gestÃo de resÍduos resultantes da produÇÃo de … · from the intensive poultry prodution...
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARING CENTRO DE CINCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES.
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA CURSO DE PS-GRADUAO - MESTRADO EM GEOGRAFIA
Dissertao de Mestrado
GESTO DE RESDUOS RESULTANTES DA
PRODUO DE FRANGOS DE CORTE
MARING/PR, 2006
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CSAR BADO
GESTO DE RESDUOS RESULTANTES DA
PRODUO DE FRANGOS DE CORTE
Dissertao apresentada como requisito parcial para
obteno do Ttulo de Mestre ao Programa de Ps-
Graduao Mestrado em Geografia rea de
Concentrao: Anlise Regional e Ambiental, do
Departamento de Geografia do Centro de Cincias
Humanas, Letras e Artes da Universidade Estadual
de Maring/PR.
ORIENTADOR: Prof Dr. GENEROSO DE ANGELIS NETO
MARING/PR, 2006
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Dedico esta dissertao Sandra, minha esposa, pelo carinho e apoio no decorrer desta caminhada. Ao Matheus por aceitar a minha ausncia, mesmo que perto.
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AGRADECIMENTOS Ao professor Generoso De Angelis Neto, meu orientador, por aceitar o desafio da interdisciplinaridade entre as cincias e por trazer consideraes relevantes ao andamento desta pesquisa. Acima de tudo quero agradecer a amizade, fundamental para o andamento do trabalho. A Gabrieli e ao Leandro pela disponibilidade, agilidade e pelo suporte tcnico. A Sandra, pela cumplicidade e ainda, por saber que posso contar com voc.
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IV
RESUMO Neste trabalho procura-se analisar a gesto de resduos slidos em propriedades rurais decorrentes do sistema de produo intensivo de frangos de corte da regio Nordeste do Paran, abordando os principais resduos gerados, quantificando-os e descrevendo seu potencial poluidor. Consideram-se, ainda, as legislaes ambientais, impactos efetivos, potencialidades e deficincias do sistema de gerenciamento destes resduos, apresentando alternativas para minimizar os impactos ambientais decorrentes deste sistema de produo, dentro de um enfoque geogrfico. Palavras-Chave: Gesto de resduos, resduos da avicultura, propriedades rurais, impacto ambiental.
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ABSTRACT This paper tries to analize the solid residues management in rural counties derived from the intensive poultry prodution system in the northern Parana state area, approaching the main residues generated, qualifing them and describing its pluting potencial. The environment legislation effective impacts, potentialities and residues management systems deficiency are also considered presenting alternatives to minimize the environmental impacts derived from this prodution system in a geographic view. Keywords: residues management, residues of poultry, rural properties, environmental impacts.
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SUMRIO
DEDICATRIA ........................................................................................................... II AGRADECIMENTOS ................................................................................................ III RESUMO .................................................................................................................. IV ABSTRACT ............................................................................................................... V SUMRIO ................................................................................................................. VI LISTA DE TABELAS .............................................................................................. VII LISTA DE QUADROS ............................................................................................ VIII LISTA DE FOTOS .................................................................................................... IX LISTA DE FIGURAS ................................................................................................. X INTRODUO ........................................................................................................... 1 UNIDADE I SISTEMA DE PRODUO DE AVES DE CORTE E ELEMENTOS POLUIDORES ............................................................................................................ 7 1.1 Sistema de Produo de Aves de Corte ............................................................... 7 1.2 Cama de Avirio ................................................................................................. 10 1.2.1 Utilizao da Cama como Fertilizante ............................................................. 13 1.2.2 Cama de Avirio na Alimentao de Ruminantes ........................................... 19 1.2.3 Utilizao da Cama como Fonte de Energia ................................................... 20 1.3 Carcaas de Aves Mortas ................................................................................... 23 1.3.1 Fossas ............................................................................................................. 26 1.3.2 Incinerao ...................................................................................................... 28 1.3.3 Compostagem ................................................................................................. 29 UNIDADE II ASPECTOS RELACIONADOS LEGISLAO AMBIENTAL ....... 32 UNIDADE III NORDESTE DO PARAN: RESDUOS DA PRODUO AVCOLA E SEU GERENCIAMENTO ...................................................................................... 38 3.1 Uso e Ocupao do Solo na rea da Pesquisa .................................................. 39 3.2 Produo e Tratamento da Cama de Avirio na rea da Pesquisa ................... 43 3.3 Disponibilidade e Tratamento de Carcaas de Aves Mortas .............................. 46 CONSIDERAES FINAIS ..................................................................................... 53 REFERNCIAS ........................................................................................................ 55 ANEXOS .................................................................................................................. 58
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VII
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 Produo de cama: matria natural (Kg), matria seca (Kg e %) e umidade (%) nas diferentes densidades por lotes ................................................. 11 Tabela 02 Concentrao mdia de Nitrognio (N), Fsforo (P2O5) e Potssio (K2O) e teor de matria seca (MS) em camas reutilizadas ....................................... 12 Tabela 03 Contagem bacteriana antes e aps o alojamento ................................. 19 Tabela 04 Percentual de nutrientes em amostras de compostos de carcaas de aves ..................................................................................................................... 31 Tabela 05 Abate de frangos de corte no Brasil em 2003/2004 por estado ............ 38 Tabela 06 Relao entre o ciclo de produo e troca de cama nos modelos de propriedades adotados pela pesquisa ................................................................. 43 Tabela 07 Relao entre o nmero de aves alojadas, rea fsica do avirio e quantidade de cama disponvel ............................................................................. 44 Tabela 08 Produtores, potencial de alojamento, comportamento semanal da mortalidade, mortalidade total e percentual sobre alojamento ............................ 47 Tabela 09 Idade, peso padro em relao (g) de carcaas de aves mortas disponveis para cada ave alojada ................................................................ 48 Tabela 10 Sistema de gerenciamento de carcaas de aves mortas adotado pelas propriedades rurais de acordo com o modelo de alojamento estabelecido .... 51
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LISTA DE QUADROS
Quadro 01 Estgios da biodigesto anaerbica .................................................... 20 Quadro 02 Disponibilidade em gramas (g) de carcaas de aves mortas sobre o nmero de aves alojadas durante o perodo de alojamento ........................ 49
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IX
LISTA DE FOTOS
Foto 01 Avirio destinado ao alojamento de aves ................................................... 9 Foto 02 Cama de avirio com dejetos de aves ...................................................... 13 Foto 03 Lago eutrofizado com concentrao de plantas aquticas ....................... 16 Foto 04 Disponibilidade de cama aps ciclo de produo ..................................... 22 Foto 05 Aves mortas durante o ciclo de produo ................................................ 24 Foto 06 Modelo de fossa sptica para destino de aves mortas ............................. 26 Foto 07 Fossa sptica com carcaas em decomposio ...................................... 27 Foto 08 Incio da compostagem - Adio de marravalha e gua ............................ 29 Foto 09 Disposio das aves na composteira ....................................................... 30
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X
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 Estado do Paran Delimitao da rea de estudo ............................... 4 Figura 02 Localizao dos municpios da pesquisa no Estado do Paran ............... 5 Figura 03 Modelo de fossa sptica impermeabilizada ........................................... 28 Figura 04 Localizao dos abatedouros de aves na regio Nordeste do Paran .. 40 Figura 05 Municpios de abrangncia da pesquisa Nordeste do Paran ........... 42
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INTRODUO
O crescimento constante da avicultura brasileira levou as unidades agrcolas
de produo de frango de corte a aumentarem sua capacidade de alojamento de
aves. A demanda crescente por protena de origem animal aliada ao melhoramento
gentico, nutricional e controle climtico permitiram um incremento significativo na
densidade de aves idade de abate, passando de 20 para 30 Kg/ m (PAIVA, 2002).
Estes resultados so extremamente positivos quando analisados pelo aspecto
produtivo, mas algumas questes devem ser consideradas. Na avicultura moderna
se produz uma quantidade considervel de esterco em forma de cama (mistura de
esterco mais subprodutos de secagem). Nas unidades de produo avcola, mesmo
com taxas moderadas de mortalidade durante o desenvolvimento, a disposio de
aves mortas torna-se um problema significativo.
As alternativas de manejo destes resduos dependem da situao particular
de cada propriedade. De modo geral, as restries baseiam-se na forma de manejo
sobre o controle de doenas e sobre a qualidade do ar e da gua.
Segundo DE LUCAS JUNIOR (2003) os impactos ambientais causados pela
avicultura de corte podem estar relacionados com a emisso de gases e poeira, pelo
excesso de minerais depositados no solo em decorrncia do mau uso da cama e
acmulo de aves mortas, ainda pela contaminao do lenol fretico, por receber
elementos residuais do que foi aplicado ao solo.
Para CHAPMAN (1996) os principais componentes presentes nos resduos
animais, que fornecem nutrientes para as plantas, mas que, ao mesmo tempo, esto
relacionados contaminao das guas subterrneas e de superfcie, incluem o
nitrognio e o fsforo. Entre os problemas atribudos disposio destes resduos
no solo, citam, por exemplo, a contaminao de guas subterrneas com NO3
(nitrato).
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Segundo DE LUCAS JUNIOR (2003) microorganismos patognicos podem
sobreviver nos resduos animais, contaminando o lenol fretico, prejudicando a
qualidade microbiolgica da gua destinada a animais, recreao e ao consumo
humano.
A contaminao de gua de superfcie por Salmonella sp, por exemplo, pode
se dar atravs de dejetos de abatedouros avcolas e, indiretamente, atravs de
aplicao de resduos de aves contaminados no solo. A Salmonella sp pode se
multiplicar ate 100.000 vezes na gua de rios, com cerca de 100 mg de substncias
orgnicas por litro. Portanto os despejos de efluentes animais no tratados em
guas superficiais ou subterrneas tornam-se um risco eminente para pessoas ou
animais que a consomem ou tm contato direto (KRAFT, 2003).
Um sistema de produo dispe do ar, da gua e do solo como receptores de
efluentes de uma determinada atividade. Assim, torna-se fundamental considerar a
capacidade de assimilao do ambiente, ou seja, de disperso atmosfrica, de
autodepurao da gua e de filtrao no solo.
O uso adequado dos recursos naturais (melhoria na eficincia e
racionalizao do uso), o grau de capacidade de suporte para determinada atividade
e o controle na gerao e disposio de efluentes, segundo as caractersticas dos
receptores ar, solo e gua, determinaro maior ou menor sustentabilidade na
atividade.
dever da coletividade defender e preservar o meio ambiente. Para tanto
necessrio um trabalho de conscientizao pblica por meio da promoo de
educao ambiental (Constituio Federal1, 1988), de informao e publicidade dos
projetos e programas pblicos e privados, que comprometam a qualidade de vida. A
garantia da preservao e restaurao dos recursos ambientais locais e regionais
depende, portanto, da ao conjunta e integrada do poder pblico e da coletividade.
1Constituio Federal, art.225, 1, VI, 1988.
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Assim, este trabalho tem como objetivo principal avaliar o gerenciamento de
resduos slidos em propriedades rurais decorrentes de sistemas intensivos de
produo de frango de corte no Nordeste do Paran. Pretendemos ainda identificar
e quantificar os resduos produzidos, considerando suas caractersticas e o destino
final adotado; analisar as legislaes vigentes; propor alternativas para o
gerenciamento destes resduos, no intuito de minimizar os impactos decorrentes
deste processo. Alm deste objetivo, fornecer subsdios para que a iniciativa privada
local juntamente com os produtores consiga produzir com eficincia adequando seu
sistema de produo quando necessrio.
Para abordar tais questes o trabalho ser dividido em trs Unidades:
A Unidade I pretende abordar e descrever sobre os resduos slidos gerados
em propriedades rurais que trabalham com frangos de corte, sistema de
gerenciamento e disposio final adotado, seu potencial como agente poluidor do
meio, analisando fundamentalmente os que geram maior impacto.
Para discutir o assunto, fundamental entender a dinmica de uma
propriedade rural que trabalha com frangos de corte, conhecendo o processo da
produo.
Na Unidade II analisada a legislao ambiental no mbito Nacional e
Estadual, Programas de Sanidade Avcola relacionados gesto de resduos slidos
rurais decorrentes da produo intensivo de frango de corte, tratamento e disposio
final recomendados pela legislao.
Na Unidade III ser abordado o sistema de produo de frango de corte no
Nordeste do Paran no que se refere ao gerenciamento de resduos slidos em
propriedades rurais decorrentes deste processo. Quantificar os resduos produzidos
e analisar potencialidades e deficincias nos sistemas de tratamento e disposio
final.
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A rea de estudo foi delimitada com base na metodologia adotada pelo
Sindicato e Associao dos Abatedouros e Produtores Avcolas do Paran
(Sindiavipar), o qual estabelece no Estado do Paran quatro regies geogrficas
distintas: Noroeste, Sudoeste, Sudeste e Nordeste. Os critrios adotados pelo
Sindiavipar para delimitao das regies levam em considerao caractersticas
como: sistema de produo, instalaes, equipamentos e proximidade entre as
plantas industriais de abate, porm, no obedece a limites geogrficos especficos.
A agricultura uma atividade econmica dependente, em grande parte, do
meio fsico. O aspecto ecolgico confere fundamental importncia ao processo de
produo agropecuria. Qualquer pas ou regio apresenta vrias sub-regies com
diferentes condies de solo e clima, ainda, aptides para produzir bens agrcolas.
Para localizar geograficamente a rea de estudo, foi estabelecido um
quadrante nordeste do estado do Paran, delimitado pelas coordenadas
geogrficas, 22 40 e 24 40 de Latitude Sul e 49 20 e 52 00 de Longitude Oeste
(Figura 01).
Figura 01: ESTADO DO PARAN - DELIMITAO DA REA DE ESTUDO
Nota: Para a delimitao da rea de abrangncia foi utilizada a regionalizao da SINDIAVIPAR/2005.
Organizao: Csar Bado
CURITIBA
52 00' 49 20'
22 40'
24 40'
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A rea geograficamente delimitada como regio Nordeste do Estado do
Paran caracteriza-se como uma das principais regies produtoras do pas. No ano
de 2004 foram abatidas 17.479.555 aves ao ms o que corresponde a 19,73% do
nmero de aves abatidas no estado do Paran (SINDIAVIPAR, 2005).
Para o levantamento de dados sobre quantidade, caractersticas, destino e
gerenciamento de resduos slidos foram utilizados questionrios (amostragem)
aplicados diretamente aos produtores rurais de forma ao acaso2 (Anexo 01).
A base de dados gerou informaes sobre 14 municpios, distribudos na rea
de estudo de forma ao acaso conforme a Figura 02, permitindo uma anlise
qualitativa sobre o gerenciamento dos resduos slidos decorrentes da produo de
frangos de corte em propriedades rurais.
Figura 02: LOCALIZAO DOS MUNICPIOS DA PESQUISA NO ESTADO DO PARAN
CURITIBA
Base Cartogrfica: Prefeitura Municipal de Maring/PR 2005. Organizao: Csar Bado
SO PAULO
MATO GROSSODO SUL
PARAGUAI
SANTA CATARINA
2Os questionrios foram preenchidos eventualmente nas visitas realizadas em propriedades rurais.
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Assim, foram estabelecidas e analisadas trs categorias de propriedades
rurais, conforme a capacidade de alojamento de aves, buscando avaliar possveis
variaes na gesto dos resduos slidos entre os modelos de propriedades. Os
modelos adotados esto baseados na capacidade de alojamento, divididos em:
pequena capacidade de alojamento Inferior a 15.000 aves;
mdia capacidade de alojamento entre 15.001 e 30.000 aves;
grande capacidade de alojamento acima de 30.001 aves.
Estas trs categorias de propriedades predominam na rea de estudo e
caracterizam o modelo de avicultura adotado na regio. Cabe ressaltar que em
nossa abordagem no analisamos a relao com o aspecto fundirio.
O mtodo de coleta de dados por questionrio (amostragem) foi tambm
utilizado para obter informaes das empresas integradoras no que se relaciona a
gerao e destino para os dejetos produzidos nas propriedades rurais (Anexo 02).
O diagnstico da situao atual da produo e gerenciamento de resduos
slidos, mediante levantamento de campo (amostragem) permite analisar e propor
alternativas para a gesto destes resduos slidos, alm de apresentar e discutir os
resultados para produtores e iniciativa privada, fornecendo-lhes subsdios para
adequao do seu processo de produo de frangos de corte, na tentativa de
minimizar os impactos ambientais decorrentes deste processo.
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UNIDADE I
SISTEMA DE PRODUO DE AVES DE CORTE E ELEMENTOS POLUIDORES
A cadeia produtiva de aves de corte no Brasil vem se destacando nas ltimas
dcadas devido ao incremento tecnolgico e sua capacidade de coordenao
entre os diferentes agentes que a compe.
Segundo a Unio Brasileira de Avicultura (UBA, 2005) a produo brasileira
de frangos de corte passou de 2.356.000 toneladas de carne em 1990 para
8.490.000 toneladas de carne em 2004. Foram abatidos mais de 4.040.000.000 de
aves, o que corresponde atualmente a 13% da produo mundial. Este volume de
carne distribudo em dois tipos de mercado de consumo: o interno, que absorve
71,5 % do volume total produzido e o mercado de exportao responsvel por
consumir 28,5 % da produo nacional de carne de frangos. O setor avcola de corte
no Brasil responsvel por gerar mais de quatro milhes de empregos diretos e
indiretos.
Estes dados no refletem apenas a caracterstica do setor, norteado pelo
mercado de escala, seu excepcional desempenho em alojamento de aves,
produtividade e rentabilidade, mas tambm demonstra a importncia social desta
atividade tanto no meio agrcola quanto urbano.
1.1 Sistema de Produo de Aves de Corte
O sistema de produo de frangos de corte para o abate no Brasil
constitudo por duas bases fundamentais. A primeira caracterizada pela indstria
de capital privado ou cooperativo, dispe do espao fsico ou planta3 para abate e
processamento de carnes e derivados, produo de pintainhos e fbrica de raes,
mantendo sob sua responsabilidade jurdica todo e qualquer agrave que possa
3Planta se relaciona ao espao fsico destinado para o abate e processamento de aves.
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ocorrer no gerenciamento do cotidiano. So exemplos questes comerciais ou
ambientais, ou ainda com recursos humanos.
A segunda constitui a estrutura produtiva comumente denominada
integrao aviria4 ou granja; de capital particular (fsico), onde configura a
propriedade rural e seu proprietrio ou arrendatrio como elemento gerenciador do
cotidiano. Caracteriza-se pela fora de trabalho, normalmente no vinculada
indstria que utiliza o sistema de produo de frangos de corte como uma forma de
diversificar suas atividades de produo agregando valor e renda.
O crescimento constante da avicultura brasileira nos ltimos anos levou as
unidades rurais de produo de frango de corte a aumentarem sua capacidade de
alojamento de aves. A demanda crescente por protena de origem animal aliada ao
melhoramento gentico, nutricional e controle climtico levou a um incremento
significativo na densidade de aves idade de abate, passando de 20 para 30 Kg/
m.
Normalmente as granjas so dimensionadas para alojar 11 a 13 aves por m2,
carga superficial5 que viabiliza no apenas o produtor e seu investimento como
tambm a indstria com o transporte de alimentos e custo de assistncia tcnica
(TINOCO, 2004).
O alojamento consiste em preparar o ambiente avirio para o recebimento
dos pintainhos em seu primeiro dia de vida (Foto 01).
Para alojar um lote de pintainhos necessrio que a propriedade rural
disponha de um avirio, o qual possui caractersticas como altura do p direito de
3,5 m, largura de 12 m e comprimento variando entre 60 a 150 m. O mesmo padro
adotado em quase todo o Brasil, correspondendo a um ou mais avirios por
propriedade, cuja rea construda de cada varia entre 600 m2, 1200 m2 ou 1800 m2,
permitindo um alojamento aproximado de 7.000, 14.500 ou 22.000 aves
respectivamente (TINOCO, 2004).
4Avirio corresponde estrutura fsica destinada a criao de aves. 5Carga superficial se refere a relao entre quantidade e/ou peso sobre rea.
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Foto 01 - Avirio destinado para o alojamento de aves.
Outros fatores importantes a serem considerados referem-se necessidade e
disponibilidade de gua, alimentos, energia eltrica, comedouros, bebedouros,
equipamentos para controle trmico como ventiladores, nebulizadores aquecedores
e principalmente material absorvente para utilizar como cama.
Segundo PAGANINI (2004) aves criadas em ambientes com temperatura
adequada, com controle da carga microbiana, conseqentemente com baixa
contaminao por agentes patognicos, com qualidade do ar e sobre uma
superfcie confortvel, podero expressar melhor o potencial gentico de converter o
alimento ingerido em peso corporal.
Os resultados da avicultura brasileira so extremamente positivos quando
analisados pelo aspecto produtivo e econmico. No entanto, algumas questes
devem ser consideradas. Entre estas a questo ambiental e o impacto provocado
pelos resduos slidos produzidos pela atividade se configuram entre as principais.
Na avicultura moderna se produz uma quantidade considervel de esterco em
forma de cama (mistura de esterco mais subprodutos de secagem). Alm disso, nas
unidades de produo avcola, mesmo com taxas moderadas de mortalidade
durante o desenvolvimento, torna-se evidente a disposio de aves mortas.
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As alternativas de manejo destes resduos dependem da situao particular
de cada propriedade e das restries impostas pelos rgos ambientais. De modo
geral, as restries baseiam-se no impacto, na forma de manejo sobre o controle de
doenas e sobre a qualidade do ar e da gua.
Ainda que a tecnologia permita superar, em parte, as limitaes derivadas do
condicionamento ecolgico, importante lembrar que a preservao dos recursos
naturais restringe parcialmente as decises relacionadas com o uso e ocupao do
solo.
Desenvolver alternativas que estimulem a produo, mas, sobretudo, que
minimizem os impactos causados por seus resduos no ambiente, tem-se tornado
um dos grandes desafios da atividade agropecuria.
1.2 Cama de Avirio
Cama considerada, todo material orgnico6 seco, normalmente derivado ou
subproduto de secagem de produo agrcola, inerte7 e que possui como
caracterstica principal absoro de umidade, fcil manejo e disponibilidade regional.
Vrios subprodutos industriais ou restos de culturas agrcolas podem ser usados,
entre eles a maravalha8, a casca de arroz, fenos picados e resduos de marcenaria,
como a serragem.
A cama deve ser manejada de forma que sua umidade fique entre 20 e 35%
(ALMEIDA, 1986). O aumento na densidade de aves determina maior compactao
da mesma, diminuindo sua capacidade de absoro de umidade. Segundo MACARI
(1997) a utilizao de uma lmina 10 cm de espessura do material sobre o piso
suficiente para fornecer um ambiente confortvel para as aves.
Elemento fundamental no processo produtivo, a cama atua como isolante
trmico entre a ave e o piso, alm de alterar a caracterstica de dureza do mesmo.
6Algumas empresas utilizam materiais inorgnicos como a areia para superfcie de cama. 7Inerte: Inativo, ou seja, materiais que no podem mudar espontaneamente de estado. 8Maravalhas so aparas de madeiras, gravetos finos, cavacos.
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Alm disso, tm a funo de reter as fezes, restos de alimentos, descamaes da
pele, penas e a umidade no decorrer da produo, tornando-se assim, aps seu uso,
um dos principais resduos do sistema de produo de frangos de corte com
potencial poluidor do ambiente.
MALONE (1992) avalia a utilizao, o manejo e a produo de cama com
materiais alternativos. Este estudo permitiu identificar que um sistema de produo
de frangos de corte em escala industrial produz, em mdia, 1,6 a 1,8 Kg de cama por
ave no perodo de alojamento9, ou seja, aproximadamente 24 Kg de material
produzido por metro quadrado de rea construda. Esta carga superficial
influenciada por diversos fatores, tais como a idade de abate, densidade e linhagem
das aves, converso alimentar10, tipo de rao, condies climticas, tipo e
quantidade de material utilizado como cama, entre outros.
SANTOS e DE LUCAS JNIOR (2001) identificaram uma variao na carga
superficial disponvel de acordo com o tipo de substrato usado para confeco da
cama, a quantidade de material utilizado, a densidade de aves por m e o nmero de
lotes criados sobre a mesma cama. A influncia da densidade de animais por m de
rea e o nmero de reutilizaes da cama sobre a carga superficial produzida pode
ser verificada na Tabela 01.
Tabela 01 Produo de cama: matria natural (Kg) matria seca (Kg e %) e
umidade (%) nas diferentes densidades, por lotes
Lote Densidade Aves/m
MN (Kg)
Umidade (%)
MS MS/ave (Kg)
DA (Kg MS) (Kg) (%)
10 107,825 28,84 76,556 71,16 1,727 0,949 1 16 137,363 33,2 91,366 66,74 1,349 0,839 22 170,525 39,03 103,511 60,97 1,124 1,124 138,571 33,72 90,478 66,29 1,400 0,970
2 10 132,500 21,33 104,062 78,56 1,205 1,023 16 164,313 28,12 118,094 71,88 0,992 0,874 22 199,838 38,24 123,211 61,76 0,774 0,689 165,550 29,26 115,123 70,73 0,990 0,862
MN: Material natural; MS: Matria seca; DA:Detritos acrescentados pelas aves Fonte: Santos e De Lucas Junior (2001), adaptado.
9Este perodo pode variar entre 42 e 45 dias. 10Converso alimentar a relao entre o consumo alimentar e o ganho de peso.
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A Tabela 01 mostra um incremento na carga superficial de material natural
(MN) medida que aumenta a densidade de aves por metro quadrado. Esta relao
tambm pode ser observada quando se reutiliza esta cama para a criao de um
segundo lote de aves.
Esta relao confirmada pela anlise da massa seca (MS) onde, depois de
retirada umidade, percebe-se o incremento real de carga superficial disponvel em
ambas situaes. Ao aumentar a densidade de aves por metro quadrado acresce a
carga superficial de cama disponvel. Ao reutilizar a cama para criar um novo lote, h
um incremento proporcional de massa seca (MS) produzida.
Composta basicamente por resduos de cultura agrcola ou subprodutos da
indstria madeireira, a cama recebe, durante o processo de produo, uma carga
significativa de nutrientes como nitrognio (N), fsforo (P) e potssio (K), oriundos do
metabolismo dos alimentos em forma de dejetos, restos de alimentos desperdiados,
penas das aves e descamaes da pele. Neste sentido, o material utilizado para a
confeco da cama bem como a reutilizao por vrios lotes vai influenciar na
composio do material final, principalmente no que se refere concentrao de
elementos qumicos e minerais.
PALHARES (2005) verificou um processo acumulativo de determinados
minerais na cama de frango aps sua reutilizao por vrios lotes. Esta
caracterstica pode ser observada na Tabela 02.
Tabela 02 Concentrao mdia de Nitrognio (N), Fsforo (P2O5), Potssio (K2O) e
teor de Matria seca (MS) em camas reutilizada
Resduo Nitrognio (N)
Fsforo (P2O5)
Potssio (K2O)
Matria Seca (%)
Cama de aves 1 lote 3,0 3,0 2,0 70 Cama de aves 3 lote 3,2 3,5 2,5 70 Cama de aves 6 lote 3,5 4,0 3,0 70
Fonte: PALHARES (2005).
A presena destes nutrientes fundamentais, associados a uma grande
quantidade de material orgnico, normalmente determina o destino a ser empregado
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para esses resduos. Desta forma a cama de avirio (Foto 02) pode ser considerada
um recurso se usada adequadamente, pois apresenta riscos ambientais mnimos.
No entanto, quando impropriamente manipulados, podem degradar o ambiente.
Foto 02 Cama de avirio com dejetos de aves
Relacionar o potencial poluidor da cama de avirio a outro tipo de resduo
pouco provvel e coerente. No entanto possvel estimar a quantidade de cama
produzida pela atividade avcola brasileira se considerados os dados da UBA (2005)
e a pesquisa de MALONE (1992).
Segundo a UBA (2005) em 2004 foram abatidas aproximadamente
4.040.000.000 aves no territrio brasileiro, em conseqncia, a produo de
7.272.000 toneladas de resduos ao ano.
1.2.1 Utilizao da Cama Como Fertilizante
O principal destino adotado, pelos produtores, para esses resduos relaciona-
se sua composio e capacidade de suprir de nutrientes o solo e as plantas. No
entanto, o volume de nutrientes adicionado ao solo deve equivaler-se quele retirado
pelas plantas num determinado tempo, de maneira que no haja deficincias nem
excessos.
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Normalmente, o procedimento adotado para o clculo das quantidades de
cama a serem aplicadas ao solo segue o critrio de suprir as quantidades de
nitrognio ou fsforo recomendadas para as adubaes com fertilizantes qumicos.
Sobre isso, SEGANFREDO (2005) traz que:
Freqentemente, no entanto, aplica-se de uma nica vez, a quantidade de cama para suprir a dose total de nitrognio ou fsforo demandada pela cultura durante todo o seu ciclo. Esse procedimento, associado aos excessos de nutrientes nas raes, ao baixo aproveitamento pelas aves de diversos minerais como o nitrognio, fsforo, cobre e zinco e, as aplicaes indiscriminadas das camas ao solo, so os principais fatores que podem transformar as camas de aves de um fertilizante em potencial, num poluente do solo, das guas, da atmosfera e causador de fitotoxicidade s plantas e de deteriorao da qualidade dos produtos agrcolas com elas produzidos (SEGANFREDO, 2005).
Complementando, CHAPMAN (1996) traz que embora os principais
componentes presentes nos resduos animais forneam nutrientes para as plantas,
tambm esto relacionados com a contaminao das guas subterrneas e de
superfcie.
O on amnio (NH4) a forma dominante de Nitrognio orgnico no esterco
de aves, o qual convertido em amnia (NH3) pela elevao do pH e sob condies
de umidade. Devido a sua alta volatilidade, a amnia difunde-se do esterco para a
atmosfera, elevando os nveis deste gs no interior dos galpes e poluindo a
atmosfera adjacente (SEIFFERT, 2000).
No entanto, o escoamento de gua pluvial de pastagens fertilizadas com
excesso de esterco de aves pode conduzir rede de drenagem concentraes
elevadas de amnia.
A amnia, quando dissolvida na gua, pode ser txica para peixes mesmo em
baixas concentraes. Nveis elevados provocam estresse nos organismos, com
problemas nos filamentos branquiais, destruio das nadadeiras, diminuio da
resistncia a doenas e morte.
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15
Problemas respiratrios podem ocorrer devido a concentraes de 0,4 a 1,0
mg de amnia total/l de gua. Concentraes da amnia (NH3) prximas a 0,01mg/l
mostraram efeitos insignificantes sobre os peixes, enquanto valores prximos ou
superiores a 0,25 mg/l podem ser mortais para algumas espcies (PDUA, 2005).
Limites de 0,02 ppm de N na forma de amnia (NH3) na gua so
estabelecidos pela agncia americana de proteo ambiental para proteo da vida
aqutica (KRIEDER, 1992).
Por outro lado, estes compostos nitrogenados eliminados pelas aves na forma
de fezes sofrem a ao de bactrias nitrificantes na cama e so transformados em
nitritos (NO2) e nitratos (NO3), compostos no volteis que melhoram a qualidade
fertilizante da cama (PAGANINI, 2004).
O Nitrato (NO3) forma em que o nitrognio absorvido pelas plantas. Porm
altamente solvel na gua e facilmente transportado pela soluo do solo da zona
das razes para o lenol fretico e da para a rede de drenagem (SEIFFERT, 2000).
A adubao com altos nveis de esterco de aves no solo resultam em
elevadas concentraes de nitrato na gua subterrnea. Concentraes de nitrato
acima de 10 mg/l em gua de poos so freqentemente detectadas em reas onde,
se desenvolve criao intensiva de aves. As concentraes mais elevadas ocorrem
em locais, com produo intensiva de frangos, uso intensivo de esterco e sob
condies de solos arenosos bem drenados (SEIFFERT, 2000).
A intensidade do processo de contaminao depende principalmente das
quantidades de nitrato presentes ou adicionados ao solo, da permeabilidade do solo,
das condies climticas, pluviosidade, manejo da irrigao e da profundidade do
lenol fretico.
Em um sistema estabilizado o nvel de amnia deve atingir, no mximo, a
concentrao de 0,2 mg/l, sendo que, para os demais compostos nitrogenados como
o nitrito, limites entre 0,1 a 0,3 mg/l so aceitveis. Para o nitrato a concentrao no
deve exceder a 10 mg/l (PDUA, 2005).
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O enriquecimento excessivo de guas superficiais com nitratos e derivados
nitrogenados pode levar ao desequilbrio dos ecossistemas aquticos devido ao
processo de eutrofizao, que consiste da proliferao exagerada de algas e plantas
aquticas.
Como conseqncia, pode haver reduo da penetrao de luz em
profundidade, alterando o ambiente subaqutico. Plantas aquticas podem criar
bancos de vegetao submersa retendo sedimentos e vindo a dificultar a
navegao. Alm disso, a prpria respirao e os restos de plantas e algas mortas
depositadas no fundo provocam a reduo na disponibilidade de oxignio,
culminando com a mortandade de peixes e outros organismos aquticos. A Foto 03
mostra a presena de plantas aquticas em corpos dgua superficiais.
Foto 03 Lago Eutrofizado, com concentrao de plantas aquticas.
Embora pessoas em idade adulta possam ingerir quantidades relativamente
altas de nitrato atravs de alimentos e da gua e excret-lo pela urina sem maiores
conseqncias prejudiciais sade, crianas com menos de seis meses de idade
podem apresentar intoxicao alm de asfixia, pela reduo da capacidade do
sangue em transportar oxignio (RESENDE, 2005).
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A ingesto de altos nveis de nitrato por bovinos e eqinos podem levar a uma
intoxicao devido capacidade de sua flora digestiva convert-lo em nitrito.
Adequar as taxas de suprimento de nitrognio com a demanda da cultura no
decorrer do seu perodo de crescimento vegetativo constitui-se no principal aspecto
a ser buscado em termos de aumento da eficincia da adubao nitrogenada e
concomitante reduo do risco de lixiviao de nitrato.
Neste sentido, o parcelamento da adubao nitrogenada de acordo com os
perodos de demanda das culturas, talvez seja a maneira mais fcil de ganhar
eficincia e devem ser priorizadas quando as condies de solo (alta
permeabilidade) e clima (chuva intensa e freqente) favorecerem a possibilidade de
lixiviao de nitrato.
Para SANT'ANNA NETO (1998) a anlise geogrfica do clima voltada para a
organizao do espao agrcola deve, necessariamente, partir de uma concepo de
clima como insumo nos processos naturais e de produo. Desta forma, tanto a
radiao global quanto os principais elementos do clima passam a ser considerado
como agentes econmicos e, portanto, interveniente na produo e rentabilidade.
Da mesma maneira, o fsforo (P) presente no esterco das aves tem poder de
fertilizar o solo. Em condies de normalidade no solo, o fsforo est fortemente
adsorvido s argilas, forma pela qual sua capacidade de migrar no perfil se limita a
poucos centmetros. Porm, altas concentraes desse elemento no solo podem
alterar ou indisponibilizar alguns micronutrientes como Ferro e Zinco, alm de
exceder a capacidade de absoro das plantas e chegar ao lenol fretico mediante
lixiviao (SEIFFERT, 2000).
Altas concentraes de fsforo tm sido encontradas em gua de
escoamento superficial de pastagens onde foi aplicado esterco de aves. A maior
parte (80 a 90%) solvel em gua e prontamente assimilvel por plantas e algas
(MOORE, 1996).
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Os nveis de fsforo em corpos dgua superficiais no devem ser superior a
0,05 mg por litro para cursos dgua e 0,10 mg por litro para lagos e reservatrios
(SEIFFERT, 2000).
Do ponto de vista de sade, o enriquecimento da gua em fsforo no traz
maiores problemas, j que se trata de um elemento requerido em elevadas
quantidades pelos animais em geral.
A maior preocupao com este elemento est relacionada ao seu potencial de
eutrofizao dos corpos de gua superficiais. Nestas condies a atividade
fotossinttica das algas eleva a concentrao de oxignio (O2) dissolvido na gua
durante o dia, mas a respirao das plantas reduz novamente o oxignio noite e
em dias nublados (SEIFFERT, 2000).
A reduo na concentrao de O2 dissolvido pode resultar na mortandade de
peixes e ictiofauna associada, alm de alterar o odor e o sabor da gua. Corpos de
gua nestas condies podem se tornar anaerbicos e produzir metano, aminas e
sulfitos (BLAKE, 1996).
Neste sentido, estimar a disponibilidade do nutriente no solo, teor de matria
orgnica, disponibilidade de palha da cultura anterior, condies climticas,
permeabilidade do solo e a taxa de liberao dos nutrientes pelo fertilizante a ser
utilizado (principalmente no caso dos estercos), precisam ser analisados de forma
integrada a fim de ajustar a dosagem, forma e poca de aplicao, reduzindo a
possibilidade de excessos de nutrientes (SEGANFREDO, 2005).
Alm disso, substncias que demandam oxignio, materiais em suspenso e
patgenos oriundas do inadequado gerenciamento dos resduos da produo
avcola, carreados para corpos dgua, podem alterar ou contaminar o ambiente.
Partculas em suspenso nos corpos de gua limitam a penetrao da luz e,
conseqentemente, reduzem a produo de O2 livre por algas e plantas, interferindo
na qualidade da gua.
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OPARA (1992) observou uma correlao entre positividade para Salmonella
enteritidis e variveis fsicas da cama: umidade, atividade de gua (medio da gua
molecular livre) e pH. Quanto maior a umidade, maior a atividade de gua e maior o
pH, maior a probabilidade de a cama ser positiva para Salmonella enteritidis.
Para DE LUCAS JUNIOR (2003) a contaminao de gua de superfcie por
Salmonella sp, por exemplo, pode ocorrer atravs de dejetos de abatedouros
avcolas e, indiretamente, atravs de aplicao de resduos de aves contaminados
no solo. Alm disso, outros microorganismos patognicos podem sobreviver nos
resduos animais, contaminando o lenol fretico e prejudicando a qualidade
microbiolgica da gua destinada aos animais, recreao e ao consumo humano.
Para PAGANINI (2004) o mtodo de fermentao, processo natural de
decomposio da matria orgnica em ambiente anaerbico, capaz de reduzir a
populao microbiana da cama, baseiam-se na epidemiologia dos agentes, na
logstica disponvel na propriedade e na viabilidade econmica. O aumento da
temperatura e a reduo do pH que ocorrem no material compostado devido
atividade microbiana, inviabilizam a sobrevivncia das principais bactrias de
importncia, conforme mostra a Tabela 03.
Tabela 03 Contagem bacteriana antes e aps o amontoamento
Coliformes totais Coliformes fecais Enterobactrias Antes do amontoamento 65.620 49.400 75.460 Depois do amontoamento 260 160 2.640 Fonte: PAGANINI (2004).
Alm do aproveitamento como fonte de nutrientes para a agricultura, a cama
de avirio pode ser destinada a outras finalidades.
1.2.2 Cama de Avirio na Alimentao de Ruminantes
O aproveitamento da cama de avirio como fonte de alimento para
ruminantes no recente. Resulta da capacidade dos ruminantes em transformar o
nitrognio em protena e digerir os componentes fibrosos, disponibilizando energia
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para o metabolismo (LEME, 2000). Porm, a Instruo Normativa n 15 do Ministrio
da Agricultura, Pecuria e Abastecimento, publicada em 17 de junho de 2001, ainda
em vigor, proibiu o uso da cama de avirio para este fim.
1.2.3 Utilizao da Cama como Fonte de Energia
Alguns estudos apontam para o aproveitamento da cama de avirio como
fonte de energia. A biodigesto ou digesto anaerbia o processo pelo qual as
bactrias, atravs da fermentao, degradam a matria orgnica, transformando-a
em subprodutos, como o biogs (gs inflamvel) e o biofertilizante (lquido organo-
mineral estabilizado). Estes subprodutos possuem alto valor como fontes
energticas e nutricionais para as plantas, respectivamente, podendo ser substitutos
de insumos adquiridos pelo avicultor.
Segundo PALHARES (2005) o processo de biodigesto pode ser dividido em
trs estgios distintos, envolvendo grupos de microrganismos especficos em cada
um deles. No primeiro estgio, materiais orgnicos complexos (carboidratos,
protenas e lipdios) so hidrolizados e fermentados em cidos graxos, lcool,
dixido de carbono, hidrognio, amnia e sulfetos, por microorganismos anaerbios
e facultativos. As bactrias acetognicas participam do segundo estgio,
consumindo os produtos primrios e produzindo hidrognio, dixido de carbono e
cido actico, conforme Quadro 01.
Quadro 01 Estgios da biodigesto anaerbica
Fonte: PALHARES (2005) adaptado.
H2, CO2 cido actico (CH2COOH)
ESTGIO 1 Bactrias fermentativas
Ac. Propinico (CH2CH2COOH), c. butrico (CH2CH2CH2COOH) Alcoois e outros compostos.
Resduo orgnico Carboidratos Protenas, Gorduras, Celulose,
H2, CO2, cido actico CH2COOH
ESTGIO 2 Bactrias acetognicas
Metano (CH4 ), CO2
ESTGIO 3 Bactrias metonognicas
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21
Dois grupos distintos de bactrias metanognicas participam do terceiro
estgio: o primeiro grupo reduz o dixido de carbono a metano e o segundo
descarboxiliza o cido actico produzindo metano e dixido de carbono
(PALHARES, 2005).
De modo geral a reciclagem de resduos orgnicos ou dejetos decorrentes da
produo animal via biodigesto vem ganhando espao, principalmente na atividade
suincola devido disponibilidade de equipamentos e tecnologias para implantar tal
processo. No entanto, adequar esta tecnologia para os tipos de resduos
encontrados na avicultura se torna fundamental, medida que necessrio
produzir, minimizando os impactos causados ao ambiente, decorrentes do volume
de material disponvel e sua carga patognica.
Para PALHARES (2005) a escolha de um modelo de biodigestor adequado
para o tipo de resduo produzido fundamental para obter sucesso operacional e
econmico no empreendimento. No entanto, para estabelecer uma relao entre os
principais tipos de biodigestores e suas caractersticas microbiolgicas, torna-se
fundamental conhecer alguns parmetros que influenciam no modo de operao
destes equipamentos e na sua eficincia na produo de biogs:
O Tempo de Reteno Hidrulica (TRH) entendido como o intervalo de tempo necessrio para que ocorra o processo de biodigesto de maneira completa. O Tempo de Reteno de Microorganismos (TRM) e o Tempo de Reteno de Slidos (TRS) so os tempos de permanncia dos microorganismos e dos slidos no interior dos biodigestores. Estes tempos so expressos em dias e, de maneira resumida, pode-se dizer que altas produes de metano so conseguidas, satisfatoriamente, com longos TRM e TRS (PALHARES, 2005)
Outro fator a ser considerado relaciona-se disponibilidade do resduo (Foto
04). A cama de frango um resduo produzido em intervalos de tempo, ou seja, sua
disponibilidade no contnua devido ao modo de produo. Alm disso,
caractersticas fsicas e qumicas como alto teor de slidos, baixa umidade e
tamanho das partculas limitam o uso de alguns modelos de biodigestores.
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Foto 04 Disponibilidade de cama aps ciclo de produo
Para PALHARES (2005) um biodigestor em batelada11 poderia ser usado para
tratar este tipo de resduo, devido s suas caractersticas fsicas e de desempenho,
que permitirem uma perfeita digesto da biomassa. Alm disso, sugere que uma
reduo mecnica do tamanho das partculas da cama por moagem antes de ser
adicionada ao biodigestor poderia melhorar a ao dos microorganismos. Da mesma
forma a adio de gua ao contedo da cama poderia diminuir o teor de slidos e
conseqentemente reduzirem o TRH.
Neste sistema, o uso de inculo como o esterco biofertilizado de bovinos,
aves ou sunos contendo flora de bactrias acidognicas e metanognicas,
poderiam acelerar o processo, principalmente em decorrncia dos altos teores de
celulose e lignina presentes na cama limitarem a biodigesto.
Vrios fatores vo interferir na converso biolgica da cama de frango em
biogs, entre eles o tipo de rao, estao do ano, densidade de alojamento das
aves, tipo de substrato de cama, nvel de reutilizao da cama e caractersticas das
excretas das aves.
Na forma como produzido nos biodigestores, o biogs constitudo
basicamente de 60% a 70% de metano (CH4) e 30% a 40% de dixido de carbono
11Grande quantidade. LAROUSSE. Dicionrio da lngua portuguesa (1992) p.129.
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(CO2), alm de traos de O2, N2 e H2S para resduos orgnicos. A composio do
biogs ir depender do resduo que alimenta o biodigestor e tambm das condies
que o mesmo operado. Fatores como temperatura, pH e presso no interior do
biodigestor podem alterar a composio do gs levemente (PALHARES, 2005).
O metano tem um poder calorfico de 9.100 kcal/m a 15,5 C e 1 atm e sua inflamabilidade ocorrem em misturas de 5% a 15% com o ar. J o biogs, devido presena de outros gases que no o metano, possui um poder calorfico que varia de 4.800 a 6.900 kcal/m. Em termo de equivalente energtico, 1,33 a 1,87 e 1,5 a 2,1m de biogs so equivalentes a 1litro de gasolina e leo diesel, respectivamente. (PALHARES, 2005)
DE LUCAS JUNIOR (2003) verificaram o potencial de produo de biogs e
seu equivalente em GLP, quando se faz a biodigesto de diferentes substratos de
cama em um e dois ciclos de produo. Concluram que a reutilizao da cama de
maravalha, alm de ser benfica em relao ao meio ambiente, reduzindo a
quantidade de substrato consumido, gera menor quantidade de resduo e tambm
vantajosa quando se objetiva a produo de energia.
No entanto, a deficiente condio operacional encontrada nas propriedades
rurais que trabalham com frangos de corte somada s restries de ordem tcnica e
econmica, limita a adoo desta alternativa para o aproveitamento e destino destes
resduos a casos espordicos.
Torna-se fundamental estabelecer polticas e programas de incentivo
produo e utilizao do biogs, facilitando a aquisio de tecnologia,
desenvolvendo programas de assistncia tcnica e manuteno de equipamentos
aos avicultores para que o sistema possa ser implantado com sucesso.
1.3 Carcaas de Aves Mortas
O aumento na densidade populacional de aves nas regies produtoras, bem
como nas propriedades rurais, elevando sua capacidade de alojamento individual,
trouxe novos desafios para a avicultura moderna. A tendncia mundial de
concentrao das escalas de produo leva o produtor rural a ter que considerar a
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mortalidade de animais como um problema de propores significativas, o qual
merece ateno.
Na avicultura de corte, em condies normais de produo, os ndices de
mortalidade variam entre 3 a 5 % do total de aves alojadas, distribudos no perodo
de criao conforme Foto 05. Nestes termos, torna-se necessria implantao de
sistemas de tratamento ou destino das carcaas.
Foto 05 Ave morta durante o ciclo de produo.
Segundo DE LUCAS JUNIOR (2005) os processos de decomposio dos
bioslidos produzem um lquido caracterstico, denominado chorume, no qual a
demanda bioqumica de oxignio (DBO5) que expressa a quantidade de oxignio
utilizada na oxidao bioqumica da matria orgnica situa-se entre 4.000 a 15.000
kg/dia.
Demanda Bioqumica de Oxignio definida como a quantidade de oxignio
necessria para oxidar a matria orgnica biodegradvel sob condies aerbicas,
isto , avalia a quantidade de oxignio dissolvido, em mg/l, que ser consumida
pelos organismos aerbios ao degradarem a matria orgnica. Um perodo de tempo
de 5 dias numa temperatura de incubao de 20 C freqentemente usado e
referido como DBO 5.20.
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Os maiores aumentos em termos de DBO num corpo d'gua so provocados
por despejos de origem predominantemente orgnica. A presena de um alto teor de
matria orgnica pode induzir completa extino do oxignio na gua, provocando
o desaparecimento de peixes e outras formas de vida aqutica.
Um elevado valor da DBO pode indicar um incremento da micro-flora presente
e interferir no equilbrio da vida aqutica, que alm de produzir sabores e odores
desagradveis pode obstruir os filtros de areia utilizados nas estaes de tratamento
de gua.
A DBO5 se constitui no principal indicador de impacto ambiental de origem
orgnica de um material, que ao entrar em contato com qualquer outro meio hdrico,
concorre pelo oxignio disponvel e, desta forma, compete com as demais formas de
vida ali existentes.
Alm disso, materiais de origem orgnica como carcaas de animais, quando
mal acondicionados favorecem a proliferao e alimentao de alguns animais e
insetos como as moscas, ratos e baratas, os quais podem se tornar vetores de
doenas aos seres humanos (DE LUCAS JUNIOR, 2003).
Para SEIFFERT (2000) existem diversas opes ambientalmente seguras
para destino de aves mortas em condies de normalidade. No entanto, estas no
sero adequadas para ocasies de mortandade massiva, que esto associadas a
choque trmico, problemas no equipamento de climatizao ou surto de doenas.
Na dcada de 1980 as carcaas das aves eram destinadas para o consumo
de animais domsticos residentes nas propriedades agrcolas, sem nenhum tipo de
tratamento. Posteriormente se descobriu que ces e outros animais poderiam se
tornar hospedeiros de algum agente patognico causador de doenas nas aves.
Assim, esta prtica foi sendo gradativamente abandonada.
Os mtodos tradicionais adotados para a disposio de carcaas incluem
fossas anaerbicas, incinerao e aterramento. Cada um desses mtodos revela
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vantagens e desvantagens tanto em aspectos relacionados ao manejo como em
resultados sanitrios e ambientais.
1.3.1 Fossas
As fossas anaerbicas so amplamente usadas como alternativa para o
destino de carcaas de aves. Sua escolha normalmente est atrelada ao baixo custo
inicial e por no necessitar mo-de-obra especializada para sua construo.
O modelo mais usual consiste num buraco escavado no solo contendo uma
tampa em alvenaria ou madeira com uma abertura central que permite a introduo
de aves mortas, conforme mostra a Foto 06.
Foto 06 Modelo de fossa sptica para destino de aves mortas
Dimensionadas para receber carcaas em perodos relativamente curtos, em
mdia dois anos, tem sua capacidade esgotada normalmente antes do tempo
projetado, sendo necessrio todo ano reinvestir na abertura ou conservao das
fossas (ZANELA, 1999).
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A deposio de resduos neste sistema produz um meio de decomposio
anaerbico, cujo resultado deste processo ser o chorume, metano e outros gases
que provocam maus odores. A Foto 07 mostra a caracterstica do contedo de uma
fossa sptica destinada para o acondicionamento de aves mortas.
Foto 07 Fossa sptica com carcaas em decomposio
Para SEIFFERT (2000) estes depsitos instalados mediante escavao do
terreno e mantidos cobertos ao nvel do solo deveriam ser revestidos com paredes e
piso de concreto, cujas dimenses permitissem uma capacidade volumtrica de 3m3,
sendo desta forma suficiente para um avirio de 10.000 aves, conforme Figura 03.
No entanto, em solos rasos ou com lenol fretico superficial a estrutura deveria ser
locada de forma que um tero superior desta estrutura situe-se acima da superfcie
do solo.
Embora estes depsitos possuam um custo mais elevado para sua
implantao, no apresentam restries ambientais. Sua estrutura impermeabilizada
limita a infiltrao dos poluentes.
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Fonte: SEIFFERT (2000).
Segundo DE LUCAS JUNIOR (2003) outro mtodo adotado com freqncia
pelos produtores de frangos de corte o aterramento de carcaas. Neste sistema a
disposio feita em valas rasas, normalmente sem revestimento e a cu aberto,
possibilitando muitas vezes o ataque de animais roedores e escavadores que se
alimentam deste tipo de material.
O movimento de guas pluviais na periferia destas reas pode levar ao
assoreamento precoce destas valas ou ainda carrear patgenos ou resduos de
carcaa em decomposio, contaminando guas superficiais ou subterrneas. Outro
aspecto negativo deste sistema se refere impossibilidade de uso em dias
chuvosos.
1.3.2 Incinerao
A incinerao tambm pode ser considerada como um mtodo a ser
empregado no tratamento de carcaas de aves, porm as carcaas de animais de
modo geral apresentam umidade em torno de 65-70%, limitando ou dificultando a
queima em baixa temperatura.
Figura 03 Modelo de fossa sptica impermeabilizada
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Essa caracterstica, natural da composio da carcaa dos animais faz com
que o uso deste processo seja limitado em situaes normais de campo, e acima de
tudo, com alto custo devido necessidade de se utilizar algum tipo de combustvel.
Aliado a isso os custos com a implantao de incineradores especiais e a emisso
de odores desagradveis inviabilizam o uso de incinerao para este fim (DE
LUCAS JUNIOR, 2003).
1.3.3 Compostagem
O uso do sistema de compostagem para tratamento e destino de carcaas de
animais vem sendo amplamente pesquisado desde a dcada de 2000. Este sistema
tem como objetivo converter a matria orgnica, tal como esterco fresco de aves,
cama de avirio ou restos de culturas em um material quimicamente mais uniforme e
com baixa presena de substncias odorferas, chamado hmus ou composto.
Para que este processo ocorra necessrio existncia de uma relao
adequada entre carbono e nitrognio no material (cerca de 30 de Carbono para 1 de
Nitrognio), um contedo adequado de umidade (40 a 50%) e um adequado
suprimento de oxignio para desenvolvimento das bactrias que iro processar a
fermentao (SEIFFERT, 2000).
Foto 08 Incio da compostagem - Adio de marravalha e gua.
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30
A Foto 08 mostra o incio do processo de compostagem com maravalha,
utilizada como fonte de carbono e a adio de gua em quantidade adequada para
propiciar o ambiente necessrio para a decomposio de carcaas.
No entanto, a baixa relao entre carbono e nitrognio presente nas carcaas
de modo geral, limitam a atividade biolgica no composto, interferindo na
decomposio destes resduos. Torna-se necessrio adicionar ao sistema fontes
alternativas de carbono como a palha, casca de arroz e resduos de cereais.
A maravalha indicada para a compostagem por conter caractersticas ideais.
So exemplos: alta relao Carbono/Nitrognio (aproximadamente 140:1), alta
porosidade e pela sua capacidade de acomodar-se bem ao redor das carcaas. O
processo de decomposio se inicia com a deposio das carcaas (Foto 09),
cobertas por uma camada de maravalha, a qual serve como fonte de carbono.
Foto 09 Disposio das aves na composteira
Inicialmente ocorrem reaes bioqumicas de oxidao intensa do material,
desencadeada pela ao de microorganismos termoflicos, principalmente bactrias,
protozorios, fungos e actinomicetos, que atuam no material compostado elevando a
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31
temperatura a 60 a 70C e acelerando o processo de decomposio. Posteriormente
a temperatura decai, ocorrendo o processo de humificao.
O processo de compostagem reduz o peso, volume e o teor de umidade do
material original. DE LUCAS JUNIOR (2003) observou uma reduo de 40% no
contedo de Nitrognio do material original, obtendo no final do processo um
produto rico em matria orgnica, uniforme e adequado para uso em jardinagem e
viveiros de plantas.
PAIVA (2002) analisaram diferentes amostras de material compostado a partir
de carcaas de aves e concluram que uma tonelada de composto corresponde 16,8
kg de nitrognio (N), 20,9 Kg de fsforo (P2O5) e 14,1 Kg de potssio (K2O). A mdia
de concentrao de nutrientes pode ser verificada na Tabela 04.
Tabela 04 Percentual de nutrientes em amostras de compostos de carcaas de aves
Elemento Percental (%) Nitrognio (N Total) 1,85 Nitrognio amoniacal 0,15 Nitrognio orgnico 1,79 Fsforo (P2O5) 2,29 Potssio (K2O) 1,56
Fonte: Adaptado de PAIVA (2002).
Porm, a qualidade do material utilizado, como substrato para a composteira,
mtodo e tempo de estocagem, ainda, o tipo de carcaa utilizada interfere na
composio de nutrientes do produto final. Desta forma, analisar o produto obtido
antes de ser aplicado ao solo evita a aplicao exagerada de nutrientes.
A utilizao deste mtodo de compostagem permite um rpido e seguro
destino aos resduos da produo avcola, como no caso das carcaas de animais
mortos. Se conduzido corretamente reduz a emisso de odores, contaminao das
guas destri agentes patognicos, fornecendo como produto final um composto
orgnico que pode ser utilizado no solo sem risco ao meio ambiente (DE LUCAS
JUNIOR, 2003).
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32
UNIDADE II
ASPECTOS RELACIONADOS LEGISLAO AMBIENTAL
Resduos slidos so conceituados pela Associao Brasileira de Normas
Tcnicas (NBR 10.004/02 ABNT), como resduos descartveis ou inteis para a
atividade urbana, agrcola, radioativa e outros (perigosos e/ou txicos), em estado
slido, semi-slido ou lquido. Inclui nesta definio lodos provenientes de sistemas
de tratamento de gua, aqueles gerados em equipamentos e instalaes de controle
de poluio, bem como determinados lquidos cujas particularidades tornem invivel
seu lanamento na rede pblica de esgoto ou corpos dgua.
Os resduos slidos orgnicos de origem animal e vegetal constituem uma
fonte potencialmente causadora de impactos ambientais sobre o meio fsico,
particularmente sobre os mananciais hdricos, superficiais e subterrneas.
Os dejetos de animais so integrantes do processo produtivo. Assim, pela sua
relao com a qualidade ambiental, esses resduos exigem formas de tratamento e
reciclagem adequados, sob pena de inviabilizar a atividade pecuria empresarial
baseada em sistemas confinados como a avicultura.
As alternativas de manejo destes resduos dependem da situao particular
de cada propriedade e das restries impostas pelos rgos ambientais federais,
estaduais ou municipais. De modo geral, as restries baseiam se no impacto, na
forma de manejo sobre o controle de doenas e sobre a qualidade do ar e da gua.
O desenvolvimento sustentvel busca atender as necessidades do presente
sem comprometer as geraes futuras, ou seja, um processo de transformao no
qual a explorao de recursos, a direo dos investimentos, a orientao do
desenvolvimento tecnolgico e a mudana institucional se harmonizam e reforam o
potencial presente e futuro, a fim de atender as necessidades e aspiraes humanas
(BARBIERI, 1997).
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33
dever da coletividade, defender e preservar o meio ambiente. Para tanto
necessrio um trabalho de conscientizao pblica atravs da promoo de
educao ambiental (CF, art. 225, 1, VI), de informao e publicidade dos projetos
e programas pblicos e privados que comprometam a qualidade de vida.
A garantia da preservao e restaurao dos recursos ambientais locais e
regionais depende, portanto, da ao conjunta e integrada do poder pblico e da
coletividade.
A Lei 6938, publicada em 1981 dispe sobre a Poltica Nacional de Meio
Ambiente, estabelecendo em seu artigo 2 a importncia da qualidade ambiental, a
preservao e recuperao de reas degradadas para o desenvolvimento scio-
econmico, segurana nacional e manuteno do equilbrio ecolgico, considerando
o meio ambiente patrimnio pblico e de uso coletivo. Aborda ainda a necessidade
da racionalizao do uso do solo, subsolo, gua e ar, planejamento e fiscalizao do
uso dos recursos naturais, controle e zoneamento de atividades potencialmente ou
efetivamente poluidoras (CONAMA, 2005).
A Lei n 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 dispe sobre as sanes penais e
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente,
responsabilizando pessoa jurdica ou pessoas fsicas, autoras, co-autoras ou
partcipes do mesmo fato. Em seu captulo V, Artigo 33, considera crime ambiental
a emisso de efluentes ou carreamento de materiais, provocando o perecimento de
espcies da fauna aqutica existentes em rios, lagos, audes, lagoas ou guas
jurisdicionais brasileiras. Na Seo III, Artigo 54 considera infrator quem possa
causar poluio de qualquer natureza em nveis tais que resultem ou possam
resultar em danos sade humana, fauna e flora.
No entanto, a legislao federal dispe de forma generalizada sobre os
cuidados a serem tomados com o destino de subprodutos das atividades humanas,
ficando a cargo dos estados a legislao mais especfica a respeito. Na legislao
federal no h citaes especficas, quanto ao destino de carcaas ou resduos
slidos, decorrentes da produo agrcola. Da mesma forma, a legislao ambiental
de alguns estados aborda indiretamente o tema.
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A Lei n 8.171, de 17 de janeiro de 1991, que dispe sobre a poltica agrcola
prev, em seu Captulo II, Artigo 4, Inciso IV a proteo do meio ambiente,
conservao e recuperao dos ambientes degradados. Para tal estabelece em seu
Captulo V, Artigo 16 a necessidade de institucionalizar a assistncia tcnica e
extenso rural buscando viabilizar, com o produtor rural, proprietrio ou no, suas
famlias e organizaes, solues adequadas a seus problemas de produo,
gerncia, beneficiamento, armazenamento, comercializao, industrializao,
eletrificao, consumo, bem-estar e preservao do meio ambiente.
O Captulo VI aborda sobre a proteo ao meio ambiente e a conservao
dos recursos naturais. Indicando o Poder Pblico como responsvel por disciplinar e
fiscalizar o uso racional do solo, da gua, da fauna e da flora atravs de zoneamento
agroecolgico, permitindo estabelecer critrios para disciplinar e ordenar a
ocupao.
Em seu Captulo VII estabelece como funo do poder pblico coordenar
programas de estmulo e incentivo preservao das nascentes dos cursos dgua
e do meio ambiente, bem como o aproveitamento de dejetos animais para a
converso de fertilizantes.
No entanto, no Pargrafo nico estabelece que a fiscalizao e o uso racional
dos recursos naturais do meio ambiente so tambm da responsabilidade dos
proprietrios de direito, dos beneficirios da reforma agrria e dos ocupantes
temporrios dos imveis rurais.
No Estado do Paran, a Lei n 12.493, publicada em 05 de fevereiro de 1999,
estabelece princpios, procedimentos, normas e critrios referentes gerao,
acondicionamento, armazenamento, coleta, transporte, tratamento e destino final
dos resduos slidos, visando controle da poluio e da contaminao, minimizando
seus impactos ambientais.
Esta Lei define como resduos slidos, no Artigo 2, qualquer forma de
matria ou substncia, no estado slido e semi-slido, que resultem de atividade
industriais, domsticas, hospitalares, comerciais, agrcolas, de servios, de varrio
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e de outras atividades da comunidade, capazes de causar poluio ou contaminao
ambiental. Preconiza em seu Artigo 3 que as tcnicas de tratamento utilizadas
devem ser baseadas na reutilizao e/ou reciclagem de resduos slidos, exceto nos
casos em que no exista tecnologia vivel.
A Lei n 9.921, do Estado do Rio Grande do Sul, publicada em julho de 1993,
dispe sobre resduos slidos, considerando como tal para efeito legal queles
provenientes da atividade rural. Em seu Artigo 5 estabelece critrios para a
destinao final dos resduos quando estes poluem potencialmente o solo, tomando
medidas adequadas para a proteo de guas superficiais e subterrneas.
Restringe, em Pargrafo nico, a deposio de resduos considerados
perigosos pelo rgo ambiental estadual, permitindo sua deposio no solo somente
aps o condicionamento e tratamento adequado.
Neste caso, o rgo ambiental fiscaliza o cumprimento dessas leis, amparado
pelo Artigo 9 da Lei Federal n 6.938/81 que trata dos instrumentos da Poltica
Nacional do Meio Ambiente, seus mecanismos de formulao e aplicao, dentre os
quais cita o licenciamento ambiental.
Esta situao tambm pode ser observada no Estado do Paran atravs da
Secretaria Estadual do Meio Ambiente pela Resoluo 031/98 publicada em agosto
de 1998. Em seu Captulo II dispe sobre o licenciamento e autorizao ambiental
para atividades poluidoras, normatizando as etapas para a implantao de um
determinado projeto. Aborda, porm, em seu Captulo III como sendo passveis de
autorizao e licenciamento especial somente as atividades agropecurias de
suinocultura e piscicultura.
Nesta situao o gerador de resduo cadastrado conforme sua atividade
potencialmente ou efetivamente poluidora, e orientado a estabelecer um cronograma
para implantao e tratamento de resduos, mediante uma licena prvia do rgo
ambiental.
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Posteriormente um projeto com detalhes sobre o sistema de coleta,
transporte, tratamento e destino desse material permitem a emisso de uma licena
de instalao. Informaes fundamentais como a previso de rea disponvel para a
disposio do resduo, tipo de solo, altura do lenol fretico, nome do proprietrio da
rea onde ser depositados o esterco e cultura so dados fundamentais para a
obteno da licena desta operao.
Como regra geral, os proprietrios rurais, produtores e operadores so
responsveis pela obteno de licenciamento ambiental para o desenvolvimento de
atividades rurais poluidoras, sendo que, estes ainda devem produzir dentro de
normas e regulamentos legais existentes.
Este procedimento adotado pelo rgo ambiental restringe-se basicamente a
atividade suincola, normatizando o tratamento e o destino adotado para os dejetos
desta atividade. No h citaes legais sobre outras atividades agropecurias que
apresentam a mesma caracterstica de produo, como a avicultura de corte.
Porm, a dinmica do setor avcola, caracterizado pelo mercado de escala,
leva ano-a-ano a um aumento significativo no volume de aves alojadas na mesma
propriedade rural ou regio e, conseqentemente, aumentando o volume de
resduos decorrentes do processo na mesma proporo.
Diante disso, alguns estados como o Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, So Paulo e Paran, caracterizados por concentrar a maior parte da
produo de aves de corte brasileira, tentam estabelecer para esta atividade o
mesmo critrio utilizado para a suinocultura. Desta forma, para implantar um
empreendimento avcola o produtor necessitaria de licenciamento ambiental.
Segundo PAIVA (2002), os destinos de resduos gerados na produo de
aves adotados pelos produtores deveriam prevenir problemas comuns como a
proliferao de insetos, maus odores e principalmente evitar a contaminao
ambiental. So condenadas prticas que no atendam a estes requisitos.
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A Resoluo no 283, publicada em 12 de julho de 2001 pelo CONAMA (2005)
dispe sobre resduos gerados nos servios de sade, definindo o sistema de
tratamento destes resduos atravs de processos e procedimentos que alteram as
caractersticas fsicas, fsico-qumicas, qumicas ou biolgicas de maneira a
minimizar os riscos a sade pblica e ao meio ambiente (PAIVA, 2002).
Segundo PAIVA (2002) a utilizao da compostagem dos resduos da
produo avcola atenderia as caractersticas propostas na Resoluo n 283,
anteriormente citada, mesmo que estes resduos no pertenam categoria
daqueles derivados dos servios de sade. Para este autor, este processo biolgico
eliminaria agentes patognicos, transformando os resduos em material aproveitvel.
Faz-se necessrio uma discusso ampla sobre o tema, buscando alternativas
que limitem os impactos causados pela atividade avcola no ambiente.
Deste modo, acreditamos que o mtodo de compostagem, bem conduzido e
dimensionado, possa atender as necessidades atuais do sistema de produo de
frangos de corte no gerenciamento de seus resduos, principalmente, naqueles
relacionados a carcaas de aves mortas. Alm disso, consideramos que o mtodo
de fermentao poderia ser empregado para o tratamento da cama do avirio
objetivando reduzir sua carga microbiolgica e possivelmente aumentando sua vida
til. Desta forma teramos menor disponibilidade deste resduo e consequentemente
uma menor possibilidade de impacto no solo e gua.
Nestes termos, a Constituio Federal estabelece que o estado, atravs das
agncias ambientais federais, estaduais e municipais, deve qualificar recursos
humanos, conduzir pesquisas e monitorar as condies fsicas, qumicas e
bacteriolgicas do ar, solo e da gua com o propsito de minimizar riscos de
degradao ambiental.
Uma ao conjunta entre o Poder pblico, iniciativa privada, cooperativas,
associaes de produtores e instituies de pesquisa poderiam veicular esta
tecnologia at o produtor de forma mais abrangente e efetiva.
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UNIDADE III
NORDESTE DO PARAN: RESDUOS DA PRODUO AVCOLA
E SEU GERENCIAMENTO
Esta Unidade aborda a produo e o gerenciamento de resduos slidos
gerados pela produo de frangos de corte em propriedades rurais do Nordeste do
estado do Paran.
Para tal, faremos uma breve discusso sobre a avicultura Paranaense,
objetivando embasamento terico ou referencial no contedo desta unidade.
Em 2001, o Estado do Paran tornou-se o maior produtor nacional de frangos
de corte. Segundo UBA (2005), no Brasil foram abatidos 4,042 bilhes de frangos
em 2004. A produo paranaense passou a representar 22,72% do total de aves
abatidas no Brasil, conforme mostra a Tabela 05.
Tabela 05 Abate de Frangos de corte no Brasil em 2003/2004, por estado.
Estado N de aves 2004
Particip. % 2004
N de aves 2003
Particip. % 2003
Crescim. %
Paran 918.483.512 22,72 813.373.908 21,90 12,92 Santa Catarina 712.581.904 17,63 648.752.226 17,47 9,84 Rio Grande do Sul 607.278.961 15,02 602.214.275 16,22 0,84 So Paulo 539.134.821 13,34 467.215.143 12,58 15,39 Minas Gerais 256.503.939 6,35 233.044.561 6,28 10,07 Gois 154.740.689 3,83 138.022.314 3,72 12,11 Mato Grosso do Sul 116.875.377 2,89 112.086.545 3,02 4,27 Mato Grosso 69.049.273 1,71 66.331.766 1,79 4,1 Bahia 42.857.510 1,06 33.228.18 0,89 28,98 Pernambuco 40.568.863 1,00 37.139.875 1,00 9,23 Distrito Federal 34.677.153 0,86 31.506.211 0,85 10,06 Outros com SIF 32.972.377 0,82 30.488.925 0,82 8,15 Total com SIF 3.525.724.379 87,22 3.213.403.867 86,53 9,72 Abate sem SIF 516.632.399 12,78 500.281.207 13,47 3,27 Total Brasil 4.042.356.778 100 3.713.685.074 100 8,85
Fonte: UBA (2005).
Outro dado relevante apresentado na Tabela 05 se refere ao crescimento de
12,9% na quantidade de aves abatidas em 2004 pela avicultura paranaense quando
comparado ao ano anterior, superando a mdia brasileira de 8,85%.
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A avicultura paranaense responsvel por gerar 50.000 empregos diretos e
se estima que aproximadamente 500.000 empregos de forma indireta
(SINDIAVIPAR, 2005). Este dado reflete a realidade crescente da atividade avcola
de corte no Estado do Paran e sua relao com o desenvolvimento social e
econmico do estado.
A estrutura industrial do estado composta por 31 abatedouros de aves
sendo que destas, 10 encontram-se na regio Nordeste (Figura 04). Em 2004, na
regio Nordeste do Paran foram abatidas 17.500.000 aves ao ms, o que
corresponde a 19,7% do nmero de aves abatidas no Estado (SINDIAVIPAR, 2005).
Esta rea se caracteriza como uma das principais regies produtoras do pas.
A populao de aves de corte do Paran se encontra distribuda em vrios
municpios e de modo geral, se concentra naqueles onde se localizam as Indstrias
ou plantas de abate ou ainda nos municpios adjacentes.
3.1 Uso e Ocupao do Solo na rea da Pesquisa
Na rea de estudo, a produo avcola concentra-se basicamente no Terceiro
Planalto Paranaense. A ocupao desta regio se deu a partir da dcada de 1930,
com a forte presena das companhias imobilirias. Estas companhias imobilirias
colonizadoras traaram um novo aspecto com a colonizao dirigida a pequenas
propriedades. O intenso desenvolvimento da cafeicultura e o cosmopolismo12 de
seus povoadores definiram as especificidades da paisagem regional (MORO, 1998).
No entanto, em pouco de tempo, uma srie de fatores econmicos, naturais e
estruturais contriburam para a decadncia do sistema produtivo vigente na regio.
A espacializao da populao, a reestruturao fundiria e a modernizao
agrcola do Estado do Paran esto associadas s geadas que ocorreram nesse
perodo, na legislao social estendida ao campo e na poltica de modernizao da
agricultura.
12Pessoa que apresenta aspectos comuns a diversos pases (LAROUSSE. Dicionrio da Lngua Portuguesa, 1992. p. 284).
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Figura 04: LOCALIZAO DOS ABATEDOUROS DE AVES NA REGIO NORDESTE DO PARAN
CURITIBA
Maring
Arapongas
Astrga
Londrina
Rolndia
Joaquim Tvora
Jaguapit
Jacarezinho
1
1
1
12
12
1
Base Cartogrfica: Prefeitura Municipal de Maring/PR 2005.
Municpios N de Abatedouros
Municpios com abatedouros
Fonte: SINDIAVIPAR, 2005. Organizao: Csar Bado
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41
Assim, a partir da dcada de 1960 inicia o processo de modernizao da
agricultura paranaense, se intensificando na dcada de 1970. Para MORO (1998) as
lavouras de caf foram substitudas principalmente pelas culturas da soja e trigo,
essencialmente mecanizadas. No perodo de 1975 a 1985 as lavouras temporrias
de soja e trigo foram ampliadas em 59% e as de pastagens em 32%.
O novo modelo de produo agrcola impulsionado pelo uso da tecnologia,
caracterstica do solo e condies climticas intensificaram a produo de gros.
Neste perodo so implantados os primeiros projetos de criao de aves na regio.
Aliado a isto, a proximidade geogrfica do Estado de So Paulo e outros mercados
consumidores do centro do pas passam a fortalecer a atividade.
LANILLO (2006) caracteriza a agricultura do Estado do Paran, considerando
variveis como uso do solo, relaes de trabalho e capital, fertilidade dos solos e
possibilidade de mecanizao.
Nestas bases, dois grupos de municpios com caractersticas diferentes
predominam na regio delimitada. O Primeiro corresponde a municpios com
predominncia de pastagens plantadas, pecuria bovina extensiva e mo-de-obra
permanente. So exemplos: Jaguapit, Guaraci, Astrga, Sabaudia, Jacarezinho.
Para FASOLO (1986) as regies com predominncia de solos arenticos
possuem fertilidade natural, inferior Terra Roxa Estruturada (terra roxa) sendo mais
friveis13, portanto mais vulnerveis aos processos erosivos. Estas razes
direcionam o uso e ocupao do solo para a atividade pecuarista. A predominncia
da agricultura ocorre onde o solo tem origem na decomposio do basalto
constituindo-se na Terra Roxa Estruturada.
Nestas reas predominam a agricultura moderna de gros especializada, com
utilizao de mo-de-obra permanente (pouco familiar), reduzido uso para a
pecuria, pequenas reas de mata e insignificante terciarizao de mquinas, dos
13Friveis Propriedade dos minerais e das rochas se fragmentarem, facilmente, at mesmo por simples presso dos dedos. GUERRA, Antonio. Dicionrio Geolgico Geomorfolgico, 1997. p. 288.
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42
quais caracterizam-se Londrina, Ibipor, Marilndia do Sul e Maring. Circunscrito a
esta regio, o uso e ocupao do solo est voltado para a cafeicultura e lavouras
permanentes. Integram este grupo os municpios de Arapongas, Rolndia, Camb,
Prado Ferreira, Miraselva, Marialva e Sarandi, entre outros.
Os dados de campo foram obtidos mediante (questionrio) amostragem
efetuada de forma ao acaso em 44 propriedades rurais que trabalham com frango de
corte. A base de dados gerou informaes sobre 14 municpios, distribudos na rea
de estudo, conforme Figura 05.
Figura 05: MUNICPIOS DE ABRANGNCIA DA PESQUISA - NORDESTE DO PARAN
2
3
1
4
5
6
7
8
9
1011 12
13
14 ApucaranaArapongasAsporgaCalifrniaCambCambiraGuaraciIbipor
JaguabitMarilndia do SulNovo Itacolomi
123
456789
1011
Rio BomRolndiaSabadia
121314
Base Cartogrfica: Prefeitura Municipal de Maring/PR 2005. Organizao: Csar Bado
MUNICPIOS BASE DE COLETA DE DADOS
A composio dos resduos produzidos pela atividade avcola nas
propriedades rurais do Nordeste do Paran corresponde queles descritos na
Unidade I. Basicamente encontramos compostos orgnicos, cama e carcaas de
aves mortas naturalmente no decorrer do ciclo de produo. No entanto, o destino
adotado para os resduos gerados apresenta algumas particularidades.
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43
3.2 Produo e Tratamento da Cama de Avirio na rea da Pesquisa
A cama de avirio composta de maravalha ou casca de arroz oriunda de
engenhos regionais e, distribuda pelo avirio uniformemente formando uma lmina
de aproximadamente 10 cm de espessura. Normalmente o material para a
confeco da cama comprado e o custo por varia de acordo com a disponibilidade.
Na maioria das vezes a cama retirada do avirio aps dois ciclos de
produo. Porm, em determinadas situaes ou pocas do ano pode ser trocada a
cada ciclo. A troca da cama aps dois ciclos de produo foi observada em 75% das
propriedades analisadas, no sendo possvel identificar variaes entre os modelos
de propriedades adotados para a anlise, conforme mostra a Tabela 06.
Esta caracterstica, pouco comum no Sul do Pas, determinada pela
disponibilidade de material para sua confeco e, sobretudo, pelo valor econmico
de venda desse tipo de resduo em determinados meses do ano.
Tabela 06 Relao entre o ciclo de produo e troca de cama nos modelos de
propriedade adotados pela pesquisa
Troca de cama Amostragem Propriedades Municpios 1 ciclo % 2 ciclo %
At 15.000 aves 13 7 3 23,07 10 76,93 15.001 a 30.000 16 8 4 25 12 75 Acima de 30.001 15 8 4 26,67 11 73,33 Todos os grupos 44 14 11 25 33 75
Nota: Amostragem se refere capacidade de alojamento das propriedades pesquisadas.
A anlise dos dados obtidos em campo nos permite estabelecer uma relao
entre a carga superficial de cama disponvel e o nmero de aves alojadas,
identificando uma possvel correlao entre estas duas variveis. Diante disso,
analisamos a carga superficial de cama disponvel em 11 propriedades rurais, cuja
cama foi retirada no 2 ciclo de produo, conforme mostra a Tabela 07.
Org: BADO (2005)
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44
Tabela 07 Relao entre o nmero de aves alojadas, rea fsica do avirio e
quantidade de cama disponvel.
Produtor
Nmero de Aves
alojadas Avirio
(m) Cama produzida
(Kg) Relao Kg de
cama/m N de ciclos
Cama produzida (Kg)/ave
1 15000 1200 35.000 29,16 2 2,33 2 39000 2700 80.000 29,62 2 2,05 3 15000 1200 45000 37,5 2 3 4 30300 1740 40.000 22,98 2 1,32 5 13000 900 14.000 15,55 2 1,07 6 22000 1680 30.000 17,85 2 1,36 7 18000 1440 52.000 36,11 2 2,88 8 36000 2800 80.000 28,57 2 2,22 9 32000 2580 70.000 27,13 2 2,18
10 28.000 2350 60.000 25,53 2 2 11 30000 2400 75.000 31,25 2 2,25
Total 278300 20990 581.000 27,67 2 2,087675
A disponibilidade de cama por m de rea fsica de avirio variou entre 15,5 a
37,5 Kg, estabelecendo como mdia 27,67 Kg, conforme Tabela 07. Estes dados se
aproximam queles descritos por MALONE (1992), onde so considerados 24 kg por
m. No entanto, para nossa anlise foram considerados os dados obtidos a partir de
amostragem de campo mediante questionrio. Variveis como umidade e massa
seca no so consideradas e possivelmente explicam a variao na quantidade de
cama produzida por m. Nestas condies, umidade entre 20 e 35% so
consideradas normais (ALMEIDA, 1986).
Da mesma forma, a quantidade de cama produzida por ave alojada variou
entre 1,07 a 3 Kg, estabelecendo como mdia 2,08 Kg, no sendo consideradas as
variveis descritas acima. Estes dados se aproximam daqueles descritos por
MALONE (1992), onde considerado 1,6 a 1,8 Kg de cama produzida para cada
ave alojada.
Considerando os dados do SINDIAVIPAR (2005) onde so apresentados os
nmeros relativos ao abate de aves na regio nordeste do Estado do Paran em
2004 e queles relacionados quantidade de cama disponvel por ave alojada,
obtidos pela nossa pesquisa de campo, poderemos estimar de maneira subjetiva a
Org: BADO (2005)
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45
quantidade de cama produzida na rea de estudo. Em 2004, foram abatidas
209.754.000 de aves na regio Nordeste gerando aproximadamente 436.000
toneladas de cama disponvel.
A regio se caracteriza pela agricultura, integrando lavouras perenes de caf
e pastagens ou ainda culturas anuais como a soja, milho, trigo entre outras. Esta
caracterstica tambm influencia o ciclo produtivo de frangos de corte, visto que a
atividade agrcola que consome praticamente toda a cama produzida.
O uso da cama de avirio como fonte de nutrientes para as plantas segue o
mesmo modelo adotado nas outras regies do Pas, normalmente sem a
observncia de critrios agronmicos. Desta forma, no se estabelece uma relao
entre disponibilidade de nutrientes administrados ao solo e a necessidade das
plantas em seus devidos estgios de desenvolvimento como preconizado por
SEGANFREDO (2005).
Outra caracterstica apresentada pela regio se relaciona ao tipo de solo,
onde so encontradas diferentes texturas, variando de arenoso a argiloso. Estas
caractersticas vo influenciar no comportamento hdrico no solo e na rede de
drenagem. Para SEIFFERT (2000), a adubao com altos nveis de esterco de aves
no solo resulta em elevadas concentraes de nutrientes na gua subterrnea,
principalmente em condies de solos arenosos e bem drenados.
Sobre isso, CUNHA (2002) relata que:
Teoricamente, um solo de textura arenosa, quase sempre apresenta maior quantidade de macroporos e menor capacidade de reteno de gua, tendo em vista que o arranjo do espao poroso pode ser mais aberto e mais conectado, o que dificulta a existncia da fora de capilaridade entre as partculas; enquanto que um solo de textura argilosa, quase sempre apresenta maior quantidade de microporosidade e uma maior capacidade de reteno da gua devido ao arra