gestao do conhecimento i - israel de moraes salles júnio r marcelo magalhães gonçalves

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1 GESTÃO DO CONHECIMENTO (Capítulo I) Texto narrativo do curta-metragem homônimo Israel Salles e Marcelo Gonçalves O homem nasce dotado de individualidade própria e todos os atributos indispensáveis à evolução por si mesmo em direção a um fim superior tendo o futuro determinado naturalmente, pela maneira como gere suas ações, e pela influência recebida do ambiente ao seu redor. Por necessidade de sobrevivência o homem organiza-se em tribos de interesse comum e compartilha o conhecimento da descoberta. Com linguagem própria, cria mecanismos e processos de retenção e disseminação de tudo que percebe, experimenta e que para

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Texto narrativo do curta-metragem homônimo que pode ser encontrado em http://www.youtube.com/watch?v=sGYunwLdfOE

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Page 1: Gestao Do Conhecimento I - Israel de Moraes Salles Júnio r Marcelo Magalhães Gonçalves

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GESTÃO DO CONHECIMENTO

(Capítulo I)

Texto narrativo do curta-metragem homônimo

Israel Salles e Marcelo Gonçalves

O homem nasce dotado de individualidade própria e todos os atributos indispensáveis à evolução por si mesmo em direção a um fim superior tendo o futuro determinado naturalmente, pela maneira como gere suas ações, e pela influência recebida do ambiente ao seu redor. Por necessidade de sobrevivência o homem organiza-se em tribos de interesse comum e compartilha o conhecimento da descoberta. Com linguagem própria, cria mecanismos e processos de retenção e disseminação de tudo que percebe, experimenta e que para

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ele, passa a ter um significado próprio. Estabelece um processo comunicativo com os demais, transmitindo códigos e dados que agrupados formam a fonte base de absorção de informações. A informação é tudo aquilo que se tem através da decodificação destes dados, não podendo existir sem um processo de comunicação que sirva de base para a construção do conhecimento. O tema Conhecimento inclui as descrições, hipóteses, conceitos, teorias, princípios, melhores práticas, procedimentos, experiências, dados e informações que são úteis e verdadeiras. O conhecimento pode ser definido como aquilo que se admite a partir da captação sensitiva, acumulável na mente humana; é aquilo que o homem absorve de alguma maneira, através da informação que lhe é apresentada, para com determinado fim ou não. O conhecimento distingue-se da mera informação porque está associado à intencionalidade. Tanto o conhecimento como a

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informação consiste de declarações verdadeiras, mas o conhecimento pode ser considerado informação com um propósito ou uma utilidade específico. O conhecimento não pode ser inserido em um computador por meio de uma representação, caso em que seria reduzido a mera informação. Torna-se então, equivocada a expressão "Base de Conhecimento" em sistemas computacionais, onde temos, na realidade uma "Base de Informação" ou "Base de Dados", nos casos em é que possível processá-la e transformar o seu conteúdo, e não apenas a sua forma. Associamos informação à semântica. Conhecimento está associado com pragmatismo, isto é, relaciona-se com alguma coisa existente no "mundo real" do qual temos uma experiência direta. O conhecimento pode ainda ser aprendido como um processo ou como um produto. Quando nos referimos a uma acumulação de teorias, idéias e conceitos, o conhecimento surge como um produto resultante dessas

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aprendizagens, mas como todo produto é indissociável de um processo, podemos olhar o conhecimento como uma atividade intelectual através da qual é feita a apreensão de algo exterior ao indivíduo. Segundo Platão, o Conhecimento consiste de crença verdadeira e justificada, sua teoria abrange o conhecimento teórico, o "saber que...", o conjunto de todas as informações que descrevem e explicam o mundo natural e social que nos rodeia, analisa o que ocorre, determina por que ocorre e dessa forma antecipa uma realidade futura. Outro tipo de conhecimento, não abrangido pela teoria de Platão é o conhecimento prático, o "saber como...". Seu aprendiz Aristóteles dividiu o conhecimento em três grandes áreas: científica, prática e técnica. A globalização da economia nos últimos anos forçou as empresas a melhorar o seu modo de gerenciamento para manter a vantagem competitiva. Os ativos intangíveis como a aprendizagem organizacional e a criação de conhecimento emergiram como

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fatores determinantes na briga por espaço e mercado das organizações em resposta à velocidade das mudanças. Surge o conceito de Capital Intelectual e as estratégias para transformar o conhecimento individual, às vezes tácito, nato, fruto das vivências e experiências dos colaboradores em conhecimento explícito e aproveitável pelas organizações na formação ou melhoria de novos indivíduos e da sociedade. Sustentabilidade, termo hoje usado amplamente para todas as atividades humanas, significa suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprir as suas. Um conceito importante e observado pelas organizações modernas no trato das informações e conhecimentos utilizados na tomada de decisões estratégicas. Segundo José Cláudio Terra, gerir o conhecimento significa organizar as principais políticas, processos e ferramentas gerenciais e tecnológicas à luz de uma melhor compreensão dos processos de geração, identificação, validação, disseminação, compartilhamento e

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uso dos conhecimentos estratégicos para gerar bons resultados para a empresa e benefícios aos seus colaboradores. Em contabilidade, as tentativas de qualificação e mensuração do capital intelectual à disposição das organizações têm gerado um novo ramo denominado "Contabilidade Estratégica". A busca pelo conhecimento verdadeiro, prático, sustentável e útil passa pela quebra do paradigma da disseminação e compartilhamento que invariavelmente gera discórdia, apego e intolerância pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar diferenças em crenças e opiniões. No sentido político e social, intolerância é a ausência de disposição para aceitar pessoas com pontos-de-vista diferentes, transcende à razão. Atitude expressa, negativa ou hostil, em relação às opiniões de outrem, mesmo que nenhuma ação seja tomada para suprimir tais opiniões divergentes ou calar aqueles que as têm. Está baseada no preconceito e pode levar à discriminação,

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intolerância religiosa e intolerância política. Em sua forma cotidiana há a fuga do objetivo do conhecimento, a intolerância é uma atitude expressa através de argumentação raivosa, menosprezando as pessoas por causa de seus pontos-de-vista. Em nível mais extremo, pode levar à violência e em sua forma mais severa, ao genocídio. Uma questão central da sociedade pós-industrial é o objeto do trabalho do homem, que passa a ser de interação com os outros homens e não mais somente com as máquinas ou com a natureza, cedendo lugar para o intercâmbio de informações, permitindo-nos chegar ao conceito de sociedade do conhecimento ou sociedade da informação. Os estudos sobre a livre concorrência nos Estados Unidos na década de 60 mostraram a emergência de um novo campo: o da produção do conhecimento. Nesse campo, o saber ocupa o papel central, acompanhado de uma nova classe de trabalhadores, a dos trabalhadores do conhecimento.

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Hoje vislumbramos a retirada de todas as atividades de informação, dos setores primário, secundário e terciário da economia, propondo o setor quaternário, que englobaria em sua estrutura a produção, o processamento e a distribuição de mercadorias e serviços de informação. Outro ponto importante sobre a sociedade da informação é dicotomia do seu objeto. A informação passa a ser considerada como recurso estratégico, de agregação de valor e elemento de competição política e econômica entre os países, podendo ser um fator tanto de dominação, quanto de emancipação. No início do último século, Sigmund Freud de forma polêmica sintetizou que "Só o Conhecimento traz o poder", dizendo considerar um avanço seus livros terem sido queimados pelos nazistas. Afinal, no passado, eram os autores que iam à fogueira. No trato das disciplinas de Gerenciamento de Projetos, há a preocupação em perpetuar técnicas e ferramentas que auxiliem o dia-a-dia dos administradores na

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condução dos empreendimentos temporários. Pouca ou nenhuma atenção é destinada à disseminação do conhecimento. É comum a redução desta atividade ao mero registro de Lições Aprendidas e relatórios de acompanhamento e performance em Bases de Dados, que como já mencionamos, não constitui conhecimento e sim informação. As informações são carregadas de estilos de vida, visão de mundo, ideologias, valores e contravalores. O conteúdo é normalmente direcionado por interesses humanos, geralmente em proveito dos grupos que controlam essas informações. O controle é rigoroso, quando as informações são utilizadas nos processos produtivos, na tomada de decisões e na geração de novas tecnologias. Em contrapartida, as informações que geram dispersão, confusão, distração, divertimento, lazer ou veiculam um modus vivendi de ideologias desmobilizadoras e concepções fantasiadas do mundo são democraticamente divulgadas e parecem conduzir à formação de uma sociedade de consumidores de informações insignificantes.

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Na era dos bytes, dados proliferam nas redes de computadores, mas só se tornam informações quando são organizados de acordo com preferências e colocados em um contexto, que define seu sentido e relevância. Informação se transforma em conhecimento quando há uma interação humana capaz de absorvê-la e relacioná-la com outros conhecimentos, fazendo com que seja internalizada, transformando-a em parte de um sistema de crenças próprio. O conhecimento pode ser dividido em dois tipos básicos: Tácito e Explícito. Conhecimento tácito é aquele que o indivíduo adquiriu ao longo da vida utilizando-se da sua experiência pessoal, está na cabeça das pessoas. É difícil de ser formalizado ou explicado a outra pessoa, pois é subjetivo e inerente as habilidades próprias, como know-how. Lidamos com algo subjetivo, não mensurável, quase impossível de se ensinar, de se passar através de manuais ou mesmo numa sala de aula.

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É o tipo de conhecimento mais valioso devido a sua difícil captura, registro e divulgação, exatamente por ele estar ligado às pessoas, é chamado de verdadeiro conhecimento. Conhecimento explícito é aquele formal, claro, regrado, fácil de ser comunicado. Pode ser formalizado em linguagem escrita e representativa, guardado em bases de dados ou publicações. O Conhecimento explícito pode ser confundido com a própria informação, na sua forma mais simples e elementar. Um dos grandes pensadores neste século, Peter Drucker (The Age of Discontinuity, 1954) afirma que "A sociedade para qual caminhamos muito rapidamente, o saber é o recurso chave.". É célebre a afirmação "os funcionários são o maior ativo da empresa". Verdade absoluta, pois os funcionários são os que detêm o conhecimento tácito, que são os conceitos, idéias, relacionamentos, enfim o conhecimento da empresa, de seus processos e produtos, dentro de suas mentes.

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A melhor forma de transmiti-lo é através da convivência, das interações que fazemos com o grupo que participamos, nos comunicando em contato direto com as pessoas. Segundo Davenport (Thomas H., Working Knowledge: How Organizations Manage What They Know, 1997), o sistema que possibilita aos colaboradores de uma organização a inserção de suas próprias observações a respeito de documentos, processos, informações e demais atividades da rotina de trabalho, configura-se como um sistema de Gestão do Conhecimento. O conhecimento adquirido não precisa ser recém-criado ou original, mas importa que seja novidade e útil para a empresa. O compartilhamento de informações deve ser incentivado para além das barreiras impostas pelas disciplinas técnicas. É da interação dos conhecimentos periféricos, aqueles que trazem todo o tipo de vivência e experiência além das especialidades técnicas e científicas dos indivíduos, que

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partem as grandes descobertas e idéias. Grandes projetos são planejados e executados de forma multidisciplinar, com a colaboração e interação de especialistas de todas as áreas técnicas envolvidas. As organizações preocupadas com a Gestão do Conhecimento devem promover programas permanentes de estudo e prática que levem ao aprendizado adquirindo e retendo as capacidades fundamentais para sua manutenção. Este curta não encerra a questão da Gestão do Conhecimento mas foi desenvolvido com a pretensão de fazê-lo pensar nas hipóteses e oportunidades que podem estar sendo perdidas pela falta de comunicação e troca de experiências entre os membros do seu Time. Distribua, discuta, provoque e incentive este debate. Mesmo quando não concordamos aumentamos o nosso conhecimento, mas mexa-se, pois as informações registradas precisam da sua interpretação para serem úteis fontes de crescimento.

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Os Autores Israel de Moraes Salles Júnior, PMP Economista graduado pela PUC-SP, pós-graduado em Gestão de Projetos pela USP e certificado PMP pelo PMI. Atuou nas empresas HP, ERNST & YOUNG, KPMG, Bancos CCF e ITAÚ. Consultor associado da DINSMORE Associates na implantação e desenvolvimento do PMO da PETROBRAS na UN-RIO e diagnósticos de gestão de projetos nas áreas de exploração e produção, downstream, gás e energia. Líder da equipe DA no PMO da Área de Negócio Internacional da PETROBRAS, com implantação e suporte de ferramentas e técnicas de projetos. É professor de cursos de capacitação para certificação em gerenciamento de projetos. Marcelo Magalhães Gonçalves, PMP Engenheiro Eletrônico e de Telecomunicações graduado pela UGF-RJ, certificado Project Management Professional pelo PMI e Master in Project Management pela George Washington University. Atuou como Program Manager na ALCATEL, Gerente de Projetos e Solution Designer na IBM e Gerente de projetos na VARIG. Consultor associado da DINSMORE Associates na implantação e desenvolvimento do PMO da PETROBRAS UN-RIO, com implantação e suporte de ferramentas e técnicas de projetos junto ao Ativo de Produção de Marlim Leste.