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    Loeci Maria Pagano Galli

    Psicopatologia Fenomenolgica

    Psicopatologia o estudo dos transtornos da conduta. A palavra conduta provmdo latim e quer dizer conduzindo ou guiando.

    A psicopatologia toma suas origens da filosofia alem e, mais particularmente, daobra de Husserl (1859-1938) e de Heidegger (1889-1976). A contribuio dafenomenologia conduziu a uma pluralidade de pontos de vista em psicopatologia. Doismtodos so mais conhecidos, o primeiro que se pode qualificar de descritivo dosfenmenos de Karl Jaspers (1883 1969) nesta concepo a psicopatologia ocupa-se,sobretudo como os doentes vivem, visa desvelar significaes. O segundo mtodo ode Ludwig Binswanger (1881 1966) seu trabalho conduz a Daseinsanalyse (anliseexistencial, anlise da presena humana), atitude partindo da compreenso do homemem todas as suas formas e todos os seus mundos. De acordo com Binswanger precisocompreender o mundo do doente e de situar os momentos que contriburam paradesenvolver a estrutura de sua personalidade.

    Os planos qualitativos de pesquisa se iniciam com observaes especficas, com o

    exame minucioso de casos individuais. Tentar compreender os fenmenos tais comonaturalmente vo surgindo constitui a prpria justificativa da utilizao de planosqualitativos de empregar uma anlise indutiva e do desenrolar na forma de umaentrevista naturalista.

    A reflexo de Heidegger (1997) em Ser e Tempo sobre o ser humano segundoBinswagner se tornou indispensvel para a psiquiatria enquanto cincia. Sua ontologiafundamental no apenas se converteu num marco do pensamento filosfico do sculoXX, como causou grande repercusso nas cincias humanas. A daseinsanalyse foiaplicada por Binswanger e Minkowski, entre outros, na compreenso das doenasmentais.

    A noo do ser-no-mundo difundiu-se amplamente pelas cincias humanas desde

    que foi formulada por Martin Heidegger no tratado Ser e Tempo (Sei und Zeit) de 1927.Ele busca em sua obra o sentido do ser. A investigao fenomenolgica de Heidegger de carter ontolgico1, isto ; busca as determinaes essenciais do ser dos entes2. Dessamaneira pretende sempre se situar aqum de plano emprico ou ntico3 (dos entes) econstituir-se na condio de possibilidade do mesmo.

    1 Ontolgico designa o pensar curioso, espantado, assustado sobre o fato de que eu existo e de quequalquer coisa exista (Safranski, Rdger).Heidegger, um mestre da Alemanha entre o bem e o mal. SoPaulo: Gerao Editorial, 2000. p.1902 Entes - Palavra grega ou latina que hoje traduzimos por entes, no h traduo em portugus. As coisasque so agora. Os gregos usavam a palavra ou, assim como ns falamos objetos. Ente em grego foi o

    conceito geral para objeto. Precisamos de uma palavra para falar de todas as coisas. Ser sempre o ser deum ente. Heidegger (1997)3 ntico - A expresso ntico designa tudo que existe.

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    O ser no mundo pode ser desmembrado em trs partes: o ser, o mundo e oem. O mundo em que o ser , o quem no mundo, e o modo de ser-em-si-mesmo. Amundaneidade (materialidade) s se deixa caracterizar mediante a compreenso do serpara quem existe um mundo, o ser que -no-mundo, por sua vez, s se revela a partir desua morada (o mundo), e a relao de ser-em pressupe a compreenso dos termos

    que se relacionam no modo do em. O homem no primeiramente para depois criarrelaes com um mundo, ele homem na exata medida de seu ser-em, isto , na exatamedida em que possui um mundo ou abre o sentido de um mundo.

    No h sentimento, comportamento ou qualquer outro modo de ser de uma pessoaque exista isoladamente como um fenmeno em si. Se olharmos de perto, veremosque a angustia de uma pessoa, que nos parece vir de dentro, est tambm fora, queem ltima instncia no existe nem dentro e nem fora e que em seu ser, algum sse angstia porque o mundo o arrasta em sua angstia, isso reflete uma inseparabilidade.

    A perspectiva ontolgica compreende um sintoma ou sndrome no como umacoisa individual, mas como um estilo de ser no mundo, uma postura total, e que comotal pode ser encontrado em vrios domnios da atividade humana.

    O sintoma enquanto estilo de ser um modo do ser-a impregnado de umadeterminada experincia. A abordagem existencial, portanto opera a partir dacompreenso do mundo como o indivduo se instalou na estrutura do ser no mundo. Umsintoma pode ser compreendido como um estilo de ser no mundo, no modo que ele sed existencialmente. De acordo com Merleau-Ponty (1908-1961) o campo fenomenal daexperincia vivida, da insero no mundo, aquele que d sentido a existncia de certosfatos objetivos isolados.

    Sabemos que o organismo adaptvel s condies do meio exterior, os porosfecham-se com o frio, as pupilas dos olhos contraem-se com o brilho da luz, assimtambm nos adaptamos psicologicamente. Este processo constitui a interpretao e oajuste personalizado realidade de um ser humano nico. Toda a pessoa nasce com umvalor prprio e incondicional. De acordo com Heidegger a essncia do Dasein encontra-se em sua existncia no h essncia do ser j que ser-uma-essncia em si mesmoum modo de ser. A questo sobre o que faz um ente ser o que ele , portanto sobre oque perfaz seu ser-o-que, sobre a entidade dos entes.

    Essncia aqui apenas uma outra palavra para ser (no sentido de entidade)significa o acontecimento medida que acontece. Ser no : ser essencializa. Aessncia do Dasein encontra-se em sua existncia. O Dasein responsvel pelo seu ser-com. O Dasein d um passo frente para dentro do mundo e faz algo de si mesmo;ele ecsttico, excntrico. Existenz no envolve nenhum contraste com essncia aocontrario de Sartre de que a existncia precede a essncia. Heidegger frequentemente

    escreve ex-sistenz ou Ek-sistenz para enfatizar o passo para fora. Faz-se presente porsi mesmo.O conceito existencial (o de Heidegger) de existncia significa o ser si mesmo

    do homem medida que est relacionado no com o si mesmo individual, mas com oser e a relao com o ser.

    Existenz concerne relao do Dasein com ser, mais do que com os entes,significa encontrar-se em, encontrar-se na abertura ecsttica do tempo, e em seusentido corrente urgncia, permanecer na incessante relao essencial com o ser dosentes.

    Heidegger forja um outro adjetivo existencirio, aplica-se estrutura ontolgicada existncia, relaciona-se ao leque de possibilidades aberto para o Dasein, a

    compreenso que delas possui e a escolha que faz (ou recusa) entre elas. Se Daseinescolhe escolher e decide, estes so problemas existencirios. A distino entre

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    existencial e existencirio anloga distino entre ontolgico e ntico,embora estes no se restrinjam a Desain.

    Somos irrepetveis no decorrer de toda a histria humana, mas nossa capacidadede auto avaliao em grande parte resultado da relao familiar, se o amor dos pais eracondicional, que s se manifestava quando atendamos suas exigncias e desaparecia

    quando no atendamos o que queriam, seu amor estava condicionado a nossodesempenho, nosso valor ento de alguma forma estaria fora de ns, em nosso interiorno poderia surgir nenhum amor-prprio, auto-estima, auto-respeito. Desistimos muitocedo de ser ns mesmos para tentarmos ser outra pessoa.

    No h duvida sobre a atitude que cada um de ns tem em relao a si mesmo, amais importante de todas, ela estar sempre afetando nossas outras atitudes,influenciando nossa forma de ver e contatar a realidade, ex: se me vejo um fracassado,ajo como tal. Diante de qualquer relao nova com mentalidade de fracassado quereajo. Nossas expectativas de fracasso do luz a nossos fracassos.

    Segundo Carl Rogers (1902-1987), na verdade todos podem ter os mesmosproblemas, mas apresentam sintomas diferentes, o verdadeiro problema no aceitar-se

    e respeitar-se. Se pudermos desenvolver uma aceitao plena do outro, cresceremosindividualmente em auto-aceitao e auto-compreenso. Quando nos conhecemosverdadeiramente aprimoramos nossa qualidade de vida. Os traos de maturidade podemser reconhecidos pela capacidade de ir em direo aos outros, ter auto-suficinciarazovel, exercer sua vontade, ter flexibilidade, estabilidade emocional e capacidadeadaptativa.

    Se uma flor for atingida por uma forte geada fora da estao, ela no se abrir; apessoa da mesma forma, quando no recebe amor, afeto, afago, precisa suportar suaausncia, assim seu afeto se torna preso em si mesmo. A dinmica da personalidade ficaemperrada, e quando a personalidade apresenta danos, chama-se neurose ou psicose, osgestalt-terapeutas chamam de ajuste criativo. O terapeuta precisa ver o valor criativo emuma resistncia; embora ela seja evitao de um comportamento, na verdade ela contato intra-psquico, pois se protege de um possvel sofrimento. Estar encoberto uma realidade existencial no um estado patolgico. O reconhecer este existencial deforma compartilhada que permite a cura. Podemos entender conflitos interiorescomo conflitos entre a existncia do organismo e o social.

    Em Gestalt-terapia, quando a fenomenologia empregada como mtodo, querdizer que preciso observar a realidade com ateno, descrev-la no sentido lato dotermo. A totalidade ocorre no aqui e agora, portanto mister estar atento temporalidade e espacialidade na qual a pessoa se movimenta e se revela na vida. importante observar a pessoa no seu modo de agir verbal e no-verbal.

    O ente pode mostrar-se desde si mesmo de diversas

    maneiras, cada vez segundo a forma de acesso a ele.

    Inclui-se a possibilidade de que o ente se mostre como

    o que ele no em si mesmo Neste mostrar-se o ente

    parece. Quer dizer um bem que parece tal, porm em

    realidade no o que pretende ser. Fenmeno

    igual ao que se mostra. Fenmeno igual a

    aparncia.

    (Heidegger, 1997, p. 52)

    No mostrar-se, esse ente parece (tem o aspecto de) semelhante mostra-sesignifica parecer. Uma pessoa mostra-se fria e distante como ajuste criativo para se

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    auto-proteger. Pode parecer insensibilidade, porm, nesse caso, o que aparece noreflete seuverdadeiro self, mas um comportamento defensivo de um falso self ou selfpossvel.

    Em qualquer diagnstico h sempre uma viso do mundo antes do mundo, umateoria antes de uma pessoa, um saber antes de um acontecer. Diagnosticar aprisionar o

    ser do outro. Perls (1997) fez a ruptura com a frieza e o distanciamento para dar lugar aoencontro humano e ao conviver.Perls definia a sade e a maturidade psicolgica como sendo a capacidade de

    emergir do apoio e da regulao ambientais para um auto-apoio e uma auto-regulao, oelemento fundamental no auto-apoio e na auto-regulao o equilbrio, uma daspremissas bsicas da Gestalt-terapia de que todo o indivduo possui potencialidadesnaturais que possibilitam buscar o equilbrio do seu organismo. Perls considera o ritmode contato / fuga com o meio ambiente como o componente principal do equilbrioorgansmico.

    Indivduos auto-apoiados e auto-regulados caracterizam-se pelo livre fluir e pelolivre delineamento mais claro da formao fugura-fundo nas expresses de suas

    necessidades de contato e retraimento.De acordo com Perls temos cinco camadas at o crescimento psicolgico.As pessoas vivem papis e tratam de ser aquilo que no so criando vcios e neste

    processo renunciam grande parte de si mesmo.

    Cinco camadas at o crescimento psicolgico.

    1 camada - Clichs - O jogo opressor / oprimido surge da tentativa de doutrinar ooutro criando ameaas para que se comportem bem, os clichs incluem sinais decontato tais como: bom dia, oi, o tempo est bom no ?

    2 camada - Fbica So papis ou jogos do como se em que as pessoas fingemque so aquelas que gostariam de ser, o homem de negcios competente, a pessoaimportante, etc. Na medida em que tomamos conscincia das condutas e manipulaesque nos foram impostas, surgem alguns temores com a finalidade de mant-las, apareceo desejo de evitar condutas novas ou fantasias de eventuais conseqncias que poderoacarretar impedimento para que aparea o comportamento genuno.

    3 camada Impasse - Camada da anti-existncia ou do evitar fbico. Aquiexperimenta-se o vazio, o nada , o ponto em que para evitarmos o nada interrompemos

    nossa camada de conscincia e retrocedemos camada dos papis. Se conseguirmosmanter a autoconscincia neste vazio, alcanaremos quarta camada. O impasse nosperturba e ficamos sem saber o que fazer ou para onde devemos nos mover. Sentimos aperda do apoio ambiental, pois ainda no aprendemos a valorizar o que se ganha naconfiana de nossos prprios recursos.

    4 camada O Implosivo - Morte ou camada implosiva aparece como medo damorte, pois consiste na paralisia de foras opostas, experimenta-se esta camadacontrando-se ou implodindo-se, se pudermos ficar em contato com esta mortealcanaremos a ltima camada, a explosiva. Ela ocorre atravs da aflio, do desesperoou da clareza do que fizemos conosco nos limitando, comeamos a experimentar em

    meio do temor e das vacilaes, condutas novas. As energias, antes inativas se liberam ecriam um impacto onde surge o 5 comportamento.

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    5 camada O Explosivo A culpa ou o ressentimento que sente em relao aos

    seus progenitores por no terem sido o que imaginava que necessitava, culpando-os porseus problemas, ao invs de desenvolver seus prprios recursos de maneira autnoma.A tomada de conscincia deste nvel constitui a pessoa autntica, o verdadeiro self, o

    self possvel capaz de experenciar e expressar suas emoes. A estrutura de nossospapeis coesiva e destina-se a absorver e controlar a energia destas exploses quepodem ser como Perls denominava joie de vivre (alegria de viver).

    Depois desta camada interpretamos a experincia do vazio como sendo um vaziofrtil e no um vazio estril.

    Quatro so os mecanismos que impedem o crescimento: Introjeo Projeo Confluncia Retroflexo

    Introjeo. Introjeo ou engolir tudo o mecanismo pelo quais os indivduosincorporam padres, atitudes e modos de agir e pensar que no so deles prprios e queno assimilam ou digerem o suficiente para torn-los seus. Um dos efeitos prejudiciaisda introjeo que os indivduos introjetivos acham muito difcil distinguir entre o querealmente sentem e o que os outros querem que eles sintam ou simplesmente o que osoutros sentem. A introjeo tambm pode constituir uma fora desintegradora dapersonalidade, uma vez que quando os conceitos e as atitudes engolidas soincompatveis uns com os outros, os indivduos introjetivos se tornam divididos.

    Projeo. Outro mecanismo neurtico a projeo; num certo sentido, o opostoda introjeo. A projeo a tendncia de responsabilizar o outro pelo que se origina noself. Envolve um repudio de seus prprios impulsos, desejos e comportamentos,colocando fora o que pertence ao self.

    Confluncia. O terceiro mecanismo neurtico a confluncia (patolgica) 4. Naconfluncia, os indivduos no experienciam nenhum limite entre eles mesmos e o meioambiente. A confluncia torna impossvel um ritmo saudvel de contato e de fuga, vistoque tanto o primeiro quanto o segundo pressupe um outro. Este mecanismo tambmimpossibilita a tolerncia das diferenas entre as pessoas, uma vez que os indivduosque experienciam a confluncia no podem aceitar um senso de limites e, portanto, a

    diferenciao entre si mesmo e as outras pessoas.

    Retroflexo. O quarto mecanismo neurtico a retroflexo. Retroflexo significaliteralmente voltar-se de forma rspida contra, indivduos retroflexores voltam-secontra si mesmos e, ao invs de dirigir suas energias para mudana e manipulao deseu meio ambiente, dirigem essas energias para si prprios. Dividem-se e tornam-sesujeito e objeto de todas suas aes; o alvo de seu comportamento.

    Perls aponta que estes mecanismos raramente operam isolados uns dos outros,embora as pessoas equilibrem suas tendncias neurticas entre esses quatro mecanismosem variadas propores. A funo crucial que todos esses mecanismos preenchem gera

    4 Perls nota que a experincia da confluncia no sempre patolgica; no entanto fala aqui da confluncianeurtica.

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    confuso na discriminao de limites. Dada esta confuso de limites, o bem-estar, de umindivduo definido como a capacidade de ser auto-apoiado e auto-regulado seriamente limitado.

    A viso de Perls destes quatro mecanismos bsica na maior parte de suaabordagem psicoteraputica. Por exemplo, Perls considerava a introjeo como sendo

    central no que ele chamou de luta entre o dominador (topdog) e o dominado (underdog).O dominador um pacote de padres e atitudes introjetados; Perls sugere que enquantoo dominador (ou, de acordo com Freud, o superego) permanece introjetado e noassimilado, as exigncias expressas pelo dominador continuaro a ser irracionais eimpostas a partir de fora. Perls sugeria que a projeo crucial na formao ecompreenso de sonhos. Sob seu ponto de vista, todas as partes de um sonho soprojetadas, fragmentos desapropriados de ns mesmos. Todo sonho contem pelo menosuma situao inacabada que envolve estas partes projetadas. Trabalhar com o sonho recuperar tais partes e, portanto, completar a gestalt inacabada.

    Psicodiagnstico gnsis saber atravs de dia. Um saber atravs dahistoricidade do tempo e espao, onde individualidades se entrecruzam e prosseguem se

    dando a conhecer.Tempo = Em qualquer momento do ser-agora do meu paciente, est

    presente seu ser-ontem e seu ser-amanh.Espao = O espao do paciente no se limita ao dal, do consultrio, em

    qualquer canto do seu ser-aqui est contido o seu ser-l e seu ser-ento.Humanos so seres que nascem e seguem inexoravelmente atravessando um

    tempo e espao vivendo uma histria, relacionando-se, alegrando-se e sofrendo atmorrer. O trabalho psicoterpico se concretiza na prpria certeza para seguir a jornadasabidamente insegura da vida.

    Diagnosticar um ser humano no contexto da psicoterapia implica em acompanh-lo, conhec-lo ao longo de sua existncia, atravs das relaes que ele estabelece com eem seu mundo, atravs da sua relao comigo, com as relaes que ele mantm comseus eus, tus e issos com os quais interage nos tempos e espaos que segue percorrendo.

    A nica coisa que sabemos de imediato atravs do saber diagnostico, que sofremmesmo que de si disfarcem e que nos buscam para aplacar sua dor. Na busca do alviopara a dor, logo desponta um paradoxo, pois o alvio s aparece depois do contato coma dor. A dor sentida por ele na vivncia das necessidades primrias no satisfeitas ex:encolhimento nas relaes por sentir-se insignificante, espera que os outros o notem.

    Terapeutas acompanham o paciente no indispensvel encontro com a inevitveldor da vida, com as possibilidades trgicas de sua existncia, com suas perdas, com aimpermanncia, com a prpria morte. Fugir da dor da vida, apartar-se da prpria histria

    perder o sentido da existncia humana, deixar de ser...Um gestalt-terapeuta no escamoteia a dor, mas acredita na liberdade de atitudefrente ao prprio destino, e, portanto, nas dimenses prazerosas da vida. este serhumano em movimento, senhor e interprete de sua histria que me permite conhec-lo.Os conceitos e teorias s servem para acompanhar-lhe o fluxo. No se imagina trabalharsem lgica, sem sistemas de pensamento, sem verdades, mas rejeita-se qualquerpensamento que se creditem absolutamente verdadeiros. O trabalho incentiva oconhecer quando se tem por premissa que o conhecimento jamais se completar de fato.Cada aparente acerto se revela renovvel... E quando se acredita saber, pode seperguntar: saber o que? Sobre o universo inesgotvel das possibilidades do viver de umnico ser humano.

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    O comportamento humano tambm hbito aprendido, o resultado de umajustamento criativo, e como no se entra mais em contato com os hbitos assimiladoseles no apresentam nenhuma novidade e por decorrncia nenhum questionamento..

    O indivduo para autopreservar-se necessita crescer, desenvolver suaspotencialidades, ter liberdade para ser ou no ser diferente, experimentar. A sociedade

    por seu turno precisa de indivduos previsveis, que obedeam as suas normas, quedesenvolvam no a sua individualidade, mas os papis institudos e socialmente aceitos,proporcionando assim uma liberdade vigiada aos seus integrantes. Somos, entretantoproduto de nossas relaes com o meio, somos parte deste campo.

    condio humana estar ou reentrar na dinmica da significncia. Sou um ser nomundo, chego com uma bagagem e incapacidade de significar muitas coisas. Quando seescuta eu te aceito se, comea-se a perder a capacidade de significar, e o significadosurge conforme nos ensinaram. Normalmente a pessoa vem pedindo ao terapeuta que asignifique, pois ela no acredita na sua capacidade de significar. A relao amorosa, ocuidado, o escutar atento, um conjunto de significados.

    O terapeuta alm de acreditar na capacidade do outro de escolher o seu destino,

    acredita tambm que ele renunciou ou tem renunciado, ou est renunciando neste exatomomento ao seu prprio destino e adotando o dos outros, por imposio, presso,chantagem emocional ou outros meios persuasrios aos quais cedeu para no ser punido

    / abandonado, principalmente naquelas relaes onde sua dependncia era maior, e,portanto, o exerccio do seu livre arbtrio ficou mais ameaado e perigoso.

    A Gestalt-terapia visa o restabelecimento do fluxo de awareness respeita anatureza humana de auto preservar-se e do crescimento individualizado. A neurose contextual e funcional. Contextual porque uma resposta do ser no mundo,desenvolvida num determinado contexto.

    Segundo Karen Horney (1885 1952) o conceito do que normal varia no scom a cultura, mas tambm dentro da mesma cultura, e como nossa cultura gera umagrande dose de ansiedade nos indivduos, as defesas desenvolvidas ficampotencializadas.

    Em qualquer esforo para compreender uma personalidade indispensveldescobrir as foras propulsoras latentes desta personalidade responsveis pelotranstorno. Perceber a natureza e a complexidade da estrutura de carter nosubestimar os labirintos da natureza do homem atual que muitas vezes conduzido autodespistamentos, iluses, fabricao artificial de desejos, a sociedade hiper-industrialpriva os seres humanos de sua individualidade, de sua singularidade.

    Ainda para Karen Horney o conflito oriundo de atitudes incompatveis constitui omago da neurose que exprimem uma perturbao nas relaes humanas, no por

    mero acidente que um conflito se inicia em nossas relaes com os outros e afeta odesenvolvimento da personalidade. As relaes humanas so decisivas para moldar asqualidades que desenvolvemos as metas que fixamos, os valores que acreditamos tudofica nas relaes inextricavelmente entrelaado. Por ser uma vida orientada em relaoaos outros, o resultado do que aparece na superfcie representa tentativas para encontraruma soluo do que o conflito propriamente dito.

    Temos que confiar na pessoa como produtora de significados. As experincias dopassado determinam a maior ou menor confiana em mim, sou tambm meu passado,ele integra meu todo.

    O terapeuta quando faz uma leitura da relao pode dizer ex: tu tens que deixartua mulher para muitos isso terapia, para ns gestalt-terapeuta no , se fao isto

    desqualifico o paciente, sou apenas um acompanhante. Pode-se ajudar uma pessoa aconfiar em si fazendo um exerccio de resignificao. Terapia fortalecimento da

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    pessoa como ser-no-mundo, de fazer a sua leitura e acreditar nela. O papel do terapeuta muito ativo, para o indivduo confiar em si, ele tem que se sentir acompanhado. preciso respeitar as caractersticas culturais do indivduo e utiliz-las para ajudardurante a terapia. A etnopsiquiatria leva em conta a origem cultural do paciente e osdispositivos teraputicos existentes em cada cultura. Devemos compreender um sintoma

    como um estilo de ser no mundo, no modo que ele se d existencialmente.Hoje a sade mental j no se origina mais da harmonia com o ideal de cada um,mas do objeto que possa trazer satisfao. No h limites. H uma nova forma depensar, de julgar, de comer, de transar, de se casar ou no, de viver a famlia, a ptria, apoltica, os ideais. Essa nova forma de ser organizada pela exibio de prazer eimplica em novos deveres, dificuldades e sofrimentos. O excesso se tornou a norma.

    H uma formidvel liberdade, mas estril para o pensamento, no sabemos o queh para pensar. As pessoas no se interrogam mais sobre sua prpria existncia. Comofaltam referncias, o indivduo se v exposto, frgil, deprimido, precisando sempre deconfirmao externa, assim o eu que aparentemente est voltado para si como o culto aocorpo, a busca de prazer insacivel, a competio pelo trabalho est cada vez mais

    perdido de si mesmo, gerando estados depressivos diversos.Nas patologias da ps-modernidade vemos conseqncias fsicas e emocionais,

    como insnia, esgotamento fsico e mental, transtornos alimentares e de humor, auto-estima rebaixada e dificuldades de estar e cuidar de si mesmo.

    O stress desencadeado pela acentuada competio no ambiente de trabalho; asdificuldades percebidas em suas inter-relaes afetivas e sociais geram um tipo depresso interna experimentada sob a forma de sensaes difusas de medo e sentimentoagudo de vazio e isolamento interno. Queixas desta natureza compem um quadronosolgico especfico de nossa contemporaneidade exigindo muito do individuo.

    Segundo Charles Melman psicanalista francs, houve uma substituio dasneuroses pela depresso. O sexo foi transformado em mercadoria qualquer, sebanalizou, encarado como necessidade, j que caiu por terra o limite que o tornavasagrado. O desejo sexual tratado como simples atividade corporal. O momento atual o de exibir cenas de violncia / cadveres, exibir o interior do interior.

    De acordo com a francesa Elisabeth Rudinesco membro da SociedadeInternacional de Histria da Psiquiatria e psicanlise, os psicotrpicos suprimem poralgum tempo os sintomas das doenas, mas estes tendem a se manifestar novamente. uma iluso da cincia tentar afirmar que os problemas psquicos so orgnicos. J estprovado que, principalmente em casos de obsesso, mania e fobia, os remdios noresolvem. A prpria busca da espiritualidade serve como psicoterapia.

    A violncia social e econmica muito mais grave que a guerra. A economia

    liberal imperante no mundo transforma os sujeitos em objetos. Esta violncia pior quea guerra porque generalizada. Pessoas so levadas depresso, jogadas na rua e nodesemprego, com a perda da sua subjetividade e razes. A Gestalt-terapia buscahumanizar, retomar a chance de refletir sobre a prpria vida e permitir contestar aordem estabelecida que transforma os homens em mercadorias. Uma pessoa integradatem noo de sua harmonia, de seu equilbrio interior, age no mundo com base nasensao presente, respeita suas possibilidades existenciais.

    Se nos dedicarmos somente ao tratamento dos sintomas, eles podem atdesaparecer, mas certo que sero substitudos por outros. As pessoas querem curar-se,atenuar seus sintomas rapidamente, mas a aventura do auto-conhecimento pode serlenta. Sem espao para agir e sem condies de modificar situaes que nos

    incomodam, a reao a contrao fsica. O caminho mais fcil para preenchermos esse

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    vazio interior que toma conta das pessoas, vazio que causa ansiedade, a plula mgicaque auxilia a amenizar seus relacionamentos interpessoais.

    Ter um antidepressivo guardado na carteira j sinal de status. Um bomansioltico e um hipntico eficaz so objetos de consumo que no devem ser esquecidosna despesa do ms.

    As pessoas no toleram a depresso em si e nos outros, na nossa sociedade osindivduos so conduzidos a mover-se, fazer coisas, a tomar decises, a agir, e quemfica sozinho num canto visto com restries. curioso notar que a forma deconsiderarmos a doena bipolar em que existe um plo manaco e outro depressivo,obedece a uma determinao social. O manaco mais aceito pelas sociedadescompetitivas do que o depressivo. O sujeito que diz que vai construir um prdio de 500andares ou que dentro de um ano ter um milho, tido como empreendedor, mas sealgum fica quieto, pensativo no faltar quem diga que ele no est bem que devetomar alguma providncia. Da surge o sucesso das drogas. Os dois so desequilbriosdo encontro consigo mesmo. Se observarmos as polaridades, impotncia X onipotncia,o equilbrio est no meio que a potncia.

    Nossa cultura est repleta de pessoas viciadas em algo, drogas, lcool, comida,cigarro, trabalho, televiso, dinheiro, poder, relacionamentos, religio, todas as maneirade nos preenchermos com coisas externas a ns. O que aconteceu com a sociedade queprovocou este vazio? Porque tantos casamentos infelizes, tanta ansiedade, tantadepresso, tantas enfermidades, porque tantas pessoas infelizes, sofridas, capazes de sedepreciar, sentindo-se solitrias, vazias.

    Sentimo-nos ss quando perdemos a conexo conosco, ficamos isolados,individualistas, no conseguimos nos vincular aos outros, enquanto no fizermos onosso prprio vnculo. No existe uma reao orgnica sem uma repercusso mental.Todo evento mental tem repercusso no organismo. Uma enfermidade explica algosobre o momento de vida. Nossa matriz psicolgica e nosso corpo so complexos. Oorganismo altamente simblico e projeta sobre ele contedos inconscientes e cheios designificados.

    De acordo com Maturana (2001) somos seres do compartilhar, amorosos pornatureza nos distanciamos deste modo natural de ser pela cultura, e quando sentimos umvazio, queremos preench-lo, cada um de ns est sendo desafiado a escolher entreamor, paz, vida, medo, morte, fome, desemprego, misria.

    Formular um remdio que propicie um estado de felicidade imune aos psquismos,imperturbvel diante das vicissitudes da vida, no do humano; mas parece estar sendoo caminho mais fcil para preencher um vazio que causa ansiedade. A busca da plulamgica substitui a falta de relaes interpessoais inteiras, em geral elas esto tnues.

    Muitas pessoas encontram no mau humor, na tristeza, no inconformismo materialo motivo para criar, isso no s diminui como humaniza o seu sofrimento e os seussentimentos. Tudo o que nos leva necessidade de cooperar, de nos proteger comogrupo ou espcie, gerador de sentimentos positivos de afeto, solidariedade eretribuio.

    Como a confirmao fundamental existncia humana, a desconfirmao emfamlia prejudica a confiana bsica da criana, desta forma um desejo de confianainsacivel torna-se seu trao permanente de carter. Kohut deriva a gnese dapsicopatologia na desconfirmao. Searles v a identidade da criana como surgindo emresposta s presses dos outros membros da famlia, e ao papel que designam a ela. Acriana no pode estabelecer percepes realistas a no ser nas medidas em que haja um

    clima emocional fidedigno e de confiana mtua.

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    Hipcrates, o pai da medicina, sculos antes de Cristo, nos diz O corpo no sum conjunto de rgos, mas uma unidade viva que cada indivduo regula e harmoniza.Tudo o que a conscincia rejeita como material culposo, vergonhoso ou sofrido pode sematerializar em enfermidade. Para qualquer pessoa manter o seu emocional emequilbrio fundamental que ela sinta-se amada e que tenha um papel no mundo. Para

    Binswanger no amor que o homem deixa de ser no mundo, para ser alm do mundo.Segundo Heidegger (1997) o homem recusa seu prprio ser, cujo sentido seanuncia, mas se acha oculto. O homem vive como qualquer um, bebe, come, dorme,trabalha, sua despersonalizao anula qualquer originalidade, ele vive nainautenticidade. O homem autntico aquele que se projeta no tempo sempre emdireo ao futuro. Esta passagem no se faz sem dificuldade, mas com ela o homem saida facticidade e entra na transcendncia, sair da inautenticidade buscar a estruturaoriginal da pessoa, pesquisar os bloqueios adquiridos no decorrer da existncia,mobiliza-los e modifica-los para que a pessoa adquira uma conduta nova. O Daseinautntico ou decidido adianta-se muito mais no futuro do que o Dasein cotidiano e,correspondentemente, recua muito mais no passado, antes de vir a pousar no presente e

    fazer o que ele tem de fazer agora.O objetivo teraputico observar se o homem pode ou se est disposto a despertar

    de seu sonho e tomar parte na vida universal. Perls manteve a idia de que a mudanano pode ser forada e que o crescimento psicolgico um processo natural eespontneo. Ele tambm desenvolveu a noo de um continuum de conscincia comoum meio de encorajar esta autoconscientizao. Manter um continuum de conscinciaparece decepcionantemente simples apenas estar consciente do que estamosexperenciando a cada instante, no entanto a maioria das pessoas interrompe ocontinuum quase imediatamente, esta interrupo causada pela conscientizao dealgo desagradvel.

    Esta fuga de uma conscientizao contnua, esta auto-interrupo, impede a pessoade encarar e assimilar uma conscientizao desagradvel, a situao (gestalt) ficainacabada, evitar a conscincia enrijecer o livre fluir natural do movimento figura-fundo.

    Para Koestler (1978), h uma tendncia entre os holistas de usar a palavra todoou gestalt como algo completo em si mesmo, que no requer ulterior explicao. Mastodos e partes neste sentido absoluto, no existem em lugar nenhum, nem no domniodos organismos vivos, nem nas organizaes sociais. A neurose contextual efuncional. Contextual porque uma resposta do ser no mundo, desenvolvida numdeterminado contexto.

    No adianta ficar procurando a origem do sofrimento psquico apenas no

    inconsciente como fazem as correntes que buscam sua origem no orgnico. H outrosfatores no mundo real, como viver numa cidade violenta ou o medo de perder oemprego, que podem, por exemplo, levar algum depresso.

    Ter a idia de que h um universo s seu bem separado da vida social nocontribui para uma conceito natural sobre o indivduo, ele produto de uma poca, ecomo tal; muda de tempo em tempo e pode variar de cultura para cultura. Conceitoscomo Complexo de dipo seria produto da sociedade vianense no tempo de Freud e noeventos naturais validos em qualquer poca.

    Michel Foucault, Gilles Deleuze e Flix Guattari so os trs filsofos francesesque serviram de base para o questionamento da psicanlise. Em 1972 Guattari e Deleuzeescreveram juntos os livros O Anti-dipo, criticando idias de Freud e seguidores por

    sempre buscarem um evento ou um trauma original para enquadrar o analisar numacerta categoria, esta uma viso reducionista do homem. Se j era complicado para um

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    psicanalista vasculhar o mundo inteiro de uma pessoa, como lidar com o sofrimentopessoal de algum alargando essas fronteiras para outro fator como a poltica, aeconomia...

    Alm das relaes familiares, outras fontes so geradoras de sofrimento como apresso no trabalho ou mesmo a exigncia de se enquadrar num padro de beleza. No

    lugar de classificar o paciente dentro de um quadro de doenas psquicas, precisoanalisar as foras que esto atuando para produzir esse sofrimento.Os sintomas podem ser considerados a forma fsica ou psquica de expresso dos

    conflitos e tem a capacidade de mostrar as pessoas em que consistem seus problemas.Tudo o que acontece no corpo de um ser vivo a expresso do padro correspondentede informao, ou seja, a condensao da imagem correspondente.

    O sintoma exige nossa ateno, quer queiramos ou no. A interrupo das funes sentida como se viesse de fora, como se fosse uma perturbao, na maioria das vezes,a inteno do sintoma fazer desaparecer o elemento irritante, a perturbao. Amedicina acadmica equipara o sintoma doena e est encantada com os sintomas,mas no parece querer compreender o ser humano por inteiro. A doena um estado do

    ser humano, indicativo de que, a sua conscincia no est mais em ordem, ou seja, suaconscincia registrou que no h harmonia, essa perda de equilbrio interior semanifesta no corpo ou na mente com um sintoma, sendo assim o sintoma um sinal eum transmissor de informaes, pois com seu aparecimento, ele interrompe o fluxo danossa vida e nos obriga a prestar-lhe ateno. O sintoma nos informa que est faltandoalguma coisa. Antigamente perguntava-se o que est lhe faltando? Hoje pergunta-selogo no incio o que o Sr. sente? a conscincia sempre capta a falha de alguma coisa,pois se nada lhe faltasse, ela estaria sadia, ou seja ntegra.

    Assim, quando entendemos esta diferena, o sintoma passa a ser visto como umcompanheiro capaz de descobrir o que lhe falta. Sintomas querem dizer coisas muitomais importantes que nossos semelhantes, pois so parceiros muito mais ntimos. Ouvirou entender os sintomas no far com que eles desapaream. Na medida em que nosconscientizarmos o que de fato nos falta, do que ainda temos de integrar em nsmesmos, eles nos daro a oportunidade de transformar os sintomas em algo de que nonecessitamos mais. Esta a diferena entre lutar contra a doena e transmut-la.

    A cura pressupe a compreenso de que o ser humano se tornou mais sadio, ouseja, mais inteiro. A cura acontece atravs da incorporao daquilo que est faltando e,portanto ela no possvel sem uma expanso da consciencia. Entender o ser humanopressupe estar aberto a fatos novos, mesmo que no se encaixem com os jcatalogados, isto nos torna capazes de criar.

    O presente, coitado, no tem armas para combater duas super-potncias

    chamadas lembrana e expectativa. Fica o presente encurralado entre esses doisperodos, quando na verdade ele quem deveria ser a estrela da festa, o antes e o depoisso apenas figurao: o durante que o desejo real, a vida breve e s existe esteinstante. Amanh outros acontecimentos iro encobrir o hoje.

    Na psicose a prpria estrutura da percepo fina da lgica de orientao tempoespao da pessoa est perturbada. Nas desordens de carter as funes no esto toperturbadas quanto na psicose, mas esto perturbadas a capacidade de auto-reflexoregular, em geral o lidar com dificuldades, com a awareseess das coisas que sodolorosas e ameaadoras retira a capacidade de auto-observao contnua exigida.

    Na formao do carter h dificuldade especial na formao da Gestalt que exigelevar o self e os outros em considerao. H uma deficincia em sentir pelo menos uma

    dose mnima de boa vontade para com o self e os outros inclusive amor em um sentidosaudvel, equilibrado de ter direitos e deveres.

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    No existe uma reao orgnica sem uma repercusso mental. Todo o eventomental tem repercusso no organismo. A enfermidade explica algo sobre o momento devida. As causas que o paciente atribui ao adoecimento so verdades psicolgicas querevelam como a pessoa est vivendo e quais as questes existenciais que enfrenta. Opaciente no inventa histrias, quando ouvido ele fala de suas dores. O corpo um entre

    elas. Nossa matriz psicolgica e nosso corpo so complexos. Higiene psicolgica cuidar dos nossos sonhos, sentimentos e relacionamentos. Algum na escola ensinouvoc a expressar e lidar com seus sentimentos?

    Toda a doena tem um significado nico para o seu portador e isso deve serentendido dentro do contexto atual de vida. Temos um conhecimento psicolgico donosso corpo mais do que nos damos conta. Uma das formas de entrar em contato comesse conhecimento a imaginao. Uma imagem que corresponda ao seu desconfortobusca estabelecer um dilogo com ela. Ex: diante da presso interna para ser eficiente,em sua imaginao lembrou do pai. O temor da exploso do pai incorporou no seusistema cardiovascular. Esse medo inconsciente era maior do que o pavor de morrer semcumprir tarefas.

    De acordo com Goswami (2000) nossos corpos mental, vital e fsico no soapenas interdependentes por meio de vrios sistemas (fsicos) corporais, mas em ltimaanlise, tambm esto interligados por meio da conscincia. Esta concepo da vida daclula, como uma identificao manifesta da conscincia nos proporciona um modelototalmente novo da conexo mente-corpo - diferente do atual modelo dualista damedicina.

    O novo modelo leva a uma nova abordagem da doena e da cura, baseada na idiada criatividade do corpo no nvel mental e no nvel vital. O pensamento emotivo, poroposio ao pensamento racional, est sendo reconhecido como uma causa do efeitomente que mata / mente que cura nossas emoes negativas como o medo, a luxuria ea raiva esto ligadas s representaes condicionadas dos movimentos do corpo vital. Anova abordagem faz sentido se acrescentarmos o conceito de corpo vital quntico, (ocorpo vital contm os originais / os campos morfogenticos) de que os rgos do corpofsico so as representaes. A doena uma qumica defeituosa nas representaesfsicas do corpo vital. A doena significa que uma representao em software de umadeterminada funo vital deu errada, e precisa de um caminho novo e criativo. A curamente-corpo ocorre quando a conscincia criativamente provoca o colapso de novaspossibilidades na mente quntica, o que induz o crebro e, pela conexo crebro-corpo, o corpo vital-fisico a criar uma nova representao, um novo caminho, para afuno vital afetada.

    O nosso organismo altamente simblico e projetamos sobre ele contedos

    inconscientes e cheios de significados.Perls definia a sade e a maturidade psicolgica como sendo a capacidade deemergir do apoio e da regulao ambientais para um auto-apoio e uma auto-regulao.O elemento crucial no auto-apoio e na auto-regulao o equilbrio. Uma dasproposies bsicas da Gestalt-terapia que todo organismo possui a capacidade derealizar um equilbrio timo consigo e com seu meio. As condies para realizar esteequilbrio envolvem uma conscientizao desobstruda da hierarquia de necessidades.

    Perls considera o ritmo de contato/fuga com o meio ambiente como o componenteprincipal do equilbrio organsmico. Indivduos auto-apoiados e auto-reguladoscaracterizam-se pelo livre fluir e pelo delineamento claro da formao figura/fundo nasexpresses de suas necessidades de contato e retraimento. Tais indivduos reconhecem

    sua prpria capacidade de escolher os meios de satisfazer necessidades medida queestas emergem. Tm conscincia das fronteiras entre eles mesmos e os outros e esto

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    particularmente conscientes da distino entre suas fantasias sobre os outros (ou oambiente) e o que experenciam atravs do contato direto.

    Ao acentuar a natureza do auto-apoio e da auto-regulao do bem estarpsicolgico, Perls no quer dizer que o individuo pode existir, de algum modo, separadodo seu meio ambiente. Na verdade, o equilbrio organsmico supe uma constante

    interao com o meio. O ponto crucial para Perls que podemos escolher a maneiracomo nos relacionarmos com o meio; somos auto-apoiados e auto-regulados quantoao fato de que reconhecemos nossa prpria capacidade de determinar como nosapoiamos e regulamos dentro de um campo que inclui mais do que ns mesmos.

    O conceito de cura que a Gestalt-terapia se prope s pode ser compreendido apartir da concepo fenomenolgica-existencial do ser humano. Esta concepo se operadicalmente ao controle, manipulao ou correo que representam sadasautoritrias e simplistas. A concepo que temos do ser humano e do mundo vai deencontro s concepes institucionalizadas e com o tipo de crenas que nos impuserame esto impregnadas.

    Os estudos e as cincias atuais, no entanto concordam com o ponto de vista

    fenomenolgico-existencial e concordam que somos seres predominantementerelacionais, constitudos nas relaes.

    Somos profissionalmente tomados pela compulso do orientar, do resolver,do salvar, do curar, do educar e com isso tiramos a oportunidade da pessoaencontrar seu prprio caminho, alm de vislumbrar solues possveis. Para ns curano solucionar problemas, mas entrar em contato consciente com o sbio, que cada umtem dentro de si e, a partir da, realizar o que esse sbio decidir. Seja mudar ou no,exteriormente, ele sempre nos acolhe e est nos gerindo seja formandodefesas/resistncias. Cura acreditar em ns mesmos, no outro e no mundo.

    DEPRESSO

    A depresso acontece quando as pessoas perdendo a confiana em si mesmo e naresoluo de seus problemas menosprezam e ignoram suas vontades e necessidades.

    Os condicionamentos recebidos agem como se a criana interior no existisse eisso a leva a sentir depresso. Quando permanece numa relao que no quer, quandofica no casamento por causa dos filhos ou por dependncia financeira, quando sente-seprisioneiro. Quando a pessoa no se escuta, pode at ter sucesso profissional, mas aono acreditar em si e se abandonar, dispara-se uma reao qumica no seu corpo quepode lev-lo a uma grave crise de depresso. Quando se escuta interiormente assumeresponsabilidade de suas dificuldades, escuta os sinais interiores e a depresso

    desaparece.Esta mudana, no entanto s acontece se voc comprometer-se a praticar todos osdias. Voc se apresentaria para um recital de piano sem ter praticado diariamentedurante meses e atingido um ponto em que acreditasse estar apto a tocar? Mesmo nasituao de depresso; preciso obter alguma certeza de ser capaz de dar conta de umasituao crtica. Escutar-se verdadeiramente requer muita prtica.

    O medo da rejeio de perder o controle, de ser dominado, de fracassar, de sentirdor, raiva, humilhao ou solido, faz com que se busque aprovao junto fontesexternas. Desconectado de si mesmo, ingressa-se uma dinmica de negao e recusa-sea percepo interior consciente.

    O aumento de transtornos como a sndrome do pnico est ligada s mudanas

    econmicas, polticas e tecnolgicas do mundo moderno. intil querer curar algumapenas com medicamentos ou conflitos interiores, preciso entender o conjunto de

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    outras foras. Restrito apenas em buscar medicamentos, que funcionam comopaliativos, os sintomas podem at desaparecer, mas certamente sero substitudos poroutros.

    A ansiedade um fenmeno normal, caracterizada por uma sensao desagradvelde apreenso ou preocupao, geralmente relacionada com o futuro. A ansiedade uma

    resposta ameaas internas, desconhecidas, vagas ou de origem conflituosa. Ela podeprovocar sintomas fsicos, como taquicardia, suor excessivo, dores de cabea oumusculares, dificuldades para dormir, dores de estomago, diarria e tonturas, podeapresentar-se em casos extremos, como o pnico, fobias, obsesses-compulsivas,ansiedade social. Diferencia-se do medo que um sinal de alerta para ameaas externase conhecidas.

    Sentimentos negativos como tristeza, ansiedade e dio tm efeito cumulativo noorganismo, podendo causar com o passar dos anos problemas srios de sade. Ohistrico uma pessoa que no pode fazer perguntas e tem que agir como se soubessetudo, sem saber, um faz de conta. A personalidade obsessiva quase o oposto dohistrico.

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