gás de xisto: a festa de despedida dos combustíveis fósseis?

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    Gs de Xisto: a festa de despedida dos combustveis fsseis?

    Jos Eustquio Diniz Alves

    Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e

    Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Cincias Estatsticas - ENCE/IBGE; Apresenta seus

    pontos de vista em carter pessoal. E-mail:[email protected]

    O gs de xisto a ltima esperana para evitar o pico dos combustveis fsseis. Existe uma euforia nos

    mercados capitalistas dos Estados Unidos com a possibilidade da independncia energtica propiciada

    pela enormes reservas de shale gas. Boa parte das empresas americanas acreditam que os EUA vo se

    tornar uma potncia energtica, sendo que o pas poderia deixar de ser dependente das importaes de

    petrleo e se tornar exportador lquido de energia. Assim, poderia ficar livre dos problemas polticos e

    religiosos do Oriente Mdio. O gs de xisto tem sido visto como a alternativa para evitar o declnio doImprio Americano.

    Todavia, a produo de gs de xisto altamente poluidora e destruidora do meio ambiente. Artigo de

    Asjylyn Loder, na Bloomberg (traduzido pelo jornal Valor Econmico), mostra que os poos de xisto

    comeam a pleno vapor, mas declinam rapidamente, obrigando os produtores a abrir novos poos a um

    ritmo alucinante para manter a produo estvel. Nos campos de produo, a necessidade incessante

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    de perfurar referida como Rainha Vermelha, nome do personagem em "Alice no Pas dos Espelhos"

    que diz a Alice: "Voc precisa correr o mximo que for capaz, para ficar no mesmo lugar".

    Por exemplo, o poo Serenity 1-3H, da Chesapeake Energy, perto de Oklahoma City, jorrou petrleo em

    2009, produzindo mais de 1,2 mil barris por dia e dando incio a uma corrida de perfurao de poos que

    se estendeu at o Kansas. Atualmente, o poo fornece menos de 100 barris por dia, segundo registrosdo Estado. O rpido declnio do Serenity lana luz sobre um segredo muito bem ocultado sobre o boom

    do petrleo: ele pode no durar.

    Em diversos casos, o balano energtico da explorao do gs de xisto (Energy Return on Energy

    Invested - EROEI), indica que que por cada unidade de input de energia o output era de apenas duas

    unidades, no mximo 3 unidades. Ainda segundo o mesmo artigo, os EUA precisam perfurar 6.000 novos

    poos por ano, a um custo de US$ 35 bilhes, para manter a produo atual. Os poos mais novos no

    so to produtivos como os abertos nos primeiros anos do crescimento explosivo, um sinal de que as

    companhias de petrleo j esgotaram os melhores stios, tornando muito mais difcil continuar

    quebrando recordes. H previses de que a produo atingir o pico em 2017 e ento cair para nveis

    de 2012. O entusiamo exagerado quanto independncia energtica dos EUA e ao uso do termo

    'Amrica Saudita' ensurdecedor, mas pode no passar de um canto do cisne.

    O gelogo americano, Art Berman, especialista em combustveis fsseis, disse: "Eu vejo o xisto mais

    como uma festa de despedida do que uma revoluo". " o ltimo suspiro" (dos combustveis fsseis).

    Steve Andrews diz que o gs e o petrleo de xisto podem ser o ouro dos tolos no mundo da energia.

    A produo de gs de xisto altamente danosa para o meio ambiente e tende a aumentar o stress

    hdrico. O processo de fraqueamento (fracking), exige a utilizao de grande quantidade de gua e, em

    geral, provoca a degradao dos lenois freticos. Como mostrou Marcelo Garcia, o processo de

    extrao do gs de xisto no totalmente conhecido, uma vez que as empresas tratam seus detalhescomo segredo industrial. Por exemplo, junto com a gua pressurizada, tambm bombeada uma srie

    de substncias qumicas cuja composio exata no divulgada ela incluiria, por exemplo, cidos

    como os usados em lavagem de piscinas, anticorrosivos, redutores de atrito e agentes qumicos que

    facilitam a sada dos fluidos. Alm disso, outros pontos ainda pouco dimensionados podem causar

    grandes danos ambientais, alm da enorme quantidade de gua necessria para a explorao do gs.

    Segundo o bilogo Jean Guimares: As principais crticas de moradores, cientistas e ambientalistas a

    essa atividade a contaminao da gua subterrnea, traduzida na presena de lama, metais pesados e

    hidrocarbonetos na gua dos poos e crregos locais e, portanto, nas torneiras. Em algumas casas

    prximas a reas de perfurao nos EUA, a gua da torneira contm tanto metano que inflamvel,como documentado no imperdvel filme Gasland, de Josh Fox.

    Tambm cresce a preocupao com a gua txica. Artigo de Suzanne Goldenberg trata da crescente

    preocupao com a eliminao segura bilhes de litros de guas residuais que so devolvidos

    superfcie, juntamente com o petrleo e o gs, quando as rochas de xisto so fraturadas. A gua

    retornada da explorao do gs de xisto contm brometos de rdio, conforme mostam os estudos que

    apontam evidncias de riscos da radiao de perfurao de guas residuais. Alm disto, a autora mostra

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    que as guas residuais descarregadas em estaes de tratamento podem contaminar a gua potvel,

    especialmente quando o brometo no esgoto se mistura com cloro (muitas vezes usado em estaes de

    tratamento de gua potvel), produzindo trihalometanos, substncias qumicas que causam cncer e

    aumentar o risco de reproduo ou problemas de sade".

    Por tudo isto, cresce o movimento Global Frackdown para banir a explorao do gs de xisto e aprtica do fracking. Seria aconselhvel que o Brasil avaliasse bem os riscos da produo de gs de xisto,

    pois no vale a pena gastar as reservas de gua em troca de um combustvel poluidor e que tem um

    ciclo de vida relativamente curto. bom lembrar o princpio da precauo e evitar entrar em uma canoa

    furada. O melhor para o Brasil e o mundo sair o mais rpido possvel da era dos combustveis fsseis e

    investir em energias renovveis e na transio para uma economia de baixo carbono.

    Referncias:Asjylyn Loder. U.S. Shale-Oil Boom May Not Last as Fracking Wells Lack Staying Power, Bloomberg,10/10/2013http://www.businessweek.com/articles/2013-10-10/u-dot-s-dot-shale-oil-boom-may-not-

    last-as-fracking-wells-lack-staying-powerAsjylyn Loder. Boom do xisto pode ter vida curta. Valor Econmico, 14/10/2013http://www.valor.com.br/internacional/3303302/boom-do-xisto-pode-ter-vida-curta#ixzz2hiszQsbESuzanne Goldenberg. Fracking produces annual toxic waste water enough to flood Washington DC, TheGuardian, 4 October 2013http://www.theguardian.com/environment/2013/oct/04/fracking-us-toxic-waste-water-washingtonJoe Romm. More Bad News For Fracking: IPCC Warns Methane Traps Much More Heat Than WeThought. Think Progress, October 2, 2013http://thinkprogress.org/climate/2013/10/02/2708911/fracking-ipcc-methane/Marcelo Garcia. Expresso para o futuro ou caminho equivocado? Cincia Hoje, 31/07/2013http://cienciahoje.uol.com.br/especiais/reuniao-anual-da-sbpc-2013/expresso-para-o-futuro-ou-

    caminho-equivocadoJean Remy Dave Guimares. Gs de xisto: revoluo ou insanidade? Cincia Hoje, 21/06/2013http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/terra-em-transe/gas-de-xisto-revolucao-ou-insanidadeSteve Andrews. As falsas esperanas no shale oil. Resistir, 30/09/2103http://resistir.info/peak_oil/shale_oil_30set13.htmlMark Ruffalo and Wenonah Hauter. Five Reasons to Join Us for the Global Frackdown, Huffington Post,

    October 19, 2013 http://www.commondreams.org/view/2013/10/19-0

    http://www.businessweek.com/articles/2013-10-10/u-dot-s-dot-shale-oil-boom-may-not-last-as-fracking-wells-lack-staying-powerhttp://www.businessweek.com/articles/2013-10-10/u-dot-s-dot-shale-oil-boom-may-not-last-as-fracking-wells-lack-staying-powerhttp://www.businessweek.com/articles/2013-10-10/u-dot-s-dot-shale-oil-boom-may-not-last-as-fracking-wells-lack-staying-powerhttp://www.businessweek.com/articles/2013-10-10/u-dot-s-dot-shale-oil-boom-may-not-last-as-fracking-wells-lack-staying-powerhttp://www.valor.com.br/internacional/3303302/boom-do-xisto-pode-ter-vida-curta#ixzz2hiszQsbEhttp://www.valor.com.br/internacional/3303302/boom-do-xisto-pode-ter-vida-curta#ixzz2hiszQsbEhttp://www.theguardian.com/environment/2013/oct/04/fracking-us-toxic-waste-water-washingtonhttp://www.theguardian.com/environment/2013/oct/04/fracking-us-toxic-waste-water-washingtonhttp://thinkprogress.org/climate/2013/10/02/2708911/fracking-ipcc-methane/http://thinkprogress.org/climate/2013/10/02/2708911/fracking-ipcc-methane/http://cienciahoje.uol.com.br/especiais/reuniao-anual-da-sbpc-2013/expresso-para-o-futuro-ou-caminho-equivocadohttp://cienciahoje.uol.com.br/especiais/reuniao-anual-da-sbpc-2013/expresso-para-o-futuro-ou-caminho-equivocadohttp://cienciahoje.uol.com.br/especiais/reuniao-anual-da-sbpc-2013/expresso-para-o-futuro-ou-caminho-equivocadohttp://cienciahoje.uol.com.br/colunas/terra-em-transe/gas-de-xisto-revolucao-ou-insanidadehttp://cienciahoje.uol.com.br/colunas/terra-em-transe/gas-de-xisto-revolucao-ou-insanidadehttp://resistir.info/peak_oil/shale_oil_30set13.htmlhttp://resistir.info/peak_oil/shale_oil_30set13.htmlhttp://www.commondreams.org/view/2013/10/19-0http://www.commondreams.org/view/2013/10/19-0http://www.commondreams.org/view/2013/10/19-0http://resistir.info/peak_oil/shale_oil_30set13.htmlhttp://cienciahoje.uol.com.br/colunas/terra-em-transe/gas-de-xisto-revolucao-ou-insanidadehttp://cienciahoje.uol.com.br/especiais/reuniao-anual-da-sbpc-2013/expresso-para-o-futuro-ou-caminho-equivocadohttp://cienciahoje.uol.com.br/especiais/reuniao-anual-da-sbpc-2013/expresso-para-o-futuro-ou-caminho-equivocadohttp://thinkprogress.org/climate/2013/10/02/2708911/fracking-ipcc-methane/http://www.theguardian.com/environment/2013/oct/04/fracking-us-toxic-waste-water-washingtonhttp://www.valor.com.br/internacional/3303302/boom-do-xisto-pode-ter-vida-curta#ixzz2hiszQsbEhttp://www.businessweek.com/articles/2013-10-10/u-dot-s-dot-shale-oil-boom-may-not-last-as-fracking-wells-lack-staying-powerhttp://www.businessweek.com/articles/2013-10-10/u-dot-s-dot-shale-oil-boom-may-not-last-as-fracking-wells-lack-staying-power