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Gênero: dos estereótipos à subjetivação Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro 63 Cad. Psicanal., CPRJ, Rio de Janeiro. ano 27, n o 18, p.63-86, 2005 nero: dos estereótipos à subjetivação * Gender: from stereotypes to subjectivation May-Lin Wang Resumo: Partindo de um estudo sócio-antropológico sobre estereótipos de masculinidade, este trabalho pretende problematizar os limites im- postos pela identidade de gênero em contraposição às possibilidades de subjetivação num cenário de pluralidade identitária. Palavras-chave: gênero; estereótipos; identidade; subjetividade. Abstract: Using a social-anthropological study on male stereotypes as a starting point, this work probes the limits imposed by gender identity. These limits are discussed as opposed to possibilities of subjectivation in a scenario of multiple identities. Keywords: gender; stereotypes; identity; subjectivity. Este trabalho é uma tentativa de articulação entre psicanálise e al- guns pontos tratados em trabalho anterior (Wang, 2004), acerca dos este- reótipos de masculinidade e suas repercussões na esfera das relações afetivas heterossexuais. O viés teórico que norteou o referido trabalho foi o da psicologia social, apoiada principalmente por estudos antropológi- cos e sociológicos. O viés psicanalítico foi, então, adotado mais especifica- * Agradeço a Eduardo Rozenthal pelas valiosas sugestões na revisão do texto

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Gênero: dos estereótipos à subjetivação

Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro 63

Cad. Psicanal., CPRJ, Rio de Janeiro. ano 27, no 18, p.63-86, 2005

Gênero: dos estereótipos à subjetivação*

Gender: from stereotypes to subjectivation

May-Lin Wang

Resumo: Partindo de um estudo sócio-antropológico sobre estereótiposde masculinidade, este trabalho pretende problematizar os limites im-postos pela identidade de gênero em contraposição às possibilidades desubjetivação num cenário de pluralidade identitária.Palavras-chave: gênero; estereótipos; identidade; subjetividade.

Abstract: Using a social-anthropological study on male stereotypes as astarting point, this work probes the limits imposed by gender identity. Theselimits are discussed as opposed to possibilities of subjectivation in a scenario ofmultiple identities.Keywords: gender; stereotypes; identity; subjectivity.

Este trabalho é uma tentativa de articulação entre psicanálise e al-guns pontos tratados em trabalho anterior (Wang, 2004), acerca dos este-reótipos de masculinidade e suas repercussões na esfera das relaçõesafetivas heterossexuais. O viés teórico que norteou o referido trabalho foio da psicologia social, apoiada principalmente por estudos antropológi-cos e sociológicos. O viés psicanalítico foi, então, adotado mais especifica-

* Agradeço a Eduardo Rozenthal pelas valiosas sugestões na revisão do texto

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mente no que concerne ao desenvolvimento da masculinidade sob a óti-ca de Robert Stoller. Desde o primeiro momento surgiram duas questõesàs quais não havia tido a oportunidade de me dedicar, até que, hoje, ins-pirada por Oscar Wilde, resolvi ceder à tentação de começar a pensarsobre elas. A primeira questão diz respeito ao já tão amplamente discuti-do paralelismo masculino-atividade / feminino-passividade e a segundaao problema “identidade versus subjetividade”. Detenhamo-nos, inicial-mente, nos aspectos centrais ao estudo que lhes deu origem.

Repensando as diferenças de gênero

A despeito do que Freud já anunciara em 1905, durante muito tem-po, masculino e feminino ainda eram vistos como polos opostos de umaúnica dimensão, de tal forma que um indivíduo poderia apresentar atri-butos masculinos ou femininos, mas jamais ambos. A partir dos anos 70,a difusão do conceito de androginia levou a uma revisão de posturas,inclusive por parte dos psicólogos sociais, uma vez que os atributos mas-culinos e femininos deixaram, finalmente, de ser atrelados ao sexo bioló-gico. Homens e mulheres passaram a ser entendidos como não exclusi-vamente masculinos ou femininos, uma vez que a masculinidade e a fe-minilidade sobrepõem-se, existindo simultaneamente em um mesmoindivíduo. Os gêneros passaram a ser analisados não mais por oposição,complementaridade ou inversão de sinais, mas, sim, como categoriasmultidimensionais e intercambiáveis. Deaux e Lafrance (1998), por exem-plo, falam sobre a importância de que os estudos de gênero sejamcontextualizados e abordados por um modelo que leve em consideraçãoas flutuações dinâmicas da categoria gênero em si, bem como o sistemasocial mais amplo no qual características masculinas e femininas são en-cenadas. Assim, em Wang (2004), privilegiamos uma abordagem na qualsão considerados os significados que a cultura ocidental — e em especiala brasileira — atribui à categoria gênero e a forma como estes significadossão elaborados por cada indivíduo.

Desde os estudos de Margaret Mead vimos como as diferençascorpóreas são assimiladas de diferentes formas em diferentes culturas.Mais tarde, tivemos reafirmada a idéia de que “a cultura apropria-se deuma distinção fisiológica, seleciona os fatos naturais e os exacerba (ou osanula)” (Goldenberg, 1997, p.124). Efetivamente, não se tem notícias denenhuma cultura que não tenha atribuído significado às diferenças sexu-ais e entendemos que mulheres e homens são fortemente influenciadospor padrões de feminino e masculino produzidos na sociedade em que

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estão inseridos – padrões, muitas vezes, não menos estereotipados doque aqueles calcados em modelos das ciências da natureza, vale lembrar.

Em Sexo e Temperamento em Três Sociedades Primitivas, Mead (1935),evidenciou que nas culturas estudadas a construção de papéis sociais sedá a partir de diferenças de temperamento, qualidades emocionais queescapam ao domínio físico, arbitrariamente escolhidas pelos grupos soci-ais como inerentes a um ou outro gênero. Em 1949, com a publicação deMacho e Fêmea: um Estudo dos Sexos num Mundo em Transformação, a au-tora denunciou a não universalidade das concepções de gênero vigentes,apontando a cultura como fator determinante na construção dos padrõesde masculinidade e feminilidade. Em contraposição às idéias que defen-diam a existência de uma essência masculina e outra feminina, o argu-mento sustentado ao longo de toda sua obra é o de que as potencialidadeshumanas independem do sexo biológico. Desde então, apesar de perma-necerem marcados por suas constituições físicas, homens e mulherespuderam finalmente ser compreendidos e respeitados como indivíduossingulares para os quais o sexo passou a constituir apenas mais uma ca-racterística a ser significada segundo sua história pessoal num determi-nado contexto sócio-cultural.

É importante notar que o trabalho de Margaret Mead não tinha porobjetivo negar as possíveis diferenças existentes entre os sexos, apenasabordava-as de forma absolutamente inovadora. Sua proposta era de queas diferenças não mais representassem limitações, mas, sim, potencia-lidades que pudessem ser desenvolvidas por pessoas de quaisquer sexos.As diferenças individuais foram por ela valorizadas como fatoresenriquecedores de uma cultura e, em sua opinião, tentar eliminá-las se-ria, na verdade, uma forma de empobrecer a dinâmica das relações quedão vida a uma sociedade. Em suas palavras, “vida é diferença, é contras-te.” Suas contribuições foram de tal ordem que inauguraram um novoolhar com relação à categoria gênero, que já não pôde mais ser pensadade forma descontextualizada e/ou restrita ao corpo.

Setenta anos após o primeiro impacto causado pelas idéias de Mead,contamos com uma profusão de trabalhos que valorizam masculino efeminino não como essências, mas como experiências datadas e cultural-mente contextualizadas. A maioria das teorias que embasam o conheci-mento que se tem hoje sobre gênero deriva do engajamento de intelectu-ais e pesquisadores na luta feminista contra as relações de poderestabelecidas no patriarcado, que mantiveram as mulheres subjugadasao poder dos homens durante boa parte da história da humanidade. Este

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engajamento se caracterizou, inicialmente, pela luta em prol da elimina-ção das diferenças entre mulheres e homens, de modo a afirmar a igual-dade absoluta entre os sexos. Atualmente, porém, observa-se a prevalênciade um novo paradigma em que se faz presente o reconhecimento dediferenças sem que este reconhecimento esteja, todavia, a serviço dosargumentos de dominação. Salientamos que o pensamento de Mead an-tecipou em algumas décadas aquilo que só passou-se a cogitar após umlongo período de discussão, reflexão e pesquisa. A radical transformaçãoocorrida no discurso feminista traz a marca do que ela já defendera noque diz respeito às diferenças individuais independentemente de sexo. Ofeminismo da igualdade foi substituído pelo que ficou conhecido comofeminismo da diferença, anunciando que os ideais de igualdade deram lu-gar a um ideal pluralista que privilegia a diferença. Isto é, as propostasiniciais de eliminação das diferenças foram revistas e as categorias quenorteiam o discurso feminista atual são singularidade e pluralidade. A ênfasena busca da igualdade foi deslocada para a valorização das diferenças nãohierarquizadas, busca-se a aceitação da diferença sem desigualdade, aigualdade de direitos e não de especificidades, a diferença enquanto sin-gularidade (Darcy de Oliveira, 1991)1.

Como parte desta mesma tendência, a preocupação centrada nasquestões que diziam respeito exclusivamente às mulheres abriu espaçopara discussões pertinentes às relações de poder, à desconstrução de pa-péis e à eliminação de fronteiras precisas entre masculino e feminino.Como resultado, o feminino deixou de estar restrito à sombra masculina,pôde ganhar visibilidade e existência próprias fora de uma complemen-taridade hierarquizada. Observamos, ainda, que a adoção de um idealpluralista, que respeita singularidades e permite variadas possibilidadesde subjetivação, independente de sexo biológico ou orientação sexual,passou a ser a nova palavra de ordem não apenas no discurso feminista.Outros grupos também socialmente percebidos como minoriasdesfavorecidas começam a usufruir de algum reconhecimento nummundo em que os ideais de igualdade há muito preconizados pela Re-volução Francesa passam a ganhar alguma expressão mesmo que aindaincipiente. Por esta razão, já assistimos a uma série de alterações no plano

1. Esta passagem só foi possível devido às feministas terem percebido que ao almejarem igualar-se aos homens estavam, na verdade, endossando a falácia de uma suposta superioridade masculina.O ideal de igualdade, neste caso, não passava de uma armadilha, um engodo que levava asmulheres a quererem abrir mão do universo feminino de modo a serem aceitas no mundomasculino.

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social, promovidas não só pelo feminismo mas também pelo movimentogay, com repercussões que vão impactar, como veremos mais adiante, ouniverso masculino que pareceu por tanto tempo inabalável.

Vimos que desde Mead podemos pensar a valorização das diferen-ças entre masculino e feminino como parte de um contexto maior devalorização das diferenças individuais. Contudo, precisamos recorrer aElisabeth Badinter para entender melhor o fenômeno da des-hierarquizaçãodas relações como resultado de um longo processo histórico que pôs fima todo um sistema de opressão que vigorou inconteste no Ocidente du-rante milênios. Este processo teve início ainda no século XVIII com a subs-tituição das monarquias católicas pelas democracias, passando pelas duasgrandes guerras mundiais, pelo fim tardio da colonização nos anos cin-qüenta e sessenta, culminando na convulsão estudantil que tomou contade Paris em maio de 1968.

Segundo Badinter (1986), a eliminação da divisão sexual do traba-lho, a independência financeira conquistada pelas mulheres, bem comoa possibilidade de controle da reprodução através dos métodos decontracepção e, em alguns países, também do direito ao aborto põe fimaos pilares fundamentais do patriarcado. As fronteiras entre público eprivado perdem gradativamente a força de segregação que mantiverammulheres e homens em domínios separados e complementares. Criam-se, assim, as condições fundamentais para a superação de uma etapa dahistória da humanidade que durou mais de quatro mil anos. Mais do queuma mudança de valores e hábitos, trata-se de uma substituição de mo-delo e de representações que “mexe com o que há de mais íntimo emnosso ser: nossa identidade, nossa natureza de homem e de mulher”2 (Badinter,1986, p.12). Os antigos estereótipos tendem a cair por terra e a suprema-cia do indivíduo leva a infinitas possibilidades de diferenciação, que nãomais se limitam ao sexo biológico. Por paradoxal que possa parecer, noseu excesso esta diferenciação absoluta termina por aproximar homens emulheres até a maior semelhança possível. A perda dos antigos referenciaismasculinos e femininos e as múltiplas possibilidades que se nos apresen-tam colocam em evidência nossa natureza bissexual originária que, se-gundo Badinter (1986), assume a forma de uma verdadeira mutação.Mutação cultural, é verdade, mas não menos ameaçadora, caso fosse bi-ológica, é importante que se diga. Não resta dúvidas de que imaginar

2. Grifo nosso.

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uma total ausência de fronteiras entre masculino e feminino causa umacerta perplexidade, uma vez que

“o dualismo sexualizado é o paradigma de todos os dualismos, ‘o paradigmada história do mundo’. Isso prova até que ponto esse questionamento atual,por parte de nossas sociedades, atinge o que há de mais arcaico em nós, ecorre o risco de subverter a ordem imemorial do mundo humano.” (Badinter,1986, p.27)

O próprio título do livro referenciado, Um é o Outro, soa estranhopois, à primeira vista, mais do que uma impossibilidade semântica, pare-ce contrariar tudo que foi dito anteriormente, pois apontaria para umasituação de simbiose que significaria o fim da alteridade. Entretanto, aautora esclarece:

“Dizer que Um é o Outro não significa aqui que Um é o mesmo que o Outro,mas que Um participa do Outro e que eles são, ao mesmo tempo, semelhan-tes e dessemelhantes.” (Badinter, 1986, p.213)

Mais uma vez, o que se delineia é a manifestação de característicasmasculinas e femininas por pessoas de ambos os sexos, culminando numquadro em que as características que são atualmente significadas comopertinentes a um ou outro gênero passam a constituir apenas qualidadeshumanas sem qualquer distinção de gênero. Realizada esta transição pas-saremos, todos, a ser indivíduos de uma singularidade absoluta, forman-do uma grande massa de diferenças sem par. Todos iguais na mais abso-luta diferença, sem qualquer possibilidade de simetria, anulando, pelasmesmas razões, o sentido de assimetria.

A mudança insiste e a tradição persiste

Em diversos trabalhos, Jablonski (1991, 1996 e 2001) observa quenas últimas décadas têm ocorrido sucessivas revisões de posturas tradici-onais, que tanto espelham quanto estimulam mudanças nas atitudes comrelação aos papéis de gênero. Embora ainda se verifique a cristalização dealguns estereótipos, a tendência geral é de flexibilização e mudança. Osachados de suas pesquisas apontam para uma forte tendência aoigualitarismo, apesar da persistência concomitante de um sistema de cren-ças ainda marcado por estereótipos tradicionais e já ultrapassados emmuitos aspectos, ao menos no discurso. Igualmente, Nolasco (1993 e 1995)e Goldenberg (1991 e 1997) nos alertam para uma defasagem significati-va entre atitudes conservadoras e comportamentos mais igualitários ouapenas “politicamente corretos”. Em estudo realizado sobre a identidade

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da amante do homem casado, Mirian Goldenberg destaca o fato de estartrabalhando com indivíduos que “compartilham um ethos vanguardista”,mesmo estando inseridos em uma cultura por eles próprios definida como“machista” (Goldenberg, 1997, p.125). Ainda assim, segundo ela, a faladesses indivíduos deixa transparecer valores e crenças conflitantes com aatitude que pretendem adotar.

Conforme apontado, atualmente, assistimos a uma série de trans-formações nos papéis masculinos e femininos tradicionais que, contudo,não espelham transformações nas representações sociais das categoriasmasculino e feminino. Esta situação de contradição e antagonismo é trata-da por Velho (1981) como um dilema entre permanecer ou mudar e porFigueira (1987) como um desmapeamento. O conflito gerado não é coisasimples de ser elaborada e, conforme constatamos em outro estudo (Wang,2001), parece ser uma constante na vida de muitos homens.

Embora muito seja dito a respeito de novas representações de masculi-no e novas formas de ser homem, assinala-se também uma postura de rigi-dez e de recusa à mudança por parte de homens que situam-se quasecomo meros espectadores de um intrincado processo no qual não se per-cebem verdadeiramente implicados. Surgem os metrossexuais3, mas naesfera familiar, observa-se um número ainda reduzido de homens real-mente mobilizados pela alteração de suas rotinas, no sentido de partici-parem mais intensamente do cotidiano doméstico e dos cuidados com osfilhos. Ainda assim, quando há alguma participação, ela se dá principal-mente como um reflexo de demandas das mulheres. Sob o signo da aju-da, estas atividades são desempenhadas como se fossem gentilezas, umavez que ainda são compreendidas por muitos, inclusive mulheres, comosendo naturalmente femininas (Jablonski, 1995, 1996 e 1999). Uma mino-ria talvez ainda menos expressiva apresenta-se de fato engajada em en-contrar novas formas de estar no mundo para além dos papéis socialmen-te prescritos. Para estes homens, o exercício da paternidade, por exem-plo, surge como uma possibilidade de vivência que vem sendoredescoberta e reinventada de forma muito prazerosa.

Há algum tempo as mulheres já vêm adaptando suas vidas de modoa ocupar espaços até então ocupados exclusivamente pelos homens e jáencontraram alguma inserção no mundo público. Como já dissemos, tes-

3. Termo empregado para designar homens que, contrariamente ao estereótipo tradicional demacho, gastam muito de seu tempo e dinheiro em cuidados com a aparência, usam brincos,cremes, maquiagem, roupas e penteados extravagantes, pintam as unhas, etc. O prefixo “metro”refere-se ao fato de a maioria deles viver em grandes metrópoles.

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temunhamos também o gradual acesso de alguns homens ao universoprivado, apesar de haver uma certa resistência em participar efetivamen-te deste universo em toda sua dimensão, uma vez que, para além daassunção de responsabilidade por tarefas domésticas, esta participaçãodeve contemplar, sobretudo, o aspecto afetivo. Melhor dizendo, para quea participação do homem no universo privado seja efetiva ela deve ser,antes de tudo, uma participação afetiva. No entanto, no plano das rela-ções amorosas, são comuns as referências a homens aparentemente per-didos e assustados diante de uma nova mulher, supostamente-maravilho-sa, que tudo pode e tudo exige. De um lado, fala-se de homens que sósabem se aproximar sexualmente das mulheres, de outro, fala-se de ho-mens que não sabem como ou o quê fazer para agradar uma mulher.

As tensões entre os estereótipos tradicionais e os novos esterótiposcostumam ser representadas comicamente por personagens do cinema,teatro e televisão, sendo que mesmo as imagens mais caricaturadas nãose afastam completamente do que observamos em alguns casos da vidareal. Ou seja, mesmo que alguns homens já transitem livremente nummundo repleto de novas possibilidades identitárias, outros talvez aindavejam-se, de fato, perplexos diante da necessidade de desempenhar pa-péis menos tradicionais em que o exercício de sua masculinidade nasrelações com o mundo e com as mulheres não se limite ao mero exercícioda condição de macho. Para estes, permanece a necessidade de conquistade um lugar como homem, o que ainda deverá lhes exigir algumas bata-lhas nas quais as armas masculinas habituais não servirão para vencer osclichês e estereótipos que os aprisionaram, assim como às mulheres, aolongo de boa parte da história da humanidade.

Identidades masculinas: limites e possibilidades

Sexualidade e questões de gênero têm sido temas de inúmeros de-bates dentro e fora da academia. Há, atualmente, uma infinidade de pu-blicações destinadas inclusive ao público leigo, assim como, teóricos dediversas vertentes das ciências sociais e humanas há muito se dedicamespecialmente ao estudo do universo feminino. Contudo, até os anos oi-tenta, poucos autores haviam se interessado pelas questões masculinasque, até então, quando surgiam, sempre em meio ao debate sobre mu-lher / feminino / feminilidade, vinham invariavelmente identificadas aosaspectos mais nocivos da história das sociedades patriarcais.

Vale ressaltar que, durante o período de exaltação feminista, comode certa forma até hoje, verificam-se inúmeras críticas à psicanálise pela

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atribuição de que a sexualidade feminina é por ela abordada a partir deuma perspectiva masculina. Quanto a isso, mesmo tendo sido Freud umpensador genial, cuja obra, tomada em alguns aspectos ou no seu con-junto, está muito à frente de seu tempo, devemos admitir que algumasde suas idéias trazem, sim, resquícios do pensamento moderno, bemcomo traços da cultura patriarcal. Assim, tornaram-se comuns os comen-tários sobre sua dificuldade em compreender o universo feminino, limi-tação esta por ele próprio admitida e anunciada em diferentes artigos —em A Questão da Análise Leiga (1926), por exemplo, ao referir-se maisuma vez à inveja do pênis, ele afirma que “a vida sexual das mulheresadultas constitui um continente negro para a psicologia” (Freud, [1926]1996, p.205).

Somos, então, levados a inferir que, em decorrência de uma supostamaior facilidade de Freud em compreender o universo masculino este foipor ele deixado em segundo plano e a psicanálise nasceu justamente desuas questões com relação à feminilidade. Como já é sabido, seu empe-nho em desvendar os mistérios da vida feminina, bem como o grandeinteresse em explicar a histeria, colocou-o no caminho que deu origemao desenvolvimento de toda sua obra. Ou seja, um aparente desinteressepela masculinidade, inicialmente dada como óbvia, somado a um maiorentusiasmo em tentar elucidar o que havia de obscuro com relação àsmulheres, resultou em ter sido deixado na sombra muito do que, agora,buscamos conhecer sobre os homens.

Não resta dúvida de que alguns pós-freudianos dedicaram algumesforço à tarefa de repensar a masculinidade. A este respeito, vale lem-brar ainda que, em 1993, Dana Breen organizou a primeira coletânea deartigos dedicados à problemática sexual com trabalhos de autores de di-ferentes orientações psicanalíticas. Mas, mesmo tanto tempo depois dasúltimas publicações de Freud, a maioria dos artigos organizados por Breenpermaneceu sendo sintomaticamente dedicada à sexualidade feminina.Na introdução geral à esta coletânea, a organizadora referiu-se à escassezde trabalhos voltados à sexualidade masculina afirmando que

“a maior parte dos trabalhos iniciais sobre sexualidade feminina fazia refe-rência à sexualidade masculina. O papel dos fenômenos pré-edipianos foiexplorado em relação aos homens, mas freqüentemente com atraso no tem-po. A compreensão da masculinidade dos homens veio na esteira dos deba-tes sobre feminilidade.” (Breen, [1993] 1998, p.33)

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Mais adiante, após apresentar um resumo das diferentes contribui-ções de Horney, Klein, Greenson, Tyson, Winnicott, dentre outros, Breeninforma-nos ainda que “não houve qualquer simplificação ou unificaçãode pontos de vista sobre o desenvolvimento masculino” (Breen, [1993]1998, p.44).

Atualmente, a masculinidade tem sido problematizada, tanto numaperspectiva social quanto psicanalítica, como um laborioso processo deconstrução e não mais como um dado garantido pela anatomia. É co-mum a apropriação do célebre enunciado de Simone de Beauvoir – quantoa uma mulher não nascer mulher, mas tornar-se mulher – para afirmarque a partir do nascimento de um menino não há nada que garanta queele, um dia, se tornará um homem. O longo processo de socialização quelevará um menino a desenvolver uma identidade masculina costuma sercalcado num conjunto de estereótipos que se atualiza a cada geração.Para pensar como se dá a construção desta identidade, tomemos um tre-cho da obra de Robert Stoller no que diz respeito especificamente à iden-tidade de gênero, termo por ele cunhado após algumas décadas de traba-lho com homossexuais e travestis.

Na esteira das transformações que tomaram conta do discurso aca-dêmico sobre sexo e gênero na segunda metade do século passado, assimcomo outros autores pós-freudianos que se dedicaram ao estudo das re-lações pré-edípicas, Stoller (1985) vai postular, em total oposição ao queFreud havia indicado através da formulação do Complexo de Édipo, queo desenvolvimento da masculinidade é bem mais problemático do que oda feminilidade4.

Muito resumidamente, o que Stoller nos diz é que a experiência depassividade dos primeiros meses de vida de um bebê-menino, que foipor ele denominada protofeminilidade, pode comprometer o desenvolvi-mento de uma “identidade masculina normal”. Durante o estágio fusional,ao sentir-se como parte da mãe, o bebê identifica-se com ela e sente-secomo parte de sua feminilidade, identificando-se assim também com estaúltima. Além disso, todo o prazer gerado pelos cuidados maternos tam-bém reforçam a identificação com uma posição de passividade à qual omenino poderá fixar-se. Segundo este autor, “quanto mais longa, maisíntima e mais mutuamente prazerosa for a simbiose mãe-bebê, maiorserá a probabilidade do menino se tornar feminino” (Stoller, [1985] 1993,

4. Apesar da ampla gama de divergências entre os autores citados por Breen (1993), a fragilidadeda identidade masculina parece ser o único ponto em que todos concordam.

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p.241-242). Cabe ao pai pôr fim a este estágio fusional, promovendo umaruptura tanto qualitativa quanto quantitativa, de modo que o meninopossa diferenciar-se da mãe, para posteriormente identificar-se com opai, desejando ter uma mulher ao invés de ser uma mulher. Stoller acres-centa que, “dependendo de como e com qual intensidade a mãe permiteao filho separar-se, esta fase de fusão com ela deixará efeitos residuais quepodem ser expressos como distúrbios de masculinidade5” (Stoller, [1985]1993, p.35).

Considerando-se que a intervenção paterna seja bem sucedida, paraque a masculinidade possa se desenvolver, o menino precisará construiruma série de barreiras intrapsíquicas que o afastem do desejo decompletude através da simbiose materna. Só então, ele poderá desenvol-ver e preservar uma masculinidade que será marcada por um conjuntode fantasias que constiruirão o que Stoller chamou ansiedade de simbiose6.

Com o passar dos anos o menino incorporará uma série de refina-mentos ao “estilo de masculinidade” que desempenhará na vida adulta.As exigências culturais se manifestarão através dos discursos de pais, ir-mãos, professores, dos programas de TV, etc. Os estereótipos de gêneroestarão presentes durante todo o tempo que durar o processo de sociali-zação do menino: nas brincadeiras, na maneira como os adultos se dirigi-rão a ele, na atitude corporal e no modo como os adultos interagirão en-tre si. Em cada gesto, em cada palavra e em cada olhar estará sempreimplícito o que se espera dele e do projeto de masculinidade que lhe foidestinado e que deverá ser concluído em menos tempo do que talvez elepossa desejar ou sequer imaginar.

As formulações de Stoller sugerem que os diferentes significadosque serão construídos pelo menino, a partir de tais experiências, estarãosempre, de uma forma ou de outra, remetidos à ansiedade de simbiose,que é apontada como sendo a principal responsável pelas representaçõesestereotipadas do comportamento masculino. Assim, o comportamentoque as sociedades ocidentais, em geral, definem como sendo masculinoseria pautado por manobras defensivas que buscam evitar o desejo desimbiose e, portanto, o retorno ao estágio de protofeminilidade. Este argu-mento tem sido abraçado por alguns estudiosos de gênero que procuramexplicar a agressividade masculina, o medo de intimidade e a homofobia

5. Grifo nosso.

6. Para uma discussão dos possíveis benefícios da relação mãe-bebê no desenvolvimento subjetivo,bem como no estabelecimento de novas relações durante a vida adulta ver Algumas consideraçõesacerca do “problema” da simbiose em Wang (2004).

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como tentativas desesperadas de garantir a identidade tão arduamenteconquistada. Retomemos, então, o viés social para abordar o fenômenoque tem sido chamado por alguns autores de crise de masculinidade.

Crise masculina: perigo ou oportunidade?

Até o advento das primeiras conquistas feministas, a concepção demulher que reinava soberana no imaginário social estava vinculada àmaternidade, aos afazeres domésticos e ao cumprimento do “papel deesposa”. Por seu turno, a masculinidade era, até bem pouco tempo atrás,indissociável da imagem do homem provedor e protetor da família. Osmeninos cresciam sabendo que deveriam tornar-se fortes, independen-tes e financeiramente bem sucedidos, de modo a promover o confortomaterial de suas futuras famílias; o desenvolvimento das habilidades ne-cessárias ao conforto emocional ficava a cargo das meninas (Badinter, 1986;Jablonski, 1991).

Como tem sido amplamente constatado, hoje a situação é bem dife-rente. Poucos são os homens que conseguem se manter no lugar de pro-vedor exclusivo da família, que via de regra não pode abrir mão do salá-rio da mulher para custear, em alguns casos, boa parte das despesas comescola, planos de saúde, supermercado ou outros itens do orçamentodoméstico. No trabalho, freqüentemente, o homem tem que disputarcom mulheres que podem desempenhar as mesmas tarefas e funções tãobem ou até melhor do que ele. Mas, além disso, sexualmente a mulherdeixou de ser apenas objeto da satisfação masculina e agora também querser satisfeita. Temos aqui enunciados, então, dois aspectos cruciais sobreos quais se apoiava a concepção patriarcal de masculinidade e que seencontram fortemente abalados: trabalho e sexo.

Indiscutivelmente, o feminismo colocou em pauta uma série dequestões fundamentais à revisão dos papéis de gênero e às relações depoder que se estabeleceram entre os sexos durante toda a vigência dopatriarcado. O movimento gay também tem contribuído enormementepara a quebra de estereótipos que não nos servem mais, sejamos mulhe-res, homens, hetero ou homossexuais. Ou seja, pode-se dizer resumida-mente que a crítica ao que ficou conhecido como falocracia teve caráterdeterminante na redefinição de papéis sociais até então rigidamente defi-nidos e, atualmente, já bem mais flexibilizados. Contudo, a problemáticamasculina, juntamente com as questões das ditas minorias, está inseridaem um contexto social bem mais amplo que espelha um quadro geral deincertezas, no qual, segundo Sennett (1974), a esfera pública entrou em

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declínio como decorrência de uma supervalorização da vida privada e daintimidade. Conforme nos lembra Ramos (2000), a crise masculina tal-vez não seja um fenômeno isolado, pois, ao que parece, estar em crise éum estado típico da contemporaneidade. Mas será que atravessar perío-dos de crise não faz parte da própria construção da história da humani-dade? Momentos de grandes rupturas são sempre portadores de muitasdúvidas e não são vividos sem que sejam suscitados sentimentos de inse-gurança e ansiedade. No entanto, são estes períodos que nos permitemencontrar novas perspectivas e modalidades de existência que nos man-terão em movimento por mais algum tempo. Tempos de incerteza parauns, tempos interessantes para outros...

Em O Mal-Estar da Pós-Modernidade (1997), Zigmunt Bauman falasobre a busca desenfreada por liberdade e pelo direito de escolha emdetrimento de valores como segurança e estabilidade. Diz ele: “a liberda-de individual reina soberana: é o valor pelo qual todos os outros valoresvieram a ser avaliados” (Bauman, [1997] 1998, p.9). Numa referênciaexplícita a Freud, Bauman produz uma análise pormenorizada de comoos ideais individualistas contribuíram para que vivamos agora de formadiametralmente oposta à que Freud havia concebido como explicaçãopara o problema da civilização.

“Os homens e as mulheres pós-modernos trocaram um quinhão de suas possibilidades desegurança por um quinhão de felicidade. Os mal-estares da modernidade provi-nham de uma espécie de segurança que tolerava uma liberdade pequenademais na busca da felicidade individual. Os mal-estares da pós-modernidade provêm de uma espécie de liberdade de procura do prazerque tolera uma segurança individual pequena demais.” (Bauman, 1998[1997], p.10)

Para melhor entendermos o momento atual é preciso lembrar, maisuma vez, que a liberdade individual como valor a ser buscado teve suassementes plantadas há mais de duzentos anos. As reivindicações do povofrancês, que clamava por liberdade, igualdade e fraternidade, foram enun-ciadas em Assembléia Nacional, em 29 de agosto de 1789. Portanto, sehoje os grupos comumente conhecidos como minorias têm a possibilida-de de lutar por seus direitos à liberdade e à igualdade — a fraternidadeainda está por vir... — é porque houve um certo amadurecimento dosideais que, antes de se firmar, precisam provocar algumas revoluções.

Assim, ao tentarem redefinir seus lugares numa sociedade eminen-temente patriarcal, as mulheres e os homossexuais coagiram os homensa fazer o mesmo, sendo que, de um modo ou de outro, estes acabariam

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tendo que fazê-lo em algum momento não muito distante do atual. Comonos diz Jacques le Rider, citado em Nolasco (1993), as inúmeras transfor-mações a que as subjetividades contemporâneas estão submetidas refle-tem as “crises do individualismo, vivenciadas sob a forma de uma crisedo sentimento de identidade” (Nolasco, 1993, p.23). O que as reivindica-ções de mulheres e gays, de fato, proporcionaram foi uma maior visibili-dade de uma crise que já vinha sendo gestada também por outras vias eos seus questionamentos tiveram como mérito evidenciar o que tem sidoapontado como a fragilidade inerente à própria masculinidade (Badinter,1992; Trevisan, 1997; Ramos, 2000).

“A revelação homossexual cumpre uma importante tarefa no cenário dacrise: acirra as contradições no sentido de tirar a máscara do masculinoimposto, apontando para um masculino temperado por nuances nas quaiscabem o frágil e o sensível, aí incluída aquela tão execrada passividade quetambém compõe o macho — simplesmente porque faz parte do humano enão apenas do gênero feminino. O que pode parecer um paradoxo, do pontode vista patriarcal, é uma aquisição importante, sem a qual não se chegaráao coração do masculino — justamente porque ele é feito de paradoxos, aocontrário do que deixa transparecer o protótipo do macho consagrado.”(Trevisan, 1997, p.87-88)

Neste novo estágio da modernidade, os homens estão sendo levadosa repensar os limites de seus próprios direitos e obrigações, mas, mais doque isso, estão sendo levados a repensar suas necessidades individuaispara além dos estereótipos instituídos pela lógica patriarcal. Em outraspalavras, enquanto sujeitos, os homens estão sendo levados, enfim, a re-pensar as bases de suas próprias identidades. Fontes de questões impor-tantíssimas, feminismo e movimento gay não são causa da crise masculi-na, mas, sim, peças de um mosaico social bem mais abrangente no qualparticiparam todas as demais manifestações da contracultura, como asreivindicações estudantis de maio de 1968 e o movimento hippie, porexemplo, evidenciando uma interação social já em franca mutação.

Assim, é num cenário de valorização de singularidades mais do queidentidades, de estimulação à pluralidade mais do que a padrões rígidos,que os valores patriarcais e viris têm sido ostensivamente contestados. Àmedida que a valorização das diferenças individuais abre espaço para avalorização do feminino — e dos valores a ele estereotipicamente associ-ados, como delicadeza, sensibilidade, expressividade e generosidade paracom as necessidades alheias —, observamos uma concomitante desvalo-rização do masculino tradicionalmente identificado como violento, arro-

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gante, dominador, egoísta e ganancioso. A valorização das expressões atéentão restritas à esfera da intimidade anunciou a decadência moral dohomem ocidental e equiparou o feminino aos valores humanos mais su-blimes (Sennett, 1974; Badinter, 1986 e 1992; Darcy de Oliveira, 1991;Nolasco, 1993).

Cabe ressaltar que a crítica impetrada contra a lógica falocêntricatratou o homem como sinônimo de todas as características negativas as-sociadas ao patriarcado e o discurso, que havia inicialmente se mostradoinovador, provou-se, um pouco mais tarde, tão polarizado e estereotipa-do quanto os valores que pretendia reformar (Darcy de Oliveira, 1991;Nolasco, 1993). Durante o período que compreendeu principalmente asdécadas de 1960 e 1970, falava-se em guerra dos sexos e a imagem damulher oprimida pelo homem autoritário era uma constante nos argu-mentos feministas, mas a crença de que as mulheres foram as únicasprejudicadas pela sociedade patriarcal também já não se sustenta mais.Um exame um pouco mais cuidadoso das relações de poder nas socieda-des ocidentais mostra como os homens também estão sujeitos a situaçõeshumilhantes de abuso de toda sorte, uma vez que, para que haja umvencedor, alguém terá que ser derrotado, mesmo que seja homem, bran-co e heterossexual. Assim, apesar de ainda haver alguma resistência a estaforma mais imparcial de abordar a problemática de gênero, não pode-mos mais permanecer na postura maniqueísta que coloca o homem nolugar do vilão e a mulher no lugar de vítima. Por outro lado, pensar ofeminismo como principal responsável pela crise masculina contribui ain-da para que análises mais apressadas do fenômeno coloquem, desta vez,a mulher no lugar de vilã. Alimentar a crença de que a mulher financeira-mente independente e sexualmente “liberada” representa uma ameaçapara o homem contribui para a perpetuação da já tão desgastada guerrados sexos, só que, agora, com os sinais invertidos (Goldenberg, 2000). Nãopodemos perder de vista que, mais do que à redefinição de papéis, a crisede masculinidade diz respeito à instauração de uma nova ordem, que ques-tiona e desconstrói o paradigma da hierarquia e do autoritarismo quefundamentava todos os aspectos da sociedade ocidental (Badinter, 1992;Nolasco, 1993; Armony, 1995; Pereira, 1995).

Como nos lembra Bernardo Jablonski, “em chinês, a palavra corres-pondente ao termo crise é uma combinação de duas outras palavras, quesignificam perigo e oportunidade” (Jablonski, [1991] 1998, p.17), o quenos leva a pensar que a crise masculina como uma possibilidade de trans-formação e crescimento. É justamente no campo das oportunidades ge-

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radas em períodos de crise que os limites podem ser transformados empossibilidades e, por esta razão, alguns autores defendem a idéia de queum novo projeto de masculinidade não deve culminar numa nova des-crição do que é ser homem, pois isto nos levaria de volta à estereotipizaçãoque tanto questionamos. A desconstrução da identidade masculina tradi-cional deve propiciar a construção de várias novas formas de subjetivaçãopara além dos gêneros. Expressões como novo homem e nova mulher reno-vam noções de uma lógica excludente que não respeita singularidades eque, portanto, não nos serve. Se o paradigma atual é de inclusão, o maiscoerente seria buscarmos não um novo homem ou uma nova mulher, mas,sim, novas e múltiplas possibilidades de ser, sejamos homem ou mulher.A redefinição do masculino passa pela redefinição do feminino e o cami-nho que está sendo trilhado por homens e mulheres leva a uma pluralidadeidentitária que permite-nos lançar mão de categorias menos presas a de-marcações rígidas e empobrecedoras. Por esta razão, Hamawi (1995) eArmony (1995) não acreditam na possibilidade de surgimento de umaresposta unificadora de todas as potencialidades que podem vir a ser des-cobertas e desenvolvidas seja por homens ou mulheres. Da mesma for-ma, ao pensar a respeito de que homem estamos falando quandoproblematizamos a questão masculina, Carlos Alberto Messeder Pereiranos lembra que “nosso presente pós-moderno valoriza a ambigüidade, afragmentação, a indefinição, enfim, as zonas cinzentas do comportamen-to” (Pereira, 1995, p.57) e, no que diz respeito às idéias de Robert Musil,desenvolvidas no livro intitulado O Homem sem Qualidades, Nolasco (1995)esclarece:

“(...) a crise moderna revelada enquanto crise de identidade ganha apoio frenteao que Musil aponta como busca de uma vida melhor. Para isto, há necessi-dade de permanecer em situação de disponibilidade subjetiva, de deixarseu caráter (o conjunto de qualidades) inacabado, para que com isto surjamnovas combinações possíveis. É preferível uma liberdade feita deindeterminação a todas as certezas que subordinam à sua volta. Assim, ohomem sem qualidades se afirma como um homem do possível e da experi-mentação, que não se alarma ao ver sua identidade passar por contínuosremanejamentos.” (Nolasco, 1995, p. 29)

Interessante a imagem descrita acima... O futuro parece promissor,mas ainda requer que o homem seja corajoso, muito embora sua cora-gem deva ser aplicada a um outro campo de batalha. À primeira vista, aidéia de pluralidade que tende ao infinito parece muito sedutora, poisnão há nada tão fascinante quanto a liberdade de optar pela forma indivi-

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dual de cada um viver sua própria vida. Nossas convicções individualis-tas fazem com que ansiemos por tantas oportunidades quantas forempossível desejar, mesmo que desistamos delas no meio do caminho, im-portando apenas saber que temos autonomia para tentar alcançá-las. To-davia, a ambigüidade, a fragmentação, a indefinição e as possibilidadesinfinitas também assustam e provocam angústia. Bauman (2000) refere-se ao momento sócio-histórico atual através da expressão modernidadelíquida, contrapondo-o ao período anterior que, segundo este viés semân-tico, seria uma modernidade sólida, inflexível, rígida e pesada. A fluidez éuma metáfora que serve para caracterizar o sentimento de transitorieda-de que perpassa a experiência subjetiva contemporânea. A solidez estáassociada à noção de durabilidade, enquanto o estado líquido remete aoque é impermanente, que escorre, transborda, vaza.

“Nesse mundo, poucas coisas são predeterminadas, e menos aindairrevogáveis. Poucas são definitivas, pouquíssimos contratempos,irreversíveis; mas nenhuma vitória é tampouco final. Para que as possibili-dades continuem infinitas, nenhuma deve ser capaz de petrificar-se em rea-lidade para sempre. Melhor que permaneçam líquidas e fluidas e tenham‘data de validade’, caso contrário poderiam excluir as oportunidades rema-nescentes e abortar o embrião da próxima aventura.” (Bauman, 2000 [2001],p.74)

Segundo esta visão, a ilusão de liberdade que o individualismo pos-sibilitou chega a dar vertigem, pois estaríamos diante de uma verdadeiracompulsão à experimentação, característica indispensável à atividade deconsumo, que será mais adiante analisada pelo autor como alternativaidentitária numa sociedade que não oferece muitos outros referenciais:“só o desejar é desejável — quase nunca sua satisfação” (Bauman, [2000]2001, p.103).

“Viver em meio a chances aparentemente infinitas (ou pelo menos em meioa maior número de chances do que seria razoável experimentar) tem o gostodoce da ‘liberdade de tornar-se qualquer um’. Porém, essa doçura tem umacica amarga porque, enquanto o ‘tornar-se’ sugere que nada está acabado etemos tudo pela frente, a condição de ‘ser alguém’, que o tornar-se deveassegurar, anuncia o apito final do árbitro, indicando o fim do jogo (...) Estarinacabado, incompleto e subdeterminado é um estado cheio de riscos e an-siedade, mas seu contrário também não traz um prazer pleno, pois fechaantecipadamente o que a liberdade precisa manter aberto.” (Bauman, 2000[2001], p.74)

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Diante deste cenário, ao mesmo tempo promissor e caótico, a ima-gem de um homem perdido e amedrontado poderia ser apenas maisuma num universo habitado por subjetividades fragmentárias, instáveise voláteis. Neste sentido, acreditar que o motivo principal da insegurançamasculina seja a independência feminina parece até pueril7. Para melhorentendermos os limites e possibilidades do que, hoje, conhecemos comocrise masculina será preciso deixarmos transcorrer um pouco mais de tem-po, pois, como muitos já disseram, só tomando o devido distanciamentohistórico poderemos produzir interpretações mais isentas com relação àstransformações que estão em andamento. Contemporâneos que somosdo fenômeno que nos suscita tanta curiosidade, devemos nos contentar,por enquanto, em proceder levantamentos iniciais de seus principais as-pectos segundo o olhar atual. Se soubermos esperar, poderemos evitarconclusões precipitadas e julgamentos previamente concebidos, que po-dem nos levar à formação de novos estereótipos em substituição ou emcomplementação aos inúmeros já existentes. Se soubermos esperar, po-deremos gradativamente acrescentar novos olhares acerca dos sujeitossubmetidos às novas regras.

Do gênero à subjetivação

Com esta exposição chegamos, enfim, às duas questões anunciadasno início deste trabalho. Talvez não seja demais lembrar que os aspectossócio-antropológicos das discussões apresentadas sobre gênero integramum campo diverso dos estudos psicanalíticos acerca da sexualidade hu-mana. No entanto, como já foi dito desde o início, estas questões se im-puseram quase como uma conseqüência inevitável da problematizaçãodo desenvolvinento da identidade masculina.

Quanto à primeira questão, devo admitir que tenho me empenhadoem não cair num discurso meramente acusativo quanto aos supostospreconceitos que podem ter permeado o pensamento Freudiano. Contu-do, dentre as várias leituras nas quais me empenhei, não encontrei ne-nhuma que respondesse satisfatoriamente à questão: mas, afinal de con-tas, de onde Freud partiu para chegar à associação masculino-atividade /feminino-passividade? É certo que ele próprio nos advertiu de que mas-culino e feminino são conceitos mais confusos do que parecem a primei-

7. Uma vez que o gênero, como categoria de pertencimento social, teve suas fronteiras esgarçadas,as diferenças, antes sexuais, foram trazidas para o plano individual, engendrando um sentimentode desamparo pelo “não pertencimento”. A este respeito ver Badinter (1986) e Deaux e Lafrance(1998).

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ra vista e, quando o fez, talvez já pudesse prever as complicações quepoderiam advir de suas inúmeras tentativas de elucidá-los.

Parece que ele tinha razão, pois não é à toa que, um século depois,estamos aqui reunidos em torno deste mesmo tema, belissimamente re-presentado pelos amantes de Magritte8, cuja imagem fala mais do quemuitas palavras; fala do enigma. O enigma que não se deixa ver ou co-nhecer é a face desde sempre oculta do feminino que agora é acompa-nhada da face também oculta do masculino, que, se já foi deixado delado por uma aparente obviedade, hoje se coloca como problema ao ladode seu par. Tratamos aqui do enigma da diferença sexual, que tambémpode parecer óbvia se olhada pelas lentes de certas convenções como adas vestimentas das figuras humanas retratadas por Magritte. Interes-sante isso: um retrato sem face, um casal que pode não ser o que parecee que, muito provavelmente, é justamente onde não (a)parece. Os sexospodem ser inferidos, mas não sem algum risco de engano. O dado senso-rial, que freqüentemente nos engana, sobre a anatomia, que de sua partetambém não nos garante nada — no caso, a estatura das duas figurasretratadas — também poderia contribuir para nossa inferência, que seriamais uma vez construída a partir de uma pré-suposição, calcada numamera estatística de que, na raça humana, os indivíduos do sexo masculi-no tendem a ser mais altos que os do sexo feminino. Nosso risco de enga-no estaria, nas palavras de Freud, em “apenas ceder à anatomia ou àsconvenções” (Freud, [1933] 1996, p.115).

Após algumas idas e vindas em diferentes trabalhos, na ConferênciaXXXIII sobre a feminilidade (1933), Freud vai sugerir que aquela correla-ção à qual me referi inicialmente (masculino-atividade / feminino-passi-vidade) resulta de mera convenção e que, mesmo assim, deve ser evita-da, embora ele mesmo não consiga fazê-lo em diferentes pontos de suaobra, como quando afirma que a libido é masculina porque é ativa. Masque convenção seria essa? Ao que parece trata-se de uma convenção soci-al, muito provavelmente uma interpretação da correlação anatomia-cul-tura (Birman, 2001).

No entanto, desde seus primeiros trabalhos Freud já postulara umabissexualidade originária como constituinte do humano, na qual obser-va-se a presença dos pares masculino-feminino e atividade-passividadetanto em mulheres quanto em homens, indistintamente e sob diferentespontos de vista (biológico, social e psicológico). Além disso, conforme

8. René Magritte. The Lovers, 1928.

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lembra Rozenthal (2003), em O Problema Econômico do Masoquismo (1924),ao afirmar a existência de um masoquismo primário (masoquismo erógeno),que encontra-se na base dos outros dois tipos de masoquismo (feminino emoral), Freud descreve uma organização na qual atividade e passividadeocorrem simultaneamente.

“A libido tem a missão de tornar inócuo o instinto [pulsão] destruidor e arealiza desviando esse instinto [pulsão], em grande parte, para fora — e embreve com o auxílio de um sistema orgânico especial, o aparelho muscular— no sentido de objetos do mundo externo. O instinto [pulsão] é entãochamado de instinto destrutivo, instinto de domínio ou vontade de poder.Uma parte do instinto [pulsão] é colocada diretamente a serviço da funçãosexual, onde tem um papel importante a desempenhar. Esse é o sadismopropriamente dito. Outra porção não compartilha dessa transposição parafora; permanece dentro do organismo e, com o auxílio da excitação sexualacompanhante acima descrita, lá fica libidinalmente presa. É nessa porçãoque temos de identificar o masoquismo original, erógeno.” (Freud, [1924]1996, p.181)

Mais adiante, lançando mão do conceito de fusão/desfusão pulsional,Freud prossegue:

“Estando-se preparado para desprezar uma pequena falta de exatidão, pode-se dizer que o instinto [pulsão] de morte operante no organismo — sadismoprimário — é idêntico ao masoquismo. Após sua parte principal ter sidotransposta para fora, para os objetos, dentro resta como um resíduo seumasoquismo erógeno propriamente dito que, por um lado, se tornou com-ponente da libido e, por outro, ainda tem o eu (self) como seu objeto. Essemasoquismo seria assim prova e remanescente da fase de desenvolvimentoem que a coalescência (tão importante para a vida) entre o instinto [pulsão]de morte e Eros se efetuou. Não ficaremos surpresos em escutar que, emcertas circunstâncias, o sadismo, ou instinto de destruição, antes dirigidopara fora, projetado, pode ser mais uma vez introjetado, voltado para den-tro, regredindo assim à sua situação anterior. Se tal acontece, produz-se ummasoquismo secundário, que é acrescentado ao masoquismo original.”(Freud, [1924] 1996, p.182)

Retomando a hipótese da correlação masculino-atividade / femini-no-passividade, temos, então, que no masoquismo erógeno masculino efeminino ocorrem simultaneamente. Ou seja, estamos diante de um qua-dro onde os dois sexos comparecem ao mesmo tempo. Isto quer dizerque, apesar de ter estado sempre às voltas com o problema moderno dadualidade sexual, neste momento Freud deixa-nos a semente para pen-

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sarmos a diferença sexual no âmbito de sua mais absoluta radicalidade,sem termos de comparação, pois situa-se fora de uma lógica binária deopostos. Portanto, se pode haver masculino e feminino simultaneamen-te, é porque, neste caso, não se trata nem de um nem de outro, mas deambos, ou de nenhum.

Mas será que não é mesmo disso que se trata quando pensamos asubjetividade? A subjetividade não tem sexo, ou tem todos, pois se ébissexual tem os dois, então não tem nenhum, pois não tem um ou ou-tro. Nenhum sexo, infinitos sexos.

Então surge a segunda questão: o que nos possibilita, na clínica, pen-sar uma identidade masculina ou feminina? Será que a problematizaçãode uma identidade de gênero não limita mais do que liberta? Quais seri-am os novos paradigmas clínicos? Seria um deles poder pensar uma sin-gularidade sem par, numa perspectiva de pluralidade que tende ao infi-nito? Infinitas identidades, não uma identidade a ser escolhida dentreduas únicas possibilidades.

No estudo de campo que integrou o trabalho ao qual já me referi(Wang, 2004), procurei pensar quais saídas cada homem por mim entre-vistado pôde construir, como sujeito, para as amarras identitárias dos es-tereótipos socialmente prescritos. É certo que não podemos prescindirde identificações, mas as identidades que construímos não devem nosdeter e, sim, nos lançar adiante na direção de novas possibilidades, numapermanente laboração subjetiva. Mas será que não é exatamente dissoque se trata uma análise?

May-Lin WangMestre em Psicologia Clínica (PUC-Rio), Associada ao Fórum - CPRJ.Rua Saturnino de Brito 190 - Lagoa - Rio de Janeiro (22.470-030)(21) 3874-0252 / 2285-0624 – [email protected]

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Artigo recebido em 5 de agosto de 2005Aceito para publicação em 20 de setembro de 2005