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GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS: ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA DE ASSISTÊNCIA DE CELULAR Anna Camila Lima e Silva (UFRN) [email protected] Fernanda Kivia Agra Fernandes (UFRN) [email protected] Renata de Oliveira Mota (UFRN) [email protected] Este artigo objetiva desenvolver um plano generalista para gerenciamento de resíduos eletroeletrônicos em PMEs. Para isto, realizou-se um estudo de caso em uma microempresa de assistência técnica para celular na cidade de Natal-RN. Inicialmente uma pesquisa bibliográfica foi desenvolvida sobre resíduos eletroeletrônicos, seguida pela coleta e análise dos dados mediante a elaboração de uma composição gravimétrica e por fim a interpretação dos resultados. Justifica-se a escolha deste tema devido a quantidade elevada deste tipo de resíduo no Brasil, o qual pode ser potencialmente prejudicial a saúde pública e ao meio ambiente. Como resultado obteve-se um plano de gerenciamento de resíduos para a empresa foco do estudo, que define ações desde o acondicionamento e coleta de resíduos até a sua destinação final, e o desenvolvimento de um programa para a redução dos resíduos voltado para o melhor aproveitamento e educação ambiental. A contribuição deste estudo está na possibilidade de replicação do plano em outras empresas do segmento. Palavras-chave: PMEs, Resíduos eletroeletrônicos, plano de gerenciamento, meio-ambiente. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

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GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS

ELETROELETRÔNICOS: ESTUDO DE

CASO EM UMA EMPRESA DE

ASSISTÊNCIA DE CELULAR

Anna Camila Lima e Silva (UFRN)

[email protected]

Fernanda Kivia Agra Fernandes (UFRN)

[email protected]

Renata de Oliveira Mota (UFRN)

[email protected]

Este artigo objetiva desenvolver um plano generalista para

gerenciamento de resíduos eletroeletrônicos em PMEs. Para isto,

realizou-se um estudo de caso em uma microempresa de assistência

técnica para celular na cidade de Natal-RN. Inicialmente uma pesquisa

bibliográfica foi desenvolvida sobre resíduos eletroeletrônicos, seguida

pela coleta e análise dos dados mediante a elaboração de uma

composição gravimétrica e por fim a interpretação dos resultados.

Justifica-se a escolha deste tema devido a quantidade elevada deste

tipo de resíduo no Brasil, o qual pode ser potencialmente prejudicial a

saúde pública e ao meio ambiente. Como resultado obteve-se um plano

de gerenciamento de resíduos para a empresa foco do estudo, que

define ações desde o acondicionamento e coleta de resíduos até a sua

destinação final, e o desenvolvimento de um programa para a redução

dos resíduos voltado para o melhor aproveitamento e educação

ambiental. A contribuição deste estudo está na possibilidade de

replicação do plano em outras empresas do segmento.

Palavras-chave: PMEs, Resíduos eletroeletrônicos, plano de

gerenciamento, meio-ambiente.

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1. Introdução

Equilibrar o crescimento econômico com sustentabilidade ambiental é um desafio eminente

em um sistema capitalista. As elevadas taxas de consumo da população mundial, juntamente

com o crescimento populacional, impulsionaram a produção de diversos produtos nas últimas

décadas, entre eles os eletroeletrônicos. Computadores, celulares, televisores são demandados

e produzidos em larga escala diariamente, e com isso, aumenta-se proporcionalmente sua taxa

de descarte. Com a ausência de medidas eficazes quanto à destinação desses equipamentos

por parte dos consumidores e de toda a cadeia, a quantidade de resíduos eletroeletrônicos

(REEs) descartados inadequadamente ao meio ambiente tem se tornado um indicador

alarmante.

As pequenas e médias empresas do setor de assistência técnica dos equipamentos

eletroeletrônicos são o foco deste estudo, porque além de apresentarem elevado potencial de

geração de resíduos, estas se mostram como excelente ponto de coleta para uma logística

reversa na cadeia de suprimentos. Apesar de não apresentarem grande porte, a quantidade de

empresas neste segmento no país é relevante quanto ao somatório de possíveis resíduos

gerados por elas. Portanto, é essencial garantir o gerenciamento seguro e adequado dos

resíduos eletroeletrônicos, desde a geração até a destinação final desses. Dessa forma, faz-se

necessário a implementação de um Plano de Gerenciamento de Resíduos (PGR) nas empresas

desse setor, uma vez que atende a essas necessidades.

Este artigo se propõe a desenvolver um PGR generalista para pequenas e médias empresas

que gerem resíduos eletroeletrônicos. Para este desenvolvimento, utilizou-se como objeto de

estudo uma microempresa que oferece serviço de assistência técnica para celular, situada em

Natal-RN. Priorizou-se que, para isso, a legislação vigente deverá ser atendida e as soluções

propostas serão economicamente viáveis para tal segmento de modo a possibilitar a replicação

dos resultados em outras empresas. Justifica-se este estudo tendo em vista fatores como o

aumento do consumo e do descarte dos equipamentos elétricos e eletrônicos; a diminuição da

vida útil dos aparelhos; a necessidade de adequação à Política Nacional de Resíduos Sólidos,

sancionada em 2010; o esgotamento de minérios ricos para extração de metais e a escassez de

tecnologias para seu reaproveitamento.

O trabalho encontra-se dividido em seções para melhor entendimento do leitor. A primeira

seção corresponde a parte introdutória do trabalho, onde o que pretende-se ser realizado é

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apresentado. A segunda seção explana uma breve revisão bibliográfica sobre a temática. A

seção três descreve o método utilizado na pesquisa. A quarta seção detalha o estudo de caso e

diagnóstico. A quinta seção detalha o desenvolvimento do Plano de Gerenciamento de

Resíduos. E a última seção expõe as considerações finais dos autores acerca do tema

estudado.

2. Referencial teórico

O avanço tecnológico diminuiu o ciclo de vida dos aparelhos eletroeletrônicos, o que

proporcionou uma quantidade significante de resíduo deste setor. As trocas de aparelhos e

equipamentos cada vez mais frequentes, devido ao rápido nível de inovação tecnológica e a

obsolescência programada tem deixado crítico esse quadro à nível global (MATTOS et al,

2008).

De acordo com Feam (2013), o Brasil gera cerca de 680.000 toneladas de resíduos

eletroeletrônicos anualmente, caracteriza-se como o maior gerador de REEE entre os países

emergentes (PNUMA, 2013). Alguns dos materiais podem ser reciclados e recuperados,

contudo, podem prejudicar as pessoas se manusearem incorretamente (VAISHNAV; DIWAN,

2013) ou afetar o meio ambiente através de contaminação das águas e lençóis freáticos por

possuírem substâncias como chumbo, cádmio e mercúrio (ROBINSON, 2009).

Portanto, nota-se a crescente necessidade de gerenciamento de resíduos eletroeletrônicos.

Apesar de existir norma regulamentadora quanto a gestão de resíduos no Brasil, a Política

Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), o sistema de gestão após o uso de material eletrônico é

ineficiente e ainda não há regulamentação específica na PNRS sob o tratamento dos REEEs.

A PNRS estabelece que as prestadoras de serviços que gerem resíduos perigosos estão

sujeitos a elaboração do Plano de Gerenciamento de Resíduos sólidos (Art. 20).

O PGR é uma ferramenta que busca assegurar a rastreabilidade dos resíduos desde a geração

até a destinação final. Este deve conter, no mínimo, as seguintes informações: identificação

do gerador; diagnóstico da situação existente; acondicionamento, coleta, transporte interno,

estocagem temporária, segregação, pré-tratamento e tratamento dentro da organização; coleta

e transporte externo, e destinação final dos resíduos; como também os programas de redução

na fonte, reuso e reciclagem e de educação ambiental (OLIVEIRA et al, 2012).

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O Manual de Gerenciamento de Resíduos/ SEBRAE-RJ (2006) expõe que a elaboração e

implementação de um PGR é essencial para reduzir custos associados à gestão de resíduos.

Além disso, por meio do PGR, é possível garantir que todos os resíduos gerados pela empresa

são gerenciados de forma segura e adequada, desde sua geração até a destinação final. Define-

se equipamentos eletroeletrônicos como “todos aqueles produtos cujo funcionamento depende

do uso de corrente elétrica ou de campos eletromagnéticos” (INVENTTA, 2012), sendo

classificados em quatro categorias abrangentes (Tabela 1).

Tabela 1 - Classificação dos Equipamentos Eletroeletrônicos

Fonte: Adaptado da Inventta (2011)

A quantidade de resíduos produzidos tem aumentado significativamente ao longo dos anos.

Os resíduos eletroeletrônicos estão seguindo a mesma tendência, porém em um grau maior de

preocupação, por estar entre as categorias de resíduos que mais cresce. Na tabela 2, nota-se o

crescimento na demanda por celulares no país, sendo este produto específico o de maior

relevância no estudo.

Tabela 2 - Unidade de celulares demandadas/ano

Fonte: IDC (2014)

Além da geração ser significativa, outro dado preocupante é falta de tratamento desse resíduo.

Ao final de sua vida útil os equipamentos são considerados resíduos e devem ser tratados de

forma especial. Com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, os estabelecimentos de

produção, distribuição e comercialização de produtos eletroeletrônicos e seus componentes

são obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos

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produtos após o uso pelo consumidor. A figura 1, expõe a quantidade de recicladoras no

Brasil em 2012, e possibilita a percepção de escassez de pontos de reciclagem.

Figura 1 - Número de recicladoras

Fonte: Invetta (2012)

A reciclagem é de complexa manutenção pela ausência de tecnologias adequadas para a

retirada dos metais presentes nos produtos - fator em grande parte causado pela falta de

receita advinda da inconstância do recebimento de material pelas empresas de reciclagem

(Inventta, 2012) - e também por falta de incentivos fiscais do governo.

A coleta de resíduos eletroeletrônicos consiste no recebimento, armazenamento temporário e

encaminhamento desse material. Segundo Inventta (2012), são cinco os pontos ou maneiras

de coleta: empresas de varejo - está sempre em contato com o consumidor, muitas vezes

mantém um ponto de coleta para servir de marketing ambiental; assistência técnica - grande

capacidade de ser ponto de coleta pela natureza de seu serviço e pela capilaridade pelo o

território do Brasil; poder público - organizador de campanhas; cooperativas de catadores -

fazem além da coleta a triagem e muitas vezes o pré-tratamento do material; e as pequenas

empresas de reciclagem - elas vão além do pré-tratamento e fazem o reaproveitamento do

material.

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A preocupação com o meio ambiente passa a ser tema relevante no mundo dos negócios a

partir das décadas de 70 e 80 com a chegada das regulamentações e controles ambientais.

Entretanto, a cultura empresarial ainda era reativa, buscava-se apenas não cometer crimes

ambientais, fazendo somente o exigido por lei. Já na década de 90, a gestão ambiental passa a

trabalhar com outro foco, direcionado para a otimização dos processos produtivos na busca de

redução dos impactos ambientais e desperdício de recursos, ela surge como uma tendência por

parte das empresas como fator diferencial no mercado (SANT’ANNA et al, 2014).

Uma nova postura com base na responsabilidade solidária deve ser assumida pelas

organizações, de modo que estas adotem uma política ambiental proativa deixando em

segundo plano as preocupações com multas e autuações (MARION, 2000). Neste contexto,

tratados e acordos legal passa a ser exigido também pelo mercado e pela sociedade, tornando

o desempenho ambiental um diferencial competitivo para organizações. Donaire (1999, p.16)

explica que “esta visão é o resultado de uma mudança de enfoque que está ocorrendo no

pensamento da sociedade e mudando sua ênfase do econômico para o Social, valorizando

aspectos sociais que incluem distribuição mais justa de renda, qualidade de vida e etc.”.

Normas internacionais surgem para garantir para as empresas vantagens competitivas pelos

investimentos feitos em gestão ambiental, sendo o principal deles a série dos certificados ISO

14000, 14001, 14002 dentre outros.

3. Método de pesquisa

Este trabalho foi desenvolvido em um período de 2 meses e se caracteriza como estudo de

caso por ser uma investigação empírica que analisa um fenômeno contemporâneo dentro de

seu contexto da vida real, utilizando-se de observação direta. O estudo de caso pode ser divido

em três fases sucessivas (YIN, 2001):

a) A escolha do referencial teórico;

b) A coleta e análise de dados;

c) A interpretação dos dados, culminando em um resultado.

Inicialmente, buscou-se no estado da arte publicações que abordam resíduos eletroeletrônicos

(REEs) e/ou o Plano de Gerenciamento de Resíduos. E foram as etapas desse plano

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encontradas na literatura que norteram todos os procedimentos metodológicos seguidos na

pesquisa, sendo as seguintes:

(1) Identificar quais os processos que geram resíduos;

(2) Caracterizar os resíduos gerados, ou seja, classificá-los e quantificá-los;

(3) Definir quais serão as formas de manuseio, acondicionamento, armazenamento e coleta

dos resíduos;

(4) Apontar como será realizado o transporte dos resíduos, bem como seu tratamento e

destinação final;

(5) E informar maneiras de reuso e reciclagem.

Para a coleta de dados, foram realizadas visitas técnicas e recolhimento dos resíduos para a

composição gravimétrica, por meio de pesagem analógica e identificação das frações dos

resíduos gerados. Como resultado, tem-se um programa de redução na fonte geradora, para o

reuso e reciclagem, bem como para a educação ambiental.

4. Estudo de caso

Para alcançar o objetivo geral deste trabalho, um estudo de caso foi desenvolvido numa

microempresa localizada em Natal-RN, com o intuito de que os resultados alcançados no foco

da pesquisa possam ser replicados em outras empresas do segmento. A empresa em estudo é

uma franquia, que está há 20 anos no mercado, e que oferece serviço de assistência técnica

para celular, localizado em um dos principais shoppings da cidade.

Atualmente, a organização não possui controle dos resíduos gerados por suas atividades, logo,

não há gerenciamento desses. Todos esses são armazenados sem segregação e dispostos para

a coleta seletiva municipal destiná-los para aterros sanitários. A partir disso, é possível

observar o dano causado à natureza e sociedade decorrente das atividades exercidas na

pequena empresa em questão e a necessidade de elaboração de um Plano de Gerenciamento

de Resíduos para esta.

A principal atividade geradora de resíduos ocorre na manutenção, quando se faz necessária a

troca de dispositivos como placas, display e baterias. Estes resíduos necessitam de mais

atenção no armazenamento e descarte, porém a empresa os trata da mesma forma dos resíduos

comuns. Os resíduos gerados pela empresa foram listados na tabela 3, os quais puderam ser

identificados mediante coletas realizadas pela equipe no período de pesquisa.

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Tabela 3 - Caracterização dos resíduos da empresa

Fonte: Elaborado pelos autores

Os resíduos identificados podem ser classificados quanto à natureza física, composição

química, periculosidade, estado físico, grau de degradabilidade e riscos potenciais de

contaminação do meio ambiente, conforme exposto no Quadro 1.

Quadro 1 - Classificação dos Resíduos

Fonte: Elaborado pelos autores

Na empresa em estudo, o resíduo que se destaca dos demais, quanto a sua classe, é a bateria

dos celulares. De acordo com Monteiro et al. (2001), as pilhas e baterias se enquadram quanto

sua natureza e origem em resíduos domiciliares especiais. São classificadas pela NBR 10.004

em

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Classe I ou perigosos – são aqueles que, em função de suas características

intrínsecas de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade ou

patogenicidade, apresentam riscos à saúde pública por meio do aumento da

mortalidade ou da morbidade, ou ainda provocam efeitos adversos ao meio ambiente

quando manuseados ou dispostos de forma inadequada (ABNT, 2004).

Numa primeira instância, a triagem do material deve ser realizada manualmente, nos

seguintes três grandes grupos:

− Pilhas alcalinas, zinco-carvão e lítio;

− Níquel-cádmio;

− Mercúrio.

Percebe-se portanto, que todos os resíduos analisados são secos, inorgânicos, sólidos e de

serviço. Sendo perigosos apenas a bateria do celular e a placa de celular, que podem ser

compostas por algumas substâncias tóxicas, como o níquel cádmio ou níquel metal hidreto,

NiCd e NiMH; o lítio-íon ou polímero, Li-Íon e Li-Íon Polímero; ou o chumbo ácido. A

existência desses metais explica os cuidados especiais que deve-se ter com esse tipo de

resíduos. A Figura 2 expõe o resultado da composição gravimétrica dos resíduos encontrados

na empresa.

Figura 2 - Composição gravimétrica dos resíduos

Para obtenção da quantidade de resíduos gerados pela empresa, obteve-se informações sobre a

frequência de geração de cada um dos itens listados, conforme Tabela 4.

Tabela 4 - Frequência da geração do resíduo

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Fonte: Elaborado pelos autores

5. Plano de ação

5.1 Manuseio, acondicionamento e armazenamento

As características anteriormente listadas presumem que os resíduos gerados não exigem

rígidas medidas quanto ao seu fechamento, vedação e manuseio de recipientes, por serem

sólidos e inorgânicos, não havendo possibilidades de vazamentos e/ou rupturas. Dessa forma,

sugerem-se as seguintes formas de acondicionamento:

− Bateria, Display e Placas de celular: reaproveitamento das caixas de materiais

utilizados pela empresa, que possuem, normalmente, 11cm de altura x 11 cm de largura

x 16,5 cm de comprimento, totalizando um volume de 2.000cm³.

− Lixo comum: recipiente de 10.000cm³ dividido em quatro compartimentos: papel,

plástico, vidro e metal.

Todos os recipientes devem portar símbolo de identificação compatível com o tipo de resíduo

acondicionado. Por não oferecerem riscos a saúde em contato físico direto, não é necessário a

utilização de equipamentos de proteção individual (EPI).

Os resíduos serão acondicionados separadamente em recipientes reutilizados. Resíduos como

baterias, displays e placas de celulares serão acondicionados separados em recipientes de

2000cm³. Resíduos comuns, como papel, plástico, vidro e metal também serão

acondicionados separadamente em um recipiente de 10000cm³ dividido em 4. Essa

segregação dos resíduos contribuem facilitam a recuperação e reciclagem.

5.2 Coleta e transporte

Por se tratar de uma microempresa de estrutura física reduzida, o transporte interno se dá de

forma totalmente manual. Para a coleta, propõe-se que sejam utilizados 5 coletores de

resíduos. 3 serão as caixas dos materiais da empresa que serão reutilizadas para coletar

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baterias, displays e placas de celulares, separadamente. 2 serão os recipientes de 10000cm³

dividido em quatro compartimentos para coletar papel, plástico, vidro e metal separadamente.

Os resíduos comuns da empresa em estudo são coletados pelo próprio shopping no qual está

localizada, sendo responsabilidade da empresa apenas dispor os resíduos separadamente, no

recipiente proposto anteriormente, dentro do estabelecimento ao final de cada expediente. O

shopping não faz coleta seletiva, portanto, propõe-se que os resíduos de papel, plástico, vidro

e metal sejam dispostos para a coleta da cidade, sendo levado diretamente para locais de

reciclagem.

As baterias devem ser levadas, semanalmente, para um ponto de recebimento desse tipo de

resíduo que realize a destinação correta. As placas e displays de celulares devem ser coletados

de maneira especial por cooperativas locais de resíduos eletroeletrônicos e/ou artesãos que

realizem a destinação correta.

5.3 Reuso e Reciclagem

Todos os resíduos gerados na empresa podem ser reciclados. Os resíduos como papel,

plástico, vidro e metal são destinados, pela cooperativa de coleta da cidade, para locais que

realizam a reciclagem dos mesmos.

Os resíduos de componentes de celulares como baterias, placas e displays de celulares serão

levados até pontos que recebimento desse tipo de resíduo, que se caracterizam como resíduos

eletroeletrônicos. Esses pontos de recebimento destinam esse tipo de resíduo para a

reciclagem apropriada.

5.4 Programas ambientais

No programa de redução na fonte, a proposta é que cada funcionário leve ao local de trabalho

um copo de vidro ou de plástico resistente para ingerir água ao longo de todo o dia de trabalho

diariamente, ao invés deles ficarem utilizando vários copos descartáveis.

Ainda para a redução de resíduo na empresa, os papeis que são descartados apenas com um

lado deles em uso, não devem mais ser descartados pelos funcionários, mas utilizados como

rascunhos.

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Para a empresa, aconselha-se que, sempre que possível, os produtos sejam comprados em

refil, para diminuir a quantidade de descartes de produtos ainda com outras maneiras de

utilização. Outra proposta é o acordo com fornecedores para que os componentes dos

celulares cheguem a loja com menos embalagens ou com embalagens recicláveis. A Tabela 5

expõe metas de prazo para a implementação de todas essas propostas.

Tabela 5 - Programa de redução na fonte geradora

Fonte: Elaborado pelos autores

Da mesma maneira que a empresa está reduzindo a quantidade de resíduo de papel gerado ao

utilizar o verso, ela também já está reusando o papel como rascunho ou bloco de anotações.

Para facilitar a reciclagem ou mesmo a reutilização, os mesmos não devem ser amassados,

apenas rasgados e colocados na coleta seletiva.

Os sacos plásticos gerados a partir de embalagens de produtos ou aquelas de supermercados

podem ser aproveitados na empresa para cobrir os cestos de lixo e acondicionar os demais

resíduos da empresa. As recomendaçnoes também incentivam a reutilização das caixas de

materiais como coletores de resídios.

É importante ressaltar também que, conforme proposto anteriormente, todos os resíduos

gerados devem ser destinados de maneira que sejam reciclados.

A implementação das mudanças exige que os funcionários sejam conscientizados sobre os

problemas ambientais, ententendam maneiras de reduzir, reutilizar e/ou reciclar os resíduos e

recebam treinamentos para manter e melhorar continuamente o gerenciamento de resíduos da

empresa. Deste modo, faz-se fundamentala a implementação de um programa de educação

ambiental.

6. Considerações finais

Em decorrência da aceleração em termos de inovações tecnológicas e do intenso consumo de

materiais eletroeletrônicos, a taxa de crescimento na geração de sucatas eletrônicas apresenta

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crescimento acentuado. Destiná-los de forma errônea pode acarretar grandes riscos ao meio

ambiente, já que se trata de um resíduo que não sofre decomposição natural. Por esta razão,

acredita-se que um gerenciamento adequado desses resíduos logo passará a ser exigência legal

para todos os tipos de geradores, mesmo as pequenas e micro empresas.

A utilização de planos é justificada por estes equipamentos apresentarem várias substâncias

tóxicas e poluentes como os metais pesados, além de que, numa visão empresarial,

metodologias como a reutilização e a recuperação desses materiais podem gerar lucros ou

ainda, diminuir custos.

Assim, pode-se constatar a importância da construção de um plano de gerenciamento de

resíduos para o melhor desempenho ambiental e posicionamento estratégico da empresa, bem

como, a contribuição com o meio ambiente e a sociedade.

Neste trabalho, o desenvolvimento do PGR permitiu responder aos objetivos destacados e

propor ações simples de melhoria e adequações ambientais. Essas exigem baixo investimento

monetário, sendo facilmente implementadas. Trabalhos futuros podem ser desenvolvidos para

realizar estudos mais aprofundados em outras organizações semelhantes a fim de comparar os

resultados obtidos e expor a importância de considerar as realidades individuais na elaboração

de um PGR.

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