a construÇÃo de estereÓtipos sobre brasileiros...

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A CONSTRUÇÃO DE ESTEREÓTIPOS SOBRE BRASILEIROS NO FILME RIO: A QUESTÃO SOCIAL DO CONTRABANDO DE ANIMAIS Maria Valéria Siqueira MARQUES [email protected] Escola Municipal José Paulino de Siqueira Resumo: O objetivo deste trabalho é identificar estereótipos presentes no filme Rio por meio de atividades sobre o tema principal “contrabando de animais” fazendo uma comparação com atividades encontradas em site da internet. Para tanto, autores como, BAKHTIN (2004; 2006); FARIA e SILVA (2013), que tratam da questão dialógica da linguagem; RASIA (2011); BRITO e CUSTÓDIO (2012); SILVA (2014); GREGORIN FILHO (2012) estes discutem a questão do conceito de estereótipos e os Parâmetros Curriculares de Língua Estrangeira PCN-LE, BRASIL (1998), tratam acerca do engajamento discursivo e temas de interesse social, dentre outros, que serviram como fundamentação teórica. Sobre a metodologia de pesquisa é qualitativa realizada na Escola Municipal José Paulino de Siqueira, município de Santa Terezinha- PE foi feito questionário seguido de atividades didáticas sobre o filme Rio e foi comparado com atividades encontradas em site da internet para verificar a consciência crítica sobre o tema trabalhado (contrabando de animais), participaram 27 alunos do nono ano do Ensino Fundamental. Os resultados, em andamento, apontam que os participantes fizeram referência aos estereótipos encontrados no filme Rio afirmando que brasileiros são vistos como desorganizados e gostam de carnaval, de futebol e de funk, pois são marcas que os referenciam na atualidade, no entanto, torna-se necessário considerar a diversidade cultural brasileira como danças e músicas. A conclusão parcial que chegamos foi que atividades encontradas na internet sobre o tema “contrabando de animais” não discutiram sobre estereótipos e nem fizeram questionamentos sobre ideologias presentes no filme, porém nas atividades de sala de aula, os participantes se envolveram criando um clima de interação e discussão sobre o tema desenvolvendo o senso crítico em aulas de inglês. Palavras-chave: Filme. Estereótipos. Inglês. Interação. Introdução O artigo é motivado pelo filme de animação Rio estadunidense, lançado em 2011 produzido pela Blue Sky Studios e dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha. Este foi lançado nos cinemas brasileiros em 27 de março de 2014. Uma semana depois foi lançado no Reino Unido e com lançamento em outros mercados a partir de 11 de abril de 2014. O filme mostra uma questão temática a ser trabalhada em sala de aula que é o contrabando de animais, além disso, pode se perceber implicitamente alguns

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A CONSTRUÇÃO DE ESTEREÓTIPOS SOBRE BRASILEIROS NO FILME

RIO: A QUESTÃO SOCIAL DO CONTRABANDO DE ANIMAIS

Maria Valéria Siqueira MARQUES

[email protected]

Escola Municipal José Paulino de Siqueira

Resumo: O objetivo deste trabalho é identificar estereótipos presentes no filme Rio

por meio de atividades sobre o tema principal “contrabando de animais” fazendo

uma comparação com atividades encontradas em site da internet. Para tanto, autores

como, BAKHTIN (2004; 2006); FARIA e SILVA (2013), que tratam da questão

dialógica da linguagem; RASIA (2011); BRITO e CUSTÓDIO (2012); SILVA

(2014); GREGORIN FILHO (2012) estes discutem a questão do conceito de

estereótipos e os Parâmetros Curriculares de Língua Estrangeira – PCN-LE,

BRASIL (1998), tratam acerca do engajamento discursivo e temas de interesse

social, dentre outros, que serviram como fundamentação teórica. Sobre a

metodologia de pesquisa é qualitativa realizada na Escola Municipal José Paulino de

Siqueira, município de Santa Terezinha- PE foi feito questionário seguido de

atividades didáticas sobre o filme Rio e foi comparado com atividades encontradas

em site da internet para verificar a consciência crítica sobre o tema trabalhado

(contrabando de animais), participaram 27 alunos do nono ano do Ensino

Fundamental. Os resultados, em andamento, apontam que os participantes fizeram

referência aos estereótipos encontrados no filme Rio afirmando que brasileiros são

vistos como desorganizados e gostam de carnaval, de futebol e de funk, pois são

marcas que os referenciam na atualidade, no entanto, torna-se necessário considerar

a diversidade cultural brasileira como danças e músicas. A conclusão parcial que

chegamos foi que atividades encontradas na internet sobre o tema “contrabando de

animais” não discutiram sobre estereótipos e nem fizeram questionamentos sobre

ideologias presentes no filme, porém nas atividades de sala de aula, os participantes

se envolveram criando um clima de interação e discussão sobre o tema

desenvolvendo o senso crítico em aulas de inglês.

Palavras-chave: Filme. Estereótipos. Inglês. Interação.

Introdução

O artigo é motivado pelo filme de animação Rio estadunidense, lançado em

2011 produzido pela Blue Sky Studios e dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha. Este

foi lançado nos cinemas brasileiros em 27 de março de 2014. Uma semana depois foi

lançado no Reino Unido e com lançamento em outros mercados a partir de 11 de abril

de 2014. O filme mostra uma questão temática a ser trabalhada em sala de aula que é o

contrabando de animais, além disso, pode se perceber implicitamente alguns

estereótipos relacionados ao Brasil, mesmo não sendo intenção do autor do filme, por

exemplo, as favelas, ao samba, ao modo de comportamento, etc.

Pesquisas realizadas em Silva (2005); Scheyrl e Siqueira (2008); Gregorin Filho

(2011); Paganotti (2011); Silva (2014); Brasil (2012); Brito e Custódio (2012); entre

outros apontam para um conjunto de crenças definidas como simplificações da realidade

feitas por esquemas mentais que distorcem e generalizam características (que podem ser

negativas, positivas ou neutras) de determinados grupos de pessoas ou objetos, como

interpretações errôneas. Os Parâmetros Nacionais Curriculares de Língua Estrangeira –

PCN-LE (BRASIL,1998), propõe que docentes tratem de temas de interesse social em

aulas de línguas estrangeiras, pois “o ensino de línguas oferece um modo singular para

tratar das relações entre a linguagem e o mundo social, já que é o próprio discurso que

constrói mundo social” (BRASIL,1998, p.43). Para tanto, o filme aborda o tema

contrabando de animais como uma forma de engajar discursivamente os alunos em

aulas de inglês.

O objetivo principal deste trabalho é identificar estereótipos presentes no filme

Rio por meio de atividades sobre o tema principal “contrabando de animais” fazendo

uma comparação com uma atividade encontrada em site da internet. Cabe, aqui, deixar

claro a noção de estereótipos, pois muito se discute sobre o assunto em diferentes

âmbitos das áreas de estudo consolidando diferentes teorias.

1.Conceito de estereótipo

Para Silva (2014), estereótipo pode ser entendido como uma imagem ou opinião

aceita sem reflexão por pessoa ou grupo e exprime um julgamento simplificado, não

verificável e às vezes falso sobre tal grupo ou sobre algum acontecimento. Além disso,

uma pesquisa indica que os estereótipos brasileiros no exterior advêm principalmente da

indústria do turismo e do noticiário da imprensa internacional.

A primeira propaga o que autor chama de estereótipo positivo fazendo alusão

ao Brasil como terra do carnaval, da sensualidade, das mulheres, do samba, do futebol e da natureza tropical. Já os noticiários são os responsáveis por reproduzirem o estereótipo negativo do país, representando-o como o lugar da violência, da criminalidade, da miséria e do descaso com a natureza. (SILVA, 2014, p. 56)

Nos filmes, os estereótipos se apresentam constantemente de forma velada,

muitas vezes nem cristalizam sentimentos de repulsa. Porém, mesmo que veladas às

representações, quando notadas, podem estar ligadas, no caso do estereótipo, ao

sentimento que se equipara ao preconceito, conforme envolvem os estudos de Marcus

Lima e Marcos Pereira em (RASIA, 2011). Para Lippmann (2005) apud Brito e Bona

(2014, p. 17), o estereótipo é então uma impressão que marca determinantemente as

relações sociais. Eles podem e devem, porém, ser reavalidados e remodulados, pois

sofrem alterações de acordo com o contexto e com a intensão de quem o cria ou que

dele se apropria. Brito e Custódio (2015), traz a origem da palavra “stereó + typos” que

significa (molde sólido), estereótipos são idéias fixas e duradouras, pois se apresentam

como verdades indiscutíveis. E, acrescenta que

[...] o estereótipo é considerado a componente cognitiva: pensamos que

todos os pedintes são pessoas marginalizadas, que só querem dinheiro para

drogas, etc.; O preconceito é caracterizado como a componente afetiva:

sentimos nojo, repulsão, pena, perante os pedintes; E a discriminação é

definida como sendo a componente comportamental: ao vermos um pedinte

gozamos com ele, passamos para o outro lado da rua, insultamo-lo,

agredimo-lo. (BRITO E CUSTÓDIO, 2015, p.23).

Entendemos que estereótipos estão relacionados ao preconceito e a

discriminação são marcas que criam uma expectativa falsa sobre determinadas pessoas

impostas pela sociedade no processo de socialização. De acordo com Brito e Bona

(2014), uma definição completa de estereótipo é obviamente algo difícil de fazer. É

importante lembrar que além de abranger os usos e os desdobramentos, para além do

surgimento, que os estereótipos podem vir a ter, é preciso levar em consideração a

contribuição dos estudos da linguagem para sua análise.

2. O ensino e aprendizagem de Língua Inglesa: o filme como um material autêntico

na sala de aula

Concordamos com Leffa (2011), ao assinalar que o domínio de uma língua

estrangeira não é uma competência que possa ser disfarçada. Podemos fingir

sentimentos que não temos e até fazer de conta que compreendemos o que nos dizem,

mas ninguém pode fingir que fala inglês ou espanhol. A expressão natural do enunciado

na língua estrangeira pressupõe anos de estudo e dedicação, resultado de um

conhecimento autêntico que não se adquire de um dia para o outro, ao contrário disso

corremos um risco do fracasso especialmente na escola pública. Segundo este estudioso

já mencionado,

Apontar um culpado é uma tarefa que exige muito poder de argumentação

para que possamos persuadir o interlocutor de que não estamos encobrindo

nossa própria incompetência. Às vezes é mais fácil obter diretamente o

sucesso do que desenvolver um intrincado raciocínio para justificar de modo

convincente o próprio fracasso. (LEFFA, 2011, p.18).

Para alcançar melhores objetivos no ensino de língua inglesa em escolas

públicas torna-se necessário abandonar as práticas tradicionais feitas somente pela

decodificação e assumir uma prática dialógica e discursiva da linguagem por meio não

somente do livro didático como também por materiais autênticos: filme, jornal, revista,

podcast, radio, TV, games, youtube, propaganda, anúncios, reportagens, notícias,

artigos de divulgação científica, etc. Ou seja, materiais reais encontrados nas práticas

sociais com um propósito comunicativo.

O filme como material autêntico em sala de aula, conforme Prizotto (2016),

pode fazer uso de uma das mais fascinantes manifestações culturais no sentido de

permitir um momento reflexivo abordando temas transversais e conteúdos referentes ao

filme e ao cotidiano social e escolar dos alunos. Um filme, documental ou ficcional, não

é somente o roteiro ou o texto verbal (diálogos, narrações em off, legendas), mas pode

gerar debates articulados ao um tema selecionado pelo professor.

Assim, não podemos deixar de comentar, aqui, sobre a política dos Parâmetros

Curriculares Nacionais de Língua Estrangeira – PCN-LE (BRASIL,1998), que defende

um ensino articulado aos temas de interesse social que envolva os alunos numa

discussão, isto é, num engajamento discursivo, por isso estes documentos seguem a

linha de pesquisa sociointeracional de linguagem.

O uso da linguagem (tanto verbal quanto visual) é essencialmente

determinado pela sua natureza sociointeracional, pois quem a usa considera

aquele a quem se dirige ou quem produziu um enunciado. Todo significado é

dialógico, isto é, é construído pelos participantes do discurso. Além disso,

todo encontro interacional é crucialmente marcado pelo mundo social que o

envolve: pela instituição, pela cultura e pela história. Isso quer dizer que os

eventos interacionais não ocorrem em um vácuo social. Ao contrário, ao se

envolverem em uma interação tanto escrita quanto oral, as pessoas o fazem

para agirem no mundo social em um determinado momento e espaço, em

relação a quem se dirigem ou a quem se dirigiu a elas. É nesse sentido que a

construção do significado é social. (BRASIL, 1998, p. 27).

Em comunhão com Bakhtin (2006), “todos os campos da atividade humana

estão ligados ao uso da linguagem. Compreendemos perfeitamente que o caráter e as

formas desse uso sejam tão multiformes quanto os campos da atividade humana.”

(p.261). O uso da linguagem é uma forma autêntica, real que as pessoas utilizam no

mundo social em que vivem para resolverem suas vidas denominadas na visão

bakhtiniana de gêneros do discurso1.

Com isso, o filme além de fazer parte dos usos da língua é um material autêntico

que pode promover à discussão em sala de aula de inglês por meio de um tema de

interesse social, por exemplo, o (contrabando de animais), fazendo menção à linha

sociointeracional da linguagem. Sendo assim várias pesquisas vem sendo decorridas em

congressos e revistas acadêmicas sobre o uso de material autêntico em aulas de inglês.

3. Metodologia

A metodologia de pesquisa qualitativa, de acordo com Bortoni-Ricardo (2008), é

o desvelamento do que está dentro da caixa preta no dia-a-dia dos ambientes escolares,

identificando processos que, por serem rotineiros, tornam-se invisíveis para os atores

que deles participam. Foi utilizado somente um instrumento de coleta de dados –

questionário – contendo 11 perguntas abertas respondidas por escrito pelos participantes

do nono ano A, ao todo, 27 alunos envolvidos da Escola Municipal José Paulino de

Siqueira no turno vespertino em oito aulas. Esta atividade foi comparada com outra

encontrada em site da internet para verificar a consciência crítica sobre o tema

trabalhado.

ANTES DO FILME:

1. O que vocês acham que o filme trata a partir do título?

2. O que sabe sobre contrabando de animais? Você acha que o filme vai mostrar algum

tipo de preconceito, ou seja, de estereótipos?

3. O que você entende por estereótipos?

DEPOIS DO FILME:

4. Quais os estereótipos que vocês imaginam que os estrangeiros têm nossos? Eles devem

ser mantidos ou não? Por quê?

5. Quais estereótipos vocês têm de outros países? Qual o porquê de vocês pensarem

assim?

6. O que você entende sobre o contrabando de animais. Comente.

1 Grifo nosso

7. Qual o porquê do contrabando de animais no Brasil? Como o assunto é tratado no

Filme? Benéfico ou não?

8. Quais as consequências do contrabando de animais? E que aves estão em extinção no

filme?

9. Com essa questão afeta a criação de estereótipos sobre o Brasil no exterior?

10. Como se sentiu Linda ao ver seu pássaro roubado no Brasil?

11. Como se sentiu Blue ao voltar às origens tendo adquirido uma nova cultura nos

Estados Unidos da América com sua família adotiva? Que estereótipos a arara sofreu

ao chegar a sua própria terra?

As duas primeiras aulas os alunos assistiram ao filme e as demais foram para

discussão e atividades. Depois, solicitamos algumas atividades dando continuidade tais

como:

12.Pesquise sobre o contrabando de animais no Brasil em inglês e explique sua visão a

partir das leituras feitas e debatidas em sala de aula.

13. Elabore em inglês uma interpretação do filme que enfatiza o problema criando

idéias sobre o que você aprendeu do sentido de estereótipos.

14. Forme grupos para apresentar as músicas do filme em inglês.

15.Confeccionem imagens, falas, problematizando a questão do contrabando de

animais no Brasil.

Esta será comparada com uma atividade encontrada em site da internet para

verificar a consciência crítica sobre o tema trabalhado “contrabando de animais”, desta

feita, participaram vinte e sete alunos do nono ano do Ensino Fundamental.

4. Análise e discussão

Dividiremos esta análise em categorias em duas partes, de um lado as atividades

trabalhadas em sala de aula, de outro uma atividade encontrada na internet, então, nós

faremos um contraponto. Os participantes, aqui, serão referidos a P1, P2, P3, (...),

sucessivamente:

4.1 Estereótipos

“O contrabando de animais é um dos fatores que influenciou muito a imagem

do Brasil no filme Rio para o lado negativo, pobre culturalmente, esse

estereótipo não deve ser mantido”. (P2).

Como já era esperado, os participantes fizeram referência aos estereótipos

encontrados no filme Rio muito comentado em outras pesquisas sobre a imagem do

Brasil e dos brasileiros no exterior. E, P2, apresenta em sua fala que um ponto negativo

e não deve ser mantido, pois somos um país cultural.

“São generalizações que as pessoas têm de outras, sobre o comportamento ou

características”. (P2).

“O contrabando de animais muitas vezes é praticado por pessoas que querem

ganhar dinheiro falso, sujo e isso não é benéfico” (P3).

“O traficante deve ser preso porque as araras azuis estão em extinção”. (P10).

“Sobre o que seja estereótipo, em minha opinião, é preconceito discriminação

por raça, cor, etnia ou religião”. (P 11).

“Sobre as imagens do Brasil e de brasileiros no país estrangeiro

contrabandear animais e um ato criminoso e negativo e quando Blue foi

roubado a personagem Linda ficou triste e arrependida de ter vindo ao

Brasil”.(P11).

“Estereótipos são tipos de preconceito eles não são verdadeiros, são falsos”

(P 15).

Concordamos com Oliveira (2014), quando afirma que o professor precisa ter o

cuidado de não subestimar os aprendizes de inglês, pois eles trazem para sala de aula

conhecimentos linguísticos, textuais provenientes do seu aprendizado em língua

portuguesa. Isso é comprovado nas falas dos alunos acima quando eles apresentam uma

leitura ativa crítica sobre o filme Rio legendado em inglês tornando-se responsáveis

pelo seu próprio conhecimento. Ao falar sobre o contrabando de animais os

participantes afirmaram que:

“Sei que os contrabandistas ganham muito dinheiro com essas espécies de

animais exóticas que podem estar em extinção, pois não apreciadores da

nossa cultura”. (P 11).

“Isto é crime é preciso conscientizar as pessoas sobre a extinção das espécies

exóticas”. (P 12).

“O Brasil é um país onde centra-se a beleza da fauna e da flora de modo

aumenta o contrabando de animais”. (P13).

“Porque no Brasil há muitas espécies raras e bonitas bem complexo, pois é

real no filme e lá apenas mostra um exemplo de um tipo de contrabando mas,

existem vários outros, não somente porque acaba com os animais bem como

a cadeia alimentar”. (P 14).

Qualquer aprendizagem exige um pouco de maturidade de determinadas

funções, segundo, Oliveira (2014), ao falar sobre o tema principal do filme Rio, os

participantes expuseram suas opiniões, isso indica o desenvolvimento da criticidade do

qual os PCN-LE defendem “isso é o que foi chamado de engajamento discursivo por

meio de leitura em língua estrangeira” (p.21).

Sobre estereótipos que os participantes imaginam que os estrangeiros têm

nossos? Eles devem ser mantidos ou não? Por quê?

“Que somos diferentes em tudo, somos desorganizados” (P15);

“Por conta do nosso jeito alegre de ser, os preconceitos não devem mantidos,

assim respeito mútuo” (P 16);

“Eu vi em uma pesquisa da internet que falava os americanos acham que

brasileiros se preocupam e são obcecados por limpeza, sabemos que nós

temos uma higiene em tudo, essa qualidade deve ser mantida e não

estereotipada como uma obsessão” (P 18);

“Que no Brasil só tem futebol e carnaval deve ser quebrado, somos um país

com diversidade cultural” (P 22);

“Que brasileiro só dança funk e não deve ser mantido”. (P1);

Observamos que os participantes além de sua visão de mundo, eles pesquisaram

em suas leituras na internet como demonstra P18, ao falar da imagem de estrangeiros

sobre brasileiros enfatizando questão da limpeza como estereótipo da obsessão.

Enquanto outros falaram sobre estereótipos referentes à desorganização funk, pois estes

não devem ser mantidos como sendo negativos, fazem parte da cultura brasileira.

Sendo assim, um termo muito usado na língua estrangeira, segundo, Oliveira

(2014), é o termo proficiência significa que o aprendiz será capaz de usar a língua em

uma gama de modos culturalmente apropriados e terá competência comunicativa para se

comunicar em situações sociais diversas, por exemplo, explicar um filme, compreender

um texto, fazer uma análise de um cartoon, etc. Trazendo para este contexto, os

participantes demonstram proficiência sobre entendimento do filme assistido na língua

estrangeira e por eles já terem assistido em sua língua materna, ajudou-os na interação

em sala de aula.

4.2 Atividade encontrada em site da internet sobre o filme Rio

Sobre a atividade (1) retirada do site e mencionada nesta nota abaixo trata-se de

uma atividade pouco discursiva, apenas para pintar a localização no mapa de origem de

Blue no Brasil.

Atividade de interpretação do filme Rio2

Esta é uma atividade que pode ser usada por professores como complemento

às aulas de compreensão de texto e também de ecologia. Por meio do filme

Rio, o aluno pode ser levado a pensar sobre ecologia e preservação da

natureza, focos do filme que foi um sucesso. Por meio de atividades

escolares, os alunos poderão desenvolver mais e melhor os assuntos tratados

em sala de aula.

1- Pinte o estado no mapa que representa a origem da arara Blue.

2- O filme aborda um assunto muito polêmico, um crime, assinale a

alternativa que corresponde a este crime:

a) ( ) Tráfico de drogas b) ( ) Assaltos c) ( ) Tráfico de animais

3- O filme mostra imagens de festejos de uma festa típica do Brasil, que festa

é essa?

a) ( ) Festa Junina b) ( ) Carnaval c) ( ) Natal.

4- O nome da ararinha era Blue, que inglês significa uma cor, assinale a

alternativa que corresponda a essa cor:

a) ( ) Verde-claro b) ( ) Azul c) ( ) Amarelo

5- Por que Blue voltou para o Brasil?

a) ( ) Sentiu saudades de sua terra natal.

b) ( ) Queria conhecer pássaros de sua região.

c) ( ) Para acasalar com uma fêmea e preservar sua espécie.

6- Qual era o maior defeito de Blue?

a)( ) Tinha uma asa menor.

b)( ) Era egoísta e maldoso.

c)( ) Não sabia voar. 7- Por que Blue não sabia voar? a) ( ) Porque foi criada como uma ave doméstica e por isso não aprendeu a voar. b) ( ) Porque sua dona tinha medo que ele caísse e machucasse por isso nunca aprendeu a voar. c) ( ) Porque uma de suas asas era menor que a outra e não dava estabilidade durante o voo. 8- Qual a profissão de Túlio? a)( ) Cientista b) ( ) Professor c) ( ) Veterinário 9- Quem sequestrou Jade e Blue? E por quê? a)( ) Colecionadores de aves exóticas. E eles só sequestraram os pássaros porque faltavam aves azuis em sua coleção. b)( )Contrabandistas. Eles queriam vender as aves porque eram muito valiosas. c) ( ) Cientistas. Eles queriam engaiolar as aves para que essa espécie não fossem extintas.

2 http://maiseducativo.com.br/atividade-de-interpretacao-filme-rio/

10- Por que Fernando ajudou os contrabandistas? a)( )Porque era menino de rua, e por ser rejeitado cometia crimes para mostrar como era revoltado. b)( ) Porque era contrabandistas. c)( ) Porque precisava de dinheiro para sobreviver. 11- O filme teve um final feliz e emocionante. Escreva resumidamente o final.

De uma forma geral, as atividades não contemplam as questões sobre

estereótipos e ideologias presentes no filme e debatidas anteriormente, somente a última

questão que alunos envolvidos numa sala de aula teriam espaço para discutir escrevendo

resumidamente o final, mas não há espaço nas atividades para uma leitura crítica do

filme, ou seja, o engajamento discursivo visto nos PCN-LE, Brasil (1998). No ensino

de línguas estrangeiras, de acordo com, Oliveira (2014), é preciso levar em

consideração o uso linguístico e, consequentemente, o sujeito usuário da língua e a

variação linguística provocada pela existência de sujeitos diferentes inseridos em

contextos sociais, históricos, culturais e geográficos diferentes. Isso significa que as

atividades não exploraram, nem a variedade linguística, nem mesmo trouxeram

questionamentos sobre ideologias e estereótipos encontrados no filme pelos

participantes em sala de aula.

Considerações Finais

A conclusão que chegamos foi que atividades encontradas na internet sobre o

tema “contrabando de animais” não discutiram sobre estereótipos e nem fazem

questionamentos sobre ideologias presentes no filme, porém nas atividades de sala de

aula, os participantes se envolveram criando um clima de interação e discussão sobre o

tema em aulas de inglês desenvolvendo o senso crítico e ativo nas discussões em sala.

Percebemos ainda na atividade encontrada na internet uma concepção que se

distancia da perspectiva interacionista, pragmática de língua, pois “muitas escolas

brasileiras ainda prefere manter o nível do ensino das sentenças isoladas,

descontextualizadas sem levarem em conta as razões pelas quais os brasileiros estudam

inglês”. (OLIVEIRA, p.39). Assim, é preciso ressaltar a língua vista enquanto

comunicação, interação social que marca as posições sociais e ideológicas entre os

interlocutores.

O filme tornou-se nesta atividade um propulsor de ideologias a serem discutidas

em sala de aula em que o semiótico aparece por meio das imagens que emergem durante

o processo de interação entre a arara Blue e a personagem Linda, quando a Blue foi

capturada pelo traficante vendido e levado para os Estados Unidos lá, por ser um filhote

ele sofreu um processo de aculturamento ele recebeu a cultura americana como

(comportamento, comidas, estilo de vida), ele também sofreu estereótipos das outras

aves por não saber voar, esse foi um processo de adequação para o personagem de

animação Blue porque ele foi deslocado do seu habitat natural, de sua origem materna –

a selva brasileira para conviver num espaço fechado como se fosse uma pessoa humana

com uma ética polida.

Para Gregorin Filho (2012), Blue não reconhece mais sua nacionalidade quando

descobre que sua espécie corre riscos de ser extinta, deseja voltar para salvá-la dos

traficantes e ao encontrar aqueles dois pássaros com tampa de lata de cerveja na cabeça

ele não consegue interagir com aquela imagem, a própria imagem do brasileiro

estereotipada com a malandragem, a esperteza, o roubo, o desrespeito. Ele aprendeu

uma nova ética estadunidense e agora acontece uma disparidade com os atores do seu

espaço de origem. E essa imagem é transmitida através do filme o belo (as selvas, as

praias, o Rio de Janeiro, o carnaval), o feio (as favelas, o roubo, o tráfico, a desordem

do país, a desonestidade das pessoas, o afro-descendente), que problematizam o objeto

empírico das representações identitárias brasileiras.

Por fim, observamos que adaptação do imigrante ao país estrangeiro é um

processo de aculturamento que passa a esquecer sua origem e viver uma nova

identidade, uma ética diferente e polida naquele país estrangeiro. O preconceito, a

discriminação pode estar relacionada à ideologia de que o país foi sempre constituído de

uma história de escravidão onde a civilização brasileira é considerada inferior em

relação ao mundo europeu.

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