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GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 1 Uma lei tão simples em seus princípios quanto admirável em seus efeitos preside à classificação das almas no espaço. Quanto mais sutis e rarefeitas são as moléculas constitu- tivas do perispírito tanto mais rápida é a desencarnação, tan- to mais vastos são os horizontes que se rasgam ao Espírito. Devido ao seu peso fluídico e às suas afinidades, ele se eleva para os grupos espirituais que lhe são similares. Sua nature- za e seu grau de depuração determinam-lhe nível e classe no meio que lhe é próprio. Com alguma exatidão tem-se comparado a situação dos Espíritos no espaço à dos balões cheios de gases de densidades diferentes que, em virtude de seus pesos específicos, se elevam a alturas diversas. Mas, cumpre que nos apressemos em acrescen- tar que o Espírito é dotado de liberdade e, portanto, não estando imobilizado em nenhum ponto, pode, dentro de certos limites, deslocar-se e percorrer os para- mos etéreos. Pode, em qualquer tem- po, modificar suas tendências, transformar-se pelo trabalho ou pela prova, e, conseguinte- mente, elevar-se à vontade na escala dos seres. É, pois, umas leis naturais, análogas às leis da atração e da gravidade, a que fixa a sorte das almas depois da morte. Os Es- píritos impuros, acabrunhados pela densidade de seus fluidos materiais, confina-se nas ca- madas inferiores da atmosfera, enquanto a alma virtuosa, de envoltório depurado e sutil, ar- remessa-se, alegre, rápida como o pensamento, pelo azul infinito. É também em si mesmo — e não fora de si, é em sua própria consciência que o Espírito encontra sua recompensa ou seu castigo. Ele é seu próprio juiz. Caído o vestuário de carne, a luz penetra-o e sua alma aparece nua, deixando ver o quadro vivo de seus atos, de suas vonta- des, de seus desejos. Momento solene, exame cheio de angús- tia e, muitas vezes, de desilusão. As recordações despertam em tropel e a vida inteira desenrola-se com seu cortejo de faltas, de fraquezas, de misérias. Da infância à morte, tudo, pensa- mentos, palavras, ações, tudo saí da sombra, reaparece à luz, anima-se e revive. O ser contempla-se a si mesmo, revê, uma a uma, através dos tempos, suas existências passadas, suas que- das, suas ascensões, suas fases inumeráveis. Conta os estágios franqueados, mede o caminho percorrido, compara o bem e os mal realizados. Do fundo do passado obscuro, surgem, a seu apelo, como outros tantos fantasmas, as formas que revestiu Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de Limeira Conhecendo a Doutrina Espírita – 6 Estudos doutrinários do GEAEL GEAEL O julgamento Para distrair-se dos cuidados, das preocupações morais, o homem tem o trabalho, o estudo, o sono. Para o Espíri- to não há mais esses recursos. Desprendido dos laços corporais, acha-se incessantemente em face do quadro fiel e vivo do seu passado. Assim, os amargores e pesares contínuos, que então decorrem, despertam-lhe, na maior parte dos casos, o desejo de, em breve, tomar um corpo carnal para combater, sofrer e resgatar esse passado acusador.

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GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 1

Uma lei tão simples em seus princípios quanto admirável em seus efeitos preside à classificação das almas no espaço.

Quanto mais sutis e rarefeitas são as moléculas constitu-tivas do perispírito tanto mais rápida é a desencarnação, tan-to mais vastos são os horizontes que se rasgam ao Espírito. Devido ao seu peso fluídico e às suas afinidades, ele se eleva para os grupos espirituais que lhe são similares. Sua nature-za e seu grau de depuração determinam-lhe nível e classe no meio que lhe é próprio.

Com alguma exatidão tem-se comparado a situação dos Espíritos no espaço à dos balões cheios de gases de densidades diferentes que, em virtude de seus pesos específicos, se elevam a alturas diversas. Mas, cumpre que nos apressemos em acrescen-tar que o Espírito é dotado de liberdade e, portanto, não estando imobilizado em nenhum ponto, pode, dentro de certos limites,

deslocar-se e percorrer os para-mos etéreos.

Pode, em qualquer tem-po, modificar suas tendências, transformar-se pelo trabalho ou pela prova, e, conseguinte-mente, elevar-se à vontade na escala dos seres.

É, pois, umas leis naturais, análogas às leis da atração e da gravidade, a que fixa a sorte das almas depois da morte. Os Es-píritos impuros, acabrunhados pela densidade de seus fluidos materiais, confina-se nas ca-madas inferiores da atmosfera, enquanto a alma virtuosa, de envoltório depurado e sutil, ar-remessa-se, alegre, rápida como o pensamento, pelo azul infinito.

É também em si mesmo — e não fora de si, é em sua própria consciência que o Espírito encontra sua recompensa ou seu castigo. Ele é seu próprio juiz. Caído o vestuário de carne, a luz penetra-o e sua alma aparece nua, deixando ver o quadro vivo de seus atos, de suas vonta-des, de seus desejos. Momento solene, exame cheio de angús-tia e, muitas vezes, de desilusão. As recordações despertam em tropel e a vida inteira desenrola-se com seu cortejo de faltas, de fraquezas, de misérias. Da infância à morte, tudo, pensa-mentos, palavras, ações, tudo saí da sombra, reaparece à luz, anima-se e revive. O ser contempla-se a si mesmo, revê, uma a uma, através dos tempos, suas existências passadas, suas que-das, suas ascensões, suas fases inumeráveis. Conta os estágios franqueados, mede o caminho percorrido, compara o bem e os mal realizados. Do fundo do passado obscuro, surgem, a seu apelo, como outros tantos fantasmas, as formas que revestiu

Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de LimeiraConhecendo a Doutrina Espírita – 6

Estudos doutrinários do GEAELGEAEL

• O julgamento

Para distrair-se dos cuidados, das preocupações morais, o homem tem o trabalho, o estudo, o sono. Para o Espíri-to não há mais esses recursos. Desprendido dos laços corporais, acha-se incessantemente em face do quadro fiel e vivo do seu passado. Assim, os amargores e pesares contínuos, que então decorrem, despertam-lhe, na maior parte dos casos, o desejo de, em breve, tomar um corpo carnal para combater, sofrer e resgatar esse passado acusador.

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2 Conhecendo a Doutrina Espírita

através das vidas sucessivas. Em uma visão clara, sua recorda-ção abraça as longas perspectivas das idades decorridas; evoca as cenas sanguinolentas, apaixonadas, dolorosas, as dedicações e os crimes; reconhece a causa dos processos executados, das expiações sofridas, o motivo da sua posição atual. Vê a corre-lação que existe, unindo suas vidas passadas aos anéis de uma longa cadeia desenrolando-se pelos séculos. Para si, o passado explica o presente e este deixa prever o futuro. Eis para o Espí-rito a hora da verdadeira tortura moral. Essa evocação do pas-sado traz-lhe a sentença temível, a encrespação da sua própria consciência, espécie de julgamento de Deus. Por mais lacerante que seja, esse exame é necessário porque pode ser o ponto de partida de resoluções salutares e da reabilitação.

O grau de depuração do Espírito, a posição que ocupa no espaço representam a soma de seus progressos realizados e dão a medida do seu valor moral. É nisto que consiste a sentença infalível que lhe decide a sorte, sem apelo. Harmonia profun-da! Simplicidade maravilhosa que as instituições humanas não poderiam reproduzir; o princípio de afinidade regula todas as coisas e fixa a cada qual o seu lugar. Nada de julgamento, nada de tribunal, apenas existe a lei imutável executando-se por si própria, pelo jogo natural das forças espirituais e segundo o em-prego que delas faz a alma livre e responsável.

Todo pensamento tem uma forma, e essa forma, criada pela vontade, fotografa-se em nós como em um espelho onde as ima-gens se gravam por si mesmas. Nosso envoltório fluídico reflete e guarda, como em um registro, todos os fatos da nossa existência. Esse registro está fechado durante a vida, porque a carne é a espessa capa que nos oculta o seu conteúdo. Mas, por ocasião da morte, ele abre-se repentinamente e as suas páginas distendem--se aos nossos olhos.

O Espírito desencarnado traz, portanto, em si, visível para todos, seu céu ou seu inferno. A prova irrecusável da sua eleva-ção ou da sua inferioridade está inscrita em seu corpo fluídico. Testemunhas benévolas ou terríveis, as nossas obras, os nossos desígnios justificam-nos ou acusam-nos, sem que coisa alguma possa fazer calar as suas vozes. Daí o suplício do mau que, acre-ditando estarem os seus pérfidos desejos, os seus atos culpáveis profundamente ocultos, os vê, então, brotar aos olhos de todos; daí os seus remorsos quando, sem cessar, repassam diante de si os anos ociosos e estéreis, as horas impregnadas no deboche e no crime, assim como as vítimas lacrimosas, sacrificadas a seus instintos brutais. Daí também a felicidade do Espírito elevado, que consagrou toda a sua vida a ajudar e a consolar seus irmãos.

Para distrair-se dos cuidados, das preocupações morais, o homem tem o trabalho, o estudo, o sono. Para o Espírito não há mais esses recursos. Desprendido dos laços corporais, acha-se

incessantemente em face do quadro fiel e vivo do seu passado. Assim, os amargores e pesares contínuos, que então decorrem, despertam-lhe, na maior parte dos casos, o desejo de, em breve, tomar um corpo carnal para combater, sofrer e resgatar esse pas-sado acusador.

Depois da MorteLeon Denis

Capítulo XXXIFEB - Federação Espírita Brasileira

Nosso envoltório fluídico reflete e guarda, como em um registro, todos os fatos da nossa existência.

Objetivo da encarnação

132. Qual é o objetivo da encarnação dos Espíritos?– Deus lhes impõe a encarnação com o objetivo de

fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é uma expiação; para outros, é uma missão. Para alcançar essa perfeição, porém, devem sofrer todas as vicissitudes da existência cor-poral: nisso reside a expiação. A encarnação tem também um outro objetivo: pôr o Espírito em condições de assumir sua parte na obra da criação. É para realizá-la que, em cada mundo, ele toma um aparelho em harmonia com a matéria essencial desse mundo, para nele executar, desse ponto de vista, as ordens de Deus, de tal forma que, cola-borando para a obra geral, ele próprio progride.

A ação dos seres corpóreos é necessária à marcha do universo, mas Deus, em sua sabedoria, quis que, nessa mesma ação, eles encontrassem um meio de progredir e de aproximar-se dele. É assim que, por uma admirável lei da sua providência, tudo se encadeia, tudo é solidário na natureza.

133. Os Espíritos que, desde o princípio, seguiram o ca-minho do bem, precisam da encarnação?

– Todos são criados simples e ignorantes; é nas lutas e nas tribulações da vida corporal que se instruem. Deus, que é justo, não poderia fazer alguns felizes, sem aflições e trabalhos, e, consequentemente, sem mérito.

133a. Mas então, de que serve aos Espíritos terem seguido o caminho do bem, se isso não os exime dos sofrimentos da vida corporal?

– Chegam mais depressa ao final do caminho; e de-pois, os sofrimentos da vida são muitas vezes consequ-ência da imperfeição do Espírito. Quanto menos imper-feições tem, menos tormentos sofrerá. Aquele que não é invejoso, nem ciumento, avarento ou ambicioso, não passará pelos tormentos que têm sua origem nesses de-feitos.

O Livro dos Espíritos

Allan KardecEditora do ConhECimEnto

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GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 3

274. As diferentes ordens de Espíritos estabelecem entre eles uma hierarquia de poderes? Há entre eles subordinação e auto-ridade?

– Sim, muito grande. Os Espíritos têm uns sobre os ou-tros uma autoridade proporcional à sua superioridade, autoridade essa que exercem por uma ascendência moral irresistível.

274a. Os Espíritos inferiores podem esquivar-se da autorida-de dos que lhe são superiores?

– Eu disse: irresistível.

275. O poder e a consideração de que um homem gozou na terra dão-lhe supremacia no mundo dos Espíritos?

– Não, porque os pequenos são elevados e os grandes, rebaixados. Lê os Salmos.

275a. Como devemos entender essa elevação e esse rebaixa-mento?

– Não sabes que os Espíritos são de diferentes ordens conforme seu merecimento? Pois bem, o maior da terra pode estar na última categoria entre os Espíritos, enquan-to seu criado poderá estar na primeira! Compreendes isso? Jesus não disse: quem se humilha será exaltado e quem se exalta será humilhado?

276. Quem foi importante na terra e se acha em inferiorida-de entre os Espíritos, sente-se humilhado?

– Geralmente, muito humilhado, principalmente se era orgulhoso e invejoso.

277. O soldado que, após a batalha, encontra seu general no mundo dos Espíritos, ainda o reconhece como seu superior?

– O título nada significa; o importante é a verdadeira superioridade.

278. Os Espíritos das diferentes ordens ficam todos juntos?– Sim e não; quer dizer, eles se encontram, mas distin-

guem-se uns dos outros. Evitam-se ou aproximam-se, segun-do a semelhança ou a incompatibilidade dos seus senti-mentos, como acontece entre vós. É um mundo do qual o vosso é um vago reflexo. Os da mesma categoria se reúnem por uma espécie de afinidade e formam grupos, ou famí-lias, de Espíritos unidos pela simpatia e pelo objetivo a que se propõem: os bons, pelo desejo de fazer o bem, os maus, pelo desejo de fazer o mal, pela infâmia de suas faltas e pela necessidade de estarem entre os iguais a eles.

Semelhante a uma grande cidade, onde homens de todas as classes e de todas as condições se encontram e reencon-tram sem misturar-se; onde as sociedades se formam pela identidade de gostos; onde o vício e a virtude esbarram um no outro sem se falar.

279. Todos os Espíritos podem entrar, reciprocamente, uns no meio dos outros?

– Os bons vão a qualquer parte, e deve ser assim, para

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que possam exercer sua influência sobre os maus; mas as regiões habitadas pelos bons são vedadas aos Espíritos im-perfeitos, para que não levem até elas a perturbação das más paixões.

280. Qual é a natureza das relações entre os bons e os maus Espíritos?

– Os bons esforçam-se por combater as más tendências dos outros, para ajudá-los a subir; é uma missão.

281. Por que os Espíritos inferiores sentem prazer em indu-zir-nos ao mal?

– Por inveja, pois não merecem estar entre os bons. Seu desejo é, no que depender deles, impedir que os Espíritos ainda inexperientes alcancem o bem supremo; querem que os outros passem pelo que estão passando. Acaso não vedes o mesmo entre vós?

282. Como os Espíritos se comunicam entre si?– Eles se vêem e se compreendem; a palavra é material:

é o reflexo do Espírito. O fluido universal estabelece uma comunicação contínua entre eles; é o veículo da transmis-são do pensamento, como o ar é para vós o condutor do som; é uma espécie de telégrafo universal que liga todos os mundos e permite que os Espíritos se correspondam de um mundo a outro.

283. Os Espíritos podem dissimular reciprocamente seus pensamentos? Podem esconder-se uns dos outros?

– Não, para eles não há segredos, principalmente para os que são perfeitos. Podem distanciar-se, mas se vêem sem-pre. Isto não é, porém, uma regra absoluta, pois alguns Espí-ritos podem muito bem tornar-se invisíveis para outros, se julgarem útil fazê-lo.

284. Não tendo mais corpo, como podem os Espíritos cons-tatar sua individualidade e distinguir-se dos outros seres espiri-tuais que os rodeiam?

– Comprovam sua individualidade pelo perispírito, que faz com que os seres se diferenciem uns dos outros, como ocorre com o corpo entre os homens.

285. Os Espíritos se reconhecem por terem convivido na terra? O filho reconhece seu pai, o amigo reconhece seu amigo?

– Sim, e assim de geração em geração.

285a. Como os homens que se conheceram na terra se reco-nhecem no mundo dos Espíritos?

– Vemos nossa vida passada e lemos nela com num li-vro; vendo o passado dos nossos amigos e inimigos, vemos sua trajetória da vida até a morte.

286. Ao deixar seus restos mortais, a alma vê imediatamente os parentes e amigos que a precederam no mundo dos Espíritos?

– Imediatamente continua a não ser bem o termo, pois, como já dissemos, ela precisa de algum tempo para se reco-nhecer e livrar-se do véu material.

287. Qual é a acolhida que a alma tem no seu retorno ao mundo dos Espíritos?

– A do justo, como um irmão bem-amado aguardado há muito tempo; a do mau, como um ser desprezível.

288. Qual é a sensação dos Espíritos impuros diante da che-gada entre eles de outro mau Espírito?

– Os maus ficam satisfeitos ao ver seres iguais a eles e, como eles, privados da felicidade infinita, como acontece na terra com um tratante entre seus iguais.

289. Nossos parentes e amigos às vezes vêm ao nosso encon-tro quando deixamos a terra?

– Sim, eles vêm ao encontro da alma a quem querem bem; como se estivesse voltando de uma viagem, felicitam--na por ter passado ilesa pelos perigos do caminho, e aju-dam-na a desembaraçar-se dos laços corporais. Para os bons Espíritos, quando aqueles que os amam vêm ao seu encon-tro, é uma graça; quanto ao indigno, fica isolado, ou se vê rodeado apenas por Espíritos iguais a ele: é uma punição.

290. Os parentes e amigos sempre se reúnem após a morte?– Isso depende da sua elevação e do caminho que se-

guem para seu progresso. Se um estiver mais adiantado e caminhar mais depressa do que o outro, não poderão ficar juntos; poderão ver-se de vez em quando, mas só ficarão juntos para sempre quando puderem andar lado a lado, ou quando se igualarem em perfeição. E depois, ver-se privado da presença dos parentes e amigos é, às vezes, uma punição.

O Livro dos EspíritosAllan Kardec

Editora do ConhECimEnto

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Instruções dadas por São Luís

Um dos nossos correspondentes nos escreveu o que segue:

No mês de setembro último, uma embarcação leve, fazen-do a travessia de Dunkerque à Ostende, foi surpreendida por um tempo agitado e pela noite; o barquinho soçobra, e das oito pessoas que o tripulavam, quatro perecem; as outras quatro, entre as quais me encontrava, conseguiram se manter sobre a quilha. Permanecemos toda a noite nessa horrível posição, sem outra perspectiva do que a morte, que nos parecia inevitável e da qual experimentamos todas as angústias. Ao amanhecer, tendo o vento nos levado à costa, pudemos ganhar a terra a nado.Por que nesse perigo, igual para todos, só quatro pessoas sucumbiram? Anotai que, por minha parte, é a sexta ou sétima vez que escapo de um perigo tão iminente, e quase nas mesmas circunstâncias. Sou verdadeiramente levado a crer que mão invisível me protege. Que fiz para isso? Não sei muito; sou sem importância e sem utilidade neste mundo, e não me gabo de valer mais do que os outros; longe disso: havia, entre as vítimas do acidente, um digno eclesiástico, modelo de virtudes evangélicas, e uma veneravel irmã de São Vicente de Paulo, que iam cumprir uma santa missão de caridade cristã. A fatalidade me parece ter um grande papel no meu destino. Os Espíritos, nela não estariam para alguma coisa? Seria possível ter, por eles, uma explicação a esse respeito, perguntando-lhes, por exemplo, se são eles que provocam ou afastam os perigos que nos ameaçam?

Conforme o desejo de nosso correspondente, dirigimos as perguntas seguintes ao Espírito de São Luís que gosta de se comunicar conosco todas as vezes que há uma instrução útil para dar.

1. Quando um perigo iminente ameaça alguém, é um Espírito que dirige o perigo, e quando dele escapa, é um outro Espírito que o afasta?

Resp. Quando um Espírito se encarna, escolhe uma prova; escolhendo-a se faz uma espécie de destino, que não pode mais conjurar, uma vez que a ele está submetido; falo de provas físicas. Conservando o Espírito no seu livre arbí-trio, sobre o bem e o mal, é sempre o senhor para suportar ou repelir a prova; um bom Espírito, vendo-o enfraquecer, pode vir em sua ajuda, mas não pode influir, sobre ele, de maneira a dominar a sua vontade. Um Espírito mau, quer dizer, inferior, mostrando-lhe, exagerando-lhe um perigo físico, pode abalá-lo e amedrontá-lo, mas, a vontade do Espírito encarnado não fica menos livre de todo entrave.

2. Quando um homem está no ponto de perecer por acidente, me parece que o livre arbítrio nisso não vale nada. Pergunto, pois, se é um mau Espírito que provoca esse acidente, que dele é, de algum modo, o agente; e, no

caso em que se livra do perigo, se um bom Espírito veio em sua ajuda.

Resp. O bom Espírito ou o mau Espírito não pode senão sugerir bons ou maus pensamentos, segundo a sua natureza. O acidente está marcado no destino do homem. Quando a tua vida é posta em perigo, trata-se de uma advertência que tu mesmo a desejaste, a fim de te desviares do mal e de te tomares melhor. Quando tu escapas desse perigo, ainda sob a influência do perigo que correste, pensas mais ou menos fortemente, segundo a ação mais ou menos forte dos bons Espíritos, em te tomares melhor. O mau Espírito sobrevindo (digo mau subentendendo que o mal ainda está nele), pensas que escaparás do mesmo modo de outros perigos e deixas, de novo, tuas paixões se desencadearem.

3. A fatalidade que parece presidir aos destinos mate-riais de nossas vidas seria, pois, ainda o efeito do nosso livre arbítrio?

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Resp. Tu mesmo escolheste tua prova: quanto mais ela é rude, melhor tu a suportes, mais tu te elevas. Aqueles que passam sua vida em abundância e na felicidade humana, são Espíritos frouxos que permanecem estacionários. Assim, o número dos infortunados sobrepuja em muito o dos feli-zes desse mundo, tendo em vista que os Espíritos procuram, em maior parte, a prova que lhes será a mais frutífera. Eles vêem muito bem a futilidade de vossas grandezas e de vos-sas alegrias. Aliás, a vida mais feliz é sempre agitada, sempre perturbada, não seria isso senão pela ausência da dor.

4. Compreendemos perfeitamente essa doutrina, mas isso não nos explica se certos Espíritos têm uma ação dire-ta sobre a causa material do acidente. Suponhamos que no momento em que um homem passa sobre uma ponte, essa ponte se desmorona. Que impeliu o homem a passar nessa ponte?

Resp. Quando um homem passa sobre uma ponte que deve se romper, não é um Espírito que o conduz a passar nessa ponte, é o instinto do seu destino que para lá o leva.

5. O que fez desmoronar a ponte?Resp. As circunstâncias naturais. A matéria tem nelas

suas causas de destruição. No caso do qual se trata o Espíri-to, tendo necessidade de recorrer a um elemento estranho à sua natureza para mover as forcas naturais, recorrerá antes à intuição espiritual. Assim tal ponte adiante se rompe, a água tendo desconjuntado as pedras que a compõe, a ferru-gem tendo corroído a corrente que a suspenda, o Espírito, digo eu, ensinará antes ao homem para que passe por essa ponte do que fazer romper uma outra sob seus passos. Aliás, tendes uma prova material do que eu adianto: qualquer aci-dente que chegue sempre naturalmente, quer dizer, de causas que se ligam umas as outras, e se conduzem insensivelmente.

6. Tomemos um outro caso no qual a destruição da matéria não seja a causa do acidente. Um homem mal intencionado atira sobre mim, a bala me roça, não me atinge. Um Espírito benevolente pode tê-la desviado?

Resp. Não.

7. Os Espíritos podem nos advertir diretamente de um perigo? Eis um fato que parece confirmá-lo: uma mulher saía de sua casa e seguia pelo boulevar. Uma voz íntima lhe diz: Vai-te; retorna para tua casa. Ela hesita. A mesma voz se faz ouvir várias vezes; então, ela volta sobre seus passos; mas, reconsiderando-se, ela se diz: que vou fazer em minha casa? Dela saí; é sem dúvida um efeito de minha imaginação. Então, ela continua o seu caminho. A alguns passos dali, uma viga que se soltou de uma casa, atinge-lhe a cabeça e a derruba inconsciente. Qual era essa voz? Não foi um pressentimento do que ia acontecer a essa mulher?

Resp. A do instinto; aliás, nenhum pressentimento tem tais caracteres: sempre são vagos.

8. Que entendeis pela voz do instinto?Resp. Entendo que o Espírito, antes de se encarnar, tem

conhecimento de todas as fases de sua existência; quando estas têm um caráter saliente, delas conserva uma espécie de impressão no foro íntimo, e essa impressão, despertando quando o momento se aproxima, torna-se pressentimento.

Nota. As explicações acima reportam-se à fatalidade dos acontecimentos materiais. A fatalidade moral está tratada, de modo completo, em O Livro dos Espíritos.

Revista Espírita - março de 1858Allan Kardec

Editora do ConhECimEnto

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GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 7

PERGUNTA: — De um modo geral, como considerais a prece?RAMATÍS: — A prece dinamiza os anseios sublimes que, em estado

latente, já existem na intimidade do espírito imortal. O homem, na verda-de, como futuro anjo, quando se devota à oração, exercita-se num treino devocional que o põe em contato com os espíritos de hierarquia angélica. Toda prece fervorosa e pura recebe do Alto a resposta benfeitora, a sugestão mais certa e, também, as energias psíquicas que sustentam o próprio corpo carnal.1

É um dos recursos eficientes que eleva e reorganiza a harmonia “cosmo--psíquica” do homem, pois abranda as manifestações animais instintivas, afasta os pensamentos opressivos, dissipa a melancolia, suaviza a angústia e alivia o sofrimento da alma. Embora o homem nem sempre se aperceba dos efeitos positivos e benfeitores que recebe por intermédio da oração, ele retempera suas forças espirituais e se encoraja para enfrentar com mais oti-mismo as vicissitudes e os sofrimentos próprios da existência terrena, pois mobiliza esse potencial criador da Vida, que aproxima o homem do ideal da Angelitude.

PERGUNTA: — Como poderíamos entender o processo que movimenta e dinamiza as energias íntimas do Espírito no ato da prece?

RAMATÍS: — Figurai a prece como um detonador psíquico que movimen-ta as energias excelsas adormecidas na essência da alma humana, assim como a chave do comutador dá passagem, altera ou modifica as correntes das vossas instalações elétricas. Sem dúvida, a capacidade de aproveitamento do homem durante o despertamento dessas forças sublimes pelo impulso catalisador da oração depende tanto do seu grau espiritual como de suas intenções. Aliás, o espírito, ao liberar suas energias no ato da prece, ele melhora a sua freqüência vibratória espiritual, higieniza a mente expurgando os maus pensamentos e libera maior cota de luz interior.

Daí o motivo por que alguns santos purificaram-se exclusivamente pelo exercício da prece, enquanto outros só puderam fazer pelo treino do sofrimento. Em ambos os casos, a purificação é fruto da dinamização das forças espirituais na intimidade do ser, embora varie quanto ao seu processo. No primeiro, é um procedimento espontâneo catalisado pela prece; no segundo, em decorrência do exercício da dor. Por conseguinte, o homem também se purifica pelo hábito constante dos bons pensamentos, pois estes mantêm no campo vibratório de sua mente um estado espiritual tão benéfico como o que se produz nos momentos sedativos da oração.

No entanto, se a criatura se descura da prece, ou seja, deixa de “orar e vigiar”, eis que, então, a dor se encarrega de ativar as reações morais necessá-rias para, mais tarde, libertarem-na compulsoriamente do guante do mundo animal. Nenhum auxílio é tão salutar e eficiente para manter o equilíbrio moral do Espírito, como o hábito da oração, pois a criatura confiante, sincera e amorosa, religa-se a Deus.

Elucidações do AlémRamatís / Hercílio Maes

Editora do ConhECimEnto1 N. do Revisor: “Cada prece, tanto quanto cada emissão de força, se caracteriza por determinado potencial de freqüência e todos estamos cercados por Inteligências capazes de sintonizarem com o nosso apelo, à maneira de estações receptoras”. Trecho extraído do capítulo “Em Torno da Prece”, da obra Entre a Terra e o Céu, de André Luiz a Chico Xavier.

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8 Conhecendo a Doutrina Espírita

20. “Não sou feliz! A felicidade não foi feita para mim!”, geralmente exclamam os homens, quaisquer que sejam sua posição social. Isso, meus queridos filhos, prova melhor do que todos os argumentos possíveis a verdade desta máxima, do Eclesiastes: “A felicidade não é deste mundo”. Realmente, nem a fortuna, nem o poder, nem mesmo a juventude em flor são condições suficientes para a felicida-de. E digo mais: nem mesmo o conjunto dessas três condições tão desejadas, pois continuamente ouvimos entre as classes privilegiadas pessoas de diversas idades queixando-se amargamente de sua condição de vida.

Diante de tal constatação, é inconcebível aceitar que as classes trabalhadoras e ativas invejem com tanta cobiça a posição dos que a fortuna parece ter favo-recido. Neste mundo, por mais que se faça, cada um tem sua cota de trabalho e miséria, seu quinhão de sofrimento e decepção. Donde é fácil concluir que a Terra é um lugar de provas e expiações.

Portanto, aqueles que pregam que a Terra é a única morada do homem, que só nela, e numa única existência, lhe é permitido atingir o grau máximo da feli-cidade, iludem a si próprios e a quem os ouve, pois já está provado por séculos de experiências que, só excepcionalmente, este globo apresenta as condições neces-sárias à completa felicidade do indivíduo.

De modo geral, podemos afirmar que a felicidade é um sonho do qual gerações sucessivas buscam alcançar sem jamais conseguir, pois, se o homem sábio é uma ra-ridade neste planeta, mais raro ainda é encontrar aqui um homem totalmente feliz.

O conceito de felicidade na Terra é tão efêmero para aquele que não se guiar pela sensatez que, por um ano, um mês, uma semana completa de satisfação, todo o resto da existência se esvai numa sequência de amarguras e decepções. E notai, meus queridos filhos, que falo aqui dos que são felizes na Terra, daqueles que são invejados pelo povo.

Consequentemente, se a morada terrena se destina à expiação e às provas, com certeza devemos admitir que em outros lugares existem moradas mais pri-vilegiadas, onde o espírito do homem, mesmo ainda aprisionado num corpo ma-terial, desfruta das alegrias inerentes à vida humana, em sua plenitude. Por isso, Deus semeou em vosso sistema esses belos planetas superiores, para onde vossos esforços e tendências vos levarão um dia, quando estiverdes suficientemente depu-rados e aprimorados.

Todavia, que não se conclua dessas minhas palavras que a Terra esteja des-tinada a ser um eterno lugar de penitência. Não! Certamente que não, pois, dos progressos já obtidos, podeis facilmente deduzir os progressos futuros, e dos me-lhoramentos sociais já conquistados, novos e mais proveitosos melhoramentos virão. Essa é a grande tarefa que a nova doutrina revelada pelos espíritos deve ajudar a realizar.

Assim, queridos filhos, que um providencial estímulo vos anime, e que cada um de vós se liberte energicamente do homem velho! Empenhai-vos todos na propagação do espiritismo, que já deu início à vossa própria regeneração. É um dever incentivar vossos irmãos a participar dessa sagrada luz. Portanto, mãos à obra, meus queridos filhos! Que nessa reunião solene todos os corações aspirem ao grandioso objetivo de preparar, para as gerações futuras, um mundo em que a felicidade não será mais uma ilusão. (François-nicolas-Madeleine, Cardeal Mor-lot, Paris, 1863).

É preciso que se dê mais importância à leitura do Evangelho. E, no entanto, abandona-se esta divina obra;faz-se dela uma palavra vazia, uma mensagem cifrada. Relega-se este admirável código moral ao esquecimento.