fundamentos da gestÃo pÚblica e o exercÍcio...

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1 FUNDAMENTOS DA GESTÃO PÚBLICA E O EXERCÍCIO PROFISSIONAL: UMA LEITURA NECESSÁRIA Gabriella Mariano Munhoz Zeneratti 1 RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo evidenciar os alguns fundamentos da gestão pública (concepção Estado, política social e diferentes modos de gestão). Entendemos que a especificidade em cada um destes fundamentos orienta um modelo de gestão. O trabalho tem um caráter exploratório e as reflexões construídas até o momento, e que sustentam os argumentos deste artigo, são fundadas em revisão bibliográfica. Esses apresentam dois eixos teóricos basilares: concepção de Estado Moderno/burocracia e os modelos de gestão pública no Estado brasileiro. Sendo que, na concepção ampliada do Estado e levando em consideração os pressupostos das políticas sociais na contemporaneidade (universalização, descentralização, territorialização, participação social, intersetorialidade, matricialidade sócio familiar), se propõe um novo caminho, a gestão pública voltada para área social, a partir da radicalização das estruturas democráticas do aparelho estatal. PALAVRAS CHAVES: fundamentos da gestão pública; política social; exercício profissional. INTRODUÇÃO Propor um diálogo entre o objeto de pesquisa que centra sua discussão entre os aspectos éticos que orientam as decisões e encaminhamentos dos profissionais do Serviço Social que atuam na execução da medida socioeducativa de internação, e a gestão da política social exige uma leitura crítica do contexto que envolve a prática profissional. Isso porque, sem ter esse arcabouço teórico como pano de fundo essa discussão pode se apresentar de forma fracionada. Compartilharmos da premissa de que sem contextualizar o espaço sócio ocupacional do assistente social, com intuito desvelar a tensão política que está presente na gestão das políticas sociais, e, portanto nas formas de administração que o Estado adota para enfrentar as demandas postas, as limitações do exercício profissional e no caso em questão os dilemas éticos recaem de forma exclusiva na subjetividade manifesta ou não do profissional. Isso, em 1 Assistente Social do Centro de Sócioeducação (CENSE) de Paranavaí vinculada a Secretaria de Estado da Família e Desenvolvimento Social (SEDS) do Paraná e mestranda do curso de pós-graduação em Política Social e Serviço Social da Universidade Estadual de Londrina/PR. Email: [email protected]

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FUNDAMENTOS DA GESTÃO PÚBLICA E O EXERCÍCIO PROFISSIONAL: UMA

LEITURA NECESSÁRIA

Gabriella Mariano Munhoz Zeneratti1

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo evidenciar os alguns fundamentos da gestão

pública (concepção Estado, política social e diferentes modos de gestão). Entendemos que a

especificidade em cada um destes fundamentos orienta um modelo de gestão. O trabalho tem um

caráter exploratório e as reflexões construídas até o momento, e que sustentam os argumentos deste

artigo, são fundadas em revisão bibliográfica. Esses apresentam dois eixos teóricos basilares:

concepção de Estado Moderno/burocracia e os modelos de gestão pública no Estado brasileiro. Sendo

que, na concepção ampliada do Estado e levando em consideração os pressupostos das políticas

sociais na contemporaneidade (universalização, descentralização, territorialização, participação social,

intersetorialidade, matricialidade sócio familiar), se propõe um novo caminho, a gestão pública

voltada para área social, a partir da radicalização das estruturas democráticas do aparelho estatal.

PALAVRAS CHAVES: fundamentos da gestão pública; política social; exercício profissional.

INTRODUÇÃO

Propor um diálogo entre o objeto de pesquisa que centra sua discussão entre os

aspectos éticos que orientam as decisões e encaminhamentos dos profissionais do Serviço

Social que atuam na execução da medida socioeducativa de internação, e a gestão da política

social exige uma leitura crítica do contexto que envolve a prática profissional. Isso porque,

sem ter esse arcabouço teórico como pano de fundo essa discussão pode se apresentar de

forma fracionada.

Compartilharmos da premissa de que sem contextualizar o espaço sócio ocupacional

do assistente social, com intuito desvelar a tensão política que está presente na gestão das

políticas sociais, e, portanto nas formas de administração que o Estado adota para enfrentar as

demandas postas, as limitações do exercício profissional e no caso em questão os dilemas

éticos recaem de forma exclusiva na subjetividade manifesta ou não do profissional. Isso, em

1 Assistente Social do Centro de Sócioeducação (CENSE) de Paranavaí vinculada a Secretaria de Estado da

Família e Desenvolvimento Social (SEDS) do Paraná e mestranda do curso de pós-graduação em Política

Social e Serviço Social da Universidade Estadual de Londrina/PR. Email: [email protected]

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nossa opinião, é uma forma cruel de responsabilizar o indivíduo por contradições inerentes à

sociabilidade burguesa.

O presente artigo sistematiza as discussões e leituras realizadas durante a disciplina

Gestão de Política Social: perspectivas atuais, ministrada no segundo semestre 2012 no curso

de Pós-graduação stricto sensu da Universidade Estadual de Londrina, e tem como objetivo

evidenciar os alguns fundamentos da gestão pública (concepção Estado, política social e

diferentes modos de gestão). Entendemos que a especificidade em cada um destes

fundamentos orienta um modelo de gestão. O trabalho tem um caráter exploratório e as

reflexões construídas até o momento, e que sustentam os argumentos deste artigo, são

fundadas em revisão bibliográfica. Esses apresentam dois eixos teóricos basilares: concepção

de Estado Moderno/burocracia e os modelos de gestão pública no Estado brasileiro.

CONCEPÇÃO DE ESTADO MODERNO

A discussão sobre a teoria de Estado inicia em Maquiavel, segundo Gruppi (1987, p:

8), “desde começo de 1500 temos Nicolau Maquiavel, que é o primeiro a refletir sobre o

Estado”. No entanto, nosso objetivo, neste texto, não está em elucidar a concepção liberal e a

concepção democrática-burguesa que Marx se deparou, mas sim, centrar a discussão no que

Coutinho (1985) indica como sendo o modo “restrito” ou “amplo” de conceber o Estado.

Para Coutinho (1985) os primeiros estudos do jovem Marx concentram-se na análise

do Estado Moderno, no qual inicialmente ele coaduna com as premissas de Hegel, que afirma

que o Estado representa a vontade geral de todos. No entanto, Marx logo passa assumir um

discurso crítico em relação a essa teoria hegeliana e mostra que o Estado “[...] não passa de

uma máscara a ocultar a dominação de uma casta burocrática que defende apenas (como todas

as outras ‘corporações’) os seus próprios interesses” (COUTINHO, 1985, p: 16).

Em outras palavras, o Estado despolitiza a sociedade e atua como comitê executivo da

burguesia, no qual seu poder se impõe essencialmente pelos aparelhos repressivos e

burocrático-executivos. Está assim formulado o alicerce da concepção “restrita” do Estado,

isso porque, “[...] esse seria a expressão direta e imediata do domínio de classe (‘comitê da

burguesia’) exercido através da coerção (‘poder de opressão’)” (COUTINHO, 1985, p: 19).

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Neste sentido o entendimento de revolução socialista só ocorre com a derrubada

violenta da burguesia, através da revolução permanente, e o estabelecimento da ditadura do

proletariado e consequente quebra do Estado, pois a estrutura econômica está na sua própria

base, no qual segundo Gruppi (1987, p: 26) “a sociedade política, o Estado, é expressão da

sociedade civil, isto é, das relações de produção que nela se instalaram”.

Isto posto, para Coutinho (1985), a concepção “restrita” de Estado e a visão

“explosiva” do processo revolucionário foram superadas nas obras posteriores de Marx,

sobretudo, de Engels. Este foi o primeiro marxista a empreender o processo de ampliação da

teoria do Estado.

O Império Alemão, como todos os pequenos Estados e, em geral, todos os Estados

modernos, é produto de um pacto; primeiramente, de um pacto dos príncipes entre si e,

depois, dos príncipes com o povo. Se uma das partes quebra o pacto, todo ele é nulo e a

outra parte está desobrigada. (ENGELS, apud Coutinho, 1985, p: 27-28)

Aqui está para Coutinho (1985, p: 28) uma das maiores contribuições do marxismo

para a teoria política, pois “(...) Engels vê agora que a dominação de classe não se manifesta

apenas através da coerção, mas resulta também de mecanismos legitimação que asseguram

um consenso”. Ainda segundo autor, as formulações a respeito de uma concepção “restrita”

de Estado se configuram como um verdadeiro anacronismo, pois desconsidera precisamente

os aspectos históricos, no qual os conceitos de Estado e revolução se articularam e evoluíram

ao longo da reflexão marxista.

Essa necessidade de acompanhar a mudança histórica de sociedade e, portanto

combater o que Coutinho (1985, p: 47) denomina como sendo “generalização do

bolchevismo” estava expressa tanto nas formulações de direita, de Kautsky, Bernstein, como

por representantes do marxismo de esquerda: Rosa Luxemburg. Mas sem dúvida a maior

expressão da teoria ampliada de Estado está nas concepções mais sistemáticas do italiano por

Antonio Gramsci.

Gramsci distinguiu duas esferas no interior das superestruturas: a sociedade civil e a

sociedade política. Esta expressa os aparelhos coercitivos do Estado ligados às forças armadas

e policiais e aplicação das leis, o que já havia sido demostrado por Marx, Engels e Lenin. Já

na definição de sociedade civil, segundo Coutinho (1985, p: 60-61):

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Em Marx e Engels, que nisso seguem essencialmente Hegel, ‘sociedade civil’ designa

sempre o conjunto das relações econômicas capitalistas, o que eles chamam de ‘base

material’ ou ‘infra-estrutura’. Em Gramsci, ao contrário, o termo ‘sociedade civil’, designa

um momento ou esfera da ‘superestrutura’. Designa o conjunto das instituições

responsáveis pela elaboração e/ou difusão de valores simbólicos, de ideologias,

compreendendo o sistema escolar, as Igrejas, os partidos políticos, as organizações

profissionais, os sindicatos, os meios de comunicação, as instituições de caráter científico e

artístico, etc.

Enfim, segundo Coutinho (1985), ambas as esferas formam o Estado, no qual existe

uma “hegemonia revestida de coerção”. A sociedade politica tem a função de coerção,

ditadura, dominação, através dos seus aparelhos coercitivos e repressivos, já a sociedade civil

tem o papel de promover a hegemonia através do consenso, direção e utiliza-se dos aparelhos

privados de hegemonia. Diante deste pressuposto, Gramsci afirma que a revolução socialista

acontece de forma gradual, processual, no qual a hegemonia da classe proletária é

estabelecida após uma revolução moral de valores que se contrapõem aos valores e a moral da

sociedade dominante.

Ficam assim, descrito de forma sintética, os dois modelos no qual nos propomos a

elucidar neste item, a concepção do modo “restrito” e “amplo” de conceber o Estado. A

concepção “restrita” está ligada a leitura de que é no Estado que se encontra a gênese da

sociedade de classes, pois ele é a expressão das relações de produção estabelecidas, e sua

função precípua está em conservar a divisão de classes e assegurar os interesses particulares da

sociabilidade burguesa. Já no modo “amplo”, o Estado tem a função de coerção e consenso,

sendo que, ele será menos coercitivo e mais consensual quando, segundo Coutinho (1985):

(...) tal fato depende sobretudo do grau de autonomia relativa das esferas, bem como da

predominância no Estado dos aparelhos pertencentes a uma ou a outra (uma predominância

que, por sua vez, depende não apenas do grau de socialização da política alcançado pela

sociedade em questão, mas também da correlação de forças entre as classes sociais que

disputam a ‘supremacia’. (COUTINHO, 1985, p: 64)

O escopo desta questão está em evidenciar que o modo de conceber o Estado, seja

“restrito” ou “amplo”, orienta a leitura sobre política social, e forma de sua gestão. Isso

porque, se tiver como apoio teórico a concepção restrita, a politica social nada mais é que uma

forma de reprodução da força de trabalho, e, portanto, mais um elemento de dominação da

classe dominante, e o exercício da democracia é uma estratégia de manutenção do status quo

e o continuum de uma sociedade trabalhadora despolitizada. Portanto, a única saída para essa

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forma de dominação seria a revolução violenta, mobilizada através dos partidos políticos, com

intuito de tomar o Estado por assalto e destruí-lo.

Já na leitura ampliada de Estado, as políticas sociais acenam as demandas da classe

trabalhadora, e segundo Filho (2011, p: 1) “[...] apresentam-se como o campo, por excelência,

de viabilização dos interesses das classes trabalhadoras na ordem do capital”, ou seja, a

politica social é um projeto ideopolítico em disputa. Diante disso, a democracia torna-se um

modelo a ser seguido, no qual o Estado é um importante mediador que dialoga com a

sociedade civil, com a função de organizar a luta de classes. Neste contexto, a política social

serve para a manutenção da classe trabalhadora, no entanto ela traz consigo a contradição de

classes, o que auxilia na construção para o consenso social ao atender demandas da classe

trabalhadora, dentro dos limites e possibilidades do Estado, dito de outro modo, “[...] a

ampliação de políticas sociais, via Estado, é compatível com ações que pretendam a superação

da ordem burguesa” (FILHO, 2011, p: 32).

Fica claro que uns dos fundamentos da gestão pública- concepção de Estado e política

social- tem dois grandes eixos teóricos de debate, ora para uma leitura “restrita” ora para uma

“ampliada”, no qual ambas parte de um mesmo pressuposto, a análise da sociedade burguesa,

no entanto apresentam pontos, já explicitados, que convergem e divergem nas possibilidades

de gestão, diante de um modo de conceber o Estado.

MODELOS DE GESTÃO PÚBLICA NO ESTADO BRASILEIRO

Não há como desvincular a gestão pública do conteúdo ideopolítico do Estado na sua

perspectiva histórica. Pensar nos fundamentos da administração pública naturalmente exige

uma conexão com os seus modelos, no qual será considerada sua clássica divisão de

patrimonialista, burocrática, gerencial e social, localizadas na trajetória histórica da

organização das políticas sociais no Brasil.

A classe burguesa brasileira traz as marcas do neocolonialismo e das fortes

determinações do capital externo, no qual segundo Rizzotti (1999, p:5) “[...] a formação

social é determinada de fora para dentro”. De acordo com essa tese, Nogueira (1998, p: 12)

complementa “somos protagonistas de revoluções sem revolução”. Diante deste pressuposto,

o Estado brasileiro:

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[...] é simultaneamente passado e presente (e, em boa medida, futuro), que é tudo e é nada,

que encerra a força da conservação e as possibilidades da renovação, que se intromete em

todas as coisas mas é dominantemente omisso, que é forte e fraco, odiado e amado com

idêntica intensidade- o mais sedutor e perigoso dos campos de batalha em que pelejam as

classes e os grupos da sociedade (NOGUEIRA, 1998, p: 13).

Um Estado burocrático e entrelaçado de patrimonialismo que expressa a ausência de

um projeto político nacional e estrategicamente garante o fortalecimento externo das

oligarquias, além de historicamente se utilizar da repressão para enfrentar as demandas postas

pela classe trabalhadora, vai propor diferentes modelos de administração pública na sua

trajetória histórica. Apoiados em Filho (2011, p. 81):

[...] a administração pública brasileira nasce, desenvolve-se e se consolida de uma espinha

dorsal que combina patrimonialismo e burocracia, configurando uma unidade contraditória

coerente com a particularidade de nosso capitalismo periférico e de nossa ‘revolução

burguesa’ não clássica.

Diante deste pressuposto, podemos afirmar que a administração pública

patrimonialista pode ser identificada como a forma de gestão onde não há distinção entre a

coisa pública do bem privado, sendo que, a corrupção é o nepotismo são inerentes a este

modelo de administração. No caso brasileiro 1822 é a data oficial para identificar o fim do

estatuto colonial e o nascimento do Estado nacional, e neste primeiro momento, se instaura a

administração pública patrimonialista, predominantemente durante o período imperial e a

República Velha. Neste período histórico, o modelo de gestão pública é marcado pela

presença do clientelismo, apadrinhamento e práticas despóticas. A demanda da classe

trabalhadora é enfrentada de forma repressiva, no qual ficam a mercê da filantropia.

Nesse sentido, a organização político-administrativa da colônia combinará a dimensão

tradicional patrimonialista advinda do Estado português com a que brota da articulação

entre o poder central e o poder local patriarcal exercido pelos proprietários rurais. (FILHO,

2011, p:84)

A estrutura administrativa brasileira organiza-se de forma patrimonialista, entretanto,

segundo Filho (2011) para essa dominação atingir o âmbito nacional e local há necessidade de

uma ordem burocrática.

Sendo assim, a gênese da ordem administrativa brasileira se funda no patrimonialismo e na

burocracia, não porque se forja uma dicotomia entre o ‘velho’ e o ‘novo’ entre o ‘atraso’ e o

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‘moderno’, mas sim devido à necessidade de objetivar a dominação das classes dominantes

(proprietários rurais e burguesia comercial) em nível local e nacional simultaneamente, a

partir do momento em que ocorre a passagem da sociedade colonial para uma sociedade

nacional, que implicou a existência de um sistema tradicional escravista e de um sistema

capitalista emergente articulados intensivamente. (FILHO, 2011, p: 90)

Segundo Nogueira (1998, p: 24) “nas quatro décadas que separam o fim da monarquia

e a revolução de 1930, o Brasil conhecerá um tumultuado e irregular processo de expansão

capitalista”. Ou seja, uma nova civilização vai se consolidando e a vida urbano-industrial

desponta no cenário político. Entretanto, essa emergente sociedade urbano-industrial se

apresenta de forma heterogênea e fragmentada sendo insuficiente para propor uma revolução.

A supremacia da burguesia agrária (em especial a de São Paulo) manterá o País voltado

para a produção de matérias-primas e alimentos destinados ao mercado externo, fazendo

com que o café conheça sua glória e deixe em posição subordinada os demais ramos da

economia. (NOGUEIRA, 1998, p: 24)

Por isso, para Nogueira (1998) a década de 1930 foi um dos períodos mais

emblemáticos da história para república brasileira, pois depôs o presidente constitucional e

sete anos mais tarde instaura a mais severa ditadura da sua história, o Estado Novo.

Vistos em conjunto, os anos 30 foram determinados pelos esforços para viabilizar um novo

sistema de poder, fundado no compromisso inter-elites de industrializar aceleradamente o

País com base na modernização das estruturas do Estado e na incorporação subordinada das

massas urbanas emergentes. (NOGUEIRA, 1998, p: 21)

Nessa tentativa de conter a classe trabalhadora delineou-se uma política paternalista

estatal, também conhecida como populismo. Diante desta conjuntura, a forma de

administração pública, segundo Nogueira (1998, p: 23) “apenas nominalmente seria um

sistema civil e democrático: na verdade, fincou raízes em um localismo mandonista e em

práticas clientelísticas autoritárias, desinteressadas da cidadania e distantes dos grandes

valores republicanos”.

Enfim, segundo Filho (2011), no período de 1930 até o final da ditadura militar o

desenvolvimento da ordem administrativa estava vinculado a expansão do nosso capitalismo

periférico estruturado entre interesses agrários tradicionais e burguesia industrial,

incorporando setores da classe trabalhadora de forma seletiva e regulada.

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Na realidade material, na política e nas mentes, o Brasil mudava. No entanto, em

certa medida, continuava o mesmo: a democracia não avançava, as massas

permaneciam à margem das decisões e os seculares problemas nacionais-miséria,

concentração da propriedade agrária, dependência externa, profunda desigualdade

regional e social- restavam intocados ou eram dramaticamente agravados. O

confronto entre duas épocas- a da velha República latifundiária dos coronéis e a do

novo País do Estado, da indústria e dos trabalhadores-, embora dinamizasse a

sociedade e exigisse a redefinição do sistema de poder, não se concluía com a

eliminação radical de sua pólo mais atrasado: mais uma vez seria encontrado um

compromisso, um acordo mediado pelo Estado entre as velhas e as novas elites.

(NOGUEIRA, 1998, p: 29)

Com relação as gestão das políticas sociais, neste contexto histórico, para Filho (2011)

não existe um projeto de aprofundamento dos direitos sociais, mas sim uma operacionalização

de forma seletiva e limitada, que pouca alteração sofrerá até o golpe militar de 1964.

A partir da década de 1950 a economia brasileira passa para um novo patamar de

desenvolvimento capitalista. Para isso se exige a expansão do caráter burocrático do Estado,

ou seja, segundo Filho (2011) uma nova forma de apropriação do público pelo privado, que

não se confunde com patrimonialismo, pois aqui os bens não pertencem a um senhor, mas sim

privilegiará uma determinada classe social.

Assim, cabe ressaltar a ocorrência de uma mudança na função que a dimensão insulada da

burocracia exercia. No período compreendido entre 1937 e 1945, o ‘insulamento

burocrático’ serviu, prioritariamente, para sustentação da ditadura de Vargas. A partir da

década de 1950, ele servirá, prioritariamente, para viabilizar o projeto de expansão

capitalista brasileiro. Porém, o cariz antidemocrático de então permanecerá na medida em

que, através do insulamento, será impedida a participação das classes trabalhadoras no

desenho do desenvolvimento capitalista a ser expandido no país. (FILHO, 2011, p:121)

Com o golpe militar em 1964 e a reforma administrativa legalizada através da

promulgação do Decreto-lei n 200/1967, para Filho (2011, p: 129) “[...] o que ocorre no

Brasil, do ponto de vista administrativo, a partir do golpe de 1964, é a institucionalização e

expansão da estrutura anterior, porém, sob a égide da consolidação monopólica do

capitalismo brasileiro”.

Esse período histórico é conhecido por expressar a administração pública burocrática

fundada sob lógica do poder racional legal, com características de profissionalizar o quadro de

trabalhadores públicos, implementar o quadro de carreira, constituir e implementar a

impessoalidade, tudo com intuito de controlar os abusos da administração pública

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patrimonialista. Entretanto, como já dito anteriormente, o Estado brasileiro tem característica

peculiar de ser passado e presente, o novo e o velho, dentro de uma mesma estrutura.

Com relação às políticas sociais a universalização ocorre de forma combinada com

mercantilização dos serviços, segundo Filho (2011), implementa um sistema de baixa

qualidade para a massa da população brasileira e oferece todas as condições para a criação de

um sistema privado. Diante disso, as características das políticas sociais, deste período, são a

fragmentação, a centralização e a burocratização.

Com a eclosão da crise mundial na década 1970 e no caso brasileiro a crise do

“milagre econômico” emerge no cenário político uma retomada conservadora na forma de

administração pública. Sendo assim, o diagnóstico neoliberal que justifica esse momento de

crise do capital, encontra-se traduzido numa crise fiscal e financeira, decorrente dos gastos

excessivos com políticas sociais. Desta forma, é preciso propor uma reforma do Estado e

enxugar sua estrutura e função, portanto um Estado mínimo, para que assim, retome os níveis

de desenvolvimento econômico. Segundo Bento (2003):

O Estado mínimo, proposto pelo neoliberalismo é forte na sua capacidade de gerir a massa

monetária, no controle da moeda e na regulamentação dos mercados; forte para romper com

o poder dos sindicatos ou outras mobilizações de classe, para selecionar demandas

compatíveis com a liberdade econômica, mas avaro nas políticas sociais, nas intervenções

econômicas, na produção de bens ou serviços, os quais remetem aos agentes do mercado.

(BENTO, 2003, p: 43)

No Brasil a discussão que o Estado está inchado e inoperante já aparece nos bastidores

do governo Sarney, entretanto foi Fernando Collor que prepara o “terreno” ideopolítico para

Reforma de Estado, que será instalada institucionalmente no governo de Fernando Henrique

através da emenda 19, e, com isso, podemos definir que este contexto histórico é conhecido

por ter uma administração pública gerencial. Essa proposta de reforma do Estado vem de

encontro com um cenário político brasileiro que materializava um alargamento da proteção

social com a Constituição Federal de 1988.

Nesse sentido, a gestão das políticas sociais, segundo Filho (2011, p: 172) “(...)

fundamenta-se na lógica do receituário neoliberal proposto pelo Consenso de Washington-

pautado na estabilização monetária, abertura comercial e privatização”.

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O projeto neoliberal, visando à redução (não eliminação) da intervenção do Estado na área

social- a partir da concepção global de que o bem-estar social pertence à dimensão privada

(família, comunidade e mercado) e de que ao Estado cabe apenas o atendimento residual

para os indivíduos que não conseguem ter suas necessidades atendidas no campo privado-,

propõe estratégias para o desenvolvimento de políticas sociais baseadas, principalmente, na

privatização, focalização e descentralização. Ou seja, ações destinadas à redução do custo

da intervenção do Estado na área social, através da organização de serviços sociais

oferecidos pelo mercado (diretamente ou indiretamente); redução do contingente a ser

atendido pelas políticas sociais, concentrando as ações sociais na população em situação de

pobreza absoluta e desresponsabilização do governo central dos custos de manutenção de

serviços sociais. (FILHO, 2011, p: 151)

Enfim, o que podemos observar é que a administração pública gerencial, sob a égide

de um Estado neoliberal, acarreta mercantilização das políticas sociais, retomada do

assistencialismo e despolitização da luta de classes. No entanto, a ideia do “derrame”,

segundo Kliksberg (2002), que o desenvolvimento econômico traz consigo o social apresenta

sinais de falência, com isso, teóricos passam a discutir uma nova proposta de administração

pública, isso porque, ainda segundo o autor:

Os dados indicam que a realidade funciona de modo muito diferente do que se supõe. As

evidências mostram que, para um país, é imprescindível alcançar uma estabilidade

econômica e o equilíbrio financeiro, melhorar sua competividade e aumentar o produto

interno bruto, mas isso não ‘se derrama’ automaticamente (KLIKSBERG, 2002, p: 22).

Segundo Dowbor (1999, p: 3) torna-se mais evidente que o sistema econômico vigente

“[...] é um sistema que sabe produzir mas não sabe distribuir, simplesmente não é suficiente.

Sobretudo se, ainda por cima, joga milhões no desemprego, dilapida o meio-ambiente e

remunera mais especuladores do que os produtores”.

Diante deste pressuposto, é pensado um modelo de gestão do Estado sob o enfoque

social que consiste na gestão das demandas e necessidades dos cidadãos. Este modelo está

entre a possibilidade de superar a esquizofrenia da ideia do derrame e o idealismo ortodoxo da

leitura marxista. Uma das suas características está em possibilitar a participação da sociedade

na gestão das políticas sociais e com isso catalisar as demandas para o Estado executar. Além

disso, o modelo que mais se adequa aos pressupostos legais das políticas sociais, após

Constituição Federal de 1988 que são descentralização, participação e universalização, é o

modelo de gestão social do Estado. Kliksberg (2002), afirma que:

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A experiência histórica das últimas décadas indica que, diante da tradicional desarticulação

entre o econômico e social, onde, como muitas vezes já se disse, as políticas sociais estão

dedicadas, na verdade, a ‘recolher os mortos e feridos que a política econômica vem

deixando’, é possível se pensar numa articulação integral entre ambos, que potencie

profundamente suas complementaridades. (KLIKSBERG, 2002, p: 36)

A partir desta leitura conceitual, pode se concluir que, quanto mais democrático o

aparelho estatal maior a possibilidade de estratégias que expressam mudanças de

compromisso, e com isso, o planejamento torna-se um instrumento fundante para consolidar

políticas sociais que atendam de fato as demandas da classe trabalhadora. Nesse sentido,

segundo Filho (2011), uma das formas de superação da burocracia é a democratização efetiva

da estrutura administrativa, no qual devemos entender que:

O Estado deve ser forte, amplo e intervencionista para viabilizar a construção da

‘universalidade’ (ainda que tais características não garantam ‘universalidade’, condição

central para sociedade capitalista que pretender enfrentar, com mais ênfase, a desigualdade

sistêmica); a partir deste Estado forte e amplo, a ordem administrativa deve possuir, como

espinha dorsal, a racionalidade burocrática, pois ela possibilita, como vimos, a construção

contra-hegemônica. (FILHO, 2011, p: 77)

Sob esse enfoque Filho (2011) afirma que, há a necessidade de se instaurar uma

administração pública efetivamente democrática, adotando a gestão pública da área social, ou

seja, uma gestão que coaduna elementos da organização burocrática pautada no atendimento

das necessidades das classes dominadas, com vistas a ampliação e o aprofundamento de

direitos numa sociedade de classes.

Nesta concepção ampliada do Estado e levando em consideração os pressupostos das

políticas sociais na contemporaneidade (universalização, descentralização, territorialização,

participação social, intersetorialidade, matricialidade sócio familiar), se propõe um novo

caminho, a gestão pública voltada para área social, a partir da radicalização das estruturas

democráticas do aparelho estatal.

Entretanto, garantir esse modelo de administração pública, ou outro que o gestor

entender mais próximo de suas concepções, necessariamente exige-se certa “autonomia” do

Estado nacional, em relação aos ditames internacionais. Dito de outro modo, há necessidade

da autonomia político-econômica, uma democracia instalada para dialogar com a sociedade

civil, economia interna fortalecida capaz de ampliar oferta de empregos, e a partir disso, o

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Estado nacional terá mais ou menos possibilidade de adotar o modelo de administração

pública que dialogue com sua concepção de Estado e política social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As decisões profissionais, para as quais somos convocados a manifestar

cotidianamente num Centro de Socioeducação, exige uma reflexão crítica sobre gestão das

políticas sociais. A partir dela, torna-se possível adotar uma atitude crítica a estes esquemas

recebidos ou nem percebê-los como esquemas no cotidiano do trabalho profissional. Nesse

processo, corre-se o risco de reproduzir práticas profissionais que divergem dos pressupostos

estabelecidos no Código de Ética profissional e os demais ordenamentos legais e convergir

para uma ação pragmática da realidade.

No entanto, cumpre ressaltar, a materialização da ética ocorre na relação entre limites

e possibilidades que não dependem apenas da intenção de seus agentes. Enfim, não há como

pensar numa atuação profissional num Centro de Socioeducação que não seja precedida de

um diálogo sistemático entre ética, fundamentos da gestão pública, cotidiano e exercício

profissional competente e qualificado.

Portanto, toda essa discussão além de configurar como uns dos fundamentos da gestão

pública, ela está na base que orienta o exercício profissional do assistente social de forma

qualificada e competente. Não desvelar essa leitura crítica sobre o processo de gestão das

politicas sociais e pensar apenas na prática como fim em si mesmo, desconectada deste

contexto, seria o mesmo que “adestrar” o operário para apertar o parafuso, dito de outro

modo, profissional deixa-se engolir no processo alienante e de alienação do mundo do

trabalho. Até porque a atuação profissional com adolescentes privados de liberdade se não

existir uma convergência conceitual com todos que compõem o trabalho intelectual

(socioeducadores) é inócuo o trabalho sob o enfoque de garantia de direitos.

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