gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

113
UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO Roberta Moura Martins Oliveira GESTÃO E GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: O PROGRAMA DE COLETA SELETIVA DA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM - PA BELÉM - PA 2012

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Page 1: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA

PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO

E MEIO AMBIENTE URBANO

Roberta Moura Martins Oliveira

GESTÃO E GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS:

O PROGRAMA DE COLETA SELETIVA DA REGIÃO METROPOLITANA

DE BELÉM - PA

BELÉM - PA

2012

Page 2: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

Roberta Moura Martins Oliveira

GESTÃO E GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS:

O PROGRAMA DE COLETA SELETIVA DA REGIÃO METROPOLITANA

DE BELÉM - PA

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia como requisito para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano. Orientador: Profº. Dr. Leonardo Augusto Lobato Bello.

BELÉM - PA

2012

Page 3: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Suzana Cardoso / CRB2 1.142

628.44 O48 Oliveira, Roberta Moura Martins. Gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos : o programa

de coleta seletiva da região metropolitana de Belém - PA / Roberta Moura Martins Oliveira – Belém, 2012.

111 f. ; il. ; 21 x 30 cm. Dissertação (Mestrado)-Universidade da Amazônia, Programa de

Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano, 2012. Orientador: Prof. Dr. Leonardo Augusto Lobato Bello.

1. Resíduos sólidos urbanos. 2. Produção de lixo-Belém. 3. Coleta seletiva de lixo. I. Bello, Leonardo Augusto Lobato (orient.). II. Título.

Page 4: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

Roberta Moura Martins Oliveira

GESTÃO E GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS:

O PROGRAMA DE COLETA SELETIVA DA REGIÃO METROPOLITANA

DE BELÉM - PA

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia como requisito para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano. Orientador: Profº. Dr. Leonardo Augusto Lobato Bello.

Banca Examinadora

_______________________________________

Profº. Dr. Leonardo Augusto Lobato Bello

Orientador - UNAMA

________________________________________

Profº. Dr. Marco Aurélio Lobo

Orientador - UNAMA

________________________________________

Profª. Dra. Janete G.C. de Oliveira

PPGEO/UFPA

Apresentado em: ____ / ____ / 2012.

Conceito: _____________________

BELÉM - PA

2012

Page 5: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

Sei que as mães são sempre eternas...

À memória de minha mãe, Doralice Moura, de

quem estarei sempre próxima, aos meus

irmãos e familiares.

Page 6: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

AGRADECIMENTOS

À coordenação, professores e secretaria do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento

e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia – UNAMA pelo apoio durante o

andamento do curso.

Ao querido orientador Prof° Dr. Leonardo Augusto Lobato Bello pelo carinho, amizade e

principalmente por ter depositado sua confiança em mim desde o momento de minha

entrevista na admissão ao programa, bem como durante todo o processo de elaboração desta

pesquisa.

À Profª Dra. Rosália do Socorro da Silva Correa, pela paciência por me mostrar o caminho e

confiança no desenvolvimento de suas aulas, imprescindível para o desenvolvimento desta

pesquisa.

À Profª Drª Luciana Costa da Fonseca pelas orientações e discussões sobre o projeto

facilitando o seu desenvolvimento.

A Diretora de Licenciamento Ambiental de Atividades Poluidoras - DILAP/SEMA –

Francisca Lucia Porpino pelo carinho, amizade e oportunidade de trabalho na SEMA

possibilitando a realização desta pesquisa.

A artista plástica Sidvera Rezende pelo enorme carinho e afinidades de toda ordem que

desfrutamos como também pelas belíssimas ilustrações utilizadas nesta pesquisa.

A Assistente Social Elvira Pinheiro de Oliveira pelo seu empenho na obtenção dos

documentos para este trabalho junto a Prefeitura Municipal de Belém.

As amigas de corrida e muita reflexão Jaqueline Cunha e Leandra Miranda pelas prazerosas

corridas matutina no Parque do Sabiá, paciência, carinho e ajuda nas horas difíceis de

criatividade.

A querida amiga Sheilla Dourado pela amizade e conversas esclarecedoras.

A sincera amizade de Elizabeth Yamasaki e família, carinhosamente conhecida como “vovis”

que me acolheu nas horas mais difíceis em sua calorosa casa e pelas conversas maduras e

“cabeça” de sempre.

A Galvanda Queiroz Galvão por simbolizar a renovação de minha visão de mundo e por

conseguinte, ser a possibilidade de um novo perceber e significar a vida.

A Patrícia Daibes de Oliveira, por toda sua dedicação, companheirismo e contribuição com

tabelas, figuras e mapas usados neste trabalho.

A bióloga Suely Melo, por ter desenvolvido o melhor de um biólogo: a observação e com

isso, ter me possibilitado uma nova reinterpretação do que a vida reservou para eu ser.

Page 7: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

Aos Colegas Ana Júlia Cunha Brito, Daniel Augusto Nunes da Cruz, Eden Fernando batista

Ferreira, Edila Araújo de Castro Silva, Elinalva Freitas Pantoja, Elizabeth Yamasaki,

Francimário Aroverde Gomes, Iranete Corpes de Oliveira, Jerônimo Cardoso Nunes, José

Clodoaldo Machado Lopes Fernandes, Leudes Sarges Filho, Marly Lobato Maciel, Raimundo

Farias de O. Junior, e Valéria Chicre Quemel Anadrade, companheiros dessa jornada.

Ao meu cunhado-pai e minha irmãe, Fábio Polaro e Ana Flávia Polaro que juntos sempre me

acompanharam, acreditaram e se dedicaram para que eu pudesse seguir os melhores caminhos

nessa vida.

Aos meus sobrinhos lindos, Fábio Martins Polaro e Alice Martins Polaro, pelo amor, carinho,

alegria e compreensão.

Ao meu pai, Luiz Fabiano, por ter me apresentado ao mundo e de todos os caminhos

possíveis, eu escolhi este.

A todos os meus amigos, que de perto ou de longe, fizeram-se presente colaborando,

incentivando e ajudando nos momentos bons e difíceis, em especial, Larissa Rodrigues da

Cunha, pelo apoio, amizade e cumplicidade, José Ribeiro, Fernando, Weverton, Thiago,

Ueslei Oliveira pela atenção e cordialidade.

A jornalista Maria Clara, por despertar uma enorme alegria em meu coração.

Ao biólogo Paulo Formagio, em nome de toda equipe de Furnas, pelo carinho, atenção,

colaboração e compreensão, que de longe ou perto, me ajudaram a mais esta conquista.

A todas as pessoas que direta e indiretamente colaboram para o desenvolvimento deste

estudo, os meus sinceros agradecimentos.

Page 8: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos
Page 9: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

RESUMO

Neste estudo o objetivo geral foi investigar como se caracteriza e como funciona as relações

formadas para gestão e gerenciamento do programa de coleta seletiva de resíduos sólidos da

Região Metropolitana de Belém considerado este como estratégia de promoção à geração de

trabalho e renda, inclusão social e cidadania para as pessoas envolvidas na gestão integrada

dos resíduos sólidos. Para atingir esse propósito, mas sem esgotar o tema, que é complexo e

abrangente, foram delimitados os seguintes objetivos específicos: (1) Identificar e analisar o

arranjo institucional preparada para a gestão e gerenciamento do programa de coleta seletiva;

(2) Identificar os desafios e limitações encontrados no planejamento e gestão do programa de

coleta seletiva; e, por fim, (3) Caracterizar os impactos ambiental, social e econômico do

programa de coleta seletiva. A metodologia da pesquisa empregada está fundamentada em

uma abordagem qualitativa de natureza teórico-empírica, que utiliza como método de

pesquisa o estudo de caso. A coleta de dados ocorreu por meio de pesquisa bibliográfica,

pesquisa documental e realização de entrevistas com os atores-chave envolvidos na gestão do

programa de coleta seletiva de Belém. O universo de atores entrevistados foi composto por

membros de órgãos governamentais representados pela Prefeitura Municipal de Belém, por

meio da Secretaria Municipal de Saneamento – SESAN e Ministério Público do Estado do

Pará e membros de órgãos não governamentais representados, neste caso, pela ONG “No

Olhar” e Associação de Catadores de Coleta Seletiva de Belém – ACCSB. A coleta de dados

ocorreu no período de janeiro a março de 2012. De acordo com os resultados obtidos,

verifica-se, que o programa de coleta seletiva de Belém apresenta fragilidade institucional

manifestada, sobretudo, pela descontinuidade de suas ações, e que, quando acontecem, são

pontuais e desconectadas as dimensões ambientais, socioeconômicas e políticas, além da

dificuldade em relação a fonte de recursos financeiros estáveis e seguros, os quais limitam e

comprometem sua efetividade e sustentabilidade ao longo da história.

Palavras-chaves: Gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos. Política pública.

Catadores. Programa de coleta seletiva.

Page 10: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

ABSTRACT

In this study, the overall objective was to investigate how the relationships made for the

administration and management of Belém’s metropolitan area selective waste collection

program work as well as its features, which is considered a strategy to promote employment

and income generation, social inclusion and citizenship for the people involved in the

integrated management of solid waste. To achieve this purpose, but without any claim to

covering this issue exhaustively, which is complex and extensive, the following specific aims

were enclosed: (1) Identifying and analyzing the institutional arrangement prepared for the

management and administration of the selective waste collection program; (2) Identifying the

challenges and limitations encountered in the planning and management of the selective waste

collection program; and, at last, (3) Characterizing the environmental, social and economic

impacts of the selective waste collection program. The research methodology applied is based

on a theoretical-empirical qualitative approach that uses study cases as its research method.

The data was collected through bibliographic research, desk research and interviews with key

actors involved in the management of Belém’s selective waste collection program. The

universe of actors interviewed was composed by governmental members represented by

Belém City Hall, through the City Department of Sanitation - SESAN and the Office of the

State Public Prosecutor, and members of Non-Governmental Organizations, represented in

this case by the NGO "No Olhar" [“In The Gaze”] and by the Selective Waste Collectors’

Association of Belém - ACCSB. The data collection occurred from January to March, in

2012. According to the results obtained, it appears that the selective waste collection of Belém

has institutional weakness manifested mainly by the discontinuity of their actions, and that,

when they happen, they are isolated and disconnected from the environmental, socioeconomic

and political dimensions, besides the difficulty regarding the source of stable and secure

financial resources, which limit and undermine their effectiveness and sustainability

throughout history.

Keywords: Management and solid waste management. Public policy. Selective waste

collectors. Selective waste collection program.

Page 11: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Modelo tradicional de tratamento de resíduos sólidos 32

Figura 2 - Modelo de gestão de resíduos sólidos incluindo a reciclagem 33

Figura 3 - Modelo de gestão de resíduos sólidos adaptados as novas prioridades da

política ambiental

34

Figura 4 - Catador na prática da catação dentro da área do aterro do Aurá em 1996 54

Figura 5 - Catadoras da cooperativa de trabalho dos profissionais do Aurá 55

Figura 6 - Catadores (as) da ACCSB coletando material com carrinhos de metalon 56

Figura 7 - Equipe de educadores ambientais da SESAN/ PMB 57

Figura 8 - Equipe de educadores ambientais da SESAN/ PMB 58

Figura 9 - Localização do aterro do Aurá 59

Figura 10 - Localização do aterro do Aurá 60

Figura 11 - Aterro controlado do Aurá 60

Figura12 - Modelo de interpretação das informações obtidas 68

Figura 13 - Centro de triagem, Aurá 71

Figura 14 - Catadores (as) da COOTPA coletando material 72

Figura 15 - Jogo de coletor do Ponto de Entrega Voluntária – PEV´s instalado em

condomínio residencial

73

Figura 16 - Catadores realizando o trabalho de coleta porta-a-porta nas residências do

Umarizal

74

Figura 17 - Novo galpão em construção, localizado no Canal São Joaquim, Belém 76

Figura 18 - Associados da ACCSB 81

Figura 19 - Galpão cedido a ACCSB 82

Figura 20 - Galpão cedido a ACCSB 83

Figura 21 - Galpão de triagem da ACCSB 83

Page 12: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Destino final dos resíduos sólidos, por unidades de destino dos Resíduos (%)

- Brasil - 1989/2008

39

Tabela 2 - Quantidade de resíduos produzido no Estado do Pará, em 2010 40

Tabela 3 - Responsabilidade sobre os resíduos sólidos conforme origem e classe 40

Tabela 4 - Preço aferido aos materiais coletados pela associação 83

Tabela 5 - Relatório de comercialização dos materiais coletados pela ACCSB 84

Page 13: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico1 - Quantidade diária de lixo coletado, por unidade de destino final do lixo

coletado, segundo as grandes regiões, unidades da federação, regiões metropolitanas e

municípios das capitais

41

Gráfico 2 - Quantidade diária de lixo coletado, por unidade de destino final do lixo

coletado, segundo as grandes regiões, unidades da federação, regiões metropolitanas e

municípios das capitais

42

Gráfico 3 - Estimativa de volume de resíduos sólidos domésticos gerados por município

da RMB em 2010

51

Gráfico 4 - Estimativa da contribuição de cada município na geração dos resíduos

sólidos domésticos na RMB em 2010

51

Gráfico 5 - Demonstrativo por gênero da composição dos associados da ACCSB 80

Gráfico 6 - Demonstrativo da estimativa da faixa etária dos associados da ACCSB 81

Page 14: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Princípios de sustentabilidade aplicados a gestão dos RSU 48

Quadro 2 - Instituições representantes participantes da pesquisa 66

Quadro 3 - Desafios e limitações enfrentadas pela associação 88

Quadro 4 - Comparação entre os princípios de sustentabilidade e a situação atual do

gerenciamento dos RSU, por meio do programa de coleta seletiva de Belém

91

Quadro 5 - Comparação entre os princípios de sustentabilidade e a situação atual do

gerenciamento dos RSU, por meio do programa de coleta seletiva de Belém (cont.)

92

Page 15: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABRELPE Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos

Especiais

ACCSB Associação de Catadores da Coleta Seletiva de Belém

BNDS Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CEE Comunidade Econômica Europeia

CEMPRE Compromisso Empresarial para a Reciclagem

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

COOTPA Cooperativa de Trabalhadores Profissionais do Aurá

CPTR Central de Processamento e Tratamento de Resíduos

DRES Departamento de Resíduos Sólidos

EIA Estudo de Impacto Ambiental

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EPI Equipamento de Proteção Individual

GEE Gases do efeito estufa

GT Grupo de Trabalho

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBICT Banco de Teses e Dissertações do Instituto Brasileiro de Informação

em Ciência e Tecnologia

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

MPE Ministério Público Estadual

ONG Organização não Governamental

PAC Programa de Aceleração do Crescimento

PEV Posto de Entrega Voluntário

PGRS Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos

PIB Produto Interno Bruto

PMB Prefeitura Municipal de Belém

PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos

RIMA Relatório de Impacto Ambiental

RMB Região Metropolitana de Belém

Page 16: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

RSD Resíduos Sólidos Domiciliar

RSU Resíduos Sólidos Urbanos

SEDU Secretaria de Desenvolvimento Urbano

SEMA Secretaria de Estado de Meio Ambiente

SESAN Secretaria Municipal de Saneamento

SNVS Sistema Nacional de Vigilância Sanitária

SINIR Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos

SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente

UFRA Universidade Federal Rural da Amazônia

Page 17: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 17

2 GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS 25

2.1 CONCEITOS E PRINCÍPIOS 25

2.2 CONSUMO CONSCIENTE E A GERAÇÃO DE RESÍDUOS 29

2.3 DO MODELO TRADICIONAL AS NOVAS PRIORIDADES DA POLÍTICA

NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS – PNRS

31

2.4 A GESTÃO E GERENCIAMENTO DOS RSU NO MUNDO E NO BRASIL 37

3 GERENCIAMENTO DOS RSU EM BELÉM 50

3.1 PRODUÇÃO DE LIXO EM BELÉM 50

3.1.1 Resíduos sólidos domiciliares 52

3.1.1.1 Coleta regular 52

3.1.1.2 Coleta seletiva 53

3.1.2 Disposição final dos resíduos 58

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 61

4.1 METODOLOGIA DE PESQUISA 61

4.1.1 Natureza e método de investigação 61

4.1.2 Foco de análise 62

4.1.3 Definição da população e universo da pesquisa 63

4.1.4 Procedimentos para coleta dos dados 64

4.1.5 Análise das informações coletadas 66

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO - PROGRAMA DE COLETA SELETIVA 70

5.1 ORIGEM E INSTITUCIONALIZAÇÃO 70

5.2 PARTICIPAÇÃO DOS ATORES SOCIAIS 77

5.2.1 A SESAN na gestão do programa 77

5.2.2 Ministério Público 78

5.2.3 Associação de catadores da coleta seletiva de Belém – ACCSB 80

5.2.4 ONG “No olhar” 85

5.3 DESAFIOS E LIMITAÇÕES DA GESTÃO INTEGRADA 86

5.4 AVALIAÇÃO DAS DIMENSÕES AMBIENTAIS, SOCIOECONÔMICAS E

POLÍTICAS

89

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 95

Page 18: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

REFERÊNCIAS 98

Apêndice A - Roteiro de Entrevista a ser aplicado ao Membro da Secretaria

Municipal de Saneamento (SESAN), Departamento de Resíduos Sólidos (DRES) –

Sra. Elvira Pinheiro de Oliveira - Coordenadora do Programa de Coleta Seletiva

103

Apêndice B - Roteiro de Entrevista a ser aplicados aos Membros Fábia de Melo-

Fournier e Nilton Gurjão das Chagas da área de meio ambiente do Ministério Público

do Estado (MPE)

105

Apêndice C - Roteiro de Entrevista a ser aplicado ao Membro da ONG “No Olhar” –

Sr. Marcos Wilson – Representante Legal da ONG

107

Apêndice D - Roteiro de Entrevista a ser aplicado ao Membro da Associação de

Catadores da Coleta Seletiva de Belém (ACCSB) – Sra. Maria José de Moraes –

Representante Legal – Roselino Ribeiro (13 pessoas)

109

Apêndice E - Roteiro de Entrevista a serem aplicados aos membros representante dos

bairros partícipes do Programa, Bairros Umarizal e Marco (Rua Marquês)

111

Page 19: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

17

1 INTRODUÇÃO

A partir da década de 1980, período de intensa urbanização vivido no país, a

integração da questão dos resíduos sólidos1 ganha força nos debates sobre saneamento no

Brasil, devido ao agravamento dos problemas socioambientais urbanos decorrentes da

destinação inadequada de resíduos sólidos.

Em 1985 foi criado o programa PROSANEAR com uma abordagem integrada do

saneamento o qual tinha como objetivo financiar ações conjuntas em relação à água, esgoto,

drenagem urbana e aos resíduos sólidos. Para Serrano (2001) tratava-se de um marco

histórico, pois foi a primeira vez que os resíduos sólidos passaram a ser contemplados em

linhas de financiamento.

A partir de 1988, com a publicação da nova Constituição, o governo federal repassa a

competência aos municípios sobre a responsabilidade do gerenciamento dos resíduos sólidos.

Na década de 1990 a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento, ocorrida no Rio de Janeiro - Rio 92 e a publicação da Agenda

21 impulsionaram para dar maior visibilidade à questão ambiental e da reciclagem que aliados

a abertura de novos canais democráticos no processo de tomada de decisão no âmbito

municipal, colaboraram para reestruturação dos programas de resíduos sólidos na perspectiva

de uma gestão mais integrada e participativa.

No entanto, na prática se a competência foi descentralizada para os municípios o

mesmo não ocorreu com os recursos financeiros que segundo Serrano (2001) foram reduzidos

para programas de saneamento.

Esta situação somada ao crescente processo de urbanização representa enormes

desafios para os municípios uma vez que embora os recursos sofressem redução, aumentou

significativamente a necessidade de investimentos para a ampliação dos serviços de

gerenciamento dos resíduos sólidos, tais como: coleta, transportes e construção de novas

instalações de tratamento e destinação final.

De acordo com Lajopo (2003) enquanto a população mundial aumentou em 18% em

uma década, o lixo produzido cresceu 25%. No Brasil estima-se que 240 mil toneladas de lixo 1 Conforme a Lei nº 12.305 de 02 de agosto de 2010 que estabelece a Política Nacional de Resíduos

Sólidos em seu Art. 3º, entende-se por resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.

Page 20: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

18

domiciliar são geradas diariamente, perfazendo uma produção média maior do que

1kg/habitante/dia.

Assim, dada a complexidade da tarefa, novas prioridades foram incorporadas ao

sistema de gerenciamento dos resíduos sólidos e, a partir da década de 1990, surgem às

primeiras iniciativas de programas de gestão compartilhada de coleta seletiva em cidades

como Belo Horizonte, Curitiba e São Paulo. Este novo modelo rompe com uma visão

estritamente tecnicista para uma visão mais ampla da problemática dos resíduos sólidos o qual

passa a contemplar na implantação de seus programas parcerias entre governos municipais,

empresas privadas e cooperativas de catadores visando à geração de trabalho e renda, inclusão

social, cidadania, bem como o respeito ao meio ambiente.

De acordo com o Compromisso Empresarial para a Reciclagem (CEMPRE) a coleta

seletiva em 2002, era adotada por somente 192 municípios, em 2004 por 237 e em 2006, 327.

Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico realizada em 2008 este número sobe

para 994 sendo desenvolvidos, sobretudo nas regiões sul e sudeste. Em 2010, segundo o

CEMPRE, este numero cai para 443 municípios operando a coleta seletiva, cerca de 8%. E,

apesar do número de cidades serem crescente, na maior parte delas a coleta não cobre mais

que 10% da população local.

Na coleta seletiva tais materiais são separados na fonte geradora – residências,

empresas, escritórios, escolas, comércio, etc. – e são transportados e destinados a reciclagem.

De acordo com IBGE (2010) estes materiais representam cerca de 30% da composição dos

resíduos domestico, uma vez que em sua maioria é composto por matéria orgânica. A coleta

seletiva facilita e estimula a reciclagem porque os materiais coletados separadamente, por

serem limpos, têm maior potencial de aproveitamento e comercialização, sendo os catadores

os principais responsáveis pela separação da maior parte dos materiais recicláveis nos

municípios.

Para Zaneti e Sá, [2003] a separação dos materiais recicláveis cumpre um papel

estratégico na gestão integrada de resíduos sólidos sob vários aspectos: estimula o hábito da

separação do lixo na fonte geradora para o seu aproveitamento, promove a educação

ambiental voltada para a redução do consumo e do desperdício, gera trabalho e renda e

melhora a qualidade da matéria orgânica para a compostagem.

Segundo Waite (1995), entre as vantagens ambientais da coleta seletiva destacam-se: a

redução do uso de matéria-prima virgem e a economia dos recursos naturais renováveis e não

renováveis, e a redução da disposição de lixo nos aterros sanitários e dos impactos ambientais

decorrentes.

Page 21: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

19

De acordo com Demajorovic (2006) programas de coleta seletiva com modelo de

gestão participativa propiciam benefícios socioambientais e financeiros ao valorizar o

trabalho do catador gerando trabalho e renda, promovendo o resgate a cidadania, bem como

ao desviar parcela de resíduos dos aterros sanitários para a reciclagem.

E ainda, segundo Singer (2002) contribui significativamente para a sustentabilidade

urbana, incorporando gradativamente um perfil de inclusão social e geração de renda para os

setores mais carentes e excluídos do acesso aos mercados formais de trabalho.

Mas para isto, os gestores públicos municipais, por meio dos programas de coleta

seletiva, têm a responsabilidade de promover uma gestão participativa que tenha como base:

fortalecer a articulação entre políticas setoriais e as ações voltadas à geração de trabalho,

promover a qualificação dos trabalhadores, estimular a construção de instrumentos legais que

contribuem para o fortalecimento e a sustentabilidade dos empreendimentos.

Corrobora com esta ideia, Silva e Guimarães (2010) ao afirmar que diversos

municípios têm construído políticas públicas municipais conciliando a necessidade de geração

de trabalho e renda para contingentes populacionais atendidos pela política pública de

assistência social e a instituições de coleta seletiva de materiais recicláveis a partir da

formação e apoio a associações e cooperativas de catadores organizados na forma de

empreendimentos econômicos solidário.

Diante deste cenário, a pesquisa em curso se justifica, num primeiro plano, pela

contemporaneidade da discussão. Desde a publicação da Lei 12.305/2010 – Política Nacional

de Resíduos Sólidos novas prioridades foram incorporadas ao sistema de gestão e

gerenciamento de resíduos sólidos incumbindo as administrações públicas municipais a

implementação de um conjunto de instrumentos e ações de gestão participativa com vistas à

gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos.

Para a Política Nacional de Resíduos Sólidos, devem ser seguidos, basicamente os

seguintes instrumentos, entre outros: “a coleta seletiva, os sistemas de logística reversa e

outras ferramentas relacionadas à implementação da responsabilidade compartilhada pelo

ciclo de vida dos produtos; o incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de

outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis2”.

Sob tal premissa, os programas de coleta seletiva são concebidos. No entanto, Zaneti e

Sá [2003], identificam alguns pontos comuns em experiências brasileiras na gestão de

resíduos sólidos urbanos: as políticas públicas para o setor não adotam como ponto de partida 2 Art. 7º da Lei nº 12.305 de 02 de agosto de 2010, o qual institui a Política Nacional de Resíduos

Sólidos.

Page 22: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

20

um conhecimento objetivo da complexidade do sistema socioeconômico que gera os resíduos;

Não existe também, na ideologia da reciclabilidade, uma atitude crítica quanto aos valores e a

hierarquia de necessidades: 1º reduzir (consumo e obsolescência planejada); 2º reutilizar; 3º

reciclar (interesse das empresas - redução de custos de produção). Os projetos implantados

pelo poder público restringem-se aos aspectos técnicos do sistema de gestão, descuidando-se

da dimensão educativa/comunicativa que é o instrumento básico para priorizar o reduzir e o

reutilizar na hierarquia dos valores da gestão.

Tanto as unidades familiares, que geram lixo pelo consumo, quanto as empresas, que

geram lixo no processo de produção e colocação no mercado, não são atingidas por propostas

concretas de mudança dos hábitos de consumo e produção. Não existe, portanto, nas políticas

públicas para o setor, a intenção explícita de gerar novas formas organizativas capazes de dar

autonomia, consciência crítica e poder de modificar sua qualidade de vida, aos indivíduos e

grupos ligados aos serviços de catação, separação e comercialização do lixo urbano.

Outro ponto crítico a ser destacado é que as práticas de inserção desses segmentos

sociais no sistema de gestão gera conflitos de interesses (quanto ao acesso ao lixo de melhor

qualidade e ao controle dos preços) tanto entre catadores e os outros atores do sistema, tais

como escolas, poder público, empresas, quanto entre os próprios grupos de catadores, que

passam a concorrer entre si a partir de uma variedade de formas organizativas.

A pesquisa se justifica ainda diante da afirmação do CEMPRE, o qual reconhece

Belém como o único município do Estado do Pará a desenvolver um Programa de Coleta

seletiva. Programa este que para Leão (2006) ainda é incipiente na cidade. De acordo com

este autor o montante de lixo produzido pela Grande Belém, chegou a 1.800 toneladas/dia, o

que representa a produção de cerca de 684 gramas por habitante naquele ano.

Ademais, ao analisar os dados do novo ranking das cidades com mais de um milhão de

habitantes pelo percentual de ruas com acesso/cobertura de cada uma das características do

entorno dos domicílios, recentemente divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística – IBGE, realizada com base no Censo 2010, classifica Belém entre as piores em

sete indicadores analisados, entre eles: identificação das ruas com 35,5%; iluminação pública

93,7%; pavimentação 69,3%; calçada com 51,2%; arborização 22,4%; esgoto a céu aberto

revelando 44,5% dos domicílios e ainda Belém lidera o ranking negativo, no tocante ao lixo

acumulado nas ruas, indicando que na capital do Pará, 10,4% dos domicílios têm lixo

acumulado no entorno.

Diante do exposto, observa-se a importância de refletir sobre esse contexto e suas

implicações políticas e sociais no sentido da operacionalização dessas normas no

Page 23: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

21

gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos.

Na perspectiva da compreensão desta temática, a presente pesquisa tem como objeto

de estudo a política de resíduos sólidos urbanos, por meio do programa de coleta seletiva,

considerado este, como alternativa para a geração de trabalho e renda e cidadania as pessoas

envolvidas no processo de gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos na Região

Metropolitana de Belém (RMB), e busca enfatizar o aspecto socioambiental dessa política

pública marcada por articulações entre o Estado - na posição de direcionador (e/ou

redirecionador) dos rumos de ações de intervenção e/ou de investimentos, e catadores (as), na

condição de sujeitos de direitos relativos à sua emancipação pessoal e familiar.

Atualmente, a maioria dos centros urbanos encontra dificuldades em dispor

corretamente seu lixo no solo. Assim sendo é necessário que as medidas tomadas para seu

gerenciamento sejam muito bem analisadas e selecionadas, adotando-se técnicas diferenciadas

de manejo evitando elevados custos que possam inviabilizar sua execução.

A estratégia da Coleta Seletiva têm se mostrado como um instrumento de gestão

ambiental participativa visando à recuperação de material reciclável para fins de reciclagem,

bem como oportunidade de geração de trabalho e renda.

No entanto, no Brasil os programas de coleta seletiva são desenvolvidos na maioria

dos casos por iniciativas e ações pontuais e informais. Estas constatações sinalizam que a

sociedade contemporânea convive com um problema socioambiental na forma de manejar

adequadamente os resíduos sólidos urbanos.

Neste contexto, a política pública de resíduos sólidos, é abordada como portadora de

uma nova concepção de gestão e gerenciamento dos resíduos por voltar-se para as dimensões

política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do

desenvolvimento sustentável e ainda por sinalizar a adoção, por parte do governo, de uma

perspectiva de gestão participativa.

Entretanto, na prática, o que se evidencia no âmbito de atuação do Estado, no que diz

respeito às ações de intervenção junto à sociedade, são ações pautadas em relações de

dependência.

Desse modo, políticas públicas representam o Estado em ação ou mesmo uma das

formas de o Estado gerir a sociedade. Assim sendo, a forma ou o tipo de administração que

assume o Estado influenciará decisivamente nas características que identificam a gestão de

uma política pública.

O enfoque na política pública decorre do pressuposto de que o caráter “holístico” do

campo das políticas públicas permite que ela comporte “vários olhares” não se restringindo

Page 24: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

22

apenas o da ciência política, uma vez que de acordo com Souza (2006 p.26) a gestão tem

significativa parcela de responsabilidade sobre o sucesso ou não de uma política pública e

sobre sua sustentabilidade ao longo da história.

Nos últimos anos, Kapron e Fialho (2003) afirmam que o processo de elaboração e

implantação de políticas públicas na perspectiva societal, tais como um programa de coleta

seletiva permite a ampliação dos espaços de interação entre Estado e a sociedade organizada,

através da construção de parcerias com instituições governamentais e entidades civis.

Para os autores o conceito de política utilizado aqui se refere institucionalmente ao

Estado, e está restrito à tomada de posição por parte do Estado diante de inúmeras variáveis,

sujeitos e realidades a serem mantidos ou modificados, com vistas a um determinado objetivo.

Esse conceito clássico de política, difundido por Aristóteles, politikós que se refere à

cidade (pólis) e ao público, mas enquanto modo de ação e de funcionamento do Estado, que

se estabelece através da relação de poder entre governantes e governados.

Assim, o tipo de administração que assume o Estado influenciará decisivamente nas

características que identificam a gestão de uma política pública.

Para Rodrik (2002) o Estado possui um papel enorme, mas entende que os arranjos

institucionais têm uma função importante, e descobrir o que funciona no plano local requer

experimentação.

Neste contexto, a análise do papel desempenhado por cada instituição representada

pelo Estado e Sociedade civil organizada identificando e caracterizando sua forma de

participação se faz fundamental para compreender o arranjo institucional criado para a gestão

e o gerenciamento do programa de coleta seletiva.

Com base nesta perspectiva, o objetivo central desta pesquisa é investigar como se

caracteriza e como funciona as relações formadas para gestão e gerenciamento do programa

de coleta seletiva da Região Metropolitana de Belém considerado este como estratégia de

promoção à geração de trabalho e renda, inclusão social e cidadania para as pessoas

envolvidas na gestão integrada dos resíduos sólidos.

Perceber e entender as inter-relações inerentes ao programa – quem são as pessoas que

os compõem, qual sua forma de interação, o que buscam para si – e entre eles e o programa e

a sociedade local e o ambiente urbano.

Para atingir esse propósito, mas sem pretensões de esgotar o tema, que é complexo e

abrangente, foram delimitados os seguintes objetivos específicos: (1) Identificar e analisar o

arranjo institucional preparada para a gestão e gerenciamento do programa de coleta seletiva;

(2) Identificar os desafios e limitações encontrados no planejamento e gestão do programa de

Page 25: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

23

coleta seletiva; e, por fim, (3) Caracterizar os impactos ambiental, social e econômico do

programa de coleta seletiva.

Os resultados deste estudo podem apontar várias implicações de ordem teórico-

conceitual e empírica. Em termos teóricos, podem trazer novos elementos conceituais a

respeito da gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos em face da realidade

histórica do Estado e da sociedade brasileira. Em termos empíricos, podem apontar para

elementos estruturantes da gestão de políticas públicas necessários para sua sustentação ao

longo da história, no sentido de sua efetividade.

No intuito de atender aos objetivos delineados, o presente estudo está organizado em

cinco partes. Além desta introdução, no segundo capítulo deste trabalho, busca-se

contextualizar e caracterizar a gestão integrada dos resíduos sólidos urbanos, conceitos e

princípios, como forma de justificar a necessidade de se realizar pesquisas voltadas para

práticas e ações que visem o consumo consciente, a minimização dos resíduos e sua

disposição final ambientalmente adequada, a coleta seletiva e suas modalidades no processo

de gestão e gerenciamento dos resíduos.

Tendo em vista a contextualização supracitada, procura-se no terceiro capítulo

apresentar o estado da arte sobre o gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos em Belém. No

quarto capítulo são mostrados todo o procedimento metodológico adotado na condução da

pesquisa. Trata-se de uma abordagem qualitativa, de natureza teórico-empírica que utiliza

como método de pesquisa o estudo de caso. A coleta de dados é dividida em duas etapas: na

primeira etapa, realiza-se a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental; na segunda

realiza-se as entrevistas com os atores-chaves do programa de coleta seletiva. As entrevistas

foram realizadas com membros diretamente envolvidos no programa de coleta seletiva da

prefeitura municipal de Belém, com membros do Ministério Público Estadual, membros da

Organização não Governamental – ONG “No olhar”; membros da Associação de Catadores

da Coleta Seletiva de Belém – ACCSB. A coleta de dados ocorreu no período de janeiro a

março de 2012.

No quinto capítulo, são apresentados e discutidos os resultados da pesquisa.

Inicialmente realiza-se um resgate histórico da origem e institucionalização do programa de

coleta seletiva em Belém. A partir daí, busca-se identificar os principais atores-chave do

programa e as formas de incorporação deles ao programa. Os desafios e limitações gerais

imposto a gestão do programa são identificados e discutidos sob duas perspectivas: no âmbito

das características do próprio programa e no âmbito dos atores-chave envolvidos, em especial,

os catadores da ACCSB. Com base em toda a discussão realizada nos tópicos anteriores, faz-

Page 26: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

24

se uma discussão dos principais resultados obtidos com o programa á luz das dimensões

ambientais, socioeconômico e político, tendo como orientador de análise as categorias

utilizadas por Milanez e Teixeira (2001) para os princípios de sustentabilidade urbana

aplicados na gestão dos resíduos sólidos urbanos.

Por último, no sexto capítulo, são apresentados as considerações finais, por meio das

quais os resultados obtidos, ou seja, o alcance e as limitações do presente estudo, são

apresentadas, bem como as sugestões para estudos futuros.

Page 27: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

25

2 GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

Nesta seção se apresenta o marco teórico-conceitual da dissertação, visando,

sobretudo, esclarecer sobre a gestão integrada dos resíduos sólidos urbanos. Para lograr êxito

neste intento, partir-se-á pelos conceitos e princípios de alguns termos-chave como resíduos

sólidos, coleta seletiva, gestão integrada e gerenciamento de resíduos sólidos, em seguida,

faz-se uma síntese da abordagem sobre consumo consciente e a geração de resíduos, após são

apresentados os modelos de gestão e gerenciamento e a seção encerra-se com o panorama da

gestão e o gerenciamento dos RSU no mundo e no Brasil.

2.1 CONCEITOS E PRINCÍPIOS

A partir da década de 1970, resíduos sólidos vem sendo definido por diversos autores.

Para Sewell (1978) o termo lixo é definido como “materiais indesejados pelo homem que não

podem fluir diretamente para os rios ou se elevar imediatamente para o ar”.

De acordo com Girord (1993) o artigo 1 da Lei Francesa nº 75.663 de 17 de julho de

1975, define resíduos sólidos como “todo resíduos de um processo de produção, de

transformação ou utilização, toda substância, matéria, produto, ou mais geralmente, todo bem

móvel abandonado ou que seu proprietário o destina ao abandono”

Para Moreira et al (1994) a Comunidade Econômica Européia (CEE), de acordo com

as diretrizes 75/442 e 78/319, define o lixo como “qualquer substância ou objeto cujo detentor

se desfaz segundo a legislação vigente”.

Mancini (1999) esclarece que o significado do conceito “resíduos sólidos”

corresponde ao que conhecemos popularmente por “lixo”.

Para Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 1987) resíduos sólidos são:

resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem industrial,

doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição.

Em 2010, de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS, os resíduos

sólidos são materiais, substâncias, objetos ou bens descartados resultantes de atividades

humanas em sociedade, aos quais a destinação final se procede, se propõe proceder ou se está

obrigado a proceder.

Podem apresentar-se no estado sólido ou semissólido, gasoso (quando contidos em

recipientes) e líquido (quando apresentem particularidades que tornem inviável o seu

lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções

Page 28: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

26

técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível).

Os resíduos sólidos podem ser classificados, quanto à origem em:

a) resíduos domiciliares: os originários de atividades domésticas em residências

urbanas;

b) resíduos de limpeza urbana: os originários da varrição, limpeza de logradouros e

vias públicas e outros serviços de limpeza urbana;

c) resíduos sólidos urbanos: os englobados nas alíneas “a” e “b”;

d) resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços;

e) resíduos dos serviços públicos de saneamento básico;

f) resíduos industriais;

g) resíduos de serviços de saúde;

h) resíduos da construção civil: os gerados nas construções, reformas, reparos e

demolições de obras de construção civil;

i) resíduos agrossilvopastoris;

j) resíduos de serviços de transportes: os originários de portos, aeroportos, terminais

alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira;

k) resíduos de mineração.

Reconhecida por ser uma excelente estratégia para desviar resíduos sólidos

domiciliares dos lixões ou de aterros sanitários para um processo de reutilização e/ou

reciclagem, a coleta seletiva impõe desafios.

Entende-se por coleta seletiva3 a coleta de resíduos sólidos previamente segregados

conforme sua constituição ou composição.

O conceito de coleta seletiva, surgiu em 1941, segundo Pieroni apud (MANCINI,

(1999) como sendo “uma separação prévia de materiais que poderiam ser reaproveitados”.

Para Amazonas (1990) coleta seletiva consiste na separação de papéis, metais,

plásticos e vidros na fonte geradora, é uma forma para a segregação dos materiais recicláveis.

Após a coleta tais materiais podem ser classificados por categorias e encaminhados as

indústrias recicladoras.

3 Lei nº 12.305 de 02 de agosto de 2010, Política Nacional de Resíduos Sólidos em seu Art. 3º o qual

dispõe sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis.

Page 29: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

27

Segundo Mancini (1999, p. 22) “a coleta seletiva dos resíduos sólidos recicláveis é a

coleta seletiva” embora existam várias definições sobre coleta seletiva, conforme cada autor.

Bringhenti (2004, p. 14) em sua tese de doutorado intitulada “Coleta Seletiva de

resíduos sólidos urbanos: aspectos operacionais e da participação da população” definiu a

Coleta Seletiva como:

A etapa de coleta de materiais recicláveis presentes nos resíduos sólidos urbanos, após sua separação na fonte geradora, seguindo de seu acondicionamento e apresentação para coleta em dias e horários pré-determinados, ou mediante entrega em Postos de Entrega Voluntária (PEV´s), Postos de trocas, a catadores autônomos, sucateiros ou a entidades beneficente.

A resolução CONAMA Nº 275 estabelece um padrão de cores de fácil visualização

para identificar os recipientes e transportadores utilizados na coleta seletiva, a saber: azul –

papel/papelão; vermelho – plástico; verde – vidro; amarelo – metal; marrom – resíduos

orgânicos, entre outros.

Na coleta seletiva tais materiais são separados na fonte geradora – residências,

empresas, escritórios, escolas, comércio, etc. – e são transportados e destinados a reciclagem.

O ideal é a separação prévia dos resíduos conforme sua origem e encaminhados as centrais de

triagem para que possam ser conduzidos as empresas recicladoras e, posteriormente

comercializados, retornando ao processo de fabricação do produto.

A PNRS (2010) define reciclagem por ser “o processo de transformação dos resíduos

sólidos que envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas,

com vistas à transformação em insumos ou novos produtos”. (BRASIL. LEI 12.305/2010). E

por rejeitos:

os resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada. (BRASIL. LEI 12.305/2010).

Por disposição final ambientalmente adequada, a referida política define como sendo

“a distribuição ordenada de rejeitos em aterros, observando normas operacionais específicas

de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos

ambientais adverso”. (BRASIL. LEI 12.305/2010).

Por gestão integrada de resíduos sólidos segundo a Política Nacional de Resíduos

Sólidos (2010) entende-se como sendo:

Page 30: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

28

um conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável. (BRASIL. LEI 12.305/2010).

Dentro deste contexto de análise, por Gerenciamento de resíduos sólidos: o conjunto

de ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transborda,

tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final

ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com Plano Municipal de Gestão Integrada

de Resíduos Sólidos ou com Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos.

De acordo com a política, o Art. 14 da PNRS, estabelece que são planos de resíduos

sólidos:

I - o Plano Nacional de Resíduos Sólidos; II - os planos estaduais de resíduos sólidos; III - os planos microrregionais de resíduos sólidos e os planos de resíduos sólidos de regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas; IV - os planos intermunicipais de resíduos sólidos; V - os planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos; e VI - os planos de gerenciamento de resíduos sólidos. (BRASIL. LEI 12.305/2010).

Ressalta-se que em quaisquer dos planos é assegurada ampla publicidade ao seu

conteúdo, bem como controle social em sua formulação, implementação e operacionalização,

incluindo a realização de audiências e consultas públicas.

Do ponto de vista político, os princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos,

descritos no art. 06, são apresentados abaixo:

I – a preservação e a precaução; II – o poluidor-pagador e o protetor-recebedor; III – a visão sistêmica, na gestão dos resíduos sólidos, que considere as variáveis ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde pública; IV – o desenvolvimento sustentável; V – a ecoeficiência, mediante a compatibilização entre o fornecimento, a preços competitivos, de bens e serviços qualificados que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida e a redução do impacto ambiental e do consumo de recursos naturais a um nível, no mínimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada do planeta; VI - a cooperação entre as diferentes esferas do poder público, o setor empresarial e demais segmentos da sociedade; VII - a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; VIII - o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania;

Page 31: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

29

IX - o respeito às diversidades locais e regionais; X - o direito da sociedade à informação e ao controle social; XI - a razoabilidade e a proporcionalidade. (BRASIL. LEI 12.305/2010).

A partir da apresentação dos princípios, tem-se a questão prática da avaliação e

medição da sustentabilidade nos programas/projeto e ações relacionados à gestão integrada

dos resíduos sólidos urbanos, como é o caso de programas de coleta seletiva. Este tema

emerge de pesquisas e estudos para definição de critérios.

2.2 CONSUMO CONSCIENTE E A GERAÇÃO DE RESÍDUOS

A crise ambiental que vem sendo vivenciada pelas sociedades humanas em todo o

planeta tem gerado sofrimento, dúvidas e insatisfações. Vivemos uma crise de valores. Os

modelos de felicidade, baseados na capacidade de adquirir bens materiais e na ideia de que os

recursos naturais durariam para sempre, se tornaram um sonho impossível para a maioria da

população. O resultado são sentimentos de frustração e baixa autoestima.

De acordo com Portilho (2004) em uma sociedade capitalista, praticamente, 80% dos

recursos naturais são consumidos por 20% da população e o sucesso é medido pela

quantidade de coisas que se pode ter.

A autora considera que a crise ambiental é uma construção social e que, ao longo do

tempo, houve transições no discurso utilizado para a problematização da questão, conforme

sistematizado a baixo:

a) Até a década de 1970 – os problemas ambientais eram decorrentes do crescimento

populacional;

b) A partir da década de 1970 – os problemas eram decorrentes do impacto da

produção;

c) A partir da década de 1990 – os problemas são decorrentes do impacto do consumo.

A matriz desse problema está no modelo de desenvolvimento adotado em quase todo

mundo ocidental, o qual exibe um padrão exagerado de consumo produzindo uma quantidade

tal de resíduos que a natureza jamais conseguirá absorver ou processar.

Corrobora com esta afirmação, a Organização Panamericana de Saúde (2005) ao

constatar que o modo de vida urbano produz uma diversidade cada vez maior de produtos e de

resíduos que exigem sistemas de coleta e tratamento diferenciados após o seu uso e uma

destinação ambientalmente segura.

Page 32: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

30

Sob tais condições, a redução dos milhões de resíduos gerados vem sendo apontada

como um dos maiores desafios da atualidade, uma vez que a geração excessiva de resíduos

sólidos afeta a sustentabilidade urbana e que a sua redução depende de mudanças nos padrões

de produção e consumo da sociedade.

Para Dias (2002) se faz necessário buscar e atingir um novo estilo de vida, baseado

numa ética global, regida por valores humanitários harmonizadores. Para isto, deve-se

contribuir para melhorar o planejamento, o manejo e a geração de políticas publicas capazes

de tornar as cidades menos impactantes e mais agradáveis de viver, conciliando

desenvolvimento com conservação e uso sustentável e equitativo de recursos naturais, com a

decisiva participação das populações locais no processo de gestão.

Para o autor, cidades com manejo eficientes (resourceful city) enfatizam a necessidade

de se reduzir a produção de resíduos, a poluição e os riscos. Busca-se a eficiência no uso de

energia, dos materiais, dos alimentos e da água e promove-se a reciclagem, a reutilização e a

redução de consumo.

Segundo MANCE (2003) o consumo é o momento final do processo produtivo. É em

função do consumo que o processo de produção se organiza atuando na viabilização do lucro

e o acúmulo da mais-valia. O consumo como tal, pode ser analisado como consumo produtivo

(consumo de insumos, energia, etc) para realização de um bem ou serviço, e consumo final,

compreendido como acabamento do produto, fruição do bem ou serviço.

Mance (2003) assevera que o consumo pode ser classificado em quatro classes:

alienado, compulsório, para o bem viver e solidário.

O consumo alienado caracteriza o consumo praticado por influência das semioses

publicitárias. As propagandas movem as pessoas a comprar os produtos, gerando desejos e

fantasias, associando-as a outras coisas, situações ou identidades que as pessoas gostariam de

ter, usufruir ou ser (MANCE, 2003).

O consumo compulsório é aquele que se é obrigado a realizar para satisfazer as

necessidades biológicas, culturais e situacionais e que ocorre quando a pessoa tem pouco

recurso para atendê-lo ou não há alternativas para escolher. Neste caso, busca-se comprar

sempre o que for mais barato, sem preocupar com qualidade, o que interessa é maximizar a

quantidade de produtos com o mesmo dinheiro (MANCE, 2003).

O consumo para o bem viver ocorre quando as pessoas não se deixam levar pelas

armadilhas publicitárias e, optam por produtos e serviços que garantam o seu próprio bem

viver, permitindo sua singularidade como seres humanos (MANCE, 2003).

E por fim, o consumo consciente e solidário é aquele praticado em função não apenas

Page 33: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

31

do próprio bem-viver pessoal, mas também do bem-viver coletivo, em favor dos trabalhadores

que produziram aquele bem ou serviço e da manutenção do equilíbrio dos ecossistemas

(MANCE, 2003).

Trata-se de um consumo que ao adquirir um produto ou serviço leva-se em

consideração aspectos solidários e ecológicos em toda a sua cadeia produtiva. Sob esta lógica,

cada ato de consumo passa a ser um gesto de dimensão planetária, que pode tornar o

consumidor um cúmplice de ações desumanas e ecologicamente prejudiciais, afinal, não se

trata somente de considerar o lixo final derivado do consumo – invólucro, embalagens, etc,

mas o impacto ambiental e social do próprio processo produtivo, que pode ser insustentável,

provocando fenômenos não apenas de esgotamento de recursos, como também alterações

prejudiciais aos ecossistemas locais e planetários.

Frente a esta situação, um gerenciamento integrado em todas as etapas de manejo dos

resíduos sólidos urbanos, pode render as comunidades, maior sustentabilidade ambiental e

equidade social.

Segundo Lima (2002), a reversão do atual padrão de desenvolvimento, em direção a

sustentabilidade ambiental, tem no manejo adequado dos resíduos sólidos, um de seus

maiores desafios, sendo que a adoção das práticas de gerenciamento integrado pelas

municipalidades poderia ser a base do processo de enfrentamento do problema.

2.3 DO MODELO TRADICIONAL AS NOVAS PRIORIDADES DA POLÍTICA

NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS - PNRS

Para Demajorovic (1995) o desenvolvimento da política de resíduos sólidos nos

últimos anos, nos países desenvolvidos, permite identificar três fases distintas.

A primeira fase, que prevaleceu até o início da década de 1970, é caracterizada pela

prioridade em garantir apenas a disposição de resíduos.

Page 34: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

32

Figura1 - Modelo tradicional de tratamento de resíduos sólidos.

Fonte: Moore (1989 apud DEMAJOROVIC, 1995), modificado.

Neste modelo, observa-se que o crescimento rápido da exploração dos recursos

naturais e do consumo nos centros urbanos, apresentava, em contrapartida, um aumento

igualmente rápido do volume de resíduos a serem dispostos, um fato decorrente da ausência

de políticas para reduzir a quantidade de resíduos em qualquer das etapas do sistema

produtivo.

Em meados da década de 1970, pela primeira vez, a política de resíduos sólidos

estabelece as prioridades de sua gestão, na seguinte ordem:

Redução da produção de resíduos;

Reciclagem do material;

Incineração com reaproveitamento de energia, e;

Disposição em aterros controlados.

A partir da década 1980, os efeitos dessa política apresentavam-se: de um lado, a

redução da produção de resíduos continuava como retórica, de outro, a promoção da

recuperação e da reciclagem passou a ser prioridade nesta segunda fase (figura 2).

bens / serviços

resíduos

Page 35: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

33

Figura 2 - Modelo de gestão de resíduos sólidos incluindo a reciclagem.

Fonte: Moore (1989 apud DEMAJOROVIC, 1995), modificado.

Nesta fase, por meio do incremento da lesgislação e incentivos econômicos estimulou-

se o uso de reciclaveis e ainda, o apoio da população, desenvolvendo-se um mercado rentável,

para os produtos recicláveis. Ademais, para garantia e reaproveitamento dos resíduos, são

estabelecidos novas relações entre consumidores finais e produtores e distribuidores e

consumidores.

Ao final da década de 80 surgiram as críticas ao incentivo apenas ao reaproveitamento

e reciclagem dos resíduos. Percebeu-se que nesse processo não existia vinculação entre

resíduos gerados e fonte geradora. Desta forma, não havia estímulo para redução de resíduos

desnecessário, desde o início do processo produtivo e fosse uma prioridade pela empresas.

A partir da década de 1990, inicia-se a terceira fase, marcada pelo estabelecimento de

novas prioridades do sistema de gestão dos resíduos sólidos.

Nesta fase, a prioridade passa a ser a redução do volume de resíduos já no início do

processo produtivo, continuando nas demais etapas da cadeia produtiva. Este modelo sugere

uma série de alterações no comportamento dos diversos atores envolvidos em todas as etapas

do processo, conforme figura 3.

bens / serviços

resíduos

Page 36: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

34

Figura 3 - Modelo de gestão de resíduos sólidos adaptados as novas prioridades da política ambiental.

Fonte: Moore (1989 apud DEMAJOROVIC, 1995), modificado.

São diretrizes desta atual política de resíduos solidos as seguintes prioridades:

a) Evitar ou, quando não for possível, diminuir a produção de resíduos;

b) Reutilizar ou, quando não for posssível, reciclar resíduos;

c) Utilizar a energia presente nos resíduos;

d) Inertizar e dispor os resíduos.

Dentro deste contexto de análise, este sistema incorpora as dimensões de

sustentabilidade, uma vez que evita a produção de determinados resíduos, reaproveita parcela

deste e inertizar-se o restante. E ainda, gerencia a produção de resíduos em todas as fases do

sistema econômico e não apenas se concentra no tratamento e disposição final.

No Brasil somente a partir de 2010 com a publicação da Política Nacional de Resíduos

Sólidos é que se inova ao estabelecer uma nova ordem de prioridade para a gestão e

gerenciamento de resíduos sólidos, qual seja: não geração, redução, reutilização, reciclagem,

Page 37: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

35

tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.

Permite-se ainda a utilização de tecnologias para a recuperação energética dos

resíduos sólidos urbanos, desde que tenha sido comprovada sua viabilidade técnica e

ambiental e com a implantação de programa de monitoramento de emissão de gases tóxicos

aprovado pelo órgão ambiental.

Dentre as principais inovações, destaca-se:

a) Responsabilidade Compartilhada;

b) Logística Reversa;

c) Coleta Seletiva;

d) Acordos Setoriais;

e) Planos;

f) Catadores;

g) Resíduos Perigosos (Cadastro Nacional de Operadores de Resíduos Perigosos);

h) Áreas Contaminadas;

i) Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (SINIR)

A responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos é o conjunto de

atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e

comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de

manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados,

bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental

decorrentes do ciclo de vida dos produtos.

Para fortalecer a responsabilidade compartilhada e seus objetivos, os fabricantes,

importadores, distribuidores e comerciantes são responsáveis por:

a) Investir no desenvolvimento, na fabricação e na colocação no mercado de produtos

que possam, após o uso pelo consumidor, ser reutilizados, reciclados ou receberem outra

forma de destinação ambientalmente adequada e que a fabricação e uso gerem a menor

quantidade de resíduos sólidos possível.

b) Divulgar informações sobre as formas de evitar, reciclar e eliminar os resíduos

sólidos dos seus produtos.

c) Recolher os produtos e os resíduos após o uso, bem como dar a destinação final

ambientalmente adequada para os produtos sujeitos ao sistema de logística reversa.

Page 38: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

36

d) Participar das ações previstas no Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos

Sólidos, quando firmados acordos ou termos de compromisso com o município, no caso de

produtos ainda não inclusos no sistema de logística reversa.

A logística reversa é um instrumento de desenvolvimento econômico e social

caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a

coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu

ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.

No âmbito da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, o titular

dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos é obrigado a:

a) adotar procedimentos para reaproveitar os resíduos sólidos reutilizáveis e

recicláveis oriundos dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos;

b) articular com os agentes econômicos e sociais medidas para viabilizar o retorno ao

ciclo produtivo dos resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis oriundos dos serviços de

limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos;

c) realizar as atividades definidas por acordo setorial ou termo de compromisso;

d) implantar sistema de compostagem para resíduos sólidos orgânicos;

d) estabelecer sistema de coleta seletiva;

e) dar disposição final ambientalmente adequada aos resíduos.

A coleta seletiva é a coleta de resíduos sólidos previamente segregados conforme sua

constituição ou composição.

Sempre que for estabelecido o sistema de coleta seletiva pelo Plano Municipal de

Gestão Integrada de Resíduos Sólidos e na aplicação do sistema de logística reversa, os

consumidores são obrigados a:

a) acondicionar adequadamente e de forma diferenciada os resíduos sólidos gerados;

b) disponibilizar adequadamente os resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis para

coleta ou devolução.

O poder público municipal poderá instituir incentivos econômicos aos consumidores

que participam do sistema de coleta seletiva, na forma de lei municipal.

O acordo setorial é um ato de natureza contratual firmado entre o poder público e

Page 39: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

37

fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes, tendo em vista a implantação da

responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto.

Para sua operacionalização a política prevê como instrumento o incentivo à criação e

ao desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de

materiais reutilizáveis e recicláveis, tendo como objetivo a integração dos catadores nas ações

que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. Assim

sendo, têm–se o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem

econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania.

2.4 A GESTÃO E GERENCIAMENTO DOS RSU NO MUNDO E NO BRASIL

No mundo moderno a produção de resíduos sólidos vem aumentando numa escala

vertiginosa, exigindo soluções conjuntas entre poder publico e sociedade civil para a correta

gestão e gerenciamento desses resíduos.

Para o conjunto de ações voltadas a solucionar os problemas com os resíduos sólidos,

tais como normas, leis e procedimentos sob a premissa do desenvolvimento sustentável

defini-se de gestão integrada e por gerenciamento as etapas de coleta, transporte, transbordo,

tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final

ambientalmente adequada dos rejeitos.

Para Monteiro et al (2001) a visão moderna de gestão integrada de resíduos sólidos

consiste “no envolvimento de diferentes órgãos da administração pública e da sociedade civil

com o propósito de realizar a limpeza urbana, levando em consideração as características,

culturais e econômicas dos cidadãos e as peculiaridades demográficas, climáticas e

urbanísticas locais”.

Lima (2002) sugere que a gestão integrada de resíduos sólidos deva ser pautada por

quatro áreas pragmáticas, a saber: (1) minimização da geração de resíduos; (2) maximização

do reuso e da reciclagem; (3) promoção do tratamento e da disposição final dos resíduos

sólidos de forma ambientalmente correta; e, (4) maximização da cobertura dos serviços de

limpeza pública urbana.

Os serviços de limpeza pública urbana compreendem a coleta regular dos resíduos

sólidos urbanos, incluindo os resíduos domiciliar, de varrição e comercial, os quais são

atribuições, desde a Constituição de 1988, dos municípios brasileiros.

Monteiro et al (2001) consideram como parte integrante do serviço de limpeza urbana

de um município as etapas de geração, acondicionamento, coleta, transporte, transferência,

Page 40: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

38

tratamento e disposição final dos resíduos sólidos, além da limpeza de logradouros públicos.

Assim sendo, define-se gerenciamento de resíduos sólidos como sendo o conjunto dessas

ações exercidas, direta ou indiretamente, de acordo com o plano municipal de gestão

integrada de resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de resíduos sólidos4.

Segundo o CEMPRE (2007) o plano de gerenciamento de resíduos sólidos é um

documento que apresenta a situação atual do sistema de limpeza urbana, com a pré-seleção

das alternativas mais viáveis, e o estabelecimento de ações integradas e diretrizes sob os

aspectos ambientais, econômicos, financeiros, administrativos, técnicos, sociais e legais para

todas as fases de gestão dos resíduos sólidos, desde a sua geração até a destinação final.

Para Lima (2002) a combinação dessas ações deverá ser feita, no âmbito de cada

município, para encontrar seu próprio modelo de gerenciamento integrado, de acordo com as

condições territoriais, socioeconômicas locais, bem como a composição e a quantidade de

resíduos sólidos gerados.

Nos países desenvolvidos, já vem sendo incentivadas e empregadas estratégias como

“redução na fonte” por meio de processos tecnológicos e por meio da “análise do ciclo de

vida” dos produtos, bem como investimentos em reciclagem, reutilização, tratamento e

destinação final adequados dos resíduos.

Nesses países, a tendência é o tratamento de resíduos em incineradores modernos que

recuperam energia e só ocorre a disposição final dos resíduos em aterros sanitários quando os

mesmos não podem mais ser recuperados.

Ademais, tais países possuem uma política bem definida com determinação de cada

instituição responsável pelas ações no tocante a gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos.

Na Europa, há duas tendências fortes na gestão dos resíduos sólidos: (1) regularização

forte, fruto da organização dos agentes envolvidos e (2) responsabilização da industria pelos

resíduos gerados.

Em Berlim, na Alemanha, existem cerca de 3 mil aterros, entre os quais, cerca de 500

são para resíduos domésticos, e onde as águas são recirculadas. A produção média diária de

resíduos é de 1kg/pessoa/dia. A cidade possui um Fundo Monetário Mensal, onde os recursos

são gastos prioritariamente em ações de administração e programas de Educação Ambiental.

Na Holanda, há parcerias entre os setores público e privado. O primeiro disponibiliza a

infraestrutura e o segundo é responsável pela operacionalização do sistema, sendo controlado

e fiscalizado pelo Estado.

4 Art. 3º da Lei nº 12.305 de 02 de agosto de 2010, Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Page 41: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

39

A cidade de Nova Iorque nos Estados Unidos, é considerada a capital do lixo por

produzir em média 12 mil toneladas diárias de resíduos, perfazendo cerca de 2 a

3kg/habitante/dia. Os resíduos produzidos na cidade são levados ao aterro próximo da cidade

de Manhattan, considerado uma das maiores obras de engenharia do mundo, embora já esteja

com sua vida útil em fase de esgotamento. Aproximadamente 50% dos resíduos gerados vão

para os aterros, 20 % são incinerados e 25% são reciclados.

De modo geral, a maioria dos países o gerenciamento dos resíduos fica a cargo das

administrações municipais, como ocorre no Brasil, exceto no Japão, onde os governos Federal

e Estadual são responsáveis por analisar, regularizar e fiscalizar o gerenciamento dos

resíduos.

A forma como as questões sobre resíduos sólidos são tratadas no Brasil é reflexo do

descaso ocorrido no passado. Já nos Estados Unidos, onde o consumo é incentivado, os

esforços em busca da redução de resíduos é mais limitado. No entanto, os países europeus

analisados possuem legislação, fiscalização e controle mais aprimorados, adequando-os as

suas metas e cronogramas, os quais são constantemente ajustados, por meio de

acompanhamento e monitoramento periódico.

De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos

Especiais (ABRELPE), em 2010, o Brasil gerou cerca de 61 milhões de toneladas de resíduos

sólidos urbanos (RSU), o que representa cerca de 378 quilos/habitante/ano. Todavia, tais

resíduos nem sempre recebem o correto destino final. Segundo os resultados da Pesquisa

Nacional de Saneamento Básico de 2008 do IBGE apontam os “lixões” como o destino final

dos resíduos sólidos em 50,8% dos municípios brasileiros. A tabela 1 apresenta o cenário do

destino final dos resíduos sólidos no Brasil.

Tabela 1 - Destino final dos resíduos sólidos, por unidades de destino dos Resíduos (%) - Brasil - 1989/2008.

Aterro controlado1989 88,2 1,12000 72,3 17,32008 50,8 27,7

Destino final dos resíduos sólidos por unidades de destino dos resíduos (%)Ano Vazadouro a céu aberto Aterro Sanitário

9,622,322,5

Fonte: Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, 2008.

Da mesma forma, a tabela 2 revela a quantidade de resíduos produzidos pelo estado do

Pará, no ano de 2010, segundo a (ABRELPE).

Page 42: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

40

Tabela 2 - Quantidade de resíduos produzido no Estado do Pará, em 2010.

PA 5.625 4.579 26,90% 0,881

Estado RSU gerado (t/dia)

RSU coletado (t/dia)

Destinação final adequada

Lixo coletado (kg/hab/dia)

Fonte: Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais – ABRELPE.

No Brasil, os problemas com destinação correta dos resíduos é recente e as situações

distinguem-se de município para município. Se tratando de um problema crescente, não se

torna vantajoso para administração pública a busca por soluções tardias. Entretanto,

nacionalmente, a partir de 1993, a Resolução CONAMA nº 5 de 1993, prevê a implantação do

gerenciamento dos resíduos sólidos obrigatório, o qual mantém o conceito técnico ou

definição técnica de resíduos sólidos previstos na NBR 10.004 da ABNT (1987).

De acordo com a PNRS (BRASIL. LEI 12.305/2010) a responsabilidade quanto ao

gerenciamento dos resíduos sólidos no país podem variar, de acordo com sua origem,

conforme a tabela 3:

Tabela 3 - Responsabilidade sobre os resíduos sólidos conforme origem e classe. Origem Classe Responsável

Domiciliar 1 Prefeitura

Comercial 1 Prefeitura

Industrial 1,2 Gerador do resíduo

Público 1 Prefeitura

Serviço de Saúde 1,2 Gerador do resíduoPortos, aeroportos, terminais ferroviários

1,2 Gerador do resíduo

Agrícola 1,2 Gerador do resíduo

Entulho 1 Gerador do resíduo Fonte: Ambiente Brasil (2010).

Um sistema de gestão e gerenciamento eficiente atua no objetivo de minimizar e

reduzir a geração do lixo na sua fonte. Como estratégia principal, propõe-se ao consumidor os

famosos 3 R´s – 1) reduzir o consumo de itens inúteis, descartáveis que despendam recursos

não renováveis; 2) reutilizar adquirindo produtos usados costumizando-os e 3) reciclar o que

for possível.

Page 43: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

41

A partir da ECO 92 a política dos 3R´s foi oficializada e consagrada na Agenda 21

com objetivo de reduzir o impacto ambiental negativo das atividades humanas na busca do

gerenciamento integrado dos resíduos sólidos gerados desde a sua prevenção (redução na

fonte) passando pela reutilização (reuso) e reciclagem (3R´s).

No entanto, no Brasil, apesar da PNRS inovar ao estabelecer uma nova ordem de

prioridades na gestão e gerenciamento dos RSU, na prática os avanços ainda são limitados

em relação a ações voltadas para a minimização da geração dos resíduos, uma vez que a

preocupação maior das administrações municipais está relacionado a destinação final correta

dos resíduos e não na prevenção da poluição gerado por eles, os gráficos 1 e 2 apresentam os

dados nacional, e os dados na Região Norte, Estado do Pará, Região Metropolitana de Belém

e Belém, respectivamente:

Gráfico 1 - Quantidade diária de lixo coletado, por unidade de destino final do lixo coletado, segundo as grandes regiões, unidades da federação, regiões metropolitanas e municípios das capitais.

Fonte: Pesquisa Nacional de Saneamento Básico – IBGE (2010), modificado.

Page 44: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

42

Gráfico 2 - Quantidade diária de lixo coletado, por unidade de destino final do lixo coletado, segundo as grandes regiões, unidades da federação, regiões metropolitanas e municípios das capitais.

Fonte: Pesquisa Nacional de Saneamento Básico – IBGE (2010), modificado.

Segundo o IBGE (2010) cerca de 62,6% dos domicílios urbanos brasileiros são

atendidos, ao mesmo tempo por rede de abastecimento de água, rede coletora de esgoto e

coleta de lixo direta, enquanto que 50,8% destina inadequadamente este material em

vazadouros a céu aberto.

A inoperância das administrações municipais, emaranhada por conflitos de interesse e

ou políticos, em melhorar a qualidade dos serviços públicos prestados e com isso, melhorar a

qualidade de vida da população, faz com que os órgãos públicos municipais deixem de buscar

investimentos federais, ou até mesmo, os percam para a implantação de aterros sanitários,

coleta seletiva e usinas de reciclagem, um dos grandes desafios, uma vez que no Brasil, os

serviços de limpeza urbana são de responsabilidade do município.

Na maioria das cidades brasileiras a coleta de lixo é realizada por empresa privada,

sob concessão, subcontratação ou permissão. Outro desafio no setor de limpeza urbana refere-

se a falta de especialista na temática dos agentes envolvidos tanto na prefeitura quanto nas

empresas privadas, os quais são essenciais para o bom funcionamento do sistema.

De acordo com Fritsch (2000) o Departamento de limpeza pública geralmente é

incumbido a uma Secretaria Municipal, o qual é responsável pelos serviços de limpeza de rua,

capina, limpeza de valetas, bocas de lobo, terrenos baldios, bem como pelo saneamento básico

e fiscalização das atividades que envolvem os resíduos sólidos, desde a coleta até a sua

disposição final.

Page 45: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

43

Esses serviços garantem a manutenção da limpeza das cidades, evitando riscos de

enchentes e minimizando riscos á saúde pública. Podem ainda gerar trabalho e renda e

cidadania as pessoas envolvidas. Por tudo isso, a gestão e o gerenciamento dos resíduos

sólidos urbanos, são tarefas complexas e abrangentes, refletindo na dificuldade da maioria dos

municípios brasileiros em operacionalizá-los, devido a carência de autonomia e recursos.

Neste sentido, a Política Nacional de Resíduos Sólidos estabelece no art. 18. que a

elaboração do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos é condição para que

o Distrito Federal e os municípios tenham acesso aos recursos da União ou para serem

beneficiados por incentivos ou financiamentos de entidades federais. Assim, terão prioridades

os municípios que: I - optarem por soluções consorciadas intermunicipais para a gestão dos

resíduos sólidos; II - implantarem a coleta seletiva com a participação de cooperativas ou

outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por

pessoas físicas de baixa renda. (BRASIL. LEI 12.305/2010).

O respectivo plano deverá ser elaborado com horizonte de atuação de 20 (vinte anos) e

revisões a cada 4 (quatro anos), sendo que, a administração municipal, tem até agosto de 2012

para elaborar seu plano, respeitando o conteúdo mínimo, que está sintetizado abaixo:

I - diagnóstico da situação dos resíduos sólidos gerados no respectivo território, contendo a origem, o volume, a caracterização dos resíduos e as formas de destinação e disposição final adotadas; II - identificação de áreas favoráveis para disposição final ambientalmente adequada de rejeitos, observado o plano diretor e o zoneamento ambiental, se houver; III - identificação das possibilidades de implantação de soluções consorciadas ou compartilhadas com outros Municípios, considerando, nos critérios de economia de escala, a proximidade dos locais estabelecidos e as formas de prevenção dos riscos ambientais; IV - identificação dos resíduos sólidos e dos geradores sujeitos ao plano de gerenciamento ou a sistema de logística reversa, observadas as disposições desta Lei e de seu regulamento, bem como as normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e do SNVS; V - procedimentos operacionais e especificações mínimas a serem adotados nos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, incluída a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos; VI - indicadores de desempenho operacional e ambiental dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos; VII - regras para o transporte e outras etapas do gerenciamento de resíduos sólidos, observadas as normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e do SNVS e demais disposições pertinentes da legislação federal e estadual; VIII - definição das responsabilidades quanto à sua implementação e operacionalização, incluídas as etapas do plano de gerenciamento de resíduos sólidos a cargo do poder público; IX - programas e ações de capacitação técnica voltados para sua implementação e operacionalização;

Page 46: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

44

X - programas e ações de educação ambiental que promovam a não geração, a redução, a reutilização e a reciclagem de resíduos sólidos; XI - programas e ações para a participação dos grupos interessados, em especial das cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda, se houver; XII - mecanismos para a criação de fontes de negócios, emprego e renda, mediante a valorização dos resíduos sólidos; XIII - sistema de cálculo dos custos da prestação dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, bem como a forma de cobrança desses serviços; XIV - metas de redução, reutilização, coleta seletiva e reciclagem, entre outras, com vistas a reduzir a quantidade de rejeitos encaminhados para disposição final ambientalmente adequada; XV - descrição das formas e dos limites da participação do poder público local na coleta seletiva e na logística reversa, e de outras ações relativas à responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; XVI - meios a serem utilizados para o controle e a fiscalização, no âmbito local, da implementação e operacionalização dos planos de gerenciamento de resíduos sólidos e dos sistemas de logística reversa; XVII - ações preventivas e corretivas a serem praticadas, incluindo programa de monitoramento; XVIII - identificação dos passivos ambientais relacionados aos resíduos sólidos, incluindo áreas contaminadas, e respectivas medidas saneadoras; XIX - periodicidade de sua revisão, observado prioritariamente o período de vigência do plano plurianual municipal. (BRASIL. LEI 12.305/2010).

Para isto, um dos instrumentos de incentivo para minimização dos resíduos, está no

processo de recuperação dos materiais recicláveis existentes nos resíduos sólidos urbanos

iniciado com a coleta seletiva.

Para Abreu (2001) a coleta seletiva facilita e estimula a reciclagem, uma vez que os

materiais separados são mais limpos e têm maior potencial de recuperação e, por conseguinte,

de comercialização. Podem ainda representar diversos ganhos para a sociedade na perspectiva

da sustentabilidade urbana quando contribui para geração de trabalho e renda, inclusão social

e cidadania aos catadores envolvidos.

Segundo pesquisa do IPEA (2010) diversos benefícios ambientais foram atribuídos a

reciclagem, entre eles os associados à redução do consumo de energia, uma vez que ao

diminuir a necessidade de intensivas energias para produção de matéria-prima virgem, pode

proporcionar substancial economia de energia para toda sociedade.

Além destes destaca-se os benéficos ligados a redução do consumo de água – ciclo

hidrológico, preservação da biodiversidade e de recursos não madeireiros. Neste caso,

especialmente na produção de aço e papel a partir de matérias-primas virgens que necessita de

intensiva e extensa utilização de áreas de florestas plantadas, diminuindo as áreas de florestas

nativas. A reciclagem possibilita menor área de florestas plantadas com espécies exóticas, o

Page 47: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

45

que viabiliza a existência de florestas nativas e, com isso, maior proteção da biodiversidade,

assim como a exploração de recursos não madeireiros de maneira sustentável.

Ainda segundo a pesquisa os autores afirmam:

A interpretação dos benefícios ambientais gerados pela reciclagem é a de que, em termos ambientais, a reciclagem de uma tonelada de cada um dos materiais, ao evitar a produção de uma tonelada do material a partir de matérias-primas virgens, reduziria, pelo respectivo valor, os danos causados ao meio ambiente. Em outras palavras, ao reciclar, a sociedade se beneficiaria por ter um meio ambiente mais limpo, e o valor que se atribui ao bem-estar produzido por isso está refletido (CARLEAL; CRUZ, 2010, p. 20).

Contudo, poucos municípios dispõem de programas de coleta seletiva

institucionalizados em seus sistemas de limpeza pública, geralmente são implantados e

operacionalizados na forma de programa-piloto específico, articulado por organizações não

governamentais e/ou pelo poder publico local.

O ideal e legal é que os programas de coleta seletiva sejam parte integrante do Plano

de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos Urbanos, no entanto, a coleta seletiva vem

sendo gradativamente implantada em diversos locais, tais como: condomínios, clubes,

escolas, empresas, entre outros.

Seguindo as orientações do CEMPRE (2007), um programa de Coleta Seletiva pode

ser sistematizado nas seguintes fases: (1) Diagnóstico; (2) Planejamento; (3) Implantação; (4)

Operação e Monitoramento; (5) Análise de benefícios.

No tocante a modalidade de coleta, o CEMPRE aponta para quatro tipos:

a) Coleta porta-a-porta – veículos coletores diferenciados percorrem os domicílios em

horários e dias específicos;

b) Posto de Entrega Voluntário (PEV) – Contêineres ou pequenos depósitos dispostos

em pontos fixos nos bairros, onde as pessoas depositam espontaneamente os recicláveis no

local apropriado;

c) Posto de Troca – consiste na troca de materiais recicláveis por bens ou benefícios; e,

d) Coleta com a participação dos catadores – consiste na utilização do trabalho dos

catadores organizados em cooperativas ou associação, bem como os catadores autônomos,

apoiados pelo poder público ou não, os quais recolhem os materiais recicláveis dispostos em

via pública, segregado ou não, oriundo de domicílios, ou estabelecimentos comerciais ou

empresas doadoras, utilizando-se de carrinhos de tração manual ou de transporte veicular.

Page 48: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

46

Esta modalidade pode ser subdividida em:

a) Coleta Seletiva feita com carrinhos de tração manual: consiste no trabalhador

autônomo atuando de forma isolada ou em pequenos grupos familiar e vende seu

produto a sucateiros diariamente; e,

b) Coleta Seletiva realizada por organização de trabalhadores da Reciclagem: consiste

em um grupo de trabalhadores da reciclagem organizados sob a forma de cooperativa

ou associação visando garantir melhores condições de trabalho e renda para todos.

Neste contexto, para Dias (2001) aos poucos as administrações municipais brasileiras

têm adotado o gerenciamento integrado dos resíduos sólidos fomentando a inclusão social de

catadores, até mesmo de catadores presente nos lixões, e articulado um conjunto de ações

normativas e operacionais para coletar, separar, tratar e dispor os resíduos sólidos.

Quando isto acontece, geralmente, a prefeitura disponibiliza recursos logísticos

(galpão de triagem, equipamentos e material) necessários para operacionalização do sistema

de coleta, triagem, beneficiamento e comercialização dos materiais recicláveis promovendo,

assim, trabalho e renda aos catadores organizados.

Nas modalidades Posto de Entrega Voluntária e Posto de Trocas – periodicamente o

material recolhido é transportado para o galpão de triagem da cooperativa ou associação de

catadores organizados para posterior beneficiamento e comercialização.

Na modalidade de Coleta Seletiva por Organizações de Trabalhadores da Reciclagem

o material doado e coletado é transportado ao galpão de triagem, beneficiado e

comercializado pela própria cooperativa ou associação, sem interferência do Poder Público.

Desta forma, o CEMPRE em seu guia de gestão de resíduos sólidos sugere que para

planejar e estabelecer um programa de coleta seletiva se faz necessário analisar os vários

aspectos identificados no diagnóstico da situação atual com vistas a escolher, entre os vários

tipos de programas existentes, o que melhor se adapta ao município.

Dependendo da estratégia de programa a ser adotada, a população pode ser orientada

sob a forma de segregação a ser utilizada: segregar os resíduos na fonte, acondicionando-os

por cada tipologia específica (plástico, metal, vidro, papel, orgânico) ou por grupos de

materiais (materiais recicláveis e demais resíduos, incluindo o orgânico).

Para tanto, é importante que nos programas de coleta seletiva sejam considerados

ações e/ou projetos de Educação Ambiental, os quais devem privilegiar soluções voltadas à

conscientização e educação da comunidade estimulando a adoção de princípios e atitudes

Page 49: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

47

visando à minimização da geração de resíduos na perspectiva da sustentabilidade urbana.

No tocante ao cenário de operacionalização dos Programas de Coleta Seletiva no

Brasil, embora, a questão ambiental esteja amplamente difundida pelos grandes meios de

comunicação, a maior parte das iniciativas e ações de Coleta Seletiva é informal.

No Estado do Pará, segundo pesquisa da CICLOSOFT, realizada em 2010 pelo

Compromisso Empresarial para a Reciclagem – CEMPRE apenas a cidade de Belém, dentre

os municípios da Região Metropolitana de Belém desenvolve o Programa.

O Governo Federal, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Urbano – SEDU

contratou um estudo intitulado “Avaliação Técnico-Econômica e Social de Sistemas de Coleta

Seletiva de Resíduos Sólidos Urbanos existentes no Brasil”. (SEDU, 2002).

De acordo com o estudo, realizado em 2002, pelos pesquisadores da PUC-PR/ISAM

verificou-se que a maioria dos programas em execução tratava-se de experiências-piloto com

iniciativas pontuais organizadas pelo poder público, iniciativa privada, ONG´s, associação de

moradores, ou desenvolvidas em escolas, condomínios, bairros e empresas.

A pesquisa identificou que, na maior parte dos municípios os programas/projetos de

coleta seletiva existente, os dados referenciais e estatísticos encontram-se dispersos e não

sistematizados e ainda que o conceito de programa de coleta seletiva integrado ao sistema de

limpeza pública urbana, conforme estabelece a legislação vigente é incipiente e tais

programas/projetos atendem apenas parcialmente a população local.

Corrobora com esta informação, o CEMPRE (2010) ao afirmar que os

programas/projetos de coleta seletiva em exercício atendem menos de 10% do município.

Foi examinado no estudo da SEDU que o pessoal envolvido com a coleta seletiva

desconhece o custo unitário da tonelada dos materiais recicláveis de sua região devido ao

elevado custo de operação da coleta, ao mercado oscilante para comercialização dos materiais

recicláveis triados e à sua qualidade insatisfatória.

Constataram a falta de estudos mais detalhados sobre a caracterização dos resíduos

sólidos urbanos e, consequentemente, dos recicláveis.

Nos resultados do estudo foi observado ainda que a mão de obra informal dos

catadores seja a grande força motriz da coleta seletiva. Já a coleta seletiva por meio de PEV´s,

as quais depende da participação efetiva da população para a doação dos materiais recicláveis,

ainda está pouco difundida e consolidada no País.

A respectiva pesquisa identificou que os principais problemas relacionados à coleta

seletiva referem-se a: (1) depredação dos recipientes de coleta; (2) falta de veículo apropriado

para a coleta; (3) separação deficitária entre material passível de ser reciclável e demais

Page 50: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

48

resíduo, inclusive o orgânico; (4) apresentação dos resíduos para a coleta em horários

inadequados; (5) custo elevado na operacionalização do programa.

O Guia do CEMPRE (2007) aponta alguns fatores que contribuem para o pequeno

índice de sucesso nos programas de coleta seletiva, entre eles: (1) alto custo da coleta seletiva

para as municipalidades; (2) falta de um sistema corretamente dimensionado em termos de

capacidade de armazenamento e processamento de resíduos nas unidades de triagem; (3)

existência de mercado para o material segregado; e, (4) a credibilidade que deve ser mantida

no sistema de coleta.

Zaneti e Sá [2003] ao analisarem o panorama da coleta seletiva no Brasil identificaram

que os programas/projetos implantados pelo poder público restringem-se aos aspectos

técnicos do sistema de gestão, descuindando-se das dimensões ambientais, sociais, políticas e

educacionais instrumentos básico na busca da sustentabilidade na gestão dos resíduos sólidos

urbanos.

Milanez e Teixeira (2001) propuseram um grupo de princípios de sustentabilidade

específico para a gestão dos resíduos sólidos urbanos, entre eles destaca-se, conforme quadro

1 abaixo:

Quadro1 - Princípios de sustentabilidade aplicados a gestão dos RSU.

VARIÁVEIS DE

ANÁLISE DESCRIÇÃO

Universalização dos

serviços

Todas as pessoas devem ser atendidas pelo sistema publico de gestão de

resíduos sólidos urbanos

Integração dos

aspectos econômicos,

ambientais e sociais na gestão

dos resíduos sólidos urbanos

aplicação das dimensões econômicas, ambientais e sociais no momento do

planejamento, tomada de decisão, intervenção e controle do sistema de gestão

Cooperação e

consórcio

soluções pautadas na gestão compartilhada, assim as administrações públicas

municipais devem procurar agir em parceria com outros municípios e principalmente

com as demais organizações da sociedade civil e a população em geral.

Adequação das

tecnologias à realidade local

Soluções tecnológicas, tanto em relação a equipamentos quanto a processos e

sistemas devem ser adequadas a realidade local considerando aspectos sociais,

educacionais, financeiros, entre outros.

Gestão Participativa pautada na transparência do processo de gestão, o qual deve ser aberto à

população e aos demais agentes sociais de forma participativa

Democratização da

Informação

Esclarecimento e orientação acerca das questões dos Resíduos sólidos

urbanos, incluindo as dimensões ambientais, de saúde humana, consumo e desperdício

Garantia de condições Trata-se da atenção especial a ser dada pelos dirigentes dos programas de

Page 51: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

49

adequadas de trabalho gerenciamento de resíduos sólidos quanto às condições de trabalho oferecidas aos

trabalhadores, em geral, catadores, tais como: segurança, ergonomia e valorização do

trabalho.

Geração de Trabalho

e Renda

As atividades de recuperação de materiais dos RSU devem ser apoiadas pelo

poder público dando prioridades as iniciativas de cooperativismo ou associativismo e,

por conseguinte, promover a geração de trabalho e renda aos catadores envolvidos

Preservação dos

recursos naturais

deve-se buscar a redução da geração dos resíduos na fonte. O Poder público

através de programas deve priorizar a recuperação dos materiais ou energia presente

nos resíduos sólidos urbanos antes de sua disposição final

Previsão dos impactos

socioambientais

Em cada etapa do sistema de gestão de resíduos sólidos urbanos, desde a

coleta até sua disposição final, deverão ser avaliados os impactos sociais e ambientais

gerados na população e meio ambientes local.

Recuperação de áreas

degradadas pela gestão

incorreta dos resíduos sólidos

urbanos

deve-se investir na correção das ações negativas geradas no sistema de gestão

a dos resíduos sólidos urbanos.

Poluidor-pagador

trata-se da co-responsabilidade pela gestão dos resíduos sólidos urbanos

sendo assumidos pelos seus geradores, inclusive a população, de forma a adquirir a

efetiva consciência ambiental na busca da sustentabilidade urbana

Fonte: Milanez; Teixeira (2001 apud BRINGHENTI, 2004).

Page 52: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

50

3 GERENCIAMENTO DOS RSU EM BELÉM

3.1 PRODUÇÃO DE LIXO EM BELÉM

De acordo com o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos do Município de

Belém – PGRS (BELÉM. PM, 2011), a cidade produz aproximadamente 908 ton/dia de

resíduos sólidos, incluindo resíduos oriundos de coleta domiciliar, feiras e mercados,

comercio e resíduos hospitalares, o que representa uma produção de aproximadamente 651

gramas/habitante/dia. Estes resíduos são oriundos dos 08 distritos administrativos de Belém,

de acordo com a divisão política administrativa conforme lei nº 7.682/94.

Ainda segundo o PGRS (BELÉM. PM, 2011), deste 908 toneladas coletadas

diariamente em Belém, estima-se que entre 10 e 15%, são proveniente das feiras e mercados e

distritos administrativos, pois em muitos casos são coletados juntamente com resíduos

domiciliares na área a qual a feira esta instalada.

A média mensal de resíduos gerados nos domicílios de Belém é de aproximadamente

11.280,00 toneladas, que representam cerca de 42% de todo o lixo gerado na cidade de

Belém.

Segundo REVITA (2011), estima-se que em 2010 na Região Metropolitana de Belém

(RMB) foram produzidos cerca de 1.764 ton/dia de Resíduos Sólidos Domésticos. O gráfico 3

apresenta a média de resíduos sólidos domésticos gerados na RMB em 2010. Da mesma

forma, o gráfico 4 representa a contribuição em porcentagem de cada município da região

para a geração desses resíduos.

Page 53: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

51

Gráfico 3 - Estimativa de volume de resíduos sólidos domésticos gerados por município da RMB em 2010.

Fonte: EIA/RIMA - Central de Processamento e Tratamento de Resíduos Classe II, Marituba - RMB/PA (CPTR) - AMPLA Projetos e Serviços em Meio Ambiente Ltda.

Gráfico 4 - Estimativa da contribuição de cada município na geração dos resíduos sólidos domésticos na RMB em 2010.

Fonte: EIA/RIMA - Central de Processamento e Tratamento de Resíduos Classe II, Marituba - RMB/PA (CPTR) - AMPLA Projetos e Serviços em Meio Ambiente Ltda.

Page 54: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

52

3.1.1 Resíduos sólidos domiciliares

3.1.1.1 Coleta regular

Os serviços de Limpeza Urbana no município de Belém é administrado pela Prefeitura

Municipal de Belém através da Secretaria Municipal de Saneamento – SESAN que além

desta, tem como atividades a drenagem, pavimentação e educação ambiental, visando à

melhoria da qualidade de vida.

Desta forma, o sistema de limpeza urbana é de competência do Departamento de

Resíduos Sólidos situado junto a avenida Alcindo Cancela, 2631 – Cremação, cujas as

atribuições são as seguintes:

coleta seletiva de lixo;

coleta de entulho e de lixo domiciliar porta a porta;

limpeza mecanizada através de contêineres;

serviços de limpeza urbana, como limpeza, varrição manual e desobstrução de

vias;

abertura de valas;

capinação e raspagem de vias e logradouros;

limpeza de canal;

desobstrução do sistema de drenagem urbana;

acondicionamento e destino final dos resíduos das feiras livres;

aplicação do Código de Posturas do Município;

educação ambiental;

gerenciamento do Aterro Sanitário do Aurá e aterramento com entulho de áreas

de cota baixa.

De acordo com os dados do IBGE (2010) a coleta de lixo domiciliar é feita

regularmente pela SESAN, com cobertura de 97% dos domicílios. Os 3% restantes dizem

respeito, por exemplo, aos resíduos jogados em terrenos baldios e ao material lançado às

margens dos canais este último, aliás, é um dos principais problemas enfrentados pela

Secretaria, para manter a cidade limpa. Os próprios moradores dessas áreas despejam entulhos

(por exemplo, sofá velho e restos de construção) às margens dos canais, incentivando outras

pessoas a depositarem também o lixo domiciliar nesses locais, o que prejudica bastante a

limpeza da cidade.

Page 55: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

53

Atualmente, segundo o PGRS (BELÉM. PM, 2011) o serviço de coleta de lixo

domiciliar obedece 108 roteiros, ocorrendo em dias alternados, nos períodos noturno e diurno,

sendo feita de porta em porta. O transporte do lixo é realizado através de duas empresas

contratadas/terceirizadas (Belém Ambiental e Terraplena), que contam com um total de 46

caminhões equipados com coletor-compactador.

A empresa Terraplena realiza a coleta dos resíduos domiciliares nas áreas centrais de

Belém denominada de lote 1. e no Distrito Administrativo de Mosqueiro. Já a Empresa Belém

Ambiental realiza a coleta dos resíduos domiciliares nos distritos administrativos de Icoaraci e

Outeiro, nos conjuntos habitacionais ao longo da Av. Julio Cezar e Rod. Augusto Montenegro

e seus entorno, denominada de lote 2.

A frequência da coleta foi planejada pela SESAN e DRES (departamento de resíduos

sólidos), tendo a seguinte configuração para os 108 roteiros de coleta:

23 roteiros pares - 2ª, 4ª e 6ª / diurno;

24 roteiros ímpares – 3ª, 5ª e sábados / diurno;

11 roteiros diários – diurno;

27 roteiros diários – noturno; e

23 roteiros com polinguindastes (containers de 7 m³).

Segundo informações da SESAN a varrição e a coleta do lixo, no centro comercial,

são feitas diariamente, no período noturno. O serviço é realizado à noite por causa do intenso

fluxo de pessoas e de veículos nessa área. A SESAN estima que de 20 a 22 toneladas de

resíduos sólidos são retiradas diariamente do centro comercial.

Na área comercial, o serviço de varrição só é realizado após o fechamento do centro

comercial de Belém, às 19h, os quais equipes de varrição e coleta de lixo e entulho começam

a limpeza das estreitas ruas do bairro da Campina e que segundo o Departamento de Resíduos

Sólidos (DRES) da Secretaria Municipal de Saneamento (SESAN), o acúmulo de lixo ocorre

logo após a limpeza das respectivas vias.

3.1.1.2 Coleta seletiva

O projeto de coleta seletiva em Belém iniciou em 1996 a partir do Projeto de

Biorremediação do Aterro Sanitário do Aurá que objetivava a minimização dos impactos

ambientais negativos sobre o ecossistema, solo e recursos hídricos, bem como promover a

Page 56: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

54

organização dos catadores que viviam totalmente excluídos da sociedade.

Mediante toda a desordem que se encontrava, foi desenvolvido o Projeto de

Desenvolvimento Humano da Comunidade do Aurá, que teve como meta erradicar a presença

de catadores na prática da catação de materiais reaproveitáveis sobre os resíduos na área do

aterro, a figura 4 representa a situação dos catadores á epoca.

Figura 4 - Catador na prática da catação dentro da área do aterro do Aurá em 1996.

Fonte: SESAN/PMB.

Em 1997, foram cadastrados 608 catadores que trabalhavam em condições sub-

humana sendo esta a única atividade que lhes da acesso a uma renda mínima para sobreviver

com sua família. Naquela época, os materiais mais utilizados eram água mineral, latinha, ferro

e um plástico conhecido como “Qboa”.

Nos anos de 1998 e 1999, por mudanças políticas não houve continuidade nas ações

desenvolvidas por este projeto, ficando o mesmo em stand by.

Somente a partir do ano 2001, foi criada a Cooperativa de Trabalhadores Profissionais

do Aura (COOTPA), com objetivo de organizar os trabalhadores autônomos que atuavam no

Complexo do Aurá, afim de promoverem melhoria na situação socioeconômica objetivando

também prestar serviços aos seus cooperados proporcionando-lhes um maior ganho financeiro

por meio da comercialização dos materiais recicláveis, bem como encaminhar os catadores

para empresas recicladoras que solicitam os serviços dos profissionais dos Aurá.

No entanto, dos 608 catadores cadastrados pela SESAN, apenas 18% estavam

Page 57: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

55

vinculados a COOTPA, que por questão política da administração não conseguiu absolver a

mão de obra dos catadores, a figura 5 apresenta os catadores afiliados da COOTPA.

Figura 5 - Catadoras da Cooperativa de Trabalho dos Profissionais do Aurá.

Fonte: SESAN/PMB.

Em 2003, o programa de coleta seletiva da Prefeitura Municipal de Belém, através a

Secretaria Municipal de Saneamento, lança um projeto piloto abrangente aos bairros de

Campina, Umarizal, Nazaré e Reduto, com doação de contêineres e instalação de Pontos de

Entrega Voluntária - PEV’s em logradouros públicos com objetivo de recolher materiais

recicláveis a partir da separação e disposição final adequada dos mesmos pela população dos

vários logradouros desses bairros em Belém.

Entretanto, segundo a SESAN, a experiência não foi exitosa, porque os PEV’s foram

utilizados de maneira indevida, os resíduos não eram selecionados antes de sua disposição

final nos PEV’s, a população não se encontrava satisfatoriamente preparada nem estimulada

para realizar a separação adequada dos resíduos domésticos gerados, bem como para depositá-

los adequadamente nas diferentes tipologias de coletores conforme os tipos de materiais

gerados. Além disso, muitos equipamentos foram danificados e/ou extraviados (contêineres e

placas educativas), houve grande ocorrência de pontos críticos de resíduos nas proximidades

dos PEV’s.

De acordo com a SESAN os conjuntos de coletores, foram instalados em vias públicas

nos bairros sem qualquer fiscalização, nem orientação junto à população sobre as diferentes

Page 58: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

56

tipologias conforme a Resolução CONAMA Nº 275 estabelece.

Foram encontrados nos jogos de Coletores de PEV´s resíduos de toda ordem, tais

como: lixo patológico, animais mortos, entulhos e demais resíduos diversos menos os

esperados materiais recicláveis capazes de favorecer os catadores recém saído do aterro uma

vez que o objetivo central do programa era a geração de trabalho e renda e inclusão social ao

catador.

Em 2006, foram retirados todos os jogos de PEV´s distribuídos pela cidade. A partir

daí, houve uma nova caracterização do projeto e os jogos de coletores de PEV`s foram

redirecionados para novas instituições parceiras, tais como: condomínios, escolas e demais

instituições que tivessem afinidade aos objetivos do programa. Neste período o grupo de

catadores que realizam coleta em Belém, foi excluído pela COOTPA que devido a má

administração foi extinguida, sendo necessário criar uma nova associação a Associação de

Catadores da Coleta Seletiva de Belém - ACCSB.

No ano de 2007, iniciou-se o programa de coleta seletiva na modalidade porta-a-porta

por meio dos “carrinhos de metalon” nos bairros do Umarizal e Nazaré, contando com o apoio

de diversos parceiros de instituições públicas e privadas, conforme a figura 6.

Figura 6 - Catadores (as) da ACCSB coletando material com carrinhos de metalon.

(a) (b)

Fonte: SESAN/PMB.

No entanto, segundo a SESAN, faltam equipamentos adequados necessário para o

beneficiamento dos materiais recolhidos de modo a dar rentabilidade e sustentabilidade para a

manutenção dos catadores envolvidos e suas famílias. Além disso, não há barracão de triagem

adequado para a expansão do projeto. Esta experiência com início em 2007, embora sua

descontinuidade nos anos de 2008 e 2009 por motivos políticos retornou a operar em 2010

Page 59: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

57

sendo este o modelo atual de projeto desenvolvido na RMB, além das doações de materiais

recicláveis gerados em instituições públicas e privadas

Neste momento, está sendo construído um galpão de triagem, no canal São Joaquim

com financiamento da Caixa Econômica Federal e BNDS no âmbito do Programa de

Aceleração do Crescimento - PAC 2012.

Atualmente, o projeto é desenvolvido pela ACCSB por meio da coleta dos materiais

gerados e doados por empresas, condomínios, hospitais, exército e demais instituições

parceiras mediante assinatura do Termo de Compromisso entre a instituição doadora e a

Associação de Catadores de Coleta Seletiva de Belém.

O projeto se desenvolve sistematicamente, iniciando, por ações de Educação

Ambiental realizada pelos Educadores Ambientais da Prefeitura junto à população atendida.

Posteriormente, os educadores agendam o dia do “Lançamento da Coleta Seletiva” para neste

momento os catadores junto com os educadores se apresentarem e interagirem junto a

população local.

Figura 7 - Equipe de educadores ambientais da SESAN/ PMB.

Fonte: Trabalho de campo realizado pela autora em 27 mar. 2012.

Page 60: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

58

Figura 8 - Equipe de educadores ambientais da SESAN/ PMB.

Fonte: Trabalho de campo realizado pela autora em 27 mar. 2012.

3.1.2 Disposição final dos resíduos

A área do Aterro Controlado do Aurá, arrendada pela Prefeitura Municipal de Belém,

localiza-se as margens do Rio Aurá, comunidade de Santana do Aurá, entre as coordenadas

UTM 790.450-W e 791.500- E; 9.844-500-N e 9.842.000-N, nos limites dos Municípios de

Belém e Ananindeua.

Page 61: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

59

Figura 9 - Localização do aterro do Aurá.

Fonte: Google Earth, 2011.

Segundo PGRS (BELÉM. PM, 2011) estima-se que sejam depositados no Aterro

Sanitário do Aurá três milhões e duzentas mil toneladas de resíduos (PIRATOBA

MORALES, 2002), distribuídos em 10 Células. A taxa de recebimento diária de resíduos é da

ordem de 1.900 toneladas, sendo:

a) 1.300 ton/dia de resíduos domésticos;

b) 600 ton/dia de resíduos advindos da construção civil.

Ainda de acordo com o PGRS de Belém (2011) o Aterro Controlado do Aurá recebe,

além dos resíduos gerados em Belém, resíduos dos municípios de Ananindeua e Marituba,

distribuídos em 908 ton/dia provenientes de Belém e o restante, cerca de 392 ton/dia, dos

outros dois municípios.

Page 62: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

60

Figura 10 - Localização do aterro do Aurá.

Fonte: Google Earth, 2011. Figura 11 - Aterro controlado do Aurá.

Fonte: Trabalho de campo realizado pela autora em 27 mar. 2012.

Page 63: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

61

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.1 METODOLOGIA DE PESQUISA

Analisando o conjunto de informações citadas nos capítulos anteriores, as quais

fundamentaram a problemática a ser diagnosticada neste estudo, optou-se pela metodologia de

investigação qualitativa realizando os seguintes passos que conforme Deslandes e Minayo

(2011) pode ser dividido em três etapas: (1) fase exploratória; (2) trabalho de campo; (3)

análise e tratamento do material empírico e documental.

Seguindo as etapas sugeridas, inicia-se com uma explanação acerca da natureza da

abordagem empregada e do método de investigação adotado. A seguir, foca-se na análise

empreendida, o que envolve a escolha do objeto e da definição do problema da pesquisa. Na

sequencia, apresento os procedimentos utilizados para definição e seleção da amostra, dos

métodos de coleta de dados, e por fim, as técnicas aplicadas na análise das informações

obtidas.

4.1.1 Natureza e método de investigação

A metodologia de pesquisa utilizada neste trabalho está fundamentada em uma

abordagem qualitativa de natureza teórico-empírica. Para Deslandes e Minayo (2011, p. 21)

“a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares, pois trabalha com o universo

dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes”.

A autora afirma ainda que a pesquisa qualitativa preocupa-se com a compreensão

interpretativa da ação social. Desta forma, a abordagem qualitativa atua levando em conta a

compreensão, a inteligibilidade dos fenômenos sociais e o significado e a intencionalidade

que lhe atribuem os atores.

Deslandes e Gomes (2004) observam que a abordagem qualitativa ancora-se em

diferentes bases disciplinares, metodológicas e paradigmáticas, formando um conjunto de

atividades interpretativas que podem ser atravessadas por conflitos e tensões.

Neste contexto, a pesquisa qualitativa mostrou-se a mais apropriada ao tipo de

investigação utilizado neste trabalho, por entender que o mesmo pode viabilizar o

aprofundamento das questões na busca de compreender a complexidade que envolve a gestão

de uma política pública, seu contexto de atuação e a interação dos diferentes atores envolvidos

no seu processo de implantação.

Page 64: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

62

O método de pesquisa adotado é o estudo de caso, classificado por Deslandes e

Minayo (2011) como um tipo de pesquisa exploratório e descritivo e visam a aumentar o

entendimento sobre fenômenos sociais complexos.

Para Stake (1994) o estudo de caso não representa uma escolha metodológica, mas a

seleção do objeto a ser estudado. O referido autor, afirma que se tratando de forma de

pesquisa, o estudo de caso, é definido pelo interesse em casos individuais e não pelos métodos

de investigação aplicados.

Alencar (2007, p. 59) assevera que o caso poder ser, entre outros, “um programa, um

projeto em que está envolvida uma pluralidade de atores sociais de distintas organizações,

desempenhando diferentes ações”.

De acordo com Minayo; Assis e Souza (2005) as questões principais para o desenho

do estudo de caso são: definição do foco de análise; determinação do problema; determinação

da unidade de análise e estabelecimento de critérios para a interpretação de dados.

Para autora os instrumentos mais usados nesse tipo de pesquisa são documentos

escritos e o material primário coletado em campo e aconselha a construir uma base de dados

ao longo da investigação formando uma cadeia de evidencias relevante. Estes cuidados seriam

para minimizar a pouca probabilidade de generalizações dos resultados, críticas mais

frequentes a este tipo de estudo.

Assim sendo, neste trabalho os instrumentos utilizados foi uma associação dos

documentos escritos comprobatórios disponibilizados pela base de dados da Prefeitura

Municipal de Belém através da Secretaria Municipal de Saneamento (SESAN), Departamento

de Resíduos Sólidos (DRES) e da Associação de Catadores da Coleta Seletiva de Belém

(ACCSB), juntamente com a pesquisa de campo, por meio de entrevistas junto aos atores-

chave do Programa.

4.1.2 Foco de análise

Seguindo as orientações de Minayo; Assis e Souza (2005) o processo de pesquisa

inicia-se com a escolha do objeto de estudo e definição do problema da pesquisa. Flick (2009)

ressalta que a relevância do tema da pesquisa constitui um fator determinante na escolha do

objeto de estudo. Neste sentido, procurou-se focalizar o contexto da gestão e gerenciamento

dos resíduos sólidos urbanos como espaço onde se desenvolve a política pública em análise.

A escolha desse contexto ocorreu em função da importância socioeconômica e

ambiental que os resíduos sólidos assumem diante das históricas desigualdades de acesso aos

Page 65: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

63

serviços públicos que marcam profundamente a sociedade no Brasil, bem como do grande

interesse da pesquisadora pela temática.

O foco na gestão da política pública refere-se à influência e ao impacto que ela pode

causar sobre os resultados. De acordo com Frey (2000) a análise de políticas públicas envolve

três dimensões (institucional, processual e material) os quais se entrelaçam entre si

influenciando na realidade política. Para o autor “há evidências que não deixam dúvidas de

que à interdependência entre os processos e os resultados das políticas”. (FREY, 2000 p. 219).

Do mesmo modo, pode-se dizer que a gestão da política tem responsabilidade sobre o

sucesso ou não de uma política pública e sobre seus respectivos desdobramentos.

Com intuito de atingir o objetivo geral desta pesquisa buscou-se primeiramente

identificar e analisar o arranjo institucional Estado-Sociedade preparado para a gestão do

programa de coleta seletiva, uma vez que tal informação permite conhecer o conjunto de

atores, instituições e parceiros envolvidos na gestão da política, compreendendo-a. Com a

análise do arranjo institucional juntamente com a identificação e analise dos desafios e

limitações encontrados a ser enfrentado no processo de implantação de políticas públicas,

(segundo objetivo proposto), mostrou-se essencial ao entendimento das principais

características do tipo de gestão adotado e seus respectivos resultados ambientais, sociais e

econômicos do programa de coleta seletiva - último objetivo que se pretende alcançar, a fim

de levantar elementos teóricos e empíricos que possam contribuir para o debate acerca das

possibilidades da gestão participativa empreendida, essenciais para sua efetivação e

sustentabilidade.

4.1.3 Definição da população e universo da pesquisa

Malhotra (2006, p.321-324) considera que a definição da população a ser estudada

refere-se “a coleção de elementos ou objetos que possuem a informação procurada pelo

pesquisador e sobre as quais devem ser feitas as inferências”.

Assim sendo, para este estudo estabeleceu-se para o universo inicial da pesquisa como

sendo o conjunto de atores-chaves diretamente envolvidos na gestão do programa de coleta

seletiva.

Com base nessas informações, foi definido que o universo inicial da pesquisa deveria

ser composto pelos seguintes grupos, a saber: (1) Membros das organizações governamentais:

Secretaria Municipal de Saneamento – SESAN; Ministério Público Estadual – MPE; (2)

Membros das organizações não-governamentais (ONG “No olhar”); Associação de Catadores

Page 66: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

64

de Coleta Seletiva de Belém – ACCSB.

A seleção dos membros da Secretaria Municipal de Saneamento – SESAN

entrevistados ocorreu por indicação da própria SESAN. Além do Secretário da SESAN em

exercício foram entrevistados mais dois membros da equipe, que segundo a SESAN, são

pessoas diretamente envolvidas na gestão do Programa. No tocante ao Ministério Público

Estadual foram entrevistados todos os membros promotores de justiça que compõem a

procuradoria de meio ambiente do Ministério Público o que compreendeu um universo de três

representantes. Em relação a Organização não-governamental (ONG “No Olhar”) foi

entrevistada a coordenadora de projetos da instituição. A referida ONG foi selecionada dentre

as demais devido ao seu reconhecido trabalho desenvolvido junto a população local no âmbito

da temática dos resíduos sólidos. Para a Associação de Catadores de Coleta Seletiva de Belém

– ACCSB, procedeu-se a entrevista com um representante de cada grupo distribuídos na

associação, que abrangeu um total de três grupos e por conseguinte, três entrevistas.

4.1.4 Procedimentos para coleta dos dados

A fase de coleta de dados foi dividida em duas etapas. Primeiramente, foi realizado o

levantamento dos dados secundários existente sobre o assunto. Nesta fase, as principais

técnicas de pesquisa utilizadas foram a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental.

Para Godoy (1995a) a pesquisa documental constitui-se como uma valiosa técnica de

pesquisa qualitativa que aplicada a outras técnicas de pesquisa as complementa-a.

Portanto, a pesquisa teve início com o levantamento da bibliografia pertinente ao

assunto (livros, artigos, dissertações e teses), seguido da seleção dos documentos a serem

analisados. Tal levantamento foi realizado em bases de dados eletrônicas disponibilizadas no

Portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e no

Banco de Teses e Dissertações do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

(IBICT), em base de dados oficiais, tais como, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

(IPEA), Compromisso Empresarial para a Reciclagem (CEMPRE), Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), e em diversas publicações impressas sobre o assunto. A partir

daí, foi procedida uma leitura minuciosa e o fichamento de todo o material coletado a fim de

construir a discussão pretendida.

A pesquisa documental foi realizada em documentos oficiais, projetos e publicações

disponibilizados pela SESAN. Os principais documentos analisados foram: Editais, Termos

de Parceria, Atas de reuniões, Jornais, Relatórios de Projetos e demais publicações

Page 67: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

65

disponibilizadas pela SESAN. Entretanto, apesar dos esforços empreendido em reunir tais

documentos para análise, faz-se necessário registrar a ausência de relatórios sistematizados,

bem como de um banco de dados digitalizado na SESAN.

Na segunda etapa, a fim de dar sustentação aos argumentos teóricos bem como

complementar as informações obtidas na fase anterior e coletar informações que não foram

possíveis obter pela revisão bibliográfica e pesquisa documental, devido a escassez de

publicações, fonte de dados secundários sobre o programa de coleta seletiva, procedeu-se, em

uma segunda etapa, uma investigação empírica junto às pessoas – chaves envolvidas com a

gestão do programa de coleta seletiva. Desse modo, combinando o uso das técnicas de

pesquisa documental e bibliográfica com a realização de entrevistas.

As entrevistas podem ser consideradas conversas com finalidade (MINAYO, 2004) e

se classificam de acordo com sua organização. Para Bodgam e Biklen (1994, p. 137) o

objetivo da entrevista é “de recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito,

permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os

sujeitos interpretam aspectos do mundo”.

Os autores afirmam ainda que a escolha do tipo de entrevista deva estar alinhada ao

objetivo do estudo podendo ser aplicada diferentes tipos de entrevistas em diferentes fases da

pesquisa.

Assim sendo, nesta pesquisa foram aplicadas entrevistas pessoalmente aos atores –

chaves envolvidos na gestão do Programa. Para isto, foram utilizadas entrevistas

semiestruturadas, com perguntas abertas, de modo a permitir que o entrevistado tenha a

possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem se prender a indagação formulada.

(MINAYO; ASSIS; SOUZA, 2005).

Demo (2000) esclarece que a utilização de perguntas abertas é características da

pesquisa qualitativa, que busca o aprofundamento por familiaridade, convivência e

comunicação.

O trabalho de campo, as entrevistas, ocorreram no período de janeiro a março de 2012.

Neste período foram realizadas dez entrevistas: três com membros da SESAN; três com

membros do MPE; uma com membro da ONG “No Olhar” e três com membros da ACCSB,

selecionados por conveniência, de acordo com disponibilidade de responder à entrevista no

período de realização do trabalho de campo. Essas entrevistas foram realizadas pela

pesquisadora e gravadas com o consentimento dos entrevistados, conforme, Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido, totalizando aproximadamente 267 minutos. Desse modo,

pode-se observar no Quadro 2, a relação das instituições entrevistadas envolvidas com o

Page 68: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

66

Programa de Coleta Seletiva.

Quadro2 - Instituições representantes participantes da pesquisa. Categoria Instituição Representante

Poder Público

Secretaria Municipal de Saneamento - SESAN

Ministério Público Estadual - MPE

Sociedade Civil

Organização não governamental - “No Olhar”

ACCSB

Além disso, durante toda a condução da pesquisa ocorreu uma constante interação

entre pesquisador e entrevistado afim de esclarecer junto ao sujeito já entrevistado, questões

que surgiam, após cada análise parcial que se fazia, das informações coletadas.

Para Alencar (2007) esta interatividade própria da pesquisa qualitativa permite

inclusive que o planejamento de uma entrevista possa ser elaborado a partir de entrevistas

anteriormente realizada, como ocorreu durante a elaboração dos questionários a partir da

entrevista com a coordenação do programa na SESAN.

Após a posse de todo esse material, iniciou-se a fase de análise dos dados coletados.

4.1.5 Análise das informações coletadas

De acordo com Flick (2009, p.276) a análise dos dados constitui a “essência da

pesquisa qualitativa” e assevera que a circularidade representa um de seus pontos fortes, tendo

em vista que obriga o pesquisador a refletir constantemente sobre o processo de pesquisa e

sobre etapas específicas, á luz das outras etapas.

Nesta perspectiva, no presente estudo, foi adotado, o que Alencar (2007, p.50) afirmar

ser “Modelo interativo em pesquisa”. Tal modelo circular permite análise parciais realizadas

como parte integrante da coleta de dados. De modo que, essas análises fornecem novos

elementos para a continuidade da investigação, estabelecendo uma constante interação entre

pesquisador e objeto de pesquisa.

Assim sendo, de posse das informações originárias dos dois grupos que constituíram o

universo de investigação deste estudo, empregou-se, como instrumento metodológico de

análise, a análise de conteúdo, que segundo Cappelle; Melo e Gonçalves (2003) representa um

instrumento significativamente utilizado na análise de comunicações. Em outras palavras,

para Deslandes e Minayo (2011, p.84) através da análise de conteúdo, pode-se caminhar na

Page 69: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

67

descoberta do que está por trás dos conteúdos manifestos, indo além das aparências do que

está sendo comunicado.

A análise de conteúdo, para Bardin (1979, p.42) é definida como:

Um conjunto de técnicas de análise de comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

O princípio da análise de conteúdo consiste, de acordo com Laville e Dione (1999, p.

214), “em desmontar a estrutura e os elementos desse conteúdo, para esclarecer suas

diferenças características e extrair sua significação”. Para os mesmos autores, embora não

exista regras para a sequencia de procedimentos a serem utilizados, a análise de conteúdo,

constitui-se normalmente das seguintes etapas: (1) organização de toda documentação obtida

durante a coleta de dados; (2) estudo minucioso de seu conteúdo; (3) decomposição do

conteúdo em unidades analíticas, as quais foram agrupadas de acordo com sua significação

em relação ao material utilizado; (4) definição e classificação das categorias analíticas e (5)

análise e interpretação do corpus de dados estruturados nas fases anteriores.

Deslandes e Minayo (2011, p.91) afirma ainda que as obras que tratam da análise de

conteúdo compreendem três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos

resultados e interpretação.

A fase de pré-análise corresponde a organização do material coletado, com o propósito

de operacionalizar e sistematizar as ideias iniciais. É composta por atividades de leituras

exaustivas para compreender o conjunto do material selecionado que irão constituir o corpus,

”conjunto de documentos tidos em conta para serem submetidos aos procedimentos

analíticos” (BARDIN, 1979, p. 96), definição das hipóteses e objetivos, formulação de

indicadores para análise e preparação do material coletado. Na fase de exploração do material,

análise propriamente dita, os dados brutos são codificados e classificados em unidades de

análise que permitirão a efetivação da ultima etapa que se refere ao tratamento e interpretação

dos resultados, onde se busca ir além do conteúdo manifesto, apreendendo o conteúdo latente

da comunicação. Como etapa final, elaborou-se uma síntese interpretativa capaz de dialogar

temas com objetivos, questões e pressupostos da pesquisa.

A figura 12 representa a proposta de fluxograma de interpretação das informações

obtidas.

Page 70: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

68

Figura12 - Modelo de interpretação das informações obtidas.

Entre os procedimentos metodológicos da análise de conteúdo utilizados a partir da

perspectiva qualitativa, este estudo utiliza a análise categorial, conhecida como a técnica mais

antiga e mais utilizada na prática. A categorização é considerada, para Bardin (1979, p.117)

como:

Uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo gênero (analogia), com critérios previamente definidos. As categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos (unidade de registro) sob um título genérico.

As análises das informações coletadas seguiram as orientações já expostas.

Primeiramente, as informações foram organizadas de acordo com a natureza de cada uma:

documentos analisados e entrevistas gravadas. Tais entrevistas foram cuidadosamente

transcritas e as gravações, conservadas para possível consulta. Todas as entrevistas foram

codificadas para preservar a confiabilidade dos dados. Posteriormente, os documentos foram

submetidos à leitura minuciosa e exaustiva passando à fase de codificação e classificação do

material em categorias analíticas.

Segundo Laville e Dione (1999), existem três modos de se definir as categorias, em

análise de conteúdo. O primeiro modo refere-se ao modo de grade aberto, em que as

categorias são definidas durante a análise, e não no início, a partir do conteúdo do material

coletado. O segundo modelo trata-se do modelo de grade fechada, em que as categorias são

definidas a priori em função do conhecimento teórico que se tem sobre a área em estudo e das

Page 71: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

69

hipóteses do estudo, embora não sofra modificações ao longo da pesquisa. O terceiro tipo é o

modelo misto, em representa um hibrido do modelo aberto e fechado, e tem a flexibilidade, de

excluir, modificar ou agregar outras categorias no decorrer da investigação dos dados. Para os

autores, a escolha do modo mais apropriado é feita pelo pesquisador em função de suas

intenções, objetivos e conhecimento que este tem a cerca área de estudo. O modelo utilizado

no presente estudo refere-se ao modelo misto, em que algumas categorias, como as usadas

para atingir o terceiro objetivos, foram definidas com base no referencial teórico, como as

usadas para discutir o segundo objetivo, que foram acrescentadas e/ou modificadas, durante a

realização da pesquisa.

A fim de atingir o primeiro objetivo específico proposto por este estudo (identificar e

analisar o arranjo institucional preparado para a gestão do programa de coleta seletiva) utiliza-

se a categoria participação dos atores sociais, focada nos atores-chave e forma de participação

desses diferentes atores na gestão do programa. Para atender ao segundo objetivo específico

(identificar e analisar os desafios e as limitações encontrados a ser enfrentado no processo de

implantação do programa) inicialmente foi utilizado três categorias: possibilidades, desafios e

limitações. No entanto, no decorrer na pesquisa, foram utilizadas como categoria de análise

apenas duas: desafios e limitações, identificados no processo de implantação do programa.

Para alcançar o terceiro e ultimo objetivo (caracterizar as dimensões socioambientais e

econômicos constatados no processo de implantação do programa de coleta seletiva) utilizou-

se três categorias respectivamente, benefícios ambientais com a implantação do programa,

bem como os incentivos socioeconômico e político para as pessoas envolvidas na coleta

seletiva. Além desses, duas outras categorias mostraram-se essenciais e indispensáveis para

toda a discussão pretendida, origem e institucionalização. Assim, no próximo capitulo são

apresentados a análise e discussão dos resultados obtidos.

Page 72: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

70

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO - PROGRAMA DE COLETA SELETIVA

Para analisar e discutir o programa de coleta seletiva é preciso entender a sua história,

já que as características da forma de gestão adotada começam a ser construídas na origem do

programa, que se encontra com a criação da Cooperativa de Trabalhado dos Profissionais do

Aura (COOTPA). Neste sentido, história e gestão imbricam-se e constroem-se mutuamente ao

longo do tempo, até se chegar a realidade que se busca compreender. Desse modo, para

entender o arranjo institucional, os desafios e limites imposto à gestão do programa e seus

impactos ambientais, socioeconômicos e políticos, faz-se necessário voltar as suas origens e

reconstituir a sua história.

5.1 ORIGEM E INSTITUCIONALIZAÇÃO

O projeto de coleta seletiva da RMB foi concebido como parte integrante do Projeto

de Biorremediação do Complexo do Aurá, em 1996, na administração do prefeito Edmilson

Rodrigues, que permaneceu no período de (1996-2004), em resposta a intervenção do

Ministério Público Estadual junto a Prefeitura Municipal de Belém, devido a presença de

pessoas inclusive crianças e adolescentes catando lixo, o qual conclama as entidades

envolvidas na questão a tomarem as providencias acordadas em um Termo de Compromisso,

para que, pelo menos, o problema fosse atenuado.

Vale lembrar que o país dos anos 90 era marcado por uma reestruturação do mercado

formal de trabalho, com aumento do desemprego, precarização do trabalho e

desassalariamento das ocupações. A pobreza absoluta atingia 43,4% da população brasileira e

a pobreza extrema 20,9% (IPEA, 2010).

Neste contexto, a proposta era instalar um Centro de Triagem e um Centro de

Compostagem como estratégia para minimizar o volume de resíduos depositados diariamente

no complexo do Aurá, a época ainda, lixão, e organizar os catadores e catadoras, que se

encontravam na prática da catação em cima do lixão, por meio da constituição de uma

cooperativa proporcionando-lhes um maior ganho financeiro através da comercialização dos

materiais e por meio do encaminhamento de catadores para empresas recicladoras que

solicitassem os serviços dos profissionais dos Aurá.

Contudo, segundo Lopes et al. (2004 apud PIRES, 2010) tais propostas não saíram do

papel e mesmo depois de construídos com recursos federais há mais de 10 anos não entraram

em operação, e atualmente, sob a administração do prefeito Duciomar Costa, período (2005-

Page 73: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

71

2012), foram desintaladas e encontram-se totalmente sucateados sem qualquer chance de uso,

figura 13.

Figura 13 - Centro de triagem, Aurá.

Fonte: Trabalho de campo realizado pela autora em 27 mar. 2012.

Inicialmente, a administração municipal cadastrou 608 catadores que trabalhavam em

cima do lixão em condições insalubre, sem nenhuma proteção á saúde. A partir daí, foi

montado equipes de catadores autônomos, os quais cada uma equipe ficava responsável em

coletar um tipo de material. Com essa proposta, em 2001, foi criada a COOTPA, Cooperativa

de Trabalhado dos Profissionais do Aurá.

De acordo com Almeida (2008, p. 11 apud PIRES, 2010, p. 88) a COOTPA tinha por

objetivo proporcionar trabalho com segurança, “ao abrigo das intempéries e sem contato

direto com o lixo”. Para Lopes (2004, p. 9 apud PIRES, 2010, p. 88) a cooperativa foi

concebida pela SESAN, para ser “o principal instrumento de erradicação da catação em cima

do lixo, no Aurá”.

Entretanto, a falta de alocação de recursos na construção de infraestrutura (galpão) e

equipamentos adequados, a falta de capacitação para gestão e gerenciamento dos resíduos

sólidos aliado a diversas divergências políticas influenciaram a incipiente adesão dos

catadores autônomos a afiliação junto a cooperativa, apenas 39 catadores, ou seja,

aproximadamente 6,5% dos 608 catadores cadastrados pela SESAN.

Em meio a esta realidade, a partir de 2003, a prefeitura municipal de Belém, através da

Page 74: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

72

SESAN, em parceria com a Caixa Econômica Federal, lança o Projeto Coleta Seletiva, um

projeto piloto abrangente aos bairros de Campina, Umarizal, Nazaré e Reduto, contemplando

a população com doação de contêineres e instalação de Pontos de Entregas Voluntárias -

PEV’s em logradouros públicos destes bairros, a figuras 14a apresenta os catadores

recolhendo os materiais com caminhões. A figura 14b mostra catadoras coletando material em

residências.

Figura 14 - Catadores (as) da COOTPA coletando material.

(a) (b)

Fonte: SESAN/PMB, 2003.

No entanto, os catadores que realizavam a coleta em Belém e que estavam na

COOTPA, foram excluídos. Para Pires (2010, p. 89) a cooperativa enfrentara diversos

obstáculos, entre eles: dissidências, conflitos internos e com a prefeitura que aliado a

expiração de um contrato de comodato de infraestrutura cedida pela SESAN/PMB e má

administração na cooperativa resultou na sua desestruturação e afastamento das atividades do

projeto junto a PMB.

Em 2005, com a mudança de administração municipal, nasce a ACCSB Associação de

Catadores da Coleta Seletiva de Belém, apoiada pela prefeitura municipal de Belém, com

intuito de coletar os resíduos gerados nos Pontos de Entrega Voluntária – PEV´s

reestruturados e redirecionados a instituições parceiras, tais como: condomínios, empresas,

órgãos públicos, escolas e demais instituições que tivessem afinidade aos objetivos do

programa, figura 15. Além disso, a ACCSB coleta materiais por demanda e também em

eventos.

Page 75: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

73

Figura 15 - Jogo de coletor do Ponto de Entrega Voluntária - PEV´s instalado em condomínio residencial.

Fonte: SESAN/PMB.

Com a proposta de reaproveitamento de cerca de 80% dos resíduos sólidos produzidos

por Belém e os distritos de Icoaraci, Outeiro e Mosqueiro, aproximadamente 900 ton/dia, o

projeto de coleta seletiva começa em 2007, nos bairros do Umarizal, Campina, Batista

Campos e Nazaré. Para isto, de acordo com a SESAN, foi realizada a instalação gradativa de

um sistema de coleta seletiva na modalidade porta-a-porta, iniciando-se com a mobilização e

sensibilização da população para sua adesão.

Ressalta-se que tais bairros foram selecionados para iniciar o projeto devido serem os

bairros com maior registro de equipamentos urbanos distribuídos e instalados, distribuição

geográfica central e conectados.

Neste contexto, o projeto foi desenvolvido tendo como pressuposto principal a retirada

dos catadores de cima das células de resíduos sólidos, a inclusão social e a geração de

trabalho e renda. Assim, inicialmente seis duplas de catadores da ACCSB, cobriam diferentes

roteiros pré-estabelecidos dentro dos bairros, precedidos dos agentes de educação ambiental

da SESAN, que visitam as residências explicando e difundindo o funcionamento do sistema

de coleta seletiva no bairro e quais os materiais devem ser separados e doados para a coleta,

figura 16. A coleta ocorria a cada dois dias por bairro. Desta forma:

Como não existe essa cultura em Belém, vamos começar devagar. A ideia é fazer com que as pessoas separem apenas o lixo orgânico do inorgânico para posteriormente no galpão de triagem os catadores irão efetuar a separação do material por tipologias: papel, pet, latas, etc [...] (Entrevistado 01,

Page 76: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

74

informação verbal, 2012)5 Figura 16 - Catadores realizando o trabalho de coleta porta-a-porta nas residências do Umarizal.

Fonte: SESAN/PMB.

No entanto, tal modelo, enfrentara dificuldades de operacionalização, por não existir

infraestrutura e equipamentos adequados necessário para o beneficiamento dos materiais

coletados, e por conseguinte, promover renda, inclusão social e cidadania aos catadores (as)

envolvidos e suas famílias, sua premissa principal. Esta experiência iniciada em 2007, foi

desarticulada nos anos de 2008 e 2009 para retornar em 2010 sendo este o modelo atual de

programa desenvolvido na RMB, porém em atendimento a demanda das instituições

parceiras.

Atualmente, o projeto é desenvolvido pela ACCSB por meio da coleta dos materiais

gerados e doados por empresas, condomínios, hospitais, exército e demais instituições

parceiras mediante assinatura do Termo de Compromisso entre a instituição doadora e a

Associação de Catadores de Coleta Seletiva de Belém.

No momento, são Parceiros do Projeto com a doação de materiais – Empresas e

Instituições Federais: Petrobrás plataforma em Macapá (1x/semana - Projeto ASAS/Brasil),

Banco Sulamérica, Natura, OI, Marinha, Condomínios, Conjuntos Residenciais, MP, Exército

5 Refere-se a fala de um entrevistado. O numero 01 foi a codificação utilizada para a entrevista com

membros da Prefeitura Municipal de Belém, através da Secretaria Municipal de Saneamento – SESAN.

Page 77: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

75

(14 bis), Hospital Barros Barreto, HGB, Hospital do Coração, Porto Dias, Guadalupe e

Maradei.

A prefeitura disponibiliza para a ACCSB realizar a coleta a seguinte infraestrutura:

dois espaços, utilizados como galpão de triagem localizados na área da sede da

DRES/SESAN. Além disso, trabalham 39 agentes ambientais, os quais tem objetivo de

promover a educação ambiental junto a população, precedendo a coleta propriamente dita

pelos catadores. E ainda 16 técnicos de nível superior tais como: psicólogos, sociólogos,

pedagogo, assistente social, administrativo e as pessoas da fiscalização. Para o recolhimento

dos materiais gerados pelas instituições parceiras são disponibilizados 2 caminhões com

motorista, tendo também por demanda, outro caminhão terceirizado nos períodos de maior

volume de material.

Nesta atual administração municipal, está em construção um galpão com melhor

infraestrutura em parceria com a CAIXA/BNDES, figura 18. Tal galpão antes mesmo de sua

operacionalização já está gerando muitos conflitos, uma vez que esta administração entende

que o uso do galpão deverá ser feito por cinco outras organizações de catadores, todas de

Ananindeua, além da atual ACCSB, por meio da criação da Comissão de Associações e

Cooperativa de Belém – Rede Recicla Pará.

Ressalta-se, no entanto que das seis organizações de catadores existentes em Belém

Associação de Catadores da Coleta seletiva de Belém – ACCSB, Associação de Recicladores

de água de Lindóias – ARAL, Associação Cidadania para Todos – ACPT, Associação de

Trabalhadores de Materiais Recicláveis da Pedreira – ASTRAMARAPE, Cooperativa de

Catadores da Terra Firme – CONCAVES e a Cooperativa de Trabalhadores dos Profissionais

do Aurá – COOTPA, apenas a COOTPA e a ACCSB fizeram parte dessa história, e que a

criação desta rede de associações – Rede Recicla Pará, inaugura uma nova fase de conflitos,

uma vez que não há consenso entre as organizações sobre o uso do novo galpão. Além disso,

outros fatores influenciam para o insucesso desta experiência, como por exemplo, a mudança

de administração municipal, diferenciação de interesses entre a própria formalização das

referidas organizações, uma vez que a maioria das mesmas encontram-se em processo de

constituição jurídica, entre outros.

Page 78: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

76

Figura 17 - Novo galpão em construção, localizado no Canal São Joaquim, Belém.

Foto: Trabalho de campo realizado pela autora em 27 mar. 2012.

Verifica-se, com isso, a fragilidade institucional sob o qual repousa o programa de

coleta seletiva de Belém, que enfrenta o desafio de institucionalizar-se como política de

Estado, bem como política de governo, uma vez que não é reconhecido como um programa e

sim como apenas um projeto piloto, conforme afirma um entrevistado:

Trata-se de um projeto ainda, não há um programa institucionalizado, assim até o momento trata-se de um projeto, o qual surge como uma semente para o futuro programa onde vai abranger todos os catadores e cobrir a cidade em geral devido as novas exigências da Lei 12305 PNRS, os quais todos os governos terão que se adequar, mas até hoje trabalha-se como um projeto [...]. (Entrevistado 01, informação verbal, 2012).

Ressalta-se, ainda a incipiente formalização e institucionalização do programa de

coleta seletiva de Belém, como estratégia de intervenção do estado para o gerenciamento dos

resíduos sólidos na RMB marcado por ações pontuais e descontinuas, dificultando sua

sustentabilidade ao longo do tempo.

A seguir, procura-se identificar e analisar o arranjo institucional montado para gerir o

programa.

Page 79: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

77

5.2 PARTICIPAÇÃO DOS ATORES SOCIAIS

Os atores sociais a que se refere este trabalho correspondem aos diferentes agentes

políticos que participam do processo de gestão do programa de coleta seletiva em discussão.

A identificação dos atores e das formas de incorporação desses representam elementos

importantes a serem considerados nas estratégias de formulação e gestão de políticas públicas.

São grupos sociais organizados, que atuam no jogo de poder para defender interesses, ponto

de vista ou modo de vida que lhes confere unidade e identidade política, social e cultural.

No caso em discussão, identifica-se 04 (quatro) atores que são caracterizados a seguir,

sendo 02 (dois) órgãos públicos, neste caso, a Secretaria Municipal de Saneamento –

SESAN/PMB e o Ministério Público Estadual - MPE; e, 02 (dois) sociedade civil organizada,

representados pela Associação de Catadores da Coleta Seletiva de Belém – ACCSB e ONG

“No olhar”.

5.2.1 A SESAN na gestão do programa

Incumbida desde a constituição federal de 1988 e ratificada pela Lei nº 12.305 de 2010

- PNRS, a administração municipal é a responsável pela gestão integrada dos resíduos sólidos

gerados em seu território.

Neste contexto, a prefeitura municipal de Belém, através da Secretaria Municipal de

Saneamento – SESAN, é o órgão gestor do programa de coleta seletiva que além desta, tem

como atividades a drenagem, pavimentação e educação ambiental no Município de Belém.

Sob a tutela da SESAN, a ACCSB desenvolve a coleta dos resíduos gerados e doados

pelas instituições parceiras, as quais não chegam a influenciam na tomada de decisão do

programa, conforme expõe o entrevistado:

Tais parceiros não chegam a influenciar na tomada de decisão do projeto, pois a parceria trata-se somente da doação dos materiais gerados, onde os mesmo checam apenas a capacidade de logística de coleta dos resíduos pela associação mediante assinatura do Termo de Compromisso. (Entrevistado 01, informação verbal, 2012).

Assim, para o mesmo entrevistado, a SESAN:

Exerce um papel crucial de organização e coordenação do programa, por intermediar as instituições parcerias junto a associação para acessar os

Page 80: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

78

materiais recicláveis doados pelos órgãos públicos, por meio de editais e privados (Entrevistado 01, informação verbal, 2012).

Por meio da atuação da SESAN o programa tem conseguido ampliar o numero de

instituições parceiras e com isso o volume e a qualidade dos materiais coletados.

Neste sentido, a SESAN dialoga, busca apoio e parcerias, acompanha toda tramitação

de documentos referente ao programa e busca financiamentos. Apesar disso, a SESAN se

constitui como o único órgão responsável pela gestão do programa de coleta seletiva. Desta

forma, não participa do programa nenhuma outra organização da sociedade civil, por exemplo

organizações não governamentais reconhecidas, nem tampouco, recebe incentivos da

Incubadora de Empreendimentos Popular Solidário no âmbito da Economia Solidária, por

meio da Universidade Federal do Pará. Então, a SESAN funciona como a secretaria executiva

do programa, ao centralizar e coordenar as ações do programa.

Neste contexto, a implementação do programa pode ser vista como, centralizadora,

oposto ao que assevera os autores Frey (2000); Silva e Melo (2000) que se constitui como

uma soma de ações implementadas por uma “rede de atores”.

5.2.2 Ministério Público

O Ministério Público Estadual exerce um papel de destaque nesta arena de interesses.

Sua atuação vai desde ações de intervenção, em especial ao complexo do Aurá, seja por ação

civil pública ou criminal, até mesmo ações de articulador e mediador, como no caso da

criação do Grupo de Trabalho dos Resíduos Sólidos.

No primeiro caso, refere-se ao fato da área do Complexo do Aurá, atuar sem a licença

ambiental necessária. Conforme expõe o entrevistado:

Temos impetrada uma ação penal, e a parte criminal, o IBAMA autuou a Prefeitura, através do prefeito, por operar o Aterro do Aurá sem Licença Ambiental, e a parte criminal, enviada ao Procurador Geral de Justiça (Entrevistado 03, informação verbal, 2012)6.

“Vale ressaltar que esta situação vem desde a administração do Prefeito Almir

Gabriel.” (Entrevistado 04, informação verbal, 2012).

6 Refere-se a fala de um entrevistado. O numero 03 foi a codificação utilizada para a entrevista com

membros do Ministério Público Estadual - MPE.

Page 81: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

79

No caso do Grupo de Trabalho dos Resíduos Sólidos, o Ministério Público Estadual,

por meio dos Promotores de Justiça do Meio Ambiente, atuou como articulador reunindo com

mais de 20 representantes de entidades governamentais e não governamentais para definir o

Grupo de Trabalho (GT) como proposta para elaborar o Plano Municipal de Resíduos Sólidos

e dar suporte a gestão da política de resíduos sólidos na Região Metropolitana de Belém

(RMB).

o GT era em prol de reunir os diversos atores sociais para a Elaboração do PLANO MUNICIPAL DE RS, conforme preconiza a LEI n º 12. 305. (Entrevistado 04, informação verbal, 2012). a criação de um GT atende o que determina a recente Lei Federal nº12.305, de 02 de agosto de 2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos. O prazo determinado pela lei estabelece “até agosto de 2012 para se ter estruturado um plano integrado de resíduos sólidos, tendo como atores principais governos e membros da sociedade civil”. (Entrevistado 05, informação verbal, 2012).

De acordo com o MPE o GT do Resíduos Sólidos foi criado a partir da experiência

exitosa do GT de Arborização, o qual reuniu vários atores sociais, entre eles: UFRA e

EMBRAPA tendo como resultado a aprovação de uma Lei Municipal no Tema. Contudo, no

caso do GT dos Resíduos Sólidos, o qual mexe com cerca de 70 % do orçamento da

Prefeitura, sendo o seu maior contrato, não houve consenso. A prefeitura apenas efetuou a

contratação de uma empresa para realizar o Plano, sem controle social, na estratégia “do faz

de conta”. Neste contexto, o GT não mais reuniu, estando, no momento, desarticulado.

Tendo em vista a dificuldade de gestão da atual administração municipal, o MPE vem

liderando as discussões no tocante a possibilidade de se fazer um Plano de caráter

Metropolitano, embora aponte elementos divergentes os quais não contribuem para uma boa

gestão dos RS em caráter de Consórcio para RMB, conforme afirma um entrevistado:

A Autonomia Municipal e as necessidades são diferentes para cada município dentro da RMB. Devido a diferença desproporcional de investimento de recursos, onde o município de Belém é significativamente maior, cerca de 70 a 80%, assim não quer que ninguém venha dar ordens, por outro lado, o outro lado da parceria, não vem fazer apenas papel de bobo, quer também, intervir nas decisões. (Entrevistado 04, informação verbal, 2012).

Para sua operacionalização apresenta como alternativa a disposição final adequada dos

resíduos sólidos urbanos, o projeto REVITA.

Trata-se do CPTR Marituba, ou seja, é uma Central de Processamento e Tratamento de

Page 82: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

80

Resíduos Classe II. É um empreendimento particular constituído por um Aterro Sanitário e

instalações de apoio, para recebimento e destinação final de Resíduos Sólidos Urbanos. Tal

proposta atenderá a RMB e está em processo de Licenciamento Ambiental na Secretaria

Estadual de Meio Ambiente – SEMA.

5.2.3 Associação de catadores da coleta seletiva de Belém - ACCSB

Constituída juridicamente em 2008, a Associação de Catadores da Coleta Seletiva de

Belém – ACCSB tem por finalidade: planejar, instrumentar, executar, controlar e avaliar

programas voltados aos interesses dos associados referente a coleta seletiva.

De acordo com Pires (2010, p.93):

a associação foi constituída inicialmente da dissidência da COOTPA, para realizar a coleta seletiva de Belém, sob a tutela do Departamento de Resíduos Sólidos (DRES) através da Secretaria Municipal de Saneamento – SESAN/PMB.

Atualmente a ACCSB, conta com 56 catadores sendo 58% homens e 42% mulheres

com a faixa etária variando entre 19 a 63 anos e baixa escolaridade, conforme os dados dos

gráficos 5 e 6.

Gráfico 5 - Demonstrativo por gênero da composição dos associados da ACCSB.

Fonte: SESAN/PMB.

Page 83: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

81

Gráfico 6 - Demonstrativo da estimativa da faixa etária dos associados da ACCSB.

Fonte: SESAN/PMB. Figura 18 - Associados da ACCSB.

Fonte: SESAN/PMB.

Hoje, os associados estão distribuídos em 03 grupos, sendo quatro catadores

autônomos que realizam coleta seletiva nas instituições parceiras. Os catadores saem

diariamente, para os roteiros levando o “carrinho de metalon” para coletar os materiais

doados. Em seguida, duas equipes retornam para o galpão de triagem, na sede da SESAN,

situado Av. Alcindo Cancela e a terceira equipe retorna para o galpão localizado na Tv. Padre

Eutiquio nº 2647, figuras 19a e 19b. Em cada galpão realiza-se a separação dos materiais

conforme sua tipologia para posterior comercialização.

Page 84: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

82

Figura 19 - Galpão cedido a ACCSB.

(a) (b) Fonte: SESAN/PMB.

De acordo com um entrevistado, a associação arrecada, em média, 15 ton/semana, ou

60 ton/mês. Conforme expõem abaixo:

Nós arrecadamos por semana em média 15 toneladas ao todo, os três grupos e que qualquer material: PET, isopor, papel... é tudo vendido! [...] (entrevistado 07, 2012). Sobre o aproveitamento desse material coletado, em média são divididos em 50% aproveitáveis, e o restante 50 % de rejeito. Assim, segundo o entrevistado: No caso de condomínio o rejeito aumenta, porém em instituições públicas os materiais recicláveis vem em melhor condições podendo aferir maiores valores (Entrevistado 07, informação verbal, 2012).

Dos materiais coletados, segue abaixo a tabela atual dos preços comercializados pela

associação:

Page 85: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

83

Tabela 4 - Preço aferido aos materiais coletados pela associação.

Tipologia de material Preço vendido pela ACCSB

(R$/kg)

PET 0,90

Papel branco 0,24

Papel misto 0,12

Qboa (colorido) 0,75

Qboa (branco) 0,80

Plástico duro 0,40

Papelão 0,10

Fonte: Dados da Pesquisa

Figura 20 - Galpão cedido a ACCSB. Figura 21 - Galpão de triagem da ACCSB.

Fonte: SESAN/PMB Fonte: SESAN/PMB

No tocante a remuneração dos associados, os lucros e sobras são divididos

igualitariamente para os membros de cada grupo. Desta forma, no momento, a retirada tem

sido, menos que o salário mínimo ao mês, saindo entre 100 a 120 reais por semana, o que tem

levado ao catador (a) a utilizar de novas estratégias para sobreviver, como aposentadoria.

Contudo, paradoxalmente, a diretoria da associação não tem acesso nem controle dos dados

de produção de todos os grupos, a não ser do seu próprio grupo, sendo realizado pela SESAN.

Fato também observado por Pires (2010 p. 95).

Neste sentido, em 2010, segundo dados da associação, foram coletados e

comercializados, os seguintes materiais, conforme tabela 5 abaixo:

Page 86: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

84

Tabela 5 - Relatório de comercialização dos materiais coletados pela ACCSB.

Fonte: SESAN/PMB.

Em relação ao modelo de gestão da associação, pode-se afirmar que sob a tutela da

prefeitura, observa-se práticas assistencialistas ao invés de práticas autogestionárias, de

acordo com os princípios da Economia Solidária, das quais são capazes de promover a

inclusão social e o exercício da cidadania aos catadores, uma vez que a associação é formada

por grupos isolados, conforme relata um entrevistado: “Considero que hoje a associação

encontra-se fraca, sem administração, uma vez que os grupos estão divididos, não há união, e

aí perdemos a característica de associativismo”. (Entrevistado 07, informação verbal, 2012).

De modo que cada grupo é liderado por um representante, onde cada representante

compete entre si, por poder, equipamentos, incentivos sociais, maior volume de materiais, etc.

Tal situação, de acordo com o entrevistado, vem a prejudicar a aferição de maiores lucros para

associação, uma vez que o volume de resíduos se torna pequeno, as tarefas são sobrepostas,

encarecendo o material, e ainda na hora da venda, há muita confusão na divisão,

descaracterizando, com isso a associação.

Ademais, não há reuniões permanentes organizativas na associação, bem como não

participam das tomadas de decisão da associação nem dos projetos os demais associados. As

instituições parcerias também não participam da tomada de decisão, os quais apoiam apenas

com a doação de materiais recicláveis.

Page 87: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

85

5.2.4 ONG “No olhar”

A Ong “No olhar” é uma instituição não governamental fundada em 2005, situada a

Rua Senador Manoel Barata, 718 sala 806 B, com objetivo de apoiar a educação inclusão a

cidadania, desenvolvimento sustentável e a conservação do meio ambiente.

Embora não seja uma instituição parceira ao programa de coleta seletiva desenvolvido

pela municipalidade, já mencionado anteriormente, sua adesão ao presente estudo, deve-se a

relevante atuação em projetos e ações relacionadas a coleta seletiva em Belém.

Atualmente, a ONG desenvolve o projeto de educação ambiental interdisciplinar em

escolas públicas estaduais e municipais, a exemplo da E.E Carlos Guimarães e comunidade do

entorno em parceria com a empresa TETRAPACK.

O projeto teve início com a instalação de 5 novos PEV´s no lado externo da escola

abrangendo e integrando a comunidade do entorno doados juntamente com as placas de

identificação e divulgação dos PEV´s, dos quais a escola se responsabiliza pela educação

ambiental dentro da escola e com a comunidade do entorno; a ONG “No olhar” pela

instalação dos PEV´s; a comunidade pela participação com a doação dos materiais recicláveis;

e os catadores autônomos não formal pela coleta e disposição final. De acordo com a

entrevistada:

Nós envolvemos um público em torno de 20 catadores autônomos; além de 5 a 6 jovens nos PEV´s, perfazendo mais ou menos 30 pessoas envolvidas diretamente e ainda a comunidade da “Marambaia” indiretamente. (Entrevistado 08, informação verbal, 2012).

Outra atividade desenvolvida pela ONG refere-se ao Ponto de Entrega Voluntária –

PEV´s localizado na Riachuelo, que a partir da realização de oficinas, há quatro anos, passou

a ser reconhecidamente pela população como um PEV, onde são arrecadados cerca de 3 ton/

semana de materiais recicláveis, conforme expõe a entrevistada:

Recebemos quase 3 toneladas por semana de coleta seletiva, num local difícil, e que a gente nunca teve apoio da prefeitura [...] é uma realidade, é fato, as pessoas contribuem, temos caso de gente que sai de ônibus para levar material, o exemplo realmente funciona. (Entrevistado 08, informação verbal, 2012).

Ademais, o relativo sucesso de adesão ao projeto de Ponto de Entrega Voluntária –

PEV´s da Riachuelo, como é popularmente conhecido, refere-se ao envolvimento diário da

Page 88: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

86

população do bairro e comunidade do entorno os quais voluntariamente doam materiais

recicláveis para a organização.

A ONG se mantém financeiramente por meio de parcerias com empresas a exemplo da

empresa TETRAPACK, OI, Natura e demais instituições privadas, não possuindo, no

momento, recursos financeiros públicos (municipal, estadual e federal).

Em relação ao programa de coleta seletiva de Belém, para a entrevistada:

A prefeitura não desenvolve ações no sentido de resolver o desafio da gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos na Região Metropolitana de Belém (entrevistada, 08, 2012). Ressalta ainda que, As ações do atual governo não avançam. Elas começaram a partir do bairro do Marco, nas redondezas da SESAN. Mas, sabe porque? Precisa de ações de correção anteriores para iniciação de um Programa. Exemplo disso, têm-se uma prensa doada pela TetraPack, o qual ainda não foi instalada devido a problemas administrativos-financeiro das cooperativas e associações [...]. (Entrevistado 08, informação verbal, 2012).

No tocante a situação das demais cooperativas e associações, exceto a ACCSB, as

instalações utilizadas como galpão de triagem, estão em desconformidade com as atuais

legislação ambiental vigente, como revela a entrevistada: “Teve até o fechamento via

Ministério Público Estadual de cooperativas, devido a insalubridade dos galpões de triagem

bem como os equipamentos de reciclagem”. (Entrevistado 08, informação verbal, 2012).

A ONG não participa do programa de coleta seletiva de Belém e não participa do GT

de discussão dos RSD que foi criado pela prefeitura, mas não formalizado, e no momento, não

tem se reunido.

Desta forma, a sociedade não participa do processo de decisão do programa de coleta

seletiva nem tão pouco de sua política.

5.3 DESAFIOS E LIMITAÇÕES DA GESTÃO INTEGRADA

Os resultados da pesquisa apontam para dois níveis que se localizam desafios e

limitações gerais na gestão do programa de coleta seletiva de Belém. Em um primeiro

momento os desafios e limitações mais marcantes estão no âmbito das características do

próprio programa. Em um segundo nível, identificou-se desafios e limites localizados nas

dificuldades experimentadas pela associação de catadores, no caso, ACCSB.

No âmbito das características do programa, identificou-se desafios e limitações de

ordem técnica, econômica, administrativo e, a principal delas, política. Percebe-se, que a falta

Page 89: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

87

de reconhecimento institucional, interfere nas várias características de sua gestão, e que surge

como a fragilidade mais marcante do programa.

Corrobora com esta informação, Tavares (2006) ao afirmar que a Gestão Integrada de

Resíduos Sólidos para Região Metropolitana de Belém e seus projetos enfrentam hoje

dificuldades de ordem técnica, organizativa, econômica e política.

Diante da fragilidade institucional, o programa encontra dificuldades em coordenar e

articular as ações conjuntas entre a associação e as instituições parceiras, o que conduz, a

fragmentação e descontinuidade das ações do programa e assim, a instabilidade financeira.

De acordo com o relato de um dos entrevistados “As ações deveriam ser realizadas

institucionalmente, via um programa efetivo de coleta seletiva oficial”. (Entrevistado 08,

informação verbal, 2012).

Frequentes modificações no rumo das ações do programa, a cada mudança de

administração municipal, também refletem nos vários aspectos de gestão e execução do

programa, chegando a ameaçar sua continuidade. Como resultado, tem-se um projeto

incipiente, sem expressividade e com poucas possibilidades de expansão a partir da adesão da

população local e, por conseguinte, de sua sustentabilidade ao longo do tempo.

Neste contexto, o programa de coleta seletiva enfrenta o problema caracterizado por

Conh (1995) como o mal crônico das políticas e programas sociais no Brasil, e apontado por

Oliveira (2006) como uma das causas da falha do planejamento de políticas públicas em

países em desenvolvimento, que se refere a insuficiência e instabilidade de recursos

financeiros.

Diante do exposto, e neste ano de eleição municipal, são vários os desdobramentos da

incerteza quanto ao futuro das ações do programa.

No que se refere aos aspectos experimentados pela associação, verifica-se pelos

resultados obtidos que muitas das dificuldades de gestão enfrentadas pelo programa

encontram-se localizadas no âmbito de ação e gestão da própria associação. Contudo, é

preciso evidenciar as fragilidades vivida pela associação e pelos sujeitos que a compõe.

Além de ter que enfrentar a dificuldade vivida cotidianamente da escassez de recursos

financeiros, de equipamentos e infraestrutura, embora seja a única associação apoiada

oficialmente pela PMB, pode-se afirmar, de acordo com relato de entrevistados, que a baixa

escolaridade e o desconhecimento de tecnologias mais adequadas constituem-se em evidentes

restrições ao alcance de resultados mais consistentes. Aliado a isso, percebe-se que a

associação ainda enfrenta problemas de reconhecimento junto a própria prefeitura, conforme

relata a entrevistada:

Page 90: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

88

Essa estrutura nova da prefeitura, não vai dar certo. Nós não estamos satisfeito. Porque quando foi para assinar os documentos para vim dinheiro pro novo galpão, fomos nós. Agora, eles (prefeitura) querem juntar nós que já estamos no trabalho a muito tempo, com mais 800 catadores, invalidando o nosso projeto [...]. (Entrevistado 06, informação verbal, 2012).

Observa-se assim, que a falta de infraestrutura também interfere na gestão do

programa, por representar um fator limitante de sua capacidade de atender a um numero maior

de instituições parcerias e até de participar de editais de seleção de projetos via governo

federal.

A falta de infraestrutura envolve, ainda, os problemas de gestão interna na associação.

Constata-se que a associação é dividida em grupos, segundo já mencionado anteriormente, e

com isso, apresenta problemas de estruturação e coordenação de suas atividades, sobre as

quais se observa uma gestão centrada na figura do coordenador do grupo.

A rotatividade das equipes vivida na associação também compromete em grande parte

a execução de suas atividades. Aliado a isso, a fragilidade organizacional gerada pela ausência

de autonomia da associação representam um enorme desafio no processo e gestão do

programa, como se verifica no relato a seguir: “Porque o que acontece é o seguinte: se a

presidente disser tira o saco daqui e a prefeitura, deixa o saco, o saco fica, entendeu como é

que é?!”. (Entrevistado 06, informação verbal, 2012).

No que se refere a operacionalização de suas atividades, o quadro 03 representa as

maiores dificuldades enfrentadas pela ACCSB:

Quadro 3 - Desafios e limitações enfrentadas pela associação.

Etapas de

gerenciamento dos

materiais recicláveis

Descrição dos desafios e limitações

Coleta

o veículo disponibilizado pela Prefeitura não atende a

demanda da coleta e mesmo em condições desfavoráveis

são coletadas e comercializadas cerca de 15

toneladas/semana

Armazenamento:

a falta de infraestrutura adequada e espaço insuficiente

aliada a falta de equipamentos obrigando a

comercialização ao final da semana

Triagem:

realizada de maneira inadequada devido à precariedade

dos galpões utilizados sem o uso de EPIs como luvas,

máscaras, aventais, botas e uniformes para separação dos

Page 91: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

89

materiais

Compactação

os materiais são vendidos sem prensar, reduzindo o valor

de comércio. Falta equipamento como a fragmentadora

para diminuir o volume e inviabilizando novas parcerias

Estoque

Inviabilizado em grande parte pela falta de espaço,

obrigando a comercialização semanal e impossibilitando a

pesquisa e venda no melhor período de preços do

mercado. A ACCSB não possui empilhadeira ou elevador

de carga necessário para agilizar os trabalhos

Beneficiamento em função da incerteza do futuro das ações do programa e

espaço adequado não é realizado esta etapa

Comercialização

a associação não dispõe de capital de giro que

proporcionaria a remuneração imediata ao catador, pelo

material entregue. Nessas condições o catador vende o

material para atravessadores, com perda de valor. O

aumento do número de associados também depende da

possibilidade de aquisição do material pela associação,

remunerando o catador com preço justo.

Fonte: Dados da Pesquisa

Acerca das dificuldades vividas em relação à gestão e conflitos internos, a associação

reconhece suas limitações e afirmam ainda terem um longo caminho a trilhar. Sabe-se, no

entanto, que parte dos desafios impostos á gestão do programa é gerada pela característica da

própria associação que tem o papel indispensável a sua formação e desenvolvimento.

5.4 AVALIAÇÃO DAS DIMENSÕES AMBIENTAIS, SOCIOECONÔMICAS E

POLÍTICAS

Observa-se, pela discussão desenvolvida, que algumas características essenciais da

gestão do programa de coleta seletiva já foram abordadas ao longo deste estudo por

mostrarem-se indispensáveis à compreensão dos dois primeiros objetivos específicos

propostos.

A partir disso, pretende-se dar continuidade a essa discussão, no intuito de identificar

as características dos resultados sob as dimensões ambientais, socioeconômico e político do

programa de coleta seletiva. Parte-se do pressuposto de que as características que identificam

Page 92: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

90

tais dimensões estão intimamente relacionadas aos princípios de sustentabilidade no

gerenciamento dos RSU.

No intuito de entender a esse objetivo, empregam-se como referência orientadora de

discussão as variáveis utilizadas por Milanez e Teixeira (2001) para os princípios de

sustentabilidade no gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos. Os resultados encontrados

estão sintetizados no Quadro 04, abaixo:

Page 93: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

91

Quadro 4 - Comparação entre os princípios de sustentabilidade e a situação atual do gerenciamento dos RSU, por meio do programa de coleta seletiva de Belém.

Princípios da Sustentabilidade

(Milanez e Teixeira, 2001)

Gerenciamento dos RSU / Programa de Coleta Seletiva

Variável Padrão Esperado Análise Comparativa Realidade Observada

Universalização dos

serviços

Todas as pessoas devem ser

atendidas pelo sistema publico

de gestão de resíduos sólidos

urbanos.

Sistema público de GRSU

limitado Coleta de lixo domiciliar 97%

10,4% lixo acumulado nas ruas

Integração dos aspectos

econômicos, ambientais e

sociais na gestão dos

resíduos sólidos urbanos

Aplicação das dimensões

econômicas, ambientais e

sociais no momento do

planejamento, tomada de

decisão, intervenção e controle

do sistema de gestão.

Aplicação parcial e/ou incipiente Não há sistematização das

informações nem um sistema

integrado de GRSU.

Não está em funcionamento o

Fórum Lixo e Cidadania

Cooperação e consórcio Soluções pautadas na gestão

compartilhada

Não foram relatadas

cooperações ou consócios

estabelecidos

Em proposta de discussão articulada

pelo MPE, um consórcio para

RMB, porém com pouquíssimas

possibilidades de sucesso.

Adequação das tecnologias

à realidade local

Soluções tecnológicas, tanto em

relação a equipamentos quanto a

processos e sistemas

Projeto de Biorremediação do

Complexo do Aurá

Com mudanças na administração

municipal, as ações foram

desarticuladas e paralisadas estão

Page 94: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

92

em discussão uma nova proposta.

Gestão Participativa Transparência do processo de

gestão, com controle social

Não aplicado no momento. O GT foi criado informalmente e

não está ativo.

Democratização da

Informação

Esclarecimento e orientação

acerca das questões dos

Resíduos sólidos urbanos

Realizado parcialmente Realizado de forma incipiente pelos

Agentes ambientais da SESAN.

Quadro 5- Comparação entre os princípios de sustentabilidade e a situação atual do gerenciamento dos RSU, por meio do programa de coleta seletiva de Belém (cont.)

Princípios da Sustentabilidade

(Milanez e Teixeira, 2001)

Gerenciamento dos RSU / Programa de Coleta Seletiva

Variável Padrão Esperado Análise Comparativa Realidade Observada

Garantia de condições

adequadas de trabalho

Quanto às condições de trabalho

oferecidas aos catadores, tais

como: segurança, ergonomia e

valorização do trabalho.

Atendido com deficiência e

limitações.

Espaços insuficientes utilizados como

galpão de triagem, sem a preocupação

com a ergonomia e ausência de uso de

EPI´s. Em construção um novo galpão.

Geração de Trabalho e

Renda

Prioridades as iniciativas de

cooperativismo ou

associativismo e, promover a

geração de trabalho e renda aos

catadores envolvidos.

Atendimento de

aproximadamente 6,5% dos

catadores cadastrados pela

SESAN (608)

Atuam na associação 56 catadores

Page 95: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

93

Preservação dos recursos

naturais

Redução da geração dos

resíduos na fonte.

Não houve relato de ações de

ordem técnica, somente

educacional.

Ação de Educação Ambiental são

desenvolvidas pela SESAN

Previsão dos impactos

socioambientais

Em cada etapa do sistema de

gestão, desde a coleta até sua

disposição final, deverão ser

avaliados os impactos sociais e

ambientais gerados na

população e meio ambiente

local.

Fragilidade institucional com

limitações de recursos

financeiros e resultados obtidos.

Aliado a isso, não há

sistematização das informações

nem sistema de monitoramento

e avaliação.

Desvio de materiais do Aurá,

aumentando sua vida útil;

Geração de trabalho e renda aos 56

catadores;

Melhoria das condições de trabalho em

relação a catação no lixão.

Recuperação de áreas

degradadas pela gestão

incorreta dos resíduos

sólidos urbanos

Investir na correção das ações

negativas geradas no sistema

Projeto de Biorremediação do

Aurá desarticulado e sem

operacionalização

Nova proposta em discussão foi

encaminhada para SEMA no âmbito do

processo de licenciamento ambiental

para análise.

Poluidor-pagador

Corresponsabilidade pela gestão

dos resíduos sólidos urbanos

sendo assumidos pelos seus

geradores

Até o momento não há acordos

setoriais firmados.

A sociedade não participa do processo

de tomada de decisão, uma vez que não

há a constituição de um Fórum de

discussão do tema.

Page 96: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

94

No que se refere aos impactos ambientais, de modo geral, todos os atores entrevistados

reconhecem ter algum impacto positivo no tocante ao meio ambiente urbano, o aspecto mais

lembrado foi relacionado ao desvio de material ao aterro, aumentando sua vida útil, como

relatado por um entrevistado:

Olha, se por exemplo, o lixão (Aurá) tinha projeto de vida útil para 2000, então se esse material fosse pra baixo da terra, quanto lixão já num tinha aberto, porque um contêiner pode dar em média 2 ton de material [...] desvia também das beiras de córregos e igarapés, entupindo bueiros e provocando alagamentos na cidade. (Entrevistado 07, informação verbal, 2012).

Para a SESAN são aproximadamente 20 ton/semana de material que são desviados do

destino do complexo do Aurá.

No entanto, nenhum entrevistado observa destaque na área socioeconômica, uma vez

que com a modesta organização da associação ainda são pequenos os preços aferidos pelos

materiais comercializados, de acordo com o entrevistado:

Na época que a gente tava em cima do lixão, a única coisa que melhorou foi a condição de trabalho, porque com uma chuva dessas, o lixão fica pura lama, você emagrece rapidinho [...] Mas por mês eu tirava uma base de 1.500 a 1.700 é por isso que eles brigam em cima do lixão [...] Já passou umas trezentas pessoas por aqui, mas quando chega no fim do mês que recebe o dinheirinho, eles não ficam. (Entrevistado 07, informação verbal, 2012).

Em relação aos aspectos sociais e políticos, segundo um entrevistado, os incentivos

são tímidos, porém marcantes, conforme expõe abaixo: “Reconheço melhorias educacional

quando eu participo de reuniões, de seminário, feiras e social quando eu vou negociar e

reivindicar meus direitos de catadora”. (Entrevistado 06, informação verbal, 2012).

Para a SESAN o programa de coleta seletiva proporciona melhora da autoestima a

partir da aquisição de trabalho e renda para os 56 catadores. Segundo dados da SESAN, os

catadores envolvidos saíram de uma renda de aproximadamente R$ 20 a R$ 30 reais por

semana para os atuais R$ 100 a R$ 120 reais por semana, possibilitando melhoria na

qualidade de vida, com a aquisição de eletrodomésticos, moradia, educação e etc;

Page 97: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

95

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos resultados pode-se afirmar que, no âmbito do sistema de gestão e

gerenciamento dos resíduos sólidos na RMB, o Programa de Coleta Seletiva de Belém, após

quatro governos municipais sucessivos, apresenta-se, diante da realidade da gestão integrada

dos resíduos sólidos urbanos no Brasil, como um conjunto de ações pontuais descontínuas e

desconectadas entre as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e sem adequado

controle social, conforme estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

De acordo com Pires (2010) não há um programa de coleta seletiva oficial estruturado

em Belém e sim ações pontuais realizadas pelos membros da ACCSB, sob a tutela da

SESAN, e sem remuneração sobre os serviços de coleta e triagem prestados a municipalidade.

Sobre os resultados alcançados pelo programa, nota-se que são destacados como

insignificantes por todos os atores-chave entrevistados, em relação a todas as dimensões,

exceto a ambiental, revelada também por todos os atores, com impactos positivos na

contribuição da qualidade ambiental da cidade.

No que se refere ao desenvolvimento de um sistema integrado de gerenciamento de

resíduos sólidos urbanos, verifica-se que o programa de coleta seletiva, enfrenta dificuldades

de institucionalização, uma vez que sofre constante descontinuidade de suas ações,

diminuindo, com isso, as chances de adesão da população local e de sua sustentabilidade a

curto, médio e longo prazo.

No entanto, para tornar-se de fato, um programa institucionalizado, no âmbito de um

sistema integrado de gestão de resíduos sólidos, o programa de coleta seletiva de Belém,

precisa, antes, ser instituído pelo Governo Municipal, como uma política pública, clara e

concreta, não somente como uma soma de ações pontuais.

Pelos resultados obtidos na pesquisa, evidencia-se a necessidade do programa de

coleta seletiva, deixar de ser um conjunto de ações pontuais e passar a ser um programa

sistematizado e institucionalizado, ou seja, definir todo o processo de gestão, desde a etapa de

planejamento até sua operacionalização, com ações e metas mensuráveis, sem deixar de lado

as etapas de avaliação e monitoramento, para sua adequação as necessidades da população

local, com controle social, nas tomadas de decisão. Desse modo, o reconhecimento do

programa de coleta seletiva como estratégia válida de geração de trabalho e renda e inclusão

social aos catadores envolvidos promove condições favoráveis ao seu processo de

institucionalização.

Neste sentido, avanços no que se refere aos aspectos da legalidade como também a

Page 98: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

96

busca de fontes permanentes de financiamento junto ao Governo Federal se fazem necessários

e urgentes.

Além de definir estruturas, capacidade institucional, formalização e financiamento

entre outros, é importante considerar ainda, que a institucionalização do programa interage

com um processo mais amplo de institucionalização da Política Nacional de Resíduos

Sólidos, o qual determina o conjunto de estratégias, ações, problemas e atores que pertencem

a esse campo.

Constata-se, assim, que a criação de uma marco legal para a coleta seletiva no âmbito

da gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos na RMB, faz-se fundamental para o

processo de institucionalização do conjunto de políticas que a envolve. Impõem-se ainda a

necessidade de maior comprometimento e diálogo entre os atores-chave envolvidos no

programa de coleta seletiva, no sentido de alcançar efetividade.

Em relação ao arranjo institucional preparado para a gestão do programa, apresenta-se,

ainda de forma frágil e incipiente, centrada na coordenação da SESAN, sem participação

representativa e direta dos atores-chave envolvidos, , nem de criação de espaços de debates e

discussão a exemplo do Fórum Lixo e Cidadania. Desta forma, a reativação do Grupo de

Trabalho (GT) dos Resíduos Sólidos da RMB, o qual foi criado, porém não formalizado,

representa indícios em busca de práticas de gestão participativa.

Neste contexto, o programa de coleta seletiva, apresenta-se como uma experiência que

se mostra como frágil e limitada, tendo muito a avançar em sua efetividade. No tocante aos

desafios e limitações da gestão, percebe-se que a gestão do programa enfrenta nos dois níveis

de discussão – características do próprio programa e da associação – desafios que colocam em

risco sua sustentação e efetividade e ainda comprometem características essenciais no tipo de

gestão adotado.

Para tanto, o programa precisa incorporar a participação de todos os atores sociais, em

especial a população local, adotando métodos e técnicas participativas.

Necessita também de alcançar um equilíbrio entre as dimensões econômica, social,

ambiental e política de gestão por meio da elaboração de um Plano Municipal de

Gerenciamento dos Resíduos Sólidos Urbanos, conforme determina a Política Nacional de

Resíduos Sólidos.

As discussões a cerca do programa, situa-se, ainda, dentro de um debate como

propositor da geração de trabalho e renda, inclusão social e cidadania aos catadores

envolvidos. Por enquanto, merece notar que o alcance e os resultados obtidos são limitados e

incipientes.

Page 99: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

97

A efetividade e sustentação do programa ao longo do tempo exigem de todos os atores

envolvidos o esforço de repensá-lo em sua essência. E finalmente, os rumos do programa de

coleta seletiva de Belém, depende também da mudança de governo municipal em curso e da

orientação das ações a serem adotadas a partir de então.

Page 100: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

98

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Apêndice A - Roteiro de Entrevista a ser aplicado ao Membro da Secretaria Municipal de

Saneamento (SESAN), Departamento de Resíduos Sólidos (DRES) – Sra. Elvira Pinheiro de

Oliveira - Coordenadora do Programa de Coleta Seletiva

I - Perfil do Entrevistado:

a) Nome:

b) Há quanto tempo a Sra está na coordenação do Programa?

II - Origem e Institucionalização:

a) Qual a infra-estrutura física da SESAN/DRES para a execução do gerenciamento dos

RSU? E o Programa?

b) Quantos funcionários trabalham na execução do gerenciamento dos RSU?

c) Quantos de recursos financeiros são destinados para o gerenciamento dos RSU?

d) O programa de coleta Seletiva pode ser considerado uma política de Estado?

e) Quais são as Leis e normas que existem acerca da Política de Resíduos Sólidos da RMB? E

do Programa?

f) Há proposta de criação de um Grupo de Trabalho (GT) a fim de dar suporte a gestão da

política de resíduos sólidos na Região Metropolitana de Belém (RMB) em discussão? Quais

são seus desdobramentos?

III - Arranjo Institucional para gestão

a) Quem são os parceiros na gestão do Programa de Coleta Seletiva?

b) Esses parceiros influenciam no processo de tomada de decisão do Programa?

c) Quem participa do processo de planejamento do Programa?

d) Quem executa o Programa?

e) Como são tomadas as decisões acerca do Programa?

f) A sociedade participa do processo de tomada de decisão acerca do Programa? Como?

g) Quais os canais estabelecidos para esta comunicação?

h) Qual o papel exercido pelo Ministério Público (MP) no processo de implantação do

Programa?

i) Qual o papel exercido pelo Governo do Estado através de suas Secretarias no processo de

implantação do Programa?

j) Qual o arranjo institucional preparado para gerir o Programa de Coleta Seletiva?

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IV - Possibilidades, Desafios e Limitações

a) Que resultados, esperados ou não, já foram alcançados até o momento sobre o Programa?

b) Quais objetivos já foram alcançados pelo Programa?

c) Quais as dificuldades encontradas na execução do Programa?

d) Que ações se fazem necessária para melhorar a condução e conseqüentemente, os

resultados obtidos pelo Programa?

V - Impactos Ambiental, Socioeconômico, Político

a) Quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área ambiental?

b) Quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área

Socioeconômica?

c) Quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área Política?

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Apêndice B - Roteiro de Entrevista a ser aplicados aos Membros Fábia de Melo-Fournier e

Nilton Gurjão das Chagas da área de meio ambiente do Ministério Público do Estado (MPE).

I - Perfil do Entrevistado:

a) Nome:

b) Instituição representante:

II - Origem e Institucionalização:

a) Há quanto tempo esta instituição participa do Programa?

b) Quais motivos levaram esta instituição a participar do Programa?

c) Existe alguma norma que regulamenta esta participação?

d) Quais as atribuições do MPE no âmbito da composição institucional montada pra gerir o

Programa?

e) Quais são as Leis e normas que existem acerca da Política de Resíduos Sólidos da RMB? E

do Programa?

f) Há proposta de criação de um Grupo de Trabalho (GT) a fim de dar suporte a gestão da

política de resíduos sólidos na Região Metropolitana de Belém (RMB) em discussão? Quais

são seus desdobramentos?

III - Arranjo Institucional para gestão

a) Como o MPE interage com a Política de Resíduos Sólidos da RMB? E com o Programa de

Coleta Seletiva?

b) A sociedade participa do processo de decisão acerca da Política? E do Programa?

c) As Instituições parceiras participam do processo de tomada de decisão acerca da Política?

E do Programa?

d) Cite alguns canais estabelecidos para esta interlocução?

IV - Possibilidades, Desafios e Limitações

a) Em sua opinião, quais as principais dificuldades encontradas para gerir a Política? E o

Programa?

b) Em sua opinião, quais as possibilidades verificadas na gestão do da Política? E do

Programa?

c) Que ações se fazem necessárias para melhorar a condução e, conseqüentemente, os

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106

resultados obtidos?

d) Em sua opinião, que ações se fazem necessária para atender as atuais exigências da Lei

12.305/ 2010 - Política Nacional de Resíduos Sólidos?

e) Em sua opinião, quais objetivos já foram alcançados?

f) Em sua opinião, quais objetivos ainda se pretendem alcançar?

V - Impactos Ambiental, Socioeconômico, Político

a) Quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área ambiental?

b) Quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área Social?

c) Quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área Econômica?

d) Quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área Política?

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Apêndice C - Roteiro de Entrevista a ser aplicado ao Membro da ONG “No Olhar” – Sr.

Marcos Wilson – Representante Legal da ONG.

I - Perfil do Entrevistado:

a) Nome:

b) Instituição representante:

II - Origem e Institucionalização:

a) A ONG participa do Programa de Coleta Seletiva municipal? Se sim, há quanto tempo?

b) Quais motivos?

c) Existe alguma norma que regulamenta o Programa?

d) Quais ações a ONG desenvolvem no âmbito da gestão integrada dos RSU?

e) Qual infra-estrutura que a ONG dispõe?

f) Quantas pessoas estão envolvidas neste trabalho?

g) Quanto de recursos financeiros está disponível para a execução do programa?

h) Quais as atribuições da ONG no âmbito da composição institucional montada para gestão

integrada dos RSU na RMB?

i) Quais são as Leis e normas que existem acerca da Política de Resíduos Sólidos da RMB? E

do Programa?

j) Há proposta de criação de um Grupo de Trabalho (GT) a fim de dar suporte a gestão da

política de resíduos sólidos na Região Metropolitana de Belém (RMB) em discussão? Esta

instituição participa? Quais são seus desdobramentos?

III - Arranjo Institucional para gestão

a) Como a ONG “No Olhar” interage com a Política de Resíduos Sólidos da RMB? E com o

Programa de Coleta Seletiva?

b) A sociedade participa do processo de decisão acerca da Política? E do Programa?

c) As Instituições parceiras participam do processo de tomada de decisão acerca da Política?

E do Programa?

d) Cite alguns canais estabelecidos para esta interlocução?

Page 110: gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos

108

IV - Possibilidades, Desafios e Limitações

a) Em sua opinião, quais as principais dificuldades encontradas para gerir a Política? E o

Programa?

b) Em sua opinião, quais as possibilidades verificadas na gestão do da Política? E do

Programa?

c) Que ações se fazem necessárias para melhorar a condução e, conseqüentemente, os

resultados obtidos?

d) Em sua opinião, que ações se fazem necessária para atender as atuais exigências da Lei

12.305/ 2010 - Política Nacional de Resíduos Sólidos?

V - Impactos Ambiental, Socioeconômico, Político

a) Quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área ambiental?

b) Quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área Social?

c) Quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área Econômica?

d) Quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área Política?

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Apêndice D - Roteiro de Entrevista a ser aplicado ao Membro da Associação de Catadores da

Coleta Seletiva de Belém (ACCSB) – Sra. Maria José de Moraes – Representante Legal –

Roselino Ribeiro (13 pessoas).

I - Perfil do Entrevistado:

a) Nome:

b) Instituição representante:

II - Origem e Institucionalização:

a) Há quanto tempo esta instituição participa do Programa?

b) Quais motivos levaram esta instituição a participar do Programa?

c) Existe alguma norma que regulamenta esta participação?

d) Quais as atribuições da Associação no âmbito da composição institucional montada para

gerir o Programa?

e) Quais são as Leis e normas que existem acerca da Política de Resíduos Sólidos da RMB? E

do Programa?

f) Há proposta de criação de um Grupo de Trabalho (GT) a fim de dar suporte a gestão da

política de resíduos sólidos na Região Metropolitana de Belém (RMB) em discussão? Esta

instituição participa? Quais são seus desdobramentos?

III - Arranjo Institucional para gestão

a) Como a Associação interage com a Política de Resíduos Sólidos da RMB? E com o

Programa de Coleta Seletiva?

b) A sociedade participa do processo de decisão acerca da Política? E do Programa?

c) As Instituições parceiras participam do processo de tomada de decisão acerca da Política?

E do Programa?

d) Cite alguns canais estabelecidos para esta interlocução?

IV - Possibilidades, Desafios e Limitações

a) Em sua opinião, quais as principais dificuldades encontradas para gerir a Política? E o

Programa? transporte

b) Em sua opinião, quais as possibilidades verificadas na gestão da Política? E do Programa?

c) Que ações se fazem necessárias para melhorar a condução e, conseqüentemente, os

resultados obtidos? Infra-estrutura

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d) Em sua opinião, que ações se fazem necessária para atender as atuais exigências da Lei

12.305/ 2010 - Política Nacional de Resíduos Sólidos? nao

e) Em sua opinião, quais objetivos já foram alcançados?

f) Em sua opinião, quais objetivos ainda se pretendem alcançar?

V - Impactos Ambiental, Socioeconômico, Político

a) Qual a quantidade mensal de catadores envolvidos no Programa? E de catadores autônomos

envolvidos?

b) Qual a densidade média mensal de material reciclável coletado? E qual a quantidade de

material coletado seletivamente?

c) Qual a freqüência média de coletas por semana?

d) Qual o percentual médio de resíduos recicláveis presente no lixo da coleta regular?

e) Qual o percentual de resíduos orgânico nos resíduos de coleta seletiva?

f) Qual a quantidade de itens de materiais recicláveis comercializados (unidade)?

g) Qual o item de material reciclável é mais comercializado?

h) Qual a renda média mensal por catador?

i) Em sua opinião, quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área

ambiental?

j) Em sua opinião, quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área

Social?

k) Em sua opinião, quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área

Econômica?

l) Em sua opinião, quais resultados alcançados, até o momento, podem ser destacados na área

Política?

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Apêndice E - Roteiro de Entrevista a serem aplicados aos membros representante dos bairros

partícipes do Programa, Bairros Umarizal e Marco (Rua Marquês).

Bom dia/tarde!

O Sr.(a) mora neste bairro? Caso sim, proceder à entrevista.

O Sr. (a) concorda em participar de uma entrevista sobre o programa de coleta seletiva de lixo

da RMB? Esta entrevista servirá de base de dados para um projeto de pesquisa científica da

UNAMA a fim de investigar o Programa de Coleta Seletiva desenvolvido pela Prefeitura.

Nome Completo e idade?

a) Você já ouviu falar de Coleta Seletiva? O que você entende por isso?

b) Você participa do Programa de Coleta Seletiva no seu Bairro? Caso sim, como? Caso não,

por quê?

c) Existem experiências em que o Programa de Coleta Seletiva começa bem e com o tempo

vai se deixando de lado. Por que você acha que isso acontece?

d) Em sua opinião, quais ações se fazem necessárias ser realizadas para melhorar a eficiência

do Programa?

e) Você acha difícil realizar a separação do material reciclável para a coleta seletiva?

f) Você tem alguma contribuição a fazer?

Obrigada pela informação!