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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES MESTRADO ACADÊMICO EM SAÚDE PÚBLICA POLIANA GERMANO BEZERRA DE SÁ SIQUEIRA FATORES ASSOCIADOS À TRANSMISSÃO VERTICAL DO HIV EM CRIANÇAS ACOMPANHADAS EM UM SERVIÇO DE REFERÊNCIA NO RECIFE RECIFE 2018

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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES

MESTRADO ACADÊMICO EM SAÚDE PÚBLICA

POLIANA GERMANO BEZERRA DE SÁ SIQUEIRA

FATORES ASSOCIADOS À TRANSMISSÃO VERTICAL DO HIV EM

CRIANÇAS ACOMPANHADAS EM UM SERVIÇO DE REFERÊNCIA NO

RECIFE

RECIFE

2018

POLIANA GERMANO BEZERRA DE SÁ SIQUEIRA

FATORES ASSOCIADOS À TRANSMISSÃO VERTICAL DO HIV EM CRIANÇAS

ACOMPANHADAS EM UM SERVIÇO DE REFERÊNCIA NO RECIFE

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado

Acadêmico em Saúde Pública, Instituto Aggeu

Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, como

requisito para obtenção do título de Mestre em

Ciências.

Orientador: Dr. Antônio da Cruz Gouveia

Mendes

Coorientadora: Dra. Gabriella Morais Duarte

Miranda

RECIFE

2018

Catalogação na fonte: Biblioteca do InstitutoAggeu Magalhães

S617f

Siqueira, Poliana Germano Bezerra de Sá.

Fatores associados à transmissão vertical do HIV em crianças

acompanhadas em um serviço de referência no Recife/ Poliana Germano Bezerra de Sá Siqueira. — Recife: [s. n.], 2018.

82p.:il.

Dissertação (Mestrado Acadêmico em Saúde Pública) - Instituto

Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz. Orientador: Antônio da Cruz Gouveia Mendes; Coorientadora:

Gabriella Morais Duarte Miranda.

1. HIV. 2. Transmissão Vertical de Doença Infecciosa. 3 Fatores

de Risco. 4. Criança. 5. Estudos de Casos e Controles. 6. Análise

Multivariada. I. Mendes, Antônio da Cruz Gouveia. II. Miranda,

Gabriella Morais Duarte. III. Título.

CDU 616.974

POLIANA GERMANO BEZERRA DE SÁ SIQUEIRA

FATORES ASSOCIADOS À TRANSMISSÃO VERTICAL DO HIV EM CRIANÇAS

ACOMPANHADAS EM UM SERVIÇO DE REFERÊNCIA NO RECIFE

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado

Acadêmico em Saúde Pública, Instituto Aggeu

Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, como

requisito para obtenção do título de Mestre em

Ciências.

Aprovado em: 05/06/2018

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________

Prof. Dr. Antônio da Cruz Gouveia Mendes

Instituto Aggeu Magalhães/FIOCRUZ

___________________________________________

Prof. Dr. Wayner Vieira de Souza

Instituto Aggeu Magalhães/FIOCRUZ

___________________________________________

Prof. Dra. Cristine Vieira do Bonfim

Fundação Joaquim Nabuco/FUNDAJ

AGRADECIMENTOS

A Deus, por permitir que eu supere um novo obstáculo a cada dia, por abençoar minha

caminhada permitindo que alcance meus objetivos.

A minhas avós (in memorian), Francisca e Rita, pela fé, por acreditarem no meu potencial e

incentivarem minha formação acadêmica.

Aos meus pais, Mozart e Riso, que se empenharam toda a vida para que eu seguisse meus

sonhos e me apoiaram em todas as escolhas que fiz, pelos conselhos, amor e paciência.

Aos meus irmãos, Bruno e Amanda, pelo apoio, momentos de sorrisos largos e horas de

descontração.

Ao meu esposo, Felipe, pelo companheirismo de todos os dias, pelo cuidado e paciência.

Aos meus tios, tias, primos e primas, que sempre estiveram na torcida pelo meu sucesso.

Aos meus orientadores, Antônio Mendes e Gabriella Miranda, pela disponibilidade, atenção e

apoio em todos os momentos na realização deste estudo.

A todos os meus amigos, que viveram comigo momentos de felicidade e angústia, em especial

Alessandra Campos e Paulo Márcio, pela compreensão e amizade eterna, que me confiaram o

privilégio de cuidar e proteger o tão amado Miguel.

Aos amigos da Secretaria Estadual de Saúde, em especial a Marlene Souto, Rosário

Montarroyos, Ana Cláudia Cardoso e Daphne Vasconcelos, pela compreensão nos momentos

de ausência ou angústia, pelos sorrisos e carinho de todos os dias.

Aos colegas da turma de mestrado, pela amizade e carinho durante o curso, não esquecendo

das angústias e conquistas durante nossa caminhada.

Aos professores do Programa de Pós-graduação em Saúde Pública do Aggeu Magalhães, em

especial a Wayner Souza, pela colaboração, paciência e atenção na construção desta pesquisa.

A equipe do Hospital-dia do IMIP, em especial a Dr. Gerlane Alves, pelas discussões e

disponibilidade em todos os momentos.

A equipe do arquivo do IMIP, pela colaboração e agilidade na separação dos prontuários.

Por fim, a todos que contribuíram para a realização deste trabalho, os meus sinceros

agradecimentos.

“O que sabemos é uma gota, o que

ignoramos é um oceano. ”

Isaac Newton

SIQUEIRA, Poliana Germano Bezerra de Sá. Fatores associados à transmissão vertical do

HIV em crianças acompanhadas em um serviço de referência no Recife. 2018. Dissertação

(Mestrado Acadêmico em Saúde Pública) – Instituto Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo

Cruz, Recife, 2018.

RESUMO

A transmissão vertical do HIV é um evento multifatorial e evitável se forem adotadas as

medidas de prevenção, contudo, continua sendo um importante desafio para saúde pública.

Desse modo, o estudo se propôs a analisar a associação entre os fatores de risco e a

transmissão vertical do HIV em crianças acompanhadas em um serviço de referência no

Recife, entre 2010 e 2015. A pesquisa é composta por dois momentos, um descritivo e um

analítico, no qual se desenvolveu um estudo observacional do tipo caso-controle aninhado a

coorte de crianças expostas à TV do HIV.Houve aumento de crianças expostas àTV atendidas

neste serviço, porém com redução de crianças infectadas,propiciando redução da taxa de TV

de 15,1% em 2010 para 6,1% em 2015. A perda de seguimento verificada foi de 16,1%, sendo

mais expressiva nas crianças provenientes da capital. A maior parte dos diagnósticos maternos

ocorreu antes do parto, com maioria de partos cesáreos e as crianças nasceram a termo e com

peso adequado.Observou-se maioria de mães soropositivas acima dos 20 anos de idade, com

baixa escolaridade, procedentes de Recife e sem remuneração. Parcela importante recebia

benefícios sociais, usava drogas ilícitas, não possuía abastecimento de água e esgoto

sanitário.Os fatores associados à transmissão vertical do HIV foram: não possuir esgotamento

sanitário (OR: 2,0), não realização de pré-natal (OR: 4,0), início tardio do acompanhamento

pós-natal (OR: 8,1) e não realização da profilaxia durante gestação (OR: 3,7) e parto (OR:

3,9). A presente pesquisa permitiu aferir a taxa de transmissão vertical do HIV durante o

período estudado e analisar os fatores de risco associados à transmissão vertical do vírus nas

crianças atendidas no Serviço Assistência Especializada, revelando as fragilidades na

implementação das medidas de prevenção da transmissão vertical, apontando a necessidade

de intervenções mais eficazes, considerando o contexto social em que vivem estas pessoas.

Palavras-chave: Transmissão Vertical de Doença Infecciosa. HIV. Fatores de Risco. Análise

Multivariada.

SIQUEIRA, Poliana Germano Bezerra de Sá. Factors associated with vertical transmission of

HIV in children accompanied by a reference service in Recife.2018. Dissertation (Master in

Public Health) – InstitutoAggeuMagalhães, Fundação Oswaldo Cruz, Recife, 2018.

ABSTRACT

Mother to child transmission of HIV is a multifactorial and avoidable event if prevention

measures are adopted, however, it remains a major public health challenge. Thus, the study

aimed to analyze the association between risk factors and mother to child transmission of HIV

in children followed at a referral service in Recife, from 2010 to 2015. The research is

composed of two moments, one descriptive and one analytical study, in which an

observational case-control study was developed, nested the cohort of children exposed to

MTC transmission of HIV. There was an increase in children exposed to MTC transmission

assisted in this service, but with a reduction in infected children, leading to a reduction of the

MTC rate from 15.1% in 2010 to 6.1% in 2015. The loss of follow-up was 16.1%, being more

expressive in the children coming from the capital. Most of the maternal diagnoses occurred

before delivery, with most cesarean deliveries and the infants born full term and of adequate

weight. A majority of seropositive mothers above 20 years of age, with low level of

schooling, were observed from Recife and without remuneration. Important portion received

social benefits, used illicit drugs, and had no water supply and sanitary sewage. The factors

associated with vertical HIV transmission were: not having sewage (OR: 2.0), no prenatal

(OR: 4.0), late onset of postnatal follow-up (OR: 8.1) and no prophylaxis during pregnancy

(OR: 3.7) and delivery (OR: 3.9). The present study allowed to verify the mother-to-child rate

during the studied period and to analyze the risk factors associated with the mother-to-child

transmissionof the virus in the children attended in the Specialized Assistance Service,

revealing the weaknesses in the implementation of the measures of prevention of vertical

transmission, pointing the need for more effective interventions, considering the social

context in which these people live.

Keywords: Infectious Disease Vertical Transmission. HIV. RiskFactors.MultivariateAnalysis.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Determinantes Sociais da Saúde segundo modelo proposto por Whitehead e

Dahlgren .............................................................................................................................. 31

Figura 2 - Fluxograma do diagnóstico da infecção pelo HIV em crianças menores de 18

meses. .................................................................................................................................. 35

Quadro 1 – Variáveis descritivas, definição e categorização..................................................38

Quadro 2 - Variáveis independentes, definição e categorização ........................................... 40

Figura 3 - Modelo explicativo hierarquizado dos potenciais fatores associados à transmissão

vertical do HIV em crianças acompanhadas em um Serviço Assistência Especializada. ........ 43

Figura 4 - Procedimentos para realização de regressão logística hierarquizada. ................... 44

Gráfico 1 - Casos confirmados e transmissão vertical do HIV. Serviço Assistência

Especializada, 2010-2015.........................................................................................................48

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuição anual das crianças infectadas, não infectadas e perda de seguimento

atendidas no ambulatório pediátrico de HIV/Aids. Serviço Assistência Especializada, 2010-

2015 ..................................................................................................................................... 47

Tabela 2 – Ano de nascimento da criança e características maternas associadas ao

acompanhamento de crianças expostas à transmissão vertical do HIV. Serviço Assistência

Especializada, 2010-2015 ..................................................................................................... 49

Tabela 3 – Características obstétricas e pediátricas associadas ao acompanhamento de

crianças expostas à transmissão vertical do HIV. Serviço Assistência Especializada, 2010-

2015 ..................................................................................................................................... 51

Tabela 4 – Medidas profiláticas associadas ao acompanhamento de crianças expostas à

transmissão vertical do HIV. Serviço Assistência Especializada, 2010-2015 ........................ 52

Tabela 5 - Análise univariada das características socioeconômicas associadas à transmissão

vertical do HIV. Serviço Assistência Especializada, 2010-2015 ........................................... 54

Tabela 6 - Análise univariada das características obstétricas e pediátricas associadas à

transmissão vertical do HIV. Serviço Assistência Especializada, 2010-2015 ........................ 57

Tabela 7 - Análise univariada das medidas profiláticas associadas à transmissão vertical do

HIV. Serviço Assistência Especializada, 2010-2015 ............................................................. 58

Tabela 8 - Modelo de regressão logística e fatores associados à transmissão vertical do HIV

em crianças expostas acompanhadas em um serviço de referência. Análise multivariada

convencional. Serviço Assistência Especializada, 2010-2015 ............................................... 59

Tabela 9 - Modelo de regressão logística para os fatores associados à transmissão vertical do

HIV em crianças expostas acompanhadas em um serviço de referência. Análise multivariada

hierarquizada. Serviço Assistência Especializada, 2010-2015............................................... 61

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

3TC

AIDS

ANTI-HIV

AZT

CDC

CEP

CTA

CV

DSS

HAART

HIV

LT CD4+

NFV

NVP

OMS

ONU

OR

PACTG

RN

RR

SAE

TARV

TV

UNAIDS

Lamivudina

Acquired Immunodeficiency Syndrome

Anticorpos anti-HIV

Zidovudina

Centers for disease control and prevetion

Comitê de Ética em Pesquisa

Centro de testagem e aconselhamento

Carga viral

Determinantes Sociais da Saúde

Highly Active Antirretroviral Therapy

Human Immunodeficiency Virus

Linfócito T CD4+

Nelfinavir

Nevirapina

Organização Mundial da Saúde

Organização das Nações Unidas

Odds ratio

Pediatric Aids ClinicalTrialGroup

Recém-nascido

Risco Relativo

Serviço Assistência Especializada

Terapia Antirretroviral

Transmissão vertical

Joint United Nations Programme on HIV/Aids

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 12

2 PERGUNTA CONDUTORA .......................................................................................... 15

3 HIPÓTESE ...................................................................................................................... 16

4 JUSTIFICATIVA............................................................................................................ 17

5 REVISÃO DE LITERATURA ....................................................................................... 19

5.1 HIV/AIDS: DOS PRIMEIROS CASOS À EPIDEMIA MUNDIAL ............................... 19

5.2 TRANSMISSÃO VERTICAL ....................................................................................... 21

5.3 FATORES ASSOCIADOS À TRANSMISSÃO VERTICAL......................................... 27

6 OBJETIVOS ................................................................................................................... 32

6.1 GERAL .......................................................................................................................... 32

6.2 ESPECÍFICOS ............................................................................................................... 32

7 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................... 33

7.1 DESENHO DO ESTUDO .............................................................................................. 33

7.2 LOCAL E PERÍODO DO ESTUDO .............................................................................. 33

7.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO E AMOSTRA .................................................................. 34

7.4 FONTE DE DADOS ...................................................................................................... 37

7.5COLETA DE DADOS .................................................................................................... 37

7.6 VARIÁVEIS DE ESTUDO ............................................................................................ 37

7.7 PROCESSAMENTO E ANÁLISE DE DADOS ............................................................ 42

8 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS ......................................................................................... 46

9 RESULTADOS ............................................................................................................... 47

10 DISCUSSÃO ................................................................................................................. 62

11 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 73

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 75

12

1 INTRODUÇÃO

Desde o início da epidemia do HIV/Aids, 76,1 milhões de pessoas foram infectadas e

aproximadamente 35 milhões de pessoas morreram por causas relacionadas à Aids em todo o

mundo. No Brasil até junho de 2017, foram identificados 882.810 casos de Aids com uma

média de 40 mil novos casos da doença por ano, nos últimos cinco anos (BRASIL, 2017;

UNAIDS, 2017).

A progressão da epidemia de HIV/Aids no Brasil apresenta diferenças de intensidade e

velocidade inter e intra-regionais e nos diversos estratos populacionais, configurando-se como

um mosaico de subepidemias regionais. A expansão da epidemia de HIV/Aids ocorreu,

principalmente, para municípios pequenos, geralmente com piores condições

socioeconômicas, indivíduos menos qualificados profissionalmente e com menor

escolaridade, ou seja, em grupos populacionais mais vulneráveis. Evidenciando que os fatores

socioeconômicos atuam como estruturantes da vulnerabilidade à infecção pelo HIV

(BASTOS; SZWARCWALD, 2000; BRITO; CASTILHO; SZWARCWALD, 2001;

DOURADO et al., 2006; FONSECA et al., 2000; PARKER; CAMARGO JUNIOR, 2000;

STEPHAN; HENN; DONALISIO, 2010; SZWARCWALD et al., 2000).

A diversidade social, econômica e cultural observada no Brasil favoreceu a

disseminação da doença no país. Desde 1980 até os dias atuais, o perfil epidemiológico do

HIV/Aids apresentou mudanças. Atualmente a transmissão via relação heterossexual possui

grande importância no cenário da epidemia brasileira, ou seja, cada vez mais mulheres e

homens heterossexuais estão se infectando com o vírus (BASTOS; SZWARCWALD, 2000;

PARKER; CAMARGO JÚNIOR, 2000).

O processo de feminização, como é descrito o aumento da infecção pelo HIV entre

mulheres, é constatado a partir de dois fenômenos. O primeiro se trata da progressiva redução

na razão dos sexos (masculino/feminino) de novos casos da doença, cujos valores passaram

de 24:1, em 1985, para 2:1 desde 1997 e o segundo, decorre do aumento da mortalidade

associada à Aids no sexo feminino, enquanto é observada uma estabilização no sexo oposto

(BASTOS, 2001).

O deslocamento do perfil epidemiológico passando a incluir principalmente as

mulheres em idade reprodutiva, acarretou o aumento de crianças infectadas pelo HIV, sendo a

13

transmissão vertical a principal via de infecção da mãe para o filho. A transmissão vertical do

HIV pode ocorrer em três momentos: durante a gestação, sendo mais frequentes no último

trimestre; durante o trabalho de parto/parto, no momento em que o feto entra em contato com

sangue materno e/ou secreções cervicais contaminadas; e no pós-parto, por intermédio do

aleitamento (NEWELL, 2001).

Desde 1980 até 2017, foram notificados 16.776 casos de Aids em menores de 13 anos

e a transmissão vertical foi a forma de exposição ao HIV em 93,1% dos casos nessa faixa

etária em 2016. Quando se trata de crianças abaixo de cinco anos, considera-se a transmissão

vertical responsável por aproximadamente 100% dos casos (BRASIL, 2014, 2017).

A taxa de transmissão vertical no Brasil apresentou uma tendência de redução na

última década (aproximadamente 34%), contudo essa taxa varia geograficamente, a depender

dos padrões de distribuição dos fatores de risco para sua ocorrência em cada população.

Diversos são os fatores associados ao aumento do risco de transmissão vertical do HIV, dentre

eles reconhece-se os maternos, anexiais, obstétricos, fetais, virais, pós-natais e

socioeconômicos (ANDERSON et al., 2001; BRASIL, 2017; CHARURAR et al., 2009;

DUARTE; QUINTANA; EL BEITUNE, 2005; LANDERS; DUART; CROMBLEHOLME,

2001; NEWELL, 2001).

Concomitantemente ao avanço nos estudos dos fatores associados à transmissão

vertical do HIV, realizaram-se estudos para avaliar tratamentos e desenvolver novas

abordagens terapêuticas para prevenir a transmissão vertical do HIV. Um deles foi o

Protocolo 076 do Aids Clinical Trial Group, este protocolo preconiza o uso da zidovudina

(AZT) via oral durante a gestação, a partir do segundo trimestre, endovenoso durante o

trabalho de parto/parto e xarope para o recém-nascido até a sexta semana de vida. Contudo,

verificou-se que a taxa de transmissão vertical do HIV se mantinha elevada nos recém-

nascidos de mães com tratamento inadequado durante a gestação, mesmo que tenha sido

realizada a profilaxia no parto e no recém-nascido. Dessa forma surgiu o esquema alternativo

de profilaxia pós-exposição administradas nestes recém-nascidos, que consiste na associação

da zidovudina e nevirapina (NIELSEN-SAINES, 2012).

A profilaxia antirretroviral nas gestantes e recém-nascidos quando realizada em

conjunto com as demais intervenções é capaz de reduzir a taxa de transmissão vertical do HIV

a valores abaixo de 2% (MOFENSON; MUNDERI, 2002). Apesar da comprovada eficiência

14

das medidas de prevenção da transmissão vertical do HIV desenvolvidas e adotadas até o

momento, a existência de outros fatores que interferem na dinâmica do adoecimento dificulta

a redução da taxa de transmissão vertical do HIV em Pernambuco. Desse modo, se torna

relevante investigar os fatores associados à transmissão vertical do HIV, assim como, a

implementação das medidas profiláticas.

15

2 PERGUNTA CONDUTORA

Diante da existência das medidas profiláticas, dentre elas o uso da terapia

antirretroviral, que são comprovadamente eficazes na redução da transmissão vertical do HIV,

quais os fatores estão associados à contaminação de crianças expostas à transmissão vertical

do HIV?

16

3 HIPÓTESE

Crianças em condições socioeconômicas desfavoráveis possuem mais chance de se

tornarem infectadas.

Crianças expostas à transmissão vertical do HIV com acesso oportuno e adequado à

assistência e às medidas profiláticas têm menos chance de se contaminar.

17

4 JUSTIFICATIVA

A mudança no perfil epidemiológico do HIV/Aids, com a expansão da infecção entre

mulheres, teve como consequência o aumento do número de crianças expostas à transmissão

vertical da infecção. Aproximadamente 90% das crianças até 13 anos foram infectadas a partir

da transmissão vertical, quando se trata de menores de 5 anos esse valor chega a próximo de

100% (BRASIL, 2014).

Desde o surgimento da doença e da identificação de sua transmissão vertical, foram

desenvolvidas medidas profiláticas que reduzem a probabilidade da transmissão do vírus da

mãe para o filho. Os avanços com a terapia antirretroviral também possibilitaram a redução da

transmissão vertical do HIV em aproximadamente dois terços, quando realizada em conjunto

com as demais intervenções profiláticas (BRASIL, 2017). Contudo, a redução da taxa de

transmissão vertical do HIV ainda se mantém como um grande desafio para a saúde pública,

principalmente pelas desigualdades sociais visualizadas no território brasileiro que prejudicam

a implementação das medidas de controle da transmissão do vírus.

Com intuito de reduzir a transmissão vertical, o Ministério da Saúde adotou o uso da

terapia antirretroviral para gestantes HIV positivo e recém-nascidos expostos, a partir de

1996, da testagem sorológica, através de exames rápidos de HIV em gestantes, a partir de

2009, da associação da nevirapina ao esquema profilático do recém-nascido de mães que não

utilizaram TARV durante a gestação, a partir de 2012, além de outras medidas

reconhecidamente eficazes, porém a taxa de transmissão do vírus permanece acima de 2%.

Foi diagnosticado no Hospital de Medicina Integral Professor Fernando Figueira –

IMIP, o primeiro caso de Aids pediátrico por transmissão perinatal do Norte e Nordeste em

1987. Desde então, este serviço realiza o acompanhamento ambulatorial dos recém-nascidos

de mães com sorologia HIV positivo até a definição do diagnóstico do menor, assim como,

das crianças e adolescentes HIV positivo até os 18 anos, quando são transferidos para o

acompanhamento adulto. Em 30 anos de atendimento, desde o primeiro diagnóstico até

dezembro de 2017, foram diagnosticados 616 casos de HIV infanto-juvenil no IMIP

(INSTITUTO DE MEDICINA INTEGRAL PROFESSOR FERNANDO FIGUEIRA, 2018).

18

O IMIP é o Centro de Referência no Estado de Pernambuco para atendimento

HIV/Aids pediátrico e conta com um Serviço Assistência Especializada (SAE) e Hospital-Dia

(HD), atendendo uma média de 1.500 crianças e adolescentes com infecção pelo HIV/Aids

por mês.

Considerando a importância do IMIP no estado e a persistência da transmissão vertical

do HIV, mesmo com a existência de medidas profiláticas eficazes, torna-se evidente a

necessidade de investigação dos fatores associados à transmissão do vírus, sejam eles

socioeconômicos, maternos, obstétricos ou pediátricos, assim como a implementação das

medidas profiláticas, possibilitando o conhecimento dos fatores que propiciam a permanência

da transmissão vertical.

A caracterização das vulnerabilidades desse grupo populacional permitirá o

fortalecimento das políticas e ações já existentes e subsidiará a elaboração de novas

estratégias para enfrentamento dos obstáculos encontrados.

19

5 REVISÃO DE LITERATURA

5.1 HIV/AIDS: DOS PRIMEIROS CASOS À EPIDEMIA MUNDIAL

Os primeiros casos da doença, até então desconhecida, ocorreram no início dos anos

1980 nos Estados Unidos. Foram reportados cinco casos de pneumonia por Pneumocystis

jirovecii (denominado anteriormente de Pneumocystis carinnii), além de outros sintomas

como febre contínua, leucopenia e infecção pelo citomegalovírus (CMV) em pacientes

homossexuais masculinos, jovens e saudáveis anteriormente (CENTERS FOR DISEASE

CONTROL AND PREVENTION,1981). Esse perfil de doentes levou os pesquisadores do

Centers for Disease Control and Prevention (CDC) a acreditarem que houvesse relação entre a

doença e o estilo de vida, porém rapidamente surgiram casos entre heterossexuais usuários de

drogas e hemofílicos (MERSON et al., 2008).

Aproximadamente um ano após a descrição da doença em adultos, surgiram os

primeiros casos em crianças. Elas apresentavam alteração no sistema imunológico com

predisposição a infecções e tinham em comum, mães soropositivas (ORTIGÃO, 1995). Em

1982, o CDC definiu a doença e adotou a sigla AIDS (Acquired Immunodeficiency

Syndrome), neste mesmo período foram identificados os modos de transmissão: sanguínea,

sexual e vertical (GALVÃO, 2002; SANTOS; SANTOS, 1999).

O vírus da imunodeficiência humana foi isolado em 1983, na França e nos Estados

Unidos, sendo denominado inicialmente de vírus associado à linfadenopatia (LAV – sigla em

Inglês) e vírus T-linfotrópico humano III (HTLV III – sigla em Inglês) pelos respectivos

países e somente anos mais tarde, em 1986, foi recomendado o termo HIV (Human

Immundeficiency Virus). Neste mesmo período foi identificado outro tipo do vírus,

porémcom algumas características semelhantes, sendo então denominados HIV-1 e HIV-2

(BRASIL, 2002).

O HIV-1 possui quatro grupos (M, N, O e P), três destes - N, O e P - estão restritos à

África ocidental. O grupo M possui nove subtipos (A, B, C, D, F, G, H, J e K) com ampla

diversidade genética e alta taxa de mutação, sendo o responsável pela epidemia global do

HIV. O HIV-2 provoca uma doença semelhante ao HIV-1, porém a imunodeficiência progride

lentamente, este tipo de vírus possui menor transmissibilidade e está em grande parte limitado

à África ocidental (MAARTENS; CELUM; LEWIN, 2014; SHARP; HAHN, 2011).

20

A transmissão do HIV ocorre por via sexual, através do contato com esperma e

secreção vaginal contaminados, por contato sanguíneo ou através do leite materno. Após a

exposição ao HIV, o indivíduo se torna infectado e pode transmiti-lo, podendo ou não ter a

expressão clínica inicial até o aparecimento dos marcadores virais e/ou antivirais. Esse

período entre a exposição ao vírus até a detecção dos marcadores é denominado de janela

imunológica e possui grande importância epidemiológica, pois indivíduos infectados podem

apresentar exames não reagentes. O portador de HIV com infecção recente ou

imunossuprimido possui maior concentração do vírus no sangue (carga viral), possibilitando a

transmissão com maior facilidade. Outros fatores que favorecem a transmissão do vírus é a

existência de processos infecciosos ou inflamatórios, a exemplo das infecções sexualmente

transmissíveis - IST (BRASIL, 2010a).

Após a infecção, o vírus ataca o sistema imunológico utilizando os linfócitos TCD4+

para se multiplicar e desencadear os primeiros sinais da doença, esse período varia de três a

seis semanas. O período de incubação, surgem sinais parecidos ao de uma gripe,

caracterizando a infecção aguda da doença, que muitas vezes não são percebidos pelo

indivíduo. A fase assintomática da doença pode perdurar por anos, é marcada pela constante

interação entre as células de defesa do organismo e as rápidas mutações do vírus. Esse

processo evolui para uma grave disfunção imunológica, favorecendo o acometimento do

indivíduo por infecções oportunistas, o que caracteriza o estágio mais avançado da doença

causada pelo HIV, a Aids (BRASIL, 2010a).

Anualmente 1,9 milhões de pessoas são infectadas pelo HIV em todo o mundo, apesar

dos progressos com a terapia antirretroviral e o desenvolvimento de outras tecnologias, ainda

persistem entraves na prevenção da infecção pelo HIV, constatado a partir da constância no

número de novas infecções desde 2010. Houve um declínio no número de novas infecções

pelo HIV entre menores de 15 anos em todo o mundo, de 290.000 em 2010 para 150.000 em

2015, porém essa diminuição não reflete a realidade de alguns países, onde não houve

progressos mensuráveis ou nos quais foram registrados aumento do número de novas

infecções (UNAIDS, 2016a).

No Brasil em 2015, existiam cerca de 830.000 pessoas vivendo com HIV, das quais,

aproximadamente 44.000 eram de novas infecções. A partir de 1996, o Brasil passou a

oferecer medicação para o tratamento do HIV na rede pública e desde então são adotadas

novas estratégias para diminuir o ritmo de novas infecções, sendo uma delas a ampliação na

21

cobertura de tratamento antirretroviral. Atualmente, 64% das pessoas vivendo com HIV

independente do seu estado imunológico, recebem a terapia antirretroviral (TARV),

acarretando o aumento da prevalência da infecção pelo HIV e a redução da mortalidade por

Aids (MAARTENS; CELUM; LEWIN, 2014). Outras estratégias consistem na ampliação da

oferta dos exames de triagem e diagnósticos, na profilaxia pré e pós-exposição, no incentivo

ao uso do preservativo, entre outras (UNAIDS, 2016a).

A epidemia brasileira apresentou mudanças em seu perfil ao longo dos anos, de casos

restritos a certos grupos populacionais que vivam nas metrópoles – São Paulo e Rio de

Janeiro – na década de 80, passou a apresentar caráter nacional na década seguinte

(SZWARCWALD; BARBOSA JÚNIOR; FONSECA, 2000). Neste sentido, estudos

descrevem a epidemia brasileira da Aids como um “mosaico de subepidemias”, revelando

múltiplas transformações no perfil epidemiológico, caracterizado principalmente pela

“pauperização” e pelo aumento da transmissão heterossexual com consequente “feminização”

(BRITO; CASTILHO; SZWARCWALD, 2005; RODRIGUES JÚNIOR; CASTILHO, 2004).

O aumento na incidência de casos por transmissão heterossexual, contribuiu para a expansão

da epidemia entre mulheres, constituindo-se como fator decisivo na disseminação do vírus por

transmissão vertical (HOLANDA et al., 2015; SZWARCWALD et al., 1997;

SZWARCWALD; BASTOS, 1998; SZWARCWALD; BARBOSA JÚNIOR; FONSECA,

2000).

5.2 TRANSMISSÃO VERTICAL

A transmissão vertical do HIV é caracterizada como a infecção pelo vírus passada da

mãe para filho durante a gestação, parto ou puerpério. Cada momento do ciclo gravídico-

puerperal apresenta uma chance de transmissão, durante a gestação é de 35% e durante o

trabalho de parto ou parto chega a 65%. A amamentação apresenta um risco cumulativo que

varia de 7% a 22% a cada exposição (BRASIL, 2016). Entre as gestantes soropositivas que

não realizaram a terapia antirretroviral, a taxa de transmissão vertical do HIV é de

aproximadamente 25% (BRASIL, 2010b). Outros autores apontam um risco global de

transmissão que varia de 15% a 40% quando não há nenhuma intervenção, porém, as

estratégias de prevenção já desenvolvidas são capazes de reduzir a transmissão vertical a

22

valores menores que 2% (DE COCK et al., 2000;KUMAR; UDUMAN; KHURRANNA,

1995; LALLEMANT et al., 1994; NEWELL et al., 1996).

No ano de 2016, aproximadamente 2,1 milhões de menores até 15 anos viviam com

HIV em todo o mundo, sendo a transmissão vertical responsável por mais de 90% desses

casos (UNAIDS, 2017). No Brasil, a situação é semelhante, em2015 a transmissão vertical foi

responsável por 98,8% dos casos de HIV/Aids em crianças menores de 13 anos de idade. No

estado de Pernambuco, essa proporção foi de 100%, no ano de 2014(BOLETIM

EPIDEMIOLÓGICO DST/AIDS 2016a; 2016b).

O último boletim epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde (2016), aponta

que na região Nordeste há um predomínio da transmissão heterossexual do vírus entre as

mulheres acima dos 13 anos de idade, dados preliminares de 2016 revelam que 96,9% das

mulheres se inserem nessa categoria de exposição. A taxa de detecção de HIV em gestantes

brasileiras foi de 2,7 casos/mil nascidos vivos (NV) em 2015, com tendência de crescimento

na região Nordeste de 1,2casos/mil NV em 2006 para 2,0casos/mil NV em 2015. O estado de

Pernambuco apresentou taxa de detecção de gestantes com HIV de 2,1casos/mil NV em 2015,

sendo a terceira maior taxa dos estados do Nordeste, sua capital, Recife, ficou em décimo

terceiro lugar no ranking das capitais brasileiras, com taxa de detecção de 3,2 casos/mil NV,

neste mesmo ano (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO DST/AIDS 2016a).

Segundo os Boletins Epidemiológicos divulgados pelo Ministério da Saúde, desde o

ano 2000, a faixa etária que apresenta o maior número de gestantes infectadas com HIV

notificadas em todo o país é entre 20 e 24 anos (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO DST/AIDS

2016a). No estado de Pernambuco a epidemia de HIV se concentra na faixa etária de adultos

jovens (20-39) em ambos os sexos, entre as gestantes a maior proporção igualmente se

encontra nessa faixa etária (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO DST/AIDS 2016b).

A partir de 1994foi elaborada uma proposta de intervenção profilática para reduzir o

avanço da transmissão vertical, conhecido como Pediatric Aids Clinical Trial Group 076

(PACTG 076). Neste estudo foi evidenciada redução de 67,5% da transmissão vertical quando

se utilizou a zidovudina (AZT) pela mãe durante a gestação e o parto e pelo recém-nascido

durante as seis primeiras semanas de vida, somado a suspensão do aleitamento materno

(BRASIL, 2010b). Esses primeiros estudos contribuíram grandemente na prevenção da

23

transmissão vertical do HIV e forneceram subsídios para novas pesquisas e intervenções

eficientes.

Prontamente em 1996 o Ministério da Saúde adotou as recomendações do protocolo

076 e implementou a política pública de prevenção de transmissão vertical do HIV/Aids. O

consenso terapêutico brasileiro estabelecia acesso gratuito e universal aos medicamentos

antirretrovirais, disponibilizando AZT oral e intravenoso para as gestantes, contraindicando o

aleitamento materno e cruzado (amamentação da criança por outra nutriz), assim como a

recomendação de cesárea eletiva, porém sem elencar critérios para sua indicação inicialmente

(VASCONCELOS; HAMANN, 2005).

A implementação das medidas direcionadas à redução da transmissão vertical do HIV

ocasionou um aumento mundial da cobertura dos serviços, de 50% em 2010 para 77% em

2015. Em decorrência do maior acesso às medidas de profilaxia da TV, a partir de 2010 foi

possível observar redução de 51% de novas infecções por HIV entre crianças menores de 14

anos em todo o mundo. Contudo, a ampliação do acesso às medidas profiláticas e à TARV

não proporcionou a redução no número de óbitos relacionados à AIDS em crianças, revelando

as lacunas no diagnóstico precoce, na instituição da TARV e no manejo das infecções

oportunistas (UNAIDS, 2016b).

Um ensaio randomizado multicêntrico de fase III realizado em quatro países, testou

três regimes antirretrovirais em recém-nascidos expostos ao HIV cujas mães não utilizaram a

terapia antirretroviral (TARV) durante a gestação. Um grupo utilizou o AZT por seis

semanas, outro grupo utilizou o AZT por seis semanas combinado a três doses de nevirapina

(NVP) e o terceiro grupo utilizou AZT por seis semanas associado à lamivudina (3TC) por e

nelfinavir (NFV) por duas semanas. Os resultados desse estudo do PACTG 1043

evidenciaram maior eficácia na redução da TV no grupo que utilizou a terapia combinada de

AZT + NVP comparado aos demais grupos e menor toxicidade quando comparado ao

esquema com três drogas (AZT+3TC+NFV) (NIELSEN-SAINES, 2012).

Atualmente, para realizar a quimioprofilaxia antirretroviral no recém-nascido é

necessário avaliar algumas condições maternas, como a carga viral materna no terceiro

trimestre e a utilização de antirretroviral durante a gestação. Apesar do PACTG 076 indicar

uso do AZT por seis semanas, o que era recomendado até então, o uso por quatro semanas na

posologia de 12/12 horas mostrou efetividade e redução de eventos adversos. A

24

quimioprofilaxia combinada (AZT+NVP) é recomendada para recém-nascidos cujas mães

não tiveram carga viral abaixo de 1.000 cópias/mL no último trimestre da gestação ou não

apresentaram comprovação e não fizeram uso de antirretrovirais durante a gestação (BRASIL,

2014).

Durante o parto, o AZT injetável deve ser iniciado desde o início do trabalho de parto

ou no mínimo três horas antes da cesariana eletiva até o momento do clampeamento do

cordão umbilical. Para as gestantes com carga viral indetectável após a 34ª semana de

gestação e com boa adesão à TARV, não é necessário uso profilático do AZT injetável, porém

seu uso intraparto está sujeito ao julgamento clínico realizado pelo médico (BRASIL, 2017).

Além da indicação da TARV durante gestação, parto e para o recém-nascido exposto

ao vírus, constituem-se medidas de prevenção da transmissão vertical a escolha da via de

parto e a suspensão da amamentação. Para as mulheres que não realizaram a profilaxia com

antirretroviral durante a gestação, possuíam carga viral desconhecida ou acima de 1.000

cópias/mL no último trimestre de gestação, o parto por cesárea eletiva a partir da 38ª semana

de gestação reduz o risco de transmissão vertical do HIV. Nos casos de gestantes em uso de

ARV e com supressão da carga viral sustentada, não havendo indicação de cesárea por outro

motivo, o parto vaginal é indicado pelo menor risco de morbidade puerperal (BRASIL,

2010b, 2016, 2017).

A utilização da terapia antirretroviral pela gestante não controla a eliminação do vírus

através do leite materno, desse modo a inibição farmacológica da lactação deve ser realizada

imediatamente após o parto administrada antes da alta hospitalar. São também

contraindicados o aleitamento cruzado, que consiste na amamentação por outra nutriz, a

alimentação mista e o uso do leite humano com pasteurização domiciliar (BRASIL, 2016,

2017).

Com o progresso nas pesquisas e implantação dos protocolos de prevenção da TV, o

número de crianças infectadas pelo HIV tende a diminuir, evitando que crianças expostas se

tornem portadoras do vírus e adoeçam. Em todos os casos de crianças expostas ao HIV, é

necessário o diagnóstico precoce de infecção pelo HIV e se confirmado, deve-se iniciar a

TARV assim como a profilaxia e manejo de outras infecções ou distúrbios (BRASIL, 2014).

25

A OMS recomenda estratégias, agrupadas em quatro pilares, para a eliminação da

transmissão vertical do HIV e atenção à saúde materna, que são globalmente aceitas e efetivas

na redução das infecções pediátricas pelo HIV. O primeiro pilar consiste na prevenção

primária do HIV nas mulheres em idade fértil, através do tratamento de casais soro-

discordantes, diagnóstico e tratamento de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e

testagem periódica de mulheres em idade fértil, especialmente durante a gravidez e

amamentação. O segundo pilar se refere à prevenção de gestações não planejadas entre

mulheres vivendo com HIV, a partir do planejamento familiar. O terceiro pilar, consiste na

prevenção da transmissão vertical da infecção pelo HIV através da quimioprofilaxia na

gestante e no recém-nascido, suspensão do aleitamento materno, cruzado ou misto, entre

outras estratégias. Por fim, é recomendado o cuidado e tratamento adequado para mulheres,

seus filhos e familiares que vivem com HIV, por meio da oferta de TARV,

independentemente da carga viral, contagem de linfócitos TCD4+ ou estágio clínico da

doença (UNAIDS, 2016b).

No Brasil é adotada a testagem de HIV para as gestantes durante o pré-natal e na

admissão da mulher na maternidade no momento do parto. O teste anti-HIV deve ser

oferecido à todas as gestantes na primeira consulta de pré-natal, no primeiro e no terceiro

trimestres, não excluindo a possibilidade de ser realizada a qualquer momento em que haja

suspeita de infecção. Nos casos de resultados reagentes devem ser realizados os testes de

carga viral e genotipagem pré-tratamento para todas as gestantes antes do início da TARV,

sem necessidade de espera do resultado para início da terapia (BRASIL, 2017).

No que diz respeito ao diagnóstico da infecção pelo HIV, este pode ser realizado

através da detecção direta dos componentes virais, como o antígeno p24, RNA ou DNA pró-

viral, ou por meio da detecção de anticorpos. Para o diagnóstico da transmissão vertical do

HIV, o Ministério da Saúde orienta que seja realizado de acordo com a faixa etária da criança,

pois durante a gestação há a passagem dos anticorpos IgG anti-HIV maternos para o feto,

podendo persistir até os 18 meses de idade. Desse modo, o diagnóstico da TV do HIV em

crianças menores de 1 ano e 6 meses de idade através da detecção dos anticorpos anti-HIV

não é suficiente para conclusão do diagnóstico, sendo necessária a realização de outros testes

sorológicos. Nessas crianças, deverão ser colhidas duas cargas virais (CV) e uma sorologia a

partir dos 12 meses, quando a proporção de sororeversão é de 95%. (BRASIL, 2016).

26

O diagnóstico da infecção em crianças menores de 18 meses deve ocorrer da seguinte

forma: a primeira CV deverá ser colhida a partir da 4ª semana de vida, preferencialmente na

6ª semana nos casos em que houve profilaxia antirretroviral na criança. Ressalta-se que

crianças sintomáticas ou que foram amamentadas deverão realizar a primeira CV

imediatamente. Sendo o resultado da primeira CV detectável, deve-se repetir o exame o mais

breve possível, se for detectável na segunda CV a criança é considerada infectada pelo HIV.

Nos casos em que for indetectável na primeira CV, repete-se o exame após o 4º mês de vida,

sendo indetectável novamente, considera-se a criança não infectada, necessitando apenas da

sorologia para HIV após os 12 meses de idade para documentar a sororeversão da criança

(BRASIL, 2016).

Para as crianças acima de 18 meses é adotado o diagnóstico por detecção direta de

componentes do HIV, de DNA ou RNA pró-viral, de imunoglobulina M (IgM) e

imunoglobulina G (IgG)através de pelo menos dois testes que possuam metodologias

diferentes. O padrão-ouro para o diagnóstico da infecção pelo HIV, era a combinação do

imunoensaio de triagem (IE) seguido pelo western blot (WB), porém a utilização de dois ou

mais testes combinados, formando um fluxograma, tendem a aumentar a probabilidade de

resultados positivos no teste inicial serem verdadeiramente de indivíduos que possuam o

vírus. Para isso, o primeiro teste deve ser mais sensível e o segundo deve ser mais específico,

com a finalidade de descartar falsos reagentes. Desse modo, nos casos em que o teste de

triagem for reagente, esse resultado deve ser confirmado com um segundo teste de

metodologia diferente do primeiro, entretanto o resultado não reagente nos testes de triagem

exclui a necessidade do segundo teste. O diagnóstico também pode ser realizado por dois

testes de triagem com base nas especificidades e todos os indivíduos diagnosticados como

infectados devem realizar o exame de carga viral, cujo resultado ratifica a presença do vírus

(BRASIL, 2016).

Os testes são classificados em imunoensaio de triagem, testes rápidos (TR) e testes

complementares (TC), devendo ser empregados de acordo com estagiamento laboratorial da

infecção recente pelo HIV, proposto por Fiebig (FIEBIG et al., 2003) e adotado pelo

Ministério da Saúde, que inclui projeções da duração de cada estágio com base no padrão de

reatividade dos ensaios (BRASIL, 2016).

Foram desenvolvidas quatro gerações de imunoensaio de triagem definidas a partir da

metodologia empregada, atualmente são utilizados os testes de 3ª e 4ª geração, que realizam o

27

diagnóstico através da detecção de IgM e IgG ou através da detecção combinada de antígeno e

anticorpo, respectivamente, possibilitando o diagnóstico da infecção recente pelo HIV por

serem mais sensíveis e específicos que os testes desenvolvidos anteriormente. Os TR são

imunoensaios mais simples, por meio do quais o resultado é obtido em até 30 minutos e

possuem a vantagem de ser realizados em ambientes não laboratoriais. Por último, temos os

testes complementares (western blot – WB, imunoblot – IB ou imunoblot rápido – IBR) que

em sua maioria detectam apenas anticorpos IgG, não sendo recomendados para a detecção da

infecção recente, além de elevarem o custo do diagnóstico quando comparados aos testes de

imunoensaio de 3ª e 4ª geração (BRASIL, 2016).

5.3 FATORES ASSOCIADOS À TRANSMISSÃO VERTICAL

A transmissão vertical do HIV é um evento multifatorial, entre fatores de risco e de

proteção, incluindo principalmente as características maternas, obstétricas, pediátricas

(DUARTE; QUINTANA; EL BEITUNE, 2005) e socioeconômicas (FONSECA et al., 2003).

Dentre os diversos fatores maternos, a carga viral se mostra bastante importante na

transmissão vertical do HIV e apesar de estudos comprovarem uma associação direta entre os

valores da carga viral e a chance de TV, não há valores nos quais se possa predizer a sua

ocorrência ou não (CHARURAR et al., 2009; EUROPEAN COLLABORATIVE STUDY,

1999; MOCK et al.,1999). Sabe-se que a frequência de TV é baixíssima, porém diferente de

zero em mulheres cujas cargas virais eram inferiores a 1.000 cópias/mL (IOANNIDIS et al.,

2001).

Também possui grande relevância, a contagem de células T CD4+ durante a gestação,

que sofre influência do estágio da doença materna e uso da TARV, pois a baixa contagem

dessa célula atua como marcador da imunodeficiência causada pelo vírus (BRASIL, 2016).

Na fase aguda da infecção pelo vírus, em decorrência da intensa replicação viral (aumento da

carga viral) e baixa contagem dos linfócitos T CD4+, há risco aumentado da transmissão

vertical (WHITMORE et al., 2012). Processo similar ocorre no estágio mais avançado da

doença materna (DUARTE; QUINTANA; EL BEITUNE, 2005; WHITMORE et al., 2012).

Outros fatores relatados na literatura e associados ao aumento do risco de transmissão

vertical do HIV, dizem respeito ao comportamento materno, uso de álcool e outras drogas,

28

assim como o tabagismo. A prática sexual com múltiplos parceiros e relações sexuais

desprotegidas ocasionam exposição a diferentes cepas virais do HIV, que atuam aumentando

a carga viral e propiciando a aquisição de outras ISTs, que reconhecidamente aumentam

susceptibilidade à transmissão vertical do vírus (ANDERSON et al., 2001; BRASIL, 2010b;

BULTERYS et al., 1993; LANDERS; DUART; CROMBLEHOLME, 2001; MINKOFF et

al., 1995).

O uso de álcool e outras drogas pela gestante causam imunodepressão materna e fetal,

a primeira contribui para o aumento da carga viral materna e a outra para aumento da

susceptibilidade do recém-nascido à infecção, também podem ocasionar dano vascular

placentário e disfunção metabólica, aumentando a permeabilidade da placenta e

consequentemente o risco de transmissão vertical (BRASIL, 2010b; GIANVECCHIO;

GOLDBERG, 2005). O uso de drogas ainda está associado a não adesão ao pré-natal e ao uso

da TARV (BRASIL, 2010b). O tabagismo também está associado ao aumento da taxa de

transmissão vertical, pois contribui para a ocorrência de complicações obstétricas tais como o

descolamento de placenta, a corioamniorrexe prematura e o trabalho de parto pré-termo, todas

associadas ao aumento do risco de transmissão vertical (BURNS et al., 1994).

O tipo de parto, tempo de ruptura das membranas, procedimentos invasivos e o

contato do feto/recém-nascido com sangue/secreções maternas são os principais fatores

obstétricos associados à transmissão vertical do HIV (DUARTE; QUINTANA; EL

BEITUNE, 2005). Estudos demonstraram maior taxa de TV nos casos de ruptura das

membranas corioamnióticas acima de quatro horas, quando há coriamnionite essa taxa chega

a ser seis vezes maior (BRASIL, 2010b;CHI et al, 2006; MINKOFF et al., 1995). No que

concerne aos procedimentos invasivos, o risco se dá pela possível contaminação da circulação

fetal ou do líquido amniótico, sendo contraindicado procedimentos como amniocentese,

cordocentese, cardiotocografia interna e coleta de sangue fetal (BRASIL, 2010b;DUARTE;

QUINTANA; EL BEITUNE, 2005).

O tipo de parto é um fator importante na ocorrência de transmissão vertical, estudos

indicam que o parto por cesárea eletiva em gestações a termo, sem início do trabalho de parto

e sem ruptura das membranas, apresenta interação positiva com a redução da transmissão

vertical (DUARTE; QUINTANA; EL BEITUNE, 2005;NEWELL, 2001). Isso se deve,

possivelmente, dada a menor exposição do recém-nascido às microtransfusões que ocorrem

durante a fase ativa do trabalho de partoe por evitar o contato das mucosas do recém-nascido

29

com as secreções vaginais ou cervicais contaminadas (SRIPAN et al., 2015).Entretanto, o

Ministério da Saúde não contraindica o parto vaginal, a decisão dependerá da carga viral

materna no último trimestre de gestação e do uso da terapia antirretroviral, e quando indicado,

deverão ser adotados alguns cuidados como a administração da profilaxia desde o início do

trabalho de parto até o nascimento, o clampeamento imediato do cordão umbilical e evitar

procedimentos como amniotomia, episiotomia, uso de fórceps e de vácuo extrator. Há

dificuldade em se avaliar o benefício de uma cesariana em mulheres com baixa carga viral

dada a frequência de morbidade puerperal, porém o risco de morbidade nos partos eletivos é

menor que nos partos de emergência (BRASIL, 2010b).

Estudos relacionam o baixo peso e prematuridade à maiores taxas de transmissão

vertical do vírus em decorrência da imaturidade do sistema imunológico do recém-nascido

(CHARURAR et al., 2009;MOCK et al.,1999). Salienta-se que o trabalho de parto prematuro

pode ser desencadeado tanto pelo estágio avançado da doença materna, quanto pela presença

de ISTs ou outros fatores comportamentais como o uso de drogas ou tabagismo (DUARTE;

QUINTANA; EL BEITUNE, 2005). Sripan et al. (2015), fortalecem a hipótese de que recém-

nascidos prematuros possuem maior vulnerabilidade à infecção pelo HIV.

Há ainda o risco de transmissão vertical do HIV através da amamentação, além da

presença do vírus no leite, a existência de lesões na região aréolo-mamilar ou de mastite

favorecem aumento da carga viral e consequentemente da chance de TV do vírus (DUARTE;

QUINTANA; EL BEITUNE, 2005). Se a infecção materna for aguda, o risco aumenta devido

à alta carga viral e baixa contagem de linfócitos T CD4+ materna (BRASIL, 2014). Quando

alimentada de forma mista, leite materno e fórmula, há um significativo aumento da

transmissão em decorrência das microfissuras intestinais originadas pelas fórmulas à base de

leite de vaca (JOHN; KREISS, 1996).

Em seu início, a epidemia de Aids acometia os grupos populacionais que possuíam

melhor nível socioeconômico, contudo rapidamente populações de baixo nível

socioeconômico passaram a ser o principal grupo afetado (FONSECA et al., 2003). De forma

semelhante ocorreu no Brasil, as regiões de maior pobreza são aquelas que exibem a maior

concentração da doença, evidenciando a relação entre as condições socioeconômicas e a Aids

(LOPES et al., 2015).

30

A “pauperização” da epidemia é descrita na literatura a partir de análise da

escolaridade dos indivíduos infectados, pesquisa realizada em Botswana (África) verificou

que anos adicionais de estudo possuem efeito protetor contra o risco de infecção pelo HIV,

principalmente nas mulheres (DE NEVE et al., 2015). Fonseca et al. (2000), verificaram

aumento da incidência dos casos em indivíduos com baixa escolaridade no Brasil, chegando a

valores próximos de 70% no sexo masculino, enquanto no sexo oposto essa proporção exibia

valores superiores, no período de 1986 a 1996. Fortalecendo a hipótese da influência das

desigualdades socioeconômicas e de gênero na dinâmica da Aids.

Como já afirmara Klovdhal em 1985, que a epidemia da AIDS progrediria ao longo

das redes sociais de maior vulnerabilidade, estudos brasileiros apontam as condições de

pauperização, baixa escolaridade e renda como estruturantes dessa vulnerabilidade

(DONALISIO, 2010; LOPES et al., 2015;STEPHAN; HENN; BARCELLOS et al., 2009).

Adicionalmente, a pobreza se constitui como uma barreira de acesso ao serviço de saúde, à

informação e às medidas de prevenção, contribuindo para a vulnerabilidade desses grupos

populacionais (BARCELLOS et al., 2009).

O estudo da vulnerabilidade foi incorporado na saúde pública a partir da necessidade

de intersecção dos vários campos do saber com a finalidade de buscar estratégias para o

enfrentamento da Aids (OVIEDO; CZERESNIA, 2015). Segundo Ayres et al. (2003), a

vulnerabilidade possui três componentes: no eixo individual são incluídas as características

relacionadas ao indivíduo; no social, abrange o contexto no qual o indivíduo se apresenta, aos

aspectos sociopolíticos, econômicos, culturais, relações de gênero e etc.; e o pragmático ou

institucional que envolve o Estado como condutor das políticas públicas.

A existência de múltiplos fatores envolvidos na dinâmica do adoecimento, dentre eles

o contexto social, gera desigualdade de exposições e vulnerabilidades. Esta compreensão de

saúde como fenômeno social é produto de décadas de discussões sobre o processo saúde-

doença, que ora preponderava o enfoque médico biológico, ora o enfoque sociopolítico e

ambiental. Com a Conferência de Alma-Ata, no final da década de 70, o tema dos

determinantes sociais retornou ao centro das discussões. Os determinantes sociais da saúde

(DSS) abrangem as características do contexto social que influenciam na saúde e o modo

como a afetam (BUSS; PELLEGRINI-FILHO, 2007; GEIB, 2012;MARANHÃO; PEREIRA,

2018).

31

A produção de conhecimento sobre os DSS e suas diversas abordagens permitiu a

construção de vários modelos que procuraram esquematizar os mecanismos através dos quais

os determinantes provocam as iniquidades de saúde. Dentre estes modelos, a Comissão

Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS) adotou o modelo de Dahlgren e

Whitehead, por sua simplicidade, fácil visualização e compreensão dos diversos DSS (BUSS;

PELLEGRINI-FILHO, 2007).

Este modelo organiza os DSS em diferentes camadas concêntricas (figura 1), desde as

proximais na qual estão dispostos os determinantes individuais como idade, sexo e fatores

genéticos, imediatamente acima, estão os comportamentos e estilos de vida dos indivíduos

que se situam no limiar entre fatores individuais e os DSS. Na camada seguinte estão

dispostas as redes sociais e comunitárias, de fundamental importância para a saúde da

sociedade como um todo, expressando a maior ou menor coesão social. O próximo nível é

composto pelos fatores relacionados as condições de vida e trabalho, no qual estão inseridos a

educação, o acesso aos serviços, as condições de habitação, entre outros, até chegar a camada

mais distal, na qual estão os macrodeterminantes sociais da saúde, como condições

socioeconômicas, culturais e ambientais (GEIB, 2012; BUSS; PELLEGRINI-FILHO, 2007).

Figura 1 – Determinantes Sociais da Saúde segundo modelo proposto por Whitehead e Dahlgren.

Fonte: Whitehead e Dahlgren(apud BUSS; PELLEGRINI-FILHO, 2007).

32

6 OBJETIVOS

6.1 GERAL

Analisar a associação entre os fatores de risco e a transmissão vertical do HIV em

crianças acompanhadas em um serviço de referência no Recife, entre 2010 e 2015.

6.2 ESPECÍFICOS

a) Identificar o perfil das crianças expostas à transmissão vertical do HIV acompanhadas;

b) Analisar as medidas de prevenção da transmissão vertical do HIV adotadas;

c) Analisar os fatores maternos, obstétricos, pediátricos e socioeconômicos relacionados

à transmissão vertical do HIV;

d) Verificar a associação entre os fatores de risco e transmissão vertical do HIV.

33

7 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

7.1 DESENHO DO ESTUDO

O estudo é composto por dois momentos, o descritivo e o analítico. No primeiro

momento foram analisadas informações das crianças expostas à transmissão vertical do HIV

de 2010 a 2015. No momento analítico, por se tratar de uma população na qual todas as

crianças foram expostas ao HIV materno e por ser uma doença com baixa incidência, menos

de 10% das crianças expostas se tornam infectadas, optou-se pelo estudo de caso-controle

aninhado a coorte de crianças expostas à transmissão vertical do HIV no IMIP.

No estudo do tipo caso-controle, particularmente em doenças raras (de baixa

incidência), a estimativa fornecida pela ODDS Ratio (OR) tende a se aproximar do risco

relativo (RR) (MEDRONHO et al., 2009). Possui a característica de ser retrospectivo, ou seja,

inicialmente os participantes são selecionados entre indivíduos que já possuem a doença

(casos) e indivíduos que não a possuem (controles), somente então é possível verificar a

frequência de exposição aos fatores de risco em cada um dos grupos (ALMEIDA FILHO;

ROUQUAYROL, 2003; RÊGO, 2010). Possui o objetivo de verificar a possível existência de

associação causal entre exposição aos fatores e a doença em estudo, permitindo ainda a

análise de múltiplos fatores de exposição (ALMEIDA FILHO; ROUQUAYROL, 2003).

A população de origem é bem definida nos estudos de caso-controle aninhado a

coorte, de tal modo que os casos emergem desta população de origem e os controles são

amostrados a partir dessa mesma população pré-definida (BIESHEUVEL et al., 2008). Assim,

esse tipo de estudo possui maior validade interna por minimizar os vieses de seleção e

classificação, tendo em vista que os controles são originários da população acompanhada e

todos os membros da coorte apresentam o risco de se tornarem casos (MEDRONHO et al.,

2009).

7.2 LOCAL E PERÍODO DO ESTUDO

O estudo foi realizado no Serviço Assistência Especializada – SAE Pediátrico do

Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), localizado na cidade do

Recife. O primeiro caso registrado de Aids pediátrico por transmissão perinatal no Norte e

34

Nordeste foi diagnosticado no IMIP em 1987, desde então este serviço realiza o

acompanhamento ambulatorial dos recém-nascidos de mães com sorologia HIV positiva até a

definição do diagnóstico do menor, assim como das crianças e adolescentes HIV positivo.

O IMIP é uma entidade sem fins lucrativos e de utilidade pública que desenvolve

ações em assistência médico-social, ensino, pesquisa e extensão comunitária. Foi o primeiro

hospital brasileiro a receber o título de Hospital Amigo da Criança, concedido pela

Organização Mundial de Saúde/Unicef/Ministério da Saúde. É credenciado pelo Ministério da

Saúde como Centro de Referência Nacional para AIDS e atende a pacientes de todo o Estado,

com uma média 1.500 atendimentos por mês. Em 1988, tornou-se Centro de Referência no

Estado de Pernambuco para atendimento HIV/Aids pediátrico, um ano após realizar o

primeiro diagnóstico de transmissão perinatal do HIV do Norte e Nordeste. Possui um Serviço

Assistência Especializada (SAE) e Hospital-Dia (HD), atendendo a crianças e adolescentes

com infecção pelo HIV/Aids (INSTITUTO DE MEDICINA INTEGRAL PROFESSOR

FERNANDO FIGUEIRA, 2018). A equipe médica deste serviço permanece a mesma desde

1980, havendo apenas uma troca de profissional e o atendimento é organizado com a

vinculação do paciente ao seu médico.

O período estudado compreendeu os anos de 2010 a 2015, considerando a necessidade

de doze meses para definição do diagnóstico da transmissão vertical. Ademais, em setembro

de 2012, o Ministério da Saúde introduziu o uso da Nevirapina no esquema da

quimioprofilaxia da transmissão vertical do HIV para recém-nascidos de mães vivendo com

HIV/Aids que não utilizaram antirretrovirais durante a gestação, segundo Nota Técnica nº

388/2012, onde o esquema combinado de Zidovudina e Nevirapina demonstrou superioridade

na redução da transmissão vertical.

7.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO E AMOSTRA

A população do estudo foi composta por crianças expostas à transmissão vertical do

HIV, admitidas e acompanhadas no Serviço Assistência Especializada do IMIP, nascidas

entre janeiro de 2010 e dezembro de 2015.

Utilizou-se como parâmetro para diagnóstico da transmissão vertical do HIV, o

Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para manejo da infecção pelo HIV em crianças e

35

adolescentes do Ministério da Saúde (BRASIL, 2014). Neste protocolo, o diagnóstico da

infecção pelo HIV em crianças é orientado a partir da faixa etária, entre menores ou maiores

de 18 meses. Nas crianças menores de 18 meses, deve-se colher a primeira carga viral na

quarta semana de vida ou preferencialmente na sexta semana, após término da

quimioprofilaxia do recém-nascido, contudo naquelas crianças que apresentam

sintomatologia, a carga viral deve ser colhida a qualquer momento (Figura 2).

Figura 2 -Fluxograma do diagnóstico da infecção pelo HIV em crianças menores de 18 meses.

Fonte: Autora a partir de Brasil (2014).

As crianças que chegam para o acompanhamento com mais de 18 meses, o diagnóstico

é realizado por detecção direta de componente do HIV ou por testes moleculares que detectam

DNA ou RNA pró-viral. O padrão-ouro para o diagnóstico da infecção pelo HIV é realizado a

partir da combinação de dois testes, um de triagem e um confirmatório, o primeiro mais

sensível e o segundo mais específico. O resultado negativo no primeiro teste caracteriza a não

infecção pelo HIV, contudo, se persistir a suspeita de infecção outra amostra deverá ser

colhida. O resultado reagente na primeira amostra deve sempre ser confirmado com um

segundo teste de metodologia diferente do primeiro, salientando que todos os indivíduos

Recém-nascido assintomático com idade até 18 meses

1ª CV - 4ª ou 6ª semana de vida

Repete a CV imediatamente

Criança infectada

Não detectável Detectável

Repete a CV após o 4º mês

de vida

Não detectável

Criança não infectada

Detectável

Não detectável

Repete a CV após o 4º mês

de vida

Detectável

36

diagnosticados devem realizar o exame de carga viral, o qual certifica a presença do vírus. O

Ministério da Saúde emprega diversas estratégias para o diagnóstico da infecção pelo HIV,

seja por combinação de dois testes rápidos, que agilizam o resultado por serem realizados em

ambientes extra laboratoriais ou por combinação de imunoensaios (IE) com testes moleculares

(TM) ou complementares (TC) (BRASIL, 2016).

A preocupação central em se tratando de amostra é para que esta seja representativa,

devendo ser cuidadosamente definida a população de interesse e as características a serem

pesquisadas, para que as conclusões obtidas da amostra possibilitem a inferência estatística

(CORREA, 2006).

Para dimensionar a amostra foi adotado o nível de significância bilateral de 95,0% e

80,0% de poder. Sendo incluídos quatro controles para cada caso (4:1), considerando uma

proporção hipotética de controles com exposição 10,0% e ODDS Ratio mínima de 2,5. A

amostra totalizou 415 indivíduos acompanhados no Serviço Assistência Especializada

pediátrico.

Para seleção dos casos e controles, foi consultado um banco de dados informatizado

do SAE Pediátrico do IMIP que continha informações das crianças nascidas entre 2010 e

2015 expostas à TV do HIV acompanhadas no serviço. A partir desse banco, foi estruturada

uma listagem com os prontuários das crianças infectadas e não infectadas. Constituíram o

grupo de casos, todas as crianças infectadas (83) durante o período estudado. Para seleção dos

controles (332), foi realizada amostragem sistemática, listando todas as crianças expostas à

transmissão vertical do HIV e não infectadas que realizaram acompanhamento ambulatorial

completo, por ano e ordem alfabética, possibilitando a aleatoriedade da amostra.

Foram excluídas da amostragem, aquelas crianças que realizaram acompanhamento

ambulatorial incompleto, ou seja, não compareceram às consultas subsequentes sem terem

recebido alta com o diagnóstico definitivo, conforme preconiza o Protocolo clínico e

diretrizes terapêuticas para manejo da infecção pelo HIV em crianças e adolescentes do

Ministério da Saúde (BRASIL, 2014).

37

7.4 FONTE DE DADOS

Os dados necessários para o desenvolvimento da pesquisa foram coletadosa partir de

um banco de dados informatizado do SAE HIV/Aids pediátrico do IMIP e da ficha de

avaliação inicial, preenchida na primeira consulta da criança no serviço ambulatorial, presente

no prontuário do paciente.

Foram excluídos aqueles prontuários:

a) Cujas informações estavam rasuradas e/ou ilegíveis;

b) Que não possuíam a ficha de avaliação inicial;

c) Cujas mães não tiveram a confirmação diagnóstica de HIV.

7.5 COLETA DE DADOS

A coleta dos dados ocorreu no período entre julho e setembro de 2017. Os prontuários

de crianças infectadas em acompanhamento estavam no arquivo do SAE HIV/AIDS e foram

retirados pela pesquisadora com supervisão do responsável pelo arquivo e coletados duas

vezes por semana no período da tarde. Após a alta do acompanhamento, os prontuários

seguem para o Serviço de Arquivamento Médico e Estatísticas – SAME do IMIP. Neste setor

é designada uma pessoa para retirar prontuários, no quantitativo de 20 a cada 72 horas, sendo

necessário encaminhar uma listagem com informações dos prontuários e uma carta de

apresentação do pesquisador.

7.6 VARIÁVEIS DE ESTUDO

O momento descritivo teve como fonte de dados o banco de dados informatizado do

SAE do IMIP, o qual continha informações de 1.106 crianças expostas a transmissão vertical

do HIV de 2010 a 2015, entre aquelas que realizaram o acompanhamento completo e as que

perderam seguimento. No quadro 1 é possível visualizar as variáveis utilizadas neste

momento.

38

Quadro 1–Variáveis descritivas, definição e categorização.

DESCRITIVAS

Variável Definição Categorização

Ano de

nascimento

Ano do nascimento da

criança 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Idade Materna Anos de idade completos

desde no momento do parto < 20 anos ≥ 20 anos Não informado

Escolaridade

Materna

Anos de estudo concluídos < 8 anos ≥ 8 anos Não informado

Procedência

Local de residência da mãe

Recife

Região

Metropolitana

do Recife

Demais

localidades

Não

informado

Diagnóstico

materno

Momento em que a mãe

teve conhecimento da

sorologia HIV positivo

Antes do

parto No parto

No pós-

parto

Não

informado

Tipo de parto Modalidade de parto

utilizada para o nascimento Vaginal Cesárea Não informado

Bolsa rota

Rotura das membranas

amnióticas antes ou durante

trabalho de parto

Sem bolsa

rota

Com bolsa

rota Não informado

Idade gestacional

do recém-nascido

Idade gestacional ao nascer Pré-termo (<

37 semanas)

Termo (≥ 37

semanas) Não informado

Peso ao nascer

Peso em gramas do recém-

nascido aferido logo após o

parto < 2.500g ≥ 2.500g Não informado

Pré-natal no

serviço

Realização de pré-natal no

IMIP Sim Não Não informado

Parto no serviço Realização de parto no

IMIP Sim Não Não informado

Profilaxia na

gestação

Uso de ARV na gestação Sim Não Não informado

Profilaxia no

parto

Uso de ARV durante o parto Sim Não Não informado

Profilaxia no

recém-nascido

Uso de ARV até a 6 semana

de vida Sim Não Não informado

Aleitamento

materno

Uso de leite materno de

forma exclusiva ou mista na

alimentação da criança

Sim Não Não informado

Fonte: Autora.

Para a abordagem analítica, foram utilizados os dados obtidos a partir da ficha de

avaliação inicial, presente no prontuário do paciente. O desfecho estudado foi a infecção pelo

HIV por transmissão vertical na criança, caracterizado pelo status sorológico da criança

exposta, adaptado do Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para manejo da infecção pelo

39

HIV em crianças e adolescentes do Ministério da Saúde. A partir do quadro 2 é possível

visualizar as variáveis independentes utilizadas no estudo de caso-controle.

40

Quadro 2 - Variáveis independentes, definição e categorização.

(continua)

SOCIOECONÔMICAS

Variável Idade

Materna

Escolaridade

Materna

Trabalho

Materno

Uso de

drogas

Raça/Cor do

recém-

nascido

Benefício

social

Casa

Própria

Abastecimento

de água

Esgoto

sanitário

Definição Anos de idade

completos desde o

nascimento até

o parto

Anos de

estudo concluídos

Ocupação

econômica

História

de uso de drogas

não álcool

nos

últimos 10 anos

Classificação

étnico-racial

Recebimento

de benefícios

financeiros

concedidos

pelo Governo

Posse da

propriedade imóvel onde

reside

Abastecimento

de água por rede geral de

distribuição

Serviço de

esgotamento sanitário por

rede

coletora

Categorização < 20 anos < 8 anos Não remunerada Sim Branco Sim Sim Sim Sim

≥ 20 anos ≥ 8 anos Remunerada Não Pardo/Negro Não Não Não Não

Não informado Não

informado

Não informado Não

informado

Não

informado

Não

informado

Não

informado

Não informado Não

informado

OBSTÉTRICOS E PEDIÁTRICOS

Variável Diagnóstico materno Consultas de

pré-natal Tipo de parto Bolsa rota

Idade

gestacional do

recém-nascido

Peso ao nascer

Idade na

primeira

consulta

Definição

Momento em que a mãe

teve conhecimento de

teste sorológico anti-HIV

positivo

Realização de

consultas de

pré-natal

Modalidade de

parto utilizada

para o

nascimento

Presença de rotura

das membranas

amnióticas antes ou

durante trabalho de parto

Idade

gestacional ao

nascer

Peso em gramas do

recém-nascido

aferido logo após o

parto

Idade do recém-

nascido ou

criança na

primeira consulta ao SAE

Categorização

Antes do parto > 6 consultas Vaginal Sem bolsa rota Pré-termo (< 37

semanas)

< 2.500g < 2 meses

No parto ≥ 6 consultas Cesárea Com bolsa rota Termo (≥ 37

semanas)

≥ 2.500g 2 |- 6 meses

No pós-parto Não

informado Não informado Não informado Não informado Não informado

≥ 6 meses

Não informado Não informado

41

Quadro 2 - Variáveis independentes, definição e categorização. (conclusão)

MEDIDAS PROFILÁTICAS

Variável Profilaxia na gestação Profilaxia no parto Profilaxia no recém-nascido Aleitamento materno

Definição Uso de ARV na gestação Uso de ARV durante o parto Uso de ARV até a 6 semana de

vida

Uso de leite materno de forma

exclusiva ou mista na alimentação da criança

Categorização

Sim Sim Sim Sim

Não Não Não Não

Não informado Não informado Não informado Não informado

Fonte: Autora.

42

7.7 PROCESSAMENTO E ANÁLISE DE DADOS

Os dados quantitativos obtidos a partir do banco de dados do serviço, das fichas de

avaliação inicial e prontuários foram organizados em planilhas utilizando o programa Excel

for Windows e a análise estatística foi realizada nos programas Epi Info, versão 7.2 e IBM

SPSS Statistics, versão teste.

O primeiro momento da pesquisa considerou os dados provenientes do banco de dados

do serviço, cuja informação é baseada na ficha de notificação compulsória de criança exposta

ao HIV. Esses dados foram dispostos entre o grupo que realizou o acompanhamento

ambulatorial completo e o grupo que perdeu seguimento, para análise descritiva e avaliação

da diferença entre os grupos estudados.

No segundo momento, foi realizada análise descritiva dos dados coletados nos grupos

de casos e controles. Em seguida, realizaram-se análise estatística univariada das

características socioeconômicas, obstétricas, pediátricas e das medidas profiláticas nos

referidos grupos, para identificação dos possíveis fatores associados à transmissão vertical do

HIV. Para mensurar a associação entre os fatores de risco e a transmissão vertical foram

calculados a ODDS Ratio (OR) e o intervalo de confiança (IC) bilateral a 95%.

Na análise multivariada foram considerados duas abordagens, uma convencional e

outra hierarquizada, esta última possibilita a abordagem dos diferentes níveis de determinação

buscando reduzir as distorções dos efeitos distais (VICTORA et al., 1997). Ambos os

modelos foram ajustados pela técnica backward stepwise, com base no valor do logaritmo da

razão de verossimilhança. No primeiro modelo de regressão logística foram incluídas todas as

variáveis independentes que estiveram estatisticamente associadas na análise univariada (p ≤

0,20), sendo mantidas no modelo final as variáveis que apresentaram p ≤ 0,10.

Na regressão multivariada hierarquizada, as variáveis independentes foram

organizadas em níveis de determinação, entre distais, intermediários e proximais, utilizando

como referência o modelo teórico sobre determinantes sociais da saúde, conforme figura 3.

43

Figura 3 - Modelo explicativo hierarquizado dos potenciais fatores associados à transmissão vertical do HIV em

crianças acompanhadas em um Serviço Assistência Especializada.

Fonte: Autora.

Para realizar a regressão logística hierarquizada, foram seguidos os procedimentos

propostos por Victora et al. (1997), no qual as variáveis estatisticamente associadas ao

desfecho na análise univariada (p ≤ 0,20) são incluídas nos modelos multivariados

correspondentes a seu nível de determinação. Foram mantidas no modelo final de cada nível

hierárquico as variáveis associadas ao desfecho com valor de p ≤ 0,10. Ao realizar a regressão

logística hierarquizada, as variáveis do nível distal são incorporadas no modelo, conservando-

se como fatores de ajuste para as variáveis hierarquicamente inferiores, juntamente com as

1º Nível de determinação

(Fatores Distais)

2º Nível de determinação

(Fatores Intermediários)

3º Nível de determinação

(Fatores Proximais)

Variáveis socioeconômicas – escolaridade materna, trabalho da mãe,

uso de drogas, raça/cor do recém-nascido, recebimento de benefício

social, abastecimento de água, esgoto sanitário, casa própria.

Variáveis relativas às características obstétricas e pediátricas –

número de consultas de pré-natal, idade gestacional no parto, tipo de

parto, bolsa rota, idade da mãe, peso ao nascer, idade na primeira

consulta.

Variáveis relativas às medidas profiláticas – momento do diagnóstico

materno, profilaxia na gestação, profilaxia no parto, profilaxia do

recém-nascido, suspensão do aleitamento.

44

variáveis do nível intermediário, gerando um novo modelo no qual apenas as variáveis do

nível intermediário com p > 0,10 são retiradas. Em seguida, são incluídas a esse novo modelo

(com variáveis do 1º e 2º nível) todas as variáveis significantes (p ≤ 0,20) do nível proximal,

que após regressão múltipla apenas as variáveis que apresentaram p ≤ 0,10 se mantiveram no

modelo final (figura 4).

Figura 4- Procedimentos para realização de regressão logística hierarquizada.

Fonte: Autora a partir de Victora et al. (1997).

PASSO 1: Identificação das

variáveis associadas ao desfecho

com p<0,20 na análise univariada,

por nível de determinação (distal,

intermediário e proximal).

PASSO 2: Nível Distal (1º)

- Realizar regressão múltipla

com as variáveis deste nível

identificadas no passo

anterior, identificando

variáveis independentemente

associadas ao desfecho com

p ≤ 0,10.

PASSO 5: Realizar

regressão múltipla com as

variáveis identificadas nos

passos 2 e 3. Certificar que

as variáveis do 1º nível não

são retiradas do modelo

mesmo que sua percam a

significância (p>0,10).

PASSO 6: Realizar regressão

múltipla com as variáveis

identificadas nos passos 5 e 4.

Certificar que as variáveis

estabelecidas no modelo do

passo 5 não são retiradas do

modelo mesmo que sua percam

a significância (p>0,10).

PASSO 3: Nível Intermediário

(2º) - Realizar regressão

múltipla com as variáveis deste

nível identificadas no passo 1,

identificando variáveis

independentemente associadas

ao desfecho com p ≤ 0,10.

PASSO 4: Nível Proximal (3º)

- Realizar regressão múltipla

com as variáveis deste nível

identificadas no passo 1,

identificando variáveis

independentemente associadas

ao desfecho com p ≤ 0,10.

MODELO FINAL

HIERARQUIZADO

45

Para cálculo da taxa de transmissão vertical utilizou-se como numerador o número

total de crianças infectadas pelo HIV por transmissão vertical acompanhadas no SAE no

período, como denominador, o número total de crianças acompanhadas no SAE até definição

do diagnóstico no período e multiplicou-se por 100. Foram excluídas as crianças que não

completaram o acompanhamento conforme preconizado, uma vez que ao incluí-las no

denominador do cálculo poderia sub-estimar o resultado desse indicador, visto que não é

possível assegurar o perfil sorológico das perdas de seguimento.

46

8 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

O presente estudo foi encaminhado e aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa

em Seres Humanos do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM) e do Instituto de

Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP) com registro de CAAE:

55266116.6.0000.5190.

Foram adotados os parâmetros ditados pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional

de Saúde. Foi garantida a confidencialidade dos sujeitos, em todas as etapas da pesquisa,

conforme preconizado e segundo parâmetros adotados pelo Comitê de Ética em Pesquisa

do CPqAM.

47

9 RESULTADOS

Durante o período estudado foram acompanhadas no serviço de assistência

especializada 1.106 crianças expostas à transmissão vertical do HIV, destas 76,4%

sororreverteram, 7,5% foram diagnosticadas HIV positivo e 16,1% não seguiram o

acompanhamento conforme preconizado.

No ano de 2010, 12,7%das crianças expostas à transmissão vertical do HIV se

contaminaram, em 2015 apenas 5,3%, o que corresponde a uma diminuição de 58,6%. O

percentual de crianças expostas ao HIV que não se contaminaram variou de 71,4% em 2010

para 81,3% em 2015, representando um aumento de 13,9%. O percentual de perda de

seguimento apresentou variações anuais, com os maiores valores observados em 2012, 2014 e

2011. O ano de 2013 apresentou o segundo maior percentual de crianças infectadas pelo HIV

(11,3%) e a menor perda de seguimento (9,3%) do período estudado (Tabela 1).

Tabela 1 - Distribuição anual das crianças infectadas, não infectadas e perda de seguimento atendidas no

ambulatório pediátrico de HIV/Aids. Serviço Assistência Especializada, 2010-2015

Ano de

nascimento

Infectadas Não infectadas Perda de seguimento

N % n % n %

2010 16 12,7 90 71,4 20 15,9

2011 11 6,4 131 76,2 30 17,4

2012 12 6,3 136 71,6 42 22,1

2013 22 11,3 154 79,4 18 9,3

2014 11 5,1 164 76,3 40 18,6

2015 11 5,3 170 81,3 28 13,4

TOTAL 83 7,5 845 76,4 178 16,1

Fonte: Autora.

Entre 2010 e 2015, a taxa transmissão vertical do HIV no serviço de atendimento

especializado estudado foi 8,9% (IC 95%: 7,27 – 10,95). A taxa de TV apresentou oscilação

no período estudado, exibindo maiores valores nos anos de 2010 e 2013 seguidos por redução

nos anos subsequentes (Gráfico 1). A menor taxa foi verificada no ano de 2015, representando

uma redução de 59,7% em comparação ao primeiro ano estudado.

48

Gráfico 1 - Casos confirmados e transmissão vertical do HIV. Serviço Assistência Especializada, 2010-

2015

Fonte: Autora.

Nota1: Para cálculo da taxa de transmissão vertical foram excluídas as crianças que não

realizaram acompanhamento completo.

Nota2: Tendência linear de redução da transmissão vertical no período 2010-2015 apresenta

qui-quadrado: 4,37 e p-valor: 0,037.

A partir da tabela 2 é possível verificar aumento na quantidade de crianças expostas ao

HIV que iniciaram acompanhamento no SAE, de 126 em 2010 para 209em 2015, as maiores

proporções de crianças com primeiro atendimento foram verificadas nos anos de 2014 e de

2015.

O acompanhamento ambulatorial completo das crianças expostas à transmissão vertical

do HIV aumentou durante os anos estudados, passando de 11,4% em 2010 para 19,5% em

2015, enquanto o percentual de perda de seguimento apresentou variações durante o período

estudado. Os anos com maiores percentuais de crianças sem seguimento completo foram,

respectivamente, 2012, 2014 e 2011.

As mães possuíam, em sua maioria, mais de vinte anos de idade (82,4%) e menos de

oito anos de estudo (49,3%) em ambos os grupos, contudo entre as mulheres que realizaram o

acompanhamento completo, aproximadamente metade (49,3%), concluíram o ensino médio.

Quanto à procedência, 75,5% residiam em Recife ou Região Metropolitana do Recife (RMR),

no grupo que realizou o acompanhamento completo 29,5% eram provenientes de Recife,

46,3% da RMR e 24,1% de outros municípios, resultados semelhantes foram visualizados na

perda de seguimento.

49

Das variáveis analisadas, o ano de nascimento e a escolaridade materna apresentaram

diferença significativa (p<0,001 e p=0,002, respectivamente) entre o grupo que realizou o

acompanhamento completo e a perda de seguimento.

Tabela 2 – Ano de nascimento da criança e características maternas associadas ao acompanhamento de crianças

expostas à transmissão vertical do HIV. Serviço Assistência Especializada, 2010-2015

Variáveis/Categorias

Seguimento

Completo

Perda de

Seguimento TOTAL

x2 p

n (928) % n (178) % n (1.106) %

Ano de nascimento RN

294,6 0,000

2010 106 11,4 20 11,2 126 11,4

2011 142 15,3 30 16,9 172 15,6

2012 148 16,0 42 23,6 190 17,2

2013 176 19,0 18 10,1 194 17,5

2014 175 18,9 40 22,5 215 19,4

2015 181 19,5 28 15,7 209 18,9

Idade materna

0,37 0,540 < 20 anos 139 15,3 21 13,0 160 14,5

≥ 20 anos 771 84,7 140 87,0 911 82,4

Não informado 18 17 35 3,2

Escolaridade materna

9,9 0,002 < 8 anos 447 50,7 98 64,9 545 49,3

≥ 8 anos 435 49,3 53 35,1 488 44,1

Não informado 46 27 73 6,6

Procedência

0,51 0,773

Recife 274 29,5 48 27,1 322 29,1

RMR 430 46,3 83 46,9 513 46,4

Demais localidades 224 24,1 46 26,0 270 24,4

Não informado - 1 1 0,1 Fonte: Autora.

Nota: Para cálculo do qui-quadrado não foram considerados os não informados.

O diagnóstico da infecção materna ocorreu antes do parto em 77,3% das mulheres,

13,3% no momento do parto e 3,6% no pós-parto (tabela 3). Em ambos os grupos, mais de

80% das mulheres foram diagnosticadas antes do parto, no entanto, no grupo com seguimento

completo 4,2% das mulheres somente foram diagnosticadas no pós-parto, enquanto na perda

de seguimento apenas 1,9% foi diagnosticada neste momento.

O tipo de parto mais frequente foi o cesáreo (66,5%), no grupo com seguimento

completo representou 68,8% dos partos e na perda de seguimento 64,1%. Não houve

rompimento de membranas amnióticas em 62,7% dos partos, contudo na perda de seguimento

50

26,1%dos partos ocorreram com bolsa rota e enquanto no outro grupo foi verificado 21,8% de

partos com rompimento das membranas.

Quanto à idade gestacional no momento do parto, 74,5% eram recém-nascidos à termo

e 10,9% pré-termos. Verificou-se em ambos os grupos que mais de 80% das crianças

nasceram após as 37 semanas de gestação, entre a perda de seguimento, a proporção de

recém-nascidos prematuros foi maior (14,7%). O peso ao nascer foi adequado em 78,0% dos

recém-nascidos e baixo peso em 15,1%, ocorreu maior proporção de recém-nascidos baixo

peso no grupo com perda de seguimento (18,3%).

A maioria das mulheres realizou o pré-natal (59,0%) no IMIP, entre as mães que

realizaram o acompanhamento completo, 64,2% realizaram pré-natal neste serviço, enquanto

no outro grupo apenas 58,2%. Quanto ao local do parto, 63,9%das mães pariram no IMIP, a

proporção de mulheres que realizou o parto neste serviço foi semelhante nos grupos, acima de

67,0%.

51

Tabela 3 – Características obstétricas e pediátricas associadas ao acompanhamento de crianças expostas à

transmissão vertical do HIV. Serviço Assistência Especializada, 2010-2015

Variáveis/

Categorias

Seguimento

Completo

Perda de

Seguimento TOTAL

x2 p

n (928) % n (178) % n (1.106) %

Diagnóstico Materno

1,84 0,398

Antes do parto 725 81,8 130 83,3 855 77,3

No parto 124 14,0 23 14,8 147 13,3

Pós-parto 37 4,2 3 1,9 40 3,6

Não informado 42 22 64 5,8

Tipo de parto 42

1,23 0,268 Vaginal 285 31,2 60 35,9 345 31,2

Cesárea 628 68,8 107 64,1 735 66,5

Não informado 15 11 26 2,4

Bolsa rota

0,96 0,326 Sem bolsa rota 594 78,2 99 73,9 693 62,7

Com bolsa rota 166 21,8 35 26,1 201 18,2

Não informado 168 44 212 19,2

Idade gestacional

0,35 0,552

Pré-termo 100 12,5 21 14,7 121 10,9

Termo 702 87,5 122 85,3 824 74,5

Não informado 126 35 161 14,6

Peso ao nascer

< 2.500 gramas 139 15,8 28 18,3 167 15,1

≥ 2.500 gramas 738 84,2 125 81,7 863 78,0

Não informado 51 25 76 6,9

Pré-natal no serviço

1,77 0,184 Sim 564 64,2 89 58,2 653 59,0

Não 315 35,8 64 41,8 379 34,3

Não informado 49 25 74 6,7

Parto no serviço

0,00 0,966 Sim 599 67,4 108 67,9 707 63,9

Não 290 32,6 51 32,1 341 30,8

Não informado 39 19 58 5,2

Fonte: Autora. Nota: Para cálculo do qui-quadrado não foram considerados os não informados.

A partir da tabela 4, observamos que a maioria das mulheres realizou a profilaxia na

gestação (68,3%), contudo 24,3%das mães não a realizaram. Nos dois grupos verificou-se

que mais de 70,0% das mulheres realizaram a TARV durante a gestação, entretanto no grupo

de perda de seguimento aproximadamente 30% das mulheres não a realizaram.

A profilaxia antirretroviral durante o parto foi realizada em 71,4% das mulheres,

82,1% naquelas com o acompanhamento completo e 81,2% na perda de seguimento. A maior

52

parte dos recém-nascidos recebeu profilaxia (91,3%), no grupo com seguimento incompleto a

proporção foi de 98,1% enquanto no outro grupo foi de 95,1%.

Quanto ao aleitamento, 93,2% dos recém-nascidos não receberam o leite materno,

entre as crianças com seguimento completo 4,6% foram amamentadas, enquanto no outro

grupo apenas 1,8%.

Tabela 4 – Medidas profiláticas associadas ao acompanhamento de crianças expostas à transmissão vertical do

HIV. Serviço Assistência Especializada, 2010-2015

Variáveis/

Categorias

Seguimento

Completo

Perda de

Seguimento TOTAL

x2 p

n (928) % n (178) % n (1.106) %

Profilaxia na gestação

0,53 0,465 Sim 650 74,2 105 71,0 755 68,3

Não 226 25,8 43 29,1 269 24,3

Não informado 52 30 82 7,4

Profilaxia no parto

0,02 0,888 Sim 678 82,1 112 81,2 790 71,4

Não 148 17,9 26 18,8 174 15,7

Não informado 102 40 142 12,8

Profilaxia no RN

2,31 0,129 Sim 852 95,1 158 98,1 1010 91,3

Não 44 4,9 3 1,9 47 4,3

Não informado 32 17 49 4,4

Aleitamento Materno

2,07 0,151 Sim 42 4,6 3 1,8 45 4,1

Não 869 95,4 162 98,2 1031 93,2

Não informado 17 13 30 2,7

Fonte: Autora.

Nota: Para cálculo do qui-quadrado não foram considerados os não informados.

A partir das crianças que realizaram o seguimento completo, foram extraídas 83

crianças com diagnóstico positivo de HIV por transmissão vertical (casos) e 332 crianças com

o diagnóstico negativo (controles). Na tabela 5 é possível verificar a distribuição das variáveis

socioeconômicas entre os grupos caso e controle, bem como a associação entre esses fatores e

o desfecho estudado.

No que diz respeito à idade materna, em ambos os grupos há predominância de mães

com idade acima dos 20 anos, 82,1% nos casos e 83,9% entre os controles. No entanto

permanece elevado número de mães adolescente, aproximadamente 18,0% entre os casos e

16,1% entre os controles.

53

Quanto à escolaridade materna, 46,5% das mães soropositivas possuíam até oito anos

de estudo. Entre as crianças infectadas pelo HIV,51,3% tinham mães com menos de oito anos

de estudo e aproximadamente 5% dessas mães não possuíam nenhum ano de estudo, enquanto

no grupo controle, há predominância de mães com oito anos ou mais de estudo (52,8%).

É possível observar que 69,6% das mães soropositivas não possuem remuneração

proveniente do trabalho/ocupação. No grupo caso,75,7% das mães afirmaram não receber

remuneração proveniente do trabalho/ocupação, no grupo controle 72,4%.

Quanto ao uso de drogas, 90% das mães de crianças infectadas referiram não utilizar

enquanto no grupo controle 87,8%.

Quanto à raça/cor do recém-nascido, a categoria de pardos/negros constituiu o grupo

com maior frequência, no grupo de crianças infectadas pelo HIV representou 94,7%, enquanto

nos controles foi 96,2%.

O recebimento de benefícios sociais concedido pelo governo foi referido por 35,7%

das mães soropositivas. Entre os grupos, 48,3% das mães de crianças infectadas afirmaram

recebimento de benefícios sociais, entre as crianças não infectadas, foi ligeiramente menor

(42,5%).

No que diz respeito à moradia, 60,2% das mães HIV positivo afirmaram residir em

moradia própria. No grupo de casos de transmissão vertical, 72,9% possuíam casa própria,

enquanto 27,1% relataram morar de aluguel. Entre os controles, 64,8% moravam em

residência própria e 35,2%residiam em imóveis alugados.

O abastecimento de água por rede de distribuição geral foi referido na maioria dos

lares (77,6%). No grupo de casos de crianças infectadas, 82,4% possuíam abastecimento de

água por rede de distribuição geral, no grupo controle, 88,4%.

Quanto ao esgotamento sanitário, 15,2% dos lares não possuíam rede de esgoto. Nos

grupos, 76,1% das mães de crianças infectadas pelo HIV referiram ter o esgoto ligado à rede

coletora, enquanto no grupo controle esse percentual foi 84,3%.

54

Tabela 5 - Análise univariada das características socioeconômicas associadas à transmissão vertical

do HIV. Serviço Assistência Especializada, 2010-2015

(continua)

Variáveis/ Caso Controle Total OR IC (95%) p

Categorias n (83) % n (332) % n (415) %

Ano Nascimento 0,404

2010 16 19,3 55 16,6 71 17,1 1,51 0,64 – 3,54 0,345

2011 11 13,2 54 16,2 65 15,7 1,06 0,42 – 2,64 0,908

2012 12 14,5 56 16,9 68 16,4 1,11 0,45 – 2,72 0,819

2013 22 26,5 56 16,9 78 18,8 2,04 0,90 – 4,59 0,086

2014 11 13,3 54 16,3 65 15,7 1,06 0,42 – 2,64 0,908

2015 11 13,3 57 17,2 68 16,4 1

Idade materna

< 20 anos 14 17,9 53 16,1 67 16,1 1,14 0,60 - 2,19 0,686

≥ 20 anos 64 82,1 277 83,9 341 82,2 1

Não informado 5 2 7 1,7

Escolaridade materna

< 8 anos 39 51,3 154 47,2 193 46,5 1,18 0,71 - 1,94 0,522

≥ 8 anos 37 48,7 172 52,8 209 50,4 1

Não informado 7 6 13 3,1

Trabalho materno

Não remunerado 56 75,7 233 72,4 289 69,6 1,19 0,66 - 2,13 0,563

Com remuneração

18 24,3 89 27,6 107 25,8 1

Não informado 9 10 19 4,6

Uso de drogas

Sim 6 10,0 28 12,2 34 8,2 0,80 0,32 - 2,04 0,642

Não 54 90,0 202 87,8 256 61,7 1

Não informado 23 102 125 30,1

Raça/Cor do RN

Branco 3 5,3 7 3,8 10 2,4 1

Pardo/Negro 54 94,7 179 96,2 233 56,1 0,7 0,18 - 2,82 0,620

Não informado 26 146 172 41,4

Benefício Social

Sim 29 48,3 119 42,5 148 35,7 1,27 0,72 - 2,21 0,409

Não 31 51,7 161 57,5 192 46,3 1

Não informado 23 52 75 18,1

Casa Própria

Sim 51 72,9 199 64,8 250 60,2 1

Não 19 27,1 108 35,2 127 30,6 0,69 0,39 - 1,22 0,201

Não informado 13 25 38 9,2

Abastecimento de água

Sim 56 82,3 266 88,4 322 77,6 1

Não 12 17,7 35 11,6 47 11,3 1,63 0,80 - 3,33 0,182

Não informado 15 31 46 11,1

55

Tabela 6 - Análise univariada das características socioeconômicas associadas à transmissão vertical

do HIV. Serviço Assistência Especializada, 2010-2015 (conclusão)

Variáveis/ Caso Controle Total OR IC (95%) p

Categorias n (83) % n (332) % n (415) %

Esgoto Sanitário

Sim 51 76,1 252 84,3 303 73,0 1

Não 16 23,9 47 15,7 63 15,2 1,69 0,89 – 3,20 0,112

Não informado 16 33 49 11,8

Fonte: Autora.

Na tabela 6 estão descritas as características obstétricas e pediátricas entre os grupos

de crianças infectadas e não infectadas por transmissão vertical, assim como a associação com

os fatores de risco. Dentre as características obstétrico-pediátricas analisadas, as variáveis

relativas à rotura de membranas amnióticas, à idade gestacional no momento do parto e ao

peso do recém-nascido não apresentaram associação com o desfecho.

Verificou-se que 39,5% dos diagnósticos maternos de crianças infectadas por

transmissão vertical ocorreram antes do parto, 27,6%durante o parto e 32,9% ocorreram no

pós-parto, enquanto no grupo controle o percentual de diagnósticos maternos anteriores ao

parto foi de 83,5%, 13,8% durante o parto e 2,7% no pós-parto. A chance de ser infectado

pelo HIV por via vertical foi 4,2 (IC 95%: 2,24 – 8,06) vezes maior nas crianças em que o

diagnóstico materno ocorreu durante o parto e 25,3(IC 95%: 10,80 – 59,15) vezes maior

naquelas em que o diagnóstico só ocorreu no pós-parto.

No que diz respeito ao pré-natal, é possível observar que 63,2% das mães de crianças

infectadas não realizaram as seis consultas, enquanto no grupo controle 67,2% das mães

realizaram no mínimo seis consultas. A chance de transmissão vertical do HIV nas crianças

em que as mães realizaram pré-natal incompleto foi 3,5 (IC 95%: 1,95 – 6,35) vezes maior.

Constatou-se que o parto mais frequente no grupo de casos foi o vaginal (53,2%),

enquanto no grupo controle a maioria foi cesáreo (72,3%). O parto vaginal apresentou chance

de transmissão do vírus 3,0 (IC 95%: 1,79 – 4,89) vezes maior que os partos cesáreos.

Acerca da rotura das membranas amnióticas, 67,8% dos partos ocorreram com bolsa

íntegra entre os casos de transmissão vertical e 76,8% entre os controles.

Em ambos os grupos, houve predominância de crianças nascidas a partir da 37ª

semana de gestação, 81,4% entre os casos de transmissão e 81,9% entre os controles.

56

No que diz respeito ao peso dos recém-nascidos ocorreu maior frequência de crianças

com peso adequado (acima de 2.500g), sendo aproximadamente 78,4% dos casos e 82,6% dos

controles.

Como visto na metodologia, a idade na primeira consulta foi organizada em três

categorias, menos de dois meses de idade, de dois a menos de seis meses ou mais de seis

meses de idade. Observou-se que mais de metade dos casos de transmissão vertical de HIV

(50,6%) só receberam atendimento especializado tardiamente (com 6 meses ou mais de

idade), seguido por menos de dois meses de idade (28,9%) e de dois a menos de seis meses de

idade (20,5%). No grupo controle a maior frequência do primeiro atendimento foi na

categoria de menos de dois meses de idade (78,3%), em seguida a categoria de dois a menos

de seis meses (17,4%) e por último as crianças com mais de seis meses de idade (4,4%). A

chance de transmissão vertical foi 3,2 (IC95%: 1,61 – 6,33) vezes maior entre as crianças com

primeiro atendimento especializado na idade de dois a menos de seis meses, chegando a ser

31,5 (IC95%: 15,10 – 65,73) vezes maior na categoria de crianças com seis meses ou mais de

idade.

57

Tabela 7 - Análise univariada das características obstétricas e pediátricas associadas à transmissão vertical do

HIV. Serviço Assistência Especializada, 2010-2015

Variáveis/Categorias Caso Controle Total

OR IC (95%) p n (83) % n (332) % n (415) %

Diagnóstico Materno

Antes do parto 30 39,5 273 83,5 303 73,0 1

No parto 21 27,6 45 13,8 66 15,9 4,25 2,24 – 8,06 0,000

Pós-parto 25 32,9 9 2,7 34 8,2 25,29 10,80 – 59,15 0,000

Não informado 7 5 12 2,9

Consultas de pré-natal

< 6 consultas 36 63,2 97 32,8 133 32,0 3,52 1,95 - 6,35 0,000

≥ 6 consultas 21 36,8 199 67,2 220 53,0 1

Não informado 26 36 62 14,9

Tipo de parto

Vaginal 42 53,2 91 27,7 133 32,0 2,96 1,79 - 4,89 0,000

Cesárea 37 46,8 237 72,3 274 66,0 1

Não informado 4 4 8 1,9

Bolsa rota

Sem bolsa rota 40 67,8 222 76,8 262 63,1 1

Com bolsa rota 19 32,2 67 23,2 86 20,7 1,57 0,86 - 2,90 0,145

Não informado 24 43 67 16,1

Idade gestacional

Pré-termo 8 18,6 44 18,1 52 12,5 1,03 0,45 - 2,38 0,938

Termo 35 81,4 199 81,9 234 56,4 1

Não informado 40 89 129 31,1

Peso ao nascer

< 2.500 gramas 16 21,6 57 17,4 73 17,6 1,31 0,70 - 2,44 0,400

≥ 2.500 gramas 58 78,4 270 82,6 328 79,0 1

Não informado 9 5 14 3,4

Idade na primeira consulta

< 2 meses 24 28,9 252 78,3 276 66,5 1

2 meses |-6 meses 17 20,5 56 17,4 73 17,6 3,19 1,61 – 6,33 0,001

≥ 6 meses 42 50,6 14 4,3 56 13,5 31,50 15,10 – 65,73 0,000

Não informado - 10 10 2,4

Fonte: Autora.

Constituem-se como medidas profiláticas a quimioprofilaxia durante a gestação, o

parto e para o recém-nascido, assim como a suspensão do aleitamento materno pelo risco

adicional de contaminação. Conforme tabela 7, todas as medidas profiláticas estiveram

estatisticamente associadas à prevenção da transmissão vertical do HIV (p=0,000).

No grupo de casos de transmissão vertical do vírus, 75,0% não realizaram a profilaxia

durante a gestação e 64,7% não realizaram durante o parto, contudo 63,0% dos recém-

nascidos deste grupo receberam a terapia antirretroviral. Enquanto no grupo controle a

58

proporção de mulheres que utilizaram antirretrovirais durante gestação e parto foi,

respectivamente, 77,6% e 86,0%, e os recém-nascidos 95,4%.

Os testes estatísticos demonstraram associação entre o emprego da profilaxia nos três

momentos e a prevenção da transmissão vertical, na qual a chance de a criança ser infectada

quando a mãe não realizou a terapia antirretroviral durante a gestação e parto foram,

respectivamente, 10,4 (IC95%: 5,7 – 18,8) e 11,2 (IC95%: 6,2 – 20,3) vezes maior que nas

mães que realizaram. Os recém-nascidos que não receberam a quimioprofilaxia apresentaram

12,2 (IC95%: 6,0 – 24,7) vezes mais chance de ocorrência de transmissão vertical.

O aleitamento foi suspenso em 68,0% dos casos de transmissão do HIV, enquanto nos

controles a proporção foi de 97,3%. As crianças que receberam leite materno apresentaram

chance 16,8 (IC95%: 7,4 – 37,9) vezes maior de se contaminarem do que as crianças que não

receberam.

Tabela 8 - Análise univariada das medidas profiláticas associadas à transmissão vertical do HIV. Serviço Assistência Especializada, 2010-2015

Variáveis/ Caso Controle Total OR IC (95%) p

Categorias n (83) % n (332) % n (415) %

Profilaxia na gestação

Sim 18 25,0 253 77,6 271 65,3 1

Não 54 75,0 73 22,4 127 30,6 10,40 5,74 – 18,82 0,000

Não informado 11 6 17 4,1

Profilaxia no parto

Sim 24 35,3 257 85,9 281 67,7 1

Não 44 64,7 42 14,1 86 20,7 11,22 6,19 - 20,34 0,000

Não informado 15 33 48 11,6

Profilaxia no RN

Sim 46 63,0 312 95,4 358 86,3 1

Não 27 37,0 15 4,6 42 10,1 12,21 6,05 - 24,66 0,000

Não informado 10 5 15 3,6

Aleitamento Materno

Sim 25 32,1 9 2,7 34 8,2 16,77 7,42 - 37,91 0,000

Não 53 67,9 320 97,3 373 89,9 1

Não informado 5 3 8 1,9

Fonte: Autora.

Foram estabelecidos dois modelos de regressão logística multivariada para identificar

os fatores associados à transmissão vertical do HIV, um modelo convencional e outro

hierarquizado, neles foram incluídas inicialmente as variáveis estatisticamente significantes

59

(p≤0,20) na análise univariada. Para o modelo convencional foram excluídas as variáveis de

ano de nascimento, idade materna, escolaridade e trabalho materno, uso de drogas, raça/cor do

recém-nascido, benefício social, idade gestacional e peso ao nascer.

A tabela 8 apresenta os resultados da análise de regressão logística convencional, na

qual permaneceram quatro variáveis no modelo final (p≤0,05), são elas: número de consultas

pré-natal (p=0,004), idade na primeira consulta (p=0,044), profilaxia na gestação (p=0,000) e

no parto (p=0,027).

A chance de transmissão foi maior naquelas que realizaram menos de seis consultas de

pré-natal (OR:4,0; IC95%:1,54-10,42), que só realizaram a primeira consulta especializada

após os dois meses de idade (OR:2,6; IC95%:0,82-8,44) e não realizaram profilaxia durante

gestação (OR: 6,6; IC95%:2,44-18,08) e parto (OR:3,21; IC95%:1,15-9,02).

Tabela 9 - Modelo de regressão logística e fatores associados à transmissão vertical do HIV em crianças

expostas acompanhadas em um serviço de referência. Análise multivariada convencional. Serviço Assistência

Especializada, 2010-2015

Variáveis/Categorias ORbruta p

ORajustada p OR [IC 95%] OR [IC 95%]

Consultas de pré-natal 0,000 0,004

< 6 consultas 3,52 [1,95 - 6,35] 4,00 [1,54– 10,42]

≥ 6 consultas 1,00 1,00

Idade na primeira consulta 0,001 0,044

< 2 meses 1,00 1,00

2 meses |-6 meses 3,19 [1,61 – 6,33] 2,62 [0,82 – 8,44]

≥ 6 meses 31,50 [15,10 – 65,73] 4,23 [1,18 – 15,12]

Profilaxia na Gestação 0,000 0,000

Sim 1,00 1,00

Não 11,22 [6,19 – 20,34] 6,64 [2,44 – 18,08]

Profilaxia no Parto 0,000 0,027

Sim 1,00 1,00

Não 11,22 [6,19 – 20,34] 3,21 [1,15 – 9,02] Fonte: Autora.

Nota: ORbruta=análise univariada; ORajustada1=valores ajustados pelas outras variáveis internamente ao bloco; IC95%=intervalo de confiança de 95%; OR=odds ratio; Ajuste do modelo: -2Log LR=127,66 e

R2Nagelkerke=0,46.

A tabela 9 apresenta os resultados finais da regressão logística multivariada

hierarquizada (OR ajustada2). No nível distal foram incluídas as variáveis socioeconômicas

que apresentaram significância de até 0,20 na análise univariada (OR bruta) - água canalizada

60

(p=0,182), esgoto sanitário (p=0,112), casa própria (p=0,201) – sendo ajustadas no modelo do

bloco socioeconômico (OR ajustada1).

No nível intermediário foram incluídas as variáveis de consultas de pré-natal

(p=0,000), tipo de parto (p=0,000), bolsa rota (p=0,145) e idade na primeira consulta

(p=0,001).

As variáveis incluídas no modelo do nível proximal foram o momento do diagnóstico

materno (p=0,000), profilaxia na gestação (p=0,000), no parto (p=0,000), profilaxia para o

recém-nascido (p=0,000) e aleitamento materno (p=0,000).

Fizeram parte do modelo final cinco variáveis, das quais o esgoto sanitário (p=0,173),

permaneceu no nível distal, mesmo perdendo a significância estatística, por se tratar de fator

ajuste para as variáveis hierarquicamente inferiores. No nível intermediário apenas as

consultas de pré-natal (p=0,002) e a idade na primeira consulta (p=0,002) continuaram

associadas ao desfecho após ajuste das variáveis. Por fim, no bloco proximal permaneceram a

profilaxia na gestação (p=0,004) e no parto (p= 0,003).

61

Tabela 10 - Modelo de regressão logística para os fatores associados à transmissão vertical do HIV em crianças

expostas acompanhadas em um serviço de referência. Análise multivariada hierarquizada. Serviço Assistência

Especializada, 2010-2015

Níveis/Variáveis ORbruta

p ORajustada1

p ORajustada2

p OR [IC 95%] OR [IC 95%] OR [IC 95%]

Nível Distal

Esgoto Sanitário 0,112 0,065 0,173

Sim 1,00 1,00 1,00

Não 1,68 [0,89 - 3,20] 1,84 [0,96 –3,53]

2,02 [0,74 –

5,52]

Nível Intermediário

Consultas de PN 0,000 0,001 0,002

< 6 consultas 3,52 [1,95 - 6,35] 3,34 [1,61 –6,92] 3,98 [1,68– 9,44]

≥ 6 consultas 1,00 1,00 1,00

Idade na 1ª consulta 0,001 0,000 0,002

< 2 meses 1,00 1,00 1,00

2 meses |-6 meses 3,19 [1,61 – 6,33] 2,97 [1,17 – 7,56]

1,72 [0,60 –

4,94]

≥ 6 meses

31,50 [15,10 –

65,73] 9,42 [2,67 – 33,18]

8,10 [2,57–

25,52]

Nível Proximal

Profilaxia Gestação 0,000 0,000 0,004

Sim 1,00 1,00 1,00

Não

10,40 [5,74 –

18,82] 5,51 [2,70 – 11,26]

3,71 [1,52 –

9,06]

Profilaxia Parto 0,000 0,001 0,003

Sim 1,00 1,00 1,00

Não

11,22 [6,19 –

20,34] 3,57 [1,63 –7,80]

3,88 [1,57 –

9,59]

Fonte: Autora.

Nota: ORbruta=análise univariada; ORajustada1=valores ajustados pelas outras variáveis internamente ao bloco;

ORajustada2=valores ajustados internamente ao bloco e pelo(s) blocos superiores; IC95%=intervalo de confiança

de 95%; OR=odds ratio; Ajuste do modelo: -2Log LR=153,55 e R2=0,48.

Segundo o modelo hierarquizado, constituíram-se como fatores de risco para a

transmissão vertical do HIV, não possuir rede coletora de esgoto na residência (OR: 2,0; IC

95%: 0,74–5,52), não ter realizado no mínimo seis consultas de pré-natal (OR:4,0; IC 95%:

1,68–9,44), o primeiro atendimento da criança no serviço especializado ter ocorrido dos dois a

menos de seis meses de idade (OR:1,7; IC 95%: 0,60–4,94) e acima dos seis meses (OR:8,1;

IC 95%: 2,57–25,52), não ter realizado a profilaxia na gestação (OR:3,7;IC 95%: 1,52-9,06) e

não ter realizado a profilaxia no parto (OR:3,9;IC 95%: 1,57-9,59).

62

10 DISCUSSÃO

Neste estudo foi possível observar um aumento anual do número de crianças expostas

à transmissão vertical do HIV, com discreta redução no último ano estudado. Devido às

mudanças que ocorreram no perfil epidemiológico do HIV/Aids, principalmente a partir do

processo de heterossexualização, a progressão da epidemia do HIV exibe aumento de

gestantes soropositivas e, consequentemente, de crianças expostas ao HIV.

Em Pernambuco, a categoria de exposição heterossexual representa 85,6% da

transmissão entre a população do sexo feminino, esse fenômeno, a feminização da epidemia,

contribui para o aumento de crianças expostas à transmissão vertical do HIV (BOLETIM

EPIDEMIOLÓGICO DST/AIDS 2016b). A taxa de detecção de gestantes HIV positivo no

Brasil apresentou tendência de aumento nos últimos anos, de 2,1 casos/mil nascidos vivos em

2006, passou para 2,7 casos/mil N.V. em 2015, com tendência semelhante na Região

Nordeste (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO DST/AIDS 2016a).

Não obstante o aumento na quantidade de crianças expostas à transmissão vertical do

vírus houve redução do número de crianças infectadas. A taxa de transmissão vertical do HIV

apresentou redução anual importante nesta pesquisa, de 15,1% em 2010 para 6,1% em 2015.A

redução observada, pode estar relacionada à eficácia da quimioprofilaxia, principalmente se

adotada desde a gestação, à qualidade da assistência pré-natal, que possibilita o diagnóstico

precoce, à orientação a gestante HIV positivo e à implementação de medidas profiláticas.

Contudo, esta diminuição se encontra aquém das taxas possíveis de serem alcançadas.

Estudo realizado no Rio Grande do Sul apontou redução da taxa de transmissão

vertical de 11,8% entre 1998 e 2004, para 3,2% entre 2005 e 2011. Os autores destacaram a

importância das medidas de controle adotadas na redução observada, como acesso a TARV e

a realização de testes rápidos em gestantes. No entanto, os autores apontam estabilização no

valor da taxa observada nos últimos anos (ROSA et al., 2015).

A taxa de transmissão geral (2010-2015) aferida por esta pesquisa foi de 8,9%,

resultado bastante alto, visto que estudo anterior realizado neste mesmo serviço entre 2000 e

2009, observou taxa de transmissão geral de 9,2% (GOUVEIA; SILVA; ALBUQUERQUE,

2013). A redução de apenas 3,3% entre os dois estudos revela a persistência de desafios a

63

serem superados no que concerne ao controle da transmissão vertical do HIV em

Pernambuco.

Os diferenciais socioeconômicos existentes entre as regiões do Brasil, assim como as

desigualdades de gênero, tornam algumas populações mais vulneráveis e podem justificar a

diferença encontrada nas taxas verificadas pelo presente estudo e as taxas do Rio Grande do

Sul.

As características maternas analisadas neste estudo apontaram aumento anual de

crianças que realizaram pelo menos uma consulta no serviço especializado, maioria das mães

com mais de 20 anos de idade, com até oito anos de estudo e provenientes da capital ou região

metropolitana. A recomendação de alta da maternidade mediante marcação de consulta em

SAE, certamente contribuiu para o aumento do acesso das crianças expostas à transmissão

vertical ao serviço especializado e a redução do tempo até o primeiro atendimento.

Nesta pesquisa, diferentemente de outros estudos, a perda de seguimento foi mais

expressiva nas crianças oriundas da capital. Provavelmente, o deslocamento do interior do

estado para este serviço, durante pré-natal e parto, tenham favorecido a maior adesão ao

acompanhamento pós-natal.

Diversos estudos apontam predominância de gestantes HIV positivo com até oito anos

de estudo e com idade na faixa etária dos 20 aos 30 anos (AMARAL et al., 2007; BRANDÃO

et al., 2016; GOUVEIA; SILVA; ALBUQUERQUE, 2013; MIRANDA et al., 2016;

RODRIGUES; VAZ; BARROS, 2013).

Na pesquisa desenvolvida, foi evidenciada diferença estatisticamente significante entre

os grupos com e sem seguimento quanto ao ano de nascimento da criança e à escolaridade

materna. Constituindo-se esta última, fator de grande relevância para o entendimento materno

da própria infecção e da importância do acompanhamento da criança exposta no serviço

especializado até definição final do diagnóstico aos 18 meses de idade.

Chama atenção o percentual de perda de seguimento verificado nesta pesquisa

(16,1%), apontando para necessidade de investigação dos motivos que levaram os pais ou

responsáveis a abandonar o acompanhamento, de modo que sejam elaboradas estratégias que

favoreçam adesão ao acompanhamento e articulação dos mecanismos de busca ativa pelos

casos que perderam seguimento.

64

Outros estudos apresentaram maior perda de seguimento de crianças expostas à

transmissão vertical do HIV. Em Porto Alegre (RS) entre os anos de 2010 e 2013, a perda de

seguimento foi de 26,5%, sendo ainda maior entre as mães que possuíam coinfecção

HIV/sífilis, em Vitória (ES), foi identificada perda de seguimento de 41,6% (ACOSTA;

TONANTZIN; BARCELLOS, 2016; MACEDO et al., 2013).

Desse modo, apesar da alta perda de seguimento verificada neste estudo, esta, ainda

foi menor que as taxas verificadas nas Regiões Sul e Sudeste. Isto se deve, principalmente, ao

vínculo profissional-usuário, que neste serviço, devido à baixa rotatividade de profissionais,

principalmente da equipe médica, e à organização do atendimento, que promove a vinculação

de cada criança ao seu médico, possivelmente favoreceram maior adesão da mãe ou

responsável ao acompanhamento da criança no serviço até alta.

Um estudo realizado no mesmo local em que esta pesquisa foi realizada, também

constatou como fatores preditores para perda de seguimento de crianças expostas a

transmissão vertical do HIV, a idade e escolaridade materna (GOUVEIA; SILVA;

ALBUQUERQUE, 2014). Entre os principais motivos para perda de seguimento estão

aqueles relacionados ao cuidador, suas percepções e compreensões acerca da importância do

acompanhamento e da própria doença (nos casos de os cuidadores serem as próprias mães), e

aos serviços, profissionais e a rede de atenção à saúde (MACEDO et al., 2013).

Quanto às características obstétricas e pediátricas, constatou-se que o diagnóstico

materno ocorreu, principalmente, antes do parto e a maioria dos partos foram cesáreos,

reflexos da implementação das recomendações para profilaxia da transmissão vertical do

HIV/Aids. A maior parte das crianças nasceu a termo (com 37 ou mais semanas de gestação)

e com peso adequado, apesar do elevado percentual de partos cesáreos. Mais da metade das

mulheres realizaram pré-natal e o parto no serviço especializado, o que pode ter auxiliado na

adoção das medidas profiláticas, realizadas pela maioria das mulheres durante o pré-natal,

parto e para o recém-nascido, além da suspensão do aleitamento materno para mais de 90%

das crianças.

Estes resultados são bastante similares aos identificados entre 2000 e 2009 neste

mesmo serviço, no qual houve maioria de diagnósticos maternos realizados antes do parto, de

partos cesáreos, de crianças nascidas a termo e com peso adequado (GOUVEIA; SILVA;

65

ALBUQUERQUE, 2013). Corroborando os resultados encontrados por Brandão et al. (2016),

em Petrolina-PE e Juazeiro-BA e por Miranda et al. (2016), em seis estados brasileiros.

O resultado do estudo, quanto às variáveis socioeconômicas das mães soropositivas,

mostra que aproximadamente metade desta população tinha menos de oito anos de estudo, a

grande maioria não possuía remuneração proveniente do trabalho/ocupação e eram

pardas/negras. Parcela significativa das mães HIV positivo recebia benefícios sociais, usava

drogas ilícitas, não possuíam o abastecimento de água e o esgoto ligado à rede coletora,

evidenciando a determinação social da contaminação das mães pelo HIV. A maioria das

mulheres referiu morar em casa própria, contudo, em função dos dados anteriores, corrobora a

hipótese da precarização destas moradias.

Os resultados do estudo de caso-controle revelaram maior proporção de mães com

idade acima dos 20 anos, em ambos os grupos, porém observou-se uma importante proporção

de gestantes adolescentes. Estas podem apresentar maior risco de transmissão vertical, devido

às diversas repercussões psicossociais e econômicas que a gravidez na adolescência apresenta,

além das possíveis complicações obstétricas que propiciam a transmissão do vírus.

Como visto anteriormente, a faixa etária que concentra a maior proporção de gestantes

HIV positivo, no Brasil e em Pernambuco, é a dos 20 aos 39 anos. Outros dois estudos

conduzidos nos serviços de assistência especializada, um em Maceió e outro no Recife,

verificaram maior proporção de mães com idade acima dos 20 anos (GOUVEIA; SILVA;

ALBUQUERQUE, 2013; RODRIGUES; VAZ; BARROS, 2013).

Quanto à escolaridade materna, houve diferença significativa entre os grupos,

enquanto no grupo de crianças infectadas pelo HIV a maioria das mães possuía menos de oito

anos de estudo, no grupo de crianças não infectadas observou-se o oposto. A baixa

escolaridade, assim como, o trabalho não remunerado e o recebimento de bolsa família são

indicativos do perfil socioeconômico dessa população e sugerem aumento da vulnerabilidade

e do risco de transmissão do HIV. Neste estudo, a maioria das mães relatou não possuir

remuneração advinda do trabalho, sendo grande parte delas dona da casa, e não recebimento

de auxílio do Bolsa Família. Contudo aquelas que relataram receber benefícios financeiros do

Governo apresentaram piores condições socioeconômicas. Esse quadro de baixa escolaridade

com primazia de mulheres “do lar” retrata o perfil da desigualdade social existente que

66

prejudica o acesso à informação, à prevenção, ao tratamento e ao cuidado, aumentando o risco

de transmissão nos grupos populacionais mais pobres.

O nível educacional elevado está atrelado à capacidade de adquirir conhecimentos em

saúde, ao cuidado com a saúde da criança, além de estimular o uso dos serviços de saúde

(FREITAS; BARROSO; GALVÃO, 2013; GAKIDOU et al., 2010). Dessa forma, a

escolaridade dos pais se apresenta como determinante da saúde da criança, uma vez que, de

maneira geral, maior nível de conhecimento propicia uma forma de cuidar mais adequada

(DOS REIS, 2006). Como afirmam Barroso et al. (2009), a baixa escolaridade é um dos

principais motivos das mães não conseguirem assumir o cuidado pelo seu filho exposto ao

HIV.

Segundo Dos Reis (2006), a capacidade de cuidado dispensado pela família depende

do contexto social em que estão inseridos. A família possui papel fundamental na saúde da

criança, uma vez que esta é dependente dos outros para sua sobrevivência, desse modo,

quanto maior for a capacidade da família em cuidar da criança maior será o potencial de saúde

da mesma.

Segundo Dos Reis (2006), as condições de moradia e habitação influenciam na

qualidade de vida e podem contribuir ou não para a garantia da saúde, afirma ainda, que o

trabalho que gera renda desempenha um papel central na qualidade de vida, considerando que

possibilita, mesmo que minimamente, acesso à alimentação, à moradia com condições mais

apropriadas, além de outros recursos básicos.

A disseminação do HIV/AIDS em populações pobres e com baixo nível educacional é

o reflexo das desigualdades sociais existentes. Estudo realizado na cidade de Fortaleza

observou relação geográfica entre a presença de casos de Aids em crianças e bairros com

piores indicadores sociais (LOPES et al., 2015). Para o enfrentamento da doença é necessária

a identificação dos problemas que favorecem a vulnerabilidade social e a instituição dos

programas de prevenção que atuem no interior do meio social (DOS REIS, 2006; LOPES et

al., 2015).

Entre os controles, a maior parte dos diagnósticos da infecção materna ocorreu antes

do parto, entre os casos, ocorreu no parto/pós-parto, reiterando que a chance de transmissão

do vírus aumenta com a demora na realização do diagnóstico materno. Isso ocorre devido,

67

principalmente, à redução dos momentos propícios à realização da profilaxia antirretroviral.

Destaca-se a importância da orientação quanto à prevenção contínua da infecção pelo HIV nas

puérperas soronegativas que podem se infectar após as testagens do pré-natal e parto. O

diagnóstico realizado somente no pós-parto aumenta consideravelmente a chance de

transmissão do HIV, tanto em decorrência dos altos níveis de carga viral presente na infecção

recente, quanto da exposição constante ao leite materno contaminado.

A efetividade da terapia antirretroviral na redução da transmissão vertical do HIV,

principalmente se administrada desde a gestação, definiu a necessidade de realizar

intervenções desde o pré-natal (CONNOR et al., 1994).Estudo sentinela-parturiente realizado

no ano de 2002, em todo o território nacional, buscou avaliar a cobertura efetiva da detecção

da infecção pelo HIV durante a gestação e evidenciou falhas na detecção da infecção pelo

HIV em gestantes, como dificuldade na captação precoce para realização do pré-natal,

ausência da solicitação de testagem sorológica durante acompanhamento ou atraso na entrega

do resultado do teste (SOUZA JÚNIOR et al., 2004). Estas oportunidades perdidas na

prevenção da transmissão vertical do HIV são relatadas na literatura recente (BRANDÃO et

al., 2016; MIRANDA et al., 2016).

Quanto à realização de pré-natal, a maioria das mães de crianças não infectadas

realizou seis ou mais consultas, enquanto no outro grupo, a maioria não realizou o mínimo de

consultas preconizado. A não realização do pré-natal aumenta a chance de transmissão

vertical do HIV, desse modo, o comparecimento das gestantes às consultas se torna

imprescindível na prevenção da transmissão do vírus. Durante o pré-natal é possível realizar o

diagnóstico precoce da infecção materna, a abordagem da doença materna com a

implementação da terapia antirretroviral, visando à redução da carga viral e consequente

diminuição do risco de contaminação da criança durante gestação e parto, assim como,

possibilita o planejamento do tipo de parto e a orientação sobre a importância da não

amamentação.

A detecção tardia da infecção pelo HIV nas gestantes representa uma oportunidade

perdida de prevenção da transmissão vertical do vírus, ocasionando altas taxas de transmissão

(SOUZA JÚNIOR et al., 2004). Desse modo, alguns estudos se propuseram a identificar os

fatores relacionados à adesão das gestantes HIV positivo ao pré-natal, identificando entre

outros, o apoio do parceiro e família, acolhimento por parte dos profissionais, o desejo de

realização de laqueadura tubária e como fatores de não adesão a negação do diagnóstico de

68

HIV/Aids por parte da gestante, a ausência de planejamento familiar e experiências negativas

de atendimentos anteriores (CECHIM; PERDOMINI; QUARESMA, 2007;DARMONT et al.,

2010).

A aceitação da gestação é um fator primordial na adesão ao pré-natal, mesmo em

gestações não planejadas, quando há aceitação por parte das mães, o pré-natal é realizado. Em

contrapartida, a não aceitação retarda o diagnóstico da gravidez e consequentemente a entrada

no pré-natal. Outros fatores que interferem na adesão ao pré-natal, dizem respeito à falta de

apoio do parceiro ou família que gera sentimentos de desamparo na gestante e prenuncia a

descontinuidade do pré-natal, às experiências negativas de atendimento, à dificuldade de

acesso ao pré-natal, seja por questões financeiras ou operacionais dos serviços de saúde, como

a demora na entrega de resultados, a alta rotatividade de profissionais ou pela dificuldade na

marcação de consulta, contribuindo para o abandono do pré-natal (CECHIM; PERDOMINI;

QUARESMA, 2007; DARMONT et al., 2010).

Ressalta-se ainda, a importância da realização do planejamento familiar tanto para

evitar gestações indesejadas, seja por questões financeiras ou por receio transmissão do vírus

para o filho, quanto para aconselhar e orientar a prevenção da transmissão do vírus naquelas

mulheres que tiverem o desejo de engravidar (CECHIM; PERDOMINI; QUARESMA, 2007;

DARMONT et al., 2010).

O conhecimento prévio da soropositividade deveria se configurar como um fator que

favorecesse a adesão ao pré-natal por encorajar a gestante a procurar apoio emocional e

orientação de profissionais para evitar a transmissão do vírus, contudo para algumas delas o

receio de serem discriminadas ou de que outras pessoas saibam seu diagnóstico, assim como o

medo de não sobreviver, de contaminar o filho e até da própria morte da criança, induz a

negação da gestação e a não procura do serviço de saúde (DARMONT et al., 2010;

CARVALHO; PICCININI, 2006).

O presente estudo apontou que o parto vaginal ofereceu chance superior de transmitir

o vírus ao recém-nascido e, apesar de não ser contraindicado, esse tipo de parto requer alguns

cuidados como a supressão da carga viral materna no último trimestre de gestação a partir do

uso da terapia antirretroviral, a não realização de procedimentos invasivos, de episiotomia,de

amniotomia artificial, dentre outros cuidados. Este resultado sugere que houve lacunas no

cumprimento dos cuidados indicados no manejo do parto vaginal em gestantes HIV positivo.

69

Kakehasi et al. (2014) apontam que o parto cesáreo, em teoria, exerce papel protetor

na transmissão vertical do HIV ao reduzir a exposição do recém-nascido ao sangue e

secreções vaginais durante a passagem pelo canal de parto, ao eliminar os riscos advindos da

instrumentação vaginal e da episiotomia, e ao prevenir as microtransfusões materno-fetal

durante as contrações uterina, contudo traz consigo todos os riscos inerentes a uma

intervenção cirúrgica.

Resultados de um ensaio clínico randomizado multicêntrico (EUROPEAN

COLLABORATIVE STUDY, 1999) e uma meta-análise de estudos de coorte prospectiva

(INTERNATIONAL PERINATAL HIV GROUP, 1999) sugerem que o parto por cesariana

eletiva antes do início do trabalho de parto e ruptura das membranas amnióticas em gestantes

com carga viral desconhecida ou acima de 1.000 cópias/mL no último trimestre de gestação

reduz a transmissão do vírus. A transmissão pode ocorrer mesmo com níveis baixos de

viremia, contudo ainda não estão elucidados os benefícios da cesárea eletiva neste grupo.

Devido à baixa taxa de transmissão e ao risco aumentado de complicações obstétricas, o parto

cesáreo em mulheres com baixa carga viral deve ser discutido entre obstetra e gestante

(KOURTIS et al., 2014).

Rosa et al. (2015) em seu estudo, apontaram não haver diferença significativa entre os

tipos de partos na transmissão vertical do vírus e relacionou esse fato à alta adesão das

gestantes à terapia antirretroviral. Segundo Kakehasi et al. (2014), o uso dos antirretrovirais se

constitui como uma das intervenções mais consistente na prevenção da TV, a partir dela é

possível reduzir a viremia materna, aumentar os níveis de linfócitos T CD4+

e realizar

profilaxia pré e pós-exposição no recém-nascido. Ratificando Townsend et al. (2013) e

Briand, et al. (2013), demonstraram não haver diferença significativa entre os partos cesáreo

planejado e vaginal nas mulheres em uso de TARV e com carga viral abaixo de 1.000

cópias/mL.

O rompimento das membranas amnióticas, a idade gestacional no momento do parto e

o peso de recém-nascido não apresentaram associação com o desfecho em estudo, porém é

possível observar predomínio de partos com bolsa íntegra e nascimentos a termo, ou seja, a

partir da 37ª semana de gestação. O peso ao nascer está bastante relacionado à idade

gestacional, desse modo houve superioridade de recém-nascidos com peso adequado, ou seja,

igual ou maior que 2.500 gramas. Estes resultados decorreram da implementação dos

70

cuidados gerais e específicos no manejo dos partos, devido à importância destes fatores na

transmissão vertical.

Estudo desenvolvido no sul do Brasil apontou que entre 1998 e 2004, 79,4% das

gestantes apresentaram mais de quatro horas de bolsa rota, enquanto entre 2005 e 2011 apenas

10,8% apresentaram TBR acima de quatro horas, apontando mudança na conduta dos

profissionais no que concerne ao manejo do parto, atendendo às recomendações dos

consensos terapêuticos de profilaxia da transmissão vertical do HIV (ROSA et al., 2015).

Importante destacar que o tempo prolongado de ruptura das membranas amnióticas está

associado ao progressivo aumento da taxa de transmissão vertical do HIV (THE

INTERNATIONAL PERINATAL HIV GROUP, 2001).

Estudos apontam uma associação entre prematuridade e a transmissão vertical do HIV,

pelo fato dos recém-nascidos apresentarem o seu sistema imunológico imaturo. Contudo, a

prematuridade se constitui como um evento multifatorial, podendo ocorrer devido à infecção

fetal ou ao estágio da doença materna (CHARURAR et al., 2009;GOUVEIA; SILVA;

ALBUQUERQUE, 2013; NISHIMOTO; ELUF NETO; ROZMAN, 2005; SRIPAN et al.,

2015).

No que diz respeito ao acompanhamento pós-natal, observou-se que a maioria das

crianças com diagnóstico de contaminação por HIV somente compareceram a consulta após

os seis meses de vida. A idade na primeira consulta se constitui um aspecto de bastante

relevância na prevenção da transmissão vertical, o atendimento com antecedência proporciona

o acompanhamento clínico e laboratorial da criança exposta ao HIV, assim como da

quimioprofilaxia do recém-nascido, assegura o vínculo profissional-usuário impedindo

eventuais perdas de seguimento e, por fim, permite a implementação do tratamento precoce

das crianças infectadas pelo HIV, devendo ser estimulado e monitorado.

Importante ressaltar que a idade da criança na primeira consulta no serviço

especializado sofre influência de diversos fatores como o momento do diagnóstico materno, a

adesão ao pré-natal, a aceitação da doença materna, das condições sociais da família e dos

serviços de saúde. O acompanhamento pós-natal deve ocorrer mensalmente no SAE até

definição do diagnóstico infantil. Aquelas crianças que forem diagnosticadas com infecção

pelo HIV permanecem em acompanhamento neste serviço até a transferência para o

acompanhamento adulto.

71

Na literatura são citados alguns aspectos que dificultam o acompanhamento de

sororeversão das crianças e a maioria deles recaem sobre as genitoras. Os motivos descritos

para o não comparecimento às consultas no SAE advêm principalmente da falta de

conhecimento das mesmas, da falha dos profissionais em orientá-las e dos serviços de saúde.

São também relatados o baixo nível de escolaridade do responsável, a condição econômica e a

não aceitação do próprio diagnóstico, como fatores que interferem no cuidado materno à

criança exposta, prejudicando a adoção de medidas profiláticas em tempo hábil. Dessa forma,

é fundamental a adesão materna ao acompanhamento pós-natal para reduzir o risco de

contaminação da criança (BARROSO et al., 2009; FREITAS; BARROSO; GALVÃO,

2013;TORRES et al., 2017).

Foram realizadas regressões multivariadas convencional e hierárquicas, com a

pretensão de comparar os resultados dos determinantes da transmissão vertical do HIV. O

modelo hierárquico apresentou variável socioeconômica no modelo final, a qual está situada

no nível distal de determinação, que segundo metodologia proposta permanece no modelo

final, independentemente do nível de significância apresentado após ajuste das variáveis dos

demais níveis. A utilização deste modelo possibilita evidenciar os fatores socioeconômicos na

determinação do processo de adoecimento, no entanto, nesta pesquisa somente uma variável

socioeconômica permaneceu no modelo final como fator de risco para o desfecho estudado.

A utilização do modelo hierarquizado favorece a identificação de fatores situados nos

níveis hierarquicamente superiores que influenciarão nos fatores mais proximais,

possibilitando uma discussão mais contextualizada das múltiplas dimensões do problema

(MELO; SOUZA; COUTO, 2014). A abordagem hierarquizada representa um avanço em

relação à regressão convencional, por permitir a organização das variáveis em níveis de

determinação, contudo, apresenta limitações metodológicas como, por exemplo, a

representação limitada das inter-relações entre os níveis hierárquicos (FUCHS; VICTORA;

FACHEL, 1996; LIMA; CARVALHO; VASCONCELOS, 2008; VICTORA et al., 1997).

A variável socioeconômica só permaneceu no modelo final da regressão hierárquica,

as demais variáveis analisadas foram semelhantes nos dois modelos de regressão empregados

nesta pesquisa. A não realização do mínimo de seis consultas de pré-natal, a idade avançada

da criança na primeira consulta no serviço especializado e a não realização da profilaxia

durante gestação e parto, foram identificados como fatores de risco para a transmissão vertical

do HIV. Fatores reconhecidamente definidos como determinantes da transmissão vertical do

72

vírus e para os quais já existem intervenções específicas, evidenciando que em Pernambuco

ainda permanecem obstáculos na implementação das medidas recomendadas.

Estudo anterior realizado neste mesmo serviço no Recife identificou como

determinantes da transmissão vertical o nascimento prematuro, o parto vaginal, o aleitamento

materno e o não uso de TARV durante gestação (GOUVEIA; SILVA; ALBUQUERQUE,

2013). Outros estudos identificaram na análise multivariada, que a doença materna avançada,

o aleitamento materno, a amniocentese, a raça/cor negra e a carga viral materna acima de

500cópias/mLestiveram associadas à transmissão vertical do HIV (TESS et al., 1998;

TUBIANA et al., 2010).

73

11 CONCLUSÃO

A presente pesquisa permitiu aferir a taxa de transmissão vertical do HIV durante o

período estudado e analisar os fatores de risco associados à transmissão vertical do vírus nas

crianças atendidas no Serviço Assistência Especializada do IMIP. A taxa de transmissão

vertical do HIV apresentou tendência de redução durante os anos estudados, contudo ainda se

encontra aquém daquela possível de ser alcançada, evidenciando a necessidade da

investigação dos possíveis obstáculos na implementação das ações de prevenção da

transmissão vertical do HIV no estado de Pernambuco.

A utilização da análise hierarquizada para verificar os fatores associados à transmissão

vertical do HIV possibilitou evidenciar fator socioeconômico como determinante do processo

de transmissão do vírus. Os fatores de risco identificados nesta pesquisa, foram não possuir

esgoto sanitário, não ter realizado o pré-natal, atendimento tardio da criança em serviço

especializado e não ter realizado a quimioprofilaxia durante a gestação e parto.

É evidente a atuação dos determinantes sociais da saúde na epidemia do HIV/Aids e

na persistência da alta taxa de transmissão vertical, mesmo com as medidas desenvolvidas até

o momento. A baixa escolaridade materna, o trabalho não remunerado, o recebimento de

benefícios sociais e as precárias instalações hidrossanitárias, revelam as condições

socioeconômicas das gestantes HIV positivo e contribuem para aumento da vulnerabilidade

deste grupo populacional, ratificando a determinação social na contaminação por HIV.

A associação entre a não realização de pré-natal e transmissão vertical do HIV

constatada nesse estudo reforça a importância da realização do acompanhamento da gestante

HIV positivo. Em virtude da especificidade da infecção pelo HIV, da importância da

orientação, do tratamento da doença materna e da implementação de intervenções desde a

gestação, o acompanhamento pré-natal de gestantes HIV positivo deve ser realizado no

Serviço Assistência Especializada em DST/Aids de referência, visto que se trata de uma

população com necessidades diferenciadas.

Evidenciou-se a importância da precocidade do atendimento da criança no Serviço

Assistência Especializada, por ser este, o momento propício para intervenções e orientações.

A distribuição de fórmula láctea em substituição ao leite materno, o desencorajamento da

amamentação, favorecem a redução do risco de transmissão pós-natal em crianças filhas de

mulheres sabidamente soropositivas. Durante este acompanhamento também é possível

74

realizar a verificação da administração correta dos antirretrovirais ao recém-nascido,

impedindo que o tratamento seja abandonado.

A produção científica comprova a eficiência da quimioprofilaxia na prevenção da

transmissão vertical do HIV. Nesta pesquisa, a associação entre a não realização da

quimioprofilaxia durante a gestação e o parto e a TV do HIV, ratifica a importância do

diagnóstico materno precoce e do acompanhamento pré-natal no serviço especializado,

favorecendo o início precoce da terapia antirretroviral na gestante.

Esta pesquisa permitiu ainda, identificar a perda de seguimento do acompanhamento

pós-natal de crianças expostas à transmissão vertical do HIV e a influência da realização do

pré-natal, do parto neste serviço e a vinculação da criança ao seu médico para a maior adesão

das mães ou responsáveis ao acompanhamento da criança.

O seguimento incompleto do acompanhamento pós-natal pode interferir no desfecho

da exposição ao HIV, comprometendo os esforços para redução da transmissão vertical.

Embora o objetivo desta pesquisa não ter sido analisara associação entre os fatores que

levaram ao abandono do acompanhamento, presume-se que os fatores sociais e econômicos

dos cuidadores exerçam forte influência no abandono, assim como, os fatores relacionados ao

serviço e aos profissionais de saúde.

Portanto, a dificuldade de captação precoce das gestantes, de realização do diagnóstico

do HIV, do acesso aos serviços e medicamentos juntamente com as características

socioeconômicas, revelou as fragilidades na implementação das medidas de prevenção da

transmissão vertical, apontando a necessidade de intervenções mais eficazes, considerando o

contexto social em que vivem estas pessoas.

Espera-se que mais estudos, assim como essa pesquisa, possam ser realizados, na

perspectiva de identificar os fatores associados à transmissão vertical, e assim, possibilitar o

direcionamento de ações que reduzam a transmissão vertical do HIV e o fortalecer as redes

sociais de apoio.

75

REFERÊNCIAS

ACOSTA, L.M.; TONANTZIN, R.G.; BARCELLOS, N.T. Coinfecção HIV/Sífilis na

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