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Gênero: o resumo Fonte das imagens: https://pixabay.com/pt/livro-livros-p%C3%A1ginas-do-livro-610189/ INTRODUÇÃO No projeto, será trabalhado o Gênero Resumo. O resumo tem por objetivo apresentar com fidelidade as partes essenciais de um texto. Isto quer dizer que fazer um resumo pode ser uma tarefa complexa, pois envolve várias habilidades de leitura. Dominar esse gênero é útil em atividades intelectuais que necessitam de seleção e discriminação de dados, ordenação de elementos de prioridade de informações em um texto. A escolha do trabalho com o resumo está no fato de que as habilidades necessárias para a produção desse gênero são também importantes para outros gêneros acadêmicos, como a resenha, os artigos, os relatórios, etc. Vamos conhecer alguns tipos de resumos?

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Page 1: Gênero: o resumo - conteudoseducar.com.br · 1º Texto a ser resumido. Adolescência como uma construção social Ana Mercês Bahia Bock [...] Para Zagury (1996, p

Gênero: o resumo

Fonte das imagens: https://pixabay.com/pt/livro-livros-p%C3%A1ginas-do-livro-610189/

INTRODUÇÃO

No projeto, será trabalhado o Gênero Resumo.

O resumo tem por objetivo apresentar com fidelidade as partes essenciais de um texto. Isto quer

dizer que fazer um resumo pode ser uma tarefa complexa, pois envolve várias habilidades de

leitura.

Dominar esse gênero é útil em atividades intelectuais que necessitam de seleção e discriminação

de dados, ordenação de elementos de prioridade de informações em um texto.

A escolha do trabalho com o resumo está no fato de que as habilidades necessárias para a

produção desse gênero são também importantes para outros gêneros acadêmicos, como a

resenha, os artigos, os relatórios, etc. Vamos conhecer alguns tipos de resumos?

Page 2: Gênero: o resumo - conteudoseducar.com.br · 1º Texto a ser resumido. Adolescência como uma construção social Ana Mercês Bahia Bock [...] Para Zagury (1996, p

LEIA os trechos dos textos, a seguir, e RESPONDA ao que se pede.

TRECHO 01

RESENHA DO FILME “AS BICICLETAS DE

BELLEVILLE”

Belleville é um lugar imaginário, feito para pedalar e correr

riscos. Nesse cenário da animação francesa-belga-

canadense “As bicicletas de Belleville”, prêmio Satellite

Award de melhor filme de animação em 2004, é exercitado

um espírito lúdico, que pode ser acessado através do ato de

andar de bicicleta. Champion é um garoto tímido e cheio de

olheiras, mas em cima de sua bicicleta torna-se um

verdadeiro campeão em provas de ciclismo. Mora em um

sobrado perto de uma estação de trem com sua avó e seu

cão farejador. Enquanto ele e sua família preparam-se para

a grande prova de percurso Tour de France, mafiosos ficam

antenados para entrar em campo e sumir com Champion. O

campeão obstinado provavelmente pensou que suas

olheiras estariam logo com um tom esportista, seu nariz

descansaria do ar poluído da maria-fumaça que passa todos

os dias na frente de sua casa, bem embaixo de sua janela. A prova de percurso das bicicletas

poderia bastar por si só, livre de preocupações externas, porém foi invadida pela colisão de dois

carros em perda total – um deles na enorme ladeira de Belleville e o outro, curiosamente, explode

na chaminé do navio que passava pela cidade. Madame Souza, avó de Champion tomou a direção

do carro de apoio dos ciclistas, e permaneceu disposta para fazer justiça com suas próprias mãos

e salvar o neto de mafiosos intrometidos. Sem poupar esforços, contando com a ajuda de seu cão

farejador, iniciou uma busca investigativa nas ruas, no mar, na cidade ao lado… – um percurso

árduo para honorável velhinha, que por sorte do destino, fez amizade com as trigêmeas (irmãs

cantoras de music-hall dos anos 30), que ganhavam a vida em Belleville tocando pneu de bicicleta

– uma modalidade musical exclusiva do roteiro do diretor francês de desenhos animados, Sylvain

Chomet, repleta de cenas fantásticas, que tornam a animação altamente sofisticada, tanto em

recursos audiovisuais como em sensibilidade para compor personagens. Fora do contexto da

fantasia, Paris criou um sistema de aluguel de bicicletas que disponibiliza aproximadamente 20 mil

bikes pela cidade; Barcelona e Montreal também possuem um sistema semelhante. Nova York

diminuiu as vias para carros e dobrou as ciclovias. Embora quase exclusivo dos finais de semana,

São Paulo conta com as chamadas ciclofaixas (mão de tinta passada no asfalto) nos principais

pontos da cidade. Pedalar é sem dúvida muito mais saudável, econômico e divertido. Ao mesmo

tempo, é também um meio de transporte e uma questão política relacionada ao cidadão e ao

espaço público que não é nosso. Para a cicloativista Renata Falzone, “a bicicleta traz a pessoa de

volta à escala humana”. Uma dose da imaginação fértil do além de diretor, também cenógrafo e

desenhista, Sylvain Chomet pode cair muito bem no percurso da realidade.

Fonte: http://www.criticasdefilmes.com.br/bicicletas-de-belleville/

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Ficha técnica

Gênero: Animação Direção: Sylvain Chomet Roteiro: Sylvain Chomet

Duração: 78 min. Ano: 2003

País: Bélgica / Canadá / França

TRECHO 02

Uma jovem e idealista professora chega a uma escola de um bairro pobre, que está corrompida

pela agressividade e violência. Os alunos se mostram rebeldes e sem vontade de aprender, e há

entre eles uma constante tensão racial. Assim, para fazer com que os alunos aprendam e também

falem mais de suas complicadas vidas, a professora Gruwell (Hilary Swank) lança mão de métodos

diferentes de ensino. Aos poucos, os alunos vão retomando a confiança em si mesmos, aceitando

mais o conhecimento, e reconhecendo valores como a tolerância e o respeito ao próximo.

Disponível em http://www.adorocinema.com/filmes/filme-60975/

TRECHO 03

Este artigo explora alguns dos vínculos entre a ciência e o cinema: o uso de filmes como instrumento de observação, material didático de educação científica e, principalmente, meio de expressão e veículo formador do imaginário social acerca da ciência. Para tanto, retoma discussão conceitual sobre as noções de imaginário e representação social, busca delinear diferenciação de tipos de filmes e sintetizar algumas análises sobre imagens da prática científica e de estereótipos de cientistas. São apresentadas dificuldades na avaliação da influência do cinema no imaginário científico, mas defendida a importância de seu estudo para a história da ciência.

FONTE: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702006000500009

Dica

Trailer do Filme

“As bicicletas de Belleville”

http://www.youtube.com/watch?v=GpAxfY2nLdE

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TRECHO 04

Vamos então ao espetáculo, propriamente dito.

“Chuva Constante” é a versão brasileira de “A Steady Rain”, traduzida por Daniele Ávila Small do original escrito por Keith Huff, que fez sua estreia na Broadway em setembro de 2009 e teve no seu elenco original Daniel Craig e Hugh Jackman. Como consta do próprio programa da peça, segundo Huff, “em chuva constante não sabemos qual dos policiais é o bom e qual é o mau. Não sabemos, já que na minha opinião este clichê pouco importa. O espetáculo trata da lealdade de dois amigos que falam continuamente sobre a amizade que os une e os define. Uma amizade como tantas outras até o dia que atravessa por uma situação limite…”

Com direção de Paulo de Moraes e tendo no seu elenco apenas 2 atores: Malvino Salvador e Augusto Zacchi. Dois policiais, amigos de longa data e personalidades completamente diferentes, vivendo uma eterna dicotomia entre o confronto e a lealdade. Denys (Salvador), passional e com uma vida familiar estruturada. Joey (Zacchi), solteiro, solitário, introvertido e racional. Ao receber Joey para jantar em casa na intenção de ajudá-lo a dar uma guinada em sua vida pessoal, um misterioso e violento episódio atinge em cheio a família de Denny e vira o estopim para que toda a instabilidade e irracionalidade que habita dentro de si venha à tona na busca frenética que empreende na busca do criminoso que feriu gravemente seu filho. Suas atitudes terão reflexos diretos na sua vida profissional, pessoal e na relação com seu parceiro. Todo esse turbilhão se passa debaixo de uma intermitente chuva que insiste em não cessar sob suas cabeças.

FONTE: http://botequimcultural.com.br/critica-chuva-constante/

QUESTÃO 01 Você observou que há 4 trechos de texto, que ora têm o resumo de alguma obra, ora é o resumo

de alguma obra. Seu desafio é tentar associar o gênero textual à sua etiqueta. Veja:

(1) TRECHO 01 (2) TRECHO 02 (3) TRECHO 03 (4) TRECHO 04

( ) Sinopse – pequeno RESUMO de um filme para que o leitor saiba, em linhas gerais, do que trata a história, porém, sem contar o final. ( ) RESUMO – parte de uma monografia/dissertação ou tese — texto científico, geralmente colocada ao início em que será descrita, em linhas gerais, a pesquisa que será apresentada nos capítulos seguintes. ( ) Resenha Crítica – texto em que um jornalista ou crítico de arte desenvolve uma opinião sobre uma obra — filme, peça, livro... —, argumentando de forma fundamentada. Toda resenha tem como parte do texto um RESUMO da obra resenhada, principalmente se não é garantido que o leitor a conheça.

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QUESTÃO 02 Numere de acordo com os quatro trechos anteriores: Trecho relacionado a um filme: _________________________________________________________ Trecho relacionado a uma peça teatral: ___________________________________________________

Professor, Mostre para o aluno que um resumo pode ser parte de um texto ou um texto completo. Além disso, ele pode se referir a um filme, uma peça de teatro e até a um livro, ou texto.

QUESTÃO 03 RESPONDA sobre os trechos, preenchendo a tabela. Em qual trecho:

há apenas o resumo de uma obra?

há o resumo e também a opinião do autor?

há uma linguagem informal?

há um resumo bem objetivo?

Sobre o trecho 01, faça o que se pede a seguir.

QUESTÃO 04

Professor, relembre com os alunos que elementos coesivos são palavras ou expressões cuja

função é criar ou estabelecer relações lógicas entre as partes de um texto verbal ou fazer referência

a outros elementos presentes no texto concorrendo na construção de suas temáticas.

A) Há, no trecho 01, algumas palavras e expressões destacadas. COMPLETE o quadro, a seguir, considerando esses termos coesivos e faça o que se pede.

Nomes Palavra/expressão usada como referência ao nome

Champion

“avó” “velhinha”

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B) EXPLIQUE o motivo pelo qual foram usadas diferentes formas para se referir aos

substantivos próprios.

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C) EXPLIQUE o que aconteceria se o mesmo substantivo fosse repetido várias vezes no texto.

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PRODUÇÃO DO RESUMO

Chegou a hora de você produzir o seu próprio resumo. Para isso, leia o texto a seguir. Procure

resumir, com suas próprias palavras, as partes mais importantes. O resumo que propomos é o que

você não deve emitir uma opinião, apenas resumir as partes mais importantes. Após o seu resumo,

serão propostas várias atividades que ajudarão você a avaliar o seu próprio texto.

Repetindo os procedimentos:

1- LEIA o texto a seguir 2- FAÇA o resumo do texto 3- FAÇA as atividades que ajudarão a você a melhorar o seu texto 4- FAÇA uma segunda versão do seu texto 5- ENTREGUE para o professor avaliar.

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1º Texto a ser resumido.

Adolescência como uma construção social

Ana Mercês Bahia Bock

[...]

Para Zagury (1996, p. 23-32), a descrição das características dos jovens é extensa e rica.

Características de comportamento social e, principalmente, psicológicas. São tomadas e

apresentadas como características de uma fase do desenvolvimento, universais e naturais, pois

todos os jovens nesta fase apresentarão estas características. Interessante relacionarmos

algumas: desenvolvimento físico, intelectual e afetivo, amadurecimento sexual, mudanças sociais,

tendência à imitação, tendência a buscar novas respostas, onipotência pubertária, grande apetite,

insegurança, busca de identidade, confusão, medo, preocupação social, sonho, contradição,

serenidade, instabilidade, emoções contraditórias e sentem-se imortais. A relação do adulto com o

jovem é apresentada como uma relação difícil, pois os pais não querem perder o lugar de referência

e os filhos estão em uma fase complexa.

A gênese da adolescência está no desenvolvimento do raciocínio que permite o aumento da

capacidade intelectual e, portanto, gera independência intelectual. No entanto, o desenvolvimento

intelectual não parece ser responsável por todas as características da adolescência. Quanto às

orientações e regras, os adultos devem compreender a adolescência como uma fase do

desenvolvimento. A adolescência é complexa, mas passa. Os pais não devem infantilizar os filhos

e devem estabelecer com clareza as regras de convivência. Os jovens não devem ser poupados

no que diz respeito a assumirem suas responsabilidades. Firmeza e, compreensão é um bom

remédio para esperar a adolescência passar. Discutindo os dados e esboçando uma conclusão.

Fase do desenvolvimento

Como fase do desenvolvimento, as características são universais e inevitáveis. Tomadas como

fruto do desenvolvimento são também naturalizadas. É da natureza do homem e de seu

desenvolvimento passar por uma fase como a adolescência. As características desta fase, tanto

biológicas, quanto psicológicas são naturais. Rebeldia, desenvolvimento do corpo, instabilidade

emocional, tendência à bagunça, hormônios, tendência à oposição, crescimento, desenvolvimento

do raciocínio lógico, busca da identidade, busca de independência, enfim todas as características

são equiparadas e tratadas da mesma forma, porque são da natureza humana. Relações dos

jovens com os adultos: A relação é apresentada como uma relação difícil e conflituosa, uma luta,

pois os jovens querem se libertar dos pais e estes não querem perder o controle dos filhos. Os

critérios são diferentes, os gostos, as vontades, as regras, enfim, tudo é apresentado como sendo

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muito diferente entre pais e filhos. A diferença surge das características dos jovens que, por

natureza, se opõem ao que está estabelecido pelos pais. É característica da adolescência a

oposição aos pais e ao mundo adulto.

Explicação da adolescência: gênese

É, a rigor, uma incógnita. Poucas referências são feitas à gênese da adolescência, não se buscando

uma visão clara da gênese dos fenômenos. Como surgem estas características? Na verdade, não

se tem nenhuma leitura sobre isto porque se crê que a adolescência é natural; é uma fase do

desenvolvimento, não sendo necessário se falar da gênese; a ênfase recai sobre a descrição das

características que estão em potencial na natureza humana e vão se atualizando conforme há

desenvolvimento e crescimento. Assim, não há leitura social alguma. As relações com o mundo

social e adulto aparecem somente como interferência; interferem, mas não constituem. As

diferenças existentes entre os adolescentes se dão devido às influências do meio que facilitam ou

dificultam o desabrochar daquilo que é potencial.

Orientações e regras

A maior parte das orientações está dada aos adultos, na medida em que os livros são destinados

a pais e professores e, estão sempre na direção de pedir tolerância, compreensão e paciência. Os

argumentos que justificam este pedido são: a adolescência é passageira, pois se constitui como

uma fase do desenvolvimento; a adolescência, como algo necessário no crescimento, é

incontrolável; e, por fim, os adultos são seres mais completos e prontos e, portanto, podem controlar

a situação. Pede-se aos adultos que controlem o medo de perder o filho e de perder o controle,

mas não se discute a necessidade do controle (ela é naturalizada) nas relações pais e filhos. Os

adultos são incentivados ao controle, à autoridade, à imposição de regras, regras que são do mundo

adulto. Mas são também incentivados ao amor, à compreensão, à tolerância, a manterem relações

democráticas e a valorizar positivamente o adolescente. Todas as sugestões são a partir da ideia

de que a adolescência é natural, portanto não há propostas ativas. Recomenda-se apenas a

aceitação e a paciência. A adolescência, da forma apresentada nos textos, não tem gênese social.

Nenhuma das suas características é constituída nas relações sociais e na cultura. Assim, ao se

pensar a problemática da adolescência não se toma qualquer questão social como referência. A

falta de políticas para a juventude em nossa sociedade, a desqualificação e inadequação das

atividades escolares para a cultura jovem, o sentimento de apropriação que os pais têm, em nossa

sociedade, em relação aos filhos, as contradições vividas, a distância entre o mundo adulto e

mundo jovem, a impossibilidade de autonomia financeira dos jovens que ou não trabalham ou

sustentam a família, nenhuma destas questões é tomada como elemento importante para

compreender a forma como se apresenta a adolescência em nossa sociedade. As relações

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familiares são as únicas que aparecem nos textos e são fatores de influência sobre a adolescência,

mas não a constituem. Outra questão importante é que o jovem apresentado nos textos é das

camadas de médio ou alto poder aquisitivo. Não há, no entanto, qualquer referência a isto. O

adolescente está tomado como universal, quando são evidentes as diferenças entre os grupos das

diferentes classes sociais devido a diferentes formas de inserção social. Mas nada disso está

apresentado e debatido, pois a adolescência está tomada como universal e natural.

Os textos não servem para a compreensão de jovens de outros grupos sociais. Ao contrário, impõe

um modelo que, ao não se apresentar no processo do desenvolvimento, leva a consideração de

anormalidades e patologias, ao invés de apenas diferenças decorrentes das diferentes inserções

na sociedade. As relações com os adultos são tomadas como conflituosas. Os adolescentes são

responsabilizados pelas tensões. Utilizam-se termos como luta para fazer referência a estas

relações. Com isto, deixa-se de incentivar relações de parceria social entre pais e filhos. Os pais

recebem milhares de orientações que devem seguir para aliviar as tensões na família. Cabe a eles

salvar as relações. Ficam sobrecarregados de responsabilidade, quando poderiam ver seus filhos

adolescentes como parceiros, que como qualquer pessoa, inclusive os próprios pais, têm, em cada

momento da vida, projetos, necessidades e possibilidades que são delineadas pela cultura. Nossa

cultura valoriza o adulto produtivo. Desvaloriza todas as outras fases da vida: a infância, a velhice

e a adolescência, tomadas como fases improdutivas para a sociedade, por isso desvalorizadas. A

visão naturalizadora reforça estes valores, ao tomar o desenvolvimento como referência. A

Psicologia não deve manter-se divulgando e reforçando estas visões, pois não contribui para a

construção de políticas sociais adequadas para a juventude; não ajuda a construir projetos

educacionais adequados para manter os jovens na escola e a inserir os jovens nos grupos e nas

instituições que têm como vocação o debate sobre a juventude. Enfim, a visão naturalizante da

adolescência é mais do que uma visão que acoberta as determinações sociais; é uma visão que

impede a construção de uma política social adequada para que os jovens possam se inserir na

sociedade como parceiros sociais fortes, criativos, cheios de projetos de futuro.

[...]

Conclusão

Em síntese, nosso trabalho, ao buscar compreender a concepção de adolescência presente em

nossa sociedade, enfatizou esta concepção naturalizante como aspecto que limita e restringe as

práticas dos psicólogos a atividades terapêuticas de intervenção em quadros “patologicamente

normais” ou “naturalmente patológicos”. Os psicólogos estão, a nosso ver, perdendo a possibilidade

de contribuir na construção de políticas públicas para a juventude que, entendendo a adolescência

como um período do desenvolvimento com suas características constituídas nas relações sociais

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e nas formas de produção da sobrevivência, possam contribuir para a ressignificação, pelo adulto,

deste período e sugerir novas formas de relacionamento que tenham no jovem um parceiro social.

Além disso, os psicólogos devem contribuir com seus saberes para que a adolescência seja vista

como de responsabilidade de todos. O que nossos jovens estão fazendo, como estão se

comportando deve ser compreendido como fruto das relações sociais, das condições de vida, dos

valores sociais presentes na cultura, portanto, como responsabilidade de todos que fazem parte de

um conjunto social. Pais, professores, profissionais e adultos em geral devem ser alertados para a

responsabilidade que possuem na formação e na construção social de nossa juventude. Não se

deve pedir a eles apenas tolerância. Referências.

Fonte: Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE) • Volume 11 Número 1 Janeiro/Junho 2007 • 63-76 7 3 –

http://www.scielo.br/pdf/pee/v11n1/v11n1a07

REVISÃO DO PRÓPRIO TEXTO Após o seu resumo concluído, vamos dar mais um passo. As atividades que seguem têm o objetivo

de orientar o seu olhar para a autoavaliação de seu texto. Para isso, LEIA com atenção as

atividades que seguem, e faça o que se pede em cada uma delas.

QUESTÃO 01 INDIQUE, em uma frase, qual é o assunto principal do texto, completando:

O texto “______________________________________” de ____________________________

expõe a contribuição de __________________________ na tentativa de __________________ e

______________________________ a adolescência.

QUESTÃO 02 Agora, VOLTE ao seu texto e CONFIRA se há informações iniciais que recaem sobre o assunto

principal do texto base ou não, como no exemplo dado na questão 1 desta atividade.

O texto apresenta uma série de definições para a adolescência, explicando-a em uma perspectiva

de gênese e científica. Dentre os elementos topicalizados em cada temática construída, há aqueles

que são relevantes e aqueles que podem ser figurativos. Compreender o apagamento das

informações desnecessárias é importante, tanto quanto selecionar aquelas que são realmente

importantes.

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QUESTÃO 03 LEIA cuidadosamente os exemplos a seguir, e REGISTRE os dois que têm as informações mais

relevantes para iniciar o resumo do primeiro e segundo parágrafos do texto.

EXEMPLO 01

O texto começa apresentando as contribuições do pesquisador Zagury (1996) em que a adolescência se instaura a partir de características no desenvolvimento humano, que são naturais e universalizadas.

EXEMPLO 02

A adolescência se caracteriza por: desenvolvimento físico, intelectual e afetivo, amadurecimento sexual, mudanças sociais, tendência à imitação, tendência a buscar novas respostas, onipotência pubertária, grande apetite, insegurança, busca de identidade, confusão, medo, preocupação social, sonho, contradição, serenidade, instabilidade, emoções contraditórias e sentimento de imortalidade.

EXEMPLO 03

A adolescência é uma fase do desenvolvimento humano que se inicia a partir da independência intelectual.

EXEMPLO 04

A natureza da adolescência se dá, primeiramente, a partir do desenvolvimento como uma fase. Esta fase se inicia com o aflorar do raciocínio que, por sua vez, promove o crescimento da capacidade humana de pensar. Este aumento da capacidade humana de pensar provoca a independência intelectual do indivíduo. Tal independência intelectual não é responsável por outras características.

QUESTÃO 04: Qual ou quais EXEMPLO (s) apresenta (m) a ideia principal dos parágrafos iniciais do texto, sem

entrar em detalhes?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

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QUESTÃO 05 Qual ou quais EXEMPLO (s) apresenta (m) elementos detalhados, como a lista de característica e

a explicação minuciosa de dados?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

QUESTÃO 06 O que motivou a sua escolha dentre os exemplos anteriores?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

QUESTÃO 07 Agora, VOLTE ao seu texto e CONFIRA se as informações iniciais colocadas foram desnecessárias ou incompletas.

QUESTÃO 08 Agora é a sua vez. SELECIONE 2 (duas) importantes informações do trecho “Fase do

desenvolvimento”, TRANSCREVENDO-as para o espaço a seguir e utilizando-se das palavras do

próprio texto:

INFORMAÇÃO RELEVANTE 01

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

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INFORMAÇÃO RELEVANTE 02

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

QUESTÃO 09 Ao final da transcrição, REESCREVA as duas informações, utilizando-se de 3 frases apenas;

entretanto, agora, utilize-se apenas de suas próprias palavras e não as do texto. Para isso,

iniciamos para você:

A adolescência é uma fase cujo desenvolvimento se caracteriza por:

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

Vamos, agora, pensar no resumo que você fez para a parte “Explicação da adolescência: gênese”.

Explicação da adolescência: gênese

É, a rigor, uma incógnita. Poucas referências são feitas à gênese da adolescência, não se buscando

uma visão clara da gênese dos fenômenos. Como surgem estas características? Na verdade, não

se tem nenhuma leitura sobre isto porque se crê que a adolescência é natural; é uma fase do

desenvolvimento, não sendo necessário se falar da gênese; a ênfase recai sobre a descrição das

características que estão em potencial na natureza humana e vão se atualizando conforme há

desenvolvimento e crescimento. Assim, não há leitura social alguma. As relações com o mundo

social e adulto aparecem somente como interferência; interferem, mas não constituem. As

diferenças existentes entre os adolescentes se dão devido às influências do meio que facilitam ou

dificultam o desabrochar daquilo que é potencial.

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Responda: QUESTÃO 10 A gênese da adolescência é de fácil definição? Explique.

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

________________________________________________________________

QUESTÃO 11 O que se crê, no texto, sobre adolescência?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

________________________________________________________________

QUESTÃO 12 Por qual motivo não é possível se falar em gênese?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

________________________________________________________________

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QUESTÃO 13 Como as relações sociais aparecem na fase adolescente?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

QUESTÃO 14 Como os adolescentes se diferem dos adultos?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

Você deve ter observado que as respostas para essas questões contribuirão para você

compreender o que deve, ou não, ser importante. Isto quer dizer que, mais uma vez, você operará

com escolhas. Veja bem...: foram 5 perguntas e, em apenas 3, encontramos informações

relevantes para o seu resumo.

QUESTÃO 15

ESCOLHA as três respostas mais importantes que determinarão a progressão e informatividade

de seu resumo, marcando um X no seu caderno.

Dica para responder à questão anterior...

Objetividade é muito importante neste momento.

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QUESTÃO 16

PROCURE formar, com as respostas dadas, o seu parágrafo que resumirá a parte “Explicação da

adolescência: gênese”; entretanto faça as conexões devidas, utilizando-se, para isso, de 1 ou duas

frases apenas.

VOLTE ao seu texto e confira se as informações selecionadas anteriormente fazem parte do seu

resumo, ou se informações desnecessárias podem ser cortadas ao resumir a parte “Lazer”.

QUESTÃO 17

Agora é a sua vez: procure, com essa técnica, elaborar cinco ou seis perguntas de todas as

informações do próximo parágrafo:

Orientações e regras

A maior parte das orientações está dada aos adultos, na medida em que os livros são destinados

a pais e professores e, estão sempre na direção de pedir tolerância, compreensão e paciência. Os

argumentos que justificam este pedido são: a adolescência é passageira, pois se constitui como

uma fase do desenvolvimento; a adolescência, como algo necessário no crescimento, é

incontrolável; e, por fim, os adultos são seres mais completos e prontos e, portanto, podem controlar

a situação. Pede-se aos adultos que controlem o medo de perder o filho e de perder o controle,

mas não se discute a necessidade do controle (ela é naturalizada) nas relações pais e filhos. Os

adultos são incentivados ao controle, à autoridade, à imposição de regras, regras que são do mundo

adulto. Mas são também incentivados ao amor, à compreensão, à tolerância, a manterem relações

democráticas e a valorizar positivamente o adolescente. Todas as sugestões são a partir da ideia

de que a adolescência é natural, portanto não há propostas ativas. Recomenda-se apenas a

aceitação e a paciência. A adolescência, da forma apresentada nos textos, não tem gênese social.

Nenhuma das suas características é constituída nas relações sociais e na cultura. Assim, ao se

pensar a problemática da adolescência não se toma qualquer questão social como referência. A

falta de políticas para a juventude em nossa sociedade, a desqualificação e inadequação das

atividades escolares para a cultura jovem, o sentimento de apropriação que os pais têm, em nossa

sociedade, em relação aos filhos, as contradições vividas, a distância entre o mundo adulto e

mundo jovem, a impossibilidade de autonomia financeira dos jovens que ou não trabalham ou

sustentam a família, nenhuma destas questões é tomada como elemento importante para

compreender a forma como se apresenta a adolescência em nossa sociedade. As relações

familiares são as únicas que aparecem nos textos e são fatores de influência sobre a adolescência,

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mas não a constituem. Outra questão importante é que o jovem apresentado nos textos é das

camadas de médio ou alto poder aquisitivo. Não há, no entanto, qualquer referência a isto. O

adolescente está tomado como universal, quando são evidentes as diferenças entre os grupos das

diferentes classes sociais devido a diferentes formas de inserção social. Mas nada disso está

apresentado e debatido, pois a adolescência está tomada como universal e natural.

Os textos não servem para a compreensão de jovens de outros grupos sociais. Ao contrário, impõe

um modelo que, ao não se apresentar no processo do desenvolvimento, leva a consideração de

anormalidades e patologias, ao invés de apenas diferenças decorrentes das diferentes inserções

na sociedade. As relações com os adultos são tomadas como conflituosas. Os adolescentes são

responsabilizados pelas tensões. Utilizam-se termos como luta para fazer referência a estas

relações. Com isto, deixa-se de incentivar relações de parceria social entre pais e filhos. Os pais

recebem milhares de orientações que devem seguir para aliviar as tensões na família. Cabe a eles

salvar as relações. Ficam sobrecarregados de responsabilidade, quando poderiam ver seus filhos

adolescentes como parceiros, que como qualquer pessoa, inclusive os próprios pais, têm, em cada

momento da vida, projetos, necessidades e possibilidades que são delineadas pela cultura. Nossa

cultura valoriza o adulto produtivo. Desvaloriza todas as outras fases da vida: a infância, a velhice

e a adolescência, tomadas como fases improdutivas para a sociedade, por isso desvalorizadas. A

visão naturalizadora reforça estes valores, ao tomar o desenvolvimento como referência. A

Psicologia não deve manter-se divulgando e reforçando estas visões, pois não contribui para a

construção de políticas sociais adequadas para a juventude; não ajuda a construir projetos

educacionais adequados para manter os jovens na escola e a inserir os jovens nos grupos e nas

instituições que têm como vocação o debate sobre a juventude. Enfim, a visão naturalizante da

adolescência é mais do que uma visão que acoberta as determinações sociais; é uma visão que

impede a construção de uma política social adequada para que os jovens possam se inserir na

sociedade como parceiros sociais fortes, criativos, cheios de projetos de futuro.

QUESTÃO 17 SELECIONE, agora, aquelas respostas que são de extrema relevância para entrar em seu resumo.

DICA para o resumo...

Essa é uma boa técnica para julgar se aquela é, ou não, uma informação relevante, pois obriga o

produtor de texto a repensar em foco aquela informação.

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Curiosidade...

Como curiosidade... há um vídeo na internet que mostra um tipo de resumo, em que um estudante explica o conteúdo de biologia “Divisão celular”. O estudante usa uma linguagem simples e até desenhos...

https://www.youtube.com/watch?v=1PAAqIWwZ24

QUESTÃO 18 RELEIA o seu resumo, em voz alta, de preferência para quem não conhece o texto. Ao terminar,

PERGUNTE se, na opinião do seu ouvinte, o texto foi bem compreendido.

Opinião do colega sobre o seu texto.

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QUESTÃO 19 Para encerrar este projeto, propomos um último texto para você ler e tentar novamente fazer um

novo resumo.

Para isso, escolha as técnicas ensinadas anteriormente.

Ao final, mais uma vez, RELEIA, para algum colega de classe, e veja o que ele achou do seu

texto.

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2º texto a ser resumido

Vivendo em contexto de violência: o caso de um adolescente

Este trabalho, teoricamente inspirado na abordagem ecológica de Urie Bronfenbrenner, é marcado

também pela busca de estratégias de construção de significado culturalmente orientadas, na

perspectiva co-construtivista de Jaan Valsiner (1987; 2002). Representa, assim, uma tentativa de

análise contextual, numa área de intersecção dos pensamentos desses dois autores, na linha do

que tem sido feito em estudos anteriores (Tudge, 1999), Santos e Bastos (2001), Alcântara (2001).

O próprio Valsiner (2000) reconhece essa intersecção, valorizando o fato de que o sistema

multinivelado proposto por Bronfenbrenner (1979/1996) para descrever a ecologia do

desenvolvimento permite mostrar como as pessoas se relacionam com seus contextos sociais e a

heterogeneidade das direções culturais no interior de cada nível: “ O sistema aninhado concebido

por Bronfenbrenner nos permite ver as conexões entre diversos níveis de organização das relações

pessoa-ambiente (Valsiner, 2000, p. 128).

A presente análise faz parte de um estudo longitudinal realizado ao longo de uma década, que

incluiu entre seus focos de interesse as estratégias de enfrentamento de condições de risco e

proteção de crianças e adolescentes no contexto familiar. Foi analisada a situação particular de um

adolescente de 14 anos, o segundo dos três filhos de uma família matrifocal, residente numa área

chamada Vale das Pedrinhas, situada em um bairro popular de Salvador, Nordeste de Amaralina,

o qual detém, na cidade, os mais elevados índices de mortalidade por violência. A principal questão

que orienta esse estudo é: a partir de situações de confronto com a violência relatadas pelo jovem

e por sua família, como os diferentes tipos de violência – urbana, doméstica – se expressam no

processo de construção social de uma cultura pessoal?

Sob uma perspectiva ecológica, o sujeito em desenvolvimento está inserido em diversos contextos.

Esses contextos são muito mais do que simples ambientes (no sentido da situação imediata que

circunda o indivíduo) e, devido à sua complexidade e abrangência, são chamados sistemas,

multidimensionados e organizados em diferentes níveis. O microssistema é aquele mais próximo

à pessoa, constituído pelos ambientes que interagem com a pessoa mais imediatamente, e

estabelecem com ela um vínculo primário. A família é o melhor e mais conhecido exemplo de

microssistema. Enquanto o mesossistema pode ser considerado como tecido que interconecta os

microssistemas, o exossistema seriam os ambientes que não estão em contato direto com a

pessoa em desenvolvimento, mas que a influenciam mesmo que indiretamente. O macrossistema,

mais amplo, seria o contexto cultural em que a pessoa se insere — os valores, costumes e

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estruturas institucionais. Do ponto de vista ecológico, é impossível estudar o comportamento do

adolescente, por exemplo, e o processo de construção de sua identidade, sem considerar os

contextos em que os comportamentos se dão. A mais relevante dimensão do contexto são as

interações humanas aí existentes, descritas por Bronfenbrenner como díades (1996).

Num microssistema, a díade é considerada seu construtor básico, além de possibilitar a formação

de outras interações – tríades, tétrades e assim por diante. Revendo sua teoria através de um

modelo bioecológico, Bronfenbrenner e Ceci (1994), postulam que, em suas primeiras etapas, o

desenvolvimento humano acontece através dos processos de interações recíprocas descritos

acima. Para ser efetiva, a interação deve ocorrer regularmente durante um período de tempo

prolongado. Os processos proximais, na revisão bioecológica, não atualizam somente potenciais

genéticos, mas, no curso da ação, eles também dão a tais potenciais conteúdo substancial através

da interação com o ambiente externo.

Na abordagem co-construtivista de Jaan Valsiner (1987; 2000), são enfatizados os mecanismos de

mediação semiótica (ou de construção de significado) presentes na configuração da identidade ou,

em outras palavras, na construção de uma cultura pessoal (Valsiner, 1994).

O processo social de construção da personalidade, em contexto cultural, é compreendido por

Valsiner (1998) como um processo bidirecional de interdependência, cuja compreensão vai além

de modelos causais lineares sujeito/ambiente. O ambiente social possibilita ao sistema da

personalidade se rearranjar de forma singular em cada sujeito (Valsiner, 1998), de acordo com sua

cultura pessoal. Por cultura pessoal deve-se entender, para Valsiner, os processos mentais internos

e também a externalização imediata desses processos. Com estes recursos, cada sujeito tem a

possibilidade de ter reservada para si um certo grau de autonomia sobre o contexto. É desta forma

que será possível investigar como se dá a construção social da identidade do adolescente em

situação de risco: tanto influenciando como sendo influenciado pelos tipos de violência presentes

nos diversos contextos em que se insere.

A adolescência parece ser o período do desenvolvimento em que se vê de maneira mais nítida a

formação da identidade. De fato, Erik Erikson (1980) já indicava que a adolescência consiste no

próprio processo de formação da identidade. Sprinthall e Collins (1994), ao retomarem essa ideia,

defendem ainda que esse processo depende de uma interação com uma espécie de pano de fundo.

O que a perspectiva ecológica e a co-construtivista nos propõem é uma “ agentização” deste pano

de fundo, ou seja, atribuir ao contexto um papel mais ativo, neste caso, na formação da identidade,

refutando a determinação reduzida do tipo sujeito/ambiente mencionada anteriormente.

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O adolescente a quem nos reportamos neste artigo é considerado, no contexto social ao qual

pertence, como um jovem de atitudes violentas ou agressivas. A violência é um fenômeno que

requer uma aproximação conceitual rigorosa, dada sua complexidade e a inevitável carga de

intencionalidade que acompanha parte das definições comumente apresentadas. Ristum (2001),

ao analisar o conceito de violência de professoras do ensino fundamental, propõe que a violência,

enquanto conceito cotidiano, se estrutura em classe (dimensão mais geral, em nível

sociológico), modalidade (categoria que leva em consideração “ o status ou posição social que as

pessoas envolvidas ocupam no momento que ocorre a violência” e o “ tipo de questão que foi o

pivô da violência” (p. 165)) e forma (categoria que especifica como foi praticada a violência). A

autora considera que a análise, para contextualizar adequadamente o fenômeno, deve incluir ainda

categorias relativas às suas causas (que remetem ao contexto de produção da violência,

subdividindo-se em causas contextuais — distais e proximais — e causas pessoais)

e consequências (físicas, sociais e psicológicas).

Essas categorias pressupõem, que a violência e as interações, em nível proximal refere-se à díade

professor-aluno são “ fenômenos sociais relevantes para a construção da individualidade do aluno,

especialmente em um período de desenvolvimento em que a internalização de valores sociais,

morais, éticos e religiosos ocorre com maior intensidade” (Ristum, 2001, p. 7).

Na literatura psicológica, uma solução encontrada para abordar o comportamento violento é a

definição de comportamento antissocial. O comportamento considerado antissocial, para Valsiner

(1994), só pode ser assim rotulado quando comparado com um comportamento totalmente oposto

ao seu- o “ pró-social” , uma vez que, embora as condutas sejam diferentemente rotuladas, os

processos psicológicos que dão origem a comportamentos opostos são os mesmos, apenas

externalizados de forma diferente. Torna-se frágil o contraste entre o pró- e o antissocial, desta

forma; isto nos reporta à afirmação de Tolan, Guerra e Kendall (1995) de que, diante da variedade

de significados das condutas através de diferentes contextos, os programas de intervenção no

adolescente devem focar os contextos de desenvolvimento. A análise do comportamento violento

ou antissocial deve, portanto, incluir a rede de significações dentro da qual é produzido e

reconhecido como tal. Por essas razões, é imprescindível considerar o contexto em que vive o

jovem, e, porque a violência e a agressividade se tornam objetos de investigação neste estudo, é

necessário, ter em mente que todo ato humano, dentro da sociedade, é culturalmente interpretado

(Valsiner,1994).

O primeiro contexto de produção e reconhecimento do comportamento antissocial é, comumente,

a família, seguindo-se a escola e os pares. Patterson, DeBaryshe e Ramsey (1989) traçam uma

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sequência desenvolvimental de crianças que se entregam à delinquência crônica, composta

basicamente de 3 passos:

1. a parentagem inefetiva, que resulta em transtornos do comportamento;

2. o fracasso acadêmico e a rejeição de pares, fruto dos transtornos acima;

3. e, resultantes do item anterior, humor deprimido e o envolvimento com pares desviantes.

É fácil observar, no modo como essas etapas são descritas, a agentização do contexto é uma

perspectiva desenvolvimental adequada, enfatizando a interdependência entre mudanças no

contexto (pessoal, agentizado) e processos de desenvolvimento.

Já Tolan, Guerra e Kendall (1995), revisando a literatura na área, reúnem, em seu artigo evidências

de que a agressão na infância pode predizer o considerado comportamento antissocial e agressivo

na adolescência, tornando a infância uma época promissora para a execução de uma intervenção

sobre condutas violentas.

Faz-se necessária uma definição do contexto à luz dos conceitos estudados dentro do projeto. Será

investigado, aqui, um contexto de bastante vulnerabilidade frente à condição de risco. O risco, neste

caso, é configurado por fenômenos como a pobreza e o perigo da violência (tanto urbana quanto

doméstica). O conceito de risco, entretanto, é de uma complexidade que requer, de acordo com

Santos (2000), a compreensão da relação entre indivíduo e contexto na trajetória de

desenvolvimento. Esta relação deve ser entendida de forma tal que o risco seja compreendido

dentro de um complexo, um sistema que compreenda as interfaces risco–proteção/vulnerabilidade–

resiliência. É desta forma – convergente com a perspectiva histórico-cultural — que a teoria

ecológica entende o risco: enquanto parte de uma rede de interações entre indivíduo e o ambiente

nos diferentes níveis do contexto (Santos, 2000). Assim, pressupõe-se, neste estudo, uma

perspectiva do risco considerando a todo momento o contexto que ele integra, o significado que o

adolescente atribui a eventos de naturezas diferentes e o modo como ele os enfrenta. De acordo

com Burak (2001), revisando a literatura latino-americana sobre essa questão, os adolescentes que

desenvolvem um estilo de vida de alto risco estão menos aptos a alcançar um nível de

desenvolvimento humano e psicossocial satisfatório e mais sujeitos a sofrer de problemas como

repetência, evasão escolar e violência. É neste contexto de risco e vulnerabilidade que se constrói

a identidade do jovem.

A perspectiva acima esboçada sobre risco-proteção, vulnerabilidade-resiliência é compatível com

uma visão ecológica do desenvolvimento humano. Quando se enfatiza a atuação dos processos

proximais, cresce também a importância da análise longitudinal de trajetórias de desenvolvimento,

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cuja direção pode ser predita apenas como probabilidade, escapando a uma concepção linear,

estreita, de causalidade. O Connor e Rutner (1996), em revisão de literatura em língua inglesa

sobre mecanismos de risco, reafirmam a importância de estudá-los no desenvolvimento e quanto

uma análise longitudinal focalizando a mudança intraindividual (como é o caso deste estudo

específico) é eficaz em detectar esses mecanismos. Para eles, um estudo longitudinal é bastante

adequado para se investigar principalmente o significado de variáveis como idade, transição e

desenvolvimento em pesquisas sobre risco (O Connor e Rutner, 1996).

No caso do presente estudo, se a violência representa adversidade na família, será necessário,

para prever seu impacto sobre o desenvolvimento das crianças e adolescentes, focalizar os

padrões de enfrentamento (a dimensão processo, na perspectiva ecológica), adotados naquela

família, que podem implicar, no nível da pessoa, em padrões definidores de resiliência ou

vulnerabilidade. A pergunta deste estudo focaliza justamente a maneira como se apresenta o

enfrentamento da violência no cotidiano de uma família, e o quanto eles se expressa na trajetória

de desenvolvimento de um adolescente dentro desta.

Elabora-se, então, o objetivo específico deste trabalho: a partir de situações relatadas pelo jovem

e pela sua família, situações estas em que ele se confronta com a violência, será possível analisar

os nexos entre os tipos de violência nos diferentes contextos — microssistema e mesossistema

especificamente —, e a construção social da identidade desse adolescente, situando-o na posição

tanto de vítima quanto de agressor. Esses nexos contribuirão para a construção da identidade dele

e para o seu desenvolvimento psicossocial.

Fonte: Psicol. estud. v.7 n.2 Maringá jul./dez. 2002. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-

73722002000200005&lng=pt&nrm=iso

Esperamos ter contribuído para sua aula.