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GERENCIAMENTO SUSTENTÁVEL DE PROJETOS
Aluno: Danilo Gomes Dellaroza /Email: [email protected] /Telefone: (16)98814-6949
Curso: MBA Gerenciamento de Projetos / Professora Orientadora: Denise Basgal
Resumo
O presente artigo tem o objetivo de apresentar a relação entre as dez áreas de gerenciamento de
projetos do Project Management Body of Knowledge (PMBOK) e os princípios de sustentabilidade.
O estudo foi desenvolvido a partir de uma revisão bibliográfica sobre sustentabilidade. Como
resultado das análises dos textos, detectaram-se diversos exemplos de empresas que obtiveram
sucesso implantando atitudes sustentáveis em seus negócios e quais as práticas adotadas por essas
empresas. Ao final, demonstrou-se como os princípios de sustentabilidade podem ser aplicados na
área de gerenciamento de projetos do PMBOK.
Palavras Chave: Sustentabilidade; Gerenciamento sustentável de projetos; Projetos;
Desenvolvimento sustentável.
Abstract
This study aims to find the relationship among the ten PMBOK areas of project management and
sustainability principles. The study was developed from a review on sustainability. As a result of
text analysis, it was found a lot of examples of companies that have successfully deploying
sustainable attitudes in their business and what are the practices adopted by these companies. At the
end, it is proposed as the sustainability principles can be applied in the PMBOK areas of project
management.
Key Words: Sustainability, Sustainable management of projects; projects; sustainable
development
ODS Relacionadas: ODS8/ODS9/ODS12/ODS13/ODS15
INTRODUÇÃO
A necessidade de adotarem-se práticas de desenvolvimento sustentável em nossa sociedade é um
tema cada vez mais recorrente no cotidiano das pessoas, cada vez mais isso vem sendo levado a
sério em empresas até mesmo como uma forma de sobrevivência em longo prazo.
Sustentabilidade é a capacidade tomar ações para desenvolvimento ou sobrevivência no presente,
sem que estas prejudiquem as gerações futuras. (ONU,1998)
O tema da sustentabilidade está cada vez mais presente em nosso cotidiano, escutamos falar
constantemente acerca da necessidade de sermos capazes de sobreviver sem que seja necessário
extrair bens da natureza ou de outras pessoas.
No ambiente de empresas, este assunto inicialmente era cobrado somente através de leis que
regulamentavam impactos ambientais das suas atividades. Atualmente o que era uma obrigação se
tornou uma necessidade, sendo cada vez mais evidente que uma empresa que não tem capacidade
de ser sustentável está fadada ao fracasso, seja por escassez de matéria prima ou porque os
consumidores estão pouco a pouco se tornando conscientes e criteriosos sobre o assunto.
Organizações com visão de futuro já entenderam os benefícios da disciplina no gerenciamento de
projetos: queda de custos, melhor eficiência, aumento da satisfação do Stakeholder e do cliente,
mais vantagem competitiva. Integrando a sustentabilidade como requisito para o processo, empresas
também agregam benefícios ambientais, sociais e financeiros para o negócio (PMI, 2011)
Existem também diversos casos de empresas que utilizam a sustentabilidade em suas campanhas,
divulgam que seus produtos não agridem o meio ambiente, porém isto é feito somente para
Marketing, visando aproveitar o apelo que hoje existe pelo tema do meio ambiente.
Entretanto, há muitas empresas que já tem a sustentabilidade incorporada em suas políticas e
práticas, porém há poucos exemplos de como aplicar os princípios da sustentabilidade no
gerenciamento de projetos, isto ocorre, porquê as duas áreas de estudos são relativamente novas,
principalmente quando falamos de sustentabilidade em negócios, esta é uma área ainda com grande
campo a ser explorado.
No ambiente de projetos pouco se fala sobre o tema sustentabilidade, porém sabe-se que uma
empresa com uma estrutura projetizada consegue administrar mais facilmente seus recursos e
produtos, dessa forma surge-nos uma questão, se as empresas necessitam ser sustentáveis e se a
matriz projetizada melhora a eficiência da empresa, porque não tornar os projetos sustentáveis?
Durante a revisão bibliográfica encontrou-se algumas literaturas e exemplos sobre como aplicar
princípios de sustentabilidade em projetos. Realizou-se uma pesquisa sobre: como as empresas
aplicam os princípios da sustentabilidade nas suas atividades de modo geral e, o que a literatura
recomenda para que os princípios de sustentabilidade fossem aplicados a projetos. Também foi
realizada uma breve explicação sobre as dez grandes áreas de gerenciamento de projetos
recomendadas pelo PMBOK.
Com base nas práticas sustentáveis aplicadas pelas empresas estudadas e as dez áreas de estudo do
PMBOK, busca-se fazer uma união entre estes dois conhecimentos: sustentabilidade e
gerenciamento de projetos, assim elaboram-se algumas práticas que podem ser aplicadas para o
desenvolvimento de projetos sustentáveis e assim responder a pergunta de pesquisa. Como aplicar
os princípios da sustentabilidade no gerenciamento de projetos?
Objetivo:
Descrever podemos tornar um projeto sustentável trabalhando com as dez áreas do gerenciamento
de projetos recomendadas pelo PMBOK.
Método:
O trabalho seguiu os seguintes passos:
1º - Pesquisa sobre o tema sustentabilidade
2º - Busca de exemplos de empresas que aplicam a sustentabilidade em seus negócios
3º - Pesquisa sobre as dez grandes áreas do gerenciamento de projetos
4º - Busca de literaturas e exemplos sobre sustentabilidade aplicada a projetos
5º - Síntese de como unir os princípios de sustentabilidade com o gerenciamento de projetos.
DESENVOLVIMENTO
Sustentabilidade
Provavelmente a definição mais famosa e precisa de desenvolvimento sustentável seja “satisfazer as
necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas
próprias necessidades” (ONU, 1988, pg. 16).
No contexto mais atual a sustentabilidade é definida em três esferas, econômica, ambiente e
sociedade, não é possível sermos sustentáveis somente em uma das três esferas. Estas esferas são
conduzidas por três agentes principais, empresários, governo e sociedade civil. (ALMEIDA, 2002).
Do ponto de vista econômico a definição de sustentabilidade é pensarmos um negócio que funcione
sem que sejam necessários aportes de capital durante o seu ciclo de vida para que este se mantenha,
a empresa tem que ter autossuficiência na geração de receitas e pagamento de suas contas
(ALMEIDA, 2002).
Analisando-se o lado ambiental, uma empresa que trabalha constantemente retirando recursos do
meio ambiente está destinada a em algum momento se encontrar sem recursos naturais disponíveis,
assim é essencial que ela tenha alguma maneira para manter sua fonte de riquezas sem que seja pela
degradação ambiental (ALMEIDA, 2002).
Considerando a sociedade, é inviável manter uma relação em que um lado da sociedade explora e
outro é constantemente explorado, a pobreza é ruim à sustentabilidade, pois ela degrada o meio
ambiente e não permite o conhecimento, assim darmos a sociedade um caráter sustentável, onde o
conhecimento e os recursos são divididos é indispensável para a sobrevivência do planeta
(ALMEIDA, 2002).
Aplicação dos princípios de sustentabilidade em empresas
De acordo com o Project Management Institute (PMI, 2011) a empresa L´Oréal, fabricante de
cosméticos, analisa suas matérias primas em cinco grandes áreas: Saúde do cliente e funcionário;
Proteção ambiental; Proteção da biodiversidade; Troca justa; Respeito aos direitos humanos
Dentro destas áreas, têm-se vinte e cinco critérios de analise, entre eles a ameaça de extinção e
como é colhida a matéria prima. Hoje 40% dos ingredientes da empresa são oriundos de fontes
renováveis e quatrocentos ingredientes são produzidos por agricultura orgânica.
A empresa Patagônia, fabricante de roupas e equipamentos de montanhismo, fabrica todas as suas
roupas em algodão orgânico e prega em diversas campanhas publicitarias que o consumo consciente
é essencial para o planeta, segundo seu fundador Yvon Chouinard, tudo que a empresa faz, vende,
envia, estoca e joga fora gera um dano ambiental, tudo que fazemos em nosso favor gera um dano
ambiental. Ainda segundo ele, o que compramos, o que fazemos e o que desperdiçamos é uma
questão de ética (CHOUINARD 2006).
O PMI (2011) nos mostra o exemplo da empresa Herman Miller, fabricante de móveis, nela todos
os projetos que não seguem princípios de sustentabilidade não são aprovados, além disso, a empresa
tem uma lista de objetivos a ser cumprida até 2020 ligados a sustentabilidade: zero resíduos, zero
resíduos perigosos, zero emissões de gases, zero utilização de água no processo produtivo, cem por
cento (100%) utilização de energia elétrica limpa, no mínimo a certificação de “LEED Silver”
(certificação internacional de construções ambientalmente corretas) para todos os edifícios da
empresa, cem por cento (100%) das vendas oriundas de produtos “Desing for Envoirment”
(Projetados para o meio ambiente).
A empresa já busca trabalhar de maneira sustentável desde 1989, porém segundo seu fundador
atingir a sustentabilidade é um processo de evolução constante, algumas das práticas inicialmente
adotadas nem sempre eram realmente sustentáveis, assim a empresa foi evoluindo constantemente
neste setor durante os anos. (PMI,2011).
Analisando-se do ponto de vista da sociedade, tem-se o exemplo da empresa Tom Shoes, fabricante
americana de calçados tem uma campanha internacional que: para cada par de sapatos vendido, será
doado um par de sapatos para uma criança carente, evitando assim que milhares de crianças fiquem
doentes pelo mundo. Segundo seu fundador Blake Mycoskie o capitalismo consciente é mais do que
simplesmente ganhar dinheiro, o capitalismo consciente é criar um negócio de sucesso que conecta
todos os envolvidos para fazer algo que importa e que tenha um impacto positivo no mundo
(MYCOSKIE, 2012).
A Natura, fabricante cosméticos, divulgou recentemente a sua visão de sustentabilidade 2050. A
empresa atualmente já tem diversas ações ligadas à sustentabilidade, foram traçadas diversas metas
para 2020 nesse relatório, entre elas:
- “Garantir que 30% do total de insumos consumidos pela Natura Brasil, em valor, sejam
provenientes da região Pan Amazônica”. (NATURA, 2013, p. 29)
- “Utilizar, no mínimo, 74% de material reciclável na massa total das embalagens” (NATURA,
2013, p. 31)
- “Utilizar, no mínimo, 10% de material reciclado pós-consumo na massa total das embalagens
Natura Brasil” (NATURA, 2013, p. 31). O material pós consumo é um material que foi gerado após
o consumo e foi coletado em domicílios ou instalações comerciais.
- “Garantir que 40% das unidades faturadas Natura Brasil sejam embalagens eco eficientes”
(NATURA, 2013, p. 31).
- “Para a marca Natura, reduzir em 33% a emissão relativa de gases de efeito estufa. Continuar a
compensar todas as emissões que não puderem ser evitadas, por meio de iniciativas que, além da
redução e/ou captura de gases de efeito estufa, tenham o objetivo de proporcionar benefícios
socioambientais, prioritariamente na região Pan Amazônica”. (NATURA, 2013, p. 35).
- “Implementar estratégia de diversificação de fontes de energia renovável para as operações Natura
Brasil.” (NATURA, 2013, p. 39).
- “Alcançar 10 mil famílias nas cadeias produtivas da Pan Amazônia” (NATURA, 2013, p. 41).
- “Coletar e destinar para reciclagem 50% da quantidade de resíduos gerados pelas embalagens de
produtos da Natura no Brasil (em toneladas equivalentes).” (NATURA, 2013, p. 45).
- “Despertar o interesse pelo aprendizado constante e oferecer uma ampla oferta de educação que
atenda às suas necessidades” (NATURA, 2013, p. 55).
- “Ampliar a rede de colaboração, apoiando ações de empreendedorismo socioambiental.”
(NATURA, 2013, p. 55).
- “Para a marca Natura, atingir índice de mulheres em cargos de liderança (nível diretoria e acima)
de 50%” (NATURA, 2013, p. 59).
- “Evoluir os indicadores de medição do desenvolvimento humano e social de nossas comunidades
e estruturar plano para melhoria significativa”. (NATURA, 2013, p. 63).
- “Institucionalizar um modelo de governança com engajamento externo para evolução de nossa
gestão e estratégia de sustentabilidade.” (NATURA, 2013, p. 77).
- “Para a marca Natura, implantar total transparência no fornecimento de informações dos nossos
produtos e da evolução de nossa Visão de Sustentabilidade” (NATURA, 2013, p. 79).
De acordo com o PMI (2011), uma pesquisa realizada pela Accenture indica que 93% dos Chief
Executive Office (CEOs) acreditam que inserir a sustentabilidade nos princípios da empresa será um
fator crítico para o sucesso dos seus negócios. Ainda segundo o PMI buscar a sustentabilidade não
significa sacrificar a lucratividade. Na verdade, o oposto muitas vezes é verdade, empresas que
trabalham e investem no desenvolvimento sustentável colhem benefícios impressionantes.
Ainda de acordo com o PMI (2011) as empresas que começam a buscar a sustentabilidade, tendem
a encontrar mais oportunidades de redução de custo, criar novas fontes de receita e desenvolver
modelos inovadores de negócio.
Gerenciamento de Projetos
As práticas recomendadas pelo PMBOK indicam que o gerente de projetos deve realizar quarenta e
sete processos no gerenciamento de um projeto, e estes quarenta e sete processos são divididos em
dez grandes áreas que apesar de descritas individualmente interagem constantemente entre si
(VALLE et. al, 2014).
Segue as grandes áreas do gerenciamento de projetos com suas respectivas definições
Gerenciamento de comunicação em projetos, "área do conhecimento que permite a geração, coleta,
distribuição, armazenamento, recuperação e disposição das informações do projeto na forma e prazo
apropriados" (CHAVES et. al., 2014, p. 54- 55)
Gerenciamento da qualidade em projetos, “Passa pela identificação de todas as necessidades dos
clientes, objetivas ou não, seleção de quais podem ser atendidas e negociação e declaração das
necessidades e métricas reconhecidas pelas partes interessadas” (ROCHA et. al., 2014, p. 30)
Gerenciamento de aquisições em projetos, “o objetivo do gerenciamento de aquisições é obter os
materiais, equipamentos e serviços externos ao projeto, de acordo com os parâmetros técnicos de
desempenho, de qualidade, de prazos e de custos definidos quando da autorização do
gerenciamento” (XAVIER et al., 2013 p. 23 -24)
Gerenciamento de custos em projetos, “o gerente de projetos deve planejar, estimar, orçar e
controlar os custos de seus projetos para que eles alcancem os objetivos para os quais foram
aprovados, ou seja, realizem as metas estratégicas às quais estão alinhados”. (BARBOSA et. al.,
2014, p. 21)
Gerenciamento de pessoas em projetos é “a área que constrói talentos por meio de um conjunto
integrado de processos e cuida do capital humano das organizações, o elemento fundamental do seu
capital intelectual e a base do seu sucesso.” (CHIAVENATO, 2008. p. 9)
Gerenciamento de riscos em projetos, “Risco é um evento ou condição incerta que, se ocorrer, tem
um efeito positivo ou negativo em um ou mais objetivos do projeto, como escopo, prazo, custo e
qualidade” (PMI, 2013, p.310)
Gerenciamento de stakeholders em projetos, "trata-se de um processo de comunicação e interação
com os stakeholders para atender as suas expectativas/necessidades e solucionar questões suscitadas
à medida que ocorram" (VALLE et. al., 2014. p. 33)
Gerenciamento de escopo em projetos, "é o processo que garante que o projeto inclui todo o
trabalho requerido, e somente o trabalho requerido, para completá-lo com sucesso" (SOTILLE et.
al., 2014. p. 19)
Gerenciamento de tempo em projetos, "vai desde a definição de atividades, sequenciamento,
definição de recursos por atividade, estimativa de duração e montagem até controle do cronograma"
(BARCAUI et. al., 2013 p. 17)
Gerenciamento de integração em projetos, “No gerenciamento da integração do projeto todos os
processos devem ser detalhadamente e constantemente coordenados buscando sua integração de
modo a garantir o melhor desempenho do projeto, com o menor custo e maior qualidade dos
resultados, desta forma, alcançando também os objetivos e sucesso do projeto” (NUNES)
Sustentabilidade no Gerenciamento de Projetos
Dentro das dez grandes áreas de estudos apresentadas, têm-se oportunidades de aplicar conceitos de
sustentabilidade visando tornar o projeto sustentável nas três esferas: econômica, social e ambiental.
Em alguns casos há situações em que a solução mais sustentável nem sempre é a melhor opção
econômica, ou a melhor opção estratégica, porém atingir a sustentabilidade exige sacrifícios, e em
longo prazo, trabalhar de maneira insustentável não é viável. Está situação ocorre, pois o
gerenciamento de projetos de maneira sustentável exige algumas perspectivas diferentes do
gerenciamento de projetos tradicional, o quadro um exemplifica está situação.
Gerenciamento Sustentável de Projetos Gerenciamento Tradicional de Projetos
Orientado a curto e longo prazo Orientado a curto prazo
Em interesse da geração atual e futura Em interesse dos Stakeholders
Orientado para o ciclo de vida Orientado para entregas
Pessoas, Planeta, Lucro Escopo, Tempo e Orçamento
Aumento de complexidade Redução de complexidade
Quadro 1: Sustainability in Project Management. Fonte (SILVIUS, 2012). Traduzido pelo autor
De acordo com o PMI 2011 a realidade econômica usualmente nos leva a cortar as práticas
sustentáveis. Mas sucumbir a estes instintos é ignorar os benefícios tangíveis da estratégia
organizacional da sustentabilidade. Muitas companhias estão descobrindo que inserir a
sustentabilidade no gerenciamento de seus projetos, programas e portfólio gera um impacto
extremamente positivo na linha de base.
Silvius (2012) desenvolveu ainda uma lista de ações que devem ser checadas em um projeto para
que este seja sustentável, este modelo é utilizado posteriormente em seus trabalhos para medir o
nível de maturidade em sustentabilidade que um projeto possui.
Sustentabilidade econômica
Retorno do investimento
- Benefícios financeiros diretos
- Valor presente Líquido
Agilidade do negócio
- Flexibilidade no projeto
-Aumento de flexibilidade do
negócio
Sustentabilidade Ambiental
Transporte
- Fornecedores Locais
- Comunicação Digital
- Viagens
- Transporte
Energia
- Energia Utilizada
- Emissão de CO2 por energia
utilizada
Lixo - Reciclagem
- Descarte
Materiais e Recursos
- Reutilização
- Energia Incorporada
- Desperdício
Sustentabilidade Social
Práticas de trabalho
- Emprego
- Relações de trabalho/
gerenciamento
- Saúde e Segurança
- Treinamento e educação
- Organização educacional
- Diversidade e oportunidades
iguais
Direitos Humanos
- Não descriminação
- Liberdade
- Trabalho Infantil
- Trabalho forçado e
compulsório
Sociedade e
consumidores
- Suporte a comunidade
- Políticas públicas
- Segurança e saúde do
consumidor
- Rótulo dos produtos
- Propaganda e Marketing
- Privacidade do consumidor
Comportamento ético
- Investimento e Aquisições
- Suborno e Corrupção
- Comportamento anti –
competição Quadro 2: Checklist para integrar sustentabilidade em projetos e em gerenciamento de projetos. (Fonte: SILVIUS 2010, apud
SILVIUS, NEDESKI 2011). Traduzido pelo autor
Morfaw (2014) também buscou explorar como inserir a sustentabilidade em projetos, ele
desenvolveu uma lista com quatorze atitudes sustentável nos projetos: substituir fornecedores
nacionais e internacionais por fornecedores locais, assumir responsabilidade sobre os efeitos na
natureza, evitar fontes exóticas de capital para desenvolvimento e crescimento do negócio, engajar
para o processo produtivo que é humano, mérito, dignidade e satisfação intrínseca, criar objetos de
durabilidade e utilização de longo prazo, os quais no seu uso final ou descarte não trarão danos as
gerações futuras, substituir consumidores por clientes através da educação, promover transparência
e relações sistemáticas com riscos, incertezas e irreversibilidade, garantir valorização apropriada,
apreciação e restauração, integrar objetivos ambientais, sociais, humanos e econômicos nas políticas
do negócio e atividades, promover e implementar uma melhoria continua na qualidade, promover o
comprometimento com as melhores práticas, conhecer projetos que ilustram o sucesso da aplicação
dos princípios da sustentabilidade no negócio, demonstrar que as pressões do mercado podem levar
a empresa a conduzir seus negócios em um caminho que beneficie stakeholders, sociedade e meio
ambiente, integrar sustentabilidade em todos os planos de negócios.
O PMI (2011) afirma que atingir princípios de sustentabilidade em gerenciamento de projetos
requer mudança de cultura, educação, controle e apoio dos superiores. O PMI fornece ainda
algumas atitudes para ter sucesso na empreitada de inserir a sustentabilidade nos projetos (PMI,
2011).
- Incluir a sustentabilidade no portfólio de projetos requer apoio de membros dos altos níveis de
empresa. É essencial que os executivos da empresa estejam de acordo com o que será adotado para
que as novas práticas tenham sucesso.
- A sustentabilidade não pode ser vista como a solução para todos os problemas.
- A sustentabilidade não negociável, não se atinge a sustentabilidade somente quando é
conveniente, a sustentabilidade e responsabilidade social devem estar nos requisitos dos projetos,
independente do projeto ou momento da empresa.
- Adotar princípios de sustentabilidade na linha de base. Atitudes simples podem trazer benefícios
rápidos e enormes, por exemplo: diminuir os resíduos do projeto ou adotar fontes limpas de energia.
- O que é medido é gerenciado, e sustentabilidade não é uma exceção. Definir metas claras e fazer o
controle destas, por exemplo: uso de energia, eliminar desperdícios. É importante que estas metas já
estejam incluídas no plano de gerenciamento de projetos.
- A qualidade das entregas de uma empresa é refletida na qualidade dos seus fornecedores. Para ser
completamente sustentável a empresa deve garantir a sustentabilidade através de toda sua cadeia de
fornecedores.
As áreas de estudo do PMBOK e a sustentabilidade
Os exemplos apresentados deste trabalho fornecem diversas práticas e caminhos para se alcançar
um gerenciamento sustentável de projetos. A maior parte dos exemplos que temos, demonstra a
maneira como uma empresa aplica sustentabilidade no seu negócio de forma geral, porém não se
encontraram muitos exemplos diretamente ligados à área de projetos. O quadro abaixo demonstra
como podemos aplicar os diversos conceitos e exemplo demonstrados anteriormente dentro das dez
áreas de estudo do gerenciamento de projetos do PMBOK.
Em algumas das dez áreas conseguimos facilmente aplicar práticas sustentáveis, em outras devido
as suas características não é necessário se aplicar práticas sustentáveis.
O quadro abaixo nos fornece as áreas e o que podemos fazer para tornar o gerenciamento de nosso
projeto sustentável.
Tabela1: As dez áreas de gerenciamento do PMBOK e a sustentabilidade.
Área Ação
Gerenciamento de Escopo - Analisar os impactos ambientais e sociais
do escopo.
- Verificar quais as oportunidades de tornar
o projeto mais sustentável ainda na
definição de escopo.
- Considerar a responsabilidade sobre todo
ciclo de vida do produto, incluindo, por
exemplo, o descarte do mesmo.
- Destacar os objetivos econômicos, sociais
e ambientais do projeto.
Gerenciamento de Comunicação - Evitar comunicações desnecessárias
- Transparência na comunicação com a
sociedade e stakeholders.
- Escolher meios de comunicação menos
agressivos ao meio ambiente.
Gerenciamento de stakeholders - Envolver os stakeholders nos conceitos de
sustentabilidade.
- Conscientizar todos os stakeholders sobre
o caráter sustentável dos projetos.
- Divulgar aos stakeholders as vantagens de
se trabalhar dentro dos princípios
sustentáveis.
Gerenciamento de Aquisições - Dar preferência a fornecedores locais.
- Dar preferência à itens reutilizáveis ou
recicláveis.
- Envolver toda a cadeia de supply chain no
caráter sustentável do projeto.
- Analisar se é possível e viável comprar
energia de fontes renováveis.
Gerenciamento de Qualidade - Buscar máxima qualidade do produto.
- Definir critérios de qualidade que
permitam uma longa vida útil do mesmo.
- Definir métricas ligadas a sustentabilidade.
Exemplo: Consumo de energia, consumo de
água, porcentagem de itens reciclados.
Gerenciamento de pessoas - Promover relações justas de trabalho.
- Incentivar o desenvolvimento intelectual
do envolvidos.
- Promover a segurança no trabalho.
Gerenciamento de riscos em projetos - Identificação e controle dos riscos
financeiros.
- Identificação e controle dos riscos
ambientais.
- Identificação e controle dos riscos sociais.
Fonte: Elaboração do próprio autor
O gerenciamento de escopo é o ponto de início para que o projeto tenha um caráter sustentável, o
escopo é basicamente onde tudo que será feito no projeto é definido, esta definição é feita com base
nas solicitações e requisitos dos stakeholders. Dar um caráter sustentável ao escopo não é uma
tarefa fácil, porém, alguns itens básicos, como já considerar que o projeto será responsável pelo
descarte final do produto como também dar destaque ao caráter ambiental e social do projeto podem
ajudar nesta tarefa.
Na definição do escopo o stakeholder deve estar diretamente envolvido, assim motiva-lo a adotar
causas ambientais como, por exemplo: exigir materiais recicláveis no produto, buscar fontes limpas
de energia, é uma tarefa do gerente de projetos. O gerenciamento de stakeholders junto com o
escopo é a base para se atingir a sustentabilidade nos projetos, motiva-los a buscar um caráter
sustentável no projeto pode fazer toda a diferença. Um meio interessante de atingir esta motivação é
através de exemplos práticos como os mostrados no desenvolvimento deste trabalho, demonstrando
assim que a sustentabilidade é uma decisão inteligente e que gera mais retorno financeiro em longo
prazo.
Um exemplo clássico de como tornar um escopo sustentável em um projeto de construção de uma
casa seria incluir um sistema de coleta de água de chuva, painéis de aquecimento solar. No projeto
de um novo automóvel, utilizar plásticos recicláveis em itens como painel, cambio; colocar alertas
no display sobre as vantagens de se abastecer o carro com álcool.
Como se pode ver, são exemplo simples, muitas vezes com custo zero ou com investimentos que se
pagam facilmente ao longo do tempo e que se já inseridos no escopo dão um caráter totalmente
sustentável ao projeto.
No gerenciamento da comunicação planejar que nossa comunicação seja feita de maneira eficiente,
evitando relatórios desnecessários e sendo o mais transparente possível são pontos importantes. Dar
preferência à comunicação digital e evitar relatórios impressos são atitudes que podem ser
extremamente benéficas. A título de comparação, para se enviar um e-mail é lançada
aproximadamente 50g de CO2 na atmosfera, enquanto para se fazer um quilo de papel é lançado
aproximadamente 2,5 a 3 kg de CO2 na atmosfera (BERNERS, 2010).
No gerenciamento de aquisições temos um ponto de alto impacto no caráter sustentável de um
projeto, buscar fornecedores alinhados com estes princípios promove uma corrente de práticas
sustentáveis em toda a sociedade. Há duas grandes oportunidades nesta área: buscar utilizar e
comprar materiais renováveis e reutilizáveis e também comprar energia de uma fonte renovável.
Encontrar fornecedores de energia sem dúvida não é uma tarefa fácil, porém é viável se fazer uma
análise de quanto custaria para se produzir a própria energia através de uma fonte renovável para o
projeto, por exemplo, através de painéis solares ou caldeiras que utilizam matéria orgânica para
produção de calor.
No gerenciamento da qualidade, aumentar a vida útil do produto de um projeto pode reduzir
drasticamente o impacto ambiental e dependendo do projeto pode garantir a sua sustentabilidade
econômica. Pensemos por exemplo o projeto de um novo automóvel, se estipularmos como critério
de aceitação de qualidade que ele tenha uma vida útil de vinte anos ao invés de dez reduziremos
drasticamente o impacto ambiental gerado pela produção de novas unidades de dez em dez anos.
Na qualidade ainda podemos incluir sistema de métricas ambientais, adotar métricas ligadas ao
meio ambiente, porcentagem de matéria prima reciclada, desperdício, porcentagem de fontes de
energia limpa, entre outras que geram um impacto ambiental positivo no projeto.
Pensando agora em um projeto de implementação de um software em uma empresa, quanto maior
for a qualidade da implementação deste projeto, maior vai ser o tempo para que seja necessário se
fazer outra atualização de software, podendo aumentar o retorno financeiro do projeto.
O gerenciamento de pessoas é a área que fornece o caráter mais social do projeto, adotar medidas de
trabalho não exploratórias e que privilegiem o desenvolvimento intelectual e social dos
trabalhadores favorecem o caráter sustentável do projeto.
No gerenciamento de riscos; é vital que antes do início do projeto todos os riscos sejam mapeados,
após o mapeamento destes riscos deve-se ter um controle constante de como estão se comportando
os riscos identificados. A área de gerenciamento de riscos pode ser uma área que apresenta poucos
problemas durante o projeto se bem controlada, caso contrário pode se tornar uma enorme dor de
cabeça.
CONCLUSÕES
O objetivo deste trabalho foi apresentar que aplicar a sustentabilidade no gerenciamento de projetos
é uma tarefa possível, para isto basta unir as áreas de gerenciamento do PMBOK com práticas
sustentáveis já adotadas por empresas.
Muitas vezes adotar atitudes sustentáveis exigem esforço e até mesmo uma mudança de cultura da
empresa, exigindo que a mesma adapte suas metodologias de gerenciamento de projetos, incluídos
indicadores e novas entregas. Em curto prazo este esforço pode parecer não apresentar resultados,
mas é importante que se tenha uma visão de longo prazo.
Para a implantação destas novas práticas é essencial que se tenha apoio dos altos executivos da
empresa, assim as novas atitudes sustentáveis serão cobradas dos gerentes de projetos
incorporando-se lentamente à cultura da empresa.
Fazer um gerenciamento sustentável dos projetos é possível e necessário, as práticas e exemplos já
existem, basta agora a curiosidade e desejo das empresas em aplica-las.
POSSÍVEIS DESDOBRAMENTOS
O trabalho em questão pode gerar desdobramentos principalmente na área pratica. Diversas técnicas
foram apresentadas neste trabalho, porém pouco de encontrou sobre a aplicação destas técnicas no
desenvolvimento de projetos. Seria interessante se fazer o gerenciamento de um projeto de pequeno
porte e analisar os impactos positivos e negativos de se fazer o gerenciamento sustentável do
projeto seguindo as práticas recomendadas nos princípios de sustentabilidade.
Caso se verifique mais vantagens que desvantagens, o próximo passo seria fazer o gerenciamento
de um projeto de maior porte e verificar se as mesmas técnicas são validas para projetos maiores.
A cada projeto novas técnicas e ideias podem emergir. Assim adaptações e sugestões de acordo com
cada área de projetos podem ser aplicadas em novos projetos até se atingir o máximo nível de
sustentabilidade em projetos.
Após ter-se uma série de estudo de casos e exemplos práticos pode-se criar um guia de como inserir
a sustentabilidade no gerenciamento de projetos, assim como o PMBOK. O novo guia sustentável
poderá servir de auxílio para o gerente de projetos.
Um desdobramento mais teórico, porém também interessante, seria detalhar cada área de acordo
com o setor econômico do projeto. Projetos na área de construção civil têm particularidades
diferente que um projeto de um evento esportivo, assim fazer um detalhamento dos itens expostos
no desenvolvimento aplicados a cada setor da economia pode trazer resultados interessantes e mais
fáceis de aplicar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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