fundaÇÃo oswaldo aranha centro universitÁrio de...

77
FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE E DO MEIO AMBIENTE HELOISA SÃO THIAGO DA COSTA PEREIRA ENSINO EM SAÚDE: ÊNFASE EM FERRAMENTAS PARA ABORDAGEM FAMILIAR NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA VOLTA REDONDA 2017

Upload: others

Post on 16-Dec-2020

5 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

E DO MEIO AMBIENTE

HELOISA SÃO THIAGO DA COSTA PEREIRA

ENSINO EM SAÚDE: ÊNFASE EM FERRAMENTAS PARA ABORDAGEM FAMILIAR NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA

VOLTA REDONDA 2017

Page 2: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

E DO MEIO AMBIENTE

ENSINO EM SAÚDE: ÊNFASE EM FERRAMENTAS PARA ABORDAGEM FAMILIAR NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA

Dissertação apresentada ao Programa de

Mestrado Profissional em Ensino em

Ciências da Saúde e do Meio Ambiente

do UniFOA, como parte dos requisitos

para a obtenção do título de Mestre.

Aluna:

Heloisa São Thiago da Costa Pereira

Orientador:

Prof. Dr. Carlos Alberto Sanches Pereira

VOLTA REDONDA 2017

Page 3: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

FICHA CATALOGRÁFICA Bibliotecária: Alice Tacão Wagner - CRB 7/RJ 4316

P436e Pereira, Heloisa São Thiago da Costa. Ensino em saúde: ênfase em ferramentas para abordagem familiar

na estratégia saúde da família. / Heloisa São Thiago da Costa Pereira - Volta Redonda: UniFOA, 2017.

75 p. : Il

Orientador(a): Carlos Alberto Sanches Pereira Dissertação (Mestrado) – UniFOA / Mestrado Profissional em Ensino

em Ciências da Saúde e do Meio Ambiente, 2017.

1. Ciências da saúde - Dissertação. 2. Saúde da família. I. Pereira, Carlos Alberto Sanches. II. Centro Universitário de Volta Redonda. III. Título.

CDD – 610

Page 4: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado
Page 5: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

Dedico este trabalho aos meus filhos, Luis

Henrique e Ana Carolina, pela paciência e

compreensão durante minha ausência

nos principais momentos de suas vidas.

Page 6: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

Agradeço primeiramente a Deus, Força

Maior de minha vida,

À minha família e amigos, que me

apoiaram em todos os momentos deste

projeto,

Aos meus filhos pelo companheirismo e

paciência,

Ao meu orientador Prof. Dr Carlos Alberto

Sanches Pereira, pela competência e

presença constante em todos os

momentos, sem medir esforços para me

auxiliar nesse processo,

Ao corpo docente do MECSMA, com

quem tive a oportunidade de aprender

uma gama de novos conhecimentos

tornando possível a construção deste

trabalho,

Aos preceptores do módulo de Saúde

Coletiva do UniFOA, que colaboraram

prontamente para que este trabalho se

tornasse possível,

Ao Prof. Dr. Julio Aragão, ex-coordenador

do curso de Medicina do UniFOA, pelo

apoio e ajuda constante para que se

concretizasse mais essa pós-graduação,

À Secretária de Saúde do município de

Volta Redonda, Marta Gama Pires, por ter

cedido recursos humanos e materiais

para a realização da Oficina.

Page 7: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

“Família é a união de laços de sangue,

amizade e amor – é a alegria

compartilhada na concretização de

nossos sonhos, nossos sucessos e

nossas vitórias”

(LAÉRCIO BECKHAUSER, 2012)

Page 8: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

RESUMO

A Estratégia Saúde da Família (ESF) foi concebida pelo Ministério da Saúde em

1994, com o objetivo de proceder à reorganização da prática assistencial em novas

bases e critérios, em substituição ao modelo tradicional de assistência hospitalar

voltado para a doença. Sabendo-se que a especialidade Medicina de Família e

Comunidade tem como lócus básico de atuação a família e, para trabalhar essas

famílias dispõe de ferramentas de abordagem familiar ainda pouco divulgadas e

conhecidas pelos profissionais e estudantes de medicina, e que no atual contexto da

política de saúde, quando a prioridade dada à atenção básica está a exigir um

número cada vez maior de profissionais com formação em medicina de família e

comunidade, é importante que haja maior divulgação deste campo de atuação no

meio acadêmico. Isto vem a justificar o trabalho proposto, que tem como objetivo

capacitar os preceptores do módulo de Saúde Coletiva/ESF através de uma Oficina

que contemple os princípios da especialidade e as ferramentas de abordagem

familiar. A Oficina foi construída embasada na Teoria da Aprendizagem Significativa

de Ausubel, tendo como pilar principal a dialogicidade e utilização de uma situação-

problema. Teve duração aproximada de 4 horas e foi aplicada aos preceptores do

curso de Medicina do UniFOA. Foi utilizado questionário pré e pós aplicação da

oficina e a partir dos resultados adquiridos observou-se que este instrumento de

ensino-aprendizagem promoveu melhoras a respeito do entendimento dos

preceptores sobre o assunto.

Palavras-chave: Estratégia Saúde da Família; Oficina; Preceptoria.

Page 9: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

ABSTRACT

The Family Health Strategy (FHS) was designed by the Health Ministry in 1994, in

order to proceed with the reorganization of care practice in new bases and criteria,

replacing the traditional model of hospital care facing the disease. Knowing that

Family and Community Medicine specialty has the family as the basic locus of activity

and, to work these families it has family approach tools still little divulged and known

by professionals and medical students, and that in the current context of political

health, when the priority given to primary care is demanding an increasing number of

professionals with training in family and community medicine, it is important to have

greater communication about this practice field in academia. This comes to justify the

proposed work, which aims to train the tutors of the Public Health module / FHS

through a workshop that focus on the principles of the specialty and the family

approach tools. The workshop was built grounded in the theory of Meaningful

Learning of Ausubel, having as main pillar the dialogicity and use of a problem

situation. It lasted approximately four hours and was applied to the tutors of the

medical school of UniFOA. A questionnaire was used before and after the workshop

application and from the results obtained it was observed that this teaching-learning

tool contributed to empowering the preceptors in the proposed theme.

Keywords: Family Health Strategy; Workshop; Preceptorship.

Page 10: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Estrutura de um ecomapa ........................................................................ 24

Figura 2 – Representação do Arco segundo Charles Maguerez ............................... 37

Page 11: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Perfil dos Preceptores ............................................................................. 54

Page 12: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

SUMÁRIO

1 APRESENTAÇÃO .......................................................................................... 12

2 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 14

Objetivos ....................................................................................................... 15

2.1.1 Objetivo Geral ................................................................................................. 15

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................... 16

Estratégia Saúde da Família ........................................................................ 16

A Especialidade Medicina de Família e Comunidade ................................ 18

Ferramentas de Abordagem Familiar.......................................................... 21

3.3.1 Genograma ou Familiograma ......................................................................... 22

3.3.2 Ecomapa ......................................................................................................... 23

3.3.3 Ciclo de Vida ................................................................................................... 24

3.3.4 Modelo FIRO (Fundamental Interpersonal Relations Orientations) ................ 26

3.3.5 Círculo de Thrower ......................................................................................... 26

Preceptor do Curso de Medicina ................................................................. 27

Oficina como Ferramenta de Ensino-Aprendizagem ................................. 30

Metodologias Ativas de Ensino-Aprendizagem ......................................... 35

Aprendizagem significativa no Ensino de Ciências da Saúde ................. 39

3.7.1 David Ausubel e a Aprendizagem Significativa ............................................... 40

4 CAMINHO METODOLÓGICO ........................................................................ 46

Elaboração da Oficina .................................................................................. 46

Elaboração do Produto e Difusão ............................................................... 47

4.2.1 O Produto ....................................................................................................... 47

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................... 50

Aplicação da Oficina..................................................................................... 50

Avaliação do Questionário Pré e Pós Oficina ............................................ 53

6 CONCLUSÃO ................................................................................................. 57

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 58

ANEXO A .................................................................................................................. 63

ANEXO B .................................................................................................................. 64

APÊNDICE A ............................................................................................................ 66

APENDICE B ............................................................................................................ 68

Page 13: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

APENDICE C ............................................................................................................ 71

APENDICE D ............................................................................................................ 72

APENDICE E ............................................................................................................ 74

Page 14: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

12

1 APRESENTAÇÃO

O que me motivou para desenvolver esta pesquisa foi minha participação em

Congressos sobre Medicina de Família e Comunidade.

Neles pude aperfeiçoar o tema proposto sobre as ferramentas de Abordagem

Familiar. Notava a cada novo evento que o tema era pouco explorado e conhecido

por parte dos profissionais que trabalhavam em Saúde de Família, principalmente

estudantes dos cursos de Medicina.

Iniciei minha atividade como Médica de Família em 1996 no município de

Curitiba. A Estratégia Saúde de Família estava iniciando seus primeiros passos,

como um novo modelo ordenador do Sistema Único de Saúde, tendo a Atenção

Primária como a porta de entrada do sistema de saúde nesse novo modelo. A

medicina passou a ser centrada no doente e não mais na doença. A visão integral

da saúde tendo a família como o reservatório dos problemas que geravam as

doenças fez com que os profissionais de saúde buscassem métodos apropriados de

como abordar essa família. A partir daí, diretrizes baseadas na psicologia e

sociologia foram utilizadas como forma de melhor realizar as abordagens. Meu

primeiro contato com os princípios da Medicina de Família e as ferramentas de

abordagem familiar deu-se através de um curso de capacitação oferecido pela

prefeitura de Curitiba. Nesta época, eu trabalhava como estatutária e participei de

aulas presenciais, que ocorreram em cinco finais de semana. Este curso foi

conveniado com a Universidade de Toronto, Canadá.

Em 2002, com minha vinda para o estado do Rio de Janeiro, tive várias

experiências como Médica de Família em diversos municípios do interior. Em 2010,

quando ingressei no Uni FOA como preceptora dos internos do curso de Medicina,

pude observar que existia uma lacuna na formação desses alunos referente aos

princípios da Medicina de Família e Comunidade e das ferramentas de abordagem

familiar. Nesse momento, uma série de dúvidas surgiram: - qual o melhor método de

ensino-aprendizagem despertaria o interesse dos alunos no assunto? - Como fazer,

para que tais conhecimentos chegassem aos alunos de forma interativa,

coparticipativa e reflexiva?

Page 15: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

13

Daí surgiu a ideia de capacitar os preceptores através de uma Oficina, para

que estes pudessem transmitir aos alunos internos tais conhecimentos, utilizando as

situações problemas do dia-a-dia.

Page 16: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

14

2 INTRODUÇÃO

Desde a década de 90 a Medicina de Família e Comunidade tornou-se uma

especialidade médica no Brasil, apoiada pela Associação Médica Brasileira e

Ministério da Saúde. Esta vem se expandindo vertiginosamente, porém com poucos

profissionais preparados para exercerem essa especialidade (MENDES, 2015). A

grande maioria das universidades não tem em seu currículo essa especialidade

como carreira básica. Tais informações chegam aos discentes do curso de medicina

apenas no período do internato, através dos preceptores do módulo de Saúde

Coletiva, nas Unidades de Saúde da Família, que deverão transmitir toda uma gama

de informações extremamente necessárias ao conhecimento dos futuros

profissionais.

O canadense Mc. Whinney (1995), considerado um dos maiores estudiosos

da medicina de família e comunidade, definiu quatro competências próprias dessa

especialidade: 1) solução de problemas que se apresentam indiferenciados; 2)

competências preventivas; 3) competências terapêuticas (de problemas frequentes

de saúde); 4) competência de gestão de recursos.

Essa especialidade, Medicina de Família e Comunidade (MFC), possui uma

epistemologia bem definida, conforme será descrito mais à frente. Ela não é

onisciente e também não lida apenas com problemas do cotidiano. As competências

e habilidades específicas são claras, bem como os limites que essa definição

implica. O aumento do conhecimento sobre a Medicina de Família e Comunidade

aliado à necessária qualificação dos profissionais que atuam como “médicos de

família”, certamente são questões estratégicas que permitirão a consolidação de um

sistema de saúde mais eficaz e de qualidade. A abordagem familiar representa um

desafio a mais. Compreender a dinâmica das relações familiares impactando sobre

a saúde e doença e suas formas de evolução requer uma aguçada capacidade de

observação e interação. Em sentido oposto, o MFC necessita avaliar o impacto da

doença na dinâmica familiar, causados pelos múltiplos sofrimentos que repercutem

na interação familiar. O papel representado pelos membros da família, os equilíbrios

e desequilíbrios que se estabelecem no núcleo familiar são parte deste processo

(CAMPOS, 2005).

Page 17: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

15

Embasada no trabalho de Monteiro et al. (2014) que descreve o pouco

conhecimento, atitude e prática dos profissionais de saúde sobre as Ferramentas de

Abordagem Familiar, 84,6% dos profissionais pesquisados afirmaram que, em sua

formação profissional não foram preparados para utilizar Ferramentas de Avaliação

Familiar. Diante desse pressuposto, fez-se perceber a necessidade de estimular a

busca por um conhecimento maior das ferramentas de abordagem familiar, dentro

das práticas do Médico de Família e Comunidade, o que incentivou a capacitação de

preceptores como disseminadores de tais conhecimentos aos discentes em seus

campos de prática de ensino-aprendizagem.

Segundo Campos (2005), no atual contexto da política de saúde, a prioridade

dada à atenção básica está a exigir um número cada vez maior de profissionais com

formação em medicina de família e comunidade e áreas correlatas. É importante que

haja maior divulgação deste campo de atuação no meio acadêmico, o que justifica o

trabalho proposto de construir uma Oficina que capacite os preceptores a

transmitirem tais conhecimentos aos alunos do período de internato do curso de

Medicina, exercendo a função de facilitadores e disseminadores desses

conhecimentos.

2.1 Objetivos

2.1.1 Objetivo Geral

O presente trabalho tem como objetivo geral ampliar o conhecimento dos

preceptores do módulo de Saúde Coletiva/ESF do curso de Medicina, através de

uma Oficina que contemple as ferramentas de abordagem familiar.

Page 18: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

16

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Estratégia Saúde da Família

A Estratégia Saúde da Família (ESF) foi concebida pelo Ministério da Saúde

em janeiro de 1994, com o objetivo de proceder à reorganização da prática

assistencial em novas bases e critérios, em substituição ao modelo tradicional de

assistência, orientado para a cura de doenças e para a atenção hospitalar

(RONCALLI, 2003).

Além disso, a Estratégia Saúde da Família representa, pelo menos, duas

novas formas de abordagem da questão da saúde da população: primeiro, busca ser

uma estratégia para reverter a forma atual de prestação de assistência à saúde;

segundo, é uma proposta de reorganização da Atenção Básica como eixo de

reorientação do modelo assistencial, respondendo a uma nova concepção de saúde.

Essa concepção não é mais centrada somente na assistência à doença, mas,

sobretudo, na promoção da qualidade de vida e intervenção nos fatores que a

colocam em risco pela incorporação das ações programáticas de uma forma mais

abrangente e do desenvolvimento de ações intersetoriais (DITTERICH, 2009).

O Institute of Medicine (IOM) definiu, em documento oficial, a Atenção

Primária como a provisão de cuidados de saúde de forma integrada e acessível por

clínicos que estão responsáveis em atender a grande maioria das necessidades de

saúde das pessoas desenvolvendo a parceria sustentada com os pacientes e

desenvolvendo sua prática no contexto familiar e comunitário (IOM, 1994). Sob a

denominação de Atenção Básica, setores do Ministério da Saúde do Brasil estiveram

também empenhados em definir a Atenção Primária à Saúde (APS) no contexto da

reformulação do Sistema Único de Saúde. Sua definição é a mais abrangente

possível, situando-a como reestruturante do sistema de saúde e locus privilegiado

para a garantia da integralidade da assistência. Esta foi definida como um conjunto

de ações, de caráter individual ou coletivo, situadas no primeiro nível de atenção dos

sistemas de saúde, voltadas para a promoção da saúde, a prevenção de agravos, o

tratamento e a reabilitação (BRASIL, 1999).

Page 19: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

17

Ao longo das últimas décadas, a APS passou por mudanças significativas.

Alguns temas de razoável confiança intercultural emergiram. A APS passou a ser

central em muitos sistemas de atenção à saúde. As unidades de saúde estão

ficando maiores e mais complexas. Estas também estão passando por mudanças

gerenciais. A tecnologia de informação é uma característica-chave da prática

moderna e o computador é o terceiro participante na maioria dos consultórios.

(ASEN et al., 2012, p. 33)

A população da APS está mudando também. A administração de doenças

crônicas e os desafios – e prazeres – da terceira idade são um aspecto crescente na

APS e, como consequência, assim também são as especializações e o trabalho em

equipe multidisciplinar e colaborativo. Também há uma mudança no sentido de um

enfoque baseado na população e na organização pró-ativa dos cuidados em saúde.

Esta é apenas uma pequena amostra das mudanças em saúde primária que estão

ocorrendo em todo o mundo. Não é necessário dizer que, nesse clima de aparente

mudança contínua, muitas vezes é difícil para o clínico focar-se na sua tarefa

primária: atender as necessidades bio-psico-sociais das pessoas (BLOCH, 1987).

Entre 30 e 60% de todas as consultas de APS são diretamente sobre

sofrimento mental ou contém importantes questões psicológicas. E já foi

repetidamente demonstrado (BALINT, 1957; ELDER e HOLMES, 2002) que usar

perspectivas psicológicas ao trabalhar com APS gera resultados positivos (ASEN;

TOMSON; YOUNG & TOMSON, 2012, p. 37). E é nesse contexto que este trabalho

vem enfatizar a importância dos profissionais de saúde se apoderarem das

ferramentas de abordagem familiar, baseadas nos modelos da Terapia Familiar,

criando estrutura e técnicas apropriadas que podem ser adaptadas a cenários de

APS.

Segundo Ditterich (2009) cabe ressaltar que, a atuação na família, amplia-se

a noção de atendimento integral à saúde, com a organização de práticas preventivas

coletivas e de promoção de saúde, ainda, o trabalho em saúde da família, como

modelo de atenção primária, deve considerar a família como lócus básico da

atuação. As técnicas utilizadas para executar o trabalho devem basear-se na

realidade local, construindo um fazer consistente que implique na melhoria dos

Page 20: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

18

indicadores de saúde da comunidade e obtendo a satisfação não só da população

atendida, como também da equipe que executa a proposta. Essa equipe é composta

por médico, enfermeiro, auxiliar de enfermagem e agentes comunitários de saúde,

uma equipe multiprofissional que presta atendimento na Unidade Básica de Saúde

ou no domicílio.

Na abordagem da família é preciso considerar o seu contexto sócio-político-

cultural e econômico, bem como se faz necessário conhecer o processo da

composição e da dinâmica de cada família (MELLO, 2005).

Assim, conceitua-se o trabalho com famílias, cujo propósito central está

fundamentado na compreensão de sujeitos integrados ao seu contexto e dinâmica

familiar, sendo possível observar o convívio e a interação entre os membros da

família. Dessa forma, para além do cuidado coletivo, mesmo a atenção clínica

individual pode ser estruturada em bases mais amplas, com maior resolutividade nas

intervenções sobre o processo saúde-doença-cuidado (DITTERICH; GABARDO;

MOYSES, 2009).

3.2 A Especialidade Medicina de Família e Comunidade

A definição de princípios da Medicina Familiar, considerada como uma

disciplina, só começou a ser esboçada recentemente pela Seção Européia da World

Organization of National Colleges, Academies and Academic Associations of

General Practitioners/Family Physicians (WONCA, 2002).

A partir da década de noventa, a sessão europeia da WONCA passa a se

dedicar à formação de um consenso europeu sobre uma definição da especialidade.

Isto é particularmente importante em um contexto de livre circulação de médicos na

zona do Euro e as implicações desta nova realidade nos sistemas nacionais de

saúde. Em uma série de encontros foram estudadas e apresentadas as

características específicas da prática geral como uma especialidade e as condições

para o seu desenvolvimento. Foi produzido, inicialmente, como um documento

preliminar em 1994. Após consultas aos países membros, novas versões foram

aprimoradas até a versão final, adotada em março de 1998. Ratificado, em 2002,

como documento oficial da WONCA e denominado “A definição europeia de

Page 21: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

19

medicina geral e familiar”, este documento contém os princípios que servem de base

para a concepção da MFC como uma disciplina acadêmica e científica, e não mais

como um conjunto específico de práticas. Neste documento estão os princípios que

devem nortear o desenvolvimento da especialidade (LOPES, 2005).

Aqui serão apresentados tais princípios:

a) Primeiro contato com o sistema de saúde, prestando um acesso aberto e

ilimitado e lidando com todos os problemas de saúde independentemente

da idade, sexo ou qualquer outra característica da pessoa (WONCA, 2002.

p. 9).

b) Utiliza eficientemente os recursos de saúde através da coordenação de

cuidados do trabalho com outros profissionais no contexto dos cuidados

primários e da gestão da interface com outras especialidades, assumindo

sempre que necessário um papel de advocacia pelo paciente (WONCA,

2002. p. 9).

c) Desenvolve uma abordagem centrada na pessoa, orientada para o

indivíduo, a sua família e comunidade (WONCA, 2002, p. 10).

d) Possui um processo de condução da consulta singular, estabelecendo

uma relação ao longo do tempo, através de uma comunicação efetiva

entre o médico e o paciente. (WONCA, 2002. p.10).

e) É responsável pela continuidade da prestação de cuidados longitudinais,

conforme a necessidade do paciente (WONCA, 2002, p. 10).

f) Possui um processo próprio de tomada de decisões, o qual é determinado

pela prevalência e pela incidência da doença na comunidade (WONCA,

2002, p. 10).

g) Gere simultaneamente problemas de saúde agudos e crônicos de doentes

individuais (WONCA, 2002, p. 11).

h) Promove a saúde e o bem estar através de uma intervenção apropriada e

efetiva e possui uma responsabilidade específica pela saúde da

comunidade (WONCA, 2002, p.11).

i) Lida com problemas de saúde em suas dimensões física, psicológica,

social, cultural e existencial (WONCA, 2002, p. 11).

Page 22: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

20

A definição da Disciplina de Medicina Geral e Familiar (Clínica Geral/Medicina

Familiar) e do respectivo especialista conduz-nos diretamente às competências

nucleares do Médico de Família segundo Allen et al. (2002) na “Definição Europeia

de Medicina Geral e Familiar (Clinica Geral/Medicina Familiar)” preparado para o

WONCA EUROPA (Sociedade Europeia de Clinica Geral/Medicina Familiar).

Agrupam-se em seis as competências nucleares: (WONCA, 2002)

a) Gestão de cuidados primários:

i. capacidade para gerir o contato de primeira instância com os

pacientes;

ii. coordenação dos cuidados prestados por outros profissionais de

cuidados primários e outros especialistas, levando a uma prestação

de cuidados efetiva e apropriada, assumindo uma posição de

advocacia do paciente, sempre que necessário.

b) Cuidados centrados na pessoa:

i. capacidade de adotar uma abordagem centrada na pessoa ao lidar

com os pacientes e seus problemas;

ii. desenvolvimento e aplicação da técnica de consulta de Medicina

Geral e Familiar de forma a gerar uma relação médico-paciente

efetiva;

iii. prestação de cuidados longitudinais continuados conforme as

necessidades do paciente.

c) Aptidões específicas de resolução de problemas:

i. utilização do processo específico de tomada de decisões em função

da prevalência e da incidência da doença na comunidade

ii. abordagem de patologias que se podem apresentar de forma

precoce e indiferenciada, com intervenção urgente se necessário.

d) Abordagem abrangente:

i. abordagem simultânea, tanto dos problemas agudos como dos

problemas crónicos de saúde do indivíduo;

ii. promoção da saúde e do bem-estar através da aplicação adequada

de estratégias de promoção da saúde e de prevenção da doença.

e) Orientação comunitária:

Page 23: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

21

i. conjugação das necessidades de saúde dos pacientes individuais

com as necessidades de saúde da comunidade em que se inserem,

em equilíbrio com os recursos disponíveis.

f) Modelação holística:

i. capacidade de usar um modelo biopsicossocial, levando em conta

as dimensões cultural e existencial.

A inter-relação das competências nucleares, das áreas de implementação e

dos aspectos de fundo essenciais caracteriza a Disciplina e sublinha a complexidade

da especialidade. É essa complexa inter-relação entre as competências nucleares

que deverá orientar e ver-se refletida no desenvolvimento do agendamento de

prioridades de ensino/formação, investigação e melhoria contínua de qualidade

(ALLEN et al., 2002)

Como pode ser visto, a Medicina de Família e Comunidade é uma

especialidade complexa, sendo que a abordagem familiar representa um desafio a

mais para o médico de família e comunidade (MFC). Compreender a dinâmica das

relações familiares impactando sobre a saúde e doença e suas formas de evolução

requer uma aguçada capacidade de observação e interação. Em sentido oposto, o

MFC necessita avaliar o impacto da doença na dinâmica familiar e compreender os

múltiplos impactos em termos de sofrimento e outras repercussões sobre as

interações familiares. Os papéis representados pelos membros da família, os

equilíbrios e desequilíbrios que se estabelecem no núcleo familiar são parte deste

processo (MENDES, 2012).

3.3 Ferramentas de Abordagem Familiar

Para se trabalhar com família deve haver um completo entendimento da

mesma e, para isso, se mostra necessária a utilização de ferramentas de

abordagem familiar, oriundas da Sociologia e da Psicologia, que visam estreitar a

profundidade do funcionamento do indivíduo e de suas relações com a família e a

comunidade (SILVEIRA FILHO, 2007).

É necessário explorar a situação em que se desenvolveu o processo de

adoecer, para, a partir do contexto de vida do paciente e de sua família, planejar

Page 24: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

22

ações que visem a sua recuperação e a prevenção de novas enfermidades geradas

do mesmo modo. Nesta fase a utilização das ferramentas de trabalho que serão

abaixo citadas terá grande utilidade, pois sistematizam a abordagem e dão chaves

para o processo de compreensão das relações interpessoais (WAGNER,1999).

3.3.1 Genograma ou Familiograma

O genograma ou familiograma foi desenvolvido na América do Norte e mostra

graficamente a estrutura e o padrão de repetição das relações familiares. Pode ser

colocado no início do prontuário como sumário de problemas prévios, ações

preventivas e medicamentos em uso (MOYSES et al., 1999).

Nele são representados os diferentes membros da família, o padrão de

relacionamento entre eles e as suas principais morbidades. Podem ser

acrescentados dados como ocupação, hábitos, grau de escolaridade e dados

relevantes da família, entre outros, de acordo com o objetivo do profissional. Enfim,

é um diagrama no qual está representada a estrutura familiar. A demonstração

gráfica da situação permite que o indivíduo pare e reflita sobre a dinâmica familiar,

os problemas mais comuns que o afligem e o enfrentamento do problema pelos

membros da família (WAGNER, 2001).

Todos os problemas de saúde, de situações sociais ou existenciais, de

comportamento afetivo, de hábitos ou estilos de vida, que, no entendimento do

profissional de saúde da família, forem pertinentes, devem ser anotados.

Informações relativas ao estilo de vida, que sejam pertinentes na adequação dos

cuidados com a saúde daquela família, também podem ser levantados, como uso de

medicamentos, alcoolismo, drogadição e outros; dados socioculturais e econômicos

que possam influenciar o funcionamento familiar, questões de credo religioso, de

trabalho, de vida social e de lazer e outros. Por fim, devem aparecer as relações

interpessoais, de conflito, de resolução de conflito e problemas de comunicação

(WILSON, 1996).

Essa ferramenta é de especial importância por alcançar o objetivo de analisar

a complexidade das relações humanas, uma vez que o ambiente afetivo tem

impacto relevante no processo saúde-doença. As circunstâncias às quais os sujeitos

Page 25: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

23

são submetidos no decorrer de suas vidas podem favorecer o seu desenvolvimento

biológico, social e psicológico; tanto favorável como desfavoravelmente, não

precisam ser realizados rotineiramente com todos os pacientes e são mais eficazes

quando aplicados de forma seletiva (MACIEL, 2005).

Analisando o genograma, pode-se ter uma visão histórica de como a família

enfrenta os acontecimentos críticos e, particularmente, as mudanças no ciclo de

vida. O genograma é frequentemente associado ao ecomapa (MELLO, 2005).

3.3.2 Ecomapa

Na abordagem familiar, a compreensão da família pode não ser suficiente,

pois ela se relaciona com o meio e com outros atores sociais (outras famílias,

pessoas ou instituições), e essas relações são fundamentais para se atingir e

preservar o equilíbrio biopsicoespiritossocial da unidade familiar. Nesse contexto,

surge o ecomapa (HORTA, 2008).

O ecomapa fornece uma visão ampliada da família, desenhando a estrutura

de sustentação e retratando a ligação entre a família e o mundo. Esse instrumento

conecta as circunstâncias ao meio ambiente e mostra o vínculo entre os membros

da família e os recursos comunitários. É um diagrama das relações entre a família e

a comunidade e ajuda a avaliar os apoios e suportes disponíveis e sua utilização

pela família. É considerado uma representação das relações com o supra sistema,

ou seja, com outras pessoas e com instituições do contexto da família, permitindo

uma “fotografia” das principais relações que a família tem com o ambiente (MELLO,

2005).

São características do ecomapa: registrar membros da família e suas idades

no centro do círculo; utilizar a mesma simbologia do genograma; registrar, em

círculos externos, os contatos da família com membros da comunidade ou com

pessoas e grupos significativos; e linhas que indicam o tipo de conexão. A Figura 1

representa um exemplo de ecomapa (BRASIL, 2013).

Page 26: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

24

Figura 1 – Estrutura de um ecomapa

Fonte: (HORTA, 2008).

Uma família com poucas conexões com a comunidade e entre seus membros

necessita de maior investimento dos profissionais de saúde, em busca da melhoria

de seu bem-estar e qualidade de vida (MOIMAZ, 2011).

3.3.3 Ciclo de Vida

O Ciclo de Vida é constituído por uma série de eventos previsíveis que

ocorrem no desenvolvimento da vida familiar, exigindo adaptação e ajustamento de

seus membros. Por isso, o ciclo de vida familiar possibilita uma visão antecipada dos

problemas e, embora não utilize tecnologia “dura” na forma de equipamentos

biomédicos, permite uma “tomografia” da situação de vida das pessoas, no contexto

familiar, com seu processo de viver, ter saúde e adoecer. O ciclo de vida é

Page 27: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

25

particularmente útil no diagnóstico de situações indefinidas, que perfazem quase

50% dos comparecimentos em serviços de saúde. Ele pode expandir as

possibilidades de atenção em saúde centradas nas relações e papéis familiares

(DITTERICH et al., 2009).

O Ciclo de Vida das Famílias é um instrumento de percepção das fases de

transição da vida familiar, com ele se pode antever momentos onde a saúde se

fragiliza e identificar situações que chegam sem ser muito claras permitindo

antecipar as tarefas necessárias para a família em função da situação vivida

(CHRlSTIE-SEELY, 1984).

A atenção centrada na família considera o indivíduo e a família como um

sistema e, por consequência, aplica uma clínica específica em três dimensões: inclui

a família como marco de referência para uma melhor compreensão da situação de

saúde; coloca a família como parte dos recursos que os indivíduos dispõem para

manterem-se sãos ou para recuperarem sua saúde; e introduz a família como

unidade de cuidado, como ente distinto de cada indivíduo-membro. Isso significa que

abordar um problema de saúde implica gerar intervenções sistêmicas e considerar o

impacto das intervenções considerando que: a família é a fonte principal de crenças

e pautas de comportamentos relacionados com a saúde como comportamentos e

estilos de vida; as tensões que a família sofre nas etapas de transição do seu ciclo

de vida podem se manifestar em sintomas; os sintomas somáticos podem se

manifestar como uma função adaptativa no seio da família e serem mantidos pelos

padrões de conduta familiar; as famílias são um recurso valioso e uma fonte de

apoio para o adequado tratamento das enfermidades e doenças; há outros

elementos como a carga genética, o contato em doenças infecciosas por

proximidade física, etc. (CHILE, 2008)

Com o genograma, o ciclo de vida permite identificar as doenças mais

prevalentes no grupamento familiar. Dessa forma, fornece uma visão antecipada dos

problemas, além de ser útil no diagnóstico de situações indefinidas. O ciclo de vida

também identifica dois momentos básicos: se a família está em expansão ou em

contração, os quais podem ser normais ou patológicos (DITTERICH, 2009).

Page 28: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

26

3.3.4 Modelo FIRO (Fundamental Interpersonal Relations Orientations)

O modelo FIRO é baseado em Orientações Fundamentais nas Relações

interpessoais, do original em inglês Fundamental Interpersonal Relations

Orientations. As proposições do modelo FIRO, quanto ao estudo das famílias, são

aplicáveis em quatro situações (DITTERICH et al., 2009):

a) quando as interações na família podem ser categorizadas nas dimensões

inclusão, controle e intimidade, ou seja, a família pode ser estudada

quanto às suas relações de poder, comunicação e afeto;

b) quando a família sofre mudanças importantes, ou ritos de passagem, tais

como descritos no ciclo de vida, e faz-se necessário criar novos padrões

de inclusão, controle e intimidade;

c) quando a inclusão, o controle e a intimidade constituem uma sequência

inerente ao desenvolvimento para o manejo de mudanças da família;

d) quando as três dimensões anteriores constituem uma sequência lógica de

prioridades para o tratamento: inclusão, controle e intimidade.

Essa ferramenta é muito útil quando nos deparamos com situações de

doenças agudas, de hospitalizações ou acompanhamento das doenças crônicas,

pois a família deverá negociar, entre seus membros, possíveis alterações de papéis

decorrentes das crises familiares advindas dessas situações (MOYSES; SILVEIRA;

FILHO, 2002).

Ela também pode ser usada para entender como uma família está lidando

com alterações no ciclo de vida, ou na avaliação de disfunções conjugais ou

familiares (WILSON et al., 1996).

3.3.5 Círculo de Thrower

No livro intitulado “Dez minutos para a família: intervenções sistêmicas em

Atenção Primária à Saúde”, Asen et al. (2012) relatam que o Método dos Círculos de

Família, como é chamado o Círculo de Thrower, é uma forma rápida e visual de

reunir, avaliar e trabalhar com informações pessoais e de família, conforme elas são

vistas por um ou mais de seus membros. Pode ser usado para identificar e

Page 29: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

27

estabelecer metas específicas. Ele permite que pessoas olhem para si de novas

formas. Não é o profissional de saúde que identifica disfunções ou problemas, mas é

pelo caminho reflexivo no qual a entrevista é conduzida que a pessoa se torna mais

consciente do potencial de mudança na sua própria vida e no sistema familiar. As

próprias pessoas são estimuladas a compreenderem os desenhos. Se alguém tiver

que “interpretar” os desenhos, este alguém é a pessoa e não o médico de família. A

maioria das pessoas vai sair de uma consulta desse tipo sentindo que algo, ou

talvez tudo, tenha se conectado.

O Método dos Círculos de Família requer que os indivíduos desenhem ou

construam um diagrama esquemático de suas vidas – composto por família, amigos,

interesses e paixões. Ele mapeia de modo espacial os relacionamentos, pessoas e

interesses não revelados nos genogramas. Fornece uma descrição gráfica e visual

das atuais pressões da vida, permitindo que a pessoa e o profissional de saúde

destaquem áreas específicas de problemas, identifiquem estratégias para mudar e

considerem as implicações da mudança. Dessa forma, a pessoa e o(s) problema(s)

apresentado(s) estão sendo colocados em contexto, abrindo, assim, outra forma de

visualizar relacionamentos e como eles ajudam ou atrapalham sintomas e doenças.

Na prática, pede-se que a pessoa desenhe círculos, e círculos dentro de círculos,

que pode ser realizado em 3 a 5 minutos.

Para utilizar corretamente o modelo de círculos, devemos seguir os seguintes

passos: justificar ao paciente que estará usando uma nova técnica, explicar o

método, e, finalmente, dizer-lhe quando e onde você precisa fazê-lo (FLEITAS;

CASAS, 2010).

Com os Círculos de Thrower o paciente aparece de forma diferente, e

percebe que tudo ao seu redor influencia sua vida e está ligado de alguma forma.

3.4 Preceptor do Curso de Medicina

A principal função do preceptor de medicina é ensinar a clinicar, por meio de

instruções formais e com determinados objetivos e metas. Portanto, entre as suas

características marcantes, devem estar o conhecimento e a habilidade em

desempenhar procedimentos clínicos. Nesse sentido, o preceptor se preocupa

Page 30: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

28

principalmente com a competência clínica ou com os aspectos de ensino-

aprendizagem do desenvolvimento profissional, favorecendo a aquisição de

habilidades e competências pelos graduandos, em situações clínicas reais, no

próprio ambiente de trabalho. O preceptor é o profissional que atua dentro do

ambiente de trabalho e de formação, estritamente na área e no momento da prática

clínica. Sua ação se dá por meio de encontros formais que objetivam o progresso

clínico do aluno ou recém-graduado (BOTTI, 2009).

Tendo a dúvida como pilar essencial, são os problemas reais da comunidade

que produzirão a necessidade do saber teórico. O fluxo do conhecimento adquire o

seguinte caminho: dúvida advinda da prática; teorização da prática; experimentação

da teoria na prática; reteorização a partir da experiência aplicada, e assim

sucessivamente. Os conhecimentos adquiridos e produzidos, portanto, serão

sempre contextualizados para cada situação específica, sendo, portanto, provisórios,

assumindo um cotidiano de ação e reflexão. Para isto, convém utilizar as seguintes

estratégias para desenvolver a capacidade de reflexão: análise de casos; narrativas

orais; confronto de opiniões e abordagens; grupos de discussão ou círculos de

estudo; auto-observação; perguntas pedagógicas (BARRETO, 2011).

Ainda segundo Barreto et al. (2011), na integração do saber teórico à prática,

o preceptor não espera que o educando memorize referenciais laboratoriais,

fórmulas matemáticas, nem critérios diagnósticos, mas que desenvolva a

capacidade de acessar as informações certas para cada situação-problema. O

educando deverá aprender a acessar as informações das mais variadas fontes,

como biblioteca da própria Unidade de Saúde da Família (USF), banco de dados em

computador de mão, bibliotecas virtuais e base de dados como o UpToDate, entre

outras. As informações virão também através de outros profissionais da rede de

referência, além de movimentos sociais de usuários, amigos de turma, entre outros,

construindo, assim, uma rede de conhecimento que lhe possibilite maior

resolutividade. Espera-se que o estudante possa desenvolver uma cartografia do

conhecimento, que será constantemente alimentada pela resolução dos problemas,

principalmente através da estratégia do currículo baseado no cuidado. Este mapa

mental dos vários caminhos para determinados conhecimentos será acessado

constantemente pelo educando e pelo preceptor na resolução das vivências.

Page 31: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

29

Após analisar sucintamente os princípios da estratégia de Saúde da Família

no Brasil, com foco de atuação na família, e a importância do conhecimento de

instrumentos para abordagem coletiva da família por parte dos profissionais e

estudantes de medicina em seu campo de ensino na prática, acreditamos ser

pertinente discutir o conceito de preceptor. Vamos analisá-los de forma a possibilitar

uma melhor fundamentação das regulamentações e das práticas de ensino-

aprendizagem realizadas na graduação.

O preceptor de serviço tem papel fundamental na apropriação, por parte dos

estudantes, de competências para a vida profissional, incluindo conhecimentos,

habilidades e atitudes. Uma característica fundamental do ensino na Atenção

Primária a Saúde (APS) é a possibilidade concreta de integração com o ambiente de

trabalho. A APS se torna um cenário de prática privilegiado para o ensino, por estar

intimamente inserida no contexto político-social. Nas comunidades, percebe- se a

historicidade de cada aspecto da vida humana, desde o simples ato de se alimentar

até as práticas cotidianas de saúde. As resoluções encontradas consideram a mais

ampla gama de fatores presentes no complexo contexto comunitário. É importante

que o preceptor ressalte estas questões inerentes a todos os atos de saúde, desde

as atividades de educação popular à prescrição dos medicamentos, tornando-as

alvo de estudo pelos educandos. É importante desenvolver pesquisas científicas que

contemplem esta inserção (BARRETO, 2011).

Barreto (2011) relata que a interdisciplinaridade é um dos princípios da APS,

porém existem outras estruturas macropolíticas de poder que constroem obstáculos

para sua efetivação. Quando a realidade é o ponto de partida e alvo da atenção à

saúde, ela já é interdisciplinar por si mesma, delineando, assim, as práticas de

saúde. Na unidade de saúde, é importante a pactuação da equipe preceptora,

construindo as programações de ensino em conjunto. Desta forma, integra-se o

educando a todas as pessoas da equipe de saúde da família, que passam a se

sentir responsáveis pela aprendizagem dos estudantes.

O perfil de competência do preceptor do SUS está representado pela

articulação de três áreas de competências: 1) Saúde (assistência e preceptoria), 2)

Gestão (gestão educacional) e 3) Educação (ensino-aprendizagem e preceptoria),

Page 32: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

30

sendo competência aqui compreendida como a capacidade de mobilizar diferentes

recursos para solucionar, com pertinência e sucesso, os problemas da prática

profissional, em diferentes contextos reais (HAGER,1996).

Daí surgiu a ideia de capacitar os preceptores através de uma Oficina sobre

as práticas da Medicina de Família e Comunidade e ferramentas utilizadas dentro

dos princípios da Saúde de Família para abordagem familiar, que facilitariam a

resolução de problemas pelos estudantes de medicina, no período de internato, no

campo de prática em Unidades de Saúde da Família.

O internato médico é um período de formação do aluno do último ciclo da

graduação em Medicina, que visa o treinamento intensivo sob a supervisão do

preceptor. Foi criado pela Resolução nº 8 de 1969 do Conselho Federal de

Educação e regulamentado pela resolução nº 9 de 24 de maio de 1983 desse

mesmo Conselho, que obriga as escolas médicas a estabelecer em seus currículos

de graduação um período obrigatório de ensino prático, durante o qual o aluno deve

receber treinamento intensivo contínuo, sob supervisão docente, em instituição

vinculada ou não a escola médica, e estágio obrigatório em hospitais e centros de

saúde adaptados ao ensino das profissões de saúde em regime de internato. O

preceptor tem importância fundamental nesse período de transição em que o aluno

passa da teoria à aplicação de conhecimentos adquiridos e principalmente na

vivência de conhecimentos e saberes próprios do exercício da profissão médica

(ROCHA; RIBEIRO, 2012).

3.5 Oficina como Ferramenta de Ensino-Aprendizagem

Segundo os critérios de Pey (1997), é possível caracterizar uma Oficina pelos

seguintes elementos:

a) projetos vivenciais, onde a dialogicidade é essencial na relação entre

pessoas. É desse tipo de relação dialógica que se obtém uma força coletiva

de produção de saber superior que a soma das forças individuais;

b) que produzem saberes em autorias e obras. Na produção da Oficina não se

parte da reprodução do conhecimento, mas da produção de um saber de

resistência aos saberes, disciplinares, transmitidos nas instituições formais de

Page 33: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

31

ensino. O estímulo à realização de atos poderes, e a liberdade, para o desejo

tomar a direção que insistir, permite às pessoas desenvolver trabalho de

investigação de saberes, ao invés de tarefas rotineiras;

c) que se articulam no âmbito dos saberes práticos, tecnológicos, científicos,

artesanais, intuitivos, literários e outros, sem colocar qualquer ordem

hierárquica no trato deles. Isso significa que acaba não havendo a

parcialidade dos saberes impropriamente designados pela pedagogia como

universais utilizados na programação das disciplinas curriculares.

Entende-se por integração ensino-serviço o trabalho coletivo pactuado,

articulado e integrado de estudantes e professores dos cursos de formação na área

da saúde com trabalhadores que compõem as equipes dos serviços de saúde,

incluindo-se aí os gestores, cuja finalidade é a qualidade de atenção à saúde

individual e coletiva, a excelência da formação profissional e o

desenvolvimento/satisfação dos trabalhadores dos serviços (PIZZINATO et al.,

2012).

É preciso contextualizar a integração ensino-serviço neste movimento:

profissionais de saúde, docentes e estudantes devem estar inseridos nas estratégias

de educação permanente, tendo em vista melhorar a formação e fortalecer o SUS.

Isto porque a educação permanente possibilita, ao mesmo tempo, o

desenvolvimento pessoal daqueles que trabalham na área da saúde e o

desenvolvimento das instituições, sensibilizando todos os atores envolvidos neste

contexto para sua corresponsabilização no que diz respeito à formação de novos

profissionais e a prestação de cuidados em saúde (ALBUQUERQUE et al., 2008).

A Educação Permanente (EP) em saúde se baseia na aprendizagem sig-

nificativa (AUSUBEL, 1982): quando o aprender faz sentido para nós, isso

geralmente ocorre quando aquilo que se aprende responde a uma pergunta nossa e

quando o conhecimento é construído a partir de um diálogo com o que já sabíamos

antes. Assim, é bem diferente da aprendizagem mecânica, na qual retemos

conteúdos − na aprendizagem significativa acumulamos e renovamos experiências

(BATISTA, 2011).

Page 34: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

32

Na proposta da EP em saúde a capacitação da equipe, os conteúdos dos

cursos e as tecnologias a serem utilizadas devem ser determinados a partir da

observação dos problemas que ocorrem no dia a dia do trabalho e que precisam ser

solucionados para que os serviços prestados ganhem qualidade e os usuários

fiquem satisfeitos com a atenção prestada (BATISTA, 2011).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB, traz como prerrogativa para a

maioria dos cursos da área de saúde o estímulo ao conhecimento dos problemas do

mundo atual (nacional e regional) e a prestação de serviço especializado à

população, estabelecendo com ela uma relação de reciprocidade, acolhendo a

importância do atendimento às demandas sociais com destaque para o Sistema

Único de Saúde – SUS. Propondo para instituições formadoras de profissionais da

área, mudança em suas práticas pedagógicas, numa experiência de promover a

aproximação do ensino aprendizagem com a realidade social (CECCIM;

FEUERWERKER, 2004).

Entendemos que a mudança na formação dos profissionais de saúde deve

partir de uma discussão sobre a articulação ensino-serviço, por considerarmos um

espaço privilegiado para uma reflexão sobre a realidade da produção de cuidados e

a necessidade de transformação do modelo assistencial vigente em um modelo que

considere como objetivo central as necessidades dos usuários.

De acordo com Afonso e Silveira (2012) na educação, ao buscarmos as

orientações para a formação dos profissionais de saúde no nível de graduação

encontramos as Diretrizes Curriculares Nacionais de Graduação dos cursos das

áreas de saúde que, desde 2001, assumem como competências gerais esperadas

destes egressos a atenção à saúde, comunicação, tomada de decisões,

administração e gerenciamento, liderança e educação permanente. Na busca por

uma integração entre as diretrizes de cuidado e as de graduação em saúde o

Governo Federal, desde 2005, iniciando suas ações pelo Pró-Saúde vem

implementando políticas de incentivo ao redirecionamento da atenção priorizando a

organização do sistema a partir da Atenção Primária à Saúde com consequente

deslocamento do ensino para a rede assistencial pública. Em seguida, ainda com

foco na graduação e para dar continuidade a proposta de integração ensino-serviço

Page 35: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

33

inicia-se o PET- Saúde (Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde) com

objetivo de fomentar a formação de grupos de aprendizagem.

Definido este contexto podemos perceber porque colocamos o preceptor

como figura estratégica ocupando lugar decisivo e central na constituição e

funcionamento de nossas redes de educação e saúde. Dificilmente o preceptor de

hoje será como o do século passado. Mudam as práticas, os conceitos, os desafios,

a expectativa da sociedade, as demandas de ensino e aprendizagem. Ser preceptor

hoje é saber renovar, reconstruir, refazer a profissão. Se deparar com o desafio do

domínio de conteúdos que se desatualizam em velocidade assustadora e

necessitam de atualização permanente. Desenvolver suas habilidades técnicas

específicas em consonância com os padrões de acreditação utilizados nas auditorias

das diversas Sociedades. Mas, acima de tudo, enfrentar o desafio de cuidar da

aprendizagem, não como dono deste processo. O desafio que se coloca é praticar a

preceptoria sustentando sua ação de educador, compreendendo que educar é um

processo reconstrutivo, de dentro para fora, em direção à autonomia. No Brasil, a

especialização da preceptoria e a definição das competências destes profissionais

emergem como tema recorrente quando se discute a qualidade de implementação

das políticas de incentivo governamental citadas anteriormente (AFONSO;

SILVEIRA, 2012).

Corroborando com Afonso e Silveira (2012), nas instituições de ensino na

área da saúde poucas são as experiências formais de desenvolvimento acadêmico,

pedagógico ou docente de preceptores. No Hospital Universitário Pedro Ernesto

vinculado à Universidade do Estado do Rio de Janeiro, como iniciativa da

Coordenadoria de Desenvolvimento através do Núcleo de Apoio Psicopedagógico

ao Residente, desenvolve-se desde 2010, um Curso de Formação Pedagógica para

Prática da Preceptoria. Priorizam os eixos de cuidado, educação e gestão e

organizam as atividades de forma semipresencial totalizando 284 horas e

caracterizando o modo de aperfeiçoamento profissional. Também a construção

coletiva em processo de aprendizagem torna-se significativa a partir das

experiências no ofício da preceptoria.

Page 36: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

34

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e as diretrizes

curriculares do curso de graduação em Medicina contemplam essas mudanças

paradigmáticas ao determinarem que as universidades estimulem a articulação entre

ensino, pesquisa e assistência, solicitando a inovação e a qualidade do projeto

político-pedagógico. Essas diretrizes sugerem investimentos em estratégias

didáticas que incentivem o aluno a refletir sobre a sociedade, transformando seu

contexto. Para isso, é importante a adoção de concepções pedagógicas que

aproximem a teoria da prática e problematizem situações cotidianas do trabalho na

medicina.

Motta (2010) define a educação permanente como os processos de

aprendizagem no trabalho, a partir da sua reflexão, levantando problemas e

necessidades de natureza pedagógica, onde as estratégias de enfretamento

acontecem preferencialmente nos ambientes de trabalho. Baseia-se na

aprendizagem significativa e admite que o conhecimento tem origem na identificação

das necessidades e na busca de soluções para os problemas encontrados. Com

essa proposta encontramos a necessidade de manter os profissionais de saúde que

exercem a função de preceptores, em constante aperfeiçoamento de suas práticas,

para que estas sejam transmitidas com teor verídico aos discentes. Com isso vemos

na Oficina um instrumento potente de aperfeiçoamento destes profissionais através

de estudos de situações-problemas, voltadas para a realidade local, para que sejam

treinados a transmitirem aos seus alunos do curso de medicina maneiras de

resolverem problemas corriqueiros utilizando as ferramentas de abordagem familiar,

relembrando os princípios da prática de Medicina de Família e Comunidade.

A Educação Permanente tem como base o pressuposto da aprendizagem

significativa que promove e produz sentidos. Propõe que a transformação das

práticas profissionais deva estar baseada na reflexão crítica sobre as práticas reais

de profissionais em ação na rede de serviços. Uma ação educativa que promova um

aprendizado através de uma construção com pensamento crítico e coletivo para

provocar uma mudança no processo de trabalho seria uma proposta desafiadora

para uma mudança do paradigma sobre a metodologia de ensino e aprendizado.

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).

Page 37: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

35

Uma oficina é, pois, uma oportunidade de vivenciar situações concretas e

significativas, baseada no tripé: sentir-pensar-agir, com objetivos pedagógicos.

Nesse sentido, a metodologia da oficina muda o foco tradicional da aprendizagem

(cognição), passando a incorporar a ação e a reflexão. Em outras palavras, numa

oficina ocorrem apropriação, construção e produção de conhecimentos teóricos e

práticos, de forma ativa e reflexiva.

3.6 Metodologias Ativas de Ensino-Aprendizagem

Não podemos deixar de falar sobre Metodologias ativas de ensino –

aprendizagem que está tão em voga no currículo da graduação de Medicina

atualmente. É citado no Art. 29 parágrafo II das DCNs que a estrutura do Curso de

Graduação em Medicina deve utilizar metodologias que privilegiem a participação

ativa do aluno na construção do conhecimento e na integração entre os conteúdos,

assegurando a indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão, sendo

complementada no artigo 32 a necessidade da utilização das metodologias ativas

(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2014).

O grande desafio deste início de século está na perspectiva de se

desenvolver a autonomia individual em íntima coalizão com o coletivo. A educação

deve ser capaz de desencadear uma visão do todo - de interdependência e de

transdisciplinaridade -, além de possibilitar a construção de redes de mudanças

sociais, com a consequente expansão da consciência individual e coletiva. Portanto,

um dos seus méritos está, justamente, na crescente tendência à busca de métodos

inovadores, que admitam uma prática pedagógica ética, crítica, reflexiva e

transformadora, ultrapassando os limites do treinamento puramente técnico, para

efetivamente alcançar a formação do homem como um ser histórico, inscrito na

dialética da ação-reflexão-ação (MITRE, 2008).

As metodologias ativas utilizam a problematização como estratégia de ensino-

aprendizagem, com o objetivo de alcançar e motivar o discente, pois diante do

problema, ele se detém, examina, reflete, relaciona a sua história e passa a

ressignificar suas descobertas. A problematização pode levá-lo ao contato com as

informações e à produção do conhecimento, principalmente, com a finalidade de

solucionar os impasses e promover o seu próprio desenvolvimento. Ao perceber que

Page 38: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

36

a nova aprendizagem é um instrumento necessário e significativo para ampliar suas

possibilidades e caminhos, esse poderá exercitar a liberdade e a autonomia na

realização de escolhas e na tomada de decisões (CYRINO, 2004).

O estudante precisa assumir um papel cada vez mais ativo,

descondicionando-se da atitude de mero receptor de conteúdo, buscando

efetivamente conhecimentos relevantes aos problemas e aos objetivos da

aprendizagem. Iniciativa criadora, curiosidade científica, espírito crítico-reflexivo,

capacidade para auto avaliação, cooperação para o trabalho em equipe, senso de

responsabilidade, ética e sensibilidade na assistência são características

fundamentais a serem desenvolvidas em seu perfil (SANTOS, 2005).

Duas são as ferramentas intensamente estudadas e aplicadas pelos docentes

que utilizam MA no currículo dos cursos de Medicina: a problematização e a

Aprendizagem Baseada em Problemas ou Problem Based Learning (PBL), que são

distintas entre si. A problematização, já comentada acima, utiliza a realidade local

para a resolução do problema, já o PBL diferencia-se da problematização por utilizar

situações-problemas pré-definidos com o intuito de direcionar a aprendizagem para

o objetivo proposto. Ambos capacitam o discente ao trabalho em equipe e à

autonomia da resolução dos problemas.

Bordenave e Pereira (1982) utilizam o diagrama, denominado Método do

Arco por Charles Maguerez, para representar o método da Problematização, o qual

é constituído pelos seguintes movimentos (Figura 1): observação da realidade,

pontos-chave, teorização, hipóteses de solução e aplicação a realidade.

Page 39: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

37

Figura 2 – Representação do Arco segundo Charles Maguerez

Fonte: Diaz Bordenave; Pereira, 1991.

Conforme descrito por Bordenave (2005) a primeira etapa é da observação da

realidade. O processo ensino-aprendizagem está relacionado com um determinado

aspecto da realidade, o qual o estudante observa atentamente. Nessa observação,

ele expressa suas percepções pessoais, efetuando, assim, uma primeira leitura

sincrética da realidade. Na segunda etapa, pontos-chave, o estudante realiza um

estudo mais cuidadoso e, por meio da análise reflexiva, seleciona o que é relevante,

elaborando os pontos essenciais que devem ser abordados para a compreensão do

problema. Na terceira etapa, o estudante passa à teorização do problema ou à

investigação propriamente dita. As informações pesquisadas precisam ser

analisadas e avaliadas, quanto à sua relevância para a resolução do problema.

Nesse momento, o papel do professor será um importante estímulo para a

participação ativa do estudante. Se a teorização é adequada, o aluno atinge a

compreensão do problema nos aspectos práticos ou situacionais e nos princípios

teóricos que o sustentam. Na confrontação da realidade com sua teorização, o

estudante se vê naturalmente movido a uma quarta etapa: a formulação

de hipóteses de solução para o problema em estudo. A originalidade e a criatividade

serão estimuladas e o estudante precisará deixar sua imaginação livre e pensar de

maneira inovadora. Deve, ainda, verificar se suas hipóteses de solução são

aplicáveis à realidade, e o grupo pode ajudar nessa confrontação. Na última fase,

a aplicação à realidade, o estudante executa as soluções que o grupo encontrou

como sendo mais viáveis e aprende a generalizar o aprendido para utilizá-lo em

Page 40: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

38

diferentes situações. Assim, poderá, também, discriminar em que circunstâncias não

são possíveis ou convenientes sua aplicação, exercitando tomadas de decisões e

aperfeiçoando sua destreza.

De maneira distinta, conforme Sakai e Lima (1996) descrevem, temos a

seguinte apresentação sobre a Aprendizagem Baseada em Problemas: O PBL é o

eixo principal do aprendizado teórico do currículo de algumas escolas de Medicina,

cuja filosofia pedagógica é o aprendizado centrado no aluno. É baseado no estudo

de problemas propostos com a finalidade de fazer com que o aluno estude

determinados conteúdos. Embora não constitua a única prática pedagógica,

predomina para o aprendizado de conteúdos cognitivos e integração de disciplinas.

Esta metodologia é formativa à medida que estimula uma atitude ativa do aluno em

busca do conhecimento e não meramente informativa como é o caso da prática

pedagógica tradicional.

Segundo Berbel (1998) na Universidade Estadual de Londrina o PBL tem o

grupo tutorial como apoio para os estudos. O grupo tutorial é composto de um tutor e

8 a 10 alunos. Dentre os alunos, um será o coordenador e outro será o secretário,

rodiziando de sessão a sessão, para que todos exerçam essas funções. No grupo,

os alunos são apresentados a um problema pré-elaborado pela comissão de

elaboração de problemas. A metodologia segue sete passos descritos a seguir:

a) leitura do problema, identificação e esclarecimento de termos

desconhecidos;

b) identificação dos problemas propostos pelo enunciado;

c) formulação de hipóteses explicativas para os problemas identificados

no passo anterior (os alunos se utilizam nesta fase dos conhecimentos

de que dispõem sobre o assunto);

d) resumo das hipóteses;

e) formulação dos objetivos de aprendizado (trata-se da identificação do

que o aluno deverá estudar para aprofundar os conhecimentos

incompletos formulados nas hipóteses explicativas);

f) estudo individual dos assuntos levantados nos objetivos de

aprendizado;

Page 41: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

39

g) retorno ao grupo tutorial para rediscussão do problema frente aos

novos conhecimentos adquiridos na fase de estudo anterior.

Observamos que a máxima ação-reflexão-ação transformadora é o eixo

básico de orientação de todo o processo.

Os graduandos dos cursos de Medicina onde foi aplicado o método PBL se

sentiram mais preparados ou foram avaliados mais positivamente por seus

supervisores do que os graduandos dos cursos tradicionais, principalmente na

dimensão social (GOMES et al., 2009).

Observa-se que em ambos os métodos foi utilizada a resolução de

problemas, mesmo que de forma distinta, indo de encontro ao objetivo do produto

deste trabalho que emprega o estudo de uma situação - problema para o

desenvolvimento de competências adquiridas pelos preceptores para transmitirem

aos alunos os conteúdos propostos.

Em concordância com o pensamento de Mitre (2008), uma educação voltada

para as relações sociais emergentes deve ser capaz de desencadear uma visão do

todo, de rede, de transdisciplinaridade e de interdependência - as quais devem ser

levadas a sério, especialmente em um contexto de emergência dos novos

referenciais da complexidade, do pensamento sistêmico e da ecologia profunda,

genuína aproximação entre o Ocidente e o Oriente - e possibilitar a formação de um

discente autônomo, capaz de construir uma aprendizagem significativa na ação-

reflexão-ação.

3.7 Aprendizagem significativa no Ensino de Ciências da Saúde

Não temos condição de ensinar nada às pessoas; só podemos ajudá-las a descobrir o que já está nelas. Galileu Galilei

Page 42: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

40

3.7.1 David Ausubel e a Aprendizagem Significativa

David Ausubel, judeu nascido em 1918, na cidade de Nova York, graduou-se

em Psicologia, tendo se destacado nas áreas de psicologia do desenvolvimento,

psicologia educacional, psicopatologia e desenvolvimento do ego. (MOREIRA 1997)

Trabalhou durante toda a vida, aposentando-se apenas aos 75 anos (em 1994),

ainda que se mantivesse produtivo – pensando e escrevendo –, até sua morte. De

acordo com Gomes (2007) a maior contribuição de Ausubel foi a proposição de uma

teoria explicativa do processo de aprendizagem humana, embasada nos princípios

organizacionais da cognição, valorizando, então, o conhecimento e o entendimento

de informações e não meramente a memorização mecânica (“decoreba”).

Os princípios da aprendizagem significativa trazem inúmeras possibilidades

de aplicação em diferentes áreas, incluídos a formação profissional em saúde — p.

ex., na educação médica —, colaborando para um ganho cognitivo real do estudante

e, de fato, para o alcance do verdadeiro ideário do professor/mestre: contribuir para

a formação do homem (GOMES, 2007).

A Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel (2003), afirma: descubra o

que o aluno já sabe e tome isso como base para iniciar o processo de

aprendizagem. Um novo conceito é aprendido de forma significativa quando interage

com os conhecimentos prévios, especificamente relevantes, existentes na estrutura

cognitiva do aprendiz e este, por sua vez, se dispõe a construir redes de relações

que possibilitem a utilização destes conceitos em novas situações. Esse

conhecimento prévio (conceito, ideia, proposição, representação) que servirá de

ancoradouro para o novo conhecimento e, ao mesmo tempo, se modificará em

função da ancoragem é chamado de subsunçor.

Gomes et al. (2007) ressaltam que após essa relação consolidada pela

agregação aos “subsunçores” (significados) cria-se um novo e mais abrangente

conceito. Esse processo, somado à experimentação do estímulo e a interação com o

estudante, possui uma maior probabilidade de tornar-se um conhecimento

significativo para o aprendiz.

Page 43: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

41

Na perspectiva da Teoria da Aprendizagem Significativa, segundo Ausubel et

al. (1980) existem dois tipos de aprendizagem, a mecânica e a significativa, que

estão nos extremos opostos de um mesmo contínuo e são distintas conforme o tipo

de relação estabelecido entre o novo conhecimento e os conhecimentos prévios do

indivíduo.

A aprendizagem significativa é um processo no qual o aprendiz se apropria de

novos conceitos por meio da associação deste com ideias relevantes presentes em

sua estrutura cognitiva. Ao final deste processo de assimilação ambos os conceitos

estarão modificados e servirão de aporte para aprendizagem de novos conceitos

(AUSUBEL, 2003).

É no construtivismo que se inscreve a teoria cognitivista de David Ausubel, a

aprendizagem significativa. Para esse autor, o movimento de aprender é mais

eficiente nas ocasiões em que o estudante consegue agregar e incorporar, ao

repertório de conceitos previamente organizados, os novos conteúdos, evitando,

assim, que estes sejam armazenados, na estrutura cognitiva, por meio de

associações espúrias (PELIZZARI et al., 2001; 2002). Com efeito, para haver

aprendizagem significativa são necessárias duas condições. Em primeiro lugar, o

aluno precisa ter uma disposição para aprender: se o indivíduo quiser memorizar o

conteúdo arbitrária e literalmente, então a aprendizagem será mecânica. Em

segundo, o conteúdo escolar a ser aprendido tem que ser potencialmente

significativo, ou seja, ele tem que ser lógica e psicologicamente significativo: o

significado lógico depende somente da natureza do conteúdo, e o significado

psicológico é uma experiência que cada indivíduo tem. Cada aprendiz faz uma

filtragem dos conteúdos que têm significado ou não para si próprio (GOMES, 2008,

p. 37-42).

A aprendizagem significativa de Ausubel é aquela em que o significado do

novo conhecimento é adquirido, atribuído, construído por meio da interação com

algum conhecimento prévio (“subsunçor”), especificamente relevante, existente na

estrutura cognitiva do aprendiz. A aprendizagem é significativa quando novos

conhecimentos (conceitos, ideias, proposições, modelos, fórmulas) passam a

significar algo para o próprio aprendiz, quando ele ou ela é capaz de explicar

Page 44: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

42

situações com suas próprias palavras, quando é capaz de resolver problemas novos

(MOREIRA, 2003). No caso em questão, a aprendizagem de novas ferramentas de

abordagem familiar ajudaria a resolver problemas da prática clínica cotidiana no

período de internato dos alunos na Estratégia Saúde da Família.

Para Ausubel, existe outra forma de aprendizagem, a aprendizagem

mecânica, que, por sua vez, é a aquisição de novas informações com pouca ou

nenhuma interação com conceitos relevantes já existentes na estrutura cognitiva,

característica que só permite ao indivíduo usá-lo repetindo literalmente os conceitos

aprendidos, o que dificulta sua aplicação em situações novas e diferentes das já

experimentadas/vivenciadas. Porém, como a aprendizagem mecânica está no

extremo oposto à aprendizagem significativa de um contínuo nada impede que

conceitos aprendidos mecanicamente se tornem significativos ao longo do processo

(MOREIRA, 2006).

Existem duas condições para a ocorrência de aprendizagem significativa: a

organização de um material de ensino potencialmente significativo de acordo com a

relação entre o que o aluno já sabe e a natureza do conhecimento a ser aprendido, e

a intencionalidade do aluno para aprender de forma significativa, relacionando de

forma substantiva os significados adquiridos do material potencialmente educativo.

Estas condições devem estar em sincronia e, por isso, exigem uma

corresponsabilidade entre professor e aluno (AUSUBEL, 2003).

Mas se já sabemos o que é aprendizagem significativa, quais são as

condições para que ocorra e como facilitá-la em sala de aula, o que falta a nós

professores para que possamos promovê-la como uma atividade crítica?

Na verdade, nos falta muito. A começar pela questão da predisposição para

aprender. Como provocá-la? Muito mais do que motivação, o que está em jogo é a

relevância do novo conhecimento para o aluno. Como levá-lo a perceber como

relevante o conhecimento que queremos que construa?

Como dizia Freire (2003, p.86), o fundamental é que professor e alunos

tenham uma postura dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada,

Page 45: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

43

enquanto falam ou ouvem. O que importa é que professor e alunos se assumam

epistemologicamente curiosos. Essa curiosidade epistemológica é, para ele, atingida

criticizando a curiosidade ingênua – a das crianças e do senso comum – de modo a

aproximar-se cada vez mais metódica e rigorosamente do objeto cognoscível

(MOREIRA, 2009).

Ainda segundo Moreira et al. (2009) a utilização de materiais diversificados, e

cuidadosamente selecionados, ao invés da "centralização" em livros de texto é

também um princípio facilitador da aprendizagem significativa crítica. Em nosso

estudo a utilização de relato de caso, utilizando a problematização e/ou situação-

problema, e levando os alunos a realizarem buscas diversificadas em bases de

dados para responderem aos questionamentos apresentados, demonstram com

clareza a aprendizagem significativa crítica dentro das realidades ao qual se

apresentam (campos de prática).

O uso de distintas estratégias instrucionais que impliquem participação ativa

do estudante e de fato, promovam um ensino centralizado no aluno é fundamental

para facilitar a aprendizagem significativa crítica. Não é preciso buscar estratégias

sofisticadas. A não utilização do quadro-de-giz leva naturalmente ao uso de

atividades colaborativas, seminários, projetos, pesquisas, discussões, painéis, enfim,

a diversas estratégias, as quais devem ter subjacentes os demais princípios. Na

verdade, o uso dessas estratégias de ensino facilita tanto a implementação dos

demais princípios em sala de aula como a atividade mediadora do professor

(MOREIRA 2009).

A problematização é uma concepção educativa que estimula processos de

ensino-aprendizagem crítico-reflexivos, no qual o educando participa e se

compromete com seu aprendizado. O método propõe a elaboração de situações de

ensino que promovam uma aproximação crítica do aluno com a realidade; a reflexão

sobre problemas que geram curiosidade e desafio; a disponibilização de recursos

para pesquisar problemas e soluções; a identificação e organização das soluções

hipotéticas mais adequadas à situação e a aplicação dessas soluções (SOBRAL;

CAMPOS, 2012).

Page 46: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

44

Aprender é um ato de conhecimento da realidade concreta, isto é, da situação

real vivida pelo educando, e só tem sentido se resulta de uma aproximação crítica

dessa realidade. O que é aprendido não decorre de uma imposição ou

memorização, mas do nível crítico de conhecimento, ao qual se chega pelo processo

de compreensão, reflexão e crítica (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2010).

Entre outras capacidades, o profissional da área de saúde deverá estar apto,

portanto, à resolução de problemas de saúde, tanto em nível individual como

coletivo; a tomar decisões apropriadas; ao exercício da liderança, da administração

e do gerenciamento (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2001).

Mitri et al. (2008) explicam que utilizar a problematização e/ou resolução de

problema como estratégia de ensino/aprendizagem, tem como objetivo alcançar e

motivar o discente, pois diante do problema, ele se detém, examina, reflete,

relaciona a sua história e passa a ressignificar suas descobertas. Segundo os

autores, a problematização pode levar o aluno ao contato com as informações e à

produção do conhecimento, principalmente, com a finalidade de solucionar os

impasses e promover o seu próprio desenvolvimento. Aprender por meio da

problematização e/ou da resolução de problemas de sua área, portanto, é uma das

possibilidades de envolvimento ativo dos alunos em seu próprio processo de

formação. Dentro dessa visão nos defrontamos com a aprendizagem Significativa

Crítica descrita por Moreira. O autor sugere que sejam observados, no ensino, os

princípios facilitadores de uma aprendizagem significativa crítica. O que o último

princípio propõe é a diversificação de estratégias (abandono do quadro-de-giz) e a

participação ativa do aluno na sua aprendizagem. O quadro-de-giz simboliza aquele

ensino (professor escreve, aluno copia, decora e reproduz) que deve ser

abandonado se o que se quer é promover uma aprendizagem significativa crítica

(MOREIRA, 2006).

Nesse caso o aluno estando de posse do conhecimento das ferramentas de

abordagem familiar utilizará tais ferramentas para a resolução dos problemas de

acordo com a necessidade de cada paciente e a visão crítica de cada aluno para

empregar os devidos instrumentos no momento mais oportuno, demonstrando aí a

aprendizagem significativa crítica transmitida do preceptor para o aluno.

Page 47: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

45

Segundo Gomes et al. (2008) com base nestas premissas, compreender os

referenciais teóricos da aprendizagem significativa – e colocá-los em prática – pode

ser visto como elemento fundamental para os processos educativos em diferentes

níveis, incluindo-se a formação científica e a formação de nível superior, tal como a

exigida na graduação em Medicina, na qual a inter-relação de conteúdos e técnicas

é aspecto primaz.

Page 48: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

46

4 CAMINHO METODOLÓGICO

O presente trabalho foi submetido ao Comitê de Ética para pesquisa com

seres humanos do Centro Universitário de Volta Redonda para aprovação através

da carta de anuência (ANEXO A), da aprovação dos questionários de avaliação

(APENDICE A) para mensurar os níveis de conhecimento dos profissionais

envolvidos, e do TCLE (APENDICE B), sendo aprovado CAAE nº

39017214.7.0000.5237 (ANEXO B).

A Oficina foi realizada no auditório da Secretaria Municipal de Saúde do

município de Volta Redonda/RJ para os três preceptores do módulo da Saúde de

Família do UniFOA responsáveis pelos alunos do 9º período do curso de Medicina,

sendo a quarta preceptora a pesquisadora.

4.1 Elaboração da Oficina

Para a elaboração da oficina, intitulada “Oficina Pedagogica em ferramentas

de abordagem familiar”, foi necessário um computador com data show e a situação-

problema impressa em folha A4.

A oficina com tempo de duração de aproximadamente 4 horas seguiu o

seguinte Planejamento Pedagógico:

a) Primeiro momento: dinâmica de apresentação dos preceptores, cada

um descreveu seu breve currículo e seu tempo de experiência na

preceptoria e após foi feita a apresentação dos objetivos da oficina -

Duração de 20 minutos;

b) Segundo momento: aplicação do pré-questionário, após assinatura do

TCLE - Duração de 20 minutos;

c) Terceiro momento: discussão dialógica entre os preceptores e a

pesquisadora sobre os princípios da Medicina de Família e

Comunidade, relembrando os princípios através da prática de cada um.

Em seguida apresentação em slides (APENDICE C) - Duração de 45

minutos;

Page 49: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

47

d) Quarto momento: conferência sobre o tema, em slides (APENDICE D),

com uso de PowerPoint® para apresentação das definições das

ferramentas de abordagem familiar e formas de utilização das mesmas

na prática clínica - Duração de 45 minutos;

e) Quinto momento: apresentação de uma situação-problema

(APENDICE E) aos preceptores com leitura dinâmica - Duração de 30

minutos;

f) Sexto momento: discussão, com participação ativa dos preceptores,

sobre as possíveis resoluções do problema utilizando as ferramentas

de abordagem familiar - Duração de 60 minutos;

g) Finalização: aplicação de um pós-questionário aos preceptores.

Comentários finais e encerramento da oficina - Duração de 20 minutos.

4.2 Elaboração do Produto e Difusão

4.2.1 O Produto

A partir da elaboração da oficina foi montado o produto, um manual contendo

a metodologia e o passo a passo da aplicação da oficina, que facilitará a aplicação

da mesma pelo preceptor que venha a se interessar pela disseminação do conteúdo

aos seus educandos no período de internato. Pode também ser utilizado em

congressos, eventos, fóruns, na capacitação de profissionais da Equipe da

Estratégia de Saúde da Família, ou até mesmo ser incorporado ao currículo do curso

de Medicina na disciplina de Saúde Coletiva.

O manual foi montado na forma de e-book , pois o mesmo permite uma maior

visibilidade. O e-Book foi desenvolvido em Adobe InDesign versão CC 2015. A Capa

foi desenvolvida em CorelDraw versão 15. Vale salientar que o formato de um e-

book não é o PDF, e sim o e-pub. O formato e-pub baseia-se em linguagem HTML e

por isso, consegue se adaptar ao formato do leitor (celulares, tablets etc.),

diferentemente do que acontece com um arquivo PDF.

E-book é uma abreviação do termo inglês eletronic book e significa livro em

formato digital. Pode ser lido em computadores, celulares, tablets e e-readers. É

uma das tecnologias mais atuais e crescentes do mercado.

Page 50: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

48

O e-book é uma ferramenta moderna e eficaz, de manuseio agradável e

interativo, para orientar e servir de guia à preceptores do módulo de Saúde

Coletiva/ESF ao aplicarem a Oficina em eventos, conforme descrito anteriormente.

Os assuntos abordados no manual foram divididos em tópicos:

1) O primeiro tópico – APRESENTAÇÃO – aborda sobre a justificativa da

necessidade de disseminação dos conteúdos da oficina para obter melhor

qualificação dos estudantes e preceptores, resultando num sistema de

saúde mais eficaz e de qualidade.

2) O segundo tópico descreve a metodologia de ensino utilizada na oficina,

abordando, de forma sucinta e exclusiva, sobre as metodologias ativas e

sua correlação com as teorias de Aprendizagem Significativa de Ausubel e

o pensamento construtivista de Paulo Freire. Nessa linha, coloca-se

ênfase na utilização de uma situação – problema para estimular o

processo de ensino-aprendizagem crítico-reflexivo, promovendo uma

aproximação crítica do aluno com a realidade até a aplicação de uma

solução hipotética para a resolução do problema. O intuito desse tópico é

estimular os profissionais a trabalharem com a realidade local, colocando

a situação problema como cerne do produto.

3) O terceiro tópico descreve o público-alvo.

4) O quarto tópico mostra o desenho esquemático da Oficina, descrevendo

de forma sucinta cada momento de seu desenvolvimento, os conteúdos

abordados, os materiais utilizados para sua aplicação e o tempo

necessário para cada um dos momentos.

5) O quinto tópico descreve o desenvolvimento detalhado de cada momento

da Oficina e o conteúdo a ser abordado de forma pedagógica. Nesse

tópico constam os slides que serão expostos, o conteúdo abordado e a

forma de abordagem de tais conteúdos para os alunos. Nesse tópico

constam também o questionário de avaliação pré e pós oficina, que servirá

de recurso para o aperfeiçoamento de futuras oficinas pelos profissionais,

e uma situação-problema que poderá ser utilizada ou não durante a

Page 51: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

49

oficina, dependendo do caminho escolhido pelo facilitador conforme

exposto no manual.

No primeiro momento, após a dinâmica de apresentação dos alunos,

são apresentados os objetivos da Oficina: descrever os principais

instrumentos de abordagem familiar, exercitar a utilização dos

principais instrumentos e demonstrar a metodologia do trabalho a ser

utilizado pelos preceptores aos alunos.

No segundo momento, é aplicado o questionário para avaliar o grau de

conhecimento dos alunos sobre os princípios da Medicina de Família e

Comunidade e as ferramentas de abordagem familiar. Neste trabalho

foram escolhidas 5 ferramentas: genograma, ecomapa, ciclo de vida,

modelo F.I.R.O. e Circulo de Thrower, conforme abordados no tópico

3.3.

O terceiro e quarto momentos são reservados para apresentação dos

princípios da Medicina de Família e Comunidade e ferramentas de

abordagem familiar, respectivamente, de forma interativa e dialógica

com os alunos.

Segue-se, então, a apresentação da situação-problema no quinto momento,

seguida da discussão do caso e resolução do mesmo, utilizando tais ferramentas.

Finaliza-se com a aplicação do questionário.

Page 52: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

50

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Participaram deste estudo os três preceptores responsáveis pelo 9º período

do curso de medicina do UniFOA. O internato do curso de Medicina do UniFOA

envolve o 9º, 10º, 11º e 12º períodos sob supervisão de preceptores em suas

respectivas áreas. Neste trabalho participaram os preceptores da área de Saúde

Coletiva/ ESF que nomeio aqui preceptor a, b e c para preservar suas identidades.

Antes de iniciar a Oficina e após as apresentações e explanação do que seria

abordado na mesma, todos concordaram em participar, assinaram o TCLE e foram

submetidos a um questionário com 19 questões que permitia a avaliação do

conhecimento dos preceptores acerca do assunto (APÊNDICE B).

Por se tratar de uma oficina baseada na prática pedagógica, está presente a

aprendizagem significativa, uma vez que o aluno precisa de um material que lhe faça

algum sentido, que, nesse caso, são as ferramentas de abordagem familiar e a

utilização de uma situação-problema observada no dia a dia de sua prática clínica

(AUSUBEL, 1963).

5.1 Aplicação da Oficina

A Oficina teve duração de 4 horas e foi iniciada com uma dinâmica de

apresentação dos preceptores que durou 20 minutos, onde cada um fez um breve

relato de seu currículo e suas vivências na preceptoria. Em seguida, a apresentação

dos objetivos da oficina que seriam:

• apresentar os principais instrumentos de abordagem familiar;

• exercitar a utilização desses instrumentos;

• demonstrar a metodologia do trabalho a ser utilizado pelos preceptores

aos alunos.

Após esse primeiro momento, os preceptores assinaram o TCLE e foi

aplicado o questionário pré-oficina. A mensuração e discussão dos resultados segue

no tópico 5.3. Esse momento teve duração de 20 minutos. Num terceiro momento

abriu-se uma discussão dialógica entre a pesquisadora e os preceptores sobre os

Page 53: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

51

princípios da MFC, com o intuito de relembrá-los através da vivencia na pratica diária

de cada um. Observou-se certa dificuldade de enumerarem com clareza todos os

princípios, apesar de terem demonstrado o conhecimento de alguns deles como:

serem responsáveis por uma população adscrita, gerenciarem a saúde dos

indivíduos, serem a porta de entrada do sistema de saúde e terem resolutividade na

maioria dos problemas que lhes chegam à clinica. Seguiu-se , então, a apresentação

dos slides sobre o tema desenvolvido e as ferramentas de abordagem familiar. Esse

terceiro momento durou cerca de 90 minutos.

Conforme demonstrado, os preceptores tiveram dificuldades em debater

sobre alguns assuntos. Apenas o preceptor “ b “, com residência em Saúde da

Família e Comunidade discutiu com maior facilidade sobre alguns princípios da

MFC. Esses dados corroboram com o estudo de Sisson (2002) em sua tese de

doutorado sobre a avaliação da implantação do programa de saúde da família no

programa Docente Assistencial de Florianópolis, que afirma que a ESF possui

limitações em sua operacionalização relacionada aos recursos humanos, gestores e

recursos financeiros. Entre esses limites, aparece com destaque a formação

inadequada dos profissionais. Segundo a mesma autora, o modelo assistencial

hegemônico mantém-se inalterado ao privilegiar a atenção individual e hospitalar.

Consequentemente, na rede básica, as atividades centrais continuam sendo a

consulta médica, realizada como pronto-atendimento, em prejuízo ao cuidado

integral de atenção e ao controle sobre os determinantes principais das condições

de saúde.

Conforme relatado anteriormente, foram expostos os conteúdos do tema em

PowerPoint (APENDICES C e D) com participação ativa dos preceptores e

declarações de estarem recebendo novas informações. Novamente o preceptor “ b”

declarou que não lembrava de tais ferramentas por não usá-las mais nos

atendimentos clínicos. Durante este processo cada preceptor construiu seu próprio

genograma e ecomapa, inserindo suas fases de vida no Ciclo de Vida e modelo

F.I.R.O. e construíram seus próprios Círculos de Thrower através da representação

esquemática apreendida na aula expositiva conforme consta nos slides de

apresentação (APÊNDICE D).

Page 54: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

52

A oficina finalizou com a leitura da situação-problema (APENDICE E) e

discussão do caso. Através de uma discussão dialógica e interativa entre os

preceptores, foram utilizadas várias ferramentas. Com a utilização do genograma os

preceptores puderam visualizar o padrão de relacionamento entre os membros da

família e suas principais morbidades, e assim detectaram a disfunção da dinâmica

familiar onde cada um exercia um papel individual e fragmentado segundo relato dos

próprios preceptores. Relataram também, a importância de mudar essa dinâmica

desde que se respeitasse um olhar sistêmico dessa família, incluindo cada membro

como coparticipativo desse contexto. Observou-se nesse ponto a utilização do

modelo F.I.R.O empregando os padrões de inclusão, controle e intimidade entre os

membros dessa família. E, por fim, discutiram a importância de utilizarem o Círculo

de Thrower como meio de sensibilizar os membros da família de seus papéis dentro

deste contexto. Foi um momento rico de trocas, dinâmico e reflexivo.

Apoiada em Marin (2010) os métodos de aprendizagem ativa focalizados na

“Problematização” e “Aprendizagem Baseada em Problemas” (ABP), ancoram-se na

pedagogia crítica e têm em comum o fato de trabalharem intencionalmente com

problemas para o desenvolvimento dos processos de ensino-aprendizagem e

valorizarem o aprender a aprender. A reflexão sobre as situações propostas

desencadeia a busca de fatores explicativos e a proposição de solução ou soluções

para o problema. Problematizar significa ser capaz de responder ao conflito

intrínseco que o problema traz. Os conteúdos são construídos pelo estudante, que

precisa reorganizar o material, adaptando-o à sua estrutura cognitiva prévia, para

descobrir relações, leis ou conceitos que precisará assimilar.

A cada nova ferramenta apresentada, novos conceitos eram adquiridos. Os

preceptores expunham seus conteúdos anteriores acrescidos de novos conteúdos,

reforçando a aprendizagem significativa e crítica, consolidada através de uma

metodologia da problematização. Isto deu suporte para a construção do novo

conhecimento por indução do pensamento crítico-reflexivo dos preceptores para

chegarem à resolução dos problemas.

Após a realização da Oficina, aplicou-se o questionário pós-teste com a

intenção de validar o produto. Observou-se que os preceptores não apresentavam

Page 55: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

53

dificuldades em responder às perguntas, o que nos leva a acreditar que a Oficina

cumpriu seu papel de capacitá-los nos assuntos abordados.

5.2 Avaliação do Questionário Pré e Pós Oficina

Conforme demonstrado no Apêndice B, os questionários foram compostos por

19 perguntas. As 3 perguntas iniciais, abertas, foram direcionadas para identificar o

perfil dos preceptores. Observou-se uma média de 11,3 anos de experiência na

Estratégia Saúde de Família. Se formos comparar com o tempo de existência da

ESF no Sistema Único de Saúde brasileiro, iniciado em 1994 (em torno de 21 anos),

o tempo de atuação dos preceptores equivale à metade desse período. Preceptor

“a”, com 15 anos de experiência,” b”, com 8 anos e “c”, com 11 anos. Desses,

apenas o preceptor “c” não tinha Título de Especialista ou Residência em Medicina

de Família e Comunidade. Já o tempo de exercício dentro da preceptoria variava em

torno de 7,6 anos de experiência. Preceptor “a”, há 10 anos na função, preceptor ”b”,

com 7 anos e preceptor “c”, há 6 anos na função.

Nas perguntas seguintes (questões 4 e 5), que abordavam o tema

relacionado aos princípios da Medicina de Família e Comunidade constava uma

aberta, sobre o nível de conhecimento de tais princípios, sendo unânime a resposta

dos preceptores em não conhecerem tais princípios. Porém na pergunta seguinte

reconheciam a importância do conhecimento dos mesmos. Segundo Aguilera (2005)

procurar colocar em debate a especificidade, a complexidade e a importância deste

profissional médico para responder aos atuais desafios do SUS é tarefa urgente. A

Atenção Básica de qualidade implica na discussão, pelo aparelho formador, da

natureza e desafios da especialização do recurso médico voltados para prestar uma

atenção primária à saúde de qualidade.

As 14 perguntas seguintes foram direcionadas para detectar o nível de

conhecimento sobre as ferramentas de abordagem familiar. Iniciou-se com a

formulação de uma pergunta sobre o conhecimento empírico de tais ferramentas,

sendo que apenas o preceptor “b” desconhecia as ferramentas, porém nenhum dos

preceptores utilizavam as ferramentas em seu campo de prática. As perguntas

seguintes foram formuladas no sentido de pesquisar com maior detalhe o nível de

conhecimento das ferramentas, sendo que na pergunta nº 8, ao inquirir os

Page 56: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

54

pesquisados sobre as ferramentas de seu conhecimento, apenas os preceptores “a”

e “c” citaram uma ferramenta de uso corriqueiro, o genograma/familiograma.

Seguiram-se perguntas sobre as fontes de informação de tais conhecimentos.

Os preceptores “a” e “c” citaram como fontes de informação cursos e livros. O que

vem de encontro ao trabalho de Roschke Brito (2002), onde ele relata que, apesar

de vários esforços, a geração de conhecimentos no campo da saúde e a formação

de seus profissionais (educação formal e continuada) ainda são consideradas

atividades isoladas. Por um lado, as práticas educativas raramente privilegiam um

enfoque que possibilite aos grupos de estudantes e aos profissionais a oportunidade

de vivenciar ativamente a aprendizagem como construção de conhecimento por

meio da reflexão sobre suas próprias experiências e a participação ativa em

estudos, investigações e foros de debate.

Na pergunta que objetivava saber se os preceptores consideravam - se aptos

a capacitar os alunos para utilizarem as ferramentas de abordagem familiar, os

preceptores “b” e “c” responderam que sim e o preceptor “a”, respondeu que não.

Porém, nenhum dos preceptores respondeu corretamente a pergunta anterior como

mostra a Tabela 1.

Tabela 1 – Perfil dos Preceptores

Temas abordados nas questões pre e pós teste

Pré-teste SIM

Pre-teste NÃO

Pós-teste SIM

Pós-teste NÃO

4-Conhece os Princípios de MFC 0% 100% 100% 0% 5-Considera importante tais conhecimentos no seu campo de prática

100% 0 100%

6-Conhecimento das ferramentas de abordagem familiar 33% 67% 100% 0%

7-Utiliza tais ferramentas em seu campo de prática 0 100% 33% 67%

8-Citar as ferramentas de abordagem familiar

2 citaram apenas uma

1 em branco

Citaram todas

9-De quais fontes adquiriu conhecimento das ferramentas de abordagem familiar

2 cursos e livros

1 em branco

2 cursos e livros e oficina

1 da Oficina

10-Aptos a capacitarem os alunos a utilizarem as ferramentas 67% 33% 100% 0%

Fonte: A Autora.

Page 57: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

55

A 4ª pergunta, sobre os princípios de Medicina de Família e Comunidade,

apresentou respostas muito vagas no pré-teste, porém no pós-teste foi detectado um

melhor entendimento do assunto.

Na quinta pergunta, 100% dos preceptores enfatizaram a importância de

conhecer os princípios e as ferramentas de abordagem familiar, para serem

utilizados em seus campos de prática, demonstrando interesse no assunto e

fortalecendo a necessidade da aplicação da oficina. Corroborando com as

afirmações de Ausubel (2003) que diz ser um novo conceito apreendido de forma

significativa quando interage com os conhecimentos prévios, especificamente

relevantes, existentes na estrutura cognitiva do aprendiz. Este, por sua vez, se

dispõe a construir redes de relações que possibilitem a utilização destes conceitos

em novas situações.

Ao perguntar se os problemas seriam resolvidos utilizando as ferramentas de

abordagem familiar, os preceptores “a” e “c” responderam que parcialmente; o

preceptor “a” não respondeu, justificando verbalmente que “a resolução dos

problemas são complexos demais para serem resolvidos apenas com tais

ferramentas”. Observa-se, pelas respostas do pré-teste, uma pouca experiência dos

preceptores na utilização das ferramentas, pois ao debatermos na oficina a

utilização das mesmas, demonstrando resultados positivos na resolução dos

problemas, as respostas no questionário pós-teste foram diferentes, como mostra a

Tabela 1.

As perguntas 13 e 14 foram realizadas para detectar se os preceptores,

mesmo sem conhecerem ou darem nomenclatura às ferramentas, utilizavam

intuitivamente as mesmas. Observou-se, então, que utilizavam parcialmente as

ferramentas, mesmo que de forma intuitiva pois na resposta 13 todos disseram que

costumam avaliar os relacionamentos familiares para propor um plano terapêutico.

Na pergunta 14, apenas o preceptor “c” respondeu que costuma buscar suporte na

comunidade para o tratamento do usuário de saúde. Tais respostas demonstram

que a ferramenta F.I.R.O. (Fundamental Interpersonal Relations Orientations) estava sendo usada intuitivamente, porém, o eco mapa era pouco utilizado. Isto

demonstra pouco conhecimento sobre o 3º princípio da especialidade de abordagem

Page 58: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

56

centrada na pessoa, orientada para o indivíduo, a sua família e comunidade,

conjugando as necessidades de saúde dos pacientes individuais com as

necessidades de saúde da comunidade em que se inserem, em equilíbrio com os

recursos disponíveis (WONCA, 2002).

As cinco últimas perguntas foram específicas sobre o assunto em pauta,

buscando avaliar o grau de conhecimento dos preceptores sobre cada ferramenta de

abordagem familiar, como demonstrado na tabela 2. Porém, no questionário pós

oficina, observou-se uma maior assertividade das perguntas como demonstraremos

na tabela 2, concluindo que os mesmos necessitam dominar melhor o assunto, para

transmitirem as informações aos alunos. A oficina foi um excelente instrumento para

esse fim.

Tabela 2 - Percentual de acertos do questionário pré e pós-teste

Fonte: A Autora.

Os dados apresentados na tabela 2 nos faz observar que, após a aplicação

da oficina, a percentagem de acertos foi visivelmente maior no questionário pós

teste em relação ao pré-teste, o que demonstra que a oficina cumpriu seu objetivo

de aperfeiçoar os preceptores do módulo de Saúde Coletiva/ESF do curso de

Medicina para a utilização das ferramentas de abordagem familiar.

Questões específicas sobre ferramentas de abordagem familiar Pré-teste % de acertos

Pós-teste % de acertos

15 – Para representar os diferentes membros da família e os padrões de relacionamentos entre eles qual ferramenta é mais apropriada?

67% 100%

16 – Para avaliar o grau de intimidade e relacionamentos dentro da família qual ferramenta pode ser utilizada? 0% 100%

17 – Qual das ferramentas pode ser utilizada como recurso simples e rápido de analisar o contexto familiar? 0% 67%

18 – Se uma família se encontra em crise por perda de um ente querido 33% 67%

19 – Para descobrir apoios e suportes que a família dispõe na comunidade 33% 100%

Page 59: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

57

6 CONCLUSÃO

Desde a década de 90, as políticas públicas de saúde vêm implantando

modelos de fortalecimento da APS, tendo a Estratégia Saúde da Família como porta

de entrada desse sistema. Tais mudanças também passaram a exigir adaptações no

currículo do curso de Medicina, através de programas de integração ensino-serviço

articulando e integrando os alunos com profissionais que compõem a equipe de

saúde da família, com a finalidade de aumentar a oferta de futuros profissionais

qualificados para este novo sistema.

Diante de tais mudanças e sabendo que a abordagem familiar é a mais

importante intervenção na prática de Medicina de Família e Comunidade,

concluímos, através deste trabalho, que os preceptores necessitam aperfeiçoar seus

conhecimentos no tema abordado, com o intuito de ampliar o conhecimento dos

estudantes de medicina sobre as ferramentas de abordagem familiar.

A abordagem familiar é a mais importante intervenção na prática da Medicina

de Família e Comunidade e a maioria dos cursos de medicina não transmitem tais

conhecimentos aos alunos em seu currículo.

Conforme mostram os resultados, uma situação problema que utilize um

estudo de caso, a partir da realidade da prática dos preceptores, como metodologia

de ensino-aprendizagem, foi uma escolha assertiva para a transmissão do

conhecimento, tornando o aprendizado participativo, crítico-reflexivo e significativo.

Este trabalho mostrou a necessidade de inserir os preceptores dentro de uma

metodologia de ensino – aprendizagem, que possa ajudá-los a transmitir os

conhecimentos sobre as ferramentas de abordagem familiar para os alunos. A

“Oficina pedagógica de ferramentas de abordagem familiar”, utilizando a

metodologia da problematização e a dialogicidade, embasada na Aprendizagem

Significativa Crítica de David Ausubel, mostrou-se eficaz como instrumento para

aperfeicoar o conhecimento dos preceptores no tema, preparando-os para

transmitirem tais conhecimentos aos alunos do curso de Medicina de maneira crítico-

reflexiva.

Page 60: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

58

REFERÊNCIAS

AFONSO, D.H; SILVEIRA, L.M.C. Os desafios na formação de futuros preceptores no contexto da reorientação da Educação Médica. Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ, Rio de Janeiro, ano 11, p.82-86.

CAMPOS, Carlos Eduardo Aguilera. Estratégias de avaliação e melhoria contínua da qualidade no contexto da Atenção Primária à Saúde. Rev. Bras. Saude Mater. Infant. Recife, v. 5, supl. 1, p. s63-s69, Dec. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-38292005000500007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 26 Jun. 2016.

ASEN, E. et al. 10 Minutos para a Família: Intervenções sistêmicas em Atenção Primária à Saúde. Porto Alegre: Artmed, 2012, p.

AUSUBEL, D. P. A aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo: Moraes, 1982.

______; NOVAK J. D., HANESIAN H. Psicologia Educacional. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980.

______. Aquisição e retenção de conhecimentos: uma perspectiva cognitiva. Lisboa: Plátano Edições Técnicas, 2003.

BARRETO, V. H. L. et al. Papel do preceptor da atenção primária em saúde na formação da graduação e pós-graduação da Universidade Federal de Pernambuco: um termo de referência. Rev. bras. educ. med., Rio de Janeiro, v. 35, n. 4, pp.578 – 583, Dec. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-55022011000400019&lng=en&nrm=iso>. Acesso em? 28 Out. 2014.

BERBEL, N. N. “Problematization” and Problem-Based Learning: different words or different ways? Interface — Comunicação, Saúde, Educação, v.2, n.2, 1998.

BRASIL. Ministério da Saúde. Manual para a organização da Atenção Básica. Brasília, 1999. 40p.

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Caderno de atenção domiciliar. Brasília, 2013

BORDENAVE, J.; PEREIRA, A. Estratégias de ensino aprendizagem. 4. ed., Petrópolis: Vozes, 1982.

BOTTI, S. H. N. O Papel do Preceptor na Formação de Médicos Residentes: um estudo de residências em especialidades clínicas de um hospital de ensino (Tese de mestrado), ENSP/Fiocruz, RJ, 2009.

Page 61: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

59

CAMPOS, C. E. A. Os princípios da Medicina de Família e Comunidade. Revista APS, v.8, n.2, p.181 – 190, jul/dez, 2005

CECCIM, R. B.; FEUERWERKER, L. C. M. Mudança na graduação das profissões de saúde sob o eixo da integralidade. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 20, n. 5, p. 1400-1410, Oct. 2004.

CHRlSTIE-SEELY. J. et al. Working with families in primary care. New York: Oxford, 1984.

CYRINO, E.G.; TORALLES-PEREIRA M.L. Trabalhando com estratégias de ensino-aprendizado por descoberta na área da saúde: a problematização e a aprendizagem baseada em problemas. Cad Saúde Pública 2004;20(3):780-788.

DITTERICH, R.G.; GABARDO, M.C.L.; MOYSES, S.J. As ferramentas de trabalho com famílias utilizadas pelas equipes de saúde da família de Curitiba, PR. Saúde soc., São Paulo, v. 18, n. 3, set. 2009.

FLEITAS, F.; CASAS, I.J. El modelo de Círculo Familiar. Disponível em: <http://www.fundesfam.org/revista%20fundesfam%201/010herramientas.htm.> Acesso em: 13 de nov. 2014.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 28. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003, 148 p

HORTA, T. C. G. Abordagem familiar. 2008. Monografia (Conclusão de Residência em Medicina de Família e Comunidade do Hospital das Clínicas da UFMG) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.

GOMES, A. P. et al. A Educação Médica entre mapas e âncoras: a aprendizagem significativa de David Ausubel, em busca da arca perdida. Revista Bras. Educ. Med., v. 32, n. 1, Mar. 2008

GOMES, R. et al. Aprendizagem Baseada em Problemas na formação médica e o currículo tradicional de Medicina: uma revisão bibliográfica. Rev. bras. educ. med., Rio de Janeiro, v. 33, n. 3, p. 433-440, Sept. 2009

IOM Institute of Medicine (IOM - COMMITEE ON THE FUTURE OF PRIMARY CARE). Defining primary care: an interim report. Washington, DC: National Academy Press, 1994. 42 p.

KOMATZU, R.S; ZANOLLI, M.; LIMA, VV. Aprendizagem baseada em problemas. In: Marcondes E, Gonçalves E, organizadores. Educação médica. São Paulo: Sarvier; 1998. p.223-37.

LOPES, J.M.C. Os Princípios da Medicina de Família e Comunidade. Rev. APS, vol. 8, n. 2, p; 181–190, jul/dez. 2005

Page 62: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

60

MARIN, M.J.S. et al. Aspectos das fortalezas e fragilidades no uso das metodologias ativas de aprendizagem. Rev. bras. educ. med., Rio de Janeiro , v. 34, n. 1, p. 13-20, Mar. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-55022010000100003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 26 Jun. 2016.

MELLO, D.F. et al. Genograma e ecomapa: possibilidades de utilização na Estratégia de Saúde da Família. Ver. Brás. Crescimento desenvolv. Hum., São Paulo, v. 15, n. 1, abr. 2005.

MENDES, E. V. O cuidado das condições crônicas na atenção primária à saúde: o imperativo da consolidação da estratégia da saúde da família. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2012. 512 p.

MINISTERIO DE SALUD DE CHILE. Manual de apoyo a la implementación del modelo de atención integral con enfoque familiar y comunitario en establecimientos de atención primaria. Santiago: Departamento de Diseño e Gestión de APS/División de Atención Primaria/ Subsecretaría de Redes Asistenciales; 2008.

MITRE, S.M.i et al. Metodologias ativas de ensino-aprendizagem na formação profissional em saúde: debates atuais. Ciências e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.13, 2008.

MOIMAZ, S.A.S. et al. Saúde da Família: o desafio de uma atenção coletiva. Rio de Janeiro, v. 16, supl. 1, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232011000700028&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 21 Maio 2014.

MONTEIRO, G. R. S. S. et al. Knowledge, attitude and practices of primary health care professionals concerning family assessment tools. Revista Enfermagem Digital Cuidado e Promoção da Saúde, v. 1, p. 23-30, 2015.

MOREIRA, M. A. Aprendizagem significativa: da visão clássica à visão crítica (Meaningfullearning: fromtheclassicaltothecriticalview). In: Conferência de encerramento do V encontro internacional sobre aprendizagem significativa. Madrid, Espanha, setembro de 2006.

MOREIRA, M. A, Linguagem e Aprendizagem significativa. In: Conferência de encerramento do IV Encontro Internacional sobre Aprendizagem Significativa, Maragogi, AL, Brasil, 8 a 12 de setembro de 2003.

MOREIRA, M. A. Mapas conceituais e aprendizagem significativa (conceptmapsandmeaningfullearning). Disponível em: <www.if.ufrgs.br/~moreira>. Acesso em: 16 set. 2014.

MOYSÉS, S. J.; SILVEIRA FILHO, A. D. Os dizeres da boca em Curitiba: boca maldita, boqueirão, bocas saudáveis. Rio de Janeiro: CEBES, 2002. p. 155-60.

Page 63: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

61

MOYSÉS, S. T. et al. Ferramenta de descrição da família e dos seus padrões de relacionamento: genograma: uso em saúde da família. Revista Médica do Paraná, Curitiba, v. 57, n. 1/2, p. 28-33, jan./dez. 1999.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Política de Educação e Desenvolvimento para o SUS: Caminhos para a Educação Permanente em Saúde. Brasil, 2004.

OSTERMANN, F; CAVALCANTI, C.J.H. Teorias de Aprendizagem -Texto introdutório UFRGS. /2010.

PADILHA, R.Q et al. Caderno do Curso Educação na Saúde para preceptores do SUS, MS/HSL, p.16, 2013.

PEY, M.O. Oficina como modalidade educativa. Revista: Perspectiva. Florianópolis, v.15, n.27, p.35 – 63, jan/ jun. 1997

RIBEIRO, V.M.B. et al. Formação Pedagógica de preceptores do ensino em saúde – Juiz de Fora, Ed. UFJF, 2011. 126p. :il.

RONCALLI, A. G. O desenvolvimento das políticas públicas de saúde no Brasil e a construção do Sistema Único de Saúde. In: PEREIRA, C.A. Odontologia em saúde coletiva: planejando ações e promovendo saúde. Porto Alegre: ArtMed, 2003. p. 28-49.

ROCHA, H. C.; RIBEIRO, V. B. Curso de formação pedagógica para preceptores do internato médico. Rev. bras. educ. med., Rio de Janeiro, v. 36, n. 3, p. 343-350, Set. 2012.

ROSCHKE, M. A.; BRITO, P. Gestion de Proyectos de educación permante en los servicios di salud. Manual del educador. Washington: ops, 2002.

SANTOS, S.S. A integração do ciclo básico com o profissional no Curso de Graduação em Medicina: uma resistência exemplar. Rio de Janeiro: Papel & Virtual; Teresópolis: FESO; 2005.

SILVEIRA FILHO, A. D. et al. Programa saúde da família em Curitiba: estratégia de implementação da vigilância à saúde. Curitiba: a saúde de braços abertos. Rio de Janeiro: CEBES, 2007. p. 239-51.

SOBRAL, F.R.; CAMPOS,C.J.G. The use of active methodology in nursing care and teaching in national productions: an integrative review. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v 46, n. 1, p. 208-218, 2012.

SISSON, M. C. Avaliação da implantação do programa de saúde da família no programa Docente Assistencial de Florianópolis. 2002. (Tese) Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.

Page 64: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

62

WAGNER, A. B. P. et al. Trabalhando com famílias em saúde da família. Revista Médica do Paraná, Curitiba, v. 57, n. 1/2, p. 40-6, jan./dez.1999.

WAGNER, H. L. et al. Trabalhando com famílias em saúde da família. Revista de Atenção Primária à Saúde, Juiz de Fora, v. 3, n. 8, p.10-4, jun./nov. 2001.

WAGNER, H.L.; WAGNER, A.B.P.; TALBOT, Y. Aplicação do Pensamento Sistêmico no Trabalho em Saúde da Família. Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, Rio de Janeiro, v.35, n. 1 p.29-35, 2004.

WILSON; L. et al. O modelo FIRO de estudo de família. In: WILSON, L. Trabalhando com famílias: livro de trabalho para residentes. Curitiba: SMS, 1996b. p. 43-5.

WONCA. A definição europeia de medicina geral e familiar. Barcelona: Wonca Europa. OMS, 2002, 40p. Disponível em: <http://www.woncaeurope.org>. Acesso em: 12 de fevereiro de 2015.

Page 65: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

63

ANEXO A

PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO À FACULDADE DE MEDICINA/FOA

Page 66: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

64

ANEXO B

APROVAÇÃO DO COMITE DE ÉTICA/ PLATAFORMA BRASIL

Page 67: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

65

Page 68: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

66

APÊNDICE A

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos – CoEPS/UniFOA

1- Identificação do responsável pela execução da pesquisa:

Título do Projeto: Ensino em Saúde: ênfase em ferramentas de abordagem familiar na Estratégia Saúde da Família Coordenador do Projeto: Heloisa São Thiago da Costa Pereira

Telefones de contato do Coordenador do Projeto: (24) 98802-1317

Endereço do Comitê de Ética em Pesquisa: Pró-reitoria de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão – Campus Olézio Galotti – Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, prédio 3, sala 5, Três Poços, Volta Redonda – RJ. CEP: 27240-560.

2- Informações ao participante ou responsável:

a) Você está sendo convidado a participar de uma pesquisa que tem como

objetivo o ensino das ferramentas de abordagem familiar através de uma Oficina

para capacitar preceptores.

b) Antes de aceitar participar da pesquisa, leia atentamente as explicações

abaixo que informam sobre o procedimento:

1) Para a realização de nossa pesquisa, você receberá um questionário (pré

teste e pós teste) que contém perguntas sobre os princípios de Medicina de

Família e Comunidade, as ferramentas de abordagem familiar;

2) Você também participará da Oficina e após você novamente será avaliado

através de um questionário.

Page 69: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

67

c) Você poderá recusar a participar da pesquisa e poderá abandonar o

procedimento em qualquer momento, sem nenhuma penalização ou prejuízo.

Durante a aplicação dos questionários, você poderá recusar a responder qualquer

pergunta que por ventura lhe causar algum constrangimento.

d) A sua participação como voluntário, não auferirá nenhum privilégio, seja ele

de caráter financeiro ou de qualquer natureza, podendo se retirar do projeto em

qualquer momento sem prejuízo a V.Sa.

e) A sua participação não envolve riscos de nenhuma espécie.

f) Serão garantidos o sigilo e privacidade, sendo reservado ao participante o

direito de omissão de sua identificação ou de dados que possam comprometê-lo.

g) Na apresentação dos resultados não serão citados os nomes dos

participantes.

h) Confirmo ter conhecimento do conteúdo deste termo. A minha assinatura

abaixo indica que concordo em participar desta pesquisa e por isso dou meu

consentimento.

Volta Redonda, _____de ___________________ de 20____.

____________________________________

Participante

Page 70: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

68

APENDICE B

QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO

Identificação:

Ano de Formado:

1.Há quantos anos você trabalha na Estratégia Saúde de Família?

2. Você tem título de especialista ou Residência em Medicina de Família e

Comunidade? ( ) SIM ( ) NÃO

3. Há quantos anos exerce a função de Preceptor?

4. Você conhece os Princípios de Medicina de Família e Comunidade? ( ) SIM ( )

NÃO Se sim, quais? -------------------------------------------------------------------------------

5. Você considera importante tais conhecimentos no seu campo de prática? ( ) SIM (

) NÃO

6. Você tem conhecimento das ferramentas de abordagem familiar? ( ) SIM

( ) NÃO

7. Você utiliza tais ferramentas em seu campo de prática? ( ) SIM ( ) NÃO

8. Cite as ferramentas de abordagem familiar do seu conhecimento:

9. De quais fontes você adquiriu conhecimento das ferramentas de abordagem

familiar?

( ) Congressos ( ) Cursos ( ) Internet ( ) Livros ( ) Outros:

Page 71: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

69

10. Como preceptor você se considera apto para capacitar os alunos a utilizarem as

ferramentas de abordagem familiar? ( ) SIM ( ) NÃO

11. Você trabalha com o doente,a família ou a população adscrita?______________

12.Você considea que os problemas serão resolvidos utilizando as ferramentas de

abordagem familiar? ( )SIM ( ) PARCIALMENTE ( )NÃO

13.Você costuma avaliar os relacionamentos familiares para propor um plano

terapêutico? ( )SIM ( )NÃO

14. Você costuma buscar suporte na comunidade para o tratamento do usuário de

saúde? ( )SIM ( )NÃO

15. Para representar os diferentes membros da família e os padrões de

relacionamentos entre eles qual ferramenta é mais apropriada?

( ) FIRO ( ) Circulo de Thrower ( ) Ciclo de Vida ( ) Genograma ( ) Ecomapa

( ) não sei

16. Para avaliar o grau de intimidade e relacionamentos dentro da família qual

ferramenta pode ser utilizada?

( ) FIRO ( ) Ecomapa ( ) Ciclo de Vida ( ) Circulo de Thrower ( ) não sei responder

17. Qual das ferramentas pode ser utilizada como recurso simples e rápido de

analisar o contexto familiar?

( ) FIRO ( ) Genograma ( ) Ciclo de Vida ( ) Círculo de Thrower ( ) não sei responder.

18. Se uma família se encontra em crise por perda de um ente querido, qual

ferramenta é mais apropriada para ser utilizada?

( ) FIRO ( ) Genograma ( ) Ciclo de Vida ( ) Ecomapa ( ) Circulo de Thrower

Page 72: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

70

19. Qual das ferramentas você utilizaria para descobrir apoios e suportes que a

família dispõe na comunidade?

( )FIRO ( ) Genograma ( ) Ecomapa ( ) Circulo de Thrower ( ) não sei responder.

Page 73: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

71

APENDICE C

PRINCÍPIOS DE MEDICINA DE FAMILIA E COMUNIDADE Slides de apresentação

Page 74: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

72

APENDICE D

FERRAMENTAS DE ABORDAGEM FAMILIAR

Page 75: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

73

Page 76: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

74

APENDICE E

SITUAÇÃO – PROBLEMA Família do Sr. T.O.

Sr. T.O. tem 52 anos, é dono de bar, natural de Barra Mansa e reside em

Volta Redonda há 30 anos. É filho de Dona E., que aos 72 anos não apresenta

problema de saúde e não faz uso de nenhuma medicação, e do Sr. G., que faleceu

aos 48 anos de idade por complicações de insuficiência cardíaca e diabetes. O Sr.

T.O. é hipertenso, portador de insuficiência cardíaca e recentemente descobriu ser

portador de diabetes do tipo 2.

Sua esposa, Dona M. O., tem 49 anos e nasceu na cidade do Rio e Janeiro. É

filha única e seus pais faleceram há 20 anos em um acidente automobilístico. É

hipertensa e dislipidêmica e encontra-se em controle regular no Centro de Saúde do

bairro. A relação dela com sua sogra é conflituosa, porque M. O. não concorda com

a forte relação que seu marido mantém com Dona E.

O Sr. T.O. alimenta-se habitualmente em casa, e sua esposa é uma excelente

cozinheira. Ele se nega a fazer exercício físico e continua desanimado, acordando

todas as noites. Relata fazer tudo o que o médico lhe pede e quando perguntado

sobre a dieta responde: “Preciso comer bem porque eu trabalho muito. Minha

esposa é que controla isto. Ela serve meu prato todo dia.”

O casal tem 2 filhos, F., que está com 21 anos, e C., com 16 anos. Ambos

estão com sobrepeso. Toda a família possui hábitos alimentares inadequados, com

grande ingestão de alimentos gordurosos e hipercalóricos. Durante os atendimentos

individuais prestados aos membros desta família, foi possível perceber que não

existe um entendimento sobre a real situação de saúde do Sr. T.O., ou sobre a

forma como a família poderia ajudá-lo. Neste momento, cada membro da família

exerce uma função bem delimitada no núcleo familiar. O Sr. T.O. é o provedor

financeiro, D. M. O. organiza a casa e faz todos os serviços domésticos, os filhos

trabalham e estudam e não têm tempo para se dedicar à família, embora

mantenham uma relação carinhosa com os pais.

Page 77: FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE …sites.unifoa.edu.br/.../arquivos/2017/heloisa-thiago.pdf · 2017. 4. 13. · 3.3.1 Genograma ou Familiograma ... O papel representado

75

Os últimos exames do Sr. T.O. estavam muito alterados (glicemia de jejum de

210 mg/dL e hemoglobina glicada de 10%) e o exame físico apresentava alterações

de descompensação da diabetes e da insuficiência cardíaca.