fundaÇÃo de economia e estatÍstica ensaios fee

322
ISSN 1980-2668 SECRETARIA DA COORDENAÇÃO E PLANEJAMENTO FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA Siegfried Emanuel Heuser Ensaios FEE Porto Alegre v. 26 n. 2 p. 725-1040 2005 Ensaios FEE Ensaios FEE é uma publicação semestral da Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser que tem por objetivo a divulgação de trabalhos, ensaios e artigos de caráter técnico-científico da área de economia e demais ciências sociais. Semestral CONSELHO EDITORIAL Alexandre Alves Porsse Álvaro Antonio Louzada Garcia Achyles Barcelos da Costa Edward J. Amadeo Elmar Altvater François Chesnais José Vicente Tavares dos Santos Leonardo Guimarães Neto Luis Carlos Bresser Pereira Nelson Giordano Delgado Pascal Byé Pierre Salama Ricardo Tauile Roberto Camps de Moraes CONSELHO DE REDAÇÃO Alexandre Alves Porsse Enéas Costa de Souza Luiz Augusto Estrella Faria Maria Domingues Benetti Raul Luís Assumpção Bastos Tanya Maria Macedo de Barcellos EDITOR Alexandre Alves Porsse SECRETÁRIA EXECUTIVA Lilia Pereira Sá

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ISSN 1980-2668

SECRETARIA DA COORDENAÇÃO E PLANEJAMENTOFUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICASiegfried Emanuel Heuser

Ensaios FEE Porto Alegre v. 26 n. 2 p. 725-1040 2005

Ensaios FEEEnsaios FEE é uma publicação semestral da Fundação de Economia e Estatística SiegfriedEmanuel Heuser que tem por objetivo a divulgação de trabalhos, ensaios e artigos de carátertécnico-científico da área de economia e demais ciências sociais.

Semestral

CONSELHO EDITORIALAlexandre Alves PorsseÁlvaro Antonio Louzada GarciaAchyles Barcelos da CostaEdward J. AmadeoElmar AltvaterFrançois ChesnaisJosé Vicente Tavares dos SantosLeonardo Guimarães NetoLuis Carlos Bresser PereiraNelson Giordano DelgadoPascal ByéPierre SalamaRicardo TauileRoberto Camps de Moraes

CONSELHO DE REDAÇÃOAlexandre Alves PorsseEnéas Costa de SouzaLuiz Augusto Estrella FariaMaria Domingues BenettiRaul Luís Assumpção BastosTanya Maria Macedo de Barcellos

EDITOR

Alexandre Alves Porsse

SECRETÁRIA EXECUTIVA Lilia Pereira Sá

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SECRETARIA DA COORDENAÇÃO E PLANEJAMENTOFUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA Siegfried Emanuel HeuserCONSELHO DE PLANEJAMENTO: Aod Cunha de Moraes Junior (Presidente), André Luis Campos, ErnestoDornelles Saraiva, Leonardo Ely Schreiner, Nelson Machado Fagundes, Pedro Silveira Bandeira e ThômazNunnenkamp.CONSELHO CURADOR: Carla Giane Soares da Cunha, Lauro Nestor Renck e Flávio Pompermayer.DIRETORIA

PRESIDENTE: AOD CUNHA DE MORAES JUNIORDIRETOR TÉCNICO: ÁLVARO ANTÔNIO LOUZADA GARCIADIRETOR ADMINISTRATIVO: ANTONIO CESAR GARGIONI NERY

CENTROSESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS: Marinês Zandavali GrandoPESQUISA DE EMPREGO E DESEMPREGO: Roberto da Silva WiltgenINFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS: Adalberto Alves Maia NetoINFORMÁTICA: Antônio Ricardo BeloEDITORAÇÃO: Valesca Casa Nova NonnigRECURSOS: Alfredo Crestani

Ensaios FEE está indexada em:Ulrich's International Periodicals DirectoryÍndice Brasileiro de Bibliografia de Economia (IBBE)Journal of Economic Literature (JEL)

ENSAIOS FEE /Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser – v. 1, n. 1 (1980) - . - Porto Alegre: FEE, 1980 – . – v. - Semestral Do v. 17 ao v. 22, deixa de ter paginação continuada. Índices: v. 1 (1980) – 9 (1988) em v. 9, n. 2; v. 10 (1989) – 11 (1990) em v. 11, n. 2; v. 12 (1991) – 15 (1994) em v. 16, n. 2.

ISSN 0101-1723

1. Economia – periódicos. 2. Estatística – periódicos. I. Fundação de Economia e Esta- tística Siegfried Emanuel Heuser.

CDU 33(05)

Toda correspondência para esta publicação deverá ser endereçada à:

FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA Siegfried Emanuel Heuser (FEE)Revista Ensaios FEE - SecretariaRua Duque de Caxias, 1691 — Porto Alegre, RS — CEP 90010-283Fone: (51) 3216-9049 Fax: (51) 3225-0006 E-mail: [email protected] Page: www.fee.rs.gov.br

Tiragem: 530 exemplares.As opiniões emitidas nesta revista são de exclusiva responsabilidade dos autores, não exprimindo, neces-sariamente, um posicionamento oficial da FEE ou da Secretaria da Coordenação e Planejamento.É permitida a reprodução dos artigos publicados pela revista, desde que citada a fonte. São proibidas asreproduções para fins comerciais.

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Sumário

Regional absorption of terms of trade shocks — Eduardo AmaralHaddad e Fernando Salgueiro Perobelli ..................................

Pobreza: la lucha contra los dos "v": volatilidad yvulnerabilidad — Pierre Salama ..............................................

Microcrédito e capacidade de pagamento dos agricultores familia-res: a experiência do Programa RS Rural no Rio Grande do Sul —Sergio Schneider, Paulo D. Waquil, Daniela Dias Kuhn e Lovoisde A. Miguel .............................................................................

Uma estimação dos custos da criminalidade em Belo Horizon-te — Vinícius Velasco Rondon e Mônica Viegas Andrade ..........

Investigações e obtenção de provas de cartel: por que e comoobservar paralelismo de conduta — Silvinha Pinto Vasconcelose Claudio Roberto Fóffano Vasconcelos ................................

A inserção ocupacional e o desemprego dos jovens: o caso dasRegiões Metropolitanas de Salvador e Belo Horizonte — ThaizSilveira Braga e Mario Marcos Sampaio Rodarte .......................

Determinantes de rendimento da Região Sul do Brasil: 1992-01 —Flávia Verusca Buturi Monarin e Marina Silva da Cunha ............

Processos de aprendizagem tecnológica na indústria de papel,em Santa Catarina: um estudo sobre as empresas-líderes — PaulaAlexandra Binotto e Silvio Antonio Ferraz Cario .......................

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1019

Inserção das regiões brasileiras no comércio internacional: oscasos da Região Nordeste e do Estado de Pernambuco — ÁlvaroBarrantes Hidalgo e Daniel Ferreira Pereira Gonçalvesda Mata .....................................................................................

A importância e a atualidade do pensamento de E. F. Schuma-cher — Gustavo Inácio de Moraes e Maurício Serra ..................

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Regional Absorption of Terms of Trade Shocks

Regional Absorption of Terms of Trade Shocks

Eduardo Amaral Haddad* PhD in Economics by University of Illinois, FIPE Researcher and Professor of Department of Economics at the University of São Paulo, Brazil.Fernando Salgueiro Perobelli** PhD in Economics by USP and Professor of Department of Economics at the University of Juiz de Fora, Brazil.

ResumoCom a evolução do processo de globalização, percebe-se que as economiasdos países em desenvolvimento se tornam mais dependentes das mudançasno mercado internacional. Portanto, variações no ambiente externo e na políticaeconômica internacional devem impactar os resultados daquelas economias. Aliteratura apresenta uma série de trabalhos que discutem, para os países derendas baixa e média, os efeitos dos choques exógenos nos termos de troca.Entretanto o objeto de estudo da maioria desses trabalhos são as economiasnacionais, não considerando a possibilidade de absorção desses choques atravésdas interações inter-regionais. Neste artigo, as interações inter-regionais sãotratadas através de um modelo inter-regional de equilíbrio geral computável“botton-up”. O artigo mostra que a interação é efetiva na absorção dos choquesexternos, diminuindo os impactos adversos de choques de termos de trocanegativos, à medida que a economia se torna mais integrada.

Palavras-chaveEquilíbrio geral; comércio inter-regional; termos de troca.

* E-mail: [email protected]** E-mail: [email protected]

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AbstractAs the process of global integration evolves, developing economies becomemore and more dependent upon the swings of international markets. Changes inthe external environment and economic policy have played a major role indetermining the performance of these economies. Terms of trade shocks representone of the most important issues related to recent developments in low andmiddle income countries, whose effects have been widely studied in the economicliterature. However, attention has always been focused on the national economies,without any consideration of the ability of these economies to absorb theseshocks through interregional interactions. In this paper we address this issueusing a bottom-up interregional CGE model. It is shown that the degree ofintegration of the national economies helps to absorb external shocks, decreasingthe adverse impacts of negative terms of trade shocks as the economy becomesmore integrated.

Key wordsGeneral equilibrium; interregional trade; terms of trade.

Código JEL: R13.

Artigo recebido em 14 fev. 2005.

1 - Introduction

As the process of global integration evolves, developing economies becomemore and more dependent upon the swings of international markets. Whatevercountry indicators related to the integration with the global economy one considers,the overall trend verified in the last decade points to higher degrees of tradedependence in those countries. For instance, the average share of trade in totalGDP has increased from 41.0% to 53.4% in the low and middle income countries

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Regional Absorption of Terms of Trade Shocks

in the period 1990-1998, and foreign direct investments in those countries havealmost quadrupled in GDP terms, in the same period (World Bank, 2000).

The assertion that national economies are increasingly being driven byglobal rather than local factors is grounded on the recent focus on globalizationissues and the implicit assumption that a region’s economic future is inextricablytied with its ability to compete in the international export market. At the nationallevel, attention has also been directed to financial contagion through stockmarkets.

Given the fact that trade becomes a more powerful channel of growth everyday, regional analysts place considerable efforts towards the understanding ofthe role of trade in regional development. Terms of trade shocks receive specialattention as these phenomena seem to be very frequent and have significantimpacts on the regional economies.

On one hand, internal (active) terms of trade shocks, undertaken by policymakers in the country (region), appear to be a major policy remedy for lowerproductivity levels in developing countries. Trade liberalization has been widelyused as an instrument to the insertion of developing countries in the globaleconomy. The effects of trade reforms, one of the driving forces of the globalizationprocess, have been extensively studied in the international trade literature. Onthe other hand, these same economies become more and more vulnerable toexternal (passive) terms of trade shocks. Already in the 1970s, external shocksof commodity booms and oil price hikes had major impacts in developingcountries. Macroeconomic adjustment through real exchange rate devaluationwas the basic policy recommendation. Institutional constraints, however, precludemany countries to achieve success in their adjustment processes (Devarajan;Melo, 1987).

More recently, oil price shocks were under the spot again, and the recenttrends in commodity prices also brought about concern to major exporters andcountries relying heavily on the exports of a few commodities. Attention hasusually been focused on the national economies, without any consideration ofthe ability of these economies to absorb these shocks through interregionalinteractions. Would more integration at the sub-national level help to absorbnegative impacts of terms of trade shocks through substitution effects? Would itdepend on the degree of complementarity among regions? In this paper we addressthis issue using a bottom-up interregional computable general equilibrium model.The remainder of the paper is organized in three sections and an appendix. First,after this introduction, an overview of the CGE model to be used in the simulationsis presented, focusing on its general features. Second, the simulation experimentis designed and implemented, and the main results are discussed. Final remarks

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follow in an attempt to evaluate our findings and put them into perspective,considering their extension and limitations. An appendix containing the fullspecification of the CGE model is also presented.

2 - The structure of the model

The model presented here is an extension of the 1-2-3 model (Devarajan etal., 1997), a simple general equilibrium model designed for determining therelationship between external shocks and policy responses. Following the 1-2-3tradition, a minimalist model is designed in order to verify how regional interactionat the sub-national level influences the adjustment of external shocks in a nationaleconomy under small country assumptions. Given the simple structure of themodel and the very restrictive assumptions underlying it, the purpose is not todraw policy conclusion but rather to highlight a specific transmission mechanismthat may affect regional economies.

Agents’ behavior is modeled at the regional level, accommodating variationsin the structure of regional economies. The model recognizes the economies oftwo regions, which are related through trade flows. Results are based on abottom-up approach — national results are obtained from the aggregation ofregional results. The model identifies two producing sectors in each region, andseven commodities: two foreign export goods (sold to foreigners and notdemanded domestically), one foreign import good (not produced domestically)1,and two regional goods and two interregional export goods, which are sold withinthe region and exported to the other region, respectively. The model also identifiesa single household in each region, regional governments and one federalgovernment, and a single foreign consumer who trades with each region. Specialgroups of equations define real flows, nominal flows, prices and equilibriumconditions. There are no primary factors in the model, which underlies the implicitassumption of full employment of the regional fixed endowments.

The schematic structure of the model — without government — presentedin Figure 1, shows in a simple interregional open-economy framework the basicdecision process of producers and consumers in the model. In each region, thesupply relations are generated by considering a two-stage revenue maximizationproblem of choosing, first, the mix of goods to be exported and sold domestically

1 Although our specification accommodates two region-specific import goods, they are treatedas the same good for the sake of explanation.

2 There is nothing in this conceptual set up that requires these elasticities to be constant, butmodellers have tended to use constant elasticity specifications. Hence the use of CETfunctions for production and CES functions for consumption.

3 See Devarajan et al. (1997) for the representation of the simpler 1-2-3 model as a programmingproblem.

4 See the definition of the variables in the appendix.

ABz( )AB

i zη−exp

( )2rr

Dr

2rr

DD,DD,DPF,MF;MF,DDFDCmax

Sr

Drrr

σ= BAr ,=

( ) rrSrrr DPDDDPFG ≤22 ;, θ

rrrrr BRDPFPDPFMFPDCMF ≤×−×

(1)

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(CET specification), and, second, the mix of the regional good sold within theregion and outside the region (CET). In the demand side, regional householddetermines the optimal composition of its consumption bundle in a two-stageutility maximization problem (equivalent to maximize total consumption): first, itchooses the composition of domestically produced good and import good (CESspecification); second, it decides how much of each regional good to consume(CES). The assumption underlying this two-stage choice relates to the Armingtonassumption, which considers similar commodities produced in different regionsas close substitutes, but unique goods (Armington, 1969).2 Interregional andinternational trade balances follow from the agents’ decisions. Transportationcosts are associated with interregional trade, following Samuelson’s iceberg model,which means that a certain percentage of the transported commodity itself isused up during transportation (Bröcker, 1998). Given the transport rate ,defined as the share of commodity i lost per unit of distance, and the distancebetween the regions A and B, , the amount arriving in B, if one unit of outputi has been sent from A to B, is, which is less than unit forpositive distances.

The basic model can be seen as a simple two-stage programming problem.3Separability of the production and utility functions allows for its solution in atwo-stage maximization problem. In the first stage, consumption of the domesticcomposite good is maximized in each region, subject to technological andinterregional balance of trade constraints, and market-clearing condition for theregional goods. The problem is:4

subject to

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In the second stage, consumption of the composite good is maximized inthe two regions, subject to technological and international balance of tradeconstraints.5

5 In both cases, the shadow prices of the constraint equations correspond to market prices inthe CGE model.

0≤∑ rr

RB

Sr

Dr DDDD ≤

Figure 1

Structure of the basic model Consumption

Region BCES

DCB MB BWB

Production CES

CET DPFA = MFB DDB

EA DPA CET BR CET DPB EB

DDA DPFB = MFA CET

CES Production

BWA MA DCA

CES

Region A

Consumption

6 In this case, the government gap is further divided into federal and regional government gaps.

subject to

( )11

,,,;,max rrrrrDPDCEM

DCMFQrrrr

σ= BAr ,=

rrrrr BWEWEMWM ≤×−×

0=rBW 0=rBR r

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This programming problem can be depicted graphically. Figure 2 shows thesolution for a single region in the special case where international and interregionaltrade balances are zero ( and , ), and transportationcosts are negligible ( ). Moreover, it is assumed that world prices areequal to one, so that the slope of the price lines equal one.

As a starting point for the understanding of the model, the interregionalSAM is presented (Figure 3). Nominal flows equations represent macroeconomicbalance constraints defined in the SAM (see appendix). The economy is dividedinto twelve accounts. In each region, goods produced are either sold within theregion or exported to the rest of the country and the rest of the world. The productioncosts include the payments to the production factors — owned by the householdsin the region — and the payments of taxes to the regional and federal governments.Total supply of goods in a region is given by the domestic production solddomestically, the interregional imports and the purchases abroad. Accordingly,total demand includes private consumption, investment, and governmentconsumption. In addition to the income received in the production process,households receive government transfers, spending their income in theconsumption of goods, savings and the payments of direct taxes to the regionaland federal governments. Investments in the region are financed by private savings,government savings, net interregional savings and foreign savings, in a typical“four-gap” interregional model.6 Public sector is divided into regional government,which includes the states and the municipalities in the region, and the federalgovernment. In the former case, expenditures are financed by taxes and federaltransfers. Federal government deficit arises from tax revenue spent in consumptionand transfers in the two regions. Finally, the rest of the world generates foreignsavings in the regions through international trade.

(2)

( ) rrrrr XDPEG ≤11 ;, θ

0=iη∀

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Figure 2

Graphical representation of the basic model for a single region

II M I

BW

C

PDC/PMDC E

PDP/PE

P

DomesticMarket

III DP IV

II' MF I'BR

C'

PDD/PDCMFDDD DPF

PDD/PDPF

P'

RegionalMarket

III' DDS IV'

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Figu

re 3

Act

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Reg

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AR

egio

n B

Cap

ital

Reg

iona

l

govt

Fede

ral

go

vtR

est o

f w

orld

ξ

7 Files containing the code, database and closure used in the implementation of the model areavailable for download at www.econ.fea.usp.br/nereus or upon request (GEMPACK licenseis required).

8 The choice of 1997 as the base year was heavily influenced by data availability. More specifically,we have used the more recent interstate trade data set estimated in Domingues et al. (2002),which refer to 1997.

),;,( ξVttij qp=

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Each cell in the SAM, which is a transaction, can be thought of as theoutcome of an underlying optimization problem of the relevant institution(s). Wecan represent the flow in the cell as

(3)

where p and q are respectively vectors of relative prices (for goods and factors)and quantities. The vector V is a vector of exogenous factors and is a vectorof parameters defining the relevant functional form. The complete specificationof the model is provided in the appendix, based on the different groups ofequations. The description is organized around four groups of equations: (a) realflow equations; (b) nominal flow equations; (c) equations defining the price system;and (d) equilibrium conditions.

3 - Simulation results7

To analyze the regional implications of terms of trade shocks in a developingeconomy, the model described above was implemented based on a two-regionSAM for Brazil for the year 1997.8 Data were collected from different officialstatistics agencies and consolidated to generate the SAM. The regional settingfocuses on the interactions of Brazil’s Northeast and the rest of the country. TheNortheast is by far the poorest Brazilian region. Perennial interregional tradedeficits represent a structural feature of the Brazilian interregional system, andpublic and/or private savings have been financing these deficits, so that theconditions for macroeconomic balance are met (Haddad, 1999).

Interregional dependence plays a major role in the economy of the Northeast,with total interregional trade flows representing more than five times totalinternational trade flows. On the other hand, the rest of the country is relativelymore open to foreign markets, presenting stronger international linkages asopposed to its linkages with the Northeast (Table 1). Noteworthy is that bothregions presented, at the benchmark year, international trade deficits.

9 The only implication is the inability to define the unit of distance which corresponds to thechosen value of .

10 The list of the exogenous variables is presented in the Appendix.η

η

η

Table 1 Regional indicators

(% of national GDP)

INDICATORS NORTHEAST REST OF BRAZIL

Gross regional product ………. 0.131 0.869 International trade Exports ……………….………….. 0.006 0.070 Imports ……………….………….. 0.007 0.095 Interregional trade Exports …………………………… 0.020 0.047 Imports …………………………… 0.047 0.020 Household consumption …….. 0.114 0.517 Investment ……………………… 0.015 0.202 Government consumption ….. 0.030 0.149 SOURCE: Brazilian interregional SAM, 1997, estimated by the authors.

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In addition to the SAM data, the calibration of the model also includedestimates for the various elasticities of the CES and CET equations. In thebaseline simulations, the value of 0.6 was used for these parameters. Finally, anarbitrary , 0.2, was used in the transportation cost equation. As for the purposeof this exercise, one can choose an arbitrary , for a corresponding measure ofdistance, without further implication for the model results.9

The model contains 64 equations and 97 variables. Thus, to close the model,33 variables have to be set exogenously.10 In order to capture the regional effectsof a hike in the international price of the imported good, provide externaladjustment, the simulations were carried out under a closure, which considers,from the supply side, full employment of factors of production, implying constantreal GRP through the simulations, and, from the demand side, exogenouslydefined investment and government expenditures.

�0)( )()()(

payments ofbalance theofaccountcurrent on thedeficit

accountcurrent nalinterregio

on thedeficit deficitsector publicdeficitsector private

=×−−+−×−×������� ��� ����� ���� �� rrrrrrrr BWERBRSFGSRGYSYPTZ

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Macroeconomic closure

Macroeconomic balance in the model requires budget constraint to be met.In the interregional framework, commodity market equilibrium implies the followinglink between financial surpluses/deficits:

(4)

That is, the sum of the private sector and public sector (regional andfederal governments) financial deficits equal the deficit on the current account ofthe region (both international and interregional). This condition establishes thatincome inflows should equal outflows, in equilibrium. Thus, if a region, r, presentstrade deficit with the rest of the country and the rest of the world, in equilibrium,it has to be compensated by net inflows of resources from governmentexpenditures and/or private investments. In our benchmark data, regionalinvestment in the Northeast was heavily financed by Federal governmenttransfers, and transfers of resources from the rest of the country. In the case ofthe Rest of Brazil, which helped to finance Northeast’s investment with a netoutflow of resources via interregional trade, also had to find alternative sourcesto finance its investment. Here, the major flows of resources came from privatesector and Federal government savings, reinforced by an international trade deficit(Table 2).

In the closure adopted in the model, as mentioned above, the level ofinvestment in the region, Zr, is given. Total regional savings have to adjust inorder to finance it. As the overall current account is assumed to be equilibratedthrough exchange rate adjustment ( ), movements in interregionaltrade, and private and government savings have to be analyzed carefully.

0=•

BW

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Terms of trade shock

In what follows, the main results from the simulations are presented. Thebasic experiment consisted of the evaluation of a 10% increase in the worldprice of the foreign imported good ( ). Comparative-staticestimates relative to the external terms of trade shock, provide balance of paymentadjustment, are shown in Tables 3 and 4. An overall similar pattern ofmacroeconomic effects is apparent, in that real devaluation favors higher foreignexports from the two regions. It is evident, however, the differential structuralimpacts on the two regional economies, as the adjustment processes take differentroutes.

As consumers utility maximization problem is equivalent to maximizing theconsumption of the composite good, QD, in each region, with fixed investmentand government consumption, private consumption, CN, becomes the relevantvariable for welfare analysis within this framework. Thus, the adverse terms oftrade shock harms consumers in both regions, with relatively bigger welfare lossin the Rest of Brazil, the region with higher dependence upon international imports.

Overall balance of payment adjustment also reveals differential effectsacross the space, as the Northeast generates an incremental trade surplus,which has to be offset by an incremental trade deficit, given the new terms oftrade, in the Rest of Brazil. However, a movement toward increasing volumes ofexports and decreasing volumes of imports is apparent in both regions.

rPM r ∀=∆ %,10

Table 2

Regional investment financing (% of regional GRP)

DESCRIPTION NORTHEAST REST OF BRAZIL

Total investment ……………...….. 0.112 0.233 Private sector savings …………… 0.065 0.212 Public sector savings ………..….. -0.164 0.022 Federal ……………………………… -0.160 0.032 Regional ………………………….…. -0.004 -0.011 Interregional savings …………….. 0.202 -0.030 Foreign savings …………….…….. 0.009 0.029

SOURCE: Brazilian interregional SAM, 1997, estimated by the authors.

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Eduardo Amaral Haddad; Fernando Salgueiro Perobelli

There is a shift of the financing sources of the existing level of investmentfrom the public sector to the private sector in both regions. However, in relativeterms, the role of the private sector in investment financing in the Northeastbecomes more important, as the region benefits from incremental trade surpluses,both interregional and international, reducing the extra-regional net inflows ofresources.

Table 3

Regional impact of a 10% increase in the world price of foreign imports: selected variables

(percentage change)

DESCRIPTION NORTHEAST REST OF BRAZIL

Private consumption …………………… -0.733 -1.823 Interregional export good ………….….. -0.061 -0.233 Interregional import good ………….….. -0.233 -0.061 Foreign export good …………………… 2.224 1.994 Foreign import good …………………… -7.837 -7.726 Foreign export good …………………… 2.224 1.994 Composite domestic good …………….. -0.161 -0.170 Interregional export good ……………... -0.061 -0.233 Regional good ………………………….. -0.121 -0.173 Price of composite domestic good …… -0.092 0.174 Basic price of composite good …….…. 0.573 1.724 Aggregate savings …………………….. 0.573 1.724 Regional govt. savings ………………… 29.704 19.378 Federal govt. savings …………………. 0.510 -3.058 Foreign savings ………………………… -2.967 0.141 Interregional savings …………….…….. -0.220 -0.220 Total income ……………………………. 0.171 0.691 Savings rate ……………………………. 4.498 2.285

SOURCE: Model's results.

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Regional Absorption of Terms of Trade Shocks

Structural changes also are perceived throughout the adjustment process(Table 4). The results for the E/DP ratio and the M/DC ratio reveal, respectively,that regions become more export-oriented and less dependent on imports. Inother words, real exchange rate devaluation induces both export promotion andimport substitution in both regions. However, given the associated interregionalterms of trade movements, the Northeast reduces its perennial trade deficit withthe Rest of Brazil, as its interregional exports become relatively more competitive.Thus, slight substitution in the Northeast away from interregional imports andslight substitution in the Rest of Brazil towards interregional imports is verified.

Sensitivity analysis

The analysis of the effects of the increase in the world price of foreignimports revealed that both regions are adversely affected, but the adjustmentprocess implied differential impacts across the space. Substitution effects playeda major role in the final results. As the price of the imported good goes up, theimported good becomes relatively more expensive and domestic agents tend tosubstitute away from it. Moreover, it reduces the consumer possibility frontier,with implications to regional markets. Thus, substitutability between regions alsowill be relevant, as the prices of the regional goods will be affected, withimplications for interregional competitiveness as well.

The issue of international substitutability versus complementarity has alreadybeen studied extensively in the literature (Decaluwé; Martens, 1988; Devarajanet al., 1997; Davies; Torvik, 1998). The basic result shows that the characteristicsof the new equilibrium, after an adverse terms of trade shock takes place, depend

Table 4

Pre and post-simulation results for selected structural indicators

NORTHEAST REST OF BRAZIL DESCRIPTION

Pre Post Pre Post E/DP ratio .................... 0.0491 0.0503 0.0871 0.0893 M/DC ratio ……………. 0.0483 0.0446 0.1227 0.1134 DPF/DPD ratio ……….. 0.1947 0.1948 0.0621 0.0620 MF/DCD ratio ………… 0.4476 0.4471 0.0270 0.0271

SOURCE: Model's results.

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crucially on the value of the elasticity of substitution between imports anddomestic goods in the import aggregation function. As Devarajan et al. (1997)observe, when the price of imports rises in an economy, there are two effects: anincome effect (as the consumer’s real income is now lower) and a substitutioneffect (as domestic goods now become more attractive). The resulting equilibriumwill depend on which effect dominates. When < 1, the income effect dominates.The economy contracts output of the domestic good and expands that of theexport commodity. In order to pay for the needed, non-substitutable import, thereal exchange rate depreciates. However, when > 1, the substitution effectdominates. The response of the economy is to contract exports (and hence alsoimports) and produce more of the domestic substitute.

But how do sub-national regions assimilate the changes in domesticproduction? Does regional interaction matter? First, in order to assess the issueof interregional substitutability versus complementarity, qualitative sensitivityanalysis was carried out on the CES parameters. More specifically, an alternativemodel to the basic model was implemented considering different values for theelasticity of substitution, , as follows: (a) basic model – = 0.6 and == 0.6; (b) alternative model – = 0.6 and = 1.5.

The results, presented in Table 5, suggest that different types of regionalinteraction have important welfare implications. In our example, strongerinterregional substitutability in both directions benefits the Rest of Brazil. Theintuition behind this result is that, as both regions face contraction in theconsumption of the domestic good ( < 1), accommodation of the new levelof domestic production in both regions will generate second-stage substitutioneffects, as regional prices will be affected in different ways. Here, substitution inthe Northeast away from interregional imports and substitution in the Rest ofBrazil towards interregional imports will be stronger than in the basic model.

Additionally, regional integration at the sub-national level was also assessedthrough the use of different values of distance between the regions. We increasedthe units of distance variable — DISTrs

— in the basic model by 1% (implyinghigher transportation costs). The results are also presented in Table 5. In thiscase, it is noteworthy the overall slight decrease in welfare, as highertransportation costs imply smaller amount of goods available for consumption.However, changes in transportation costs also imply changes in interregionalterms of trade. In this case, given the units of distance inherent to the model, a1% increase in the distance between the two regions would make goods producedin the Rest of Brazil more attractive to consumers in the Northeast. With accessto relatively cheaper goods, interregional imports would increase the consumer’spossibility frontier in the region, making him/her better off. Finally, the structural

1rσ

1rσ

2rσ

2rσ

1rσ1

rσ2rσ

1rσ

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Regional Absorption of Terms of Trade Shocks

indicators relative to the sensitivity analysis described above are presented inTable 6, revealing the regional adjustment to the terms of trade shock underdifferent structural hypothesis.

Table 5

Regional impact of a 10% increase in the world price of foreign imports: sensitivity analysis for private consumption effects

DESCRIPTION NORTHEAST REST OF BRAZIL BRAZIL

1rσ = 0.6; 2

rσ = 0.6 -0.733 -1.823 -1.625 1rσ = 0.6; 2

rσ = 1.5 -0.768 -1.815 -1.626

DISTrs = 1.00 -0.733 -1.823 -1.626

DISTrs = 1.01 -0.573 -1.859 -1.627

SOURCE: Model's results. Table 6 Regional impact of a 10% increase in the world price of foreign imports: sensitivity analysis for selected variables

(percentage change)

1rσ = 0.6;

2rσ = 1.5 DISTrs = 1.01

DESCRIPTION Northeast Rest of Brazil Northeast Rest of Brazil

E 2.221 1.997 1.912 2.001

DP -0.111 -0.177 -0.096 -0.178

M -7.881 -7.720 -7.436 -7.763

DC -0.185 -0.165 -0.061 -0.183

MF -0.286 -0.014 -0.068 -0.294

DCD -0.130 -0.170 -0.057 -0.185

QD -0.553 -1.081 -0.413 -1.107

SOURCE: Model's results.

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4 - Final remarks

The previous analysis provided important insights into the debate on regionalinequality in a developing country. The simulations have supported the argumentthat interregional trade might act as a shock absorber of adverse terms of tradeshocks. However, shock absorption was shown to be asymmetric across thespace.

The results of the prototype model suggest that regions respond in differentways to external price changes in a context of balance of payments adjustment.It is clear that the type of trade involved, both internationally andinterregionally — reflected in our exercise by different values of the elasticitiesof substitution —, plays a prominent role. Moreover, it has been shown that thedegree of integration of the national economies helps to absorb external shocks,decreasing the adverse impacts of negative terms of trade shocks as the economybecomes more integrated. The role of interregional trade to the regional economiesshould not be relegated to a secondary place. One should consider interregionalinteractions for a better understanding of how the regional economies are affected,both in the international and in the domestic markets, once for the smallereconomies, the performance of the more developed regions plays a crucial role.

To further address these issues, the model might be extended in differentways. The first natural step is to use the existing structure with different valuesof the key parameters for the regions. In this sense, one can capture moreprecisely the differential trade structure of each region. Region-specific parametersshould be calibrated based on the type of trade involved, as it appears to be oneof the driving forces of the model results. Thus, a second step would involvesectoral disaggregation in order to capture the differential structural impacts withinthe region. Other extensions are also possible and might be useful for differentpurposes (e.g. introduction of factors of production, regional disaggregation,different closures relating to different adjustments), but the above exercise hasalready provided important insights into the understanding of the absorption ofterms of trade shocks at the sub-national level. However, the validation of themodel conclusions remains to be tested.

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Regional Absorption of Terms of Trade Shocks

Appendix

Equations

Real flows

CET transformation – 1st level

BAr ,=

CET transformation – 2nd level

Supply of composite good

Supply of composite domestic good

Demand of composite good

(DPF/DDS)r ratio

(M/DC)r ratio

),(1rrr

r

r PDPPEgDPE

=

),(2rrrS

r

r PDDPDPFgDDDPF

=

),(1rrr

r

r PMPDCfDCM

=

);,( 11rrrrr DPEGX θ=

BAr ,=

);,( 11rrrr

Sr DCMFQ σ=

);,( 22r

Drrrr DDMFFDC σ=

rrrrDr FGRGZCNQ +++=

=);,( 22r

Srrrr DDDPFGDP θ=

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Eduardo Amaral Haddad; Fernando Salgueiro Perobelli

(MF/DDD)r ratio

Nominal flows

Regional revenue equation

Federal revenue equation

Total income equation

Savings equation

Consumption function

Prices

Foreign import price equation

Foreign export price equation

BAr ,=

B=

),(2rrrD

r

r PDCMFPDDfDDMF

=

rrrDrrrr TRANSFYRTYQPQRTSRTAX +×+××= )()(

rDrrrrr

rrrrrrr

TRANSFQPQFTSYFTY

EPETEMERWMTMFTAX

−××+×+

+××+×××=

)()(

)()(

)()()( rrrrrrr PQFTRPQRTRXPXY ×+×+×=

r

rrrrr PT

SYFTYRTYYCN

)1( −−−×=

)1( rrr TMWMERPM +××=

)1( r

rr TE

WEERPE

=

rrrrrrr SFGSRGBRBWERYSYS +++×+×= )()(

Ar ,

B= Ar ,

B= Ar ,

B= Ar ,

B= Ar ,

B= Ar ,

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Regional Absorption of Terms of Trade Shocks

Output price equation

r

rrrrr X

DPPDPEPEPX

)( ×+×=

Composite domestic good price equation

BAr ,=

)1( rrrr FTSRTSPQPT ++×= BAr ,=

Composite domestic good price equation

r

Srrrr

r DPDDPDDDPFPDPF

PDP×+×

= BAr ,=

Composite good basic price equation

Sr

rrrrr Q

DCPDCMPMPQ

)( ×+×= BAr ,=

Composite domestic good price equation

r

Drrrr

r DCDDPDDMFPDCMF

PDC×+×

= BAr ,=

Interregional import good price equation

( )rssrsr DISTPDPFPDCMF ××= ηexp BAsr ,, = sr ≠

Equilibrium conditions

BAr ,=

Composite good marketSr

Dr QQ = BAr ,=

World current account balance

rrrrr EWEMWMBW ×−×= BAr ,=

Dr

Sr DDDD =

Regional good market

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Regional current account balance

rrrsr DPFPDPFMFPDPFBR ×−×= BAsr ,, =

s

r ≠

Equalization of interregional flows

sr DPFMF = BAsr ,, =

s

r ≠

Regional government eudget

rrrrrr PQRTRPTRGRTAXSRG ×−×−= BAr ,=

Federal government budget

rrrrrr PQFTRPTFGFTAXSFG ×−×−= BAr ,=

Real GDP

=

rrXX BAr ,=

Total foreign savings

=

rrBWBW BAr ,=

Total aggregate savings

=

rrSS BAr ,=

Total consumption

�=

rrCNCN BAr ,=

Savings = investments

rrr ZPTS ×= BAr ,=

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Regional Absorption of Terms of Trade Shocks

Variables

Endogenous variables

BR r – interregional savingsEr – foreign export goodDPr – supply of composite dom. (prod) goodDDS

r – supply of regional goodDDD

r – demand of regional goodDPFr – interregional export goodMr – foreign import goodDCr – demand of composite dom. (cons) goodQS

r – supply of composite goodMFr – interregional import goodQD

r – demand of composite goodRTAX r – regional tax revenueFTAX r – federal tax revenueYr – total incomeSr – aggregate savingsCN r – private consumptionPM r – foreign import pricePE r – foreign export pricePDPr – price of composite dom. (prod) goodPDDr – price of regional goodPDPFr – price of interregional export goodPDCr – price of composite dom. (cons) goodPDCMFr – price of interregional import goodPTr – sales price of composite goodPQr – basic price of composite goodPXr – basic price of outputER – exchange rateSRGr – regional government savingsSFGr – federal government savings

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SYr – savings rateS – total savingsBWr – foreign savingsX – national outputCN – total consumption

Exogenous variables

WMr – world price of foreign importsWEr – world price of foreign exportsTMr – foreign import tariff rateTEr – foreign export duty rateRTSr – regional indirect tax rateFTSr – federal indirect tax rateRTYr – regional direct tax rateFTYr – federal direct tax rateRTRr – regional govt. transfersFTRr – federal govt. transfersTRANSFr – intergovernment transfersRGr – regional govt. consumptionFGr – federal govt. consumptionZr – investmentBW – total foreign savingsXr – regional outputDISTrs – interregional distance

Parameters

srη – transportation parameter

2rθ – elasticity of transformation – 2nd level

1rθ – elasticity of transformation – 1st level

2rσ – elasticity of substitution – 2nd level

1rσ – elasticity of substitution – 1st level

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Pobreza: la lucha contra los dos "v": volatilidad y vulnerabilidad

Pobreza: la lucha contra los dos “v”:volatilidad y vulnerabilidad

Pierre Salama Profesor Titular de la Universidad de Paris XIII y Director de la Revista Tiers Monde.

ResumoUm dos fatos mais importantes “da recente história da pobreza” na AméricaLatina, no começo dos anos 90, é a dificuldade para reduzir, de um modosignificativo, o tamanho e a profundidade da mesma. Por que um fracasso globalé observado na luta contra a pobreza? O pensamento liberal, na sua versãofundamentalista, pode-se resumir na relação de causalidade seguinte:liberalização, crescimento, redução da pobreza. Foram ignorados, ousubestimados, os efeitos redistributivos. Um crescimento alto não foi alcançado,com raras exceções e durante períodos breves. Por último, foi profundamentesubestimada a volatilidade do crescimento. Na nossa visão, a resposta paraessa pergunta deveria ser procurada no destaque que foi dado às políticasfocalizadas e na continuação de tipo liberal adotada para sair da crise dos anos80. Só se pode modificar o curso da pobreza privilegiando a sua redução comovariável de ajuste e não a taxa de juros.

Palavras-chaveVolatilidade; vulnerabilidade; pobreza.

ResumenUno de los hechos sobresalientes de “la historia reciente de la pobreza” en AméricaLatina desde comienzos de los años noventa es la dificultad para reducir demanera significativa el tamaño y la profundidad de la pobreza. ¿Por qué seobserva un fracaso global en la lucha contra la pobreza? El razonamiento liberal,en su version fundamentalista, se puede resumir en el siguiente encadenamiento:liberalización, crecimiento, reducción de la pobreza. Se ignoraron o subestimaronlos efectos redistributivos. No se logró un crecimiento elevado, con raras

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Pierre Salama

excepciones y durante breves períodos. En últimas, se subestimó profunda-mente la volatilidad del crecimiento.A nuestro parecer, la respuesta a esta pregunta se debe buscar en el acento quese ha dado a las políticas focalizadas y en el mantenimiento de la vía liberaladoptada para salir de la crisis de los años ochenta. Sólo se puede modificar elcurso de la pobreza si como variable de ajuste se privilegia a la reducción de lapobreza y no a la tasa de interés.

Palabras-clavesVolatilidad; vulnerabilidad; pobreza.

Classificação JEL: N16 , I31, F43.

Artigo recebido em 30 jun. 2003.

Demasiado a menudo los estudios sobre la pobreza enumeran una serie detrivialidades: el aumento de los gastos en salud permite combatir la pobreza, eldesarrollo de la enseñanza, sobre todo de la enseñanza primaria da másoportunidades a las jóvenes generaciones en cuanto favorece una mayor movilidadsocial, el incremento de los gastos en infraestructura pueden permitir un accesomás simple y, se podría decir, menos costoso a las fuentes de empleo.1 Cabeobservar que a menudo estos deseos no pasan de ser deseos piadosos.

Uno de los hechos sobresalientes de “la historia reciente de la pobreza” enAmérica Latina desde comienzos de los años noventa es la dificultad para reducir

1 También demasiado a menudo los numerosos estudios que analizan el papel de la aperturacomercial (la reducción de los aranceles, la eliminación de las cuotas y de las autorizacionesadministrativas, la reducción de los subsidios a las exportaciones), la estabilidadmacroeconómica, la flexibilidad del mercado de trabajo y, finalmente, las políticas industrialesque podrían dar lugar a una buena asignación de los ingresos y a una entrada más sostenidade inversiones extranjeras directas. En general, estos concluyen que la liberación de losmercados es la mejor manera de reducir la pobreza. Aquí no discutiremos directamenteestos estudios, pues hemos optado por una investigación centrada en la vulnerabilidad. Parauna presentación, ver Hoekman et al. (2002).

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de manera significativa el tamaño y la profundidad de la pobreza. No obstante,con el fin de las hiperinflaciones y la reactivación del crecimiento, se podíaesperar una reducción sustancial y sobre todo duradera de la pobreza. El retornoa una estabilidad relativa de precios provocó en un primer momento una reducciónapreciable de la pobreza, pero ésta fue de corta duración y obedeciófundamentalmente a los efectos redistributivos que produjo, en esta ocasiónfavorables para las categorías sociales más pobres y más modestas.

Luego, la pobreza se mantiene en niveles elevados, se atenúa ligeramenteen períodos de alto crecimiento y aumenta fuertemente cuando sobreviene lacrisis económica, para luego estancarse durante las primeras etapas de larecuperación. ¿Por qué esta incapacidad para reducir duraderamente la pobreza?¿Por qué los pobres son tan vulnerables a los ciclos económicos? ¿Por qué elcrecimiento es tan inestable? El orden de las respuestas es importante. No sepuede responder a la primera pregunta ignorando la segunda ni responder lasegunda olvidando la tercera. A la inversa, responder primero la tercera preguntapermite responder la segunda y después la primera.

En ciencias sociales, a veces es más interesante usar el razonamiento acontrario. Para avanzar en el estudio de la vulnerabilidad de las capas másmodestas y pobres es necesario invertir la manera de plantear las preguntas. Envez de evaluar todo lo que habría que hacer — sin preguntar cuáles son lasrazones que hacen casi imposible, o demasiado difícil, ejecutar las medidasrecomendadas — es mejor analizar los márgenes de maniobra existentes ypreguntar cuáles son las posibilidades de aumentarlos modificando el modo decrecimiento, aceptando el retorno del Estado a lo económico, una insercióndiferente en las economía-mundo y, finalmente, una redistribución del ingreso.La pobreza persiste, a veces se pueden observar mejoras en el margen —menos desnutrición infantil, aumento de la esperanza de vida y más escolaridad,por ejemplo — pero las perturbaciones macroeconómicas agravan duraderamentela situación de las capas modestas y pobres, y los efectos positivos que podríantener los “programas focalizados” de lucha contra la pobreza son aniquilados porla alta volatilidad del crecimiento. De modo que conviene investigar las razonesde esta volatilidad puesto que ésta es la causa de las dificultades para reducirsignificativamente la pobreza, bien sea que se mida por el ingreso o se estimede manera cualitativa mediante indicadores no monetarios.

La fuerte volatilidad del crecimiento tiene su origen en el modo de salir dela crisis hiperinflacionaria de los años ochenta. Se creía que la liberalizaciónsúbita y de gran amplitud — la expresión big bang se utilizó con frecuencia —debía conducir no solamente al fin de la hiperinflación — lo que se consiguió —sino también a una recuperación económica sólida y duradera, lo que no sucedió.

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El razonamiento se puede resumir en el siguiente encadenamiento: liberalización,crecimiento, reducción de la pobreza. Se ignoraron o subestimaron los efectosredistributivos. No se logró un crecimiento elevado, con raras excepciones ydurante breves períodos. En últimas, se subestimó profundamente la volatilidaddel crecimiento.

La tasa de crecimiento es un “dato” producto de determinaciones diferentessegún los países y las épocas. Por esto es importante analizar los diferentesmodos de crecimiento e ir más allá de la simple medición macroeconómica. ElChad no se puede comparar con los Estados Unidos, ni Brasil con Francia,midiendo únicamente sus tasas de crecimiento. Los sectores responsables deeste crecimiento — externo o interno —, el consumo de bienes durables o debienes no durables o incluso de inversión y las demandas correspondientes quelos valorizan (capas medias altas o bajas, capas más modestas) difieren entreun país y otro. Para una misma tasa de crecimiento, los efectos sobre el empleo,la calidad del empleo y el nivel de vida de los pobres son diferentes. Los crucesde la “línea” la pobreza son más o menos importantes2 — habida cuenta de laprofundidad de la pobreza — de acuerdo con la importancia de su tasa y de suregularidad pero también de sus efectos distributivos específicos sobre tal ocual modo de crecimiento. ¿Es sorprendente que se tengan que recordar estas“trivialidades?” ¿Fueron olvidadas, aplastadas por la aplanadora del pensamientodominante durante tantos años? Sin retroceder hasta nuestros grandes clásicos,estas relaciones fueron demostradas magistralmente por la corrienteestructuralista de la CEPAL. ¿Quién no recuerda la concentración “horizontal” ydespués “vertical” del ingreso según que el modo de crecimiento fuera lasubstitución de importaciones livianas o pesadas? ¿Quién no recuerda losrazonamientos acerca del estancamiento, ciertamente criticables pero cuánfecundos, sobre la falta de correspondencia entre la dinámica de la oferta y ladinámica de la demanda, para analizar la evolución de la rentabilidad del capitalen los sectores dinámicos?

En suma, a cada modo de crecimiento corresponde su fragilidad, y la delas economías latinoamericanas es particularmente elevada y específica. Elcrecimiento puede entonces ser más o menos volátil de acuerdo según la manera

2 De hecho, según Wodon (2000) los efectos conjuntos del crecimiento y de la reducción delas desigualdades sobre la profundidad de la pobreza y sobre las desigualdades entre lospobres son más importantes que los efectos observados sobre la magnitud de la pobreza.El hecho es, no obstante, que el crecimiento no fue en general muy elevado en los añosnoventa, excepto en muy raras ocasiones, y que estuvo acompañado y alimentado por unacreciente desigualdad del ingreso (ver supra), excepto en raros casos.

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de negociar las restricciones internacionales, tanto en términos de competitividadcomo de circulación de los flujos de capitales, puesto que estas dependen delmodo de crecimiento que se elige.3

1 - Un régimen de crecimiento poco eficaz

Hace algunos años, Nora Lustig (1989) estimó cuántos años se necesitabanpara que en México se cerrara la brecha entre el nivel de remuneración queobtenía el 10% más pobre, luego el 10% siguiente, etc., y el salario mínimo de1977, próximo a la línea de pobreza. Lustig planteó dos hipótesis: el crecimientoes neutral desde el punto de vista de la distribución del ingreso (lo que suponeque el coeficiente de Gini se mantiene estable durante todo el período); la tasade crecimiento es constante, del 3% anual. Con estas hipótesis, la poblaciónque forma parte del primer decil (los más pobres) debía esperar 64 años paraque su ingreso alcance la línea de pobreza, la del segundo decil sólo tendría queesperar (…) 35 años y la del decil siguiente 21 años. Es decir, es vano esperarque el simple crecimiento dé una solución rápida al problema de la pobreza. Enotro artículo, Paes de Barros y Mendonça (1997) hicieron algunas simulacionesinteresantes para el Brasil. La hipótesis consistía también en suponer constantela distribución del ingreso (la de 1993) y calcular el número de años de crecimientocontinuo y regular para que diminuyera la magnitud de la pobreza. Los autoresobtuvieron los siguientes resultados: 10 años de crecimiento a una tasa del 3%anual permiten reducir la pobreza en ocho puntos, pero sólo dos puntos si elcrecimiento fuese tan sólo del 2%.4 Los autores después analizaron el efecto dela distribución del ingreso sobre la magnitud de la pobreza. El método consistíaen suponer que se mantiene el ingreso promedio del Brasil y atribuir al país unacurva de Lorentz de otro país menos desigual. Si Brasil tuviese la misma curvade Lorentz que Colombia, la pobreza disminuiría ocho puntos, la disminuciónsería de seis puntos si la curva adoptada fuese la de México. Con esta lógicatambién se puede calcular cuál debería ser la tasa de crecimiento durante diezaños — manteniendo la distribución del ingreso — para conseguir una reducciónequivalente a la que se obtendría adoptando la distribución del ingreso de otro

3 Aquí utilizamos la expresión modo de crecimiento en el mismo sentido que régimen decrecimiento.

4 En trabajos más recientes, Barros, Henriques y Mendonça (2000) muestran que para reduciren 12,5 puntos la pobreza en el Brasil se necesitaría un crecimiento del 4% anual durantediez años, a condición de que el perfil de las desigualdades no se vea afectado.

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país, manteniendo el ingreso promedio inicial. Para conseguir el mismo grado dedesigualdad que Colombia y México, sería necesario que el crecimiento fuesedel 2,8% y del 2,4% anual respectivamente. Finalmente, de acuerdo con lostrabajos de Wodon (2000, p. 7; 56), la elasticidad neta de la pobreza con respectoal crecimiento es de -0,94, lo que significa que para un crecimiento del 1%, lapobreza disminuye 0,94% si todo lo demás se mantiene igual (el mismo nivel dedesigualdad), o sea que si la magnitud de la pobreza era de 36,74 en 1996, lareducción correspondiente sería aproximadamente de un tercio de punto (0,34).Esta elasticidad es de -1,30 para la pobreza extrema. La elasticidad de la pobrezacon respecto a la desigualdad (medida por el coeficiente de Gini) sería de 0,74para los pobres y de 1,46 para los indigentes.5

El crecimiento no es muy elevado y es poco regular, como se puede ver enel Cuadro 1.

Cuadro 1

Evolución de la tasa de crecimiento del PIB en los principales países

AÑOS ARGENTINA BRASIL CHILE COLOMBIA MEXICO

1991 10.6 1 7.3 1.8 4.2 1992 9.6 -0.3 10.9 3.6 3.7 1993 5.9 4.5 6.6 4.4 1.8 1994 5.8 6.2 5.1 5.9 4.4 1995 -2.9 4.2 9 4.9 -6.1 1996 5.5 2.5 6.9 1.9 5.4 1997 8 3.1 6.8 3.3 6.8 1998 3.8 0.1 3.6 0.8 5.1 1999 -3.4 0.7 -0.1 -3.8 3.7 2000 0.8 4.4 4.4 2.7 6.6 2001 -4.4 1.5 2.8 1.4 -0.3 2002 -16 1.5 2.2 1.2 1.5

FUENTE: CEPAL. Estudios economicos 2000-2001. Santiago de Chile: CEPAL, 2002, de 1991 a 1999 y WORLD ECONOMIC OUTLOOK. Washington, DC: FMI, Sep 2000/2002.

5 72 observaciones en 12 países, desde 1986 hasta 1996. Para una discusión de los efectos

del crecimiento sobre la magnitud de la pobreza, ver Dollar e Kraay (2001), Wade (2002),Dhaneshwar, Leite e Charalambos (2002).

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La tasa de crecimiento es baja durante diez años: para el conjunto de laseconomías de América Latina y el Caribe, ascendió a 3.2% en promedio entre1991 y 2000, a 3.2% para Argentina, a 2.6% para Brasil, a 6.1% para Chile, a2.5% para Colombia y a 3.6% para México. El perfil de las desigualdades no esestable: la desigualdad entre el capital y el trabajo tiende a acentuarse, y ladesigualdad entre trabajo calificado y trabajo no calificado tiende a aumentar.Según las investigaciones de Székely y Hilgert (1999), la distribución del ingreso,limitada a los ingresos del trabajo, se tornó más desigual en once países decatorce durante la década de los noventa. En Bolivia, Chile, Costa Rica, Ecuador,El Salvador, Honduras, Uruguay y Venezuela, el aumento de la concentracióndel ingreso obedece en lo esencial al crecimiento de la desigualdad entre losprimeros nueve deciles, mientras que en Brasil y en Perú obedece al aumentode la participación relativa del ingreso de los percentiles 90 a 95, en Nicaraguay Panamá, de los percentiles 95 a 98, y en México y Paraguay del 2% más ricode la población (Székely; Hilgert, 1999, p. 28).

Una tasa de crecimiento baja asociada con una redistribución del ingresocada vez más desigual no puede permitir que muchos pobres franqueen la líneade pobreza. Los niveles que han alcanzado las tasas de crecimiento y la evoluciónde la distribución del ingreso no han tenido entonces casi ningún efecto favorablesobre la pobreza, excepto en los primeros años de estabilización económica. Untercer factor interviene en la magnitud de la pobreza: la regularidad del crecimiento.No obstante, el crecimiento no se ha regularizado, como se puede observar conla lectura del cuadro 1. El crecimiento ha sido particularmente volátil: crisis conun efecto tequila, muy aguda en México y en Argentina; de nuevo, una crisis en1998, esta vez sobre todo en Brasil y en Argentina; otra crisis en Argentina porla incapacidad de salir “por lo alto” del Plan de convertibilidad, y abandono encaliente de este plan a finales de 2001; grave retardo del crecimiento en México,en Brasil y en otras economías latinoamericanas en 2002. Según Rodrik (2001),la volatilidad de los años noventa es en promedio más baja que la de los ochenta.Ésta se inscribe en una tendencia ligeramente creciente, lo que no sucedió en elcaso de la década “perdida” donde la tendencia era más o menos francamentedecreciente. Su origen y su especificidad son también diferentes. En un casoestá ligada al servicio de la deuda en recursos propios de estos países, en elsegundo caso es generada por la elevada dependencia financiera característicade los nuevos modos de crecimiento que se pusieron en marcha con la salida delas crisis el hiperinflacionarias (Rodrik, 2001).

Las reversiones de coyuntura no sólo son frecuentes sino que, en general,son muy pronunciadas, de tal suerte que el perfil de evolución del PIB se asemeja

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más a los ciclos del siglo XIX europeo, con sus alzas y bajas absolutas, que alos del siglo XX, con sus aceleraciones y desaceleraciones. Más allá de lamediocridad del crecimiento, esta última característica es la que explica lavulnerabilidad particularmente elevada que sufren los pobres.

Se podría pensar ciertamente que los períodos de crisis no tienen másefecto que el de reducir el promedio de la tasa de crecimiento, de modo que lareducción de la pobreza sería menos elevada de la que habría ocurrido si elcrecimiento hubiese sido más alto. Esto es un error. La fluctuación del PIB noestá, en efecto, acompañada de una fluctuación inversa de la pobreza: cuandoel crecimiento disminuye, los pobres se ven afectados de manera más queproporcional por esta disminución, y cuando éste aumenta, el nivel de pobrezase mantiene estable, cuando no empeora, durante una duración más o menoslarga, siendo esta última función de los efectos redistributivos en curso.

Este fenómeno de histéresis se explica esencialmente por la acentuaciónde las desigualdades durante de la crisis, crisis cuyos efectos son multiplicadosmucho más que en los países desarrollados a causa de la baja protección socialde la parte mayor de la población. Los servicios públicos, entre ellos la educacióny la salud, sufren particularmente por la reducción del gasto que las autoridadesdeciden con el fin de recuperar el equilibrio presupuestal. La duración promediode la educación disminuye y su calidad desmejora. Los niños pobres frecuentanla escuela menos asiduamente y trabajan más. La búsqueda de actividades desupervivencia de corto plazo impuesta por la crisis, la menor duración y la menorcalidad de la educación, la reducción de la protección sanitaria y la ya de por síinsuficiente nutrición disminuyen, en ciertos casos de manera irreversible, lacapacidad de salir de la pobreza una vez llega la recuperación económica. Demanera más general, Hicks y Wodon (2001) muestran que la elasticidad de losgastos sociales, y más en particular de los programas focalizados, con respectoal PIB en las etapas de crecimiento y en las de recesión es mayor que 1, yconcluyen que si los gobiernos son en general “pro pobres” en las etapas decrecimiento,6 esta actitud cambia en las etapas de recesión; los gastos sociales

6 En cierta medida, éste fue el caso de los gobiernos del Brasil durante la presidencia deFernando H. Cardoso (1994-2002). La ONU otorgó el premio Mahbud ul Haq al Presidentede la República por su acción en la esfera social: menos pobres, que pasaron de 60 millonesa 56 millones; menos niños trabajando, 4 millones en vez de 5 millones; reducción delanalfabetismo, mayor acceso al alcantarillado y al agua potable; un sistema de “salud para lamujer” más consecuente, en especial en lo que respecta al parto; reducción de la mortalidadinfantil y un sistema de pensiones más eficaz para los campesinos. La miseria es, noobstante, tan profunda que el periódico Veja (2002) empleó una famosa frase del dictadorMedici que recuerda la pobreza del Nordeste: “la economía va bien, pero al pueblo le va mal”.

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disminuyen en el mismo momento en que los pobres sufren más fuertemente larecesión que las demás capas, mientras que deberían aumentar. Por un 1% dereducción del PIB per cápita, los programas focalizados bajan 2% por cadapobre, la mitad de este efecto proviene de la reducción del PIB, y la otra delaumento del número de pobres (Hicks; Wodon, 2001, p. 109).

El aumento de la magnitud de la pobreza más que proporcional con respectoa la reducción del PIB, más el efecto de histéresis cuando se recupera elcrecimiento, dificultan entonces la reducción duradera de la pobreza. El Cuadro2, tomado del estudio de Lustig (1989), revela este fenómeno.

Como se puede observar, la pobreza aumenta fuertemente con la crisis yno tiende, pese a uno o dos años de recuperación económica, a disminuir. Tiendea aumentar y es necesario un período más largo y sostenido de crecimientopara que empiece a descender.

Esta acentuada volatilidad del crecimiento es la que explica la incapacidadpara reducir de manera significativa la magnitud y la profundidad de la pobreza.No es suficiente, entonces, enumerar las medidas sociales deseables quepodrían aliviar los sufrimientos de los pobres aumentando bien sea su nivel devida (redistribución monetaria), bien sea mejorando sus capacidades para salirde la trampa de la pobreza (crecimiento de los gastos públicos en salud,educación, vivienda e infraestructura) que, por cierto, tomadas una a una puedenser eficaces a condición de que también sean el producto de una participaciónde los pobres en las decisiones y que no conduzcan a un acto de caridad quereduzca a los pobres a un estado de pasividad.7 Es necesario afrontar la cuestiónde saber por qué no se han puesto a la altura en la que deberían estar paracompensar los efectos perniciosos de la volatilidad del crecimiento sobre elnivel de vida de los pobres y las capas humildes, y por qué no se pueden poner,excepto algunas de ellas, excepcional y ocasionalmente.

7 La participación de los pobres en su propia superación es esencial (democracia participativa)y si no tiene lugar, la pasividad (buscada en forma deliberada?) será un obstáculo para elmejoramiento de su situación.

Esta constatación — diferente de la del jurado de la ONU presidido por Stiglitz —, pero compar-tida por la mayoría de la población, explica el éxito de la oposición en las elecciones. Señalemosfinalmente que las cifras presentadas se refieren al período 1994-2002 y, por tanto, incluyenel final de la etapa hiperinflacionista. Sin embargo, estos son los dos primeros años quebeneficiaron a los ingresos de las categorías más pobres a causa de los efectos redistributivosproducidos por una reducción más acentuada de la inflación. El período posterio no secaracteriza por una disminución significativa de la pobreza, ésta aumentó ligeramente(Destremau; Salama, 2001) con la crisis de 1998-1999 y con la recesión de 2001-2002.

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Más allá de la supuesta sinceridad de muchos discursos generosos,conviene recordar que según algunos estudios (Hicks; Wodon, 2001) realizadosen seis países (Argentina, Chile, Bolivia, Costa Rica, México, Panamá y laRepública Dominicana), se puede observar una elasticidad del gasto social conrespecto el PIB mayor que la unidad durante las fases de crecimiento, pero éstaes más baja durante las fases de recesión. De nuevo, no se trata aquí de losgastos sociales tomados en su generalidad.8 Como subrayan estos autores,cuando el crecimiento del PIB per cápita disminuye un punto, los gastos que sededican a cada persona pobre disminuyen dos puntos. Se puede pensar que lamitad de este descenso obedece a la reducción del PIB per cápita y que la otramitad es el resultado del aumento del número de pobres debido a la crisis. Lavulnerabilidad de los pobres a la crisis es así tanto más alta en cuanto que laspolíticas que siguen los gobiernos en las recesiones y las crisis suelen ir encontra de los pobres. Consideremos la Gráfica 1 donde se destaca el fenómenode histéresis: la curva A representa la evolución del PIB, la curva B la de lamagnitud de la pobreza. La curva B tiene un segmento plano — en el mejor delos casos — durante un tiempo “t” mientras que la curva A es de nuevo creciente.Lo ideal sería poder modificar la forma de estas curvas. La curva A podría sercreciente en vez de presentar este aspecto cíclico; los efectos de la volatilidadsobre la pobreza serían, por definición, anulados por este hecho.

Pero no es fácil controlar el crecimiento para que sea regular. La volatilidadno es una acción del Príncipe, o lo es muy poco. Las políticas económicasestán encerradas dentro de sus propias restricciones y éstas provienen del modoespecífico de inserción en la economía-mundo y, para ser más precisos, de laadopción del paradigma liberal por la mayoría de los gobiernos. Estas restriccionesson de orden financiero más que comercial. Tal como lo demostraremos, lavolatilidad es el resultado de la liberalización súbita y brutal de los mercados,sin ninguna preparación, y para usar un término de McKinnon, del hecho dehaber optado por una liberalización de tipo big bang9 y no por una apertura gradual,secuencial, algo así “como marchar a través de un campo minado: el pasosiguiente puede ser el último”. Hoy también parece cada vez más difícil suavizarel crecimiento sin cambiar el modo de crecimiento. Queda el “margen de maniobra”sobre la curva B. Se pueden definir dos tipos de intervención complementarios:

8 Estas evaluaciones parecen optimistas cuando se conoce la diferencia que existe y puedeexistir entre gastos presupuestados y gastos ejecutados, sobre todo cuando se ha convenidoque una parte de estos gastos sea “desviada” hacia otras destinaciones, como se haceexplícitamente en el Brasil.

9 Sobre este punto, ver el Capítulo 6 — Políticas Secuenciales y Terapias de Choque — denuestro libro (Salama; Valier, 1994).

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el primero consistiría en distribuir el ingreso a los más pobres mediante unareforma fiscal. Por razones de equidad, esto parece deseable aunque con muchafrecuencia se han subrayado sus efectos perversos potenciales. La necesidadde dicha reforma hoy parece ser aceptada, lo que está en discusión son susmodalidades. Se entiende que el obstáculo es sobre todo de orden político y escierto que la perspectiva de dicha redistribución “agita” a los mercados que,ayudados por la especulación sobre la tasa de cambios, buscan impedir estareforma. El segundo consistiría en mejorar las “capacidades” de los pobres parasalir de la pobreza adoptando una política audaz de gastos sociales en salud yeducación. Es cierto que dicha medida tendría pocos efectos de corto plazo sila medición de la pobreza se limita a criterios monetarios (línea de pobreza),excepto que permitiría atenuar los efectos de una miseria creciente sobre lasalud de los pobres evitando que se deteriore aún más. Sus efectos a medianoy a largo plazo son más importantes porque en cuanto mejoran las “capacidades”,hacen posible una mayor movilidad social y ofrecen por ello una mayor probabilidadde salir de la pobreza, bien sea que se defina mediante criterios monetarios omediante criterios más cualitativos (necesidades básicas insatisfechas oindicadores de pobreza humana del PNUD). En este orden de ideas se podríadecidir, por ejemplo, que los gastos sociales aumenten dos puntos cuando elcrecimiento disminuya un punto. En los momentos de crisis, la variable de ajusteno debería ser entonces la tasa de interés ni la reducción del gasto público paraobtener el apoyo de las instituciones internacionales sino, al contrario, el aumentode los gastos sociales para amortiguar los efectos negativos de la crisis sobrelas capas más vulnerables y favorecer la movilidad social (ver supra).

Gráfica 1

Evolución comparada del PIB (A) y de la magnitud de la pobreza (B)

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2 - Un modo de inserción en la economía-mundo desfavorable para los pobres

Las modos de crecimiento de las grandes economías latinoamericanastienen un punto en común: la dependencia financiera se ha vuelto exorbitante yse ha traducido en una aguda fragilidad desde comienzos de los noventa.10 Estesería el origen de la crisis y el aspecto sobresaliente de la coyuntura en elmediano plazo. Según Rodrik (2001), la volatilidad de los movimientos de capitalesexplicaría el 50% de la volatilidad del PIB en los años noventa contra el 20% enlos años ochenta, década particularmente volátil. Se podría pensar en la imagende un crecimiento tipo montaña rusa, con la particularidad de un acortamientode los ciclos y una amplitud creciente. A continuación expondremos las razonesque fundamentan esta caracterización del régimen de acumulación, luegodiscutiremos, a la luz de la evolución reciente, la inestabilidad ligada a esterégimen de acumulación.

2.1 - La balanza comercial tiende a volverse superavitaria

La salida de las crisis hiperinflacionarias fue exitosa porque la tasa decambio volvió a ser creíble. Esta credibilidad se puede acreditar a las políticasliberales adoptadas. No obstante, la estabilidad relativa de la tasa de cambionominal y el rápido fin de la inflación se tradujeron en una fuerte apreciación dela moneda nacional en términos reales. Nos encontramos ante la paradoja

10 La dependencia financiera no es nueva, pero anteriormente las economías estaban muchomás cerradas a la economía-mundo. Los derechos de aduana disminuyeronconsiderablemente, la realimentación de la balanza de pagos pasa todavía por la posibilidadde endeudarse en el extranjero, pero la gran diferencia con el período anterior a 1981 esque las entradas de capitales no llegan, o pequeño, en forma de créditos bancarios aAmérica Latina, sino en forma de emisión de bonos, de acceso a las bolsas locales y deinversiones directas masivas. Por esta razón, la “realimentación” entre entradas y salidasde la balanza de pagos pasa hoy en día por la manipulación de las tasas de interés,variable que se volvió clave en las políticas económicas, en cuanto dependen de losefectos negativos que éstas puedan tener sobre la inversión y el crecimiento, por ejemplo(ver supra). En este sentido, la dependencia financiera adquiere un aspecto cualitativamentenuevo.

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siguiente, por una parte, la liberalización financiera, la entrada masiva de capitalestiende a apreciar la tasa de cambio real, ya fuertemente apreciada por la reducciónde la inflación paralela a la estabilidad de la tasa de cambio nominal; por otraparte, la apreciación de la tasa de cambio real con respecto al dólar frena elimpulso de las exportaciones al mismo tiempo que estimula las importaciones,tanto más en cuanto que el comercio está geográficamente diversificado (Brasily Argentina, a diferencia de México cuyo comercio está concentrado en Américadel Norte) y el dólar se aprecia con respecto a las demás divisas claves. Despuésde haber sido fuertemente positivo en los años ochenta, gracias sobre todo alos subsidios a las exportaciones y a la protección de la que se beneficiaron lasimportaciones, el saldo de la balanza comercial se tornó fuertemente negativodebido a la liberalización de los mercados y a la apreciación real de la tasa decambio. Este saldo tiende a invertirse, gracias a fuertes devaluaciones y alelevado aumento de la productividad del trabajo. Esta situación contrasta entoncescon la que experimentaron estos países en los primeros años de la liberalizaciónsúbita y general de sus economías. Sin querer deducir necesariamente unarelación de causalidad, no deja de ser interesante señalar que la relación entre elcrecimiento de las exportaciones y el crecimiento del PIB no corresponde a laque intentan establecer las organizaciones internacionales: a un bajo crecimientodel PIB corresponde un alto crecimiento de las exportaciones pero a un altocrecimiento del PIB corresponde un bajo crecimiento de las exportaciones.

En los años noventa, la apertura rápida de las fronteras condujo a unadestrucción-reestructuración más o menos importante de los sistemas deproducción de las economías latinoamericanas. Algunos tendieron a “primarizarse”considerablemente, otros se especializaron en la exportación de productosmanufacturados de ensamblaje, con muy poco valor agregado, otros buscaronuna vía intermedia, caracterizada por una desverticalización11 de su línea deproducción más o menos pronunciada, aunque sin dotar a su aparato productivodel esfuerzo en investigación y desarrollo correspondiente. Todos experimentaronuna apertura importante: las exportaciones se quintuplicaron en México, setriplicaron en Argentina y se duplicaron en Brasil entre 1985 y 2000.12 La rápidaexpansión de las exportaciones manufactureras, en las economías que nosiguieron la vía de la “reprimarización”, y algunas veces la transformación de su

11 La desverticalización se asemeja a la substitución de importaciones: segmentos deproducción — bienes intermedios, bienes de capital — que antes se producían localmenteson reemplazados por importaciones más eficaces porque incorporan tecnologíasrecientes.

12 Para relativizar, recordemos que las exportaciones de China se multiplicaron por 15 entre1980 y 2000.

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contenido, no son suficientes para compensar el aumento de las importacionesdurante las etapas de alta coyuntura, pero la brecha tiende estructuralmente areducirse.

Aunque este movimiento de apertura sea paralelo al que en promedioexperimentó el conjunto de las economías y que se traduzca en una modernizaciónparcial de los equipos de producción, sería erróneo concluir apresuradamenteque las economía latinoamericanas dejaron de tener problemas de balanzacomercial. Es necesario hacer algunas salvedades: el paso de un saldo negativoa un saldo positivo en la balanza comercial aún depende considerablemente delnivel que alcance la tasa de crecimiento: el elevado saldo positivo de Brasil en2002 (cercano a 10 mil millones de dólares) se explica por la coyuntura recesivade 2001 y 2002 (1,5% de crecimiento en promedio), el de Argentina linda con lacaricatura debido a la caída del 16% en el PIB.13 Una explicación del avance realpero modesto de la expansión de la exportaciones se puede encontrar en lacombinación de la debilidad de la tasa de formación bruta de capital fijo, lasformas que adoptó el ascenso por influencia de la inversión extranjera, el pocoesfuerzo en investigación y desarrollo y el grado de sofisticación también bastantebajo de las exportaciones, conjunto de factores que se inscribe en un contextode abandono más o menos pronunciado de las políticas industriales.

Examinemos brevemente cada uno de estos factores. La tasa de formaciónbruta de capital fijo, entre dos y tres puntos más alta que la de los años ochenta,sigue siendo baja y sólo llega a casi tres quintas partes de la tasa de losprincipales países del Sudeste Asiático. La inversión extranjera tuvo un fuerteimpulso en los últimos diez años hasta el punto que en un país como Brasil, elporcentaje del sector productivo que corresponde a la internacionalización delcapital es dos veces mayor que el de los Estados Unidos. Las empresasextranjeras del sector manufacturero son, en términos equivalentes, másexportadoras que las empresas nacionales. También son mas importadoras.Pero a diferencia de México, donde gran parte de la inversión extranjera directa,casi la mitad, se dirige a las industrias de ensamblaje (“maquiladoras”), la inversiónextranjera directa en Brasil se dirige al sector de servicios más que al de laindustria, y ese sector no hace exportaciones sino importaciones.14 Pese a un

13 La balanza comercial tendrá un superávit de 12 mil millones de dólares en 2002 debido enlo esencial a una fuerte caída de las importaciones (-66%) y a un ligero retroceso de lasexportaciones (-5%). Recordemos que en Argentina las importaciones no tienen la mismanaturaleza que las exportaciones, centradas en la agroindustria y los productos energéticos.

14 En Brasil por ejemplo, el 64,7% de la inversión se dirigió al sector industrial en 1995, el22,7% en 1996, el 13,3% en 1997, el 11,9% en 1998, el 26,6 %en 1999 y el 17% en 2000,

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avance evidente, el grado de sofisticación de los bienes industriales exportadossigue siendo bajo. Si los bienes exportados se descomponen en cuatro categorías,de acuerdo con su grado de crecimiento: muy dinámicas, dinámicas, pocodinámicas y estacionarias, el comercio mundial creció, entre 1990 y 1998, el186% para la primera categoría, en la que se concentran los bienes de altatecnología (computadores, telecomunicaciones, medicamentos, etc., aunquetambién otros bienes menos sofisticados, como los tejidos para ropa interior), el96% para la segunda, y el 67% y el 49% para las dos últimas.

Cuando se comparan las exportaciones de estos grupos de bienes conrespecto a su crecimiento mundial, se observa que la balanza para el conjuntode América Latina es preocupante: las exportaciones latinoamericanas haciaAmérica Latina disminuyen el 8% con respecto al comercio mundial del grupode bienes más dinámicos que se realiza en esta región. Las exportacioneslatinoamericanas a los países industrializados aumentan el 93% con respecto alcrecimiento del comercio mundial de esta categoría de bienes que se destina aesta región. Pero este último aumento obedece esencialmente a la altaparticipación de las industrias de ensamblaje de El Salvador, Honduras, Guatemalay México. En Brasil, donde este tipo de industrias tiene poca presencia, lascifras son elocuentes: -12% y -79% para los bienes del primer grupo, esta pérdidade “participación de mercado” se produce en los países más industrializados deAmérica Latina (Benavente, 2002). Estos resultados se unen a los que obtuvo laUNCTAD (2002). Cuando se examinan los 20 productos exportados más dinámicosentre 1980 y 1998, se observa que la participación de las exportaciones de lospaíses “en vías de desarrollo” en el comercio mundial pasa del 14,1% al 28,7%,lo que parece positivo. Esta impresión parece verse confirmada cuando se advierteque de los 20 productos más exportados por este grupo de países, 8 pertenecena los veinte productos más dinámicos a nivel mundial (la relación es de 15 a 20para los países industrializados).

Pero cuando se analizan las cifras por grupos de países, los resultadosson diferentes: las economías de América del Sur (por definición, sin México niAmérica Central) sólo exportan dos productos de esos 20: bebidas no alcohólicasy adornos; los computadores y el equipo electrónico son exportados ante todopor las economías asiáticas. La constatación es aún más grave cuando seanaliza más de cerca el caso de México. Si los productos se definen medianteuna clasificación de 3 “dígitos”, los bienes de “alta tecnología y elevada

después de un ascenso en 2001, con un 32,80% (SOBEET, 2002). Recordemos, sinembargo, que a partir de 2001 se observa una caída bastante pronunciada de la inversiónextranjera directa.

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calificación de la mano de obra”, como computadores, telecomunicaciones,productos farmacéuticos etc., que se caracterizan por una fuerte expansión delas exportaciones de los países en desarrollo, son también de hecho, en sumayor parte, bienes producidos en las fábricas de ensamblaje. Más precisamente,se trata de segmentos que utilizan intensamente la mano de obra, de líneas deproducción de bienes de alta tecnología que una descomposición más fina habríapermitido mostrar más nítidamente. Muchos bienes de alta tecnología no lo sonen realidad, un aspecto engañoso que a veces proviene de una clasificacióninsuficientemente precisa. Tal es el caso de México (con excepción de la industriade automóviles) y de la mayoría de los países de la ASEAN. A diferencia deCorea del Sur, estos países se han orientado a este tipo de especialización sinoptar por una política industrial que busque integrar nacionalmente los segmentosdeslocalizados por las empresas de los países industrializadas (Jomo, 2001),manteniendo un valor agregado localmente muy bajo, y abandonando el esfuerzode investigación y desarrollo o relegándolo a las zonas especiales de altatecnología.

A partir de un análisis fino de las experiencias de algunos países comoCorea del Sur y Taiwán, se puede deducir que el debate no es entre libre cambioy proteccionismo o, aún peor, entre libre cambio y autarquía, como lo hace creerla literatura dominante al presentar las ventajas del libre cambio derivándolas deuna teorización tipo HOS, sino entre proteccionismo rentista (“búsqueda derentas”), proteccionismo colbertista (política industrial) y libre cambio. Es ciertoque el proteccionismo siempre tiene esta doble faceta, pero la faceta dominantevaría según las épocas, las circunstancias y los gobiernos. No se trata entoncesde negar las ventajas de una apertura sino de subrayar hasta qué punto debeser controlada. Se trata de que, si es controlada, las importaciones de bienes deequipo y de productos intermedios pueden contribuir a la eficiencia y a lamodernización mediante la incorporación de nuevas tecnologías, y lasexportaciones se pueden orientar hacia bienes cada vez más sofisticados dealto valor agregado y con alta elasticidad de la demanda con respecto al ingreso.Si no se adoptan dichas medidas de política industrial, es entonces lógico observarque, en América Latina, una fuerte expansión de las exportaciones está asociadacon un bajo crecimiento del PIB y viceversa.

En suma, el avance de las exportaciones en América Latina es paralelo aun movimiento más general: el comercio mundial crece en promedio másrápidamente que el PIB en todo el mundo. Esto se traduce en una modernizaciónde la mayor parte de las economías latinoamericanas, pero, a su vez, revela elretraso acumulado durante varias décadas y, al contrario, la necesidad de unapolítica industrial selectiva, la única capaz de dar un impulso consecuente a

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este movimiento, impulso tanto más necesario en cuanto que la dependenciafinanciera aumentó en los años noventa. La consecución de un saldo positivomás duradero y consecuente en la balanza de pagos, fuera de las fases derecesión — podrá entonces atenuar la vulnerabilidad financiera y sus efectosperniciosos sobre las capas más pobres de la población.

2.2 - La pareja necesidades y capacidades de financiación cada vez más problemática

El déficit de la balanza en cuenta corriente se mantiene en un nivel muyelevado: -2,2% del PIB en promedio entre 1990 y 1994, -2,6% entre 1995 y1997, y -3,4% entre 1998 y 2000 (CEPAL, 2002). Las causas de la tendenciaascendente se deben buscar en la evolución comparada de los diferentes rubrosde esta balanza. A continuación analizamos la evolución del saldo de la balanzacomercial — primero fuertemente negativo, luego una mejora apreciable en losúltimos años — y los límites de esta evolución. El saldo de la balanza de turismose torna fuertemente negativo en el Cono Sur cuando la moneda se aprecia; losgastos ligados a la remisión de dividendos (a los que convendría añadir los delas utilidades que figuran en otra línea de la balanza de pagos) de las empresasmultinacionales aumentan a medida que aumenta la internacionalización delcapital, así como los que se relacionan con la compra de patentes extranjeras.Este aumento presenta aspectos paradójicos: por una parte, fluyen las inversionesextranjeras directas, Brasil es un caso impresionante puesto que estas inversionesse multiplicaron por diez en una década, en favor del establecimiento de zonasde integración (ALENA y MERCOSUR principalmente) y de un vasto programade privatizaciones; por otra parte, se observan enormes salidas de capitales enforma de dividendos y utilidades repatriadas. Es cierto que Argentina es un casoextremo — ver recuadro 1 — principalmente a causa del régimen de cambiosvigente desde 1991 hasta finales de 1991, pero cabe preguntar cuál es el sentidode esta evolución. Por último, aumentan los gastos ligados a un servicio de ladeuda externa en pleno ascenso: los intereses son relativamente estables comoporcentaje de las exportaciones, pero fuertemente crecientes; la amortización(situada en otra línea de la balanza) aumenta y el servicio de la deuda comoporcentaje de las exportaciones aumenta algo más de diez puntos en los diezaños que van de 1990 a 2000.

A pesar de la mejora del saldo de la balanza comercial, el saldo de labalanza en cuenta corriente se mantiene fuertemente negativo, a excepción deArgentina en 2002 (10,8% según las proyecciones del FMI). El déficit de la

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balanza en cuenta corriente no indica más que una parte de la necesidad definanciación puesto que a esta última se debe añadir la amortización de la deuda.

El déficit de la balanza en cuenta corriente, al que se añaden las salidascada vez mayores por concepto de la amortización del capital tomado enpréstamo y de las utilidades repatriadas (ver infra), constituye una necesidad definanciación que sólo se puede satisfacer con entradas masivas de capitales.Éstas pueden haber sido muy importantes y, en ciertos momentos, permitir unaumento de la reservas internacionales cuando la capacidad de financiaciónsupera a las necesidades de financiación. Esta situación contrasta con la de losaños ochenta, cuando las economías latinoamericanas se mantuvieron alejadasde los mercados financieros internacionales, a partir de 1982, y tuvieron queencontrar medios para financiar el servicio de su deuda externa con recursosinternos. Los saldos de la balanza comercial fuertemente positivos permitieronfinanciar gran parte del servicio de esta deuda. Es esa época, las transferenciasnetas de capitales se efectuaron, por tanto, en favor de los países desarrollados.Ese no es el caso hoy en día, fuera de los períodos de fuerte especulaciónsobre la tasa de cambios.

La variable de ajuste que más puede influir en una parte de los movimientosde capitales y hacer corresponder las necesidades de financiación con lacapacidad de financiación es la tasa de interés. El aumento de las tasas deinterés, o su mantenimiento en un nivel relativamente elevado, es una condiciónnecesaria pero no suficiente para atraer el volumen de capital que hace falta; poruna parte, hace más vulnerable a los bancos reduciendo el valor de sus activose incitándolos a otorgar malos créditos y a elevar el riesgo de incumplimiento delos deudores.15 Por otra parte, eleva notablemente el costo de los préstamos y,por este hecho, debilita a los Estados frente al Estado federal; aumenta el déficitpresupuestal, que no se puede enjugar con una reducción del gasto público, eincita a revisar a la baja los proyectos de inversión de las empresas, por dosrazones: una, ligada al costo, la otra, a la posibilidad de arbitrar en favor de lacompra de bonos de tesorería más rentables que la misma inversión. El efectorecesivo del aumento de las tasas de interés genera un círculo vicioso: todoaumento de estas tasas agrava las dificultades presupuestales, conduce a unarecesión, lleva a un nuevo aumento de la tasa de interés y a una devaluación/

15 La vulnerabilidad de los bancos aumenta cuando los depósitos no mantienen el mismo ritmodel crecimiento de las tasas de interés, y su capitalización se vuelve más apremiantecuando aparece la crisis. El costo de recapitalizar a los bancos y socializar sus pérdidasalcanza entonces magnitudes considerables.

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16 Si todo lo demás se mantuviese igual, las sumas obtenidas por las privatizaciones seríansuperadas por las repatriaciones desde 2004.

17 La evolución de estos datos fue muy negativa en 2001 con la transformación de la recesiónen crisis abierta y el abandono consecutivo del plan de convertibilidad.

/depreciación de la tasa de cambio. Este movimiento autosostenido llega aser muy difícil de detener y sus efectos en términos de vulnerabilidad socialson considerables.

Recuadro 1Argentina: un caso extremo

Entre 1993 y 2000, los 200 las empresas más grandes del país ganaron28,441 miles de millones de dólares. El 57% de estas ganancias provenían de26 compañías privatizadas (FLACSO, 2002). En los cinco últimos años, ladesinflación fue del 4%, mientras que el aumento de los precios de los serviciopúblicos fue del 22%. Según los trabajos de Azpiazu (2001), por cada dólarque las 500 empresas privatizadas más grandes ganaron entre 1992 y 2000se expatriaron 80 centavos.16 En 2000, únicamente a título de utilidades ydividendos se repatriaron más de 1600 millones de dólares, y entre 1992 y2000 se enviaron 8900 millones de dólares a las casas matrices, es decir, el55% de las entradas por concepto de privatizaciones. Cuando se considera elconjunto de las repatriaciones netas de estas utilidades y dividendos, ademásde las 500 empresas privatizadas más grandes, las cifras son las siguientes:2066 y 2524 millones de dólares en los años 1997 y 1998 (+6,8%), a los quecabe añadir los intereses netos de la deuda, que pasaron de 6166 a 7608millones de dólares entre esos mismos años, y los servicios netos ligados ala balanza comercial, que pasaron de 4178 millones a 4281 millones de dóla-res. La suma de estos déficit corresponde aproximadamente a más de lamitad del valor de las exportaciones. La reinversión de utilidades por parte delos inversionistas extranjeros corresponde a un tercio, quizá a un cuarto, delas sumas remitidas al extranjero por dividendos y utilidades repatriadas. Lascifras brutas son elocuentes: en 1997 se remitieron al exterior 2842 millonesde dólares y 3353 millones de dólares en 1998, mientras que la reinversión deutilidades ascendió a 815 y 697 millones de dólares respectivamente es esosmismos años (Damill; Kempel, 2000).17 Las restricciones al aumento de losprecios de los servicios públicos decretadas en 2002, cuando los precios

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aumentaban rápidamente y la obligación de seguir pagando las deudas exter-nas en dólares mientras que el peso se depreciaba fuertemente, explican lasenormes pérdidas de estas empresas en 2002, pérdidas que fueron muchomayores que las ganancias de la década.

Según los trabajos de Damill y Kempel (1999), el saldo acumulado en labalanza de la cuenta de capital y financiera de la balanza de pagos atribuible algobierno, cercano al 50% del total de los recursos que obtuvo el país en losperíodos 1992-1998 y 1997-1998, además de los que obtuvo el sector privadono financiero, es el origen de las salidas masivas por concepto de ingresos dela inversión y de la deuda privada. Los años en los que el sector privado nofinanciero no llegó a captar suficientes recursos del exterior, el endeudamientopúblico compensó estas insuficiencias. Tal es el caso en 1995 y 1996, años decrisis, y de salida de capitales en 1995. Los préstamos internacionales agenci-ados por el Estado son, por consiguiente, los que permiten “cerrar” la brechaentre las necesidades de financiación y la capacidad de financiación del sectorprivado. El mejoramiento de los elementos fundamentales de la economía, ysobre todo del equilibrio fiscal, podría en abstracto aumentar la credibilidad delgobierno ante las instituciones internacionales, para reducir el “riesgo país”,bajar las tasas de interés y ser fuente de entradas de capital, pero el efectorecesivo provocado por esta política de contención del gasto público y laincapacidad del sector privado no financiero para hacer frente a las salidas decapital complicarían la situación. En conclusión, se trata de una bella paradoja,el equilibrio fiscal entra a oponerse a los intereses del sector privado nofinanciero; el sector privado necesita déficit del Estado para procurarse en elextranjero los recursos que le son indispensables. Es evidente que eso nosucedería si este sector reinvirtiera sus ganancias, desarrollara actividadesproductivas que aumenten las exportaciones y, en una palabra, si losempresarios fueran un poco menos rentistas. Paradoja en parte explicable porel plan de convertibilidad: la falta de competitividad de la industria y el contextorecesivo subsiguiente no incitan a invertir para aumentar la capacidad deproducción, pese a las elevadas tasas de rentabilidad y, a la inversa , elmantenimiento de una tasa de cambio real apreciada favorece la salida decapitales.

El funcionamiento de la economía se orienta hacia lo que Keynes llamóuna “economía de casino”: las necesidades de financiación exigen entradas decapitales. Lo que es importante es la relación entre la necesidad de financiacióny la capacidad de financiación, no la necesidad ni la capacidad por separado.Las necesidades de financiación pueden disminuir, sobre todo si el saldo de la

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balanza comercial se torna fuertemente positivo, pero si la brecha con respectoa la capacidad de financiación se amplía, las tensiones descritas aumentan. EnBrasil, por ejemplo, las necesidades de financiación, aparte de la amortizaciónde los préstamo de corto plazo, pasaron de poco menos de 26 mil millones dedólares en agosto de 1996 a 80,5 miles de millones en agosto de 1999, seredujeron a 54 miles de millones en agosto de 2000, se remontaron a 65 milesde millones un año más tarde y disminuyeron de nuevo a 47 miles de millonesen agosto de 2002 (BRADESCO, 2002). El nivel de las necesidades definanciación, aunque más bajo que en el pasado, no encuentra o encuentra condificultad una capacidad de financiación suficiente, debido ante todo a la fuertereducción de la entrada de capitales a título de inversiones extranjeras directas,por el temor de los inversionistas — alimentado por esta situación — y por lospeligros que podría representar un cambio de gobierno. La conclusión es simple:las necesidades de financiación pueden disminuir pero las tensiones en el mer-cado de cambios pueden aumentar. Se arriba a esta situación cuando los mer-cados financieros desconfían de la llegada de un nuevo gobierno y, por ello,intentan presionar al equipo económico para que adopte una política económicaconforme a sus intereses, pero también se presenta cuando los países industri-alizados de donde provienen los fondos entran en recesión y sus bolsas entranen crisis (alta volatilidad, tendencia fuertemente decreciente).

De manera general, cuando el funcionamiento de la economía de casino nosuscita temores de insolvencia, los déficit son compensados por entradas decapitales. Los déficit y las entradas van en el mismo sentido y las reservasinternacionales aumentan. La apreciación de la tasa de cambio nominal es máso menos elevada. Por una parte, dificulta las exportaciones — no sólo de lasmaterias primas cuyos precios se expresan en divisas —, facilita lasimportaciones de bienes de equipo, lo que aumenta la eficiencia del capital porpeso, real, etc., invertido, y, sobre todo, facilita las salidas de capitales porconcepto de dividendos y utilidades repatriadas de las empresas multinacionales.Este último aspecto de la liberalización del mercado cobra un sentido particular.Fuera del período de crisis financiera, hay una tendencia general a la apreciaciónde la tasa de cambio real por la declinación de la tasa de cambio nominal.18

18 Se sabe que con el Plan de convertibilidad de la Argentina era imposible la apreciación de latasa de cambio real por este medio, puesto que la tasa de cambio nominal era jurídicamentefija. La apreciación de la tasa de cambio real fue el resultado de la absorción, en un períodorelativamente corto, del elevado diferencial de precios entre la Argentina y los EstadosUnidos. Esta apreciación perduró hasta el estallido de este régimen de cambios en diciembrede 2001, y se puede considerar que facilitó las enormes salidas de capitales por conceptode dividendos y utilidades repatriadas.

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Cuando los déficit siguen creciendo, mientras que las entradas de capitalescesan y algunos salen del país, los déficit y las salidas de capitales se acumulan.Se busca recurrir a un “blindaje” financiero proporcionado por el FMI y un consorciode bancos a cambio de la aceptación de condiciones restrictivas sobre el niveldel gasto público. La credibilidad que se busca con esta entrada de capitales y laejecución de esas medidas recesivas — con un costo social elevado, comohemos visto — no siempre se obtienen, y sobrevienen mega devaluaciones. Siéstas van acompañadas de medidas que puedan recuperar la credibilidad de lapolítica económica del gobierno ante los mercados financieros internacionales ylos principales tomadores de decisiones de estas economías (empresasfinancieras y no financieras, hogares que poseen cuentas en el extranjero o queconvierten parte de sus tenencias en divisas), se logra la estabilización de latasa de cambio, seguida a menudo por una apreciación en términos reales queuna política de esterilización de la moneda llega a frenar a algunas veces.

La lógica financiera introducida por el funcionamiento de una economía decasino tiende a imponer una gran inestabilidad y, por tanto, fuertes fluctuacionesa la actividad económica. Se trata de un verdadero círculo vicioso. Pero seríaerróneo atribuir la responsabilidad de la aparición de una crisis exclusivamente ala dimensión financiera. Esta pesa estructuralmente, pero las crisis puedentambién ser ocasionadas por una valorización insuficiente del capital debida auna sobreinversión relativa, por un profundo deterioro de los términos deintercambio de los productos primarios que conduce a un déficit comercialcreciente, por un aumento de las tasas de interés adoptado por razones diferentesa las que se acaban de analizar,19 y, por último, por una recesión que afecte a losprincipales países industrializados. Éstos últimos frenan el envío de capitales,sobre todo de inversiones directas. Las dificultades para lograr la correspondenciaentre necesidades de financiación y capacidad de financiación incitan entoncesa la prudencia: las primas de riesgo aumentan, a veces vertiginosamente, lasinversiones en portafolio se hacen menos frecuentes y la incapacidad para resolveresta ecuación financiera influye en la tasa de cambio. La lógica financiera de

19 Cuando los ingresos presupuestales dependen de las exportaciones de productos primariosy sobreviene una caída de los términos de intercambio, el déficit público aumenta, y estopuede llevar a una elevación de las tasas de interés para volver atractiva la emisión deobligaciones del tesoro. Esta política puede llevar a la recesión. México empleó este tipo depolítica a finales de los años noventa, durante algunos meses, a comienzos de la crisisfinanciera asiática y en el momento en que había altos riesgos de contagio. El aumento delas compras de petróleo permitió interrumpir, indirectamente, la desaceleración de lasactividades económicas conexas.

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estos modos de inserción en la economía-mundo imprimen al crecimiento unperfil de “montañas rusas”. En suma, este tipo de crecimiento se apoya en el“filo de la navaja”.

Conclusión

La enumeración de las medidas sociales suele ser una escapatoria, por lomenos hipócrita, (¿quién querría que la pobreza empeore?) a las verdaderaspreguntas: ¿por qué se observa un fracaso global en la lucha contra la pobreza?A nuestro parecer, la respuesta a esta pregunta se debe buscar en el acento quese ha dado a las políticas focalizadas y en el mantenimiento de la vía liberaladoptada para salir de la crisis de los años ochenta. En 2002, hubo crisis entodas partes, excepto en Chile. En algunos países fue más violenta que enotros. La pobreza aumentó y seguirá aumentando en todos los países en crisis,incluso durante los primeros años de la recuperación, porque la fuertevolatilidad — la mitad de ella explicada por la volatilidad de los capitales segúnRodrik (2001) (contra el 20% en los años ochenta) — hace particularmentevulnerables a los pobres frente a la recesión. Esta crisis parece ser el canto delcisne de la política liberal y señalar el agotamiento de estos modos de crecimientopredominantemente financiero. Precipitada por la recesión de las economíasindustrializadas y desarrolladas, vuelve a suscitar la dificultad para lograr quelas necesidades de financiación correspondan con la capacidad de financiación.Esta dificultad incrementa las primas de riesgo y agrava la recesión. Esto hacemenos atractivas las inversiones extranjeras directas, ya limitadas por la crisisen su país de origen. La alta volatilidad de las bolsas de valores y su tendenciadecreciente no ofrecen oportunidades para una entrada considerable de capitalespor concepto de inversiones en portafolio (acciones), y la entrada de bonos,cada vez más costosa, se torna altamente especulativa. El momento de loscambios está inscrito en el curso de estas dificultades. Ya parece dibujarse enalgunos países. Sólo se puede modificar el curso de la pobreza si como variablede ajuste se privilegia a la reducción de la pobreza y no a la tasa de interés. Unautopía, dirán algunos, aquellos que careciendo de imaginación por razones queno se suelen admitir piensan que no hay sino un camino de crecimiento, pero lautopía moviliza y por ello es creativa.

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Cuadro 1

Dinamismo comparado de las exportaciones

BRASIL MEXICO ARGENTINA

AÑOS Export

fob Saldo Export

fob Saldo Export

fob Saldo

1985 25 634 12 466 26 758 8 399 8 396 4 378 1990 31 408 10 747 40 711 -881 12 354 8 628 1994 44 102 10 861 60 882 -18 463 16 023 -4 139 1995 46 506 -3 157 79 541 7 088 21 161 2 357 1996 47 852 -5 452 95 999 6 530 24 043 1 760 1997 53 187 -6 655 110 431 623 26 431 -2 123 1998 51 135 -6 604 117 559 -7 913 26 434 -3 014 1999 48 012 -1 207 137 703 -5 360 23 316 -829 2000 55 086 -730 166 455 -8 049 26 410 2 558 2001 55 816 +2 642 (1)119 481 -7 740 (1)20 504 (1)4 909

FUENTE: FMI. Para 2000 e 2001: CEPAL. Una década de luces y sombras, América

Latina y el Caribe en los años noventa. Santiago de Chile: CEPAL, 2001b. Para 2001: Datos preliminares.

NOTA: Recordemos que en México en 1987, en Argentina en 1991 y en Brasil en 1994 se pusieron en marcha drásticas políticas de liberalización de los mercados (eliminación de las cuotas, de los subsidios, considerable reducción de los derechos de aduana). Además, con excepción de Argentina, las devaluaciones en “caliente” en el momento de las dos grandes crisis financieras que se presentaron en los años noventa, las mini devaluaciones programadas, las manipulaciones — denominadas “sales” — del tipo de cambio que tuvieron lugar después de haber adoptado estos planes, afectaron el tamaño del déficit y a veces, transitoriamente, su signo. En suma, la coyuntura recesiva de 1995 — seguida de las políticas recesivas que se pusieron en marcha para contrarrestar la crisis financiera (efecto “tequila”) — y la de finales de los años noventa pesaron sobre las importaciones y permitieron reducir el saldo negativo.

(1) Datos del FMI para los tres primeros semestres.

Anexo

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Cuadro 2 Dinamismo comparado de las exportaciones variación

de la participación en el mercado — 1990-1998 (en centiles)

AMERICA LATINA ORIGEM/DESTINO

I II III IV

AMERICA LATINA

Sur de la región ...... -8 -7 21 10

Argentina .................. -8 31 107 9

Bolivia ....................... -22 267 30 -60

Brasil ......................... -12 -11 4 9

Chile ......................... -11 34 -7 25

Colombia .................. 43 14 35 40

Equateur ................... 75 33 304 169

Pérou ........................ 0 -29 -49 -11

Uruguay .................... -8 -38 -50 -39

Venezuela ................ 130 -42 27 36

Norte de la región

Costa Rica ................ -38 -27 17 -16

El Salvador ............... -50 -30 -2 -8

Guatemala ................ -72 -28 18 -3

Honduras .................. 49 131 53 95

Jamaïca .................... -90 -83 -73 -59

Mexico ...................... 82 60 74 62

Nicaragua ................. -78 -12 -67 -63

(continua)

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Cuadro 2 Dinamismo comparado de las exportaciones variación

de la participación en el mercado — 1990-1998 (en centiles)

PAÍSES INDUSTRIALIZADOS ORIGEM/DESTINO

I II III IV

AMERICA LATINA

Sur de la región ...... 93 95 88 31

Argentina .................. -77 19 -35 -27

Bolivia ....................... -85 436 32 90

Brasil ......................... -79 1 -2 -23

Chile ......................... -44 23 25 45

Colombia .................. -4 154 -1 -27

Equateur ................... 102 8 8 73

Pérou ........................ -22 129 71 -20

Uruguay .................... -31 -23 -83 -40

Venezuela ................ -31 39 129 1

Norte de la región

Costa Rica ................ 100 67 13 100

El Salvador ............... 2 355 215 699 139

Guatemala ................ 135 188 148 171

Honduras .................. 638 375 711 139

Jamaïca .................... 33 -17 -23 -23

Mexico ...................... 105 119 118 118

Nicaragua ................. 907 3 571 5 176 120 FUENTE: BENAVENTE, J. M. Cuan dinamicas son las exportaciones

intraregionales latinoamericanas? Santiago du Chili: CEPAL, 2002. (Macro économie du développement, n. 12). p.14.

NOTAS: I. Muy dinámicos, II. Dinámicos, III. Poco Dinámicos, IV. Estancados.

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Cuadro 3

Inversión extranjera directa (millones de dólares)

PAÍSES 1991 1992 1993 1994 1995

Brasil ............ 89 1 924 801 2 035 3 475

Mexico ......... 4 742 4 393 4 389 10 973 9 526

Argentina ..... 2 439 3 218 2 059 2 480 3 756

PAÍSES 1996 1997 1998 1999 2000 (1) 2001

Brasil ............ 11 666 18 608 29 192 28 612 30 498 24 894

Mexico ......... 9 186 12 830 11 311 11 568 13 500 (2)9 131

Argentina ..... 4 937 4 924 4 175 (3)21 958 5 000 -

FUENTE: CEPAL. Balance preliminar de las economías de América Latina 2000. Santiago de Chile: CEPAL, 2001a, y FIDE.

(1) Los datos de 2000 son estimaciones. (2) Para México: los tres primeros trimestres. (3) La cifra de 1999 correspondiente a Argentina puede dar lugar a equívocos. Este aumento súbito de la IED resulta en gran parte de la compra, por la compañía española Repsol, de la compañía de aceite privatizada YPF. Esta compra, que se realizó mediante compra-intercambio de acciones en Nueva York y no dio lugar a una entrada neta de capitales, se tradujo en una cantidad equivalente, pero de signo negativa, en la línea de inversión en portafolio.

Cuadro 4

Indicador de vulnerabilidad externa de los países en desarrollo — 1990-00 (en porcentajes)

AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE

1990 1991 1992 1993 1994

Deuda externa de corto plazo/ /deuda externa total .................

16.3

17.6

18.5

20.2

20.1

Deuda externa de corto plazo/ /reservas internacionales .........

131.8

116.4

97.5

93.7

103.2

Servicio de la deuda externa/ /exportaciones ..........................

24.4

24.1

26.1

27.7

25.3

Total de intereses/ /exportaciones .......................... 12.2 12.7 11.3 11.0 11.1 Deuda externa total/producto nacional bruto ..........................

44.6

43.6

40.9

40.3

37.9

Reservas internacionales/ /importaciones (mes) ...............

3.6

4.2

4.8

5.2

4.4

Saldo en cuenta corriente/ /producto interno bruto .............

4.2

-1.5

-2.7

-3.3

-3.3

(continua)

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Pobreza: la lucha contra los dos "v": volatilidad y vulnerabilidad

Referências

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Cuadro 4 Indicador de vulnerabilidad externa de los países en desarrollo — 1990-00

(en porcentajes)

AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE

1990 1991 1992 1993 1994

Deuda externa de corto plazo/ deuda externa total .....................

20.0

18.5

19.1

16.0

14.8

Deuda externa de corto plazo/ /reservas internacionales ...........

93.6

75.7

77.7

76.6

79.0

Servicio de la deuda externa/ /exportaciones ............................

26.4

31.3

35.6

32.5

41.6

Total de intereses/exportaciones 12.2 11.7 11.2 11.9 13.0 Deuda externa total/producto nacional bruto .............................

39.9

38.0

36.6

41.1

41.8

Reservas internacionales/ /importaciones (mes) ..................

4.8

5.2

4.7

4.2

4.0

Saldo en cuenta corriente/ /producto interno bruto ..............

-2.2

-2.1

-3.3

-4.5

-3.2

FUENTE: WORLD BANK. Global development finance. Washington, DC: World Bank, 2001.

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Microcrédito e capacidade de pagamento dos agricultores familiares:...

Microcrédito e capacidade de pagamento dos agricultores familiares: a experiência do

programa RS Rural noRio Grande do Sul*

Sergio Schneider Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.Paulo D. Waquil Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.Daniela Dias Kuhn Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.Lovois de A. Miguel Professor da Universidade Federal do Rio Grande Sul.

ResumoNeste trabalho, analisam-se os resultados do subcomponente Ações de Geraçãode Renda com Retorno, que se constitui em um programa de políticas públicasimplementadas pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul denominado RSRural. Esse programa destina-se a beneficiar populações rurais através daalocação de créditos para pequenos agricultores em situação de pobreza efragilidade econômica. Nas ações que prevêem o reembolso dos recursosfinanciados, os beneficiários podem financiar máquinas, equipamentos, infra--estrutura, insumos, mudas, etc. Este artigo sintetiza uma pesquisa mais ampla,realizada pelos autores, desenvolvida através de pesquisa de campo e deaplicação de questionários com base em uma amostra de beneficiários, com o

* Trabalho apresentado no XLI Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e SociologiaRural (Sober), em Juiz de Fora (MG), de 27 a 30 de julho de 2003. O presente estudo resultade um trabalho mais amplo de avaliação do subcomponente Geração de Renda com Retor-no do RS Rural, realizado por uma equipe de pesquisadores do Programa de Pós-Gradua-ção em Desenvolvimento Rural (PGDR) no ano de 2001.

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objetivo de avaliar as condições de reembolso dos agricultores familiares con-templados pelo programa.

Palavras-chaveAgricultura familiar; microcrédito; políticas públicas.

AbstractIn this paper we analyze the results of the component “Actions for IncomeGeneration with Reimbursement” which is a program of public policies taken bythe Government of the State of Rio Grande do Sul, Brazil, called RS Rural. Thisprogram aims at helping rural populations throughout the allocation of funds tosmall farmers in situations of poverty and economic fragility. In those actionsthat propose the reimbursement of financed resources, the beneficiaries mayfinance machinery, equipment, infrastructure, inputs, etc. This paper synthesizesa broader research made by the authors, with a field research and questionnaireapplication based on a sample of beneficiaries, with the goal of evaluating theconditions of reimbursement of family farmers that participate in the program.

Key wordsFamily farming; microcredit; public policies.

Classificação JEL: R51.

Artigo recebido em 16 mar. 2004.

Introdução

Nas últimas décadas, foram poucas as iniciativas do Estado no sentido depatrocinar políticas públicas de combate à exclusão social e à pobreza rural noBrasil. Mais escassas ainda, no entanto, foram as propostas de intervenção que

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colocassem entre seus alvos principais a preocupação com a degradaçãoambiental, a utilização de tecnologias menos agressivas e impactantes e,sobretudo, a melhoria das condições de renda e de emprego da população rural.

De modo geral, desde a década de 70 do século XX, os planejadores daspolíticas públicas acreditavam que, através da intervenção do Estado, era possíveltransformar a base tecnológica da agricultura, tornando-a um setor econômicocapaz de promover o abastecimento alimentar do mercado interno e de alcançaro mercado internacional, explorando as vantagens competitivas intrínsecas àestrutura agrária brasileira, como a abundância de terras e o baixo custo daforça de trabalho. No entanto, os resultados desse processo, que a literaturaeconômica e sociológica tratou como a “modernização conservadora” e a“revolução verde”, sob vários aspectos, mostraram-se socialmente excludentese economicamente perversos.

No caso do Rio Grande do Sul, Navarro (1998) afirma que essastransformações podem ser caracterizadas em três períodos distintos, sob osquais se configuraram as diferentes fases do desenvolvimento agrário no Estado,no âmbito dos processos assinalados. O primeiro desses períodos teria promovidoa euforia da modernização produtiva propriamente dita. Iniciada na década de70, foi durante os governos militares que se empreendeu uma inéditatransformação de algumas regiões agrárias brasileiras (em especial no centro--sul do País), retirando-as de seu primitivismo tecnológico e inserindo-as emcircuitos propriamente capitalistas, o que permitiu não apenas a constituição denovas estruturas de produção, mas também o desenvolvimento de uma novaracionalidade de gestão agrícola.1

Segundo o referido autor, essa primeira fase de mudanças teria terminadopor volta do início da década de 80, simbolizada pelo ano de 1981, quandoforam modificadas as normas financeiras do primeiro período, particularmenteno que se refere ao esgotamento da política de crédito rural facilitado. Os anosseguintes foram marcados por uma dinâmica inteiramente nova da agricultura,tributária de um ajuste macroeconômico persistente, que teve como resultadouma crescente deterioração dos aparatos institucionais ligados ao “mundo rural”,além da incapacidade financeira crescente do Estado em manter mecanismosde estímulo e/ou sustentação da agricultura parecidos com os do período anterior,em especial aqueles relacionados aos reclamos de financiamento da produçãonas condições antes estabelecidas (Silva, 1996; Delgado, 1995).

1 Em outro trabalho, mais recente, Navarro (2002) descreve esses processos de alteraçãoda base tecnológica com base na idéia de integração mercantil, onde aponta quatro etapasdistintas da mercantilização do desenvolvimento agrário do sul do Brasil.

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No terceiro período, iniciado na década de 90, Navarro identifica o forterecuo do Estado nas suas políticas para o meio rural como a característica maissaliente da nova etapa do desenvolvimento agrário, o que teria produzidomodificações ainda mais significativas no “ambiente social e produtivo” em quese insere a agropecuária gaúcha. Vale lembrar que o diagnóstico apresentadopelo autor, elaborado em meados da década passada, não dá conta de algunsacontecimentos importantes ocorridos nos últimos anos, como, por exemplo, acriação do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em 1999 e, com ele, alegitimação e a consolidação de um conjunto de políticas públicas destinadas afavorecer os agricultores familiares, tais como o Programa Nacional deFortalecimento de Agricultura Familiar (Pronaf), o crédito fundiário (Banco daTerra) e o próprio processo de assentamentos rurais via reforma agrária. Tambémnão deve ser esquecido que, embora recente, a retomada das políticas desegurança alimentar e de combate à fome no Brasil são o resultado de umperíodo de mobilizações políticas e legitimação social, que teve como cenáriotoda a década de 90.

Nos anos mais recentes, no entanto, face à deterioração crescente dascondições de vida no campo (pobreza e degradação ambiental, sobretudo) eseus reflexos notáveis sobre as cidades (migrações, desemprego, violênciaurbana, etc.), a sociedade brasileira passou a reconhecer a necessidade de oEstado retomar formas de intervenção no meio rural, que não se pautassemapenas pela difusão de tecnologias e pela ampliação da produtividade daagropecuária.

Além disso, os impactos das transformações recentes da agricultura nãosão apenas de natureza tecnológica, econômica e produtiva, pois as conquistasalcançadas não se têm traduzido em melhorias substanciais nas condições devida da população rural. Os dados extraídos do estudo que deu origem aoPrograma Fome Zero, do recém-criado Ministério do Desenvolvimento Social eCombate à Fome, indicam que, ao longo da década de 90, o número de pessoase de famílias com rendimentos insuficientes para a satisfação de suasnecessidades alimentares básicas se ampliou no Estado do Rio Grande do Sul.Na Tabela 1, os dados para o ano de 1999 indicam que, no Rio Grande do Sul,havia um total de 1,6 milhão de pessoas consideradas pobres, o que representa16,5% do total da população gaúcha. Somente na área rural, havia 420.000pessoas, correspondendo a 90.000 famílias pobres. Em comparação com apobreza urbana e a metropolitana, na área rural do Estado, há uma proporçãomaior de pobres, chegando a 22,6% sobre o total da população residente nessasáreas.

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Tendo como referência esse conjunto de transformações estruturais, estetrabalho analisa os resultados de um programa de políticas públicas implementadopelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul, destinado a beneficiar aspopulações rurais mais pobres e mais afetadas pelas transformações estruturais

Tabela 1

Estimativa de pessoas e de famílias pobres no RS — 1999

POBRES

ÁREAS Número de Pessoas (1 000)

(A)

Número de Famílias (1 000)

(B)

Renda Média Per Capita de Todos os

Rendimentos (R$)

Metropolitana ......... 502 119 43,60

Urbana ................... 700 157 36,66

Rural ....................... 420 90 39,07

TOTAL ................... 1 622 366 -

NÃO POBRES

ÁREAS Número de Pessoas (1 000)

Número de Famílias (1 000)

Renda Média Per Capita de Todos os

Rendimentos (R$)

Metropolitana ......... 2 792 903 440,35

Urbana ................... 4 000 1 260 354,05

Rural ....................... 1 433 438 248,69

TOTAL ................... 8 225 2 601 -

POPULAÇÃO TOTAL

ÁREAS Número Total de Pessoas

(1 000) (C)

Número Total de Famílias

(1 000) (D)

% de Pessoas Pobres (A/C)

% de Famílias Pobres (B/D)

Metropolitana ......... 3 294 1 023 15,2 11,7

Urbana ................... 4 700 1 417 14,9 11,1

Rural ....................... 1 853 528 22,6 17,1

TOTAL ................... 9 847 2 968 16,5 13,33

FONTE: Projeto Fome Zero, 2001.

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da agricultura nas últimas décadas. O programa denomina-se RS Rural e possuivários componentes e subprogramas. No âmbito do Rio Grande do Sul, talvezse possa dizer, sem o risco do exagero, que se trata do mais ambicioso programagovernamental de combate à pobreza, à degradação ambiental e às desigualdadessociais no meio rural, sem precedentes na história do Estado.

O programa, atualmente chamado de RS Rural, foi concebido nos anos1995-97, pelo Governo do Estado, e recebeu apoio financeiro do Banco Mundial,sendo colocado em funcionamento no ano de 1997, com a denominação de Pró--Rural 2000.2 Seus objetivos eram o combate e o alívio à pobreza rural, viacrédito e apoio financeiro, mediante ações de melhoria da infra-estrutura socialbásica, recuperação e preservação do meio ambiente e geração de renda emregiões com maior concentração de pobreza rural. No ano de 1999, o programasofreu reformulações (ampliação do público-alvo e obrigatoriedade de ações demanejo ambiental foram as principais mudanças) e passou a chamar-se RSRural.3

Dadas suas amplitude e diversidade, este trabalho focalizará apenas osubcomponente denominado Ações de Geração de Renda com Retorno paraagricultores familiares, que se constitui em um programa de apoio financeiro,mediante alocação de créditos para pequenos agricultores em situação de pobrezae fragilidade econômica no escopo do RS Rural.

Em linhas gerais, o subcomponente Geração de Renda do RS Rural visarepassar recursos financeiros através de duas linhas de atuação específicas,respectivamente, com retorno e sem retorno de recursos (reembolso ao Estado).Esses recursos têm como objetivo aumentar a eficiência das atividadesprodutivas, em especial aquelas que agregam valor aos produtos ou que permitemuma utilização mais eficiente dos fatores de produção disponíveis em unidadesfamiliares de produção. Nas ações que prevêem o reembolso dos recursosfinanciados, os beneficiários podem financiar máquinas, equipamentos, infra--estrutura, insumos, mudas, etc. As principais condições de pagamento previstaspara as ações do Geração de Renda com Retorno, de acordo com o ManualOperativo, são: carência de dois a sete anos, segundo o projeto, e prazo depagamento de até cinco anos em parcelas anuais; subsídio de 25% sobre o

2 Para uma apreciação mais detalhada do Pró-Rural 2000, sua racionalidade, concepção,objetivos e a mudança de denominação, consultar o trabalho de Trentin (2001; 2002).

3 Em seu conjunto, o Programa é formado por cinco componentes distintos: Combate àPobreza; Manejo e Conservação de Recursos Naturais; Suportes aos Projetos (assistênciatécnica, treinamento, etc.); Desenvolvimento Institucional; e Administração do Programa.Dentro do primeiro componente, estão os subcomponentes Infra-Estrutura Social Básica eGeração de Renda (com e sem Retorno).

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valor contratado; juros fixos de 4% ao ano sobre o saldo devedor, capitalizadosanualmente (Rio Grande do Sul, 1999; 1997).

Metodologia

O presente estudo resulta de um trabalho mais amplo de avaliação dosubcomponente Geração de Renda com Retorno do RS Rural, realizado poruma equipe de pesquisadores do PGDR, no ano 2001.4 Na elaboração desteartigo, foram selecionadas algumas partes desse estudo maior, especificamenteaquelas que envolveram a pesquisa de campo e a caracterização dos agricultoresque foram beneficiários desse tipo de recurso, bem como o cálculo da capacidadede reembolso, tendo em vista que o Programa previa essa exigência.

Desde logo, deve-se ressaltar que os dados a seguir expostos se referema um universo social composto por agricultores familiares beneficiados no âmbitodo subcomponente Ações de Geração de Renda com Retorno do Programa RSRural. A sistemática de concessão dos recursos pelo Governo do Estado e pelaSecretaria Executiva do Programa inicia-se pela apresentação da demanda dosagricultores pretendentes aos organismos técnicos locais, no caso, os escritóriosmunicipais da Emater, ou, na ausência destes, às prefeituras locais. Para oenquadramento no Programa, é condição sine qua non a apresentação dedemandas em grupo, através da elaboração de “projetos coletivos”, que devemincluir um número mínimo de três famílias beneficiárias. Isso permite umavariabilidade muito grande de projetos em um mesmo município, pois há casosem que são formados vários grupos de famílias, cada qual com demandasdistintas.5

O ponto de partida para avaliação da concessão de crédito a agricultoresconsistiu no exame de uma listagem geral dos projetos aprovados, disponibilizadapela Secretaria Executiva do RS Rural. Após um trabalho de ordenamento dosprojetos aprovados e implementados entre 1997 e 2000, identificou-se um totalde 166 projetos, provenientes de 68 municípios.

4 O trabalho denomina-se Avaliação das Condições de Crédito do Componente de Gera-ção de Renda do RS Rural, e integravam a equipe os pesquisadores Carlos G. A. MielitzNetto (coordenador técnico), Lovois de A. Miguel, Sergio Schneider, Paulo Dabdab Waquil eLuis Humberto M. Villwock; os consultores Bernard Roux e Fábio Búrigo; e os auxiliaresMarco Antonio V. Fialho, Jean Marcel Vieiro, Lucas J. Maestri e Eliane Sanguiné.

5 Desse modo, o conjunto dos projetos realizados em um mesmo município passa a fazerparte das “propostas municipais”, que vêm a ser, na prática, a organização das diferentesdemandas e intenções dos agricultores em um ou mais projetos.

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Para avaliar individualmente os projetos, considerou-se que a unidade deanálise pertinente deveria ser o tipo de atividade apoiada pelo programa e ovalor financiado por família beneficiada. A partir do reconhecimento desse universode análise, elaborou-se a Tabela 2, a qual contém algumas medidas de tendênciacentral e de variabilidade, assim como a Tabela 3, com a distribuição defreqüências relativas ao valor médio por família beneficiada e ao tipo de atividadeapoiada.

Como pode ser observado na Tabela 2, os 166 projetos aprovados tiveramcomo beneficiárias 1.321 famílias, totalizando 5.109 pessoas e uma área totalde 17.281,77 hectares. A soma dos valores totais aprovados dos 166 projetosatinge mais de R$ 1,7 milhão.

Tabela 2

Medidas de tendência central e de variabilidade dos projetos do RS Rural aprovados e implementados — 1997-00

INDICADORES

NÚMERO DE FAMÍLIAS

BENEFICIADAS POR PROJETO

NÚMERO DE PESSOAS

ENVOLVIDAS POR PROJETO

ÁREA TOTAL POR PROJETO

(ha)

Média ....................... 7,96 30,78 106,68

Mediana ................... 6,00 20,00 71,35

Desvio padrão ......... 7,36 29,25 103,78

Mínimo ..................... 3,00 6,00 6,40

Máximo .................... 56,00 223,00 815,00

Soma ....................... 1 321,00 5 109,00 17 281,77

INDICADORES VALOR TOTAL DO PROJETO

(R$)

VALOR MÉDIO POR FAMÍLIA

(R$)

ÁREA MÉDIA POR FAMÍLIA (ha)

Média ....................... 10 674,35 1 548,49 13,68

Mediana ................... 7 309,80 1 299,65 12,93

Desvio padrão .......... 10 079,86 1 058,05 6,08

Mínimo ..................... 240,00 80,00 2,13

Máximo .................... 63 635,66 6 363,57 45,03

Soma ....................... 1 771 942,46 - -

FONTE: Banco de dados do RS Rural (2001).

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Microcrédito e capacidade de pagamento dos agricultores familiares:...

Os projetos têm, em média, 7,96 famílias beneficiadas, embora apresen-tem uma grande variabilidade. A mediana, igual a 6,00, indica que 50% dosprojetos aprovados beneficiam até seis famílias. O número de famílias benefici-adas por projeto tem um desvio padrão igual a 7,36, variando de um mínimo detrês até um máximo de 56 famílias beneficiadas. A área total dos projetos temuma grande variabilidade, sendo a média da área total por projeto igual a 106,68hectares, variando desde 6,40 até 815,00 hectares. Por outro lado, a área médiapor família beneficiada é de 13,68 hectares, variando desde 2,13 até 45,03hectares.

Também o valor total dos projetos e o valor médio por família variam bastan-te. O valor total apresenta uma média de R$ 10.674,35, e desvio padrão deR$ 10.079,86, indo desde um mínimo de R$ 240,00 até um máximo deR$ 63.635,66. Dividindo o valor total dos projetos pelo número de famíliasbeneficiadas, encontrou-se o valor médio por família. Esse valor é, na médiados 166 projetos, um pouco superior a R$ 1.500,00, embora varie de R$ 80,00 amais de R$ 6.300,00.

Tabela 3

Distribuição de freqüências do valor médio, por família beneficiada e tipo de atividade apoiada, dos projetos do RS Rural

aprovados e implementados — 1997-00

CLASSES DE ATIVIDADE APOIADA VALOR POR FAMÍLIA (R$) 1 2 3 4 5 6 7 8

TOTAL

Até 500,00 ............ 11 3 0 0 1 1 1 0 17 500,00 a menos de 1 000,00 .......... 29 11 5 0 1 2 0 1 49 1 000,00 a menos de 1 500,00 .......... 7 7 8 2 3 1 0 2 30 1 500,00 a menos de 2 000,00 .......... 7 8 3 4 2 2 1 0 27 2 000,00 a menos de 2 500,00 .......... 1 4 2 0 6 1 0 1 15 2 500,00 a menos de 3 000,00 .......... 1 1 1 2 1 5 1 0 12 Mais de 3 000,00 .. 4 3 0 3 1 3 1 1 16 TOTAL ................. 60 37 19 11 15 15 4 5 166

FONTE: Banco de Dados do RS Rural (2001).

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Em vista da grande variabilidade dos projetos, elaborou-se uma distribui-ção de freqüências (Tabela 3) com a intenção de dar sustentação para a seleçãode uma amostra representativa do universo de análise. Notou-se, com isso, umapredominância de projetos de menor valor por família, já que, nos três primei-ros estratos (valores até R$ 1.500,00, abaixo, inclusive, da média, que é igual aR$ 1.548,49), se encontram 96 projetos, correspondendo a 57,83% do total. Poroutro lado, quando se analisa a atividade apoiada, observa-se uma maiorfreqüência dos projetos que visam dar suporte às atividades de produção degrãos ou leite (classes 1, 2 e 3). Nesses três estratos, encontram-se 116 projetos,o que equivale a 69,88% do total. Os projetos restantes encontram-se distribuídos,de forma relativamente homogênea, nos demais estratos.

De posse das informações preliminares sobre as características do universoa ser pesquisado, tomou-se como critério inicial a seleção de aproximadamente25% dos 166 projetos que compõem o universo de análise, o que corresponderiaa 42 projetos. Além desses 42, foram incluídos quatro projetos para os quaishavia disponibilidade de informações sobre os beneficiários antes de haveremsido contemplados com os recursos do RS Rural. A fim de manter arepresentatividade da amostra, buscou-se selecionar os demais projetos,mantendo-se as proporções quanto ao tipo de atividade apoiada e o valor médiodo financiamento por família beneficiada encontrados no universo de análise.Por fim, também foi observada a distribuição regional dos projetos no Estadocomo critério de seleção, evitando a concentração excessiva da amostra emuma determinada região do mesmo.

A partir desses critérios, foram selecionados, ao todo, 50 projetos,equivalendo a 30,12% do total, abrangendo 34 municípios do Rio Grande do Sul.Além disso, a amostra apresentou significativa representatividade em termosde tamanho dos projetos (medido pelo valor financiado por família), finalidade(medido pelo tipo de atividade apoiada) e distribuição regional.

O passo seguinte foi a identificação das famílias beneficiárias nos 50projetos selecionados e o sorteio daquelas que seriam submetidas a questionários.Nessa etapa, contudo, a amostragem foi aleatória, de forma que todas as famíliasenvolvidas em um dos 50 projetos selecionados tinham a mesma probabilidadede serem sorteadas. Entretanto, antes do sorteio propriamente, foi necessáriauma identificação das famílias que integravam os 50 projetos, tendo em vistaque, entre esses projetos, o número de famílias era variável. Assim, para nãocorrer o risco de selecionar somente projetos com pequeno número de famílias,ou vice-versa, adotaram-se os seguintes critérios para o sorteio das famílias:

- uma família para os projetos que envolvem de três a cinco famílias,correspondendo a um percentual entre 20% e 33% das beneficiárias;

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Microcrédito e capacidade de pagamento dos agricultores familiares:...

- duas famílias para os projetos que envolvem de seis a nove famílias,correspondendo a um percentual entre 22% e 33% das beneficiárias;

- três famílias para os projetos que envolvem mais de 10 famílias, cor-respondendo a um percentual de até 30% das beneficiárias.

Com base nesse critério, sorteou-se um total de 98 famílias para a aplicaçãodos questionários, o que totaliza, aproximadamente, 7,5% das 1.321 famíliasbeneficiadas pelo Programa. Do total de 98 questionários, 11 não puderam seraproveitados por problemas de preenchimento ou de ausência de informaçõesconsideradas essenciais para a pesquisa.

O questionário abrangia, basicamente, dois tipos de perguntas. Um conjuntode interrogações destinadas à obtenção de respostas objetivas sobre apropriedade, o processo produtivo, a produção animal e vegetal, os meios deprodução disponíveis, dentre outras, cujo objetivo principal era levantarinformações sobre a organização do trabalho e da produção e sobre os resultadoseconômicos auferidos. E um segundo tipo de perguntas inquiriu sobre ascondições de acessibilidade aos recursos, sobre o modo de gestão coletiva doprojeto implementado, sobre os resultados esperados e sobre as condições dereembolso do beneficiário, além de se solicitar aos agricultores beneficiáriosque apresentassem sugestões ao Programa e que oferecessem a sua avaliaçãopessoal.

Microcrédito: um instrumento para melhoriadas condições de vida no meio rural

Embora não seja objetivo deste trabalho discutir especificamente o temado microcrédito, uma rápida análise dos montantes de recursos monetários queestão sendo financiados através do RS Rural no componente Ações de Geraçãode Renda com Retorno abre espaço para uma contextualização sobre esse tipode política pública como um instrumento de desenvolvimento rural.

O microcrédito é uma forma de acesso a recursos monetários, caracterizadatanto pelo seu pequeno volume de moeda quanto pelo seu processodesburocratizado. No contexto da análise que se impõe neste trabalho, natentativa de relativizar o que poderia significar “um pequeno volume de recursosmonetários”, pode-se comparar o aporte de recursos fornecidos pelo Progra-ma RS Rural às famílias com o fornecido pelo sistema de crédito “tradicional”.O Censo Agropecuário 1995/96 (IBGE, 1988) indica que a média geral porinformante, em relação ao financiamento da atividade de custeio agrícola, é de

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R$ 12.930,91, e, com relação ao financiamento dos investimentos agrícolas, amédia é de R$ 14.163,38. Isso significa um valor maior do que o dobro do limitesuperior em relação ao valor médio financiado por família nos projetos geraisindicados no trabalho de pesquisa — R$ 6.363,57 (Tabela 2). Além de, então,representar o acesso a um pequeno volume de recursos, o contato com esseprograma estadual não exige da família interessada muito mais do que oenquadramento como público do Programa (nesse caso, como agricultoresfamiliares) e a participação nas reuniões para a discussão das demandas doprojeto a ser formatado. É nesse sentido que, ao analisar esse componente doPrograma RS Rural, é necessário perceber a utilização do microcrédito comoum instrumento de políticas públicas.

Não são poucos os pesquisadores que se têm interessado em analisar omicrocrédito como uma forma importante de acesso a recursos monetários. Nopróprio relatório final da pesquisa que originou este artigo (Waquil et al., 2000),uma seção inteira foi dedicada à revisão da discussão sobre microcrédito.

A partir da percepção de que parte cada vez mais significativa da populaçãonão tinha condições de oferecer todas as garantias exigidas pelo sistema bancáriotradicional, o microcrédito surge como uma possibilidade de acesso a recursosmonetários. Uma das experiências pioneiras de concessão de microcrédito foicoordenada em Bangladesh pelo Professor Muhammad Yunus (2000). Para essepesquisador, “(...) o microcrédito não se limita a libertar da fome os pobres; eletambém contribui para sua emancipação política. O microcrédito pode não seruma solução, mas é uma força de mudança, não só econômica e pessoal, mastambém social e política” (Yunus, 2000, p. 191-192).

Essa experiência tem sido analisada e tem influenciado diversos programasde microcrédito ao redor do mundo. Essas experiências, especialmente nospaíses periféricos, têm representado mais do que a análise de novas formas definanciamento.

Segundo Gasques e Conceição (2001), isso se deve ao fato de que “(...) omicrocrédito é um híbrido de instrumento de desenvolvimento e serviçosfinanceiros”. Para esses autores, o microcrédito não tem sido considerado umsubstituto para o crédito tradicional. Contudo, na sua forma mais modesta, elepreenche lacunas no sistema de crédito, que não são atendidas por outrosofertantes de crédito; em sua forma mais ambiciosa, ele procura catalizar odesenvolvimento econômico que reduzirá a pobreza rural (Gasques; Conceição,2001, p. 132).

No Brasil, existem diversas instituições que operam o microcrédito tantono meio urbano como no meio rural. Há um vigoroso crescimento recente domicrocrédito no Brasil. De acordo com Abramovay (2001, p. 3), “(...) de 30 mil

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contratos em 1997 e 50 mil em 1998, chega-se a 1999 com 81 mil operações,realizadas por mais de 100 organizações”6. Esse processo, caracterizado comovigoroso, pode também ser caracterizado pela diversidade de atuação e deformas de acesso ao microcrédito.

A transformação do acesso a um pequeno volume de recursos monetáriosem processos inovativos de arranjos sociais decorreu da necessidade de superaras barreiras de acesso impostas às famílias pelo crédito tradicional através deverdadeiras “novidades” institucionais. Um dos exemplos mais característicosdesse processo, atualmente amplamente consolidado em diversos programasde microcrédito, é o aval solidário.

A condição para a concessão de microcrédito geralmente está associadaà formação de grupos entre as pessoas interessadas em obter o recurso. Esseaval solidário é a garantia principal nas operações de microcrédito. Cada membrodo grupo é responsável pelo pagamento de todos os outros membros. Assim, ésignificativamente superado o problema da falta de condições dos “pobres” emdar garantias por uma relação social de confiança mútua.

Outra característica associada à concessão do microcrédito, que a diferenciado crédito tradicional, é a existência dos chamados “agentes de crédito”. A funçãodo “agente de crédito” é procurar oferecer o microcrédito e avaliar a situação dopossível tomador do empréstimo. Essa relação supera, em grande medida, oconstrangimento representado pela necessidade de ir a uma agência bancária,que aumenta a distância dos bancos tradicionais das pessoas mais carentes derecursos monetários (muitas vezes propositadamente). No caso do ProgramaRS Rural, esse “agente” pode, na maioria das vezes, ser identificado na pessoaque representa a instituição responsável pela coordenação da elaboração dosprojetos (não raramente, os escritórios municipais da Emater-RS). Os laçosinstitucionais de confiança são fortalecidos ainda mais, porque esses agentesmoram ou têm conhecimento profundo das necessidades das comunidades ondeatuam, sejam elas rurais ou urbanas.

No meio rural, especificamente, a dificuldade para entrar em contato combancos comerciais é muito maior, e está aí a essencialidade do microcréditocomo instrumento de acesso a recursos além de serviços ligados ao sistemafinanceiro de uma maneira geral. A maior parte dos agricultores não tem condiçõesde arcar com os altos custos dos financiamentos, e a própria forma de atuar dos

6 São exemplos das instituições que operam o microcrédito no Brasil: Rede CEAPE, o Bancoda Mulher, a Portosol, o Sistema Cresol, o Sicredi, o VivaCred, o CrediAmigo, dentre outras,além dos programas governamentais, como o Pronaf e o RS Rural, que possibilitam acessoao microcrédito.

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bancos, que preferem emprestar grandes volumes de recursos a poucos do quepequenos volumes a muitos, limita o acesso da maioria dos que necessitam derecursos.

Em relação a serviços financeiros, é importante salientar que a discussãosobre o microcrédito passa também por uma discussão sobre o micro-financiamento, ou seja, além da oferta de pequenos empréstimos, o acesso aosdemais serviços, como, por exemplo, seguros. No documento organizado peloComunidade Solidária, programa social do Governo Fernando Henrique Cardoso,o microcrédito é visto como uma parte importante da nascente indústriamicrofinanceira, que se define por um conjunto de serviços financeiros postos àdisposição da população de baixa renda. Além do crédito, poderão ser ofertadosaos clientes poupança, depósitos a prazo, seguros, cartões de crédito, dentreoutros (Barone, 2002, p. 12).

Ainda dentre os aspectos que podem ser favorecidos através da organizaçãosocial para o acesso ao microcrédito, é possível destacar: a flexibilização paraa aplicação dos recursos manejados pelas famílias segundo sua lógica desobrevivência; a promoção de oportunidades de ocupação da mão-de-obra e deacesso à educação, inclusive em relação à qualificação profissional; a promoçãoe a exigência da participação do usuário do microcrédito, o que acaba por fortalecera dinâmica do tecido social local; o auxílio na geração de autonomia e seletividadena contratação de serviços; a integração de serviços financeiros formais àsatividades locais; etc. (Deser, 2001, p. 21-22).

Não obstante se possam enfatizar muitos aspectos sociais e institucionaisque podem ter no microcrédito um instrumento importante de desenvolvimento,o acesso ao recurso monetário é importante em si. Conforme alerta AmartyaSem, “(...) não dispor de recursos limita não só as alternativas de meios que defato se tem e de objetivos que deles dependem, como também os própriosobjetivos e preferências que se formam durante a vida” (Sem, 2001, p. 13).

O microcrédito é uma das ferramentas que podem ajudar as pessoas e asfamílias a conquistarem melhores condições de vida. Entretanto precisa serassociado a outras políticas, em especial de educação. São as pessoas quemelhor utilizam os recursos a que têm acesso que possuem, então, maior boavontade em pagá-los; do contrário, essas pessoas, já carentes, estarão apenasassociadas a mais um problema (Robinson, 2001).

É preciso salientar que o Programa RS Rural tem tentado associar osrecursos monetários disponibilizados a um acesso à educação, em especial àeducação ambiental, além de representar um espaço de participação e deconstrução coletiva disponível aos agricultores familiares da comunidade.

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Caracterização socioeconômica dosagricultores familiares beneficiáriosdas Ações de Geração de Rendacom Retorno do RS Rural

A caracterização dos beneficiários do subcomponente Geração de Rendacom Retorno do RS Rural tem como objetivo apresentar um perfil baseado eminformações socioeconômicas, apuradas mediante pesquisa de campo, com autilização de um questionário específico para essa finalidade.

Os dados da Tabela 4 indicam que 72,41% dos chefes das unidadesfamiliares que compuseram a amostra pesquisada se situam na faixa etária de35 a 59 anos, o que representa a ampla maioria, revelando que a parcela maisexpressiva dos beneficiários do subcomponente Geração de Renda com Retornodo RS Rural é composta por agricultores adultos. No estrato intermediário, ondeestão aqueles que possuem idades entre 19 e 34 anos, que podem serconsiderados jovens-adultos, encontra-se a segunda maior proporção, emboramuito menor que a anterior, formada por 19,54% dos chefes. Também valesalientar que 6,90% dos chefes das famílias beneficiadas possuem mais de 60anos de idade.

Tabela 4

Idade do chefe da família entrevistada da amostra pesquisada — 2001

IDADE NÚMERO DE FAMÍLIAS %

De 19 a 34 anos ................... 17 19,54

De 35 a 59 anos ................... 63 72,41

60 anos ou mais ................... 6 6,90

Não informada ...................... 1 1,15

TOTAL ................................. 87 100,00

FONTE: Pesquisa de campo (2000/2001).

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Em relação à escolaridade dos chefes das famílias entrevistadas, as infor-mações coletadas indicam que esses agricultores possuem um índice de anal-fabetismo inferior aos dos chefes de domicílios rurais do Estado do Rio Grandedo Sul. A Tabela 5 mostra, comparativamente, que 8,05% dos entrevistadosdeclaram ser analfabetos, ao passo que essa proporção chega a 18,90% paraos chefes de domicílios da população rural gaúcha. Outra verificação é que osníveis de escolarização dos chefes entrevistados são melhores do que os doEstado como um todo, pois, entre os entrevistados, 41,38% estudaram entreum e quatro anos, e 44,83% freqüentaram a escola de cinco a oito anos, aopasso que, no Estado como um todo, esses índices são 65,63% e 12,52%respectivamente.

Tabela 5

Anos de instrução dos chefes de estabelecimentos agrícolas da amostra pesquisada e dos chefes de estabelecimentos

agrícolas no RS — 1991 e 2001

AMOSTRA PESQUISADA (1) ANOS DE ESCOLARIDADE

Número % CHEFES (2)

(%)

Sem instrução/analfabetos ..... 7 8,05 18,91 De 1 a 4 anos ......................... 36 41,38 65,63 De 5 a 8 anos ......................... 39 44,83 12,52 De 9 a 12 anos ....................... 3 3,45 2,40 Mais de 12 anos ..................... - - 0,64 Sem resposta ......................... 2 2,30 - TOTAL ................................... 87 100,0 100,0

FONTE: Pesquisa de campo (2000/2001). FONTE: IBGE. Censo Demográfico 1991: Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro: FONTE: IBGE, 1994. (1) Ano 2001. (2) Ano 1991.

No que se refere ao acesso à terra, os beneficiários que compuseram aamostra do presente estudo, representados na Tabela 6, se caracterizam pelaposse de pequenos estabelecimentos, pois 70,11% dos estabelecimentos sesituam na faixa de até 20 hectares, e 29,89%, no estrato de até 10 hectares.Esses indicadores revelam que os beneficiários do RS Rural entrevistadospossuem propriedades com tamanho de área inferior às médias para todo o

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Estado do Rio Grande do Sul, onde 61,67% do total dos estabelecimentos nãosão maiores que 20 hectares, e 34,21% não têm mais do que 10 hectares.

7 A superfície agrícola útil corresponde à área (em hectares) do estabelecimento agrícolaefetivamente explorada com atividades agrícolas, ou seja, a superfície total (ST) da unidadede produção agrícola menos as áreas improdutivas ou que não estejam sendo exploradasdo ponto de vista agrícola.

Tabela 6 Estratificação fundiária dos estabelecimentos

da amostra pesquisada no RS — 2001

ESTRATOS DE ÁREA (ha)

NÚMERO % % CUMULATIVO

De 0 a 10 ......................... 26 29,89 29,89 De 11 a 20 ....................... 35 40,23 70,11 De 21 a 50 ....................... 22 25,29 95,40 De 51 a 100 ..................... 4 4,60 100,00 TOTAL ............................ 87 100,00 -

FONTE: Pesquisa de campo (2000/2001).

Outro indicador importante no que se refere à estrutura fundiária é a dispo-nibilidade de superfície agrícola útil (SAU)7. Nesse caso, conforme indica a Tabe-la 7, a concentração dos estabelecimentos entrevistados nos estratos inferioresé ainda mais significativa, pois 47,13% dos entrevistados revelaram que possu-em uma SAU não superior a 10 hectares, e quase 80% não ultrapassam os 20hectares.

Tabela 7 Superfície agrícola útil (SAU) disponível no RS — 2001

ESTRATOS DE

ÁREA (ha) NÚMERO % % CUMULATIVO

De 0 a 10 .................. 41 47,13 47,13 De 11 a 20 ................ 28 32,18 79,31 De 21 a 50 ................ 18 20,69 100,00 TOTAL ...................... 87 100,00 -

FONTE: Pesquisa de campo (2000/2001).

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Outro aspecto a ser ressaltado neste item sobre a disponibilidade dos fato-res de produção refere-se ao uso da força de trabalho nos estabelecimentosentrevistados. A Tabela 8 indica que a maior parte dos estabelecimentos, 43,68%,dispõe de duas a três Unidades de Trabalho Homem (UTHs)8. Com base nainformação paralela a esta, que indica que 59,77% dos estabelecimentos nãodispõem de mais de três UTHs, pode-se afirmar que a maioria das unidadesentrevistadas são compostas, provavelmente, pelo casal e mais um membro.Contudo também se deve registrar que há uma proporção considerável deestabelecimentos que têm uma disponibilidade maior de força de trabalho, comoé o caso dos 18,39% que dispõem de três a quatro UTHs e dos 17,24% quedispõem de quatro a cinco UTHs. Raros são os estabelecimentos que dispõemde mais de cinco UTHs para execução dos trabalhos.

Tabela 8

Unidade de trabalho-homem (UTH) disponível nos estabelecimentos da amostra pesquisada no RS — 2001

ESTRATOS DE UTH NÚMERO % % CUMULATIVO

De 0,0 a 1,0 ............. 3 3,45 3,45

De 1,1 a 2,0 ............. 11 12,64 16,09

De 2,1 a 3,0 ............. 38 43,68 59,77

De 3,1 a 4,0 ............. 16 18,39 78,16

De 4,1 a 5,0 ............. 15 17,24 95,40

De 5,1 a 6,0 ............. 2 2,30 97,70

Mais de 6,0 .............. 2 2,30 100,00

TOTAL .................... 87 100,00 -

FONTE: Pesquisa de campo (2000/2001).

8 A unidade de trabalho homem corresponde à unidade de medida utilizada para mensurar aquantidade de trabalho. Uma UTH equivale a 300 dias de trabalho de oito horas diárias.

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O terceiro fator de produção analisado foi o capital disponível (CD)9 noestabelecimento agrícola. A Tabela 9 indica que a ampla maioria dosentrevistados, 63,22%, não dispunha de capital superior a R$ 10.000,00, sendoque, em uma parcela muito expressiva dos estabelecimentos, 32,18%, o valordo capital disponível não ultrapassava os R$ 5.000,00.

9 O capital disponível consiste na soma do valor dos recursos produtivos e tecnológicosdisponíveis no estabelecimento agrícola, ou seja, a soma do valor de máquinas, equipa-mentos, construções, benfeitorias e animais (excluindo o valor da terra).

10 O produto bruto corresponde ao valor final dos produtos gerados no decorrer do ano, noestabelecimento agrícola. Integram o produto bruto a produção vendida, a produçãoconsumida pela família, a produção estocada, a produção utilizada na forma de pagamentode serviços de terceiros e a variação do rebanho animal.

Tabela 9

Capital disponível (CD) nos estabelecimentos da amostra pesquisada no RS — 2001

ESTRATOS (R$) NÚMERO % % CUMULATIVO

Menos de 5 000,00 .............. 28 32,18 32,18

De 5 001,00 a 10 000,00 ..... 27 31,03 63,22

De 10 001,00 a 15 000,00 ... 10 11,49 74,71

De 15 001,00 a 20 000,00 ... 5 5,75 80,46

De 20 001,00 a 25 000,00 ... 4 4,60 85,06

De 25 001,00 a 30 000,00 ... 1 1,15 86,21

Mais de 30 000,00 ............... 12 13,79 100,00

TOTAL ................................. 87 100,00 -

FONTE: Pesquisa de campo (2000/2001).

A Tabela 10 indica que 33,33% dos estabelecimentos entrevistados possu-íam um produto bruto (PB)10 anual inferior a R$ 5.000,00, ou seja, inferior a R$416,66 por mês. No intervalo de R$ 5.000,00 a R$ 10.000,00 de produto brutoanual, estão outros 24,14% dos estabelecimentos, e uma parcela também ex-pressiva de 19,54% situa-se entre R$ 10.000,00 e R$ 15.000,00 de produtobruto anual. No intervalo de até R$ 10.000,00 de produto bruto ao ano, encontram-

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-se mais da metade (57,47%) dos estabelecimentos entrevistados. Quandoessa faixa é elevada para R$ 15.000,00 anuais, a proporção aumenta para 77,01%dos estabelecimentos. São apenas oito os estabelecimentos que possuem umproduto bruto anual acima de R$ 20.000,00.

Tabela 10

Produto bruto (PB) gerado nos estabelecimentos da amostra pesquisada no RS — 2001

ESTRATOS (R$) NÚMERO % % CUMULATIVO

Menos de 5 000,00 ................. 29 33,33 33,33

De 5 001,00 a 10 000,00 ........ 21 24,14 57,47

De 10 001,00 a 15 000,00 ...... 17 19,54 77,01

De 15 001,00 a 20 000,00 ...... 12 13,79 90,80

De 20 001,00 a 25 000,00 ...... 1 1,15 91,95

De 25 001,00 a 30 000,00 ...... 1 1,15 93,10

Mais de 30 000,00 .................. 6 6,90 100,00

TOTAL .................................... 87 100,00 -

FONTE: Pesquisa de campo (2000/2001).

Em relação à renda agrícola (RA)11, cabe mencionar que a média entre osbeneficiários é de R$ 6.064,90, e a mediana é de R$ 4.732,02, mais uma vezindicando uma distribuição assimétrica com maior concentração nos estratosinferiores. A Tabela 11 apresenta a renda agrícola gerada nos estabelecimentosque compõem a amostra dos beneficiários do Programa RS Rural, nosubcomponente Geração de Renda com Retorno. Esses dados indicam quemais da metade (52,87%) dos estabelecimentos têm renda agrícola que vai devalores negativos a um máximo de R$ 5.000,00 ao ano. Quando se acrescen-ta a faixa imediatamente superior a esta, que é aquela entre R$ 5.000,00 eR$ 10.000,00 de renda agrícola anual, essa proporção eleva-se para 83,91%

11 A renda agrícola corresponde à parte da riqueza líquida que permanece no estabelecimen-to agrícola e que serve para remunerar o trabalho familiar e realizar investimentos, ou seja,o valor agregado líquido (VAL) descontado dos custos de arrendamento (AR), de despe-sas financeiras (DF), de impostos (I) e de salários e encargos sociais (S).

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dos estabelecimentos, o que significa uma renda mensal de R$ 833,33. O estra-to que concentra a maior proporção individualmente (48,28%) é aquele ondeestão os estabelecimentos que possuem renda agrícola de até R$ 5.000,00ao ano, sendo seguido pelos que estão na faixa entre R$ 5.000,00 e R$ 10.000,00,que representam outros 31,03%.

Tabela 11

Renda agrícola (RA) gerada nos estabelecimentos da amostra pesquisada no RS — 2001

ESTRATOS (R$/ano) NÚMERO % % CUMULATIVO

Renda negativa .................. 4 4,60 4,60 De 0,00 a 5 000,00 ............. 42 48,28 52,87 De 5 001,00 a 10 000,00 .... 27 31,03 83,91 De 10 001,00 a 15 000,00 .. 8 9,20 93,10 De 15 001,00 a 20 000,00 .. 3 3,45 96,55 De 20 001,00 a 25 000,00 .. 2 2,30 98,85 De 25 001,00 a 30 000,00 .. 1 1,15 100,00 TOTAL .............................. 87 100,00 -

FONTE: Pesquisa de campo (2000/2001).

Depois de calculada a renda agrícola, considerou-se importante separar aparcela que, dentro dela, representa o valor do autoconsumo (VAC)12. Essaseparação deve-se, sobretudo, ao fato de que o objetivo da pesquisa consistiaem estimar a riqueza gerada nos estabelecimentos rurais que foram contempladoscom o programa governamental já referido e, também, para que se pudessecalcular as eventuais condições de reembolso dos recursos financiados. Adistribuição de freqüências do valor do autoconsumo apenas não é apresentadaaqui por motivos de espaço, mas vale comentar que se observa também umagrande diversidade de situações.

Após deduzido o valor do autoconsumo da renda agrícola, aparece a receitaagrícola líquida (RAL)13 dos estabelecimentos, que pode ser entendida como a

12 O valor do autoconsumo (VAC) corresponde à parte do produto bruto consumido pelafamília do proprietário do estabelecimento agrícola.

13 A receita agrícola líquida (RAL) corresponde à parte do produto bruto obtido no estabele-cimento agrícola que tem como destino a comercialização e a venda para terceiros.

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renda monetária auferida pelos agricultores, advinda das suas atividadesagropecuárias. De fato, trata-se do valor monetário líquido, originado da atividadeagrícola, que é embolsado e que, segundo o entendimento que será exposto emmais detalhe nas próximas seções, poderá, virtualmente, ser utilizado comounidade de referência para possível pagamento dos financiamentos contraídosno escopo do subcomponente Geração de Renda com Retorno do RS Rural.

Após a análise das diferentes variáveis, chega-se, enfim, à receita agrícolalíquida obtida pelos agricultores entrevistados. A Tabela 12 revela que existempelo menos nove estabelecimentos que possuem receita agrícola líquidanegativa, ou seja, não obtêm nenhum ganho monetário em sua atividade agrícola.Embora a maior parte dos estabelecimentos (25,29%) estudados possua receitaslíquidas anuais entre R$ 5.000,00 e R$ 10.000,00, convém notar que esse estratotem uma amplitude maior que os demais. O segundo grupo mais numeroso écomposto por aqueles estabelecimentos que ganham até R$ 1.000,00 (17,24%)ao ano, o que significa um ganho mensal máximo de R$ 83,33, tomando-seo ganho mais elevado como referência. Embora não seja necessário detalharcada estrato da Tabela 12, é interessante observar que o número deestabelecimentos se distribui de modo razoavelmente uniforme entre todos osestratos, o que revela, provavelmente, dinâmicas e sistemas agrícolas bastantediferenciados (que serão analisados em outra seção).

Tabela 12

Receita agrícola líquida (RAL) dos estabelecimentos da amostra pesquisada no RS — 2001

ESTRATOS (R$/ano) NÚMERO % % CUMULATIVO

Menos de 0,00 .................... 9 10,34 10,34 De 0,00 a 1 000,00 ............. 15 17,24 27,59 De 1 001,00 a 2 000,00 ...... 8 9,20 36,78 De 2 001,00 a 3 000,00 ...... 6 6,90 43,68 De 3 001,00 a 4 000,00 ...... 6 6,90 50,57 De 4 001,00 a 5 000,00 ...... 7 8,05 58,62 De 5 001,00 a 10 000,00 .... 22 25,29 83,91 De 10 001,00 a 20 000,00 .. 11 12,64 96,55 Mais de 20 000,00 .............. 3 3,45 100,00 TOTAL ................................ 87 100,00 -

FONTE: Pesquisa de campo (2000/2001).

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A participação das rendas não agrícolas edas rendas de aposentadorias na formaçãoda renda total (RT)14 dos estabelecimentos

Até aqui, os dados apresentados focalizaram aspectos relacionados aosfatores de produção disponíveis no estabelecimento agrícola e à geração derendas decorrentes das atividades produtivas agrícolas. Disso decorre que aanálise da renda foi, a rigor, uma análise da renda agrícola gerada nosestabelecimentos. Ora, como se sabe, as unidades familiares agrícolas nãodependem exclusivamente da renda agrícola para garantir sua reprodução social.Assim, é necessário admitir um outro tipo de raciocínio para entender como seconstitui a renda total dos estabelecimentos agrícolas familiares. Para secompreender a formação da renda total, como se verá, é necessário levar emconsideração que a renda agrícola é apenas umas das fontes de renda possíveise que ela se combina, de modo diversificado e heterogêneo, com outras fontesde renda não agrícolas (que podem decorrer da realização de atividades nãoagrícolas dentro ou mesmo fora do estabelecimento) e, de modo crescente,com as receitas advindas do acesso aos benefícios previdenciários, as rendasde aposentadorias15.

A combinação da atividade agrícola com outras atividades não agrícolas jáocupa uma parcela expressiva da força de trabalho das unidades entrevistadas.A Tabela 13 mostra que a combinação de atividades pode ocorrer tanto dentrodo setor agrícola como em relação a outros tipos de atividades. Embora a amplamaioria (64,37%) ainda dependa exclusivamente do trabalho agrícola, há umaparcela não desprezível de 16,09% que se ocupa com outras atividades fora doestabelecimento, e há outros 16,09% que estão ocupados em atividades nãoagrícolas diversas, além dos 2,3% que combinam ambas as atividades.

14 A renda total (RT) corresponde à soma da totalidade de rendas auferidas pelo chefe e pelosdemais membros da família residentes na unidade de produção agrícola, ou seja, o somatórioda renda agrícola com as rendas oriundas de atividades não agrícolas e as rendas deaposentadorias.

15 As rendas de aposentadorias correspondem às rendas decorrentes de benefícios deaposentadoria auferidos pelo chefe ou por outros membros da família residentes no esta-belecimento agrícola.

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Tabela 13

Presença de atividades não agrícolas nos estabelecimentos da amostra pesquisada no RS — 2001

TIPO DE ATIVIDADE NÚMERO %

Outras atividades fora do estabele-cimento (1) ......................................

14

16,09

Atividades não agrícolas (2) ........... 14 16,09 Combinação de atividade agrícola e não agrícola ................................

2

2,30

Somente atividades agrícolas ......... 56 64,37 Sem resposta .................................. 1 1,15 TOTAL ............................................ 87 100,00

FONTE: Pesquisa de campo (2000/2001). (1) São atividades de colheita e de diarista. (2) Entre as atividades não agrícolas apuradas estão as ocupações: artesão, enfermeira, carpinteiro, mecânico, intermediário, professor, motorista, freteiro, pedreiro, industriário, comerciário, vendedor de vassouras, atravessador, empregado da prefeitura, eletrificador, encanador e caseiro.

A análise das diferentes fontes de renda presentes nos estabelecimentosestá apresentada em maior detalhe na Tabela 14, onde estão separados osestabelecimentos que têm acesso às aposentadorias daqueles que não possuemessa fonte de renda. Essa separação apóia-se na idéia de que a aposentadoriarepresenta uma fonte de recursos monetários, para um indivíduo ou para umafamília, que não decorre de uma estratégia produtiva, porque se constitui emdireito social adquirido, traduzido em benefício pecuniário, conferido a uma pessoa(no caso de benefício previdenciário rural, a legislação brasileira prevê que esteé facultado às mulheres a partir dos 55 anos de idade e para os homens a partirdos 60 anos), quando cumpridas as prerrogativas legais ao seu acesso. Do totalde 87 estabelecimentos entrevistados, em 34 verificou-se a presença deaposentados, que, em geral, são avós ou outros membros pertencentes à famíliacom idade acima de 60 anos.

A partir da formação dos dois grupos de estabelecimentos, segundo apresença ou não de aposentados, pôde-se introduzir um novo corte, visandoseparar os estabelecimentos que dependiam exclusivamente da renda agrícoladaqueles que realizavam combinações entre atividades agrícolas e não agrícolas.Como resultado, observou-se que a separação levou à formação de quatro grupos

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diferentes, cuja distinção principal está nos tipos de rendas que formam o orça-mento final (ou renda total) dos estabelecimentos. Assim, por exemplo, há umprimeiro grupo, de 31 estabelecimentos, que depende exclusivamente das ren-das agrícolas, com uma renda total anual de R$ 7.069,21. Vale ressaltar que,apesar de esse grupo apresentar a menor renda total, é o grupo que apresenta amaior renda agrícola. O segundo grupo, formado por 22 estabelecimentos, combinaas rendas agrícolas com fontes não agrícolas e chega a uma renda total anualde R$ 7.807,43. O terceiro grupo, de 26 estabelecimentos, conta com a presençade aposentados, dedica-se exclusivamente às atividades agrícolas e alcançauma renda total anual de R$ 9.155,91. O quarto e último grupo, formado porapenas oito estabelecimentos, é o mais eclético de todos, tanto no que serefere aos tipos de renda que aufere como em relação às atividadesdesempenhadas. Talvez, em razão dessas múltiplas combinações de fontes derenda e atividades ocupacionais, seja o grupo de maior renda total anual, que éde R$ 13.304,70.

Tabela 14

Estabelecimentos com e sem rendas de aposentadorias e valor anual das rendas agrícola, não agrícola, de aposentadoria e renda total

de amostra pesquisada no RS — 2001

ESTABELECIMENTOS SEM APOSENTADOS

ESTABELECIMENTOS COM APOSENTADOS

INDICADORES Exclusiva- mente Agrícolas

Agrícolas e Não

Agrícolas

Exclusiva- mente Agrícolas

Agrícolas e Não

Agrícolas

Renda agrícola (R$/ano) 7.069,21 5.184,78 5.547,16 6.276,20 Renda de aposentado-rias (R$/ano) ................

-

-

3.608,75

2.453,75

Renda de atividades não agrícolas (R$/ano)

-

2.622,66

-

4.574,75

Renda total dos esta-belecimentos (R$/ano)

7.069,21

7.807,43

9.155,91

13.304,70

Número de estabeleci-mentos ........................

31

22

26

8

FONTE: Pesquisa de campo (2000/2001).

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No que se refere à renda total dos estabelecimentos estudados, que com-preende a soma de todas as receitas depois de efetuadas as deduções dedespesas, depreciações e outros custos, verificou-se que 68,97% dosentrevistados obtêm uma renda total anual não superior a R$ 10.000,00, sendopoucos a ultrapassarem a casa dos R$ 20.000,00 anuais. Outra informação quepode ser apreendida da Tabela 15 refere-se ao fato de que 25 estabelecimentos,que representam 28,74%, possuem renda total anual inferior a R$ 5.000,00, oque significa um ganho mensal de R$ 426,66. Mas a maior parcela dosestabelecimentos, 35 ao todo (40,23% do total), situa-se na faixa de R$5.000,00 a R$ 10.000,00 de renda total anual. Uma última verificação, extraídada Tabela 15, mostra que 87,36% do total de beneficiários entrevistados nãochegam a ganhar mais de R$ 1.250,00 de renda mensal, quando considerado ovalor mais alto como referência.

A partir das informações detalhadas acerca da renda agrícolalíquida, das rendas não agrícolas e das receitas obtidas com aposentadorias,que formam a renda total dos estabelecimentos, pode-se analisar a participaçãoproporcional de cada uma dessas diferentes fontes de renda na formação darenda total. Ou seja, trata-se de saber, afinal, qual a parte de cada fonte derenda na composição final da renda total dos estabelecimentos da amostrainvestigada.

Tabela 15

Renda total (RT) anual gerada nos estabelecimentos da amostra pesquisada no RS — 2001

ESTRATOS (R$/ano) NÚMERO % % CUMULATIVO

De 0,00 a 5 000,00 ............. 25 28,74 28,74

De 5 001,00 a 10 000,00 .... 35 40,23 68,97

De 10 001,00 a 15 000,00 .. 16 18,39 87,36

De 15 001,00 a 20 000,00 .. 5 5,75 93,10

De 20 001,00 a 25 000,00 .. 4 4,60 97,70

De 25 001,00 a 30 000,00 .. 0 0,00 97,70

De 30 000,00 a 35 000,00 .. 2 2,30 100,00

TOTAL ................................ 87 100,00 -

FONTE: Pesquisa de campo (2000/2001).

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A Tabela 16 traz informações sobre a participação da renda agrícola sobrea renda total e indica que a renda agrícola continua a ser a principal fonte derenda para a maior parte dos estabelecimentos entrevistados, pois, para 48,28%deles, ela representa entre 80% e 100% do total de ganhos auferidos. Tambémcabe ressaltar que, para 11 estabelecimentos (o que representa 12,65% sobre ototal), a renda agrícola já não representa mais do que 40% em relação ao totalda renda anual (aqui descontados os 4,60% que têm renda negativa).

Tabela 16

Percentual da renda agrícola sobre a renda total da amostra pesquisada no RS — 2001

ESTRATOS EM % DA RENDA TOTAL

NÚMERO % % CUMULATIVO

Renda agrícola negativa ......... 4 4,60 4,60

De 0 a 20 ................................ 3 3,45 8,05

De 21 a 40 .............................. 8 9,20 17,24

De 41 a 60 .............................. 13 14,94 32,18

De 61 a 80 .............................. 17 19,54 51,72

De 81 a 100 ............................ 42 48,28 100,00

TOTAL .................................... 87 100,00 -

FONTE: Pesquisa de Campo (2000/2001).

A Tabela 17 fornece informações mais detalhadas sobre a participação darenda agrícola, da renda não agrícola e das receitas de aposentadorias nacomposição da renda total dos estabelecimentos. A primeira verificação quepode ser extraída da Tabela 17 indica que a faixa dos que ganham entreR$ 5.000,00 e R$ 10.000,00 por ano constitui a de maior proporção, pois 40,23%dos estabelecimentos estão nesse estrato. Além disso, a Tabela 17 tam-bém fornece informações sobre a participação proporcional dos diferentestipos de renda na constituição da renda anual total dos estabelecimentos. Pode--se perceber, por exemplo, que a participação da renda agrícola tende a sermaior nos estratos em que a renda total do estabelecimento é mais alta,como acontece nas faixas entre R$ 20.000,00 e R$ 25.000,00 anuais e entreR$ 30.000,00 e R$ 35.000,00 anuais. Os dados também mostram que, nos

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estratos em que a renda total anual é mais baixa (entre R$ 0,00 e R$ 10.000,00),há uma tendência de as rendas não agrícolas ampliarem sua participação,chegando a ficar em torno de 15% e 16%. Quando a renda anual total se situanos estratos intermediários (entre R$ 10.000,00 e R$ 20.000,00), a participaçãoda renda advinda de aposentadorias tende a ampliar sua importância, nessecaso, chegando a representar entre 19% e 21%.

A comparação entre os diferentes tipos de rendas também permite verifi-car que, nos estabelecimentos investigados, a renda agrícola é a principal fontede receitas, representando algo em torno de 70%. A segunda constatação é quea participação relativa das rendas de atividades não agrícolas e de aposentado-rias varia conforme a renda total anual dos entrevistados, podendo ser mais oumenos significativa. Mesmo assim, a Tabela 17 permite afirmar que, em média,a participação das rendas não agrícolas e das aposentadorias na renda totalgira em torno de 15% para cada uma. A terceira verificação é que tanto asrendas de atividades não agrícolas como as de aposentadorias já constituemuma importante fonte suplementar de receitas para esses estabelecimentos,pois ambas fornecem algo em torno de 30% da renda total.

Tabela 17

Proporção da renda agrícola (RA), da renda não agrícola (RAÑA) e das rendas de aposentadorias (RAPOS) na composição da renda total (RT)

dos estabelecimentos da amostra pesquisada — 2001

FREQÜÊNCIA ESTRATOS DE RENDA TOTAL

Número %

RA RT

RAÑA RT

RAPOS RT

De 0,00 a 5 000,00 .......... 25 28,74 71,92 15,06 13,02

De 5 001,00 a 10 000,00 35 40,23 65,41 16,49 17,10

De 10 001,00 a 15 000,00 16 18,39 70,87 9,72 19,17

De 15 001,00 a 20 000,00 5 5,75 69,67 9,14 21,19

De 20 001,00 a 25 000,00 4 4,60 86,72 8,62 4,66

De 25 001,00 a 30 000,00 0 0,00 0,00 0,00 0,00

De 30 001,00 a 35 000,00 2 2,30 79,19 14,32 6,49

TOTAL ............................ 87 100,00 69,52 15,63 14,43

FONTE: Pesquisa de campo (2000/2001).

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Sobre a capacidade de reembolso dosfinanciamentos do RS Rural

Os financiamentos enquadrados pelo Programa como Ações de Geraçãode Renda com Retorno apresentaram os mais diversos tipos de benefíciosconcedidos, desde a aquisição de juntas de boi ou vacas leiteiras, passandopela aquisição de máquinas e equipamentos, envolvendo até a construção deagroindústrias. Em todos os casos, os financiamentos permitiram aosbeneficiários aportar capital, viabilizando o desenvolvimento de atividadesagrícolas com a finalidade de gerar renda. Convém, então, retomar as informaçõessobre a disponibilidade de capital dos beneficiários e compará-la ao valor dosfinanciamentos obtidos, ilustrando a importância do Programa para o aporte decapital.

Cabe ressaltar que o capital disponível consiste na soma do valor dosrecursos produtivos e tecnológicos disponíveis na unidade de produção agrícola,ou seja, a soma do valor das máquinas, equipamentos, construções, benfeitoriase animais (excluindo o valor da terra). Entre os entrevistados, a disponibilidadede capital média atinge R$ 13.978,36, variando desde um mínimo de R$ 0,00até um máximo de R$ 131.015,00. Entretanto, quando se observa a distribuiçãodos entrevistados por estratos de valor do capital disponível, nota-se que,conforme apresentado anteriormente, a maior parte da amostra (63,22%) dispõede capital inferior a R$ 10.000,00. Em quase um terço dos entrevistados (32,18%),o valor do capital disponível é inferior a R$ 5.000,00.

Os projetos financiados pelo RS Rural, classificados como Ações deGeração de Renda com Retorno, apresentam um valor médio por famíliacomponente da amostra igual a R$ 1.619,03. É importante ressaltar que, comoprojetos financiados coletivamente, somente se conseguiu identificar o valormédio por família dividindo-se o valor total do projeto pelo número de famíliasbeneficiárias. Além disso, os projetos exigiam uma contrapartida das prefeiturase dos beneficiários, de modo que, para a análise da capacidade de pagamento,se levou em consideração o valor médio financiado, em vez do valor médio doprojeto. Nesse caso, dividiu-se o valor financiado pelo número de famíliasbeneficiárias. Dessa forma, o valor médio financiado por família componenteda amostra é de R$ 1.110,24, variando desde R$ 0,00 até R$ 3.459,83.

A razão entre o valor financiado e a disponibilidade de capital por famíliapermite avaliar o aporte de capital obtido a partir do financiamento. A distribuiçãodesse aporte de capital entre 86 entrevistados (aqui um dos 87 entrevistados foiexcluído, pois o valor do capital disponível por ele declarado era igual a zero,inviabilizando o cálculo do aporte de capital) é apresentada na Tabela 18.

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Para a metade da amostra, o aporte de capital promovido pelo financiamentofoi superior a 10% do capital disponível, sendo que, para 29,07% dosentrevistados, o aporte de capital chegou a ser superior a 20%. Há, inclusive,um caso em que o aporte de capital atingiu 100%, isto é, o valor financiadoigualou-se ao valor do capital disponível pelo beneficiário. Mas o aspecto maisinteressante foi verificar que, na média, o aporte de capital foi 16,8%, indicandoa importância do Programa na disponibilização de recursos produtivos para asfamílias beneficiárias.

Para a estimação do valor a ser reembolsado pelos beneficiários, levaram--se em consideração as condições de pagamento indicadas no manualoperacional do Programa. As condições especificadas envolvem uma carênciade até dois anos (até cinco anos nos projetos de fruticultura), prazo parapagamento de até cinco anos, subsídio de 25% sobre o valor contratado e jurosde 4% ao ano.

Tendo em vista essas condições, simularam-se três cenários para a análiseda capacidade de retorno. Em todos os cenários, considerou-se um período decarência de dois anos, subsídio de 25% sobre o valor contratado e juros de 4%ao ano. Os cenários distinguem-se pelos prazos para pagamento: um, três ecinco anos. Assim, no primeiro cenário, passado o período de carência, obeneficiário retorna o valor devido em uma única parcela, descontado o valorsubsidiado e acrescido do valor relativo aos juros; no segundo cenário, obeneficiário retorna um terço do valor devido a cada ano após a carência, tambémprocedendo os descontos e os acréscimos correspondentes a subsídios e ajuros; por fim, no terceiro cenário, o beneficiário retorna um quinto do valor devidoa cada ano, passado o período de carência.

Tabela 18 Aporte de capital com o financiamento do RS Rural

da amostra pesquisada no RS — 2001

BLOCO (%) FREQÜÊNCIA % % CUMULATIVO

De 0 a 5 ..................... 28 32,56 32,56 De 5 a 10 ................... 15 17,44 50,00 De 10 a 20 ................. 18 20,93 70,93 De 20 a 50 ................. 20 23,26 94,19 De 50 a 100 ............... 5 5,81 100,00 Mais de 100 ............... 0 0,00 100,00 TOTAL ...................... 86 100,00 -

FONTE: Pesquisa de campo (2000/2001).

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Microcrédito e capacidade de pagamento dos agricultores familiares:...

A avaliação da capacidade de pagamento deve ser feita com base nacomparação da renda auferida pelos beneficiários e do valor a ser retornado emcada um dos cenários simulados. Nesse momento, retomaram-se algunsconceitos importantes referentes à renda, já apresentados anteriormente ecaracterizados para a amostra estudada.

A renda total corresponde ao somatório das rendas auferidas pelo chefe epelos demais membros da família residentes na unidade de produção, ou seja, asoma da renda agrícola com as rendas oriundas de atividades não agrícolas eas rendas de aposentadoria. Por sua vez, a renda agrícola consiste no valor doproduto bruto da atividade agrícola, descontado do valor do consumo intermediário(despesas efetuadas com insumos e serviços de terceiros), depreciação, custosde arrendamento, despesas financeiras, impostos, salários e encargos sociais.A renda agrícola, que engloba tanto a renda monetária (em cash) como o valordo autoconsumo, corresponde à parte da riqueza líquida que permanece naunidade produtiva e que serve para remunerar o trabalho familiar e para rea-lizar investimentos.

Contudo tanto a renda total como a renda agrícola englobam itens que nãosão plausíveis de consideração para fins de capacidade de pagamento. Comoos financiamentos foram destinados a projetos para geração de renda,beneficiando diferentes atividades agrícolas, optou-se por considerar apenas arenda obtida com essas atividades agrícolas para o retorno do valor devido.Assim, as rendas oriundas de atividades não agrícolas e de aposentadorias nãoforam levadas em consideração como recursos para a avaliação da capacidadede retorno, pois não faz sentido, se o beneficiário receber recursos para gerarrenda com atividades agrícolas e tiver que usar outras rendas (de atividadesnão agrícolas ou de aposentadorias) para reembolsar o valor devido.

Por outro lado, a renda agrícola inclui o valor referente ao autoconsumo,isto é, a parte do produto bruto que é consumida pela família. Da mesma forma,não se levou em consideração essa parcela da renda agrícola para a avaliaçãoda capacidade de pagamento, pois também não faz sentido, se o beneficiárioreceber recursos para gerar renda com atividades agrícolas e tiver que reduzirseu autoconsumo para reembolsar o valor devido.

Com isso, retomou-se o conceito de receita agrícola líquida, apresentadoanteriormente como a diferença entre a renda agrícola e o valor do autoconsumo.A receita agrícola líquida é, então, o valor da produção agrícola bruta menos ovalor do consumo intermediário, da depreciação, dos custos de arrendamento,das despesas financeiras, dos impostos, dos salários, dos encargos sociais edescontado também o valor do autoconsumo. Enfim, a receita agrícola líquidatrata-se, dessa forma, do valor monetário líquido originado da atividade agrícolae que é aqui considerado como o valor para a avaliação da capacidade de

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pagamento dos financiamentos contraídos no escopo do subcomponente Geraçãode Renda com Retorno do RS Rural. A avaliação da capacidade de pagamentocom base na receita agrícola líquida é reforçada com a análise das Tabelas 19 a21, que apresentam as distribuições de freqüência do percentual da receita agrícolalíquida que é necessário para o reembolso do valor financiado, em cada um doscenários simulados.

Tabela 19 Distribuição do percentual da receita agrícola líquida necessário para o reembolso

em um ano após a carência da amostra pesquisada no RS — 2001

BLOCO (%) FREQÜÊNCIA %

Menos de 0 .......................... 8 9,20

De 0 a 20 .............................. 40 45,98

De 20 a 40 ............................ 21 24,14

De 40 a 60 ............................ 5 5,75

De 60 a 80 ............................ 4 4,60

De 80 a 100 .......................... 2 2,30

Mais de 100 .......................... 7 8,05

TOTAL .................................. 87 100,00

FONTE: Pesquisa de campo (2000/2001).

Nessas tabelas, sempre que o percentual é inferior a 0%, este correspondea uma receita agrícola líquida negativa, sendo estes os beneficiários maisproblemáticos em termos de capacidade de retorno do valor financiado. Por outrolado, sempre que o percentual é elevado, este corresponde a um altocomprometimento da receita agrícola líquida, também se enquadrando comobeneficiários com dificuldades de reembolsar o valor financiado.

Nas Tabelas 19, 20 e 21, pode-se notar que a maior parte dos entrevistadosapresenta um pequeno comprometimento da receita agrícola líquida para o retornodo valor financiado. No primeiro cenário, com o reembolso em apenas um anoapós a carência, 40 dos 87 beneficiários entrevistados apontam um com-prometimento inferior a 20% da receita agrícola líquida, perfazendo 45,98% daamostra. Quando se considera um comprometimento de até 40% da receitaagrícola líquida, são 61 beneficiários, correspondendo a 70,12% da amostra.

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Tabela 21 Distribuição do percentual da receita agrícola líquida necessário para o reembolso

em cinco anos após a carência da amostra pesquisada no RS — 2001

BLOCO (%) FREQÜÊNCIA %

Menos de 0 .............................. 8 9,20

De 0 a 20 ................................. 72 82,76

De 20 a 40 ............................... 3 3,45

De 40 a 60 ............................... 0 0,00

De 60 a 80 ............................... 0 0,00

De 80 a 100 ............................. 1 1,15

Mais de 100 ............................. 3 3,45

TOTAL ..................................... 87 100,00

FONTE: Pesquisa de campo (2000/2001).

Tabela 20

Distribuição do percentual da receita agrícola líquida necessário para o reembolso em três anos após a carência da amostra

pesquisada no RS — 2001

BLOCO (%) FREQÜÊNCIA %

Menos de 0 .......................... 8 9,20

De 0 a 20 .............................. 66 75,86

De 20 a 40 ............................ 8 9,20

De 40 a 60 ............................ 1 1,15

De 60 a 80 ............................ 0 0,00

De 80 a 100 .......................... 0 0,00

Mais de 100 .......................... 4 4,60

TOTAL ................................. 87 100,00

FONTE: Pesquisa de campo (2000/2001).

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Já no segundo cenário, com o reembolso em três anos após a carência, onúmero de beneficiários capazes de retornar o valor financiado comprometendomenos de 20% da receita agrícola líquida sobe para 66, e o número daquelescapazes de retornar o valor financiado comprometendo menos de 40% da receitaagrícola líquida atinge 74, correspondendo a, respectivamente, 75,86% e 85,06%da amostra.

Por fim, no terceiro cenário, com o reembolso em cinco anos após o períodode carência, são 72 os beneficiários entrevistados que apresentam umcomprometimento inferior a 20% da receita agrícola líquida, perfazendo 82,76%da amostra. Quando se considera um comprometimento de até 40% da receitaagrícola líquida, nesse cenário são 75 beneficiários, correspondendo a 86,21%da amostra.

Cabe ressaltar, também, as características principais dos beneficiáriosque demonstram maiores dificuldades para retornar o valor financiado, isto é,aqueles que obtêm receita agrícola líquida negativa ou os que têm quecomprometer uma grande proporção (acima de 80%) desse valor para oreembolso do valor devido. Enquadram-se nessa situação 12 indivíduos dentreos 87 entrevistados, perfazendo 13,80% da amostra, nos cenários com retornoem três e cinco anos após a carência.

Também entre os 12 beneficiários sem condições adequadas de reembolsona amostra, pode-se notar uma grande diversidade quanto ao perfilsocioeconômico, assim como quanto à disponibilidade dos fatores produtivos(área dos estabelecimentos, SAU, UTH, capital disponível). Por exemplo, entreesses 12 indivíduos, a idade média do chefe da família é de 44,6 anos, masvariando entre 25 e 68 anos; a SAU média é de 8,55ha (abaixo da média daamostra estudada), mas varia entre 1,50ha e 34,75ha; a disponibilidade de UTHmédia é 2,74, oscilando desde 0,75 até 7,82.

Porém há algumas características comuns entre esses 12 beneficiáriosque não possuem condições adequadas de reembolso. Quase todos apontaramo acesso ao mercado como precário e dispõem de equipamentos manuais ou detração animal, assim como de benfeitorias classificadas como precárias. Mas acaracterística mais importante, comum a praticamente todos os beneficiáriossem condições adequadas de pagamento do valor devido, é a suadependência de rendas extra-agrícolas, nesse caso, provenientes de atividadesnão agrícolas ou de aposentadorias. Como essas fontes não foram consideradasno cálculo para o reembolso dos empréstimos, fica evidente que a atividadeagrícola realizada nessas unidades é incapaz de gerar rendimentos suficientes.Entre os 12 indivíduos enquadrados nessa situação, a média de participação darenda agrícola na renda total é de apenas 22,99%, sendo que trêsestabelecimentos apresentaram renda agrícola negativa.

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Assim, pode-se verificar que os estabelecimentos que não apresentamcondições adequadas para reembolsar os valores financiados (convém enfatizar,mais uma vez, que é uma parcela pequena da amostra, correspondendo a apenas13,80% dos 87 entrevistados) são justamente aqueles que mais dependem deoutras fontes de rendimentos, porque a renda agrícola obtida (maisespecificamente, a receita agrícola líquida) não é suficiente para tal operação.

Considerações finais

Analisando as rendas dos beneficiários do RS Rural que foram contempladospelas Ações de Geração de Renda com Retorno e sua capacidade de reembolsodos recursos financiados pelo Programa, pode-se encaminhar algumasconsiderações finais. Primeiro, a caracterização socioeconômica dos beneficiáriosmostrou que a maior parte possui áreas agrícolas restritas e emprega mão-de--obra predominantemente familiar. Constata-se, também, que todos osbeneficiários possuem atividades produtivas destinadas ao autoconsumo dafamília.

Segundo, com base nos dados levantados em campo, não foramconstatadas relações diretas entre as atividades agrícolas praticadas pelosbeneficiários e as rendas por elas geradas. Foram identificados agricultores emsituação de pobreza, desempenhando os mais diversos tipos de atividades edispondo de variadas condições de produção. Dessa forma, não é possível inferirqual a atividade apoiada pelo RS Rural que se mostra mais adequada e capazde proporcionar maior renda agrícola. Enfim, a constatação do trabalho indicaque não se pode recomendar aos operadores da política pública que existe umdeterminado tipo de atividade ou ação que seja mais eficiente e propicie melhorescondições de combater a pobreza rural. A adequação, ou não, de uma atividadeou ação dependerá de uma conjunção de fatores produtivos, tecnológicos, sociaise ambientais, que variam de acordo com o tipo de estabelecimento ou de famíliaque é contemplada.

O terceiro aspecto salientado no trabalho refere-se à forma de avaliação dacapacidade de retorno dos financiamentos concedidos. O Programa RS Rural,no componente Geração de Renda com Retorno, teve um impacto importanteno aporte de capital, disponibilizando recursos para as famílias beneficiárias.Como os financiamentos são destinados à geração de renda agrícola, considerou--se que, para fins de cálculo da capacidade de reembolso, se deveria utilizarcomo critério apenas a parcela da renda obtida com as atividades agrícolas. Emconseqüência, as rendas oriundas de aposentadorias ou de atividades não

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agrícolas não foram levadas em consideração como recursos para a avaliaçãoda capacidade de retorno. Por outro lado, a renda agrícola inclui o valor referenteao autoconsumo, isto é, a parte da produção que é consumida pelo beneficiárioe sua família. Da mesma forma, não se levou em consideração essa parcela darenda agrícola para a avaliação da capacidade de pagamento dos financiamentosconcedidos. Assim, considerou-se a relação entre a receita agrícola líquida dosbeneficiários e o valor anual estimado para o reembolso dos financiamentoscomo critério para definição do nível de adimplência dos beneficiários.

A quarta consideração importante do trabalho permite indicar que, entre osagricultores entrevistados, a receita agrícola líquida é, geralmente, bem superiorao valor a ser reembolsado anualmente por cada família ao Estado. Issodemonstra que, na maior parte dos casos, os beneficiários de pequenos créditosfinanceiros, mesmo pobres, têm capacidade de retorno dos financiamentosconcedidos, tal como revela o caso dos fundos emprestados no âmbito dasAções de Geração de Renda com Retorno do RS Rural gaúcho.

A quinta verificação do trabalho indicou que, na simulação de cenárioscom diferentes prazos de reembolso após o período de carência, os resultadosmostraram que, na grande maioria, os beneficiários do Programa têm capacidadede reembolsar o valor financiado com base na receita agrícola líquida, adequadaa prazos de pagamento entre três e cinco anos após o período de carência. Namaioria das vezes, as simulações indicaram que os agricultores comprometeriamentre 0% e 20% da receita agrícola líquida, o que não representaria risco deinadimplência e tampouco comprometimento das condições socioeconômicasda família.

Por fim, o trabalho também mostrou que, quando se isolam os beneficiáriossem condições adequadas de reembolso dos demais, aparecem algumascaracterísticas interessantes. Percebeu-se, por exemplo, que, dentre os quenão teriam condições de reembolso, quase todos tinham acesso precário aosmercados, dispunham de equipamentos manuais ou de tração animal ebenfeitorias classificadas como precárias. Mas a característica mais importante,comum a praticamente todos esses beneficiários sem condições adequadas depagamento do valor devido, foi a significativa presença de rendas provenientesde atividades não agrícolas ou de aposentadorias. Isso permite concluir que,nos estabelecimentos onde a renda agrícola é muito baixa, o recurso às outrasfontes de rendas tende a ser decisivo para manutenção de um nível derendimentos satisfatório.

Nesse sentido, mais do que esperar que as fontes de rendas não agrícolasfinanciem os pagamentos dos empréstimos tomados para investimentosestritamente agrícolas nas propriedades, seria de se esperar que as políticaspúblicas não continuassem a manter esse viés agrícola. Ao contrário, deveriam

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permitir que os estabelecimentos rurais de agricultores familiares pudessem ter,na pluriatividade e nos plurirrendimentos, um elemento de estímulo a seu favore não de restrição e limitação à sua viabilidade social e econômica.

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Sergio Schneider; Paulo D. Waquil; Daniela Dias Kuhn; Lovois de A. Miguel

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Uma estimação dos custos da criminalidade em Belo Horizonte

Uma estimação dos custos da criminalidadeem Belo Horizonte*

Vinícius Velasco Rondon** Mestre em Economia pelo Cedeplar-UFMG e Analista do Banco Central.Mônica Viegas Andrade Doutora em Economia pelo EPGE e Professora do Programa de Pós-Graduação do Cedeplar-UFMG.

ResumoO artigo procura mensurar parte dos custos indiretos da criminalidade no Muni-cípio de Belo Horizonte, a partir da análise do impacto das taxas de crime sobreos preços de aluguéis residenciais. A metodologia utilizada é a de preçoshedônicos, que usualmente é aplicada na mensuração de preços de bens paraos quais não existe um mercado estabelecido. O desenvolvimento de tal modelopara a estimação dos custos da violência é inédito no Brasil.

Palavras-chavePreços hedônicos; custos; criminalidade.

AbstractThis article attempts to measure part of the indirect costs of criminality in BeloHorizonte city, from the crime rates impact analysis over the price of residentialapartments perspective. The methodology used is the Hedonic Price Model,which is usually applied to measure prices of goods that don’t have a directmarket established. The development of such model, to estimate the costs ofviolence, is unpublished in Brazil.

* Este artigo é uma versão resumida de obra homônima apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Economia no Cedeplar-UFMG.

** E-mail: [email protected]

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Vinícius Velasco Rondon; Mônica Viegas Andrade

Key words:Violence costs; economic of crime; hedonic price model.

Classificação JEL: 118, 130.

Artigo recebido em 19 abr. 2004.

Introdução

A criminalidade afeta diretamente o bem-estar dos indivíduos, seja pelaperda precoce de vidas humanas e pela redução da qualidade de vida, seja,ainda, pela perturbação à eficiência econômica. Estudar a criminalidade emtodos os seus aspectos, como forma de buscar alternativas eficazes de comba-te ao crime e aos seus efeitos deletérios, contribui para melhorar o bem-estarcoletivo.

O presente artigo procura mensurar parte dos custos indiretos dacriminalidade no Município de Belo Horizonte, a partir da análise do impacto dastaxas de crime sobre os preços de locação de apartamentos residenciais.A metodologia de estimação de preços hedônicos (Hedonic Price Models) éusualmente utilizada para mensurar preços de bens para os quais não existe ummercado direto. Através dela, é possível obter indiretamente o preço ou o valorque os indivíduos estão dispostos a pagar por determinados bens que não sãodiretamente vendáveis na economia: é o caso de poluição sonora, qualidade doar, segurança, dentre outros. No caso específico deste trabalho, estamos inte-ressados em estimar o valor que os indivíduos pagam para residir em áreas quese caracterizam como mais seguras. Essa estimativa nos permite mensurar,aproximadamente, quanto os indivíduos estariam dispostos a pagar para reduziro nível de criminalidade. Isso é importante não só porque possibilita a avaliaçãode um custo indireto que é imposto aos indivíduos, como também porque permi-te estimar quanto os indivíduos estariam dispostos a pagar para reduzir acriminalidade. Além disso, na definição dos objetivos de política pública, éimportante que o Governo tenha uma medida da valorização da segurança pela

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Uma estimação dos custos da criminalidade em Belo Horizonte

sociedade, o que permite ao planejador estabelecer uma hierarquia entre osdiferentes setores sujeitos à atuação do Estado.

Neste trabalho, o preço da segurança foi estimado a partir de um modelode determinação de preços de aluguéis de apartamentos. Assumimos, portanto,que o preço do aluguel incorpora um prêmio pelo nível de segurança presente naregião na qual o imóvel se localiza. Assim, indivíduos que escolhem residir emáreas com maior criminalidade estariam pagando um aluguel mais barato,enquanto indivíduos que escolhem residir em áreas mais seguras pagariam umprêmio adicional por isso. A estimação empírica foi feita através de uma regres-são múltipla, utilizando o método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO),em que a variável dependente é o preço dos aluguéis de apartamentos. Comovariáveis de controle, foram utilizados dados da região em que se localiza odomicílio e características do imóvel.

Os resultados indicam que as taxas de crime afetam significativamente ovalor dos aluguéis. Dessa forma, as regiões mais violentas do Município apre-sentaram um decréscimo no valor de locação de seus apartamentos, em virtu-de das elevadas taxas de criminalidade. Apartamentos localizados no BairroSavassi, uma das áreas mais nobres de Belo Horizonte, teriam os seusaluguéis majorados em 5,3%, caso a taxa de roubo à mão armada fosse reduzi-da à metade nessa região, supondo que a violência nas demais unidades deplanejamento permanecesse constante. No Centro, onde o nível de violência éainda maior, os aluguéis subiriam 22% em resposta a uma redução de 50% nataxa de roubo à mão armada. Uma agregação desses valores pode ser interpre-tada como uma medida do fluxo de recursos que a população do Município deBelo Horizonte estaria disposta a alocar em segurança.

Além desta Introdução, este artigo está dividido em outras quatro seções.Na seção 1, apresentamos uma revisão da literatura econômica dos custos dacriminalidade. Na seção 2, discutimos a nossa base de dados e a metodologia.Na seção 3, apresentamos os principais resultados obtidos. Por fim, na últimaseção, tecemos nossas Considerações finais.

1 - Revisão da literatura econômica dos custos da criminalidade

1.1 - Tipologia dos custos da criminalidade

A estimação dos custos é uma das importantes contribuições que oseconomistas podem trazer ao estudo da criminalidade. Essa estimação pode

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orientar a aplicação de recursos públicos no combate à violência. Uma tipologiapara a classificação dos custos do crime divide-os em cinco categorias(ISER, 1998):

- custos de atenção à vítima, incluindo aqueles relacionados com oscuidados prestados no lar, ambulatoriais;

- custos considerados intangíveis, associados aos sofrimentos físico eemocional da vítima, de seus familiares e amigos;

- custos econômicos, relativos às perdas de produção e renda por partedas vítimas;

- custos legais, judiciais e com o aparato da segurança;- custos das perdas materiais decorrentes da violência (veículos, infra--estrutura etc.).

Os custos decorrentes do prêmio para a segurança incidente sobre oaluguel estão indiretamente relacionados à quarta categoria (custos com o apa-rato de segurança). Apesar de esse spread não remunerar diretamente nenhumaestrutura de segurança, o objetivo dos indivíduos que o suportam é análogoàquele presente na contratação de vigias ou, ainda, no gasto em alarmes eequipamentos afins.

Dentre as cinco categorias acima mencionadas, as únicas que podem serdiretamente controladas pelas autoridades são os custos de atendimento àsvítimas e os gastos associados ao aparato legal e de segurança. Ou seja, nes-ses casos, o Governo pode escolher o nível de gastos que deseja realizar comesses tipos de serviços. Nas demais categorias, a magnitude dos custos sópode ser monitorada pela autoridade a partir dos gastos com o aparato de segu-rança, que é um mecanismo regulador do nível de criminalidade da sociedade.Nesse sentido, a escolha de alocação de recursos em segurança depende donível de criminalidade que a sociedade deseja tolerar, e esse nível decriminalidade, por sua vez, depende de como a sociedade avalia serem os cus-tos totais decorrentes da violência e de quanto ela está disposta a pagar pelasegurança. Isso justifica a obtenção de estimativas que contemplem os cincotipos de custos.

Cohen (1990) analisa os custos do crime sob uma outra perspectiva, clas-sificando-os em sociais e externos. Um custo externo é aquele imposto por umapessoa à outra, sendo que a vítima não aceita voluntariamente essa conse-qüência negativa. Por exemplo, os custos externos associados a um roubo emque há violência física incluem a propriedade roubada, os custos médicos, asperdas salariais, assim como o sofrimento sentido pela vítima. O conceito decusto social, em oposição ao de custo externo, tem como referência a socieda-de, e não o indivíduo, na consideração das perdas decorrentes da criminalidade.

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Uma estimação dos custos da criminalidade em Belo Horizonte

Custos sociais são aqueles que reduzem o bem-estar agregado da sociedade.Dessa forma, transferências de propriedade ou de posse não constituem umcusto social. Assim, os bens roubados não são computados como um custosocial, já que poderão ser desfrutados pelo assaltante.

Glaeser e Sacerdote (1999) possuem uma abordagem diferente para essaquestão. Segundo os autores, o tempo gasto pelo criminoso em atividadesilegais é uma perda social, uma vez que esse mesmo tempo poderia ser utiliza-do de forma legal. Portanto, dado que o valor dos bens roubados, em equilíbrio,se iguala ao custo de oportunidade do criminoso, todos os bens roubados deve-riam ser considerados como perda social.

O diferencial sobre o valor do aluguel decorrente das diferentes taxas decriminalidade não se enquadra na categoria de custo social, uma vez que omesmo é totalmente apropriado pelo locador. Dessa forma, não haveria perdapara a sociedade. Contudo, esse mesmo spread pode ser considerado umamedida da disposição individual de pagar por segurança, sendo classificadocomo um custo externo para os indivíduos, na medida em que os mesmos nãopodem escolher viver em segurança sem pagar o diferencial. Portanto, ele seriauma estimativa do valor que os indivíduos atribuem à segurança, explicitando aelevação do bem-estar resultante de reduções na taxa de crime.

1.2 - Evidências empíricas

A mensuração dos danos econômicos decorrentes da criminalidadetem recebido pequena atenção por parte dos pesquisadores. No Brasil, em par-ticular, são poucos os estudos que procuram quantificar os custos da violência.Tais estudos podem ser um instrumento importante na condução de políticas desegurança pública. Segundo Londoño, Gaviria e Guerrero (2000), os custos daviolência representam uma parcela expressiva do Produto Interno Bruto (PIB)de vários países da América Latina. A partir de uma metodologia de contagem,os autores imputaram valores para perdas monetárias — gastos em segurança,sistema de justiça, dentre outros — e não monetárias — anos de trabalho perdi-dos ou prejudicados — decorrentes da criminalidade. Esse trabalho indicou quepaíses como México e Brasil teriam perdas anuais próximas a 5% do seu PIB,devido à violência.

Teruel et al. (2001) desenvolveram um modelo de custos hedônicos paraestimar o impacto da criminalidade no valor dos imóveis na Cidade do México.Como variável proxy de criminalidade, os autores utilizaram a taxa de homicídiopara cada um dos 16 bairros. A amostra era constituída por 834 domicílios.

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Como variáveis de controle, o trabalho utilizou, além das características dosdomicílios, diversas características socioeconômicas dos bairros, tais como opercentual de desempregados e a taxa de analfabetismo. Os resultados mos-tram que um aumento de 10% na taxa de criminalidade reduz o valor dosimóveis em 4,2%. O coeficiente obtido para a taxa de crime é significativo nonível de 5%.

Ao observarmos especificamente a realidade brasileira, percebemos que acriminalidade está atingindo níveis extremamente elevados nos grandes cen-tros urbanos. Segundo um estudo do Instituto de Estudos da Religião (Iser)(1998), em 1995, a violência intencional1 trouxe perdas de R$ 921.000.000somente no Município do Rio de Janeiro. Foram considerados quatro tipos decustos: diretos (gastos com atendimento médico e institucional às vítimas),indiretos (relacionados à perda de renda por parte das vítimas), legais (gastoscom aparato de segurança e sistema judiciário) e, por fim, perdas materiais emvirtude da violência.

São vários os indicativos do aumento do número de crimes no País e emMinas Gerais. Segundo Beato (1998), esse estado assistiu a um aumento signi-ficativo das taxas de crimes violentos2 no período 1986-98. Esse aumento con-centrou-se em três regiões do Estado: Região Metropolitana de Belo Horizonte,Triângulo Mineiro e Vale do Rio Doce. Os crimes contra o patrimônio responde-ram pela quase-totalidade do aumento, uma vez que a taxa de crimes contra apessoa apresentou uma elevação pouco expressiva.

Como resultado desse quadro, nos últimos cinco anos, multiplicaram-seempreendimentos de condomínios residenciais nas maiores capitais do Brasil.E não há dúvida de que grande parte do sucesso desses empreendimentos é abusca dos agentes por segurança. Diante do fracasso das políticas de seguran-ça pública, os indivíduos procuram dirimir os efeitos das elevadas taxas decriminalidade sobre si próprios, mesmo que, para isso, tenham que incorrer emdespesas significativas. É justamente a partir dessa idéia — de que os agentespagam para residir em localidades mais seguras — que se desenvolve o nossotrabalho.

1 A violência intencional está associada às mortes e às internações classificadas como decorrentes de causas externas intencionais.

2 Foram utilizadas, como base de dados, as estatísticas de ocorrências registradas pelaPolícia Militar. São considerados crimes violentos: homicídio, tentativa de homicídio,estupro, roubo e roubo à mão armada.

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2 - Metodologia e base de dados

2.1 - Metodologia

O presente trabalho consiste na formulação de um modelo de preçoshedônicos para o mercado de aluguéis de apartamentos no Município de BeloHorizonte. O objetivo inicial de nosso modelo é verificar empiricamente se ataxa de criminalidade impacta significativamente o valor observado dosaluguéis de apartamentos. Esse impacto pode ser considerado uma medida dadisposição dos indivíduos de pagarem por segurança. Assim, adicionamos àsvariáveis comumente utilizadas na determinação do preço dos aluguéis a taxade criminalidade. A regressão foi realizada a partir de uma cross section, emque o preço dos aluguéis de apartamentos em abril de 2002 é a nossa variáveldependente. Utilizamos o método dos Mínimos Quadrados Ordinários paraestimar os coeficientes, enquanto as variâncias foram obtidas a partir da matrizde covariância, tornando os resultados mais robustos.

O valor de um imóvel pode ser considerado uma função de suas própriascaracterísticas, bem como das características do espaço em que ele se locali-za. A unidade espacial utilizada no presente trabalho é a unidade de planejamento(UP). Ela se constitui a partir da agregação de bairros vizinhos e relativamentehomogêneos. O Município de Belo Horizonte é formado por 243 bairros e 82UPs. A utilização da UP como unidade locacional atende aos nossos propó-sitos, uma vez que consegue captar a heterogeneidade do espaço urbano deBelo Horizonte com relativa precisão, particularmente no que se refere àviolência.

O nosso estudo assume quatro importantes hipóteses:a) o mercado imobiliário pode ser descrito como concorrencial;b) os agentes possuem uma percepção acerca das taxas de crime e das

características dos imóveis;c) os agentes possuem mobilidade de deslocamento entre os bairros, ou

seja, o mercado de imóveis ajusta-se a mudanças nas variáveis quedeterminam o valor dos domicílios;

d) o preço de oferta de locação dos apartamentos é uma proxy para ovalor de equilíbrio efetivamente praticado no mercado imobiliário.

A primeira hipótese pode ser considerada verossímil, uma vez que há umelevado número de compradores e vendedores no mercado de imóveis (merca-

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do atomizado) e informação perfeita quanto à qualidade do produto e ao preço.3

Já a segunda pode ser defendida com o argumento de que as pessoas conse-guem estabelecer um ordenamento entre os bairros verdadeiramente maisviolentos. Mesmo sem conhecer exatamente as taxas de homicídio em cadaUP, por exemplo, os indivíduos conseguem definir um ranking das regiões maisviolentas de Belo Horizonte.

A terceira hipótese, por sua vez, também pode ser justificada com o dina-mismo do mercado imobiliário. O ajustamento a mudanças nas condições deoferta é bastante rápido, em virtude do elevado número de apartamentos dispo-níveis para locação.

Finalmente, podemos considerar que o preço de equilíbrio de um imóvelserá uma fração, próxima à unidade, daquele preço ofertado inicialmente pelaimobiliária. Nesse caso, o correspondente erro de medida não estariacorrelacionado com qualquer variável. E, por se tratar de um modelo log-linear, amultiplicação da variável dependente por um qualquer irá impactar apenaso resultado obtido pela constante.

De acordo com Griliches (1971), os modelos de preços hedônicosbaseiam-se na hipótese empírica de que o valor de um bem em particular podeser explicado por um número reduzido de atributos. Nesse sentido, a fim deestimar um modelo de preços hedônicos para os preços de aluguéis de aparta-mentos do mercado formal de Belo Horizonte, é importante tentarmos respon-der a duas perguntas iniciais: quais são as características do apartamento e daUP onde este se localiza relevantes para a determinação do valor do aluguel?Qual é a forma funcional entre o valor do bem e essas características?

O primeiro passo do presente trabalho foi, então, selecionar as variáveisde controle para nosso modelo. Escolhemos inicialmente quatro variáveis quese referem às características individuais dos apartamentos. São elas: númerode quartos, número de banheiros, total de vagas na garagem e uma dummy queindica se o imóvel é, ou não, mobiliado.

Em relação às características da UP, foram incorporadas à equação dedeterminação do preço dos aluguéis outras cinco variáveis: total de agênciasbancárias, número de postos de gasolina, tempo médio de deslocamento decarro até o centro de Belo Horizonte, nota média de acabamento dos domicíliosda UP atribuída pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte e taxa decriminalidade.

As variáveis agências bancárias e postos de gasolina procuram captar adisponibilidade de serviços nas unidades de planejamento. O tempo médio de

3 No mercado de imóveis, usualmente, os inquilinos podem visitar o imóvel antes de alugá-lo.

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Uma estimação dos custos da criminalidade em Belo Horizonte

deslocamento ao centro, por sua vez, mensura a facilidade de acesso das UPsà região da cidade pela qual passa um grande contingente de pessoas, seja nacondição de consumidor, seja na de trabalhador. Já a variável nota de acaba-mento das residências procura captar a qualidade média do material utilizado naconstrução dos imóveis em cada UP.

A resposta à segunda questão foi obtida a partir da Transformação BoxCox. Através dessa técnica econométrica, podemos inferir se o nosso modelodeve ser linear ou log-linear. O método consiste em transformar a variáveldependente de acordo com a seguinte expressão matemática:

y = (yλ-1)/λ

O parâmetro deve, então, ser estimado por máxima verossimilhança.Após a estimação de ,realizamos dois testes de hipótese, a saber: = 0 e = 1. A aceitação da hipótese de que é igual a zero indica que o modelo maisapropriado é o log-linear. A aceitação da hipótese de que é igual a um, por suavez, indica que o modelo deve ser linear.

2.2 - Base de dados

A base de dados relativa à criminalidade foi construída pelo Centro deEstudos em Criminalidade e Segurança Pública da Universidade Federal deMinas Gerais (Crisp-UFMG) a partir dos Boletins de Ocorrência4 fornecidos pelaPolícia Militar. Quanto às variáveis de serviços, utilizamos o resultado da pes-quisa sobre o Índice de Qualidade de Vida Urbana, realizada pela PrefeituraMunicipal de Belo Horizonte nos anos de 1994 e 1996. As informações estãodisponíveis para cada uma das 82 unidades de planejamento da cidade.

A variável criminalidade foi trabalhada de duas formas distintas.No primeiro modelo, consideramos como proxy da criminalidade a taxa médiade homicídios praticados em cada UP, nos últimos cinco anos (1997-01). Nosegundo modelo, a variável de crime utilizada foi a taxa média de roubo à mãoarmada no período 1997-00. A elevada correlação entre as taxas de roubo à mãoarmada e de homicídio impediu que ambas fossem colocadas como variáveisexplicativas em um mesmo modelo. Ao considerarmos a média de crime dosúltimos cinco anos, estamos supondo que o preço do aluguel é afetado pelas

λ λ λ

λ

4 Utilizamos apenas as informações referentes ao local do crime e ao tipo de ocorrência.

λ λ

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taxas defasadas de violência.5 Essa hipótese pode ser justificada pelo fato deque os indivíduos avaliam a segurança de um bairro considerando não apenas ataxa presente de crime, mas também as taxas passadas.

Os dados sobre a criminalidade encontram-se disponíveis para todos osanos a partir de 1995.6 A base de dados de crime é composta pelas seguintesvariáveis: tentativas de homicídio, homicídios consumados, roubos, roubos àmão armada, total de crimes contra a pessoa e total de crimes contra o patrimônio.Essa base de dados possibilitou a estimação desagregada do impacto doscrimes contra a pessoa e contra o patrimônio sobre os aluguéis.

As informações referentes ao valor dos aluguéis foram obtidas através dapesquisa mensal do Instituto de Pesquisas Econômicas e Administrativas (Ipead),realizada em abril de 2002. A amostra é constituída por 1.303 apartamentos.Além do valor do aluguel, esse levantamento fornece o número de quartos,banheiros e vagas na garagem, o endereço dos domicílios e indica se ele é, ounão, mobiliado. A pesquisa constitui uma amostra representativa do mercadoformal de aluguéis de apartamentos em Belo Horizonte. É importante destacar-mos que o levantamento inclui apenas os apartamentos que estão em ofertanas imobiliárias. Dessa forma, a amostra abrange imóveis que seriam alugadosà época da pesquisa, desconsiderando os contratos em vigência, que se refe-rem às condições de mercado dos 30 meses7 anteriores à coleta de dados.A amostra contempla 28 das 82 unidades de planejamento do Município. Asdemais localidades não possuem um mercado formal de locação de apartamen-tos expressivo em relação ao mercado total de Belo Horizonte.

A variável nota de acabamento das residências foi construída pela Prodabel8

para o ano de 1996. Todos os domicílios sujeitos à cobrança do Imposto Prediale Territorial Urbano (IPTU) foram classificados em uma das seguintes cate-gorias: luxo (acima de 15,6 pontos), alto (entre 10,71 e 15,59 pontos), normal (de8,81 a 10,70 pontos), baixo (de 7,81 a 8,80 pontos) e popular (abaixo de 8,80pontos). A nota de acabamento em cada UP foi calculada da seguinte forma:multiplicou-se o percentual de residências incluídas em cada categoria pela suarespectiva nota média. O somatório desse produto, para cada categoria, foiconsiderado a nota de acabamento para a UP.

5 As taxas defasadas de crime são fortemente correlacionadas com a taxa contemporânea,impedindo a estimação de um modelo que inclua duas ou mais taxas anuais de crime.

6 Os dados de homicídios estão consolidados até o ano 2001. Já os dados de roubo à mãoarmada estão disponíveis até 2000.

7 Os contratos de locação de imóveis são válidos por até 30 meses.8 A Prodabel é a empresa responsável pela coordenação da informática pública no âmbito da

Administração Municipal de Belo Horizonte.

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A variável que mensura o tempo de deslocamento da UP ao centro dacidade foi construída com o auxílio do software Como Vou9. Esse programapermite o cálculo do tempo médio de deslocamento, de carro, entre dois pontosde Belo Horizonte. O endereço de referência para o centro da Cidade é aAvenida Amazonas, número 602.10 Para obtermos o tempo de deslocamentopara cada UP, selecionamos quatro endereços presentes na amostra para cadaUP e calculamos o tempo de deslocamento. O resultado final equivale à médiadesses quatro tempos obtidos em cada UP. Em relação à UP Centro, onde estásituado o endereço de referência, foi atribuído valor zero para a variável.

2.3 - O modelo

A equação de determinação do valor dos aluguéis foi estimada através dométodo dos Mínimos Quadrados Ordinários. O primeiro modelo desenvolvidopode ser representado da seguinte forma:

Log Pij = c + βi`Xi + ε

X1 - número de quartos do imóvel;

X2 - número de banheiros do imóvel;

X3 - número de vagas na garagem;

X4 - dummy para a presença de mobília no apartamento;

X5 - nota média de acabamento da residência da UP;

X6 - tempo médio de deslocamento de carro ao centro da cidade;

X7 - taxa de média de homicídio na UP entre 1997 e 2001;

X8 - número de agências bancárias na UP;

X9 - número de postos de gasolina na UP;

Pij - preço do apartamento i situado na UP j.

No segundo modelo, substituímos, em X7, a taxa média de homicídio de

1997 a 2001 pela taxa média de roubo à mão armada entre os anos de 1997 e

sendo

9 O software foi disponibilizado pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.10 Esse endereço corresponde ao cruzamento de duas das mais importantes vias de Belo

Horizonte: Avenida Amazonas e Avenida Afonso Pena.

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2000. A estimação por MQO assume três hipóteses a respeito do termode erro ε:

- E (εj) = 0

- Var (εj) = σ2 (constante)

- Cov (εj, εk) = 0 para j ≠ k

2.4 - O efeito Moulton

Como a equação estimada contém variáveis que se expressam apenas nonível de UP, a eficiência dos coeficientes pode estar superestimada pela pre-sença do efeito Moulton (1987).

Segundo Lang e Gottschalk (1995), a perda de eficiência na estimação docoeficiente de uma variável específica X

1 depende do grau de correlação exis-

tente entre X1 e as demais variáveis independentes do modelo. Se a variável X

1

for ortogonal em relação às demais variáveis, não haverá qualquer perda deeficiência. Contudo, se essa ortogonalidade não for verificada, a perda deeficiência dependerá da relação entre a variação de X

1 dentro dos grupos e

aquela observada entre os grupos. Para os autores, se os valores de X1 dentro

dos grupos forem similares, a perda de eficiência será modesta.Na nossa equação, a variável de criminalidade apresenta variação nula

dentro de cada UP. E essa variação nula é intrínseca ao modelo, uma vez queconsideramos que a percepção da violência varia apenas no nível da UP. Dessemodo, o efeito Moulton não compromete a eficiência da variável de criminalidadeem nosso modelo.11

2.5 - Análise descritiva dos dados referentes às UPs

A seguir, fazemos uma rápida descrição das cinco bases de dados refe-rentes às unidades de planejamento.

11 O mesmo não pode ser afirmado, a priori, da variável nota de acabamento das residências,já que essa variável reflete a média das notas dos imóveis em cada UP.

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Uma estimação dos custos da criminalidade em Belo Horizonte

Criminalidade

As variáveis que mensuram o crime nos dois modelos — taxa de média dehomicídio entre 1997 e 2001 e taxa média de roubo à mão armada entre 1997 e2000 — apresentaram elevada correlação (aproximadamente 0,9). Dentre as 28UPs presentes em nossa amostra, a UP Centro é o local mais violento nas duasmodalidades de crime. A sua taxa média de homicídio é quase duas vezessuperior à da Cabana, que apresenta a segunda maior incidência de assassina-tos. Já em relação à taxa de roubo à mão armada, a UP Francisco Sales é asegunda mais violenta, com uma incidência 50% menor que a UP Centro. Acorrelação entre as duas taxas de crime não se verifica para todas as unidadesde planejamento. A Savassi, por exemplo, possui a quarta taxa mais elevada deroubo à mão armada, e, simultaneamente, ocupa apenas o décimo sexto lugarno ranking da taxa de homicídio. A UP Boa Vista, por outro lado, apresenta asegunda menor taxa de roubo à mão armada e a décima quarta maior taxa dehomicídio. Em oposição à UP Centro, o Instituto Agronômico é a UP maistranqüila, exibindo a menor taxa de roubo à mão armada e a terceira menor taxade homicídio. As UPs Caiçara e Anchieta/Sion são outros dois exemplos delocais com pequena incidência de ambos os tipos de crime.

Acabamento de residência

As unidades de planejamento que apresentaram maiores notas médias deacabamento foram Belvedere e Savassi. Já Cabana e Primeiro de Maio exibi-ram as menores notas. A UP Centro, por sua vez, apresenta uma qualidade deacabamento boa, situando-se no nono lugar entre as 28 UPs contidas na amos-tra. Os dados apresentaram desvio padrão igual a 3,96 e média de 9,68.

Bancos

A atividade bancária apresenta grande concentração espacial no Municí-pio de Belo Horizonte. Dentre as 268 agências situadas nas 28 UPs analisadas,105 estão localizadas na UP Centro e outras 85 na Savassi. Todas as demaisUPs somadas possuem 78 agências. Algumas UPs importantes, como Serra ePUC, não possuem agência bancária.

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Postos de gasolina

Os postos de gasolina estão melhor distribuídos espacialmente do que osbancos. Padre Eustáquio e Savassi são as unidades de planejamento queexibem maior número de postos de gasolina. Elas possuem, conjuntamente,25% dos 246 postos presentes nas 28 UPs. Já Castelo, Prudente de Morais eBelvedere são as únicas UPs que não dispõem de nenhum posto.

Tempo de deslocamento ao centro da cidade

Santa Amélia e Ouro Preto são as UPs mais distantes do ponto centraldentre as 28 UPs analisadas. Em média, o trajeto de Santa Amélia até o centrodemora, de carro, aproximadamente 26 minutos. Já as UPs Barro Preto, SantaEfigênia e Savassi são as que têm acesso mais rápido à Avenida Amazonas,número 602.

Diante do exposto acima, podemos concluir que as 28 unidades deplanejamento presentes na amostra apresentam heterogeneidade no que serefere às variáveis analisadas. Essa variância pode explicar a influência dalocalização do imóvel sobre o preço de locação do mesmo no mercadoimobiliário de Belo Horizonte.

3 - Resultados

A Transformação Box Cox revelou que a forma logarítmica-linear12 é a maisapropriada na estimação de nosso modelo.13

Dentre as nove variáveis explicativas da equação de determinação do pre-ço dos aluguéis, apenas o total de postos de gasolina não apresentou coeficien-te significativo a 95% de confiança. Esse fato se repetiu nos dois modelosestimados — taxa de homicídio e taxa de roubo à mão armada. Preferimos,então, retirar essa variável do modelo.14

12 Como decorrência dessa forma funcional, o acréscimo de uma unidade na variável indepen-dente X

n irá provocar o seguinte efeito no preço do aluguel Pij: βxn * Pij.

13 Os modelos 1 e 2 do Apêndice exibem os resultados estimados para o parâme-tro , associado à Transformação Box Cox.

14 As Tabelas A.1 e A.2 do Apêndice mostram os resultados dos modelos com a presença davariável postos de gasolina.

λ

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Os resultados obtidos revelam uma significativa relação entre a taxa dehomicídio e o valor do aluguel. Conforme podemos ver na Tabela 1, todos oscoeficientes apresentam o sinal esperado.

O coeficiente obtido para a variável quarto revela que a adição de umdormitório ao imóvel aumenta o valor do aluguel em, aproximadamente, 18%. Jáo coeficiente banheiro é um pouco mais elevado: um banheiro adicional aumen-ta o aluguel em 25%. A presença de vagas de garagem também impacta positi-vamente o preço dos aluguéis. Uma garagem adicional eleva o valor do aluguelde um apartamento em 20%.

A dummy mobília também apresentou sinal positivo. O coeficiente indicaque a presença de mobília aumenta o aluguel da residência em 66%. Esse valorelevado pode refletir o fato de que os imóveis mobiliados geralmente se desti-nam a uma clientela diferenciada, constituída por executivos que alugam o apar-tamento por períodos mais curtos do que os usuais. A diferenciação na deman-da interfere nos preços acordados.

A análise das quatro variáveis medidas no nível das UPs necessita deuma hipótese adicional às quatro que foram expostas na seção de metodologia.

Tabela 1

Resultados do Modelo 1 para o Município de Belo Horizonte — 2002

VARIÁVEIS EXPLICATIVAS COEFICIENTE DESVIO PADRÃO

T DE STUDENT

Quarto ................................... 0,17800 0,012900 13,77 Banheiro ................................ 0,25100 0,019200 13,13 Garagem ............................... 0,20100 0,012800 15,68 Mobília ................................... 0,66000 0,050500 13,08 Acabamento .......................... 0,04700 0,003800 12,35 Agências bancárias ............... 0,00117 0,000367 3,12 Tempo médio de desloca-mento ....................................

-0,00758

0,002220

-3,41

Taxa de homicídio (1997-01) -0,00607 0,001310 -4,94 Constante .............................. 4,59900 0,061900 74,32

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Crisp-UFMG. Ipead. NOTA: Estatísticas: R2 ajustado = 0,779; F = 577,49.

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A simulação do impacto sobre o aluguel de alterações nessas quatro variáveisdesconsidera o efeito spill over, ou seja, não consideramos que uma eventualdiminuição da violência na UP Centro, por exemplo, reduziria a demanda porimóveis nas demais UPs e, por conseguinte, o preço de equilíbrio naqueleslocais. Essa redução, por sua vez, faria com que o aumento de preços na UPCentro fosse inferior ao previsto inicialmente. O modelo de preços hedônicosconstruído neste trabalho não nos permite estimar os efeitos de segundaordem.

A variável nota de acabamento da residência apresentou coeficiente posi-tivo. A elevação de um ponto na nota média provocaria um acréscimo de 4,7%no preço dos aluguéis. Assim, como a nota de acabamento da UP Savassi é de17,09 e a da UP Centro é de 11,9, podemos concluir que, se o padrão de acaba-mento das residências da UP Centro fosse equivalente ao da Savassi, osaluguéis na região central seriam, aproximadamente, 24% mais altos.

O coeficiente estimado para a variável tempo de deslocamento até o cen-tro da cidade é negativo e significativamente diferente de zero, a 95% deconfiança. Portanto, a dificuldade de acesso ao centro da cidade diminui o valorde locação de imóveis nas unidades de planejamento. A UP Santa Amélia é aregião mais prejudicada nesse aspecto. Se o tempo de transporte até o centrofosse diminuído em 10 minutos, os aluguéis de apartamentos naquela UPseriam majorados em 7,6%.

Quanto à variável que mensura a disponibilidade de serviços bancários naUP, o seu coeficiente é positivo. A grande presença de agências na Savassi ena UP Centro valoriza os imóveis nelas situados. Em relação às regiões quenão possuem bancos, as 85 agências da Savassi elevam os aluguéis dessa UPem, aproximadamente, 10%.

Por fim, a taxa de homicídio também se apresentou conforme o sinal espe-rado: negativo e significativamente diferente de zero, a 95% de significância.A magnitude do coeficiente estimado indica que a diminuição da taxa dehomicídio por 100.000 habitantes em uma unidade elevaria o aluguel dos domi-cílios da UP em 0,61%. Caso a UP Serra apresentasse a taxa de criminalidadeigual à da Savassi, o valor de seus aluguéis teria um incremento de, aproxima-damente, 5,3%. O coeficiente estimado para homicídios revela que os aparta-mentos situados em UPs violentas sofrem uma desvalorização expressiva. Essadesvalorização assume dimensões maiores particularmente nas UPs Centro eCabana, que são as duas regiões com maiores taxas de homicídio. O preço delocação de apartamentos na UP Centro aumentaria 12%, se a sua taxa dehomicídio fosse reduzida à metade. Na Cabana, por sua vez, a redução em 50%da criminalidade elevaria os aluguéis em 7%. Esse resultado corrobora a

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Uma estimação dos custos da criminalidade em Belo Horizonte

hipótese de que os indivíduos pagam um prêmio para residirem em lugares maisseguros. A Tabela 2 mostra mais exemplos do impacto do crime sobre o valor delocação dos apartamentos.

Tabela 2

Impacto estimado da redução de 50% na taxa de homicídio, segundo variáveis selecionadas, sobre o valor dos aluguéis no

Município de Belo Horizonte — 2002

UPs QUARTOS BANHEIROS GARAGEM

Centro ................................. 2 1 0 Centro ................................. 3 1 1 Cristiano Machado .............. 2 1 0 Cristiano Machado .............. 3 1 1 Padre Eustáquio ................. 2 1 0 Cabana ............................... 2 1 0 Barroca ............................... 3 2 1 Barroca ............................... 4 2 2 Anchieta/Sion ...................... 3 1 1 Caiçara ............................... 2 1 0 Savassi ............................... 3 2 1

UPs ALUGUEL PREVISTO (R$)

AUMENTO DO VALOR DO ALUGUEL (R$)

Centro ................................. 283,00 34,00 Centro ................................. 413,00 50,00 Cristiano Machado .............. 243,00 3,00 Cristiano Machado .............. 354,00 5,00 Padre Eustáquio ................. 232,00 4,00 Cabana ............................... 158,00 11,00 Barroca ............................... 551,00 8,00 Barroca ............................... 805,00 12,00 Anchieta/Sion ...................... 458,00 6,00 Caiçara ............................... 236,00 3,00 Savassi ............................... 795,00 12,00

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Crisp-UFMG. Ipead.

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O modelo apresentou um razoável poder de previsão. A obtenção de um R2

ajustado de 78% é satisfatória para uma cross section estimada através dométodo de Mínimos Quadrados Ordinários. A Tabela 3 exibe os valores previs-tos pelo modelo para alguns tipos de apartamentos e os seus preços médiosobservados na amostra.

Tabela 3

Valores estimados e valores amostrais médios, segundo variáveis selecionadas, dos aluguéis no

Município de Belo Horizonte — 2002

UPs QUARTOS BANHEIROS GARAGEM

Centro ................................. 2 1 0 Centro ................................. 3 1 0 Barroca ............................... 3 2 2 Savassi ............................... 3 2 1 Savassi ............................... 4 2 2 Serra ................................... 3 2 1

UPs ALUGUEL PREVISTO

(R$) MÉDIA AMOSTRAL

(R$)

Centro ................................. 283,00 275,00 Centro ................................. 338,00 386,00 Barroca ............................... 673,00 640,00 Savassi ............................... 795,00 909,00 Savassi ............................... 1 162,00 1 447,00 Serra ................................... 560,00 456,00

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Crisp-UFMG. Ipead.

É importante comparar os nossos resultados com aqueles obtidos

pela pesquisa de Teruel et al. (2001), realizada para a Cidade do México. Omodelo especificado por Teruel também foi log-linear. Os coeficientes obtidospara o número de quartos, banheiros e taxa de homicídio foram, respectivamen-te, 0,46, 1,14 e -0,02. As principais diferenças entre o nosso modelo e o construídopara a capital mexicana referem-se às variáveis de controle. Teruel incluiu emseu modelo, dentre outras variáveis, a taxa de analfabetismo e a taxa de

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Uma estimação dos custos da criminalidade em Belo Horizonte

desemprego. É controverso afirmar que taxas de analfabetismo mais elevadasreduzem o valor dos aluguéis. É mais provável que aluguéis mais elevadosprovoquem a expulsão de pessoas com menor nível de instrução e, por conse-guinte, de renda. O mesmo deve ocorrer com a taxa de desemprego.

O coeficiente de criminalidade obtido por Teruel é, aproximadamente, trêsvezes maior que o obtido no presente trabalho. Uma possível explicação paraessa discrepância é a utilização de variáveis de controle diferentes em cadatrabalho. Outra diferença importante entre os trabalhos refere-se aos dados dealuguéis. Enquanto Teruel utilizou-se de um survey de gastos dos consumidoresmexicanos, nós utilizamos dados do mercado imobiliário.

O modelo que mensura o impacto do roubo à mão armada apresentouresultados semelhantes aos obtidos pelo modelo controlado pela taxa dehomicídio. Isso se deve, principalmente, à elevada correlação existente entre asvariáveis taxa de homicídio e taxa de roubo à mão armada. Essa correlação,que não é verificada para todo o Município de Belo Horizonte, pode indicar que,nas regiões não periféricas da Cidade, a natureza do homicídio é diferentedaquela observada no restante do Município. Segundo Beato et al. (2000), gran-de parte dos homicídios em Belo Horizonte possui relação com o tráfico dedrogas. Contudo essa realidade pode ser diferente nas regiões em que há umamaior presença do Estado. Nesse caso, os homicídios estariam relacionados acrimes contra o patrimônio, notadamente roubo à mão armada.

Os coeficientes obtidos para o modelo com a variável roubo à mão armadacomo proxy da criminalidade encontram-se na Tabela 4.

A variável cujo coeficiente apresentou maior alteração em relação ao pri-meiro modelo foi agências bancárias. O coeficiente passou de 0,00117 para0,00252. Tal mudança se deve à elevada correlação entre essa variável e avariável roubo à mão armada. Os demais coeficientes apresentaram variaçãomáxima de 5%.

O coeficiente de roubo à mão armada é negativo e significativamente dife-rente de zero, a 95% de significância. Ele indica que, se a UP Centro tivesse asua taxa de crime reduzida à metade, os aluguéis subiriam, aproximadamente,22%. A Tabela 5 mostra o impacto da redução à metade da taxa de roubo à mãoarmada em alguns apartamentos.

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Tabela 4

Resultados do Modelo 2 para o Município de Belo Horizonte — 2002

VARIÁVEIS EXPLICATIVAS

COEFICIENTE DESVIO PADRÃO

T DE STUDENT

Quarto ............................. 0,178000 0,012800 13,89 Banheiro .......................... 0,249000 0,019000 13,12 Garagem ......................... 0,195000 0,012700 15,40 Acabamento .................... 0,046300 0,003570 12,95 Agências bancárias ......... 0,002520 0,000440 5,74 Tempo médio de desloca-mento ..............................

-0,007490

0,002100

-3,55

Taxa de roubo à mão ar-mada ...............................

-0,000189

2,56E-05

-7,38

Constante ........................ 4,631000 0,057200 80,95

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Crisp-UFMG. Ipead. NOTA: Estatísticas: R2 ajustado = 0,785; F = 594,40.

Tabela 5

Impacto estimado da redução de 50% na taxa de roubo à mão armada, segundo variáveis selecionadas, sobre o valor dos aluguéis

no Município de Belo Horizonte — 2002

UPs QUARTOS BANHEIROS GARAGEM

Centro ................................. 3 1 1 Savassi ............................... 3 2 1 Serra ................................... 3 2 1 Barroca ............................... 3 2 1 Cristiano Machado .............. 3 1 0 Caiçara ............................... 2 1 0

UPs ALUGUEL PREVISTO (R$)

AUMENTO DO VALOR DO ALUGUEL (R$)

Centro ................................. 395,00 88,00 Savassi ............................... 835,00 44,00 Serra ................................... 610,00 23,00 Barroca ............................... 550,00 15,00 Cristiano Machado .............. 291,00 8,00 Caiçara ............................... 239,00 5,00

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Crisp-UFMG. Ipead.

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Uma estimação dos custos da criminalidade em Belo Horizonte

O impacto da redução do crime de roubo à mão armada é maior do que ode homicídio. Tal fato pode ser justificado pela freqüência do crime contra apropriedade ser muito maior do que a freqüência de homicídios. Dessa forma, aspessoas sentem-se mais ameaçadas pelo roubo à mão armada. Isso tambémpode ser explicado pela distribuição espacial desses dois tipos de crime emBelo Horizonte. Enquanto os homicídios se concentram em favelas e naperiferia (regiões sub-representadas em nossa amostra), os roubos à mão ar-mada ocorrem principalmente nas localidades mais urbanizadas e, portanto,nas UPs em que o mercado imobiliário é formal (UPs que perfazem aquase-totalidade da amostra). Portanto, é razoável supor que os domicíliosconsiderados em nossa amostra sejam mais sensíveis a reduções nas taxasde roubo do que nas taxas de homicídio.

Por fim, é importante analisar o impacto de uma redução uniforme nastaxas de crime, provocada, por exemplo, por uma política de segurança públicamais eficiente. Nesse caso, assumindo que as reduções das taxas de crime nasunidades de planejamento fossem proporcionais, não haveria qualquer altera-ção na estrutura de oferta. Assim como a demanda também permaneceinalterada15, os preços de locação não seriam modificados. Mas, do ponto devista social, haveria um ganho importante. Se assumíssemos que o impacto davariação da criminalidade em uma UP, isoladamente, é igual à disposição dosindivíduos de pagar por segurança, o bem-estar social elevar-se-ia, emtermos monetários, de acordo com a alteração de preços prevista pela equaçãode determinação dos preços dos aluguéis. Ou seja, cada locatário receberia,implicitamente, uma renda igual à elevação de preços que a queda na violênciaprovocaria em seu imóvel. Portanto, se a redução da violência ocorresse emtoda a cidade, o excedente de bem-estar seria apropriado pelos inquilinos.

4 - Considerações finais

Este estudo procurou contribuir para a discussão acerca dos custos dacriminalidade no Município de Belo Horizonte. Os resultados são coerentes coma realidade que a grande maioria dos corretores de imóveis conhece muito bem:os valores dos aluguéis são sensíveis à taxa de criminalidade. A magnitudedesse efeito parece indicar que a segurança de um bairro é um dos principaisdefinidores do preço de um imóvel. Conforme já foi mencionado, a realidade do

15 Consideramos que o fato de Belo Horizonte ficar menos violento não irá provocar a ida denovos moradores para o Município.

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mercado imobiliário, com a rápida expansão dos condomínios fechados, é con-dizente com os resultados aqui obtidos.

A perda de bem-estar decorrente dos altos níveis de crime em Belo Hori-zonte atinge patamares elevados. Uma família de classe média que resida emum apartamento de três quartos e um banheiro na UP Centro receberia impli-citamente um acréscimo mensal de renda de R$ 88,00, caso o nível de crimefosse reduzido à metade em todo o Município. É importante destacar que essevalor se relaciona apenas à quantia paga para morar em um lugar seguro.É muito provável que quantias adicionais fossem desembolsadas para que aspessoas efetivamente vivessem em um lugar com menores índices deviolência.

O presente trabalho buscou quantificar as perdas individuais — no âmbitodo domicílio — resultantes do crime. A agregação dos resultados aqui obtidos,para a totalidade das UPs e do Município de Belo Horizonte, poderia constituir--se em uma ferramenta útil no auxílio à formulação de políticas públicas na áreade segurança. Essa agregação seria uma importante extensão desse trabalho epoderia ser obtida a partir de dados relativos à distribuição dos diferentes tiposde domicílios em cada uma das UPs.

A construção de modelos de preços hedônicos com o objetivo de estimara propensão dos indivíduos de pagar pela segurança é inédita no Brasil. Espe-ramos que os resultados apresentados neste trabalho motivem outros pesqui-sadores a incrementar o modelo aqui desenvolvido, a partir da utilizaçãode bases de dados mais abrangentes e do uso de técnicas de análise deeconometria espacial.

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Apêndice Apêndice 1: Resultados dos modelos com a inclusão da variável postos de gasolina para o Município de Belo Horizonte Tabela A.1

Resultados do modelo com a variável taxa de homicídio como proxy de crime — 2002

VARIÁVEIS EXPLICATIVAS COEFICIENTE DESVIO PADRÃO

T DE STUDENT

Quarto .................................. 0,178000 0,012900 13,78

Banheiro .............................. 0,252000 0,019200 13,15

Garagem .............................. 0,201000 0,012800 15,70

Mobília ................................. 0,659000 0,050500 13,05

Acabamento ......................... 0,047100 0,003810 12,37

Postos de gasolina .............. 0,001220 0,001260 0,97

Agências bancárias ............. 0,000951 0,000431 2,21

Tempo médio de desloca- mento ...................................

-0,007350

0,002230

-3,29

Taxa de homicídio (1997-01) -0,005320 0,001450 -3,66

Constante ............................ 4,578000 0,065700 65,26

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Crisp-UFMG. Ipead. NOTA: Estatísticas: R2 ajustado = 0,781; F = 513,4.

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Tabela A.2

Resultados do modelo com a variável taxa de roubo à mão armada como proxy de crime — 2002

VARIÁVEIS EXPLICATIVAS

COEFICIENTE DESVIO PADRÃO

T DE STUDENT

Quarto ................................. 0,177000 0,012800 13,87

Banheiro ............................. 0,248000 0,019000 13,08

Garagem ............................. 0,195000 0,012700 15,34

Mobília ................................ 0,649000 0,049900 12,99

Acabamento ........................ 0,046400 0,003580 12,97

Postos de gasolina ............. -0,001000 0,001260 -0,79

Agências bancárias ............ 0,002800 0,000541 5,12 Tempo médio de deslo-camento ..............................

-0,007600

0,002240

-3,57

Taxa de roubo à mão ar-mada (1997-00) ..................

-0,000203

3,09E-05

-6,55

Constante ........................... 4,646000 0,060200 72,49

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Crisp-UFMG. Ipead. NOTA: Estatísticas: R2 ajustado = 0,785; F = 528,28.

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Uma estimação dos custos da criminalidade em Belo Horizonte

Apêndice 2: Resultados estimados para o parâmetro λ, associado à Transformação Box Cox Modelo 1: Taxa de homicídio como proxy da violência

Teste Restricted LR statistic H0 log likelihood chi2

--------------------------------------------------------

λ = 0 -8310.1733 143.21

λ = 1 -9780.3465 3083.56

Modelo 2: Taxa de roubo à mão armada como proxy da violência

Teste Restricted LR statistic H0 log likelihood chi2

---------------------------------------------------------

λ = 0 -8297.2869 140.44

λ = 1 -9778.816 3103.50

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TERUEL, G. et al. Measuring the costs of crime and violence as an input topublic policy: evidence from Mexico City. Woodrow Wilson Center forInternational Scholars Journal. Washington, DC: Woodrow Wilson Centre forInternational Scholars, 2001. (Forthcoming).

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Investigações e obtenção de provas de cartel:...

Investigações e obtenção de provasde cartel: por que e como observar

paralelismo de conduta*

Silvinha Pinto Vasconcelos** Professora do DCEAC-FURG.

Claudio Roberto Fóffano Vasconcelos*** Professor do DCEAC-FURG.

ResumoModelos de mercado que tratam de jogos não cooperativos repetidos infinita-mente têm servido como indicador da forma e da direção nas quais a metodologiade detecção de cartéis pode ser aprimorada. No caso específico de paralelismo,a premissa legal é a de que a observação de tal conduta não é suficiente paraprovar a existência de acordo anticompetitivo. Isso significa que, da simplesdetecção de paralelismo, não se pode concluir se ele resulta da repetição de umequilíbrio de Nash ou de um equilíbrio de maximização conjunta de lucros.Seguindo essa premissa, o objetivo central do presente artigo é obter uma con-tribuição metodológica dos modelos dinâmicos para a obtenção de provas decolusão tácita ou explícita secreta, dentro do critério de regulação que admiteparalelismo como um indício de infração à concorrência. A partir do modelo deparalelismo de preços, indica-se um método complementar de análise dahistória das variáveis estratégicas, pela identificação de uma relação causal ede longo prazo, na determinação dessas variáveis em cartéis explícitos outácitos.

Palavras-chaveRegulação antitruste; cartel; paralelismo de preços.

* Os autores agradecem ao CNPq a bolsa de produtividade de pesquisa nº 302197/02-8 e oauxílio financeiro advindo do Edital Universal, Processo nº 473278/2003-0.

** E-mail: [email protected]

***E-mail: [email protected]*** E-mail: [email protected]

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AbstractMarket models about non-cooperative games repeated infinitely have been usedas an indication of how to improve the cartels detection methodology. In thespecific case of price parallelism, the legal rule is that this conduct is not enoughto prove collusive agreement, since in the games terminology it doesn’t providethe differentiation between profit joint maximization equilibrium and Nashequilibrium. Following this rule, the central object of this paper was to offer amethodology contribution from the dynamic models to the tacit or secret collusionproofs, admitting that parallelism is an evidence of concurrence infraction. Startingfrom the price parallelism model, it is indicated a complementary method oftemporal series, to identify the causal and a long run relation of the strategicvariables in cartels.

Key wordsAntitrust regulation; cartel; price parallelism.

Classificação JEL: L41, L51, L95.

Artigo recebido em 18 ago. 2004.

1 - Introdução

Nos processos de defesa da concorrência no Brasil, as investigações deum tipo de comportamento colusivo de fixação de preços entre firmas, oparalelismo de preços1, não seguem um método estrito que indique como proce-der na análise das diferentes indústrias, direção na qual o presente artigoprocura caminhar. Mais especificamente, o objetivo é apresentar um método

1 Que é uma conduta de variação de preços entre firmas, em seqüência e similar.

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complementar de análise das variações dos preços de forma a contribuir para areunião de mais elementos comprobatórios de paralelismo com efeitos colusivos.

Para tanto, toma-se por base o setor de combustíveis a varejo, o qualapresenta as características típicas de flutuações uniformizadas de preços,possivelmente decorrentes de uma ação concertada e de uma colusão explícitaou tácita entre as firmas.2 Esse mercado tem sido intensamente investigado noBrasil e no mundo, em função da ocorrência de inúmeras denúncias de cartel.3

A tarefa de detectar cartel em mercados oligopolísticos tem sido umproblema de longa data. Nesse contexto, há uma demanda crescente pormétodos empíricos que coincidam com o objetivo judicial de obtenção deevidências acerca dos resultados econômicos efetivos advindos de práticasanticompetitivas, ao invés de métodos que se baseiam prioritariamente em pres-suposições sobre os potenciais efeitos anticompetitivos que fluem de umaestrutura industrial particular (Baker; Rubinfeld, 1999).

Esses métodos empíricos são construídos com base na Teoria Econômica,mas a extensão e a magnitude das contribuições recentes ainda não são com-pletamente utilizadas pelas instituições responsáveis por detectar e impedir açõesanticompetitivas. Conseqüentemente, mesmo em países com cultura antitruste,as regras legais que balizam as decisões nesse campo têm sido contestadas,sobretudo pela falta de análise dos aspectos de interdependência estratégica.4

A importância dos aspectos de interdependência estratégica pode ser ilus-trada, ao se analisar uma questão metodológica inerente à ação antitruste noBrasil, ligada ao fato de se admitir basicamente duas instâncias de detecção decartel. Segundo Correa (2001, p. 1), para avaliar o comportamento colusivo,essas duas instâncias são: estabelecer certos elementos que facilitam práticasoligopolistas e eliminar qualquer outro rationale econômico possível para a con-duta paralela observada. Mas o próprio autor destaca que

“(…) a evidência econômica em casos de cartel não forneceprecisamente os critérios para determinar com certeza se colusão iráocorrer ou não em uma determinada indústria. Diferentes cartéiscomportam-se de diferentes formas, e, aparentemente, não existemcaracterísticas definitivas no mercado que irão determinar a forma e aextensão da cooperação. Detalhes únicos na indústria, particularidades

2 Diz-se que ocorre colusão tácita quando os jogadores nunca comunicam suas estraté- gias ou correlacionam seus movimentos claramente (Chamberlin apud Slade; Jacquemin, 1993, p. 53).

3 Ver, por exemplo, Santana (2004), Brasil (2003), Competition Bureau (1994) e Slade (1987).4 Ver, por exemplo, Phlips (1995), Neven, Nuttall e Seabright (1998) e Spagnolo (2000).

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do produto, número de firmas envolvidas e como elas escolheminteragir têm influenciado significativamente a existência e o modusoperandi do cartel” (Correa, 2001, p. 1).5

Assim, a metodologia tradicional de detecção de cartéis reproduz umadificuldade intrínseca aos modelos de competição imperfeita, que não podemser generalizadamente aplicados nas inferências empíricas.6 Mas um avançosignificativo tem sido proporcionado pela literatura da Nova Economia Industrial(NEI), que enfoca o papel dos agentes econômicos na modificação do ambienteem que estão inseridos (ao invés de estarem sujeitos a condições definidas) efaz uso de um instrumental quantitativo, com ênfase na teoria dos jogos nãocooperativos.7

Evidentemente, essa abordagem também possui limitações, pois, apesarde ser marcada por grandes avanços técnicos, há problemas de predição, dadoque nem sempre é possível garantir unicidade de equilíbrio. Como exemplo,pode-se citar o modelo de Friedman (1971), que, apesar de ter formalizado adoutrina de que a colusão tácita é factível, representando um marco teórico noprocesso de inserção da teoria dos jogos na economia industrial, não prediz umequilíbrio único.

Entretanto modelos de mercado que tratam de jogos não cooperativosrepetidos infinitamente têm servido menos como meio de alertar os formuladoresde política acerca das condutas que facilitam resultados colusivos (papel assu-

5 No original, “(...) economic evidence in cartel cases does not provide precise guidelines todeterminate with certainty whether collusion will occur or not in a specific industry. Differentcartels behave in different ways and apparently, there are no definitive characteristics of themarket that will determinate the form and extension of the cooperation. Unique details in theindustry, particularities of the product, number of firms involved and how they choose tointeract, have shown to significantly influence the existence and the ´modus operandi` of acartel” (Correa, 2000, p. 1).

6 Os insights acerca de como contornar essa limitação podem ser obtidos em Jacquemin(1987, p. 6), Baker e Rubinfeld (1999) e Phlips (1995; 1998). O primeiro autor indica que “(...)ao invés de procurarmos um modelo que permita generalizações simples, passíveis deserem aplicadas na maior parte das indústrias, (...) parece inevitável que devamos desen-volver um conjunto variado de modelos a partir do qual um específico para o mercado sobestudo possa ser selecionado. (tradução nossa)”. Baker e Rubinfeld (op. cit.) reúnem aliteratura com ênfase em métodos baseados em técnicas econométricas, em uma revisãodo estado da arte acompanhada de uma análise crítica. E Phlips (1995; 1998) destaca-sepor conciliar uma crítica aos pressupostos legais a uma metodologia alternativa de análiseantitruste, usando a teoria dos jogos.

7 A contribuição da NEI para a metodologia de detecção dos cartéis pode ser encontrada emPhlips (1995; 1998) e Tirole (2002). E, em Vasconcelos e Ramos (2002), Rees (1993) eSlade (1987), podem-se obter insights importantes sobre a teoria dos jogos não cooperati-vos nos mercados de aço, sal e gasolina a varejo.

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mido pela antiga economia industrial) e mais como indicador de que forma e emque direção a metodologia de intervenção pode ser aprimorada.

Uma representação importante de como a NEI pode contribuir para a aná-lise antitruste do já referido paralelismo de preços pode ser dada a partir deHarstad, Martin e Normann (1998, p. 124), segundo os quais

“(...) tal comportamento [paralelismo de preços] tem sido atacadonos Estados Unidos como uma violação da Seção I da Lei Sherman,que proíbe contratos, combinações e conspirações que restrinjam ocomércio; na União Européia, ele é tido como uma violação do Artigo85 do Tratado de Roma, que proíbe acordos e práticas concertadasque distorcem a competição dentro do mercado comum. Em ambasas jurisdições, recentes inferências feitas pelas autoridades antitrustede existência de colusão a partir de conduta paralela foram sustentadasnos tribunais, mas alguns casos receberam a seguinte objeçãojudicial: em mercados imperfeitamente competitivos, resultadosque dão às firmas payoffs colusivos podem resultar de condutaque não foi colusiva no sentido legal (grifos nossos)”8.

Disso decorre que a observação do paralelismo não é suficiente para pro-var a existência de acordo anticompetitivo, pois pode haver mais de uma razãopara as firmas adotarem tal conduta9, e ele não necessariamente resulta decontrato, combinação ou conspiração. Na terminologia de jogos, isso significaque, da simples detecção de paralelismo de preços ou quantidades, não sepode concluir se ele resulta da repetição de um equilíbrio de Nash ou de umequilíbrio de maximização conjunta de lucros.

Nesse caso, de acordo com Mello (2002) e Correa (2001), a decisãoantitruste pode seguir duas metodologias de análise. Primeiro, uma abordagemque requer mostrar a existência de plus factors, ou outros fatores, além do mero

8 No original “(...) such behaviour [paralelismo de preços] has been attacked in the UnitedStates as a violation of the Sherman Act Section I prohibition against contracts, combinations,and conspiracies in restraint to trade; in European Union as a violation of the Treaty of RomeArticle 85 prohibition of agreements and concerted practices that distort competition withinthe common market. In both jurisdictions, enforcement authorities` early inferences of collusionfrom parallel conduct by enforcement authorities were sustained by the courts, but lattercases met the judicial objection that in imperfectly competitive markets outcomesthat gave firms collusive payoffs might result from conduct that was not collusive ina legal sense (grifos nossos)”.

9 A coordenação de preços pode ser alcançada via liderança de preços, podendo, ou não, serilegal, o que dependerá de ela ser classificada como liderança de preços colusiva, ao invésde decorrer da existência de uma empresa dominante ou de uma liderança barométrica(Rocha, 2002, p. 234).

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comportamento paralelo de fixação de preços ou quantidades, de forma aprovar que uma violação antitruste ocorreu. Para tanto, sugere-se estabe-lecer os elementos que facilitam as práticas oligopolistas e eliminarqualquer outro rationale econômico possível para a conduta paralelaobservada.

Segundo, quando os elementos comprobatórios reúnem as informaçõesconsideradas necessárias para se chegar à conclusão de existência de colusão,seguindo a regra per se, não se discutem os efeitos da prática investigada.Sob tal lógica, basta que se prove que a conduta paralela está ocorrendo, paraser considerada ilícita. Ambas as regras se mostram convenientes, porquecontornam o problema metodológico que advém justamente da dificuldadede obtenção de elementos comprobatórios de efeitos anticoncorrenciaisprovenientes da uniformidade de mudança de preços.10 E, de uma forma ou deoutra, as regras anteriores admitem que o paralelismo fornece alguma evidênciade ilegalidade de conduta, mesmo que não decisiva.11 Tendo essa premissaem vista, justifica-se a utilização de instrumentos mais adequados deanálise do comportamento de preços de longo prazo, com ênfase emmetodologias de séries temporais, ao invés do exame tradicional da dispersãodos preços.

Dadas essas considerações, o artigo está dividido da seguinte forma: naseção 2, apresenta-se a conduta de paralelismo de preços teórica eempiricamente. Em seguida, na seção 3, estão descritos os principais aspectosdo processo administrativo em que postos de gasolina de Santa Catarina foramcondenados por cartel em 2002. Na seção 4, são discutidas as contribuiçõesmetodológicas correlacionadas à modelagem anterior. E, por último, são feitasas Considerações Finais.

10 É importante lembrar que o termo colusão, no sentido legal, se refere à existência deconduta colusiva, conspiração ou acordo. Mas, no sentido econômico, significa equilíbrio,resultado ou efeito colusivo.

11 Buccirossi (2002, p. 2) mostra a ambigüidade dessa conduta, pois, em alguns casos, aobservação de paralelismo de preços contribui para provar a ausência de colusão, aoinvés de sua existência.

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2 - Paralelismo de preços: funcionamento e método de detecção

2.1 - O modelo teórico

Antes de apresentar os modelos que formalizam a combinação entre asfirmas na fixação de preços, é preciso especificar melhor a conceituação e asquestões que envolvem o problema do paralelismo de preços (também chama-do de paralelismo consciente). Como mencionado na seção anterior, o paralelismode preços reflete uma variação em seqüência e similar dos preços, não podendoser considerada, por si só, ilegal. Isto porque alguns mercados são caracteriza-dos por uma condição de interdependência, ou seja, pela percepção de cadafirma de que o efeito de suas ações depende da resposta de seus rivais, o queleva as mesmas a coordenarem sua conduta simplesmente pela observação epor reação aos movimentos de seus rivais. Em certos casos, o efeito de talcoordenação oligopolística é o comportamento paralelo (movimentos paralelosde preços), podendo ser confundido com um acordo colusivo de fixação depreços, ou colusão tácita, já que a colusão explícita é proibida na maioria dospaíses (Kovacic, 1993).

Dada a dubiedade de razões para a adoção de um mesmo comportamen-to, um efeito prático significativo é que a detecção de colusão emerge comouma tarefa nada fácil para as autoridades antitruste. Mesmo sob muitos proble-mas analíticos advindos da regra legal de busca dos fatores adicionais parajustificar uma inferência de ação coletiva ilegal (ou conduta concertada)12, aTeoria Econômica tem dado contribuições importantes, cabendo resumir aqui oestado da arte que diz respeito a essa conduta, o que foi bem descrito porPhlips (1995).

Um primeiro modelo que pode surgir como referência imediata paramodelos do tipo líder-seguidor que implicam lucros colusivos é o de Stackelberg,no qual a empresa líder aumenta sua parcela de mercado e, então, seus lucros,ao antecipar o comportamento da seguidora (que toma o produto da líder comodado). Entretanto esse modelo não explica adequadamente o comportamentoparalelo, porque o anúncio de um novo preço por uma firma é muito rapidamenteadotado pelos competidores, não sendo captado nem explicado o caráter

12 A análise legal da conduta paralela foge ao escopo deste trabalho, mas pode ser encontra-da em Baker (1993), Kovacic (1993) e Yao e De Santi (1993).

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seqüencial desses anúncios. Por outro lado, a identidade da líder permanecedesconhecida, dado que ambas as firmas de Stackelberg querem essaliderança.

Então, desde a investigação acerca da possibilidade de se definirum equilíbrio não cooperativo que incorpore decisões seqüenciais e que torneendógena a identidade da líder, em muito se progrediu. Os primeiros esforçossurgiram na formulação de jogos estáticos. Entretanto os jogos dinâmicos reve-laram-se como mais adequados para a análise de políticas de fixação de pre-ços, onde uma firma anuncia uma mudança de preço algum tempo antes dadata na qual se espera que o novo preço passe a vigorar. A aceitação do novopreço é tal que, mesmo quando os produtos são diferenciados, todas as firmasrivais fazem o mesmo anúncio em seguida. Como afirma Phlips (1995, p. 115),resta saber, contudo, se esse comportamento coletivo pode gerar resultadoscolusivos na ausência de colusão explícita.

Macleod (1985) e Rotemberg e Saloner (1990) demonstram que sim.O modelo de Macleod, que é mais geral, mostra que, dada uma convençãosocial de adoção de uma política de paralelismo de preços, é possível alcançarlucros colusivos que estão entre o equilíbrio de Nash e aquele resultante de umamaximização conjunta de lucros. Tais mudanças nos preços seriam obtidas apósanúncios de aumentos ou reduções de preços seguidas de ajustes conjuntos,comportamento chamado de paralelismo consciente (a forma colusiva da varia-ção de preços). Ou seja, o que o modelo descreve é uma convenção implícitaentre os jogadores, segundo a qual eles concordam em adotar a mesma regrade comportamento, estabelecendo que cada um irá alinhar os preços entre siassim que um dos jogadores anunciar seu preço. Dessa forma, ele indica aexistência de colusão tácita na indústria, sustentada pela ameaça de que, setraírem, todas as firmas cobrarão um preço de equilíbrio não cooperativo.O resultado é o preço de equilíbrio maior do que o preço de equilíbrio de Nash,na mesma quantidade para todas as firmas, como conseqüência da regra decombinação.

Descrevendo esse modelo mais detalhadamente, pode-se supor um mer-cado onde cada firma vende produtos diferenciados em um jogo repetido, noqual cada período tem dois estágios: no primeiro, a firma anuncia uma variaçãode preços e reage ao anúncio de preços das outras firmas; no segundo, asfirmas fixam os preços reais. Os requerimentos informacionais nesse estágiodo jogo não são muitos, pois cada firma é capaz de observar o anúncio depreços das outras firmas, conhece os preços de reversão para o equilíbrio deNash e sabe se aumenta, ou não, o seu preço, porque sabe se a combinação portodas as firmas será lucrativa para ela mesma. O que a firma não sabe é se oaumento será lucrativo, ou não, para as demais.

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No estágio dos anúncios, seja P = (p1, p

2,..., p

n) o vetor de preços anuncia-

dos pela indústria. Suponha-se que a firma i anuncia uma mudança de preço∆p

i. As firmas não conhecem as funções-lucro das rivais, mas podem observar

os preços dos períodos prévios, assim como o anúncio de mudança. Elas adotamtacitamente a convenção de reagir ao anúncio de acordo com a seguinte regrade alinhamento:

A única função-resposta que satisfaz os axiomas impostos por Macleod,de continuidade, diferenciabilidade, monotonicidade e independência da ordemem que as firmas são indexadas, é uma “função-combinação” (matching function):

Essa função implica um comportamento do tipo observado em casos deparalelismo consciente, cuja estratégia especifica o anúncio que a firma j devefazer em resposta à mudança anunciada de preços ∆p

i. Essa estratégia de

combinação de preços incorpora, então, uma estratégia de equilíbrio para o jogode anunciação, que especifica que uma firma irá combinar um aumentoanunciado de preços, se for individualmente lucrativo fazê-lo, assumindo quetodas as outras firmas adotarão o aumento; uma firma irá combinar um decrés-cimo anunciado dos preços, desde que isso não gere preços menores do que opreço de equilíbrio estático de Nash, pN; e a traição desencadeia uma reversãopara pN. Os aumentos de preço param no nível em que não é lucrativo paraalguma firma seguir com posteriores aumentos.

Normann (2000, p. 347), ao analisar os métodos de fixação de preços paraas indústrias colusivas, fornece mais claramente as regras de decisão contidasnos modelos de Macleod (1985) e de Rotemberg e Saloner (1990), além deoutras duas. A regra do modelo de Macleod parte de um nível de preços nãocooperativos, de forma que movimentos paralelos de preço resultam em umequilíbrio no jogo repetido. Normann a caracteriza como regra Parallel Changes(PC), sendo definida por:

onde, para i = 1, 2, por exemplo, é a mudan-ça de preço comum, comportamento freqüentemente acompanhado deanúncios públicos de mudanças de preço, como mencionado anteriormente; é o preço de equilíbrio não cooperativo; e é o preço da firma i noperíodo t.

( )iijj pPrp ∆=∆ , com j ≠ i (1)

( ) iiij ppPr ∆=∆, (2)

1, −∆+= tNCiti ppp (3)

ttNCNC pppp ,2,121 , ≥≥ e 1−∆ tp

NCip tip ,

e

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Já a regra do modelo de Rotemberg e Saloner (1990) mostra que umapolítica de preços idênticos, que pode resultar de um comportamento de equilí-brio de firmas assimétricas típico em liderança de preços, é chamada de IdenticalPrices (IP) e definida por Normann como:

onde é a mudança de preço comum sobre os preços absolutos idênticos(que incluem custo marginal) no período anterior,

O terceiro método de fixação de preços colusivos é o que Normann (2000,p. 348) define como Identical Markups (IM), onde as firmas adicionam um markupabsoluto idêntico, p, baseado nos seus custos marginais, c

i . Quando os custos

marginais das firmas diferem, esse método de fixação de preços implica dife-rentes preços absolutos. A regra de decisão dinâmica é, então, definida por:

onde é o markup idêntico, e quando i =1, 2, porexemplo.

O quarto e último método de fixação de preços por firmas colusivas étambém plausível de ser feito via anúncios públicos prévios de aumentos nospreços e impõe acréscimos proporcionais nos preços de equilíbrio não coopera-tivos. Normann denomina essa regra Proportional Increases (PI), na qual ospreços absolutos diferem entre as firmas, o que implica:

onde é uma mudança percentual comum sobre os preços de equilíbrio nãocooperativo.

2.2 - O método oficial de monitoramento

No caso de haver suspeitas de conduta paralela em preços, no mercadode gasolina a varejo, o procedimento oficial de monitoramento é o seguinte:

a) a Agência Nacional do Petróleo (ANP) publica mensalmente um relató-rio, apontando as localidades onde os níveis de dispersão dos preçossão baixos, como método para identificar alinhamento de preços e indi-car uma combinação entre as firmas. Para que tal combinação estejaconfigurada, é necessário que ocorram três situações simultaneamente.

11,, −− ∆+= ttiti ppp (4)

1−∆ tp1, −tip .

(5)1, −+= titi pcp

1−tptt ppcc ,2,121 , ≠≠ ,

( )1, 1 −+= tNCiti pp α

1−tα

(6)

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Primeiro, os coeficientes de variação dos preços devem ser iguais oumenores do que R$ 0,01 em pelo menos três semanas pesquisadas nomês. Segundo, os níveis médios de remuneração da atividade derevenda devem estar acima de 30% do dos níveis da região. E, terceiro,o número de postos revendedores pesquisados deve ser superior a 15;

b) os casos considerados mais graves são enviados para a Secretaria deDireito Econômico (SDE), que abre uma investigação;

c) se a investigação resulta em processo, a SDE faz um parecer para oConselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), que julga oprocesso e toma as providências necessárias (Lopes, 2004, p. 16).

Tendo chegado ao CADE, para que o paralelismo de preços seja evidênciade cartel, é preciso, ainda, identificar certos elementos a favor do seu estabele-cimento e excluir qualquer explicação econômica alternativa para esse compor-tamento, como referido anteriormente.

Assim, seguindo a descrição feita por Correa (2001), no primeiro grupo deevidências, o regulador deve: procurar listar os fatores que determinam oscustos e os benefícios das firmas de formarem um cartel, bem como os queafetam a habilidade dessas empresas de exercerem poder de mercado (parcelade mercado, elasticidade da demanda, existência de barreiras à entrada, etc.); eanalisar os custos de implementação do cartel (que são maiores para o caso debens heterogêneos, grande número de firmas, dificuldade de observar preços,etc.). No segundo grupo de evidências, o regulador deve valer-se de argumentoslógicos, coerentes e precisos, para identificar os mecanismos que podem serusados como esquemas facilitadores.

Dentro deste último grupo de evidências, se houver paralelismo de condu-ta, deve-se descartar a possibilidade de que seja oriundo de uma liderança depreços não colusiva, ou, ainda, de que se deva a uma necessidade de se evitaruma guerra de preços.13

Conclusivamente, o paralelismo de conduta, mesmo que tácito, deve serdetectável, seguindo os padrões de regras descritos pela literatura, sendo que oprocedimento oficial enfoca o grau de dispersão dos preços. Mas, se há umconhecimento comum acerca dos critérios de monitoramento tal qual o estabe-lecido pela ANP, de forma que a regra de política é antecipada pelas firmas,basta que elas sigam parâmetros distintos para não serem passíveis de inves-tigação.14 Portanto, na seção seguinte, descreve-se o caso do cartel de postos

13 A classificação acerca de liderança de preços pode ser encontrada em Scherer (1980,p. 176).

14 Em Cyrenne (1999), é possível encontrar a discussão acerca dos efeitos da antecipaçãode regras sobre a eficiência da política de monitoramento de preços.

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de gasolina em Santa Catarina, para exemplificar o método de detecção utiliza-do, e, na seção 4, propõe-se um método de análise alternativo para a investiga-ção e o monitoramento de paralelismo.

3 - O caso do cartel dos postos de gasolina em Santa Catarina15

Em 2002, 16 postos de gasolina sediados no Estado de Santa Catarinaforam condenados por prática de cartel, sob a influência do sindicato de comér-cio varejista de combustíveis de Florianópolis. Desses, 14 eram controlados portrês grupos familiares, direta ou indiretamente.

Durante as investigações feitas pelas autoridades antitruste, o mercadorelevante de produto foi delimitado como o de serviços de revenda de gasolinacomum, e o mercado geográfico, a Cidade de Florianópolis, a Região Metropoli-tana de Florianópolis e o Município de Biguaçu. As firmas presentes nessemercado foram caracterizadas por: (a) oferecer um produto homogêneo comdiferenciação locacional e de marca; (b) possuir custos e capacidade semelhan-tes; (c) ter um elemento institucional de proteção à entrada de concorrentes(necessidade de autorização de funcionamento pela Agência Nacional do Petró-leo e por autoridades municipais); (d) deparar-se com um único fornecedorprimário de gasolina, a Petrobrás; (e) inexistir substitutos próximos para a gaso-lina; e (f) haver demanda atomizada. Todas essas características de mercadosão elementos que, em conjunto com os fatos de esses postos estaremconcentrados em poucos grupos econômicos e serem apoiados pelo sindicatodo segmento, constituem elementos propiciadores de ações com resultadoscolusivos pelas empresas.

Além disso, tendo o Ministério Público obtido uma autorização judicial paraa interceptação telefônica, foram constatadas diversas interlocuções com acor-dos explícitos de fixação conjunta de preços e com indicações de monitoramentodesses acordos entre as firmas. No mínimo, esses acordos revelam um esforçode coordenação de preços articulado por uma instituição centralizadora, o sindi-cato local.16

15 Baseado em Franco Neto (2002).16 Tal conduta significa infração à ordem econômica pelo inciso II, artigo 21, da Lei nº 8.884/94,

de defesa da concorrência (Brasil, 1994). Vale lembrar que uma conduta é uma ação ou umpadrão de comportamento observáveis que caracterizam uma infração, a qual, por suavez, se constitui por atos que têm efeitos prejudiciais à concorrência.

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Como mencionado anteriormente, para um ato ser consideradoanticoncorrencial, a base de análise é sobre os efeitos potenciais que ele, porhipótese, gera, sendo dispensável comprovar a instalação efetiva dos efeitos eaveriguar os eventuais danos sobre os mercados. Ou seja, busca-se verificar asrelações de intencionalidade e de causalidade potencial entre o ato e os efeitossobre a concorrência.

No processo em questão, as evidências de intencionalidade foram obtidaspor meio das referidas comunicações entre as firmas. Já as evidências dapotencialidade dos efeitos anticompetitivos foram obtidas pela demonstraçãode que, apesar dos empecilhos legais e econômicos à formação de um cartel,os preços praticados refletiram uma coordenação prévia entre as firmas.

Os dados de preços praticados pelas empresas foram conseguidos atra-vés do CADE junto à ANP e ao Procon de Santa Catarina, para períodos interca-lados entre 10 de março de 2000 e 02 de fevereiro de 2001. Esses preços foramanalisados pelo relator em termos de dispersão de sua distribuição e das varia-ções de nível, constatando-se, na amostra, dois comportamentos importantes:maior proximidade dos valores após aumentos dos preços, indicando períodode coordenação, e grande dispersão confinada entre períodos de estabilidade,indicando uma guerra de preços como punição a desvios do acordo, com umaposterior retomada do mesmo.

Em suma, o referido processo fornece contribuições importantes aos pro-cedimentos metodológicos de análise de casos de cartel, principalmente porincluir uma análise do comportamento dos preços durante o acordo. Aliado aisso, na obtenção de provas de colusão explícita secreta, foi fundamental acomprovação de existência de comunicação entre as partes envolvidas, bemcomo a obtenção do conteúdo dessa comunicação no que tange às ameaças depunição e monitoramento, além do acordo propriamente dito. Descarta-se, des-sa forma, a situação de cheap talk, na qual a troca de informação sobre compor-tamento futuro não implicaria promessas críveis.

Mas, quando a comprovação acerca da transmissão de informaçõesdesse tipo não é possível (seja porque não se interceptou essa comunicação,seja porque o acordo é tácito), então, são necessários elementos comprobatóriosadicionais. Para demonstrar como a Teoria Econômica pode colaborar para ainferência acerca dos padrões de comportamentos paralelos das firmas, serãoapresentadas, na próxima seção, algumas contribuições ao método oficial demonitoramento do setor de combustíveis.

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4 - Alternativa de monitoramento do mercado: testes de co-integração e causalidade

Partindo da premissa de que é, cada vez mais, reconhecido o fato de quevertentes contemporâneas da economia industrial apresentam aspectosmetodológicos inovadores, então, diferentes ferramentas podem ser aplicadasao estudo de aspectos alternativos dos procedimentos regulatórios (Jacquemin,1987, p. 6; Spulber, 1989, p. 99).

Assumindo que os agentes econômicos tomam decisões seqüenciais elevam em consideração as conseqüências de suas ações uns sobre os outros esobre a atividade industrial, isso implica, dentre outras coisas, a necessidadedo uso de métodos que capturem a dinâmica das decisões e a história econômicada indústria e da firma. A consideração da passagem do tempo não somentedemonstra como fenômenos do tipo colusivos se tornam estratégias ótimas,mas também indica que, para detectar-se colusão, é necessário obter, sistema-ticamente, observações acerca das variáveis do mercado que se busca regular.

O World Bank e a OECD (1999) enfatizam isso, ao afirmarem que, naanálise de casos de cartel, dentre outras coisas, importa saber também comoos preços foram estabelecidos e como eles mudaram ao longo do tempo. Umexemplo é uma situação em que, historicamente, os preços, em um mercado,tenham mudado freqüentemente e variado muito pouco entre as firmas. Se,repentinamente, eles se tornarem idênticos e estáveis, uma investigação deveenfocar esse período. Mas o oposto também é válido, ou seja, se os preçosforem estáveis por um longo período e repentinamente se tornarem voláteis emum curto período, um cartel pode estar operando, pois, neste último caso, avolatilidade pode indicar trapaça.

Para efeito empírico, isso se traduz, primeiramente, na importância damanutenção de um estoque de informações setoriais em termos de firmas, deforma a subsidiar análises antitrustes, sem ter que depender da transmissão dedados quando da investigação das mesmas, pois este último caso amplia aprobabilidade de os dados fornecidos não refletirem a realidade do mercado.17

Conjuntamente com o uso de métodos estatísticos, a sistematização de evi-

17 Um exemplo de como as agências reguladoras no Brasil estão incorporando essasistematização de informações é o fato de a Agência Nacional do Petróleo investir naobtenção de uma série de bancos de dados para o setor de combustíveis. Verhttp://www.anp.gov.br

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dência quantitativa deve refletir um interesse crescente das autoridades antitrustede formalização das regras de avaliação, a exemplo do que já ocorre na políticaantitruste norte-americana.18

Em segundo lugar, séries históricas de preços e quantidades podem serusadas para se testarem diferentes relações teoricamente previstas para umasituação de cartel. Sabendo-se que o paralelismo, isoladamente, não é suficien-te para provar colusão, então, da análise do método oficial de monitoramento,constata-se que algumas contribuições da literatura ainda podem ser incor-poradas.

Tem-se, como exemplo, o trabalho de Gülen (1996), que testa as implica-ções de comportamento de cartel mundial do petróleo via co-integração. O argu-mento é que, se a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEC)fosse um cartel que efetivamente coordena produção, seus membros estabele-ceriam sua produção de acordo com um esquema de cotas fixado pela organi-zação. Então, não se esperaria que o nível de produção individual e a produçãototal da OPEC se movessem em direções opostas, pelo menos no longo prazo.Pelo contrário, isso implicaria uma relação de equilíbrio de longo prazo entre aprodução dos membros e a produção total da OPEC. Em terminologia de sériestemporais, as duas séries estariam co-integradas (Gülen, 1996, p. 7). Mais es-pecificamente, seja a regra de cartel descrita por:

onde é a produção do i-ésimo membro, a produção da OPEC no tempot, e é a parcela da produção do i-ésimo membro do cartel. Quando dosacordos das cotas, a OPEC fixa o limite máximo de e define, para cadamembro, uma certa porcentagem dessa quantidade. Se o membro seguir suacota, a reação de longo prazo entre e será caracterizada por um vetor

tiit QQ α= (7)

itQ tQ , iα

tQ

itQ tQ[ ]iα−,1

Se um membro trapacear as demais, o cartel deve ser capaz de detectar epunir o traidor. Conseqüentemente, podem-se ver esses desvios de equilíbriocomo de curto prazo, persistindo a relação de longo prazo. E a rejeição daco-integração entre o nível de produção dos membros e a OPEC pode implicarfalta de coordenação entre ambos, ou consistente trapaça por aquele membro ea falta de efetividade do cartel em detectar e punir o desvio.

18 Como afirmam Baker e Rubinfeld (1999, p. 387), há, na esfera judicial norte-americana, oManual de Referência em Evidência Científica, com um capítulo que trata justamentede inferência econométrica.

.

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O autor ressalta também que, se um cartel for realmente capaz de afetarpreços pelo decréscimo (ou acréscimo) de sua produção, isso pode ser detecta-do por testes de causalidade. No caso da OPEC, deve haver uma causalidadena produção em direção ao preço de mercado do petróleo, e não na direçãoinversa. Deve haver também uma causalidade do preço para a produção dospaíses fora da OPEC, pois essas nações seriam membros tomadores de pre-ços pertencentes à franja competitiva. A relação de causalidade na direçãoinversa não seria permitida, já que o esperado é que a produção da franjacompetitiva não tenha efeito sobre o preço de mercado do petróleo.

Conforme Gülen (1996), para proceder aos testes de causalidade eco-integração, em primeiro lugar, devem-se analisar as características da série,como os fatores sazonais. Caso contrário, não é possível distinguir entresazonalidade e comportamento de cartel como uma razão para a relação deequilíbrio de longo prazo. Em segundo, a natureza de qualquer função-tendênciadeve ser estabelecida, e seus efeitos devem ser considerados durante aexecução do teste, em especial, as quebras estruturais. Um terceiro aspecto éque o teste de co-integração entre todos os membros possíveis seria o maisapropriado para avaliar o sucesso do cartel.

Testes de co-integração e de causalidade também podem ser realizados,quando o paralelismo é sobre preços.19 Para ilustrar as contribuições dessametodologia de inspeção do comportamento dos preços, foi feito um exercício,cujos dados se caracterizam por séries de preços de gasolina praticados pelosprodutores20 de três regiões diferentes do País, para o período jan./02-mar./04,com freqüência semanal, fornecidas pela Agência Nacional do Petróleo (2004).As séries são identificadas no texto como P

1, P

2 e P

3. O ideal é que os preços

utilizados nesse caso fossem os equivalentes aos praticados pelas firmas con-denadas no processo citado na terceira seção. Mas, infelizmente, eles nãoestão oficialmente disponibilizados, o que explica a razão para se tomaremoutras informações a título de exemplificação. Portanto, a natureza dos resulta-dos não é conclusiva no que se refere à detecção de uma situação empírica decartel, mas apenas deve sinalizar a contribuição metodológica que pode advirdesses testes.

Após a análise da estacionaridade das séries de preços, concluiu-se queelas são integradas de ordem um — I(1). Utilizando a metodologia de Johansen

19 Tendo ainda sido utilizados como um indicativo acerca do mercado relevante do produto.Ver Oliveira, Guedes Filho e Valladares (2002).

20 O termo produtores refere-se a refinarias, a centrais petroquímicas e a formuladores.

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para a verificação da possível existência de relações de longo prazo entre ospreços, verificou-se que há somente um vetor de co-integração21 (Quadro 1).

Quadro 1

Teste de co-integração de Johansen para as séries P1, P2 e P3

TESTE DO AUTOVALOR

Hipótese Nula Hipótese Alternativa

Estatística 95% de Valor Crítico

90% de Valor Crítico

r = 0 r = 1 33,0902 22,0400 19,8600 r ? 1 r = 2 9,6519 15,8700 13,8100 r ? 2 r = 3 4,1818 9,1600 7,5300

TESTE DO TRAÇO

Hipótese Nula Hipótese Alternativa

Estatística 95% de Valor Crítico

90% de Valor Crítico

r = 0 r ? 1 46,9240 34,8700 31,9300 r ? 1 r ? 2 13,8338 20,1800 17,8800

r ? 2 r = 3 4,1818 9,1600 7,5300

<<

<<

>

>

Nesse caso específico das três séries de preços da gasolina em nível doprodutor, há uma indicação da existência de relação de equilíbrio de longo prazoentre os preços das referidas variáveis. Para fins empíricos, tal resultado confir-maria a existência de uma condição necessária para acordos tácitos de fixaçãode preços de cartel.

Tendo-se concluído pela existência do equilíbrio de longo prazo, o próximopasso foi a análise das relações de curto prazo entre as séries. Para tanto,empregou-se o teste de causalidade de Granger, visto que este fornece a prece-dência temporal entre essas variáveis, o que implica a identificação da existên-cia de liderança de preços por uma firma, ou por nenhuma, no mercado.

21 A escolha da defasagem pelo critério de informação de Akaike (AIC) e pelo critério deShwartz (SBC) indica, respectivamente, valores de três e um para a auto-regressão devetor (VAR). Tanto as equações individuais da VAR com três defasagens quanto a comuma defasagem não apresentaram ocorrência de correlação serial dos resíduos. Quandoda utilização de uma defasagem para o vetor auto-regressivo, também se concluiu que hásomente um vetor de co-integração.

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Com relação ao teste de causalidade de Granger para variáveis co-integra-das, estimou-se o mecanismo de correção de erros (ECM) em um sistema VARcom três defasagens22 e procedeu-se ao “teste de não causalidade de Grangerem bloco” para 114 observações (block Granger non-causality test)23.

De acordo com o Quadro 2, os resultados evidenciam que as variaçõesdos preços das séries P2 e P3, conjuntamente, causam (no sentido de Granger)P

1. Da mesma forma, as séries P

1 e P

3 causam P

2. Por fim, com relação à série

P3, não se rejeita a hipótese nula, isto é, P

1 e P

2 não causam P

3. Tais fatos

evidenciam, assim, que, estatisticamente, se pode inferir que os produtoresreferentes à série P

3 seriam líderes, e os demais, seguidores.

Outro insight desse exercício que liga a metodologia de séries temporais àdetecção de comportamento paralelo baseia-se no fato de que se espera umarelação estável de longo prazo dos preços de firmas rivais. Ou seja, é possívelconcluir que, mesmo com variabilidade de preços no tempo, as séries estarãoco-integradas, se a relação de preços entre as firmas for estável por um longoperíodo, o que é consistente com uma bem-sucedida coordenação dinâmicaentre oligopolistas.

22 O sistema VAR, estimado para a primeira diferença dos preços, caracterizou-se por pos-suir três defasagens, intercepto e o termo de erro defasado em um período. Nesse caso,confirmou-se que há um vetor de co-integração, pois, apenas em uma das três equações,o coeficiente do termo de erro foi estatisticamente significante.

23 Esse processo provê a estatística log-likelihood ratio para o teste de hipótese nula de queo conjunto dos coeficientes de um subconjunto de determinadas variáveis em uma VARseja igual a zero (Pesaran; Pesaran, 1997, p. 423).

Quadro 2

Teste de não-causalidade de Granger para as variações dos preços das séries P1, P2 e P3

HIPÓTESE NULA ESTATÍSTICA !2(6) PROBABILIDADE

P2 e P3 não causam P1 30,8811 0,000

P1 e P3 não causam P2 22,8320 0,001

P1 e P2 não causam P3 4,5799 0,599

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5 - Considerações finais

O objetivo central do presente artigo foi contribuir para a metodologia deanálise das variações de preços em mercados suspeitosamente colusivos, àluz dos modelos dinâmicos e dentro do critério de regulação que admiteparalelismo como um indício de infração à concorrência.

O mercado que se tomou como base para a análise foi o de venda decombustíveis a varejo, por freqüentemente apresentar as características típicasde flutuações uniformizadas de preços. Para centralizar o estudo no âmbito dedetecção de cartel, utilizou-se o caso, que consta no CADE, em que postos degasolina da Região Metropolitana de Santa Catarina foram condenados por cartel.

Apesar de não ter sido possível a obtenção dos dados de preços por firma,os quais fizeram parte do referido processo, pôde-se concluir que essas variá-veis não passaram por uma inferência acerca dos padrões de comportamentosparalelos das firmas. Por essa razão, após terem sido revistos os modelos deparalelismo de preços e o método oficial de monitoramento, partiu-se, então,para a explicação de como testes econométricos de co-integração e causalida-de podem contribuir para a metodologia de detecção de cartel.

Em linhas gerais, esses testes podem indicar se a relação de preços dasfirmas é estável no longo prazo, quais firmas estariam incluídas potencialmenteem um acordo de cartel e a existência de liderança, com a indicação da(s)líder(es). Mas é necessário salientar algumas limitações decorrentes dessametodologia. Primeiro, deve-se considerar que testar co-integração é testar rela-ção de longo prazo. Então, não seria possível detectar cartel de curto prazo.Mas se o cartel não se sustenta no longo prazo, não há porque a autoridadeantitruste investir seus esforços nele. Pelo contrário, a preocupação deve sersobre aqueles cartéis que trazem maior prejuízo ao bem-estar dos consumido-res e à competição no mercado.

Outra limitação que pode ser apontada está no fato de a identificaçãoeconométrica do paralelismo não compor uma prova definitiva de colusão. Mas,como ressaltado anteriormente, a sugestão dessa metodologia advém da ne-cessidade de se aprimorar a análise das séries, de forma a fortalecer as provasde cartel e não de as tornar definitivas em si mesmas.

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A inserção ocupacional e o desemprego dos jovens:...

A inserção ocupacional e o desemprego dos jovens: o caso das

Regiões Metropolitanas de Salvador e Belo Horizonte

Thaiz Silveira Braga* Mestre em Economia pela Unicamp e Coordenadora da Pesquisa de Emprego Desemprego da Região Metropolitana de Salvador pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (DIEESE).Mario Marcos Sampaio Rodarte** Doutorando em Demografia e Mestre em Economia pelo Cedeplar-UFMG. Coordenador da Pesquisa de Emprego e Desemprego da Região Metropolitana de Belo Horizonte pelo DIEESE.

ResumoA deterioração das condições de inserção no mercado de trabalho e seu avançodesigual nos diversos espaços regionais estão estreitamente relacionados aopadrão de incorporação excludente que marca a participação dos jovens naatividade econômica. Identificada por meio do crescimento do desemprego edas ocupações não assalariadas, a inserção do jovem no mundo do trabalho éhoje também agravada pelo limitado acesso às políticas sociais e pelosdesequilíbrios regionais. Nesse contexto, pretende-se, a partir dos dados daPED (DIEESE/SEADE) para as Regiões Metropolitanas de Salvador e BeloHorizonte, identificar as facetas do processo de exclusão, que é mais ou menosintenso entre os jovens, dependendo do atributo considerado.

* E-mail: [email protected]

** E-mail: [email protected]

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Palavras-chaveMercado de trabalho; desemprego do jovem; região metropolitana.

AbstractThe decrease of insert conditions into the labor marker and its unequal advancein many regional spaces are closely related to the excluding incorporation patternthat express the youth participation in the economic activity. Identified by theunemployment growing as well as by non-salary occupations, the youth insertioninto the labor world is nowadays also aggravated because of limited access tosocial policies and lack of regional equilibrium. In this context, based on PED(DIEESE/SEADE) data, it intends to identify main characteristics of the exclusionprocess to Salvador and Belo Horizonte metropolitan regions, which are more orless intensive between young people, depending on the considered attribute.

Key wordsLabor market; youth unemployment; metropolitan area.

Classificação JEL: J19, J22.

Artigo recebido em 19 out. 2004.

1 - Introdução

O crescimento do desemprego e a deterioração das condições de inserçãono mercado de trabalho, no Brasil, são apontados entre as principaisconseqüências das crises econômica e social das duas últimas décadas. Asprofundas transformações pelas quais vem passando a economia brasileira sematerializam nas intensas e rápidas alterações na composição da força detrabalho e na estrutura do emprego. Nesse contexto, os jovens em idade legal de

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trabalhar1 tornam-se um dos segmentos mais frágeis na disputa por um postode trabalho, em meio ao elevado excedente de mão-de-obra e à perda deoportunidades ocupacionais em empregos regulares.

A crescente dificuldade de inserção ocupacional para esse grupo etáriopode, assim como para os adultos, ser vista da perspectiva da desorganizaçãodo mercado de trabalho brasileiro, isto é, do agravamento da situação dedesemprego, do crescimento do número de trabalhadores sem vínculoempregatício institucionalizado e dos elevados níveis de informalidade. Entretantoa falta de perspectiva para essa faixa da população, que, não raro, não compõea População Economicamente Ativa (PEA), nem freqüenta o sistema escolar,destaca-se como um dos principais fatores de desagregação social no períodoatual. O sistema escolar não os acolhe, em função da má qualidade do ensinopúblico, ou não os interessa, dada a inadequação dos programas escolaresoferecidos às camadas populares, enquanto o mercado de trabalho os expulsa.

O problema é mais grave para jovens com atributos pessoais específicos.O acesso dos jovens a melhores oportunidades de ingresso no mercado detrabalho tem suas limitações, verificando-se padrões de inserção diferenciadosem função de idade, sexo, cor, condição econômica da família, bem como regiãode domicílio.

As oportunidades ou maiores dificuldades encontradas pelos jovens naparticipação do mercado de trabalho metropolitano são apresentadas com basenos dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED)2 para o ano de2004. O objetivo deste estudo é identificar as facetas do processo de exclusãoque atinge os jovens, caracterizando as diferenças no padrão de inserção

1 Neste estudo, são considerados jovens os indivíduos com idade entre 16 e 24 anos. O limitede 16 anos refere-se à idade mínima legal para a participação no mercado de trabalho. Aproibição do trabalho do menor de 16 anos foi implementada pela Lei nº 10.097, de 19.12.00,oriunda do Projeto de Lei nº 2.845/2000, e pela Portaria do Ministério do Trabalho e Emprego,Secretaria de Inspeção do Trabalho e Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho nº6, de 05.02.01, que altera os dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943.

2 A PED na Região Metropolitana de Salvador é realizada a partir de um convênio entre oGoverno do Estado da Bahia, através da Superintendência de Estudos Econômicos eSociais da Bahia (SEI), órgão da Secretaria de Planejamento (Seplan), a Secretaria doTrabalho e Ação Social (Setras), em parceria com o DIEESE, a Fundação Sistema Estadualde Análise de Dados de São Paulo (SEADE-SP) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA).Já a PED na Região Metropolitana de Belo Horizonte é realizada a partir de um convênioentre o Governo do Estado de Minas Gerais, através da Fundação João Pinheiro, órgão daSecretaria de Planejamento e Gestão (Seplag), a Secretaria de Estado de DesenvolvimentoSocial e Esportes (Sedese), em parceria com o DIEESE, e a SEADE-SP.

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ocupacional e no desemprego dessa parcela da população, em duas regiõesmetropolitanas: Salvador (RMS) e Belo Horizonte (RMBH). Essas duas áreasmetropolitanas apresentam semelhanças quanto a certas característicasestruturais, como tamanho e grau de complexidade de sua estrutura urbana,mas são distintas quanto aos padrões de incorporação da mão-de-obra.

Dada a enorme desigualdade regional reinante no Brasil, apesar de Salvadorconfigurar-se como a região metropolitana mais industrializada do Nordeste,concentra os maiores índices de pobreza, além de apresentar a mais alta taxade desemprego para os jovens entre todas as regiões abrangidas pela PED3.Belo Horizonte, por sua vez, é uma cidade com dinamismo econômico, marcadopelo desenvolvimento das atividades industriais e de setores de serviços, commaior concentração no emprego formal e que apresenta também uma dasmenores taxas de desemprego entre os jovens4. Nesse contexto, a escolha dasduas regiões metropolitanas permite traçar um quadro aproximado da inserçãodo jovem no mercado de trabalho metropolitano, no período em questão.

2 - A força de trabalho da população jovem

As Regiões Metropolitanas de Salvador e Belo Horizonte compartilhamtraços no que diz respeito ao tamanho semelhante das populações dasrespectivas capitais, excluindo outros municípios da área metropolitana, mas,ao mesmo tempo, diferem, em termos amplos, quanto às condições deincorporação dos jovens no mercado de trabalho: taxa de atividade, desemprego,distribuição dos ocupados por setores da atividade econômica e níveis derendimento.

Considerando a taxa de participação expressa na parcela da populaçãoincorporada ao mercado de trabalho, os dados da PED para 2004 mostram que,do total da população jovem de 16 a 24 anos, 67,5% e 71,8% participavam domercado de trabalho como ocupados ou desempregados nas RegiõesMetropolitanas de Salvador e Belo Horizonte respectivamente (Tabela 1). Comoera de se esperar, a investigação da taxa de participação mostra que os jovens

3 Pesquisas semelhantes, do ponto de vista metodológico, também são realizadas nas seguin-tes regiões metropolitanas: São Paulo (desde 1985), Porto Alegre (desde 1991), DistritoFederal (desde 1992), Belo Horizonte (desde 1994) e Recife (desde 1997).

4 No ano de 2004, as taxas de desemprego registradas para os jovens (16 a 24 anos) nasregiões metropolitanas foram: 42,8% da força de trabalho dos jovens na de Salvador, 41,7%na de Recife, 34,1% na de Belo Horizonte, 32,6% na de São Paulo e 29,3% na de PortoAlegre.

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A inserção ocupacional e o desemprego dos jovens:...

com idade entre 18 e 24 anos estão mais presentes na força de trabalho, quandocomparados àqueles com idade de 16 e 17 anos. Mais do que isso, a taxa departicipação dos jovens de 18 a 24 anos apresenta-se superior à do total dapopulação adulta, o que sugere ser nessa faixa etária o período em que tende aocorrer a entrada em massa das pessoas na força de trabalho. A parcela referenteaos jovens inativos com idade superior a 18 anos é de apenas 21,8% na RMBH(Tabela A.1 do Apêndice). A inatividade, por sua vez, atinge mais os jovens de16 e 17 anos domiciliados na RMS (66,5%) e na RMBH (53,2%). Acredita-seque a inatividade, principalmente entre os mais novos, decorre, em parte, domaior tempo dedicado à educação, resultado da ampliação no acesso ao ensinopúblico e também da preocupação generalizada com incremento da formaçãoprofissional (Cacciamali; Braga, 2003b).

Tabela 1 Taxas de participação da população jovem e total, segundo atributos

pessoais, nas Regiões Metropolitanas de Salvador (RMS) e Belo Horizonte (RMBH) — 2004

(%)

POPULAÇÃO JOVEM TOTAL (16 anos e mais)

De 16 a 24 Anos

16 e 17 Anos

De 18 a 24 Anos

ATRIBUTOS PESSOAIS

RMS RMBH RMS RMBH RMS RMBH RMS

RMBH

Total …………... 69,0 67,8 67,5 71,8 33,5 46,8 75,8 78,2 Sexo Homens ............ 78,3 76,7 72,0 75,4 34,8 47,2 81,2 82,9 Mulheres ........... 61,3 59,9 63,0 68,2 32,3 46,4 70,7 73,6 Cor Não-negros ....... 66,0 65,4 64,9 67,4 25,5 40,6 72,7 73,9 Negros .............. 69,5 69,4 67,8 74,7 34,4 50,6 76,3 81,1 Posição no do- micílio Chefe ................ 72,5 69,9 87,4 84,3 (1)- (1)- 88,0 84,3 Demais .............. 66,9 66,4 66,0 70,8 33,4 46,7 74,7 77,6 Cônjuge ........ 60,0 55,6 59,0 62,5 (1)- (1)- 60,6 63,5 Filho .............. 72,3 76,1 66,0 71,9 32,8 46,7 76,3 80,1 Outros ........... 66,4 62,8 68,5 69,7 36,4 47,7 76,0 74,3 Tempo de resi- dência na RM Até 3 anos ......... 68,6 64,3 64,8 59,2 37,1 (1)- 70,7 61,4 Mais de 3 anos 69,1 67,9 67,7 72,8 33,2 47,0 76,4 79,8

FONTE DOS DADOS BRUTOS: DIEESE/SEADE. MTE/FAT e convênios regionais. PED. (1) A amostra não comporta desagregação para essa categoria.

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Thaiz Silveira Braga; Mario Marcos Sampaio Rodarte

Ainda no que diz respeito à condição de atividade dos jovens no mercadode trabalho, verifica-se a maior presença dos jovens homens, negros5, chefes defamília e não migrantes6 na força de trabalho, independentemente da faixa etáriae da região de estudo. Quanto à participação das mulheres mais jovens, fatoresculturais podem estar induzindo a uma menor pressão sobre o mercado detrabalho, em geral relacionada ao envolvimento dessas em atividades exercidasno âmbito familiar, identificadas como não produtivas. Por sua vez, a menordiferença das taxas de participação entre sexos de jovens de 16 e 17, vis-à-visaos segmentos dos jovens de 18 a 24 anos e ao total da população adulta, podeestar sugerindo mudança de comportamento intergeracional, pela maior igualdadede gênero, o que corrobora outros estudos que apontam crescente aumento naparticipação das mulheres, ao longo das últimas décadas.

Por fim, a participação mais intensa dos jovens entre 18 e 24 anos nomercado de trabalho da RMBH é verificada para quase todos os atributosanalisados. A incorporação dos jovens mineiros ao mercado de trabalho podeestar associada às diferenças de desenvolvimento econômico entre as regiões,visto que a oferta da força de trabalho do jovem, além de obedecer a fatoresassociados à sua motivação na busca pelo emprego, também é condicionadapelas questões de demanda dessa mão-de-obra, ou seja, pelas condições dademanda agregada e pela estrutura vigente do mercado de trabalho, apropriadaà incorporação desse contingente específico da população. Embora algunsautores ressaltem que a participação do jovem no mercado de trabalho estáestreitamente relacionada à pobreza das famílias, o elemento decisivo para asua incorporação não é apenas a vontade da família ou do jovem, mas, sim, osmecanismos de atração do mercado de trabalho e a existência de oportunidadespara a incorporação dessa parcela da população.

3 - O jovem e o desemprego

A oferta de empregos e as possibilidades para outras formas de ocupaçãoque não as assalariadas são insuficientes para absorver os jovens, a despeitoda pressão sobre o mercado de trabalho. As condições da demanda agregadatêm efeito importante, ao condicionarem a geração de emprego, penalizando

5 Conforme as opções disponíveis no questionário da PED quanto à cor do indivíduo, sãoclassificados como negros (pretos e pardos) e não-negros (brancos e amarelos).

6 Para efeito de análise, neste estudo, consideram-se migrantes os indivíduos com tempo deresidência nas regiões de estudo de até três anos e não-migrantes aqueles domiciliados hámais de três anos.

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A inserção ocupacional e o desemprego dos jovens:...

todos os trabalhadores, mas principalmente os jovens, que, diante da escassezde oportunidades de emprego, entram em desvantagem na disputa por um postode trabalho em um mercado cada vez mais exigente.

Conforme os dados da PED, dentre os jovens dispostos a se inserirem nomercado de trabalho, em 2004, 42,8% encontravam-se em desemprego, na RMS(Tabela 2). Esse indicador evidencia as maiores dificuldades enfrentadas pelosjovens baianos na busca por uma oportunidade ocupacional. Analisando-se astaxas de desemprego da população jovem residente na RMBH, constata-se queas oportunidades de ingresso ocupacional desta são menos escassas, emborasuas taxas de desemprego superem, em muito, a do conjunto dos indivíduoscom mais de 16 anos. Assim, em face dos resultados encontrados, constatou--se que os jovens tendem a encontrar, nas duas regiões de estudo, grandesdificuldades de ingresso no mercado de trabalho.

Tabela 2 Taxas de desemprego da população jovem e total, segundo atributos

pessoais, nas Regiões Metropolitanas de Salvador (RMS) e Belo Horizonte (RMBH) — 2004

(%)

POPULAÇÃO JOVEM TOTAL (16 anos e mais)

De 16 a 24 Anos

16 e 17 Anos

De 18 a 24 Anos

ATRIBUTOS PESSOAIS

RMS RMBH RMS RMBH RMS RMBH RMS RMBH Total …………….…... 25,3 18,7 42,8 34,1 51,3 56,1 41,8 30,8 Sexo Homens ..................... 23,0 16,1 38,3 30,1 47,8 52,2 37,3 26,7 Mulheres .................... 27,7 21,5 47,6 38,5 54,9 60,1 46,8 35,1 Cor Não-negros ................ 17,9 16,0 37,9 30,2 (1)- 51,8 36,7 27,4 Negros ....................... 26,4 20,5 43,4 36,5 51,0 58,1 42,5 32,8 Posição no domicí- lio Chefe ......................... 15,7 10,2 26,2 18,4 (1)- (1)- 26,2 18,3 Demais ...................... 31,6 24,2 44,4 35,5 51,6 56,2 43,5 32,1 Cônjuge ................. 23,7 18,8 49,6 38,9 (1)- (1)- 49,2 37,9 Filho ....................... 38,0 27,9 46,7 36,1 53,4 56,9 45,8 32,2 Outros .................... 27,7 21,8 35,3 30,8 43,6 (1)- 34,4 28,3 Tempo de residên-cia na RM Até 3 anos ................. 28,0 23,9 35,7 27,1 (1)- (1)- 35,2 26,6 Mais de 3 anos. ......... 25,1 18,4 43,5 34,6 52,5 56,9 42,5 31,1 FONTE DOS DADOS BRUTOS: DIEESE/SEADE. MTE/FAT e convênios regionais. PED. (1) A amostra não comporta desagregação para essa categoria.

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Thaiz Silveira Braga; Mario Marcos Sampaio Rodarte

Uma das explicações para esse cenário baseia-se na afirmação de que odesemprego dos jovens tende a ser mais sensível às variações na demandaagregada. Supõe-se que, do lado da oferta de mão-de-obra, os jovens, mais queos adultos, costumam deixar voluntariamente de trabalhar e mudamfreqüentemente de emprego, até encontrarem o trabalho apropriado. Emdecorrência disso, quando escasseiam as oportunidades de trabalho, odesemprego aumenta mais nesses grupos que já apresentam maior probabilidadede deixar o emprego. Ademais, quando desempregados, é mais comum os jovensbuscarem ocupações de melhor qualidade, quando são menos carentes da rendapara a sobrevivência, possibilitando maior seletividade nos critérios da buscapor um posto de trabalho.

Deve-se atentar também para o fato de que, em situação de baixacapacidade da economia de absorver mão-de-obra, o aumento do desempregonaturalmente tenderia a aumentar mais nas faixas etárias caracterizadas peloingresso no mercado de trabalho, como é o caso da faixa etária dos 18 a 24anos.

Do lado da demanda de trabalhadores realizada por parte das empresas,destaca-se o custo da dispensa de um jovem, que, geralmente, é mais baixo doque o de um adulto, em função das condições em que a contratação é realizada.Ainda do ponto de vista dos empregadores, estes podem optar por trabalhadoresadultos, em função da experiência e de hábitos de trabalho mais sedimentadosnos mesmos.

O incremento das exigências em relação à escolaridade e à experiência éoutro fator determinante dos altos índices de desemprego desse grupo etário.Em resumo, dentre as diversas causas das altas taxas de desemprego dosjovens, destacam-se ainda aquelas relacionadas à especificidade do desempregodesse grupo populacional, configurada na falta de experiência (Gráfico 1). Entreos jovens de 16 e 17 anos residentes na Região Metropolitana de Belo Horizonte,67,3% não possui qualquer experiência anterior de trabalho.

A atividade econômica é maior entre os jovens adultos (18 a 24 anos). Amaior exposição dos jovens ao mercado de trabalho ocorre, como será vistoadiante, em atividades precárias, associadas a jornadas de trabalho extenuantes,o que traz conseqüências profundas sobre o desempenho escolar e sobre aspossibilidades de maiores rendimentos futuros, relacionadas às dificuldades decontinuidade do processo de formação.

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A inserção ocupacional e o desemprego dos jovens:...

O processo de exclusão, no entanto, não se limita à faixa etária do indiví-duo, mas está também associado a atributos pessoais específicos. Jovens ne-gros e mulheres são mais vulneráveis ao desemprego. No caso dos jovensnegros, o movimento de exclusão a partir do desemprego tende a se perpetuarcomo uma das principais características da evolução desse grupo etário daPEA. A pressão dos negros sobre o mercado de trabalho é maior para todas asfaixas de idade consideradas, no entanto, sua maior disponibilidade para o tra-balho não se tem traduzido em oportunidades ocupacionais. Quanto às mulhe-res, a despeito da sua crescente inserção na força de trabalho, a manutençãode elevadas taxas de desemprego mostra que os mercados de trabalho metro-politanos não têm sido capazes de absorver a expansão da oferta de mão-de--obra feminina. Por outro lado, os jovens chefes de família, ao pressionaremmais o mercado de trabalho, em função da menor possibilidade de se manteremna inatividade, apresentam taxas de desemprego mais baixas (26,2% na RMS e18,4% na RMBH, para os jovens de 16 a 24 anos). A urgência de acesso a umaoportunidade ocupacional parece explicar esse comportamento.

62,6

37,4

61,5

38,5

36,7

63,3

32,7

67,3

66,1

33,9

69,6

30,4

0,010,020,030,040,050,060,070,080,090,0

100,0

RMS RMBH RMS RMBH RMS RMBH

De 16 a 24 anos 16 e 17 anos De 18 a 24 anos

Com experiência Sem experiência

Gráfico 1Distribuição dos desempregados da população jovem e total, segundo

experiência anterior de trabalho, nas Regiões Metropolitanas de Salvador (RMS) e Belo Horizonte (RMBH) — 2004

Legenda:

(%)

FONTE: DIEESE/SEADE. MTE/FAT e convênios regionais. PED.

Gráfico 1

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Vale ressaltar que, além da presença de elevadas taxas de desempregopara os jovens, se destaca a significativa participação desse contingente dapopulação na condição de desemprego de longa duração, com graves prejuízosao seu processo de emancipação e incorporação social. Nas regiões estudadas,entre os jovens de 16 a 24 anos, mais de um quarto dos desempregados está àprocura de trabalho há mais de um ano (Tabela A.2 do Apêndice). De outraforma, a nova configuração do desemprego dá-se a partir da elevação do tempomédio de procura de trabalho. Assim, o tempo médio de procura de trabalhoexpressa a duração média da permanência do indivíduo na condição dedesempregado, dada pela dificuldade de encontrar trabalho, e a tendência doaumento médio do tempo de desemprego entre os jovens, nos últimos anos.7

Outro indicador relevante são os meios mais utilizados pelos jovens para aprocura de trabalho. Enquanto as formas de procura de trabalho dos jovens de16 e 17 anos estão relativamente mais associadas às redes de relações sociais(amigos, parentes, conhecidos) em que está inserida a sua família, os jovenscom idade acima de 18 anos utilizam meios formais ou tradicionais para inserçãono mercado de trabalho. Os meios mais utilizados por indivíduos nessa faixaetária são: procura de empresas, agências de emprego, sindicatos, anúnciosem jornais, além do Sistema Nacional de Emprego (Sine).

Na comparação dos resultados coletados para as regiões metropolitanasem estudo, as estratégias adotadas para a procura de trabalho pelos jovenscom idade até 17 anos e por aqueles com 18 anos ou mais guardam algumasdiferenças que merecem ser destacadas. A partir de uma observação maisatenta, nota-se que, enquanto 81,3% dos jovens (16 e 17 anos) residentes naRMBH recorrem a visitas a empresas e a agências de emprego, assim comorespondem ou colocam anúncios nos jornais, pouco mais da metade dos jovensbaianos com a mesma idade (58,0%) utiliza mecanismos de procura de trabalhosemelhantes. As diferenças dos meios mais utilizados pelos desempregadosna procura de uma ocupação nessas regiões metropolitanas podem ser vistascomo um indicador do menor grau de estruturação do mercado de trabalhometropolitano baiano, já que, em regiões onde o mercado de trabalho é poucoestruturado, há maior facilidade de inserção em atividades precárias, autônomase de curta duração, que, geralmente, podem prescindir dos mecanismos formaisde colocação no mercado de trabalho.

7 A análise dos dados da PED para as Regiões Metropolitanas de Salvador e Belo Horizontemostra que o tempo médio de procura de trabalho para os jovens, em 2000, era de 11 mesese de um ano e um mês respectivamente. Considerando a evolução desse indicador, verifica--se que, nas duas áreas metropolitanas, em 2004, o tempo de procura de trabalho passoupara um ano e dois meses.

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A inserção ocupacional e o desemprego dos jovens:...

0,010,020,030,040,050,060,070,080,090,0

RMS RMBH RMS RMBH RMS RMBH

De 16 a 24 anos De 16 e 17 anos De 18 a 24 anos

Procura em empresas, agências, sindicatos, SINE e jornais

Procura por parentes, amigos e conhecidos Procura na rua ou outras formas de procura

FONTE: DIEESE/SEADE. MTE/FAT e convênios regionais. PED.

Gráfico 2Distribuição dos desempregados da população jovem e total (procura em 30

dias), segundo os meios mais utilizados na procura de trabalho, nas Regiões Metropolitanas de Salvador (RMS) e

Belo Horizonte (RMBH) — 2004(%)

Legenda:

4 - Inserção ocupacional do jovem: oportunidade ou exploração?

A perda do dinamismo econômico e as mudanças na estrutura dasocupações ocorridas no mercado de trabalho brasileiro, nas duas últimas décadas,constituem os principais fatores determinantes da deterioração do padrão deinserção juvenil no mercado de trabalho. Conforme Pochmann (1998), em meioao rompimento da estrutura de emprego baseada no trabalho assalariado e dacrescente precariedade dos novos postos, a ocupação dos jovens acabou porse transformar em uma das principais variáveis de ajuste econômico. Os postosde trabalho tradicionalmente ocupados pelos jovens são disputados tambémpor adultos.

Gráfico 2

DIEESE/SEADE.MTE/FAT e convênios regionais.PED.

Legenda:

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Dessa forma, além de estar relacionada às especificidades da mão-de--obra juvenil e às maiores exigências com a educação e a formação profissional,a ampliação do desemprego para os jovens8 tem raízes também nas mudançasda estrutura das ocupações. Essa camada da população vem enfrentandodificuldades crescentes para a inserção no mercado de trabalho, relacionadasao fechamento de antigas portas de ingresso juvenil, decorrente das modificaçõesgerais ocorridas no mercado de trabalho.

No período mais recente, mesmo em momentos de recuperação da atividadeeconômica, onde o crescimento da ocupação ultrapassou o crescimento daPEA, o nível de desemprego mantém-se bastante elevado, em função do estoquede desempregados formado ao longo da década de 90, o que torna esse problema(adultos disputando vagas de jovens) mais atual do que nunca. Por fim, aineficiência dos mecanismos de intervenção sobre o mercado de trabalho,notadamente aqueles relacionados à alocação de recursos destinados às políticassociais voltadas para o jovem, vem corroborar o processo de exclusão configuradonas altas taxas de desemprego e na precariedade da inserção desse grupopopulacional.

O tipo de ocupação exercida pelos jovens também vem agravar ascondições de inserção dessa parcela da população. Na ausência de empregosestáveis na economia local, os jovens acabam por se inserir em trabalhostemporários e parciais, alternando-se entre uma ocupação provisória e o freqüentedesemprego, até o momento em que os desestímulos resultantes das condiçõesadversas do mercado de trabalho os levam para a inatividade.

No que tange à ocupação nas regiões metropolitanas estudadas, verifica--se a presença significativa dos jovens nos postos de trabalho sem contrato detrabalho e, portanto, sem proteção das leis trabalhistas (em torno de 36,0% nasRegiões Metropolitanas de Salvador e Belo Horizonte, para jovens de 16 e 17anos). As diferenças de inserção de homens e mulheres são verificadas naexpressiva proporção das jovens (16 a 24 anos) entre as empregadas domésticas(24,1% na RMS e 17,8% na RMBH) e na maior proporção dos rapazes emempregos sem carteira de trabalho assinada (28,4% e 22,2% respectivamente).Dessa forma, o emprego doméstico e o emprego sem registro em carteira,especialmente na Região Metropolitana de Salvador, consolidam-se comoimportante estratégia de sobrevivência para essa parcela da população.

8 Entre os anos 2000 e 2004, observou-se crescimento das taxas de desemprego dos jovensem todas as regiões metropolitanas em que a PED é realizada. Nas Regiões Metropolitanasde Belo Horizonte e Salvador, as taxas de desemprego entre os jovens passaram de 29,7%para 34,1% e de 41,6% para 42,8% respectivamente.

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A inserção ocupacional e o desemprego dos jovens:...

Tabela 3

Distribuição dos ocupados da população jovem e total, segundo posição na ocupação, nas Regiões Metropolitanas de

Salvador (RMS) e Belo Horizonte (RMBH) — 2004 (%)

POPULAÇÃO JOVEM TOTAL (16 anos e mais)

De 16 a 24 Anos

16 e 17 Anos

De 18 a 24 Anos

POSIÇÃO NA

OCUPAÇÃO RMS RMBH RMS RMBH RMS RMBH RMS RMBH

TOTAL ......................... 100,0 100,0 100,0 100,0 1100,0 100,0 100,0 100,0 Assalariados total (1) 60,2 63,3 66,7 77,7 48,6 68,1 68,4 78,6 Assalariados do setor privado .......................... 46,2 50,6 60,3 71,0 40,6 61,7 62,1 71,9 Subcontratados .......... 6,2 3,4 6,5 4,6 (2)- (2)- 7,1 3,9 Demais ....................... 40,0 47,2 53,8 66,4 39,8 50,4 55,0 68,0 Com carteira assina- da ............................... 34,7 41,0 34,2 50,2

(2)- 24,9 36,9 52,7

Sem carteira assina- da ............................... 11,5 9,6 26,1 20,7 36,5 36,7 25,2 19,2 Assalariados do setor público .......................... 13,9 12,7 6,3 6,7

(2)- (2)- 6,2 6,7

Autônomos .................. 23,4 20,5 18,3 12,2 26,8 19,7 17,6 11,5 Que trabalham para em- presa ............................. 19,2 5,3 13,3 3,9 (2)- (2)- 12,7 3,7 Que trabalham para o público ........................... 4,2 1 5,2 5,1 8,3 19,7 (2)- 4,9 7,8 Trabalhador familiar 0,8 0,6 1,9 (2)- (2)- (2)- 1,4 (2)- Empregados domés- ticos ............................. 9,7 9,3 11,5 8,3 17,0 (2)- 11,0 8,1 Demais (3) ................... 5,9 6,2 1,5 (2)- (2)- (2)- 1,7 (2)- FONTE DOS DADOS BRUTOS: DIEESE/SEADE.

MTE/FAT e convênios regionais. PED.

(1) Inclusive os assalariados que não sabem o tipo de empresa em que trabalham. (2) A amostra não comporta desagregação para essa categoria. (3) Inclui empregadores, donos de negócio familiar e outros.

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Mais uma vez, as diferenças regionais, resultantes das desigualdadeseconômicas e da organização dos mercados de trabalho metropolitanos, sãofavoráveis à inserção dos jovens na RMBH. Considerando-se as formas deocupação mais precárias, facilmente identificadas através da condição legal deinserção, o somatório da proporção dos assalariados sem registro em carteira,daqueles que trabalham por conta própria e dos empregados domésticos indicao maior grau de vulnerabilidade dos postos de trabalho ocupados pelos jovensbaianos (55,9% dos jovens ocupados em postos de trabalho vulneráveis, contra41,2% na RMBH).

Na análise referente aos setores de atividade, destaca-se comocaracterística que marca as transformações do mercado de trabalho metropolitanoa deterioração da sua estrutura ocupacional, a partir da perda de dinamismo nageração de empregos, nos setores econômicos mais estruturados. De modogeral, é possível afirmar que a contrapartida dessa mudança na composiçãosetorial da ocupação é o crescimento das relações de trabalho à margem dalegislação trabalhista, além da consolidação da importância do trabalho autônomoe em serviços domésticos como forma alternativa de inserção.

De acordo com os dados da PED, o setor serviços é responsável pelamaior parte da ocupação dos jovens (Tabela A.3 do Apêndice). A concentraçãode mais da metade dos jovens ocupados nesse setor, que, exceção feita aalguns de seus ramos, possui uma estrutura ocupacional precária, com baixaqualificação da mão-de-obra e tendência a salários mais baixos, reforça a análiseda precariedade das condições de inserção desses, na medida em que se podeconstatar que o segmento não organizado da economia acabou por se apresentarcomo uma das poucas alternativas de ocupação frente ao desemprego e àinatividade.

Esses resultados parecem fornecer uma descrição das característicasgerais da amostra utilizada neste estudo, repetindo-se, entre os jovens, osmesmos elementos descritivos da população ocupada total (acima de 16 anos).No entanto, quando comparadas às proporções da ocupação total, verifica-se amaior participação relativa dos jovens nos setores do comércio (20,7% e 21,8%na RMS e RMBH respectivamente). Adicionalmente, observou-se maiorparticipação relativa dos jovens mineiros na indústria (14,8%) e dos baianosnos serviços domésticos (11,5%).9

9 Os dados da distribuição do total de ocupados (acima de 16 anos) vêm ratificar as afirma-ções acima. Nos mercados de trabalho metropolitanos, o comércio respondia por 16,4% e15,3% da ocupação na RMS e na RMBH respectivamente; a indústria, por 14,4% na RMBH;e os serviços domésticos, por 9,7% na Região Metropolitana de Salvador.

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A inserção ocupacional e o desemprego dos jovens:...

Por fim, a inserção segundo a ocupação exercida informa acerca das con-dições de precariedade a que estão submetidos os jovens ocupados nos merca-dos de trabalho metropolitanos. Na Região Metropolitana de Salvador, os jovenstrabalhadores são principalmente estagiários, empregados domésticos e vende-dores de jornais e revistas (Tabela 4). No que se refere à jornada de trabalhodesses jovens, apenas o estágio caracteriza-se como ocupação de tempo parcial(26 horas semanais). Em média, os empregados domésticos e vendedores dejornais e revistas trabalharam 49 e 44 horas semanais em 2004, respectivamente.De modo análogo, destacam-se os trabalhadores braçais na construção civil,vendedores ambulantes (baleiros, sorveteiros, feirantes, doceiros, etc.), osprestadores de serviços (garçons, copeiros, atendentes de bar, faxineiros),auxiliares de escritório, balconistas no comércio e caixas, cujas jornadas médiasde trabalho variam entre 35 e 47 horas semanais.

Tabela 4 Principais ocupações da população jovem e total na

Região Metropolitana de Salvador — 2004

POPULAÇÃO JOVEM (de 16 a 24 anos)

PRINCIPAIS OCUPAÇÕES

DISTRIBUIÇÃO DO TOTAL DOS

OCUPADOS (16 anos e mais)

(%)

Distribuição dos Jovens

(%)

Percentual de Jovens na Ocupação

Jornada (horas)

Estagiários........................... 2,1 8,5 83,4 26 Empregados domésticos .... 6,8 7,7 23,1 49 Vendedores de jornais/ /revistas............................... 4,4 5,5 25,7 44 Serventes/ajudantes de pe-dreiro/trabalhadores braçais 2,4 4,8 41,7 44 Baleiros/doceiros/quitandei-ros ...................................... 4,0 3,9 19,7 35 Faxineiros ........................... 2,9 3,8 26,5 39 Garçons .............................. 4,3 3,7 17,8 39 Auxiliares de escritório ....... 2,9 3,7 26,3 45 Balconistas no comércio ..... 2,3 3,5 31,2 43 Caixas ................................. 1,8 2,6 29,9 47 Subtotal ............................. 33,9 47,7 - -

FONTE DOS DADOS BRUTOS: DIEESE/SEADE. FONTE DOS DADOS BRUTOS: MTE/FAT e convênios regionais. FONTE DOS DADOS BRUTOS: PED.

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As elevadas jornadas de trabalho das principais ocupações exercidas pe-los jovens, associadas à inadequação do sistema público de ensino e ao baixonível dos cursos noturnos, levam à reprodução de um padrão de inserção queprivilegia o trabalho em detrimento da formação escolar. Em face dos resultados,pode-se inferir que um dos aspectos mais negativos do trabalho dos jovens é oatraso escolar ou, até mesmo, o abandono da escola, comprometendo as suasinserções futuras.

Na comparação das informações coletadas para as Regiões Metropolitanasde Salvador e Belo Horizonte, destaca-se a proporção dos jovens dedicados aoserviço doméstico na RMS. Do total de ocupados que trabalham comoempregados domésticos, 23,1% são jovens. Já entre os jovens mineiros, osdados revelaram como principais ocupações as de vendedor, estagiário e auxiliarde escritório (Tabela 5). Apesar da semelhança entre as ocupações exercidas, amaior proporção dos jovens entre empregados domésticos, vendedoresambulantes, trabalhadores braçais, faxineiros e atendentes de bar indica a maiorprecariedade da inserção do jovem baiano. No que diz respeito à jornada detrabalho, verificam-se, também para os jovens residentes na RMBH, ocupaçõescom número de horas trabalhadas incompatíveis com o acesso aos estudos,representando graves prejuízos para o nível de escolaridade dessa parcela dapopulação.

Finalmente, a média de horas trabalhadas na semana, registrada para osjovens de 16 a 24 anos, foi de 40 horas na RMS e de 39 horas na RMBH, asquais estão muito próximas daquelas apresentadas para o total da populaçãoocupada (42 e 41 horas respectivamente). Os dados revelam ainda que as cargassuperiores a 40 horas ocorrem para 48,2% e 40,0% dos jovens ocupados naRMS e na RMBH, nessa ordem (Tabela A.5 do Apêndice).

Como conseqüência, a relação entre a inserção no mercado de trabalho ea freqüência à escola resulta na redução da dedicação aos estudos, determinadapela natureza do trabalho dos jovens, que combinam longas jornadas de trabalhocom a freqüência à escola, e também pela precariedade do ensino oferecido aosmais pobres (Cacciamali; Braga, 2003b). De acordo com os dados da PED,36,7% e 44,0% dos jovens entre 16 e 24 anos estão inseridos no mercado detrabalho das Regiões Metropolitanas de Salvador e Belo Horizonte,respectivamente, como ocupados ou desempregados, em detrimento da escola(Tabela A.6 do Apêndice). Estudar passa a ser uma atividade secundária. Essecomportamento acaba eliminando, já na adolescência, a possibilidade de osjovens mais pobres ampliarem suas oportunidades futuras de inserção qualificadano mercado de trabalho.

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A inserção ocupacional e o desemprego dos jovens:...

Os baixos níveis de escolaridade entre os jovens de 16 a 24 anos,10 um dosindicadores mais importantes na definição dos rendimentos dos trabalhadores,impacta diretamente sobre os níveis de rendimento dessa parcela da população.11

A investigação da remuneração do trabalho para os jovens mostra ainda que háuma grande dispersão dos rendimentos, segundo a posição na ocupação, osatributos pessoais e o local de residência. Conforme os dados da PED, os maioresrendimentos médios são verificados para os jovens da Região Metropolitana deBelo Horizonte (R$ 412,00), contra R$ 339,00 na RMS.

10 Entre os jovens baianos e mineiros de 16 a 24 anos, 35,60% e 26,6% têm apenas o ensinofundamental (Tabela 4 do Apêndice).

11 Os jovens de 16 a 24 anos ganham, em média, 48,9% e 54,5% do rendimento da populaçãoocupada total das Regiões Metropolitanas de Salvador e Belo Horizonte respectivamente.

Tabela 5 Principais ocupações da população jovem e total na

Região Metropolitana de Belo Horizonte — 2004

POPULAÇÃO JOVEM (de 16 a 24 anos)

PRINCIPAIS OCUPAÇÕES

DISTRIBUIÇÃO DO TOTAL DOS

OCUPADOS (16 anos e mais)

(%)

Distribuição dos Jovens

(%)

Percentual de Jovens na Ocupação

Jornada (horas)

Vendedores ................... 5,6 7,6 29,3 43 Estagiários .................... 1,8 6,7 78,9 28 Auxiliares de escritório .. 3,5 6,3 38,7 38

Outras ocupações mal definidas ........................ 3,4 5,9 37,4

38

Empregados domésticos 5,9 5,4 19,5 43 Trabalhadores braçais, sem especificações ....... 2,8 4,6 35,4 41 Garçons ......................... 2,6 4,1 33,6 43 Caixas ........................... 1,9 3,8 43,3 43 Contínuos ...................... 0,7 2,6 84,0 36 Faxineiros ..................... 5,3 2,6 10,3 31 Subtotal ........................ 27,9 42,0 - -

FONTE DOS DADOS BRUTOS: DIEESE/SEADE. FONTE DOS DADOS BRUTOS: MTE/FAT e convênios regionais. FONTE DOS DADOS BRUTOS: PED.

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O caráter excludente do mercado de trabalho também se revela quando daanálise da notável diferença dos rendimentos auferidos por homens e mulheresjovens; e negros e não-negros, segundo as regiões. Se o tipo de ocupaçãoindica os limites de mobilidade social, é a partir do nível de rendimento que severifica um dos principais instrumentos de exclusão social. A média salarial dosnegros é de R$ 317,00 e R$ 386,00 nas Regiões Metropolitanas de Salvador eBelo Horizonte respectivamente. A comparação com os não-negros mostra queos negros recebem cerca de 65,0% do rendimento dos não-negros na RMS. Asituação repete-se quando da análise do rendimento médio segundo o sexo.Mais uma vez, as mulheres estão em desvantagem em relação aos homens,com uma média de rendimentos de R$ 297,00 e R$ 356,00 na RMS e na RMBH,o que representa 79,8% e 77,0% do rendimento masculino respectivamente(Tabelas A.7 e A.8 do Apêndice).

Tabela 6

Distribuição dos ocupados da população jovem e total, por classes de salário mínimo, nas Regiões Metropolitanas de Salvador (RMS) e

Belo Horizonte (RMBH) — 2004 (%)

POPULAÇÃO JOVEM TOTAL (16 anos e

mais) De 16 a 24 Anos

16 e 17 Anos

De 18 a 24 Anos

CLASSES DE SALÁRIO MÍNIMO

RMS RMBH RMS RMBH RMS RMBH RMS RMBH

TOTAL ………………….. 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Até 1/2 salário mínimo 11,5 5,2 17,8 7,1 51,9 (1)- 14,8 5,6 Mais de 1/2 até 1 salário mínimo............................. 16,0 10,5 24,6 16,6 33,7 37,9 23,8 14,5 Mais de 1 até 3 salários mínimos .......................... 48,8 57,6 52,0 69,1 14,2 39,8 55,4 72,1 Mais de 3 até 5 salários mínimos .......................... 11,0 13,5 3,7 5,4 (1)- (1)- 4,0 6,0 Mais de 5 salários mí-nimos .............................. 12,6 13,2 (1)- (1)- (1)- (1)- (1)- (1)-

FONTE DOS DADOS BRUTOS: DIEESE/SEADE. MTE/FAT e convênios regionais. PED.

NOTA: Os inflatores utilizados foram o IPC da SEI e o IPCA do IPEAD; valores em reais de dezembro de 2004; e o salário mínimo utilizado é de R$ 260,00. (1) A amostra não comporta desagregação para essa categoria.

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A inserção ocupacional e o desemprego dos jovens:...

Os resultados verificados para as médias dos rendimentos dos ocupadosjovens podem ser detalhados a partir da observação da distribuição dos ocupadospor classes de salário mínimo. Entre os jovens ocupados de 16 e 17, na RMS,85,6% ganhavam até um salário mínimo. A situação dos trabalhadores jovensna RMBH é um pouco menos crítica, com 59,8% dos ocupados na faixa salarialde até um salário mínimo. A parcela referente aos jovens de 18 a 24 anos tambémse concentra nas faixas de renda mais baixas, destacando-se, no entanto, amaior participação relativa entre os ocupados com renda de até três saláriosmínimos. A proporção dos jovens metropolitanos na faixa de remuneração deum até três salários mínimos chega a 55,4% na RMS e a 72,1% na RMBH.

5 - Conclusões

O elevado e persistente desemprego enfrentado pela economia brasileiraao longo das duas últimas décadas e o quadro de precarização da ocupaçãotornam os jovens um dos segmentos mais frágeis na disputa por um posto detrabalho. A precariedade e a heterogeneidade dos mercados de trabalho nacionaisvêm-se traduzindo em um complexo mosaico de situações de desemprego, quese expressam tanto por suas distintas formas de manifestação (desempregoaberto, de longa duração, subemprego, desemprego oculto por trabalho precárioou desalento), como pelo fato de atingirem diferenciadamente parcelasespecíficas da População em Idade Ativa (PIA). Ao considerar a taxa dedesemprego dos jovens de 16 a 24 anos, verifica-se a existência de um altonível de exclusão dessa parcela da população, configurada na falta deoportunidades no mercado de trabalho. Contudo a exclusão é mais ou menosintensa, dependendo do atributo considerado e da região de origem. Jovens comatributos pessoais específicos são mais vulneráveis, ou seja, o desemprego émaior entre os jovens pobres, os negros e as mulheres jovens.

Indicador das diferentes possibilidades de acesso e permanência no mercadode trabalho, a taxa de desemprego calculada para essa coorte etária revelaainda que as oportunidades no mercado de trabalho são mais escassas para osjovens residentes na Região Metropolitana de Salvador, independentemente dosatributos pessoais. O incremento dos níveis de desemprego é agravado aindapela elevação do tempo médio de procura por trabalho. O percentual dedesempregados jovens não só é elevado, como a situação de desemprego tendea se tornar crônica para essa parcela da força de trabalho metropolitana.

Dentre as diversas causas das altas taxas de desemprego dos jovens,destacam-se aquelas relacionadas à especificidade do desemprego desse grupo

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populacional, configurada pela falta de experiência em ocupação formal.Adicionalmente, os reduzidos níveis de crescimento da economia brasileira eas mudanças na estrutura das ocupações ocorridas nos mercados de trabalhometropolitanos constituem fatores determinantes para a piora da inserção dosjovens. Nesse contexto, embora os jovens pertencentes a regiões com maioresíndices de pobreza estejam bastante dispostos a se inserirem no mercado detrabalho, o elemento decisivo para a sua incorporação é a existência de ummercado apropriado para a alocação desse contingente específico de mão-de--obra.

Dessa forma, um conjunto de medidas necessárias à retomada docrescimento em taxas mais elevadas, nas regiões mais afetadas pela pobreza,constitui condição fundamental para a superação das dificuldades de inserçãodo jovem (e de adultos) no mercado de trabalho. No entanto, mesmo nessecenário mais favorável, a desarticulação da rede de proteção social representaum grave prejuízo para o desenvolvimento social, educacional e da qualificaçãoprofissional da parcela mais pobre dos jovens brasileiros. As açõesgovernamentais devem, então, pautar-se pela focalização dos programas paradeterminados segmentos de trabalhadores, a partir da conjugação de um conjuntode políticas públicas sociais no campo do emprego, da educação e da assistênciasocial para a superação da situação de pobreza dos jovens, bem como da desuas famílias.

A possibilidade de o jovem ampliar suas oportunidades futuras de inserçãoqualificada no mercado de trabalho envolve prioritariamente questões referentesà capacidade do sistema público de ensino de mantê-lo na escola. Em outraspalavras, um sistema educacional mal-estruturado e de baixa qualidade (destinadoaos segmentos mais pobres da população) valoriza a opção pelo trabalho precoceao invés da educação formal. Trabalho este que, como demonstram os dados daPED para as Regiões Metropolitanas de Salvador e Belo Horizonte, está cadavez mais distante dos setores protegidos da economia e, geralmente, associadoaos segmentos de baixa produtividade, com jornadas de trabalho elevadas:trabalho autônomo ou sem remuneração, emprego sem carteira de trabalhoassinada ou doméstico.

Como já foi relatado, a incorporação dos jovens no mercado de trabalho,nas Regiões Metropolitanas de Salvador e Belo Horizonte, dá a dimensão dograu de precariedade das condições de inserção desse contingente populacionalna força de trabalho. São evidentes, entretanto, as diferenças relativas àscondições de incorporação dos jovens no mercado de trabalho, nas duas regiões,no que tange à distribuição dos ocupados por setores de atividade econômica,tipo de ocupação exercida, níveis de escolaridade e rendimento. A RMS é a queconcentra os maiores níveis de ocupação dos jovens em emprego doméstico,

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A inserção ocupacional e o desemprego dos jovens:...

como faxineiros e trabalhadores ambulantes, além de a renda média, em termosde salários mínimos, ser consistentemente menor que aquela auferida pelosjovens mineiros.

Em resumo, a expansão das oportunidades ocupacionais destinadas aosjovens deve estar associada a programas que combinem a educação de qualidadee o trabalho para jovens pobres acima de 16 anos, priorizando a sua inserçãomais qualificada. Igual prioridade deve ser dada à rede de proteção e garantiade renda e assistência social às famílias mais pobres. Referentemente, essasações devem estar vinculadas a programas de educação e/ou emprego. Quantomais efetivos forem os programas de garantia de renda para a população maiscarente, maior será a eficácia do sistema escolar, menor será a proporção dejovens que tendem a abandonar a escola e maiores serão as chances de umtrabalho decente e de condições de vida mais dignas no futuro.

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Apêndice

Tabela A.1

Distribuição da PIA, por tipo de inserção econômica da população jovem e total, nas Regiões Metropolitanas de Salvador (RMS) e Belo Horizonte (RMBH) — 2004

(%)

POPULAÇÃO JOVEM TOTAL (16 anos e mais)

De 16 a 24 Anos

16 e 17 Anos

De 18 a 24 Anos

CONDIÇÃO DE ATIVIDADE

RMS RMBH RMS RMBH RMS RMBH RMS RMBH

POPULAÇÃO EM IDADE ATIVA .................................... 100,0

100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

População Economicamen-te Ativa ................................. 69,0

67,8 67,5 71,8 33,5 46,8 75,8 78,2

Desempregados .................... 17,5 12,7 28,8 24,5 17,1 26,2 31,8 24,1

Aberto ............................... 10,2 8,2 18,8 17,4 12,2 18,1 20,5 17,2

Oculto............................... 7,3 4,5 10,0 7,1 4,9 8,1 11,3 6,9

Pelo trabalho precário 5,2 2,8 6,6 3,7 2,8 (1)- 7,6 3,9

Pelo desalento ............ 2,1 1,7 3,4 3,4 2,1 5,2 3,7 3,0

Ocupados .............................. 51,6 55,1 38,6 4 7,3 16,3 20,5 44,1 54,1

Inativos .................................. 31,0 32,2 32,5 28,2 66,5 53,2 24,2 21,8

Inativo puro ....................... 29,8 32,2 31,2 28,2 63,6 52,9 23,2 21,8

Inativo com bico ................ 1,1 (1)- 1,4 (1)- 2,8 (1)- 1,0 (1)-

PEA/PIA ............................... 69,0 67,8 67,5 71,8 33,5 46,8 75,8 78,2

Inativos/PIA .......................... 31,0 32,2 32,5 28,2 66,5 53,2 24,2 21,8

FONTE DOS DADOS BRUTOS: DIEESE/SEADE.

MTE/FAT e convênios regionais. PED. (1) A amostra não comporta desagregação para essa categoria.

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A inserção ocupacional e o desemprego dos jovens:...

Tabela A.2

Distribuição dos desempregados, por tempo de procura de trabalho, da população jovem e total nas Regiões Metropolitanas de Salvador (RMS)

e Belo Horizonte (RMBH) — 2004 (%)

POPULAÇÃO JOVEM TOTAL (16 anos e mais)

De 16 a 24 Anos

16 e 17 Anos

De 18 a 24 Anos

TEMPO DE PROCURA DE

TRABALHO RMS RMBH RMS RMBH RMS RMBH RMS RMBH

TOTAL................................... 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Até 3 meses ......................... 25,3 22,7 29,7 25,4 41,7 25,4 28,1 25,4

Mais de 3 meses até 6 me- ses ........................................ 14,7 15,5 16,2 16,8 15,8 20,0 16,3 15,9

Mais de 6 meses até 1 ano .. 24,8 28,4 26,4 32,7 28,9 40,6 26,1 30,5

Mais de 1 ano ....................... 35,2 33,4 27,6 25,1 13,5 (1)- 29,5 28,2

FONTE DOS DADOS BRUTOS: DIEESE/SEADE. MTE/FAT e convênios regionais. PED.

(1) A amostra não comporta desagregação para essa categoria.

Tabela A.3

Distribuição dos ocupados da população jovem e total, segundo o setor de atividade, nas Regiões Metropolitanas de Salvador (RMS) e Belo Horizonte (RMBH) — 2004

(%)

POPULAÇÃO JOVEM TOTAL (16 anos e mais)

De 16 a 24 Anos

16 e 17 Anos

De 18 a 24 Anos

SETOR DE ATIVIDADE

RMS RMBH RMS R RMBH RMS RMBH RMS RMBH

TOTAL ................................... 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Indústria ................................. 8,6 14,4 8,5 14,8 (1)- (1)- 8,8 15,3 Comércio ............................... 6,4 15,3 20,7 21,8 20,5 20,4 20,7 21,9 Serviços ................................. 59,3 54,3 53,5 50,6 51,8 54,6 53,7 49,7 Construção civil ..................... 4,6 6,1 4,3 4,4 (1)- (1)- 4,4 4,4 Serviços domésticos .............. 9,7 9,3 11,5 8,3 (1)- (1)- 11,0 8,1 Demais .................................. 1,4 0,6 (1)- (1)- (1)- (1)- (1)- (1)-

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(1) A amostra não comporta desagregação para essa categoria.

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Thaiz Silveira Braga; Mario Marcos Sampaio Rodarte

Tabela A.5

Horas semanais trabalhadas pelos ocupados no trabalho principal da população jovem e total nas Regiões Metropolitanas de Salvador (RMS)

e Belo Horizonte (RMBH) — 2004 (%)

POPULAÇÃO JOVEM TOTAL (16 anos e mais)

De 16 a 24 Anos

16 e 17 Anos

De 18 a 24 Anos

JORNADAS

RMS RMBH RMS RMBH RMS RMBH RMS RMBH

Média de horas trabalha-das/semana (1) ................. 42 41 40 39 34 34 41 40 Até 20 horas ...................... 11,4 9,6 15,8 11,2 32,7 23,4 14,3 10,0 Mais de 20 até 40 horas .... 40,0 49,3 36,0 48,8 30,4 50,5 36,5 48,7 Mais de 40 até 44 horas .... 5,3 4,0 5,9 4,8 (2)- (2)- 5,9 5,0 Mais de 44 horas ............... 43,3 37,1 42,3 35,2 31,1 23,2 43,3 36,3

FONTE DOS DADOS BRUTOS: DIEESE/SEADE. MTE/FAT e convênios regionais. PED. (1) Exclusive os ocupados que não trabalharam na semana. (2) A amostra não comporta de-sagregação para essa categoria.

Tabela A.4

Distribuição dos ocupados da população jovem e total, segundo o nível de instrução, nas Regiões Metropolitanas de Salvador (RMS) e Belo Horizonte (RMBH) — 2004

(%)

POPULAÇÃO JOVEM TOTAL (16 anos e mais)

De 16 a 24 Anos

16 e 17 Anos

De 18 a 24 Anos

NÍVEL DE INSTRUÇÃO

RMS RMBH RMS RMBH RMS RMBH RMS RMBH

TOTAL ........................…. 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Analfabeto ....................... 2,6 1,5 (1)- (1)- (1)- (1)- (1)- (1)- Fundamental incompleto 26,7 30,2 24,0 14,9 52,0 24,2 21,5 14,0 Fundamental completo .... 9,8 12,2 11,1 11,6 20,5 23,5 10,2 10,5 Médio incompleto ............ 7,6 6,5 15,6 16,4 23,8 49,2 14,9 13,2 Médio completo ............... 35,3 30,6 34,5 43,1 (1)- (1)- 37,4 47,0 Superior incompleto ........ 5,9 5,6 11,9 11,0 (1)- (1)- 13,0 12,1 Superior completo ........... 12,2 13,5 2,4 2,8 (1)- (1)- 2,6 3,1

FONTE DOS DADOS BRUTOS: DIEESE/SEADE. MTE/FAT e convênios regionais. PED.

(1) A amostra não comporta desagregação para essa categoria.

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A inserção ocupacional e o desemprego dos jovens:...

Tabela A.6

Distribuição da população jovem e total, segundo a condição de atividade, nas Regiões Metropolitanas de Salvador (RMS) e Belo Horizonte (RMBH) — 2004

(%)

POPULAÇÃO JOVEM TOTAL (16 anos e mais)

De16 a 24 Anos

16 e 17 Anos

De 18 a 24 Anos

CONDIÇÃO DE

ATIVIDADE RMS RMBH RMS RMBH RMS RMBH RMS RMBH

TOTAL ............................. 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Só estuda ......................... 7,4 5,7 23,4 19,9 59,9 48,5 14,4 12,5

Estuda, trabalha e/ou pro-

cura trabalho ..................... 13,3 10,4 30,8 27,7 27,1 39,8 31,7 24,6

Só trabalha e/ou procura 55,7 57,3 36,7 44,0 6,4 7,0 44,1 53,5

Apenas cuida dos afaze-

res domésticos e outros 23,6 27,0 9,1 8,4 6,6 (1)- 9,8 9,4

FONTE DOS DADOS BRUTOS: DIEESE/SEADE. MTE/FAT e convênios regionais. PED. (1) A amostra não comporta desagregação para essa categoria.

Tabela A.7

Rendimento real médio dos ocupados da população jovem e total, por posição na ocupação, segundo o sexo, na Região Metropolitana de Salvador — 2004

(R$)

TOTAL (16 anos e mais)

POPULAÇÃO JOVEM (16 a 24 anos)

POSIÇÃO NA

OCUPAÇÃO Total Homem Mulher Total Homem Mulher

TOTAL ....................................... 693 819 559 339 372 297 Assalariado total ...................... 798 838 742 385 395 368 Assalariados do setor privado ... 653 703 570 381 389 366 Com carteira assinada ........... 736 781 657 457 471 433 Sem carteira assinada ........... 393 435 336 276 274 280 Assalariados do setor público 1 286 1 479 1 134 432 461 397 Autônomos ............................... 424 533 299 222 260 163 Empregados domésticos ........ 218 287 213 190 (1)- 187

FONTE DOS DADOS BRUTOS: DIEESE/SEADE. MTE/FAT e convênios regionais. PED. NOTA: O inflator utilizado foi o IPC da SEI; valores em reais de dez./04. (1) A amostra não comporta desagregação para essa categoria.

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Tabela A.9

Taxas de inatividade e distribuição dos inativos da população jovem e total, segundo o tipo, nas Regiões Metropolitanas de Salvador (RMS)

e Belo Horizonte (RMBH) — 2004 (%)

POPULAÇÃO JOVEM TOTAL (16 anos e mais)

De 16 a 24 Anos

16 e 17 Anos

De 18 a 24 Anos

TIPO DE

INATIVIDADE RMS RMBH RMS RMBH RMS RMBH RMS RMBH

Taxa de Inatividade ... 31,0 32,2 32,5 28,2 66,5 53,2 24,2 21,8 Total de inativos ........ 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Aposentado ................. 33,5 38,3 1,1 (1)- (1)- (1)- (1)- (1)- "Encostado na Caixa” 2,7 3,7 (1)- (1)- (1)- (1)- (1)- (1)- Afazeres domésticos ... 27,1 28,3 12,5 12,9 3,5 (1)- 18,7 19,0 Estudante .................... 21,2 16,8 69,2 69,1 88,9 90,2 55,9 55,9 Vive de renda .............. 1,0 0,9 (1)- (1)- (1)- (1)- (1)- (1)- Vive de ajuda ............... 13,5 8,4 16,2 12,0 7,0 (1)- 22,4 16,2 Outra ............................ 0,9 3,7 (1)- 4,1 (1)- (1)- (1)- 6,2

FONTE DOS DADOS BRUTOS: DIEESE/SEADE. MTE/FAT e convênios regionais. PED. (1) A amostra não comporta desagregação para essa categoria.

Tabela A.8

Rendimento real médio dos ocupados da população jovem e total, por posição na ocupação, segundo o sexo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte — 2004

(R$)

TOTAL (16 anos e mais)

POPULAÇÃO JOVEM (16 a 24 anos)

POSIÇÃO NA

OCUPAÇÃO Total Homem Mulher Total Homem Mulher

TOTAL ................................................ 757 915 590 412 462 356 Assalariados do setor privado ....... 695 780 567 424 441 400 Com carteira assinada ........................ 742 828 608 461 479 435 Sem carteira assinada ........................ 474 535 397 326 337 311 Assalariados do setor público ........ 1 269 1 516 1 106 547 632 457 Autônomos ........................................ 588 718 384 340 426 214 Empregados domésticos ................. 290 398 286 244 (1)- 242

FONTE DOS DADOS BRUTOS: DIEESE/SEADE. MTE/FAT e convênios regionais. PED.

NOTA: O inflator utilizado foi o IPCA do IPEAD; valores em reais de dez./04. (1) A amostra não comporta desagregação para essa categoria.

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MADEIRA, F. R. Pobreza, escola e trabalho: convicções virtuosas, conexõesviciosas. São Paulo em Perspectiva. São Paulo: SEADE, v. 7, n.1, p. 70-83,jan./mar. 1993.

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POCHMANN, M. Inserção ocupacional e o emprego dos jovens. São Paulo:ABET, 1998. (Mercado de Trabalho, v. 6).

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Determinantes de rendimento da Região Sul do Brasil: 1992-01

Determinantes de rendimento daRegião Sul do Brasil: 1992-01

Flávia Verusca Buturi Monarin Mestre em Teoria Econômica pelo PME-UEM e Professora do Departamento de Economia da UEL.Marina Silva da Cunha Doutora em Economia Aplicada pela ESALQ-USP e Professora do PME e do Departamento de Economia da UEM.

ResumoEste trabalho analisa os determinantes da desigualdade de rendimento na Re-gião Sul do Brasil, no período 1992-01, com base em informações da PesquisaNacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Foram estudadas as variáveisidade, escolaridade, gênero, cor, posição na ocupação, setor, jornada de traba-lho e estado, através da análise da contribuição bruta e marginal de cada variá-vel, bem como por meio de equações de rendimentos. Os resultados apontam aeducação como a principal fonte da desigualdade de rendimentos entre as pes-soas economicamente ocupadas, apesar do aumento significativo do númerode pessoas com maiores níveis educacionais. Pôde-se observar também a exis-tência de discriminação de gênero e cor na Região e que a desigualdade entreos estados contribuiu pouco para a explicação da desigualdade de rendimentos.

Palavras-chaveDeterminantes de rendimento; Região Sul; desigualdade de renda.

AbstractThis work analyzes the determinant of the revenue inequality for the Southarea of Brazil in the period from 1992 to 2001, with base in information of thenational research for sample of homes. They went you study the variables age,escolaridade, gender, color, position in the occupation, section, work day andstate through the analysis of the gross and marginal contribution of each variable,

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as well as by means of equations of revenues. The results aim the education asthe main source of the inequality of revenues among the economically busypersons, in spite of the significant increase of the number of people with largereducational levels. It could also be observed the existence of gender discriminationand color in the area and that the inequality among the states contributed a littleto the explanation of the inequality of revenues.

Key wordsDeterminant of the revenue; South area; revenue inequality.

Classificação JEL: D3; D31.

Artigo recebido em 29 dez. 2003.

1 - Introdução

O Brasil está entre os países do mundo que possuem os maiores índicesde desigualdade na distribuição de renda familiar per capita (Ferreira, 2000).Segundo Bonelli (2002), a concentração de renda no Brasil tem resistido àexpansão do conteúdo educacional da mão-de-obra e aos ciclos de crescimentoeconômico. Devido a isso, vários autores têm mostrado grande interesseem descobrir suas causas, dentre as quais, segundo esse mesmo autor, sedestaca como principal a baixa taxa de escolaridade da população.1

Segundo Ramos e Reis (2000), a teoria da distribuição de renda podeser dividida em duas: a da distribuição funcional da renda e a da distribuiçãopessoal da renda. O primeiro enfoque preocupa-se em como se determina adistribuição da renda global entre os diversos fatores de produção: capital,

1 A discussão sobre concentração de renda também tem alcançado países desenvolvidos,como os EUA, que apresentaram um aumento de 25% na diferença entre o 90º percentil eo 10º percentil, entre os anos 1979 e 1995 (Scorzafave; Menezes-Filho, 2001).

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Determinantes de rendimento da Região Sul do Brasil: 1992-01

trabalho e recursos naturais. Na distribuição pessoal, foco desse trabalho, ointeresse recai sobre o quanto cada indivíduo ganha, preocupando-se em com-preender quais são as variáveis e os mecanismos responsáveis pela determina-ção da renda de um indivíduo. Entre os principais representantes da linhafuncional, têm-se os economistas clássicos: Ricardo, Marx, Lewis, Kaleckie Kaldor.

Na distribuição pessoal, destaca-se a teoria do capital humano. Surgida,segundo Senna (1976), aproximadamente nos anos 60, através dos trabalhosde Jacob Mincer, Gary Becker e Theodore Schultz, considera que os indivíduosfazem escolhas objetivando retornos futuros. Assim, a aquisição de educação,o acúmulo de informações, os gastos com saúde, dentre outros, não são,para a teoria do capital humano, decisões de consumo, mas, sim, “decisõesracionais de investimento”. Como visões críticas ou complementares à teoria docapital humano, têm-se a escola credencialista ou a teoria da sinalização, avisão credencialista radical, os modelos de segmentação do mercado e a visãoinstitucionalista.2

No entanto, é necessário salientar que não se pode afirmar que exista umarcabouço teórico consolidado, o qual explique todas as dispersões dos rendi-mentos dos indivíduos ou a distribuição pessoal da renda. Contudo essasvisões fornecem diversos elementos ou determinantes, que têm contribuídopara a elaboração de trabalhos de natureza empírica sobre o tema.

Esses determinantes podem ser classificados, segundo Coelho e Corseuil(2002), em fatores relacionados às características pessoais produtivas, àscaracterísticas pessoais não produtivas e às características dos postos de tra-balho. No primeiro grupo, encontram-se a educação e a experiência; no segundo,o sexo e a cor; por fim, no último, a posição na ocupação, a jornada de trabalho,as características das firmas — tais como o setor de atividade econômica e aregião — e os fatores institucionais — como carteira de trabalho, filiação asindicato e política salarial.

Nesse contexto, este trabalho tem como objetivo analisar os principaisdeterminantes do rendimento das pessoas ocupadas na Região Sul do Brasil,no período 1992-01. Assim, além desta Introdução, o texto está subdividido emtrês seções. Na seção seguinte, são descritos os materiais e a metodologiautilizada; posteriormente, são apresentados e discutidos os resultados; e,finalmente, as principais conclusões do trabalho são sumariadas.

2 Para maiores detalhes, ver Bonelli e Ramos (1993), Ramos e Reis (2000) e Ueda (2001).

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Flávia Verusca Buturi Monarin; Marina Silva da Cunha

2 - Materiais e métodos

2.1 - Materiais

Os dados foram obtidos a partir dos CD-ROMs da Pesquisa Nacional porAmostra de Domicílio (PNAD) para os anos de 1992, 1993, 1995, 1996, 1997,1998, 1999 e 2001, utilizando-se a distribuição de rendimento de todos os traba-lhos da População Economicamente Ativa (PEA)3 (Hoffmann, 2000).

Foram excluídas da amostra pessoas que não forneceram informação paraqualquer uma das variáveis analisadas: idade, escolaridade, cor, setor eposição na ocupação, bem como aquelas cujo tempo semanal de trabalho fossemenor que 15 horas.4 Com isso, a amostra em 1992, 1993, 1995, 1996, 1997,1998, 1999 e 2001 era igual a 53.594, 53.590, 55.342, 55.135, 49.192, 57.557,58.269 e 58.918 pessoas e, respectivamente, ficou igual a 36.530, 32.922, 37.337,33.890, 28.909, 35.716, 36.423 e 36.686 pessoas.

Foram também excluídas pessoas que possuíssem rendimento igual azero, porcentagem que gira em torno de 25% ao ano.5 É importante salientar queaí estão incluídos os membros não remunerados das famílias dos pequenosagricultores, cujo rendimento é atribuído ao chefe da família, segundo ametodologia da PNAD.

Por fim, a amostra que será objeto deste estudo é igual a 20.363, 20.197,21.566, 21.327, 18.408, 22.060, 22.312 e 23.649 pessoas para os anos de 1992,1993, 1995, 1996, 1997, 1998, 1999 e 2001 respectivamente.

Como a renda é freqüentemente utilizada para medição do nível debem-estar das pessoas, utilizou-se o trabalho de Corseuil e Foguel (2002) paradeflacioná-la em diferentes instantes do tempo. A base do índice proposto, oÍndice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do IBGE, foi padronizada nonível de preços de janeiro de 2002, ou seja, todos os valores de renda sãoexpressos em reais de janeiro de 2002.6

3 São consideradas pessoas economicamente ativas as ocupadas e as que procuraramtrabalho na semana de referência da PNAD.

4 Essa metodologia foi elaborada a partir de Hoffmann (2000), onde o autor estima umaequação de rendimento para o Brasil, porém percebe-se que ela é comum entre diferentesautores.

5 Os percentuais encontrados foram, respectivamente, de 30,17%, 23,75%, 28,50%, 22,79%,21,35%, 23,73%, 24,22% e 22,13%, os quais são maiores do que o encontrado por Hoffmann(2000) para o Brasil, que foi de aproximadamente 18% para o ano de 1997.

6 É importante lembrar que, para os anos de 1992 e 1993, além do deflacionamento, houve aconversão da moeda ao real.

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Determinantes de rendimento da Região Sul do Brasil: 1992-01

2.2 - Métodos

O modelo estimado foi o semilogarítmico, que, de acordo com Gujarati(2000), é apropriado para estimar taxas de variações. A variável dependente (Y)é o logaritmo neperiano do rendimento de todos os trabalhos da pessoa ocupa-da; o ajustamento das equações é feito por mínimos quadrados ponderados, emque se utiliza o peso ou fator de expansão associado a cada pessoa da amostracomo fator de ponderação.

Yj = ∑ ++i

iji Xβα uj

onde e são parâmetros, e são as perturbações aleatórias. As variáveisexplicativas são as seguintes:

a) uma variável binária para sexo, sendo considerado o valor 1 para asmulheres;

b) a idade da pessoa, medida em anos, como proxy para anos de expe- riência; e o quadrado dessa variável, visto que Y não varia linearmen-

te com a idade;c) escolaridade, medida em anos de estudo, variando de 1 (pessoa sem

instrução ou com menos de um ano de escolaridade) a 16 (indivíduocom 15 anos ou mais de estudo);

d) três variáveis binárias para distinguir quatro posições na ocupação —empregado (tomado como base e que inclui os trabalhadores com esem carteira, militares, funcionários públicos estatutários), emprega-dos domésticos (também os com e sem carteira assinada), trabalhado-res por conta própria e os empregadores;

e) uma binária para distinguir cor branca (tomada como base) e não bran-ca, a qual inclui todas as outras cores;

f) três variáveis binárias para distinguir quatro faixas de tempo para jor- nada semanal de trabalho — 15 a 39 horas (tomada como base), 40

a 44 horas, 45 a 48 horas e 49 horas ou mais;g) duas variáveis binárias para distinguir os três estados — Paraná (toma-

do como base), Santa Catarina e Rio Grande do Sul; eh) três variáveis binárias para distinguir os setores de atividade econômi-

ca — agricultura (tomada como base), indústria (incluindo indústria detransformação, indústria de construção e outras atividades industriais),serviços (incluindo comércio, prestação de serviços, serviços auxilia-res, transporte e comércio e social) e administração pública.

α βi (Xij)

uj

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Flávia Verusca Buturi Monarin; Marina Silva da Cunha

O trabalho também calcula a desigualdade dentro dos grupos, denominadacontribuição bruta, a partir de uma decomposição estática do Índice T de Theil,que representa uma análise da desigualdade em um ponto do tempo (os váriosanos observados), de acordo com as variáveis utilizadas. Segundo Hoffmann(1998), o Índice T de Theil para toda a população é:

∑=

+=k

hhhe TYTT

1

em que Te é a desigualdade entre grupos e Th é a desigualdade dentro doh-ésimo grupo.7 Assim, o último termo da equação do Índice T de Theil é, portan-to, uma média ponderada das desigualdades dentro dos grupos. É importanteconsiderar que os fatores de ponderação para as desigualdades intragrupos noÍndice T de Theil são as frações da renda total (Y

h); isso faz com que o índice

seja mais sensível a alterações na desigualdade dentro dos grupos derenda alta.8

“Assim, pode-se dizer que a contribuição bruta de uma variável paraexplicar a variação da desigualdade em um instante do tempocorresponde à desigualdade entre grupos quando se divide a populaçãosegundo as categorias formadas por aquela variável.” (Ramos; Vieira,2000, p. 162).

Portanto, a contribuição bruta é: , ou seja, o quanto100e

e h

TCB

T T

= +

da desigualdade total corresponde à desigualdade entre grupos.Seguindo Hoffmann (2000) e Ramos e Vieira (2000), estima-se a contribui-

ção marginal de cada variável ou grupo de variáveis como determinante dasvariações no logaritmo neperiano do rendimento (Y), que corresponde aoaumento da parte explicada das variações em Y (R2), obtido com a introduçãoda respectiva variável ou grupo de variáveis, depois que todas as demais variá-veis já tenham sido incluídas. “De forma análoga, a contribuição marginalcorresponderia ao aumento obtido no poder de explicação quando aquelavariável é adicionada ao modelo que contém as demais variáveis consideradasrelevantes para a explicação da desigualdade.” (Ramos; Vieira, 2000, p. 162).

7 No caso de perfeita igualdade na distribuição de renda dentro dos grupos, tem-se

yhi = Y

h / N

h para todo i. Assim, Th = 0 para todo h, e a desigualdade total é igual à

desigualdade entre grupos.8 Sabe-se que há também a medida de desigualdade L de Theil, a qual considera como fator de

ponderação as frações da população, sendo mais sensível a alterações na desigualdadedentro dos grupos de renda baixa.

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Determinantes de rendimento da Região Sul do Brasil: 1992-01

Por fim, para verificar o comportamento no tempo do rendimento daspessoas ocupadas na Região Sul e a diferença de renda entre os estados,foram combinados ou empilhados os dados referentes a três anos, incluindo-seduas binárias para distinguir mudanças no tempo, além das variáveis já defini-das anteriormente.

3 - Resultados e discussõesNo Gráfico 1, são apresentados os valores calculados para os Índices T de

Theil e de Gini, no período 1992-2001. O Índice T de Theil sugere um significati-vo aumento da concentração em 1992 e 1993, quando passou de 0,567 para0,697. Com a implementação do Plano Real e a estabilização econômica, pós1994, o comportamento desse índice sinalizou uma melhora quanto ao padrãode desigualdade de renda; no entanto, somente em 1999 alcançou o nívelde 1992.9

0,3500,4000,4500,5000,5500,6000,6500,7000,750

1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001

Índice T de Theil Índice de Gini

0

Legenda:

Índice

Evolução da desigualdade de rendimentos, segundo o Índice T de Theil e o Índice de Gini, na Região Sul do Brasil — 1992-2001

FONTE DOS DADOS BRUTOS: CD-ROM das PNADs.

NOTA: Índices obtidos seguindo HOFFMANN. R. Distribuição de renda: medidas de desigualdade e pobreza. São Paulo: USP, 1998.

Gráfico 1

9 O comportamento do Índice de Theil para a Região Sul foi bastante semelhante ao do Brasil,encontrado por Ramos e Vieira (2000).

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Já o Índice de Gini não apresentou grandes oscilações, iniciando o períodocom um valor igual a 0,52. Em 1993, subiu para 0,55, permaneceu próximo aos0,55 até 1998, vindo a reduzir-se em 1999 e voltando ao patamar de 0,52 em2001. A diferença no comportamento desses índices pode ser justificada pelofato de que o Índice T de Theil é mais sensível às variações nas classes derenda mais alta, enquanto o Índice de Gini é mais sensível às variações emtorno da moda da distribuição dos rendimentos.

A evolução do rendimento médio das pessoas ocupadas, como mostra oGráfico 2, também não foi estável, sofrendo variações durante todo o período.Percebe-se que o poder de compra apresentou um salto expressivo no ano de1995, em relação ao de 1993,10 alcançou seu máximo em 1996, com um rendi-mento real de R$ 710,42, e, depois disso, sofreu quedas, chegando em 2001com a renda média de R$ 651,91 (17,5% acima do rendimento médiode 1992).

Gráfico 2

do Brasil — 1992-2001

Evolução do rendimento médio das pessoas ocupadas da Região Sul

554,31

602,18

703,97

710,42

688,54674,35

651,91

450

500

550

600

650

700

750

1992 1993 1995 1996 1997 1999 2001

0

(R$)

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS 1992/2001. Rio de Janei- ro: IBGE, 2003. (CD-ROM).

10 Como se sabe, o Plano Real, implantado em 1994, gerou um aumento do poder de comprada população; como justamente nesse ano não foi realizada a PNAD, acredita-se que esseé o motivo para o ano de 1995 se apresentar bastante superior ao de 1993.

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Determinantes de rendimento da Região Sul do Brasil: 1992-01

O comportamento da renda média indica, bem como a evolução do ÍndiceT de Theil, que o Plano Real foi responsável por uma importante distribuição derenda logo após sua implantação, porém, nos anos posteriores, vê-se umaumento da desigualdade da renda, principalmente no final do período analisa-do. Esse resultado também foi observado por Ramos e Vieira (2000, p. 163) naanálise para o Brasil, na qual se detectaram, no ano de 1996, “(...) progressosdistributivos não desprezíveis, mas ainda insuficientes para voltar aos níveisde 1992”.

A Tabela 1 mostra as equações de rendimento estimadas para cada ano,em que todos os coeficientes são estatisticamente significativos a 5%.Os coeficientes de determinação ajustados (R2) foram próximos a 0,50, indi-cando que aproximadamente 50% da variação no rendimento das pessoasocupadas é explicada pelo modelo estimado.11

Quanto à decomposição estática, os valores das contribuições bruta (CB)e marginal (CM) são apresentados na Tabela 2. Pode-se observar que, em ter-mos tanto de contribuição bruta quanto de marginal, a variável escolaridadeassume a maior importância, respondendo por até 31,2% da desigualdade, quandoconsiderada isoladamente, e por mais de 15% em termos marginais.12 Percebe--se também que, em ambos os casos, houve certa estabilidade durante adécada.13

A estabilidade notada nas contribuições marginais e brutas confirma-se,quando se analisa a evolução dos coeficientes da variável escolaridade nadécada de 90, conforme Gráfico 3. Um ano a mais de escolaridade acarretavaao indivíduo, em 1992, 10,15% a mais na sua renda, esse percentual assumeseu máximo no ano de 1996, com 10,77%, e seu mínimo justamente em 2001,com 9,94%.

Quanto à evolução do nível de escolaridade das pessoas ocupadas naRegião Sul, nota-se que houve certo avanço, no qual aquelas sem instrução ecom um a quatro anos de escolaridade reduziram suas participações de aproxi-madamente 8,8% para 5,3% e de 47,1% para 34,5%, respectivamente, confor-me Gráfico 4.

11 Segundo Hoffmann (2000), essa situação é típica de equações de rendimento, poisos rendimentos das pessoas dependem de elementos aleatórios e de característicaspessoais, cuja mensuração é muito difícil.

12 Segundo Ramos e Vieira (2000), o fato de a escolaridade ser a variável mais relevante nãochega a surpreender, já que conclusões similares foram encontradas em outros estudosinternacionais, principalmente na América Latina.

13 Senna (1976) encontrou valores de 15% a mais no rendimento para cada ano de educaçãoformal e um poder de explicação de 33% para o Brasil em 1970.

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Tabela 1

Equações de rendimento estimadas para pessoas ocupadas na Região Sul do Brasil — 1992-2001

VARIÁVEIS 1992 1993 1995 1996

Constante .................... 2,8467 2,9626 2,9422 3,0049

Idade ............................ 0,0809 0,0800 0,0799 0,0774

Idade2 ............................ -0,0009 -0,0008 -0,0008 -0,0008

Região

Santa Catarina .............. 0,2221 0,1285 0,1319 0,0663

Rio Grande do Sul ........ 0,1113 -0,0023 -0,0399 -0,0809

Cor

Não branca ................... -0,0998 -0,1615 -0,0873 -0,1143

Tempo semanal de trabalho

De 40 a 44 horas .......... 0,4364 0,4091 0,3413 0,3280

De 45 a 48 horas .......... 0,3988 0,3979 0,3268 0,3156

Mais de 49 horas .......... 0,5143 0,5303 0,4675 0,4702

Setores

Indústria ........................ 0,3320 0,2442 0,4774 0,4634

Serviços ........................ 0,3374 0,2228 0,4693 0,4602

Administração pública ... 0,4121 0,2804 0,5685 0,5844

Posição na ocupação

Empregado doméstico -0,3811 -0,3114 -0,2649 -0,2443

Conta-própria ................ -0,0384 0,1043 0,0337 0,0601

Empregador .................. 0,6415 0,8171 0,7504 0,7434

Escolaridade ............... 0,1015 0,1026 0,1065 0,1078

Sexo feminino ............. -0,3734 -0,3798 -0,4058 -0,3849

R2 ................................... 0,4661 0,4686 0,5182 0,4990

(continua)

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Determinantes de rendimento da Região Sul do Brasil: 1992-01

Tabela 1

Equações de rendimento estimadas para pessoas ocupadas na Região Sul do Brasil — 1992-2001

VARIÁVEIS 1997 1998 1999 2001

Constante .................... 2,9404 2,8564 2,8234 2,8902

Idade ............................ 0,0792 0,0818 0,0813 0,0780

Idade2 ............................ -0,0008 -0,0008 -0,0008 -0,0008

Região

Santa Catarina .............. 0,0995 0,1059 0,0885 0,0876

Rio Grande do Sul ........ -0,0704 -0,0348 -0,0188 0,0108

Cor

Não branca .................... -0,1048 -0,0889 -0,1391 -0,1192 Tempo semanal de trabalho

De 40 a 44 horas .......... 0,3502 0,3318 0,3297 0,3386

De 45 a 48 horas .......... 0,3587 0,3417 0,3311 0,3170

Mais de 49 horas .......... 0,5152 0,4743 0,4809 0,4969

Setores

Indústria ........................ 0,4606 0,4585 0,4109 0,3644

Serviços ........................ 0,4553 0,5075 0,4449 0,3911

Administração pública ... 0,5711 0,6870 0,6267 0,5711

Posição na ocupação

Empregado doméstico .. -0,2858 -0,3108 -0,2985 -0,2863

Conta-própria ................ 0,0194 -0,0367 -0,0181 0,0042

Empregador .................. 0,7651 0,7181 0,7082 0,6535

Escolaridade ............... 0,1050 0,1036 0,1053 0,0995

Sexo feminino ............ -0,3570 -0,3967 -0,3746 -0,3374

R2 .................................. 0,5217 0,5179 0,5092 0,4824 FONTE DOS DADOS BRUTOS: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMI- CÍLIOS 1992/2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. (CD-ROM).

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Flávia Verusca Buturi Monarin; Marina Silva da Cunha

Tabela 2

Contribuições bruta e marginal dos principais determinantes da desigualdade

para a Região Sul do Brasil — 1992-2001

1992

1993

1995

1996 VARIÁVEIS

CB CM CB CM CB CM CB CM

Idade ......................... 9,02 4,92 8,30 4,81 8,80 4,76 8,66 4,57

Escolaridade ............. 27,69 12,93 22,11 13,13 31,27 14,71 29,75 15,24

Posição na ocupação 15,62 2,90 19,69 3,52 19,48 3,64 18,67 3,04

Cor ............................ 2,42 0,14 2,45 0,36 2,47 0,10 2,26 0,17

Jornada de trabalho 2,83 2,64 2,67 2,59 3,18 2,12 3,26 2,15

Estado ....................... 0,65 0,70 0,03 0,29 0,02 0,45 0,07 0,36 Setor de atividade econômica ................ 2,84 1,50 0,85 0,70 3,62 2,81 3,24 2,71

Gênero ...................... 3,71 2,45 4,68 2,56 3,64 2,93 3,20 2,78

1997

1998

1999

2001 VARIÁVEIS

CB CM CB CM CB CM CB CM

Idade ......................... 9,30 4,82 8,86 4,90 8,58 4,82 8,33 4,64

Escolaridade ............. 30,43 14,65 30,31 14,38 30,87 15,2 28,74 14,52

Posição na ocupação 21,73 3,72 19,42 3,59 16,86 3,57 16,99 3,41

Cor ............................ 2,93 0,15 2,52 0,11 2,65 0,27 1,94 0,22

Jornada de trabalho 4,82 2,81 3,49 2,33 3,89 2,34 3,65 2,82

Estado ....................... 0,04 0,45 0,08 0,31 0,06 0,19 0,10 0,14 Setor de atividade econômica ................ 2,80 2,52 4,16 3,10 3,97 2,48 4,00 1,88

Gênero ...................... 3,80 2,49 3,44 3,01 2,69 2,75 2,73 2,49 FONTE DOS DADOS BRUTOS: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMI- CÍLIOS 1992/2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. (CD-ROM).

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Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 905-934, nov. 2005

Determinantes de rendimento da Região Sul do Brasil: 1992-01

0,10261

0,105270,10653

0,10778

0,10362

0,10502

0,09947

0,1015

9,40%9,60%9,80%

10,00%10,20%10,40%10,60%10,80%11,00%

1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001

11,0010,8010,6010,4010,2010,00

9,809,60

0

Evolução dos diferenciais do rendimento esperado, variável educação, para a Região Sul do Brasil — 1992-2001

Gráfico 3

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS 1992/2001. Rio de Janei- ro: IBGE, 2003. (CD-ROM).

(%)

Gráfico 4

na Região Sul do Brasil — década de 90 Composição das pessoas ocupadas, conforme o grupo educacional,

0

10

20

30

40

50

1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001

Sem instrução 1 a 4 anos5 a 8 anos 9 a 11 anosMais de 12 anos

Legenda:

(%)

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS 1992/2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. (CD-ROM).

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Flávia Verusca Buturi Monarin; Marina Silva da Cunha

A redução dos grupos com nível educacional mais baixo foi acompanhadado aumento dos grupos com nove a 11 anos de escolaridade e com mais de 12anos, pois o primeiro aumentou cerca de 10 pontos percentuais, e o segundo,quatro.

No período analisado, a relação entre oferta educacional e demanda portrabalho apresenta-se muito próxima à da década de 80, quando ocorreu umamelhoria educacional, com aumento da oferta de pessoas qualificadas (maiseducadas) acompanhado por um quadro de estagnação econômica, ou seja, deretração na demanda por mão-de-obra, explicando, assim, a continuidade doelevado perfil de renda associado à educação.

A variável idade também se destaca dentre os determinantes dos rendi-mentos. A contribuição bruta da variável idade gira em torno de 8% nos diversosanos, e a marginal, ao redor de 4%, também apresentando relativa estabilidadedurante a década.

Conforme a Tabela 1, enquanto o coeficiente da variável idade se apresen-tou positivo, o quadrado dessa variável mostrou-se negativo, o que indica quehá uma idade para a qual o rendimento alcança seu valor máximo.14 Como sepercebe no Gráfico 5, a idade para a qual o valor esperado do rendimento émáximo foi aumentando ao longo da década de 90,15 sendo que de 47 anos em1992 passou para quase 51 anos em 2001.16 Esse aumento da idade pode sertambém notado através da participação das pessoas no mercado de trabalho daRegião Sul, conforme Gráfico 6.

Vê-se que há uma redução da participação da classe de pessoas maisnovas (10 a 24 anos e 25 a 34 anos, com perda de aproximadamente quatro etrês pontos percentuais respectivamente) e aumento das classes com maisidade (45 a 54 anos e 55 a 65 anos, com aumento de três e um ponto percentualrespectivamente), confirmando a mudança na pirâmide etária do País.17

14 Essa idade, de acordo com Hoffmann (2000), é encontrada dividindo-se o coeficiente davariável idade pelo coeficiente da variável idade ao quadrado multiplicado por dois.

15 As rendas médias máximas correspondentes às idades de 45 a 52 anos são R$ 3.157,89;R$ 3.567,54; R$ 4.119,36; R$ 4.020,25; R$ 4.176,02; R$ 4.648,77; R$ 4.430,47; eR$ 4.034,63 respectivamente.

16 Para Kassouf (1994), o ponto de inflexão para os homens, no ano de 1990, era 50 anos epara as mulheres, 45 anos.

17 Para maiores informações, ver Jardim (2000).

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Determinantes de rendimento da Região Sul do Brasil: 1992-01

Gráfico 5

ocupadas na Região Sul do Brasil — 1992-2001

Evolução da idade associada ao máximo rendimento esperado das pessoas

44

45

46

47

48

49

50

51

52

1992 1993 1995 1999 2001 0

Idade

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMÍCILIOS 1992/2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. (CD-ROM).

Composição das pessoas ocupadas, conforme a faixa etária, na Região Sul do Brasil — 1992-2001

Gráfico 6

05

101520253035

1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001

10 a 24 anos 25 a 34 anos 35 a 44 anos

45 a 54 anos 55 a 65 anos

(%)

Legenda:

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS 1992/2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. (CD-ROM).

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Flávia Verusca Buturi Monarin; Marina Silva da Cunha

A variável posição na ocupação, dentre as variáveis incorporadas à análi-se para detectar elementos de segmentação no mercado de trabalho, foi a quese revelou como mais importante, com uma contribuição bruta de aproximada-mente 18,5%, indicando que 18,5% da desigualdade captada pelo Índice T deTheil pode ser atribuída às diferenças de rendimento entre as posições naocupação, que são os empregados, os empregados domésticos, os trabalhado-res por conta própria e os empregadores. Considerando a contribuição marginalpara explicar a desigualdade de rendimento na Região Sul do País, esse grupode variáveis também se destaca, sendo responsável pela explicação de poucomenos de 4% das variações nos rendimentos, como mostra a Tabela 2.

Já com relação às diferenças de rendimento devido às diversas posiçõesna ocupação, percebe-se que são significativas, com o empregador chegandoa receber até 130% acima de um empregado (categoria-base), conforme oGráfico 7.18 O trabalhador por conta própria oscila entre ganhar um pouco a maise um pouco a menos que o empregado, enquanto o empregado domésticopossui um rendimento médio abaixo do do empregado (cerca de 30%).

18 Os percentuais foram obtidos a partir da aplicação da fórmula 100[exp(b) - 1]% sobre ocoeficiente da variável binária.

Gráfico 7

Evolução dos diferenciais do rendimento esperado, por posição na ocupação, na Região Sul do Brasil — 1992-2001

-40-20

020406080

100120140

1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001

Empregado doméstico Conta-própriaEmpregador

(%)

Legenda:

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS 1992/2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. (CD-ROM).

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Determinantes de rendimento da Região Sul do Brasil: 1992-01

Pôde-se perceber que, além da alta diferença de rendimento entre os em-pregadores e os empregados, houve, ao longo do período, um pequeno aumentodo número de empregadores, como apresentado no Gráfico 8. Em 1992, eleseram cerca de 5% da amostra, enquanto, em 2001, representavam 6%.

Gráfico 8

Composição das pessoas ocupadas, conforme a posição na ocupação, na Região Sul do Brasil — 1992-2001

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS 1992/2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. (CD-ROM).

010203040506070

1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001

Empregado Empregado doméstico

Conta-própria Empregador

Legenda:

(%)

As outras variáveis que podem captar elementos de segmentação, jornadae setor, possuem baixa contribuição para a explicação da desigualdade,porém com uma maior variabilidade no período. A jornada de trabalho emtermos de contribuição bruta alcançou um mínimo de 2,67% em 1993e um máximo de 4,82% em 1997. Já a contribuição marginal oscilou entre2% e 3%.

Como a variável-base com relação ao tempo de serviço é a jornada de 15a 39 horas semanais (a menor), os demais coeficientes possuem um diferencialde renda superior, sendo que o mais alto (cerca de 65%) é o referente àspessoas que trabalham mais de 49 horas por semana.

Em 1992, aproximadamente 16% da População Economicamente Ativacom rendimento não nulo trabalhavam de 15 a 39 horas semanais, os demais

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Flávia Verusca Buturi Monarin; Marina Silva da Cunha

grupos, de 40 a 44 horas, de 45 a 48 horas e mais de 49 horas, correspondiama aproximadamente 39%, 14,5% e 29% respectivamente. Assim, a maior parce-la dos indivíduos trabalha de 40 a 44 horas por semana. Essa participaçãopraticamente se mantém ao longo do tempo.

Por outro lado, a variável setor econômico apresentou variações em suacomposição, na qual foram considerados a agricultura, a indústria, os serviçose a administração pública. Enquanto o setor serviços aumentou a sua participa-ção de 47% para quase 54% entre 1992 e 2001, a agricultura e a indústriaperderam de 19% para 13% e de 27% para 26%, respectivamente, conformeo Gráfico 10.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001

40 a 44 horas 45 a 48 horas

Mais de 49 horas

Gráfico 9

Legenda:

Evolução dos diferenciais do rendimento esperado, por jornadade trabalho, na Região Sul do Brasil — 1992-2001

(%)

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS 1992/2001. Rio de Janeiro:

IBGE, 2003. (CD-ROM).

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Determinantes de rendimento da Região Sul do Brasil: 1992-01

Quanto à contribuição bruta e marginal, a variável setor econômico apre-senta grande oscilação no período — desde 0,85% de CB em 1993 a 4,16% em1998 —, porém tanto a CB quanto a CM não ultrapassaram a casa dos 4,5%.

No Gráfico 12, pode-se acompanhar a evolução do diferencial de rendi-mento para as variáveis gênero e cor, sendo que o comportamento se refere aosexo feminino e aos não-brancos, uma vez que as variáveis tomadas comobase são, respectivamente, o sexo masculino e a cor branca.

Composição das pessoas ocupadas, conforme o setor de atividade,

Gráfico 10

na Região Sul do Brasil — 1992-2001

0

10

20

30

40

50

60

1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001

Agricultura IndústriaServiços Administração pública

(%)

Legenda:

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS 1992/2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. (CD-ROM).

Quanto à análise dos coeficientes das regressões, nota-se que aspessoas ocupadas na agricultura possuem rendimentos menores que as dosdemais setores. Os servidores públicos são os que possuem melhores rendi-mentos, recebendo, em 2001, 77% a mais que as pessoas ocupadas na agricul-tura. O comportamento dos rendimentos na indústria e no setor serviços nãoapresenta muita diferença, situando-se próximo a 60% acima do da agriculturano período de 1993 a 1998. Em 1998, houve um pequeno recuo, tendência quepermaneceu em 2001, como se pode observar no Gráfico 11.

924

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Flávia Verusca Buturi Monarin; Marina Silva da Cunha

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS 1992/2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. (CD-ROM).

0

20

40

60

80

100

120

1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001

Indústria Serviços Administração públicaLegenda:

(%)

Gráfico 11

Evolução dos diferenciais do rendimento esperado, por setor de atividade econômica, na Região Sul do Brasil — 1992-2001

Gráfico 12

Evolução dos diferenciais do rendimento esperado, para as variáveis cor e gênero, na Região Sul do Brasil — 1992-2001

-40

-30

-20

-10

0

1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001

Não branca Sexo feminino

(%)

Legenda:

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS 1992/2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. (CD-ROM).

NOTA: Percentuais em relação às categorias tomadas como base (a cor bran- ca e o sexo masculino).

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Determinantes de rendimento da Região Sul do Brasil: 1992-01

Vê-se, então, que as mulheres recebem aproximadamente 30% a menosque os homens, enquanto os não-brancos recebem 11% a menos que os bran-cos.19 O diferencial de rendimentos de acordo com o gênero parece apresentaruma leve tendência de queda; já o de cor não apresenta essa tendência.A variável gênero chegou a explicar, sozinha, 4,68%, em 1993, da desigualdadede rendimentos, considerando a contribuição bruta, enquanto as contribuiçõesmarginais giraram ao redor de 2,5%.

Quanto à evolução da participação das mulheres no mercado de trabalho,percebe-se que ocorreu um aumento, conforme Gráfico 13. Em 1992, 33,59%das pessoas economicamente ativas com rendimento não nulo e que haviamfornecido informações eram mulheres, e 66,41%, homens; em 2001, esse qua-dro apresenta-se com 37,25% de mulheres e 62,75% de homens. SegundoScorzafave e Menezes-Filho (2001), a taxa de participação das mulheres brasi-leiras, no período 1982-97, aumentou 13,8%, percentual um pouco maior que oencontrado para a Região Sul do Brasil, cujo aumento foi de aproximadamente10,8% entre os anos de 1992 e 2001.

19 Quanto à discriminação de gênero, o percentual encontrado para a Região Sul está bempróximo ao encontrado para o Brasil, segundo um estudo da Fundação Sistema Estadualde Análise de Dados (SEADE) apud Araújo e Ribeiro (2002). Já a discriminação por corencontrada no Brasil (Soares, 2000) é superior à encontrada na Região Sul.

Gráfico 13

Composição das pessoas ocupadas, conforme o gênero, na Região Sul do Brasil — 1992-2001

0

20

40

60

80

1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001

Masculino Feminino Legenda:

(%)

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS 1992/2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. (CD-ROM).

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Flávia Verusca Buturi Monarin; Marina Silva da Cunha

Já a variável cor apresentou uma contribuição bruta máxima de 2,93% em1997, ao mesmo tempo em que marginalmente não alcançou 0,5%. Quanto àcomposição das pessoas ocupadas, entre brancos e não-brancos, percebe-seque o percentual de não-brancos é pequeno, cerca de 15%, e se manteve aolongo do tempo, enquanto o de brancos é tanto relativa quanto absolutamentegrande: cerca de 84%, conforme o Gráfico 14.

A última variável a ser analisada é a responsável pelas diferenças entre osestados. As contribuições bruta e marginal alcançaram seus valores máximosem 1992 — 0,65% e 0,70% —, porém, nos outros anos, apresentaram valoresainda menores, como 0,02% em 1995, sugerindo que existe pouca diferencia-ção nos rendimentos entre os três estados.

Com relação à diferenciação de rendimentos entre os estados, o Paraná —estado tomado como base — possui rendimento médio menor que o de SantaCatarina durante todo o período, enquanto, em relação ao Rio Grande do Sul,isso ocorre apenas em 1992 e 2001.

0

20

40

60

80

100

1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001

Branca Não branca

(%)

Legenda:

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS 1992/2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. (CD-ROM).

Gráfico 14

Composição das pessoas ocupadas, conforme a cor,na Região Sul do Brasil — 1992-2001

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Determinantes de rendimento da Região Sul do Brasil: 1992-01

caiu em 1993, chegando ao seu menor ponto em 1996, com 7% a menos que orendimento paranaense. A partir daí, apresentou uma trajetória de recuperaçãoaté 2001,20 como se pode confirmar no Gráfico 16.

É importante perceber que, no período 1993-01, tanto Santa Catarina quantoo Rio Grande do Sul perdem parte do diferencial positivo que possuíam comrelação ao Paraná, indicando que a mudança se deu, na realidade, no comporta-mento do rendimento paranaense, através de uma melhora na renda média doParaná.

Por fim, através da análise de dados empilhados, podem-se observar osresultados da estimação de dados de efeito tipo (estado) e de efeito tempona Tabela 3.

Gráfico 15

na Região Sul do Brasil — 1992-2001 Evolução dos diferenciais do rendimento esperado, variável região,

-10

0

10

20

30

1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001

Santa Catarina Rio Grande do Sul

(%)

Legenda:

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS 1992/2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. (CD-ROM).

Há uma queda do diferencial de rendimento de Santa Catarina com relaçãoao Paraná, até 1996, apresentando, depois, uma leve recuperação em 1997 e1998, voltando ao comportamento de queda em 1999 e 2001. Já o Rio Grandedo Sul iniciou 1992 com um rendimento mais de 10% superior ao do Paraná,

20 Note-se que os anos em que há uma queda do diferencial de rendimento do Rio Grande doSul (1994 a 1997) são exatamente o período em que a taxa de crescimento do PIB teve amédia de 0,4% (Accurso, 2000).

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Flávia Verusca Buturi Monarin; Marina Silva da Cunha

Considerando que a metodologia de dados empilhados tem mais de umano como objeto de análise, o modelo sugere que existe diferença de rendimen-to entre os três estados analisados, como se nota através dos coeficientes dasvariáveis binárias no modelo com efeito tipo (estado), os quais são estatistica-mente significativos, confirmando os resultados encontrados na análise de con-tribuição marginal e bruta: as pessoas ocupadas no Estado de Santa Catarinasão as que possuem maior rendimento (12,60% acima das ocupadas no Paraná,no modelo de efeito tipo, e 12,81%, no modelo de efeito total), sendo seguidaspelas ocupadas no Rio Grande do Sul e no Paraná. Porém verifica-se somenteuma pequena diferença entre estes dois últimos estados (1,14% no efeito tipo e1,20% no efeito total).

Gráfico 16

da Região Sul — 1992-2001 Rendimento médio das pessoas ocupadas por estado

400450500550600650700750800

1992 1993 1995 1996 1999 2001

Renda média no ParanáRenda média em Santa CatarinaRenda média no Rio Grande do Sul0

Legenda:

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS 1992/2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. (CD-ROM).

(R$)

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Determinantes de rendimento da Região Sul do Brasil: 1992-01

Tabela 3

Equações de rendimento estimadas para a Região Sul do Brasil — 1996 e 2001

SEM EFEITOS

EFEITO GRUPO (Estado)

PARÂMETROS

Estimativa Erro-

-padrão Estimativa

Erro- -padrão

Intercepto ........................ 2,9556 0,0210 2,9255 0,0211

Tempo

Ano de 1996 ...................

Ano de 2001 ...................

Estados

Santa Catarina ................ 0,1187 0,0073

Rio Grande do Sul .......... 0,0114 0,0060

Sexo feminino ............... -0,3627 0,0064 -0,3642 0,0064

Idade .............................. 0,0786 0,0010 0,0785 0,0010

Idade2 ............................. -0,0007 0,0000 -0,0007 0,0000

Cor não branca ............. -0,1326 0,0075 -0,1167 0,0076

Escolaridade ................. 0,1019 0,0007 0,1020 0,0007

Posição na ocupação

Empregado doméstico .... -0,3008 0,0116 -0,3000 0,0116

Conta-própria .................. 0,0138 0,0071 0,0139 0,0071

Empregador .................... 0,6779 0,0124 0,6784 0,0124 Tempo semanal de trabalho

De 40 a 44 horas ............ 0,3692 0,0084 0,3667 0,0084

De 45 a 48 horas ............ 0,3526 0,0099 0,3512 0,0099

Mais de 49 horas ............ 0,4934 0,0089 0,4894 0,0088

Setores de atividade

Indústria .......................... 0,3928 0,0090 0,3863 0,0090

Serviço ............................ 0,3955 0,0086 0,3968 0,0086

Administração pública .... 0,5275 0,0145 0,5281 0,0144

(continua)

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Flávia Verusca Buturi Monarin; Marina Silva da Cunha

Tabela 3 Equações de rendimento estimadas para a Região Sul do Brasil — 1996 e 2001

EFEITO TEMPO EFEITO TOTAL (tempo e grupo)

PARÂMETROS

Estimativa Erro- -padrão

Estimativa Erro- -padrão

Intercepto ........................ 2,9048 0,0210 2,8744 0,0211

Tempo

Ano de 1996 .................... 0,1469 0,0066 0,1463 0,0066

Ano de 2001 .................... -0,0051 0,0065 -0,0079 0,0065

Estados

Santa Catarina ................ 0,1206 0,0072

Rio Grande do Sul ........... 0,0120 0,0060

Sexo feminino ................ -0,3620 0,0064 -0,3635 0,0064

Idade ............................... 0,0786 0,0010 0,0786 0,0010

Idade2 .............................. -0,0007 0,0000 -0,0007 0,0000

Cor não branca .............. -0,1276 0,0074 -0,1113 0,0075

Escolaridade .................. 0,1026 0,0007 0,1026 0,0007

Posição na ocupação

Empregado doméstico .... -0,3022 0,0115 -0,3013 0,0115

Conta-própria .................. 0,0110 0,0070 0,0111 0,0070

Empregador .................... 0,6797 0,0123 0,6802 0,0123 Tempo semanal de trabalho

De 40 a 44 horas ............. 0,3668 0,0084 0,3642 0,0084

De 45 a 48 horas ............. 0,3524 0,0099 0,3510 0,0099

Mais de 49 horas ............. 0,4935 0,0088 0,4894 0,0088

Setores de atividade

Indústria .......................... 0,3932 0,0089 0,3867 0,0089

Serviço ............................ 0,3941 0,0086 0,3955 0,0086

Administração pública ..... 0,5243 0,0144 0,5249 0,0144

FONTE DOS DADOS BRUTOS: PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMI- CÍLIOS 1992/2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. (CD-ROM).

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Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 905-934, nov. 2005

Determinantes de rendimento da Região Sul do Brasil: 1992-01

Pode-se dizer que a variável dependente também foi afetada pelo compor-tamento macroeconômico do País, já que houve uma variação estatisticamentesignificativa no efeito tempo. Nota-se que há um aumento na renda média, noano de 1996, com relação a 1992, de 15,82% e uma redução da renda em 2001,sendo que, nesses anos, a renda média na Região Sul era 0,50% menor que arenda do ano de 1992. Provavelmente, esse comportamento foi ocasionado porpolíticas e planos econômicos, sendo de grande relevância o papel do PlanoReal implementado no Brasil, em 1994, que foi responsável por um aumento dopoder aquisitivo; entretanto, a economia brasileira enfrentou grandes dificulda-des no período subseqüente, com as crises internacionais e seus reflexos naeconomia nacional.

4 - Considerações finais

Ciente da importância de se descobrirem as prováveis razões da desigual-dade de renda, neste trabalho, procurou-se focar a análise nos determinantes dorendimento para a Região Sul do Brasil, no intuito de perceber, apesar de estanão ser uma das regiões com o maior nível de desigualdade de renda no País,se houve, ao longo do período 1992-01, alterações qualitativas e quantitativasnesses determinantes.

Assim, com base na literatura, foi possível estabelecer alguns dos princi-pais determinantes do rendimento, dos quais foram utilizados neste trabalho:educação, idade, posição na ocupação, cor, gênero, setor de atividade econômica,região (estados) e jornada de trabalho.

Na análise da desigualdade de renda, percebeu-se que a Região Sul, em1995, apresentou redução dos Índices de Gini e T de Theil, possivelmenteocasionado pelo processo redistributivo do Plano Real.

Anos de escolaridade (proxy para nível educacional) e idade (proxy paraexperiência), concordando com a literatura, destacaram-se dentre osdeterminantes de rendimento relacionados às características produtivas doindivíduo. A contribuição bruta da variável educação oscilou entre 20% e 30%,enquanto a contribuição marginal foi superior a 12%; já para a variável idade, acontribuição bruta permaneceu em torno de 8%, ao passo que a marginal foi umpouco maior que 4%.

Percebe-se que houve um aumento de oferta de mão-de-obra qualificadano período, através do número de pessoas com níveis maiores de escolaridadena Região Sul. Porém esse aumento não foi suficiente para reduzir substancial-mente o diferencial de renda associado à educação, que permaneceu alto.

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Flávia Verusca Buturi Monarin; Marina Silva da Cunha

Os resultados do trabalho apontam a existência de práticas de discrimina-ção de gênero e cor no mercado de trabalho da Região Sul, porém, enquanto senota uma leve tendência de redução do nível de discriminação de gênero noperíodo, isso não acontece com a discriminação por cor. Ainda se revelaum aumento de aproximadamente 10,8% da participação da mulher entre aspessoas ocupadas na Região Sul do Brasil, entre 1992 e 2001.

A posição na ocupação também se destacou dentre os fatores que contri-buem para a desigualdade de renda, sendo que a sua contribuição bruta foi,depois do determinante nível educacional, a segunda maior, ficando entre 15%e 20%. A maior desigualdade de renda, advinda do determinante posição naocupação, apontada pela equação de rendimento foi entre empregados e empre-gadores, com estes últimos chegando a possuir um rendimento até 130% acimado de um empregado.

Quanto à diferença de renda derivada de setores econômicos, chama aten-ção o rendimento na administração pública, com um diferencial positivo bemacima dos demais.

A região é o fator que possui menor grau de contribuição bruta e marginal,sendo que o rendimento médio, em Santa Catarina, foi superior ao do Paraná eao do Rio Grande do Sul em todo o período estudado. Contudo notou-se tambémque ocorreu um movimento distinto no rendimento médio em cada estado, comuma redução do diferencial de rendimento de Santa Catarina e do Rio Grande doSul com relação ao Paraná (tomado como base), indicando um processo decrescimento do rendimento médio paranaense acima do crescimento dos doisoutros estados da Região Sul.

Todos esses resultados foram confirmados pela análise de dados de efeitotempo e efeito tipo (estado), pois as binárias para os Estados de Santa Catarinae Rio Grande do Sul foram estatisticamente significativas, indicando que osestados possuem rendimentos distintos. Ao mesmo tempo, através do compor-tamento das binárias de tempo, observa-se que o comportamentomacroeconômico do País se refletiu na Região Sul.

Dessa forma, como as características individuais produtivas, principal-mente a educação, têm grande importância na determinação do rendimento daspessoas ocupadas da Região Sul, fica nítida a necessidade de políticas públi-cas mais agressivas, que ampliem as oportunidades de educação formal etreinamento profissional. Diversos trabalhos citam sugestões, como aumentar aoferta de escolas públicas e centros de treinamento vocacional gratuitos ousubsidiados, de créditos educativos e bolsas de estudo.

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Determinantes de rendimento da Região Sul do Brasil: 1992-01

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Processos de aprendizagem tecnológica na indústria de papel em Santa Catarina:...

Processos de aprendizagem tecnológica na indústria de papel,

em Santa Catarina: um estudo sobre as empresas-líderes

Paula Alexandra Binotto* Mestre em Economia pela Universidade Federal de Santa Catarina e Pesquisadora Auxiliar do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia da Universidade Federal de Santa Catarina (NEITEC-UFSC).Silvio Antonio Ferraz Cario** Professor dos Cursos de Graduação e Pós- -Graduação em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina e Coordenador em exercício do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia da Universidade Federal de Santa Catarina (NEITEC-UFSC).

ResumoPesquisa realizada junto às empresas-líderes da indústria de papel do Estadode Santa Catarina aponta que as principais fontes de informação para a inovaçãosão a troca de informações com fornecedores e clientes e que a forma maisrelevante para a capacitação tecnológica é a aquisição de máquinas nosmercados nacional e internacional. Tais empresas não possuem estruturaformalizada de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e nem destinam recursosanuais para esse fim, mas dispõem de laboratórios internos para ensaios etestes, bem como de departamentos de engenharia voltados para a solução deproblemas práticos. Estão presentes, nessas empresas, diferentes formas deaprendizado tecnológico como fonte de capacitação tecnológica, destacando--se os mecanismos de “learning by doing, learning by using e learning byinteracting”.

* E-mail: [email protected]** E-mail: [email protected]

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Paula Alexandra Binotto; Silvio Antonio Ferraz Cario

Palavras-chaveAprendizado tecnológico; indústria de papel; Santa Catarina.

AbstractA survey realized with the most productive paper producer companies in theSanta Catarina State (Brazil) note the innovation leading information sources arethe producer-supplier and producer-user information exchange and the mostconsiderable way to technological knowledge is buying machinery in both nationaland international markets. Those companies have neither R&D formalizedstructure nor permanent portion of annual income to this end, but does internallaboratory just for analysis and tests, as well engineer departments to solvepractical problems. In these companies is possible to note different technologicallearning ways used as technological knowledge, emphasizing learning by doinglearning by using and learning by interacting mechanisms.

Key wordsTechnological learning; paper industry; Santa Catarina.

Classificação JEL: L7; L73.

Artigo recebido em 14 ago. 2003.

1 - Introdução

A indústria de papel em Santa Catarina apresenta posição significativa nocontexto da produção nacional, expressa pela produção aproximada de 1,3 milhãode toneladas/ano (dados de 2002), o que coloca esse estado na posição deterceiro maior produtor do País. As 29 empresas instaladas em Santa Catarina,em atividade nos diferentes segmentos da indústria de papel, respondem por17% da produção nacional. No intuito de criar vantagens competitivas, tais

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empresas realizam esforços para capacitação tecnológica, através de gastosem pesquisa e desenvolvimento (P&D), aquisição de máquinas e equipamentosde fornecedores especializados, relações com clientes, interação comuniversidades, dentre outros, o que resulta em diferentes processos deaprendizagem tecnológica.

Dada a magnitude produtiva existente nessa indústria, torna-se relevanteconhecer a capacitação tecnológica e os mecanismos pelos quais as formas deaprendizagem tecnológica se desenvolvem, em particular nas empresas-líderesprodutoras de papéis de embalagem, para fins sanitários, especiais e de cartãoe cartolina.

Para tanto, este paper está dividido em cinco seções: nesta primeira,faz-se breve introdução ao tema; na segunda seção, apresenta-se o tratamentoneo-schumpeteriano sobre processos de aprendizagem tecnológica como fontede capacitação tecnológica; na terceira, caracteriza-se, de forma sintética, aindústria de papel em Santa Catarina e as empresas-líderes pesquisadas nossegmentos de papel citados; na quarta seção, analisam-se a capacitaçãotecnológica dessas empresas, em termos de forma, fonte e esforços tecnológicos,e os processos de aprendizagem tecnológica dominantes; e, finalmente, na quintaseção, apresenta-se a síntese conclusiva deste estudo.

2 - Tratamento analítico sobre processos de aprendizagem tecnológica — abordagem neo-schumpeteriana

A inovação, na perspectiva neo-schumpeteriana, refere-se à busca, àdescoberta, à experimentação, ao desenvolvimento, à imitação e à adoção denovos produtos, novos processos e nova organização. Trata-se de um fenômenonão estacionário, ocasional, não se constituindo em um ato único, mas, aocontrário, apresentando-se como uma série de atos unidos no processo inventivo,fator crucial para explicar os ciclos econômicos e a dinâmica do crescimentoeconômico. A inovação permite a evolução da empresa, modifica a estrutura daindústria e altera sua capacidade competitiva.

A busca por inovações ocorre de modo insistente, geralmente produzidade forma endógena, dentro da indústria, pela motivação de lucro. Essa motivaçãoleva os agentes a se apropriarem dos benefícios econômicos dos sucessos dainovação e faz com que mudanças ocorram. Contudo existem outros motivosindutores do processo inovativo, destacando-se: a existência de gargalos

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tecnológicos; a escassez de insumo crítico; a composição, a mudança e a taxade crescimento da demanda, assim como o nível e as mudanças dos preçosrelativos.

A existência de uma organização formal, firmada através de infra-estruturatecnológica e de política de gastos em P&D, seja ela expressa em laboratórios,técnicos qualificados, equipamentos atualizados e/ou recursos definidos parapesquisa em relação ao faturamento, é condição essencial para fazer do processoinovativo uma constante nas atividades da firma. As inovações estão vinculadasàs estruturas e às decisões das empresas, não como condicionantes conjunturais,mas vinculadas a um estado permanente, o que torna, hoje, o processo deintroduzir a inovação altamente profissional, e não ocasional e circunstancial(Cario; Pereira, 2001).

Cada empresa atua num segmento econômico, que apresenta um ambientetecnológico com propriedades que determinam o processo inovativo posto emtermos de oportunidades tecnológicas que se abrem, do acúmulo do conhecimentotecnológico, da forma com que as empresas buscam se apropriar dos ganhoseconômicos decorrentes desse processo e da natureza do conhecimento-base(Dosi, 1988). A especificidade e a dinâmica de cada uma dessas propriedadesdefinem a magnitude de cada ambiente em termos de maior ou menor importâncianos processos inovativos. Existem variedades e graus de tecnologia inter eintra-segmentos produtivos, que se expressam a partir de propriedades datecnologia e das características dos processos de aprendizados que estãoenvolvidos nas atividades econômicas (Orsenigo, 1995).

O aprendizado é um processo que ocorre por repetição e experimentação,permitindo que as tarefas sejam realizadas de modo mais rápido e melhor (Dosi;Teece; Winter, 1992). Esse pode ocorrer em diversos pontos no processo produtivo,ou mesmo após seu término, e no relacionamento entre os inúmeros agentesque fazem parte da rede de atividades. Possibilita a exploração de oportunidadestecnológicas, aperfeiçoa os mecanismos de busca e refina as habilidades emdesenvolver ou manufaturar novos produtos baseados em conhecimentoacumulado e/ou em outras fontes de conhecimento.

O aprendizado pode ser tanto formal como informal. A principal fonte deaprendizado formal é a atividade de pesquisa e desenvolvimento. A internalizaçãodessa atividade é a ferramenta mais eficaz para a busca tecnológica e permitemaior integração dos fluxos de informação nos casos de transferência tecnológica.As fontes de aprendizado informais, por sua vez, são aquelas nas quais oconhecimento está disseminado pela empresa e não é livremente apropriável.Nesse conceito, enquadram-se as formas de aprendizado que ocorrem na empresae nas suas relações com o ambiente externo (Lifschitz; Brito, 1992).

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O aprendizado faz parte do comportamento das empresas como um pro-cesso de rotina. Os padrões de ações e de comportamentos das empresasimplicam modos de fazer as coisas e, se essas ações e comportamentos forambem-sucedidos no passado, resultam em aprendizado e tendem a capacitar aempresa para o futuro (Dosi, 1988). O aprendizado é parte importante do processoinovativo, pois cria capacidade e estímulo para mudanças, tanto para as empresasindividuais como para a indústria como um todo, resultando em diminuição decustos e no melhor desempenho produtivo.

O aprendizado na forma learning by doing (aprender fazendo) ocorreinternamente à empresa. São situações nas quais novas maneiras de produzir obem ou de prestar o serviço vão sendo descobertas. Essas mudanças po-dem ocorrer ao acaso, resultado da rotina de produção/operação dos funcionários.Essa forma de aprendizado também é chamada de aprendizado de chão-de--fábrica; é a maneira pela qual mudanças incrementais vão sendo adicionadasao processo. Em geral, os próprios operadores vão percebendo oportunidadesno processo ou na operação, que podem ser melhoradas. Existe, aqui, anecessidade de conhecimento tácito do processo e/ou da operação, porque só épossível promover avanços e melhorar a performance, se o produtor conhecer aoperação. A empresa é uma geradora de novos conhecimentos tecnológicossobre como fazer melhor o que faz; acumula conhecimentos sobre o que faz etambém depende do conhecimento que foi armazenado (Lifschitz; Brito, 1992).

Mesmo quando o produto, ou o serviço, foi concluído ou prestado, existe aocorrência do aprendizado para o produtor, através da forma learning by using(aprender usando). A aprendizagem em decorrência do uso do produto ou doserviço inicia quando o processo/prestação chega ao fim. Seu desenvolvimentodá-se fora da fábrica, além da estrutura formal de pesquisa e desenvolvimentoindustrial. Mesmo com potencial de pesquisa e desenvolvimento envolvido emqualquer processo produtivo, o conhecimento científico e tecnológico não é capazde prever todas as possibilidades de uso do produto. Assim sendo, o usoprolongado desse produto permite que evoluções sejam mais claramentepercebidas, à medida que os clientes reportam os problemas técnicos ou apontamcaminhos para serem modificados.

Ainda através do learning by using, as características dos produtos vãosendo aprimoradas, pois, à medida que o produto é utilizado, essas característicasse vão revelando. Em alguns casos, se surgirem problemas que não foramdetectados, ex ante, nos produtos, esses vão sendo resolvidos através demudanças contínuas (Lifschitz; Brito, 1992). O processo de aprendizado pelouso decorre da complexidade do sistema e das exigências do nível deconfiabilidade do produto. Portanto, sua importância cresce na medida em que

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aumenta o grau de confiabilidade que o produto necessita apresentar. É umadas formas mais importantes de aprendizado, porém, uma das mais arriscadas,porque envolve agentes de fora do processo produtivo principal e pode colocarem risco a confiabilidade do produto. Além disso, exige um sistema de fluxo deinformação e coordenação eficiente para atender prontamente aos sinais que omercado envia. Essa forma de aprendizado é especialmente importante paraprodutos oriundos do setor de bens de capital (Rosenberg, 1982).

O aprendizado por interação (learning by interacting) combina o aprendizadoque acontece dentro da própria fábrica com aqueles que ocorrem comconsumidores e fornecedores, porém o ponto central é a interatividade entreprodutor e consumidor. Do mesmo modo que a interação entre diferentes setoresindustriais pode gerar capacitação em outros setores, a interação entre produtore consumidor pode capacitar o produtor, que se torna mais hábil em oferecer oque o mercado sinaliza, e também o consumidor, que se torna capaz de absorveravanços e inovações. Logo, nessa forma de aprendizado, ressalta-se a troca deinformações entre usuário e produtor, e essa troca de informações é de naturezaqualitativa e não quantitativa. Para que o intercâmbio de informações seja denatureza qualitativa, os grupos de usuários que participam do processo sãoselecionados, definidos e envolvem códigos de conduta, além de estaremcondicionados aos espaços geográfico, político e econômico do mercadoescolhido.

A outra forma de aprendizado, learning by learn (aprendendo a aprender),implica absorção e incorporação de tecnologia. A organização aprende novosconceitos e formatos de tecnologia, que lhe permitem obter vantagens sobre asconcorrentes. Com isso, seu conhecimento tácito também aumenta e, por suavez, estimula o avanço tecnológico. Esse é um aprendizado que ocorreparalelamente ao processo produtivo e que não acontece ao acaso, porque sãodesenvolvidos esforços nesse sentido. Contudo, para que a empresa possaabsorver conhecimento tecnológico, ela precisa investir em pesquisa edesenvolvimento, treinamento de pessoal e infra-estrutura. Essa espécie deinvestimento cria um ambiente favorável para que as mudanças em tecnologiasejam absorvidas mais rápida e completamente. As habilidades, as experiênciase o conhecimento prévio da organização capacitam a empresa no próprioaprendizado tecnológico.

O aprendizado combinado com mecanismos de seleção de inovações ecom estruturas institucionais cria uma certa ordem nos processos de mudanças.Em um processo evolucionário, assimetrias e diversidades entre os agentessão condições funcionais e necessárias para a inovação. A inovação e adiversidade dos agentes garantem dinamismo, imitação e seleção de mercado

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no ambiente econômico. Porém o equilíbrio entre aprendizado e seleção, querelaciona mudanças com estabilidade dinâmica, também varia de acordo com atecnologia, os países, as instituições e os períodos históricos (Dosi, 1988).

Os empresários, por sua vez, diante de mudanças técnicas constantes,ou apenas diante de expectativas de que essas mudanças aconteçam, adotamestratégias visando acompanhar ou impor tendências ao mercado. No rol dasestratégias, destacam-se as tecnológicas, colocadas pela relação entre odesenvolvimento da tecnologia e a busca de vantagens competitivas pelasempresas, em um contexto organizacional e ambiental específico. No campo datecnologia, as formas de aprendizado contribuem para o desenho das estratégiasque possibilitarão, a quem primeiro inovar, usufruir ganhos econômicos por umperíodo de tempo, que pode ser longo ou curto, dependendo da complexidade dainovação, do grau de conhecimento tecnológico das concorrentes e das condiçõesde apropriabilidade dos resultados.

Para tanto, torna-se relevante criar condições para desenvolver a capacidadedinâmica da empresa, baseada na construção de competências tecnológicas eorganizacionais que lhe permitam criar, sustentar e aumentar as condiçõescompetitivas em um ambiente de mudança. Na perspectiva teórica em questão,empresas devem agir no sentido de criar condições para desenvolver capacidadede aprender e de transformar o aprendizado em fator competitivo (learning tolearn). Para tanto, a empresa deve investir em pesquisa e desenvolvimento,destinando verbas permanentes para esse fim e, com isso, criando um ambientefavorável para que a geração, a absorção e a transferência de novas tecnologiasocorram a seu favor.

3 - A indústria de papel em Santa Catarina

O Estado de Santa Catarina é o terceiro maior produtor de papel do País,participando com 16,8% da produção nacional. Considera-se que a instalaçãode grandes fábricas nesse estado se processou, em primeiro lugar, pela escolhade um clima adequado ao cultivo da principal matéria-prima, pinus, e, emsegundo lugar, pela localização no centro da Região Sul e com acesso facilitadoaos países vizinhos, parceiros no Mercosul. Devido ao cultivo de espéciesque fornecem matéria-prima para a fabricação de celulose de fibra longa, grandeparte da produção do Estado concentra-se em papéis para embalagens de altagramatura. Tal papel é elaborado especialmente com celulose de fibra longa, emparte complementada com celulose de fibra curta, para preencher os vãos quese formam entre as fibras longas, imprimindo ainda maior resistência ao papel.

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As principais empresas estão localizadas no Planalto Serrano, onde já eramcomuns os reflorestamentos, utilizados para a fabricação de móveis e placasde madeiras.

Dos seis principais segmentos de papel, apenas dois não são produzidosno Estado, sendo que o papel de imprensa deixou de ser produzido em 1998(Tabela 1). Dentro do segmento de papel para escrever e imprimir, somente opapel para impressão conta com produção constante, e o segmento de papelpara imprensa, que é usado nos jornais, também não é produzido em SantaCatarina. Os demais segmentos estão sendo produzidos regularmente. Ossegmentos de papéis para embalagens, para fins sanitários e cartão e cartolinavêm apresentando crescimento constante desde o início da década de 90, compequenas oscilações no período. Por sua vez, o segmento de papéis para imprimirmostrou decréscimo desde o ano de 1996. O segmento de papéis especiaistambém apontou redução na produção, entre os anos de 1994 e 1996,conseguindo recuperar-se nos anos seguintes.

Durante o período em análise, a indústria catarinense de celulose e papelmanteve estável seu quadro de unidades produtivas. Contava com 28 plantasindustriais em 1990 e, no ano de 1999, tinha 29 (Tabela 2), ao contrário do totalno País, que viu seu quadro reduzido em 25%, com o fechamento de 71 unidadesde produção de papel. Os segmentos que apresentaram variação foram cartão ecartolina, que teve redução de duas empresas na década de 90, e embalagens,que foi acrescida de três unidades produtivas no mesmo período. É interessantenotar que as quedas no número de unidades, em âmbito nacional, ocorreram emtodos os segmentos, menos no de papéis especiais, que manteve as 24 unidadesdo início da década.

Para o estudo sobre capacitação tecnológica, foram analisadas quatroempresas produtoras de papel estabelecidas em Santa Catarina, sendo quecada uma é representante de um segmento diferente do setor. Assim, para osegmento de papéis de embalagens, foi entrevistada a empresa Igaras Papéis eEmbalagens S/A, que, em 1999, teve uma participação de 6,1% na produçãototal de papel no País e de 24,6% no Estado (Tabela 3).

A empresa Bonet Madeiras e Papéis Ltda., produtora de papel-cartão,respondeu, em 1998, por 0,3% da produção nacional do setor de papel e por1,8% da produção estadual, enquanto a Klabin Kimberly S/A, produtora de papéispara fins sanitários, produziu 1,8% do total nacional e 4,5% da produção estadual.Por fim, a Águas Negras Indústria de Papel S/A, a única produtora de papéisespeciais no Estado, teve uma participação igual a 0,2% na produção nacionalde papel em 1998 e de 1,1% no total produzido no Estado.

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Tabela 1

Produção de papel, por segmento, no Brasil e em Santa Catarina — 1990-98

PAPEL PARA IMPRENSA

(1 000t)

PAPÉIS ESPECIAIS

(1 000t)

PAPEL PARA EMBALAGEM

(1 000t) DISCRIMINAÇÃO

Brasil Santa Catarina

Brasil Santa Catarina

Brasil Santa Catarina

1990 931 6 122 2 2 184 656

1991 995 8 128 2 2 230 656

1992 1 110 8 117 3 2 204 684

1993 1 399 12 119 3 2 284 724

1994 1 654 13 133 0 2 441 763

1995 1 643 26 137 0 2 510 833

1996 1 669 13 140 0 2 800 856

1997 1 848 5 146 0 2 911 917

1998 1 848 0 152 1 2 949 938

Participação % em 1998

100

0

100

0

100

31,8

(continua)

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Tabela 1

Produção de papel, por segmento, no Brasil e em Santa Catarina — 1990-98

PAPÉIS SANITÁRIOS

(1 000t)

CARTÃO E CARTOLINA

(1 000t)

PAPEL PARA ESCREVER E

IMPRIMIR (1 000t)

DISCRIMINAÇÃO

Brasil Santa Catarina

Brasil Santa Catarina

Brasil Santa Catarina

1990 404 17 470 27 358 0

1991 419 27 510 39 379 0

1992 442 45 502 38 287 0

1993 445 67 538 46 240 0

1994 429 73 562 51 171 0

1995 466 81 588 47 159 0

1996 550 89 597 52 143 0

1997 565 116 648 54 135 0

1998 574 123 683 47 110 0

Participação % em 1998

100,0

21,4

100

6,9

100

0

(continua)

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Tabela 1

Produção de papel, por segmento, no Brasil e em Santa Catarina — 1990-98

TOTAL

DISCRIMINAÇÃO

Brasil (1000t)

Santa Catarina (1000t)

Participação % Santa Catarina/Brasil

1990 4 716 709 15,03

1991 4 914 732 14,89

1992 4 901 777 15,80

1993 5 301 852 16,07

1994 5 654 900 15,93

1995 5 798 989 17,05

1996 6 176 1.010 16,30

1997 6 518 1.092 16,76

1998 6 589 1.108 16,82

Participação % em 1998

100

16,8

-

FONTE: BRACELPA.

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Tabela 2

Unidades produtivas de papel, por categoria, no Brasil e em Santa Catarina — 1990 e 1998

PAPEL PARA IMPRENSA

PAPEL PARA ESCREVER

PAPEL PARA EMBALAGEM ANOS

Brasil Santa Catarina

Brasil Santa Catarina

Brasil Santa Catarina

1990 28 1 22 0 116 13

1998 16 1 11 0 84 16

PAPÉIS SANITÁRIOS

CARTÃO E CARTOLINA ANOS

Brasil Santa

Catarina Brasil Santa

Catarina

1990 42 4 52 9

1998 34 4 43 7

PAPÉIS ESPECIAIS

TOTAL ANOS

Brasil Santa

Catarina Brasil Santa

Catarina

1990 24 1 283 28

1998 24 1 212 29

FONTE: BRACELPA.

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Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 935-964, nov. 2005

Processos de aprendizagem tecnológica na indústria de papel em Santa Catarina:...

Tabela 3

Produção e participação das empresas-líderes de papel de Santa Catarina no mercado nacional — 1999

SANTA CATARINA (%) BRASIL (%)

SEGMENTOS E

EMPRESA

PRODUÇÃO (t)

Participa- ção no Segmento

Participa- ção no

Total

Participa- ção no Segmento

Participa- ção no

Total

Embalagem Igaras Papéis e Embalagens ....

272 550

29,1

24,6

9,2

4,1 Outros ............. 665 310 70,9 60,0 90,8 10,1 Subtotal ......... 937 860 100,0 84,6 100,0 14,2 Fins sanitários Klabin Kimberly S/A. ................. 50 000

40,6

4,5

8,7

0,8 Outros ............. 73 269 59,4 6,6 91,3 1,1 Subtotal ......... 123 269 100,0 11,1 100,0 1,9 Cartão e car-tolina Bonet Madei-ras e Papéis Ltda. ................

20 000

42,8

1,8

2,9

0,3 Outros ............ 26 688 57,2 2,4 97,1 0,4 Subtotal ......... 46 688 100,0 4,2 100,0 0,7 Especiais Águas Negras S/A ..................

876

100,0

0,1

0,6

0,0 Subtotal ......... 876 100,0 0,1 100,0 0,0 TOTAL ............ 1108 108 693 - 100,0 - -

FONTE: Pesquisa de campo. BRACELPA.

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4 - Capacitação tecnológica nas empresas-líderes de papel em Santa Catarina

O padrão tecnológico existente na indústria de papel é considerado estável,expressando um estágio sem grandes mudanças, tanto em processo como emproduto. As oportunidades tecnológicas são reduzidas, em decorrência da menorvariedade de soluções tecnológicas postas pelo caráter maduro da tecnologia.As inovações ocorrem de forma incremental, realizadas através do melhoramentona performance de máquinas e equipamentos e de aperfeiçoamento e adaptaçãode produtos. As empresas pesquisadas referendam essa observação, apontandoque a tecnologia de produção é estável e está difundida na indústria (Quadro 1).

No âmbito da tecnologia de processo, as empresas de papel sanitário e depapel especial destacam como relevante a incorporação de novos equipamentosna planta industrial, pois se registra a presença de maquinário de última geraçãotecnológica, sendo que muitos dos equipamentos apresentam idade inferior a

Quadro 1

Estágio da tecnologia nas principais linhas de produtos das empresas-líderes de papel em Santa Catarina — 2001

PAPÉIS SANITÁ- RIOS

PAPEL PARA EMBALAGEM

PAPÉIS ESPECIAIS

PAPEL- -CARTÃO

Produto e/ou linha de pro-duto

Papéis de toilet, papéis toalha, guar-danapos

Papel de embalagem

RC- -Liner

Cartão TX 500- -750 (para tu- bos)

Cartão duplex

X

X

X

X

X

Tecnologia de Produção Estável e difun- dida Passando por grandes altera-ções

FONTE: Pesquisa de campo.

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Processos de aprendizagem tecnológica na indústria de papel em Santa Catarina:...

10 anos. Da mesma forma, para a empresa de papéis de embalagens, aincorporação de novos equipamentos é considerada importante e tem sidorealizada através de upgrades sucessivos, voltados à atualização tecnológicada planta existente (Quadro 2). Como referência a esse tipo de inovação, asempresas incorporam, em suas plantas industriais, os sistemas digitais de controledistribuídos (SDCD) e outros tipos de controles automatizados, que possibilitamque a qualidade do produto seja mantida de maneira mais uniforme e constantee que a produção seja visualizada e controlada integralmente, gerando, assim,ganhos nas condições produtivas e agilidade nos processos decisórios. Nessestermos, as inovações de processo são relevantes, enquanto incorporação denovos equipamentos, ante a configuração e a construção de nova planta industriale a introdução de novas matérias-primas.

Quadro 2

Inovações mais importantes adotadas em produtos e/ou processos produtivos das empresas-líderes de papel de Santa Catarina — 2001

PAPÉIS SANITÁRIOS

PAPEL PARA EMBALAGEM

PAPÉIS ESPECIAIS

PAPEL- -CARTÃO

Inovações de pro- duto

Alterações no de-senho/estilo

Muito importante

Não se aplica Pouco importante

Não se aplica

Alterações nas ca- racterísticas técni- cas

Muito importante

Importante Muito importante

Importante

Novo produto Pouco

importante Sem

importância Muito

importante Importante

Inovações no pro- cesso produtivo

Incorporação de no-vos equipamentos

Muito importante

Importante Muito importante

Não se aplica

Nova configuração da planta industrial

Pouco importante

Sem importância

Pouco importante

Não se aplica

Construção de no- va planta industrial

Não se aplica Não se aplica Não se aplica Não se aplica

Introdução de no- vas matérias-primas

Não se aplica Não se aplica Não se aplica Importante

FONTE: Pesquisa de campo.

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No campo das inovações de produto, são consideradas com elevado graude importância para as empresas de papel sanitário aquelas que se processama partir de alterações no desenho/estilo e com maior apreciação em umas emenor em outras, porém relevantes para todas as empresas, as que alteram ascaracterísticas técnicas do produto. Registram-se as mudanças técnicas queocorrem na empresa de papéis para fins sanitários. Com o objetivo de atender aconsumidores que buscam diferenciação através de produtos de alto padrão, aempresa tem promovido alterações, que podem ser notadas principalmente navariedade de papéis de toilet diferenciados, que inclui variações na textura, nacor e no aroma. Os papéis-toalha e os guardanapos vêm acompanhando essasmudanças, respeitando os limites do uso culinário, como resistência e odor.

As empresas buscam ter acesso a diferentes fontes de informação, paraprocessarem inovações de processo, de produto ou organizacionais. Ocorremtrocas de informações com clientes, com fornecedores especializados emmáquinas e equipamentos, em visitas a feiras e exposições e no acesso apublicações especializadas. Essas fontes de informações recebem destaquesdiversos, dependendo do segmento produtivo considerado.

A empresa de papéis para fins sanitários destaca como muito importante aaquisição de novos equipamentos de fornecedores externos, como importantea troca de informações com clientes e como pouco importante as publicaçõesespecializadas e os workshops de produtores. Por sua vez, a produtora de papéisde embalagens considera muito importante a troca de informações com clientese importante a troca de informações com fornecedores e a aquisição de máquinase equipamentos (Quadro 3).

As feiras e as exposições, tanto nacionais quanto internacionais, sãoconsideradas lugares onde as empresas se encontram e trocam idéias,informalmente, sobre a atividade de negócios em que estão inseridas. Trata-sede um espaço onde elas interagem com outras, visando conhecer o estado daarte da tecnologia de produto e processos e outras realidades empresariais.Esses encontros ainda são formas de atrair clientes e de estabelecer contatocom fornecedores, que, em ambos os casos, se podem transformar em parcerias,temporárias ou duradouras. Para as empresas-líderes dos segmentos de papelde embalagem e de papel-cartão, tais espaços são considerados importantesfontes de informação tecnológica.

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Processos de aprendizagem tecnológica na indústria de papel em Santa Catarina:...

As empresas, por sua vez, procuram criar formas para se capacitaremtecnologicamente, destacando-se, dentre estas, a aquisição de máquinasatualizadas, a cooperação com fornecedores de equipamentos e insumos e osesforços realizados nas unidades de produção da empresa. Das empresas-líderesde papel em estudo, a forma de capacitação considerada mais importante é acooperação com fornecedores de equipamentos, e, em segundo lugar, é relevantea aquisição de máquinas compradas nos mercados nacional e internacional(Quadro 4). Esse resultado reflete a dependência desse segmento produtivo daindústria fornecedora de tecnologia de processo, em particular a indústria debens de capital, que, além de fornecer as máquinas, mantém estreitas relaçõesde cooperação tecnológica, expressa por fluxo de informações, assistênciatécnica, cursos de treinamento operacional, etc.

Quadro 3

Principais fontes de informação para a inovação de processo, de produto ou organizacional da produção para as empresas-líderes de papel

de Santa Catarina — 2001

FONTES DE INFORMAÇÃO

PAPÉIS SANITÁRIOS

PAPEL PARA EMBALAGEM

PAPÉIS ESPECIAIS

PAPEL- -CARTÃO

Troca de informa- ções com clientes

Importante Muito importante

Muito importante

Muito importante

Publicações espe- cializadas

Pouco importante

Importante Muito importante

Pouco importante

Workshops de pro- dutores

Pouco importante

Importante Muito importante

Sem importância

Troca de informa- ções com fornece- dores de equipa- mentos

Não se aplica Importante Muito importante

Importante

Aquisição de no- vos equipamentos de produtores na- cionais e interna- cionais

Muito importante

Importante Muito importante

Não se aplica

Feiras e exposi- ções nacionais e internacionais

Pouco importante

Importante Pouco importante

Importante

FONTE: Pesquisa de campo.

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Quadro 4

Formas de capacitação tecnológica para as empresas- -líderes de papel de Santa Catarina — 2001

FORMA DE

CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA

PAPÉIS SANITÁRIOS

PAPÉIS PARA EMBALAGEM

PAPÉIS ESPECIAIS

PAPEL- -CARTÃO

Em cooperação com fornecedores de equipamentos

Importante Importante Muito importante

Muito importante

Aquisição de má- quinas compradas no mercado na- cional

Pouco importante

Pouco importante

Muito importante

Muito importante

Aquisição de má- quinas compradas no mercado inter- nacional

Muito importante

Muito importante

Não se aplica Importante

Nas unidades de produção da em-presa

Muito importante

Sem importância

Muito importante

Não se aplica

Em cooperação com fornecedores de insumos

Importante Pouco importante

Sem importância

Sem importância

FONTE: Pesquisa de campo.

As empresas de papel sanitário e de embalagem apontam como muitoimportante a aquisição de máquinas no mercado internacional e como importantea cooperação com fornecedores de equipamentos. Por sua vez, as fabricantesde papéis especiais e de papel-cartão consideram muito importante a aquisiçãode máquinas no mercado nacional, bem como a cooperação com os fornecedoresdesses equipamentos. Ressalta-se que, para as empresas de papel em geral,existem, no País, filiais de multinacionais produtoras de máquinas e equipamentosque produzem em linha com o estado atual do padrão tecnológico do setor, oque possibilita a aquisição desses produtos no mercado nacional.

A forma de capacitação que ocorre nas unidades de produção da empresapode ser entendida através da forma de aprendizado learning by doing. As novasmaneiras de produzir vão sendo descobertas a partir do processo de fazer oproduto e são consideradas muito importantes para as empresas de papéissanitários e especiais. O aprendizado surge em um ambiente de estímulo às

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idéias dos empregados na solução dos problemas cotidianos, tornando-as pos-síveis de serem implantadas. Em geral, os próprios operadores vão percebendooportunidades no processo ou na operação, que podem ser melhoradas. Paraque o aprendizado tenha uma função importante dentro da empresa, é precisoque se torne parte da rotina da mesma, de modo a permitir que o fluxo de idéiastransite por ela de forma ágil e consistente. Portanto, a empresa é uma geradorade novos conhecimentos tecnológicos sobre como fazer melhor o que faz; noentanto, fica condicionada à trajetória tecnológica passada e só pode realizar nofuturo, dependendo de suas capacidades acumuladas.

Das empresas pesquisadas, nenhuma possui estrutura institucionalizadade P&D ou destina recursos fixos anuais para essa atividade. Apenas a depapéis especiais investe recursos nessa área, direcionando verbas aleatóriasanuais para a atividade, o que implica diferentes valores, dependendo da suasituação financeira. As demais afirmaram não existirem recursos oficialmentedefinidos para P&D. Esses são diluídos entre os laboratórios e o departamentode engenharia de projeto. Com relação a investimentos futuros em P&D, nenhumadas empresas tem previsto, no planejamento anual, verbas destinadas a essasatividades. Essa observação encontra respaldo em Nascimento (1999), queaponta, em seu estudo, que os departamentos da P&D, dentro das empresas,estão envolvidos com os laboratórios de controle de qualidade, com osdepartamentos de produção e de marketing e não exclusivamente com suafinalidade, não existindo de maneira formal.

Por sua vez, as empresas possuem laboratórios internos, com vistas àrealização de testes do produto, como resistência física, maciez, brancura,absorção, porosidade, controle de pintas e manchas, dentre outros. Da mesmaforma, possuem departamento de engenharia de projeto voltado para manutenção,atualização e solução de problemas técnicos relacionados a máquinas e àsinstalações industriais. Ainda assim, utilizam serviços externos especializadosde escritórios de engenharia. Conforme informações obtidas na pesquisa decampo, a empresa de papéis de embalagens recorre sempre aos serviços dessesescritórios, a de papéis sanitários, eventualmente, e as de papéis especiais ede papel-cartão, apenas raramente.

As atividades mais freqüentes realizadas através de cooperação estreitacom fornecedores são a realização de ensaios para o desenvolvimento e amelhoria de produto e a assistência técnica do processo produtivo, principalmentepara as empresas de papéis sanitários, embalagens e especiais (Quadro 5). Talcooperação tem possibilitado às empresas desenvolverem processos deaprendizado tecnológico na forma learning by interacting, expresso pela interaçãoentre produtor e fornecedor em atividades inovativas. Os canais de comunicação

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criados têm possibilitado maior intensidade nos fluxos de informação entre asempresas, nas soluções de problemas técnicos, no maior número de ensaiospara desenvolvimento e melhoria de produtos e na criação de novas parcerias.

Quadro 5

Relações de cooperação com fornecedores das empresas- -líderes de papel de Santa Catarina — 2001

FORMA DE

RELAÇÃO DE COOPERAÇÃO

PAPÉIS SANITÁRIOS

PAPEL PARA EMBALAGEM

PAPÉIS ESPECIAIS

PAPEL- -CARTÃO

Troca de informa- ções

Estável Estável Forte aumento

Ausente

Desenvolvimento e melhoria de produto

Forte aumento

Estável Forte aumento

Ausente

Assistência técnica do processo produ- tivo

Forte aumento

Aumento Aumento Ausente

Ações conjuntas pa- ra treinamento de pessoal

Forte aumento

Não se aplica Não se aplica Ausente

Ações conjuntas em desenho e estilo

Não se aplica Não se aplica Não se aplica Ausente

FONTE: Pesquisa de campo.

No tocante ao grau de instrução escolar da mão-de-obra das empresas,observa-se, em 2000, na empresa produtora de papéis sanitários, a inexistênciade funcionários com baixo nível de instrução escolar (Tabela 4). Isso ocorreporque ela não possui área de reflorestamento, onde é necessário o trabalhobraçal, e a instrução escolar em níveis mais altos é desnecessária. Já a empresade papéis tissue sanitários tem elevado número de funcionários com o ensinomédio completo (70% dos funcionários), devido à exigência do maquinário dealta tecnologia com que opera. Dessa forma, é necessário que os funcionáriossejam treinados — muitos deles, inclusive, com formação técnica de ensinomédio — na área de atuação. No entanto, não há registro de funcionário compós-graduação. A empresa produtora de embalagens tem um número muito maisexpressivo de funcionários com o ensino fundamental incompleto (40,5%) do

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que com o ensino médio completo (27,1%). No primeiro grupo, estão os funcio-nários da área florestal e, no segundo, os trabalhadores do chão-de-fábrica. Étambém relevante o número de empregados com pós-graduação, que chega a1,3% do total (acima da média das quatro empresas entrevistadas, que éde 0,9%).

Tabela 4 Grau de instrução escolar da mão-de-obra das empresas-

-líderes de papel de Santa Catarina — 2000

PAPÉIS SANITÁRIOS

PAPEL PARA EMBALAGEM

PAPÉIS ESPECIAIS

NÍVEIS DE

FORMAÇÃO Número % Número % Número % Ensino fundamental in- completo ...................... - - 476 40,5 78

69,0

Ensino fundamental completo ...................... - - 135 11,5 10 8,9 Ensino médio incomple- to .................................. 18 10,0 122 10,4 5 4,4 Ensino médio completo 126 70,0 319 27,1 15 12,9 Superior incompleto ..... 18 10,0 26 2,2 - - Superior completo ....... 18 10,0 83 7,1 3 2,7 Pós-graduação ............. - - 15 1,3 2 1,7 TOTAL ......................... 180 100,0 1 176 100,0 113 100,0

PAPEL- -CARTÃO

TOTAL NÍVEIS DE

FORMAÇÃO Número % Número % Ensino fundamental in- completo ...................... 183 86,3 737 43,8 Ensino fundamental completo ..................... 10 4,7 155 9,2 Ensino médio incomple- to .................................. 2 1,0 147 8,7 Ensino médio completo 10 4,7 470 28,0 Superior incompleto ..... 3 1,4 47 2,8 Superior completo ....... 3 1,4 107 6,4 Pós-graduação ............. 1 0,5 18 1,1 TOTAL ......................... 212 100,0 1 681 100,0

FONTE: Pesquisa de campo.

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A empresa do segmento de papéis especiais tem a estrutura de funcionáriosbastante similar à da de embalagens, com mais de dois terços dos empregadoscom o ensino fundamental incompleto (69%) e com o segundo maior grupo como ensino médio completo (12,9%). Nesse caso, a justificativa é dada tambémpela existência de áreas de reflorestamento, onde o nível de instrução não éimportante. É interessante notar que, apesar de o número ser baixo — apenasdois —, 1,3% dos funcionários tem pós-graduação completa, sendo a empresaque apresenta o índice mais alto nesse nível de instrução. A empresa de papel--cartão mostra um quadro no qual se tem um número elevado de pessoal combaixo grau de instrução escolar, possui 183 funcionários (86,3%) com o ensinofundamental incompleto, sendo que ela não tem áreas de reflorestamento próprias,e, portanto, esses funcionários estão na área industrial da mesma. Nesse caso,a experiência e o conhecimento do processo produtivo têm valor representativosuperior para a empresa em seu processo produtivo. Somando os funcionárioscom ensino fundamental completo (4,7%), chega-se a 91% dos funcionárioscom baixo nível de instrução. No outro extremo, menos de 2% do total, estão osfuncionários com terceiro grau completo (1,4%) e os com pós-graduação (0,5%).

Constata-se que as empresas de papel possuem um quadro heterogêneono tocante a graus de instrução escolar. Porém, mesmo com tantas diferenças,todas as firmas entrevistadas concordam que é necessário ampliar o nível deinstrução dos funcionários. A empresa do setor de embalagens entende comoprioritária a intensificação da instrução da mão-de-obra na área florestal, enquantoestá satisfeita com os empregados das demais áreas. Apenas com exceçãodessa empresa, as demais acreditam ser necessário instruir o pessoal de todasas áreas, elevando o nível técnico dos funcionários. Apesar de se mostrarsatisfeita com o grau de instrução de seus funcionários, a produtora de papéispara fins sanitários manifesta sua vontade de continuar trabalhando com recursoshumanos capacitados tecnicamente.

As empresas apontaram o número de funcionários lotados nos laboratóriosde acordo com a qualificação de cada empregado (Quadro 6). A produtora depapéis de embalagens possui oito empregados nos laboratórios, sendo queseis são técnicos de nível médio e dois são técnicos pós-graduados. A empresade papéis especiais possui cinco funcionários nos laboratórios, sendo três denível médio e dois com pós-graduação. Por fim, a empresa de papel-cartãoafirma que, em seus laboratórios, trabalham 10 empregados com formação escolarde ensino médio e dois técnicos de nível médio, todos de formação local. Aempresa de papéis tissue possui seis empregados de nível técnico com formaçãolocal.

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Quando perguntadas sobre os principais locais de treinamento para osempregados, três delas, com exceção da de papéis especiais, indicaram a própriaempresa como o local mais apropriado e mais usado (Quadro 7). O segundolugar mais utilizado para treinamento são as instituições locais e/ou regionais.Essas informações podem levar à conclusão de que, em primeiro lugar, para asempresas, é importante a contratação dos serviços de treinamento dentro dolocal de trabalho, tornando-o mais personalizado e adequado às reais necessidadesdas empresas, e, em segundo lugar, que a busca por instituições locais podeser maior pela facilidade de acesso ou pela existência de centros de treinamentoligados à função. O treinamento no próprio local de trabalho é um facilitador comrelação a deslocamentos dos funcionários, possibilitando demonstrar, na práti-ca — nos equipamentos e no ambiente —, as mudanças ou melhorias que sepretende implantar.

Quadro 6

Qualificação do pessoal técnico das empresas-líderes de papel de Santa Catarina — 2000

PAPÉIS SANITÁRIOS

PAPEL PARA EMBALAGEM

PAPÉIS ESPECIAIS

PAPEL- -CARTÃO NÍVEIS

DE FORMAÇÃO Ori-

gem Nú- mero

Ori-gem

Nú- mero

Ori- gem

Nú- mero

Ori- gem

Nú- mero

Formação escolar de ensino mé-dio

Re- gional

10

Técnicos de nível médio

Local 6 Re- gional

6 Re- gional

3 Re- gional

2

Técnicos de nível supe-rior

Local 2

Pós-gradua-dos

Na- cional

2 Na- cional

2

TOTAL 8 5 12

FONTE: Pesquisa de campo. NOTA: Pessoal técnico lotado em laboratórios, departamentos de pesquisa e desenvolvimento, equipes de desenvolvimento de produtos e processos, etc.

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A empresa de papéis de embalagens afirma que seus empregados rece-bem cerca de 30 horas de treinamento por ano, sendo mais intensivo em níveisde produção e menor nos demais. Na empresa de papel-cartão, os empregadosrecebem 10 horas de treinamento por ano, sendo que os da parte administrativarecebem menos de uma hora/empregado/ano. Na produtora de papéis especiais,o tempo de treinamento médio por empregado é de quatro horas por ano, sendoque os da produção recebem sete horas, enquanto os da manutenção, seishoras, e os demais, da parte administrativa e de laboratórios, recebem menosde uma hora de treinamento por empregado/ano. A empresa de papéis tissueafirma que os empregados recebem até 10 horas de treinamento por ano, e osvinculados à área de produção, até 20 horas.

Todas as quatro empresas entrevistadas possuem departamentos deengenharia próprios, mas ainda assim utilizam serviços externos especializadosde escritórios de engenharia. Conforme informações resultantes do questionário

Quadro 7

Esforço atual de treinamento nas empresas-líderes de papel de Santa Catarina — 2000

DISCRIMINAÇÃO PAPÉIS SANITÁRIOS

PAPÉIS PARA EMBALAGENS

PAPÉIS ESPECIAIS

PAPEL- -CARTÃO

Horas de treiname- mento por trabalha-dor/ano

Nulo

Até 10 horas X X X

De 11 a 20 horas X

De 21 a 30 horas X

Acima de 31 horas

Local de treinamen-to

Empresa X X X

Instituições locais X X

Instituições nacionais X

Instituições estrangei-ras

FONTE: Pesquisa de campo

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Processos de aprendizagem tecnológica na indústria de papel em Santa Catarina:...

aplicado sobre a freqüência da solicitação dos serviços desses escritórios, aempresa de papéis de embalagens recorre sempre, a de papéis tissue,eventualmente, e a de especiais e de papel-cartão, apenas raramente.

Todas as empresas possuem relações de cooperação com seus clientes,no sentido de atender melhor às suas necessidades (Quadro 8). A troca deinformações técnicas e organizacionais e o desenvolvimento e a melhoria deprodutos são citados como formas de relação de cooperação mais freqüentespela maioria das empresas. Tal relação aponta a existência de learning by using,em que o aprendizado acontece quando o produto ou o serviço já foi concluídoou prestado. O aprendizado dá-se fora da fábrica, com ausência de estruturasformais de P&D industrial. Assim, é o mercado que percebe e sinaliza ao produtora necessidade ou a possibilidade de mudança. Mesmo com potencial de P&Denvolvido no processo produtivo, o conhecimento científico e tecnológico nãoprevê todas as possibilidades de uso do produto, e o uso prolongado do mesmopermite que evoluções sejam percebidas.

Quadro 8

Relações de cooperação com clientes das empresas-líderes de papel de Santa Catarina — 2001

FORMAS DE RELAÇÃO DE

COOPERAÇÃO

PAPÉIS SANITÁRIOS

PAPEL PARA EMBALAGEM

PAPÉIS ESPECIAIS

PAPEL- -CARTÃO

Troca de informa- ções técnicas

Freqüente Freqüente Freqüente

Desenvolvimento e/ou melhoria de produtos

Freqüente Freqüente Freqüente

Assistência técni- ca do processo produtivo

Freqüente Freqüente

Treinamento de pessoal

FONTE: Pesquisa de campo.

As empresas-líderes da indústria de papel em estudo realizam cooperaçãocom institutos de pesquisa e ensino para suas demandas de serviços tecnológicose para treinamento de seus funcionários. A recorrência a esses institutos varia

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em forma e intensidade, dependendo da empresa e do segmento de papelconsiderado, sendo freqüente nas empresas de papéis especiais, nas de papelpara fins sanitários e nas de embalagens e inexistente nas de papel-cartão. Asempresas utilizam serviços de instituições de ensino e pesquisa, universidadese institutos regionais para testes e certificações, com exceção da produtora depapéis para fins sanitários, que realiza esses testes em instituições estrangeiras.

No entanto, para treinamento de pessoal, com exceção da empresa deembalagens, as demais usam os serviços das instituições locais. Por outrolado, as empresas acreditam que os institutos de ensino e pesquisa locais nãoapresentam infra-estrutura e qualificação necessárias para atender às suasnecessidades de pesquisa e desenvolvimento e podem contar com fornecimentoexterno de informações tecnológicas, através da matriz e/ou de outras unidadesdo mesmo grupo e/ou por meio dos fornecedores de insumos e equipamentos.

As duas únicas empresas que possuem parcerias com empresasestrangeiras são a de embalagens (na época da entrevista, a empresa tinha50% de capital estrangeiro na sua composição) e a de papéis sanitários (quepossui associação com uma empresa estrangeira). A primeira afirma ser muitofreqüente a cooperação com a matriz no exterior, com a presença de funcionáriosda mesma na empresa, com a saída de seus técnicos para treinamento e arealização de ensaios nos laboratórios da matriz, além de treinamentos econsultas via rede, enquanto que a segunda considera ausentes todas essasatividades.

Considerando os elementos constitutivos que indicam a capacitaçãotecnológica das empresas-líderes de papel em Santa Catarina, pode-secaracterizar a intensidade de envolvimento dessas na formulação de açõesestratégicas que explorem as possibilidades para adentrar em processosinovativos. Os números expressos na Tabela 5 apontam os níveis de utilização//importância de cada função científica e tecnológica dentro das empresasestudadas.

O comportamento da empresa de papéis para fins sanitários é mais forteem desenvolvimento experimental e em educação e formação, e a empresa depapéis de embalagens dá mais ênfase à engenharia de produto e ao controle dequalidade. Tais orientações sinalizam a preocupação dessas empresas-líderesem seguir as tendências existentes e não em promover ações voltadas a lideraro mercado. Suas ações no campo tecnológico são mais direcionadas para ouso da engenharia que adapte os produtos e não para o de introdução de novosprodutos, decorrentes de forte infra-estrutura de P&D interno. O departamentode P&D dessas empresas tende a ser mais especializado em adaptação deprodutos e bastante próximo ao processo produtivo, cujo objetivo é seguir astendências do mercado.

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Processos de aprendizagem tecnológica na indústria de papel em Santa Catarina:...

As empresas-líderes de papel-cartão e de papéis especiais, por seremsegmentos que exploram as possibilidades de diferenciação produtiva, cujoobjetivo é incorporar valor agregado ao produto, realizam esforços inovativosmaiores que os das empresas dos segmentos de sanitários e de embalagens,sendo que a natureza do produto destas últimas assume o padrão de commodity.Na empresa de papel-cartão, a característica mais forte é o desenvolvimentoexperimental, através da criação de novas oportunidades de uso do mesmoproduto, enquanto, na empresa de papéis especiais, suas ações se concentramno desenvolvimento de controle de qualidade e na obtenção de informaçõescientíficas e tecnológicas. Tais empresas, apesar de adotarem mais ações deconteúdo tecnológico do que as de sanitários e embalagem, não chegam aconfigurar explicitamente o objetivo de adoção de estratégia ofensiva, pois visamficar próximas das empresas que assumem a liderança na indústria, e nãoalcançá-la.

Como a característica das empresas-líderes de papel de Santa Catarina éabsorver inovações tecnológicas que são geradas fora, no caso da indústria de

Tabela 5

Avaliação das funções científicas e tecnológicas em empresas-líderes de papel de Santa Catarina — 2001

FUNÇÕES PAPÉIS SANITÁRIOS

PAPEL PARA EMBALAGENS

PAPÉIS ESPECIAIS

PAPEL- -CARTÃO

Pesquisa básica ......... 1 1 1 1 Pesquisa aplicada ...... 3 2 2 2 Desenvolvimento ex-perimental .................. 3 1 2 3 Engenharia de projeto 3 3 3 2 Controle de qualidade 4 5 3 3 Serviços técnicos ....... 3 3 3 3 Patentes ..................... 1 1 1 1 Informações científi-cas e tecnológicas ...... 3 3 3 3 Educação e formação e planificação ............. 3 2 2 2 Previsão de longo pra-zo ............................... 1 1 1 1

FONTE: Pesquisa de campo. NOTA: Atributos: número 5 corresponde a nível muito forte; 4, a nível forte; 3, a nível médio; 2, a nível fraco; e 1, a inexistente.

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fornecedores de bens de capital e de insumos, não seria possível que adotasseestratégias de inovadores ofensivos, que exigem elevado índice de investimentosem pesquisa, básica e aplicada, além de desenvolvimento experimental eengenharia de projeto. Em geral, as empresas de papel de Santa Catarina obtêmvantagens estáticas decorrentes do baixo custo dos insumos principais eexploram os ganhos derivados dos processos de aprendizagem tecnológica, oque lhes permite usufruir posições de mercado confortáveis. Procuram, em geral,seguir e incorporar o que está sendo produzido e utilizado pelo padrão setorialem nível mundial, sem que exista a necessidade de melhorar seu desempenhofrente a determinadas funções, que possibilitariam explorar as oportunidadestecnológicas que se abrem no ambiente tecnológico no qual estão inseridas.

5 - Considerações finais

A capacitação tecnológica das empresas-líderes do setor de papel emSanta Catarina ocorre a partir do acesso a diferentes fontes de informaçãotecnológica relevantes. As fontes de informação consideradas de maiorimportância foram aquelas decorrentes da interação com fornecedores, atravésda aquisição de equipamentos e insumos, e com clientes, por meio de feedbackou de sugestões de novos produtos. Dentre as formas de capacitação tecnológica,as mais usadas são a cooperação com fornecedores de equipamentos — ondeocorre o aprendizado do tipo learning by interacting, expresso pela troca deinformações tecnológicas —, o oferecimento de cursos, a solução conjunta deproblemas técnicos, os esforços cooperativos voltados à otimização deprocessos, etc.

Ressalta-se ainda a ocorrência do aprendizado na forma learning by using,expresso pelas relações com clientes, quando do uso de seus produtos. O fluxode informação existente permite que empresas melhorem a qualidade e aperformance dos produtos, a partir de revelações feitas pelos clientes deproblemas não detectados, ex ante, nos processos produtivos.

As unidades de produção da empresa, por sua vez, também se constituemem locais de promoção de formas de capacitação tecnológica. O aprendizadodo tipo learning by doing ocorre através da experiência e da habilidade dostrabalhadores em procedimentos rotineiros. Acontece por meio de pequenasmodificações nos processos produtivos, que resultam em melhorias naperformance produtiva. Essa ocorrência encontra amparo nos esforços decapacitação tecnológica realizados, seja a partir da destinação de recursospara treinamento de pessoal ou para laboratórios de testes e ensaios, seja atra-

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vés de uma política de treinamento e qualificação de seus empregados deforma geral.

O comportamento das empresas em relação às funções científicas etecnológicas internas define as estratégias tecnológicas que adotam. Sendoassim, as empresas-líderes de papéis para fins sanitários e de embalagens sãomais fortes, em Santa Catarina, nas funções de engenharia de produto, controlede qualidade e educação e formação. Isso indica a estratégia de inovação padrãoexistente nas empresas que produzem produtos com estreita capacidade dediferenciação. Por outro lado, as empresas-líderes de papel-cartão e de papéisespeciais seguem estratégias comprometidas com as funções de desen-volvimento experimental, de controle de qualidade e de informações científicase tecnológicas. Essas ações são voltadas para agregar valor aos seus produtos.

Numa avaliação geral das empresas estudadas, observa-se que apreocupação reinante é criar condições para desenvolver, com competência, aengenharia de produção, ressaltando os objetivos de redução de custos, eficiênciaprodutiva e controle de qualidade, além de alguns esforços em engenharia,voltados para a inovação, que algumas empresas obtêm através dodesenvolvimento experimental e da maior busca de informações tecnológicas.Contudo tais empresas, em face da posição de destaque que assumem nocontexto da produção estadual de papel, poderiam adotar estratégias tecnológicasofensivas, voltadas a aumentar suas condições competitivas no mercado. Paratanto, sugere-se, como política de desenvolvimento tecnológico, as seguintesações: (a) destinar gastos permanentes para P&D; (b) criar uma infra-estruturatecnológica com laboratórios atualizados; (c) incentivar os trabalhadores aparticiparem de programas de qualificação profissional; (d) participar com maiorfreqüência de feiras e congressos internacionais; e (e) intensificar as relaçõescom fornecedores de insumos e de máquinas e equipamentos e com clientes.

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Inserção das regiões brasileiras nocomércio internacional: os casosda Região Nordeste e do Estado

de Pernambuco*

Álvaro Barrantes Hidalgo** Doutor em Economia pela Universidade de São Paulo, Professor do Programa de Pós- -Graduação em Economia (PIMES) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Pesquisador do CNPq.Daniel Ferreira Pereira Gonçalves da Mata*** Bolsista do Programa Especial de Treinamento do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco.

ResumoEste trabalho tem por objetivo identificar os produtos da Região Nordeste e doEstado de Pernambuco que detêm vantagem comparativa no mercado interna-cional. Três indicadores foram utilizados para a mensuração da especializaçãointernacional da economia. O primeiro é o índice de vantagem comparativa reve-lada simétrica, o qual fornece a estrutura relativa das exportações de uma re-gião ou país. O segundo engloba o indicador de contribuição ao saldo comercialque focaliza o saldo comercial observado por produto “vis-à-vis” ao saldo comer-cial teórico do mesmo. Por último, é utilizado o índice de mensuração do grau de

* Versões anteriores deste trabalho foram apresentadas no V Encontro de Economistas deLíngua Portuguesa, realizado em Recife, em novembro de 2003, no XV Congresso Brasileirode Economistas, realizado em Brasília, em setembro de 2003, e em diversos outros seminá-rios. Os autores agradecem os comentários e as sugestões do parecerista anônimo destarevista, os quais contribuíram para o aprimoramento desta versão, e a Breno Albuquerquee Fábio de Oliveira pelo auxílio no desenvolvimento do trabalho, bem como o apoio financeirorecebido do CNPq. Os erros e as omissões porventura remanescentes são, naturalmente,de inteira responsabilidade dos autores.

** E-mail: [email protected]*** E-mail: [email protected]

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atividade comercial intra-industrial. No presente trabalho, foram identificadas 15classes de produtos no Estado de Pernambuco e 23 classes na Região Nordes-te que detêm vantagem comparativa revelada.

Palavras-chaveComércio internacional; Região Nordeste; vantagem comparativa revelada.

AbstractThe aim of this article is to identify the goods of the Northeastern Brazil and ofPernambuco state which have comparative advantage in the foreign market.Several indexes were employed in order to measure the regions’ internationalspecialization. The first one is the symetric revealed comparative advantage,which displays the relative structure of a region or a country´s exports. Thesecond form entails the index of trade balance contribution, which focuses onthe goods´ trade balance. Lastly, we measure the degree of intra-industry tradewithin a region. Accordingly, this article identified 15 groups of products inPernambuco and 23 groups in the Northeast that have revealed comparativeadvantage.

Key wordsInternational trade; Brazilian Northeast; revealed comparative advantage.

Classificação JEL: F14.

Artigo recebido em 20 nov. 2003.

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1 - Introdução

Grosso modo, entende-se por especialização internacional via vantagemcomparativa o comércio realizado entre regiões com a finalidade de tirar provei-to de suas diferenças em seus diversos recursos disponíveis.

O conhecimento dos produtos que detêm vantagem comparativa no co-mércio internacional é de extrema relevância para a formulação de estratégiasde crescimento e para o bem-estar econômico de uma determinada região oupaís. A determinação de tais produtos permite estabelecer estratégias sólidasde inserção internacional para a economia em um mundo que é, cada vez mais,globalizado e competitivo.

Assim, este estudo objetiva, principalmente, identificar os produtos da RegiãoNordeste do Brasil e do Estado de Pernambuco que possuem vantagem compa-rativa no mercado internacional.1 Tais regiões foram escolhidas para o escopodeste trabalho, a fim de se obter, para o caso da Região Nordeste, uma impor-tante atualização dos produtos com vantagem internacional e, para o caso dePernambuco, de contribuir na mensuração de classes de produtos com vanta-gem comparativa. Vale ressaltar que este artigo não visa ditar explicitamentepolíticas específicas de fomento às exportações das regiões, mas, sim, mensuraros bens detentores da vantagem comparativa com a devida análise, em linhasgerais, de políticas.

Para tanto, três índices foram utilizados. O primeiro é o de vantagem com-parativa revelada simétrica (VCRS), o qual fornece a estrutura relativa das ex-portações de uma região ou país. O segundo engloba o indicador de contribui-ção ao saldo comercial (ICSC), que focaliza o saldo comercial observado porproduto ou grupo de bens, vis-à-vis ao saldo comercial teórico do(s) mesmo(s).Por último, utilizou-se o índice relativo à mensuração do grau de atividade co-mercial intra-industrial, o qual é empregado para analisar o grau da mesma nasregiões. Tais índices serão apreciados no segundo item do trabalho.

Os indicadores que focalizam a mensuração da especialização internacio-nal da economia das duas regiões foram traçados a partir de dadosdisponibilizados pelo Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e do Comér-cio Exterior (MDIC). O período objeto de análise compreende de 1996 a 2002,ocasião similar ao emprego da Nomenclatura Comum do Mercosul. A vantagem

1 É valioso frisar que, em nenhum momento, no presente artigo, os produtos avaliados foramclassificados como detentores de mais ou menos vantagem comparativa. A ordem em queos bens são expostos é homóloga à da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM).

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contida na utilização da NCM consiste em seu nível de agregação, isto é, nadivisão em diversas categorias que representam classes estatísticas de produ-tos comercializáveis.2 Ademais, a NCM é baseada no Sistema Harmonizado deDesignação e de Codificação de Mercadorias (SH), metodologia assumida pelamaioria dos países.3

Os índices foram calculados em nível de agregação de dois e quatro dígi-tos da NCM. Vale frisar que os resultados do presente trabalho estão expos-tos na terceira parte, de acordo com o agrupamento de produtos realizadopor Thorstensen (1994). Tal agrupamento é apresentado no Quadro A.1 do Apên-dice do presente artigo. Resultados em nível de agregação de dois e quatrodígitos da NCM são apresentados nas tabelas do Apêndice.

É essencial ter-se em mente que o comércio internacional apresenta cer-tas distorções (restrições) tanto em forma de barreiras tarifárias e não tari-fárias — subsídios, direitos “antidumping”, etc. — como na forma de desarran-jos de comércio bilateral e/ou multilateral. Uma das maiores importâncias noque tange à noção da existência dos diversos modos de distorções no âmbitoda economia internacional é que praticamente qualquer análise e/ou mensuração,nesse escopo, pode ser desfigurada. Não obstante tal relevância, neste artigo,não está escrutinada e ponderada a utilização de tais distorções presentes noâmbito do comércio entre países.

A última seção ficou reservada para a apresentação das conclusões obti-das.

2 - Metodologia

2.1 - Das vantagens comparativas reveladas

Diversas teorias ligadas às vantagens comparativas foram cunhadas nodecorrer da história econômica. Entre as mais importantes, está a teoria ricardianado comércio internacional, na qual se enfatiza que as vantagens comparativas

2 Grubel e Lloyd (1975, p. 2-5) utilizam terminologia similar. Com o intuito de simplificação, nodecorrer do presente trabalho, os termos produto, bem e correlatos são utilizados com afunção (da definição) de classes estatísticas de produtos comerciáveis.

3 A NCM é constituída por oito dígitos, sendo os seis primeiros emanados do SH (no caso,capítulo, posição e subposição). Os dois restantes foram formados através de definiçãoestabelecida pelos países pertencentes ao Mercosul. Ver Quadro A.1 do Apêndice paramaiores detalhes.

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são fruto de um único fator: as diferenças existentes entre as nações com rela-ção à produtividade do trabalho. Outra, a formulação apresentada por Heckscher--Ohlin, infere que os produtos de uma localidade com vantagem comparativa nocomércio exterior são influenciados pela abundância relativa dos fatores da região,ou seja, a correta utilização da diferença da dotação de recursos (especialmentecapital e trabalho) entre regiões é o determinante das vantagens comparativas.Ao mesmo tempo, diversos fatores, como economias de escala, concorrênciaimperfeita, dentre outros, são focalizados como sendo “instrumentos” de vantagemcomparativa.4

Foram utilizados três índices, a fim de mensurar as vantagens dos produ-tos comercializados internacionalmente pela Região Nordeste e por Pernambuco.O indicador de vantagem comparativa revelada (VCR), teorizado por Bela Balassa(1965), está exposto a seguir, enquanto os outros são mostrados no decorrerdas próximas subseções.

O conceito de VCR define que o comércio exterior “revela” as vantagenscomparativas. Ele pondera os resultados obtidos depois de verificado o comér-cio entre regiões. A intuição contida na fórmula (1), representação do conceitode VCR, é a seguinte: uma economia-objeto apresenta vantagem comparativarevelada, se sua exportação de um determinado produto, comparada coma exportação do mesmo produto de uma economia-referência, for maior doque o peso relativo das exportações totais da região-objeto versus o da região--referência.

4 Ver Krugman (1979).

sendo (valores em US$ FOB):

Xij = exportações do produto i da região j;

Xiz

= exportações do produto i da região z;

Xj = exportações totais da região j;

Xz = exportações totais da região z.

Quando VCRij>1, a vantagem comparativa do produto i é “revelada”. De

forma análoga, para VCRij<1, a mercadoria não detém vantagem comparativarevelada.

VCRij = (1)

XXXX

zj

izij

/

/

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Nota-se que, em sua composição, o indicador de vantagem comparativarevelada descarta a utilização das importações. As restrições às importaçõesvia políticas protecionistas são o principal motivo desse descarte.

Diversos estudos concernentes a esse tópico da economia internacionaldiscorreram sobre o índice VCR. Foi objeto de crítica o fato de esse indicadorpoder descrever claramente os padrões de comércio efetivo (realizado), nãopodendo, contudo, avaliar se esses padrões são, ou não, ótimos.5

2.2 - Das vantagens comparativas reveladas simétricas

O índice de vantagem comparativa revelada, apresentado na seção ante-rior, detém a limitação de que a desvantagem e a vantagem comparativapossuem dimensão assimétrica. A primeira varia entre 0 e 1, e a segunda, entre1 e infinito. A fim de superar essa limitação, Laursen (1998) desenvolveu umíndice normalizando a expressão da seguinte forma:

(2)( )( )

1

1

ij

ij

ij

VCRVCRS

VCR

−=

+

onde VCRSij representa o índice de vantagem comparativa revelada simétrica.

Feita essa normalização, o índice VCRSij varia no intervalo -1 e 1. Assim, se talíndice se encontra no intervalo entre 0 e 1, a economia terá vantagem compara-tiva revelada naquele produto. Por outro lado, se o índice se encontra no interva-lo -1 e 0, o produto apresentará desvantagem comparativa revelada.

Neste trabalho, as economias-objeto foram especificadas como sendo aRegião Nordeste e o Estado de Pernambuco. A economia de referência foi oBrasil. Os resultados obtidos são apresentados na terceira seção.

5 Ver Filho (1987, p. 917).

(2)

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(3)

2.3 - Do indicador de contribuição ao saldo comercial

O segundo indicador de vantagem comparativa utilizado é o de contribui-ção ao saldo comercial. Esse método é mais recente e leva em consideração asimportações. Ele foi desenvolvido por Lafay (1990) e é composto pela seguinteexpressão:

ICSCij = ])(

)()()[(

2/)(

100

MX

MXMXMX

MXii

ii ++

−−−+

em que Xi representa as exportações do bem i; M

i, as importações do mesmo

bem; e X e M, respectivamente, as exportações e as importações totais da

referida região. A última parte da fórmula, (X - M) (Xi + M

i)/(X + M), represen-

ta o saldo teórico do produto i, que ocorreria, caso a participação de cada produ-

to no saldo global fosse igual à sua participação relativa no fluxo total de comér-

cio. A expressão (Xi - M

i) simboliza a balança comercial efetiva do mesmo

produto.Quando ICSC

ij>0, o produto i detém vantagem comparativa revelada.

Analogamente, se ICSCij<0, o produto não detém vantagem. A intuição da

fórmula (3) é comprovada no confronto saldo efetivo versus saldo teórico: seocorrer de um produto apresentar saldo efetivo maior do que seu respectivoteórico, o produto apresentará um maior ICSC, acarretando uma detenção devantagem comparativa por parte do produto.

2.4 - Do comércio intra-industrial

Ao longo da história econômica, o intercâmbio Brasil-exterior foi dominadopela comercialização de produtos primários, em que as abundantes vantagenscomparativas brasileiras, tais como mão-de-obra não especializada e recursosnaturais, foram vitais para a manutenção desse tipo de comércio, teorizadocomo interindustrial. No entanto, uma tendência de crescimento do comérciointra-industrial (CII) nas relações de trocas entre países próximos foi estabelecida.

O comércio intra-industrial pode ser definido como sendo a troca de produrosclassificados dentro de um mesmo setor. Ultimamente, com o aumento da simi-

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laridade tecnológica, sobretudo nas nações ditas desenvolvidas, desaparece aclara percepção das vantagens comparativas (abundância de recursos), rever-berando um alargamento do comércio do tipo intra-industrial.

Esta seção busca mensurar e avaliar o comércio intra-industrial dePernambuco e o da Região Nordeste e compará-los com o apresentado peloBrasil.

O indicador agregado do comércio intra-industrial (CIIA), cunhado por Grubele Lloyd (1975) e utilizado na presente apreciação, consiste em:

1 (4)( )

i i

i

i i

i

X MCIIA

X M

−= −

+

∑∑

(4)

em que Xi representa as exportações do produto i, e M

i representa as importa-

ções do mesmo. Pode-se inferir que, quando CIIA = 0, tem-se um comércio dotipo interindustrial, em outras palavras, o comércio à la Heckscher-Ohlin. Essaassertiva torna-se verídica quando se observa a ocorrência exclusiva oude exportação, ou de importação do produto i. Outrossim, sendo o CIIA = 1,tem-se um comércio intra-industrial pleno.

De maneira análoga, o índice de comércio intra-industrial (CIIi) em nível

de cada indústria i é apresentado por:

( )1 (5)i i

ii i

X MCII

X M

−= −

+(5)

A Tabela 1 mostra o índice de comércio intra-industrial agregado, calculadopara as três regiões em análise.

Focalizando os dados da Tabela 1, vê-se que houve um aumento de co-mércio do tipo intra-industrial por parte de todas as localidades. Não obstante talcrescimento, predomina, nas três regiões, o comércio interindustrial. Essa evi-dência é clara principalmente em Pernambuco. Outrossim, a proporção do ga-nho entre as diversas regiões foi diferente. Pernambuco obteve um acréscimode, aproximadamente, 450% no período 1996-00, nesse tipo de intercâmbio deprodutos, seguindo com uma perda de participação nos anos de 2001 e 2002. ARegião Nordeste apresentou também um aumento de comercialização: de 1996a 2002, um aumento de quase 300% no comércio intra-industrial. Após uma

(4)

(5)

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Tabela 1

Índice agregado do comércio intra-industrial do Brasil, da Região Nordeste e de Pernambuco — 1996-02

ANOS BRASIL REGIÃO NORDESTE

PERNAMBUCO

1996 0,43 0,09 0,04 1997 0,45 0,14 0,18 1998 0,47 0,27 0,18 1999 0,45 0,28 0,20 2000 0,46 0,28 0,22 2001 0,48 0,35 0,16 2002 0,47 0,33 0,17

FONTE DOS DADOS BRUTOS: MDIC.

análise para o Brasil, verifica-se um ganho menos substancial para essa região:aproximadamente, 10%.

A discrepância nas percentagens obtidas representa uma convergêncianos índices de proporção de comércio intra-industrial perante as três regiões.

Analisando os dados construídos em nível desagregado6, vê-se que:- no Brasil, produtos tradicionalmente exportados, tais como café e açú-

car, apresentam um baixíssimo nível desse tipo de comércio, enquanto,por outro lado, as indústrias de produtos químicos inorgânicos, de outraspartes de veículos automotores, de máquinas geradoras de força nãoelétrica, de aeronaves e de outros aparelhos aéreos ou espaciais apre-sentam um altíssimo comércio intra-industrial;

- na Região Nordeste, calçados e açúcares detêm um baixo patamar des-sa forma de comércio, e um bom grau de comércio intra-industrial é apre-sentado na classe produtos químicos inorgânicos;

- em Pernambuco, o tradicional produto açúcar, como nas duas regiõesacima, apresenta baixo comércio intra-industrial. Plásticos, borrachas eobras de pedra, gesso, cimento, etc. possuem um alto nível de CII. A boa

6 Tal desagregação foi feita em nível de dois e quatro dígitos da NCM. Nas tabelasdo Apêndice, são apresentados os índices de comércio intra-industrial em nível de doisdígitos da NCM.

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surpresa fica por conta da indústria de máquinas, aparelhos e materialelétrico, a qual apresentou um índice médio razoável de 0,63 referente aoCII.

Observa-se também que as diversas regiões têm um baixo grau de comér-cio intra-industrial em alguns conjuntos de alto valor agregado e tecnológico,como, por exemplo, o Brasil, em máquinas, aparelhos e material elétrico.

O aumento de produtos com alto grau de comércio intra-industrial deve servisado por cada uma das regiões analisadas graças à tradicional ligação dessesprodutos com bens de alto valor agregado. Os transbordamentos (spillovers)emanados de tais bens são outros fatores que corroboram a apreciação dosreferidos. Verbi gratia, pode-se citar o refino de petróleo.7 As diversas localida-des, com a devida atenção à pesquisa e desenvolvimento, devem buscar aentrada desse tipo de produto em sua pauta de exportações.

3 - Resultados obtidos

As Tabelas 2 e 3 demonstram a evolução do índice de vantagem compara-tiva revelada simétrica, durante o período 1996-02, na Região Nordeste e emPernambuco respectivamente. O critério de classificação dos agregados utiliza-do nas Tabelas 2, 3, 4, e 5 é análogo ao implementado por Thorstensen (1994) epor Hidalgo e Vergolino (1996) e é exposto, em maiores detalhes, no Quadro A.1do Apêndice.

Os agregados da Região Nordeste que apresentam VCRS são: alimentos,fumo e bebidas; produtos químicos; plásticos e borracha; papel e celulose;têxtil; e metais comuns.

Na Nomenclatura Comum do Mercosul, vê-se que as vantagens se distri-buem como o apresentado a seguir:

- em alimentos, fumo e bebidas, peixes, crustáceos, moluscos; frutas;gomas, resinas; açúcares; cacau; bebidas e líquidos alcoólicos;

- em produtos químicos, produtos químicos orgânicos e inorgânicos; sa-bões;

- em plásticos e borracha, plástico;- em papel e celulose, pastas de madeira;- em têxtil, algodão; fibras sintéticas; tecidos especiais, rendas, tapeçari-as; vestuário e seus acessórios de malha;

- em metais comuns, cobre e alumínio;

7 Neste trabalho, Krugman (1993) dita o refino de petróleo como de alto valor agregado.

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- sal; combustíveis e óleos; peles e couros; pérolas, pedras e metais preci-osos possuem vantagem, mas não pertencem a um agregado detentorde vantagem comparativa revelada.

Tabela 2

Índice agregado de vantagem comparativa revelada simétrica da Região Nordeste — 1996-02

GRUPOS DE PRODUTOS 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Alimentos, fumo e bebidas 0,08 0,75 0,06 0,00 0,08 0,23 0,24 Minerais ............................. -0,14 -0,27 -0,23 -0,14 -0,10 0,29 0,12 Produtos químicos ............ 0,47 0,47 0,48 0,46 0,49 0,16 0,15 Plásticos e borracha .......... 0,26 0,20 0,13 0,16 0,12 0,05 -0,02 Calçados e couro .............. -0,50 -0,18 -0,03 0,06 0,08 -0,16 -0,14 Madeira e carvão vegetal .. -0,61 -0,60 -0,43 -0,69 -0,63 -0,52 -0,39 Papel e celulose ................ 0,11 0,21 0,22 0,22 0,22 -0,07 0,05 Têxtil .................................. 0,13 0,42 0,48 0,48 0,52 0,55 0,52 Minerais não-metálicos ..... -0,12 0,04 0,03 -0,18 -0,23 -0,12 -0,38 Metais comuns .................. 0,21 0,29 0,24 0,33 0,28 0,32 0,31 Máquinas e equipamentos -0,71 -0,68 -0,67 -0,71 -0,75 -0,77 -0,75 Material de transporte ....... -0,94 -1,00 -0,98 -0,98 -0,98 -0,62 -0,14 Ótica e instrumentos ......... -0,27 -0,52 -0,63 -0,50 -0,71 -0,89 -0,93 Outros ............................... -0,68 -0,46 -0,44 -0,36 -0,27 -0,71 -0,68

FONTE DOS DADOS BRUTOS: MDIC.

Verifica-se que Pernambuco apresenta VCRS nos seguintes agregados:alimentos, fumo e bebidas; produtos químicos; plásticos e borracha; têxtil.

No entanto, nenhum grupo de produtos logrou VCRS em todos os anos doperíodo 1996-02. Pode-se também constatar que os grupos alimentos, fumo ebebidas; plásticos e borracha; e têxtil apresentaram, nos últimos quatro anos daanálise, uma tendência positiva no que tange à manutenção de um índice deVCRS maior do que zero.

Em nível mais desagregado, de acordo com a NCM, Pernambuco detémvantagem comparativa revelada nos produtos citados a seguir:

- em alimentos, fumo e bebidas, peixes, crustáceos, moluscos; frutas;açúcares; bebidas e líquidos alcoólicos;

- em produtos químicos, produtos químicos orgânicos; pólvoras e fósfo-ros;

976 Álvaro Barrantes Hidalgo; Daniel Ferreira Gonçalves da Mata

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Tabela 3

Índice agregado de vantagem comparativa revelada simétrica de Pernambuco — 1996-02

GRUPOS DE PRODUTOS 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Alimentos, fumo e bebidas 0,44 0,32 -0,90 0,30 0,32 0,41 0,47 Minerais ............................. -1,00 -1,00 0,19 -0,98 -0,96 -0,95 -0,57 Produtos químicos ............. -0,96 0,00 0,37 -0,28 0,03 0,04 -0,59 Plásticos e borracha .......... 0,36 0,48 -1,00 0,57 0,54 0,43 0,34 Calçados e couro ............... -0,60 -0,04 -0,16 -0,96 -0,08 0,16 -0,59 Madeira e carvão vegetal -1,00 -1,00 0,03 -0,98 -0,96 0,19 -0,99 Papel e celulose ................ -1,00 -1,00 -0,79 -1,00 -0,98 -0,89 0,47 Têxtil .................................. 0,16 0,54 -1,00 0,62 0,64 0,76 0,76 Minerais não-metálicos ...... -0,61 -0,41 -1,00 -0,29 -0,22 -0,04 -0,14 Metais comuns .................. -0,85 -0,82 -0,83 -0,39 -0,46 0,35 0,24 Máquinas e equipamentos -0,23 -0,20 -1,00 0,06 0,02 -0,07 0,10 Material de transporte ........ -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -0,99 -0,91 Ótica e instrumentos .......... -1,00 -0,98 -0,98 -0,96 -0,98 -1,00 -0,97 Outros ................................ -0,48 -0,09 -0,10 -0,03 0,08 -0,70 -0,74

FONTE DOS DADOS BRUTOS: MDIC.

8 Mesmo critério de agregação utilizado no índice de vantagem comparativa revelada.

- em plásticos e borracha, plástico; borracha;- em têxtil, fibras sintéticas; tecidos especiais, rendas, tapeçarias; ves-tuário e seus acessórios (malha e sem malha);

- peles e couros; obras de espartaria ou de cestaria; obras de pedra, gesso,cimento, amianto; obras diversas de metais comuns; máquinas, apare-lhos e material elétrico apresentam vantagem no nível desagregado sempertencer a um agregado detentor de vantagem comparativa revelada.

De acordo com os resultados do indicador agregado de contribuição aosaldo comercial (IACSC)8, na Região Nordeste (Tabela 4), têm-se os seguintesagregados com o IACSC positivo: alimentos, fumo e bebidas; produtos quími-cos; plásticos e borracha; calçados e couro; madeira e carvão vegetal; papel ecelulose; minerais não-metálicos; metais comuns e outros.

977

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Inserção das regiões brasileiras no comércio internacional:...

Tabela 4

Indicador agregado de contribuição ao saldo comercial da Região Nordeste — 1996-02

GRUPOS DE PRODUTOS 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Alimentos, fumo e bebidas 4,24 14,47 15,30 12,59 15,05 22,3 18,7 Minerais ............................. -10,67 -36,54 -28,23 -35,41 -36,37 -25,1 -24,1 Produtos químicos ............. 2,55 8,08 7,50 6,52 7,85 4,1 4,9 Plásticos e borracha .......... 0,91 1,89 0,82 1,84 1,72 0,8 0,4 Calçados e couro ............... 0,48 2,64 3,43 4,31 4,60 5,9 5,9 Madeira e carvão vegetal 0,18 0,55 0,85 0,51 0,59 0,5 0,7 Papel e celulose ................ 1,37 5,10 4,98 6,24 6,42 4,2 4,7 Têxtil .................................. -2,25 -2,71 -3,12 -2,11 0,02 4,1 3,2 Minerais não-metálicos ...... 0,61 2,41 2,02 1,32 1,13 1,2 1,7 Metais comuns .................. 6,67 19,67 14,65 18,46 15,33 7,5 11,4 Máquinas e equipamentos -3,52 -12,57 -14,50 -12,74 -8,30 -15,8 -20,7 Material de transporte ........ -0,20 -1,60 -2,05 -0,89 -8,52 -9,9 -6,0 Ótica e instrumentos .......... -0,42 -2,05 -2,22 -1,72 -1,21 -1,4 -1,6 Outros ................................ 0,03 0,66 0,57 1,07 1,69 1,7 1,5

FONTE DOS DADOS BRUTOS: MDIC.

Tabela 5

Indicador agregado de contribuição ao saldo comercial de Pernambuco — 1996-02

GRUPOS DE PRODUTOS 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Alimentos, fumo e bebidas 9,92 26,81 24,95 21,41 16,99 34,66 32,05 Minerais ............................. -7,19 -25,93 -20,98 -27,18 -27,98 -28,80 -18,98 Produtos químicos ............. -1,65 -1,79 -2,65 -3,99 -2,31 -4,77 -8,35 Plásticos e borracha .......... 0,74 4,30 2,57 5,47 5,13 3,32 2,64 Calçados e couro ............... 0,26 3,32 2,29 2,77 2,60 1,17 1,85 Madeira e carvão vegetal -0,01 -0,03 -0,04 -0,02 0,00 0,00 0,01 Papel e celulose ................ -0,26 -0,74 -1,11 -0,93 -0,53 -1,15 -1,01 Têxtil .................................. -0,58 2,36 3,29 4,77 5,05 4,36 3,08 Minerais não-metálicos ...... 0,05 0,16 0,08 0,14 0,12 0,67 0,71 Metais comuns .................. -0,01 -0,57 -1,02 1,07 -2,08 -5,57 -3,43 Máquinas e equipamentos -0,96 -7,32 -6,24 -1,40 2,05 -2,72 -5,81 Material de transporte ........ -0,03 -0,24 -0,38 -1,91 -0,46 -1,68 -1,60 Ótica e instrumentos .......... -0,29 -1,67 -1,80 -1,76 -0,97 -0,76 -1,41 Outros ................................ 0,01 1,34 1,04 1,54 2,38 1,27 0,25

FONTE DOS DADOS BRUTOS: MDIC.

978 Álvaro Barrantes Hidalgo; Daniel Ferreira Gonçalves da Mata

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Na NCM, vêem-se os produtos relacionados a seguir:- em alimentos, fumo e bebidas, peixes, crustáceos, moluscos; frutas;café; grãos; gomas; gorduras; açúcares; cacau; produtos hortícolas; bebi-das e líquidos alcoólicos; fumo;

- em produtos químicos, produtos químicos orgânicos e inorgânicos; sa-bões;

- em plástico e borracha, plástico;- em calçados e couro, peles; calçados;- em madeira e carvão vegetal, madeira;- em papel e celulose, pastas de madeira; papel;- em minerais não-metálicos, gesso, pedras e metais preciosos;- em metais comuns, ferro; cobre; alumínio;- tecidos especiais, rendas, tapeçarias; vestuário e seus acessórios; tape-tes (de malha ou sem malha) possuem vantagem no indicador, mas nãoestão contidos em nenhum agregado que possua o IACSC positivo.

Os agregados de Pernambuco (Tabela 5) que possuem o IACSC maior doque zero, ou seja, que possuem vantagem no escopo internacional de acordocom esse indicador, são: alimentos, fumo e bebidas; plásticos e borracha; cal-çados e couro; têxtil; minerais não-metálicos e outros.

No âmbito desagregado, têm-se os produtos descritos a seguir:- em alimentos, fumo e bebidas, peixes, crustáceos, moluscos; frutas;açúcares; produtos hortícolas; bebidas e líquidos alcoólicos;

- em plástico e borracha, plástico; borracha;- em calçados e couro, peles; calçados;- em têxtil, tecidos especiais, rendas, tapeçarias; vestuário e seus aces-sórios de malha;

- em minerais não-metálicos, gesso, cimento;- pólvoras e explosivos; obras diversas de metais comuns; máquinas, apa-relhos e materiais elétricos possuem vantagem no indicador, mas nãopertencem a um agregado detentor de vantagem internacional de acordocom o IACSC.

Um processo de filtragem, utilizado na literatura para o conhecimento deprodutos com vantagem comparativa, é o da comparação dos índices de vanta-gem comparativa revelada simétrica e de contribuição ao saldo comercial (Hidalgo;Vergolino, 1996).9 Tal processo foi utilizado no presente trabalho, e os seus re-sultados estão discriminados a seguir. Para Pernambuco, averigua-se que os 15

9 Os índices de vantagem comparativa revelada simétrica são apresentados nas tabelas doApêndice.

979

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Inserção das regiões brasileiras no comércio internacional:...

produtos com vantagem comparativa são: peixes, crustáceos, moluscos, etc.;frutas; açúcares; bebidas e líquidos alcoólicos; pólvoras e fósforos; plástico;borracha; peles e couros; fibras sintéticas; tecidos especiais, rendas, tapeçari-as; vestuário e seus acessórios de malha; vestuário e seus acessórios, excetomalha; obras de pedra, gesso, cimento, amianto, etc.; obras diversas de metaiscomuns; máquinas, aparelhos e material elétrico.

Para a Região Nordeste, há 23 produtos com vantagem comparativa: pei-xes, crustáceos, moluscos, etc.; frutas; gomas, resinas e outros sucos e extratosvegetais; gorduras, óleos e ceras, animais ou vegetais; açúcares; cacau; bebi-das e líquidos alcoólicos; produtos químicos inorgânicos; produtos químicosorgânicos; sabões; plástico; peles e couros; pastas de madeira ou de outrasmatérias fibrosas celulósicas; papel ou cartão de reciclar (desperdícios e apa-ras); papel e cartão; obras de pasta celulósica, etc.; outras fibras têxteis vege-tais; fio de papel, etc.; pastas, feltros e falsos tecidos; cordoaria; tapetes eoutros revestimentos para pavimentos de matérias têxteis; tecidos especiais,rendas, tapeçarias; vestuário e seus acessórios de malha; vestuário e seusacessórios, exceto malha; pérolas, pedras e metais preciosos; moedas, etc.;cobre; e alumínio.

4 - Conclusões

Avalia-se que já era prevista a ocorrência de uma boa parcela dos produtosdo Estado de Pernambuco dotados de vantagem comparativa no comércio exte-rior, nessa lista. Um exemplo plausível é o caso do açúcar, o qual, historicamen-te, sempre deteve uma participação massiva na pauta de exportaçãopernambucana. É relevante também a presença de novos produtos, como frutase gesso, produzidos principalmente no eixo do sertão do Estado, respectiva-mente, em Petrolina e no pólo gesseiro de Araripe.

O grupo máquinas, aparelhos e material elétrico, dados o seu alto comér-cio intra-industrial e a sua presença na lista dos detentores de vantagem, mere-ce citação. A presença desses produtos é importante e de grande potencial deaproveitamento, visto que são bens de alto valor agregado e tecnológico.

Para a Região Nordeste, está clara a predominância de produtos primá-rios, como alimentícios e metais. É notável a presença de produtos químicostanto orgânicos quanto inorgânicos (ambos com um razoável comércio intra--industrial), produtos estes basicamente produzidos no pólo petroquímico daBahia.

980 Álvaro Barrantes Hidalgo; Daniel Ferreira Gonçalves da Mata

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Outros estudos realizados, como o de Hidalgo e Vergolino (1996), obtive-ram, em um período de análise distinto, de 1975-93, 22 produtos em que aRegião Nordeste logrou vantagem comparativa. Feita uma comparação entrea atual lista de 23 produtos e a do trabalho citado, vê-se que a maioria dosprodutos é contemplada nos dois estudos. O presente trabalho contribui pa-ra a mensuração dos índices de vantagem comparativa e de comérciointra-industrial para as classes pernambucanas de produtos.

981

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Inserção das regiões brasileiras no comércio internacional:...

Apêndice Quadro A.1

Critérios de classificação dos capítulos da NCM segundo grupos de produtos

GRUPOS DE

PRODUTOS

CAPÍTULOS DA

NCM DESCRIÇÃO

Alimentos, fumo e bebidas 1 a 24 Produtos de origem animal: animais vivos, car- nes, peixes, laticínios e ovos. Produtos de origem vegetal: plantas vegetais, frutas, café, chá, cereais, amidos, trigo, grãos, sementes, gomas, gorduras e óleos de origem animal e vegetal. Produtos alimentares, bebidas e fumo: carnes preparadas, açúcares, cacau, farinhas, preparados de cereais, pastelaria, preparados de frutas ou vegetais, bebidas alcoólicas, ou não, e fumo.

Minerais 25 a 27 Sal, enxofre, gesso, cal, cimento, minérios, combustíveis e ceras minerais.

Produtos químicos 28 a 38 Inorgânicos, orgânicos, farmacêuticos, fertili- zantes, tintas, óleos, essências, sabões, ceras, colas, pólvora e produtos para fotografia.

Plásticos e borracha 39 e 40 Produtos plásticos e borracha. Calçados e couro 41 a 43 e 64

a 67 Calçados, chapéus, guarda-chuvas, peles e obras de couro.

Madeira e carvão vegetal 44 a 46 Madeira, cortiça e obras de madeira.

Papel e celulose 47 a 49 Papel e impressos Têxtil 50 a 63 Fios, tecelagem e confecções. Minerais não-metálicos 68 a 71 Obras de pedra, cerâmica e vidro, pérolas, pe-

dras preciosas e metais preciosos. Metalurgia 72 a 83 Ferro, aço, cobre, níquel, alumínio, chumbo, zin-

co, estanho e ferramentas. Máquinas e equipamentos 84 e 85 Máquinas e equipamentos elétricos.

Material de transporte 86 a 89 Veículos de transporte, automóveis, tratores, aeronaves e embarcações.

Ótica e instrumentos 90 a 92 Ótica, fotografia e instrumentos de medida e controle.

Outros 93 a 99 Armas e munições, mercadorias diversas, mó- veis, iluminação, brinquedos, produtos de es- porte e objetos de arte.

NOTA: Critérios utilizados por Thorstensen (1994) e por Hidalgo e Vergolino (1996). No entanto, a nomenclatura usada por Hidaldo e Vergolino (1996) é distinta.

982 Álvaro Barrantes Hidalgo; Daniel Ferreira Gonçalves da Mata

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Tabela A.1

Indicador das vantagens comparativas reveladas simétricas de Pernambuco — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS DA NCM

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

01 - Animais vivos ........................ -1,00 -1,00 -0,57 -0,63 -1,00 -0,36 -1,00 02 - Carnes e miudezas, comes-

tíveis ...................................... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -0,97 -0,98 03 - Peixes e crustáceos, molus-

cos, etc. ................................. 0,12 0,74 0,82 0,87 0,92 0,91 0,91 0301 - Peixes ornamentais vivos .. 0,87 0,82 0,84 0,86 0,84 0,78 0,73 0306 - Outros crustáceos ............. 0,78 0,78 0,84 0,89 0,94 0,93 0,93 04 - Leite e laticínios, produtos

comestíveis de origem animal -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -0,96 05 - Outros produtos de origem

animal não especificados ...... -0,96 -0,46 -0,24 -0,10 0,03 -0,09 -0,01 06 - Plantas vivas e produtos de

floricultura ............................. -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -0,61 -0,53 -0,74 07 - Produtos hortícolas, plantas,

etc., comestíveis ................... -0,35 0,12 -0,68 0,59 0,76 0,50 0,79 08 - Frutas, cascas de cítricos e

de melões ............................. 0,79 0,71 0,76 0,80 0,84 0,87 0,90 0804 - Goiaba, manga .................. 0,96 0,95 0,95 0,97 0,97 0,96 0,98 0806 - Uvas frescas ...................... 0,96 0,97 0,97 0,95 0,97 0,97 0,97 09 - Café, chá, mate e espe-

ciarias .................................... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 10 - Cereais .................................. -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 11 - Produtos da indústria de

moagem, malte, amidos e féculas, etc. ........................... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

12 - Sementes e frutos olea-ginosos, grãos, etc. ............... -1,00 -1,00 -0,89 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

13 - Gomas, resinas e outros sucos e extratos vegetais ..... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

14 - Material para trançaria e produtos de origem vegetal não especificados ................. -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

15 - Gorduras, óleos e ceras ani-mais ou vegetais .................. -1,00 -0,52 -0,36 -0,75 -0,90 -1,00 -1,00

16 - Preparações: carne, peixe, crustáceo, molusco, etc. ...... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

(continua)

983

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Inserção das regiões brasileiras no comércio internacional:...

Tabela A.1

Indicador das vantagens comparativas reveladas simétricas de Pernambuco — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS DA NCM

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

17 - Açúcares e produtos de confeitaria ............................ 0,89 0,88 0,86 0,81 0,83 0,81 0,81

1701 - Açúcar de cana bruto ...... 0,87 0,88 0,87 0,81 0,85 0,82 0,82

18 - Cacau e suas preparações .. -1,00 -1,00 -0,30 -0,23 -0,09 0,19 -0,05 19 - Preparações à base de

cereais, farinhas, etc. ........... -1,00 -1,00 -0,71 -1,00 -1,00 -0,74 -0,84

20 - Preparações de produtos hortícolas, de frutas, etc. ..... -1,00 -0,71 -0,71 -0,48 -0,55 -0,64 -0,34

21 - Preparações alimentícias diversas ............................... -1,00 -0,92 -0,96 -0,85 -1,00 -1,00 -0,97

22 - Bebidas, líquidos alcoólicos e vinagres ............................ 0,93 0,66 0,64 0,71 0,79 0,66 0,60

2207 - Álcool etílico desnaturado 0,95 0,85 0,83 0,79 0,90 0,69 0,31 23 - Resíduos das indústrias

alimentares, alimentos para animais ................................ -1,00 -1,00 -0,96 -0,98 -1,00 -1,00 -1,00

24 - Fumo (tabaco) e seus su- cedâneos manufaturados .... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

25 - Sal, enxofre, terras, pedras, gesso, cal, cimento .............. -0,98 -0,92 -0,90 -0,77 -0,59 -0,85 -0,22

26 - Minérios, escórias e cinzas .. -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 27 - Combustíveis, óleos e ceras

minerais, etc. ....................... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -0,70

28 - Produtos químicos inorgâ-nicos, etc. ............................. -0,75 -0,74 -0,75 -0,83 -0,80 -0,82 -0,80

29 - Produtos químicos orgâ-nicos .................................... -1,00 0,36 0,19 -0,17 0,37 0,43 0,16

30 - Produtos farmacêuticos ...... -1,00 -0,96 -1,00 -1,00 -1,00 -0,96 -1,00

31 - Adubos ou fertilizantes ........ -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 32 - Extratos tanantes, mate-

riais corantes, tintas, etc. ... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -0,98

33 - Óleos essenciais, produtos de perfumaria/toucador, etc. -1,00 -1,00 -1,00 0,71 0,50 -1,00 -1,00

(continua)

984 Álvaro Barrantes Hidalgo; Daniel Ferreira Gonçalves da Mata

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Tabela A.1

Indicador das vantagens comparativas reveladas simétricas de Pernambuco — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS DA NCM

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

34 - Sabões, agentes orgânicos de superfície, ceras arti-ficiais, etc. .......................... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -0,41 0,02 0,14

35 - Matérias albuminóides, co-las, enzimas, etc. ............... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -0,99

36 - Pólvoras e explosivos, fós-foros, etc. ........................... -1,00 0,82 0,78 0,69 0,88 0,78 -1,00

37 - Produtos para fotografia e cinematografia ................... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

38 - Produtos diversos das in-dústrias químicas ............... -1,00 -0,18 -0,92 -0,98 -0,85 -0,91 -0,99

39 - Plásticos e suas obras ....... 0,54 0,54 0,53 0,64 0,59 0,54 0,50

3907 - Polietileno ...................... -0,11 -0,38 0,02 0,23 0,21 0,59 0,44

3920 - Outras chapas de polí- meros ............................ 0,95 0,95 0,94 0,95 0,94 0,89 0,90

40 - Borracha e suas obras ...... -0,04 0,38 0,22 0,45 0,45 0,25 0,02

4002 - Borracha de butadieno ... 0,89 0,87 0,85 0,90 0,89 0,84 0,71

41 - Peles, exceto a pelete- ria (peles com pêlos), e couros ................................ -0,06 0,49 0,37 0,49 0,44 -0,02 0,12

4104 - Outros couros e peles .... 0,43 0,51 0,39 0,48 0,42 -0,14 0,07

42 - Obras de couro, artigos de viagem, bolsas, etc. ........... -1,00 -0,77 -0,90 -0,90 -1,00 -0,81 -0,46

43 - Peleteria e suas obras, peleteria artificial ............... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

44 - Madeira, carvão vegetal e obras de madeira .............. -1,00 -1,00 -1,00 -0,98 -0,98 -0,99 -0,98

45 - Cortiça e suas obras ......... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 46 - Obras de espartaria ou de

cestaria ............................. -1,00 0,84 0,95 0,92 0,95 0,63 -1,00 47 - Pastas de madeira, etc.,

desperdícios e aparas de papel ................................. -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

(continua)

985

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Inserção das regiões brasileiras no comércio internacional:...

Tabela A.1

Indicador das vantagens comparativas reveladas simétricas de Pernambuco — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS DA NCM

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

48 - Papel e cartão, obras de pasta celulósica, etc. ......... -1,00 -1,00 -1,00 -0,98 -0,96 -0,88 -0,81

49 - Livros, jornais, gravuras, textos, plantas, etc. ........... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -0,81 0,79

50 - Seda .................................. -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

51 - Lã, pêlos finos ou gros-seiros, fios e tecidos de crina .................................. -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

52 - Algodão ............................. -0,82 -0,61 0,03 0,06 0,19 -0,26 -0,30 53 - Outras fibras têxteis vege-

tais, fio de papel, etc. ........ -1,00 0,50 0,67 0,57 0,21 -1,00 -1,00

54 - Filamentos sintéticos ou artificiais ............................ -0,57 -1,00 -1,00 -0,68 -0,59 -0,25 -1,00

55 - Fibras sintéticas/artificiais, descontínuas ..................... -1,00 0,62 0,24 0,78 0,85 0,65 0,68

5503 - Fibras de poliéster ......... 0,79 0,95 0,87 0,97 0,98 0,94 0,96

56 - Pastas, feltros e falsos tecidos, cordoaria .............. -1,00 -0,98 -0,79 -0,98 -0,85 -0,99 -0,99

57 - Tapetes/revestimentos pa- ra pavimentos de maté- rias têxteis ........................ -1,00 -1,00 -1,00 -0,90 -0,80 0,62 0,29

58 - Tecidos especiais, rendas, tapeçarias, etc. .................. -0,80 0,96 0,97 0,97 0,97 0,97 0,97

5801 - Outros veludos e pelúcia 0,54 0,98 0,99 0,99 0,99 0,99 0,99

59 - Tecidos impregnados, re-vestidos, etc. ....................... -1,00 -1,00 -1,00 -0,89 -1,00 -1,00 -1,00

60 - Tecidos de malha ............... 0,78 0,51 -0,18 -1,00 -1,00 -1,00 -0,95 61 - Vestuário e seus aces-

sórios de malha ................. 0,86 0,84 0,82 0,87 0,86 0,84 0,78

6106 - Camisa de malha ........... 0,57 0,63 0,74 0,92 0,94 0,95 0,91 6109 - Camisetas t-shirts ........... 0,95 0,94 0,92 0,93 0,90 0,89 0,87

6110 - Suéteres ......................... 0,59 0,43 0,66 0,93 0,90 -0,01 0,41

62 - Vestuário e seus aces-sórios, exceto de malha ...... -0,69 -0,16 0,02 0,49 0,74 0,53 0,83

(continua)

986 Álvaro Barrantes Hidalgo; Daniel Ferreira Gonçalves da Mata

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Tabela A.1

Indicador das vantagens comparativas reveladas simétricas de Pernambuco — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

6206 - Camisas, blusas ............. 0,93 0,72 0,79 0,83 0,67 0,59 0,56

6209 - Vestuário para bebês ..... 0,84 0,71 0,72 0,79 0,83 0,82 0,84

63 - Outros artefatos têxteis confeccionados, etc. ........... -0,98 -0,83 -0,87 -0,85 -0,47 -0,63 -0,81

64 - Calçados, polainas e ar-tefatos de uso semelhante e suas partes ...................... -1,00 -0,94 -0,92 -0,96 -0,80 -0,83 -0,68

65 - Chapéus e artefatos de uso semelhante e suas partes .. -1,00 -0,98 -1,00 -1,00 -1,00 -0,29 -1,00

66 - Guarda-chuvas, sombri-nhas, bengalas, etc. ........... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

67 - Penas e penugem pre-paradas e suas obras, etc. -1,00 -0,90 -1,00 -1,00 -1,00 0,78 -1,00

68 - Obras de pedra, gesso, cimento, amianto, etc. ....... -0,08 0,32 0,37 0,35 0,32 0,37 0,03

6802 - Granitos e outras pedras 0,53 0,53 0,56 0,54 0,56 0,58 0,28

69 - Produtos cerâmicos ............ -0,36 -1,00 -,89 -0,85 -0,57 -0,42 0,15

70 - Vidro e suas obras ............. -1,00 -1,00 -0,96 -0,75 -0,16 0,05 -0,27

71 - Pérolas, pedras e metais preciosos, moedas, etc. ...... -1,00 -0,98 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

72 - Ferro fundido, ferro e aço -1,00 -1,00 -0,98 -1,00 -1,00 -1,00 -0,99

73 - Obras de ferro fundido, fer- ro ou aço .............................. -1,00 -0,87 -0,42 -0,90 -0,89 -0,96 -0,88

74 - Cobre e suas obras ............. -1,00 -1,00 -1,00 -0,98 -0,98 -1,00 -1,00

75 - Níquel e suas obras ............ -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -0,99 76 - Alumínio e suas obras ....... -0,43 -0,40 -0,23 0,04 -0,16 -0,36 -0,26

78 - Chumbo e suas obras ......... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

79 - Zinco e suas obras .............. -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

80 - Estanho e suas obras ....... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 81 - Outros metais comuns,

ceramais, e suas obras ....... -1,00 -0,90 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 82 - Ferramentas, artefatos de

cutelaria e talheres, etc. ...... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

(continua)

987

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Inserção das regiões brasileiras no comércio internacional:...

Tabela A.1

Indicador das vantagens comparativas reveladas simétricas de Pernambuco — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS DA NCM

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

83 - Obras diversas de metais comuns ................................ -1,00 -1,00 0,39 0,86 0,86 0,90 0,87

84 - Caldeiras, máquinas, apa-relhos e instrumentos me-cânicos, etc. ........................ -0,39 -0,87 -0,59 -0,75 -0,74 -0,74 -0,72

85 - Máquinas, aparelhos e ma-terial elétricos, etc. .............. 0,05 0,36 0,47 0,52 0,40 0,23 0,39

8502 - Grupo eletrogeradores .... 0,96 0,94 0,96 0,97 0,91 0,43 0,81 8506 - Pilhas elétricas ................ 0,96 0,96 0,87 0,83 0,84 0,89 0,81

8539 - Outras lâmpadas ............. 0,90 0,92 0,91 0,90 0,84 0,85 0,91

86 - Veículos e material para vias férreas, etc. ......................... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

87 - Veículos automóveis, tra-tores, ciclos, etc. ................. -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -0,98 -0,96

88 - Aeronaves e outros apa-relhos aéreos ou espaciais -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

89 - Embarcações e estruturas flutuantes ............................. -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -0,72

90 - Instrumentos e aparelhos para óptica, foto, precisão, médicos, etc. ........................ -1,00 -0,98 -0,98 -0,96 -0,98 -0,99 -0,91

91 - Relógios e aparelhos se-melhantes e suas partes .... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

92 - Instrumentos musicais, suas partes e acessórios .............. -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

93 - Armas e munições, suas partes e acessórios .............. -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

94 - Móveis, mobiliário médico- -cirúrgico, colchões, etc. ...... -1,00 -0,92 -0,83 -1,00 -0,96 -0,96 -0,98

95 - Brinquedos, jogos, artefatos para divertimento/esporte .... -1,00 -1,00 -0,98 -0,89 -1,00 -1,00 -0,69

(continua)

988 Álvaro Barrantes Hidalgo; Daniel Ferreira Gonçalves da Mata

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Tabela A.1

Indicador das vantagens comparativas reveladas simétricas de Pernambuco — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS DA NCM

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

96 - Obras diversas ................. -1,00 -0,94 -0,98 -0,98 -0,98 -0,98 -1,00

97 - Objetos de arte, de co-leção e antigüidades ........ -1,00 0,96 -1,00 -0,92 -1,00 -1,00 -1,00

99 - Transações especiais ...... -0,21 0,15 0,19 0,21 0,32 0,00 -0,16

FONTE DOS DADOS BRUTOS: MDIC. NOTA: 1. O código 77 está reservado para uma eventual utilização futura do SH. 2. O código 98 está reservado para usos especiais pelas partes contratan- tes.

989

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Inserção das regiões brasileiras no comércio internacional:...

Tabela A.2

Indicador das vantagens comparativas reveladas simétricas da Região Nordeste — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

01 - Animais vivos ................... -1,00 -0,68 -0,94 -0,96 -0,89 -0,80 -0,89

02 - Carnes e miudezas co- mestíveis .......................... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

03 - Peixes e crustáceos, mo- luscos, etc. ....................... 0,59 0,75 0,74 0,77 0,80 0,82 0,81

0301 - Peixes ornamentais vi- vos ................................ 0,26 0,24 0,39 0,30 0,27 0,21 0,10

0302 - Outros peixes frescos ... 0,17 0,25 0,42 0,63 0,67 0,70 0,69

0303 - Outros peixes congela- dos ............................... 0,55 0,54 0,47 0,66 0,71 0,71 0,57

0306 - Outros crustáceos ......... 0,78 0,81 0,80 0,81 0,83 0,85 0,84 04 - Leite e laticínios, produtos

comestíveis de origem animal ............................... -1,00 -1,00 -1,00 -0,90 -1,00 -0,82 -0,08

05 - Outros produtos de ori-gem animal não especi-ficados .............................. -0,96 -0,75 -0,80 -0,79 -0,77 -0,75 -0,57

06 - Plantas vivas e produtos de floricultura .................... -1,00 -0,96 -0,90 -0,85 -0,59 -0,91 -0,86

07 - Produtos hortícolas, plan-tas, etc., comestíveis ........ -0,80 0,10 -0,10 -0,32 -0,02 -0,14 -0,03

08 - Frutas, cascas de cítricos e de melões ..................... 0,81 0,80 0,82 0,81 0,80 0,81 0,80

0801 - Castanha de caju .......... 0,84 0,84 0,85 0,86 0,84 0,85 0,84

0804 - Goiaba, manga ............. 0,81 0,79 0,82 0,83 0,84 0,85 0,84

09 - Café, chá, mate e espe-ciarias ............................... -0,75 -0,79 -0,77 -0,72 -0,71 -0,43 -0,32

10 - Cereais ............................. -1,00 -1,00 -1,00 -0,90 -1,00 -1,00 -1,00 11 - Produtos da indústria de

moagem, malte, amidos e féculas, etc. ...................... -1,00 -0,57 -0,46 0,09 -0,01 -0,26 -0,60

12 - Sementes e frutos olea-ginosos, grãos, etc. .......... -0,20 -0,13 0,05 -0,18 -0,16 -0,36 -0,39

(continua)

990 Álvaro Barrantes Hidalgo; Daniel Ferreira Gonçalves da Mata

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Tabela A.2

Indicador das vantagens comparativas reveladas simétricas da Região Nordeste — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

13 - Gomas, resinas e outros sucos e extratos vegetais 0,35 0,50 0,53 0,53 0,55 0,37 0,04

1302 - Sucos e extratos ........... 0,65 0,66 0,68 0,63 0,65 0,52 0,21

14 - Material para trançaria e produtos de origem vege-tal não especificados ....... -1,00 0,60 0,70 0,59 0,03 -0,36 -0,09

15 - Gorduras, óleos e ceras animais ou vegetais ......... 0,10 0,21 -0,01 -0,11 0,26 0,10 -0,30

1516 - Gorduras e óleos ........... 0,72 0,69 0,69 0,53 0,52 0,58 0,64

1521 - Outras ceras .................. 0,84 0,85 0,84 0,84 0,84 0,84 0,83

16 - Preparações: carne, pei-xe, crustáceo, molusco, etc. ................................... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -0,98

17 - Açúcares e produtos de confeitaria ........................ 0,67 0,56 0,52 0,38 0,48 0,44 0,36

1701 - Açúcar de cana bruto .... 0,51 0,57 0,52 0,38 0,49 0,45 0,37

1704 - Outros produtos de con- feitaria ........................... 0,18 0,18 0,19 0,18 0,07 0,12 0,09

18 - Cacau e suas prepa-rações ............................... 0,73 0,80 0,81 0,81 0,79 0,76 0,79

1801 - Cacau ............................ 0,84 0,86 0,84 0,84 0,80 0,68 0,74 1804 - Manteiga de cacau ........ 0,84 0,86 0,86 0,87 0,86 0,87 0,86

19 - Preparações à base de cereais, farinhas, etc. ...... -1,00 -1,00 -0,94 -1,00 -1,00 -0,96 -0,94

20 - Preparações de produtos hortícolas, de frutas, etc. .. -0,64 -0,75 -0,54 -0,52 -0,45 -0,63 -0,39

21 - Preparações alimentícias diversas ........................... -1,00 -1,00 -0,98 -0,96 -0,98 -0,94 -0,78

22 - Bebidas, líquidos alcoó-licos e vinagres ................. 0,72 0,42 0,01 0,32 0,22 0,17 0,52

2207 - Álcool etílico desnatura-do .................................. 0,82 0,72 0,41 0,54 0,61 0,33 0,56

23 - Resíduos das indústrias alimentares, alimentos pa-ra animais ......................... -1,00 -0,77 -0,67 -0,46 -0,23 -0,17 -0,28

(continua)

991

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Inserção das regiões brasileiras no comércio internacional:...

Tabela A.2

Indicador das vantagens comparativas reveladas simétricas da Região Nordeste — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS DA NCM

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

24 - Fumo (tabaco) e seus sucedâ- neos manufaturados ................. -0,89 -0,52 -0,50 -0,35 -0,53 -0,48 -0,58

25 - Sal, enxofre, terras, pedras, gesso, cal, cimento ................... 0,12 0,28 0,27 0,31 0,34 0,31 0,29

26 - Minérios, escórias e cinzas ..... -1,00 -0,79 -0,82 -0,71 -0,79 -0,82 -0,98 27 - Combustíveis, óleos e ceras

minerais, etc. ............................ 0,71 0,63 0,68 0,63 0,49 0,55 0,33

28 - Produtos químicos inorgânicos, etc. ............................................ 0,14 0,37 0,34 0,35 0,30 0,33 0,35

2814 - Amoníaco ............................. 0,85 0,85 0,86 0,86 0,80 0,86 0,86

2815 - Hidróxido de sódio ................ 0,83 0,84 0,85 0,82 0,82 0,82 0,77

2818 - Outros óxidos ....................... 0,74 0,68 0,41 0,56 0,54 0,57 0,62 29 - Produtos químicos orgânicos 0,70 0,70 0,70 0,69 0,71 0,71 0,72

2902 - Outros hidróxidos ................. 0,72 0,67 0,70 0,71 0,67 0,75 0,72

2905 - Outros elementos ................. 0,80 0,02 0,84 0,84 0,84 0,83 0,82

30 - Produtos farmacêuticos ............ -1,00 -0,87 -0,98 -0,98 -1,00 -0,98 -0,98 31 - Adubos ou fertilizantes ............. 0,68 -0,13 0,42 -0,03 -0,23 -1,00 0,15

32 - Extratos tanantes, materiais corantes, tintas, etc. ................ 0,07 -0,29 -0,10 -0,20 -0,02 -0,04 -0,21

33 - Óleos essenciais, produtos de perfumaria/toucador, etc. ........ -0,90 -1,00 -0,96 -0,32 -0,61 -0,97 -0,85

34 - Sabões, agentes orgânicos de superfície, ceras artificiais, etc. 0,26 0,48 0,64 0,55 0,59 0,58 0,43

3402 - Outros agentes orgânicos .... 0,62 0,68 0,77 0,67 0,69 0,70 0,58 35 - Matérias albuminóides, colas,

enzimas, etc. ............................ -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -0,67

36 - Pólvoras e explosivos, fósfo- ros, etc. ..................................... -1,00 -0,02 -0,12 -0,39 0,05 -0,20 -1,00

37 - Produtos para fotografia e ci- nematografia ............................ -0,43 -0,29 -0,14 -0,10 -0,03 0,05 -0,06

38 - Produtos diversos das indús- trias químicas ........................... 0,21 -0,20 -0,16 -0,03 -0,11 0,00 0,06

(continua)

992 Álvaro Barrantes Hidalgo; Daniel Ferreira Gonçalves da Mata

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Tabela A.2

Indicador das vantagens comparativas reveladas simétricas da Região Nordeste — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

39 - Plásticos e suas obras ........... 0,53 0,45 0,42 0,44 0,36 0,34 0,29

3901 - Polietileno e outros .............. 0,59 0,50 0,49 0,44 0,39 0,45 0,44

3904 - Outros polímeros ................. 0,80 0,78 0,76 0,79 0,78 0,79 0,79

40 - Borracha e suas obras ............ -0,71 -0,55 -0,68 -0,64 -0,63 -0,68 -0,80 41 - Peles, exceto a peleteria (pe-

les com pêlos), e couros ......... 0,05 0,19 0,16 0,22 0,31 0,30 0,26

4104 - Outros couros ...................... 0,12 0,07 0,02 0,15 0,27 0,25 -0,02

4105 - Outras peles ........................ 0,85 0,86 0,86 0,87 0,86 0,86 0,85 42 - Obras de couro, artigos de via-

gem, bolsas, etc. ..................... -1,00 -0,87 -0,96 -0,90 -0,79 0,08 0,12

43 - Peleteria e suas obras, pelete- ria artificial ............................... -0,77 0,48 0,51 -0,60 -0,82 -1,00 -1,00

44 - Madeira, carvão vegetal e obras de madeira .................... -0,61 -0,60 -0,43 -0,69 -0,63 -0,66 -0,63

45 - Cortiça e suas obras ............... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -0,99

46 - Obras de espartaria ou de ces- taria ......................................... -0,34 0,31 0,59 0,30 0,57 -0,14 0,04

47 - Pastas de madeira, etc., des- perdícios e aparas de papel 0,27 0,35 0,34 0,35 0,34 0,31 0,32

4703 - Pasta química de madeira, sulfato ................................. 0,18 0,20 0,17 0,21 0,21 0,18 0,19

48 - Papel e cartão, obras de pasta celulósica, etc. ......................... -0,14 0,03 0,01 -0,02 -0,11 -0,18 -0,08

4802 - Outros papéis, cartões ........ 0,35 0,45 0,51 0,55 0,60 0,55 0,35 49 - Livros, jornais, gravuras, tex-

tos, plantas, etc. ...................... -1,00 -1,00 -1,00 -0,98 -0,98 -0,98 -0,27 50 - Seda ........................................ -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 51 - Lã, pêlos finos ou grosseiros,

fios e tecidos de crina .............. -1,00 -0,92 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 52 - Algodão ................................... 0,35 0,48 0,59 0,59 0,65 0,62 0,63

53 - Outras fibras têxteis vegetais, fio de papel, etc. ...................... 0,69 0,75 0,81 0,80 0,79 0,85 0,84

5304 - Sisal .................................... 0,85 0,86 0,86 0,87 0,86 0,87 0,86 54 - Filamentos sintéticos ou arti-

ficiais ....................................... -0,20 0,29 0,27 0,41 0,42 0,29 0,21 (continua)

993

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Inserção das regiões brasileiras no comércio internacional:...

Tabela A.2

Indicador das vantagens comparativas reveladas simétricas da Região Nordeste — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS DA NCM

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

55 - Fibras sintéticas/artificiais des- contínuas .................................. 0,52 0,50 0,40 0,60 0,53 0,28 0,08

56 - Pastas, feltros e falsos tecidos, cordoaria ................................... 0,40 0,77 0,76 0,74 0,72 0,75 0,68

5607 - Corda de algodão ................. 0,84 0,86 0,86 0,86 0,83 0,85 0,82

57 - Tapetes/revestimentos para pa-vimentos de matérias têxteis .... 0,59 0,61 0,64 0,74 0,66 0,63 0,71

5701 - Tapetes ................................ 0,81 0,77 0,82 0,86 0,86 0,86 0,85 58 - Tecidos especiais, rendas, ta-

peçarias, etc. ................................ -0,98 0,63 0,72 0,71 0,66 0,73 0,68 5801 - Outros veludos e pelúcia ...... -0,54 0,78 0,86 0,87 0,85 0,86 0,85 59 - Tecidos impregnados, revesti-

dos, etc. .................................... -0,80 0,03 0,43 0,45 0,30 0,13 0,14 60 - Tecidos de malha ..................... 0,03 -0,49 0,19 -0,17 0,15 0,22 -0,08

61 - Vestuário e seus acessórios de malha ................................... 0,29 0,17 0,33 0,48 0,59 0,57 0,53

6109 - Camisetas t-shirts ................ 0,55 0,54 0,67 0,53 0,72 0,77 0,75

62 - Vestuário e seus acessórios, exceto de malha ....................... 0,50 0,26 0,42 -0,16 0,27 0,37 0,35

6204 - Calças, saias ........................ 0,71 0,78 0,72 0,19 0,62 0,57 0,43

63 - Outros artefatos têxteis con- feccionados, etc. ....................... -0,32 -0,45 -0,39 -0,14 0,10 0,34 0,36

64 - Calçados, polainas e artefatos de uso semelhantes e suas partes ........................................ -0,94 -0,49 -0,13 -0,01 -0,06 0,09 0,14

65 - Chapéus e artefatos de uso semelhante e suas partes ........ -0,60 -0,04 -0,12 0,06 0,02 -0,07 -0,35

66 - Guarda-chuvas, sombrinhas, bengalas, etc. ........................... -1,00 -1,00 -0,90 -1,00 -1,00 -0,96 -1,00

67 - Penas e penugem preparadas e suas obras, etc. ..................... -1,00 -0,92 -0,92 -1,00 -1,00 0,04 -1,00

68 - Obras de pedra, gesso, ci- mento, amianto, etc. ................ -0,03 0,15 0,10 -0,10 -0,40 -0,22 -0,42

69 - Produto cerâmicos .................. -0,82 -0,92 -0,90 -0,71 -0,75 -0,88 -0,74

(continua)

994 Álvaro Barrantes Hidalgo; Daniel Ferreira Gonçalves da Mata

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Tabela A.2

Indicador das vantagens comparativas reveladas simétricas da Região Nordeste — 1996-02

CÓDIGOS CAPÍTULOS DA NCM

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

70 - Vidro e suas obras ................... -1,00 -1,00 -1,00 -0,98 -0,90 -0,83 -0,91

71 - Pérolas, pedras e metais pre- ciosos, moedas, etc. .............. 0,06 0,24 0,27 0,05 0,07 0,10 0,24

7108 - Ouro em barras .................... 0,30 0,36 0,40 0,21 0,25 0,30 0,26 72 - Ferro fundido, ferro e aço ...... -0,38 -0,12 -0,09 -0,12 -0,08 -0,04 -0,08

73 - Obras de ferro fundido, ferro ou aço ...................................... -0,90 -0,82 -0,82 -0,75 -0,80 -0,85 -0,82

74 - Cobre e suas obras .................. 0,87 0,82 0,80 0,83 0,82 0,83 0,84

7403 - Cátodos de cobre refinado ... 0,10 0,86 0,86 0,87 0,86 0,87 0,86

7408 - Fios de cobre ....................... 0,83 0,86 0,86 0,87 0,86 0,86 0,85 75 - Níquel e suas obras ................. -1,00 -1,00 -1,00 -0,98 -1,00 -1,00 -1,00

76 - Alumínio e suas obras ............ 0,64 0,67 0,66 0,68 0,62 0,55 0,57

7601 - Alumínio bruto ...................... 0,69 0,71 0,70 0,72 0,68 0,64 0,64

78 - Chumbo e suas obras ............. -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 79 - Zinco e suas obras ................... -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

80 - Estanho e suas obras ............. -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

81 - Outros metais comuns, cera- mais, e suas obras ................... -1,00 -0,98 -1,00 -1,00 -1,00 -0,81 -0,76

82 - Ferramentas, artefatos de cute- laria e talheres, etc. .................. -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -0,97

83 - Obras diversas de metais co- muns ........................................ -0,87 -0,89 -0,57 0,26 0,30 0,35 0,12

84 - Caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos, etc. -0,87 -0,96 -0,94 -0,96 -0,94 -0,90 -0,90

85 - Máquinas, aparelhos e mate- rial elétricos, etc. ..................... -0,40 -0,22 -0,23 -0,33 -0,53 -0,66 -0,62

86 - Veículos e material para vias férreas, etc. ............................. -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -0,99 -0,99

87 - Veículos automóveis, tratores, ciclos, etc. ................................. -1,00 -1,00 -1,00 -0,98 -0,98 -0,96 -0,47

88 - Aeronaves e outros aparelhos aéreos ou espaciais ................ -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

(continua)

995

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Inserção das regiões brasileiras no comércio internacional:...

Tabela A.2

Indicador das vantagens comparativas reveladas simétricas da Região Nordeste — 1996-02

CÓDIGOS DE CAPÍTULOS DA NCM

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

89 - Embarcações e estruturas flu- tuantes ...................................... -0,29 -0,98 -0,61 0,10 0,21 -0,05 0,45

90 - Instrumentos e aparelhos para óptica, foto, precisão, médicos, etc. ............................................ -0,25 -0,49 -0,63 -0,50 -0,71 -0,73 -0,82

91 - Relógios e aparelhos seme- lhantes e suas partes .............. -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -0,97

92 - Instrumentos musicais, suas partes e acessórios ................... -1,00 -0,98 -0,96 -1,00 -0,98 -0,97 -0,99

93 - Armas e munições, suas par- tes e acessórios ........................ -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00 -1,00

94 - Móveis, mobiliário médico-ci- rúrgico, colchões, etc. ............... -1,00 -0,98 -0,94 -0,94 -0,89 -0,67 -0,34

95 - Brinquedos, jogos, artefatos pa- ra divertimento/esporte ............. -1,00 -1,00 -0,98 -0,98 -1,00 -0,88 -0,93

96 - Obras diversas .......................... -0,98 -0,90 -0,87 -0,90 -0,92 -0,92 -0,98 97 - Objetos de arte, de coleção e

antigüidades ............................. -1,00 0,65 -1,00 -1,00 -1,00 -0,99 -0,90

99 - Transações especiais ............... -0,49 -0,23 -0,17 -0,13 -0,04 -0,06 -0,16 FONTE DOS DADOS BRUTOS: MDIC. NOTA: 1. O código 77 está reservado para uma eventual utilização futura do SH. 2. O código 98 está reservado para usos especiais pelas partes contratan- tes.

996 Álvaro Barrantes Hidalgo; Daniel Ferreira Gonçalves da Mata

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Tabela A.3

Índice do comércio intra-industrial de Pernambuco — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS

DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 MÉDIA DESVIO

PADRÃO

01 - Animais vivos ....... 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,43 0,00 0,06 0,16

02 - Carnes e miude-zas comestíveis ... 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,09 0,05 0,02 0,04

03 - Peixes e crustá-ceos, moluscos, etc. ....................... 0,01 0,26 0,36 0,70 0,89 0,59 0,42 0,46 0,29

04 - Leite e laticínios, produtos comestí-veis de origem animal .................. 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00

05 - Outros produtos de origem animal não especificados ........ 0,20 0,47 0,29 0,04 0,03 0,00 0,00 0,15 0,18

06 - Plantas vivas e produtos de flori-cultura ................... 0,00 0,00 0,02 0,00 0,09 0,00 0,91 0,15 0,34

07 - Produtos hortíco-las, plantas, etc., comestíveis .......... 0,01 0,12 0,02 1,00 0,89 0,42 0,93 0,48 0,45

08 - Frutas, cascas de cítricos e de melões .................. 0,60 0,29 0,38 0,27 0,18 0,17 0,06 0,28 0,17

09 - Café, chá, mate e especiarias ........... 0,08 0,12 0,00 0,00 0,00 0,00 0,02 0,03 0,05

10 - Cereais ................. 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

11 - Produtos da indús-tria de moagem, malte, amidos e fé-culas, etc. ............. 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

12 - Sementes e frutos oleaginosos,grãos,etc. ........................ 0,00 0,00 0,51 0,00 0,00 0,00 0,00 0,07 0,19

13 - Gomas, resinas e outros sucos e ex-tratos vegetais ...... 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

14 - Material para tran-çaria e produtos de origem vegetal não especificados ........ 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

(continua)

997

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Inserção das regiões brasileiras no comércio internacional:...

Tabela A.3

Índice do comércio intra-industrial de Pernambuco — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS

DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 MÉDIA DESVIO

PADRÃO

15 - Gorduras, óleos e ceras animais ou vegetais ................ 0,00 0,20 0,13 0,04 0,01 0,00 0,00 0,05 0,08

16 - Preparações: car-ne, peixe, crustá-ceo, molusco, etc. 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

17 - Acúcares e produ-tos de confeitaria 0,03 0,01 0,01 0,01 0,02 0,01 0,01 0,01 0,01

18 - Cacau e suas pre-parações ............... 0,00 0,00 0,68 0,57 0,86 0,43 0,42 0,42 0,33

19 - Preparações à ba- se de cereais, fari- nhas, etc. .............. 0,00 0,00 0,03 0,00 0,00 0,15 0,07 0,03 0,06

20 - Preparações de produtos hortíco-las, de frutas, etc. 0,00 0,80 0,99 0,62 0,64 0,98 0,56 0,66 0,34

21 - Preparações ali-mentícias diversas 0,00 0,14 0,05 0,26 0,00 0,00 0,85 0,19 0,31

22 - Bebidas, líquidos alcoólicos e vina-gres ....................... 0,17 0,20 0,98 0,85 0,81 0,82 0,96 0,69 0,35

23 - Resíduos das in-dústrias alimenta-res, alimentos para animais ................. 0,00 0,00 0,12 0,09 0,00 0,00 0,00 0,03 0,05

24 - Fumo (tabaco) e seus sucedâneos manufaturados ...... 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

25 - Sal, enxofre, ter-ras, pedras, gesso, cal, cimento ........... 0,02 0,24 0,46 0,91 0,53 0,63 0,14 0,42 0,31

26 - Minérios, escórias e cinzas ................. 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

27 - Combustíveis, óleos e ceras minerais, etc. ........................ 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,03 0,00 0,01

28 - Produtos químicos inorgânicos, etc. .... 0,02 0,08 0,07 0,03 0,05 0,04 0,03 0,05 0,02

(continua)

998 Álvaro Barrantes Hidalgo; Daniel Ferreira Gonçalves da Mata

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Tabela A.3

Índice do comércio intra-industrial de Pernambuco — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS

DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 MÉDIA DESVIO

PADRÃO

29 - Produtos químicos orgânicos .............. 0,00 0,65 0,49 0,25 0,43 0,33 0,22 0,34 0,21

30 - Produtos farma-cêuticos ................. 0,00 0,21 0,00 0,00 0,00 0,06 0,00 0,04 0,08

31 - Adubos ou fertili-zantes ................... 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

32 - Extratos tanantes, materiais corantes, tintas, etc. ............. 0,00 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

33 - Óleos essenciais, produtos de perfu-maria para tou-cador, etc. ............. 0,00 0,00 0,00 0,12 0,44 0,00 0,00 0,08 0,16

34 - Sabões, agentes orgânicos de su-perfície, ceras arti-ficiais, etc. ............. 0,00 0,00 0,01 0,00 0,42 0,80 0,85 0,30 0,39

35 - Matérias albumi-nóides, colas, enzi-mas, etc. ............... 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,02 0,00 0,01

36 - Pólvoras e explo-sivos, fósforos, etc. 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,05 0,00 0,01 0,02

37 - Produtos para foto-grafia e cinema-tografia .................. 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

38 - Produtos diversos das indústrias quí-micas .................... 0,00 0,98 0,08 0,00 0,07 0,10 0,00 0,18 0,36

39 - Plásticos e suas obras ..................... 0,27 0,98 0,90 1,00 0,96 0,96 0,97 0,86 0,26

40 - Borracha e suas obras ..................... 0,14 0,97 0,75 0,88 0,88 0,82 1,00 0,78 0,29

41 - Peles, exceto a pe-leteria (peles com pêlos), e couros .... 0,00 0,02 0,00 0,01 0,20 0,03 0,11 0,05 0,07

42 - Obras de couro, artigos de viagem, bolsas, etc. ........... 0,00 0,14 0,10 0,08 0,00 0,10 0,35 0,11 0,12

43 - Peleteria e suas obras, peleteria ar-tificial ..................... 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

(continua)

999

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Inserção das regiões brasileiras no comércio internacional:...

Tabela A.3

Índice do comércio intra-industrial de Pernambuco — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS

DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 MÉDIA

DESVIO PADRÃO

44 - Madeira, carvão ve-getal e obras de madeira .................. 0,00 0,08 0,06 0,29 0,46 0,38 0,77 0,29 0,27

45 - Cortiça e suas obras 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

46 - Obras de espartaria ou de cestaria ........ 0,00 0,05 0,16 0,27 0,96 0,37 0,00 0,26 0,34

47 - Pastas de madeira, etc., desperdícios e aparas de papel ...... 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

48 - Papel e cartão, obras de pasta ce-lulósica, etc. ............ 0,00 0,00 0,00 0,01 0,04 0,04 0,08 0,02 0,03

49 - Livros, jornais, gra-vuras, textos, plan-tas, etc. ................... 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,04 0,88 0,13 0,33

50 - Seda ....................... 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

51 - Lã, pêlos finos ou grosseiros, fios e tecidos de crina ...... 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

52 - Algodão .................. 0,00 0,03 0,21 0,55 0,30 0,69 0,58 0,34 0,28

53 - Outras fibras têxteis vegetais, fio de pa-pel, etc. ................... 0,00 0,22 0,34 0,10 0,16 0,00 0,00 0,12 0,13

54 - Filamentos sintéti-cos ou artificiais ...... 0,02 0,00 0,00 0,04 0,02 0,04 0,00 0,02 0,02

55 - Fibras sintéticas/ /artificiais descon-tínuas ..................... 0,00 0,59 0,51 0,60 0,40 0,65 0,97 0,53 0,29

56 - Pastas, feltros e fal-sos tecidos, cordoa-ria ............................ 0,00 0,41 0,93 0,08 0,20 0,01 0,00 0,23 0,34

57 - Tapetes/revestimen-tos para pavimen-tos de matérias têxteis ..................... 0,00 0,00 0,00 0,10 0,06 0,31 0,73 0,17 0,27

58 - Tecidos especiais, rendas, tapeçarias, etc. .......................... 0,01 0,09 0,11 0,11 0,04 0,04 0,04 0,06 0,04

(continua)

1000 Álvaro Barrantes Hidalgo; Daniel Ferreira Gonçalves da Mata

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Tabela A.3

Índice do comércio intra-industrial de Pernambuco — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS

DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 MÉDIA DESVIO

PADRÃO

59 - Tecidos impregna-dos, revestidos, etc. 0,00 0,00 0,00 0,05 0,00 0,00 0,00 0,01 0,02

60 - Tecidos de malha ..... 0,64 0,61 0,20 0,00 0,00 0,00 0,02 0,21 0,29

61 - Vestuário e seus aces- sórios de malha ....... 0,13 0,12 0,05 0,05 0,11 0,15 0,11 0,10 0,04

62 - Vestuário e seus aces- sórios, exceto de ma-lha ............................. 0,06 0,55 0,53 0,25 0,08 0,42 0,06 0,28 0,22

63 - Outros artefatos têx-teis confeccionados, etc. ............................ 0,01 0,28 0,18 0,11 0,34 0,45 0,29 0,24 0,15

64 - Calçados, polainas e artefatos de uso se-melhante e suas partes ........................ 0,00 0,94 0,76 0,63 0,16 0,24 0,10 0,40 0,37

65 - Chapéus e artefatos de uso semelhante e suas partes ............... 0,00 0,04 0,00 0,00 0,00 0,41 0,00 0,06 0,15

66 - Guarda-chuvas, som-brinhas, bengalas, etc. ............................ 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

67 - Penas e penugem preparadas e suas obras, etc. ................. 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 0,00

68 - Obras de pedra, ges-so, cimento, amianto, etc. ............................ 0,66 0,99 0,86 0,78 0,52 0,79 0,87 0,78 0,15

69 - Produtos cerâmicos .. 0,36 0,01 0,22 0,19 0,61 0,96 0,44 0,40 0,31

70 - Vidro e suas obras .... 0,00 0,00 0,01 0,12 0,44 0,78 0,49 0,26 0,31

71 - Pérolas, pedras e metais preciosos, moedas, etc. ............. 0,09 0,38 0,00 0,00 0,00 0,00 0,03 0,07 0,14

72 - Ferro fundido, ferro e aço ............................ 0,00 0,01 0,19 0,15 0,13 0,03 0,13 0,09 0,08

73 - Obras de ferro fun-dido, ferro ou aço ...... 0,00 0,28 0,74 0,17 0,17 0,03 0,25 0,23 0,25

74 - Cobre e suas obras .. 0,00 0,00 0,00 0,02 0,02 0,00 0,00 0,01 0,01

75 - Níquel e suas obras .. 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00

(continua)

1001

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Inserção das regiões brasileiras no comércio internacional:...

Tabela A.3

Índice do comércio intra-industrial de Pernambuco — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS

DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 MÉDIA DESVIO

PADRÃO

76 - Alumínio e suas obras 0,98 0,86 0,46 0,69 0,19 0,06 0,13 0,48 0,37

78 - Chumbo e suas obras . 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

79 - Zinco e suas obras ..... 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

80 - Estanho e suas obras . 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

81 - Outros metais comuns, ceramais, e suas obras 0,00 0,02 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01

82 - Ferramentas, artefatos de cutelaria e talheres, etc. .............................. 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

83 - Obras diversas de me-tais comuns ................. 0,00 0,00 0,44 0,55 0,58 0,19 0,29 0,29 0,24

84 - Caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumen-tos mecânicos, etc. ..... 0,06 0,04 0,23 0,09 0,12 0,08 0,16 0,11 0,07

85 - Máquinas, aparelhos e material elétricos, etc. . 0,17 0,95 0,45 0,80 0,84 0,70 0,45 0,62 0,28

86 - Veículos e material para vias férreas, etc. .. 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

87 - Veículos automóveis, tratores, ciclos, etc. ...... 0,00 0,00 0,00 0,00 0,03 0,04 0,15 0,03 0,06

88 - Aeronaves e outros aparelhos aéreos ou espaciais ...................... 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

89 - Embarcações e estru-turas flutuantes ........... 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,35 0,05 0,13

90 - Instrumentos e apare-lhos para óptica, foto, precisão, médicos, etc. 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 0,01 0,00 0,01

91 - Relógios e aparelhos semelhantes e suas partes .......................... 0,00 0,07 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,03

92 - Instrumentos musicais, suas partes e acessó-rios .............................. 0,00 0,00 0,01 0,00 0,01 0,01 0,00 0,00 0,01

93 - Armas e munições, suas partes e acessó-rios .............................. 0,00 0,06 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,02

(continua)

1002 Álvaro Barrantes Hidalgo; Daniel Ferreira Gonçalves da Mata

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Tabela A.3

Índice do comércio intra-industrial de Pernambuco — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS

DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 MÉDIA DESVIO

PADRÃO

94 - Móveis, mobiliário mé- dico-cirúrgico, colchões, etc. .................................. 0,01 0,00 0,22 0,33 0,76 0,90 0,63 0,41 0,36

95 - Brinquedos, jogos, arte-fatos para divertimento/ /esporte .......................... 0,00 0,20 0,01 0,00 0,00 0,11 0,09 0,06 0,08

96 - Obras diversas ............... 0,01 0,41 0,52 0,47 0,41 0,49 0,18 0,36 0,19 97 - Objetos de arte, de cole-

ção e antigüidades ......... 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,55 0,21 0,11 0,21 99 - Transações especiais ..... 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Índice total ............................ 0,09 0,14 0,27 0,28 0,28 0,35 0,34 0,25 0,10

FONTE DOS DADOS BRUTOS: MDIC. NOTA: 1. O código 77 está reservado para uma eventual utilização futura do SH.

2. O código 98 está reservado para usos especiais pelas partes contratantes.

1003

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Inserção das regiões brasileiras no comércio internacional:...

Tabela A.4

Índice do comércio intra-industrial da Região Nordeste — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS

DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 MÉDIA

DESVIO PADRÃO

01 - Animais vivos ........ 0,00 0,00 0,12 0,05 0,27 0,57 0,28 0,18 0,21 02 - Carnes e miude-

zas comestíveis ... 0,00 0,35 0,00 0,04 0,06 0,15 0,07 0,10 0,12 03 - Peixes e crustá-

ceos, moluscos, etc. ........................ 0,13 0,00 0,87 0,69 0,41 0,24 0,16 0,36 0,32

04 - Leite e laticínios, produtos comestí-veis de origem animal .................. 0,00 0,14 0,00 0,00 0,00 0,11 0,79 0,15 0,29

05 - Outros produtos de origem animal não especificados ........ 0,24 0,26 0,47 0,77 0,97 0,58 0,46 0,54 0,26

06 - Plantas vivas e produtos de flori-cultura ................... 0,00 0,07 0,20 0,39 0,61 0,21 0,17 0,24 0,21

07 - Produtos hortíco-las, plantas, etc., comestíveis ........... 0,01 0,02 0,14 0,23 0,58 0,50 0,92 0,34 0,34

08 - Frutas, cascas de cítricos e de melões .................. 0,31 0,40 0,10 0,17 0,11 0,05 0,02 0,17 0,14

09 - Café, chá, mate e especiarias ............ 0,27 0,00 0,16 0,17 0,24 0,13 0,05 0,15 0,10

10 - Cereais ................. 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 11 - Produtos da indús-

tria de moagem, malte, amidos e fé-culas, etc. .............. 0,00 0,46 0,01 0,04 0,03 0,02 0,01 0,08 0,17

12 - Sementes e frutos oleaginosos, grãos, etc. ....................... 0,70 0,22 0,02 0,07 0,05 0,05 0,03 0,16 0,25

13 - Gomas, resinas e outros sucos e ex-tratos vegetais ...... 0,57 0,71 0,27 0,39 0,40 0,45 0,46 0,46 0,14

14 - Material para tran-çaria e produtos de origem vegetal não especificados ........ 0,00 0,00 0,04 0,47 0,50 0,00 0,41 0,20 0,24

(continua)

1004 Álvaro Barrantes Hidalgo; Daniel Ferreira Gonçalves da Mata

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Tabela A.4

Índice do comércio intra-industrial da Região Nordeste — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS

DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 MÉDIA DESVIO

PADRÃO

15 - Gorduras, óleos e ceras animais ou vegetais .................. 0,40 0,00 0,87 0,85 0,77 0,59 0,82 0,61 0,32

16 - Preparações: carne, peixe, crustáceo, molusco, etc. .......... 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,56 0,08 0,21

17 - Açúcares e produ-tos de confeitaria .... 0,17 0,02 0,00 0,01 0,01 0,00 0,00 0,03 0,06

18 - Cacau e suas pre-parações ................. 0,44 0,00 0,26 0,91 0,76 0,53 0,83 0,53 0,33

19 - Preparações à base de cereais, farinhas, etc. .......................... 0,00 0,14 0,02 0,00 0,00 0,17 0,10 0,06 0,07

20 - Preparações de pro-dutos hortícolas, de frutas, etc. .............. 0,87 0,12 0,29 0,16 0,17 0,34 0,12 0,30 0,27

21 - Preparações ali-mentícias diversas .. 0,00 0,16 0,07 0,19 0,14 0,51 0,99 0,29 0,35

22 - Bebidas, líquidos al-coólicos e vinagres 0,09 0,56 0,94 0,48 0,96 0,81 0,21 0,58 0,35

23 - Resíduos das indús-trias alimentares, alimentos para ani-mais ........................ 0,00 0,52 0,40 0,10 0,11 0,13 0,20 0,21 0,18

24 - Fumo (tabaco) e seus sucedâneos manufaturados ....... 0,37 0,01 0,00 0,00 0,01 0,00 0,01 0,06 0,14

25 - Sal, enxofre, terras, pedras, gesso, cal, cimento ................... 0,18 0,55 0,99 0,73 0,62 0,66 0,54 0,61 0,24

26 - Minérios, escórias e cinzas ..................... 0,00 0,86 0,24 0,27 0,19 0,18 0,02 0,25 0,29

27 - Combustíveis, óleos e ceras minerais, etc. ......................... 0,03 0,18 0,23 0,19 0,20 0,45 0,48 0,25 0,16

28 - Produtos químicos inorgânicos, etc. .... 0,31 0,06 0,71 0,72 0,64 0,88 0,97 0,61 0,32

(continua)

1005

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Inserção das regiões brasileiras no comércio internacional:...

Tabela A.4

Índice do comércio intra-industrial da Região Nordeste — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS

DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 MÉDIA DESVIO

PADRÃO

29 - Produtos químicos orgânicos .............. 0,48 0,02 0,43 0,43 0,46 0,63 0,53 0,43 0,19

30 - Produtos farma-cêuticos ................. 0,00 0,11 0,10 0,19 0,01 0,14 0,07 0,09 0,07

31 - Adubos ou fertili-zantes ................... 0,05 0,29 0,16 0,05 0,04 0,00 0,12 0,10 0,10

32 - Extratos tanantes, materiais corantes, tintas, etc. ............. 0,50 0,08 0,88 0,42 0,71 0,72 0,70 0,57 0,27

33 - Óleos essenciais, produtos de perfu-maria, toucador, etc. ........................ 0,10 0,04 0,41 0,22 0,52 0,48 0,53 0,33 0,21

34 - Sabões, agentes orgânicos de su-perfície, ceras arti-ficiais, etc. ............. 0,91 0,00 0,10 0,16 0,22 0,35 0,56 0,33 0,31

35 - Matérias albumi-nóides, colas, enzi-mas, etc. ............... 0,00 0,81 0,00 0,00 0,00 0,03 0,99 0,26 0,44

36 - Pólvoras e explo-sivos, fósforos, etc. 0,00 0,04 0,82 0,99 0,47 1,00 0,00 0,47 0,47

37 - Produtos para foto-grafia e cinema-tografia .................. 0,29 0,16 0,24 0,29 0,22 0,31 0,24 0,25 0,05

38 - Produtos diversos das indústrias quí-micas .................... 0,25 0,21 0,59 0,76 0,53 0,83 0,99 0,59 0,29

39 - Plásticos e suas obras ..................... 0,43 0,58 0,78 0,63 0,69 0,87 0,83 0,69 0,16

40 - Borracha e suas obras ..................... 0,07 0,32 0,52 0,70 0,60 0,52 0,48 0,46 0,21

41 - Peles, exceto a pe-leteria (peles com pêlos), e couros .... 0,63 0,12 0,29 0,24 0,35 0,23 0,16 0,29 0,17

42 - Obras de couro, artigos de viagem, bolsas, etc. ........... 0,00 0,38 0,11 0,39 1,00 0,58 0,27 0,39 0,33

43 - Peleteria e suas obras, peleteria ar-tificial ..................... 0,94 0,00 0,03 0,90 0,93 0,00 0,00 0,40 0,49

(continua)

1006 Álvaro Barrantes Hidalgo; Daniel Ferreira Gonçalves da Mata

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Tabela A.4

Índice do comércio intra-industrial da Região Nordeste — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS

DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 MÉDIA

DESVIO PADRÃO

44 - Madeira, carvão ve-getal e obras de madeira .................. 0,16 0,00 0,05 0,05 0,05 0,07 0,02 0,06 0,05

45 - Cortiça e suas obras 0,00 0,68 0,00 0,00 0,00 0,00 0,06 0,11 0,25 46 - Obras de espartaria

ou de cestaria ........ 0,00 0,00 0,17 0,25 1,00 0,48 0,39 0,33 0,35 47 - Pastas de madeira,

etc., desperdícios e aparas de papel ...... 0,39 0,05 0,04 0,04 0,05 0,13 0,16 0,12 0,13

48 - Papel e cartão, obras de pasta ce-lulósica, etc. ............ 0,30 0,00 0,70 0,63 0,71 0,86 0,64 0,55 0,30

49 - Livros, jornais, gra-vuras; textos, plan-tas, etc. ................... 0,00 0,00 0,00 0,05 0,10 0,03 0,99 0,17 0,36

50 - Seda ....................... 0,00 0,59 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,08 0,22 51 - Lã, pêlos finos ou

grosseiros, fios e tecidos de crina ...... 0,00 0,02 0,00 0,04 0,01 0,00 0,00 0,01 0,02

52 - Algodão .................. 0,03 0,19 0,36 0,42 0,57 0,71 0,62 0,41 0,24 53 - Outras fibras têxteis

vegetais, fio de pa-pel, etc. ................... 0,79 0,45 0,42 0,75 0,26 0,03 0,01 0,39 0,31

54 - Filamentos sintéti-cos ou artificiais ...... 0,06 0,71 0,77 0,76 0,49 0,31 0,30 0,49 0,28

55 - Fibras sintéticas/ /artificiais descon-tínuas ..................... 0,13 0,29 0,65 0,73 0,65 0,38 0,50 0,48 0,22

56 - Pastas, feltros e fal-sos tecidos; cordoa-ria ............................ 0,97 0,11 0,05 0,05 0,17 0,24 0,36 0,28 0,32

57 - Tapetes/revestimen-tos para pavimentos de matérias têxteis 0,90 0,07 0,15 0,05 0,15 0,07 0,05 0,21 0,31

58 - Tecidos especiais, rendas, tapeçarias, etc. .......................... 0,00 0,48 0,20 0,26 0,41 0,21 0,17 0,25 0,16

(continua)

1007

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Inserção das regiões brasileiras no comércio internacional:...

Tabela A.4

Índice do comércio intra-industrial da Região Nordeste — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS

DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 MÉDIA

DESVIO PADRÃO

59 - Tecidos impregna-dos, revestidos, etc. 0,04 0,83 0,56 0,99 0,78 0,67 0,84 0,67 0,31

60 - Tecidos de malha ..... 0,09 0,48 0,40 0,14 0,26 0,46 0,74 0,37 0,22 61 - Vestuário e seus aces-

sórios de malha ........ 0,34 0,09 0,08 0,12 0,09 0,11 0,07 0,13 0,10 62 - Vestuário e seus aces-

sórios, exceto de ma- lha ............................ 0,20 0,49 0,12 0,52 0,11 0,25 0,10 0,26 0,18

63 - Outros artefatos têx-teis confeccionados, etc. ........................... 0,55 0,08 0,59 0,41 0,26 0,10 0,08 0,30 0,22

64 - Calçados, polainas e artefatos de uso se-melhante e suas partes ....................... 0,32 0,09 0,14 0,07 0,07 0,06 0,04 0,11 0,10

65 - Chapéus e artefatos de uso semelhante e suas partes ............... 0,04 0,00 0,80 0,36 0,11 0,34 0,44 0,30 0,28

66 - Guarda-chuvas, som-brinhas, bengalas, etc. ........................... 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

67 - Penas e penugem pre- paradas e suas obras, etc. ........................... 0,00 0,05 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,01 0,02

68 - Obras de pedra, ges-so, cimento, amianto, etc. ............................ 0,82 0,34 0,49 0,59 0,98 0,70 0,51 0,63 0,22

69 - Produtos cerâmicos 0,07 0,01 0,54 0,89 0,75 0,50 0,52 0,47 0,33 70 - Vidro e suas obras .... 0,00 0,09 0,01 0,05 0,22 0,36 0,25 0,14 0,14 71 - Pérolas, pedras e

metais preciosos, moedas, etc. ............. 0,13 0,00 0,01 0,02 0,01 0,03 0,02 0,03 0,04

72 - Ferro fundido, ferro e aço ............................ 0,71 0,88 0,23 0,33 0,35 0,56 0,28 0,48 0,24

73 - Obras de ferro fun-dido, ferro ou aço ...... 0,03 0,17 0,39 0,68 0,29 0,11 0,23 0,27 0,22

74 - Cobre e suas obras .. 0,16 0,00 0,30 0,04 0,29 0,21 0,03 0,15 0,13 75 - Níquel e suas obras .. 0,00 0,00 0,00 0,08 0,00 0,00 0,01 0,01 0,03

(continua)

1008 Álvaro Barrantes Hidalgo; Daniel Ferreira Gonçalves da Mata

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Tabela A.4

Índice do comércio intra-industrial da Região Nordeste — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS

DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 MÉDIA DESVIO

PADRÃO

76 - Alumínio e suas obras .... 0,15 0,00 0,23 0,20 0,34 0,68 0,45 0,29 0,22 78 - Chumbo e suas obras .... 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 79 - Zinco e suas obras ......... 0,00 0,00 0,00 0,29 0,00 0,00 0,00 0,04 0,11 80 - Estanho e suas obras ..... 0,00 0,87 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,12 0,33 81 - Outros metais comuns,

ceramais, e suas obras .. 0,00 0,02 0,00 0,00 0,00 0,06 0,05 0,02 0,02 82 - Ferramentas, artefatos

de cutelaria e talheres, etc. .................................. 0,00 0,35 0,00 0,00 0,02 0,01 0,03 0,06 0,13

83 - Obras diversas de me-tais comuns .................... 0,07 0,21 1,00 0,51 0,52 0,28 0,44 0,43 0,30

84 - Caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumen-tos mecânicos, etc. ......... 0,01 0,50 0,05 0,03 0,05 0,05 0,07 0,11 0,17

85 - Máquinas, aparelhos e material elétricos, etc. .... 0,11 0,00 0,50 0,60 0,56 0,25 0,17 0,31 0,24

86 - Veículos e material para vias férreas, etc. ............ 0,00 0,81 0,00 0,00 0,00 0,03 0,01 0,12 0,30

87 - Veículos automóveis, tratores, ciclos, etc. ..... 0,00 0,00 0,03 0,32 0,02 0,02 0,49 0,13 0,20

88 - Aeronaves e outros apa-relhos aéreos ou espa-ciais ................................ 0,00 0,03 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,01

89 - Embarcações e estru-turas flutuantes ............... 0,42 0,02 0,01 0,02 0,12 0,31 0,54 0,21 0,22

90 - Instrumentos e apare-lhos para óptica, foto, precisão, medicos, etc. ... 0,04 0,00 0,13 0,25 0,17 0,13 0,08 0,11 0,08

91 - Relógios e aparelhos se-melhantes e suas partes 0,00 0,07 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,03

92 - Instrumentos musicais, suas partes e acessórios 0,00 0,00 0,01 0,00 0,01 0,01 0,00 0,00 0,01

93 - Armas e munições, suas partes e acessórios ........ 0,00 0,06 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,02

94 - Móveis, mobiliário mé-dico-cirúrgico; colchões, etc. .................................. 0,01 0,00 0,22 0,33 0,76 0,90 0,63 0,41 0,36

(continua)

1009

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Inserção das regiões brasileiras no comércio internacional:...

Tabela A.4

Índice do comércio intra-industrial da Região Nordeste — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS

DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 MÉDIA DESVIO

PADRÃO

95 - Brinquedos, jogos, arte-fatos para divertimento/ /esporte .......................... 0,00 0,20 0,01 0,00 0,00 0,11 0,09 0,06 0,08

96 - Obras diversas ............... 0,01 0,41 0,52 0,47 0,41 0,49 0,18 0,36 0,19 97 - Objetos de arte, de cole-

ção e antigüidades ......... 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,55 0,21 0,11 0,21 99 - Transações especiais ..... 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Índice total ............................ 0,09 0,14 0,27 0,28 0,28 0,35 0,34 0,25 0,10

FONTE DOS DADOS BRUTOS: MDIC. NOTA: 1. O código 77 está reservado para uma eventual utilização futura do SH.

2. O código 98 está reservado para usos especiais pelas partes contratantes.

1010 Álvaro Barrantes Hidalgo; Daniel Ferreira Gonçalves da Mata

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Tabela A.5

Índice do comércio intra-industrial do Brasil — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS

DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 MÉDIA

DESVIO PADRÃO

01 - Animais vivos ........ 0,17 0,16 0,20 0,37 0,27 0,39 0,29 0,26 0,09 02 - Carnes e miude-

zas comestíveis ... 0,29 0,31 0,27 0,11 0,15 0,05 0,06 0,18 0,11 03 - Peixes e crustá-

ceos, moluscos, etc. ........................ 0,45 0,44 0,41 0,65 0,91 0,95 0,75 0,65 0,23

04 - Leite e laticínios, produtos comestí-veis de origem animal .................. 0,09 0,08 0,09 0,07 0,12 0,38 0,44 0,18 0,16

05 - Outros produtos de origem animal não especificados ........ 0,82 0,85 0,92 0,78 0,75 0,68 0,58 0,77 0,11

06 - Plantas vivas e produtos de flori-cultura ................... 0,69 0,70 0,80 0,59 0,70 0,70 0,71 0,70 0,06

07 - Produtos hortíco-las, plantas, etc., comestíveis ........... 0,08 0,06 0,07 0,23 0,23 0,18 0,25 0,16 0,09

08 - Frutas, cascas de cítricos e de melões .................. 0,86 0,95 0,97 0,80 0,68 0,66 0,52 0,78 0,16

09 - Café, chá, mate e especiarias ............ 0,03 0,02 0,02 0,02 0,02 0,04 0,03 0,03 0,01

10 - Cereais ................. 0,08 0,09 0,02 0,04 0,03 0,63 0,41 0,19 0,24 11 - Produtos da indús-

tria de moagem, malte, amidos e fé-culas, etc. .............. 0,07 0,06 0,08 0,10 0,09 0,09 0,14 0,09 0,03

12 - Sementes e frutos oleaginosos, grãos, etc. ....................... 0,45 0,22 0,21 0,15 0,15 0,12 0,14 0,21 0,11

13 - Gomas, resinas e outros sucos e ex-tratos vegetais ...... 0,86 0,87 0,92 0,87 0,75 0,81 0,85 0,85 0,05

14 - Material para tran-çaria e produtos de origem vegetal não especificados ........ 0,58 0,38 0,96 0,77 0,62 0,35 0,51 0,60 0,22

(continua)

1011

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Inserção das regiões brasileiras no comércio internacional:...

Tabela A.5

Índice do comércio intra-industrial do Brasil — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS

DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 MÉDIA

DESVIO PADRÃO

15 - Gorduras, óleos e ceras, animais ou vegetais ................ 0,57 0,59 0,59 0,47 0,62 0,38 0,33 0,51 0,11

16 - Preparações: car-ne, peixe, crustá-ceo molusco, etc. 0,38 0,34 0,27 0,14 0,14 0,10 0,06 0,20 0,13

17 - Acúcares e pro-dutos de confei-taria ...................... 0,08 0,08 0,07 0,05 0,07 0,03 0,02 0,06 0,02

18 - Cacau e suas pre-parações ............... 0,69 0,74 0,65 0,88 0,72 0,52 0,75 0,71 0,11

19 - Preparações à ba- se de cereais, fari- nhas, etc. .............. 0,50 0,46 0,48 0,90 0,92 0,82 0,93 0,72 0,22

20 - Preparações de produtos hortíco-las, de frutas, etc. 0,22 0,33 0,28 0,21 0,20 0,22 0,16 0,23 0,06

21 - Preparações ali-mentícias diversas 0,44 0,47 0,61 0,46 0,33 0,32 0,42 0,44 0,10

22 - Bebidas, líquidos alcoólicos e vina-gres ....................... 0,56 0,55 0,78 0,90 0,83 0,89 0,77 0,75 0,14

23 - Resíduos das in-dústrias alimenta-res, alimentos para animais ................. 0,04 0,09 0,08 0,06 0,07 0,08 0,10 0,07 0,02

24 - Fumo (tabaco) e seus sucedâneos manufaturados ...... 0,08 0,10 0,10 0,03 0,04 0,05 0,05 0,06 0,03

25 - Sal, enxofre, ter-ras, pedras, gesso, cal, cimento ........... 0,91 0,91 0,98 0,83 0,84 0,78 0,74 0,86 0,08

26 - Minérios, escórias e cinzas ................. 0,24 0,22 0,15 0,19 0,20 0,18 0,16 0,19 0,03

27 - Combustíveis, ó-leos e ceras mine-rais, etc. ................ 0,11 0,09 0,13 0,14 0,20 0,43 0,59 0,24 0,19

28 - Produtos químicos inorgânicos, etc. .... 0,90 0,91 0,91 0,95 0,99 0,90 0,89 0,92 0,04

(continua)

1012 Álvaro Barrantes Hidalgo; Daniel Ferreira Gonçalves da Mata

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Tabela A.5

Índice do comércio intra-industrial do Brasil — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS

DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 MÉDIA DESVIO

PADRÃO

29 - Produtos químicos orgânicos .............. 0,48 0,50 0,47 0,47 0,53 0,43 0,54 0,49 0,04

30 - Produtos farma-cêuticos ................. 0,27 0,26 0,28 0,27 0,27 0,27 0,28 0,27 0,01

31 - Adubos ou fertili-zantes ................... 0,13 0,12 0,10 0,08 0,08 0,09 0,11 0,10 0,02

32 - Extratos tanantes, materiais corantes, tintas, etc. ............. 0,58 0,63 0,64 0,58 0,59 0,57 0,52 0,59 0,04

33 - Óleos essenciais, produtos de perfu- maria/toucador, etc. 0,99 0,80 0,68 0,73 0,80 0,88 0,92 0,83 0,11

34 - Sabões, agentes orgânicos de su-perfície, ceras arti-ficiais, etc. ............. 0,73 0,67 0,77 0,73 0,75 0,70 0,69 0,72 0,03

35 - Matérias albumi-nóides, colas, enzi-mas, etc. ............... 1,00 0,90 0,85 0,86 0,97 0,97 0,88 0,92 0,06

36 - Pólvoras e explo-sivos, fósforos, etc. 0,27 0,37 0,62 0,52 0,49 0,44 0,45 0,45 0,11

37 - Produtos para foto-grafia e cinema-tografia .................. 0,86 0,89 0,82 0,89 0,80 0,72 0,63 0,80 0,10

38 - Produtos diversos das indústrias quí-micas .................... 0,71 0,68 0,62 0,56 0,58 0,57 0,64 0,62 0,06

39 - Plásticos e suas obras ..................... 0,60 0,63 0,57 0,59 0,65 0,61 0,63 0,61 0,03

40 - Borracha e suas obras ..................... 0,94 0,93 0,91 0,99 0,94 0,91 0,94 0,94 0,03

41 - Peles, exceto a pe-leteria (peles com pêlos), e couros .... 0,38 0,97 0,36 0,38 0,39 0,35 0,24 0,44 0,24

42 - Obras de couro, artigos de viagem, bolsas, etc. ........... 0,86 0,88 0,92 0,85 0,87 0,87 0,69 0,85 0,07

43 - Peleteria e suas obras, peleteria ar-tificial ..................... 0,39 0,09 0,09 0,08 0,07 0,04 0,05 0,12 0,12

(continua)

1013

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Inserção das regiões brasileiras no comércio internacional:...

Tabela A.5

Índice do comércio intra-industrial do Brasil — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS

DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 MÉDIA DESVIO

PADRÃO

44 - Madeira, carvão ve-getal e obras de madeira .................. 0,15 0,17 0,17 0,08 0,09 0,07 0,05 0,11 0,05

45 - Cortiça e suas obras 0,62 0,48 0,23 0,25 0,28 0,21 0,43 0,36 0,16 46 - Obras de espartaria

ou de cestaria ........ 0,10 0,05 0,05 0,09 0,09 0,07 0,08 0,08 0,02 47 - Pastas de madeira,

etc., desperdícios e aparas de papel ...... 0,26 0,26 0,29 0,26 0,26 0,26 0,26 0,26 0,01

48 - Papel e cartão, obras de pasta ce-lulósica, etc. ............ 0,96 0,95 0,98 0,83 0,87 0,77 0,64 0,86 0,12

49 - Livros, jornais, gra-vuras, textos, plan-tas, etc. ................... 0,12 0,14 0,17 0,25 0,23 0,24 0,37 0,22 0,08

50 - Seda ....................... 0,08 0,09 0,09 0,11 0,16 0,18 0,11 0,12 0,04 51 - Lã, pêlos finos ou

grosseiros, fios e tecidos de crina ...... 0,65 0,87 0,82 0,94 0,98 0,80 0,52 0,80 0,16

52 - Algodão .................. 0,44 0,44 0,55 0,67 0,84 0,47 0,42 0,55 0,16 53 - Outras fibras têxteis

vegetais, fio de pa-pel, etc. ................... 0,93 0,98 0,78 0,94 0,66 0,65 0,43 0,77 0,20

54 - Filamentos sintéti-cos ou artificiais ...... 0,34 0,32 0,29 0,24 0,21 0,20 0,25 0,26 0,05

55 - Fibras sintéticas/ /artificiais descon-tínuas ..................... 0,54 0,45 0,43 0,59 0,54 0,54 0,69 0,54 0,09

56 - Pastas, feltros e fal-sos tecidos, cordoa-ria ............................ 0,95 0,80 0,85 0,77 0,90 0,97 0,93 0,88 0,08

57 - Tapetes/revestimen-tos para pavimen-tos de matérias têx- teis .......................... 0,74 0,81 0,90 0,92 0,92 0,96 0,88 0,88 0,08

58 - Tecidos especiais, rendas, tapeçarias, etc. .......................... 0,84 0,97 0,69 0,67 0,75 0,93 0,98 0,83 0,13

(continua)

1014 Álvaro Barrantes Hidalgo; Daniel Ferreira Gonçalves da Mata

Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 26, n. 2, p. 965-1018, nov. 2005

Tabela A.5

Índice do comércio intra-industrial do Brasil — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS

DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 MÉDIA DESVIO

PADRÃO

59 - Tecidos impregna-dos, revestidos, etc. 0,65 0,49 0,51 0,53 0,51 0,51 0,51 0,53 0,05

60 - Tecidos de malha ..... 0,41 0,45 0,71 0,66 0,65 0,82 0,71 0,63 0,15 61 - Vestuário e seus

acessórios de malha 0,87 0,87 0,98 0,65 0,42 0,52 0,51 0,69 0,22 62 - Vestuário e seus

acessórios exceto de malha ....................... 0,70 0,59 0,58 0,71 0,99 0,94 0,84 0,76 0,16

63 - Outros artefatos têx-teis confeccionados, etc. ........................... 0,33 0,33 0,60 0,22 0,20 0,17 0,12 0,28 0,16

64 - Calçados, polainas e artefatos de uso se-melhante e suas partes ....................... 0,23 0,23 0,16 0,08 0,06 0,07 0,06 0,13 0,08

65 - Chapéus e artefatos de uso semelhante e suas partes ............... 0,44 0,41 0,41 0,53 0,64 0,70 0,69 0,55 0,13

66 - Guarda-chuvas, som-brinhas, bengalas, etc. ........................... 0,03 0,04 0,05 0,11 0,09 0,02 0,01 0,05 0,04

67 - Penas e penugem preparadas e suas obras, etc. ................ 0,03 0,01 0,01 0,01 0,01 0,02 0,11 0,03 0,04

68 - Obras de pedra, ges-so, cimento, amianto, etc. ............................ 0,60 0,63 0,63 0,58 0,52 0,54 0,44 0,56 0,07

69 - Produtos cerâmicos 0,63 0,64 0,56 0,41 0,39 0,41 0,31 0,48 0,13 70 - Vidro e suas obras .... 0,79 0,78 0,82 0,95 0,98 0,93 0,89 0,88 0,08 71 - Pérolas, pedras e

metais preciosos, moedas, etc. ............. 0,18 0,28 0,32 0,42 0,53 0,62 0,43 0,40 0,15

72 - Ferro fundido, ferro e aço ............................ 0,15 0,22 0,25 0,21 0,24 0,28 0,17 0,22 0,05

73 - Obras de ferro fun-dido, ferro ou aço ...... 0,87 0,94 0,85 1,00 0,97 1,00 0,89 0,93 0,06

74 - Cobre e suas obras .. 0,58 0,59 0,39 0,64 0,51 0,50 0,81 0,58 0,13 75 - Níquel e suas obras .. 0,71 0,75 0,96 0,74 0,89 0,87 0,95 0,84 0,10

(continua)

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Tabela A.5

Índice do comércio intra-industrial do Brasil — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS

DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 MÉDIA DESVIO

PADRÃO

76 - Alumínio e suas obras .. 0,41 0,51 0,64 0,53 0,40 0,56 0,45 0,50 0,09 78 - Chumbo e suas obras .. 0,03 0,02 0,04 0,05 0,02 0,03 0,02 0,03 0,01 79 - Zinco e suas obras ....... 0,30 0,47 0,99 0,92 0,94 0,75 0,53 0,70 0,27 80 - Estanho e suas obras ... 0,02 0,04 0,14 0,32 0,28 0,13 0,20 0,16 0,11 81 - Outros metais comuns,

ceramais, e suas obras 0,49 0,46 0,56 0,59 0,63 0,65 0,48 0,55 0,08 82 - Ferramentas, artefatos

de cutelaria e talheres, etc. ................................ 0,63 0,92 0,95 0,94 0,95 0,87 0,88 0,88 0,11

83 - Obras diversas de me-tais comuns .................. 0,66 0,50 0,50 0,55 0,71 0,89 0,88 0,67 0,17

84 - Caldeiras, máquinas, a-parelhos e instrumen-tos mecânicos, etc. ....... 0,64 0,59 0,58 0,61 0,65 0,61 0,68 0,62 0,04

85 - Máquinas, aparelhos e material elétricos, etc. .. 0,37 0,35 0,36 0,39 0,49 0,50 0,61 0,44 0,10

86 - Veículos e material para vias férreas, etc. ........... 0,95 0,48 0,41 0,17 0,45 0,67 0,61 0,53 0,24

87 - Veículos automóveis, tratores, ciclos, etc. ...... 0,86 0,93 0,94 0,98 0,91 0,93 0,74 0,90 0,08

88 - Aeronaves e outros aparelhos aéreos ou espaciais ...................... 0,98 0,92 0,85 0,65 0,46 0,37 0,39 0,66 0,26

89 - Embarcações e estru-turas flutuantes ............. 0,15 0,29 0,27 0,97 0,76 0,97 0,28 0,53 0,36

90 - Instrumentos e apa-relhos para óptica, foto, precisão, médicos, etc. 0,20 0,24 0,29 0,41 0,40 0,36 0,36 0,32 0,08

91 - Relógios e aparelhos semelhantes e suas partes ........................... 0,08 0,07 0,06 0,06 0,07 0,08 0,05 0,07 0,01

92 - Instrumentos musicais, suas partes e acessó- rios ............................... 0,06 0,09 0,08 0,24 0,31 0,27 0,23 0,18 0,10

93 - Armas e munições, suas partes e acessórios ...... 0,12 0,26 0,33 0,71 0,95 0,31 0,09 0,40 0,32

(continua)

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Tabela A.5

Índice do comércio intra-industrial do Brasil — 1996-02

CÓDIGOS E CAPÍTULOS

DA NCM 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 MÉDIA DESVIO

PADRÃO

94 - Móveis; mobiliário mé-dico-cirúrgico, colchões, etc. ................................. 0,64 0,75 0,81 0,60 0,53 0,52 0,40 0,61 0,14

95 - Brinquedos, jogos, arte-fatos para divertimento/ /esporte .......................... 0,14 0,16 0,19 0,33 0,45 0,50 0,54 0,33 0,17

96 - Obras diversas .............. 0,94 0,95 1,00 0,97 0,97 0,95 0,91 0,96 0,03 97 - Objetos de arte, de cole-

ção e antigüidades ........ 0,37 0,20 0,16 0,26 0,93 0,99 0,47 0,48 0,34 99 - Transações especiais .... 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Índice total ........................... 0,43 0,45 0,47 0,45 0,46 0,48 0,47 0,46 0,02

FONTE DOS DADOS BRUTOS: MDIC. NOTA: 1. O código 77 está reservado para uma eventual utilização futura do SH.

2. O código 98 está reservado para usos especiais pelas partes contratantes.

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A importância e a atualidade do pensamento...

A importância e a atualidade dopensamento de E. F. Schumacher*

Gustavo Inácio de Moraes Mestre em Desenvolvimento Econômico pela UFPR.Maurício Serra Professor Doutor do Departamento de Economia e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico da UFPR.

ResumoSchumacher foi um economista que procurou apontar os erros e as incoerên-cias do pensamento econômico tradicional, comprovados com as crises do pe-tróleo nos anos 70, quando, então, ficaram evidentes os problemas gerados poruma verdadeira compulsão pelo crescimento econômico. Ele destacava a ne-cessidade de que os conceitos fossem revistos à luz de uma teoria econômicaque centrasse sua atenção no desenvolvimento primordialmente direcionado àspessoas. Nesse sentido, suas soluções estavam relacionadas a alguns temascentrais, tais como descentralização, tratamento dos recursos naturais e ade-quação da tecnologia ao estágio de desenvolvimento do país e à cultura dasnações. O objetivo do presente artigo não é só resgatar e mostrar a importânciae a atualidade das idéias de Schumacher, mas também fazer uma reflexãoacerca da necessidade de se transformar a economia numa ciência maishumana.

Palavras-chaveDesenvolvimento econômico; tecnologia; humanismo.

AbstractSchumacher was an economist who showed mistakes as well as incoherencesof the traditional economic thought, which were proved by oil crises in the 1970s,

* Os autores agradecem os comentários e contribuições dos pareceristas anônimos. Even-tuais erros e omissões são de inteira responsabilidade dos autores.

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when several problems generated by a real obsession about economic growthbecame so evident. He stressed that concepts should be revisited in the light ofan economic theory that was able to focus its attention on development directedessentially to people. In this regard, his solutions were related to some centralissues, such as decentralisation, treatment of natural resources, and adequacyof technology for the country development stage and the culture of nations. Thisarticle aims not only to bring back and show that Schumacher’s ideas areimportant and still modern, but also to think carefully about the necessity oftransforming economics into a more humanised science.

Key wordsEconomic development; technology; humanism.

Classificação JEL: N0; Q0; Q56.

Artigo recebido em 05 fev. 2004.

Introdução

Nos anos 70, após praticamente três décadas de crescimento ininterrupto,a economia mundial começou a observar oscilações e instabilidades que sesucederam, desde então, com freqüência alarmante. Essas instabilidades, em-bora sentidas por todos, acabaram sendo mais prejudiciais aos países em de-senvolvimento, ou seja, aqueles que ainda não tinham atingido um estágio dedesenvolvimento econômico no qual as suas populações pudessem ter todasas necessidades mínimas atendidas. Não seria exagero afirmar-se que, dadosos acontecimentos, o capitalismo passou a vivenciar uma nova fase a partir doinício dos anos 70, podendo ser considerados marcos introdutórios dessa novafase o colapso do regime de Bretton Woods e a crise de oferta do petróleo,principal commodity energética das economias desenvolvidas. De fato, essesproblemas, marcos específicos daquele período, continuam considerados como

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tais após três décadas, sendo, respectivamente, exemplos concretos as crisescambiais e as permanentes crises de preços dos produtos energéticos, sobretu-do o petróleo, que está sujeito às condições geopolíticas, às estruturas de mer-cado e ao abastecimento adequado para que os níveis de preço fiquem numpatamar razoável para os consumidores, o que, por sinal, não acontece desde oano 2000.1

A publicação do livro Small is Beautiful: a Study of Economics as ifPeople Mattered nesse período2 não é apenas uma demonstração da crise queo capitalismo passou a vivenciar. O livro também pode ser entendido como umguia para a discussão do que necessita ser revisto para que se logre uma reto-mada do desenvolvimento econômico sob outras bases, estas mais duradou-ras. Os capítulos do livro são provenientes de alguns artigos publicados emperiódicos especializados e, em sua grande maioria, de palestras proferidas porErnst Schumacher ao longo da década de 60 e início da de 70, o que demonstraclaramente que uma nova concepção de desenvolvimento econômico já eraproposta antes mesmo do esgotamento do modelo anterior, uma vez que haviauma consciência, mesmo incipiente, de que os alicerces desse modelo eramfrágeis. Após a publicação de Small is Beautiful, ainda foram publicados, domesmo autor, A Guide for the Perplexed e Good Work, sendo que nesteshouve uma discussão mais aprofundada a respeito das idéias que ganharamnotoriedade com a publicação do primeiro livro. Schumacher faleceu em 1977,deixando um legado considerável, em que o espírito crítico e a preocupaçãoeminentemente humanística são as características marcantes desse econo-mista de pensamento criativo.

Schumacher, alemão de nascimento, estudou na Inglaterra dos anos 30 etornou-se cidadão inglês após ter sido impedido pelos nazistas de retornar àAlemanha. Ele travou contato com Keynes e foi seu discípulo, escreveu artigosem parceria com renomados economistas do seu tempo, principalmente Kalecki,e, após a II Guerra Mundial, colaborou na reconstrução da Alemanha, assumiu,

1 A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) estabeleceu uma banda deflutuação do preço do barril entre US$ 22 e US$ 28. Contudo os preços, em 2002 e 2003,estiveram acima do teto da banda estabelecida quase como uma regra. Acredita-se que,para 2004, em um cenário favorável, o preço médio seja próximo ao teto do intervalo dereferência.

2 A primeira edição em língua inglesa é de 1973, enquanto a em português data de 1977, como título O Negócio é Ser Pequeno: um Estudo de Economia que Leva em Conta asPessoas. Apesar de a discussão tecida neste artigo ter sido baseada na edição em portu-guês, especificamente a quarta, que é de 1983, as referências feitas, no decorrer do texto,ao título da obra estão em inglês. Essa opção fundamenta-se no fato de que Schumacherficou reconhecido internacionalmente como o autor de Small is Beautiful.

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posteriormente, a direção do British Coal Board, que foi uma experiência funda-mental para a sua participação no planejamento da economia britânica. De to-das as suas viagens, talvez a de maior influência tenha sido aquela efetuada àBirmânia (hoje Myanmar) em 1955, que inspirou a confecção do capítulo, inseri-do no livro Small is Beautiful, denominado A Economia Budista, no qual eledestaca o papel central que os valores morais exercem na resolução dos proble-mas da raça humana, ou seja, obtenção de paz e garantia de permanência.Nesse sentido, Schumacher (1983, p. 44) sublinha que:

“A escolha do budismo para esta finalidade é puramente incidental;os ensinamentos do cristianismo, islamismo ou judaísmo poderiamter sido utilizados da mesma maneira, assim como os de qualqueroutra das grandes tradições do Oriente”.

Em função da sua originalidade, o resgate de suas idéias e sugestõescontinua extremamente válido e importante, na medida em que elas não perde-ram a atualidade e, ao mesmo tempo, permaneceram praticamente desconheci-das, principalmente dos economistas, tanto profissionais quanto acadêmicos,no Brasil. Para fazer face a esse objetivo, o artigo está dividido em quatro seções.Nas três primeiras, após esta Introdução, são discutidos os elementos-chaveda obra de Schumacher: a descentralização, a atenção para com os recursosnaturais e a avaliação da tecnologia adequada ao desenvolvimento. Nas consi-derações finais, quarta e última seção, são tecidos comentários a respeito dofio condutor de todas essas discussões, ou seja, a necessidade de tornar aciência econômica voltada essencialmente para o homem.

1 - Descentralização

A preocupação com as estruturas descentralizadas permeia todas as trêsobras de Schumacher, sendo, porém, central o Capítulo 5 de Small is Beautiful,Uma Questão de Tamanho, a que o título do livro nos remete, o que, de fato,demonstra a sua importância. A questão da descentralização teve influênciadireta de Leopold Kohr, filósofo austríaco, com quem Schumacher mantinhalaços de amizade. Kohr, em seu livro The Breakdown of Nations, desenvolveuuma argumentação inovadora, que procurava demonstrar que a tendência ob-servada após a II Guerra Mundial, de um processo rumo a um governo mundial,é equivocada. Sugeriu, através de exemplos históricos, que os problemas en-frentados pela humanidade, tais como a ausência de desenvolvimento e a insta-bilidade política, estariam relacionados ao tamanho da estrutura administrati-va envolvida. Portanto, a tendência correta a se perseguir seria a de conceder

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maior autonomia às populações mundiais ao invés de inseri-las numa ordemcada vez mais centralizada.

De fato, o trabalho de Kohr é especialmente interessante, quando se consi-dera que, mesmo nas economias desenvolvidas, há pressões por concessãode maior autonomia às populações locais, sendo passíveis de citação a Espanha,o Reino Unido e o Canadá.3 Os anos 90 também mostraram esse desejo demaior autonomia difundida em várias populações, especialmente na África e naEuropa, talvez demonstrando que as populações dessas regiões, se não leramKohr, ao menos acreditam na essência de suas idéias. As suas idéias, portanto,são paralelas àquelas que inspiraram a política de autodeterminação dos povos,que se difundiu nas últimas décadas.

Inspirando-se em tal referencial, Schumacher aponta, em essência, asmesmas questões, mas também amplia a discussão, levando-a para a esferaeconômica privada. Ele, igualmente, a contextualiza dentro dos referenciais dodesenvolvimento econômico que lidam com a estrutura dualística das nações,que aponta claramente a convivência de regiões desenvolvidas, que tinhamsetores dinâmicos e modernos, com regiões subdesenvolvidas, cujos setoreseram tradicionais e atrasados. Essa dualidade do desenvolvimento está no cernedas preocupações de vários dos pioneiros do desenvolvimento econômico, es-pecialmente Lewis (1955; 19694), que acabou por influenciar futuras gerações deeconomistas do desenvolvimento. Na verdade, seria praticamente impossívelSchumacher ficar imune a algum tipo de influência dessas discussões travadaspelos pioneiros do desenvolvimento.

O argumento de que a tecnologia atual leva os ganhos de escala inevita-velmente a serem explorados é questionado enfaticamente por Schumacher,que alega que as unidades menores também prosperam, a despeito da acumu-lação tecnológica. Ademais, as firmas grandes acabam dividindo sua produçãointerna em unidades menores, cada uma dispondo de gerência, orçamento emetas próprios. Em geral, esse tipo de administração objetiva proporcionar ummaior estímulo ao trabalhador, trazendo a percepção correta a este sobre suafunção e importância no todo. Um outro aspecto a ser salientado é que umaorganização baseada nesse tipo de administração leva as unidades a um maiordinamismo, uma vez que qualquer problema é, em tese, resolvido envolvendouma estrutura de decisão presente e com comandos simples.

3 Na Espanha, catalães e bascos desejam maior autonomia. No Reino Unido, são os escoce-ses, e, no Canadá, Quebec, território colonizado por franceses.

4 Esta é a versão em português, posto que o texto original, que hoje é um clássico da teoriado desenvolvimento, foi publicado, em 1954, no periódico Manchester School of Economicand Social Studies, com o título Economic Development with Unlimited Supplies ofLabour.

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Essa percepção foi reconhecida por muitos teóricos da Administração, taiscomo Drucker (1954), Chandler (1962) e Simon (1954), que buscam inserir emempresas privadas uma estrutura leve e de fácil adaptação, capaz dereorientações rápidas de rumo e que hoje está amplamente difundida. Para tan-to, recorrem a estruturas de decisão atomizadas, como metas e orçamentos porárea, constituindo, portanto, várias empresas dentro de uma única empresa.Essas estruturas são comuns, sobretudo, nas empresas transnacionais, queprocuram trabalhar com direção descentralizada, em função do grande númerode realidades com que se defrontam em diversas partes do mundo, dividindo aempresa em subsidiárias. Ainda que a marca seja única, os produtos e a comu-nicação são diferenciados conforme a cultura em que se localiza o problema.Esse estado de espírito é materializado no slogan: “Pense globalmente, ajalocalmente”.

Na realidade, esse slogan é fruto de uma concepção de que a noção desustentabilidade deveria estar baseada em soluções locais, derivadas das pró-prias comunidades. De fato, a concepção de que o desenvolvimento sustentá-vel está intrinsecamente relacionado ao desenvolvimento local tem, segundoLeach, Mearns e Scoones (1999), um longo pedigree, que data desde o Blueprintfor Survival (Goldsmith, 1972), dos ecologistas, do Small is Beautiful, deSchumacher (1983), e do Nosso Futuro Comum, da Comissão Mundial SobreMeio Ambiente e Desenvolvimento (1991).

A partir dessa preocupação local, é possível, como salienta Sekiguchi ePires (1995) e também Leff (2001), a construção efetiva de uma nova teoriaeconômica, que leve em conta a atitude e o comportamento dos agentes, con-siderando não apenas o aspecto econômico, mas também os aspectos políticoe social.

Saindo da esfera privada, a descentralização, dentro do contexto social,apresenta vantagens semelhantes. Embora haja o reconhecimento de que nãohá uma resposta única ao problema de qual o nível ideal de descentralização, atendência ao gigantismo está presente, sendo necessário, talvez, avaliar o ta-manho ótimo do que se queira. Nesse ponto, Schumacher é categórico ao res-saltar que o que se quer ter é a estrutura consolidada.

Um excelente exemplo é o caso de nações que convivem com a dicotomiaapresentada por Lewis, ou seja, um setor de alta produtividade convivendo comum de baixa produtividade. Como o setor de alta produtividade acaba pagandomelhores remunerações, a mão-de-obra do setor de baixa produtividade sente--se atraída a migrar em busca de emprego no setor dinâmico, localizado princi-palmente nos centros urbanos. Contudo tal setor é mais intensivo em capital doque o setor tradicional, não permitindo a absorção das pessoas nas quantidades

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ofertadas, ao contrário do que Lewis poderia imaginar. O resultado é conhecido:cidades inchadas, alienação social e incapacidade de atender às demandas dapopulação, resultando na degradação da qualidade de vida de todos os habitan-tes, sobretudo daqueles que chegaram à procura de uma oportunidade e queforam obrigados a se concentrar nas áreas mais degradadas das cidades.

É exatamente em função desses problemas que Schumacher tece a suadefesa em prol da descentralização, que facilitaria, em primeiro lugar, oequacionamento e a consolidação de uma estrutura para as populações em seulugar de origem, seja ele dentro de um setor tradicional, seja moderno. Em suma,o que realmente importa na visão de Schumacher é o fortalecimento das raízeseconômicas, pois a mobilidade dos fatores é desejável, na medida em que elaseja definida pela capacidade de absorção em perfeita ordem, social e econômica,dos (i)migrantes.

Além do mais, a descentralização contribuiria para aliviar as tensões gera-das a partir da convivência de setores dualísticos dentro de uma mesma estru-tura, sendo também evidentes os benefícios, quando se menciona a importân-cia crescente que o cidadão assumiria na vida comunitária, não estando maisna condição de “apenas mais um”. Essa condição refletiria, ao menos em tese,uma maior inserção política, com exercício mais intenso da democracia e per-cepções mais atentas ao estado de coisas. Schumacher, de maneira arbitrária esem se aprofundar nas razões, definiu que a cidade, ou, de uma forma análoga,o espaço econômico autônomo, ideal não deveria superar 500.000 habitantes.Talvez aqui ele estivesse imaginando um agrupamento humano não só capazde manter os laços comerciais, mas também imaginando um nível de coesãosocial hoje inexistente nas metrópoles e megalópoles ao redor do mundo.

Essa argumentação não pode passar despercebida a países como o Bra-sil. Quando se observa o espaço econômico brasileiro, pode-se perceber a pre-dominância da Região Metropolitana de São Paulo, hoje em processo deconurbação com as regiões de Campinas, Sorocaba, Baixada Santista e Valedo Paraíba, que, embora possua aproximadamente 10% da população nacional,apresenta uma esfera de influência sobre quase toda a população brasileira,caracterizando a concentração do espaço econômico brasileiro.5 O processo dedesconcentração industrial vivido pela Região Metropolitana de São Paulo, per-dendo participação para estados emergentes, é encorajador do ponto de vistada descentralização, mas não suficiente, uma vez que o centro de decisão dasatividades permanece em São Paulo, ainda um pólo atrator de migrantes.

5 Isso também vale para Buenos Aires em relação à Argentina e para a Cidade do México emrelação ao México, para se ater a poucos e simbólicos exemplos.

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Na realidade, a administração pública das megalópoles reconhece que seualcance é limitado em atender e compreender a demanda de todas as regiões aque seu poder se estende e, em geral, acaba recorrendo às denominadas admi-nistrações regionais ou, indo além, confeccionando orçamentos regionalizados.Essa forma de solução não só contribui para diminuir a tensão das populações,que antes sentiam o poder público distante e inatingível, como também cria umcompromisso maior no sentido da resolução dos problemas. Portanto, para opoder público, a estrutura descentralizada também traz uma maior clareza nasações, ao mesmo tempo em que insere a expectativa de eficácia pela suasimples presença. Exemplos desse modo de agir dentro da administração públi-ca brasileira são as administrações regionais implementadas pelos Municípiosde São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte e também a discussão sobre orçamentoparticipativo que ocorre em Porto Alegre, que se dá através das representaçõesde bairros.

Um aspecto importante a ser sublinhado refere-se à condição contraditóriaentre o conceito de descentralização desenvolvido por Schumacher e o atualdirecionamento das relações internacionais. De fato, atualmente as relaçõesinternacionais privilegiam, cada vez mais, as identificações regionais, objetivandoagigantar as estruturas de poder e comércio, sendo os blocos regionais umexemplo concreto desse desejo das nações. A conseqüência desse processopode ser o agravamento do problema da identificação do indivíduo6 e, principal-mente, a dificuldade de articulação de um espaço econômico estruturado e quepreencha as necessidades das populações envolvidas.

Torna-se interessante destacar o caráter inovador e peculiar de Schumacheratravés do contraste entre a posição deste e a do indiano Mahalanobis, acercada questão do tamanho para o processo de desenvolvimento (Streeten, 1984).Nesta dicotomia, grande versus pequeno, Schumacher, com toda a certeza,está situado no pólo oposto ao de Mahalanobis (e ao de muitos outros pioneirosdo desenvolvimento), que, curiosamente, era discípulo do grande escritor, poetae filósofo indiano Rabindranath Tagore e que defendia ardentemente a implanta-ção, mediante um planejamento do desenvolvimento, de grandes projetos infra--estruturais como forma de superação do atraso econômico. Já no outro extre-mo, está Schumacher, resultado direto de uma educação altamente sofisticadana Alemanha, na Inglaterra e nos Estados Unidos, ou seja, nas principais potên-cias ocidentais, e que advogava a necessidade de se proteger o crescimento

6 Por exemplo, um cidadão nascido na região basca é considerado basco, espanhol oueuropeu?

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dos países, sendo extremamente pessimista com relação a qualquer tentativade se acelerar o desenvolvimento econômico através de uma industrializaçãoem grande escala.

2 - Recursos naturais e expansão econômica

Em relação aos recursos naturais, os impactos adversos do crescimentoeconômico sobre o meio ambiente são o ponto central da preocupação deSchumacher, que foi obrigado a rever o conceito de crescimento econômico e,conseqüentemente, a estabelecer distinções e reclassificar os bens segundosuas origens. Ao reconhecer que a economia é uma atividade que acaba preva-lecendo sobre as demais, Schumacher destacou a preocupação com o lucro, ouo profit motive, tal como descrito em A Guide for the Perplexed. Essa preocu-pação com o lucro acabou por fazer da Economia uma ciência central da vidahumana, na medida em que ela estabelece a posse de bens e o conforto. Entre-tanto a Economia, ao tornar-se o centro da sociedade, acaba por ignorar outrasconsiderações advindas de outras disciplinas tão ou mais importantes para aexistência da civilização.

Nesse sentido, as ponderações da Biologia ou da Psicologia, por exemplo,são deixadas de lado, prevalecendo estritamente a visão econômica. A situaçãoinversa seria mais sensata, pois qualquer projeto, antes de ser submetido aocálculo econômico, deveria ser submetido às considerações que envolvem ou-tros efeitos sobre o meio em que vivemos. A isso ele denominou Metaeconomia,ou seja, a orientação da Economia através de valores que a sociedade conside-ra importantes, sendo o econômico apenas um deles, isto é, somente uma daspartes do que ele designou de julgamento fragmentário (Schumacher, 1983).

Incorporando-se a Metaeconomia e reconhecendo-se o julgamento frag-mentário nos eventos humanos, haveria não só a necessidade de se criar umanova metodologia econômica, mas também de se reverem várias concepçõesaté então dominantes. É exatamente nesse ponto que entram a preocupaçãocom os recursos naturais e a percepção de que a economia conduzida sem asconsiderações metaeconômicas tende a ignorar o mundo natural.

Nesse sentido, a classificação dos bens sob uma nova ótica tornou-seimpreterível para Schumacher, que dividiu os bens em primários e secundários,sendo os primeiros aqueles obtidos junto ao mundo natural, sem a necessidadede trabalho transformador por parte do homem, tais como combustíveis

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energéticos puros, o solo e frutas colhidas nas árvores. Já os secundários ne-cessitam da ação do homem, posto que seu trabalho é essencial à sua criação,e esta se daria a partir da transformação dos produtos classificados como pri-mários. O petróleo refinado, a impressão de um livro ou a oferta de um serviço,tal como ingressos para o teatro, são exemplos de bens secundários.

Essa classificação genérica foi o ponto de partida para uma subdivisão,que especificava os primários em não renováveis e renováveis e os secundári-os em manufaturas e serviços. Portanto, criavam-se limites bem demarcadospara cada categoria. Na realidade, essa classificação dos bens submeteria aapreciação econômica a considerações das demais áreas de conhecimento,promovendo a interdisciplinaridade, visto que seria necessário conhecê-las an-tes de se efetuar qualquer avaliação econômica. Paralelamente, criar-se-ia, doponto de vista do meio ambiente, a necessidade de avaliação das conseqüênci-as das decisões econômicas sob aspectos mais criteriosos, caracterizando,assim, o julgamento fragmentário. Num certo sentido, seria sujeitar o consumo,tal como a produção, ao cálculo econômico.

Um exemplo bastante caro é o da energia nuclear. Talvez influenciado pelaobra de Rachel Carson (1962), Silent Spring, onde eram demonstrados os efei-tos maléficos dos produtos químicos industriais sobre o meio ambiente,notadamente animais e plantas, Schumacher destacava os efeitos maléficosda energia nuclear sobre o ambiente, no que tange especialmente aos seusresíduos. Na condição de administrador do British Coal Board, ele advogava quea energia nuclear estava longe de representar a solução para todos os proble-mas energéticos do gênero humano, classificando de monstruosidade tal solu-ção, uma vez que gerava resíduos de longa duração e, além de comprometer asgerações futuras, comprometia o único lar da humanidade: o planeta Terra.

O reconhecimento da Metaeconomia e da importância da consideração deoutras variáveis no cálculo econômico tem estado presente, por exemplo, nacontribuição da Economia Ecológica. Essa corrente de pensamento, em grandemedida, está associada às contribuições pioneiras de Georgescu-Roegen (1971)e Odum (1971), que avaliam o processo econômico não apenas com base nosvalores tradicionais, mas também pelo fluxo de energia. Baseando-se na primei-ra e na segunda lei da entropia, Georgescu-Roegen redefiniu o horizonteeconômico em termos da dissipação de energia, uma avaliação que Schumachercertamente denominaria metaeconômica, posto que envolve outros valores quenão apenas econômicos. Odum, por sua vez, tem sua preocupação centrada naeficiência energética das economias e das sociedades, propondo a remodela-ção de modelos macroeconômicos em termos não de valores monetários, masde fluxos energéticos.

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Essas idéias foram abraçadas pelos teóricos da Economia ecológica, quese caracterizam por uma abordagem preventiva em relação a catástrofesambientais, tal como Schumacher se comporta em suas três obras. No fundo,conforme May (1995, p. 241) sublinha: “(...) para que a economia ecológica sejaeficaz, portanto, é imperativo que as decisões relativas ao uso dos recursosnaturais sejam incluídas na análise das políticas relevantes”. Nesse sentido, aeconomia ecológica prega a incorporação da Metaeconomia, conforme definidapor Schumacher. Não se pode deixar de notar outros dois pontos importantes:(a) que tal análise se opõe ao método de valoração ambiental pregado pelaeconomia neoclássica; e (b) que essa análise exige uma conexão com outroscampos do conhecimento, ou seja, uma interdisciplinaridade, de modo a retirar aeconomia de seu suposto isolamento.

O problema ambiental, na visão de Schumacher, está também associadoao ritmo da mudança tecnológica, que se acelera e, conseqüentemente, exacer-ba o ritmo de depredação dos recursos naturais, como, por exemplo, fontesfósseis e áreas de vegetação, uma vez que a conciliação das necessidadesmateriais do homem, sempre crescentes, encontra como obstáculo a próprianatureza. Ao mesmo tempo, o ritmo de crescimento demográfico também acabainfluenciando no esgotamento dos recursos naturais, sobretudo porque esseperfil demográfico mais grave se encontra localizado principalmente nos paísesmais necessitados. Contudo espera-se que esses países, na medida em queenriqueçam, diminuam suas taxas de crescimento, completando o processo detransição demográfica. Embora seja tentador relacionar nível de renda e taxa decrescimento populacional, essa relação não é direta. Ainda assim, se verdadei-ra, não alivia o problema ambiental, visto que o maior nível de consumo darácabo dos recursos naturais, que não serão consumidos por uma massa de po-pulação em franco crescimento7. Nas palavras de Schumacher (1983, p. 25): “Jáexistem provas esmagadoras de que o grande sistema de autoequilíbrio da na-tureza está ficando cada vez mais desequilibrado em aspectos particulares epontos específicos”.

Lux (2003) associa o conceito de sustentabilidade à prática do interessecomum e à ausência da busca pelo lucro, em oposição ao auto-interesse, liga-do, sobretudo, à busca do lucro. Essa posição tem sido muito combatida porvários críticos, tais como Solow (1974) e Stiglitz (1974; 1997), que dizem serabsolutamente impossível abrir mão do crescimento, ou da busca do lucro, por

7 A discussão sobre a Curva Ambiental de Kuznets é inserida nesse momento. A literaturapossui mais exemplos de negação dessa curva do que propriamente de afirmação, mas odebate ainda está inconcluso.

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conta da inviabilidade de tal proposta. Mas a proposta é de fato inviável, consi-derando-se a economia como ela é construída nos dias de hoje, uma vez que épossível um novo tipo de crescimento que leve em conta tecnologias que nãoagridam a natureza e que promovam o desenvolvimento humano.

Toda essa discussão dá origem ao conceito de tecnologia intermédia8, queé objeto de discussão na próxima seção. Lux (2003), por exemplo, cita váriosestudos antropológicos que comprovam a existência de várias sociedades, taiscomo as antigas sociedades judaico-cristãs e indo-européias, que conseguiramviabilizar seu desenvolvimento humano sem ter o lucro como leitmotiv. A redu-ção de incentivos monetários e uma regra de distribuição de renda mais severaseriam algumas das adaptações necessárias, bem como alterações nos objetivose nas abordagens das empresas hoje voltadas para a produção lucrativa. Éexatamente com essa percepção que Schumacher (1983, p. 28) ressalta que o“(...) cultivo da expansão das necessidades é a antítese da sabedoria”, pois oaumento das necessidades coloca em evidência tensões absolutamente des-necessárias, promovendo, no seio dos relacionamentos, sejam eles entre na-ções ou entre pessoas, disputas consumidoras do espírito humano, que são ascausas primordiais da discórdia e da guerra.

3 - Tecnologia intermédia e desenvolvimento

A concepção do conceito de tecnologia intermédia envolveu uma preo-cupação com as populações que, por mais que houvesse boa vontade e esfor-ço, não eram contempladas com as benesses do desenvolvimento econômico,através de seus instrumentos mais modernos. De fato, o ritmo de implementaçãodas novidades técnicas com vistas a aumentar a produtividade e, por conse-guinte, o crescimento econômico intensificou-se e, aparentemente, continuarádessa forma, o que tornará a discussão ainda mais dramática.

Torna-se importante observar a profunda relação entre a proposta detecnologia intermédia e o caráter dualístico das economias em desenvolvimen-to, nas quais convivem o setor moderno e o tradicional, que foi concebido porLewis9 (ver seção 1). Conforme mencionado anteriormente, o setor moderno, no

8 Essa foi a tradução utilizada na edição em português. O termo original é intermediatetechnology.

9 Curiosamente, Lewis (1984, p. 130), no artigo em que faz uma revisão da sua obra, sublinhaque os países em desenvolvimento necessitam adotar tecnologias apropriadas, mas res-salta que não comunga da mesma posição de Schumacher, que, segundo Lewis, tem uma"posição extremista".

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curso de sua consolidação, acaba por atrair mão-de-obra interessada em desfru-tar das remunerações mais elevadas. Todavia a massa de população, que mui-tas vezes se dispõe a migrar do setor tradicional para o setor moderno, não éabsorvida em sua totalidade. A tecnologia intermédia contemplará exatamenteessa mão-de-obra excluída do processo de modernização, uma vez que a preo-cupação central na sua utilização é de que essa população não se torne social-mente marginalizada e que venha a desfrutar de renda, de uma atividade produ-tiva e, principalmente, de dignidade. Portanto, a tecnologia intermédia não seconstitui em uma oposição ao processo modernizante, mas num complemento.

Schumacher reconhecia que a tecnologia tradicional era superada e que aincorporação de novos métodos ajudava na confecção do trabalho humano.Contudo ele verificava que mesmo a tecnologia mais moderna não era capaz deabsorver todas as pessoas, principalmente pelo fato de ela ser intensiva emcapital. A causa principal para a não-absorção das pessoas em sua totalidadeno processo de desenvolvimento tecnológico não se limitava apenas ao usointensivo de capital, mas também a outros fatores. O fator cultural é o queganhou maior relevo na sua obra, pois ele salientava que, em muitas regiões domundo, as pessoas sequer tinham noção da razão de executarem determinadastarefas, o que contribuía tanto para a sua alienação quanto para o seu sentimen-to de frustração, havendo, conseqüentemente, impactos adversos na produtivi-dade.

Um outro fator importante era o educacional, uma vez que “(...) a prolifera-ção da educação formal (para o ponto em que ela pode interferir no completoexercício das capacidades imaginativa e criativa das pessoas) ainda tem sidoindubitavelmente um fator de incalculável importância” (Schumacher, 1979,p. 158)10. Na realidade, a educação não estava restrita apenas aos países atra-sados. Contudo o atual sistema de ensino, em particular, contribui para que asnecessidades criativas e de realização da força de trabalho sejam ignoradas,limitando-se ao ensino de rotinas e procedimentos. Citando São Tomás de Aquino,Schumacher (1983, p. 132) lembra que “(...) o que mais gosta um ser humano,dotado de cérebro e mãos, é estar ocupando de forma criativa, útil e produtiva-mente com suas mãos e seu cérebro”. De fato, as empresas já chegaram àconclusão de que boa parte das frustrações de seus trabalhadores ocorre nessesentido.

O ponto central para Schumacher era o fato de a tecnologia moderna nãoabsorver as pessoas da forma desejada. De acordo com ele (Schumacher, 1979,

10 No original: "(...) the proliferation of formal education (to the point that it may interfere with thefull exercise of people's cognitive and imaginative capabilities) has undoubtedly been afactor of still incalculable importance ".

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p. 22)11, “(...) a tecnologia tem crescido além da escala humana. A questão é:Nós podemos trazê-la de volta à escala humana?”. A superação de todas essasdificuldades se dá a partir da adoção da noção de tecnologia intermédia, que,além de ser uma tecnologia com elevado grau de absorção de mão-de-obra,teria técnicas mais refinadas de produção, que lhe permitiriam algum ganho deremuneração em relação à tecnologia tradicional. Ademais, ela propiciaria o de-senvolvimento de uma capacidade criativa, ou inovativa, do trabalhador, o quelhe daria uma forma de propriedade mais cooperativa, uma vez que o capital nãoseria tão decisivo quanto na tecnologia moderna, na sua concretização. Essaforma de tecnologia intermédia envolveria também processos menos agressi-vos à natureza e que gerassem menos externalidades negativas às populaçõesenvolvidas. Uma vantagem evidente dessa tecnologia seria consolidar as raízesdo trabalhador, evitando migrações em massa e mitigando desequilíbrios regio-nais acentuados, provocados pelo processo de desenvolvimento no setor mo-derno.

A viabilidade da tecnologia intermédia estaria assentada em dois pontosfundamentais: (a) ela teria que estar concentrada em setores onde a dependên-cia de matérias-primas e importações fosse mínima, de modo que pudessecriar até mesmo uma dinâmica regional de fornecedores; e, ao mesmo tempo,(b) ela deveria ter métodos de produção simples, sem a necessidade de incor-poração de trabalhadores especializados, uma vez que o objetivo de sua im-plantação não é a mão-de-obra qualificada. Este último requisito implicaria queas indústrias fossem pouco intensivas em capital.

Aqui, a idéia de tecnologia intermédia funde-se à idéia de descentralização,principalmente pelo fato de que não haveria apenas uma homogeneidadeeconômica, mas também uma “homogeneidade cultural” entre os participantesdo empreendimento. A conseqüência imediata seria que toda uma região passa-ria a ter uma dinâmica própria e com um menor grau de dependência dos gran-des centros, o que certamente diminuiria a pressão sobre esses em termos demigração e de subsídios. Seria bastante plausível que uma cidade (ver seção1) de pequeno ou médio portes viesse a funcionar como centro das atividadescomerciais, mas a adoção de tecnologia intermédia tenderia a ser mais eficaz,na medida em que ela não fosse um mercado gigantesco e de grande área deinfluência.

A questão do mercado consumidor talvez se constitua no ponto mais sen-sível da argumentação de Schumacher, uma vez que seria inevitável a compe-

11 No original: "(...) the technology has grown beyond the human scale. The question is, Canwe bring it back to the human scale? ".

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tição com produtos fabricados sob formas intensivas em capital e que, portanto,tenderiam a dominar o mercado. Por isso, Schumacher enfatizou que acomercialização de produtos feitos através de tecnologia intermédia deveria termercados consumidores nas proximidades. Mercado este que se caracterizariapela moderada sofisticação e que, em última instância, tenderia ao consumo debens normais e necessários, garantindo, dessa forma, a colocação dos produ-tos das indústrias de tecnologia intermédia.

Um aspecto importante a ser levado em consideração é no tocante à iden-tificação do tipo de indústria que estaria apta a implementar a tecnologiaintermédia. Esse processo de identificação seria resultado de uma avaliaçãoque envolvesse a disponibilidade de recursos à produção e o acesso aos mer-cados. Entretanto o mais importante é que a urgente adoção de tal procedimen-to estaria diretamente ligada a duas dificuldades específicas: (a) a de absorçãode novas tecnologias por parte da mão-de-obra sem qualquer qualificação; e (b)a de incorporação de grandes contingentes populacionais no setor de tecnologiamoderna. Os programas poderiam ser adotados em escala nacional, mas seusucesso dependeria, essencialmente, de uma abordagem regional. Isso vale,sobretudo, para o Brasil, cujas distintas realidades regionais, muitas vezes, sãoconfrontadas com programas de caráter nacional que não reconhecem o méritode soluções locais e acabam por agravar a percepção das pessoas, em termosde capacitação e rendimento, quanto ao seu atraso em relação ao mundo mo-derno.

A tecnologia intermédia, portanto, tem o mérito de reconhecer o estadolastimável das populações que não conseguem se inserir no moderno processode desenvolvimento. Essas populações não são ajudadas com soluções maissimples. Muito pelo contrário, as soluções implementadas estão voltadas, aindaque indiretamente, para uma mão-de-obra inserida no moderno mercado de tra-balho e, conseqüentemente, qualificada. Uma maneira mais prática, e na reali-dade mais ao alcance dos países em desenvolvimento, seria não apenas reco-nhecer as limitações do salto brutal que se constitui na transição do setor tradi-cional para o setor moderno, em qualquer lugar, a qualquer tempo, mas tambémpreparar essa população excluída para ingressar, de forma adequada, no pro-cesso de desenvolvimento, sendo a tecnologia intermédia o passo fundamentalpara esse ingresso.

A urgência de se resolverem os problemas básicos das comunidades ca-rentes e, principalmente, o caráter de independência de suas próprias ações emrelação aos governos federais para superar as suas próprias dificuldades eram

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fatores considerados importantes por Schumacher (1979, p. 62)12, que ressalta-va, com certa veemência, o seguinte:

“Todas as espécies de coisas necessárias não estão feitas. Nós nãovamos continuar a esperar por Godot, e Godot nunca vir. Em outraspalavras, nós não vamos continuar esperando pelo Governo Central.Nós vamos ficar em pé com nossos próprios pés e fazer dentro docontexto de nossa comunidade o que necessita ser feito. Este tipo deauto-recordação está agora voltando, e as pessoas estão se dandoconta de que com o propósito de se fazer o que necessita ser feito demaneira eficiente e efetiva alguém precisa empregar os recursosintelectuais para criar uma tecnologia adequada, apropriada”.

Um exemplo ilustrativo e, ao mesmo tempo, significativo do poder daidéia de tecnologia intermédia é fornecido pela ONG Intermediate TechnologyDevelopment Group (ITDG), que foi criada pelo próprio Schumacher, naInglaterra, em meados da década de 60, com o objetivo de contribuir para aerradicação da pobreza por meio do uso e do desenvolvimento de tecnologiasapropriadas. Essa ONG, atualmente, tem escritórios na África, na Ásia, na Eu-ropa e na América Latina.

Segundo o Relatório Anual do ITDG da América Latina, cuja sede é emLima, para o período 2001-02, os resultados alcançados para essa região sãobem expressivos, uma vez que 2.164 famílias adotaram técnicas agrícolas emCuzco e em Cajamarca; 1.785 pessoas, 85% das quais são mulheres, iniciaramum processo de alfabetização baseado num ensino prático de diferentes técni-cas agrícolas em Cajamarca; 560 famílias tiveram acesso aos serviços deeletricidade através de micro-hidrelétricas instaladas em quatro comunidadesde Cajamarca; 800 pessoas tiveram acesso à informação técnica e beneficia-ram-se dos serviços de comunicação através do centro de telecomunicação emCajamarca; 580 habitantes das áreas rurais e urbanas marginais de Lima e deHuancayo, 70% dos quais são mulheres, receberam treinamento em técnicasagroindustriais, sendo que 145 deles iniciaram um pequeno empreendimento;380 nativos de Aguaruna e habitantes andinos foram treinados com técnicas demanejo sustentável de florestas; 353 novas moradias foram construídas embenefício da população rural de Ayacucho, Moquegua e Tacna; 300 habitantes

12 No original: "All sorts of needful things are not done. We are not going to go on waiting forGodot, and Godot never comes. In other words, we are not going to go on waiting for thecentral government. We are going to stand on our own two feet and do within the context ofour community what needs doing. This sort of self-remembering is now coming, and peopleare realizing that in order to make what needs doing efficient and effective one must engageintellectual resources to create an appropriate, suitable technology ".

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da área rural de Cajamarca receberam treinamento no uso de tecnologias decomunicação por rádio; 160 empregos foram criados para a produção de arrozem San Martin; 65 pequenos empresários tiveram acesso a crédito paraincrementar seus negócios agroindustriais; 48 pequenas empresas deagronegócios receberam assistência técnica do ITDG e atingiram um aumentomédio de 20% nas vendas; seis escritórios locais foram criados em vários mu-nicípios de Cajamarca e de San Martin; 8.500 pessoas tiveram acesso, atravésdas publicações do ITDG, a informações técnicas sobre tecnologias apropria-das; e 1.000 perguntas técnicas foram respondidas pelo centro de informaçãodo ITDG.

Esses resultados demonstram a possibilidade concreta da idéia de umatecnologia intermédia contribuir para a economia dos países atrasadostecnologicamente e para populações marginalizadas da sociedade, oferecendo,dessa forma, uma esperança de renda e utilidade para camadas da sociedadeque, de outra forma, estariam propensas a ser um ponto de tensão e de estorvopara o bem-estar local.

4 - Considerações finais

As percepções e as soluções propostas por Schumacher, além de de-monstrarem uma simplicidade e criatividade intensa, direcionaram-se para osproblemas reais das pessoas, principalmente para as que eram social e econo-micamente excluídas do processo de desenvolvimento, processo este que, in-felizmente, continua a alijar populações em qualquer parte do planeta, especial-mente nos países em desenvolvimento. Percepções e soluções que reivindica-vam uma mudança de abordagem para a ciência econômica.

Quando se diz que determinadas propostas não são viáveis ou são gené-ricas em demasia, confundem-se pressupostos e conseqüências. As propostasserão factíveis e específicas, à medida que o cientista econômico alterar seupensamento no sentido de permitir uma maior abertura a novos pressupostos econstruir a teoria econômica a partir de sentenças que tenham como objetivo oalcance de uma vida em condições de produzir com criatividade e sem afliçõesmateriais. Sendo assim, o que se pede é que se meçam os valores que estãoguiando a construção da ciência econômica: será que esses atendem à realiza-ção de fins nobres do homem na Terra? Será que permitem o desenvolvimentoeconômico a contento? Não há nada errado, quando as soluções que encontra-mos não passam de paliativos? É algo que requer tempo pensar acerca dessas

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proposições, mas já faz algum tempo que tais questões deveriam estar na or-dem do dia.

A percepção de que a maneira com a qual se lida com a ciência, sobretudoa econômica, é desvirtuada tem sido notada por diferentes correntes, comolembra Sagan (1997, p. 151):

“O ataque em massa ao meio ambiente global não é deresponsabilidade apenas de industrialistas ávidos de lucros, nem depolíticos sem visão e corruptos. Há muita culpa a partilhar.“A tribo dos cientistas tem desempenhado um papel central. Muitosde nós nem sequer nos damos ao trabalho de pensar sobre asconseqüências a longo prazo de nossas invenções. Temos nosapressado a colocar poderes devastadores nas mãos de quem oferecemais dinheiro e nas mãos das autoridades da nação que por acasohabitemos. Em muitos casos, tem nos faltado uma bússola moral”.

O sistema de valores exerce um poder decisivo sobre as ciências sociais,principalmente na área da Economia, que é consubstanciada por normas aolongo de quase todos os seus escritos. Assim, será decisivo o papel daMetaeconomia na construção de um pensamento econômico que torne a Eco-nomia mais atenta aos valores e valorize o desenvolvimento humano, antes dequalquer preocupação com o crescimento contábil. Para tanto, a adoção de umaatitude cooperativa deverá permear a construção de teorias econômicas, queterão, afinal de contas, de lidar com os reais problemas do homem na Terra:obtenção de paz e garantia de permanência.

Pode-se crer que aquilo pensado por E. F. Schumacher ao longo de suaobra pode, de maneira genérica, encontrar eco nas palavras de Capra (1982, p.225):

“A referência explícita a atitudes, valores e estilos de vida humanosno futuro pensamento econômico tornará essa nova ciênciaprofundamente humanista. Ocupar-se-á das aspirações e poten-cialidades humanas, e as integrará à matriz subjacente do ecossistemaglobal. Tal abordagem transcenderá de longe tudo o que possa tersido tentado nas ciências de hoje; em sua natureza essencial será,simultaneamente, científica e espiritual”.

Desde a publicação das obras de E. F. Schumacher, a ciência econômicaavançou no sentido de reconhecer a importância do meio ambiente e do desen-volvimento humano, e já se observa uma vasta literatura voltada para essatemática, retirando a análise econômica do isolamento perante as outras ciênci-as. A presença de uma crescente linha de Economia ecológica, por exemplo,retrata claramente esse avanço. Embora esse seja um aspecto otimista e posi-

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tivo, tal avanço, por outro lado, não ocorre com a urgência necessária em rela-ção aos eventos da época atual. Certamente, a ciência econômica ainda temmuito que avançar, principalmente no que tange à sua interdisciplinaridade, e acontribuição de Schumacher, além de importante e atual, permanece como umaeterna fonte de inspiração.

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1 - A revista Ensaios FEE é uma publicação semestral da Fundação de Economia eEstatística Siegfried Emanuel Heuser e tem por objetivo a divulgação de artigosde caráter tecnocientífico da área de economia e demais ciências sociais.

2 - Os artigos remetidos à revista Ensaios FEE para publicação devem ser inéditosem língua portuguesa (Brasil) ou inglesa, apresentados na sua versão definitiva eacompanhados de um abstract, em inglês, e de um resumo, em português, com10 linhas no máximo. Excepcionalmente também são aceitos artigos em línguaespanhola.

3 - O artigo deve conter as palavras-chave do texto, obedecendo o número máximode três, em português e inglês, e o código de classificação do Journal of EconomicLiterature (JEL).

4 - O artigo deve vir acompanhado do nome completo do autor, de sua titulaçãoacadêmica e do nome das instituições a que está vinculado, além do endereçopara contato, e-mail, telefone ou fax.

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6 - São também aceitos trabalhos sob a forma de notas, comentários ou resenhas delivros. As notas e os comentários devem ter, no máximo, 15 laudas de 30 linhas, eas resenhas, 5 laudas de 27 linhas.

7 - As notas de rodapé devem conter apenas informações explicativas ou comple-mentares e ser numeradas em ordem seqüencial.

8 - As citações devem ser feitas no próprio texto, indicando o sobrenome do autor, adata da publicação e o número da página (Vanin, 1980, p. 8). As citações emlíngua estrangeira devem vir traduzidas, ficando a critério do autor a publicaçãodo original em nota de rodapé.

9 - As referências bibliográficas devem conter o nome completo do autor, o título daobra, o local e a data de publicação, o nome do editor e o número de páginas,enquadrando-se em uma das situações a seguir referidas:

a) livros - POCHMANN, Márcio (2001). O emprego na globalização. A nova a) livros - internacionalização do trabalho e os caminhos que o Brasil esco-

a) livro s- lheu. São Paulo: Boitempo Editorial, 151 p. a) livs- CASTRO, Antônio B. de, SOUZA, Francisco E. P. de (1985). A eco-

a) li nomia brasileira em marcha forçada, 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, iv ros- 217p.

ORIENTAÇÃO PARA APRESENTAÇÃO DE ARTIGOS

1042 Rosana Ribeiro; Adir A. Juliano

b) capítulo ou artigo de livro - MIRANDA, José Carlos da Rocha (1997). Dinâmi-b) capítulo ou artig o de livro ca financeira e política macroeconômica. In: TA-b) capítulo ou artigo d e l ivo VARES, M. C.; FIORI, J. L., orgs. Poder e dinhei-b) capítulo ou artigo de li roro: uma economia política da globalização. Pe-b) capítulo ou artigo d e livr o trópolis: Vozes, p. 243-275.

c) periódicos - CONJUNTURA ECONÔMICA (2000). Rio de Janeiro: FGV, n. 12, dez.

d) artigos de periódicos - BELLUZZO, Luiz Gonzaga de Mello (1997). O declínio de Bretton Woods e a emergência dos mercados “glo- balizados”. Economia e Sociedade, Campinas: d) artigos de periódico s -UNICAMP/IE, n. 4, p. 11-20.

d) artigos de periódicos - PARTICIPAÇÃO do Brasil nos investimentos diretos d) artigos de periódico - mundiais (1997). Carta da SOBEET. São Paulo, v. 1, d) artigos de eriódicos - n. 4, set./out.

e) artigos de jornais - SALGUEIRO, Sônia (2000). Autopeças brasileiras con-e) artigos de jorna quistam mercado externo. Gazeta Mercantil, São Paulo, p. A-4, 6-8 mar.

e) artigos de jornais - PARTICIPAÇÃO de salários no PIB cai para 38%e) artigos de jorna (1997). Folha de São Paulo, São Paulo, 12 dez.,e) artigos de jornais - p. 2-5.

f) informação ou texto obtidos pela internet - BNDES (2000). O IED no Brasil f) informação ou texto obtidos pela internet - e no mundo: principais tendên-

f) informação ou texto obtidos pela interne - cias. Sinopse Econômica. Dispo- f) informação ou texto obtidos pela intern et nível em:

f) informação ou texto obtidos pela internet - http://bndes.gov.br/sinopse/poleco.htm f) informação ou texto obtidos pela intern Acesso em: 21 mar.

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BELLUZZO, Luiz Gonzaga de Mello (1997). O declíniode Bretton Woods e a emergência dos mercados“globalizados”. Economia e Sociedade, Campinas:-UNICAMP/IE, n. 4, p. 11-20.PARTICIPAÇÃO do Brasil nos investimentos diretosmundiais (1997). Carta da SOBEET. São Paulo, v. 1,n. 4, set./out.

SALGUEIRO, Sônia (2000). Autopeças brasileiras con-quistam mercado externo. Gazeta Mercantil, SãoPaulo, p. A-4, 6-8 mar.PARTICIPAÇÃO de salários no PIB cai para 38%(1997). Folha de São Paulo, São Paulo, 12 dez.,p. 2-5.

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