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XII - A Liderança Institucional - 201 Ações Concretas junto aos Professores Na língua inglesa, o diretor da escola ainda é chamado de "head- master", significando com isto que é o "mestre-chefe", ou seja, um dentre os mestres que, por alguma razão, passará a ser o "cabeça" da escola. O sentido original da palavra serve para lembrar que, num ambiente escolar, o diretor da escola incorpora valores e responsabilidades que são próprias do "mestre", isto é, aquele que ensina pelo exemplo. Por isso, a palavra liderar também é sinônimo de educar. O sentido original da palavra "mestre-chefe" reforça, ainda, o conceito de que, num ambiente escolar, uma das responsabilidades centrais do diretor é assegurar o espírito de colegialidade entre os mestres da instituição. Quando se fala em "colegialidade" está se dizendo que a escola é uma organização profissional, administrada profissionalmente, composta por profissionais que buscam, acima de tudo, servir aos interesses do educando, da melhor forma possível e dentro dos mais elevados padrões éticos. "Seleção de professores" Seleção: nem sempre a escola pode escolher o professor, mas o professor costuma escolher a escola A seleção de professores, numa escola pública, raramente é feita pelo diretor. O que acontece, normalmente, é que os professores são designados pela Secretaria. Ao longo do tempo, na verdade, são os professores que escolhem as escolas, procurando ficar "lotados" nas escolas de sua preferência. De certa forma, a escolha da escola pelos professores revela o tipo de liderança que uma escola possui. Que tipo de professores esta escola é capaz de atrair? Por que ela atrai esse e não outro tipo de professores? O que podemos dizer às escolas de formação ao entrevistar jovens egressos das escolas de preparação de professores? O que aprendemos sobre as outras escolas ao entrevistar professores com outras experiências? Mesmo que o diretor não possua controle sobre os professores que entram em sua escola, a entrada de novos professores sempre será uma oportunidade para relembrar e reforçar os princípios que presidem a vida da escola. Qual a sua missão? Qual a visão que tem de si mesma? Quais os valores que a escola preza e pratica para manter-se no rumo correto? Será que o novo professor compartilha essa visão, esses valores?

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Seleção: nem sempre a escola pode escolher o professor, mas o professor costuma escolher a escola XII - A Liderança Institucional -201 A liderança eficaz no processo de recepção aos novos professores mostra que a escola espera que o novo professor seja alinhado com as propostas da escola e em condições de contribuir para o desenvolvimento do aluno e da própria escola. 202- Módulo II - Mobilizando Recursos Estratégicos

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XII - A Liderança Institucional - 201

Ações Concretas junto aos Professores

Na língua inglesa, o diretor da escola ainda é chamado de "head-master", significando com isto que é o "mestre-chefe", ou seja, umdentre os mestres que, por alguma razão, passará a ser o "cabeça" daescola. O sentido original da palavra serve para lembrar que, numambiente escolar, o diretor da escola incorpora valores eresponsabilidades que são próprias do "mestre", isto é, aquele queensina pelo exemplo. Por isso, a palavra liderar também é sinônimode educar.

O sentido original da palavra "mestre-chefe" reforça, ainda, o conceitode que, num ambiente escolar, uma das responsabilidades centrais dodiretor é assegurar o espírito de colegialidade entre os mestres dainstituição. Quando se fala em "colegialidade" está se dizendo que aescola é uma organização profissional, administrada profissionalmente,composta por profissionais que buscam, acima de tudo, servir aosinteresses do educando, da melhor forma possível e dentro dos maiselevados padrões éticos.

"Seleção de professores"

Seleção: nem sempre a escola pode escolher oprofessor, mas o professor costuma escolher a escola

A seleção de professores, numa escola pública, raramente é feita pelodiretor. O que acontece, normalmente, é que os professores sãodesignados pela Secretaria. Ao longo do tempo, na verdade, são osprofessores que escolhem as escolas, procurando ficar "lotados" nasescolas de sua preferência. De certa forma, a escolha da escola pelosprofessores revela o tipo de liderança que uma escola possui. Que tipode professores esta escola é capaz de atrair? Por que ela atrai esse e nãooutro tipo de professores? O que podemos dizer às escolas de formaçãoao entrevistar jovens egressos das escolas de preparação de professores?O que aprendemos sobre as outras escolas ao entrevistar professorescom outras experiências?

Mesmo que o diretor não possua controle sobre os professores queentram em sua escola, a entrada de novos professores sempre será umaoportunidade para relembrar e reforçar os princípios que presidem a vidada escola. Qual a sua missão? Qual a visão que tem de si mesma? Quaisos valores que a escola preza e pratica para manter-se no rumo correto?Será que o novo professor compartilha essa visão, esses valores?

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Estas perguntas, que podem ser feitas pelo diretor, pelos professores oupelo Colegiado Escolar, diante da possibilidade de ingresso de umprofessor mandado pela Secretaria constituem-se excelentesoportunidades, não apenas para a escola mostrar ao novo professor oque espera dele, mas, sobretudo, para a escola conhecer-se melhor. Estaé uma tarefa importante da liderança do diretor. Se bem exercitada,contribui para manter o alinhamento da equipe da escola em torno deseus objetivos.

A liderança eficaz no processo de recepção aos novos professores mostraque a escola espera que o novo professor seja alinhado com as propostasda escola e em condições de contribuir para o desenvolvimento do alunoe da própria escola.

Iniciação

Um dos maiores medos do jovem professor são os seus primeiros diasde aula. Esse medo é maior nos casos em que o professor iniciante nãoteve uma experiência prévia, na forma de um estágio supervisionado. Oque acontece, normalmente, quando um professor chega à escola pelaprimeira vez? Como se dá a iniciação do novo professor, na maioria dasescolas? A resposta de grande parte dos professores é trágica: através dobatismo de fogo: "Você vai dar aula de Geografia para a 5ª série. Aqui estáo livro didático e o diário de classe. Boa sorte."

Raramente, as escolas tomam tempo e trabalho para ambientar o novoprofessor na escola. Esta é uma tarefa indelegável da liderança escolar. Éatravés dela que a liderança transmite aos novos membros a "cultura" daescola, os modos de se fazer as coisas, a ética da escola, ou seja, osvalores importantes, as regras básicas sobre o que é e o que não éaceitável, a expectativa a respeito do trabalho de cada um. Numa escolaorganizada e bem administrada, a iniciação também inclui a apresentaçãodo PDE e da Proposta Pedagógica, e a negociação preliminar do plano detrabalho do novo professor. E inclui, naturalmente, a apresentação donovo professor aos colegas, funcionários e demais colaboradores daescola.

A iniciação é parte integrante das funções de liderança. Ela contribui nãoapenas para favorecer o alinhamento e o entrosamento dos novosprofessores, como também para evitar perdas desnecessárias.

As escolas, sobretudo em outros países, utilizam variados mecanismos deiniciação de professores. Esses mecanismos permitem uma transição maissuave para os novos desafios, mas, sobretudo, permitem que a escolatransmita ao novo professor sua cultura, seus valores, sua ética, sua formade trabalho, suas regras básicas de funcionamento.

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Os mecanismos mais usuais incluem:

a) sessões formais de visita e informação sobre a escola;

b) supervisão do trabalho do professor durante as primeiras semanas,meses ou semestres de atividade, com sessões regulares de"feedback" e supervisão em práticas de ensino.

Os processos de iniciação ainda cumprem duas outras importantesfunções:

A primeira delas é sinalizarpara o novo professor o espaçoexistente na escola para acolher

novas idéias. Se o professorsente que há espaço, pode

apresentar sugestões e, mesmo,tentar implementá-las. Se o professoré mal visto ao questionar a Proposta

Pedagógica ou práticasestabelecidas, ele tende a se

conformar ou a deixar a escolatão logo tenha nova

oportunidade. Com isso, aescola limita o grau de inovação

que seria possível através daincorporação de "sangue novo".

A segunda função é parte da primeira. Em todas as organizações écomum as pessoas se acomodarem às práticas existentes: "Aqui fazemosassim"; "Já tentei e não deu certo." O novo professor - seja na carreira ouna escola - normalmente vem cheio de idealismo, com novas idéias quequer experimentar. É comum que se exceda na dedicação, esforço etrabalho. Freqüentemente, a pressão dos colegas se exerce para que oprofessor "modere o entusiasmo", pois isso expõe a acomodaçãoexistente e acaba se apresentando como ameaça.

Uma iniciação bem acompanhada constitui importante mecanismo paraproteger o novo professor e assegurar-lhe um espaço, ainda que mínimo,para trazer novas idéias e novas práticas para a escola.

É função indelegável da liderança assegurar que o planode trabalho de um novo professor contenha espaçospara inovação, experimentação e implementação denovas idéias e práticas.

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Supervisão

A supervisão é considerada por muitos como o mecanismo de liderançapor excelência. Essa função comumente é exercida pelo diretor ou pelacoordenação pedagógica da escola. Na maioria dos sistemas de ensino,onde a autonomia da escola é muito limitada ou inexistente, a supervisãoexterna da secretaria inclui a supervisão direta dos professores,atropelando, desta forma, a responsabilidade do diretor. Vale aadvertência: não confundir supervisão com tutela. A grande diferençaentre escolas eficazes e as demais escolas reside na concepção e na formade implementação da supervisão.

Alguns exemplos de práticas de supervisão, nas escolas eficazes:

• verificar se o professor está presente, se dá aulas e se cumpre o planode trabalho;

• verificar como o professor dá aulas;

• verificar resultados da ação do professor;

• apoiar e ajudar o professor a superar dificuldades de conteúdo,método, domínio de classe, relacionamento com alunos, pais ecolegas;

• apoiar o professor em atividades de planejamento e avaliação do seuplano de ensino;

• estimular o professor a trocar suas experiências, dificuldades e êxitoscom outros colegas;

• estimular o professor a engajar-se em outras atividades da escola.

Em muitas escolas, a supervisão se constitui uma atividade deaprendizagem permanente, troca de experiências e crescimentoprofissional. Essas atividades podem incluir a realização de reuniões detrabalho com agendas mais genéricas ou mais específicas, sessões deestudo ou outras atividades, geralmente lideradas pelo coordenadorpedagógico, pelo vice-diretor, pelo diretor da escola ou pelos própriosprofessores.

Em todos esses casos, a supervisão está voltada para apoiar o professorno alcance de seus objetivos - e não se confunde com processos decontrole, inspeção, tutela ou acompanhamento meramente burocrático.Em determinadas circunstâncias, a supervisão pode e deve se constituirnum elemento adicional de capacitação dos professores.

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Um exemplo desupervisão estruturada

O Projeto Fortalecimento da Gestão e Autonomia Educacional daSEC/BA desenvolve uma metodologia de supervisão com as seguintesorientações:

• Supervisão e apoio: o Projeto orienta e acompanha de perto,por meio de visitas mensais, o desenvolvimento da gestão e doplanejamento das unidades educacionais.

• Instrumentação: elaboração de manuais e instrumentos deapoio ao planejamento e a gestão, tanto para a Secretaria deEducação como para as escolas. Os manuais e os instrumentospossibilitam alcançar o modelo de gestão idealizada e manter estemodelo como padrão de desempenho do gestor. A exemplo, opresente Manual.

• Transferência de tecnologia: a transferência de tecnologia é agarantia de que os manuais e os instrumentos de gestão serãoutilizados independentemente da supervisão do Projeto,internalizando os conceitos e práticas gestoras já alcançados

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PDE e Proposta Pedagógicacomo exercícios de liderança

A elaboração e revisão do PDE e da Proposta Pedagógica constituemoportunidades privilegiadas para o exercício da liderança, bem como parao surgimento de novas lideranças dentro da escola. Na elaboração,revisão e avaliação do PDE estas oportunidades incluem:

• confiar estudos e tarefas aos professores;

• criar oportunidades para os professores apresentarem novas idéiasou contestarem velhas idéias;

• observar e avaliar o desempenho dos professores nas suas relaçõescom colegas e pais e ajudar o professor a desenvolver suascompetências de apresentar idéias, negociar e convencer;

• avaliar o conhecimento e o nível de atualização do professor nodomínio de sua disciplina e dos métodos de ensino;

• criar espaços para contribuições do professor em áreas que vãoalém de sua sala de aula;

• identificar novas tarefas da escola, nas quais o professor possacontribuir;

• assegurar o alinhamento de cada professor com a missão, a visãoe os objetivos da escola;

• contribuir para a auto-avaliação do professor, estimulando-o no seupermanente autodesenvolvimento.

O Plano de Trabalho do Professor

O plano de trabalho de cada professor, descrito em capítulo próprio,decorre dos objetivos e metas da escola. Neste plano, o professor, emconsonância com os objetivos da escola, estabelece os resultados que secompromete a alcançar no decorrer do ano letivo.

Entre as atividades que podem contribuir para o desenvolvimento decapacidades de liderança do professor incluem-se:

• confiar ao professor a responsabilidade pelo acompanhamento deuma turma, tornando-se um "chefe de turma" ou intermediário entrea liderança da escola e a turma;

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• confiar ao professor a coordenação de projetos especiais ouatividades rotineiras - de caráter acadêmico ou não - revisãocurricular, bibliotecas, audiovisual, grupo de teatro, merenda escolar,caixa escolar, banda de música, organizar atividades que envolvam ospais, entre outras;

• confiar ao professor o desenvolvimento de novas atividades,propostas pelo diretor ou incluídas no PDE.

Algumas destas atividades podem ser acomodadas dentro da cargahorária contratual do professor, através de horas extras, ou na forma detrabalho voluntário. A implementação desse tipo de cultura na escoladepende, essencialmente, da atuação da liderança.

O plano de trabalho também permite pactuar metas dedesenvolvimento pessoal e profissional. Em muitas organizações, um dosresultados que todo líder deve apresentar é a formação de novaslideranças. O plano de desenvolvimento pessoal e profissional doprofessor é um dos instrumentos mais valiosos para este fim. E cabe aodiretor, como facilitador, estimular o professor a buscar seu auto-desenvolvimento.

Atualização Profissional

A responsabilidade pela atualização é uma responsabilidade de cadaprofissional. Não é a escola ou a Secretaria de Educação que sãoresponsáveis pela capacitação e atualização do professor. No entanto,muitas organizações compartilham tanto as oportunidades quanto asresponsabilidades e custos de uma atualização.

No caso do magistério, no Brasil, muitas vezes as necessidades não selimitam à atualização: incluem a formação de base, a formação em

docência ou mesmo a correção de graves lacunas deformação.

Muitos sistemas, inclusive o da Bahia, oferecemprogramas de capacitação em serviço, emdiferentes níveis, para os profissionais de suasredes de ensino. Algumas necessidades decapacitação e atualização em serviço podem,dependendo dos recursos existentes, serefetivadas pela própria escola. Nesse caso, a

liderança do diretor e da coordenação tem papelessencial no diagnóstico do problema e implementação

das ações de capacitação necessárias.

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No texto "O Desafio da Capacitação" estão especificadas as necessidadesde atualização que são mais típicas: deficiência de desempenho,insuficiência de desempenho e necessidade de realização de novas tarefas.

O plano de desenvolvimento do professor se estrutura a partir da análisedesses três grupos de "necessidades" e é organizado conjuntamente pelodiretor e pelo professor, em função do tempo disponível, dos recursosfinanceiros e das formas de apoio que se tornam necessárias.

As saídas mais fáceis e usuais - como "cursos de capacitação" - raramentesão as mais eficazes. Muito mais eficazes tendem a ser aquelas que podemser aprendidas em serviço, mediante a reflexão a partir de problemasconcretos e troca de experiências com colegas que enfrentam problemassemelhantes.

A própria discussão entre o professor e o diretor, a respeito das melhoresformas do desenvolvimento pessoal e profissional do professor,representa um importante capítulo da liderança. Freqüentemente, odesempenho do professor depende de muitos outros fatores - materiaiscondizentes com as necessidades do processo ensino-aprendizagem,adequação curricular, serviços de apoio aos pais e alunos, mudança deatitudes do professor ou do próprio diretor.

Exercer a função de liderança é ajudar o professor a definir oscaminhos mais adequados e a viabilizar os meios para que cada anode magistério se constitua num ano de avanço profissional - e nãoapenas num ano a mais de serviço.

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Ações Concretas no Cotidiano da Escola

Tempo, presença e exemplo

No dia-a-dia da escola, o diretor exercita sua liderança de inúmerasformas. E é justamente a forma como o diretor exerce a sua liderançaque vai determinar o clima da escola - fator decisivo para uma escolaeficaz. As oportunidades para o exercício da liderança são inúmeras,praticamente infinitas.

Tempo, presença e exemplo se materializam de diversas formas:

• Acolher os professoresHá diretores que "vigiam" o ponto e há diretores que acolhem,efusivamente, professores e alunos.

• Acompanhar o desenvolvimento do programa de ensinoHá diretores que "inspecionam" o diário de classe e há diretores que,com base no diário de classe, estimulam o professor a aprimorar,corrigir ou continuar a fazer o que está fazendo.

• Acompanhar o que ocorre nas classesHá diretores que "inspecionam" as classes para ver o que está erradoe há diretores que visitam as classes para estimular alunos eprofessores.

• Promover reuniões eficazesEscolas costumam realizar muitas reuniões. Reuniões, como qualqueroportunidade de diálogo entre pessoas e profissionais, sãoimportantes. Mas isto não significa que todas as reuniões são boas,necessárias ou eficazes. A eficácia da maioria das reuniões, inclusivereuniões de escola, deixa muito a desejar e acaba logrando efeitosnegativos, como a apatia e o absenteísmo.

Além de encaminhar a discussão e a decisão sobre tópicos substantivosda agenda de cada reunião, a liderança do diretor se exerce, sobretudo:

• pela forma como ele se comporta e se conduz;

• pelo exemplo que dá ao ouvir pessoas, dar oportunidades;

• pelo equilíbrio e firmeza no encaminhamento ou tomada de decisões;

• pela observação e encorajamento à participação dos professores.

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Da mesma forma, a participação de professores nas diversas atividadesnão docentes da escola se constitui não apenas de oportunidades para oprofessor ajudar o diretor a fazer as tarefas da casa, mas oportunidadespara o exercício da liderança pela observação, pela orientação, pelocompanheirismo, pelo encorajamento, pela aprendizagem mútua.

Em outras palavras: o processo de conduzir o relacionamento cotidianona escola, nas reuniões e nas várias oportunidades de interação faz adiferença no clima da escola. É desta forma que se exercita a liderança dodiretor: pela dedicação do seu tempo para ouvir, escutar e compreenderas pessoas; pela presença no cotidiano da escola e, sobretudo, pelo seuexemplo. O termo "agir" não significa estar ocupado, fazer coisas. Tempo,presença e exemplo são formas poderosas de "agir".

Este agir inclui:

• Criar e manter um clima de ordem, disciplina e colaboração dentro da escolaFreqüentemente, diz-se que a escola tem a cara do diretor, que o climada escola reflete o ambiente criado pelo exercício da liderança. Oestabelecimento e cumprimento de regras, calendários, compromissos,a forma de delegar tarefas, acompanhar atividades, avaliar resultados,conduzir reuniões, resolver conflitos, relacionar com a comunidade,atender pais e alunos, tudo isto contribui para criar o clima deentendimento, respeito e segurança característicos de uma escola eficaz.

• Apoiar os professores no seu trabalho de liderançaLiderar é educar, conforme discutido no documento introdutório destemódulo. O professor passa mais tempo com o aluno, tem mais presençae mais oportunidades de liderá-los com seu exemplo. O professor liderao aluno, respeitando-o e criando condições para que ele aprenda elogre os resultados que se esperam do aluno e da escola. O apoio querecebe do diretor e de outras lideranças da escola, através das atividadesde acompanhamento, supervisão e avaliação de outros centros deresultado da escola, é essencial para que possa exercer adequadamenteseu trabalho. Essas atividades são rotineiras, mas há momentos especiaisem que se tornam exemplares: o elogio particular ou público a um bomtrabalho; a ajuda do colega ou do diretor a um professor que enfrentadificuldades momentâneas com o ensino, com um aluno, pais oucolegas. Novamente, aqui, somente a dedicação do tempo, presença eexemplo do diretor podem tornar sua liderança eficaz. É preciso estarlá, acompanhar, ajudar a fazer, dar exemplo de como se faz.

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• Arbitrar e intermediar relaçõesO aluno espera que o diretor seja um árbitro e intermediário de suasrelações com professores e pais. O diretor que toma decisõesprecipitadas, ou age injustamente, perde confiança dos liderados. Odiretor cuja escola não cumpriu seu papel de ensinar e que "entrega" oaluno aos pais também perde a confiança dos alunos.

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1 Referências bibliográficas1 - MURPHY, J. The unheroic side of leadership: notes from the swamp. [s.l.]: Phi Delta

Kappan, 1988. p. 654-659.2 - GURGEL, Paulo Roberto Holanda. Ditos sobre evasão escolar: estudo de casos.3 - GURGEL, Paulo Roberto Holanda. Ditos sobre o sucesso escolar: estudo de casos da

Bahia. Brasília: MEC/Projeto Nordeste, 1998. p. 78-79.4 - MEDEIROS, M. L. A. A diferença está na igualdade. IN "Relacionamento Interpessoal na

Escola". MG, SEE, PROCAD - Fase Escola Sagarana, 2001, p. 47-59.5 - GONÇALVES, L. A. O. Educação e violência. IN "Relacionamento Interpessoal na

Escola". MG, SEE, PROCAD - Fase Escola Sagarana, 2001, p. 89-104.

Temas complementaresVeja nesta edição:- PDE- Proposta Pedagógica- Plano de Trabalho do Servidor- Usos da Avaliação- Reuniões Eficazes

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13. Envolvendo Famílias e Pais

• Educação: responsabilidade do Estado, dafamília e da sociedade

• O que os brasileiros esperam da escola

• Participação dos pais: o que sabemos?

• Família brasileira: um cenário em mutação

• Famílias e escolas: uma articulação possível e necessária

• Fazendo contato e organizando a participação

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Educação: responsabilidadedo Estado, da família e da sociedade

"A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, serápromovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o plenodesenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania esua qualificação para o trabalho."

(Art. 205 da Constituição Brasileira, 1998)

Segundo a Constituição Brasileira, a educação é dever dos pais eresponsabilidade conjunta do Estado, da família e da sociedade. Os paissão co-responsáveis pela educação dos filhos. Conseqüentemente, sãoco-responsáveis por sua escolarização e pela escola.

Recentes avanços na legislação educacional, decorrentes de pressões e damodernização de diversos setores da sociedade, vêm ampliando o espaçopara os pais participarem de decisões fundamentais sobre a escola de seusfilhos. Em grande número de redes de ensino, a participação dos pais noColegiado Escolar vem se tornando um instrumento legal, oficial e essencialpara a gestão escolar.

Mas quem são esses pais? Quem é essa família? O que pensam e esperamda escola?

O que o brasileiro espera da escola

Pesquisa intitulada “A escola de que o Brasil precisa”, realizada em 1996,pela Vox Populi, com uma amostra representativa da população brasileira,revela que:

• 87% da população consideram a escola muito importante;

• 12% consideram a escola importante.

A principal função da escola, segundo as expectativas dos pais reveladasna mesma pesquisa:

• 45% - ensinar a ler e escrever;

• 29% - ensinar uma profissão;

• 11% - ensinar a conviver.

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XIII - Envolvendo Famílias e Pais - 215

Outros resultados da pesquisa:

• 60% acham que cada escola deve ter autonomia para definir seucurrículo;

• 64% acham que professores se interessam em fazer os alunosaprenderem;

• 34% acham que os professores se interessam apenas um pouco pelaaprendizagem dos alunos;

• 90% dos pais afirmam que verificam o boletim dos filhos;

• 84% verificam se o filho vai à escola e se leva o material;

• 85% verificam se o filho está fazendo o “para casa”;

• 74% ajudam o filho a estudar;

• 62% procuram a escola se o filho piora nos estudos;

• 56% participam de reuniões na escola.

E na sua escola, como pensam os pais? Como agem? Como participam?

Participação dos pais: o que sabemos?

A participação dos pais é importante? O que sabemos sobre o efeitodesta participação? As evidências a respeito da participação dos pais nosucesso escolar dos filhos apontam para as seguintes direções:

• existe impacto positivo quando há consistência de expectativas evalores, senso de continuidade e apoio entre família e escola;

• esse impacto tende a ser maior quando as famílias cumprem melhorseu papel de família - inclusive em relação à dimensão escolar da vidados filhos;

• existe impacto negativo quando há falta de consistência entre asfamílias e escolas. Isso tende a ocorrer de modo especial quando asfamílias estão desintegradas ou em crise;

• onde existe maior participação dos pais e comunidade, a escola temmais recursos, torna-se menos dependente e o desempenho dosalunos tende a ser melhor.

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Na sociedade brasileira atual, os graus de participação variam conforme o"tipo de família", como definido na tese de mestrado do professorLeonardo Fraiman (1999):

• a família denominada "tradicional" tende a participar, mas este tipo defamília está diminuindo;

• a família dita "moderna" opta por não participar;

• a maioria das famílias "em transição" encontra-se em crise e os papéisdos pais em relação aos filhos nem sempre são claramente definidos,o que dificulta e complica a participação;

• ambas as famílias, do tipo "moderno" e "em transição", delegamresponsabilidades demais para a escola.

Apesar de todo o suporte teórico, em que se evidenciam os benefíciosda participação das famílias na escola, esta participação, na prática, tendea ser relativamente reduzida:

• de modo geral todos reclamam, acham insuficiente a participação dasfamílias;

• a participação dos pais tende a ser reduzida, limitando-se a ajudar asescolas em suas questões materiais ou a problemas específicos dosfilhos;

• em geral, os pais que participam são poucos - e sempre os mesmos;

• a participação em questões pedagógicas e educacionais tende aocorrer apenas quando os pais têm nível de escolaridade igual ousuperior ao dos professores, ou quando as escolas fazem esforçosespeciais para se comunicar adequadamente com os pais;

• existe falta de clareza da escola sobre a família ou sobre a própriafunção da escola:

- seja porque as escolas adotaram a chamada "pedagogia darepetência" ou o "jogo da culpa": para manter-se firme em seupapel de autoridade ou para encobrir sua incompetência, aescola procura justificar seus insucessos, buscando no aluno ounas famílias todas as causas de fracasso escolar e maucomportamento;

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- seja porque os professores e escolas mantêm uma visãoidealizada da família e ignoram suas reais necessidades epossíveis limitações;

- seja devido à estrutura autoritária que ainda caracteriza agestão de muitas escolas e famílias (a onipotência da escolae/ou dos pais gera a impotência dos alunos perante suas vidas);

- seja porque a escola não dispõe de instrumentos, pessoal ecompetência para lidar com as famílias.

Os exemplos de falas, abaixo, ilustram o que se disse.

• Pais devem ser mantidos em casa.

• Pais vão querer invadir e dominar a escola.

• Mas os pais na escola.... para fazer o quê?

Frases "típicas" ouvidas pelo professor Leonardo Fraiman.

Por outro lado, há fortes evidências de que pais se envolvem maisquando:

• têm clareza sobre seu papel de pais;

• desenvolvem senso de eficácia com relação à sua participação na vidaescolar dos filhos;

• percebem oportunidades para se envolver.

Família brasileira: um cenário emmutação

Quem são os pais?

A sociedade está mudando e com ela muda a demografia, mudam osvalores e as expectativas das pessoas a respeito das instituições, inclusivea escola. Não existe mais - se é que já existiu - uma unanimidade deopiniões a respeito do que é e do que deve ser uma escola.

Dentro de cada comunidade escolar, as expectativas também se tornammuito variadas - nem todos os pais pensam e esperam o mesmo da escolaque seus filhos freqüentam. Até entre os pais que participam é normalencontrar profundas divergências de opinião: uns querem uma escola"mais fácil"; outros, "mais difícil" (entretanto, o conceito do que é "fácil" e"difícil" ainda lhes é bastante ambíguo). Uns acham que o "para casa" é

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pouco, outros acham demasiado; uns querem ser envolvidos com oestudo dos filhos e se sentem marginalizados, outros reclamam que nãosabem ou não podem participar. Uns elogiam e outros criticam osprofessores por serem muito liberais ou por exigirem disciplina.

Numa escola da periferia de Belo Horizonte - MG, foram reunidosalguns pais de alunos de quarta série. Os pais convidados eram dealunos que não "acompanhavam" a turma, além de apresentaremproblemas de comportamento.

Uma senhora mais velha levantou-se e disse o seguinte: "Vocês estãoquerendo o quê? Minha neta é filha de um assassino, que está preso.Eu sou líder comunitária e nem sei ler. A mãe dela é da vida. Minhaneta não podia estar melhor. Já sabe ler, escrever, fazer conta. Paramim é um sucesso!"

A fala dessa avó nos mostra a importância de conhecermos a clientelacom a qual lidamos, as suas reais necessidades, os problemas quevivenciam. Nos dizeres do Professor Carlos Rodrigues Brandão:

O desconhecimento não assumido da realidade do"outro" autoriza percebê-lo "como eu quero", paraintervir sobre ele, transformando-o segundo a imagem eo horizonte que antecipadamente a minha boaconsciência desenhou para ele através do "meutrabalho". Através das ações planejadas pelo educadorsobre um universo de vida e saber, cuja lógica e cujasrazões sociais e simbólicas não só ele desconhece,como, na verdade, não quer conhecer.

O Dr. Carlos Rodrigues Brandão é professor da UNICAMP etem vários livros publicados na área da Educação. Ë graduado em Psicologia,

com Mestrado em Antropologia e Doutorado em Ciências Sociais.

A própria estrutura da família está em mudança. Aquela família -considerada o protótipo da família "tradicional" - em que o pai tinhaemprego e trabalhava, e a mãe ficava diligentemente cuidando dos filhose ajudando-os nos trabalhos da escola, torna-se cada vez mais rara,embora muitas vezes seja este o modelo de família que professores eescolas ainda conservam em suas memórias.

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XIII - Envolvendo Famílias e Pais - 219

O perfil da família brasileira está mudando

Segundo dados recentes (Berquó, 2000):

• O número de casamentos legais é cada vez menor, embora a uniãoconsensual venha crescendo.

• 20% das uniões são consensuais, ou seja, não legalizadas.

• A proporção de uniões consensuais entre jovens de 15 a 19 anosé muito acentuada, em grande parte porque o Código Civil nãopermite o casamento de meninas antes de 16 anos e de rapazesantes de 18 anos.

• A curva das separações e dos divórcios tem crescimento acentuado.

• O tamanho médio da família brasileira é de 3,6 pessoas. E vemcrescendo o número de pessoas que vivem sós.

• A taxa de crescimento demográfico anual do Brasil está em tornode 1,3% ao ano, enquanto o número de arranjos familiares crescea 8,8%: quando um casal se separa, o que era uma família vira duas,um domicílio vira dois.

• O número de casais com filhos constitui 52% do total de arranjosdomiciliares.

• O número de casais sem filhos vem crescendo e representa 11%do total.

• Famílias onde apenas um dos pais está presente representam 20%do total, percentual que vem crescendo velozmente. 90% dessasfamílias são chefiadas por mulheres, a maioria das quais (76%) éseparada ou divorciada.

Apresentação da Dra. Elza Berquó, demógrafa eprofessora da Universidade Estadual de Campinas, no Simpósio "Família e Escola",

realizado no Programa "Brasil 500 Anos" (informação verbal).

As conseqüências dessas mudanças para a escola são apontadas pelaprofessora Elza Berquó:

"É hora de pensar claramente que a escola precisa mudar o seurelacionamento com a família, às vezes ela precisa lidar até comalunos que já são pais, na faixa de 15 a 19 anos. Neste processo defragmentação e declínio da família conjugal, não podemos mais teraquela visão de antigamente, de associações de pais e mestres, idéiasde 20 ou 30 anos atrás. Não temos mais aquela família que cultivaos livros didáticos..."

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220 - Módulo II - Mobilizando Recursos Estratégicos

Se o conceito de família e as condições de seu funcionamento estãomudando, também mudou a disponibilidade da família para participar davida escolar dos filhos e da vida da escola.

Assim se manifestou uma professora no debate com a professora Elza:

"O estudo da professora Elza abre uma pauta preciosa para a atuaçãodo diretor ou da diretora da escola: é preciso conhecer as condições dasfamílias da comunidade para poder iniciar um processo de aproximaçãocom elas. Saber como se organizam e como funcionam os gruposfamiliares, tendo em vista que a família é uma unidade que vempassando por grandes transformações na sociedade brasileira. Damesma forma que existem famílias-problema, existem famílias que,independentemente da sua forma de organização, podem contribuirpara facilitar essa aproximação. Não existem regras fixas, cadacomunidade apresenta características diferentes."

As mudanças dos conceitos dos membros da escola com relação ao perfilda clientela que atende é de suma importância, pois nossas concepçõessão estruturantes de nossa prática. Assim sendo, preconceitos e idéiasfalsas estruturam tanto grandes decisões relativas a políticas educacionaise a gerenciamento da escola quanto a relação diária da professora comseus alunos.

Mudar concepções e preconceitos não é tarefa fácil. Mas é noenfrentamento do cotidiano da própria escola que essas mudançaspodem acontecer. Abrindo espaços para que os preconceitos, as dúvidas,as dificuldades sejam explicitados, discutidos - em reuniões ou pequenosgrupos - a escola estará possibilitando transformações nas relaçõescotidianas entre membros da escola e da família.

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XIII - Envolvendo Famílias e Pais - 221

Os pais sob a ótica do diretor da escola

Do ponto de vista do diretor, os pais se apresentam na escola de diversasformas. Uma visão simplificada da percepção dos diretores permitevisualizar os diferentes tipos de pais:

• Pais-problema. Em muitas escolas, os diretores consideram que ospais não são parte da solução, são parte do problema. Alguns delesse envolvem com questões de droga, alcoolismo, violência,exploração do trabalho dos filhos. Na visão de alguns desses pais -por vezes premidos pela miséria e em luta pela sobrevivência - sãoos filhos que devem ajudar a família, e não vice-versa. Alguns aindanão valorizam a escola ou vêem nela uma competição pelo tempodo filho.

• Pais hostis. Embora valorizem a escola, alguns pais manifestamhostilidade em relação a ela, quase sempre por razões de medo,insegurança, baixa escolaridade, ou devido à experiência anteriorcom a escola, seja como alunos ou como pais.

• Pais indiferentes. Para muitos diretores, esta é uma das realidadesmais comuns. Os problemas demográficos apresentados anteriormente,as premências econômicas e a baixa escolarização dos pais acentuam ainclusão de pais neste grupo.

• Pais unicamente preocupados com os filhos. Nesta categoria,segundo os diretores, incluem-se os pais cuja preocupação se centraunicamente nos filhos. Sempre estão na escola, quando convocados,apenas para tratar das questões dos filhos. Muitos deles, quando vêmà escola é para reclamar do ensino ou, mais freqüentemente, dotratamento dado ao filho. São pais que exigem, cobram, ameaçam,alguns nem sempre são delicados com o diretor ou com osprofessores. Entretanto, seu objetivo é assegurar o que consideramcomo sendo melhor para os seus filhos.

• Pais que colaboram com a escola. Este grupo, cada vez maior,é constituído pelos pais que estão dispostos a colaborar com aescola, independentemente de resolver os problemas particulares oupessoais de seus filhos. Muitas vezes, essa colaboração é articuladapelos próprios pais, insatisfeitos com o desempenho da escola oudesejosos de contribuir.

• Pais que querem mandar na escola. Como em toda instituição,sempre há um reduzido número de pessoas que só entende aparticipação de forma autoritária, como exercício do poder. Muitas

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222 - Módulo II - Mobilizando Recursos Estratégicos

vezes, a razão desta atitude está no não reconhecimento daautoridade do diretor ou no fato de não gostarem de sua forma deexercê-la, o que os leva a pretender substituí-lo, controlar, vigiar,tomar decisões em seu lugar.

A direção da escola lida com vários desses tipos de pais ao mesmotempo. O modelo "tradicional" de família já deixou de existir ou de ser amaioria preponderante, não existindo um perfil único. Assim, é ilusãotratar os pais como se fossem uma categoria uniforme.

Cada escola, em cada momento, apresenta uma diferente configuração depais e famílias, que devem interagir com os diferentes objetivos dasescolas. Numa, o desafio é ajudar os pais. Em outra, é trazer os meninospara a escola ou para a aula. Nesta, o problema é ajudar os pais a ajudaros filhos. Naquela, é canalizar a participação dos pais nas atividades quelevam a resultados mais eficazes. Em todos os casos, no entanto,observam-se alguns movimentos convergentes:

• cada vez mais as redes de ensino criam espaço para a participaçãoformal dos pais na vida da escola;

• famílias e pais se tornam cada vez mais interessados - ainda que deformas diferentes - na vida escolar dos filhos;

• os professores se tornam cada vez mais abertos à participação dospais.

Os pais e a escola: canais departicipação

Há dois mecanismos que são formas comprovadamente mais eficazes departicipação: escolher a escola ou, se não puder escolher a escola,participar do Colegiado.

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Escolhendo a escola - No Brasil, a forma de participação mais forte sedá pelo direito de opção: os pais que podem escolhem a escola quedesejam para seus filhos. Esses pais podem entrar e sair de uma escola nomomento que quiserem. Normalmente, escolhem a escola que crêemajustar-se às suas necessidades. Se não estão satisfeitos, reclamam ouajudam. Se quiserem, podem se retirar e procurar outra escola. Paramanter os alunos e satisfazer os desejos de suas famílias, essas escolas seesforçam para sintonizar-se com eles. Infelizmente, no Brasil, a participaçãopela via da opção é limitada aos que podem pagar escolas particulares ouaos que têm acesso a algumas escolas públicas, que podem, efetivamente,ser escolhidas, como opção, pelos pais e pelos alunos. Issofreqüentemente ocorre quando certas escolas abrem concurso deseleção, mas, neste caso, poucos são os alunos mais bem preparados, comchances efetivas de optar. Escolas comunitárias e cooperativas, sobretudocooperativas de pais, tentam reproduzir algumas dessas características,com maior ou menor sucesso no entrosamento com as famílias.

Participando do Colegiado - A segunda forma mais eficaz deenvolvimento se dá através da participação efetiva dos pais no ColegiadoEscolar. A participação dos pais na gestão da escola pública constitui-seem um avanço, uma conquista e uma forma alternativa de ajustar a escolaàs necessidades, objetivos e demandas das famílias. A participação einfluência dos pais, entretanto, não retira a missão básica da escola, que éa de ensinar, dentro de parâmetros gerais estabelecidos pelo PoderPúblico e a partir de recursos definidos por ele.

Na prática, a interação dos pais com as escolas se dá nas seguintescircunstâncias:

• individualmente, por iniciativa dos pais, para tratar de problemasespecíficos dos filhos;

• individualmente, por iniciativa da escola, quase sempre para tratar deproblemas de desempenho acadêmico ou problemas de disciplinados filhos;

• em reuniões promovidas pela escola, normalmente para divulgarnotas dos alunos ou para arregimentar o trabalho dos pais paracampanhas ou iniciativas;

• em reuniões anuais da Assembléia Geral;

• em reuniões de Associações de Pais ou da Caixa Escolar;

• em reuniões de Colegiado Escolar;

• em atividades realizadas pelos pais em função de projetos da escola.

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224 - Módulo II - Mobilizando Recursos Estratégicos

Atualmente, na maioria das escolas, o Colegiado Escolar tem se constituídono mecanismo mais importante e adequado para se estabelecer umdiálogo e formas de colaboração e participação eficazes da família na vidada escola.

Na moderna concepção de gestão escolar participativa, o Colegiado dáaos pais poder e autoridade para influir nas decisões importantes daescola, como se pode ver no capítulo específico do tema.

O envolvimento dos pais na elaboração, implementação, avaliação erevisão do PDE - Plano de Desenvolvimento da Escola - se constitui noinstrumento em torno do qual os pais assumem e exercitam suaresponsabilidade, visando o objetivo comum de pais e escola: promovero sucesso escolar dos alunos, como temos enfatizado.

A articulação possível e necessária

O fracasso escolar, a repetência, a evasão e mesmo a indisciplina e aviolência têm sido apontados como resultados do distanciamento e donão entrosamento entre escola e família. Se de um lado encontra-se adescrença de pais e responsáveis em relação ao sistema, do outro há oseducadores e profissionais de educação que pouca experiência possuemna tarefa de buscar o apoio e o relacionamento com a família para romperessa distância. O resultado é a falta de articulação entre as duasinstituições que, por prática, funcionam separadamente no exercício deformar os cidadãos.

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XIII - Envolvendo Famílias e Pais - 225

Dona Lindalva foi chamada para a reunião de pais do caçula Rafael. Logo àentrada da escola, ela percebe algo diferente. Uma jovem alegre eacolhedora cumprimenta as mães e pais que vão chegando. Cada convidadorecebe um crachá com o nome do filho. Coisas novas. Jeito todo diferentede falar com os pais. Isso teria cheiro de quê? O que viria depois? DonaLindalva recebe o crachá com o nome do Rafael, senta-se num banco lá bemno fundo da sala. A professora Rita lê uma mensagem. Coisa bem bonita,falando da importância de escola e famílias trabalharem juntas. Serem luzesna vida das crianças. Tantas idéias lindas, mas tudo estava longe, eram sópalavras. A professora Rita fala do seu trabalho na sala de aula, explica osconteúdos que está desenvolvendo. E, depois, se dispõe a ouvir os pais. Quesugestões tinham para o trabalho? Pouca gente arriscou um palpite. DonaLindalva continuava a achar tudo muito estranho. Qual seria a hora dasverdades duras? Quando é que viriam os recados individuais? Em quemomento a professora ia dizer que o "Rafa" era um "demônio", uma "peste"?Será que ela ia pedir para mudá-lo de escola? Nas reuniões de pais, DonaLindalva já estava cansada de ouvir o nome dos filhos como sendo difíceis,sem solução, desorganizados, sem ajuda no dever. E a reunião chegou aofinal. Rita queria se despedir de cada um e foi abraçando a todos. DonaLindalva teve vontade de fugir, mas a professora veio chegando:

- A senhora é a mãe do Rafa? Mas que bom conhecê-la! Eu adoro o Rafa!Sinto falta quando ele não vem à aula. Até queria pedir para a senhora nãodeixá-lo faltar. Ele está indo muito bem e não quero que fique prejudicadocom ausências. A senhora deve se orgulhar de ter um filho tão solidáriocomo o Rafa!

Dona Lindalva se encolheu:

- A senhora se enganou. O meu Rafa não deve ser esse menino que asenhora está falando. É muito levado, difícil de aprender... ele já repetiu duasvezes o 1º ano. A senhora deve ter confundido com outro menino.

Rita se surpreendeu:

- Eu só tenho um Rafa na sala. Estou falando do seu mesmo: companheiro,muito querido de todos nós. Ele é mesmo levado, mas a gente se entendee temos sido bons amigos.

Dona Lindalva cresceu, fortaleceu, reagiu com a alma, com o coração. Destavez, ela levava para casa muita alegria, muito orgulho de ser mãe do Rafa. E,naquele momento, a escola nasceu para ela.

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226 - Módulo II - Mobilizando Recursos Estratégicos

Em sua tese de mestrado sobre a participação dos pais na escola, oprofessor Sérgio Luis Avancine observa a existência de três movimentossimultâneos: a democracia de base, que é um conjunto de formas departicipação indireta articuladas na base do tecido social; a democraciarepresentativa clássica, que se dá pelo voto e pelas formas de escolha dediretores; e os instrumentos da democracia direta, fundada emassembléias e consultas, que, no caso da escola, se estrutura em torno daAssembléia Geral e do Colegiado Escolar.

Essa participação nem sempre é bem-vinda nas escolas. Por outro lado,por razões diversas, os pais nem sempre estão preparados para lidar coma escola.

Nas palavras de uma delegada de ensino do Estado de São Paulo:

Às vezes você percebe em alguns diretores um medo da comunidade.Suas escolas são verdadeiros ‘feudos’, fechados com cadeados e grades,impermeáveis às necessidades vitais do bairro. A população é vista poreles como incapaz, agressiva e arrogante ou, então, passiva e omissafrente à educação dos filhos. Quando recebem os pais dos alunos, fazem-no de modo autoritário ou paternalista, chegando mesmo à discriminaçãono tratamento das classes sociais diferenciadas."

Cabe ao diretor, portanto, um longo processo de preparar a escola e osprofessores para receberem, acolherem e dialogarem com os pais deforma compreensível, respeitosa e produtiva.

Mas, mesmo quando é bem-vinda, a participação dos pais não é fácil dese promover. Nem todos estão disponíveis, interessados ou prontos paraparticipar. Embora sejam numericamente poucas as mães que participamna escola, "parece ser exatamente sua qualidade o que conta", observa oprofessor Avancine. Nem sempre é fácil conviver com as famílias dosalunos e vivenciar de perto suas dificuldades, sem poder fazer muita coisade imediato. As soluções virão sempre de um trabalho de equipeenvolvendo professores, os próprios alunos, voluntários e serviços sociaisda comunidade.

Para o diretor atento, frases de membros da comunidade, tais como: "Osmeninos vão bem na escola porque os professores nunca falam nada"; "Aescola nunca pede ajuda a não ser dinheiro"; "A escola só pede ajuda quandotem festa"; "Bilhete da escola é sinal de mau comportamento ou despesaextra", sinalizam um baixo índice de participação das famílias e indicam queexiste um campo enorme para se trabalhar.

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Fazendo contato e organizando a participação

Embora os problemas, momentos e características de cada escola sejamdiferentes, apresentamos abaixo algumas iniciativas que vêm sendoimplementadas com sucesso em diversas escolas. O sucesso,naturalmente, depende das circunstâncias de cada caso.

• Identificar as razões que levam grupos da comunidade a participar ounão da escola. Identificar se a participação vem do interesse genuínode contribuição ou se há outros motivos por trás dessa presença.Conhecer a história de relacionamento entre a escola e acomunidade e vice-versa.

• Organizar ciclos de palestras com a participação aberta a toda acomunidade, abordando questões comuns à vida das pessoas, suasdificuldades e curiosidades a respeito de temas e assuntos especiais.

• Nas comunidades atuantes, estimular cada vez mais a participação,criando novas ações ou ampliando e melhorando as existentes.

• Nas comunidades hostis e indiferentes, buscar um caminho novo.Observar muito, estabelecer alianças e traçar uma estratégia juntocom os aliados. As lideranças que a comunidade respeita precisamser envolvidas e conquistadas para o projeto da escola. Uma mãe dealuno pode ter maior poder de influência sobre o grupo do que olíder comunitário. O diretor deve saber identificar essas pessoas.

• Descobrir na localidade grupos de dança, músicos, artistas, mágicos,esportistas, contadores de estórias, artesãos e convidar estas pessoasa promoverem apresentações, exposições, jogos e brincadeiras naescola.

• Promover programas culturais e de lazer para as famílias nos finais desemana, um "domingo de criação", feiras de livros e de artesanatos,uma gincana esportiva, uma festa comemorativa do aniversário daescola, festas e shows promovidos pelo Grêmio Estudantil,apresentação de grupos folclóricos, por exemplo.

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228 - Módulo II - Mobilizando Recursos Estratégicos

• Os pais que já conhecem e convivem com a escola são os melhoresaliados para conquistar os pais mais arredios que, por timidez oudesinteresse, não se aproximam. Muitas vezes, um convite informalpartindo desses pais atuantes funciona mais do que um convite dodiretor.

• Esta fase inicial de aproximação é extremamente importante. Équando as atitudes do pessoal da escola para com as famílias vãomostrar que elas são importantes, bem aceitas. É a atitude inicial queirá estabelecer a relação entre a família e a escola, no futuro anoletivo. É a hora de mostrar aos pais que seus filhos são queridos erespeitados, que a escola, enquanto espaço físico público, é de todaselas; que a escola é um direito de todos e que o aluno é a pessoamais importante.

A participação é fundamental para que as pessoas se sintam co-autoras eco-responsáveis pelo trabalho e pelos resultados. A participação geracompromisso.

PDE: instrumento-chave na participação e responsabilização

Em escolas com um grau mais elevado de organização, os momentos deelaboração, revisão, avaliação e de implementação do PDE constitueminstrumentos-chave para articular a participação e responsabilização dospais na vida da escola, como temos enfatizado.

Na discussão do PDE, os pais são chamados a apresentar suasexpectativas, bem como a opinar - e posteriormente aprovar - a missão,a visão e os objetivos da escola. A escola deixa de ser aquilo que odiretor, o professor ou o governo querem - e passa a ser a expressão dodesejo coletivo da comunidade.

Se uma das metas, por exemplo, é assegurar a freqüência dos alunos em100% dos dias letivos o intenso envolvimento dos pais, as comunicaçõesfreqüentes da escola e as ações de apoio mútuo e mobilização sãoimprescindíveis.

Inúmeras atividades extra-classe dependem exclusivamente damobilização e até mesmo da liderança de alguns pais como, também,muitas outras atividades a serem desenvolvidas.

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A exemplo:

• A criação de uma atividade de contraturno pode tornar-se viável seos pais se dispuserem a colaborar com a escola e participar deatividades de leitura ou de apoio extra-escolar.

• Pais podem colaborar com professores na sala de aula, na bibliotecaou no recreio.

• Numa semana determinada, os pais podem ser convidados para virà sala de aula falar de sua profissão, ou o professor pode levar osalunos ao local onde um deles trabalha.

• Podem ajudar a organizar festas e eventos, gincanas esportivas eculturais.

• O PDE pode prever a participação dos pais em trabalhos demanutenção ou reforma da escola.

A participação dos pais na Caixa Escolar e nos conselhos que administramos recursos que chegam às escolas é essencial. Em diversas comunidades,a própria educação ou instrumentação dos pais pode ser o objetivo dasações da escola: escola de pais, palestras, encontros para discutir temasde interesse, ou mesmo cursos de alfabetização, cursos de educação deadultos e cursos voltados para interesses específicos da comunidade,particularmente aqueles voltados para ajudar os filhos na sua vida escolar.

Reunir pais para discutir a questão da adolescência foi a tarefa daprofessora Jane. A escola convidou os familiares, mas não tinha idéiade quantos apareceriam. Foram 150. Surpresa geral. Ninguém sabiaque o assunto era tão interessante. Mas era. Jane não conhecia aescola. A caminho, pediu informação e escutou a seguinte resposta:

- "Pra quê pressa? A reunião só fica boa depois das dez horas. Tempalestra antes e, você já viu, a gente até dorme."

Jane riu, agradeceu e não disse quem era.

Iniciou a "palestra" contando este caso e brincou com os pais. Paraexplorar melhor o assunto, os pais foram divididos em dez grupos e"consultados" sobre sua experiência como pais de adolescentes de 14a 18 anos. Cada grupo recebeu a tarefa de listar as atitudes dos filhosem relação à família, aos amigos, ao estudo, aos limites impostos pelasociedade; além de certezas e incertezas dos pais quanto à educaçãodos filhos. Eles deveriam definir um comportamento padrão, freqüentee mais comum destes jovens. Espontaneamente, os pais elegeramcoordenadores e criaram um formato para definir o perfil. Jane sesurpreendeu com a participação de todos. No final, foram reunidosem um grupão e, a partir da fala dos pais, discutiram como tratar osadolescentes com aqueles padrões de comportamento.

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230 - Módulo II - Mobilizando Recursos Estratégicos

Desta forma, integrados aos objetivos do PDE, os resultados daparticipação dos pais se tornam visíveis, deixam de ser ações isoladas ouesforços esparsos de convencimento do diretor. A participação é focadaem decisões específicas, das quais os pais participam, e em açõesconcretas, vinculadas a resultados.

É através do Colegiado Escolar e do PDE que a liderançaescolar cria condições para a efetiva participação dasfamílias e pais na vida da escola e na vida escolar dosseus filhos.

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XIII - Envolvendo Famílias e Pais - 231

1 Referências bibliográficas1 - AVANCINE, Sérgio Luis. Daqui ninguém nos tira: mães na gestão colegiada da escola

pública. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica, 1990. p. 168-170. (Tese,Mestrado).

2 - BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O Ardil da Ordem. Campinas: Papirus, 1986.3 - FRAIMAN, Leonardo. A Importância da Participação dos Pais na Educação Escolar. São

Paulo: IPUSP, 1997. (Dissertação de Mestrado) em 1999.4 - BERQUÓ, Elza. Família e Escola. Programa "Brasil 500 Anos", 2000.

Temas complementaresVeja nesta edição:- PDE- Colegiado Escolar - Escolas Eficazes- Reuniões Eficazes

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14. Voluntários: os Aliados da Escola na Implementação do PDE

• O que é trabalho voluntário

• Oportunidades para o trabalho voluntário nas escolas

• Como atrair e envolver colaboradores nas tarefas da escola

• Preparando a escola para receber o voluntário

• Integrando a oferta de voluntários com as demandas do PDE

• Voluntários na escola: idéias e dúvidas

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234 - Módulo II - Mobilizando Recursos Estratégicos

O que é trabalho voluntário?

O trabalho voluntário, no mundo inteiro, é sinônimo de exercício decidadania e solidariedade e também de realização pessoal.

Entretanto, a nova visão do trabalho voluntário não tem nada a ver comcaridade e esmola, nem com ocupação de quem sofre de tédio.

O voluntário é na verdade um profissional. Antes de tudo, precisa sercompetente e responsável. Ele tem disponibilidade e quer sentir-se útil.As instituições e entidades que operam com programas de voluntáriosdevem agir como empresas sociais. Devem buscar eficiência e resultados.

Para a Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança:

"O voluntário, como ator social e agente de transformação, prestaserviços não remunerados em benefício da comunidade; doando seutempo e seus conhecimentos, realiza um trabalho gerado pela energia deseu impulso solidário, atendendo tanto às necessidades do próximo ouaos imperativos de uma causa, como às suas próprias motivaçõespessoais, sejam estas de caráter religioso, cultural, filosófico, político ouemocional".

De acordo com o Programa Voluntários, do Conselho da ComunidadeSolidária:

"O voluntário é o cidadão que, motivado pelos valores de participação esolidariedade, doa seu tempo, trabalho e talento, de maneira espontâneae não remunerada, para causas de interesse social e comunitário".

Você sabia que no Brasil

• É grande o número de pessoas que já trabalham como voluntárias?

• Os voluntários encontram-se em todas as camadas sociais e níveis derenda?

• Muitas pessoas que nunca foram voluntárias alegam que nunca foramconvidadas?

• A maioria da população considera o trabalho voluntário como algomuito importante?

• Existem voluntários dispostos a trabalhar em diversas atividades quesão do interesse da escola?

• Mais de 30 %, das escolas urbanas, estão envolvendo voluntários emsuas atividades?

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XIV - Voluntários: os aliados da escola na implementação do PDE - 235

Trabalho voluntário: uma necessidade

O trabalho voluntário vem se tornando uma necessidade paracomplementar os recursos públicos de que as escolas dispõem paraimplementar os seus planos de trabalho. Por maiores que sejam osrecursos de que uma escola dispõe, há sempre tarefas adicionais queprecisam ser feitas para que a escola atinja o seu objetivo maior: o sucessodo aluno.

Mobilizar voluntários para contribuir com a escola requer a liderança dodiretor para:

• assegurar a identificação de oportunidades de trabalho voluntário;

• integrar as ofertas de voluntários com as demandas do PDE;

• atrair voluntários e envolvê-los adequadamente nas tarefas da escola;

• preparar a escola para receber o voluntário;

• receber o voluntário e assegurar a eficácia de sua contribuição paraatingir os objetivos da escola.

O voluntariado, hoje, é uma necessidade. Entretanto, não é um plano parasubstituir o Estado, diminuir seus compromissos, nem para substituir otrabalho dos profissionais da educação. Se, de alguma forma, sua presençase constituir um pretexto para afastar e restringir a ação governamental,o voluntariado entra em uma zona de risco.

A função do voluntário é sempre de complementaridade: Assim, ele podeenriquecer o trabalho desenvolvido pelos profissionais da escola,desenvolver funções não exercidas pela instituição e envolver criançasainda não atendidas. Seu trabalho deve ser entendido como um trabalhode co-equipe, em que ele complementa o trabalho da equiperemunerada, sem substituir postos de trabalho.

Amparo Legal

Constituindo uma necessidade e sendo uma realidade presente no Brasil,o trabalho voluntário, desde 1998, é amparado pela Lei 9.608, cujo artigo3 foi alterado pelo artigo 13 da Lei 10.748 de 22 de outubro de 2003.

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236 - Módulo II - Mobilizando Recursos Estratégicos

Lei nº 9.608, de 18 de fevereiro de 1998

Dispõe sobre o serviço voluntário e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono aseguinte Lei:

Artigo 1° - Considera-se serviço voluntário, para fins desta Lei, aatividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidadepública de qualquer natureza ou instituição privada de fins nãolucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais,científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive, mutualidade.

Parágrafo Único: O serviço voluntário não gera vínculo empregatícionem obrigação de natureza trabalhista, previdenciária ou afim.

Artigo 2° - O serviço voluntário será exercido mediante a celebraçãode termo de adesão entre a entidade, pública ou privada, e oprestador do serviço voluntário, dele devendo constar o objeto e ascondições do seu exercício.

Artigo 3° - O prestador do serviço voluntário poderá ser ressarcidopelas despesas que comprovadamente realizar no desempenho dasatividades voluntárias.

Parágrafo Único: As despesas a serem ressarcidas deverão estarexpressamente autorizadas pela entidade a que for prestado o serviçovoluntário.

Artigo 4° - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Artigo 5° - Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 18 de fevereiro de 1998; 117° da Independência e 110° daRepública.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSOPaulo Paiva

(Publicado no Diário Oficial da União de 19/02/1998)

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XIV - Voluntários: os aliados da escola na implementação do PDE - 237

Oportunidades para o trabalhovoluntário nas escolas

Na maioria das escolas, boa parte das necessidades de colaboração devoluntários pode ser agrupada em seis categorias:

• reforço escolar;

• estímulo à leitura;

• gestão escolar;

• atividades extra-escolares, artes e esportes;

• saúde na escola;

• instalação e equipamentos.

No colégio Estadual José Augusto Tourinho Dantas, em Salvador, otrabalho voluntário mobiliza pais, alunos e professores. Os alunosfazem a faxina, cuidam da biblioteca, distribuem a merenda e vigiamas portarias. Nunca houve um caso de vandalismo e o grupo devoluntários já conquistou várias melhorias para a comunidade como,por exemplo, o transporte coletivo.

A natureza e a forma de colaboração de voluntários dependemessencialmente das características dos voluntários disponíveis, dasnecessidades da escola e das prioridades e metas estabelecidas no PDE.

Uma escola eficaz sempre deixa abertas suas portas para contribuiçõesextras ou não planejadas que possam ser trazidas por um voluntário. E,também, leva em conta as potencialidades dele.

A essência do trabalho voluntário não está no que o voluntário sabe fazerou no que faz, mas no ato de dar-se, no ato de colocar-se à disposiçãodo outro. Sua presença na escola reveste-se de caráter eminentementeeducativo e cívico - e deve servir de exemplo para a comunidade escolar.

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238 - Módulo II - Mobilizando Recursos Estratégicos

É claro que competências técnicas são importantes:

• engenheiros ou pintores orientam a manutenção ou reconstrução doprédio;

• marceneiros ajudam a consertar as carteiras ou ensinam os alunos aconsertá-las;

• médicos dão orientação sobre hábitos de higiene, saúde oualimentação;

• universitários ajudam, com reforço escolar, nas matérias em que sãomais competentes;

• artistas emprestam seus talentos, promovendo shows ou ensinandoos segredos de sua arte para alunos e professores;

• o repentista e o contador de estória ajudam na aula de leitura.

Mas, em se tratando de trabalho voluntário:

• a dona de casa pode ajudar no laboratório de computação;

• o advogado aposentado pode colaborar na merenda;

• o pintor pode ajudar os alunos a fazer cálculos daquantidade de tinta;

• o engenheiro pode ajudar nalimpeza da cozinha;

• o aposentado podeajudar na implantaçãoou operação da hortacomunitária ou dojardim.

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XIV - Voluntários: os aliados da escola na implementação do PDE - 239

As formas e necessidades de ajuda são inesgotáveis. Apresentamos abaixoalguns exemplos de maneiras como os voluntários estão participando dotrabalho de apoio às escolas:

• apoiando os alunos nas atividades escolares para que aprendam maise melhor;

• trazendo de volta para a escola alunos faltosos ou que desistiram deestudar;

• ajudando a montar e manter bibliotecas;

• ajudando atividades de leitura, junto a alunos dentro e fora da salade aula, ou mesmo fora da escola, lendo e contando estórias oucomentando notícias;

• organizando e desenvolvendo atividades culturais, artísticas eesportivas;

• orientando as famílias e alunos sobre cuidados com a saúde;

• organizando, articulando e implementando ações de saúde na escola;

• ajudando a escola a conservar seu prédio, móveis e equipamentos;

• colaborando em necessidades específicas de gestão da escola ou deórgãos como Caixa Escolar, Colegiado ou Associação de Pais eMestres;

• colaborando com a direção da escola em tarefas como escrevercartas, bilhetes e recados para os alunos ou suas famílias;

• organizando atividades de recreação para os alunos, no intervalo dasaulas, no contraturno ou nas férias, ou colaborando na preparação oudistribuição da merenda;

• ensinando aos alunos e às suas famílias alguma habilidade(informática, marcenaria, língua estrangeira, música, entre outras);

• colaborando em projetos especiais - como, por exemplo, ajudandoa reconstituir a história da comunidade, arrumando a sala de leitura,confeccionando jogos ou materiais didáticos, organizando umaapresentação teatral ou feira de ciências;

• acompanhando crianças com necessidades especiais;

• dando assistência a professores, colaborando na correção detrabalhos ou mesmo em sua capacitação.

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240 - Módulo II - Mobilizando Recursos Estratégicos

Atraindo e envolvendo voluntáriosnas tarefas da escola

Existe uma enorme experiência, já acumulada no Brasil, sobre trabalhovoluntário. Em todas as comunidades, existem escolas que já vêm fazendouso desse trabalho.

Há diversas formas de atrair voluntários. Pode-se ir atrás do voluntário ouesperar que o voluntário bata às portas da escola. Campanhas feitas pelosalunos, pais e escolas, ou campanhas como o Programa "Amigos daEscola" são exemplos de formas de atração de voluntários.

Outra forma, menos usada, é utilizar instituições intermediárias - comocentros de voluntariado - para identificar e selecionar voluntários. Emtodos os casos, o essencial é assegurar a consistência entre o que a escolaprecisa e o que o voluntário pode oferecer.

Em alguns casos, o trabalho que é oferecido não tem interesseimediato, mas pode ser de grande valor no futuro. Uma escola fez omapeamento dos primeiros contatos com voluntários em potencial edescobriu que a oferta era maior que a sua possibilidade de utilizá-la.A escola organizou um banco de dados e, sempre que precisava,oferecia oportunidades para os voluntários interessados. Além disso,montou um programa de intercâmbio de voluntários com outrasescolas e instituições, o que beneficiou um número ainda maior depessoas.

A maioria dos voluntários utilizados pelas escolas já está dentro daescola: alunos mais velhos ou com talentos especiais podem ajudar osmais novos em atividades de contraturno, reforço e atividadesextracurriculares. Arranjos, denominados de aprendizagem colaborativa,permitem que os alunos mais velhos também se beneficiem de suaprópria colaboração voluntária.

Funcionários e professores também costumam se oferecer comovoluntários para inúmeras tarefas - de caráter eventual ou sistemático.Os pais constituem o maior reservatório de voluntários e são elos paraatrair outras pessoas para o trabalho. Não é preciso ir longe: basta olharpara o potencial existente em cada escola.

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XIV - Voluntários: os aliados da escola na implementação do PDE - 241

Merenda e voluntariado

Em Barbacena, voluntários plantam horta comunitária para reforçar a merenda da escola

A Escola Municipal Embaixador Martim Francisco, em Barbacena, MinasGerais, cedeu o terreno e montou uma grande horta comunitária em parceriacom o núcleo local do Programa "Amigos da Escola".

Desde o trator, que preparou o terreno, até os insumos, sementes,fertilizantes e equipamentos para trabalhar a terra, tudo foi conseguido atravésde doações. Metade dos legumes e verduras colhidas é destinada para amerenda escolar. A outra metade é distribuída para as famílias em torno daescola.

O resultado desta ação é fruto do trabalho de voluntários como o Sr. SinvaldoMendes de Souza, aposentado, e o Sr. Sebastião Agostinho da Silva,desempregado, que toda manhã dedicam parte de seu tempo cuidando dahorta.

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242 - Módulo II - Mobilizando Recursos Estratégicos

Preparando a escola para receber o voluntário

Para receber, acolher e se beneficiar do trabalho voluntário, professorese funcionários devem estar conscientes da importância desse trabalho.Para isto, é necessário preparar o terreno. Muitas vezes existemresistências - inclusive resistências justificadas pelo medo, preconceito eexperiências negativas que precisam ser superadas. Muitas vezes asresistências ocorrem porque professores e funcionários:

• temem que os voluntários venham substituí-los ou que o governopare de mandar recursos para as escolas;

• acham que pessoas de fora vão perturbar o trabalho escolar;

• têm insegurança de se expor à observação de outras pessoas quepodem ser até mais qualificadas;

• tiveram experiências desagradáveis com a participação de pessoas defora em certas atividades da escola;

• terão que trabalhar mais, orientar os voluntários, esperar até que elesaprendam o serviço;

• simplesmente não gostam que pessoas de fora participem ouinterfiram em suas atividades na escola ou na sala de aula;

• não receberam informação a respeito de como o voluntário podeajudar;

• não participaram da elaboração do PDE, quando se definiram aspolíticas e metas da escola para envolver voluntários;

• sabem que trabalho voluntário dá trabalho.

Fundadas ou não, estas razões precisam ser ouvidas, escutadas,compreendidas, analisadas e esclarecidas.

Estratégias para preparar o terreno:

• visitas a outras escolas que já possuem experiência;

• palestras de professores, diretores ou voluntários de outras escolas;

• análise de material sobre trabalho voluntário;

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XIV - Voluntários: os aliados da escola na implementação do PDE - 243

• uso progressivo de voluntários, passo a passo, em áreas que mais seoferecem para receber esta participação dentro da escola;

• envolvimento, primeiramente, dos alunos, dos pais e do pessoal daprópria escola, como voluntários.

Qualquer que seja a estratégia de preparação do terreno, o importante éque seja superada e que se crie um clima positivo de aceitação e detrabalho.

Normalmente, observam-se dois tipos de estratégias usuais nas escolasque iniciam trabalhos com voluntários. É mais freqüente acontecer oseguinte: o voluntário chegar, dizer o que sabe, o que quer ou gostaria defazer e a escola "permitir" que ele faça algo. Nem sempre o que ovoluntário quer fazer é considerado como importante ou prioritário.Menos usual, mas cada vez mais usada, é a estratégia de negociar astarefas, com o voluntário, de acordo com as necessidades da escola.

Nas escolas mais experientes, a tendência é haver mais negociação como voluntário. Nelas, há sempre intercâmbio, as escolas não apenas queremo trabalho do voluntário, mas organizam a sua atividade de forma a ouvirsuas opiniões, sugestões e observações sobre o seu próprio trabalho esobre o trabalho da escola.

A preparação da escola para receber o voluntário, quando bem-feita,implica abrir as portas, não apenas para receber "mão-de-obra", mas paraouvir, escutar, compreender e receber novas influências. Esta é uma formaadicional de a escola abrir-se para a comunidade.

Recebendo o voluntário

Antes de admitir voluntários, alguns pontos devem estar claros para aescola. Ela deve procurar saber:

• o quê na, escola, precisa ser complementado pelo trabalhovoluntário;

• se o trabalho que os voluntários realizarão será relevante para aescola, se atenderá às suas necessidades;

• como cada tarefa poderá se encaixar na estrutura organizacional daescola;

• qual o perfil de voluntário de que a escola precisa (faixa etária,profissão, habilidades, preferências);

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244 - Módulo II - Mobilizando Recursos Estratégicos

• quais as formas de se fazer uma seleção criteriosa do voluntariado(entrevistas, questionários, fichas de inscrição, termos de adesão);

• quais os compromissos, responsabilidades e direitos da escola como voluntário e deste com a escola.

Para que o trabalho do voluntariado tenha sucesso, primeiramente, deve-se conseguir um compromisso claro e firme da direção e do pessoalremunerado da instituição, para que atuem de modo a permitir que osvoluntários se sintam sempre parte integrante da organização e da equipede trabalho. Eles chegam movidos por um impulso solidário. Paratrabalhar bem, devem encontrar na instituição um espaço acolhedor e umprograma de trabalho com objetivos e prazos definidos.

Também deve ser feito, como promulga o artigo 2º, da Lei nº 9.608 de1998, um contrato entre a entidade e o prestador do serviço voluntário,em que são estabelecidos os objetivos, as formas de ação colaborativa deambas as partes, definindo possibilidades de ações e limites, assim comoos princípios éticos.

A experiência de milhares de escolas que vêm trabalhando com voluntáriossugere que os seguintes passos contribuem para resultados positivos:

• definir com clareza a tarefa do voluntário;

• explicitar as expectativas da escola e do voluntário a respeito dotrabalho;

• estabelecer horários e formas de trabalho, de maneira clara;

• elaborar um "termo de compromisso", semelhante ao plano de trabalhousado para professores e funcionários;

• designar uma pessoa como responsável pelo acompanhamento,supervisão e avaliação do trabalho do voluntário;

• fazer registro de todas as atividades desenvolvidas: entrevistas, termosde adesão, horas trabalhadas, avaliações de desempenho;

• estabelecer momentos para avaliar a contribuição do voluntário e paraouvir suas avaliações e contribuições, individualmente ou em grupo,sobre seu trabalho e sobre o trabalho da escola;

• promover momentos: encontros informais, reuniões internas, eventosoficiais para reconhecimento e valorização dos voluntários.

Procedendo desta forma, a escola assegura que o trabalho voluntário nãoseja apenas um trabalho a mais para o diretor, e que o voluntariado não seja"um peso" para a escola.

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XIV - Voluntários: os aliados da escola na implementação do PDE - 245

Integrando a oferta de voluntárioscom as demandas do PDE

Para o êxito do trabalho voluntário é fundamental que ele seja parteintegrante da organização da escola, definida no PDE.

Em algumas escolas, onde não há experiência com trabalho voluntário,atrair voluntários e estabelecer programas de voluntariado pode, inclusive,se constituir uma meta. Algumas escolas separam, no planejamento,atividades essenciais, para as quais já existem voluntários comprometidos,de atividades opcionais, que poderão ser desenvolvidas, se houvervoluntários.

Numa escola, onde o nível de participação dos pais era muito baixo,a direção organizou visitas dos professores às casas de todas asfamílias, pedindo, antes, a concordância dos pais. O objetivo eraconhecer de perto a realidade das famílias e discutir os problemas dacomunidade, antes de convidar os pais para reuniões na escola. Osprofessores perceberam que havia problemas graves e prioritários quepreocupavam a maioria da pessoas, e que era preciso atacar primeiroessas questões antes de falar sobre a escola. A escola acabou setornando um ponto de referência da comunidade, que passou a sereunir lá e criou uma associação de moradores, da qual se originou,mais tarde, um amplo voluntariado.

Para a efetivação do trabalho voluntário, alguns aspectos precisam serreforçados:

O primeiro, e mais importante, é reconhecer a necessidade eimportância dos voluntários para assegurar o alcance dos objetivosprevistos no PDE e na Proposta Pedagógica. A escola eficaz não procuravoluntários porque é bonito, interessante ou está na moda. Ela engajavoluntários para assegurar que as metas do PDE sejam atingidas esuperadas.

O segundo aspecto a ser reforçado relaciona-se à necessidade de seobter a aceitação e adesão dos professores e dos profissionais locados naescola. O trabalho dos voluntários só é eficaz se integra a estratégiapedagógica da escola.

O terceiro aspecto diz respeito à necessidade de identificar o voluntáriocerto para a tarefa certa e assegurar as condições necessárias para queseu trabalho tenha êxito.

E por último, mas não menos importante, todo trabalho voluntário deveser avaliado continuamente, de modo a identificar resultados parciais, cujadivulgação pode ajudar a reforçar o processo e motivar os envolvidos.

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246 - Módulo II - Mobilizando Recursos Estratégicos

Com o suor do próprio rostoPais, professores e alunos arregaçam as mangas e deixam

a escola pronta para a volta às aulas

Família e escola têm uma coisa importanteem comum: preparam para a sociedadeseus futuros cidadãos. Esse fato tece laçosprofundos entre as duas instituições,favorecendo a troca de informações e aajuda mútua. A escola que reconhece isso eabre suas portas para a comunidadeconsegue dar um salto qualitativo emrelação às outras. Em certos casos, essesalto não se traduz apenas em melhoria dasações pedagógicas, mas também na própriagarantia de sua existência física.O Centro Educacional 01, do Cruzeiro,escola pública de Brasília, deu o exemplo decomo envolver pais e comunidade nosproblemas da escola. Antes, as verbas paraconstruções, consertos e reformas dosprédios públicos, entre eles as escolas, eramdestinadas segundo o chamado orçamentoparticipativo, que levava em conta asaplicações consideradas prioritárias pelacomunidade. O sistema foi extinto. Aescola, que contava com uma verba parareparos, a serem feitos no início do anoletivo, não teve como realizá-los.

Felizmente, a administração escolar nãoficou de braços cruzados: convidou pais,alunos, professores e todo o resto dacomunidade para, em mutirão, melhorar asinstalações do colégio. Alguns pais iniciaramo trabalho às 9 horas da manhã e saíram às18 horas, vencidos pelo cansaço. Muitaspessoas ainda ficaram, entre elasprofessores, alunos e servidores da escola.Durante aquele duro dia de trabalho,lixaram e pintaram paredes, portas e janelas,varreram e lavaram o chão. Nenhumaexpressão de desagrado ou desânimo norosto de ninguém. Os alunos colocarammúsica para animar o ambiente, mas o somque mais se ouvia eram as vozes alegres dosadolescentes que, lambuzados de tinta,carregaram rolos, pincéis, vassouras, baldese mangueiras, trabalhando com energia eentusiasmo. Uma festa de força eparticipação, numa escola que, comotimismo e sabedoria, foi além do currículooficial e ensinou seus alunos a superarem asdificuldades, impedindo que elas setransformassem em "impossibilidades".

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XIV - Voluntários: os aliados da escola na implementação do PDE - 247

Voluntários na escola:destaque para idéias e dúvidas

Questão - O voluntário não vai substituir o trabalho dos profissionais e, comisso, eliminar postos de trabalho, ajudando a aumentar o descompromissodo Estado com a contratação de recursos humanos para a escola?

• O voluntário exerce um trabalho complementar e em nenhumahipótese poderá substituir os profissionais que nela trabalham. Aescola deve funcionar normalmente sem os voluntários.

• Voluntários e parceiros podem tornar-se porta-vozes importantes dasnecessidades da escola junto aos órgãos públicos, dando uma novadimensão política e institucional ao apoio oferecido inicialmente.

• Voluntários poderão desenvolver funções que hoje não sãodesempenhadas pela escola ou envolver crianças que hoje não sãoatendidas por ela.

• A ação do voluntário não é uma intromissão ou ameaça ao trabalhodos professores e da escola em geral. Ele se soma ao esforço daescola.

Questão - O voluntariado não será mais uma sobrecarga para a escola,que já tem tantos problemas?

• De fato, se o trabalho voluntário não for bem acolhido e organizado,com pouco poderá contribuir. Desenvolver uma ação emcolaboração com diferentes atores sociais não é fácil e exige umesforço adicional durante a implantação. Porém, a experiência temdemonstrado que o trabalho voluntário, depois de uma boaorganização inicial feita pela instituição que o acolhe, ganhaautonomia, começa a caminhar por conta própria.

Questão - Não é muito arriscado a escola abrir suas portas à participaçãoda comunidade? E se por acaso algumas pessoas inadequadas ou perigosasresolverem ser voluntárias na escola para tirar alguma vantagem?

• Ao abrir as portas à participação, a escola poderá receber inscriçõesde todo tipo, o que não quer dizer que seja obrigada a aceitá-las.Aqui é preciso cuidado para não restringir, de maneirapreconceituosa, a participação de pessoas. O importante é que todossejam bem recebidos e cadastrados, e que sejam obtidas referênciassobre a idoneidade das pessoas.

• Pessoas que se apresentam com propostas com as quais a escola nãoconcorda ou que não estão de acordo com as diretrizes daSecretaria de Educação devem ser informadas claramente sobre asprioridades e formas de atuação da escola e, eventualmente, suacolaboração pode vir a ser dispensada.

Adaptado de materiais de apoio do Programa "Amigos da Escola".

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248 - Módulo II - Mobilizando Recursos Estratégicos

Fontes de consulta1 - O Programa "Amigos da Escola" distribui um kit com informaçães práticas a

respeito do trabalho voluntário nas escolas. Para maiores informaçães, acesse ossites www.amigosdaescola.com.br; www.programavoluntarios.org.br ouwww.portaldovoluntario.org.br

2 - Parte do material utilizado na confecção do presente documento foi retirada dosmateriais produzidos pelo Cenpec - Centro de Estudos e Pesquisas em Educação,Cultura e Ação Comunitária para o Programa "Amigos da Escola": Alameda GabrielMonteiro da Silva, 2045 - 01441-001 - São Paulo - SP - www.cenpec.org.br

Temas complementaresVeja nesta edição:- Contraturno- Aprendizagem Colaborativa- PDE- Parceria- Colegiado Escolar- Acompanhamento de Egressos

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15. A Parceria na Construção da Escola Eficaz

• O que é parceria

• Tipos de parceria

• Como se constitui uma parceria

• Como a parceria funciona na escola

• Requisitos para uma parceria bem-sucedida

• Histórias de sucesso

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250 - Módulo II - Mobilizando Recursos Estratégicos

O que é parceriaUma outra forma da escola abrir-se para a comunidade, além dovoluntariado, é estabelecendo parcerias. A parceria faz parte das relaçõesda escola com seu contexto interinstitucional, seja ele público, privado oucomunitário.

Parceria é uma relação de colaboração entre instituiçõesque compartilham objetivos ou interesses comuns.

Parceria e voluntariado são duas formas distintas, porémconvergentes e complementares da relação escola-comunidade.

Assim como para o trabalho voluntário, é preciso que a escolae seus profissionais se conscientizem que a parceria nãosubstitui os profissionais regulares, nem a obrigação dosgovernos municipal, estadual ou federal. A função daparceria é complementar e sua intenção éfortalecer ações que a escola já desenvolve,ou ajudá-la a iniciar atividades quecontribuam para a sua melhoria, semprepensando na aprendizagem dos alunos.

A parceria tem muito a ver com o trabalhode voluntários, mas dele difere nos seguintesaspectos:

• é uma relação entre instituições, não umarelação entre pessoas;

• os parceiros têm interesses comuns e a relação épositiva quando as partes somam;

• em alguns casos, a parceria pode envolver recursosfinanceiros, o que requer cuidados especiais.

Os princípios e estratégias gerais para trabalhar comparceiros são semelhantes aos apresentados nodocumento "Voluntários" e não serão repetidos aqui. Opresente documento se concentra apenas nos aspectosque são específicos às parcerias.