geopolítica ambiental: reflexões sobre gestão do território e

22
Geopolítica Ambiental: Reflexões Sobre Gestão do Território e Políticas Ambientais do Estado do Amazonas. Ivani Ferreira de Faria (UFAM) Geógrafa, pesquisadora Gestão Territorial e Geoplitica Ambiental [email protected] Resumo Propõe-se com este paper uma reflexão sobre a gestão territorial a partir das políticas públicas ambientais no Estado do Amazonas na perspectiva da ordem ambiental global por meio da análise da criação e implementação das Unidades de Conservação estaduais, da terceirização da gestão das UC´s estaduais que vem permitindo uma nova configuração territorial no Estado a partir da apropriação e controle territorial e dos recursos naturais fundamentados no discurso da conservação e preservação ambiental e sustentabilidade das populações amazônicas e por fim entender da inserção do Estado do Amazonas na ordem ambiental internacional.

Upload: phungkhanh

Post on 07-Jan-2017

214 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Geopolítica Ambiental: Reflexões

Sobre Gestão do Território e Políticas

Ambientais do Estado do Amazonas.

Ivani Ferreira de Faria (UFAM)

Geógrafa, pesquisadora Gestão Territorial e

Geoplitica Ambiental

[email protected]

Resumo

Propõe-se com este paper uma reflexão sobre a gestão

territorial a partir das políticas públicas ambientais no Estado

do Amazonas na perspectiva da ordem ambiental global por

meio da análise da criação e implementação das Unidades

de Conservação estaduais, da terceirização da gestão das

UC´s estaduais que vem permitindo uma nova configuração

territorial no Estado a partir da apropriação e controle

territorial e dos recursos naturais fundamentados no discurso

da conservação e preservação ambiental e sustentabilidade

das populações amazônicas e por fim entender da inserção

do Estado do Amazonas na ordem ambiental internacional.

Introdução

A mundialização da economia no século XX, consegue

ampliar a escala de ação das forças do mercado, ao

estender as teias de apropriação do território (e dos

recursos naturais a ele associados) às “mais antigas

periferias da economia-mundo” (BERTHA BECKER,

2001, p. 135; BECKER 2006, p.24), sobretudo, a

Amazônia.

Com a realização da Conferência da Biosfera e a

Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente

Humano, de 1968 e 1972, respectivamente, a questão

ambiental se mundializa enquanto meio de contraposição

às práticas predatórias do modelo de desenvolvimento

econômico vigente, e proposição de um novo paradigma

de desenvolvimento que fosse aliado a melhoria das

condições de vida e conservação do ambiente, a saber: o

ecodesenvolvimento, definido por Sachs (1986) “como

um desenvolvimento socialmente desejável,

economicamente viável e ecologicamente prudente que

receberia a denominação de desenvolvimento

sustentável no final da década de 80 no relatório “Nosso

Futuro Comum”.

Durante as últimas décadas do século XX as áreas

protegidas vem sendo alvo de dicussões internacionais

por meio de convenções mundiais, como a “Convenção

sobre Diversidade Biológica” e os “Objetivos de

Desenvolvimento do Milênio”, enquanto instrumento

político e ambiental para conservação da biodiversidade

as mesmo tempo como reserva de capital futuro como

forncedoras de serviços de ecossistemas, além de

contribuir para a redução da pobreza através da

propagação de ideais sustentáveis de manejo dos

recursos naturais (LEA SCHERL et al., 2006).

Diante desse contexto, a questão ambiental “irrompe em

escala planetária como nova Ordem Social e Política do

mundo contemporâneo” (GALVÃO, 1990: p.53) forjando

uma pauta política ambiental mundial, com novos

cenários de interpretação, concepção e implementação

de políticas públicas para e no território.

Entende-se que as práticas de planejamento territorial, a

partir da instituição de criação e implementação de áreas

com regimes especiais de proteção apontam novos

horizontes para a conflituosa relação Sociedade-

Natureza, delineando caminhos para a prática da justiça

socioambiental, configrando-se como uma alternativa

para a preservação e conservação da qualidade de vida

na biosfera, contrapondo a lógica do desenvolvimento

econômico urbano-industrial, que a vê sempre como

lugar de prosperidade infinita com recursos naturais

igualmente infinitos, conforme afirma Becker (2001,

2005).

Neste contexto, a região amazônica é interpretada, no

cenário internacional como área prioritária para

preservação – como uma grande unidade de

conservação (BECKER, 2006, 2001), haja vista ser ainda

uma das grandes regiões naturais, relativamente bem

conservada; configurando-se assim, como uma região

composta por uma complexa heterogeneidade de

ecossistemas, ainda não conhecidos pela ciência

moderna; além é claro, de ser o maior reservatório de

água doce do planeta (CONSERVATION

INTERNACIONAL, 2003; MMA, 2007a).

Nota-se a materialização de um planejamento induzido

pelo Estado para a região, que ao contrário daquele do

período de 1960-80, denominado de

“desenvolvimentista”, valoriza a conservação da floresta

em pé, e estimula o desenvolvimento das comunidades

locais que passam a ser agentes de produção do teriit

Nesse processo, o território passa a ser ordenado por

implicações ecológicas (PÁDUA, 2004 apud IRVING e

MATOS et al 2006), reflexo da atuação do movimento

ambientalista transnacional e de um incipiente

ambientalismo nacional, que ao propor alternativas de

gestão do ambiente, também, potencializam diversas

concepções de desenvolvimento endógeno. Assim

sendo, as unidades de conservação, atualmente,

materializam-se como o melhor instrumento para a

conservação da biodiversidade, e promoção do

desenvolvimento local (MMA, 2007; MEDEIROS et al,

2006; CARVALHO, 1967; MITTERMEIER et al, 2005;

RYLANDS et al, 2005).

Neste sentido, com na criação do Parque Nacional de

Itatiaia no Rio de Janeiro, em 1937 nasce a política

nacional de proteção a natureza sob o desenho de

espaços territorialmente protegidos, conhecidas

nacionalmente como unidades de conservação.

Passados pouco mais de setenta anos, o Brasil se

reafirmou no cenário internacional devido a um salto na

constituição de dispositivos que valorizam a conservação

do patrimônio natural nacional.

Consolida-se então, nos últimos anos um novo

entendimento para construção e implementação de

políticas de planejamento do uso e ocupação do território

na Amazônia brasileira. Estas visam à conservação da

biodiversidade de suas florestas, e a instituição de

programas de desenvolvimento sustentável para as

populações locais através da criação de áreas

protegidas, com a finalidade de mitigar os “impactos

físicos, ecológicos, sociais e fundiários” produzidos pelo

modelo econômico vigente principalmente, a partir da

década de 60 (AB’SABER, 2004).

Nesse sentido, a Amazônia passa a ser re-definida em

escala global, nacional e local, enquanto palco de

políticas públicas territoriais, que almejam a

conservação, e utilização sustentável dos seus recursos

naturais (BECKER, 2006).

Assim sendo, observa-se a materialização de uma

cooperação técnica, política e financeira, articulada entre

as esferas do poder público (municipal, estadual e

federal) e organismos multilaterais, objetivando criar e,

consequentemente, ampliar a quantidade de unidades de

conservação na Amazônia brasileira, de maneira

especial com o Programa Áreas Protegidas da Amazônia

– ARPA (RYLANDS, et al. 2005) e o Corredor Ecológico

da Amazônia Central (AYRES, et al., 2005).

Portanto, a partir de tais instrumentos de gestão

ambiental e desenvolvimento regional, o Estado tem

redefinido suas políticas territoriais, ao criar Unidades de

Conservação, notadamente, da categoria de uso

sustentável, conforme o Sistema Nacional de Unidades

de Conservação (SNUC).

Quando a discussão se trata de políticas ambientais na

região amazônica, o Estado do Amazonas sempre

apareceu, até o final do século XX de maneira tímida no

que se refere à criação e implementação de unidades de

conservação, apontado pelos especialistas como

principal instrumento para a preservação da

biodiversidade, e planejamento do uso e apropriação dos

recursos naturais de forma mais equilibrada e

sustentável.

1 – Politicas ambientais e unidades de conservação

no estado do Amazonas.

Políticas ambientais podem ser entendidas como

conjuntos de objetivos prioritários e medidas designadas

para regular as interações dos sistemas sociais com o

meio ambiente biofísico e construído.

O Amazonas atualmente “mantém as maiores áreas

contínuas de florestas tropicais preservadas do mundo”

(MARINELLI et al, 2007), com pequenas taxas de

desmatamento e reconversão do uso do solo em relação

ao percentual total da sua extensão. Com cerca de 2%

da sua cobertura florestal perturbada segundo Viana

(2006), concentrada, particularmente, no sul do estado

onde sofre pressão do avanço da fronteira da soja sob os

campos amazônicos, emergiu recentemente no cenário

nacional e internacional como vanguarda na proteção da

floresta amazônica por meio da ampliação das áreas

legalmente protegidas na região e a institucionalização

de vários mecanismos para a gestão das mesmas.

Em 1989 criou-se o primeiro Parque Estadual, o

PAREST de Nhamundá, e em 1990 foram criadas mais

quatro unidades de conservação, as Áreas de Poteção

Ambiental APA Nhamundá, a APA Caverna do Maruaga,

a Reserva Biológica Morro dos Seis Lagos e o PAREST

Serra do Aracá (BORGES et all., 2007).

Entretanto, entre 1989 e 2002, as políticas públicas

voltadas para as unidades de conservação não

chegaram a passar de meros atos de assinatura dos

decretos de criação, pois, durante este período não

houve a instituição de leis específicas para a temática,

nem a constituição de estruturas no aparelho estatal que

possibilitassem o aproveitamento da função social e

ecológica destas unidades de conservação.

No período entre 2003 a 2009, foi marcado pela

consolidação de uma política ambiental estadual,

predominando as unidades de conservação como forma

de minimizar os impactos ambientais advindos dos

projetos econômicos, além dos conflitos pelo uso e

ocupação do solo e das águas e dos recursos naturais a

eles associados, diante dos problemas ambientais.

Com o discurso de “proteger nossas florestas e

assegurar que elas cumpram sua função social”

(AMAZONAS, 2007a, p. 11) o atual Governo do Estado

do Amazonas incorporou o discurso do desenvolvimento

sustentável aliado ao maior patrimônio do seu território, a

floresta, visando à conservação e manejo da

biodiversidade amazônica, enquanto instrumento de

ordenamento e gestão territorial e começa a agir na

criação de políticas ambientais voltadas para a

conservação.

Em 2003, cria o Programa Zona Franca Verde (PZFV)

visando a promoção da melhoria da qualidade de vida da

população do interior e a conservação da natureza –

Sistemas de produção sustentável e promoção do

etnodesenvolvimento. Em 2003-2004, o Programa de

Criação e Implementação de Unidades de Conservação

que tem como objetivo a realização de estudos e ações

estratégicas que permitam a criação de novas unidades

de conservação e a implementação daquelas já

existentes.

Nesse sentido, foram instituídas nestes últimos sete

anos, vinte e nove (29) unidades de conservação

estaduais, passando de uma área de pouco mais de 7

milhões de hectares para aproximadamente 18,9 milhões

de hectares atualmente (Figura 01), ampliando

consideravelmente a área legalmente protegida do

estado.

Observa-se abaixo, o aumento das UC´s estaduais

ocorridos nos últimos anos, 12 UC’s entre 1989 a 2002 e

29 UC’s de 2002 a 2009 totalizando 41 Unidades de

Conservação, sendo 9 na catergoria de Proteção

Integral e 32 de Uso Sustentável.

Figura 01: Ampliação das Áreas protegidas no Estado do

Amazonas. Fonte: CEUC/SDS, 2010

Borges et al (2007) relata que o processo de criação de

unidades de conservação na Amazônia brasileira foi mais

intensivo a partir do ano de 2000, mantendo-se a

tendência da década de 90, pela dominância das

categorias de uso sustentável.

Já quanto ao Amazonas observa-se um quadro bastante

parecido, com uma constante disparidade entre os anos

de 2002 – 2009, com a criação de 19 unidades de uso

sustentável, para apenas 3 de proteção integral, sempre

com ênfase para as RDS e PAREST, respectivamente,

reflexo de uma proposta ideológica de uma política de

planejamento territorial e gestão socioambiental

fundamentado no desenvolvimento sustentável aliado a

conservação da integridade ambiental da região (figura

2).

Amp l ia çã o da s Áre a s Pro te gi d a s

20 07/2008

2006 2005 2004 2003

1 5.2 33 .61 61 6 .1 0 6.3 44

16 .68 6 .3 64

7.32 8 .6 6 2

A té 2002

1 1.4 70 .53 011 .89 4.9 60

2009

1 8 .9 7 0 .4 4 7

1 9

31

3 3

35

41

F o n te : CEUC -2 01 0

1218

Figura 2 – Terriorialização das Unidades de Conservação no Estado do Amazonas.

Fonte: CEUC/SDS, 2009.

Objetivando embasar e fortalecer institucionalmente sua

política de unidades de conservação, o Estado do

Amazonas regulamentou em junho de 2007, a Lei

Complementar n° 53/2007 que regulamenta o inciso V do

artigo 230 e o § 1° do artigo 231 da Constituição que

instituiu o Sistema Estadual de Unidades de

Conservação – SEUC (AMAZONAS, 2008b), e a Lei n°

3135/2007 sobre Mudanças Climáticas, Conservação

Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas

(AMAZONAS, 2008), com instrumentos legais cujo

discurso está voltado à conservação e desenvolvimento

regional, a eqüidade social com melhoria das condições

de vida das populações, em especial dos povos

tradicionais fundamentado no ambientalismo e na política

do ecodesenvolvimento.

Da Zona Franca de Manaus, símbolo da industrialização

e do capitalismo fabril, inverte-se para a era da

sustentabilidade ambiental, vislumbrando a exploração

das potencialidades que advém da maior floresta tropical

úmida do planeta, exatamente como já havia destacado

Mary Allegreti (1994) quando elencou os possíveis

caminhos para se desenvolver e preservar a região

amazônica, valorizando sua gente e sua riqueza

biológica.

Neste contexto Ribeiro (2005) afirma que vivencia-se

atualmente uma Ordem Ambiental Internacional, na qual

determinados discursos e instrumentos ambientalistas,

como exemplo as convenções ambientais mundiais, são

apropriados pelo capitalismo, logo, investidos como

mercadorias (BECKER, 2006) mercadorias fictícias,

como o caso dos serviços ambientais da floresta, ou

seja, segundo Ribeiro (2005) defronta-se com a

emergência do ecocapitalismo.

Observa-se que esta nova política de ordenar e gerir o

território no estado do Amazonas, através de unidades

de conservação, representa na sua essência um outro

caminho a ser consumado via apropriação do território,

ou seja, através do ambiente e da valorização da

diversidade biológica (MEDEIROS et. al., 2004).

Nesta perspectiva, o governo do estado do Amazonas

assegurado pela imagem de ser o estado da Amazônia

brasileira a possuir a maior extensão contínua de

florestas preservadas, pretende implantar um projeto

geopolítico de ordenamento teriitorial a partir das

políticas ambientalistas, que visam a partir de técnicas de

“manejo sustentável” explorar os recursos naturais com o

consentimento das agências multilaterais, enquanto se

projeta no cenário internacional como protetor da floresta

e dos guardiões da floresta, a população tradicional e

amazônida.

Essa concepção se evidencia pela constante escolha de

criação de unidades de conservação na categoria RDS,

conforme nota-se nos dados expostos acima, ou seja,

num contexto que o termo desenvolvimento sustentável

difundi-se na nova ordem mundial, sendo incorporado

pelas entidades multilaterais e convenções mundiais

como imprescindível para a aprovação de programas e

projetos de desenvolvimento, o estado exatamente

prioriza aquela que filosoficamente promove no seu

nome esse ideário.

Mesmo diante deste cenário, observa-se que ainda hoje

muitas destas unidades encontram-se, sem o mínimo de

instrumentos para execução do seu planejamento, e

proteção como por exemploa elaboração do plano de

manejo, estabelecimento de um conselho gestor,

ausência de parcerias financeiras/científicas (figura 03 e

04).

Figura 03- Planos de Gestão nas Unidades de Cosnervação Estaduais. Fonte: CEUC/2009

Na visão das institruições governamentais e não

governamentais o Plano de Gestão não passa é um

documento formal que compila as informações e os

resultados desse processo de planejamento. A partir de

então, os processos de execução, avaliação e introdução

dos ajustes necessários se sucedem no ciclo de gestão

da unidade. Assim, fica claro que no processo de

planejamento são importantes algumas etapas, a serem

consideradas em diferentes momentos, para verificar e

reorientar as ações na busca dos resultados desejados.

Planos de Gestão das UC Estaduais do Amazonas

PG Publicado 20

Em elaboração 18

Em análise 3

TOTAL 41

Figura 04 – Unidades de Conservação Estaduais com planos de Gestão. Fonte: CEUC/2010.

2 - Atuação das Organizações não Governamentais

em Unidades de Conservação

Nos últimos anos tornou-se cada vez mais notório a

presença das organizações não governamentais

principalmente relacionadas as questão ambientais, na

configuração de forças políticas na Amazônia brasileira e

em especial no Amazonas, onde o discurso da

sustentabilidade e da escassez de recursos financeiros

por parte do governo do estado, para gerenciar, fiscalizar

e proteger este patrimônio possibilitando cada vez o

controle do território e de terras públicas pelo terceiro

setor ao mesmo tempo em que o Estado se retiradeste

processo de gestão.

Para cada Unidade de Conservação criada no estado do

Amazonas, cria-se uma também uma ONG, em sua

maioria denominada de Instituto, como Instituto

Mamirauá, gestor da RDS de Mamirauá; Instituto

Piagassu, gestor da RDS Piagassu-Purus; IDESAM,

gestor da RDS Uatumã e outras como a RDS do Xixuau

que está sendo criada onde existe uma disputa entre

ONG´s para realizar a gestão da mesma. Das 41

unidades de conservação existentes 12, tem ONG’s

como co-gestoras (figura 5).

UC’s ONG’s co-gestoras

1 - RDS do Juma Fundação Amazonas Sustentável -FAS

2 - PAREST da Serra do Aracá Fundação Vitória Amazônica- FVA 3 - PAREST do Rio Negro- setor Norte Fundação Vitória Amazônica - FVA 4 - PAREST do Rio Negro - Setor Sul

Instituto de Pesquisa Ecológica -IPÊ

5 - APA da ME do Rio Negro -Setor Aturiá/Apauazinho

Instituto de Pesquisa Ecológica -IPÊ

6 - RDS Amanã Mamirauá

7 - RDS do Uatumã

Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas- IDESAM

8 - RDS Piagaçu - Purus Instituto Piagaçu 9 - RDS Cujubim Conservação Internacional 10 - RDS Mamirauá Instituto Mamirauá 11 - APA da MD do Rio Negro -Setor Paduari/Solimões Fundação Vitória Amazônica- FVA

12 - RDS do Rio Negro Fundação Amazonas Sustentável -FAS

Figura 05 – Territorilização de ONG’s nas UC’s do Estado do Amazonas. Fonte: Grupo de Pesquisa Gestão do Território na Amazonia, 2010.Org. MARQUES, Jenifer; PEREIRA, Sandra, 2010

Assim as políticas públicas ambientais estaduais estão

sendo implantadas com o discurso da sustentabilidade

ambiental no qual se observa a conformação do vetor

técnico-ecológico como modelo de reorganização do

controle do uso e ocupação do território estadual

(BECKER, 1996; 2001; 2005) e dos recursos naturais via

serviços ambientais diante da ordem ambiental

internacional como mecanismo para a apropriação e

mercantilização da natureza pelo capital.

Segundo Boff (2004) o desenvolvimento sustentável é

uma armadilha do ecocapitalismo para apropriar-se do

discurso ecológico e esvaziá-lo, porque são duas

palavras que se contradizem.

Consideraçoes Finais

Neste sentido, é fundamental no atual contexto do

sistema mundo em que se insere a sociedade

contemporânea e suas relações dialéticas e dialógicas

frente aos desafios ambientais postos pela apropriação e

uso dos recursos naturais pelo sistema econômico

vigente, mesmo na sua versão “verde”, denominada de

ecocapitalismo, analisar o reordenamento e as novas

configurações territoriais, porque não dizer novos

territórios produzidos e construídos agora pela lógica e

segurança ambiental global.

Uma nova Divisão Internacional do Trabalho está se

construindo. Novos ordenamentos territoriais vem se

moldando onde há uma mudança de paradigma do

controle territorial pelo capital pautado na hierarquização

e segregação socioespacial da produção industrial e

mesmo no conhecimento científico e tecnológico e do

Estado Nacional, fundamrntado no estado de direito e na

soberania, para outros, agora sob a roupagem

supostamente mais humanista e ecológica preocupada

com a segurança ambiental global.

Os Estados Nacionais do primeiro mundo, mermbros do

G8 e do G20, na sua maioria não abrem mão da sua

soberania em prol da ordem ambiental mas de certa

forma, fazem com que os demais o façam a exemplo do

caso da Guiana que deixou a sua soberania em

segundo plano concedendo um agrande parte de seu

território para ONG´s internacionais que possam

implantar projetos de gestão visando a conservação

ambiental e sustentabilidade das populações que lá

vivem, atestando uma falência estatal e falta de

condições para cuidar de forma adequada de seus

recursos naturais e bem-estar de seu povo.

Entendemos que o vetor técno ecológico apresentado

por Becker para o controle territorial e apropriação dos

recursos da Amazônia, aparece hoje com mais um

componente, fundamentado pela segurança ambiental

que poderá desencadear em um futuro próximo uma

nova DIT, uma ordem política internacional com

configurações espaciais e territoriais que serão

estabelecidos por critérios ambientais de conservação,

preservação e sustentabilidade como sofisma, tanto pelo

Estado Nacional ou o capital, para justificar o que é

secular no sistema mundo, a exploração e a supremacia

de alguns Estados Nacionais em detrimento de outros.

Em um segundo momento salienta-se que, com as

RDS’s constrói-se o sofisma de promover a conservação

da floresta amazônica, enquanto cria-se mecanismos

que viabilizam a exploração dos seus recursos naturais,

pois, esta categoria permite a inserção de entidades que

visam explorar as potencialidades da natureza, como o

caso das agências turísticas, e de exploração de madeira

com algumas experiências do não retorno de benefícios

à população local.

Estas políticas públicas de conservação da

biodiversidade podem se tornar um mero instrumento

para consolidação da mercantilização da natureza na

principal fronteira do capital natural, enquanto em muitos

casos a população local ou tradicional são incorporadas

no planejamento da gestão das unidades de

conservação como mão-de-obra essencial no

empreendimento capitalista.

E por fim, a Amazônia é alvo destes interesses

internacionais tanto para conservação e preservação

conforme o conceito de ecodesenvolvimento proposto

por Sacks quanto para a especulação e apropriação não

só por Estados Nacionais bem como por organizações

multilaterais e ONG´s onde o estado do Amazonas vem

se destacando.

Referências Bibliográficas

AYRES, José Márcio. et al. Os corredores ecológicos

das florestas tropicais do Brasil. Belém: Sociedade Civil

Mamirauá, 2005.

ALLEGRETTI, Mary H. Reservas Extrativistas:

Parâmetros para uma Política de Desenvolvimento

Sustentável na Amazônia. Rio de Janeiro: Revista

Brasileira de Geografia, 54 (1): Jan/Marc, 1992, p. 5-23.

AB’SABER, Aziz N. Amazônia: Do discurso à Práxis. 2ª

ed. São Paulo: EDUSP, 2004.

BECKER, Bertha. Revisão da Políticas de Ocupação da

Amazônia: é possível identificar modelos para projetar

cenários?. In: Revista Parcerias Estratégicas, n° 12,

setembro, 2001, p. 135-158.

_______.Amazônia: geopolítica na virada do III milênio.

2º ed. Rio de Janeiro: Garamond: 2006.

BORGES, Sérgio H. et al. Uma Análise Geopolítica do

Atual Sistema de Unidades de Conservação na

Amazônia Brasileira. Belo Horizonte: Política Ambiental,

n° 4, agosto, 2007, p.3-42.

IRVING, Marta de Azevedo e MATOS, Karla. Gestão de

Parques Nacionais no Brasil: Projetando Desafios para

a Implementação do Plano de Nacional Estratégico de

Áreas Protegidas. Revista Floresta e Ambiente, V13,

N°2, 2006, p.89-96.

MEDEIROS, Rodrigo. Evolução das Tipologias e

Categorias de Áreas Protegidas no Brasil. In: Ambiente

e Sociedade: Vol. 9 n° 1 jan/jun. 2006

MEDEIROS, Rodrigo et al. A Proteção da Natureza no

Brasil: evolução e conflitos de um modelo em

construção.RDE. Revista de Desenvolvimento

Econômico, n° V, ano VI, no. 9, 2004, p. 83-93.

____. Áreas Protegidas no Brasil: Interpretando o

Contexto Histórico para Pensar a Inclusão Social. In:

Irving, Marta de Azevedo (org.). Áreas Protegidas e

Inclusão Social: Construindo Novos Significados. Rio de

Janeiro: Aquarius, 2006, p. 15-40.

MITTERMEIER, Russel, et al. Uma Breve História da

Biodiversidade no Brasil. Megadiversidade, Vol. 1, n° 1,

julho, 2005, p.14-21.

RIBEIRO, Wagner Costa. A ordem ambiental

internacional. São Paulo: Contexto, 2005.

RYLANDS, Anthony e Brandon, Katrina. Unidades de

Conservação Brasileira. Megadiversidade, Vol. 1, n° 1,

julho, 2005, p.28-35.

SACHS, Ignacy. Ecodesenvolvimento: Crescer Sem

Destruir. São Paulo: Vértice, 1986.

SCHERL, Lea M. et al. As áreas protegidas podem

contribuir para a redução da pobreza? Oportunidades e

limitações Gland, Suíça e Cambridge, Reino Unido:

IUCN: 2006.