genotipagem da raça nelore permite o desenvolvimento da cadeia da carne bovina brasileira

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Para uso exclusivo em pesquisa. Não deve ser usado para procedimentos de diagnóstico. June 2016 Introdução Em 1868, um navio que seguia com destino à Inglaterra ancorou em Salvador para se abastecer de provisões, e de sua rampa desceram os primeiros exemplares de Nelore a pisar na região. Com seus grandes e icônicos cupins e resistência a climas quentes e secos, não demorou muito para que fazendeiros começassem a lucrar com a adaptabilidade da raça no Brasil. Avance no tempo para 1996, quando um grupo de pesquisadores e pecuaristas formaram a Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP)¹ com o objetivo de estabelecer um programa adequado de melhoramento para o Nelore. Vinte anos depois, o grupo se vale de uma base de referência com 2.2 milhões de animais, usando o avançado Clarifide 2.0 beadchip² da Zoetis – baseado no Infinium ® BovineBeadChip³ - para alcançar suas metas de seleção genômica. A ANCP é liderada por Raysildo B. Lôbo, PhD, um especialista na raça Nelore que vem conduzindo o programa desde sua concepção. Ele tem a missão de encontrar caminhos para continuar aprimorando o processo de melhoramento genético para os criadores de Nelore através da identificação de características reprodutivas e de carcaça em animais jovens. Descobrindo os genótipos de jovens candidatos a reprodutores e matrizes, criadores economizam um tempo precioso e aumentam a eficiência produtiva e a viabilidade econômica de seus rebanhos. O iCommunity conversou com Dr. Lôbo para entender como os criadores estão se beneficiando com esta forma relativamente nova de compartilhamento de informações no país e que lições aprenderam enquanto promoviam a viabilidade do Nelore e a qualidade da carne brasileira pelo mundo. P: Quando, como e por que foi criada a ANCP? Raysildo B. Lôbo (RBL): A Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores, abreviada como ANCP, foi criada em 1996 por um grupo de pesquisadores e pecuaristas. É uma associação sem fins lucrativos que tem a missão de realizar pesquisas avançadas e estabelecer o programa de melhoramento genético para a raça nelore no Brasil, assim como para as raças Guzerá, Brahman e Tabapuã. Outros objetivos iniciais eram promover práticas de seleção otimizadas e a transferência de conhecimento e tecnologia para os criadores. P: Qual é a história da raça Nelore? RBL: O Nelore chegou ao Brasil inicialmente em 1868 quando um navio cargueiro originalmente seguindo para a Inglaterra, ancorou em Salvador com um casal de exemplares da raça. Os animais foram negociados e permaneceram no país. Dez anos depois, Dr. Manoel Lemgruber, um alemão que vivia no Brasil, viu alguns Nelores em um zoológico em Hamburgo e decidiu comprar uma parelha e importá-los para o Brasil. Enquanto as importações de Nelore foram acontecendo, a Brachiaria, uma gramínea importada da África, também começou a tomar conta do país. Gradualmente e simbioticamente, as duas espécies se espalharam pelo território brasileiro – primeiro no Rio de Janeiro e em seguida em São Paulo e Minas Gerais. As duas últimas importações significativass de reprodutores Nelore chegaram entre 1960 e 1962. Hoje, estimamos que o Brasil possui um rebanho de mais de 200 milhões de cabeças de gado de corte e leite criados a pasto, dos quais 80% são Nelore ou anelorado. Genotipagem da Raça Nelore Permite o Desenvolvimento da Cadeia da Carne Bovina Brasileira A Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP) está acelerando o processo de evolução para melhorar a raça Nelore e promover o crescimento da economia brasileira. Dr. Raysildo B. Lôbo é Presidente da ANCP, que tem sede em Ribeirão Preto, SP, Brasil. Ele pode ser contactado através do email [email protected]. O Brasil possui o maior rebanho de Nelore, que possui um distintivo cupim e é reconhecido por sua rusticidade, fertilidade e longevidade. Foto cortesia de Zzn Peres e Beabisa Agropecuária

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Para uso exclusivo em pesquisa. Não deve ser usado para procedimentos de diagnóstico.

June 2016

IntroduçãoEm 1868, um navio que seguia com destino à Inglaterra ancorou em Salvador para se abastecer de provisões, e de sua rampa desceram os primeiros exemplares de Nelore a pisar na região. Com seus grandes e icônicos cupins e resistência a climas quentes e secos, não demorou muito para que fazendeiros começassem a lucrar com a adaptabilidade da raça no Brasil. Avance no tempo para 1996, quando um grupo de pesquisadores e pecuaristas formaram a Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP)¹ com o objetivo de estabelecer um programa adequado de melhoramento para o Nelore. Vinte anos depois, o grupo se vale de uma base de referência com 2.2 milhões de animais, usando o avançado Clarifide 2.0 beadchip² da Zoetis – baseado no Infinium® BovineBeadChip³ - para alcançar suas metas de seleção genômica.

A ANCP é liderada por Raysildo B. Lôbo, PhD, um especialista na raça Nelore que vem conduzindo o programa desde sua concepção. Ele tem a missão de encontrar caminhos para continuar aprimorando o processo de melhoramento genético para os criadores de Nelore através da identificação de características reprodutivas e de carcaça em animais jovens. Descobrindo os genótipos de jovens candidatos a reprodutores e matrizes, criadores economizam um tempo precioso e aumentam a eficiência produtiva e a viabilidade econômica de seus rebanhos.

O iCommunity conversou com Dr. Lôbo para entender como os criadores estão se beneficiando com esta forma relativamente nova de compartilhamento de informações no país e que lições aprenderam enquanto promoviam a viabilidade do Nelore e a qualidade da carne brasileira pelo mundo.

P: Quando, como e por que foi criada a ANCP?Raysildo B. Lôbo (RBL): A Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores, abreviada como ANCP, foi criada em 1996 por um grupo de pesquisadores e pecuaristas. É uma associação sem fins lucrativos que tem a missão de realizar pesquisas avançadas e estabelecer o programa de melhoramento genético para a raça nelore no Brasil, assim como para as raças Guzerá, Brahman e Tabapuã. Outros objetivos iniciais eram promover práticas de seleção otimizadas e a transferência de conhecimento e tecnologia para os criadores.

P: Qual é a história da raça Nelore?RBL: O Nelore chegou ao Brasil inicialmente em 1868 quando um navio cargueiro originalmente seguindo para a Inglaterra, ancorou em Salvador com um casal de exemplares da raça. Os animais foram negociados e permaneceram no país. Dez anos depois, Dr. Manoel Lemgruber, um alemão que vivia no Brasil, viu alguns Nelores em um zoológico em Hamburgo e decidiu comprar uma parelha e importá-los para o Brasil. Enquanto as importações de Nelore foram acontecendo, a Brachiaria, uma gramínea importada da África, também começou a tomar conta do país. Gradualmente e simbioticamente, as duas espécies se espalharam pelo território brasileiro – primeiro no Rio de Janeiro e em seguida em São Paulo e Minas Gerais. As duas últimas importações significativass de reprodutores Nelore chegaram entre 1960 e 1962. Hoje, estimamos que o Brasil possui um rebanho de mais de 200 milhões de cabeças de gado de corte e leite criados a pasto, dos quais 80% são Nelore ou anelorado.

Genotipagem da Raça Nelore Permite o Desenvolvimento da Cadeia da Carne Bovina BrasileiraA Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP) está acelerando o processo de evolução para melhorar a raça Nelore e promover o crescimento da economia brasileira.

Dr. Raysildo B. Lôbo é Presidente da ANCP, que tem sede em Ribeirão Preto, SP, Brasil. Ele pode ser contactado através do email [email protected].

O Brasil possui o maior rebanho de Nelore, que possui um distintivo cupim e é reconhecido por sua rusticidade, fertilidade e longevidade.

Foto cortesia de Zzn Peres e Beabisa Agropecuária

Para uso exclusivo em pesquisa. Não deve ser usado para procedimentos de diagnóstico.

June 2016

P: Que características o Nelore possui que são únicas à raça?RBL: A raça Nelore é drasticamente diferente de outros bovinos, como Angus ou Holandês. Ela possui alto nível de rusticidade e resistência a endo e ecto parasitas. Sendo originada do gado Ongole (Bos indicus), o Nelore apresenta um cupim proeminente sobre seus ombros e é muito adaptado aos climas tropicais. Possui longevidade superior, instinto materno muito forte e ainda exige poucos cuidados veterinários durante o parto. São criados principalmente a pasto, podendo em alguns casos ser terminados em confinamento, geralmente por 90 dias, para acelerar o ganho de peso e terminação de carcaça.

P: Como era realizado o melhoramento da raça Nelore antes de existirem programas de melhoramento genético no Brasil?RBL: O melhoramento genético do gado de corte no Brasil antes de 1980 era muito limitado e focado principalmente em ganho de peso. Havia apenas algumas iniciativas independentes focadas em desenvolver características importantes como habilidade materna, crescimento, fertilidade e tamanho de carcaça. Em 1995, a publicação do primeiro sumário de touros usando a metodologia BLUP (Best Linear Unbiased Prediction) foi o ponto de partida para o início do uso da seleção na raça Nelore no Brasil.

“A ANCP começou a incluir informações genômicas na avaliação genética da raça Nelore no Brasil em 2011.”

P: Como a raça evoluiu desde a criação da ANCP?RBL: No início dos anos 2000, os criadores começaram a aceitar a idéia do uso das informações de avaliação genética oferecidas pela ANCP. Agora já publicamos avaliações genômicas seis vezes por ano para um total de 27 DEPs (Diferença Esperada na Progênie) Genômicas das seguintes características: precocidade sexual e de acabamento, habilidade materna, peso à desmama, peso aos 365 e 450 dias, peso adulto, circunferência escrotal, stayability, marmoreio, peso da carcaça quente, acabamento de carcaça, área de olho de lombo medida por ultrassonografia, e características morfológicas obtidas por avaliação visual. O ganho genético que temos visto nos últimos 25 anos é consistentemente moderado a alto em todas as características acima.

P: Quando você ouviu falar sobre testes de mérito genético, e o que o fez decidir a usá-los?RBL: Eu ouvi falar sobre a incorporação de marcadores moleculares nas avaliações genéticas pela primeira vez no começo dos anos 2000 em conferências internacionais. Como os marcadores moleculares manipulam o material genético sem ser influenciados pelo ambiente, são uma informação valiosa para aumentarmos a acurácia na avaliação genética. Além disso, também permitem a inclusão de fontes genéticas importantes nos modelos utilizados.

A ANCP começou a incluir informações genômicas na avaliação genética da raça Nelore no Brasil em 2011. Em parceria com a Zoetis, nós lançamos a primeira DEP genômica no Brasil. O chip inicial era de 0.2K imputado de 50K, com tecnologia da Illumina. Depois de dois anos de pesquisas, chegamos ao chip de 12K, que então evoluiu para 17K em 2015. O modelo que usamos atualmente é produzido pela Zoetis como Clarifide 2.0.

P: Como foi estabelecida a parceria com a Zoetis?RBL: Em dezembro de 2008, a Pfizer Saúde Animal nos convidou a participar de uma reunião para examinar a possibilidade de desenvolver um marcador genético para o Nelore. Depois disso, nos três anos subsequentes o Centro Técnico de Avaliação Genética (CTAG) trabalhou em conjunto com a equipe de desenvolvimento da Pfizer para lançar o Clarifide.

O valor desta parceria para a ANCP está no fato de que precisamos ter acesso a avaliações genéticas mais confiáveis para os nossos criadores. Podemos usar este material para aumentar o ganho genético e a lucratividade.

P: Você tem conhecimento de que o Clarifide é baseado na tecnologia da Illumina?RBL: Sim, nós temos! Enquanto muitos pecuaristas podem não saber de todos os detalhes por trás do desenvolvimento do Clarifide, acredito que muitos membros de nossa diretoria e associados têm conhecimento sobre a Illumina.

P: Qual é a maior vantagem que a genômica trouxe para a ANCP e os rebanhos que participam de seu programa?RBL: Com a genômica, a ANCP tem a capacidade de manter os criadores brasileiros à frente no uso de novas tecnologias. Em segundo lugar, o aumento na acurácia de jovens animais quando comparada às DEPs tradicionais é inacreditavelmente valioso. Nós também nos beneficiamos da possibilidade de identificar características de baixa herdabilidade, como as reprodutivas e de habilidade materna.

P: Considerando que características diferentes são passadas através das linhas paternas e maternas, como a genotipagem de touros e matrizes ajuda a produzir melhores progênies?RBL: Com a ferramenta genômica, é possível saber os alelos exatos que a progênie recebe de seus pais. Com isso podemos então selecionar a progênie com a melhor combinação de alelos.

“Com a genômica, a ANCP tem a capacidade de manter os criadores brasileiros à frente no uso de novas tecnologias.”

P: Quais características estão sendo melhoradas mais eficientemente com o uso da genômica?RBL: O maior benefício que temos com a seleção genômica é nas características de baixa herdabilidade, onde o ganho genético através da seleção tradicional é pequeno, bem como em características que são difíceis ou não tão fáceis de se acessar. As primeiras incluem as características de reprodução e maternais como idade ao primeiro parto, e as últimas estão relacionadas com qualidades como eficiência alimentar, qualidade de carne e de carcaça. Ser capazes de selecionar para estas características é altamente benéfico pelo fato de que as características reprodutivas têm grande importância no Índice de Seleção Bioeconômico (MGTe) da ANCP.

Para uso exclusivo em pesquisa. Não deve ser usado para procedimentos de diagnóstico.

June 2016

P: Como a genotipagem contribui para manter a diversidade genética necessária quando selecionamos animais para características similares?RBL: Através da genotipagem, podemos estimar a proporção final de alelos que dois animais compartilham, basicamente, saber a relação genômica entre eles. Assim, é possível obter estimativas mais precisas de parentesco e controlar melhor a consanguinidade (por exemplo, nos acasalamentos dirigidos) para manter a diversidade genética nas gerações futuras.

Eficiência alimentar, bem como qualidade de carne e características de carcaça conduzirão a raça Nelore no futuro. Controlando a eficiência alimentar, permitiremos que os criadores reduzam o impacto da produção animal ao meio ambiente e ainda aumentem a lucratividade da produção de carne. Os pecuaristas brasileiros também estão muito preocupados com a questão da sustentabilidade relacionada a criação de gado, buscando maneiras de aumentar a performance sem monopolizar o uso dos recursos naturais. Ter habilidade de selecionar para características que nos ajudarão a alcançar estes objetivos é fundamental.

“O maior benefício que temos com a seleção genômica é nas características de baixa herdabilidade, onde o ganho genético através da seleção tradicional é pequeno, bem como em características que são difíceis ou não tão fáceis de se acessar.”

P: O que são diferenças esperadas na progênie (DEPs), e como entender o seu valor possibilita que os criadores melhorem a qualidade de seus rebanhos?RBL: As DEPs nos permitem identificar animais que possuem maior capacidade ou mérito para transferir sua superioridade à sua progênie. Dessa maneira podemos obter animais melhores na geração seguinte.

Tanto o uso da genômica quanto da FIV e do ultrassom tiveram um grande impacto no melhoramento genético com relação ao mérito de carcaça e das DEPs. Podemos aumentar a acurácia de seleção nos animais jovens, por exemplo, e em características com baixa quantidade de dados que são difíceis de mensurar, como as características de carcaça. Em outras palavras, a FIV permite que os criadores usem animais jovens identificados como tendo alto mérito de carcaça mais intensivamente e com mais confiabilidade no resultado.

P: Como os criadores do programa da ANCP usam as informações genéticas?RBL: Eles usam as informações genéticas para selecionar touros jovens e novilhas, e também para decisões de descarte no rebanho. A informação genética também é usada para realizar acasalamentos dirigidos. A ANCP oferece aos criadores um

programa de acasalamento genético que maximiza o ganho genético e os resultados dos acasalamentos. Eles também têm usado as DEPG (DEPs Genômicas) para selecionar touros jovens para uso futuro por inseminação artificial ou venda como reprodutores para rebanhos comerciais. As fêmeas são selecionadas da mesma maneira.

P: O que os seus clientes procuram no reprodutor e matriz ideais?RBL: Nossos clientes querem touros e matrizes com alto potencial genético para precocidade, fertilidade, crescimento, habilidade materna e qualidade de carcaça, aliados a uma conformação funcional.

“Eficiência alimentar, bem como qualidade de carne e características de carcaça conduzirão a raça Nelore no futuro.”

P: Quais são os desafios para a criação de Nelore, e como a genômica pode ajudar a superá-los?RBL: A raça Nelore é extremamente adaptada aos trópicos e pode sobreviver a altas temperaturas e escassez de pastagem. Portanto, selecioná-la para diminuir a idade à puberdade e idade ao primeiro parto pode ser difícil. A genômica nos ajuda na identificação e seleção destas características, assim como das características de carcaça, com alta acurácia.

P: Qual é a vantagem de poder avaliar a genética do Nelore de um rebanho específico e compará-lo com a população da raça como um todo ao invés de somente com um grupo de contemporâneos?RBL: Não existe vantagem em se analisar um rebanho específico apenas. Ao usar a base da ANCP, os criadores têm a possibilidade de criar grupos muito maiores de contemporâneos com alta competitividade. Outra vantagem é a capacidade de fazer uso das relações entre os animais, o que gera maior confiabilidade na avaliação genética geral.

A base da ANCP conta atualmente com 2.2 milhões de animais, com crescimento de aproximadamente 5% ao ano durante a última década. A qualidade da informação tem crescido exponencialmente desde que começamos, tornando a ANCP o programa de avaliação genética mais importante do Brasil em virtude da qualidade de nossos dados.

P: Como a genômica pode contribuir para melhorar a estabilidade econômica dos criadores?RBL: Um dos principais benefícios da informação genômica é que ela pode ser coletada mais cedo na vida do animal do que os dados fenotípicos, quase nos permitindo prever o futuro. Assim, economizamos tempo e consequentemente reduzimos o custo da avaliação genética. Além disso, características que dependem do teste de progênie – como as maternais e reprodutivas nas fêmeas – podem ser avaliadas com alta acurácia sem a necessidade de aguardar o teste de progênie.

Para uso exclusivo em pesquisa. Não deve ser usado para procedimentos de diagnóstico.

June 2016

Em segundo lugar, podemos aumentar a acurácia das DEPs de animais jovens com o uso da genômica. Isto diminui as dúvidas sobre o potencial genético de um animal, o que possibilita o uso de animais jovens para reprodução. De novo, diminuímos o intervalo de geração e aumentamos o ganho genético, contribuindo para melhorar a estabilidade econômica dos criadores.

“A base da ANCP conta atualmente com 2.2 milhões de animais, com crescimento de aproximadamente 5% ao ano durante a última década.”

P: Qual é o ganho econômico para o rebanho Nelore quando se utiliza a seleção genômica?RBL: Definitivamente, a seleção genômica pode aumentar o ganho econômico no rebanho Nelore para a maioria das características. Através da genômica, conseguimos aumentar a acurácia das DEPs em animais jovens e ainda reduzir a consanguinidade da próxima geração, pela possibilidade de identificar melhor as relações entre os animais. Além disso, para características que são difíceis ou caras de medir – como as de carcaça, qualidade de carne e eficiência alimentar – há uma oportunidade sem precedentes para melhorá-las e também para identificar os QTLs (Locos de caracteres quantitativos) – partes do DNA correlacionados com variações no fenótipo – associados a elas.

P: Como é a sua visão para o marketing global do Nelore?RBL: Há uma demanda crescente para a produção de uma carne que satisfaça as necessidades dos consumidores em termos de qualidade e segurança alimentar. Além disso, a sociedade e as instituições públicas estão preocupadas com o impacto da produção animal no meio ambiente. Neste cenário, a informação genômica pode contribuir para melhorar a raça Nelore quanto a estes fatores.

P: O que é mais importante: fertilidade geral ou qualidade da progênie, e como você usa a genotipagem para balancear os dois?RBL: A reprodução é o fator mais importante economicamente nos sistemas de produção de gado. Para nós, a melhora da fertilidade em geral provavelmente vai aumentar a qualidade da progênie pelo fato de possibilitar uma seleção mais intensiva nos rebanhos. A genotipagem vai potencializar o ganho genético para as duas características.

P: Qual foi o impacto do uso da genômica nos resultados genéticos da raça Nelore até agora?RBL: Atualmente, o impacto da genômica no rebanho em geral ainda é pequeno, mas o número de animais genotipados (tanto touros quanto matrizes) vem crescendo a cada ano e o uso de reprodutores com DEPs obtidas com informação genômica também está aumentando.

No futuro, a ANCP vai obter uma grande vantagem com a informação genética proveniente das avaliações genômicas, através da redução do intervalo entre gerações, o aumento da acurácia

das DEPs, diminuição da consanguinidade, e ainda permitindo a avaliação genética de novas características.

P: Qual é a sua visão para a genômica no rebanho Nelore?RBL: Seguindo em frente, a genômica vai permitir que os criadores tomem decisões mais acertadas no processo de seleção, especialmente em relação a condições específicas de ambiente, mercado e gerenciamento. Características relacionadas a qualidade de carne e eficiência alimentar estão ganhando importância também. Porém, no futuro próximo, as características de fertilidade e crescimento serão prioridade nos sistemas de produção de carne.

Os dados de epigenética também serão importantes. Eles vão nos permitir a verificação das expressões gênicas diferenciais quando os animais são submetidos a condições ambientais variadas. O Brasil possui grandes territórios com amplas diferenças nas condições ambientais e de gerenciamento. Este cenário nos predispõe a inúmeros genótipos influenciados pelas interações ambientais para a maioria das características relevantes avaliadas pelo programa da ANCP. A integração da genotipagem com os dados de epigenética vai nos possibilitar selecionar melhor os animais que produzirão para um marcador específico em determinadas condições ambientais.

“No futuro, a ANCP vai obter uma grande vantagem com a informação genética proveniente das avaliações genômicas, através da redução do intervalo entre gerações, o aumento da acurácia das DEPs, diminuição da consanguinidade, e ainda permitindo a avaliação genética de novas características.”

P: Quais são os desafios mais importantes que o Nelore e a indústria da carne brasileira enfrentam atualmente e no futuro?RBL: Levará um tempo até que o Brasil construa e modernize sua infraestrutura para atender aos parâmetros internacionais relacionados ao controle de doenças, rastreabilidade global, certificação de produtos e segurança alimentar. O governo deveria desenvolver políticas públicas e estratégias para ajudar os produtores a indústria da carne a enfrentar estes desafios. As tecnologias genômicas e reprodutivas poderão ajudar a resolver alguns destes problemas através da redução da idade à puberdade, aumento da produção de leite para os bezerros, aumento da eficiência alimentar, melhora na maciez da carne e terminação de carcaça. Os testes de progênie em touros jovens também vão auxiliar a reduzir a idade média dos pais e aumentar o ganho genético anual.

Para uso exclusivo em pesquisa. Não deve ser usado para procedimentos de diagnóstico.

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P: A genômica já está incluída nos currículos das Universidades de Ciências Agrárias?RBL: Como a revolução da genômica já nos fornece e vai continuar fornecendo ferramentas essenciais para tratar de assuntos relacionados a segurança alimentar global, as Ciências Agrárias vão ser amplamente dependentes desta tecnologia no futuro. A genômica já foi incorporada nos currículos de algumas universidades, porém, até onde estou a par, ainda terá que ser incorporada na produção animal. Em breve deverá ser obrigatória em todas elas. As técnicas moleculares também precisam ser integradas no contexto da genética quantitativa. Eu enfatizaria que precisamos treinar profissionais para esta expertise. Estas especialidades são necessárias para orientar a correta adoção das ferramentas potencializadas pela genômica na produção animal.

P: Você acha que a próxima geração de produtores vai confiar plenamente na genômica?RBL: Eu acredito que as novas gerações de produtores vão confiar plenamente na genômica para selecionar seus animais com acurácia mais alta, melhor qualidade de carne e nutrição adequada aos diferentes sistemas de produção.

Referências:1. ANCP, www.ancp.org.br . Acessado em 26 de maio de 2016.2. Clarifide Zoetis, http://www.zoetis.com.br/produtos-e-servicos/bovinos/

marcadores-moleculares.aspx . Acessado em 26 de maio de 2016.

Saiba mais sobre o produto da Illumina mencionado neste artigo:

Infinium BovineLD BeadChip, www.illumina.com/products/bovineld-genotyping-beadchip.html

Illumina • 1.800.809.4566 toll-free (US) • +1.858.202.4566 tel • [email protected] • www.illumina.com

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