that
policies alone are not promoters of change, however, the implementation of actions in
conjunction with multiple instances of the educational dimension favors the development of
learning from internal and external changes.
Keywords: Educational Management. Management / by Results. Educational Policy. IDEB.
LISTA DE ABREVIATURAS
ANPED Associao Nacional dos Profissionais da Educao
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
BIRD Banco Interamericano para a Reconstruo e Desenvolvimento
BM Banco Mundial
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento
CEPAL Comisso Econmica para a Amrica Latina
CONAE Conferncia Nacional de Educao
FHC Fernando Henrique Cardoso Presidente do Brasil de 1995 a 2002
FMI Fundo Monetrio Internacional
FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao
FUNDEF Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e
Valorizao do Magistrio
FUNDEB Fundo de Educao Bsica
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IDEB ndice de Desenvolvimento da Educao
INEP Instituto Nacional de Educao e Pesquisa
IPCE - Instituto de Pesquisas do Cear
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional
MARE Ministrio de Administrao e Reforma do Estado
MEC Ministrio da Educao
OCDE Organizao para o desenvolvimento Econmico e Social
ONU Organizao das Naes Unidas
ONGs Organizaes No-Governamentais
PAC Programa de Acelerao do Crescimento
PAR Plano de Aes Articuladas
PDE Plano de Desenvolvimento da Educao
PDDE Programa Dinheiro Direto na Escola
PME Plano Municipal de Educao
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios
PNE Plano Nacional de Educao
PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento
PPP Projeto Pedaggico
PRADIME Programa de Apoio aos Dirigentes Municipais de Educao
PR-LETRAMENTO -Programa de Formao Continuada de Professores
SEB Secretaria de Educao Bsica (MEC)
SAEB Sistema Nacional de Avaliao da Educao Bsica
SEDUC Secretaria Estadual de Educao
UNESCO Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura
UNDIME Unio Nacional dos Dirigentes Municipais de Educao
UNICEF Fundo das Naes Unidas para a Infncia
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Caractersticas do modelo de responsabilizao LOW STAKES
conforme Brooke ................................................................................ 109
QUADRO 2 - Caractersticas do modelo de responsabilizao HIGH STAKES
conforme Brooke ................................................................................ 109
QUADRO 3 - Caractersticas Gerais da responsabilizao- Accountability - no
Cear ................................................................................................... 110
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Levantamento das teses e dissertaes nos anos de 2004 a 2009, no
portal da capes, acerca das produes com gesto pedaggica ............ 24
TABELA 2 - Levantamento das teses e dissertaes nos anos de 2007 a 2009, no
portal da CAPES, acerca das produes com Ideb ............................... 25
TABELA 3 - IDEB das Sries Iniciais Do Ensino Fundamental Dos Municpios
Cearenses Pesquisados .......................................................................... 27
TABELA 4 - Municpios Selecionados na Pesquisa do Observatrio da
Educao/INEP/MEC/UECE no Estado do Cear ................................ 31
TABELA 5 - Municpios Selecionados na Pesquisa do Observatrio da
Educao/INEP/MEC/UECE no Estado do Cear- ndice de
Desenvolvimento Humano .................................................................... 33
TABELA 6 - Proficincia da Rede Municipal Sobral-2005-2009 ............................ 124
TABELA 7 - Fluxo e Proficincia da Escola 1 de maio em Sobral 2005-2009 ........ 127
TABELA 8 - Proficincia da Escola 1 de maio em Sobral -2009 ............................. 128
TABELA 9 - Comparativo da Proficincia da rede municipal, referente s sries
iniciais/anos -2009 ................................................................................ 136
TABELA 10 - Proficincia da Rede Municipal SGA-2005-2009 .............................. 138
TABELA 11 - As notas de proficincia comparativo com os nveis da federao .... 142
TABELA 12 - Fluxo e Profincia da Escola de Alto Ideb de So Gonalo do
Amarante ............................................................................................... 142
LISTA DE GRFICOS
GRFICO 1 - Mdia de desempenho do SAEB- Brasil e Regies (1995-2009) em
Lngua Portuguesa 4 srie/ 5ano ................................................ 17
GRFICO 2 - Mdia de desempenho do SAEB- Brasil e Regies (1995-2009) em
Lngua Portuguesa 8 srie/ 9ano ................................................ 17
GRFICO 3 - Mdia de desempenho do SAEB - Brasil e Regies (1995-2009) em
Matemtica 4 srie/ 5ano .................................................................. 18
GRFICO 4 - Mdia de desempenho do SAEB - Brasil e Regies (1995-2009) em
Matemtica 8 srie/ 9 ano ................................................................. 18
GRFICO 5 - Idebs das escolas de Sobral, sries iniciais/anos, 2005 - 2009 ........... 122
GRFICO 6 - Idebs das escolas de Sobral com a primeira edio do IDEB de 2009 122
GRFICO 7 - Evoluo dos resultados do Ideb de Sobral nos anos inicias do EF ... 123
GRFICO 8 - Evoluo do Ideb de So Gonalo do Amarante 2005-2009 .............. 135
GRFICO 9 - Ideb da 4 srie/ano das escolas de So Gonalo do Amarante - 2005
a 2009 .................................................................................................. 136
GRFICO 10 - Evoluo da rede municipal de So Gonalo do Amarante ............... 137
GRFICO 11 - Evoluo em Portugus e Matemtica na Prova Brasil de 2005 -
2009 .................................................................................................... 143
SUMRIO
1 INTRODUO ............................................................................................... 13
1.1 CONTEXTUALIZANDO O ESTUDO ............................................................ 13
2 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS ................................................. 30
2.1 TRAJETRIA DA PESQUISA: DEFINIO DE RUMOS .......................... 30 2.2 NATUREZA E ANLISE DA PESQUISA .................................................... 34 2.3 SUJEITOS DA PESQUISA .............................................................................. 40 2.4 ANLISE E COMPILAO DOS DADOS ................................................... 41
3 DO PERCURSO DA AVALIAO BSICA NO BRASIL AO INDICE
DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAO (IDEB) .............................. 43
3.1 AVALIAO NO BRASIL: CAMINHOS PERCORRIDOS ........................ 43
3.1.1 O sistema de avaliao da educao bsica: consideraes iniciais ........... 46
3.1.2 O SAEB entra em uso ..................................................................................... 50
3.1.3 As polticas de constatao da cultura avaliativa ........................................ 56
3.2 PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAO: TRAANDO
METAS ............................................................................................................. 60
3.2.1 Diretrizes do Termo Compromisso Todos pela Educao .......................... 64
3.2.2 Plano de Aes Articuladas ............................................................................ 69
3.2.3 IDEB - O ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica ........................ 72
3.2.4 Aproximaes: avaliao e qualidade ........................................................... 77
4 GESTO PEDAGGICA EM TEMPOS DE IDEB ................................... 81
4.1 GESTO: A BUSCA DE CONCEITOS .......................................................... 81 4.2 GESTO PEDAGGICA ................................................................................ 83
4.2.1 A Pedagogia de Resultados no contexto do Gerencialismo ......................... 86
5 POLTICA EDUCACIONAL DO ESTADO DO CEAR: DA GESTO
DE RESULTADOS PARA A PEDAGOGIA DE RESULTADOS ............ 98
5.1 O CEAR E A POLTICA EDUCACIONAL DE DESEMPENHO .............. 99 5.2 SOBRAL - CARACTERSTICAS EDUCACIONAIS .................................... 110
5.2.1 As iniciativas governamentais de Sobral e o IDEB ...................................... 112
5.2.2 Proficincia da rede ........................................................................................ 122
5.2.3 A escola de alto IDEB de Sobral .................................................................... 125
5.2.4 Proficincia da escola ...................................................................................... 127
5.3 SO GONALO DO AMARANTE - CARACTERSTICAS
EDUCACIONAIS ............................................................................................ 129
5.3.1 As iniciativas governamentais SGA para melhorar o IDEB ...................... 130
5.3.2 Proficincia da rede ........................................................................................ 135
5.3.3 Escola de alto IDEB SGA ............................................................................ 138
5.3.4 Proficincia da escola ...................................................................................... 141
6 CONSIDERAES FINAIS: ANLISE DA GESTO PEDAGGICA
EM TEMPOS DE IDEB ................................................................................. 144
REFERNCIAS .............................................................................................. 151
ANEXOS .......................................................................................................... 162
13
1 INTRODUO
1.1 CONTEXTUALIZANDO O ESTUDO
O objeto de estudo desta investigao a gesto pedaggica, tendo como base os
municpios cearenses de So Gonalo do Amarante e Sobral que apresentaram nas edies de
2005 e 2007 bons resultados no ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica1 (Ideb) nas
sries iniciais do ensino fundamental. Abordaremos a gesto municipal na sua dimenso
pedaggica, com o intuito de analisar seu esforo em melhorar os ndices educacionais, em
especial, o Ideb, consequentemente a qualidade da educao.
Avaliar as escolas um tema presente nas discusses atuais, envolvendo
intelectuais da educao, instituies e governos. O amadurecimento em torno deste assunto,
culmina com a criao de um sistema de avaliao nacional em fins da dcada de 1980,
denominado Sistema de Avaliao da Educao Bsica (SAEB). A partir de ento, o SAEB
ganha expressividade no escopo das reformas educacionais implantadas na dcada de 1990,
com a politica de reforma do Estado e a publicao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao
(Lei N9394/96).
Com a implantao do SAEB em escala nacional, alguns estados brasileiros
comeam a criar sistemas estaduais de avaliao e com isso pode-se afirmar que o pas inica
um momento em que a avaliao passa a ter relevncia na politica educacional. Se a
experincia com avaliao em larga escala foi se desenvolvendo a contento, o mesmo no se
pode dizer do uso resultados, uma vez que estes no apareciam como instrumento norteador
na formulao de polticas efetivas para educao. Na verdade, os gestores tanto no mbito
das politica estaduais como municpais, no incorporaram de imediato a cultura de trabalhar
com os resultados das avaliaes.
Ravela (2000) em estudo realizado nos pases da Amrica Latina constatou
problemas de medida nos instrumentos e falta de aproveitamento das informaes
1 O IDEB foi criado em 2007. Com os dados da Prova Brasil de 2005 foi possvel foi possvel fazer a primeira
medio. Oficialmente a publicao da primeira edio do IDEB ocorreu em 2007, no entanto, o Ministrio da
Educao (MEC) considera o ano de 2005 como referncia inicial, de acordo com no stio do MEC:
http://ideb.mec.gov.br/.
14
publicizados atravs dos relatrios, demonstrando pouco impacto sobre as escolas.A falta de
formao especfica e o desinteresse pelos dados acontece tambm devido s orientaes
polticas que qualificam e desqualificam alguns dados e desconhecem outros.
Pode-se afirmar que o pas inicia o sculo XXI com um sistema nacional de
avaliao abrangente e robusto2, incluindo desdobramentos nos estados e municpios.
Seguindo a tendncia federal, o Cear implanta no inicio da dcada de 1990, o Sistema
Permanente de Avaliao da Educao Bsica do Cear (SPAECE) que embora tenha passado
por ajustes metodolgicos3 ao longo do perodo se mantm at os dias atuais.
A partir de 2005, com a reformulao do SAEB e uma maior divulgao dos
resultados por parte do governo federal, os sistemas de ensino so estimulados a fazerem a
gerncia dos resultados por meio de diagnsticos e planejarem aes pedaggicas voltadas
para as deficincias de aprendizagem.
A forma de aplicao do SAEB at 2003 era amostral, no permitindo a
estratificao de dados por unidade escolar ou sistema de ensino, o que gerava dificuldades
nos gestores em enxergarem os resultados da sua escola ou rede escolar. Isso causava um
distanciamento destes em relao aos dados publicados, sendo a consequncia imediata o
descarte destas informaes no planejamento das aes educativas.
Para suprir essa lacuna e visando a obteno de indicadores por unidade escolar,
ampliou-se a abrangncia do SAEB atravs da Portaria Ministerial N 931 de 21 de maro de
2005, constituindo-se em um sistema composto por duas avaliaes:
2 No fim dos anos 1990 o MEC cria o Exame Nacional de Ensino Mdio (1998) para avaliar o Ensino Mdio e o
Exame Nacional de Cursos (ENC), tambm conhecido como Provo para avaliar o Ensino Superior. Embora
essas avaliaes tenham objetivos e desenhos metodolgicos especficos, todas procuram atender um mesmo
foco da poltica educacional: mensurar resultados com vistas a busca da eficincia e eficcia da aplicao dos
recursos pblicos. 3 Em 2004, o SPAECE passou por um ajuste de grande envergadura, tendo incorporado melhorias de natureza
metodolgica e operacional e algumas inovaes a saber: aumento significativo de sua abrangncia, avaliando o
maior contingente de escolas e alunos desde sua criao, contemplando simultaneamente a 4 e 8 sries do
Ensino Fundamental e a 3 srie do Ensino Mdio; incluso da rede municipal de ensino numa amostra
representativa das turmas com mais de 25 alunos nas sries avaliadas; aplicao de instrumento cognitivo junto
ao professor da disciplina que leciona, visando detectar suas expectativas em relao ao desempenho dos alunos
na avaliao do SPAECE bem como correlacionar as possveis dificuldades dos professores com aquelas
apresentadas pelos alunos testados e comparao entre o resultado do Cear obtido pelo SAEB 2003 e os
detectados pelo SPAECE 2004, utilizando a mesma escala de nveis de proficincia do SAEB e a Teoria de
Resposta ao Item (TRI).A universalizao do SPAECE permitiu que a Secretaria de Educao utilizasse seus
resultados para a formulao de suas polticas.
15
1. Avaliao Nacional da Educao Bsica (ANEB), que mantm os objetivos,
caractersticas e procedimentos das avaliaes anteriormente realizadas pelo SAEB, ou seja,
por meio de amostras da populao, garantindo a continuidade da srie histrica dos dados de
proficincia dos alunos das redes pblicas e privadas brasileiras. Os resultados produzidos
pela ANEB no sero utilizados para identificar municpios, escolas, turmas, alunos,
professores e diretores.
2. Avaliao Nacional do Rendimento no Ensino Escolar (ANRESC), que levanta
informaes sobre o desempenho de cada uma das escolas urbanas, com mais de 30 alunos de
4 e 8 sries do Ensino Fundamental da rede pblica brasileira. O objetivo da ANRESC ,
principalmente, oferecer aos governos estaduais e prefeituras municipais uma avaliao das
escolas de suas redes para que, de posse de informaes acerca de cada uma delas, planejem e
implementem polticas pblicas e, ainda, possam aplicar recursos com maior preciso. A
produo de informaes sistemticas por unidade escolar pretende contribuir para o
desenvolvimento de uma cultura avaliativa, estimulando a melhoria dos padres de qualidade
e equidade da educao brasileira e adequados controles sociais dos seus resultados. Os
resultados da ANRESC 2005 foram divulgados em setembro de 2006 e as escolas receberam
seus boletins com dados referentes sua realidade, e tambm comparando seu desempenho
com o municpio, o Estado e o Brasil.
Os resultados das avaliaes da Prova Brasil e os dados referentes ao rendimento
escolar coletados por meio do Censo Escolar viabilizaram a criao do ndice de
Desenvolvimento da Educao Bsica (IDEB) em 2007. Segundo Fernandes (2007),
A combinao entre fluxo e aprendizagem do IDEB vai expressar em valores de 0 a
10 o andamento dos sistemas de ensino, em mbito nacional, nas unidades da
Federao e nos municpios, calculada por meio da frmula: em que: IDEBji=Nji x
Pji
i= ano do exame (Saeb e Prova Brasil) e do Censo Escolar;
N ji = mdia da proficincia em Lngua Portuguesa e Matemtica, padronizada para
um indicador entre 0 e 10, dos alunos da idade j, obtida em determinada edio do
exame realizado ao finalda etapa de ensino;
P ji = indicador de rendimento baseado na taxa de aprovao da etapa de ensino dos
alunos da unidade j.(FERNANDES,2007, p.03)
As metas estabelecidas mobilizam gestores pblicos no desenvolvimento de
iniciativas visando melhorar os indicadores previstos no IDEB, especialmente a taxa de
aprovao e o desempenho escolar dos estudantes. Os gestores estaduais e municipais,
preocupados com seus prprios resultados criam polticas de premiao, com bonificao em
16
recursos, repasse de verbas agregado aos resultados estaduais, municipais ou escolares
conforme padres estabelecidos.
No Cear, a poltica de premiao de escolas e profissionais da educao remonta
ao inicio dos anos 2000, com a criao de Prmio Escola do Novo Milnio, estabelecido em
2001 na gesto do secretrio Naspolini; Prmio Escola Destaque em 2004 e 2005 e mais
recentemente a lei 14.484/2009 que instituiu o Prmio Aprender para Valer para as escolas
estaduais. Alm disso, o Governo do Estado, no ano 2007, criou a Lei do ICMS, agregando
repasses monetrios aos municpios conforme o ndice educacional, de acordo com a Lei
N14.023/07 e decreto 29.306/08 .
Este novo cenrio permite o desenvolvimento de um trabalho voltado para
investigar at que ponto a dimenso pedaggica da gesto escolar tem relevncia na busca
pela melhoria da qualidade na educao, mais especificamente, no desempenho escolar dos
alunos. Assim, procurar-se- analisar o comportamento da gesto pedaggica municipal
diante dos resultados apresentados e as estratgias adotadas para a melhoria desses dados,
numa perspectiva que ultrapasse as iniciativas isoladas das escolas.
As polticas de educao incluem-se no marco do processo de redemocratizao
do pas e da Amrica Latina a partir dos anos de 1980 quando so iniciadas profundas
reformas educacionais. As dcadas seguintes foram dedicadas a estabelecer marcos
normativos e novas configuraes para a gesto dos sistemas educacionais. No Brasil, a
Constituio de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional de 1996 orientam
sobre os novos princpios que devem regular a educao nacional, tendo a descentralizao
por meio da municipalizao se destacado como conceito orientador para implementao e
execuo das polticas formuladas no nvel central (DOURADO, 2009)..
O processo de municipalizao da educao implicou na descentralizao da
gesto dos sistemas e teve como resultado imediato a incapacidade de monitoramento dos
inmeros sistemas educacionais e uma queda no desempenho obtido pelos estudantes nas
avaliaes de sistemas da educao. Essa queda se expressa nos resultados obtidos pelo
SAEB na srie histrica 1995-2009, como podemos ver nos grficos a seguir.
17
Grfico 1 - Mdia de desempenho do SAEB- Brasil e Regies (1995-2009) em Lngua
Portuguesa 4 srie/ 5ano.
Grfico 2 - Mdia de desempenho do SAEB- Brasil e Regies (1995-2009) em Lngua
Portuguesa 8 srie/ 9ano
18
Grfico 3 - Mdia de desempenho do SAEB - Brasil e Regies (1995-2009) em Matemtica
4 srie/ 5ano.
Grfico 4- Mdia de desempenho do SAEB - Brasil e Regies (1995-2009) em Matemtica 8
srie/ 9 ano.
19
O propsito deste estudo explicitar e compreender como o municpio faz a
gesto pedaggica no contexto das polticas de avaliao de desempenho, tendo o ndice de
Desenvolvimento da Educao Bsica (IDEB) como norteador de qualidade. Nas palavras de
Oliveira (2009)
O municpio como ente federativo tem atualmente a responsabilidade de ordenar o
seu desenvolvimento social e garantir o bem estar de seus habitantes, executando
polticas pblicas que visam consolidao democrtica do Estado. Dessa forma, os
aperfeioamentos da mquina administrativa, a redefinio de obrigaes e
encargos, bem como o estabelecimento de polticas pblicas especficas passaram a
ser preocupao constante do gestor pblico municipal (OLIVEIRA 2009. p. 21).
Sousa (2009) ressalta que a avaliao dos sistemas educacionais vem se
destacando como instrumento de gesto independente das esferas governamentais. Observa,
porm, que faltam informaes sobre a contribuio dos resultados na implementao de
aes. A autora destaca uma pesquisa4, da qual participou, cujo objetivo foi destacar as
propostas elaboradas por estados que apresentavam um sistema de avaliao, com o propsito
de saber como os gestores estavam utilizando os resultados das avaliaes nas decises e
direcionamentos das polticas educacionais.
Os dados do estudo mostraram que o gerenciamento do sistema burocrtico. H
uma indefinio sobre para quem so direcionadas as informaes, se para os gestores, os
profissionais da escola ou comunidade escolar. As secretarias limitam-se a informar sobre o
rendimento dos alunos. No que se refere s escolas, a pesquisa relata a dificuldade por parte
de seus atores em ler e compreender os resultados produzidos (SOUSA, 2009).
Na contramo dos que no sabem como utilizar os dados, pesquisas que estudam
boas prticas mostram contextos onde isto pode ser diferente. Podemos elencar o trabalho de
Parandekar (2008) que pesquisou o sucesso educacional nas redes municipais de ensino.
Destacou o trabalho de interaes mltiplas entre a equipe pedaggica da Secretaria
Municipal de Educao e ncleos gestores sem ter uma relao hierrquica ou radial como
sendo um dos pontos para se atingir a qualidade. Ainda sugere que a figura dessa pessoa ou
4 Pesquisa desenvolvida por Romualdo Portela de Oliveira,concluda em 2007 intitulada:Sistemas de Avaliao
educacional no Brasil: caractersticas, tendncias e uso dos resultados.A pesquisa abrangeu na primeira etapa os
sistemas de avaliao estaduais dos seguintes estados: Paran, So Paulo, Minas Gerais, Cear e Bahia.
20
pessoas que se dedicam ao apoio pedaggico seja analisada com mais profundidade em
pesquisa desenhada com tal finalidade (PARANDEKAR, 2008, p.73).
Soares e Marotta (2009) referindo-se dimenso pedaggica e aos estudos sobre a
organizao do trabalho chamam ateno para a prescrio estruturada de ensino que tem
dado bons resultados nas escolas municipais de So Paulo e que no tem recebido a ateno
devida. Constitui-se numa abordagem em que se adota uma forma de ensino para todas as
escolas da rede.
Por atuar como professora por oito anos e h trs fazendo parte do departamento
de Gesto e Ensino no municpio cearense de Crates, como tutora do Programa Federal de
formao continuada, Pr-Letramento, trouxe o questionamento sobre o papel da Gesto
Pedaggica Municipal frente s polticas municipais, estaduais, nacionais, para interrelacion-
la s metas especficas locais e aos resultados das avaliaes nacionais, especificamente o
IDEB como ndice de qualidade.
O ingresso no Mestrado Acadmico em Educao, na linha de pesquisa e grupo de
estudo Poltica Educacional, Gesto e Aprendizagem, liderada pela Prof. Dra. Sofia Lerche
Vieira possibilitou-me participar, como bolsista-CAPES, da pesquisa em desenvolvimento
denominada Bons Resultados no IDEB: estudo exploratrio de fatores explicativos, que faz
parte do Observatrio da Educao do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Ansio Teixeira (INEP), financiada pela Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de
Nvel Superior (CAPES) 5.
No percurso da pesquisa, tive a oportunidade de visitar quatro municpios6, dos
dez que fazem parte da pesquisa no Cear7 e contribuir com a elaborao de trs relatrios
8.
Conheci, atravs de entrevistas com secretrios, tcnicos da secretaria, diretores e
coordenadores, alm das observaes e visitas s escolas, como orientada a Gesto
Pedaggica destas cidades e o trabalho desenvolvido nelas, que as fizeram obter xito nas
5Desenvolvido em parceria com a Universidade Federal Grande Dourados, Universidade de So Paulo e
Universidade Estadual do Cear que tem como objetivo identificar fatores que fizeram com que municpios
distribudos nos estados do Cear, So Paulo e Mato Grosso do Sul obtivessem bons resultados no IDEB nas
edies 2005 e 2007. Coordenada no Cear pela Prof. Dr. Sofia Lerche Vieira. 6So Gonalo do Amarante,Catunda, Boa Viagem e Jijoca de Jericoacoara
7No Cear os municpios que fazem parte da pesquisa so: Sobral, Mucambo, Catunda,Jijoca de Jericoacoara e
So Gonalo do Amarante com maior IDEB em 2007. Os municpios com maior variao nas edies 2005 e
2007 so: Boa Viagem, General Sampaio, Martinpole, Ipu e Aratuba. 8 Boa Viagem, Catunda e So Gonalo do Amarante.
21
edies do IDEB de 2005 e 2007. Percebi tambm possibilidades e limitaes diante da
dinmica de autonomia e a busca pela qualidade de ensino.
Nas visitas realizadas a alguns municpios, os primeiros dados apontam indcios
de que h um trabalho diretivo para as avaliaes externas No entanto, existem diretores
escolares que desconheciam os bons resultados da sua escola contradizendo as tcnicas
pedaggicas que relataram a existncia de um trabalho voltado para Prova Brasil e as
avaliaes estaduais.
Em outros municpios h acompanhamento ao trabalho desenvolvido pelas
escolas nas sries iniciais do Ensino Fundamental. Ele no est necessariamente no projeto
poltico pedaggico da escola em forma de um documento escrito, mas nas aes pontuais
para amenizar as dificuldades no municpio, corroborado por um trabalho contnuo nas
polticas educacionais locais.
No entanto, em outras realidades no existe trabalho diretivo, conforme
depoimento do secretrio de educao de Aratuba, nas gestes de 2005 e 2007. Quando
indagado: Durante a sua gesto, que aes foram formuladas pela Secretaria Municipal de
Educao visando melhoria do Ideb, ele respondeu:
No. Ns no trabalhamos assim para melhorar ndice no. Nunca trabalhamos
assim oh, vamos direcionar o nosso trabalho por causa da cartilhinha... da
Provinha Brasil... isso era feito um dia antes numa reviso, mas a gente dizer: ah
vamos melhorar o Ideb, no foi assim, no houve essa preocupao. A nossa
primeira semana pedaggica, o tema era Em busca da Qualidade na Educao,
sem se preocupar, eu no sabia nem o que era Ideb(EX-SECRETRIO DE
ARATUBA).
Ele foi indagado ainda com as seguintes perguntas: O seu municpio apresentou
um dos mais altos IDEBs do estado em 2007. A que atribui esse resultado? Quais realizaes
at 2007 foram decisivas para esse resultado? Dentre as respostas ele destaca o projeto de
alfabetizao e a forma democrtica com que eram escolhidas as aes no planejamento, a
partir das necessidades das escolas.
As duas perguntas foram dirigidas tambm voz discordante, e aos tcnicos
pedaggicos da Secretaria de Educao e de acordo com as respostas reconhecem o trabalho
desenvolvido em prol da alfabetizao das crianas e os programas estaduais e federais
voltados para a formao do professor e o apoio pedaggico do Programa Estadual de
Alfabetizao na Idade Certa (PAIC).
22
Em Sobral temos uma gesto pedaggica que voltada para a centralizao do
gestor escolar, o municpio delega funes e controle sobre os resultados. Quando o secretrio
foi inquirido sobre as aes voltadas para o IDEB, ele respondeu: Todas essas!
Discutirmos como o municpio faz a Gesto Pedaggica trazer a tona o papel da
Secretaria de Educao e do gestor na construo de uma educao de qualidade. A escola
no atua sozinha, ento necessria a aproximao da Secretaria e de quem compe o setor
de ensino na nova viso de administrao pblica, que de apoiar, oferecer e orientar com
objetivo a educao de qualidade.
Um trabalho da administrao municipal planejado, organizado, articulado e
coletivo,assim como a seriedade e a honestidade no trato da coisa pblica, serve de
referncia para a formao do cidado, para o trabalho das escolas, do mesmo modo
que o professor serve de referencial para o trabalho das escolas, do mesmo modo
que o professor serve de referencial para os seus alunos. Esse o carter implcito da
dimenso pedaggica da gesto municipal. O carter explcito se refere s
responsabilidades diretas com o sistema escolar, no estabelecimento conjunto de
diretrizes orientadoras do ensino, no acompanhamento do desempenho de cada
escola e de seus profissionais de educao e de seus alunos, na ampliao e
manuteno da rede, na qualificao pessoal, na organizao e modernizao dos
servios prestados pela Secretaria da Educao s escolas (PORTELA, ATTA,
2001.p.124).
Para as autoras, a dimenso da gesto pedaggica municipal est na
responsabilidade do carter direcionador do ensino e no acompanhamento s instituies, ao
acesso educao e qualidade dos servios prestados atravs dos seus profissionais. No
entanto, a organizao e a qualidade da equipe tcnica que compe a Secretaria de Educao
o requisito primordial para a concretizao do que reserva a legislao: a gesto democrtica e
participativa com foco na aprendizagem dos alunos.
A unidade de uma dimenso no suficiente, e no caso da pedaggica,
necessria a interseco da parte poltica, administrativa e financeira. a soma das dimenses
que dar organicidade ao direcionamento das aes, objetivando a qualidade. Para o xito das
aes so necessrias, portanto, polticas eficazes para a qualificao de profissionais. O
objetivo das outras dimenses deve estar a servio do sucesso pedaggico. S assim a
educao apresentar melhores ndices a serem demonstrados pelo IDEB.
Deseja-se o bom desempenho para que as crianas aprendam. A razo desta
pesquisa a discusso atual acerca do acesso educao, da qualidade, da avaliao e da
descentralizao educacional. As anlises desses elementos apontam que estes repercutem no
23
trabalho do professor, especificamente, na forma como realizada a gesto pedaggica no
mbito municipal diante das exigncias de um Estado avaliador e regulador de suas aes.
A proposta inicial da investigao ficou mais clara para mim durante as pesquisas
de campo. Atravs dessa experincia, compreendi a dimenso poltica da educao a nvel
local e os territrios de negao9 que impedem com menor ou maior intensidade os avanos
educacionais. Assim, a escolha da pesquisa est conectada pesquisadora e sua histria de
vida e experincias.
[...] Isto quer dizer que a escolha de um tema no emerge espontaneamente, da
mesma forma que o conhecimento no espontneo. Surge de interesses e
circunstncias socialmente condicionadas, frutos de determinada insero no real,
nele encontrando suas razes e seus objetivos (MINAYO, 1994, p. 90).
Segundo Chizzotti (2003) todo esforo de pesquisa est imbricado ideia de criar,
transformar, explicar, avanar, elaborar, trabalhar e modificar o mundo com novas
concepes e aes sobre os objetos.Como afirma Veiga-Neto (1996), a ps-modernidade
questiona as certezas e os conceitos de verdade, no entanto, no vamos viver num mundo sem
princpios e onde tudo vale. Isso significa, sim, que tudo aquilo que pensamos sobre nossas
aes e tudo aquilo que fazemos tem que ser contnua e permanentemente questionado,
revisado e criticado (VEIGA-NETO, 1996, p. 31).
uma investigao que se origina no seio de uma pesquisa maior ao qual
podemos denomin-la, grande pesquisa, pesquisa cenrio ou pesquisa guarda-chuva, por
concentrar diferentes projetos de investigao. A pesquisa Gesto Pedaggica em tempos de
IDEB faz um recorte da pesquisa anteriormente mencionada, com o objetivo de analisar as
iniciativas pedaggicas desenvolvidas nos municpios cearenses de Sobral e So Gonalo do
Amarante com bons resultados nas edies de 2005 e 2007 do IDEB nas sries iniciais do
ensino fundamental.
Foi necessrio consultar o site da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de
Ensino Superior (CAPES), com o intuito de identificar teses e dissertaes sobre a nova
configurao da gesto pedaggica no contexto das polticas de avaliao de desempenho,
precisamente em relao ao IDEB, nesta nova conjuntura. Percebi que a literatura sobre a
temtica recente, conforme quadro abaixo:
9Configura-se na falta de isonomia administrativa, interferncia dos polticos locais na escolha de diretores,
professores e a ausncia de gerncia do secretrio de educao dos recursos educacionais.
24
Tabela 1- Levantamento das teses e dissertaes nos anos de 2004 a 2009, no portal da
capes, acerca das produes com gesto pedaggica.
Grupo Temtico Dissertaes Tese Total %
Grupo I Ensino Superior- relacionado ao Projeto Poltico
Pedaggico dos Cursos
1 01 2 8%
Grupo II Gesto de Desempenho/Escola de Referncias/Perfil
dos gestores e coordenadores escolares (mbito da escola)
3 02 5 20%
Grupo III Gesto Democrtica Participativa/Conselhos 2 2 8%
Grupo IV PDE e PPP (mbito da escola)-Viso micro sobre a
poltica educacional.
2 2 8%
Grupo V Gesto escolar -aborda o papel do ncleo
gestor/diretor e coordenador pedaggico e professores.
3 3 12%
Grupo VI Educao Especial 1 1 4%
Grupo VII Avaliao- no sentido macro, institucional de
controle.
3 3 12%
Grupo VIII Ambientes/Sala de aula 1 1 4%
Grupo IX Educao distncia/tecnologia virtual 1 02 3 12%
Grupo X Ensino/Prticas Pedaggicas 1 01 2 8%
Grupo XI Sade do Professor 1 0 1 4%
TOTAL 19 6 25 100%
Fonte: Capes/2010
A busca no site da CAPES com o descritor Gesto Pedaggica deu-se com a
opo marcada expresso exata, que diferente da procura por todas as palavras ou
qualquer uma das palavras.A escolha por estas opes significa rastrear os termos de forma
individual. As produes de mestrado sobre o assunto referem-se gesto pedaggica e
gesto democrtica no mbito escolar; ao trabalho do coordenador na instituio escolar; ao
25
modelo de gesto; ao Plano de Desenvolvimento da Educao; ao planejamento e ao projeto
poltico pedaggico.
Quanto a doutorado, as discusses sobre o assunto permeiam a docncia
universitria com projeto pedaggico dos cursos e ambientes virtuais. As pesquisas voltam-se
a escola para saber como as polticas chegam s instituies escolares, e como aes e seus
efeitos se materializam no espao educativo.
Considerando os estudos que versam sobre o IDEB, organizamos a tabela a
seguir:
Tabela 2 - Levantamento das teses e dissertaes nos anos de 2007 a 2009, no portal da
CAPES, acerca das produes com Ideb.
Grupo Temtico Dissertaes Teses Total %
Grupo I- Financiamento/Recursos/Fundef e Fundeb. 02 0 02 11,11%
Grupo II Poltica Educacional/PDE/IDEB/ Educao do Campo.
(discusses macro)
02 01 03 16,66%
Grupo III-Desempenho/Fatores de Resultados (mbito escolar) 06 0 06 33,33%
Grupo IV- Ensino 02 0 02 11,11%
Grupo V- Gesto Democrtica 01 0 01 5,56%
Grupo VII- Qualidade/Legislao (discusses macro) 02 0 02 11,11%
Grupo VII- Fluxo/Repetncia 01 0 01 5,56%
Grupo VIII-Programas de ensino/Consultoria-Airton Senna 01 0 01 5,56%
Totais 17 01 18 100%
Fonte: Capes/2010
A temtica sobre ndice de Desenvolvimento da Educao aparece nas produes
de 2007, 2008 e 2009, nas dissertaes de mestrado. Destacam-se trabalhos sobre
movimentos que buscam a qualidade para a educao:
26
A Campanha Nacional pelo Direito Educao,
Movimento Todos pela Educao
Criao do IDEB;
Anlise do IDEB em um determinado estado e o fluxo escolar;
Qualidade da educao e o modelo de gesto;
Formao continuada de professores
Financiamento da educao.
A utilizao do descritor Ideb para o ano de 2010 apontaram 23 dissertaes de
mestrado e uma de doutorado. Gesto Pedaggica e a relao com as polticas de avaliao
somam 07 e de doutorado duas. A busca por produes no site da CAPES, demonstra o
interesse pelo tema, embora recente, a influncia das polticas no contexto educacional. As
pesquisas sobre a relao Ideb e Gesto Pedaggica e a centralidade das aes no mbito da
Secretaria de Educao em consonncia com as polticas educacionais nacionais, tendo como
recorte as avaliaes externas e o IDEB no papel de indutor frente s aes e resultados so
promissoras.
A Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Educao (ANPED)
uma referncia para a educao nacional em termos de grupos de estudos/debates e
divulgao de pesquisas no cenrio brasileiro, foi fonte de nossas buscas a trabalhos
publicados sobre o Ideb e a Gesto Pedaggica no mbito da poltica educacional. As
pesquisas sobre o assunto ressaltam Avaliaes de grande escala, Gesto Educacional e
Gesto de Sistema, Centralizao e Descentralizao, mas nada especfico sobre o tema
proposto aqui.
Cabe esclarecer que a escolha por estes municpios deve-se a dois motivos: 1) por
apresentarem um crescimento constante nas edies do IDEB nas sries iniciais do ensino
fundamental e terem uma poltica de continuidade10
. 2) Evidencia-se o poder das avaliaes
10 Considera-se poltica de continuidade aquele que segue a mesma linha de aes. No rompe com a poltica de
governo do anterior. Pode haver reformulaes, mas procura no causar sbitos rompimentos. Por exemplo, as
polticas de avaliao no setor educacional nos ltimos 20 anos.
27
em larga escala na definio de como e para que ensinar, influenciando metas, rumos e
prticas educativas.
Tabela 3- IDEB das Sries Iniciais Do Ensino Fundamental Dos Municpios Cearenses
Pesquisados.
Fonte: INEP/MEC
Diante dos argumentos expostos, a problemtica que a pesquisa se prope a
responder : Que mudanas ocorreram na gesto pedaggica dos municpios cearenses no
contexto das polticas de avaliao de desempenho, mais precisamente frente ao Ideb?
O objetivo geral analisar as iniciativas pedaggicas desenvolvidas em Sobral e
So Gonalo do Amarante que contriburam para seus bons resultados, nas sries iniciais do
Ensino Fundamental nas edies de 2005 e 2007 do IDEB. Dentre os objetivos especficos da
pesquisa destacam-se:
Mapear no setor pedaggico da secretaria de educao as iniciativas que
conduziram/conduz os municpios a elevar seu ndice no IDEB e a obter destaque nas
avaliaes externas.
Conhecer o desenvolvimento da gesto pedaggica no municpio e na escola de
alto IDEB.
Maiores IDEB 2007 Maiores variaes
Municpio 2005 2007 2009 Municpio 2005 2007 2009
Sobral 4,0 4,9 6,6 Boa Viagem 2,4 3,8 4,1
Mucambo 3,5 4,5 4,9 General Sampaio 2,4 3,6 3,9
So Gonalo do Amarante 3,8 4,5 4,7 Martinpole 3,0 4,0 4,4
Catunda 3,5 4,4 4,0 Ipu 2,2 3,1 4,0
Jijoca de Jericoacoara 3,7 4,4 4,9 Aratuba 3,2 4,1 3,9
28
Discutir as repercusses das polticas de avaliao orientadas pela pedagogia de
resultados sobre a gesto pedaggica e a autonomia docente.
Para tanto, trabalharemos com a perspectiva desenvolvida por Stephen Ball sobre
o Ciclo de Polticas, que nos apresenta a possibilidade de uma anlise crtica e
contextualizada de programas e Polticas Educacionais, a partir da relao entre os contextos
macro e micro.
O escopo deste trabalho est organizado com a introduo e mais cinco captulos.
Na introduo aborda a problemtica, justificativa, e objetivos que direcionam a discusso em
estudo. O segundo captulo: Procedimentos Metodolgicos traz o delineamento da pesquisa,
objetivos, natureza, sujeitos e a trajetria de investigao.
No terceiro captulo: Do Percurso da Avaliao Bsica no Brasil ao ndice de
Desenvolvimento da Educao Bsica (Ideb) trago as recomendaes internacionais para a
poltica avaliativa e a criao do Sistema de Avaliao do Brasil. Parto do recorte temporal do
sculo XVIII para registrar que j tnhamos uma preocupao estatstica em avaliar o sistema.
O intuito mostrar atravs do percurso histrico como o sistema de avaliao da educao
bsica brasileira se constituiu at a criao do IDEB. Os autores Freitas (2007), Bonamino
(2000), Ribeiro (2008), Sousa (1995), Shiroma, Campos e Garcia, (2005) e outros autores
fazem este dilogo nesta construo de ideias.
Gesto Pedaggica em Tempos de Ideb o quarto captulo. Procuro atravs das
polticas educacionais mostrar o desenvolvimento da Pedagogia de Resultados/ atravs de
uma Gesto de Resultados. A partir das falas de autores como Saviani, Libneo que usam a
terminologia Pedagogia de Resultados; Vieira que aborda em um de seus textos a gesto
voltada para os resultados e Ferreira que investiga o que seria Gesto Pedaggica e Gesto do
Pedaggico; procuramos situar a Pedagogia de/por Resultados dentro do novo modelo
gerencialista. Stephen J. Ball e Basil Bernstein (1984,1996 e 2000) foram tericos que nos
subsidiaram neste caminho investigativo. No foi um texto fcil de ser escrito por toda a
literatura ainda pouca estudada, talvez seja a que carece de mais estudos nesta perspectiva,
no somente de registrar, mas de anlise.
A Poltica Educacional do Estado do Cear: da Gesto de Resultados para a
Pedagogia de Resultados o nosso penltimo captulo. Neste abordo a partir dos anos 1990
do sculo XX a trajetria das aes da poltica de desempenho at os dias atuais. Trago os
29
dois municpios cearenses, Sobral e So Gonalo do Amarante como anlise da atual poltica
implantada tendo o IDEB como referncia de estudo.
O sexto e ltimo captulo Anlise da Gesto Pedaggica em Tempos de Ideb:
Consideraes Finais; refao o percurso sobre os achados da pesquisa, no entanto, estas
anlises esto diludas no corpo de cada captulo. um encontro e desencontro de certezas e
incertezas, um olhar de uma professora da educao bsica que precisa ver alm dos muros da
escola para entender e melhorar a sua aldeia.
30
2 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
A metodologia de pesquisa procura responder: Como? Com qu? Onde? A
finalidade mostrar os mtodos e tcnicas que foram utilizadas para atingir os objetivos que
foram propostos para responder o problema de pesquisa.
2.1 TRAJETRIA DA PESQUISA: DEFINIO DE RUMOS
A pesquisa Bons Resultados no IDEB: estudo exploratrio de fatores
explicativos11
tem como objetivo identificar as iniciativas das polticas educacionais nos
municpios brasileiros que contriburam para avano no IDEB, nos anos de 2005 e 2007, nas
sries iniciais do Ensino Fundamental. Os estados selecionados so: Cear, Mato Grosso do
Sul e So Paulo. A Universidade Estadual do Cear, a Federal da Grande Dourados e
Faculdade de Educao de So Paulo encontram-se envolvidas no desenvolvimento do
trabalho.
Para a seleo da amostra foi feito um rastreamento nos estados, observando a
variao do ndice nas duas edies. A partir da soma da variao de todos os estados foi feita
a mdia12
e o desvio padro. A soma da mdia com o desvio padro foi o critrio usado na
escolha das unidades da federao, a seguir foi elaborado o critrio de escolha dos municpios
dos referidos estados. Eles deveriam apresentar pelo menos 1.000 alunos em 2005,
matriculados na rede, e que ter uma das duas edies do IDEB, de 2005 ou 2007.
A escolha dos municpios estava condicionada delimitao dos cinco municpios
com maior variao no IDEB nos anos de 2005 e 2007 e os cincos com maiores IDEBs em
2007. O recorte da nossa pesquisa delimita-se aos municpios cearenses de Sobral e So
Gonalo do Amarante, conforme os ndices demonstrados na tabela abaixo.
11 Financiado pela CAPES/INEP/MEC.
12 Mdia:0,47; Desvio padro:0,21;Soma: 0,47+0,21=0,68
31
Tabela 4: Municpios Selecionados na Pesquisa do Observatrio da
Educao/INEP/MEC/UECE no Estado do Cear
Fonte: MEC/INEP
A pesquisa referida foi desenvolvida em trs mdulos. O primeiro um
levantamento acerca dos dados socioeconmicos, estruturais, histricos e culturais; o segundo
a coleta das informaes aos municpios referidos com o intuito de compreender a
implementao das polticas educacionais na percepo dos gestores, documentos e
legislaes tendo como pilares: Financiamento, Planejamento e Organizao da Secretaria,
Acompanhamento e Avaliao; Articulao da Gesto para a implementao da poltica
Educacional. O terceiro mdulo direciona-se para aqueles municpios que apresentaram fortes
indcios nas polticas educacionais voltadas para o Ideb, que foi desenvolvida com uma
segunda ida ao campo.
No decorrer da pesquisa mencionada, realizou-se um estudo acerca dos
instrumentos que seriam aplicados no pr-teste, elaborados pela equipe coordenada pelo
Dr.Prof.Romualdo Portela de Oliveira, da Faculdade de Educao da Universidade de So
Paulo. As equipes formadas em cada estado e orientadas por cada coordenador local13
analisaram as perguntas que seriam feitas nas entrevistas em cada municpio e propuseram
outras indagaes. A partir do pr-teste aplicado em cada estado, no Cear aconteceu na
cidade de So Gonalo do Amarante, foram feitas as adaptaes e o primeiro relatrio
preliminar.
13Dra.Profa.Sofia Lerche Vieira-coordenadora do Cear/UECE.,Dra.Dirce Nei Teixeira de Freitas- coordenadora
do Mato Grosso do Sul/UFGD; Dra.Sandra Zkia Lian Sousa coordenadora de So Paulo /FEUSP
Maiores IDEB 2007 Maiores variaes
Municpio 2005 2007 2009 Municpio 2005 2007 2009
Sobral 4,0 4,9 6,6 Boa Viagem 2,4 3,8 4,1
Mucambo 3,5 4,5 4,9 General Sampaio 2,4 3,6 3,9
So Gonalo do Amarante 3,8 4,5 4,7 Martinpole 3,0 4,0 4,4
Catunda 3,5 4,4 4,0 Ipu 2,2 3,1 4,0
Jijoca de Jericoacoara 3,7 4,4 4,9 Aratuba 3,2 4,1 3,9
32
Em outubro de 2009, deu-se incio a coleta de dados com as entrevistas aos
municpios pesquisados tendo como foco a Secretaria de Educao14
e a escola de alto
IDEB15
. A ida aos municpios proporcionou aos mestrandos, que fazem parte da pesquisa com
os projetos voltados para o IDEB, a insero de questionamentos acerca do objeto
investigado. A segunda ida ao campo aconteceu em 2010 e dois municpios foram
selecionados: Jijoca de Jericoacoara e Sobral. No entanto, o aprofundamento do estudo
concentrou-se nas escolas de alto e baixo Ideb.
Observando os dados de cada municpio, vrias caractersticas nos chamaram a
ateno, mas primeiramente analisaremos os municpios com maior variao.
a) Dois municpios em que o resultado do IDEB deve-se apenas a uma escola: Aratuba e
General Sampaio.
b) Dois municpios esto acima de 2.000 mil alunos matriculados em sua rede, Boa
Viagem e Ipu16
c)Excludos os municpios que tiveram apenas uma escola avaliada em 2005 e
2007(Aratuba e General Sampaio), os restantes (Boa Viagem, General Sampaio e
Martinpole), apresentam mais de 50% das redes avaliadas nas duas edies do
IDEB.
d) Ipu, Aratuba e Boa Viagem atualmente no apresentam continuidade poltica, o que
dificulta na coleta de dados sobre as polticas educacionais locais.
Referente aos cinco municpios com maiores IDEBs na edio de 2007, chamam
ateno as seguintes peculiaridades:
a) Apresentam continuidade nas polticas educacionais locais.
b) So municpios que em 2005 j apresentavam mdia acima ou prxima do IDEB
estadual (3,2) e se aproximavam da mdia brasileira para as sries inicias (3,8).
c) Em 2007 todos os municpios apresentaram mdia maior que a nacional, que era de
4,2, e muito acima da mdia estadual do Cear, que era de 3,7.
14 Entrevistas com secretrios de educao, assessor, ex-secretrios, coordenadores tcnicos e voz discordante.
15 Entrevistados: o diretor e o coordenador tcnico pedaggico..
16 Referente a matrcula de 2005.
33
e) Trs municpios (Catunda, Mucambo e Jijoca de Jericoacoara) apresentam matrculas
inferiores a 2.000 alunos na sua rede.
f) Jijoca, Sobral e So Gonalo do Amarante apresentam mais de 50% das suas escolas
com a srie histrica do IDEB nas duas edies. Mucambo tem apenas uma escola, e
Catunda apresenta duas escolas com o ndice em anos diferentes.
No conjunto da amostra dos dez municpios, h caractersticas populacionais e
indicadores sociais que merecem destaque. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Estudos
e Pesquisas (IBGE) sobre a questo populacional, h quatro municpios que no chegam a
12.000 habitantes17
:Aratuba, Catunda, Jijoca e Martinpole. Os demais esto entre 40.000 e
190.000 mil habitantes, conforme estimativas populacionais para 200918
.Vejamos:
Tabela 5. Municpios Selecionados na Pesquisa do Observatrio da
Educao/INEP/MEC/UECE no Estado do Cear- ndice de Desenvolvimento Humano
Fonte: MEC21
17 Aratuba(12.478),Catunda(11.198),Jijoca de Jericoacoara(16.880) e Martinpole (11.118)
18 Estimativa para 2009.Fonte:http://www..ibge.bov.br/cidades. acesso em abril de 2010.
19
ndice de Desenvolvimento Humano-alm de computar o PIB per capita, depois de corrigi-lo pelo poder de
compra da moeda de cada pas, o IDH tambm leva em conta dois outros componentes: a longevidade e a
educao. Para aferir a longevidade, o indicador utiliza nmeros de expectativa de vida ao nascer. O item
educao avaliado pelo ndice de analfabetismo e pela taxa de matrcula em todos os nveis de ensino. A renda
mensurada pelo PIB per capita, em dlar PPC (paridade do poder de compra, que elimina as diferenas de
custo de vida entre os pases). Essas trs dimenses tm a mesma importncia no ndice, que varia de zero a um.
Fonte: http://www.pnud.org.br/idh/. Acesso: abril/2010 20
ndice de Desenvolvimento Infantil- o IDI incorpora variveis relacionadas : oferta de servios de sade;
oferta de servios de educao; e cuidado e proteo que a famlia deve proporcionar criana nos primeiros seis
anos (representados pelo nvel de educao do pai e da me).Fonte:
http://www.unicef.org/brazil/pt/Pags_108_123_IDI_Abre.pdf.Acesso:abril/2010. 21
IDH- dados referentes a 2000 e IDI-2004 (UNICEF)
Maiores IDEB 2007 Maiores variaes - 2005/2007
Municpio Populao IDH19
IDI20
Municpio Populao IDH IDI
Sobral 182.431 0,699 0,640 Boa
Viagem 56.236 0, 611 0, 390
Mucambo 14.537 0,629 0,520 General
Sampaio 6.654 0, 606 0, 460
S. Gonalo do
Amarante 42.962 0,639 0,590 Martinpole 11.118 0, 583 0, 570
Catunda 11.198 0,638 0,570 Ipu 41.052 0, 670 0, 540
Jijoca de
Jericoacoara 16.880 0,623 0,470 Aratuba 12.478 0, 633 0, 500
http://www..ibge.bov.br/cidades.%20acessohttp://www.pnud.org.br/idh/
34
Considerando os dados sobre o ndice de Desenvolvimento Humano, os
municpios, encontram-se, com mdia em torno de 0,6, destacando-se a cidade de Sobral.
Quanto ao ndice de Desenvolvimento Infantil os municpios Sobral e So Gonalo do
Amarante so destaques. A cidade de Boa Viagem apresenta ndices abaixo das demais.
Fazendo uma anlise geral dos indicadores pelas divises da amostra, nota-se a consistncia
dos dados nos municpios com maiores IDEBs em 2007.
Os municpios escolhidos para a pesquisa foram Sobral e So Gonalo do
Amarante por:
Continuidade na gesto, facilitando a identificao das aes desenvolvidas ao
longo dos anos;
Terem o maior nmero de escolas avaliadas com a srie histrica nas duas edies
do IDEB.
Apresentam mais de 2.000 alunos matriculados na rede de ensino que nos
possibilita uma viso da complexidade estrutural e a ampliao da amostra.
2.2 NATUREZA E ANLISE DA PESQUISA
Esta uma pesquisa que se prope a analisar as mudanas na gesto pedaggica
no contexto das polticas de avaliao de desempenho frente ao ndice de Desenvolvimento da
Educao Bsica (Ideb), tendo como objeto de estudo os municpios cearenses de Sobral e
So Gonalo do Amarante, que apresentaram alto Ideb nas edies de 2005 e 2007 nas sries
iniciais do Ensino Fundamental.
De acordo com a descrio da pesquisa maior feita anteriormente, este trabalho
parte de uma pesquisa realizada e concluda. O olhar volta-se para os temas que ainda no
foram explorados, como a gesto pedaggica e as iniciativas municipais para o Ideb. Por isso,
a investigao centra-se nos documentos produzidos a partir de um trabalho de campo
35
realizado pelo Observatrio da Educao no Cear22
, entrevistas, observaes, coleta de
documentos que retratam a poltica municipal e das escolas em estudo.
Essa lacuna me mobiliza a realizar essa pesquisa documental, com o propsito de
contribuir com as investigaes sobre a poltica educacional em vigor com nfase na Gesto
Pedaggica proporcionada pela avaliao em larga escala e a gesto de resultados voltada
para pedagogia de resultados. Para Lopes (2006) o que determina este tipo de pesquisa so os
documentos que produziro informaes a partir de uma determinada anlise ou foco.
Para Oliveira (2007) a pesquisa documental caracteriza-se em localizar
informaes em materiais como: relatrios, revistas, cartas, gravaes e outros que no
tiveram um tratamento analtico cientfico. Ento, documento seria: Qualquer suporte que
contenha informao registrada, formando uma unidade, que possa servir para consulta,
estudo ou prova [...] os impressos, os manuscritos, os registros audiovisuais e sonoros, as
imagens, entre outros (APPOLINRIO 2009.p.67).
Cellard (2008) ressalta que quando uma pessoa se prope a fazer uma pesquisa
documental deve-se cercar de diversos documentos e fontes. Minayo (2008) diz que a
compreenso da realidade depende da ao criativa do pesquisador. Portanto, um
procedimento que possibilita vrias tcnicas e anlise de documentos de diversos tipos.
Diferente da pesquisa documental, a pesquisa bibliogrfica trabalha a partir de
determinados assuntos analisados, trazidos baila, que poder ser refutado, aderido,
comparado ou mesmo auxiliar ao debate dentro da temtica abordada. Por isso, inicialmente
realizou-se uma pesquisa bibliogrfica a respeito do tema em estudo, e dos possveis eixos de
anlise da pesquisa, em revistas especializadas, dissertaes e teses.
Utilizamos fontes primrias que foram as entrevistas coletadas em campo com os
secretrios de educao, coordenadores tcnicos da secretaria e das escolas de alto Ideb, que
no obtiveram um tratamento de anlise conforme os objetivos delineados pela investigao,
no caso, as iniciativas governamentais voltadas para os bons resultados no Ideb e a
repercusso da poltica nas escolas e na rede conforme os resultados apresentados.
Os dados estatsticos, Saeb - Prova Brasil e Ideb, disponibilizados pelo INEP
foram elementos que nos auxiliaram para avaliar as repercusses da poltica adotada pelos
22 Articulado pelo grupo de pesquisa Poltica Educacional, Gesto e Aprendizagem da Prof. Dr. Sofia Lerche
Vieira.
36
municpios, incentivados pelas medidas nacionais e estaduais em vigor. Os dados do censo
escolar e as taxas educacionais estaduais e municipais foram utilizados para compreendermos
o desenvolvimento educacional acerca do nosso objeto de estudo.
Fez-se o levantamento dos documentos voltados para a educao (propostas de
Leis, Decretos, e demais documentos oficiais) do governo do Estado do Cear no perodo
compreendido entre 2005 e 2011, o mapeamento dos documentos e das polticas educacionais
construdas pelo governo do Estado do Cear que pudesse contribuir pesquisa.
Analisou-se o Plano de Desenvolvimento da Educao, criado pelo decreto n
6.094, de 24 de Abril de 2007, que inclui oficialmente o Ideb como indicador da qualidade da
educao; o Plano de Metas Todos pela Educao; e o Plano de Aes Articuladas que se
constituem como documentos da Poltica Pblica Educacional adotada pelo Ministrio da
Educao como uma ao estratgica para o desenvolvimento da educao refletida nos
resultados do Ideb. preciso respeitar o processo dinmico da historicidade.
Vieira (2010)23
argumenta que os textos representam importantes registros para
entendermos as mudanas e as concepes em um determinado momento histrico. A
abordagem empreendida importante para que se possa compreender o contexto sociopoltico
e normativo legal em que se insere a poltica nacional de avaliao que interfere
significativamente na gesto pedaggica dos municpios.
A poltica educacional um dos casos particulares das polticas sociais,
consequentemente uma poltica pblica. Como assegura Camini (2010) para qualquer
efetivao de uma poltica preciso que haja um processo de gesto eficiente e eficaz para a
concretude do projeto almejado. Entende-se que sua construo no linear e nem tampouco
harmnica. H influncias de vrios contextos e percepes, talvez o ponto de partida seja o
mesmo, no entanto, o de chegada sofre avanos e retrocessos.
Nesse caso, a deciso de uma poltica no significa que se tornar uma ao.
necessrio, atores, aes concretas, recursos para que seja efetivada, passando pela
formulao (s vezes formulaes em processo), deciso, implementao e avaliao dos
resultados (RUA, 1997).
23 Texto: Reformas e auto-reformas da educao no Brasil em Rizomas Freirianos. N08.2010. Fonte:
http://www.rizoma-freireano.org/index.php/reformas-e-auto-reformas-da-educacao-no-brasil. acesso em 24 de
maro de 2011.
http://www.rizoma-freireano.org/index.php/reformas-e-auto-reformas-da-educacao-no-brasil
37
A implementao pode ser compreendida como o conjunto de aes realizadas por
grupos ou indivduos de natureza pblica ou privada, as quais so direcionadas para
a consecuo de objetivos estabelecidos mediante decises anteriores quanto a
polticas. Em outra palavras, trata-se das aes para fazer uma poltica sair do papel
e funcionar efetivamente. Este processo precisa ser acompanhado, entre outras
coisas, para que seja possvel identificar porque muitas coisas do certo enquanto
muitas outras do errado entre o momento em que uma poltica formulada e o seu
resultado concreto (RUA,1997,p.13).
A autora esclarece que quando uma poltica envolve vrias esferas de organizao
do estado para sua efetivao, o seu fracasso poder ocorrer devido complexidade de
organizao e cooperao.
Efetivamente, em especial quando uma poltica envolve diferentes nveis de governo
- federal, estadual, municipal - ou diferentes regies de um mesmo pas, ou ainda,
diferentes setores de atividade, a implementao pode se mostrar uma questo
problemtica, j que o controle do processo de torna mais complexo. Mesmo quando
se trata apenas do nvel local, h que se considerar, ainda, a importncia dos
vnculos entre diferentes organizaes e agncias pblicas no nvel local para o
sucesso da implementao. Geralmente, quando a ao depende de um certo nmero
de elos numa cadeia de implementao, ento o grau necessrio de cooperao entre
as organizaes para que esta cadeia funcione pode ser muito elevado. Se isto no
acontecer, pequenas deficincias acumuladas podem levar a um grande fracasso
(RUA, 1997,p.19).
.
Ball (2006) expe que a anlise das polticas pblicas para educao apresentam
singularidades e precisam ser analisadas em vrias dimenses, interpretando os processos
micro e macropolticos (ANEXO 1).
Segundo Mainardes (2009) termos uma viso crtica da realidade, requer um
esforo do pesquisador na busca por uma anlise da totalidade nas relaes que envolvem a
poltica e suas contradies e contextos que se entrelaam a estrutura social; as foras
polticas; as decises nas diferentes esferas governamentais; o contexto sociopoltico e
econmico em que as polticas so formuladas e as redes de influncia.
Referindo-se s ideias do socilogo ingls Ball, Mainardes (2006), diz que o
mesmo considera que a anlise de polticas, na esfera micropoltica, deveria incidir sobre
como os profissionais na prtica interpretam e formulam o discurso da poltica na prtica.
Desta maneira poderamos identificar as resistncias, acomodaes, conformismo,
subterfgios, conflitos e disparidades nos discursos da prtica. A macropoltica detm-se ao
papel do Estado, no caso, a poltica educacional, a nvel global e local.
38
Para Mainardes (2009), Deubel (2002), Muller, Surel (2002), Stoer e Magalhes
(2005) so raros os trabalhos que discutem as abordagens metodolgicas em polticas pblicas
e educacionais. Perde-se em analisar apenas o micro ou o macro, esquecendo-se que h uma
interrelao entre formulao e implantao. Quanto anlise de polticas apresentam-se na
literatura trabalhos sem uma viso de totalidade, da poltica educacional com os mandatos, as
relaes entre a poltica investigada e as polticas locais e o contexto histrico.
Para Vieira (2006) a anlise da Poltica Educacional permeia as diversas polticas
que foram aplicadas em diferentes reas em determinado momento histrico e contexto
poltico. Segundo a autora:
Assim que falamos da poltica de um governo, como tambm de suas polticas, da
poltica relativa a um nvel de ensino a educao bsica ou a educao superior e
de suas polticas. Tudo depende, portanto, do lugar de onde se observam os
diferentes fenmenos em foco, seja a partir de uma aproximao mais voltada para a
esfera macro ou micro do objeto a ser estudado (VIEIRA, 2006, p.03).
. No contexto das Polticas Educacionais de Avaliao, o Ideb propulsor de
iniciativas para a Gesto Pedaggica dos municpios atravs do monitoramento, da regulao
e avaliao de resultados das redes de ensino. O ciclo de polticas como anlise possibilita
uma articulao entre macro e micro exigindo do pesquisador uma articulao com diversas
reas do conhecimento.
A organizao dos dados da pesquisa ter uma anlise crtica. Procura-se associar
os achados com foco nos objetivos e indagaes, no entanto, a proposta no se limita em
descrever, mas a refletir sobre as polticas e como so feitas. Assim, a metodologia terica de
anlise e compreenso apresenta-se construda na abordagem do Ciclo de Polticas de Ball
(2009) e de outros estudiosos como Mainardes (2006, 2007), Shiroma, Campos e Garcia
(2005).
O mtodo de Ball (2009) apresenta cinco contextos de anlise de polticas; (a)
contexto de influncia; (b) contexto da produo de texto; (c) contexto da prtica; (d)
contextos de resultados e efeitos; (e) contexto de estratgia poltica. Para melhor
entendimento faremos breves consideraes sobre cada momento. Ressalta-se que no uma
abordagem linear que segue uma etapa aps a outra.
O contexto de Influncia tem uma relao com ideologias dogmticas, fluxo de
ideias, emprstimos de polticas, migrao de polticas que so recontextualizadas do global
para o local. Apresenta entre suas indagaes: Quais so as influncias e tendncias presentes
39
na poltica investigada? No desenvolvimento do discurso dessa poltica possvel
observarmos a configurao de diferentes verses da mesma (conservadora, progressista)?
Existiam influncias globais, nacionais ou locais operando como contexto macro da
formulao dessa poltica?
O contexto de produo de texto a poltica em forma de documentos e registros
oficiais marcadas por limitaes e possibilidades. No entanto, no finalizada e feita na
escrita legislativa. Norteia-se pelos seguintes questionamentos: Quando se iniciou a
construo do texto dessa poltica? Quais os grupos de interesse representados no processo de
produo do texto dessa poltica? Houve espao para a participao ativa dos profissionais
envolvidos na construo dos textos? Como o texto da poltica foi construdo? Quais so os
discursos predominantes e as ideias-chave do texto? Que intenes, valores e propsitos eles
representam?
O terceiro contexto o da prtica onde a poltica como texto sofre
reinterpretaes; algumas vozes so privilegiadas e pensamentos so construdos. Os textos
polticos no contexto da prtica sofrem resignificados e vrias interpretaes transformar-se-
o na poltica como discurso. Os profissionais envolvidos na implementao tiveram
autonomia e oportunidades de discutir, expressar dificuldades, opinies, insatisfaes e
dvidas? Houve contradies, conflito e tenses entre as interpretaes expressas pelos
profissionais que atuam na prtica e expressas pelos formuladores dessa poltica? O contexto
da prtica influenciou contexto da produo do texto dessa poltica?
Estes trs contextos, acima discutidos, so complementares na compreenso da
poltica como texto e poltica como discurso (MAINARDES, 2006). Como texto envolve as
negociaes do Estado com as agendas e acordo no processo de formulao da poltica. O
discurso da poltica insere-se no significado dado as palavras e por quem, como o pensamento
construdo para legitimar a poltica em exerccio. (BOWE; BALL; GOLD, 1992).
O contexto de resultado ou efeitos analisado a partir dos seus efeitos gerais na
poltica e aspectos especficos. Partem da anlise dos impactos dos efeitos e implicaes de
uma poltica observada na prtica e nas interfaces com outras polticas, observando-se os
efeitos de primeira ordem que afetam a estrutura e so evidentes num sistema como um todo.
Os de segunda ordem procuram esclarecer os impactos das mudanas no contexto social
voltado para justia social de oportunidades para todos (MAINARDES, 2006).
40
O contexto de estratgia poltica reporta-se a identificao de estratgias sociais e
polticas para trabalhar com as desigualdades criadas por determinadas polticas. Para Ball
preciso oferecer ferramentas s pessoas para que possam compreender a realidade
(MAINARDES; MARCONDES, 2009).
O objetivo do trabalho no se limita a ser pragmtico com recomendaes ou
propostas, mas trazer uma compreenso da realidade. Os trabalhos de Gatti (2003) e Gewirtz
(2007) impulsionam a reflexes acerca das consequncias do trabalho de pesquisa, se para
compreender, mudar ou atender as necessidades imediatistas; ou delimita-se ao oferecimento
de prticas sem a devida explorao das ideias; e por fim se existe uma preocupao na
reflexibilidade tica e a explicitao de valores sobre a dimenso de nossas ideias na
legitimao de injustias, valores ou prticas.
Nesta perspectiva, essa investigao focou o Contexto da Influncia da Produo
de texto e o Contexto da Prtica utilizando-se da perspectiva do Ciclo de Polticas. Dialogar
com os referenciais na busca da compreenso da realidade emprica um desafio. Ao mesmo
tempo em que h o descobrimento de escritos e reflexes sobre a poltica educacional em um
contexto de globalizao precisamos criar e refletir sobre os discursos que so construdos.
A poltica e sua implantao so vistas e criadas para uma determinada sociedade
onde muitos acreditam que as imperfeies esto nos atores e no na poltica. Compreender
como a cultura de desempenho ou avaliao repercute na gesto pedaggica e na escola uma
das contribuies do nossa investigao.
2.3 SUJEITOS DA PESQUISA
Esta pesquisa um recorte de uma investigao de grande porte, como foi
justificado anteriormente, na qual inserimos o olhar em um contexto especfico.
Utilizou-se a entrevista semiestruturada aplicadas ao secretrio de educao de
cada municpio, dois coordenadores pedaggicos (tcnicos) da secretaria de educao que
acompanham as sries iniciais e o coordenador escolar da instituio com maior nota no Ideb
referente edio de 2007 (VER ANEXO 2). A escolha deve-se ao papel desempenhado por
estes no contexto educacional de acompanhar, orientar e gerir junto ao professor o trabalho
41
pedaggico. Os documentos que nos norteassem a conhecer a poltica municipal, como o
Plano Municipal de Educao e nas escolas os Projetos Poltico-Pedaggico, no entanto,
foram documentos que estavam na proposta investigativa, porm, alguns estavam em
processo de reformulaes e posteriormente ficaram de enviar ao observatrio, fato este que
no ocorreu.
2.4 ANLISE E COMPILAO DOS DADOS.
As entrevistas colhidas pelo Observatrio nos respectivos municpios, Sobral e
So Gonalo do Amarante, foram registros que nos auxiliaram no entendimento de anlise da
poltica em vigor. No entanto, precisamos recorrer histria para demonstrar que os fatos de
hoje no so reflexos das reformas a partir da dcada de 1990 do sculo XX, mas uma
construo ao longo do tempo, que sofreu muitos contratempos, encontros, desencontros,
continuidade e descontinuidade.
A anlise de documentos como entrevistas, relatrios preliminares e finais,
decretos, e documentos governamentais receberam a tcnica de anlise de contedo
(BARDIN, 1977;) sendo referncia para organizao da informao e selecionar os ncleos de
sentido em conformidade com os objetivos da pesquisa e o referencial terico adotado.
Normalmente, nesse tipo de anlise, os elementos fundamentais da comunicao so
identificados, numerados e categorizados. Posteriormente as categorias encontradas
so analisadas em face de uma teoria especfica (APPOLINRIO, 2009, p. 27).
Organizamos os documentos da seguinte forma:
a)A Leitura Flutuante conhecer o material deixar-se contaminar pelas sensaes,
hipteses e questionamentos.
b) A escolha dos documentos- selecionar conforme o objetivo, as narrativas
adequadas em conformidade com o problema de investigao.
c)Formulao das hipteses- a partir das leituras as dvidas e a possibilidade de
uma verdade mesmo que seja provisria precisa ser comprovada ou
descartada. Para isso, o quadro terico suporte para fazer falar o material
analisado. No entanto, as hipteses necessariamente no so obrigatrias na
pr-anlise, vo aparecendo no decorrer da leitura dos documentos.
42
Depois da pr-anlise, fomos alocando as falas em categorias que foram
determinadas a priori, de acordo com os objetivos da investigao. No entanto, as categorias
previstas foram revistas, de acordo com o que a anlise apontava.
Para Puglisi, Franco (2005) a constituio de uma boa categoria deve refletir os
objetivos da investigao e as questes a serem analisadas. E uma das finalidades da anlise
de contedo produzir inferncia (PUGLISI, FRANCO 2005, p.24). Assim, descobrir
vestgios a partir das falas escritas ou orais, relacion-las com teorias, pensamentos e
contextos sociais e histricos de sua produo, independente da utilizao de indicadores
quantitativos ou no. Para isso isolamos os temas de um texto, conforme o problema
pesquisado.
A anlise de contedo um conjunto de tcnicas de anlise das comunicaes,
visando obter, por procedimentos objetivos e sistemticos de descrio do contedo
das mensagens, indicadores (quantitativos ou no) que permitam a inferncia de
conhecimentos relativos s condies de produo/recepo destas mensagens
(BARDIN, 1977, p.38).
Para Ludke e Andr (1986) as categorias originam-se a partir da teoria que baseia
a investigao, e pode se modificar diante das anlises. Assim, fizemos anotaes conforme
as leituras do material, apontando, grifando e separando os temas tratados que seriam
utilizados.
43
3 DO PERCURSO DA AVALIAO BSICA NO BRASIL AO INDICE DE
DESENVOLVIMENTO DA EDUCAO (IDEB)
O objetivo deste captulo apresentar indcios de como a reforma educacional
implantada nos ltimos anos, especificamente, com a aplicao dos exames nacionais da
Educao Bsica, a criao do ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica (IDEB) e do
Plano de Metas Compromisso Todos pela Educao, tem alterado a Gesto Pedaggica nos
municpios. Segundo Ball (2001) a criao de polticas nacionais um processo de
bricolagem, de exerccio daquilo que funciona ou no, de acordos firmados, uso de ideias e
fragmentos adaptados em um determinado contexto, caracterizando o que chamamos de
contexto de influncia.
3.1 AVALIAO NO BRASIL: CAMINHOS PERCORRIDOS
As recomendaes sobre a poltica de avaliao educacional, de acordo com
Freitas (2005), datam dos anos 1950, a Organizao das Naes Unidas para a Educao, a
Cincia e a Cultura (UNESCO)24
recomenda para os pases em desenvolvimento de que
avaliem os sistemas educacionais de ensino como condio para o planejamento educacional.
Na mesma poca, em 1956, em parceria com a UNESCO, em conferncia promovida pela
Associao Americana de Pesquisas Educacionais, ressaltou-se a importncia da colaborao
internacional para o intercambio de informaes acerca das pesquisas educacionais.
A Conferncia Regional Latino Americana sobre Educao Primria Gratui