galzerani, maria carolina bovério. memória, história e

20

Click here to load reader

Upload: trielle-johas

Post on 16-Aug-2015

222 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

memória, história e tempo

TRANSCRIPT

ARTIGOSMemria,HistriaeTempo:perspectivasterico-metodolgicasparaapesquisaemEnsinodeHistria*MariaCarolinaBovrioGalzerani**ResumoA proposta fundamental deste artigo discutir o conceito dememria na relao com o de histria e de tempo -, com o objetivode abrir brechas alternativas para a pesquisa em ensino de histria.Paratalprioriza,sobretudo,odilogocomofilsofoWalterBenjamin.Nestesentido,problematizatendnciasacadmicascontemporneaspresentesnestareadepesquisa,asquaissefundamentamnaracionalidadeinstrumental,eapresenta-acontrapelo destas tendncias - experincias de pesquisa localizadasnoGrupoMemria,HistriaeEducaodaFaculdadedeEducao-Unicamp.Palavras-chave:memria;histria;tempo;pesquisaemensinodehistria;WalterBenjamin.CadernosdoCEOM-Ano21,n.28-Memria,HistriaeEducao16ApresentandoatemticaInicio, parafraseando o poeta Pablo Neruda, para lembrar queacadamanhdenossasvidaspodemosfazerdosonho,outrosonho1.Noquerespeitapresentetemticai.,spesquisasacadmicasvoltadasparaaspotencialidadesdosconceitosdememria,tempo,histria,paraoensinodehistriapossveltecer sonhos, reavivar utopias?NodilogocomofilsofoWalterBenjamin,buscoure-atualizar o incidente ocorrido ao anoitecer do primeiro dia de lutadaRevoluoFrancesaemParis,quandoemdiversospontosdacidade, ao mesmo tempo, foram disparados tiros contra os relgiosdas torres. Tentativa flagrante de paralisar o continuum de um tempode dominao e instaurar o novo. Sabemos que este foi um gestodesesperadodebuscadeumnovotempo,que,defato,noseconcretizouparaagrandemaioriadosrevolucionrios,comseussonhosdeumtemponosubordinadosaorelgio,aotrabalho,temposcomovida,plenadeigualdade,liberdadeefraternidade.Mas, esta uma outra histria.Na aproximao com este inquietante pensador alemo quefoi tambm ensasta, crtico literrio, tradutor e ficcionista podemos,igualmente,encontrarumrecursoalegricodebusca,decesura,de ruptura em relao s prticas dominantes na pesquisa relativaao ensino de histria. Prticas estas presentes no contexto nacional,mas tambm internacional, no que respeita ao conceito de memria,nasrelaescomasnoesdehistria,detemporalidadeedeeducao.Refiro-mesacepesdememria,emrelaosquaisproponhoquedetenhamososnossosolhares,nestemomento.Acepes que apresento como alvo de combate.Atquepontovisualizamosamemriaapenascomoconhecimento racional nas pesquisas relativas ao ensino de histria?At que ponto concebemos tal questo apenas como objeto de anlisehistrico-educacional?Ouseja,atondeafocalizamoscomoumMemria,HistriaeTempo:perspectivasterico-metodolgicasparaapesquisaemEnsinodeHistria-MariaCarolinaBovrioGalzerani17campo subordinado, hierarquicamente inferior em relao ao lugardoqualacreditamosprovirnossoconhecimentoi.,aCinciaHistriae/ouasCinciasdaEducao?Ou,ainda,deumoutrongulo,napesquisadasmemrias,dialogamosdefatocomastradies historiogrficas e educacionais que elegemos? Como temosenfocado os apagamentos dos outros, dos diferentes bem como,muitas vezes, os esquecimentos das singularidades espao-temporaisquepreponderamemprticashodiernasdeproduodememrias, de maneira mais ou menos explcita?Em que medida a concepo de tempo, prevalecente em nossasanlises,funda-senumolhardicotmico,quefragmentaasdimenses presente/passado/futuro, olhar que reproduz os ritmosdasmquinasritmosetapistas,lineares,compartimentalizados,pautadosemrelaesdecausa/conseqncia?Emquemedidaavisodetempo,quecolocamosemaonaspesquisas,conseguetrazertonaastenses,asambivalncias,asdiferenasincomodativasdossujeitospesquisados,bemcomosuasrelaescomasnossasprpriasvivncias-enquantosujeitosprodutoresdos conhecimentos acadmicos? Neste sentido, tem preponderadoa tendncia de lidar com o tempo como categoria desconectada dasexperincias vividas?Emoutrostermos,comotemosenfrentadoastendnciasculturais relativas s memrias, dominantes na contemporaneidade?So tendncias prevalecentes na alta modernidade (GIDDENS, 2002),ancoradas na racionalidade instrumental, tcnica, as quais, muitasvezes, vm sendo naturalizadas, cristalizadas tambm nas prticasde produo de conhecimentos acadmicos. So prticas totalitriasapresentadascomoestatutoeostatusdacientificidade(sic!).Perdemos, em grande parte das vezes, a sensibilidade de que estasprticasfundadasnarazoinstrumentaltmproduzidoirracionalidades, tm gerado, cotidianamente, violncias nas relaeseducacionais.CadernosdoCEOM-Ano21,n.28-Memria,HistriaeEducao18Osfundamentosterico-metodolgicosAhistoriadoraJacyAlvesdeSeixas,emtrabalhosrecentes2,vem se dedicando s pesquisas relativas ao engendramento histricodosconceitosdememria,desdeaantiguidadegreco-clssicaatosnossosdias.Tem,igualmente,chamadoaatenoparaastradieshistoriogrficasfrancesaeanglo-saxnicasrelativasaocampodamemriaambaspresentesnocontextodaspesquisasnacionais, de maneira mais ou menos acentuada.Revisitandotambmtaisprodues,concordocomsuasconcluses e as ressignifico, dialogando mais especificamente coma rea do ensino de histria.Quanto tradio francesa, os trabalhos do historiador PierreNora(1984,1993)emsuarelao,porsuavez,comMauriceHalbwachs (1990) so de fato paradigmticos nas pesquisas relativas historiografia, bem como ao ensino de Histria. Um dos grandesmritos das reflexes deste historiador diferenciar historicamenteosconceitosdememriaedehistria;memriacomotradioartesanal, afetiva, mltipla, vulnervel; histria enquanto disciplina,com estatuto cientfico, considerada como reconstruo intelectualproblematizadora, que demanda anlise e explicao.Contudo,avisoracionalinstrumentalpodesercaptadatambm nestas produes de Nora, uma vez que nelas a memriase torna prisioneira da histria, memria historicizada, memriaconvertida em objeto ou trama da histria, memria que no maisexiste.Noquetangestradiesanglo-saxnicas,maisespecificamente aos historiadores James Fentress e Chris Wichham(1992), Tomas Butler (1989), Patrick J. Geray (1996), dentre outros em suas pesquisas relativas histria oral , denunciam tambm ocarter dicotmico, hierarquizador dos saberes, desqualificador damemria,presentenostrabalhosdeHalbwachs.Contudo,nacontraposio, buscando aproximar demasiadamente a memria daMemria,HistriaeTempo:perspectivasterico-metodolgicasparaapesquisaemEnsinodeHistria-MariaCarolinaBovrioGalzerani19histria,estesmesmosautoresperdemdevistaasdimensesafetivas, contraditrias, involuntrias articuladas ao esquecimento j destacadas pelo prprio Pierre Nora.Ainda, em busca da compreenso do engendramento histricodosconceitosdememriaedehistria,numpequenoesboo,reconhecendo que estes so historicamente produzidos no interiorde tenses, de verdadeiras guerras simblicas, importante observarque a tradio historiogrfica ocidental localiza na antiguidade greco-clssicaolcusondeseoriginariamtaisconcepes.EmPlato3,porexemplo,oconceitodememriasurgecomosinnimodeconhecimento,comaproximaesediferenasemrelaoconcepocientficamoderna.Conceitodememriaportadordeumadimensomstica,visualizadacomooreconhecimentoviainstruodesaberesdeoutrasvidasqueseperderamcomaencarnao viso alicerada numa dada acepo de alma eterna.Quantoaoconceitodehistria,entreosgregosantigos,ovocbuloderivadehistorie,significandoprocurar,investigar(LEGOFF, 1984). Data do final do sculo XIX a construo do conceitode histria como disciplina, quando esta deixa de ser intimamentearticuladaarteefilosofia,paraadquirirconotaesmaisespecficas,isto,tcnicasecientficas.Data,aomesmotempo,deste final dos oitocentos, com o avano da modernidade capitalista,ahierarquizaodossaberes,oprevalecimentodahistriacomocincia, como disciplina, em relao memria. No que respeita pedagogiamoderna(CORTEZ;SOUZA,2000),quetemaescolacomocentrodegravidade,estapreconiza,deumlado,adesqualificao da memria, que passa a ser tomada apenas comomeradecorao.Deoutro,talpedagogiafunda-senavalorizaodossaberescientficos,tcnicosos(re)produtoresdehomenseconomicamente ativos e politicamente dceis (FOUCAULT,1984).Em busca de um conceito de memria capaz de abrir brechaspara produes mais inventivas, dissonantes em relao s prticasjcristalizadasrelativasaoensinodehistria(oueducaoCadernosdoCEOM-Ano21,n.28-Memria,HistriaeEducao20histrica,latosenso),aproximamo-nosdasreflexesdeWalterBenjamin.Em textos da dcada de 19304, este pensador berlinense (queviveuentreosanosde1892ede1940)focalizaossentidosdamemria atravs de dilogos com a filosofia de Henri Brgson, comapsicanlisedeFreudaJungetambmcomliteratos,taiscomoMarcelProust.ParaBrgson(1979,1997),tantopercepocomointuiodesguam nos labirintos da memria. Seu conceito de memria acha-se, fundamentalmente, vinculado ao sentido da conscincia. Sentidoeste que permite a ultrapassagem do eu superficial e uma relaomais dinmica e ntima entre o sujeito e o objeto.Ter conscincia possuircapacidadedearticulardimensesdetemporalidadeedurao contidas na relao entre presente, passado e futuro.Brgsonumcrticodocientificismopositivistae,emsuasconstrues imagticas relativas memria, um incentivador dabusca de novas linguagens, capazes de incorporar o imponderveldos jogos e a fluidez da convergncia das imagens.Benjaminmuitosebeneficiadestevisbergsonianodememria.Contudo,temalgunsmovimentosdeafastamentoemrelao a este vis, na medida em que visualiza a memria muitomaisdoqueconscincia.Almdisso,tambmemsuaconcepodetempo,difere-sedadeBrgson.EnquantoparaBrgsontemporalidade sinnimo de durao e de continuidade indivisa,paraBenjaminacategoriatempocarregadaderupturasprincipalmentequandosevivenummundoempobrecidodeexperincias e repleto de meras vivncias.Assim,nodilogocomMarcelProust(1954),discpulodeHenriBrgson,Benjaminentraemcontatotambmcomasdimenses involuntrias de memria e as valoriza. Para este autor,a grande questo na reflexo sobre a memria no propriamenteaquilo que possvel rememorar, mas saber lidar com o fantasmado esquecimento. Como revelar os fatos esquecidos e apagados pelahistria oficial?Memria,HistriaeTempo:perspectivasterico-metodolgicasparaapesquisaemEnsinodeHistria-MariaCarolinaBovrioGalzerani21Aomesmotempo,Benjaminvaialmdavisodememriaproposta por Proust, entrecruzando as dimenses involuntrias svoluntrias,comotambmquestionandoofatodeProustterproduzidomemrias,motivadomuitomaisporumidealindividualista de prazer esttico. Para Benjamin, rememorar umato poltico, com potencialidades de produzir um despertar dossonhos,dasfantasmagorias,paraaconstruodasutopias.Rememorarsignificatrazeropassadovividocomoopodequestionamentodasrelaesesensibilidadessociais,existentestambm no presente, uma busca atenciosa relativa aos rumos a seremconstrudosnofuturo.ComFreud5(1971),Benjaminfortaleceaconcepodamemriacomodimensoconscienteetambminconsciente.Memria,pois,quecomportaumaacepodepessoalidademaisampla,sobopontodevistapsicolgico.Naaproximaocomapsicanlise constri a concepo metodolgica de ateno flutuante,pensamento minucioso e hesitante, que sempre volta ao seu objeto,mas por diversos caminhos e desvios, o que acarreta uma alteridadesempre renovada ao objeto. Neste sentido, concebe a verdade nocomoadequaooupossesso,mascomocontemplao,isto,como ateno intensa e leve.Portanto, Benjamin nos oferece um dado conceito de memria,capaz de ampliar a dimenso de ser sujeito tanto sob o ponto devistasocialtantosobopontodevistapsicolgico.Conceitodememria capaz de dinamizar a viso de produo de conhecimentos,entrecruzandodiferentesespaos,diferentestemporalidades,diferentes sujeitos, diferentes vises do mundo (a da criana e a dofilsofo, por exemplo).Aodesenharoperfildarememorao,configuraimagenspolticas, as quais implicam no questionamento profundo de prticasdeproduodeconhecimentos,consolidadascomoavanodamodernidadecapitalista.Prticasautocentradas,narcsicas,utilitaristas,hierarquizadoras,excludentes,homogeneizadoras,compartimentalizadoras,maqunicas.Assim,Paraoautor,queCadernosdoCEOM-Ano21,n.28-Memria,HistriaeEducao22recorda,oprincipalnooqueeleviveu,masotecerdesuarecordao, o trabalho de Penlope da rememorao (BENJAMIN,1985, p.37).Benjaminarticulaoconceitodememriaaoconceitodenarrativa,oferecendoaoleitorquestionamentosealternativas,relativos questo da linguagem.Assim,embuscadarupturadeumalinguagemdetipotagarelice(fundadaemacepesformalistaseneopositivistas),ele prope mergulhar o discurso nas experincias vividas atravsdo uso das alegorias e, sobretudo, articulando as palavras s coisasvividas.Enfatizaqueasprticasnarrativasdevemseassentarnodesapontamento da concepo absoluta da verdade, deixando vir tona pessoas mais inteiras, na relao com outras pessoas, situadasnopresente,dialogandocomopassado,masabertasaofuturo.Pessoasdeixandotransparecersuascertezas,mastambmsuasincompletudes.Pessoasquerenunciamatudopreencher,paradeixar que algo do outro possa dizer-se.Noquedizrespeitodimensotemporal,ascontribuiesbenjaminianasdememria/narrativaprovocamrupturassignificativasemrelaosviseshistoricistasoumarxistasortodoxas. Estas tm como alvo a concepo de tempo homogneoe vazio, que passa engolfando o sofrimento, o horror, mas tambmaxtase,afelicidade.Aumavisotemporalcumulativaecomplacente do continuum da histria -, ele ope a necessidadede ater-se a tudo o que poderia interromper essa aparente coerncia,agarrando-sesasperezas,sarestas,scesuras,aodescontnuo.Neste sentido, aproxima-se muito da concepo de tempo de MarcelProust.[.Ao pensar pertence no s o movimento dos pensamentos,mas tambm sua imobilizao. Onde o pensamento se detmrepentinamentenumaconstelaosaturadadetenso,eleconfere a ela um choque, atravs do qual se cristaliza comomnada6.Numaressignificaodoconceitoproustinianodetempo,Memria,HistriaeTempo:perspectivasterico-metodolgicasparaapesquisaemEnsinodeHistria-MariaCarolinaBovrioGalzerani23luzdetradiesjudaicasheterodoxas,refere-sedialticaemrepouso,dialticacongelada,paradarcontadaextrematensoentreessesdoiselementoscontrrios.Dialticaquepermiteoconceitodotempodoagora,temposurgidodopassadonopresente, evento do instante, daquilo que comea a ser, que deve,pelo seu comeo, nascer a si, advir a si, sem partir de lugar nenhum(LEVINAS,1994).Oinstante,segundoBenjamin,imobilizaessedesenvolvimento temporal infinito, que se esvazia e se esgota e quechamamos rapidamente demais de histria.Benjaminopeaodesenvolvimentotemporalcontinuum,aexignciadopresente,queelasejaoexercciorduodapacinciaou o risco da deciso.Portanto,oconceitodememriabenjaminianopermiteocontato com franjas analticas inquietantes, relativas, tambm, sconcepesdehistria/tempo/narrativa.As imagens que foram desenhadas acima no devem ser lidascomoverdadesjdadas,relativasaotemaorapriorizado.Foramproduzidas como um convite realizao de uma viagem 7 pelostextos benjaminianos. Viagem aberta produo de significados,por cada um de vocs, caros leitores.ApesquisaemensinodehistriaNo Brasil, desde os anos de 1990, mas, sobretudo, a partir dosanos 2000, na rea da educao tm sido produzidas frteis pesquisasno dilogo com o conceito de memria, em seus diferentes matizes- pesquisas especficas ou no especficas ao ensino da histria. Umadas contribuies fundamentais dos trabalhos relativos s prticaseducativas no especficas rea da histria8 tem sido a focalizaodas marcas deixadas por experincias do passado sobre as prticasdos professores, seja numa dimenso individual ou coletiva.Quanto aos trabalhos especficos da rea do ensino de histria,voltados para as potencialidades do conceito de memria, surgem,sobretudo,apartirtambmdosanosde1990,narelaocomasCadernosdoCEOM-Ano21,n.28-Memria,HistriaeEducao24novastendnciashistoriogrficas,principalmentecomaNovaHistria. interessante observar o prevalecimento, em nosso pas,da tradio historiogrfica francesa, principalmente das produesde Pierre Nora (1984-1992; 1993) e de Jacques Le Goff (1984; 1996),tambm nas pesquisas relativas ao ensino de histria voltadas parao conceito de memria. Igualmente, importante registrar que soos trabalhos historiogrficos de Ecla Bosi, j nos anos de 1970, queintroduzemospesquisadoresbrasileirosdestatemticanascontribuies analticas de autores como Henri Brgson, de PierreNoraedeMauriceHalbwachs.OsParmetrosCurricularesdeHistria para o ensino fundamental e mdio, produzidos pelo MECtambm nos anos 1990, ratificam as potencialidades do conceito dememria para o ensino de Histria, nestes nveis de escolarizao.Contudo, em suas tessituras discursivas - muitas vezes contraditrias- prevalecem os saberes de cunho cientfico, capazes de assegurar a(re)produodosparmetroscognitivos,ouseja,dasbalizasculturais,tendencialmente,homogeneizadoras,necessriasconstituiodecidados,concebidosainda-comoeconomicamente ativos e politicamente dceis (sic!).Gruposdepesquisadoresnacionais,situadosemdiferentesuniversidades, articulados a Programas de Ps-Graduao, em suamaioria, tm-se voltado especificamente para esta temtica, a partirtambmdofinaldosanosde1990.ocaso,particularmente,dogrupodepesquisaMemria,HistriaeEducao9,situadonaFaculdade de Educao - Unicamp, lcus no qual venho construindominhas atuaes nesta rea. Tal grupo, existente desde os anos de1980, tem-se dedicado, tradicionalmente, s pesquisas relativas aoensino de histria e, nos ltimos anos, temse voltado ampliaodoenfoqueinicial,incorporandopesquisasrelativaseducaohistricalatosenso,bemcomosinvestigaesvoltadasparaahistria da educao no Brasil.OscursosdePs-Graduaopassam,tambm,aincorporardisciplinas, nos seus programas curriculares, que tm como eixo aquesto da memria10.Memria,HistriaeTempo:perspectivasterico-metodolgicasparaapesquisaemEnsinodeHistria-MariaCarolinaBovrioGalzerani25Inmeraspesquisas,comdiferentesmatizesterico-metodolgicostem-seabertoparaaspotencialidadesdo(s)conceito(s) de memria. No caso especfico dos membros do GrupoMemria,temticastaiscomo,ensinodehistria(stritosenso),movimentos sociais, lugares da memria (arquivos, museus), histriadainstituioescolar,histriadeprojetospoltico-pedaggicosalternativos,dentreoutras,vmsendoelencadascomoobjetodepesquisa.Nocasoespecficodosmeusorientandos,vimosenfocando a produo de saberes escolares, de saberes docentes, aeducao patrimonial, a educao poltica dos sentidos nas cidadesbrasileiras modernas e as prticas de leitura de manuais didticos(incluindo literatura infanto-juvenil) e de peridicos (como jornaise almanaques) modernos no Brasil.Oexamemaisacuradodestestrabalhos11articulados,sobretudo, s produes benjaminianas - pode revelar que eles tmrepresentadoabuscadenovaspossibilidadesparaaeducaohistrica,noquerespeitareinvenodautopia.Ouseja,tmpermitido a ampliao da imagem do pesquisador e do pesquisado- tanto sob o ponto de vista social, como psicolgico visualizando-oscomopessoas,portadorasdedimensesconscienteseinconscientes, de certezas e de incompletudes.Tm possibilitado, ao mesmo tempo, a busca de afastamentoda racionalidade instrumental, tcnica, no que respeita construodoconhecimentohistricoeducacional,i.,anoaceitaodahierarquizaodossaberes.Representamquestionamentoemrelaosabordagensmetodolgicasglobalizantes,homogeneizadoras,compartimentalizadas,dicotmicas,maniquestas, mecnicas, distantes das experincias - as quais tmprevalecido nas prticas de produo de conhecimentos acadmicosnesta modernidade tardia, ou ainda, potencializam a busca de maiorimbricaoentrepesquisa/ensino,microemacro-histrias,memriasehistrias,fundamentospsicopedaggicosehistoriogrficos,teoriaseexperincias,presente/passado/futuro,Logos e Eros.CadernosdoCEOM-Ano21,n.28-Memria,HistriaeEducao26Fundam-se,portanto,naracionalidadeesttica(MATOS,1989),permitindoaexplicitaodepontosdevistaenopontosfixos,aimbricaoderacionalidadeedesensibilidades,transformandoostemposperdidosemtemposredescobertos,conferindo a cada experincia, historicamente revisitada, a verdadequelheprprianarelaocomosdesafioseducacionaisdopresente.Notas*Esseartigofoioriginalmentepormimapresentadonamesa-redonda,Memria,tempo,HistriaepesquisanoensinodeHistria,nodia15/02/2006naUFMG,emBeloHorizonte,MG,comopartedoVIIEncontroNacionaldePesquisadoresdoEnsinodeHistria:novosproblemasenovasabordagens.Talmesacontou,tambm,comaparticipaodaProfessoraDaRibeiroFenelonedaProfessoraSoniaReginaMiranda.**ProfessoradaFaculdadedeEducaodaUNICAMP.1Cadamannademivida,traigodelsueootrosueo.Neruda,Pablo.ObrasCompletas.BuenosAires:EditorialLosada,1968.2 Percursosdememriasemterradehistria:problemticasatuais.InMemriae(re)sentimento:indagaessobreumaquestosensvel.StellaBrescianieMrciaNaxara(org.).Campinas.SP:EditoradaUnicamp,pp.37-58.3 Consultar a este respeito, Tadi, Jean-Yves & Marc. Le sens de la mmoire.Paris: ditionsGallimard,1999.4 DentreostextosproduzidosporBenjaminnesteperodo,destacamos:CrnicaBerlinense,InfnciaemBerlimporvoltade1900,Experinciaepobreza,Onarrador,AParisdoSegundoImprioemBaudelaire,SobrealgunstemasemBaudelaire.5 SobrearelaoentreBenjamineFreud,consultarRouanet,SrgioPaulo.dipoeoanjo.RJ:TempoBrasileiro,1981.6 Benjamin,W.Tesessobrefilosofiadahistria,1940.InKothe,FlvioR.(org.)WalterBenjamin.SP:tica,1985,pp.153-164.7 Erfahrung,nooriginalalemo,significatantoviagemcomoexperincia.8 Dentretaistrabalhos:Fazenda,I.Interdisciplinaridade:umprojetoemparceria.SP:Loyola,1991;Soares,M.Metamemria-memrias:travessiadeumaeducadora.SP:Cortez,1991.Prado,G.Dabuscadeserprofessor:encontrosedesencontros.Dissert.Mestrado/Educao.FE/Unicamp,1992;Rego,T.C.Memriasdeescola.Culturaescolareconstituiodesingularidades.Petrpolis,RJ:EditoraVozes,2003.9 Constituemmembrosdocentesdestegrupodepesquisa,atualmente,ErnestaZamboni,VeraLciaSabongideRossi,MariadoCarmoMartinseHelosaHelenaPimentaRocha,almdemim.10 TenhoministradonosltimosanosadisciplinaMemria,modernidadecapitalistaeeducaonoProgramadePs-GraduaodaFaculdadedeEducao/Unicamp.11 Dentreostrabalhosdefendidosrecentemente,sobminhaorientao,queseinspiraramnoconceitobenjaminianodememriaparaproduzirconhecimentosnocampodaeducao histrica, registro: o trabalho de final de curso (TCC), A Educao patrimonialesuaspotencialidadesparaaformaodeprofessoresdehistria,deFlviaCasemiro,doCursodeLicenciaturaemHistria,2005;asdissertaesdeMestrado,Focandoadiscriminao em sala de aula: memria, histria e ensino de histria, de Mrcia ReginaPoliBichara,2005eAMortedeNatlia:potencialidadesdeumdocumentoliterrioMemria,HistriaeTempo:perspectivasterico-metodolgicasparaapesquisaemEnsinodeHistria-MariaCarolinaBovrioGalzerani27paraaeducaopolticadossentidosnacontemporaneidade,deFernandoDrezza,2008; as teses de Doutorado, Memrias e Experincias do Fazer-se Professor de HistriadeElisonAntnioPaim,2005;Trilhosdemodernidade:memriaseeducaourbanadossentidos,deMariaSlviaDuarteHadler,2007;OCorpoeassensibilidadesmodernas-BraganaPaulista(1900-1920),deMariadeFtimaGuimaresBueno,2007;Acidadeeaproduodeconhecimentoshistrico-educacionais:aproximaesentreaCampinasmodernadeJosdeCastroMendeseaBarcelonamodelo,deFtimaFaleirosLopes,2007eFiosdehistriasememriasdosafricanoseafro-descendentesnoBrasilmoderno.Porumaeducaopolticadossentidos,deClaudiaReginaPradoFortuna,2008.RefernciasBENJAMIN,Walter.ObrasescolhidasI.Magiaetcnica.ArteePoltica. Trad. Srgio Paulo Rouanet, Pref. Jeanne-Marie Gagnebin.S.P: Brasiliense, 1985(A).__________.ObrasescolhidasII.Ruademonica.SP:EditoraBrasiliense, 1987.__________.ObrasescolhidasIII.CharlesBaudelaire:umlriconoauge do capitalismo. Brasiliense, 1989.CORTEZ,Ceclia;SOUSA,Christianode.Escolaememria.Bragana Paulista, SP: Ed.USF, 2000.BRGSON,Henri.Aconscinciaeavida.InOsPensadores,SP:Abril Cultural,1979._________.Memoria y vida. Madrid: Alianza Editorial,1997.BICHARA,MrciaPoli;GALZERANI,MariaCarolinaBovrio.Discriminaesemsaladeaula:memrias,histriaseensinodehistria.In GALZERANI, M.C.B.; MARTINS, M. do C.; PIMENTA,H. R.; ROSSI, V.L.Z. DE; ZAMBONI,E.(org.).Memrias e histriasda escola.Campinas: Editora Mercado das Letras, 2008.BOSI,Ecla.Memriaesociedade:lembranasdosvelhos.SP:T.A.Queiroz Ed. 1983.BUTLER, Thomas (org.). History, culture, and the mind. Londres:Basil Blackell, 1989.CadernosdoCEOM-Ano21,n.28-Memria,HistriaeEducao28FENTRESS,James;WICKHAM,Chris.Socialmemory.Oxford:Blackell, 1992.FOUCAULT, M. Arqueologia do saber. R.J.: Forense- Universitria,1987.__________. Microfsica do poder. R.J.: Graal, 1984.FREUD,Sigmund.Malaisedanslacivilisation.Paris:PressesUniversitaires de France, 1971.GALZERANI,MariaCarolinaBovrio.ImagensentrecruzadasdeinfnciaedeproduodeconhecimentohistricoemWalterBenjamin.InGoulartdeFaria,AnaLcia;Fabri,ZeiladeBrito;Prado,PatrciaDias(org.)Porumaculturadainfncia:Metodologiasdepesquisacomcrianas.Campinas,SP:AutoresAssociados, pp.48-68,2002.__________.Entrelazandoconocimientos,memoriasyprcticaseducativas: una produccin de culturas docentes. In Galzerani, M.C.Bovrio;Pardo,M.B.Lima(org.).Unanuevaculturaparalaformacindemaestros:esposible?Porto,Portugal:Ed.daUniversidade do Porto, no prelo.__________.Memria,Histriae(re)invenoeducacional:umatessitura coletiva na escola pblica.In Menezes, Maria Cristina (org.)Educao, memria e histria. Campinas, SP: Mercado das Letras,2004.__________. Percepes culturais do mundo da escola: em busca darememorao.In Anais do III Encontro Nacional de PesquisadoresdoEnsinodeHistria,Campinas,SP:GrficadaFE-UNICAMP,pp.99-108,1999.__________. O lugar das memrias na produo dos saberes escolares,In Obra organizada por Holien Bezerra e Tnia de Lucca, ANPUH-SP, decorrente do XVIII Encontro Regional da ANPUH-SP (ocorridoem julho de 2006, em Assis,SP).No prelo.Memria,HistriaeTempo:perspectivasterico-metodolgicasparaapesquisaemEnsinodeHistria-MariaCarolinaBovrioGalzerani29GERAY,PatrickJ.Lammoireetloublilafindupremiermillnaire. Paris: Aubier,1996.GIDDENS,Anthony. Modernidadeeidentidade.RJ:Zahar,2002.HALBWACHS,M.Amemriacoletiva.SP:Vrtice,1990.HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memria.RJ: Aeroplano, 2000.KOTHE, Flvio R. (org.) Walter Benjamin. SP: Editora tica, 1985(B).LE GOFF, Jacques. Histria e memria. Campinas, S.P: Editora daUnicamp,1996.________.Memria/Histria,Documento/Monumento,inEnciclopdia Einaudi. Lisboa: Imprensa Nacional, 1984. Vol. 1.LEVINAS,Emmanuel.Delexistencelexistant.Paris:Ed.Fontaine,1947,p.130-131.ApudGagnebin,JeanMarie.HistriaenarraoemWalterBenjamin,SP:Ed.Perspectiva/Fapesp,Campinas : Ed. da Unicamp, 1994, p.111.MATOS, Olgria. Os arcanos do inteiramente outro. SP: Brasiliense,1989.MONTENEGRO, A. T.Histria oral e memria. S.P: E. Contexto,1994.NORA, P. Les lieux de mmoire. Paris: Gallimard, 1984-1992.______.EntrememriaeHistria:aproblemticadoslugares,inHistria e Cultura. Projeto Histria. S.P: PUC,1993.PAIM, Elison; GALZERANI, Maria Carolina Bovrio.Voc se deparacom professores mais velhos e se sente uma formiga: memrias dosprofessoresiniciantesdehistria.InGALZERANI,M.C.B;MARTINS,M.doC.;PIMENTA,H.R.;ROSSI,V.L.Z.DE;ZAMBONI,E.(org.).Memriasehistriasdaescola.Campinas:Editora Mercado das Letras, 2008.CadernosdoCEOM-Ano21,n.28-Memria,HistriaeEducao30PROUST,Marcel.Letempsretrouv.Paris:Gallimard.LaPliade,1954.RICOEUR, P. Le mmoire, lhistoire, loubli. Paris: Seuil,2000._________. LIdentit narrative, in Revue Esprit, jul./ago.1988,n.7/8, pp.295-304.SEIXAS,J.A.PercursosdememriasemterrasdeHistria:Problemticasatuais,inBresciani,M.StellaM.;Naxara,Mrcia(org.). Memria e (Re) Sentimento: indagaes sobre uma questosensvel. Campinas, S.P.: Edit. da Unicamp, 2001, pp37-53.SIMONDON,M.Lammoireetloublidanslapensegrecquejusqu la fin du Vme sicle. Paris: Les Belles Lettres,1982.SMOLKA,AnaLusa.Amemriaemquesto:umaperpectivahistrico-cultural,in:Vigotski-Omanuscritode1929.RevistaEducao e Sociedade. Campinas: CEDES, n.71(especial), julho de2000, pp166-193.TERDIMAN,R.Presentpast.Modernityandthememorycrisis.Ithaca: Cornell University Press,1993.TODOROV, T. Les abus de la mmoire. Paris: Arla,1995.Memria,HistriaeTempo:perspectivasterico-metodolgicasparaapesquisaemEnsinodeHistria-MariaCarolinaBovrioGalzerani31AbstractWehereproposetodiscusstheconceptofmemory-inrelationshipwiththatofhistoryandtime-,intendingtoopenalternativetrendsfortheresearchinhistoryteaching.Inordertoaccomplishthat,weelectedthedialoguewiththephilosopherWalterBenjamin.Inthissense,thecontemporaryacademictendenciespresentinthisareaandsettledintheinstrumentalrationalityarequestioned,andtheresearchexperienceslocalizedin the Group Memory, History e Education of Education Faculty-Unicamparepresented-intheoppositedirectiontotheonecharacteristicofthosetendencies.Keywords:memory;history;time;researchinhistoryteaching;WalterBenjamin.CadernosdoCEOM-Ano21,n.28-Memria,HistriaeEducao32