geoprocessamento aplicado ao mapeamento de vulnerabilidade ambiental. cristiano alves 2006

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Este estudo foi submetido e aprovado no Curso de Especialização em Geoprocessamento Aplicado a Análise Ambiental e Recursos Hídricos da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do titulo de Especialista. Seu objetivo é a realização do mapeamento de vulnerabilidade ambiental da porção da APA de Baturité localizada dentro dos limites do município de Pacoti/CE. Nesta região predomina uma mata úmida, resquício de mata atlântica, com temperatura local variando entre 19 e 22°C. Fatores que fazem deste local uma ilha úmida na paisagem árida do sertão das caatingas. Diante destas peculiaridades, esta região vem sofrendo uma intensa degradação de seu recursos naturais, justificando-se a necessidade de uma análise integrada do ambiente, abordando a região como um sistema composto por múltiplas variáveis que se inter-relacionam entre si e com outros sistemas. Para tanto foi utilizado o método AHP - Analystic Hierarchy Process desenvolvido por Thomas L. Saaty na década de 70, tendo em vista que este método de avaliação multicritério possibilita a avaliação de um grande número de fatores quantitativos e qualitativos, de maneira sistemática, através da estruturação de uma hierarquização do problema, permitindo definir a importância de cada critério no processo de decisão, garantindo uma análise integrada dos principais fatores ambientais, que de forma conjunta determinam à fragilidade ambiental desta região. O resultado deste método foi um mapa de vulnerabilidade ambiental que possibilitou a identificação das áreas onde está ocorrendo uma maior pressão sobre o ambiente, orientando assim nas tomadas de decisão para mitigação dos efeitos da degradação constatada e proteção das áreas identificadas como sujeitas a degradação, garantindo a preservação deste ambiente.

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEAR CRISTIANO ALVES DA SILVA

    GEOPROCESSAMENTO APLICADO AO MAPEAMENTO DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL: UMA ANLISE INTEGRADA

    DO AMBIENTE PARA SUPORTE DECISO NO MUNICPIO DE PACOTI - CE

    Fortaleza 2006

  • CRISTIANO ALVES DA SILVA

    GEOPROCESSAMENTO APLICADO AO MAPEAMENTO DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL: UMA ANLISE INTEGRADA

    DO AMBIENTE PARA SUPORTE DECISO NO MUNICPIO DE PACOTI CE

    Fortaleza 2006

    Monografia submetida ao Curso de Especializao em Geoprocessamento Aplicado a Anlise Ambiental e Recursos Hdricos da Universidade Estadual do Cear, como requisito parcial para a obteno do titulo de especialista.

    Orientador: Prof. Ms Joo Silvio Dantas de Morais

  • S586g Silva, Cristiano Alves da Geoprocessamento aplicado ao mapeamento de vulnerabilidade ambiental: uma anlise integrada do ambiente para suporte deciso no municpio de Pacoti Ce / Cristiano Alves da Silva .__Fortaleza,2006.

    135p.; il.

    Orientador: Prof. Ms. Joo Silvio Dantas de Morais Monografia (Especializao em Geoprocessamento Aplicado a Anlise Ambiental e Recursos Hdricos) Universidade Estadual do Cear, Centro de Cincias e Tecnologia.

    1. Geoprocessamento. 2. Mapeamento de vulnerabilidade ambiental. 3. Pacoti Ce. I. Universidade Estadual do Cear, Centro de Cincias e Tecnologia.

    CDD:577

  • CRISTIANO ALVES DA SILVA

    GEOPROCESSAMENTO APLICADO AO MAPEAMENTO DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL: UMA ANLISE INTEGRADA

    DO AMBIENTE PARA SUPORTE DECISO NO MUNICPIO DE PACOTI CE

    Aprovado em: 13 /09/ 2006 Conceito obtido: Satisfatrio

    BANCA EXAMINADORA

    ____________________________________________

    Prof. Ms. Joo Silvio Dantas de Morais Universidade Estadual do Cear

    ____________________________________________

    Profa. Ms. Claudia Maria Magalhes Granjeiro Universidade Estadual do Cear

    ____________________________________________

    Prof. Ms. Renata Mendes Luna Universidade Estadual do Cear

    Monografia submetida ao Curso de Especializao em Geoprocessamento Aplicado a Anlise Ambiental e Recursos Hdricos da Universidade Estadual do Cear, como requisito parcial para a obteno do titulo de especialista.

  • Dedico aos meus pais, Benones Ferreira e Maria Neuma, que dedicaram parte de suas vidas na minha formao pessoal e profissional...

  • AGRADECIMENTOS

    Deus pelo dom da vida que me foi concedido e pelas preces alcanadas.

    minha famlia pelo incentivo e dedicao.

    minha namorada Tatiana Marques pela sua compreenso e apoio durante o trabalho.

    Ao meu orientador pelos ensinamentos repassados.

    Aos meus colegas de turma pelas trocas de experincias.

  • Pedi, e recebereis... Buscai e achareis, pois todo aquele que pede recebe e o que busca acha.

    Jesus Cristo (Mt 7,7)

  • 8

    LISTA DE TABELAS

    TABELA 01: REA PLANTA EM HECTARES DO MUNICPIO DE PACOTI .................................. 22 TABELA 02: TOTAL PLUVIOMTRICO (1990-2005) .......................................................... 29 TABELA 03: CLASSES MAPEADAS DO PI VEGETAO / USO E OCUPAO ........................ 91 TABELA 04: CLASSES DE DECLIVIDADE ........................................................................ 103 TABELA 05: INTERVALOS DAS CLASSES DE VULNERABILIDADE ....................................... 122

    LISTA DE QUADROS

    QUADRO 01: ESPCIES DA MATA MIDA ........................................................................ 41 QUADRO 02: ESPCIES DA MATA SECA ......................................................................... 43 QUADRO 03: ESCALA DE COMPARAO DE CRITRIOS .................................................... 73 QUADRO 04: ESCALA DE COMPARAO DE CRITRIOS E SEUS RECPROCOS ..................... 74 QUADRO 05: VARIAO DA CONSISTNCIA EM RELAO AO PERCENTUAL ACRESCIDO A N .. 77 QUADRO 06: NDICE RANDMICO .................................................................................. 77 QUADRO 07: SOFTWARES UTILIZADOS ........................................................................... 85 QUADRO 08: PONTOS AMOSTRAIS ................................................................................ 88

    LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 01: PERFIL PLUVIOMTRICO (1990-2005) FORTALEZA - CANIND ....................... 31 FIGURA 02: ZONA DE CONVERGNCIA INTERTROPICAL-ZCIT MOSTRADA ATRAVS DAS

    IMAGENS DO SATLITE METEOSAT-7 ................................................................... 33 FIGURA 03: FEIES GEOMORFOLGICAS ..................................................................... 37 FIGURA 04: PERFIL ESQUEMTICO RELEVO X VEGETAO .............................................. 40 FIGURA 05: GEOSSISTEMA ........................................................................................... 51 FIGURA 06: OPERADORES BOLEANOS ........................................................................... 65 FIGURA 07: RVORE DE DECISO ................................................................................. 66 FIGURA 08: APLICAO DO OPERADOR BOLEANO AND E OR .......................................... 67 FIGURA 09: ESTGIOS DO PROCESSO AHP ................................................................... 70 FIGURA 10: HIERARQUIA COM K NVEIS .......................................................................... 71 FIGURA 11: UTILIZAO DO MTODO AHP PARA SUPORTE A DECISO .............................. 80 FIGURA 12: IMAGEM ORBITAL SPOT-5 RECORTE DA SEDE MUNICIPAL DE PACOTI ......... 81

  • 9

    FIGURA 13: RESTITUIDOR ............................................................................................. 82 FIGURA 14: ORTOFOTOCARTA RECORTE DA SEDE MUNICIPAL DE PACOTI ..................... 83 FIGURA 15: POSICIONAMENTO DOS PONTOS DE CONTROLE ............................................ 86 FIGURA 16: CDIGO DOS PONTOS AMOSTRAIS .............................................................. 87 FIGURA 17: GRADE TRIANGULAR ................................................................................ 103 FIGURA 18: DRENAGEM EXTRADA DO MDT .............................................................. 107 FIGURA 19: GRADE REGULAR................................................................................... 108 FIGURA 20: HIERARQUIA DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL ........................................... 111 FIGURA 21: MATRIZ DE COMPARAO PAREADA DOS PIS ............................................ 113 FIGURA 22: MATRIZ DE COMPARAO PAREADA DOS ATRIBUTOS DO PI DE VEGETAO/USO

    E OCUPAO ...................................................................................................... 115 FIGURA 23: MATRIZ DE COMPARAO PAREADA DOS ATRIBUTOS DO PI DE DECLIVIDADE 117 FIGURA 24: MATRIZ DE COMPARAO PAREADA DOS ATRIBUTOS DO PI DE REA LEGAL . 118 FIGURA 25: CRUZAMENTO DOS PIS ............................................................................ 119 FIGURA 26: GRID DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL ..................................................... 121

    LISTA DE GRFICOS

    GRFICO 01: TOTAL PLUVIOMTRICO (1990-2005) ........................................................ 29 GRFICO 02: TOTAL PLUVIOMTRICO (1990-2005) DO PERFIL FORTALEZA CANIND ..... 31 GRFICO 03: PLUVIOMETRIA MENSAL DO MUNICPIO DE PACOTI (2000 2005) ............... 32 GRFICO 04: PRECIPITAO NO MS DE JULHO DE 1989 ................................................ 34 GRFICO 05: GRFICO DE UMA FUNO DE PERTINNCIA ................................................ 64

    LISTA DE EQUAES

    EQUAO 01: FUNO DE PERTINNCIA ........................................................................ 63 EQUAO 02: RELAO ENTRE PESOS .......................................................................... 73 EQUAO 03: AUTOVETOR ........................................................................................... 76 EQUAO 04: AUTOVALOR MXIMO ............................................................................... 76 EQUAO 05: NDICE DE CONSISTNCIA......................................................................... 77 EQUAO 06: RAZO DE CONSISTNCIA ........................................................................ 78 EQUAO 07: ALGORITMO DE AVALIAO .................................................................... 120

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    LISTA DE MAPAS

    MAPA 01: LOCALIZAO ............................................................................................... 21 MAPA 02: APA DE BATURIT ........................................................................................ 24 MAPA 03: RECURSOS HDRICOS ................................................................................... 47 MAPA 04: PONTOS DE CAMPO - AMOSTRAS ................................................................... 90 MAPA 05: VEGETAO / USO E OCUPAO ................................................................. 101 MAPA 06: DECLIVIDADE .............................................................................................. 105 MAPA 07: REA LEGAL............................................................................................... 110 MAPA 08: VULNERABILIDADE AMBIENTAL ..................................................................... 123

    LISTA DE FOTOS

    FOTO 01: RELEVO DO MACIO DE BATURIT - CHUVA OROGRFICA ................................ 30 FOTO 02: JARACATI (JARACATI SPINOSA) ................................................................... 42 FOTO 03: PAU-FERRO (CAESALPINIA LEILOSTACHYA) ...................................................... 42 FOTO 04: ANGICO (ANADENANTHERA MACROCARPA) ...................................................... 44 FOTO 05: MUTAMBA (GUAZUMA ULMIFOLIA) ................................................................... 44 FOTO 06: MATA MIDA CONSERVADA ........................................................................... 93 FOTO 07: MATA MIDA PARCIALMENTE DEGRADADA ...................................................... 94 FOTO 08: MATA MIDA DEGRADADA ............................................................................. 94 FOTO 09: MATA SECA DEGRADADA ............................................................................... 95 FOTO 10: CULTIVO DE BANANA ..................................................................................... 96 FOTO 11: CULTIVO DE CHUCHU .................................................................................... 97 FOTO 12: DESMATAMENTO ........................................................................................... 98 FOTO 13: CULTIVO ANUAL ............................................................................................ 98 FOTO 14: CULTIVO ANUAL APS A COLHEITA ................................................................. 99 FOTO 15: AUDE (RESTALRANTE NOSSO STIO) ............................................................ 99 FOTO 16: ZONA URBANA (IGREJA MATRIZ DE PACOTI) .................................................. 100 FOTO 17: CULTIVO ANUAL EM DECLIVIDADE ................................................................. 125 FOTO 18: ROCHA AFLORANDO EM REA DE CULTIVO ANUAL ......................................... 125 FOTO 19: DESMATAMENTO DA ENCOSTA PARA CULTIVO DE CHUCHU ............................. 126

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    LISTA DE SIGLAS

    AHP Analystic Hierarchy Process (Processo Analtico Hierrquico) APA rea de Proteo Ambiental APP rea de Preservao Permanente CAD Computer-Aided Design CNES Centre National dEstudes Spatiales CNUMAD Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente FUNCEME Fundao Cearense de Meteorologia e Recursos Hdricos GPS Global Positioning System HRG High-Resolution Geometric IDACE Instituto de Desenvolvimento Agrrio do Cear IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IC ndice de Consistncia INCRA Instituto Nacional de Reforma Agrria IPECE Instituto de Pesquisa e Estratgia Econmica do Cear IPLANCE Instituto de Planejamento do Cear IR ndice Randmico MAXVER Mxima Verossemelhana MDT Modelo Digital do Terreno NAVSTAR-GPS Navigation Satellite with Time And Ranging PI Plano de Informao PROURB Plano de Desenvolvimento Regional do Macio de Baturit RC Razo de Consistncia SEMACE Superintendncia de Meio Ambiente do Cear SIG Sistema de Informao Geogrfica SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza SUDENE Superintendncia do Desenvolvimento do Nordeste TIN Triangular Irregular Network ZCIT Zona de Convergncia Intertropcal

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    SUMRIO

    1. INTRODUO ............................................................................................... 8 2. CARACTERIZAO DA REA DE ESTUDO ............................................. 18 2.1. Histrico ....................................................................................................... 18 2.2. Localizao .................................................................................................. 20 2.3. O Municpio de Pacoti no Contexto da APA de Baturit .............................. 22 2.4. Caracterizao Geoambiental ...................................................................... 26 3. REFERENCIAL TERICO........................................................................... 48 3.1. Teoria Geossistmica .................................................................................. 48 3.2. Planejamento Regional ................................................................................ 54 3.3. Abordagem Integrada no Planejamento Regional ....................................... 57 3.4. Geoprocessamento e Suporte a Deciso .................................................... 59 3.4.1. Estruturas Lgicas de Anlise e Integrao ................................................. 62 3.4.1.1. Lgica Boleana ............................................................................................ 63 3.4.1.2. AHP Analystic Hierarchy Process ............................................................. 68 4. MATERIAL E MTODOS............................................................................. 81 4.1. Material ........................................................................................................ 81 4.1.1. Imagem Orbital ............................................................................................ 81 4.1.2. Ortofotocartas .............................................................................................. 82 4.1.3. Equipamentos de Campo............................................................................. 84 4.1.4. Sistemas Computacionais............................................................................ 84 4.2. Mtodos ....................................................................................................... 85 4.2.1. Gerao dos Planos de Informao ............................................................. 85 4.2.1.1. Vegetao / Uso e Ocupao do Solo ......................................................... 85 4.2.1.2. Declividade ................................................................................................ 102 4.2.1.3. rea Legal.................................................................................................. 106 4.2.2. Abordagem Multicriterial ............................................................................ 111 4.2.2.1. Estruturao da Hierarquia ........................................................................ 111 4.2.2.2. Construo e Operacionalizao das Matrizes de Comparao Pareada . 112 4.2.2.3. Priorizao das Alternativas e Definio das Classes de Vulnerabilidade . 118 5. CONSIDERAES FINAIS ....................................................................... 124 6. BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 129

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    1. INTRODUO

    A rea objeto deste estudo est localizada em uma zona considerada exceo no contexto do Estado do Cear, denominada Macio de Baturit, que de acordo com Souza (2000) um enclave mido na paisagem rida do Cear. Devido a esse carter de exceo em 1990 foi instituda pelo Governo do Estado do Cear a rea de Proteo Ambiental de Baturit, sendo essa a primeira Unidade de Conservao desta categoria criada pelo Estado.

    De acordo o com o Decreto N. 20.956, de 18 de Setembro de 1990, que institui a rea de Proteo Ambiental de Baturit, essa unidade de conservao de uso sustentvel tem como limite a cota de (seiscentos) 600m do macio, abrangendo os municpios de Aratuba, Baturit, Capistrano, Guaramiranga, Mulungu, Pacoti, Palmcia e Redeno. Neste contexto, constitui objeto deste estudo os 56,89% da rea do municpio de Pacoti localizada dentro dos limites desta APA.

    A paisagem serrana do Macio de Baturit apresenta uma grande exuberncia natural. Devido a este fato o municpio de Pacoti vem despontando nos ltimos anos como um importante plo turstico. Essa atividade est sendo responsvel por um crescimento significativo dos seguimentos econmicos ligados hospedagem, artesanato e alimentao, abrindo-se uma nova perspectiva de emprego e renda para a populao local. Entretanto os benefcios do turismo se concentram principalmente nas proximidades da zona urbana da sede do municpio de Pacoti, em quanto s populaes mais afastadas sofrem com a falta de polticas pblicas voltadas para a agricultura, que a principal atividade econmica destas populaes. Nessas reas marginalizadas pelo capital do turismo, vrios impactos ambientais podem ser citados como: desmatamento indiscriminado, assoreamento de riachos, queimadas, agricultura em reas com topografia inadequada, contaminao dos recursos hdricos por agrotxicos dentre outros.

    Nesse sentido o presente trabalho tem como objetivo mapear a regio do municpio de Pacoti, localizada dentro da APA de Baturit, quanto a sua vulnerabilidade ambiental, de forma a fornecer informaes que subsidiaro nas tomadas de deciso por parte dos rgos governamentais bem como da sociedade

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    civil, na busca de alternativas sustentveis de uso do solo, complementando a atividade turstica do municpio e contribuindo para o direcionamento de aes que visam o desenvolvimento sustentvel desta regio, com base em uma anlise integrada dos fatores que compem o cenrio ambiental da mesma.

    Para realizar um diagnstico ambiental, fornecendo informaes que auxiliem no aproveitamento sustentvel da APA de Baturit, circunscrita aos limites do municpio de Pacoti, a paisagem no foi considerada neste estudo como a simples adio de elementos geogrficos dissociados, mas sim considerada como um espao fruto da integrao dinmica dos elementos fsicos, biticos e antrpicos.

    Neste contexto foram utilizados os preceitos da Teoria Geossistmica, idealizada por V. B. Sotchava e difundida no Brasil por G. Bertrand. Essa teoria foi inspirada na Teoria Geral dos Sistemas que prope o estudo no somente das partes e processos isoladamente, de onde surgiu a expresso o todo mais que a soma das partes. Tendo em vista que a Teoria Geossistmica desempenha um papel fundamental para a realizao de uma anlise integrada do ambiente visando o desenvolvimento sustentvel, sendo necessrio para alcan-lo promover um processo de planejamento eficiente, garantindo a utilizao racional do meio natural, essa teoria foi utilizada como base para realizar uma anlise integrada do ambiente atravs do mapeamento das condies de sustentabilidade ambiental, no tocante a vulnerabilidade, a fim de orientar as tomada de decises dentro do contexto do planejamento regional e da gesto territorial.

    O planejamento regional abordado aqui como passo inicial para alcanar o desenvolvimento equilibrado das funes econmicas, sociais e polticas, permitindo a alocao eficiente dos investimentos, auxiliando nas tomada de decises e garantindo o desenvolvimento sustentvel da regio estudada, em compasso com a definio de planejamento de Almeida et al. (2002) que define planejamento como a aplicao regional do conhecimento do homem ao processo de tomada de decises para conseguir uma melhor utilizao dos recursos, garantindo o mximo de benefcios para a coletividade.

    Para realizar essa anlise integrada, foi utilizada uma avaliao multicritrio, definida por Silva et al. (2004) como um conjunto de procedimentos utilizados para

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    avaliar e combinar diversos critrios para suporte no processo de deciso. Dentro desta perspectiva, o Geoprocessamento se revelou como uma poderosa ferramenta capaz de realizar a integrao destes dados, possibilitando a descrio e anlise integrada das inter-relaes dos diversos fatores que compem a regio do Macio de Baturit, onde est localizada a rea estudada. Sendo o mesmo aplicado de acordo com a definio de XAVIER-DA-SILVA (2001) que define Geoprocessamento como um conjunto de tcnicas computacionais que opera sobre uma base de dados georreferenciados, capaz de integrar fatores fsicos, biticos e scio-econmicos que retratam a realidade ambiental de uma determinada regio.

    Para realizar o mapeamento da vulnerabilidade, atravs de uma anlise integrada do ambiente, abordando a regio como um sistema composto por mltiplas variveis que se inter-relacionam entre si e com outros sistemas, foi utilizada a estrutura lgica de anlise e integrao denominada AHP Analystic Hierarchy Process ou Processo Analtico Hierrquico.

    O mtodo AHP, desenvolvido por Thomas L. Saaty na dcada de 70, consiste na criao de uma hierarquia de deciso, sendo essa hierarquia composta por nveis hierrquicos que permitem uma viso global das relaes inerentes ao processo. Para estabelecer a importncia relativa de cada fator da hierarquia so elaboradas matrizes de comparao para cada nvel, onde os resultados das matrizes so ponderados entre si.

    O modelo hierrquico de Saaty (1980) consiste basicamente em um processo de escolha baseada na lgica de comparao par a par (pairwise comparison), em que diferentes fatores que influenciam na tomada de deciso so organizados hierarquicamente, e comparados entre si, e um valor de importncia relativa (peso) atribudo ao relacionamento entre estes fatores, conforme uma escala pr-definida que expressa a intensidade com que um fator predomina sobre outro, em relao tomada de deciso.

    Neste contexto, para realizar o mapeamento de vulnerabilidade ambiental da rea estudada, foram cruzados trs fatores decisivos para a determinao desta vulnerabilidade: declividade, rea legal e vegetao / uso e ocupao.

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    O primeiro fator mapeado, a declividade, foi obtido com base em um MDT Modelo Digital do Terreno, criado a partir das curvas de nvel existentes nas ortofotocartas mapeadas pelo IDACE Instituto de Desenvolvimento Agrrio do Cear, com data de sobrevo de 1988. J o mapeamento da rea legal, corresponde espacializao da resoluo do CONAMA N 303, de 20 de maro de 2002, que dispe sobre os parmetros, definies e limites de reas de preservao permanente. No tocante ao mapeado de vegetao / uso e ocupao, este foi realizado atravs do emprego de tcnicas de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento, tendo como base uma imagem orbital do satlite SPOT-5 imageada em setembro de 2004.

    Todas as feies que compem esses fatores foram organizadas em uma hierarquia de acordo com seu grau de importncia para definio da vulnerabilidade ambiental. Posteriormente foi promovida a integrao dos trs fatores mapeados, com base nos pesos atribudos a cada um destes, gerando como resultado final o Mapa de Vulnerabilidade Ambiental da regio da APA de Baturit localizada dentro dos limites do municpio de Pacoti/CE.

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    2. CARACTERIZAO DA REA DE ESTUDO

    2.1. Histrico

    Os aldeamentos que originaram as cidades que hoje compem o Macio de Baturit tiveram origem no sculo XVIII, quando pela ocasio da introduo da pecuria no serto cearense no sculo anterior provocou a aculturao, expulso e extermnio dos ndios que ocupavam o interior cearense. Os ndios remanescentes em sua maioria foram incorporados ao pastoreio, outros foram agrupados em aldeamentos construdos por missionrios, dando origem a muitas cidades cearenses, principalmente no Macio de Baturit.

    Entretanto a ocupao do homem branco nesta regio teve incio no sculo XVII, quando em 1680 a regio foi alcanada pelo Rio Chor por Estevo Velho de Moura e mais seis rio-grandenses do norte, contemplados pelo Capito-mor Sebastio de S com uma sesmaria com extenso superior a trs lguas, que abrangia grande parte do curso do Rio Chor em direo a sua nascente nas partes mais elevadas do macio, correspondendo grande parte da atual regio de Baturit. (CEAR. PROURB, 2002).

    Outras sesmarias concedidas na regio do macio datam de 1718, como a sesmaria do Pe. Filipe Pais Barreto, de 1727; a de Toms Galvo e mais seis companheiros, de 1735; a de Manuel Rodrigues das Neves, de 1735; a de Pedro da Rocha Maciel, de 1736; e a de Teodsio de Pina e Silva. (CEAR. SEMACE, 1991).

    Na parte alta do macio a ocupao teve incio em 1740, quando os irmos Arnu, Sebastio e Cristvo Holanda, junto com Manoel Ferreira da Silva, vivo de Maria Trindade Holanda habitaram, temporariamente, a serra. Os descendentes destes pioneiros so alguns dos responsveis pela colonizao de grande parte do Macio de Baturit. Muitos de seus quintos e sextos netos, ainda tm propriedades em Aratuba, Baturit, Guaramiranga, Mulungu e Pacoti.

    No tocante a economia, somente em meados da dcada de 1860 a regio ganhou importncia. Fatores como o longo perodo praticamente sem secas, entre 1845 e 1877 e a guerra da secesso nos Estados Unidos que aumentou o comrcio

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    de algodo do Brasil com a Inglaterra, proporcionaram uma alavancada na economia cearense, com destaque para a regio do Macio de Baturit que despontava pela sua alta produtividade, que resultou em uma rpida expanso econmica da regio atravs da cotonicultura aliada a criao de gado.

    No entanto essa ocupao se dava no sop do macio, onde hoje est localizada a cidade de Baturit, ao passo que os terrenos da regio cimeira do macio continuavam pouco explorados, uma vez que a topografia da regio no favorecia nem a agricultura do algodo nem a pecuria.

    Somente em meados do sculo XIX, com a introduo da cultura do caf na regio, que o macio passou a ter uma ocupao, mas significativa, surgindo assim s cidades da parte serrana do macio, dentre elas Pacoti.

    De acordo com Senador Pompeu, as primeiras sementes do caf chegaram ao Cear atravs da Serra do Araripe em 1822, e dali se mandaram algumas para o Capito Antnio Pereira de Queiroz Sobrinho, que as plantou no Stio Munguape, na Serra de Baturit. Logo depois, em 1824, Felipe Castelo Branco, tambm realiza experincia com o plantio de caf no Stio Bagao, posteriormente denominado Correntes, no atual Municpio de Guaramiranga. (CEAR. PROURB, 2002).

    Vrias famlias estimuladas pela rentabilidade do caf passaram a habitar a regio, outras se deslocaram temporariamente para essa regio no perodo de estiagem, fugindo das dificuldades do serto neste perodo.

    Neste contexto, o municpio de Pacoti com origem nos stios de caf, possui relevante importncia no tocante as suas tradies, e de seu patrimnio histrico, visto que sua ocupao se deu de forma diferenciada, marcada pela apropriao da natureza pelo homem, que como conseqncia teve sua floresta tropical desmatada de forma predatria, tanto para possibilitar a agricultura, como para manipulao da madeira para gerao de energia e sua utilizao em atividades construtivas.

    Atualmente Pacoti tem o desafio de conciliar seu modo de vida com o uso sustentvel de seus recursos naturais, garantindo o equilbrio das funes ecolgicas deste ambiente to vulnervel do ponto de vista ambiental.

  • 20

    2.2. Localizao

    O municpio de Pacoti, emancipado de Baturit no ano de 1890, est localizado na poro nordeste do Estado do Cear, distante 90km da capital seguindo pela CE-065. O municpio possui uma rea de 108,55 km equivalente a 0,08% da rea do Estado, sua sede est localiza a uma altitude de 736,13m, sendo o ponto mais alto do municpio localizado nas proximidades da localidade Stio So Jos, com 1030m de altitude. Seus municpios limtrofes so: a norte Palmcia; a sul Baturit e Guaramiranga, a leste Redeno, Palmcia e Baturit; e a oeste Caridade e Guaramiranga. Pacoti alm da sede possui trs distritos, Colina, Ftima e Santa Ana, e est localizado entre as latitudes 40800 S e 41645, e entre as longitudes 385100 e 385800. Tendo como principais aces sos, partindo de Fortaleza, a rodovia CE-060, sentido Pacatuba-Baturit e a rodovia CE-065, sentido Maranguape-Palmcia. (CEAR. IPECE, 2006).

    Pacoti est localizado na regio denominada Macio de Baturit, que considerada um ambiente de exceo no contexto do Estado Cear. Segundo Souza(2000) o macio residual de Baturit um enclave mido na paisagem rida do Cear. Devido a esse carter de exceo em 1990 foi instituda pelo Governo do Estado do Cear a rea de Proteo Ambiental APA de Baturit, sendo essa a primeira Unidade de Conservao desta categoria criada pelo Estado.

    De acordo o com o Decreto N. 20.956, de 18 de Setembro de 1990, que institui a APA de Baturit, essa unidade de conservao de uso sustentvel tem como limite a cota de (seiscentos) 600m do macio, abrangendo os municpios de Aratuba, Baturit, Capistrano, Guaramiranga, Mulungu, Pacoti, Palmcia e Redeno. O municpio de Pacoti possui 56,89%, ou seja, 61,75km de sua rea dentro da APA, inclusive sua sede.

    Com base nestas informaes a rea aqui estudada corresponde a essa poro do municpio de Pacoti inserida na APA de Baturit, sedo o limite da rea de estudo baseado no limite municipal definido pelo Instituto de Pesquisa e Estratgia Econmica do Cear IPECE, e pela cota 600m que corresponde ao limite da APA. (Vide Mapa 01)

  • Caridade

    Baturit

    Redeno

    Palmcia

    PacotiGuaramiranga

    Escala:Datum:

    Municpio:Estado:

    PacotiCear

    -SAD69

    Geoprocessamento Aplicado ao Mapeamento deVulnerabilidade Ambiental: Uma Anlise Integrada doAmbiente no Municpio de Pacoti - CEMapa de Localizao

    Data:

    Orientador:Autor:

    Mapa:

    Agosto/2006Cristiano Alves

    01Joo Silvio Dantas

    Universidade Estadual do CearEspecializao em Geoprocessamento Aplicado aAnlise Ambiental e Recursos Hdricos

    3858'0" 3850'0"

    417'0"

    48'0"

    LegendaLimite MunicipalLimite da APA de BaturitLimite da rea de Estudo

  • 22

    2.3. O Municpio de Pacoti no Contexto da APA de Baturit

    De acordo com o ltimo censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE, no ano de 2000, o municpio de Pacoti possua neste ano uma populao total de 10.929 habitantes, sendo 65,15% desse total residentes em domiclio rural. Ao compararmos esses dados com o censo realizado em 1996 que computou uma populao 10.972 habitantes, onde 73,94% residiam na zona rural, conclumos que o municpio sofreu, nos quatro anos que correspondem ao intervalo da pesquisa, xodo rural, bem como uma urbanizao da populao, visto que durante este intervalo de tempo praticamente no houve aumento na populao total, mas sim um aumento da populao urbana. (BRASIL. IBGE, 2005)

    Na tabela 01 possvel analisarmos tambm os dados do IBGE referentes rea plantada do municpio. Onde podemos constatar que mesma sofreu um declnio nos ltimos anos. (BRASIL. IBGE, 2005)

    Tabela 01: rea planta em hectares do municpio de Pacoti

    Ano Banana Caf (beneficiado) Arroz

    (em casca) Cana-de-acar

    Feijo (em gro)

    Milho (em gro)

    1990 1260 722 850 930 194 410 1991 1260 710 840 910 189 380 1992 1266 710 850 910 194 385 1993 2200 800 1200 720 336 540 1994 2200 800 1250 680 170 520 1995 2200 800 1260 310 173 525 1996 2980 880 280 45 150 560 1997 2960 875 270 40 145 500 1998 2960 875 650 40 70 350 1999 3500 950 1085 45 214 466 2000 3500 950 1120 45 220 350 2001 2300 950 650 45 125 350 2002 2300 950 720 45 135 390 2003 2300 950 720 45 150 390 Fonte: (BRASIL. IBGE, 2005)

  • 23

    Como pode ser observado na tabela acima, cultivos como o de cana-de-aucar que em 1990, ano da criao da APA, possua uma rea plantada de 930 hectares, em 2003 possua apenas 45 hectares plantados. J o cultivo da banana apresentou crescimento de 82,54% entre 1990 e 2003, podendo ser observado um aumento na rea plantada at o ano 2000, quando a mesma passou a declinar. Do mesmo modo o cultivo do caf tambm apresentou um aumento de 31,58% na rea plantada no mesmo perodo. J cultivos anuais como arroz, feijo e milho no apresentaram grande variao em suas reas plantadas. Tal fato se deve ao vertiginoso crescimento do turismo, como nova forma de explorao praticada no municpio aps a criao da APA de Baturit,

    A APA de Baturit foi instituda em 1990, pelo Governo do Estado do Cear atravs do Decreto Estadual N. 20.956, de 18 de Setembro de 1990, foi a primeira Unidade de Conservao dessa categoria criada pelo Estado, com 32.690 hectares, sendo tambm a mais extensa.

    Delimitada pela cota 600 (seiscentos) metros composta pelos municpios de Aratuba, Baturit, Capistrano, Guaramiranga, Mulungu, Pacoti, Palmcia e Redeno. Est situada a 90 Km de Fortaleza e tem como principais acessos, partindo de Fortaleza, a Rodovia CE-060, sentido Pacatuba-Baturit e a Rodovia CE-065, sentido Maranguape-Palmcia. (Vide Mapa 02)

    De acordo com a Lei Federal n 9.985 de 18 de julho de 2000, que institui Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza SNUC, rea de Proteo Ambiental est inserida na categoria de unidades de uso sustentvel, que tem o objetivo de compatibilizar a conservao da natureza com o uso sustentvel de parcela de seus recursos naturais.

    O artigo 15 do SNUC define APA como uma rea em geral extensa, com um certo grau de ocupao humana, dotada de atributos, biticos, estticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populaes humanas, e tem como objetivos bsicos proteger a diversidade biolgica, disciplinar o processo de ocupao e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.

  • BR020

    CE356

    CE065

    CE253

    CE060

    Pacoti

    Mulungu

    Aratuba

    Acarape Redenco

    Palmcia

    Itapiuna

    Baturit

    Aracoiaba

    Capistrano

    Guaramiranga

    500000

    500000

    515000

    515000

    530000

    530000949000

    0

    949000

    0

    950500

    0

    950500

    0

    952000

    0

    952000

    0

    953500

    0

    953500

    0

    955000

    0

    955000

    0

    Escala:Datum:

    Municpio:Estado:

    -Cear

    1: 300.000SAD69 - 24S

    Geoprocessamento Aplicado ao Mapeamento deVulnerabilidade Ambiental: Uma Anlise Integrada doAmbiente no Municpio de Pacoti - CEAPA de Baturit

    Data:

    Orientador:Autor:

    Mapa:

    Agosto/2006Cristiano Alves

    02Joo Silvio Dantas

    Universidade Estadual do CearEspecializao em Geoprocessamento Aplicado aAnlise Ambiental e Recursos Hdricos

    LegendaRodoviaLimite Municipal

    Limite da APA de BaturitLimite da rea de EstudoSedes Municipais

    FederalEstadualFerrovia

    BR020

  • 25

    Nesse contexto, a Superintendncia de Meio Ambiente do Cear SEMACE como rgo pertencente ao Sistema Nacional do Meio Ambiente SISNAMA criado pela Lei Federal n 6.938, de 31 de agosto de 1981, no nvel de rgo seccional responsvel pela fiscalizao e controle das atividades susceptveis de degradarem a qualidade ambiental tais como:

    Implementao ou aplicao de quaisquer tipos de construo civil sem o devido licenciamento ambiental;

    Supresso de vegetao e uso do fogo sem a autorizao da SEMACE; Atividades que possam poluir ou degradar os recursos hdricos abrangidos

    pela APA, como tambm o despejo de efluentes, resduos ou detritos capazes de provocar danos ao meio ambiente;

    Interveno em reas de preservao permanente, como: margens de rios, barragens e audes, olhos dgua e aluvies, reas ngremes e matas virgens ou em avanado processo de regenerao;

    Demais atividades danosas previstas na legislao ambiental.

    Diante deste contexto, o turismo desponta como uma nova atividade econmica no municpio de Pacoti. Muitas fazendas que antes tinham na agricultura seu sustento deram espao para casas de campo, ocupadas principalmente durante os finais de semana e eventos realizados no municpio.

    Com o desenvolvimento do turismo local, incentivado pela exuberncia e belezas da paisagem serrana, houve um crescimento significativo dos seguimentos econmicos ligados hospedagem, artesanato e alimentao, abrindo-se uma nova perspectiva de emprego e renda para a populao local.

    Essa nova atividade econmica diminui a presso sobre os recursos naturais, entretanto seus benefcios no so sentidos pela populao em sua totalidade. Muitos pequenos proprietrios acabaram vendendo suas terras para dar lugar s casas de campo da elite da capital.

    Os benefcios do turismo se concentram principalmente prximo a zona urbana do municpio, em quanto s populaes mais afastadas sofrem em muito com a falta de polticas pblicas que orientem para um correto uso do solo. Nessas reas

  • 26

    marginalizadas pelo capital do turismo, vrios impactos ambientais podem ser citados como desmatamento indiscriminado, assoreamento de riachos, queimadas, agricultura em reas com topografia inadequada dentre outras.

    O municpio de Pacoti sem dvida uma rea de natureza exuberante, com ambientes extremamente frgeis e com necessidade de proteo, mas vale salientar que somente a atividade turstica no o caminho mais vivel para um desenvolvimento sustentvel da regio, uma vez que o municpio apresenta um grande leque de ambientes com aptides distintas. Nesse sentido o presente trabalho visa mapear a regio do municpio, localizada dentro da APA de Baturit, quanto vulnerabilidade ambiental, de forma a fornecer informaes que subsidiaro nas tomadas de deciso dos governantes na busca de alternativas sustentveis de uso do solo de forma a complementar a atividade turstica que atualmente atua no municpio.

    2.4. Caracterizao Geoambiental

    GEOLOGIA

    O municpio de Pacoti est localizado na regio cimeira do Macio Residual de Baturit se estendendo para a vertente oriental do mesmo. De acordo com Souza in (IBAMA/UECE, 2001) essa regio est localizada sobre a Faixa de Dobramento Jaguaribana de Brito Neves (1975), apresentando uma morfologia fortemente acidentada oriunda de um tectonismo intenso que deu origem as zonas de cizalhamentos, fraturamentos, dobramentos e falhamentos que podem ser encontrados por toda a rea do macio.

    Quanto litologia o municpio est inserido em sua poro setentrional na Unidade Independncia onde se evidencia a ocorrncia de rochas metamrficas como paragnaisses, micaxistos e metacalcrios e meridionalmente na Unidade Canind com ocorrncia de rochas metamrficas como paragnaisses, ortognaisses, metabsicas e metacalcrios (BRASIL. CPRM/CEAR, 2003).

    De acordo com o Projeto Mapeamento do Macio de Baturit de Sidrim et al. (1978) na rea de estudo ocorre o predomnio de gnaisses, migmatitos e granitos

  • 27

    datados do pr-cambriano, sendo descritas a seguir as principais caractersticas destas rochas dominantes.

    Gnaisses

    Apresentam composio mineralgica homognea e so constitudos essencialmente de quartzo, plagioclstico, microclina, biotita e muscovita, com zirco, apatita, titanita e opacos e acessrios. As feies macroscpicas com que os gnaisses ocorrem so bastante variadas, apresentando-se gnaisse com orientao bastante precria e gnaisses com bandeao marcante.

    Ocorrem nesta regio vrios tipos de gnaisse, distribudos irregularmente por toda a rea, sendo identificados por Sidrim et al. (1978) a existncia de biotita gnaisse, muscovita gnaisse, biotita-muscovita gnaisse, biotita-granada gnaisse, gnaisse quartzoso, gnaisse xistoso, gnaisse facoidal, e em alguns trechos o gnaisse apresenta-se cataclasado.

    Os gnaisses desta regio apresentam textura predominante granoblstica e granolepdoblstica, comandada pela orientao das micas e pela granulometria dos minerais no micceos.

    Migmatitos

    Os migmatitos encontrados na rea so principalmente dos tipos epibolito e diadisito. Megascpicamente, os migmatitos apresentam uma mineralogia homognea, destacando-se: quartzo, plagioclsio, biotita e microclina. De acordo com os estudos de Sidrim et al. (1978), o quartzo ocorre em boa concentrao e geralmente em cristais andrais. O plagioclsio, bastante abundante, encontra-se alterado, originando minerais de argila. A biotita frequentemente altera-se para muscovita e secundariamente para clorita. A microclina apresenta-se com percentagem varivel, normalmente em quantidade menor que a dos minerais anteriormente citados. A clorida geralmente est presente como produto da alterao da biotita, valendo ressaltar que em alguns migmatitos existe tambm clorita primria. A muscovita pode aparecer como acessrio juntamente com a

  • 28

    calcita, apatita, titanita, zirco e opacos. As texturas mais comuns dos migmatitos so as granolepdoblstica e granoblstica.

    Granitos

    Ainda com bases nos estudos de Sidrim et al. (1978), os granitos so constitudos essencialmente de quartzo, microclina, plagioclsio, biotita, hornblenda, apatita, zirco, titanita, epidoto, alanita e muscovita como acessrios. O quartzo apresenta teor variando entre 30 e 40% em cristais uniformes bem desenvolvidos. A microclina ocorre em cristais pouco desenvolvidos e com pouca alterao, com teor variando entre 20 a 40%. O plagioclsio encontra-se frequentemente alterado, dando origem a minerais de argila. A biotita apresenta-se em lamelas de tamanho varivel. Quando alterada, geralmente d clorida e/ou muscovita. A hornblenda ocorre em cristais geralmente bem definidos e com distribuio uniforme, chegando a representar o segundo mineral em percentagem. A apatita, zirco e titanita compem os acessrios mais freqentes, ocorrendo em todas as lminas estudadas por Sidrim. Em algumas lminas foram identificadas tambm epidoto, alanita e muscovita como acessrios.

    O aspecto morfolgico e o contato brusco com o gnaisse indicam tratar-se provavelmente de um pluton grantico intrusivo. A rocha possui cor variando de rosa clara a cinza clara.

    CLIMATOLOGIA

    De acordo com Souza in (CEAR. SEMACE, 1991 apud ABSBER, 1970) a rea serrana do Macio de Baturit, onde est localizado o municpio de Pacoti, um enclave florestal submetido aos processos engengrados por topoclimas midos, inserido no domnio morfoclimtico semi-rido das caatingas.

    A varivel climtica sem dvida o principal condicionante das diversas regies fisiogrficas existentes nesta regio, sendo este resultado da ao combinada de fatores como relevo, direo dos ventos e distncia do litoral, colocado essa regio entre as regies mais pluviosas do Estado do Cear, com uma incidncia de totais pluviomtricos elevados. Tal fato pode ser comprovado atravs da observao dos totais pluviomtricos do municpio de Pacoti e dos demais municpios que compem

  • 29

    a regio serrana do macio em comparao com os municpios da depresso sertaneja circunvizinha, na tabela 02 e no grfico 01.

    Tabela 02: Total Pluviomtrico (1990-2005)

    Municpio Posto Latitude Longitude Perodo Total (mm) Pacoti Pacoti 4 13 39 55 1990 - 2005 22.764,3

    Guaramiranga Guaramiranga 4 16 38 56 1990 -2005 25.472,8 Mulungu Mulungu 4 18 38 59 1990 - 2005 17.597,6 Aratuba Aratuba 4 25 39 03 1990 - 2005 16.815,3

    Caridade Caridade 4 14 39 11 1990 - 2005 10.229,8 Canind Canind 4 21 39 18 1990 - 2005 8.217,8 Itapina Itapina 4 35 38 57 1990 - 2005 11.678

    Fonte: (CEAR. FUNCEME, 2006) Grfico 01: Total Pluviomtrico (1990-2005)

    0,00

    5.000,00

    10.000,00

    15.000,00

    20.000,00

    25.000,00

    30.000,00

    Municpios

    mm

    Gua

    ram

    iran

    ga

    Paco

    ti

    Mu

    lun

    gu

    Ara

    tuba

    Itapi

    na

    Ca

    rida

    de

    Can

    ind

    Fonte: (CEAR. FUNCEME, 2006)

    Essa diferena acentuada nos totais pluviomtricos expressos na tabela 02 e no grfico 01 pode ser explicada pela ao do relevo como barreira natural frente aos deslocamentos dos ventos midos oriundos do litoral, que ao encontrarem o anteparo do macio se elevam, ocasionando o seu resfriamento e conseqentemente a precipitao abundante na regio barlavento do macio, como pode ser visto na foto 01, exercendo tambm influncia direta na temperatura local que varia em torno de 19 e 22C.

  • 30

    Foto 01: Relevo do Macio de Baturit - Chuva Orogrfica

    Foto do autor / abril de 2006. Ponto: C03P001* Coordenadas: E523666; N9546351. Local: Margem da CE-065 na subida do macio. *Cdigo do ponto (Vide Pgina 87 e Mapa 04)

    J as vertentes sotavento, opostas ao litoral so mais secas, visto que quando o vento alcana essas regies j tem perdido em muito seu teor de umidade. Tal fenmeno pode ser constatado atravs da observao do perfil pluviomtrico traado no sentido Nordeste-Sudoeste, entre Fortaleza a Canind, cruzando a regio serrana de Pacoti, ilustrado na figura 01, cujos totais pluviomtricos esto expressos no grfico 02, onde fica evidente o declnio da pluviometria na regio sotavento do macio em comparao a regio serrana localizada barlavento.

  • 31

    Figura 01: Perfil Pluviomtrico (1990-2005) Fortaleza - Canind

    Grfico 02: Total Pluviomtrico (1990-2005) do Perfil Fortaleza Canind

    0

    5000

    10000

    15000

    20000

    25000

    30000

    Fortaleza Maranguape Palmcia Pacoti Mulungu CanindMunicpios

    mm

    Fonte: (CEAR. FUNCEME, 2006)

    NE

    SW

    _NE_

    _SW_

  • 32

    Grfico 03: Pluviometria Mensal do Municpio de Pacoti (2000 2005)

    Fonte: (CEAR. FUNCEME, 2006)

    No grfico 03, podemos observar a pluviometria mensal do municpio de Pacoti entre os anos de 2000 e 2005. De acordo com estes dados, fica evidente a existncia de duas estaes anuais bem definidas. Uma estao chuvosa,

    Ano 2001

    0100200300400500

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12Ms

    mm

    Total no Perodo

    0500

    1000150020002500

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12Ms

    mm

    Ano 2004

    0100200300400500

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12Ms

    mm

    Ano 2005

    0100200300400

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12Ms

    mm

    Ano 2000

    0100200300400500

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

    mm

    M

    Ano 2003

    0200400600

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12Ms

    mmAno 2002

    0

    200

    400

    600

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12Ms

    mm

  • 33

    correspondente ao primeiro semestre do ano, referente ao perodo de vero-outorno, e outra seca no segundo semestre, correspondente ao perodo de inverno-primavera.

    No grfico 03, podemos observar ainda que o ms de abril se destaca como sendo o ms com maior incidncia de chuvas. Essa intensificao das chuvas neste perodo causada pela influncia da ZCIT Zona de Convergncia Intertropcal. De acordo com Cear. SEMACE (1992 apud NIMER, 1977), no setor setentrional da regio Nordeste, a marcha estacional das chuvas, que representa o principal componente do quadro climtico da regio, regido pelo comportamento da ZCIT, onde durante o perodo correspondente ao vero-outorno o sistema de correntes pertubadas de oeste, com pancadas de chuvas ocasionais, asseguram, quase exclusivamente, as mximas pluviais (Vide figura 02). J no inverno-primavera, com o aquecimento deste sistema, essa regio fica sob o domnio dos ventos anticiclonais de NE e E de alta sub-tropical do Atlntico Sul, ocorrendo ento o perodo de estiagem. Vale salientar que o perodo de estiagem atenuado na regio serrana pelo orvalho e nevoeiro comuns nesta regio, possibilitando uma conservao da umidade do solo e diminuindo assim os efeitos da evapotranspirao to evidente nas reas sertanejas.

    Figura 02: Zona de Convergncia Intertropical-ZCIT mostrada atravs das imagens do satlite METEOSAT-7

    Fonte: (CEAR. FUNCEME, 2006)

  • 34

    As precipitaes nesta regio serrana possuem a caracterstica de ocorrerem em pesados aguaceiros em um curto perodo de tempo, como pode ser observado no grfico 04 que contempla a precipitao no ms de julho de 1989 durante os dias deste ms. Nesta ocasio aproximadamente 40% da precipitao do ms ocorreu apenas no dia 9, quando foi registrado pela estao da FUNCEME - Fundao Cearense de Meteorologia e Recursos Hdricos, localizada na cidade de Pacoti, um total de 148,1mm somente neste dia. Essa caracterstica faz com que reas mais intensamente degradadas sofram com maior intensidade movimentos de massa, principalmente em reas com declividade acentuada, provocando o aparecimento de ravinas e voorocas.

    Grfico 04: Precipitao no ms de julho de 1989

    020

    406080

    100120

    140160

    1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31Dias

    mm

    Fonte: (CEAR. FUNCEME, 2006)

    De acordo com Souza (in IBAMA/UECE, 2001) o Macio de Baturit apresenta trs classificaes climticas distintas: mido, semi-mido e semi-rido. Neste contexto o municpio de Pacoti, localizado no plat mido do macio se estendendo para a vertente oriental, est inserido no clima mido onde as condies de umidade, ritmo das precipitaes, ndices pluviomtricos e altitude, enquadra-se no tipo mesotrmico (Thornthwaite), Aw (Keppen) ou nos sub-domnios midos e sub-midos com trs a cinco meses secos.

  • 35

    PEDOLOGIA

    Conforme o Mapa Exploratrio Reconhecimento de Solos do Estado do Cear (MA-SUDENE, 1973) citado por (CEAR-SEMACE, 1992) a rea de estudo apresenta uma associao de solos PV1 Associao de Podzlico Vermelho Amarelo + Podzlido Vermelho Amarelo equivalente eutrfico, ambos A moderado e textura argilosa, devido os elevados ndices de umidade que favorecem a intensificao dos processos de alterao qumica das rochas.

    De acordo com o Levantamento Exploratrio dos Solos da Zona Fisiogrfica de Baturit (CEAR. SUDEC, 1967) os solos do macio onde est localizada a rea de estudo apresenta solos minerais mais ou menos profundos em torno de dois metros A+B+C, com moderada diferenciao morfolgica entre seus horizontes. Via de regra estes solos apresentam uma drenagem moderada e ocasionalmente bem drenados e moderadamente cidos com PH aumentando com a profundidade.

    O horizonte A apresenta espessura de 25 35cm normalmente subdividido em A11 e A12, com cor variando de bruno escuro a bruno avermelhado, de textura pesada da classe argila, estrutura granular fortemente desenvolvida, com transio para o horizonte B gradual e plana ou ondulada.

    O horizonte B bastante espesso, oscilando entorno de 180cm, geralmente diferenciado em B1, B2 e B3, sendo o B2 subdividido em B21 e B22. A cor no horizonte B normalmente bruno forte no B2 varia de vermelho amarelado a vermelho claro e no B3 vermelho amarelo de textura argilosa pesada no B1 e B21 e argila no B3.

    O horizonte C menos espesso que o B com a espessura em torno de 80cm, apresentando colorao geralmente avermelhada, de textura de mdia a leve, geralmente com sensao de mica, com bastante mineral primrio em decomposio.

    Do ponto de vista da agricultura estes solos so classificados como profundos, com drenagem variando em funo da profundidade de bem drenado a moderadamente drenado, sendo a permeabilidade na parte superficial maior, devido textura e estrutura, e menos permevel nas partes mais profundas. So

  • 36

    considerados solos de fertilidade de mdia a alta, entretanto o uso agrcola limitado pela acentuada declividade, que expe o solo a eroso e limita o uso de maquinrio agrcola, bem como devido falta de gua nos longos perodos de estiagem.

    Atualmente os solos desta regio so ocupados principalmente por culturas de caf, banana e milho, e nos fundos de vale predomina a horticultura cenoura, tomate, repolho, etc e cultivo de chuchu.

    GEOMORFOLOGIA

    O Macio de Baturit classificado por Cear. SEMACE (1992, apud SOUZA, 1988) como uma subunidade denominada planalto residual, correspondente rea serrana, pertencente ao Domnio dos Escudos e Macios Antigos compostos por litotipos do embasamento cristalino datados do pr-cambriano.

    A rea do municpio de Pacoti inserida na rea de Proteo Ambiental de Baturit possui uma geomorfologia variada, sendo comuns feies como cristas elevaes com topos agudos e vertentes ngremes; colinas elevaes com topos convexos, ligeiramente arredondados e vertentes curtas; lombadas elevao com topos arredondados que se alongam em sentido paralelo aos fundos de vale; vales em V depresso entre elevaes profunda e estreita em forma de V; vales em U depresso entre elevaes profunda e larga formando um vale de fundo plano, em forma de U. (CAVALCANTE, 2005). (Vide figura 03).

    A altimetria elevada do Macio de Baturit em comparao com as reas sertanejas perifricas se deve ao fato de suas rochas terem se comportado de forma mais resistentes s aes intempricas em comparao com as litologias das reas sertanejas.

  • 37

    Figura 03: Feies Geomorfolgicas

  • 38

    A geomorfologia atual do macio se deve a ao conjugada de influncias litolgicas e estruturais do passado modeladas por variaes no clima da regio, bem como por ao dos processos da morfodinmica atual. De acordo com Souza (in IBAMA/UECE, 2001) a influncia das condies paleoclimticas evidenciada pelos nveis tanto na superfcie cimeira como nas vertentes que convergem para as depresses sertanejas circunvizinhas, denotando a existncia de superfcies de aplainamentos elaborados em condies de morfognese mecnica sob influncia de climas secos.

    No presente, onde preponderam s condies climticas midas, as superfcies erosivas so desmontadas pela forte dissecao do relevo em condies de morfognese qumica, que possui efeitos de dissecao mais intensos, e devido ao forte entalhe executado pela drenagem superficial ocorre formao de vales estreitos em forma de V.

    Os nveis suspensos de pedimentao representam os setores do relevo mais conservados do ambiente da Serra de Baturit. Com origem remetida as condies climticas mais secas do que as atuais, essa feio teve origem em um ambiente onde preponderava a morfognese mecnica, que originou o desenvolvimento dos pedimentos posicionados acima das superfcies pediplanadas sertanejas.

    Nos fundos de vale, onde ocorre uma suavizao do relevo, desenvolvem-se pequenas depresses de topografias planas com coberturas colvio-aluvias, comumente chamados na regio de baixa. Essas reas, por apresentarem caractersticas favorveis agricultura, so muito utilizadas para o cultivo de chuchu e hortalias, visto que nestas regies o relevo no constitui fator limitante para essas prticas, alm de ter o suprimento de gua para os cultivos garantido pelas pequenas barragens construdas nos riachos existentes neste compartimento do relevo serrano.

    VEGETAO As formaes vegetais existentes no Macio de Baturit so diretamente

    condicionadas por fatores como altitude e localizao, visto que a altitude elevada do macio aliada a proximidade do litoral funciona como barreira natural para os

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    ventos oriundos do mar, submetendo a regio ao fenmeno das chuvas orogrficas. Entretanto fatores como relevo, solos, hidrografia bem como as atividades antrpicas tambm podem ser considerados como condicionantes da vegetao local.

    De acordo com Souza in (CEAR. FNMA/FCPC, 1994) essa diversidade de cenrios ambientais condiciona a formao de quatro unidades distintas de vegetao existentes no Macio de Baturit: Arboreto Climtico Estacional Caduciflico (Caatinga); Arboreto Estacional Sub-caduciflio (Mata Seca); Arboreto Climtico Pereniflio (Mata mida); Arboreto Climtico Estacional Caduciflio tipo mesfilo (caatinga) e Vegetao Ciliar.

    Na figura 04 possvel visualizar a distribuio das unidades vegetais de acordo com sua localizao, a partir de um perfil topogrfico esquemtico traado no sentido NW / SE, partido da depresso sertaneja, no municpio de Caridade cortando o municpio de Pacoti, na regio cimeira do macio, at o municpio de Aracoiaba.

    Com base nesta classificao a regio do municpio de Pacoti acima da cota 600m, que corresponde rea estudada, est inserida nas Unidades Mata mida e Mata Seca, sendo a primeira a que apresenta maior rea, se estendendo por quase toda a regio estudada, ao passo que a Unidade Mata Seca foi identificada apenas nas encostas da vertente oriental do macio voltada para o municpio de Caridade.

    A Mata mida est localizada nas regies mais elevadas do macio, sendo de acordo com Campos (2000 apud SALES, 1997) identificada a partir da cota 600m a barlavento e aps 800m a sotavento. Fato este que denota a relao direta da existncia desta formao vegetal com a altitude, visto que esta responsvel pelos altos ndices de umidade nesta regio, favorecendo a existncia de uma vegetao com carter pereniflio.

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    Figura 04: Perfil esquemtico Relevo x Vegetao

    I Arboreto Climtico Estacional Caduciflico Xerfilo (Caatinga)

    II Arboreto Estacional Sub-caduciflio (Mata Seca)

    III Arboreto Climtico Pereniflio (Mata mida)

    IV Arboreto Climtico Estacional Caduciflio Tipo Mesfilo (Caatinga)

    V Vegetao Ciliar

    Fonte: Souza in (CEAR. FNMA/FCPC, 1994)

  • 41

    Segundo Cear. SEMACE (1992) a Mata mida composta por duas subunidades denominadas Floresta mida Pereniflia e Floresta mida Semipereniflia. De acordo com essa classificao a primeira tipologia florestal encontra-se situada em altitudes superiores a 800m e a segunda em nveis altimtricos entre 600m e 800m. Entretanto essa vegetao de uma maneira geral apresenta um carter predominantemente pereniflio, sendo composta por uma mesclagem de espcies pereniflias e semipereniflias, como pode ser visto no quadro 01.

    Quadro 01: Espcies da Mata mida

    Espcies Pereniflias Espcies Semipereniflias

    Nome Popular Nome Cientfico Nome Popular Nome Cientfico

    Amarelo Ateleia ovata Frei-jorge Cordia trichotoma Abacate-bravo Phoebe brasiliensis Pau-darco-roxo Tabebuia heptaphylla Almcega Protium heptaphyllum Mulungu Erythrina velutina Blsamo Myroxylon peruiferum Babau Orbignya speciosa Caf-bravo Caseara sylvestris Gonalo-alves Astronium fraxinifolium Cajueiro-bravo Caseara sylvestris Mutamba Guazuma ulmifolia

    Camunz Pithecolobium polycephalum Pau-ferro (foto 03) Caesalpinia leilostachya

    Coco Esenbeckia grandiflora Inhar Brosimum gaudichudii Folha-mida Myrcia rostrota Tatajuba Chloroflora tinctoria Guabiraba Campomanesia dichotoma - - Ing Ing bahiensis - - Limozinho Zanthoxylum rhoifolium - - Jaracati (foto 02) Jaracati spinosa - -

    Murici-da-Serra Byrsonima crispa - - Maaranduba Manilkara rufula - - Orelha-de-burro Clusia nemorosa - - Pau-darco-amarelo Tabebuia serratifolia - - Piro Basiloxylon brasiliensis - -

    Fonte: (CAMPOS, 2000)

  • 42

    Foto 02: Jaracati (Jaracati spinosa)

    Foto: http://www.arvores.brasil.nom.br

    Foto 03: Pau-ferro (Caesalpinia leilostachya)

    Foto: http://www.arvores.brasil.nom.br

    Neste contexto, a vegetao com caractersticas pereniflias localizadas principalmente a partir da cota 600m do macio foi classificada neste estudo como

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    Mata mida, e subdividida de acordo com seu grau de conservao em Mata mida Conservada, Mata mida Parcialmente Degradada e Mata mida Degrada.

    J a Mata Seca uma transio entre a Mata mida das regies mais elevadas do macio e a depresso sertaneja circunvizinha. Essa unidade composta por uma cobertura vegetal com predominncia de espcies arbreas na rea onde h um maior nvel de conservao tornando-se mais arbustiva nas regies mais degradadas. Essa vegetao se desenvolve principalmente em altitudes entre 400 e 600m nas vertentes barlavento e entre 600 e 800m nas vertentes sotavento. Vale salientar que atividades antrpicas como o desmatamento e as queimadas favorecem o avano da caatinga, originaria das depresses sertanejas, sob reas antes ocupadas por essa vegetao.

    Como nas demais unidades vegetacionais, a extenso e os aspectos floristicos e fisionmicos da Mata Seca esto diretamente vinculados s atividades de uso e ocupao da superfcie das vertentes da serra, bem como a presena de fontes e curso dgua que drenam at os sertes perifricos (SOUZA in CEAR. FNMA/FCPC, 1994). No quadro 02 esto descritas algumas das principais espcies lenhosas da Mata Seca e nas fotos 4 e 5 podem ser observados dois espcimes desta vegetao.

    Quadro 02: Espcies da Mata Seca

    Nome Popular Nome Cientfico Espinheiro Accia glomerosa Angico (foto 04) Anadenanthera macrocarpa Aroeira Astronium urundeuva Catingueira Caesalpinia bracteosa Feijo-bravo Capparis flexuosa Mutamba (foto 05) Guazuma ulmifolia Sabi Mimosa caesalpinifolia Manioba Manihot cocrulescens Paje Triplaris gardneriana Corao de negro Machacrium acutifolium Fonte: (SOUZA, 1994)

  • 44

    Foto 04: Angico (Anadenanthera macrocarpa)

    Foto: http://www.arvores.brasil.nom.br

    Foto 05: Mutamba (Guazuma ulmifolia)

    Foto: http://www.arvores.brasil.nom.br

    Assim como a Mata mida a Unidade Mata Seca foi subdividida neste estudo de acordo com seu grau de conservao em Mata Seca Conservada, Mata Seca Parcialmente Degrada e Mata Seca Degradada.

  • 45

    RECURSOS HDRICOS A rede de drenagem predominante na regio cimeira do Macio de Baturit

    apresenta um padro dendrtico associado ao modelo retangular em reas que sofreram tectnica ruptural, podendo estas serem observadas nas vertentes mais escarpadas e com declividade superior a 40%. Trata-se de uma rede excessivamente ramificada cujos cursos dgua desenvolvem perfis longitudinais com elevados gradientes e perfis transversais estreitos. (Vide Mapa 03)

    As caractersticas da hidrografia desta regio so determinadas pela ao conjugada de fatores climticos, geolgicos, geomorfolgicos e pelas condies vegetacionais e de uso do solo.

    Quanto climatologia, os municpios da regio cimeira do Macio de Baturit tem como caracterstica elevados ndices pluviomtricos, com mdia superior a do Estado do Cear. Entretanto, devido s precipitaes se concentrarem em um curto espao de tempo correspondente principalmente ao trimestre maro, abril e maio, e devido variao espacial da mesma, ocorre uma variao temporal quanto a disponibilidade de gua disponvel em superfcie, no solo e sub-solo, visto que a recarga dos recursos hdricos fica limitada a um curto perodo durante o ano.

    Em conseqncia destas caractersticas climticas, com exceo do Rio Pacoti1 que tem seu fluxo hdrico continuo durante todo o ano, em virtude das pequenas barragens existentes amontante de seu curso, via de regra a rede de drenagem da rea de estudo possui um escoamento superficial intermitente sazonal, entretanto a permanncia do escoamento ainda se estende durante parte da estao seca.

    A drenagem no macio tambm sofre influncia da geologia local e das formaes superficiais, principalmente devido s caractersticas de impermeabilidade das rochas cristalinas, que provoca um maior adensamento dos cursos dgua que tendem a uma elevada ramificao, favorecendo o escoamento superficial, ficando as guas subterrneas restritas a ocorrncia de reas

    1 O Rio Pacoti o principal recurso hdrico existente na rea de estudo. Suas nascentes esto

    localizadas na rea do plat mido do Macio de Baturit e drena as vertentes oriental e setentrional do mesmo.

  • 46

    diaclasadas ou fraturadas, sendo caracterstico deste terreno uma densa rede de fraturas.

    No tocante a influncia da geomorfologia na hidrografia, o relevo influencia de forma direta atravs dos perfis longitudinais e transversais dos rios. Os gradientes que direcionam as aes de escoamento determinam velocidade do fluxo hdrico ou a reteno da gua bem como condies de transporte ou de sedimentao nos setores deprimidos.

    As condies vegetacionais e de uso do solo so fatores preponderantes no tocante a hidrografia, visto que os mesmos so determinantes quanto proteo da superfcie frente os elevados ndices pluviomtricos da regio, atenuando os efeitos das precipitaes.

    Quanto maior a densidade da vegetao menor os efeitos do escoamento superficial atravs das vertentes ngremes, uma vez que a vegetao diminui o impacto da chuva com o solo, fazendo com que apenas parte da gua atinja os fundos de vale e talvegues. J nas reas que no dispem de cobertura vegetal, ou com baixa densidade, o escoamento superficial intensificado provocando movimentos de massa, formando voorocas e ravinas.

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    Escala:Datum:

    Municpio:Estado:

    PacotiCear

    1: 75.000SAD69 - 24S

    Geoprocessamento Aplicado ao Mapeamento deVulnerabilidade Ambiental: Uma Anlise Integrada doAmbiente no Municpio de Pacoti - CERecursos Hdricos

    Data:

    Orientador:Autor:

    Mapa:

    Agosto/2006Cristiano Alves

    03Joo Silvio Dantas

    Universidade Estadual do CearEspecializao em Geoprocessamento Aplicado aAnlise Ambiental e Recursos Hdricos

    RETANGULARDENDRTICO

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    3. REFERENCIAL TERICO

    3.1. Teoria Geossistmica

    Devido complexidade dos ambientes naturais, bem como dos alterados pelo homem, as aes antrpicas sobre o ambiente devem ser precedidas por um diagnstico ambiental adequado, fornecendo informaes que garantam um aproveitamento sustentado destes ambientes.

    Para a realizao de um diagnstico ambiental condizente com a realidade ambiental necessrio, de acordo com Ross (1991) analisar o ambiente no apenas como meio fsico e bitico, mas incluindo tambm o scio-econmico. Tal necessidade faz com que a cincia geogrfica se destaque frente s demais nas anlises ambientais, garantindo um estudo integrado da paisagem.

    Segundo Morais (2001), a cincia na qual a paisagem, suas caractersticas, inter-relaes e gneses so estudadas, pode ser denominada Cincia da Terra, que na verdade uma das formas da Geografia, a Geografia da Paisagem. O propsito da Cincia da Terra ou Cincia da Paisagem o estudo do carter total de uma poro da Terra. A Cincia da Terra abrange as rochas, relevo, partculas dos solos, solos, gua, clima, vegetao, flora, fauna, plantaes e estruturas humanas e os prprios seres humanos.

    Neste contexto, a paisagem no pode ser considerada como a simples adio de elementos geogrficos dissociados. Devendo a mesma ser considerada como um espao fruto da integrao dinmica, portanto instvel dos elementos fsicos, biticos e antrpicos, que interagindo de forma dialtica entre si formam um conjunto nico e indissocivel em constante evoluo. Vale salientar que o termo paisagem no abordado aqui referente somente paisagem natural, mas da paisagem em sua totalidade integrando todas as implicaes da ao antrpica.

  • 49

    Na busca por uma anlise integrada, surgiu no inicio do sculo XX uma teoria que se contrapunha ao pensamento antes vigente do mecanicismo2 e do vitalismo3, a Teoria Geral dos Sistemas proposta pelo bilogo Ludwig Von Bertalanffy.

    De acordo com Von Bertalanffy (1975) a Teoria Geral dos Sistemas resultou do fato do esquema mecanicista das sries causais isolveis e do tratamento isolado das partes ter se mostrado insuficiente na soluo de problemas tericos, e aos problemas prticos propostos pela moderna tecnologia. Neste sentido essa teoria prope o estudo no somente das partes e processos isoladamente, mas tambm solucionar problemas existentes na organizao e na ordem que os unifica, resultante da interao entre as partes, tendo como resultado um comportamento diferente das partes quando estudadas isoladamente e quanto abordadas como um todo.

    Desta concepo surgiu expresso o todo mais que a soma das partes, ou seja, as caractersticas constitutivas no podem ser explicadas atravs de uma anlise isolada das partes que a compem. Essa caracterstica firma a Teoria Geral dos Sistemas como uma cincia geral da totalidade.

    A teoria proposta por Bertalanffy sofreu durante meados do sculo XX apropriao por vrios ramos cientficos, contribuindo de forma decisiva na formulao da Teoria Geossistmica. Segundo Rodrigues (2001 apud GREGORY, 1992), ela prope que os sistemas podem ser definidos como conjuntos de elementos com variveis e caractersticas diversas, que mantm relao entre si e entre o meio ambiente, permitindo uma anlise voltada para a estrutura desse sistema, para seu comportamento, para trocas de energia, limites, ambientes ou parmetros.

    A Teoria Geossistmica parte integrante de um conjunto de tentativas ou de formulaes terico-metodolgicas da Geografia Fsica, sugeridas em funo da necessidade de lidar com princpios de interdisciplinaridade, sntese, com a abordagem multidisciplinar e com a dinmica, fundamentalmente, incluindo-se prognoses a respeito desta ltima. (RODRIGUES, 2001).

    2 A abordagem mecanicista consistia em uma anlise dividida em partes e processos individuais.

    3 A teoria intitulada de vitalismo se propunha a explicar os problemas da organizao das partes e

    suas interaes, pela ao de fatores anmicos.

  • 50

    A Teoria Geossistmica surgiu na escola russa atravs de V. B. Sotchava, entretanto a mesma foi difundida no mundo ocidental pela escola francesa. No Brasil essa teoria teve como precursor G. Bertrand, que em 1972 publicou no 13 Caderno de Cincias da Terra - peridico do extinto Instituto de Geografia da Universidade de So Paulo - seu trabalho intitulado Paisagem e Geografia Fsica Global onde o autor traa um esboo metodolgico da Teoria Geossistmica, atravs da taxonomia, dinmica, e tipologia da paisagem.

    Para Bertrand (1972) a noo de escala inseparvel do estudo das paisagens. Neste contexto, seu sistema taxonmico prope uma classificao alicerada em funo da escala tmporo-espacial de inspirao geomorfolgica de A. CAILLEUX e J. TRICART, sendo esta a base geral de referncia para todos os fenmenos geogrficos.

    Tendo em vista que todas as delimitaes geogrficas so arbitrrias impossvel definir um sistema geral do espao que coincida com os limites de cada ordem de fenmeno, o que torna invivel a delimitao dos geossistemas pela superposio de unidades elementares, como por exemplo, definir as unidades sintticas justapondo classificaes geomorfolgicas, pedolgicas e climticas. Como conseqncia desta tentativa de sntese o resultado seria um mosaico desarticulado, onde se perderiam as articulaes e interaes entre as partes.

    Neste contexto, Bertrand (1972) prope vislumbrar a paisagem global tal qual ela se apresenta. Garantindo assim que as combinaes e as relaes entre os elementos, assim como os fenmenos de convergncia apaream mais claramente. Dentro desta perspectiva ele estabelece um sistema de classificao com seis nveis tmporo-espaciais, divididos em dois grupos. O primeiro composto pelas unidades superiores denominadas: zona, domnio e regio; e o outro por unidades progressivamente inferiores, que definiriam os geossistemas, geofcies e getopo.

    As unidades superiores correspondem a grandes extenses geogrficas. As denominadas zonas so definidas pelas grades zonas planetrias delimitadas primeiramente pelo clima e os biomas que o compem (zona tropical, por exemplo). J os domnios so definidos como pores geogrficas, de grandeza inferior zona, com caractersticas peculiares (domnio andino, por exemplo). A regio

  • 51

    natural, ltima na escala de grandeza das unidades superiores, corresponde a enclaves existentes nos domnios, que por apresentarem caractersticas diferentes do seu entorno merecem destaque.

    As unidades inferiores so divididas em trs, cuja nomenclatura foi definida com a finalidade de evocar o trao caracterstico da unidade correspondente. O geo sistema acentua o complexo geogrfico e a dinmica de conjunto; geo facies insiste no aspecto fisionmico e geo topo situa essa unidade no ltimo nvel da escala espacial. nestas escalas que a maior parte dos fenmenos de interferncia entre os elementos da paisagem se manifestam e que evoluem as combinaes dialticas de maior interesse para o gegrafo. BERTRAND (1972).

    O geossistema um sistema geogrfico natural circunscrito a uma rea ou regio proveniente das relaes mtuas entre os componentes do potencial ecolgico e da explorao biolgica e destes com a ao antrpica. (vide figura 05)

    Figura 05: Geossistema

    Fonte: (BERTRAND, 1972).

    O potencial ecolgico de um geossistema composto pela relao entre os fatores geomorfolgicos, climticos e hidrolgicos. Ao passo que a explorao biolgica ocorre sobre a vegetao, fauna e solo, sendo esta explorao realizada pela ao antrpica que tambm exerce influncia sobre o potencial ecolgico.

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    Essa relao mutua entre potencial ecolgico, explorao biolgica e ao antrpica denotam a grande dinmica dos geossistemas. Tal fato faz com que se torne difcil o estado de clmax, ou seja, um equilbrio entre potencial ecolgico e explorao biolgica, uma vez que ambos so dados instveis que variam no tempo e no espao.

    Essa dinmica dos geossistemas torna difcil a delimitao com clareza de sua extenso e abrangncia. Para Christofoletti (1979) distinguir um sistema na multiplicidade dos fenmenos da superfcie terrestre ato mental, cuja ao procura abstrair o referido sistema da realidade envolvente.

    Devido essa dinmica interna, em geral o geossistema no apresenta necessariamente homogeneidade fisionmica ou funcional. Sendo ele formado por paisagens diferentes que mostram alguns traos comuns de uma mesma famlia geogrfica. Essas paisagens homogneas que compem o geossistema so denominadas geofcies e localmente ou pontualmente por getopos.

    Quanto tipologia dos geossistemas, Bertrand (1972) prope uma tipologia fundamentada na bio-resistasia do pedlogo alemo H. Erhart, abordando uma tipologia dinmica que classifica os geossistemas em funo de sua evoluo e que engloba atravs disto todos os aspectos das paisagens. Para tanto so considerados trs elementos bsicos: o sistema de evoluo considerando uma srie de agentes e processos hierarquizados que atuam sobre o geossistema e as relaes entre morfognese x pedognese x ao antrpica; o estgio atingindo em relao ao clmax e o sentido geral da dinmica progressiva, regressiva e estabilidade. Neste contexto, as variaes dos geossistemas foram agrupadas em dois conjuntos dinmicos.

    O primeiro conjunto diz respeito aos geossistemas em biostasia, onde a paisagem caracterizada por uma atividade morfogentica fraca ou nula, ocorrendo equilbrio entre o potencial ecolgico e a explorao biolgica. Neste sistema a ao antrpica pode provocar uma dinmica regressiva da vegetao e dos solos sem comprometer o equilbrio ambiental. Esses geossistemas podem ser classificados de acordo com seu grau de estabilidade em geossistemas climcicos paisagens onde o clmax mais ou menos bem conservado, sem que a ao antrpica comprometa

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    o equilbrio ecolgico e a explorao biolgica; geossistemas paraclimcicos so derivados de uma evoluo regressiva de origem antrpica em funo da mudana de caractersticas do potencial ecolgico ou da explorao biolgica; geossistemas degradados com dinmica progressiva reas que esto em estado de pousio em que o potencial ecolgico apresenta uma rpida capacidade de recuperao; e geossistemas degradados com dinmica regressiva reas que esto em estado de pousio em que o potencial ecolgico apresenta pequena capacidade de recuperao devido ao avanado estado de degradao.

    O segundo conjunto o dos geossistemas em resistasia. Nestes geossistemas a atividade morfogentica muito ativa e comanda o mecanismo de evoluo do ambiente. Pertencem a esse conjunto os geossistemas em resistasia natural e os em resistasia antrpica.

    Diante do exposto, conclui-se que a Teoria Geossistmica desempenha um papel fundamental para a realizao de uma anlise integrada do ambiente visando o desenvolvimento sustentvel. Souza (2000) destaca a importncia do conhecimento e anlise dos sistemas naturais como componentes da base da planificao do desenvolvimento que visa criar melhores condies e bem-estar para os homens. Para tanto ele destaca a necessidade de uma compatibilizao das polticas de desenvolvimento econmico e a defesa e controle do ambiente como caminho para alcanar um desenvolvimento sustentado.

    Para alcanar este desenvolvimento sustentado fundamental um processo de planejamento eficiente, que garanta a utilizao racional do meio natural. Diante desta necessidade Christofoletti in (GUERRA; CUNHA, 2003) define como obrigatria considerao dos aspectos dos sistemas ambientais (geossistemas) e dos sistemas scio-econmicos para a realizao de um planejamento eficaz.

    A luz da Teoria Geossistmica, Rodrigues (2001) destaca a abordagem morfodinmica de TRICART (1977) ou a abordagem ecogeogrfica de TRICART & KILLIAN (1979) como principais alternativas para trabalhar ou identificar unidades de planejamento fsico. Visto que as mesmas possibilitam a identificao de unidades territoriais com dinmicas semelhantes, passiveis das mais diversas classificaes no contexto do planejamento territorial, tais como: fragilidade do meio fsico,

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    potencialidade para suportar determinadas atividades antrpicas dentre outras. Neste contexto, a abordagem morfodinmica possibilita a delimitao espacial de unidades cujos processos atuais podem ser considerados semelhantes, permitindo a realizao de uma classificao das unidades quanto a sua estabilidade (formas e Processos), singularidade e grau de recorrncia (diversidade ambiental) e fragilidade ou vulnerabilidade no que se refere s interferncias antrpicas, entre outras discriminaes teis na esfera do planejamento e gesto territorial.

    No presente trabalho sero avaliadas as condies de sustentabilidade ambiental no tocante a vulnerabilidade, tendo como base o modelo de classificao ecodinmica do ambiente proposto por Souza (2000) que fundamentado nas interferncias entre processos morfogenticos e pedogenticos (TRICART, op. cit; TRICART e KILIAN, 1982) viabiliza a possibilidade de avaliar as condies de sustentabilidade dos geossistemas atravs dos meios estveis, de transio e fortemente instveis.

    3.2. Planejamento Regional

    O planejamento regional o passo inicial para alcanar o desenvolvimento equilibrado das funes econmicas, sociais e polticas. Nesse contexto, o planejamento permite a alocao eficiente dos investimentos, auxiliando nas tomadas de deciso e garantindo o desenvolvimento sustentvel de uma determinada regio.

    Segundo Hilhorst (1981) o conceito de regio baseia-se na observao de que os seres humanos, para a execuo de suas atividades, necessitam de espao e portanto tem uma localizao determinada. Dessas atividades resultam relaes que exigiro, necessariamente, uma dimenso espacial, bem como transporte e ou comunicao entre suas localizaes. Logo, regio uma poro geogrfica onde possvel determinar os fluxos de transporte e comunicao entre os pontos de atividade humana e todos os outros pontos da mesma natureza, levando-se em considerao sua intensidade.

    De acordo com Corra (1987) a regio, a luz da nova geografia, definida como um conjunto de lugares onde as diferenas internas entre esses lugares so

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    menores que as existentes entre eles e qualquer elemento de outro conjunto de lugares. Podendo essa ser simples quando a diviso regional feita de acordo com um nico critrio ou varivel; ou complexa quando a diviso regional considera muitos critrios ou variveis.

    O intenso processo de globalizao que o mundo vem sofrendo na atualidade tende a anular as diferenas criando uma interdependncia e integrao. Entretanto esse mesmo processo alimenta as desigualdades e contradies, fazendo com que a anlise regional voltada para as particularidades revele aspectos da realidade que seria de difcil percepo e anlise do ponto de vista global. Nesse sentido, para Lencioni (2003), a regio uma escala intermediaria de anlise, mediando entre o local e o global, permitindo revelar a espacialidade particular dos processos sociais globais.

    Diante desta concepo de anlise da regio, dentro de um contexto global onde o desenvolvimento ocorre de maneira desigual, Corra (1987) de acordo com a concepo da geografia crtica, define regio como sendo uma entidade concreta, resultado de mltiplas determinaes, ou seja, da efetivao dos mecanismos de regionalizao sobre um quadro territorial j previamente ocupado, caracterizado por uma natureza j transformada, heranas culturais, matrias e determinada estrutura social e seus conflitos.

    Neste contexto o planejamento regional incidir sobre a regio avaliando fatores fsicos e socioeconmicos de forma integrada, procedendo uma anlise da regio como parte integrante de um todo, no podendo essa ser analisada isoladamente. O processo de planejamento regional envolve uma ampla avaliao da regio, a fim de determinar suas carncias e potencialidades, bem como traar objetivos e procedimentos a serem adotados para correo dos problemas sociais econmicos e ambientais.

    De acordo com a metodologia proposta pelo extinto Instituto de Planejamento do Cear IPLANCE, em sua publicao Planejamento Regional: Sntese Metodolgica (1977) o planejamento regional composto de duas fases bsicas, uma analtica ou de diagnstico e a outra normativa ou de determinao das intervenes a serem realizadas na estrutura regional.

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    A fase analtica d subsidio para a elaborao do diagnstico regional. Nessa fase, que eminentemente tcnica, so levantados os aspectos fsicos, populacionais e da estrutura scio-econmica, determinando atravs da anlise integrada destes os entraves e as potencialidades da regio.

    No tocante aos aspectos fsicos, realizada uma anlise da posio geogrfica da regio. Visto que, de fundamental importncia determinar a rea onde se pretende aplicar o planejamento. Contudo, deve-se atentar para o fato de que regio nenhuma se encontra isolada, uma vez que, a mesma parte de uma macrorregio.

    Depois de delimitada a abrangncia geogrfica da regio onde o planejamento do desenvolvimento regional incidir, realizado um levantamento dos elementos geoambientais tais como clima, relevo, recursos hdricos, solos e vegetao que compem a regio, a fim de determinar o quadro natural da regio e conseqentemente determinar as potencialidades e a vulnerabilidade do ambiente. Essa etapa do planejamento, tambm denominada Planejamento Ambiental, tem como principal objetivo realizar uma avaliao da sustentabilidade harmonizando informaes e bases que envolvem um elenco de variveis de natureza fsica, biolgica, antrpica, econmica e social, interagindo em um sistema de relaes harmnicas.

    Vale salientar tambm a importncia de analisar os aspectos populacionais e a estrutura scio-econmica regional a fim de identificar s origens da configurao espacial atual, bem como as condies econmicas e sociais da regio.

    Com base no diagnstico realizado na fase analtica realizada a fase normativa. Nessa fase realizado o prognstico regional, onde se estabelecem os objetivos e estratgias do desenvolvimento, visando aproveitar as potencialidades e mitigar ou solucionar os entraves.

    Os objetivos so divididos em geral e especficos, sendo o primeiro o propsito que norteia o trabalho de planejamento regional, orientando a busca dos dados para o conhecimento e avaliando as etapas do trabalho. J nos objetivos especficos so propostas as solues para os problemas encontrados, e alternativas para explorar sustentavelmente as potencialidades. De posse destes objetivos so traadas as

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    estratgias de ao que iram orientar a concretizao dos objetivos, considerando as deficincias e lacunas encontradas no diagnstico.

    Almeida (1999) define planejamento como a aplicao regional do conhecimento do homem ao processo de tomada de decises para conseguir uma melhor utilizao dos recursos, garantindo o mximo de benefcios para a coletividade. Dentro desta perspectiva sero aplicadas neste trabalho tcnicas de Geoprocessamento com o intuito de promover uma anlise integrada do ambiente dando subsidio para as tomadas de deciso da fase normativa do planejamento regional.

    3.3. Abordagem Integrada no Planejamento Regional

    De acordo com Christofoletti in (GUERRA; CUNHA, 2003) o planejamento incide na implementao de atividades em determinado territrio constituindo um processo que repercute nas caractersticas, funcionamento e dinmica das organizaes espaciais. Nesse sentido essencial levar em considerao os aspectos dos sistemas ambientais (geossistemas) e dos sistemas scio-econmicos.

    A integrao entre os sistemas ambientais e scio-econmicos foi intensamente discutida na Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro, em 1992, tambm conhecida por Rio 92. Durante o encontro foi publicada a declarao do Rio sobre meio ambiente e desenvolvimento, essa declarao vem reafirmar a Declarao das Naes Unidas Sobre Meio Ambiente Humano, adotada em Estocolmo e 1972, que busca estabelecer novos nveis de cooperao entre os Estados, os setores-chave da sociedade e os indivduos com o objetivo de estabelecer uma nova e justa parceria global de modo a proteger a integridade do sistema global de meio ambiente e desenvolvimento, reconhecendo a natureza integral e interdependente da Terra.

    Da Conferncia das Naes Unidas tambm resultou outros acordos como a Declarao de Princpios sobre o Uso das Florestas, a Conveno sobre a Diversidade Biolgica, Conveno sobre Mudanas Climticas e a Agenda 21 Global.

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    A Agenda 21 um plano de ao para ser adotado global, nacional e localmente, por organizaes do sistema das Naes Unidas, governos e pela sociedade civil, em todas as reas em que a ao humana incide sobre o meio ambiente. Constitui-se na mais abrangente tentativa j realizada a fim de nortear um novo padro de desenvolvimento para o sculo XXI, cujo alicerce a sinergia da sustentabilidade ambiental, social e econmica, perpassando em todas as suas aes propostas.

    Em seu 8 captulo a Agenda 21 global considera fundamental para alcanar o desenvolvimento sustentvel abordagem integrada entre meio ambiente e desenvolvimento nos planos poltico, de planejamento e de manejo.

    Essa integrao tem como objetivo melhorar ou restaurar o processo de tomada de decises considerando questes socioeconmicas e ambientais, bem como garantir uma maior participao do pblico. Para alcanar esse objetivo a proteo ambiental passa a constituir parte integrante do processo de desenvolvimento e no pode ser considerada isoladamente deste, sendo necessria uma integrao de fatores econmicos, sociais e ambientais para garantir um melhoramento dos processos de tomada de deciso.

    Surge assim, a necessidade de um planejamento do uso da terra, sendo este um processo de tomada de deciso que facilite a conservao da diversidade biolgica e o uso sustentvel dos recursos biolgicos proporcionando maiores benefcios em termos de sustentabilidade.

    De acordo com o 10 captulo da Agenda 21, a terra um recurso finito, e os recursos naturais que ela sustenta podem variar com o tempo e de acordo com as condies de gerenciamento e os usos a eles atribudos. No entanto, as crescentes necessidades humanas e a expanso das atividades econmicas esto exercendo uma presso cada vez maior sobre os recursos terrestres, criando competio e conflitos e tendo como resultado um uso imprprio tanto da terra como dos recursos terrestres.

    Neste contexto a abordagem integrada do planejamento e do gerenciamento fsico e do uso da terra surge como alternativa para resolver os conflitos gerados pela presso exercida pelas atividades humanas sobre os recursos terrestres, uma

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    vez que examinando todos os usos da terra de forma integrada possvel reduzir os conflitos ao mnimo, fazer as alternativas mais eficientes e vincular o desenvolvimento social e econmico proteo e melhoria do meio ambiente.

    O planejamento do uso visa o desenvolvimento das populaes dentro e em torno de uma unidade territorial. Isto se relaciona a uma anlise de mltiplos critrios e a avaliao dos vrios recursos naturais4 e ambientais5 destas unidades territoriais. Sendo esse um processo de avaliao de opes e subseqentes tomadas de deciso que precedem prtica de uma deciso. J a implementao do uso da terra por parte das populaes denominada de gerenciamento, que consiste na real prtica de uso da terra pela populao humana local. Vale salientar que o gerenciamento dos recursos naturais deve se dar de forma a garantir a consolidao de uma comunidade sustentvel.

    Uma comunidade sustentvel resulta da preservao e do manejo adequado dos recursos n