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1 GEOPROCESSAMENTO APLICADO À ANÁLISE DE ÁREAS POTENCIAIS PARA A PRODUÇÃO DE EUCALIPTO NA ZONA DA MATA MINEIRA Sanderson dos Santos Romualdo Universidade Federal de Juiz de Fora [email protected] Cezár Henrique Barra Rocha Universidade Federal de Juiz de Fora [email protected] Graziella Martinez Souza Universidade Federal Fluminense [email protected] Resumo: Por seu fácil carater de representação da espacialidade (cartografada) e também pelo carater de analisar um fenômeno integralizando informações de mapas temáticos, o geoprocessamento é uma tecnologia/técnica muito utilizada e que serve de instrumento no controle de processos degradatórios, sendo bastante utilizado em Análise Ambiental. A presente proposta visou um estudo de aplicação de geoprocessamento na análise ambiental, identificando áreas potenciais para o cultivo de eucalipto na Zona da Mata mineira. Esta atividade pode ser entendida como aliada na contenção da degradação ambiental e ao mesmo tempo fomenta a produção do mesmo para o caráter econômico, que por sua vez tem sido a maior destinação para a produção de eucalipto. As análises foram feitas por meio de Inventário Ambiental, modelo digital do ambiente, e Avaliação Ambiental, através do software denominado de Sistema de Análise Geo-Ambiental da Universidade Federal do Rio de Janeiro – SAGA/UFRJ – que apoiaram na geração dos levantamentos e diagnósticos do potencial ambiental de toda a região. A partir de mapas temáticos da Mata – Geomorfologia, Pedologia (Solos), Uso da Terra e Declividade – foi feito uma avaliação com base na média ponderada, estabelecendo-se pesos (0 – 100%) para os mapas e notas (0 – 10) para as classes, tendo em vista o potencial para a produção da cultura de Eucalipto. Como resultado, mediante as análises e levantamento teórico, foi obtido um novo mapa da Zona da Mata Mineira de áreas potenciais para o cultivo de Eucalipto. Este documento poderá ser utilizado por empresas na recuperação de áreas degradadas e até mesmo por pequenos e médios produtores rurais, como fonte de renda complementar, diminuindo a pressão sobre as matas nativas dentro da busca da sustentabilidade social, econômica e ambiental. Palavras-chave: Geoprocessamento; Eucalipto; Zona da Mata Mineira. Abstract: For its easy character to represent the spatial (mapped) and also the character to analyzed a phenomenon integrating information of thematic maps, the geoprocessing is a technology/technique widely used and serves as a tool to control process of degradation, being enough used in analysis Environmental. This proposal aimed at a study of application of geoprocessing in environmental analysis, identifying potential areas for the cultivation of eucalyptus in the Zone of Mata mineira. This activity can be understood as allied in the containment of environmental degradation and at the same time it foments the production of the same for the economic character that in turn has been the largest destination for the production of eucalyptus. The analyses had been made by means of Environmental Inventory, digital model of the environment and environmental assessment, through software called the System of Geo-Environmental Analysis of the Federal University of Rio de Janeiro - SGEA/FURJ - who supported the generation of diagnostic surveys and the environmental potential of the entire region hat they had supported in the generation of the surveys and disgnostic of the environmental potential of all the region. From thematic maps of Mata - Geomorphology, Pedology (soils), Land Use and Declivity - an assessment was made based on the weighted average, establishing weights (0 to 100%) for the maps and notes (0 - 10 ) for the categories in view the potential for the production of the culture of Eucalyptus. As result, by means of the analyses and theoretical survey, a new map of the Zone of Mata Mineira of potential areas for the cultivation of eucalyptus was obtained. This document may be used by companies in the recovery of degraded areas and even by small and medium rural farmer as a source of

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GEOPROCESSAMENTO APLICADO À ANÁLISE DE ÁREAS POTENCIAIS PARA A

PRODUÇÃO DE EUCALIPTO NA ZONA DA MATA MINEIRA

Sanderson dos Santos Romualdo Universidade Federal de Juiz de Fora

[email protected]

Cezár Henrique Barra Rocha Universidade Federal de Juiz de Fora

[email protected]

Graziella Martinez Souza Universidade Federal Fluminense [email protected]

Resumo: Por seu fácil carater de representação da espacialidade (cartografada) e também pelo carater de analisar um fenômeno integralizando informações de mapas temáticos, o geoprocessamento é uma tecnologia/técnica muito utilizada e que serve de instrumento no controle de processos degradatórios, sendo bastante utilizado em Análise Ambiental. A presente proposta visou um estudo de aplicação de geoprocessamento na análise ambiental, identificando áreas potenciais para o cultivo de eucalipto na Zona da Mata mineira. Esta atividade pode ser entendida como aliada na contenção da degradação ambiental e ao mesmo tempo fomenta a produção do mesmo para o caráter econômico, que por sua vez tem sido a maior destinação para a produção de eucalipto. As análises foram feitas por meio de Inventário Ambiental, modelo digital do ambiente, e Avaliação Ambiental, através do software denominado de Sistema de Análise Geo-Ambiental da Universidade Federal do Rio de Janeiro – SAGA/UFRJ – que apoiaram na geração dos levantamentos e diagnósticos do potencial ambiental de toda a região. A partir de mapas temáticos da Mata – Geomorfologia, Pedologia (Solos), Uso da Terra e Declividade – foi feito uma avaliação com base na média ponderada, estabelecendo-se pesos (0 – 100%) para os mapas e notas (0 – 10) para as classes, tendo em vista o potencial para a produção da cultura de Eucalipto. Como resultado, mediante as análises e levantamento teórico, foi obtido um novo mapa da Zona da Mata Mineira de áreas potenciais para o cultivo de Eucalipto. Este documento poderá ser utilizado por empresas na recuperação de áreas degradadas e até mesmo por pequenos e médios produtores rurais, como fonte de renda complementar, diminuindo a pressão sobre as matas nativas dentro da busca da sustentabilidade social, econômica e ambiental. Palavras-chave: Geoprocessamento; Eucalipto; Zona da Mata Mineira. Abstract: For its easy character to represent the spatial (mapped) and also the character to analyzed a phenomenon integrating information of thematic maps, the geoprocessing is a technology/technique widely used and serves as a tool to control process of degradation, being enough used in analysis Environmental. This proposal aimed at a study of application of geoprocessing in environmental analysis, identifying potential areas for the cultivation of eucalyptus in the Zone of Mata mineira. This activity can be understood as allied in the containment of environmental degradation and at the same time it foments the production of the same for the economic character that in turn has been the largest destination for the production of eucalyptus. The analyses had been made by means of Environmental Inventory, digital model of the environment and environmental assessment, through software called the System of Geo-Environmental Analysis of the Federal University of Rio de Janeiro - SGEA/FURJ - who supported the generation of diagnostic surveys and the environmental potential of the entire region hat they had supported in the generation of the surveys and disgnostic of the environmental potential of all the region. From thematic maps of Mata - Geomorphology, Pedology (soils), Land Use and Declivity - an assessment was made based on the weighted average, establishing weights (0 to 100%) for the maps and notes (0 - 10 ) for the categories in view the potential for the production of the culture of Eucalyptus. As result, by means of the analyses and theoretical survey, a new map of the Zone of Mata Mineira of potential areas for the cultivation of eucalyptus was obtained. This document may be used by companies in the recovery of degraded areas and even by small and medium rural farmer as a source of

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supplementary income, reducing the pressure on native forests in the pursuit of social sustainability, economic and environmental. Keywords: Geoprocessing; Eucaliptus; Zone of Mata Mineira. 1 INTRODUÇÃO

Segundo a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) (2008), Minas

Gerais possui uma área extensa de Cerrado, cerca de 21 milhões de hectares, correspondente a 37% de

todo o território estadual, sendo uma área de grande potencial para exploração florestal – cultivo de

espécies florestais e grãos – devido as condições geomorfológicas, pedológicas e climáticas. Além do

potencial para o cultivo de espécies florestais, a área também é propícia para o desenvolvimento da

pecuária leiteira e de corte.

A Zona da Mata mineira – Mesorregião Sudeste de Minas – está estratégicamente

localizada/limitada entre os estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, e por outras 4 mesorregiões

mineira: Metropolitana de Belo Horizonte, Campo das Vertentes, Sul/sudeste e Vale do Rio Doce. A

região é formada pelas microrregiões de Cataguases, Juiz de Fora, Manhuaçu, Ubá, Muriaé, Ponte

Nova e Viçosa. Com destaques para as microrregiões de Juiz de Fora, com o indice de

desenvolvimento humano (IDH) mais elevado e Ubá, pólo moveleiro formado por 7 cidades, reunindo

mais de 300 indústrias.

Mapa 1: Mesorregião da Zona da Mata mineira. Fonte: Rocha (2008)

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Grande parte do Cerrado da Mata encontra-se com algum grau de degradação ambiental,

sendo que diversas tecnologias têm sido desenvolvidas e propostas para a recuperação das áreas do

Cerrado. Dentre elas, os sistemas agrossilvipastoris apresentam-se como uma alternativa das mais

promissoras e sustentáveis para recuperação de áreas degradadas, considerando, sobretudo, seu

reduzido custo ambiental, além de serem economicamente viáveis em muitas regiões do Estado.

Esses sistemas, também conhecidos como Sistemas Integrados Lavoura-Pecuária-Floresta

(SILPF) estão ligados a:

[...] um sistema de produção agropecuário economicamente, socialmente e ecologicamente sustentável, fundamentado em tecnologias não agressivas ao meio ambiente, tem apontado o desenvolvimento SILPF como a alternativa mais adequada de exploração agropecuária, uma vez que combina árvores, culturas e animais em um conceito de imitação dos ecossistemas naturais. Neste sistema, o solo é explorado de maneira intensiva e economicamente durante todo o ano, favorecendo o aumento da oferta de grãos, forragem, leite, carne, fibras e madeira. Diversos modelos de sistemas de produção estão sendo avaliados, destacando-se os silvipastoris, os agrossilvipastoris e os agropastoris, dentre outros (EPAMIG, 2008).

Historicamente, a chegada do eucalipto no Brasil se deu no ano de 1825: A citação mais antiga menciona que o Frei Leandro do Sacramento, diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro de 1824 a 1829, realizou o plantio de dois exemplares de Eucalyptus gigantea. Até o início do século o eucalipto era cultivado como planta ornamental e quebra-ventos (VALE, 2004, p. 8-10).

Posterior a este momento, no ano de 1904, o cultivo de eucalipto é intensificado, segundo a

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) (2008), [...] com o objetivo de suprir as

necessidades de lenha, postes e dormentes das estradas de ferro na região Sudeste. Na década de 50

passa a ser produzido, como matéria prima, para o abastecimento das fábricas de papel e celulose.

Em Minas Gerais, seu efetivo cultivo veio no ano de 1937:

Pela Companhia Siderúrgica Belgo Mineira, primeira indústria siderúrgica criada em Minas Gerais por volta do ano de 1920 [...]. Até 1967, em torno de 70% do eucalipto plantado localizava-se na região da bacia do rio Piracicaba... No entanto, a partir de 1971 houve um deslocamento das áreas de plantio para a região do vale do Jequitinhonha. Empresas como a ACESITA, MANNESMAN, C.S.BELGO MINEIRA passaram a comprar terras, principalmente dentro da área do polígono das secas (área da SUDENE). Portanto, já em 1982, 40% das áreas plantadas com eucalipto em Minas Gerais estavam localizadas no vale do Jequitinhonha, onde estavam 18 empresas reflorestadoras (GUERRA, 1995 apud VALE, 2004, p. 11-12).

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Entretanto percebemos que a presença do eucalipto em Minas Gerais, bem como em todo

território brasileiro, vem desde os tempos mais antigos. E não é nenhuma cultura atual, onde temos

percebido debates/discussões em torno do eucalipto como silvicultura, reflorestamento etc.

A discussão, portanto, é sobre a apropriação desenfreada que o cultivo tem tornado na

geografia da Mata mineira, impactando ainda mais o meio ambiente. Talvez pela sua característica

edafobioclimática (relativo às diversos tipos pedológicos e climáticos), e por sua fácil adaptação a

diferentes ambientes, o Eucalipto também pode ser visto/entendido pelo seu caráter múltiplo de

possibilidades. Ele atende aos segmentos da produção de papel, celulose, energia, madeira e carvão

vegetal.

Neste sentido, nossa proposta aqui é fazer o uso da tecnologia do geoprocessamento como

um instrumento no controle dos processos degradatórios em que a Mata se encontra, a partir da

identificação de áreas potenciais para o cultivo de eucalipto, permitindo o uso dessa proposta por

pequenos e médios produtores rurais como renda complementar.

Por meio do geoprocessamento, nosso objetivo geral foi identificar as áreas em potencial

para o cultivo e/ou produção de Eucalipto na Zona da Mata mineira, através de análise ambiental. E a

partir daí fizemos um Inventário Ambiental da Mata – modelo digital do ambiente – e uma avaliação

ambiental mediante aos dados obtidos na fase do Inventário.

2 METODOLOGIA

Através do Sistema de Análise Geo-Ambiental da Universidade Federal do Rio de Janeiro

(SAGA/UFRJ) – sistema geográfico de informação (SGI) desenvolvido pelo Laboratório de

Geoprocessamento da UFRJ – utilizou-se mapas em formato raster, fazendo o inventário ambiental e

executando uma avaliação através da média ponderada para identificar as áreas em potencial para o

cultivo de Eucalipto.

Inventário Ambiental da área por intermédio dos mapas temáticos

Xavier-da-Silva (1982 apud ROCHA, 2007, p. 203), diz que um inventário ambiental

corresponderia a um:

[...] modelo digital do ambiente, no qual transformações dirigidas podem ser executadas sobre os dados gerando, como resultados, esquemas classificatórios mapeados, acompanhamento da evolução de fenômenos e geração de elementos de controle do território em questão.

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A partir de mapas temáticos da Mata – Geomorfologia, Pedologia (Solos), Uso da Terra e

Declividade – foi feito um minucioso levantamento quali/quantitativo da realidade ambiental que a

área está envolvida (Anexos).

Avaliação Ambiental de áreas potenciais para plantação de eucalipto na Zona da Mata Mineira.

Pelo viés da metodologia do LAGEOP/UFRJ, as prospecções ambientais consistem em

extrapolações de informações de variáveis ambientais obtidas anteriormente com planimetrias

(identificação da extensão territorial da ocorrência dos fenômenos), assinaturas (conjunto de

características ambientais que lhe da identidade) e monitorias.

Avaliou-se as diferentes categorias e definiu-se pesos e notas, de acordo com a análise de

cada tópico destacado em relação aos tipos de mapas:

Uso da Terra peso 25 (Mapa 2); Declividade peso 30 (Mapa 4); Geomorfologia peso 20

(Mapa 3); e Solos peso 25 (Mapa 5).

Priorizamos para o cultivo de eucalipto os terrenos mais acidentados e os solos mais pobres

devido à particularidade de renovação dos mesmos para certas utilizações.

No mapa de Uso da Terra (peso 25), procuramos bloquear áreas fora de análise, limites da

Zona da Mata, a Floresta Atlântica (área de Proteção Ambiental, protegida pela Lei nº 11.428 de

dezembro de 2006, a Lei da Mata Atlântica) e a expressão do cerrado - Campo Rupestre de Altitude,

localizado em áreas serranas de altitudes elevadas, superiores aos 1000 m, no caso da Mata, na Serra

da Mantiqueira.

Para as outras expressões do Cerrado da Mata como a Capoeira (por já ser uma área

bastante expressiva e desmatada com destino principal para cultivo) foi dado nota 8. O Campo Cerrado

recebeu nota 7 (por sua pouca representação no mapa analisado e pelo tipo de vegetação e uso).

A Agropecuária recebeu nota 8, por ser a maior faixa territorial no mapa e de acordo com a

associação com outros mapas o solo que abrange a área é bastante degradado devido a sua grande

utilização para pastagens e cultivos.

No mapa de Declividade (peso 30), as áreas com declividades superiores a 100% (Áreas de

Preservação Permanente-APP); áreas estratégicas e frágeis para conservação ambiental (Resolução nº

303, de 20 de março de 2002); áreas fora de análise; e limites da Zona da Mata foram bloqueadas. As

declividades entre 0-10% receberam nota 5 pela pouca representatividade e pouca influência na

análise. Declividades entre 10-20% tiveram nota 6 por já serem áreas de elevações significativas.

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Declividades entre 20-50% obtiveram nota 7 devido às inclinações serem bastante significativas. Por

fim, pelas melhores condições para a nossa análise, declividades entre 50-100% receberam nota 8.

Quanto ao mapa de Geomorfologia (peso 20), as depressões do Rio Doce e Rio Paraíba,

receberam nota 5 de forma que privilegiasse a hidrografia do local. Pelo seu caráter muito íngreme, a

Escarpa de Linha de Falha recebeu nota 7. Também pela sua pouca relevância no mapa e por ser uma

área que preserva algumas nascentes de rios, o Quadrilátero Ferrífero recebeu nota 5. Linha de Crista,

Serra da Mantiqueira, Área fora de análise e limites da Zona da Mata foram bloqueada. Os dois

primeiros pela presença de APPs e por serem áreas de especificações erosivas. Escarpa Erosiva,

Planaltos Dissecados (área boa para o plantio), receberam, respectivamente, notas 6 e 8.

O mapa de Solos (peso 25), as áreas com afloramento de rochas foram bloqueadas devido a

suas peculiaridades e também por representarem APP de acordo com o Código Florestal. Os solos

Podzólico Vermelho-Escuro Distrófico e Vermelho-Escuro Eutrófico receberam nota 9, devido à baixa

qualidade do solo e também baixa saturação (solos bastantes pobres). O Podzólico Vermelho-Amarelo

recebeu nota 4 por ser ótimo para cultivo de pastagem. Os solos Litólicos Eutróficos e Alicos foram

bloqueados por serem solos bastante rasos, constituídos de horizonte ‘A’ e horizonte ‘c’ (rocha viva

e/ou alterada). Para manter a cobertura vegetal próximo de rios, para não modificar a qualidade da

água, procuramos bloquear os solos Aluviais Eutróficos (solos que ocorrem nas mediações de rios).

Pelo alto teor de matéria orgânica os solos Cambissolo Distrófico e Alico receberam nota 5. O

Latossolo Vermelho-Amarelo Húmico e Latossolo Vermelho-Amarelo Alico, receberam,

respectivamente, notas 8 e 7, devido as suas ofertas de matéria orgânica. O Latossolo Vermelho-

Amarelo recebeu nota 6 por ser encontradas, principalmente, em áreas de planaltos dissecados. Por ser

uma susceptível à erosão, o Latossolo Vermelho-Escuro Distrófico recebeu nota 9. Como nos outros

mapas, áreas fora de análise e limites da zona da mata foram bloqueadas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Após densas análises e discussões, um novo mapa da Zona da Mata foi produzido – Zona

da Mata: Potencial para o cultivo de Eucalipto (Mapa 6).

As áreas potenciais para o cultivo de Eucalipto foram classificadas de baixo a altíssimo

potencial. Dentre os extremos, têm-se as áreas de médio potencial e alto potencial. As áreas de baixo

potencial – cor creme no mapa – aparecem com pouca expressividade, sendo essas mais destacadas no

centro da Mata. As áreas de médio potencial e alto potencial – respectivamente, cor amarela e laranja –

aparecem em expressivas quantidades espalhadas por toda a Mata. Porém, há uma grande

concentração de áreas de médio potencial na Microrregião de Juiz de Fora (sudeste). Também há

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concentração de áreas de alto potencial na porções sudoeste, norte e nordeste da Mata. As poucas

manchas vermelhas que podem ser vistas, também concentradas na porção norte-nordeste, representam

as áreas de altíssimo potencial para o cultivo de eucalipto. Devido às dimensões da Região, estas áreas

estão relativamente próximas ao Pólo Moveleiro de Ubá.

Os resquícios de Mata Atlântica (Floresta Atlântica) podem ser visualizados pelas manchas

verdes espalhadas por toda a Mata. Na porção norte percebe-se a ausência desta Mata nativa, fato este

ligado ao desbravamento dos Sertões Proibidos, como era denominada a Mata no século XVIII:

No século XVIII, a Zona da Mata [...] era coberta por densas matas, também denominada de Sertões Proibidos pelas autoridades da Colônia e da Capitania que a considerava uma defesa natural contra o contrabando do ouro. [...] Com a decadência do ciclo do ouro na segunda metade do século XVIII, a Zona da Mata foi sendo invadida pelos mineradores e comerciantes de plantas medicinais (poia) [...]. A partir do início do século XIX, há uma expansão das atividades agropecuárias em substituição às atividades mineradoras [...] A agricultura de exportação baseada no café passou a ser a atividade principal, sendo que o sul de Minas subordinava-se à Mata [...]. A Zona da Mata também produzia feijão, milho, açúcar, fumo, suínos, gado bovino para corte e laticínios para subsistência e exportação para outras regiões do país (ROCHA, 2008, p.15).

A Serra da Mantiqueira aparece na cor cinza, cor que ainda é manchada de verde – Floresta

Atlântica – resguardando um pouco da identidade da Zona da Mata. A Serra é uma importante feição

geomorfológica, escarpa localizada não só em Minas, como também nos estados do Rio de Janeiro e

São Paulo.

As manchas salmão são áreas restritas: áreas de preservação permanente; áreas de proteção

ambiental; afloramentos rochosos; e os solos Litólicos Eutróficos, Litólicos Álicos e Aluviais

Eutróficos, que já foram justificados quanto ao bloqueio nas análises por serem solos rasos e por

conter sedimentos aluviais importantes na manutenção da cobertura vegetal nas margens dos rios.

4 CONCLUSÕES

A presente proposta visou um estudo de aplicação de geoprocessamento à análise

ambiental, identificando possíveis áreas potenciais para o cultivo de eucalipto na Zona da Mata

mineira. Esta cultura poderá ser utilizada por empresas na recuperação de áreas degradas e até mesmo

por pequenos e médios produtores rurais, como fonte de renda complementar, diminuindo a pressão

sobre as poucas matas nativas dentro da busca da sustentabilidade social, econômica e ambiental

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No decorrer da pesquisa, constamos que além da preocupação em encontrar áreas

potenciais para o cultivo de eucalipto, através de análise ambiental por geoprocessamento, percebemos

também uma grande preocupação com a acelerada degradação ambiental da Mata mineira.

O eucalipto, nesse viés, tem sido encarado como uma alternativa a substituição de florestas

nativas, sendo utilizado com o intuito de reflorestar áreas desmatadas. Porém, não seria recomendável

incentivar essa prática, a não ser nos casos das florestas comerciais para produção de madeira, carvão,

celulose, entre outras culturas.

E por isso, num olhar minucioso, pode ser um contra-senso a utilização do eucalipto como

alternativa de reflorestamento de Florestas Nativas. Isto, pelo fato desse tipo de cultura não

corresponder à realidade existente de uma área reflorestada. Com a floresta plantada haverá uma

expressiva mudança da paisagem natural por uma artificial, modificação de fármacos, fitoterápicos,

potencial genético, contato com a natureza e lazer.

Porém, em contrapartida, conforme já destacado durante todo o trabalho, o eucalipto é um

grande aliado em áreas de degradação ambiental pelo uso intenso às atividades agropecuárias, como o

caso da Mata mineira – desertificação, erosão e degradação dos pastos, bastante significativo no

cerrado da Mata. A cultura do eucalipto ajudaria a recompor o solo, contribuindo no processo de

permeabilidade e criação de ambiente mais ameno para instalação de outras espécies. Além da geração

de renda e emprego de forma benéfica.

Portanto, a destinação das áreas de potencial para o cultivo de diversas espécies vegetais,

em especial, o eucalipto, pode ir muito além do simples fato da produção econômica. Ao colaborar na

diminuição da pressão sobre as Florestas Nativas e servir como fonte de renda complementar para os

pequenos e médios produtores rurais, a cultura do eucalipto passa a ser uma aliada na busca da “real”

sustentabilidade do Planeta.

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ANEXOS

Mapa 2: Mapa de cobertura vegetal e uso da terra da Zona da Mata Fonte: Rocha (2008, p.34).

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Mapa 3: Mapa de Geomorfologia da Zona da Mata Fonte: Rocha (2008 p.33).

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Mapa 4: Mapa de Declividade da Zona da Mata Fonte: Rocha (2008, p.32).

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Mapa 5: Mapa pedológico (solos) da Zona da Mata Fonte: Rocha (2008 p. 35).

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7805000:580000 7805000:876000

7541000:580000 7541000:876000 Mapa 6: Mapa do potencial de cultivo do Eucalipto. Fonte: O Autor

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