gestão de recursos hídricos - seia.ba.gov.br£o de recursos... · altas ou pressões baixas o...

166
1 Instituto de Gestão das Águas e Clima - INGÁ Série Águas da Bahia V. 3 Gestão de Recursos Hídricos 1 Edição Salvador - Bahia 2009

Upload: duongminh

Post on 08-Nov-2018

221 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

1

Instituto de Gestão das Águas e Clima - INGÁSérie Águas da Bahia

V. 3

Gestão de Recursos Hídricos

1 EdiçãoSalvador - Bahia

2009

Page 2: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

2

Page 3: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

3

Sumário

Apresentação 05

Caminhos das Águas: Percursos e Reservatórios 07

Monitoramento da Qualidade das Águas das Bacias Hidrográficas doEstado da Bahia: Programa Monitora 25

Aspectos Geoambientais e da Qualidade da Água Acumuladana Mina de Bonfim do Amianto, Bom Jesus da Serra, Bahia 45

Estudos Quali-quantitativos da Condutividade Elétricadas Águas Superficiais da Bacia Hidrográfica do Rio Cachoeira - Sul da Bahia 65

Caracterização da Qualidade da Águano Município de Aracatu, Sudoeste da Bahia 77

Hidrogeologia do Município de Aracatu, Sudoeste da Bahia 105

Análise da Antropização e Seus ImpactosNegativos na Bacia do Rio Piranhas, Afluente do Paraguaçu 123

Variação do Potencial Total da Água em um Latossolo AmareloÁlico Coeso, ao Longo do Tempo e em Diferentes Sistemas de Preparo 143

A Degradação Ambiental em Áreas dePreservação Permanente da Bacia do Rio Passa Vaca (Salvador – Ba) 157

Page 4: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

4

Expediente

Águas da Bahia: Gestão de Recursos Hídricos - Instituto de Gestão das Águas e Clima - INGÁEdição: Fevereiro a Dezembro de 2008Governador: Jaques WagnerSecretária da Casa Civil: Eva Maria ChiavonAssessor Geral de Comunicação Social: Robinson AlmeidaSecretário do Meio Ambiente: Juliano MatosDiretor-Geral do INGÁ: Julio Cesar de Sá da RochaChefe de Gabinete: Danielle CintraDiretoria de Regulação: Luiz Henrique PinheiroDiretoria de Monitoramento e Informação: Wanderley MatosDiretoria Socioambiental Participativa: José Augusto de Castro TosatoDiretoria de Planejamento de Recursos Hídricos: José George Santos SilvaDiretoria Administrativa e Financeira: Sóstenes FlorentinoProcurador-Chefe: Jorge RochaTextos: Julio Cesar de Sá da Rocha, Carlos César Uchôa de Lima, Joana Fidelis da Paixão, Luiz HenriquePinheiro, Maurício Gonçalves Lima, Bruno Zacarias Gomes, Wayner Américo de Freitas, Manoel JerônimoMoreira Cruz, Neylor Alves Calasans Rego, José Wildes Barbosa dos Santos, Amom Teixeira, Paulo HenriquePrates Maia, Zoltan Romero Cavalcante Rodrigues, Manoel da Silva Filho, Maria Helena de AlmeidaMascarenhas, Yara Simone Rocha Santana da Silva, Patrícia Pereira Mota Fonseca, José Antônio de OliveiraFonseca, Ricardo Acácio de AlmeidaEdição: Letícia BelémProjeto Gráfico, Diagramação e Capa: Renan Bastos

Ascom INGÁ 71- 3116-3286 e 3116-3024 [email protected] ACM, 357, Itaigara Salvador BA CEP 41825-000Visite nosso site: www.inga.ba.gov.br

I159g Instituto de Gestão das Águas e Clima - INGÁGestão de Recursos Hídricos / Instituto de Gestão das Águas e Clima – 1. ed.– Salvador: INGÁ, 2009.

164 p. il. – (Série Águas da Bahia, v.3)

ISBN 978-85-60286-03-4

1. Recursos Hídricos - Bahia. 2. Bacia hidrográfica. 3. Qualidade daágua. I. Título. II. Série

CDU 556.18 (813.8)

Page 5: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

5

Apresentação

O Instituto de Gestão das Águas e Clima (INGÁ) retoma a publicação da Série Águas da Bahia,dentro da nova concepção da atual gestão de ampliar e democratizar a produção de conhecimentopara a sociedade e para todos os servidores, tanto do órgão gestor das águas da Bahia quanto para osdemais órgãos ambientais do Estado, através da Universidade Popular das Águas (Unihidro).

O objetivo desta publicação é contribuir para a divulgação de estudos, pesquisas, artigos etrabalhos científicos desenvolvidos pelos profissionais e especialistas deste Instituto sobre o temadas Águas.

Os nove trabalhos técnicos apresentados aqui são fruto da experiência profissional e tambémacadêmica dos servidores, que participaram de diversos cursos de extensão e de pós-graduação daUnihidro e de universidades parceiras.

Os artigos trazem diversas abordagens sobre o tema “recursos hídricos”, como análise emonitoramento da qualidade das águas; análise de impactos ambientais; avaliação de degradação emárea de preservação permanente de bacia hidrográfica; condutividade elétrica de águas superficiais;aspectos geoambientais e de qualidade de água em mina de amianto; o comportamento das águas,dentre outros.

Ao editar o volume 3 da Série Águas da Bahia, o INGÁ reforça o compromisso em contribuir paraa produção e disseminação de conhecimento técnico e científico especializado para a sociedade.

Por fim, gostaria de agradecer o empenho de toda a equipe que contribuiu para o sucesso destapublicação, desde o professor Carlos Uchôa aos autores que escreveram os artigos e a toda equipe daASCOM que fez a revisão, diagramação, projeto gráfico e acompanhamento desta publicação.

Julio Cesar de Sá da Rocha

Diretor Geral do INGÁ

Page 6: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

6

Page 7: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

7

CAMINHOS DAS ÁGUASPERCURSOS E RESERVATÓRIOS

Carlos César Uchôa de LimaProfessor Titular da Universidade Estadual de Feira de SantanaConsultor da Universidade Popular das Águas (UNIHIDRO/INGÁ-SEMA)

1.INTRODUÇÃO "A Terra é azul"

(Iuri Gagarin)

Em nenhum outro planeta do Sistema Solar, a água pode ser encontrada nos estados sólido,líquido e gasoso. Esse fato faz da Terra, um planeta único onde a vida se manifesta em concentrações,intensidades e durações diferentes, assim como, é diverso também, as espécies de vida que na Terra semanifestam. Tamanha singularidade mostra a riqueza e a importância que a água possui para asustentabilidade da vida e dos mecanismos que se processam para a manutenção do equilíbrio daTerra.

Quando o astronauta Iuri Gagarin, em 1961, entrou em órbita ao redor do nosso planeta, disse acélebre frase "a Terra é azul". De fato, as imagens de satélites que orbitam na Terra revelam um planetapredominantemente azul e branco por causa da sua cobertura de água, gelo e nuvens e, embora a águatenha sido detectada em outros planetas, ela parece não estar presente como um líquido, tal comoocorre na Terra. Pelo fato de estar mais próximo do sol, a superfície de Vênus, por exemplo, é muitoquente fazendo com que a água só exista na forma de vapor. Já em Marte, a baixa temperatura associadaà pressão existente na superfície permite a ocorrência de água somente como vapor ou gelo.

A água tem seu estado físico controlado pela temperatura e pela pressão. Em temperaturasaltas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável para o H2O, enquanto que o gelo pode seformar em baixas temperaturas e pressões altas. A pressão atmosférica ao nível do mar e no alto doMonte Everest representa os extremos das pressões de ar na superfície da Terra. Já nos domínios dahidrosfera, altas pressões se desenvolvem nas partes mais profundas dos oceanos. As temperaturasda superfície do nosso planeta variam de aproximadamente -100°C até +50ºC e, dentro desses limitesde temperatura e pressão, a água pode existir naturalmente nos três estados da matéria - sólido(gelo), líquido (água), ou gasoso (vapor d'água).

2.O CICLO HIDROLÓGICO"todos os rios correm para o mar, e o mar

nunca está cheio. Do lugar de onde os rios

vieram, para lá eles voltam a correr"

(Eclesiastes, 1:7)

O movimento das águas entre os vários sistemas abertos que compõem o planeta Terra constituemo ciclo hidrológico (Figura 01). Esses movimentos são desencadeados pelo calor do sol e coadjuvadospela força gravitacional, envolvendo a evaporação dos corpos de água líquida e sólida (oceanos, lagos,rios e geleiras); condensação sob a forma de nuvens; precipitação de chuva nas regiões quentes eneve nas regiões frias; transpiração de plantas e animais; as correntes superficiais que formam osrios; a infiltração da água no terreno, constituindo as águas de solo e, ao atingirem o lençol freático,as águas subterrâneas.

Page 8: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

8

Figura 01- Os Percursos da Água (Fonte: Skinner et al. 1999).

Uma conseqüência importante do ciclo hidrológico é o modelamento das diversas paisagens donosso planeta. Os efeitos erosivos e deposicionais dos rios, ondas e geleiras, associados aos movi-mentos tectônicos (movimentos ligados à dinâmica interna da Terra que, dentre outras ações,constroem as montanhas, provocam terremotos e vulcões), produzem uma diversidade de paisagensque fazem a superfície da Terra diferente dos outros planetas do Sistema solar. Em seus efeitos deerosão e sedimentação, o ciclo hidrológico está intimamente relacionado ao ciclo das rochas. Além domais, ele influencia os ciclos biogeoquímicos que controlam a composição da atmosfera e influenciamtodas as criaturas vivas na Terra.

Vários são os reservatórios das águas que circulam no planeta Terra (Figura 02). Os oceanos, porexemplo, abrigam 97% de água. Os 3% restantes estão contidas nos continentes, distribuídas emvários reservatórios. Dentre os reservatórios continentais, as geleiras possuem o maior percentual,aproximadamente 2,4%, ou seja, 2,4% das águas disponíveis nos continentes estão sob a forma de gelonas regiões polares, ou em cadeias de montanhas. As águas subterrâneas possuem 0,5% das águascontinentais, sobrando cerca de 0,1% para os lagos, água de solo, o vapor d'água contido na atmosfera e os rios.

Page 9: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

9

Figura 02 - Os reservatórios de água no planeta Terra. 97% das águas estão nos oceanos. (Fonte: Hamblin 1996).

3.O SISTEMA FLUVIAL

"Riacho do Navio, corre pro Pajeú. O rio Pajeú vai despejar no São Francisco, e o Rio São Franciscovai bater no meio do mar..." (Luiz Gonzaga & Zé Dantas)

Apesar da pequena quantidade de água nos rios (0,001% do total da Terra), os sistemas fluviaissão os mais poderosos agentes modeladores da paisagem (Figura 3). Isso ocorre porque, além de umaampla distribuição, as águas fluviais se deslocam com velocidade suficiente para que, juntamentecom os sedimentos transportados pelos rios, possa erodir os terrenos por onde passa. Onde quer queestejamos nós podemos observar evidências do trabalho das águas que correm na superfície. Mesmoem lugares onde nenhum rio flui atualmente, são observados depósitos sedimentares e formas derelevo, que denunciam o trabalho da água na conformação da paisagem. Grande parte dessas feiçõespode estar relacionada a atividades de córregos, riachos e rios menores, que são parte de um complexosistema de drenagem.

Os sistemas fluviais se desenvolvem porque uma porção significativa da água que cai nas áreascontinentais como precipitação, se junta e move-se das áreas mais altas, para as de altitude menores,puxadas pela força da gravidade. Em sua rota de retorno aos oceanos, as águas superficiais erodem o

Page 10: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

10

terreno, transportando e depositando sedimentos e sustentam ecossistemas complexos que dependemde suprimento de água para manter a dinâmica existente nos mesmos. Durante uma chuva torrencial,a água, inicialmente, tende a mover-se para áreas mais baixas, em lençóis, ou seja, não se canalizam.Após viajar curtas distâncias esses fluxos em lençol começam a concentrar-se em canais bem definidos,constituindo assim as correntes fluviais. Outra maneira de uma corrente de superfície se formar é apartir da junção das águas de nascentes, que brotam, a partir dos sistemas de águas subterrâneas.Esse assunto será abordado com maior ênfase mais adiante.

Uma corrente fluvial consiste de água que flui ao longo de um curso natural em canais bemdefinidos. Enquanto se move, a água transporta sedimentos e substâncias dissolvidas quimicamente.Por exemplo, um rio que corre em um terreno com rochas calcárias, leva dissolvido, grandes quantidadesde um sal denominado carbonato de cálcio (CaCO3). Exemplos desses rios podem ser encontrados emalgumas áreas da Chapada Diamantina, Estado da Bahia e na Chapada do Araripe, Estado do Ceará.Nessas regiões, haverá uma interação direta entre dois reservatórios de águas continentais:Os sistemas fluviais e os sistemas de águas subterrâneas.

Outros tipos de material transportados pelos rios são grãos minerais e fragmentos de rochaserodidos das rochas sobre as quais eles correm. Por exemplo, os rios São Francisco e Paraguaçu,apesar de possuírem compostos químicos dissolvidos na água, transportam em maior quantidade osmateriais erodidos das rochas. O volume total de sedimentos transportados e de material dissolvidoé denominado de carga de um rio. Os profissionais da área de geologia e geografia física se referemà carga de um rio como alúvio ou aluvião.

A área total que contribui com água para uma corrente fluvial é denominada de bacia de drenagemou Bacia Hidrográfica de um rio. A linha que separa duas ou mais bacias de drenagem adjacentes échamada de divisor de águas (Figura 4). As bacias de drenagem variam em tamanho de menos que1km2 até áreas de dimensões subcontinentais. O Rio Amazonas, é exemplo de uma grande bacia dedrenagem, onde vários países da América do Sul fazem parte da mesma. Em uma visão sistêmica,podemos definir Bacia Hidrográfica como uma área constituída por um complexo sistema fluvial,onde além do rio principal e de seus afluentes, existe um contexto que necessita de uma gestãoparticipativa, capaz de promover a sustentabilidade dos recursos físicos, biológicos e sócio-culturais deuma região.

4.O RIO COMO UM SISTEMA NATURAL

O canal de um rio é um conduto construído naturalmente e eficiente para transportar água. Otamanho e a forma da seção transversal de um canal particular vão influenciar diretamente no poderde erosão da rocha ou sedimento através dos quais a corrente flui, bem como, no volume médio deágua passando através da seção transversal do mesmo. Algumas correntes muito pequenas possuemaproximadamente a mesma largura e a mesma profundidade, ao passo que, rios muito grandes possuem,freqüentemente, a largura muitas vezes superior à profundidade.

Page 11: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

11

Figura 03 - Uma pequena bacia de drenagem é capaz de mostrar o poder erosivo dos rios. Vários canais tributários fluem para umcanal maior, que, eventualmente seguem para um canal maior até atingir o mar ou uma bacia seca (foto do autor).

Figura 04 - Duas pequenas sub-bacias de drenagem, separadas por um divisor de águas (foto do autor).

De um modo geral a bacia de drenagem de um rio pode ser dividida em três subsistemas: (1) o sistema coletor, que consiste de um arranjo de tributários (afluentes) em uma região de

cabeceira (regiões mais altas), coletando e afunilando água e sedimentos para o rio principal. Nosistema coletor, por conta da alta declividade do terreno, predomina a erosão, embora haja tambémtransporte e, em menor proporção, deposição de sedimentos. Por exemplo, a bacia do Rio Paraguaçutem seu sistema coletor na Chapada Diamantina;

(2) o sistema transportador, formado pelo rio principal que funciona como um canal através doqual água e sedimento se move do sistema coletor para o oceano. Como o nome sugere, no sistematransportador predomina o transporte em relação à deposição e à erosão;

Page 12: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

12

(3) o sistema dispersador constituído de uma rede de canais distributários na desembocadurado rio, onde os sedimentos são dispersos nos oceanos, em um lago, ou em uma bacia seca. Nessesistema a deposição é predominante, havendo pouco transporte e quase nenhuma erosão.

Se nós medirmos a distância vertical que um canal desce entre dois pontos diferentes ao longodo seu curso, nós obtemos o gradiente do canal entre os pontos medidos. O gradiente médio de umrio numa região montanhosa pode alcançar ou ultrapassar 60m/km, ou seja, para cada quilômetropercorrido, o desnível topográgico é de sessenta metros. Próximo a desembocadura de um granderio, o gradiente pode ser menor que 0,1m/km. De um modo geral, o gradiente de um rio decresce parajusante (sentido em que o rio corre), embora essa queda não ocorra de forma gradual. Por exemplo,onde o canal passa de uma rocha mais resistente para uma erodida mais facilmente, quedas d'águapodem se formar.

Uma corrente fluvial é um sistema natural complexo; o seu comportamento é controlado porcinco fatores básicos:

1 - Largura e profundidade média do canal2 - O gradiente do canal3 - A velocidade média da água.4 - A descarga, que é a quantidade de água passando por ponto de um canal durante um intervalo

de tempo definido.5 - A carga de sedimento (o material dissolvido em uma corrente possui, geralmente, pouco

efeito no seu comportamento).Medidas de canais naturais mostram que quando a descarga muda, a velocidade ou a forma do

canal, ou ambos também variam. Esse relacionamento pode ser expresso da seguinte forma: D = Avonde, D é a descarga em m3/s; A é a área da seção transversal do canal (largura x profundidade médiaem m2); e v é a velocidade média em m/s. Mudanças nessas variáveis ocorrem comumente durantechuvas torrenciais, fazendo com que a descarga aumente. Com o aumento da descarga, a velocidadetambém aumenta. Isto pode ocasionar um processo erosivo maior provocando o alargamento docanal, tornando o fluxo mais veloz em aluvião e mais lento em locais onde o rio corre sobre rochas.Quando a descarga diminui, as dimensões do canal também decrescem, pois, parte da carga transportadaa velocidades maiores passa a não ser mais transportadas com a diminuição da velocidade, seconstituindo em leito para que o rio possa fluir.

Viajando ao longo do rio de sua cabeceira para a sua desembocadura, percebe-se ajustes ordenadosao longo do canal (Figura 05). Por exemplo, (1) a largura e a profundidade do canal aumentam, (2) ogradiente diminui; (3) a velocidade aumenta; e (4) a descarga aumenta. O fato da velocidade aumentarpara a jusante parece contradizer a observação comum de que a água corre veloz em montanhasescarpadas e suavemente sobre planícies quase horizontais. Contudo, a aparência física da correntepode não ser uma indicação verdadeira de sua velocidade. A descarga é baixa nas cabeceiras e avelocidade média também é baixa, por causa da resistência friccional causada pela água sobre leitosrugosos. Aqui, onde o fluxo é turbulento (agitado ou desordenado) a água se move em muitas direções, aoinvés de mover-se diretamente para a jusante. A descarga aumenta para a jusante quando cada tributário(uma corrente que se une a uma corrente maior) introduz mais água, e a seção transversal da área docanal também aumenta, para acomodar um volume maior de água. Apesar de um progressivo decréscimona declividade, a velocidade vai aumentando para a jusante, devido ao progressivo aumento da descarga,um decréscimo na resistência friccional, devido a uma atenuação na rugosidade do leito, e, um fluxoque corre mais uniformemente direcionado ao longo do canal.

Page 13: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

13

Figura 05 - Variáveis de um canal fluvial (adaptado do U.S. Gorvernment).

4.1 Principais Tipos de Canais (Figura 06)

-Canais Meandrantes: Em muitos rios os canais formam curvas denominadas de meandros queocorrem mais comumente em rios que fluem sobre aluviões finos e que possuem gradientes suaves.O padrão meandrante reflete a maneira na qual o rio minimiza a resistência ao fluxo e dissipa energiatão uniformemente quanto possível ao longo de seu curso. A mudança quase contínua, ou migraçãode um meandro ocorre pela erosão na sua curva externa. Isto ocorre, porque nesta área a velocidade dofluxo é maior. Por outro lado, na parte interna do meandro, devido a baixa velocidade da água, osedimento vai acumular, formando uma feição denominada de barra em pontal. Sempre que um meandroque estiver erodindo sedimento arenoso encontra outro tipo de sedimento menos erodível, tal comoargila, a migração do meandro ocorrerá de forma mais lenta. Enquanto isso, o segmento do meandroa montante (sentido contrário ao que o rio corre) que estiver migrando sobre aluvião arenoso, migramais rápido, podendo ocasionar o encontro de duas partes do rio, provocando um atalho no curso domesmo, convertendo o meandro abandonado em um lago arqueado chamado de oxbow lake ou, lago demeandro abandonado.

Page 14: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

14

Figura 06 - Principais tipos de canais fluviais (adaptado de Teixeira et al. 2000).

- Canais entrelaçados: São formados quando um rio possui uma seqüência de canaisinterconectados. Isso ocorre devido ao fato do rio não possuir capacidade de transportar toda a suacarga sedimentar, depositando-a sob a forma de barras que, localmente divide o fluxo concentrando-onos segmentos mais profundos do canal que ocorrem ao lado das barras. Quando uma barra se forma,ela pode emergir acima da superfície da corrente como uma ilha e se tornar estabilizada pela vegetaçãoque, aprisiona os sedimentos e inibe a erosão. Um padrão entrelaçado tende a se formar em correntespossuindo descargas altamente variáveis e margens facilmente erodíveis que podem fornecer abundantecarga sedimentar para o canal.

- Canais retilíneos: São considerados canais retilíneos, aqueles com baixa sinuosidade. Algumasbarras laterais podem se formar em leitos arenosos. Em leitos rochosos, os canais retilíneos podemestar inseridos em zonas de fraqueza das rochas, tais como falhas e fraturas geológicas, originadasdurante o período de tectonismo mais significativo, sofrido pelos corpos rochosos.

- Canais anastomosados: Esses canais são típicos de áreas com baixo gradiente, alto índicepluviométrico e vegetação bem desenvolvida. Esses fatores, associados à fina granulometria dossedimentos, pode fazer com que um canal se divida em dois ou mais canais que, eventualmente, podemse unir à jusante, formando novamente um canal único.

4.2 Inundações

A distribuição irregular de chuva ao longo do ano provoca inundações nas estações chuvosas.Uma inundação ocorre quando a vazão de um rio se torna tão grande que excede a capacidade do canale a água ultrapassa os bancos dos canais. A população afetada por inundação é freqüentementesurpreendida. Contudo, estudos geológicos de depósitos de inundação mostram claramente queinundações são eventos normais e esperados. Como a descarga aumenta durante uma inundação, avelocidade também aumenta. Isto permite a corrente de transportar uma carga maior, bem como,partículas maiores. Em inundações extremas, blocos rochosos com algumas toneladas de massa podemser transportados. Isso mostra a capacidade de transformação da paisagem que esse agente geológico,o rio, pode efetuar. Inundações extremas ocorrem com pouca freqüência, talvez uma em vários séculos.Mesmo as inundações maiores, que deixam evidências no registro geológico, podem ser vista como

Page 15: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

15

eventos catastróficos que ocorrem raramente mesmo na escala de tempo geológico. Manipulaçãodos Sistemas de Rios.

Desde que os antigos mesopotâmios resolveram se estabelecer às margens dos rios Tigre eEufrates, que a humanidade passou a perceber os sistemas fluviais como parceiros, no desenvolvimentode seus povos. Historicamente, nas margens do Rio Nilo, na África, as comunidades ali estabelecidasutilizavam o solo fertilizado pelas inundações, para o plantio de cereais e outros alimentos. Até então,o uso desse recurso era realizado de forma racional, garantindo a sustentabilidade do mesmo, para asgerações vindouras.

Atualmente, a utilização dos recursos hídricos e a ocupação do solo ocorrem, quase sempre, deforma desordenada. Grandes áreas, então, são desmatadas para que a agricultura possa se estabelecer.Os rios têm seus cursos desviados para a irrigação, agrotóxicos são usados para o plantio e todo osistema fica comprometido (Figura 07).

Figura 07 - A foto mostra uma área onde a agricultura modificou o sistema fluvial local, bem como, a interação deste com as águassubterrâneas. Observe áreas completamente desmatadas para o desenvolvimento da agricultura (foto do autor).

Outra grande modificação nos sistemas fluviais é a construção de grandes obras de engenharia,como as barragens, por exemplo. A represa Aswan High do Rio Nilo evidencia uma das muitasconseqüências de modificar um sistema de rios. Como já dissemos, durante séculos o Rio Nilo foiuma fonte de vida no Egito. As principais cabeceiras do Nilo estão localizadas nos altos platôs daEtiópia. Uma vez no ano, por aproximadamente um mês, o Nilo costumava subir para um estágio deinundação e cobrir a maior parte das terras férteis na área do Delta do Nilo. A represa concluída em1970 era para abastecer o Egito com água e para irrigar 1 milhão de acres de terras áridas e gerar 10bilhões de kilowatts de energia. Isto dobraria a capacidade energética daquele país e permitiria aindustrialização. A represa, contudo, destruiu o equilíbrio do Nilo, resultando em muitos ajustesindesejáveis.

O Nilo não é somente fonte de água para o delta, ele também é fonte de sedimento. Quando arepresa foi finalizada e começou a aprisionar sedimento em um reservatório (Lago Nasser), o balançofísico e biológico na área do delta foi destruído. Sem o anual "presente do Nilo", a linha de costa dodelta ficou exposta às forças das correntes marinhas e a erosão provocada pelas ondas está destruindoa parte frontal do delta. Muitas partes do delta começaram a retrogradar vários metros por ano.

Os sedimentos e a matéria orgânica previamente carregados pelo Nilo era um importante elo nacadeia alimentar aquática, fomentando a vida marinha em frente ao delta. A falta dos sedimentosreduziu os plânctons e carbono orgânico a um terço do nível anterior. Isto faz com que peixes ecrustáceos que se alimentavam naquela região, ou morram, ou procurem outros locais para sobreviver.

Page 16: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

16

A pesca anual de 16000 toneladas de sardinhas e um quinto do peixe pescado têm sido perdidos.O sedimento do Nilo também fertilizava naturalmente a planície de inundação. Sem essa adição anualde nutrientes de solo, um milhão de acres cultivados do Egito, precisam de fertilização artificial.A inundação anual do Nilo era importante também para a ecologia da área porque ela retirava sais queformavam nos solos áridos. O aumento da salinidade no médio curso do rio pode provocar a formaçãode um deserto, a menos que grandes investimentos sejam feitos.

No Brasil, o Rio São Francisco tem sofrido várias alterações no seu curso, com a construção debarragens e usinas hidrelétricas, fazendo com que a quantidade de sedimentos que chegue à suadesembocadura tenha diminuído significativamente. As barragens de Sobradinho, Paulo Afonso eXingó, no Estado da Bahia e, a de Três Marias no Estado de Minas Gerais, têm provocado alteraçõessignificativas no percurso natural do São Francisco. Como resultado, a margem direita de suadesembocadura tem sofrido um intenso processo erosivo pela ação das ondas, ocasionando a invasãodo mar que avançou mais que 200m entre 1995 e 2000. Essa invasão provocou a destruição da Vila doCabeço no estado de Sergipe (Figura 08), além de provocar uma cunha salina, que faz com que ospoços perfurados próximo a linha de costa daquela região, jorrem água salgada.

Na Bacia do Paraguaçu, vários trechos foram assoreados, durante a exploração desordenada dediamantes na região da Chapada Diamantina. Nesse caso, a carga sedimentar colocada no rio é ampliada,fazendo com que partes do seu curso fiquem mais rasas e outras partes sejam soterradas, fazendocom que o rio tente escavar outro percurso.

Figura 08 - Desembocadura do rio São Francisco mostrando o Farol do Cabeço, que ficava na vila de mesmo nome e que, porconta das alterações sofridas pela instalação de barragens ao longo do rio, atualmente encontra dentro do mar (foto do autor).

Page 17: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

17

5.AS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

Menos que 1% da água da hidrosfera permanece em subsuperfície como água subterrânea, queé definida, como toda a água que ocupa os espaços abertos em rochas, sedimentos e regolito, desdeque, esses espaços estejam abaixo do lençol freático, ou seja, na zona saturada. Embora a quantidadede água subterrânea no sistema hidrológico seja pequena, ela é 35 vezes maior que o volume de todasas águas contidas nos lagos somadas aquelas que fluem nos canais fluviais e cerca de 1/3 da águacontida nas geleiras e nas calotas polares. Mais da metade de toda a água subterrânea, incluindo amaior parte da água subterrânea que é utilizável, ocorre em profundidades de até 750m. O volume deágua nesta zona é estimado como sendo equivalente a uma camada de água de aproximadamente 55mde espessura espalhada sobre todas as áreas continentais.

5.1 O Lençol Freático

Ao se furar um poço numa região qualquer, percebe-se que, antes de se atingir a água subterrâ-nea, passa-se por uma zona com espaços abertos no regolito ou na rocha, preenchidos principalmentepor ar e, em quantidade bem menor, a água. Esta é a zona de aeração ou zona subsaturada (Figura 09).Em seguida, vem a zona saturada, ou seja, aquela em que todos os espaços estão preenchidos comágua. Nós chamamos a superfície superior da zona saturada de lençol freático. Toda a água contidaabaixo do lençol freático é chamada de água subterrânea. Em cavernas inundadas, por exemplo, asuperfície da água que está dentro da caverna, é o lençol freático, e toda a água abaixo dessa superfícieé o que nós chamamos de água subterrânea (Figura 10). A água contida na zona de aeração é denominadade água de solo. A variação da profundidade do lençol freático de uma determinada região ocorre emfunção da taxa de precipitação e da topografia. A forma do lençol acompanha grosseiramente osdesníveis topográficos. Em áreas planas, o lençol freático também é plano e em áreas de colinas, eleirá subir ou descer de acordo com a superfície do terreno.

Figura 09 - A figura mostra duas zonas: uma, onde parte dos poros está preenchida por ar e parte por água (zona não saturada) eoutra, onde todos os poros estão preenchidos por água (zona saturada). As águas subterrâneas são as que ocupam a zona saturada.

Page 18: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

18

Figura 10 - Refração da luz ao atingir o poço encantado em Itaetê, Bahia. A superfície da água é corresponde ao lençol freático(foto do autor).

5.2 Movimento da Água Subterrânea

A maior parte da água subterrânea dentro de algumas centenas de metros abaixo da superfícieestá em movimento. Diferente do fluxo dos rios que são medidos em km/h, a água subterrânea semove tão lentamente que as velocidades são expressas em centímetros por dia ou metros por ano.A razão para esse contraste é facilmente explicado. Enquanto que as correntes fluem através decanais abertos, a água subterrânea se move através de pequenas passagens, freqüentemente ao longode caminhos tortuosos. Por isso, o fluxo da água subterrânea depende, em grande parte, da naturezarocha ou sedimento através do qual ela se move. Respondendo à gravidade, ela flui de áreas onde olençol freático é mais alto para áreas onde ele é mais baixo. A água em um dado ponto abaixo do lençolfreático sob uma colina sofre uma pressão maior do que a água na mesma elevação abaixo do lençolfreático abaixo de um vale. A água subterrânea, por isso, vai se mover para baixo e para pontos demenor pressão. Em outras palavras, ela flui para a superfície de correntes ou lagos, ou para os oceanos.

5.3 Porosidade e Permeabilidade

A quantidade de água que pode estar contida dentro de um dado volume de rocha ou sedimentodepende da porosidade, que é a porcentagem de vazios ou poros em relação ao volume total da rocha.Em algumas areias bem selecionadas e cascalhos, a porcentagem pode exceder aos 20%, enquanto quealgumas argilas possuem porosidade superior a 50%. Em sedimentos e rochas sedimentares clásticas(arenito, conglomerado, dentre outras) a porosidade é afetada pelo tamanho, forma e arranjo das

Page 19: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

19

partículas de rochas, bem como pela quantidade de agentes cimentantes presentes nos poros. Noscalcários (rochas sedimentares de natureza química), a porosidade é dada por cavidades de solução,podendo nesse caso, atingir até 30% da rocha. A porosidade de rochas ígneas e metamórficas dependeprincipalmente da presença de fraturas. Uma exceção são os basaltos (rochas ígneas vulcânicas) quepossuem vazios conhecidos por vesícula, que podem fornecer a esse tipo de rocha, uma porosidadeaté 40% (Figura 11).

A permeabilidade é a capacidade da rocha em transmitir fluidos, ou seja, é a medida da facilidadecom que um sólido permite que um fluido passe através dele. Uma rocha ou sedimento de porosidademuito baixa é provável de também possuir uma permeabilidade baixa. Um cascalho bem selecionado,com poros grandes é mais permeável do que uma areia e pode armazenar grandes quantidades deágua. Contudo, uma alta porosidade não necessariamente garante uma alta permeabilidade, porque otamanho e a interconectividade dos poros influenciam a permeabilidade. Por exemplo, o cimentodepositado entre os grãos podem restringir o fluxo da água entre os poros, por isso, reduzindo apermeabilidade.

Figura 11 - Porosidade de alguns tipos de rochas: Conglomerado (20%); Arenito cimentado (5%); Folhelho (30%); Granito (<1%);Basalto (até 40%); calcário (30%). O folhelho, apesar da alta porosidade, é considerado impermeável devido ao tamanho reduzidodos poros.

5.4 Áreas de Recarga e Descarga

A reposição de água subterrânea é denominada de recarga e ocorre quando a chuva ou a nevederretida penetra no terreno e atinge o lençol freático na zona de recarga. A água então se moveatravés do sistema de água subterrânea para áreas de descarga, onde a água emerge sob a forma denascentes, ou é descarregada em correntes, lagos ou pântanos. A extensão da área de recarga éinvariavelmente maior do que as áreas de descarga. Em regiões úmidas, as áreas de recargaencompassam quase toda a paisagem exceto as correntes e suas planícies de inundação adjacentes.Em regiões mais áridas, a recarga ocorre principalmente em montanhas e em depósitos aluviais que

Page 20: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

20

as bordejam. Em tais regiões a recarga também ocorre ao longo de canais de rios maiores que percor-rem sobre terrenos permeáveis, através dos quais a água penetra e recarrega o reservatório subterrâneo.Ao longo das linhas de costa do mundo, a água subterrânea pode fluir através de rochas porosas esedimentos por meio de descarga submarina de água subterrânea.

5.5 Nascentes

Uma nascente é um fluxo de água subterrânea emergindo naturalmente na superfície do terreno.O tipo mais simples de nascente é aquele que ocorre onde a superfície do terreno intercepta o lençolfreático. Pequenas nascentes são encontradas em todos os tipos de rochas, mas quase todas asgrandes nascentes fluem de basaltos, calcários e rochas arenosas e cascalhosas. Uma mudança verticalou horizontal em permeabilidade é uma razão comum para a localização de nascentes. Freqüentementeesta mudança envolve a presença de uma rocha impermeável ou, menos permeável adjacente a umarocha permeável (Figura 12). Se uma areia porosa ou basalto sobrepõe uma argila, a água percolandopara baixo irá fluir lateralmente quando ela alcança a argila subjacente e, emergirá como uma nascenteonde o limite entre as duas rochas interceptar a superfície do terreno.

Figura 12 - A origem de uma nascente envolve, freqüentemente o encontro do lençol freático com a superfície do terreno, no contatoentre um material permeável, com outro impermeável.

5.6 Aqüíferos

Se nós desejamos encontrar um suprimento confiável de água subterrânea, devemos procurarpor um aqüífero, um corpo rochoso ou regolito suficientemente permeável para transmitir quantidadeseconomicamente significantes de água subterrânea para nascentes ou poços. Sedimentos arenososou cascalhosos são, em geral, bons aqüíferos, pois eles tendem a ser altamente permeáveis e muitoextensos. Muitos arenitos também são bons aqüíferos. Contudo, em alguns arenitos o agente cimentastedos grãos presentes na rocha, diminui os espaços porosos, reduzindo a permeabilidade e diminuindoo seu potencial como aqüífero.

Um aqüífero contendo um lençol freático é denominado de aqüífero não confinado. Quando aágua é bombeada de um aqüífero não confinado, a taxa de retirada inicial excede a taxa local de fluxoda água subterrânea. Isso faz com que, próximo ao poço, haja um rebaixamento do lençol freático,criando um cone de depressão. Em situações onde a água de uma localidade é abastecida basicamentepor poços, seja em fazendas ou áreas industriais, pode haver um rebaixamento geral de todo o lençolfreático, fazendo com que os poços menos profundos acabem por secar.

Page 21: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

21

5.7 Sistemas Artesianos

Diferente de um aqüífero não confinado, um aqüífero confinado é limitado acima e abaixo porcorpos de rochas ou sedimentos impermeáveis, ou por rochas ou sedimentos bem menos permeáveisdo que o aqüífero. A água que entra em um aqüífero confinado em uma área de recarga, como umamontanha, por exemplo, flui para baixo puxado pela gravidade. Quando ela alcança grandes profundidades, aágua fica sob uma forte pressão hidrostática (pressão devido ao peso da água). Se um poço é perfuradono aqüífero, a diferença em pressão entre o lençol freático e o nível onde o poço foi locado, irá ocasionara elevação da água no poço, fazendo com que a mesma possa atingir a superfície originando assim opoço artesiano. Sob condições pouco comuns, mas possíveis de ocorrerem, a pressão da água podeser grande o suficiente para criar fontes que sobem até 60m acima da superfície.

6.O TRABALHO GEOLÓGICO DA ÁGUA SUBTERRÂNEA

A água subterrânea movendo-se lentamente tem o poder de realizar um trabalho geológicosignificativo. Em regiões onde predominam rochas suscetíveis ao intemperismo químico, a águasubterrânea tem criado paisagens distintas que estão entre as menos comuns em nosso planeta.

6.1 Dissolução de Carbonatos

Tão logo a água da chuva infiltre no terreno, ela começa a reagir com os minerais presentes noregolito e nas rochas intemperizando-os quimicamente. Um tipo de intemperismo químico que envolveos grãos minerais da rocha passando diretamente para um estado em solução, é conhecido comodissolução. Calcário, dolomito e mármore - as rochas carbonáticas mais comuns- são prontamenteatacadas pela dissolução. Embora os minerais carbonáticos sejam quase insolúveis em água pura,eles são prontamente dissolvidos por água da chuva carregadas com CO2 que se torna uma soluçãodiluída de ácido carbônico. O resultado é impressionante. Quando as rochas carbonáticas intemperizam,quase todo o volume pode ser dissolvido pela água subterrânea movendo-se lentamente.

6.2 Cavernas e Dolinas

Cavernas em rochas carbonáticas podem possuir muitos tamanhos e formas, e elas,freqüentemente, possuem feições em seus tetos, paredes e pisos conhecidos pelo nome deespeleotemas. Na Chapada Diamantina, a Caverna da Lapa Doce possui um salão principal comaproximadamente 800m de extensão e vários espeleotemas, incluindo estalactites, estalagmites,colunas, terraços de travertino e cortinas (Figura 12). Além desse salão, várias outras galeriasinterconectadas chegam a somar mais de 20km de extensão. Morcegos e alguns insetos são oshabitantes naturais dessa caverna. Outras grutas possuem pequenos reservatórios de água subterrâneaonde são encontrados peixes conhecidos popularmente por bagres cegos. No Poço Encantado, aespessura do corpo aquoso chega a atingir 60m (veja Figura 10).

As cavernas em calcário formam quando a água subterrânea circula e lentamente dissolvea rocha. A seqüência usual de desenvolvimento envolve: (1) dissolução inicial ao longo de umsistema de fraturas abertas interconectadas e planos de acamamento pelos quais a água percola.,(2) Alargamento desses espaços pela passagem da água que passa a ocupar toda a abertura, (3)deposição de carbonato nas paredes e teto das cavernas, enquanto uma corrente ocupa o seuassoalho, (4) quando a corrente deixa de fluir, a deposição começa a ocorrer também no assoalhoda caverna.

Em comparação com as cavernas, uma dolina é uma grande cavidade de dissolução a céuaberto. Algumas dolinas são resultante do desabamento do teto de cavernas, enquanto outras

Page 22: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

22

são formadas por rebaixamento gradual da superfície. As dolinas produzidas por cavernas podem seformar abruptamente e, como resultado, ocasionar danos às pessoas que vivem nessas regiões.

Figura 12 - (a) Complexo de estalactites e, (b) estalagmites, estalactites e coluna (fotos do autor).

7.LAGOS

Um lago é qualquer corpo de água continental de tamanho apreciável que ocupa uma depressãona superfície da Terra. A maioria dos lagos do mundo é encontrada em regiões de alta latitude e emmontanhas. O Canadá contém quase metade dos lagos de todo o planeta, por causa as geleirascontinentais cavaram depressões nas rochas expostas e deixaram grande quantidade de sedimentostransportados glacialmente, criando inumeráveis depressões e diques naturais. Além da glaciação,lagos também são formados por vulcanismo (por exemplo, IMAtera e lagos de caldeira), tectonismo(em terrenos com grandes falhamentos geológicos), em sistemas fluviais (meandros abandonados),processos costeiros (lagunas de água doce), dentre outros. Embora a maioria dos lagos contenhamágua doce, muitos lagos em regiões áridas e semi-áridas possuem uma grande quantidade de saldissolvido (lagos salinos). O Mar Cáspio na Ásia Central é um lago salgado e possui a maior área(144.000 km2), enquanto que o Lado Baikal (constituído de água doce), é o mais profundo com 1742m.

Os lagos são predominantemente alimentados pelas águas correntes superficiais e pela precipitaçãodireta da água da chuva, e seu nível reflete comumente um balanço entre a entrada de água doce dascorrentes e direta precipitação, saída para alimentar outras corrente e a água subterrânea e a evaporação.Em bacias pequenas, o nível de um lago pode ser controlado pelo lençol freático, com as flutuações dolençol controlando as flutuações do nível do lago.

(a) (b)

Page 23: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

23

Os lagos são feições transitórias na paisagem. Poucos deles possuem mais que um milhão deanos e, a maioria não é mais antiga do que o final da última glaciação (cerca de 12.000 a 14.000 anosatrás). Um lago pode deixar de existir se suas margens forem erodidas o suficiente para não maiscomportar o armazenamento de água. O desaparecimento de um lago pode ocorrer também, a partirde um balanço negativo da entrada e saída de água, com a mudança do clima. Lagos pequenos podemdesaparecer com o rebaixamento do lençol freático. Um lago também pode gradualmente tornar-semais raso e desaparecer com o preenchimento de sua bacia com sedimentos orgânicos ou inorgânicosformando um pântano.

Page 24: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

24

REFERÊNCIASHAMBLIN, W.K. The Earth's Dynamic Systems. Mac Millan Pub. Comp. & Collier Mac. Pub., New York, 6ed. 1996. 570 p.

SKINNER, B. J. & PORTER, S. C.. Physical Geology. Ed. John Willey & Sons Inc. New York 1987. 750p.

SKINNER, B. J., PORTER, S. C. & BOTKIN, J.. The Blue Planet. Ed. John Willey & Sons Inc. New York 1999. 525p.

TEIXEIRA, W., TOLEDO, M. C. M., FAIRCHILD, T. R. & TAIOLI, F (Org). Decifrando a Terra. Oficina de Textos.São Paulo, 2000. 557p.

Page 25: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

25

MONITORAMENTO DA QUALIDADE DASÁGUAS DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DOESTADO DA BAHIA

(PROGRAMA MONITORA)

Joana Fidelis da Paixão([email protected])

Consultora da Instituto de Gestão das Águas e Clima. Bolsista de Inovação Tecnológica daFundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia. Doutoranda em Geologia (Ufba). Mestreem Ecologia e Biomonitoramento (Ufba). Bacharel em Ciências Biológicas/ Ecologia/Recursos Naturais (Ufba).

Julio Cesar de Sá da RochaDiretor Geral do Instituto de Gestão das Águas e Clima. Doutor e Mestre em DireitoAmbiental (PUC/SP). Professor Adjunto da UEFS/UNEB

Luiz Henrique Pinheiro([email protected])

Diretor de Regulação da Instituto de Gestão das Águas e Clima. Mestre em EngenhariaAmbiental (Ufes). Especialista em Recursos Hídricos da ANA. Engenheiro Químico (Ufba)

Maurício Gonçalves Lima([email protected])

Coordenador de Monitoramento do Instituto de Gestão das Águas e Clima. Mestrando emEngenharia Ambiental Urbana (Ufba). Especialista em Gerenciamento de Recursos Hídricos(Ufba). Engenheiro Agrônomo (Ufba)

Bruno Zacarias Gomes([email protected])

Analista em Recursos Hídricos (Convênio Fapes/INGÁ). Mestre em Ecologia (Unicamp).Bacharel em Ciências Biológicas (Unicamp).

Page 26: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

26

RESUMO

Este artigo apresenta a proposta da Instituto de Gestão das Águas e Clima - INGÁ para a retomadae reestruturação da rede de monitoramento da qualidade das águas das bacias hidrográficas doestado da Bahia, intitulada Programa Monitora. A inclusão de novos parâmetros de índices dequalidade da água para diferentes usos, de outras matrizes de avaliação (além da matriz água, tambémsedimentos, biota e efluentes) e a integração dos dados físico-químicos e biológicos aos dadoshidrológicos (pluviométricos e fluviométricos) permitirá uma avaliação mais completa das baciasestaduais. Em atendimento à Lei Estadual n° 11.612/2009, que determina como competência do INGÁa elaboração de relatórios sobre a situação dos recursos hídricos, o Programa Monitora ainda subsidiaráa execução de outros instrumentos de gestão (e.g: enquadramento de bacias, outorga de direito deuso dos recursos hídricos). O artigo apresenta também uma revisão sobre a situação domonitoramento da qualidade das águas nacionais, indicadores de uso e ocupação estaduais, além deperspectivas futuras para o Programa Monitora.

Palavras-chave: qualidade da água, monitoramento, bacias hidrográficas.

ABSTRACT

This paper presents the proposal of the Supervision of Resources of Water - INGÁ for retakenand the reorganization of the net of monitoring of the quality of waters of the watersheds of thestate of the Bahia, intitled Monitora Program. The inclusion of new parameters, index of quality of thewater for different uses, of other matrices of evaluation (beyond the first water, also effluent,sediments and biota), and the integration of the data biological physic-chemicals and to thehydrologics will allow a more complete evaluation of the state basins. In attendance the state Law n°11.612/2009 that it determines as ability of the INGÁ the elaboration of reports on the situation ofthe water resources, the Monitora Program still will subsidize the execution of other instruments ofmanagement (e.g: framing of basins, grant of right of use of the water resources). The article alsopresents a revision on the situation of the monitoring of the quality of national waters, indicating ofstate use and occupation, beyond future perspectives for the Monitorial Program.

Key-words: water quality, water monitoring, watersheds.

Page 27: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

27

1.INTRODUÇÃO

1.1 Disponibilidade hídrica: cenário atual

A água é um recurso diretamente associado à vida, uma vez que participa com elevado potencialda composição dos organismos. No ecossistema planetário, seu papel é múltiplo, seja como integranteda cadeia alimentar e de processos biológicos, seja como condicionante do clima e dos diferenteshábitats (MILARÉ, 2007).

Embora da superfície da Terra sejam cobertos de água, apenas 2,5% desse total são formadospor água doce, aproveitável para o consumo e para a irrigação. A água doce disponível é ainda maisescassa se considerarmos que, em 80%, estão contidas nas geleiras, nos pólos.

Nessa situação global, o Brasil é um país privilegiado, visto que detém acima de 8% da água docedisponível no mundo para ser aproveitada. O clima, a vegetação e outras características ambientaisfavorecem a abundância de água no País: cerca de 90% do território possui índices pluviométricosque variam de 1.000 a 3.000 milímetros anuais (BAHIA, 2004).

Essa disponibilidade hídrica na maioria das regiões do Brasil contribuiu para que a água,reconhecida como recurso natural renovável, fosse tratada como um recurso ilimitado, fornecida apreços baixos e na quantidade desejada. Adicionalmente, fatores demográficos, socioeconômicos eculturais, em conjunto, favoreceram o uso inadequado dos recursos hídricos nacionais, cujas perdasna rede de distribuição nas regiões Sul e Sudeste são de 30% em média, enquanto a média mundial deperdas aproxima-se de 10% (MILARÉ, 2007).

Entretanto, os recursos hídricos não se encontram bem distribuídos entre as diferentes regiõesdo País. No semi-árido nordestino, região que ocupa cerca de 10% do território nacional, e no centro-oeste,existe escassez. No Norte, onde habitam apenas 7% da população nacional, estão concentradosaproximadamente 70% da água disponível para uso; enquanto os 30% restantes distribuem-sedesigualmente pelo País para atender a 93% da população.

A região Nordeste, onde vivem cerca de 28% da população brasileira, dispõe de apenas 3% dosrecursos hídricos nacionais (GALINDO, 2004). Paradoxalmente, no Nordeste, joga-se fora mais águapotável do que se consome: 60% perdem-se nos canos antes de chegar aos domicílios (MILARÉ, 2007).

Mais de 1,4 bilhões de pessoas vivem atualmente em bacias hidrográficas, onde a utilização deágua excede os níveis mínimos de reposição, visto que o consumo de água no planeta aproxima-se dos10% da quantidade existente, o que é avaliado por especialistas como insuficiente para suprir ademanda crescente. Isso porque, até 2025, o número de pessoas que vivem em países submetidos agrande pressão sobre os recursos hídricos passará dos cerca de 700 milhões atuais para mais de 3bilhões (GEO BRASIL RECURSOS HÍDRICOS, 2007).

Até 2080, a insegurança da água e as alterações climáticas ameaçam aumentar o número depessoas subnutridas em todo o mundo de 75 para 125 milhões (GEO BRASIL RECURSOS HÍDRICOS,2007). A escassez de água é, portanto, apontada como um dos principais problemas ambientais parao mundo neste século.

Page 28: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

28

1.2 Fator de restrição aos usos múltiplos da água disponível: sua qualidade

Além desses fatores relacionados à quantidade de água, existe outra questão agravante dasituação de restrição hídrica que está relacionada à sua qualidade: mais de 90% do esgoto domésticoe cerca de 70% dos despejos industriais são lançados nas águas superficiais (MILARÉ, 2007).

Vale ressaltar que essas são fontes pontuais de poluição, as quais podem ser controladas através detratamento, redução, reuso, e até mesmo eliminação (através da adoção de princípios e técnicas deprodução mais limpa), antes de serem descartadas nos corpos d´ água. Entretanto, a poluição aquáticagerada por fontes difusas é mais difícil de ser estimada e controlada, por apresentar múltiplos pontos dedescarga, resultantes do escoamento em áreas urbanas ou agrícolas.

De fato, o poder de diluição das águas, aliado aos processos naturais de degradação e precipitação,é responsável pela remoção de substâncias dos corpos d´água (PEREIRA e SOARES-GOMES, 2002),o que faz do lançamento de efluentes um dos usos das águas superficiais. Contudo, a utilização daságuas para a diluição de efluentes tem potencial para causar alterações na sua "qualidade" paraoutros usos, muito antes de haver comprometimento da capacidade de suporte do corpo receptor.

Até mesmo processos naturais podem modificar a qualidade da água e, nesse sentido, valeressaltar que a expressão "qualidade da água" não se refere a um grau de pureza absoluto, mas a umpadrão tão próximo quanto possível do "natural". Dessa maneira, pode-se dizer que a qualidade daágua é função das condições naturais e do uso e ocupação do solo na bacia hidrográfica (von SPERLING, 2007).

1.3 Bacia hidrográfica - unidade de gestão

De acordo com von SPERLING (2007), a bacia hidrográfica é uma unidade fisiográfica, limitadapor divisores topográficos (elevações do terreno), que recolhe a precipitação e age como um reservatóriode água e de sedimentos que migram para uma seção fluvial única, o exutório. A rede de drenagem deuma bacia hidrográfica é assim formada pelo escoamento da precipitação, a partir das maiores elevaçõesdo terreno, em direção aos vales, seguida pela sua concentração em pequenos cursos d`água, os quaisconfluem, formando o rio principal da bacia e seus afluentes.

O conceito de bacia hidrográfica representa a unidade mais apropriada para o estudo qualitativo equantitativo do recurso água. A utilização da bacia como unidade de gerenciamento traz consigo ocompromisso da abordagem interdisciplinar e da democratização das decisões, premissas básicas aoalcance do desenvolvimento sustentável (SCHIAVETTI e CAMARGO, 2005).

1.4 Justificativa para o monitoramento

1.4.1 Monitoramento da qualidade da água: instrumento de gestão

A importância da qualidade da água está bem conceituada na Política Nacional de RecursosHídricos, que define entre seus objetivos "assegurar à atual e às futuras gerações a necessáriadisponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos" (Art. 2º, Lei n°9.433/97).

No que tange ao gerenciamento qualitativo da água, a Organização Mundial de Saúde (OMS)preconiza que a infra-estrutura de recursos hídricos não será completa sem que se lhe agregue atrilogia: monitoramento, vigilância e levantamentos especiais, para detectar observância e violaçãode padrões (MILARÉ, 2007).

Uma revisão do estado da arte do monitoramento das águas no País (MAGALHÃES JUNIOR,2000), com foco no processo evolutivo da gestão dos recursos hídricos e nas funções e atividadesdas instituições, alerta para a necessidade de se dispor de uma base sólida de dados para a gestão daságuas, sob pena do gerenciamento de algo que não se conhece.

Page 29: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

29

Para suprir às demandas atreladas à insuficiência de informações sobre a qualidade das águas,faz-se necessário a implantação de programas de monitoramento físico-químico, químico e biológicodos corpos hídricos. Esses dados são fundamentais ao controle e à avaliação da poluição, à tomada dedecisões e ao desenvolvimento socioeconômico.

1.4.2 Instruções legais pertinentes ao monitoramento qualitativo das águas

A legislação ambiental nacional é rica em instrumentos que tutelam o aspecto qualitativo dosrecursos hídricos. Desde o Código das Águas (Decreto n° 24.643/34), que priorizava a gestão quantitativados recursos hídricos, especialmente na forma de concessões para o aproveitamento hidroelétrico, oaspecto qualitativo foi mencionado nos artigos 109 e 116, que tratavam das "águas nocivas", proibindoqualquer pessoa "conspurcar ou contaminar as águas que não consome, com prejuízo de terceiros".

Três décadas à frente, o Código Florestal (Lei n° 4.771/65), em seu artigo 2º, determinou quefossem preservadas as florestas e demais formas de vegetação situadas ao longo dos rios, protegendotambém, de maneira indireta, a vazão e a qualidade das águas (BRASIL, 1965). Em seguida, o Código dePesca (Decreto-lei n° 221/67) veio proteger as águas interiores (Art. 4), ao estabelecer que os efluentesdas redes de esgotos e os resíduos industriais somente poderiam ser lançados nas águas quando nãoas tornassem poluídas (Art. 37) (BRASIL, 1967).

Contudo, a norma legislativa que inaugurou, no âmbito nacional, a gestão da qualidade daságuas foi a Resolução Conama n° 020/86 (recentemente revogada pela Resolução Conama n° 357/05). Depois da publicação dessa resolução, a Constituição Federal de 1988 modificou, em vários aspectos,o Código das Águas, com destaque para a extinção de alguns casos previstos de domínio privado daágua (MILARÉ, 2007). Segundo a Constituição atual, todos os corpos d'água são de domínio público;e nas águas de domínio estadual, compete aos órgãos públicos estaduais aplicar a legislação federalsobre a matéria.

Mas foi a aprovação da Lei n° 9.433/97, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos,que marcou o advento de um novo ordenamento institucional, de mudanças administrativas e degerenciamento dos recursos hídricos. Essa lei definiu a criação do Sistema Nacional de Informaçõesde Recursos Hídricos, unindo os órgãos federais, estaduais e municipais. A política baseia-se nogerenciamento integrado da qualidade e quantidade dos recursos hídricos (Art. 30) e estabelececomo princípios gerais básicos à gestão de recursos hídricos: (I) a gestão por bacia hidrográfica; (II)a observância dos usos múltiplos; (III) o reconhecimento de que a água é um recurso dotado de valoreconômico; (IV) a gestão descentralizada e participativa; e (V) o reconhecimento da água como bemfinito e vulnerável.

Posteriormente, a Lei n° 9.984/00 criou a Agência Nacional das Águas - ANA, vinculada aoMinistério de Meio Ambiente, e estabeleceu a gestão descentralizada e participativa, com odeslocamento do poder de decisão para os níveis hierárquicos locais e regionais do governo, aparticipação dos usuários, da sociedade civil organizada, das ONGs e de outros agentes, atravésdos comitês de bacia. Essa lei definiu ainda cinco instrumentos para o gerenciamento das águasno País: o plano de recursos hídricos, o enquadramento dos corpos d'água, a outorga, a cobrançae o Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos, todos ferramentas demandantes deinformações relativas à qualidade dos recursos hídricos.

Recentemente, foi divulgada a Resolução Conama n° 357/05, que classifica as águas comodoces, salobras e salinas para a efetiva implantação dos padrões de qualidade, além de determinar oseu enquadramento segundo os usos preponderantes, o qual é regulamentado pela Resolução CNRHn° 012/00. Assim, a Resolução Conama n° 357/05 visa assegurar às águas qualidade compatível aosusos mais exigentes a que forem destinadas e diminuir os custos de combate à poluição medianteações preventivas e permanentes.

Page 30: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

30

Diante dessas normas legislativas, fica evidente que o monitoramento da qualidade das águas éimprescindível não somente ao atendimento dos instrumentos legais relativos ao aspecto qualitativo daágua, mas também como subsídio à gestão dos recursos hídricos como um todo.

1.4.3 Monitoramento da qualidade das águas: uma competência institucional

O Instituto de Gestão das Águas e Clima (INGÁ), criado pelo Lei nº 11.050/08, em substituiçãoà antiga Superintendência de Recursos Hídricos (SRH), é uma autarquia vinculada à Secretaria doMeio Ambiente (SEMA), que tem por finalidade gerir e executar a Política Estadual de RecursosHídricos e de Prevenção, Mitigação e Adaptação dos Efeitos das Mudanças Climáticas. Estão entre ascompetências do INGÁ:

- Desenvolver e executar as políticas públicas relativas à gestão das águas superficiais e subter-râneas de domínio do Estado da Bahia;

- Monitorar e fiscalizar os usos dos recursos hídricos, elaborando relatório periódico sobre asituação dos recursos hídricos no Estado; e

- Implementar ações de mobilização social, educação ambiental e comunicação que possibilitema participação da sociedade em ações voltadas ao aproveitamento sustentável, conservação e usoracional dos recursos hídricos e na promoção da sustentabilidade das Bacias Hidrográficas.

O desempenho dessas competências depende de informações derivadas do monitoramento daqualidade das águas, conforme descrito na Tabela 1. O monitoramento também subsidiará o processode decisão político-administrativa no gerenciamento integrado de recursos hídricos, incluindo oauxílio à elaboração dos Planos de Bacias, e como suporte à elaboração da proposta de enquadramentosegundo a Resolução Conama n° 357/05 e a Resolução CNRH n° 012/00, para os corpos d´água aindanão enquadrados (Tabela 1).

TABELA 01 - Importância do monitoramento para a execução de competências do INGÁ

Page 31: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

31

2.OBJETIVO GERAL

Diante do comprometimento do INGÁ em informar sobre a situação dos recursos hídricosestaduais, este trabalho centra-se no objetivo geral de construir a proposta do Instituto de Gestãodas Águas e Clima do Estado da Bahia para a retomada e reestruturação do monitoramento daqualidade das águas das bacias hidrográficas estatuais: o Programa Monitora.

2.1 Objetivos Específicos

• Revisar a situação dos recursos hídricos, em termos de qualidade da água, entre os estados daFederação;

• Realizar um levantamento de dados sobre qualidade da água e sobre o uso ocupação do solo noestado da Bahia;

• Elaborar o plano de trabalho do INGÁ para o Programa Monitora.

3.ÁREA DE ESTUDO

• A área inicial de estudo do Programa Monitora envolveu todas as 17 regiões de Planejamento eGestão das Águas - RPGA, aprovadas no Plano Estadual de Recursos Hídricos de 2005, definidasatravés de critérios geográficos, culturais e socioeconômicos com a finalidade de integrar as açõesde gestão dos recursos hídricos, a saber: bacias do extremo sul, bacias do rios Pardo e Jequitinhonha,bacias do leste, bacia do Rio de Contas, bacias do Recôncavo Sul, bacias do Recôncavo Norte eInhambupe, bacia do Rio Paraguaçu, bacia do Rio Itapicuru, bacia do rios Real e Vaza Barris, submédiodo São Francisco, bacia do Rio Salitre, Lago do Sobradinho, bacias do Rio Verde e Jacaré, bacias dorios Paramirim, Santo Onofre e Carnaíba de Dentro; calha do Médio São Francisco, bacia do RioGrande e bacia do Rio Corrente (Figura 01). Atualmente, existem 26 regiões de monitoramento egestão das águas na Bahia.

Figura 01 - Mapa do Estado da Bahia: RPGAs.

Page 32: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

32

4.ESTRATÉGIA METODOLÓGICA

A metodologia de desenvolvimento deste trabalho está dividida em duas etapas, a saber:

(I) Revisão da situação das redes de qualidade das águas nacionais, levantamento dos últimosdados do monitoramento sistemático do estado da Bahia (IMA, 2000; 2001) e comparação dessesresultados a indicadores de uso e ocupação do solo (IBGE, 2000; 2001; 2006)

(II) Elaboração do plano de trabalho do INGÁ para a primeira etapa do Programa Monitora (2008 - 2010).

5.RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Situação das redes de qualidade das águas das unidades da Federação

As avaliações efetuadas pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2000 e 2001) revelam queapenas nove estados da Federação possuem sistemas de monitoramento de qualidade da águaconsiderados ótimos ou muito bons (entre os quais encontra-se o estado da Bahia), enquanto cincopossuem sistemas bons ou regulares e 13 apresentam sistemas fracos ou incipientes (MMA, 2002).

Nesse contexto, o nível de implementação do monitoramento da qualidade das águas do estadoda Bahia foi considerado ótimo/muito bom, situação em que, na região Nordeste, foi acompanhadoapenas pelo estado de Pernambuco (GEO BRASIL RECURSOS HÍDRICOS, 2007).

Essa avaliação agrupou os estados segundo quatro indicadores: porcentagem das baciashidrográficas monitoradas, tipo de parâmetros analisados, freqüência de amostragem e forma dedisponibilização da informação (Tabela 02).

Considerando-se as redes estaduais e a rede hidrometeorológica nacional, observa-se grandediversidade regional, sendo que apenas a região Sudeste possui uma condição adequada demonitoramento da qualidade da água (Tabela 02). As demais regiões apresentam-se inferiores, comdestaque para as regiões Norte e Nordeste (GEO BRASIL RECURSOS HÍDRICOS, 2007).

Fonte: Panorama da Qualidade das Águas Superficiais no Brasil (2005).* O número de pontos de coleta não inclui os pontos de monitoramento da balneabilidade das praias e de sedimentos.

Page 33: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

33

5.2 Monitoramento sistemático da qualidade das águas do estado da Bahia

Na Bahia, o Instituto do Meio Ambiente - IMA, órgão ambiental estadual, até o ano de 2001,monitorou sistematicamente a qualidade das águas superficiais através dos 75 principais rios dasbacias hidrográficas estaduais (Tabela 03). Desde então, o IMA vem realizando outras avaliações, comdestaque para os boletins de qualidade da bacia hidrográfica do Rio Paraguaçu, divulgados em 2003 e 2004.

TABELA 03 - Resultados obtidos do monitoramento da qualidade das águas das bacias hidrográficas do estado da Bahia nos anosde 2000 e 2001

Fonte: IMA, 2000/2001).

Page 34: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

34

Considerando-se que as características da água estão sujeitas às variações contínuas no tempoe no espaço, é imprescindível que o monitoramento da qualidade das águas das bacias hidrográficasdo estado da Bahia também seja contínuo.

Nesse sentido, o Instituto de Gestão das Águas e Clima - INGÁ, no âmbito de suas competênciasdesignadas pela Lei n° 10.432/06, divulgou em Portaria 206/07, no Diário Oficial do Estado, na datade16 de abril de 2007, o início do Programa Monitora, visando à retomada e à reestruturação da redede monitoramento sistemático da qualidade das águas estaduais.

O INGÁ, que é a instituição responsável pela operação da rede hidrológica desde de 2001, gerindoo aspecto quantitativo das águas estaduais (Tabela 4), prepara-se para atender à diretriz da PolíticaNacional de Recursos Hídricos (Art 3°, Lei n° 9.433), que determina "a gestão sistemática dos recursoshídricos, sem dissociação dos aspectos de quantidade e qualidade".

Para alcançar essa finalidade, os dados da rede de monitoramento serão interpretados em relaçãoaos dados da rede hidrológica (coletados nas estações fluviométricas e pluviométricas, Tabela 04), oque futuramente pretende-se integrar em um único banco de dados.

TABELA 4 - Estações pluviométricas e fluviométricas do estado da Bahia

Fonte: GEO BRASIL RECURSOS HÍDRICOS, 2007

5.3 Levantamento de dados secundários de uso e ocupação do solo no estado da Bahia:evolução de indicadores

Na Tabela 05, está apresentada a variação de alguns indicadores relacionados ao uso e à ocupa-ção do solo do estado da Bahia entre os anos de 2000 e 2006. Os dados apontam crescimento quevaria de 6,76% para população e densidade demográfica a 16,78%, para lavoura temporária.

Page 35: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

35

TABELA 05 - Indicadores de uso e ocupação do solo do estado da Bahia

Fonte: IBGE (2000, 2006)

Com relação à produção física industrial da Bahia, expressa em número-índice acumulado de 12meses, em setembro de 2006 o valor foi de 100, 85, enquanto em setembro de 2000, para o mesmoíndice do valor, foi de 98,49 (IBGE, Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física).

Essas informações salientam a relevância do monitoramento contínuo da qualidade das águasestaduais para acompanhar as alterações na qualidade decorrentes da evolução de indicadoresrelativos ao uso e à ocupação do solo.

5.4 Plano de trabalho do Programa Monitora

5.4.1 Plano de Amostragem e de análises

A Tabela 06 contempla os parâmetros básicos do Índice de Qualidade das Águas a serem avaliadosem 207 pontos distribuídos nas bacias hidrográficas do estado da Bahia (17 regiões de Planejamentoe Gestão das Águas - RPGA).

* Número de campanhas amostrais e de análises/ponto

Page 36: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

36

Em 40% dos pontos da rede de monitoramento, serão avaliados parâmetros adicionais, descritos naTabela 07. Em 15% dos pontos da rede de monitoramento, serão avaliados os parâmetros da Tabela 8.Os parâmetros das tabelas 06 e 07 serão avaliados nas matrizes: água e efluentes.

Page 37: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

37

TABELA 08 - Parâmetros específicos para as matrizes: água e efluentes

Anualmente, em 15% dos pontos da rede de monitoramento, os sedimentos serão avaliados deacordo com os parâmetros listados na Tabela 09.

TABELA 09 - Parâmetros para a matriz: sedimento

Page 38: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

38

Anualmente, em 5% dos pontos da rede de monitoramento, a biota aquática será avaliada deacordo com os parâmetros listados na Tabela 10.

TABELA 10 - Parâmetros para a matriz biota aquática

As coordenadas geográficas dos pontos amostrais serão a mesma adotada pelo Instituto doMeio Ambiente (IMA 2000; 2001) na primeira etapa do Programa Monitora (2008-2009), para gerarinformações sobre a evolução da situação da qualidade da água nos mesmos pontos. Posteriormente,os pontos serão revisados, podendo haver alterações na sua localização.

Em virtude das limitações relativas à infra-estrutura e à equipe técnica disponível, a execução doPrograma Monitora contará, inicialmente, com apoio técnico especializado para operacionalizar omonitoramento sob acompanhamento e supervisão do INGÁ.

Page 39: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

39

5.4.2 Escopo do monitoramento

• Reuniões de planejamento

Foram realizadas reuniões entre os representantes do Instituto de Gestão das Águas e Clima(INGÁ) e os representantes da empresa contratada para executar a primeira fase do Programa Monitora.Essas reuniões terão a finalidade de revisar o plano de amostragem e discutir os resultados domonitoramento.

A partir da análise dos resultados apresentados nos relatórios, o plano de amostragem poderásofrer alterações, a exemplo de modificações na localização dos pontos, na seleção de parâmetros ena freqüência de amostragem.

• Coleta

As coletas estão sendo realizadas nas matrizes água, sedimento, biota aquática e efluente, inicial-mente em 207 pontos distribuídos entre os rios que perfazem as 17 bacias hidrográficas do estado daBahia (regiões de Planejamento e Gestão das Águas - RPGAs).

A freqüência inicial de amostragem para a análise dos parâmetros básicos do monitoramentoserá trimestral, sendo que a cada três meses é realizada coleta em cada um dos 207 pontos amostrais(Tabela 06).

Foi incluído o monitoramento da qualidade dos sedimentos e da biota aquática (Tabela 9 e 10)em algumas estações amostrais em que há suspeita de acúmulo de substâncias. Essas estações serãoescolhidas a partir dos primeiros resultados do monitoramento, da investigação sobre uso e ocupação dosolo e da obtenção de outros dados secundários que serão apresentados pela empresa contratadanos relatórios parciais.

A coleta de amostras para o monitoramento sistemático seguirá as metodologias divulgadaspelo Standard Methods for the Examination of Water and Waste Water, pelas normas mais atualizadasda U.S. Environmental Protectoin Agency, do Global Environmental Monitoring System e do Guia deColeta e Preservação de Amostras de Água da Cetesb (1987).

• Análises

As análises atendem às concentrações mínimas de interesse legal, conforme a Resolução Conaman° 357/05, resoluções Cepram de enquadramento de bacias hidrográficas, padrões de potabilidade daOrganização Mundial de Saúde (OMS) e padrões de qualidade da EPA.

Para os parâmetros que não são medidos in situ (através das sondas multiparamétricas),serão utilizados métodos de coleta, preservação e análise especificados em normas técnicas cientificamentereconhecidas, de modo a assegurar a confiabilidade dos dados e a possibilidade de comparação comlimites estabelecidos nos padrões da Resolução Conama n° 357/05.

• Tratamento e interpretação dos resultados

Os resultados trimestrais são interpretados com base na Resolução Conama n° 357/05. Apartir da terceira campanha, os dados serão analisados estatisticamente para a geração dos valoresmédios das variáveis de qualidade da água, seguida pela estimativa do desvio-padrão e do coeficientede variação, podendo serem aplicados métodos estatísticos, a exemplo das análises de correlação decomponentes principais.

A interpretação dos resultados das análises é realizada em relação aos principais critérios epadrões de qualidade disponíveis na literatura científica e nos instrumentos legais, com destaque

Page 40: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

40

para os padrões discriminados na Resolução Conama n° 357/05 (BRASIL, 2005). A interpretação dosresultados também levará em consideração as informações sobre uso e ocupação do solo, a seremcoletadas junto à base de dados de órgãos públicos e privados, universidades, centros de pesquisas,em periódicos, livros e outras fontes bibliográficas, observando-se a citação da fonte de acordo comas normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Os resultados serão relacionados aos registros de vazão, aos índices pluviométricos, informaçõescartográficas e climatológicas geradas pelo Instituto de Gestão das Águas e Clima.

Na ausência de um instrumento legal específico para a avaliação da qualidade dossedimentos, serão utilizados, para efeito de comparações, os padrões recomendados pela ResoluçãoConama n°. 344/04 (BRASIL, 2004). Esses padrões foram estabelecidos para solos pela norma daCetesb, "Estabelecimento de Valores Orientadores para Solos e Águas Subterrâneas no Estado deSão Paulo" (CETESB, 2005), e coincidem com valores orientadores descritos em publicações internacionaisreferentes à qualidade de sedimentos.

• Apresentação dos resultados

Os resultados são apresentados na forma de relatórios parciais trimestrais e relatórios anuais,sendo que esses últimos serão apresentados na forma de relatório detalhado, acompanhados desumário executivo.

Os relatórios parciais trimestrais de qualidade das águas das bacias hidrográficas do estado daBahia contém as fichas de campo, os laudos das análises, os resultados das análises estatísticas efetuadas,os resultados dos cálculos dos índices de qualidade, a interpretação dos resultados, as fotografiasdos locais de coleta, tabelas, gráficos e mapas indicativos das estações amostrais por baciahidrográfica, as violações aos padrões de qualidade, avaliação dos impactos e recomendações. Orelatório final deverá conter as informações consolidadas dos relatórios parciais.

O monitoramento é conduzido através de estrutura baseada nas bacias hidrográficas dis-tribuídas em 17 RPGAs, uma vez que a Lei Estadual n° 10.432/06 determina que a bacia hidrográficaé a unidade territorial definida para o planejamento e o gerenciamento dos recursos hídricos e paraa gestão integrada dos aspectos quantitativo e qualitativo.

Dessa maneira, os relatórios estão subdivididos em capítulos correspondentes às baciashidrográficas (cada capítulo contendo introdução, metodologia, resultados e discussão, conclusõese bibliografia).

Os relatórios dos ensaios devem citar as referências dos métodos utilizados, o tipo de controlede qualidade analítica adotado e os limites de detecção do método. Nos relatórios (parcial/final), osresultados das análises serão apresentados em tabela, ao lado dos limites máximos e mínimos permitidospelos critérios e padrões de qualidade utilizados como referência.

Para facilitar a compreensão dos resultados do monitoramento pelo público em geral e a suautilização como instrumento de gestão dos recursos hídricos, os resultados devem ser apresentadostambém em forma de índices de qualidade da água para diferentes usos.

Devido à multiplicidade dos usos da água, serão aplicados, no âmbito do Programa Monitora,diferentes índices de qualidade para fins específicos. Em virtude da facilidade em se fazer compara-ções, deverão ser priorizados os índices utilizados pela Cetesb (2007), a saber: Índice de Qualidade deÁguas (IQA), Índice de Qualidade das Águas Brutas para Fins de Abastecimento Público (IAP), Índicede Qualidade das Águas para a Proteção da Vida Aquática e de Comunidades Aquáticas (IVA), Índicede Variáveis Mínimas para a Preservação da Vida Aquática (IPMCA), Índice do Estado Trófico (IET),Índice da Comunidade Fitoplanctônica (ICF), Índice da Comunidade Bentônica (ICB) e Índice deBalneabilidade.

Page 41: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

41

6.CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS

Esse trabalho descreveu a proposta do Instituto de Gestão das Águas e Clima para a realizaçãodo monitoramento sistemático da qualidade das águas estaduais. A primeira etapa do ProgramaMonitora (2008-2010) produzirá informações sobre a qualidade dos recursos hídricos das baciashidrográficas do estado da Bahia, a observância ou violação aos padrões regulamentados por lei e asituação atual de uso e ocupação do solo nas diferentes RPGAs, incluindo as principais fontes depoluição. Os relatórios anuais de qualidade das águas serão divulgados na internet, para acesso dopúblico em geral, e servirão de base ao planejamento da segunda fase do Programa.

Em uma perspectiva de longo prazo, poderão ser firmadas parcerias para a ampliação da rede demonitoramento, com possível inclusão de outras abordagens, a exemplo da construção de um bancode dados para a integração de informações estaduais e federais para a gestão das águas, em uma baseunificada e acessível, via internet. Outra vertente seria o monitoramento da biodiversidade aquática,relacionando-a aos impactos causados pelas atividades antrópicas na bacia, o que permitirá relacionar aqualidade da água para a biota nos rios à qualidade da vida humana no conjunto da bacia. Atualmente,com a nova lei de Recursos Hídricos do Estado (Lei n° 11.612/2009), o monitoramento passa a serinstrumento da Política de Recursos Hídricos.

Agradecimentos ao Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).

Page 42: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

42

REFERÊNCIAS

BAHIA. 1995. Lei n° 6. 812 de 18 de janeiro de 1995. Publicado no Diário Oficial de 19 de janeiro de 1995.

BAHIA. 2006. Lei n° 10.432 de 20 de dezembro de 2006. Dispõe sobre a Política Estadual deGerenciamento de Recursos Hídricos.

BAHIA. 2004. Programa de Recuperação e Preservação de Mananciais de Abastecimento de Água daRegião Metropolitana de Salvador. Governo do Estado da Bahia. SEDUR/SEMA.

BETCHWL,T.J.; COPELAND, B.J., 1970. Fish species diversity indices as indicators of pollution inGalbeston Bay , Texas. Contrib. Mar.Sci.15:103-132.

BRASIL, 1965. Lei n° 4771/65 que institui o Novo Código Florestal.

BRASIL. CONAMA. Resolução n° 357, de 17 março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos deágua e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrõesde lançamento de efluentes, e dá outras providências. Diário Oficial da União: República Federativa doBrasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 18 mar. 2005. Seção 1.

BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA. Resolução CONAMA n° 20, de 18 de julho de1986. Brasília, DOU de 30 de julho de 1986.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil 1988. Capítulo VI - Do Meio Ambiente (art.225).

BRASIL. Decreto Lei n° 221, de 28 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre o Código de Pesca. Diário Oficial[da] União, Brasília, 28/fev./1967.

BRASIL. Decreto n° 24.643, de 10 de julho de 1934. Código das águas.

BRASIL. Lei n° 4771, de 15 de setembro de 1965. Institui o Novo Código Florestal.

BRASIL. Lei n° 9.433, de 08 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria oSistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do Art. 21 daConstituição Federal, e altera o Art. 1 da Lei n° 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei no7.990, de 28 de dezembro de 1989. Diário Oficial [da] União, Brasília, 9/jan./1997.

BRASIL. Leis, decretos, etc. 2004. Resolução CONAMA 344, de 25/03/2004. Brasília/DF. Ministério doMeio Ambiente. Diário Oficial da União de 07/05/2004, retificada em 28/05/2004.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente. CONAMA. Resolução n° 20, de 18 dejunho de 1986 . [Classificação das águas doces, salobras e salinas do Território Nacional]. DiárioOficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 30 jul. 1986 . Seção 1, p. 72-89.

BRINKHURST, R.O.; MARCHESE, M.R. Guia para la identificacion de oligoquetos acuaticoscontinentales de sud y centroamerica. 2.ed. Santo Tomé: INALI, 1992. 207 p. (Colección CLIMAX).

BROWN, R.M.; ,McCLELLAND,N.I.; DEININGER,R. A.; TOZER,R.G. A Water Quality Index -Do We Dare?1970. Water Sewage Works: 339-343.

CAIRNS, JR., J.; DICKSON, K.L. A simple method for biological assesment on the effects of the mostdischarges on aquatic bottom - dwelling organisms. J. Water Pollut. Control Fed., v. 3, n. 5, p. 755-7 2,1971.

CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. Relatório de qualidade das águasinteriores do estado de São Paulo 2005 / CETESB. - - São Paulo : CETESB, 2006. 2 v. (Série Relatórios/ Secretaria de Estado do Meio Ambiente, ISSN 0103-4103).

CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. Valores Orientadores para Solos eÁguas Subterrâneas no Estado de São Paulo. 2005.

Page 43: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

43

CETESB, Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. São Paulo. Monitoramento Integrado- Bacias do Alto e Médio Tietê. Avaliação da Qualidade - Água, Sedimento e Peixes. Aditamento aocontrato 020/97. Relatório Final. São Paulo: CETESB/SABESP, 1999. 138p.

EPLER, J.H. Identification manual for the larval Chironomidae (Diptera) of Florida. Tallahassee:Department Environment Protection. 1995.

FERNÁNDEZ, H.R.; DOMÍNGUEZ, E. (Ed.). Guía para la determination de los artrópodos bentónicossudamericanos. Tucumán: EudeT, 2001. 282 p.

HENRIQUE-MARCELINO, R.M. et al. Macrofauna bentônica de água doce: avanços metodológicos.São Paulo: CETESB. 1992. 1 p. Anexos.

HORTON,R.K.,1965. An index-number system for rating water quality. Journal of Water PollutionControl Federation.37(3):300-306.

HULBERT,S., 1971.The non concept of species diversity: a critique and alternative parameters.Ecology.52:577-586.

IBGE, 2006. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estados@. Disponível em http://www.ibge.gov.br. Acesso em 14 de julho de 2007.

IGAM - Instituto Mineiro de Gestão das Águas. Qualidade das águas superficiais do Estado de MinasGerais. Relatório de monitoramento das águas superficiais na Bacia do Rio São Francisco em 2004:Bacia do Rio São Francisco - Sul / Instituto Mineiro de Gestão das Águas. -Belo Horizonte: IGAM,2005. 180p.

LAMPARELLI, M.C. et al. Avaliação do complexo Billings: comunidades aquáticas, água e sedimento -(Out/92 a out/93). São Paulo: CETESB, 199 . 53 p., il. Anexos.

LOPRETTO, E.C.; TELL, G. (Ed.). Ecosistemas d´águas continentales: metodologias para su estudio. LaPlata: SUR, 1995. Tomos 2-3.

MARGALEF, R.,1981. Características de lãs águas de represa como indicadores Del

estado de los ecossistemas terrestres de lãs respectivas cuencas. In: REUNIÃO SOBRE ECOLOGIA EPROTEÇÃO DE ÁGUAS CONTINENTAIS. SÃO CARLOS, SÃO PAULO, OEA/UNESCO/MAB/ USP,ANAIS:39 - 109.

MCNAUGHTON,S.J.,1977.Relationship among functional properties of Califórnia grassland.Nature:216:168-169.

MENHINICK, E.P.,1964. A comparation of some species-individuals diversity indices applied to samplesof field insects. Ecology, 45: 859-861.

MERRITT, R.W.; CUMMINS, K.W. An introduction to the aquatic insects of North America. 3rd ed.Dubuque: Kendall: Hunt, 199 . 8 2 p.

MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário/ Edis Milaré. Prefácio à 5. ed.Ada Pellegrini Grinover. 5. ed. Ref., e ampl. - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. ISBN 978-85-203-3063-0.

OTT, W. R. 1978. Environmental Indices: theory and practice, Ann Arbor Science, Ann Arbor, Michigan,371 p.

PENNAK, R.W. Fresh-water invertebrates of the United States: protozoa to mollusca. 3rd ed. NewYork: John Wiley & Sons, 1989. 28 p.

PEREIRA, R. C.; SOARES-GOMES, A. 2002. Biologia Marinha. Rio de Janeiro: Interciência. ISBN 85-7193-067-8. 382p.

SHANNON,C.E.;WEAVER,W.,1949.The mathematical theory of communication. Urbana, IL: TheUniversity of Illinois Press, 296.

Page 44: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

44

SIMPSON, E.H., 1949.Measurement of diversity. Nature.163:688.

SMITH, D.G.,1987. A new form of water quality index for rivers an streams. Wat. Sci. Tech., New Zealand,v.21.

THORP, J.H.; COVICH, A.P. (Ed.). Ecology and classification of North American freshwater invertebrates.San Diego: Academic, 1991. 911 p.

TOLEDO JR., A.P. Informe preliminar sobre os estudos para a obtenção de um índice para a avaliaçãodo estado trófico de reservatórios de regiões quentes tropicais. São Paulo: CETESB, 1990.

TRIVINHO-STRIXINO, S.; STRIXINO, G. Larvas de Chironomidae do Estado de São Paulo: guia de iden-tificação e diagnose dos gêneros. São Carlos: UFSCar: PPG, 1995. 229 p.

UNITED STATES. EPA. Biological criteria for the protection of aquatic life: users manual for biologicalfield assessment of Ohio surface waters. Columbus, OH: Division of Water Quality Monitoring andAssessment, 1987. v. 2.

WASHINGTON, H.G. Diversity, biotic and similarity indices: a review with special relevance to aquaticecosystems. Water Res., v. 18, n. , p. 53- 9 , 198 .

ZAGATTO, P.A.; BERTOLETTI, E. Ecotoxicologia Aquática - princípios e aplicações. São Carlos: Rima,2006. 478p. ISBN - 85-7656-090-9.

Page 45: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

45

ASPECTOS GEOAMBIENTAIS E DAQUALIDADE DA ÁGUA ACUMULADA NA MINADE BONFIM DO AMIANTO, BOM JESUS DASERRA - BAHIA

Wayner Americo de Freitas([email protected])

Geólogo (UFBa), Mestre em Geoquímica e Meio Ambiente (UFBa), Coord. de Outorga / INGÁ,atuação em Estudos hidrogeológicos e Outorga de água de mananciais subterrâneos.

Manoel Jerônimo Moreira Cruz([email protected])

Geólogo (UFBa), Doutor em Geologia, Professor Adjunto da UFBa.

RESUMOO amianto é uma fibra mineral natural extraída predominantemente em rochas serpentiníticas. O conhecimento

e uso deste mineral datam da antiguidade. A Mina de Bonfim do Amianto, no Município de Bom Jesus da Serra, foidescoberta em 1927 e explorado até 1974 e chegou a produzir 100.000 toneladas por ano. Em 1967, a lavra foi suspensa eabandonada, sem que medidas corretivas, ou mitigadoras, fossem tomadas de forma a conservar o ambiente e garantira saúde da comunidade local. A cava da mina a céu aberto acumulou uma lâmina de água com as seguintes caracterís-ticas: pH médio em torno de 8,9 e temperaturas entre 22 e 23°C. Os valores de oxigênio dissolvido (OD) variam grandementecom a profundidade da lâmina de água, na superfície do lago, cuja aeração é mais intensa, apresenta valores em tornode 8,3 mg/L. A partir de profundidades em torno de 2m, o OD começa a cair, passando de 5 mg/L, para valores em tornode 0,1 mg/L a partir de 5m de profundidade, chegando a zero nas zonas mais profundas. Os valores de turbidez são baixos,em ordem de grandeza de 1,1 Unidade Nefelométrica de Turbidez (UNT), da mesma forma os números de sais dissolvidos(TDS) que apresentam alguns valores mensuráveis apenas nas amostras coletadas nos pontos mais profundos da cava.O depósito precipitado no fundo do lago foi caracterizado como antofilita e é proveniente da deposição de poeiratransportada pelo ar, proveniente da grande área de rejeito disposta aleatoriamente a céu aberto, sem tratamentopaisagístico e recuperação das áreas degradadas.

Palavras-chave: Amianto, Bom Jesus da Serra, Saúde, Água.

ABSTRACTAsbestos is a predominantly extracted natural mineral fiber in serpentinitic rocks. The knowledge and use of

that mineral date from the antiquity. The Mine of Bonfim do Amianto, in the Bom Jesus da Serra, was discovered in 1927and explored up to 1974, when it have produced 100,000 tons per year. In 1967, its exploration was suspended andabandoned, with corrective measures to preserve the environment and the health of the local community. The open pitmine accumulated a water blade with the following characteristics: pH average around 8,9 and temperatures between22 and 23°C. The values of the dissolved oxygen (DO) vary greatly with the depth of the water blade, in the surface of thelake, the aeration is more intense, present values around 8,3 mg/L. From depths around 2m, the DO is 5 mg/L and after5m of depth the values range from zero and 0,1 mg/L, in the zones deepest. The values of turbidity are low, orderly oflargeness of 1.1 nefelometric turbidity unit (NTU), in the same way the total dissolved solids (TDS) present constantsvalues in samples collected at deepest points of the lake. The deposit precipitated in the deep one of the lake wascharacterized as antophilite and it comming due to the deposition of dust carried for air proceeding from mine rejectsand degraded areas.

Keywords - Asbestos, Bom Jesus da Serra, health, Water.

Page 46: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

46

1.INTRODUÇÃO

A jazida de amianto de Bom Jesus da Serra (Figura 01) foi descoberto em 1927 e explorado pelaSAMA a partir de 1940, encerrando uma reserva de 4,5 milhões de toneladas de minério, com teor de2,5% de amianto. Nos anos sessenta, chegou a produzir 100.000 toneladas/ano de minério, constituindo-se,durante 27 anos, no maior fornecedor nacional de fibras de amianto. A extração foi desenvolvida a céuaberto, até a profundidade de 80 m, prosseguindo através de lavra subterrânea, usando-se um planoinclinado de 25°, 250 m de extensão e diversas galerias. Em 1967, a lavra, que empregou até 300trabalhadores, foi suspensa em decorrência do elevado custo de produção e, principalmente, devidoà descoberta de jazimentos mais promissores em Canabrava, município de Minaçu, Goiás, de propriedadedaquela mesma empresa. Em 1974, a atividade extrativa foi retomada, se restringido, todavia, aoaproveitamento do rejeito de serpentinito. Este material era transportado para servir como fundentenas usinas siderúrgicas do centro/sul do País. A produção deste material alcançou em 1978 mais de100.000 t/ano. Atualmente a área se encontra abandonada, sem nenhum tipo de trabalho de recuperaçãoambiental.

Figura 01 - Local da área estudada.

A extensiva exploração da mina a céu aberto (Figuras 02 e 03), desenvolveu uma grande cavacom cerca de 400 m de comprimento, 50 m de largura e 80 m de profundidade, que, ao longo do tempo,após o abandono das explorações, tem acumulado água, formando um lago de proporções importantespara esta área do semi-árido do Estado da Bahia, onde os dados pluviométricos não ultrapassam aordem de 600 mm/ano.

Page 47: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

47

2 .OBJETIVO

Analisar ambientalmente e caracterizar a qualidade da água acumulada na cava da minaabandonada e as suas condições de explotabilidade, como alternativa de uso para população local.

3.ÁREA DE ESTUDO

A área, objeto de estudo, localiza-se no distrito de Vila Amianto, Município de Bom Jesus daSerra, no sudoeste do Estado da Bahia, distante 395 km de Salvador, no entorno das coordenadasgeográficas definidas pelo paralelo 14° 24' 27,1" de latitude Sul e meridiano 40° 31' 53,0" de longitudeOeste (Figura 04).

Figura 04 - Localização da mina de Bonfim do Amianto, do no Estado da Bahia

Page 48: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

48

4.SITUAÇÃO GEOLÓGICA REGIONAL E LOCAL

Os terrenos geológicos da região de Bonfim do Amianto, município de Bom Jesus da Serra,estão inseridos no denominado Craton do São Francisco (Almeida, 1977), mais detalhadamente noBloco do Gavião (in Barbosa e Dominguez 1996), e foram descritos por Marinho et al (1982), com basenos conceitos teóricos de Winkler (1977), que os nomeou como Complexo Granolitico-Granoblastítico,nos domínios locais tidos como Granolito Enderbito (Figura 05).

Figura 05 - Síntese geológica da região de Bom Jesus da Serra, a partir de Marinho et al.1977.

O Granolito Enderbítico é uma seqüência de rochas cinza-esverdeadas ou acastanhadas, foliadas,ocasionalmente isotrópicas, que variam, no próprio afloramento, para porções mais claras, quasesempre paralelas, gnáissicas, com minerais máficos agrupados em lamelas subparalelas, descontínuas,que definem a foliação. Em certos casos, a variação parece mais drástica, passando a litologiasesbranquiçadas, essencialmente quartzo-feldspáticas, nas quais se agrupam cristais euédricos degranada avermelhada. Mais restritamente se verificam estruturas de maior mobilidade, dos tiposnebulítico e schlieren.

As rochas encaixantes, nos contatos imediatos com a intrusão, exibem grande quantidade demegacristais de feldspato, adquirindo aspecto de augen-gnaisse. Os megacristais estão orientadossegundo o eixo maior, apresentando-se envolvidos por concentrações de minerais máficos. Essaseqüência de rochas comporta granolitos enderbíticos e charnoenderbitos, com variações locaispara granolitos charnockíticos e granoblastitos, Marinho et al. (1982).

Ao norte de Bom Jesus da Serra ocorrem de corpos tabulares de potência métrica, de rochas decoloração cinza escura e composição gabróica, (gabro-noritos). Estas litologias estão tambémassociadas, em proporções subordinadas, ao corpo ultramáfico. Além das associações gabróicasreferenciadas, relacionam-se localmente níveis de gnaisses aluminosos, constituídos essencialmente decordierita, biotita, granada e quartzo, com percentagens variadas de plagioclásio e andaluzita(kinzigitos).

O corpo Bonfim do Amianto é um complexo de rochas ultramáficas, inserido no complexoGranolito-Granoblastítico (Figura 06). No domínio local da intrusão se destacam duas feiçõesgeormórficas nitidamente distintas e contrastantes: a primeira, representada por uma superfícieaplainamento recoberta por um espesso solo coluvionar, que ocupa a maior parte das suas porçõesoeste e sul, e a segunda, por uma potente crista fixada por veio quartzo secundário branco, quepreenche zona de quebramento e impõe ao relevo um desnível com cerca de 170 m.

Page 49: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

49

Figura 06 - Fotografia dos domínios do Corpo Ultramáfico de Bom Jesus da Serra (em destaque).

O corpo possui em torno de 6,5 km de comprimento e largura média em torno de 1,4 km (Figura5). Encerra essencialmente, rochas ultramáficas serpentinizadas, provenientes de dunitos e peridotitos,ainda preservados na porção sudoeste do corpo, onde constituem três lentes em contato gradacionalcom os serpentinitos. Os serpentinitos são de coloração verde-pistache (Figura 07), de granulaçãofina, isotrópicos, silicificados, às vezes, cortados por vênulas de material silicoso. Nestes sítios, quandoalterados, transformam-se numa rocha amarelo-amarronzada, com textura cavernosa, compostaessencialmente de calcedônia, quartzo e limonita, conservando, algumas vezes, serpentina comactinolita. Encontram-se complexamente dobrados, intensamente falhados e penetrados por potentescorpos de pegmatito e quartzo.

Page 50: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

50

Figura 07 - Rocha serpentítica, portadora da mineração de amianto.

A mineração de amianto está relacionada aos serpentinitos, tendo sido lavrada na porção extremosudeste do corpo, onde são assinalados um potente corpo pegmatítico e uma estreita faixa depiroxenito. As áreas mineralizadas estão relacionadas a juntas de alto ângulo, com aberturas médiasde 0,5 cm e a zonas de cisalhamento, constituindo fibras de tamanhos variáveis, flexíveis e sedosas, àsvezes silicificadas e impregnadas de óxido de ferro. O tipo predominante, correspondente à variedadecross fiber, que formam veios irregulares, às vezes estrangulados em finas lentes, e às zonas cisalhadaso tipo slip fiber, com fibras maiores. Conforme os dados de Mattos Neto in Marinho et al (1982), oamianto-crisotila apresenta a seguinte composição: perda ao fogo 13,18 %, sílica (SiO2) 46,10 %, alumina(A12O3) 2,75 %, óxido férrico (Fe2O3) 3,25 %, óxido de magnésio (MgO) 35,40 %. Os minerais metálicospresentes são: ilmenita (2 %), titanomagnetita (0,3 %), pirita (0,1 %), hematita (4 %) e calcopirita (0,2 %).Nos serpentinito estão presentes titanomagnetita (2- 5 %), pirita (0,1 %), hematita (3 a 4 %), calcopirita (0,1 %).

5.ASPECTOS ESTRUTURAIS

Segundo Marinho et al (1982), os sítios de Bom Jesus da Serra estruturalmente correspondemao núcleo de um antiforme, cujo cerne é representado pelos Granolitos-Charnoquímiticos e as abassão Granolitos Enderbíticos. A tectônica plástica antiga é pouco importante para a acumulação deágua, objetivo maior deste trabalho, sendo muito importante a tectônica quebradiça, hospedeira doaqüífero fissural da região.

Page 51: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

51

A Figura 05 apresenta o traçado das linhas de falhas e fraturas e expressa o corpo ultrabásico,obtido de fotografias aéreas em escala 1:108.000, vôo USAF 1972. É mister assinalar que, nesta figurase distinguem três sistemas de quebramentos principais: i) o sistema binário de direção NW-SE emergulho vertical, se constituem a zona de maior rasgamento; ii) o sistema de fraturas de direção N-Se iii) transectando todas estas direções de quebramento observa-se um conjunto de aberturas dedireção próxima a E-W, verticalizadas, que frequentemente desloca o padrão do binário N-S. Estessistemas de quebramento podem ser sintetizados no diagrama de roseta (Figura 08).

Figura 08 - Diagrama de roseta das direções de falhas e fraturas.

A orientação das foliações é proveniente dos esforços de transposições que as rochas foramsubmetidas. De uma maneira geral, a foliação cataclástica está relacionada à esta transposição regional.Em afloramento, a foliação é representada pela forte orientação dos minerais máficos, que se agrupam emdelgadas lamelas, sub-orientadas, inter-bandandas com níveis de minerais claros. Observa-se que amaioria das foliações está relacionada à direção verticalizada, com variações em torno de 5° para NEe SW. Existe uma concentração de foliações horizontais, provavelmente relacionadas aos esforços dedescompressão. Existem dois pólos de concentração de baixo ângulo na direção NW, caracterizandoque o sistema monoclinal apresenta ondulações e inflexões da foliação, ratificando, desta forma, aposição estrutural proposta por Marinho et al. (1982).

Page 52: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

52

6.HIDROGRAFIA

A região de Bom Jesus da Serra está inserida na Bacia Hidrográfica do Rio das Contas,constituindo-se uma área de tributários de terceira e quarta ordem. Os drenos são intermitentes, ecorrem apenas nos períodos de maior pluviosidade, durante os meses de outubro a janeiro. Estesdrenos desembocam a margem direita do canal principal do Rio de Contas, nas imediações domunicípio de Jequié.

A rede de drenagem da região de Bom Jesus da Serra apresenta um padrão dendrítico, onde oscursos de água estão encaixados nas zonas de fraturas e falhamentos das rochas de alto graumetamórfico. O entalhe geomorfológico é também controlado pelos sistemas de lineamento regional.

De uma forma geral, os drenos pendem em direção norte a nordeste e, nas zonas planas e nosbaixios, formam uma série de pequenas lagoas, geralmente circulares, que acumulam água nos períodoschuvosos e guardando-as durante um longo período e se constituem os principais reservatórios paraa população local. Por se tratar de terrenos de alto grau metamórfico, as águas subterrâneas daregião de Bom Jesus da Serra formam apenas um aqüífero do tipo fissural, onde o acúmulo de águasubterrânea está associado às fendas geradas pelos falhamentos/fraturamentos das rochas daregião e é recarregado nos períodos chuvosos. Os sistemas de fraturas menores, subsidiárias dossistemas de quebramentos principais, freqüentemente abertos, propiciam as zonas para a circulaçãoe acumulação dessas águas.

O intenso relacionamento do aqüífero fissural com os corpos de águas superficiais, sua disposiçãoespacial e inclinação topográfica comprovam a migração das águas subterrâneas em direção aonorte, contribuindo desta forma, como o manancial do principal coletor, que é o Rio de Contas.

Esta intensa relação entre as águas superficiais e as do aqüífero é bastante complexa e a qualidadeda água da região pode ser afetada por infiltrações de contaminações superficiais, comprometendodesta forma toda a qualidade da água da região. Os principais dados das águas subterrâneas daregião de Bom Jesus da Serra advêm dos poços de águas subterrâneas perfurados pelo Estado daBahia. Atualmente muitos destes poços encontram-se abandonados, visto aos recém instaladossistemas de abastecimento por adutoras.

7.O LAGO DE BONFIM DO AMIANTO

O lago da Mina de Bonfim do Amianto pode ser dividido em duas partes distintas, a porção Sul,com aproximadamente 260m de comprimento principal, orientado N-S, com largura média em tornode 60 metros (Figura 02). Esta parte do lago é caracterizada pelas paredes abruptas, e em algunslocais semi-verticais na zona de exploração do minério. As diversas galerias para mineração subterrâ-nea estão completamente inundada e colocam as águas em contatos diretos e abertos com os paredõesda cava da mineração.

A cobertura vegetal desenvolvida é quase que inexistente, no entanto, nas proximidades dalâmina de água se desenvolve um sistema vegetal incipiente, caracterizado por gramíneas verdejantes.A falta de vegetação nas encostas, com a retirada dos sistemas das raízes das plantas, conjuntamentecom a forte declividade das encostas favorece o contínuo desmoronamento do material solto, o quecausa, em alguns locais, a completa obliteração o acesso ao lago.

O lago norte se formou na zona principal de exploração do minério, sendo, em termos gerais,mais profundo que à parte sul e com largura geral maior (Figura 1), formando uma espécie de anfiteatrocom cerca de 250m de diâmetro e profundidade em torno de 85m. As paredes são também abruptas,tendendo a verticalidade, com freqüentes áreas de desabamentos.

A lâmina de água acumulada tem uma altura média em torno de 6m, correspondendo a umvolume médio estimado nos períodos mais rigorosos de seca é da ordem de 81.900m3 na parte sul dacava e 92.400m3 na parte norte, totalizando um volume de 174.300m3. As variações nos períodos de

Page 53: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

53

maior precipitação pluviométrica podem gerar um aumento de volume de até 50%As paredes do Lago Sul representam o corte direto do sistema exploratório para retirada do

amianto, não existe praticamente nenhum indício de início de desenvolvimento vegetal nas margensdo lago e o terreno marginal é bastante inconsolidado e susceptível a freqüentes deslizamentos.

As águas cristalinas e translúcidas do lago de Bonfim do Amianto permitem visualizar o fundodo lago, onde está acumulado, em níveis centimétricos, um material pulverulento, muito fino, comfração argilosa, de coloração esverdeada, e se trata de um produto precipitado por ação químico/gravitativa, recobrindo toda base da coluna de água.

O material foi analisado pela difratometria de Raios X do laboratório do Departamento deGeoquímica da UFBA. O espectro difratométrico apresentou os seguintes picos: 11.85-(7,46), 19.5-(4.55), 24.10-(3,69), 29.30-(3,03), 35.5-(2,53). Os dados apresentados permitem caracterizar o materialconstituído como sendo o mineral antofilita, cuja química teórica do material precipitado éapresentada na Tabela 01.

TABELA 01 - Composição química da antofilita (fonte http://www.minerals.net)

8.QUALIDADE DA ÁGUA ACUMULADA

O potencial hidrogeniônico (pH) das águas acumuladas foi medido utilizando-se o equipamentotipo WTW 82362 Wheilheim, com precisão de 330i. Obteve-se no período de insolação, de 7:00 às 17:00horas, resultados da variação da temperatura da água de 22 e 23°C, com máximas por volta do meio dia.Já os valores do pH encontrados são relativamente constantes, em torno de 8,9. As variações da temperatura e dopH medidos estão expressas graficamente na Figura 09.

Figura 09 - Diagrama da variação do pH/temperatura em função da hora do dia.

Page 54: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

54

O valor médio do Eh tomado nos mesmos pontos de amostragem apresenta valores médios emtorno de -0,2 mVolts. As pequenas variações têm relação à profundidade e a hora da medida. A Figura10 apresenta a relação entre o Eh e pH, onde observa-se que os resultados das águas de Bonfim doAmianto (AB) estão posicionados nos limites das águas subterrâneas e sem relação com os domíniosenquadrados nas águas do Rio São Fransisco, (SF) (Bahia, 2003) e o campo das águas termais daSardenha (Sd), Itália (Cidu & Mulas, 2003).

Figura.10.- Diagrama das medidas do Eh em função do pH.

Os valores de OD foram medidos da superfície até 8 metros, ponto mais profundo, em intervalos de0,5m. Observou-se que os valores do OD variam grandemente com a profundidade da lâmina de água.Na superfície do lago, cuja aeração é mais intensa, apresenta valores em torno de 8,3 mg/L. A partir deprofundidades em torno de 2m, o OD começa a diminuir, passando para ordem de 5 mg/L e, depois de5m de profundidade, os valores tendem a grandeza de 0,1 mg/L a zero, nas zonas mais profundas.

Os valores de turbidez são baixos, em ordem de grandeza de 1,1 NTU, da mesma forma os números desais dissolvidos (TDS) que apresentam alguns valores mensuráveis apenas nas amostras coletadasnos pontos mais profundos da cava.

9.ASPECTOS HIDROGEOQUÍMICOS

Foram coletadas 8 amostras de água do Lago de Bonfim do Amianto em pontos distintos, e umaamostra de água da barragem de bom Jesus da Serra (amostra número 9), a título de comparação, no mêsde julho, período de mais baixa pluviosidade anual.

Durante a amostragem foram forma medidos os seguintes dados das propriedades físicas daságuas locais: a temperatura, pH, potencial de oxi-redução, condutividade e alcalinidade. As águasforam filtradas com Milipore de 0,4 nm, acidificadas, mantidas em recipientes térmicos, para posterioresanálises do metal.

As análises dos metais foram efetuadas por plasma (ICP-OES ARL - Fisons 3520), para oselementos maiores e (ICP - MS Perkin-Ekmer Élan 5000), para elementos traços, na Universidade deCagliari, Itália. Os resultados obtidos estão apresentados na Tabela 02a e 02b. Não foram feitas análi-ses duplicatas. Para a realização das análises físico-químicas das amostras de água seguiu as diretri-zes gerais do Standart Methods for Examinations of Water and Wastewater Os limites dos constitu-intes químicos foram calculados cinco vezes para o desvio padrão da solução branco. A acuracidadefoi avaliada utilizando-se o padrão NIST1643.

Page 55: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

55

Não foram reportados os resultados analíticos dos metais abaixo do limite de detecção, como oAl<10g/l, exceção à amostra da Barragem de Bom Jesus da Serra, Ag<0,05g/l, Tl <0,05g/l, Cd<0,05g/l, Pb<0,05g/l e Sb<0,1g/l.

TABELA 02a - Componentes químicos do Lago de Vila Amianto (Análise da Universidade de Cagliri) Amostras 1 a 8 Lago Bonfim doAmianto, Amostra 9 - Barragem de Bom Jesus da Serra

TABELA 2b - Componentes químicos do Lago de Vila Amianto (Análise da Universidade de Cagliari) Amostras 1 a 8 Lago Bonfim doAmianto, Amostra 9 - Barragem de Bom Jesus da Serra (continuação)

Tomou-se como valor referencial a amostra da barragem de Bom Jesus da Serra, rrepresentantedas águas regionais.

O diagrama Ca-Mg-Na-K (Figura 11), permite caracterizar as águas do Lago de Bonfim do Amiantocomo Águas Magnesianas e as águas da Barragem de Bom Jesus da Serra como mistas, multicatiônica.

Para a comparação química das águas, utilizou-se o elemento Mg, tendo em vista a onipresençadeste elemento nas águas presentes.

Os resultados, lançados em diagramas binários, permitiram caracterizar que as águas do lagopossuem teores abaixo dos regionais para os elementos Ca, Na, K, S, B, Sr, Ba, Fe, Mn, Cr, V, Cu, Co, U e Rb(Figura 12a - g).

Page 56: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

56

Figura 11 - Diagrama Triangular de classificação das águas de Bonfim do Amianto com os parâmetros Ca, Mg e Na+K.

• Águas do lago da mina.• Águas da barragem de Bom Jesus da Serra.

Figuras 12a - o - Diagramas metais versus Mg, em correlação positiva entre as águas de Bonfim do Amianto e da Barragem de BomJesus da Serra.

c) d)

a) b)

Page 57: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

57

Figuras 12a - o - Diagramas metais versus Mg, em correlação positiva entre as águas de Bonfim do Amianto e da Barragem de BomJesus da Serra (Continuação).

Page 58: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

58

Figuras 12a - o - Diagramas metais versus Mg, em correlação positiva entre as águas de Bonfim do Amianto e da Barragem de BomJesus da Serra (Continuação).

Por outro lado, apresentam-se enriquecidas em relação aos metais SiO2, Li e Ni e possuempadrões indefinidos ou iguais em relação ao Zn e ao Mo (Figura 13a - e).

Figuras 13a - e - Diagramas metais versus Mg, em correlação negativa entre as águas de Bonfim do Amianto e da Barragem de BomJesus da Serra.

Page 59: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

59

Figuras 13a - e - Diagramas metais versus Mg, em correlação negativa entre as águas de Bonfim do Amianto e da Barragem de BomJesus da Serra (Continuação).

10.O AMIANTO DE BOM JESUS DA SERRA

Embora os efeitos do amianto sobre a saúde humana sejam conhecidos desde a Antiguidade, asevidências clínicas e epidemiológicas remontam ao início do século XX. Na região de Bom Jesus daSerra, os relatos de pessoas afetadas por doenças relacionadas ao amianto reportam aos anos 70. Asfibras de amianto, estão implicadas na ocorrência de câncer e outras doenças em seres humanos eamimais. Os efeitos da exposição ao amianto são variados: asbestose, uma fibrose pulmonar progressiva,placas pleurais, câncer de pulmão e mesoteliomas de pleura e peritônio. O risco aumenta linearmentecom a exposição cumulativa e com o tempo desde a primeira exposição. O mesotelioma de pleura éuma neoplasia maligna especificamente relacionada com a exposição ao asbesto. Exposiçõesambientais não-ocupacionais ao amianto também têm sido associadas ao risco de mesotelioma. Ocâncer de laringe e alguns tumores gastrointestinais também foram relacionados ao amianto emalguns estudos (Wünsch Filho, 1995a e 1995b)

O banco de dados bibliográfico Medline agrupa uma quantidade de estudos epidemiológicos,com enfoque nos efeitos do amianto sobre a saúde, realizados nos últimos cinco anos em diferentesregiões do mundo. A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), da Organização Mundialda Saúde (OMS), classifica o amianto como definitivamente carcinogênico para os seres humanos,com base na consistência de resultados gerados por pesquisas epidemiológicas.

A identificação e relatos de casos de asbestose, de placas pleurais, câncer de pulmão e demesoteliomas no Brasil têm sido constante desde o relato de seis casos de asbestose em 1956 emtrabalhadores de mineração em Minas Gerais. Porém, estudos com número de observações mais

c) d)

e)

Page 60: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

60

expressivo são raros. Até onde foi possível obter informações das bases bibliográficas existentes e deacordo com recentes revisões feitas sobre o tema, poucos estudos epidemiológicos populacionaisbuscaram explorar diretamente a associação de determinadas doenças com a exposição ao asbesto.

O estudo realizado na mineração de asbesto em Bom Jesus da Serra, Estado da Bahia, não teriaidentificado riscos para a saúde entre os mineiros. Os resultados não foram ainda publicados emperiódico científico, assim os comentários aqui expressos limitam-se aos dados descritos no relatóriofinal entregue à Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (FAPESP) por Bagatin,(2000). O principal aspecto a ser destacado dos resultados diz respeito à condução da coorte, queperdeu do seguimento mais de 50% dos trabalhadores. Este nível de perdas pode ter induzido sériasdistorções no estudo, comprometendo sua validade. Por exemplo, os trabalhadores que foram perdidospodem constituir-se num segmento da força de trabalho nas minerações que experimentou asexposições mais intensas. Por outro lado, se o rastreamento foi particularmente ineficaz para ostrabalhadores que foram demitidos ou aposentados antes da idade habitual de aposentadoria, e seuma doença atribuível ao asbesto foi a razão suspeita da aposentadoria precoce ou demissão, entãouma estimativa inaceitável de mensuração das taxas da condição vital poderia resultar em um riscosubestimado dos efeitos que se estuda. No seu relatório, os autores não comentam estes aspectos.Também é importante considerar, de acordo com o que foi possível concluir da leitura do relatóriofinal à FAPESP, que a análise epidemiológica está ainda incipiente, faltando, por exemplo, informaçõessobre procedimentos de padronização de populações. Os autores fazem referência à aplicação daregressão logística aos dados, porém os resultados não foram apresentados no relatório. É possívelque a continuidade do estudo com o aumento da proporção de recrutamento de participantes dacoorte permita chegar a resultados mais consistentes.

Nos trabalhos de campo da presente pesquisa constatamos alguns aspectos da contaminaçãoatual da população de Bom Jesus da Serra pelas partículas do amianto. Inicialmente, o problema estárelacionado diretamente com a construção, edificações e urbanização da própria sede municipal, como material de construção facilmente disponível, os rejeitos da mina de amianto foram empregadosnas fundações de casas de alvenaria (Figura 14), no calçamento de ruas principais e secundárias(Figura 15).

Figura 14 - Alicerce de casa de serpentinito.

Page 61: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

61

Figura 15 - Rua de Bom Jesus da Serra calçada com blocos de rochas serpentiníticas com amianto

Na área da mineração, não foi feito nenhum tipo de trabalho de recuperação ambiental. A vegetaçãonas cercanias da mina não se desenvolveu e o campo de pouso de avião, que se alonga por 3 km nadireção norte, foi construído com rejeitos e material britado, se constituindo numa fonte na qual aspartículas e fibras de amianto sejam carreadas pelo vento e se depositem nos limites da sede municipal.

Page 62: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

62

11.CONCLUSÕES

Os estudos engendrados até os dias atuais, sobre as águas acumuladas na Mina Abandonada deBonfim do Amianto, as classificam como águas magnesianas de pH elevado (8,9). Valores desta ordem nãosão recomendáveis para seres humanos, além de seres favoráveis a presença de bactérias comoStreptococcus sp, Clostridium sporogenes, causadoras de apatia, alteração motora e edema abdominal(ventre inchado) em organismos aquáticos.

Os problemas ambientais carecem de estudos mais detalhados e estão relacionados diretamentecom a grande quantidade de poeira advinda do rejeito da mina.

O pó que polui o ar local é constituído predominantemente de aragonita. Estas partículas,carreadas pelo vento, são depositadas sobre a cidade de Bom Jesus da Serra, sobretudo durante oentardecer, e este transporte de material amiantífero, certamente é um grande fator de causascancerígenas, cabendo, assim, um detalhado estudo da qualidade do ar respirado pela população.

Por outro lado, torna-se evidente a necessidade de um estudo de ordem paisagística, que venhaa transformar as cicatrizes deixadas pela exploração mineral selvagem e predatória, recuperando asáreas com vegetação que possam salvaguardar o meio ambiente e a saúde da população local.

Page 63: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

63

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, F. F. M. (1977). O Craton do São Francisco. Rev. Bras. de Geociências 7(4): 349-364.

BAGATIN, E (2000). Projeto asbesto-mineração. Morbidade e mortalidade entre trabalhadores expos-tos ao asbesto na atividade de mineração 1940-1996. Relatório final de projeto temático. (ProcessoFAPESP Nº 96/10416-6).

BAHIA. Superintendência de Recursos Hídricos. Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado daBahia - PERH. Relatório Final, Volume 1 - Texto. Diagnóstico e Regionalização. Salvador, 2003.

BARBOSA, J. S. F. & DOMINGUEZ, J. M. L. (Coord.) (1996). Texto Explicativo para o Mapa Geológico doEstado da Bahia - Esc. 1:1.000.000. Secretaria da Industria, Comércio e Mineração do Estado da Bahia,SGM/PPPG/FAPEX/CPGG, Salvador-Ba, 295 p.

CIDU, R. & MULAS, A. D. Geochemical features of thermal waters at Benetutti (Sardinia). RendicontiSeminario Facoltá Scienze Università Cagliare, Vol.73 Fasc.I. http://www.minerals.net, 2003.

MARINHO, M. M., CRUZ, M.J., MORAES, A.M.V., LOPES,G. (1982). Projeto Anagé Caldeirão, CompanhiaBaiana de Pesquisa Mineral (CBPM), volume Folha de Bom Jesus da Serra, Convênio SME/CBPM (inédito).

WINKLER, H. G. F. (1977). Petrogênese das Rochas Metamórficas. Ed. Edgar Blucher Ltda, Porto Alegre.

WUNSCH FILHO, 1995 a.Trabalho Industrial e Cancer de Pulmão. Ver. de Saúde Pública, 29 (3):166-176.

WUNSCH FILHO, 1995 b. Riscos Ocupacionais e Câncer de Pulmão. Jornal de Pneumologia, 21 (1): 34-42.

Page 64: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

64

Page 65: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

65

ESTUDOS QUALI-QUANTITATIVOS DACONDUTIVIDADE ELÉTRICA DAS ÁGUASSUPERFICIAIS DA BACIA HIDROGRÁFICA DORIO CACHOEIRA - SUL DA BAHIA

Neylor Alves Calasans Rego([email protected])

PhD em Engenharia de Água e Solo (Pennstate University). Professor Titular UESC, atuaçãoem hidrologia e manejo de bacias hidrográficas.

José Wildes Barbosa dos Santos([email protected])

Agrônomo (UESC), Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente (UESC).Professor Assistente UESB, atuação em gestão ambiental e hidroquímica.

Amom Teixeira([email protected])

Geógrafo (UESC), Mestrando em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente (UESC),atuação em manejo de bacias hidrográficas.

RESUMOA água é um elemento químico simples e abundante na Terra, de grande importância para a origem e manutenção da

vida. Para assegurar a vida aos habitantes dos rios e garantir a ingestão de uma substância que não seja nociva à saúde,alguns parâmetros de características físicas, químicas e biológicas foram criados para medir a qualidade da água. Acondutividade elétrica é a capacidade que a água possui de conduzir corrente elétrica e está relacionada com a presençade íons dissolvidos na água. Quanto maior for a quantidade de íons dissolvidos, maior será a condutividade elétrica da água.O presente trabalho apresenta uma avaliação da condutividade elétrica dos três principais rios da bacia hidrográfica doRio Cachoeira, realizada no período de 1999 a 2005. Estudo preliminar realizado por Pinho (2001) constatou valores elevadosde condutividade elétrica na bacia do Rio Cachoeira. Valença (2003), em trabalhos desenvolvidos na bacia do Rio Salgado,verificou valores de condutividade elétrica extremamente elevados. Santos (2005), realizando estudos hidrogeoquímicos,verificou que a geologia e o déficit hídrico são os principais fatores na determinação dos níveis de salinidade na bacia doRio Salgado, tendo sido ainda avaliado o risco de salinização do solo na bacia do Rio Colônia, em face da utilização de suaságuas em projetos de irrigação, concluindo que mais de 90% da bacia tem de médio a alto potencial de risco de salinização.

Palavras-chave: bacia hidrográfica, condutividade elétrica, geologia, rios.

Page 66: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

66

ABSTRACTThe water is a simple and abundant chemical substance in Earth, of great importance for the origin and life

maintenance. To assure life to the inhabitants of the rivers and to guarantee the ingestion of a substance that is notnoxious to health, some parameters of physical, chemical and biological characteristics were created to measure the waterquality. The electric conductivity is the ability that the water possesses of conducting electric current and it is related withthe presence of dissolved ions in the water. The greater the quantity of dissolved ions the greater the electric conductivityof the water will be. The present work presents an evaluation of the electric conductivity of the three principal rivers of therio Cachoeira watershed accomplished in the period from 1999 to 2005. In preliminary studies accomplished by Pinho (2001)it was verified high values of electric conductivity in the Cachoeira river. Valença (2003) verified values of electric conductivityextremely high in the Salgado's river. Santos (2005), accomplishing hydrogeochemitries studies also in the Salgado's riverwatershed and verified that the geology and the hydric deficit are the principal factors in the determination of the salinitylevels found in watershed, having still been evaluated, the salinization risk of the soils in the Colonia's river watershed dueto irrigation water use and it was found that more than 90% of the basin have medium to high potential of salinização risk.

Keywords: watershed, electric conductivity, geology, rivers.

Page 67: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

67

1.INTRODUÇÃO

A água é fundamental à manutenção da vida, sendo um recurso de múltipla utilização. O homemapresenta certa dependência da água em qualidade e quantidade. A qualidade da água depende dascondições naturais e da ocupação do solo na bacia hidrográfica.

O conceito de "qualidade" é um conceito relativo, que deve ser sempre referenciado a um padrão.No Brasil este padrão é definido pela Resolução 357/2005 do CONAMA. Esta Resolução classifica oscorpos hídricos em águas doces, salobras e salinas e define os parâmetros de qualidade para cadauma delas, em função dos usos a que se destinam.

A qualidade da água pode ser expressa através de parâmetros, que traduzem as suas principaiscaracterísticas físicas, químicas e biológicas. Estes parâmetros podem ser a turbidez, a cor, o pH, acondutividade elétrica, o oxigênio dissolvido, os sólidos suspensos, a demanda bioquímica por oxigênio(DBO) e a demanda química de oxigênio.

A qualidade da água em determinado ponto de um rio é produto da qualidade da água em umponto anterior modificada por diversos fatores atuantes no trecho que separa os dois pontos. Estesfatores podem ser características físicas e geomorfológicas do leito do rio, misturas da água comqualidades diferentes, presença de vegetação ciliar, regime climático, presença de comunidades epelas interferências antrópicas (Anido, 2002).

A condutividade é uma expressão numérica da capacidade de uma água conduzir corrente elétri-ca. Depende das concentrações iônicas e da temperatura e indica a quantidade de sais existentes nacoluna d'água, e, portanto pode representar uma medida indireta da concentração de poluentes. Emgeral, níveis superiores a 100 ?S cm-1 indicam ambientes impactados. A condutividade também forneceuma boa indicação das modificações na composição de uma água, especialmente na sua concentraçãomineral. À medida que mais sólidos dissolvidos são adicionados, a condutividade da água aumenta.Altos valores podem indicar características corrosivas da água (CETESB, 2007). Em águas continentais, osíons diretamente responsáveis pelos valores da condutividade são, entre outros, o cálcio, o magnésio,o potássio, o sódio, carbonatos, carbonetos, sulfatos e cloretos. O parâmetro condutividade elétricanão determina, especificamente, quais os íons que estão presentes em determinada amostra de água,mas pode contribuir para possíveis reconhecimentos de impactos ambientais que ocorram na baciade drenagem ocasionados por lançamentos de resíduos industriais, mineração, esgotos, etc.

A condutividade elétrica da água pode variar de acordo com a temperatura e a concentraçãototal de substâncias ionizadas dissolvidas. Em águas cujos valores de pH se localizam nas faixasextremas (pH>9 ou pH<5), os valores de condutividade são devidos apenas às altas concentrações depoucos íons em solução, dentre os quais os mais freqüentes são o H+ e o OH-.

Sendo a condutividade elétrica da água diretamente relacionada com a sua salinidade, a avaliação damesma é de fundamental importância no que diz respeito ao enquadramento dos corpos hídricos emáguas doces, salobras e salinas de acordo com a Resolução CONAMA (357/2005), definindo, portantoos seus possíveis usos. Outro aspecto importante relativo à condutividade elétrica das águas éreferente a sua utilização na agricultura e o risco de salinização dos solos a partir da utilização deáguas com elevados teores de sais.

Page 68: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

68

2.OBJETIVOS

O presente trabalho apresenta uma compilação dos dados de condutividade elétrica em váriospontos dos três principais rios da bacia hidrográfica do rio Cachoeira obtidos em quatro dissertações doPrograma de Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente da Universidade Estadual deSanta Cruz (UESC) no período de 1999 a 2005.

Pinho (2001) avaliou a qualidade das águas do rio Cachoeira e suas variações temporal e espacial,usando variáveis físico-químicas e biológicas tais como: potencial hidrogeniônico, temperatura,condutividade elétrica, oxigênio dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio, fósforo total, resíduototal, coliformes fecal e total. Fez-se também o estudo de autodepuração utilizando-se o modelomatemático de Streeter & Phelps. Foram escolhidos 8 pontos de coleta sendo efetuado os estudos deautodepuração em quatro trechos.

Valença (2003) determinou parâmetros climatológicos, microbiológicos, físicos e químicosdas águas do rio Salgado, verificando a existência de fatores contaminantes em tais águas, comconcentrações acima dos limites legalmente permitidos. Verificou-se também a existência de possíveiscorrelações entre o uso das águas do rio e a saúde da população de Ibicaraí/BA.

Santos (2005) avaliou as variações espacial e temporal nas características hidroquímicas daságuas da bacia hidrográfica do rio Salgado.

Figueiredo (2005) desenvolveu um mapa de risco de salinização dos solos na bacia hidrográficado rio Colônia utilizando a técnica de análise multicritério AHP (Analytical Hierarchy Process) aplicada aoSIG ArcView 3.2a.

3.ÁREA DE ESTUDO

A bacia hidrográfica do rio Cachoeira encontra-se situada no sul da Bahia, entre as coordenadas14o 42' / 15o 20' S e 39o 01' / 40o 09' WGr. A sua área de drenagem é de 4334,46 km2, abrangendo dozemunicípios: Firmino Alves, Floresta Azul, Jussari, Itajú do Colônia, Ibicaraí, Itapé, Itabuna, Ilhéus,Lomanto Júnior, Santa Cruz da Vitória, Itororó e Itapetinga. A população total da BHRC é deaproximadamente 600.000 habitantes. Está limitada ao norte pelas bacias dos rios de Contas eAlmada; ao sul, pelas bacias dos rios Pardo e Una; a oeste, pela bacia do rio Pardo; e a leste pelo oceanoAtlântico. Pertence à Região de Planejamento e Gestão da Água (RPGa) - III : Bacias do Leste (Figura01).

Essa bacia origina-se nas nascentes do rio Colônia, numa altitude de 800 m, na Serra daOuricana (município de Itororó) e no município de Itambé e atinge o seu patamar mais baixo nasuperfície litorânea do município de Ilhéus. O rio Colônia, após estender-se por 100 km, banhando osmunicípios de Itororó, Itapetinga e Itajú do Colônia, tem sua confluência com o rio Salgado nomunicípio de Itapé, passando então a receber o nome de rio Cachoeira. O rio Salgado tem sua nascenteno município de Firmino Alves e possui um curso de 64 km cruzando os municípios de Santa Cruz daVitória, Floresta Azul, Ibicaraí e Itapé. O rio Cachoeira, após percorrer 50 km nos municípios de Itapé,Itabuna e Ilhéus tem a sua foz no local conhecido como Coroa Grande (município de Ilhéus) ondeconfunde as suas águas com as dos rios Santana e Fundão (Figura 02).

Page 69: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

69

Figura 01 - Regiões de planejamento e gestão das águasFonte: INGÁ - 2007

Page 70: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

70

Figura 02 - Bacia hidrográfica do rio CachoeiraFonte: Banco de Dados NBH (Núcleo de Bacias Hidrográficas - UESC)

A bacia do rio Cachoeira desempenha papel importante nessa região, pois engloba duasimportantes cidades do sul da Bahia, Ilhéus e Itabuna. Tem em seus meios físico, biótico e antrópicorepercussão em toda a região e no Estado através de capacidades instaladas e potenciais, naagropecuária, industria, turismo, comércio, entre outras.

4.ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS

4.1. Período e locais de amostragem

O trabalho desenvolvido por Pinho (2001) realizou 11 amostragens em 8 pontos no período dejaneiro de 1999 a dezembro de 1999. Valença (2003) realizou 11 campanhas amostrais em 6 pontos noperíodo de março de 2002 a fevereiro de 2003. Santos (2005) realizou 10 campanhas amostrais noperíodo de dezembro de 2003 a outubro de 2004 em 15 pontos. Nos três trabalhos citados foi utilizadoo condutivímetro da marca Digimed modelo DM 3. Figueiredo (2005) realizou 4 campanhas deamostragem em 14 pontos no período de novembro de 2004 a maio de 2005 medindo a condutividadeelétrica da água utilizando um condutivímetro da marca Multiline modelo P3. As datas das amostragenssão apresentadas na Tabela 1 e a localização dos pontos amostrais na bacia hidrográfica do rio Cachoeira éapresentada na Figura 03.

Page 71: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

71

Figura 03 - Localização dos pontos amostrais

Page 72: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

72

5.RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. Rio Cachoeira

A salinidade é uma variável que controla os possíveis usos dos recursos hídricos em uma baciahidrográfica. Salinidades elevadas restringem a utilização para abastecimento doméstico pelospossíveis agravos à saúde da população atendida, a irrigação pela possibilidade de salinização dossolos e ao uso industrial por suas características de corrosão e incrustação. Em trabalho realizadopor Pinho (2001), foi observado que as águas do rio Cachoeira apresentavam uma elevada condutividadeelétrica, destacando-se o ponto de coleta 8, (Figura 04) por apresentar um comportamento diferenciadoem relação aos demais. Observando-se, ainda que os altos valores encontrados na condutividade noponto de coleta 8 ocorreram nos meses de janeiro, fevereiro e março.

Figura 04: Pontos amostrais no rio Cachoeira

Segundo Pinho (2001) A diferença apresentada, no comportamento da condutividade nos meses dejaneiro e fevereiro, pode ser explicada através da temperatura, pois segundo Hem, citado por Porto et al(1991), mantendo-se constante a concentração iônica, uma alteração na temperatura do sistema, im-plica no aumento da condutividade, e estes meses apresentam as maiores temperaturas.

De acordo com Porto et al (1991) a condutividade das águas superficiais é bastante variada,podendo ser baixa, em valores como 50 S/cm, em locais onde a precipitação é pobre em solutosiônicos e a litologia local é formada por rochas resistentes ao intemperismo, até valores de 50.000S/cm, que é a condutividade da água do mar. Os valores encontrados então na faixa de 200 S/cm a1.400 S/cm nos pontos de 1 a 7, caracterizando a presença de quantidade significativa de íons,afastando-se das condições extremas indicadas anteriormente. Por outro lado confirma-se a influênciamarinha no ponto 8, mais próximo da desembocadura quando encontrou-se valores de até19.000 S/cm, valor mais próximo da condição extrema da água do mar.

Page 73: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

73

5.2. Rios Salgado e Colônia

Estudos preliminares (PINHO, 2001) realizados no trecho final da bacia hidrográfica do rioSalgado apontaram como a própria toponímia já indica, a existência de elevadas concentrações deeletrólitos dissolvidos em suas águas.

Na Figura 05 estão ilustrados e pontos amostrais na bacia do rio Salgado em trabalhos realizadospor Valença (2003) e Santos (2005) . Pode-se observar que, tanto no trabalho de Valença (2003) eSantos (2005) a condutividade elétrica ao longo dos pontos amostrais apresentou uma grande vari-ação.

Segundo Valença (2003), com base nos resultados obtidos, pode-se concluir que ocorrem aolongo do rio Salgado picos de degradação da qualidade das suas águas, especialmente no que serefere aos parâmetros microbiológicos, à medida que o rio atravessa os povoados, vilas e cidades.Confirmando, em parte, a primeira hipótese da presente pesquisa e a capacidade de autodepuração dorio Salgado.

Nota-se, o forte impacto negativo oriundo do aporte dos efluentes urbanos não tratados. Taiscontribuições modificam drasticamente as características das águas do rio, devido ao aporte deelevadas concentrações de matéria orgânica.

Os elevados valores encontrados de condutividade elétrica, face aos fenômenos naturais eacrescidos pelos lançamentos de dejetos domésticos, contendo sais e detergentes, somados aosfatores como chorume do lixão e efluentes de curtumes tornam as águas do rio Salgado imprópriaspara o consumo humano sem tratamento prévio adequado, bem como para a balneabilidade. Infelizmenteesse quadro de deterioração de rios que drenam áreas urbanas é muito comum nas cidades brasileiras, jáque muito pouco do esgoto doméstico é tratado antes de ser lançado nos rios.

Em estudos realizados por Santos (2005), a bacia do rio Salgado apresenta quatro tiposhidroquímicos, definidos em função dos níveis de sais dissolvidos em suas águas.

Figura 05: Pontos amostrais no rio Salgado, trabalhos de Valença (2003) e Santos (2005)

Page 74: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

74

Através da distribuição espacial dos tipos hidroquímicos na bacia do rio Salgado (Santos, 2005)pode-se observar que as águas apresentam maiores níveis de salinidade na porção central da bacia,onde há claramente o predomínio das águas representadas pelos tipos III e IV. Do ponto de vistageológico a maioria dos pontos amostrais representados pelos tipos III e IV estão localizados naSuíte Intrusiva Itabuna (Y2sn), sendo que esta litofácie, em função das variedades composicionaisdas rochas, apresenta um caráter alcalino, verificando desta forma o marcante papel da litologiacomo diferenciador nas características hidroquímicas das águas da bacia do rio Salgado.

Entretanto, vale salientar que o ponto 3 localizado no ribeirão Salomé, na porção centro leste dabacia, cuja a paisagem diferencia-se do restante da bacia do rio Salgado, visto que esta região temcomo atividade predominante o cultivo de cacau em sistema de "cabruca", que conserva um númerosignificativo de espécies vegetais da floresta atlântica, registrou-se a menor média de condutividadeelétrica, caracterizando desta forma, o local que as apresenta águas mais doces na bacia do rio Salgado.

Outro fator a ser considerado, é a relação dos elevados valores de condutividade com as baixasvazões, visto que os deflúvios mais baixos são registrados em períodos de temperaturas mais elevadas nabacia, podendo-se atribuir desta forma uma maior concentração dos teores de sais nessas águas emvirtude dos processos de evaporação. Nesse sentido observa-se uma evidente relação entre os aspectosclimáticos e geológicos nas características hidroquímicas dessas águas.

Efetuada a contabilidade hídrica, observa-se que a bacia do rio Salgado é uma zona de deficiênciahídrica, porém, com diferentes características em virtude dos diferentes lâminas de precipitaçãoregistrados em cada posto pluviométrico ao longo da bacia, esse déficit é mais acentuado na porçãocentral da bacia, contribuindo desta forma para os altos teores de sais dissolvidos neste trecho(Santos, 2005).

Figueiredo (2005), em estudos realizados sobre risco de salinização na bacia do rio Colôniaconstatou que em relação aos teores de sais nas águas, determinado em função da condutividadeelétrica, a bacia hidrográfica do rio Colônia apresenta elevados valores de condutividade elétrica daágua, à exceção dos pontos 13 e 14, (Figura 06) que apresentaram os menores valores, sendo no ponto13 de 218 ?S/cm e no ponto 14 de 64 ?S/cm, localizados no rio do Meio e na região de nascente do rioColônia, respectivamente. Observa-se, também, serem estes pontos, os que apresentaram a menorvariação nos valores de condutividade elétrica durante o período de estudo. Os pontos 1, 2, 3, 4, 5 e 9apresentaram médias entre 619 a 1200 ?S/cm, seguidos dos pontos 6, 10 e 11 que apresentaram médiasentre 1223 e 1715 ?S/cm e, finalmente os pontos 7, 8 e 12 que apresentaram médias superiores a 3145 ?S/cm.

Figura 06: Condutividade elétrica nos pontos amostrais na bacia do rio Colônia

Page 75: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

75

6.CONCLUSÕES

Os diversos trabalhos realizados na bacia hidrográfica do rio Cachoeira demonstram que suaságuas apresentam uma série de limitações em relação ao consumo humano e atividades de irrigação.Os teores de sais dissolvidos na grande parte dos mananciais apresentam-se acima do estabelecidopela resolução Conama 357/2005, para o consumo humano.

Existe um risco elevado de salinização dos solos na bacia do rio cachoeira em face da utilizaçãode suas água para atividades de irrigação, principalmente na região da sub-bacia do rio Colônia.

As intervenções na bacia do rio Cachoeira, no que se refere à resolução de conflitos como:projetos de irrigação, construção de barragens, construções de sistemas de captação, tratamento edistribuição de água para o consumo humano etc. devem ser desenvolvidas fundamentadas porinformações técnicas e cientificas de forma a minimizar os possíveis impactos que possam vir acausar ao ambiente e a população da região.

Page 76: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

76

REFERÊNCIAS

ANIDO, N. M. R. Caracterização hidrológica de uma microbacia experimental visando identificar indi-cadores de monitoramento ambiental. Dissertação (Mestrado em Recursos Florestais)-Escola Supe-rior de Agricultura "LuizdeQueiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba. 2002. 69 p.

CONAMA. Livro das Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA. 1ª ed. Brasília:MMA, 2006. 808p

FIGUEIREDO, A. F. R. Análise do risco de salinização dos solos da bacia hidrográfica do rio Colônia -Sul da Bahia. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento regional e Meio Ambiente) - Pró-Reitoriade Pesquisa e Pós-Graduação - Universidade Estadual de Santa Cruz: 2005. 78 p.

PINHO, A. G. Estudo da qualidade das águas do rio Cachoeira - Região Sul da Bahia. Dissertação(Mestrado em Desenvolvimento regional e Meio Ambiente) - Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Gradua-ção - Universidade Estadual de Santa Cruz: 2001. 93 p.

PORTO, F.A.; BRANCO, S.M. & LUCA, S.L Caracterização da qualidade da água.. In: PORTO, R.L.L. (Org)Hidrologia Ambiental. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Associação Brasileira deRecursos Hídricos. - (Coleção ABRH de Recursos Hídricos; v.3), 1991.

SANTOS, J. W. B. Fáceis hidrogeoquímicas da bacia hidrográfica do rio Salgado - Sul da Bahia. Disser-tação (Mestrado em Desenvolvimento regional e Meio Ambiente) - Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação - Universidade Estadual de Santa Cruz: 2005. 123 p.

VALENÇA, J. F. S. Rio Salgado: agente de agravos à saúde das populações ribeirinhas. Dissertação(Mestrado em Desenvolvimento regional e Meio Ambiente) - Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Gradua-ção - Universidade Estadual de Santa Cruz: 2003. 102 p.

Page 77: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

77

CARACTERIZAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUANO MUNICÍPIO DE ARACATU, SUDOESTE DABAHIA

Paulo Henrique Prates Maia1

Manoel Jerônimo Moreira Cruz2

1MSc. em Geoquímica e Meio Ambiente2Professor Associado I e Doutor em Geoquímica da UFBA

Salvador-Bahia / 2007

RESUMO

O principal escopo deste trabalho é avaliar a qualidade da água subterrânea no município de Aracatu, situado naregião semi-árida do estado de Bahia, onde a população convive com secas recorrentes e a falta de água de boaqualidade. Para atingir estes objetivos foram realizadas, pesquisas bibliográficas, pesquisas com a população, trabalhosde campo, cadastro de estruturas hidráulicas e a análises químicas da água. Os dados obtidos nestas atividades foramsistematizados e sua interpretação permitiu a avaliação dos problemas principais relacionados à qualidade da águano município. Verificou-se que a qualidade natural das águas subterrâneas é baixa decorrente de salinidade elevada econcentrações de elementos químicos acima dos limites de potabilidade, porém na zona rural ela se constitui na únicaalternativa de abastecimento nos períodos críticos.

Palavras-chave: Aracatu, Água Subterrânea, Qualidade da Água

ABSTRACT

The main scope of this work is to evaluate the groundwater resources of the town of Aracatu, located on the semi-arid region of the state of Bahia, where the population lives with recurrent droughts and the lack of good quality water.In order to reach these objectives, bibliographic researches, research with the population, field work, cadastre ofhydraulic structures and chemical analysis of the water were carried out. The data obtained in these activities weresystematized and their interpretation allowed the evaluation of the main problems related to the town's water. It wasnatural that the quality of groundwater salinity is low due to high concentrations of chemical elements and above thelimits of drinking, but in rural areas it is the only alternative supply in critical periods.

Keywords: Aracatu, Groundwater Resources, Water Quality

Page 78: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

78

Page 79: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

79

1.INTRODUÇÃO

O município de Aracatu está localizado na região semi-árida do Estado da Bahia, onde a populaçãoconvive com secas recorrentes e escassez de água de boa qualidade. A área estudada está localizadano sudoeste do Estado da Bahia, na Região de Planejamento das Águas Bacia do Rio de Contas(Figura 01), em uma sub-bacia de seu afluente, rio Gavião. Possui uma área de 1.541,5 km2 e a sede domunicípio está situada nas coordenadas: Latitude 14º25'00"S e Longitude 41º 27'00"W em umaaltitude de 720 m acima do nível do mar. Distante aproximadamente 618 km da capital. Integra aRegião Econômica da Serra Geral e encontra-se totalmente inserido na região Semi-árida, de acordocom a Resolução 10.929/9 da SUDENE.

Figura 01: Localização do município.

A região é carente de instrumentos que viabilizem a proposição de ações para o desenvolvimentosustentável e melhoria da qualidade de vida da população.

O objetivo principal desse trabalho é avaliar a qualidade dos recursos hídricos subterrâneos,com a finalidade de subsidiar o planejamento regional e a definição de mananciais no município, ondea população convive com secas recorrentes e escassez de água de boa qualidade.

A avaliação da qualidade da água subterrânea permitiu extrair conclusões e formular recomendaçõessobre esses mananciais para subsidiar o planejamento de ações com vista à ampliação da oferta deágua na região.

Page 80: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

80

2.METODOLOGIA

Os dados dos poços tubulares cadastrados na CERB, CPRM e em campo, foram tabulados emplanilha Excel com objetivo de caracterizar a qualidade da água subterrânea na região.

As análises físico-químicas, obtidas nas fichas dos poços, foram utilizadas para elaborar umaplanilha, onde foram consistidos e trabalhados, com o objetivo de fornecer elementos para construção demapas e gráficos, mostrando a concentração pontual e a distribuição espacial de cada variável.

Desse modo, as informações propiciaram uma fácil visualização dos limites estabelecidos pelaOrganização Mundial de Saúde e pela resolução CONAMA Nº. 20 para águas da classe especial,àquelas destinadas ao abastecimento doméstico sem prévia ou com simples desinfecção e as depreservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas.

Na base cartográfica em escala 1: 100.000 foram lançados os poços tubulares, a hidrografia,principais localidades, estradas e limite municipal. Essa base juntamente com os mapas temáticostais como: o geologia, solos, vegetação, pluviometria e do modelo numérico do terreno se constituíramnos principais instrumentos de avaliação das águas subterrâneas em campo .

A avaliação da qualidade da água subterrânea, utilizando os mapas, gráficos, tabelas e entrevistascom moradores, permitiram extrair conclusões e formular recomendações sobre esses mananciaispara subsidiar o planejamento de ações com vista à ampliação da oferta de água na região.

Page 81: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

81

3.CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DAS ÁGUAS

As análises físico-químicas foram utilizadas para elaborar uma planilha Excel com o objetivo defornecer elementos para construção de mapas e gráficos, mostrando a concentração pontual e adistribuição de cada variável, propiciando desse modo, uma fácil visualização dos limites estabelecidospela Organização Mundial de Saúde e pela resolução CONAMA n° 20 para águas da classe especial,àquelas destinadas ao abastecimento doméstico sem prévia ou com simples desinfecção e as depreservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas.

3.1.Turbidez

Os valores de turbidez variam de 0,30 NTU nos poços Sede VIII e Várzea da Pedra III a 60,12 NTUno poço Paris do Matias (Gráfico 01).

Gráfico 01: Concentração dos valores pontuais de turbidez

Page 82: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

82

No mapa (Figura 02) as concentrações mais elevadas encontram-se a norte da sede, decorrentedos valores altos registrados nas águas dos poços Paris do Matias e Caetano com valores acima domáximo permitido, 25,0 NTU os demais poços apresentam valores abaixo

do máximo desejável, 5,0 NTU (OMS, 1998). Apenas as águas de Paris do Matias ultrapassaram olimite de 40,0 NTU estabelecido na Resolução CONAMA n° 20. A turbidez não mostra qualquer relaçãocom os tipos litológicos aflorantes .

Figura 02: Distribuição dos valores pontuais de turbidez.

3.2. Cor

Considerando somente os poços que apresentam análises físico-químicas na área estudada, oíndice de cor das águas subterrâneas no município de Aracatu, varia de 0,00 Pt/L, em Morro do Souzae Riachão a 60,00 Pt/L na água do poço Manuel Velho (Gráfico 02).

Os valores relativos à cor das águas são mais elevados nos setores norte e sudeste da áreaestudada (Figura 03).

Gráfico 02: Concentração dos valores pontuais de cor das águas

Page 83: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

83

Das 38 (trinta e oito) análises avaliadas, 11 (onze) apresentam valores acima do máximo desejável,5,00 Pt/L, sendo que somente em uma delas o índice ultrapassa o valor máximo permitido de 50,00Pt/L observado no poço Manuel Velho (OMS, 1998).

Figura 03: Distribuição dos valores pontuais de cor das águas.

3.3. pH

Os valores do pH na área estudada, obtidos nos laudos de análise físico-químicas, tanto os elaboradospelo Departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola Politécnica quanto os elaborados pelaEMBASA, variam de 7,1 no poço Fazenda Fundão, a leste da sede a 8,8 na Baixa Escura, seguidos porMeleiro, Algodão, Sede V e Caldeirão do Tibério com pH 8,7 (Gráfico 03).

O valor do pH é mais elevado no setor sul, seguido pelos setores norte e leste do município(Figura 04).

Dos 39 (trinta e nove) poços avaliados, somente 09 (nove) possuem valores acima do desejável.A maioria dos poços apresenta água com valores de pH considerados satisfatórios, entre 7,0 e 8,5(OMS, 1998). Todos os valores encontram-se dentro dos limites estabelecidos pela resolução CONAMAn° 20, de 6,0 a 9,0.

Gráfico 03: Concentração dos valores pontuais de pH.

Page 84: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

84

Figura 04: Distribuição dos valores pontuais de pH

3.4. Alcalinidade Total

O valor mais elevado de alcalinidade total foi observado na água do poço Fazenda Fundão, a lesteda sede com 439,51 mg/L e o menor no poço Sede VII, próximo à sede do município, com 22,68 mg/L(Gráfico 04).

Os valores de concentração são mais baixos nos setores: noroeste, nordeste, sudeste e nasproximidades da sede e os mais elevados nos setores centro, sudoeste e norte do município (Figura 05 ).

Gráfico 04: Concentração dos valores pontuais da alcalinidade total.

Page 85: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

85

Figura 05: Distribuição dos valores pontuais da alcalinidade total.

3.5. Condutividade

A condutividade medida nas águas dos poços varia de 1.125,60 micromhos/cm no poço Sede IV,situado ao norte da cidade de Aracatu a 3.500 micromhos/cm no poço de Pé de Serra localizado nosetor leste do município (Gráfico 05 ).

Gráfico 05: Concentração dos valores pontuais da condutividade.

Page 86: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

86

A condutividade é mais elevada à leste da área estudada, com destaque para a parte central domunicípio. Os valores mais baixos encontram-se no entorno do setor central, aumentando para aperiferia (Figura 06).

Figura 06: Distribuição dos valores pontuais da condutividade.

3.6. Resíduo Seco

Os valores de Resíduo Seco das águas do município variam de zero mg/L, no poço Passagem doLajedo II a 3.370mg/L no poço Faz. Fundão, localizado a leste da sede municipal (Gráfico 06).

Gráfico 06: Concentração dos valores pontuais de resíduo seco.

Page 87: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

87

Os valores se apresentam mais elevados no setor centro-leste do município e os mais baixosencontram-se nos setores sul e nordeste (Figura 07).

Figura 07: Distribuição dos valores pontuais de resíduo seco.

3.7. Dureza Total

Considerando todos os poços no município, a dureza total pontual medida nas amostras de águasubterrânea varia de 315mg/L no poço Sede X, localizado ao norte da cidade a 1800mg/L no poço dalocalidade de Olhos D'Água do Coqueiro situado a nordeste da cidade (Gráfico 07).

A distribuição da dureza total pontual apresenta uma forte correlação com a distribuição doscloretos pontuais nas águas do município, sua concentração é mais elevada a norte nordeste dacidade, com valores acima de 800mg/L e um pico de 1800,6mg/L no poço de Olhos D'Água do Coqueiro.Os valores pontuais diminuem nas direções norte, nordeste, sudeste e sudoeste da sede municipal(Figura 08 ).

Gráfico 07: Concentração dos valores pontuais da dureza total

Page 88: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

88

No total de 40 (quarenta) poços pesquisados, 21 (vinte e um), quase a metade, apresenta águascom concentrações acima de 500 mg/L, o valor máximo permitido e, nenhum poço apresentouconcentração abaixo de 100 mg/L, o máximo desejável (OMS, 1998). A resolução CONAMA n° 20 nãoestabelece limites de concentração para as águas da Classe Especial.

Figura 08: Distribuição dos valores pontuais da dureza total.

3.8. Sólidos Totais

O valor pontual mais elevado foi observado na água do poço Algodão com 1614 mg/L e o valormais baixo no poço de Serra Negra com 720 mg/L (Gráfico 08).

Gráfico 08: Concentração dos valores pontuais de sólidos totais

Page 89: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

89

Na área estudada os valores mais elevados de sólidos totais encontram-se no leste, extremoleste e a sul da sede municipal. E os mais baixos no extremo norte do município (Figura 09).

Figura 09: Distribuição dos valores pontuais de sólidos totais.

Dos poços pesquisados, no total de 15 (quinze), as análises de água de 03 (três) amostras regis-traram valores de sólidos totais que ultrapassam o valor máximo permitido, 1.500mg/L e, os demais,cerca de 12 (doze) apresentam concentrações acima do valor máximo desejável, 500mg/L (OMS, 1998).De acordo com a CONAMA n° 20 todas as análises apresentam valores acima de 500mg/L para Águasda Classe Especial.

3.9. Cloretos

A concentração de cloretos varia de 127,23 mg/L, medida na água do poço Sede VIII a 1393,43 mg/L medida na água do poço de Olhos D'água do Coqueiro (Gráfico 09).

Gráfico 09: Concentração dos valores pontuais de cloreto

Page 90: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

90

Os valores de cloretos são mais elevados a norte-nordeste e extremo leste da cidade de Aracatucom valores acima de 600mg/L e um pico de 1393,4 mg/L a nordeste da sede. Os valores da concentraçãopontual caem em setores localizados a Norte, Nordeste, Sudoeste e Sudeste, áreas para onde sãodrenadas as águas superficiais e subterrâneas da região em locais onde a circulação é maior (Figura 10).

Figura 10: Distribuição dos valores pontuais de cloreto.

De 40 amostras de água avaliadas, 28 (vinte e oito) apresentam concentrações de cloretossuperiores ao valor máximo desejável de 200,00 mg/L, somente em 01 (uma) única amostra ultrapassouo valor de 600,00 mg/L, máximo permitido. As demais amostras, cerca de 11 (onze) apresentamconcentrações em padrões aceitáveis com base nos padrões de potabilidade (OMS, 1998).

Somente 8 (oito) análises possuem concentração de cloretos abaixo dos limites estabelecidosna CONAMA n°. 20, as demais, cerca de 27 (vinte e sete) análises os valores encontram-se acima dolimite de 200 mg/L para águas da Classe Especial.

3.10. Sílica

A sílica varia de 85mg/L no poço de Pé de Serra, situado a Leste da cidade a 19mg/L em Passagem doLajedo, localizado a nordeste da sede municipal (Gráfico 10).

Os teores de sílica na área do município são maiores a leste, sudoeste e a nordeste da sede, comvalores acima de 65mg/L e menores a norte, oeste e sudeste com concentração abaixo de 30mg/L(Figura 11).

Gráfico 10: Concentração dos valores pontuais de sílica.

Page 91: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

91

Figura 11: Distribuição dos valores pontuais de sílica.

3.11. Flúor

O flúor apresentou valores que variam de 0,04 mg/L no poço Eixo da Serra II situado ao norte dasede a 2,42 mg/L, observado na água do poço Lagedão do Miguel a oeste da cidade (Gráfico 11).

Gráfico 11: Concentração dos valores pontuais de flúor.

Page 92: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

92

O flúor apresenta-se mais concentrado, com valores pontuais acima 1mg/L, a oeste da sede, comum pico 2,42 mg/L, a sudeste e a nordeste da cidade e os valores mais baixos encontram-se a Norte ea Leste da sede municipal (Figura 12).

Em 37 (trinta e sete) análises de água avaliadas, somente 17 (dezessete) apresentaram concentraçõesde flúor inferior ao máximo desejável, em 20 (vinte) análises os valores são superiores ao limite de 0,6mg/L e, somente em dois poços os teores ultrapassaram o valor máximo permitido de 1,7 mg/L (OMS,1998). Em relação a CONAMA n°. 20, os mesmos poços ultrapassam o limite de 1,4mg/L para águas daClasse Especial.

Figura 12: Distribuição dos valores pontuais de flúor.

3.12. Nitritos

Os nitritos que estão relacionados à contaminação apresentam uma variação de zero mg/l naságuas de diversos poços, tais como: Faz. Manoel Velho; Faz. Duas Irmãs; Sede III; Pé de Serra; OlhosD'Água do Coqueiro; Sede X; Sede VII; Lagedão e Várzea da Pedra a 22,49 mg/L, na Fazenda SerraLagoa da Represa (Gráfico 12).

Gráfico 12: Concentração dos valores pontuais de nitritos.

Page 93: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

93

Os valores mais elevados na concentração de nitritos encontram-se no setor extremo norte enos setores sudeste e sudoeste do município. Os valores mais baixos foram registrados a norte nopovoado de Várzea da Pedra e no extremo leste, próximo a Morro do Souza (Figura 13).

Figura 13: Distribuição dos valores pontuais de nitritos.

O comportamento da concentração de nitritos na água dos poços perfurados é diferente dosparâmetros anteriormente avaliados, considerando que sua concentração está relacionada acontaminação.

No universo de 35 (trinta e cinco) análises de água, 19 (dezenove) estão com valores de nitritoacima do valor máximo permitido que é de 1,0 mg/L. As análises de água dos outros 16 (dezesseis)poços apresentam índices baixos ou ausência desse contaminante (OMS, 1998). De acordo com aCONAMA Nº. 20, dezenove análises de água apresentam valores acima de 1,0 mg/L, estabelecido paraáguas da Classe Especial.

3.13. Nitratos

Os nitratos também estão relacionados à contaminação e, portanto não mostram evidências decontrole litológico. Seus teores variam de zero, como nos poços: Faz. Duas Irmãs; Sede III; Pé deSerra; Olhos D'Água do Coqueiro; Lagoa de Santana; Sede X; Sede VII; Lagedão; Caetano; SerraNegra II, a 5,00 mg/L no poço de Morro do Souza (Gráfico 13).

Sua distribuição revela a ocorrência de valores elevados nos setores norte e leste do municípioe mais baixos a sul, a leste e a nordeste (Figura 14).

Gráfico 13: Concentração dos valores pontuais de nitrato.

Page 94: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

94

Figura 14: Distribuição dos valores pontuais de nitrato.

Em todas as análises de água de poços da área estudada, os valores de Nitratos encontram-seabaixo do valor máximo permitido que é de 45,00 mg/L (OMS, 1998). Somente a análise da água dopoço Várzea da Pedra possui valores acima de 10 mg/L estabelecido na CONAMA n° 20 para águas daClasse Especial.

3.14. Nitritos mais Nitratos

A avaliação da concentração Nitritos+ Nitratos nas águas subterrâneas da região varia de zero,no poço Sede III a 22,5 no poço da localidade da Faz. Serra Lagoa da Represa ao norte da sede (Gráfico 14).

Gráfico 14: Concentração dos valores pontuais de nitrito mais nitrato.

Page 95: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

95

Trata-se do somatório das duas concentrações anteriormente avaliadas de forma individual, Osvalores mais elevados estão localizados a norte, a sudeste e a sudoeste da sede municipal (Figura 15).Os teores também são relacionados à contaminação e sua concentração não apresenta qualquerrelação com a litologia.

Figura 15: Distribuição dos valores pontuais de nitrito mais nitrato.

3.15. Ferro Total

A concentração de ferro total varia de zero, no poço de Algodão no centro da área a leste dacidade, a 5,86, no poço Várzea da Pedra V a nordeste da sede do município, fora de seus limites (Gráfico 15).

Gráfico 15: Concentração dos valores pontuais de ferro total.

Page 96: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

96

Os valores mais elevados encontram-se a norte e nordeste da área estudada, com destaque parao valor de 5,85 mg/L de ferro total medido na água do poço Paris do Matias (Figura 16).

Figura 16: Distribuição dos valores pontuais de ferro total.

6 (seis) poços apresentaram água com teores de ferro acima do máximo permitido (1,00 mg/L), em 14 (quatorze) foram determinados valores inferiores ao máximo desejável. As demais análises,cerca de 20 (vinte), registraram valores entre o máximo desejável e o máximo permitido (OMS, 1998).De acordo com a CONAMA n° 20, nove poços apresentaram em suas análises de água, valores acima de0,3 mg/L para águas da Classe Especial.

3.16. Sulfato

Os teores de sulfato variam de 18,50 mg/L, medidos na água do poço Fundão, a nordeste da sede,a 352,5 mg/L, no poço Olhos d'água do Coqueiro, próximo a sede do município (Gráfico 16).

Os valores mais elevados estão alinhados na direção SE/NW definida pelos teores obtidos naágua dos poços de Barrinhas com 235 mg/L, Olhos d'água do Coqueiro com 352,5mg/L e Patos com235 mg/L. Os valores mais baixos estão localizados a nordeste e a sudoeste da área estudada (Figura 17).

Gráfico 16: Concentração dos valores pontuais de sulfato

Page 97: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

97

Das amostras avaliadas, somente 02 (duas) apresentam concentrações de sulfato acima domáximo desejável de 200,00 mg/L, as demais possuem valores de concentração aceitáveis, ou seja,abaixo desse limite (OMS, 1998). Somente um poço apresentou concentração de sulfato acima dolimite de 250 mg/L estabelecido na CONAMA n° 20, para água da Classe Especial.

3.17. Magnésio

O valor mais elevado de magnésio, 274,28 mg/L foi detectado no poço da Fazenda Serra Lagoa daRepresa, localizado a norte da sede municipal e o mais baixo, 18,62 mg/L, no poço sede IV (Gráfico 17).

Gráfico 17: Concentração dos valores pontuais de magnésio

As concentrações pontuais mais elevadas encontram-se a norte da cidade decorrente dos teoreselevados na água dos poços Olhos d'água do Coqueiro e Serra Negra, Eixo da Serra II/Lagoa da Represae a sudeste da sede com os valores elevados obtidos nas águas dos poços Fazenda Fundão, Barrinhase Pimenta (Figura 18).

Page 98: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

98

Figura 18: Distribuição dos valores pontuais de magnésio.

Page 99: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

99

Das 39 (trinta e nove) amostras de água analisadas, 06 (seis) apresentaram concentrações demagnésio superiores ao valor máximo permitido, 150,00 mg/L, seis estão com valores abaixo do valormáximo desejável, 30,00 mg/L e as 27 (vinte e sete) amostras restantes apresentam valores entre omáximo desejável e o máximo permitido (OMS, 1998). A Resolução CONAMA n° 20 não apresentalimite de teores de magnésio para águas de Classe Especial.

3.18. Cálcio

O valor mais elevado 1.018,78 mg/L, foi observado na água do poço Olhos d'água do Coqueiro anordeste da sede, bem próximo a cidade. O valor mais baixo, 13,09 mg/L, foi medido no poço Várzea daPedra, a norte da sede municipal (Gráfico 18).

A concentração mais elevada de cálcio foi observada na parte central e leste do município, nasdemais áreas os valores estão situados em torno 200mg/L (Figura 19).

Gráfico 18: Concentração dos valores pontuais de Cálcio

Page 100: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

100

Figura 19: Distribuição dos valores pontuais de cálcio.

Dos poços pesquisados, no universo de 40 (quarenta), 29 (vinte e nove) apresentam valores deconcentração acima do valor máximo permitido, 200 mg/L, 11 (onze) possuem concentrações maioresque o máximo desejável, 75mg/L e, apenas uma única amostra apresentou concentração inferior aeste limite (OMS, 1998). A Resolução CONAMA n° 20 também não indica limites de teores de cálciopara água da Classe Especial.

4.CLASSIFICAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

A classificação química das águas subterrâneas, utilizando o Diagrama Tri-linear de Piper, foirealizada utilizando somente os dados dos poços Barrinhas, Sede VII e Sede VIII, que apresentam naanálise química de suas águas, todos os dados requeridos para construção do diagrama. Somente oslaudos de análise da água desses poços tinham avaliações para sódio e Potássio, essenciais paraaplicação do método (Tabela 06).

TABELA 06- Análise química das águas dos poços Barrinhas, Sede VII e Sede VIII

Page 101: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

101

O diagrama revela que as águas do poço de Barrinhas, perfurado em rochas esverdeadas,compostas por quartzo, feldspato mica e anfibólio, foi classificada como cloretada cálcica.

As águas do poço Sede VIII, cuja litologia atravessada é constituída por metatexito cinzaesbranquiçado, foi classificada como bicarbonata cálcica, enquanto que a água do poço Sede VII,também perfurado no mesmo tipo litológico, foi classificada como cloretada cálcica (Figura 20).

Figura 20: Classificação das águas subterrâneas utilizando o Diagrama de Piper

Page 102: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

102

5.CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

1 - A maior parte dos poços tubulares da zona rural, encontra-se fora de operação porque, deacordo com os moradores da região, suas águas são muito salobras e o custo do bombeio com dieselé elevado. Eles somente são colocados em operação nos períodos críticos, quando as aguadas secame estes se tornam a única alternativa de abastecimento.

2- Apesar das águas serem salobras e, parte delas apresentarem alguns constituintes prejudiciaiscom teores acima do permitido, elas se constituem em uma alternativa segura de abastecimento nosperíodos secos e a sua utilização, após a avaliação da qualidade, não deve ser descartada em programaspara ampliação da oferta hídrica.

3- Alguns poços apresentam águas com constituintes acima dos teores máximos permitidospara fins de potabilidade, considerando os padrões estabelecidos pela Organização Mundial de Saúdee pela Resolução CONAMA n° 20. Os poços de Barrinhas e Lagedão do Miguel, por exemplo, apresentamáguas com teores de flúor acima do valor máximo permitido, 1,4 mg/L e não devem ser utilizadas noabastecimento humano.

4- Os aqüíferos da região, predominantemente fissurais, apresentam uma alta vulnerabilidade àcontaminação. Mais de dez poços apresentaram na análise de suas águas valores de nitritos acima domáximo permitido para fins de potabilidade. Estas concentrações elevadas indicam tratar-se decontaminação recente.A sua utilização para fins de potabilidade requer tratamento para desinfecção.

5- As águas dos poços de Barrinhas e da Sede foram classificadas como cloretadas cálcicas ebicarbonatadas cálcicas.

Page 103: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

103

REFERÊNCIAS

ALDAZ, Luis. A Partial Charactezation of The Rainfall Regime of Brasil. Report n. 4, DEMET/ SUDENE/WMO. Recife, 1981.

ALMEIDA, F.F. M. Craton do São Francisco. Rev. Bras. Geociências, 1977, 7(4): 349-364.

BAHIA. Instituto de Gestão das Águas e Clima. Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado daBahia - PERH. Relatório Final, Volume 1- Texto. Diagnóstico e Regionalização. Salvador, 2003.

BAHIA. Secretaria de Recursos Hídricos, Saneamento e Habitação. Plano Diretor de Recursos Hídricosda Bahia. Bacia do Rio de Contas. Documento Síntese. Salvador, 1993.

BARBOSA, Johildo S. F.; DOMINGUEZ, José M. L. Geologia da Bahia: texto explicativo para o mapaGeológico ao milionésimo. Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração. Superintendência de Geo-logia e Recursos Minerais. Salvador, 1966.

BRASIL. Ministério das Minas e Energia. Secretaria Geral. Projeto RADAM BRASIL. Folha SD 24 Salva-dor. Geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação e uso potencial da terra. Rio de Janeiro, 1982.

BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, Resolução CONAMA nº 20 de 18 de junhode 1986. Diário Oficial da União, Brasília, 1986.

CEI, Centro de Estatística e Informações (BA). Riscos de Seca e Graus de Severidade do Semi-árido noEstado da Bahia. Salvador, 1991.

CELINO, Joil José. Métodos Estatísticos Aplicados A Geoquímica. Apostila do Curso de Pós-gradua-ção em Geoquímica e Meio Ambiente. Salvador, 2003.

COSTA, W.D. Análise dos fatores que influenciam na hidrogeologia do cristalino. Revista Água Sub-terrânea. v. 1, n. 4, p. 14-47. Recife, 1965.

DIAS LIMA, J.A.; OLIVEIRA, J.E.; COSTA, I.V.G.; BOMFIM, L.F.C.; BARRAL,N.M.; SANTOS, R.A. ProjetoAracatu. Relatório Final. Fase I, vol. I, DNPM/CDRM, 1981.

FEITOSA, Fernando A.C.; MANOEL FILHO, João. Hidrogeologia: Conceitos e Aplicações. CPRM, LABHID-UFPE. Fortaleza, 1997, il., 412 p.

FENZL, Norbert. Introdução a hidrogeoquímica. Colaboração de J. F. Ramos. Universidade Federal doPará. Belém, 1986.

LEGRAND, H. Yield of Wells. Divisão Mineral Resources, Bull 75- USA, 1959.

LLAMAS, Custódio. Hidrologia subterrânea. vol. 1. Ediciones Omega: Barcelona, 1976.

TUCCI, C.E.M. Hidrologia: Ciência e Aplicação - 2. ed - Porto Alegre; Ed. da Universidade / ABRH /EDUSP: 2000, 943p

Page 104: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

104

Page 105: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

105

HIDROGEOLOGIA DO MUNICÍPIO DEARACATU, SUDOESTE DA BAHIA

Paulo Henrique Prates Maia (1),Manoel Jerônimo Moreira Cruz (2),Zoltan Romero Cavalcante Rodrigues (3)

1-MSc. em Geoquímica e Meio Ambiente

2-Professor Associado I e Doutor em Geoquímica da UFBA

3-Especialista em Gestão de Recursos Hídricos

Salvador-Bahia / 2007

RESUMO

O principal escopo deste trabalho é avaliar os recursos hídricos subterrâneos no município de Aracatu, estado deBahia, localizado na região semi-árida do onde a população convive com secas recorrentes e a falta de água de boaqualidade. Para atingir estes objetivos foram realizadas pesquisas bibliográficas, pesquisas com a população, trabalhos decampo, cadastro de estruturas hidráulicas.Os dados obtidos nestas atividades foram sistematizados e sua interpreta-ção permitiu a avaliação dos problemas principais relacionados à água subterrânea no município.

Palavras -Chave: Aracatu, Recursos Hídricos Subterrâneos, Estruturas Hidráulicas

ABSTRACT

The main scope of this work is to evaluate the groundwater resources of the town of Aracatu, located on the semi-arid region of the state of Bahia, where the population lives with recurrent droughts and the lack of good quality water.In order to reach these objectives, bibliographic researches, research with the population, field work, cadastre ofhydraulic structures. The data obtained in these activities were systematized and their interpretation allowed theevaluation of the main problems related to the town’s ground water resources.

Keywords: Aracatu, Groundwater Resources, Hydraulic Structures

Page 106: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

106

Page 107: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

107

1.INTRODUÇÃO

O município de Aracatu está localizado na região semi-árida do Estado da Bahia, onde a populaçãoconvive com secas recorrentes e escassez de água de boa qualidade. A área estudada está localizadano sudoeste do Estado da Bahia, na bacia hidrográfica do rio de Contas (Figura 01), em uma sub-baciade seu afluente, rio Gavião. Possui uma área de 1.541,5 km2 e a sede do município está situada nascoordenadas: Latitude 14°25’00"S e Longitude 41° 27’00"W em uma altitude de 720m acima do níveldo mar. Distante aproximadamente 618km da capital. Integra a Região Econômica da Serra Geral eencontra-se totalmente inserido na região Semi-árida, de acordo com a Resolução 10.929/9 da SUDENE.

Figura 01- Localização do município.

O objetivo principal desse trabalho é avaliar os recursos hídricos subterrâneos com a finalidadede subsidiar o planejamento regional e a definição de mananciais do município, onde a populaçãoconvive com secas recorrentes e escassez de água de boa qualidade.

Os resultados obtidos na avaliação dos recursos hídricos subterrâneos da região permitiramextrair conclusões e formular recomendações sobre a definição de mananciais que podem ser utilizadaspara subsidiar o planejamento de ações com vista à ampliação da oferta de água.

Em termos históricos, no periodo de 1938 a 1961, a região foi afetada por 27 (vinte e sete) secaspouco significativas, 7 (sete) secas moderadas e 3 (três) secas severas, sendo uma em 1938 compluviosidade média de 265,4mm e outra em 1949, o evento mais crítico de todos, com pluviosidademédia de 168 mm e a última ocorreu em 1961 com 174,0 mm de chuva acumulada (CEI,1991).

Considerando o consumo diário “per capita” da população, urbana e rural no município, estimadoem 150 litros por dia que corresponde a 55 m3/ano e 50 litros por dia que equivale a 18m3/ano (BAHIA, 1993),respectivamente e, admitindo que os dados censitários apresentados pelo IBGE estejam corretos, as ne-cessidades de água para a população urbana, rural e total do município são estimadas em:175.285m3/ano; 221.472m3/ano; 221.472m3/ano, respectivamente.

Page 108: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

108

2.GEOLOGIA REGIONAL

A área estudada, do ponto de vista geotectônico, está situada na parte centro-sul do Cráton deSão Francisco (ALMEIDA, 1977) onde predominam rochas de idade proterozóica inferior e arqueanas,sobre as quais efeitos tectônicos e/ou metamórficos levaram a profundas modificações de ordemlito-estrutural. Também ocorrem faixas estreitas e isoladas de seqüências vulcanosedimentares dodenominado Bloco do Gavião (DIAS LIMA et al. 1981).

Este setor do Cráton do São Francisco é caracterizado por uma grande diversidade de alinhamentosestruturais, principalmente no âmbito das rochas metamórficas e magmáticas. Embora de um modomuito generalizado, esses alinhamentos são predominantes nas direções noroeste-sudeste, aproximadamenteparalelos ao principal sistema de fraturamento (DIAS et al, 1981).

Afloram na área estudada Ortagnaisses Granitóides e Migmatitos, a leste e a sul da sede domunicípio de Aracatu. Sobrepostos a estas rochas ocorrem Ortagnaisses, Granodioritos e Gnaisses,na porção centro-oeste do município e pequenas porções a leste da cidade de Aracatu. Na seqüência,ocorrem pequenas intrusões de Tonalitos, Gnaisses, Monzogranitos, todas unidades do Paleoarqueanolocalizadas a sul e a sudeste da sede do município de Aracatu.

Alinhadas nas direções norte-sul e a noroeste-sudeste afloram rochas Metabásicas eMetaultrabásicas, principalmente a leste da sede municipal. A norte da cidade de Aracatu ocorrem,Metabasaltos, Quartzitos e Metacherts sobpostos a Monzogranitos, do Mesoarqueano. No topodessas unidades Arqueanas são encontradas rochas Metaultrabásicas e Ortagnaisses a leste e a sulda cidade de Aracatu e Granitos, Granodioritos do Paleoproterozóico.

São rochas cristalinas muito antigas com algumas coberturas aluvionares localizadas nasplanícies. O aqüífero principal é de natureza fissural e sua hidrogeologia é fortemente influenciadapor dois fatores: tensões atuantes e tipo de rocha, mineralogia e textura (COSTA, 1986).

2.1 Análise Estrutural

Com o objetivo de orientar a prospecção hidrogeológica na região, foi realizada uma análise emcampo, das estruturas rúpteis, a partir da descrição dos tipos, formas, relações geométricas, atitudese idades relativas. Esses dados foram tabulados e consistidos para permitir, utilizando Diagramas deRoseta, identificar os tensores responsáveis pela geração de estruturas que irão auxiliar a definiçãode locais favoráveis a circulação e acumulação de água subterrânea.

A análise das orientações das fendas observadas no Diagrama de Roseta (figura 02) revela umpar de fraturas conjugadas nas direções NW-SE e NE-SW, típicas de cizalhamento originada porfalhas transcorrentes. O esforço principal à 1 encontra-se na bissetriz do ângulo agudo, o à 3 está nabissetriz do ângulo obtuso e o à 2 encontra-se ortogonal a ambos os tensores.

As fraturas abertas favoráveis a prospecção de água são as do tipo T que se encontram a 30º daZona Principal de Cizalhamento (ZPC), paralelas ao plano que contém à 1 e à 2 de direção N-S e asfraturas abertas do tipo A, localizadas a 60° da ZPC, paralela ao plano que contem à 2 e à 3 de direção E-W.

Figura 02: Diagrama de Roseta das Fraturas da Região.

Page 109: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

109

Figura 03 - Elipsóide de Tensão e fraturas abertas

Figura 04- Bloco Diagrama dos Esforços Regionais

Estes sistemas de fraturas observados estão concordantes com as estruturas regionaisobservadas no mapa geológico do Estado, no qual as rochas Arqueanas e Proterozóicas do Crátonapresentam evidências de terem sido submetidas a esforços de cizalhamento com direção N-S, queprovocaram o deslocamento da placa da borda Oeste da chapada diamantina na direção NW enquantoa placa da borda Leste se deslocou na direção SE (figura 04).

Figura 05- Elipsóide dos Esforços

Page 110: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

110

As rochas cristalinas, constituídas por minerais granulares isentos de clivagem, tais comognaisses e migmatitos de maior grau de metamorfismo, são resistentes à ruptura por cisalhamento.Em contrapartida, as fraturas originadas por tração nessas rochas são mais abertas. As rochasorientadas com baixo grau de metamorfismo, tais como ardósias, filitos e xistos, desenvolvem, commaior freqüência, planos de fraturamento (COSTA, 1986). Observou-se que as locações de poços bemsucedidas na região se localizam nos contatos entre os gnaisses e granitos, com xistos esverdeados.

Os locais onde as fraturas se mostram mais favoráveis a acumulação de água são, preferencialmente,nas direções N-S e E-W supracitadas, respeitando-se os demais critérios de locação, como por exemplo, omergulho das fendas e a proximidade da drenagem superficial para garantir a recarga.

3.CARACTERIZAÇÃO HIDROGEOLÓGICA

3.1.Vazões dos Poços Tubulares

As vazões dos poços do município variam de 0,09 m3/h em Caetano, localizado a nordeste dasede a 15,00 m3/h em Barrinhas, localizado a sudeste da sede (Gráfico 01).

As vazões pontuais mais elevadas foram registradas a norte, sudeste e a leste da sede municipalnos poços perfurados em Barrinhas, com 14,50m3/h seguidos por Caldeirão dos Crioulos com 14,30m3/h ePimenta, com 10,15m3/h, Manuel Velho 10,00 m3/h, de Algodão com 9,00m3/h e Serra Negra e Patoscom vazão em torno de 7,00m3/h (Figura 05).

3.2 Vazões Específicas

As vazões específicas dos poços variam de 0,001 m3/h/m, em Caetano, localizado ao norte dasede até 0,890 m3/h/m em Algodão, localizado a leste da sede municipal, quase que em um divisor deáguas (Gráfico 02).

As vazões específicas mais elevadas formam um eixo N-S, coincidente com os locais onde foramobservadas as maiores vazões pontuais dos poços (Figura 05).

Gráfico 01: Concentração dos valores pontuais das vazões.

Page 111: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

111

Figura 07- Distribuição dos valores pontuais das vazões específicas.

3.2 Vazões Específicas

As vazões específicas dos poços variam de 0,001 m3/h/m, em Caetano, localizado ao norte dasede até 0,890m3/h/m (Gráfico 02) em Algodão, localizado a leste da sede municipal, quase que emum divisor de águas (Figura. 07).

3.3 Correlação das Direções das Drenagens com as Fraturas

O município de Aracatu está situado no divisor de águas de duas importantes baciashidrográficas, a bacia do rio Gavião e a do rio Brumado. Parte da sua área, localizada a sul e a leste, édrenadas pelos afluentes do riacho do Gentio, que deságua no rio Gavião.

A parte oeste e norte é drenada pelo riacho de Santa Maria, afluente do rio Brumado. Apenas umsetor, localizado a nordeste do município, é drenado por afluentes diretos do rio de Contas. A sedemunicipal está localizada no divisor de águas dessas sub-bacias (Figura 08).

Esta drenagem é constituída essencialmente por rios e riachos intermitentes, fortemente con-trolados por falhas e fraturas, obedecendo a um padrão intermediário entre o retangular e o dendrítico.

Figura 06: Distribuição dos valores pontuais das vazões.

Page 112: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

112

Gráfico 02: Concentração dos valores pontuais das vazões específicas.

Figura 08: Sub-bacias hidrográficas.

Page 113: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

113

Apesar de não existirem dados estatísticos sobre a influência da hidrografia nas potencialidadesdos aqüíferos cristalinos, a associação das zonas de fraturamento com a drenagem superficial énotória, propiciando condições necessárias para infiltração e acumulação de água nas fissuras dosmaciços rochosos.

A partir do conceito de riacho-fenda, que consiste em pesquisar segmentos lineares da drenagemassociadas à presença de fendas ou falhas, foram medidas as direções dos riachos utilizando o modelonumérico do terreno, elaborado a partir de imagens do radar interferométrico da NASA. As direçõesda drenagem foram então tabuladas com a finalidade de construir um Diagrama de Roseta para serutilizado na correlação com as direções de fraturas abertas a fim de compreender os mecanismosque controlam o fluxo da água nas fissuras das rochas.

As fraturas mais importantes sob o ponto de vista hidrogeológico, apresentam-se no diagramacom predomínio nas direções N-S, E-W e secundariamente NW-SE e NE-SW, coincidentes com as direçõespreferenciais dos riachos que cortam o município (Figuras 09 e 10), evidenciando que a relação entreas fraturas abertas e a drenagem superficial é fundamental para a infiltração, acumulação e o escoamentoda água tanto da água superficial como subterrânea.

3.4. Energia Potencial da Água

A energia potencial da água, calculada subtraindo a cota topográfica do nível estático em cadapoço, varia de 706 m, valor mais alto no poço, de Pimenta, até 394m, valor mais baixo no poço de Patos(Gráfico 03).

Cartográfica, permite visualizar o controle estrutural e topográfico que direciona o fluxo daágua superficial e subterrânea por meio de condutos nas direções N-S, E-W, SW-NE e NW-SE coincidentescom os principais falhamentos na região (Figura 07).

Figura 09- Direção preferencial dos riachos. Figura 10- Diagrama de Roseta das Fraturas.

Page 114: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

114

3. 5. Correlação Entre Vazões dos Poços e Direções dos Riachos-fenda

A correlação do mapa da energia potencial da água (Figura 08) com o mapa hipsométrico e abase Os dados de vazão dos poços e as principais direções dos riachos em suas proximidades, obtidasa partir do modelo numérico do terreno elaborado com imagens do radar interferométrico da NASA(Figura 10), foram agrupados em três conjuntos: o primeiro conjunto constituído por vazões acima de5m3/h, os melhores poços da região; o segundo com vazões menores do 5m3/h e maiores que 0,5m3/h,poços com vazões razoáveis para as condições hidrogeológicas locais; e finalmente o conjunto devazões menores do que 0,5m3/h, vazões consideradas insignificantes. Estes conjuntos de poços fo-ram correlacionados com as direções preferenciais dos riachos-fenda, utilizando o Diagrama de Ro-seta.

As direções preferenciais dos riachos existentes nas proximidades de cada poço que apresentouvazões maiores que 5m3/h foram medidas e tabuladas (Tabela 01 ).

Figura 11- Valores pontuais da energia potencial da água

Gráfico 03: Concentração dos valores pontuais da energia potencial da água.

A correlação do mapa da energia potencial da água (Figura 11) com o mapa hipsométrico e a basecartográfica, permite visualizar o controle estrutural e topográfico que direciona o fluxo da águasuperficial e subterrânea por meio de condutos nas direções N-S, E-W, SW-NE e NW-SE coincidentescom os principais falhamentos na região (Figura 10).

Page 115: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

115

TABELA 01: Correlação das vazões maiores do que 5m³/h com as direções preferenciais de fraturas.

Utilizando o software Stereonet, foi construído o Diagrama de Roseta para os poços, com essasvazões, no qual se destacam as direções predominantes das fraturas para E-W, N-S, NW-SE e NE-SW(Figuras 12 e 13). Em todas essas direções os poços produziram vazões significativas.

Figura 12- Drenagens no entorno de poços com vazões>5m3 Figura 13: Diagrama de Roseta das Fraturas

Page 116: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

116

TABELA 02: Correlação das Vazões maiores do que 0,5m³/h e menores que 5m³/h com as direções preferenciais de fraturas.

Utilizando o mesmo princípio, foi construído o Diagrama de Roseta no qual as direções predo-minantes dos lineamentos foram para E-W, N-S, NE - SW e NW-SE. (Figuras 14 e 15). As mesmas dire-ções de controle dos poços que produziram vazões significativas, também propiciaram vazões médias.

Figura 14- Drenagens no entorno dos poçoscom vazões < 5,0m3/h e > 0,5m3/h

Figura 15: Diagrama de Roseta das Fraturas

Page 117: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

117

As direções dos riachos próximos aos poços, com vazões menores ou iguais a 0,5m3/h forammedidas e agrupadas (Tabela 03)

TABELA 03: Correlação das vazões menores do que 0,5m³/h com as direções preferenciais de fraturas.

O Diagrama de Roseta construído, utilizando os dados tabulados, indica que predominam asfraturas nas direções NE-SW e SE-NW, enquanto que as direções N-S e E-W ocorrem com menorfreqüência (Figuras 16 e 17). Observou-se que a freqüência de poços controlados pelos riachos dedireção N-S e E-W e mesmo as de cizalhamento do par conjugado, são muito baixas.

Figura 16- Drenagens no entornodos poços com vazões < 0,5 m3/h

Figura 17: Diagrama de Roseta das Fraturas

Page 118: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

118

Verificou-se então que, na área estudada, as direções de fraturas N-S, E-W, NW-SE e NE-SW, são asmais indicadas para a prospecção de água subterrânea, embora somente este critério não seja suficientepara garantir vazões significativas.

3.6 Correlação entre Vazões dos Poços e Configuração do Relevo

A configuração do relevo é de grande importância para a produção de água em rochas cristalinas deacordo com os resultados obtidos em pesquisas realizadas na Carolina do Norte (LEGRAND, 1959) eem Dowson (SEVER, 1964). Eles concluíram que as vazões obtidas no topo das colinas são muitoinferiores a dos baixios, sobretudo nas depressões de bacias.

O mapa hipsométrico produzido a partir de imagens do radar interferométrico da NASA (Figura18), contendo os poços tubulares, foi utilizado para que estes fossem agrupados de acordo com aconfiguração do relevo, em poços perfurados em: serras/colinas; encostas/vertentes e planícies/vales.

A análise das médias de vazões obtidas nos poços em cada grupo revelou que, a vazão média maiselevada, em torno de 7m3/h, foi obtida nas encostas e vertentes, locais que geralmente coincidem com asdireções das fendas e fraturas, portanto favoráveis à acumulação de água subterrânea. Seguida pelamédia de vazões dos poços perfurados nas serras/colinas com vazões médias em torno de 5m3/h,sendo que estas duas configurações morfológicas ocupam cerca de 80% da área total do município.

A vazão média mais baixa cerca de 4m3/h, foi observada nos poços localizados nas planícies/vales que contaram com 24 unidades perfuradas, sendo que destas somente 12 poços apresentamdados de vazão. Esse tipo morfológico ocorre em apenas 20% da área total do município. Suas rochasgeralmente estão sob coberturas que ocultam as estruturas, dificultando a locação dos poçostubulares, o que poderia explicar as baixas vazões obtidas.

Vale ressaltar que a área estudada diferentemente dos estudos supracitados só dispõe de 35poços com dados de vazões significativas, sendo 10 perfurados nas serras/colinas (Tabela 04) 13 nasencostas/vertentes (Tabela 05) e 12 nas planícies/vales (Tabela 06).

Figura 18- Hipsometria e poços tubulares do município.

Page 119: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

119

TABELA 04: Poços em Serras/Colinas

TABELA 05: Poços em Encostas/Vertentes

Page 120: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

120

TABELA 06: Poços em Planícies/Vales

Page 121: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

121

4.CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

1- As fraturas abertas favoráveis a prospecção de água são as do tipo T que se encontram a 30ºda Zona Principal de Cizalhamento (ZPC), paralelas ao plano que contém à 1 e à 2 de direção N-S e asfraturas abertas do tipo A, localizadas a 60º da ZPC, paralela ao plano que contem à 2 e à 3 de direçãoE-W.

2- A análise estrutural e a correlação entre vazões dos poços e direções dos riachos indicam quena área estudada a interseção entre as fraturas com direções N-S, E-W e NE-SW, são os locais maisindicados para a prospecção de água subterrânea, embora somente esse critério não seja suficientepara garantir a obtenção de vazões significativas.

3- Observou-se nos 48 (quarenta e oito) poços tubulares da região que dispõe de perfil litológico,que em 28 (vinte e oito) deles aparecem à descrição de rochas compostas por minerais escurosorientados, evidenciando certa preferência para perfurar nos locais onde ocorrem xistos em contatocom os gnaisses e migmatitos.

4 -O inventário dos poços tubulares revela que, 45% deles apresentam vazões superiores a 5m3/h, e destes, 20% têm vazões superiores a 10 m3/h. Os poços com vazões entre 0,5 e 5 m3/h perfazem45% dos poços cadastrados e somente 10% correspondem a poços com vazões inferiores a 0,5 m3/h esecos.

5- A maior parte dos poços tubulares da zona rural encontra-se fora de operação porque o custodo bombeio é elevado por conta do preço do óleo diesel. Eles somente são colocados em operação nosperíodos críticos, quando as aguadas secam e estes se tornam a única alternativa de abastecimento.

6- Considerando os ótimos resultados obtidos nas locações que utilizam geofísica comoferramenta auxiliar na prospecção de água subterrânea, a sua utilização não deve ser descartada emprogramas para ampliação da oferta hídrica.

7- Verificou-se que a maior parte dos poços encontra-se as margens das estradas que cortam omunicípio, raros são os poços que se afastam um pouco delas, tais como: Sede V; Barro Preto; LagoaSantana; Lagoa Funda; Sede X; Barrinhas; Morro do Souza e Lagedão. Este fato decorre da necessidadede acesso para os caminhões que transportam os equipamentos de perfuração o que, de certa forma,restringe as opções de locação.

8- Alguns poços secos ou com vazões consideradas insuficientes foram perfurados nas nascentesdos riachos, em locais mais elevados com pequenas áreas de recarga, como por exemplo, os poços de:Serra Negra II; Caetano; Morro do Souza; Sede IV; Manuel Velho; Barro Preto; Fazenda Pai João e Sede VI.

9- A distância entre a localidade a ser atendida e o manancial também se constitui em outrofator que restringe as opções da locação, face aos custos elevados com a construção de adutoras.

10- A sede do município de Aracatu, localizada a sudoeste da sua poligonal, adotada como pontode referência neste trabalho, está situada no divisor de águas, em cota acima de 700 metros, o quedificulta a definição de mananciais subterrâneos em suas proximidades.

Page 122: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

122

REFERÊNCIAS

ALDAZ, Luis. A Partial Charactezation of The Rainfall Regime of Brasil. Report n. 4, DEMET/SUDENE/ WMO. Recife, 1981.

ALMEIDA, F.F. M. Craton do São Francisco. Rev. Bras. Geociências, 1977, 7(4): 349-364.

BAHIA. Superintendência de Recursos Hídricos. Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado daBahia – PERH. Relatório Final, Volume 1- Texto. Diagnóstico e Regionalização. Salvador, 2003.

BAHIA. Secretaria de Recursos Hídricos, Saneamento e Habitação. Plano Diretor de Recursos Hídricosda Bahia. Bacia do Rio de Contas. Documento Síntese. Salvador, 1993.

BARBOSA, Johildo S. F.; DOMINGUEZ, José M. L. Geologia da Bahia: texto explicativo para o mapaGeológico ao milionésimo. Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração. Superintendência de Geo-logia e Recursos Minerais. Salvador, 1966.

BRASIL. Ministério das Minas e Energia. Secretaria Geral. Projeto RADAM BRASIL. Folha SD 24 Salva-dor. Geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação e uso potencial da terra. Rio de Janeiro, 1982.

CEI, Centro de Estatística e Informações (BA). Riscos de Seca e Graus de Severidade do Semi-áridono Estado da Bahia. Salvador, 1991.

CELINO, Joil José. Métodos Estatísticos Aplicados A Geoquímica. Apostila do Curso de Pós-gradu-ação em Geoquímica e Meio Ambiente. Salvador, 2003.

COSTA, W.D. Análise dos fatores que influenciam na hidrogeologia do cristalino. Revista ÁguaSubterrânea. v. 1, n. 4, p. 14-47. Recife, 1965.

DIAS LIMA, J.A.; OLIVEIRA, J.E.; COSTA, I.V.G.; BOMFIM, L.F.C.; BARRAL,N.M.; SANTOS, R.A. ProjetoAracatu. Relatório Final. Fase I, vol. I, DNPM/CDRM, 1981.

FEITOSA, Fernando A.C.; MANOEL FILHO, João. Hidrogeologia: Conceitos e Aplicações. CPRM,LABHID- UFPE. Fortaleza, 1997, il., 412 p.

FENZL, Norbert. Introdução a hidrogeoquímica. Colaboração de J. F. Ramos. Universidade Federal doPará. Belém, 1986.

LEGRAND, H. Yield of Wells. Divisão Mineral Resources, Bull 75- USA, 1959.

LLAMAS, Custódio. Hidrologia subterrânea. vol. 1. Ediciones Omega: Barcelona,

TUCCI, C.E.M. Hidrologia: Ciência e Aplicação – 2. ed – Porto Alegre; Ed. da Universidade / ABRH /EDUSP: 2000, 943p.

Page 123: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

123

ANÁLISE DA ANTROPIZAÇÃO E SEUSIMPACTOS NEGATIVOS NA BACIA DO RIOPIRANHAS, AFLUENTE DO PARAGUAÇU

MANOEL DA SILVA FILHO([email protected])

Engenheiro Agrônomo (UFBA 1995), especialista em Gestão de Recursos Hídricos (UFBA,2006),Perito Criminalístico DPT/SSP-Ba

MARIA HELENA DE ALMEIDA MASCARENHAS([email protected])

Pedagoga(UNEB, 2002), especialista em Gestão de Recursos Hídricos (UFBA, 2006),Subgerente EBDA-Itaberaba

YARA SIMONE ROCHA SANTANA DA SILVA([email protected])

Engenheira Agrônoma (UFBA, 1994), especialista em Gestão de Recursos Hídricos (UFBA, 2006),especialista em Fiscalização do Instituto de Gestão de Águas e Clima–INGÁ/Ba, RPGAVII–Itaberaba

Orientação: Prof. Dra. Viviana Maria Zanta

RESUMO

A água é um bem imprescindível para a vida e um dos mais importantes elementos da natureza. A Terra possuiuma quantidade de água muito superior à demanda gerada pelo homem e suas atividades. Apesar de o Brasil contar coma maior disponibilidade hídrica do mundo, cerca de 12% da água doce superficial do planeta, grande parte dessesrecursos encontra-se na Região Amazônica, onde a demanda hídrica é muito baixa. No entanto, várias regiõesapresentam algum tipo de problema hídrico e, por isso, necessitam urgentemente da implementação de um sistemaeficaz de gestão dos corpos d’água. O Rio Piranhas, objeto deste estudo, é um afluente do Paraguaçu, localizado na seçãomédia da bacia do Paraguaçu, região de Itaberaba, e, como tantos outros afluentes, tem sofrido ações predatórias, comodesmatamento das matas ciliares, despejo de esgotos domésticos, hospitalar e industrial, sem qualquer tipo de trata-mento, necessitando com urgência de políticas públicas mais eficazes para a proteção desses mananciais. Nestesentido, este trabalho pretende analisar o nível de antropização da bacia do Rio Piranhas, visando identificar possíveisimpactos negativos ambientais e possíveis proposições de equacionamento dos mesmos.

Palavras-chave: Rio Piranhas; Antropização; Impactos Negativos.

Page 124: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

124

ABSTRACT

Water is indispensable for life and one of the most important elements of nature. The amount of water on Earthis much bigger than the demand generated by men and their activities. Even though Brazil has the world’s biggestwater supply, approximately 12% of all surface fresh water on the planet, a large portion of these resources is found inthe Amazon Region, where the hydric demand is very low. However, several regions have some kind of hydric problemand, for this reason, they urgently need the implementation of an effective management system for the bodies of water.The Piranhas River, object of this study, is a tributary of the Paraguaçu River, located in the middle section of Paraguaçubasin, in Itaberaba region and, as many other tributaries, it is affected by predatory actions such as the gallerydeforestation and the emission of residues from houses, hospitals and industries without any kind of treatment, whichrequires more effective public policies for the protection of these water resources. From this point of view, this workaims to analyse the level of antropization of the Piranhas river basin seeking to identify the possible negative impactson the environment, as well as possible measures to handle them.

Keywords: Piranha river, Antropization, Negative Impacts

Page 125: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

125

1.INTRODUÇÃO

A água é um bem imprescindível para a vida e um dos mais importantes elementos da natureza.Estima-se que a quantidade de água existente na Terra seja a mesma desde a Pré-História, contudo, oseu número de habitantes não pára de crescer. A população está crescendo de forma acelerada e ohomem, sem pensar nas conseqüências de suas ações, polui as águas e provoca alterações no ciclohidrológico, podendo gerar impactos, muitas vezes, prejudiciais à sua própria existência.

A Terra possui uma quantidade de água muito superior à demanda gerada pelo homem e suasatividades. No entanto, vem-se desencadeando, cada vez mais, uma série de problemas hídricos, emdiversas regiões do planeta, devido a grande variabilidade da disponibilidade hídrica, no tempo e noespaço, aliada ao desordenado processo de ocupação e fixação do ser humano.

Segundo o Relatório da ONU (março/2006), a má condição da água é fator chave para problemasde subsistência e saúde globais. Doenças relacionadas à diarréia e malária mataram cerca de 3,1milhões de pessoas em 2002 no mundo. Noventa por cento dessas mortes foram de crianças commenos de cinco anos de idade. Aproximadamente 1,6 milhões de vidas poderiam ser salvas anualmentecom o fornecimento de água potável, saneamento básico e higiene.

O Brasil é um país privilegiado em termos de disponibilidade hídrica global, dispondo de umvolume médio anual de 8.130km3, que representa um volume per capita de 50.810m3/hab.ano1. Noentanto, várias regiões apresentam algum tipo de problema hídrico e, por isso, necessitam urgentementeda implementação de um sistema eficaz de gestão dos corpos d’água. Apesar do país contar com amaior disponibilidade hídrica do mundo, cerca de 12% da água doce superficial do planeta, grandeparte desses recursos encontra-se na Região Amazônica, onde a demanda hídrica é muito baixa.

Por outro lado, a concentração da população brasileira em conglomerados urbanos, alguns dosquais já se caracterizando como mega-cidades, vem ocasionando pressões crescentes sobre os recursoshídricos.

Na Bahia, o Rio Paraguaçu é o mais importante sistema fluvial de domínio inteiramente estadualque une três regiões: a Chapada Diamantina, a Caatinga e o Recôncavo. Abrange em seu percurso 84municípios, beneficiando as populações localizadas em seu entorno, garantindo a sustentação dasatividades agrícolas e abastecimento.

O Rio Piranhas, objeto deste estudo, é um afluente do Paraguaçu, localizado na seção média dabacia do Paraguaçu, região de Itaberaba e como tantos outros, afluentes tem sofrido ações predatóriascomo desmatamento das matas ciliares, despejos de esgotos domésticos, hospitalar e industrial semqualquer tipo de tratamento, necessitando com urgência de políticas públicas mais eficazes para aproteção desses mananciais.

Neste sentido este trabalho pretende analisar o nível de antropização da bacia do rio Piranhasvisando identificar possíveis impactos negativos ambientais e possíveis proposições deequacionamento dos mesmos.

1http://www.eco.unicamp.br/nea/agua/rechid.html

Page 126: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

126

2.OBJETIVOS

Objetivo Geral

Analisar os impactos ambientais negativos na qualidade das águas da bacia do Rio Piranhas,município de Itaberaba decorrentes da antropização da bacia.

Objetivos Específicos

- Caracterizar a bacia do Rio Piranhas quanto aos aspectos ambiental e sócio econômicos;- Identificar possíveis impactos ambientes existentes de origem antrópica.

3.ABORDAGEM METODOLÓGICA

O método de pesquisa empregado para nortear a pesquisa na bacia de contribuição do RioPiranhas consistiu de duas etapas. Na primeira etapa realizou-se a pesquisa bibliográfica dedocumentos, mapas cartográficos e hidrogeológicos, dados meteorológicos da região e o PlanoDiretor de Recursos Hídricos - Bacia do Médio e Baixo Paraguaçu (1996), e de dados secundáriosgerados por entidades com atuação na área de conhecimento estudada, tais como Empresa Baiana deÁguas e Saneamento S.A. – EMBASA, Instituto de Gestão das Águas e Clima–INGÁ e Secretaria Municipalde Saúde. Outros dados foram extraídos da bibliografia.

Em uma segunda etapa realizou-se um levantamento de campo, para a pesquisa empírica, pormeio de consulta a usuários para obtenção dos seguintes dados: tipos de usos, histórico do rioprincipal, comparação das condições nos últimos dez anos.

As entrevistas foram realizadas com populações ribeirinhas e responsáveis técnicos da Embasa.Para complementar as informações levantadas realizou-se através de observação direta “in loco”para verificar as condições da bacia por meio de registro fotográfico dos principais problemasobservados.

Page 127: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

127

2http://www2.uerj.br/ambiente/destaque/artigo_lagoa.htm3http://www.rededasaguas.org.br/bacia/bacia_01.asp4http://www.rededasaguas.org.br/bacia/bacia_01.asp5http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-208.htm

4.REVISAO DE LITERATURA

4.1. Considerações Gerais

No âmbito nacional, a lei n° 9.433/97, conhecida como Lei das Águas, coloca o Brasil entre ospaíses de legislação mais avançada do mundo no setor de recursos hídricos. Entre os principaisaspectos a serem observados nessa nova legislação destacam-se: a) a água é um bem de domíniopúblico e possui valor econômico; b) a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implantação daPolítica Nacional de Recursos Hídricos; c) a gestão sistemática dos recursos hídricos deve ser executadasem dissociação dos aspectos de quantidade e qualidade; d) busca-se a integração de recursos hídricoscom a gestão ambiental; e) deve ser promovida a articulação do planejamento de recursos hídricoscom usuários e com os planejamentos regional, estadual e nacional; f) as bacias hidrográficas, ossistemas estuários e as zonas costeiras devem ser geridos de forma integrada; e g) os comitês debacia hidrográfica estão sendo criados tendo como área de atuação a totalidade de uma baciahidrográfica ou de um grupo de bacias ou sub-bacias contíguas.

Esses novos conceitos e metodologias de gestão geram processos de mudanças institucionaise sociais que certamente necessitam de análises mais profundas. Um dos aspectos a ser consideradoé a própria definição, em termos conceituais, de bacias hidrográficas. Além disso, os atuais divisorestopográficos definidos nos conceitos de bacias hidrográficas diferem naturalmente dos limitespolítico-administrativos: municipais, estaduais e até mesmo federais, podendo servir comocomplicadores das negociações a serem desenvolvidas no âmbito desta unidade.

Segundo a lei n° 9.433/97, dois domínios foram estabelecidos para os corpos d’água brasileiros:(i) o domínio da União, para os rios ou lagos que banhem mais de uma unidade federada ou entre oterritório do Brasil e o de país vizinho; e (ii) o domínio dos estados, para águas subterrâneas e para aságuas superficiais, fluentes, emergentes e em depósito no território de um único estado2.

Constitui-se uma bacia hidrográfica o conjunto de terras drenadas por um rio principal, seusafluentes e subafluentes. A idéia de bacia hidrográfica está associada à noção da existência denascentes, divisores de águas e características dos cursos de água, principais e secundários, denominadosafluentes e subafluentes3.

Uma bacia hidrográfica evidencia a hierarquização dos rios, ou seja, aorganização natural por ordem de menor volume para os mais caudalosos, quevai das partes mais altas para as mais baixas.

As bacias podem ser classificadas de acordo com sua importância, comoprincipais (as que abrigam os rios de maior porte), secundárias e terciárias;segundo sua localização, como litorâneas ou interiores4.

As bacias hidrográficas apresentam-se como unidades fundamentais para o planejamento douso e conservação ambiental e mostram-se extremamente vulneráveis as atividades antrópicas5. Adegradação causada pelos desmatamentos desordenados, o uso irracional do solo pela agricultura,pastoreio, obras civis, etc, associada aos fenômenos naturais de precipitação, como os verificadosnas regiões tropicais, resulta, num curto espaço de tempo, quantidades de solo (sedimento) quechegam aos rios e reservatórios, muito maiores que aquelas produzidas em centenas de anos emcondições de equilíbrio natural.

Page 128: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

128

4.2. Transporte de Sedimentos

A quantidade de sedimentos transportada pelos rios, além de informar sobre as característicase ou estado da bacia hidrográfica, é de fundamental importância para o planejamento e aproveitamentodos recursos hídricos de uma região, seja para análise da viabilidade da utilização da água paraabastecimento ou irrigação, ou para o cálculo da vida útil de reservatórios.

Os sedimentos soltos existentes numa bacia hidrográfica passíveis de serem transportados pelasenxurradas para dentro das calhas dos rios e reservatórios, originam-se dos diferentes processos erosivos.

O constante crescimento da população mundial certamente provoca um aumento da liberaçãode sedimentos devido à expansão urbana. A exposição prolongada do solo durante a fase de urbanizaçãoeleva as taxas de erosão para cerca de 500 toneladas/hectare/ano. Mas, esse crescimento populacionalimplica, também em um aumento da demanda d’água para múltiplos propósitos e deste modo é necessárioum gerenciamento mais rigoroso dos recursos hídricos.

A quantidade de sedimentos, disponível em toda a bacia hidrográfica, que a curto, médio oulongo prazo, total ou parcial chegará aos cursos d’água naturais e aos reservatórios, não pode serdesprezada no gerenciamento dos recursos hídricos. Infelizmente, no Brasil, devido aos custos elevados, arede sedimentométrica é precária ou inexistente em algumas regiões. Portanto, quando é necessárioconhecer o impacto da presença dos sedimentos em corpos d’água, utiliza-se de poucas medidas, nãorepresentativas, ou se utiliza processos de estimativas, tais como: equações de estimativa da perdade solo na bacia; ou de equações de transporte de sedimentos nos cursos d’água (Coiado, 2001)

.4.3. Meio Ambiente

Outro impacto significativo da ação antrópica, segundo o Plano diretor de Recursos Hídricos(1996) é a disposição indevida de resíduos sólidos sobre o solo, às margens de cursos d’água, ou seudescarte diretamente nos mananciais, podendo causar alterações significativas na qualidade daságuas, além de contribuir para a erosão das margens e obstrução das seções de escoamento.

O lixo depois de decomposto produz um líquido de mau cheiro chamado chorume que é produzidonaturalmente durante o processo de decomposição dos resíduos. O chorume pode alcançar osmananciais superficiais e subterrâneos resultando na sua contaminação.

Na medida em que os agrupamentos populacionais se tornam mais adensadoshá a intensificação natural das atividades produtivas e mudança nos padrõesculturais e higiênicos, proporcionando o aumento do consumo “per capita” deágua, e, naturalmente, o incremento da vazão dos efluentes gerados, assimcomo a concentração da carga orgânica poluidora, num determinado espaçofísico (PDRH, 1996).

É, então, de suma importância o controle de lançamento de efluentes para garantir água dequalidade para os diversos usos, como abastecimento humano, dessendentação animal, irrigação,pesca e lazer.

O uso racional da água disponível já não constitui mais uma questão desobrevivência humana ou de proteção do meio ambiente em geral, mas umacondição básica e fundamental para superar os níveis de pobreza que afligemgrande parte da população baiana, principalmente a residente no semi-árido,e alcançar uma boa qualidade de vida, em condições de sustentabilidade.

É necessário conscientizar a todos, do pequeno ao grande usuário, de que orecurso hídrico é um bem escasso e que deve ser usado racionalmente, dando-se solução aos problemas de escassez, não só pelo aumento da oferta mas,principalmente, pela redução das perdas, pela otimização das eficiências, pelareutilização e pela gestão das demandas e evitando-se a degradação de suaqualidade (PERH-BA, 2004, p. 100).

Page 129: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

129

Portanto, o uso racional dos recursos hídricos objetiva um desenvolvimento que se baseia emuma sustentabilidade perante o meio ambiente, sobretudo, na preservação dos mananciais de água.

5.CARACTERIZAÇÃO DA BACIA

5.1. Aspectos Sociais e Econômicos do Município de Itaberaba

O município de Itaberaba é distante 266km da capital, está localizado no centro-leste do estadoda Bahia, na encosta da Chapada Diamantina, possui uma área de 2.357,19km , altitude média de 265me coordenadas geográficas 12°31’39" de latitude e 40°18’25" de longitude (SEI, 1999). Segundo dadosdo IBGE, a população estimada em 2005 foi de 62.201 habitantes.

A região de Itaberaba, semi-árido baiano, é um importante centro regional, com destaque nocomércio local, tendo a indústria moveleira a pecuária e a agricultura como principais fontes deemprego e renda com destaque para a cultura do abacaxi, a principal atividade agrícola municipal dosúltimos anos. É uma região marcada por graves problemas sociais, sendo que a irregularidadepluviométrica é o principal fator desestruturante da economia. As atividades socioeconômicas daregião dependem da chuva e com a falta desta, há uma redução nos investimentos, levando milharesde pessoas a viverem em condições subumanas.

Os indicadores sociais desta região indicam para a situação de exclusão social, as desigualdadesinterpessoais de renda se agravam fortemente. Muitas famílias vivem em situação crítica, com rendaper capta mensal abaixo da linha de pobreza, embora o município apresente Índice de DesenvolvimentoHumano (IDH) médio segundo a classificação do PNUD (2000). O IDH que vem melhorando nos últimosanos em razão do desenvolvimento do cultivo do abacaxi. Entretanto, de acordo com informações doIBGE (2002), Itaberaba apresenta uma situação ruim em nível de Brasil, ocupando a 3.964a posição, emrelação ao Índice de IDH, isto significa que 72% dos municípios brasileiros estão em situação melhor(Tabela 01).

TABELA 01: Índice Desenvolvimento Humano Municipal Para Itaberaba.

Fonte: IBGE (2000).

Page 130: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

130

5.2. Recursos Hídricos

A bacia de contribuição do Rio Piranhas é formada basicamente por rios intermitentes, isto é, sópossuem vazão nos períodos chuvosos, destacando-se os rios Santo Antônio e Santa Isabel. O processode ocupação, principalmente pela pecuária extensiva, causou profundas alterações ambientais,reduzindo a vazão nos leitos dos rios Santa Isabel, Espírito Santo e outros tributários da sub-baciaque só possuem água no período das chuvas a exemplo do riacho do Feijão que teve seu cursointerrompido pelo processo de urbanização da cidade.

O Rio Piranhas é um confluente do Rio Capivari e este, o segundo afluente em importância parao Rio Paraguaçu. É um rio genuinamente itaberabense, apresentando como confluentes os rios SantaIsabel e Espírito Santo. Literaturas divergem quanto à localização da sua nascente sendo consideradoneste estudo o barramento do Açude Juracy Magalhães como origem da bacia hidrográfica.

Segundo o historiador regional Epitácio Pedreira de Cerqueira, (2003, p. 64):O Açude Juracy Magalhães foi construído sobre o Rio Piranhas, no localconhecido de antanho por cachoeira da Prata, com pedras enormes, como asque se apresentam em seus flancos, à semelhança de uma estranha cidadela.

(...) O rio Piranhas sempre teve água um tanto salobre, mas esta propriedadeacentuou-se com a construção da represa, aumentando a percentagem de saisde iodo em dissolução, tornando-se imprestável mesmo para construções ouserviços de lavandaria.

A área de drenagem aproximada da bacia do Rio Piranhas é de 400km , tendo o comprimento doleito principal 30km. A densidade de drenagem encontrada foi de 0,075km/km que corresponde bemabaixo do mínimo que é da ordem de 0,5km/km (Vilella & Matos, 1975), sendo considerada, portanto,com área de drenagem muito pobre. A declividade média de 0,002m/m. A referida bacia possui umaaltitude máxima de 274m, media de 230m e mínima de 220m. Portanto, segundo Strahler citado porVilella & Matos, 1975. p.15, a classificação do Rio Piranhas é de quarta ordem em forma de leque.

5.3. Clima

Itaberaba possui clima semi-árido com estação seca no inverno e estação chuvosa distribuídaentre os meses de novembro a março, representando em torno de 64% do total da precipitação anual,considerando que a pluviosidade média anual do município é de aproximadamente 760mm. Atemperatura média anual gira em torno de 24,6°C (BAHIA, 1996).

Os dados meteorológicos apresentados na tabela 02 são provenientes das estações presentesna área da bacia de contribuição do Rio Piranhas.

Page 131: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

131

TABELA 02 – Estações meteorológicas na bacia de contribuição do Rio Piranhas

Fonte: ANEEL, 2001.

De acordo com dados meteorológicos obtidos na estação de Itaberaba (Tabela 03), localizada naárea de maior influência da bacia de contribuição do Rio Piranhas por apresentar fatores climáticosde maior representatividade por encontrar-se mais próximo da área em estudo. Na referida estaçãoencontram-se os valores médios mensais de temperatura, evapotranspiração potencial e real, precipitação,deficiência hídrica e excedente, informações de suma importância para o planejamento das atividadesagrícolas, principalmente à agricultura irrigada.

O déficit hídrico e os altos índices de evapotranspiração potencial são alguns dos aspectosimportantes que devem ser considerados no planejamento agrícola.

Page 132: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

132

TABELA 03 – Balanço hídrico mensal e anual. Município: Itaberaba. Estação: Itaberaba. Período: 1961-1990. Altitude: 250m.Latitude 12º33’. Longitude: 40º26’. CAC: 50mm. Tipologia climática: Kaoppen-BSwh; Thornthwaite e Mather-DdA’ a’ (semi-árido).

Fonte: SEI, 1999.

Gráfico 01 – Balanço hídrico segundo o método de Thornthwait e Mather

Page 133: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

133

5.4 Solos

Pode-se encontrar na sub-bacia do Rio Piranhas a predominância de uma classe de solo, denominadaluvissolos (Brasil, 1981; Embrapa, 1999 apud Águas da Bahia, 2005), que compreendem solos mineraisnão hidromórficos, com horizonte B textural ou B nítico, apresentando em sua constituição elevadosteores de minerais primários facilmente decomponíveis que se tornam fontes de nutrientes para asplantas (BAHIA, 1996).

5.5. Vegetação

A vegetação encontrada na área da bacia do Rio Piranhas é Floresta Estacional Semidecidual eDecidual, e as matas Ciliares. A área em estudo encontra-se bastante antropizada, o que tem contribuídopara o desequilíbrio dos ecossistemas vegetais. O desmatamento predatório, seguido das queimadas para formação de pastagens (pecuária extensivae capineiras irrigadas) e áreas destinadas ao cultivo de abacaxi, banana, e outras culturas desubsistência como o milho e o feijão e a utilização das terras de forma inadequada, desrespeitando aLei Florestal n° 4771/65, em seu artigo 2°, diz que a largura mínima das faixas marginais consideradasáreas de preservação permanente é de 50 metros para cursos d’água entre 10 e 50m de largura.

Figura 01 – Plantação de milho na margem do Rio Piranhas Figura 02 - Área desmatada para implantação de pastagem

Page 134: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

134

6.QUALIDADE AMBIENTAL DA ÁREA

6.1. Saneamento Básico

O sistema integrado de captação de águas para abastecimento da região de Itaberaba é feito norio Paraguaçu pela Embasa, abrange 96.424 pessoas, atendendo os municípios de Itaberaba, Ruy Barbosa,Macajuba e Baixa Grande, o que corresponde a 23.947 ligações com vazão 140l/s.

Segundo as informações obtidas junto a Embasa (ago/2006), o município de Itaberaba possui15.772 ligações. Os serviços organizados de esgotamento sanitário são praticamente inexistentes nomunicípio, refletindo a situação de quase todos os municípios da Bacia do Paraguaçu, sendo queapenas 846 domicílios dispõem de sistema de tratamento de esgotos, que correspondem a 9.842mdo volume coletado e tratado, tendo como corpo receptor o rio Piranhas. Vale salientar que tanto oesgoto tratado como o bruto, que corresponde a aproximadamente 95% do volume total são despejadosdiretamente na calha principal do rio.

A falta de tratamento do esgotamento sanitário da área de estudo constitui um dos mais gravesproblemas ambientais, provocando a poluição e contaminação de mananciais superficiais e subterrâneos,além de possibilitar a proliferação de ratos e insetos transmissores de doenças infecto-contagiosa(Tabela 04).

TABELA 04: Principais doenças de veiculação hídrica.

Fonte: Christofidis, 2001.

Page 135: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

135

6.2. Disposição de Resíduos Sólidos

Em 1996 (PDRH), o município de Itaberaba possuía aproximadamente 54.000 habitantes e gerava22 toneladas de lixo doméstico. Atualmente, com uma população em torno de 65.000 pessoas a situaçãoencontra-se mais crítica: a disposição do lixo é feita de forma descontrolada e sem obediência às técnicasnecessárias, contribuindo com a degradação sob o ponto de vista do aspecto estético e da proliferação deroedores e insetos transmissores de doenças.

7.QUALIDADE DAS ÁGUAS

O Rio Piranhas possui águas salobras, propriedade que se acentuou com a construção do AçudeJuracy Magalhães. Uma das maiores fontes de poluição da bacia do Rio Piranhas ocorre pelas aglomeraçõesurbanas através do lançamento de despejos domésticos sem tratamento.

O clima semi-árido da área em estudo faz com que quase todos os cursos d’água dessa regiãoapresentem um regime hidráulico intermitente impossibilitando a permanência de vazões constantesprovocando, conseqüentemente, menor capacidade de diluição e maior susceptibilidade a alteraçãodos padrões de qualidade das águas.

Para efeito de classificação das águas da bacia do Rio Piranhas, baseada na determinação CONAMA357/2004, que é feita através de uma escala gradativa de qualidade e possui cinco níveis: classeespecial, I, II, III e IV sendo a especial a de melhor qualidade e a IV a de pior qualidade. Cada classe definecomo a água pode ser utilizada. As águas de classe II, por exemplo, se destinam ao contato primário ea irrigação de hortaliças e plantas enquanto que nas águas classe IV não deve haver contato direto.

O enquadramento realizado em 1996, no Rio Paraguaçu, a jusante da confluência com os riosCapivari e Piranhas, indicou que nesse trecho as águas se apresentavam dentro dos limites recomendadospara a classe II à exceção do parâmetro fósforo total, que se apresentava com índice dez vezes superior aofixado. Os indicadores de contaminação por matéria orgânica levavam a conclusão de que apesar dacontribuição por esgotos os níveis de demanda bioquímica de oxigênio (0,7mg/IDBO) e nitrogênioamoniacal (0,12mg/l N.NH3)demonstravam boa capacidade de diluição. Desconhece-se um levantamentomais atualizado sobre a qualidade dessas águas.

O que pode ser observado “in loco”, principalmente na área urbana a presença de lixo, esgotamentosanitário diretamente no curso do rio sem tratamento, água turva, mau cheiro acentuado e a presençade macrófitas.

Figuras 03 e 04 – Água poluída na área urbana.

Page 136: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

136

Figura 05 – Presença de animais dentro do esgoto do Donana, efluente do Rio Piranhas.

O fenômeno do acúmulo de plantas aquáticas no curso do rio é um problema que tem se tornadofreqüente em decorrência de dois fatores preponderantes: lançamento de esgoto sanitário não tratado ebaixa velocidade decorrente de restrição hídrica.

Figura 06 – Presença de baronesas no leito do rio.

Page 137: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

137

7.1. Usos da Água na Bacia

A dessendentação animal, a irrigação de capineiras e o abastecimento humano caracterizam-secomo principais usos da água na zona rural (Tabela 05).

TABELA 05: Principais atividades/usos da água na bacia.

7.2. Ações Antrópicas

As ações antrópicas de maior impacto na bacia são lançamento de despejos domésticos semtratamento, diretamente na calha principal Rio Piranhas; Presença de lixo em seu leito na área urbana.

Na zona rural, a supressão da mata ciliar para implantação de pastagens provoca a degradaçãodas margens, provocando o carreamento de solo nos períodos de chuvas torrenciais e,consequentemente, o seu assoreamento.

As atividades agrícolas, tais como o plantio de capineiras irrigadas, a abacaxicultura e outrasculturas de subsistência sem utilização de técnicas adequadas próximo às margens do rio tambémvem causando danos significantes.

Outro problema observado é a retirada em larga escala de areia para uso na construção civil,ocasionando sua degradação.

Page 138: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

138

8.RESULTADOS E SUGESTÕES

8.1. Melhoria da qualidade das águas

A construção de sistemas de tratamentos de esgotos urbanos é de fundamental importânciapara a conservação dos recursos hídricos em padrões de qualidade compatíveis com a sua utilização.

8.2. Controle do assoreamento

Medidas corretivas e preventivas devem ser adotadas através da criação de um programa demanejo e conservação dos solos urgente, a fim de reduzir o processo de degradação na bacia.

8.3. Recuperação de áreas degradadas

Recuperação da vegetação das APP’s (Áreas de Preservação Permanente), devendo serpriorizadas àquelas que sofreram com o desmatamento para ampliação das pastagens, principalmente,nas áreas de nascentes, ao redor de lagoas ou reservatórios d’água, topos de morros e matas ciliares.

A prevenção e controle das queimadas, aliada a um programa de reflorestamento utilizandoespécies nativas cumprem importante função na recuperação ambiental da bacia em áreas de nascentes eao longo de suas margens com impactos positivos na preservação dos pequenos riachos, narecomposição da flora e na atração da fauna silvestre.

8.4. Programa de educação ambiental

Criação de um programa de educação ambiental, envolvendo o poder público, usuários da água,instituições de ensino, jovens e crianças (futuros formadores de opinião). O programa deve abranger,ainda, a capacitação dos agricultores para um manejo racional de suas propriedades.

8.5. Fiscalização ambiental

É necessário que os órgãos de fiscalização ambiental atuem com mais rigor no cumprimento dalegislação em benefício do meio ambiente. A fiscalização é essencial para o sucesso do plano degestão sustentável da bacia.

Page 139: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

139

9.CONCLUSÃO

O aumento na degradação da qualidade da água observado na bacia do Rio Piranhas está associadoaos diversos impactos causados pelas ações antrópicas na bacia hidrográfica. As ações antrópicassobre a natureza, obedecendo a um modelo de desenvolvimento econômico, têm sido freqüentementerealizadas de um modo incompatível com a capacidade de suporte ambiental. A retirada da mata ciliar,atividades agrícolas como fontes difusas de poluição, a retirada de areia para uso na construção civil,ocupação desordenada da população contribuindo para o despejo de esgotos domésticos sem qualquerforma de tratamento são algumas das atividades que contribuem para o assoreamento e a eutrofizaçãodo referido rio.

Segundo dados levantados pelo PDRH6, o Rio Piranhas em 1996 era caudaloso, com boa capacidade dediluição de efluentes sendo então enquadrado como rio de classe II. Atualmente, com o crescimentodesordenado da população, o rio em estudo só corre em períodos de chuvas fortes e em seu percursona área urbana são lançados efluentes sem nenhum tratamento observando-se também grandequantidade de lixo jogado no leito contribuindo para que o mesmo não apresente as mesmascaracterísticas da época do estudo do PDRH.

Esse quadro confirma, de forma eminente, a necessidade de um tratamento de esgoto maiseficiente para a atual e futura demanda, com urgência na adoção de medidas efetivas não somenterelacionadas ao efluente urbano, mas também ao controle das atividades de pecuária, agricultura,desmatamento (redução da capacidade de retenção de sedimentos e conseqüente assoreamento dorio), construção civil (controle da extração de areia), urbanização nas margens do rio.

Em Itaberaba não existem organismos de bacia ou de usuários de água, nem Conselho de MeioAmbiente. Tais entidades representariam um ponto de partida para uma boa negociação da alocaçãode água e de recursos entre setores interessados. A Fundação Paraguaçu, com sede em Itaberaba járealizou algumas reuniões a fim de discutir os problemas do rio Piranhas chegando inclusive a fazerum movimento envolvendo alunos de escolas municipais, estaduais e particulares dando um abraçosimbólico no rio. No entanto, não conseguiu sensibilizar o poder público para as potencialidades queeste representa para o município.

Seria essencial a gestão integrada e sustentável da Bacia do Rio Piranhas, a criação de umaOrganização de Usuários de água que pudesse planejar e decidir as ações a serem executadas, buscandosua recuperação e melhor utilização do corpo d’água. Essa entidade teria importante papel nosprocessos de intervenção junto ao Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Paraguaçu, já implantado na região.

6Plano Diretor de Recursos Hídricos

Page 140: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

140

REFERÊNCIAS

ÁGUAS DA BAHIA. Recursos Hídricos: estudos e aplicações. Superintendência de Recursos Hídricos.Salvador, 2005.

BAHIA. Secretaria de Recursos Hídricos, Saneamento e Habitação. Plano Diretor de Recursos Hídricos:

Bacia do Médio e Baixo Paraguaçu. Salvador: Latin Consult, 1996.

BERNARDO, Salassier; SOARES, Antônio Alves; & MANTOVANI, Everardo Chartuni. Manual de Irriga-

ção. UFV. Viçosa, 2005.

BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Secretaria de Recursos Hídricos. Recursos Hídricos: con-

junto de normas legais. Brasília: MMA, 2004.

CERQUEIRA, Epitácio Pedreira de. Pedra que Brilha. EGBA. Salvador, 2003.

CARRERA-FERNANDEZ, José; & GARRIDO, Raymundo-José. Economia dos Recursos Hídricos. EDUFBA.Salvador, 2002.

<http://www.eco.unicamp.br/nea/agua/rechid.html>. Acesso em: 26 ago. 2006.

<http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-208.htm> Acesso em: 27 set. 2006.

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2614> Marcos César Botelho

edição nº 54 (02.2002) - tamanho 102 Kb - elaborado 07.2000. Acesso em: 27 ago.2006.

<http://www.sei.ba.gov.br/sei/resposta.wsp?tmp.cbmun.mun=2914703>. Acesso em: 13 ago. 2006.

<http://www.unesco.org.br/noticias/releases/wwr/mostra_documento>. Acesso em: 26 ago.2006.

COIADO, Evaldo Miranda. Produção, transporte, e Deposição de Sedimentos. In: PAIVA, João BatistaDias de & PAIVA, Eloiza Maria Cauduro Dias de. (Org.). Hidrologia Aplicada à Gestão de Pequenas

Bacias. Porto Alegre: ABRH, 2001. p. 280.

PEREIRA, Antonio Roberto; ANGELOCCI, Luiz Roberto; & SENTELHAS, Paulo César.Agrometeorologia: fundamentos e aplicações práticas. Livraria e Editora Agropecuária LTDA. Guaíba/RS, 2002.

PLANO ESTADUAL DE RECURSOS HÍDRICOS DO ESTADO DA BAHIA-PERH. SEMA/INGÁ. Salvador.Fevereiro, 2004.

PLANO DIRETOR DE RECURSOS HÍDRICOS. Bacia do Médio e Baixo Paraguaçu. GOVERNO DO ESTA-DO DA BAHIA/Secretaria de Recursos Hídricos Saneamento e Habitação/Superintendência de Re-cursos Hídricos. Salvador, 1996. Vol. VI -Documento Síntese.

SILVA. Demetrius David da. & PRUSKI, Fernando Falco. Gestão de Recursos Hídricos: aspectos legais,

econômicos, administrativos e sociais. UFV/ABRH. Viçosa/Porto Alegre, 2005.

TUCCY, Carlos E. M. Hidrologia: ciência e aplicação. UFRGS/ABRH. Porto Alegre, 2004.

VILLELA, Swami Macondes & MATTOS, Arthur. Hidrologia Aplicada. Editora McGraw-Hill do BrasilLTDA. São Paulo, 1975.

Page 141: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

141

ANEXO

Anexo 01 – Bacia do Rio Piranhas

Page 142: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

142

Page 143: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

143

RESUMOAvaliou-se a variação do potencial total da água em um latossolo amarelo álico coeso, ao longo do tempo e em seis

sistemas de preparo do solo com o cultivo da mandioca (Manihot esculenta Crantz). O experimento foi conduzido noCentro Nacional de Pesquisa de Mandioca e Fruticultura Tropical (CNPM/Embrapa). Os tratamentos utilizados foram: T1= subsolagem + arado de aiveca; T2 = subsolagem + arado de disco; T3 = subsolagem + grade aradora; T4 = subsolagem+ grade leve; T5 = arado de aiveca e T6 = arado de disco. Através da tensiometria, foi determinado o potencial matricial daágua no solo e, depois, calculado o potencial total da água no solo. Este, em diferentes sistemas de preparo, nãoapresentou grandes diferenças, especialmente no período chuvoso. Contudo, nos períodos de secamento do solo, ostratamentos T2 e T1 e os tratamentos T5 e T6 tenderam a permanecer por mais tempo com potenciais mais altos e maisbaixos, respectivamente. Ao longo do tempo, as variações ocorridas foram mais em função das precipitações pluviais. Ostratamentos subsolados tenderam a uma maior produção de mandioca.

Palavras chave: Preparo do solo, potencial da água, •gTabuleiros•h costeiros.

ABSTRACTTo evaluate the variation along time of total soil water potential in yellow alic latosol with cohesion under six

management soil systems growed with cassava ( Manihot esculenta Crants), an experiment was carried out at theNational Research Center on Cassava and tropical Fruit Crops ( CNPMF/ EMBRAPA) at Cruz das Almas, State of Bahia,Brazil. The treatments were the following: T1= subsoiling + mould-board; T2 = subsoiling + ploing; T3= subsoiling +harrowing; T4 = subsoiing + light harrowing; T5 = mould-board and T6 = plowing. The soil water matric potential measuredwith tensiometers and then the total soil water potential was calculated from it. The different soil managementsystems did not affect total soil water potential, even under raining periods. However, the treatments T2 and T1 and thetreatments T5 and T6 showed the tendency to maintain a higher and lower total soil water potential, respectively. Thevariations occurred to be a function of rains. Subsoiling treatments tended to provide increased yield on cassava, withexception of treatment T4.

Keyword: soil tillage, water potential, coast •gtabuleiro•h

VARIAÇÃO DO POTENCIAL TOTAL DA ÁGUAEM UM LATOSSOLO AMARELO ÁLICOCOESO, AO LONGO DO TEMPO E EMDIFERENTES SISTEMAS DE PREPARO

Patrícia Pereira Mota Fonseca([email protected])

Mestra em Ciências Agrárias( UFBA), especialista em Gestão de Recursos Hídricos (UFBA).Enga Agrônoma (UFBA). especialista em Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Coordenaçãode Planejamento em Recursos Hídricos (INGÁ)

José Antonio de Oliveira Fonseca([email protected])

Licenciado em Geografia (FAMAM), pós-graduando em Gestão Ambiental (FAZAG); professorde Geografia do Colégio Imaculada Conceição em Conceição do Almeida (CNEC)

Page 144: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

144

Page 145: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

145

1.INTRODUÇÃO

Para uma dada espécie vegetal, a produtividade final é função, dentre outros fatores, das condiçõesclimáticas e edafológicas, ou seja, da disponibilidade de água, temperatura, luz e nutrientes, emépocas e quantidades adequadas. Mesmo com todas as demais condições otimizadas, a falta ou excessode água é o fator limitante da produção agrícola de maior ocorrência na região tropical.

A precipitação pluvial é a principal fonte de fornecimento de água para o sistema solo-planta-atmosfera;quando essa fonte cessa, o solo passa a ser o reservatório temporário de água para a planta.

A água é retida no solo devido a fenômenos de capilaridade e adsorção. A capilaridade tem maiorimportância na retenção de água no solo na faixa úmida, próximo à saturação, quando os poros seapresentam razoavelmente cheios de água. Quando o solo inicia o secamento, os poros vão se esvaziandoe filmes de água recobrem as partículas sólidas; nestas condições, o fenômeno de adsorção passa adominar a retenção de água (BAVER, 1966; FORSYTHE, 1975; PORTELA et al. 2001).

Muitos fatores afetam a capacidade de retenção de água de um solo. O principal deles é agranulometria, pois esta determina diretamente a área de contato entre as partículas sólidas e a águae as proporções de poros de diferentes tamanhos. A estrutura do solo também afeta a retenção deágua, pois ela determina o arranjo das partículas sólidas que, por sua vez, vai determinar a distribuição detamanho de poros.

A umidade, por si só, não determina a disponibilidade de água para o vegetal pois, para umamesma condição de umidade, a depender do tipo de solo e, em função disto, do estado de energia emque a água esteja retida, haverá uma maior ou menor disponibilidade de água. Assim, o estado deenergia da água no solo é, provavelmente, a propriedade mais importante do solo para o desenvolvimentodas plantas; este estado de energia é avaliado através da medida do potencial total da água no solo.

Os dois parâmetros básicos do binômio água-solo são o teor de água no solo e seu estado deenergia. Eles são interdependentes, podendo oscilar dentro de amplos limites, variando basicamentepelas características físicas do solo, ou seja, pela influência da textura, estrutura, da distribuição dostamanhos dos poros, da adsorção e do estado de energia da água no solo (KIEHL, 1979; HILLEL, 1998;REICHARDT, 2004).

Os solos dos gtabuleirosh costeiros baianos, objetos deste estudo, caracterizam-se de umamaneira geral como profundos, distróficos, álicos, têm baixa CTC, pouca diferenciação morfológicade horizontes e presença freqüente de horizontes coesos (RIBEIRO, 1991).

O manejo de água no solo visa mantê-lo em condições ótimas no que se refere à disponibilidadede água durante todo o ciclo da cultura. O manejo deve ser adequado para cada condição desolo-clima-cultura e aí entram em jogo vários parâmetros do solo que o influenciam. Estesparâmetros do solo são principalmente aqueles que afetam o sistema como um reservatório de água(TUCCI, 2006).

Admite-se que a presença de horizontes coesos nos solos de gtabuleirosh sugere sistemas demanejo diferentes dos usualmente empregados, a fim de reduzir os efeitos negativos destes horizontessobre o componente solo na produção agrícola.

Os sistemas de preparo modificam a estrutura do solo, principalmente na superfície, influenciandona dinâmica da água no perfil, pois interferem na taxa de infiltração, na redistribuição e evaporação daágua e, conseqüentemente, na água armazenada; portanto, afetam a capacidade do solo em manterágua na forma disponível, provocando alterações no potencial total da água no solo.

O presente trabalho tem como objetivo avaliar a variação do potencial total da água em umlatossolo amarelo álico coeso, ao longo do tempo, em seis sistemas de preparo e, assim, poder selecionarcom mais eficiência as práticas de manejo que mantenham a disponibilidade de água para as plantaspor um maior período de tempo durante o ciclo da cultura.

Page 146: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

146

2.REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 O potencial total da água em solo não saturado

O potencial total da água no solo é o trabalho que numa quantidade unitária de água em umsistema solo-água em equilíbrio, localizada num certo nível, é capaz de fazer em relação à água noestado padrão, mas localizada no nível de referência (LIBARDI, 2000).

Segundo Footh (1978) a energia potencial da água no solo varia dentro de amplos limites, sendoas diferenças de energia potencial entre dois pontos a causa determinante da tendência da água fluirdentro do solo. É universal e espontânea a tendência, na natureza, de os corpos se transferirem de umponto de maior energia para outro de menor energia. Conforme Brady (1989) e Hillel (1998) a água nosolo segue a inclinação natural e universal para o equilíbrio, movendo-se constantemente para ospontos em que a energia potencial esteja em decréscimo.

Para definir o estado de energia da água no solo é necessário considerar a influência dos diferentespotenciais, como o potencial osmótico, o potencial de pressão, o potencial gravitacional e o potencialmatricial. O potencial total da água no solo é a soma de todos estes potenciais. Contudo, para cadasituação do sistema, a importância de cada um é relativa, assumindo maior ou menor importância(REICHARDT, 2004).

Assim, para o solo não saturado, o potencial osmótico e de pressão não são considerados, poisnão há presença de membrana semi-permeável e nem existe água livre no sistema. O potencialgravitacional diminui a sua importância à medida que o solo perde umidade e, neste caso, o potencialmatricial vai aumentando de importância até que, para o solo bem seco, o potencial matricial épraticamente o responsável pela energia total da água.

Para Hillel (1998) a sucção mátrica ou potencial matricial da água no solo resulta das forçasadsortivas e da capilaridade que atuam no solo, que são oriundas das interações que ocorrem entre asforças coesivas e adesivas que se desenvolvem dentro e entre as fases do solo. A capilaridade resultada tensão superficial da água e de seu ângulo de contato com as partículas sólidas.

Para um maior teor de água no solo, a capilaridade é quem comanda a sucção da água; assim,neste estado, o potencial matricial praticamente está em função do arranjo e das dimensões dosporos. Contudo, para menores umidades, os poros não se encontram cheios de água e a adsorçãopassa a comandar o potencial matricial; neste caso o fenômeno estará em função do tamanho,quantidade e qualidade das partículas do solo.

2.2. Fatores que interferem no potencial total da água no solo

O potencial total da água no solo está em função de vários fatores. O principal deles é agranulometria, que determina a área de contato entre as partículas sólidas e a água e, ainda, determina asproporções de poros de diferentes tamanhos. A estrutura é outro fator que exerce grande influênciano potencial total da água no solo, pois ela determina o arranjo das partículas que, por sua vez, vaideterminar a distribuição de tamanho de poros (YOSHIDA, 1991; REICHARDT, 1996; HILLEL, 1998;SOUZA e PAIVA, 2001).

A granulometria, que determina a textura, é característica para cada tipo de solo, não podendoser modificada facilmente pelas práticas de manejo; contudo, a estrutura nos horizontes superficiaisé uma característica dinâmica, sofrendo modificações com o tempo e, principalmente, pelo manejo dosolo. A compacidade também modifica a estrutura do solo, influenciando no conteúdo e na transmissão daágua no perfil e, conseqüentemente, no potencial total da água no solo (BAVER, 1966 ; CAMARGO eALLEONI,1997; RICHART et al., 2005).

Page 147: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

147

Estudos realizados por Ribeiro (1991) sobre a gênese dos solos coesos da região de Cruz dasAlmas, levaram a concluir que vários processos podem estar interagindo para a formação dos volumescoesos, como a translocação de argila, a contração e a expansão da massa do solo e a dinâmica doscompostos húmicos da matéria orgânica que, talvez, seja um dos processos que parece interferirbastante, pois provoca a degradação das estruturas argilosas, com conseqüente liberação de sílica,alumínio e ferro, causando a obstrução dos poros do solo.

Independente da causa da compacidade do solo, o seu efeito reflete-se diretamente sobre oespaço poroso, afetando sensivelmente o potencial da água no solo e, conseqüentemente, a sua dinâmica;ocorrendo modificações na estrutura do solo, pela compacidade, havendo modificações no movimentoda água. Isto porque, o volume de água que flui por um tubo na unidade de tempo é proporcional àquarta potência do raio. Como a compacidade diminui a quantidade de poros grandes, ela terá influênciamuito grande na transmissão de água (CAMARGO e ALLEONI, 1997).

As práticas de manejo visam melhorar as características físico-hídricas do solo, a fim de eliminar osfatores limitantes de crescimento e desenvolvimento das plantas no sistema, influenciando destaforma na dinâmica da água e, conseqüentemente, no potencial total da água no solo.

2.3 Influência do manejo do solo no potencial total da água

O preparo do solo é considerado como uma operação agrícola básica que, de uma forma geral,pretende manejar as características físico-hídricas do solo. São muito complexas as interações entreas características do solo e os processos que envolvem o estado e o movimento da água no solo, naplanta e na atmosfera, especialmente quando diversos processos ocorrem simultaneamente (HILLEL,1998; REICHARDT, 2004).

Como os processos que regem as propriedades hídricas do solo são complexos e dinâmicos, oestudo destas propriedades pode levar a uma quantidade de resultados às vezes conflitantes entreuma localidade e outra e, ainda, em diferentes tempos no mesmo lugar.

Inúmeros trabalhos têm sido conduzidos no sentido de avaliar a influência das práticas demanejo nas características físico-hídricas do solo. Saraiva et al. (1981), conduzindo um experimentopara verificar a influência da cobertura vegetal nas propriedades hídricas de um latossolo amarelo,ou seja, nas perdas de solo e água, verificaram que o tratamento onde o solo ficou descoberto todo operíodo, apresentou maiores perdas de solo e de água. Os autores sugeriram que a provável explicaçãotinha sido a maior degradação e selamento superficial provocado pela ação do impacto das gotas dachuva, diminuindo as taxas de infiltração e aumentando a evaporação de água no solo.

Depois de sete anos de pesquisa em latossolo roxo, Derpsch et al. (1991) observaram diferençasna retenção de água em função do preparo do solo, principalmente nas camadas de O a 10 cm e de 10a 20cm.. Eles sugeriram que, devido à maior proporção de microporos, o solo sob plantio direto tinhauma capacidade de retenção de água nitidamente superior. Os autores observaram ainda que, apósperíodos relativamente curtos, já não havia mais água disponível nas profundidades de O a 10cm e de10 a 20cm no preparo convencional, e que no plantio direto a disponibilidade de água permaneceu pormais tempo.

Oliveira (1979) e Dadalto (1983) citados por Fontes (1984) comparam sistemas de manejo emdiferentes solos, incluindo a subsolagem, e foram unânimes com referencia à drástica redução daporosidade total nos solos submetidos a cultivos, diminuindo a taxa de infiltração nas camadassuperficiais dos solos.

Contudo, Yoshida (1991) estudando o efeito de sistemas de preparo em latossolo vermelho escuro,incluindo desde o preparo mínimo até a subsolagem, nas propriedades físico-hídricas, após dois anosobservou que, com relação à retenção de água, não houve diferenças significativas em função do tipode preparo do solo.

Estudos realizados por Hulugalle et al. (1991) em quatro sistemas de cultivo, preparo e nãopreparo do solo com e sem •gmulch•h, mostraram que não houve diferenças significativas nos

Page 148: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

148

diferentes sistemas de preparo em um podzólico bruno acinzentado, tanto em relação à variação daporosidade total, quanto à retenção de água; foi observado também que, no tratamento onde não foifeito o preparo do solo, houve um decréscimo na percentagem de macroporos e um aumento napercentagem de microporos, porém as diferenças não foram significativas.

Vyn & Rhimbault (1993) trabalhando quinze anos com milho, utilizando cinco sistemas de preparo dosolo (S1 = arado de aiveca + gradagem; S2 = arado de disco + gradagem; S3 = arado de aiveca; S4 =gradagem + arado de aiveca; S5 = não preparo do solo), não encontraram diferenças nas propriedadesfísico-hídricas do solo, evidenciando que os sistemas de preparo do solo necessitam de períodosprolongados para mostrar diferenças. Porém, fatores climáticos, como radiação e precipitação pluvial,mostram algumas alterações passageiras no solo, ou seja, as mudanças têm duração em função dotempo do fenômeno climático.

Ohiri & Ezumah (1990) também não encontraram diferenças significativas nos sistemas depreparo convencional, preparo mínimo e sem preparo do solo, para as características físico-hídricasde um podzólico vermelho amarelo e rendimento de mandioca. Os autores observaram também que,no sistema de preparo mínimo do solo, houve um crescimento retardado da mandioca no início doexperimento, atribuindo, para tal, à maior densidade do solo neste sistema e não à umidade do solo.

Independentemente do valor da tensão da água no solo, os valores de água retida e de porosidadelivre de água, em geral, não apresentaram diferenças significativas no que se refere ao tipo de sistemade cultivo empregado, variando, entretanto, em função do tempo de cultivo, principalmente nas camadassuperficiais (VALE , 1986; DERPSCH et al. , 1991; SANTOS et al., 2001).

Embora as variações do estado de energia da água no solo em determinado período de temposeja uma das propriedades mais importante para avaliar o comportamento hídrico de um solo e, destaforma, poder melhor selecionar as práticas de manejo que levem a um aproveitamento da água maiseficiente para as plantas, poucos trabalhos têm sido conduzidos com o intuito de avaliar estaspropriedades, especialmente no latossolo amarelo álico coeso, justamente onde uma das grandeslimitações é a compacidade, que compromete sensivelmente a dinâmica da água e, conseqüentemente, ospotenciais totais da água no solo.

Page 149: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

149

3.MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Área experimental

O experimento foi conduzido na EMBRAPA/CNPMF, destinada ao cultivo de mandioca, no Municípiode Cruz das Almas, Bahia, localizado na bacia hidrográfica do Paraguaçu. O clima é tropical quente eúmido, apresenta pluviosidade média anual de 1.200mm, sendo os meses de março a agosto os maischuvosos e setembro a fevereiro os mais secos. A temperatura média anual de 24,2‹C e o balançohídrico apresenta uma evapotranspiração potencial de 1.328mm anuais, sendo que de junho a agostoencontram-se os meses de excedentes hídricos e de outubro a março os meses de déficits (RIBEIRO,1991).

O solo da área foi classificado como latossolo amarelo álico, textura franco argilo-arenosa,apresentando horizontes subsuperficiais coesos e relevo plano. Trata-se de um solo bastanteprofundo, desenvolvido sobre as rochas sedimentares da formação Capim Grosso e de baixa fertilidadequímica (EMBRAPA, 1993).

A área experimental de 1,42 ha foi dividida em seis blocos, com dimensões de 15m x 158m (2370m2), onde foram aplicados os tratamentos (Tabela 01). Cada tratamento foi dividido em três quadrascom 50m x 15m (750m2) de dimensões. Em cada quadra foi instalado um tensiômetro que foramavaliados durante o período de um ano.

TABELA 01. Identificação dos tratamentos.

A subsolagem foi efetuada quatro meses antes do plantio da mandioca, no período ainda seco naregião (março), enquanto que os demais preparos do solo foram feitos próximo ao plantio. Utili-zou-se o subsolador da marca DMP, com três hastes, no espaçamento de 0,80 m entre hastes e naprofundidade de 0,50m.

A cultura instalada no presente estudo foi a mandioca (Manihoz esculentaCrantz), utilizando-seduas variedades: a BGM 109 (Olho de porco) e BGM 282 (Aipim manteiga).

O plantio da mandioca foi realizado dois meses após a incorporação da leguminosa feijão deporco (Canavalia ensiformes), ou seja, em julho, em fileiras duplas, em sulcos de aproximadamente 10cm de profundidade e no espaçamento de 3,0m x 0,50m x 0,50m, nos diferentes sistemas de preparodo solo.

Page 150: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

150

3.3. Medição em campo3.3.1. Potencial da água

O potencial matricial da água foi determinado através das leituras de tensiômetros, construídoscom tubos de PVC com 0,5 polegadas de diâmetro. Uma das extremidades foi vedada com rolha deborracha e a outra com a cápsula porosa.

Os valores obtidos de altura da coluna de mercúrio (hHg), da distância da superfície do solo aonível do mercúrio na cuba (hc) e da distância da superfície do solo à profundidade da cápsula (hz),foram utilizados nas fórmulas:

ƒ m = - 12,6 hHg + hc + hz (1)ƒ t = - 12,6 hHg + hc (2)

A equação (1) foi utilizada para o cálculo do potencial mátrico da água (ƒ m) e a equação (2) parao cálculo do potencial total (ƒ t), ambos em cm de coluna de água.

3.4. Precipitação pluvial

A precipitação pluvial foi obtida no posto agrometereológico do CNPMF (EMBRAPA), situadopróximo à área experimental (Figura 01).

4.RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o período total de avaliação, ocorreram vários ciclos de umedecimento e secamento(Figura 02) O comportamento dos tratamentos em relação à tensão da água no solo não reveloudiferenças aparentes, especialmente no período chuvoso; contudo, com o secamento do solo, ostratamentos tenderam para um comportamento diferenciado e os tratamentos não subsolados (T5 e T6)alcançaram mais rapidamente tensões mais altas, ou seja, menores potenciais.

Page 151: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

151

Analisando-se a Figura 03, que revela a variação do potencial total nos tratamentos no períodocompreendido entre 0 e 50 dias, observa se que os potenciais variaram de -450cm de água atéaproximadamente -750cm de água. No final do período houve uma maior freqüência de chuvas e ospotenciais aumentaram para em torno de -120 cm de água. O T2 teve um comportamento diferenciadodos demais, pois seus potenciais se mantiveram em torno de -500cm de água, diminuindo um poucopara -600cm de água e, no final do período, ficou com o potencial próximo ao dos demais tratamentos.

Como foi um período de poucas chuvas, pode-se notar maiores diferenças entre os tratamentos,verificando-se que o T2 demorou mais tempo para atingir menores potenciais.

No período de 45 a 100 dias (Figura 04), o comportamento dos tratamentos em relação àtensão da água no solo foi bem parecido, principalmente até 75 dias, onde houve uma freqüência dechuvas de maior intensidade, exceto o T5 que demonstrou menores potenciais. Depois do tempo de 75dias, os tratamentos passaram a ter um comportamento diferenciado, pois o T6 diminuiu mais rapi-damente seus potenciais; o T5, até o tempo de 85 dias, foi o que ficou com potenciais mais altos e, apartir deste tempo, diminuiu rapidamente seus potenciais, com o T2 passando a ter os maiores poten-ciais, sendo que no tempo de 91 dias choveu em torno de 20mm e o T4 ficou com o maior potencial.

Page 152: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

152

Neste ciclo (45 - 100 dias) pode-se evidenciar também um secamento rápido deste solo pois,após ter chovido quase 70mm, passando vinte dias praticamente sem chover, os potenciais diminuíram de-130cm de água até quase -600cm de água, e o T6 foi quem revelou menores potenciais mais rapidamente.Este secamento rápido é um comportamento típico deste solo em estudo, em decorrência provavelmentede sua estrutura apresentar um agrupamento cerrado das partículas, ou seja, a coesão, o que diminuia quantidade de água infiltrada, favorecendo um maior acúmulo de água superficialmente e aumentandoas perdas de água por evaporação.

Pode-se observar que a variação dos potenciais entre os tratamentos foi um pouco confusa pois,no primeiro período (0-50 dias), o T2 ficou praticamente todo o período com os maiores potenciais.

O comportamento hídrico do solo é extremamente variável, principalmente levando em conside-ração a textura e a porosidade do solo Reichardt (2004), variando também com o tempo e o local. Osprocessos que regem o movimento da água no solo, além de complexos, são dinâmicos. Porém,principalmente no primeiro ano de cultivo, os sistemas de preparo do solo podem não provocarmodificações definidas, podendo ser uma das razões do comportamento observado nos tratamentos,neste trabalho.

No período de 95 a 140 dias (Figura 05), os tratamentos evidenciaram potenciais semelhantesapós uma chuva de 36mm, ocorrida aos 98 dias. Observa-se que, neste período, o T2 permaneceu pormais tempo com os potenciais maiores, exceto o T6 que se destacou com os potenciais menores.Nota-se que o T2 sempre está com uma tendência para ficar com potenciais mais altos por um períodomaior, enquanto o T6 demonstrou um comportamento inverso, ou seja, permanecer por um maiorperíodo com potenciais menores.

Page 153: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

153

Segundo Aguiar Neto et al. (1988) e Santos (1992) nos latossolos dos gtabuleirosh costeirosbaianos, a presença da camada coesa a 15cm de profundidade, e em alguns casos mais próxima dasuperfície, representa um problema de perdas de água com grande risco de erosão hídrica, poiso sub-horizonte Ap, em condições de chuvas intensas, satura-se com facilidade.

Pode-se observar este comportamento no solo, ou seja, um umedecimento e um secamentorápido, sendo que o T2 permitiu uma entrada e saída de água mais lenta em decorrência, possivelmente,deste tratamento ter resultado numa estrutura do solo que, numa fase inicial, retardou a infiltraçãoda água no solo e, numa fase posterior, retardou também a evaporação.

Um melhor meio de conservar a umidade do solo contra a evaporação é levar a água a entranhar-setão profundamente quanto possível, favorecendo um maior tempo para ocorrência da redistribuiçãoda água (HILLEL, 1998).

No período compreendido entre 145 dias a 180 dias (Figura 06), período praticamente sem cho-ver, pode-se notar um secamento mais rápido e uniforme. Possivelmente, a demanda hídrica atmosfé-rica estava alta, favorecendo uma maior evaporação e, conseqüentemente, houve um secamento maisrápido.

Mesmo os tratamentos não tendo um comportamento regular e uniforme ao longo dos váriosperíodos considerados, pode-se verificar que o T2 permaneceu por mais tempo com potenciais maiores e,depois deste tratamento, o T1 foi quem demorou mais tempo com potenciais maiores. Por outro lado,o T5 e o T6 tiveram uma tendência para alcançar mais rapidamente os potenciais menores, ou seja,com o secamento do solo, os potenciais diminuíam mais rapidamente; nestes tratamentos não foiefetuada a subsolagem, ficando o solo com uma baixa permeabilidade, saturando mais facilmente oshorizontes superficiais, o que favoreceu uma maior evaporação. O T3 e o T4, mesmo subsolados,tiveram um comportamento mais parecido com T5 e T6, não subsolados, em relação à retenção deágua; possivelmente, a grade aradora e a grade leve revolveram o solo mais superficialmente e, destaforma, a água infiltrou em menor profundidade, o que favoreceu maiores perdas por evaporação.Entretanto, estas diferenças não foram grandes.

Estes resultados concordam com os obtidos por Ohiri e Ezumah (1990), Hulugalle et al. (1991),Vyn e Rhimbault (1993), Souza et al. (2001) e Santos et al. (2001), nos quais eles concluíram que osefeitos de sistemas de preparo do solo precisam de tempo mais prolongado para evidenciar diferençasaparentes em relação, especialmente, às propriedades hídricas do solo.

Tem-se que levar em consideração que as diferenças não foram grandes e as variações forammais em decorrência das precipitações pluviais. De uma maneira geral, pode-se notar que, quando aprecipitação pluvial foi inferior a 5mm, os potenciais da água não foram alterados, independente dos

Page 154: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

154

valores dos potenciais estabelecidos em qualquer tratamento. No entanto, quando choveu em diasconsecutivos e os somatórios das precipitações ultrapassaram 10mm, os potenciais foram influenciados,independente do valor do potencial.

Com chuvas entre 5 e 10mm de precipitação, os potenciais aumentaram quando estavam comvalores menores que -400cm de água, havendo uma exceção no tempo de 161 dias onde, mesmo comvalores próximos a -500cm de água, o potencial não foi alterado.

Observou-se, também, que as chuvas entre 10 e 15mm foram efetivas nas alterações dospotenciais de água no solo quando suas medidas de tensão estavam abaixo de -350cm de água.Chuvas entre 15 e 20mm aumentaram os potenciais quando os seus valores estavam abaixo de -100cmde água, e chuvas acima de 20mm aumentaram os potenciais quando estavam abaixo de -70cm deágua.

Quando a água no solo apresenta altos potenciais, implica que praticamente todos os poros dosolo estão com água e, para manter os poros cheios, é preciso um fornecimento grande de água, poisa água retida nos macroporos apresenta-se com uma baixa retenção, drenando-se facilmente; assim,uma chuva de grande intensidade pode não influenciar nos potenciais, ou seja, pode não ser suficientepara manter os macroporos cheios e solo ficar com os potencias altos.

Os valores das precipitações pluviais, durante o período de condução do experimento, estãoapresentados na Figura 01. Pelos dados apresentados, nota-se que as precipitações pluviais foraminconstantes e irregulares. O mês que choveu mais foi dezembro, com um total de 131 mm; porém, aschuvas foram concentradas, pois em apenas um dia choveu 59 mm. Nos meses de maio e junho choveu102,2m e 125,3mm, respectivamente; contudo, houve uma melhor distribuição das chuvas. Nos mesesde janeiro e julho choveu um pouco acima de 50mm, enquanto que nos demais meses choveu menosde 50mm.

Como a água que infiltrou no solo foi oriunda das precipitações pluviais e seu processo deredistribuição depende de fatores como características do solo e intensidade de chuvas, analisando-seos dados referentes à precipitação pluvial pode-se inferir que este período de estudo não favorávelem termos de quantidade e distribuição de chuvas.

A rápida perda de água do solo sugere a necessidade de práticas de manejo tais como coberturas dosolo, especialmente culturas com o sistema radicular agressivo que ajude na agregação do solo, a fimde minimizar tal problema.

A média da produção da mandioca no tratamento T1 foi de 9,61 t/ha, no T3 foi de 9,33, no T2 foi de7,89, no T5 foi de 7,02, no T4 foi de 5,67 e no T6 foi de 5,14 t/ha. Pode-se observar que houve umatendência de os tratamentos subsolados produzirem mais que os não subsolados, exceto o T4. Asubsolagem promoveu alterações na estrutura do solo, possivelmente melhorando a porosidade dosolo, favorecendo uma menor resistência mecânica, o que permitiu, provavelmente, um maiordesenvolvimento radicular da mandioca, com conseqüente maior aproveitamento de água e nutrientes.Estes resultados concordam com os obtidos por Weatherly e Dane (1979) e Richardt et al. (2005).Observou-se que T5 teve uma tendência para um comportamento parecido com os tratamentossubsolados em relação à produção de mandioca; possivelmente, o uso do arado de aiveca conseguiupromover um bom rompimento da camada coesa. Para Mazuchowski e Derpsch (1984) a principalvantagem do arado de aiveca é que se consegue uma melhor penetração no solo, especialmente emcondições adversas, como é o caso do solo com compacidade.

Foi observado em campo que a área disturbada pela subsolagem apresentou uma quantidadegrande de torrões, e que a grade leve não foi eficaz para o rompimento destes torrões. Notou-se queo arado de aiveca e a grade aradora foram os mais eficientes para a realização do quebramento destestorrões, pois favoreceram maiores produções.

Mesmo o T2 aparentando uma maior freqüência de potenciais mais altos por um maior período,produziu abaixo do T1 e T3, podendo-se inferir que a mandioca tolera uma faixa mais ampla de potencial.Contudo, os dados obtidos sugerem que o impedimento físico do solo é mais eficiente para reduzir odesenvolvimento da mandioca.

Page 155: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

155

5.CONSIDERAÇÕES FINAIS

O potencial total da água no solo, em diferentes sistemas de preparo, não apresentou grandesdiferenças, especialmente no período chuvoso; contudo, nos períodos de secamento do solo, ostratamentos T2 (subsolagem + arado de disco) e T1 (subsolagem + arado de aiveca) tenderam apermanecer mais tempo com potenciais mais altos, enquanto o T5 (arado de aiveca) e o T6 (arado dedisco) tenderam para um comportamento oposto, ou seja, ficar por mais tempo com os potenciaismenores.

Ao longo do tempo, as variações ocorridas foram mais em função das precipitações pluviais,onde chuvas com menos de 5mm não foram efetivas para aumentar os potenciais totais da água nosolo, enquanto as chuvas acima deste valor foram efetivas a depender da tensão em que a água estavaretida.

Os tratamentos subsolados tenderam para uma maior produção de mandioca, exceto o T4(subsolagem + grade leve).

AGUIAR NETO, A. de O.; NACIF, P.G.S; REZENDE, J. de O. Caracterização morfológica e física hídricade solos representativos do Recôncavo Baiano. I Determinação da capacidade de campo •gin situ•he suas relações com dados obtidos em laboratório. Cruz das Almas, BA: UFBA, Escola de Agronomia,1988.

BAVER, L.D. Soil physics 3.ed. New York: John Willey and Sons, 1966.

BRADY, N.C. Natureza e propriedade dos solos. Tradução de Antônio B. Neira Figueredo.7. ed. Rio deJaneiro : Freitas Bastos, 1989.

CAMARGO, O. A.; ALLEONI,L. R. F. Compactação do solo e desenvolvimento de plantas.Piracicaba, S.P.:ESALQ, 1997.

DERPSCH, R.; ROTE, C. H.; SIDIRAS, N. Controle da erosão no Paraná, Brasil; sistemas de coberturado solo, plantio direto e preparo conservacionista do solo. Paraná: IAPAR, 1991..

EMBRAPA. Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos (Rio de Janeiro, RJ.). Levanta-mento detalhado dos solos do Centro Nacional de Pesquisa de Mandioca e Fruticultura Tropical,Cruz das Almas, Bahia. Cruz das Almas, BA: EMBRAPA - CNPMF, 1993. 126p. (EMBRAPA - CNPMF.Boletim de Pesquisa, v. 7).

FONTES, H. R. Efeito de sistemas de manejo de solo sobre o desenvolvimento de coqueiros(Cocos

nuciferaL.) em areia quartzosa marinha. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 1984. 8lp. (Disser-tação de Mestrado)

FOOTH, H.D. Fundamentals of soil science. 6.ed. New York: John Willey and Sons, 1978.

FORSYTHE. W. Física de suelos; manual de laboratório. San José, Costa Rica: IICA. 1975.

HILLEL, D. Environmental Soil Physics. New York: Academic Press, 1998.

HULUGALLE, N.R.; LAL, R.; GICHURU, M. Effect of five years of tillage and mulch on soil propertresand tuber yield of cassava on an acid Ultisol in southeastern Nigéria. IITA RESARCH, Ibadan, Nigéria,v.1, n.2, 1991.

KIEHL, E.J. Manual de edafologia. São Paulo: Ceres, 1979.

LIBARDI, P.L. Dinâmica daÁgua no solo. 2 ed. Piracicaba, SP: ESALQ, 2000.

MAZUCHOWSKI, J.Z., DERPSCH, R. Guia de preparo do solo para culturas anuais mecanizadas.Curitiba: ACARPA, 1984.

OHIRI, A.C.; EZUMAH, H.C. Tillage effects on cassava (Manihot esculenta) production and some soilproperties. Soil & Tillage Research, Amsterdan, v.17, n.2, 1990.

Page 156: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

156

PORTELA, J. C.; LIBARDI, P.L.; VAN LIER, Q. de J. Retenção da água em solo sob diferentes usos noecossistema Tabuleiros Costeiros. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental. CampinaGrande, v.5, n.1,2001.

REICHARDT, K . Dinâmica da matéria e da energia em ecossistemas. 3.ed. Piracicaba: FundaçãoCargill, 1996.

_____________. Solo, Planta e atmosfera. Conceitos, Processos e Aplicações. Baruem: Manole. 2004.

RICHART, A.; TAVAES FILHO,J.; BRITO, O. R.; LLANILLO, R.F.; FERREIRA, R. Compactação do solo:causas e efeitos. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v.26, n.3, jul/ set. 2005

RIBEIRO, L.P. Primeiras avaliações sobre a gênese dos horizontes coesos dos Latossolos do RecôncavoBaiano. Revista Universitária, Salvador, 1991.

SARAIVA, O.; COGO, N.P.; MIELNICZUK, J. Erosívidade das chuvas e perdas por erosão em diferentesmanejos de solo e coberturas vegetais. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.16, n.l, jan. 1981.

SANTOS, D.M.B. Efeitos da subsolagem mecânica sobre a estrutura de um solo de •gtabuleiro•h(latossolo amarelo álico coeso) no município de Cruz das Almas-Bahia (caso 2). Salvador: IJFBA,1992. ( Dissertação de Mestrado).

SANTOS, A. C.; ANDRADE, A. P.; SILVA, I. F.; AZEVEDO, G. A. Variabilidade Temporal da Precipitação doAlgodoeiro Herbáceo em Diferentes Sistemas de Manejo de Solo e de Adubação Nitrogenada. Pes-quisa Agropecuária Tropical. Brasília, v.36, n.2. 2001.

SOUZA, L. da S.; PAIVA, A. Q. Variação do potencial total da água em uma topossequência de solos detabuleiro, durante dois anos. Pesq. Agropec. Bras. v.36, n.2. Brasilia. fev. 2001

TUCCI, C.E.M.; MENDES, C.A.B. Avaliação ambiental integrada de Bacias Hidrográficas. Ministériodo Meio Ambiente e PNUD (Projeto PNUD).Brasília, DF, 2006.

VALE, R.C. Características físico-bídricas dos solos na estação experimental de Utinga.Salvador:EPABA, 1986, 8p. (Boletim de pesquisa, v. 6).

VYN, T.J.; RHIMBATJLT, B.A. Long term effect of five tillage systems on com response and soil structure.Agronomy Journal, Madison, v.85, n.5, sep/oct. 1993.

WEATHERLY, A.B.; DANE,J.H. Effect of tillage on soil-water movement during com growth. Soil ScienceSociety of America Journal, Madison, v.43, n.6, 1979.

YOSHIDA, D. Efeitos de dois sistemas de cultivo em algumas propriedades físicas do solo. ífica,Jaboticabal, v 19, n.1, 1991.

Page 157: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

157

A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL EM ÁREAS DEPRESERVAÇÃO PERMANENTE DA BACIA DORIO PASSA VACA (Salvador – BA)

Ricardo Acácio de Almeida([email protected])

Licenciado em geografia (Ufba), estagiário do setor de Geoprocessamento (Cotic/INGÁ).

RESUMOAtualmente, diversos ambientes no meio rural ou urbano são afetados pela degradação sob diferentes formas e

finalidades. Tal intervenção prejudica os setores considerados essenciais à manutenção e à preservação do sistemaambiental no qual o local está inserido. A bacia do Rio Passa Vaca, como muitos outros sistemas, está sofrendointervenções, como a construção de prédios, condomínios e clubes em locais onde deveria haver matas ciliares.

Palavras-chave: Área de preservação permanente, bacia hidrográfica, conservação do sistema ambiental.

ABSTRACTCurrently, different environments in urban or rural areas are affected by degradation under different shapes and

purposes. Such interventions affect the sectors considered essential maintenance and preservation of the environmentalsystem in which the local inserted. The Passa Vaca watershed, as many other systems, is suffering interventions suchas construction of buildings, condominiums and clubs in places which should be the riparian zones.

Keywords: Field permanent preservation, watershed, environmental system.

Page 158: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

158

Page 159: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

159

1.INTRODUÇÃO

A legislação brasileira apresenta diversos parâmetros no uso dos recursos naturais de modosustentável a fim de possibilitar uma harmonia entre o crescimento urbano, sob a forma de constru-ções de prédios, casas, asfalto e calçamentos das ruas, como também o uso e ocupação do meiochamado de rural, através de plantações e criação de animais.

As áreas de entorno das águas superficiais estão inseridas numa unidade de planejamento ouplano ambiental de conservação (bacia hidrográfica) e amparadas pela legislação federal e estadual,como a Lei Federal n° 4.771/65, que institui o Código Florestal; a Resolução Conama 302, que dispõesobre os parâmetros, definições e limites de área de preservação permanente de reservatórios artifi-ciais e o regime de uso do entorno; a Resolução Conama 303, sobre parâmetros, definições e limitesde áreas de preservação permanente.

No caso da bacia hidrográfica em estudo, foram analisadas as áreas que estariam sob a proteçãoda legislação ambiental e, no entanto, é permitida a alteração do meio natural por meio ças ambientaisemitidas com base na Resolução Conama 237, a Lei Estadual n° 7.799/01, que institui a Política Estadu-al de Administração dos Recursos Ambientais e dá outras providências, exemplo. locais, atualmente,estão sendo ocupados por condomínios, escolas e clubes, impedindo qualquer pretensão para o de-senvolvimento sustentável na unidade de planejamento deste estudo, a bacia hidrográfica.

Page 160: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

160

2.OBJETIVOS

- Espacializar as áreas de preservação permanente que margeiam o Rio Passa Vaca e alguns deseus afluentes;

- Analisar algumas características geoambientais por meio do perfil longitudinal do rio princi-pal;

- Comentar o uso e a ocupação em áreas de preservação permanente, correspondentes às matasciliares do rio, à luz das legislações federal e estadual que amparam a sua conservação;

3.ÁREA DE ESTUDO

A Bacia do rio Passa Vaca pertence à bacia do Rio Jaguaribe, segundo os estudos ambientaispara o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) e a Secretaria de Planejamento (Seplan),valendo ressaltar que sua inclusão à bacia do Rio Jaguaribe é para fins de planejamento, já que amesma é uma bacia distinta. Está localizada entre as coordenadas S 12° 58 e 12° 56, W 38° 24 e 38° 25,possuindo uma área de 3,76 quilômetros quadrados (Figura 01). O curso principal nasce em Canabrava,próximo à sede da Chesf, tendo afluentes até quarta ordem, segundo a classificação de Strahler(1952), havendo alternância de canais intermitentes e perenes para seus afluentes numa composiçãosubparalela dendrítica de forte controle estrutural. Possui uma forma alongada em um relevomamelonado, coberto pelos remanescentes de floresta ombrofila densa encontrados na cidade. Ca-racteriza-se por topos planos, com áreas, como as nascentes da bacia, chegando a 63 metros de altura.Está sobre o alto da falha de Salvador, numa região denominada Cinturão Granulítico Atlântico (CGA),que compõe o embasamento regional constituído de migmatitos, gnaisses kinzigiticos, gnaisses,quartzo-feldspaticos, granitos e anfibolitos oriundos do Arqueano e Paleoproterozóico, além da pre-sença de falhas, fraturas e foliações. No seu alto e médio cursos, está inserido no planalto costeiro. Obaixo curso é marcado pela planície litorânea, que se compõe de areias quaternárias litorâneasselecionadas com conchas marinhas, tendo a presença de resquícios de manguezal com algumasespécies da Rhizophora Manglee espécies alóctones delimitado entre os condomínios. Tal limite deestudo, nos dias atuais, possui modificações fisiográficas oriundas de inúmeras alterações que ocor-rem na região metropolitana de grandes cidades. Modificações na paisagem que têm, a cada dia, sidoresponsáveis pela redução da área de captação da bacia, alteração do canal, volume hídrico,desmatamento das encostas e modificações nas formas de relevo, alterando, enfim, o estadomorfológico da sub-bacia.

Page 161: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

161

Figura 01 - Área de Preservação Permanente do Rio Passa Vaca (Salvador –BA) 2007Elaboração: ALMEIDA, Ricardo A .

Page 162: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

162

4.ESTRATÉGIA METODOLÓGICA

A partir do software Arc Gis 9.2, foi realizada a espacialização correspondente à área de preser-vação permanente do curso principal e afluentes do Rio Passa Vaca, na qual, segundo a ResoluçãoConama 303, designa o rio principal uma largura de trinta metros para fins de conservação. Tambémfoi traçado o perfil longitudinal do rio integrado, com o auxílio das cartas topográficas da Conder naescala de 1:8.000, e associado a outras características geoambientais da área de estudo.

5.ANÁLISE DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DORIO PASSA VACA

A bacia hidrográfica do Rio Passa Vaca, para um melhor estudo, foi dividida em três partes, apartir do perfil longitudinal do curso principal do rio em alto, médio e baixo cursos, na qual todas asáreas estão inseridas na mesma classificação quanto à legislação relativa à área de preservaçãopermanente, com ressalvas ao manguezal e às suas nascentes, que devem ser delimitados egeorreferenciados para a contemplação do estudo.

No alto curso, o rio principal apresenta em suas encostas, com ângulos entre 28°e 29º. No médiocurso, encontram-se encostas de ângulos entre 11° 12°, aproximadamente. O baixo curso, uma áreamais plana, com ângulos abaixo de 10o. Esta inserida na planície litorânea de 0 a 10 metros de altitude(Figura 02).

Figura 02 – Perfil Morfofitogeológico do Rio Passa VacaElaboração: Almeida, R. A .

O Rio Passa Vaca, a jusante, apresenta uma largura entre 8 a 9 metros, que, segundo a ResoluçãoConama 303, designa como área de preservação permanente a faixa marginal, medida a partir do nívelmais alto, em projeção horizontal, uma largura mínima de trinta metros para os cursos d•fágua commenos de dez metros de largura. Atualmente, o gabarito de verticalização da orla marítima de Salva-dor está sendo discutido, no entanto, pode-se observar construção de prédios com mais de trinta e

Page 163: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

163

um metros (Figura 03). Tais obras civis, muitas vezes, estão inseridas em áreas de preservação perma-nente, que antes eram locais de mata ciliar do rio, cuja importância é fundamental na prevenção daerosão das encostas, na preservação dos recursos hídricos, na estabilidade geológica, fluxo gênico dafauna e flora e o assoreamento.

Figura 03- Prédio no baixo curso do Rio Passa Vaca

6.A OCUPAÇÃO DA BACIA

A bacia do Rio Passa Vaca está numa região onde há um grande crescimento e valorizaçãoimobiliária. Em 2002, mais de dezoito por cento (18,6%) de sua área estava ocupada por casas, clubese escolas, verificando-se lugares que serão áreas estratégicas de infiltração (Figura 04). Porém, umdos principais impactos ambientais negativos verificados consiste na construção de empreendimen-tos em áreas de preservação permanente do curso principal do Rio Passa Vaca, que vem causandouma degradação ambiental significativa. Tais ocupações são resultado, muitas vezes, da liberação dolicenciamento ambiental estabelecido pela Resolução Conama 237, que afirma, em seu Artigo 2°, quelocalização, construção, instalação, ampliação, dentre outros fatores considerados efetivamentepoluidores, dependerão de prévio licenciamento do órgão ambiental competente, e, no caso dos em-preendimentos da bacia, enquadram-se no anexo de obras civis. Este argumento, também está presen-te na Lei Estadual n° 7.799/01, no Artigo 38. Tendo em vista tal reflexão, as ocupações na bacia são

Page 164: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

164

potencialmente degradantes do meio ambiente (Lei n° 7.799/01) e, conseqüentemente, causam danosaos recursos ambientais.

Figura 04 – Canteiro para infiltração da bacia

Page 165: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

165

7.RESULTADOS

Verifica-se que o grande crescimento de imóveis no bairro de Patamares, especificamente, naárea correspondente à bacia do Rio Passa Vaca, tem contribuído para a impermeabilização,desmatamento dos resquícios de mata atlântica existentes na cidade de Salvador e matas ciliares docurso principal e afluentes do Rio Passa Vaca.

8.DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

A degradação ambiental para fins de ampliação do espaço urbano é algo comum no País. Namedida em que a cidade se urbaniza, ocorre o aumento da capacidade de escoamento e aumento daprodução de sedimentos, devido à falta de proteção das superfícies, à produção de resíduos sólidos(lixo) e à deteriorização da qualidade da água. Infelizmente, um consenso dentre várias metrópoles doBrasil. A grande questão concentra-se nas teorias sistêmicas que enxergam o meio natural como umsistema interligado e na nova visão ambientalista, nos dias atuais, que propõe um uso mais adequadodo meio natural rumo ao chamado desenvolvimento sustentável, que, mesmo sendo umas das pala-vras mais comentadas na atualidade, não impede que ainda existam projetos para a construção deempreendimentos sem uma concepção adequada para a conservação do sistema natural existenteantes da construção dos imóveis, como é o caso da ocupação da bacia do Rio Passa Vaca. Ao mesmotempo em que existe uma legislação que ampara a preservação de algumas áreas fundamentais paraa manutenção dos recursos ambientais, como a Lei Federal n° 4.771/65, as resoluções Conama 302 e303 e lei Estadual n° 7.799/01, como também projetos da Prefeitura Municipal de Salvador, através deuma iniciativa de gestão integrada, cria-se um paradoxo frente ao uso indiscriminado das licençasambientais concedidas, que permitem a ocupação em locais essenciais à manutenção do sistema debacia hidrográfica.

Page 166: Gestão de Recursos Hídricos - seia.ba.gov.br£o de Recursos... · altas ou pressões baixas o vapor d'água é o estado estável ... Isso ocorre porque, além de ... as águas fluviais

166

REFERÊNCIAS

Almeida & Puentes (2007). Estudos preliminares da sub-bacia do rio passa vaca (salvador-ba). I Simpósiode Geografia Física do Nordeste: Ambiente e Ordenamento Territorial no Nordeste Brasileiro. Crato(CE). Disponível em : http://www.urca.br/main . Acessado em: 10/06/07.

Barbosa et al (2004). Mapa Geológico de Salvador na escala de 1:8.000.

CENTRO DE RECURSOS AMBIENTAIS, (2002). Licenciamento ambiental passo a passo no estado daBahia: normas e procedimentos. Cadernos de Referência Ambiental v.10, Salvador (p.13).

Lei Federal 4.771, de 15 de setembro de 1965 (Atualizada em 06.01.2001). Institui o novo Código Flores-tal.

Lei Estadual 7.799, de 07 de fevereiro de 2001. Institui a Política Estadual de Administração dos Recur-sos Ambientais e dá outras providências. Diário Oficial do Estado da Bahia, Salvador, BA, 08 fev. 2001.Seção 1, v.85, n.17612, p.11.

Resolução Conama 302, de 20 de março de 2002. Dispõe sobre os parâmetros, definições e limites deÁreas de Preservação Permanente, de reservatórios artificiais e o regime do uso do entorno.

Resolução Conama 303, de 20 de março de 2002. Dispõe sobre parâmetros, definições e limites deÁreas de Preservação Permanente.

Strahler (1952). Hypsometric analyis of erosional topography. Geol. Soc. American Bulletin, p.1117-1114.

SALVADOR (BAHIA), (2006), Bacias Hidrográficas no Município de Salvador: Iniciativas de GestãoIntegrada, Superintendência do Meio Ambiente.

V & S Engenharia Consultores S/C (2000). Alphaville e Urbanismo L.T.D.A. Diagnóstico Ambiental daárea do empreendimento. RIMA 0040/047:504.3