gestão da drenagem urbana na bacia hidrográfica do rio itajaí açu

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    Trabalho de Concluso de Curso

    GESTO DA DRENAGEM URBANA NA BACIAHIDROGRFICA DO RIO ITAJA-AU

    Fabiane Andressa Tasca

    Orientador

    Professor Doutor Csar Augusto Pompo

    2012-1

    Universidade Federal de Santa Catarina UFSC

    Curso de Graduao em Engenharia Sanitria e Ambiental

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINADEPARTAMENTO DE ENGENHARIA SANITRIA E

    AMBIENTAL

    Fabiane Andressa Tasca

    GESTO DA DRENAGEM URBANA NA BACIAHIDROGRFICA DO RIO ITAJA-AU

    Trabalho de Concluso de Cursoapresentado Universidade Federal deSanta Catarina para Concluso doCurso de Graduao em EngenhariaSanitria e Ambiental.Orientador: Prof., Dr. Csar AugustoPompo

    Florianpolis2012

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINACENTRO TECNOLGICO

    CURSO DE GRADUAO EM ENGENHARIA SANITRIA EAMBIENTAL

    GESTO DA DRENAGEM URBANA NA BACIAHIDROGRFICA DO RIO ITAJA-AU

    FABIANE ANDRESSA TASCA

    Trabalho submetido Banca Examinadora comoparte dos requisitos para Concluso do Curso deGraduao em Engenharia Sanitria e AmbientalTCC II

    BANCA EXAMINADORA:

    ___________________________Prof. Dr. Csar Augusto Pompo

    (Orientador)

    ___________________________

    Prof. Dra. Nadia Bernardi Bonum

    ___________________________Prof. Dra. Beate Frank

    ___________________________Doutorando do PPGEA/UFSC MSc. Fernando Grison

    FLORIANPOLIS (SC)AGOSTO/2012

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    Dedico este trabalho a Joo Pedro Tasca, pai amado e anjo zeloso.

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    AGRADECIMENTOS

    Ao meu orientador, professor Pompo, pelas inmeras conversas,conselhos, pelo pioneirismo na drenagem, por ser um excelente

    professor e pela ajuda indispensvel neste trabalho.A minha famlia por todo o apoio e incentivo nesta jornada. A

    minha me Snia, exemplo de luta, que sempre me apoiouprofundamente nos estudos. Ao meu pai, Joo, exemplo de bondade,que me ensinou a ser uma pessoa de valor. Embora no presentefisicamente nesta fase acadmica, tenho certeza que acompanha todos osmeus passos e me ilumina em toda caminhada.

    Ao Roberto, pelas inmeras contribuies a este trabalho, pelo

    carinho, amizade, amor, pacincia e por ser o melhor namorado domundo.Ao povo brasileiro, que custeou os meus estudos, deixo o

    compromisso de honrar meu juramento.Aos amigos do Labhidro, por terem me ensinado e ajudado em

    diversas etapas. Pelas horas de descontrao e amizade, por serempessoas to honestas e apaixonadas pela cincia.

    Aos amigos que fiz na faculdade, pelas inmeras horas de estudo,madrugadas viradas e companhia.

    A todos os meus amigos, desculpas pela ausncia neste longoperodo. Amizades to verdadeiras e sinceras como a de vocs j fazemde mim uma grande vencedora.

    A Bruninha, pela lealdade e companheirismo.A todos os municpios que responderam pesquisa e

    contriburam no desenvolvimento deste trabalho.A Deus, por me permitir chegar at aqui.

    Meus sinceros agradecimentos a todos vocs.

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    RESUMO

    A urbanizao, se no planejada, traz diversos impactos sociedade e aomeio ambiente. O aumento do escoamento superficial contribui naocorrncia de enchentes. A relao com o meio social contribui naocorrncia de desastres. Neste quesito, o Estado de Santa Catarina frequentemente atingido por eventos chuvosos intensos, que causaminundaes em todo territrio. A bacia hidrogrfica do Rio Itaja-Au sesobressai, em Santa Catarina, como a mais afetada por desastresrelacionados a inundaes, com 480 registros em um perodo de 21anos. As constantes inundaes na bacia demonstram a pouca ateno

    dedicada rea de drenagem. Desta forma o presente trabalho avaliou agesto desta componente, integrado com a gesto do saneamento. Oprincipal mtodo utilizado foi aplicao de questionrios nosmunicpios que possuem sede dentro da bacia. Verificou-se que oabastecimento de gua o item que possui maior cobertura, enquanto acoleta do esgotamento sanitrio ainda est em fase de desenvolvimento.Apesar da maioria dos municpios da bacia afirmar possuir sistema dedrenagem, verificou-se que no h uma gesto eficiente nemresponsveis qualificados. Este motivo, aliado ao gerenciamento atual,

    pode contribuir para o incremento das inundaes e alagamentos nabacia hidrogrfica do Rio Itaja-Au.

    Palavras-chave: Saneamento; Drenagem; Gesto; Inundaes.

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    ABSTRACT

    Unplanned urbanization causes several impacts on society and on theenvironment. The increase in surface runoff contributes to theoccurrence of floods. The relationship with de social environmentcontributes to the occurrence of disasters. This item, Santa Catarina stateis often affected by intense rainfall events, which cause floodingthroughout all the territory. The Itaja-Au watershed is highlighted, inSanta Catarina, as the most affected by disasters related to flooding,with 480 records in a period of 21 years. The constant flooding in thewatershed showing the little attention given to drainage. Thus the

    present study evaluated the management of this component, integrated it

    with the sanitation management. The main method used was applicationof questionnaires in the municipalities that have the administrativeoffice on thewatershed. It was noticed that the water supply is the itemthat has more coverage, while the collection of sanitary sewage is stillunder development. Although most municipalities claim to have thedrainage system, it was found that there are no efficient managementresponsible qualified people. This reason, combined with the currentmanagement, can contribute to the increase of flooding andwaterlogging in the Itajai-Acu river watershed.

    Keywords:Sanitation, Drainage, Management, Floods

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Valores totais comprometidos e desembolsados em iniciativas desaneamento bsico, 2003 a 2009. ............................................................................. 32Figura 2: Hidrograma natural e modificado. ............................................................ 32Figura 3: Impactos da Urbanizao. ......................................................................... 34Figura 4: Relaes Bsicas entre municpios. .......................................................... 37Figura 5: Evoluo da frequncia de inundaes e da rea urbana de Joinville entre1851 e 2008. ............................................................................................................. 44Figura 6: Diferena entre fenmenos naturais e desastres naturais associados ainundaes. ............................................................................................................... 47

    Figura 7: Inundaes Graduais em Blumenau. ......................................................... 50

    Figura 8: Enxurrada em Blumenau. .......................................................................... 51Figura 9: Alagamentos em reas urbanas de Blumenau. .......................................... 52Figura 10: Diferena bsica entre inundaes graduais e bruscas ............................ 54Figura 11: Diagrama do registro de desastres. .......................................................... 56Figura 12: Fluxograma geral para escolha da rea de estudo. .................................. 59Figura 13: Cabealho de um AVADAN. .................................................................. 60Figura 14: Regies Hidrogrficas de SC. ................................................................. 63Figura 15: Sub-bacias e hidrografia principal da bacia do rio Itaja. ........................ 65

    Figura 16: Inventrio de Desastres do Estado de Santa Catarina. ............................. 73Figura 17: Inventrio de Desastres por BH, em SC. ................................................. 77Figura 18: Inventrio de Desastres da Bacia Hidrogrfica do Rio Itaja. ................. 78Figura 19: Ribeiro da Velha, em Blumenau. .......................................................... 81Figura 20: Municpios que responderam pesquisa. ................................................ 86Figura 21: Existncia de Plano Municipal de saneamento. ...................................... 87Figura 22: Questionamento acerca da fiscalizao do saneamento. ......................... 88Figura 23: Departamento/Setor responsvel pela Drenagem Pluvial........................ 91Figura 24: Formao dos responsveis pela Drenagem Pluvial................................ 92

    Figura 25: Presena de ligaes de esgoto na rede de drenagem pluvial. ................. 93Figura 26: % rea com ligaes de esgoto na rede de Drenagem Pluvial. ............... 94Figura 27: Existncia de rios canalizados. ................................................................ 95Figura 28: Intervenes geralmente utilizadas nos municpios da bacia. ................. 96Figura 29: Frequncia de inundao de rios na bacia do Itaja. ................................ 97Figura 30: Inundaes motivadas por transbordamento de crregos. ....................... 98Figura 31: Eroso na rea Urbana do Municpio. .................................................. 100Figura 32: Assoreamento na rea Urbana do Municpio. ...................................... 100Figura 33: Rio Itaja-au......................................................................................... 101

    Figura 34: Frequncia de Desassoreamento. .......................................................... 104

    http://c/Users/Fabiane/Dropbox/TCC%20-%20Fabiane/TCC%20final3%20-%20A5.docx%23_Toc332549552http://c/Users/Fabiane/Dropbox/TCC%20-%20Fabiane/TCC%20final3%20-%20A5.docx%23_Toc332549552http://c/Users/Fabiane/Dropbox/TCC%20-%20Fabiane/TCC%20final3%20-%20A5.docx%23_Toc332549552
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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Municpios selecionados da BH do rio Itaja. ........................................... 66Tabela 2: Cidades mais atingidas por inundaes em SC. ........................................ 72Tabela 3: Desastres em SC, por RH. ........................................................................ 74Tabela 4: Desastres em SC, por BH. ........................................................................ 75Tabela 5: ndices Urbanos de Abastecimento de gua ............................................ 79Tabela 6: Destino de fezes e urina na populao de cobertura do SIAB, 2005. ....... 80Tabela 7: Alagamentos observados na Drenagem. ................................................. 103Tabela 8: Frequncia de limpeza de margens dos cursos dgua............................ 105

    Tabela 9: Problemas observados nos municipal. .................................................... 107

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1: Comparao dos aspectos da gua no meio urbano. ................................ 29Quadro 2: Regies e Bacias Hidrogrficas de SC .................................................... 61Quadro 3: Consrcios intermunicipais. .................................................................... 83Quadro 4: Problemas identificados quanto ao destino dos RS. ................................ 84Quadro 5: Rios e Crregos que causam inundaes nos municpios. ....................... 98Quadro 6: Locais de Alagamento nos municpios. ................................................. 103

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    NDICE GERAL

    1 INTRODUO .............................................................................................212

    OBJETIVOS .................................................................................................25

    2.1 Objetivo Geral....................................................................................... 252.2 Objetivos Especficos ............................................................................ 25

    3 REVISO BIBLIOGRFICA .....................................................................273.1 Saneamento ........................................................................................... 273.2 Drenagem Urbana ................................................................................. 31

    3.2.1 Gesto de Sistemas de Drenagem Urbana ........................................ 363.3 Enchentes e Inundaes ........................................................................ 43

    3.3.1 Inundaes Graduais ........................................................................ 493.3.2 Inundaes Bruscas .......................................................................... 51

    3.3.3 Alagamentos .................................................................................... 523.3.4 Problemtica Conceitual das Inundaes ......................................... 533.3.5 Registro Oficial dos Desastres ......................................................... 55

    4 MATERIAIS E MTODOS ........................................................................594.1 Escolha da rea de Estudo .................................................................... 59

    4.1.1 Inventrio de Desastres relacionados a Inundaes e Alagamentos . 594.1.2 Bacia Hidrogrfica Selecionada ....................................................... 64

    4.2 Avaliao da Cobertura dos Sistemas de Saneamento e doGerenciamento da Drenagem............................................................................... 70

    4.2.1 Informaes Primrias ..................................................................... 704.2.2 Informaes Secundrias.................................................................. 70

    5 RESULTADOS E DISCUSSES ................................................................725.1 Inventrio de Desastres de Inundaes e Alagamentos ......................... 725.2 Cobertura dos Sistemas de Saneamento ................................................ 79

    5.2.1 Abastecimento de gua ................................................................... 795.2.2 Atendimento de Esgoto .................................................................... 795.2.3 Resduos Slidos .............................................................................. 825.2.4 Discusso Parcial ............................................................................. 85

    5.2.5 Drenagem Urbana ............................................................................ 866 CONCLUSES ...........................................................................................1117 RECOMENDAES .................................................................................1138 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ......................................................115Apndices ..............................................................................................................133

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    1 INTRODUO

    Santa Catarina o 20 Estado do Brasil em termos de extenso

    territorial, com uma rea de 95703,5 km. Apesar de pequeno, o 11Estado mais populoso da nao, concentrando 3,28% da populaobrasileira, dos quais 84% habitam a rea urbana (IBGE, 2011a). OEstado obteve o maior saldo migratrio positivo do pas, no perodo de1992 a 2006, conforme dados do IPEA (2008a). Santa Catarina possuiainda a maior densidade demogrfica da regio Sul, com 65,29 hab/km,que a maior densidade demogrfica do Estado desde 1872. Estadensidade maior que a mdia do Brasil (22,43 hab/km) e demonstra,tambm, uma taxa mdia geomtrica de crescimento maior que a mdia

    nacional. Apesar do territrio catarinense manter-se com o mesmotamanho, verifica-se que sua populao experimenta sucessivosaumentos.

    Este crescimento populacional transforma significativamente aspaisagens, deixando-as cada vez mais urbanizadas e, na maioria dasvezes, com uma forma de planejamento que no contempla a cidadecomo um todo, apenas fragmentos desta (OLIVEIRA, 2004). Istoacarreta, dentre outras consequncias, em profundas modificaes nouso do solo. Tais alteraes so cada vez mais perceptveis no que se

    referem s respostas hidrolgicas das reas urbanizadas, apresentandocomo efeitos mais notveis o aumento do escoamento superficial e adiminuio da infiltrao. Ocorre uma mudana no comportamento doescoamento das guas de chuva, levando ao incremento de cheias einundaes.

    O Estado de Santa Catarina, devido sua particular condio derelevo e ao clima, frequentemente objeto de eventos chuvosos que

    produzem inundaes em reas rurais e urbanas com significativos

    prejuzos materiais e humanos (POMPO, 2000a). Neste quesito,Marcelino et al. (2006) destacam que as inundaes graduais e bruscaspredominam sobre todos os tipos de desastres no territrio catarinense,representando, respectivamente, 45% e 19% do total de desastresregistrados entre 1980 e 2003. Levantamentos realizados no Estado, nadcada de 90, reforaram esta afirmao, ao mostrar que 50% dosmunicpios catarinenses apresentavam transbordamentos de cursosdgua e inundaes em reas urbanas mais de uma vez ao ano (SANTACATARINA, 1998a). Situao semelhante aos demais Estados do pas,

    cuja incidncia de desastres naturais revela que a maior parte refere-se ainundaes (MAFFRA e MAZZOLA, 2007).

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    Herrmann et al. (2007) informam que, entre o perodo de 2000 a2003, as inundaes no Estado de Santa Catarina trouxeram prejuzos deU$$ 255.128.953,00. Tucci et al. (2001) complementam ao informarque o pas perde anualmente, em mdia, valores superiores a 1 bilho dedlares com as inundaes urbanas e rurais.

    V-se, assim, que o Estado j teve grandes prejuzos com asinundaes. A bacia hidrogrfica do Rio Itaja Au, que ultrapassou os1.276.076 habitantes em 2010 e possui uma densidade demogrfica de99,23 hab/km, maior que a mdia brasileira; se sobressai como a maisafetada por desastres relacionados a inundaes, conforme se analisouna presente pesquisa. Em um perodo de 21 anos encontrou-se 480registros deste tipo de desastre na bacia, bem distribudos espacialmente.

    Entende-se que as inundaes so processos naturais que fazemparte da dinmica terrestre. Contudo, a interao com o homemtransforma estes fenmenos naturais em desastres dito naturais. Diantedessa problemtica, a gesto da drenagem urbana, associada urbanizao dos municpios e a uma demanda ambiental crescente,torna-se cada vez mais complexa (GOMES, 2005). As constantesinundaes em todo o territrio catarinense caracterizam a poucaateno dedicada rea de drenagem (POMPO, 2000a), que , pormuitos, considerada a filha bastarda do saneamento. No possvel

    evitar que chuvas intensas ocorram, mas medidas de planejamentopodem minimizar e evitar a ocorrncia de desastres.

    Assim, o presente trabalhou avaliou a gesto da drenagem daBacia Hidrogrfica do Rio Itaja Au, em consonncia com a gesto dosaneamento, com identificao de fatores que podem contribuir noincremento das inundaes na bacia. Um diagnstico consubstanciadosobre o setor poder, certamente, prover a Poltica de Saneamento daregio, no aspecto drenagem urbana e controle de inundaes. Almdisso, constitui-se um instrumento auxiliar a promoo da compreensodos problemas por parte dos dirigentes estaduais e municipais, bemcomo da sociedade como um todo, favorecendo a tomada de aesestruturais e no-estruturais que possibilitem a minimizao dos

    problemas inerentes drenagem urbana.O acesso a informaes acerca de eventos pretritos e a

    possibilidade de incorporao destas informaes aos procedimentosinvestigativos acerca das condies locais na ocorrncia de inundaesconstituem uma perspectiva promissora para aes preventivas. Neste

    contexto e, partindo da premissa que as inundaes cada vez maisrecorrentes resultam das interaes entre sociedade e natureza, que se

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    pretende consolidar conhecimentos que permitam nortear as aesrelacionadas gesto da drenagem na bacia hidrogrfica do Rio Itaja-Au. Espera-se, portanto, que as reflexes geradas neste trabalho,

    permitam que as aes a serem tomadas possam traduzir-se em umaumento da qualidade de vida da populao e uma convivncia maisharmoniosa entre o homem e o meio ambiente.

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    2 OBJETIVOS

    2.1 Objetivo Geral

    Estabelecer um panorama da gesto da drenagem na baciahidrogrfica do Rio Itaja-Au, com o intuito de auxiliar a elaborao dePolticas Pblicas no setor.

    2.2 Objetivos Especficos

    Realizar um inventrio de desastres relacionados ainundaes e alagamentos em Santa Catarina;

    Avaliar e caracterizar a cobertura dos sistemas dedrenagem e de saneamento na bacia do Rio Itaja- Au;

    Discutir as relaes entre os perfis de desastres observadose a gesto municipal da drenagem.

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    3 REVISO BIBLIOGRFICA

    3.1 Saneamento

    O ltimo censo divulgado pelo IBGE, em 2010, revela que oBrasil atingiu a marca de 190.755.799 habitantes. Deste total, 84,4%habita a rea urbana. A estimativa que a populao brasileira atinja259,8 milhes a partir do ano de 2020 (IBGE, 2004). Esse crescimentoda populao, principalmente o urbano, provoca impactos significativosno meio ambiente. Os investimentos de gua e esgoto, para acompanhareste crescimento, devem aumentar de 23,211 milhes de reais para33.055,2 milhes de reais em 2020 (SNIS, 2011).

    O Ministrio da Sade (FUNASA, 2004) define saneamentoambiental como um conjunto de aes que visam proporcionar nveiscrescentes de salubridade ambiental em determinado espao geogrfico,em benefcio da populao que habita este espao. A Lei 11.445/07(Brasil, 2007a), que estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento

    bsico, complementa ao definir Saneamento Bsico como o conjunto deservios, infraestruturas e instalaes operacionais de:

    a) abastecimento de gua potvel;b) esgotamento sanitrio;

    c) limpeza urbana e manejo de resduos slidos;d) drenagem e manejo das guas pluviais urbanas.O saneamento, conforme IBGE (2011b), parte da complexidade

    do espao urbano tanto em termos de seus equipamentos, resultados deobras de engenharia, que acabam por promover salubridade populaoe cuidado com o meio ambiente, como em termos do impacto direto eindireto de sua ausncia perante as condies de vida de parte da

    populao que habita uma mesma cidade.Montenegro e Tucci (2005) colocam algumas vises do

    desenvolvimento urbano desses tpicos pelo prisma da engenharia: oplanejador urbano desenvolve a ocupao territorial considerando que oengenheiro de transportes, de saneamento e de outras infraestruturasencontrar solues para o uso do solo nas cidades. Desta forma, a gua retirada do manancial de montante e entregue a jusante semtratamento, enquanto a drenagem projetada para retirar a gua o maisrpido possvel de cada local, transferindo para jusante o aumento doescoamento superficial, enquanto os resduos slidos so depositados

    em locais remotos para no causar incmodo s pessoas.Os componentes citados possuem uma forte interface entre si,com enfoque na promoo do desenvolvimento urbano com base na

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    gesto integrada. Contudo, o que de fato se observa a integrao dosproblemas, derivados da forma setorial com que a gesto realizada(TUCCI, 2002). Neste sentido, Corrales (2004) observa que o equilbrioda gesto do saneamento deve se situar em trs nveis distintos, inter-relacionados, complementares e independentes: econmico- financeiro,scio- poltico e ambiental. O desequilbrio em qualquer um dessesnveis pe em risco a sustentabilidade e o processo de gesto. Brasil(2006) aponta algumas destas inter-relaes entre os componentes dosaneamento:

    O abastecimento de gua realizado a partir de mananciaisque podem ser contaminados pelo esgoto cloacal, pluvial ou pordepsitos de resduos slidos;

    A soluo do controle da drenagem urbana depende daexistncia de rede de esgoto cloacal e suas caractersticas;

    A limpeza das ruas, a coleta e disposio de resduosslidos interferem na quantidade e na qualidade da gua dos pluviais. Aobstruo do sistema de drenagem origina um aumento da frequncia deinundaes.

    Os recursos investidos na adequao do espao urbano sodirecionados, preferencialmente, para a melhoria da infraestrutura, emdetrimento da soluo de demandas sociais, como a habitao, osaneamento, os transportes coletivos e outros servios urbanos,caracterstica encontrada em qualquer cidade dos pases perifricos eque do nfase s desigualdades nas aglomeraes (BRASIL, 2011).

    Nesse sentido, Silveira (2001) conclui que o saneamento torna-se maisdifcil nos pases em desenvolvimento porque o desenvolvimentourbano acontece sob condies socioeconmicas, tecnolgicas eclimticas mais difceis. Fato tambm citado por Tucci (2002), quecompara os cenrios de desenvolvimento dos aspectos da gua no meio

    urbano entre pases desenvolvidos e pases em desenvolvimento(Quadro 1). Nos pases desenvolvidos grande parte dos problemasquanto ao abastecimento de gua, tratamento de esgoto e controlequantitativo da drenagem urbana foi resolvido. Neste ltimo, foi

    priorizado o controle atravs de medidas no-estruturais que obrigam apopulao a controlar na fonte os impactos devido urbanizao. Nospases em desenvolvimento, o saneamento ainda precrio, onde ocontrole ainda est no estgio do tratamento de esgoto.

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    Quadro 1: Comparao dos aspectos da gua no meio urbano.

    Infraestruturaurbana

    Pases desenvolvidos Brasil

    Abastecimentode gua

    Cobertura total

    Grande parte atendida, tendncia dereduo da disponibilidade devido acontaminao, grande quantidade de

    perdas na rede.

    Esgoto Sanitrio Cobertura quase total

    Falta de rede e estaes detratamento; as que existem noconseguem coletar esgoto como

    projetado.

    DrenagemUrbana

    Controlado os aspectosquantitativos;

    Desenvolvimento deinvestimentos para

    controle dos aspectos dequalidade da gua.

    Grandes inundaes devido aoaumento do escoamento superficial;Controle que agrava as inundaes

    atravs de canalizao;Aspectos de qualidade da gua nem

    mesmo foram identificados.

    InundaesRibeirinhas

    Medidas de controle no-estruturais como seguro e

    zoneamento deinundao.

    Grandes prejuzos por falta depoltica de controle.

    Fonte: Tucci (2002).

    Este panorama demonstra a falta de harmonia entre os sistemasurbanos; que esto defasados, ineficientes e separados uns dos outros,

    intensificando o problema do saneamento no pas. Apesar de cada dlarinvestido no setor sanitrio trazer o retorno mdio de US$ 9 em custosevitados e um ganho de produtividade (ONU, 2011), o setor dosaneamento bsico no Brasil est ainda muito aqum das necessidadesmais elementares da populao. Este fato pode ser observado atravs doAtlas de Saneamento do Brasil, que relata (PNSB, 2010):

    Mais de 92% dos municpios brasileiros tm o servio deabastecimento por rede geral de gua em todos os seus distritoscom tratamento da gua distribuda; A coleta de esgotos cobre apenas 55% desta populao,mas o tratamento deste esgoto no chega a 30%;

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    50,8% dos municpios destinam seus Resduos Slidos alixes a cu aberto; 94,5% dos municpios fazem Manejo de guas Pluviais

    (MAP), no entanto apenas 12,7% declararam possuir dispositivoscoletivos de deteno e amortecimento de vazes das guaspluviais urbanas e 27,4% informaram que seus sistemas dedrenagem no suportam o volume necessrio e que ocorreraminundaes e alagamentos nos cinco anos antecedentes

    pesquisa.Ainda segundo o PNSB (2010), a eficincia dos sistemas de

    drenagem de guas pluviais, no aspecto de reduo de impactosresultantes de processos erosivos e assoreamento de corpos receptores

    e a consequente preveno de desastres com enchentes e inundaes,est diretamente relacionada existncia dos dispositivos de controle devazo, pois estes atenuam a energia das guas e o carreamento desedimentos para os corpos receptores, onde h a disposio final dosefluentes da drenagem pluvial. A ausncia destes dispositivos facilmente perceptvel nos dados divulgados pelo IBGE (2008), queafirmou que um em cada trs municpios tem reas urbanas de risco quedemandam drenagem especial. Dentre os municpios que relataram aexistncia de reas de risco, somente 14,6% utilizam informaesmeteorolgicas e/ou hidrolgicas, o que limita ainda mais as condiesde MAP.

    A eficincia do MAP, por sua vez, est relacionada criao deum Plano Diretor de Drenagem Urbana. Nesse ponto, apenas 141municpios tm plano diretor de drenagem em todo o pas (PNSB,2010), ao passo que 841 municpios possuem Planos Diretores Urbanos(PDU), o que representa apenas 15,3% das cidades brasileiras (IBGE,2000a). Destes ltimos, em apenas 489 a ltima verso do plano possui

    data posterior a 1990 (8,9%). Mesmo onde existem os PDU, a maioriadestes planos aborda apenas aspectos arquitetnicos, sem considerar osefeitos ambientais, principalmente sobre a infraestrutura de drenagem(CRUZ e TUCCI, 2008).

    Pelo exposto, o IBGE (2011b) considera que o manejo de guaspluviais (MAP) em reas urbanas constitui um dos itens do saneamentomais importante quando se considera o crescimento das cidades e o

    planejamento urbano, bem como a manuteno das condies desegurana e de sade da populao. Complementa Pompo (2000a), que

    afirma que a gesto da gua no meio urbano um caso particular dagesto de recursos hdricos. Em consequncia, a ao institucional deve

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    integrar, por um lado, a gesto de recursos hdricos e, por outro, osaneamento ambiental.

    Diante das condies gerais existentes observadas nainfraestrutura do saneamento no pas, destaca-se a necessidade de buscara universalizao, integrando os diferentes atores do processo nosespaos urbanos e hidrolgicos e a melhoria dos servios de saneamento

    bsico.

    3.2 Drenagem Urbana

    O termo drenagem urbana entendido como o conjunto demedidas que tenham por objetivo minimizar os riscos relacionados s

    enchentes, bem como diminuir os prejuzos causados por elas epossibilitar o desenvolvimento urbano de forma harmnica, articulada esustentvel (TUCCI et al.2007a).

    Contudo, a realidade da drenagem urbana outra. O crescimentourbano, alm de desordenado, ocorre sem o acompanhamento dossistemas de infraestrutura (MARQUES, 2006). Neste contexto, ahistria mostra que, dentre as reas do saneamento, o abastecimento degua tratada sempre obteve um maior destaque em funo das

    prioridades, o que relegou as demais reas um grau de importncia

    inferior. Esta afirmao pode ser observada nos valores destinados aossetores do saneamento, dentre 2003 e 2009 no Brasil (Figura 1), em quea drenagem urbana figura como o item com menor valor desembolsadono perodo.

    Assim, a drenagem urbana das grandes metrpoles sempre foiabordada de maneira acessria, dentro do contexto do parcelamento dosolo para usos urbanos. A falha em incorporar a drenagem na faseinicial do desenvolvimento urbano, em geral, resulta em projetos muitodispendiosos ou inviveis (BRAGA, 1994; CANHOLI, 2005).

    Os impactos da urbanizao so variados. Righetto et al.(2009)comentam que o desmatamento, a substituio da cobertura vegetalnatural, a instalao de redes de drenagem artificial, a ocupao dasreas de inundao, a impermeabilizao das superfcies, a reduo dotempo de concentrao e o aumento dos deflvios superficiais, vistossob um enfoque imediatista da ocupao do solo, refletem-sediretamente sobre o processo hidrolgico urbano, com alteraesdrsticas de funcionamento dos sistemas de drenagem. Fontes e

    Barbassa (2003) vo ao encontro deste pensamento ao observar que aurbanizao traz profundas modificaes no uso do solo, que causammarcas permanentes nas respostas hidrolgicas, com efeito mais notvel

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    no aumento do escoamento superficial (Figura 2) e na diminuio dainfiltrao.

    Figura 1: Valores totais comprometidos e desembolsados eminiciativas de saneamento bsico, 2003 a 2009.

    Fonte: Modificado de Brasil (2009a)

    Figura 2: Hidrograma natural e modificado.

    Fonte: PMPOA/IPH (2002).

    Nesta temtica, Tucci (2000) observa que cada habitante produz,em mdia, 49 m de rea impermevel na bacia e que, para cada 10% deaumento nesta rea, ocorre cerca de 100% de aumento no volume do

    escoamento superficial. Leopold (1968), ainda na anlise do escoamentosuperficial, demonstra que as bacias hidrogrficas em condies

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    naturais, mas em eventos extremos, podem ter sua vazo de picoaumentada em at seis vezes em decorrncia de alteraes noescoamento superficial, consequncia da urbanizao.

    No processo de assentamento dos agrupamentos populacionais, aFUNASA (2006) destaca que o sistema de drenagem se sobressai comoum dos mais sensveis dos problemas causados pela urbanizao sem

    planejamento, tanto em razo das dificuldades de esgotamento das guaspluviais como devido interferncia com os demais sistemas deinfraestrutura, alm de que, com reteno da gua na superfcie do solo,surgem diversos problemas que afetam diretamente a qualidade de vidadesta populao. O sistema de drenagem de um ncleo habitacional omais destacado no processo de expanso urbana, ou seja, o que mais

    facilmente comprova a sua ineficincia, imediatamente aps asprecipitaes significativas, trazendo transtornos populao quandocausa inundaes e alagamentos. Em algumas cidades, a populao emrea irregular chega a 50% (MMA, 2000), o que demonstra a poucaobedincia regulamentao urbana determinada pelo Plano Diretor elegislao em geral.

    Tem-se, assim, a existncia de duas condutas que tendem aagravar ainda mais a situao da drenagem urbana (PMPOA, 2005):

    Os projetos de drenagem urbana tm como filosofia escoar

    a gua precipitada o mais rapidamente possvel para jusante, oque aumenta em vrias ordens de magnitude a vazo mxima, afrequncia e o nvel de inundao de jusante; As reas ribeirinhas, que o rio utiliza durante os perodoschuvosos como zona de passagem da inundao, tm sidoocupadas pela populao, o que resulta em prejuzos evidentesquando o rio inunda seu leito maior.Desta forma, a combinao do impacto dos diferentes

    loteamentos produz aumento da ocorrncia de inundaes a jusanteatravs da sobrecarga da drenagem secundria (condutos) sobre amacrodrenagem (riachos e canais) que atravessa as cidades (TUCCI,2005a). Estes fatores so de grande influncia no incremento deinundaes no meio urbano. Essas condutas podem ser visualizadas naFigura 3.

    Pompo (2000a) analisa este processo de urbanizao sob trsaspectos, que podem influenciar o aumento das inundaes:

    1- Sobre os cursos dgua e sobre a drenagem natural da bacia

    hidrogrfica;

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    2- Sobre a cobertura vegetal, sobre o uso do solo, sobre as formasde ocupao do solo da bacia hidrogrfica montante da rea urbana:grandes bacias hidrogrficas nas quais a rea urbana pequena emrelao superfcie da bacia;

    3- Sobre a cobertura vegetal, sobre o uso do solo, sobre as formasde ocupao do solo da bacia hidrogrfica que passa por um processo deurbanizao em toda sua superfcie.

    Figura 3: Impactos da Urbanizao.

    (Fonte: Righetto et al.,2009).

    Junior e Coelho (2005) comentam sobre a complexidade daquesto do uso do solo, ao dizer que o planejamento principalmenteempreendido por meio de Planos Diretores e do zoneamento do uso eocupao do solo estabelece uma cidade virtual que no se articulacom as condies reais de vida das pessoas, ignorando que a maior

    parcela das populaes urbanas tem baixa renda e nenhuma capacidadede investimento no espao construdo. Assim, apesar das leis existentes,a populao de baixa renda invade terrenos non edificandi e ali

    permanece. Desta forma, a questo da ocupao do solo nas margens de

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    rios, que em muitas bacias urbanas contribui no incremento dasinundaes, passa por uma vertente que no apenas legal ouinstitucional, mas social e poltica, em que os fatores sociais agravam os

    problemas das inundaes (MATTEDI, 2009a).De modo geral, a urbanizao origina a canalizao dos rios

    urbanos e as galerias acabam por receber toda a gua do escoamentosuperficial. Freitas et al.(2011) citam como resultado destas prticas dedrenagem, a perda da riqueza natural dos rios e da sua capacidade deresposta perante as enchentes, j que as galerias tornaram-se incapazesde absorver a quantidade de gua adicional proveniente das novas zonasde desenvolvimento urbano. Salienta-se que os sistemas integrados dedrenagem urbana tm como papel no somente a cobertura urbana de

    proteo contra inundaes, mas tambm o melhoramento da qualidadede vida pela produo de feies aquticas, criando amenidade urbanana cidade, (MAKSIMOVIC, 2001).

    Para alterar esta tendncia necessrio adotar princpios decontrole de inundaes que considerem o seguinte (PMPOA, 2005):

    O aumento de vazo devido urbanizao no deve sertransferido para jusante; Deve-se priorizar a recuperao da infiltrao natural da

    bacia, visando reduo dos impactos ambientais; A bacia hidrogrfica deve ser o domnio fsico deavaliao dos impactos resultantes de novos empreendimentos,visto que a gua no respeita limites polticos; O horizonte de avaliao deve contemplar futurasocupaes urbanas; As reas ribeirinhas somente podero ser ocupadas a partirde um zoneamento que contemple as condies de enchentes; As medidas de controle devem ser preferencialmente no

    estruturais.Tucci (2005b) observa que a atuao preventiva nodesenvolvimento urbano - planejamento da cidade com reas deocupao e controle da fonte da drenagem, a distribuio do espao derisco e o desenvolvimento dos sistemas de abastecimento eesgotamento- reduz o custo da soluo dos problemas relacionados coma gua. Esta afirmao vai ao encontro das observaes de Mendiondo(2005), que informa que a cada US$ 1,00 investido na preveno reduzUS$ 25,00 investidos em obras de reconstruo ps evento.

    Nesse quesito, Pompo (2000b) afirma que se deve relacionar asustentabilidade com a drenagem urbana, o que introduz uma nova

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    forma de direcionamento das aes, baseada no reconhecimento dacomplexidade das relaes entre os ecossistemas naturais, o sistemaurbano artificial e a sociedade. Esta postura exige que drenagem econtrole de cheias em reas urbanas sejam reconceitualizadas em termostcnicos e gerenciais. Esta definio eleva o conceito de drenagem adrenagem urbana sustentvel. A drenagem urbana sustentvel visaimitar o ciclo hidrolgico natural controlando o escoamento superficialo mais prximo da fonte, atravs de tcnicas estruturais e no estruturais(DIAS e ANTUNES, 2010), com o objetivo de reduzir asusceptibilidade da populao s inundaes ribeirinhas, as que ocorremna drenagem urbana, e a minimizao dos impactos ambientais (TUCCI,2005a).

    3.2.1 Gesto de Sistemas de Drenagem Urbana

    Entende-se como gesto do saneamento as atividades relativas aoplanejamento, regularizao, fiscalizao, prestao de servios econtrole social, de acordo com a Lei 11.445 (BRASIL, 2007a), queestabelece diretrizes nacionais para o saneamento bsico.

    oportuno observar, com base na opinio de Borges e Almeida

    (2006), que gesto e gerenciamento dos sistemas de drenagem no sosinnimos, pois a gesto um processo mais amplo e complexo, cujogerenciamento est inserido, e atua no planejamento. O gerenciamento a fase final da gesto, envolvendo mais especificamente a execuo eacompanhamento das aes (ROCHA e KURTZ, 2001).

    A gesto das guas urbanas pode ser realizada de acordo com adefinio do espao geogrfico externo (bacia hidrogrfica) e interno cidade (municpio), definindo, assim, os espaos de gesto (TUCCI,2007b). O mesmo autor observa que a gesto dos recursos hdricos realizada atravs da bacia hidrogrfica, no entanto a gesto do uso dosolo realizada pelo municpio ou grupo de municpios numa RegioMetropolitana.

    O espao interno cidade de jurisdio legal e administrativado municpio, este, contudo, encontra-se espacialmente dentro de umaou mais bacias hidrogrficas, para as quais exporta seus impactos(TUCCI, 2008). O controle neste caso estabelecido atravs de medidasdesenvolvidas dentro do municpio atravs de legislao municipal e

    aes estruturais especficas (TUCCI e MELLER, 2007b), embora agrande maioria dos municpios no possua capacidade tcnica para

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    abordar e resolver esse tipo de problema. Os mesmos autores observamque o espao externo definido pela gesto estadual ou federal, deacordo com o domnio do rio, j que grande parte das cidades possuiuma bacia hidrogrfica em comum.

    Na Figura 4 observam-se duas situaes: um municpio amontante de outro e um rio que divide os municpios. Em quaisquersituaes, as atividades de uma cidade podem interferir na dinmica daoutra, transferindo impactos atravs do rio. Para o seu controle podemser estabelecidos padres a serem atingidos e geralmente so regulados

    por legislao ambiental e de recursos hdricos, federal ou estadual.

    Figura 4: Relaes Bsicas entre municpios.

    Fonte: Tucci e Meller (2007b).

    Os problemas de drenagem urbana frequentemente apresentamcaractersticas independentes das divises poltico- administrativas.Lima (2003) comenta, no que diz respeito s interaes que ocorremdentro dos limites de bacias hidrogrficas, que existe uma inter-relaoentre as cabeceiras, a mdia bacia, a baixa bacia e o esturio.Coelho

    Netto (1994) observa que as alteraes significativas na composio doambiente em certa proporo da bacia de drenagem vo acarretarmudanas na sustentabilidade interna do sistema, propagando seusefeitos sobre todos os demais componentes.

    Desta forma, a busca de solues adequadas deve ser analisadasob a tica de bacias hidrogrficas. Uma abordagem intermunicipal dadrenagem pluvial urbana pode gerar importantes reflexos positivos,evitando a duplicidade de esforos e assegurando a coerncia tcnica egerencial das aes (BAPTISTA e NASCIMENTO, 2002). Assim,deve-se considerar a bacia hidrogrfica como unidade territorial de

    planejamento, pois esta unidade territorial abrange toda a dinmica das

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    guas, alm de possibilitar o envolvimento dos atores sociais que selocalizam sobre ela (MEIER e FOLETO, 2011). Maccauley eHufschmidt (1995) complementam, por fim, que a utilizao da baciahidrogrfica como unidade de planejamento, possibilita considerar a

    juno de todos os fatores (econmicos, polticos, sociais e culturais)relacionados rea da bacia. O primeiro fator que deve ser levado emconsiderao em um planejamento a realizao de uma completacaracterizao da bacia a ser estudada. Este conjunto de informaes

    possibilita conhecer o sistema, o que dar suporte tomada de decisesde gerenciamento dos recursos hdricos, dentre outros.

    Acrescenta-se a opinio de Heller et al. (2011); que acreditamque se deve considerar a natureza do acesso aos servios e solues de

    saneamento bsico, sob a perspectiva das pessoas e dos lugares, ou seja, necessrio valorizar a viso de que os beneficiados pelas polticasvivem, no nas bacias, mas nos territrios, o que pressupe a ideia deidentidade e pertencimento. Esse quadro remete necessidade de aesintersetoriais, que possibilitem a articulao de perspectivas regionais elocais.

    A construo global desta estrutura de gesto, tanto na baciahidrogrfica como no territrio, esbarra em algumas limitaes tcnicas(BAPTISTA E NASCIMENTO, 2002):

    Conhecimento precrio do sistema de drenagem jconstrudo, ou seja, de seu estado de conservao e de suascondies operacionais. Assim a falta de um cadastro atualizadodas redes implantadas e de polticas gerenciais para a atualizaodesse cadastro faz com que as aes de manuteno dos sistemassejam de carter emergencial; e no preventiva. Conhecimento precrio sobre os processos hidrolgicos e ofuncionamento hidrulico dos sistemas implantados, onde se

    destaca a insuficincia de monitoramento hidrolgico em reasurbanas. Essa restrio impede o desenvolvimento demetodologias de dimensionamento de novos sistemas e odiagnstico correto de problemas de funcionamento em sistemasexistentes, alm da avaliao de impactos ambientais decorrentesde intervenes no sistema existente ou de novos sistemas sobreos meios receptores, entre outros. Inadequao das equipes tcnicas e gerenciaisresponsveis pelos servios de drenagem pluvial. Nas

    municipalidades, essa inadequao existe tanto em nmero deprofissionais dedicados ao problema quanto em qualificao e

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    atualizao tcnica para o exerccio da funo. A fragilidade dasequipes tcnicas municipais responsveis pela drenagem urbanaapresenta reflexos bvios na eficincia da operao dos sistemas.Oliveira et al. (2009) complementam que as instabilidades

    institucionais com inmeras extines e criaes de programas e agentescontribuem para este quadro. Filho e Cordeiro (2000), ao realizarem umdiagnstico da drenagem urbana em So Paulo, observam que adrenagem praticamente esquecida, uma vez que ela no vinculadaa nenhum departamento ou seo dentro da estrutura administrativa.

    Tucci e Meller (2007b) acrescentam ainda mais uma limitao: areduzida capacidade de financiamento das aes pelos municpiosdevido ao alto nvel de endividamento. A soluo depender

    fundamentalmente do desenvolvimento de um programa a nvel federale mesmo estadual com um fundo de financiamento para viabilizar asaes. Gomes e Nascimento (2008) observam que a drenagem urbana financiada basicamente pelo Tesouro Municipal (normalmente atravsdo IPTU), ou seja, pelo contribuinte em geral, sem qualquer relao como consumo individual, diferentemente do abastecimento de gua eesgoto.

    Aliado a esta complexidade, tem-se uma baixa sinergia nosesforos empreendidos pelo Governo Federal, devido a inmeras causas:

    falta de coordenao; baixo grau de cooperao tcnica e gerencial;estmulo a comportamentos oportunistas de acesso aos recursos

    pblicos, dentre outros (OLIVEIRA et al.,2009).

    3.2.1.1 Planejamento

    O Decreto n 7.217 (BRASIL, 2010a), que regulamenta a Lei no11.445/07, define planejamento como as atividades relacionadas identificao, qualificao, quantificao, organizao e orientao detodas as aes, pblicas e privadas, por meio das quais o servio pblicodeve ser prestado ou colocado disposio de forma adequada. Sheaffere Wright (1982) comentam que planejar ou gerenciar sistemas dedrenagem urbana envolve tipicamente administrar um problema dealocao de espao. Nesse sentido, o modelo de crescimento das cidades

    brasileiras, segundo Junior e Coelho (2005), identificado, no sensocomum, como falta de planejamento. Segundo esta acepo, as

    cidades no so planejadas e, por esta razo, so desequilibradas ecaticas. Assim, o cenrio atual demonstra a importncia do

    planejamento integrado e abrangente dos sistemas de drenagem urbana

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    e expe os conflitos aos quais o planejador deve dar respostasapropriadas. importante salientar que os planos de saneamentodevem ser elaborados de forma integrada.

    A Lei Federal 11.445/07 enuncia que a prestao de serviospblicos de saneamento bsico, observar aos planos de saneamento,que poder ser especfico para cada servio, o qual abranger nomnimo: i) diagnstico; ii) objetivos e metas de curto, mdio e longo

    prazos para a universalizao; iii) programas, projetos e aes; iv) aespara emergncias e contingncias; v) mecanismos e procedimentos paraa avaliao sistemtica da eficincia e eficcia das aes programadas.Assim, estes itens so essencialmente necessrios no planejamento desistemas de drenagem que, segundo Oliveira et al. (2009), no podem

    ser encarados como programa de governo, mas como programa deEstado.

    3.2.1.2 Regularizao

    O Decreto n 7.217/2010 define a regulao como todo equalquer ato que discipline ou organize determinado servio pblico,incluindo suas caractersticas, padres de qualidade, impactosocioambiental, direitos e obrigaes dos usurios e dos responsveis

    por sua oferta ou prestao e fixao e reviso do valor das tarifas eoutros preos pblicos. A regulao tem por finalidade garantir oservio pblico prestado em condies adequadas, atendendo aos

    princpios bsicos de regularidade, continuidade, eficincia, segurana,atualidade, generalidade, cortesia e modicidade (GALVO e CASTRO,2006).

    A Lei Federal 11.445/07 enuncia que uma entidade de regulaodeve definir: i) as normas tcnicas relativas qualidade, quantidade eregularidade dos servios prestados; ii) as normas econmicas efinanceiras relativas s tarifas, aos subsdios e aos pagamentos porservios prestados; iii) a garantia de pagamento de servios prestados;iv) os mecanismos de pagamento de diferenas relativas aoinadimplemento dos usurios, perdas comerciais e fsicas e outroscrditos devidos, quando for o caso; v) o sistema contbil especfico

    para os prestadores que atuem em mais de um municpio.Segundo Baptista et al. (2005) no existe no pas uma regulao

    especfica para emprego de dispositivos de controle do escoamento

    pluvial na cidade, entretanto a legislao brasileira nas esferas federal,estadual e municipal dispe de instrumentos legais que podem ser

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    utilizados. Trabalhos como os de Carvalho (1995), Andrade e Lobo(1996), Tucci (2002), Nascimento et al. (2003) e Gomes (2005),defendem a cobrana pelo servio de drenagem de guas pluviais.Silveira et al. (2009a) definem que existem dois tipos de cobranarelacionada drenagem urbana:

    i) A cobrana de uma taxa pelo servio, interna ao municpio,pago pelos proprietrios dos imveis ao municpio em funo do servioprestado, e;

    ii) A cobrana de um preo pblico pela gua, externa aomunicpio, referente aos impactos proporcionados pelo municpio

    bacia hidrogrfica.Esta proposta sugerida por estes autores visa com que o

    municpio responda aos problemas ambientais causados pelaurbanizao na bacia e incentive internamente os proprietrios e aadministrao municipal a promover o manejo e controle das guas

    pluviais no permetro urbano.O argumento de cobrana encontra respaldo na Lei Federal

    9.433/1997, a Lei das guas, que instituiu a cobrana pelo uso da guacomo um dos cinco instrumentos de gesto dos recursos hdricos. Estalei estabelece como uma das outorgas o lanamento em corpo de guade esgotos e demais resduos lquidos, e deixou em aberto essa questo

    (PEREIRA, 2002).A Lei 11.445/2007 cita a cobrana dos servios pblicos de MAP

    na forma de tributos, inclusive taxas, para garantir a sustentabilidadeeconmico-financeira dos sistemas. Contudo, Baptista et al. (2005)observam que como estes procedimentos ainda no esto sendocobrados pelos Estados, no existe no momento uma presso direta paraa reduo dos impactos resultantes da urbanizao. As principaisdvidas sobre o instrumento de gesto de cobrana pelo uso da gua,conforme Pereira e Speziali (2005), relacionam-se a quanto cobrar; dequem cobrar e quais impactos sero causados nas relaes econmicas,sociais, polticas e ambientais.

    Tm-se ainda as Resolues CONAMA 357/2005 e 430/2011,que estabelecem normas e padres de qualidade da gua dos rios atravsde classes, mas no definem restries com relao aos efluentesurbanos lanados nos rios. Esta resoluo define parmetros paralanamento de efluentes de qualquer fonte poluidora nos corpos de gua,aps o devido tratamento e desde que obedeam s condies, padres e

    exigncias; mas no cita os efluentes resultantes da pluviometria. oportuno citar os estudos de Gomes e Chaudhry (1981), que atestaramque os efluentes provenientes das chuvas efetivas no meio urbano

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    podem transportar tanto ou at mais poluentes que o efluente secundriode estaes de tratamento de esgotos domsticos.

    3.2.1.3 FiscalizaoConforme o Decreto n 7.217/2010, a fiscalizao abrange

    atividades de acompanhamento, monitoramento, controle ou avaliaono sentido de garantir o cumprimento de normas e regulamentoseditados pelo poder pblico e a utilizao, efetiva ou potencial, doservio pblico.

    A Lei Federal 11.445/2007 prev que as entidades fiscalizadorasrecebam e se manifestem conclusivamente sobre as reclamaes que, a

    juzo do interessado, no tenham sido suficientemente atendidas pelosprestadores dos servios. O municpio deve delegar a um rgo ou entepblico a funo de fiscalizao ou exerc-la de forma direta, havendouma grande tendncia que as instituies exeram as duas funes regulao e fiscalizao.

    3.2.1.4 Prestao de Servios

    Para a Prestao de Servios pblicos de saneamento bsico

    devem-se observar os planos da etapa de Planejamento, cujas aesdevem ser realizadas com base no uso sustentvel dos recursos hdricos.

    No que se refere diviso de competncias entre Municpios eEstados, a Constituio Federal atribui aos primeiros poderes paralegislar sobre matria de interesse local, onde se entende estar osaneamento, e de forma suplementar a legislao estadual e federal (art.30, I e II) e para organizar e prestar servios de interesse local (art. 30,V). Isto reserva aos Estados a atribuio de instituir regiesmetropolitanas, aglomeraes urbanas e microrregies, constitudas poragrupamentos de municpios limtrofes, para integrar a organizao, o

    planejamento e a execuo de funes pblicas de interesse comum (art.25, 3).

    3.2.1.5 Controle Social

    O Controle Social, de acordo com a Lei Federal 11.445/2007,representa o conjunto de mecanismos e procedimentos que garantem

    sociedade informaes, representaes tcnicas e participaes nos

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    processos de formulao de polticas, de planejamento e de avaliaorelacionados aos servios pblicos de saneamento bsico.

    O Decreto n 7.217/2010 cita como mecanismos de controlesocial os debates e audincias pblicas; consultas pblicas; confernciasdas cidades ou participao de rgos colegiados de carter consultivona formulao da poltica de saneamento bsico, bem como no seu

    planejamento e avaliao. Estes mecanismos devem estar presentes nasatividades de planejamento, regulao e fiscalizao dos servios.

    O Controle Social representa a democratizao da gesto dosservios, processo que enfrenta como um dos maiores desafios, naopinio de Castro (2011), a proposio de articulaesinterdisciplinares, em um campo cada vez mais complexo, tendo em

    vista a influncia de fatores no apenas tcnicos, mas tambm de carterpoltico, econmico e cultural. Este instrumento legal representa ummarco para governana da gesto dos servios de saneamento bsico noBrasil, no que se refere ao controle e participao social, pois, aoestabelecer o controle social como um princpio fundamental, defineuma forma de exerccio do direito sobre os servios (HELLER et al.,2011).

    3.3 Enchentes e Inundaes

    As catstrofes naturais que mais atingem o Brasil, de acordo comISDR (2005) so as inundaes e os deslizamentos. As inundaes e asenchentes so fenmenos naturais que ocorrem com periodicidade noscursos dgua, conforme Kobiyama e Goerl (2011), e fornecem grandesquantidades de fertilizantes e sedimentos s plancies, atuando comoagentes modificadores da paisagem, sendo, assim, benficos sociedade. Amaral e Rodrigues(2009) observam que esses fenmenosde natureza hidrometeorolgica fazem parte da dinmica natural eocorrem frequentemente deflagrados por chuvas rpidas e fortes ouchuvas intensas de longa durao.

    Quando esses fenmenos entram em contato com a sociedade,causando danos, passam a ser considerados desastres. A Defesa Civilclassifica os desastres causados por inundaes em funo da magnitude(excepcionais, de grande magnitude, normais ou regulares e de pequenamagnitude) e em funo do padro evolutivo (inundaes graduais,inundaes bruscas, alagamentos e inundaes litorneas provocadas

    pela brusca invaso do mar). A juno desta classificao evolutiva, aexceo de inundaes litorneas (j que estas se relacionam com a zona

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    costeira e no com a urbanizao propriamente dita), analisada maisadiante.

    A combinao dos efeitos da urbanizao sobre os componenteshidrolgicos das bacias hidrogrficas acarreta deficincias nos sistemasde drenagem que, ao no desempenharem sua funo de modo correto esatisfatrio, podem resultar em inundaes na rea urbana. Este fato comprovado em pesquisa realizada, no ano 2000, com 5507 municpiosdo pas; cuja populao destas cidades apontou as principais causas dasinundaes ocorridas nos dois anos anteriores. As respostas mais citadasreferem-se a dimensionamento inadequado de projetos, obstruo de

    bueiros/bocas de lobo, obras inadequadas, adensamento populacional eexistncia de interferncia fsica (IBGE, 2000b).

    Para avaliar a relao entre a expanso urbana e a ocorrncia deinundaes e alagamentos, Silveira et. al. (2009b) analisaram a cidadede Joinville com uma srie histrica de 157 anos (Figura 5).

    Figura 5: Evoluo da frequncia de inundaes e da rea urbanade Joinville entre 1851e 2008.

    Fonte: Silveira et al.(2009b).

    Os autores mostraram que nesta cidade ocorrem inundaesdesde a sua fundao, em 1851. Os autores tambm relacionaram estesdados com a precipitao anual, que diminui em termos do total anual.

    Estes dados possibilitaram concluir que as inundaes no se relacionamcom possveis mudanas climticas, mas diretamente com a urbanizao

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    da bacia. Estudo semelhante foi realizado por Rebelatto (1991), Antonio(1993), Santos (2002) e Mendes e Mendiondo (2007), cujo resultadotambm apresenta a urbanizao como fator amplificador dasinundaes.

    Desta forma, as inundaes e enchentes evoluem de eventosnaturais para desastres naturais ou mistos. A UNDP (2004) define umdesastre natural como um srio distrbio desencadeado por um perigonatural que causa perdas materiais, humanas, econmicas e ambientais,que excedem a capacidade da comunidade afetada de enfrentar o perigo.A Secretria Nacional de Defesa Civil utiliza o conceito de Castro(2002), que define desastre como resultado de eventos adversos, naturais

    ou provocado pelo homem, sobre um ecossistema (vulnervel),causando danos humanos, materiais e/ou ambientais e consequentesprejuzos econmicos e sociais. J na definio sobre desastres mistos, omesmo autor afirma que estes ocorrem quando as aes e omisseshumanas contribuem para intensificar ou agravar fenmenos

    potencialmente indutores de desastres.Existe uma tendncia moderna para considerar que, na sua grande

    maioria, os desastres que vm sendo rotulados como naturais, so, narealidade, mistos. Esta interpretao fundamenta-se na prpria definio

    de desastre que resulta da ao de eventos adversos sobre cenriosvulnerveis (CASTRO, 2003).

    Assim, os desastres naturais/ mistos so determinados a partir darelao entre a sociedade e natureza. Deste conflito de interesses em queo homem ocupa reas propensas a eventos naturais, sabendo muitasvezes da ocorrncia dos mesmos, que se d a ocorrncia dos desastresnaturais (WETCHSELGARTNER, 2001).

    Na tentativa de entender a conduo e o exerccio das atividadesrelacionadas atenuao de inundaes em reas urbanas, Pompo(2000a) inicia com algumas questes elementares:

    Quais as causas das enchentes em reas urbanas? O que significam a drenagem e o controle de cheias emreas urbanas?As enchentes em reas urbanas so consequncias de dois

    processos, conforme evidencia Tucci (2003), que ocorrem isoladamenteou de forma integrada:

    1- Ocupao em reas ribeirinhas Quando a precipitao

    intensa e o solo no tem capacidade de infiltrar, a quantidade de guaque chega ao rio superior sua capacidade de drenagem, ou seja, da

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    sua calha normal (leito maior do rio); resultando em inundaes nasreas ribeirinhas. A ocupao ao longo da plancie de inundao dos rios o que traz mais gastos e preocupaes administrao pblica(ROBAINA, 2008). Neste caso, que ocorre em bacias mdias e grandes(> 100 km), os impactos sobre a populao so causados,

    principalmente, pela falta de planejamento do uso do solo.Nesse sentido, Ostrowsky (2000) cita o trabalho de Uehara

    (1989):As vrzeas foram criadas pela natureza para

    servir de depsito de sedimentos e caminhonatural de ondas de cheias. O que no natural sua ocupao indevida, para fins de urbanizao.Se for ocupada por necessidade, os ribeirinhosdevero conviver com a vida prpria da vrzea,principalmente com as inundaes, pois emqualquer perodo de chuvas podero ocorrerenchentes superiores s adotadas no projeto deobras de melhoramentos.

    2- UrbanizaoAs enchentes provocadas pela urbanizao, oupela drenagem urbana, devem-se a diversos fatores, dentre os quais sedestacam o excessivo parcelamento do solo e a consequenteimpermeabilizao das grandes superfcies, a obstruo de canalizaes

    por detritos e sedimentos e tambm as obras de drenagem inadequadas(POMPO, 2000a). Tucci (2005b) comenta que geralmente estasinundaes envolvem bacias pequenas (< 100 km, mais frequentemente

    bacias < 10 km), a exceo de regies metropolitanas, como So Paulo,onde o problema abrange cerca de 800 km.

    A associao dos dois fatores acima expostos pode ser vista naFigura 6, onde se observa a ocupao do leito maior do rio, que podetransformar um fenmeno natural (enchente) em um desastre natural

    (enchente com prejuzos). Assim, o termo fenmeno/evento pode serconceituado como algo acontecido, sem registros de consequnciassociais e econmicas para a populao envolvida, conforme Cerri eAmaral (1998); enquanto o termo acidente/desastre evidencia um fatotambm ocorrido, mas com a existncia de perdas sociais e econmicas(perdas e danos).

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    Figura 6: Diferena entre fenmenos naturais e desastres naturaisassociados a inundaes.

    Fonte: Adaptado de Kobiyama et al. (2006).

    Nesse processo de transformao de apenas fenmeno naturalpara desastre natural, sempre existem fatores antropognicos(KOBIYAMA, 2010). Seibt et al. (2011) comentam que, dentre osmelhoramentos urbanos, o sistema de drenagem possui uma

    particularidade: o escoamento das guas superficiais sempre ocorrer,

    existindo ou no um sistema adequado de drenagem. A qualidade dosistema que determinar se os benefcios ou prejuzos populaosero maiores ou menores.

    Neste sentido, as inundaes em reas urbanas ocorrem comfrequncia cada vez maior, o que eleva os prejuzos econmicos esociais nas cidades brasileiras, sem mencionar os impactos ambientaisassociados. Tucci et al. (2001) informam que o pas perde anualmente,em mdia, valores superiores a 1 bilho de dlares com as enchentes

    urbanas e rurais, valor que, conforme Herrmann et al.(2007), passou aser, a partir de 2004, de U$$ 3 bilhes por ano; sendo o pas Ibero-Americano que mais sofre com a falta de gesto de riscos porinundaes e escorregamentos. A ISDR (2001) espera que as perdasrelacionadas a desastres naturais aumentem consideravelmente nos

    prximos anos, chegando a US$ 300 bilhes por ano em 2050.S no Estado de Santa Catarina, no perodo de 2000 a 2003, as

    inundaes trouxeram prejuzos de U$$ 255.128.953,00, ocasionando15 mortes e deixando mais de 13.000 desabrigados (HERRMANN et

    al., 2007). Em Blumenau-SC, JICA (1988) estimou em 7% do valor detodas as propriedades o custo mdio anual de enchentes e em 22 milhes

    Fenmenos Naturais

    Desastres Naturais

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    de dlares para todo o Vale do Itaja. O prejuzo previsto para uma cheiade 50 anos foi de 250 milhes de dlares.

    Esta situao amplamente divulgada pela imprensaimediatamente aps algum evento catastrfico, contudo, no existe uma

    poltica pblica efetiva destinada a abordar o problema (POMPO,2000a). De um modo geral, o governo age de modo emergencial, no seantecipando ao evento, mas preparando-se, principalmente, para arecuperao dos danos provocados pelos desastres. As dificuldades de

    preveno das inundaes e do manejo satisfatrio das guas pluviaisconverteram os impactos resultantes em um dos problemas maisintensos e socialmente disruptivos que se abatem na regio. possvelafirmar que se trata de uma situao previsvel e, sobretudo, comum no

    Vale do Itaja.Flemming (2002), citado por Giglio (2010), relembra que asinundaes so fenmenos naturais que no podem ser evitados, masseus danos podem ser mitigados. Desta forma, para o controle das cheiasexistem dois tipos de medidas preventivas bsicas que podem seradotadas, segundo Kobiyama et al. (2006): as estruturais e as no-estruturais. As medidas estruturais envolvem obras de engenharia, como

    barragens, diques, alargamento de rios, etc, e envolvem custos maioresque as medidas no-estruturais, que envolvem aes de planejamento e

    gerenciamento, como sistemas de alerta, seguros de inundao ezoneamento ambiental. Em cada situao, estas medidas podem sercombinadas para uma soluo mais efetiva. De qualquer forma,conforme observam Tucci (2005b) e Baptista et al. (2005), o processode controle inicia pela regulamentao do uso do solo urbano atravs deum plano diretor que contemple a drenagem e as enchentes.

    Apesar das medidas no estruturais serem menos onerosas, maiseficazes e acessveis, o gerenciamento atual no incentiva a prevenodas inundaes, j que, quando estas ocorrem, os municpios declaramsituao de emergncia e recebem recursos a fundo perdido, que nonecessitam de concorrncia pblica para o uso (TUCCI et al., 2001). A

    populao, por sua vez, espera por obras imediatistas que resolvam osproblemas oriundos das inundaes; ao invs do investimento emsolues no estruturais, que certamente envolvem restries a ela.

    Nesse sentido, Mattedi e Butzke (2001) mostraram em estudos de casosque as pessoas que vivem em reas de risco percebem os eventos comouma ameaa, contudo no atribuem seus impactos a fatores sociais. Esta

    percepo comum com as enchentes, pois as pessoas costumam

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    atribuir fora da natureza a inundao de suas moradias e no a formade ocupao do espao e das plancies de inundao dos rios.

    Os mesmos autores afirmam que como as inundaes no geramrecursos, mas sim prejuzos, negligencia-se o fortalecimento de umaestrutura institucional de controle de enchentes e de seus efeitos, apesarde se tratar de funo destacada na Constituio. Assim, o grandedesafio o de criar programas nacionais de reduo do impacto dasinundaes que orientem o planejamento urbano, voltado educao da

    populao, levando-se em conta uma gesto descentralizada dosrecursos hdricos.

    Brasil (2009b) observa que a gesto dos impactos e a busca desolues para o problema das enchentes so questes pouco exploradas

    pelos meios de comunicao e a falta de conhecimento sobre o assuntoacaba por diluir as responsabilidades. A preveno contra secas einundaes atribuio da Unio, de acordo com o artigo 21 daConstituio brasileira, mas a gesto do espao e da infraestruturaurbana do municpio. Assim, a ausncia de uma gesto pblica

    preventiva, consoante o mesmo autor, faz com que a responsabilidadepela soluo dos impactos seja transferida do privado para o pblico.

    A Lei 12608/2012, que institui a Poltica Nacional de Proteo eDefesa Civil (PNPEC) e autoriza a criao de sistema de informaes e

    monitoramento de desastres, inclui novas exigncias para a elaboraodo Plano Diretor dos municpios cadastrados no Sistema Nacional deProteo e Defesa Civil (Sinpdec). Entre elas, os parmetros de

    parcelamento e uso do solo; mapeamento de reas suscetveis ocorrncia inundaes bruscas ou processos hidrolgicos correlatos;medidas de drenagem urbana necessrias preveno e reduo deimpactos de desastres; e diretrizes para a regularizao fundiria deassentamentos urbanos irregulares. Alm da drenagem urbana serlembrada de forma preventiva s enchentes, a medida aumenta aresponsabilidade dos municpios, que devem agir preventivamente paraevitar ocupao em reas propensas a desastres.

    3.3.1 Inundaes Graduais

    Castro (2003) define as inundaes graduais (Figura 7) comoelevaes das guas de forma paulatina e previsvel; que se mantm em

    situao de cheia durante algum tempo para, a seguir, escoar-segradualmente. Kobiyama et al. (2006) definem inundao, popularmentetratada como enchente, como o aumento do nvel dos rios alm da sua

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    vazo normal, em que ocorre o transbordamento de suas guas sobre asreas prximas a ele. Este foi o caso das inundaes ocorridas em 1983no estado de Santa Catarina, onde devido a persistentes e excessivaschuvas provocadas pelo fenmeno El Nino houve inundaes em todo oterritrio estadual.

    Castro (2003) comenta que as inundaes graduais so cclicas enitidamente sazonais. Relacionam-se muito mais com perodosdemorados de chuvas contnuas do que com chuvas intensas econcentradas. O fenmeno caracteriza-se por sua abrangncia e grandeextenso, j que so caractersticas das grandes bacias hidrogrficas e derios de plancies, como o Amazonas. As enchentes do rio Itaja, porexemplo, so inundaes graduais, pois a gua leva mais de um dia para

    atingir o pico de uma cheia (TACHINI et al., 2009).Em condies naturais, as plancies e fundos de vales estreitosapresentam lento escoamento superficial das guas das chuvas, e nasreas urbanas estes fenmenos so intensificados por alteraesantrpicas, como a impermeabilizao do solo, retificao eassoreamento de cursos dgua (TAVARESe SILVA, 2008).

    De um modo geral, a previsibilidade das cheias peridicas egraduais facilita a convivncia harmoniosa com o fenmeno, de talforma que possveis danos ocorrem apenas nas inundaes excepcionais,

    em funo de vulnerabilidades culturais, caractersticas de mentalidadesimediatistas (CASTRO, 2003). Pode-se citar Blumenau,em SC, comoexemplo de convivncia com as inundaes graduais, o que nos remetes diferenas entre fenmenos e desastres naturais.

    Figura 7: Inundaes Graduais em Blumenau: a) Em 1911.b) Em 2008.

    Fonte: DAY (2011).

    a) b)

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    levadas pela energia das guas (NOBRE et al., 2011). Assim, de ummodo geral, as enxurradas provocam danos materiais e humanos maisintensos do que as inundaes graduais.

    No Vale do Itaja e na Grande Florianpolis, em Santa Catarina,tm-se principalmente a ocorrncia das inundaes associadas as forteschuvas, decorrentes da passagem dos sistemas frontais e da formao desistemas convectivos, e ao relevo acidentado da vertente atlntica(MARCELINO e GOERL, 2004). Uma das falhas na reduo dedesastres em 2008 foi a falta de conhecimento sobre inundao bruscaem Blumenau e, consequentemente, a falta de preparo contra ela(TACHINI citado por KOBIYAMA e GOERL, 2011).

    A predio das inundaes bruscas facilitada pela operao dos

    radares meteorolgicos, que podem antecipar a quantidade de chuva quevai cair numa determinada regio, com razovel nvel de preciso. Estasinundaes, por ocorrerem em pequenas e mdias bacias, exigemminuciosos estudos, planejamento integrado e intensa participao dacomunidade no planejamento integrado e na execuo de medidas de

    previso, preveno e controle (CASTRO, 2003). Ainda, o autor cita omanejo integrado de microbacias como medida que contribui parareduzir as vulnerabilidades e minimizar os danos.

    3.3.3 Alagamentos

    Castro (2003) define os alagamentos (Figura 9)como o acmulode guas no leito das ruas e nos permetros urbanos por fortes

    precipitaes pluviomtricas, em cidades com sistemas de drenagemdeficientes, aliadas reduo da infiltrao natural nos solos urbanoscausada pela urbanizao.

    Figura 9: Alagamentos em reas urbanas de Blumenau.

    Fonte: SILVA (2012).a b)

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    Nobre et al., (2011) complementam que os alagamentos soacumulaes rasas de lminas de gua que raramente penetram nointerior das edificaes e afetam geralmente as vias pblicas, causandotranstornos momentneos para a circulao de pedestres e veculos. Osmesmos autores citam os problemas do sistema de drenagem urbanacomo causa.

    Desta forma, nos alagamentos o extravasamento das guasdepende muito mais de uma drenagem deficiente, que dificulta a vazodas guas acumuladas, do que das precipitaes locais, que pode terrelao com processos de natureza fluvial (BRASIL, 2007b). Assim, osalagamentos so frequentes nas cidades mal planejadas ou quandocrescem excessivamente em um curto perodo, dificultando a realizao

    de obras de drenagem e de esgotamento de guas pluviais.Castro (2003) cita, ainda, que comum a combinao dos doisfenmenos - enxurrada e alagamento - em reas urbanas acidentadas,como ocorre no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e em cidades serranas.

    3.3.4 Problemtica Conceitual das Inundaes

    Few et al.(2004) afirmam que h uma dificuldade em padronizaras categorias de inundaes devido, sobretudo, as diferentes percepes

    e terminologias adotadas.Tachini et al. (2009) acreditam que, para anlise in situ, a

    extenso do rio determina a rapidez e a violncia da inundao emeventos de chuvas intensas e, desta forma, influenciam na terminologiaadotada. J a WMO (1994) sugere que as inundaes bruscas socaracterizadas por um tempo de concentrao de 6 horas. Contudo, no possvel afirmar que este tempo de concentrao vlido paralocalidades diversas, j que cada localidade possui uma respostahidrolgica prpria para determinada quantidade de precipitao.Kelsch (2002) comenta que uma inundao brusca no pode ser definidaapenas pela resposta do canal ou pela quantidade de chuva, pois ambosvariam significativamente de um evento para outro, seja nas alturas evelocidades (Figura 10), ou podem estar confinadas em estreitos valesou espalhar atravs de plancies, por exemplo.

    Goerl e Kobiyama (2005) elencaram vrios conceitosencontrados na literatura para cada tipo de inundao, com o objetivo deelucidar e entender as definies utilizadas para inundaes graduais e

    bruscas. Concluram que at hoje, diversas vezes, as inundaesgraduais so registradas como inundaes bruscas e vice-versa. Isto nemsempre devido falta de conhecimento, mas sim devido dificuldade

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    de identificao do fenmeno em campo e ambiguidade das definiesexistentes. Alm disto, algumas caractersticas so semelhantes paraambas as inundaes, o que contribui para a complexidade da anlisedos fenmenos.

    Embora os alagamentos no sejam citados na literatura no quetange a complexidade conceitual na identificao dos eventos deinundao, acredita-se que estes fenmenos tambm podem serregistrados erroneamente, j que comum a associao das enxurradas ealagamentos, dando margem a interpretaes diferentes sobre ummesmo tipo de evento. Nesse sentido, Goerl (2009) menciona que muito comum o registro incorreto dos desastres.

    Assim, h uma grande dificuldade em estabelecer um limiar que

    diferencie os tipos de inundao. Este tempo limite pode variar muito deacordo com a bacia hidrogrfica, j que cada uma possui suaprecipitao, caractersticas fisiogrficas, tempo de concentrao esocioeconmicas prprias, conforme observam Kobiyama e Goerl(2011).

    Figura 10: Diferena bsica entre inundaes graduais e bruscas

    Fonte: Kobiyama et al.(2006).

    No entanto, a distino entre as inundaes bruscas e graduais necessria, visto que a Defesa Civil Nacional mantm e gerencia umsistema de registro de desastres, que explicado no prximo item.

    O objetivo deste trabalho no propor metodologias para apadronizao destes tipos de inundao, mas deixar claro que a confusoe registros errneos destes desastres so muito comuns. A identificaocorreta destas inundaes importante para os registros histricos, a fim

    de se conhecer as caractersticas locais que possam ser associadas aocorrncia dos desastres. Para construir uma histria mais prxima

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    verdade, preciso descrever ocorrncias mais precisas possveis, j quea histria um enorme sistema de aviso prvio

    1.

    3.3.5 Registro Oficial dos Desastres

    No Brasil, as informaes oficiais sobre um desastre podemocorrer pela emisso de dois documentos distintos: o Formulrio de

    Notificao Preliminar de Desastre (NOPRED) e/ou o Formulrio deAvaliao de Danos (AVADAN). Quando um municpio encontra-se emsituao de emergncia ou calamidade pblica2, um representante daDefesa Civil do municpio preenche o documento e o enviasimultaneamente para a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil e para a

    Secretaria Nacional de Defesa Civil. Aps, h a oficializao daocorrncia do desastre por meio de um Decreto Municipal exarado peloPrefeito. O Prefeito Municipal pode oficializar a ocorrncia de umdesastre diretamente pela emisso do Decreto, quando no possvel

    preencher um dos dois documentos.Na sequncia, ocorre a homologao do Decreto pela divulgao

    de uma Portaria no Dirio Oficial da Unio, emitida pelo SecretrioNacional de Defesa Civil ou Ministro da Integrao Nacional, comoforma de tornar pblica e reconhecida uma situao de emergncia ou

    um estado de calamidade pblica. A Figura 11 ilustra o processo deinformaes para a oficializao de um registro de um desastre.

    Anteriormente ao AVADAN, os desastres eram registrados porum Relatrio de Danos, que foi utilizado pela Defesa Civil at meadosde 1990, sendo substitudo posteriormente pelo AVADAN. Osdocumentos so armazenados e arquivamento sob responsabilidade dasCoordenadorias Estaduais de Defesa Civil.

    At 2010, qualquer municpio que decretasse situao deemergncia ou estado de calamidade pblica, por ocorrncia de umdesastre natural, deveria enviar o AVADAN Defesa Civil estadual.Para o seu preenchimento deveria ser especificada a Codificao de

    1Norman Cousins, jornalista norte americano.

    2Situao de Emergncia (SE) uma situao anormal provocada por desastre, dando origem a

    prejuzos vultosos, que causam danos suportveis (ou superveis) comunidade afetada, aopasso que no Estado de Calamidade Pblica (ECP), a situao anormal originaprejuzos muitovultosos, cujos danos so dificilmente suportveis (ou superveis) pela comunidade afetada(Castro, 1998).

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    Ameaas e Riscos (CODAR), que adota as definies de inundaespropostas por Castro (2003), que as separa em bruscas e graduais, semespecificar a diferena entre elas. Ressalta-se que nem todas asinundaes e alagamentos so registrados nestes relatrios; apenasaqueles eventos que causaram danos significativos.

    Nos AVADANs, alm da quantificao dos danos e prejuzos,tambm constam informaes relacionadas s caractersticas fsicas doevento, como magnitude e intensidade.

    Figura 11: Diagrama do registro de desastres.

    Fonte: UFSC (2012).

    Com a criao da lei n 12.340 (Brasil, 2010b), que dispe sobreo Sistema Nacional de Defesa Civil (Sindec), sobre as transferncias derecursos para aes de socorro, assistncia s vtimas, restabelecimentode servios essenciais e reconstruo nas reas atingidas por desastre e

    sobre o Fundo Especial para Calamidades Pblicas, o sistema pararegistros de desastres sofreu alteraes. Esta lei informa, em seu artigo17, que para o municpio ou Estado receber recursos para a execuo deaes de reconstruo destinadas ao atendimento de reas afetadas pordesastres, ele deve enviar para a Secretaria Nacional de Defesa Civil doMinistrio da Integrao Nacional trs documentos:

    1- Decreto declaratrio do estado de calamidade pblica ou dasituao de emergncia;

    2- NOPRED (Notificao Preliminar de Desastre), emitido pelo

    rgo pblico competente;

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    3- Plano de trabalho, com proposta de aes de reconstruo emreas atingidas por desastres.

    Embora esta lei tenha tirado a obrigatoriedade do AVADAN, noNOPRED deve constar igualmente o CODAR, ou seja, ainda deve-seespecificar o tipo de inundao que acometeu determinada localidade.Embora no mais necessrio, o AVADAN uma importante fonte deinformaes histricas e pode ser utilizado para levantamentos dedesastres ocorridos ao longo de um determinado perodo. Um cadastrode ocorrncias de inundaes, de acordo com Arajo et al.(2005),funciona como a memria dos eventos histricos e pode auxiliar tanto ostomadores de deciso, como a sociedade como um todo; a empreender efazer valer medidas de ordenamento territorial, com a finalidade de

    minimizar as consequncias de eventos adversos futuros.

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    5 MATERIAIS E MTODOS

    5.1 Escolha da rea de Estudo

    Para escolher a bacia hidrogrfica estudada, quantificou-se,primeiramente, os desastres por inundaes e alagamentos ocorridos noEstado de Santa Catarina. Aps, dividiu-se esses desastres de acordocom a regio hidrogrfica, o que facilitou sua segregao por baciahidrogrfica (Figura 12). Este resultado permite a observao da baciahidrogrfica mais atingida por desastres de inundaes e alagamentos noterritrio catarinense.

    Figura 12: Fluxograma geral para escolha da rea de estudo.

    5.1.1 Inventrio de Desastres relacionados a Inundaes eAlagamentos

    Esta etapa consiste basicamente no levantamento de fontessecundrias junto Secretaria de Estado da Defesa Civil de SantaCatarina (SEDEC/SC) e Secretaria Nacional de Defesa Civil.Utilizaram-se, ainda, as informaes do Atlas Brasileiro de Desastres

    Naturais3, de 1991 a 2010, volume Santa Catarina (UFSC, 2012). Estesrgos possuem os seguintes documentos que contm informaesacerca dos desastres relativos s inundaes graduais, inundaes

    bruscas e alagamentos no Estado de SC: Avaliao de Danos (AVADAN); Notificao Preliminar de Desastre (NOPRED); Decretos Municipais; Portarias do Dirio Oficial da Unio; Relatrios da Defesa Civil Estadual.

    3Nota: A Autora participou da aquisio e elaborao do Atlas.

    Inventrio de desastresde inundaes e

    alagamentos

    Segregaopor RH

    Segregaopor BH

    BH maisafetada

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    Cada documento possui um Cdigo de Desastre, Ameaas eRiscos (CODAR), classificados de acordo com o Manual de Desastresda Secretaria Nacional de Defesa Civil, elaborado por Castro (2003). OCODAR para cada desastre composto de um item alfabtico e um itemnumrico.

    Os cdigos de interesse no presente trabalho so: CODAR NE-HIG 12.301, que se refere a Inundaesgraduais ou enchentes; CODAR NE-HEX 12.302; que se refere a inundaes

    bruscas ou enxurradas; CODAR NE-HAL 12.303; que se refere a alagamentos.

    O cdigo identificado no comeo do documento, juntamentecom o municpio atingido e a data em que ocorreu o desastre (

    Figura 13).

    Figura 13: Cabealho de um AVADAN, com destaque para a tipificao dodesastre.

    Fonte: Digitalizado do Arquivo da SEDEC/SC.Para a escolha da srie histrica, utilizou-se o perodo a partir do

    qual o AVADAN foi institudo, em 1990,o que fornece uma sriehistrica de desastres de 21 anos19902011.

    5.1.1.1 Classificao Por Regio Hidrogrfica e BaciaHidrogrfica

    Aps o histrico dos desastres elencados por municpio,procedeu-se a diviso destes por Regio Hidrogrfica e Bacia

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    Hidrogrfica. O Conselho Nacional dos Recursos Hdricos CNRH-considera como Regio Hidrogrfica o espao territorial brasileirocompreendido por uma bacia, grupo de bacias ou sub-baciashidrogrficas contguas com caractersticas naturais, sociais eeconmicas homogneas ou similares, com vistas a orientar o

    planejamento e gerenciamento dos recursos hdricos (BRASIL, 2003).Assim, um inventrio de desastres de inundaes por RH e BH, permiteobservar e analisar os desastres de forma mais abrangente e integradaaos limites municipais.

    Em Santa Catarina pode-se encontrar 3 grandes RegiesHidrogrficas: Paran, Atlntico Sul e Uruguai (ANA, 2009). Estas 3regies subdividem-se em dez Regies Hidrogrficas dentro do Estado

    (Quadro 2 eFigura 14), que so compostas por 23 bacias hidrogrficas,institudas oficialmente pela Lei n 10.949 de 10 de novembro de 1998(SC, 1998b).

    Quadro 2: Regies e Bacias Hidrogrficas de SCRH Denominao rea Total

    (km)Bacias Hidrogrficas

    1 Extremo Oeste 5.962 Peperi-Gua e Antas

    2 Meio Oeste 11.064 Chapec e Irani3 Vale do Rio do

    Peixe8.189 Peixe e Jacutinga

    4 Planalto deLages

    22.808 Canoas e Pelotas

    5 Planalto deCanoinhas

    11.058 Igua, Negro eCanoinhas

    6 Baixada Norte 5.138 Cubato e Itapoc7 Vale do Itaja 15.111 Itaja-A

    8 Litoral Centro 5.824 Tijucas, Bigua,Cubato do Sul e Madre9 Sul Catarinense 5.991 Tubaro e D Una10 Extremo Sul

    Catarinense4.849 Ararangu, Urussanga e

    Mampituba

    Para os municpios que possuem mais de uma RegioHidrogrfica e/ou Bacia Hidrogrfica utilizou-se os softwares ArcGis eGoogle Earthpara anlise dos seguintes critrios, concomitantemente:

    Maior RH no territrio; Maior BH no territrio;

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    Localizao da Mancha Urbana e

    Localizao do rio principal.Em caso de dvidas persist