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CRIMINOLOGIA II Aula 03.08.10 TOLERÂNCIA ZERO Dois carros abandonados – o carro do Bronx estava depenado em menos de 24h, no Palo Alto, ficou abandonado, após sofrer uma batida, foi depenado. A ideia do autor é que se houvesse uma janela quebrada, a pessoa assumiria a condição de depenadora de veículos a partir daquele momento – surgiu a ideia da “Tolerância Zero”. Prefeitura de NY – Dickens perde a eleição e o novo prefeito passa a ser um xerife e para lidar com a desordem e com pequenos delitos, passa a atuar enfaticamente com os pequenos para atuar com os grandes. Rudolf Juliane – precisava de alguém com experiência – chefe de segurança do metrô, para coibir as depredações do metrô. Com uma estrutura empresarial, que criou, com mecanismo georeferenciado, buscou de um criminologo belga, para a polícia de NY. Começa a limpar cidade, atacando grafiteiros, mendigos, lavadores de pára-brisa, proibindo tudo o que não era regulamentado – resgatou a ideia do “caça-gazeteiros”. Conseqüências violentas: imigrante sodomizado com cacete, outro assassinado na porta de entrada do seu prédio, estabeleceu-se uma abordagem pedindo documentos do sujeito, o que não era tradicional; obrigou as pessoas a andarem pela calçada. Passou a adotar a política de tolerância zero. A política teria diminuído a criminalidade. A ideia de se combater o crime com dureza, se diminui a criminalidade, como se a criminalidade fosse decorrência da moleza ou dureza de como se combate ela. Mas esquece-se um viés pessoal, social, entre outros.

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CRIMINOLOGIA II

Aula 03.08.10

TOLERÂNCIA ZERO

Dois carros abandonados – o carro do Bronx estava depenado em menos de 24h, no Palo Alto, ficou abandonado, após sofrer uma batida, foi depenado.

A ideia do autor é que se houvesse uma janela quebrada, a pessoa assumiria a condição de depenadora de veículos a partir daquele momento – surgiu a ideia da “Tolerância Zero”.

Prefeitura de NY – Dickens perde a eleição e o novo prefeito passa a ser um xerife e para lidar com a desordem e com pequenos delitos, passa a atuar enfaticamente com os pequenos para atuar com os grandes.

Rudolf Juliane – precisava de alguém com experiência – chefe de segurança do metrô, para coibir as depredações do metrô. Com uma estrutura empresarial, que criou, com mecanismo georeferenciado, buscou de um criminologo belga, para a polícia de NY. Começa a limpar cidade, atacando grafiteiros, mendigos, lavadores de pára-brisa, proibindo tudo o que não era regulamentado – resgatou a ideia do “caça-gazeteiros”.

Conseqüências violentas: imigrante sodomizado com cacete, outro assassinado na porta de entrada do seu prédio, estabeleceu-se uma abordagem pedindo documentos do sujeito, o que não era tradicional; obrigou as pessoas a andarem pela calçada. Passou a adotar a política de tolerância zero.

A política teria diminuído a criminalidade.

A ideia de se combater o crime com dureza, se diminui a criminalidade, como se a criminalidade fosse decorrência da moleza ou dureza de como se combate ela. Mas esquece-se um viés pessoal, social, entre outros.

O período desta política vai de 91 a 98 – houve decréscimo de criminalidade de 70,6%.

Mas a criminalidade não depende exclusivamente da repressão, é interessante notar e cotejar outras cidades americanas que tiveram políticas diferentes das de NY e tiveram dados igualmente bons – San Diego – diminuição de 76,4 % sem a política de tolerância zero; Boston – diminuição de 69,3%. Elas adotaram políticas diferentes – intervenção urbana, sem envolvimento com o aparelho repressor do Estado, por grupos comunitários, que impedem o cometimento de delitos – Boston: pastores batistas para atuar na comunidade, em parceria com a polícia, numa articulação entre a sociedade civil e o Estado.

Houston – sem qualquer política diferenciada, teve uma diminuição de 6l,3% na criminalidade.

Los Angeles – diminuição de 59,3%, sem uma política diferente.

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Assim NY possui dados estatísticos inferiores e próximos de quem nada fez. A criminalidade. Talvez porque a globalização beneficiou as potências centrais, com baixos índices de desemprego. O desemprego por si só não é criminógeno, mas o endêmico sim. O desenvolvimento econômico e social leva à queda da criminalidade – medida pelo número de homicídios por cem mil habitantes por ano. Usa-se este referencial porque é necessário um padrão numérico, com um número grande, para não haver um crescimento brutal em um ano em uma cidade pequena por exemplo. O crime também varia conforme o período do ano: durante o carnaval, com mais pessoas embriagadas, há mais delitos do que no inverno, em que as pessoas não saem tanto de casa, então é necessário dividir tudo isso no meio do ano.

Fórmula da criminalidade: H= t x 7 + u x 2 – homicídio, temperatura, umidade.

Recife e Vitória são muito mais perigosos que o Rio de Janeiro.

O homicídio é utilizado na contabilização do índice de criminalidade: no caso do homicídio não há constrangimento em noticiar a polícia, tanto que quase todos os casos são notificados. Os delitos variam de 98% de não notificação – cifra negra: diferença entre o fato delituoso real e os captados pelos órgãos de segurança. Cifra cinza: quando não se pode apurar a autoria, embora notificado. As duas somadas são cifra obscura: que pode chegar a 98% da criminalidade, que não é notificada à polícia.

O homicídio e o desaparecimento de pessoas são quase 100% notificados. Este dado estatístico é mais preciso: crimes contra a vida.

Estatística criminológica – ignora-se a razão pela qual a vida foi retirada, porque todas as hipóteses são hipóteses de crimes dolosos que tiram a vida de alguém. O dado de homicídio será incluído num dado estatístico geral: nº de homicídio em 100 mil hab./ ano.

Mortes provocadas pela polícia de NY no auge do processo de implementação de medidas de Tolerância Zero. Há uma relação entre mortos e feridos pela polícia. Numa guerra, a cada 10 feridos há um morto – num embate em que as pessoas estão em lados diferentes, acerta-se menos para tirar a vida do que para tirar a integridade física.

Há uma média de que para cada um civil morto, há dois feridos.

Mortes provocadas pela polícia da cidade de São Paulo: 17,4% dos homicídios no Brasil são praticados pela própria polícia. Relação com civis feridos – em alguns lugares há um índice de um para um, mas há outros lugares em que é muito alto – que mostra que não há confronto com a polícia, a polícia atira para matar, em execução.

Comparação entre os dados de NY com SP – NY é o paradigma do endurecimento da polícia - em São Paulo se mata por pouco. No Brasil se acaba com a criminalidade matando os criminosos.

Mortes de civis e policiais e NY – se há um confronto se pressupõe que há paridade de armas, mas o bandido tem a surpresa, pode atirar nos muros do quartel e mesmo assim, um dos bandidos que fez isso vai ser morto.

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São Paulo – se comparado com NY morre muito mais policial, mas como eles matam muito mais gente, a proporção é até maior.

Comparando – a estatística no Brasil muda com uma mera mudança no comando da PM.

Índices mundiais de encarceramento Média de 140 presos por 100 mil habitantes. Considerando a China, cujos dados

são ocultos, por exemplo, pode haver uma variação para 160. ¾ dos países do mundo registram média menor. França: 93 presos/100 mil hab. Inglaterra: 141 presos/100 mil hab. América do Sul e Oceania: 115/100 mil hab.Índia: 29 presos/100 mil hab.China: 117 presos/100 mil hab. Mas este índice é subestimado pelas autoridades.

Em Cuba não era possível conversar com os presos, assim como na China. Rússia: 606 presos/100 mil hab.Antigas repúblicas soviéticas: 500/100 mil hab. A cultura punitivista do socialismo real persiste.

África do Sul, Caribe, Norte da África, Ásia Central – 300Europa do Leste - + 200

EUA – 701 presos/100 mil hab. É um país que encarcera um para cada 100 negros e põe em provation 10% da população negra e 25% da população latina – como se fosse livramento condicional e sursis. Imagina se isso ocorresse no Brasil, em que há muito mais negros.

Canadá e Austrália – 110/100 mil hab.

Colômbia – 126 presos/100 mil hab. Mas tem a maior taxa de homicídios por ano.

Encarcerar pessoas é uma opção. Pode haver país violento como a Colômbia com pequeno índice de encarceramento, e pode haver países semelhantes com índices de encarceramento diferente.

No Brasil: 229 presosSão Paulo: 386 presos/100 mil hab.

1994 – primeiro censo penitenciário. O índice era de 85/100 mil hab.

Aumentou em 127% a população carcerária e em 21% a população do país – opta-se por punir mais.

São Paulo não é o Estado mais violento do país. Rio, Espírito Santo e Recife são mais violentos e estados fronteiriços influenciados por tráfico de drogas. Então, porque São Paulo tem tantos presos, se comparado com o resto do Brasil? São Paulo é a magistratura mais dura e rigorosa do país.

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Acre – 431, 21 presos/100 mil hab. No AC há 2.888 presos, porque os juízes do AC são formados em SP, mas lá há melhor estrutura do que em SP e pune mais.

1/3 dos detidos estão nos EUA e na Ex-URSS.

VARIÁVEIS ESTRUTURAIS.

Na Índia há muita gente, muita pobreza, mas o curioso é que tem um índice de presos baixíssimo: a sociedade é por castas, não é uma real sociedade de consumo, não há ascensão social em face de dinheiro. Os burgueses na França fizeram uma pequena revolução, das mais sangrentas, para chegar ao poder – tinham dinheiro, mas queriam o poder, criaram uma ideologia que autorizava a classe rica a ter mais do que dinheiro, ter também poder. Isso explica que na Índia não vai existir crime patrimonial – o roubo é para ter o objeto, o “carrão”, como eles não são sociedade de consumo, não querem ter o objeto. A pobreza na Índia é homogênea, não há ascensão social, não há problema de criminalidade patrimonial, que é a maior parte da criminalidade. Tráfico – crime patrimonial na concepção criminológica, 90 % da criminalidade brasileira seria patrimonial. Isso não vai ser enfrentado com política repressiva, portanto, pois a sociedade incentiva ao consumo, com grandes desigualdades sociais.

Piauí – um dos Estados com menor criminalidade do país, junto com o Maranhão, porque lá não tem nada, não tem dinheiro, não tem imigrante, complexidade na sociedade, é tradicional, pouco cosmopolita, o controle social opera com eficiência.

a) Densidade populacionalb) Composição Demográfica por idade: a criminalidade brasileira cai por conta

do envelhecimento da população, a longo prazo, o decréscimo da criminalidade é visível. De 15 a 24 anos a criminalidade sobe, depois, ela vai diminuindo.

c) Riqueza dos paísesd) Bem Estar Social

VARIÁVEIS POLÍTICAS

a) Níveis de democracia: um país mais ditatorial tende a ter níveis de encarceramento maior que os democráticos.

b) Sistema de governoc) Representação – liga-se aos níveis punitivos porque o sistema presidencialista

tende estar mais diretamente ligado à pressão popular, já o parlamentarismo é mais estável.

VARIÁVEIS EXPLICATIVAS DO AUMENTO DA POPULAÇÃO CARCERÁRIA

- Hipótese negativa:a) aumento da criminalidade – não determina ou se relaciona diretamente com o

índice de encarceramento.

- Hipóteses positivas:a) Crise do Estado de Bem-Estar Social: o acréscimo não é automático, primeiro

muda a postura diante da vida, desacreditando no Estado, na comunidade, em si mesmo,

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sentindo-se perdido no mundo e por fim, ao se ver sem alternativa, a pessoa comete o delito. É um processo gradativo de degradação, de solapamento da condição humana.

b) ampliação do sentimento de privação relativa por parte dos grupos marginalizados. A criação de uma perspectiva vai inibir a vontade de cometer um crime – a pergunta é “por que a gente não comete crime?”

c) política da criminalização das drogas. É necessário adotar políticas de redução de danos, descriminalizar drogas leves. Londres – descriminalizou a maconha em uma região de Londres e a polícia adorou, porque poderia concentrar seus esforços em crimes maiores. De fato já se descriminaliza a conduta.

d) Fluxos Migratóriose) Adoção de legislação mais repressiva (movimento de lei e ordem, tolerância

zero e direito penal do inimigo) – produzem maior punição. f) maior severidade dos operadores do direito no processo de criminalização

secundária (agencias de controle mais duras no combate ao crime, cultura de juízes e promotores). Há um conflito entre políticas diferentes de segurança pública.

g) adoção de penas mais longas. Casos de reincidência só aumentam. h) sentimento de insegurança social fomentado pela mídia. Os noticiários estão

cada vez mais violentos. A população vai achar que é preciso punir mais. i) natureza do processo encarcerador: exclusão x inclusão.j) indústria do controle do crime (sociedade disciplinar x sociedade de controle).

Vendem-se mais itens de segurança. Problemas de presídios privados: empresas que denunciam o contrato se desrespeitado, assim como as empresas escolhem quem serão seus encarcerados.

10.08.10

CRIMINOLOGIA – CONCEITO, OBJETO, MÉTODO E FUNÇÕES

Direito Penal X Criminologia

A ciência penal é uma ciência? O direito é uma ciência? A questão central é essa.

Conceito

Criminologia é empírica, interdisciplinar, que se ocupa do estudo da vítima, do crime, do delinquente e do controle social do delito, buscando os mecanismos de prevenção eficaz, do delito e as técnicas de intervenção sobre a pessoa do agente infrator.

É ciência mesmo? Isso vem do iluminismo. Qual a diferença entre o senso comum e a ciência? Saber que é melhor cozinhar lingüiça com um pouco de água e não só óleo é um saber específico, útil, é comum, não se universaliza, não é objetivo, não é parâmetro para outros saberes. O que caracteriza uma ciência como algo padronizado e universal é um sentido lógico.

Cientificismo – ciências duras: física, química, matemática, mas mesmo nestas ciências há relativismo.

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Nas ciências humanas, o relativismo é ainda mais grave. Não há a mesma relação na Etiópia, na Austrália e os aborígenes. Há alguma relação, mas há muitas diferenças. Assim, é difícil pensar num conceito homogêneo de ciência.

Assim como o direito penal é uma ciência, a criminologia também o é. São partes de uma ciência chamada direito.

A criminologia é empírica e interdisciplinar, diferente do direito penal.

Características

A criminologia se aproxima do fenômeno delitivo sem prejuízos, sem mediações. Não obedece ao modelo de tipicidade do direito penal. Ex.: não usa totalmente o modelo típico do homicídio – sua visão de delito é totalizadora, seu proceder metodológico adota o empirismo e a interdisciplinaridade. Ex.: Gluecks.

Infanticídio e aborto atentam contra a vida, de maneira dolosa e se encaixam no standart do homicídio.

Prejuízo – exame de algumas situações. O CP é um desfilar de prejuízos, de idéias já pré-concebidas, nada se questiona do CP. Não se explica, por exemplo, porque as penas de crimes semelhantes são diferentes. O CP é um desfile de situações já pré-concebidas.

A criminologia não pode ter mediações, mas é necessário um estudo totalizador, para se tentar obter uma realidade. Ex.: é comum que nossos amigos penalistas tenham uma visão particularizada, enquanto que os criminologistas têm uma visão abrangente. Penalistas: função da pena é a prevenção. Criminalistas: qual a medida da prevenção? Como provar que a pena privativa de liberdade produz efeitos? É necessário um método para descobrir isso e o método não é único. Há o empirismo e a interdisciplinaridade. O empirismo é constatar na prática os efeitos – casal Glueck: pegam 500 agentes infratores, jovens – adolescentes em conflito com a lei. Distribuíram em dois grupos – técnica de grupo de controle. Para provar que a prisão é boa ou má? Não se pode fazer isso com pessoas no Brasil. Mas nos EUA pode – 250 pessoas foram tratadas no meio aberto e 250 no meio fechado. Trabalharam por 10, 15 anos. Houve mais reincidência no regime fechado, de 75% e no aberto de 35%. Programa Perry – mesmo método – prevenção primária, atua-se para impedir a ocorrência do fato. Secundária – há proximidade de envolvimento com o crime. Terciária – após o crime.

Crianças com o mesmo perfil foram divididas em dois grupos – pobres, afrodescendentes – grupo de risco. Num grupo, deixaram frouxo e no outro endureceram o controle, com todo o tipo de assistência. Durante 20 anos acompanhou-se o pessoal testado.

Problema do casal Glueck – não trabalhou com estatística. O que está fora da curva estatística, se elimina isso. É necessário interdisciplinaridade – é necessário eliminar o que está fora da curva.

Na segunda pesquisa não há qualquer prisão ainda, há a prevenção primária – Programa Perry. Onde houve mais delitos? Onde houve assistência psicossocial ou onde

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não houve? As situações de risco e os crimes apareceram mais em quem não tinha qualquer acompanhamento.

A lógica, desta técnica metodológica, é supor que se isso é universalizado, quando há controle mais eficaz alternativo à prisão, pode haver diminuição da criminalidade com menor investimento – não é necessário gastar em cadeia, mas investir na creche, na escola, na pré-escola, em todas as esferas.

Há outras técnicas metodológicas – observação participante. O professor é incapaz de entender o aluno da Sanfran – para isso ser possível, para entender plenamente, o professor deveria ser aluno da Sanfran, agora. Há idiossincrasias características, nós desprezamos a PUC, temos auto-suficiência, a gente ainda acha que é o melhor.

Idiossincrasias de quem está no regime fechado ou na favela dominada pelo tráfico: o morador da favela vai falar que não há crime, que a sociedade é pacífica. Na cadeia, se perguntarmos se há PCC, ninguém vai falar que existe. Desta maneira nunca se desnuda o que há na instituição.

Em 1910, Tom Brown fica dois anos preso, a pedido, nos EUA – dentro da prisão, as relações humanas lá existentes são diferentes e não eram conhecidas porque analisadas com olhar externo.

Sistema de informação da polícia – “ganso” – é um policial frustrado, é uma pessoa que queria ser policial, que vive de dar informações para a polícia. Não é funcionário público, é pago pela polícia, com o produto do crime – cada dinheiro apreendido é parte destinada ao “ganso”, bem como droga apreendida – Guaraci Mingardi. Só o investigador que viveu esta situação é que sabe disso – assim a observação participante funciona deste jeito. Da mesma maneira procedeu Boaventura de Sousa Santos, que morou na favela para estudar as relações sociais de lá.

Direito

Ele se aproxima do fenômeno delitivo, limitando interessadamente a realidade através do modelo típico, interpreta a norma para aplicá-la ao caso concreto. Tem, pois, uma visão axiológica. Usa o método dedutivo, que no direito tem o nome de jurídico-dogmático. Usa a hermenêutica para ordenar as leis.

Os valores sociais devem e estarão passados para o ordenamento. Os dois sistemas não são bons, porque se excede tanto em países socialistas quanto nos capitalistas.

Uso do método dedutivo, já a fato praticado – a pessoa matou, e busca-se o artigo correspondente para aplicar a pena – o sistema é fechado, dogmático. Tércio Sampaio: dogmática (direito penal) e zetética (criminologia).

Hermenêutica: norma superior X inferior.

Política criminal

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Ponte entre o direito e a criminologia. Ela se incumbe de transformar a experiência criminológica em opções e estratégias concretas a serem assumidas pelo legislador e pelos poderes públicos.

Ex.: do crime de dano. Pode ser praticada pelo legislativo, executivo e judiciário.

Furto de bagatela – decisão judicial fundada em política criminal.

Objeto da criminologia

Delito – não é a ação típica, ilícita e culpável. 4 critérios. Critérios para tornar um fato humano corriqueiro em delituoso? É necessário que o fato ocorra sempre.

- incidência massiva: transformar adulteração de produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais como crime hediondo.

- incidência aflitiva: produção de dor não ao interesse individual, mas à sociedade como um todo, mas até mesmo a um indivíduo. Caso do couro sintético – lei 4.888/65 – criminalizou o uso do termo couro sintético. Mas qual o mal causado com isso?

- persistência espaço-temporal: o fato deve ocorrer presentemente num território determinado e dure determinado tempo. Anel de Brucutu. Há, no entanto, coisas que são incontornáveis. A jovem guarda fazia anel com Brucutu com o jogador de água do fusca.

Mas e o cigarro? É massivo, é aflitivo, tem persistência espaço-temporal, então, por que não criminalizar? Porque gera muito imposto ao governo,

- inequívoco consenso de que o fato seja criminoso. Esta questão é subjetiva. Nem sempre é vai-se criminalizar o álcool – comete-se um despropósito. Se houver inequívoco consenso que o álcool deve ser criminalizado, ele deve estar louco. A criminalização das drogas produz a mesma conseqüência que a criminalização do álcool.

Delinquente

- clássico: é um pecador, para o contratualismo, ele elege a conduta criminosa.

- positivismo: o livre-arbítrio é uma ilusão subjetiva. O criminoso é vítima da própria patologia. Determinismo biológico ou social – é uma conseqüência.

- correcionalismo: criminoso é um ser inferior, um fraco. Ação do Estado é pedagógica e pietista. É política de tutelar na esfera do direito do menor, era claramente pietista, correcionalista, e para o professor ainda é.

- marxismo: a responsabilidade criminal decorre de certas estruturas econômicas. A base da produção determina a natureza e a repressão do delito. Base/superestrutura.

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- nossa opinião: o criminoso é um ser histórico, real, normal. É condicionável, mas tem assombrosa capacidade para transformar e transcender o legado que recebe e construir seu próprio futuro.

Vítima

Mendelson – 1947, Conferência em Bucareste fala pela 1ª vez em vitimologia. O direito penal nunca se interessou pela vítima. Após a 2ª GM houve interesse em relação à vítima do holocausto, analisando a vitimologia. A partir do estudo da vítima se estuda o criminoso.

Von Hentig – 1948. Primeiro livro The criminal and his victim;

Primeiro simpósio de vitimologia – 1973 – Israel Drapkin – em Jerusalém.

7º Simpósio de vitimologia – 1991, Rio de Janeiro. Brasil deu grande contribuição. Os principais vitimólogos do mundo eram os holandeses. Luck Husman – maior abolicionista de todos os tempos. Para ele a pena produz conseqüências acentuadas e é necessário retirar ela do sistema. O professor se corresponde com esse professor. Delegacia da mulher no Brasil: sistema de acolhimento na hora da ocorrência policial, para evitar que a mulher fosse uma vítima secundária – tornar-se vítima do Estado – era fundamental não vitimizar mais a vítima do crime. Roterdã e Amsterdã fizeram as primeiras delegacias da mulher da Holanda.

- vítima primaria.

- vítima secundária – derivativos das relações entre as vítimas primárias e o Estado em face do aparato repressivo.

- vítima terciária – vitimização do delinquente.

Para evitar que alguém se torne vítima do Estado é que se estuda a vitimização. A mulher que foi estuprada já sofreu o dano. Um sistema de apoio à vítima pode dar uma assistência psicológica. Afinal, ela vai ter que reproduzir várias vezes o mesmo fato.

Depoimento sem dano: é para a criança – tentar de forma lúdica extrair os fatos. Um psicólogo, preparado para isso, a criança fica numa sala contígua em que será ouvida, colocam-se brinquedos e a psicóloga tem um fone e ouve as perguntas do juiz, com uma técnica especial e as perguntas serão transmitidas indiretamente para a criança, bem como as reperguntas de advogados. Este depoimento diminui o dano. Isto preserva a vítima.

Crime

É fenômeno seletivo – atinge mais os velhos, crianças a adultos, mais que mulheres que homens. Criam-se delegacias especiais: para criança, para o idoso, para o turista, fundamental para a prevenção vitimária.

Controle Social do Delito

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Conjunto de mecanismos e sanções sociais que pretendem submeter o indivíduo aos modelos e normas comunitários.

Tem duas facetas: há o controle social formal e o informal.

Controle social informal: família, escola, profissão, clubes de serviços, opinião pública, etc. (ex. da viagem e do jornal) importância de Disraelli. O controle social é muito maior. As cidades menores sempre têm menor criminalidade que as cidades grandes porque o controle social é maior e se inibe mais a criminalidade.

Não há solidariedade. Na grande cidade não há próximo. Aqui ninguém conhece seu vizinho.

Controle social formal: polícia, ministério público, judiciário, penas, etc. (MENOS EFICIENTE – vide lei de crimes hediondos). Passa pelo Estado. É um controle menos eficiente que o informal.

É necessária uma articulação – por isso a polícia comunitária funciona. Articula as duas formas de controle.

O controle social é seletivo e discriminatório: o status prima sobre o merecimento. Quem merece o controle não o tem. É estigmatizador (teoria da etiqueta).

Por que se revistam mais os negros e pobres do que os brancos e ricos?

A intervenção deve ser mínima.

17.08.10

HISTÓRIA DA CRIMINOLOGIA

O conceito de história é um conceito complicado. Uma sucessão cronológica de temas de criminologia não é propriamente história. É necessário interpretação.

Criminogênese – os que mais se discutia a respeito é se os fatores desencadeadores da criminalidade eram exógenos ou endógenos. Se estudava a distribuição da criminalidade num ano. Estudos apontam que há maior índice de criminalidade no verão do que no inverno. Assim como entre a sexta-feira à noite até à madrugada de segunda-feira, corresponde a 65% dos crimes. Os outros 35% dos crimes acontecem durante a semana. Grande parte dos crimes estão influenciados pelo sábado e domingo. Num raciocínio grosso, vai-se pensar que o sábado e o domingo são criminógenos.

Outros estudos diziam que o índice de homicídios decorriam diretamente da temperatura e da umidade. H = T x 7 + U x 2. H: homicídios; T: temperatura; U: umidade.

Mas há outra explicação, no inverno as pessoas se recolhem mais e têm menos contato com os seres humanos – assim, há algumas modificações: nos períodos de verão

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e de festas, feriados há maior criminalidade – no carnaval as pessoas estão mais suscetíveis às drogas, a situações de briga entre outras pessoas, é o que acontece, por exemplo, num carnaval de rua na Bahia, no Recife, etc.

Quando se fala em história da criminologia, normalmente somos remetidos à Lombroso. Dentro do contexto histórico, Beccaria está para o direito penal, assim como Lombroso está para a criminologia. Beccaria não escreve a sua obra como uma inovação, a partir do caldo de cultura do seu período reproduziu de uma maneira sintética tudo que se pensava sobre teoria do direito penal. Escreve em 1764, divulgando a cultura, não acreditava muito em sua publicação, publicando sob pseudônimo. A obra se tornou um clássico, de mídia, Dos Delitos e Das Penas. Depois foi fazer conferencias em outros lugares da Europa, levando seu pensamento iluminista para a burguesia – as idéias liberais já estavam amadurecidas na revolução francesa.

Nulla pena nullo crime sine legem. Mas quem criou este brocardo do princípio da legalidade? Feuerbach.

Lombroso: O Homem Delinquente e A Mulher Delinquente – com análises das criminosas que freqüentavam os cárceres e a criminalidade na Absínia.

Quando se estuda história, sempre se vê algumas fases. É necessário definir alguns momentos – uma fase pré-científica, outra pré-científica.

Mas o professor adota como marco Lombroso – momento de transição. O pré-lombrosiano é pré-científico. O período lombrosiano é semi-científico. Com a escola de Chicago surge o momento científico da criminologia.

História do direito penal: a ciência direito penal está ligada ao pensamento beccariano. Houve a escola clássica a que se opôs o direito positivista italiano.

A criminologia, enfrentada sob um olhar científico, como fizera Lombroso, com olhar experimentalista e não empírico – por isso semi-científico – é que faz com que exista um marco inicial para um estudo científico.

1. Momento Pré-CientíficoAntecedentes próximos:- A. Pare (1.575) – Livro sobre feridas e mortes violentas. - O olhar do criminólogo é originalmente pessoal e o do jurista olha o crime. O

crime para os clássicos é um ente jurídico.A história do direito penal está centrada no crime, já a da criminologia está

centrada na pessoa. As evoluções centram-se na pessoa do criminoso e na da vítima. Há esse binômio – porque alguém comete crime e porque algumas pessoas são mais vítimas do que outras.

Lombroso – recolhedor de pensamentos de seu tempo.

Fisionomia – Della Porta (1535-1616) – dos dados fisionômicos de uma pessoa pode-se deduzir se a pessoa é boa ou ruim. Se ela é feia, deduz-se que ela é má e se ela é bonita, pensa-se que ela é boa.

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Lavater (1741-1801) – escreve em 1776 “a arte de estudar a fisionomia” – estuda a craneometria – é uma pseudociência. Eram os estudiosos do crânio e esta pseudociência dizia que um cérebro anatomicamente perfeito deve ter relação com o caráter da pessoa – a distancia entre o queixo e a testa deve ser o dobro da distância entre as maçãs do rosto. Para ele, a beleza ou feiúra são reflexos da bondade ou maldade da pessoa. Malbataan falava que a beleza da mulher estava na simetria. Mas a arte moderna é antissimétrica. Por isso Lombroso vai chamar de criminoso quem possui uma assimetria craniana. O homem delinquente tem uma maldade natural para Lavater. Mas o juiz vai acabar identificando o criminoso com o feio.

Marques de Moscardi – Juiz napolitano que cria seu “Edito de Valério” – “quando se tem dúvida entre dois presumidos culpados condena-se o mais feio”. A forma processual era a seguinte: “ouvidas as testemunhas de acusação e de defesa e visto o rosto e a cabeça do acusado, condeno-o...”

Na história vai se ver a associação da criminalidade à aparência.

PENITENCIARISTAS

Os diretores de cadeia foram os primeiros a estudar a execução penal. A pessoa era nomeada para cuidar da cadeia, sem ganhar nada por isso. Populares davam a comida para os presos que ficavam no porão.

John Howard (1726-1790) – “The state of prision in England and Wales” de 1777 e Bentham (1748-1832), formulam a tese da reforma do delinquente como fim prioritário da Administração. A reforma se daria a partir da religião – sistema dos Quackers, ou o progressivo europeu...

FRENOLOGISTAS

Os creneometras mediam o cérebro por fora e a partir destas medidas tentavam encontrar relação existentes entre as medidas exteriores e a criminalidade.

A categorização de Benedicti – os pesos dos crânios têm relação direta com a capacidade de intelecção. Começa a identificar quanto pesava cada crânio, por categorias. Havia toda uma relação. O crânio feminino pesava bem menos.

Lombroso morreu – seria feita a autopsia. Pesava o mesmo tanto que o de uma mulher.

Lombroso se envolve num debate em 1889 – seminário em Paris – crânio de Charlot Cordé, assina do Marat. Durante cinco anos ficaram debatendo se o crânio dela era ou não de uma criminosa nata. Depois descobriram que houve reforma no cemitério e deram um crânio qualquer para os estudiosos.

“médicos e assassinos na Belle epoque”

Tentam explicar o comportamento humano pela malformação cerebral. Franz Joseph Gall estuda as protuberâncias e depressões cranianas e as relações com certos

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atos humanos. Cada ponto cerebral é causador de um tipo de crime: homicídio, patrimonial, de sentido moral, etc.

Estes sujeitos são importantíssimos. Gall e Spurzhein são expulsos de seus países e universidades da Europa Continental e vão ficar na Inglaterra, maior potencia colonial do mundo, que precisava justificar suas possessões.

Spurzhein, discípulo de Gall traça uma carta crenoscópica – imitando as geográficas. Isso tudo tinha a ver com a Inglaterra que precisava justificar darwinianamente a existência do criminoso.

Benito Morel escreve um “Tratado da degenerescência física, intelectual e moral da espécie humana” associando a criminalidade à degeneração, descrevendo o tipo “chinês e mongol” como delituosos, relacionados à tara. Nesta época o sinônimo de invasor era o asiático. Depois é que haverá associação com o invasor negro.

Seriam neuropesquisadores da época. Morel influencia a criação da psiquiatria no Brasil.

ANTROPOLOGIA

Surgem as idéias segundo as quais o criminoso é uma variedade mórbida da espécie humana. É um ser parecido conosco, mas que não somos nós.

Lucas – enuncia o conceito de atavismo. É uma característica que aparece na criança, mas que não está presente nos pais, apenas nos avós. Não se conheciam as leis de Mendel.

Darwin – fazia passeios universais. Chegou ao litoral peruano e analisou a evolução das espécies. As espécies vão evoluindo. Disse que não fomos criados por Deus, nos aproximamos dos mamíferos e principalmente dos primatas – a imagem dos macacos que vão evoluindo.

O criminoso é um cara primitivo. Mesmo radical de primata.

Estudos feitos com os bonobos, que mais se parecem com os homens – possuem características, como agredir e estuprar a fêmea. O homem não é o único animal que ataca a própria espécie – os bonobos também fazem isso.

A psicologia evolucionista tenta relacionar um pouco. Houver racismo relacionando os seres involuidos os que mais se aproximam supostamente aos símios.

Gaspar Virgílio e Cuby y Soler – em 1874 enunciam o conceito de criminoso nato.

Darwin - carga hereditária como resultado. Mas Darwin tinha família e Francis Galton que era seu primo e buscava a gênese do bom ser e cria a eugenia.

A eugenia se desenvolveu mais nos EUA – início da década de 10 do século XX marca a evolução dos mecanismos eugênicos, coroando ao final da década de 20 com a castração química ordenada pela Suprema Corte Americana – das mulheres com traços

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de imbecilidade. Há reflexos no Brasil – Congresso de Eugenia: surgiu o higienismo, para se limpar as pessoas. Higienópolis foi criada em razão disso.

ESCOLA CARTOGRÁFICA

Precursores do positivismo sociológico e do método estatístico. O delito é algo natural e normal, regido por leis naturais.

Cada sociedade possuiria uma taxa anual de criminalidade, que seria inexorável. Haveria uma taxa de fatos não conhecidos. A partir da década de 60 do século XX surge a ideia da cifra negra – e os precursores foram desta escola.

Quetelet - Existiria para cada crime revelado um número de crimes não revelados. Na Bélgica criou o Infocrim: sistema georeferenciado em que a criminalidade está estabelecida de maneira clara pelas estatísticas. Isso acontece em SP e em BH.

Hoje há técnicas mais particularizadas destes estudos empíricos.

Usam-se dados estatísticos para saber como a criminalidade funciona.

A cifra negra é muito alta em alguns crimes – por isso é necessário pelo menos dois tipos de metodologias – pesquisas sincrônicas, com exame do mesmo fato delituoso em diferentes locais, no mínimo cinco capitais no Brasil; sincronismo internacional: mínimo 5 países, mas agora adotam-se 10 países; este estudo deve ser repetido a cada cinco anos – estudo diacrônico, para saber se houve variações do número de comunicações.

Etapa semi-científica

LOMBROSO – vive o semi-cientificismo – começa o que se convencionou a chamar para alguns autores de fase científica. Para o professor é semi-científica – há envolvimento com polêmicas engraçadas, é acientífico. Seu cientificismo está na vontade de acertar por seus estudos de experimentação.

Lombroso vai para uma cadeia e começa a ver as características fisionômicas de quem está na cadeia. Seu erro é que acredita que todo criminoso está na cadeia, mas a própria cadeia estabelece um filtro: filtro social, seletivo e discriminatório, para determinar a cara de quem está na cadeia. Viu que as pessoas que estavam presas eram feias.

Começa a fazer autopsias nos presos – descobriu num preso chamado Vilela uma terceira fossa occipital – encontrou uma anormalidade específica. além da anormalidade de aparência e cerebral, que vão transformar a pessoa. O sujeito da autopsia era parecido, mas era diferente – seu problema era a anomalia degenerativa do tipo moreliano. Apela para o darwinismo – é involuido – o sujeito nasceu criminoso por sua anomalia, conclusão a que chega.

Não tem como saber quem é criminoso e não sabe como prevenir esta criminologia.

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Cesare Lombroso (1835-1909) – inicia, com sua prinicpal obra – “L’uomo delinquente”.

Mais tarde, ao examinar os crimes de sangue cometidos pelo soldado Misdea, soldado altamente violento. Ele tinha uma epilepsia larvar – em potencial; que causa convulsões agudas, podia ser substituído por impulsos violentos.

Papion – Henry Charlier – é um livro sobre alguém que é condenado por um crime e vem para a Ilha do Diabo.

“O Salário do Medo”.

O espírito do cárcere povoa a nossa mente. As primeiras pessoas que chegaram ao Brasil eram criminosos, os condenados à morte. Alguns ficaram por aqui e os portugueses voltaram anos depois, encontraram portugueses que falavam a linguagem local. Os criminosos foram os primeiros a contar as histórias para os portugueses.

Misdea – tinha uma predisposição larvar, de borboleta, não tinha o surto epilético, é uma doença incurável, e incontrolável à época. Lombroso olha para esse cara e fala que possui uma epilepsia em potencial, endógena, que permitiria supor que alguma forma de extravasamento se desse – e se dava a partir da violência que cometia nos atos delituoso. Lombroso conclui que o criminoso é o epilético que sofre degeneração. A degeneração é transmitida aos descendentes, vira criminoso porque possui uma regressão atávica – costurou uma teoria a partir de duas autópsias. O criminoso nato é epilético.

A teoria lombrosiana não sobrevive ao Gardenal.

Bases da teoria: atavismo, degeneração pela doença, criminoso nato, com certas características, fronte fugidia, assimetria do rosto, cara larga e chata, grande desenvolvimento das maçãs do rosto, lábios finos, canhotos, cabelos abundantes, barba rala, ladrões com olhar errante, móvel, obliquo; assassinos com olhar duro, vítreo, injetado de sangue.

Para mulher, a forma de regressão atávica manifesta-se na prostituição que se torna sucedâneo da criminalidade. Por isso, quando ela é criminosa, é muito mais temível que o congênere masculino.

O mundo circundante era o motivo desencadeador de uma predisposição inata.

Ferri – critica duramente os clássicos, “o livre-arbítrio é mera ficção”. O crime é um efeito de causas múltiplas:

- Antropológicas – sexo, idade, estado civil, classe social;- Física – raça, clima, fertilidade do solo, temperatura;- Sociais – as migrações, a vida política, a opinião pública.

Reclassificação dos criminosos:- Natos (Lombroso);- Louco – portador de anomalia mental;

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- Habitual – produto do meio;- Ocasional – levado ao cometimento do crime por circunstância. Cidade de

Deus sai do determinismo ferriano – as pessoas podem transcender as situações adversas. Prof. Roberto da Silva – associado da USP – foi menor delinquente, habitante da FEBEM e depois da casa de detenção.

- Passional – age pela emoção.

Memórias de um cárcere, Salário do Medo – filme.

Culpabilidade – potencial consciência da ilicitude, porque quem nasce na favela não tem consciencia da ilicitude se foi formado no crime.

A todos eles é comum a anormalidade – nascem anormais, ficam anormais, são resultado da anormalidade sociológica, agem no ímpeto ou tem falha de caráter.

Criou um falso criminoso:- Culposo – categoria criada na 5ª edição de seu livro – “barbeiro”.

Garófalo – cria o conceito de delito natural – violação dos sentimentos altruístas – piedade e probidade – que se encontram como medida em toda sociedade. Defensor impiedoso da pena de morte, como mecanismo de seleção artificial da raça criminosa – “darwinismo social”.

Gabriel Tarde – teoria da imitação, adotada na teoria da associação diferenciada, um homem imita o outro na proporção direta ao contato que mantém entre si; Lacassagne – ideia do caldo de cultura, a sociedade é que cria o criminoso, tendo a miséria fator preponderante da grande quantidade de delinquentes.

ESCOLA DE MARBURGO

Crime tem um fator endógeno e exógeno com preponderância para o primeiro – Franz Von Liszt. É a tese eclética.

As teorias mostraram o criminoso como um anormal.

Durkeim – criminoso é um ser normal.

A ideia lombrosiana ainda está dentro de nós, na maneira em que olhamos para o outro, de uma maneira diferente. Desprezamos quem é diferente.

24.08.10

A prova será no dia 14/09. Uma dissertação sobre um dos temas dado em sala.

Um sujeito que não é brasileiro examina os candidatos brasileiros à luz de sua fisionomia. No época do horário eleitoral nós aprendemos muito.

Falaremos da primeira escola que podemos chamar de científica. Não que não tenha tido seus problemas – de fato os teve, mas é a primeira escola científica.

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A criminologia nasce na Europa, para focar o estudo do saber criminal no autor e não mais no fato, com ligações com o pensamento lombrosiano.

A reação ao pensamento positivista foi muito dura na Europa. No CP italiano houve muitas influencias, sobretudo do positivismo.

Polêmica entre as escolas – temos ou não livre arbítrio? Com esta discussão não se chegou a lugar algum – o resultado foi duas guerras e um certo ostracismo.

A partir de determinado momento a discussao sobre criminologia se descola do terriório europeu para o norte-americano, surgindo discussões na Universidade de Chicago.

Retrato de hoje é reflexo do que existiu naquela época.

Mostraremos o que é uma cidade – autores franceses: cidade é um conceito, cuja população total é maior que dois mil habitantes.

Estes parâmetros são os europeus, em que as cidades são antigas e pequenas.

Critério funcional: a cidade deve apresentar funções das relações – trocas, prestações de serviços, comércio, serviços, atendimento a particulares e empresas, bancos e escritórios, administração, equipamentos de saúde, hospitais, algum tipo de divertimento, de espetáculo.

A cidade como concebemos atualmente tem origem medieval e não tem relação com a cidade antiga. Esta tinha a finalidade de proteção – sentimento de acolhimento é fundamental para o ser humano – sentir-se protegido. A cidade medieval acaba por criar um envoltório – o burguês, que queria um mundo universal para o burguês, fugia do conhecimento do feudo e ia para a universalidade da cidade – a proteção estava na sua muralha, que tem idéia de acolhimento que o pai dá para o filho ao abraçá-lo.

Muralha de Ávila – a mais preservada da Europa – a cidade é construída no alto, com uma muralha marcando a chegada do visitante. Dentro da muralha há várias vielas, ruas pequenas, as pessoas que conhecem as ruelas sabem como se movimentar lá dentro. A cidade medieval não é para quem vem de fora, mas para quem já está dentro. Se ergue como clausura pontual no horizonte da paisagem. Na cidade medieval sobe-se na muralha para divisar o horizonte. A muralha traduz um sentimento de proteção que é algo ímpar. O sentimento de segurança é absoluto.

Muralha da China – não há cidade para olhar para trás – a muralha protege um continente, vê-se o longe, no topo da montanha há a segurança de que jamais alguém poderia invadir.

Os habitantes vivem a cidade, olham o campo, a visão que possuem do horizonte é a partir da cidade – uma demarcada área fundamental para as pessoas entenderem o que vivem.

Da cidade medieval surge o conceito de comunidade – o que une as pessoas internamente – na comunidade nos une o que nos é comum.

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A comunidade é aquilo que nos aconchega – num ambiente acolhedor. A postura de estar entre os próximos, fez com que as redes sociais criem as comunidades.

A idéia central é sentir-se acolhido – na comunidade coloca-se um foto, dados pessoais – para a identificação, é quase como se estivesse um teto.

Quem não pertence à comunidade, fica na rua a perigo. Fora da comunidade não há solução. Por isso é necessário pensarmos nas cidades que se constroem.

Brasília – não possui calçada nem esquina; não há engraxate na rua. Brasília não tem comunidade – há um isolamento.

No século XIX o conceito de megalópole vai se formar – idéia de liberdade; é o desconhecido, permanecer ignorado, sem ser encontrado ou conhecido por ninguém, sem ser vigiado pela comunidade – a comunidade que protege também discrimina.

As pessoas que buscavam a liberdade queriam sair da comunidade, do controle social informal e ir para o controle social formal, que nada controla. Afinal, a comunidade é antiga, estamental, que projeta para o antigo regime de castas. O procedimento comunitário contraria o sentimento de liberdade.

Quando a liberdade passou a ser necessidade, passou a ocorrer migração espontânea da cidade comunitária para megalópole, havendo um adensamento das grandes cidades.

Estar na cidade deixa de ser a liberdade – declarou-se guerra contra o mecanismo comunitário – as pessoas saíram de suas cidades e foram para a grande megalópole.

Nas cidades pequenas as pessoas conversam umas com as outras.

A transgressão ocorre fora da comunidade, porque na comunidade se vive como os antigos, como os pais. A comunidade não tolera, não quer o novo. O artista m séculos XIX e XX ia para Paris, centro do saber.

Quando a cidade começa a se adensar, ela vira o ponto para a liberdade.

Com o tempo só os pobres passaram a ter comunidade, os ricos não. Estes não se mostram para a comunidade, se escondem atrás de grandes muros e seguranças. Na favela não, a proximidade é muito grande, são pequenas casas de madeira. O comunitarismo passou a ser algo para os fracos – para os pobres – “comunidade” da Rocinha.

Classe média – tem a mensagem de querer suprimir a comunidade de seu olhar – não se quer ver a comunidade. O prefeito do Rio queria construir um muro para separar as casas da favela. Assim, como se constrói em Israel um muro que separa o bem do mal, que separa as diferenças. O comunitarismo passa a ser uma filosofia dos fracos, dos pobres, que não merecem admiração.

Americano – o pior xingamento é “loser”- perdedor.

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Até que os ricos começam a precisar da comunidade, pensando num sentimento de comunidade. Os ricos pensam em criar um mecanismo comunitário para os pobres, para que não mais incomodem mais os ricos e nasce uma necessidade de segurança que supera o controle social formal – há uma inovação – é ineficiente a milícia armada e o controle formal que se é obrigado a recorrer ao arremedo do controle formal, assalariado pelo rico – passa a ter uma polícia privada, maior que o número de homens da segurança pública.

Mas por que são pagos os impostos se o Estado não fornece a segurança, transporte público, boa educação, saúde, judiciário célere, se não há resultados? Isso sem falar de cultura, esporte, etc. Há um constrangimento do rico, que vai ter que pagar por tudo isso – seu carro é blindado, o vidro não abre direito, não há muito contato com o mundo externo. Estamos nesta sociedade pós-moderna – assim, pensa-se em revalorizar o conceito de comunidade – não olhar com ódio o outro, mas identificá-lo.

Surgem mega conglomerados urbanos – cidades com 22 milhões de habitantes – como a grande São Paulo.

Há cidades que salvo NY, com menos problemas urbanos, todas as outras possuem muitos problemas.

Há uma relação das cidades/PIB trazida pelo professor. Mas isso é para outra aula.

Maiores populações faveladas por país.

Na Etiópia a favela é o país. 99,4% do país. No Brasil, 36,6% da população está na favela. Como dizer que somos uma potência?

Conceito de favela – habitação pobre sem condições adequadas de luz, água, esgoto, metragem mínima para as pessoas viverem – é um espaço mínimo, inadequado, que não permite proteção segura contra intempéries.

China – quase duzentos milhões de habitantes em favela.

As maiores megafavelas – há favelas de 4 milhões de habitantes.

Onde moram os pobres – onde estão as favelas – 66% na periferia em Karachi...a maior parte das favelas estão na periferia. Janio Quadros realizou uma política higienista, tirando a favela do centro da cidade de São Paulo. Não manteve a favela no local nem as pessoas que nela moravam. Isso é irracional – há um movimento entre os urbanistas da periferia para o centro, colocando os órgãos administrativos para o centro da cidade, restaurando prédios, pois no centro há maior infra-estrutura, com maior rede de segurança. O acolhimento é dado a partir das necessárias respostas dadas pelo Estado a partir do que nos cobram.

São dois os momentos inovadores – primeiro – Luisa Erundina – criação de projetos mutirões, em que as pessoas podem construir suas próprias casas. Há um sentimento de pertencimento, não se vai deixar pichar a casa do vizinho, que ajudei a construir. Este sistema é bom, mas é lento. Outro projeto foi o Cingapura, que foi a

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idéia de não tirar a pessoa do local, constrói-se rapidamente um edifício e mantém-se a pessoa ali, com condições mínimas de habitabilidade.

EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO EM CHICAGO

Chicago era uma pequena cidade em 1840, com mais ou menos 4 mil habitantes – preenchia minimamente as regras do que era uma cidade. É uma cidade no norte dos EUA, ao sul do lago Michigan, um lugar muito frio, muito difícil de se viver. É um lugar inóspito. Era um centro ferroviário, ou seja, local de distribuição de ferrovias, um entroncamento, que ligava o centro-norte ao sul, sudoeste e centro-oeste.

Em 1850 havia trinta mil habitantes.

Em 1880 havia quinhentos mil habitantes. Em 1900 1 milhão de habitantes. Em 1910 havia 2 milhões de habitantes.

Houve muita migração e imigração. Chicago recebia do Canadá o couro não beneficiado, fruto da caça. Os couros eram beneficiados em curtumes nos EUA e vendiam na cidade. Em Chicago houve uma industrialização acelerada. O afluxo não se deu com pessoas saindo do campo, mas com movimentação social nos EUA e fora dos EUA, imigração. Os negros saem do sul após a guerra da sesseção e vão para o norte procurar emprego. Houve também chegada de mão-de-obra européia – tchecos, poloneses, italianos, irlandeses. O irlandês é o beberrão, o polonês tem estereotipo de burro, o italiano de mafioso. Os estereótipos são criados a partir da migração.

Uma pessoa que acaba de chegar a uma cidade não tem muito para onde ir, não sabe para onde ir – a cidade cresce do centro para a periferia. Quem chega não consegue ficar no centro, vai ficar na periferia, mas o centro cresce tanto, que a periferia passa a ser próxima, cada vez mais longínqua, pois é necessário expandir a área.

Em São Paulo, no início do século XX os animais eram proibidos de circular, ficavam estabulados na praça da República. Era o centro novo. O centro novo é a região da Paulista, no início da década de 30.

No centro há muitas igrejas – a cidade nasce com um cristão conquistando um lugar alto e a criação de uma igreja – pátio do colégio.

Em Chicago havia indústrias de couro, curtumes, com forte cheiro. A área comercial e industrial eram juntas – não havia área de zoneamento delimitada. Havia a área de adensamento original, onde havia comercio, serviços e indústrias – LOOP – zona central.

Numa zona concêntrica, havia uma zona de transição com os pobres, negros, imigrantes, mas é uma área invadida pelo comércio e pela zona central, passa a se tornar uma zona decadente do centro, onde se instalam bordeis, onde surgem cortiços, favelas, slambs – é a cortição – transformam uma mansão antiga em cortiço. Nesta área surgem os guetos. Em São Paulo – 25 de março, bairro árabe; Liberdade – originalmente escravo e depois os japoneses, que expulsam os negros; Brás – judeu, Bixiga, Mooca – italiano.

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Na zona três começa a chegar uma zona de trabalhadores pobres; na zona 4 uma classe média; na zona cinco os possuidores, pequenas chácaras e bairros chiques, onde os ricos se escondem da cidade.

Problemas de Chicago – rápido adensamento e proximidade com a fronteira.

Gângsters – Al Capone vivia em Chicago.

O adensamento rápido trouxa vários problemas urbanísticos, sociais, etc. É região de fronteira – nos EUA houve proibição do álcool, que foi crescendo com proibições de leis estaduais até o surgimento de uma lei federal fazendo tal proibição. Nos EUA a fronteira maior está no norte. A bebida não é fácil de esconder, é engarrafada, quebra, é necessário trazer em grande quantidade. O álcool é uma droga comunitária, mas a bebida é proibida. Houve interesse de grupos econômicos, que cuidaram da distribuição da bebida – em Chicago havia entroncamento ferroviário para espalhar a bebida para o país – distribuía-se pelo país – Os Intocáveis. Al Capone foi processado por sonegação de imposto e na por ser gangster.

Com o fim do proibicionismo, acaba-se com o contrabando.

Em 1880 – Rockfeller – tinha propriedades no Texas, cheias de petróleo – tornou-se a pessoa mais rica dos EUA na época.

Financia uma universidade em Chicago, com 10 milhões de dólares, universidade criada por um sociólogo, Willian Thomas. Este sociólogo pensa numa filosofia pragmática – vamos resolver os problemas de Chicago. Pensou em contratar professores, que reproduziriam o saber, que criariam a universidade.

No entanto, era um lugar inóspito, de clima frio, com inverno rigoroso, longe de tudo e em 1890, numa cidade média, mas com muito dinheiro.

Vai às universidades de excelência dos EUA e contrata os professores. Oferece bons salários e férias para que a pessoa saísse de Chicago.

A primeira universidade do Brasil foi a do Amazonas – com os melhores professores do norte e do nordeste.

O sociólogo propôs o seguinte sistema – o professor tem 3 meses de recesso da docência, vai dar aula em três trimestres e três meses de recesso. Se este professor der um curso no verão e no inverno, vai oferecer à comunidade a vantagem de terminar o curso antes. Em dois anos seguidos dando aula, terá um ano de férias, para pesquisa.

Criou primeiramente um parque gráfico e uma revista, exigindo pesquisa aos que dão aula – que investiguem para servir a cidade que dá dinheiro à universidade e à população. Só depois é que abre a docência.

O professor que não usufruísse do seu ano de férias, mas que ficasse trabalhando com pesquisa, quadruplicaria o salário.

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Começa a contratar grandes estudiosos, que se debruçam sobre um dos problemas da cidade – o crime. Abrem um mapa da cidade, procuram onde está o crime na cidade – vêem a cidade em círculos em que os pobres, muito pobres que acabavam de chegar na cidade, moravam no entorno do centro, este cheirava mal, pois o rico se distanciava do centro, já o pobre tinha de ficar no centro. É uma época em que o meio de transporte não era adequado.

O pobre fica junto com os estrangeiros e com os negros.

Os estudiosos fazem pesquisas referentes a criminalidade em 40 anos. Os crimes estavam na zona dois, na zona em que estavam os pobres.

AL Capone – a bebida precisava ser ocultada, na zona dois, num armazém, pois lá se poderia esconder um bar. Juntou mulher e jogo. Houve concentração de cassinos e prostituição onde há uma proteção natural – zonas um e dois. Por isso o crime está centrado nas zonas um e dois. No lugar onde há mais conflito, identifica-se o conflito com a área urbanística. A distribuição da população em distintas áreas – distribuição ecológica.

A criminalidade de Chicago obedecia a uma gradação decrescente. Na área um não havia tanta criminalidade – viva de dia e morta à noite. Na zona dois, onde há mistura de gente com serviços e negócios, há maior índice de criminalidade. A partir da área 3 a criminalidade é decrescente.

31.08.10

ESCOLA DE CHICAGO

Hoje há uma semelhança entre o que se viu nos estudos da escola de Chicago. Essa escola tem a pecha de conservadora, o que não significa que se deva deixar de lado o conhecimento que ela trouxe.

No século XX, início, não se discutia uma visão crítica de criminologia – partia-se da premissa que a sociedade era um consenso, e não se precisaria modificá-la para combater a criminalidade.

O rápido crescimento populacional da cidade é típico de países em desenvolvimento, são as maiores cidades do mundo hoje, salvo Nova Iorque, saíram de um ou dois milhões de habitantes para mais de 20 milhões.

Ocupação populacional da cidade de Chicago – se dá de maneira concêntrica, parte da parte central para as suas periferias. Na parte central há uma zona comercial, de serviços e industrial, concentrando os cortumes, numa segunda área há uma zona de transição, com pobres, imigrantes, cortiços, favelas, prostituição, depois uma zona de pobres, outra de classe média e, por último, chácaras de ricos, na área mais externa.

São Paulo teve centros de expansão – um centro ao norte, que era Santana, um ao sul que era Santo Amaro, a leste Penha de França e a oeste a Lapa. Cia. City – loteou várias áreas para ocupação, foram loteadas não de maneira quadrada, mas de maneira a dificultar no futuro área de passagem de comercio ou de transito – que se vê nos Jardins

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e no Pacaembu, no Morumbi, não se corta a cidade, não se sabe como cortar o bairro, salvo exceções – Av. Pacaembu. A ocupação de São Paulo em alguns momentos foi planejada, assim como em alguns bairros do centro, como Higienópolis – bairro projetado para ser higiênico. O higienismo era muito forte no Brasil nos anos 20 e se contrapunha ao eugenismo – o higienismo acabou vencendo, tivemos uma ocupação do bairro ou idéia de bairro higiênico.

Dois autores viram o desenvolvimento da cidade de Chicago – durante 40 anos havia este tipo de ocupação e uma criminalidade diferenciada ecologicamente.

Willian Thomas – houve desorganização social decorrente do afrouxamento das regras sociais sobre as condutas individuais do grupo. Debilitaram-se os vínculos existentes nos locais de origem dos imigrantes. Perguntava-se aos imigrantes se tinham alguma tradição delinqüente – a perspectiva biológica não passou pela cabeça destes sociólogos – perguntam se cometiam crimes no país de origem ou lugares de origem – em geral os imigrantes respondiam que não. No início não acreditaram nos imigrantes e foram no local de origem averiguar – escreveram um livro sobre as origens das primeiras famílias polonesas que imigraram para Chicago – imigraram de pequenas cidades polonesas; paradigma da imigração brasileira para os EUA é Governador Valadares, da parte nordestina de Minas, com padrão de desenvolvimento do Sul da Bahia, extremamente problemática. Há uma cidade gaúcha com 80% de mulheres – pois todos os homens vieram a ser churrasqueiros em São Paulo. O dado interessante é que salvo hipóteses particulares, via de regra, quem imigra, imigra do campo. No campo estas pessoas tinham um controle social extremamente rígido e chegam a uma cidade grande, com 90% da população formada por imigrantes, de tal maneira que ninguém se conhecia e a proveniência dos imigrantes era variada, com diversos idiomas, uma cidade que se tornou cosmopolita pela imigração.

Surgiu a dificuldade de falar o mesmo idioma, criando zonas de proteção, áreas de ocupação que vão gerar os guetos. Há uma debilidade dos vínculos, vai se originar a criminalidade – perde-se o freio do controle primário, que vai se transmitir por contágio social – é um contraponto da teoria lombrosiana. Surge uma tradição delinqüente – “Deus nos disse para que amássemos o próximo, mas na grande cidade não existe próximo.”

Shaw e McKay – estudam 60 mil casos individuais – vão aos distritos de policia e perguntam onde a criminalidade acontece – o delegado de polícia fala que na zona um a criminalidade não é significativa, salvo pelo controle das gangues de Alcapone; a criminalidade se dá a partir da zona dois, havendo uma distribuição ecológica, progressiva – há 24,5 crimes por cem habitantes. Na zona 5 há 3,5 crimes por 100 habitantes.

Os estudiosos perguntaram para o delegado de polícia, mas há uma cifra oculta da criminalidade, alguma coisa não foi revelada pelas estatísticas policiais, seria necessário uma pesquisa de vitimização, havendo um erro metodológico, estas pesquisas só vão ser descobertas, inventadas, nos anos 60.

Há a idéia de distribuição da criminalidade ecologicamente.

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Os estudiosos pensaram na desorganização social; na tradição delinqüente – agrupamentos sociais que passam adiante o conhecimento de criminalidade; pensavam numa alternativa para enfrentar a criminalidade.

Com o aumento do policiamento pode-se combater furtos. Mas como combater o homicídio se ele está pulverizado? Os homicídios acontecem muito mais nos finais de semana. A criminalidade de massa, em geral, não se resolve com policiamento.

Havia uma comunidade negra, que saiu do sul dos EUA, no meio de vários brancos de diversas origens – todos racistas. O negro vai ser hostilizado. Os que mais cometem crimes são os mais jovens. O que une os negros – a igreja batista: chamaram os pastores para ajudar a comunidade negra, tirando os meninos da rua, começaram organizando um coral, por exemplo, com voz muito mais bonita. Elvis tinha a voz de negro na pele de uma pessoa sexuada branca; toda a musica branca dos EUA, nasce dos negros. Começaram a organizar uma comunidade – pegava-se um menino negro e ele começava a cantar, o culto batista negro é diferente do culto batista branco. A igreja batista no Harley tem uma ambulância na porta, as pessoas começam a entrar em transe, o ecletismo se deu dentro da igreja negra, vieram com a cultura negra, o negro vai lá e incorpora o espírito, são culturalmente diferentes dos brancos.

As crianças tornavam-se cantoras da igreja. E se a pessoa era desafinada? Não tinha mais perspectiva de vida. Também iam atrás de atletas. Só em 60 surgem as ações afirmativas. Como criar expectativa de vida para as pessoas? Transformando em atletas – jogadores de basquete, lutadores de boxe, etc.

Mas tal política não daria certo com os imigrantes europeus. A área cinco era de pequenas chácaras, com algumas pessoas ricas. Levavam as crianças para acampar. A matriarca polonesa não deixava a filha acampar, por exemplo. Usa-se farda, uniforme, para criar identidade. Entre os adultos há diferenciação entre as pessoas para criar uma hierarquia. Os acampamentos eram feitos com hierarquia militar, o que era feito com o escotismo. O escotismo é conservador.

Mas como se resolve o problema no lócus da criminalidade? Áreas de armazéns velhos? Al Capone vendia whisky e não cerveja. A conseqüência da lei seca foi a de piorar – bebiam-se bebidas mais fortes. Se na cidade há ocupação diferenciada, alguma ecológica diz como resolver o problema: vão-se eliminar as circunstancias que favorecem o acontecimento do crime – terreno baldio do lado da escola onde vem o traficante – é só eliminar o terreno baldio, constrói-se uma quadra de basquete. Começaram a ensinar basquete à noite. Começaram a colocar ringues de boxe. Pensou-se na recuperação da cidade, em termos de arquitetura, eliminando locais que possibilitassem o crime. Nos filmes americanos há becos sem saída onde é jogado o lixo, na lateral de algumas ruas. Tinham que eliminar aquilo, poderia ser aterrado e utilizar para a plantação de flores, criação de uma horta comunitária.

Começou-se a olhar a cidade num sistema de preservacionismo, com diferentes estudos de como uma cidade pode ser mais segura – sem becos, sem reentrâncias. É uma cidade em que se pode construir e ocupara – passa-se a restaurar áreas degradadas.

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A olimpíada é importante para recuperar áreas degradadas. Pode haver intervenção urbana. Passaram a reocupar o centro – que já possui infra-estrutura, que precisa apenas ser recuperada. A periferia é deixada como área de recreio.

A tolerância zero de NY bebe na fonte de Chicago, no sentido de reorganizar a cidade.

Não se depreda o que é preservado.

É necessário um espírito comunitário para acabar com o crime e não apenas acabar com a pobreza.

Nos EUA a escola é a sede da referencia comunitária. A escola tem tudo, é a referencia da cidade. O afluxo das vias do bairro leva necessariamente a uma escola. Precisávamos acabar com a dualidade da zona um a zona cinco – a pessoa se desloca todo dia, da zona cinco para um e depois da um para a cinco. Há vida durante o dia na zona um e morte na zona cinco; há vida na zona cinco à noite e morte na zona um.

Isso dá ensejo à criminalidade, porque não se restaura o centro, as pessoas não vêm para cá.

Projetava-se no centro um espaço para recreação, para as pessoas não ficarem bebendo na periferia.

É necessário criar um lócus – o CEU, local que pode levar a criança no cinema. Nas cidades americanas, todo o aparelhamento de clube está nas escolas. O lado perverso da arquitetura de Chicago são construções em que não se permite a ocupação dos prédios por pobres – os jardins eram internos.

Experiências de reocupação da cidade: pelourinho na Bahia – sem mexer na estrutura social, houve retomada das áreas decadentes.

Países socialistas: pegavam dois quadriláteros grandes e começavam a construir moradias populares. Colocaram seis prédios em mil metros quadrados. Em outro terreno semelhante, construíram apenas 4 prédios, com uma área recreativa no meio. Fizeram pesquisas por 10 anos nestes locais. Onde houve mais crime? No primeiro espaço houve mais crime. Há necessidade de extravasar.

Na china há alternância entre quadriláteros residenciais e comerciais. Isso para que haja um sistema de proteção permanente das cidades – há distribuição entre dia e noite, há uma permanente fiscalização. Isso é necessário, porque se não haverá auto policiamento o tempo todo – “A Zona do crime”.

Um outdoor de um condomínio cai sobre uma favela, acaba a luz do condomínio e três pessoas invadem o condomínio e cometem um latrocínio; as pessoas se esforçam para achar os bandidos.

Nós somos bichos, precisamos de espaço.

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Conseqüência: associação de um processo de teoria à práxis, por projetos urbanísticos reformistas – as instituições sociais foram mobilizadas, integrou-se, reedificou-se a cidade, pensa-se em áreas urbanas que podem ser usadas para a plantação.

Mas há críticas: os dados oficiais ignoraram a cifra negra; adotou-se um certo conceito de classe, como o delito relacionado à pobreza, sem que muitas vezes se soubesse quem havia cometido o delito. Houve também determinismo social – nasceu na zona dois é bandido, nasceu na zona cinco não é bandido. O professor vê tais críticas como contornáveis e os méritos como consagrados. Não há possibilidade de diminuir a criminalidade em São Paulo se não forem envolvidas as comunidades.

Há uma discussão sobre mobilidade social na escola de Chicago, de integração com outros bairros – pode-se viver num bairro judeu ou árabe, havendo integração.

Não há segurança pública que não seja pensada a partir da escola de Chicago, não se usa policiamento, trabalharam com experiência empírica antes da policia, cria-se uma área de intersecção – são pesquisas de campo que precedem a intervenção; há a idéia de pesquisas feitas com estudos de casos concretos – the Jack roller – é a historia de um criminoso em espiral, o que é representativo do período – o menino perde a mãe, o pai alcoólatra casa com outra mulher que usa o filho mais novo do pai para ter um extra de rendimentos pedindo para o menino ir até a feira, ao mercado e furtar algumas coisas. Foi crescendo e continuava furtando. Começou a ser pego e internado em instituições, passou pelas cortes juvenis. Chicago foi a primeira cidade do mundo a ter juízo juvenis. Desde 1898 já havia sistema tutelar, separando adultos de crianças. Torna-se um grande bandido, passa pelo reformatório e depois vai para a penitenciaria. É um sujeito que rouba seu próprio companheiro de crime.

Criou-se o esquema de observação participante – na família da escola de Chicago – “Sociedade da Esquina”. O observador larga tudo para viver na esquina de Boston. Tornou-se professor em Chicago.

Quando a USP foi criada para combater o governo Vargas – libertando pelo saber – juntou tudo o que havia num instituto – FFLCH, na Rua Maria Antonia. Em 68 houve batalhas, com uma praça por perto, uma escola de sociologia política. Foram trazidos os franceses, de tradição de sociologia reflexiva e não empírica. Vargas descobre este sistema de resistência, cria uma escola a dois quarteirões, a de sociologia e política, um americano, que utilizava os métodos da escola de Chicago, foi um recurso do governo federal. Havia polêmicas e discussões, discutindo a sociologia por duas visões sociológicas – uma escola e dois quarteirões de outra. O professor faz livre-docência na USP, com uma fusão entre a sociologia americana e a francesa. Ninguém sabe que a universidade de Chicago teve aqui na USP seus seguidores. Há estudos comparativos do Canindé-caxingui com o bairro de Pacaembu e Higienópolis.

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