gênero, ciência e sociedade neide mayumi osada doutora em política científica e tecnológica,...
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Gênero, Ciência e Sociedade
Neide Mayumi OsadaDoutora em Política Científica e Tecnológica, Unicamp
Objetivo e estrutura da aula
A importância do campo Gênero e Ciência dos Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia
• Pontos relevantes
• A trajetória do campo: do feminismo da igualdade ao feminismo da diferença;
• As discriminações sociais modernas: gênero, classes sociais, etnia
• A inclusão da diferença nas ciências: novos olhares, novas perspectivas
A trajetória das mulheres nas ciências
- Idade média: Caça às bruxas (Tosi, 1998)
- Revolução científica (sec. XVII), profissionalização e modernização: inconstância das mulheres nas produção do conhecimento
- na botânica/ ciências naturais/ viajantes naturalista;- na astronomia;- Na física
- Crítica à participação feminina nas ciências: - Francis Bacon em defesa de uma ciência masculina (XVI),
- “O Nascimento masculino do Tempo”: aborda a transformação/ profissionalização das ciências sugerindo a adoção de um modelo masculino
- Peças de Molière “ridicularizando” mulheres instruídas (XVII);- manuscritos de Rousseau sobre a educação feminina (XVIII), - classificação taxionômica de Lineu (mamíferos/ mammals e homo
Sapiens/ homem sábio) (XVIII)
A trajetória das mulheres nas ciências: USP
• 1808: Primeiros cursos e faculdades
• Início do Século XX: primeiras universidades
• 1934: Universidade de São Paulo
• Claude Lévi-Strauss, Fernand Braudel, Roger Bastide, Donald Pierson, Pierre Mondeig
• Elite paulista, professoras do magistério (Clodowaldo Pavan)
Valores e ideologias das ciências
Não-ciência
Emoção
Passivo
Subjetivo
Cultura/ Natureza
Privado
Sensibilidade
Localidade
Ciência
Neutralidade
Ativo
Objetivo
Conhecimento/ Sociedade
Público
Racionalidade
Universalidade
Valores e ideologias
Feminino
Emoção
Passivo
Subjetivo
Cultura/ Natureza
Privado
Sensibilidade
Localidade
Masculino
Neutralidade
Ativo
Objetivo
Conhecimento/ Sociedade
Público
Racionalidade
Universalidade
Teoria Clássica Estudos ESCT, Modernidade,
Feminismo, Positivista/ realista/ funcionalista; Construtivista/ coprodução, relativista;
Dualidade entre sujeito e objeto; Continuidade entre sujeito e objeto;
Descoberta; Construção, produção, processo, processo
recursivo;
Teoria da verdade; Teoria da produção do conhecimento;
Objetividade ingênua; Subjetividade/ reflexividade e não-ingênuidade
Homogêneo em excesso, generalização extrema; Posições múltiplas, representação da
heterogeneidade, complexidade, simetria;
Autoridade do autor/ experto, voz dominante; Múltiplas vozes e perspectivas, reflexividade;
Claridade; Ambiguidade;
Tácito progressivo, linear; Dúvida;
Simplificação; Representação da complexidade, não-
reducionismo;
Busca por conclusões; Tentativa de abertura, dúvida;
Metáfora da curva normal; Metáfora da cartografia;
Objetivo: delinear o progresso social básico e a
teoria formal, e
Objetivo: construir processos, análises situadas,
teorizações, e
Conhecimento Universal. Conhecimentos Situados
Os estudos da ciência e tecnologia: do clássico ao contemporâneo
Fonte: Adaptado de CLARKE, 2005, p. 32.
A Trajetória do campo: Feminismo da Igualdade
• Até a década de 1970: presença insipiente de mulheres nas ciências desde a graduação à docência (Teoria clássica)
• Estudos quantitativos: quem somos, quantas somos e onde estamos?
• Feminismo da igualdade/ liberal: proposta de compreender a participação das mulheres nas ciências em termos quantitativos, propor políticas públicas para ampliação das mulheres nas ciências, estudos focavam no processo de socialização das meninas.
• Críticas:• Negação à identidade feminina, Löwy (2001)
• Adaptação das mulheres nas ciências, Löwy (2001)
• Ausência das mulheres cientistas é um problema delas e não do sistema C&T, Harding (2001)
• Ausências de críticas às ciências, à sociedade, à epistemologia da ciência, Keller, 2004.
A Trajetória do campo: Feminismo da diferença
Mudar as bases epistemológicas das ciências e desconstruir ideologias:
• Objetividade nas ciências?
• Universidade do conhecimento? One size fits all?
• Devemos nos livrar de uma parte da nossa identidade para nos adaptar?
Outras perguntas: • Por que não avançamos nas ciências? • Quais são as barreiras? • Como contribuímos com a ciência? • Como pensar em uma sociedade mais justa?• Como produzir uma ciência mais diversa?• Quais as consequências de uma ciência não
inclusiva?• Por que tão devagar nas ciências?
Avanços nas sociedades :
• Mudança social: nova classe média
• aumento do número de vagas em instituições públicas de ensino, aumento significativos de mulheres no ensino superior, ampliação do programas de bolsas de estudos para alunos de instituições privadas
• Redução dos índices de pobreza (IDH +↑, Coeficiente Gini, IPH, IDG, etc)
• Combate às discriminações por etnia, gênero, sexualidade, classes social, pessoas oriundas de outros estados, normas e ética comportamentais, etc.
Igualdade de oportunidade para tod@s?
Micro desigualdades multiplicadas• Aumento das mulheres no mercado de trabalho é qualitativo ou
quantitativo? (o que fazem, quanto ganham, qual é a diferença de salários entre homens e mulheres, como avançam nas carreiras?)
• Aumento de mulheres versus desprestígio de carreiras femininas como pediatria, educação, saúde, setor de serviços;
• “Expulsão” das mulheres ascendentes (ciência da informação nos anos 1970, astronomia, biotecnologia, etc)
• “A Educação assegura a autonomia ou naturaliza a Subalternidade como vocação?”
• A ciência e a tecnologia de fato reduzem a desigualdade social?
François Dubet (2003): Emancipação segregacionista ou sob tutela
Novas desigualdades
As discriminações sociais modernas
O mundo das ciências não se difere de outros mundos sociais , Velho, 2003
• Relações de trabalhos
• As discriminações e as micro discriminações
• Papel de homens e mulheres nas ciências
• Bolsas e projetos de pesquisa (Campo da biologia)
Desigualdades multiplicadas• Micro desigualdades multiplicadas
• Divisão sexual do trabalho no mundo da pesquisa
• Dupla jornada de trabalho
• Avanços nas carreiras femininas e masculinas são diferentes
• Estratégias de mulheres de classe média nas ciências
Conclusão: Por que queremos a inclusão da diferença nas ciências/ na sociedade?
• Novos temas e olhares na pesquisa referentes à etnia, idade, sexualidade passaram a ser estudados com a inclusão de distintos grupos sociais
• Pesquisa sobre a Síndrome Spoan, Distrofia Muscular, Projeto Genoma Fapesp, Ebola
• Na biomedicina não é possível ter apenas um modelo de ser humano
• Ex.: pesquisa biomédica/ pesquisa clínica com idosos, crianças e diferentes etnias,
• Ciência como cultura: entender a ciência sob a perspectiva de classes sociais, etnia, gênero
• doenças genéticas como autismo, deficiências física e cognitiva, tratamento de doenças como ebola, obesidade, anorexia,
• Repensar as desigualdades de gênero, classes sociais e etnia. O que fazer depois das cotas raciais?
Coprodução de uma sociedade plural
Conclusões• Entender as desigualdades através do processo
histórico
• Entender a ciência como produto de uma sociedade, assim como produtor desta sociedade
• Gênero, classes sociais e etnia como categorias relevantes de análise para compreensão do mundo que vivemos
Perguntas
• A educação promove a transformação da sociedade?
• Promover a igualdade de gênero, classe social e etnia é a melhor alternativa de desenvolvimento humano para o século XXI?
• Quais são as ciladas da igualdade de oportunidades?
Referências bibliográficas
• VELHO, L.; PROCHAZKA, M., No que o mundo da ciência difere dos outros mundos sociais? Com Ciência, 2003
• DUBET, F. As desigualdades multiplicadas, Ijuí, Editora Unijuí, 2003;
• Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU, 2014. http://hdr.undp.org/
• PIERUCCI, F. Ciladas da Diferença, São Paulo, Editora 34, 1999.
• LATOUR, B. Give me a Laboratory and I will rase de world, 1983. http://www.oei.es/salactsi/latour.htm
Estrutura da aula
1. O campo da saúde como cultura (três níveis da sociologia da saúde)
• Biomedicina, Biologia Molecular e Genética (Social)
• Processos de Medicalização e biomedicalização (societário)
• Construção do Corpo e de novas identidades (individual)
2. Crítica ao modelo biomédico de corpo, saúde e doença
3. Categorias relevantes para a compreensão da temática• Gênero
• Classes Sociais
• Etnia
(Bio)medicalização
• Avanços das sociedades ocidentais
• Aumento da expectativa de vida dos indivíduos
• Doenças como poliomielite, escarlatina, tuberculose: erradicadas
• Pesquisas na área da biologia molecular: doenças sob a perspectiva biomolecular
• Exame diagnóstico mais preciso: biomarcadores, novos equipamentos médicos
• Biopolítica da vida: a perspectiva do Estado sobre Saúde, doença e pacientes
Saúde e seus processos interativosAvanço tecnocientífico
Bioeconomia
Transformações de corpos
Estratificação do conhecimento científico
- Saber mágico x conhecimento tecnocientífico (ALVES & MINAYO, Saúde e doença: um olhar antropológico, 1994) - Categorias de análise (classe, gênero, idade e etnia) = Inclusão da diferença na pesquisa biomédica (EPSTEIN, A inclusão da diferença na pesquisa biomédica, 2005) - Doença, biomedicina e saúde enquanto cultura (Autismo/ Asperger; Síndrome do X frágil; percepção de deficiências cognitivas e físicas e a flexibilidade dos corpos)- Novas relações entre leigos e experts (Síndrome Spoan)
- Novas formas de produção e distribuição do conhecimento pelos laboratórios públicos de pesquisa, -Pesquisas sobre doenças negligenciadas e -Produção de medicamentos para doenças tropicais/ negligenciadas
Pacientes: construção do conhecimento científico, pressão para “moldar ” conhecimento, associações de pacientes, biopoder, biopolítica, novas sociabilidades, etc.
Controvérsias nas ciências
Críticas ao modelo BiomédicoDefinições de saúde, doença e corpo pela biomedicina
Doença: falha no corpo humano que difere do estado normal
Corpo e mente podem ser tratados separadamente.
Paciente é um corpo doente que pode ser curado.
Médicos treinados no modelo ocidental de medicina são os únicos expertos capazes de cuidar do corpo doente
Hospital é o local apropriado para o tratamento de doentes
(Fonte: Antony Giddens, Sociology)
Críticas ao modelo Biomédico“one size fits all?”
Medicalização de condições normais: menstruação, menopausa, síndrome do déficit de atenção, infelicidade, depressão leve, cansaço, infidelidade, “feiura”, obesidade, etc.
diferenças de peso, idade, etnia. Qual é o modelo ser humano adotado pela biomedicina? Stephen Epstein: Inclusão da diferença na pesquisa biomédica
Problema está no indivíduo ou na sociedade? (Spoan, deficiências, obesidade,…)
Para mostrar que o serviço de saúde é igualitário, todos farão o mesmo exame de avaliação das condições físicas, para isso
todos deverão subir naquela árvore!
Categorias fundamentais
• Gênero
• Etnia
• Classe Social
Conclusões• As sociedades pós-industrializadas foram palco de uma
série de mudanças, no campo da saúde os avanços técnocientífico tem promovido “avanços” que devem ser analisados com cuidado, levando em conta sua singularidades e complexidades, atores sociais, produção do conhecimento, política e economia da saúde.
• Repensar as relações natureza e cultura, corpo natural e ciborgue, saúde e doença.
• Nesse contexto, as ciências humanas poderiam promover pesquisas mais interdisciplinares para discutir questões éticas, legais e sociais. O conhecimento produzido sobre saúde e sociedade pode beneficiar o sistema público de saúde, as pesquisas biomédicas e os pacientes.
Sociologia: do clássico ao contemporâneo
• Durkhiem (o suicídio)
• Max Weber (desencantamento do mundo)
• Karl Max
• Foucault (Saúde pública, comportamento desviante, vigiar e punir)
• Emily Martin (corpos flexíveis)
• Adele Clarke (processo de biomedicalização)
• Paul Rabinow/ Nicolas Rose
História da Medicina
• 1890-1945: Profissionalização da Medicina
• 1945-1985: Processo de Medicalização
• 1985-atual: Processo de biomedicalização
Fonte Clarke et al, 2010. Biomedicalization: technoscience, Health, and Illness in the U.S, Duke University Press