futsal feminino x preconceito: como anda o placar … · resumo este artigo é ... o futsal, assim...

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1 FUTSAL FEMININO X PRECONCEITO: como anda o placar dessa partida? Elayne Cristine Rodrigues Pereira 1 Zaira Valeska Dantas da Fonseca 2 Resumo Este artigo é resultado de uma pesquisa do tipo bibliográfica com uma análise qualitativa, que utiliza um enfoque crítico dialético e tem como tema a ser abordado o futsal feminino e os tipos de preconceitos vivenciados pelas atletas que o praticam. Busca expor a diferença de estereótipos de gêneros no esporte desde a antiguidade, destacando as atribuições e o desenvolvimento das mulheres na prática esportiva e as dificuldades encontradas pelas mesmas, em especial no futebol, identificando, também, os vários tipos de preconceito, sejam eles de forma social, racial, sexual e às vezes até familiar que são vividos por atletas mulheres praticantes do futebol. Possui como importância o incentivo em novas pesquisas que possam proporcionar melhor visibilidade para o esporte em questão. Como resultados encontrados através das leituras, pode-se destacar a presença do preconceito e discriminação no futsal feminino, por conseguinte observa-se que esses atos resultam em stress, exclusão e falta de incentivo na prática das mulheres. Diante disso, este artigo busca chamar a atenção de leitores que se interessam pelo assunto e ajudem na realização de outras pesquisas para que assim o tema seja melhor discutido e repensado na sociedade. Palavras-chave: Preconceito; Gênero; Esporte; Futsal feminino. Introdução O futsal, assim como o futebol, teve em sua origem a prática para homens por ser um esporte de características rudes, violentas, de força, velocidade e rigidez, portanto, a mulher que tivesse em seus hábitos a prática de esportes com tal característica seria “mal vista” pela sociedade, uma vez que ela perderia suas características femininas (BARBIERI, 2009,). Com o passar do tempo e a inserção da mulher no esporte, inclusive o futebol e futsal, e mesmo com crescimento satisfatoriamente da modalidade, o preconceito, a discriminação e a falta de incentivo ainda se fazem presentes. É de extrema importância o incentivo a pesquisa na área do futsal feminino, pois contribui para que o mesmo seja mais aceito pela sociedade e supere barreiras enfrentadas por mulheres na prática do futebol. 1 Graduanda do Curso de Licenciatura Plena em Educação Física da UEPA, [email protected] . 2 Professora e Mestre em Educação pela Universidade Federal do Pará, Brasil (2009).

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FUTSAL FEMININO X PRECONCEITO: como anda o placar dessa partida?

Elayne Cristine Rodrigues Pereira1

Zaira Valeska Dantas da Fonseca 2

Resumo

Este artigo é resultado de uma pesquisa do tipo bibliográfica com uma análise qualitativa, que utiliza um enfoque crítico dialético e tem como tema a ser abordado o futsal feminino e os tipos de preconceitos vivenciados pelas atletas que o praticam. Busca expor a diferença de estereótipos de gêneros no esporte desde a antiguidade, destacando as atribuições e o desenvolvimento das mulheres na prática esportiva e as dificuldades encontradas pelas mesmas, em especial no futebol, identificando, também, os vários tipos de preconceito, sejam eles de forma social, racial, sexual e às vezes até familiar que são vividos por atletas mulheres praticantes do futebol. Possui como importância o incentivo em novas pesquisas que possam proporcionar melhor visibilidade para o esporte em questão. Como resultados encontrados através das leituras, pode-se destacar a presença do preconceito e discriminação no futsal feminino, por conseguinte observa-se que esses atos resultam em stress, exclusão e falta de incentivo na prática das mulheres. Diante disso, este artigo busca chamar a atenção de leitores que se interessam pelo assunto e ajudem na realização de outras pesquisas para que assim o tema seja melhor discutido e repensado na sociedade. Palavras-chave: Preconceito; Gênero; Esporte; Futsal feminino.

Introdução

O futsal, assim como o futebol, teve em sua origem a prática para homens

por ser um esporte de características rudes, violentas, de força, velocidade e rigidez,

portanto, a mulher que tivesse em seus hábitos a prática de esportes com tal

característica seria “mal vista” pela sociedade, uma vez que ela perderia suas

características femininas (BARBIERI, 2009,).

Com o passar do tempo e a inserção da mulher no esporte, inclusive o futebol

e futsal, e mesmo com crescimento satisfatoriamente da modalidade, o preconceito,

a discriminação e a falta de incentivo ainda se fazem presentes. É de extrema

importância o incentivo a pesquisa na área do futsal feminino, pois contribui para

que o mesmo seja mais aceito pela sociedade e supere barreiras enfrentadas por

mulheres na prática do futebol.

1 Graduanda do Curso de Licenciatura Plena em Educação Física da UEPA, [email protected] .

2 Professora e Mestre em Educação pela Universidade Federal do Pará, Brasil (2009).

2

Este artigo é fruto do estudo realizado no trabalho de conclusão de curso,

cuja motivação partiu do fato de ser uma atleta de futsal feminino na Universidade

do Estado do Pará por quatro anos e sempre participar de competições dentro e fora

da instituição. Neste caso, foi possível observar como mulheres praticantes do

mesmo encontram muitas dificuldades, dentre elas a falta de incentivo, o

preconceito, a discriminação e até mesmo a ausência do reconhecimento pelo seu

esforço enquanto atleta. Contudo, é gratificante ver mulheres cada vez mais

ganhando espaço e enfrentando barreiras no esporte, pois em algumas competições

encontra-se mulheres que jogam apenas pelo prazer, muitas não contam com ajuda

de um técnico para treiná-las, outras nem sapato adequado para a prática adequada

do esporte possuem, porém, as mesmas não desistem e jogam pela vontade,

determinação e prazer que possuem pelo futsal.

Em outras situações vividas em todo o tempo como atleta de futsal pode-se

observar a falta de incentivo para a prática do devido esporte, tanto pela própria

Universidade quanto por acadêmicos. Como exemplo destaca-se a falta de

incentivo, como o patrocínio em camisas, acessórios essenciais para a prática do

esporte, além da falta de um técnico adequado ou de uma estrutura que não pode

ser acessada pelas atletas, como a academia, que não desenvolve preparação física

em atletas, entre outras.

Outro fator importante a destacar é que durante o período de estágio

obrigatório foi observado o sexismo nas aulas de educação física. Tal fato leva a

perceber que desde cedo o preconceito já é manifestado em pequenos atos em uma

aula, tanto pelos professores como pelos alunos; as meninas pela própria vaidade,

ou por se sentirem “deixadas de lado” ficam só olhando ou preferem jogar queimada,

enquanto os meninos são os mais beneficiados na prática de esportes, e em

especial o Futsal. O oposto pode ser presenciado também, como o menino que é

deixado de lado apenas por não gostar de Futsal e sim de outras modalidades.

Tais problemáticas levaram à seguinte pergunta o que os estudos e

pesquisas apontam sobre quais as principais formas de preconceito

manifestadas contra atletas de futsal do sexo feminino no Brasil?

A pesquisa teve como objetivo analisar as principais manifestações de

preconceito vivenciadas na prática de futsal pelas atletas brasileiras, identificando e

caracterizando as situações em que o preconceito ocorre na prática de futsal

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feminino no Brasil e se o mesmo altera a vida como atletas de futsal das praticantes

de futsal no Brasil.

O estudo foi desenvolvido a partir da análise qualitativa, utilizando como

fontes de dados artigos científicos publicados em revistas científicas eletrônicas e

impressas da área da Educação Física, artigos científicos publicados em anais de

eventos científicos e obras literárias que tratem do tema do preconceito contra as

mulheres no esporte. O período escolhido para o levantamento de dados datou de

2000 a 2010, uma vez que trata-se de publicações mais recentes, objetivando uma

maior atualidade da pesquisa.

Como enfoque a ser utilizado escolheu-se a Crítica Dialética com um objetivo

exploratório, que segundo Teixeira (2009), privilegia estudos sobre experiências,

práticas pedagógicas, processos históricos, discussões filosóficas ou análises

contextualizadas a partir de um prévio referencial teórico.

Este estudo esteve dividido em quatro etapas, na seguinte ordem: A primeira

etapa será a introdução, onde irá detalhar todo o processo de desenvolvimento e

característica da pesquisa. A segunda etapa dará início as discussões teóricas sobre

o início do futebol e sua relação, com o nascimento do futsal feminino e como a

mulher se inseriu neste cenário; na terceira etapa explicitará a questão de gênero e

o esporte abordando as relações da mulher e seu processo de inserção no esporte

com o passar dos tempos; a quarta etapa abordou-se as questões do preconceito e

suas manifestações a partir dos estudos analisados, destacando sobre o papel do

professor neste contexto, além das transformações do papel da mulher na

sociedade. Finalizando, pontua-se algumas conclusões percebidas durante a

realização deste estudo. Portanto, este artigo justifica-se pela necessidade de

complementar e embasar ações com objetivo de garantir uma participação mais

ativa da mulher no exercício do futsal feminino. Inúmeras literaturas apontam para

este cenário onde a mulher está traçando sua trajetória e as manifestações de

preconceito e discriminação só apontam para uma atitude limitadora de suas

potencialidades. Portanto, faz-se necessário desenvolver novos instrumentos de

ações que tenham como objetivo garantir uma participação mais ativa deste

segmento da sociedade.

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Onde tudo começou...

O Início do Futsal no Brasil

A origem do futsal tem duas vertentes: a primeira remonta da Associação

Cristã de Moços (ACM) de São Paulo; a segunda perpassa pela cidade de

Montevidéu no Uruguai nos ano de 1934, pelo professor de Educação Física Juan

Carlos Ceriani. Como um esporte coletivo, este necessita de muito condicionamento

físico e técnico. Seu surgimento está interligado ao futebol de campo, uma vez que o

mesmo surgiu após uma adaptação do futebol que estava perdendo espaço e

precisava ser praticado em um local reduzido devido às mudanças meteorológicas

desfavoráveis que o futebol enfrentava em sua prática, já que era praticado em

várzeas e dificilmente em períodos de chuva (BARBIERI, 2009, p. 15).

Outras adaptações foram realizadas, como: diminuição do tamanho do campo

e a redução do número de jogadores. Outra mudança significativa foi o tamanho da

bola, que tornou-se menor e o seu material passou a ser de crina vegetal e

serragem. Inicialmente o futsal, assim como o futebol de campo, tem em sua história

a prática somente por homens e foi negado às mulheres por argumentos

extremamente machistas (TEIXEIRA JUNIOR, 2006, p. 17).

No Brasil, Getúlio Vargas, através do decreto nº 3.199 em seu artigo 54,

proibia a mulher de praticar alguns esportes, tais como: lutas, pólo aquático, rugby,

halterofilismo, baseball, futebol de salão e futebol de praia. Porém, em 08/01/1983

foi feita a liberação de sua prática pela CND (Confederação Nacional de Desporto).

Logo após foram surgindo campeonatos, porém, não eram reconhecidos

oficialmente pela CBFS (Confederação Brasileira de Futebol de Salão) (BARBIERI,

2009, p.17).

Com o surgimento das federações e de muitos times e o aumento da procura

pelo futsal, foi necessário que se criasse uma Federação principal que fosse

responsável pelos campeonatos no Brasil e no Mundo. Diante disso, em 1971 foi

fundada também no Rio de Janeiro, a Federação Internacional de Futebol de Salão

(FIFUSA), que teve João Havelange como seu primeiro presidente e 32 países

filiados. No ano de 1990 a FIFA (Federation International Football sociation)

homologou o futsal criando uma comissão de apoio e propondo a extinção da

FIFUSA, porém, com o não apoio de algumas federações, oficializou-se o Futsal

ligado a FIFA (LÔMEU, 2007, p. 4).

5

Mesmo com essa grande expansão do Futsal no Brasil e no Mundo e a

procura pela mulher nessa modalidade ir crescendo, o processo de discriminação e

o preconceito não deixaram de ser exacerbados contra quem pratica esse esporte.

Algumas palavras pejorativas são verbalizadas, como: “mulher macho” ou “Maria

sapatão”, fazendo com que a mulher não seja percebida por suas potencialidades e

sim pela concepção deturpada do exercício do esporte, ou seja, “isto é coisa de

homem” (BARBIERI, 2009, p. 17).

Futebol \ Futsal – A Inserção da Mulher nesse “Universo Masculino”.

A história das mulheres no universo cultural do esporte brasileiro é marcada

por rupturas, persistências, transgressões, avanços e recuos. A melhor visibilidade

que elas conseguiram no esporte foi com a participação na segunda etapa dos

Jogos Olímpicos Modernos, mesmo sob protesto de muitos, por considerar que as

mulheres poderiam vulgarizar esse terreno tão recheado de honras e conquistas que

era dominado por homens (GOELLNER, 2003).

A participação da mulher no esporte se dava através da exibição de beleza ao

fazerem desfile e entregarem premiação. A primeira participação da mulher

diretamente ao esporte se dá na idade média, quando participavam das mesmas

atividades esportivas que os homens, envolvendo-se em jogos populares, como os

jogos com bola (TUBINO, 2002 apud VALPORO, 2006).

Com o passar do tempo e o crescimento da sociedade a mulher foi perdendo

relação com o esporte, passando, assim, a ser apenas uma dona de casa, com

principal importância na criação e geração dos filhos, o que fez com que sua

participação em práticas esportivas fosse repreendida.

Diante disso, para que as mulheres pudessem ser reinseridas no âmbito

esportivo, teriam que lutar e enfrentar paradigmas que foram sendo criados pela

sociedade e que caracterizavam a mulher puramente feminina, e com características

inadequadas para a prática de alguns esportes, como relata Teixeira Júnior (2006, p.

16).

O futebol foi negado as mulheres por argumentos extremamente machistas e infundados. Falava-se que o campo de futebol, colocava em prova as representações de feminilidade, comprometendo graciosidade, a harmonia das formas, a beleza, sensualidade e delicadeza da mulher.

Como citado acima, a mulher não poderia realizar a prática do futebol, e isso

influenciou diretamente na sua participação tardia, já que a mesma teria que

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contrariar a sociedade. Vasconcelos (2008) afirma que a primeira partida de futebol

foi realizada em 1988, em Londres, entre Inglaterra e Escócia. Já no Brasil, Lessa

(1996 apud VASCONCELOS, 2008) afirma que o primeiro jogo foi realizado em um

evento que buscava fundos para a construção do Hospital da Cruz Vermelha, em

1913.

No Futsal, segundo Barbieri (2009), o primeiro campeonato que a CBFS

oficializou foi em janeiro de 1993 no estado de São Paulo com a participação de 10

equipes na I Taça Brasil de Clubes. Esse foi um pontapé inicial para a divulgação e

o crescimento do futsal feminino no Brasil, fazendo com que vários campeonatos e

times surgissem por todo o País e fossem se destacando. É o caso de uma das

jogadoras mais famosas do futebol feminino brasileiro, Marta Vieira da Silva, que foi

eleita três vezes a melhor do mundo.

Porém, mesmo com esse destaque no futebol, muitos empecilhos, como o

preconceito e a discriminação, ainda dificultam a aceitação da prática futebolística

por mulheres. Teixeira Júnior (2006, p.17) diz que “[...] torcedores, treinadores dizem

‘parecem um bando de ‘mulherzinhas’ para os atletas homens que estão jogando

mal [...]”. Isso nos leva a perceber o quanto a mulher no futebol é rejeitada e

discriminada. Esses atos de discriminação podem ser observados em times

considerados de alto nível, em escolas, em clubes e até em famílias.

Atualmente, as características como afeto, fragilidade ou delicadeza ao serem

observadas no homem, põem em cheque sua sexualidade, o contrário pode ser

observado na mulher. Segundo Paim e Strey (2005), seu corpo é dotado de

docilidade e sentimentos afetivos, qualidades negadas aos homens; sua condição

materna deve ser preservada, como garantia de perpetuação da espécie.

No esporte, essa diferença de estereótipos se espalhou por muito tempo, e

como já exposto anteriormente, só foi sendo perdida com os higienistas, mostrando

os benefícios do mesmo. Após essas primeiras conquistas pelas mulheres

houveram contradições na sociedade que acabaram impedindo as mulheres de

continuar exercendo algumas práticas esportivas que apresentavam características

violentas para a “natureza feminina”, através do Conselho Nacional do Desporto, e o

decreto-lei n.3.199, que tinha como objetivo o ordenamento esportivo brasileiro

disciplinando o campo esportivo. Esse decreto ficou vigente por três décadas, o que

dificultou e atrasou o crescimento da mulher no esporte. (GOELLNER, 2009)

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As tabelas abaixo expostas por TUBINO (2003, p.5) nos mostram as

principais participações e colocações das mulheres nos esportes olímpicos e a

evolução da participação feminina nos jogos olímpicos consecutivamente.

A melhor visibilidade que elas conseguiram foi com a participação na segunda

etapa dos Jogos Olímpicos Modernos em 1900, em Paris, como mostra na tabela 2.

Tabela 1- Principais Colocações das Mulheres Brasileiras nos Esportes

Olímpicos

ANO LOCAL EQUIPE DESTAQUE COLOCAÇÃO

1932 Los

angeles Natação ----

1936 Berlim Natação e Esgrima ----

1948 Londres Natação e Esgrima ----

1952 Helsinque Atletismo e Natação ----

1956 Melbourne Saltos Ornamentais

em plataforma ----

1960 Roma Atletismo ----

1964 Tóquio Atletismo 4º Lugar

1980 Moscou

Vôlei Atletismo

Ginástica Artística Tiro com Arco

-----

1984 Los

Angeles ------ -----

1988 Seul Judô -----

1992 Barcelona Basquete -----

1996 Atlanta Vôlei de Praia Ouro e Prata no Vôlei de Praia;

Prata no Basquete; Bronze no Vôlei

2000 Sydney

Homenagem aos 100 de participação

feminina nas Olimpíadas

Bronze pra Basquete e Vôlei; Prata pro Vôlei de Praia.

2004 Atenas Maior Participação

Feminina

Prata Vôlei de Praia e Futebol;5º,12ºe16º lugares para

Ginástica Artística;

Taekwndo 4ª posição. Fontes: Comitê Olímpico Internacional (2006), apud TUBINO, (2003).

Tabela 2 Evolução da Participação Feminina Nos Jogos Olímpicos

Geral Brasil

Ano Local Participantes Mulheres Participantes Mulheres

8

1986 Atenas 241 00 ----- -----

1900 Paris 997 22 ----- -----

1904 Saint Louis 651 06 ----- -----

1908 Londres 2008 37 ----- -----

1912 Estocolmo 2407 48 ----- -----

1920 Antuérpia 2626 65 29 00

1924 Paris 3089 135 11 00

1928 Amsterdã 2883 277 Não Participou 00

1932 Los Angeles 1332 126 85 01

1936 Berlim 3963 331 95 06

1948 Londres 4104 390 79 11

1952 Helsinque 4955 519 108 05

1956 Melbourne 3314 376 48 01

1960 Roma 5338 611 82 01

1064 Tóquio 5151 678 70 01

1968 México 5516 781 83 03

1972 Munique 7134 1059 89 05

1976 Montreal 6084 1260 93 07

1980 Moscou 5179 1115 109 15

1984 Los Angeles 6829 1566 151 22

1988 Seul 8391 2194 174 35

1992 Barcelona 9356 2704 178 51

1996 Atlanta 10318 3512 225 66

2000 Sydney 10651 4069 206 94

2004 Atenas 10625 4329 247 122 Fontes: Comitê Olímpico Internacional (2006), apud TUBINO, (2003).

Analisando as tabelas acima, pode-se perceber como a inserção da mulher

no esporte ocorreu de maneira lenta. As primeiras participações ocorrem nos jogos

de 1900, em Paris, com a participação de 22 atletas sendo das modalidades Tênis e

Golfe. No decorrer dos anos as mulheres começaram a participar de novas

modalidades e foram ganhando destaque.

A partir de 1932 o Brasil começa a se destacar em modalidades, como

natação, esgrima, atletismo, saltos ornamentais em plataforma, vôlei, atletismo,

entre outros. Porém, só conseguiu uma boa colocação em 1964 em Tóquio na

modalidade atletismo. A partir desse ano, o Brasil só conseguiu suas melhores

posições em olimpíadas. Em Sydney em 2000, o Brasil comemora 100 anos de

participação e no ano de 2004 consegue ter a maior participação feminina em

olimpíadas, onde destacam-se a participação do futebol pela primeira vez em

melhores colocações. A partir dessas olímpiadas as mulheres foram ganhando seu

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espaço no esporte, tendo destaques e chamando a atenção da sociedade em geral

(DUNNING; MAGUIRE apud OLIVEIRA, 2008).

Gênero e esporte: a construção do feminino na sociedade e suas repercussões na

prática esportiva

Menino Brinca de “Bola” e Menina Brinca de Boneca.

No esporte as problemáticas de gênero são constantes, ao caracterizar o

esporte apenas como masculino ou feminino. Essas diferenças entre os gêneros

podem de ser explicadas de várias maneiras. Goellner (2003, p 1) aponta que:

Os corpos fazem-se femininos e masculinos na cultura e essas representações, apesar de serem sempre transitórias, marcam nossa pele, nossos gestos, nossos músculos, nossa sensibilidade e nossa movimentação. Melhor dizendo: as marcas culturais que contornam as representações que temos de masculino e feminino são históricas, mutantes e provisórias.

Isso significa dizer que essa diferença de certa forma se torna “normal”, pois

já está de maneira intrínseca inserida na cultura do corpo de cada indivíduo devido

as estereotipias que foram sendo criadas ao longo da história, pois, com o

desenvolvimento da sociedade,

[...] a mulher perderia as funções produtivas e econômicas – que no período da acumulação primitiva ela ainda exercia, já que toda a família camponesa participava do trabalho, sem se desligar da agricultura [...] sendo sua atuação produtiva delimitada ao seio da família. (SARAIVA, 2005, p 48)

Com a consolidação da burguesia, a mulher perderia seu papel produtivo na

sociedade, sua importância estaria direcionada apenas a papéis de reprodução e

“terna feminilidade”, o que consequentemente tornaria a mulher inferior ao ser

relacionada ao homem na sociedade enquanto produtiva e econômica.

Segundo Saraiva (2005), na antiguidade não havia diferença entre o trabalho

masculino e feminino, à mulher não era direcionado as suas qualidades e/ou

limitações em relação ao sexo, pelo ao contrário, a força das qualidades femininas

se igualava e até mesmo superava as qualidades masculinas. Porém, com o

desenvolver da sociedade mudanças foram ocorrendo, dentre elas a legitimação do

“ser mulher”, segundo Liesenhoff (apud SARAIVA, 2005, p 44) “[...] dominação da

cultura masculina, advinda do patriarcado e da religião, ocultou, reprimiu e

transformou as possibilidades do “ser” feminino, ou seja, a mulher passaria a ser

10

direcionado seu papel e lugar na sociedade”. Papel esse que em tempos modernos

podem ser explicados em uma citação feita por Sairava (2005, p.43),

As determinações históricas nos mostram o sexo feminino como tradicionalmente dominado. A mulher é considerada “incapaz” de produzir, física e intelectualmente, tanto quanto o homem, sendo inferiorizada na sociedade- à exceção de desempenhos que lhe foram socialmente conferidos e se legitimaram como “tipicamente femininos”.

Essas diferenças de limitações, funções e características que a mulher

exercerá perante a sociedades podem ser chamadas de diferenças de estereótipos,

que para Saraiva (2005) é o conjunto de características que “definem” o papel do

indivíduo, ou seja, os comportamentos esperados.

A distinção de estereótipos faz com que a mulher tenha as questões sociais

diferenciadas da dos homens, uma vez que ocorrerá a definição dos papéis. Um

suposto exemplo de estereótipos está relacionado com a educação, que é passada

à criança, pois a menina não poderá brincar com bola, não poderá brincar com

carrinho, entre outros. Para complementar esse pensamento Knijnik (2009, p.1)

afirma que:

[...] há o campo das meninas, onde reinaria uma calmaria absoluta, uma passividade na construção de corpos e condutas vinculados a chamada feminilidade; e o campo dos meninos, de lado oposto e antagônico, no qual imperaria a violência, a brutalidade, na busca de atitudes corporais que denotariam o que o autor denomina de masculinidade hegemônica.

Portanto, como pode-se perceber, essas atitudes/ensinamentos levam a

indivíduo a absorver em sua cultura essa suposta distinção de estereótipos, e isso

poderá acarretar em uma falta de incentivo à prática esportiva feminina, já que a

menina não é incentivada à prática esportiva.

A Repercussão da Prática Esportiva para a Mulher.

A luta da mulher em busca de visibilidade, liberdade, igualdade e inserção no

âmbito social que pode ser observada no decorrer dos anos leva a uma nova divisão

social, onde a mulher passa a ganhar espaço e a ser reconhecida como sujeito ativo

na sociedade, assegurando o seu direito à cidadania, e legitimando o seu papel

enquanto agente transformador. (ALTTIMAN; COSTA 2009).

No decorrer dos últimos 50 anos a mulher vem buscando modificar seu status

socialmente, porém, esse reconhecimento só pôde ser observado depois de anos de

luta, quebras da desigualdade social, proibições, e preconceitos enfrentados.

11

A mulher que antes era vista como frágil, dona de casa, responsável pela

educação dos filhos, agora passaria a ter um outro reconhecimento social, obtendo

novos papéis sociais, inclusive na sustentação econômica do lar, ou seja, trabalha

dentro e fora de casa, tornando-se financeiramente autônoma. (ALTTIMAN; COSTA

2009).

Dentre os ambientes conquistados pela mulher na sociedade, o meio

esportivo se mostrou um importante espaço de visibilidade da luta feminina. A

mulher, ao ocupar espaço no âmbito futebolístico como comentarista, apresentadora

de programas esportivos, técnica, árbitra e até mesmo atleta, assim como, em outros

esportes como boxe, natação, jiu jitsu, judô, entre áreas consideradas masculinas e

de grande visibilidade midiática, gera para sociedade outro tipo de percepção sobre

os papéis que podem vir a ser desempenhados por ela. Nascimento (2008, p.1)

complementa a explanação, mostrando as conquistas das mulheres em vários

âmbitos sociais ao dizer que:

[...] hoje, as mulheres já fazem todo tipo de serviço, muitas vezes com melhor qualidade que os próprios homens. É comum, ver-se mulheres nos tribunais, exercendo com maestria a profissão de advogadas, promotoras, juízas, profissões que eram antigamente, exclusivamente “para” os homens,[...] Há a presença feminina em todos os níveis executivos das empresas e do governo[...]

Fica claro como a mulher conquistou importantes papéis na sociedade ao

conseguir ser inserida em muitas áreas que antes eram dominadas pelos homens.

Porém, no âmbito esportivo ainda há muito o que se conquistar, pois a prevalência

masculina ainda é muito superior e por isso a mulher ainda vai encontrar muitas

dificuldades e preconceitos pela frente.

O preconceito contra mulher que pratica futebol e suas manifestações.

Preconceito: afinal, do que se trata?

Como já nos foi mostrado anteriormente, ainda hoje a mulher enfrenta

dificuldades na prática de alguns esportes, antes caracterizados como esportes

masculinos, porém, devemos entender o que é preconceito para depois analisar

como ele se manifesta no futebol/ futsal.

Segundo o dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (1999),

preconceito significa ideia pré-concebida, suspeita, intolerância, aversão a outras

raças, credos, religiões etc. Complementando, Napolitano e Cardoso (2007, p.1)

dizem que o preconceito [...] “é uma idéia ou uma opinião negativa sobre um grupo

12

de pessoas ou sobre determinado assunto, formada de modo precipitado, sem

conhecimento profundo e reflexão necessária”.

Após entender o que seria o preconceito, pode-se observar como ele é

praticado pela falta de conhecimento do indivíduo e sua intolerância. Porém várias

são as formas de manifesto na sociedade.

As formas mais comuns de preconceito são: social, racial e sexual, que geralmente partem de uma generalização um tanto quanto superficial, chamada de “estereótipo”. Que pode ser exemplificado na frase: “mulher tem que brincar de boneca e homem tem que jogar bola”. (VASCONCELOS, 2009)

Entendendo as formas mais comuns manifestadas na sociedade, deve-se

analisar de que forma ele ocorre no futebol/futsal.

Imagina o cara tem um filho, aí o filho arranja uma namorada, apresenta a namorada ao sogro e o sogro pergunta a ela: 'O que você faz, minha filha?' E a mocinha responde: ' Sou zagueira do Bangú. Quer dizer não pega bem, não é? ( JOÃO SALDANHA apud OLIVEIRA, 2008)

O trecho citado acima deixa claro, como o preconceito é existente ainda hoje,

ou seja, por que pega mal a mocinha responder jogar no bangú? Darido (2002, p.07)

explica melhor, dizendo que “[...] o futebol, numa visão de esporte masculinizante, ao

ser praticado por mulheres gera o preconceito por parte da sociedade e, mesmo

com o aumento da prática do futebol, o preconceito não deixou de existir [...]”.

Essa citação de Darido confirma questões norteadas nos tópicos anteriores

ao dizer que o preconceito contra a mulher existe desde a antiguidade e está

presente até hoje, em pequenas frases irônicas expressas pela sociedade, ou um

simples gesto, como o de não permitir a mulher a praticar o futebol.

Analisando os resultados sobre o preconceito contra a mulher que pratica futebol?

Abaixo a tabela apresenta a catalogação de todas as obras analisadas que

ajudaram a embasar e responder a problemática da pesquisa, assim como o

levantamento de novos questionamentos em relação ao tema.

AUTOR TÍTULO OBRA ANO

Bruhns, heloísa Futebol, Carnaval e Capoeira: entre as Gingas

do Corpo Brasileiro. Artigo 2000

Knijnik, jorge

dorfman

Preconceito é o maior vilão do futebol feminino

para jogadoras brasileiras Artigo 2006

Knijnik, jorge Muito além dos estereótipos: Teatro, Gênero e Artigo 2009

13

dorfman Direitos Humanos na Cultura Infantil.

Paim, m. C. C e

strey, m. N.

Percepção de corpo da mulher que joga

futebol. Artigo 2005

Moraes, aline. Preconceito é principal causa de estresse no

futebol feminino. Artigo 2007

Goellner, silvana vilodre.

Histórias das Mulheres no Esporte: o gênero como categoria analítica.

Artigo 2007

Goellner, silvana

vilodre.

História do Esporte no Brasil: Imagens da

Mulher no Esporte. Livro 2009

Goellner, silvana

vilodre.

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A Trajetória das Jogadoras de Futebol

Feminino Paraense: Um Estudo sobre o

Preconceito e Discriminação de sua Prática

Esportiva

TCC 2009

Quadro 1: Demonstrativo das obras analisadas no estudo realizado.

O estudo foi desenvolvido em um processo de três etapas, onde

primeiramente foi feito um apanhado teórico no período de 2000 a 2010 sobre o

tema em questão a partir dos resumos em fontes de Artigos Científicos publicados

em revistas científicas eletrônicas e impressas da área da Educação Física, artigos

científicos publicados em anais de eventos científicos e obras literárias que tratem

do tema do preconceito contra as mulheres no esporte.

No segundo momento foi realizada uma análise preliminar a fim de verificar se

as obras desenvolviam o tema tendo como referência os objetivos propostos para a

14

pesquisa já citados na introdução deste artigo. Por fim, conhecer as obras a partir da

categoria preconceito, visando destacar as principais manifestações de preconceitos

apontadas por estes estudos.

Diante disso, ao fazer a análise, fica claro como há a manifestação de vários

tipos de preconceitos, porém, de acordo com a maioria dos autores, os preconceitos

de gênero e sexual são os mais presentes na vida das atletas.

O preconceito de gênero está relacionado com a diferença de estereótipos e

se dá muitas vezes dentro e fora do campo. Como já foi exposto anteriormente e

Saraiva (2005) expressa muito bem, são advindos da própria cultura moldada pela

sociedade, provocando de maneira implícita o preconceito ao dizer “que o futebol é

coisa pra “macho’”. Essas expressões são usadas na maioria das vezes por homem,

Portanto, isso nos mostra como essa prática de preconceito relacionado ao

estereótipo ou gênero é vivenciada, porém, não significa dizer que seja a única

forma de preconceito encontrada no futebol.

Advindo disso, destacamos o preconceito sexual, que está diretamente

relacionado com o preconceito de gênero e que segundo os autores Goellner (2003);

Goellner (2007); Goellner (2009); Teixeira Jr (2006); Oliveira (2008) e Vasconcelos

(2009), é um mais vivenciados no futebol feminino. Exemplificando, fica nítido a

situação, quando mulheres praticantes do futebol são estereotipadas como

homossexuais, pela suposta perda da feminilidade. No trecho de Goellner (apud

OLIVEIRA, 2008, p. 15) pode-se notar algumas ações que defrontam as

características da mulher.

O suor excessivo, o esforço físico, as emoções fortes, as competições, a rivalidade, os músculos exaltados, os gestos agressivos do corpo, a liberdade de movimento, a imagem das jogadoras, colocam-nas em questionamentos acerca de sua sexualidade, uma invasão na identidade sexual.

Por conseguinte, em outra pesquisa realizada por Vasconcelos (2009, p. 50)

com 20 atletas que disputam o campeonato paraense de futebol feminino realizado

pela Federação Paraense de Futebol (FPF), em um dos seus questionamentos

referentes ao preconceito existente no futebol feminino, as atleta nomeadas

“jogadora 10”, “jogadora 7” e “jogadora 2” expressam claramente o preconceito

vivenciado ao dizer:

(...) fiquei bastante constrangida quando fui abordada por dois rapazes, que ao término de uma partida de futebol tiveram a indelicadeza de me perguntar se eu gostava de homem ou de mulher. Eles mesmos responderam e ficaram rindo. (jogadora 10).

15

(...) a minha irmã vive me chamando de “maria macho” (jogadora 7). (...) quando eu jogava futebol, sempre tinham aqueles meninos que tiravam graça com a gente, nos chamando de “mulher macho”. Falavam que eu era lésbica (jogadora 2).

Ao observar as respostas dadas por essas jogadoras é impossível não

perceber a presença do preconceito sexual e de gênero inseridas nas presentes

falas. Porém, na fala da “jogadora 7” pode-se perceber que o preconceito de gênero

é vivenciado até mesmo na família, ao ser rotulada pela própria irmã na simples

frase “maria macho”. Contudo, na fala da “jogadora 2”, a relação dos dois tipos de

preconceitos é melhor explicado.

Essas pesquisas e citações expostas acima deixam claro que o preconceito

ainda é existente na prática do futebol para as mulheres. O estudo realizado pelo

professor Jorge Dorfman Knijnik no Instituto de Psicologia (IP) da USP com 33

atletas que disputaram o Campeonato Paulista Feminino de Futebol de 2004, mostra

que essa questão de preconceito vai além e influencia diretamente na prática do

futebol por mulheres. Esses atos podem trazer consequências negativas para a

atleta ao dizer que “o preconceito é a principal causa de estresse emocional entre

atletas de futebol feminino” (MORAES, 2007, p. 1).

Segundo Bruhns (2000), as dificuldades que essas moças enfrentam são

gritantes, e perpassam por variadas formas, como falta de incentivo, preconceito,

discriminação, entre outros. Como exemplo de falta de incentivo, Vasconcelos

(2008, p.66), na entrevista feita as atletas nomeadas “jogadora 4” e “jogadora 6”

demonstra que o preconceito existe consequentemente gerando falta de incentivo:

(...) enfrentei muita discriminação. Não tinhamos apoio não, era quase tudo com nosso dinheiro (jogadora 4). (...) enfrentei muito preconceito quando jogava futebol. Fora que nosso time não tinha patrocínio. Os patrocinadores não acreditavam na gente, no nosso futebol (jogadora 6).

Contudo, mesmo com todos esses problemas expostos acima nitidamente

enfrentados pelas mulheres na prática do futebol, as mesmas não desistem de jogar.

Para finalizar, essa pesquisa nos mostra como o preconceito é presente na vida

esportiva das atletas mulheres, os mais vivenciados pelas atletas é o preconceito em

relação à sexualidade e gênero e para que essas mulheres se sintam totalmente

livre de preconceitos, há muito o que ser pensando na sociedade e ajudando no

processo de mudança, o professor de educação física tem papel fundamental.

16

O Papel do Professor de Educação Física em Busca da Superação do Preconceito.

Um papel importante no processo de ensino-aprendizagem do indivíduo se

torna fundamental, sendo o professor de educação física essencial para essa quebra

de preconceito em suas aulas. Saraiva (2005 apud KUNZ, 1991, p.79) explica que

as aulas de educação física têm o poder de reforçar os papeis sociais em relação ao

sexo, tanto para que haja a diferença de estereótipo, quando para a socialização

entre os sexos

[...] pelas avaliações realizadas pelos alunos a respeito da educação física e dos esportes praticados fora do contexto escolar, pode-se concluir que a educação física contribui para reforçar uma socialização específica em relação ao sexo [...]Neste sentido, a educação física poderia ter a chance de sensibilizar para uma futura separação da contradição social em relação aos diferentes papéis assumidos pelo homem e pela mulher na sociedade[...].

Nessas atividades desenvolvidas pelo professor de educação física, ele pode

ajudar a estimular e socializar as meninas na prática esportiva através do diálogo

crítico, relacionando os movimentos corporais exercidos durante a aula e a

sexualidade, desmistificando as características e papéis na sociedade da mulher e

do homem. As aulas mistas na Educação Física têm o intuito de priorizar as

atividades para ambos os sexos, porém nem sempre são aulas co-educativas3, pois

a coeducação tem como objetivo levar o aluno a trabalhar as mesmas possibilidades

e oportunidades, vivenciando as diferenças e semelhanças (OLIVEIRA, 2008).

Isso deixa evidente a importância da educação física e qual deveria ser o seu

objetivo, porém, isso só existe na teoria, na prática trabalhar as mesmas

possibilidades e oportunidades normalmente não acontece, uma vez que os

professores em suas aulas fazem a separação da turma pelo sexo e as habilidades

trabalhadas serão de acordo com as características sexuais da turma. Daólio (1995,

p. 104) fala sobre o pensamento acerca do sexismo na educação física ao dizer que

[...] a ação do professor de Educação Física, por mais progressista que seja, ainda não se liberou da dicotomia criada culturalmente entre o masculino e feminino”, como exemplo, a prática do futebol feminino dentro da aula de Educação Física ainda é vista com olhar de exclusão pelos professores e consequentemente pelos próprios alunos, em alguns casos.

Mais uma vez a diferença de estereótipos e sexismo é confirmada na aula de

educação física, mostrando também como o incentivo e estímulo à prática do futebol

por mulheres ainda é precário. Para Oliveira (2008 apud LOURO 2003, p.20),

3 Aulas que promovam relações educativas entre meninos e meninas visando a quebra de estereótipos.

(SARAIVA, 2005)

17

[...] a Educação Física é uma disciplina que sempre teve uma preocupação com a sexualidade das crianças, visão da masculinidade do menino no esporte sempre foi muito valorizado, quanto para as meninas o contato físico no jogo e as agressividades vão contra a feminilidade das mesmas.

Esses fatos levam a questionamentos importantes, como a menina irá

desenvolver as habilidades motoras necessárias no futebol se desde cedo ela não é

estimulada nas aulas de educação física? Como é que ela irá experimentar e

conhecer um pouco do futebol se ela nunca teve nenhum contato físico com o

esporte?

[...] Não se pode negar que ser o melhor, no esporte pode representar, especialmente para um menino ou um jovem, um valorizado símbolo de masculinidade. [...] por outro lado, ocupa-se de modo particular das meninas e afirma que os cuidados com relação à sua sexualidade levam muitas professoras e professores a evitar jogos que supõe ‘contato físico’ ou uma certa dose de ‘agressividade’. (LOURO, 2003, p.74-76)

Por trabalhar com o conhecimento da cultura corporal acumulada pela

humanidade, a aula de educação física poderia ser de extrema importância no

desenvolver de algumas habilidades motoras importantes para o acesso à prática do

futebol. Segundo Souto (2000, p.17):

As mulheres nunca jogarão como os homens. Suas características fisiológicas e estruturais são diferentes. E a compreensão e rigidez tática e técnica que os homens tem as mulheres não tem, justamente porque não tem uma consciência dentro de quadra/campo que os meninos tem desde criança por jogarem futebol todos os dias nas diversas quadras espalhadas nas ruas.

Isso ressalta o fato de que a mulher não é estimulada desde cedo a algumas

habilidades motoras e por isso nunca será igual aos homens, habilidosos.

Conclusão

Com todos os problemas que a mulher enfrentou, sua força de vontade foi

tamanha que a mesma não desistiu de lutar por uma melhor visibilidade no esporte,

em especial no futebol/ futsal. Hoje se vive numa cultura na qual as necessidades e

anseios, os desejos de agir, no mundo e em vidas pessoais, de acordo com os

interesses, conflitam com restrições internas tão poderosas, que a culpa, a confusão

e a insegurança podem acompanhar a trajetória pessoal por resto da vida. As

proibições sobre as mulheres que agem em seu próprio interesse são tão fortes e

tão interiozadas que, quebrá-las, soa perigoso, como ficar à deriva, desertando uma

auto-imagem conhecida. Todavia, é isto que deve fazer a mulher que deseja superar

os estigmas de quem pratica o futsal feminino. Cabe ao professor, como educador

18

ser um dos instrumentos de inserção da mulher nas práticas esportivas. Romper

com o preconceito requer uma tomada na sua história de vida, pois muitas vezes

apenas repete-se o que a sociedade “impõe” ou aquilo que se traz arraigado pela

cultura machista e burguesa. Assim, lutar pela inclusão é lutar pela afirmação da

diferença própria e não por um mundo próprio.

Este artigo tem a pretensão de chamar a atenção de leitores e que os

mesmos busquem desenvolver mais pesquisas nessa área, pois é necessário para

que novas literaturas sejam construídas e sirvam como instrumentos norteadores

para a inserção da mulher nas práticas esportivas ajudando na quebra de

paradigmas que sustentam a idéia da inferioridade feminina.

WOMEN'S FUTSAL: how to walk the BIAS X score of this game?

ABSTRACT

This article is the result of a search of bibliographic type with a qualitative analysis, which uses a dialectical critical focus and has as its theme being addressed women's futsal and the types of prejudice experienced by athletes who practice it. Search exposing the difference stereotypes of genders in the sport since antiquity, highlighting the functions and the development of women in sports and the difficulties encountered by them, particularly in football, also identifying the various types of prejudice, whether they be so social, racial, sexual, and sometimes even family that are experienced by athletes women practitioners of football. Has important incentive in new research that can provide better visibility for the sport in question. As results found through readings, can highlight the presence of prejudice and discrimination in women's futsal, therefore observes that these acts result in stress, exclusion and lack of encouragement for women in practice. That said, this article seeks to draw the attention of readers interested in the matter and assist in performing other searches so that the topic is best discussed and rethought in society. Keywords: Bias; Discrimination; Sport; Women's Futsal.

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