gerenciamento do ponto de corte para a concessão de...

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Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis Gerenciamento do ponto de corte para a concessão de crédito no varejo brasileiro Hugo Crespi Junior São Paulo 2014

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Universidade Presbiteriana Mackenzie

Centro de Ciências Sociais e Aplicadas

Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis

Gerenciamento do ponto de corte para a concessão de crédito no

varejo brasileiro

Hugo Crespi Junior

São Paulo

2014

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Hugo Crespi Junior

Gerenciamento do ponto de corte para a concessão de crédito no

varejo brasileiro

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências Contábeis da

Universidade Presbiteriana Mackenzie para a

obtenção do título de Mestre em Controladoria

Empresarial.

Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Jacob Perera

São Paulo

2014

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C921g Crespi Junior, Hugo

Gerenciamento do ponto de corte para a concessão de

crédito no varejo brasileiro / Hugo Crespi Junior - 2014.

98f.: il., 30 cm

Dissertação (Mestrado em Controladoria Empresarial) –

Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2014.

Orientação: Prof. Dr. Luiz Carlos Jacob Perera

Bibliografia: f. 86-91

1. Credit scoring. 2. Financiamento no varejo. 3.

Erro tipo I e tipo II. I. Título.

CDD 658.88

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Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Professor Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto

Decano de Pesquisa e Pós-Graduação

Professor Dr. Moisés Ari Zilber

Diretor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas

Professor Dr. Sérgio Lex

Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis

Professora Dra. Maria Thereza Pompa Antunes

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Agradeço

Ao Professor Dr. Luiz Carlos Jacob Perera, pela inspiração para o

desenvolvimento desta pesquisa.

Ao Professor Dr. Herbert Kimura e ao Professor Dr. Marco Milani pelas

pertinentes sugestões por ocasião da banca de qualificação deste trabalho.

À Serasa Experian pelo fornecimento da ampla base de dados da população estudada,

que permitiu o desenvolvimento desta pesquisa.

A Sandro A. Almeida (Via Varejo SA), Janaina Cid (GoOn - Gestão de Riscos) e

Simone Katz (Citibank), por terem disposto de seu precioso tempo para compartilhar sua

expertise sobre crédito ao consumidor e enriquecer esta dissertação.

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RESUMO

Uma das mais importantes ferramentas de financiamento no varejo brasileiro é o crédito

direto ao consumidor oferecido nos estabelecimentos por ocasião da compra. Operado através

de financeiras cativas ou parceiras, o crédito é, normalmente, concedido ou negado sem que

se leve em conta seu efeito na lucratividade do varejista. Quando se recusa o financiamento

para um produto de grande margem de lucro, o efeito sobre os ganhos da empresa é

evidentemente maior do que quando essa recusa inibe a venda de produto de menor margem,

o que sugere haver ineficácia no processo. Esta pesquisa visou verificar se há espaço para

aumentar a rentabilidade no varejo brasileiro, introduzindo a margem operacional nos

critérios utilizados para concessão de crédito direto ao consumidor. Utilizando a curva ROC e

a abordagem oferecida por Stein (2005), construíram-se simulações em torno de valores reais

praticados no mercado, que permitiram confirmar, através de um novo balanceamento dos

erros tipo I e tipo II, que ocorre a maximização de ganhos empresarias quando as margens

operacionais do varejo são consideradas para a determinação de pontos de corte em modelos

de crédito direto ao consumidor.

Palavras-chave: Credit scoring. Financiamento no varejo. Erro tipo I e tipo II.

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ABSTRACT

One of the most important ways to finance consumers in the Brazilian market is the consumer

credit offered in store. Provided by independent or captive finance companies, the consumer

credit is normally granted or denied without taking into account its effect on the retailer’s

profitability. Denying credit to finance a high profit margin product is more damaging to the

companies’ profits than if such refusal is about the sale of lower margin product. This

suggests that there is an opportunity to improve the profitability in this sales channel. The

objective of this research was to check the possibility to increase the Brazilian retailers’

profitability by introducing the retail products’ operating margin as an additional parameter of

the consumer credit analysis. Simulations using tangents to ROC curves, as proposed by Stein

(2005), made possible to confirm, through a new balance of type I and type II errors, that the

maximization of corporate earnings occurs when using operating retail margins for

determining cutoffs in consumer credit models.

Key words: Credit scoring. Consumer credit. Type I and type II errors.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Crédito doméstico ao setor privado em % do PIB 13

Figura 2 – Evolução do crédito em % do PIB 14

Figura 3 – Oportunidade de pesquisa 16

Figura 4 – A Influência da gestão de crédito sobre a operação 18

Figura 5 – Riscos empresariais 24

Figura 6 – Quatro grandes grupos de risco 25

Figura 7 – Ilustração da distribuição de bons e maus pagadores segundo sua pontuação. 37

Figura 8 – Curva típica de regressão logística acumulada 42

Figura 9 – Árvore de decisão 43

Figura 10 – Curva ROC 46

Figura 11 – Distância de Mahalonobis 47

Figura 12 – Kolmogorov-Smirnov 48

Figura 13 – Bimodalidade de LGD 52

Figura 14 – Correlação LGD e PD 52

Figura 15 – Lucro máximo 56

Figura 16 – Custo unitário variável do crédito 56

Figura 17 – Distribuição da frequência em relação às unidades da federação 59

Figura 18 – Distribuição da pontuação em relação às unidades da federação. 60

Figura 19 – Distribuição da frequência em relação às faixas etárias 60

Figura 20 – Distribuição da inadimplência 61

Figura 21 – Distribuição de anotações por faixa 62

Figura 22 – Distribuição de bons e maus pagadores por faixa 63

Figura 23 – Estatística de Kolmogorov-Smirnov da amostra 63

Figura 24 – AUROC – Amostra integral 64

Figura 25 – AUROC - faixas de 5 a 20 65

Figura 26 – Stein, curva ROC 68

Figura 27 – ROC com retas tangentes: ilustração genérica 69

Figura 28 – ROC e tangentes: exemplo com duas taxas de juros 70

Figura 29 – Pontos de corte na curva ROC da amostra: parâmetros centrais. 73

Figura 30 – Sensibilidade a LGD 76

Figura 31 – Sensibilidade a MO 77

Figura 32 – Sensibilidade à MF 78

Figura 33 – Receitas x volumes 80

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Figura 34 – Efeito composto de escores e MO 81

Figura 35 – Proporção dos ganhos 83

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Classificação do risco segundo diversos autores 26

Quadro 2 – Matriz genérica de má qualificação 33

Quadro 3 – Medidas de desempenho 34

Quadro 4 – Resultados divergentes na literatura para taxa de acerto por tipo de modelo 40

Quadro 5 – Resultados divergentes na literatura indicando o melhor modelo 40

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Poder discriminante: Valores de referência propostos por Sumihara Filho e

Sleegers 49

Tabela 2 – Poder discriminante: valores de referência da literatura 49

Tabela 3 – Parâmetros utilizados nas simulações 72

Tabela 4 – Receita financeira líquida descontada à taxa SELIC 73

Tabela 5 – Simulação básica e com parâmetros máximos e mínimos 75

Tabela 6 – Simulação de PC em relação a LGD 76

Tabela 7 – Simulação de PC em relação a MO 77

Tabela 8 – Efeito de PC em financiamentos 78

Tabela 9 – Simulação de PC em relação a MF 79

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 13

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA ....................................................................... 15

1.2 DELIMITAÇÃO DO TEMA ..................................................................................... 17

1.3 QUESTÃO DE PESQUISA ....................................................................................... 17

1.4 HIPÓTESE DE PESQUISA ....................................................................................... 17

1.5 OBJETIVO GERAL................................................................................................... 19

1.5.1 Objetivos específicos................................................................................................. 19

1.6 JUSTIFICATIVAS E CONTRIBUIÇÕES ................................................................ 19

2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 21

2.1 RISCO: CONCEITO, HISTÓRIA E MENSURAÇÃO ............................................. 21

2.1.1 Tipos de risco ............................................................................................................ 23

2.2 CRÉDITO E RISCO DE CRÉDITO .......................................................................... 27

2.2.1 Conceito de crédito ................................................................................................... 27

2.2.2 História e evolução do crédito ao consumidor junto ao varejo ............................ 28

2.2.3 O cenário do crédito e do risco de crédito .............................................................. 30

2.2.4 Análise subjetiva de crédito ..................................................................................... 31

2.2.5 Análise objetiva......................................................................................................... 32

2.2.6 A estatística e os erros do tipo I e tipo II ................................................................ 33

2.3 CREDIT SCORING ................................................................................................... 34

2.3.1 História do credit scoring ......................................................................................... 34

2.3.2 Interpretação do credit scoring ................................................................................ 35

2.3.3 Credit scoring: revisão dos principais métodos ...................................................... 38

2.3.3.1 Análise discriminante ................................................................................................. 41

2.3.3.2 Regressão logística ..................................................................................................... 42

2.3.3.3 Árvores de decisão ..................................................................................................... 43

2.3.3.4 Programação Linear ................................................................................................... 44

2.3.3.5 Outros métodos........................................................................................................... 44

2.3.4 A curva ROC ............................................................................................................ 45

2.3.5 Medidas do poder de discriminação dos modelos ................................................. 46

2.3.5.1 Distância de Mahalonobis .......................................................................................... 47

2.3.5.2 Estatística de Kolmogorov-Smirnov (KS) ................................................................. 47

2.3.5.3 Taxa de Acerto (accuracy rate).................................................................................. 48

2.3.5.4 AUROC e coeficiente Gini......................................................................................... 48

2.3.6 Parâmetros de referência para as medida de poder discriminante ..................... 49

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2.4 O CUSTO DO CRÉDITO .......................................................................................... 49

2.4.1 Risk based pricing...................................................................................................... 49

2.4.2 Crédito: uma opção entre dois riscos ..................................................................... 52

2.4.3 O custo e o benefício do risco de crédito na empresa não financeira .................. 53

2.4.4 A importância da margem operacional na concessão de crédito no varejo ........ 54

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................... 57

3.1 TIPO DE PESQUISA ................................................................................................. 57

3.2 MÉTODO DA PESQUISA ........................................................................................ 57

3.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA .................................................................................... 58

3.3.1 Descrição operacional das variáveis ....................................................................... 58

3.4 TRATAMENTO E APRESENTAÇÃO DOS DADOS ............................................. 58

3.4.1 Distribuição estatística ............................................................................................. 59

3.4.2 A amostra de trabalho ............................................................................................. 61

3.5 VERIFICAÇÃO DO SCORECARD E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ............. 62

3.5.1 Medidas de acurácia do modelo .............................................................................. 63

4 SIMULAÇÃO E ANÁLISE DE LUCRATIVIDADE GLOBAL DA

OPERAÇÃO DE VENDA A CRÉDITO ................................................................ 66

4.1 CRITÉRIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DA SIMULAÇÃO ........................ 66

4.1.1 Equações básicas....................................................................................................... 66

4.1.2 A curva ROC e a escolha do ponto de corte: a abordagem de Stein (2005) ........ 66

4.1.3 Integrando a margem operacional do varejo à abordagem de Stein................... 70

4.1.4 Aplicação do método à amostra .............................................................................. 71

4.1.4.1 Pressupostos utilizados nas simulações ...................................................................... 71

4.1.4.2 Simulação básica com parâmetros médios ................................................................. 73

4.1.4.3 Análise de sensibilidade nos pontos de corte a LGD, MO e MF ............................... 75

4.2 AVALIAÇÃO E RESUMO DOS RESULTADOS ................................................... 79

5 CONCLUSÕES ........................................................................................................ 82

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 85

APÊNDICES 91

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1 INTRODUÇÃO

Durante a segunda metade do século passado, o consumidor brasileiro conviveu com

inflação e até hiperinflação, com óbvios efeitos nocivos sobre sua capacidade de

endividamento. O alívio advindo com o Plano Real elevou a renda do trabalhador, mas por

conta dos altos juros que se mantiveram, o crédito ao consumidor ainda permaneceu em níveis

bastante acanhados se comparados com as economias estabilizadas, conforme apresentado na

Figura 1. Foi a partir do final da década passada, enquanto o mundo assistia às perdas no

mercado de crédito subprime americano, que, com o arrefecimento das taxas básicas de juros,

se viu o volume percentual do crédito em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro

mais que dobrar dos cerca de 25% em 2001 para cerca de 55% em meados de 2013. No

mesmo período, o crédito ao consumidor pulou de 9% para 25% do PIB (BANCO

CENTRAL DO BRASIL, 2013a; FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS, 2013;

RAGIR; MAURER, 2011). Estas cifras podem ser observadas na Figura 2. Perera (2013, p.

53) observou ainda a importância do crédito no país ao apontar que o PIB brasileiro foi

alavancado pelo aumento do volume de crédito em 2.009, estimulado no ano anterior pelo

governo brasileiro através do Banco do Brasil (BB) e da Caixa Econômica Federal (CEF).

Figura 1 – Crédito doméstico ao setor privado em % do PIB

Fonte: Elaborado pelo autor, adaptado de World Bank (2013).

0

50

100

150

200

250

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Estados Unidos

China

Chile

Brasil

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O vigoroso aumento do crédito às pessoas físicas no Brasil propiciou o ingresso

expressivo de novos consumidores oriundos das classes mais baixas. Face às novas

características do ambiente econômico, a concessão de crédito ao consumidor tem

representado novas oportunidades, desafiando as instituições financeiras e o comércio a

ajustar padrões de aceitação de riscos e taxas de juros em ambiente de intensa concorrência.

Figura 2 – Evolução do crédito em % do PIB

Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em – e Federação Brasileira de Bancos (2013) – dados anteriores a 2007, e

Banco Central do Brasil (2013a) – dados a partir de 2007.

A estabilização e o amadurecimento da economia brasileira trouxeram um aumento da

internacionalização, processos de consolidação, e interesse dos grupos financeiros no mercado

consumidor. De um lado foram vistas fusões e aquisições no ramo varejista, como Pão de

Açúcar e o grupo francês Casino; Pão de Açúcar e Casas Bahia; e, Ricardo Eletro, Insinuante

e Salfer. Por outro lado, as instituições financeiras, no afã de crescer nesse emergente

mercado brasileiro, direcionaram-se ao varejo através de parcerias com redes varejistas,

incluindo a aquisição de suas financeiras cativas1.

Com raízes nos carnês ou cadernetas de compra a crédito – ainda bastante utilizados –

para compradores de baixa renda (PRAHALAD, 2010, p. 224), o crédito direto ao

consumidor brasileiro apresenta características próprias em relação aos mercados mais

1Financeira cativa refere-se a uma subsidiária integral financeira pertencente a uma empresa não-financeira

(BROWN, 2008 p. 64 ).

25,8 26,0 24,6 25,7 28,3

30,9

35,5

40,7 43,9

45,4

49,1

53,8 55,3

8,7 9,9 9,7 11,6

13,3 14,8

16,3 17,6 19,4 20,6

22,2 24,4 25,3

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

% PIB

Crédito total

Crédito ao consumidor

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desenvolvidos, às quais os modelos de credit scoring das instituições financeiras ainda vêm se

adaptando.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA

“Assim que os seres humanos começaram a se comunicar, é certo que eles começaram

a contrair e repagar empréstimos.” (THOMAS; EDELMAN; CROOK, 2002, p.2).

Com sua origem na pré-história, a prática do crédito apareceu com o comércio.

Embora a proporção varie bastante entre os diferentes segmentos do comércio, as

vendas a prazo representam cerca da metade do faturamento do varejo no Brasil (SERASA

EXPERIAN, 2011, 2012), e, por isso, merecem atenção especial quanto às suas características

de volume, preço, disponibilidade e prestação de serviços.

A crescente profissionalização dos setores econômicos trouxe a terceirização da

carteira de crédito para o setor de comércio. Esse movimento vem ganhando força no Brasil

desde a década de 90, quando começaram as parcerias entre as financeiras e os varejistas,

inicialmente para emissão de cartões de crédito co-branded, e, depois, terceirizando a área de

crédito ao consumidor. Os comerciantes passaram, então, a receber à vista o que antes eram

vendas a prazo, transferindo o risco e o provimento de recursos para empresas financeiras.

Com a transferência do risco, paulatinamente a decisão sobre a concessão de crédito ao

consumidor foi se afastando do gerenciamento comercial e passando a ser tratada diretamente

pelas financeiras (CAMARGOS, 2006; ROMÃO, 2009). Até mesmo as financeiras cativas

passaram a ser independentes.

Friedman (1962) afirmava que a responsabilidade social da empresa é maximizar seus

lucros, e Jorion (2000), que as empresas estão no negócio de correr riscos. Com base nisto,

quando se trata de gestão de riscos, cabe a pergunta: qual é o cliente ideal? O que apresenta o

menor risco ou o que traz o maior potencial de lucro?

“Embora o risco de inadimplência influencie o lucro, é apenas um dos fatores que

concorrem para a sua formação.” (ANDERSON, 2007, p. 513). Desta forma, o gerenciamento

dos demais elementos correlacionados pode alterar o nível dos ganhos sem aumentar a relação

custo/benefício.

Bhatia (2006, p. 4-6) propôs que ‘administrar’ é diferente de ‘gerenciar’ o risco de

crédito: enquanto a administração engloba a limitação da exposição a riscos, garantias e

condições restritivas (covenants), o gerenciamento requer, entre outras medidas adicionais, a

distinção de classes de ativos de risco e a diferenciação na sua precificação.

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Esses conceitos estão alinhados com a ideia embutida no modelo de precificação de

ativos (CAPM) de Sharpe (1964), um dos pilares das finanças modernas. No entanto, é

surpreendente que, no âmbito da gestão do risco de crédito ao consumidor, ainda se encontre

pouca aplicação de modelos baseados em lucro por instituições financeiras (STEWART,

2011), e que a literatura disponível sobre o risk-based pricing (RBP) e modelagem de lucro

seja tão restrita (STEWART, 2011; ANDERSON, 2007, p. 517-519).

Anderson (2007) e Stewart (2011) procuraram explicar resumidamente esse paradoxo

através das dificuldades causadas pela quantidade de variáveis envolvidas, horizonte temporal

das observações, complexidade dos modelos, e qualidade dos dados disponíveis nas

instituições.

Figura 3 – Oportunidade de pesquisa

Fonte: elaborado pelo autor

A motivação desta pesquisa teve por base a lógica do RBP no contexto da concessão

de crédito para vendas a prazo no varejo brasileiro. Discutiu-se como os escores de corte dos

sistemas de credit scoring (CS) podem ser gerenciados, não apenas para limitar a

inadimplência, mas também, a partir de uma visão holística das operações de venda a prazo,

aumentar o lucro operacional e financeiro na atividade. A Figura 3 mostra esquematicamente

que a oportunidade da pesquisa está na identificação do ponto de corte que maximize o lucro

total (comercial + financeiro) obtido nas vendas a prazo.

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1.2 DELIMITAÇÃO DO TEMA

A pesquisa foi desenvolvida no âmbito do gerenciamento de crédito nas vendas a

prazo no varejo brasileiro. Tratou-se do efeito conjunto sobre o lucro total, somatória dos

ganhos comercial e financeiro relacionados com as vendas a prazo.

Para efeito desta análise, os termos ‘empresa’ e ‘empresarial’ foram utilizados em

referência conjunta à atividade comercial e seu respectivo financiamento, i.e., o lucro

financeiro foi considerado dentro do lucro total da empresa varejista.

1.3 QUESTÃO DE PESQUISA

A análise de crédito busca identificar os prováveis maus pagadores para negar-lhes

crédito. No entanto, como não existe a certeza quanto ao futuro, dois erros podem ocorrer: o

primeiro, que no tratamento estatístico é normalmente enquadrado no erro tipo I, refere-se à

concessão de crédito a um mau pagador (ver seções 2.2.6 e 4.1.2); o segundo, normalmente

tratado como erro tipo II, refere-se à rejeição do crédito para quem viria a ser um bom

pagador (SOBEHART; KEENAN, 2003). Esta pesquisa analisou o ponto de corte para o

balanceamento entre estes dois erros, de forma a responder a questão:

A consideração da margem operacional no gerenciamento do ponto de corte para

concessão de crédito no varejo brasileiro influi na rentabilidade das empresas?

1.4 HIPÓTESE DE PESQUISA

A preocupação de um comerciante com a análise de crédito está intimamente ligada ao

custo marginal do produto vendido. Por exemplo, se um produto tem um custo marginal de

90%, basta que um em cada dez produtos vendidos deixe de ser pago para que seu lucro seja

neutralizado; por outro lado, um produto que tenha custo marginal de 10% suporta a falta de

pagamento de nove vendas em cada dez realizadas até que deixe de ser lucrativo.

Apesar da reconhecida relevância da análise de crédito para o comerciante, quando

feita de forma estanque por uma financeira associada ou cativa, a margem de contribuição do

produto acaba por ser desconsiderada na análise de crédito. A decisão do financiamento passa

a ser lastreada somente na capacidade de se obter lucro financeiro frente à taxa de

inadimplência esperada.

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Quando um cliente que tem seu crédito aprovado se torna inadimplente, ocorrem

perdas na operação financeira; por outro lado, quando um bom pagador tem seu crédito

negado, o varejista perde o lucro que aquele cliente proporcionaria. Desta forma, a decisão

sobre o ponto de corte afeta tanto o resultado financeiro como o operacional. Esta situação

está demonstrada esquematicamente na Figura 4.

O ponto de corte ideal é aquele onde a soma dessas perdas encontra seu valor mínimo.

Figura 4 – A Influência da gestão de crédito sobre a operação

Fonte: elaborado pelo autor

A utilização do risk based pricing – que além do modelo preditivo de inadimplência,

considera também a perda esperada por inadimplência e o spread financeiro –, é uma maneira

eficaz de se identificar a pontuação que maximiza o retorno financeiro de uma operação.

Tomaram-se por base os seguintes pressupostos para o setor varejista:

A área financeira tem centro de decisão independente da área comercial;

Pratica-se uma única taxa de juros, não sujeita ao perfil individual do cliente ou do

produto;

Comercializam-se famílias de produtos com diferentes margens de contribuição;

O ponto de corte para concessão de financiamento ao cliente é estabelecido pela área

financeira.

Formulou-se, então, a seguinte hipótese para esta pesquisa:

Se, além das taxas de juros, as diferentes margens operacionais presentes no varejo

forem consideradas em conjunto com o modelo de credit scoring, os pontos de corte ideais

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19

para concessão de crédito serão deslocados para novos pontos nos quais acontece a

maximização dos ganhos empresariais (lucro comercial + lucro financeiro).

1.5 OBJETIVO GERAL

O objetivo geral desta pesquisa foi mostrar a possibilidade de gerenciamento dos erros

tipo I e tipo II dos modelos estatísticos de crédito ao consumidor, de forma a conseguir um

aumento na rentabilidade da empresa comercial que financia diretamente suas vendas a prazo.

Busca-se demonstrar que, através de uma análise ponderada das características do

financiamento e dos bens financiados, pode-se conseguir uma ampliação lucrativa no número

de financiamentos aceitos, com consequência no lucro final da empresa.

1.5.1 Objetivos específicos

Analisadas conjuntamente a margem financeira pretendida nos financiamentos e a

margem operacional pretendida pelo varejista, é possível determinar o máximo risco de

crédito suportável para que os ganhos gerados pelo incremento de volume sejam maiores que

os custos advindos do risco.

Para confirmar essa afirmação, estabeleceram-se os seguintes objetivos:

Mostrar, com o auxílio da ROC, a influência das margens operacionais no ponto de

corte ideal.

Unir conceitos de RBP e margem de contribuição no varejo, para mostrar o benefício

econômico do ajuste do ponto de corte.

1.6 JUSTIFICATIVAS E CONTRIBUIÇÕES

Esta dissertação foi desenvolvida dentro do escopo de um curso de mestrado

profissional, que tem como foco contribuições que beneficiem, de forma prática, a

qualificação profissional.

Esta pesquisa aborda uma discussão atual sobre a gestão do risco de crédito: a

precificação das taxas de juros na concessão de crédito e a influência da política de

financiamento sobre o volume de venda no varejo.

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20

Demonstrada a hipótese formulada em 1.4, este estudo contribuirá com o processo de

vendas financiadas no varejo brasileiro ao ajudar a identificar oportunidades de aumento de

volumes e rentabilidade.

Não foram encontrados na literatura trabalhos que relacionam o lucro operacional do

comércio e o ponto de corte na concessão de financiamentos.

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21

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 RISCO: CONCEITO, HISTÓRIA E MENSURAÇÃO

Qual é a ideia que o termo risco nos traz? Segundo Bhatia (2006), risco é uma situação

futura que pode não ser de nosso agrado, e, no mundo financeiro, o que nos desagrada é o

prejuízo.

A palavra risco, no entanto, “[...] vem do italiano antigo risicare, que significa ‘ousar’.

Nesse sentido, o risco é uma opção, e não um destino. É das ações que ousamos tomar, [...]

que a história do risco trata.” (BERNSTEIN, 1997:8).

A norma brasileira NBR ISO 3100:2009 tem conteúdo técnico, estrutura e redação

idênticos à ISO 31000:2009 e fornece princípios e diretrizes genéricas para a gestão de riscos.

Estas normas aproximaram a definição de risco ao conceito de variância, definindo-o como o

"efeito da incerteza nos objetivos" (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS

TÉCNICAS, 2009), afastando o entendimento que o risco está restrito ao lado negativo. Neste

sentido, Purdy (2010) esclareceu que a definição da ISO 31000 estabelece risco como um

evento futuro que poderá representar perdas ou ganhos, dependendo das ações da organização

perante as incertezas enfrentadas.

Para Schroeck (2002), o termo risco é geralmente usado como sinônimo de uma

incerteza específica porque a estatística nos permite quantificar essa incerteza específica

através de medidas de dispersão. Enquanto os desvios negativos estão associados a um

potencial de perda, os desvios positivos representam oportunidades. Bernstein (1997, p. 8)

destacou a importância da tomada de riscos para o sistema econômico e reenfatizou a

possibilidade de se quantificarem os riscos:

A capacidade de administrar riscos, e com ela, a vontade de correr riscos e fazer

opções ousadas são elementos-chave da energia que impulsiona o sistema

econômico [...]. Sendo o risco uma opção, então é possível medi-lo, avaliar suas

consequências e geri-lo.

Na mesma linha, Kimura e Perera (2005) declararam a “[...] premissa de que fatores de

riscos, além de afetar os resultados das empresas, podem, também, estar correlacionados com

as oportunidades futuras de investimento.”.

O desenvolvimento da Teoria das Probabilidades pelos matemáticos Blaise Pascal e

Pierre de Fermat, em 1654, permitiu que as pessoas tomassem decisões e projetassem o futuro

com o auxílio de números.

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Em 1738, Daniel Bernoulli enveredou pela pesquisa do comportamento da decisão

(decision-making behavior). Estudando o comportamento de indivíduos perante a incerteza,

Daniel estabeleceu sua tese de que as pessoas atribuem ao risco valores diferentes e introduziu

a ideia central que a utilidade resultante de qualquer pequeno aumento de riqueza é

inversamente proporcional à quantidade de bens anteriormente possuídos (BERNSTEIN,

1997, p. 105).

Segundo Simon (1979), os principais modelos de tomada de decisão usados no século

XX baseavam-se na Teoria Clássica. O tomador de decisões era o ‘homem econômico’, que

baseava a tarefa da escolha em preceitos racionais, centrados exclusivamente na perspectiva

de melhor retorno esperado.

Em 1921, Knight e Keynes publicaram, independentemente, seus trabalhos

enfrentando seriamente a questão de que os padrões do passado não revelam sempre o rumo

do futuro. Segundo Bernstein (1997), com essas obras, os autores definiram o risco como veio

a ser compreendido atualmente.

No pós-guerra, muitos trabalhos de profunda importância para a tomada de decisão

foram publicados após os longos anos de represamento. No ano de 1947, segundo Plous

(1993), os pesquisadores John von Neumann e Oskar Morgenstern resgataram a teoria de

Daniel Bernoulli em suas pesquisas e a rebatizaram como Teoria da Utilidade Esperada. Os

autores teriam proposto uma teoria normativa que possuía um conjunto de sentenças, ou

axiomas, que a definiam como uma teoria da tomada de decisão. Desta teoria derivariam

outras das quais se ressalta a Teoria da Utilidade Esperada Subjetiva, desenvolvida por

Leonard Savage em 1954 e revisitada por Herbert Simon em 1983, que admite a atribuição de

probabilidades subjetivas sobre a ocorrência de determinado resultado esperado no futuro.

Na década de 1970, algumas pesquisas conduziram a importantes descobertas que

modificaram algumas compreensões sobre o campo de julgamento e tomada de decisão. Entre

as muitas alternativas à Teoria da Utilidade Esperada, a mais aceita é a Teoria do Prospecto

(Prospect Theory: an analysis of decision under risk), de Daniel Kahneman e Amos Tversky.

Após uma análise detalhada da teoria clássica da decisão, os psicólogos cognitivos Tversky e

Kahneman (1979) propuseram que, ao invés de considerar os indivíduos incondicionalmente

racionais, os tomadores de decisão se valem, muitas vezes, de atalhos mentais para julgar e

tomar decisões (TVERSKY; KAHNEMAN, 1979). Como discorreu Plous (1993), a Teoria do

Prospecto difere da Teoria da Utilidade Esperada substituindo a noção de utilidade por valor.

Em que pese que ‘utilidade’ é geralmente definida apenas em termos de riqueza líquida,

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‘valor’ é definido em termos de ganhos e perdas a partir de um ponto de referência. Além

disso, a função de valor para as perdas é diferente do que a função de valor para ganhos.

Em 1952, Harry Markowitz publicou o lendário artigo Seleção de Carteiras (Portfolio

Selection). Em seu artigo, Markowitz (1952) rejeita a hipótese de que o investidor busca

maximizar a taxa de retorno de seu investimento, mostrando que ela não serve para explicar o

porquê de os investidores diversificarem suas carteiras. Relacionando retorno esperado e risco

como as variáveis que interessam ao investidor, Markowitz assumiu que o risco na área

financeira como sendo a variância ou o desvio em relação a uma média. Seu modelo explica a

diversificação em função do retorno esperado dos ativos e sua variância, estabelecendo base

para o processo decisório de seleção de carteiras ótimas segundo as preferências de cada

investidor, e desenhando curvas de utilidade segundo a atração ou aversão ao risco.

Em 1964, Sharpe apresentou os conceitos do hoje conhecido CAPM (Capital Asset

Pricing Model), em que o risco de um ativo para um investidor é o risco que este ativo

acrescenta à carteira de mercado. Demonstra que a relação entre o risco e o retorno dos títulos

é uma relação linear explicada por um índice de mercado (SHARPE, 1964).

As contribuições de Markowitz e Sharpe para a teoria financeira – em especial ao

tratamento de risco – foram reconhecidas com o prêmio Nobel de Economia em 1990.

A atenção explícita ao risco do investimento e ao trade-off entre o risco e o retorno é

uma opção relativamente nova. No período, dito dourado, das décadas de 1950 e 60 ainda não

havia uma preocupação dos administradores de investimento com o gerenciamento das

oscilações de seus portfólios. Após a crise de 1974, os profissionais de mercado se

aperceberam da necessidade de limitar a amplitude das perdas e procuraram métodos para

gestão de carteiras para gerenciar a variância de seus portfólios. Harry Markowitz delineou

pela primeira vez a ideia em 1952, mas passou a ser conhecida e utilizada nas decisões de

investimento, juntamente com as teorias comportamentais, há menos de 50 anos.

2.1.1 Tipos de risco

De onde vem o risco? Como discorreu Jorion (2000), o risco pode se originar nas

ações humanas tais como mudanças nas políticas governamentais, inflação, ciclos

econômicos, inovações tecnológicas, e guerras. O risco também pode advir de fenômenos

naturais inesperados como o clima e terremotos.

Os órgãos internacionais e nacionais voltados ao estabelecimento de padrões

normativos (ISO e ABNT) não se ativeram a definir critérios para a categorização do risco. O

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Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC classifica o risco, segundo sua

natureza, em estratégico, operacional ou financeiro; esse seu último subdividido em risco de

mercado, de crédito, ou de liquidez.

Os riscos financeiros preponderam tanto na literatura como nas preocupações dos

gestores de risco. Segundo Culp (2002), as formas mais conhecidas e mais amplamente

gerenciadas de risco financeiro são os riscos de mercado, de crédito e de liquidez, sem, no

entanto, se limitar a estes. Explicou, ainda, que “[...] risco financeiro é a possibilidade de

certos eventos poderem, inesperadamente e adversamente, afetar o desempenho financeiro de

uma empresa, seja reduzindo seu valor líquido dos ativos ou fluxos de caixa, ou diminuindo

seus ganhos”.

Jorion (2000) classificou os riscos empresariais em dois grandes grupos: os riscos do

negócio – que a empresa assume para criar vantagem competitiva –, e os riscos não

relacionados ao negócio (nonbusiness risks), e que se subdividem em riscos eventuais ou

financeiros. A Figura 5 mostra a classificação completa proposta por Jorion.

Figura 5 – Riscos empresariais

Fonte: Jorion (2000, p. 468)

Segundo Duarte Jr. (1996), “[...] risco é um conceito ‘multidimensional’ que cobre

quatro grandes grupos: risco de mercado, risco operacional, risco de crédito e risco legal.”, e

sugeriu que se inter-relacionam completamente, conforme ilustrado na Figura 6.

Anderson (2007, p. 98) descreveu quatro categorias primárias de risco: do negócio, de

crédito, de mercado e operacional.

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Outros autores propõem alternativos grupamentos hierárquicos dos tipos de risco, mas

normalmente concordam quanto à nomenclatura e ao conteúdo dos principais tipos. Um

resumo das classificações propostas pelos autores acima encontra-se no Quadro 1.

Com base nesses autores, resumem-se as descrições dos principais tipos de risco:

Riscos do negócio: “[...]são geralmente definidos como aqueles que a corporação

assume para criar a vantagem competitiva e gerar valor para os acionistas.” (JORION, 2000,

p. 468). O risco relaciona-se com o mercado em que a empresa opera, e inclui desenho de

produto e posicionamento de mercado.

Figura 6 – Quatro grandes grupos de risco

Fonte: Duarte Jr. (1996)

Risco financeiro: “[...] risco financeiro é a possibilidade de certos eventos poderem

inesperada e adversamente afetar o desempenho financeiro de uma empresa, seja reduzindo

seu valor líquido de ativos ou fluxos de caixa, ou diminuindo seus ganhos.” (CULP, 2002).

Risco operacional: está associado à possibilidade de ocorrência de perdas (de

produção, ativos, clientes, receitas) resultantes de falhas, deficiências ou inadequação de

processos internos, pessoas e sistemas, assim como de eventos externos como catástrofes

naturais, fraudes, greves e atos terroristas.

Risco de mercado: refere-se às mudanças aleatórias nos preços de mercado, incluindo

taxas de câmbio, taxas de juro, preços de commodities, ações etc.

Risco de crédito: é o risco de perdas devido a uma inesperada alteração na qualidade

de crédito dos tomadores de crédito (SCHROECK, 2002, p. 164). Ele não cobre apenas a

potencial falta de pagamento; inclui também os custos adicionais de cobrança, e a mudança no

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valor de mercado do ativo em crédito decorrente da oscilação no seu grau de risco

(ANDERSON, 2007, p. 98). O Banco Central do Brasil (2009, art. 2) expandiu esse conceito

definindo o risco de crédito como:

[...] a possibilidade de ocorrência de perdas associadas ao não cumprimento pelo

tomador ou contraparte de suas respectivas obrigações financeiras nos termos

pactuados, à desvalorização de contrato de crédito decorrente da deterioração na

classificação de risco do tomador, à redução de ganhos ou remunerações, às

vantagens concedidas na renegociação e aos custos de recuperação.

Quadro 1 – Classificação do risco segundo diversos autores

AUTOR CLASSIFICAÇÃO DE RISCO

Anderson

do Negócio Mercado Crédito Operacional Outros

Objetivo,

Transações Ambiente

Po

líti

co

Inte

lig

ênci

a

Pes

soas

estratégia,

Liquidez, Legal,

economia,

contraparte, indústria,

concorrência

controles reputação

Jorion

do Negócio Não relacionados ao negócio

Financeiro Eventual

Mercado Crédito Operacional Liquidez Legal

Reg

ula

tóri

o

Rep

uta

ção

Des

astr

es

Duarte Jr. Mercado Crédito Operacional Legal

Schroeck Mercado Crédito Operacional

do Negócio Outros, pontuais

IBGC

Estratégico Financeiro Operacional

Mercado Crédito Liquidez

Culp Financeiro Não financeiro

Mercado Crédito Liquidez

Fonte: preparado pelo autor

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2.2 CRÉDITO E RISCO DE CRÉDITO

2.2.1 Conceito de crédito

Dependendo do ponto de vista, crédito pode ter um significado diferente, sendo

percebido com diversas aplicações e utilidades. Para o tomador, ou cliente, crédito é uma

obrigação; para o setor de governo, é um instrumento de política econômica; para as

instituições financeiras, é o próprio negócio; e, finalmente, para os setores produtivo e de

comércio, o crédito assume um papel de facilitador das vendas, sendo usado inclusive como

instrumento de marketing e propaganda (SILVA, 2003, p. 64).

O vocábulo crédito deriva do latim creditum, que em essência, significa crença,

confiança, empréstimo (HOUAISS, 2012). Se a fé está na origem do termo crédito, também

se encontra no âmago das transações comerciais. Do financiamento bancário à compra de uma

guloseima, ou mesmo em um escambo, e seja por prazo longo ou apenas por instantes, a

operação comercial requer a confiança das partes.

Assume-se corriqueiramente que é sempre o vendedor que concede crédito ao cliente.

De fato, embora com amplitudes diferentes, o crédito se dá de forma recíproca: se por um

lado o vendedor acredita que o comprador honrará sua promessa de pagamento dentro das

condições acordadas, por outro, o comprador deve confiar que os bens adquiridos lhe serão

entregues dentro das características contratadas.

Sob a ótica financeira, para que o crédito seja disponibilizado, alguém há de fazer o

sacrifício de não consumir no presente para que outros o façam. O cedente do recurso, além

disso, corre o risco de a contraparte não honrar seu compromisso e, por isso, exige um

prêmio.

Nessas condições, é importante lembrar que, mesmo não havendo juros explícitos em

alguma transação comercial, o sacrifício e o risco inerentes à concessão de crédito implicam

em custos que não podem ser ignorados. Em Securato (2007, p.17), ratificando este conceito,

afirmou-se que “[...] toda operação de crédito é sempre uma forma de empréstimo e terá um

custo na forma de juros”.

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2.2.2 História e evolução do crédito ao consumidor junto ao varejo

Acredita-se que a origem do crédito remonta à pré-história. Quando os homens

começaram a se organizar e conceber a divisão de tarefas, estabeleceu-se o conceito básico do

crédito.

Historiadores do final do século XIX consolidaram a ideia de que antes da invenção da

escrita o que existiu foi pré-história já que a história não pode ser feita sem documentos

escritos (NOVAES, 1992). A escrita nasceu da necessidade de se registrarem contratos, leis,

transações comerciais e histórias contadas. Os primeiros sistemas de escrita foram

desenvolvidos pelos sumérios após o estabelecimento das primeiras cidades e do

desenvolvimento da roda, há cerca de 4000 anos.

A primeira evidência de um documento com características de empréstimo de que se

tem notícia é um documento babilônio datado por volta de 2000 a.C.. A arqueologia

encontrou textos, referentes aos anos que se seguiram (período do império assírio),

mencionando rotas comerciais com regras de crédito que continham cobrança de juros,

inclusive relacionados ao risco no transporte das mercadorias. Assim começava o risk-based

pricing. O primeiro conjunto de leis formalmente estruturado na forma escrita veio sob o

reino seguinte — o Código de Hamurabi (1792-1750 a.C.) — e estabeleceu as primeiras leis

regulando as operações de crédito aos consumidores (ANDERSON, 2007; PERERA, 2013;

THOMAS; EDELMAN; CROOK, 2002; THOMAS, 2009).

À época dos impérios grego e romano já havia instituições bancárias com câmbio e

financiamento. Mas, durante os mil anos da idade média, também chamada idade das trevas

da história europeia, o crédito pouco evoluiu influenciado pela Igreja, que até o ano de 1300,

proibia o pagamento de juros decorrentes de empréstimos. As transações comerciais com

incidência de juros eram criticadas tanto nas congregações religiosas como nos círculos

sociais por conta do debate sobre a moralidade da cobrança de juros. Estas discussões, que

tinham relação direta com a dimensão das taxas cobradas, disseminaram-se por séculos,

estando presente ainda hoje, sobretudo em culturas islâmicas (ANDERSON, 2007;

THOMAS; EDELMAN; CROOK, 2002).

“O surgimento das atividades creditícias foi fruto da necessidade de as finanças

públicas ou privadas tornarem-se ágeis facilitadoras das atividades.” (PERERA, 2013, p. 17).

Nos anos 1100 surgiam os primeiros instrumentos de crédito comercial conhecidos. As letras

de câmbio tinham o objetivo de auxiliar os comerciantes a transferir fundos através da Europa

sem o risco de transportar ouro e outras moedas. Embora houvesse leis contra a usura em

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vigor, estas eram contornadas porque os juros eram escondidos nas taxas de manuseio e

emolumentos das operações. Em meados do século XIII esses instrumentos haviam se

popularizado tanto que já eram usados não apenas em operações de crédito de curto prazo,

mas também no câmbio.

A criação do Banco da Inglaterra, em 1694, foi um marco na evolução do sistema

financeiro europeu e mundial, mas o grande divisor de águas na história do crédito ao

consumidor foi estabelecido na América pela Singer Sewing Machine Company em 1856.

Através de uma ousada ação comercial e financeira, inovou ao vender suas máquinas a prazo

com um engenhoso sistema de leasing.

Se a Singer mostrou o caminho, a grande revolução no crédito ao consumidor ocorreu

70 anos mais tarde, quando as pessoas começaram a precisar de financiamento para comprar

seus carros. Estimuladas por Henry Ford, ali surgiram as financeiras.

A intensa industrialização e urbanização ocorrida entre o final do século XIX e

começo do século XX propiciou um avanço extraordinário no mercado de crédito ao

consumidor nos EUA. Anteriormente fornecido apenas por lojas de penhores e agiotas, nos

anos de 1930 já havia centenas de empresas financeiras, com características diversas,

espalhadas pelos estados americanos voltadas ao financiamento de bens duráveis aos

consumidores finais (GREENSPAN, 1997).

Burton (2008, p. 33-38) entendeu que o crédito ao consumidor no mercado americano

foi inventado duas vezes. A primeira na década de 1910 por varejistas e pequenas empresas

financeiras, e a segunda, no final dos anos 1920, quando foi reposicionado como ‘crédito ao

consumidor’ e passou a ser usado ativamente na propaganda dos produtos. Mas, foi a partir da

década de 1950, com a chegada do cartão de crédito aos grandes bancos, que o ritmo de

crédito ao consumidor passou a crescer ininterruptamente até os dias de hoje, permanecendo

como o principal instrumento de financiamento de bens duráveis ao consumidor final.

No Brasil, a história do crédito ao consumidor e das parcerias com as empresas

financeiras difere de outras partes do mundo. Por conta de aspectos culturais e conjunturais, o

crédito ao consumidor no varejo manteve-se, quase que exclusivamente, dentro do capital de

giro das empresas comerciais até a década de 1980. Foi nesta época que os bancos comerciais

passaram a emitir cartões de crédito. Na década seguinte apareceram as primeiras parcerias de

varejistas com bancos (ROMÃO, 2009).

Aos poucos, as relações de varejistas com o setor financeiro foram se intensificando,

tanto pelo lado de cartões private label, como pela absorção dos processos de financiamento

das vendas ao consumidor final.

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A partir de 2004, houve uma intensa movimentação para formação e reestruturação

das parcerias entre o varejo e as instituições financeiras no Brasil.

Freire (2009) explicou que a pesquisa ‘Varejo Financeiro: Visões do Futuro’

identificou que nos cinco anos que antecederam a pesquisa (feita em 2009), as transações

feitas a partir dos programas em parceria entre instituições financeiras e varejo cresciam a

taxas de 20% ao ano. As parcerias assumiriam vários formatos. Um dos mais tradicionais é a

presença da financeira dentro das lojas assumindo todo o ciclo de crédito. Cresceu também

significativamente o número de varejistas participando dos resultados das financeiras, de

sociedades entre os varejistas e as instituições financeiras para esse propósito específico, e até

a estruturação de financeiras próprias ou pertencentes ao mesmo grupo e econômico.

Desde o final de 2012, no entanto, apareceram alguns sinais de deterioração dessas

parcerias pela falta de sintonia de interesses. O jornalista Jorge Felix (FELIX, 2012)

comentou a tendência atual de descompartilhamento citando o presidente da Austin Rating,

Erivelto Rodrigues: “Os interesses são inversos, o varejo precisa vender mais e o setor

bancário coloca o pé no freio.”.

2.2.3 O cenário do crédito e do risco de crédito

Muitas vezes usados como sinônimos, os termos crédito e risco de crédito têm

conceitos diametralmente opostos. Enquanto crédito, de forma concisa, significa a entrega de

um bem ou de um valor presente mediante uma promessa de pagamento em data futura, risco

de crédito é a medida da incerteza de que o crédito possa gerar perdas para quem o concedeu.

Na perspectiva comercial, o crédito é uma ferramenta de marketing usada com o objetivo de

aumentar receitas, enquanto o risco de crédito é o custo que corresponde às receitas geradas

por essa ação comercial.

Caouette, Altman e Narayanan (1999, p. 1) afirmaram que o risco de crédito é a mais

antiga forma de risco nos mercados financeiros. Evidentemente, o risco de crédito é tão antigo

quanto a própria atividade financeira, já que câmbio e crédito são a própria razão de ser do

negócio bancário.

Para os setores não financeiros, no entanto, o risco de crédito tem características

peculiares em relação às demais categorias de risco. Enquanto a maior parte dos riscos

empresariais identificáveis é, de uma forma ou de outra, relacionada com o risco intrínseco do

negócio, o risco de crédito existe por opção estratégica, sendo determinado pela importância

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que o crédito tem para a estratégia empresarial. Sendo uma opção estratégica, o uso do crédito

pode e deve ter seus efeitos mensurados, e seus benefícios e custos gerenciados.

O destaque que a gestão do risco de crédito merece em uma empresa foi expressa por

Anderson (2007, p. 107, tradução nossa) ao tratar da hierarquia dos riscos corporativos: “O

maior e mais importante risco empresarial é a incerteza sobre a proposta do negócio ser

apropriada para seu mercado, mas o risco de crédito ocupa uma segunda colocação bem

próxima em muitas companhias.”.

2.2.4 Análise subjetiva de crédito

A concessão de empréstimos requer confiança, que, por sua vez, requer informação do

requerente, em especial da sua capacidade e intenção de pagamento.

Existem três fontes de informação para a análise de crédito: o próprio cliente, sistemas

internos, e agentes externos. Esta última é composta de duas classes: os chamados bureaux de

crédito – que fornecem informações cadastrais e de possíveis restrições que o requerente do

crédito tenha no mercado –, e as agências de rating, que fornecem uma classificação

escalonada de nível de risco de credores e de títulos de crédito.

Tradicionalmente, a análise de crédito era feita exclusivamente com base em critérios

pessoais, caso a caso, e de forma subjetiva. Essa análise subjetiva de crédito é também

relationship lending. Mesmo com o uso de ferramentas atuais que auxiliam a tomada de

decisão na concessão de crédito em maior escala, os principais pontos da análise permanecem

válidos e ainda são utilizados (ANDERSON, 2007, p. 129).

Até o final do século passado, era comum citarem-se como pilares da análise de

crédito, os 4 C's do crédito, nem sempre coincidentes: Caráter, Capacidade, Capital e

Condições (SCHRICKEL, 1998), ou Colateral no lugar do último (ALTMAN; SAUNDERS,

1998). Mais tarde esse conjunto foi agrupado como os 5 C’s do crédito (SECURATO, 2002,

p. 31; ANDERSON, 2007, p.122) e, mais recentemente, o conceito Conglomerado passou, em

casos mais específicos, a integrar a lista como o sexto C (SILVA, 2003; SECURATO, 2012,

p. 84). Encontram-se, na literatura, vários C’s adicionais: Consistência, Comunicação,

Controle etc (BLATT, 1999, p. 48), mas nem todos aplicáveis quando se trata de crédito ao

consumidor. Cada ‘C’ corresponde a um aspecto da análise de crédito conforme definições a

seguir:

Caráter: refere-se à intenção de pagar. A honestidade e a honradez do credor são

subjetivamente observadas e julgadas neste tópico. O histórico cadastral do cliente é o crítico

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para a análise, e inclui empréstimos anteriores, atuação na praça, existência de restrições e,

em especial, pontualidade;

Capacidade: refere-se à habilidade de pagar. É considerado o aspecto mais subjetivo

do risco, pois depende mais da percepção do analista do que da análise de dados cadastrais.

Para os tomadores como pessoas físicas, analisam-se a vida profissional, estabilidade como

empregados ou empresários, vida familiar etc.;

Capital: refere-se ao potencial de produzir dinheiro. No caso de análise para pessoa

física, o avaliador deve levar em consideração a renda do indivíduo e seu patrimônio para

entender se ele possui meios de quitar o empréstimo. Utiliza-se, normalmente, a Declaração

de Ajuste Anual como uma demonstração de resultados simplificada;

Condições: referem-se ao ambiente conjuntural em que o tomador se encontra.

Analisa-se como os fatores econômicos externos podem afetar o tomador. Para pessoas

físicas, englobam a relação trabalhista, a consistência da empresa empregadora, seu

relacionamento social e comercial.

Colateral: refere-se às garantias que o tomador pode apresentar para fortalecer a

situação de crédito e contribuir para a mitigação do risco. Pode vir sob a forma de hipoteca,

penhor, aval, fiança etc.

Conglomerado: refere-se, em especial, à análise financeira de controladas e

controladoras quando o tomador é pessoa jurídica. No caso de pessoas físicas, o

conglomerado inclui o grupo familiar, considerando-se o cônjuge e demais familiares que

possam ser fonte de recursos ou despesas.

Comunicação: faz alusão à correta e ágil obtenção e análise de informações cadastrais

do pleiteante do crédito. No caso de sistemas automatizados de crédito ao consumidor, a

rapidez na obtenção de dados de fontes confiáveis ganha especial importância.

Controle: refere-se ao acompanhamento, gerenciamento e administração do crédito

concedido dentro do prazo de contrato. Na verdade, este ‘C’ ocorre após a concessão do

crédito e relaciona-se com a capacidade de recuperação de um crédito em deterioração.

2.2.5 Análise objetiva

Até a década de 1980, o foco das instituições financeiras era promover financiamento

para clientes corporativos ou de grande porte. As decisões de crédito eram apoiadas quase

exclusivamente na análise subjetiva dos gerentes dos bancos, baseada na sua expertise. Além

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de ser um processo bastante centralizado, demandava tal gama de recursos e tempo, que

inviabilizada a ampliação de produtos e base de clientes (ALTMAN; SAUNDERS, 1998).

Com a evolução das técnicas estatísticas e dos avanços nos meios eletrônicos de

processamento, os métodos numéricos baseados em critérios objetivos passaram a conquistar

paulatinamente espaço na análise de crédito. Com o uso de dados e sistemas estatísticos no

lugar de experiência individual para analisar o crédito, os bancos puderam diminuir seus

custos e ampliar a oferta de créditos de menor valor ao consumidor (transactional lending).

2.2.6 A estatística e os erros do tipo I e tipo II

Na estatística inferencial, a correta interpretação dos resultados obtidos pela técnica

aplicada requer um teste de significância estatística. Uma das abordagens mais comuns é a

verificação, em primeiro lugar, do erro tipo I, também conhecido como alfa (α) ou índice de

falsos positivos.

O erro tipo I é "[...] a probabilidade de rejeitar a hipótese nula quando a mesma é

verdadeira, ou, em termos simples, a chance de o teste exibir significância estatística quando,

na verdade, esta não está presente [...]" (HAIR JR. et al., 2006). É a ocorrência de um ‘falso

positivo’. O complementar de alfa, i.e., ‘1 – α’, é também conhecido como especificidade, em

testes binários.

Quadro 2 – Matriz genérica de má qualificação

Realidade

Positivo Negativo

Previsão

Positivo Verdadeiro Positivo

(TP)

Falso Positivo (FP)

(Erro Tipo I)

Total da Previsão

Positiva

Negativo Falso Negativo (FN)

(Erro Tipo II)

Verdadeiro Negativo

(TN)

Total da Previsão

Positiva

Total dos

Positivos (P)

Total do

Negativos (N)

Fonte: elaborado pelo autor baseado em Hair Jr. et al (2006); Sharma, Yadav e Sharma (2009); Stein (2005).

O outro erro associado à estatística é o erro tipo II, ou beta (β). Este, ao contrário do

erro tipo I, é a probabilidade de não rejeitar a hipótese nula quando de fato não está presente.

É a ocorrência do ‘falso negativo’. Outra medida importante na avaliação da inferência é a

complementar de beta, i.e. ‘1- β’, também chamada de poder do teste de inferência, ou

sensibilidade de uma análise binária. Esta revela a significância estatística do teste e está

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ligada ao tamanho da amostra utilizada. As quantidades que se encontram no cruzamento das

qualificações reais e das previstas nos modelos podem ser representadas em uma matriz 2x2,

chamada de matriz de contingência ou de confusão. O Quadro 2 representa esta matriz, e o

Quadro 3 traz um resumo das relações percentuais representadas nas medidas de desempenho

mencionadas nesta sessão.

Quadro 3 – Medidas de desempenho

Nome Abreviação

usual Equivalente Cálculo

Erro tipo I, Falso Positivo,

False Alarm Rate α; FAR 1- SPC FP/(FP+TN) = FP/N

Erro tipo II , Falso

Negativo β 1- HR FN/(TP+FN) = FN/P

Sensibilidade, Poder, Hit

Rate HR 1- β TP/(TP+FN) = TP/P

Taxa de Acerto

ou Accuracy Rate ACC

(TP+TN)/(P+N)

Especificidade,

Significância SPC 1- α TN/(FP+TN) = TN/N

Valor Preditivo Positivo

ou Precisão PPV

TP/(TP+FP)

Valor Preditivo Negativo NPV

TN/(TP+FP)

Fonte: preparado pelo autor, baseado em Hair Jr. et al (2006); Margotto (2010); McBryde, Marshall e McElwain

(2008); Sharma, Yadav e Sharma (2009); Sobehart e Keenan (2003).

Quando o teste de hipótese se refere ao sistema de credit scoring, a hipótese nula é

normalmente associada à ocorrência do default2, e, desta forma, o erro tipo I representa a

aceitação do mau pagador, enquanto o erro tipo II se refere à rejeição do bom pagador.

2.3 CREDIT SCORING

2.3.1 História do credit scoring

A história do CS começa nos anos 1930. A primeira abordagem para resolver o

problema de identificação de grupos em uma população foi introduzida na estatística por

Ronald Fisher em 1936. Ele procurava diferenciar entre duas variedades de íris por medições

do tamanho físico e diferenciar as origens dos crânios usando suas medidas físicas. Em 1941,

David Durand foi o primeiro a reconhecer que se poderia usar as mesmas técnicas para

2 Do inglês, “ inadimplemento, inadimplência.” (MICHAELIS, 2009).

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discriminar entre bons e maus empréstimos. Talvez os mais conhecidos pioneiros do CS

tenham sido Bill Fair e Earl Isaac nos anos 1950, que, com a sua consultoria Fair Isaac

(FICO), assessoravam principalmente casas de finanças (finance houses), varejistas e

empresas de venda por correspondência (ANDERSON, 2007, p. 39; THOMAS; EDELMAN;

CROOK, 2002, p. 3). FICO é hoje uma importante empresa global no ramo de informações

para apoio à decisão, e o FICO Score é usado como referência em escores para pessoas físicas

nos Estados Unidos.

A chegada de cartões de crédito na década de 1960 fez os bancos e outros emissores

de cartão de crédito percebem a utilidade do default-based credit scoring. Com o explosivo

aumento do número de interessados nos cartões de crédito, a decisão de conceder crédito

precisava ser mais ágil para dar espaço à massificação iminente daquele novo meio de

pagamentos. A resposta veio com o CS. Nos anos 1980 a ferramenta passou a ser utilizada

para empréstimos pessoais, e, na década seguinte, já se tornava o método dominante para a

concessão de crédito ao consumidor (ANDERSON, 2007, p. 40; BHATIA, 2006, p. 66). No

Brasil, o interesse por tais modelos começou nos anos 1990 com os cartões de crédito e

ganhou impulso a partir de 1994 com o arrefecimento da inflação.

2.3.2 Interpretação do credit scoring

Porteous e Tapadar (2006, p. 1) iniciaram seu livro com a afirmação: “É nossa forte

convicção que a estatística é o cerne da compreensão e da mensuração do risco.”. O credit

scoring permite que o risco de crédito possa ser tratado com objetividade através de sua

mensuração por métodos estatísticos.

Scoring é o termo usado para designar o uso de uma ferramenta numérica para

classificar e ordenar coisas, de acordo com critérios reais ou percebidos, de forma a assegurar

escolhas consistentes e objetivas entre elas.

Desta forma, credit scoring é o nome que se dá ao uso de algoritmos, ou modelos

estatísticos, capazes de guiar decisões de crédito; é a evolução, de forma lógica, dos antigos e

subjetivos ratings de crédito fornecidos pelos bureaux desde o século dezenove

(ANDERSON, 2007, p. 6). É, portanto, uma ferramenta de classificação, em escala numérica,

do conjunto de informações históricas consideradas para a análise de crédito. Com esse perfil,

constitui-se em uma ferramenta preditiva de risco. Os modelos estatísticos são genericamente

chamados de classificadores ou scorecards: um conjunto de regras simples que permitem a

classificação dos clientes em ‘bons’ ou ‘maus’ pela atribuição de pontos.

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Existem dois momentos de decisão de crédito: inicialmente avalia-se a viabilidade da

concessão de crédito a um novo candidato e, em um segundo momento, como lidar com o

crédito dos mutuários em curso, inclusive quanto ao montante do seu limite de crédito. As

técnicas que auxiliam a primeira decisão são chamadas de credit scoring, enquanto às técnicas

que auxiliam o segundo tipo de decisão dá-se o nome de behavioral scoring.

Thomas, Edelman e Crook (2002, p. 4) expressaram que a filosofia que embasa o CS é

o empirismo e o pragmatismo: “O objetivo do credit scoring e do behavioural scoring é

prever o risco e não explicá-lo.”. Não significa que os C's do crédito percam sua importância a

partir do scoring, ao contrário: os C's continuam válidos para as operações avaliadas com essa

ferramenta. No entanto, ao inferir objetivamente o comportamento futuro baseado no conjunto

de informações históricas disponíveis, o credit scoring, ao contrário do que ocorre na análise

subjetiva, busca identificar as consequências dos C's e não sua origem.

Por serem elaborados com base na experiência da instituição a partir de dados

empíricos da população envolvida, os modelos de credit ou behavioral scoring apresentam

resultados consistentes, facilidade de uso e maior eficiência do processo, que são

características especialmente adequadas ao financiamento do consumidor no varejo.

O objetivo comum de sistemas de credit scoring é avaliar o risco de inadimplência de

uma operação de crédito a partir das características do cliente e da operação. Saunders e Allen

(2002) sugeriram que a ideia é pré-identificar certos fatores-chaves que possam determinar a

probabilidade de default e ponderá-los em uma pontuação quantitativa. Em alguns casos, o

escore pode ser interpretado literalmente como uma probabilidade de default; em outros, pode

ser usado como sistema de classificação que coloca o potencial mutuário nos grupos de bons

pagadores ou de maus pagadores, e, estes grupos, separados pelo ponto de corte a ser

definido. A Figura 7 exemplifica distribuições de probabilidade de bons e maus pagadores em

relação a uma pontuação referencial e um possível ponto de corte.

O ponto de corte é normalmente calculado ponderando-se as probabilidades dos bons e

maus pagadores relativamente à taxa de inadimplência geral do mercado. Este critério tende a

identificar o ponto de equilíbrio estatístico entre as faixas, mas não se atém ao cerne da função

da análise de crédito, que é definir as condições sob as quais uma determinada operação

encontrará a rentabilidade esperada. Consideradas as ponderações dos demais fatores

intervenientes detalhados neste estudo, o ponto de corte pode encontrar um valor diferente

daquele indicado simplesmente pelo modelo estatístico (Figura 7).

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É importante lembrar que o CS é um algoritmo preditivo de inadimplência, e não do

valor em risco. Para se estimar o custo inerente ao risco de crédito, devem-se observar os

outros elementos que o definem.

O custo do risco de crédito advém de seus quatro componentes básicos: a exposição ao

risco de inadimplência (EAD), a probabilidade de inadimplência (PD), o prazo e a perda

gerada pela inadimplência (LGD). Embora alguns estudos empíricos indiquem que existe

correlação entre estes componentes, e deles com a taxa de juros, cada um desses componentes

é objeto de pesquisas e modelagens independentes (BHATIA, 2006, p.349).

Figura 7 – Ilustração da distribuição de bons e maus pagadores segundo sua pontuação.

Fonte: elaborado pelo autor

Os que merecem mais a atenção, e são mais largamente utilizados, são os modelos de

credit scoring. Sendo uma ferramenta preditiva da probabilidade de inadimplência, o mais

importante, assim como mais difícil, é a definição do conceito de inadimplência para o

produto a ser modelado.

O acordo da Basileia sugere genericamente que a marcação de default seja feita para

operações e clientes com atrasos acima de 90 dias. Entretanto, dependendo da operação e do

interesse do mutuante, o conceito de default pode adotar o prazo de 30 ou 45 dias para atraso,

restringi-lo à primeira parcela, ou outro critério que se mostre eficaz para o melhor tratamento

do custo de inadimplência.

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60

%

Pontos

Maus

pagadores

Bons

pagadores

Ponto de corte

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2.3.3 Credit scoring: revisão dos principais métodos

“[...] essencialmente, todos os modelos estão errados, mas alguns são úteis.” (BOX3,

apud Anderson, 2007, p. 165).

Os métodos geralmente utilizados em modelos de credit scoring são baseados em

técnicas de reconhecimento de padrões estatísticos. Para que haja uma boa classificação, mais

importante que o método, é a qualidade dos dados disponíveis para a modelagem. Por

qualidade entende-se a disponibilidade de informações sobre as características que se

pretendem avaliar, a integridade e idade da base de dados, quão representativas são as

amostras relativamente à população etc. Os modelos mais utilizados, mais ajustados a uma ou

outra situação, ainda se concentram nos mesmos que eram utilizados há vinte anos. A maior

parte das informações nesta sessão tem como fonte as obras de Hand e Henley (1997),

Anderson (2007), Thomas (2009) e Thomas, Edelman e Crook (2002), complementadas pelas

fontes indicadas.

Antes de testar os modelos, deve-se definir para qual produto de crédito e mercado o

scorecard será direcionado, bem como as características das variáveis potenciais que

comporão o sistema. Geralmente, quanto mais abrangente for o sistema de CS, menor será o

seu poder discriminador (SICSÚ, 1998a); portanto, a definição prévia altera a qualidade de

discriminação dos modelos.

Quanto maior a base de dados que se dispõe, maior a capacidade de se obter um

modelo mais ajustado aos propósitos. Bases de dados de CS são geralmente grandes: bases

com mais de 100.000 candidatos e mais de 100 variáveis são bastante comuns (HAND;

HENLEY, 1997). Subamostras com tamanhos que variam entre 500 e 1500 clientes são

usualmente selecionadas e, em geral, um pequeno número de variáveis permite obter uma

fórmula eficaz de classificação, pois algumas variáveis já incluídas na fórmula contêm direta

ou indiretamente a informação que seria dada por outras (SICSÚ, 1998a; 1998b). Uma

estratégia é explorar um grande número de características (50 ou mais) para “[...] identificar

um subconjunto efetivo (digamos, 10 a 12) dessas características para aplicação na prática.”

(HAND; HENLEY, 1997). Alguns desenvolvedores extraem subamostras com igual número

de bons e maus pagadores; outros preferem usar a mesma proporção presente na população

estudada; há ainda os que usam relações intermediárias entre estas duas.

3 George P. Box (1919-2013)

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39

A proporção de candidatos a quem o crédito é estendido varia muito. Hand e Henley

(1997) trabalharam em exemplos com percentuais desde 17% até 84% de créditos concedidos.

Não é incomum também, que, em situações específicas, se estabeleça um ponto de corte

mínimo arbitrário (30% é bastante usual) por conta de custos iniciais envolvidos no produto.

Para que se consiga um bom classificador, as bases utilizadas devem conter dados

relevantes, corretos, completos, atuais e consistentes. Um dos problemas que normalmente

afetam a qualidade dos dados é a dificuldade de se obter dados adequados. Por conta da

confidencialidade dos dados no ambiente competitivo, as empresas não trocam informações

sobre as características de seus clientes, obrigando a utilização de escores genéricos (FICO,

Experian etc) ou dados históricos de seus próprios clientes. A primeira alternativa

normalmente peca pela falta de aderência à necessidade específica, enquanto a segunda, não

abrange toda a população desejada.

Outro problema de particular relevância, para as bases de dados em CS, é que apenas

os clientes que foram aceitos anteriormente têm seus históricos seguidos, enquanto os

resultados dos atributos dos rejeitados – que também fazem parte da população – são

ignorados. Neste caso, os dados dos candidatos rejeitados podem ser, e normalmente são,

tratados por técnicas estatísticas chamadas de ‘inferência de rejeitados’.

Normalmente, na construção de scorecard, atribuem-se pontuações específicas em

diversas categorias, que são combinadas em um algoritmo para produzir um escore global. Os

principais métodos dividem-se em paramétricos e não-paramétricos.

Os métodos paramétricos têm em comum a necessidade de que sejam respeitadas

algumas premissas críticas no que se refere à distribuição e relação entre os dados. São eles:

regressão linear e modelos de probabilidade linear, análise discriminante e regressão logística.

Os não-paramétricos, ao contrário, requerem muito poucas premissas iniciais, e os

principais são: árvores de decisão, redes neurais (NN), algoritmos genéticos (AG), K-vizinhos

mais próximos (KNN) (k-nearest neighbour), programação linear, e máquinas de suporte

vetorial (SVM) (support vector machines).

Dada a natureza do problema, em CS, a regressão logística deve ser a escolha mais

óbvia para a construção de um scorecard. No entanto, os modelos de probabilidade linear e

análise discriminante ainda são largamente utilizados, ao contrário de outras metodologias

que, seja pela complexidade ou pela necessidade de processamento, não recebem a mesma

aceitação.

Durante as últimas décadas, diversos estudos que procuraram identificar qual é a

melhor técnica para a modelagem de CS mostraram resultados distintos e inconclusivos

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(ANDERSON, 2007, p. 185; THOMAS, 2009, p. 84; AUMEBOONSUKE, 2011). Anderson

(2007) reuniu pesquisas realizadas de 1987 a 1997 com a proposta de comparar vários destes

modelos. Como se observa no Quadro 4, os resultados desta compilação mostraram que não

houve convergência para um método que pudesse ser considerado melhor que os demais.

Quadro 4 – Resultados divergentes na literatura para taxa de acerto por tipo de modelo

Autor Regressão

linear

Regressão

logística

Árvore de

decisão

Programação

linear

Redes

neurais

Algoritmos

genéticos

Henley (1995) 43,4 43,3 43,8

Boyle et al. (1992) 77,5

75,0 74,7

Srinivisan e Chakrin

(1987) 87,5 89,3 93,2 86,1

Yobas et al. (1997) 68,4

62,3

62,0 64,5

Desai et al. (1997) 66,5 67,3

66,4

Fonte: Anderson (2007, p. 185)

Na mesma linha, Aumeboonsuke (2011) reuniu vários estudos realizados entre 1997 e

2008 que também pretenderam indicar os melhores modelos para desenvolvimento de

scorecards. Com tamanho de amostras e origem dos dados bastante distintos, os resultados

obtidos mostraram, da mesma forma, resultados divergentes (ver Quadro 5).

Quadro 5 – Resultados divergentes na literatura indicando o melhor modelo

Autor Melhor modelo Fonte de dados Tamanho da

amostra Bons: Maus

Hand e Henley

(1997)

K-vizinhos mais

próximos (K-NN)

Empresa de venda por

correspondência, Reino Unido

15,054

4,132

54,5 : 45,5

54,7 : 45,3

Galindo e

Tamayo (2000) Árvore de decisão

Financiamentos a casa própria, de

instituição financeira, México 4,000 50,8 : 49,2

West (2000) Regressão logística

Dados alemães,

Dados australianos

1,000

690

70 : 30

44,5 : 55,5

Abdou et al.

(2008) Redes neurais

Empréstimos pessoais de 4 anos

em banco, Egito 581 74,5 : 25,5

Fonte: Aumeboonsuke (2011)

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Alguns estudos mais recentes sugerem que se obtêm ganhos de eficácia expressivos

com modelos híbridos em comparação com modelos tradicionais. Algumas dessas aplicações

aparecem nos estudos de Scarpel e Milioni (2002), que usaram Modelos Logit e de

Programação Linear para encontrar o valor de empréstimo ótimo; Chuang e Huang (2011),

que usaram uma combinação de NN com rough set theory (RST) – uma técnica de data

mining adotada para auxiliar em problemas de classificação –; Lee e Chen (2005), com a

associação de NN com multivariate adaptive regression splines (MARS); e, Huang, Chen e

Wang (2007), que utilizaram AG com um classificador baseado em SVM.

2.3.3.1 Análise discriminante

O objetivo da análise discriminante linear (LDA) é classificar uma população

heterogênea em subconjuntos homogêneos e, depois, decidir sobre essa classificação. Pode-se

supor que para cada requerente há um determinado número de variáveis explicativas

disponíveis. A ideia é procurar uma combinação linear de variáveis explicativas que separa os

subconjuntos entre si.

Em um caso simples de dois subconjuntos, o objetivo é encontrar a combinação linear

de variáveis que consiga a mínima distância entre casos do mesmo subconjunto e a máxima

distância entre as médias dos dois subconjuntos.

Os métodos lineares têm o foco na divisão da população em 2 grupos, estabelecendo

um ponto de corte. Em contraste, Logit e Probit são mais direcionadas para a probabilidade,

proporcionando melhor input para risk-based pricing.

As vantagens do método LDA são a simplicidade, a facilidade de entendimento e de

cálculo, e bom funcionamento.

A desvantagem é que a LDA requer dados normalmente distribuídos – ou, como

explicaram Hand e Henley (1997), “[...] que sigam distribuição elipsoidal multivariada [...]” –

, mas os dados de crédito são, muitas vezes, categóricos e não-normais.

A função discriminante implica no cálculo de um escore, advindo dos coeficientes e

das variáveis independentes, que indicam maior proximidade a um determinado grupo. Na

análise de crédito, são utilizadas variáveis que se referem aos dados de cadastro ou a outras

informações ou características do potencial tomador e, a partir destes, calculado o escore Y.

Indivíduos com maior escore semelhante são classificados na mesma faixa indicativa da

qualidade de crédito ou no mesmo rating.

A Figura 7, na página 37, é uma representação gráfica da função discriminante.

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2.3.3.2 Regressão logística

A regressão logística, ou análise logit, é usada por 80 a 90% dos desenvolvedores de

scorecards (ANDERSON, 2007). Hand e Henley (1997) concluíram que, de forma geral, a

regressão logística é o método mais apropriado para modelar eventos dicotômicos, como

quando os atributos são ‘bons pagadores’ ou ‘maus pagadores’, e indicaram ainda que os

estudos que mostravam resultados divergentes deste tinham particularidades em relação à

população abordada.

O modelo Logit é baseado na função de probabilidade logística acumulada, a qual é

especificada por:

Nesta equação, Pi é a probabilidade de ocorrência de um evento dada a ocorrência de

Xij na observação i, para 1≤ i ≤ k, onde k é o número de observações existentes, F(.) é a

função distribuição acumulada, β j é o coeficiente da variável independente Xij e Zi é um

índice contínuo teórico determinado pelas variáveis explicativas Xij.

A regressão logística prediz a probabilidade de um evento ocorrer, a qual pode estar

entre 0 e 1. A relação entre as variáveis independentes e a variável dependente se assemelha a

uma curva em forma de S conforme ilustra a Figura 8, a seguir:

Figura 8 – Curva típica de regressão logística acumulada

Fonte: preparado pelo autor

-

0,5

1,0 Pi

Zi

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2.3.3.3 Árvores de decisão

Árvore de decisão é uma ferramenta gráfica com estrutura de nós e linhas que

mostram as possibilidades de ligação entre eventos que podem ou não ser controlados. O topo

das árvores é chamado de nó-raiz, os pontos finais são chamados nós-terminais ou nós-folhas,

enquanto cada nó interno da árvore corresponde a um teste do valor. Pode haver dois ou mais

ramos para cada informação e vários níveis, dependendo da complexidade da árvore. Os nós-

folhas de uma árvore de decisão possuem informação sobre a quantidade de exemplos

positivos e negativos nelas contidas, encontrados durante a fase de treinamento. A proporção

de exemplos positivos nos nós-folha pode ser considerada um escore. A Figura 9 ilustra o

processo de decisão deste método.

Os primeiros trabalhos sobre árvores de decisão apareceram em 1973 por Breiman e

Friedman e a mais importante ferramenta sobre seu uso – CART (Classification and

Regression Trees) – apareceu em 1984, com contribuições de Olshen e Stone (ANDERSON,

2007). No ano seguinte já surgiram aplicações para CS.

Figura 9 – Árvore de decisão

Fonte: preparado pelo autor

Amostra

Residência própria?

Sim Não

>25 anos?

Sim

Sim

Sim

Sim

Não

NãoNão SimSimNão Não

Não

Emprego >

2 anos?

Casado?

Filhos? Casado? Autônomo?

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2.3.3.4 Programação Linear

A programação linear (PL) é uma técnica não estatística com origem na década de

1930. Inicialmente utilizada junto com o método de jogos de empresas, a programação linear

cresceu com a revolução dos computadores. Na década de 1960, a LP começou a ser usada na

solução de problemas de classificação; e, na década de 1980, começou a ser utilizado em

processos discriminantes de dois grupos que não eram linearmente separáveis.

De forma geral, a LP é um método de resolução de problemas de alocação de recursos

sujeitos a restrições, e usa um conjunto de equações que determina os pesos das características

em vista dessas restrições.

Em CS, uma vantagem da LP sobre os métodos estatísticos é que se alguém pretende

incluir alguma particularidade no scorecard, externa à população, o método consegue

introduzi-la facilmente.

Há pouco mais de uma década o custo de inadimplência e o custo de oportunidade

passaram a ser incluídos nas aplicações de LP em crédito, dando um sentido mais moderno

de gestão de carteira, e não simplesmente de previsão da probabilidade de inadimplência.

A novidade deste modelo é incorporar a informação de política de juros e o custo de

inadimplência, avançando no profit scoring, possibilitando ajustar montantes e prazos

(SCARPEL; MILIONI, 2002).

2.3.3.5 Outros métodos

Redes Neurais: quando utilizado em aprendizado supervisionado, o algoritmo retorna

uma função que é a combinação de neurônios. A rede neural geralmente retorna um

número real que pode ser considerado um escore.

Máquinas de Vetores de Suporte (SVM): a distância entre um exemplo e a margem

pode ser considerada um escore. Quando o exemplo está do lado dos exemplos

positivos do limiar de decisão, o escore é a distância da margem com sinal positivo;

quando o exemplo está do lado dos exemplos negativos, o escore é a distância, mas

com sinal negativo.

Vizinhos Mais Próximos (KNN): considerando-se apenas os vizinhos mais próximos,

o escore pode ser representado pela proporção de exemplos positivos dentro da

vizinhança.

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2.3.4 A curva ROC

Desenvolvida por Max Lorenz em 1905 para aplicação na economia, a Curva de

Lorentz recebeu, no decorrer do tempo, e dependendo da sua aplicação, vários nomes, como

Power Curve, Trade-off Curve, Curva de Eficiência e o mais difundido, Receiver Operating

Characteristic (ROC) (ANDERSON, 2007).

A curva ROC é uma representação gráfica que ilustra o desempenho de um sistema

classificador binário para diferentes pontos de corte, e servem para avaliar a sensibilidade de

uma técnica. O Receiver Operating Characteristic foi originalmente utilizado em detecção de

sinais, para se avaliar a qualidade de transmissão de um sinal em um canal com ruído. Ao

cruzar dados de verdadeiros positivos contra falsos positivos, permite avaliar a sensibilidade

da variação do risco de perda com o aumento da certeza.

Os gráficos ROC são muito utilizados em resultados estatísticos em psicologia e

medicina, para analisar problemas no desempenho de diagnósticos médicos ou testes clínicos;

em economia; e, em previsão meteorológica, para se avaliar a qualidade das predições de

eventos raros. Ela é particularmente útil quando se levam em consideração diferentes relações

de custo/benefício para os erros de classificação (PRATI; BATISTA; MONARD, 2008).

Dado um classificador binário que classifica os casos em ‘positivo’ ou ‘negativo’, a

curva ROC é construída a partir da união dos pontos formados pela sensibilidade e

(1−especificidade)4, calculadas a partir de todas as matrizes de confusão geradas pelas

observações da amostra, considerando-se diferentes pontos de corte do modelo.

No contexto do credit scoring, constrói-se a curva ROC traçando, em cada escore de

corte, a distribuição acumulada dos bons pagadores contra a dos maus pagadores (THOMAS,

2009).

Um dos principais usos da curva ROC é medir a discriminação de sistemas de scoring.

Neste caso, a interpretação da informação obtida do gráfico é que, para um determinado

percentual de maus pagadores corretamente identificados, existe um percentual

correspondente de bons pagadores que são desprezados (Figura 10).

4 Sensibilidade e especificidade são medidas estatísticas de desempenho de testes de classificação binária.

Termos pouco conhecidos pelos estatísticos de campos matemáticos, são largamente utilizados em pesquisas

andepidemiologicas. Respectivamente, medem a proporção de verdadeiros positivos (TP/P) e a proporção de

verdadeiros negativos (TN/N) (SHARMA; YADAV; SHARMA, 2009).

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46

Figura 10 – Curva ROC

Fonte: elaborado pelo autor

Observando-se o gráfico, percebe-se que o ponto (0,1) representa a discriminação

perfeita, no qual todos os maus pagadores terão sido identificados sem que qualquer bom

pagador tenha sido desprezado; os demais pontos do segmento imaginário [(0,1); (1,1)]

representam o restante da população, onde haveria apenas bons pagadores. Por outro lado, a

diagonal que liga os pontos (0,0) e (1,1) abriga escores em que há aleatoriedade completa. Se

dois diferentes scorecards tiverem suas curvas traçadas sobre o mesmo plano cartesiano,

aquela que mais se afastar da diagonal em direção ao ponto (0,1), indicará o sistema de

scoring mais eficaz.

2.3.5 Medidas do poder de discriminação dos modelos

Existem muitas maneiras padronizadas para descrever quão diferentes são as

características de duas populações. Esses métodos são usados para medir quão bem os grupos

de bons e maus pagadores são separados através do scorecard aplicado.

Fundamentalmente, o que se busca é medir a eficácia dos sistemas de CS através da

habilidade de discriminar os dois grupos. O sumário dos métodos descritos a seguir basearam-

% Bons pagadores desprezados

% M

au

s p

ag

ad

ore

s

Discriminação perfeita

Modelo aleatório

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47

se nas fontes: Thomas, Edelman e Crook (2002, p. 107-120), Thomas (2009, p. 100-149),

Anderson (2007, p. 187-221), Hair Jr. et al., (2006), Stein (2005) e Aumeboonsuke (2011).

2.3.5.1 Distância de Mahalonobis

Uma das mais antigas formas de medir a separação das populações é a distância de

Mahalonobis. Essencialmente, essa e outras medidas de divergência buscam medir distância

entre os pontos correspondentes das distribuições de duas populações. Considerado o caso

particular em que as variâncias das duas populações são idênticas, a Mahalonobis distance é a

distância entre as médias de duas curvas – e desde que tenham distribuição normal, são

também as modas – dividida pelo seu desvio padrão. Além da facilidade de cálculo, esta

medida é de fácil visualização. A Figura 11 ilustra a explicação da melhor discriminação da

distribuição ‘B’ em relação à ‘A’.

Figura 11 – Distância de Mahalonobis

Fonte: elaborado pelo autor, adaptado de Thomas (2009).

2.3.5.2 Estatística de Kolmogorov-Smirnov (KS)

O teste de KS é uma técnica não paramétrica para determinar se duas amostras foram

extraídas da mesma população (ou de populações com distribuições similares). Este teste se

baseia nas distribuições acumuladas dos escores dos clientes considerados como bons e

maus,tomando a medida entre elas no ponto de maior afastamento. Esse ponto ocorre quando

as curvas de densidade de probabilidades não acumuladas se cruzam. Embora seja difícil

-1 5 11 16 22 27 33 38 44 49 55 60 66

den

sid

ad

e d

e p

rob

ab

ilid

ad

e %

Pontos

A

Bons Maus

-1 5 11 16 22 27 33 38 44 49 55 60 66

den

sid

ad

e d

e p

rob

ab

ilid

ad

e %

Pontos

B

Bons Maus

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definir um limite aceitável para a discriminação dada por KS, uma boa regra prática sugere

que 0,40 já seria um bom índice (THOMAS, 2009). A Figura 12 demonstra a medida do KS,

tomada na maior distância entre as frequências acumuladas de bons e maus pagadores.

2.3.5.3 Taxa de Acerto (accuracy rate)

Mede-se a taxa de acerto por meio da divisão do total de clientes classificados

corretamente, pela quantidade de clientes que fizeram parte do modelo.

Embora seja bastante utilizada, a taxa de acerto, observada isoladamente, traz pouca

informação, pois o índice de acerto pode não estar distribuído uniformemente entre os grupos,

causando graves distorções, principalmente em amostras com baixo índice de inadimplência.

Figura 12 – Kolmogorov-Smirnov

Fonte: Adaptado de Thomas (2009)

2.3.5.4 AUROC e coeficiente Gini

Uma forma de comparar os scorecards é através da área abaixo da curva ROC

(AUROC). O índice, que varia de 0 a 1, indica discriminação perfeita quando é igual a 1, e a

total falta de discriminação quando for igual a 0.5, que é o valor equivalente à área abaixo da

diagonal.

Utilizando-se dos mesmos instrumentos, o coeficiente de Gini expressa a área entre a

curva e a diagonal, como uma percentagem da área acima da última. Este coeficiente, que é

um dos indicadores mais utilizados para avaliação da capacidade de discriminação de

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scorecards, tem correspondência perfeita com a AUROC através da relação:

Gini = 2 x (AUROC - 0.5).

2.3.6 Parâmetros de referência para as medida de poder discriminante

Na literatura, encontram-se muitas referências a valores de corte adequados para

classificar os modelos de credit scoring, segundo seu poder discriminante. Na Tabela 1 e na

Tabela 2 encontram-se os resultados da pesquisa de Sumihara Filho e Sleegers (2010) com

parâmetros de alguns indicadores, os quais foram utilizados para balizamento nesta pesquisa.

Tabela 1 – Poder discriminante: Valores de referência propostos por Sumihara Filho e Sleegers

Discriminação CS KS AUROC AR = Gini

Muito baixo < 15 < 0,6 < 0,20

Baixo 15 a 25 0,60 a 0,68 0,20 a 0,35

Aceitável 25 a 35 0,68 a 0,74 0,35 a 0,48

Bom 35 a 45 0,74 a 0,80 0,48 a 0,60

Excelente > 45 ≥ 0,80 ≥ 0,60

Fonte: Sumihara Filho e Sleegers (2010)

Tabela 2 – Poder discriminante: valores de referência da literatura

Serasa Experian

Hosmer e Lemeshow

(Applied Logistic Regression,

1998, p. 162)

Ima, Sicsú e Tomazela

(Análise empírica dos

indicadores KS e ROC, 2008)

KS

AUROC AUROC

Muito baixo 15 Não existe < 0,5

Baixo 15 a 25 Baixo 0,5 a 0,7 Baixo < 0,70

Aceitável 25 a 35 Aceitável 0,7 a 0,8 Bom 0,70 a 0,75

Bom 35 a 45

Muito Bom 0,75 a 0,85

Excelente > 45 Excelente 0,8 a 0,9 Excelente ≥ 0,85

Acima do comum ≥ 0,9

Fonte: Sumihara Filho e Sleegers (2010)

2.4 O CUSTO DO CRÉDITO

2.4.1 Risk based pricing

Os bancos não concedem crédito para controlar as perdas, mas para garantir o lucro.

Assim, enquanto os modelos de crédito baseados em perdas funcionam bem para

ordenar os custos de inadimplência dos empréstimos e estão onipresentes em toda a

indústria, os modelos equivalentes do lado da receita não estão sendo usados apesar

de necessários. (STEWART, 2011)

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Risk-based pricing é a prática em que se ajusta o preço, ou taxa de juros oferecida,

para refletir a percepção de risco ou de lucro potencial para a organização. Para compensar o

maior risco de inadimplência, os bancos oferecem condições menos favoráveis aos

consumidores com pobre histórico de crédito, do que àqueles que tenham históricos mais

consistentes.

Surpreendentemente, até o início dos anos 1990, bancos aplicavam taxas de juros

similares tanto entre si, como para a maioria de seus clientes. Depreende-se que pela falta de

meios de comunicação individual mais amplos, as taxas eram expostas publicamente para

todos aqueles que se interessassem em obter crédito, e isso dificultava o a customização das

operações. O problema com esta abordagem é a admissão implícita que os melhores riscos de

crédito devem subsidiar os piores. Isto significa que enquanto os melhores clientes pagam

taxas altas demais, os menos confiáveis contam com taxas muito baixas.

A partir do final do século passado, os bancos perceberam que telefone, internet etc.,

ampliavam a possibilidade de negociação direta entre banco e clientes, e, a partir dessa visão,

passaram a administrar as taxas, não apenas com base no custo do empréstimo, mas também

na expectativa de lucros mais altos.

Ao passar a praticar taxas com base no risco, este deixou de ser o objetivo central, e a

rentabilidade passou a ser o foco. Entretanto, há alguns cuidados que se deve tomar: embora o

aumento das taxas de juros e a limitação do número de tomadores inadimplentes sejam

caminhos óbvios para o aumento da lucratividade, estes não são os únicos e nem, tampouco,

tão óbvios assim.

O simples aumento no patamar das taxas de juros pode, paradoxalmente, aumentar

mais do que proporcionalmente a taxa de inadimplência por conta da chamada ‘seleção

adversa’. Este fenômeno, que ocorre nos extremos do intervalo de taxas de juros do mercado,

acontece por conta da assimetria de informação entre os agentes financeiros e os tomadores de

recursos: enquanto os indivíduos de baixo risco buscam condições mais atraentes, o tomador

que se sujeita a pagar taxas bastante superiores à taxa média de mercado é, provavelmente,

alguém que já teve o crédito negado pelos concorrentes por conhecerem melhor seu perfil de

alto do risco. Por outro lado, a simples limitação do número de inadimplentes via aumento no

ponto de corte pode acarretar tamanha diminuição no número de tomadores supostamente

adimplentes, que acabe contribuindo negativamente com o resultado final.

A perda causada pela inadimplência não é, necessariamente, o valor total financiado,

já que existe a possibilidade de ser recobrado parcialmente a posteriori. A possibilidade de

recuperação de valores em default varia em função do perfil da população e das características

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intrínsecas das operações, tais como prazo, número de parcelas, garantias e forma de

cobrança, além, evidentemente, da capacidade do próprio credor. Ao valor presente das

perdas efetivamente verificadas, dá-se o nome de ‘perdas geradas pela inadimplência’ (LGD),

e a perda esperada com uma operação de crédito (EL) é dada pela expressão:

EL EAD LGD PD ( 1 )

Onde:

EAD (exposure at default) é o valor da exposição ao risco no momento da

inadimplência;

LGD (loss given default) é a perda média causada pelos indivíduos que se tornam

inadimplentes;

PD (probability of default) é a probabilidade da ocorrência de inadimplência no grupo

estudado.

A equação ( 1 ) descreve o efeito composto da probabilidade de inadimplência com a

perda esperada em caso de inadimplência sobre o montante exposto.

De forma geral, considera-se EAD como o saldo devedor no momento da

inadimplência. Varia com a quantidade de parcelas do financiamento, o momento da

interrupção nos pagamentos, montante de juros já pagos etc. Quando a operação financeira é

de um só período, EAD é o valor financiado, e, normalmente, se considera LGD como a

fração perdida do valor original do financiamento (THOMAS, 2009). Alguns estudos

empíricos adotam esse conceito para avaliação de parâmetros de LGD.

LGD é o percentual de EAD que resulta efetivamente em perdas. Há poucos estudos

empíricos sobre LGD na bibliografia, e, esses, com resultados bastante díspares, por terem

sido desenvolvidos em ambientes econômicos e segmentos distintos. Vários autores, no

entanto, concordam que identificar uma LGD média pode levar a erros, já que o

comportamento das perdas tem, na maior parte das vezes, distribuição bimodal, com picos

afastados na direção dos extremos (MARINS; NEVES; ESTEVES, 2009; LIMA, 2008;

PAZZOTO, 2012). A multiplicação, na equação ( 1 ), dos parâmetros de PD e LGD, sugere

que esses dois componentes sejam totalmente independentes; na verdade, apesar dos poucos

estudos empíricos, vários autores questionam essa independência. Pazzoto (2012) apresentou

a correlação entre esses dois fatores em modelagem com dados brasileiros, na qual evidencia

a bimodalidade de LGD e a correlação positiva com PD. A Figura 13 mostra a bimodalidade

encontrada na pesquisa, evidenciando uma das modas (com cerca de 7% das ocorrências) com

recuperação total, e outra (com quase 1/4 das ocorrências), com perda total.

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Figura 13 – Bimodalidade de LGD

Fonte: Pazzoto, 2012.

A Figura 14 mostra a forte correlação encontrada entre PD e LGD na mesma pesquisa.

Figura 14 – Correlação LGD e PD

Fonte: Baseado em Pazzoto, 2012.

Apesar dessas evidências dignas de nota, esta pesquisa assumiu a hipótese

simplificadora de Stein (2005), em que LGD foi tratado como fator independente de EAD, PD

e taxas de juros.

2.4.2 Crédito: uma opção entre dois riscos

Desde o início dos anos 2000, os bancos fizeram investimentos consideráveis em

modelos preditivos para agilizar o processo de análise objetiva de crédito. Entretanto,

modelos poderosos de previsão de inadimplência não são suficientes para um bom processo

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Faixa

PD

LGD

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53

de crédito, já que o ponto de corte desempenha papel crucial para o bom desempenho do

sistema (SABATO, 2010).

Tendo em vista o texto acima, pode-se afirmar que a decisão de conceder crédito é

uma opção entre dois riscos:

a) risco de crédito, i.e., de errar ao conceder crédito a um mau pagador: normalmente

tratado como erro tipo I, pode dar causa à perda total ou parcial dos valores mutuados;

b) o risco de errar ao recusar crédito a um bom pagador: normalmente referido como erro

tipo II, pode dar causa à perda do lucro da operação preterida, cuja magnitude

depende, principalmente, da lucratividade do produto.

O ponto de corte ideal para a concessão de crédito, que maximiza a lucratividade do

mutuante, é o ponto onde o custo esperado resultante desses dois riscos encontra seu valor

mínimo.

Há relativamente poucos estudos voltados à estratégia de corte. Os primeiros trabalhos

sobre o ponto de corte que observaram os diferentes custos dos erros de tipo I e tipo II datam

do final da década de 1970; mas foi apenas em 2005 que surgiram estudos, em particular o de

Roger Stein, que sugeriram uma análise de lucratividade real que incluísse os custos e receitas

por faixas de escores (SABATO, 2010).

A relação entre os dois erros indica as perdas potenciais causadas pela classificação

equivocada: se o valor da perda causada por um defaulter é maior do que o benefício trazido

por um cliente adimplente, o controle do erro tipo I é mais importante que o do erro tipo II.

Conforme Stein (2005), o estudo de Altman et al em 1997 indicou que a relação entre esses

custos era da ordem de 35:1.

Por outro lado, quando o benefício conseguido com bons clientes é mais expressivo

(e.g. com altas taxas de juros e alto grau de recuperação de inadimplentes), o controle do erro

tipo II ganha especial importância relativa, permitindo que os pontos de corte sejam menos

conservadores. Este é o cenário do varejo brasileiro tratado nesta pesquisa.

2.4.3 O custo e o benefício do risco de crédito na empresa não financeira

Uma empresa pode gerenciar um risco de cada vez, de forma descentralizada, ou

abordá-los de uma forma holística e coordenada, prática normalmente chamada de gestão de

riscos empresariais.

A gestão de riscos empresariais é usada para otimizar o equilíbrio entre risco e retorno

da empresa. Guiando-se pelo princípio da vantagem comparativa na assunção de riscos, as

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empresas absorvem os riscos que proporcionam os melhores retornos e mitigam aqueles que

agregam pouco valor. De forma geral, deve-se buscar transferir a terceiros apenas os riscos

não atrelados ao negócio principal (non-core risks) já que não há maneira economicamente

vantajosa de se transferir os riscos estratégicos e do próprio negócio (core risks) (NOCCO;

STULZ, 2006).

Embora a ideia de hedging e gestão de riscos esteja, frequentemente, associada ao uso

de derivativos financeiros, o papel da gestão de riscos é buscar meios de proporcionar

equilíbrio de fluxo de caixa, o que pode ser feito de inúmeras formas. Muitas empresas

mitigam o risco de crédito transferindo, para o setor financeiro, a sua atividade de crédito ao

consumidor. Como não há uma fórmula única para todas as empresas, cabe a cada uma

analisar se o custo dessa transferência de riscos compensa os benefícios conseguidos.

A disponibilidade do crédito ao consumidor está tão intrinsecamente ligada às vendas

do varejo, que cabe a discussão sobre este pertencer ou não ao core business das empresas

comerciais, e se o custo financeiro atrelado à venda de produtos pode ser visto como parte

integrante do custo do produto vendido.

Nesta pesquisa, usou-se o pressuposto que o financiamento ao consumidor faz parte da

atividade principal da empresa varejista, e, como tal, deve ser gerenciado dentro do âmbito

dos riscos estratégicos e do negócio.

2.4.4 A importância da margem operacional na concessão de crédito no varejo

Segundo a ‘Lei das proporções variáveis’, mesmo dentro de um intervalo em que se

possa admitir a existência de uma parcela dos custos que seja fixa, a linha que representa o

custo variável é uma curva, como também é curva a linha representativa da receita total

(DIAS, 1992).

Sob esse enfoque, mesmo quando é possível admitir, dentro de um horizonte de curto

prazo, que o custo operacional varia linearmente com o produto vendido, o custo marginal do

crédito (ou de inadimplência) permanece crescente em função da quantidade. Isto ocorre

porque o varejista, para aumentar a quantidade vendida a prazo, necessita conceder crédito,

progressivamente, para grupos de maior risco.

Nesse contexto, demonstra-se que, numa empresa comercial, o lucro obtido é maior

quando sua margem operacional é considerada no modelo de crédito do que quando o crédito

é gerenciado de forma independente da transação comercial.

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Classificando-se os consumidores em faixas de risco numeradas de forma crescente,

do pior para o melhor risco, e considerando-se o lucro total composto de lucro operacional e

lucro financeiro, tem-se:

L f LO f L f ;

LO f [Pu-Cu].qf -C nf 1 ;

L f R u-CCu f .qfnf 1 ;

L f Pu-Cu R u-CCu f .qf –C nf 1 , ( 2 )

Onde:

f é o número índice das faixas de risco, numeradas inversamente à ordem da qualidade

do risco;

LT(f) é lucro total obtido ao limitar o crédito à faixa ‘f’;

LO(f) é o lucro operacional obtido ao limitar o crédito à faixa ‘f’;

LF(f) é o lucro financeiro obtido ao limitar o crédito à faixa ‘f’;

Pu é o preço unitário do produto (admitido independente da faixa de risco);

Cu é o custo unitário do produto (admitido independente da faixa de risco);

RFu é o receita financeira unitária, líquida do custo de fundos (admitida

independente da faixa de risco);

CCu(f) é o custo unitário do crédito (ou da inadimplência) na faixa ‘f’;

qf é o quantidade de eventos unitários na faixa ‘f’;

CF é o custo fixo.

Admitam-se fT e fF, respectivamente, como as faixas em que se encontram os valores

máximos do lucro total e do lucro financeiro.

Em um intervalo no qual podem ser considerados fixos as taxas de juros, preço e custo

do produto, e crescente o custo unitário de crédito (CC(f+1) > CC(f)), pode-se afirmar que:

a) LF(f) é máximo na faixa ‘fF’ quando CCu(fF) ≤ RFu e CCu(fF+1) ≥ RFu, com

CC(f+1) > CC(f), e;

b) LT(f) é máximo na faixa ‘fT’ quando CCu(fT) ≤ (RFu + Pu - Cu) e

CCu(fT+1) ≥ (RFu + Pu - Cu).

Em decorrência, fT ≥ fF e LT(fT) ≥ LT(fF), i.e., se a margem operacional integrar os

parâmetros para o estabelecimento do ponto em modelos de crédito, haverá um aumento no

número de faixas atendidas, no volume de vendas, e do lucro.

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A Figura 15 ilustra graficamente a diferença no resultado final quando a análise de

crédito leva em conta a margem operacional. Nesta situação, nota-se a existência de um ponto

de lucro máximo, que ocorre quando o custo marginal do crédito se iguala à margem de

contribuição unitária somada à receita financeira unitária. A Figura 16 mostra um ponto de

equilíbrio do custo marginal do crédito com a margem financeira, e outro, do mesmo custo

marginal com a soma das margens financeira e de contribuição operacional. Os pontos

notáveis deste gráfico coincidem com os pontos indicados no gráfico anterior.

Figura 15 – Lucro máximo

Fonte: elaborado pelo autor

Figura 16 – Custo unitário variável do crédito

Fonte: elaborado pelo autor

-250,00

-200,00

-150,00

-100,00

-50,00

0,00

50,00

100,00

150,00

200,00

250,00

Lucro total

Lucro financeiro

Lucro operacional

Lucro máximo

Lucro financeiro

máximo

Diferença no

lucro obtido

faixas de risco

$

-

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

Margem operacional

Margem financeira

Custo marginal do crédito

Faixa de lucro

máximo

Faixa de lucro

financeiro máximo

$

faixas de risco

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57

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 TIPO DE PESQUISA

Esta pesquisa é predominantemente aplicada e tem características exploratórias e

descritivas. É uma pesquisa aplicada, pois visa produzir conhecimento para utilização prática

de seus resultados; mas é descritiva na medida em que se preocupa em observar fatos –

inerentes a técnicas estatísticas já dominadas de credit scoring –, analisá-los e interpretá-los

(BEUREN, 2009, p. 81). Tem também o caráter exploratório porque propõe uma abordagem

alternativa à habitualmente usada no comércio varejista, ao utilizar o lucro final, no lugar da

inadimplência, como critério principal para a tomada de decisão na concessão de crédito.

O estudo aborda o problema de forma predominantemente quantitativa. A tônica desta

pesquisa está na abordagem inovadora para a análise das informações relevantes para a

tomada de decisão para concessão de crédito ao consumidor no varejo. Para tal, utiliza

procedimentos experimentais de simulação de fatores econômico-financeiros. Conforme

explicou Perera (1998): “[...] a experimentação é caracterizada pela manipulação de variáveis

independentes e a observação dos consequentes resultados em outra variável (dependente), os

demais fatores mantidos constantes.”. O desenvolvimento contou com o auxílio de pesquisa

bibliográfica e documental, com uso de dados de fontes secundárias.

3.2 MÉTODO DA PESQUISA

Apesar de terem sido apresentados vários métodos frequentemente utilizados para

modelagem de escores de crédito, o problema da pesquisa encontra-se após a modelagem de

um sistema parametrizado de aprovação de crédito baseado na probabilidade de

inadimplência.

O autor usou a técnica de simulação matemática não estatística, utilizando como

parâmetros, os valores produzidos por um scorecard e variáveis independentes baseadas em

valores usuais de mercado. O desenvolvimento das simulações apoiou-se no trabalho

inovador de Stein (2005) e foi assim desenvolvido e apresentado:

a) Validação da amostra e do scorecard (seções 3.3 e 3.5);

b) Apresentação e aplicação do critério de corte de Stein (2005) (seção 4.1.2);

c) Ajuste no método de Stein (2005) para introduzir o fator referente à margem

operacional (seção 4.1.3);

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3.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA

A pesquisa utilizou dados secundários de uma base de dados representativa de uma

população de pessoas físicas que demandam crédito ao consumidor.

Trata-se de uma amostra aleatória de clientes que buscaram crédito junto a bancos,

financeiras e varejo entre agosto de 2010 e julho de 2011, e conta com mais de nove mil

indivíduos espalhados pelo Brasil.

A base foi fornecida pela Serasa Experian, e contém um conceito binário de

inadimplência atrelado à pontuação do seu próprio modelo de credit scoring.

3.3.1 Descrição operacional das variáveis

A estrutura da base de dados possui os campos descritos abaixo:

DATA: data da consulta feita pelo mutuante.

CONCEITO: verificação de adimplência ou inadimplência na operação.

PONTUAÇÃO CREDIT SCORING: escore atribuído pelo sistema Serasa Experian a

cada indivíduo até a data da consulta.

IDADE

SEXO

UF: localização geográfica em que a consulta foi originada.

CEP

QUANTIDADE DE ANOTAÇÕES ATIVAS: anotações restritivas na data da

consulta. Pode ser protesto, ação, ou anotações de bancos, varejo, financeiras e

empresas de telecomunicações.

QUANTIDADE DE ANOTAÇÕES ATIVAS COM MAIS DE 90 DIAS DE

ATRASO: anotações restritivas com mais de 90 dias na data da consulta.

3.4 TRATAMENTO E APRESENTAÇÃO DOS DADOS

Os dados foram inicialmente tratados com o apoio do software PASW Statistics 18

(SPSS). Nesta fase, foram feitas a análise descritiva dos dados e a avaliação da utilização de

uma subamostra que excluiu os indivíduos positivos em ‘anotações ativas’.

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59

A amostra utilizada foi dividida em 20 faixas de similar número de indivíduos,

numeradas de forma crescente conforme pontuação.

O desenvolvimento das simulações apresentadas na seção 4 abaixo foi feito com o

auxílio da planilha eletrônica Excel 2007.

As tabelas referentes à estatística descritiva da amostra encontram-se no Apêndice A

(amostra integral) e Apêndice B (subamostras comparativas).

3.4.1 Distribuição estatística

A amostra reúne dados provenientes das 27 unidades da federação (UF), embora não

respeite a proporção populacional ou econômica do país.

Quase um quarto dos dados não aponta sua UF e uma quantidade similar localiza-se

no estado de São Paulo (SP). Observa-se, também, que nas diversas U ’s, a distribuição da

pontuação (escore) não é uniforme. As comparações por UF podem ser observadas na Figura

17 e na Figura 18. Quanto à distribuição por faixas etárias, esta se apresenta sem

descontinuidade, confirmando o caráter aleatório da amostra (Figura 19).

Figura 17 – Distribuição da frequência em relação às unidades da federação

Fonte: elaborado pelo autor, utilizando amostra cedida pela Serasa Experian

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60

Figura 18 – Distribuição da pontuação em relação às unidades da federação.

Fonte: elaborado pelo autor, utilizando amostra cedida pela Serasa Experian

Figura 19 – Distribuição da frequência em relação às faixas etárias

Fonte: elaborado pelo autor, utilizando amostra cedida pela Serasa Experian

A base de dados fornecida apresenta algumas limitações que devem ser observadas.

Por conta das características operacionais da Serasa Experian, os dados são colhidos

por comunicação espontânea dos credores e não se pode garantir que as solicitações de crédito

que geraram as consultas refletidas na base de dados tenham sido atendidas pelo agente

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61

financeiro ou pelo varejo correspondente. Não se pode, tampouco, afiançar que a ausência de

marcação positiva no campo ‘conceito’ ateste a adimplência do solicitante, dado que a falta de

registro do evento de default talvez decorra de um financiamento não concedido.

3.4.2 A amostra de trabalho

Considerou-se a possibilidade de realizar a pesquisa com base em uma subamostra que

desconsiderasse casos com anotações ativas na data da consulta, já que é prática corrente do

varejo afastar, da concessão de crédito, os indivíduos com restrições em bureaux.

Para analisar essa alternativa, dividiu-se a amostra original em duas subamostras

mutuamente excludentes com base na existência, ou não, de pelo menos uma anotação ativa

no momento da consulta. A subamostra com anotações ativas representa cerca de 25% da

amostra original.

Verificaram-se distribuições bastante díspares em relação à condição de default:

enquanto a amostra integral mostrava uma probabilidade incondicional de default de 41,1%, a

partição com alguma anotação tinha 94,0% de inadimplentes. A Figura 20 ilustra esta

condição.

Figura 20 – Distribuição da inadimplência

Amostra integral

Subamostra sem anotações

Subamostra com anotações

Fonte: elaborado pelo autor, utilizando amostra cedida pela Serasa Experian

No entanto, evidenciou-se que a informação das anotações prévias já está contemplada

na pontuação e, portanto, a exclusão de parte da base de dados não traria ganhos adicionais à

pesquisa. Ao contrário: a utilização da base ampla permitiu a apreciação do bom grau de

explicação do modelo de CS desenvolvido e utilizado pela SERASA Experian, conforme o

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62

resultado dos índices de acurácia calculados em 3.5.1 abaixo. A Figura 21 mostra que os

casos com anotações dominam integralmente as faixas 1 a 4, reduzindo-se à ausência total

após a faixa 8.

Figura 21 – Distribuição de anotações por faixa

Fonte: elaborado pelo autor, utilizando amostra cedida pela Serasa Experian

3.5 VERIFICAÇÃO DO SCORECARD E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Como não se dispõe da formulação do modelo desenvolvido pela SERASA Experian

para a avaliação do poder de discriminação do scorecard, os escores reais da base de dados

fornecida pelo bureau foram utilizados como aproximação do modelo. A Figura 22 mostra a

distribuição das quantidades e percentuais de maus e bons pagadores da amostra.

É possível notar que as distribuições de bons e maus pagadores estão bem

discriminadas nas primeiras faixas, possivelmente por conta do alto peso das ‘anotações’ na

formulação do scorecard. Nas faixas 7 a 9 encontra-se grande indefinição, enquanto nas

faixas superiores, o grau de discriminação volta a aumentar intensamente. Acredita-se que a

forte confusão nas faixas intermediárias possa ser fruto de inconsistência dos dados da Serasa

Experian naquelas faixas, já que um conceito ‘não positivo’ pode ser resultado de algum

financiamento não concedido. Houvesse mais informações disponíveis, um tratamento

inferencial, especialmente nas primeiras 10 faixas de escores, poderia propiciar um

refinamento de dados com ganhos de acurácia no modelo.

0

100

200

300

400

500

600

700

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Qu

an

tid

ad

e / f

aix

a

Faixa

Sem anotações

Com anotações

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63

Figura 22 – Distribuição de bons e maus pagadores por faixa

Fonte: elaborado pelo autor, utilizando amostra cedida pela Serasa Experian

3.5.1 Medidas de acurácia do modelo

Foram consideradas as medidas de acurácia de Kolmogorov-Smirnov e o coeficiente

de Gini.

Encontrou-se um KS de 58.3%, correspondente à faixa 8, que denota um excelente

poder de discriminação segundo Sumihara Filho e Sleegers (2010), e a Serasa Experian (ver

Tabela 1 e Tabela 2, na página 49). O detalhe do cálculo do KS encontra-se no Apêndice C e

a Figura 23 apresenta a leitura gráfica da estatística KS da amostra.

Figura 23 – Estatística de Kolmogorov-Smirnov da amostra

Fonte: elaborado pelo autor, utilizando amostra cedida pela Serasa Experian

0

100

200

300

400

500

600

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 Faixas

Maus pagadores

Bons pagadores

0%

2%

4%

6%

8%

10%

12%

14%

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 Faixas

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Faixas

Maus pagadores

Bons pagadores

KS = 58.3%

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64

Os resultados obtidos foram AUROC ≥ 0,87 e Gini ≥ 0,75. De acordo com os padrões

sugeridos por Sumihara Filho e Sleegers (2010), o modelo tem excelente grau de

discriminação. A observação da representação gráfica da ROC deste modelo sugeriu, no

entanto, que as faixas 1 a 4 estão a enviesar a interpretação desses índices de acurácia. A

análise deste quesito mostrou, contudo, que, se fossem excetuadas as faixas em que se

concentram os indivíduos com ‘anotações’ – que têm índice de inadimplência de 94% (vide

Figura 20 acima) –, ainda assim a AUROC e Gini indicariam boa discriminação segundo

Sumihara Filho e Sleegers (2010).

A Figura 24 e a Figura 25 ilustram a área sob a curva ROC, respectivamente, para o

modelo integral e para o modelo restrito às faixas 5 a 20. O cálculo das áreas encontra-se no

Apêndice D.

Figura 24 – AUROC – Amostra integral

Fonte: elaborado pelo autor, utilizando amostra cedida pela Serasa Experian

0%

20%

40%

60%

80%

100%

0% 20% 40% 60% 80% 100% α = FAR

1-β

= H

R

AUROC ≥ 0,87

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65

Figura 25 – AUROC - faixas de 5 a 20

Fonte: elaborado pelo autor, utilizando amostra cedida pela Serasa Experian

0%

20%

40%

60%

80%

100%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

1-β

= H

R (

Hit

Rat

e)

α = FAR (false alarm rate)

AUROC ≥ 0,75

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66

4 SIMULAÇÃO E ANÁLISE DE LUCRATIVIDADE GLOBAL DA OPERAÇÃO

DE VENDA A CRÉDITO

4.1 CRITÉRIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DA SIMULAÇÃO

4.1.1 Equações básicas

As simulações foram desenvolvidas com base nas equações ( 1 ) e ( 2 ), (descritas nas

páginas 51 e 55) que determinam, respectivamente, a perda esperada em uma operação de

crédito e o lucro operacional esperado na operação comercial.

Dentro desses parâmetros, Thomas (2009, p. 55-56) propôs a equação abaixo, que

determina o lucro percentual na operação financeira sob risco de crédito:

L (1-PD) r - PD LGD - rf,

que pode ser escrito como:

L (1-PD) - PD LGD , ( 3 )

onde:

L% é o lucro percentual sobre o capital investido na operação financeira;

rf é a taxa livre de risco do cedente do crédito;

r é a taxa de juros cobrada na operação financeira;

LGD é a perda média causada pelos inadimplentes;

PD é a probabilidade de default;

MF é a margem financeira (r - rf);

LGD’ é a perda média causada pelos inadimplentes, já considerado o efeito da taxa

livre de risco (LGD’ LGD - rf).

4.1.2 A curva ROC e a escolha do ponto de corte: a abordagem de Stein (2005)

Há poucos anos, ainda não se utilizavam os custos e receitas para ponderar o ponto de

corte de sistemas de CS. Hoje, o risk based pricing é ferramenta comum na concessão de

crédito a mutuários de todos os tamanhos. As instituições financeiras usam diversos métodos

para ajustar a taxa de juros ao risco do pleiteante ao crédito. Uma das maneiras para encontrar

o ponto de corte ótimo é através da curva ROC.

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Stein (2005), em hipótese que assume LGD como variável independente dos demais

fatores e desconsidera os efeitos da seleção adversa, sugeriu uma formulação para a função

custo, que representa o custo esperado dos erros ocorridos menos o benefício esperado da

decisão correta; para uma determinada estratégia ‘s’ de concessão de crédito, o custo ‘Cs’ foi

expresso:

Cs p D c N N p D b P P

p(ND) c( P ) P p(ND) b( N ) N

( 4 )

Onde:

b(.) e c(.) são as funções benefício e custo respectivamente;

p(.) é a probabilidade incondicional (população) de um evento;

D e ND são os eventos de default e non-default, respectivamente;

TP ou TP% é o percentual de verdadeiros positivos (maus pagadores preditos como

maus pagadores);

TN ou TN% é o percentual de verdadeiros negativos (bons pagadores preditos como

bons pagadores);

FP ou FP% é o percentual de falsos positivos (bons pagadores preditos como maus

pagadores), ou erro tipo II;

FN ou FN% é o percentual de falsos negativos (maus pagadores preditos como bons

pagadores), ou erro tipo I;

FAR é False Alarm Rate, ou FP/(FP+TN) = FP/N;

HR é Hit Rate, ou TP/(TP+FN) = TP/P.

É importante ressaltar que este trabalho adotou a nomenclatura proposta por

Stein (2005), que tratou as ocorrências de default como ‘positivos’, à semelhança do critério

utilizado em testes clínicos. Desta forma, FN, ou falso negativo, representa o erro tipo I ao

contrário do definido conceitualmente para o teste de hipóteses, em que o erro tipo I é dado

pelo falso positivo.

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Figura 26 – Stein, curva ROC

Fonte: adaptado de Stein (2005)

Substituindo os termos da equação ( 4 ) pelo significado encontrado graficamente na

curva ROC (Figura 26), derivando a curva em relação ao seu ponto de corte e igualando a

zero, Stein demonstrou que a inclinação S, da reta com custo marginal igual a zero é dada por:

S p ND

p D

c P b N

c N b P ( 5 )

O ponto em que a reta de inclinação S tangencia a curva ROC define o ponto de corte

ótimo para o modelo considerado.

Como b(TP) e c(FP) tendem a zero, a expressão ( 5 ) pode ser simplificada para:

S p ND

p D

b N

c N ( 6 )

Os benefícios b(TN%) de uma operação de crédito, de acordo com Stein (2005),

englobam quaisquer ganhos que o credor possa ter em decorrência da operação de crédito:

spread, taxas de abertura de crédito, ganhos com serviços adicionais, incremento no

relacionamento global com cliente etc. Da mesma forma, os custos c(FN%) referem-se a

todos os custos e despesas relacionadas diretamente com a ocorrência da inadimplência: parte

não recuperada do valor em exposure, despesas com a cobrança etc. Observe-se que os

benefícios e custos presentes nessas equações devem ser considerados a valor presente.

FAR = Percentual de non-defaults

HR

= P

erce

ntu

al d

e d

efa

ult

s

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Por simplificação, foram admitidos, como benefícios, apenas a margem financeira

(MF), e como custo, a perda com inadimplência (LGD). Observa-se, então, que a inclinação

da reta tangente é diretamente proporcional a MF, e inversamente a LGD (expressão ( 7 ) ):

S p ND

p D

M

LGD ( 7 )

Dessa forma, quanto maior for a taxa de juros líquida de uma operação de crédito,

maior será a inclinação da reta tangente e tanto mais próximo da origem será o ponto de

contato com a curva ROC. A Figura 27, abaixo, ilustra como as operações com taxas maiores

permitem escores menos conservadores: o ponto A, tangente da condição de taxa mais alta,

permite um maior número de inadimplentes em compensação de um menor número de bons

pagadores excluídos; a lógica contrária aplica-se para o ponto B, correspondente à reta de

menor taxa de juros líquida.

Figura 27 – ROC com retas tangentes: ilustração genérica

Fonte: elaborado pelo autor, adaptado de Stein (2005)

A aplicação do método exposto acima permite a identificação do ponto ótimo para

cada conjunto de parâmetros: LGD; margem de lucro; scorecard.

Como exemplo de aplicação do método, utilizou-se o scorecard da amostra, dentro de

uma situação hipotética em que LGD = 70%. Nesse ambiente, foram feitas duas simulações:

uma considerando um financiamento com spread de 10%, e outra com spread de 35%.

As tangentes calculadas têm as seguintes inclinações:

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70

S PND

PD b( N )

c( N )

(1 1,1 )

1.1

M

70

S10 0,1 e S35 0,50

A Figura 28 mostra que as tangentes à curva ROC, que determinam os pontos de corte

ideais, ocorrem com HR35% = 79,3% e HR10% = 97,3%.

Figura 28 – ROC e tangentes: exemplo com duas taxas de juros

Fonte: elaborado pelo autor, utilizando amostra cedida pela Serasa Experian

Esses pontos correspondem, respectivamente, às faixas 9 e 16 (esta, bastante

restritiva). No primeiro caso, o financiamento é concedido a 57% dos requerentes, enquanto

no segundo, a apenas 28%; nota-se, ainda, que, na operação de spread 10%, o ponto ótimo

acontece apenas quando o modelo de CS exclui 98% dos preditos inadimplentes.

4.1.3 Integrando a margem operacional do varejo à abordagem de Stein

Conforme discutido anteriormente, o crédito ao consumidor é amiúde visto como uma

atividade acessória ao comércio, e seus ganhos ou perdas, tratados de forma marginal. Mas,

uma visão reversa também pode ser considerada, isto é, admitir que o bem comercializado é

negócio marginal ao do financiamento. Nesta última visão, e em sintonia com o conceito

79,3%

97,9%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

0%

10

%

20

%

30

%

40

%

50

%

60

%

70

%

80

%

90

%

10

0%

HR

FAR

Tangente Spread = 35%

Tangente Spread = 10%

HR

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estabelecido por Roger Stein, os resultados da operação comercial podem ser agregados à

equação ( 6 ), como a seguir:

bf(TN) = MF; bo(TN) = MO;

cf(FN) = LGD; co(FN) = CMV -1 = –MO.

S p ND

p D

bf( N) bo( N)

, portanto:

S p ND

p D

M MO

LGD MO ( 8 )

onde:

bf(.) e cf(.) são as funções benefício e custo financeiros, respectivamente;

bo(.) e co(.) são as funções benefício e custo operacionais, respectivamente;

CMV é o custo da mercadoria vendida;

MO é a margem operacional de contribuição.

A expressão ( 8 ) sugere que a principal relação entre os parâmetros envolvidos é a que

existe entre LGD e MO. A partir do ponto em que a margem operacional de contribuição,

doravante tratada apenas por margem operacional (MO), ultrapassa LGD, a utilização do

scorecard é irrelevante para a obtenção do ponto ideal, pois torna sua inclinação negativa.

4.1.4 Aplicação do método à amostra

Em consonância com o que foi exposto nas seções 1.4 e 1.5, o objetivo desta pesquisa

foi avaliar a influência cruzada das margens operacionais do varejo com a operação de crédito

ao consumidor oferecida na ponta de venda. Para isso, as simulações a seguir procuraram, sob

vários cenários, identificar o efeito das margens praticadas pelo varejo na escolha do melhor

ponto de corte.

4.1.4.1 Pressupostos utilizados nas simulações

Admitiram-se os seguintes pressupostos:

a) tratando-se de crédito ao consumidor no varejo, o financiamento é um elemento

acessório ao comércio, e, desta forma, não se aplica a preocupação com o índice de

resposta à oferta de crédito;

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72

b) há um padrão único de taxas oferecidas aos clientes em todas as operações, o que

afasta as questões de seleção adversa;

c) como hipótese simplificadora, para o cálculo de benefício financeiro, foram

considerados financiamentos de prazo semestral e com pagamentos mensais iguais;

d) EAD é o valor do financiamento concedido, i.e., igual ao valor do bem financiado;

e) LGD independe dos demais fatores. Dado o caráter exploratório desta pesquisa, o

termo LGD foi utilizado genericamente com o significado de LGD’, definido na

equação ( 3 ) acima. A simplificação justifica-se por conta das variáveis terem sido

estimadas e da insignificante magnitude da diferença entre os valores de LGD e LGD’;

f) os parâmetros utilizados nas variáveis simuladas são compatíveis com valores

praticados pelo mercado:

o rf (taxa livre de risco) – utilizou-se a taxa fixada pelo Copom vigente em 31 de

outubro de 2013, equivalente a 9,5% a.a. (Banco Central do Brasil, 2013b);

o r (taxa de juros praticada no comércio) – utilizou-se a taxa de juros do comércio

publicados na pesquisa da ANEFAC referente a outubro de 2013 (ASSOCIAÇÃO

NACIONAL DOS EXECUTIVOS DE FINANÇAS, ADMINISTRAÇÃO E

CONTABILIDADE, 2013), de 4,19% a.m.;

o LGD – utilizaram-se valores próximos à média encontrada por Pazzoto (2012) e às

modas das distribuições bimodais sugeridas por Marins, Neves e Silva (2009);

o em linha com as definições da abordagem de Stein (2005), os parâmetros aqui

utilizados foram traduzidos em seu valor presente no início da transação. Desta

forma, os valores de MF, MO e LGD referem-se à data da concessão do crédito;

o estabelecidos segundo estes critérios, os parâmetros utilizados nas simulações

encontram-se na Tabela 3 , abaixo.

Tabela 3 – Parâmetros utilizados nas simulações

Mínimos Médios Máximos

Margem financeira (MF) 7% 12% 24%

LGD 30% 60% 80%

Margem operacional de

contribuição (MO) 15% 30% 45%

Fonte: elaborado pelo autor com base em parâmetros compatíveis com valores praticados pelo

mercado

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73

o para a construção dos valores da variável MF, verificou-se o resultado do

desconto, pela taxa SELIC, do fluxo de caixa da produzido pelos ganhos mensais

de hipotéticos financiamentos em prestações constantes, pelos prazos de 90,180 e

360 dias. Os resultados estão expressos na Tabela 4.

Tabela 4 – Receita financeira líquida descontada à taxa SELIC

Taxa de juros

3% a.m. 4.2% a.m. 6% a.m.

Financiamento 90 dias

6.9%

Financiamento 180 dias 7.9% 12.2% 18.9%

Financiamento 360 dias

23.1%

Fonte: elaborado pelo autor com base em parâmetros compatíveis com valores praticados pelo

mercado

4.1.4.2 Simulação básica com parâmetros médios

O traçado das tangentes sobre a curva ROC característica do scorecard da amostra

permitiu identificar os pontos PCF (determinado pelo resultado do financiamento) e PCT

(determinado pelo resultado total). As tangentes foram calculadas, respectivamente, pela

expressão ( 6 ) da página 68, e pela expressão ( 8 ) da página 71.

Figura 29 – Pontos de corte na curva ROC da amostra: parâmetros centrais.

Fonte: elaborado pelo autor, utilizando amostra cedida pela Serasa Experian

57,15%

93,51%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

0%

10

%

20

%

30

%

40

%

50

%

60

%

70

%

80

%

90

%

10

0%

HR

(m

au

sp

aga

do

res)

FAR (bons pagadores excluídos)

Financeiro:

MF= 12%;

LGD= 60%

Total:

MF= 12%;

LGD= 60%

MO= 30%

PCT

PCF

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74

A Figura 29 representa a simulação básica produzida com parâmetros médios de

mercado (LGD=60%; MF=12%; MO=30%). Ela indica a localização dos pontos PCF e PCT,

respectivamente nos pares [FAR=53,7%; HR=93,5%] e [2,7%; 57,1%].

As ordenadas de PCF nesta simulação correspondem à faixa 14, e, nesta faixa, o

scorecard admite a aceitação de apenas 30% dos pleiteantes. Por outro lado, o PCT recaiu

sobre a faixa 5, que acata até 75% dos candidatos (o Apêndice D apresenta a

correspondência das faixas de escores com HR e FAR). Desta forma, a escolha do ponto de

corte baseada exclusivamente no spread do financiamento provocaria a recusa de 45% de

clientes que, de outra forma, seriam aceitos pelo critério baseado no lucro total.

Além dos danosos efeitos comerciais – não tão facilmente quantificáveis – da recusa

de quase metade dos clientes, esta simulação básica sugere que a escolha de PCF

proporcionaria ganhos expressivamente menores à empresa do que aqueles obtidos no ponto

de corte que considera a margem operacional. Com o PCF, os financiamentos produziriam

isoladamente um lucro de 1,7% para a empresa, e um ganho total limitado a 10,6%. Se,

alternativamente, fosse utilizado o PCT, os financiamentos produziriam uma perda de 3,7%,

mas o ganho total saltaria para 18,8%, i.e., o lucro da empresa cresceria 8.2 pontos

percentuais.

Cabe esclarecer que os percentuais aqui utilizados para comparar ganhos e perdas

usaram como base o máximo faturamento financiável possível, ou seja, aquele que ocorreria

se todos os clientes – bons e maus – concretizassem suas compras financiadas.

A Tabela 5 resume, além da simulação básica, outras duas que consideraram as

condições extremas das variáveis simuladas. A tabela permite observar que, mesmo na

situação mais adversa, com menores margens e maior LGD, o diferencial no ganho absoluto

(2.8%) ainda é expressivo, pois equivale a um lucro adicional de 28% sobre a base de vendas

(10% dos clientes potenciais) limitada pelo PCF.

Os títulos das colunas da Tabela 5 até a Tabela 9 devem ser entendidos da seguinte

forma:

% de clientes atendidos (%POP): é o percentual de clientes acumulados (bons e maus)

desde a faixa de menor risco até a faixa obtida por PCF ou PCT;

Ganho total (%GT): é o resultado das receitas financeiras e operacionais com os

clientes adimplentes subtraídas das perdas com os inadimplentes e calculado a partir

da expressão:

GT% = %POP *MO + %B*MF - %M*LGD

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75

Ganho com financiamento (%GF): é o caso particular do ganho total, com MO=0:

GF% = %B*MF - %M*LGD

Onde:

o %POP é o percentual de clientes acumulados;

o %B é a quantidade acumulada de bons clientes atendidos (ordenados do melhor

para o pior risco);

o %M é a quantidade acumulada de maus clientes atendidos (ordenados do

melhor para o pior risco).

Tabela 5 – Simulação básica e com parâmetros máximos e mínimos

Parâmetros gerais

(MO; MF; LGD)

% de clientes

atendidos

Ganho com

financiamento Ganho total

PCF PCT

PCF PCT

PCF PCT

Diferença

Mínimos (15%; 7%; 80%)

10% 40%

0,3% (1,3%)

1,8% 4,6%

2,8%

Médios (simulação básica)

(30%; 12%; 60%)

30% 75%

1,7% (3,7%)

10,6% 18,8%

8,1%

Máximos (45%; 24%; 30%)

70% 100%

8,8% 1,8%

40,3% 46,8%

6,5%

Fonte: elaborado pelo autor com base nos resultados obtidos nas simulações sobre a amostra cedida pela Serasa

Experian

4.1.4.3 Análise de sensibilidade nos pontos de corte a LGD, MO e MF

Para verificar o efeito de cada variável na determinação do ponto crítico, foram feitas

simulações adicionais em relação à simulação básica, utilizando 3 valores estimativos para

cada variável (MO, LGD e MF). Esses valores foram resumidos na Tabela 3, na página 72.

a) Sensibilidade a LGD

Independentemente do modelo adotado, quanto mais próxima do zero for a expectativa

de perda por inadimplência, menor será a necessidade de sofisticação do sistema de

aprovação de crédito; igualmente, quando se introduz a margem operacional na

análise, o percentual de MO compensa a perda com inadimplência, e a tangente tende

ao infinito (vertical). O primeiro diagrama da Figura 30, mostra esta situação quando

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LGD se aproximou do valor de MO (30%): o máximo lucro total se deu na origem do

gráfico, i.e., concedendo financiamento a todos os indivíduos solicitantes.

Figura 30 – Sensibilidade a LGD

Fonte: elaborado pelo autor, utilizando amostra cedida pela Serasa Experian

Percebe-se ainda, no segundo gráfico da figura, que, embora os PC’s tenham variado

bastante com os diferentes valores de LGD, a diferença entre PCF e PCT pouco se

alterou: enquanto na simulação básica, a diferença de ganho foi de cerca de 8%, nas

duas simulações com variação de LGD, o valor convergiu para próximo de 5,5%. Os

valores de ganhos relativos nestas simulações estão dispostos na Tabela 6.

Tabela 6 – Simulação de PC em relação a LGD

MO= 30%;

MF= 12%;

% de clientes

atendidos

Ganho com

financiamento Ganho total

LGD = PCF PCT PCF PCT PCF PCT

Diferença

30% 54% 100% 2,9% (5,3%) 19,1% 24,7%

5,6%

60% (básica) 30% 75% 1,7% (3,7%) 10,6% 18,8%

8,1%

80% 30% 70% 1,1% (5,2%) 10,1% 15,8%

5,7%

Fonte: elaborado pelo autor com base nos resultados obtidos nas simulações sobre a amostra cedida pela Serasa

Experian

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b) Sensibilidade a MO

Figura 31 – Sensibilidade a MO

Fonte: elaborado pelo autor, utilizando amostra cedida pela Serasa Experian

Como o lucro financeiro é independente da MO, não causa surpresa que PCF não

tenha se alterado com a variação de MO, e que PCT tenha convergido para PCF

quando a MO tendeu a zero. No entanto, a Figura 31 indica grande amplitude da

sensibilidade de PCT à margem operacional de contribuição. Os valores de ganhos

relativos nestas simulações estão dispostos na Tabela 7.

Tabela 7 – Simulação de PC em relação a MO

MF= 12%;

LGD= 60%

% de clientes

atendidos

Ganho com

financiamento Ganho total

MO =

PCF PCT PCF PCT PCF PCT

Diferença

15%

30% 60% 1,7% (0,4%) 6,2% 8,6%

2,4%

30% (básica)

30% 75% 1,7% (3,7%) 10,6% 18,8%

8,1%

45%

30% 80% 1,7% (5,6%) 15,1% 30,4%

15,3%

Fonte: elaborado pelo autor com base nos resultados obtidos nas simulações sobre a amostra cedida pela Serasa

Experian

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78

c) Sensibilidade a MF

Figura 32 – Sensibilidade à MF

Fonte: elaborado pelo autor, utilizando amostra cedida pela Serasa Experian

Antes de se avaliar os efeitos sobre o PCT, vale a pena observar o que a simulação

mostra sobre a importância do uso dos parâmetros financeiros (MF e LGD) para a

determinação do PCF.

A Figura 32 mostra que o ponto de corte do financiamento variou expressivamente

com a taxa de juros. Note-se que, na situação hipotética em que o credor, ao invés de

fixar o ponto de corte pelos valores médios esperados, ajustasse dinamicamente o PC

pelo equilíbrio dos erros I e II, haveria ganhos relativos expressivos, tanto nas taxas

menores como nas maiores que a média. A Tabela 8 mostra que o ganho de uma

operação financeira com spread de 7% aumentaria de 0,3% para 0,5%, e, de 4.9% para

5,8% se o spread aplicado fosse 24%.

Tabela 8 – Efeito de PC em financiamentos

MO= 30%;

LGD= 60% Corte pelo modelo Corte pelo valor médio Diferença

MF = %POP %GF %POP %GF

%GF

Mínima = 7% 15% 0,5% 30% 0,3%

(0,2%)

Básica = 12% 30% 1,7% 30% 1,7%

0%

Máxima = 24% 54% 5,8% 30% 4,9%

(0,9%)

Fonte: elaborado pelo autor com base nos resultados obtidos nas simulações sobre a amostra cedida pela Serasa

Experian

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A Figura 32 mostra também, que, mantidas constantes as demais variáveis, o PCT

pouco variou com a taxa de juros, e que o efeito da diferença da utilização de PCT em

vez de PCF, foi menor quando a taxa de juros simulada foi mais baixa. Os valores de

ganhos relativos nestas simulações estão dispostos na Tabela 9.

Tabela 9 – Simulação de PC em relação a MF

MO= 30%;

LGD= 60%

% de clientes

atendidos

Ganho com

financiamento Ganho total

MF = PCF PCT PCF PCT PCF PCT

Diferença

7% 15% 70% 0,5% (5,0%) 5,0% 16,0%

11,0%

12% (básica) 30% 75% 1,7% (3,7%) 10,6% 18,8%

8,1%

24% 54% 75% 5,8% 3,2% 22,0% 25,6%

3,6%

Fonte: elaborado pelo autor com base nos resultados obtidos nas simulações sobre a amostra cedida pela Serasa

Experian

4.2 AVALIAÇÃO E RESUMO DOS RESULTADOS

As comparações desenvolvidas nesta seção demonstraram que a associação das

margens operacionais aos spreads financeiros afeta o ponto crítico da análise objetiva de

crédito.

O enfoque dado pelo método de Stein (2005) é objetivo e permite rápidos ajustes pelo

simples traçado de tangentes, sendo adequado àquelas situações com vários produtos, de

diferentes margens operacionais; não obstante, a visualização gráfica apresentada a seguir,

através de uma análise de volumes, oferece uma apreciação mais evidente do impacto da

translação do ponto de corte provocado pela inserção da margem operacional.

Tomem-se como exemplo as simulações elencadas na Tabela 7, que experimentaram a

variação na margem operacional de contribuição. Naquelas simulações, vê-se que os

solicitantes atendidos no ponto de corte financeiro seriam 30% da população, enquanto no

ponto de corte total, este percentual subiria para 80%. Observa-se também que, quando a

margem operacional considerada subiu de 15% para 45%, a diferença no ganho total variou

de 2.4% até 15.3%, confirmando que quanto maior a contribuição, mais importante é a adoção

do método aqui sugerido.

A Figura 33 abaixo, que reflete a mesma condição apresentada no segundo gráfico da

Figura 31 (LGD=60%; MF=12%; MO=45%), mostra que, se a parcela dos clientes atendidos

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80

pelo financiamento subisse de 30% para 80%, a empresa teria um incremento de lucro de 15

pontos percentuais, dobrando o ganho das vendas a prazo.

Figura 33 – Receitas x volumes

Fonte: elaborado pelo autor, utilizando amostra cedida pela Serasa Experian

Dependendo da magnitude dos fatores de mercado vigentes, o benefício causado pela

inserção da margem operacional na análise pode variar em amplitude, recomendando sua

apreciação em conjunto com os demais fatores intervenientes. O gráfico da Figura 34 ilustra a

movimentação, através das faixas de escores, do ponto crítico em função do aumento da

contribuição operacional considerada; o ponto de corte se movimenta desde a faixa 15,

quando não há ou se desconsidera a margem operacional, até a faixa 5 (menos restritiva)

quando a MO avança para 50%.

15,1%

30,4%

-10%

-5%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Receit

a L

íqu

ida

(*)

% da população

Receita financeira

MF= 12%; LGD= 60%

Receita operacional

MO= 45%

Receita total

(*) Receita Líquida em relação ao potencial de faturamento

Ganho= 15,3%

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81

Figura 34 – Efeito composto de escores e MO

Fonte: elaborado pelo autor, utilizando amostra cedida pela Serasa Experian

-20%

-10%

0%

10%

20%

30%

40%

05101520

Rec

eita

líq

uid

a

Faixas de escores

Pontos críticos

MO = 50%

MO = 40%

MO = 30%

MO = 20%

MO = 10%

MO = 0%

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5 CONCLUSÕES

Embora a análise de crédito seja, muitas vezes, vista como um conjunto de critérios de

prevenção contra a inadimplência, a decisão de crédito é uma opção entre o risco de ficar sem

o pagamento esperado (erro tipo I) e o risco de abdicar de um bom negócio (erro tipo II).

A consequência do erro tipo I é uma perda efetiva, numericamente explícita e

comprovável; o resultado do erro tipo II, por se tratar da privação de um resultado operacional

incerto, não é tão evidente sem uma análise mais profunda. Este fato, aliado à percepção

genérica de que o dano causado pela inadimplência é muito maior que o do negócio não

realizado, fazem a utilidade da prevenção do erro tipo I ser, geralmente, mais valorizada do

que a do tipo II.

Inicialmente praticado diretamente pelos comerciantes, o crédito ao consumidor nas

empresas varejistas vem passando, nas últimas décadas, por um intenso movimento de

terceirização e parcerias. Hoje, a decisão sobre o risco de crédito fica, em regra, a cargo

exclusivo do setor financeiro. Mas, fosse o crédito ao consumidor considerado parte do core

business de uma empresa varejista, os critérios de financiamento mereceriam ser decididos à

luz da expectativa de retorno correspondente.

O objetivo desta pesquisa foi demonstrar que, quando existem financiamentos

associados à venda de produtos no varejo, é possível gerenciar os erros do tipo I e tipo II na

concessão do crédito, e, assim, aumentar o lucro das empresas. Para atingir tal objetivo,

evidenciou-se tecnicamente que a inadimplência não é o único fator do risco de crédito, e, que

em cenários de spreads altos, a consideração do erro tipo II é relevante; além disto,

demonstrou-se que a magnitude da perda comercial provocada pela rejeição do crédito

justifica a sua consideração dentro dos parâmetros do modelo.

Com o auxílio da abordagem oferecida por Stein (2005), desenvolveram-se

simulações baseadas em um scorecard representativo do mercado brasileiro, que permitiram

responder a questão da pesquisa de forma consistente, ratificando a hipótese formulada.

Confirmou-se que, quando, além das taxas de juros, as diferentes margens operacionais

presentes no varejo são consideradas em conjunto com o modelo de credit scoring, os pontos

de corte ideais para concessão crédito são deslocados para novas posições nas quais acontece

a maximização dos ganhos empresariais.

A pesquisa demonstrou que a alteração sugerida traz aumento no lucro total, mas que

este fica concentrado na área comercial, em detrimento da financeira; o maior lucro total

chega a ocorrer concomitantemente a um prejuízo na área financeira. Lembrando que, em

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muitas situações, o lucro comercial e o financeiro encontram-se em empresas independentes,

é importante que se estruture um procedimento técnico e formal que permita repartir esses

ganhos entre ambas.

Atualmente, não é incomum a existência de acordos comerciais, que transferem à

empresa comercial parte do ganho proporcionado pelos financiamentos. Os resultados desta

pesquisa, no entanto, permitem ao autor sugerir uma progressão reversa desses acordos de

compensação entre as empresas parceiras. Neste caso, a varejista poderia utilizar parte de seus

ganhos operacionais adicionais para compensar as eventuais perdas que a financeira

incorresse ao deslocar o ponto de corte para o ponto de maior lucro total (PCT).

A Figura 35 ilustra, com base na simulação exposta na Figura 33, a capacidade que a

varejista teria para compensar as perdas financeiras. Na específica conjunção de fatores desse

exemplo, o aumento nos ganhos adicionais de 22%, obtidos na área comercial pela mudança

de parâmetros, teria larga margem para compensar a perda adicional de 7% verificada na área

financeira, restando um lucro total de 15%.

Figura 35 – Proporção dos ganhos

Fonte: elaborado pelo autor, com os mesmos parâmetros da Figura 33

Por fim, tendo sido esta uma pesquisa exploratória sobre o tema, algumas questões não

foram consideradas ou aprofundadas, deixando oportunidade para explorá-los em estudos

porvindouros, tais como a influência dos impostos indiretos sobre as variáveis simuladas, e a

influência da correlação de LGD no método.

Para estudos adicionais relacionados a este tema, pode-se investigar sobre:

-10%

-5%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

0% 50% 100%

Rec

eita

Líq

uid

a(*)

% da população

Receita financeira

MF= 12%; LGD= 60%

Receita operacional

MO= 45%

Receita total

Queda nos ganhos

financeiros = 7%

Aumento nos ganhos

operacionais = 22%

PCF

PCT

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a) formas práticas de implantação do gerenciamento conjunto das margens operacional e

financeira, para estabelecimento dos pontos de corte;

b) a aplicabilidade do conceito exposto nesta pesquisa, para financiamento através de

cartão de crédito próprio (‘cartão de loja’);

c) o comportamento de LGD e formas dinâmicas para seu acompanhamento.

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APÊNDICES

Apêndice A – ESTATÍSTICA DESCRITIVA DA AMOSTRA TOTAL ............................... 92

Apêndice B – ESTATÍSTICAS COMPARATIVAS DAS SUBAMOSTRAS ....................... 95

Apêndice C – CÁLCULO DO ÍNDICE DE KOLMOGOROV-SMIRNOV ........................... 96

Apêndice D – CÁLCULO DA ÁREA SOB A CURVA ROC (AUROC) ............................... 97

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Apêndice A – ESTATÍSTICA DESCRITIVA DA AMOSTRA TOTAL

Estatística básica geral

Statistics

Idade Pontuação Anotações

Ativas

Anotações

Ativas com

mais de 90

dias

N Valid 9754 9852 9852 9852

Missing 98 0 0 0

Mean 40,20 490,75 1,32 1,24

Median 37,00 467,00 0,00 0,00

Mode 26 467 0 0

Std. Deviation 15,557 287,260 5,903 5,833

Variance 242,011 82518,517 34,848 34,020

Skewness 0,692 0,039 15,924 16,350

Std. Error of Skewness 0,025 0,025 0,025 0,025

Range 83,000 994,000 263,000 263,000

Percentiles 25 28,000 247,000 0,000 0,000

50 37,000 467,000 0,000 0,000

75 51,000 738,000 0,000 0,000

Statistics

Anotações

Ativas

Anotações

Ativas

tratando

‘zero’ como

‘missing’

Anotações

Ativas com

mais de 90

dias

Anotações

Ativas 90

dias tratando

‘zero’ como

‘missing’

N Valid 9852 2440 9852 2185

Missing 0 7412 0 7667

Mean 1,32 5,34 1,24 5,60

Median ,00 2,00 ,00 2,00

Mode 0 1 0 1

Minimum 0 1 0 1

Maximum 263 263 263 263

Percentiles 25 ,00 1,00 ,00 1,00

50 ,00 2,00 ,00 2,00

75 ,00 5,00 ,00 5,00

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Distribuição do ‘conceito’ da amostra

CONCEITO

Frequency Percent

Valid

0 5801 58,88

1 4051,00 41,12

Total 9852,00 100,00

Distribuição da amostra por unidades da federação

UF

Frequency Percent

Valid 2382 24,18

AC 23 0,23

AL 82 0,83

AM 114 1,16

AP 15 0,15

BA 426 4,32

CE 204 2,07

DF 156 1,58

ES 159 1,61

GO 215 2,18

MA 128 1,30

MG 753 7,64

MS 103 1,05

MT 148 1,50

PA 164 1,66

PB 95 0,96

PE 273 2,77

PI 71 0,72

PR 440 4,47

RJ 738 7,49

RN 109 1,11

RO 49 0,50

RR 15 0,15

RS 454 4,61

SC 278 2,82

SE 66 0,67

SP 2157 21,89

TO 35 0,36

Total 9852 100,0

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PONTUAÇÃO

Faixa N Mean Minimum Maximum

1 509 31,71 2 50

2 474 77,33 53 97

3 507 121,25 100 145

4 481 155,05 147 195

5 502 234,25 196 247

6 484 266,57 248 287

7 495 308,30 288 332

8 479 352,24 334 375

9 600 408,16 378 439

10 445 461,88 442 467

11 485 514,53 475 536

12 468 571,71 540 593

13 488 619,50 596 643

14 488 669,51 646 689

15 505 716,17 691 740

16 461 766,65 743 792

17 494 817,36 794 844

18 499 868,35 846 893

19 498 921,26 895 946

20 490 960,28 947 996

Total 9852 490,75

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Apêndice B – ESTATÍSTICAS COMPARATIVAS DAS SUBAMOSTRAS

Comparação da pontuação para as partições com (1) ou sem (0) anotações ativas

PONTUAÇÃO

0

N Valid 7667

Missing 0

Mode 467

Minimum 152

Maximum 996

Percentiles 25 397,00

50 607,00

75 797,00

1

N Valid 2185

Missing 0

Mode 350

Minimum 2

Maximum 350

Percentiles 25 59,00

50 108,00

75 152,00

Comparação do ‘conceito’ para as partições com (1) ou sem (0) anotações ativas.

Anotação atual e

mais de 90 dias

CONCEITO

Frequency Percent

0

0 5674 74,0

1 1993 26,0

Total 7667 100,0

1

0 127 5,8

1 2058 94,2

Total 2185 100,0

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Apêndice C – CÁLCULO DO ÍNDICE DE KOLMOGOROV-SMIRNOV

Os dados foram organizados em ordem crescente de sua pontuação e divididos em 20

faixas de mesma amplitude numérica.

A maior diferença entre os percentuais acumulados é o índice KS ou estatística de

Kolmogorov-Smirnov. O valor está destacado em negrito na última coluna.

Faixas de

escores

Quantidade

de maus

pagadores

Quantidade

de bons

pagadores

Bons

pagadores

Maus

pagadores

Percentuais

acumulados Diferença

Bons

pagadores

Maus

pagadores

1 0 509 0,0% 12,6% 0,0% 12,6% 12,6%

2 0 474 0,0% 11,7% 0,0% 24,3% 24,3%

3 0 507 0,0% 12,5% 0,0% 36,8% 36,8%

4 2 479 0,0% 11,8% 0,0% 48,6% 48,6%

5 156 346 2,7% 8,5% 2,7% 57,1% 54,4%

6 208 276 3,6% 6,8% 6,3% 64,0% 57,7%

7 280 215 4,8% 5,3% 11,1% 69,3% 58,1%

8 279 200 4,8% 4,9% 15,9% 74,2% 58,3%

9 392 208 6,8% 5,1% 22,7% 79,3% 56,6%

10 328 117 5,7% 2,9% 28,4% 82,2% 53,9%

11 359 126 6,2% 3,1% 34,5% 85,3% 50,8%

12 340 128 5,9% 3,2% 40,4% 88,5% 48,1%

13 387 101 6,7% 2,5% 47,1% 91,0% 43,9%

14 386 102 6,7% 2,5% 53,7% 93,5% 39,8%

15 440 65 7,6% 1,6% 61,3% 95,1% 33,8%

16 403 58 6,9% 1,4% 68,3% 96,5% 28,3%

17 440 54 7,6% 1,3% 75,8% 97,9% 22,0%

18 456 43 7,9% 1,1% 83,7% 98,9% 15,2%

19 473 25 8,2% 0,6% 91,9% 99,6% 7,7%

20 472 18 8,1% 0,4% 100,0% 100,0% 0,0%

5801 4051 100% 100%

Diferença máxima= 58,3%

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Apêndice D – CÁLCULO DA ÁREA SOB A CURVA ROC (AUROC)

Faixa de

escores

Amostra total Faixa 5 a faixa 20

Bons

pagadores

acumulados

Maus

pagadores

acumulados

Área

aproximada

Bons

pagadores

acumulados

Maus

pagadores

acumulados

Área

aproximada

FAR HR FAR HR

0 0,0% 0,0% 0,000

1 0,0% 12,6% 0,000

2 0,0% 24,3% 0,000

3 0,0% 36,8% 0,000

4 0,0% 48,6% 0,000 0,0% 0,0% 0,000

5 2,7% 57,1% 0,014 2,7% 16,6% 0,22%

6 6,3% 64,0% 0,022 6,3% 29,9% 0,83%

7 11,1% 69,3% 0,032 11,1% 40,2% 1,69%

8 15,9% 74,2% 0,035 15,9% 49,8% 2,17%

9 22,7% 79,3% 0,052 22,7% 59,8% 3,70%

10 28,4% 82,2% 0,046 28,3% 65,4% 3,54%

11 34,5% 85,3% 0,052 34,5% 71,5% 4,24%

12 40,4% 88,5% 0,051 40,4% 77,6% 4,37%

13 47,1% 91,0% 0,060 47,1% 82,5% 5,34%

14 53,7% 93,5% 0,061 53,7% 87,4% 5,65%

15 61,3% 95,1% 0,072 61,3% 90,5% 6,75%

16 68,3% 96,5% 0,067 68,3% 93,3% 6,39%

17 75,8% 97,9% 0,074 75,8% 95,9% 7,18%

18 83,7% 98,9% 0,077 83,7% 97,9% 7,62%

19 91,9% 99,6% 0,081 91,9% 99,1% 8,04%

20 100,0% 100,0% 0,081 100,0% 100,0% 8,10%

AUROC 0,876 0,758

Gini 0,751 0,517

mn

n

m

m 0

ini