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Roteiro sobre INATISMO e EMPIRISMO - O inatismo defendia a idéia de que a fonte para o conhecimento pode ser encontrada nas idéias inatas . - Filósofos inatistas: Platão e Descartes. - Platão defende a teoria do inatismo em várias de suas obras. Na obra Menôn, Sócrates dialoga com um jovem escravo analfabeto e, ao fazer-lhe perguntas certas na hora certa, o filósofo consegue que o jovem escravo seja capaz de demonstrar sozinho um teorema de geometria. Como isso seria possível, indaga Platão, se o escravo já não houvesse nascido com idéias inatas? - Descartes diz que nosso espírito possui três tipos de idéias: idéias adventícias (se originam de nossas sensações, são enganosas), idéias fictícias (se originam de nossa imaginação, por exemplo: cavalo alado, não são verdadeiras) e, finalmente, as idéias inatas , (já nascemos com elas, são inteiramente racionais, verdadeiras, por exemplo: a idéia do infinito e as idéias matemáticas). - O empirismo defendia a idéia de que a fonte para o conhecimento está no contato com o mundo sensível , com as informações trazidas pelos órgãos dos sentidos . - Filósofos empiristas: Francis Bacon, John Locke, George Berkeley e David Hume. - Os filósofos defensores do empirismo defendiam que antes da experiência sensível somos como uma “folha em branco”, onde nada foi escrito. Segundo eles, todos os nossos conhecimentos começam com a experiência dos sentidos, com as sensações. Para eles, os objetos exteriores estimulam os nossos órgãos dos sentidos e temos sensações. As sensações se reúnem e formam as percepções. É a repetição de percepções que nos leva ao conhecimento sobre as coisas. Para os empiristas, é a partir desse contato direto com a realidade concreta que surge o conhecimento. 1 Estácio – DISCIPLINA: FUNDAMENTOS EPISTÊMICOS DA PSICOLOGIA

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Roteiro sobre INATISMO e EMPIRISMO

- O inatismo defendia a idéia de que a fonte para o conhecimento pode ser encontrada nas idéias inatas.

- Filósofos inatistas: Platão e Descartes.

- Platão defende a teoria do inatismo em várias de suas obras. Na obra Menôn, Sócrates dialoga com um jovem escravo analfabeto e, ao fazer-lhe perguntas certas na hora certa, o filósofo consegue que o jovem escravo seja capaz de demonstrar sozinho um teorema de geometria. Como isso seria possível, indaga Platão, se o escravo já não houvesse nascido com idéias inatas?

- Descartes diz que nosso espírito possui três tipos de idéias: idéias adventícias (se originam de nossas sensações, são enganosas), idéias fictícias (se originam de nossa imaginação, por exemplo: cavalo alado, não são verdadeiras) e, finalmente, as idéias inatas, (já nascemos com elas, são inteiramente racionais, verdadeiras, por exemplo: a idéia do infinito e as idéias matemáticas).

- O empirismo defendia a idéia de que a fonte para o conhecimento está no contato com o mundo sensível, com as informações trazidas pelos órgãos dos sentidos.

- Filósofos empiristas: Francis Bacon, John Locke, George Berkeley e David Hume.

- Os filósofos defensores do empirismo defendiam que antes da experiência sensível somos como uma “folha em branco”, onde nada foi escrito. Segundo eles, todos os nossos conhecimentos começam com a experiência dos sentidos, com as sensações. Para eles, os objetos exteriores estimulam os nossos órgãos dos sentidos e temos sensações. As sensações se reúnem e formam as percepções. É a repetição de percepções que nos leva ao conhecimento sobre as coisas. Para os empiristas, é a partir desse contato direto com a realidade concreta que surge o conhecimento.

Resumo sobre a filosofia de HEGEL

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Estácio – DISCIPLINA: FUNDAMENTOS EPISTÊMICOS DA PSICOLOGIAPROFA.: TAIS MASSIERE

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Roteiro sobre a filosofia de KANT

- Immanuel Kant, filósofo alemão do século XVIII, foi um filósofo que discordou das idéias dos inatistas e empiristas.

- Para Kant, a fonte para o conhecimento não pode ser encontrada nem no próprio sujeito e nem na própria realidade externa. Ele diz que o conhecimento é o resultado final da relação entre a estrutura vazia da razão e os conteúdos da realidade sensível. Ou seja, o conhecimento não está pronto previamente em lugar algum, mas sim, depende de certas condições de possibilidade. A grande preocupação de Kant é descrever quais são essas condições de possibilidade para o conhecimento.

- Para ele, a razão tem uma estrutura básica que nos leva a perceber a realidade de um certo modo, dentro de certos limites. Para ele, não podemos captar as coisas tais como elas são, mas sim, captamos as coisas a partir de um certo “filtro”, o filtro da razão.

- Ao estudar as condições de possibilidade do conhecimento, Kant traz a concepção de que o conhecimento resulta da contribuição da faculdade da sensibilidade e da faculdade do entendimento. A faculdade da sensibilidade percebe os objetos concretos. A faculdade do entendimento constrói conceitos abstratos.

- Para Kant, a estrutura da razão é inata, isto é, não é adquirida ao longo de nossa vida, pois já nascemos com a faculdade da sensibilidade e com a faculdade do entendimento. Ele diz que não podemos conhecer a realidade em si mesma, pois a razão percebe a realidade a partir dessas duas faculdades.

- A sensibilidade nos permite ter percepções. Nossas percepções são nosso contato com a experiência sensível, concreta, imediata, tal qual ocorre em nosso dia-a-dia. Para que isso possa acontecer, a sensibilidade possui duas formas a priori: espaço e tempo.

- Espaço: percebemos as coisas como dotadas de altura, largura, comprimento, ou seja, nós as percebemos como realidades espaciais. Nada pode ser percebido por nós se não possuir propriedades espaciais. O espaço não é algo percebido, mas é o que permite haver percepção (percebemos lugares, posições, situações, mas não percebemos o próprio espaço). Tempo: só podemos perceber as coisas como simultâneas ou sucessivas: percebemos as coisas como se ocorressem num só instante ou em instantes sucessivos. Percebemos as coisas como realidades temporais. Temos experiência do passado, do presente e do futuro. Não percebemos o próprio tempo, mas ele é a condição de possibilidade da percepção das coisas. Assim, ao receber os conteúdos da experiência, a faculdade da sensibilidade os organiza segundo a forma do espaço e do tempo.

- O entendimento transforma as percepções em conceitos.

- Para isso, o entendimento possui um conjunto de categorias que nos levam a formular conceitos, a elaborar o conhecimento intelectual. Um conceito é uma idéia geral sobre algo, uma representação que nos permite pensar em um algo mesmo quando esse algo está ausente. Por exemplo, todos nós temos uma idéia de árvore, mesmo quando não há nenhuma árvore presente.

- Quais são as categorias que nos permitem transformar os dados da experiência em conceitos? A qualidade, a quantidade, a causalidade, a finalidade, a verdade, a falsidade, a universalidade, a particularidade. Esses são os instrumentos racionais com os quais o sujeito elabora um conhecimento sobre a realidade.

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- Em instante algum Kant diz que a realidade em si mesma é espacial, temporal, qualitativa, quantitativa, causal, etc. O que Kant afirma é que a razão possui estruturas, que são a condição de possibilidade para a elaboração de todo tipo de conhecimento. É isso que a razão pode. O que ela não pode é supor que pode conhecer a realidade tal como esta é em si mesma. Para Kant, o erro dos inatistas e empiristas foi o de supor que nossa razão alcança a realidade em si.

Roteiro sobre a filosofia de HEGEL

- Georg Wilhelm F. Hegel nasceu em Stuttgart em 1770. Hegel critica a concepção kantiana de uma consciência considerada como dada, como originária, sem que Kant jamais se pergunte pela sua origem, pelo seu processo de formação. A reflexão filosófica deve partir, para Hegel, de um exame do processo de formação da consciência. Hegel busca entender o próprio processo histórico, as “leis da história”, seu sentido e sua direção. Para ele, é apenas ao traçar o caminho pelo qual a razão humana se desenvolveu que podemos entender o que somos hoje.

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- Nas Lições de Iena, Hegel aponta que o processo de formação da consciência consiste de três elementos básicos: 1) as “relações morais”, isto é, a família ou a vida social; 2) a linguagem, ou os processos de simbolização; e 3) o trabalho, ou a maneira como o homem interage com a natureza para dela extrair seus meios de subsistência.

- O processo histórico de formação da consciência é mais elaborado na Fenomenologia do espírito, obra que traz a proposta de fazer uma apreensão da consciência ao longo da história. Para Hegel, a consciência possui uma marcha própria, uma lei interna do progresso que a faz direcionar-se a novos conhecimentos. Hegel busca compreender esse processo buscando considerar não apenas o seu momento atual, mas buscando compreender sua direção, seu sentido, sua lei.

- A experiência da consciência não é apenas uma experiência teórica, mas sim toda e qualquer experiência. Nas Lições de filosofia da história, Hegel analisa a história da humanidade e da cultura, desde os seus primórdios com os assírios e babilônios até a época contemporânea. Nas Lições de história da filosofia, procura reconstruir o processo de desenvolvimento da filosofia desde Tales de Mileto até o período de Hegel, estabelecendo elos entre as diferentes correntes e períodos, que são entendidos como apresentando visões parciais do todo.

- Hegel considera que o progresso da consciência é um produto da evolução histórica, cujo sentido só será conhecido no momento em que o filósofo alcançar a compreensão de todo esse processo de mudança ocorrido ao longo da história. Considera que a consciência não é o ponto de partida ou de chegada desse processo, mas o próprio processo.

- O processo é dialético. Conhecemos a nossa própria consciência a partir da relação que ela estabelece com os objetos de conhecimento e com as outras consciências. A consciência não se estrutura no isolamento. A consciência está sempre lançada na oposição, na tensão com o outro. Para Hegel, é preciso superar esse estado de tensão entre opostos. Para ele, caminhamos rumo a superação completa desse estado de tensão. Isso vai ocorrer, para Hegel, quando o saber absoluto chegar a uma verdade absoluta.

- Na dialética do senhor e do escravo, Hegel analisa a importância da relação com o outro na constituição da identidade. Através dessa metáfora, Hegel retrata o processo de constituição da identidade da consciência em sua luta pelo reconhecimento pelo outro, pelas outras consciências. O senhor submete o escravo, mas como a relação é dialética, o senhor depende de que o escravo o reconheça como senhor. Assim o superior depende de que o inferior o reconheça como superior para manter a sua posição. Já o escravo, na medida em que trabalha, transforma a natureza, encontra a si mesmo, se dá conta de que não é um objeto tal qual o senhor o considera, descobre que é um sujeito capaz de agir sobre o mundo, de transformar a realidade. A dialética do senhor e do escravo descreve um tipo de relação que é uma relação assimétrica, e não uma relação entre dois sujeitos como deveria ser, uma relação de reconhecimento mútuo e recíproco.

- Hegel criticou o inatismo, o empirismo e o kantismo por não haverem compreendido que a razão é histórica, que a razão se forma, se estrutura, ao longo de um processo histórico. Para Hegel, a mudança, a transformação da razão e de seus conteúdos deve ser levada em conta, deve ser analisada.

- Hegel analisa os conflitos entre as diferentes filosofias. Uma filosofia afirma uma tese (a tese inatista), depois surge outra filosofia para negar essa tese (a tese empirista) e depois surge uma terceira posição que nega as duas anteriores (a posição kantiana). Essa terceira tese, ao ser afirmada, torna-se uma primeira tese que será negada por uma outra (a filosofia do chamado Romantismo alemão negou a filosofia kantiana) até que uma terceira tese (a filosofia de Hegel) negue as duas anteriores numa verdade superior que as engloba e as compreende. O processo é dialético, existe uma tese, uma antítese e uma síntese. O caminho é feito de verdades parciais que vão sendo reunidas até que se chegue a uma verdade totalizadora que as engloba.

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- Em cada momento de sua história, a razão produziu uma tese e, logo a seguir, uma tese contrária, ou uma antítese. Cada tese e cada antítese foram momentos necessários para a razão conhecer-se cada vez mais. Cada tese e cada antítese foram verdadeiras, mas parciais. Para Hegel, a razão não pode ficar estacionada nessas contradições, precisa ultrapassá-las numa síntese que una as teses contrárias, mostrando onde está a verdade de cada uma delas e conservando essa verdade. Essa é a busca pelo Espírito Absoluto.

Roteiro sobre a filosofia de AUGUSTE COMTE

- O positivismo de Auguste Comte teve grande importância no processo de surgimento da concepção de “ciência” que predominou no momento em que a Sociologia e a Psicologia começaram a surgir como disciplinas separadas da Filosofia durante a segunda metade do século XIX.

O contexto de surgimento da Psicologia enquanto “ciência”

- Para falarmos em Psicologia como ciência temos de considerar um aspecto fundamental desse processo: o surgimento na história da humanidade da crença na ciência como forma de conhecer o mundo e de dar respostas para problemas da vida humana. Essa crença na ciência como fonte de soluções para os problemas humanos surgiu em um determinado momento da história.

- No século XIX a ciência passa a ganhar um lugar de grande destaque na sociedade. O crescimento da nova ordem econômica, o capitalismo, traz consigo o processo de industrialização, para o qual a ciência deveria dar respostas e soluções práticas. Há, então, um impulso muito grande para o desenvolvimento da ciência, como um sustentáculo da nova ordem

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econômica e social, e dos problemas colocados por ela. Idéias que se tornaram dominantes foram: a possibilidade de desvendar a natureza e as suas leis pela observação rigorosa e objetiva, e a busca de um método rigoroso que possibilitasse a descoberta dessas leis. A partir dessa época, a noção de verdade passa, então, a contar com o aval da ciência.

- O positivismo de Augusto Comte postulava a necessidade de maior rigor científico na construção dos conhecimentos nas ciências humanas e sociais. Dessa forma, propunha o método da ciência natural, a Física, como modelo de construção de conhecimento. Para Comte devemos nos dedicar exclusivamente ao domínio da observação, considerada a única base possível de conhecimento. Ele defende a busca pelas leis (relações constantes) entre os fenômenos que podiam ser diretamente observados. Para Comte a previsão deve constituir o verdadeiro objeto das ciências. O verdadeiro espírito positivo consiste em “ver para prever”, em estudar aquilo que é para se concluir sobre aquilo que será, segundo a noção de invariabilidade das leis naturais.

- Por toda parte, na Europa da segunda metade do século XIX, teorias de Spencer, Darwin e Comte impunham-se decididamente a todos os domínios da vida intelectual. A cultura parecia dominada, de ponta a ponta, pela idéia do determinismo universal, ou seja, pela idéia de que existem leis de funcionamento que podem servir para explicar todas as coisas, seja a natureza, seja a sociedade.

- O nascimento da Psicologia enquanto ciência teve influência direta desse clima intelectual. Por isso é importante compreendermos esse momento da história e o papel do positivismo de Auguste Comte nesse processo.

Análise do desenvolvimento histórico das ciências em três estágios (ou estados)

- Depois de uma análise do desenvolvimento histórico das ciências, Auguste Comte chegou à conclusão de que todas elas tinham evoluído em três estágios (ou estados): teológico, metafísico e positivo.

- No estágio (ou estado) teológico se busca explicar a realidade recorrendo a agentes sobrenaturais. No estágio (ou estado) metafísico se busca explicar a realidade recorrendo a forças abstratas. No estágio (ou estado) positivo, a ciência deve buscar determinar as leis de funcionamento de todas as coisas, a partir da experiência observável.

- Segundo a concepção de Auguste Comte, todas as ciências, sem exceção, deveriam evoluir para o estágio positivo, ou seja, todas as ciências deveriam passar a buscar as leis de funcionamento da realidade a partir da experiência observável.

Concepção de Comte acerca do estudo da sociedade pelo campo da Sociologia

- Auguste Comte foi o primeiro pensador a utilizar o termo Sociologia para referir-se ao estudo científico da sociedade. Comte tinha a convicção de que o mundo social se regia, assim como o mundo físico, por uma série de leis de funcionamento que eram invariáveis, que se mantinham as mesmas em qualquer época e lugar. Isso o levou a definir a Sociologia como uma ciência positiva que deveria ter como objetivo a busca das leis de funcionamento da sociedade.

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BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA:

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ÁLVARO, J. L. e GARRIDO, A. Psicologia Social. Perspectivas psicológicas e sociológicas. São Paulo: McGraw Hill, 2006.

BOCK, Ana M. B, FURTADO, Odair, TEIXEIRA, Maria de Lourdes T. Psicologias. Uma Introdução ao Estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008.

JAPIASSU, Hilton. Introdução à epistemologia da Psicologia. 2ª edição. Rio de Janeiro: Imago, 1977.

Roteiro sobre a filosofia de MARX

- Karl Marx (1818-1883) nasceu em Trier, na região do Reno, na Alemanha. Marx não foi estritamente um filósofo, embora tenha uma obra filosófica importante; sua filosofia, bem como suas idéias revolucionárias, foram forças teóricas e políticas fundamentais do séc. XX. Historiador, cientista político, sociólogo, economista, jornalista, ativista político e revolucionário, além de filósofo, Marx via sua obra superado os limites estritos e os rumos tradicionais da filosofia teórica moderna.

Marx filósofo: a radicalização da crítica

- Assim como Hegel criticou Kant por não considerá-lo suficientemente crítico, Marx, igualmente, criticará Hegel por não considerá-lo tampouco suficientemente crítico. A crítica de Marx a Hegel e aos hegelianos diz respeito fundamentalmente a seu idealismo. A interpretação hegeliana do processo histórico e da formação da consciência restringe-se ao plano das idéias e representações, do saber e da cultura, não levando em conta as bases materiais da sociedade em que este saber e esta cultura são produzidos e em que a consciência individual é formada.

- Hegel teria, em suas Lições de Iena, levado em conta três dimensões da formação da consciência: a vida moral, as formas de simbolização (linguagem) e o trabalho, sendo que Marx viria a privilegiar o trabalho como a mais fundamental.

- Marx diz que as idéias são determinadas pelas condições materiais de vida, ou seja, a consciência é condicionada pelo trabalho.

- A questão central da análise de Marx passa a ser portanto o trabalho, questão, aliás, praticamente ausente da análise dos filósofos desde a Antiguidade. O trabalho é uma relação invariante entre a espécie humana e seu ambiente natural, uma perpétua necessidade natural da vida humana. Esse sistema de ação, instrumental, contingente, surge na evolução da espécie, mas condiciona nosso conhecimento da natureza ao interesse no possível controle técnico dos processos naturais. O processo autoformativo da espécie humana é condicionado, o que vai contra a idéia hegeliana de um movimento do Absoluto.

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- No processo de trabalho não só a natureza é alterada, mas o próprio homem que trabalha, não havendo assim uma essência humana fixa. Seu materialismo histórico, portanto, pretende ser uma teoria científica da história. Marx analisa então os diferentes estágios, caracterizados através da noção de “relações de produção”, que levaram a humanidade, desde a sociedade primitiva, passando pela sociedade escravocrata e pela sociedade feudal, até a sociedade burguesa de sua época.

- Podemos considerar, de certa forma, a filosofia de Marx como uma “filosofia do fim da filosofia”. Isto quer dizer que a filosofia, tal como concebida tradicionalmente, está esgotada e é incapaz de realizar efetivamente a crítica a que se propõe. Para Marx, a filosofia indica a necessidade da prática revolucionária, de “transformar o mundo”, nas palavras da XI tese sobre Feuerbach. A análise filosófica tradicional deve dar lugar assim a uma análise econômica, política, histórica, sociológica. E a reflexão filosófica teórica deve dar lugar a uma prática revolucionária transformadora, através de uma concepção de unidade entre teoria e prática.

A crítica da ideologia

- A análise crítica da tradição filosófica racionalista, sobretudo de Hegel e dos hegelianos, é encontrada principalmente no texto da Ideologia alemã de Marx e Engels, sendo que a noção de ideologia aí definida tornou-se central no desenvolvimento da filosofia contemporânea e na definição mesma de uma teoria e de um método crítico, em todos os campos das ciências humanas e sociais.

- Marx e Engels entendem o termo “ideologia” como “falsa consciência”. A partir da definição do termo dada por Marx e Engels, a ideologia é uma visão distorcida, é o mascaramento de uma realidade opressora, fazendo-a parecer mais aceitável pelo ocultamento de seu caráter negativo.

- Vejamos esta passagem da Ideologia alemã: “As idéias da classe dominante são, em cada época, as idéias dominantes, isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante”.

- A ideologia é, assim, uma forma de dominação, gera uma falsa consciência, uma consciência ilusória através de mecanismos que fazem com que as representações da classe dominante sejam consideradas a verdadeira realidade, produzindo a legitimação das condições existentes na sociedade.

- A ideologia é produto de uma estrutura social profundamente desigual. A tarefa da filosofia crítica é desmascarar a ideologia, revelar o processo pelo qual se produz, fazendo com que perca seus efeitos, desfazendo as ilusões que gera. Se, no entanto, a filosofia não leva em conta as origens materiais da ideologia na relação de dominação existente na sociedade, a análise filosófica passa a ser inócua, tornando-se ela própria parte da ideologia.

- A tarefa crítica da filosofia corresponde portanto a uma tentativa de penetrar na verdadeira realidade no que esta tem de mais básico (a estrutura social, as relações de produção, segundo Marx), para além das aparências (as representações ideológicas, isto é, parciais, idealizadas, falsamente justificadas).

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