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Gênero e Educação: fortalecendo a agenda nas políticas educacionais 12/12/2015 Profª. Dra. Vera Lúcia Benedito Doutora em Sociologia/Estudos Urbanos pela Universidade Estadual de Michigan/USA e Professora do Ensino Municipal de São Paulo.

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Gênero e Educação: fortalecendo a

agenda nas políticas educacionais

12/12/2015

Profª. Dra. Vera Lúcia Benedito

Doutora em Sociologia/Estudos Urbanos pela Universidade Estadual de

Michigan/USA e Professora do Ensino Municipal de São Paulo.

Roteiro da discussão

• I - Introdução: Abordagem conceitual;

• II - Educação e População Negra;

• III- Protagonismo negro na Educação;

• IV- Avanços do Protagonismo negro;

• V - Racismo na Educação: Experiências

pessoais;

• VI – Desafios permanentes.

I - Introdução:

Abordagem Conceitual

...

• Persistência, Resistência e Luta: Ação Política e Cultural. Ações criativas de um povo como sujeitos de sua história, mobilizados por si mesmos; mudanças de formas e contextos de luta, transformações psicológicas e culturais; redes sociais e dinâmicas institucionais.”

• Fonte: Ruth Simms Hamilton, editor. Creating a Paradigm and Research Agenda for

Comparative Studies of the Worldwide Dispersion of African Peoples. Monograph 1, Michigan State University/USA, 1990:18.

Questões de Invisibilidade

• Fala da Professora Luciene Rego –

Graduanda Letras Português/Francês -

Universidade Federal do Piauí

• Fonte:

http:/blogueirasnegras.orgl/2015/05/29/mu

lheres-negras-professoras e

pesquisadores. Acessado em 11/12/2015.

... (1)

• “Nos livros didáticos da Língua Portuguesa ainda não está vigorando a Lei10.639/03 e 11.645/08. O único poema que ainda fala sobre negros, é “Escravos” de Castro Alves. Isto me inspirou a criar um projeto de uma oficina que discutisse a Literatura Afro-Brasileira e as contribuições dos povos africanos na Língua Portuguesa,complementando com atividades de produção textual que tragam a temática da história e cultura negra em meu estágio. O projeto foi aceito e as aulas começarão próxima semana.”

...(2)

• “Uma vez me perguntaram se eu pesquisava literatura de “nêgo” porque eu sou negra e sendo assim não poderia pesquisar ou me interessar por outra coisa. Chegaram a me questionar se eu e meus colegas éramos todos “problemáticos” e por isso estávamos pesquisando esta literatura. Fico muito triste com estes comentários. É evidente que eu respondo, que eu argumento e que eu revido através da fala, porém isso não quer dizer que eles e elas de fato me compreendam.”

...

• Conhecemos pouco sobre médicas (os)

engenheiras(os), jornalistas, escritoras e

escritores, professoras e professores,

políticos negros e negras, lideranças

comunitárias, organizações de auto-ajuda

e religiosas que fizeram e fazem parte da

construção da consciência crítica e

intelectual do Brasil.

“Cidadania lúdica” Jurema Batista

• “ … a sociedade restringe a comunidade

afrobrasileira. Reduzida sua identidade

especifica aos campos do esporte, do

ritmo, do carnaval e da culinária, fica o

afrobrasileiro, enquanto coletividade,

subliminarmente excluído das esferas

política, econômica, tecnológica, cientifica,

enfim: da cidadania produtiva e do

protagonismo social”.

II- Educação e População Negra

...

• Historicamente, para os Afro-Brasileiros, a educação sempre representou um parâmetro norteador de mobilidade social e afirmação pessoal. Todavia, ao longo de décadas, esses ideais de desenvolvimento humano têm sido comprometidos pelo impacto de práticas pedagógicas pessoais e institucionais etnocêntricas e discriminatórias.

...

• Dentre outros fatores, igualmente importantes, práticas racistas e discriminatórias têm afetado negativamente a formação identitária, e provocado injúrias emocionais e psicológicas na auto-estima de meninos e meninas negras contribuíndo para a evasão e ou baixo rendimento escolar dos mesmos, como estudos clássicos sobre o assunto têm demonstrado.

• [1] Veja, Rachel de Oliveira. Tramas da Cor: Enfrentando o preconceito no dia-a-dia escolar. São Paulo: Selo Negro, 2005; Eliane S. Cavalleiro. Do Silêncio do Lar ao Silêncio Escolar: Racismo, Preconceito e Discriminação na Educação Infantil. São Paulo: Contexto, 2000, entre outros.

Fonte: Maria Lúcia Rodrigues Müller. A cor da escola: Imagens da Primeira

República.Cuiabá: EDUFMT/Entrelinhas, 2008.

Diretora, vice-diretora e professores da Escola Menezes Vieira (RJ),

30.11.1914. Fonte: Maria Lúcia Rodrigues Müller. A Cor da Escola: Imagens da Primeira República.

Cuiabá: EDUFMT/Entrelinhas, 2008:18.

Diretores e Alunos do Instituto Profissional

Souza Aguiar, 31.07.1908. Fonte: Maria Lúcia Rodrigues Muller. A Cor da Escola: Imagens da Primeira República. Cuiabá:

EDUFMT/Entrelinhas, 2008:18.

III - Protagonismo Negro ao longo

de décadas

ESCOLA DA FRENTE NEGRA

DÉCADA DE 1930 (1).

ESCOLA DA FRENTE NEGRA

DÉCADA DE 1930 (2).

ESCOLA NOTURNA DE ALFABETIZAÇÃO –

TEATRO EXPERIMENTAL DO NEGRO (TEN) –

1940s e 1950s

IV – Avanços do Protagonismo

Negro na Educação

...

• A conjunção dos seguintes fatores: catorze anos de ações afirmativas nos cursos superiores,e, 12 anos de existência da Lei nº 10639/03 tem resultado nos seguintes desenvolvimentos:

• A) aumento significativo e qualitativo de estudantes negros nas universidades públicas e privadas;

• B) renovação do conhecimento, sobretudo, em áreas de Ciências Humanas, notadamente, História, Geografia, Sociologia, Literatura, Pedagogia, Religião, etc;

• C) liderança crescente dos NEABS (Núcleos de Estudos Afrobrasileiros) das universidades públicas na elaboração de cursos de extensão e especialização sobre a Historia Africana e Afrobrasileira;

• D) Cursos de formação contínua de docentes;

• E) Currículos para escolas Quilombolas;

• F) Revisão curricular, sobretudo dos livros didáticos e paradidáticos;

• G) Tímido aumento de publicações voltadas para a História e Cultura Africana e Afrobrasileira.

Algumas estratégias adotadas

• A) Formação de leitores críticos, com a

expansão dos chamados Clubes de

Leitores Negros, notadamente, o

Quilomboletras em São Paulo, Porto

Alegre e Salvador;

• B) Expansão das rodas de poesia e

saraus nas periferias brasileiras;

• C) Proliferação de produções teatrais e

audiovisuais, etc...

V - Racismo na Educação: Experiências

pessoais

ALTERIDADE

• Quando é que percebemos o sentido

negativo da diferença na infância?

• Em geral pelos canais de socialização:

• Família, escola, nas práticas religiosas,

relações de amizade e convívio social,

nos momentos de competição e afirmação

de identidade: bom versus mau.

A escola...

• Como uma das instituições formadoras da

sociedade, não escapa a práticas

conscientes e inconscientes

discriminatórias, aliadas às posturas

individuais e coletivas igualmente

calcadas nesses valores.

...

• O universo escolar atual está estruturado

na diversidade étnica e racial, sobretudo a

escola pública, mas também as escolas

privadas.

...

• A violência nas escolas está adquirindo

um caráter de epidemia pública onde

todos aqueles que estão envolvidos no

cotidiano escolar estão sofrendo as

consequências: professores, alunos,

diretores, supervisores escolares, pessoal

de apoio, etc...

A interseção das bases materiais e

simbólicas tem apontado que:

• Independente da base socioeconômica de grupos étnicos e raciais, uma verdadeira guerra cultural estruturada na violência simbólica e cultural tem permeado as relações sociais, onde gozação e xingamento funcionam como mecanismos privilegiados de mediação dessa violência.

• (assédio ou bullying).

• Referência: Rita de Cássia Fazzi. O drama racial de crianças brasileiras:

Socialização entre pares e preconceito. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

Em síntese

• Racismo – crença na desigualdade das “raças” humanas, em nome da qual certas “raças” e certas culturas se encontram submetidas à exploração econômica, à segregação social, e mesmo, à destruição física. São racistas todos os indivíduos e todas as políticas cujos atos se inspirem conscientemente ou não nessa crença.

• E.Ellis Cashmore. Dicionário de Relações raciais, 2ª edição, 1988: 227

Discriminação

• Significa um comportamento hostil em relação a um determinado individuo ou grupo social.

• “...não há dúvida, no entanto, que o combustível do comportamento discriminatório é o preconceito; uma vez formado, o preconceito faz parte da estrutura psíquica e pode ser “acionado” pelo comando psicológico do fascismo ou permanecer num estado latente, quando o sujeito vive numa sociedade que censura, condena e pune a discriminação.”

• Ana Célia da Silva. Desconstruindo a discriminação do negro no livro didático. Salvador:

EDUFBA, 2001: 17

Exemplos concretos

• Mulheres em posição de poder, Asiáticos, Indígenas, Afrodescendentes, Grupos homoafetivos, Bolivianos, etc...

• Fatos da vida real: Roubo étnico e racial– SP;

Expulsão de imigrantes da Europa;

• Auto-flagelo de mulher branca atribui culpa a uma mulher negra nos Estados Unidos.

Lei 10.639/03

• Um caso exemplar: De História e Cultura Africana e Afro-Brasileira para Diversidade;

• Dificuldades de abordagem sobre o Racismo nos espaços de formação pedagógica;

• Resistência da comunidade escolar como um todo em lidar com o racismo;

VI - Desafios permanentes

(1)

• Apesar destes avanços, o grande desafio é a

morosidade na adoção sistemática e ampla das

Leis 10.639/03 e 11.645/08 em todo território

nacional. As resistências estruturais e não

estruturais são imensas.

• Todavia, podem ser utilizadas como ferramentas

conceituais e teóricas que ajudam na

desconstrução de percepções falsas sobre e

outro e ajudam na construção de uma cultura da

da igualdade.

(2)

• Entre alguns fatores de extrema importância

salientamos os estudos voltados para uma

educação antiracista os quais têm chamado a

atenção dos educadores para o cotidiano

escolar, onde as injúrias psicológicas e

emocionais do racismo continuam a vitimar

crianças, jovens e adolescentes oriundos de

todos os grupos e segmentos sociais.

....

“... A presença dos estereótipos no livro

didático e outros materiais pedagógicos,

podem determinar a rejeição inconsciente

a um saber que humilha.”

• Ana Célia da Silva. Desconstruindo a discriminação do negro no livro didático.

Salvador: EDUFBA, 2001: 17

...

• O livro didático ainda é nos dias atuais um dos materiais pedagógicos mais utilizados pelos professores, principalmente nas escolas públicas onde, na maioria das vezes, esse livro constitui-se na única fonte de leitura para os alunos oriundos das classes populares.”

• Ana Célia,19

...

• ... “Os estereótipos, ou seja, os clichês, as imagens cristalizadas ou idealizadas de indivíduos ou grupo de indivíduos, cumprem o papel social de produzir preconceitos, as opiniões e conceitos baseados em dados não comprováveis da realidade do outro, colocando esse outro sob rejeição ou suspeita. Por outro lado, a vítima do preconceito pode vir a internalizá-lo, auto-rejeitando-se e rejeitando àquele que se lhe assemelha”.

• Ibiden, pag.17

• O resgate da riquíssima história dos povos

africanos, repleta de inovações científico-

tecnológicas , sociais, políticas,

intelectuais, ajuda a reconstruir a imagem

• da participação digna e ativa em todas as

dimensões da experiência humana,

esboçando as possibilidades para seus

descendentes nas Américas.

Intervenção necessária

Curso de formação de abordagem

psicossocial para gestores

escolares sobre o significado

amplo do racismo em todas as

esferas sociais.

...

• A escola sozinha não irá dar conta de

resolver o problema da violência real e

simbólica dentro do universo escolar;

• Como as famílias e as comunidades no

entorno da escola podem entrar nessa

guerra pela formação de cidadãos

saudáveis e responsáveis?

ESPALHEM A PALAVRA!

Okoye Child – Véspera de Festival