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FUTSAL FEMININO X PRECONCEITO: como anda o placar dessa partida?
Elayne Cristine Rodrigues Pereira1
Zaira Valeska Dantas da Fonseca 2
Resumo
Este artigo é resultado de uma pesquisa do tipo bibliográfica com uma análise qualitativa, que utiliza um enfoque crítico dialético e tem como tema a ser abordado o futsal feminino e os tipos de preconceitos vivenciados pelas atletas que o praticam. Busca expor a diferença de estereótipos de gêneros no esporte desde a antiguidade, destacando as atribuições e o desenvolvimento das mulheres na prática esportiva e as dificuldades encontradas pelas mesmas, em especial no futebol, identificando, também, os vários tipos de preconceito, sejam eles de forma social, racial, sexual e às vezes até familiar que são vividos por atletas mulheres praticantes do futebol. Possui como importância o incentivo em novas pesquisas que possam proporcionar melhor visibilidade para o esporte em questão. Como resultados encontrados através das leituras, pode-se destacar a presença do preconceito e discriminação no futsal feminino, por conseguinte observa-se que esses atos resultam em stress, exclusão e falta de incentivo na prática das mulheres. Diante disso, este artigo busca chamar a atenção de leitores que se interessam pelo assunto e ajudem na realização de outras pesquisas para que assim o tema seja melhor discutido e repensado na sociedade. Palavras-chave: Preconceito; Gênero; Esporte; Futsal feminino.
Introdução
O futsal, assim como o futebol, teve em sua origem a prática para homens
por ser um esporte de características rudes, violentas, de força, velocidade e rigidez,
portanto, a mulher que tivesse em seus hábitos a prática de esportes com tal
característica seria “mal vista” pela sociedade, uma vez que ela perderia suas
características femininas (BARBIERI, 2009,).
Com o passar do tempo e a inserção da mulher no esporte, inclusive o futebol
e futsal, e mesmo com crescimento satisfatoriamente da modalidade, o preconceito,
a discriminação e a falta de incentivo ainda se fazem presentes. É de extrema
importância o incentivo a pesquisa na área do futsal feminino, pois contribui para
que o mesmo seja mais aceito pela sociedade e supere barreiras enfrentadas por
mulheres na prática do futebol.
1 Graduanda do Curso de Licenciatura Plena em Educação Física da UEPA, [email protected] .
2 Professora e Mestre em Educação pela Universidade Federal do Pará, Brasil (2009).
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Este artigo é fruto do estudo realizado no trabalho de conclusão de curso,
cuja motivação partiu do fato de ser uma atleta de futsal feminino na Universidade
do Estado do Pará por quatro anos e sempre participar de competições dentro e fora
da instituição. Neste caso, foi possível observar como mulheres praticantes do
mesmo encontram muitas dificuldades, dentre elas a falta de incentivo, o
preconceito, a discriminação e até mesmo a ausência do reconhecimento pelo seu
esforço enquanto atleta. Contudo, é gratificante ver mulheres cada vez mais
ganhando espaço e enfrentando barreiras no esporte, pois em algumas competições
encontra-se mulheres que jogam apenas pelo prazer, muitas não contam com ajuda
de um técnico para treiná-las, outras nem sapato adequado para a prática adequada
do esporte possuem, porém, as mesmas não desistem e jogam pela vontade,
determinação e prazer que possuem pelo futsal.
Em outras situações vividas em todo o tempo como atleta de futsal pode-se
observar a falta de incentivo para a prática do devido esporte, tanto pela própria
Universidade quanto por acadêmicos. Como exemplo destaca-se a falta de
incentivo, como o patrocínio em camisas, acessórios essenciais para a prática do
esporte, além da falta de um técnico adequado ou de uma estrutura que não pode
ser acessada pelas atletas, como a academia, que não desenvolve preparação física
em atletas, entre outras.
Outro fator importante a destacar é que durante o período de estágio
obrigatório foi observado o sexismo nas aulas de educação física. Tal fato leva a
perceber que desde cedo o preconceito já é manifestado em pequenos atos em uma
aula, tanto pelos professores como pelos alunos; as meninas pela própria vaidade,
ou por se sentirem “deixadas de lado” ficam só olhando ou preferem jogar queimada,
enquanto os meninos são os mais beneficiados na prática de esportes, e em
especial o Futsal. O oposto pode ser presenciado também, como o menino que é
deixado de lado apenas por não gostar de Futsal e sim de outras modalidades.
Tais problemáticas levaram à seguinte pergunta o que os estudos e
pesquisas apontam sobre quais as principais formas de preconceito
manifestadas contra atletas de futsal do sexo feminino no Brasil?
A pesquisa teve como objetivo analisar as principais manifestações de
preconceito vivenciadas na prática de futsal pelas atletas brasileiras, identificando e
caracterizando as situações em que o preconceito ocorre na prática de futsal
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feminino no Brasil e se o mesmo altera a vida como atletas de futsal das praticantes
de futsal no Brasil.
O estudo foi desenvolvido a partir da análise qualitativa, utilizando como
fontes de dados artigos científicos publicados em revistas científicas eletrônicas e
impressas da área da Educação Física, artigos científicos publicados em anais de
eventos científicos e obras literárias que tratem do tema do preconceito contra as
mulheres no esporte. O período escolhido para o levantamento de dados datou de
2000 a 2010, uma vez que trata-se de publicações mais recentes, objetivando uma
maior atualidade da pesquisa.
Como enfoque a ser utilizado escolheu-se a Crítica Dialética com um objetivo
exploratório, que segundo Teixeira (2009), privilegia estudos sobre experiências,
práticas pedagógicas, processos históricos, discussões filosóficas ou análises
contextualizadas a partir de um prévio referencial teórico.
Este estudo esteve dividido em quatro etapas, na seguinte ordem: A primeira
etapa será a introdução, onde irá detalhar todo o processo de desenvolvimento e
característica da pesquisa. A segunda etapa dará início as discussões teóricas sobre
o início do futebol e sua relação, com o nascimento do futsal feminino e como a
mulher se inseriu neste cenário; na terceira etapa explicitará a questão de gênero e
o esporte abordando as relações da mulher e seu processo de inserção no esporte
com o passar dos tempos; a quarta etapa abordou-se as questões do preconceito e
suas manifestações a partir dos estudos analisados, destacando sobre o papel do
professor neste contexto, além das transformações do papel da mulher na
sociedade. Finalizando, pontua-se algumas conclusões percebidas durante a
realização deste estudo. Portanto, este artigo justifica-se pela necessidade de
complementar e embasar ações com objetivo de garantir uma participação mais
ativa da mulher no exercício do futsal feminino. Inúmeras literaturas apontam para
este cenário onde a mulher está traçando sua trajetória e as manifestações de
preconceito e discriminação só apontam para uma atitude limitadora de suas
potencialidades. Portanto, faz-se necessário desenvolver novos instrumentos de
ações que tenham como objetivo garantir uma participação mais ativa deste
segmento da sociedade.
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Onde tudo começou...
O Início do Futsal no Brasil
A origem do futsal tem duas vertentes: a primeira remonta da Associação
Cristã de Moços (ACM) de São Paulo; a segunda perpassa pela cidade de
Montevidéu no Uruguai nos ano de 1934, pelo professor de Educação Física Juan
Carlos Ceriani. Como um esporte coletivo, este necessita de muito condicionamento
físico e técnico. Seu surgimento está interligado ao futebol de campo, uma vez que o
mesmo surgiu após uma adaptação do futebol que estava perdendo espaço e
precisava ser praticado em um local reduzido devido às mudanças meteorológicas
desfavoráveis que o futebol enfrentava em sua prática, já que era praticado em
várzeas e dificilmente em períodos de chuva (BARBIERI, 2009, p. 15).
Outras adaptações foram realizadas, como: diminuição do tamanho do campo
e a redução do número de jogadores. Outra mudança significativa foi o tamanho da
bola, que tornou-se menor e o seu material passou a ser de crina vegetal e
serragem. Inicialmente o futsal, assim como o futebol de campo, tem em sua história
a prática somente por homens e foi negado às mulheres por argumentos
extremamente machistas (TEIXEIRA JUNIOR, 2006, p. 17).
No Brasil, Getúlio Vargas, através do decreto nº 3.199 em seu artigo 54,
proibia a mulher de praticar alguns esportes, tais como: lutas, pólo aquático, rugby,
halterofilismo, baseball, futebol de salão e futebol de praia. Porém, em 08/01/1983
foi feita a liberação de sua prática pela CND (Confederação Nacional de Desporto).
Logo após foram surgindo campeonatos, porém, não eram reconhecidos
oficialmente pela CBFS (Confederação Brasileira de Futebol de Salão) (BARBIERI,
2009, p.17).
Com o surgimento das federações e de muitos times e o aumento da procura
pelo futsal, foi necessário que se criasse uma Federação principal que fosse
responsável pelos campeonatos no Brasil e no Mundo. Diante disso, em 1971 foi
fundada também no Rio de Janeiro, a Federação Internacional de Futebol de Salão
(FIFUSA), que teve João Havelange como seu primeiro presidente e 32 países
filiados. No ano de 1990 a FIFA (Federation International Football sociation)
homologou o futsal criando uma comissão de apoio e propondo a extinção da
FIFUSA, porém, com o não apoio de algumas federações, oficializou-se o Futsal
ligado a FIFA (LÔMEU, 2007, p. 4).
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Mesmo com essa grande expansão do Futsal no Brasil e no Mundo e a
procura pela mulher nessa modalidade ir crescendo, o processo de discriminação e
o preconceito não deixaram de ser exacerbados contra quem pratica esse esporte.
Algumas palavras pejorativas são verbalizadas, como: “mulher macho” ou “Maria
sapatão”, fazendo com que a mulher não seja percebida por suas potencialidades e
sim pela concepção deturpada do exercício do esporte, ou seja, “isto é coisa de
homem” (BARBIERI, 2009, p. 17).
Futebol \ Futsal – A Inserção da Mulher nesse “Universo Masculino”.
A história das mulheres no universo cultural do esporte brasileiro é marcada
por rupturas, persistências, transgressões, avanços e recuos. A melhor visibilidade
que elas conseguiram no esporte foi com a participação na segunda etapa dos
Jogos Olímpicos Modernos, mesmo sob protesto de muitos, por considerar que as
mulheres poderiam vulgarizar esse terreno tão recheado de honras e conquistas que
era dominado por homens (GOELLNER, 2003).
A participação da mulher no esporte se dava através da exibição de beleza ao
fazerem desfile e entregarem premiação. A primeira participação da mulher
diretamente ao esporte se dá na idade média, quando participavam das mesmas
atividades esportivas que os homens, envolvendo-se em jogos populares, como os
jogos com bola (TUBINO, 2002 apud VALPORO, 2006).
Com o passar do tempo e o crescimento da sociedade a mulher foi perdendo
relação com o esporte, passando, assim, a ser apenas uma dona de casa, com
principal importância na criação e geração dos filhos, o que fez com que sua
participação em práticas esportivas fosse repreendida.
Diante disso, para que as mulheres pudessem ser reinseridas no âmbito
esportivo, teriam que lutar e enfrentar paradigmas que foram sendo criados pela
sociedade e que caracterizavam a mulher puramente feminina, e com características
inadequadas para a prática de alguns esportes, como relata Teixeira Júnior (2006, p.
16).
O futebol foi negado as mulheres por argumentos extremamente machistas e infundados. Falava-se que o campo de futebol, colocava em prova as representações de feminilidade, comprometendo graciosidade, a harmonia das formas, a beleza, sensualidade e delicadeza da mulher.
Como citado acima, a mulher não poderia realizar a prática do futebol, e isso
influenciou diretamente na sua participação tardia, já que a mesma teria que
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contrariar a sociedade. Vasconcelos (2008) afirma que a primeira partida de futebol
foi realizada em 1988, em Londres, entre Inglaterra e Escócia. Já no Brasil, Lessa
(1996 apud VASCONCELOS, 2008) afirma que o primeiro jogo foi realizado em um
evento que buscava fundos para a construção do Hospital da Cruz Vermelha, em
1913.
No Futsal, segundo Barbieri (2009), o primeiro campeonato que a CBFS
oficializou foi em janeiro de 1993 no estado de São Paulo com a participação de 10
equipes na I Taça Brasil de Clubes. Esse foi um pontapé inicial para a divulgação e
o crescimento do futsal feminino no Brasil, fazendo com que vários campeonatos e
times surgissem por todo o País e fossem se destacando. É o caso de uma das
jogadoras mais famosas do futebol feminino brasileiro, Marta Vieira da Silva, que foi
eleita três vezes a melhor do mundo.
Porém, mesmo com esse destaque no futebol, muitos empecilhos, como o
preconceito e a discriminação, ainda dificultam a aceitação da prática futebolística
por mulheres. Teixeira Júnior (2006, p.17) diz que “[...] torcedores, treinadores dizem
‘parecem um bando de ‘mulherzinhas’ para os atletas homens que estão jogando
mal [...]”. Isso nos leva a perceber o quanto a mulher no futebol é rejeitada e
discriminada. Esses atos de discriminação podem ser observados em times
considerados de alto nível, em escolas, em clubes e até em famílias.
Atualmente, as características como afeto, fragilidade ou delicadeza ao serem
observadas no homem, põem em cheque sua sexualidade, o contrário pode ser
observado na mulher. Segundo Paim e Strey (2005), seu corpo é dotado de
docilidade e sentimentos afetivos, qualidades negadas aos homens; sua condição
materna deve ser preservada, como garantia de perpetuação da espécie.
No esporte, essa diferença de estereótipos se espalhou por muito tempo, e
como já exposto anteriormente, só foi sendo perdida com os higienistas, mostrando
os benefícios do mesmo. Após essas primeiras conquistas pelas mulheres
houveram contradições na sociedade que acabaram impedindo as mulheres de
continuar exercendo algumas práticas esportivas que apresentavam características
violentas para a “natureza feminina”, através do Conselho Nacional do Desporto, e o
decreto-lei n.3.199, que tinha como objetivo o ordenamento esportivo brasileiro
disciplinando o campo esportivo. Esse decreto ficou vigente por três décadas, o que
dificultou e atrasou o crescimento da mulher no esporte. (GOELLNER, 2009)
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As tabelas abaixo expostas por TUBINO (2003, p.5) nos mostram as
principais participações e colocações das mulheres nos esportes olímpicos e a
evolução da participação feminina nos jogos olímpicos consecutivamente.
A melhor visibilidade que elas conseguiram foi com a participação na segunda
etapa dos Jogos Olímpicos Modernos em 1900, em Paris, como mostra na tabela 2.
Tabela 1- Principais Colocações das Mulheres Brasileiras nos Esportes
Olímpicos
ANO LOCAL EQUIPE DESTAQUE COLOCAÇÃO
1932 Los
angeles Natação ----
1936 Berlim Natação e Esgrima ----
1948 Londres Natação e Esgrima ----
1952 Helsinque Atletismo e Natação ----
1956 Melbourne Saltos Ornamentais
em plataforma ----
1960 Roma Atletismo ----
1964 Tóquio Atletismo 4º Lugar
1980 Moscou
Vôlei Atletismo
Ginástica Artística Tiro com Arco
-----
1984 Los
Angeles ------ -----
1988 Seul Judô -----
1992 Barcelona Basquete -----
1996 Atlanta Vôlei de Praia Ouro e Prata no Vôlei de Praia;
Prata no Basquete; Bronze no Vôlei
2000 Sydney
Homenagem aos 100 de participação
feminina nas Olimpíadas
Bronze pra Basquete e Vôlei; Prata pro Vôlei de Praia.
2004 Atenas Maior Participação
Feminina
Prata Vôlei de Praia e Futebol;5º,12ºe16º lugares para
Ginástica Artística;
Taekwndo 4ª posição. Fontes: Comitê Olímpico Internacional (2006), apud TUBINO, (2003).
Tabela 2 Evolução da Participação Feminina Nos Jogos Olímpicos
Geral Brasil
Ano Local Participantes Mulheres Participantes Mulheres
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1986 Atenas 241 00 ----- -----
1900 Paris 997 22 ----- -----
1904 Saint Louis 651 06 ----- -----
1908 Londres 2008 37 ----- -----
1912 Estocolmo 2407 48 ----- -----
1920 Antuérpia 2626 65 29 00
1924 Paris 3089 135 11 00
1928 Amsterdã 2883 277 Não Participou 00
1932 Los Angeles 1332 126 85 01
1936 Berlim 3963 331 95 06
1948 Londres 4104 390 79 11
1952 Helsinque 4955 519 108 05
1956 Melbourne 3314 376 48 01
1960 Roma 5338 611 82 01
1064 Tóquio 5151 678 70 01
1968 México 5516 781 83 03
1972 Munique 7134 1059 89 05
1976 Montreal 6084 1260 93 07
1980 Moscou 5179 1115 109 15
1984 Los Angeles 6829 1566 151 22
1988 Seul 8391 2194 174 35
1992 Barcelona 9356 2704 178 51
1996 Atlanta 10318 3512 225 66
2000 Sydney 10651 4069 206 94
2004 Atenas 10625 4329 247 122 Fontes: Comitê Olímpico Internacional (2006), apud TUBINO, (2003).
Analisando as tabelas acima, pode-se perceber como a inserção da mulher
no esporte ocorreu de maneira lenta. As primeiras participações ocorrem nos jogos
de 1900, em Paris, com a participação de 22 atletas sendo das modalidades Tênis e
Golfe. No decorrer dos anos as mulheres começaram a participar de novas
modalidades e foram ganhando destaque.
A partir de 1932 o Brasil começa a se destacar em modalidades, como
natação, esgrima, atletismo, saltos ornamentais em plataforma, vôlei, atletismo,
entre outros. Porém, só conseguiu uma boa colocação em 1964 em Tóquio na
modalidade atletismo. A partir desse ano, o Brasil só conseguiu suas melhores
posições em olimpíadas. Em Sydney em 2000, o Brasil comemora 100 anos de
participação e no ano de 2004 consegue ter a maior participação feminina em
olimpíadas, onde destacam-se a participação do futebol pela primeira vez em
melhores colocações. A partir dessas olímpiadas as mulheres foram ganhando seu
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espaço no esporte, tendo destaques e chamando a atenção da sociedade em geral
(DUNNING; MAGUIRE apud OLIVEIRA, 2008).
Gênero e esporte: a construção do feminino na sociedade e suas repercussões na
prática esportiva
Menino Brinca de “Bola” e Menina Brinca de Boneca.
No esporte as problemáticas de gênero são constantes, ao caracterizar o
esporte apenas como masculino ou feminino. Essas diferenças entre os gêneros
podem de ser explicadas de várias maneiras. Goellner (2003, p 1) aponta que:
Os corpos fazem-se femininos e masculinos na cultura e essas representações, apesar de serem sempre transitórias, marcam nossa pele, nossos gestos, nossos músculos, nossa sensibilidade e nossa movimentação. Melhor dizendo: as marcas culturais que contornam as representações que temos de masculino e feminino são históricas, mutantes e provisórias.
Isso significa dizer que essa diferença de certa forma se torna “normal”, pois
já está de maneira intrínseca inserida na cultura do corpo de cada indivíduo devido
as estereotipias que foram sendo criadas ao longo da história, pois, com o
desenvolvimento da sociedade,
[...] a mulher perderia as funções produtivas e econômicas – que no período da acumulação primitiva ela ainda exercia, já que toda a família camponesa participava do trabalho, sem se desligar da agricultura [...] sendo sua atuação produtiva delimitada ao seio da família. (SARAIVA, 2005, p 48)
Com a consolidação da burguesia, a mulher perderia seu papel produtivo na
sociedade, sua importância estaria direcionada apenas a papéis de reprodução e
“terna feminilidade”, o que consequentemente tornaria a mulher inferior ao ser
relacionada ao homem na sociedade enquanto produtiva e econômica.
Segundo Saraiva (2005), na antiguidade não havia diferença entre o trabalho
masculino e feminino, à mulher não era direcionado as suas qualidades e/ou
limitações em relação ao sexo, pelo ao contrário, a força das qualidades femininas
se igualava e até mesmo superava as qualidades masculinas. Porém, com o
desenvolver da sociedade mudanças foram ocorrendo, dentre elas a legitimação do
“ser mulher”, segundo Liesenhoff (apud SARAIVA, 2005, p 44) “[...] dominação da
cultura masculina, advinda do patriarcado e da religião, ocultou, reprimiu e
transformou as possibilidades do “ser” feminino, ou seja, a mulher passaria a ser
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direcionado seu papel e lugar na sociedade”. Papel esse que em tempos modernos
podem ser explicados em uma citação feita por Sairava (2005, p.43),
As determinações históricas nos mostram o sexo feminino como tradicionalmente dominado. A mulher é considerada “incapaz” de produzir, física e intelectualmente, tanto quanto o homem, sendo inferiorizada na sociedade- à exceção de desempenhos que lhe foram socialmente conferidos e se legitimaram como “tipicamente femininos”.
Essas diferenças de limitações, funções e características que a mulher
exercerá perante a sociedades podem ser chamadas de diferenças de estereótipos,
que para Saraiva (2005) é o conjunto de características que “definem” o papel do
indivíduo, ou seja, os comportamentos esperados.
A distinção de estereótipos faz com que a mulher tenha as questões sociais
diferenciadas da dos homens, uma vez que ocorrerá a definição dos papéis. Um
suposto exemplo de estereótipos está relacionado com a educação, que é passada
à criança, pois a menina não poderá brincar com bola, não poderá brincar com
carrinho, entre outros. Para complementar esse pensamento Knijnik (2009, p.1)
afirma que:
[...] há o campo das meninas, onde reinaria uma calmaria absoluta, uma passividade na construção de corpos e condutas vinculados a chamada feminilidade; e o campo dos meninos, de lado oposto e antagônico, no qual imperaria a violência, a brutalidade, na busca de atitudes corporais que denotariam o que o autor denomina de masculinidade hegemônica.
Portanto, como pode-se perceber, essas atitudes/ensinamentos levam a
indivíduo a absorver em sua cultura essa suposta distinção de estereótipos, e isso
poderá acarretar em uma falta de incentivo à prática esportiva feminina, já que a
menina não é incentivada à prática esportiva.
A Repercussão da Prática Esportiva para a Mulher.
A luta da mulher em busca de visibilidade, liberdade, igualdade e inserção no
âmbito social que pode ser observada no decorrer dos anos leva a uma nova divisão
social, onde a mulher passa a ganhar espaço e a ser reconhecida como sujeito ativo
na sociedade, assegurando o seu direito à cidadania, e legitimando o seu papel
enquanto agente transformador. (ALTTIMAN; COSTA 2009).
No decorrer dos últimos 50 anos a mulher vem buscando modificar seu status
socialmente, porém, esse reconhecimento só pôde ser observado depois de anos de
luta, quebras da desigualdade social, proibições, e preconceitos enfrentados.
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A mulher que antes era vista como frágil, dona de casa, responsável pela
educação dos filhos, agora passaria a ter um outro reconhecimento social, obtendo
novos papéis sociais, inclusive na sustentação econômica do lar, ou seja, trabalha
dentro e fora de casa, tornando-se financeiramente autônoma. (ALTTIMAN; COSTA
2009).
Dentre os ambientes conquistados pela mulher na sociedade, o meio
esportivo se mostrou um importante espaço de visibilidade da luta feminina. A
mulher, ao ocupar espaço no âmbito futebolístico como comentarista, apresentadora
de programas esportivos, técnica, árbitra e até mesmo atleta, assim como, em outros
esportes como boxe, natação, jiu jitsu, judô, entre áreas consideradas masculinas e
de grande visibilidade midiática, gera para sociedade outro tipo de percepção sobre
os papéis que podem vir a ser desempenhados por ela. Nascimento (2008, p.1)
complementa a explanação, mostrando as conquistas das mulheres em vários
âmbitos sociais ao dizer que:
[...] hoje, as mulheres já fazem todo tipo de serviço, muitas vezes com melhor qualidade que os próprios homens. É comum, ver-se mulheres nos tribunais, exercendo com maestria a profissão de advogadas, promotoras, juízas, profissões que eram antigamente, exclusivamente “para” os homens,[...] Há a presença feminina em todos os níveis executivos das empresas e do governo[...]
Fica claro como a mulher conquistou importantes papéis na sociedade ao
conseguir ser inserida em muitas áreas que antes eram dominadas pelos homens.
Porém, no âmbito esportivo ainda há muito o que se conquistar, pois a prevalência
masculina ainda é muito superior e por isso a mulher ainda vai encontrar muitas
dificuldades e preconceitos pela frente.
O preconceito contra mulher que pratica futebol e suas manifestações.
Preconceito: afinal, do que se trata?
Como já nos foi mostrado anteriormente, ainda hoje a mulher enfrenta
dificuldades na prática de alguns esportes, antes caracterizados como esportes
masculinos, porém, devemos entender o que é preconceito para depois analisar
como ele se manifesta no futebol/ futsal.
Segundo o dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (1999),
preconceito significa ideia pré-concebida, suspeita, intolerância, aversão a outras
raças, credos, religiões etc. Complementando, Napolitano e Cardoso (2007, p.1)
dizem que o preconceito [...] “é uma idéia ou uma opinião negativa sobre um grupo
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de pessoas ou sobre determinado assunto, formada de modo precipitado, sem
conhecimento profundo e reflexão necessária”.
Após entender o que seria o preconceito, pode-se observar como ele é
praticado pela falta de conhecimento do indivíduo e sua intolerância. Porém várias
são as formas de manifesto na sociedade.
As formas mais comuns de preconceito são: social, racial e sexual, que geralmente partem de uma generalização um tanto quanto superficial, chamada de “estereótipo”. Que pode ser exemplificado na frase: “mulher tem que brincar de boneca e homem tem que jogar bola”. (VASCONCELOS, 2009)
Entendendo as formas mais comuns manifestadas na sociedade, deve-se
analisar de que forma ele ocorre no futebol/futsal.
Imagina o cara tem um filho, aí o filho arranja uma namorada, apresenta a namorada ao sogro e o sogro pergunta a ela: 'O que você faz, minha filha?' E a mocinha responde: ' Sou zagueira do Bangú. Quer dizer não pega bem, não é? ( JOÃO SALDANHA apud OLIVEIRA, 2008)
O trecho citado acima deixa claro, como o preconceito é existente ainda hoje,
ou seja, por que pega mal a mocinha responder jogar no bangú? Darido (2002, p.07)
explica melhor, dizendo que “[...] o futebol, numa visão de esporte masculinizante, ao
ser praticado por mulheres gera o preconceito por parte da sociedade e, mesmo
com o aumento da prática do futebol, o preconceito não deixou de existir [...]”.
Essa citação de Darido confirma questões norteadas nos tópicos anteriores
ao dizer que o preconceito contra a mulher existe desde a antiguidade e está
presente até hoje, em pequenas frases irônicas expressas pela sociedade, ou um
simples gesto, como o de não permitir a mulher a praticar o futebol.
Analisando os resultados sobre o preconceito contra a mulher que pratica futebol?
Abaixo a tabela apresenta a catalogação de todas as obras analisadas que
ajudaram a embasar e responder a problemática da pesquisa, assim como o
levantamento de novos questionamentos em relação ao tema.
AUTOR TÍTULO OBRA ANO
Bruhns, heloísa Futebol, Carnaval e Capoeira: entre as Gingas
do Corpo Brasileiro. Artigo 2000
Knijnik, jorge
dorfman
Preconceito é o maior vilão do futebol feminino
para jogadoras brasileiras Artigo 2006
Knijnik, jorge Muito além dos estereótipos: Teatro, Gênero e Artigo 2009
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dorfman Direitos Humanos na Cultura Infantil.
Paim, m. C. C e
strey, m. N.
Percepção de corpo da mulher que joga
futebol. Artigo 2005
Moraes, aline. Preconceito é principal causa de estresse no
futebol feminino. Artigo 2007
Goellner, silvana vilodre.
Histórias das Mulheres no Esporte: o gênero como categoria analítica.
Artigo 2007
Goellner, silvana
vilodre.
História do Esporte no Brasil: Imagens da
Mulher no Esporte. Livro 2009
Goellner, silvana
vilodre.
O Esporte e a espetacularização dos Corpos
Femininos. Artigo 2003
Gomes, paula
botelho.
Mulheres e Desporto: qual a agenda
pedagógica do século xxi? Artigo 2004
Saraiva, m. C Co-Educação Física e Esportes: Quando a
diferença é mito. Livro 2005
Teixeira jr, jober.
Mulheres no Futebol: A inclusão do Charme Livro 2006
Torres, n. Futsal Feminino “crescimento a galopes”. Artigo 2006
Oliveira, caroline
silva de.
Mulheres em Quadra: O Futsal Feminino fora
do Armário Artigo 2008
Vasconcelos,
bruna do socorro
roma.
A Trajetória das Jogadoras de Futebol
Feminino Paraense: Um Estudo sobre o
Preconceito e Discriminação de sua Prática
Esportiva
TCC 2009
Quadro 1: Demonstrativo das obras analisadas no estudo realizado.
O estudo foi desenvolvido em um processo de três etapas, onde
primeiramente foi feito um apanhado teórico no período de 2000 a 2010 sobre o
tema em questão a partir dos resumos em fontes de Artigos Científicos publicados
em revistas científicas eletrônicas e impressas da área da Educação Física, artigos
científicos publicados em anais de eventos científicos e obras literárias que tratem
do tema do preconceito contra as mulheres no esporte.
No segundo momento foi realizada uma análise preliminar a fim de verificar se
as obras desenvolviam o tema tendo como referência os objetivos propostos para a
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pesquisa já citados na introdução deste artigo. Por fim, conhecer as obras a partir da
categoria preconceito, visando destacar as principais manifestações de preconceitos
apontadas por estes estudos.
Diante disso, ao fazer a análise, fica claro como há a manifestação de vários
tipos de preconceitos, porém, de acordo com a maioria dos autores, os preconceitos
de gênero e sexual são os mais presentes na vida das atletas.
O preconceito de gênero está relacionado com a diferença de estereótipos e
se dá muitas vezes dentro e fora do campo. Como já foi exposto anteriormente e
Saraiva (2005) expressa muito bem, são advindos da própria cultura moldada pela
sociedade, provocando de maneira implícita o preconceito ao dizer “que o futebol é
coisa pra “macho’”. Essas expressões são usadas na maioria das vezes por homem,
Portanto, isso nos mostra como essa prática de preconceito relacionado ao
estereótipo ou gênero é vivenciada, porém, não significa dizer que seja a única
forma de preconceito encontrada no futebol.
Advindo disso, destacamos o preconceito sexual, que está diretamente
relacionado com o preconceito de gênero e que segundo os autores Goellner (2003);
Goellner (2007); Goellner (2009); Teixeira Jr (2006); Oliveira (2008) e Vasconcelos
(2009), é um mais vivenciados no futebol feminino. Exemplificando, fica nítido a
situação, quando mulheres praticantes do futebol são estereotipadas como
homossexuais, pela suposta perda da feminilidade. No trecho de Goellner (apud
OLIVEIRA, 2008, p. 15) pode-se notar algumas ações que defrontam as
características da mulher.
O suor excessivo, o esforço físico, as emoções fortes, as competições, a rivalidade, os músculos exaltados, os gestos agressivos do corpo, a liberdade de movimento, a imagem das jogadoras, colocam-nas em questionamentos acerca de sua sexualidade, uma invasão na identidade sexual.
Por conseguinte, em outra pesquisa realizada por Vasconcelos (2009, p. 50)
com 20 atletas que disputam o campeonato paraense de futebol feminino realizado
pela Federação Paraense de Futebol (FPF), em um dos seus questionamentos
referentes ao preconceito existente no futebol feminino, as atleta nomeadas
“jogadora 10”, “jogadora 7” e “jogadora 2” expressam claramente o preconceito
vivenciado ao dizer:
(...) fiquei bastante constrangida quando fui abordada por dois rapazes, que ao término de uma partida de futebol tiveram a indelicadeza de me perguntar se eu gostava de homem ou de mulher. Eles mesmos responderam e ficaram rindo. (jogadora 10).
15
(...) a minha irmã vive me chamando de “maria macho” (jogadora 7). (...) quando eu jogava futebol, sempre tinham aqueles meninos que tiravam graça com a gente, nos chamando de “mulher macho”. Falavam que eu era lésbica (jogadora 2).
Ao observar as respostas dadas por essas jogadoras é impossível não
perceber a presença do preconceito sexual e de gênero inseridas nas presentes
falas. Porém, na fala da “jogadora 7” pode-se perceber que o preconceito de gênero
é vivenciado até mesmo na família, ao ser rotulada pela própria irmã na simples
frase “maria macho”. Contudo, na fala da “jogadora 2”, a relação dos dois tipos de
preconceitos é melhor explicado.
Essas pesquisas e citações expostas acima deixam claro que o preconceito
ainda é existente na prática do futebol para as mulheres. O estudo realizado pelo
professor Jorge Dorfman Knijnik no Instituto de Psicologia (IP) da USP com 33
atletas que disputaram o Campeonato Paulista Feminino de Futebol de 2004, mostra
que essa questão de preconceito vai além e influencia diretamente na prática do
futebol por mulheres. Esses atos podem trazer consequências negativas para a
atleta ao dizer que “o preconceito é a principal causa de estresse emocional entre
atletas de futebol feminino” (MORAES, 2007, p. 1).
Segundo Bruhns (2000), as dificuldades que essas moças enfrentam são
gritantes, e perpassam por variadas formas, como falta de incentivo, preconceito,
discriminação, entre outros. Como exemplo de falta de incentivo, Vasconcelos
(2008, p.66), na entrevista feita as atletas nomeadas “jogadora 4” e “jogadora 6”
demonstra que o preconceito existe consequentemente gerando falta de incentivo:
(...) enfrentei muita discriminação. Não tinhamos apoio não, era quase tudo com nosso dinheiro (jogadora 4). (...) enfrentei muito preconceito quando jogava futebol. Fora que nosso time não tinha patrocínio. Os patrocinadores não acreditavam na gente, no nosso futebol (jogadora 6).
Contudo, mesmo com todos esses problemas expostos acima nitidamente
enfrentados pelas mulheres na prática do futebol, as mesmas não desistem de jogar.
Para finalizar, essa pesquisa nos mostra como o preconceito é presente na vida
esportiva das atletas mulheres, os mais vivenciados pelas atletas é o preconceito em
relação à sexualidade e gênero e para que essas mulheres se sintam totalmente
livre de preconceitos, há muito o que ser pensando na sociedade e ajudando no
processo de mudança, o professor de educação física tem papel fundamental.
16
O Papel do Professor de Educação Física em Busca da Superação do Preconceito.
Um papel importante no processo de ensino-aprendizagem do indivíduo se
torna fundamental, sendo o professor de educação física essencial para essa quebra
de preconceito em suas aulas. Saraiva (2005 apud KUNZ, 1991, p.79) explica que
as aulas de educação física têm o poder de reforçar os papeis sociais em relação ao
sexo, tanto para que haja a diferença de estereótipo, quando para a socialização
entre os sexos
[...] pelas avaliações realizadas pelos alunos a respeito da educação física e dos esportes praticados fora do contexto escolar, pode-se concluir que a educação física contribui para reforçar uma socialização específica em relação ao sexo [...]Neste sentido, a educação física poderia ter a chance de sensibilizar para uma futura separação da contradição social em relação aos diferentes papéis assumidos pelo homem e pela mulher na sociedade[...].
Nessas atividades desenvolvidas pelo professor de educação física, ele pode
ajudar a estimular e socializar as meninas na prática esportiva através do diálogo
crítico, relacionando os movimentos corporais exercidos durante a aula e a
sexualidade, desmistificando as características e papéis na sociedade da mulher e
do homem. As aulas mistas na Educação Física têm o intuito de priorizar as
atividades para ambos os sexos, porém nem sempre são aulas co-educativas3, pois
a coeducação tem como objetivo levar o aluno a trabalhar as mesmas possibilidades
e oportunidades, vivenciando as diferenças e semelhanças (OLIVEIRA, 2008).
Isso deixa evidente a importância da educação física e qual deveria ser o seu
objetivo, porém, isso só existe na teoria, na prática trabalhar as mesmas
possibilidades e oportunidades normalmente não acontece, uma vez que os
professores em suas aulas fazem a separação da turma pelo sexo e as habilidades
trabalhadas serão de acordo com as características sexuais da turma. Daólio (1995,
p. 104) fala sobre o pensamento acerca do sexismo na educação física ao dizer que
[...] a ação do professor de Educação Física, por mais progressista que seja, ainda não se liberou da dicotomia criada culturalmente entre o masculino e feminino”, como exemplo, a prática do futebol feminino dentro da aula de Educação Física ainda é vista com olhar de exclusão pelos professores e consequentemente pelos próprios alunos, em alguns casos.
Mais uma vez a diferença de estereótipos e sexismo é confirmada na aula de
educação física, mostrando também como o incentivo e estímulo à prática do futebol
por mulheres ainda é precário. Para Oliveira (2008 apud LOURO 2003, p.20),
3 Aulas que promovam relações educativas entre meninos e meninas visando a quebra de estereótipos.
(SARAIVA, 2005)
17
[...] a Educação Física é uma disciplina que sempre teve uma preocupação com a sexualidade das crianças, visão da masculinidade do menino no esporte sempre foi muito valorizado, quanto para as meninas o contato físico no jogo e as agressividades vão contra a feminilidade das mesmas.
Esses fatos levam a questionamentos importantes, como a menina irá
desenvolver as habilidades motoras necessárias no futebol se desde cedo ela não é
estimulada nas aulas de educação física? Como é que ela irá experimentar e
conhecer um pouco do futebol se ela nunca teve nenhum contato físico com o
esporte?
[...] Não se pode negar que ser o melhor, no esporte pode representar, especialmente para um menino ou um jovem, um valorizado símbolo de masculinidade. [...] por outro lado, ocupa-se de modo particular das meninas e afirma que os cuidados com relação à sua sexualidade levam muitas professoras e professores a evitar jogos que supõe ‘contato físico’ ou uma certa dose de ‘agressividade’. (LOURO, 2003, p.74-76)
Por trabalhar com o conhecimento da cultura corporal acumulada pela
humanidade, a aula de educação física poderia ser de extrema importância no
desenvolver de algumas habilidades motoras importantes para o acesso à prática do
futebol. Segundo Souto (2000, p.17):
As mulheres nunca jogarão como os homens. Suas características fisiológicas e estruturais são diferentes. E a compreensão e rigidez tática e técnica que os homens tem as mulheres não tem, justamente porque não tem uma consciência dentro de quadra/campo que os meninos tem desde criança por jogarem futebol todos os dias nas diversas quadras espalhadas nas ruas.
Isso ressalta o fato de que a mulher não é estimulada desde cedo a algumas
habilidades motoras e por isso nunca será igual aos homens, habilidosos.
Conclusão
Com todos os problemas que a mulher enfrentou, sua força de vontade foi
tamanha que a mesma não desistiu de lutar por uma melhor visibilidade no esporte,
em especial no futebol/ futsal. Hoje se vive numa cultura na qual as necessidades e
anseios, os desejos de agir, no mundo e em vidas pessoais, de acordo com os
interesses, conflitam com restrições internas tão poderosas, que a culpa, a confusão
e a insegurança podem acompanhar a trajetória pessoal por resto da vida. As
proibições sobre as mulheres que agem em seu próprio interesse são tão fortes e
tão interiozadas que, quebrá-las, soa perigoso, como ficar à deriva, desertando uma
auto-imagem conhecida. Todavia, é isto que deve fazer a mulher que deseja superar
os estigmas de quem pratica o futsal feminino. Cabe ao professor, como educador
18
ser um dos instrumentos de inserção da mulher nas práticas esportivas. Romper
com o preconceito requer uma tomada na sua história de vida, pois muitas vezes
apenas repete-se o que a sociedade “impõe” ou aquilo que se traz arraigado pela
cultura machista e burguesa. Assim, lutar pela inclusão é lutar pela afirmação da
diferença própria e não por um mundo próprio.
Este artigo tem a pretensão de chamar a atenção de leitores e que os
mesmos busquem desenvolver mais pesquisas nessa área, pois é necessário para
que novas literaturas sejam construídas e sirvam como instrumentos norteadores
para a inserção da mulher nas práticas esportivas ajudando na quebra de
paradigmas que sustentam a idéia da inferioridade feminina.
WOMEN'S FUTSAL: how to walk the BIAS X score of this game?
ABSTRACT
This article is the result of a search of bibliographic type with a qualitative analysis, which uses a dialectical critical focus and has as its theme being addressed women's futsal and the types of prejudice experienced by athletes who practice it. Search exposing the difference stereotypes of genders in the sport since antiquity, highlighting the functions and the development of women in sports and the difficulties encountered by them, particularly in football, also identifying the various types of prejudice, whether they be so social, racial, sexual, and sometimes even family that are experienced by athletes women practitioners of football. Has important incentive in new research that can provide better visibility for the sport in question. As results found through readings, can highlight the presence of prejudice and discrimination in women's futsal, therefore observes that these acts result in stress, exclusion and lack of encouragement for women in practice. That said, this article seeks to draw the attention of readers interested in the matter and assist in performing other searches so that the topic is best discussed and rethought in society. Keywords: Bias; Discrimination; Sport; Women's Futsal.
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