gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

133
i GESTÃO DO CONHECIMENTO: REFLEXÕES QUANTO A APLICABILIDADE DE SUAS FERRAMENTAS EM UM CURSO DE ENSINO SUPERIOR Yago de Carvalho Souto Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Engenheiro Orientador: Vinícius Carvalho Cardoso Rio de Janeiro Agosto de 2015

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Page 1: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

i

GESTÃO DO CONHECIMENTO: REFLEXÕES

QUANTO A APLICABILIDADE DE SUAS

FERRAMENTAS EM UM CURSO DE ENSINO

SUPERIOR

Yago de Carvalho Souto

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia

de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal

do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários

para a obtenção do título de Engenheiro

Orientador: Vinícius Carvalho Cardoso

Rio de Janeiro

Agosto de 2015

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i

GESTÃO DO CONHECIMENTO: REFLEXÕES QUANTO A APLICABILIDADE

DE SUAS FERRAMENTAS EM UM CURSO DE ENSINO SUPERIOR

Yago de Carvalho Souto

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO.

Examinado por:

_______________________________________

Prof. Vinícius Carvalho Cardoso, D. Sc

________________________________________

Prof. Renato Flórido Cameira, D. Sc

_______________________________________

Profª. Maria Alice Ferruccio, D. Sc

________________________________________

José Antonio Gameiro Salles, M. Sc

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

AGOSTO DE 2015

Page 3: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

ii

Souto, Yago de Carvalho

Gestão do conhecimento: reflexões quanto a

aplicabilidade de suas ferramentas em um curso de ensino

superior / Yago de Carvalho Souto. – Rio de Janeiro: UFRJ/

ESCOLA POLITÉCNICA, 2015.

XVI, 130 p.: il.; 29,7 cm

Orientador: Vinícius Carvalho Cardoso

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso

de Engenharia de Produção, 2015.

Referência Bibliográficas: p. 115-119

1. Gestão do Conhecimento 2. Ensino Superior

3. Moodle 4. Ativos Intangíveis

I. Cardoso, Vinícius. II. Universidade Federal

do Rio de Janeiro, Escola Politécnica,

Curso de Engenharia de Produção. III.

Gestão do conhecimento: reflexões

quanto a aplicabilidade de suas

ferramentas em um curso de ensino

superior.

...

Page 4: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

iii

“An investment in Knowledge always pays

the best interest”

Benjamin Franklin

Page 5: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

iv

Agradecimentos

Gostaria de agradecer primeiramente ao professor Vinícius Cardoso, pela

constante disponibilidade nas orientações e aconselhamentos. Em segundo a minha

família, namorada e amigos, que sempre apoiaram e deram suporte. Reservo também

um espaço para agradecer particularmente aos professores Edílson Arruda, Eduardo

Jardim, Maria Alice Ferruccio, Renato Cameira, Vinícius Cardoso e o chefe do STI

Antônio Salles que participaram das entrevistas realizadas, compartilhando do seu, já

escasso, tempo extraclasse. Também a todos os alunos que responderam aos

questionários realizados de forma a permitir um melhor entendimento da situação

atual do curso de Engenharia de Produção.

Agradeço também a todos os outros professores e funcionários do curso de

Engenharia de Produção da UFRJ, que participaram no meu desenvolvimento como

adulto e profissional.

Page 6: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

v

Resumo do Projeto de graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção

GESTÃO DO CONHECIMENTO: REFLEXÕES QUANTO A APLICABILIDADE

DE SUAS FERRAMENTAS EM UM CURSO DE ENSINO SUPERIOR

Yago de Carvalho Souto

Agosto de 2015

Orientador: Vinícius Carvalho Cardoso

Curso: Engenharia de Produção

Os exponenciais progressos tecnológicos se tornaram a nova norma no panorama

globalizado contemporâneo, trazendo, junto com potenciais aprimoramentos nas mais

diversas áreas, uma nova ordem de “seleção natural” para os mercados, obrigando

organizações que desejam prosperar a se adaptarem. Motivados por essa necessidade de

adaptação dinâmica, pesquisadores, muitas vezes suportados por corporações ativas no

cerne do mercado do conhecimento, delinearam um campo de propósito específico, a

Gestão do Conhecimento. O presente estudo busca levantar uma reflexão quanto à

possibilidade e os benefícios que se poderia obter ao se aplicar conceitos e práticas de

Gestão do Conhecimento, adotados nas últimas décadas por diferentes corporações em

diferentes ramos e indústrias, no cenário da Educação Superior e em mais específico em

um curso brasileiro de Ensino Superior, contexto de grande relevância em relação à

própria necessidade do mercado por profissionais adaptados à efemeridade de

metodologias de trabalho e mesmo de aprendizado. Ao final do projeto, as limitações e

potenciais benefícios que alinhamentos com a Gestão do Conhecimento poderiam trazer

a um curso de Ensino Superior são levantados e comparados.

Palavras-chave: Gestão do Conhecimento, Ensino Superior, Gestão de Ativos

Intangíveis

Abstract of Undergraduate Project presumed to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Engineer.

Page 7: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

vi

KNOWLEDGE MANAGEMENT: REFLECTIONS ON THE APPLICABILITY OF

ITS TOOLS FOR A HIGHER EDUCATION COURSE

Yago de Carvalho Souto

August 2015

Advisor: Vinícius Carvalho Cardoso

Course: Engenharia de Produção

The exponential technological progress have become the new standard in the

contemporary globalized scene, bringing, along with potential improvements in several

areas, a new order of "natural selection" for markets, forcing organizations wishing to

thrive to adapt. Motivated by this need for a dynamic adaptation, researchers, often

supported by active corporations at the core of the knowledge market, outlined a

specific field with a sole purpose, the Knowledge Management. This study seeks to

raise a reflection on the possibility and the benefits that could be achieved when

applying concepts and practices of knowledge management, adopted in the last decades

by corporations in different industries, in the higher education scenario and, more

specifically, in a Brazilian higher education course. Which is a context of great

importance concerning its relation to the new market needs for professionals adapted to

the ephemerality of work and learning methods. At the end of the project, the

limitations and potential benefits that the alignments with knowledge management

could bring to a higher education course are summarized and compared.

Keywords: Knowledge Management, Higher Education, Intangible Assets Management

Page 8: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

i

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1

1.1. O PROCESSO EDUCACIONAL ..................................................................................... 2

1.2. CONVERGÊNCIA ............................................................................................................ 3

1.3. DEFINIÇÃO DO PROBLEMA ......................................................................................... 5

1.4. OBJETIVOS DO ESTUDO ............................................................................................... 5

1.5. JUSTIFICATIVA DA ESCOLHA ..................................................................................... 6

1.6. METODOLOGIA .............................................................................................................. 7

1.7. LIMITAÇÕES DO ESTUDO ............................................................................................ 8

2. CONCEITOS BÁSICOS DA GC.................................................................................... 8

2.1. DADOS .............................................................................................................................. 9

2.2. INFORMAÇÃO ................................................................................................................. 9

2.3.CONHECIMENTO ........................................................................................................... 10

3. IMPLEMENTAÇÕES DE GC EM EMPRESAS ......................................................... 13

3.1. MCKINSEY ..................................................................................................................... 13

3.2. ERNST & YOUNG .......................................................................................................... 16

3.3. ANÁLISE DA GC NAS CONSULTORIAS ................................................................... 17

4. OBSERVAÇÕES DA GC EM EMPRESAS ................................................................. 18

4.1. OBSERVAÇÕES DE DAVENPORT (1998) .................................................................. 18

4.2. OBSERVAÇÕES DE CARDOSO (2004) ....................................................................... 19

4.3. OBSERVAÇÕES DE WENGER E SNYDER (2000) ..................................................... 20

5. ORGANIZAÇÕES EDUCACIONAIS E A GC ............................................................ 22

6. MODELO ISKME ....................................................................................................... 25

6.1. NÍVEIS DE ENGAJAMENTO ........................................................................................ 26

6.1.1. ESTUDO .............................................................................................................. 26

6.1.2. CONSTRUÇÃO ................................................................................................... 26

6.1.3. ABERTURA ........................................................................................................ 27

6.2. RECURSOS BÁSICOS ................................................................................................... 27

6.2.1. PESSOAS ............................................................................................................. 28

6.2.2. PROCESSOS........................................................................................................ 29

6.2.3. TECNOLOGIAS .................................................................................................. 29

6.3. EXEMPLOS DE APLICAÇÕES ..................................................................................... 30

7. MODELOS CONCEITUAIS DE GC ........................................................................... 33

7.1. SECI ................................................................................................................................. 33

7.1.1. SOCIALIZAÇÃO ................................................................................................ 35

7.1.2. EXTERNALIZAÇÃO .......................................................................................... 36

Page 9: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

ii

7.1.3. COMBINAÇÃO ................................................................................................... 36

7.1.4. INTERNALIZAÇÃO ........................................................................................... 37

7.1.5. CONCLUSÕES SOBRE O SECI ........................................................................ 38

7.2. ESPIRAL DO SECI ......................................................................................................... 38

7.2.1. INTENÇÃO.......................................................................................................... 39

7.2.2. AUTONOMIA ..................................................................................................... 40

7.2.3. FLUTUAÇÃO E CAOS CRIATIVO ................................................................... 40

7.2.4. REDUNDÂNCIA ................................................................................................. 40

7.2.5. VARIEDADE DE REQUISITOS ........................................................................ 41

7.3. BA – CONTEXTO COMPARTILHADO ....................................................................... 41

7.4. O MODELO I-SPACE ..................................................................................................... 43

7.4.1. ETAPAS DO CICLO I-SPACE............................................................................ 45

7.4.2. CONCLUSÕES SOBRE O I-SPACE DE BOISOT ............................................. 46

7.5. MODELO SENSE-MAKING DE CHOO ......................................................................... 46

7.5.1. CONSTRUÇÃO DE SENTIDO........................................................................... 47

7.5.2. CRIAÇÃO DE CONHECIMENTO ..................................................................... 47

7.5.3. TOMADA DE DECISÃO .................................................................................... 47

7.6. PRINCÍPIOS DE DAVENPORT ..................................................................................... 47

7.6.1. O CUSTO DA GESTÃO DO CONHECIMENTO .............................................. 48

7.6.2. SOLUÇÕES HÍBRIDAS DE PESSOAS E TECNOLOGIAS: ........................... 48

7.6.3. A GC COMO ATIVIDADE POLÍTICA ............................................................. 49

7.6.4. GESTORES ESPECIALIZADOS PARA A GC.................................................. 49

7.6.5. O COMPARTILHAMENTO DE CONHECIMENTO ....................................... 49

7.6.6. ACESSO AO CONHECIMENTO É APENAS O INÍCIO .................................. 50

7.7. CAPITAIS DO CONHECIMENTO ................................................................................ 51

7.7.1. CAPITAL AMBIENTAL ..................................................................................... 52

7.7.2. CAPITAL INTELECTUAL ................................................................................. 52

7.7.3. CAPITAL ESTRUTURAL .................................................................................. 53

7.7.4. CAPITAL DE RELACIONAMENTO ................................................................. 53

7.8. TABELA RESUMO DOS MODELOS ........................................................................... 54

7.9. CONCLUSÕES ................................................................................................................ 56

8. COMPARAÇÃO ENTRE OS MODELOS ................................................................... 56

9. UM FRAMEWORK PARA IE’S ................................................................................... 59

9.1. REPOSITÓRIOS DE CONHECIMENTO....................................................................... 61

9.2. ACESSO AO CONHECIMENTO ................................................................................... 62

9.3. AMBIENTE PRÓ-CONHECIMENTO ........................................................................... 63

9.4. VALORIZAÇÃO DO CONHECIMENTO ..................................................................... 64

Page 10: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

iii

9.5. CONCLUSÃO PARCIAL ............................................................................................... 66

10. CONDIÇÕES PARA A PRÁTICA ............................................................................. 67

10.1. COMPATIBILIDADE DA IE ESCOLHIDA ................................................................ 68

10.2. DEFINIÇÃO DO ESCOPO PARA A PRÁTICA .......................................................... 70

11. ENTREVISTAS COM MEMBROS DA IE ................................................................ 74

11.1. UTILIZAÇÃO ATUAL PELOS DOCENTES .............................................................. 74

11.1.1. IMPORTÂNCIA DOS ASPECTOS DE GC ..................................................... 75

11.1.2. DISPONIBILIZAÇÃO .......................................................................................... 75

11.1.3. EXPERIÊNCIAS E OBSTÁCULOS DE IMPLANTAÇÃO ............................. 77

11.1.4. INFLUÊNCIAS NA ADOÇÃO ........................................................................ 78

11.2. UTILIZAÇÃO ATUAL PELOS DISCENTES.............................................................. 79

11.2.1. IMPORTÂNCIA PERCEBIDA E DISPONIBILIZAÇÃO ............................... 79

11.2.2. EXPERIÊNCIAS E OBSTÁCULOS DE USO ................................................ 81

11.2.3. ABERTURA QUANTO AO USO ................................................................... 84

11.3. LIMITES DE CAPACIDADE DA PLATAFORMA .................................................... 85

11.4. VISÃO DE ESPECIALISTA QUANTO A ADOÇÃO ................................................. 87

11.5. ALINHAMENTO DA UTILIZAÇÃO .......................................................................... 88

11.5.1. ADOÇÃO DO POLIMOODLE PELO PROFESSORADO ............................. 89

11.5.2. ADOÇÃO DO POLIMOODLE PELO ALUNADO ........................................ 91

11.5.3. APRIMORAMENTOS TÉCNICOS DA PLATAFORMA ............................. 92

11.5.4. USO DA PLATAFORMA PELOS SEUS GESTORES .................................. 94

11.6. MÉTRICAS PARA OS RESULTADOS ....................................................................... 96

12. CONCLUSÃO ............................................................................................................ 99

13. BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................... 103

14. APÊNDICE .............................................................................................................. 107

14.1. APÊNDICE A – ENTREVISTA COM DOCENTES .................................................. 107

14.2. APÊNDICE B – ENTREVISTA COM DISCENTES ................................................. 116

14.3. APÊNDICE C – MODELO DE METODOLOGIA UTILIZADO .............................. 119

15. ANEXO .................................................................................................................... 120

15.1. ANEXO A – EMENTA OFICIAL DO CURSO KNOWLEDGE MANAGEMENT 120

Page 11: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

iv

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Modelo dos Conceitos Base ....................................................................................... 12

Figura 2 - Recursos da Gestão do Conhecimento para o Ensino, ............................................... 28

Figura 3 - Ciclo do conhecimento ................................................................................................ 34

Figura 4 - Ciclo do conhecimento, ............................................................................................... 35

Figura 5 – Espiral do conhecimento ............................................................................................ 39

Figura 6 – BA ............................................................................................................................... 42

Figura 7 - Ciclo de aprendizagem social (I-Space) ...................................................................... 44

Figura 8 – Modelo Sense-Making ................................................................................................ 46

Figura 9 – Capitais do Conhecimento.......................................................................................... 51

Figura 10 – Taxonomia do Capital Intelectual ............................................................................. 65

Figura 11 – Ilustração do Framework desenvolvido ................................................................... 67

Figura 12 – Gráfico de Percepção de Eficiência da Disponibilização Extraclasse atual .............. 80

Figura 13 – Gráfico de Percepção de Potencial Melhoria de Desempenho com Uso de

Plataforma Virtual ....................................................................................................................... 81

Figura 14 – Gráfico de Percepção da Complexidade quanto ao aprendizado para se usar a

plataforma ................................................................................................................................... 82

Figura 15 – Gráfico de Tipos de Dificuldades Específicas encontradas ....................................... 83

Figura 16 – Gráfico de Demonstração da Abertura quanto a Utilização das Ferramentas ........ 85

Figura 17 – Modelo da Metodologia Utilizada .......................................................................... 119

Page 12: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

v

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Tabela de Caracterização das Comunidades de Prática ............................................ 22

Tabela 2 - Exemplos de Aplicações Gerenciais e no Ensino Primário ........................................ 31

Tabela 3 – Exemplos de Aplicações no Ensino Superior ............................................................. 32

Tabela 4 – Tabela Resumo dos modelos de GC apresentados .................................................... 55

Tabela 5 – Tabela de Comparação entre Modelos de GC ........................................................... 58

Tabela 6 – Tabela Comparativa de Sistemas de GC por Maier (2002) e Framework do Estudo. 73

Page 13: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

vi

LISTA DE ABREVIATURAS

UFRJ Universidade Fedaral do Rio de Janeiro

GC Gestão do Conhecimento

IES Instituição de Ensino Superior

ISKME Institute for the Study of Knowledge Management in Education

SIGA Sistema Integrado de Gestão Acadêmica

STI Setor de Tecnologia da Informação

TI Tecnologia da Informação

Page 14: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

1

1. INTRODUÇÃO

Por séculos cientistas, filósofos e outros pensadores se preocuparam em entender

os processos de criação e propagação do conhecimento, no entanto só nos últimos 15

anos que um campo com esse objetivo específico foi denominado, o da Gestão do

Conhecimento (GC) (KING, 2009), campo esse que já vem servindo como base para

diversas implantações no cenário corporativo (WENGER & SNYDER, 2000), tendo

surgido como resposta a demandas naturais de mercado, como a globalização, a

Tecnologia da Informação (TI) e modelos de mercado centrados no conhecimento das

corporações (PRUSAK, 2001). De maneira paralela, em um período onde as

exponenciais evoluções tecnológicas, em principal as do campo da tecnologia da

informação, trazem uma considerável mudança e nova efemeridade a mercados,

economias e cultura, se percebe cada vez mais que em uma economia onde a única

certeza é a incerteza, apenas o conhecimento é fonte segura de vantagem competitiva

(NONAKA, 1994), além disso, grandes potenciais tais progressos das Tecnologias de

Informação teriam quanto às práticas de Gestão do Conhecimento, uma vez que os

mesmos são os principais catalisadores do campo (BECERRA-FERNANDEZ &

SABHERWAL, 2010) . Como Rowley (2000) sugeriu, a sociedade baseada em

conhecimento já é realidade e organizações que quiserem ter sucesso nessa sociedade da

informação terão que saber identificar, valorizar, criar e desenvolver seus ativos do

conhecimento e com isso pode-se dizer então que há um processo acelerado de

intelectualização da mão-de-obra em curso (CARDOSO, 2004). Percebe-se assim, de

maneira assaz lógica, que como para as organizações corporativas, essa adaptação a

novas práticas de como se gerir o conhecimento é também vital para as organizações

educacionais (KIDWELL et al, 2001), até porque serão elas as responsáveis pela

formação dos indivíduos que deverão se inserir nos novos mercados tão modificados

pelas novas tendências.

Uma busca por adequação a esse cenário de mudanças aceleradas requereria ao

país alinhamentos em quesitos que têm levado a condições de mudanças tão atenuadas.

Particularmente na educação de ensino superior, onde os discentes já teriam

discernimento o suficiente para perceber a importância dessas mudanças e atualizações

devido a sua iminente inserção no mercado e pelas organizações nesse campo estarem

Page 15: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

2

muitas vezes propensas a pressões de mercado similares a que corporações sofrem

(ROWLEY, 2000), seria razoável dizer que esse alinhamento quanto a práticas de

Gestão do Conhecimento e das tecnologias que atualmente a permeiam teria grande

potencial. Uma vez que novos paradigmas de como se lidar com a passagem de

conhecimento sejam transmitidos às organizações que formam novos profissionais, o

alinhamento da nova geração da população economicamente ativa com as novas

tendências da era da informação se dará de forma mais facilitada.

1.1 O PROCESSO EDUCACIONAL

Organizações educacionais, sejam elas escolas, faculdades ou universidades,

enxergam seus processos, na maioria das vezes, através de um modelo mecanicista, com

premissas enviesadas por conceitos cartesianos e reducionistas, o que na realidade não é

particularmente preciso para entender as formas dinâmicas e interconectadas com as

quais os processos que permeiam o conhecimento se dão, como levantado por campos

como as ciências comportamentais (ALLEE, 1999). Organizações educacionais, pela

sua natureza, deveriam ser consideradas como sistemas sociais e adaptativos, uma

forma muito mais acurada de abordagem e que possibilitaria a utilização de frameworks

como a da Gestão do Conhecimento de maneira mais adequada. Esses sistemas seriam

formados por agentes adaptativos, que são caracterizados pela capacidade de mudar o

seu comportamento com o tempo, em função do que aprendem com a experiência

(HOLLAND, 1995). O que torna complexo um sistema adaptativo é que ele consiste de

vários agentes que cooperariam para atingir fins comuns de realização. Além disso, em

tais tipos de sistema os eventos atuais influenciam as probabilidades de eventos

posteriores. Os elementos que interagem dentro de um sistema são os agentes ou

populações, e estes são adaptativo em função da sua capacidade de aprender

(HOLLAND, 1995).

É também importante destacar as duas principais vertentes que atualmente

norteiam grande parte dos sistemas educacionais presentes nas instituições de ensino, o

modelo tradicional e o modelo construtivista. A principal diferença entre esses dois

modelos se baseia na forma como é passada o conhecimento. No modelo tradicional, ou

condutista, é formado um ponto de vista ideal sobre o tema que seria então repassado

dessa forma idealizada a todos os alunos, de forma igualitária e de maneira a alinhar a

todos. Já na forma construtivista, se considera de forma mais ampla tanto a bagagem de

Page 16: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

3

aprendizado de cada aprendiz quanto as interações entre discente e docente. (SILVA,

2014).

Percebe-se assim que para que uma mudança de paradigma aconteça no campo da

educação no país é necessário que se inicie o debate sobre assunto e que se busque o

estado da arte no que tange as possíveis aplicações, até porque, sabe-se bem, continua

sendo primordial investir em educação e é de se esperar que com o passar do tempo e o

embate de ideias haverá muito mais concordância entre os vieses tecnicistas e os

humanistas que permeiam as discussões de gestão de ativos intangíveis do que o

contrário (CARDOSO, 2004).

1.2 CONVERGÊNCIA

Atualmente, assim como aconteceu em diversos outros campos, ao passo que a

importância dos processos complexos como o aprendizado e a troca de experiências e

informações foram ganhando mais visibilidade, mais e mais interessados em

sistematizar e metrificar essas dinâmicas foram surgindo. A terra, o trabalho e o capital,

clássicos fatores de produção, foram atualmente substituídos em larga escala pelo

conhecimento (DRUCKER, 1993). De maneira semelhante Wilson (1983) defende que,

seja em regimes capitalistas, comunistas ou o que seja, o que gera valor e logo poder é

sempre a informação e Senge (1990), alertou que muitas organizações que formam os

maiores mercados são incapazes de funcionar como organizações baseadas no

conhecimento, porque eles sofrem de dificuldades de aprendizagem. As empresas

devem inovar ou morrer, e suas capacidades de aprender, se adaptar e mudar tornam-se

competências essenciais para a sobrevivência (ROWLEY, 2000). Com esse novo

quadro em diversas áreas, o surgimento de uma ciência focada no estudo dessa área dos

fluxos de informação se deu de forma natural, uma vez que a TI, que lida com a

matéria-prima fundamental para a criação de conhecimento humano e que se mostra na

atualidade em uma de suas maiores primaveras em termos de progresso científico,

também pode ser utilizada para otimizar a Gestão do Conhecimento e aplicada para

aumentar a produtividade do conhecimento nas organizações (CARDOSO, 2004).

O advento da denominada GC, que se poderia considerar como iniciada em peso

na década de 90, trouxe, junto com as informações de origens empíricas e racionais de

seus patronos, diversas aplicabilidades para uma vasta gama de atividades que contém

Page 17: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

4

em seu cerne processos de transformação de informação em conhecimento e seu

compartilhamento, tendo diversos tipos de modelos de negócio como exemplos.

O que se observa é que ao se aprender a como gerir o conhecimento de uma

organização se poderia ter muitos benefícios, alguns mais diretamente visíveis e outros

nem tanto. Esses benefícios incluiriam, principalmente, uma melhora significativa do

ambiente que permeia os processos de criação, compartilhamento e uso do

conhecimento, tornando-o mais condutor a tais etapas (ROWLEY, 2000).

Não se pode negar, por outro lado, que parte das técnicas hoje classificadas como

de GC são apenas uma definição para tantas metodologias já usadas há muito tempo

(WIIG, 1999) e que, na verdade tratam-se de técnicas relacionadas à missão essencial da

TI: entregar a informação certa, para a pessoa certa, na hora certa (CARDOSO, 2004).

Por outro lado, a convergência de visões mais sistêmicas e humanistas com as novas

práticas de TI vem, de fato moldando um novo conceito mais abrangente de Gestão do

Conhecimento, que é, atualmente a gestão não somente de dados e documentos como

também de certas ações de colaboradores, com o objetivo de enriquecer as

possibilidades de trabalho em conjunto, envolvendo a troca de pensamentos, o uso

compartilhado de ideias e a coordenação de ações em pro do mesmo objetivo (BILL

GATES, 2000).

Entretanto, de maneira contra intuitiva, um campo de estudos como a GC, que

possui total enfoque em processos de troca de informação e aprendizagem, foi pouco

aplicado à área de ensino, apesar de universidades e outras Instituições de Ensino

Superior (IES) estarem reconhecidamente no mercado do conhecimento (ROWLEY,

1999, apud GODDARD, 1998).

Nas últimas décadas, pesquisadores internacionais começaram a se organizar para

refletir sobre e testar a viabilidade de se aplicar conceitos GC em áreas da educação. O

ISKME (Institute for Study of Knowledge Management in Education) surgiu com a

proposta de ser umas das pioneiras pontes práticas entre esses dois pontos que tem tanto

em comum.

Ao vislumbrar a intensa relação entre as tecnologias de TI, a GC e as práticas de

ensino em Organizações Educacionais, percebe-se que o atual cenário se mostra

bastante oportuno, visto que a evolução exponencial da TI, impulsionada pela Lei de

Moore, que previu um crescimento exponencial, dobrando a cada dois meses, para as

capacidades informáticas, pode ser o empurrão necessário para que a essencial

atualização ao sistema educacional aconteça. Além disso, quanto mais experiências

Page 18: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

5

práticas e modelos elaborados de GC sejam realizados, mais áreas poderão ser

vislumbradas pelas suas aplicações, o que trará vantagens e acelerações de

desenvolvimento para o país como um todo.

Dessa forma se observam motivadores suficientes para que se fomentem

discussões quanto a adoções e implementações de GC em organizações, além de

modelos teóricos e tecnologias de que a suportem, para entender melhor onde e como a

GC seria melhor aplicada para instituições de ensino superior nessa busca por um

alinhamento do cenário do ensino superior brasileiro com o contexto global de avanços

exponenciais.

1.3 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

Levantada essa interseção entre os potenciais da Gestão do Conhecimento, da TI e

dos objetivos e caminhos a serem trilhados pelo sistema educacional, observa-se que

mais estudos quanto a criação de aplicações práticas de GC e TI em Instituições de

Ensino seriam necessários para que se progrida nesse sentido.

O problema, então, define-se como sendo essa lacuna percebida entre as

competências do campo da GC, suas ferramentas e estudos/aplicações dos mesmos a

sistemas de ensino. Cuja a solução seriam aprofundamentos mais práticos e específicos,

os quais o início das discussões quanto ao tema poderia impulsionar.

Uma busca na base Capes revelou uma grande quantidade de artigos publicados

relacionados à GC aplicada no Ensino (1.623 em 12/04/2014), entretanto uma análise

mais detalhada revela que a relevância da maioria é insuficiente, revelando ao fim um

grupo de em torno 20 artigos úteis, dos quais os mais relevantes foram utilizados como

base bibliográfica para o presente estudo.

1.4 OBJETIVOS DO ESTUDO

O presente estudo se propõe, em suma, a gerar uma reflexão quanto a

possibilidade de aplicação de conceitos da Gestão do Conhecimento em um curso de

Ensino Superior brasileiro, buscando criar precedentes para a extrapolação de

discussões no mesmo sentido para o Ensino Superior brasileiro em um geral.

Primeiramente se levantarão modelos, técnicas e premissas da GC já aplicadas e

Page 19: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

6

analisadas e, com essa base conceitual, o estudo buscará definir um framework para se

trabalhar (visto que atualmente a GC contempla uma vasta gama de vertentes) e então

será avaliada a sua aplicabilidade a uma Instituição de Ensino Superior brasileira, cujo

curso será escolhido para a análise. Com o framework e o escopo definidos, o estudo

buscará definir um conjunto de possíveis práticas, dentre as possibilidades levantadas

pelo framework, com as quais se poderia, caso aplicados os direcionamentos,

comprovar os benefícios da aplicação do framework de GC escolhido no médio a longo

prazo.

Um modelo ilustrativo no apêndice (Apêndice C, p. 130) para melhor

compreensão da metodologia.

1.5 JUSTIFICATIVA DA ESCOLHA

A Gestão do Conhecimento se mostra cada vez mais como um campo de grande

potencial e importância no contexto atual onde a Lei de Moore se observa aplicada aos

mais diversos aspectos tecnológicos que influenciam o mercado e onde “O

conhecimento é o novo motor da economia” (CAVALCANTI, 2001, p 55). Esse avanço

exponencial traz junto com amplas possibilidades e oportunidades tantas outras novas

demandas e riscos que podem vir a se tornar percalços no avanço do mercado da

informação.

Como gerir os agentes envolvidos em toda essa nova dinâmica de transformações,

onde paradigmas se tornam tão efêmeros se torna a grande questão. As organizações

que trabalham tendo o conhecimento como matéria-prima e produto ao mesmo (gama

cada vez mais abrangente), sejam elas empresas de TI, consultorias financeiras ou

institutos de ensino, precisam de suporte para, além de lidar com tantas mudanças sem

perder no processo o conhecimento organizacional, possam ainda progredir nos seus

processos que lidam com tais ativos intangíveis de modo a acompanhar a “Lei de

Moore” do seu próprio mercado.

Observando a adequação da Gestão do Conhecimento para esses temas, nota-se

que apesar do maior enfoque de sua aplicação a mercados onde a monetarização se dá

de forma mais clara (como a venda de conhecimento pelas consultorias), uma aplicação

no ramo da educação, em instituições de ensino, teria grande potencial.

Page 20: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

7

Percebe-se que organizações de ensino superior no exterior já começam a avançar

nesse sentido, muitas vezes se utilizando de novas tecnologias para apoiar essa

permeação de novas técnicas de Gestão do Conhecimento. A própria experiência de

estudo na Europa do autor do estudo revelou grande disparidade entre o tratamento

desse aspecto nas universidades de lá com as brasileiras (ao menos no caso das

universidades fluminenses).

Tal reflexão foi um dos grandes incentivos encontrados para trabalhar em um

estudo que levantasse a importância dessas mudanças, mostrando que já existe material

científico suficiente para apoiar aplicações que poderiam trazer grandes benefícios no

médio e longo prazo para instituições de ensino superior, em especial as brasileiras.

1.6 METODOLOGIA

O estudo se inicia com introduções de conceitos básicos importantes para se

estudar a GC, juntamente com a realidade das aplicações já existentes em empresas.

Posteriormente uma pesquisa bibliográfica sobre a GC será realizada, definindo

gradualmente um escopo a se trabalhar. Passando então a uma reflexão sobre as

aplicabilidades de tal escopo no campo da educação, em especial no Ensino Superior.

Serão então levantados modelos já existentes de GC e de aplicações na educação,

seguidos por um estudo comparativo entre os mesmo com o objetivo de sintetizar um

framework de principais diretrizes e modelos conceituais de ferramentas de GC para um

curso de Ensino Superior.

Por fim, mantendo essa síntese em contexto, se fará uma reflexão qualitativa sobre

práticas específicas e realistas à IES e curso escolhidos, que poderiam vir a testar a

aplicabilidade de algumas das ferramentas no escopo do framework sintetizado

anteriormente. Tal reflexão será realizada se baseando em análises de dados qualitativos

coletados através de entrevistas, buscando uma interpretação do atual contexto da IES

escolhida. Seguindo então a um levantamento sobre possíveis métricas para avaliação

dos resultados que as aplicações do framework trariam e uma conclusão final quanto à

reflexão levantada pelo estudo.

Page 21: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

8

1.7 LIMITAÇÕES DO ESTUDO

A GC é, por si só, um campo cientificamente recente, mas que começa a ganhar

destaque em uma era de tantas transformações em relação às lentes com que se

enxergam as realidades de mercado no que tange a importância da informação e do

conhecimento. De forma análoga, a discussão sobre as aplicações da GC no ensino é

ainda mais recente e desenvolvida, uma vez que, diferente das discussões quanto a

aplicações da GC em corporações que trabalham tendo o conhecimento como produto

para outras empresas (como as consultorias), a monetarização do ensino é um tema

bastante nebuloso atualmente, o que acaba sendo um grande obstáculo à convergência

da GC ao ensino pois tal nebulosidade acaba trazendo a falta de eficazes incentivos para

tais avanços.

Dito isso, não é surpreendente descobrir que materiais científicos de aplicações da

GC para métodos de ensino não sejam abundantes ao ponto de ser possível estressar o

tema como o seu potencial lhe permitiria. Por outro lado, o acervo existente é

suficientemente razoável para um início de reflexão e foi então suficiente para a

condução do presente estudo.

A parte do estudo que traz um levantamento sobre as possibilidades de se aplicar

práticas específicas de GC e seus consequentes resultados possui um grande potencial

de aprofundamento, entretanto, a complexidade que um estudo mais aprofundado

quanto a implantação de tais práticas teria não é compatível com o escopo do presente

estudo, de maneira que tal sessão serviria apenas de maneira a suportar a reflexão

levantada, trazendo a discussão a termos mais realistas e práticos, mas sem almejar ser

um trabalho de definições concretas e embasadas no âmbito prático.

2. CONCEITOS BÁSICOS DA GC

A GC surge então como um campo que serviria como ferramenta para gerir,

mensurar e otimizar processos de geração e troca de conhecimento. Focada

principalmente nas dinâmicas organizacionais da informação, estudos no seu campo

podem na verdade ser aplicados a qualquer variedade de processos de aprendizagem,

como os modelos de ciclo de aprendizagem de Nonaka et al (2001) que conseguem

fazer uma análise razoavelmente acurada de qualquer processo que envolva uma

passagem, transformação e absorção de informação por exemplo.

Page 22: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

9

Alguns autores se aprofundaram em campos específicos, como por exemplo os

estudos de Davenport (1998), onde as consequências de implementações tecnológicas

de gestão de informação eram observadas em casos reais e documentadas, focando

assim de na forma de utilização de tecnologias como auxiliadores. A diversificação de

aplicações e enfoques continua se ampliando, dessa forma, pela natureza multifacetada

do tema, uma definição irredutível do que seja a Gestão do Conhecimento não existe, a

mesma varia de acordo com o escopo do estudo e dos objetivos que se deseja atingir.

Tendo isso dito, avaliar o escopo de Gestão de Conhecimento que será empregado

através de um enquadramento conceitual é essencial. Existem alguns conceitos básicos

que devem ser esclarecidos de antemão para que o estudo e uma posterior discussão

possam progredir.

2.1 DADOS

Dados são grupos de fatos objetivos e discretos sobre eventos. Em um contexto

organizacional, dados podem ser bem descritos como anotações de transações por

exemplo. (DAVENPORT & PRUSAK, 1998). É importante ressaltar que na nova

“Cultura da Informação” o que mais se observa é um sentimento de quanto mais dados,

melhor. Se é dito que ao se obter dados suficientes as melhores decisões surgirão por si

mesmas. Esse argumento se mostra falso em dois níveis: dados em demasia podem

dificultar a identificação e interpretação dos que realmente importam e o principal, não

existe sentido inerente a dados. (DAVENPORT & PRUSAK, 1998).

2.2 INFORMAÇÃO

Como muitos pesquisadores que estudaram informação, é admissível descreve-la

como uma mensagem (DAVENPORT & PRUSAK,1998). Essa analogia busca atribuir

à informação características de ter um remetente e um destinatário, onde o seu sentido

seria mudar a percepção do destinatário sobre algo. E assim como em um processo de

troca de mensagem, quem decide a relevância da informação é o destinatário. “Um

memorando cheio de descrições desconexas pode ser considerado como informação

pelo remetente, mas como ruído para o destinatário” (DAVENPORT & PRUSAK,1998,

pg 3). De uma forma geral, é importante conceber que informação é o dado “que faz a

diferença”. Nunca uma mensagem transmitida é recebida sem “ruídos” pelo receptor,

quando a mesma passa pelo canal de comunicação ela sofre perturbações (ruídos) e ao

Page 23: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

10

chegar ao receptor ainda passa por um processo de decodificação (SHANNON, 1948),

esses processos de envio de informações são análogos aos processos que ganham

entropia (WIENER 1948). Em suma, as percepções diferenciadas que o receptor

consegue adquirir ao avaliar a mensagem seriam a informação.

Assim se pode concluir que, no ciclo do conhecimento, informação procede dados

(tendo em vista que os mesmos foram interpretados por alguém e passaram algum

sentido). Mas, além disso, a informação tem forma e as mesmas indicam a maneira

como os dados foram tratados e organizados. Os principais métodos de tratamento de

dados para sua transformação em informação são, segundo Davenport e Prusak (1998):

Contextualizar: Quando se esclarece o propósito com o qual os dados foram

recolhidos

Categorizar: Quando se esclarece as unidades de análise e seus

componentes chave

Calcular: Quando os dados passaram por uma análise matemática

Corrigir: Quando erros foram removidos do conjunto de dados

Condensar: Quando os dados foram sumarizados e uma forma mais concisa

Ao se comparar esses métodos com o contexto atual, percebe-se que as novas

tecnologias e poder de processamento facilitariam em quase todos esses aspectos,

entretanto, é sempre importante ressaltar que o meio não é a mensagem, mesmo que a

afete fortemente. “Ter mais tecnologia da informação não necessariamente mudará o

estado da informação” (DAVENPORT & PRUSAK,1998, p 5).

2.3 CONHECIMENTO

É de senso comum que não se atribui normalmente características de

“conhecedor” ou “sábio” a objetos inanimados, como livros ou banco de dados, mesmo

que estes sejam grandes fontes de informação e possam vir a gerar conhecimento. Isso

porque se sabe que, de modo geral, “Conhecimento deriva de mentes trabalhando”

(DAVENPORT & PRUSAK,1998, pg. 5). Essa definição global, apesar de definir

importantes limites para sua compreensão, traz também grandes dificuldades para lidar

com conhecimento.

Page 24: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

11

Segundo Davenport & Prusak (1998), conhecimento é uma mistura fluida (no seu

sentido efêmero e metamórfico) de experiências, valores, informações contextuais e de

visões especializadas que constrói um modelo para avaliar e incorporar novas

experiências e informações.

A última etapa do ciclo então se apresenta. Os dados se tornam informação, que

por sua vez é de onde conhecimento é derivado. A diferença dessa última transformação

é que nesta etapa o trabalho tem um maior enfoque na atividade humana. Os processos

mais importantes pelos quais essa transformação acontece são, segundo Davenport &

Prusak (1998):

Comparação: Quando é levantada a questão de como a informação sobre

essa situação pode ser comparada a outras situações conhecidas

Consequências: Onde se buscam as implicações que a informação pode ter

para decisões e ações

Conexões: Onde são levantadas as relações dessa informação com outras

Conversação: Onde se buscam diferentes opiniões sobre a informação

Assim, a descrição básica das origens e predecessores do conhecimento que serão

utilizadas ao longo deste estudo foi feita. Ficam então esclarecidas as diferenças

etimológicas e conceituais desses três aspectos que muitas vezes são confundidos. Além

de suas relações causais, de uma forma geral: dados são encontrados em registros,

informação em mensagens e conhecimento em indivíduos ou grupos de indivíduos

(DAVENPORT & PRUSAK, 1998). É sempre importante manter em mente essa

relação básica entre dados, informação e conhecimento quando se estudam processos de

geração de conhecimento.

Page 25: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

12

Figura 1 – Modelo dos Conceitos Base Fonte: Elaboração própria

Ainda quanto ao conceito de conhecimento é importante esclarecer a dicotomia

existente em seu cerne, a relativa à existência de dois tipos de conhecimento: tácito e

explícito, o que é muito importante sempre ter em mente, uma vez que é fácil cometer o

equívoco de pensar que conhecimento é só o que pode ser expresso em números e

palavras, sendo que essa parte é na verdade só a ponta do iceberg (NONAKA, 1994).

Polanyi (1967) foi um dos primeiros a classificar o conhecimento nessas duas

categorias, sendo a explícita, como o nome diz, a que já está codificada ao ponto de sua

transmissão ser possível na forma de linguagem sistemática (NONAKA, 1994). Por

outro lado, a categoria de conhecimento tácito representa o conhecimento que está

enraizado no contexto, experiência e participação pessoal do seu proprietário,

transformando-a em algo de difícil transmissão ou formalização em seu estado puro.

É também importante ressaltar que apesar de diferentes, a transformação de um

tipo em outro é algo natural e faz parte da dinâmica de reprodução de conhecimento. De

maneira análoga, na maioria dos casos, pode ser até difícil identificar o tipo do

conhecimento como sendo apenas um ou outro. Assim como as partículas atômicas

podem ser matéria e onda ao mesmo tempo, o conhecimento pode ser visto como tácito

ou explícito dependendo de como for observado. E o fato da existência dessa dualidade

Page 26: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

13

natural e de processos de transformação tão dinâmicos é o mais importante que se deve

entender ao se pensar nos modelos cíclicos de criação de conhecimento.

3. IMPLEMENTAÇÕES DE GC EM EMPRESAS

A grande maioria dos projetos com metodologias de GC realizados até hoje foi

feita por parte de empresas que trabalham no ramo de ativos intangíveis (WENGER &

SNYDER, 2000), o que é de fácil compreensão, visto a natureza de seu trabalho e o

grande incentivo financeiro para investimentos em práticas mais rápidas e eficientes de

disponibilização de conhecimento e trocas informação. Organizações de consultoria têm

reconhecido o significado central do capital intelectual para o sucesso do seu negócio, e

têm estado na vanguarda do progresso neste campo (ROWLEY, 2000). Eles se veem,

com justiça, como parte central da indústria do conhecimento, e alguns têm usado suas

práticas baseadas no conhecimento como uma plataforma para o direcionamento de

cursos no ramo. O estudo segue então para uma análise de duas grandes empresas do

ramo que cujas práticas de Gestão do Conhecimento já foram estudadas por diversos

autores.

3.1 MCKINSEY

A McKinsey descreve a si mesma como uma firma de consultoria em gestão, líder

em temas como estratégia, organização, tecnologia e operações A firma, em particular,

tem estado envolvida na gestão do conhecimento há mais de 20 anos, hoje em dia já

conta com unidades inteiramente especializadas na Gestão do Conhecimento da firma.

Fundada em 1926, a organização possuía em 2010 quase 100 escritórios em mais de 50

países (DE VIRON & LEDERER, 2011).

O modelo hierárquico observado na McKinsey já se destaca dos modelos

clássicos encontrados em outras consultorias ou organizações que possuem em seu

cerne trocas de conhecimento. A estrutura organizacional se divide em dois, os

escritórios regionais e as Práticas. Os tipos de funcionários se dividem em três grandes

grupos: consultores, profissionais do conhecimento e suporte (DE VIRON &

LEDERER, 2011). Enquanto os escritórios são os pontos focais de operações com os

clientes da empresa em suas regiões específicas, as Práticas funcionam como redes entre

os escritórios conectando consultores com determinados interesses e expertises (como

Marketing, Finanças Corporativas, Telecom, Transportes, Seguros, entre outros).

Page 27: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

14

Denominado como modelo de “parcerias”, os processos decisórios estão presentes em

todos os níveis hierárquicos da companhia, o que por si só já gera uma liberdade

necessária para o florescer de iniciativas de GC.

Pode-se perceber que no modelo da McKinsey as chamadas Práticas são

justamente o cerne do modelo de GC adotado, servindo como base para as conexões

entre pessoas interessadas e especializadas em determinados assunto, incentivando

assim os compartilhamentos de conhecimento e experiências. Essa estrutura acaba

funcionando também como o direcionador das operações em si, uma vez que apoia de

maneira intensiva os escritórios regionais. Sempre que se vê necessário levantamentos

de questões específicas por partes do cliente, os funcionários dos escritórios possuem

diversas maneiras de consultar a rede de conhecimento que as Práticas representam. De

maneira geral, o suporte advindo da estrutura das Práticas na McKinsey, até os anos

2000, se dava de três formas diferentes: Conhecimento-On-Call, Compartilhamentos

através das Práticas e a Intranet (DE VIRON & LEDERER, 2011).

Frequentemente os consultores enfrentam demandas específicas por partes dos

clientes que demandariam um grande esforço em pesquisa quanto ao tema, como

tamanho de determinados segmentos de mercado, prospecções de cenários ou listas de

maiores competidores de determinadas indústrias. Para grande parte desses casos são

realizadas consultas de Conhecimento-On-Call aos grupos de pesquisadores

especializados formados pelos profissionais de conhecimento (DE VIRON &

LEDERER, 2011). Tais profissionais normalmente se localizam nas unidades

específicas de Gestão do Conhecimento da empresa. As demandas chegam ao

profissional do conhecimento após serem filtradas por uma plataforma de TI para uma

padronização de perguntas e checagem imediata de similaridades com consultas

anteriores. Para responder à demanda, o profissional do conhecimento tem a sua

disposição uma ampla gama de repositórios de conhecimento cobrindo todos as áreas de

expertise da companhia além de acesso ilimitado ao portal de intranet da consultoria

(DE VIRON & LEDERER, 2011).

Os compartilhamentos das práticas ocorrem de maneira bastante similar às

consultas on-call, o que muda é que ao invés de consultar aos profissionais do

conhecimento especializados na pesquisa dos repositórios da empresa, os consultores

recorrem às práticas (formadas por consultores especializados) para apoio com as

demandas específicas que podem surgir dos clientes. Cada Prática possui plataformas

Page 28: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

15

que suportam interfaces de Perguntas e Respostas parecidas com as disponíveis nas

plataformas de Conhecimento-On-Call.

A Intranet da McKinsey é o maior recurso para conhecimento codificado e de

fácil acesso (DE VIRON & LEDERER, 2011). A mesma funciona como um amplo

repositório de conhecimento, com um grande número de diferentes tipos de documento

disponibilizados a todos os funcionários da consultoria. Para uma otimização da partilha

dos conhecimentos através da padronização do mesmo, a McKinsey estabelece formatos

específicos para todos os documentos que forem disponibilizados que devem ser

seguidos à risca (DE VIRON & LEDERER, 2011):

Os Documentos de Prática (Practice Document) são o padrão básico para a

codificação do conhecimento ganho com projetos internos e de clientes. Esses

documentos são normalmente longos (entre vinte e trinta páginas) e devem

seguir instruções quanto a detalhamentos de contextos, resultados obtidos entre

outras especificidades quanto aos projetos realizados.

Pepitas de Conhecimento (Knowledge Nuggets) são alternativas simplificadas

aos Documentos de Prática. Possuem exceções quanto aos detalhamentos

necessários aos últimos e assim podem ser compartilhados sem uma demanda de

esforço tão grande. Eles podem ser compartilhados em quaisquer formatos.

Os Espaços Wiki, presentes em um amplo número de projetos de GC, assim

também o são na Intranet da McKinsey. Contendo ferramentas análogas às

universais de qualquer espaço Wiki, seus objetivos de criar uma enciclopédia

interna (McKipedia), blogs e comunidades com fóruns de discussões são

também similares.

Boletins do Conhecimento (Knowledge Bulletins) e Artigos de Funcionários

(Staff Papers) são artigos escritos de maneira prática, com um âmbito de

consultoria e servem como exposição de novas práticas e tendências de larga

escala em determinados campos de consultoria.

Recentemente, estão sendo criadas forças-tarefas para incentivar um serviço mais

independente por parte dos consultores. De maneira natural, por falta de tempo hábil, os

mesmos acabam, na maioria dos casos, recorrendo primeiramente às consultas de

Conhecimento-On-call ou às Práticas antes de pesquisarem a fundo na Intranet da

Page 29: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

16

consultoria, que já disponibilizaria um extenso acervo de conhecimento codificado (DE

VIRON & LEDERER, 2011).

De maneira similar, mas em um outro âmbito, a McKinsey, desde 2007,

desenvolve um projeto que buscaria uma nova maneira de alavancar seus ativos de

conhecimento. A McKinsey Solutions é uma gama de serviços de consultoria baseados

no conhecimento que seriam disponibilizados ao cliente de maneira direta, assim os

clientes poderiam consultar, sem o intermédio dos consultores, os vastos repositórios,

ferramentas e especialistas da organização (DE VIRON & LEDERER, 2011). Tal

acesso seria intermediado por assinaturas com durações variadas e levaria a uma grande

mudança no modelo de negócios da empresa, fazendo com que ela não apenas forneça

serviços de consultoria no modelo clássico, mas também provendo o conhecimento e

ferramentas de análise diretamente (DE VIRON & LEDERER, 2011).

O projeto McKinsey Solutions continua se expandindo, possuindo atualmente

mais de vinte tipos de serviços diferentes e buscando agora parcerias com outros tipos

de organizações com expertises que possam gerar sinergia com as da própria

consultoria, como por exemplo a parceria com a The Nielsen Company, especializada

em analises de mídias sociais e métricas de análise de força de marcas online (DE

VIRON & LEDERER, 2011).

Tais novas tendências observadas na McKinsey poderiam ser interpretadas como

consequências de uma tendência universal em termos de aprendizado e partilha de

conhecimento. Cada vez mais o auto-serviço e o autodidatismo através de ferramentas

voltadas ao apoio e incentivo dessas atividades passam a ser a regra e não a exceção.

3.2 ERNST & YOUNG

A multinacional Ernst & Young (EY) vem trabalhando com projetos na Gestão do

Conhecimento desde 1993 (ROWLEY, 2000). Seu grande objetivo com a GC é a

alavancagem do capital intelectual através da reutilização da experiência baseada na

prática. Uma estratégia tem sido a criação de comunidades de interesse. Por exemplo,

uma rede centra-se na indústria automotiva. Um usuário da rede pode, por exemplo,

saber mais sobre o tempo de desenvolvimento do produto, e que tipo de software

empresas automotivas estão escolhendo. O banco de dados também tem detalhes dos

consultores que são especialistas na indústria, e quaisquer relações específicas que a

Ernst & Young tenha com pesquisadores acadêmicos (ROWLEY, 2000).

Page 30: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

17

Seguindo essa metodologia, dentro da EY algumas das bases de dados sobre

temas mais recorrentes tornaram-se enormes, assim, organizadores criaram os chamados

PowerPacks de informação personalizados, que podem ser transferidos para os

computadores dos funcionários. Para mantê-los atualizados, funcionários marcam

endereços na Internet relevantes para revisão. Novas informações são acrescentadas

cada vez que um funcionário vai para a rede global da EY para uma atualização sobre

um tema fundamental (BECERRA-FERNANDEZ & SABHERWAL, 2010). Duas

funções têm se revelado fundamentais nessa implementação de GC na EY: os dos

gerentes de conteúdo desse banco de dados e os coordenadores da rede de conhecimento

(ROWLEY, 2000).

O gerente de conteúdo do banco de dados é um especialista no assunto que se

torna responsável pela qualidade do conteúdo. O coordenador da rede de conhecimento

é um consultor ou coach para as pessoas na rede, e seu papel principal é o de promover

mudanças na maneira em que as pessoas fazem o seu trabalho no que tange a utilização

desses repositórios de conhecimento (ROWLEY, 2000).

A infraestrutura para a gestão do conhecimento é fornecida por meio do Centro de

Conhecimento do Negócio (CBK). A CBK lida com arquitetura de conteúdo, aplicação,

definição e concepção de bases de conhecimento, contratos para a compra de conteúdo

externo, inteligência competitiva, o serviço de pesquisa e análise, e do programa de rede

de conhecimento. As prioridades são definidas pelos comitês de processos de

conhecimento associados a cada unidade de negócio. Um chefe de gestão oficial (CKO),

com responsabilidade geral pela gestão do conhecimento, se reporta ao chefe de

finanças e tecnologia (BECERRA-FERNANDEZ & SABHERWAL, 2010).

3.3 ANÁLISE DA GC NAS CONSULTORIAS

A partir do estudo dessas duas grandes empresas do ramo de consultoria,

observamos que existem alguns pontos chaves para a implementação da GC em firmas

de consultoria:

Comunidades de interesse são fundamentais para a gestão do conhecimento

Indivíduos de alta hierarquia dentro da organização devem estar envolvidos

Pessoas podem se tornar relutantes à documentação de seu conhecimento tácito.

Page 31: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

18

Práticas de GC levam tempo para serem completamente incorporadas

Mecanismos de estruturação e atualização dos conhecimentos são necessários;

O formato do conhecimento de forma que o mesmo esteja ao alcance de não-

especialistas nos assuntos é importante

Progresso só é alcançado se papéis de gestão de conhecimento específicos forem

atribuídos, estes normalmente incluem responsabilidades com um foco sobre a

validação do conteúdo do banco de dados, apoio e equipes técnicas;

4. OBSERVAÇÕES DA GC EM EMPRESAS

Com o avançar das utilizações de ferramentas e metodologias da GC em

empresas, o número de estudiosos a analisar essas aplicações e seus resultados também

aumentou e o que se pode esperar no curto e médio prazo é um aumento ainda mais

expressivo no volume de implantações das técnicas anteriormente apresentadas, muito

devido ao acúmulo de experiências no campo e uma maior valorização dos ativos do

conhecimento entre as organizações (CARDOSO, 2004). Indo de casos onde as

implantações se deram de maneira intencional a casos onde certas formações

aconteceram naturalmente, algumas observações realizadas por pesquisadores parecem

bastante pertinentes e ajudarão na criação de um escopo específico de GC para possíveis

aplicações desses mecanismos em instituições de ensino superior podem ser destacadas.

4.1 OBSERVAÇÕES DE DAVENPORT (1998)

Davenport (1998) observou que há, em geral, certos campos de aplicação dos

projetos de gestão do conhecimento recorrentes, dentre esses se destacariam:

Criação de repositórios de conhecimento, que armazenam o conhecimento e a

informação, muitas vezes em forma documentada. Uma característica comum é

o valor agregado através de categorização e “limpeza” do conteúdo, tirando

aspectos irrelevantes.

Aprimoramento do ambiente de conhecimento, de modo que o ambiente seja

propício para a criação de conhecimento de maneira eficiente, transferência e

uso do mesmo. Tratando-se por vezes de redefinir normas organizacionais,

valores, cultura e como eles se relacionam com o conhecimento.

Page 32: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

19

Gerência do conhecimento como um ativo, e reconhecer o valor do

conhecimento para uma organização. Por exemplo, Skyrme e Amidon (1998)

propõem que o conhecimento pode ser medido utilizando o Balanced Scorecard

desenvolvido por Kaplan e Norton (1992). Utilizando o Balanced Scorecard,

uma organização é avaliada em quatro dimensões, e não simplesmente em

termos de seu desempenho financeiro. Estas quatro dimensões são: clientes;

processo interno; inovação e aprendizagem; e financeira. Métricas na inovação e

aprendizagem quadrante muitas vezes podem ser melhoradas através de

atividades de gestão de conhecimento.

4.2 OBSERVAÇÕES DE CARDOSO (2004)

Cardoso (2004) levantou certas técnicas que têm sido encontradas com maior

frequência na atualidade, tanto na literatura quanto na prática e muitas delas teriam

grande relevância no contexto educacional:

Sistemas Integrados de Gestão (ERPs) e Sistemas de Inteligência do

Negócio (BI): tipicamente estas tecnologias são vistas separadamente, mas

neste caso, num exercício de olhar futuro, pode-se supor que num ambiente de

hiperintegração (CAMEIRA, 2003) os sistemas de informação

consistentemente implantados dariam conta de captar e tratar os dados,

transformando-os em informações estruturadas relevantes que sejam entregues

à pessoa certa, na hora certa;

Gestão Eletrônica de Documentos (GED) e Repositórios de Conhecimento:

nem toda necessidade de informação é suprida por bases de dados estruturados,

tornando necessárias aquelas ferramentas que procuram disponibilizar as

informações desestruturadas aos profissionais. Estas informações se fazem

necessárias conforme a execução dos processos imponha a análise prévia de

documentação para a realização de determinadas atividades ou mesmo

conforme a necessidade de desenvolvimento de conhecimento tácito

(internalização) específico possa ser apoiada por estas;

Page 33: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

20

Tutoria e Coaching: A reprodução de conhecimento tácito em indivíduos não

é tarefa que se possa fazer sem a devida interação entre o profissional que

dispõe do conhecimento alvo e o aprendiz que o almeja. Sendo assim, as

práticas de socialização de conhecimento também se fazem necessárias, mas,

diferentemente das anteriores, algumas técnicas requerem pouco ou nenhum

uso de tecnologia da informação, apesar de outras poderem ser por estas

alavancadas;

Mapas de Expertise, Páginas Amarelas de Profissionais e Peer to Peer:

Muitas vezes, durante a realização dos processos da organização ou mesmo

durante processos (individuais ou coletivos) de desenvolvimento profissional,

faz-se necessário acessar profissionais de reconhecida competência ou de

notório saber. Estas técnicas se destinam a manter a conectividade entre

aqueles que demandam e aqueles que requerem conhecimentos específicos,

sem que se faça necessário que o demandante saiba previamente qual indivíduo

especificamente dispõe do conhecimento que almeja, na medida em que as

ferramentas informáticas que suportam a estas técnicas dispõem de

mecanismos de busca capazes de estabelecer apropriadamente os contatos.

Obviamente o sucesso da relação social dependerá de fatores alheios a estas

ferramentas;

Portais de Conhecimento: Pode-se dizer que, em comparação com as

anteriores, os portais não se tratam de uma técnica em si, mas de uma

habilidade da organização de disponibilizar adequadamente os conhecimentos

tácitos e explícitos através da Internet. As bases desta “técnica” se concentram

então em adequar as interfaces de acesso às fontes de conhecimento e em

otimizar o processo de localização e transmissão dos mesmos;

4.3 OBSERVAÇÕES DE WENGER E SNYDER (2000)

Wenger e Snyder (2000), através da revista Harvard Business Review,

descreveram pela de forma detalhada a emergente forma organizacional que começava a

se observar em companhias de diversos setores e que se relacionava intrinsecamente

Page 34: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

21

com a Gestão do Conhecimento, as Comunidades de Prática, termo criado por Wenger

(1998).

De maneira geral, essas Comunidades de Prática são grupos de pessoas que se

relacionam de maneira informal em encontros regulares (almoços de quinta por

exemplo) e assim compartilham suas perícias, experiências e paixões sobre um tema

específico no contexto da companhia (WENGER & SNYDER, 2000). Sejam

consultores especializados na aérea de logística ou engenheiros engajados na área

específica de cabeamentos de alta tensão submarinos, “as pessoas em suas Comunidades

de Prática compartilham suas experiências e conhecimentos de maneiras criativas e de

fluxo livre, gerando novas formas de se abordar problemas” (WENGER & SNYDER,

2000, p 140).

Pelo perfil não controlado e naturalmente induzido das Comunidades de Prática,

elas podem parecer de difícil implementação consciente, mas não é o caso. Várias

empresas tomaram a iniciativa e testaram de maneira pioneira a implementação dessas

comunidades, essas empresas conseguiram superar os obstáculos paradoxais de gerir

esse tipo de comunidades e conseguiram com que elas: direcionassem a estratégia da

empresa, começassem novas frentes de negócio, melhorassem a transferência intra

organizacional de melhores práticas e desenvolvessem habilidades profissionais

(WENGER & SNYDER, 2000).

Essa nova natureza de modelos de gestão pode vir a parecer, por vezes, subjetiva

em excesso, entretanto a seguinte tabela ajudará, nesse caso, a perceber as diferenças

entre o modelo de GC através de Comunidades de Prática e outros grupos de trabalho

mais recorrentes:

Page 35: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

22

Qual é o objetivo? Quem participa? O que têm em comum? Quanto tempo

duram?

Comunidades de Prática

Desenvolver as competências dos

participantes; gerar e trocar conhecimento

Participantes auto-

selcionados

Compromisso, paixão e identificação com os

conhecimentos especializados do grupo

Enquanto houver interesse em

manter o grupo

Grupo de Trabalho Formal

Desenvolver um produto ou

prestar um serviço

Qualquer um que se

apresente ao gerente do

grupo

Requisitos do trabalho e metas comuns

Até a próxima reorganização

Equipe de Projeto

Realizar determinada

tarefa

Empregados escolhidos por

gerentes seniores

As metas e pontos importantes do projeto

Até o final do projeto

Rede Informal Colher e transmitir

informações empresariais

Amigos e conhecidos do

meio empresarial

Necessidades mútuas

Enquanto as pessoas tiverem um

motivo para manterem o

contato Tabela 1 – Tabela de Caracterização das Comunidades de Prática

Fonte: Adaptada de WENGER & SNYDER, 2000

5. ORGANIZAÇÕES EDUCACIONAIS E A GC

As observações apresentadas no capítulo anterior demonstram os diferentes

campos onde aplicações de GC têm ocorrido. Os novos resultados e contextos citados

contribuem para o crescimento do interesse no assunto por ampliar o escopo das

atividades potenciais da GC. Para Boisot (2002) existem grandes razões para o aumento

dos investimentos de tempo e dinheiro em estudos nessa área na última década.

A queda brusca e constante dos custos de captura, análise, armazenamento e

transmissão de dados fez com que tais atividades em grandes escalas se tornassem

viáveis e o interesse de firmas (que por natureza se restringe a coisas observáveis e

mensuráveis) pudesse se voltar a esse tema (BOISOT, 2002).

A evolução de sistemas de informação, em conjunto com a queda de custos para

processos que tratam de dados, levou a uma desmaterialização das atividades

econômicas. Recursos físicos estão cada vez mais sendo substituídos por dados e

informação, de computadores que diminuem cada vez mais de tamanho a carros se

tornando cada vez mais leves e conectados (BOISOT, 2002). Apesar dos benefícios que

Page 36: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

23

essa diminuição de recursos físicos possam trazer a conveniência e poupança de

energia, a sociedade tem agora que se preocupar com as quantidades de dados a serem

tratados que cresce também de maneira exponencial. A única forma de conter essa

sobrecarga de dados é aprimorando os processos de extração de informação e taxa com

que se consegue metabolizar dados (BOISOT, 1995).

Essa mudança de foco que traz então o reconhecimento da importância da

informação, sua análise e posterior transformação para as atividades econômicas atuais

(BIERLY, P. et al, 2002), trouxe também à tona o fato de que conhecimento não pode ser

gerido da mesma forma que os recursos físicos. A natureza do conhecimento é

extremamente dinâmica, podendo evoluir tanto em direção à propriedade total quanto da

disponibilidade gratuita (SHAPIRO & VARIAN, 1999). Tal atributo pode vir a gerar

certo pânico para a visão gerencial que temos atualmente, visto as grandes discussões

que ainda hoje existem quanto ao tratamento de ativos intangíveis (seja no contexto

contábil ou em qualquer outro) e é justamente para preencher esse crescente vácuo de

modelos apropriados para a gestão desses tipos de ativos que campos como a GC

surgem.

No decorrer das últimas décadas, muitas organizações, de todos os setores,

descobriram a importância de se tornarem uma “organização que aprende”, como David

Garvin (2008) descreve, se utilizando do conceito criado originalmente por Peter Senge

na década de 90. Esse tipo de instituição seria caracterizado como sendo uma

organização habilidosa na criação, aquisição, e transferência de conhecimento e também

em modificar seu próprio comportamento para refletir novos conhecimentos e insights

(SENGE, 1990). Essas sempre buscariam questionar como suas ações estariam afetando

os resultados observados e regularmente estressando suposições básicas e

experimentando novas possíveis maneiras de enxergar sua realidade, sempre buscando

uma visão sistemática. Visão sistemática essa que é promovida por diversos aspectos na

Gestão do Conhecimento (SEDZIUVIENE et al, 2009).

Muito se comenta que esses tipos de descrição de organizações são um tanto

quanto fabulosos e que dificilmente se encontrariam reais exemplares, mas simples

observações e análises das mudanças disruptivas que têm ocorrido nos mais diferentes

mercados mostra que a nova “seleção natural” permite sobrevida apenas aos, de fato,

flexíveis a mudanças em seus modelos de negócios (KIDWELL et al, 2001)

(ROWLEY, 2000) (PEARSON, 1999).

Page 37: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

24

Salta, então, aos olhos a incoerência ao se observar que a grande maioria dos

sistemas de educação superior brasileiros, planejados com o exato intuito de promover a

criação e propagação do conhecimento, além da formação de cidadãos adaptados à nova

realidade do mercado global como descrito anteriormente, não seriam, de acordo com as

premissas levantadas por Senge (1990), “organizações que aprendem”. Isso por se poder

observar direta e indiretamente, através de observações empíricas e relatos, a estagnação

e dificuldade de modificar e adaptar de algumas Instituições de Ensino Superior

públicas e seus processos educativos (e.g.: ementas engessadas com pouco espaço para

adaptações, recursos limitados para prover inovações nas aulas, entre outros). Relatos

pessoais e de terceiros sugerem um cenário onde os limitados recursos externos,

juntamente com a sobrecarga dos profissionais envolvidos no processo educativo e o

espaço limitado para inovações em metodologias de aula, acabam por gerar um gradual

desinteresse por parte dos dois principais agentes envolvidos no processo de

aprendizagem no Ensino Superior, os docentes e discentes. Tal desinteresse acaba

gerando estagnação, que por sua vez se impõem como grande obstáculo a uma possível

adaptação a novos modelos de operação, como as “organizações que aprendem” de

Senge (1990).

O uso de GC em instituições de ensinos seria, não só viável como desejável, visto

que essas possuem justamente no conhecimento seu principal ativo e “matéria prima”

para o processo de “produção” (ROWLEY, 2000). Entretanto, é válido ressaltar a

existência de algumas diferenças entre esses tipos de organizações e as corporações que

lideram investimentos no ramo. Como levantado anteriormente, muitas das empresas de

consultoria, que trabalham com a venda de conhecimento para outras empresas

conseguem, de maneira menos polêmica, o conhecimento, repassando o mesmo e a

expertise que vem como invólucro em um tradicional processo comercial. Ou seja,

escapam de certas restrições que permeiam o contexto das instituições educacionais. Tal

separação permite uma visão com certas liberdades assaz úteis no que tange a

flexibilização dos seus modelos e a implantação de aplicações de GC.

Ainda que existam tais diferenças nesses escopos, a comparação entre o que já foi

feito em organizações privadas e com âmbitos diferentes do que poderia ser feito em

IES ainda é válida, desde que os limitantes específicos do campo da educação sejam

mantidos em contexto. Essa validez da comparação se deve ao fato de que existem

também diversas similaridades que permitem analogias válidas e com razoável

potencial.

Page 38: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

25

Atualmente as organizações que tem projetos no escopo da GC normalmente se

limitam a investimentos em sistemas de TI, sem se preocupar com outros aspectos que

seriam tão importantes quanto (MAIER, 2002) (ISKME, 2003). As barreiras que podem

surgir para o impedimento de uma boa utilização dos sistemas de informação são

variadas e frequentemente incluem: falta de pessoal qualificado para o tratamento dos

dados, coleta de dados feita de maneira não uniforme (diferentes softwares), falta de

liderança e de staff que lidere o projeto e a mudança, falta de integração com a

tecnologia (muitos professores preferem deixar o uso de novas tecnologias na mão de

experts, que por sua vez, na maioria dos casos, não sabem que tipo de informações

podem ser relevantes para casos de ensino), objetivos e prioridades não suficientemente

esclarecidos e um dos mais comuns, falta de confiança nos dados coletados (PETRIDES

et al, 2002).

Em suma, muitas das barreiras que instituições de ensino enfrentariam ao tentar

inovar na gestão de seus processos de informação, possuem razoáveis análogos

observáveis em implantações de corporações que atuam no mercado do conhecimento e

poderiam ser previstas em um modelo de GC, uma vez que essa interação (ensino e

tecnologia) é um de seus principais alicerces conceituais (BECERRA-FERNANDEZ &

SABHERWAL, 2010).

Assim, tendo confirmado um potencial de mudanças positivas que aplicações de

GC poderiam gerar ao serem introduzidas de maneira apropriada em organizações de

ensino superior, um framework será desenvolvido, buscando fomentar as discussões

quanto a possíveis aplicações que possam trazer mudanças a um sistema educacional

que já se mostra razoavelmente defasado em relação aos avanços das técnicas de gestão

de processos cognitivos.

6. MODELO ISKME

O presente estudo se utiliza do modelo e escopo definidos pelo ISKME (Institute

for the Study of Knowledge Management in Education) para iniciar a reflexão sobre um

possível framework para a utilização de ferramentas da Gestão do Conhecimento em

instituições de ensino superior brasileiras, em específico no curso de Engenharia de

Produção da Escola Politécnica da UFRJ.

Sendo o ISKME um dos institutos pioneiros na modelagem de uma forma a se

aplicar diversos conceitos e técnicas de GC em um escopo acadêmico e tendo

Page 39: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

26

experiência de estudos e implementações na área, se vê plausível adotar seu modelo

como ponto de partida para uma reflexão quanto à melhor forma a se tentar agregar a

GC na metodologia contemporânea de ensino. Tendo isso em mente, uma descrição

detalhada desse modelo adotado pelo instituto deve ser feita, visto a natureza subjetiva

do tema e de sua consistência multifacetada.

6.1 NÍVEIS DE ENGAJAMENTO

O ISKME é uma organização de pesquisa sem fins lucrativos que oferece modelos

para gerar mudanças factíveis no processo educacional de instituições participantes. O

instituto se apresenta como tendo enfoque na pesquisa, propagação e uso da Gestão do

Conhecimento na educação, sua teoria de ação é definida por três níveis de engajamento

junto às instituições: Estudo, Construção e Abertura.

6.1.1 ESTUDO

O instituto traz contribuições no campo da educação através de um grupo

interdisciplinar de pesquisadores. Focando no uso de dados, open education (que trata

de aplicações na ampliação do acesso ao ensino) e compartilhamento de conhecimento,

a equipe de pesquisa produz novos frameworks, modelos e teorias que trazem as bases

necessárias para mudanças que possibilitariam alinhamentos a níveis global das práticas

de ensino.

6.1.2 CONSTRUÇÃO

O instituto cria a capacidade para mudanças em larga escala através de

treinamentos, workshops de desenvolvimento profissional e programas para

alinhamento, focando no aumento do acesso, uso e reuso de dados, informação e

conhecimento.

O programa de desenvolvimento profissional OER (Open Educational

Resources), por exemplo, treina os docentes cadastrados em como criar e reusar

conteúdo educacional. Além disso, o programa Action Collabs tem sido usado em

escala internacional como maneira de facilitar a idealização de um processo de

colaboração entre diferentes instituições. O Action Collabs fornece uma estrutura na

qual o pensamento alinhado com design thinking é usado para gerar planos de ação para

Page 40: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

27

resolver problemas em grande ou pequena escala no que tange nova metodologias de

ensino em diversos âmbitos (ISKME, 2003).

6.1.3 ABERTURA

O ISKME facilita a criação de redes de conhecimento entre as instituições

participantes que darão suporte ao uso e compartilhamento da informação em

colaboração. Suas redes de conhecimento incluem iniciativas como o OER Commons

Initiative (uma comunidade de 25 mil professores, estudantes e autodidatas), que já

serviu como percursor para mais de 50 mil recursos de open resources, alinhando-os a

padrões definidos, avaliando sua qualidade e os compartilhando via redes sociais.

Dessa forma, a parte focada em abertura visa criar redes de conhecimento que

possam catalisar o crescimento de grupos como as Comunidades de Prática ao quebrar

barreiras como completitude acadêmica, produtividade e políticas educacionais.

6.2 RECURSOS BÁSICOS

Segundo os membros do ISKME, Lisa Petrides e Thad Nodine (2003), a GC é

uma abordagem que pode incluir uma grande gama de metodologias e práticas e dessa

forma moldar os valores de uma organização educacional de muitas maneiras. Integrar a

GC às metodologias institucionais requer um entendimento quanto a como alinhar,

dentro de um horizonte contextual possivelmente bastante específico, três recursos

básicos – pessoas, processos e tecnologia – dos quais nenhum pode ser ignorado

(PETRIDES et al, 2002). As organizações que investem em novas tecnologias sem

entender os padrões organizacionais e humanos dos processos de troca e

compartilhamento de informação não estariam chegando ao potencial máximo do

investimento.

Page 41: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

28

Figura 2 - Recursos da Gestão do Conhecimento para o Ensino, Fonte: Adapatado ISKME (2003)

6.2.1 PESSOAS

É comum observar no cenário contemporâneo programas de GC que se apressam

em criar uma base tecnológica forte de tecnologia da informação, focalizando todos os

seus esforços, esquecendo, entretanto, que “são pessoas, não sistemas, que gerem de

fato o conhecimento (PETRIDES et al, 2002).

A GC no ensino teria como um de seus tripés o trabalho em equipe e engajamento

grupal (PETRIDES et al, 2002). Muitas vezes grupos de docentes acabam por se reunir

por decisão própria em grupos para discussão em busca de aprimoramento de seus

trabalhos tentando torna-los mais efetivos. Essa troca de técnicas e conhecimentos

fazem dessas Comunidades de Prática elementos chaves para o suporte da GC e existe

uma grande gama de políticas e incentivos que a direção das instituições poderiam

utilizar para promover essas comunidades e assim formar uma base forte no quesito de

engajamento pessoal.

Page 42: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

29

6.2.2 PROCESSOS

Diversos tipos de práticas de instituições educacionais influenciam de forma

relevante o fluxo de informação e por conseguinte o ciclo do conhecimento, dentre eles

os mais relevantes, segundo o ISKME (2003) são:

Procedimentos administrativos formais ou informais que possam ter

consequências em aspectos como conteúdo de currículo, flexibilidade e abertura

para os docentes etc.

Padrões de troca de informação entre funcionários (formalização e padronização

de relatórios, divulgação de resultados, entre outros)

Processos que visem criar repositórios de informações.

Mapeamento de conhecimentos entre os funcionários.

Esses e tantos outros processos de trabalho estão muitas vezes presentes em

organizações de ensino, seja de maneira informal ou não, e caso sejam devidamente

apontados e estudados podem ser moldados e alinhados de acordo com direcionamentos

de GC que possam trazer melhorias a longo prazo (PETRIDES et al, 2002).

6.2.3 TECNOLOGIAS

Como apontado anteriormente, sistemas tecnológicos (na maioria das vezes de TI)

são sempre o campo mais visado nas tentativas de implementação de programas de GC,

o que se mostra muitas vezes não sendo o suficiente para uma implementação eficaz por

falta de uma base sólida dos outros fatores, levando à desmotivação e conseguintes

abandonos da maior parte dos objetivos da GC.

Um fator que é possivelmente um dos grandes responsáveis por essa preferência

em relação a implementações tecnologias é o fato de que seria um investimento, apesar

de custoso, relativamente pouco complexo e com peso político muitas vezes

incontestável. A compra de novos computadores e licenças de softwares, por exemplo,

se dá de maneira relativamente simples uma vez que apenas requer a verba suficiente e

espaço para as novas aquisições, contrário a uma mudança dos processos e pessoal

envolvidos com o ensino na instituição. De maneira análoga, o peso político (em relação

a aprovação dos agentes envolvidos) de se investir em tecnologia viria a um risco muito

Page 43: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

30

menor do que se tentar adaptar peças mais fundamentais do sistema instituído

(PETRIDES et al, 2002).

Aqueles que investem exclusivamente em desenvolver e implantar tecnologias de

troca e compartilhamento de informação não possuirão os meios efetivamente

necessários para atingirem o potencial de investimentos nesse escopo. Da mesma forma,

aqueles que apenas tiverem processos bem direcionados e um alto engajamento pessoal

sem possuir os meios necessários para se rastrear e avaliar os resultados obtidos, estarão

fadados a um atingimento apenas parcial dos objetivos possíveis (PETRIDES et al,

2002).

6.3 EXEMPLOS DE APLICAÇÕES

O modelo e escopo de GC levantado por ISKME (2003) podem também ser

enxergados através do prisma de aspectos básicos da GC levantados anteriormente (em

termos de dados, informação e conhecimento) ao se analisar as aplicações já realizadas.

A tabela a seguir apresenta alguns exemplos observados pelo instituto em relação às

suas aplicações de ferramentas de GC no ensino fundamental e superior.

Page 44: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

31

FUNÇÃO DADOS INFORMAÇÃO CONHECIMENTO

Exemplos Gerenciais

Definição da Missão

Institucional

Dados quantos as

necessidades

demográficas da

instituição são

coletados

Funcionários da

instituição avaliam a

efetividade dos

programas em relação a

missão institucional

Funcionários de alta

hierarquia discutem a

possibilidade de novos

programas e

levantamento de novas

necessidades em relação

a dados e informações

importantes à missão

institucional

Planejamento Estratégico

Sistemas de

informação coletam

dados estudantis

baseados nos

objetivos de

determinada área

Informação quanto a

resultados é distribuída

às diferentes áreas do

programa para revisão e

discussão

Docentes e funcionários

avaliam a informação,

determinando as

necessidades de

intervenção e de dados

adicionais

Exemplos de Ensino Primário

Integração de tecnologias

ao currículo

Docentes se reúnem

para testar diferentes

softwares. Grupos de

professores de cada

série escolar definem

uma lista com suas

expectativas para as

tecnologias em

relação ao método de

ensino

O diretor, um membro

docente representante

da série escolar e um

membro do

departamento

tecnológico se reúnem

para criar um plano que

se adeque as

expectativas e

limitações de todas as

partes em relação à

tecnologia escolhida

Esse grupo multi

funcional se reúne

bimensalmente para

avaliar a efetividade da

tecnologia

implementada e

programar, caso

necessárias, mudanças

no programa

Controle do aprendizado

do estudante

Planilhas online

proporcionam

avaliações contínuas

do aprendizado de

cada estudante

Baseados nessas

avaliações, professores

revisam o histórico de

atividades da sala de

aula para melhor

compreender as

necessidades dos alunos

Docentes se reúnem

para apresentar as

necessidades específicas

dos alunos e descobrem

que uma relevante

quantidade necessita de

atenção quanto a

habilidades de leitura.

Possibilidades de

intervenções são

levantadas e levadas ao

diretor Tabela 2 - Exemplos de Aplicações Gerenciais e no Ensino Primário

Fonte: adaptado de ISKME, 2003

Page 45: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

32

FUNÇÃO DADOS INFORMAÇÃO CONHECIMENTO

Exemplos de Ensino Superior

Criação de Conselhos

Acadêmicos

Criação de um banco

de dados com os

planejamentos

acadêmicos do

estudante (matérias a

cursar, projetos

extraclasse, etc.). Os

mesmos se mantém

disponíveis ao

estudante e seu

orientador através da

rede da instituição

Os planejamentos são

atualizados no mínimo

uma vez ao ano e

intervenções (como

orientações) pensadas a

partir da análise do

andamento dos

planejamentos são

geradas e

posteriormente

disponibilizadas

Orientadores se reúnem

para compartilhar

informações e estratégias

de intervenções de

sucesso com os

professores, baseados no

que foi encontrado no

banco de dados das

orientações

Planejamento de

Inscrições

É concedido acesso

em tempo real do

número de inscrições

de alunos por setor

aos coordenadores

dos cursos. Os alunos

se inscrevem

eletronicamente

Coordenadores e outros

funcionários trabalham

para oferecer mais

vagas para os cursos

quando os mesmos já

estão se completando

Executivos e

coordenadores da

instituição se reúnem

para avaliar as tendências

de longo termo das

inscrições para adaptar a

quantidade de vagas e

cursos às mudanças de

demanda dos alunos Tabela 3 – Exemplos de Aplicações no Ensino Superior

Fonte: adaptado de ISKME, 2003

Melhorias em processos de tomada de decisão, melhor comunicação tanto lateral

como vertical, maior facilidade no acesso a repositórios de conhecimento e um

incentivo à colaboração nas práticas de aprendizagem são alguns dos efeitos que podem

ser atingidos com a GC em qualquer tipo de organização. Para as educacionais, por

outro lado, a grande promessa da gestão do conhecimento está na oportunidade de

melhorar os resultados dos estudantes e o maior benefício não é somente para os

estudantes, mas também para professores e para a comunidade educacional como um

todo (PETRIDES et al, 2002).

Seguindo o fluxo de raciocínio da reflexão que o presente estudo busca instigar,

os posteriores capítulos levantarão, em seu tempo, alguns dos principais modelos de

GC, com o objetivo de verificar a congruência desses com o modelo ISKME e,

propondo ajustes necessários, chegar a um framework com o qual se poderia refletir

sobre uma implantação prática de GC em uma Instituição de Ensino Superior brasileira.

Page 46: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

33

7. MODELOS CONCEITUAIS DE GC

“Qualquer iniciativa em Gestão do Conhecimento carece de sustentação teórica

para que tenha sucesso” (FIDALGO, 2012, p. 31 apud DALKIR 2005). Dessa forma,

passa-se à exposição de modelos teóricos que buscaram descrever os processos de

geração e uso de conhecimento em organizações, indicando assim os melhores

mecanismos para sua gestão. Como levantado anteriormente, com base na comparação

desses com o modelo ISKME, será sintetizado um framework que possibilitará a

continuidade da reflexão proposta pelo estudo.

A escolha dos modelos a serem estudados teve como premissa a priorização de

alguns daqueles levantados como sendo os mais importantes em um curso sobre a GC

cursado pelo autor do presente estudo na Université Catholique de Louvain, Bélgica

(ementa em anexo). Visto que a posterior pesquisa bibliográfica revelou que de fato

esses modelos são utilizados com frequência como referência de outros trabalhos sobre

o tema, a escolha se mostrou um razoável ponto de partida para a reflexão proposta pelo

estudo. Além desses, o modelo de Capitais do Conhecimento para empresas na

Sociedade do Conhecimento desenvolvido pelo CRIE (Centro de Referência em

Inteligência Empresarial) da UFRJ também foi analisado, devido a sua relevância ao

tema.

7.1 SECI

Nonaka et al (2001) representou em um modelo as transformações pelas quais o

conhecimento passa ao ser gerado. O que, por sua vez, é primordial se entender ao se

pensar em gerir o conhecimento em uma organização.

Pouco mais de uma década antes de Nonaka (1994), Priogine (1980) descrevera o

processo de criação de conhecimento como sendo um processo contínuo, em termos de

uma transcendência que se repete ciclicamente e onde o conhecimento antigo supera

suas barreiras ao se deparar com novos contextos e informações. De maneira

semelhante, Nonaka et al (2001) representa um modelo que até hoje é uma das mais

consistentes ferramentas para se analisar os processos de conhecimento em qualquer

organização. O modelo é constituído de três elementos que interagem entre si:

Page 47: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

34

O processo “SECI (Socialization, Externalization, Combination and

Internalization), que leva em conta as conversões de conhecimento em tácito e

explícito e suas características

O “Ba”, que é o contexto e ambiente comum onde se dá a criação de

conhecimento

Os “Ativos do conhecimento”, que são os fatores moderadores do processo,

incluindo suas entradas e saídas.

Figura 3 - Ciclo do conhecimento Fonte: Adaptado de Nonaka (2001)

O processo SECI explicita então as formas com as quais as conversões de

conhecimento se dão e ao se observar o modelo como um todo fica fácil perceber que o

cerne do mesmo são justamente as conversões. Ao se perceber nos dias atuais a natureza

exponencial do crescimento de processos de reprodução da informação e conhecimento,

conclui-se que um modelo que enxergue suas etapas de conversão de maneira integral e

de maneira mutuamente dependente seria bastante razoável. Assim, ao se pensar em

entende-las para melhor gerir as transformações do conhecimento em uma organização,

se encontraria benefícios em se escolher um modelo que leve em consideração as

interações entre diferentes aspectos de maneira cíclica.

Page 48: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

35

Nonaka et al (2001) descreve o SECI como um processo onde o conhecimento

entra em ciclo, passando por cada uma das partes, se amplificando a cada etapa. Para

uma melhor visualização dessa constante amplificação em um contexto organizacional,

seria ideal, na realidade, que se extrapolasse a visão do processo como um ciclo à uma

espiral. O ciclo em si é composto por quatro etapas, que se repetiriam em cada volta da

espiral:

Figura 4 - Ciclo do conhecimento,

Fonte: Adaptado de Nonaka & Takeuchi, 1997

7.1.1 SOCIALIZAÇÃO

A socialização representa, no modelo de Nonaka & Takeuchi (1997), as interações

pessoais entre diferentes indivíduos de dentro ou fora da organização. Através dessas

interações, ocorre a troca, acúmulo e coleta de conhecimentos tácitos. Devido à natureza

de contexto extremamente pessoal do conhecimento tácito, essa é a maneira mais

natural em que ele seja transmitido de um indivíduo a outro (NONAKA et al, 2001).

Diversos autores fazem analogias a esse tipo de interação comparando-o às

corriqueiras “Conversas de bebedouro”, por exemplo. Gestores buscando opiniões

dentro da firma, treinando sua equipe a partir de suas experiências ou realizando

reuniões com profissionais da área que atuam em outra organização, são todos exemplos

dessa transformação de conhecimento tácito para tácito.

Entretanto, nesse ponto da compreensão de modelos para a análise de processos

de geração de conhecimento, é primordial manter em mente que dois agentes nunca

chegarão a disposições e estados de conhecimento idênticos (BOISOT, 2002), ou seja,

Page 49: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

36

com essa troca e transmissão de conhecimentos tácitos são gerados novos

conhecimentos, com novos contextos, uma vez que o que é transmitido nunca será

absorvido de maneira idêntica pelo receptor devido a ruídos de informação, sempre

presentes em um ambiente real de passagem de informação e ainda mais nessa etapa

onde o conhecimento está pouco codificado (NONAKA et al, 2001).

7.1.2 EXTERNALIZAÇÃO

A externalização representa a articulação de conhecimento tácito em explícito

(NONAKA & TAKEUCHI, 1997). Essa transcrição de conceitos só existentes em um

contexto e visões pessoais não trata apenas de “escrever a ideia no papel”. De fato, a

transcrição em papel representa a criação de um código que futuramente será de fácil

distribuição e amplamente acessível, entretanto reside justamente na criação de um

conceito a chave para se compreender a externalização.

Com isso em mente, vemos que o uso de metáforas e analogias exercem um papel

importantíssimo na externalização (NONAKA & TAKEUCHI, 1997). Na sua esfera

mais básica, o processo de articulação de um conhecimento tácito em explícito começa

ao se criar um conceito a partir de uma analogia ou metáfora para que se crie assim um

modelo de como se entender a ideia. Percebe-se frequentemente a presença de

metáforas nas atividades de ensino, sejam elas informais ou em instituições

educacionais. Ao se transformar conceitos complexos em exemplos mais simples e de

maior tangibilidade à mente do receptor, o aprendizado se dá de maneira mais eficaz.

“A essência de uma metáfora é entender e experimentar um tipo de coisa em termos de

outra” (LAKOFF & JOHNSON, 1980).

Dessa forma a transformação de um conhecimento tácito em explícito segue

primordialmente duas etapas: reconhecimento de padrões (que podem surgir ao se

deparar dois contextos diferentes) através de metáforas e a síntese de analogias a partir

desses padrões (NONAKA & TAKEUCHI, 1997). Assim, de um modo geral, o

conceito chave da externalização é a codificação do conhecimento tácito, que começa

primordialmente com metáforas e analogias.

7.1.3 COMBINAÇÃO

A combinação representa, no modelo de Nonaka & Takeuchi (1997) a conversão

de um conhecimento explícito recém-formado em conjuntos mais complexos e

Page 50: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

37

sistematizados de conhecimento explícito. É nessa parte do processo SECI que a parte

de TI tem grande participação, é através delas que essa sistematização em escala da

informação e conhecimento se dará.

A combinação se refere a coleção de diversas informações e fontes de

conhecimento de diferentes partes e sua alocação a um contexto específico para a

sintetização de um produto de tema específico. É a combinação de conhecimentos

explícitos de diversas fontes que se dá diversas vezes através de plataformas de TI

(NONAKA E TAKEUCHI, 1997).

Normalmente, o ciclo de combinação se dá em uma de três esferas: Aquisição e

Integração, Síntese e Processamento e o Esfacelamento (NONAKA et al, 2001). A

aquisição e integração se dá quando gestores buscam e “mineram” dados e informações

e integram esses ao conhecimento explícito, transformando-o em algo mais complexo.

A síntese e processamento é o enquadramento que se daria quando os agentes criam

manuais, documentos de melhor conduta e banco de dados através de uma compilação

de conceitos encontrados dentro da organização. O Esfacelamento seria o

enquadramento direcionado à quebra de conceitos macro em múltiplos micro, tornando-

o mais aplicável a níveis operacionais e, assim, mais complexo.

7.1.4 INTERNALIZAÇÃO

A internalização representa, por sua vez, a etapa de incorporação do conhecimento

explícito em tácito, concebida como sendo o “aprender ao fazer” (NONAKA E

TAKEUCHI, 1997). Trata-se de transformar o conhecimento descrito em código em

conhecimento contextualizado e adaptado às visões pessoais do agente. A criação de

modelos mentais individuais a partir de manuais e documentos com instruções de

treinamento gera um acúmulo de conhecimento tácito, além disso, como citado

anteriormente, através de simulações e experimentos é também possível internalizar

conhecimentos explícitos.

Exemplos de processos de internalização são facilmente identificados ao se

observar agentes que estimulam a prototipagem e o benchmarking intraorganizacional.

Ao se experimentar e criar modelos práticos os indivíduos estão internalizando os

códigos e conceitos explícitos em modelos mentais e incorporando esse conhecimento a

sua base tácita pessoal.

Page 51: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

38

7.1.5 CONCLUSÕES SOBRE O SECI

O modelo SECI criado por Nonaka & Takeuchi (1997) e posteriormente

aprofundado por Nonaka et al (2001) descreve de maneira bastante detalhada a

característica exponencial” da criação de conhecimento. Exponencial, pois se pode

observar que as velocidades e “coeficientes” de criação de conhecimento vão

aumentando conforme o ciclo de quatro etapas vai se repetindo. Isso porque o

conhecimento, ao passar pelas etapas, se torna mais complexo do que era anteriormente

e essa complexidade facilita novas agregações nas próximas etapas, uma vez que, como

descreveram Nonaka & Takeuchi (1997), as pessoas estão mais propensas a

compartilhar conhecimentos que estão claros e sem ambiguidades do que aqueles de

natureza menos trabalhada.

Assim, ao se ter em mente este modelo, é possível saber quais atividades e onde

as procurar ao se buscar incentivar e melhorar a geração de conhecimento. O suporte a

essas quatro atividades já seria um grande passo no avanço na busca de uma melhor

gestão do conhecimento em qualquer organização.

7.2 ESPIRAL DO SECI

A descrição do processo SECI de criação de conhecimento através de um modelo

cíclico seria mais acurada em um contexto individual, entretanto, em uma organização

esse processo se inicia no nível individual e logo avança, ampliando suas comunidades

de interação, cruzando novas fronteiras (como departamentos e organizações) em um

processo em espiral (NONAKA & TAKEUCHI, 1997). De uma forma geral, o ciclo do

SECI se ampliaria de forma espiral abrangendo toda a organização e multifacetando

suas interações. Segue uma visualização gráfica da Espiral de Conhecimento.

Page 52: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

39

Figura 5 – Espiral do conhecimento

Fonte: Adaptado de Nonaka & Takeuchi (1997)

Pode-se observar que a espiral do conhecimento representa a subida de níveis

organizacionais do processo cíclico da geração de conhecimento. Dessa forma, fica

claro o potencial exponencial da geração de conhecimento, caso seja bem sustentada e

incentivada.

Apesar de que muitas vezes o processo da Espiral do SECI possa se iniciar de

maneira natural, existem condições ideais que fariam com que a espiral se mantivesse

de maneira mais eficaz possível. Para a criação do conhecimento através da espiral do

conhecimento possa ocorrer de maneira ótima, é necessário que exista um conjunto de

condições (FIDALGO, 2012). Segundo Nonaka & Takeuchi (1997) são cinco as

condições essenciais para o sucesso do processo de aprendizado através do ciclo e

espiral de conhecimento:

7.2.1 INTENÇÃO

Fortemente relacionado a cultura e a estratégia organizacional, o conceito de

intenção está ligado ao incentivo ao pensamento coletivo, fomentando compromissos

entre os funcionários, com o intuito de gerar um ambiente propício para as trocas

necessárias do ciclo e posterior espiral (NONAKA E TAKEUCHI, 1997). O conceito se

Page 53: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

40

relaciona intimamente com direcionamentos bem definidos do alto escalão hierárquico

repassados para os agentes.

7.2.2 AUTONOMIA

De maneira análoga ao conceito de intenção, a busca por um aprimoramento da

autonomia dos funcionários seria essencial no que tange a criação de um ambiente nas

melhores condições para a geração do conhecimento, uma vez que a autonomia aumenta

a possibilidade do indivíduo se motivar para criar novos conhecimento através de novas

iterações no ciclo, uma vez que ideias originais têm origem em indivíduos autônomos,

difundindo-se dentro das equipes e transformando-se então em ideias organizacionais

(FIDALGO, 2012). Conciliando-se autonomia ao incentivo do compromisso coletivo,

se obtém uma combinação com grande potencial de impulsionar as trocas do SECI e

assim a espiral do conhecimento.

7.2.3 FLUTUAÇÃO E CAOS CRIATIVO

Flutuação, nesse caso, se refere ao fato de uma baixa solidez no que tange as

premissas estratégicas adotadas pela organização e que regem sua ordem organizacional

em relação ao ambiente externo. De uma maneira geral, essa flutuação faz com que

sejam postas em dúvida todas as questões básicas no que tange o ambiente externo a

organização e a possibilidade de questionamento de premissas cria oportunidades para o

aparecimento de novos conceitos e por conseguinte estimula a criação de conhecimento

organizacional (FIDALGO, 2012).

O caos criativo, de forma análoga, permite e de certa forma força redefinições de

problemas e de conceitos para que se passe a resolução de problemas. Por outro lado,

caso não haja uma reflexão aprofundada quanto a cada passo que se aufere na

redefinição de problemas e conceitos durante o caos criativo, é provável que ele se

direcione, ao contrário do esperado, para o caos destrutivo (FIDALGO, 2012).

7.2.4 REDUNDÂNCIA

O sentido de redundância, como colocado por Nonaka & Takeuchi (1997), não

deve ser confundido com a simples repetição de informação, o que é tomado

acuradamente como desperdício e apenas ruído no que tange informações relevantes.

Redundância, nesse caso, se refere, na realidade, a um complemento da informação,

Page 54: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

41

fazendo-a não só completa a nível explícito, mas também passando o que é relevante a

nível tácito, expressando também aspectos que não estariam explicitados normalmente.

É, de certa forma, uma sobreposição de informações feita intencionalmente com o

objetivo de disponibilizar também aspectos tácitos do que quer ser transmitido.

Além disso, o conceito de redundância também se relacionaria a definição de uma

codificação comum para os agentes que estariam envolvidos nos processamentos dessa

informação. Esse campo comum seria essencial para facilitar as transformações cíclicas

do SECI, visto que simplificaria as interpretações e traduções de diferentes tipos de

codificações que podem se tornar presentes com as interações que cada agente acaba

realizando.

7.2.5 VARIEDADE DE REQUISITOS

A combinação de informações de uma forma diferente, flexível e rápida e do

acesso às informações em todos os níveis da organização podem melhorar em muitas

situações o desempenho organizacional (NONAKA & TAKEUCHI, 1997). Deveria

existir internamente à organização uma diversidade informacional e em diferentes níveis

que correspondesse à complexidade do ambiente (FIDALGO, 2012). Assim, percebe-se

que a importância da variedade de requisitos se dá, em grande parte, em relação ao

objetivo de possibilitar tomadas de decisões mais congruentes com o complexo

ambiente externo.

7.3 BA – CONTEXTO COMPARTILHADO

O Ba é definido como sendo o contexto no qual o conhecimento é compartilhado,

criado e utilizado, em outras palavras, onde o SECI ocorre e onde acontecem tanto a

parte cognitiva quanto a parte ativa do aprendizado (NONAKA et al, 2001).

Para a movimentação na espiral do conhecimento, iniciada pelo SECI, o Ba é

fundamental, uma vez que dele proveem a energia, qualidade e lugares físicos para a

performance das conversões individuais necessárias par ao movimento da espiral

(NONAKA 2001, apud NONAKA & KONNO, 1998). Assim, esse ambiente representa

tanto a parte contextual e de modelos interpretativos quanto a parte física em que as

transformações do conhecimento se desenvolvem. Tal ambiente sempre será parte chave

dos processos de geração de conhecimento e, assim, deve se ter especial atenção em

suas características e disposições.

Page 55: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

42

Algumas pesquisas sobre a geração e gestão do conhecimento focam em maior

escala em indivíduos, levando em consideração que o aprendizado se dá de forma mais

individual, dentro da mente de cada agente envolvido (NONAKA et al, 2001) e por isso

o local e contexto desses processos é unicamente a mente do receptor. Por outro lado, ao

se enxergar o aprendizado como algo compartilhado entre os agentes, como Nonaka et

al (2001) descreve, observa-se que a interpretação de localidade exclusivamente na

mente do agente que aprende é um tanto quanto simplista. O conceito de Ba apresentado

por Nonaka et al (2001) define um contexto compartilhado, onde cada ação e interação

dos participantes molda o mesmo, de maneira alinhada com o construtivismo, que por

sua vez limita as interpretações do conjunto dos agentes ao mesmo tempo que permite

uma visão mais ampla do que a de cada indivíduo em separado, em uma espécie de

design ontológico, conceito segundo o qual o agente molda o ambiente e o ambiente o

molda em retorno.

Figura 6 – BA

Fonte: Adaptado de Nonaka (2001)

Observa-se certa similaridade da definição de Ba por Nonaka et al (2001) com as

de Comunidades de Prática de Wenger & Snyder (2000) apresentados anteriormente. As

especificações necessárias para a construção de uma Comunidade de Prática são

análogas às limitações que acabam se impondo sobre o Ba no que tange o

compartilhamento de contexto, uma vez que são ambas definidas pelo histórico, tipo de

atividades e cultura dos indivíduos e organização onde atuam. De forma paralela o

Page 56: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

43

ambiente descrito pelo conceito de Nonaka et al (2001) se assemelha com as

Comunidades de Prática no que tange ser um ambiente tanto físico quando contextual

onde as interpretações individuais participam na criação do contexto compartilhado e

criam os limites para a troca de conhecimentos que procederá.

7.4 O MODELO I-SPACE

O conhecimento poderia ser enxergado como um estoque de expectativas e

disposições para agir de determinada maneira ao se receber informações externas

(BOISOT, 1998) e o aprendizado nada mais seria que uma mudança nesses estoques.

Ou seja, o aprendizado mudaria o nível desses estoques ao ponto de que se passasse a

prestar atenção em algo que antes não se prestava. Por exemplo, hoje em dia as pessoas

têm um acesso mais fácil e constante a questões ambientais do que há algumas décadas

e como resultado se passou a dar mais atenção a eventos relacionados. Dessa maneira, o

aprendizado pode mudar os níveis desses estoques tanto para mais quanto para menos,

ou seja, aprendizado envolve tanto adquirir novos conhecimentos quanto abandonar

antigos de maneira a adaptar o intelecto às necessidades em constante mudança sem que

haja uma sobrecarga de informação (BOISOT, 1998).

Considerando as mesmas definições estabelecidas anteriormente, o modelo de

Boisot (1998) considera que o processo de geração de conhecimento começa com a

identificação de um novo possível padrão entre os dados, ou seja, quando a informação

é identificada. Mais precisamente, o aprendizado social ocorreria quando as mudanças

no estoque de conhecimento de um ou mais agentes incorressem em um “efeito

dominó” que provocaria mudanças em vários outros agentes na população (BOISOT,

1998).

Tendo provocado essa sequência de mudanças em diversos agentes, o ciclo se

iniciaria, porém a chave para compreender o fechamento e recomeço do ciclo está em

compreender que a forma como cada indivíduo internaliza a mudança em seus estoques

de conhecimento, levando em conta seus contextos pessoais, culturais faz com que

surjam novos significados e interpretações para aquela mudança provocada

anteriormente (BOISOT, 1998). Dessa forma, após consolidar-se, através de testes e

codificação, essa nova forma de diferença de estoques estaria pronta para ser repassada

novamente, criando novas “oportunidades para aprendizado” e recomeçando o ciclo.

Page 57: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

44

Observa-se, dessa forma, que sua visão de aprendizado não incluiria apenas a

difusão de conhecimento (ou a diferença em seus estoques) através da população, mas

também uma devida internalização desse conhecimento, o que não deixa de ser uma

transformação através de certas etapas para que o mesmo chegue ao ponto no qual seja

mais natural e fácil transmiti-lo. Segue uma adaptação do modelo de três dimensões de

Boisot (1998) para uma melhor visualização do ciclo e suas etapas, onde cada dimensão

do plano representa características do conhecimento que vão se transformando com o

ciclo.

Figura 7 - Ciclo de aprendizagem social (I-Space)

Fonte: Adaptado de Boisot (1998)

Page 58: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

45

7.4.1 ETAPAS DO CICLO I-SPACE

O modelo de Boisot (1998) expressa o ciclo de aprendizado através de seis etapas

distintas, como representado no modelo:

1 Exploração: Etapa de identificação de oportunidades de aprendizagem entre as

diversas formas de sinais e informação presentes entre os dados captados, que

por sua vez são normalmente complexos e sua pouca codificação dificulta a

localização das oportunidades.

2 Resolução de Problemas: Etapa que sucede a exploração, seu processo envolve

de estruturação e codificação da informação localizada na etapa de exploração

que possui o potencial de se tornar conhecimento, dando uma forma sólida ao

potencial conhecimento.

3 Abstração: Trata-se da etapa de generalização, trazendo o conhecimento a seus

níveis conceituais mais essenciais, buscando ampliar a gama de aplicabilidade

do mesmo ao máximo.

4 Difusão: Etapa onde ocorre a difusão do conhecimento entre diferentes agentes

da população. Importante relembrar que essa difusão se dará de maneira muito

mais complexa e dificultada caso os dados não estejam bem codificados e

estruturados e ainda mais se forem destinados a um contexto específico. Um

contexto compartilhado pode ajudar a difusão do conhecimento, de maneira

análoga ao Ba de Nonaka et al (2001).

5 Absorção: Processo que descreveria basicamente a transformação de explícito

(formato de fácil transmissão) para tácito. Descrito como o aprender ao fazer, é a

aplicação dos conceitos difundidos em situações reais e com o passar do tempo

essas aplicações geram características não codificadas ao conhecimento que

auxiliam o indivíduo a aplica-lo de maneira mais natural a diversas situações.

6 Impacto: Ocorrendo em uníssono com a absorção, a etapa de impacto descreve

a prática com o conhecimento absorvido, criando ligações conceituais sólidas

entre o mesmo e artefatos, técnicas, regras e comportamentos.

Page 59: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

46

7.4.2 CONCLUSÕES SOBRE O I-SPACE DE BOISOT

O modelo de Boisot tem seu foco voltado para a importância da codificação e

estruturação adequada dos insights ou mudanças nos estoques de conhecimento para sua

posterior difusão a outros indivíduos. Ao se pensar no contexto de uma instituição de

ensino superior, se poderia concluir que técnicas e ferramentas que auxiliem esse

tratamento da informação para sua melhor estruturação no caminho para se tornar um

conhecimento concreto seriam pontos chave para o suporte ao processo de

aprendizagem.

7.5 MODELO SENSE-MAKING DE CHOO

O modelo sense-making busca representar, de maneira mais geral, os processos

onde os indivíduos de uma organização se utilizam da experiência, fatos passados e

pontos de referências para construir redes de significados organizacional (CHOO, 1996)

e suas consequências relacionadas a tomada de decisões a partir dessa rede de conceitos

criados. Esses processos teriam três fases distintas, como ilustrado no modelo a seguir.

Figura 8 – Modelo Sense-Making

Fonte: Adaptado de Choo (1996)

Page 60: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

47

7.5.1 CONSTRUÇÃO DE SENTIDO

A primeira etapa do processo estaria relacionada a parte da percepção da realidade

organizacional (hierarquia, visão da empresa, interesse dos clientes) e realidade externa

observada pelos indivíduos da organização (FIDALGO, 2012). Quando uma

organização decide em quais princípios ela acredita em relação à GC, ela pode então

criar metodologias mais detalhadas baseadas nessa visão comum (DAVENPORT,

1996). A partir dessa consolidação de um sentido no que tange interpretações do

ambiente e sinais externos, um modelo de ponto de vista organizacional quanto a

diversos aspectos é estabelecido a partir de uma síntese dessas definições.

7.5.2 CRIAÇÃO DE CONHECIMENTO

A fase definida como Criação de conhecimento se assemelha muito com os

conceitos propostos por Nonaka (1997). Se trataria da transformação do conhecimento

pessoal e tácito ao ser passado entre os indivíduos, tanto internos quanto externos a

organização, que por sua vez permitiria que a organização desenvolvesse novas

competências e capacidades, criando novas definições, agregando valor às existentes e

aprimorando processos organizacionais (FIDALGO, 2012 apud CHOO, 1996)

7.5.3 TOMADA DE DECISÃO

Por fim, a parte de tomadas de decisão seria a representação do momento de

definições de caminhos que a organização tomaria, tendo em mente todas as alternativas

e consequências levantadas anteriormente.

Quando confrontada com um mundo altamente complexo, a mente constrói

modelos mentais dessa realidade e tenta trabalhar e decidir dentro desse modelo

(FIDALGO, 2012). Assim a construção de sentido e o conhecimento criado nas fases

anteriores seriam o apoio para essa derradeira fase, servindo então como os modelos

mentais aos quais as decisões se apoiarão.

7.6 PRINCÍPIOS DE DAVENPORT

Davenport (1998) levanta que, após anos acompanhando empresas que

começavam a tratar da gestão do conhecimento de maneira intra-organizacional, alguns

princípios recorrentes foram observados e, segundo o autor, estes seriam uma boa base

Page 61: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

48

para se ter uma lente de premissas para se enxergar o planejamento de implementações

da Gestão do Conhecimento. O autor descreve o princípio e as experiências das

organizações com o progresso quanto ao mesmo. Dentre eles, se destacam:

7.6.1 O CUSTO DA GESTÃO DO CONHECIMENTO

A gestão eficaz do ativo conhecimento requer investimentos em outros tipos de

ativo (DAVENPORT, 1998), desenvolvendo mecanismos que permitam:

Captura de conhecimento, como criação e digitalização de documentos e

relatórios

Agregação de valor ao conhecimento, através de edição, agrupamentos,

categorizações e refinamentos

Infraestrutura de TI e outras aplicações que permitam a distribuição do

conhecimento

Educação dos funcionários quanto a criação, compartilhamento e uso do

conhecimento

A criação de toda uma estrutura, que contenha todos os mecanismos listados a

cima, é certamente custosa. Grandes empresas como a Buckamn Laboratories e a

consultoria McKinsey estimam gastar 7 e 10%, respectivamente, de suas rendas anuais

na gestão de capital intelectual (DAVENPORT, 1998). Entretanto, o custo de

oportunidade de se perder o controle dos tipos de conhecimento que os funcionários

têm, de não se poder responder prontamente a demandas de clientes por falha no acesso

rápido ao conhecimento organizacional é muitas vezes fatal no mercado dinâmico que

se observa hoje em dia.

7.6.2 SOLUÇÕES HÍBRIDAS DE PESSOAS E TECNOLOGIAS:

Apesar do advento da Inteligência Artificial e das evoluções no campo do

“Aprendizado de Máquina”, as organizações que desejam gerir de maneira eficaz o seu

conhecimento precisam de uma grande dose de trabalho humanos (DAVENPORT,

1998).

Davenport (1998) defende que o homem seria essencial para o processo de criação

de conhecimento, uma vez que para certas atividades, como a interpretação de

Page 62: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

49

contextos, combinação de informação e a síntese de diferentes estruturas e formas de

conhecimento “o homem seria a melhor ferramenta” (DAVENPORT, 1998, p.3).

Percebe-se nessa reflexão a analogia com os ciclos de conhecimento modelados por

Nonaka & Takeuchi (1997).

7.6.3 A GC COMO ATIVIDADE POLÍTICA

Conhecimento é poder, dessa forma não deveria ser surpresa a ninguém que a

gestão do mesmo viria acompanhada de um alto teor de atividades políticas

(DAVENPORT,1996). As governanças que tangem os aspectos da gestão do

conhecimento em uma organização estão muitas vezes permeadas de diretrizes de

âmbito da alta gestão. Dessa forma, inciativas que possuem o intuito de otimizar a

forma com a qual o conhecimento é gerido na empresa como um todo deveriam estar

acompanhadas de direcionamentos vindo da alta gestão. “Uma iniciativa de gestão do

conhecimento em que políticas intra-organizacionais não estejam envolvidas

demonstraria fortes indicadores de que a organização não percebe agregação de valor

em seus processos de conhecimento” (DAVENPORT, 1996, p 5)

7.6.4 GESTORES ESPECIALIZADOS PARA A GC

Observa-se nas grandes organizações que recursos importantes como o trabalho e

capitais tangíveis possuem funções organizacionais especializadas para sua gestão. Ao

se passar a enxergar o conhecimento como um ativo intangível, poderia então concluir-

se que o mesmo não será bem gerido até que um grupo de recursos dentro da

organização passe a ter responsabilidade pelo trabalho (DAVENPORT, 1998).

Muitas grandes empresas de serviços profissionais de consultoria já possuem

funções especializadas em gestão do conhecimento e nas mesmas, além de grupos de

recursos com essa responsabilidade de gestão, existe também um “CKO” (Chief

Knowledge Officer) (DAVENPORT, 1998).

7.6.5 O COMPARTILHAMENTO DE CONHECIMENTO

Se o funcionário já enxerga o seu conhecimento como sendo valioso e importante

para sua carreira, por que ele o compartilharia? Se as ações de um funcionário,

realizadas com base em certos conhecimentos, definirão o seu futuro em uma empresa,

por que ele deveria se arriscar a usar outros senão o seu próprio? Depositar e repassar o

Page 63: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

50

conhecimento próprio em um sistema, buscando também o conhecimento de outros para

o uso não parece só ameaçador, como também requer bastante esforço (DAVENPORT,

1998). Logo, devem existir mecanismos que exercem motivação e incentivo suficiente

para que essas etapas ocorram.

Ao se trazer essa discussão, em específico, para o âmbito de instituições de ensino

se pode observar que ela retrataria o compartilhamento de uso entre agentes

pertencentes a ambos os lados da aprendizagem. Em outras palavras, se percebe que

esses obstáculos ao compartilhamento e uso seriam observados para tais atividades de

alunos entre si e de professores entre si.

Dessa forma, mecanismos que consigam incentivar e motivar, de maneiras

específicas para ambos os tipos de agentes (discentes e docentes), derrubariam as

barreiras para o compartilhamento e uso do conhecimento, o que seria essencial para

uma gestão do conhecimento adequada. A Buckman Laboratories, por exemplo, realiza

uma conferência anual para reconhecimento dos seus cem maiores compartilhadores de

conhecimento (DAVENPORT, 1998), estes tendo sido medidos por suas ferramentas de

escolha, podendo variar de números de relatórios produzidos a número de contribuições

a projetos de diferentes campos.

7.6.6 ACESSO AO CONHECIMENTO É APENAS O INÍCIO

“Se apenas o conhecimento ser acessível fosse suficiente, haveriam filas imensas

do lado de fora das bibliotecas” (DAVENPORT, 1998, p 9). Ou, de forma análoga, os

repositórios de conhecimentos das universidades (como as bibliotecas), também

estariam superlotadas. Feita a reflexão, se observa que engajamento e motivação

também são essenciais para que haja a apreensão do conhecimento e, assim, a

aprendizagem. Se é dito que a atenção é a nova moeda da contemporânea era da

informação (DAVENPORT, 1998).

Para que o acesso facilitado ao conhecimento tenha, de fato, afeito, é necessário

que o agente se torne mais do que um simples recipiente passivo (DAVENPORT,

1998). Tal engajamento envolveria, por exemplo, uma maior interação com os

fornecedores do conhecimento, através de relatórios e sumarizações dos processos de

aprendizagem. Empresas como a Toyota e a Nissan enviam, por exemplo, seus

designers para os Estados Unidos para que haja uma maior interação com segmentos de

Page 64: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

51

clientes através de fraternizações e assim o conhecimento tácito possa ser apreendido

(DAVENPORT, 1998).

Tais princípios, dentre os levantados por Davenport (1998) a partir de seus anos

de experiência observando projetos de gestão do conhecimento em empresas, possuem

muitos aspectos dos quais se poderia encontrar análogos no âmbito das instituições de

ensino superior e por isso serão muito úteis para o objetivo de formular um framework

para aplicações de GC em IE’s que o presente estudo se propõe.

7.7 CAPITAIS DO CONHECIMENTO

Tendo como base teórica as observações Sveiby et al (1998), Cavalcanti (2001)

estabelece, junto ao CRIE, um modelo através do qual se poderia enxergar os diferentes

tipos de capitais intangíveis de uma organização e, a partir do qual se poderia

posteriormente passar para a implementação de uma Gestão do Conhecimento.

O modelo de Capitais de Conhecimento apresenta quatro tipos diferentes, porém

intimamente relacionados e dependentes, de capitais intangíveis que devem ser

monitorados e gerenciados para uma efetiva Gestão do Conhecimento de uma

organização (CAVALCANTI, 2001).

Figura 9 – Capitais do Conhecimento

Fonte: Adaptado de Cavalcanti (2001)

Page 65: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

52

7.7.1 CAPITAL AMBIENTAL

A definição de Capital Ambiental proposta por Cavalcanti (2001) é relacionada

aos diversos fatores que constroem o contexto macroscópico da organização e que

permeiam todas as suas atividades relacionadas ao conhecimento. Tais fatores incluem

campos mais sociais, como nível de escolaridade, distribuição de renda e taxa de

natalidade da região onde a organização estaria inserida, aspectos legais, como

contextos legislativos governamentais e até condições financeiras do cenário onde a

organização se encontra, como nível de taxa de juros, mecanismos de financiamento,

entre outros (CAVALCANTI, 2001).

O aspecto mais importante da análise do capital ambiental de uma organização

seria a análise do seu alinhamento com a visão estratégica da empresa, que por sua vez

pode ser definida através de uma implantação de Inteligência Competitiva

(CAVALCANTI, 2001).

7.7.2 CAPITAL INTELECTUAL

Ao definir o Capital Intelectual, Cavalcanti (2001) levanta os aspectos de ativos

intangíveis que os colaboradores de uma organização possuem em relação aos

conhecimentos tácitos pertencentes a cada um dos mesmos. O Capital Intelectual é um

ativo intangível que pertence ao próprio indivíduo mas pode ser utilizado pela empresa

para gerar valor (CAVALCANTI, 2001).

Ao levantar direcionamentos necessários para gerir esse tipo de capital

adequadamente, Cavalcanti (2001) destaca primeiramente, a importância de se definir

competências essenciais. Assim como no caso do Capital Ambiental e a visão

estratégica da organização, as políticas de contratação e gestão de recursos humanos

devem estar alinhadas com essa visão de competências essenciais para que haja a

captação e retenção de capitais intelectuais essenciais para a organização.

Por sua vez, além de captar e reter seria necessário desenvolver internamente o

Capital Intelectual. Para tal, seria necessária a implantação de fóruns de discussão e

comunidades de prática, onde haja o compartilhamento de experiências e

conhecimentos (CAVALCANTI, 2001).

Page 66: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

53

7.7.3 CAPITAL ESTRUTURAL

O Capital Estrutural é definido por Cavalcanti (2001) como sendo o tipo de ativos

que definem toda a funcionalidade da organização, incluindo sistemas administrativos,

de informática, rotinas de proteção à marca, patentes, entre outros. Dessa maneira,

percebe-se que possui uma natureza tanto tangível quanto intangível, mas de âmbito

mais explícito do que tácito, uma vez que seria “tudo aquilo que fica na organização

quando as pessoas deixam o escritório e vão embora para casa” (CAVALCANTI, 2001,

p 59).

Fazendo uma analogia ao Capital Intelectual, o Estrutural é aquele que pode até

ser criado pelo funcionário, mas pertencerá a empresa, em outras palavras, algo que vem

primordialmente da concepção da empresa como agente e é absorvido e utilizado pelos

funcionários, não de maneira contrária. Fica então em certa evidência a necessidade de

se explicitar os ativos intangíveis que possam se encaixar nesse tipo de capital

organizacional, uma vez que para que seja algo inerente à empresa é necessário que

possa ser mensurado e valorizado de maneira razoável.

De maneira geral, Cavalcanti (2001) defende que para a gestão adequada deste

tipo de capital é baseada em definições de certos tipos de Capital Estrutural:

Definição do conjunto de processos chave da organização

Definição do tipo de estrutura organizacional

Definição dos instrumentos de gestão a serem utilizados

7.7.4 CAPITAL DE RELACIONAMENTO

Para Cavalcanti (2001) ao se falar de relacionamentos se remete à ideia de

conexões, individuais ou institucionais, que constituem as redes de ligações entre

diversos parceiros engajados em trocas deliberadas de estratégia, conhecimento e valor.

Dessa forma, o Capital de Relacionamento, estaria atrelado a ideia desses ativos

intangíveis que são os relacionamentos entre stakeholders, incluindo clientes,

fornecedores e parceiros. Tal tipo de capital é um dos mais importantes dentre os

levantados por Cavalcanti (2001), uma vez que “Entre as três grandes categorias de

ativos intelectuais – capitais humano, estrutural e do cliente – os clientes são os mais

valiosos.” (CAVALCANTI, 2001, p 59).

Page 67: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

54

Em relação a metodologias ótimas para sua gestão, Cavalcanti (2001) estabelece

que, de maneira análoga aos outros tipos de capital, o primordial seria definir, através da

visão estratégica da organização, os relacionamentos chave para o sucesso do negócio e

a partir dessa definição construir uma estratégia de relacionamento com cada um dos

agentes desses relacionamentos.

7.8 TABELA RESUMO DOS MODELOS

Tendo sido apresentado um número razoável de modelos de GC, segue uma tabela

com a descrição dos pontos chave, no âmbito da discussão quanto a aplicações da GC

ao ensino superior, dos mesmos:

Page 68: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

55

Modelo de Gestão do Conhecimento Ponto Chave

SECI/BA

As características das etapas cíclicas do processo de

geração do conhecimento e o ambiente contextual que

permeia e permite tais etapas são essenciais para o

entendimento e a gestão dos processos de geração de

conhecimento em uma organização.

I-SPACE

Modelo que busca também identificar etapas distintas

no aprendizado organizacional. O entendimento das

características do conhecimento em cada etapa do ciclo

de aprendizagem (como níveis de codificação e

difusão) é fundamental ao se analisar a geração de

conhecimento em uma organização.

SENSE MAKING

Definições contextuais da cultura da instituição,

compartilhamento seguido por construção de sentido

pelos agentes e tomada de decisão quanto ao que foi

criado são as grandes etapas que devem ser

identificadas e analisadas para uma gestão eficiente.

DAVENPORT PRINCIPLES

No que tange práticas de Gestão do Conhecimento, é

primordial não esquecer a importância da coexistência

de recursos tecnológicos, humanos e diretrizes de

influência que suportem a implementação. Pouco se

avançaria com escassez de um desses aspectos.

CAPITAIS DO CONHECIMENTO

Para a GC seria fundamental definir os tipos de ativos

de conhecimento e a maneira com a qual eles se

relacionam. De forma a facilitar o processo decisório

ao se deparar com situações específicas que envolvam

capitais intangíveis de naturezas distintas. A partir

dessa classificação e de uma definição estratégica

organizacional segundo cada um dos campos, o

alinhamento dos processos para GC poderá avançar.

Tabela 4 – Tabela Resumo dos modelos de GC apresentados

Fonte Elaboração Própria

Page 69: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

56

7.9 CONCLUSÕES

No capítulo apresentado foram expostos modelos de GC relevantes ao objetivo do

presente estudo. Tendo esses modelos em mente, será possível fazer uma comparação

com modelo levantado pelo ISKME (2003) e o que já se foi analisado em relação a

modelos de GC específicos para instituições de ensino superior.

Alguns outros modelos de avaliação de processos de troca de informação e

conhecimento serão também adotados nessa comparação. Estes serão brevemente

apresentados posteriormente, concomitantemente com a própria comparação.

8. COMPARAÇÃO ENTRE OS MODELOS

Uma comparação entre os modelos apresentados no capítulo anterior e o do

ISKME (2003) seria então razoável a fim de analisar se as premissas adotadas pelo

último, para implementações para o ensino superior, estariam alinhadas às premissas de

modelos consagrados da GC. Como síntese dessa comparação, espera-se primeiramente

verificar-se se o modelo ISKME (2003) está razoavelmente de acordo com premissas

básicas dos modelos de GC levantados anteriormente e também identificar quais

aspectos poderiam ser agregados ao seu escopo para que uma melhor congruência para

IES fosse alcançado.

Page 70: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

57

Modelo de Gestão do

Conhecimento Pontos análogos ao ISKME

SECI/BA

Apesar do pouco enfoque no processo cíclico de

transformação do conhecimento, observa-se no modelo

ISKME uma grande importância dada ao ambiente

contextual do aprendizado, análogo ao Ba de Nonaka (2001).

Levantando sistematicamente a importância de contextos

análogos aos das Comunidades de Práticas, por exemplo.

I-SPACE

O modelo ISKME não se atém à reflexão quanto a aplicações

que considerem o ciclo do conhecimento. Entretanto

percebem-se pontos chave levantados pelo mesmo que

seriam análogos a etapas do ciclo do I-Space de Boisot

(1998): difusão e exploração, por exemplo, seriam etapas

fortemente afetas caso se implantassem, respectivamente,

mecanismos de melhora para processos organizacionais que

lidam com o compartilhamento de conhecimento (como

padronizações de relatórios entre docentes) e plataformas

tecnológicas que controlassem e compilassem novos

conhecimentos de forma a facilitar a descoberta de novos

padrões.

SENSE MAKING

Percebe-se na interpretação de ISKME (2003) congruências

ao modelo de três etapas de Choo (1996) no que tange a

forma de interação entre as três etapas definidas por ambos

os casos. Apesar de não serem exatos análogos, as esferas de

Pessoas, Processos e Tecnologias acabam por interagir entre

si de maneira semelhante a que interagem a Criação de

Sentido, de Conhecimento e Tomada de Decisão. Tendo o

campo Pessoas como o grande direcionador assim como o de

Criação de Sentido e as outras duas esferas sendo suportadas

pela primeira.

Page 71: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

58

PRINCÍPIOS DE

DAVENPORT

Davenport (1998) aborda a discussão quanto às implantações

de GC observadas na época de seu estudo levantando

sistematicamente a importância de aspectos “humanos”

nessas aplicações, sejam eles direcionamentos políticos de

peso, alinhamento de cultura organizacional, ou sistemas de

incentivo aos agentes envolvidos. Essa observação da

essencialidade do apoio do recurso humano ao escopo

tecnológico em aplicações de GC é também recorrente no

modelo ISKME, onde constantemente se explicita casos

onde o foco tendeu para um dos pontos e isso levou a uma

eficácia prejudicada.

CAPITAIS DO

CONHECIMENTO

Dos quatro tipos de Capitais do Conhecimento levantados

por Cavalcanti (2001), os Capitais Intelectual e Estrutural são

aqueles de analogia mais clara com o modelo levantado pelo

ISKME (2003) no que tange as três principais frentes de

aplicações por ele levantadas. A frente de Pessoas estaria

intimamente relacionada ao Capital Intelectual e ao se pensar

nos Capitais Estruturais se observa similaridades importantes

com as definições dos campos de Processos e Tecnologia.

Por outro lado, se destaca a ausência de análogos diretos aos

Capitais Ambientais e de Relacionamento, o que poderia

indicar aspectos a serem desenvolvidos em um Framework.

Tabela 5 – Tabela de Comparação entre Modelos de GC

Fonte: Elaboração Própria

A partir dessas observações, observa-se que os conceitos apresentados pelo

ISKME, no contexto de um modelo de implementações, são congruentes com

pensamentos e conceitos de alguns dos mais importantes modelos de GC, o que

fundamentaria a escolha do modelo do instituto como base razoável para se iniciar uma

reflexão sobre aplicações práticas de GC em uma instituição de ensino superior. Além

disso, uma das premissas básicas levantadas pelo ISKME, a de que os campos de

Pessoas, Tecnologias e Processos devem ser tratados com igualitária importância e que

um dos grandes obstáculos ao sucesso de implementações de GC na educação é o

Page 72: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

59

exclusivo investimento em tecnologias sem preocupações com os direcionamentos

quanto a mesma, se mostra também real no mundo corporativo, como visto através das

observações apresentadas no capítulo 4. Visto que a grande impressão que se obtêm da

análise de estudos quanto a implementações de GC em empresas é de que a maioria das

organizações implantam apenas plataformas tecnológicas, e se esquecem do foco e

direcionamento à GC e tecnologias especializadas, se mantendo assim ainda nas

primeiras fases quanto a implementações de sistemas tecnológicos de GC (MAIER,

2002).

9. UM FRAMEWORK PARA IE’S

Após se ter definido o modelo ISKME como uma base razoável, certas questões

ainda devem ser levantadas antes de se finalmente definir um framework para

implementações de práticas de GC em busca de se agregar outros aspectos relevantes

que não tenham sido contemplados de maneira suficiente. Para essa reflexão é

interessante levantar que, seja qual for o tipo da organização em foco, existem certas

perguntas essenciais a serem feitas antes de se decidir implantar uma política de GC

(ROWLEY, 1998):

Qual é o objetivo central da gestão do conhecimento dentro da organização?

Quais são os níveis hierárquicos em que a gestão do conhecimento deve ser

considerada, e como ela pode ser executada em diferentes níveis?

Qual é o escopo da gestão do conhecimento em relação aos tipos de

conhecimento que ela deve abranger?

Quais são as tecnologias e as técnicas a serem empregadas na gestão do

conhecimento?

Quais papéis organizacionais são necessários para apoiar a gestão do

conhecimento, e quais são as competências associadas que os indivíduos e as

organizações precisam adquirir?

Observa-se que essas questões levantadas por Rowley (1998), de maneira direta

ou indireta, são também congruentes com o modelo definido pelo ISKME de trabalho

em três frentes principais: Pessoas, Tecnologias e Processos. Tendo Níveis Hierárquicos

relacionando-se com o aspecto de “Pessoas” do ISKME, Tecnologias e Técnicas com

Page 73: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

60

Tecnologia e Papéis Organizacionais com Pessoas e Processos ao mesmo tempo. De

forma a centralizar esses pontos Rowley (1998) levanta também os aspectos de

definições de Objetivo Central e Tipos de Conhecimento.

O conceito de Nonaka (1994) de uma empresa que gera conhecimento defende

que se deve fazer os insights individuais disponíveis para testes e uso pela empresa

como um todo. Empresas que geram conhecimento constantemente incentivam o

processo pelo qual o conhecimento pessoal é disponibilizado para outros (articulação)

para que eles o utilizem para estender sua própria base de conhecimento tácito

(internalização) (NONAKA E TAKEUCHI, 1997). Ao se pensar no direcionamento

defendido pelo ISKME, vemos um avanço nesse mesmo sentido no que tange a frente

de trabalho de “Processos”. Os conceitos de processos de articulação por Nonaka et al

(2001) e a de processos ISKME, por outro lado, demonstram algumas diferenças.

Observa-se em Nonaka et al (2001) um destaque a questão dos processos de maneira

correlacionada intimamente ao ambiente contextual da organização, algo não tão claro

pelo ISKME (PETRIDES & NODINE, 2003).

A GC está preocupada com a exploração e desenvolvimento de ativos de

conhecimento de uma organização, com vista a aprofundar e promover os objetivos da

organização também nesse escopo (FIDALGO, 2012), preocupação essa que se mostra

bastante razoável no contexto atual, visto que, para qualquer que seja a organização, o

valor do conhecimento é hoje o ativo mais decisivo na produção (DRUCKER, 1993),

(SVEIBY, 1998), (DAVENPORT & PRUSAK, 1998). Dessa maneira, aplicações de

GC envolveriam processos associados com a identificação, partilha e criação de

conhecimento. Para tal objetivo, sistemas para a criação e manutenção de repositórios

de conhecimento, e para incentivar e facilitar a partilha de conhecimento e

aprendizagem organizacional. As organizações bem-sucedidas na gestão do

conhecimento são propensas a ver o conhecimento como um ativo e desenvolver

normas e valores organizacionais que apoiem a criação e compartilhamento de

conhecimento (ROWLEY, 1998). Vemos então analogias com o modelo ISKME (2003)

em relação aos sistemas tecnológicos capazes de cultivar e facilitar as partilhas de

conhecimento.

Por outro lado, apesar do aspecto de Pessoas de ISKME (2003) levantar a

importância de diretrizes que valorizem o conhecimento, nada muito específico quanto

ao que seria essa visão do conhecimento como ativo é levantado.

Page 74: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

61

Com essas reflexões, fica claro que seriam necessárias certas adaptações ao

modelo usado como base a fim de avaliar as melhores premissas possíveis para

aplicações de GC a Instituições de Ensino Superior. Define-se então, após as passadas

reflexões, análises e adaptações de todos os modelos estudados, um framework final

para aplicações de GC em instituições de ensino superior e através dessa lente a

discussão a qual este estudo se propõe seguirá seu avanço, até chegar a características

mais específicas dessas possíveis aplicações. Utilizando os três aspectos básicos

(Pessoas, Processos e Tecnologias) levantados por ISKME (2003) de forma adaptada e

acrescentando uma quarta frente que se mostrou relevante, o framework se constituiria,

em suma, de alinhamentos em relação a:

Criação de repositórios de conhecimento

Melhoria do acesso ao conhecimento, tanto tácito como explícito

Aprimoramento o ambiente contextual pró-conhecimento

Gestão do conhecimento como ativo.

9.1 REPOSITÓRIOS DE CONHECIMENTO

Instituições de ensino superior são abundantes em potenciais repositórios de

conhecimento, desde bancos de dados financeiros corporativos e o banco de dados do

departamento de marketing até a biblioteca e coleções de documentos, ambos

eletrônicos e impressos, de propriedade da instituição. Estas várias bases de dados

fornecem acesso a diversos tipos de dados gerados internamente sobre as operações da

organização (tais como os registros dos alunos, ou ordens de fornecimento de refeições)

e externamente, como documentos e bases de dados externas publicadas, acessadas

através de bibliotecas, livrarias, na Internet e outros serviços on-line.

Em geral, às universidades, não faltam dados e repositórios de conhecimento, mas

poucas organizações têm uma coleção integrada de conhecimento, incorporada em um

ou em uma série de repositórios vinculados (ROWLEY, 2000). Um cenário onde cada

membro da comunidade universitária tem acesso ao conhecimento e às experiências de

outras pessoas na organização, de uma forma que seja ideal para atender às suas

necessidades em específico seria o mais vantajoso, apesar de complexo de se atingir. De

modo geral, um dos passos mais importantes ainda não está sendo dado, que é tornar

explícito os diferentes requerimentos e necessidades de conhecimento dos diferentes

Page 75: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

62

segmentos da comunidade universitária (ROWLEY, 2000). Algumas instituições já

avançaram, mesmo que de maneira tímida, nesse sentido ao criar bibliotecas virtuais

com informações agregadas entre departamentos, o que já ajudaria a identificar tipos de

requerimento.

9.2 ACESSO AO CONHECIMENTO

Dentro das instituições, redes, frequentemente com base na Internet, têm apoiado

a comunicação interna através do acesso a ferramentas como: e-mails, bases de dados e

documentos eletrônicos. A conexão através de sistemas como o e-mail tem facilitado o

desenvolvimento de ou comunidades de interesse “invisíveis” (análogas as

Comunidades de Prática), as que existem dentro das próprias instituições (WENGER &

SNYDER, 2000). Como outro exemplo, diversas organizações educacionais mundo a

fora já estão experimentando o armazenamento de seus documentos mais importantes e

de políticas em formato eletrônico, de forma a torná-los disponíveis através de sua

intranet ou mesmo online através de portais específicos em diferentes temas

(KIDWELL et al, 2001). De forma análoga, muitas das bibliotecas das grandes

instituições de ensino superior têm uma página Web que não só atua como uma

propaganda da organização, mas também pode oferecer links para fontes selecionadas

de informação, incluindo bases de dados e listas de peritos da instituição (ROWLEY,

2000).

Muitos fatores já começam a desafiar valores mais tradicionais no que tange o

acesso ao conhecimento. A crescente globalização das comunidades científicas,

juntamente com a volumosa emergência de jornais em formato eletrônico, vem

desafiando até mesmo velhas práticas de arbitrariedades em forma de revisões servem

como métodos de avaliação do conhecimento gerado, o que, em termos de alcance de

publicações, acabava por ser uma barreira. Tal mudança na relação dos processos de

aprovação e visibilidade de publicações vem, assim, dando maior espaço ao acesso a

mais diversificadas fontes de conhecimento (ROWLEY, 2000).

Se pode observar que no que em relação ao acesso ao conhecimento a tecnologia

mais uma vez possui papel importante, mas como visto anteriormente, os aspectos

humanos e de processos envolvidos não pode ser ignorado e possuem contribuições tão

importantes quanto.

Page 76: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

63

9.3 AMBIENTE PRÓ-CONHECIMENTO

A criação de um ambiente onde atividades de GC, como a criação do

conhecimento, sua transferência e uso deve estar ligada à adoção de normas e valores

organizacionais adequados no que tange informação e o posterior conhecimento

(NONAKA, 2001). Como levantado anteriormente no capítulo 8, os ambientes que

contextualizam a troca de conhecimento se formam de maneira natural, por outro lado,

barreiras também naturais normalmente se impõem e é principalmente na remoção

dessas barreiras contra as interações e no incentivo a práticas mais construtivistas que

reside o maior esforço de alinhamento quanto ao ambiente pró-conhecimento.

A maior forma de incentivo a uma mudança de cultura na educação superior são

os incentivos e o que mais se observa na estrutura de compensação no contexto de

ensino são sistemas de incentivos baseados na valorização de conquistas individuais em

pesquisa e carreiras institucionais (ROWLEY, 2000). Por um outro lado, o

compartilhamento é peça fundamental em qualquer forma de educação. Trabalhos em

equipe são bastante comuns em ambientes de pesquisa e, além disso, existem situações

onde acadêmicos de instituições que poderiam facilmente ser caracterizadas como

competidoras compartilham conhecimento (ROWLEY, 2000). Situações como essas

não são tão anormais em um cenário de múltiplas instituições públicas regidas por

órgãos públicos em comum. De uma forma, em se tratando de conhecimento, pode-se

dizer que a disseminação se faz necessária para o reconhecimento individual, algo de

relevante na caracterização dos tipos de incentivo que poderiam ser os mais eficazes na

construção de um ambiente contextual alinhado com uma cultura que suporte uma idéia

de Ba (NONAKA, 2001) e da formação de Comunidades de Prática (WENGER &

SNYDER, 2000).

Além disso, esses ambientes devem servir de suporte principalmente às fases de

socialização e internalização do ciclo do conhecimento, uma vez que são esses aspectos

os menos suportados pelo sistema tradicional de ensino que vê o discente como um

recipiente a ser preenchido. As salas de aula possuem naturalmente um grande potencial

para serem esse tipo de ambiente, logo devem ser direcionadas nesse sentido. Por outro

lado, com a crescente viabilização de ambientes virtuais, se deveria analisar atentamente

o surgimento de novas oportunidades que possam agregar aos processos de

aprendizagem em instituições de ensino superior.

Page 77: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

64

Observando-se o ambiente macroscópico no qual as IES estão inseridas, percebe-

se que os novos paradigmas estão influenciando até mesmos as estruturas que

permeavam os sistemas de incentivo e reconhecimento anteriores. O crescente número

de comunidades globais, juntamente com o aparecimento de diversos jornais

eletrônicos, cujo formato desafias as antigas regras de revisão e validação de

publicações, se mostram fatores com grande potencial de mudar a maneira como as

Comunidades de Conhecimento operam a nível global (ROWLEY, 2000). Percebe-se

então que aplicações de GC no âmbito microscópico de cada IES deveriam estar

alinhadas com o sentido dessas mudanças específicas do ambiente contextual global ao

serem implantadas.

9.4 VALORIZAÇÃO DO CONHECIMENTO

A questão do tratamento de bens intangíveis, financeira e estrategicamente, como

ativos vem se amplificando e ramificando. Diversos autores, como Nakamura (2001),

demonstraram o quanto se perde no planejamento e leitura de cenários ao não se

considerar bens intangíveis em apontamentos financeiros, tanto no âmbito quanto no

internacional. A desconsideração de gastos em intangíveis (como treinamento de

pessoal, P&D, compra de software) como sendo investimentos tem também

consequências muito negativas para o planejamento de organizações e países. Os

contadores são incapazes de medir o Capital Intelectual de uma empresa e esse tesouro

escondido é hoje o que realmente importa em uma sociedade em constante ebulição

(JOIA, 2001). Tal situação vem trazendo à cena metodologias e modelos que prometem

ao menos lançar uma luz à problemática.

Luiz Antônio Joia (2001) levanta a reflexão da complexidade de se medir o ativo

conhecimento, que se comporta contra a Lei de Marshal de retornos decrescentes,

concluindo que uma quantificação monetária não seria tão útil. Assim, Joia (2001)

define que uma boa razão para se analisar a valorização dos capitais intelectuais, em

especial o conhecimento, seria a razão entre Valor de Mercado (M) e Valor Contábil (C)

(JOIA, 2001). Assumindo que:

VALOR DE MERCADO = VALOR CONTÁBIL + CAPITAL INTELECTUAL

Page 78: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

65

Assim se perceberia que quando esta razão fosse maior do que um se observaria

que o capital intangível seria maior do que zero para esta organização. Com essa

relação, se teria que quanto mais conhecimento a empresa possui, maior o valor da

razão M/C seria (JOIA, 2001). As proporções assumidas por Joia (2001) para a análise

do Capital Intelectual e o conhecimento nas empresas seguiriam a imagem conceitual

abaixo:

Figura 10 – Taxonomia do Capital Intelectual

Fonte: Adaptado de Joia (2001)

As análises individuais de cada um dos aspectos desse mapa conceitual seriam

desenvolvidas a partir de uma relação básica entre a Estratégia da Organização e seu

Capital Intelectual. Posteriormente um modelo heurístico para a avaliação do mesmo

seria aplicado juntamente com um modelo para a classificação dos tipos mais

específicos que compõem o Capital Intelectual. Finalmente, se poderia analisar

historicamente as variações na razão M/C e compara-las aos índices de relações entre a

Estratégia da organização e seus capitais e compõem o Capital Intelectual. Essa

comparação levaria a uma avaliação sólida dos ativos intangíveis da empresa (JOIA,

2001).

Em um escopo macroscópico, no âmbito de um país, observando-se a

quantificação de ativos intangíveis, como o conhecimento, como bens de um país,

Scoreboards como o European Union Innovation Scoreboard (EUIS) foram criados

com o principal objetivo de uma releitura de cenários levando em conta aspectos que

possam estar servindo como drivers de inovação e sua metodologia segue aspectos

Page 79: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

66

interessantes. Divido em três vertentes o EUIS foca seu escopo em Habilitadores,

Atividades de Firmas e Índice de Inovação. As três áreas correspondem basicamente

aos:

1. Drivers que incentivam as firmas à inovação

2. Atividades das firmas e organizações no país que por sua vez geram outputs

3. Resultados diretamente relacionados à inovação.

Exemplos como esses demostram que apesar de um assunto bastante complexo,

ainda mais se tratando de possíveis quantificações numéricas, modelos para medições

de bens intangíveis começam a serem criados e estudos desses modelos podem

certamente ser feitos para aplicações em relação ao conhecimento em contextos mais

específicos, como seria o caso de uma Instituição de Ensino Superior.

9.5 CONCLUSÃO PARCIAL

É inegável que a educação superior faz parte do chamado “mercado do

conhecimento”. Suas atividades centrais, geração, troca e disseminação de

conhecimento, são justamente os grandes alicerces dos grandes projetos de gestão do

conhecimento.

Ao se observar o caminho já trilhado pelas pioneiras nas aplicações de GC no

mercado do conhecimento, como apresentado nos capítulos anteriores, fica claro que as

áreas de acesso e repositórios estão bem desenvolvidas e possuem o grande apoio das

tecnologias de informação para se lançarem cada vez mais a frente. Por outro lado, os

outros dois elementos chave do framework estabelecido, criação de ambiente pró-

conhecimento e gestão do mesmo como ativo, ainda deixam lacunas para progresso.

Apesar dos ganhos a se agregar com a GC serem evidentes, uma implementação eficaz

pode envolver mudanças drásticas da cultura, valores e sistemas de incentivo da

organização. Nesse ponto, o balanço entre os poderes políticos da organização e as

intenções do projeto de implementação seria crucial.

Por outro lado, no caso de IES, como universidades, por exemplo, já existe um

nível significativo de atividades de GC inerentes ao seu meio e é importante reconhece-

las e usá-las como base para o desenvolvimento, ao invés de inventar um novo

paradigma, o que geraria diversas complicações (ROWLEY, 2000). Assim, o ideal para

Page 80: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

67

implementações de GC em Instituições de Ensino Superior seria uma anterior definição

de um framework a ser usado como lente através da qual se poderia realizar uma

reflexão sobre as metodologias de GC de forma adaptada às atividades e limitações já

inerentes à Universidade.

Chega-se então a conclusão de que seria razoável estabelecer o framework se

utilizando dos pontos em comum entre os modelos estudados e onde alinhamentos

moldados pela GC seriam os mais úteis para instituições de ensino superior, sendo eles:

Tecnologias para criação e manutenção de repositórios de conhecimento;

Melhorias dos processos que envolvem o acesso ao conhecimento tanto de

fontes tácitas (pessoas) quanto explícitas (informação codificada);

Valorização do conhecimento, no sentido de quantificar, para a instituição, sua

importância;

Criação de um ambiente contextual pró-conhecimento, com uma política

focada em aprimorar o engajamento dos recursos humanos envolvidos.

Figura 11 – Ilustração do Framework desenvolvido

Fonte: Elaboração própria

10. CONDIÇÕES PARA A PRÁTICA

Afim de progredir na reflexão sobre a viabilidade de um framework de GC

aplicável a IES’s e já tendo, através da pesquisa bibliográfica realizada, confirmado tal

aplicabilidade, o estudo passa então a uma definição de práticas que, caso realizadas,

poderiam comprovar, através de resultados mensuráveis, a utilidade das ferramentas de

Page 81: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

68

GC em IES’s. Devido a limitantes relativos ao tempo e complexidades de estudo, será

escolhida para análise apenas uma ferramenta e uma IES e curso específicos, sendo a

primeira escolhida caso sua aplicabilidade seja a que traga maiores resultados para a

IES e curso escolhidos, no maior número possível de frentes de trabalho segundo o

framework levantado anteriormente.

A Instituição escolhida será a Escola Politécnica da UFRJ e em mais específico o

curso de Engenharia de Produção, uma vez que os dados e recursos são mais acessíveis

e já existe certo conhecimento tácito e empírico do autor quanto a mesma. De forma a

verificar se a instituição escolhida possui características que permitam resultados

relevantes para uma implementação de GC em seu escopo de ensino, será realizado um

levantamento quanto a esse aspecto.

A discussão realizada pelo presente estudo apontou uma grande complexidade em

uma das quatro frentes de trabalho que teria uma implementação de Gestão do

Conhecimento em IES’s. Uma melhoria da gestão do conhecimento como ativo requer

trabalhos aprofundados na instituição envolvendo direcionamentos administrativos e

institucionais, o que por sua vez demandaria tempos extensos de acompanhamento que

o presente estudo não comporta. Ao se trazer a reflexão para o curso de Engenharia de

Produção da UFRJ, essas premissas se mantêm verdadeiras e percebe-se que as frentes

viáveis de trabalho que poderiam ser testadas através de alguma prática real seriam as

de: “Criar repositórios de conhecimento com o suporte de tecnologias de informação”,

“Melhorar os processos que permeiam o acesso ao conhecimento” e “Criar um ambiente

contextual pró-conhecimento”.

10.1 COMPATIBILIDADE DA IE ESCOLHIDA

Tendo em vista todos os aspectos em comum dos modelos de GC estudados,

conclui-se que alguns requisitos seriam essenciais para uma aplicação de suas

ferramentas. Foi observado diversas vezes no levantamento bibliográfico que a questão

do contexto cultural organizacional, incluindo tanto pessoas quanto processos é fator

chave, tão importante quanto a base tecnológica.

Nesse escopo, a estrutura organizacional do curso de Engenharia de Produção se

mostra, a princípio, bastante satisfatória. Com responsáveis da coordenação envolvidos

diretamente com projetos permeados por temas congruentes com a GC como análise

sistêmica, gestão da inovação, sistemas complexo e adaptativos e a própria GC, entre

Page 82: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

69

outros, o cenário cultural da organização se apresenta, a priori, apto a uma abertura

alinhada ao que seria o ideal para se aplicar à GC pelos envolvidos nos processos de

gestão do curso.

Em relação à base tecnológica, tão importante quanto a cultura, alguns aspectos

básicos são também essenciais. Ian C. Reid (2000) defende que os seguintes aspectos

são imprescindíveis para uma aplicação de GC em qualquer que seja a instituição de

ensino superior:

Uma rede universal consistente de troca de mensagens;

Plataforma de software padronizada tanto para o staff quanto para os estudantes;

Uso de Recursos Humanos, através de dados históricos dos estudantes, para

gerar relatórios unificados sobre estudantes e staff;

Disponibilidade dos relatórios sobre os históricos dos alunos e staff em

plataformas web de fácil acesso a todos

Ferramentas de TI que façam a transformação e passagem de documentos e

materiais em papel para suas versões digitais

Ao se comparar essas premissas com a realidade observa-se que o curso de

Engenharia de Produção dispõe de quase todos os aspectos necessários da base

tecnológica ideal levantada por Reid (2000). Se valendo do Polimail como rede para

troca de mensagens, do SIGA como plataforma de geração e disponibilização de

relatórios, o curso utiliza bem as ferramentas disponibilizadas pela Escola Politécnica

nesse aspecto. Por outro lado, ferramentas de TI para a migração de documentos físicos

à sua versão digital e uma disponibilidade de relatórios mais completos e específicos

seriam pontos a serem reforçados. Tais itens seriam relativos ao reforço dos aspectos de

Repositórios de Conhecimento e Acesso ao mesmo tempo. Esta reflexão pode ser

importante ao se pensar nos pontos a se trabalhar para um modelo de GC aplicável e útil

ao curso de Engenharia de Produção da UFRJ.

Levando-se em conta essas principais premissas necessárias, pode-se concluir

que, caso reforçados os pontos destacados de aspecto tecnológico e que de fato os

membros, já em contato com temáticas, de certa forma, alinhadas com a GC, se

envolvessem de forma a permear a cultura do incentivo e apoio a tais práticas, uma

Page 83: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

70

implementação de um modelo de GC seria aplicável no curso de Engenharia de

Produção da UFRJ.

10.2 DEFINIÇÃO DO ESCOPO PARA A PRÁTICA

Resta então detalhar, em ainda mais um nível a aplicação, buscando então a

ferramenta específica que poderia ser utilizada. Tendo os aspectos a serem abordados

em mente e analisando a estrutura tecnológica da Politécnica da UFRJ como sendo

satisfatória para aplicações no âmbito da GC, percebe-se que uma opção razoável para a

escolha da ferramenta a ser utilizada para a prática relacionada ao modelo levantado

seria a de uma plataforma tecnológica alinhada com a GC. Uma vez que a mesma

poderia cobrir de maneira suficiente os três âmbitos desejados: repositórios, acesso e

ambiente contextual. Tal conclusão se dá a partir da análise das definições de funções

de Sistemas de Gestão do Conhecimento levantada por Maier (2002) que destaca três

diferentes tipos de funcionalidades para tais sistemas:

Funções Integrativas, relacionadas a codificação do Conhecimento

o Busca e apresentação de Conhecimento

o Aquisição, publicação e organização de Conhecimento

o Treinamentos baseados na informática

o Administração da codificação

Funções Interativas, relacionadas a personalização do Conhecimento

o Comunicação e cooperação quanto ao Conhecimento

o Tele-aprendizado (e-learning)

o Administração da personalização

Funções Conectivas, relacionadas à conexão entre os outros dois tipos de

função, fechando o gap.

Em busca de um ainda maior detalhamento, definindo também o tipo específico

de ferramenta tecnológica que poderia ser a ideal para uma aplicação prática no caso em

estudo, observa-se em Maier (2002) uma lista das plataformas de TI mais utilizadas em

aplicações de GC em empresas:

Page 84: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

71

Estruturas Intranet: Provendo uma funcionalidade básica para comunicação,

assim como armazenamento, troca e busca por dados e documentos

Sistemas de gestão de documentos e conteúdo: Tais plataformas gerem

documentos eletrônicos ou conteúdos baseados na rede durante seus ciclos de

vida inteiros

Sistemas de gestão de Workflow: Suporte a processos organizacionais bem

estruturados e gerem a execução do fluxo de trabalho

Sistemas de Inteligência Artificial: Suporte de buscas a dados, criação e

comparação de perfis, textos e Web mining.

Sistemas de inteligência corporativa: Suporte aos processos analíticos que

transformam dados organizacionais e de mercado em conhecimentos alinhados

com objetivos da organização (como análise de KPI’s).

Groupware: Suporte a gestão de tempo, discussões, reuniões, grupos de trabalho

e workshops dentro da organização.

Sistemas de e-learning: Tais sistemas oferecem conteúdo especificamente

criado para o aprendizado de colaboradores de maneira interativa e assim sendo

um suporte aos processos de aprendizado na organização.

É importante ressaltar que, no contexto de definições de sistemas de TI é de suma

importância se levar em consideração a aderência do mesmo aos processos inerentes a

organização em questão, ainda mais se tratando dos cenários atuais de processos cada

vez mais dinâmicos. E para se progredir nesse quesito, a componentização de sistemas

norteada pela gestão de processos é uma opção razoável (CAMEIRA et al., 2003). No

que tange a escolha de Sistemas de Gestão do Conhecimento adequados a instituição

(MAIER, 20002), caso fosse possível a componentização seria também viável a escolha

de partes granulares das TI’s envolvidas, de forma a montar uma solução mais

“orgânica” e que impactasse de maneira menos brusca e demorada, na implantação, os

modelos processuais da organização (CAMEIRA et al., 2003).

Nesse contexto, a experiência do autor com o curso de Engenharia de Produção e

o contato com membros operacionais e de gestão do mesmo trouxe à atenção a já

existência e disponibilidade de uma plataforma de e-learning do tipo Moodle, o

PoliMoodle, que por sua vez se apresenta como uma TI razoavelmente modular e

customizável quanto às suas ferramentas (CERVEIRA, 2011) e que poderia, assim,

Page 85: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

72

possibilitar uma componentização adequada ao modelo processual da Instituição

escolhida. Além disso, a disponibilidade de tal plataforma seria um grande indicativo

de que o ideal para o experimento teórico seria um enfoque na sua utilização mais

alinhada a fins de criar o experimento com resultados mensuráveis desejáveis.

O Moodle abrange de forma ampla as esferas viáveis de aplicação na IES

escolhida, tendo ferramentas de repositório, acesso e criação de ambiente contextual

adequado. A criação de pastas para diversos tipos de arquivo e a organização dos

mesmos por assuntos, entre outras, são ferramentas que cobrem a função de repositório

de conhecimento. Acesso em rede e com possibilidades de integração com outros

sistemas de gestão das organizações, além de ferramentas de busca dentre os tópicos e

pastas da plataforma apoiam o aspecto de melhorias no acesso ao conhecimento. Por

fim, a criação de fóruns, chats para discussões e espaço para tópicos com

disponibilização de quaisquer tipos de arquivo são base para que se possa construir um

ambiente contextual que fomente a criação condições análogas à definição de

Comunidades de Prática (WENGER & SNYDER, 2000) e o Ba de Nonaka et al (2001).

Além disso, o Moodle apresenta a possibilidade de instalação de plug-ins

personalizáveis, que podem vir a adequar quaisquer um desses três aspectos a demandas

mais específicas. Ademais, a passagem do controle de aspectos do processo de

aprendizagem ao indivíduo que aprende tem mostrado resultados positivos no que tange

a eficiência da aprendizagem (CHOU & LIU, 2005) e plataformas de e-learning como

o Moodle permitem essa passagem de controle ao aluno.

Além disso, observa-se um alinhamento dos objetivos buscados no PoliMoodle

através do Framework levantado com os objetivos gerais levantados por Maier (2002)

para Sistemas de Gestão do Conhecimento, como ilustrado no quadro abaixo:

Page 86: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

73

Objetivos de Sistemas de Gestão do

Conhecimento por Maier (2002)

Objetivos do Framework levantado

buscados através do PoliMoodle

Geração, compartilhamento e aplicação do

Conhecimento

Criação de repositórios de conhecimento para

os cursos com as ferramentas de

armazenagem básicas do Moodle;

Localização de profissionais especializados e

redes informais de pessoas

Melhoria e facilitação do acesso a conteúdos

específicos através do acesso online e da rede

de colega de classes nos fóruns;

Criação e troca de conhecimento em redes e

comunidades Criação de um ambiente contextual análogo,

com sessões de discussões e troca de

informações através dos fóruns, chat e wiki

que permitam as trocas de conhecimento de

maneira ideal (Ba, Comunidades de Prática)

Aumento da capacidade dos colaboradores em

entender as relações entre o conhecimento,

pessoas e processos

Tabela 6 – Tabela Comparativa de Sistemas de GC

Fonte: Adaptado de Maier (2002)

Além disso, para Filippidi et al (2010) um sistema eficiente de gestão do

aprendizado (Learning Management System) deve cobrir com excelência dois aspectos:

encurtar a distância entre o aluno e o material didático e possibilitar, no mesmo

ambiente, interações sociais. Plataformas como o Moodle enfocam justamente esses

dois aspectos.

Ainda por cima, a já existência da plataforma facilitaria muito o experimento uma

vez que ela já está implementada, restando então apenas:

Avaliar o estado atual de capacidades e utilização da plataforma;

Levantar pontos a serem aprimorados de forma a alinhar seus objetivos;

Definir formas de analisar resultados no escopo da GC que uma utilização plena

da plataforma poderia trazer.

Seguindo essa temática, o experimento buscará condições para testar se o

PoliMoodle, enquanto ferramenta de base tecnológica alinhada com premissas da GC

levantadas, seria de fato uma opção adequada ao curso de Engenharia de Produção

trazendo benefícios no médio e longo prazo.

Page 87: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

74

11. ENTREVISTAS COM MEMBROS DA IE

Com a validação da possibilidade de se aplicar o modelo de GC e em especial a

ferramenta, do tipo E-learning, PoliMoodle para Ensino Superior representado no

presente estudo pelo curso de Engenharia de Produção da UFRJ e um tendo escopo

definido, questionários de escopo qualitativo foram então realizados para levantar tanto

a situação atual da utilização do PoliMoodle, quanto a abertura que os docentes e

discentes atualmente possuiriam em relação à expansão e maior alinhamento de sua

utilização no curso de Engenharia de Produção e suas diferentes disciplinas.

Foram entrevistados: cinco docentes, o responsável pelo PoliMoodle na Escola

Politécnica da UFRJ e chefe do STI (Secretaria de Tecnologias de Informação da Escola

Politécnica além de sessenta e quatro discentes do curso de Engenharia de Produção. A

amostra de docentes escolhida foi uma amostra não-probabilística, uma vez que para

que se pudesse realizar a quantidade de entrevistas necessárias para uma amostra

probabilística seria necessário um tempo maior do que o escopo do estudo permitiria e

foram entrevistados todos aqueles que encontraram disponibilidade para responder às

perguntas. Apesar das limitações que uma amostra não probabilística pode trazer,

devido ao contexto dos docentes entrevistados, supõe-se que suas respostas refletem

razoavelmente as concepções dos agentes envolvidos em aspectos de gestão do curso de

Engenharia de Produção, no que tange o objetivo almejado para o estudo. A

amostragem de alunos acabou por seguir as mesmas limitações.

As entrevistas e questionários realizados se encontram no apêndice do estudo.

Parte-se então às análises dos resultados das mesmas quanto aos três principais aspectos

levantados anteriormente.

11.1 UTILIZAÇÃO ATUAL PELOS DOCENTES

As perguntas direcionadas aos docentes foram formuladas pensando-se em

perceber a concepção dos mesmos quanto a importância dos aspectos de GC pré-

definidos pelo presente estudo para então seguir levantando suas opiniões quanto ao

potencial que uma plataforma virtual teria para cumprir tais papéis e por fim captar as

opiniões sobre o PoliMoodle em específico e sobre sua situação atual de utilização no

curso de Engenharia de Produção.

Page 88: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

75

11.1.1 IMPORTÂNCIA DOS ASPECTOS DE GC

Em geral, todos os docentes destacaram a importância dos aspectos pré-definidos:

criação de repositórios de conhecimento, um acesso facilitado aos mesmos, além de

criar um ambiente contextual que incentive a socialização e outras interações

importantes para a geração do conhecimento.

Entretanto, em relação ao último ponto, o da socialização oriunda de um

ambiente contextual adequado, as opiniões divergiram dentre os docentes. O que mais

se observou foram remarcações de que, na maioria dos casos, a discussão dentro de

classe é tudo que se utiliza nesse sentido e que discussões extraclasses seriam

complicadas, dependendo de temas que sejam adequados, de disponibilidade de tempo

extraclasse por parte do professor e, quanto a este último aspecto, foi até mesmo

levantada uma reflexão sobre a mudança cultural por parte dos alunos, motivada por

diversas razões, que os compele a permanecer no campus apenas o tempo necessário

para presenciar as aulas, fato que vem acabando com os estudos em grupo, por exemplo,

que já seriam um modo de discussão extraclasse, mesmo que sem mediação.

11.1.2 DISPONIBILIZAÇÃO ATUAL

Em relação aos tipos de utilização atual da tecnologia, três dos cinco docentes

entrevistados já utilizam o PoliMoodle como plataforma para repositório de

conhecimento e acesso, o restante se utiliza, majoritariamente, de emails para envio de

informações e materiais relevantes à disciplina.

No caso dos docentes que usam emails para o compartilhamento de materiais e

como meio de acesso aos mesmos, as entrevistas e a experiência do autor revelaram que

na maioria dos casos essa metodologia se dá através da definição de um ponto focal (um

aluno é escolhido como representante) a partir do qual se estabelece a ligação entre

docente e discentes na disciplina. Esse ponto focal se torna então o responsável pela

passagem de informações e o principal meio de contato com o professor.

Tal metodologia possui razoáveis vantagens, como a regulação da passagem de

demanda ao professor, que consegue agregar melhor as demandas fora de horário de

aula, uma vez que na maioria das vezes o ponto focal escolhido aguarda ter um conjunto

de demandas razoável antes de contatar o professor. O que seria diferente se todos os

alunos tentassem contatar o docente por si próprios assim que qualquer demanda

surgisse. Por outro lado, esse modelo pode gerar uma sobrecarga de responsabilidade ao

Page 89: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

76

ponto focal e criar limitantes para as demandas do resto da turma caso o ponto focal

venha a ter limitações por motivos maiores (horários de indisponibilidade, problemas

técnicos com o email).

Quanto aos professores que já utilizam atualmente o PoliMoodle como repositório

e meio de acesso, as revelações foram bem positivas quanto ao retorno obtido em

relação a tais objetivos. Em primeira instância, as informações gerais, como datas de

entregas de trabalhos, de provas e cronograma da matéria, quando divulgadas de forma

centralizada e de acesso universalizado, teriam gerado menos problemas relacionados a

discursos de acesso não disponibilizado por parte dos discentes, o que, por outro lado,

pode até vir a gerar, indiretamente, um obstáculo na adoção por parte desses. Quanto ao

restante de materiais, o tipo de disponibilização varia, conforme as entrevistas e a

experiência do autor revelaram. Alguns docentes, ao utilizarem o PoliMoodle,

disponibilizam não apenas materiais didáticos relevantes à disciplina, como livros-texto

(permitidos por direitos autorais), mas também trabalhos antigos e até provas antigas e

resolvidas. Outros não se sentem tão a vontade de fazer o mesmo, uma vez que as novas

vertentes culturais levariam a um conformismo e inércia por parte do alunado que

poderia acabar por apenas copiar informações de avaliações antigas ao invés de estuda-

las e refletirem para uma nova síntese.

Contudo, um ponto se manteve o mesmo com todos os entrevistados. No que

tange a utilização atual do PoliMoodle, não se utiliza as ferramentas de fórum de

discussões ou de chat da plataforma para o incentivo da socialização dentro do escopo

da disciplina, algo que se mostra válido como tema a ser explorado.

Por outro lado, de maneira unânime, os professores entrevistados identificaram

um grande potencial de eficácia para uma plataforma, como o Moodle, que agregasse

ferramentas de repositório de conhecimento e facilitador de acesso, ainda mais em

tempos de recorrentes mudanças e atualizações nos conteúdos, desde que a utilização da

mesma fosse amigável para ambas as partes, sem onerar, especialmente, o tempo

extraclasse do docente. O ponto de divergência foi, novamente, a questão da utilização

de tal plataforma como meio de discussões extraclasse sobre temas da disciplina, alguns

revelaram que não acreditam que algo nesse sentido fosse de qualidade análoga às

discussões em sala de aula, outros levantaram a questão de que tais tipos de demanda

onerariam em excesso o recurso de tempo extraclasse, já escasso, do professor, que

precisaria mediar as discussões e responder dúvidas fora do horário e além disso foi

Page 90: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

77

levantado o ponto de que não seriam todos as disciplinas que teriam temas para os quais

tais discussões seriam benéficas.

11.1.3 EXPERIÊNCIAS E OBSTÁCULOS DE IMPLANTAÇÃO

Os professores entrevistados que já utilizam atualmente o PoliMoodle destacaram

de maneira positiva o processo de aprendizagem na utilização e adoção. Um deles

apontou a importância de um curso de utilização da plataforma que completou

anteriormente à implantação nos seus cursos na Politécnica, além do curso junto ao STI

de utilização do PoliMoodle que é disponibilizado pela UFRJ. Quanto a esse curso, os

professores que já adotaram a plataforma o apontaram, em sua maioria, como sendo

plenamente suficiente, ao menos no que tange a utilização do PoliMoodle como

repositório de conhecimento.

Por outro lado, todos os professores que já utilizam o PoliMoodle sinalizaram,

direta ou indiretamente, que para a possível utilização das ferramentas de Fóruns, Chat

ou wiki, um novo treinamento teria que ser feito, o que seria um indicador que um curso

nesse contexto seria benéfico ao incentivo à utilização dessas ferramentas na

plataforma.

Além disso, foi também levantado que, por vezes, determinadas ferramentas de

gestão por parte do professor não se encontram disponibilizadas da maneira mais

amigável, como por exemplo o controle de alunos inscritos na disciplina e a

possibilidade de adicionar ou retirar alunos do módulo. Isso se tornaria um percalço

pois com o passar dos semestres, caso alunos não sejam retirados, a plataforma começa

a ficar congestionada com demasiados alunos inscritos. Foi também, por vezes,

levantado que as próprias funções de criação de fóruns e suas ferramentas de gestão não

são tão facilmente acessíveis.

Apesar desses pontos de dificuldade observados, foi destacado pelos entrevistados

que o apoio do STI é eficaz e que a porventura falta de suporte se atrelaria antes a não

existência da iniciativa de buscar auxílio e aprofundamento por parte dos professores

que ao nível de serviço prestado pela equipe de apoio. Válido de destacar que a equipe

responsável pelo PoliMoodle possui, atualmente, apenas dois profissionais dedicados a

plataforma em questão, além de outras. Tal escassez de recursos de suporte a plataforma

seria algo importante a se considerar como limitante para possíveis acréscimos no

escopo de serviço prestado ou outras considerações no mesmo contexto.

Page 91: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

78

11.1.4 INFLUÊNCIAS NA ADOÇÃO

As respostas ao questionamento quanto a que obstáculos estariam enfrentando

outros professores e alunos para a adoção do PoliMoodle se mostraram levantamentos

interessantes e bastante razoáveis para explicar a baixa utilização da plataforma no

curso de Engenharia de Produção, que atualmente possui em torno de 34 matérias

inscritas, mas apenas menos da metade destas estão atualizadas de maneira razoável (em

se considerar datas de atualização conforme o último semestre).

Ao se pensar na questão da adoção por outros docentes, foram dois os principais

aspectos levantados que poderiam ser a explicação para uma baixa adoção. A maioria

dos entrevistados revelou que a plataforma não é bem divulgada na instituição, o que

levaria ao desconhecimento da mesma por parte de grande parte dos docentes. Foi

também levantado que não apenas informar sobre a existência do PoliMoodle seria

importante, mas também um “marketing” da sua utilização. Um dos professores, que

ainda não adota a plataforma, até mesmo sugeriu que a campanha incluísse aulas

demonstrativas que poderiam ser realizadas no início do semestre para as disciplinas

interessadas, uma vez que para esse período, normalmente, se possui maior flexibilidade

de tempo e assim a demonstração das ferramentas e potenciais atingiria tanto os

docentes como os discentes em sala. De uma maneira geral, os mestres indicaram que

uma melhor “venda” do PoliMoodle seria bastante benéfico e trataria da falta de

divulgação do mesmo.

O segundo grande motivador da baixa adoção por parte dos docentes e apontado

pelos mesmos é uma certa inércia natural que os professores enfrentariam ao se deparar

com decisões de mudar suas metodologias de ensino. Tal inércia adviria de motivadores

bastante racionais, uma vez que uma metodologia de sala de aula é algo desenvolvido

com o passar do tempo e de maneira gradual, de forma que uma mudança, até certo

ponto radical, enfrentaria uma natural resistência pois fugiria do ritmo e ordem do

processo de construção de metodologia de trabalho. A própria relação de custo e

benefício dessa mudança é algo que acirra essa inércia, uma vez que o recurso tempo

dos docentes é muitas vezes escasso, de forma que benefícios que investimentos de tal

recurso poderiam trazer são profundamente avaliados.

A visão dos obstáculos que os alunos enfrentariam para adotar o PoliMoodle foi

um ponto um pouco mais divergente entre os docentes. Alguns apontaram uma barreira

Page 92: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

79

cultural como sendo uma das grandes responsáveis por uma possível baixa adoção da

plataforma (nos casos em que ele é disponibilizada), pois os discentes já estariam

habituados a metodologia normativa, onde haviam mais margens para manobras no que

tange alegações de não recebimento de informações (como datas de entrega ou matérias

de prova) do que haveriam em um modelo que adotasse uma plataforma integradora, ou

seja, uma barreira contra uma percebida perda de liberdade. Entretanto, outros

sinalizaram que não observam quaisquer tipos de barreiras de parte dos estudantes, pois

os mesmos já viveriam em um cenário onde a utilização de tecnologias digitais se funde

cada vez mais a atividades do cotidiano, de forma que com um mínimo de incentivo a

adoção já se daria de forma natural.

11.2 UTILIZAÇÃO ATUAL PELOS DISCENTES

Devido a sua diferente natureza (uma visão paralela do uso do PoliMoodle), o

questionário realizado com sessenta e quatro discentes conteve perguntas que se

diferenciavam das realizadas com os professores, mas os objetivos centrais

permaneceram. Em primeira estância foi levantada a possível existência de uma

demanda por melhores condições de acesso a informações da disciplina fora do horário

de aula, tentando perceber como tais consultas são feitas atualmente e se tais métodos

são suficientes. Posteriormente se tenta levantar a visão dos alunos quanto a utilidade de

uma plataforma virtual como ferramenta de repositório, acesso e ambiente contextual

para as disciplinas e ao fim se buscou identificar a opinião dos entrevistados quanto ao

PoliMoodle em específico e a abertura a seu uso.

11.2.1 IMPORTÂNCIA PERCEBIDA E DISPONIBILIZAÇÃO

Um resultado muito importante e que já serve como justificativa para a toda a

discussão é de que apenas 3% dos alunos entrevistados disseram não consultar

informações das disciplinas fora do horário de aula, o que significa que um meio

otimizado para essa consulta seria benéfico para a maioria absoluta do grupo.

Daqueles que consultam informações fora do horário, 52% já acessam

plataformas virtuais para tal, o que representaria certa abertura para esse tipo de acesso.

Além disso, 86% dos alunos entrevistados disseram que consultam amigos via e-mail

ou telefone para ter informações sobre suas disciplinas ao passo que 36% dessa mesma

amostra revelou que consulta professores fora do horário de aula pelos mesmos meios e

Page 93: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

80

para o mesmo objetivo. Tal análise se mostra razoavelmente realista, visto que, por

experiência do autor, grande parte das disciplinas de Engenharia de Produção se apoia

em um sistema onde há a definição de um aluno como representante de turma, que

acaba por ser o ponto focal de passagem de toda e qualquer informação, via e-mail,

relativa à disciplina, essa seria a razão pela qual a grande maioria consulte informações

através de colegas de classe. Essa análise pode demonstrar que o intenso fluxo de

informação observado apenas entre discentes pode vir a acumular perdas de informação,

uma vez que a fonte de consulta (os próprios alunos) é propensa a perdas ou acesso

limitado a informação completa (casos de falta do aluno ou indisponibilidade). Observa-

se que para esse caso poderia ser benéfico uma unificação da informação em uma

plataforma, retirando a responsabilidade dessa disponibilização da mão dos alunos.

Os questionários revelaram, como mostra o gráfico abaixo, que, em termos de

notas de 1 a 5, 40% dos discentes enxergam como sendo razoável (nota 3) a atual

disponibilização de materiais, de forma extraclasse, pelos professores das suas

disciplinas.

Por outro lado, ainda mantendo a escala de notas, 80% desses mesmos alunos

revelaram que seu rendimento melhoraria muito (nota quatro) ou extremamente (nota

cinco) caso uma plataforma virtual fosse adotada como ferramenta de disponibilização

de materiais e discussões para suas disciplinas, como demonstra o gráfico a seguir.

Figura 12 – Gráfico de Percepção de Eficiência da Disponibilização Extraclasse atual

Fonte: Elaboração Própria

Page 94: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

81

11.2.2 EXPERIÊNCIAS E OBSTÁCULOS DE USO

Dos alunos que participaram do levantamento todos já tinham ouvido falar do

Moodle e apenas três nunca o haviam utilizado, desses três, dois revelaram que

utilizariam a plataforma para acesso a informação e discussões sobre a disciplina. Dos

que já utilizaram, 98% o fez na UFRJ (PoliMoodle) e desses, 13% também utilizou em

intercâmbio, havendo apenas um aluno só utilizado no intercâmbio. Tal composição

revela que as opiniões dos participantes seriam válidas para avaliar as características do

PoliMoodle em si, uma vez que grande parte de suas experiências foi com a plataforma

da Escola Politécnica.

Em relação a utilização da plataforma, em termos de notas de 1 a 5 quanto a

complexidade do aprendizado ao uso da tecnologia (sendo a menor nota relacionada a

baixa complexidade), 64% dos participantes revelou que o aprendizado à mesma foi

pouco ou muito pouco complexo e outros 29% revelou ter sido razoavelmente

complexo, como indicado na figura a seguir.

Figura 13 – Gráfico de Percepção de Potencial Melhoria de Desempenho com Uso de Plataforma Virtual

Fonte: Elaboração Própria

Page 95: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

82

Ainda nesse contexto, foram então levantadas dificuldades específicas que teriam

sido observadas pelos discentes ao tentar utilizar a plataforma. Entretanto, apenas 29%

dos entrevistados citou ter encontrado alguma dificuldade específica, ou seja, além da

curva de aprendizado.

Se tratando dos alunos que revelaram terem encontrado dificuldades específicas,

foram levantados os tipos de dificuldades enfrentadas. O gráfico a seguir representa essa

categorização dos tipos de dificuldades levantadas pelos usuários.

Figura 14 – Gráfico de Percepção da Complexidade quanto ao aprendizado para se usar a plataforma

Fonte: Elaboração Própria

Page 96: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

83

Dos problemas relatados, 46% se referiam a questões relacionada à interface do

PoliMoodle, ou seja, a maneira como estariam dispostas as ferramentas, organização de

botões e áreas de acesso, dificuldade em personalização da conta e o próprio layout da

plataforma. Em um geral, os alunos levantaram que a interface não é muito intuitiva e

isso dificultaria o uso ótimo das ferramentas disponibilizadas.

A problemática trazida pela falta de uma maior adoção, entre alunos e professores,

foi levantada por 17% dos alunos que identificaram dificuldades específicas no uso do

PoliMoodle. O número reduzido de alunos que utilizam a plataforma acaba por limitar

os potenciais para discussões e utilização do fórum. De maneira análoga, o baixo

número de professores que o utilizam gera também limitações na criação de hábitos e

aprendizado entre os alunos, uma vez que não existe tanto incentivo para dominar o uso

das ferramentas.

No quesito de dificuldades técnicas encontradas, diversos pontos interessantes

foram levantados pelos 21% dos alunos que identificaram problemas desse tipo. A falta

de integração com o SIGA, que já tinha sido citada anteriormente por um dos

professores entrevistados, foi um dos pontos identificados como sendo um gap técnico

da plataforma que traria dificuldades ao atual uso do PoliMoodle. Tal integração

serviria para, automaticamente, inserir os alunos inscritos nas matérias em seus

respectivos cursos do PoliMoodle, não requerendo mais uma senha de acesso, como é

Figura 15 – Gráfico de Tipos de Dificuldades Específicas encontradas

Fonte: Elaboração Própria

Page 97: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

84

atualmente. Foi incluso comentário quanto ao sistema de uploads de arquivos, que foi

dito falhar por vezes, além disso, ainda quanto esse sistema, teria sido também

identificado um gap técnico quanto a atual impossibilidade de ser carregar

conjuntamente arquivos (para o caso de trabalhos em grupo). Foi também citado um

problema quanto ao funcionamento adequado do calendário do PoliMoodle, que não

permitiria a visualização adequada de meses sem ser o atual.

O outro tipo de obstáculos identificado foi um relacionado ao uso das ferramenta

do PoliMoodle empregado pelo professor, 17% dos alunos que identificaram problemas

específicos citaram metodologias de uso adotadas pelos docentes como sendo algo que

dificultasse o uso ótimo da plataforma. Tais discentes revelaram que muitas de suas

dificuldades advêm de uma certa falta de organização dos professores ao gerir suas

plataformas, seja na falta de atualização dos arquivos, na criação paralela de lista de e-

mails que por vezes conflitam com informações desatualizadas do PoliMoodle, na falta

da disponibilização de datas importantes, na não criação de espaço para fóruns de

discussões ou até na própria definição confusa das diferentes áreas (como envio de

arquivos, repositórios e fóruns).

11.2.3 ABERTURA QUANTO AO USO

Por último, após apresentado todo o contexto em pauta do PoliMoodle e as

principais ferramentas onde se buscaria um alinhamento, os alunos participantes e que

tinham revelado já terem utilizado o PoliMoodle foram apresentados com questões

quanto a abertura que eles teriam para utilizar a plataforma conforme os objetivos

almejados.

Ao serem questionados se utilizariam o PoliMoodle, atualmente, como primeira

fonte a recorrer para acessar repositórios de materiais e informações relevantes de suas

disciplinas, 66% dos discentes que haviam antes revelado já terem utilizado o

PoliMoodle (95% do total) disseram que sim, o fariam. A mesma pergunta ao se

direcionar ao uso da plataforma como primeira opção para fóruns de discussão gerou

62% de respostas positivas.

Page 98: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

85

11.3 LIMITES DE CAPACIDADE DA PLATAFORMA

Foi também realizada entrevista com Antônio Salles, chefe do departamento STI

da Escola Politécnica e responsável pelo PoliMoodle com o objetivo de buscar não

somente informações sobre as capacidades técnicas da plataforma, mas também uma

opinião de especialista sobre a atual utilização da mesma, seu histórico e possíveis

rumos.

O PoliMoodle começou a ser implantado na Escola Politécnica em 2009, seguido

por uma campanha de incentivo ao seu uso não tão aprofundada por seu diretor na

época, uma vez que ela teria se atido a contatos diretos entre o diretor e outros docentes

e relatos de experiências positivas próprias. Desde tal época, os procedimentos de

abertura de um módulo do PoliMoodle para uma disciplina se manteve igual:

Solicitação do professor responsável pela disciplina ao STI

Criação do módulo pelo STI

Curso básico presencial com o professor para utilização de recursos

Suporte quando necessário

Tanto a manutenção como a orientação na gestão dos módulos das disciplinas

junto aos professores é realizada por dois profissionais que formam a equipe

responsável não somente pelo PoliMoodle como também o PoliMail e o

PoliMonografias. Ainda assim, quando necessário, são realizadas orientações pessoais

Figura 16 – Gráfico de Demonstração da Abertura quanto a Utilização das Ferramentas

Fonte: Elaboração Própria

Page 99: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

86

para sanar dúvidas dos professores quanto ao uso e gestão dos seus módulos no

PoliMoodle mesmo após o momento de implantação. Para apoio às orientações e a

equipe do STI, existem tutoriais técnicos do Moodle, entretanto tutoriais análogos para

os usuários (docentes e discentes) não existem.

Foi levantado junto ao responsável entrevistado que atualmente existe um servidor

para hospedagem dos módulos das disciplinas no PoliMoodle, mas foi também dito que

isso não representa uma limitação da capacidade da plataforma, visto que um servidor

seria suficiente para o escopo atual de utilização, mesmo levando em conta um possível

limite de armazenamento de arquivos nos repositórios.

Mesmo a capacidade de amazenamento de arquivos dentro da ferramenta de

Fóruns é extensa, permitindo um número bastante considerável de postagens com

vídeos, fotos ou outros tipos mais pesados. A única limitação identificada seria a de

uploads de arquivo, que atualmente segue um padrão de 10 MB por item, mas caso

requerido, exceções podem ser abertas e esse valor aumentado para a disciplina

requerente.

Quantos as ferramentas disponíveis atualmente, todas as principais envolvidas em

alinhamentos de GC são básicas e vem no pacote normal da plataforma. Além dessas,

existe uma vasta gama de outros plug-ins que poderiam ser habilitados para funções

mais específicas, adições essas que permitiriam até personalizações, como foi o caso

relatado pelo entrevistado de um plug-in que vinha sendo desenvolvido pelo Instituto de

Matemática da UFRJ que visava a possibilidade de criação de resolução visual de

fórmulas matemáticas nos fóruns da plataforma. Tal possibilidade de desenvolvimento

de plug-ins garante um grande potencial de superação de barreiras que a natureza de

alguns tipos de disciplinas poderiam oferecer, uma vez que uma personalização da

plataforma poderia a adequar as utilizações.

Assim, em geral, não haveria, atualmente, limites técnicos identificáveis para o

PoliMoodle, o que representaria disponibilidade para um possível crescimento no

número de disciplinas inscritas. Quanto ao aprendizado de utilização da plataforma

pelos professores, Antônio não identificou nenhuma dificuldade marcante em algum

ponto específico. Foi comentado que no geral os docentes aprendem relativamente

rápido e passam a gerenciar sozinhos o módulo do curso bastante cedo, resto à parte do

STI responsável apenas o eventual suporte quando necessário.

Page 100: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

87

11.4 VISÃO DE ESPECIALISTA QUANTO A ADOÇÃO

Em relação às possíveis razões que influenciariam o processo decisório de adotar

ou não de plataformas tecnológicas de suporte ao ensino, Antônio Salles (chefe do

departamento de STI entrevistado), que possui background na área de aplicações de TI

na educação, revelou reflexões e percepções interessantes.

Para início das reflexões quanto a adoção de novas metodologias, se deveria,

segundo Antônio Salles, analisar os modelos de ensino mais recorrentes. Existiriam

duas metodologias de ensino em geral. A tradicional seria onde o conhecimento é

transmitido ao aluno como conteúdo finalizado. Percebe-se nessa metodologia a forte

influência de visões mecanicistas tão vigentes nos períodos onde os primeiros métodos

de ensino foram estabelecidos.

Paralelamente, existiria a metodologia construtivista de ensino, em que a

importância das etapas de trocas de conceitos, informações e experiências é levada em

conta e onde é permitido ao pesquisador explorar os pontos de vista de diferentes

participantes, levando sempre em conta que tais pontos de vista constituem igualmente a

realidade (CRANFIELD & TAYLOR, 2008, apud LEVY, 2003).

Nesse modelo, os fluxos de absorção e feedback são diferentes do modelo

tradicional, funcionando em sentidos plurais (do professor ao aluno, entre alunos e do

aluno ao professor). Ao se analisar essa metodologia o que se percebe é um alinhamento

com a grande maioria dos modelos de GC apresentados pelo presente estudo. Antônio

Salles revelou em entrevista que se poderia observar que a maioria dos professores

atualmente segue uma abordagem educacional tradicional, o que dificultaria a

percepção dos benefícios que a metodologia construtivista poderia trazer. Uma vez que

a metodologia construtivista fosse melhor avaliada, os benefícios da GC seriam também

melhores compreendidos aceitos e aplicados.

Em relação aos projetos de implantação de tecnologias para suporte ao ensino

(que muitas vezes contém em seu cerne conceitos alinhados com a GC), Antônio

revelou que através de estudos realizados por ele em instituições de ensino brasileiras

foi possível observar que implantações de tecnologias como suporte ao ensino que não

são acompanhadas do devido tratamento do ambiente contextual da instituição (tanto as

pessoas envolvidas como a cultura que as permeia) e que tampouco tratam de analisar e

alinhar o processo de ensino como um todo (suas etapas e definições), acabam tendo o

próprio uso das tecnologias prejudicado e muitas vezes menos eficiente do que em casos

Page 101: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

88

que menos tecnologia teria sido aplicada com um maior enfoque no ambiente e

processos, o que se mostra congruente com as reflexões expostas por alguns autores de

GC apresentados neste estudo. Tal enfoque solitário em tecnologias, sem tratar

especificamente dos outros aspectos, acaba muitas vezes por comprometer todo o

projeto e as plataformas ficariam subutilizadas.

Os estudos realizados por Antônio Salles teriam revelado também que apenas

20% dos cursos de pedagogia estudados possuíam matérias que suportassem o uso de

tecnologias como metodologias de ensino, o que, apesar de mais direcionado ao ensino

fundamental, representa uma das raízes das dificuldades em adoção de novas técnicas

de ensino. No contexto do ensino superior, o background científico é assaz diferente do

ensino fundamental, entretanto não seria espantoso encontrar essa mesma falta de cursos

de formação voltados à utilização de tecnologias como ferramentas para o processo de

ensino.

No que tange a adoção do PoliMoodle em específico, Antônio revelou que, por

parte dos professores, toda a questão de metodologias de ensino pouco alinhadas com

questões de GC se mescla com a resistência a mudanças presente em quaisquer

situações de inovação. Além disso, se percebe na comunidade acadêmica uma lenta

adaptação aos novos cenários educacionais de ensino a distância e, consequentemente, a

ambientes virtuais de aprendizagem, o que se apresenta como uma resistência a

vertentes atuais. Todas estas questões influenciam de maneira negativa os ímpetos de

adoção por parte dos docentes. Em relação aos alunos, a maior barreira seria a cultural,

mas esta seria de fácil superação, bastando apenas incentivos simples por parte dos

mestres.

11.5 ALINHAMENTO DA UTILIZAÇÃO

Analisando-se as respostas às entrevistas e questionários, percebe-se a

similaridade de certos tipos de levantamentos em relação a sua natureza, de forma que

indicações de possíveis alinhamentos seguiria tais condições. Assim, decidiu-se criar

categorias que serviriam tanto para alunos quanto para professores, com o objetivo de

facilitar a reflexão sobre possíveis direcionamentos que visem o alinhamento da

utilização do PoliMoodle com o framework de GC definido anteriormente. São eles:

Page 102: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

89

Adoção da plataforma: Uma vez que, como observado em diversas

respostas, a baixa adoção influência muito na eficácia do PoliMoodle

Aprimoramentos técnicos na plataforma: O aprimoramento de certos

aspectos técnicos específicos observados tanto por professores e alunos

suportaria o uso alinhado com a GC

Metodologia de uso da plataforma pelos gestores da mesma: O uso

direcionado pelos conceitos de GC definidos é a peça fundamental do

alinhamento

11.5.1 ADOÇÃO DO POLIMOODLE PELO PROFESSORADO

As respostas obtidas, tanto através de docentes como do alunado e pelo chefe do

STI, Antônio Salles, revelaram que as barreiras que atualmente existem à adoção da

plataforma são de diferentes naturezas ao se observar seus agentes. Foi analisado que,

por parte dos docentes, questões relacionadas a metodologias de ensino já estruturadas e

de vertentes mais tradicionais que não dão muito espaço a utilização de tecnologias para

o suporte, acabam criando uma forma de “inércia” para com implantações de possíveis

consequências radicais. O que é compreensível, visto, como foi retratado em uma das

entrevistas, que a própria natureza da construção de uma metodologia de ensino por

docentes de ensino superior preza por progressos incrementais e uma implantação desse

gênero possui certo poder disruptivo e por isso gera resistência.

Por outro lado, as entrevistas com docentes também trouxeram à tona a questão da

sobrecarga dos mesmos, que acabam por, em sua maioria, terem um tempo extraclasse

extramente escasso e que dificultaria o aprendizado, implantação e gestão das

plataformas para suas disciplinas no PoliMoodle. O que é certamente algo a ser

considerado em uma reflexão sobre possíveis alinhamentos.

Além disso, as entrevistas e a experiência de 5 anos cursados na Engenharia de

Produção por parte do autor revelaram que já existem atualmente metodologias

dominantes no que tange repositórios de conhecimento e acesso a informações. São elas

o contato de representantes de turma através de e-mails e a disponibilização de materiais

em departamentos de Xerox. E a própria existência do PoliMoodle e suas formas de

utilização não são informações difundidas de maneira tão razoável entre os docentes

quanto se esperava, como se observou nas respostas dos mesmos.

Page 103: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

90

A análise dessas situações identifica um cenário onde as barreiras criadas por

metodologias de ensino de certa forma “engessadas” se juntam com o apoio de métodos

de disponibilização de materiais e informações que desoneram o tempo dos docentes (ao

passar as responsabilidades aos alunos representates ou ao departamento de Xerox), a

falta de informação sobre a plataforma de e-learning e a própria escassez de tempo

extraclasse (devido a uma sobrecarga da classe docente) criando uma força de

resistência de difícil superação. Observa-se que este ponto a ser alinhado encontra-se

permeado por ambas as esferas de “Acesso e os processos que o permeiam” e de

“Ambiente contextual e recursos humanos envolvidos” do framework levantado.

Para contrapor a falta de informações sobre a plataforma em questão, como até

mesmo foi levantado por um dos docentes entrevistados, seria interessante se criar uma

campanha para a conscientização da existência da mesma e de suas formas de uso. A

metodologia proposta em uma das entrevistas se mostra, aliás, assaz razoável. Além de

divulgações e palestras sobre o PoliMoodle, tendo como público alvo os professores,

poderiam ser organizadas aulas “demo” no início do semestre, onde os responsáveis

entrariam em aula para apresentar o uso, objetivos e possibilidades de maneira unificada

para os alunos e professor da disciplina. O ponto chave desse tipo de iniciativa é que,

dessa forma, tais explanações não consumiriam tempo extraclasse do professor e,

normalmente, as primeiras semanas do semestre permitiriam essa breve folga de tempo

para a apresentação.

De maneira análoga, uma campanha de conscientização quanto ao uso da

tecnologia que adotasse também a passagem de experiência dos docentes que já a

adotaram seria de grande benefício. Uma vez que tal abordagem trataria, de forma da

sensível questão de metodologias de ensino adotadas, já que uma percepção de

movimentação em novas direções pode servir de incentivo para um “efeito dominó” de

aberturas nas construções de metodologias de ensino.

Vale ressaltar que as alternativas de criação de campanhas para maior adoção

estariam congruentes com o defendido pelo framework definido anteriormente, uma vez

que a eficácia do Moodle e de suas ferramentas de construção de repositórios, melhor

acesso e aprimoramento do ambiente contextual, está diretamente ligada ao nível de

adoção dos agentes envolvidos.

A questão da sobrecarga, que por sua vez acarreta na escassez de tempo

extraclasse, dos professores, é mais complicada de se tratar. Entretanto, medidas

paliativas poderiam servir para suportar implantações como a utilização do PoliMoodle.

Page 104: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

91

A atribuição dos encargos de gestão das plataformas a monitores da disciplina poderia

ser uma solução, como, aliás, já é feito por alguns professores. Até mesmo os

representantes de turma que atualmente são definidos na grande maioria das disciplinas

da EP poderiam ser atribuídos desses encargos.

11.5.2 ADOÇÃO DO POLIMOODLE PELO ALUNADO

A questão das barreiras envolvidas na adoção do PoliMoodle pelos alunos da EP

se mostra, a princípio, menos complexa do que a dos professores. A maioria do

professorado entrevistado e o chefe do STI revelaram que existiria de fato uma certa

resistência cultural ao uso pelos discentes, mas essa resistência seria algo fácil a ser

superado, visto tanto o contexto tecnológico que os permeia quanto a natureza da

resistência.

Um aspecto que reforçaria a ideia de que grande parte da resistência seria causada

por motivadores culturais é o fato de que menos de 8% dos alunos entrevistados

acharam complexo o uso do PoliMoodle e mais de 85% revelou que acredita que seu

rendimento se beneficiaria com o uso de uma plataforma virtual para consulta de

repositórios, acesso a informações e discussões sobre temas de suas disciplinas. Assim

se observa que não seria um impedimento relacionado ao aprendizado do uso ou de

pouca percepção de benefício.

A resistência que se observa seria mais relacionada a uma percepção de maiores

níveis de controle sobre suas atividades por parte do alunado. Ao possuir uma

plataforma integrada que esteja sempre a disposição, o aluno perde algumas margens de

manobra para suas próprias falhas, como perdas de prazo, desconhecimento de matérias

de provas ou materiais didáticos necessários, uma vez que não pode mais se defender

dizendo que a informação estaria indisponível. Estaria então no medo de perder certas

folgas para manobra em relação às suas responsabilidades que o maior motivador da

resistência residiria.

Apesar de resistências de âmbito cultural serem normalmente complexas de se

superar, no caso dos discentes, existem medidas não tão complicadas que surtiriam

efeito. De uma forma geral, o poder decisório incumbido aos docentes permitiria que

fossem estabelecidas novas metodologias e, com demonstrações de motivos razoáveis

para tais, cedo ou tarde o alunado acataria os novos métodos. Davenport (1998) já teria

mesmo observado que existe suma importância no apoio de agentes de nível hierárquico

Page 105: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

92

superior e de respeito para o sucesso das implementações de GC, o que é razoavelmente

pertinente no caso da barreira que vai contra a adoção da plataforma por parte dos

alunos.

Além disso, as possíveis campanhas para conscientização quanto ao uso do

PoliMoodle (como sugeridas anteriormente), com possíveis apresentações

demonstrativas, já serviriam como contraposição às percepções de perda de liberdade

que os discentes poderiam vir a ter, uma vez que levantaria as diversas formas em que,

na realidade, o uso de plataformas de e-learning cria novas possibilidades e, assim, mais

liberdade em relação à métodos de aprendizado.

11.5.3 APRIMORAMENTOS TÉCNICOS DA PLATAFORMA

Analisando-se as respostas obtidas nas entrevistas, é razoável se dizer que, apesar

de não tão numerosas, existem lacunas técnicas que podem estar impedindo um uso do

PoliMoodle mais alinhado com os conceitos de GC levantados anteriormente, uma vez

que, como levantado pelo framework definido anteriormente, os processos que

envolvem o acesso ao Conhecimento, bem como a funcionalidade dos repositórios e

tecnologias, são ambos essenciais para aplicações de GC em IESs.

Um ponto levantado tanto por alunos quanto por professores é a questão da falta

de integração da plataforma com o SIGA (Sistema Integrado de Gestão Acadêmica),

integração essa que, segundo entrevistados e por observação empírica, pode ser

encontrada em outras redes Moodle de outras IESs brasileiras e do exterior.

A falta desta integração, apesar de não influenciar diretamente no uso da

plataforma, traz diversas consequências de maneira indireta. A adoção por ambas as

partes envolvidas seria beneficiada caso houvesse a integração e a alocação automática

de alunos inscritos em determinadas disciplinas aos seus respectivos módulos Moodle,

uma vez que a inscrição automática superaria os riscos de não disponibilização da senha

a algum aluno ou do não acesso do mesmo. Ao mitigar esse risco, o número de usuários

possivelmente aumentaria e, como comportamento natural de redes de

compartilhamento, isso aumentaria a adoção, que por sua vez influencia diretamente a

eficácia do uso.

Por outro lado, professores entrevistados também revelaram que por vezes a

gestão da sua disciplina no Moodle poderia não ser tão evidente, tendo ferramentas e

opções contidas em diferentes níveis de acesso ao gestor. Um dos pontos levantados foi

Page 106: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

93

justamente a adição e retirada de alunos do módulo virtual, uma vez que a turma muda.

Tal parte da gestão seria um pouco complexa e de aprendizado não tão evidente, o que,

aliás, poderia ser um dos motivos para o atual demasiado grande número de alunos

inscritos nas turmas dos módulos de disciplinas existentes no PoliMoodle da EP (por

vezes maior que o número de vagas). Caso a integração com o SIGA incluísse não

somente inscrições automáticas nos módulos da plataforma como também a retirada da

inscrição, essa dificuldade seria superada, não somente desonerando o gestor do módulo

das tarefas manuais de enviar inscrições e retirar alunos como também desonerando o

próprio servidor, que caso continue com disciplinas que só tenham seu número de

inscritos aumentando poderá vir a apresentar falhas técnicas.

De maneira análoga, alunos apontaram que muitas vezes não recebem

devidamente e-mails de avisos quanto a alterações e atualizações do PoliMoodle das

suas disciplinas. Paralelamente, alguns professores entrevistados deixaram transparecer

que este seria um dos aspectos no qual o acesso à configuração não é muito intuitivo e

por vezes, apesar de pensarem ter configurado o envio de e-mail, o envio não ocorre.

Tais pontos levantados acabam, mesmo que indiretamente, por corroborar com o

aspecto levantado de maneira mais recorrente em relação a dificuldades e lacunas

técnicas encontradas tanto por alunos quanto por professores, a interface da plataforma.

Dentre as dificuldades específicas encontradas pelos alunos, 46% foram questões

relacionadas a interface do PoliMoodle. O principal ponto levantado, tanto por

professores quanto por alunos que utilizam, foi que a interface não seria muito intuitiva

e por vezes não muito “amigável”. O que, ao observar os pontos anteriores relacionados

a lacunas técnicas, parece razoável de se concluir no que tange alguns tipos de uso.

Essas lacunas encontradas poderiam ser tratadas seja com um foco maior nestes

aspectos durante o curso introdutório à plataforma, seja com uma alteração técnica na

plataforma que permitisse a adequação demandada. As alterações teriam certamente

naturezas distintas para cada tipo de lacuna, podendo ser mais complexas, como no caso

de uma integração com outro sistema (SIGA) ou mais simples, como uma mudança de

interface permitisse interações mais intuitivas. A natureza open-source da tecnologia em

pauta é algo que facilitaria determinadas mudanças, uma vez que esses tipos de

plataforma não só permitem como incentivam personalizações da interface, ferramentas

e plug-ins.

Existe, no entanto, um fator muito importante a ser considerado para uma possível

formulação e aplicação de um projeto com o objetivo de aprimorar aspectos técnicos do

Page 107: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

94

PoliMoodle. O setor responsável pela plataforma está atualmente sobrecarregado,

contanto com apenas dois funcionários, que por sua vez são dedicados não apenas à

tecnologia de e-learning. Este cenário certamente dificultaria projetos com o escopo de

aprimoramentos técnicos ou aumento de suporte e deve ser levado em conta em

considerações de alinhamentos nessa categoria.

11.5.4 USO DA PLATAFORMA PELOS SEUS GESTORES

O alinhamento da metodologia de uso adotada pelos docentes, ou outros gestores

definidos para o controle dos módulos das disciplinas, pode ser considerado como o

mais importante dentre os tipos de alinhamento levantados, uma vez que os outros

usuários envolvidos (alunos) terão um uso por sua vez limitado ao escopo definido

pelos responsáveis pela plataforma em cada disciplina. As outras categorias de

alinhamento (adoção e aspectos técnicos) têm como principal função, em geral, suportar

e incentivar o uso alinhado e otimizado da tecnologia, mas o cerne da questão da

metodologia de uso adotada vai além dessas questões que o permeiam.

É importante relembrar que para as práticas direcionadas pelo framework

estabelecido anteriormente o propósito seria trazer à plataforma PoliMoodle uma

utilização que esteja mais alinhada aos conceitos de GC definidos: criar um repositório

de conhecimento satisfatório, acesso ao mesmo, através de processos eficazes para tal

objetivo e a criação de um ambiente contextual de aprendizado que permita interações

sociais que suportem a replicação do conhecimento ao criar condições para as etapas do

ciclo de transformação como estabelecido por Nonaka (2001), assim como criar

condições ideias para a formação de estruturas análogas às Comunidades de Prática.

Como observado através das entrevistas, o cenário atual de metodologia de uso

engloba, fundamentalmente, a disponibilização de repositórios de conhecimento, por

vezes contendo também a divulgação de informações atualizadas sobre a disciplina. A

opinião dos alunos é positiva quanto a essa atual disponibilização de repositórios, tendo

mais de 65% de percepções entre “razoável” e “boa”. Ademais, os professores usuários

revelaram que os repositórios não demandam muito esforço para sua gestão, sendo

construídos progressivamente com a constante adição de novos materiais na plataforma.

Apesar do uso já razoável desse conceito do alinhamento com a GC, na busca por uma

maior otimização ainda haveria pontos a se trabalhar, como a integração dos

repositórios existentes, de maneira a se possibilitar o acesso a um banco de dados geral,

Page 108: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

95

ou mesmo um mapeamento dos temas tratados nos repositórios (diferentes trabalhos

sobre a mesma indústria, por exemplo). A existência de repositórios de conhecimento

não é algo raro em IESs, por outro lado uma integração desses, interna e externamente,

é algo que poucas alcançaram (ROWLEY, 2000).

Percebe-se, se observando as respostas aos questionários realizados, que, para os

usuários, o modelo de interface da plataforma também poderia ser aprimorado de

maneira relativa ao uso pelo professor (como no caso de atualização de certos

parâmetros). Essa lacuna acaba por gerar limitações ao processo de acesso a

informação, como defendido pelo framework. Entretanto, um alinhamento deste item já

foi discutido na categoria de possíveis aprimoramentos técnicos.

Observada a recorrente escassez de tempo extraclasse do professorado, seria

válido avaliar as possibilidades de definições alunos e/ou monitores para os encargos de

gestão da plataforma, como levantado anteriormente na categoria de adoção, uma vez

que não somente a adoção pelos professores poderia aumentar, mas também a gestão

dos acessos e dos usuários, no geral, poderia melhorar, visto que monitores teriam mais

tempo dedicado para tal encargo que o professor. Até uma melhor estruturação no

contrato de monitores poderia agregar essa responsabilidade ao mesmo, visando uma

preparação dos candidatos para a atividade.

Finalmente, um dos pontos mais importantes a serem discutidos é a atual quase

nula utilização de fóruns, chat e outras ferramentas para criação de contextos de

socialização, observada unanimemente junto a todos os professores entrevistados. Como

visto anteriormente no capítulo 10, a criação de um ambiente contextual prestaria

grande suporte para os ciclos de aprendizagem, em especial à parte de socialização e a

ferramenta de fóruns do Moodle tem características nesse sentido.

A ferramenta de fóruns e chat, por exemplo, permitem a troca de experiências, de

modelos pessoais criados como metáfora, como definido por Nonaka et al (2001),

quanto aos aprendizados da disciplina, ainda fornecendo as condições necessárias para a

estruturação de Comunidades de Práticas que, como levantado no capítulo 4, servem

para propósitos muito benéficos no que tange a GC. Ainda além, fóruns permitiram uma

interação extraclasse entre alunos e professores (ou monitores), que, segundo Davenport

(1998), no caso de interações de “mão dupla”, seriam interações importantes para a

construção otimizada do conhecimento, uma vez que suportam espaços para perguntas,

respostas e discussões. Não menos importante é o acesso, através das ferramentas de

socialização, à utilização de links da internet, vídeos, imagens, planilhas, que, por sua

Page 109: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

96

vez, agregariam ao permitirem um ambiente com amplas possibilidades de suporte ao

compartilhamento de modelos e interpretações pessoais, como defendido pela maioria

dos autores de GC apresentados pelo presente estudo.

Além disso, existe suporte a criações do tipo wiki no arcabouço ferramentas

disponíveis através do Moodle. Tais tipos estruturas, quando aplicadas no contexto de

GC definido pelo presente estudo, possuem diversos aspectos benéficos para o processo

de aprendizagem. Possibilitando funções de: construções colaborativas de modelos e

interpretações do conteúdo, captura de conhecimento e distribuição de conhecimento.

Funções estas que representam grande parte dos mecanismos necessários para a GC

(DAVENPORT, 1998).

Importante ressaltar que para essas novas práticas serem implementadas pelos

professores em seus módulos do PoliMoodle, talvez fosse prudente planejar um curso

específico para o aprendizado da utilização dessas ferramentas. A anteriormente

destacada sobrecarga dos responsáveis pela plataforma no STI provavelmente seria um

obstáculo a ser superado em relação à concepção e execução de um curso nesse sentido

e, por isso, seria um aspecto a ser analisado em uma possível decisão de implantação

dessas ideias.

11.6 MÉTRICAS PARA OS RESULTADOS

Como visto no capítulo 10, onde se discutiu o aspecto de gestão do conhecimento

como um ativo, as temáticas envolvendo a metrificação de ativos intangíveis são tão

complexas quanto importantes. A discussão sobre quais metodologias e métricas seriam

as mais razoáveis para se conseguir avaliar ativos intangíveis, como o conhecimento,

em uma organização já se estendeu por diversos campos, da psicologia às ciências

contábeis.

Tratando-se de métricas para qualificar processos de aprendizagem, alguns

estudos e reflexões foram realizados. Para Filippidi et al (2010) são importantes aspectos

a serem levantados para medições de qualidade em experiências de aprendizagem com

sistemas híbridos (usando sala de aula e ambientes virtuais de aprendizado):

Quantidade de interações

Qualidade das interações

Perspectiva de comprometimento do aluno com a comunidade de aprendizado

Page 110: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

97

Para Filippidi et al (2010) as características do aluno, o nível de suporte e

incentivo social, a organização das capacidades técnicas do sistema de GC e as

características da própria instituição no que tange políticas relacionadas à sistemas de TI

são os principais fatores que irão afetar o parâmetro de “Perspectiva de

comprometimento do aluno com a comunidade de aprendizado”. Percebe-se com

razoável clareza a analogia desses critérios com os parâmetros levantados anteriormente

no presente estudo quanto ao ambiente contextual e os processos que permeariam o

ensino.

Em exemplos de estudos quanto a melhoras no desempenho provindas de

aumento no controle do processo de aprendizado pelo aluno (como possibilidades de

escolha quanto a horários de visualização das classes), indicativos utilizados para as

conclusões foram erros em testes e níveis de satisfação no aprendizado (CHOU & LIU,

2005 apud WILLIAMS, 1996). Dessa maneira, caminha-se na direção da conclusão de

que um levantamento posterior a uma experiência de aprendizagem híbrida que leve em

consideração a relação entre dados quantitativos (como quantidades de diferentes tipos

de interação), qualitativos (perspectiva de comprometimento através de levantamentos

de níveis de satisfação no aprendizado) e o desempenho final dos alunos (notas das

avaliações) seria uma maneira satisfatória, além de já ter sido utilizada em experimentos

similares (CHOU & LIU,2005), de se qualificar os resultados que uma implementação

de plataforma de e-learning alinhada com conceitos de GC.

Em estudo realizado por Filippidi et al (2010), uma classe experimental onde foi

utilizada uma metodologia de ensino híbrida (usando tanto a sala de aula quanto o

ambiente virtual como contextos de aprendizagem) foi analisada. Dados de utilização

dos alunos retirados da plataforma virtual escolhida (Moodle) foram recolhidos, tratados

e posteriormente um estudo estatístico foi realizado a fim de buscar uma possível

correlação entre os diferentes tipos de utilização e os resultados das avaliações dos

alunos.

Com as ressalvas quanto a diferença entre correlação e causalidade ressaltadas,

Filippidi et al (2010) expõe os resultados finais obtidos demonstrando de maneira

razoável que houve relação estatística entre determinados tipos e quantidades de uso da

plataforma Moodle e o aumento observado nas notas dos alunos.

De maneira geral, levando-se em conta a complexidade do tema de metrificação e

avaliação de processos que incorporam ativos de propriedades intangíveis (como o

Page 111: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

98

conhecimento) percebe-se um razoável e crível resultado encontrado por alguns estudos

em relação a um levantamento de dados quantitativos quanto a experiência com

processo de aprendizado híbridos e posterior comparação dos mesmos aos resultados

dos alunos (mensurados de maneira tradicional através de testes) no curso.

Por outro lado, outras reflexões destacam justamente que alguns resultados mais

subjetivos, como o nível de satisfação no aprendizado (MERRILL, 1994), são também

muito importantes e por sua natureza de metrificação mais complexa são muitas vezes

deixados de lado nas avaliações dos experimentos com aprendizagem com plataformas

de gestão do conhecimento.

No caso do presente estudo, o experimento teórico na Engenharia de Produção da

UFRJ deveria então agregar avaliações de satisfação dos alunos para com os cursos na

análise dos resultados obtidos com a utilização alinhada do PoliMoodle para que a

metrificação dos benefícios alcançados seja mais concreta.Tal metodologia não seria tão

complexa uma vez que já existe no SIGA processos de avaliação de satisfação do aluno

com os cursos, facilitando dessa forma a coleta de dados que poderiam então ser

levados em consideração no estudo de correlação de usos e resultados.

Conclui-se então que os resultados, obtidos pelo experimento teórico de aplicação

de uma ferramenta de Gestão do Conhecimento de maneira alinhada com modelos já

bastante estressados e testados do campo, poderiam ser metrificados e analisados

através de um estudo de correlação estatística entre dados de utilização da ferramenta

escolhida (PoliMoodle) e as notas de testes dos cursos e níveis de satisfação no

aprendizado coletados pelo SIGA.

As escolhas quanto a que dados de utilização do PoliMoodle levar em conta na

análise seriam bastante amplas, como postagens em fóruns, tempo on-line, quantidade

de materiais acessados. Ficaria então a critério do docente escolher o que se encaixaria

melhor com critérios de avaliação adotados pelo próprio para com seu curso, uma vez

que a própria natureza dos cursos na Engenharia de Produção da UFRJ varia de maneira

considerável e um critério de análise pode vir a servir mais a um curso que a outro. De

maneira análoga, os dados oriundos das pesquisas de satisfação do ensino também

podem ser escolhidos da maneira como melhor for o alinhamento com os critérios do

curso.

Essa flexibilidade quanto a escolha de dados pode, a princípio, parecer uma

abertura para o direcionamento dos resultados. No entanto, visto que o experimento se

Page 112: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

99

direcionaria de maneira a abranger o maior número de cursos possíveis dentro da

Engenharia de Produção da UFRJ, tal flexibilidade é essencial.

Válido relembrar que a análise de experimentos que envolvem processos com

ativos intangíveis é por si só complexa e muitas vezes subjetiva. Também não foge de

certa subjetividade a escolha das variáveis para uma análise de correlações estatísticas.

Assim, seria imprescindível o bom senso do agente que analisará os dados para que a

metrificação de resultados tenha algum sentido no que tange a escolha dos dados a

serem coletados.

Sendo seguida essa metodologia (mesmo que de maneira flexível), seria então

possível avaliar se uma implementação de uma ferramenta de Gestão do Conhecimento

traria benefícios a cursos da Engenharia de Produção da UFRJ.

12. CONCLUSÃO

A partir da pesquisa bibliográfica, introduzida nos primeiros capítulos do estudo,

foi possível delinear um escopo específico no vasto campo da GC, com o qual uma

comparação com aspectos e necessidades do campo da educação pudesse vir a gerar

uma reflexão benéfica quanto a congruência de tais práticas. Mostrou-se então que

modelos de GC direcionados a educação, como o estabelecido pelo ISKME, podem

estar razoavelmente alinhados com conceitos de alguns dos principais modelos de GC

aplicados em corporações e, assim, é razoável dizer que seria viável realizar aplicações

alinhadas com a GC no âmbito da educação e, mais em específico, do ensino superior.

Foi então realizada, a partir de comparações, a síntese de um framework que

agregasse os aspectos do modelo ISKME razoáveis para aplicações no ensino superior e

ainda outros pontos relevantes de outros modelos analisados, estabelecendo assim um

framework, englobando os principais direcionamentos para a próxima parte da reflexão

proposta pelo estudo e incluindo a análise de possíveis aspectos práticos de uma

aplicação real.

O capítulo 11 introduziu, em sequência, uma análise mais específica, buscando

definir se o curso de graduação de Engenharia de Produção da UFRJ seria uma

organização que estaria em um contexto razoável para se beneficiar de uma possível

implantação de GC nos moldes do framework definido nos capítulos anteriores. Essa

análise gerou um resultado positivo e passou-se então a levantar quais aspectos do

framework seriam os mais aplicáveis e benéficos para a instituição escolhida, além de

Page 113: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

100

qual seria uma maneira razoável de fazê-lo. Concluiu-se que um alinhamento da

plataforma PoliMoodle, já implementada, seria não somente a opção mais realista, como

também atingiria diferentes objetivos em diversas frentes levantadas pelo framework,

além de estar alinhada com modelos de aplicações reais de GC em organizações.

Com o escopo das possíveis aplicações definido, passou-se então a última etapa

da reflexão proposta pelo estudo, a definição do que se deveria alinhar em relação ao

uso do PoliMoodle, no âmbito da GC definido, no curso de Engenharia de Produção da

UFRJ. Para tal, entrevistas e questionários com os agentes envolvidos (discentes,

docentes e responsável técnico) foram realizadas, buscando não somente a compreensão

da situação atual de utilização, como também as percepções quanto a importância dos

aspectos buscados, obstáculos que poderiam estar prejudicando a adesão da plataforma

e dificuldades na utilização.

A análise das respostas foi essencial para a construção conceitual dos passos que

poderiam ser tomados em busca do alinhamento do uso do PoliMoodle conforme os

moldes definidos no capítulo 10. Concluiu-se que a percepção de importância quanto

disponibilização de repositórios de conhecimento de fácil acesso é grande maioria entre

todos os agentes envolvidos, diferentemente, entretanto, do acesso a ferramentas de

criação de ambiente contextual e socialização, como os fóruns e chats, que dividiu

opiniões. O que ajudaria a explicar a razão de, na atualidade, os professores que

utilizam o PoliMoodle, na sua maioria, o utilizarem apenas como repositório de

conhecimento e disponibilização de informações do curso, não se aproveitando das

funções de criação de ambiente contextual e socialização. Destaca-se também que para

a maioria dos professores, que não usa ainda a plataforma, a metodologia de

disponibilização de preferência é um fluxo através e-mail para troca de informações,

utilizando-se da definição de um ponto focal entre os discentes que seja o responsável

pela gestão e bom funcionamento fluxo. O que, por sua vez, justifica a consulta

majoritária dos alunos a outros colegas como fonte informações sobre seus cursos.

As análises também trouxeram à tona a complexidade que permeia a resistência

de adoção de novas metodologias de ensino no caso dos professores. Aspectos

relacionados à natureza e maneiras de construção de metodologias de ensino, escassez

de diferentes tipos de recursos e mesmo a falta de uma campanha de incentivo e

informações quanto ao uso do PoliMoodle foram os de maior destaque. Por outro lado,

a resistência à utilização por parte dos alunos se configurou como razoavelmente frágil

e de fácil superação.

Page 114: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

101

Com as análises das entrevistas e definições conceituais de um framework de GC

aplicável a instituições de Ensino Superior contextualizadas e em mente, o estudo então

levantou possíveis ações que aprimorariam a adoção, aspectos técnicos e modos de

utilização da plataforma PoliMoodle, que fariam com que ocorresse um alinhamento de

sua usabilidade geral em relação ao framework de aplicações de GC estabelecido no

Capítulo 10. Destacando-se entre eles a concepção de uma campanha informativa e de

incentivo ao uso da plataforma, mudanças em detalhes na interface da plataforma, apoio

didático aos docentes e definição de soluções para os casos de escassez de recursos.

Com a introdução e acompanhamento dessas iniciativas o caminho para a construção de

uma plataforma eficaz no apoio à implantação dos aspectos de GC levantados estaria

sendo iniciado e, assim, a organização em pauta iniciaria também seu processo de

avanço em busca de um alinhamento, tanto no cenário universitário como,

consequentemente, no nacional, ao ritmo mundial de progressos tecnológicos e

científicos

O atual cenário tecnológico de avanços exponenciais acaba influenciando toda a

sociedade, obrigando mercados, organizações e países a se adaptarem a efemeridade

geral (DAVENPORT, 1998) (AMRIT, 1999) (KANAGASABAPATHY et al, 2006). E a

maneira com que essa aceleração e afastamento da linearidade se caracterizaram foi

através de processos de feedback mútuo, onde os avanços de uma geração já servem de

essencial suporte para os avanços da próxima geração, permitindo eficiência, tempos de

mudança e velocidades de progresso melhores que as de seus antecessores (ROWLEY,

2000). De maneira análoga, ao se criarem as condições ideais, os progressos quanto a

eficácia do ensino poderiam se dar de maneira cada vez eficiente e rápida caso se

adotassem as novas vertentes no campo da Gestão do Conhecimento (KIDWELL et al,

2001) (SEDZIUVIENE et al, 2009) que visam justamente incentivar esse progresso

exponencial no que tange a troca de conhecimentos e aprendizagem (BIERLY, P. et al,

2002) e que, conforme sugerido pelo presente estudo, possuem benefícios a agregar às

Instituições de Ensino Superior e suas práticas.

Por outro lado, pela complexidade no tratamento e gestão de ativos intangíveis

que são predominantes no meio, dificilmente o campo da educação seria um campo

sujeito à uma disrupção agressiva, advinda de uma nova tecnologia ou modelo de

processo inovador, tal como se observa na maioria dos mercados atualmente, apesar de

já se observar um início de movimento na direção de disponibilizações universais de

materiais através da Internet. Dessa forma, se deveria optar, desde já, por medidas de

Page 115: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

102

médio e longo prazo que possam alterar de forma incremental o cenário (KIDWELL et

al, 2001), buscando criar as condições ideais para que o efeito em cascata do ciclo de

feedbacks, já observado no cenário tecnológico, pudesse se iniciar também no contexto

da educação (ROWLEY, 2000).

Percebe-se assim que mesmo iniciativas mais simples no cenário do ensino

superior, como o uso alinhado de plataformas que suportem melhorias pontuais da GC,

possuem um grande potencial no longo prazo e se deveria buscar analisar mais

frequentemente essas alternativas, com talvez mais estudos que levantem outras

possibilidades de aplicações onde se utilizem de conceitos de GC. Para se buscar uma

adaptação incremental do modelo de ensino no nível superior, que busque a formação

de agentes adaptados ao já existente contexto global de acelerados avanços e constantes

disrupções de modelos estabelecidos, é necessário que se iniciem, mesmo que de forma

incremental, as discussões e inciativas para tal mudança.

Page 116: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

103

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Page 120: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

107

14. APÊNDICE

14.1 APÊNDICE A – ENTREVISTA COM DOCENTES

Entrevistas – Docentes (Realizadas entre maio e junho de 2015)

Edilson – Simulação

1. Importância de Repositórios e acesso ao conteúdo

É muito importante o aluno ter o acesso ao material da maneira como quiser e quando

quiser.

Acesso ao material na metodologia do Moodle já é suficiente, pesquisas que liguem com a

internet (links) não seriam necessários, apenas pesquisas intra-moodle

2. Como disponibiliza atualmente os aspectos de acesso e repositórios?

Todo material importante e relevante ao curso está no moodle, inclusive informações sobre

materiais, trabalhos e datas de prova. O acesso ao mesmo é via moodle também.

Por outro lado, a parte do saber aprender vai se perdendo, se deixar tudo muito mastigado

os alunos não correm muito atrás (quando questionado quanto a deixar trabalhos antigos e

outros no repositório também)

3. Utilidade e viabilidade de uma plataforma virtual nesses papéis?

É eficaz no sentido de acesso eficaz, totalmente eficiente no aspecto repositório e acesso,

funciona muito bem para esses objetivos.

Com relação à socialização, a plataforma só seria eficiente quando o tema fosse viável, mas

não seria a mesma coisa que socialização ao vivo.

4. Importância da socialização extraclasse (discussões sobre a aula)?

Bem importante mas não tanto quanto as duas outras.

Hoje em dia se perdeu um pouco isso aqui, íamos a biblioteca estudar juntos. Hoje os

alunos vem e saem o mais rápido possível, não há mais tnate interação entre os alunos, o

que era sim importante para o aprendizado no meu tempo.

Page 121: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

108

Questões sobre o PoliMoodle:

1. Experiências passadas com o Moodle

Uso desde 2011, acesso com o gmail e agora só pode com o poli, isso dificultou e tornou

mais complexo o acesso. Interface do PoliMoodle é um pouco diferente do outro Moodle

que usei.

2. Principais obstáculos na implementação/utilização

Tive um curso de qualificação para o Moodle antes de usa-lo de fato pela primeira vez.

Implementar o Moodle foi tranquilo por isso, entretanto não uso todos as ferramentas e

acredito que implementar o “Fórum” demandaria certo treinamento, um curso para certas

ferramentas do Moodle seria um facilitador.

3. Maiores obstáculos para professores e alunos adotarem a plataforma?

Professores:

Não ter um curso de qualificação para utilização do Moodle. Falta de integração com o SIGA

(seria ideal se o aluno já se inscrevesse automaticamente no Moodle a partir de sua

inscrição na matéria). Na outra universidade em que utilizei o Moodle o SIGA deles era

integrado com o Moodle.

Há certo comodismo dos professores, inércia quanto a mudança. O Moodle é também

pouco divulgado tanto na UFRJ quanto em outras universidades.

Alunos:

Principalmente cultural, se habituar a ter tudo pronto dificulta a adoção. Copiar e colar do

Google ainda é mais fácil. O jeito de se aprender mudou e agora os alunos preferem tudo

mastigado, sem trabalho de buscar a informação.

Vinícius – PI / EPN

1. Importância de Repositórios/Acesso/Socialização

Repositórios Questão central, modo que facilite é bom para todos, tanto professores

quanto alunos se beneficiam.

Acesso: Anda junto ao repositório, não adianta ter a informação integrada e não ser

acessível.

Page 122: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

109

Socialização e ambiente pró-conhecimento: É igualmente importante, os três aspectos são

integrados. A própria socialização que ocorre na sala através de discussões já cumpriria

bastante esse aspecto.

2. Como disponibiliza atualmente os aspectos de acesso, repositórios e socialização?

Repositórios e acesso – Trabalhos de campo são mantidos e acessíveis fisicamente, basta

pedir que empresto o trabalho desejado para o aluno. Artigos e livros didáticos passíveis de

cópia deixo na Xerox, acesso através do serviço da Xerox (já houve ocasiões de perda de

cópias), materiais livres de direitos autorais, informações administrativas, graus,

comentários e exercícios no Moodle

Ambiente de socialização – Ainda não há, só na sala de aula. Vejo as ferramentas de Fóruns

e Chat do Moodle como uma possível direção.

3. Utilidade e viabilidade de uma plataforma virtual nesses papéis?

É eficaz, sem dúvidas. Porém a usabilidade é importante, tem que ser algo intuitivo para

ambos docentes e discentes. O mais amigável possível para ambos, com adequações para

os escopos de trabalho de ambos.

Questões sobre o PoliMoodle:

1. Experiências passadas com o Moodle, dificuldades e aprendizado

Maior dificuldade que enfrentei ao implementa-lo foi em relação a gestão de alunos dentro

do Moodle do curso. O PoliMoodle é por disciplina e o responsável de cada é o professor e

é ele que tem que retirar alunos antigos (zerar) e acrescentar e aceitar novos, no começo

eu não sabia como retirar os alunos e uma grande quantidade acabou ficando por vários

semestres inscritos no Moodle. Administrar os alunos dentro do Moodle da disciplina é

uma atividade de “2° Layer” das ferramentas da plataforma, não é tão evidente encontrar e

aprender, com segurança, como funciona. Mas, apesar desse pequeno percalço, todas as

minhas disciplinas em que passei a utilizar o Moodle tiveram respostas positivas. O STI está

sempre disponível e acessível para conselhos, os maiores obstáculos para implementação

seriam mais por parte da “inércia” dos usuários mesmo.

2. Maiores obstáculos para professores e alunos adotarem a plataforma?

Professores:

Para os professores é mais a “inércia”, mas é uma “inércia” compreensível e que se deve

entender para melhor diagnosticar esse entrave. A organização da aula de cada disciplina é

algo que se constrói com o tempo, agregando itens e adaptando através dos anos, assim,

Page 123: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

110

adotar uma nova ferramenta que mude diversas dinâmicas é algo complexo. A plataforma

Moodle também é, de certo ponto, não muito intuitiva. A avaliação “custo x benefício” para

o professor implementar não é simples. A falta de informação sobre a plataforma existe,

mas é também afetada pela falta de capacidade de suprir a possível demanda do STI (só

dois funcionários). Houve mesmo o caso de eu marcar uma palestra sobre a utilização do

Moodle em que o Antônio disponibilizou o seu tempo e quase ninguém apareceu.

Alunos:

Alunos resistem muito pelo Moodle eliminar certas margens de manobras para desculpas.

Se sentem mais controlados pelo Moodle (Não há muito como dizer que não viu o material

ou perdeu uma data porque a informação não chegou a ele, tudo está disponibilizado

integralmente e de pronto acesso). Mas na realidade os alunos perdem liberdade porque se

cria um conjunto maior de possibilidades e junto com elas as responsabilidades dos alunos

também teriam de ser encaradas. Há também até preguiça de se cadastrar de maneira

correta. É preciso um empurrão. O mais complexo ao meu ver seria esse aspecto de perda

de liberadade. Essa barreira observada pelos alunos, no geral, é bem frágil e simples de

superar que a dos professores.

Para ambos os casos, falta uma campanha, um marketing da ferramenta. Eriksson usava e

constatava os resultados, mas não fez uma campanha para adoção (sempre faltou o

direcionamento dos Key Players na implementação ISKME)

Entrevista com Professor Eduardo Jardim – PCP I / Tópicos Especiais

1. Importância de Repositórios/Acesso/Socialização

Repositórios e acesso são muito importantes, socialização se depender do professor fica

complicado por seu tempo escasso. Entretanto, uma integração do conhecimento

disponibilizado na plataforma tem que ser realizada por algum agente e fora da plataforma,

no caso o professor. A disponibilização de conhecimento seria para os dois lados.

2. Como disponibiliza atualmente os aspectos de acesso, repositórios e socialização?

Representantes de turma são meu “moodle”, disponibilizam material, informações

importantes, socialização só na sala de aula. Quando encontro materiais interessantes ao

curso passo aos representantes que por sua vez repassam para a turma. Atualmente tenho

pensando em criar um livro com questões de provas antigas.

3. Utilidade e viabilidade de uma plataforma virtual nesses papéis?

Se encaixaria certamente nos pontos. A rápida mudança do cenário atual demanda uma

gestão melhor. Atualizações em tempo real do material. O uso de um sistema desses

deveria, entretanto, ser precedido de um curso introdutório com os alunos para definir as

expectativas e objetivos. Em um geral, seria eficaz quanto a esses três pontos sim.

Page 124: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

111

Questões sobre o PoliMoodle:

4. Experiências passadas com o Moodle, dificuldades e aprendizado

Já ouvi falar, mas não conheço profundamente as funcionalidades por nunca ter usado.

5. Maiores obstáculos para professores e alunos adotarem a plataforma?

Professores: Faltariam atividades de catalização para o uso do moodle. Talvez usar uma

aula da disciplina para demonstrar a plataforma e seu uso. Falta marketing. Mas o maior

problema é a falta de tempo dos professores fora de aula. Por isso, disponibilizar o tempo

da aula para mostrar o uso do moodle, seria uma boa idéia, eu não poderia dizer não a um

pedido desse tipo. Em um geral, maiores obstáculos são falta de tempo e de marketing

adequado.

Uma aula demo no começo do curso seria uma boa ideia, mesmo que o professor não

precisasse se comprometer em utilizar o seu moodle posteriormente.

Alunos: Mesmo na classe A ainda existe uma diferença de percepção de valor quanto ao

aprendizado. Muita disponibilidade mas nem todos percebem o valor, isso demonstra algo

cultural, uma barreira de âmbito cultural. Acredito que um encontro no início do curso

resolveria facilmente essa questão.

Mesmo que começasse a usar a plataforma, não eliminaria os representantes, eles

poderiam então se tornar moderadores do curso. Os monitores (que atualmente ajudam a

corrigir provas, controlar provas) também poderiam servir para esse papel.

Isso poderia servir como alternativa para uma das grandes barreiras para o professor, a

falta de tempo. Sou convidado para vários lugares, demanda tão alta dificulta gerir tantos

sistemas. Se eu disponibilizasse uma plataforma desse tipo poderia gerar decepção entre os

alunos (entretanto talvez a plataforma ajudasse a gerir de forma integrada os cursos,

criando espaços universais para discussão e tirada de dúvidas por exemplo).

O mundo de hoje oferece grandes alternativas, mas o dilema da produtividade se mantém,

se deve pensar na capacidade dos recursos disponíveis. Se deve ter clareza das expectativas

de uso para não criar frustrações por não atingir expectativas. Não levantar expectativa de

tirada de dúvidas pelo professor fora de horários

Page 125: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

112

Entrevista com Professora Maria Alice – Metodologia da Pesquisa / PSI / GRH / MKT

1. Importância de Repositórios/Acesso/Socialização

Esses aspectos são só algumas ferramentas dentro da esfera de Gestão do Conhecimento.

Ver modelos do CRIE. Capital Intelectual, Capital Estrutural e Capital de Ambiente são os

mais importantes para a sala de aula.

2. Como disponibiliza atualmente os aspectos de acesso, repositórios e socialização?

Uso o PoliMoodle como repositório (todas as informações relevantes) e meio de acesso

para todos os meus cursos da EP. Ainda não uso o fórum. Realizei também um esboço do

mapeamento do conhecimento dos professores da EP, já integrada com a agenda dos

mesmos, para fins de alocação quando necessário.

3. Utilidade e viabilidade de uma plataforma virtual nesses papéis?

Seria eficaz para os três casos, mas é necessário criar e gerir de forma adequada.

Questões sobre o PoliMoodle:

4. Experiências passadas com o Moodle, dificuldades e aprendizado

Foi tranquilo implementar, a monitora dos cursos ajudou. Ela se informou sobre a

atualização e atualmente gerencia os Moodles.

5. Maiores obstáculos para professores e alunos adotarem a plataforma?

Os obstáculos vêm mais por parte dos professores que dos alunos, não vejo tanta barreira

cultural por parte do aluno. Por parte dos professores existe uma resistência natural,

metodologia de aula já está estabelecida (resistência a mudanças).

Também uso outra plataforma como repositório (PMDIO), mais para cursos da pós.

Entrevista com Professor Renato Cameira – SPCN/ CIM

1. Importância de Repositórios/Acesso/Socialização

Repositórios de conhecimento : Material didático em um só local, trabalhos antigos etc.;

Facilita o acesso do corpo discente, evita retrabalhos, garante tratamento igualitário aos

vários alunos, evita justificativas ‘não recebi’.

Tipo de acesso a esse repositório: Hoje o Google Drive é o melhor, comparando com discos

virtuais cartesianos e o Dropbox. Não comparando com ferramentas como Moodle.

Espaço para socialização: Na prática, acaba um pouco diluído, não acontece muito. Talvez

quando efetivamente ‘à distância’, seja mais efetivo, ou com pessoal mais sênior. Na

graduação, com turmas presenciais/ em apoio à turmas presenciais, pouco utilizado.

Page 126: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

113

2. Como disponibiliza atualmente os aspectos de acesso, repositórios e socialização?

Atualmente em e-mail. Alguns cursos começando a usar Google Drive.

Não há espaço. Alguma comunicação apenas de reforço, envio genericamente pelo

FaceBook (p.ex., haverá aula mesmo com possível facultativo amanhã. Turmas já o usam +

WhatsApp, não precisam de ensejo para usarem. Mas o email é o mecanismo formal,

complementar a aula, de reforço. Ou, alternativamente, funciona em imprevistos:

problemas de saúde etc.

3. Ainda em relação a esses três aspectos, uma plataforma virtual seria eficaz desempenhando

esses papéis?

Sim, mas idealmente sem onerar com mais uma rede o alunado. O alunado também reage

a registro... O registro de acessos, local de depósito de trabalhos eletrônicos, trabalhos em

grupo tendem a afastar o alunado se não utilizado como único meio. Isso pode ser positivo,

mas requer ‘perseverança docente’.

4. Já teve alguma experiência passada com alguma plataforma Moodle ou o PoliMoodle? Se

sim quais teriam sido as maiores dificuldades para implementar e no seu desenvolvimento?

Não. As dificuldades foram reportadas de forma diluída nos pontos acima. Acrescentaria, no

caso da POLI, o errático suporte de informática da POLI ou do NCE ou da TI da Reitoria, sujeita

a horários limitados, greves e assoberbadas. Também a errática infraestrutura do Fundão. Não

dá para não estar no ar, numa véspera de prova, por exemplo ou sem acesso via VPN porque a

Rede Rio, segurando todas as ações sociais com suporte de TI do Estado depauperada.

5. No seu ponto de vista, quais seriam as maiores razões para a baixa adoção do Moodle nos

cursos da EP por parte dos professores (a) e alunos (b)?

a. Repositório on going de uma turma e memória facilitada de edições anteriores (fácil

implantação)

b. Ponto único de contato, com acompanhamento de ações dos alunos (difícil mudança de

cultura).

Page 127: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

114

Antônio Salles – Chefe do STI

1. Quantos professores usam o PoliMoodle na EP?

59 Professores

2.498 Alunos

22 Monitores

2. Qual o nível de suporte ao PoliMoodle atualmente?

Erikson começou tentando incentivar a adoção da plataforma universalmente na Politécnica

em 2009. Desde então o que acontece para a criação de um curso no Moodle é:

Professor solicita ao STI a criação do mesmo

É então realizado um curso básico, ao vivo, com o docente para ensinar os

recursos básicos

O professore na maioria das vezes quer apenas armazenar conteúdo, então o

curso não se alonga (já houve o caso que o STI iria ajudar na ajuda da

implementação de outras ferramentas e o professor recusou falando que não

queria algo mais complicado)

Disciplina é criada no Moodle e há então uma orientação, junto ao docente, de como utilizar a

plataforma. Somos atualmente apenas dois funcionários na equipe que cuida não só do

Moodle como das outras plataformas, como o PoliMonografias e o PoliMail, mas sempre que

há dúvidas há ajuda personalizada. Existe um respositório de tutorais técnicos (o aumento da

equipe de suporte estaria então facilitado), mas não para o usuários.

3. Alguma dificuldade recorrente para a implementação?

Não há dificuldades típicas ou recorrentes. Sempre existem dúvidas no início mas os

professores normalmente deslancham sozinhos. E quando necessário recorrem ao STI com

suas dúvidas.

4. Limite de capacidade PoliMoodle?

Não há limitações. Existe um padrão de limitar até 10Mb por arquivo de Upload. Mas se for

necessário mais o curso inteiro pode ser habilitado para passar desse limite. Existe só um

servidor para o Moodle, mas é suficiente para o escopo atual. Não há planos de se integrar o

PoliMoodle com o SIGA. Repositórios e Fóruns são ferramentas base do pacote Moodle e estão

sempre presentes.

Repositórios tem um limite bastante grande de armazenamento e fóruns permitem postagens

de textos, figuras e vídeos (Links de vídeos também).

Page 128: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

115

Os professores que adotam utilizam, na sua maioria, apenas a ferramenta de repositório de

conteúdo (se auto-limitam).

O Moodle é um software livre, não há compra de pacotes. Os recursos básicos estão sempre

inclusos, mas se pode instalar plug-ins com objetivos específicos. Repositórios, Fóruns, Chat e

Wiki são todos básicos.

Existe até a possibilidade de se desenvolver plug-ins específicos para o Moodle. Mat estava por

exemplo desenvolvendo um plug-in que permitiria a postagem e edição de fórmulas

matemáticas nos fóruns do Moodle.

5. Principais obstáculos que docentes e discentes enfrentam na adoção da plataforma

Na área educacional há duas abordagens de ensino: Tradicional (aluno como recipiente) e

Construtivista (conhecimento se constrói com trocas). Atualmente a maioria dos professores

segue a metodologia tradicional (esse ponto de vista já seria um obstáculo a entender as

ferramentas de Gestão do Conhecimento como benéficas).

Realizei um estudo quanto a utilização de tecnologias de TI na educação, comparando uma

escola pública x privada. Na escola pública a infraestrutura era falha, mas se tentava utilizar da

maneira possível. Na privada se via o contrário, uma grande e completa estrutura e uma

subutilização geral. No estudo percebi que grande parte dos professores de ensino

fundamental não são formados quanto a utilização de tecnologias como ferramenta de ensino,

apenas 20% dos cursos de pedagogia tem (a questão do tipo de formação é de fato muito

importante e pode vir a dificultar ou não a adoção de novas técnicas).

Assim, os grandes obstáculos dos professores são relacionados a sua resistência a mudança, o

uso de outras plataformas e próprias metodologias que possam não incluir tecnologias desse

escopo. E existe o preconceito que se tem contra cursos a distância (de uma forma ligado a

aprendizado a distância) quando se pensa que esse metodologia seria menos eficaz por ser

mais fácil, o que não é verdade

Por parte dos alunos, a maior barreira é cultural, mas não vejo tanta resistência.

Page 129: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

116

14.2 APÊNDICE B – ENTREVISTA COM DISCENTES

Entrada

Como você obtem

informações sobre

seus cursos (datas,

matéria de prova,

materiais relevantes

ao curso) fora do

horário de aula?

Em média, o quão eficaz

foram as disponibilizações

de materiais e informações

(cronograma de curso,

materiais relevantes,

matéria de prova) das

disciplinas já cursadas por

você na EP?

O quanto seu

desempenho acadêmico

melhoraria com o apoio

de uma plataforma

virtual que com as

funções de

disponibilização de

materiais e espaço para

discussão extraclasse?

Você já ouviu falar do

Moodle?

Você já utilizou o

Moodle?

Você utilizaria o

Moodle como

primeira opção para

acessar materiais e

informações de seus

cursos da EP?

Você utilizaria o

Moodle para acessar

fóruns de discussão

sobre seus cursos da

EP?

Onde utilizou?

Qual foi a

complexidade de

aprender a utiliza-lo?

Alguma dificuldade

quanto ao uso

chamou a atenção?

Você utilizaria o

Moodle como

primeira opção para

acessar materiais e

informações de seus

cursos da EP?

Você utilizaria o

Moodle para acessar

fóruns de discussão

sobre seus cursos da

EP?

1Consulta a um colega de

classe (via email ou 3 4 Sim Sim UFRJ 1 Não Não Sim

2Consulta a um colega de

classe (via email ou 1 5 Sim Sim Intercâmbio, UFRJ 2 Não Sim Sim

3Não consulta fora do

horário de aula2 4 Sim Sim UFRJ 3 Não Sim Sim

4Consulta a um colega de

classe (via email ou 2 4 Sim Sim UFRJ 2 Não Sim Não

5Consulta a um colega de

classe (via email ou 3 5 Sim Sim Intercâmbio, UFRJ 1 Não Sim Sim

6Consulta a um colega de

classe (via email ou 4 5 Sim Sim UFRJ 2 Não Sim Sim

7Consulta a um colega de

classe (via email ou 3 4 Sim Não Sim Sim N/A N/A N/A N/A N/A

8Consulta a um colega de

classe (via email ou 2 3 Sim Sim UFRJ 2 Complexidade das telas. Sim Sim

9Consulta a um colega de

classe (via email ou 3 5 Sim Sim UFRJ 3 Interface ruim Sim Sim

10Consulta a um colega de

classe (via email ou 3 5 Sim Sim UFRJ 5 Não Sim Sim

11Consulta a um colega de

classe (via email ou 2 4 Sim Sim UFRJ 3 Interface ruim Não Sim

12Consulta a um colega de

classe (via email ou 2 4 Sim Sim Intercâmbio 1 Não Sim Sim

13Consulta a um colega de

classe (via email ou 4 4 Sim Sim UFRJ 2 Não Não Não

14Consulta a alguma

plataforma online do 3 5 Sim Sim UFRJ 2 Não Sim Sim

15Consulta a um colega de

classe (via email ou 4 4 Sim Não Não Não N/A N/A N/A N/A N/A

16Consulta a alguma

plataforma online do 3 2 Sim Sim UFRJ 1 Não Sim Não

17Consulta a um colega de

classe (via email ou 3 4 Sim Sim UFRJ 3

A interface não é nem

um pouco userfriendly, Não Sim

18Consulta a um colega de

classe (via email ou 4 4 Sim Sim UFRJ 1 Não Sim Sim

19Consulta a um colega de

classe (via email ou 4 5 Sim Sim UFRJ 2 Não Não Não

20Consulta a um colega de

classe (via email ou 2 5 Sim Sim UFRJ 3

Nunca consegui me

engajar no uso do Não Sim

Page 130: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

117

Entrada

Como você obtem

informações sobre

seus cursos (datas,

matéria de prova,

materiais relevantes

ao curso) fora do

horário de aula?

Em média, o quão eficaz

foram as disponibilizações

de materiais e informações

(cronograma de curso,

materiais relevantes,

matéria de prova) das

disciplinas já cursadas por

você na EP?

O quanto seu

desempenho acadêmico

melhoraria com o apoio

de uma plataforma

virtual que com as

funções de

disponibilização de

materiais e espaço para

discussão extraclasse?

Você já ouviu falar do

Moodle?

Você já utilizou o

Moodle?

Você utilizaria o

Moodle como

primeira opção para

acessar materiais e

informações de seus

cursos da EP?

Você utilizaria o

Moodle para acessar

fóruns de discussão

sobre seus cursos da

EP?

Onde utilizou?

Qual foi a

complexidade de

aprender a utiliza-lo?

Alguma dificuldade

quanto ao uso

chamou a atenção?

Você utilizaria o

Moodle como

primeira opção para

acessar materiais e

informações de seus

cursos da EP?

Você utilizaria o

Moodle para acessar

fóruns de discussão

sobre seus cursos da

EP?

21Consulta a um colega de

classe (via email ou 4 5 Sim Sim UFRJ 3 Interface bem ruim Não Não

22Consulta a alguma

plataforma online do 5 4 Sim Sim UFRJ 3 Não Não Sim

23Consulta a um colega de

classe (via email ou 3 4 Sim Sim Intercâmbio, UFRJ 1 Não Sim Não

24Consulta a um colega de

classe (via email ou 2 4 Sim Sim UFRJ 3 Não Não Não

25Consulta a um colega de

classe (via email ou 4 5 Sim Sim UFRJ 3 Não Sim Sim

26Consulta a um colega de

classe (via email ou 2 3 Sim Sim UFRJ 2

O calendário não é tão

facil de mexer, mas nada Sim Sim

27Consulta a um colega de

classe (via email ou 3 4 Sim Sim UFRJ 2 Não Sim Não

28Consulta a um colega de

classe (via email ou 3 5 Sim Sim UFRJ 3

Alteração de senha.Não Não

29Consulta a alguma

plataforma online do 3 5 Sim Sim UFRJ 4

Acessar o calendário de

meses que não são o Não Não

30Consulta ao professor

(via email ou telefone), 2 4 Sim Sim UFRJ 1 Não Sim Sim

31Consulta a um colega de

classe (via email ou 1 5 Sim Sim Intercâmbio, UFRJ 2 Não Sim Sim

32Consulta a um colega de

classe (via email ou 5 4 Sim Sim UFRJ 2 Não Sim Sim

33Consulta a um colega de

classe (via email ou 3 4 Sim Sim Intercâmbio, UFRJ 3 Não Sim Não

34Consulta a um colega de

classe (via email ou 2 5 Sim Sim Intercâmbio, UFRJ 2 Não Sim Sim

35Consulta a um colega de

classe (via email ou 3 4 Sim Sim UFRJ 2 Não Sim Sim

36Consulta a um colega de

classe (via email ou 4 4 Sim Sim UFRJ 3

Na entrega de um

exercício ao professor Sim Não

37Consulta a um colega de

classe (via email ou 4 5 Sim Sim

UFRJ, Outro curso

acadêmico3 Não Não Sim

38Consulta a um colega de

classe (via email ou 3 4 Sim Sim UFRJ 2 Não Sim Sim

39Consulta a um colega de

classe (via email ou 2 4 Sim Sim UFRJ 1 Não Não Não

40Consulta a um colega de

classe (via email ou 3 4 Sim Sim UFRJ 2 Não Sim Não

Page 131: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

118

Entrada

Como você obtem

informações sobre

seus cursos (datas,

matéria de prova,

materiais relevantes

ao curso) fora do

horário de aula?

Em média, o quão eficaz

foram as disponibilizações

de materiais e informações

(cronograma de curso,

materiais relevantes,

matéria de prova) das

disciplinas já cursadas por

você na EP?

O quanto seu

desempenho acadêmico

melhoraria com o apoio

de uma plataforma

virtual que com as

funções de

disponibilização de

materiais e espaço para

discussão extraclasse?

Você já ouviu falar do

Moodle?

Você já utilizou o

Moodle?

Você utilizaria o

Moodle como

primeira opção para

acessar materiais e

informações de seus

cursos da EP?

Você utilizaria o

Moodle para acessar

fóruns de discussão

sobre seus cursos da

EP?

Onde utilizou?

Qual foi a

complexidade de

aprender a utiliza-lo?

Alguma dificuldade

quanto ao uso

chamou a atenção?

Você utilizaria o

Moodle como

primeira opção para

acessar materiais e

informações de seus

cursos da EP?

Você utilizaria o

Moodle para acessar

fóruns de discussão

sobre seus cursos da

EP?

41Consulta a um colega de

classe (via email ou 3 4 Sim Sim UFRJ 2 Não Não Sim

42Consulta a um colega de

classe (via email ou 3 4 Sim Sim UFRJ 1

A dificuldade pra mim foi

mais relacionada à Não Não

43Consulta a um colega de

classe (via email ou 2 3 Sim Sim UFRJ 2 Não Sim Não

44Consulta a um colega de

classe (via email ou 2 4 Sim Não Sim Sim N/A N/A N/A N/A N/A

45Consulta a alguma

plataforma online do 3 5 Sim Sim UFRJ, escola 2 Não Sim Sim

46Consulta a um colega de

classe (via email ou 3 5 Sim Sim UFRJ 1 Não Sim Sim

47Consulta a um colega de

classe (via email ou 3 2 Sim Sim UFRJ 1 Não Sim Sim

48Consulta a um colega de

classe (via email ou 4 5 Sim Sim

UFRJ, Outro curso

acadêmico2

poderia envia avisos por

email em datas Sim Sim

49Consulta a um colega de

classe (via email ou 3 3 Sim Sim UFRJ 1 Não Sim Sim

50Consulta a um colega de

classe (via email ou 2 4 Sim Sim UFRJ 3 Não Não Não

51Consulta a um colega de

classe (via email ou 3 4 Sim Sim UFRJ 3

Existe a necessidade de

buscar a matéria que Sim Sim

52Consulta a um colega de

classe (via email ou 2 3 Sim Sim UFRJ 2 Não Sim Não

53Consulta a um colega de

classe (via email ou 3 3 Sim Sim UFRJ 1 Não Não Não

54Consulta a um colega de

classe (via email ou 3 4 Sim Sim UFRJ 2 Não Sim Sim

55Consulta a um colega de

classe (via email ou 3 4 Sim Sim Intercâmbio, UFRJ 1

Não. Achei simples. O

moodle da UFRJ, porém, Sim Não

56Consulta a um colega de

classe (via email ou 2 4 Sim Sim UFRJ 2 Não Sim Não

57Consulta ao professor

(via email ou telefone), 4 4 Sim Sim UFRJ 2

O moodle da ufrj não é

muito intuitivo e é Não Sim

58Consulta ao professor

(via email ou telefone)4 5 Sim Sim UFRJ 1 Não Não Sim

59Consulta a um colega de

classe (via email ou 4 5 Sim Sim

UFRJ, Outro curso

acadêmico, Cursos livres 1 Não. Sim Sim

60Consulta a um colega de

classe (via email ou 2 5 Sim Sim UFRJ 3 Não Sim Sim

61Consulta a um colega de

classe (via email ou 4 3 Sim Sim UFRJ 4

A interface não é nada

user friendly e os Sim Sim

62Consulta a um colega de

classe (via email ou 4 5 Sim Sim UFRJ 3

Pouco prático

Interface podia ser mais Não Não

63Consulta a um colega de

classe (via email ou 4 4 Sim Sim Intercâmbio, UFRJ 4 Não Não Não

64Consulta a um colega de

classe (via email ou 1 5 Sim Sim UFRJ 3

Os professores mesmo

não sabem utilizá-lo para Sim Sim

Page 132: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

119

14.3 APÊNDICE C – MODELO DE METODOLOGIA UTILIZADO

Figura 17 – Modelo da Metodologia Utilizada

Fonte: Elaboração Própria

Page 133: gestão do conhecimento: reflexões quanto a aplicabilidade de suas

120

15. ANEXO

15.1 ANEXO A – EMENTA OFICIAL DO CURSO KNOWLEDGE MANAGEMENT

Knowledge Management [LLSMf2011]

Carga Horária: 5 Créditos; 30 horas Professores: de Viron, Françoise Idioma de Ensino: Inglês Tópicos Abordados: Estudo do capital intelectual, gestão do conhecimento e ESTRATÉGIA. Análise de processos de informacao e conhecimentos dentro das empresas / projetos. A concepção, implementação e aplicação da gestao do conhecimento. O uso de tecnicas informaticas em áreas como a energia, engenharia, consultoria de TI e educação. Objetivos da Aprendizagem: Ao final do curso, os alunos serão capazes de: - dominar os principais conceitos de gestão do conhecimento - entender os benefícios estratégicos de projetos ou ações em gestão do conhecimento (em termos de problemas e impactos) - analisar o uso e fornecimento de várias tecnologias de informação e comunicação no atendimento das necessidades gestão de conhecimento no negócio. Conteúdo: As cinco dimensões da gestão do conhecimento são discutidas: estratégia, processos organizacionais, pessoas, cultura e tecnologia. Os benefícios estratégicos da gestão do conhecimento são analisados através da literatura e aplicações práticas. Técnicas de modelagem e aplicações de TI no contexto da gestão do conhecimento nas empresas são considerados (por exemplo, sistemas de gerenciamento eletrônico de documentos, portais de conhecimento, data warehouse empresarial, bases de conhecimento, sistemas especialistas, redes neurais, web semântica ,) Conteudo: A economia de capital intelectual, o conhecimento tácito e explícito, aprendizagem organizacional, as dimensões do gerenciamento de aplicativos de gestão do conhecimento, aplicacoes da gestao do conhecimento: - Os principais fatores de sucesso para a implementação e monitoramento – Suportes de TI e sistemas de conhecimento organizacional. A gestão do conhecimento e gestão do conhecimento em diferentes áreas de atividades de aplicacao - Apresentações de palestras - Seminário Interativo - Micro-ensino (parcialmente apresentado pelos alunos) - Aprendizagem atividades domésticas projeto - leitura preparatória - Preparação de apresentações - Estudo de caso pelos alunos - Projeto Grupo Outras informações: Pré-requisitos (em termos de competências) conceitos de gestão do conhecimento básico de avaliação: Participação nas aulas e projeto de grupo, incluindo um relatório final escrito e uma apresentação oral em Inglês ou Francês. Apoio: Slides fornecidos através iCampus Referências: Fornecido durante a aula (T. Stewart, E. Sveiby, Nonaka, H. Takeushi, C h Argyris, D. Schön, D. Davenport, L. Prusak). Elementos de internacionalização - C Cursos EMS – Conteúdo International - internacional ou caso Negócio intervenção - estudo de caso - as partes interessadas da empresa C cruz MATA - apresentação oral - trabalho em grupo - re-educação - análise e resolução de problemas - tecnologia crítica - ferramentas de TI – internet > C urso isolado (s) em ciências da gestão