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  • 8/10/2019 GB Texto de Criminologia - Direito Penal Do Inimigo - Jlia Ohlweiler

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    Nome: Jlia OhlweilerTexto: Direito Penal do Inimigo

    O direito penal do inimigo teoria estruturada por Gunther Jakobs,

    a partir da opo que alguns indivduos tomam de no se submeterem ao

    sistema normativo, rompendo, assim, com o contrato social. Dessa forma,

    optando por no se submeter ao sistema, no pertencem a este,

    consequentemente as normas desse sistema no devem ser a eles

    aplicadas, mas sim outras. Estes dissidentes, por no serem fiis ao

    sistema, uma vez que o rejeitam, no seriam pessoas, isto , so

    classificados no pessoas a partir do conceito normativo de dignidade da

    pessoas humana. Assim, esses so perigosos aos demais, devendo ser

    tratados de modo diferente.

    O D.P.I, ento, apresenta-se de diversas maneiras entre elas h a

    interpretao lingstica em que visto como direito penal do autor,

    afastando-se a ideia de culpa, baseado na periculosidade, no na

    culpabilidade. Da surgem crticas como s normas, que seriam tachadasde antidemocrticas, pois violariam garantias inerentes dignidade da

    pessoa humana.

    No entanto, Jakobs no esclarece em seu discurso se busca

    legitimar ou no essa teoria, ainda que cite que apenas descreve o

    movimentos que tem ocorrido no mundo, a doutrina nota ambigidades

    na teoria. Como se v no h simplicidade na teoria, de modo que

    unicamente defenda o endurecimento penal ou a expanso do Direito

    Penal , na busca por maior efetividade social. Na verdade, sustenta que

    tratar de modo obscuro ou sem regras os inimigos pior do que ter

    regras para o grupo dissidente, contudo no menciona qual o

    tratamento que seria ideal para os inimigos.

    Ocorre que a sociedade clama por uma atuao estatal que

    combata os riscos das novas tecnologias. Antes do advento dessas

  • 8/10/2019 GB Texto de Criminologia - Direito Penal Do Inimigo - Jlia Ohlweiler

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    tecnologias novas, algumas reas tinham proteo de determinado mbito

    do direito, no entanto h novas ameaas que urgem por uma proteo

    mais eficaz. O que no era merecedor da tutela penal, diante de

    promessas apocalpticas da sociedade de risco, passou a ser protegido,ao ponto de flexibilizar, at mesmo, os princpios penais mais caros, que

    so mitigados a favor da proteo social contra os riscos cientifico-

    tecnologicos. Diz-se que a cincia, a inovao tecnolgica, forma de

    transformao do mundo, interferindo na natureza para melhorar as

    condies da vida humana, no entanto torna-se mtodo de dominao,

    produzindo riscos com seu avano.

    A ampliao demandada ao direito penal traz consequncia que

    vo alm da proteo de novos bem jurdicos. O legislador toma como

    regra e age sem razoabilidade, tendo em vista a disseminao do medo,

    destruindo princpios democrticos e os substituindo por princpios de

    segurana autoritrios. Assim, a teoria do garantismo, parece surgir

    como um antdoto contra o entorpecimento da populao causado pelo

    temor genralizado1. Na verdade, necessrio que se compreenda a

    expanso para que ocorra um processo de retrao e controle do direito

    penal, pois o s haver combate do medo se forem atacadas as causas

    que o promovem.

    Ocorre que,

    Na sociedade do risco, em que a carncia material foi

    reduzida pela distribuio de riquezas, a igualdadepossui outro significado, consistindo na ameaa

    equalizadora dos perigos cientifico-tecnolgicos, que

    no reconhecem classes ou fronteiras. Estando todos

    submetidos igualmente aos riscos das novas

    tecnologias (energia nuclear, transgnicos, poluio

    industrial), o principio da igualdade foi substitudo pelo

    1OLIVEIRA, Rodrigo Szuecs de. Da sociedade de risco ao DIREITO PENAL DOINIMIGO: tendncia de poltica criminal.

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    principio da segurana como mximo valor poltico a

    ser alcanado pela sociedade de risco.2

    Dessa forma, o poder publico para manter a ordem se vale de

    polticas para combater o medo, os perigos abstratos e hipottico, de

    modo a enredar toda a sociedade em medidas autoritrias, ao invs de

    intervir nas causas dos riscos. Assim, o direito penal passa a ser o

    instrumento que o Estado detm para interveno, no entanto este o

    instrumento mais grave de atuao sobre a vida dos indivduos para

    impedir a produo dos riscos.

    Contudo, os princpios de direito penal, para isso, soflexibilizados e relativizados, sendo que O Direito Penal do Risco a

    consequencia de uma sociedade na qual o medo o motor das decises

    polticas. Observa-se, ento, tendncia de aumento no numero das leis

    penais que visam barrar o aumento dos riscos, aumentando investimento

    de segurana publica, elevao de penas e criao de novos crimes.

    Como se v o direito penal adequado ao anseios da sociedade

    do risco, minimizando as garantias, aumento a segurana, se expandindo

    ao ponto de proteger novos bem jurdicos e adiantando barreiras de

    punibilidade como o caso dos crimes de perigo, afastando-se da

    necessidade de leso ao bem jurdico, aproximando-se da periculosidade

    da ao.

    Atualmente o Direito penal foi convertido em instrumento de

    controle dos riscos em detrimento das garantias individuais. 3Tal busca

    por proteo inerente a sociedade composto por indivduos pacientes,

    que esperam do Estado Social sua subsistncia, tendo em vista a

    fomentao da cultura de insegurana, considerando a sua dependncia,

    sendo que assim, exigem do Estado que extermine qualquer risco

    2OLIVEIRA, Rodrigo Szuecs de. Da sociedade de risco ao DIREITO PENAL DO

    INIMIGO: tendncia de poltica criminal.

    3OLIVEIRA, Rodrigo Szuecs de. Da sociedade de risco ao DIREITO PENAL DOINIMIGO: tendncia de poltica criminal.

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    existente. Por isso os sujeitos do Estado do bem estar social averso aos

    riscos, no industrialismo, a noo acerca dos riscos era natural. Todavia,

    no Estado Social, que provedor das necessidades de seus cidados, a

    averso aos riscos superior a vontade de enfrent-los.

    A consequncia de todas essas constataes que o direito

    penal contemporneo est se encaminhando para a terceira velocidade,

    em que a flexibilizao das regras de imputao e relativizao dos

    princpios polticos-criminais vinculadas a penas restritivas de liberdade.

    Isto , o Direito Penal do Inimigo, intencionada a coagir e neutralizar

    pessoas que no oferecem respaldo cognitivo de suas condutas, pois

    romperam com o ordenamento jurdico em prol de outros vnculos que se

    sobrepem. Atua no sentido de considerar inimigo, e no apenas

    transgressor, aquele que no oferece segurana cognitiva sobre sua

    conduta porque no reconhece o ordenamento jurdico como algo vlido e

    que deve ser respeitado. 4Ou seja, diferencia o criminoso comum, que

    infringe a regra mas no nega a sua existncia daqueles que no

    reconhece a validade do ordenamento, ameaando a ordem jurdica, o

    inimigo.

    Atualmente se segue em direo a criao de leis penais de

    terceira velocidade, considerando a falta de razoabilidade do Legislativo,

    atacando as garantias penais em prol da persecuo estatal. 5

    Vislumbra-se que o Estado utiliza-se a percepo dos riscos, o fomento do

    medo para controlar, expandir sua atuao, principalmente no campo

    penal. Ou seja, os indivduos vivem sob o medo e esquecem de buscar as

    razes, de discutir motivos.

    Nesse sentido, Mia Couto, em 2011, na Conferncia de Estoril,

    referiu que

    4OLIVEIRA, Rodrigo Szuecs de. Da sociedade de risco ao DIREITO PENAL DO

    INIMIGO: tendncia de poltica criminal.

    5OLIVEIRA, Rodrigo Szuecs de. Da sociedade de risco ao DIREITO PENAL DOINIMIGO: tendncia de poltica criminal.

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    A nossa indignao, porm, bem menor que o medo.

    Sem darmos conta, fomos convertidos em soldados de

    um exrcito sem nome e, como militares sem farda,

    deixamos de questionar. Deixamos de fazer perguntase discutir razes. As questes de tica so esquecidas,

    porque est provada a barbaridade dos outros e,

    porque estamos em guerra, no temos que fazer prova

    de coerncia, nem de tica nem de legalidade. (...)

    O escritor moambicano, ainda, encerrou sua fala na conferencia

    com frase impactante h quem tenha medo que o medo acabe, que

    demonstra claramente o atual movimento da sociedade.